You are on page 1of 86
Frederick Cooper, Thomas C. Holt e Rebecca J. Scott Além da escravidao InvestigacGes sobre raca, trabalhoe cidadania em sociedades pés-emancipacao Tradugao de Maria Beatriz de Medina SEP HIS | CIVILIZAGAO BRASILEIRA — Rio de Janeiro 2005 IMPERIALISMO E IDEOLOGIA DA MAO-DE-oBRA LIVRE NA AFRICA eclp 39 ‘tho. Do ponto de vista da década dé 1990; a escravidao ¢ 0 coloni: liso” igo parecem duas formas de opressio, ambas baseadas no conceito de wero que certas categorias de pessoas estavam a disposicio | para atender as necessid. ais poder, mais riqueza ¢ mais capacidade de determinar que tipo de praticas o ptiblico aceitaria “ como “normal”. De certa forma, a retérica dos movimentos inter- nacionais contra o colonialismo na década de 1940 ou 1950 (ou, mais recentemente, do movimento internacional contra o apartheid) é lida como uma reencenagdo das campanhas contra a escravidao do século XIX, nas quais os males da opressao dos negros pelos brancos foram bem separados das praticas socialmente apropriadas ecombatidos em nome dos bons princfpios e da humanidade. Estes movimentos nos inspiram a perguntar por que o mal é delimitaao de determinada forma: por que a escravidao distinguia-se de outras formas de exploraco de mao-de-obra ou o colonialismo ‘de outras formas de dominagio politica e social? O que possibilitou a estes Movimentos cruzar fronteiras, fazer com que um mal praticado em determinado lugar parecesse um ultraje em outros lugares? O que, ligou a mobilizacao dos oprimidos A mobilizagao dos interessados de fora? i 203 ~ 8 0d es Raevenick COOPER ae ne oP see eae er PO yy Paes we igo se-pode supor que “escravidao” € “colonialismo” const, _ 5 4“ wam, por si 36s, alvos evidentes da mobilizagao politica ou que a duas formas de opressao > sejam consideradas paralelas em conte pas formas ¢ : elas em conte. > tos diferentes,' Contestar as fronteiras do pormal e do inaceitavel, eg ere te ve 5 : i, edentro através de di nites regimes oder e discurso, est4 no yee coracao da mobilizagao social. Este capitulo é um estudo destas fron? arg teiras, das maneiras como 0 discurso politico € contido e das ma{ 5.9” ._,\neiras como extravasa suas fronteiras. d oa Mar Mediterraneo Africa colonial francesa 204 CONDIGOES ANALOGAS A ESCRAVIDA oO Cicada de 189 + aes Naidéeada de 189 a idéia de que Escravidao ¢ colonialismo dlog i *, isi eram anslogos faria pouco Sentido nos circulos interessado, d any s ropa, Na verdade, os herdeiros da tradiga = eressados da Eu-“o-2'5.- pa : — 10 antiescravista argumens >? = = tavam que a vigorosa intervengao das poténcias ciy izadas na Af icant? fini i ii . TCA Sec. eraa nica forma de impedir que os africanos ; ee t - Se escravizassem uns "23> aos outros. Mais tarde, o lobby contra a escra ; Se med vido, especialmente’ ““#P" na Inglaterra, permaneceu fiel 4 sua heranga, continuando acriticar =e 0s governos europeus por nao obedecerem a seu declarado objetivo’ de dar fim 4 escravidao africana e por nao evitarem, eles mesmos, 0 ats recrutamento de mao-de-obra sob coagdo. A critica concentrou-se?.> especificamente nas violagdes da ideologia da mao-de-obra livrey-- nice. evitando, em geral, outras dimensdes do dominio colonial, ‘Tratava rm os africanos como vitimas em potencial, necessitados de protecdo. de . contra os excessos de zelo explorador ou os lapsos da implementaco do principio moral pelos europeus, agora retratados como fonte tanto de possivel bem quanto de possfvel mal. Dentro deste arcabouco, os casos mais divulgados de explora- cao de africanos por europeus em condigées semelhantes a escravi- dio (no por coincidéncia, coisa de poténcias colonizadoras mais fracas) foram identificados, investigados e, pelo menos na superfi- cic, impedidos, Na década de 1930, aLiga das Nacde3 e, mais tar- de, a Organizacao Internacional do Trabalho assumiram a campanha contra a escravidao e seus andlogos no lugar de missionarios-e-gn 3+ Pos de pressao humanitarios. Mas, como todos os construtos ey lbégicos, a nogao de mao-de-obra livre levou seus proponentes a) pn. Pontos cegos, assim como a idéias sobre uso ¢ abuso do poder ee Situagao colonial: definiam escraviddo ou 60a: ao de forms : 4a, dando uma aura de normalidade as outras préteas 07 Ha um certo pathos neste esforgo de gente bem-inte Para tornar 0 colonialismo um pouquinho melhor para os africa- 205 FREDERICK COOPER nos. O esforgo neo-abolicionista estava fadado a ser esquecido pela . stéria quando a hist6ria dos Gltimos anos do colonialismo passas- oat 2%e a focalizar devidamente os africanos como atores de sua prépria wo $2 libertacdo. Mesmo 0 epis6dio final deste arcabougo da ideologia da eae mao-de-obra livre — a decisao da Franga de abolir o trabalho for. > cado em 1946 — mostra a mobilizagao politica africana obtendo Se ~ sucesso onde os influentes ¢ liberais criticos franceses do império e ° os conscienciosos criticos da politica de mao-de-obra dentro do establishment colonial tinham fracassado. ae Mas concentrar-se nos limites das tentativas de reformar port, \d lentro o imperialismo nao leva ao fundo da histéria. Um discurso_\; reformista estreito poderia ser adotado por outros ¢ alargado até transformar-se numa coisa cujas conseqiiéncias nao se pudessem a ips Onfinar com tanta facilidade. Desde os primeiros dias a coloniza- oS 40 foi questionada, tanto em seus intersticios quanto de peito aber- "to, comegando pelos pontos fracos das instituigbes ¢ da ideologia Se ee imperiais, forgados aos poucos a se abrir, Em muitas regides da‘: —— — SBA “ ———— fj Africa, os escravos obrigaram as autoridades coloniajs a ser maisQ) es emancipadoras lo que gostariam, as vezes aproveitando o enfraque- SY Sd eS - = [poe cimento da autoridade dos Senhores para fugir de uma regio det Bry plantations out redefinir 0s termos de acesso a terra, outras vezes oi x forsando ss autoridades realizar uma emancipasso mas ste so“ «°tica em vez da emancipagio desordenada que parecia lesenrolar- cias da cruzada missiondria contra a escravidao e 0 comércio de “ “ee escravos na Africa Oriental para transformar os senhores de escra- vos do litoral em proprietarios de terra capitalistas e os escravos em trabalhadores assalariados — tentativa que ia contra a capacidade de ex-escravos e ex-senhores de redefinir 0 seu mituo relaciona- mento de maneira diferente. A ferceira parte do capitulo abrea questo das praticas dos pré- oe prios regimes coloniais. A politica b: ecu- #liaridade africana — a indiferenga aos incentivos lo >*',)_ Manteve-se em tensao com a ideologia da mo-de-obra livre. Esta(, ee Gltima tornou ilegitimo o uso da forga no recrutamento da mao-de- ( ; obra, mas a primeira tornava-o necessdrio. Os regimes coloniais_) ef ‘fentaram atenuar esta tensio de varias maneiras, principalmente "e a alegando que o trabalho forcado 6 seria usado por algum tempo ,, i2e75*" para atingir os objetivos de longo prazo densinar aos africanos.0)” Valor do trabalhole construir uma infra-estrutura que trouxesse as oe mercadorias que os africanos quereriam comprar. Entre 1926 ¢ ~ 1930, a Liga das NagGes ¢ a Organizagao Internacional do Traba~ Iho chegaram ao entendimento de que o trabalho forgado, fosse para ganho Privado, fosse com propésitos ptiblicos, criava “condig6es andlogas a escravidao”. Este entendimento nao resolveu a questo 210 re TIE ORAL. LT NIT» Urda GY \ 0 > Ae + rhe Sann.IS) 5 RS 0 de Cort a a DS Jelbole Sah5 te ie peace . conDl do- Mabel Gre 2‘ x de a _“convigoes AuAtocas A EicaAviake Sere OR 2eme diiimi- Yo) ens k OA | decomo Por quanto tempo se efetuaria a transicao, presumindo t go mesmo tempo que eram as nogées africanas que teriam de dar Jugar ao conceito europeu de trabalho como um contrato entre duas partes, como algo realizado num periodo de tempo definido, como uma relacao distinta dos lacos de parentesco e de comunidade em (que vivessem os individuos. O nticleo desta segao é 0 estudo de uma) 244 ds- Bro Gh FREDERICK COOPER da Africa. Assim como 0 avango do capitalismo e da mio-de-obra livre na Europa, no século XVIII e no inicio do século XIX, cami- nhou lado a lado com a expansio da produgio dos escravos nas colénias, o avanco da participagio dos cidadios na polftica estatal européia no século XIX caminhou lado a lado com a imposicio do poder externo sobre o continente da Africa. Em pmbos os | casos as contradigdes ideoldgicas acabaram mostrando-se imposs{veis de superar, mas durante um bom tempo a colonizagio péde ser trata- da de forma plausivel na Europa como elemento de progresso. * Na Africa, o declinio do comércio ultramarino de escravos, que ae finalmente tornou-se decisivo na década de 1850, nao transformou “piri continente, por si sé, num parafso de comércio pacifico. Na ver- > Sade, em certas regides do continente o uso daméstica de escravos SP , Pha agriculeura expandin-se quando o preco de expartacio dos es- yor cTavos caiu e 0 comércio mundial de produtos tropicais, liderado Xs pela Europa, expandiu-se. As antigas rotas do trafico negreiro ali- % .SAientaram o sistema escravista e, especialmente no centro-leste da > Africa, o sistema de suprimento de escravos tornou-se mais vigoro- y 48's e altamente ramificado em resposta 4 procura de mao-de-obra escrava pelo litoral. Em alguns contextos, os escravos constituiram 5 M4o-de-obra adicional para unidades familiares e de parentesco ¢ © or y poder exercido sobre eles foi racionalizado em termos patriarcais, ,.- eavioléncia no interior do centro-leste da Africa: “Capturar escradé yos Ga primeira idéia de todos os chefes do interior; assim, as lutad - ea escravido empobrecem a terra ¢ € por esta razio que a Africa Bune nto melhora ¢ que encontramos homens de todas as tribos ¢ lin- on i guas no fitoral. oP Foi esta também a regio que David Livingstone exploroue seus, ) relatos na década de 1860 ajudaram a divulgar a imagem de uma Africa arruinada pela escravidao ¢ pelo comércio de escravos. Seus 27> fica arruinada | ponent _— argumentos atingiram tanto 0 mercador europeu quanto seus ami- IEF coms augneg> gos nativos. Ele retratou 0 comércio de escravos como “barreirain-., 5 pe- superivel a todo progresso moral comercial”, destruindo a ordema rc = necessdria para o funcionamento normal do comércio, arruinando, *. ts osincentivos ao envolvimento na agricultura ou no trabalho assala- =<" Ion, tiado, pressionando os individuos a aceitarem formas degradantes 7 “$5 de protegad? eK Faltara a0 abolicionismo francés, depois da abolicao abortiva da Revolugto ¢ da readogdo da escravatura por Napoledo, a constan- 2 tite oapelo popular da versao britanica. Seu momento chegou em “ae 1848, em meio a outro episédio revoluciondrio na Franca, quando ,,.j025z9~ Aescravido nas coldnias francesas foi finalmente abolida ¢ a idéia 2 4>- estado francés como agente de progresso humano, tanto nas ter- : de além-mar quanto na Franga metropolitana, langou rafzes, ‘imulada Pela agitagio entre os proprios escravos nas Antillas “m¢¢6as," Nos altos ¢ baixos da politica monarquista ¢ republica- a Franca depois desta data, os propagandistas, tanto catélicos 213 yo %, v » &* oh, FREDERICK COOPER oo . : . quanto republicanos, viam a tirania e 0 atraso da Africa como lugar para marcar 0 destino emancipador da Franga. Na década de 1880, © cardeal Lavigerie liderou um movimento que foi, de certa forma, o equivalent catélico da cruzada de Livingstone, enquanto a partir da década de 1870 um setor importante da lideranga republicana da Franga era ao mesmo tempo abolicionista e imperialista.’ Mas 0 mais importante foi que os mindsculos postos avangados coloniais da Franga no Senegal, que se espalharam a partir de pos- tos comerciais, tornaram visfveis, em data precoce, as contradicées entre a emancipagao de 1848, que se aplicava a todos em solo fran- cés, € a realidade de um fragil movimento de colonizag4o cujo lu- cro e seguranga dependiam de no fazer mui c parceiros comerciais e aliados politicos. Muitas vezes as autorida- des locais tentaram evitar o problema enfatizando as fronteiras res- tritas das coldnias e a obrigagdo da Franga de respeitar os costumes de seus vizinhos africanos, mas até uma polftica formal e legalista contra a escravidao poderia abrir caminho para novas ages. Na verdade, os missiondrios e as ocasionais autoridades zelosas estimu- laram a perseguigao dos traficantes de escravos e divulgaram as vio- lagdes da lei de 1848 em Paris, onde os responsveis pela polftica estavam menos preocupados com os matizes das aliangas africanas do que as autoridades locais. E os préprios escravos foram impor- tantes para forgar a ampliacdo de uma lei limitada, pois aprende- ram que a fuga para um posto avangado francés talvez Ihes permitisse obter documentos de liberdade ou pelo menos um lugar para s¢ esconder. Os escravos fugidos tornaram-se causas fre ri- to entre os estados africanos e os franceses, fazendo da escravatura, Toenail or seu controle das habitagé ne °s ace cneearcen ae Ig6es ¢ suas importantes ligagbes polfticas ¢ are COMDIGOES AMALOGAS & EScRayiog ° icas para montar redes oe serilos.* Ae aBregados © dependentes que Nas décadas de 1880 ¢ 1890 um argumento semelhante Livingsto feitos debilitantes do comércio de a ee escravidao foi utilizado Por exploradores ¢ outros que — e a Kia Ocidental & atenao do pblico francés, O ee Gustave Binger era simp4tico aos mugulmanos romietrinny escravos da Africa sudanesa e ao seu tratamento dos escravos do- mésticos, mas o comércio de escravos, para ele, era totalmente “la- mentavel”. Os comerciantes atacavam aldeias, massacravam homens adultos e arrastavam as mulheres e criangas em caravanas. Os governantes africanos eram “verdadeiros tiranos, oprimindo 0 povo ouvendendo-o”. Em 4reas sujeitas 4 caga aos escravos, “o negro no | supervisionado trabalha pouco ou nada” e o comércio nao levava (. ao progresso, mas a expans4o das regides pilhadas. Binger conclui pen MORE “Aguerrae conseqiiéncias — a poligamia ¢ a escravidao — $6 .) HH. comegarao a declinar quando a Europa exercer efetivamente sua 9g" + . ry ry > e- influéncia sobre essas pessoas; ¢ para exercé-la, s40 necessarios Mei0s \-.An/> de penetrago” — governo, missiondrios, comerciantes ¢ ferrovias." 4.5 “conco Com certeza, as vis6es européias de partes diferentes da Africa estavam mudando e eram contraditérias: 0 selvagem nobre ea vida ae simples e natural e também o negreiro violento € 9 escravo desven"s sy turado, Nem todas as descrigdes retratavam 0s africanos como Pfe- ico elagdes comerciais, mas 2,trod+ Buigosos, Alguns observaram extensas Fr : ratamente se via europeus reconhecerem que os govern? streams Feu i Fig i civile vnham desenvolvendo a capacidae de digit a socett 35 : oe s de inovagao e crescimens — , 46 Que as economias africanas evam capazé Stipos do~ 5. to. Mesmo fora das reas de comércio escravista, 0s esteseONPOeS? newn” : ‘ahino — dominarr-- arte isolamento € do écio — em especial — ola! de vam: o mitn dna, - : agricola era > Yam; 0 mito de que as mulheres faziam q io todo o trabalho Kcib does ays dy. > , ein, FREDERICK COOPER Ia crenga de que os homens africanos passavam 0 o contraponto dk a tempo lutando. calcomo, continente tc tomado pela lescravidio} pris, le mantidlo(f do camini roar, sP Aiidéia da Afri ‘rcio) foi fundamental para a 35 id por seus(préprios tiran s \lizagaio} do scrist ¢ do com rtir da década de 1860, 0 grito de con- cravistas do restante do século e com- propaganda missioné vocagio das assembléia ponente importante dos « conhecimentos sobre a Africa 4 disposicao do publico leitor da Europa. Esta ji a inovagao ide ideol6gica nao foi por 6) Si $6 a causa ¢ da nova Si atten mas permitiy iu que os defenso! interesses. com Um P5Qp6- * sito mais elevado, O recurso fe intervencio ¢ tatal no comércio ¢ yal pe produgao de além-mar foi c om_o aumento da intervencaoyoi¢ yy octal dos dos regimes da prépria Europa —esforgos estatais de transfor- { mar o “resfduo” do desenvolvimento capitalista numa classe operé- ria “respeitavel”. A yelha Euro, a lucrara com a violéncia africana e aan i x i estimulara-aj a Nd nova va Europa prete feria era que ¢ a ex] Isao Economica Ios- nS se previsivel cor ‘ordeira ira que as estruturas sociais pudessem ampliar-se SD oe e ereproduzir-sea sea. si mesmgs, te Estas id idéias podem ser encontradas wie) oP sé na | metr pole, na campanha missiondria contra a escravidao afri- po | cana, mas no préprio local, onde a violéncia africana e seus efeitos vi) destrutivos sobre 0 comércio ordeiro eram parte de debates compli- iF ) cados sobre exatamente onde e como os governos europeus deveriam, intervir para proteger a propriedade e garantir o progresso comer: cial.'* O chefe ou rei africano, como o grande fazendeiro das india oy Ocidentais na década de 1830 (vera Introdugio), mantinha-se ao lado * do dono e do comerciante de escravos para impor a Africa as “difi- culdades brutais” wry we redo avango imperial 6 ¢ impedir o surgimento das “racionais”. iss Notavel nesta visio moral é como era internacional, num senti 0 muito mais completo que o impulso contra o comércio de Qe a 216 NON ee CONDICS BN DAA Cy AIT CONDICOES ANALOGAS Q ee os A VIDA escravos controlado pelos britanicos a Partir de 1807 suas rivalidades mortalmente graves, Em meio a, mperiais reuni- ..., red . as poténcias i ram-se em Berlim, em 1884-85, para determinar as regras do j Sand aren aan jogoe Sant insistiram em que as poténcias colonizadoras agissem cont jogo Ct a rae get ry Ta 0 co- 1804 - mércio afticano de escravos, Em outro conclave internacional em ~ 22 Bruxelas, em 1889-90, resol 0 | -©) Tesolveram formalmente que as poténcias S ; me conquistadoras realizariam a supressao sistematica do trafico de ie Tipe escravos, armas e bebidas alcoélicas, A - ténciag Cm s Rosenesberse como poténcias 4." ivili: ‘as, os imperiali - civilizadorass os imperiglistas conceberam os a )4 Pe cecraves, desordei rs africanos Como trafi-¥s> ; Aap intes de Ordeiros, cia rea FEAMEES LE ESCTAY AR CoAT COS, incapazss de autocontrole, Iriam “272 ajudar-se entre si para criar a estrutura de uma wilizagio ordeirae |. aci 4io-de- ; ; PS racional dos recursos ¢ da mao-de-obra afticanos. Lord Salisbury _j.,~ disse que a conferéncia foi a primeira na historia a se reunir “como propésito de promover uma questo de pura humanidade e boa hohoho. yas Gy x CO Qn da” 7 Guna vontade " > Sin Biter ; pe : < Aqui sao de interesse as\ Conseqiiéncias deste construto ideol6: aes \gico huando o dominio europeu se estendeu sobre a Africa. Isso fez an “ veriade com que os regimes coloniais tivessem de envolver-se com as com-/ ; cx, ae Fi ? plexidades da escravidao na propria Africa. Mas logo teriam de .s04 Sane confrontar os limites de suas préprias ferramentas para compreen- 4/4 der e intervir na sociedade africana. A corto Q® 7 AS AMBIGUIDADES DO TRABALHO SOB COACAQ -'r ¢ Sted sunepinrs Hinds jo = plague rmgshnds yridinue On idee no POH sown eormplarcdeds dA: Beret ate neo Aas Q Ae sir FO | entassem explicitai ‘orien ADn;, Embora Varios lideres coloniais argumen'** enropeus, como aaa ot los econdmicos , . © progresso exigia que os model riada, fossem ys, )ysrit9 Propriedade privada da terra ¢ a mao-de-obra assalai 7 f A i- | JA jmediata que descobri- 1,5 impostos as colénias africanas, a Tea" lade imediata q cult. ( rtagao de produtos.cult 7 Fl : XPO' “ty gL ram foi que | sua receita. depsndlia dn oF Yiorshih oe Kdeidods Sa 5 jypoh Sp ) aoentgrarmdor t 2 | TREE de ghricon > FREDERICK COOPER vados por escravos e camponeses. Seu fragil dominio politico des. cansava as vezes em aliangas com. lideres africai 10s que tinham inte- resse na escravida > , ainda que 0 comércio de escravos do qual dependia a escravidao doméstica para sua reproducio tivesse cria- do, como afirmaram corretamente missiondrios e exploradores, um clima de violéncia inimigo da paz colonial e do comércio de longa "/» distncia, A maioria dos regimes agiu prontamente contra o comér- ', cio de escravos em sua forma mais violenta mas_v: uanto a * escravidao em suas formas agricola e doméstica. No puderam temporizar em paz: os lobbies antiescravistas fi- ¥ zeram da tolerancia a escravidao na Africa seu principal alvo. A CS \"escravidao sob a bandeira britanica” era uma mancha no projeto) wy .. (Colonial d, em 1901, um governador-geral francés teve de lembrar ia ot a seus subordinados presos entre a heranga de 1848 e a vista grossa wy “oll escravidao: “Nao nos esquegamos que foi em nome da liberdade'., e do combate a tais costumes barbaros que as poténcias potacias enropting rd ae vieram 1 para os territérios da Africa.”® Q mais importante foi que. ast .a>’fConquista desor, anizou os mecanismos ontrole ¢ reprodusi onqui gar ie canismc os de controle e reprodugao dossenhores af africanos nos de escravos,e e estes, em v4rias partes da Africa, SO Jogo comegaram a Tomar ' as coisas em suas proprias maos."” Mesmoyi* sahtes que a colonizagéo ave avangasse muito, os escravos desertaram RY de seus senhores atrds das sedes das missdes e dos postos avancados cpyah 708 suropeus. Quando os pexercitas europeus avangaram pelo interior) * ee entourage. Alguns serviram aos soldados franceses; outros foram ) ae aceitos bd proprio exército francés, como parte da tropa africana _ os : conhecida como tirailleurs sénégalais. Algumas ex-escravas torna- ram-se concubinas de soldados franceses ou africanos; outros es- cravos foram distribufdos entre aliados africanos dos franceses. EsteS €m outro floreio de retérica, chamaram de “villages de liberté” 218 ee by. LOMDIGOES PULLOGAS & BSCRAYIDAG pses “& berdade”) as poroapes de exescraves € individuos Cit pe desayenpen que esperavamn utilizar ras forgas arma- econ mbit ara. hao Nivertat on eseravos de seus inimigos, oe es puantarh O70 andamento win proceso no qual os ate, ostt yas BIT TOES VOLES libertavarn-se a si mnesmos. Por trés Valictas ie SIATGRIATD, Ch LAICA aprotitaram a posibiida ak hia Yate CAA de buscar urn novo lugar para morar, ou Ca ben pata vntnare dependentes = = = aan pan da ideres mogulmancs que vinham accitando seguidores ¢ ss 9 plamio no waa ven ais pitapero cintarao do ami mn bin no Seneg~l. Ean certos lugares, principalmente na regiao wdmua bs Yanania, em 1905, 0 b1odo das farendas dos senho- ~,,\ 103 be ABYSS UTI ETN TASS, de forma tao irresistivel que o — Sig regime colonial no pide detilo, apenas tentar coordené-lo. A conquissa francesa do Oeste do Sudo foi, nas palavrasde John Lnsbale, “quase urna lenta revolta de escravos, mas dificilmente biol» a : ‘Vor sual Nimnitadas que fowsern a5 metas do conquistador, ua? prevenga tirou do prumo as selagies de poder € dependéncia 128 og 25 ‘aas, h possibilidade de sobrevivencia fora da duo dagucles que ficaramn. A fuga € , a desobediéncia causaram ten ts, preocuparam os donos de escr “ jescravista na metropole € minaram 4 utilidade da, 54/ nos regimes voltados para “a exportasao- bm thud em massa no Sudo ern 1905 foi importante para (Ore! > ‘yar claro para 0S ad- tnermadonyeral francks William Ponty 4 dei a nivistradores que a evcravidao tinka oficialmente c aa ° er10% estavamn livres para ir aonde quisesse™ O que isso S16: aso FREDERICK COOPER Sriticow na pratica variou muito, j4 que as possibilidades reais exis.) tentes para os ex-escravos dependiam muitfssimo das condigoes { is que determinavam as alternativas. Mas numa vasta ncia foram redefinidas, ainda que nao ey Quando os britanicos ocuparam o norte da Nigéria, onde um » : an 5 ; 4 forte Estado islmico presidia uma complexa sociedade comercial >” forte Pl 2 yy agricola ¢ onde muitos escravos labutavam em grandes proprieda- } des enquanto outros transformaram-se, no decorrer das Beragdes, numa populagdo camponesa dependente, a situag4o foi igualmente itéria. itnica antes da conquista ac contraditéria. A Propaganda bri Anica antes da conquista usara 0s governantes deter’ degenerado nos-dias de hoje até (...).0 mas- :Q sacre ilimitado, a pilhagem ¢ a caga_a escravos”, mas os novos Himitado, a pilhagem & 8 CA55 8 S525¥087 mas. novo governantes temiam que, Iiberta jOS, OS EX-eSCravos lev: m uma { vida de-vaga undagem”. Os britanicos estavam decididos a preser- y eee Ne __ Var a propriedade, a capacidade produtiva e o poder da elite, mes- Pee Gue ao mesmo tempo extinguissem formalmente a escravidao. »{oSuas atitudes foram forgadas pelo éxodo de escravos das regides do "estado mais recentemente conquistadas, assim como das 4reas cen- y trais. A terra que ficara deserta na época das cagadas humanas foi . teocupada ¢ houve revoltas de escravos. Nos primeiros anos do novo bb “século, © governo teve de agir para resolver uma situagao politica e ideologicamente insustentavel. Tentou conciliar suas metas con- flitantes com a politica de abolir a “condigao legal da escravidio”, recusando-se a reconhecer nos tribunais quaisquer queixas basea- ” das na condigao de escravo de algum individuo, enquanto esperava ope © controle da terra, 0 patronato ea tributagdo mantivessem 4 2 ¢stabilidade de uma sociedade hierarquica.!? No sudeste da Nigéria, g Si rida mais descentralizado, as autoridades cor m “preocupadas em manter sua alianga com a5 D) 220 CONDIGOES ANAL ALOGAS A ese ESCRAVIDAG classes dominantes indigenas”; tentaram acoplar a abol; cl ir o a abolicio lessl = mnudangas sociais minimas. Os escravos recorreram 3 FS 0 legal a x . Tam & fuga eros meios pata provocar uma mudanca mais substanch| Geen, stancial de sua condigéo. Os ex-donos de escravos tentaram a pe manter as pessoas m: as mais wulnerdveis em situacao de dependéncia e 0s ex-escravo obt a ex-senhores. Esses conflitos persistiram durante décadas, com om WJ seqiiéncias variadas, talvez negando igualmente a a e o - senhores a seguranca que poderia ajudar a criar formas novase mais dinamicas de produgao agricola.” gerones! Tanto os governantes franceses quanto os britanicos ee - bem cedo, declarar que estavam resolvidos os problemas que cerca: Pes vam a emancipagao. Fizeram-no definindo a escravidao de forma ie limitada e legalista.e insistindo que os tribunais nao reconhece-~>* riam mais tal condicao. Em geral, considerava-se a escravidéo um er wy problema masculino; a ambigi dade da dependéncia das mulhe- < res, a menos que o modo de sua aquisigao fosse excessivamente ~T F violento, foi assimilada pela categoria do casamento.! Outras re- lagées de subordinagao foram assimiladas pelo arrendamento ou pela divida. Os arquivos coloniais encheram-se de evasivas eufe- mismos — os documentos franceses transformaram o que antes \ eta chamado de “esclave” em “captif”, dep nalmente, “serviteur”. Na verdade, 0 esforco dos administradores para definir a escravidio como inexistente tornow dificil aos esper cialistas estudar, a partir dos arquivos, 2 politica francesa, que dira as praticas africanas. onquista Mas esses problemas nao diminufram o fato de he 7 nga dis: ¢ a jae lo - colonial realmente deu fim as versocs grande escala ¢ lo i i- ¢ limitou até as formas mais local ois “non-libre” e, fi- tancia do comércio de escravos - vos tadas do trafico. O sistema colonial tornoe osstvel. a i abe nee } pad «ag dB) oH CONG” gsc Ur exnody bor 22 SAT” | mbes Mn” 1 geo” Zs BAAS # I | FREDERICK COOPER fugir de um senhor cruel, transferir sua dependéncia a outros gru- pos ou individuos, redefinir as relag6es de dependéncia ou tentar os ou individuos, 1 arranjar emprego nas cidades coloniais, no_exército colonial, nas ferrovias coloniais ou nas escolas coloniais ¢ sedes das misses, Ag “\final da primeira década do n a os britanicos e franceses -|— ¢, pelo menos no papel, também os ortugueses, belgas ale) eon? mies — finham elininade aexisténcia ile 2 da ‘escravide aior ae "Tagio escrava e exploragio de escravos em grande escala estavam st see rapido declinio. or on AsGontradig6ek deste perfodo podem ser vistas com clareza no We ~~ caso de Zanzibar ¢ do litoral do Quénia, regiao colonizada pela Gri- Pca na década de 1890 e conhecida pela intensidade de sua ye, > agricultura e pela importancia nela dos escravos. Partes desta regiao, » especialmente Zanzibar ¢ o litoral préximo a Malindi, caracteriza- y vam-se por grandes plantations (de cravo-da-fndia em Zanzibar e ee cereais ¢ coco no interior), enquanto outras, quer rurais, quer urba- nas, tinham propriedades menores. Em ambas as areas os escravos, que vinham de territérios distantes da Africa central, foram con- s~ _, ,ertidos ao islamismo e cram socialmente definidos como membros ,inferiores de uma extensa comunidade. No entanto os limites da Fe e do paternalismo eram constantemente Ppostos a provae as comunidades de escravos fugidos espalhavam-se pela costa. A eee britanica mudou as relagdes de poder, permitindo tanto 0 ye éxodo das plantations quanto a redefinigao das relagdes de depen: vg Amis nas outras propriedades, Foi exatamente af que a idéia da) mio-de-obra livre, da forma pregada pelos missiondrios mais pu istas ou as peuapoade mais comedidas, deixou de levar em conta Y 222 CONDIGOES ANALOGAS A ESCRAVIDA ° Zanzibar € NO litoral leste africano, as autoridades tentaram sis eee Em jcamente repetir 0 que tinham tentado nas indias Ocidentais: {7% ~ elated rematl f abolir aescravidio e manter a classe de proprietarios de terras, 4ra- a | fric: ia li i coe bese africanos, que permar ligada.d agricultura exportadora ere mpregaria mio-de-obra assalariada.”* Os criticos, princi~ missiondrios, denunciaram todas as formas intermediarias supervisionado como violagio dos princfpios da ideo- le-obra livre, assim como seus antecessores ideoldgi- aprendizagem (apprenticeship) na década e agora el / palmente \ de trabalho } Jogia da mio-d cos tinham condenado a (de 1830. ‘Até os missiondrios temiam que, caso > os escravos fossem liber- ‘ sos mas nao submetidos a controle estrito, “tenderiam a produzir ; jp tima classe de gente desmoralizada e perigosa, que com certeza, no futuro, traria embaragos ao bom governo & atrapalharia a prosperi- ceava que “se um grande niimero stdade do pais”. Uma autoridade re 2 de escravos for libertado de uma s6 vez, eles podem se descontrolar, meter todo tipo de excesso” saquear lojas e shambas (fazendas) ¢ co! ‘As autoridades nao questionaram se 0S senhores de escravos deveriam manter seus direitos de propriedade da terra € das Arvo- inc a, Nem questionaram a necessi-..9 “Prat ~ gerenciar a produgio: 5 comp dade de uma classe de administradores para a opcao de permitir aos ex-escravos cultivar por conta propria, COMO, 2 ale i eriamente_ em. consideragio. Segundo,.Lericle de Zanzibar de 1897, os senhores de ea Aw Ses em dinheiro pata facilit: O decreto, contudo, tentou chegar a is da visio britanica res produtivas segundo a lei islamic camponeses, nai 9 decreto de emancipagio caro rectbenan ngage iM meio-termo entre as conse qiiéncias radicai ( 223 FREDERICK COOPER \ da escravidao — de que a mao-de-obra devia ser “livre” _ eas } consequiéncias conservadoras da visdo de classe das autoridades _ © de que a boa ordem ¢ a produgao exigiam uma classe de Proprie. trios de terras ¢ administradores, Os escravos libertados Pelo de- eroto de 1897 perderam as rogas que tinham ocupado para Sia subsinténcia ¢ podiam ser acusados de vadiagem, a menos que con- , cordanem em fazer um contrato com algum dono da terra. As au- toridades usaram a atmosfera intimidadora dos tribunais onde se concediam os documentos de liberdade para impor modelos de contrato: on ex-escravos trabalhariam trés dias por semana (contra on cinco costumeiros da época da escravidao) o ano inteiro, em tro- ca de uma roga de subsisténcia e do lugar para construir uma casa, ‘a. &* Muitas vezes os ex-escravos concordavam com os contratos, mas| wins » no cumpriam necessariamente os trés dias de trabalho. Aprovei ng 'dtando-se da nova possibilidade de deslocar-se entre as plantations ps Ppara procurar terra vaga ndo plantada com cravo-da-india ou tra- yi x (balho ocasional nas cidades, com freqiiéncia os ex-escravos conse) or r‘} guiam chegar a entendimentos com os proprietdrios que lhes davam_ iy Vicesso A terra em troca da vaga responsabilidade de realizar algum \ ae ¢ fazer parte da “gente” do proprietério. Os senhores, de- ) sesperados atrds de algum tipo de domfnio sobre os ex-escravos, tanto quanto os préprios ex-escravos, subverteram a nogio britani- ca de obrigagSes especificadas em contrato e de trabalho regular. Faltava as autoridades britdnicas 0 poder e a vontade de realizar expuls6es em massa ¢ processos por vadiagem e esta incapacidade reforgou a tendéncia dos proprietérios de terras de agir segundo normas mais conhecidas, cultivando lagos de dependéncia de longo prazo em vez de obrigagdes contratuais. A esperanga britanica de que a disciplina do trabalho se manteria na Africa pela “sangio da demissto” tornou-se cada vez mais irrelevante, Poucos anos depois 224 CONDIGOES ANALO on GAS A ESCRAVIDAG pero? da emancipagio uma autoridade lamentava-se, , trabalho constante € regular é 6 ? $ tamente 0 que sey Escravo ou es. A produgao de cravo-da-india de Zanzibar foi salva Por uma distribuigao do tempo bem diferente da regularidade da diccint; do trabalho assalariado que as autoridades britanicas t , . pirar. Os migrantes de curto prazo das dreas das ilhas Qa ins- duziam cravo (marginalizadas pela economia escravista) comepuat a trabalhar na colheita durante apenas algumas semanas por ano, Os migrantes de longo prazo da Africa alema, onde o fim do co- mércio de escravos, do comércio de marfim e do transporte bragal reduzira 0 acesso dos jovens a pagamentos em dinheiro, comeca- ram a chegar para perfodos de dois ou trés anos capinando as plan- tages. Os ex-escravos preencheram as brechas. Assim, a produgo de cravo na verdade cresceu, ainda que as autoridades cau | omodo como o trabalho era feito. gy No litoral do continente, as autoridades do Quénia hesitaram, % Ppreocupadas com uma revolta liderada pelos senhores de escravos epelos resultados da experiéncia em Zanzibar. Entretanto em 1907 0s escravos jd tinham feito muito para libertar-se, aproveitando-se da presenca britanica para minar as sutis relagdes de dependéncia dasociedade escravista. Agora os individuos podiam deixar as gra des plantagdes sem temer por sua vida: a construgao de ferrovias € 0 alternativo. O | outros projetos coloniais tinham criado empre -obra escrava provocou um | ue ficaram: os escravos r6prio cultivo € Y éxodo lento mas constante da mao-de Teajuste das condigdes de trabalho dos qi Passaram a dedicar mais tempo € espago 2 SU PI Menos aos campos do senhor. O decreto de abolicéo do Quéni Thores de escravos exigissem indenizagio pel ia em 1907 permitiu que os se-_ Jos escravos cujos Ser 225 FREDERICK COOPER u efetivamente a liberdade que os escra. s perderiam € ratificol legitimando ao mesmo tempo 0 esforgo inham con: uistado, dos proprietdrios para que os escravos de outros senhores se insta. Jassem em suas terras como agregados. O sistema de mao-de-obra amarrada a terra cedia lugar 4 com eticdo entre Os proprietérios por tabalhadoses.cada vex. mais méveis ¢ os agregados pagavam 2 . 12? apenas um aluguel modesto.ou prestavam servicos vagamente espe: : vigo! vos ja t J ‘cificados. Os que moravam no interior, por tras do cinturao litor4- oo neo mais fértil, integrantes de nove grupos politicos e comunitarios distintos conhecidos coletivamente, mais tarde, como mijikenda (nove aldeias), comegaram a unir-se aos ex-escravos Como agrega- dos nas propriedades costeiras. Perto de Mombasa, tanto ex-escra- vos como mijikendas criaram uma simbiose de atividades urbanas e rurais, buscando ocupagao ocasional, principalmente nofportd, que pagasse em dinheiro o dia de trabalho mas nao comprometesse a participagao na agricultura. a Tanto em Zanzibar quanto no litoral do Quénia 0 governo co- lonial reconheceu os titulos de propriedade das terras e das arvores da lei islimica e, assim, seus donos mantiveram a posse da terra, ainda que nao a transformassem em controle estrito sobre a mao- de-obra, As negociagées realizadas dia-a-dia nos campos, contudo) tornavam arriscado para os senhores investir em suas propriedades ou, para os agregados, melhoré-la através de seu trabalho. A estag- nagio econémica tornau-se o preco da situacia social instével. Em teoria, o registro dos titulos permitia a transferéncia da terra a CO lonos brancos— o governo do Quénia esperava que isso aconteces- se —, mas esta possibilidade também nao deu certo, em parte devido a excessiva especulagio, em parte devido A competigio da produ go ce outras tegides do Império Britanico e em parte porque us Proprietérios europeus nao conseguiam recrutar m4o-de-obra 14 226 | — CONDIGOES ANALOGAS A EscRaVIDAO apesar da ajuda consideravel das autoridades coloniais. Os habitantes do litoral preferiam tornar-se agregados ou trabalhar para proprietdrios de terra nativos, que nfo faziam exigéncias quanto & jornada de trabalho, enquanto os proprietarios europeus insistia isso com um perfodo que atrapalharia o que era mais| no compromi importante para os trabalhadores: obter acesso terra de longo prazo e razoavelmente seguro. O que entrou_em colapso nas antigas plantations do litoral do j regia, Quénia (e, em menor grau, em Zanzibar) nao foi tanto a agrict iltu- ra, mas sim ia britanica de mio-de-obra agricola assalari) da, Atroca regional entre dreas diferentes do litoral e entre Mombasa ©) ‘ea érea rural circundante tornou-se mais intensa e variada. A ex- Rocce. portagao decresceu, mas a produgao de coco e cereais continuoua 02452 os proprietérios 2 ++ ser enviada para o exterior. Na maioria dos casos, de terras s6 conseguiam extrair um arrendamento modesto e parte Bo da colheita dos coqueiros de suas plantations; nao podiam contro- ag~<6 lar o proceso de produgao. Durante algum tempo, os “figurées” >» Meas, ao litoral se aproveitaram do enfraquecimento ‘os para melhorar sua posi¢ao no mercado s também tiveram dificuldades para sem em terras litoraneas ou fos- das 4reas proximas dos proprietérios costeir regional de cereais ¢ coco, ma: evitar que seus stiditos se instalas: sem para Mombasa.” Periodicamente, as autoridades expr 0 agregados, O governo temia que sua presen: sistema de arrendamento individual e desencoraja de terras, principalmente por europeus- Até os agre| nham recuperando a produgao de cereais das terra plantations foram acusados pelo governador de levar um: erno, a Zona litordnea, cia intitle degenerada”.2* No projeto do gov ra para a agricultura em propriedades privadas com mio-de-obra miram seu desprazer com ca comprometesse O sse novas compras gados que vi- s de antigas a “existén- 227 | FREDERICK COOPER assalariada; os migrantes africanos pertenciam A sua terra natal no interior, agora rotulada de “reserva”, e s6 deviam aparecer quando tivessem um contrato definido de trabalho. A tentativa do 8overno em 1914 de expulsar os agregados de uma regiao fértil ao Norte de Malindi resultou em revolta e fome, que as autoridades foram for. gadas a aliviar. Pouco tempo depois, os agregados voltaram 4 Tegiio onde suas cabanas tinham sido queimadas e seus campos destrufdos e desta vez as autoridades desistiram. A presencga renovada de agre- gados, bem recebida pelos desventurados senhores drabes da area, levou a uma modesta recuperacdo da exportacio de cereais,2? O mercado de trabalho urbano de Mombasa desenvolveu-se de wot * panséo, mas ndo o mercado de trabalho rural. Nos dias da escravi- dao, era freqiiente que os donos de escravos urbanos mandassem yo seus escravos procurar trabalho durante o dia, sendo que boa parte y & oy los ganhos era entregue aos donos. Na era p6s-emancipagio, este Processo continuou, envolvendo ex-escravos das reas circundantes assim como da cidade, com o dono exclufdo do quadro. O merca- do de trabalho de Mombasa ajustou-se bem porque os empregado- Tes aceitaram de bom grado a forga de trabalho pela unidade bisica que os africanos do litoral queriam fornecer: por dia. Em dez dias de trabalho, os trabalhadores ocasionais do porto podiam ganhar)\ oy? tanto quanto aqueles com contrato de trabalho nao especializado <> ~ que nao especificava a jornada podiam ganhar num més. Os ex-es- *€ravos e mijikendas descobriram que os perfodos de trabalho ocasional na cidade complementavam a ocupagdo como agregado€ lavrador em reas rurais.3° Dada a natureza flutuante do transporte marftimo, os empreg” d : i “‘dores descobriram que o trabalho por dia também atendia a seus interesses: podiam ajustar a folha salarial As suas reais necessidades. CONDIGOES ANALOGAS A escaay, Pho fo entanto as autoridades sentiram-se inquietas, tem, jo un mage » temen | pulagdo desligada dos empregadores, espacialmente mé f uma/ vel e ‘gente 3 disciplina do tempo. No discurs9 oficial, a eat t af pal dor ocasional transformou-se na categoria de Va ee -noso. Mas s6 no final da década de 1940 fez-se ae 7 cri- tiva i Shinde mudar o sistema de trabalho ocasional, contexto do poder imposto e do esforgo dos préprios ex-escravos para desviar, redefinir ———— a9 conti = ou negar as formas de “fazer parte’ *, continua a ser uma questio complexa. Um lugar interessante para examinar este problema é a Africa Central, principalmente nas sociedades matrilineares. A sucessio matrilinear provocou problemas especificos numa época de incer- teza e mudanga como o século XIX. Um homem que adquirisse rique- za e sucesso militar nao poderia passd-los aos filhos; seus herdeiros seriam os filhos de sua irma. Um sistema desses nao dava, necessa- tiamente, poder as mulheres, embora em certas condigées criasse a> ‘yp Possibilidades para a iniciativa e a agdo coletiva femininas, mas apre- ge? sentava um dilema especifico quando os grupos de parentesco nao o” inham relagdes estaveis entre si e homens ambiciosos queriam cons- SOP? ruin grupos de parentesco e padrées de sucesso que eles mesmos pudessem controlar. Onde havia escravos — e o cinturao matrilinear da Africa Central era ao mesmo tempo vitima e beneficidrio do co- _mércio de escravos — um homem podia resolver o problema com- 50 prando ou capturando uma escrava e desposando-a. Como ela se ye transformara numa pessoa sem familia, sua linha de sucessao nao tinha poder sobre as criangas. O homem, assim, podia expandir seu préprio grupo de parentesco, enquanto casando-se com mulheres livres expandiria o grupo de parentesco das esposas.*! Este processo contribuiu para o crescimento rapido do poder los chefes nesta regido. E claro que tais estratégias matrimoniais eram contrabalangadas por outros homens que faziam a mesma coisa €arelativa descentralizagao do processo de comércio de escravos € as Totas do trafico criaram bastante conflito € inseguranga.” As re- laces de poder entre os sexos foram afetadas quando os homens 234 r- CONDIGOES ANALOGAS A EScRAVIDAO reocupar-se menos.com, © que suas ¢sposas produziam e concentrar-se mais na guerra ¢ no mercado, enquan- ca da regio tornava as mulheres, objetos especialmen- ra a escravizagao, vulnerdveis ¢, deste modo, mais gssaram 4 P Eas fazendas roainsegutan te desejavels Pa dependentes do que antes dos homens guerreiros. Nas sociedades patrlinearess as conseqiiéncias de um casamento local ¢ de um casa- mento com escrava nao eram tao diferentes, mas ainda assim este gitimo aumentava a possibilidade de construir um grupo grande das fronteiras dos relacionamentos entre as de parentesco além linhagen’ SAL ‘Assi, aemancipagio causou um problema de poder relies eave degener ‘Numa regido da Niasalandia britanica (hoje Malauf), Elias oe Sts Mandala demonstrou que © fim da escravidao ¢ 0 aumento do co- Seok ees mércio de produtos agricolas que as mulheres podiam controlar deu iz por certo tempo algum poder as mulheres, até que, mais tarde, oe perry, economia agricola comercial desgastou-se no perfodo colonial. Em) te _ termos mais gerais, 0 potentado masculino local perdeua capacida: de de obter esposas escravas, a capacidade de agir independente> controle dindstico, mente da linhagem materna, sua ¢ das esposas, ¢ além das oportunidades de conquista, escravizagdo e comércio que foram diretamente impedidas pela Pax Britannica. Os conquistadores britanicos temeram que um excess de “li- } bertagdo” pudesse diminuir em vez de aumentar a possibilidade de [ de” produgdo agricola comercial € desorganizasse 2 ordem social que \ Iveram ativa- \ dependia da autoridade patriarcal. Assim, nao se envo! Mente na libertagdo dos escravos ¢ dedicaram-se a impedir 0 co- mércio e os casos de maus-tratos que nao podiam evitar; em geral, contentavam-se em definir uma das formas mais importantes de Ssctavizagio na categoria de “casamento” em vez de “escravidao”. Ainda assim, houve consideravel confusio sobre quem era ou na 235 TREDERICK COOPER escrav ¢ que tipo de autoridade ¢ por quem podia ser exercida sobre as mulheres. Dentro ¢ fora do casamento, as “instituigées legais consuetudinirias” foram usadas para tentar “manter as relagdes de “ subservidneia entre os escravos ¢ seus antigos senhor riada nas duas imbora o trabalho \ Ocrescimento da migragio da mio-de-obra assala flo. \\Rodésias e na Niasalindia complicou a quest oS FSalariado nunca tenha se generalizado na regitio, desenvolveu-se “we * o bastante (desde as plantations do sul da Niasalandia As minas da WO" one spo°” Rodgsia do Sul ow até a Aftica do Sul ¢, mais tarde, ds minas da Ro- +" oportunidade de ter acesso a recursos econdmicos de forma inde- < pendente de seus pais, a serem usados para o casamento. Pior ainda - > para os patriarcas inseguros, as mogas podiam também encontrar alternativas nas novas cidades, privando seus pais do dote ¢ da mio- de-obra — a sua, a dos maridos das filhas e a das futuras geragdes — que era essencial para que uma famflia fosse tio abastada quanto permitia o sistema colonial. Mas a autoridade masculina ndo se desgastou com tanta facili- \\dade. Martin Chanock mostra como essas ameacas levaram A unio sob o lema das “instituigdes legais consuetudindrias”. Ele ressalta que elas faziam parte de uma luta defensiva pelo poder, a tentativa de tomar o passado ambiguo e transformé-lo em mecanismo de controle dos homens mais velhos sobre os rapazes mais arrogantes ‘€ as mogas mais determinadas. O “costume” da deferéncia aos mais \vethos ea rigidez dos papéis conjugais dentro dos padrées de rela- { so de género nao foram invengées safdas do nada, mas representa- yam a transformagio de um passado recente e conflitado em costum antigo. As préprias autoridades britanicas, Preocupadas com as mu-, dangas sociais vistveis ou sutis que tinham deflagrado, estavam an- siosas para encontrar regras Precisas e um senso claro de autoridade 236 CONDIGOES ANALOGAS A ESCRAVIDA ° Dispunham-se a permitir que os homens mais * ve { + oni « = elhos thes dis.) gsm 0 que significava “costume”, contanto que nao consti dis. L oma pratica barbara, e a incorporar essas nogdes num nstitufss \ cl semiburocratizado que codificasse essas Teivindie. | 71 45 | poridade conjugal.’ © gssim como nas lutas sobre a mao-de-ol litoral do Quéni zi omo nas Tutas Sobre a mao-de-obra no litoral = uénia com Zanzibar, as autoridades coloniais mergulharam num mund “mais complexo do que suas sas conser social ma P gq Categorias conseguiam explicar, mol — Shicdnae immin =" Vieram a aceitar como. africanas, imutaveis e tradicionais certas ASS nogoes Novas de relagdes sociais que eram produto de lutas e de uma x bi historia que nao queriam conhecer. 29 Ordats A questo do casamento teve conseqiiéncias importantes so- eabtierod bre a. questao da m&o-de-obra. Quando as minas de cobre da Coho~ Rodésia do Norte britanica comegaram a produzir na década de. o to 9 1920, a ideologia neotradicionalista que os administradores tinham ._ ,,39- entio aceitado deixou-os com uma ambivaléncia profunda: querizle ~Lraw am que os africanos trabalhassem para o capital europeu mas viam que a ordem ea estabilidade social dependiam da preservacio de uma estrurura de relagées familiares enraizadas na aldeia ena. atv toridade dos mais velhos. Os proprios rapazes talvez preferissem periodos curtos de trabalho assalariado, para que pudessem com- bind-los com a seguranca das terras da aldeia e a inclusao em seus arranjos sociais, enquanto os homens mais velhos, assim como as mulheres mais velhas e mais novas, tentavam levar a combinagao de recursos materiais e sociais em diregoes diferentes. Os empre- badores europeus viram-se presos entre © desejo de maximizar 0. Tecrutamento de mao-de-obra e a esperanga de nao pat ar oe Social total do trabalho numa situagao de consideravel incerte a Masa lente pela qual este conjunto complexo e mutante de On bilidades econdmicas era examinado nos circulos oficiais ¢ sistema judi- ‘ages de au- 237 FREDERICK COOPER subordinada a preocupagao da administragao provincial com 9 sistema de autoridade. Essas autoridades podiam conceber os africanos trabalhando, er_os africanos trabalhando mas ndo os africanos como operarios. Na verdade, o nome preferj- do para quem partia da aldeia, abandonava a autoridade dos ho- mens mais velhos e a regra do casamento consuetudinario era %gfricano destribalizado”) Até a década de 1940 a discussao das questdes de mao-de-obra ficou encurralada nesta limitacao concei- tual e, para a manutengao deste construto, foi fundamental a idéia de que as mulheres ficariam nas aldeias e que os regulamentos — os contratos de trabalho e os tribunais consuetudindrios — deveriam manter as coisas assim. O povoado mineiro ou a cidade poderiam ser local de trabalho, mas nao de reprodugao da forga de trabalho." A ———————E——— eo Assim, em yarias regides da Africa a revolugao que se seguiu Saal emancipagéo no foi pretendida nem clamorosa, mas, em vez dis- ra Z $0, provocou uma transformagao basica das relagdes de podere del) 4 Pod Genero, tratada no discurso oficial como se fosse a manuteng4o da 2» tradigao. Este conjunto de categorias nao foi melhor do que 0 con- so 7 — seta de mao-de-obra livre para levar A compreensio da dinamica ~ so da Africa sob o dominio colonial. P . ee Pe? oD TRABALHO FORCADO E MENTALIDADE COLONIAL 5 A concep¢ao moral do novo colonialismo no final do século XIX implicou nao s6 o dever de salvar os africanos uns dos outros, como também a obrigagio das poténcias coloniais de examinar as prét- cas umas das outras. A impossibilidade de cumprir o primeiro de- ver, contudo, tornou o segundo uma questo delicadfssima: dada a resistencia pecul icanos ao trabalho constante, a tentativa © 238 f o | CONDIGOES ANALOGAS A EScnavinA DAO geexpandir a producio trazia a possibilidade nfo s6 de _g dos duvidosos dle obter mio-de-obra fossem praticados =e s sgencotassejustificativa para les, Com certeza a a ar pilidade se concretizou e nao somente nos primeiros anos dacole "poe gas, mas nao foi tio facil criar t uma defesa durdvel para qual - y forma de trabalho sob coagio, A internalizagio do im etalismo na aw década de 1880 —a articulagio de uma fachada comum de ideolo gia reformista combinada as rivalidades continuas entre as nagdes t /— foi um fator crucial neste aspecto: os estados europeus manti- nham olhos vigilantes uns sobre os outros ¢ transformar em exem- / plos os membros mais fracos da comunidade colonizadora servia ) de aviso sobre 0 tipo de colonialismo accitavel nos cfrculos bem- (educados. As regras do jogo A principal prova de sua seriedade aconteceu nk Gong ) rei Leopoldo. Leopoldo II da Bélgica, um dos arquitetos dos acordos internacionais segundo os quais as poténcias européias repartiram a Africa, concedeu a empresas 0 direito de coletar a borracha. Elas o fizeram pelo terror, seviciando as pessoas que nao ‘conseguiam cumprir as quotas. Na década de 1890 missionérios ¢ comerciantes montaram uma campanha internacional contra estas praticas e,em 1908, Leopoldo foi forgado, finalmente, a transformar seu feudo pessoal do Congo numa yerdadeira colénia belga ¢ encontrar ou A desis- tras formas além do terror de obter progress econdmico. téncia formal provavelmente contribuiu menos para 0 fim da coleta forcada de latex que a exaustio das fontes de borracha ¢ © desen- volvimento de outras atividades econdémicas menos dramaticamen- te nocivas.‘” Mas Leopoldo fora humilhado por causa do que fizera 239

You might also like