You are on page 1of 89

REVISTA EDITADA PELO CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE – ANO L N° 256 – JULHO/AGOSTO 2022

Entrevista
Qual perfil o mercado espera dos
profissionais da contabilidade?
Artigos abordam importantes temas para a profissão
Clique nas miniaturas ou números
para navegar pelo conteúdo da RBC

SUMÁRIO

Palavra do Presidente 3

Entrevista
Qual perfil o mercado espera dos profissionais da contabilidade?

Lorena Molter 5
Artigo
Contribuições da perícia contábil para o Poder Judiciário:
uma revisão de artigos acadêmicos
Claudinéia dos Santos Paula, Bernardo Gomes Barbosa Nogueira,
Maria Celeste Reis Fernandes de Souza e Renata Bernardes Faria Campos 9
Artigo
Planejamento tributário, remuneração executiva e governança corporativa:
um estudo a partir de companhias que compõem o IBRX100

Juliano Augusto Orsi de Araujo e Maísa de Souza Ribeiro 21


Artigo
A participação feminina no mercado de trabalho contábil: uma análise
sobre a atuação das contabilistas nos escritórios do Recôncavo Baiano

Camila de Oliveira Cardoso e Caroline de Souza dos Santos 35


Artigo
Prestação de serviços contábeis em plataformas virtuais:
um estudo sobre a percepção dos profissionais da contabilidade
de um município do Estado da Bahia
Ana Carolina Costa Pires, Ericarlos de Souza Fonseca e Vinícius Motta Oliveira 47
Artigo
Análise do impacto da pandemia da Covid-19 na estrutura de
capital de bancos múltiplos listados na B3 e instituições
de pagamento reguladas pelo Bacen
Ícaro Luiz de Sousa Silva, André Magalhães Bravo,
Elizabeth Borelli e José Odálio Santos 61
Artigo Convidado
Influência da Educação Financeira
no Planejamento da Aposentadoria

Thamirys de Sousa Correia, Ingrid Laís de Sena Costa e Wenner Glaucio Lopes Lucena 77
REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 3

PALAVRA DO PRESIDENTE EXPEDIENTE


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE
Arquivo CFC/Samuel Figueira Edição n.º 256, julho/agosto de 2022 – periódico bimestral
ISSN 0104/8341
Ao iniciarmos a nossa gestão, em janei- > Editor
Conselho Federal de Contabilidade
ro de 2022, tínhamos como um de nossos SAUS, Qd. 5, Bl. J, Ed. CFC, Brasília (DF) – CEP 70070-920
site: www.cfc.org.br; e-mail: cfc@cfc.org.br
objetivos a promoção da mudança de men- > Conselho Diretor
Presidente
talidade para a nossa classe. Nossa propos- Contador Aécio Prado Dantas Júnior
Vice-presidentes
ta era, justamente, apresentar aos conta- Contadora Ana Tércia Lopes Rodrigues
Contador Carlos Henrique do Nascimento
dores novas perspectivas. A partir de nossa Contador Carlos Rubens de Oliveira
Contador Joaquim de Alencar Bezerra Filho
experiência, verificamos que o mercado de Contador José Donizete Valentina
Contador Manoel Carlos de Oliveira Júnior
trabalho necessitava de novas posturas e Contadora Sandra Maria de Carvalho Campos
Contadora Vitória Maria da Silva
de outras formas de visão e de preparação. > Conselheiros Efetivos
Contador Adriano de Andrade Marrocos
Nesse contexto, o conhecimento es- Técnico em Contabilidade Aguinaldo Mocelin
Contadora Andrezza Carolina Brito Farias
pecializado é uma parte das qualidades Contador Brunno Sitônio Fialho de Oliveira
Contadora Gercimira Ramos Moreira Rezende
que compõem o profissional, que preci- Contador Haroldo Santos Filho
Contador Heraldo de Jesus Campelo
sa, na realidade, ter conhecimentos mul- Contador José Domingos Filho
Contador José Gonçalves Campos Filho
tidisciplinares. Esse público deve dominar Contadora Luana Aguiar Pinheiro Costa
Contadora Maria do Rosário de Oliveira
Contador Mateus Nascimento Calegari
assuntos que envolvem os aspectos am- Contadora Palmira Leão de Souza
Contador Rangel Francisco Pinto
bientais, sociais e de governança (ASG), Contador Sebastião Célio Costa Castro
Aécio Prado Dantas Júnior Contador Sérgio Faraco
as novas tecnologias, a inteligência de Contadora Ticiane Lima dos Santos
Presidente do CFC Contador Wellington do Carmo Cruz
mercado, o relacionamento com os stake- > Conselheiros Suplentes
Contador Aloísio Rodrigues da Silva
holders, entre outros temas tão discuti- Contadora Ana Luiza Pereira Lima
Contadora Angela Andrade Dantas Mendonça
dos na atualidade. leiras. Por meio desse projeto, buscamos, Contador Antonio Carlos Sales Ferreira Junior
Contador Antônio de Pádua Soares Pelicarpo
Ao mesmo tempo, afirmamos que es- justamente, propor que essas temáticas já Contador Arleon Carlos Stelini
Técnico em Contabilidade Cil Farney Assis Rodrigues
ses homens e mulheres precisam incor- sejam trabalhadas durante a graduação. Contador Edneu da Silva Calderari
Contador Elias Dib Caddah Neto
porar outros valores, como a visão ho- Os profissionais da contabilidade já Contador Erivan Ferreira Borges
Contador Fabiano Ribeiro Pimentel
rizontal, o respeito pela diversidade e a formados necessitam buscar essa mu- Contador Franscisco Fernandes de Oliveira
Contador Geraldo de Paula Batista Filho
preocupação com o futuro do planeta. dança de mentalidade e as suas trans- Contador Glaydson Trajano Farias
Contador José Alberto Viana Gaia
Somado a isso, é necessário o desenvol- formações, sob pena de ficarem fora do Contador Leonardo Silveira do Nascimento
Contadora Liliana Farias Lacerda
Contadora Lucilene Florêncio Viana
vimento do autoconhecimento e da in- mercado. Além dos elementos já mencio- Contadora Marlise Alves Silva Teixeira
Técnico em Contabilidade Maurício Gilberto Cândido
teligência emocional. A pandemia da co- nados, os contadores precisam entender Contadora Mônica Foerster
Contador Nilton Luiz Lima Praseres
vid-19, de fato, mudou algumas de nossas que, atualmente, somos consultores de Contador Norton Thomazi
Contador Roberto Schulze
lógicas de trabalho. Entretanto, se obser- negócios e, nesse sentido, as atividades Contadora Sônia Maria da Silva Gomes
Contador Valmir Leôncio da Silva
varmos profundamente esse capítulo de mais funcionais são relevantes, mas te- Contador Weberth Fernandes
> Coordenadora do Conselho Editorial da RBC
nossa história, concluiremos que esse tris- mos que ocupar os nossos lugares estra- Doutora Jacqueline Veneroso Alves da Cunha

te cenário, na realidade, acelerou mudan- tégicos nas organizações e nas empresas. > Conselho Editorial da RBC
Doutor Antonio Ranha da Silva
ças que já vinham em curso. Para tratar sobre esse tema funda- Doutor Emanoel Marcos Lima
Doutor Ernani Ott
Doutora Rosimeire Pimentel Gonzaga
Dessa forma, não podemos nos pro- mental, esta edição da Revista Brasilei- Doutor Wenner Glaucio Lopes Lucena
Doutorando José Luiz Nunes Fernandes
gramar para uma adaptação futura por- ra de Contabilidade (RBC) contará com Doutora Maria Ivanice Vendruscolo
Doutor Fernando de Almeida Santos
que o futuro já é hoje. Nossas posturas as reflexões e análises do ilustre profes- > Jornalista Responsável
precisam ser outras, de modo que consi- sor doutor Eliseu Martins. Por meio de Rafaella Feliciano – 7830/DF
> Redação
gamos impactar positivamente, ainda no uma rica entrevista, os senhores, leitores, Lorena Molter
> Projeto Gráfico
momento presente, nossa sociedade. poderão entender, de forma mais subs- Igor Outeiral, Marcus Hermeto e Thiago Luis Gomes

O Conselho Federal de Contabilidade tancial, o novo perfil que o profissional > Diagramação
Dianne Freitas e Sabrina Mourão
(CFC) iniciou, no final de 2021, a profunda da contabilidade deve ter. Tenho a certe- > Revisão
Maria do Carmo Nóbrega
tarefa voltada para construção da propos- za de que esse olhar acadêmico será um > Ilustrações
Allan Patrick
ta de alteração da Resolução CNE/CES n.º norte seguro para os senhores, que, em > Foto da Capa
10, de 16 de dezembro de 2004. Esse do- seguida, poderão adquirir mais conheci- Juliano Franco de Barros/APC
> Colaboradora
cumento institui as Diretrizes Curriculares mento ao lerem os valiosos artigos des- Maria do Carmo Nóbrega
> Artigos
Nacionais para o Curso de Graduação em te exemplar. Telefone: (61) 3314-9606 – e-mail: rbcartigos@cfc.org.br
Ciências Contábeis, bacharelado, e guia as Permitida a reprodução de qualquer matéria, desde que citada
a fonte. Os conceitos emitidos em artigos assinados são de
Instituições de Ensino Superior (IES) brasi- Tenham uma excelente leitura! exclusiva responsabilidade de seus autores.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 5

ENTREVISTA

Qual perfil o mercado espera dos


profissionais da contabilidade?

Por Lorena Molter

Profissionais com conhecimentos que vão além da formação técnica estão sendo valorizados
no mercado de trabalho. É necessário o domínio de assuntos que envolvem outras áreas
e ainda a incorporação e a aplicação de temas relevantes no nível global, como os valores
ambientais, sociais e de governança (ASG) nas estratégias e no dia a dia de trabalho. Somado a
isso, fatores psicológicos comportamentais são avaliados nas empresas pelas áreas de recursos
humanos e pelas lideranças.

O mercado de trabalho pede que vão além do meramente técni- ral, tem cobrado novas posturas de
profissionais com novas compe- co, precisam ser inseridos em estra- governos e de empresas.
tências e habilidades. O conheci- tégias e no dia a dia de trabalho. Com a Contabilidade não é di-
mento estritamente técnico e es- Nesse século, as preocupações com ferente. Os profissionais dessa área
pecializado tão valorizado em o bem-estar social, com a susten- precisam entender, adequar-se e
décadas anteriores já não é o su- tabilidade e com a integridade ga- colocar em prática essas posturas
ficiente nos dias de hoje. Nesse nharam protagonismo por todo o e saberes. Considerando-se a rele-
novo cenário, ir além das ativi- planeta. Em função disso, também vância da profissão para a abertu-
dades previstas e da sua mesa de se ampliou a demanda – e por que ra, desenvolvimento e crescimento
trabalho e dominar assuntos refe- não dizer a exigência? – por profis- das empresas e para o desenvolvi-
rentes a outras áreas são atitudes sionais que tivessem essas pautas mento sustentável dos países, fica
essenciais para aqueles que pre- incorporadas em seus trabalhos e ainda mais evidente o impacto po-
tendem destacar-se, na realidade, posturas. Somado a esses fatores, sitivo que pode ser gerado a partir
em qualquer profissão. os aspectos psicológicos comporta- dessas mudanças comportamen-
Aliado a esses fatores, a absor- mentais ganharam um peso maior tais e culturais. Ao mesmo tempo,
ção e a implementação de temá- nas análises realizadas pelos setores é evidente que aqueles que não
ticas, como os valores ambientes, de recursos humanos e pelas lide- buscarem a transformação estarão
sociais e de governança (ASG), as ranças. Contudo, em uma reflexão sujeitos a perder competitividade
transformações digitais e tantos mais profunda, é possível concluir e, em consequência, ficarem fora
outros temas de nossa atualidade, que a sociedade, de uma forma ge- do mercado de trabalho.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


6 Qual perfil o mercado espera dos profissionais da contabilidade?

O professor doutor emérito da des empresas, e principalmente dominar todos os conceitos bási-
Faculdade de Economia, Adminis- para as abertas, uma Contabili- cos da micro e da macroeconomia.
tração e Contabilidade da Univer- dade, nesta última década, bem Voltando à sua cadeira: nela, pre-
sidade de São Paulo (USP) – cam- mais evoluída, rica, exigente e cisa aprender a atender a todos da
pi São Paulo (SP) e Ribeirão Preto com maior capacidade informati- entidade que cada vez mais vêm a
(SP), Eliseu Martins, explica quais va obrigou à formatação de pro- ele. Na verdade, esses são os pon-
foram as principais mudanças na fissionais com perfil bem diferente tos principais, mas, não, os úni-
Contabilidade nas últimas décadas do que era exigido até então. cos, ou seja, um profissional que
e esclarece quais são as caracterís- domine a Contabilidade, mas que
ticas importantes para os profis- RBC – Que tipo de profissio- tenha razoável domínio de Direito,
sionais da contabilidade mante- nal da área contábil o mercado de Economia, de Finanças, de Ges-
rem-se competitivos no mercado tem buscado? tão, de Tecnologia da Informação,
atualmente. Acompanhe a entre- E.M. – Precisamos hoje de um pro- no mínimo.
vista a seguir. fissional da contabilidade que não
mais fique sentado e isolado em RBC – Para o senhor, além dessas
RBC – Quais são as mudanças sua cadeira; há que se procurarem características essenciais para os
mais profundas que ocorreram na informações no departamento fi- contadores, qual pode ser um di-
Contabilidade na última década? nanceiro para entender melhor os ferencial competitivo para o pro-
Eliseu Martins – A última década tipos de instrumentos financeiros fissional da contabilidade hoje?
da Contabilidade brasileira apre- que a empresa possui, qual a in- E.M. – Cada vez mais, o grande
sentou a maior revolução históri- tenção de utilização das carteiras fator diferencial competitivo está
ca da nossa área (a primeira foi a de clientes, quais os riscos e con- no uso da inteligência emocio-
Lei nº 6404/1976, na implantação tingências, qual a vida útil de equi- nal. Todo o conhecimento técni-
da Lei das SAs.). Com isso, princi- pamentos de todas as naturezas, co e todas as características atrás
palmente, para as médias e gran- de edificações, de patentes e de definidas são absolutamente ne-
todos os demais tipos de imobili- cessárias, mas não são suficientes.
zados e intangíveis. Há que se co- Hoje, a grande diferença para a
nhecer o mercado financeiro para ascensão e manutenção de posto
ajudar a definir taxas de desconto na hierarquia (da empresa, da fa-
aplicáveis à sua entidade; dialogar mília, da igreja, do clube, do par-
com o jurídico para melhor enten- tido, etc.) está na capacidade de
der os contratos de todas as na- autocontrole emocional, na capa-
turezas que a empresa possui, cidade de entender o comporta-
principalmente os que envol- mento de seus pares, superiores
vem direitos societário e tribu- e subordinados e na capacidade
tário; conhecer a terminologia de gerir pessoas que têm diferen-
da tecnologia da informação e tes perfis psicológicos comporta-
os potenciais benefícios da mentais – não que isso seja uma
utilização de todos os novidade, mas, cada vez mais, as
recursos dessa área, entidades vão tomando consciên-
desde os tradicionais cia de que não adianta ter o pro-
até os instrumentos fissional mais tecnicamente pre-
que usam inteli- parado do mercado, se ele não
gência artificial consegue dialogar com facilidade
e outros; e é e transparência, não sabe convi-
necessário ver com pessoas individualmente
e em grupo, não consegue ter ca-
pacidade de reduzir con-
flitos e aí por diante. O
lado comportamental
humano é hoje o dife-
rencial mais forte em
qualquer profissão.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 7

Foto: acervo CFC

Professor Eliseu Martins foi agraciado com Medalha Mérito Contábil João Lyra

RBC – O que deve ser deixado lidade; não há empresa e não há alterações. Com isso, a demanda
para trás no perfil dos contado- cliente, a partir de um certo por- por atualização é um prato a se
res das décadas passadas? te, que não precisem cuidar, e com digerir todo o santo dia. E esses
E.M. – Aquela história de que eu sei muita atenção, dessas matérias, e cursos são parte relevante desse
o que precisa ser feito e não preciso esse profissional precisa ser capaz processo de atualização. A esco-
conversar com ninguém; os não con- de entender, dialogar e, às vezes, lha vai, é claro, depender de uma
tadores não são capazes de entender implementar novas funções além autoanálise do profissional para
o que faço, logo, não adianta perder daquelas que já vinha exercendo. verificar quais seus pontos fracos
tempo com eles; se não entendem Essas matérias afetam a empresa e quais os que, mesmo estando a
as demonstrações contábeis que lhes como um todo, e a Contabilidade dominar, precisam ser reforçados.
mando, o problema é deles; chiiii... não fica de fora. Haverá também sempre aqueles
a situação vai mal, mas não vou ser com maior capacidade autodi-
eu quem vai alertar a empresa ou o RBC – Como os cursos de pós-gra- dática que preferirão ler livros e
cliente disso... Todas essas atitudes duação lato sensu e stricto sensu artigos para se manterem atuali-
precisam ser simplesmente enterra- podem favorecer os contadores? zados, mas, as pressões de tem-
das e sem velório, inclusive. E.M. – A educação continuada é po tendem a tornar difícil esse ca-
simplesmente outra questão de minho. E há a facilitação enorme
RBC – Como o domínio de pautas sobrevivência, e o mundo da Con- hoje dos cursos a distância, que
como ESG, inteligência de mercado tabilidade tem um índice de reno- facilitam o acesso à essa educação
e transformação digital tem con- vação e inovação que tem se am- continuada. O fundamental é, de-
tribuído para valorizar os profissio- pliado ao longo do tempo. Um pois da autoanálise, indagar e pes-
nais da contabilidade atualmente? aluno que aprendeu uma maté- quisar sobre a qualidade das alter-
E.M. – Esses assuntos todos hoje ria no segundo ano pode, ao se nativas oferecidas no mercado e
interferem, e fortemente, no pa- formar, ter que revisitar a matéria lembrar: não há possibilidade hoje
pel dos profissionais da contabi- porque ela poderá já ter sofrido de não fazer essas atualizações.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 9

Contribuições da perícia contábil


para o Poder Judiciário: uma revisão
de artigos acadêmicos

E
Claudinéia dos Santos Paula
Autora. Docente, Perita Contábil. Mestranda
ste artigo propõe-se a descrever os resultados de em Gestão Integrada do Território pela Univer-
pesquisas realizadas sobre perícia contábil e suas sidade Vale do Rio Doce - Univale. claudineia.
E-mail: paula@univale.br
contribuições para o Poder Judiciário. O procedimento
metodológico se deu mediante revisão sistemática da Bernardo Gomes Barbosa Nogueira
literatura, realizada no portal de periódicos da Coordenação Coautor. Docente do Programa de Pós-Gradua-
ção em Gestão Integrada do Território da Univer-
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior ( Capes). A sidade Vale do Rio Doce. Doutor em Direito pela
busca foi por assunto, utilizando o termo: “perícia contábil” Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerias.
E-mail: bernardo.nogueira@univale.br
e selecionando o idioma português. Como resultados, foram
identificados 21 artigos, sendo que, destes, 13 versam sobre Maria Celeste Reis Fernandes de Souza
Coautora. Docente do Programa de Pós-Gradu-
perícia contábil. Esses artigos indicam a necessidade de ampliar ação em Gestão Integrada do Território da Uni-
o debate e estudos que fomentem o olhar na temática aqui versidade Vale do Rio Doce. Doutora em Educa-
ção pela Universidade Federal de Minas Gerais.
apresentada. Evidencia-se a possibilidade de desenvolvimento E-mail: celeste.br@gmail.com
de pesquisas, visando ampliar os conhecimentos,
Renata Bernardes Faria Campos
posicionamentos, críticas e análises da contribuição da perícia Coautora. Docente do Programa de Pós-Gra-
contábil como meio de prova para o Judiciário. duação em Gestão Integrada do Território da
Universidade Vale do Rio Doce. Doutora em En-
tomologia pela Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: rbfcampos@gmail.com

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Contribuições da perícia contábil para o Poder Judiciário:
10 uma revisão de artigos acadêmicos

1. Introdução convicção do que é verdadei-


ro e, por comparação, a con-
De acordo com o Novo Códi- vicção do contrário, do que é
go de Processo Civil/2015, a perícia falso (ZANNA, 2013).
é um meio de prova que tem por Dessa forma, a perícia
objetivo orientar o julgamento de contábil se traduz em pare-
um fato, mostrando a sua veracida- cer lançado sobre a investi-
de de forma imparcial. Trata-se de gação de fatos relacionados
um campo específico da Contabili- ao patrimônio individuali-
dade, realizada por um profissional zado, sendo realizados exa-
apto ao exercício da função. Como mes, vistorias, indagações,
meio de prova, tem por finalidade investigações, avaliações,
esclarecer questões judiciais con- arbitramentos, em resumo,
troversas entre as partes, estando todo e qualquer procedimento
à disposição tanto das pessoas físi- necessário para alcançar esse obje-
cas quanto das pessoas jurídicas e tivo (SÁ, 2011).
pode ser requerida pelo juiz, quan- Levando-se em conta o expos- tos. Já no Direito romano, de forma
do a prova depender de conheci- to, este estudo tem como objetivo mais objetiva e ainda associada ao
mento técnico-científico. abordar as contribuições da perícia sentido de árbitro, a figura do peri-
A Norma Brasileira de Contabi- contábil na solução dos litígios do to era determinada pela ligação en-
lidade NBC PP 01 (R1), responsável Judiciário, mediante uma aborda- tre a decisão da lide e os conheci-
por estabelecer instruções quanto gem qualitativa, pautada na revisão mentos técnicos do juiz. A partir do
à atuação do contador no exercício sistemática da literatura de artigos século XVII, ganha força no mun-
da função de perito, define o con- acadêmicos do portal de periódicos do a estrutura atual que é a perícia
ceito de perito e expõe que: Capes (https://www.periodicos.ca- como sistema auxiliar na promoção
pes.gov.br), utilizando como refe- da justiça (ALBERTO, 2010).
Perito é o contador detentor de co- rência a temática perícia contábil. A expressão perícia advém do
nhecimento técnico e científico, re- Nesse sentido, na seção 2 apre- latim Peritia, que em seu sentido
gularmente registrado em Conse- sentam-se os conceitos ancorados próprio significa conhecimento ad-
lho Regional de Contabilidade e no em estudiosos da área contábil que quirido pela experiência, bem como
Cadastro Nacional dos Peritos Con- tratam do tema perícia contábil. Na experiência propriamente dita. Se-
tábeis, que exerce a atividade peri- seção 3 é detalhada a metodologia gundo Magalhães (2009, p. 6), pe-
cial de forma pessoal ou por meio utilizada no estudo. Na seção 4 fa- rícia é:
de órgão técnico ou científico[...] z-se a apresentação dos resultados
(CFC,2020, p.2). do que tem sido produzido sobre O conjunto de procedimentos técni-
perícia contábil, relacionando a sua cos e científicos destinados a levar a
A perícia contábil tem por obje- contribuição para o Poder Judiciário. instância decisória elementos de
tivo demonstrar fatos econômicos, prova necessários a subsidiar à jus-
financeiros, tributários, trabalhis- ta solução do litígio, mediante laudo
tas e outros de natureza contábil, a 2. Fundamentação Teórica pericial contábil, em conformidade
fim de convencer o magistrado da com as normas jurídicas e profissio-
veracidade do que afirmam as par- O princípio básico da perícia nais, e a legislação específica no que
tes. Excluídas as questões da fé, o está presente desde os primórdios for pertinente.
conhecimento da verdade depende da sociedade, pois o homem primi-
do método de investigação aplica- tivo examinava a situação, coisa ou Alberto (2010) sustenta que a
do em cada caso, que conduzirá o fato para, então, ele mesmo julgá- perícia é o aprendizado e a prática
perito a conclusões mais precisas e -la. Outros registros revelam a pre- das coisas; é uma habilidade que vai
verdadeiras. Quanto mais clara for sença do perito na sociedade, como se construindo no decorrer da vida.
a prova, mais fácil será para o indi- na Índia com o surgimento do ár- O profissional da perícia é aquele
víduo convencer-se da certeza que bitro; no Egito e na Grécia antiga, que tem conhecimento sobre os fa-
ela transmite. No momento em que onde para determinadas matérias tos e sobre as coisas e desenvolve a
a prova convence o indivíduo da jurídicas se dispunha de especia- capacidade de perceber a veracida-
verdade que ela transmite, surge a listas para análise e exame dos fa- de sobre a matéria examinada.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 11

“ A perícia contábil poderá ser realizada somente


por um profissional formado em Ciências
Contábeis, regularmente registrado no Conselho
Regional de Contabilidade, que exerce a atividade
pericial de forma pessoal, devendo ser profundo
conhecedor, por suas qualidades e experiência, da
matéria periciada.

Para Costa (2017, p.1), “perícia especialização, com a finalidade de cas ou jurídicas e constitui meio de
é a aplicação do conhecimento hu- orientar o magistrado ou as partes prova dos fatos e das questões pa-
mano com a finalidade de desvendar da lide, mediante provas e opinião trimoniais duvidosas. É um exame
algo que não está evidente, demons- (MAGALHÃES, 2017). eficaz com o propósito de prover
trar o que não está claro para quem Na solução de questões contro- questões contábeis, derivadas de
está analisando, julgando aquilo versas relacionadas à área contábil, dúvidas, contestações e de situa-
que está em discussão entre duas a perícia contábil, segundo Alves et ções determinadas em leis.
ou mais partes”. Pode se desenvol- al. (2017, p.13), “é o conjunto de A perícia contábil poderá ser re-
ver nas organizações em geral, tanto procedimentos técnico-científicos alizada somente por um profissio-
no âmbito judicial como no extraju- que se destinam a oferecer as pro- nal formado em Ciências Contábeis,
dicial, e pode ser aplicada às pesso- vas necessárias, que vão subsidiar regularmente registrado no Conse-
as naturais, visando resolver litígios os argumentos que os defensores lho Regional de Contabilidade, que
de qualquer espécie (COSTA, 2017). de uma causa em litígio apresenta- exerce a atividade pericial de forma
De acordo com o novo Códi- rão a um juiz”. É fundamental nas pessoal, devendo ser profundo co-
go de Processo Civil, a perícia é um decisões da Justiça e oferece como nhecedor, por suas qualidades e ex-
meio de prova e poderá ser solicita- recurso o valor informativo da con- periência, da matéria periciada.
da nas demandas judiciais por ser tabilidade pela sua capacidade para
um direito constitucional (BRASIL, elucidar dúvidas levantadas na in-
2015). Dessa forma, para trazer aos terpretação de provas, objetivando
julgamentos decisões fundamenta- apoiar decisões. Tem por objetivo
das em verdades cientificamente evi- expor a veracidade de situações
denciadas, a perícia contábil se faz determinadas nas petições, se-
um instrumento propício empre- jam elas financeiras, traba-
gando a Ciência Contábil de forma lhistas, econômicas
singular, permitindo que os pilares ou outras, sen-
do Direito sejam seguros e legítimos do assim
(MULLER; TIMI; HEIMOSKI, 2017). estabeleci-
Por uma ótica mais ampla, a pe- da segun-
rícia pode ser entendida como tra- do cada
balho de natureza específica, cujo ri- caso (ZAN-
gor na execução é profundo. Pode NA, 2013).
ser apresentada em várias esferas Segundo
científicas conforme a área de co- Ornelas (2011),
nhecimento, seja médica, contábil, a perícia contábil é
trabalhista, entre outras, por se tra- um dos métodos técnicos
tar de um trabalho realizado com à disposição das pessoas físi-

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Contribuições da perícia contábil para o Poder Judiciário:
12 uma revisão de artigos acadêmicos

O perito contábil pode ser nome- pecíficas e técnicas, sendo assistido, Conselho Federal de Contabilidade
ado, contratado ou escolhido. No- preferivelmente, por uma pessoa (CFC), de acordo com as Resoluções
meado quando determinado pelo com curso superior que tenha habi- n.º 1502 (CFC, 2016a) e 1513(CFC,
juiz em processos de matéria con- lidades, experiência e conhecimento 2016b) e a NBC PP 02 (CFC, 2016c).
tábil; contratado quando atuar em sobre o assunto periciado (MULLER; O perito-contador deve respei-
perícias contábeis extrajudiciais; e TIMI; HEIMOSKI, 2017). tar o Código de Ética Profissional
escolhido quando exercer a função O perito deve ter um conjun- do Contador, deve assegurar o si-
de árbitro nas demandas de arbi- to de habilidades legais, além do gilo do que for apurado durante a
tragem. Ele pode atuar nessas áre- registro no Conselho Regional de realização do seu trabalho, sendo
as como perito contador assistente, Contabilidade e título de conta- assim proibida a sua divulgação, ex-
quando contratado e indicado pelas dor. Essas habilidades são qualida- ceto quando houver obrigação legal
partes litigantes (CFC, 2020). É, pois, des profissionais que se constituem (ROCHA, 2005).
o profissional que auxilia o magistra- pelo conhecimento geral, prático O Conselho Federal de Contabi-
do, quando este tem a necessidade e teórico da contabilidade e suas lidade, visando à conduta do pro-
de um especialista em questões es- tecnologias; pela experiência pro- fissional de contabilidade, faz re-
fissional; pelo seu discernimento, ferência à responsabilidade e às
sagacidade, firmeza e índole; pela consequências do seu descumpri-
capacidade ética estabelecida nas mento, na Norma NBC PP 01(R1),
normas emitidas pelos órgãos res- em seus itens:
ponsáveis; pela qualidade moral
relacionada à sua conduta pesso- 16.O perito deve conhecer as res-
al (SÁ, 2011). ponsabilidades sociais, éticas, pro-
Para realizar seu trabalho fissionais e legais às quais está su-
de forma equilibrada, o profis- jeito no momento em que aceita o
sional deve atuar em duas for- encargo para a execução de perícias
mas de excelência: moral, por contábeis judiciais e extrajudiciais,
meio da honestidade, pru- inclusive arbitral.
dência e imparcialidade; 17.O termo “responsabilidade” refe-
e intelectual, pelo conheci- re-se à obrigação do perito em res-
mento, sagacidade e sen- peitar os princípios da ética e do
satez (ALBERTO, 2010). direito, atuando com lealdade, ido-
Para atuar como peri- neidade e honestidade no desem-
to-contador, o profissional penho de suas atividades, sob pena
deverá também estar inscri- de responder civil, criminal, ética
to no Cadastro Nacional de e profissionalmente por seus atos.
Peritos Contábeis (CNPC) do (CFC, 2020)

“ O perito contábil pode ser nomeado, contratado


ou escolhido. Nomeado quando determinado pelo
juiz em processos de matéria contábil; contratado
quando atuar em perícias contábeis extrajudiciais;
e escolhido quando exercer a função de árbitro nas
demandas de arbitragem.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022
REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 13


A declaração clara do perito sobre fatos
patrimoniais devidamente detalhados gera a peça
chamada de laudo pericial que é o julgamento ou
pronunciamento, baseado nos conhecimentos
que tem o profissional da contabilidade, acerca de
eventos ou fatos que são submetidos à sua
apreciação (SÁ, 2011).

O perito-contábil, profissional postas positivas ou negativas. De- o problema, mas também para ob-
apto a realizar perícia contábil, dian- ve-se esclarecer as respostas, justi- ter uma ideia precisa sobre o esta-
te da sua responsabilidade em aten- ficando-as e enunciando as fontes do atual dos conhecimentos sobre
dimento às normas, vem se qualifi- (MAGALHAES, 2017). um dado tema, as suas lacunas e a
cando cada vez mais para cumprir contribuição da investigação para o
com seriedade e êxito seus traba- desenvolvimento do conhecimento.
lhos no Judiciário, que o nomeia, 3. Trajetória Metodológica
estando ciente de suas responsabi- Dessa forma, segundo Bento
lidades com a verdade, uma vez que A partir de uma abordagem (2012), são propósitos para esta
a elaboração do laudo pericial e pa- qualitativa e com o propósito de investigação: delimitar o problema
recer contábil contribuem de forma percorrer de maneira mais apro- e procurar novas linhas de investi-
significante para o esclarecimento fundada os estudos acerca da con- gação. Em conformidade com esse
da lide nas questões controversas. tribuição da perícia contábil para o propósito, realizou-se o estudo por
A declaração clara do perito so- Judiciário, adotou-se a realização meio de busca de artigos acadêmi-
bre fatos patrimoniais devidamente de revisão sistemática da literatura. cos, na biblioteca virtual do portal
detalhados gera a peça chamada de Conforme abordado por Fere- de periódicos da Capes.
laudo pericial que é o julgamento nhof e Fernandes (2016), a revisão Utilizou-se como questiona-
ou pronunciamento, baseado nos sistemática da literatura é uma base mento norteador: O que tem sido
conhecimentos que tem o profis- para a escrita científica acadêmica. produzido sobre perícia contábil?
sional da contabilidade, acerca de A busca foi realizada por assunto,
eventos ou fatos que são submeti- [..] está fundamentada em sua ca- utilizando o termo: “perícia contá-
dos à sua apreciação (SÁ, 2011). pacidade de possibilitar a análise e bil”, selecionando o idioma portu-
O laudo pericial é elaborado a síntese do conhecimento existente guês. Foram identificados, no total,
pelo perito e constitui o trabalho na literatura científica, permitindo 21 produções; oito foram descarta-
pericial nos aspectos de exposição a obtenção de informações que pos- dos após a leitura do tí-
e documentação, principalmente sibilitem aos leitores avaliar a per- tulo e do resumo por
no propósito de expressar opinião tinência dos procedimentos empre- não contemplarem a
sobre as questões formuladas nos gados na elaboração da produção temática como obje-
quesitos (MAGALHAES, 2017). científica. (FERENHOF; FERNAN- to de estudo.
No laudo está a documentação DES, 2016, p. 562)
da perícia. Nele se documentam os
fatos, as operações realizadas e as Bento (2012, p.01) afirma que:
conclusões devidamente funda-
mentadas a que chegou o perito. A A revisão da literatura é indis-
redação do laudo deve ser feita com pensável não somente
objetividade, evitando simples res- para definir bem

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Contribuições da perícia contábil para o Poder Judiciário:
14 uma revisão de artigos acadêmicos

Quadro 1- Artigos relacionados com perícia contábil


Ano
Autoria Título Área
Publicação
Juros do Sistema Financeiro da
Carlos Alberto Serra Negra,
Habitação: a falácia dos sistemas de Contábil e
Milanez Silva de Souza e Walter 2006
amortização no âmbito da perícia Financeira
Roosevelt Coutinho.
contábil.
Perícia contábil em contratos de Contábil e
Wilson Alberto Zappa Hoog. 2008
financiamentos Financeira
Ivam Ricardo Peleias, Martinho Perícia contábil: análise das condições
Maurício Gomes de Ornelas, de ensino em cursos de ciências Contábil e
2011
Marcelo Rabelo Henrique e contábeis da região metropolitana de Educação
Elionor Farah Jreige Weffort. São Paulo.
Tatiane Schmitz, Vanderlei dos Perícia Contábil: análise bibliométrica
Santos, Leomar Truppel, Lara e sociométrica em periódicos e
2013 Contábil
Fabiana Dallabona e Elaine congressos nacionais, no período de
Kammers Truppel. 2007 a 2011.
Para a realização da revisão sis- A função do perito contábil judicial
José Ricarte Lima, Elias Bortoli e e sua influência na solução de litígios Contábil e
temática, fez-se o download dos 2014
Nelson O. Silva. na percepção dos magistrados do Direito
artigos separando-os por pastas. município de Cáceres-MT.
Logo após, foi realizada a leitura Patrícia Celestino Gonçalves, Características do perito contador:
dos artigos na íntegra analisando Michele Rílany Machado, Lúcio perspectiva segundo juízes da Justiça Contábil e
2014
de Souza Machado e Ercílio Federal, advogados da União e peritos Direito
as discussões propostas nos estu- Zanolla. contadores no contexto goiano.
dos. Os resultados da revisão siste- José Antônio de França e Aline O Ensino da Perícia Contábil em Contábil e
mática são apresentados na próxi- Borges Barbosa. Brasília: percepções dos estudantes do 2015 Educação
curso de ciências contábeis.
ma seção.
Ivam Ricardo Peleias, Sérgio Interfaces jurídico-contábeis nos
Moro Jr., Elionor Farah Jreige processos de recuperação judicial do Contábil e
2016
Weffort, Martinho Maurício Tribunal de Justiça da Comarca de Direito
4. Análise e Discussão dos Gomes de Ornelas. São Paulo.

Resultados Jislene Trindade Medeiros,


Cecília Maria Medeiros Dantas
Determinantes da qualidade do
Contábil e
trabalho pericial contábil nas varas 2018
de Melo, Diogo Henrique Silva Direito
cíveis da comarca de Natal/RN.
Nessa etapa apresentam-se a de Lima e Erivan Ferreira Borges.
análise e a discussão dos resulta- Eduarda Burin, Ana Cristine
Heinen, Clari Schuh e Marco A perícia contábil trabalhista como Contábil e
dos encontrados na busca dos da- Aurélio Batista de Sousa. técnica auxiliar no trabalho jurídico.
2019
Direito
dos relacionados com a temática da
perícia contábil. Após a leitura dos
A perícia e o perito criminal contábil: Contábil e
textos, as produções foram organi- Thiago Henrique Costa Silva 2019
instrumentos a serviço da justiça. Direito
zadas em um quadro, com o pro-
A perícia contábil e as exigências
pósito de apresentar um panorama Udo Strassburg, Niqueli Ortolan do novo código de processo civil: a
Contábil e
geral. No quadro a seguir, expõem- e Luanda Borsoi. percepção dos peritos e acadêmicos
2020 Direito
sob a ótica do discurso do sujeito
-se a autoria, o título das produções,
coletivo.
o ano de publicação e identifica-se Ariel Prates, Jonatas Dutra Mapeamento de competências:
também a área de discussão, com Sallaberry, Leonardo Flach, necessidades de aprimoramento de Contábil e
2020
o objetivo de verificar o compareci- Ivam Ricardo Peleias e Romina analistas periciais em contabilidade do Direito
Batista de Lucena Souza. Ministério Público Federal.
mento da temática.
Fonte: autores citados.
Os artigos encontrados na revi-
são sistemática da literatura refe-
rem-se ao período de 2006 a 2020. do ano de 2006. Na área Financei- Dos artigos apresentados no
Abordam diversas temáticas envol- ra, são dois artigos; na área de Edu- quadro, destaca-se o artigo de Sch-
vendo a perícia contábil, destacan- cação dois artigos; na área do Direi- mitz et al. (2013) “Perícia Contábil:
do que as discussões versam sobre a to, oito artigos; e, na área Contábil, análise bibliométrica e sociomé-
perspectiva da contabilidade com as um artigo. Com relação à temática trica em periódicos e congressos
demais áreas do ensino, como Edu- abordada neste estudo, optou-se nacionais no período de 2007 a
cação e Direito. A temática começa por apresentar as informações con- 2011”, por se constituir, também,
a comparecer na produção acadêmi- tidas no conjunto de artigos encon- em uma revisão da literatura de ar-
ca nesse portal de periódicos a partir trados, aliando-a às áreas afins. tigos acadêmicos.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 15


Com relação às referências, a maior parte
constitui-se de livros nacionais, e os autores mais
citados foram aqueles que possuem livros didáticos
publicados a respeito do tema e que normalmente
são utilizados nos cursos de graduação.

Na pesquisa realizada pelos au- Quadro 2 - Quantidade de artigos publicados por periódicos e
tores, observou-se que as publica- congressos com Qualis
ções foram mais intensas em 2007 e
Local de Publicação / Ano Qualis 2007 2008 2009 2010 2011 Total
2008. O tema foi difundido apenas
Ciências Sociais em Perspectiva B4 1 1
em nove periódicos e praticamen-
Contabilidade Vista & Revista B1 1 1 2
te não houve publicação naque- Contexto (UFRGS) B3 1 1 1
les considerados de alto impacto, Perspectivas Contemporâneas B2 1 1
como se pode verificar no Quadro 2. RACI. Revista de Administração e Ciências
C 1 1
A estrutura e a qualidade do lau- Contábeis do IDEAU
do pericial e as condições de ensino Revista Catarinense da Ciência Contábil B4 2 2
Revista de Contabilidade da UFBA B4 1 1
de perícia nos cursos de graduação
Revista de Contabilidade do Mestrado em
foram os temas mais destacados, Ciências Contábeis da UERJ
B3 1 1
porém restritos a determinadas regi- Revista Pensar Contábil B3 1 1
ões. Estrutura e qualidade do laudo ANPCONT E1 1 1 1 3
pericial sobressaem-se nas regiões ENANPAD E1 1 1
Sudeste e Nordeste; e as condições Congresso USP de Controladoria E1 3 2 2 1 8
de ensino de perícia nos cursos de CBC E1 1 1 2

graduação nas regiões Sul, Sudes- Total 7 7 2 5 4 25


Fonte: dados da pesquisa de Schmitz et al. (2013).
te e Centro-Oeste. Com
relação às referên-
cias, a maior nacionais, e os autores mais citados de 2007 e 2011. Como resultado,
parte consti- foram aqueles que possuem livros foram identificados 25 artigos que
tui-se de livros didáticos publicados a respeito do continham as palavras “perito” ou
tema e que normalmente são utiliza- “perícia” nas palavras-chave, título
dos nos cursos de graduação. ou resumo, e que abordavam es-
O artigo de Schmitz et pecificamente a perícia contábil, no
al. (2013) propôs iden- período de 2007-2011. Os autores,
tificar as características considerando que foram encon-
bibliométricas e so- trados apenas 25 artigos publica-
ciométricas de dos no período analisado, concluí-
pesquisas re- ram que o tema é pouco explorado,
alizadas tanto no meio acadêmico quanto
sobre pe- no profissional, sugerindo, dessa
rícia con- forma, que futuras pesquisas se-
tábil no jam desenvolvidas sobre a temáti-
Brasil, entre os anos ca “perícia contábil”.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Contribuições da perícia contábil para o Poder Judiciário:
16 uma revisão de artigos acadêmicos

“ A pesquisa se deu por meio de um levantamento


de campo de natureza documental. A análise
documental revelou a evolução histórica no ensino
de perícia contábil na legislação sobre o ensino da
Contabilidade no Brasil.

O conjunto dos dois artigos Direito, estão se valendo de laudos como, por exemplo, os relativos à
aliados à área financeira com te- periciais contábeis. Caberá ao ex- aquisição da casa própria. A prova
mas “Juros do Sistema Financeiro pert nomeado pelo juiz apresentar pericial consiste em todo elemento
da Habitação: a falácia dos siste- os elementos de convicção que indi- que contribui para a formação da
mas de amortização no âmbito da quem claramente se houve, ou não, convicção do juiz a respeito da exis-
perícia contábil” e “Perícia contábil a capitalização dos juros no contra- tência de determinado fato, sendo
em contratos de financiamentos” to sob exame. relevante para a solução do litígio,
compartilham de discussão em co- Hoog (2008) apresenta como de acordo com as normas jurídicas,
mum. Os autores Negra, Souza e discussão a presença do Poder Ju- mediante laudo técnico pelo perito
Coutinho (2006) tiveram por obje- diciário na defesa da ordem econô- contador e perito contador assisten-
tivo aferir se o Sistema Francês de mica nacional, com a participação te (MULLER; TIMI; HEIMOSKI, 2017).
Amortização, mais conhecido no do perito-contador que tem o papel Os dois artigos que versam so-
Brasil como Tabela Price ou o Siste- de iluminar os magistrados diante bre a área contábil e Educação
ma de Amortização Crescente, tam- da realidade de dano econômico, compartilharam de uma preocu-
bém denominado nos contratos decorrente da capitalização e da pação em comum: as condições de
pela sigla Sacre, utiliza-se da meto- cobrança antecipada dos juros em ensino na área contábil. O artigo de
dologia de juros simples ou de ju- financiamentos que tenham pres- Peleias et al. (2011) teve por obje-
ros capitalizados. Ressaltam que a tações excessivamente onerosas, tivo identificar e analisar as condi-
importância de definir se existe, ou ções de ensino da disciplina Perí-
não, a capitalização de juros decor- cia Contábil, em cursos de Ciências
re do expressivo volume de ações Contábeis na região metropolita-
judiciais em trâmite em todo o país na de São Paulo. A pesquisa se deu
discutindo a capitalização de juros por meio de um levantamento de
em contratos financeiros. campo de natureza documen-
Dessa forma, segundo Negra, tal. A análise documental re-
Souza e Coutinho (2006), os ma- velou a evolução histórica
gistrados, antes de prolatar suas no ensino de perícia con-
sentenças, por envolver tábil na legislação sobre
questão técnica o ensino da Contabilidade
alheia ao no Brasil. Foi constatado
que a oferta de conteúdos
para disciplinas correlatas na
América do Norte é estimula-
da pela sociedade e pelo merca-
do de trabalho, ao contrário do Bra-
sil cujo comando é a lei.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 17

A análise documental dos pla- apresentaram suas discussões enfa- periciada. “A perícia contábil traba-
nos de ensino realizada por meio da tizando pontos relevantes da atua- lhista como técnica auxiliar no tra-
análise de conteúdo, apontou que ção do profissional da contabilida- balho jurídico”; “A perícia e o peri-
os cursos classificados pelo Enade de no exercício da função pericial. to criminal contábil: Instrumentos
possuem melhores condições de en- “A função do perito contábil judi- a serviço da justiça” e “Interfaces
sino, revelando maiores preocupa- cial e sua influência na solução de jurídico-contábeis em processos de
ções e cuidados com: estratificação litígios na percepção dos magistra- recuperação judicial na Comarca de
dos grupos de conteúdos ofereci- dos do município de Cáceres-MT”; São Paulo”. Os autores Peleias et al.
dos, completude dos planos de ensi- “Características do perito contador: (2016), Burin et al. (2019) e Silva
no, variação nas estratégias de ensi- perspectiva segundo juízes da Jus- (2019) destacaram que a perícia é
no, ênfase em determinados grupos tiça Federal, advogados da União um meio de prova que contribui de
de conteúdos e variedade nos cri- e peritos contadores no contexto forma significativa para a resolução
térios de avaliação. Os autores res- goiano”; “Determinantes da quali- das questões controversas entre as
saltam que pesquisas futuras pode- dade do trabalho pericial contábil partes litigantes e que o profissio-
rão estudar formas de promover a nas varas cíveis da comarca de Na- nal precisa ser capacitado; atributo
integração entre o que é tratado em tal/RN”; “A perícia contábil e as exi- essencial para o desenvolvimento
sala de aula com a realidade obje- gências do novo código de proces- de um trabalho.
tiva da perícia contábil e sugerem so civil: a percepção dos peritos e Portanto, os artigos da revisão
replicar a pesquisa para analisar as acadêmicos sob a ótica do discurso sistemática, dentro da sua temáti-
condições de ensino de perícia con- do sujeito coletivo” e “Mapeamen- ca, apresentaram objetivos distin-
tábil em outras regiões brasileiras. to de competências: necessidades tos. Entretanto, evidencia-se um
Para França e Barbosa (2015), a de aprimoramento de analistas pe- ponto em comum abordado por
questão de pesquisa consistiu em riciais em contabilidade do Ministé- todos: a necessidade do conheci-
obter evidências sob a perspectiva rio Público Federal”. mento não só da própria contabi-
dos alunos de como as instituições A discussão contemplou a ne- lidade, como também de outras
de ensino superior, que ofertam o cessidade de o perito ter o conhe- ciências afins para a realização do
curso de Ciências Contábeis, pre- cimento técnico- científico na área trabalho pericial. Destaca-se desses
param seus alunos para o exercício contábil para o exercício da fun- estudos que o profissional precisa
da profissão na atividade pericial, ção; a qualidade do serviço presta- estar apto para co exercício do en-
nos quesitos relativos à motiva- do pelo perito contábil na constru- cargo a si confiado. Dessa forma,
ção para o desempenho na perícia ção da prova técnica, ou seja, na contribuirá para efetivação do ob-
e de informação sobre desafios e construção do laudo pericial; a ob- jetivo da perícia contábil, que con-
oportunidades do mercado de tra- servância do perito em relação à siste em auxiliar na resolução das
balho. No sentido de viabilizar res- legislação jurídica no exercício da demandas judiciais.
postas para essa questão, a pesqui- função; e a contribuição do tra-
sa teve por objetivo verificar como balho do perito contábil para
as IES ofertam o conteúdo de perí- a resolução das questões liti-
cia contábil, visando preparar seus giosas inerentes à área con-
egressos para atender ao mercado tábil. Os estudos se justifi-
de perito-contador. Os resultados caram por apresentarem
finais obtidos mostram, com con- discussões que contribui-
fiança de 90% e 95%, que os alu- rão para uma prestação
nos que cursaram esse conteúdo de serviço com mais qua-
curricular se interessam pela perícia lidade e eficiência.
e que há um alto grau de desinfor- Três artigos discutiram a
mação sobre desafios e oportuni- atuação do perito contábil
dades do mercado de perito-con- na área trabalhista, na re-
tador. Esses resultados sugerem a cuperação judicial e na cri-
necessidade de que as IES promo- minal contábil, requeren-
vam adequação curricular para eli- do do profissional, além do
minar as deficiências evidenciadas. conhecimento contá-
Dos oito artigos que aliam a bil, um conhecimen-
área contábil com o Direito, cinco to específico na área

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Contribuições da perícia contábil para o Poder Judiciário:
18 uma revisão de artigos acadêmicos

5. Considerações Finais cas, imparcialidade, discernimento, buindo para o esclarecimento e re-


sagacidade, firmeza e boa índole, solução das questões controversas
A análise da produção acadê- abstendo-se de quaisquer opiniões entre as partes.
mica realizada no portal de peri- pessoais. É preciso ter técnica na Finaliza-se este artigo com o
ódicos da Capes revelou que o constatação de fatos e situações, pensamento de que é possível am-
trabalho pericial prestado pelo conhecimentos práticos e teóricos pliar o debate acerca da te-
profissional contábil na função de e, acima de tudo, ter habilitação le- mática aqui apresen-
perito é de suma importância para gal perante o órgão competente. tada, enfatizando a
o Judiciário, pois auxilia o magis- Ao longo desta revisão, cons- importância da atu-
trado na elucidação das questões tatou-se a ênfase para a formação ação do profissional
técnicas contábeis que se encon- acadêmica do profissional contá- contábil na resolução
tram em controvérsia no processo. bil. Este precisa estar embasado das demandas
Mediante as leituras analíticas de conhecimento técnico-científi- do Judiciá-
dos artigos, ficou claro que é im- co para que, no exercício da fun- rio.
prescindível que os peritos possuam ção de perito, possa atender satis-
atributos para nomeação, sendo fatoriamente às demandas do
necessárias virtudes morais e éti- Poder Judiciário, contri-

Referências
ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia Contábil. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.

ALVES, Aline et al. Perícia Contábil. [recurso eletrônico] [revisão técnica: Lilian Martins].Porto Alegre: SAGAH, 2017.

BENTO, António V. Como fazer uma revisão da literatura: Considerações teóricas e práticas. Revista JA (Associação Académica
da Universidade da Madeira), nº 65, ano VII (pp. 42-44). ISSN: 1647-8975, 2012.

BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>

BURIN, Eduarda et al. A perícia contábil trabalhista como técnica auxiliar no trabalho jurídico. Refas-Revista Fatec Zona Sul,
v. 5, n. 5, p. 1-19, 2019.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE .Normas brasileiras de contabilidade: exame de Qualificação Técnica para Perito
Contábil: NBC PP 02.Brasília: Conselho Federal de Contabilidade, 2016. Disponível em:< https://cfc.org.br/tecnica/normas-
brasileiras-de-contabilidade/nbc-pp-do-perito-contabil>.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Normas brasileiras de contabilidade: perícia contábil: NBC TP 01(R1). Brasília:
Conselho Federal de Contabilidade, 2020. Disponível em: < https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de-contabilidade/
nbc-tp-de-pericia >

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Normas brasileiras de contabilidade: perito contábil: NBC PP 01(R1) e NBC PP
02.Brasília: Conselho Federal de Contabilidade, 2020. Disponível em:< https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de-
contabilidade/nbc-pp-do-perito-contabil>

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE.Resolução CFC nº 1.502/2016.Dispõe sobre o Cadastro Nacional de Peritos Contábeis
(CNPC) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e dá outras providências. 2016. Disponível em: https://www2.cfc.org.br/
sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/001502&arquivo=Res_1502.doc.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 1.513/2016. Altera os artigos 2º e 6º da Resolução CFC n.º 1.502/2016,
que dispõe sobre o Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e dá outras
providências. 2016. https://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/ 001513&arquivo=Res_1513.doc.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 19

COSTA, João Carlos Dias da. Perícia Contábil: aplicação prática. 1ª ed. São Paulo: Atlas,2017.

FERENHOF, Hélio Aisenberg; FERNANDES, Roberto Fabiano. Desmistificando a revisão de literatura como base para redação
científica: método SSF. Revista ACB, v. 21, n. 3, p. 550-563, 2016. ISSN 1414-0594. Disponível em: <https://revista.acbsc.
org.br/racb/article/view/1194>

FRANÇA, José Antônio de; BARBOSA, Aline. Borges O Ensino da Perícia Contábil em Brasília: percepções dos estudantes do
curso de ciências contábeis - DOI: http://dx.doi.org/10.16930/2237-7662/rccc.v14n43p63-73. Revista Catarinense da Ciência
Contábil, [S. l.], v. 14, n. 43, p. p. 63–73, 2015. Disponível em: https://revista.crcsc.org.br/index.php/CRCSC/article/view/2137.

GONÇALVES, Patrícia Celestino et al. Características do perito contador: perspectiva segundo os juízes da justiça federal,
advogados da união e peritos contadores no contexto goiano. Revista Contemporânea de Contabilidade, [S. l.], v. 11, n. 22, p.
119-140, 2014. DOI: 10.5007/2175-8069.2014v11n22p119. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/contabilidade/
article/view/2175-8069.2014v11n22p119.

HOOG, Wilson Alberto Zappa. Perícia contábil em contratos de financiamentos. Revista Catarinense da Ciência Contábil, v. 7,
n. 19, p. 47-54, 2008. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>

LIMA, José Ricarte; BORTOLI, Elias; SILVA, Nelson Ortega. A função do perito contábil judicial e sua influência na solução de
litígios na percepção dos magistrados do município de Cáceres-MT. Revista UNEMAT de Contabilidade, v. 3, n. 5, 2014.

MAGALHÃES, Antônio de Deus Farias. Perícia Contábil. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2017.

MEDEIROS, Jislene Trindade et al. Determinantes da qualidade do trabalho pericial contábil nas varas cíveis da comarca de natal/
rn. Revista Ambiente Contábil-Universidade Federal do Rio Grande do Norte-ISSN 2176-9036, v. 10, n. 1, p. 275-292, 2018.

MULLER, Aderbal. Nicolas; TIMI, Sônia Regina Ribas; HEIMOSKI, Vanya Trevisan M arcon. Perícia Contábil. São Paulo: Saraiva,
2017.

NEGRA, Carlos Alberto Serra; DE SOUZA, Milanez Silva; COUTINHO, Walter Roosevelt. Juros do Sistema Financeiro da Habitação:
a falácia dos sistemas de amortização no âmbito da perícia contábil. Revista Catarinense da Ciência Contábil, v. 5, n. 13, p.
27-43, 2005.

ORNELAS, Martinho Maurício Gomes de. Perícia Contábil. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2011.

PELEIAS, Ivam Ricardo et al. Interfaces jurídico-contábeis em processos de recuperação judicial na Comarca de São
Paulo. Enfoque: Reflexão Contábil, v. 35, n. 2, p. 17-34, 2016.

PELEIAS, Ivam Ricardo et al. Perícia contábil: análise das condições de ensino em cursos de ciências contábeis da região
metropolitana de São Paulo. Educação em Revista, v. 27, p. 79-108, 2011.

PRATES, Ariel et al. Mapeamento de competências: necessidades de aprimoramento de analistas periciais em contabilidade
do Ministério Público Federal. Revista Ambiente Contábil-Universidade Federal do Rio Grande do Norte-ISSN 2176-9036, v.
12, n. 1, p. 215-233, 2020.

SCHMITZ, Tatiane et al. Perícia contábil: análise bibliométrica e sociométrica em periódicos e congressos nacionais no período
de 2007 a 2011. Revista Catarinense da Ciência Contábil, v. 12, n. 37, p. 64-79, 2013.

SILVA, Thiago Henrique Costa. A perícia e o perito criminal contábil: Instrumentos a serviço da justiça. Revista Brasileira de
Criminalística, v. 8, n. 1, p. 35-47, 2019.

STRASSBURG, U. D. O.; ORTOLAN, Niqueli; BORSOI, Luanda. A perícia contábil e as exigências do novo código de processo
civil: a percepção dos peritos e acadêmicos e sob a ótica do discurso do sujeito coletivo. Revista Unemat de Contabilidade, v.
8, n. 16, 2019.

ZANNA, Remo Dalla. Prática de Perícia Contábil. 4ªed. São Paulo: IOB Folhamatic, 2013.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 21

Planejamento tributário, remuneração


executiva e governança corporativa:
um estudo a partir de companhias
que compõem o IBRX100

E
Juliano Augusto Orsi de Araujo
Professor titular do Mestrado Profissional em
ssa pesquisa investigou o pagamento de bônus aos Administração da Universidade Ibirapuera.
executivos de companhias brasileiras de capital aberto Doutor em Contabilidade pela Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade de
em função da redução de tributos sobre o lucro Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
por intermédio do planejamento tributário. Por meio de E-mail: juliano@expresscontabil.com.br

uma análise de regressão com dados em painel, a pesquisa


Maísa de Souza Ribeiro
investigou 300 companhias brasileiras do período de 2016 Professora titular do Departamento de Con-
a 2021. Os achados indicam o pagamento de remuneração tabilidade na Faculdade de Economia, Admi-
nistração e Contabilidade de Ribeirão Preto da
adicional aos executivos que apresentaram redução de carga Universidade de São Paulo.
tributária das companhias. Os resultados indicam uma E-mail: maisorib@usp.br

remuneração maior paga aos executivos de companhias de


maior porte, bem como aos executivos cujas companhias
estão no segmento de Novo Mercado. Assim, a pesquisa
contribui com a literatura que investiga as relações de agência
ao compilar em seus achados o apetite do executivo em
assumir riscos fiscais, balizados pelas políticas de governança
corporativa adotadas nas companhias.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Planejamento tributário, remuneração executiva e governança corporativa:
22 um estudo a partir de companhias que compõem o IBRX100

1. Introdução Nesse sentido, Bushman, Dai e cutivos das empresas brasileiras de


Wang (2010) defendem que o pre- capital aberto, para o uso do plane-
O Brasil enfrentou, nos últimos sidente executivo, por sua vez, ava- jamento tributário, durante o perío-
anos, grave crise econômica, que, lie os riscos do negócio e, a depen- do de crise compreendido entre os
segundo Barbosa Filho (2017), ini- der da relação entre risco e ganho, anos de 2017 e 2020.
ciou-se em 2011 com a adoção da aceita ou não tomar determinada Adicionalmente, a pesquisa tem
Nova Matriz Econômica, agravada decisão. Ademais, para Lunardini por objetivo específico investigar os
pela crise moral e política vivencia- e Martins (2017), o planejamento efeitos do tamanho da companhia,
da no país. A crise trouxe descon- tributário, em determinados mo- desempenho econômico e segmen-
fiança ao investidor externo, o que mentos, esbarra em políticas de tos de governança corporativa in-
levou a desvalorização do real (BRL) governança corporativa, fato este fluenciam a remuneração de execu-
frente ao dólar americano e ao euro que pode ser um entrave em rela- tivos das companhias investigadas.
e à consequente desvalorização das ção à decisão de ser mais ou menos Os estudos sobre planejamen-
ações das companhias brasileiras na agressivo no planejamento tributá- to tributário desenvolvidos no Bra-
bolsa de valores do país. rio. Além disso, Desai e Dharmapa- sil permeiam estudos de caso sobre
Paralelamente a esse cenário, la (2006) afirmam que pode haver redução de tributos em empre-
empresas buscam sobreviver a essa ligação entre governança e decisões sas específicas (REDIVO; ALMEIDA;
turbulência, adotando estratégias fiscais evitadas; em particular, argu- BEUREN, 2020; COSTA et al., 2018;
que permitam obter algum cresci- mentam que o planejamento tribu- SONTAG; HOFER; BULHÕES, 2015).
mento frente ao quadro de reces- tário e a redução de remuneração Estudos como os de Silva e Evan-
são macroeconômica. Para isso, as executiva podem ser complementa- gelista (2017) e Sousa Neto et al.
companhias mantêm, na direção res se a agressividade fiscal reduzir (2014) investigaram questões sobre
executiva, profissionais com habili- a transparência corporativa, que, o conflito de agência no pagamento
dades para traçar o planejamento por sua vez, aumenta a oportuni- de dividendos ou juros sobre capital
estratégico adequado para conti- dade para os administradores des- próprio e questões tributárias. Potin
nuidade das atividades, contribuir viarem recursos corporativos para et al. (2016) investigaram a relação
para o crescimento do negócio e benefício pessoal. de dependência entre proxies de go-
aumentar a riqueza do acionista. Diante dos resultados contro- vernança corporativa, planejamento
Por meio da redução da carga versos e da lacuna existente na li- tributário e retorno sobre os ativos
tributária, é possível aumentar o re- teratura, esta pesquisa busca res- das companhias brasileiras.
sultado econômico e o patrimônio ponder à seguinte pergunta: Qual A pesquisa se justifica, pois
líquido da empresa. Para Martinez o incentivo financeiro recebido por contribui com as pesquisas sobre
e Ramalho (2017), Momente et al. executivos das companhias abertas remuneração executiva, governan-
(2017) e França e Bezerra (2022), o brasileiras para o uso do planeja- ça corporativa e planejamento tri-
Brasil é reconhecidamente um país mento tributário? butário ao lançar luz sobre estes
em que há uma grande carga tri- Assim, o estudo tem por obje- três temas relacionados. O estu-
butária e, entre as estratégias ado- tivo geral investigar o incentivo fi- do também se apresenta como
tadas para o enfrentamento de cri- nanceiro recebido pelos exe- uma resposta à Hanlon e Heitzman
ses, o planejamento tributário é (2010), dado que os autores cla-
uma delas. mam por mais pesquisas so-
Ademais, a atividade de plane- bre os impactos das esco-
jamento tributário, segundo Wang lhas de executivos nas
e Cullinan (2020), impacta direta- estratégias de planeja-
mente a arrecadação de governos mento tributário.
pelo mundo, o que sugere for-
tes movimentos governa-
mentais no sentido de
fiscalização, aplicação
de multas e, em alguns
casos, responsabiliza-
ção de executivos, o que
sugere que é uma prática
que está exposta a risco.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 23


O ingrediente adicional desta pesquisa
em relação às já desenvolvidas é que ela se deu em
um país com carga tributária reconhecidamente alta,
em um cenário de crise macroeconômica,
sob o balizamento da governança corporativa.

Armstrong et al. (2015) inves- No mesmo sentido, os estu-
tigaram governança corporativa, dos anteriores sobre plane-
incentivos e planejamento tribu- jamento tributário se
tário durante os anos de 2007 a voltaram para o com-
2011 para empresas listadas no portamento dos in-
mercado norte americano e não divíduos nas com-
encontraram relação significativa panhias (SLEMROD;
entre as variáveis. Graham (2003) YITZHAKI, 2002) e as
admite que tributos são vistos diferenças entre o ape-
como um dos muitos fatores que tite em assumir riscos tribu-
influenciam a tomada de decisões tários de indivíduos e companhias, o
estratégias. O ingrediente adicio- que, para Slemrod (2004), pode ser vil em geral. Este estudo traz impli-
nal desta pesquisa em relação às analisado sob os aspectos tratados cações práticas, que consistem em:
já desenvolvidas é que ela se deu na teoria da Agência.
em um país com carga tributária Como balizadora desta relação i) exigências da sociedade civil
reconhecidamente alta, em um está a governança corporativa, que contra as práticas de planeja-
cenário de crise macroeconômica, se apresenta como um limitador com mento tributário abusivo;
sob o balizamento da governança características conservadoras às prá- ii) questões tributárias no centro
corporativa. ticas de planejamento tributário e às das atenções da imprensa espe-
Ao se fragmentar esses três te- políticas de remuneração executi- cializada e;
mas, a remuneração de executivos va. Segundo Conyon e Schwalbach iii) trade-offs entre os relatórios fi-
é abordada pela teoria da Agên- (2000), as estruturas de governança nanceiros e os incentivos fiscais.
cia e consiste em adotar políticas corporativa, legislação e normas con-
que permitam alinhar os interes- tábeis locais são fatores determinan- A pesquisa contribui para iden-
ses de executivos (agente) e inves- tes na elaboração das políticas de re- tificar a realidade brasileira, com
tidores (principal) em maximizar a muneração executiva em cada país. ênfase nos aspectos merecedores
riqueza de cada um deles. Nesse O estudo se dedica a explo- de maior monitoramento de ór-
sentido, Araujo e Ribeiro (2017) rar três temas estratégicos na ges- gãos governamentais para prover a
demonstram que os estudos ante- tão e no monitoramento de negó- igualdade de exigências às empre-
riores concentraram esforços para cios, interna e externamente. Sua sas, evidenciar necessidade de aper-
investigar a relação da remunera- relevância está em ressaltar o en- feiçoamento dos instrumentos de
ção executiva com o desempenho trelaçamento entre eles e chamar governança corporativa, bem como
econômico e aspectos de gover- a atenção para a necessidade de revelar remuneração adicional paga
nança corporativa, principalmen- maior acompanhamento por parte aos executivos das empresas brasi-
te nos cenários norte-americano e de acionistas, conselhos de admi- leiras de capital aberto para o uso
europeu. nistração e fiscal e a sociedade ci- do planejamento tributário.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Planejamento tributário, remuneração executiva e governança corporativa:
24 um estudo a partir de companhias que compõem o IBRX100

2. Fundamentação teórica empresas com lucro supe-


e desenvolvimento das rior a 240.000,00 BRL/Ano,
hipóteses ou seja, sobre o que exce-
der este valor, há um acrés-
2.1 Planejamento tributário e cimo de 10% de IRPJ, o que eleva
legislação brasileira a alíquota a 25%. A CSL é taxada a
Entre as particularidades da legis- 9% sobre o lucro real, independen-
lação brasileira estão os tributos so- temente da quantidade de lucro. 2.2 Planejamento
bre a atividade empresarial. O direito O planejamento tributário é vis- tributário,
tributário brasileiro abarca duas na- to como benéfico para empresas e remuneração executiva
turezas de tributos: diretos e indire- acionistas desde que a redução dos e risco
tos (MARCHESI; ZANOTELI, 2021). custos tributários implique maio- A remuneração de executivos é
Os tributos indiretos são aque- res fluxos de caixa e lucro líquido notadamente o mecanismo que o
les que são cobrados de maneira in- para as empresas e, residualmen- acionista dispõe para tentar contro-
direta ao patrimônio, ou seja, são te, para seus acionistas (BLOUIN, lar as ações do executivo, fenômeno
cobrados sobre os bens e serviços 2014). Para Martinez (2017) e Mar- esse amplamente pesquisado e que
de consumo. No Brasil, há diferen- chesi e Zanoteli (2021), o planeja- está alicerçado na teoria da Agên-
ciação de tributos quanto à ativida- mento tributário almeja reduzir o cia (JENSEN; MECKLING, 1976). Por
de industrial (IPI), comercial (ICMS) recolhimento de tributos por meio meio da remuneração, o acionista
e prestação de serviços (ISS). No en- das concessões legítimas e as isen- sinaliza para o executivo os resulta-
tanto, todas as atividades estão su- ções previstas na legislação. Tam- dos que espera alcançar com a com-
jeitas ao pagamento de contribui- bém envolve o processo de organi- panhia, fruto das decisões tomadas
ções sociais sobre o consumo (PIS/ zação das atividades empresariais, pelo gestor. Para Araujo e Ribeiro
Cofins). Em função dessa distin- de forma que as obrigações tribu- (2017), parte das pesquisas sobre a
ção, este estudo não se voltou para tárias sejam minimizadas. temática concentraram seus esforços
mensurar estes tributos na carga Hanlon e Heitzman (2010) afir- em identificar os fatores que levam
tributária apurada. mam que as atividades favoráveis a determinar o pacote de remunera-
Por outro lado, os tributos dire- à redução de tributos colaboram ção executiva estabelecido por acio-
tos são aqueles que têm por fato para definir a agressividade fiscal. nistas. Segundo os autores, a maioria
gerador o patrimônio e incidem di- Martinez (2017) adverte que, de- dos estudos identificou relação entre
retamente sobre o aumento deste, pendendo da intensidade e da lega- a remuneração e o desempenho das
sendo o foco desta pesquisa o pla- lidade em como as práticas de pla- companhias. No entanto, há um li-
nejamento tributário dos tributos nejamento tributário são adotadas, mite nesta relação representado pelo
diretos incidentes sobre o acrésci- define-se o grau de agressividade apetite ao risco.
mo patrimonial que, no caso das tributária presente na companhia. Para Murphy (2012), incentivos
empresas, é o lucro. No Brasil, o Tanto para Hanlon e Heitz- na remuneração estimulam os exe-
lucro contábil recebe o nome de– man (2010) quanto para Martinez cutivos a assumirem riscos nas ope-
Lucro Antes do Imposto de Renda (2017), a empresa com perfil mais rações da empresa. Porém, o autor
(Lair) e, em função das diferenças agressivo, do ponto de vista tribu- adverte que o executivo estimulado a
existentes entre as normas contá- tário, tende a escolher o que lhe for assumir riscos também deve ter claro
beis e a legislação fiscal, este lucro mais conveniente sempre que hou- em seu planejamento as penalidades
contábil é exposto a ajustes e, para ver falhas ou incerteza na lei fiscal, por eventuais falhas nas decisões to-
fins de tributação, é denominado ou ainda, se esta for aberta a in- madas, que se traduzam em prejuí-
de Lucro Real. É este lucro objeto terpretação, traduzindo-se em me- zo. Se os executivos são incentivados
de tributação. nores gastos com tributos. No en- a assumir riscos sem serem balizados
A carga tributária brasileira sobre tanto, esta posição pode resultar pela possível penalidade no caso de
o lucro vigente no Brasil é de 34% do em conduta juridicamente duvido- falha, há uma “isenção” do executi-
lucro real. São cobrados pelo Gover- sa, que pode ser alvo de infrações vo, transferindo todo o risco para a
no o Imposto de Renda da Pessoa por parte da autoridade fiscal. Nes- companhia. Assim, Murphy (2012)
Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social te sentido, cabe investigar o apetite orienta que todo risco estimulado
sobre o Lucro Líquido (CSLL). O IRPJ ao risco fiscal das empresas e quan- pelo pagamento de bônus na remu-
possui alíquota de 15%, com uma to estas incentivam seus executivos neração deve ser cerceado pela pena-
cobrança adicional de 10% para as por meio da remuneração. lidade, no caso de falha.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 25

“ No Brasil, os CEOs das companhias são os


responsáveis legais pelas empresas, recaindo
sobre eles, pessoalmente, toda e qualquer
responsabilidade de cunho civil e fiscal,
levando inclusive à possíveis representações
criminais, a depender da gravidade do ato.

Em um país cuja car- que há uma forte adoção das
ga tributária é notada- boas práticas de governança
mente alta, uma das corporativa, há uma limitação
estratégias adotadas quanto à assunção de riscos
para melhorar a performan- por parte dos executivos.
ce econômica e reduzir a saída
de fluxos de caixa pode ser o pla-
nejamento tributário (MARTINEZ E 2.3 Planejamento tributário,
RAMALHO ,2017; MOMENTE et remuneração de executivos e
al., 2017; MARQUES, et al., 2022). governança corporativa no Brasil
Para os autores, o planejamento riqueza pessoal são pro- A governança corporativa tem
tributário é amplamente utilizado vavelmente suficientes sua importância no sucesso das or-
em situações de enfrentamento de para atenuar os incentivos para a ganizações e determina os impac-
crises, dado que pode melhorar o tomada de riscos excessivos. No en- tos da empresa sobre a sociedade.
lucro, reduzir o prejuízo e ainda di- tanto, para executivos mais jovens Para Silveira (2002), as empresas
minuir a saída de caixa nas compa- e com menor experiência, os ga- que apresentam uma estrutura de
nhias em períodos críticos. nhos potenciais de risco excessivo governança mais adequada tendem
No entanto, Wang e Cullinan podem parecer atraentes em rela- a alcançar resultados mais vantajo-
(2020) advertem que o planejamen- ção às perdas. sos e melhor avaliação no preço de
to tributário impacta diretamente No Brasil, os CEOs das compa- suas ações. Silva (2005) defende
no recolhimento de tributos pelas nhias são os responsáveis legais pe- que a governança corporativa pro-
companhias, o que sugere aumento las empresas, recaindo sobre eles, cura harmonizar a relação de con-
de fiscalização por parte dos entes pessoalmente, toda e qualquer res- flito existente entre os interesses da
públicos, com possibilidade de apli- ponsabilidade de cunho civil e fis- empresa e stakeholders, com o pro-
cação de multas e em alguns casos, cal, levando inclusive à possíveis re- pósito de redução do custo de ca-
responsabilização de executivos, o presentações criminais, a depender pital, agregar valor e gerar retorno
que sugere que é uma prática que da gravidade do ato. Dada a pre- para os acionistas.
está exposta a risco. miação pela assunção de riscos, es- Assim, Silveira (2002) e Silva
Para mitigar os riscos excessi- pera-se: H1 – a redução na carga (2005) acreditam que a adoção de
vos, a estrutura de compensação tributária impacta positivamente mecanismos de governança pode
deve ser linear em toda a variação sobre a remuneração executiva. interferir na estrutura de capital da
de resultados, incluindo grandes Para Conyon e Schwalbach empresa, na composição do endivi-
perdas. Segundo Murphy (2012), (2000), em ambientes com maior damento e sobretudo nas decisões
para os executivos de alto nível com regulação do estado e pressão do que envolvem risco para a empresa e
grandes estoques e legado de preo- governo sobre a remuneração exe- acionista, entre elas, as escolhas con-
cupações, as perdas potenciais de cutiva, ou ainda, em cenários em tábeis e o planejamento tributário.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Planejamento tributário, remuneração executiva e governança corporativa:
26 um estudo a partir de companhias que compõem o IBRX100

No Brasil, existem três níveis de Deste modo, para atingir os prin-


governança corporativa. Esses ní- cípios básicos de governança cor-
veis dependem do grau do com- porativa e alinhar a eles as escolhas
promisso assumido pelas compa- tributárias adotadas pela compa-
nhias em adotar as boas práticas nhia, espera-se ampla divulgação
de governança corporativa e é fir- das práticas adotadas, presta-
mado contrato entre a companhia ção de contas destas ações,
e a bolsa de valores. Segundo Scal- com mensuração do ris-
zer, Almeida e Costa (2008), com- co assumido em cada uma
panhias que estão classificadas no das estratégias adotadas que
Nível 1 devem apresentar melho- podem interferir na responsabi-
rias na prestação de informações lidade corporativa dos agentes e da
ao mercado e promoverem disper- companhia frente a sociedade.
são do controle acionário. As com- Desai e Dharmapala (2006) afir- ração
panhias de Nível 2 devem cumprir mam que os executivos de empresas executi-
as exigências previstas no Nível 1 e, com maiores níveis de governança va no período
adicionalmente, adotar um conjun- corporativa terão maiores incenti- de 2016 a 2020. Ex-
to de regras mais amplo de práti- vos para a agressividade tributária cluiu-se da amostra o ano
cas de governança, com ampliação porque a presença de outros meca- de 2021. O principal fator de esco-
dos direitos dos acionistas minori- nismos de governança os impede lha dessas empresas se deu em fun-
tários. No Novo Mercado, estão as no uso de gerenciamento de resul- ção do porte e da solidez das com-
companhias que adotam medidas tados em outras rubricas contábeis. panhias, principalmente no que
de governança que reflitam em Em contraste, os executivos de em- tange à uniformidade das informa-
grau de segurança em relação aos presas com menores níveis de go- ções contábeis, dado que adotaram
direitos dos acionistas e pela qua- vernança não terão incentivos para as normas contábeis, segundo o
lidade das informações prestadas a agressividade tributária porque a Iasb, dentro do período de estudo,
pelas companhias. falta de monitoramento e fiscaliza- o que permite maior comparabilida-
Nascimento et al. (2016) elen- ção permitiria, de outra forma, que de às informações divulgadas, além
cam os princípios básicos que nor- esses agentes gerenciem os resulta- da própria representatividade eco-
teiam as relações de governança dos das companhias em outras ru- nômica dessas companhias no mer-
no Brasil: bricas, que não as tributárias. cado acionário brasileiro. Os outliers
Dadas as características restriti- foram tratados com winsorização a
i) transparência, que se traduz vas impostas pelas práticas de go- 1% (WOOLDRIDGE, 2010).
na ampla divulgação de infor- vernança corporativa, espera-se: H2 As informações foram coletadas
mações importantes às partes – a governança corporativa impacta da base de dados da ComDinheiro.
interessadas não se limitando negativamente sobre a remunera- com. Os dados são disponibilizados
apenas às de desempenho eco- ção executiva e práticas de planeja- pela CVM por meio das demonstra-
nômico-financeiro; mento tributário. ções contábeis e do formulário de
ii) equidade: tratamento justo de referência, onde é possível coletar
todos os sócios e demais partes as informações sobre a remunera-
interessadas (stakeholders); 3. Amostra e método ção dos diretores estatutários. Todos
iii) prestação de contas (accou- de pesquisa os dados foram coletados em reais
ntability): os sócios, adminis- (BRL). A escolha das companhias se
tradores, conselheiros e audi- A amostra é composta de compa- deu em função da disponibilidade
tores devem prestar contas de nhias abertas brasileiras que divulga- dos dados de todas as variáveis du-
sua atuação assumindo as res- ram as informações sobre remune- rante o período de análise. (tabela 1)
ponsabilidades de seus atos e
omissões;
Tabela 1 – Amostra
iv) responsabilidade corporativa:
2016 a 2020 Amostra Observações
os agentes de governança de- Total de Empresas 406 2030
vem zelar pela sustentabilida- (-) Empresas com missing values 106 530
de, com objetivo à perpetuida- (=) Amostra final para análise 300 1500
de da companhia. Fonte: os autores.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 27

“ Para o tratamento da endogeneidade, que, segundo


Wooldridge (2010), representa a correlação entre as
variáveis explicativas com o erro padrão do modelo,
realizou-se o teste de Correlação entre o erro padrão
do modelo e as variáveis explicativas.

A variável dependente testa- de desempenho, proxy calculada da
da foi uma proxy da remuneração seguinte maneira:
total média, calculada da seguinte
maneira:
(3)

(1)
Por fim, controlamos governança
corporativa por nível, através de va- delos de efeitos fixos e de efeitos
A variável explicativa utiliza- riáveis dummy para N1 – Nível 1, N2 aleatórios. Para o tratamento da en-
da foi uma proxy de planejamen- – Nível 2 e NM para Novo Mercado. dogeneidade, que, segundo Wool-
to tributário, adaptado da proxy de Utilizamos duas técnicas estatís- dridge (2010), representa a corre-
Blouin (2014) à tributação brasilei- ticas para avaliar os resultados: ini- lação entre as variáveis explicativas
ra, da seguinte maneira: cialmente, analisamos as variáveis a com o erro padrão do modelo, rea-
partir da estatística descritiva, com lizou-se o teste de Correlação entre
o objetivo de organizar e sintetizar o erro padrão do modelo e as variá-
a coleta de dados, auxiliando no en- veis explicativas. Não houve indica-
(2)
tendimento e posterior relato das dores de correlação na matriz entre
informações achadas. as variáveis explicativas e o erro.
A segunda técnica emprega- Para eleger a especificação mais
Assim, quando a variável se da foi a regressão com dados em adequada, procedeu-se, primeira-
apresentou com valor igual ou painel de corte transversal (i), re- mente, ao teste de Lagrange Mul-
maior que zero, indicou que não lacionados com as características tiplier (LM), proposto por Breusch
houve planejamento tributário, das companhias ao longo da série e Pagan (1980). Posteriormente, foi
pois pagou-se mais que 34% do lu- temporal (t), de 2010 a 2016. Esta realizado o teste de Hausman, para
cro antes do imposto de renda a tí- técnica nos permitiu utilizar tanto avaliar a correlação entre os efeitos
tulo de IRPJ e CSLL. Quando a va- a dimensão espacial quanto a di- individuais do intercepto, sob a hi-
riável apresentou valor menor que mensão temporal. pótese nula de corr() = 0. Se existir
zero, indicou que houve planeja- Para observar a não violação dos correlação entre o intercepto com
mento tributário para a empresa pressupostos da regressão, realiza- os erros, elege-se o modelo de Efei-
“i” no período “t”. mos os testes de heterocedastici- tos Fixos. No entanto, ao testar o
Por variável de controle de ta- dade (BAUM, 2006), de autocorre- modelo de efeitos fixos, as variá-
manho, utilizou-se o logaritmo na- lação (WOOLDRIDGE, 2010) e o de veis dummy de controle de gover-
tural do Ativo Total da empresa “i” multicolinearidade. Os modelos em nança corporativa são constantes
no período de tempo “t”. Também painel tratam a heterogeneidade a cada indivíduo e foram omitidas
se utilizou uma variável de controle dos dados e se apresentam em mo- nesta modalidade.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Planejamento tributário, remuneração executiva e governança corporativa:
28 um estudo a partir de companhias que compõem o IBRX100

O modelo proposto está a se- cutivo na adoção de políticas de


guir apresentado: planejamento tributário agres-
sivas, inicialmente são apresen-
tados os resultados obtidos
com a estatística descritiva
(4) na Tabela 2.
Os resultados apon-
tam para remuneração
mínima de R$72.010,00
Em que: anuais e máxima de
• AvgCEOComp: Média da remu- R$44.134.950,00. A média
neração total, da empresa i, no encontrada da remuneração foi de
período t; R$2.362.462,42 e desvio padrão de
• TaxAvoid: Proxy para planeja- R$3.229.507,00. O valor adotado
mento tributário da empresa i, para medir o planejamento tribu- e R$2.019.251.000,00, com média
no período t; tário variou entre -0,2367 a 0,3495, de ativos de R$33.463.142,00 e des-
• LNTotAss: Logaritmo natural com média de -0,3367 e desvio pa- vio-padrão de R$163.703.478,00. A
para o Ativo Total da empresa i, drão de 0,0012. Segundo os nú- margem líquida encontrado variou
no período t; meros, há companhias que apre- margem negativa de 132% e positi-
• NetInc: Margem líquida da em- sentaram planejamento tributário va de 35%, com margem líquido mé-
presa i, no período t; agressivo, com redução de quase dia negativa de 92% e desvio-padrão
• CGN1: Dummy para controlar toda a carga tributária direta, que de 49%.
Governança Corporativa Nível 1 é de 34%. Em média, as empresas Posteriormente, verificou-se a
da empresa i, no período t; apresentaram redução de 1,33% da não violação dos pressupostos e es-
• CGN2: Dummy para controlar tributação sobre o lucro. pecificações do modelo de regres-
Governança Corporativa Nível 2 As companhias apresentaram ati- são de mínimos quadrados ordiná-
da empresa i, no período t; vos que variaram entre R$142.846,00 rios (MQO), conforme Tabela 3.
• CGNM: Dummy para contro-
lar Governança Corporativa em
Novo Mercado da empresa i, no Tabela 2 - Estatística Descritiva
período t; Desvio-
Variável Obs Ind Min Max Média
padrão
Remuneração Média CEO 1500 300 72.010 44.134.950 2.362.462,42 3.229.507
Para Bushman e Smith (2001) e
Planejamento Tributário 1500 300 -0,2367 0,3495 -0,3367 0,0012
Pukthuanthong, Talmor e Wallace
Total Ativos 1500 300 142.846 2.019.251.000 33.463.142 163.703.478
(2004), medidas de desempenho e
Margem Líquida 1500 300 - 132% 35% -92% 49%
de tamanho são utilizadas frequen- CGN1 1500 300 - - - -
temente para o estabelecimento de CGN2 1500 300 - - - -
incentivos oferecidos aos gestores. CNNM 1500 300 - - - -
Fonte: os autores.

4. Análise dos resultados Tabela 3 – Não violação dos pressupostos e especificações do


modelo de regressão de mínimos quadrados ordinários (MQO)
Para cumprir com o objetivo de Resultado
investigar o incentivo financeiro Teste Finalidade do teste Valor Valor
Desejado
Médio Máximo
recebido pelos executivos das em-
Normalidade da distribuição
presas brasileiras de capital aber- Shapiro-Wilk
dos dados
Distribuição Normal P>0,05
to, que compõem o IBRx100, para Fator de Inflacionamento da
Colinearidade entre as variáveis 1,18 1,33 <10
o uso do planejamento tributário, Variância (VIF)
durante o período de crise com- Grau de tolerância (1/VIF) Existência de multicolinearidade 0,86 0,99 >0,1
preendido entre os anos de 2010 Verificar se há
Breusch-Pagan-Godfrey Há heterocedasticidade
heterocedasticidade
a 2016 e, adicionalmente, verificar
Verificar se há
se os níveis de governança corpo- White Há heterocedasticidade
heterocedasticidade
rativa restringem as ações do exe- Fonte: os autores.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 29

Também se procedeu ao teste


Tabela 4 – Teste para escolha do modelo
robusto para diferenciação de in-
Teste robusto para diferenciar
terceptos de grupos e os testes de Teste Breusch-Pagan Teste de Hausman
interceptos
Breusch-Pagan e Hausman para ve- H0 = MQO / H1 = EF H0 = MQO / H1 = EA H0 = EA / H1 = EF
rificar, dentre os modelos de MQO, F(3, 293) = 3,28 Qui-Quadrado (01) = 1426,52 Qui-Quadrado (4) = 1,98
efeitos fixos ou efeitos aleatórios, o Prob > F = 0,0212 Prob > chibar2 = 0,0000 Prob > chibar2 = 0,7394
Fonte: os autores.
que mais se adequa aos dados da
pesquisa. (tabela 4)
De acordo com os testes para a Tabela 5 – Regressão com Efeitos Aleatórios e
escolha do modelo, dados em pai- Erros-Padrão Robustos
nel com efeitos aleatórios se mos- Coef. Erro Padrão Z P>z Significância

traram mais adequados. Em função Coeficient -8763026 1573738 -5,57 0.000 ***
Planejamento Tributário 1150200 556274,1 2,07 0.039 **
da existência de heterocedasticida-
Tamanho 702576,1 110307,5 6,37 0.000 ***
de apontada nos testes formais, foi
Margem Líquida 2.871721 1,774834 1,62 0.106
utilizado o modelo de efeitos alea- CG N1 201222.8 641325,3 0,31 0.754
tórios com a técnica de regressão CG N2 -414966,2 494565,8 -0,84 0.401
com erros-padrão robusto. CG NM 993500,6 1573738 4,06 0.000 ***
De acordo com os resultados Prob > F = 0.0000
apresentados na Tabela 5, com sig- R² = 0.3356 | Significance: *** 0,01; ** 0,05; * 0,10.
Fonte: os autores.
nificância estatística de 5%, não se
rejeita H1 – tal que os achados su-
gerem que a redução na carga tribu- coeficiente sugere que, em média, to tributário, conforme descrito por
tária impacte positivamente sobre a para a amostra e o período selecio- Hanlon e Heitzman (2010) e Marti-
remuneração executiva. Nota-se que nados no estudo, há um acréscimo nez (2017), pode render uma remu-
o fenômeno ocorre em empresas de R$1.150.200,00 para cada 1% neração adicional relevante.
com maior porte, com significância a de redução na carga tributária.
1%. A lucratividade não apresentou Este acréscimo representa,
significância segundo os resultados. aproximadamente, 16 vezes a me-
Assim, os achados estão alinha- nor remuneração da amostra ou
dos com a teoria da Agência, de- ainda, aproximadamente, 48% da
monstrando que por meio da re- remuneração média encontrada
muneração executiva, é possível na amostra do estudo. Esses
direcionar as ações da diretoria e achados indicam que o empe-
alinhar os objetivos dos agentes nho de esforços de executivos
aos dos acionistas, conforme admi- em adotar uma postura mais
tido por Jensen e Murphy (1976). O agressiva quanto ao planejamen-

“ De acordo com os testes para a escolha do modelo,


dados em painel com efeitos aleatórios se mostraram
mais adequados. Em função da existência de
heterocedasticidade apontada nos testes formais,
foi utilizado o modelo de efeitos aleatórios com a
técnica de regressão com erros-padrão robusto.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022
Planejamento tributário, remuneração executiva e governança corporativa:
30 um estudo a partir de companhias que compõem o IBRX100

Esses achados também per- 5. Conclusão


mitem afirmar que os executivos
brasileiros, para a amostra e pe- O Brasil enfrentou, a
ríodos estudados, apresentam partir dos anos 2010, gra-
apetite ao risco fiscal em função ve crise econômica decor-
do pagamento de bônus para tal rente da má implantação
assunção, conforme predito por de matriz econômica, que
Murphy (2012). No entanto, os resultou em desvalorização
achados também estão alinhados de sua moeda frente ao dólar, en-
com a teoria em relação à gover- fraquecimento do investimento ex-
nança corporativa enquanto limi- terno nas companhias brasileiras e,
tador na atuação dos executivos por consequência, desvalorização pago aos executivos das empre-
em relação ao planejamento tri- dos papéis das companhias brasi- sas brasileiras de capital aberto em
butário. leiras frente às companhias globais. função do uso do planejamento tri-
Segundo os resultados alcança- Aliado a isso, o país apresenta uma butário, durante o período de cri-
dos, apenas a variável de controle das cargas tributárias mais elevadas se compreendido entre os anos de
de governança corporativa do seg- do mundo, que cobra até 34% do 2016 e 2020 e, adicionalmente, ve-
mento do Novo Mercado apresen- lucro obtido pelas companhias. rificar se os níveis de governança
tou-se significativa a 1%. Segundo Neste sentido, os esforços de corporativa restringem as ações do
os achados, executivos que atuam executivos se dão nas mais diver- executivo na adoção de políticas de
nestas empresas percebem uma re- sas áreas da companhia, sobretudo planejamento tributário agressivas.
muneração maior em aproximada- para evitar a tributação, principal- Os resultados da pesquisa suge-
mente R$993.500,00 em relação mente para garantir a continuidade rem que, por meio do pagamento
aos executivos que atuam em com- da companhia e buscar a maximiza- de bônus na remuneração executi-
panhias sem segmento definido. ção do resultado para o acionista. va, os acionistas procuram alinhar
Os demais níveis não apresentaram Assim, o planejamento tributário os seus interesses aos dos executi-
significância estatística. se apresenta como uma estraté- vos no que tange ao aumento da ri-
No entanto, com os resultados gia eficaz na busca pelo pagamen- queza, proporcionando aos execu-
alcançados não é possível rejeitar to de menos tributos ao Governo. tivos um pagamento adicional em
H2, tal que a governança corpora- No entanto, as escolhas que levam função da redução da carga tribu-
tiva impacta negativamente sobre ao planejamento tributário ensejam tária incidente sobre o lucro. Assim,
a remuneração executiva e práticas em assunção de riscos por parte da o estudo ratifica os estudos anterio-
de planejamento tributário, dado companhia, por meio das ações do res que indicam que a remuneração
que apenas para um dos segmen- executivo. executiva pode ser um instrumento
tos o modelo apresentou relação Desse modo, esta pesquisa in- de alinhamento de interesses entre
estatisticamente significativa. vestigou o incentivo financeiro agente e principal.

“ Neste sentido, os esforços de executivos se dão nas


mais diversas áreas da companhia, sobretudo para
evitar a tributação, principalmente para garantir a
continuidade da companhia e buscar a maximização
do resultado para o acionista.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022
REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 31

No entanto, os achados deste


estudo não permitiram aferir rela-
ção entre a governança corporati-
va, remuneração de executivos e
planejamento tributário, dado que
para apenas um dos segmentos de
governança encontrou-se signifi-
cância estatística. A literatura exis-
tente afirma que há a necessidade
de haver um compartilhamento do
risco entre agente e principal, e a
governança corporativa, dentro de
suas características, busca não in-
centivar o uso agressivo de planeja-
mento tributário nas companhias.
Deste modo, sugere-se um aprofun-
damento em estudos futuros para ração de exe- Neste sentido, estudos
identificar o papel da governança cutivos também futuros podem ser desenvol-
corporativa sobre a remuneração com olhos para o planejamen- vidos considerando os impac-
de executivos e o planejamento tri- to tributário, balizadas pelas boas tos dos accruals como uma va-
butário. práticas de governança corporativa. riável de controle na relação entre
Assim, o estudo contribui com a Esta pesquisa se limitou a estu- remuneração de executivos e plane-
literatura que estuda as relações de dar este fenômeno em um país que jamento tributário. Também suge-
agência ao analisar três constructos apresentava cenário de crise econô- rimos replicar o estudo com o uso
ainda não estudados em conjunto: mica, alta concentração acionário de amostra de países que apresen-
remuneração executiva, planeja- do capital das companhias estuda- tem características diversas a estas,
mento tributário e governança cor- das, alta carga tributária e um mer- como economia estabilizada, mer-
porativa. Os achados contribuem cado acionário em amadurecimen- cado acionário maduro, pulveriza-
ao elucidar pesquisadores e conse- to. Também se restringiu a coletar ção acionária e com carga tributária
lhos de administração no sentido os dados publicados em demons- distinta da vigente no Brasil. Tam-
de que o executivo está disposto trações contábeis e formulários de bém os estudos acerca da relação
a assumir risco, desde que premia- referência publicados por órgão re- de agência podem ser aprofunda-
do por isso. Do ponto de vista prá- gulador. O estudo também não le- dos com o uso de informações não
tico, a pesquisa traz contribuições vou em consideração questões que financeiras, dado que a teoria pre-
aos conselhos de administração das permeiam a relação de agência diz que características individuais
companhias abertas no sentido de como o gerenciamento de resulta- dos executivos podem levar à acha-
desenvolverem políticas de remune- do e o uso extremo de accruals. dos diferentes.

Referências

ARAUJO, J.; RIBEIRO, M. Trinta anos de pesquisa em Remuneração Executiva e Retorno para o Acionista. Revista de Educação
e Pesquisa em Contabilidade (REPeC), Brasília, v. 11, p. 21-40, 2017.

ARMSTRONG, C. S.; BLOUIN, J. L.; JAGOLINZER, A. D.; LARCKER, D. F. (2015). Corporate Governance, Incentives, and Tax
Avoidance. Journal of Accounting and Economics, v. 60, n. 1, p. 1-17, 2015. DOI: 10.1016/j.jacceco.2015.02.003

BARBOSA FILHO, F. H. A crise econômica de 2014/2017. Estudos Avançados, São Paulo, v. 31, n. 89, p. 51-60, 2017. DOI:
10.1590/s0103-40142017.31890006

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Planejamento tributário, remuneração executiva e governança corporativa:
32 um estudo a partir de companhias que compõem o IBRX100

BAUM, C. F. An Introduction to Modern Econometrics Using Stata. College Station: Stata Press, 2006.

BLOUIN, J. Defining and Measuring Tax Planning Aggressiveness. National Tax Journal, Chicago, v. 67, n. 4, p. 875-900, 2014.

BREUSCH, T. S.; PAGAN, A. R. The lagrange multiplier test and its applications to model specification in econometrics. The
Review of Economic Studies, Oxford, v. 47, n. 1, p. 239-253, 1980. DOI: 10.2307/2297111

BUSHMAN, R.; DAI, Z.; WANG, X. Risk and CEO turnover. Journal of Financial Economics, v. 96, n. 3, p. 381-398, 2010.

BUSHMAN, R. M.; SMITH, A. J. Financial accounting information and corporate governance. Journal of Accounting and
Economics, v. 32, p. 237–333, 2001. DOI: 10.1.1.467.6157

CONYON, M. J.; SCHWALBACH, J. European differences in executive pay and corporate governance. In: Gabler Verlag,
Wiesbaden. Horst Albach (Ed.). Corporate Governance: ZfB-Ergänzungshefte, v. 1, p. 97-114, 2000.

COSTA, D. F.; SILVA, A. C. M.; MOREIRA, B. C. M.; COSTA, M. F.; ANDRADE, L. P. Proposta de um Modelo de Previsão do
Resultado para o Planejamento Tributário de Pequenas Empresas. Enfoque Reflexão Contábil, v. 37, n. 3, p. 93-110, 2018.

DESAI, Mihir A.; DHARMAPALA, Dhammika. Corporate tax avoidance and high-powered incentives. Journal of financial
Economics, v. 79, n. 1, p. 145-179, 2006.

FRANÇA, T. S.; BEZERRA, F. A. Agressividade tributária nas empresas de capital aberto que atuam em mercado regulado. REVISTA
AMBIENTE CONTÁBIL-Universidade Federal do Rio Grande do Norte-ISSN 2176-9036, v. 14, n. 1, p. 110-130, 2022.

GRAHAM, J.R. Taxes and corporate finance: a review. Review of Financial Studies v. 16, p. 1074-1128, 2003.

GUJARATI, D. N. Econometria básica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

HANLON, M.; HEITZMAN, S. A review of tax research. Journal of Accounting and Economics, v. 50, n. 2, p. 127–178, 2010.
DOI: 10.1016/j.jacceco.2010.09.002

JENSEN, M.; MECKLING, W. Theory of the firm: managerial behavior, agency costs and ownership structure. Journal of Financial
Economics, New York v. 3, n. 4, p. 305-360, 1976. DOI: 10.1016/0304-405X(76)90026-X

MARCHESI, R. F.; ZANOTELI, E. J. Agressividade Fiscal e Investimentos no Mercado Acionário Brasileiro. Advances in Scientific
and Applied Accounting, p. 065-083, 2021.

MARQUES, V. A.; ZUCOLOTTO, A.; ACERBE, L. G.; ZANOTELI, E. J. Incerteza Econômica e Nível de Agressividade Tributária das
Empresas Listadas na B3. Revista de Educação e Pesquisa em Contabilidade (REPeC), v. 16, n. 1, 2022.

MARTINEZ, A. L. Agressividade tributária: uma survey da literatura. Revista De Educação E Pesquisa Em Contabilidade (REPeC),
v. 11, p. 106-124, 2017.

______; RAMALHO, V. P. Agressividade tributária e sustentabilidade empresarial no Brasil. Revista Catarinense da Ciência
Contábil, Florianópolis, v. 16, n. 49, p. 7-16, 2017.

MOMENTE, T. T. et al. Nível de Planejamento Tributário em Épocas de Crise no Mercado Brasileiro. In: Congresso Anpcont. 11.,
2017, Belo Horizonte. Anais […]. São Paulo: ANPTCONT, 2017.

MURPHY, K. J. Pay, politics and the financial crisis. In: BLINDER, A.; LO, A.; SOLOW, R. Rethinking the Financial Crisis, New York:
Russell Sage Foundation, 2012.

NASCIMENTO, J. O.; MARTINS, F. R. C.; ZITTEI, M. V. M.; LUGOBONI, L. F.; ARAUJO, J. A. O. Estrutura Formal e instrumentos da
Controladoria em Empresas Familiares que buscam implementar boas práticas de Governança Corporativa. Revista Metropolitana
de Governança Corporativa, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 3-25, 2016.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 33

PESARAN, M. H. Design and analysis of large lithium-ion battery systems. Oxford: Oxford University Press, 2015.

POTIN, S.; SILVA, V. C.; REINA, D.; SARLO NETO, A. Análise da relação de dependência entre proxies de governança corporativa,
planejamento tributário e retorno sobre ativos das empresas da BM&FBovespa. Revista Organizações em Contexto, São Paulo,
v. 12, n. 23, p. 455-478, 2016.

PUKTHUANTHONG, K.; TALMOR, E.; WALLACE, J. S. Corporate governance and theories of executive pay. Corporate Ownership
& Control, v. 1, n. 2, pp. 41-62, 2004. DOI: 10.1007/s10551-015-2962-0

REDIVO, J. F.; ALMEIDA, D. M.; BEUREN, I. M. Reflexos dos Controles de Gestão no Planejamento Tributário: Um Estudo em
uma Pequena Empresa Industrial. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 22, n. 77, p. 55-67, 2020.

SCALZER, R.; ALMEIDA, J.; COSTA, F. Níveis diferenciados de governança corporativa e grau de conservadorismo: estudo
empírico em companhias abertas listadas na Bovespa. Revista de Contabilidade e Organizações, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 117-
130, 2008.

SILVA, A. L. C. Governança Corporativa e Decisões financeiras no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 2005.

SILVA, E. B.; EVANGELISTA, A. A. Planejamento tributário: uma análise comparativa sobre a retiradas dos sócios através do
pró-labore, dividendos e juros sobre o capital próprio. Revista Metropolitana de Governança Corporativa, São Paulo, v. 2, n.
1, p. 19-37, 2017.

SILVEIRA, A. D. M. Governança corporativa, desempenho e valor da empresa no Brasil. 2002. 165 p. Dissertação (Mestrado em
Administração) – Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo.

SLEMROD, J. The economics of corporate tax selfishness. National Tax Journal, Chicago, v. 57, p. 877–899, 2004.

SLEMROD, J.; YITZHAKI, S. Tax avoidance, evasion and administration. In: AUERBACH, A.J., FELDSTEIN, M. (Eds.), Handbook
of Public Economics, v. 3, p. 1423–1470, 2002.

SONTAG, A. G.; HOFER, E.; BULHÕES, R. Planejamento tributário: um estudo aplicado a uma empresa paranaense. Revista
Inovação, Projetos e Tecnologias, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 211-225, 2015.

SOUSA NETO, J. A.; JORDÃO, R. V. D.; PINHEIRO, J. L.; MARQUEZINE, R. P. Juros Sobre Capital Próprio como forma de
remuneração de acionistas: um estudo sobre o conflito de agência e as práticas de planejamento tributário. Revista de
Administração FACES Journal, Belo Horizonte, v. 13, n. 4, p. 90-108, 2014.

WANG, Fangjun et al. Corporate tax avoidance: A literature review and research agenda. Journal of
Economic Surveys, v. 34, n. 4, p. 793-811, 2020.

WOOLDRIDGE, J. M. Introdução à econometria: uma abordagem moderna. 4. ed. São Paulo:


CENGAGE Learning, 2010.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 35

A participação feminina no mercado


de trabalho contábil: uma análise
sobre a atuação das contabilistas nos
escritórios do Recôncavo Baiano

A
Camila de Oliveira Cardoso
Bacharela em Ciências Contábeis pelo Centro
s conquistas femininas e as barreiras enfrentadas pelas Universitário Maria Milza.
mulheres são algo bastante debatido na Contabilidade, E-mail: camilacardoso0307@gmail.com

pois, embora esse grupo tenha ganhado espaço, ainda


Caroline de Souza dos Santos
ocorrem situações que implicam maior sucesso feminino na Mestra em Desenvolvimento Regional e Meio
carreira contábil. Assim, o estudo tem por objetivo analisar Ambiente e Bacharela em Ciências Contábeis
(UNIMAM). Atua também como docente no
a participação feminina nos escritórios de contabilidade do Curso de Bacharelado em Ciências Contábeis
recôncavo baiano. Trata-se de uma pesquisa descritiva, quali- do Centro Universitário Maria Milza.
E-mail: caroline.mtx@gmail.com
quantitativa, delineada como um levantamento survey. Os dados
foram coletados por meio de questionário através do Google
Forms, totalizando 30 participantes, bacharéis em Ciências
Contábeis dos escritórios das cidades de Cachoeira, Cruz das
Almas, Governador Mangabeira e Muritiba. Observou-se que
as mulheres estão em maioria entre os respondentes, porém
são minoria quando se trata dos proprietários dos escritórios,
tendo predominância em cargos de auxiliares/assistentes.
Além disso, a maior parte dos pesquisados discorda que sofreu
preconceito para se inserir no mercado contábil devido ao
sexo, demonstrando que os profissionais não enxergam mais
impedimentos quanto ao destaque feminino na Contabilidade.
Desta forma, a pesquisa contribui para conhecimento do grupo
feminino na Contabilidade, precisamente, aos escritórios do
recôncavo baiano, devido ao quantitativo baixo de estudos nesta
região sobre a mulher e a Contabilidade.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


A participação feminina no mercado de trabalho contábil:
36 uma análise sobre a atuação das contabilistas nos escritórios do Recôncavo Baiano

1. Introdução as contadoras possuem qualidades, o de as mulheres serem maioria no


como criatividade, pontualidade e campo acadêmico, porém minoria
Atualmente as mulheres têm visão estratégica, entre outras, to- em grande parte das ocupações.
ganhado espaço no mercado de davia, quando se trata do negativo, Corroborando a isso, os dados do
trabalho, embora antigamente vi- os estereótipos são de submissas, Censo da Educação Superior (INEP,
venciassem algumas situações de antissociais, solitárias, frias, deso- 2019) mostraram que, do total de
submissão. Em concordância com nestas e antiéticas. 6.153.560 de pessoas matriculadas
isso, Sousa (2008) afirma que a Perante a evolução das mulhe- nos cursos superiores, 3.340.115
classe feminina era enxergada res na Contabilidade, o presente eram mulheres e 2.724.445 ho-
como submissa aos homens, fosse estudo é norteado por meio do se- mens, constatando que esse primei-
ele seu pai ou seu marido. guinte questionamento: Qual é o ro público é maioria nas entidades
Existem áreas que antes eram cenário atual da participação femi- de ensino superior.
majoritariamente masculinas, mas nina nos escritórios de contabilida- Além disso, o grupo feminino
que hoje em dia têm uma presen- de do recôncavo baiano? Em conse- possui menor rendimento em rela-
ça maior de mulheres, e uma delas quência do crescimento feminino e ção ao masculino, tanto que, con-
é a contabilidade, em que, confor- das várias conquistas na Contabili- forme a Síntese de Indicadores So-
me Kirkmam e Loft (1993), era um dade, bem como dos obstáculos en- ciais, no ano de 2020, o rendimento
setor predominado por homens de- frentados pela mulher contadora, a mensal de todos os trabalhadores
vido ao fato de envolver cálculos, presente pesquisa tem como objeti- era de R$2.372,00, porém, para os
gestão, entre outras temáticas. O vo analisar a participação feminina homens, a estimativa era de
grupo feminino, que antes era mi- nos escritórios de contabilidade do R$2.608,00 e para mulhe-
noria na área contábil, corresponde recôncavo baiano. res de R$2.307,00, sen-
a 45,9 %, quase metade dos profis- Ressalta-se a necessidade de es- do assim, o sexo mascu-
sionais da contabilidade ativos por tudos com a temática das mulhe- lino ganhava em média
gênero e região (CONSELHO FEDE- res na Contabilidade no Recôncavo 28,1% a mais que o fe-
RAL DE CONTABILIDADE, 2020), Baiano devido à falta de pesquisas minino (IBGE, 2021).
sendo em quantidade 164.931, en- correlatas na região que envolvam
quanto os homens são 193.876. En- o grupo feminino de forma especí-
tretanto, Silva (2020) afirma que, fica, de modo a expor as situações
apesar do crescimento feminino no e perspectivas relacionadas a este
ramo contábil, grande parte dos público. Assim, este trabalho po-
cargos de poder continuam sendo derá contribuir para ampliação do
destinados ao público masculino. conhecimento do que implica estas
No entanto, as mulheres estão mulheres ou auxiliá-las na profis-
em maior número no âmbito acadê- são contábil.
mico no curso superior de Ciências
Contábeis. De acordo com os resul-
tados do Censo da Educação Supe- 2. Revisão de Literatura
rior, do Instituto Nacional de Estu-
dos e Pesquisas Educacionais Anísio 2.1 Inclusão Feminina no
Teixeira (Inep), 2019, as estudantes Mercado de Trabalho
representavam aproximadamente A expansão feminina no mercado
55,20% das ingressas no curso de de trabalho tem sido notória. Segun-
Ciências Contábeis, demonstran- do a Síntese de indicadores sociais,
do mais uma conquista na carrei- do Instituto Brasileiro de Geografia e
ra contábil. Apesar deste avanço, o Estatística (IBGE), 2021, nos últimos
grupo feminino, no que diz respei- anos, a participação das mulheres no
to à Contabilidade, ainda lida com mercado de trabalho passou a repre-
estereótipos direcionados à mulher sentar 41,20% da força laboral, en-
contadora. Neste sentido, Moura et quanto os homens, 61,40%.
al. (2016), em análise da cinemato- Apesar desse aumento, existem
grafia voltada para os estereótipos fatos que tornam este ocorrido algo
ligados ao contador, considera que a ser debatido, como, por exemplo,

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 37

“ Apesar das conquistas, o grupo feminino ainda lida


com algumas situações em relação à diferença de gênero
na contabilidade. As barreiras enfrentadas pela mulher
no ambiente laboral são chamadas de ‘teto de vidro.

Neste sentido, o fato de o pú- da Bahia, a quantidade de profis- ser atendidas por ho-
blico feminino ter ganhado espaço sionais femininas ativas, de acordo mens. O estudo tam-
no mercado de trabalho pode ser com os dados do Conselho Regional bém evidencia que
considerado um importante méri- de Contabilidade da Bahia (CRCBA), estas possuem remu-
to ao longo de sua jornada no mer- 2021, são 8.677 (39,52%), enquan- neração menor ou so-
cado de trabalho, pois onde antes to os homens são 13.279 (60,48%). frem com comentários
eram vistas apenas como mão de As mulheres obtiveram várias sexistas.
obra suplementar, atualmente par- conquistas nesse meio, como, por Mediante este con-
ticipam ativamente desse meio. exemplo, o fato de estarem presen- texto, a questão salarial
tes majoritariamente nos cargos de ganha notoriedade pelo fato de as
chefia, como diretoria, coordena- mulheres ainda lidarem com dife-
2.2 Participação da Mulher na ções, gerências e supervisões, no renças no que se refere a sua renda.
Área Contábil Conselho Federal de Contabilidade, Como exemplo, pode-se citar a dis-
Assim como no mercado de tra- somando mais de 65% (CFC, 2019). criminação salarial na profissão de
balho de forma geral, o ambiente Além disso, no campo acadêmico, controller, conforme verificado por
contábil teve seu início formado foi constatado pelo Censo Supe- Silva, Ames e Silva (2020) em um
predominantemente por homens. rior da Educação (INEP, 2019), que estudo dos profissionais control-
De acordo com o Conselho Regio- dentre os matriculadas no curso de lers ativos brasileiros no Linkedln,
nal de Contabilidade de Alagoas Ciências Contábeis 55,20% eram no qual o sexo masculino possuía
(CRCAL), 2019, as mulheres em mulheres. em média remuneração de 10 a 12
1950 representavam apenas 1,3% Apesar das conquistas, o grupo salários-mínimos, enquanto o femi-
da classe contábil. Para quebrar es- feminino ainda lida com algumas si- nino, possuía remuneração de 7 a
ses paradigmas, ainda há uma certa tuações em relação à diferença de 9 salários-mínimos, demonstrando
complexidade, porém não é impos- gênero na contabilidade. As bar- que as mulheres, além de serem mi-
sível, tanto que as mulheres come- reiras enfrentadas pela mulher no noria na controladoria, enfrentam
çaram a entrar na profissão, mesmo ambiente laboral são chamadas de a problemática salarial, com ren-
que a princípio de maneira tímida. «teto de vidro”, que, conforme Za- dimentos menores se comparado
Hoje em dia, a classe femini- botti (2017), refere-se ao termo uti- com o sexo oposto.
na ganhou força na Contabilidade, lizado para denominar as desigual- Assim, observa-se que, mesmo
porém continua sendo minoria. De dades e faltas de oportunidades com todos os avanços conquista-
acordo com os dados dos profis- devido ao seu gênero. Corroboran- dos no espaço contábil, a classe fe-
sionais da contabilidade ativos por do o exposto, em um estudo rea- minina ainda passa por situações de
gênero e região (CFC, 2021), dos lizado por Santos, Melo e Batinga desprestígio na contabilidade, devi-
517.361 profissionais registrados, (2021), algumas mulheres nos es- do às consequências de práticas do
42,80% eram mulheres e 57, 20% critórios de contabilidade relataram passado, relacionadas principalmen-
homens. No que se refere ao Estado que às vezes as pessoas preferem te à discriminação de gênero.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


A participação feminina no mercado de trabalho contábil:
38 uma análise sobre a atuação das contabilistas nos escritórios do Recôncavo Baiano

3. Metodologia Além disso, escolheu-se a téc- entre homens e mulheres, e o último


nica de levantamento do tipo sur- quanto à condição das mulheres con-
Este estudo tem como natureza vey por haver contato direto com tadoras referente à entrada e à atua-
descritiva, posto que tem o intui- os contadores dos escritórios de 4 ção nos escritórios. O instrumento
to de ter ciência sobre a situação cidades localizadas no recôncavo, de coleta foi aplicado tanto on-line,
feminina no mercado de trabalho objetivando verificar as particulari- via Google Forms, enviado através de
contábil, nos escritórios de conta- dades dos locais de estudo median- e-mail e whatsapp, quanto pessoal-
bilidade do Recôncavo Baiano. O te o contexto da temática. mente, considerando a vacinação da
Recôncavo Baiano é formado por As cidades citadas foram esco- maioria da população em combate à
19 munícipios, estando situado em lhidas devido à proximidade ao mu- Covid-19 e respeitando todas as me-
volta da Baía de Todos-os-Santos, nicípio onde as autoras residem e didas sociossanitárias. Totalizou-se
localizada no Estado da Bahia, na a instituição de ensino na qual es- uma amostra de 30 respostas de 50
região Nordeste. Conforme Castro tão vinculadas, sendo nesses mu- questionários enviados.
(2012), é conhecido internacional- nicípios o lócus da pesquisa os es- Referente aos dados coletados,
mente pela diversidade cultural, critórios de contabilidade, que, de eles foram tabulados em uma pla-
principalmente pelas suas festivi- acordo com o CRCBA, 2021, são ao nilha eletrônica, na qual, como for-
dades. Apesar disso, existem pou- todo 36 empreendimentos. Os par- ma de análise, foram elaborados
cos estudos que tratem sobre o Re- ticipantes do estudo são os bacha- gráficos, tabelas e figuras. As ques-
côncavo Baiano ou alguma cidade réis em Ciências Contábeis dos es- tões de escala Likert foram analisa-
desta região no que diz respeito à critórios das cidades selecionadas, das a partir do Programa estatísti-
participação feminina na Contabili- desde sócios a auxiliares. co R versão 4.1.0, sendo utilizado
dade. Sendo assim, para analisar a Como forma de coleta de dados, o pacote Likert, o qual interpretou
percepção dos contadores, por cri- optou-se por um questionário con- as informações quantitativas por
térios de conveniência, as cidades tendo vinte e cinco questões, com meio da transformação em figu-
escolhidas foram Cachoeira, Cruz perguntas objetivas e de escala likert, ra que representa o nível de con-
das Almas, Governador Mangabei- dividido em quatro blocos, iniciando- cordância ou discordância de cada
ra e Muritiba. -se no primeiro bloco sobre o perfil uma das variáveis.
Foi escolhida como abordagem dos respondentes; o segundo sobre
quali-quantitativa, pois foi utili- mulheres nos cargos de poder dos
zada a verificação de questões escritórios pesquisados; o tercei- 4. Resultados e discussões
subjetivas referentes ao univer- ro referindo-se à questão salarial
so feminino contábil, buscando Este capítulo refere-se às dis-
compreender as possíveis barrei- cussões e às análises dos resulta-
ras deste público e a análise dos obtidos após a aplicação dos
de variáveis quantitativas, questionários aos contadores dos
como o tempo de experiên- escritórios de contabilidade do Re-
cia em anos, quantitativo de côncavo Baiano. Os resultados tra-
mulheres em cargos de ges- tam sobre a realidade feminina
tão, número de responden- nos escritórios e as opiniões
tes por área de atuação e dos contadores sobre esta,
sexo, diferença salarial em onde são expostas as con-
anos, entre outras. Ainda, clusões relacionadas aos
utilizou-se o pacote Likert achados encontrados.
do Programa R 4.1.0, Na Figura 1, está expos-
usando estatística des- ta a análise feita através do
critiva com foco em aná- Programa estatístico R versão
lise de frequência de res- 4.1.0 das questões de escala li-
postas, em que, a partir kert, no qual é exposto o nível
disso, foram elaborados de concordância e discordân-
gráficos, tabelas e ima- cia dos respondentes referen-
gens como forma de pos- te a esses questionamentos. O
sibilitar o exame sobre com- índice vai de 1 a 5, sendo 1
portamento dos dados obtidos. Strongly Disagree – Discordo

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 39

Totalmente e 5 Strongly Agree – Con- Figura 1 – Resultados estatísticos


cordo Totalmente. Além disso, a Ta-
bela 1, apresentada logo em seguida,
apresenta a legenda para as questões
analisadas mediante a Figura 1.
Na Tabela 1, são demonstradas
as questões de escala likert de 8 a
25, sendo utilizado como uma le-
genda para a Figura 1. As questões
de 8 a 13 são referentes às mulheres
como líderes; 16 a 17 refere-se à di-
ferença salarial entre gêneros; e 18
a 25 sobre as barreiras enfrentadas
pela mulher na carreira contábil.

4.1 Perfil dos respondentes Fonte: dados da pesquisa (2022).

A partir da análise dos dados,


foi possível identificar que as mu- Tabela 1 – Legenda referente as variáveis analisadas na figura:
lheres são maioria dos responden- questões 8 a 25
tes, cujos resultados estão sinteti- Numeração Questão
zados na Figura 2. Q8 Homens têm mais facilidade em lidar com cargos de poder.
A Figura 2 releva que as mulhe- Q9 Mulheres são igualmente capazes em relação aos homens de ocuparem cargos de gestão.
Q10 Há oportunidades igualitárias na ascensão para cargos superiores para homens e mulheres.
res são 60% dos respondentes, sen-
Q11 No escritório onde trabalho as mulheres estão mais presentes nos cargos de gestão.
do 20% a mais do que os homens
Q12 Questões de gênero implicam no destaque feminino nos cargos de gestão.
nos escritórios. O aumento femini- Q13 As mulheres líderes enfrentam dificuldades na aceitabilidade de ordens, decisões e ideias.
no pode ser justificado devido ao Q16 Há igualdade salarial entre homens e mulheres que exercem cargos iguais ou equivalentes.
fato de possuírem grau de escolari- Q17 Em cargos com remuneração maior homens têm maior aceitabilidade.
dade maior em comparação ao ho- Q18 Tenho preferência em trabalhar com homens do que com mulheres.
mem (MOTA; SOUZA, 2013). Q19 Enfrentei dificuldades para me inserir no mercado de trabalho contábil devido ao meu gênero.
Além disso, observou-se que, na Ter filhos pode servir como empecilho para a mulher em uma vaga de emprego na área
Q20
contábil.
realidade de estudo, as mulheres, em
Há preferência pelo trabalho de homens contabilistas, pois mulheres têm a possibilidade
sua maioria (55,56%), estão em car- Q21
de gravidez, podendo prejudicar de alguma forma o escritório.
gos de auxiliares/assistentes e, destas, Q22 Encontro dificuldades entre conciliar a vida pessoal e o trabalho no escritório.
grande parte atua em mais de uma Q23 Os homens também sofrem discriminações unicamente em função de gênero.
área (55,56%), sendo a segunda área Q24 Nunca sofri discriminação dentro do ambiente de trabalho contábil devido ao meu gênero.
com maior presença feminina a fiscal A empresa desenvolve políticas visando estimular a diversidade de gênero e equidade entre
Q25
os sexos, assim como combater diferentes formas de preconceito.
com 22,22%. Zabotti (2017) afirma
Fonte: elaborado pelas autoras (2022), adaptado de Zabotti (2017) e Pavanelo, Araújo e Hey (2018).
que quanto maior a hierarquia das
organizações, a presença feminina se
Figura 2 – Quantitativo de Homens x Mulheres
torna menor em algumas posições,
e antigamente as mulheres eram vis-
tas em funções de escriturárias, secre-
tárias e datilógrafas, atividades que
atualmente são consideradas de as- 40%
sistentes. Um dos motivos de elas es-
tarem em maioria na área fiscal pode 60%
ser pelo fato de que, em 1970, houve
uma concentração feminina na área
tributária, pois a profissão de audi-
tora demandava viagens e períodos
prolongados fora de casa (ROBERTS; Feminino Masculino
COUTTS, 1992). Fonte: dados da pesquisa (2022).

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


A participação feminina no mercado de trabalho contábil:
40 uma análise sobre a atuação das contabilistas nos escritórios do Recôncavo Baiano

4.2 Mulheres como líderes rança devido ao fato de serem mais so” que se refere ao fato de as mu-
A liderança feminina é um as- cuidadosas por causa da construção lheres, na maioria das vezes, serem
sunto a ser debatido, posto que as social histórica. submetidas a trabalhos com remu-
mulheres muitas vezes estão em mi- Quanto à disponibilidade de for- neração menor e o “teto de vidro”,
noria na área de gestão. Nos escritó- ma igualitária para a entrada femini- em que haverá mais homens em car-
rios pesquisados, as mulheres estão na nestes cargos mais altos, 60,00% gos com maior remuneração e reco-
presentes em apenas 20,00% como dos participantes tendem a discordar nhecimento.
contadoras responsáveis. Conforme que existam chances igualitárias. Em Por fim, foi verificado se as mu-
Santos (2018), devido às situações determinadas vezes os homens veem lheres têm dificuldades em relação
de discriminações a que as mulheres as mulheres como ameaças, devido a a firmar as ordens, ideias e decisões
foram submetidas e a submissão em isso aumentam as dificuldades para quando líderes, e como resposta a
relação aos homens, elas não têm ascensão feminina a alguns cargos maioria concordou totalmente ou
muitas vezes iniciativa para aden- ou posições (OLIVEIRA, 2021). parcialmente em 53,00% com esta
trarem em cargos mais altos. No que diz respeito à presença ideia. Cembranel, Floriano e Cardoso
Levando em consideração a aná- feminina na gestão dos escritórios, (2020) afirmam que um dos moti-
lise estatística elaborada pelo Pro- 57,00% concordam totalmente ou vos disto é que os homens são vistos
grama R, os respondentes tendem parcialmente que as mulheres es- como líderes naturalmente, enquan-
a discordar totalmente ou parcial- tão mais presentes. Porém, segun- to as mulheres sempre têm que pro-
mente em 53,00% que os homens do os dados coletados há divergên- var que são capacitadas para ocupa-
têm facilidade em lidar com cargos cia, posto que as mulheres estão rem cargos de liderança.
poder. Isso expõe que os contadores em maior presença como auxiliares
acreditam que há igualdade em rela- (55,56%). Além disso, conforme a
ção à capacidade de ambos os sexos Estatísticas de Gênero Indicadores
quanto à liderança. Sociais das Mulheres no Brasil (IBGE,
Ainda em relação aos cargos de 2021), as mulheres no ano de 2020
poder, os participantes da pesquisa ocupavam apenas 37,4% dos cargos
têm tendência a concordarem total- gerenciais.
mente ou parcialmente (93,00%) no Buscou-se analisar se o gênero
sentido de as mulheres serem capa- implicava o destaque das mulhe-
zes de lidar igualmente como os ho- res em cargos de gestão e obser-
mens. Corroborando o exposto, Fa- vou-se que 50,00% dos pesqui-
brício, Ferreira e Borba (2021), em sados concordaram totalmente
um estudo sobre as mulheres líderes ou parcialmente com essa afir-
de alguns países, informam que elas mativa. Isto corrobora as auto-
se desempenham de melhor forma ras Nunes e Lima (2021), que
que os homens nos cargos de lide- apresentam o “piso pegajo-


Ainda em relação aos cargos de poder, os
participantes da pesquisa têm tendência a
concordarem totalmente ou parcialmente (93,00%)
no sentido de as mulheres serem capazes de lidar
igualmente como os homens.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022
REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 41

4.3 Diferença Salarial mo as mulheres sendo colocadas ção a trabalhar com homens do
entre Gêneros na mesma posição que os homens, que com mulheres, porém um re-
Uma das problemáticas que as com atividades e nível de respon- latou preferir mulheres por serem
mulheres enfrentam no mercado de sabilidades iguais, o salário do pú- mais detalhistas, e outro informou
trabalho é a diferença salarial, pois, blico masculino costuma ser maior. ter certo receio em trabalhar com
na maioria das vezes, o público fe- Ainda, apesar do que foi eviden- o grupo feminino devido a este
minino tem remuneração inferior ao ciado pelos participantes acima, a grupo colocar a família em pri-
masculino ocupando a mesma fun- maioria dos respondentes concor- meiro lugar.
ção. Nahra e Costa (2021) afirmam dam que os homens têm maior No que diz respeito de sofrerem
que a diferença salarial entre gêneros aceitação em cargos com remu- com dificuldades para inserção no
inicia-se quando ambos recebem sa- neração maior (63,00%). Nahra e mercado de trabalho contábil por
lários diferentes do mesmo emprega- Costa (2020) trazem o fato de que causa do gênero, 67,00% dos res-
dor, exercendo a mesma função, de- os postos com maior remuneração pondentes discordaram. Muitas ve-
monstrando que o mundo trabalhista normalmente são ocupados por ho- zes as mulheres sofrem preconcei-
reproduz a desigualdade imposta na mens, embora as mulheres tenham tos no mercado de trabalho, porém
sociedade em relação a mulher. nível de escolaridade maior. não notam pois não é algo escanca-
Como forma de verificar se há rado (CEMBRANEL; FLORIANO; CAR-
diferença salarial entre homens e DOSO, 2020).
mulheres nos escritórios de conta- 4.4 Barreiras Enfrentadas pela Nesta perspectiva, sobre o fato
bilidade, foi feita uma análise frente Mulher Contadora de que possuir filhos poderia ser
a isso, obtendo-se como resultados O processo de entrada femini- um empecilho para a mu-
que tanto homens quanto mulheres na na contabilidade foi cercado lher em uma vaga de em-
estão na faixa salarial de 2 a 3 sa- por estigmas, como, por exem- prego na carreira contá-
lários-mínimos; quando se diz res- plo, o fato de que antes a área bil; demonstrou-se que
peito à faixa de 4 a 5 salários-míni- não tinha tanta presença fe- 60,00% discordam des-
mos, os homens são maioria, sendo minina e, quando tinha, era ta afirmação. Em um es-
33,33%, e as mulheres, 5,56%. Já, em funções de subserviência. tudo de Castoldi, Deliberal
na faixa acima de 6 salários-míni- As mulheres eram disponibi- e Cucchi (2020) sobre as
mos, apenas uma mulher está pre- lizadas às atividades admi- mulheres empreende-
sente nesta faixa, que trabalha no nistrativas e doras, foi evidenciado
escritório há 15 anos, sendo a con- de secreta- que muitas vezes as
tadora responsável deste. riado, en- mulheres têm que esco-
Além disso, para verificar essa dis- quanto os lher entre a carreira e a
paridade salarial, verificou-se a expe- homens es- maternidade, e que caso
riência em anos dos contadores nos tavam nos escolham o lado profis-
escritórios. Nesta pesquisa as mulhe- altos cargos da sional acabam não acom-
res e os homens atuam em maioria contabilidade (HO- panhando o crescimento
de 2 a 5 anos, porém, quando se tra- PWOOD, 1987). Após dos filhos.
ta da atuação em 15 anos, as mu- a luta feminina pelos seus
lheres são maioria, com 16,67%, en- direitos, elas começaram a
quanto os homens não pontuaram. vencer os estigmas que an-
No estudo de Lodi e Lodi (2021), as tes infringiam as mulheres
mulheres têm em sua maioria 15 contadoras.
anos de atuação nos escritórios, di- Nesse sentido, anali-
ferente desta pesquisa, que é a se- sou-se a preferência em
gunda faixa com maior presença fe- trabalhar com homens do
minina e, não, a primeira. que com mulheres e no-
Deste modo, os pesquisados tou-se que a maioria dos
tendem a concordar em 43,00% pesquisados foram neutros
que há igualdade salarial entre ho- (47,00%). No estudo de Za-
mens e mulheres que exercem a botti (2017), alguns res-
mesma função. Apesar disso, Keine pondentes relataram não
e Buss (2021) consideram que mes- ter preferência em rela-

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


A participação feminina no mercado de trabalho contábil:
42 uma análise sobre a atuação das contabilistas nos escritórios do Recôncavo Baiano

Considerando o exposto, os dos participantes tenderam a con- A pesquisa contemplou os con-


respondentes tendem a discorda- cordar com o fato de que nunca so- tadores dos escritórios de contabili-
rem (47,00%) sobre a preferência freram discriminação no ambiente dade das cidades de Cachoeira, Cruz
de contratação dos homens profis- de trabalho por este motivo, com das Almas, Governador Mangabeira
sionais da contabilidade devido à valor de discordância semelhante ao e Muritiba e, a partir disso, consta-
probabilidade de as mulheres en- da questão anterior. A maioria das tou-se que a maioria dos responden-
gravidarem e isso poder ser preju- contadoras do estudo de Santos, tes são mulheres, em que estas se
dicial para o escritório. Análogo a Melo e Batinga (2021) afirmou não dividem em mais de uma área; es-
isso, apesar de a maioria dos res- sofrer preconceitos na área contábil tão mais presentes em cargos de au-
pondentes discordarem desta ques- por serem mulheres, assim como os xiliares; e, quando comparado tem-
tão, no estudo de Machado e Bru- respondentes deste estudo. po e salário, elas têm remuneração
nozi (2021) foram encontrados nos Para saber se os escritórios de menor do que os homens pesquisa-
resultados que algumas profissio- contabilidade estão incentivando dos. Nesta perspectiva, fica expos-
nais entrevistadas acreditam que a igualdade de gênero nos escri- to o fato de que as mulheres estão
os empresários algumas vezes pre- tórios por meio de políticas, fez- tendo mais espaço na carreira contá-
ferem contratar homens por temor -se uma análise em que expõe que bil, que antes tinha maior presença
de as mulheres colocarem a família 40,00% dos respondentes tendem masculina, além de se desdobrarem
acima do trabalho. a concordar totalmente ou par- com o foco de executar várias fun-
Ainda sobre a questão da vida cialmente, que os escritórios têm ções, estando em posição inferior ao
pessoal e o trabalho, os participan- políticas que incentivam a igual- homem, com remuneração menor e
tes em sua maioria discordaram, dade de gênero, representando mais tempo de trabalho.
parcialmente ou totalmente, que há um quantitativo ainda baixo e que Apesar de as mulheres serem
dificuldade na conciliação da vida deve ser melhorado. buscando minorias em cargos de liderança,
pessoal e do trabalho (63,00%). As aprimorar as questões de gêneros a maioria dos respondentes acredi-
contadoras da pesquisa de Louren- relacionadas à Contabilidade. ta que não há impedimento para a
ço et al. (2021) corroboram os re- entrada feminina em cargos geren-
sultados da presente pesquisa, visto ciais, bem como que exista igualda-
que a maioria afirmou não ter di- 5. Considerações Finais de do processo de liderança entre
ficuldades para conciliação da vida homens e mulheres nos escritórios.
pessoal e profissional. As mulheres conseguiram al- As mulheres que alcançaram os car-
No quesito da discriminação, a cançar várias posições no mercado gos de liderança são de grande re-
maioria dos respondentes discorda de trabalho contábil. Diante disso, presentatividade para que as que
que os homens sofrem discrimina- o objetivo deste estudo foi analisar querem ocupar estes espaços ven-
ção por causa do gênero (70,00%). a participação atualmente das mu- çam as inseguranças e as adversida-
Ainda no que diz respeito à discrimi- lheres nos escritórios de contabili- des que importunam o crescimento
nação por conta do gênero, 70,00% dade do Recôncavo Baiano. feminino em cargos mais altos.

“ As mulheres conseguiram alcançar várias posições


no mercado de trabalho contábil. Diante disso,
o objetivo deste estudo foi analisar a participação
atualmente das mulheres nos escritórios de
contabilidade do Recôncavo Baiano.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022
REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 43

O fato de o grupo feminino res- cavo Baiano. Além disso, traz repre-
pondente desta pesquisa informar sentatividade para o grupo femini-
não sentir dificuldades em relação no na contabilidade, posto que a
ao mercado de trabalho contábil entrada feminina na carreira con-
devido ao seu gênero demonstra tábil quebra o estereótipo de que
um grande marco, já que, em vá- a carreira é destinada a homens,
rios outros estudos trazidos neste fazendo assim com que as mulhe-
trabalho, muitas mulheres infor- res estejam mais presentes nessa
maram sofrer preconceitos em uma profissão, destruindo algumas
profissão que antes era considera- das adversidades que as infligem.
da uma profissão masculina. Porém, Neste estudo, a principal limi-
este fato de as mulheres discorda- tação foi a obtenção de respostas
rem da maioria das barreiras não dos contadores, visto que, na maio-
significa que elas não sofram com ria das vezes, eles informavam estar
elas, talvez sofram, mas vivenciam muito ocupados ou simplesmente
estas situações de forma recorrente não respondiam aos questionários so de trabalho,
no mercado de trabalho que acaba- enviados de forma on-line. Apesar como negros, ho-
ram normalizando. das limitações, esta pesquisa tem mossexuais e pessoas
Como contribuição teórica, nes- muita importância para os grupos portadoras de deficiências,
te estudo foi possível demonstrar que fazem partes das minorias no além de estudos voltados para as
o que as mulheres conquistaram mercado de trabalho. Devido a isso, mulheres na gestão e sobre os lo-
na profissão contábil, bem como seria importante terem estudos fu- cais que os homens contadores es-
contribuir para a expansão do co- turos referentes a públicos conside- tão atuando em maioria, posto
nhecimento acerca das situações rados minoria no mercado de tra- que, neste estudo, foi demonstra-
recorrentes referentes à mulher balho, bem como na contabilidade, do que no âmbito dos escritórios as
contadora nos escritórios do Recôn- vítimas de preconceitos no univer- mulheres estão em maioria.

Referências

CASTOLDI, E. M., DELIBERAL, J. P.; CUCCHI, M. B. Maternidade e carreira: Reposicionamento das Mulheres no Mercado de
Trabalho Após a Maternidade. XX Mostra de Iniciação Científica, Pós-graduação, Pesquisa e Extensão, Caxias do Sul, RS, 2020.

CASTRO, J. R. B. Da casa à praça pública: a espetacularização das festas juninas no espaço urbano. Salvador: EDUFBA,
2012, p. 1-12.

CEMBRANEL, P., FLORIANO, L. & CARDOSO., J. Mulheres em Cargos de Liderança e os seus Desafios no Mercado de
Trabalho. Revista de Ciências da Administração, n. 22 57p., 2020.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE Profissionais Ativos nos Conselhos Regionais de Contabilidade agrupados por
Gênero, 2021. Recuperado de https://www3.cfc.org.br/spw/crcs/consultaporregiao.aspx?Tipo=0.

CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DA BAHIA (2021). Escritórios Sociedade e Profissionais, 2021. Recuperado
de http://201.33.22.153:8080/crcba/quantossomossoc.php.

CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DE ALAGOAS Pelo respeito e pelos direitos: CFC enaltece a importância
da mulher na contabilidade, 2019. Recuperado de https://crcal.org.br/pelo-respeito-e-pelos-direitos-cfc-enaltece-a-
importancia-da-mulher-na-contabilidade/.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


A participação feminina no mercado de trabalho contábil:
44 uma análise sobre a atuação das contabilistas nos escritórios do Recôncavo Baiano

FABRÍCIO, S., FERREIRA, D. M. & BORBA, J. A. Enfrentamento aos Impactos da Covid-19: Governos Liderados por Mulheres
Apresentam Melhor Resposta em Prevenção a Pandemia? Revista Gestão Organizacional, v. 14 n. 1, p. 390-415, 2021.

HOPWOOD, A. G. Accounting and gender: An introduction. Accounting Organizations and Society, v. 12, n. 1, p. 65-
69, 1987.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Síntese De Indicadores Sociais: Uma Análise Das Condições De
Vida Da população brasileira: 2021. Rio de Janeiro, 2021.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Censo da Educação Superior 2019:
Resumo Técnico Do Censo Da Educação Superior 2019. Brasília, 2019.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Censo da Educação Superior: Sinopse
Estatística – 2019. Brasília, 2019.

KEINE, T.; BUSS, R. J. Desigualdade de gênero: uma análise da mulher na contabilidade da região do norte catarinense.
Ágora: Revista De divulgação científica, v. 26, p. 45–63, 2021.

KIRKHAM, L. M. & LOFT, A. Gender and the construction of the professional accountant. Accounting Organizations and
Society, v. 18, n. 6, p. 507-558, 1993.

LODI, M. G.; LODI, I. G. O perfil das mulheres contabilistas proprietárias de escritórios de contabilidade na cidade de
Araxá. Evidência: olhares e pesquisa em saberes educacionais, v. 16, n. 17, p. 113-138, 2020. Recuperado de http://
uniaraxa.edu.br/ojs/index.php/evidencia/issue/view/43/showToc.

LOURENÇO, T. K. et al. Desafio das mulheres que ocupam cargos de liderança. Trabalho de Conclusão de Curso, Pontifícia
Universidade Católica De Goiás, Goiânia, GO, Brasil, 2021. Recuperado de https://repositorio.pucgoias.edu.br/jspui/
handle/123456789/2360.

MACHADO, L.V.; BRUNOZI, A. C. Jr. Fatores Motivadores e Limitadores à Escolha e à Atividade da Profissão Contábil pelas
Mulheres. Anais Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade. São Paulo, SP, Brasil, jul. 2021.

MOTA, E. C. F. & SOUZA, M. A. A evolução da mulher na contabilidade: Os desafios da profissão. Anais do Congresso
Convibra, São Paulo, SP, Brasil, 2013.

MOURA, M. F. et al. Herói ou Vilão? Mudanças no Estereótipo dos Contadores na Produção Cinematográfica. Revista de
Auditoria Governança e Contabilidade - RAGC, v. 4, n. 14, p. 129-147, 2016.

NAHRA, C.; COSTA F. A. Desigualdade salarial de gênero e o abismo salarial entre os gêneros. Princípios: Revista de
Filosofia (UFRN), v. 27, n. 52, p. 67-86, 2020.

NUNES, K. K.; LIMA, A. P. Sticky Floor, Glass Ceiling and Queen Bee: The triple barrier imposed by the sexist economy.
Research, Society and Development, v. 10 n. 8, 2021.

OLIVEIRA, L. B. Análise da Inserção da Mulher nos Escritórios de Contabilidade da Cidade de Manhuaçu/Mg e Região.
Trabalho de Conclusão de Curso, Centro Universitário UNIFACIG, Manhuaçu, MG, Brasil, 2021.

PAVANELO, A., ARAUJO, B.; HEY, L. A. N. A representatividade da mulher contabilista nos escritórios de contabilidade
em Curitiba. FESPPR Pública, v. 2, n. 3, 2018.

ROBERTS, J.; COUTTS, J. A. Feminization and professionalization: a review of na emerging literature on the development
of accounting in the United Kingdom. Accounting Organizations and Society, v. 17, n. 3-4, p. 379-395, 1992.

SANTOS, J. S. Mulheres em posição de poder: um estudo com mulheres que atuam na gestão do setor privado em João
Pessoa-PB. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil, 2018.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 45

SANTOS, M. A., MELO, M. C. O. L.; BATINGA, G. L. Representatividade da Mulher Contadora em Escritórios de


Contabilidade e a Desigualdade de Gênero na Prática Contábil: Uma Questão ainda em Debate? Sociedade, Contabilidade
e Gestão, v. 16, p. 48-163, 2021.

SILVA, I. T. A. Gênero e o contexto acadêmico contábil: percepções sobre a discriminação na trajetória das mulheres
em instituições de ensino superior brasileiras. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, MG, Brasil, 2020.

SILVA, M. Z., AMES, A. C.; SILVA, M. G. Discriminação salarial de gênero e a percepção dos agentes: análise na profissão
de controller. Revista Catarinense da Ciência Contábil, v. 19, p. 1-18, 2020.

SOUSA, I. A mulher na idade média: A Metamorfose de um Status. Revista UNI-RN, v. 3, p. 159, 2008.

ZABOTTI, E. D. Gênero e Contabilidade no Brasil: Qual é o saldo dessa conta? Dissertação de Mestrado, Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel, PR, Brasil, 2017. Recuperado de http://tede.unioeste.br/handle/tede/3506. Acesso
em: 07 abr. 2022.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 47

Prestação de serviços contábeis


em plataformas virtuais: um estudo
sobre a percepção dos profissionais
da contabilidade de um município
do Estado da Bahia

O
Ana Carolina Costa Pires
Graduada em Ciências Contábeis pela Faculdade
s avanços tecnológicos trouxeram mudanças para a Maria Milza (2020), Mestranda em Desenvolvi-
rotina de diversas profissões, inclusive do profissional mento Regional e Meio Ambiente pelo Centro
Universitário Maria Milza (UNIMAM) e Bolsista
da contabilidade, que pôde expandir a forma de de Mestrado Profissional da Fundação de Am-
prestação de seus serviços, oferecendo-os também de forma paro a Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB).
E-mail: acpires01@gmail.com
virtual. Nesse sentido, o objetivo geral desta pesquisa é analisar a
percepção dos profissionais da contabilidade da cidade de Cruz Ericarlos de Souza Fonseca
das Almas/BA em relação à prestação de serviços contábeis em Possui graduação em Ciências Contábeis pela
Faculdade Maria Milza (2020), Mestrando em
plataformas virtuais. Quanto à metodologia, trata-se de uma Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente
pesquisa descritiva quanto ao objetivo, de abordagem qualitativa, pelo Centro Universitário Maria Milza (UNI-
MAM), atualmente é assistente fiscal na empre-
e quanto ao delineamento trata-se de um levantamento tipo sa Comercial de Alimentos J.M. Ribeiro Eireli.
survey, com aplicação de questionário on-line direcionado E-mail: ericarlossfonseca@hotmail.com

aos contadores responsáveis pelos escritórios de contabilidade Vinícius Motta Oliveira


do Município de Cruz das Almas/BA. Os resultados apontam Graduado em Ciências Contábeis pela Univer-
sidade Estadual de Feira de Santana (2007),
que 80% dos profissionais da contabilidade concordam que a M.B.A em Gestão Publica na Faculdade de Tec-
modalidade virtual ampliou a integração de informações entre nologia e Ciências (FTC), Especialização em Me-
todologia da Pesquisa Científica e Mestre em
contabilidade e cliente, 60% dos profissionais de escritórios Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente
físicos pretendem aderir à plataforma virtual e 70% avaliaram pela Faculdade Maria Milza (FAMAM). Coorde-
nador e professor do Curso de Ciências Contá-
a qualidade dos serviços contábeis oferecidos através das beis do Centro Universitário Maria Milza (UNI-
plataformas virtuais como “bom”, “muito bom” e “excelente”. MAM) e do Núcleo de Apoio Contábil e Fiscal,
Avaliador do MEC / INEP para atos de creden-
Espera-se que este estudo possa contribuir para melhor ciamento institucional presencial e EAD.
compreensão da contabilidade virtual, despertando interesse em E-mail: vini_motta_oliver@hotmail.com

profissionais da contabilidade, acadêmicos e pesquisadores, de


modo que o assunto possa ser explorado no âmbito da ciência.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Prestação de serviços contábeis em plataformas virtuais: um estudo sobre a
48 percepção dos profissionais da contabilidade de um município do Estado da Bahia

1. Introdução to humanizado. Para Mello (2017), contabilidade da cidade de Cruz


esse novo modelo contábil apre- das Almas/BA em relação à presta-
Tradicionalmente, a contabili- senta desvantagens, pois reforça a ção de serviços contábeis em pla-
dade presta vários serviços que são imagem do contador que se resume taformas virtuais? E como objeti-
oferecidos em escritórios físicos, a cuidar apenas da burocracia, não vo geral a análise da percepção dos
porém, com os avanços tecnológi- podendo ser chamado de evolução profissionais da contabilidade do
cos, a profissão pôde ganhar um da contabilidade, uma vez que a Município de Cruz das Almas/BA
novo formato, que é a prestação verdadeira contabilidade é aquela em relação à prestação de serviços
de serviços contábeis em ambiente que cuida da saúde das empresas. contábeis em plataformas virtuais.
virtual. A prestação de serviços com Pesquisa nacional realizada por
qualidade e redução de custos é o Barbosa (2018) buscou identificar
que tem incentivado o desenvolvi- os escritórios virtuais no Brasil e fo- 2. Referencial Teórico
mento de novas ferramentas tecno- ram levantados 30 escritórios para
lógicas. A tecnologia da informação análise. A autora obteve como prin- 2.1 O perfil do profissional da
possibilita essa flexibilidade. Segun- cipais resultados que 46% desses contabilidade no contexto atual
do Pigatti (2018), o escritório virtual escritórios existem há cerca de 6 Paralelamente aos avanços tec-
apresenta um custo mais baixo para anos ou mais, com cerca de 86% nológicos da contabilidade, tam-
o empreendedor. Com isto, a em- com origem nas regiões Sul e Su- bém evolui o profissional da con-
presa virtual tem ganhado espaço, deste e apenas 3% no Estado da tabilidade, sendo necessária sua
pois quanto ao exercício da profis- Bahia. Contudo, para a consecução constante atualização e progresso.
são contábil, os contadores podem dessa pesquisa, foi realizado um le- Sob esse ponto de vista, Nespoli e
optar por prestar seus serviços em vantamento mediante utilização de Silva (2017) afirmam que diante do
escritório virtual. ferramentas de busca na internet e, cenário atual, a contabilidade exige
É importante salientar que a com isso, foram identificados 5 es- excelência do profissional da conta-
contabilidade virtual causa contro- critórios de contabilidade virtuais bilidade na execução dos seus ser-
vérsia entre os especialistas, pois, em atuação no Estado da Bahia, viços, bem como competências e
segundo alguns profissionais, essa sendo 3 localizados em Salvador. habilidade mais avançadas, caracte-
modalidade de prestação de servi- Ainda sobre a referida auto- rizando assim um profissional atua-
ço contábil pode ser ofertada por ra, “há pouca informação acerca lizado e almejado pelos usuários da
um preço mais baixo. No entanto, desse segmento de mercado que, informação contábil.
é insuficiente na qualidade dos ser- com o advento da tecnologia, a Para Bomfim (2020), é impres-
viços, pois não tem um atendimen- cada dia adquire novas possibili- cindível que o profissional da con-
dades de prestação de serviço” tabilidade esteja preparado para
(BARBOSA, 2018, p. 39). Per- enfrentar desafios, superar as suas
cebe-se, portanto, que discu- limitações e adquirir a capacidade
tir sobre contabilidade virtual de gerar informações relevantes e
é relevante, pois se trata de eficientes aos seus clientes. “A Con-
um assunto incipiente, tabilidade não para de evoluir e os
o qual necessita de pes- profissionais devem acompanhar
quisas exaustivas, visto este processo. Entre os grandes de-
que a tecnologia tende safios enfrentados pelos contado-
a implementar novas for- res pode-se citar a era da contabili-
mas de prestação dos ser- dade digital” (TAMAZI; SCHNEIDER,
viços contábeis. Nesse sen- 2019, p. 33).
tido, a presente pesquisa Para Nespoli e Silva (2017), é
justifica-se por tentar considerável que os profissionais
preencher esta lacu- da contabilidade necessitam de
na do conhecimen- conhecimentos desenvolvidos pela
to que se encontra profissão, para dominar com efi-
carente de novos estu- ciência as suas atribuições no in-
dos. Assim, o tem-se como tuito de sugerir, analisar, comparar
problemática desta pesquisa: Qual e tomar decisões, alcançando as-
a percepção dos profissionais da censão profissional.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 49


Em relação à regulamentação, os escritórios de
contabilidade on-line estão abrangidos neste projeto de
lei, que regulamenta as condições para suas atividades,
mas ainda não há regulamentação específica dos órgãos
contábeis para esta modalidade.

No contexto global da Ciência sos, softwares e novas atividades serviço oferecido pelos escritórios
Contábil, é possível identificar as di- exigidas e extinguidas. de contabilidade e a superação do
versas áreas que o profissional for- Portanto, é importante salien- que é percebido com relação ao es-
mado em bacharelado em Ciências tar que a tecnologia trouxe inúme- perado podem ser um ponto-cha-
Contábeis pode atuar, de acordo ros benefícios para a contabilidade. ve das intenções comportamentais
com a Resolução CFC n.º 560/1983, De acordo com Carvalho e Gomes e da fidelidade do cliente, diminuin-
estão listadas: analista, assessor, as- (2018), a implementação da tecno- do assim, a pressão exercida pela
sistente, auditor interno e externo, logia digital nas rotinas contábeis concorrência”.
conselheiro, consultor, controlador, estão tornando-as mais práticas e De acordo com Pigatti (2018), a
controller, escriturador contábil ou eficientes. Podemos destacar como contabilidade virtual é a utilização
fiscal, fiscal de tributos, legislador, principais benefícios: a geração de de plataforma on-line automatiza-
perito, pesquisador, entre outros. folha de pagamento automática da por um profissional da contabi-
Mesmo com diversas oportunida- através de software específico, pra- lidade para atender às demandas
des que a contabilidade propor- ticidade na geração dos relatórios dos clientes. Portanto, entende-
ciona, é indispensável que o profis- contábeis, controle de estoques, -se que a contabilidade virtual é a
sional seja ágil quanto aos avanços controle contas a pagar e a receber, prestação de serviços contábeis por
tecnológicos. entre outros benefícios. meio de ferramentas digitais, atra-
De acordo com Tomazi e Shc- vés de plataforma on-line, onde
neider (2019), é constante a evolu- ocorre a relação entre o contador e
ção e sofisticação dos procedimen- 2.2 Escritórios virtuais de o empresário.
tos contábeis, com a exigência de contabilidade Em relação à regulamentação,
maior agilidade e informatização, O profissional que presta ser- os escritórios de contabilidade on-
de modo que a contabilidade não viços contábeis precisa continua- -line estão abrangidos neste proje-
para e em consequência os profis- mente satisfazer às necessidades to de lei, que regulamenta as con-
sionais devem acompanhar esse dos seus clientes. Conforme Lee et dições para suas atividades, mas
processo. Ainda sobre os referidos al. (2016, apud MACIEL; MARTINS, ainda não há regulamentação es-
autores, com o desenvolvimento de 2018, p. 100), “o serviço de conta- pecífica dos órgãos contábeis para
novas tecnologia paralelo a compe- bilidade exige não só competências esta modalidade. A Comissão de
titividade existente no mercado, o e conhecimentos profissionais, mas Desenvolvimento Econômico, In-
perfil do profissional da contabili- também inovação na transforma- dústria, Comércio e Serviço apro-
dade vem sendo moldado, exigindo ção de negócios, fornecendo valor a vou o Projeto de Lei n.º 8.300, de
que esteja em sintonia com a evo- seus clientes para enfrentar o mer- 16 de agosto de 2017, que trata da
lução dos cursos superiores, com os cado competitivo.” regulamentação e do funcionamen-
processos de regulamentação con- Ainda sobre os referidos auto- to dos escritórios virtuais, business
tábil e com os avanços tecnológi- res, a necessidade de satisfação do centers, coworkings e assemelha-
cos: atualização quanto a proces- cliente em relação à qualidade do dos no Brasil.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Prestação de serviços contábeis em plataformas virtuais: um estudo sobre a
50 percepção dos profissionais da contabilidade de um município do Estado da Bahia

No decorrer dos últimos anos, a novos mercados inspirados em


contabilidade on-line vem crescen- modelo contemporâneos e vi-
do no Brasil, sendo mais voltada às sando acompanhar as constan-
micro e pequenas empresas, devi- tes mudanças que ocorrem no
do à simplicidade das operações e mercado competitivo (ANDRA-
participação dos clientes na inser- DE; MEHLECKE, 2020). A compe-
ção de informações no sistema, de titividade do mercado impulsiona O levantamen-
modo a permitir uma redução do o surgimento de modelos de negó- to em nível nacional, das
serviço do contador e consequen- cios que proporcionem um diferen- plataformas virtuais de conta-
temente reduzir a precificação dos cial competitivo que seja vantajoso bilidade, as quais são utiliza-
serviços (FRANÇA, 2018, p. 20). para o empresário. Como exemplo, das por alguns escritórios con-
As novas tecnologias provocaram o preço baixo das mensalidades de tábeis para prestação dos serviços
um desenvolvimento da contabilida- uma contabilidade on-line. de forma on-line, inclui: ContAzul,
de, podendo caracterizar a contabi- Avaliar a precificação do pro- Osayk, eContador do Alterdata,
lidade digital como um modelo dis- duto ou serviço é fator de decisão Nooven Sistemas e Onvio do Domí-
ruptivo. Segundo Schiavi (2018), para a maioria dos clientes. Segun- nio, Makro System.
do Barbosa (2018, p. 24), “Os es- O portal da ContaAzul ofere-
Modelos de negócios disruptivos re- critórios de contabilidade on-line ce tecnologia contábil em nuvem
presentam a junção de modelos de divulgam em seus portais virtuais e grátis, em plataforma integrada
negócios, rupturas tecnológicas e a proposta de oferecer um servi- que permite fechamento de folha na
inovação. Os modelos de negócios ço contábil com uma redução dos nuvem e integrado ao financeiro e
disruptivos criam oportunidades e custos, gerando informações que contábil: rotinas de folha na nuvem,
desafios às organizações, represen- se tornam mais acessíveis aos clien- disponíveis em qualquer lugar; inte-
tam ameaças diretas para a manu- tes”. Para França (2018, p. 21), “o gração automática com fiscal e con-
tenção de modelos tradicionais, bus- preço é o diferencial de maior des- tábil; conexão com o financeiro do
cam novas formas de agregar valor taque da contabilidade on-line, cliente; ambiente exclusivo do con-
ao consumidor e oferecem produtos além da praticidade na disponibi- tador. Na gestão financeira: contro-
com maior simplicidade, acessibili- lização de informações através da le de honorários dos clientes; emis-
dade e menor custo. utilização de plataforma on-line e são recorrente de NFS-e e de boleto,
aplicativos, trazendo vantagens com baixa automática; conciliação
No que se refere à disrupção competitiva a este segmento. bancária com integração e importa-
na contabilidade, o autor Duarte A adaptação do escritório tradi- ção. Na área Fiscal: geração do DAS
(2016) explica as diferenças entre cional para um escritório virtual não individual e em lote. Na Gestão Con-
contabilidade on-line e na contabi- é complexa. De acordo com Barbosa tábil: balancete, DRE, livro razão,
lidade digital: (2018), para um escritório contábil imobilizado (CONTAAZUL, 2019).
prestar serviços virtuais, precisa ca- O Osayk é uma plataforma on-
A contabilidade on-line não pode pacitar os profissionais com habilida- -line de gestão financeira e contabi-
ser considerada uma inovação dis- des digitais e também os clientes pre- lidade on-line que disponibiliza: sis-
ruptiva, pois é apenas um modelo cisam saber operar no meio virtual. tema de cadastro para processo de
de aprimoramento de processos no migração e legalização de empresas
relacionamento com o cliente, não on-line: faturamento e cobrança dos
cria novos mercados. Já a contabi- 2.3 Plataformas virtuais de honorários contábeis com recorrên-
lidade digital pode ser considerada contabilidade cia para cartão de crédito e boleto
uma inovação disruptiva, por ofere- Com os avanços tecnológicos, bancário; emissor de notas fiscais
cer serviços além dos tradicionais, surgiram as plataformas virtuais eletrônicas, NF-e e NFS-e; controle
como consultorias em áreas finan- para prestação de serviços contá- de estoque; sistema de gestão finan-
ceiras, por meio da utilização de sis- beis, com ferramentas computacio- ceira com a sua marca para os seus
temas integrados em nuvem aos sis- nais que auxiliam no processo de clientes; exportação dos arquivos do
temas contábeis. informatização, de maneira eficien- financeiro para o seu sistema contá-
te. A computação em nuvem é uma bil; sistema de compartilhamento de
A disrupção veio com a promes- dessas tecnologias, que permite o arquivos entre a contabilidade e o
sa de inovação e transformação, armazenamento de dados e infor- cliente na nuvem; chat on-line com
tornando possível o surgimento de mações em um ambiente seguro. os clientes (OSAYK, 2019).

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 51

De acordo com informações De acordo com o Portal


coletadas em seu portal, a Al- Thmson Reuters (2020), o Onvio
terdata Software desenvolveu é um software em nuvem, cria-
o PackUp, uma solução em nu- do a partir de uma plataforma
vem, sem custo adicional para on-line, que fará a gestão de to-
soluções contábeis (Departa- das as necessidades do escritó-
mento Pessoal, Fiscal ou Con- rio, aproximando o contador e o
tábil). Com essa ferramenta, o cliente de modo a gerar resultados
contador pode prestar atendi- juntos. A referida empresa já havia
mento qualificado e rápido para colocado no mercado o Domínio
clientes de todo o Brasil, integrar Web, que se trata de um sistema de
a sua contabilidade ao financeiro tador possa executar seus serviços hospedagem do sistema local nas
do seu cliente em tempo real, en- de maneira virtual, de modo que nuvens, ou seja, virtualização do
viar e receber informações de for- a empresa prestadora de serviços sistema. Com isto, o Onvio prome-
ma centralizada e segura, e reduzir contábeis, ou o contador autônomo te substituir o Domínio Web, pois o
custos operacionais com impres- que já atua no mercado ou que está Onvio é uma plataforma totalmen-
sões, ligações e locomoção (ALTER- em início de carreira, possa aderir te em nuvem para onde serão mi-
DATA, 2019). a essa nova modalidade com total grados todos os módulos do con-
A Alterdata também desenvolveu ou parte dos seus serviços a serem tábil. Através do Portal do Cliente,
um aplicativo como complemento do prestados de forma virtual. módulo de relacionamento entre o
PackUp. Segundo ela, o eContador é Conforme dados coletados no Escritório Contábil e seus Clientes,
um aplicativo que traz a praticidade portal, a NooveN Sistemas – Sistemas haverá a prestação e solicitação de
da empresa contábil disponível 24 Cloud Computing, é uma empresa do serviços, e o compartilhamento de
horas por dia para otimizar tempo, Grupo SuperSoft Sistemas, o qual já documentos e arquivos.
reduzir custos e estreitar o relaciona- atua no mercado de sistemas para A Makro System, é um softwa-
mento com o cliente. O app oferece: gestão empresarial e contábil des- re on-line para prestação dos servi-
envio on-line de guias, relatórios, en- de 1992. A NooveN Sistemas é um ços contábeis. No portal, é possível
cargos e recibos diretamente do sis- conjunto de programas para gestão realizar: geração de folha de paga-
tema; total integração entre empresa 100% on-line, sendo permitido ge- mento automática, encargos e pró-
e os clientes; movimentações via web renciar a empresa ou escritório contá- -labore; controle de informações
para otimizar tempo e reduzir custos; bil por meio de qualquer dispositivo contratuais dos trabalhadores; to-
acesso a soluções 24 horas por dia conectado à internet. O cloud com- das as exigências da legislação tra-
(ALTERDATA, 2019). puting ou computação nas nuvens é balhista e eSocial; importação auto-
A Alterdata desenvolveu a so- um formato que permite a utilização mática das notas fiscais de entrada
lução PackUp e o app eContador do sistema em modo on-line (NOO- e saída; integração com o departa-
como ferramentas para que o con- VEN SISTEMAS, 2020). mento contábil; contempla SPED


Com os avanços tecnológicos,
surgiram as plataformas virtuais para prestação
de serviços contábeis, com ferramentas
computacionais que auxiliam no processo
de informatização, de maneira eficiente.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022
Prestação de serviços contábeis em plataformas virtuais: um estudo sobre a
52 percepção dos profissionais da contabilidade de um município do Estado da Bahia

Fiscal, Sintegra, DeSTDA e demais 4. Resultados e discussão vando assim a 80% de concordantes;
obrigações acessórias; preparado apenas 10% optaram por indiferente;
para entrega do Reino; apuração de Ao analisar o perfil dos respon- e apenas 10% discordam.
ICMS; Bloco K; contabilização auto- dentes, 80% são do sexo masculino De fato, a utilização de platafor-
mática do pessoal, fiscal e financei- e 20% são do sexo feminino. Quan- ma on-line pelos escritórios contá-
ro; importação do ECD, etc. to à faixa etária, 30% possuem até beis ampliou a integração de infor-
25 anos, 20% possuem entre 26 e mações com os clientes, pois essa
30 anos, 10% possuem entre 31 e tecnologia permite acesso à infor-
3. Materiais e métodos 35 anos, 40% possuem acima de mação contábil através de apare-
36 anos. Em relação ao tempo de lhos que a plataforma disponibili-
Quanto à metodologia, trata-se atuação na área contábil, 30% en- ze o acesso, como celular, tablet,
de uma pesquisa descritiva quanto tre 1 e 5 anos, 20% entre 5 e 10 notebook. A exemplo, conforme
ao objetivo, de abordagem quali- anos e 50% a mais de 10 anos. apresentado no tópico 2.4 desta
tativa; e, quanto ao delineamento, Quanto à formação, 90% possuem pesquisa, a Contactu Contabilida-
trata-se de um levantamento tipo bacharelado em Ciências Contábeis de oferece em seu portal acesso à
survey com aplicação de questioná- e 10% possuem grau Técnico em informação contábil e financeira
rio on-line com questões em esca- Contabilidade. através de celular, tablet ou com-
la likert direcionado aos contado- Analisando o Bloco 1 - Concor- putador (CONTACTU, 2020). Dessa
res responsáveis pelos escritórios de dância ou discordância dos conta- forma, o cliente recebe e passa in-
contabilidade do município de Cruz dores de escritórios contábeis de formações, entre outras atividades
das Almas/BA, após assinatura do Cruz das Almas sobre os principais relacionadas a rotina contábil, sem
termo de consentimento livre e es- serviços ofertados e precificação a necessidade de deslocar-se até o
clarecido, sendo realizada de forma praticada pelos escritórios virtuais, escritório contábil.
on-line no período de 30 de março são apresentados abaixo, respecti- De acordo com a apresentação
a 10 de abril de 2020. vamente, os gráficos das questões do Gráfico 2, 50% dos responden-
Para atender ao objetivo, foi fei- correspondentes. tes concordam que o serviço de
to um levantamento dos escritórios Conforme apresentado no Gráfi- transformar um Microempreende-
contábeis ativos na cidade de Cruz co 1, 50% dos respondentes concor- dor Individual (MEI) em uma Mi-
das Almas/BA, através do portal do dam totalmente que a utilização de croempresa (ME) pode ser realizado
CRCBA, de modo que foram encon- plataforma virtual ampliou a integra- por um preço a partir de R$199,00,
trados 19 cadastros ativos em 30 de ção de informações do escritório para entretanto, 40% discordam e 10%
março de 2020; aplicou-se o método com os clientes; 30% concordam, le- discordam totalmente desse preço.
estatístico; a população é represen-
tada por 19 escritórios; e os dados
foram coletados em 10 escritórios,
representando a amostra estudada.
Gráfico 1– Ampliação da integração de informações contábeis
As questões específicas foram pelos escritórios virtuais de contabilidade
segregadas em três blocos, que Concordo totalmente 50%
correspondem aos objetivos espe- Concordo 30%
cíficos da pesquisa, sendo: Bloco 1 Indiferente 10%
- Concordância ou discordância dos Discordo 10%
contadores de escritórios contábeis Discordo totalmente 0%
de Cruz das Almas sobre os princi-
pais serviços ofertados e precifica- Fonte: dados da pesquisa.

ção praticada pelos escritórios vir-


tuais; Bloco 2 – Concorrência entre Gráfico 2 – Precificação do serviço para transformar MEI em ME
escritórios físicos e virtuais e Bloco
Concordo totalmente 0%
3 – A qualidade da prestação de ser-
Concordo 50%
viços contábeis pelas plataformas
Indiferente 0%
virtuais. Os resultados foram ana-
Discordo 40%
lisados e discutidos abaixo, respec-
Discordo totalmente 10%
tivamente, por meio de gráficos de
barras agrupadas. Fonte: dados da pesquisa.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 53

“ De fato, a precificação do serviço contábil virtual é


reduzida em relação ao escritório físico, entretanto,
em relação aos custos para manter um escritório,
o virtual tem um custo reduzido comparado ao
escritório físico.

Esses dados permitem perce-
Gráfico 3 – Precificação do pacote de serviços contábeis
ber que, em relação à precificação
para MEI e ME
do serviço contábil exemplificado,
a opinião do contador de escritó- Concordo totalmente 0%
rio físico é heterogênea, de modo, Concordo 20%
que a percepção dos contadores Indiferente 0%
não apresenta um consenso, mos- Discordo 50%
trando que a classe contábil da ci- Discordo totalmente 30%
dade se apresenta dividida quanto
Fonte: dados da pesquisa.
à questão da precificação.
A contabilidade virtual tem ofe-
recido maior simplicidade, acessibi-
lidade e menor custo, divulgando para MEI e ME, o Gráfico 3
a promessa de oferecer um serviço apresenta que, apenas 20%
com baixo custo, sendo o preço o dos respondentes concor-
destaque das plataformas virtuais dam, 50% discordam e 30%
(SCHIAVI, 2018; BARBOSA, 2018; discordam totalmente, le-
FRANÇA, 2018). De fato, a precifi- vando em consideração
cação do serviço contábil virtual é que a precificação a exem-
reduzida em relação ao escritório plo analisada sugere uma
físico, entretanto, em relação aos percepção de desvalori-
custos para manter um escritório, o zação do serviço contábil
virtual tem um custo reduzido com- diante do percentual de dis-
parado ao escritório físico. Para Car- cordância encontrado.
valho e Gomes (2018), a tecnologia De acordo com os dados
da informação desenvolvida para o acima apresentados, é possí-
setor contábil promove a redução vel considerar que 80% dos res-
de custos e melhoria no desempe- pondentes são discordantes em re-
nho das atividades. A plataforma lação à mensalidade cobrada pelo
virtual permite um custo mais bai- escritório contábil virtual. O valor
xo para o empreendedor, um deles cobrado, segundo Barbosa (2018)
é a redução de custos operacionais é de até R$100,00/mês, e um pou-
(PIGATTI, 2018). co mais de 60% dos escritórios vir-
Em relação à precificação do tuais de contabilidade espalhados
pacote básico de serviços contábeis pelo Brasil estão cobrando, em mé-
oferecido pelos escritórios virtuais dia, esse valor.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Prestação de serviços contábeis em plataformas virtuais: um estudo sobre a
54 percepção dos profissionais da contabilidade de um município do Estado da Bahia

Em relação ao serviço de aber-


Gráfico 4 – Abertura de empresa gratuita
tura de empresas, a maioria dos es-
critórios virtuais realiza esse serviço Concordo totalmente 0%
de forma gratuita. De acordo com Concordo 10%
França (2018), foi constatado em Indiferente 10%
sua pesquisa que os escritórios ofe- Discordo 60%
recem abertura de empresa gratui- Discordo totalmente 20%
ta, mediante a contratação de pla-
Fonte: dados da pesquisa.
no anual, embora essa oferta possa
atrair o cliente, pois envolve a con-
dição de fidelização. O Gráfico 4
Gráfico 5 – O contador de escritório físico diante
apresenta a percepção dos conta- da nova tecnologia (plataforma virtual de contabilidade)
dores de escritórios físicos do Mu- Não pretende aderir 0%
nicípio de Cruz das Almas acerca
Não possui conhecimento e não pretende aderir 0%
desse serviço.
Não possui conhecimento e pretende aderir 0%
De acordo com a apresentação
Possui certo grau de conhecimento, mas não… 10%
do Gráfico 4, em relação à aber-
tura gratuita de empresa oferecida Possui certo grau de conhecimento e pretende… 20%

pelos escritórios contábeis virtuais, Preparado, mas não pretende aderir 30%
60% dos respondentes discordam Preparado para aderir 40%
e 20%, discordam totalmente com
a oferta de abertura gratuita de Fonte: dados da pesquisa.

empresas, apenas 10% dos respon-


dentes concordam e 10% optaram
por indiferente. tamento da precificação dos ser- dos contadores de escritórios físicos
Por meio da análise dos Gráfi- viços ofertados pelos escritórios diante das novas tecnologias, 40%
cos 1, 2, 3 e 4, foi possível visualizar virtuais de contabilidade e obteve dos respondentes estão prepara-
a percepção dos contadores acerca como resultado que pouco mais de dos para aderir; 30% estão prepa-
da sua concordância e discordância 60% dos 30 escritórios pesquisados rados, mas não pretendem aderir;
quanto aos principais serviços ofer- cobram até R$100,00/mês por um 20% possuem certo grau de conhe-
tados e precificação praticada pelas pacote básico para serviços presta- cimento e pretendem aderir; e 10%
plataformas virtuais. De modo ge- dos à MEI e à ME. O presente es- possuem certo grau de conheci-
ral, nos Gráficos 1, 2, 3 e 4 do Bloco tudo encontrou como resultado mento, mas não pretendem aderir.
1, 80% dos respondentes concor- que os contadores de escritórios
dam que a plataforma virtual am- de contabilidade físicos do Mu-
pliou a integração de informações nicípio de Cruz das Almas dis-
contábeis; 80% dos respondentes cordam, em maioria, em relação
discordaram em relação à precifi- à precificação cobrada pelos es-
cação do serviço para transformar critórios virtuais para serviços de:
MEI em ME, sendo cobrado um va- transformar MEI em ME, pacote
lor a partir de R$199,00/mês; 80% de serviços abaixo de R$100,00
discordaram do pacote de serviço e serviço de abertura de empresa
para MEI e ME, sendo cobrada uma gratuita.
média de R$100,00/mês; e 80% Analisando o Bloco II–
discordaram do serviço de abertura Concorrência entre escri-
gratuita de empresas oferecido pe- tórios físicos e virtuais, são
las plataformas virtuais. apresentados nos Gráficos
Esses resultados são conver- 5, 6, 7 e 8, respectivamen-
gentes com a pesquisa de Barbosa te, as questões correspon-
(2018), tratando especificamente dentes.
da precificação dos serviços contá- Conforme é apresen-
beis pelas contabilidades virtuais. tado no Gráfico 5, em re-
Barbosa (2018) realizou um levan- lação ao posicionamento

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 55

Esses números revelam que


Gráfico 6 – Concorrência entre escritório contábil físico e virtual
60% dos profissionais da conta-
bilidade de escritórios físicos pre- Concordo totalmente 10%
tendem aderir à plataforma vir- Concordo 50%
tual. Segundo Andrade e Mehlecke Indiferente 20%
(2020), foi constatado em sua pes- Discordo 20%
quisa que metade dos profissio- Discordo totalmente 0%
nais ainda possui dificuldades em
Fonte: dados da pesquisa.
se adaptar às mudanças que ocor-
rem constantemente, que são re-
sultados das novas tecnologias, Gráfico 7 – Redução da procura por escritórios tradicionais
e em saber utilizar a tecnologia a Concordo totalmente 10%
seu favor, de modo a aperfeiçoar a Concordo 50%
qualidade dos serviços. Indiferente 10%
No Gráfico 6, é apresentada a Discordo 30%
percepção dos contadores em rela-
Discordo totalmente 0%
ção à concorrência entre escritórios
físicos e virtuais. Fonte: dados da pesquisa.

Conforme é apresentado no
Gráfico 6, em relação à concorrên- Gráfico 8 – Substituição das contabilidades tradicionais
cia entre escritório físico e virtual, pelas plataformas virtuais
10% dos respondentes concordam
Concordo totalmente 0%
totalmente e 50% concordam que
Concordo 10%
existe essa concorrência, 20% op-
Indiferente 20%
taram por indiferente e 20% discor-
Discordo 50%
dam. Deste modo, pode-se conside-
Discordo totalmente 20%
rar um total de 60% que concorda
que existe concorrência entre seu es- Fonte: dados da pesquisa.
critório físico e os escritórios virtuais.
Os escritórios virtuais têm como
vantagem o alcance territorial tão, 10% optaram por indiferente e da contabilidade terem como con-
maior em relação aos escritórios fí- 30% discordam. Com isto, pode-se sequência o desemprego, pois é
sicos. Através da utilização de uma constatar que 60% dos responden- possível que ocorra uma seleção,
plataforma on-line, é possível pres- tes concordam que a contabilidade separando profissionais que bus-
tar serviços a empresas em diversas virtual pode provocar uma redução cam conhecimento de profissionais
localizações, sendo micro e peque- da procura por escritórios físicos. que se encontram em situação de
nas empresas. De acordo com Fran- A contabilidade virtual, nos últi- comodismo.
ça (2018), o contador tem a possi- mos anos, tem ganhado espaço no No Gráfico 8, são apresenta-
bilidade de escolher um local para a mercado por apresentar uma pro- das as respostas dadas ao questio-
sede do escritório, que não necessi- posta de serviços de valor reduzido namento sobre a substituição das
ta ser bem localizado, podendo as- e prometendo agilidade nos proces- contabilidades tradicionais pelas
sim reduzir custos, já que esses es- sos. Trata-se ainda de uma tecnolo- plataformas virtuais. Na percep-
critórios não recebem os clientes gia que está transformando o am- ção dos contadores físicos, 10%
pessoalmente. biente contábil, bem como exigindo dos respondentes concordam que
No Gráfico 7, são apresentadas mais do perfil do contador. a contabilidade virtual substituirá
as respostas dadas ao questiona- Na pesquisa de Andrade e Meh- os escritórios tradicionais, 20% op-
mento sobre a redução da procu- lecke (2020), em relação à concep- taram por indiferente, 50% discor-
ra por escritórios físicos devido ao ção dos participantes sobre o que dam e 20% discordam totalmen-
surgimento da contabilidade vir- a contabilidade digital acarretará te, levando assim a considerar que
tual, na percepção dos contadores aos profissionais da contabilidade, 70% dos respondentes discordam
de escritórios físicos, 10% dos res- constatou-se que existe uma preo- com a substituição das contabilida-
pondentes concordam totalmen- cupação dos contadores em rela- des tradicionais pelas contabilida-
te e 50% concordam com a ques- ção à virtualização de os serviços des virtuais.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Prestação de serviços contábeis em plataformas virtuais: um estudo sobre a
56 percepção dos profissionais da contabilidade de um município do Estado da Bahia

Por meio da análise dos gráfi-


Gráfico 9 – Utilização das plataformas virtuais para prestação
cos do Bloco 2, foi possível alcan-
çar o objetivo específico de verificar
dos serviços contábeis
a percepção dos contadores quan- Concordo totalmente 10%
to a uma possível concorrência com Concordo 50%
escritório virtual. De modo geral, a Indiferente 30%
apresentação dos Gráficos 5, 6, 7 e Discordo 10%
8, no Bloco 2, revela que 40% dos Discordo totalmente 0%
respondentes estão preparados
Fonte: dados da pesquisa.
para aderir a plataforma virtual de
contabilidade, 60% concordam que
existe concorrência entre seu escri- Gráfico 10 – Relação virtual entre o contador e o cliente
tório físico e os escritórios virtuais, Concordo totalmente 50%
60% concordam que a contabilida- Concordo 30%
de virtual pode provocar a redução Indiferente 10%
da procura por escritórios físicos e
Discordo 10%
70% discordam que a plataforma
Discordo totalmente 0%
virtual substituirá os escritórios tra-
dicionais de contabilidade. Fonte: dados da pesquisa.

Na pesquisa de Andrade e Meh-


lecke (2020), a concepção dos De acordo com o Gráfico 9,
participantes sobre o que a con- quanto à utilização de plataformas
tabilidade digital acarretará aos virtuais para a prestação dos servi-
profissionais da contabilidade; re- ços contábeis, 10% dos responden-
vela que alguns profissionais se tes concordam totalmente e 50%
preocupam com o desemprego, en- concordam com a utilização, 30%
tretanto, outros profissionais con- optaram por indiferente e 10% dis-
cordam que a contabilidade virtual cordaram. Deste modo, podemos
trará facilidades e os profissionais considerar que 60% dos profissionais
devem estar preparados para aderir da contabilidade concordam com a com a relação virtual entre
a essa ferramenta para não se tor- utilização de plataforma virtual para contador e cliente, 10% opta-
narem defasados no mercado. prestação de serviços contábeis. ram por indiferente e 10% dis-
Os dados obtidos no presente A utilização de plataforma vir- cordaram. Pode-se assim con-
estudo, em relação à redução da tual agiliza as rotinas contábeis, siderar que 80% dos profissionais
procura por escritórios físicos e à principalmente, nos serviços relati- concordam com a relação virtual en-
possível substituição dos escritó- vos às atividades operacionais. Para tre contador e cliente.
rios tradicionais, apresentados res- Barbosa (2018), as atividades opera- O relacionamento entre conta-
pectivamente nos Gráficos 7 e 8, cionais, que tradicionalmente são as dor e cliente no formato virtual está
convergem com os dados levanta- que demandam mais tempo, com a ligado ao contato mediante a utili-
dos na pesquisa de Santos e Konzan plataforma virtual há um ganho de zação de ligações telefônicas, what-
(2020) ao destacarem que, aproxi- tempo na geração de informações e sapp, chat on-line, e-mail, e pla-
madamente, 76% dos escritórios de redução de custos. Conforme Santos taformas similares. A plataforma
contabilidade discordam que serão e Konzen (2020), “quase 88% dos contábil virtual permite o compar-
extintos e 85% discorda que se tor- escritórios de contabilidade concor- tilhamento de informações, a troca
narão menos importantes para os dam que a contabilidade digital pro- de documentos, geração de relató-
clientes com o advento da contabi- porcionará maior produtividade às rios, e outras funcionalidades da ro-
lidade digital. suas equipes e, com isso, sobrará tina contábil entre contador e clien-
Na análise do Bloco III – 1, a mais tempo para aplicar em outras te. Segundo Barbosa (2018, p. 34),
qualidade da prestação de serviços demandas, o que contribuirá para o “à medida que a tecnologia vem
contábeis pelas plataformas virtuais seu crescimento”. sendo mais presente na profissão do
é apresentada a seguir, respectiva- Conforme o Gráfico 10 apresen- contador e no dia a dia da socieda-
mente, nos gráficos 9, 10, 11 e 12 ta, 50% dos respondentes concor- de, é possível que haja uma tendên-
das questões correspondentes. dam totalmente e 30% concordam cia na adoção de serviços remotos.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 57

No Gráfico 11 é apresentado o
Gráfico 11 – Entendimento dos contadores sobre
entendimento dos contadores so-
bre as novas tecnologias voltadas à
as novas tecnologias voltadas à contabilidade
contabilidade, 10% possuem mui- Insuficiente 0%
to pouco, 10% pouco, 50% pos- Muito pouco 10%
suem um bom entendimento, 20% Pouco 10%
muito bom e 10% excelente. Sen- Regular 0%
do assim, pode-se considerar que Bom 50%
80% dos respondentes possuem Muito bom 20%
algum tipo de entendimento so- Excelente 10%
bre as novas tecnologias voltadas
à contabilidade. Fonte: dados da pesquisa.

Na pesquisa de Andrade e Meh-


lecke (2020), em relação ao conhe- Gráfico 12 – Avaliação da qualidade da prestação
cimento dos participantes sobre dos serviços contábeis virtuais
contabilidade digital, destacam-se
algumas respostas mais adequadas
ao conceito de contabilidade digi-
tal: sistemas mais inteligentes; in-
tegração entre cliente e contador
por meio de sistemas; aceleração
de processos; representa algo ino-
vador; classifica-se como uma nova
categoria de serviço; dispensa o Fonte: dados da pesquisa.
uso de papel e impressos. Duarte
(2016) conceitua contabilidade di-
gital como um modelo de negócio No Gráfico 12 é apresentado à 11 e 12 supracitados no Bloco III,
disruptivo, que consiste em utilizar percepção dos contadores em rela- foi possível perceber que 60% dos
plataformas em nuvem, a fim de ção à qualidade dos serviços contá- respondentes concordam com a
tornar as informações acessíveis e, beis virtuais, 10% dos respondentes utilização de plataforma virtual
assim, otimizar os serviços. avaliaram como “insuficiente”, 10% para prestação dos serviços con-
“pouco”, 10% “regular”, 60% ava- tábeis, 80% concordam com a re-
liaram como “bom” e 10% “mui- lação virtual entre o contador e o
to bom”. Sendo assim, pode-se cliente, 80% possuem entendimen-
considerar que 70% dos respon- to sobre as novas tecnologias vol-
dentes avaliaram a qualidade tadas a contabilidade e 70% avalia-
dos serviços contábeis ofe- ram como “bom” e “muito bom”
recidos através das plata- a qualidade dos serviços contábeis
formas virtuais como bom, em plataforma virtual.
muito bom e excelente. Tendo em vista o objetivo do es-
Andrade e Mehlecke tudo de detectar a qualidade dos
(2020, p. 113) ao analisarem serviços prestados pelas platafor-
a percepção dos profissionais mas virtuais, a percepção dos con-
sobre contabilidade digital, em tadores de escritórios físicos/tradi-
seu estudo, constatou que cionais do Município de Cruz das
dentre os participantes Almas apresentada nos Gráficos
da pesquisa, “84% dis- 9, 10, 11 e 12 mostra um perfil de
seram acreditar que a profissionais que possuem entendi-
contabilidade digital mento sobre as novas tecnologias,
proporcionará mais agilidade que estão preparados para aderir à
nas rotinas contábeis”. plataforma virtual e que avaliam a
Analisando de modo geral, a utilização da plataforma como um
apresentação dos Gráficos 9, 10, serviço de qualidade.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Prestação de serviços contábeis em plataformas virtuais: um estudo sobre a
58 percepção dos profissionais da contabilidade de um município do Estado da Bahia

5. Considerações Finais beis em plataformas virtuais, fato re-


levante, porquanto acredita-se que
O presente estudo teve como ob- esta modalidade tende a se expan-
jetivo geral analisar a percepção dos dir. Conforme foi apurado, a plata-
profissionais da contabilidade da ci- forma on-line é um meio de ampliar
dade de Cruz das Almas/BA, em re- a integração de informações entre
lação à prestação de serviços contá- contador e cliente, e ainda armaze-
beis em plataformas virtuais. Para na dados e informações com segu- viços contá-
alcançar esse objetivo, foi aplicado rança, reduzindo custos e agilizando beis pelas pla-
um questionário on-line direciona- processos. No entanto, a precifica- taformas virtuais,
do aos contadores responsáveis pe- ção dos serviços é inquestionável, de modo que concordam
los escritórios físicos do município. visto que não é aceitável pela maio- com a utilização das plata-
Identificou-se que existe uma ria da classe de contadores que pres- formas on-line para prestação
discordância dos contadores de es- tam serviços no município de Cruz dos serviços contábeis; concordam
critórios físicos sobre a precificação das Almas/BA. Portanto, as informa- com à relação virtual entre conta-
praticada pelos escritórios virtuais, ções obtidas com esta pesquisa con- dor e cliente; e visto que a maio-
entretanto, em relação à oferta de tribuirão para contadores que visam ria possui um bom entendimento e
serviços, os contadores concordam aderir à plataforma virtual e usuários avaliam a qualidade como “bom” e
que a prestação de serviços contá- da informação em geral. “muito bom”, sugere-se que os es-
beis em plataformas virtuais am- Como proposições, sugere-se critórios físicos adiram à platafor-
pliou a integração de informações que a precificação praticada pelos ma virtual para agregar mais tec-
entre o contador e o cliente. escritórios virtuais de contabilidade nologia ao escritório.
Ao analisar a percepção dos seja adaptada a um valor justo, de O presente estudo apresenta
contadores acerca da concorrência modo a não provocar discordância como limitações o cenário de pan-
entre escritórios físicos e virtuais, por parte dos escritórios físicos, e demia Sars-Cov-2 vivenciada nas
constatou-se que boa parte dos de não ser considerada como uma etapas finais desta pesquisa. A es-
contadores está preparada no to- concorrência desleal, assim como, tudo inicialmente utilizaria questio-
cante às novas tecnologias, porém, em relação à abertura de empre- nário presencial para a coleta dos
pouco menos da metade preten- sa de modo gratuito, sugere-se dados, entretanto, fez-se necessá-
de aderir à plataforma virtual. Na que seja cobrado o valor justo vis- rio adaptar o questionário na pla-
percepção dos contadores, foi ve- to que mais da metade dos conta- taforma Google Forms para cole-
rificado que existe concorrência en- dores discordaram do modo como tá-los de forma on-line. Com isto,
tre escritórios físicos e virtuais, de esse serviço é ofertado. Em relação houve uma certa dificuldade de co-
modo que a contabilidade virtual à concorrência entre escritórios fí- municação e retorno por parte dos
pode provocar a redução da procu- sicos e virtuais, conforme foi ob- respondentes, entretanto a amos-
ra por escritórios físicos, entretanto, servado, a maioria dos contadores tra da pesquisa alcançou 52,6% da
a contabilidade virtual não substi- concordam que existe essa concor- população.
tuirá os escritórios tradicionais. rência; também concordam que o Espera-se que este estudo pos-
A qualidade da prestação dos ser- virtual poderá provocar a redução sa contribuir para melhor com-
viços contábeis pelas plataformas vir- da procura por escritórios físicos, preensão da contabilidade virtual,
tuais foi detectada na percepção dos mas discordam quanto à possibili- despertando interesse em profis-
contadores, de modo que os dados dade de substituição. Contudo, a sionais da contabilidade, acadê-
revelam um perfil de profissionais modalidade virtual para prestação micos e pesquisadores, de modo
que possuem entendimento sobre as dos serviços contábeis é decorren- que o assunto possa ser explora-
novas tecnologias, estão preparados te da evolução das práticas contá- do no âmbito da ciência. Sugere-
para aderir à plataforma virtual e ava- beis e é fundamental a atuação do -se que pesquisas sejam realizadas
liam a utilização da plataforma como Conselho Federal de Contabilidade com foco em investigar como a ro-
um serviço de qualidade. para regulamentar o serviço contá- tina contábil tem sido realizada pe-
No contexto da classe contábil, bil on-line. los escritórios virtuais de modo a
esta pesquisa traz benefícios signi- Observou-se que os contado- verificar a percepção dos usuários
ficativos, pois apresenta a opinião res de escritórios contábeis físi- da informação contábil em relação
dos contadores de escritórios físicos cos de Cruz das Almas/BA avaliam à prestação dos serviços contábeis
sobre a prestação de serviços contá- a qualidade da prestação dos ser- em plataformas virtuais.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 59

Referências
ANDRADE, Charliene Bruna Holanda; MEHLECKE, Querte Teresinha Conzi. As Inovações Tecnológicas e a Contabilidade Digital:
um estudo de caso sobre a aceitação da contabilidade digital no processo de geração de informação contábil em um escritório
contábil do Vale do Paranhana/RS. Revista Eletrônica do Curso de Ciências Contábeis, v. 9, n. 1, p. 93-122, 2020.

BARBOSA, Laíse Maria Rodrigues. A contabilidade e as novas tecnologias: um levantamento do perfil de escritórios virtuais de
contabilidade no Brasil. 2018. 47 f. Monografia (Graduação em Ciências Contábeis). Universidade Federal do Rio Grande do
Norte – UFRN. Natal. RN. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução CFC nº 560/83. Dispõe sobre as prerrogativas profissionais de que trata
o artigo 25 do Decreto-lei nº 9.295, de 27 de maio de 1946. Disponível em: <www.cfc.org.br/sisweb/sre/docs/RES_560.doc>.
Acesso em: 10 fev. 2020.

CARVALHO, Adson Ferreira de. GOMES, Valcimeiri de Souza. A era digital e suas contribuições para a contabilidade: evolução
histórica dos processos contábeis. Repositório Institucional UEA. 2018. Disponível em:<http://repositorioinstitucional.uea.edu.
br//handle/riuea/1063>. Acesso em 15 set. 2019.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Disponível em:<https://cfc.org.br/oconselho/>. Acesso em: 09 fev. 2020

Cruz das Almas (BA). Prefeitura. 2019. Disponível em:<http://www.cruzdasalmas.ba.gov.br/cidade>. Acesso em: 12 out. 2019.

DUARTE, Roberto Dias. A verdadeira inovação disruptiva nos escritórios contábeis. 2016. Disponível em: <https://www.
robertodiasduarte.com.br/a-verdade-sobreinovacaodisruptiva-nos-escritorios-contabeis/#.XMXBG-hKhPY>. Acesso em: 12
mai. 2020.

FRANÇA, Brenda Frota. Os impactos da tecnologia da informação no exercício da profissão contábil: um levantamento do perfil
de escritórios virtuais de contabilidade no Distrito Federal. 2018.

MACIEL, Aline Ribas; MARTINS, Vinícius Abilio. Percepção da qualidade em serviços contábeis: estudo de caso em um escritório
contábil em Foz do Iguaçu/PR. Revista Evidenciação Contábil e Finanças. João Pessoa, v.6, n.2, p.95-113, mai./ago. 2018.
Disponível em:<http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/recfin>. Acesso em: 21 set. 2019.

MELLO, Roberta. Jornal do comércio. 2017. Disponível em:<https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2018/05/cadernos/


jc_contabilidade/626611-contabilidade-on-line-abre-novas-possibilidades-de-negocios.html>. Acesso em: 03 jul. 2019.

NESPOLI, Alice Tavares; SILVA, Renan Ferreira da. O perfil do profissional da contabilidade e a demanda das empresas de
mármore e granito do município de Vargem Alta - ES. Revista Científica da Faculdade de Ciências Contábeis e Administrativas
de Cachoeiro de Itapemirim, v. 2, n. 1, p. 54-77, 2017.

PIGATTI, Fernando. Contabilidade On-line e Contabilidade Tradicional. Rede Jornal Contábil. [S.L], 31 mai. 2018. Disponível em:
<https://www.jornalcontabil.com.br/contabilidade-on-line-e-contabilidade-tradicional/>. Acesso em: 04 abr. 2019.

SANTOS, Emilaine Kullmann; KONZEN, Juliano. A percepção dos escritórios de contabilidade do Vale do Paranhana/RS e de
São Francisco de Paula/RS sobre a contabilidade digital. Revista Eletrônica do Curso de Ciências Contábeis, v. 9, n. 2, p. 101-
130, 2020.

SCHIAVI, G. Sordi. Potenciais modelos de negócios disruptivos para a área contábil. Rio Grande do Sul: UFRGS, 2018.

TOMAZI, Jane; SCHNEIDER, Milton. Desafios e perspectivas da profissão contábil na percepção dos profissionais da contabilidade
da região do Vale do Rio Pardo. REVISTA DE ANAIS DE EVENTOS DOM ALBERTO, v. 1, n. 2, p. 31-36, 2019.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 61

Análise do impacto da pandemia


da Covid-19 na estrutura de capital
de bancos múltiplos listados na B3
e instituições de pagamento
reguladas pelo Bacen

A
Ícaro Luiz de Sousa Silva
presente pesquisa investiga os determinantes da Mestrando pelo Programa de Mestrado em
Controladoria, Finanças e Contabilidade da
estrutura de capital de bancos múltiplos brasileiros Pontifícia Universidade Católica de São Pau-
listados na B3 e de instituições de pagamento lo (PUC-SP) e graduado em Ciências Contá-
beis pela Universidade de São Paulo (USP-SP).
reguladas pelo Banco Central do Brasil. Tal investigação se dá E-mail: socialicaro@gmail.com
entre 2019 e 2020, a partir da análise entre um ano perene e
André Magalhães Bravo
outro de alto stress econômico devido à pandemia Covid-19, Mestrando pelo Programa de Mestrado em
para buscar entender como estas entidades relevantes para o Controladoria, Finanças e Contabilidade da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
desenvolvimento de um país se comportaram em um período (PUC-SP) e graduado em Administração pela
de grande stress econômico por meio de testes não paramétricos. Universidade de São Paulo (USP-SP).
E-mail: andre.mbravo@hotmail.com
Os resultados indicaram poder explicativo da teoria dos custos
de falência para a estrutura de capital para os bancos múltiplos Elizabeth Borelli
Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia
e da teoria pecking order para instituições de pagamento, bem Universidade Católica de São Paulo, com Pós-
como a não observância da ToT no que se refere à tributação -Doutorado em Ciências Sociais pelo Consejo
Latinoamericano de Ciencias Sociales – CLAC-
destas instituições, considerando também os impactos da SO. É Mestre em Economia Política pela PUCSP
pandemia no endividamento destes setores assíncronos. As e Graduada em Administração Pública pela
Fundação Getúlio Vargas – SP. Possui Bacha-
conclusões a partir das análises podem se mostrar úteis para o relado e Licenciatura em Matemática e Bacha-
mercado financeiro e para seus reguladores, visto que mostram relado e Licenciatura em Física pela Universi-
dade Mackenzie, com Especialização em Física
a rigidez do sistema e a evolução da alavancagem em cenários de Nuclear pela Universidade de São Paulo e pela
perturbação econômica. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
E-mail: eborelli@pucsp.br

José Odálio Santos


Livre docente em Administração/Finanças pela
FEA-USP (2012), pós-doutor em Administra-
ção/Finanças pela FEA-USP (2007), doutor em
Administração/Finanças pela FGV-SP (2000),
mestre em Administração/Finanças pela PUC-
-SP (1993), pós-graduado (Lato Sensu) em Ad-
ministração Industrial pela USP (1990), gradu-
ado em Ciências Contábeis pela PUC-SP (1988)
e graduado em Administração de Empresas
pela PUC-SP (1986).
E-mail: j.odalio@pucsp.br

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Análise do impacto da pandemia da Covid-19 na estrutura de capital
62 de bancos múltiplos listados na B3 e instituições de pagamento reguladas pelo Bacen

1. Introdução menor do que o de outras fontes capital das empresas componentes


de financiamento (AHMADIMOU- desses ramos de atividade econô-
A discussão sobre estrutura SAABAD et al., 2013). mica. Dessa forma, o artigo contri-
de capital na academia concen- Em linha com o que Bernardo bui para as caracterizações de in-
tra grande atenção da comunida- (2016) escreve, os estudos-base so- dústrias que são responsáveis tanto
de desde o fim da década de 1950, bre o tema usualmente abordam pelo fornecimento de capital às em-
com as publicações dos artigos de fatores em ambientes que desconsi- presas e pessoas físicas e pela dis-
Modigliani e Miller (1958) e Durand deram diversos elementos que tam- tribuição de investimento (bancos
(1952), que abordavam o impacto bém podem influenciar as tomadas múltiplos), quanto pelo processa-
da estrutura de capital no valor de de decisão no sentido da escolha de mento de transações eletrônicas de
mercado das empresas. quais serão as fontes usadas para pagamento no Brasil, que se popu-
De forma mais específica, o tra- financiamento de atividades de lariza perante o uso de papel moe-
balho de Modigliani e Miller (1958) uma empresa. Há de se considerar da e outros meios de pagamento
tratou, a partir de determinadas todo o ambiente institucional, re- (SILVEIRA, 2017).
premissas, da não afetação do va- gulatório e macroeconômico. A contribuição da pesquisa se
lor da empresa em razão de sua es- Diante do exposto até aqui, e dá diretamente por meio do diag-
trutura de capital. Tal teoria contra- considerando o ambiente de cri- nóstico da estrutura de capital e
põe o que estava sendo estudado se econômica mundial iniciado em da alavancagem de dois setores
anteriormente por Durand (1952), 2020, a partir do alastramento do essenciais para a economia brasi-
que discorre sobre a chamada teo- vírus Sars-Cov-2 (Covid-19), confi- leira em cenário de stress econômi-
ria tradicional, na qual se afirmava gurando-se uma pandemia, com co, em que costumeiramente em-
existir uma estrutura ótima entre os reflexos nos mercados globais, o presas buscam apoio em capital
capitais de terceiros e próprio, con- presente artigo objetivou analisar de terceiros e precisam se banca-
siderando a minimização do custo os determinantes da estrutura de rizar e digitalizar de maneira rápi-
médio ponderado de capital. capital de dois setores importantes da e assertiva. Além disso, também
Ao longo do tempo, surgiram para o funcionamento do sistema pode indicar para os reguladores
outras teorias, pesquisas e traba- financeiro brasileiro – os bancos como as regras prudenciais estão
lhos acadêmicos para complemen- múltiplos privados e as instituições fazendo a manutenção de bancos
tar o que se sabia até então so- de pagamentos. Nessa conjuntu- e instituição de pagamento.
bre estrutura de capital. Dentre ra, caracteriza-se o setor bancário
estas, destacam-se a teoria Trade- como mais tradicional, consolidado
-Off, de Myers (1984), que indica e regulado pelo Estado, em contra-
um nível ideal de endividamento; ponto com o setor de instituições
a Pecking Order Theory, de Myers de pagamentos que atua predo-
(1984) e Myers e Majluf (1984), a minantemente na prestação de
qual denota que, a partir da assi- serviços focados em tecnolo-
metria entre stakeholders de uma gia da informação, e que des-
empresa, existe uma ordem ou de 2010 passa por uma trans-
hierarquia de fontes de financia- formação considerável, a partir
mento, na qual primeiramente se da quebra da exclusividade en-
reinveste lucros e fluxos gerados tre bandeiras e adquirentes
em âmbito interno, depois se re- que destruiu o duopólio
corre a títulos de dívida e, por úl- que era estabelecido (PE-
timo, ocorre a emissão de ações. REZ; BRUSCHI, 2018).
Também é posta a teoria Market O tema se justifica
Timing, trazida por Baker e Wurgler principalmente pelo fato
(2002), na qual se considera que as de que os objetos de es-
empresas aproveitam oportunida- tudo são dois setores de
des de financiamento via emissão suma importância ao país e
de ações quando o gap entre seu devido ao detalhamento de
valor de mercado e valor patrimo- um cenário de stress e seus
nial é relevante, tendo em vista o possíveis desdobramentos,
custo da emissão de ações como considerando a estrutura de

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 63

“As decisões de como financiar as atividades de


uma empresa, com base nas teorias de estrutura de
capital, ao lado de áreas de decisões de investimento
e políticas de distribuição de lucros, formam um dos
temas mais debatidos no mundo das finanças.

2. Revisão de Literatura Outra teoria importante dentro pode inibir investimentos ren-
do escopo de estrutura de capital táveis. Ainda, Baker e Wurgler
2.1 Teorias de Base sobre é a Pecking Order Theory, propos- (2002) argumentam sobre o me-
Estrutura de Capital ta por Myers e Majluf (1984), por lhor momento para a escolha da
As decisões de como financiar meio da qual se estabelece uma fonte de financiamento a partir de
as atividades de uma empresa, com hierarquia na decisão de funding outras variáveis que podem dimi-
base nas teorias de estrutura de ca- das empresas. Esse conceito con- nuir seus respectivos custos.
pital, ao lado de áreas de decisões sidera que a fonte de recurso mais Ainda, outras teorias fornecem
de investimento e políticas de dis- barata são os lucros gerados in- mais elementos para avaliação da
tribuição de lucros, formam um ternamente, passando pelo finan- estrutura de capital de empresas
dos temas mais debatidos no mun- ciamento com terceiros que geram e seus determinantes, tais como
do das finanças. Quando se trata de custos fixos ao longo da duração a Teoria da Agência, proposta por
estrutura de capital em si, a maior dessas dívidas e, por último, a Jensen e Meckling (1976), que dis-
questão é se existe uma estrutura emissão de novas ações. põe sobre os relacionamentos en-
ótima (KAYO, 2002). Nesse sentido, Stewart III (1999) tre os agentes e o principal dentro
Modigliani e Miller (1958) afir- dispõe cinco formas em que um ní- de um cenário de execuções de di-
maram que não existe uma estru- vel ótimo de endividamento pode retrizes, tarefas e administração. O
tura de capital ótima e que a de- gerar valor para uma empresa: be- custo de agência pressuposto pe-
terminação do valor das empresas nefícios fiscais, obrigação de pagar los autores relaciona-se com o fato
depende da qualidade das decisões o serviço e amortização da dívida, de que cada um dos indivíduos
de investimento. Contra esta posi- concentração de propriedade da possui preferências distintas, e
ção, Durand (1952 e 1959) acredita empresa na mão de gestores e em- por isso nem sempre as ações dos
que é possível definir uma estrutu- pregados, organização e estímulo à agentes irão ao encontro dos inte-
ra em que haja a maximização da venda de negócios pouco rentáveis, resses do principal. Tal fe-
riqueza dos acionistas. além de uma forma, ainda que psi- nômeno pode interferir
Myers (1984) propõe um mode- cológica, que traz a necessidade de na estrutura de capi-
lo de estrutura baseado no custo de antecipação de mudanças pela ne- tal considerando,
oportunidade entre ônus e bônus cessidade de honrar a dívida. por exemplo, as
do endividamento – este é conheci- Autores como Jensen (1986) escolhas de ma-
do como teoria Trade-Off. De acor- e Stulz (1990), entre outros, tam- ximização de lu-
do com o autor, mantendo-se cons- bém defendem o uso de endivi- cro (interesse
tantes os investimentos e ativos da damento para influenciar o fluxo dos acionistas)
empresa, o limite para usufruto do de caixa livre, controlando inves- ante benefícios
capital de terceiros acontece quan- timentos pouco rentáveis, apesar remuneratórios
do os custos da dívida são inferio- da existência de um outro lado fixos aos diretores
res aos benefícios gerados por esta. da moeda, na medida em que se da companhia.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Análise do impacto da pandemia da Covid-19 na estrutura de capital
64 de bancos múltiplos listados na B3 e instituições de pagamento reguladas pelo Bacen

2.2 Variáveis Determinantes da Correa, Basso e Nakamura um maior nível de endividamento,


Estrutura de Capital (2013), olhando para a mesma teo- dado o nível de assimetria informa-
A teoria Pecking Order – como ria, encontraram alguns indícios cional que existe. Procianoy e Krae-
Nakamura et al. (2007) e Bastos et contrários no tocante à relação de mer (2001) verificaram que não há
al. (2009) ressaltam, em linha com pagamento de impostos, sendo que diferença significativa do ponto de
o texto original de Myers e Majluf esta pressupõe uma relação positiva vista estatístico entre controle acioná-
(1984) – propõe a existência de uma entre pagamento de impostos e o rio pulverizado e não pulverizado na
hierarquia de recursos para aplica- nível de endividamento, uma vez as composição da estrutura de capital.
ção em uma empresa, na qual a pri- ponderações sobre bônus e ônus do Por fim, outro tema que é recor-
meira fonte são os lucros gerados custo da dívida e o benefício fiscal rentemente tratado nos estudos de
internamente. Partindo deste pon- gerado pela possibilidade de dedu- determinantes de estrutura de capi-
to, a primeira relação lógica que se ção na base fiscal dos tributos sobre tal é o crescimento da receita. Essas
estabelece é a de que empresas que a renda. Anteriormente, Pohlmann pesquisas anteriores trazem visões
geram mais lucros tendem a ser me- e Iudícibus (2010) também trouxe- em linha da perspectiva de trade-off,
nos endividadas. Estudos como o de ram um resultado positivo com re- que aborda a relação negativa entre
Silva et al. (2019), Bernardo et al. lação ao pagamento de impostos e o aumento de receita e o endivida-
(2018) e Correa et al. (2013) tam- endividamento. mento. Textos como de Bastos et al.
bém encontraram como resultados Segundo Rajan e Zingales (2009) e Silva et al. (2019) também
a relação de lucro e endividamento (1995), o tamanho de uma empre- se desenvolvem sob a mesma ótica e
que a teoria sustenta. sa pode expressar um baixo risco de chegam aos resultados em questão,
Para Trade-Off Theory, introdu- falência – expondo a teoria dos cus- propondo, então, que empresas com
zida por Myers (1984), estabelece- tos de falência – que pressupõe que maiores oportunidades de crescimen-
-se que a volatilidade nos resulta- empresas grandes têm mais fontes to buscam evitar um nível de endivi-
dos de determinada empresa traz de receitas e diversificação do que damento elevado que pode ocasio-
uma probabilidade de insolvên- empresas pequenas, e são menos nar tensões financeiras futuras.
cia; dessa forma, são inversamente suscetíveis a problemas financeiros.
proporcionais o risco e o endivida- Outros autores, como Albanez, Val-
mento, dado que este seria incapaz le e Corrar (2013) e Cordeiro Filho et 2.3 Instituições de Pagamento
de cumprir com os compromissos al. (2018), também utilizaram essa no Brasil
assumidos em razão das dívidas. proposição em suas pesquisas. Desde o lançamento do Diners
Além disso, os credores imporiam Estudos também relacionam a Club, em 1950, considerado o pri-
cada vez mais custos para a toma- estrutura de controle nas decisões meiro instrumento de pagamento
da de financiamentos, fazendo com de estrutura de capital. Stulz (1988) moderno, o mundo observou a po-
que uma empresa com maior ris- expõe que empresas que possuem pularização das transações eletrônicas
co estivesse menos exposta a maior probabilidade de takeover para pagamento, frente ao uso do di-
endividamento. provavelmente apresentam nheiro ou cheque nas principais eco-
nomias do mundo (SILVEIRA, 2017).
Considerando uma transação
para aquisição de um bem ou servi-
ço, a ser paga com cartão, seja este
de débito ou crédito, existem empre-
sas que habilitam estabelecimentos
comerciais e de serviços ao recebi-
mento destes pagamentos, ou seja,
atuam na captura, no processamen-
to e na liquidação de operações, sen-
do estas as que compõem a indústria
de meios de pagamento e são co-
nhecidas como credenciadoras, au-
torizadas pelo Banco Central do Bra-
sil a exercerem as atividades citadas,
nos termos da Lei n.º 12.865, de 9
de outubro de 2013 (BRASIL, 2013).

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 65

“ As informações secundárias foram obtidas nas


Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP)
apresentadas pelas companhias à Comissão de
Valores Mobiliários (CVM), bem como, na sua
ausência, em demonstrações financeiras e notas
explicativas divulgadas pelas empresas.

No Brasil, o segmento de insti- tão atualmente em uma fase pos- pela aplicação desses recursos em
tuições de pagamento é “conhe- terior à chamada “internet das empréstimos ou financiamentos
cidamente concentrado e tem re- coisas”, caracterizada pelas tec- concedidos aos seus tomadores,
lações verticais intrincadas” e, nologias de dados (data techno- com a assunção do risco de ina-
nesse sentido, uma série de inter- logies), de modo que o crescimen- dimplência vinculada a esses últi-
venções vêm sendo tomadas para to do setor no mundo está, nos mos (OLIVEIRA; PACHECO, 2017).
tornar esse setor mais competitivo dias atuais, intrinsecamente rela- Nos bancos de investimento,
e justo (PEREZ & BRUSCHI, 2018). cionado com o desenvolvimento a atuação na atividade de inter-
Dentre essas iniciativas, destaca- de tecnologias facilitadoras. mediação financeira é concentra-
-se a quebra da exclusividade en- da em operações de maior prazo,
tre bandeiras e adquirentes feita como o financiamento de capital
em 2010, que concentrava todo 2.4 Bancos Múltiplos no Brasil fixo e de giro, repasses de linhas de
mercado de aceitação de instru- De acordo com a Resolução crédito fornecidas ou subsidiadas
mentos de pagamento em duas Bacen n.º 2.099, de 17 de agosto pelo Estado e outros. A diferença
empresas: Redecard (atualmente de 1994 (BACEN, 1994), os ban- em relação aos bancos comerciais
Rede) e VisaNet Brasil (hoje, Cielo). cos múltiplos são instituições fi- diz respeito às operações especiais,
A evolução das normas e regu- nanceiras que realizam atividades remuneradas mediante comissões
lações do segmento, muito bem em mais de um tipo de carteira – pagas por determinados serviços
pontuada pelo estudo de Perez e no mínimo, a carteira comercial prestados, como a administração
Bruschi (2018), permitiu que ou- ou a de investimento (ou a de de- de fundos de investimento ou a
tras empresas adentrassem ao se- senvolvimento no caso de ban- distribuição, intermediação e colo-
tor de meios de pagamento, inclu- cos públicos). Também há a pos- cação de títulos e valores mobiliá-
sive as fintechs, o que possibilitou sibilidade de que a empresa atue rios (NIYAMA; GOMES, 2012).
a oferta de soluções eficientes de adicionalmente em crédito imo- Os Acordos de Basileia I, II e III
serviços a públicos anteriormen- biliário, crédito, financiamento estabeleceram, em nível interna-
te não atendidos neste sentido e investimento, bem como em cional, instrumentos de regulação
(SOUZA, 2018). arrendamento mercantil. de natureza prudencial, materia-
Leong e Sung (2018) concei- A atuação tradicional dos ban- lizados em determinadas exigên-
tuam fintechs (contração de fi- cos comerciais diz respeito à ati- cias de adequações patrimoniais,
nance + technology) como em- vidade de intermediação financei- estabelecidas com a finalidade de
presas focadas em serviços de ra realizada diretamente com os conferir ao sistema bancário a ca-
tecnologia financeira, que combi- agentes superavitários e deficitá- pacidade de absorver choques de-
nam de maneira multidisciplinar rios da economia, que se dá, de correntes de stress financeiro e/
as finanças, a gestão tecnológica um lado, pela captação de recur- ou econômico (BASEL COMMIT-
e a gestão da inovação. Os auto- sos à vista e a prazo dos deposi- TEE ON BANKING SUPERVISION,
res asseveram que as fintechs es- tantes ou poupadores, e de outro, 2011; PINTO, 2015).

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Análise do impacto da pandemia da Covid-19 na estrutura de capital
66 de bancos múltiplos listados na B3 e instituições de pagamento reguladas pelo Bacen

Dentre as adequações patrimo- 3. Metodologia presas registradas no Banco Cen-


niais exigidas pelas regras interna- tral do Brasil (Bacen), constantes
cionais, o requerimento de capital Quanto ao objetivo, a investi- no cadastro daquela autarquia em
conhecido como capital principal gação é descritiva, fundamentada dezembro de 2020 (BACEN, 2021),
do índice de Basileia, ou simples- na técnica documental de levan- que tenham apresentado DFP à
mente índice de Basileia, tornou- tamento de dados, que, por inter- CVM ou divulgado demonstrações
-se a mais importante referência re- médio da aplicação de método de financeiras desde o ano de 2017.
gulatória internacional, calculada natureza quantitativa, analisou as A justificativa para a escolha
pela divisão entre o capital mínimo alterações ocorridas no endivida- dos dois setores para fins da análise
requerido e os ativos ponderados mento dos bancos múltiplos pri- dos possíveis impactos da pande-
pelo risco (PINTO, 2015 e GARCIA, vados listados na B3 e das institui- mia da Covid-19 se relaciona com o
2018). Quanto maior o índice de ções de pagamento, em função dos contraponto entre as maiores insti-
Basileia, maior é a possibilidade de possíveis impactos da pandemia da tuições privadas autorizadas a rea-
alavancagem marginal do banco; Covid-19 no ano de 2020. As infor- lizar todas as operações financei-
dessa forma, é esperada uma rela- mações secundárias foram obtidas ras fiscalizadas pelo Bacen, sendo
ção negativa entre esse índice e o nas Demonstrações Financeiras Pa- um setor tradicional da economia e
endividamento. dronizadas (DFP) apresentadas pe- com elevada concentração de mer-
Em bancos de grande porte, o las companhias à Comissão de Va- cado, dedicado à atividade de in-
risco sistêmico tende a ser tão ele- lores Mobiliários (CVM), bem como, termediação financeira, caracteriza-
vado que esses são considerados na sua ausência, em demonstrações da pela alta alavancagem (NIYAMA;
“muito grandes para quebrar” (too financeiras e notas explicativas di- GOMES, 2021; OLIVEIRA; PACHECO,
big to fail). Tal premissa gera a per- vulgadas pelas empresas. Foi utiliza- 2017) e um setor inovador, com-
cepção de que, se houver uma que- da estatística descritiva e inferencial posto basicamente por empresas
bra de um banco de grande porte, é não paramétrica. A pesquisa quan- focadas em tecnologia na presta-
certo que o governo irá socorrer no titativa é um meio utilizado para ção de serviços financeiros – inclusi-
sentido de restabelecer a liquidez, testar teorias objetivas, mediante ve fintechs – que têm experimenta-
o que pode gerar risco moral que o exame da relação existente entre do altos índices de crescimento nos
deve ser controlado pela autorida- variáveis (CRESWELL, 2014). últimos anos (LEONG; SUNG, 2018).
de reguladora do sistema financeiro Foram incluídas na população Para Pinto (2015), a crescente
(PINTO, 2015; GODOI, 2018). de pesquisa companhias de dois se- conglomeração das atividades de
Em 23 de março de 2020, em tores econômicos: o setor bancário bancos comerciais, bancos de in-
razão do avanço da pandemia da e as instituições de pagamento. No vestimento, corretoras de valores
Covid-19, o Banco Central do Brasil setor bancário, foram selecionados mobiliários e companhias de segu-
(Bacen) reduziu a alíquota do em- todos os bancos múltiplos, de capi- ros, entre outras de natureza seme-
préstimo compulsório de 25% para tal ou controle privado, listados no lhante, que pode ser observada nos
17%, bem como incrementou os pregão da Bolsa, Brasil, Balcão (B3) bancos múltiplos privados atuantes
empréstimos de liquidez lastreados até dezembro de 2020 (B3, 2021). no País, sobretudo no caso dos de
em debêntures e autorizou as cap- Quanto às instituições de pagamen- maior porte, potencializa a propa-
tações garantidas pelo fundo ga- to, foram analisadas todas as em- gação do risco sistêmico para ou-
rantidor de créditos (FGC) previs- tras atividades não relacionadas à
tas da Resolução Bacen n.º 4.785 intermediação financeira.
de 2020 (BACEN, 2020). É espera- Seguindo os critérios de seleção
do que tais medidas possam ter in- acima indicados, foram seleciona-
fluenciado o valor dos ativos in- dos 11 (onze) bancos múltiplos, de
vestidos pelos bancos múltiplos. capital ou controle privado, lista-
Outro efeito esperado relaciona- dos na B3 e 12 (doze) institui-
do à pandemia da Covid-19 é o ções de pagamento cadastradas
aumento dos saldos de perdas no Bacen. Devido ao fato de que
prováveis (impairment) deduzi- a quantidade de empresas anali-
dos dos ativos financeiros em sadas por setor é inferior a 30 uni-
2020, chamados na regulação do dades, não foi possível pressupor
Bacen de provisão para débitos de a distribuição normal das variáveis
liquidação duvidosa (PDLD). dependentes e/ou independentes.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 67


O teste de Wilcoxon é utilizado para dados
emparelhados de um mesmo indivíduo e, portanto,
originados de amostras relacionadas, em que se
realiza a análise de duas medidas: antes e depois. É
mais interessante que o teste dos Sinais.

Destarte, foram utilizados testes não
paramétricos para as análises esta-
Quadro 1 – Variáveis Dependentes e Fórmulas
Variável Dependente Fórmula
tísticas inferenciais (MARTINS; DO-
ECP = saldo do passivo circulante no encerramento do ano
MINGUES, 2017; FÁVERO; BELFIORE, Endividamento de Curto Prazo (ECP)
saldo do patrimônio líquido no encerramento do ano
2017). Foram utilizados os testes não E G = s a l d o d o p a s s ivo n o e n c e r r am e nt o d o an o
Endividamento Geral (EG)
paramétricos de Wilcoxon, de Spear- saldo do patrimônio líquido no encerramento do ano
man e da Mediana. ELP = saldo do passivo não circulante no encerramento do ano
Endividamento de Longo Prazo (ELP)
saldo do patrimônio líquido no encerramento do ano
O teste de Wilcoxon é utiliza- Fonte: elaborado pelos autores, 2021
do para dados emparelhados de
um mesmo indivíduo e, portanto,
originados de amostras relaciona- iguais ou não, provenham de po-
das, em que se realiza a análise de pulações com a mesma mediana
duas medidas: antes e depois. É (MARTINS; DOMINGUES, 2017).
mais interessante que o teste dos Este último teste foi utilizado
Sinais, posto que leva em consi- para as variáveis categóricas do
deração a magnitude da diferença tipo dummy.
verificada em cada par (MARTINS; A seguir, o Quadro 1 mostra as
DOMINGUES, 2017). É uma alter- variáveis dependentes, e suas res-
nativa ao teste t quando a amos- pectivas formas, consideradas no
tra não for aderente à distribuição presente estudo: “Endividamento
normal (FÁVERO; BELFIORE, 2017). de Curto Prazo”, “Endividamen-
O teste de Spearman dimen- to Geral” e “Endividamento de
siona a significância estatística da Longo Prazo”.
correlação entre duas variáveis or- As variáveis independentes
dinais quando o número de obser- consideradas nos testes não pa-
vações é maior que 10 elementos, ramétricos foram, a saber: “Índi-
mensurada pelo coeficiente por ce de Basileia” (bancos múltiplos);
postos de Spearman (MARTINS; “Tamanho – Ativo Total Consoli-
DOMINGUES, 2017). O coeficien- dado (Logaritmo Natural)”; ETR
te por postos de Spearman é uma (Effective Tax Rate); ROE (Return
medida da associação entre duas on Equity); “Crescimento do Re-
variáveis qualitativas ordinais (FÁ- sultado de Intermediação” (ban-
VERO; BELFIORE, 2017). cos múltiplos); “Risco (Desvio
Já o teste da Mediana mensura Padrão do ROE)”; “Receita de In-
a probabilidade de que dois gru- termediação / Receita Operacio-
pos independentes, de tamanhos nal” (instituições de pagamento);

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Análise do impacto da pandemia da Covid-19 na estrutura de capital
68 de bancos múltiplos listados na B3 e instituições de pagamento reguladas pelo Bacen

“Crescimento da Receita Opera-


cional” (instituições de pagamen-
Quadro 2 – Variáveis Independentes,
to); “Capital Aberto ou Fechado Métodos de Obtenção / Fórmulas e Sinal Esperado
Variável Sinal
– Dummy” (instituições de paga- Método de Obtenção / Fórmula Referencial
Independente Esperado
mento); “Emissor de Instrumentos Percentual do índice de basileia – capital
Pós-Pagos – Dummy” (instituições Mendes e Oliveira
principal – divulgado pelos bancos múltiplos nas
Índice de Basileia - (2016) e Silva et.
de pagamento) e “Credenciador notas explicativas das demonstrações financeiras
al (2019)
dos anos de 2019 e 2020
– Dummy” (instituições de paga-
Rajan e Zingales
mento). O Quadro 2 descreve as Tamanho – Ativo Logaritmo natural ou neperiano do ativo total (1995), Albanez,
variáveis independentes, seus mé- Total Consolidado consolidado divulgado nas demonstrações + Valle e Corrar
todos de obtenção ou fórmulas, (Logaritmo Natural) financeiras de 2019 e 2020 (2013) e Cordeiro
Filho et al. (2018)
bem como o sinal esperado na
ETR = Provisões Corrente e Diferida para os Tributos
correlação com as variáveis depen- * (-1) Pohlmann e
dentes, de acordo com o explicita- ETR Lucro Antes dos Tributos (IRPJ e CSLL)
+
Iudícibus (2010)
(Effective Tax Rate) e Correa, Basso e
do no referencial teórico:
Obs: caso o ETR tenha resultado negativo, o valor Nakamura (2013)
considerado é igual a zero.
Silva et al. (2019),
4. Resultados ROE ROE = Lucro Antes dos Tributos (IRPJ e CSLL)
-
Bernardo et al.
(Return on Equity) Saldo final do Patrimônio Líquido (2018) e Correa et
al. (2013)
Com relação às variáveis depen- Crescimento do
dentes e independentes examinadas Resultado de CRI = Resultado Bruto na Intermediação no ano X – 1
-
Bastos et al (2009)
Intermediação (CRI) Resultado Bruto na Intermediação no ano X – 1 e Silva et al (2019)
nos 11 bancos múltiplos privados
(Bancos Múltiplos)
analisados, as medianas verificadas Risco (Desvio Desvio padrão do ROE apurado nos três últimos Myers (1984) e
+
em 2019 e 2020, bem como a signi- Padrão do ROE) exercícios, incluído o exercício corrente Bastos et al (2009)
ficância estatística (p-value) obtida Receitas de RI / RO = Resultado Bruto na Intermediação Financeira
no teste de Wilcoxon, estão apre- Intermediação / Receitas Operacionais A ser explorado
Receitas Operacionais + na presente
sentadas na Tabela 1. (RI / RO) (Instituições Obs: nas receitas operacionais está incluído o pesquisa
Nos 11 bancos múltiplos priva- de pagamento) resultado bruto na intermediação financeira
dos analisados, observou-se que Capital Aberto ou
Stulz (1988)
Fechado – Dummy 0 – Capital Aberto
apenas duas variáveis apresen- (Instituições de 1 – Capital Fechado
- e Procianoy e
taram alterações estatisticamen- Kraemer (2001)
pagamento)
te significativas entre os anos de Emissor de
2019 e 2020, ao nível de signifi- Instrumento Pós- A ser explorado
0 – Sim
Pago – Dummy ? na presente
cância de 0,05: o endividamento (Instituições de
1 – Não
pesquisa
geral (p-value 0,004) e o tamanho pagamento)
medido pelo ativo total consolida- Credenciador –
0 – Sim
A ser explorado
Dummy (Instituições ? na presente
do (p-value 0,003). 1 – Não
de pagamento) pesquisa
Quanto ao endividamento geral, Fonte: elaborado pelos autores, 2021
foi observado aumento em 10 dos
11 bancos múltiplos privados ana- Tabela 1 – Bancos Múltiplos Privados – Medianas
lisados, na comparação entre os ín-
em 2019 e 2020 e Teste de Wilcoxon (p-value)
dices de 31/12/2019 e 31/12/2020.
Medianas Teste de
Ademais, verificou-se que os 11 Variáveis Dependentes e Independentes
2019 2020 Wilcoxon p-value
bancos múltiplos privados analisa- Endividamento de Curto Prazo 55,0% 56,1% 0,286*
dos apresentaram aumento nos ati- Endividamento Geral 87,9% 89,5% 0,004*
vos totais consolidados, na compara- Endividamento de Longo Prazo 30,4% 32,1% 0,657*
ção de 31/12/2019 com 31/12/2020, Índice de Basileia 16,50% 16,60% 0,328*
passando de 4,076 trilhões em de- Tamanho – Ativo Total Consolidado (Logaritmo Natural) 17,48 17,48 0,003*
ETR (Effective Tax Rate) 0,0% 0,0% 0,310*
zembro/2019 para 4,974 trilhões em
ROE (Return on Equity) 10,8% 6,9% 0,286*
dezembro/2020, em valores totais di-
Crescimento do Resultado com Intermediação 11,9% 0,3% 0,230*
vulgados pelas companhias, o que Risco (Desvio Padrão do ROE) 5,2% 8,2% 0,772*
representou um aumento médio de *Nível de significância de 0,05.
22,04% (mediana 23,31%). Fonte: elaborado pelos autores, 2021.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 69

Uma possível explicação para


as alterações estatisticamente sig-
Tabela 2 – Instituições de Pagamento – Medianas
nificativas observadas no endivida- em 2019 e 2020 e Teste de Wilcoxon (p-value)
Medianas Teste de
mento geral e nos ativos totais con- Variáveis Dependentes e Independentes
2019 2020 Wilcoxon p-value
solidados dos 12 bancos múltiplos
Endividamento de Curto Prazo 86,5% 82,3% 0,695*
privados é a diminuição da alíquo-
Endividamento Geral 90,6% 91,1% 0,530*
ta do empréstimo compulsório, de Endividamento de Longo Prazo 2,0% 1,9% 0,722*
25% para 17%, determinada pelo Receita de Intermediação / Receita Operacional 6,2% 2,8% 0,015*
Bacen em 23 de março de 2020, Tamanho – Ativo Total Consolidado (Logaritmo Natural) 16,16 16,47 0,005*
bem como o incremento dos em- ETR (Effective Tax Rate) 14,2% 11,2% 0,674*
préstimos de liquidez lastreados em ROE (Return on Equity) 21,1% 11,6% 0,117*
debêntures e da autorização para Crescimento do Resultado Operacional 7,9% 1,4% 0,002*
Risco (Desvio Padrão do ROE) 33,2% 21,3% 0,117*
as captações garantidas pelo fundo
*Nível de significância de 0,05.
garantidor de créditos (FGC), previs- Fonte: elaborado pelos autores, 2021.
tas na Resolução Bacen n.º 4.785 de
2020 (BACEN, 2020).
Tabela 3 – Bancos Múltiplos – Teste de Spearman – Coeficientes e
No que se refere às variáveis de-
Significâncias Estatísticas
pendentes e independentes exa-
Endividamento de Curto Prazo Endividamento Geral
minadas nas 12 instituições de pa- Variáveis Independentes /
2019 2020 2019 2020
gamento analisadas, as medianas Variáveis Dependentes x Ano
Coef. Sig. Coef. Sig. Coef. Sig. Coef. Sig.
verificadas em 2019 e 2020, bem Índice de Basileia -0,127 0,709* 0,027 0,937* -0,555 0,077* -0,682 0,021*
como a significância estatística Tamanho – Ativo Total
0,645 0,032* 0,636 0,035* 0,400 0,223* 0,273 0,417*
(p-value) obtida no teste de Wilco- Consolidado (Logaritmo Natural)

xon, estão apresentadas na Tabela 2. ETR (Effective Tax Rate) 0,190 0,577* -0,317 0,342* -0,063 0,854* -0,431 0,185*
ROE (Return on Equity) 0,391 0,235* -0,127 0,709* -0,009 0,979* -0,375 0,259*
Nas 12 instituições de pagamen-
Crescimento do Resultado
to analisadas, o teste de Wilcoxon com Intermediação
– 1,000* -0,445 0,170* -0,491 0,125* 0,300 0,370*
não demonstrou a ocorrência de Risco (Desvio Padrão do ROE) -0,364 0,272* 0,127 0,709* -0,500 0,117* 0,027 0,937*
alteração estatisticamente signifi- *Nível de significância de 0,05.
cativa no “Endividamento de Cur- Fonte: elaborado pelos autores, 2021.

to Prazo”, “Endividamento Geral”


e “Endividamento de Longo Prazo” mediação financeira sofreram redu- montantes agregados, os valores
(variáveis dependentes) na compa- ção em 8 das 12 instituições de pa- passaram de R$ 266,65 bilhões em
ração entre os índices relativos a gamento, na comparação do índice 2019 para R$ 319,08 bilhões em
31/12/2019 e 31/12/2020, ao nível nos anos de 2019 e 2020. Em valo- 2020, o que representou um au-
de significância de 0,05. res agregados, houve uma redução mento de 19,66% em média (me-
Porém, o teste de Wilcoxon in- das receitas de intermediação de R$ diana 29,13%).
feriu variações estatisticamente 2,819 bilhões no ano de 2019 para No que concerne à variável in-
significativas em três variáveis in- R$ 2,614 bilhões em 2020, o que dependente “Crescimento da Re-
dependentes, na comparação en- representa -7,27% em média (me- ceita Operacional”, verificou-se um
tre as informações financeiras de diana -18,23%). No mesmo período decréscimo dos percentuais em to-
31/12/2019 e 31/12/2020, ao ní- as demais receitas operacionais au- das as 12 instituições de pagamen-
vel de significância de 0,05, a sa- feridas pelas 12 instituições de pa- to analisadas. Constatou-se, por-
ber: a “Receita de Intermediação / gamento examinadas neste estudo tanto, a mediana 7,9% no período
Receita Operacional” (p-value igual aumentaram de R$ 28,69 bilhões 2019/2018 e uma queda acentua-
a 0,015), o “Tamanho – Ativo Total para R$ 30,34 bilhões, constituin- da no período 2019/2020, em que a
Consolidado (Logaritmo Natural – do um acréscimo de 5,75% em mé- mediana decresceu para 1,4%, con-
p-value igual a 0,005)” e o “Cres- dia (mediana 5,57%). forme demonstrado na Tabela 2.
cimento do Resultado Operacional Em relação à variável indepen- A Tabela 3 apresenta os coefi-
(p-value igual a 0,002)”. dente “Tamanho – Ativo Total Con- cientes e as significâncias estatís-
Quanto à variável independen- solidado (Logaritmo Natural)”, é ticas (p-values) referentes ao tes-
te “Receita de Intermediação / Re- de se ressaltar que os ativos totais te de Spearman aplicado aos 11
ceita Operacional”, é importante consolidados cresceram em 11 das bancos múltiplos privados exami-
asseverar que as receitas de inter- 12 instituições de pagamento. Em nados nesta pesquisa.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Análise do impacto da pandemia da Covid-19 na estrutura de capital
70 de bancos múltiplos listados na B3 e instituições de pagamento reguladas pelo Bacen

Ao proceder ao teste de Spear-


Tabela 4 – Instituições de Pagamento – Teste de Spearman –
man, verificou-se que a variável
dependente “Endividamento de
Coeficientes e Significâncias Estatísticas
Endividamento Endividamento
Curto Prazo” apresentou correla- Variáveis de Curto Prazo Geral
ção positiva e estatisticamente sig- Independentes /
2019 2020 2019 2020
Dependentes x Ano
nificativa ao nível de 0,05, com o Coef. Sig. Coef. Sig. Coef. Sig. Coef. Sig.
“Tamanho – Ativo Total Consolida- Receita de
do (Logaritmo Natural)” nos anos Intermediação / 0,585 0,046* 0,204 0,524* 0,427 0,156* 0,120 0,711*
Receita Operacional
de 2019 e 2020, de modo que,
Tamanho – Ativo Total
quanto maior foi o ativo consoli- Consolidado 0,098 0,762* 0,056 0,863* -0,105 0,746* 0,070 0,829*
dado dos bancos múltiplos, maio- (Log. Natural)
res foram os seus endividamentos ETR
-0,573 0,051* -0,392 0,208* -0,666 0,018* -0,464 0,129*
(Effective Tax Rate)
de curto prazo. Observa-se que a
ROE
referida associação entre as variá- -0,147 0,649* -0,028 0,931* -0,084 0,795* 0,112 0,729*
(Return on Equity)
veis dependente e independen- Crescimento do
0,427 0,167* 0,594 0,042* 0,601 0,039* 0,524 0,080*
te praticamente não se alterou Resultado Operacional
na comparação entre os anos de Risco (Desvio Padrão
0,573 0,051* 0,713 0,009* 0,615 0,033* 0,692 0,013*
do ROE)
2019 e 2020, nem nos coeficientes
Capital Aberto ou
(0,645 em 2019 e 0,636 em 2020), 0,307 0,331* 0,461 0,132* 0,461 0,132* 0,410 0,186*
Fechado
nem nas significâncias estatísticas Emissor de
0,338 0,283* 0,241 0,450* – 1,000* 0,241 0,450*
(0,032 em 2019 e 0,035 em 2020). Instrumento Pós-Pago
Credenciador -0,048 0,882* 0,048 0,882* 0,193 0,548* 0,048 0,882*
Essa correlação entre o “Endivi-
*Nível de significância de 0,05.
damento de Curto Prazo” e o “Tama-
Fonte: preparado pelos autores, 2021.
nho – Ativo Total Consolidado (Lo-
garitmo Natural)” nos anos de 2019
e 2020 corrobora a teoria dos cus- dez do sistema financeiro, surtiram Por seu turno, a Tabela 4 traz os
tos de falência de Rajan e Zingales o efeito desejado de não aumen- coeficientes de correlação e as sig-
(1995), que está em linha com a pre- tar o risco sistêmico durante a cri- nificâncias estatísticas (p-values)
missa too big to fail associada à ativi- se da Covid-19. Conforme indicam concernentes ao teste de Spearman
dade regulatória dos sistemas finan- os resultados da Tabela 3 (media- aplicado às 12 instituições de paga-
ceiros (PINTO, 2015; GODOI, 2018). na e teste de Wilcoxon), o aumen- mento examinadas nesta pesquisa.
Quanto à variável dependen- to estatisticamente significativo do Com relação às 12 instituições
te “Endividamento Geral” dos 11 endividamento geral dos bancos de pagamento no ano de 2019,
bancos múltiplos privados analisa- múltiplos em 2020 não foi acompa- a variável dependente “Endivida-
dos, a única variável independen- nhado por uma alteração estatisti- mento de Curto Prazo” apresentou
te testada que apresentou correla- camente significativa dos índices de correlação estatisticamente sig-
ção estatisticamente significativa Basileia. Tal resultado pode ter sido nificativa com a variável “Receita
foi o “Índice de Basileia” no ano influenciado também pelo provável de Intermediação / Receita Opera-
de 2020, com coeficiente negativo aumento, ao menos proporcional, cional”, resultando no coeficiente
de -0,682 e significância estatísti- dos saldos das provisões para cré- 0,585 e p-value 0,046. É importan-
ca (p-value) 0,021. Merece atenção ditos de liquidação duvidosa (PCLD) te mencionar ainda que, no ano de
o resultado do ano de 2019 para em função de uma maior incerteza 2019, as variáveis “ETR” e “Risco”
a referida variável independente, quanto aos recebimentos dos to- apresentaram coeficientes iguais a
o qual ficou próximo ao nível de madores de recursos em 2020, que -0,573 e 0,573, respectivamente,
significância pretendido, com coe- têm o efeito de reduzir os ativos fi- ambos com p-value 0,051.
ficiente -0,555 e significância esta- nanceiros ponderados pelo risco. Já no ano de 2020, a aplicação
tística (p-value) 0,077. No caso dos 11 bancos múlti- do teste de Spearman às 12 institui-
Esse aumento na correlação ne- plos privados, nenhuma variável ções de pagamento ora analisadas
gativa entre o “Endividamento Ge- independente testada apresentou revelou que a variável dependen-
ral” e o “Índice de Basileia” sugere correlação estatisticamente signi- te “Endividamento de Curto Pra-
que as medidas do Bacen anuncia- ficativa com a variável dependente zo” apresentou correlação estatis-
das em 23 de março de 2020, to- “Endividamento de Longo Prazo” ticamente significativa em relação
madas no sentido de elevar a liqui- nos anos de 2019 e 2020. às variáveis “Risco”, com coeficien-

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 71


O resultado conjunto dos testes de Wilcoxon e de
Spearman indicou que as medidas tomadas pelo Bacen
para elevar a liquidez do sistema financeiro nacional
em março de 2020 surtiram os efeitos desejados.

te 0,713 e p-value 0,009, e “Cresci- os achados de Silva et al. (2019), o Todavia, nas instituições de
mento da Receita Operacional”, com que confirma a premissa too big to pagamento, foram constatadas
coeficiente 0,594 e p-value 0,042. fail vinculada à atividade regulató- alterações estatisticamente sig-
No que concerne à variável de- ria dos sistemas financeiros (PINTO, nificativas em duas variáveis inde-
pendente “Endividamento Geral” 2015; GODOI, 2018), sendo compatí- pendentes de 2019 para 2020, ao
no ano de 2019, as variáveis inde- vel com o grande porte das empresas nível de significância de 0,05: “Ta-
pendentes “ETR”, “Risco” e “Cres- incluídas na população de pesquisa. manho – Ativo Total Consolidado
cimento da Receita Operacional” O resultado conjunto dos testes (Logaritmo Natural)”, que apresen-
apresentaram correlação estatis- de Wilcoxon e de Spearman indicou tou aumento em 2020; e “Cresci-
ticamente significativa, com coe- que as medidas tomadas pelo Ba- mento das Receitas Operacionais”,
ficientes -0,666, 0,615 e 0,601, e cen para elevar a liquidez do siste- que registrou redução em 2020.
p-values 0,018, 0,033 e 0,039, res- ma financeiro nacional em março Isso significa que as instituições
pectivamente. No ano de 2020, de 2020 surtiram os efeitos dese- de pagamento analisadas, que vi-
apenas a variável independente jados: aumento dos saldos dos ati- nham experimentando elevadas
“Risco” manteve a correlação es- vos totais consolidados dos bancos taxas de crescimento nas receitas
tatisticamente significativa com o múltiplos sem ocasionar uma varia- operacionais em anos anteriores,
“Endividamento Geral”, com coefi- ção estatisticamente significativa com mediana 7,9% em 2019, apre-
ciente 0,692 e p-value 0,013. nos índices de Basileia, de modo a sentou mediana 1,4% em 2020.
controlar o risco sistêmico de con- Por outro lado, o aumento no ta-
tágio durante a crise da Covid-19. manho dos ativos consolidados é
5. Considerações Finais No tocante às instituições de pa- explicado pela apuração de lucro
gamento, o teste de Wilcoxon não contábil consolidado em 8 das 12
No que tange aos bancos múlti- apresentou alteração nos endivida- instituições de pagamento.
plos privados, os resultados da pes- mentos de curto prazo, geral ou de No que se refere ao teste de
quisa quantitativa sugerem que a teo- longo prazo (variáveis dependen- Spearman, a correlação negativa
ria dos custos de falência, conforme tes). Ao comparar esse resultado entre os endividamentos (de curto
descrevem Rajan e Zingales (1995), é com o dos bancos múltiplos priva- prazo e geral) relativamente à tri-
a que melhor explica a estrutura de dos, é possível vinculá-lo a uma me- butação efetiva do lucro, medida
capital de curto prazo das empresas nor regulação dessas empresas por pela Effective Tax Rate (ETR) e ob-
do setor, uma vez que o “Endivida- parte do Bacen. A redução verifica- servada nos anos de 2019 e 2020,
mento de Curto Prazo” e o “Tama- da nas receitas de intermediação fi- bem como a perda de significân-
nho – Ativo Total Consolidado (Loga- nanceira entre 2019 e 2020 denota cia estatística ao nível de 0,05 no
ritmo Natural)” nos anos de 2019 e a assunção de menores riscos por ano de 2020 indicam a não aplica-
2020 apresentaram correlação esta- parte das instituições de pagamen- ção da teoria Trade-Off, em sentido
tisticamente significativa, ao nível de to no ano em que a pandemia da contrário ao verificado por Pohl-
significância de 0,05, de acordo com Covid-19 chegou ao Brasil. mann e Iudícibus (2010).

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Análise do impacto da pandemia da Covid-19 na estrutura de capital
72 de bancos múltiplos listados na B3 e instituições de pagamento reguladas pelo Bacen

Por outro lado, o aumento da se salientar que não foi examinada a


correlação positiva verificado entre correlação entre os endividamentos
os endividamentos (de curto prazo e (de curto prazo, geral ou de longo
geral) relativamente à variável “Ris- prazo) e outras proxys já analisadas
co” entre 2019 e 2020, sem perda na literatura de estrutura de capital,
de significância estatística ao nível a exemplo das variáveis ROA (Return
de 0,05, corrobora a teoria Pecking On Assets), tangibilidade, nível de
Order por dois motivos: 1) nas em- governança corporativa, carteira
presas com maior variabilidade de re- preponderante (bancos), etc.
sultado, a diferença entre o custo do Sugerem-se futuras pes-
capital próprio e de terceiros tende a quisas que venham a abordar
ser maior; e 2) em tempos de crise, a questão das instituições de
espera-se a obtenção de capital de pagamento, na condição de
terceiros a um maior custo (maiores um setor econômico em franca
spreads), sobretudo no caso das em- evolução e crescimento, im-
presas de maior risco, medido pelo pulsionado pela constan-
Return On Equity (ROE). Tal resultado te inovação em soluções
alinha-se aos achados de Nakamu- tecnológicas aplicadas a
ra et al. (2007), Bastos et al (2009), finanças. Além disso, os
Correa et al. (2013), Bernardo et al. impactos da pandemia da
(2018) e Silva et al. (2019). Covid-19 devem ser anali-
As conclusões deste estudo se sados também com rela-
limitam às populações de pesquisa ção ao ano de 2021, em
ora examinadas, não cabendo qual- que foi iniciado o proces-
quer generalização com relação às so de retomada das econo-
demais empresas dos respectivos se- mias, sobretudo guindadas
tores econômicos. Além disso, é de pelo avanço da vacinação.

Referências
AHMADIMOUSAABAD, A., BAJURI, N., JAHANZEB, A., KARAMI, M., & REHMAN, S. (2013). Trade-Off Theory, Pecking Order
Theory and Market Timing Theory: a comprehensive review of capital structure theories. International Journal of Management
and Commerce Innovations, 1(1), 11-18. Disponível em: <http://EconPapers.repec.org/RePEc:ebl:ecbull:eb-13-00118>.
Acesso em: 29 ago. 2022.

ALBANEZ, T., VALLE, M. R.; E CORRAR, L. J. Fatores Institucionais e Assimetria Informacional: influência na estrutura de
capital de empresas brasileiras. Revista Administração Mackenzie, São Paulo, 13(2), 76-105. Disponível em: <http://doi.
org/10.1590/S1678-69712012000200004>. Acesso em: 29 ago. 2022.

B3 S.A. – Brasil, Bolsa, Balcão. Companhias listadas. São Paulo, SP: B3 S.A. – Brasil, Bolsa Balcão. (2021). Disponível em:
<http://bvmf.bmfbovespa.com.br/cias-listadas/empresas-listadas/BuscaEmpresaListada.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em:
29 ago. 2022.

BAKER, M., & WURGLER, J. (2002). Market Timing and Capital Structure. The Journal of Finance, 57(1), 1-32. Disponível
em: <http://doi.org/10.1111/1540-6261.00414>. Acesso em: 29 ago. 2022.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Circular Bacen n.º 1.273, de 29 de dezembro de 1987. Institui o Plano Contábil das Instituições
do Sistema Financeiro Nacional (Cosif). Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/circ/1987/pdf/circ_1273_
v1_O.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2022.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 73

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Resolução Bacen n.º 2.099, de 17 de agosto de 1994. Aprova regulamentos que dispõem sobre
as condições relativamente ao acesso ao Sistema Financeiro Nacional, aos valores mínimos de capital e patrimônio líquido
ajustado, à instalação de dependências e à obrigatoriedade da manutenção de patrimônio líquido ajustado em valor compatível
com o grau de risco das operações ativas das instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco
Central. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/res/1994/pdf/res_2099_v1_O.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2022.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Resolução Bacen n.º 4.785, de 23 de março de 2020. Altera a Resolução n.º 4.222, de 23
de maio de 2013, para autorizar a captação de Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE) sem cessão fiduciária em
favor do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e para ajustar a contribuição adicional das instituições associadas e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/
Normativos/Attachments/50948/Res_4785_v1_O.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2022.

BASEL COMMITTEE ON BANKING SUPERVISION (2011). Basel III: a global regulatory framework for more resilient banks and
banking systems. Basel: BCBS. Disponível em: <http://www.bis.org/publ/bcbs189.pdf

BASTOS, D. D., NAKAMURA, W. T., & BASSO, L. F. C. (2009). Determinantes da estrutura de capital das companhias abertas
na América Latina: um estudo empírico considerando fatores macroeconômicos e institucionais. Revista de Administração
Mackenzie, 10(6), 47-77. Disponível em: <http://doi.org/10.1590/S1678-69712009000600005>. Acesso em: 29 ago. 2022.

BERGER, A. N.; BOUWMAN C. H. S. (2013). How does capital affect bank during financial crisis? Journal of Financial Economics.
109. 146-176. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/j.jfineco.2013.02.008>. Acesso em: 29 ago. 2022.

BELÉM, V. C., & GARTNER, I. R. (2016). Análise Empírica dos Buffers de Capital dos

Bancos Brasileiros no Período de 2001 a 2011. Revista de Contabilidade e Finanças

USP. São Paulo, (27)70, 113-124. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1808-057x201612300>. Acesso em: 29 ago. 2022.

BRASIL. Lei n.º 12.865, de 9 de outubro de 2013. (...) dispõe sobre os arranjos de pagamento e as instituições de pagamento
integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) (..). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-
2014/2013/Lei/L12865.htm>. Acesso em: 29 ago. 2022.

CORDEIRO Filho, M. PAMPLONA, J. B., LUCAS, E. C., KAWAI, R.M. (2018). Determinantes da Estrutura de Capital no Brasil:
Evidências Empíricas a partir de Dados em Painel no período entre 2010 e 2016. Revista de Administração Sociedade e Inovação,
Volta Redonda, 4(2), 183-203. Disponível em: <http://doi.org/10.20401/rasi.4.2.211>. Acesso em: 29 ago. 2022.

CORREA, C. A.; BASSO, L. F. C.; NAKAMURA, W. T. (2013). A estrutura de capital das maiores empresas brasileiras: análise
empírica das teorias de pecking order e trade-off, usando panel data. Revista Administração Mackenzie, São Paulo, 14(4), 103-
133. Disponível em: <http://doi.org/10.1590/S1678-69712013000400005>. Acesso em: 29 ago. 2022.

CRESWELL, John W. (2010). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto (3a ed). Porto Alegre: Artmed.

DURAND, D. (1952). Costs of debt and equity funds for business: trends and problems of measurement. Paper presented at
the Conference on research in business finance. Cambridge, NBER, 215-262. 1952. Disponível em: <http://www.nber.org/
system/files/chapters/c4790/c4790.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2022.

DURAND, D. (1959). The cost of capital, corporate finance and the theory of investment: comment. American Economic Review,
49(4), 639-655. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/1812918>. Acesso em: 29 ago. 2022.

FÁVERO, L.P.; BELFIORE, P. (2017). Manual de análise de dados estatística e modelagem multivariada com excel, spss e stata
(1a ed). Rio de Janeiro: LTC.

GARCIA, P.O. Value Relevance do Índice de Basileia: o impacto da regulação bancária no mercado de capitais (Dissertação de
Mestrado). Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12136/tde-18062018-163803/en.php>. Acesso em: 29 ago. 2022.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


Análise do impacto da pandemia da Covid-19 na estrutura de capital
74 de bancos múltiplos listados na B3 e instituições de pagamento reguladas pelo Bacen

GODOI, A.F. (2018). Uma contribuição à análise da estrutura de capital para a rentabilidade dos maiores bancos brasileiros
com papéis negociados na B3 – Brasil, Bolsa, Balcão (Tese de Doutorado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo. Disponível em: <http://sapientia.pucsp.br/handle/handle/21393>. Acesso em: 29 ago. 2022.

GODOI, A.F; SANTOS, J.O.; SANTOS, F. A.; MARION, J.C. (2020). Estrutura de capital dos bancos: discussões teóricas acerca
de sua relevância na maximização do valor. Revista Administração em Diálogo, 22(3), 73-94. Disponível em: <http://doi.
org/10.23925/2178-0080.2020v22i3.45245>. Acesso em: 29 ago. 2022.

JENSEN, M.C. (1986). Agency Costs of Free Cash Flow, Corporate Finance, and Takeovers. The American Economic Review,
76(2), 323-329. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/1818789>. Acesso em: 29 ago. 2022.

KAYO, E.K. (2002). A estrutura de capital e o risco das empresas tangível e intangível-intensivas: uma contribuição ao estudo
da valoração de empresas (Tese de Doutorado). Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de
São Paulo, São Paulo. doi:10.11606/T.12.2002.tde-05032003-194338. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/
disponiveis/12/12139/tde-05032003-194338/en.php>. Acesso em: 29 ago. 2022.

LEONG, K., & SUNG, A. (2018). FinTech (Financial Technology): What is It and How to Use Technologies to Create Business Value
in FinTech Way? International Journal of Innovation, Management and Technology, 9, 74-78. Disponível em: <http://www.
ijimt.org/index.php?m=content&c=index&a=show&catid=93&id=1138>. Acesso em: 29 ago. 2022.

MARTINS, G. A.; DOMINGUES, O. (2017). Estatística geral e aplicada (6a ed). São Paulo: Atlas.

MENDES, P. C. M.; OLIVEIRA, E. B. Relação entre Endividamento Geral, Tributação e o Índice de Basileia nas Maiores Instituições
Financeiras do Brasil. Contabilidade, Gestão e Governança, Brasília, 19(1), 64-82. Disponível em: <http://revistacgg.org/contabil/
article/view/901>. Acesso em: 29 ago. 2022.

MENDONÇA, F. F. P.; MARTIN, H. C.; TERRA, P. R. S. (2019). Estrutura de Capital e Mecanismos de Governança Externos à
Firma: uma análise multipaís. Revista de Administração Contemporânea, Maringá, 23(6), 765-785. Disponível em: <http://
doi.org/10.1590/1982-7849rac2019190109>. Acesso em: 29 ago. 2022.

MODIGLIANI, F.; MILLER, M. (1958). The costs of capital, corporation finance and the theory of investment. American Economic
Review, 48, 197-261. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/1809766>. Acesso em: 29 ago. 2022.

MYERS, S. (1984). The capital structure puzzle. The Journal of Finance, 39(3), p. 5750592.MYERS, S.; MAJLUF, N.S. (1984).
Corporate financing and investment decisions when firms have information that investors do not have. Journal of Financial
Economics, Amsterdam, 13(2), 187-221. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/0304-405X(84)90023-0>. Acesso em: 29
ago. 2022.

NAKAMURA, W. T. et al. (2007). Determinantes de estrutura de capital no mercado brasileiro – Análise de regressão com painel
de dados no período 1999-2003. Revista de Contabilidade e Finanças da USP, São Paulo, 44, 72-85. Disponível em: <http://
doi.org/10.1590/S1519-70772007000200007>. Acesso em: 29 ago. 2022.

NIYAMA, J. K; GOMES, Amaro L.O. (2012). Contabilidade de instituições financeiras (4a ed). São Paulo-SP: Atlas.

OLIVEIRA, G.; PACHECO, M. (2017). Mercado Financeiro Objetivo e Profissional (3a ed). Curitiba-PR: Fundamento Educacional.

PEREZ A. H.; BRUSCHI C. A. (2018). Indústria de Meios de Pagamento no Brasil: movimentos recentes. Insper, 2018.

PINTO, G. M. A. (2015). Regulação sistêmica no setor bancário brasileiro. São Paulo: Almedina.

POHLMANN, M. C; IUDÍCIBUS, S. (2010). Relação entre Tributação do Lucro e a Estrutura de Capital das Grandes Empresas
no Brasil. Revista Contabilidade & Finanças – USP, 21(53), 1-25. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1519-
70772010000200002>. Acesso em: 29 ago. 2022.

PROCIANOY, J. L. & SNIDER, H. K. (1995). Tax changes and dividend payouts: Is shareholders wealth maximized in Brazil?
Working paper, New York University.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 75

RAJAN, R.; ZINGALES, L. (1995). What do we know about capital structure? Some evidence from international data, Journal of
Finance, 50, 1.421-1.460. Disponível em: <http://doi.org/10.1111/j.1540-6261.1995.tb05184.x>. Acesso em: 29 ago. 2022.

SILVA, A; SANTOS, J.F.; RAMOS, R.S.; FREITAS, M.S.L. (2019). Determinantes da Estrutura de Capital dos Bancos Brasileiros.
Revista de Gestão, Finanças e Contabilidade, 9(2), 59-76. doi: 10.18028/rgfc.v9i2.7152. Disponível em: <http://www.revistas.
uneb.br/index.php/financ/article/view/7152>. Acesso em: 29 ago. 2022.

SILVEIRA, L. (2017). O marco regulatório e a concentração do mercado de credenciamento para aceitação de cartões de crédito
no Brasil no período de 2010 a 2016. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre – RS. Disponível em: <http://
hdl.handle.net/10183/172477>. Acesso em: 29 ago. 2022.

SOUZA, V. O. (2018). Meios de pagamento no Brasil: uma análise dos movimentos recentes na indústria de adquirentes. Insper,
2018. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11224/1903>. Acesso em: 29 ago. 2022.

STEWART III, G. (1999). The quest for value. USA: HarperCollins.

STULZ, R. M. (1988). Managerial control of voting rights. Journal of Financial Economics, (20), 25–54. Disponível em: <http://
doi.org/10.1016/0304-405X(88)90039-6>. Acesso em: 29 ago. 2022.

STULZ. R.(1990). Managerial discretion and optimal financing policies. Journal of Financial Economics, 26, 3-27. http://doi.
org/10.1016/0304-405X(90)90011-N>. Acesso em: 29 ago. 2022.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 77

Artigo Convidado

Influência da Educação Financeira


no Planejamento da Aposentadoria

A
Thamirys de Sousa Correia
Doutoranda em Ciências Contábeis pelo Pro-
spectos relacionados à educação financeira e ao efeito grama de Pós-graduação em Ciências Contá-
desta sobre a vida das pessoas alcançaram uma maior beis da UFPB, é mestra em Ciências Contábeis
pelo Programa de Pós-graduação em Ciências
visibilidade no ambiente brasileiro nos últimos anos. Contábeis da UFPB (2018). Bacharela em Ci-
Dentro da perspectiva de entender esses efeitos gerados pela ências Contábeis pela Universidade Federal da
Paraíba (UFPB) (2016). Atualmente é bolsista
educação financeira, este estudo tem por objetivo verificar de Doutorado do CNPq.
a influência do tema no planejamento da aposentadoria de E-mail: thamirys_correia@hotmail.com

cidadãos que residem no Estado da Paraíba. Para isso, foram


Ingrid Laís de Sena Costa
aplicados questionários, por meio eletrônico (Google Docs) Doutoranda em Ciências Contábeis no PPGCC/
e em locais públicos, como shoppings e praças nas cidades de UFPB, é mestra pelo Programa de Pós-Gradu-
ação em Ciências Contábeis da UFPB (2017).
Campina Grande e João Pessoa, sendo obtidas 901 respostas. É bacharela em Ciências Contábeis pela Uni-
Os resultados mostram que há relação positiva entre a educação versidade Estadual da Paraíba (UEPB) (2015) e
professora do Curso de Ciências Contábeis da
financeira e a intenção de planejamento de aposentadoria, em Universidade Federal do Tocantins (UFT). Pos-
que a relação é maior na faixa de idade mediana (de 36 a 50 sui experiência na área contábil, atuando com
temas relacionados a evidenciação contábil,
anos). Todavia, para os que têm mais de 50 anos, os resultados desempenho econômico-financeiro e Finanças
não demonstraram significância estatística para a relação. A comportamentais.
E-mail: ilsenna2.0@gmail.com
inda assim, esse grupo de indivíduos se autoavaliaram como os
de excelente educação financeira, demonstrando um excesso de Wenner Glaucio Lopes Lucena
Doutor e Mestre em Ciências Contábeis pelo
confiança por parte destes que pode infringir o oferecimento Programa Multiinstitucional UnB/UFPB/UFRN
de empréstimos e financiamentos poucos atraentes para (2011) e (2004), é especialista em Controla-
doria pela Universidade Federal da Paraíba
aposentados e pensionistas. Posto isso, a pesquisa contribui para (2001). Graduado em Engenharia de Minas
evidenciar a educação financeira como um fator relevante na pela Universidade Federal da Paraíba (2001),
atual UFCG, graduou-se em Ciências Contá-
tomada de decisões financeiras pessoais. beis pela Universidade Estadual da Paraíba,
em 1998. Professor Associado I da Universi-
dade Federal da Paraíba, tem experiência na
área de Administração com ênfase em Ciên-
cias Contábeis. As principais áreas de interesse
são: Contabilidade Aplicada aos Usuários da
Informação, Educação Financeira e Finanças
Comportamentais.
E-mail: wdlucena@yahoo.com.br

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


78 Influência da Educação Financeira no Planejamento da Aposentadoria

1. Introdução por vezes, pode não ser colocada


em prática no início da vida adul-
Temas voltados à educação fi- ta. Por exemplo, em 94% dos com-
nanceira, nos últimos anos, come- ponentes das famílias pesquisadas
çaram a galgar um maior espaço pela Survey of Consumer Finan-
no cenário brasileiro. A preocupa- ces, os menores de trinta e cinco
ção por parte do Governo, de em- anos, no relatório de 2010, de-
presas privadas (principalmente têm ativos financeiros (cujo va-
instituições financeiras) e de asso- lor médio dos ativos é de US
ciações comunitárias com o nível $ 5.500); há evidências de que
de conhecimento financeiro das a dívida desses ativos é a prin-
pessoas vem crescendo (AUGUSTI- cipal preocupação financeira
NIS; COSTA; BARROS, 2012). Nesse (BROWN et al., 2016).
sentido, muitas instituições edu- Lusardi e Mitchell (2011)
cacionais passaram a incorporar evidenciam que o analfabetis-
a educação financeira ao ensino mo financeiro é generalizado na No Brasil, Birochi e Pozzebon
básico, desenvolvendo conceitos população dos Estados Unidos, (2016) afirmam que instituir pro-
relacionados às finanças pesso- principalmente em grupos demo- gramas de educação financeira
ais (BRUHN; IBARRA; MCKENZIE, gráficos específicos, como os de pode aumentar a inclusão finan-
2014; AMBUEHL; BERNHEIM; LU- baixa escolaridade. Dessa manei- ceira e a transformação social por
SARDI, 2014; FERNANDES; LYNCH; ra, cerca da metade dos trabalha- meio da integração de princípios
NETEMEYER, 2014). dores mais velhos não sabem quais orientadores, refletida pela quase
Essa preocupação é reflexo os tipos de planos de aposentado- total ausência de iniciativas volta-
de uma nova situação econômi- ria estão disponíveis. das para microempreendedores de
ca apresentada no Brasil, desde a Não obstante, a educação fi- baixa renda no Estado do Amazo-
implantação do Plano Real, com a nanceira visa subsidiar os consu- nas, t endo em vista que a falta de
estabilização da economia e da in- midores a adquirirem os conheci- tais projetos promove aumento do
flação. A redução dos juros possi- mentos básicos e as habilidades endividamento resultante do uso
bilitou o aumento do crédito dis- de que precisam, sendo que a inadequado de recursos, e agrava
ponível por meio das políticas de educação financeira desempenha ou perpetua a exclusão social.
incentivo ao consumo. Isso, porém, um papel relevante no compor- Diante disso, destaca-se a im-
trouxe algumas consequências, tamento financeiro das pessoas. plementação do Decreto n.º 7.397,
como o aumento do endividamen- Com isso, os programas de edu- de 22 de dezembro de 2010, que
to familiar e da inadimplência dos cação financeira podem ajudar a instituiu a Estratégia Nacional de
cidadãos e das organizações (FER- melhorar a poupança e a tomada Educação Financeira (ENEF), com
NANDES; CANDIDO, 2014). de decisões financeiras (LUSARDI; intuito de promover a Educação Fi-
Outra situação que fornece MITCHELL, 2011; AMBUEHL; BER- nanceira e Previdenciária, para uma
base para a preocupação da so- NHEIM; LUSARDI, 2014). tomada de decisão consciente dos
ciedade com a educação financei- Um programa de treinamento consumidores. O artigo 2º do de-
ra é a aposentadoria. Todavia, é em educação financeira de larga es- creto evidencia que a ENEF deve
imprescindível verificar se os indi- cala é “O Programa de Avaliação” de observar algumas diretrizes, tais
víduos possuem conhecimento fi- uma importante instituição financei- como: (I) atuação permanente e
nanceiro adequado e se estão in- ra na Cidade do México. O curso é em âmbito nacional; (II) gratuidade
formados sobre os componentes desenvolvido por especialistas ban- das ações de educação financeira;
mais importantes dos planos de cários e por professores de uma or- (III) prevalência do interesse públi-
poupança, e também verificar se ganização dedicada a promover a co; (IV) atuação por meio de infor-
há planejamento para aposenta- educação financeira. Consiste em mação, formação e orientação; (V)
doria (LUSARDI; MITCHELL, 2011; módulos de cartões de crédito, pou- centralização da gestão e descen-
BROWN, 2016). pança e aposentadoria. Esse curso tralização da execução das ativida-
Mesmo sabendo que o efeito recebeu dois prêmios de uma im- des; (VI) formação de parcerias com
da educação financeira na pou- portante instituição de desenvolvi- órgãos e entidades públicas e insti-
pança para a aposentadoria é de mento internacional para inovação tuições privadas; e (VII) avaliação e
importância óbvia, essa economia, (BRUHN; IBARRA; MCKENZIE, 2014). revisão periódicas e permanentes.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 79

“Sendo assim, os resultados do estudo contribuem


para a literatura ao evidenciar a relação positiva que o
conhecimento financeiro dos indivíduos tem sobre as
suas decisões financeiras, e, de forma mais específica,
sobre aspectos relacionados à aposentadoria.

Tomando como base a pesquisa as pessoas identifiquem inte-
desenvolvida por Lusardi e Mitchell resses prevalecentes por meio
(2011), o presente estudo possui o da análise de estruturas e siste-
seguinte problema de pesquisa: qual mas sociais e econômicos; com
a influência da educação financeira isso, um dos principais objetivos
no planejamento da aposentadoria é a capacitação dos indivíduos;
de cidadãos que residem no Estado • A educação financeira deve re-
da Paraíba? Para, com isso, verificar lacionar-se com a alfabetização, nanceiros de longo prazo (LUSARDI;
quais os indícios referentes as inten- incluindo atividades focadas no MITCHELL, 2011; AMBUEHL; BER-
ções de economia para aposentado- modo de vida das pessoas (suas NHEIM; LUSARDI, 2014; DEHART et
ria e a educação financeira referente características, necessidades, al., 2016). As pessoas que relatam
à amostra selecionada para estudo. particularidades de suas vidas níveis baixos de conhecimento fi-
Sendo assim, os resultados do e subsistência); assim, o conhe- nanceiro em pesquisas são menos
estudo contribuem para a literatu- cimento deve ser significativo e propensas a terem suas economias
ra ao evidenciar a relação positiva aplicado ao contexto local; organizadas, por não quitarem suas
que o conhecimento financeiro dos • A educação financeira deve in- contas no tempo certo, ou até mes-
indivíduos tem sobre as suas deci- cluir diálogo/debate como uma mo não manterem um orçamento
sões financeiras, e, de forma mais prática educacional, com intui- eficiente (COLLINS, 2012).
específica, sobre aspectos relacio- to de ter uma comunidade par- Nesse contexto, Trombetta
nados à aposentadoria. ticipativa, por meio de aborda- (2016) investigou o nível de edu-
gens baseadas em cooperativas cação financeira de empresários na
e práticas de ensino, em detri- Espanha, para isso aplicou ques-
2. Revisão de Literatura mento a interesses individuais. tionários relacionados ao financia-
mento e ao relatório financeiro de
2.1 Educação Financeira Mesmo com os esforços para au- uma determinada empresa. Dessa
Há certas características que a mentar a educação financeira, mui- forma, seus resultados mostram
promoção da educação financeira tos ainda continuam fazendo esco- que o nível de alfabetização finan-
deve obter para o aprimoramento lhas econômicas impulsivas, que, ceira básica é bastante baixo, não
da tomada de decisões financeiras em última instância, causam danos encontrando diferenças significati-
dos indivíduos; dessa maneira, Bi- à sua futura estabilidade financeira. vas entre empresários e não empre-
rochi e Pozzebon (2016) destacam Em outras palavras, as pessoas fre- sários. Mas os empreendedores de
três aspectos: quentemente tomam decisões finan- sucesso entendem melhor a diversi-
ceiras a curto prazo, que proporcio- ficação e o potencial perigo de cres-
• A educação financeira deve in- nam benefícios mais imediatos, em cimento descontrolado, o que mos-
centivar e promover o pensa- vez de tomarem decisões que sejam tra a contribuição do conhecimento
mento crítico, permitindo que consistentes com seus objetivos fi- sobre educação financeira.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


80 Influência da Educação Financeira no Planejamento da Aposentadoria

Behrman et al. (2010) afirmam partir da percepção dos colaborado- crescimento do valor de um ativo ao
que a alfabetização financeira e o res, seguido da visibilidade externa. longo do tempo, devido ao abando-
nível de escolaridade são vincula- Todavia, mesmo que os progra- no dos juros compostos.
dos ao acúmulo de riqueza das fa- mas de educação financeira estimu- O planejamento da aposenta-
mílias. No entanto, para os auto- lem o conhecimento e o desenvol- doria pode ser uma maneira de in-
res, descobertas anteriores podem vimento de habilidades financeiras teragir e buscar uma maior segu-
ser tendenciosas, devido a fatores dos indivíduos, ainda há um con- rança para manter a qualidade de
não observados. Por isso, foram uti- texto de “assimetria informacional”, vida nessa fase da vida. Tal plane-
lizados um novo conjunto de da- devido aos diferentes contextos cul- jamento se refere, na maioria das
dos de agregados familiares e uma turais. Essa situação atua como um vezes, a uma taxa de poupança re-
abordagem de variáveis instrumen- forte delimitador do cenário de anal- alizada ao longo da vida (AUGUS-
tais para isolar os efeitos causais da fabetismo funcional no que se refere TINIS; COSTA; BARROS, 2012; COS-
educação financeira e escolaridade as decisões financeiras. Pode-se afir- TA; MIRANDA, 2013). É comum
na acumulação de riqueza. Os resul- mar que a educação financeira vai também que pessoas com renda
tados indicaram que há efeitos po- além de conhecimento matemático mais alta e um maior nível educa-
sitivos significativos entre alfabeti- ou de finanças: também incorpora cional tendam a ter uma taxa de
zação financeira e escolaridade ; os aspectos sociais, de compreensão poupança mais elevada, eviden-
impactos estimados são suficientes de consumo responsável, e de com- ciando uma relação positiva entre
para sugerir que os investimentos bate à vulnerabilidade destes consu- renda, educação e aposentadoria
em educação financeira podem ter midores (CAMARGO; FONTOLAN JR; (COSTA; MIRANDA, 2013).
grandes retornos positivos. STREHLAU, 2020). Considerando que a fase da
No Brasil, Kühl, Valer e Gusmão aposentadoria é a mais crítica da
(2016), ao avaliar a percepção dos vida financeira das pessoas, pois os
colaboradores em uma Cooperati- 2.2 Planejamento da níveis de renda declinam significa-
va de Crédito quanto à importância Aposentadoria tivamente, alguns estudos têm sur-
da alfabetização financeira dos seus Em se tratando da educação fi- gido no sentido de verificar como
cooperados, com levantamento de nanceira, percebe-se que indivíduos a população está conscientizada
dados por meio de questionário es- com um maior nível de conhecimen- em relação a se planejar financei-
truturado e com análise de dados to e planejamento financeiro podem ramente para aposentadoria. Lu-
com a utilização de métodos quan- obter uma maior qualidade de vida, sardi e Mitchell (2005, 2011) veri-
titativos, identificaram que o conhe- considerando que estes serão mais ficam tanto os motivos pelos quais
cimento financeiro é uma questão propícios a adquirir imóveis, finan- os americanos não poupam ou não
relevante no âmbito da instituição a ciar o ensino superior, empreender se planejam para a aposentadoria,
ou ainda garantir uma aposentado- como a relação que os conheci-
ria mais tranquila (AUGUSTINIS; COS- mentos sobre educação financeira
TA; BARROS, 2012). No que pode ter com as decisões de pla-
se refere ao planejamen- nejamento para a aposentadoria
to da aposentadoria, cada (AGARWALLA et al., 2012; POTRI-
vez mais esta se caracteriza CH et al., 2014).
como uma preocupação mais Assim, a educação financeira
presente na vida das pessoas. pode exercer um papel importan-
Uma prova disso é que as reser- te nessa conscientização a respei-
vas em poupanças atingem núme- to do planejamento e da poupan-
ros sem precedentes, já abrangem ça para aposentadoria. Na Nova
a casa dos mais de US$ 25 trilhões Zelândia, por exemplo, são de-
nos Estados Unidos. De acordo com senvolvidos alguns programas de
Goda et al. (2015), a decisão de pou- educação financeira que buscam
par está relacionada às característi- incentivar planos de aposentado-
cas comportamentais e cognitivas ria e também trabalhar na educa-
dos indivíduos, tais como idade, ren- ção dos jovens (VIEIRA; BATAGLIA;
da, educação e outras relacionadas SEREIA, 2011; AMBUEHL; BER-
ao viés do crescimento exponencial NHEIM; LUSARDI, 2014; DEHART
(EG), e à tendência de subestimar o et al., 2016).

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 81

“Considerando que a fase da aposentadoria é a


mais crítica da vida financeira das pessoas, pois os
níveis de renda declinam significativamente, alguns
estudos têm surgido no sentido de verificar como
a população está conscientizada em relação a se
planejar financeiramente para aposentadoria.

Países com níveis de renda e Figura 1 – Teoria do modelo de Ciclo de Vida
de educação financeira mais ele-
vados tendem a ter maiores taxas
de poupança entre a população.
De acordo com dados da Organiza-
ção para a Cooperação e Desenvol-
vimento Econômico (OCDE), 94%
da população que possui maiores
rendimentos possui conta bancá-
ria e, mesmo entre os com menor
renda, essa porcentagem é de 91%
(TROMBETTA, 2016). Essas carac-
terísticas demonstram o quanto as
pessoas estão susceptíveis às deci-
Fonte: Oreiro (2003).
sões financeiras e a importância de
ter o conhecimento mínimo sobre
a educação financeira para ter uma
aposentadoria mais tranquila. 2.3 Teoria do Modelo de Ciclo eles: o Estágio I, em que os jovens
Rafalski e Andrade (2016) afir- de Vida tendem a poupar menos, na ex-
mam que a temática referente ao O Modelo do Ciclo de Vida evi- pectativa de obter uma renda mais
planejamento da aposentadoria dencia que a poupança e o con- vantajosa no futuro; o Estágio II,
tem crescido em relevância, com o sumo não estão sujeitos apenas à durante a meia-idade, no qual as
aumento da expectativa de vida e a renda corrente, mas a uma expec- pessoas passam a pagar a dívida
previsão de déficit previdenciário no tativa de vida para o futuro. Des- e poupar para a aposentadoria;
Brasil. Dessa forma, evidenciaram sa forma, a teoria considera que e o Estágio III, na aposentadoria,
uma Escala de Processo de Plane- os indivíduos tomam decisões ve- em que, mesmo que a renda ten-
jamento da Aposentadoria (EPPlA), rificando a opção de consumir no da a zero, os indivíduos satisfazem
constatando que o estilo de toma- presente ou poupar para o futuro suas necessidades de consumo e
da de decisão no âmbito do plane- (MODIGLIANI; BRUMBERG, 1954; poupam menos (OREIRO, 2003;
jamento da aposentadoria auxilia as COSTA; MIRANDA, 2013). MODIGLIANI; BRUMBERG, 1954;
finanças dos indivíduos. Além disso, Nessa perspectiva, Oreiro AGARWAL et al., 2009). A Figura 1
amplia a aptidão em economizar, ge- (2003), tomando como base Mo- diz respeito à representação grá-
renciar o tempo e desenvolver expec- digliani e Brumberg (1954), abor- fica do Modelo do Ciclo de Vida
tativas para o futuro com intuito de da o Modelo do Ciclo de Vida de abordado na pesquisa de Oreiro
obter uma saúde financeira (WANG; um indivíduo, que, por sua vez, é (2003), tomando como base Mo-
SHULTZ, 2010; ADAMS; RAU, 2011). evidenciado em três estágios.São digliani e Brumberg (1954).

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


82 Influência da Educação Financeira no Planejamento da Aposentadoria

Na evidência empírica, Agarwal de políticas voltadas ao bem-es-


et al. (2009) afirmam que muitos tar da aposentadoria deveriam
consumidores fazem escolhas fi- considerar a importância
nanceiras ruins, e particularmente desses fatores (HASTIN-
os idosos são vulneráveis a tais er- GS; MITCHELL, 2011).
ros. Com isso, os autores estudaram Diante disso, de
padrões de ciclo de vida em erros fi- acordo com Lusar-
nanceiros, usando um banco de da- di e Mitchell (2011),
dos que mede dez tipos diferentes o cidadão comum
de comportamento de crédito. Os er- precisa ter a respon-
ros financeiros incluem o uso inade- sabilidade pelo seu
quado de cartão de crédito e o paga- próprio bem-estar fi-
mento de taxas e juros em excesso. nanceiro, ou seja, as re-
Como resultado, os adultos de meia- formas no sistema previdenciário
-idade cometem menos erros finan- levaram as decisões sobre a apo-
ceiros do que os jovens e os adultos sentadoria das mãos do governo
mais velhos, confirmando a teoria. e das organizações para as mãos
No Brasil, Costa e Miranda dos indivíduos (VAN ROOIJ; LUSAR-
(2013), ao investigarem se a educa- DI; ALESSIE, 2011; LUSARDI; MIT- (2014), Birochi e Pozzebon (2016)
ção financeira influencia a taxa de CHELL, 2011). Para isso, a educação e Dehart et al. (2016), que eviden-
poupança escolhida pelos indivídu- financeira é imprescindível, por pro- ciam a contribuição da educação
os, constaram que, para os respon- porcionar conhecimentos com os financeira para que os indivíduos
dentes do estudo, a propensão a quais as pessoas possam gerenciar possam ter uma maior conscienti-
poupar aumenta com o crescimen- seu patrimônio, com escolhas certas zação quanto à realização de eco-
to da renda, assim como a poupan- sobre consumo, poupança e investi- nomias para aposentadoria. Assim,
ça cai com a redução da renda. O mentos (DONADIO et al., 2016). a hipótese de pesquisa é a seguinte:
ápice da renda fica próximo aos 50 Como exemplo, o panorama da
anos de idade; posteriormente a aposentadoria nos Estados Unidos H1: Há influência positiva da educa-
essa faixa etária, há uma redução tem mudado drasticamente. Eco- ção financeira em relação à inten-
na poupança, o que condiz com a nomizar por meio de um planeja- ção de planejamento da aposenta-
Teoria do Modelo de Ciclo de Vida. mento da aposentadoria tornou- doria de cidadãos que residem no
-se a principal forma de poupança Estado da Paraíba.
para a aposentadoria. Poterba,
2.4 Hipótese de Pesquisa Venti e Wise (2007) destacam os
Duas explicações sobre o por- benefícios dos sistemas de previ- 3. Metodologia
quê de os consumidores terem pro- dência privada e mostram seu efei-
blemas com as decisões financeiras to sobre a riqueza na aposentado- A presente pesquisa foi desen-
estão ganhando força. Uma delas é ria, ao projetar o crescimento dos volvida no Estado da Paraíba, e teve
que as pessoas são mal-educadas ativos de participantes da pesquisa como instrumento de coleta de da-
financeiramente, uma vez que não em três décadas. As projeções su- dos um questionário baseado no
compreendem conceitos econômi- gerem que o advento da economia estudo de Lusardi e Mitchell (2011),
cos simples e não podem realizar pessoal e da educação financeira cujo objetivo foi verificar a capaci-
cálculos, como juros compostos, o aumentará a riqueza na aposen- dade que os americanos possuíam
que poderia levá-las a tomar deci- tadoria para futuros aposentados. em realizar cálculos financeiros sim-
sões financeiras abaixo do ideal. A Nesse aspecto, o estudo foi es- ples e a opção pela aposentadoria.
segunda é o viés pela preferência truturado por meio de uma hipó- O questionário está subdivi-
em tomar decisões de curto prazo. tese de pesquisa, pela qual a cons- dido em 3 categorias. A primeira
Ou seja, algumas pessoas escolhem tatação foi possível, a partir das fez referência ao perfil sociodemo-
a gratificação imediata, em vez de análises estatísticas dos dados, bem gráfico dos respondentes, envol-
aproveitar os benefícios de longo como tomando como base Lusar- vendo questões sobre sexo, idade,
prazo (VAN ROOIJ; LUSARDI; ALES- di e Mitchell (2011), Collins (2012), formação e renda familiar. A se-
SIE, 2011; HASTINGS; MITCHELL, Ambuehl, Bernheim e Lusardi gunda categoria, por sua vez, cor-
2011). Com isso, os formuladores (2014), Bruhn, Ibarra e McKenzie respondia à educação financeira,

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 83

e era composta por questões que


Quadro 1 – Intenção de planejamento à aposentadoria
tinham por objetivo avaliar o co-
Variável Definição
nhecimento dos respondentes a
Variável dummy, na qual, caso afirmem que já tentaram descobrir o quanto precisam
respeito de questões básicas, como Planejamento da
economizar para a aposentadoria, receberão valor 1 (um); caso contrário, receberão
aposentadoria
juros compostos, inflação e inves- valor 0 (zero)
Fonte: adaptado de Lusardi e Mitchell (2011).
timentos simples, além de solicitar
uma avaliação própria a respeito
do seu nível de educação financei- Quadro 2 – Questão atrelada a educação financeira da amostra
ra, e, por último, questionar sobre Variável Definição
Variável dummy, na qual, caso acerte a todas as
o planejamento da aposentadoria.
Acerto a todas as questões sobre educação financeira questões sobre educação financeira, receberá valor
Os questionários foram aplica- 1 (um); caso contrário receberá valor 0 (zero)
dos por meio eletrônico, utilizan- Questões sobre Educação Financeira constantes no questionário de pesquisa
do o formulário do Google Docs. Educação Financeira:
Além disso, foram aplicados em 1. Suponha que você tinha R$ 100 na poupança e a taxa de juro foi de 2% por ano. Após 5 anos,
quanto você acha que teria em conta?
locais públicos, como shoppings [ ] Mais de R$ 102 [ ] Exatamente R$ 102 [ ] Menor que R$ 102 [ ] Não sei
e praças, nas cidades de Campina 2. Imagine que a taxa de juro em sua conta poupança foi de 1% ao ano e a inflação foi de 2% ao ano.
Grande e João Pessoa. A escolha Depois de 1 ano, quanto você seria capaz de comprar com o dinheiro nesta conta?
[ ] Mais do que hoje [ ] Exatamente o mesmo [ ] Menos do que hoje [ ] Não sei
por esses municípios é justificada 3. “Comprar uma única ação da empresa normalmente fornece um retorno mais seguro do que uma
por possuírem o maior número de ação de fundo mútuo” A afirmação é verdadeira ou falsa?
habitantes no Estado da Paraíba, [ ] Verdadeira [ ] Falsa [ ] Não sei
Fonte: adaptado de Lusardi e Mitchell (2011).
bem como a opção dos locais de
aplicação dos questionários é ex-
plicada pela busca de uma amostra
Quadro 3 – Características atreladas
mais heterogênea, tendo em vista ao perfil sociodemográfico da amostra
Variável Definição
a grande quantidade de pessoas,
Variável dummy, na qual respondente do sexo masculino receberá valor 1 (um), e do
bem como a diversidade social. No Sexo
sexo feminino receberá valor 0 (zero)
total, foram obtidas 901 respostas. Variável dummy, na qual respondente com ensino superior receberá valor 1 (um);
Formação
Para o tratamento do questioná- caso contrário, receberá valor 0 (zero)
rio, foi realizada a análise descriti- Foi subdividida em 3 variáveis dummies. A primeira considera renda até R$ 1.320,00
com valor 1 (um), caso contrário, 0 (zero); a segunda, de R$ 1320,01 até R$ 2.640,00
va das respostas obtidas. Em segui- Renda Familiar
com valor 1 (um), caso contrário, 0 (zero); e, na terceira, com renda acima de
da, foi feita a análise econométrica, R$ 2.640,00 receberá valor 1 (um), caso contrário 0 (zero).
buscando identificar as possíveis re- Autoavaliação do Foi subdividida em 3 variáveis dummies. A primeira considera notas de 1 a 3 com
lações existentes entre a educação Conhecimento valor de 1 (um), caso contrário 0 (zero); a segunda com nota 4 com valor 1 (um),
sobre Educação caso contrário 0 (zero); e, na terceira, notas de 5 a 7 receberão valor 1 (um), caso
financeira e o planejamento de apo- Financeira contrário 0 (zero).
sentadoria dos paraibanos. Fonte: adaptado de Lusardi e Mitchell (2011).

3.1 Variável Dependente poupança e fundos mútuos. Com referente ao modelo econométrico,
Para verificar inferencialmente a isso, segue no Quadro 2 a variável destacado em Regressão Logística
relação proposta, abordou-se como independente selecionada. Binária. É importante destacar que a
variável dependente do modelo o escolha do modelo logístico – Logit,
planejamento da aposentadoria, e não do modelo Probit, tem como
conforme apresentado no Quadro 1. 3.3 Variáveis de Controle justificativa o fato de que, na maioria
As variáveis de controle são re- das aplicações, os modelos são seme-
presentadas pelas questões que lhantes. A principal distinção é que
3.2 Variável Independente fazem referência ao perfil socio- a distribuição logística tem caudas li-
Assim como Lusardi e Mitchell demográfico dos respondentes, geiramente mais longas, não haven-
(2011), aplicou-se questões sobre conforme evidenciado no Quadro 3. do motivos para preferir um modelo
conhecimentos financeiros como ao outro (Gujarati, 2006):
proxies para educação financeira.
Para tanto, como definição da edu- 3.4 Modelo Econométrico Aposent= β_0+β_1 Acertos+β_2 (1)
cação financeira, foram aplicadas A partir da seleção das variáveis, Sexo+β_3 Formação+β_4
três questões simples, sobre juros, apresenta-se abaixo, a Equação 1, Renda+β_5 Avaliação+ε

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


84 Influência da Educação Financeira no Planejamento da Aposentadoria

Em que Aposentadoria (Apo-


sent) representa a probabilidade de
Tabela 1 – Estatística descritiva para questões sobre educação
um determinado evento de interesse financeira, planejamento da aposentadoria e fatores demográficos (%)
Até 35 anos De 36 a 50 anos Maiores que 50 anos Geral
ocorrer, ou seja, na Regressão Logit Variáveis
Desvio Desvio Desvio Desvio
como método de modelagem esta- Média
Padrão
Média
Padrão
Média
Padrão
Média
Padrão
tística, a variável dependente é dico- Planejamento da aposentadoria 0,23 0,42 0,29 0,45 0,16 0,37 0,25
tômica. Pela afirmação de que já ten- Acerto a todas as questões 0,37 0,48 0,38 0,48 0,25 0,43 0,37
taram descobrir o quanto precisam Sexo 0,46 0,49 0,50 0,50 0,50 0,50 0,48
economizar para a aposentadoria, Formação 0,73 0,44 0,64 0,47 0,55 0,50 0,71
recebem valor 1 (um); caso contrá- Até
0,23 0,42 0,20 0,40 0,17 0,38 0,23
R$ 1.320,00
rio, valor 0 (zero). Acertos, Sexo, For-
Renda R$1320,01 até
mação, Renda e Avaliação são as va- Familiar R$ 2.640,00
0,26 0,44 0,22 0,41 0,22 0,41 0,26
riáveis independentes, e β_(1 ),β_2,… Acima de
0,49 0,50 0,57 0,49 0,59 0,49 0,52
β_n são os parâmetros do modelo R$ 2.640,01
Logit, bem como é o erro aleatório. De 1 a 3 0,31 0,46 0,28 0,45 0,25 0,43 0,31
AutoAvaliação Resposta 4 033 0,47 0,33 0,47 0,29 0,46 0,33
De 5 a 6 0,32 0,46 0,34 0,47 0,41 0,49 0,33
Fonte: dados da pesquisa.
4. Análise dos Resultados

4.1 Análise Descritiva dos têm mais de 50 anos de idade, essa de 64% de respondentes com ensi-
Resultados intenção cai ainda mais, sendo preo- no superior; entre as pessoas com
A análise descrita das respos- cupação de apenas 16% dos entre- mais de 50 anos, cerca de 50% pos-
tas dos 901 entrevistados é apre- vistados. Esses dados são coerentes suem o ensino superior. Essa é uma
sentada na Tabela 1. A amostra foi com os posicionamentos discutidos característica relacionada a teoria
organizada conforme a faixa etária pela literatura da teoria do Modelo do capital humano, na qual se as-
dos respondentes, tomando como de Ciclo de Vida como proposto por socia a produtividade à educação,
base a teoria do Modelo de Ciclo Modigliani e Brumberg (1954). em que esta combinação resultará
de Vida pelo modelo de Modigliani Esses resultados são reflexo tam- numa maior remuneração para os
e Brumberg (1954). A definição das bém da renda dos indivíduos, visto indivíduos (LIPS, 2013).
escalas das faixas etárias foi deter- que a faixa etária mediana também Percebe-se que as pessoas
minada de acordo com estudo de coincide com a fase de maior produ- que compõem a amostra, em sua
Lusardi e Mitchell (2011). tividade e maior remuneração dos maioria, possuem uma renda men-
Com relação à variável de pla- indivíduos, o que corrobora uma sal superior a R$ 2.640,00 (52%),
nejamento da aposentadoria, que maior taxa de poupança (POTERBA; principalmente as pessoas nas fai-
busca verificar a intenção de poupar VENTI; WISE, 2007; LUSARDI; MIT- xas etárias superiores. Isso corro-
para a aposentadoria, percebeu-se CHELL, 2011; HASTINGS; MITCHELL, bora a decisão de aposentadoria,
que ela segue a sequência do Mode- 2011; AGARWALLA et al., 2012; PO- bem como as teorias de ciclo de
lo de Ciclo de Vida apresentado por TRICH et al., 2014; AMBUEHL; BER- vida e de capital humano.
Modigliani e Brumberg (1954) e Aga- NHEIM; LUSARDI, 2014). Com relação à autoavaliação fei-
rwal, Driscoll, Gabaix e Laibson Com relação ao sexo dos res- ta pelos respondentes, percebeu-se
(2009).Cerca de 23% dos pondentes, a amostra se apresenta um maior equilíbrio na avaliação dos
mais jovens apresen- bem equilibrada no geral com 48% indivíduos da amostra da faixa etá-
tam a preocupa- de homens, o que é percebido tam- ria até 35 anos, e da faixa de 36 a 50
ção de se planeja- bém em todas as faixas etárias. Já anos; na faixa acima de 50 anos, a
rem e poupar para sobre a formação dos indivíduos, maioria dos indivíduos se autoavalia-
a aposentadoria e, analisou-se na perspectiva de quem ram com as notas mais altas, ou seja,
na faixa de ida- possui ensino superior e quem não eles acreditam que possuem elevado
des mediana, essa tem, assim, observou-se que, na fai- conhecimento financeiro. Esse resul-
preocupação au- xa etária mais jovem, o percentu- tado está de acordo com Lusardi e
menta para 29% al de pessoas com ensino superior Mitchell (2011), em que a população
da amostra enqua- é de 73%, e segue numa faixa de- norte-americana da faixa etária mais
drada nessa faixa etá- crescente com relação à faixa etária alta também se avaliou com uma
ria. Por fim, para os que mediana, que possui um percentual maior educação financeira.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 85

Esses resultados fornecem ba- Tabela 2 – Regressão Logit – Acerto a todas as questões sobre educação
ses para acreditar que a educação financeira, planejamento da aposentadoria e fatores demográficos
financeira possui uma relação po- Modelo[2] Modelo[3]
Modelo[1]
sitiva ante as decisões de planejar- Variáveis
Sem controles
Controle por demografia Controle por perfil
ou semi controlado sociodemográfico
-se financeiramente para a aposen- 1,18*** 1,10*** 0,92***
Acerto a todas as questões
tadoria, assim, como é pressuposto (7,37) (6,78) (5,41)
pela literatura. Tais relações serão 0,13 0,04
Sexo
(0,83) (0,29)
mais perceptíveis por meio da aná- 0,47** 0,38*
Formação
lise econométrica apresentada na (2,48) (1,91)
próxima seção dos resultados. -0,22
Até R$ 1.320,00
(0,99)
Renda Familiar
R$ 1.320,01 até -0,18
R$ 2.640,00 (-0,90)
-1,31***
4.2 Análise Econométrica De 1 a 3
(-2,85)
Com intuito de verificar as pos- -0,95**
Autoavaliação Resposta 4
síveis relações capazes de explicar (-2,15)
-0,55
a opção de se planejar financeira- De 5 a 7
(-1,26)
mente para aposentadoria dos pa- -1,63*** -2,02*** -0,87*
Constante
raibanos, foram realizados alguns (-14,44) (-10,47) (-1,89)
R2 de McFadden 0,05 0,06 0,08
tratamentos econométricos por LR Estat. F 55,63 62,55 80,58
meio da regressão Logit, conforme Prob. F 0,00 0,00 0,00
apresentado nas Tabelas 2 e 3. Classificação correta 75,5% 75,4% 75,9%
Para analisar tais relações, fo- Observações 901 900 897
Notas: renda acima de R$ 2.640,01 foi omitida nos modelos devido a colinearidade exata. Estatística Z entre parênteses.
ram estimados três modelos-base * Estatisticamente significante a 10%, ** Estatisticamente significante a 5%, *** Estatisticamente significante a 1%
para as respostas.O primeiro (Mo- Fonte: dados da pesquisa.

delo 1) considera apenas a variá-


vel independente, que tem o papel Tabela 3 – Regressão Logit – Acerto a todas as questões sobre
de mensurar o conhecimento a res-
educação financeira, planejamento da aposentadoria e fatores
demográficos por faixa etária
peito dos conceitos básicos finan- Até 35 anos De 36 a 50 anos Maiores que 50 anos
ceiros, cujo objetivo é representar Modelo[2] Modelo[4] Modelo[6]
a educação financeira e verificar o Variáveis Modelo[1] Controle
Modelo[3]
Controle
Modelo[5]
Controle
Sem Sem Sem
por perfil por perfil por perfil
impacto que esta pode exercer na controles controles controles
sociodemográfico sociodemográfico sociodemográfico
escolha de planejamento da apo- Acerto a todas 1,15*** 0,91*** 1,44*** 1,26*** 0,63 −0,20
as questões (6,25) (4,73) (3,76) (2,81) (0,90) (−0,18)
sentadoria dos paraibanos que res-
-0,03 0,38 0,50
ponderam à pesquisa. Sexo
(-0,17) (0,94) (0,59)
Os resultados evidenciaram que Formação
0,51** −0,16 0,67
(2,06) (−0,33) (0,66)
os acertos das questões apresen- Renda
-0,25 −0,20 −0,58
tam uma relação positiva significa- familiar até R$
(-1,00) (−0,35) (−0,48)
1.320,00
tiva com as decisões de aposenta-
Renda familiar
doria, ou seja, indivíduos com uma −0,16 −0,30 −0,30
R$1320,01 até
(−0,73) (−0,53) (−0,33)
maior educação financeira têm R$ 2.640,00
Avaliação −1,32** −1,80* 15,17***
uma maior probabilidade de pou- de 1 a 3 (−2,38) (−1,78) (9,60)
par para a aposentadoria. Tais re- −0,82 −1,54 13,36***
Avaliação 4
sultados estão de acordo com o (−1,46) (−1,45) (8,10)
Avaliação de −0,48 −1,23 15,14***
esperado pela literatura, visto que 5a7 (−0,90) (−1,29) (10,58)
Lusardi e Mitchell (2011) obtiveram Constante
-1,66*** -1,04* −1,51*** −0,02 −1,81*** −16,89***
(-12,60) (-1,83) (−5,49) (−0,02) (−4,45) (−13,92)
resultados semelhantes para o con-
R2 de
texto norte-americano. 0,05 0,08 0,08 0,11 0,01 0,10
McFadden
O segundo modelo (Modelo LR Estat. F 40,02 62,44 14,88 20,55 0,78 6,46
2), além da variável de acertos nas Prob. F 0,00 0,00 0,00 0,00 0,37 0,59
Classificação
questões sobre educação financei- correta
76% 76,5% 70,3% 74,6% 83,6% 83,6%
ra, também considera algumas ca- Observações 684 684 145 142 67 67
racterísticas do perfil sociodemográ- Notas: renda acima de R$ 2.640,01 foi omitida nos modelos devido a colinearidade exata. Estatística Z entre parênteses.
* Estatisticamente significante a 10%, ** Estatisticamente significante a 5%, *** Estatisticamente significante a 1%.
fico dos indivíduos, como o sexo e Fonte: dados da pesquisa.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


86 Influência da Educação Financeira no Planejamento da Aposentadoria

a formação. Quando consideradas no qual pessoas mais jovens tende- que, em média, apenas 29% tenham
tais variáveis de controle, o modelo, riam a serem menos preocupadas respondido já terem buscado econo-
ainda assim, evidencia uma relação em poupar suas economias visando mizar para essa finalidade – e sua re-
positiva da educação financeira com uma aposentadoria no futuro, quan- lação com a educação financeira.
a decisão de aposentadoria: já com do comparado ao Estágio II. Isso Para a amostra referente aos
relação às variáveis de controle, ape- porque, ao analisar os coeficientes maiores que 50 anos de idade,
nas a formação apresenta significân- da variável acertos a todas as ques- como já era esperado, não há in-
cia estatística, e também uma rela- tões sobre educação financeira, de fluência da educação financeira
ção positiva, assim como esperado. todos os modelos da Tabela 3, ob- no planejamento da aposentado-
Para o terceiro modelo (Modelo serva-se a sequência do Modelo de ria, pois não há significância esta-
3), foram consideradas mais duas va- Ciclo de Vida. Ou seja, os coeficien- tística nos modelos 5 e 6. Esse re-
riáveis de controle: a renda familiar, tes dos modelos da faixa etária de sultado condiz com Modigliani e
que foi subdividida em três faixas, e 36 a 50 anos são maiores em relação Brumberg (1954), Costa e Miran-
a autoavaliação do conhecimento aos que têm até 35 anos, verifican- da (2013) e Agarwal et al. (2009)
financeiro feita pelos respondentes, do-se relações mais significativas. segundo os quais as pessoas mais
também subdividida em três catego- Uma provável justificativa para idosas gastam um maior percentu-
rias. Os resultados possibilitaram in- esse resultado é o elevado índice al da renda em artigos de seu in-
ferir relação positiva entre a educa- de instrução da amostra selecio- teresse, ou seja, poupam menos.
ção financeira e o planejamento da nada na faixa etária de até 35 Também nessa amostra verifica-
aposentadoria. Além disso, as variá- anos, o que condiz com as rela- -se que são os que menos respon-
veis formação e autoavaliação (com ções positivas entre a formação deram a todas as questões sobre
notas de 1 a 4) apresentaram-se sig- em nível superior de ensino e o educação financeira corretamente
nificativas no modelo, evidenciando planejamento da aposentadoria. (apenas 25%, em média).
relações positivas e negativas, res- Do mesmo modo, Lusardi e Mit- Com relação à variável de con-
pectivamente. Ou seja, indivíduos chell (2011) identificaram influên- trole sobre a autoavaliação dos co-
com maior nível educacional, conse- cia positiva entre a formação e a nhecimentos sobre educação finan-
quentemente, possuem uma maior educação financeira dos respon- ceira, tanto para a amostra de faixa
educação financeira e apresentam dentes de sua pesquisa. etária até 35 anos, quanto para os
uma maior tendência a se planejar Destaca-se que, mesmo com que têm de 36 a 50 anos de idade,
para a aposentadoria. Essas conside- o resultado positivo para a amos- foi observado que, apesar de não
rações estão de acordo com os re- tra mais jovem, apenas 37%, em haver significância estatística para
sultados identificados por Augusti- média, foram capazes de respon- as notas mais elevadas de autoava-
nis, Costa e Barros (2012). der a todas as questões correta- liação (notas que variam de 5 a 7),
A partir do Modelo de Ciclo de mente. Isso corrobora Brown et al. foram verificadas relações negativas
Vida, destaca-se na Tabela 3 os re- (2016), por identificarem que os e significantes entre as notas de au-
sultados analisados por faixa etária. jovens americanos têm deficiên- toavaliação mais baixas, de 1 a 3,
Nos respondentes com idade até cias claras em matéria de alfabe- no que se refere ao planejamento
35 anos, verifica-se que há influên- tização financeira, assim como Lu- de aposentadoria. Ou seja, os que
cia positiva entre a educação fi- sardi e Mitchell (2011), que, ao acreditam não possuir uma boa
nanceira e o planejamento da analisar a educação finan- educação financeira também são
aposentadoria, descrito pe- ceira por idade, constata- os que não possuem a intenção de
los modelos 1 e 2. Mesmo ram que os respondentes economizar para a aposentadoria.
com esse resultado posi- até 35 anos foram os que Todavia, para a faixa etária dos
tivo, corrobora-se o Está- se apresentaram mais vul- maiores de 50 anos, foram observa-
gio I do modelo de Orei- neráveis ao responder às das relações positivas e significantes
ro (2003), questões de forma errada. – desde as notas de autoavaliação
Nos resultados da faixa mais baixas até as notas mais eleva-
etária entre 36 e 50 anos de ida- das. O resultado dos que se autoava-
de, corroborando o Modelo de Ci- liam com excelentes conhecimentos
clo de Vida, na meia-idade, perce- sobre educação financeira, mesmo
be-se uma maior preocupação dos sendo os que menos acertaram a to-
indivíduos em relação ao planeja- dos as questões, condiz com Lusardi
mento da aposentadoria – mesmo e Mitchell (2011), havendo como ar-

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 87

“ Acerca daqueles que têm mais de 50 anos de idade,


não houve significância estatística, o que condiz com
o Modelo do Ciclo de Vida, no qual, para as pessoas
mais idosas, não há mais uma preocupação em
economizar os seus recursos financeiros.

gumento que a medida da incompa- tidos, a hipótese de pesquisa foi Soo e Bravo
tibilidade entre o real e a autoavalia- confirmada, pois evidenciou-se (2010) e Lusardi e
ção de conhecimentos pode explicar uma relação positiva e significante Mitchell (2011).
a razão pela qual muitas vezes são entre a educação financeira (repre- Acerca daqueles
oferecidos financiamentos menos sentada pelos acertos às questões que têm mais de 50
atraentes às pessoas mais idosas. sobre juros, poupança e fundos anos de idade, não
As variáveis sexo e renda fami- mútuo), no que se refere à inten- houve significância es-
liar, em nenhum dos modelos, apre- ção de economia para o planeja- tatística, o que condiz
sentaram significância estatística; mento de aposentadoria dos par- com o Modelo do Ciclo
dessa maneira, não houve indícios ticipantes da pesquisa. de Vida, no qual, para
de que tais variáveis teriam influen- Destaca-se ainda, por meio da as pessoas mais ido-
ciado o planejamento da aposen- análise dos resultados, tanto nas sas, não há mais uma
tadoria. Quanto ao sexo, Lusardi e análises descritivas, quanto nos tes- preocupação em eco-
Mitchell (2011) também não iden- tes econométricos, que estes corro- nomizar os seus re-
tificaram significância estatística. boram o Modelo de Ciclo de Vida cursos financeiros. Destaca-se
Mas, no que diz respeito à renda fa- (MODIGLIANI; BRUMBERG, 1954; que indivíduos nesta faixa etária
miliar, os autores afirmam que isso AGARWAL et al., 2009). foram os que mais se autoavalia-
pode impactar a busca pela edu- Para os mais jovens – que nesta ram como de “excelente educação
cação financeira, como também a pesquisa são os de faixa etária até financeira”, mesmo sendo os que
conscientização de economia para 35 anos –, mesmo sendo verifica- menos responderam às três ques-
um planejamento da aposentadoria. da a relação positiva entre a educa- tões corretamente, corroborando
ção financeira e o planejamento da Lusardi e Mitchell (2011), ao afir-
aposentadoria, nos coeficientes dos marem que isso pode infringir o
5 Considerações Finais modelos, os de meia-idade (de 36 oferecimento de empréstimos e
a 50 anos) são os que apresentam financiamentos poucos atraentes
O objetivo da pesquisa foi ve- coeficientes maiores em relação aos para aposentados e pensionistas.
rificar a influência da educação modelos analisados nas outras fai- Por fim, o tema relacionado
financeira no planejamento da xas etárias, consequentemente têm à educação financeira é bastan-
aposentadoria de cidadãos que re- uma relação mais significativa. Vale te amplo e rico em informações.
sidem no Estado da Paraíba. Para salientar que uma provável justifica- Dessa forma, é sugerida para pes-
isso, foi definida uma hipótese de tiva para a relação positiva dos mais quisas futuras a investigação de
pesquisa: há influência positiva da jovens é o fato de possuírem uma outros elementos associados às
educação financeira em relação ao maior formação acadêmica, com ní- escolhas financeiras, como perfil
planejamento da aposentadoria de vel superior em média de 73% des- de consumo, aspectos comporta-
cidadãos que residem no Estado da sa amostra. Isso corrobora com os mentais, contexto de vulnerabili-
Paraíba. Diante dos resultados ob- resultados de Behrman, Mitchell, dade financeira, entre outros.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


88 Influência da Educação Financeira no Planejamento da Aposentadoria

Referências
ADAMS, G. A.; RAU, B. L. Putting off tomorrow to do what you want today: Planning for retirement. American Psychologist,
v. 66, n. 3, p. 180-192, 2011.

AGARWAL, S., et al. The age of reason: financial decisions over the lifecycle with implications for regulation. Brookings Papers
on Economic Activity v. 2, p. 51-117, 2009.

AGARWALLA, S. K., et al. A Survey of Financial Literacy among Students, Young Employees and the Retired in India. Indian
Institute of Management Ahmedabad - Citi Financial Literacy Symposium, 2012.

AMBUEHL, S.; BERNHEIM, B. D.; LUSARDI, A. The Effect of Financial Education on the Quality of Decision Making. NBER
WORKING PAPER SERIES. Working Paper No. 20618, 2014.

AUGUSTINIS, V. F.; COSTA, A. S. M.; BARROS, D. F. Uma Análise Crítica do Discurso de Educação Financeira: por uma Educação
para Além do Capital. Revista ADM.MADE, v. 16, n. 3, p. 79-102, 2012.

BEHRMAN, J, et al. Financial Literacy, Schooling, and Wealth Accumulation. NBER WP 16452, 2010.

BIROCHI R.; POZZEBON, M. Improving financial inclusion: Towards a critical financial education framework. Revista de
Administração de Empresas, v. 56, n. 3, p. 266-287, 2016.

BRASIL, Decreto n.º 7.397, de 22 de dezembro de 2010: Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-


2010/2010/Decreto/D7397.htm> Acesso em 28 jun. 2017.

BROWN, M., et al. Financial Education and the Debt Behavior of the Young. RFS Advance Access published February, v. 24,
p. 1-41, 2016.

BRUHN, M.; IBARRA, G. L.; MCKENZIE, D. The minimal impact of a large-scale financial education program in Mexico City.
Journal of Development Economics, v. 108, p. 184-189, 2014.

CAMARGO, R. Z.; FONTOLAN JUNIOR, M.; STREHLAU, S. Vulnerabilidade e Educação Financeira: A Visão de Gerentes de Banco.
Revista Interdisciplinar de Marketing, v. 10, n. 2, p. 9-105, 2020.

COLLINS, J. M. The impacts of mandatory financial education: Evidence from a randomized field study. Journal of Economic
Behavior & Organization, p. 1-13, 2012.

COSTA, C. M.; MIRANDA, C. J. Educação financeira e taxa de poupança no Brasil. Revista de Gestão, Finanças e Contabilidade,
v. 3, n. 3, p. 57-74, 2013.

DEHART, W. B., et al. The Effects of Financial Education on Impulsive Decision Making, PLoS ONE, v. 11, n. 7, 2016.

DONADIO, R., et al. Educação financeira e o investimento no mercado de ações. XIX Semead - Seminários em Administração.
ISSN 2177-3866, 2016.

FERNANDES, A. H. S., CANDIDO, J. H. EDUCAÇÃO FINANCEIRA E NÍVEL DO ENDIVIDAMENTO: relato de pesquisa entre os
estudantes de uma instituição de ensino da cidade de São Paulo. Revista Eletrônica Gestão e Serviços, v. 5, n. 2, p. 894-913,
2014.

FERNANDES, D.; LYNCH JR, J.G.; NETEMEYER, R.G. Financial literacy, financial education, and downstream financial behaviors.
Management Science, v. 60, n. 8, p. 1861-1883, 2014.

GODA, G. S., et al. The Role of Time Preferences and Exponential-Growth Bias in Retirement Savings. 17th Annual Joint Meeting
of the Retirement Research Consortium. Washington, 2015.

GUJARATI, D. Econometria Básica (4 ed.). Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022


REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 89

HASTINGS, J.; MITCHELL, O. S. How Financial Literacy and Impatience Shape Retirement Wealth and Investment Behaviors.
NBER Working Paper No. 16740, 2011.

LIPS, H. M. The Gender Pay Gap: Challenging the Rationalizations. Perceived Equity, Discrimination, and the Limits of Human
Capital Models. Sex Roles, v. 68, p. 169-185, 2013.

LUSARDI, A.; MITCHELL, O. S. Financial Literacy and Planning: Implications for Retirement Wellbeing. DNB Working Paper,
v. 78, 2005.

LUSARDI, A.; MITCHELL, O. S. Financial Literacy and Retirement Planning tn The United States. National Bureau of Economic
Research, Massachusetts Avenue, Cambridge, 2011.

KÜHL, M. R.; VALER, T.; GUSMÃO, I. B. Alfabetização Financeira: Evidências e Percepções em uma Cooperativa de Crédito.
Sociedade, Contabilidade e Gestão, v. 11, n. 2, 2016.

MODIGLIANI, F.; BRUMBERG, R. H. Utility analysis and the consumption function:an interpretation of cross-section data, In:
Kenneth K. Kurihara, (ed.) PostKeynesian Economics, New Brunswick, NJ. Rutgers University Press, 1954.

OREIRO, F. D. R. Os microfundamentos do consumo: de Keynes até a versão moderna da teoria da renda permanente. Revista
de Economia, p. 119-139, 2003.

POTERBA, J.; VENTI, S.; WISE, D. S. The Changing Landscape of Pensions in the United States. NBER Working Paper No.
13381, 2007.

POTRICH, A. C. G., et al. Educação Financeira dos Gaúchos: Proposição de uma Medida e Relação com as Variáveis
Socioeconômicas e Demográficas. Sociedade, Contabilidade e Gestão, v. 9, n. 3, p. 109-129, 2014.

RAFALSKI, J. C.; ANDRADE, AL. L. Planejamento da aposentadoria: adaptação brasileira da PRePS e influência de estilos de
tomada de decisão. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, v. 16, n. 1, p. 36-45, 2016.

TROMBETTA, M. ACCOUNTING AND FINANCE LITERACY AND SELF EMPLOYMENT: an exploratory study. IE Business School –
IE University, p. 1-32, 2016.

VAN ROOIJ, M.; LUSARDI, A.; ALESSIE, R. Financial literacy and stock market participation. Journal of Financial Economics, v.
101, n. 2, p. 444-472, 2011.

VIEIRA, S. F. A.; BATAGLIA, R. T. M.; SEREIA, V. J. Educação financeira e decisões de consumo, investimento e poupança:
uma análise dos alunos de uma universidade pública do Norte do Paraná. Revista de Administração da Unimep, v. 9, n. 3,
p. 61-86, 2011.

WANG, M.; SHULTZ, K. S. Employee retirement: A review and recommendations for future investigation. Journal of
Management, v. 36, n. 1, 172-206, 2010.

RBC n.º 256 – Ano L – julho/agosto de 2022

You might also like