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100 JOGOS PARA GRUPOS Uma abordagem psicodramatica para empresas, escolas e clinicas Tanto as psicoterapias de grupo quanto as modernas técnicas de dinamicas grupais aplicadas em escolas e na area de desenvolvimento de pessoal nas empresas contam com os jogos dramaticos como grandes aliados. Mas nao basta possuir um imenso acervo de jogos e aplica-los aleatoriamente, Se o jogo adequado quebra a resisténcia e estimula a criatividade, o jogo inadequado pode produzir resultado exatamente oposto. Este livro, de Ronaldo Yudi Yozo, experiente psicodramatista, faz uma cuidadosa anilise das diferentes fases de um grupo e quais os jogos mais indicados ao longo do processo. Com grande preocupacao didatica, Yudi apresenta cada jogo numerado e em paginas separadas. No final, uma tabela facilita a escolha do jogo conforme 0 momento do grupo. Tudo isso faz deste livro mais do que apenas um instrumento de informacao — "100 Jogos para Grupos” é um eficiente companheiro de trabalho. Ronaldo Yudi K. Yozo E psicélogo clinico e psicodramat formado pela Associagao Brasileira de Psicodrama e Sociodrama (ABPS), terapeuta e professor-supervisor pela Federacao Brasileira de Psicodrama e Sociodrama (FEBRAP). Atua como consultor e supervisor de jogos dramaticos na area de Desenvolvimento Pessoal. san 85-718051041 ° | 35711855108) Cirle er mS Cray VO) LLU y _ i=] So = ° | I] a Ronaldo Yudi K. Yozo me!) JOGOS para grupos a * Uma abordagem psicodramatica Jexega C5 Pf 6 100 JOGOS PARA GRUPOS Uma abordagem psicodramatica para empresas, escolas e clinicas Dados Internacionais de Catalogagdo na Publicagio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) ‘Yozo, Ronaldo Yudi K. 100 jogos para grupos : uma abordagem psicodramatica pa- ra empresas, escolas e clinicas / Ronaldo Yudi K. Yozo. — Sao Paulo : Agora, 1996. Bibliografia. ISBN 85-7183-510-1 1, Moreno, Jacob Levy, 1889-1974 2. Psicodrama 3. Psico- terapia de grupo 4. Sociometria I. Titulo. cDD.616.891523 E NLM-WM 430, ee VW #30 {indices para catdlogo sistemético: 1, Jogos : Psicodrama : Medicina 616.891523 100 JOGOS PARA GRUPOS Uma abordagem psicodramatic: para empresas, escolas e clinicas RONALDO YUDI K. YOZO Copyright © 1995 by Ronaldo Yudi K. Yozo Nenhuma parte desta publicago poder ser reproduzida, guardada 4 pelo sistema “retrieval” ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer meio, seja cletrénico, mecdnico, de fotocépia, de gravacio, ou outros, sem a prévia autorizacdo por escrito da Editora. Capa: Carlo Zuffellato Paulo Humberto Almeida “0 criador é como 0 Todos os direitos reservados pela corredor para quem, no ato Editora Agora Lida. de correr, a parte do percurso R. Itapicuru, 613 — Cj. 82 ‘jd vencida e a que se estende @ 5006-000 — Sao Paulo, SP sua frente sdo qualitativamente QB Teietone: (011) 871-4569 uma s6.”" 7 Jacob Levy Moreno Quero expressar minha profunda gratidao aqueles que foram tio ‘generosos com seu tempo e conhecimento: A minha esposa e meu filho, que compartilharam as alegrias ¢ as dores desta aventura; A Maria Alicia Romafia, que sempre acreditou em meu trabalho ‘¢ com sua sensibilidade soube imprimir coragem ¢ determinacao para que eu seguisse em frente; A Maria Cristina Elias Salto, que com seu conhecimento ¢ espirito de grandeza auxiliou nos momentos oportunos; A Liicia Tomie T. Iwassaki que, pacientemente, revisou meus escritos; ‘Aos meus alunos, supervisionandos e colegas que colaboraram ¢ trocaram impressdes durante este percurso e aos quais desejo que continuem ‘*jogando”’ através da vida, para a construgdo de uma sociedade mais esponténea. SUMARIO Prefécio 9 Introdugao rT 1, PSICODRAMA E JOGO DRAMATICO 15 I — 0 que é jogo dramatico. 15 II — Caracteristicas do jogo dr 19 III — Principios do jogo dramatico 20 IV — Recursos materiais.. 2 2, MATRIZ DE IDENTIDADE .. I — Correlagao com 0 jogo dramético Il — Classificagao .. 3. O DIRETOR DE JOGOS DRAMATICOS E 0 GRUPO.. 33 I — Desenvolvimento do papel de diretor .. Il — Recomendacées para um bom trabalho III — Diagnose ¢ leitura de grupo . see 43 4. 100 JOGOS DRAMATICOS I — Jogos da 1 fase I — Jogos da 22 fase . IIT — Jogos da 3¢ fase 5. JOGOS NA MONTAGEM DE PROGRAMAS .. 155 I — Programa adaptado a empresa/instituicao. Il — Programa adaptado a escola .. 6, JOGOS DRAMATICOS APLICADOS A CLINICA . 173 177 179 ‘i 191 Epitogo.. indice e classificacao de je Bibliografia jogos dramdticos ... \ PREFACIO Em 1979, quando escrevi o livro Jogos Dramdticos, lembro-me muito bem do motivo de sua publicagdo: a necessidade de transmitir a todos que trabalham com grupos humanos minha experiéncia pro- fissional, estimular 0s colegas a se observarem em seu desempenho ‘ frente ao outro, numa atitude de crenca na capacidade espontanea e criativa, bem como incentivar para que outras experiéncias fossem escritas com a finalidade de se formar um corpo informativo de maior consisténcia nesta area especifica do Psicodrama. A partir dai seguiram-se varias publicagdes sobre o tema e, agora, este livro do Ronaldo Yudi K. Yozo, que considero um verdadeiro ‘manual teérico-pratico. Neste livro ele classifica 0s jogos, relaciona-os com as fases do desenvolvimento da Matriz. de Identidade da teoria de J. L. Moreno e no-los oferece para utilizagto na pratica clinica, educacional, junto a empresas ou instituicdes. E quem sabe também no possamos usé-los em nossa vida, em nosso dia-a-dia, reencon- trando 0 sonho e a poesia intrinsecos ao ato de jogar? Recordo-me de alguns momentos vividos com a utilizacdo de jo- g0s draméticos. Vou conté-los brevemente. Tive a oportunidade de igir um grupo de executivos, em treinamento, de uma multinacio- nal. Entrei na sala e 1d estavam eles me observando, circunspectos. Propus a todos que andassemos e logo pudemos fazé-lo em jardins, na neve, na chuva, Riamos e nos comunicdvamos. O jogo nos apro- ximou. Conseguiu com que adultos “engravatados” e ‘‘sérios” se divertissem. Em outras dreas do nosso trabalho, com nossos clientes ou com grupos de um modo geral,, 0 jogo também se insere como uma técni- 9 oa extremamente eficaz, seja para propiciar um campo mais relaxa- do ou para maior integragao grupal, permitindo, inclusive, que coi- sas ‘‘duras”” sejam ditas sem que as pessoas se sintam feridas de mo- do a deixar magoas a cicatrizar. Na area da educacdo temos outro ‘campo de sua aplicabilidade. Por exemplo: que tal aprender “‘sen- do” a borboleta que nasce do casulo ¢ voa alcancando as drvores ou 0 afluente do rio que deségua no mar? Finalmente, é com grande satisfacdo que Ihes apresento este li- vro, Acompanhei o autor em cada passo da gestagio de sua obra e pude com isto conhecé-los muito bem. Yozo é um profissional sério, competente, e um ser humano encantador, que se interessa em di: vulgar e compartilhar suas vivéncias criativas. Convida-nos, através de sua leitura, a deixar de lado a pesada e, &s vezes, falsa seriedade adulta e percorre o caminho do hiidico, da imaginagao, o mundo do vale-tudo, do riso! Que encontro maravilhoso se produz através do jogo! ‘Meu caro leitor, venha participar também. Regina Fourneaut Monteiro 10 INTRODUGAO "A vida social reveste-se de formas suprabiolégicas, que lhe conferem uma dignidade ‘superior sob a forma de jogo, ¢ € através deste witimo que a sociedade exprime sua ‘Interpretapdo da vida e do mundo."” Johan Huizinga’ Este livro surgiu do interesse e fascinio que os Jogos Dramdti- cos exerceram na construcdo do meu papel de Psicodramatista, des- de aluno em formagdo até a atuacdo como docente desta disciplina em Cursos de Especializagdo em Psicodrama. A aquisi¢ao de con- ceitos e sua aplicabilidade sedimentou-se a partir de minhas proprias experiéneias no campo profissional. ‘Seu alicerce fundamenta-se na teoria do Psicodrama, de Jacob Levy Moreno. A minha proposta de 100 Jogos Dramidticos dirige-se a psicodramatistas, especialmente aos formados em Psicodrama Apli- cado e a profissionais que trabalham com grupos em geral: empre- sas, escolas ¢ instituicdes. Isto nao impede que ndo possam ser utili- zados na drea clinica. Para tal, devem ser adaptados as necessidades em questo. ‘Antes de falarmos de Jogos Dramdticos, seria interessante res- ‘gatarmos a origem dos jogos. Desde a Antigitidade o jogo exerce um grande fascinio nas pessoas ¢ atravessa incdlume em sua estrutura, durante os séculos, por produzir ¢/ou resgatar 0 hidico. ‘A maioria dos fildsofos, antropélogos e etélogos demonstra in- teresse pelo hidico ¢ define JoGos como uma atividade que tem sua propria razio de ser e contém, em si mesmo, 0 seu objetivo. Johan Huizinga? afirma que 0 jogo ¢ anterior & cultura e mais antigo que qualquer organizago social, pois “‘os animais brincam 1. HUZINOA, T. Homo Ludens: 0 jogo como elemento da cultura. Sao Paulo, Pers- pectva, 1971 2. dem, ibidem, p. 3. ul tal como os homens”, com rituais de gestos, agdes, regras, competi- ‘glo e divertimento, ou seja, exerce uma funcdo significante, visto que apresenta um determinado sentido. Oferece tensao ¢ alegria. 0 divertimento define, em si, a esséncia do jogo. Para Gregory Bateson, 0s jogos sto o melhor veiculo de comu- nicagdo entre as espécies (cdo e macaco, homem e delfim), assim co- ‘mo entre pessoas de geragdes, classes sociais ou culturas diferentes. Gustav Bally? estabelece a relagao: animal versus homem, atra- vés do jogo (denominador comum). Associa o jogo a liberdade (in- dividuo tenso ~ sem liberdade. Hé a necessidade de relaxar). O ho- mem joga durante toda a sua vida, principalmente quando crianga, pois a disponibilidade para jogar é maior. Afirma, portanto, que o jogo & o movimento da liberdade. Observando-se nossa sociedade, constatamos que ela tem se tor- nado extremamente materialista ¢ pragmatica ¢ 0 jogo em si torna- ‘se 0 seu inimigo direto. Muitas vezes é classificado como algo que no deve ser levado a sério, j4 que € considerado perda de tempo, pois estaria interrompendo a meta do desenvolvimento social. Esse conceito tomou tal proporgdo, que 0 jogo ¢ 0 seu cardter lidico fi- caram restritos a situagdes especificas como as festividades em ge- ral. O lema “que venga o melhor” constréi, explicitamente, relagdes de competi¢&o ¢ poder nem sempre sauddveis. Essa relagdo de com- petigdo e poder direciona para um tinico ponto: 0 vencedor, e isso nada mais é do que a obtengéo do poder. ‘Segundo Martine Mauriras-Bousquet,* desde a década de 50 a sociedade demonstra um interesse crescente pelos jogos, mas o sig- nificado real do lidico é distorcido. Afirma ainda que ‘“‘nenhum jo- g0 instituido garante os jogos, 0 ltidico” O excesso de responsabilidades ¢ o ritmo estressante para cum- prir 0s compromissos do dia-a-dia fazem com que as pessoas bus- ‘quem o prazer através dos jogos. Por isso o interesse crescente pelas casas e parques de diversdes, por programas de televiséo, concur- ‘sos, campeonatos esportivos etc., como uma forma de diminuir essa pressdo. O prazer, no entanto, pode estar associado diretamente a0 hidico. dependendo da disponibilidade ¢ abertura das pessoas. ,, Foram-se os tempos dos fliperamas, depois vieram as casas de videopéquer. Atualmente as casas de bingo propagam-se de vento ‘em popa. Serd esta a forma ideal de jogar? Ou melhor, os jogos des- te tipo apresentam um caréter realmente Nidico? 3, BALY, Gustav, El juego como expressién de libertad. México, Fondo de Cultu- 1 Beondmica, 2¢ ed. 1964 “4, MAuninas-Bousquer, M. “Um ofsis de felicidade."” 0 Correo da Unesco, Si Paulo, ano 19, 1991, n? 7, p. 5. \ questionamento nfo se restringe aos locais e/ou atividades que oferecem diversdes, pois, na visto capitalista, o prazer envolve custos e € socialmente aceito. Portanto, nao hd qualquer conotagdo critica ‘ao modo como funcionam, mas sim, aos beneficios que um indivi- duo pode desfrutar. A qualidade desse prazer depende da postura espontéinea de cada um. Verificamos que em muitas pessoas a pre- disposigao para 0 ato de jogar repete-se de forma mecanica e pode gerar dependéncia, sem promover um prazer verdadeiro. Em outras, essa predisposigdo garante o liidico. Essa diferenca seria a verdadei- ra espontaneidade que comumente encontramos nas. criancas. ‘Quem no se lembra dos jogos ¢ brincadeiras da infancia? Reportévamo-nos tdo-somente ao compromisso do prazer, ao ato de jogar espontaneamente com a pretensdo tinica de se divertire se al grar. E comum observarmos que entre as criancas ¢ os idosos a dis- ponibilidade para brincar é muito maior. ‘Arminda Aberastury salienta que a crianca repete situagdes pra- zerosas tantas vezes quantas forem preciso, ora alterando o que Ihe €ruim, ora tolerando papéis ou situacdes que nao Ihe seriam permi- tidas na vida real. Afirma que “‘ao brincar, a crianca desloca para o exterior seus medos, angustias e problemas internos, dominando- os por meio da acao” 5 O adulto adquire modelos, regras e convengdes morais os quais, gradualmente, tolhem sua espontaneidade criadora, tornando-se ri- gido e hermeticamente fechado em seu préprio mundo materialista e consumista. Torna-se prisioneiro da rotina ¢ de suas obrigacdes. E importante que se aprenda a resgatar a order hidica. Entende-se como ordem hidica a interrupgao temporaria da da real para jogar. Esta interrupcdo permite ao individuo libertar-se de suas ‘“‘amarras” sociais. E um momento magico onde o ‘‘jogar”” 6 desprovido de censuras ou criticas. ‘Se acompanharmos a evolugéo da humanidade, perceberemos que o ltidico representa o processo de aprendizagem ¢ descoberta do ser humano. E uma forma direta de colaborar na construgéo cultu- ral de um povo, de uma sociedade. Com 0 3060 aprendem-se regras, limites e obtém-se objetivos claros, de forma voluntéria ¢ prazerosa. ‘Actedito que a habilidade e 0 conhecimento podem ser adquiri- dos de dois modos: “jogando”, isto é, enquanto participante de jogos, sendo esta a melhor forma de aprendizagem pratica e, conseqitente- mente, desenvolvendo a nossa sensopercepco e comunicacdo, acres- cido dos instrumentos necessérios a uma aplicagdo adequada. 5, ARERASTURY, A. A crianca e seus jogos. Porto Alegre, Artes Médicas, 2 ed., 1992, p15. 13 Poderfamos comparar com o preparo de um prato. Primeira- mente, ¢ importante que se tenha e se conheca os ingredientes neces- sérios para a sua execucdo, ingredientes esses, com suas caracteristi- cas especificas, fundamentais no todo. Além disso, nao podemos nos ‘esquecer de que variam para cada prato e so essas diferencas que © caracterizam. Seguindo nessa correlaco, 0 Diretor de Jogos Dramdticos se- ria representado pela culinarista. E ela quem tem a possibilidade de criar pratos, de acordo com o desenvolvimento de seu papel. No ini- cio, atém-se rigidamente as receitas. Precisa conhecer os ingredien- tes e respeitar a sua seqiiéncia na execucao de um prato, considerat © tempo de preparo (¢ cada receita tem um!), o uso de instrumentos € acessérios etc. Isto seré abordado nos Capitulos 1 ¢ 2. No entanto, tais conhecimentos s6 so adquiridos com a expe- rigncia, ow seja, com a prética exercida constantemente. Depende dos esforgos para desenvolver, de forma espontanea e criativa, este pa- pel. Essas caracteristicas sero descritas no Capitulo 3 e, respectiva- mente, alguns critérios acerca da leitura e diagnose grupal; fatores que eu considero fundamentais para a condugdo adequada e eficaz de um grupo, a fim de permitir uma visdo integrativa do desenvolvi- mento e importdncia que os Jogos Dramdticos oferecem. ‘No Capitulo 4 forneco varios jogos e a classificacdo de cada um, tendo por objetivo facilitar a sua compreensio. Ao final, encontra-se um indice geral de todos 0s jogos, divididos nas trés fases da Matriz de Identidade, a fim de facilitar a consulta ¢ o manuseio do livro. Os jogos aqui mencionados e a construedo tedrica so frutos de uma reflexdo profunda do percurso profissional que venho seguindo no decorrer do meu trabalho. A flexibilidade em adaptar e modificar um jogo dificulta a lo- calizagdo de seu status nascendi; por isso, a construgao dos 100 Jo- ‘gos Dramdticos s6 foi possivel pela contribuiedo direta ou indireta daqueles que dividiram suas experiéncias comigo. Nos Capitulos 5 e 6 descrevo alguns exemplos de programas lizados na area organizacional, escolar e clinica, evidenciando 0 uso de Jogos Dramdticos. ) Ao final, apresento uma tabela geral contendo 100 Jogos Dra- méticos e sua classificagao. 4 1 PSICODRAMA E JOGO DRAMATICO 0 que é um jogo, efetivamente, sendo uma atividade cuja origem primordial € 0 ‘homem, eujos principios sao estabelecidas pelo préprio homem e cui consegiéncias tem de estar de acordo com os principios estabelecidos? Desde que um homem se considere livre e queira usar sua liberdade... estabelece ele priprio 0 valor as regras de seus atos e ndo consente em pagar a ndo ser de acordo ‘com as regras que ele mesmo estabeleceu e definiu.”” Jean-Paul Sartre! I—O que € jogo dramatico? J. L. Moreno utilizou, ao brincar de ‘‘ser Deus’’ em seus qua- tro anos de idade, de uma base hidica, de um ‘‘jogo dramdtico”’, representando o papel central com tal desempenho que, a0 ser ques- tionado pelos colegas (anjos) por que nao voava, tentou e se estate~ low no chao. Essa experiéneia marcou e influenciou profundamente sua obra, colaborando em sua construcdo, desde o desenvolvimento do seu trabalho com as criangas nos jardins de Viena até o Teatro para a Espontaneidade, o Teatro Esponténeo ¢ a Socionomia. ‘A partir da prépria vivencia em “ser Deus””, Moreno notou que, nas criangas, a espontaneidade era natural, sem censuras e sem refe- réncias sociais, que comprometem o adulto. Em seus estudos, percebeu que a maioria das pessoas era des- pojada de espontaneidade e criatividade, por estar cercada de valo- res e regras sociais (conservas culturais®). Por isso, assinala que “a espontaneidade é 0 fator primordial para uma existéncia saudével 0 individuo esponiéneo amplia a sua capacidade criadora”.} Ora, se constatamos que 0 jogo favorece o ltidico e a espontaneidade, faz-se importante resgatar esta “‘chama acesa’” da criatividade. 1. Saxtne, Jean-Paul, L’tre et le nean. Paris, NFR, 1948, 2. Entende-se por conserva cultural o produto acabado de ui esforgocriativo (um livro, uma sinfonia musieal ete), fazendo parte do acervo cultural da saciedade. Envolve lum provesso espontineoctiador, desde @ agdo inical até a sua finalizago. ‘SMontno, J. Le Psleodrama, Sao Paulo, Cultix, 1975, p. 132 15 No PsICODRAMA, 0 Jogo Dramdtico apresenta muitas definigdes ¢ diversas formas de interpretagdes. Nos livros e escritos psicodra- méticos encontramos duas diregdes: uma voltada ao campo terapéu- tico ¢ outra, ao aplicado. Nosso propésito é ampliar a conceituagao € 0 uso de jogos dentro deste iltimo campo, embora encontremos ‘muitos autores que transitam entre eles. Regina F, Monteiro ¢ a psicodramatista pioneira ao estabele- cer, de uma forma objetiva, conceito e aplicagdes de jogos das mais, diversas formas. Segundo ela, ‘‘o jogo é uma atividade que propicia a9 individuo expressar livremente as criagées de seu mundo interno, realizando-as na forma de representacao de um papel, pela produ- $0 mental de uma fantasia ou por uma determinada atividade cor- ora?” Aldo Silva Jr. define 0 jogo dramético “‘como um recurso ade- quado que se insere na brecha entre fantasia e realidade internas do individuo para possibilitar-se 0 exercicio da passagem realidade/fan- tasia/realidade/fantasia... livre e espontaneamente” 5 Jilia M. C. Motta afirma que “‘o jogo é a ado da realidade suplementar, onde a unidade criativa pode estar presente”. Cita ain- da que ‘‘o jogo em si é um instrumento rico em possibilidades. A mdo humana que lhe dé direcéo é que define a ética do seu uso. Ter conhecimento implica a responsabilidade no uso do saber”? Rosane Avani Rodrigues considera que ‘‘wm jogo é dramético porque o prazer, a diversio, se origina fundamentalmente da kepre- sentacdo. Ainda que 0 jogo possa envolver competigéo, acaso ou ha- bilidade, 0 foco do prazer do jogo dramético nao estd em competir {er sorte ou acertar’”. Afirma ainda que ‘‘o jogo dramdtico, como qualquer jogo, tem o objetivo de brincar, expandir, relaxar e obter Prazer” § Gisela P. Castanho afirma que ‘‘jogo dramdtico, portanto, di- Sere de outros jogos por acontecer no contexto dramdtico e, além disso, por envolver os participantes emocionalmente na atividade de expressar as criagées de seu mundo interno” $ ‘Complementa, ainda, citando Gecila Sampaio ao definir que ‘‘jo- 0 dramdtico € aquele que tem dramaticidade”. Castanho escreve 4. Monteiro, R. F. Jogos dramaticos. Sio Paulo, Agora, 1994, p. 7. 5. Siva 1usior, A. Jogos par terapi, ieinamento'eedueosdo. Cutba, Imprensa Universitaria, 1982, p. 20 ‘6. Morta, J.M. C. Jogas:repetzdo ou crigdo?. So Paulo, Plenas, 1994, p. 38 1. dem, ibidem, p. 42 8. RopRIGUES, R. A. O jogo dramdtico e 0 context hidico. Aguas de Sto Pedi IX Congresso Braslcro de Paicadrama, 1994, pp. 3-4 9. Castaxto, G. P. O jogo dramdtico na formarao do psicodramatsta Rio de Ja- neiro, Anais VII Congresso Brasileiro de Psicodrama, 1990, p. 313. 16 ainda que ‘‘0 jogo dramdtico ndo é apenas aquele que é dramatiza- do. Nao consideramos uma brincadeira infantil de fadas ou de super- herdis como jogo dramdtico, embora seja jogo, haja dramatizagdo e envolvimento com a fantasia. E preciso haver a dramatizacao e 0 compromisso dos jogadores em viver algo que os comove, que os arrebata, que os envolve num conflito” .° ‘Apesar da escassez de referencias tedricas em literatura sobre jogos dramaticos, podemos observar uma gama muito ampla de con- ceitos que se diferenciam ou complementam entre si ou avaliam apenas alguns aspectos a que os jogos se propdem. E fato que tais escritos contribuem, de forma singular, & busca de uma vis4o mais abran- gente do jogo dramdtico. Aqui direcionamos 0 conceito de jogo dramdtico especificamente as areas aplicadas da organizacdo, instituicdo e escola, ou seja, Aqueles que trabalham com grupos dentro de um contexto delimitado por regras ¢ valores instituidos. Nesse sentido podemos defini-lo como uma atividade que permite avaliar ¢ desenvolver o grau de esponta~ neidade ¢ criatividade do individuo, através das suas caracteristicas, estados de Animo ¢/ou emogdes na obtengdo € resolucdo de confli- tos ligados aos objetivos propostos. No jogo infantil, por exemplo, © surgimento de conflitos é facilmente transposto pela crianca. Ela altera as regras, sai do jogo ou simplesmente prope outra ativida- de, sem problemas, pois seu objetivo é jogar pelo prazer. O Jogo Dramdtico esta inserido na teoria do Psicodrama, dife- renciando do termo Jogos Dramdticos utilizado no Teatro com 0 ob- jetivo de desenvolver somente 0 papel de ator. Além disso, os con- flitos emergem em detrimento dos objetivos.e critérios estabelecidos pelo Diretor e estes, so trabalhados. Esta é a diferenca vital, ou se- Ja, & Joco porque promove o liidico; é DramArico pela proposta ‘em trabalhar os conflitos que surgem. Conflitos estes que, no nosso. enfoque, restringem-se somente ao papel profissional e aos objeti- vos propostos pelo Diretor. Se considerarmos, por exemplo, o desenvolvimento do papel de erentes numa empresa, que tem por critérios ¢ objetivos a lideran- ‘¢a, poderemos encontrar individuos que demonstrem dificuldades de ‘ordem pessoal. O jogo dramatico, neste caso, revela-se um instru- ‘mento com muitos recursos ¢ extremamente eficiente, podendo aflorar tais dificuldades. Compete ao Diretor trabalhar somente o seu papel profissional, limitando-se a avaliar e/ou denunciar tals aspectos. No Capitulo 3 discutiremos a respeito com maiores detalhes. 10. Castano, G.P. Op. cit, p. 314 17 Outra caracteristica fundamental, tanto para o Diretor como para 08 participantes, é a importdncia do conceito de espontaneidade pro- posto por Moreno, que é ‘‘a resposta de um individuo ante uma si- fuagdo nova e a nova resposta a uma situagdo velha’’,"! pois 0 ho- mem a bloqueia em funcdo das regras € normas sociais (condiciona- mentos). Com isto, no h4 possibilidade de criar. Ele perde esta ca- pacidade através dos modelos anteriores preestabelecidos, que so apresentados no decorrer de sua vida (0 jogo dramatico leva o individuo a soltar-se, liberar sua es- pontaneidade e criatividade, ou seja, é ‘um meio de desentorpecer 0 corpo e a mente dos condicionamentos da vida atual”,}? nao per- mitindo a massificagdo dentro das conservas culturais. ‘Além disso, é preciso que esteja em campo relaxado para jogar, pois ‘“crescem as possibilidades de relacdes que permitem ao indivi- duo alcancar uma soluedo de seus conflitos”,"° isto é, havendo am- pliagao do campo relaxado, diminui-se 0 ponto fixo de tenso. O individuo em campo tenso impede esta ampliagtio de respostas. © conceito de campo relaxado e campo tenso foi introduzido por Bally. Exemplificando, podemos emitir um foco de luz sob um prisma num nico sentido e obtermos um feixe direcional, ou seja, produzimos uma resposta limitada, concentrada (campo tenso). Se, no entanto, alteramos a direcdo deste foco, as possibilidades aumen- tam a cada mudanea, permitindo maior amplitude de respostas e uma visio mais global desse prisma (campo relaxado). ‘Um dos objetivos, portanto, é 0 de criar um campo relaxado, desenvolvendo uma liberdade de aco e atuacio dos individuos, pos- sibilitando o resgate da sua espontaneidade criativa. Nas empresas ¢ instituigdes em geral, o primeiro contato com um grupo gera cam- po tenso. E a expectativa do que estd por vir. Em situagdes como ‘essa, podemos aplicar jogos infantis adaptados, de apresentagdo ¢/ou sensibilizagio com o objetivo de produzir campo relaxado, pois sem isso nao haverd possibilidade de obter bons resultados. O resgate do Nidico confere aos participants uma predisposicao para jogar e, con- seqiientemente, a diminuigdo de suas resistencias para o desenvolvi mento do trabalho em si Outro fator relevante é a forma da comunicagdo. Estamos ha- bituados e condicionados a verbalizar, a racionalizar nossas emogoes. Com 0 jogo dramdtico podemos utilizar a comunicagéo nao-verbal, 11, MORENO, J. L, Pslcodrama, op. cit, p. 101 12, Boal, A. 200 exerctclas e jogos para o ator e 0 ndo-ator com vontade de dizer ‘algo através do teatro. Rio de Janciro, Civilzasto Bras, 5? ed, 1983. 13, MonTsino, R. F. Téenias fundamentais do psicodrama. Sao Paulo, Brasilien se, 193, p. 211. propiciando uma leitura mais precisa do individuo. Contrapde-se, neste aspecto, a diferenga entre sua comunicacdo digital e anal6gi- ca, entre seu falar e agir. Watzlawick define da seguinte forma: “A linguagem digita é uma sintaxe ldgica sumamente complexa e pode- rosa mas carente de adequada semantica no campo das relacées, a0 asso que @ linguagem analégica possui a seméntica mas ndo tem uma sintaxe adequada para a definicdo ndo-amb{gua da natureza das relagdes”’ 4 Em outras palavras, ¢ necessério que haja uma fusdo, uma complementaridade coesa nessa diade. Ressaltamos a seguir as caracteristicas que envolvem o Jogo Dra- mético ¢ a adaptacdo a teoria moreniana, uma vez que a fungao € a aplicagdo de jogos envolvem uma sistematizagao com instrumen- tos € critérios especificos ‘Minha intencao é ampliar a visdo sobre jogos, sem discutir ou discordar dos conceitos e aplicagdes ja existentes. II—Caracteristicas do jogo dramatico No Jogo Dramdtico & imprescindivel sabermos quais séo as suas caracteristicas, pois estas especificam 0 jogo e suas finalidades, si- tuando e delimitando o papel do Diretor. E interessante notarmos {que muitos profissionais que utilizam o jogo como ferramenta de tra- balho nao se preocupam em caracteriz4-lo. Assim, discriminamos abaixo: a. 6 uma atividade voluntdria, ou seja, é preciso haver a aceita- do dos participantes para ‘‘jogar”. E uma proposta livre que pode ser interrompida, se necessdrio; . b. tem regras especificas e absolutas. E. preciso, portanto, que 0s participantes concordem com as que so propostas pelo jogo. No ‘caso de um ou mais participantes nao cumprir as regras, deve-se con- siderar se houve a compreenséo e aceitacdo das mesmas, pois desobedect-las significa o fim do mesmo. Se as regras forem altera- das, 0 jogo também se modificaré; cc. tem um tempo (duragio) delimitado, que varia de acordo com © jogo ou com as necessidades do Dirctor; d. tem um espago, que ¢ 0 proprio contexto dramatico. Este ¢s- pago pode ser ampliado ou reduzido de acordo com a proposta do jogo; e. hd o resgate da ordem hidica, criando uma perfei¢ao tempo- réria durante o jogo, ou seja, a predisposicao para o jogo faz com 14, WaTaLAWICK, P. et ali. Pragmatica da comunicapdo humana, SAo Paulo, Cul- tri, 1981, p. 61 19 que os participantes interrompam e/ou se desprendam de sua vida real; £, tem um objetivo especifico: busca a identificacdo e a resolu- ¢00 de conflitos, sendo esta a caracteristica que 0 diferencia no Jogo Dramdtico dentro do Psicodrama. II—Principios do jogo dramatico ‘Acestrutura basica de procedimentos em Jogos Dramdticos baseia- se nos princfpios do psicodrama, onde consideram-se trés Contex- tos, cinco Instrumentos e trés tapas para a operacionalizacdo de uma sesso psicodramatica. 1. ConTextos: Contexto, segundo a definigio de Goncalves, C. S. et alii, ‘“é 0 encadeamento de vivéncias privadas e coletivas, de sujeitos que se inter-relacionam numa contingéncia espaco-tem- porat”’.'5 © Psicodrama tem trés contextos, como segue: a, Contexto social: constituido pela prépria realidade social, en- volvendo desde o tempo cronolégico até o espaco concreto ¢ geogra- fico, € 0 contexto que abrange as leis, normas ¢ condutas sociais; 'b. Contexto grupal: constituido pelo préprio grupo (Director, egos e participantes), leis, normas e condutas particulares, ou seja, cada grupo estrutura o seu proprio contexto grupal ¢, Contexto dramdtico: constituido pela prépria realidade dramé- tica. E 0 momento do jogo, do “‘como se”. E a separacdo da realida- de com a fantasia, do individuo com o papel, e configura a distin¢aio entre 0 contexto grupal e dramatico. Prevalecem o mundo imagina- rio ea fantasia, num ambiente protegido. O espaco devidamente de- limitado pode ser ampliado ou reduzido. Geralmente é neste contex- to que ocorrem os insights e a catarse de integracdo.'6 2. INSTRUMENTOS: Sdo Os recursos utilizados para executar o mé- todo psicodramatico e suas técnicas.!” Os instrumentos sao: Diretor, Fgo-Auxiliar, Protagonista, Cendrio e Auditério. 15, Gonganrss, C, 8: WoLFr, J. R.; ALMEIDA, W. C. Lipées de psieodrama. Sao Paulo, Agora, 1988, p. 97. "6. Catarse de Integragéo, para Moreno, representa um novo crescimento, ou seja, uum estado pslguico subjetivo,envolvendo a sensagio de allvio, de rlaxamento,liberda- de, dominio, equlbro ,finalmente aintegrardo, através destuapSes reais, produzindo respostas novas de conduta e de relacionamento. 17, Téenicas: No Psicodrama exstem ts técnicas basicas: Duplo, Espelho eInver- slo de Paptis. Em Jogo Draméiico elas podem ser utlizadas. Adiante expicitamos sua cotrelaglo com @ Matriz de Identidade. 20 a. Diretor: — Possui trés fungdes especificas: a.1 — Produtor — Seleciona os jogos a serem utilizados. Deve ter 08 objetivos bem estabelecidos, ou seja, 0 que se preten- de obter com determinado jogo. Sugere modificagées a fim de ampliar a visio do(s) Protagonista(s) para a obtencdo de insights. Estabelece a ligacdo entre os materiais obtidos com ‘0 papel em questo. Permite que 0 Protagonista tenha con- tato (direto ou nao) com o auditério. a.2— Diretor — Dd in{cio ao jogo dramatico. Estabelece as regras, verificando que estas sejam compreendidas ¢ accitas. Dirige o Ego-Auxiliar (profissional ou natural). Fornece as “senhas””. Encerra 0 jogo. Deve estar sempre atento a dina- mica do Protagonista e do grupo, principalmente no que se refere as suas emogdes e pensamentos, durante 0 jogo. a.3 — Analista social — Analisa os dados levantados pelo Ego e expressa suas opinides (processamento), complemen- tando e ampliando esta “leitura’”” para todos (Ego-Auxiliar, Protagonista ¢ auditdrio), b. Ego-auxiliar — Entra em contato direto com o Protagonista gendo intermedidrio entre este ¢o Diretor. Tambbém apresenta tres hungdes: b.1 — Ator — Representa papéis determinados pelo Diretor ou Protagonista e o mantém, dentro do aquecimento especi- fico e do papel representado. b.2 — Guia — Mantém o Protagonista no contexto dramé- tico e age como facilitador de insights. Cumpre as consignas dadas pelo Diretor. b.3 — Investigador social — Observa e registra dados no con- texto grupal e dramdtico, relatando-os ao Diretor Nota: Apesar da importéncia do Ego-Auxiliar em Jogos Dra- maticos, sua presenga nem sempre & necessdria ou possivel, centralizando-se no Diretor 0 desdobramento deste papel. ¢. Protagonista — E quem centraliza o jogo dramético. Cons- tréi.o contexto dramético, desenvolve o tema, desempenha papéis, ‘expe 08 sentimentos ¢ expressa conflitos. Pode ser uma ou mais pes. soas, ou, ainda, o grupo todo. Geralmente, os jogos sao aplicados para o grupo. d. Cendrio — Onde se constréi o contexto dramatico. E 0 cam- po de trabalho do Diretor. E 0 espago do ‘como se”, onde tudo & permitido, dentro das regras estabelecidas pelo jogo, € onde o Pro- tagonista se manifesta, Este espaco pode ser ampliado ou reduzido, conforme as necessidades. 2 ¢. Auditério — Sao os participantes que ficam no contexto gru- pal, durante o jogo. Colaboram nos Comentarios, de forma objeti- va e subjetiva, podendo identificar-se e/ou compartilhar seus senti mentos com o grupo. Incluem-se os Egos ¢ o Diretor. Na maiori dos jogos, 0 grupo todo entra no contexto dramdtico e, portanto, nao existe o Auditério nesta situagdo. 3. ETAPAS: So as fases de procedimento na utilizagao de um Jogo Dramético. N. A.: Aqui incluimos duas etapas: Processamento e Processa- mento Teérico, que difere da sesso de Psicodrama, somente com 0 intuito de oferecer uma melhor divisdo metodoldgica da proposta. a, Aquecimento: Ha duas fas pecifico. 1. Aquecimento inespecifico: inicia-se com o primeiro conta- to do Diretor com 0 grupo até a escolha do Jogo Dramético € a apresentacdo de suas regras. 2. Aquecimento especifico: ocorre dentro do contexto dramé- tico, onde os participantes sao preparados para a constru- ao dos papéis. Em alguns Jogos Dramaticos, as regras po- dem ser caracterizadas nesta fase. es: aquecimento inespecifico € es ’. Dramatizacdo: € 0 jogo dramatico propriamente dito. E nesta etapa que, geralmente, 0 Diretor pode identificar 0 conflito. ¢. Comentarios: sao 0s comentarios feitos pelos participantes, apés 0 jogo. O conflito também pode ser expresso nesta etapa, d. Processamento: € a releitura da Dramatizagao e dos Comen- térios, processada pelo Ego-Auxiliar ¢ Diretor, direcionando-os aos seus objetivos. e. Processamento tedrico: geralmente utilizado na Empresa ¢ na Escola, enquanto método psicodramético, para a introdueao de conceitos ou objetivos propostos. 1V¥ —Kecursos materiais a. Preparo da sala Existe um espaco considerado ideal para se trabalhar com jo- ‘80s, que especificaremos a seguir. Sabemos, entretanto, que muitos profissionais tém dificuldades em adoté-lo por restrigdes do proprio local de trabalho: 2 * espaco adequado ao numero de participantes; * almofadas de varios tamanhos e formas; * tapete que comporte confortavelmente os participantes; © boa iluminagdo; * boa ventilacdo; * local sem ruidos e/ou interferéncias de qualquer espécie. b. Materiais Em alguns jogos, utilizam-se materiais tais como: lousa, giz, pa- pel, canetas, lapis coloridos, sucata em geral etc. Estes devem ser pre- parados com antecedéncia, evitando, desta forma, problemas antes ¢/ou durante o jogo. Seria interessante se 0 Diretor de Jogos Dra- ‘mdticos reunisse materiais de facil manipulacdo. Exemplo: bolas de varios tamanhos, lencos de varios tamanhos e cores, pranchas de pa- pelo, caixinhas, barbantes etc. 'b.1 — Misica: Utilizada de acordo com os objetivos propostos e do tipo de jogo empregado. Neste caso, salientamos que a preferéncia por misicas instrumentais endo conhecidas ga- rante um melhor resultado, livre de contaminagdes (conser- va cultural). Pode-se, ainda, utilizar musicas conhecidas com interpretagdes diferenciadas. Dentre as muisicas mais sugeridas esto as do estilo “‘new age”, sobressaindo-se autores como Kitaro, Zamfir, J. Pierre Po- it, Suzanne Ciani. Para jogos que necessitam de mi itmada destacam-se: Spyro Gyra, Jean Michel Jarré, Tomi- ta, Vangelis. ‘As miisicas cldssicas também vém de encontro aos nossos pro- positos. Neste caso, indicamos Vivaldi, Ravel, Beethoven, Bach, Carl Off, J. Strauss, Mozart, Handel, Tchaikovsky ¢ Verdi, dentre outros. Autores nacionais como Cesar C: margo Mariano, Leo Gandelman e Wagner Tiso também sio recomendados. Ha, ainda, tipos de miisicas que exploram ritmos diferentes, infantis, efeitos especiais, sons de passaros, gua etc. Tudo dependerd do tipo ¢ dos objetivos a que o jogo se propde. © Dirctor, entretanto, deve “‘conhecer”” muito bern a melo- dia antes de utilizé-la, controlando, desta forma, as possi- veis intercorréncias que possam surgir. Existem miisicas, por exemplo, que alteram o ritmo durante a sua execugao. De- pendendo do jogo, esta mudanca pode desaquecer os parti- ‘pants. preparo de fitas ¢ mais conveniente que 0 uso de discos ou CDs, pela propria facilidade de manuseio e transporte. 23 ©. Participantes A obtencao de resultados favordveis depende de alguns aspec- tos: 1. Roupas adequadas ao contexto. Roupas leves ¢ que permi- tam maior liberdade de movimento sao consideradas ideais, embora nem sempre isso seja possivel. Assim, compete ao Diretor a sele¢ao adequada dos jogos a serem utilizados. 2. Respeito aos participantes e as suas diferencas individuais. Devemos considerar que as pessoas nem sempre estdo preparadas ¢/ou dispostas. Alguns profissionais solicitam, por exemplo, a retirada de sapatos, objetivando-se maior liberdade de ago e contato. Porém nem sempre obtém-se este efeito, pois muitos sentem-se constrangi- dos, invadidos e expostos a esta situacdo, gerando um campo tenso € aumento de resisténcia ao jogo. A utilizacdo de jogos que envolvem contato fisico & de extrema sutileza, jé que o Diretor deve averiguar em que fase da Matriz 0 individuo ¢/ou o grupo se encontra (descrito posteriormente). A apli- cago inconseqiiente gera também 0 aumento de resisténcia, além do desrespeito aos participantes ee 2 MATRIZ DE IDENTIDADE “Um encontro de dols: othos nos olhos, face @ face. E quando estiveres pero, arrancar-te-et os olnos ¢ colocd-los-ei no lugar dos meus; E arrancarei meus olhos ‘para coloct-os no lugar dos tews; ‘Entdo ver-te-el com os teus olkos J. L, Moreno! —Correlagao com o jogo dramatico ‘A Matiz de Identidade, segundo Moreno, ““éa placenta social da crianga, 0 locus em que ela mergulha suas raizes”.? Na evolucdo da crianga, a Matriz estd ligada aos processos fisiolégicos, psicol gicos ¢ sociais, refletindo a heranga cultural na qual esta inserida, que a prepara para a sociedade, ou seja, é 0 primeiro proceso de aprendizado emocional da crianca. ‘A ctianga depende desta “placenta social” onde assimila e de- senvolve os papéis que desempenhard na relaggo com o mundo, ga- rantindo a protegdo e a direcdo do seu desenvolvimento. ‘Como citado anteriormente, na teoria moreniana destacamos trés fases na Matriz de Identidade: 1? fase: IDENTIDADE DO EU EU-EU Duplo 2% fase: RECONHECIMENTO DO EU. EU-TU Espelho 32 fase: RECONHECIMENTO DO TU EUELE paveree) a de papéis a, Identidade do Eu (fase do DupLo) — E 0 momento da indi- ferenciagdo. A me atua como Ego-Auxiliar da crianga agindo co- 1, Monso, J. L. Psicodrama, Sio Paulo, Cultrix, 1975. 2. Idem, ibidem, p. 114. 28 ©. Participantes A obtencao de resultados favoraveis depende de alguns aspec- tos: 1, Roupas adequadas ao contexto. Roupas leves ¢ que permi- tam maior liberdade de movimento so consideradas ideais, embora nem sempre isso seja possivel. Assim, compete ao Diretor a selecdo adequada dos jogos a serem utilizados. 2. Respeito aos participantes e as suas diferencas individuais. Devemos considerar que as pessoas nem sempre esto preparadas ¢/ou dispostas. Alguns profissionais solicitam, por exemplo, a retirada de sapatos, objetivando-se maior liberdade de aco e contato. Porém nem sempre obtém-se este efeito, pois muitos sentem-se constrangi- dos, invadidos e expostos a esta situacdo, gerando um campo tenso e aumento de resisténcia a0 jogo. A utilizacdo de jogos que envolvem contato fisico & de extrema sutileza, jé que o Diretor deve averiguar em que fase da Matriz 0 individuo e/ou o grupo se encontra (descrito posteriormente). A apli- cacao inconseqiiente gera também 0 aumento de resisténcia, além do desrespeito aos participantes. 2 MATRIZ DE IDENTIDADE “Um encontro de dois: olhos nos olhas, face a face. E quando estveresperto, arrancar-teat as olhas € colocd-los-el no lugar dos meus; E arrancarei meus olkos para colocé-los no lugar dos teus; Bntdo ver-e-el com 0s teus olhos J. Ls Moreno! —Correlagao com o jogo dramatico A Matriz de Identidade, segundo Moreno, ‘“é a placenta social da crianga, 0 locus em que ela mergulha suas ratzes””.? Na evolugio da crianga, a Matriz esté ligada aos processos fisiolégicos, psicold- szicos e sociais, refletindo a heranca cultural na qual esté inserida, que a prepara para a sociedade, ou seja, é 0 primeiro proceso de aprendizado emocional da crianca. A ctianga depende desta “placenta social”” onde assimila e de- senvolve os papéis que desempenhard na relacZo com 0 mundo, ga- rantindo a protec e a direc do seu desenvolvimento. ‘Como citado anteriormente, na teoria moreniana destacamos trés, fases na Matriz. de Identidade: 1? fase: IDENTIDADE DO EU BUEU Duplo 2 fase: RECONHECIMENTO Do EU | _EU-TU Espelhio = guste | Inverséo + fase: RECONHECIMENTO DO TU de papéis a, Identidade do Eu (fase do DupLo) — E 0 momento da indi- ferenciacdo. A mde atua como Ego-Auxiliar da crianca agindo co- 1. MoxsNo, J. L. Psicodrama Sto Paulo, Cubtrix, 1975 2, dem, ibidem, p- 114. 25 mo se fosse seu ‘‘duplo””, uma vez que nao ha distingao entre 0 EU ¢ 0 Tu; esta misturada’ ao mundo. Na abordagem Moreniana, investiga-se essa fase através do duplo psicodramatico, ou seja, utiliza- se de um Ego-Auxiliar a fim de captar corretamente as emocdes, sen- timentos, agdes e pensamentos do Protagonista e reproduzi-las para que este as identifique. . Reconhecimento do Eu (fase do EsPELHO) — A crianga comeca ase perceber enquanto individuo, separada dos outros (EU-TU). Tec camente, o Protagonista tem a possibilidade de se reconhecer quando o Ego-Auxiliar representa seu papel, ou seja, atua como um espelho. c. Reconhecimento do Tu (fase da INVERSAO DE PaPEis) — A crianga tem capacidade de se colocar no papel de sua mae, j4 que garante o reconhecimento de si mesma, Para isso, hé 0 role-taking do papel (tomada, adocdo) para, posteriormente, haver a inversdo de papéis, concomitantemente (Eu-ELe). Para Moreno, a técnica ocorre quando hé a verdadeira inversdo entre os papéis. Neste caso, 0 Ego representa 0 papel do Protagonista e vice-versa, propiciando © reconhecimento do outro. Moreno? classifica o mundo da crianca de Primeiro Universo, como as duas primeiras etapas da Matriz, visto no haver distingéo entre fantasia e realidade. A caracteristica mais importante é a ‘“fo- me de atos”, ligada somente ao tempo presente. E nessa etapa que se estruturam os papéis fisioldgicos ou psicossomaticos. Na segunda fase, onde a crianga desenvolve o Reconhecimento do Eu, Moreno classifica-o de Segundo Universo, ou seja, onde se estabelece a “brecha entre a fantasia ¢ a realidade”’. FE 0 momento onde a crianca transita entre a fantasia ¢ a realidade, relacionando- se com 0 outro. Consegue diferenciar aquilo que imagina daquilo que é real. Pode jogar no “‘como se’”. Nesse momento, a crianga tem a possibilidade de representar papéis sociais (ambiente real) e psico- dramaticos (ambiente imaginério) Partindo dessas conceituacdes, verificamos que a crianga desen- volve seus papéis de acordo com suas relagdes e vinculos, forman- do, assim, sua identidade enquanto individuo. Em Jogos Dramaticos, considera-se 0 mesmo processo evolutivo. (© Diretor deve avaliar cada individuo e o seu desenvolvimento na dina- mica grupal, mesmo que o Protagonista seja invariavelmente o grupo. ‘A seguir, especificamos os quatro momentos basicos de cada in- iduo: 1. Eu-Comico: E 0 momento em que se localiza e se ider ‘num grupo: quem sou, como estou, como sinto. Esta ligado a pri- meira fase da Matriz (Identidade do Eu); diy 3. Monto, J. L. Psicodrama, op. ct 26 2. Bug 0 OurRo: A partir do momento em que se identifica, comega a identificar 0 outro: quem ¢ 0 outro, como me aproximo, como me sinto. Diretamente relacionado @ segunda fase da Matriz (Reconhecimento do Eu); 3. EU CoM 0 OUTRO: Nesta etapa, procura perceber outro € principia a inversao de papéis. Relacionado ao Reconhecimento do Tu (! fase da Matriz): como é 0 outro, como ele sente, pensa ¢ per- cebe em relacdo a mim e vice-versa. 4. Eu com Topos: Apés desenvolver a percepgao de si mesmo edo outro, amplia esta percepedo frente ao grupo, estabelecendo re- Iago com todos, em busca de identidade ¢ coesao grupal. Se considerarmos, portanto, a teoria da Matriz de Identidade, compete ao Diretor observar em que fase 0 individuo se encontra. A aplicacdo de um jogo incompativel com a sua Matriz pode pro- mover resultados desastrosos. Respostas como ndo aceitagao ou cumprimento das regras, no participagdo ou “estraga-prazeres”’ € freiiente, quando 0 Diretor tem dificuldades em estabelecer um vinculo ¢/ou quando propde jo- g0s ndo adequados & fase da Matriz do individuo e/ou do grupo. O respeito ao ritmo, tempo e espaco internos de cada um facilita a compreensao desses limites. Lembramos que, para a aplicacéo de Jogos Draméticos, deve- se considerar dois aspectos de fundamental importancia: o indivi- duo e 0 grupo. No primeiro aspecto, qualquer jogo possibilita avaliar a dina- mica de cada participante e a sua respectiva fase da Matriz. Além disso, considera-se 0 desenvolvimento do papel do individuo. ‘Como citado, Moreno em sua Teoria de Papéis ressalta que um papel apresenta trés fases distintas: role-taking, que € a adocdo, a tomada de um papel; role-playing, que € 0 jogar com 0 papel ¢ 0 role-creating, que ¢ a fase final, onde o individuo cria sobre o papel. role-creating role-taking role-playing Fig.1~ Eequema das fases do desenvolvimento de um papel 2

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