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Compadrio e Escravidão: uma análise do apadrinhamento de

cativos em São João del Rei, 1730-1850∗


Profa. Dra. Silvia Maria Jardim Brügger♣

Palavras-chave: compadrio; escravidão; sociabilidades; domínio senhorial.

Resumo
O compadrio foi, sem sombra de dúvidas, um importante elemento de constituição
e/ou consolidação de laços de sociabilidade, na sociedade escravista brasileira. Nesta
comunicação, analiso o padrão de escolha de padrinhos e madrinhas de cativos, tanto
crianças quanto adultos, em São João del Rei, entre 1730 e 1850. Constato o
predomínio de livres entre os indicados para exercerem estes papéis. A análise centra-
se, primeiramente, em informações apresentadas em registros paroquiais de batismo.
Posteriormente, procuro abordar alguns casos específicos, acompanhando a prática de
apadrinhamento em algumas escravarias da região e cruzando variáveis, que possam
interferir nas escolhas de padrinhos e madrinhas dos escravos. Nesta segunda parte do
trabalho, torna-se fundamental a utilização de outras fontes, com o objetivo de
complementar as informações contidas nos registros de batismo, como os inventários
post-mortem e testamentos, tanto de proprietários dos cativos, quanto de padrinhos e
madrinhas livres. A partir deste refinamento da abordagem, torna-se mais precisa a
caracterização das práticas de apadrinhamento de escravos e, conseqüentemente,
avança-se nas análises sobre os laços de sociabilidade entre a população cativa e suas
relações com livres e libertos.


Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-
MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

Professora Adjunta da Universidade Federal de São João del Rei. Pesquisadora Colaboradora do
CEO/PRONEX-CNPq-FAPERJ, 2004. Pesquisadora 2C do CNPq.

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Compadrio e Escravidão: uma análise do apadrinhamento de
cativos em São João del Rei, 1730-1850∗
Profa. Dra. Silvia Maria Jardim Brügger♣

Introdução
Longe se está, hoje, de uma historiografia que questionava a existência de
relações familiares entre os cativos e afirmava um decorrente comportamento sexual
classificado como promíscuo1. Creio ser desnecessário retomar aqui, de modo detalhado,
este debate. A família escrava tem sido, atualmente, objeto de várias pesquisas que - inseridas
num contexto de outros trabalhos que vêem os cativos como sujeitos históricos - procuram
demonstrar o equívoco dos que apontavam para o desregramento moral e a promiscuidade
sexual em que viviam. A partir da análise de dados demográficos, comprovou-se, em diversas
regiões, a existência de laços familiares estáveis entre os escravos, fossem eles consolidados
legalmente perante a Igreja Católica ou não. Vale destacar o trabalho de Robert Slenes
(SLENES, 1988) que, depois de chegar a esta constatação, se perguntou pelas razões que
levaram muitos historiadores a defender a existência de relações promíscuas entre os
escravos. Segundo ele, o problema foi que estes historiadores incorporaram o discurso de
viajantes da época que observavam os "lares negros" através de "olhares brancos". Em outro
texto (SLENES, 1999), ele procurou demonstrar como os viajantes podem ser lidos de uma
maneira diferente, na medida em que se respeite o universo cultural a partir do qual
escreveram. Em síntese, também nos discursos dos viajantes pode-se perceber a existência da
família escrava.
A família escrava esteve presente no Brasil colônia e no século XIX, assumindo
características distintas de acordo com as áreas e épocas analisadas. A produção
historiográfica avança, hoje, no sentido de problematizar os interesses, senhoriais e cativos,
no estabelecimento dos vínculos familiares. Para autores, como Manolo Florentino e José
Roberto Góes, a família foi de fundamental importância para a estratégia senhorial de
manutenção da “paz na senzala”, uma vez que o tráfico constante de novos cativos introduzia
permanentemente um estado de guerra latente no cativeiro (FLORENTINO & GÓES, 1997).
Robert Slenes, por outro lado, prioriza em suas análises os significados que os laços
familiares possuíam para os próprios escravos, destacando ganhos, tais como: acesso à
moradia separada da senzala, maior autonomia, possibilidade de manutenção de práticas de
origem africana etc (SLENES, 1999).
Mary Karasch aponta, porém, para as dificuldades dos escravos para
restabelecerem, no cativeiro, aquilo que valorizavam em suas sociedades de origem, na
África, ou seja, “uma grande família extensa com raízes profundas nos ancestrais e a
perspectiva de muitos descendentes no futuro, que, por sua vez, os reverenciariam como
ancestrais” (KARASCH, 2000, p. 396). Nesse sentido, outros laços que não apenas os
conjugais ganhavam relevância. Segundo a autora, os cativos “recriavam a família extensa
por meio do ritual de apadrinhamento” (KARASCH, 2000, p. 391), ampliando seus vínculos
de sociabilidade e solidariedade.


Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-
MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

Professora Adjunta da Universidade Federal de São João del Rei. Pesquisadora Colaboradora do
CEO/PRONEX-CNPq-FAPERJ, 2004. Pesquisadora 2C do CNPq.
1
Sobre esta discussão, ver, entre outros, FERNANDES, 1978; GORENDER, 1978; GORENDER, 1991;
SCHWARTZ, 1988; FARIA, 1998; SLENES, 1999; SLENES, 1988.

2
1. O Apadrinhamento de Crianças Escravas

Uma discussão importante, que se tem travado em relação ao apadrinhamento dos


escravos, diz respeito à possibilidade ou não de se interpretar os vínculos estabelecidos como
um reforço da família patriarcal, através, principalmente, do fato dos próprios senhores terem
por hábito apadrinhar seus cativos. Segundo Kátia Mattoso, os laços de compadrio
(...) se harmonizam perfeitamente com as regras dessa sociedade
brasileira baseada na família extensa, ampliada, patriarcal. E os laços
não prendem apenas padrinho e afilhado, ligam o padrinho, sua
família e os pais da criança batizada, cujo grupo, em seu conjunto,
ganha uma promoção excepcional.(MATTOSO, 1982, p. 132)

Outros trabalhos, seguindo dado indicado pioneiramente por Gudeman &


Schwartz, e discordando da argumentação de Mattoso, demonstraram ter sido extremamente
raro o apadrinhamento de cativos por seus senhores. Gudeman & Schwartz, trabalhando com
o Recôncavo Baiano, no século XVIII, não encontraram nenhum caso de apadrinhamento de
escravos por seus senhores (GUDEMAN & SCHWARTZ, 1988). Ana Lugão Rios, que
estudou Paraíba do Sul entre 1872 e 1888, indicou que apenas 0,3% dos escravos batizados
tiveram seus senhores como padrinhos (RIOS, 1990). Para a região de São João del Rei,
constatei que apenas 150, ou seja, 1,1% das crianças cativas, batizadas entre 1736 e 1850,
foram apadrinhadas por seus senhores (BRÜGGER, 2002). Aliás, Gilberto Freyre – embora
afirmasse terem sido “numerosos os escravos que, no sistema patriarcal brasileiro, gozaram
da situação de afilhados de senhores de casas-grandes e de sobrados” – entendia também que
tais cativos não deviam ser considerados como “típicos”(FREYRE, 1985, Tomo I, p. 288).
Constituiriam mais a exceção do que a regra.
Considero, porém, ser esta constatação insuficiente para negar a presença de
valores patriarcais na escolha de padrinhos e madrinhas de cativos. Tomando como princípio
que o compadrio vinculava não apenas pais, filhos e padrinhos, mas também as suas
respectivas famílias, cabe perguntar se, embora extremamente raros os casos de
apadrinhamento entre senhores e seus cativos, não seriam mais freqüentes as situações em
que membros da família senhorial desempenhavam aquele papel. Isto ocorreu, por exemplo,
no batismo de Inácio, realizado em 11 de outubro de 1764, em São João del Rei. O menino e
sua mãe eram escravos do Capitão João Lopes Siqueira e os padrinhos da criança foram
Francisco e Maria, ambos filhos de seu senhor. Outro caso foi o de Inocêncio, batizado em 20
de março de 1796, filho natural de Catarina, ambos cativos do Alferes Acácio José Cruz.
Seus padrinhos foram Antonio José Cruz e Maria Teresa Jesus, filhos do proprietário da
criança. O próprio Stuart Schwartz, ao estudar o Recôncavo Baiano, indica alguns casos
semelhantes. No entanto, afirma serem eles bastante raros (SCHWARTZ, 1988, p. 331). Com
o avançar da pesquisa, será possível melhor precisar a extensão desta prática, em São João
del Rei, uma vez que seu estudo não pode se basear apenas nas informações contidas nos
assentos de batismo dos cativos, pois o parentesco entre os padrinhos e o proprietário pode
não ter sido anotado pelo pároco. Por isso, é importante proceder a um cruzamento nominal
das informações desses registros com as das famílias livres.
Ainda segundo Schwartz, embora os senhores não apadrinhassem seus escravos,
outros livres o faziam (SCHWARTZ, 1988, p. 331). Em São João del Rei, constatei o amplo
predomínio de homens livres a apadrinharem filhos de cativas. Eles representaram, entre
1736 e 1850, sempre, pelo menos, 62% dos padrinhos dos filhos de cativas. Em duas
freguesias do Recôncavo Baiano, Monte e Rio Fundo, estudadas por Gudeman e Schwartz,
para o período de 1780 a 1789, os homens livres representavam cerca de 70% dos padrinhos
de crianças cativas (GUDEMAN & SCHWARTZ, 1988, p. 48). Este predomínio, porém,

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difere do que alguns trabalhos têm indicado para outras regiões. José Roberto Góes,
analisando a Freguesia de Inhaúma, no Rio de Janeiro, entre 1816 e 1842, afirma que 65%
dos padrinhos de escravos eram da mesma condição, 25%, libertos e 10%, livres (GÓES,
2001). Ana Lugão Rios, abordando os batismos de cativos, entre 1872 e 1888, em Paraíba do
Sul, encontrou cerca de 40% de padrinhos livres e mais de 57% de escravos, sendo os
padrinhos forros absolutamente minoritários. A autora argumentou que a busca de padrinhos
escravos era maior nas escravarias mais numerosas e que, inversamente, nas menores, crescia
a escolha por livres(RIOS, 1990, pp. 56-59). Considerando-se que, em São João del Rei,
tendiam a predominar unidades escravistas de pequeno porte, pode-se supor que esta seria
uma explicação viável para a escolha majoritária de padrinhos livres para os filhos de cativas.
Outro dado a ser considerado é o bando assinado pelo governador Assumar, em
1719, determinando que só fossem aceitos brancos como padrinhos de escravos. Em suas
palavras:
“(...) e tendo se considerado os prejuízos que sucedem de terem os
negros, ou negras escravos, ou forros domínio algum sobre outros
negros, ou negras, e de fazer atos por onde estes reconheçam algum
gênero de subordinação aos primeiros a experiência tem mostrado,
que nas vilas e mais lugares onde há muitos negros juntos, se
encontram alguns que foram filhos ou parentes dos régulos das suas
pátrias que indiferentemente os vendem: a esses tais tomam quase
todos por padrinhos no sacramento do batismo, e matrimônio por cuja
causa lhes têm subordinação e respeito o que redunda em fazerem-se
capatazes e formar séqüito metendo-se pelos matos em quilombos
governados por eles: o que tudo é muito pernicioso, e desejando
evitar os prejuízos que disto se seguem: rogo e encomendo muito aos
ditos vigários não consintam outros padrinhos, que não sejam
brancos: e se fia dos ditos vigários contribuam nessa parte com o
sossego comum para a rígida observância desta matéria de que tanto
depende tirar-se qualquer sombra de subordinação aos negros(...)”.
(Apud FIGUEIREDO, 1997, p. 127)

É fato que esta determinação não foi rigorosamente cumprida. Sempre houve
padrinhos cativos e libertos de escravos. No entanto, esta determinação é indício de uma
preocupação de controle senhorial que, se não impôs totalmente os padrinhos brancos aos
cativos, pode ter estimulado esta preferência entre a escravaria. Cabe destacar, porém, que a
presença de padrinhos cativos foi sempre expressiva.

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Tabela - 1
Condição dos Padrinhos de Filhos de Mães Cativas, por décadas
Pd. Livre Pd. Forro Pd. Cativo Pd. Ausente Pd. Coartado Total
1736-1740 236 30 84 20 - 370 100%
63,8% 8,1% 22,7% 5,4%
1741-1750 462 50 210 23 - 745 100%
62,0% 6,7% 28,2% 3,1%
1751-1760 168 18 72 7 - 265 100%
63,4% 6,8% 27,2% 2,6%
1761-1770 691 90 202 32 1 1016 100%
68,0% 8,9% 19,9% 3,1% 0,1%
1771-1780 488* 54 157 15 - 714 100%
68,3% 7,6% 22,0% 2,1%
1781-1790 1475* 90 522 51 2 2140 100%
68,9% 4,2% 24,4% 2,4% 0,1%
1791-1800 1614* 122* 550* 47 1 2334 100%
69,1% 5,2% 23,6% 2,0% 0,1%
1801-1810 1349* 69 355* 33 3 1809 100%
74,6% 3,8% 19,6% 1,8% 0,2%
1811-1820 1455* 86 395* 23 1 1960 100%
74,2% 4,4% 20,1% 1,2% 0,1%
1821-1830 889* 35 227* 11 - 1162 100%
76,5% 3,0% 19,5% 1,0%
1831-1840 470* 15* 115* 3 - 603 100%
77,9% 2,5% 19,1% 0,5%
1841-1850 432* 3 175 7 - 617 100%
70,0% 0,5% 28,4% 1,1%
Fonte: Registros Paroquiais de Batismo da Matriz de Nossa Senhora do Pilar de São João del Rei, 1736-1850.
* Inclui apadrinhamentos por dois homens e nenhuma madrinha.

Para as escravas de São João del Rei, a escolha dos padrinhos parecia oscilar,
preferencialmente, entre os dois extremos sociais: padrinhos livres, visando provavelmente
possibilidades de ganhos, para seus filhos ou para si, ou cativos, para reforçar as teias sociais
estabelecidas na própria comunidade escrava2. Raros foram os padrinhos libertos de filhos de
escravas.
Em relação aos padrinhos escravos, ao longo de todo o período estudado,
predominaram sempre os pertencentes a escravarias distintas das do batizando3. Juntando-se
este dado com a escolha majoritária por padrinhos livres, constata-se que o compadrio das
crianças cativas, em São João del Rei, unia, principalmente, os escravos a pessoas de fora de
sua unidade. O que, por um lado, pode ser justificada pela dimensão das escravarias.
Unidades de menor porte tendem a oferecer menos possibilidade de escolhas em seu interior
do que as maiores. E, por outro, demonstra a capacidade de circulação e ampliação dos laços
de sociabilidade dos cativos.

2
Sobre a noção de comunidade escrava, não existe consenso na historiografia. Autores como Manolo Florentino
e José Roberto Góes, entendem que o cativeiro seria marcado muito mais pelo conflito – em função das
rivalidades aportadas pelos africanos de diferentes origens étnicas, constantemente introduzidos pelo tráfico
atlântico – do que pela construção de uma identidade comum. Robert Slenes, por outro lado, entende que, no
sudeste, não só os escravos teriam construído identidades comuns, como chegado a formar uma “proto-nação
banto”, a partir do predomínio, na região, de cativos deste grupo lingüístico. Já Hebe Mattos de Castro indica a
existência de diferenças no cativeiro – sobretudo, entre africanos e crioulos – que, em determinados contextos,
como em casos de revoltas, por exemplo, poderiam ser superados pela existência de um objetivo ou inimigo
comum, mas que cotidianamente eram fundamentais na definição dos tidos como parte da “comunidade”. De
qualquer forma, a noção de comunidade não significa a ausência de conflitos. Cf. FLORENTINO & GÓES,
1997; SLENES, 1992; SLENES, 1999; MATTOS de CASTRO, 1995; FARIA, no prelo.
3
Entre 1736 e 1740, 26,2% dos padrinhos cativos pertenciam a mesma escravaria do batizando; entre 1741 e
1750, 12,4%; entre 1751 e 1760, 16,7%; entre 1761 e 1770, 19,8%; entre 1771 e 1780, 19,7%; entre 1781 e
1790, 30,5%; entre 1791 e 1800, 33,6%; entre 1801 e 1810, 28,2%; entre 1811 e 1820, 27,8%; entre 1821 e
1830, 43,2%; 1831 e 1840, 30,4%; entre 1841 e 1850, 26,3%.

5
A opção preferencial por padrinhos livres indica a intenção dos cativos de
estabelecer, através do compadrio, alianças “para cima”. Afinal, o padrinho, segundo a
própria doutrina católica, constituía-se em um segundo pai, em um com-padre: ou seja,
alguém com quem, de algum modo, se dividia a paternidade. Nada mais “normal” do que a
pretensão de que esta divisão pudesse ser feita com homens situados socialmente num
patamar superior e que pudessem dispor de mais recursos – não só financeiros, mas também
políticos e de prestígio – para o “cuidado” dos afilhados.
É interessante notar, na Tabela 1, que a opção por padrinhos livres tendeu a
crescer – apesar de algumas ligeiras oscilações – até 1840. Por outro lado, a década de 1841 a
1850 apresenta um acentuado declínio neste padrão, acompanhado pelo crescimento da
escolha de padrinhos cativos. É bom frisar que a escolha de padrinhos cativos não significava
necessariamente o abandono da lógica da busca de alianças “para cima”, antes, poderia
reforçá-la. Robert Slenes, trabalhando com a região do Oeste paulista, no século XIX,
constatou que escravos domésticos ou que possuíam algum tipo de qualificação profissional
eram preferidos, em relação aos escravos de roça, como padrinhos de cativos (SLENES,
1997).
Mas, o que justificaria o aumento de padrinhos escravos na década de 1840? É
sabido que os anos que antecederam o fim do tráfico atlântico de cativos foram marcados por
uma expressiva entrada de africanos no Brasil (FLORENTINO, 1995), diminuindo
proporcionalmente o número de crioulos no conjunto da população cativa. Desta forma, como
sugere Sheila de Castro Faria, padrões de comportamento e valores de origem africana podem
ter-se afirmado de forma mais contundente entre os cativos (FARIA, 1998, pp. 339-350)4.
Creio que o fato ajuda a explicar o aumento da opção por padrinhos escravos e a diminuição
dos livres, naquela década. Provavelmente, relações familiares consangüíneas e rituais
refletiriam o fortalecimento da “comunidade africana”, através, por exemplo, do aumento da
escolha de padrinhos cativos. Infelizmente, nos registros paroquiais é rara a menção à
procedência dos escravos, o que dificulta a tentativa de se analisar se a origem comum era um
critério adotado na escolha dos padrinhos.
A diminuição do apadrinhamento de crianças escravas por livres também foi
observada por Schwartz, para a Bahia. Tomando dados relativos à Paróquia de Santiago de
Iguape, em 1835, e comparando-os com os relativos a década de 1780, o autor observa que a
preferência por padrinhos livres caiu para menos de 50%, quando antes era de 70%. Ele
explica esta mudança com base num maior distanciamento entre a população livre e cativa, a
partir de uma série de rebeliões escravas ocorridas na Bahia entre 1807 e 1835
(SCHWARTZ, 2001, pp. 280-281). A se considerar este argumento, pode-se pensar também
nos efeitos da Revolta de Carrancas (ANDRADE, 2002, p. 635-637), ocorrida na Comarca do
Rio das Mortes, em 1833, sobre a sociabilidade de cativos e livres, refletidas nos laços de
compadrio. Porém, parece-me que esta argumentação não deve ser superestimada. Afinal, os
padrinhos livres continuaram absolutamente majoritários.
Como afirma Robert Slenes, a construção pelos escravos de relações de
compadrio que ultrapassavam os limites do cativeiro demonstra “a necessidade, num mundo
hostil, de criar laços morais com pessoas de recursos, para proteger-se a si e aos filhos”
(SLENES, 1997, p.271). O autor cita exemplos de escravos que puderam contar com favores
de compadres e padrinhos, sobretudo para obtenção de alforria. Por outro lado, mostra como
a aproximação em relação ao universo da liberdade e a dependência em relação a seus
senhores ou outros homens livres, talvez, gerassem uma posição desconfortável ao cativo, no
interior da escravaria, na medida em que ele poderia ser tido como um aliado do senhor em

4
A autora analisa, desta perspectiva, mudanças ocorridas tanto no comportamento conjugal, quanto nos ritos
funerários dos cativos, na primeira metade do século XIX.

6
possíveis contendas com seus companheiros de cativeiro. A escolha de padrinhos pelos
cativos aparecia, assim, como fundamental a suas pretensões de alianças sociais no cativeiro.
Ana Lugão Rios, trabalhando com famílias escravas, em Paraíba do Sul, entre
1872 e 1888, afirmou que a opção por padrinhos livres e madrinhas cativas teria “sido uma
maneira de conciliar o interesse no status social do padrinho com os cuidados e a
solidariedade que uma madrinha escrava poderia mais facilmente prestar à criança” (RIOS,
1990, p. 58-59). Em Campos dos Goitacases, entre 1754 e 1766, esta combinação de
padrinho livre e madrinha escrava também foi observada, em pesquisa desenvolvida por mim
e Tânia Kjerfve, quando argumentamos que a escolha dos padrinhos parecia prender-se mais
a motivos de ordem pragmática, tais como interferência em possíveis contendas ou facilitação
de alforria – o que justificaria a preferência por padrinhos livres – enquanto a das madrinhas
se vincularia mais ao auxílio no cotidiano de criação dos filhos – daí a opção majoritária por
madrinhas cativas (BRÜGGER & KJERFVE, 1991, p. 230). Em São João del Rei, porém, o
padrão de escolha das madrinhas foi diferente.

Tabela - 2
Condição das Madrinhas de Filhos de Cativas, por décadas
Md. Livre Md. Forra Md. Cativa Md. Ausente Md. Coartada Protetora Total

1736-1740 158 85 93 34 - - 370 100%


42,7% 23,0% 25,1% 9,2%
1741-1750 273 220 191 61 - - 745 100%
36,7% 29,5% 25,6% 8,2%
1751-1760 131 65 56 13 - - 265 100%
49,5% 24,5% 21,1% 4,9%
1761-1770 481 184 222 128 1 - 1016 100%
47,3% 18,1% 21,9% 12,6% 0,1%
1771-1780 397 84 162 68 - 1 712 100%
55,8% 11,8% 22,8% 9,5% 0,1%
1781-1790 1259* 168 542 170 1 - 2140 100%
58,8% 7,9% 25,3% 7,9% 0,1%
1791-1800 1404 172 558 186 6 - 2326 100%
60,4% 7,4% 24,0% 8,0% 0,2%
1801-1810 1242 73 383 107 - - 1805 100%
68,8% 4,1% 21,2% 5,9%
1811-1820 1328 95 468 56 1 - 1948 100%
68,1% 4,9% 24,0% 2,9% 0,1%
1821-1830 806 42 254 50 - - 1152 100%
70,0% 3,6% 22,1% 4,3%
1831-1840 399 17 131 20 - 4 571 100%
69,9% 3,0% 22,9% 3,5% 0,7%
1841-1850 347 12 215 29 - 6 609 100%
57,0% 2,0% 35,3% 4,7% 1,0%
Fonte: Registros Paroquiais de Batismo da Matriz de Nossa Senhora do Pilar de São João del Rei, 1736-1850.
* Inclui apadrinhamento por duas mulheres, sem padrinho.

As madrinhas livres foram sempre preferidas em relação às cativas e forras, ainda


que, até 1770, não fossem majoritárias. Mesmo as madrinhas escravas representando
patamares superiores aos 21%, ao longo de todo o período, o comportamento diferia
significativamente do que se observou para outras regiões, nas quais constituíram a opção
preferencial, como em Campos dos Goitacases, entre 1754 e 1766, quando representavam
54,1% das madrinhas dos filhos de cativas. Em Paraíba do Sul, entre 1872 e 1888, eram
58,4% daquele universo (RIOS, 1990). Já Gudeman e Schwartz indicam, para as Freguesias
de Monte e Rio Fundo, entre 1780 e 1789, um quadro mais parecido com o de São João del
Rei: 45% de madrinhas livres para crianças escravas; enquanto as cativas constituíam 17%
delas (GUDEMAN & SCHWARTZ, 1998, p. 48). A preferência por madrinhas livres foi
ainda mais expressiva, na região mineira de Montes Claros, estudada por Tarcísio Botelho,

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para o século XIX. O autor encontrou um amplo predomínio de madrinhas livres5 e índices
pequenos – ainda que crescentes – de cativas. Entre 1815 e 1819, 8,2% das madrinhas eram
cativas e 83,5%, livres; entre 1840 e 1844, 13,7% eram escravas e 70,3%, livres; entre 1872 e
1876, 14,8%, cativas e 72,8%, livres (BOTELHO, 1997, pp. 113). Talvez a preferência por
parte dos escravos em escolherem as madrinhas de seus filhos entre a população livre tenha
sido mais comum nas Gerais do que em outras regiões. Mas esta afirmação requer o
desenvolvimento de trabalhos sobre diversas áreas mineiras para ser comprovada. A
tendência poderia estar ligada à menor dimensão das escravarias mineiras.
Chama também a atenção na Tabela 2, a proporção de batizados realizados sem a
figura da madrinha. Embora sejam decrescentes ao longo do período, quando comparados
com a ausência de padrinhos, parecem indicar um destaque maior conferido ao
apadrinhamento masculino. Por outro lado, quando comparado com o índice de ausência de
madrinhas para o Recôncavo Baiano (31,3%) (GUDEMAN & SCHWARTZ, 1988, p. 48), os
percentuais de São João del Rei indicam uma maior valorização das madrinhas nessa região.
A diminuição das ausências, tanto de padrinhos quanto de madrinhas, ao longo do período,
pode ser interpretada como um aumento de seu valor social ou um maior rigor da Igreja no
cumprimento das suas disposições.
É interessante notar que, assim como se observou em relação aos padrinhos,
também as proprietárias das mães das crianças muito raramente foram suas madrinhas.
Apenas 46, ao longo de todo o período, representando 0,3% dos batismos de filhos de
escravas. Também para a figura da madrinha se procurava dissociar domínio senhorial e
apadrinhamento.
Observa-se ainda, na Tabela 2, o expressivo crescimento percentual das
madrinhas cativas, na década de 1841 a 1850, tal como já se havia constatado para os
padrinhos; o que, uma vez mais, pode reiterar o argumento do reforço de padrões africanos,
mediante o incremento do tráfico atlântico, nos anos imediatamente anteriores à sua
suspensão e/ou um maior distanciamento entre livres e cativos.
Para o período como um todo, entre as madrinhas cativas, predominavam as
pertencentes a escravarias distintas da do batizando6. Novamente reforça-se a idéia da
construção de laços de sociabilidade para além dos limites da propriedade escravista.
Mas, em relação ao período como um todo, em São João del Rei, também no que
respeita à escolha de madrinhas, bem como para os padrinhos, os cativos pareciam pretender
estabelecer vínculos com pessoas melhor situadas na hierarquia social. Na verdade, ao que
tudo indica, apesar de algumas diferenças, como a maior ausência de madrinhas ou sua
substituição, em alguns poucos casos, por protetoras, no geral, os critérios que orientavam a
seleção de padrinhos e madrinhas não diferiam muito. Nas Tabelas 3 e 4, destaca-se a maior
presença de pares de padrinhos e madrinhas de mesma condição social, especialmente de
livres e cativos. Indício, talvez, de que os critérios das escolhas de padrinhos e madrinhas
fossem praticamente os mesmos. Ou ainda que se poderia evitar colocar pessoas de condições
sociais distintas em situações que, ao menos no ritual, as igualavam, pois padrinhos e
madrinhas assumiam, perante a Igreja e a sociedade, um compromisso de cuidado para com o
afilhado, sobretudo no caso da falta dos pais.

5
O autor não indica a presença de nenhuma madrinha ou padrinho forro. Creio que estivessem incluídos entre
os livres. No entanto, ele não esclarece se esta é uma característica da documentação com a qual trabalha ou
uma opção sua de classificação.
6
Entre 1736 e 1740, 18,3% das madrinhas escravas pertenciam ao mesmo senhor que seu afilhado; entre 1741 e
1750, 15,2%; entre 1751 e 1760, 17,8%; entre 1761 e 1770, 16,2%; entre 1771 e 1780, 17,9%; entre 1781 e
1790, 26,0%; entre 1791 e 1800, 30,1%; 1801 e 1810, 25,3%; entre 1811 e 1820, 25,4%; entre 1821 e 1830,
40,1%; entre 1831 e 1840, 32,1%; entre 1841 e 1850, 25,6%.

8
A legitimidade das crianças batizadas é uma variável importante a ser
considerada nas análises sobre compadrio.

Tabela 3
Condição de Padrinhos e Madrinhas dos Filhos Legítimos de Escravas, por década
Décadas 1736- 1741- 1751- 1761- 1771- 1781- 1791- 1801- 1811- 1821- 1831- 1841-
Cond. Pds. e 1740 1750 1760 1770 1780 1790 1800 1810 1820 1830 1840 1850
Mds.
Pd. Ausente e 4 4 1 7 3 13 11 14 5 3 1 2
Md. Ausente 5,0% 2,1% 1,1% 1,9% 1,3% 1,5% 1,2% 1,8% 0,8% 0,8% 1,0% 2,1%
Pd. Ausente e - 1 - 3 - 5 6 - 2 2 - -
Md. Livre 0,5% 0,8% 0,6% 0,6% 0,3% 0,5%
Pd. Ausente e - - - - 1 2 1 1 - - - -
Md. Escrava 0,4% 0,2% 0,1% 0,1%
Pd. Ausente e - - - 1 - - - - - - - -
Md. Forra 0,3%
Pd. Livre e Md. 1 7 2 20 11 35 32 21 4 11 1 3
Ausente 1,3 3,7% 2,2% 5,5% 4,6% 4,1% 3,3% 2,8% 0,6% 3,0% 1,0% 3,1%
Pd. Livre e Md. 27 70 34 156 99 387 431 443 365 220 59 49
Livre 33,8% 36,5% 36,9% 43,0% 41,4% 45,3% 44,6% 57,8% 57,4% 59,3% 60,3% 50,5%
Pd. Livre e Md. 8 15 1 20 11 38 31 21 29 18 6 6
Escrava 10,0% 7,8% 1,1% 5,5% 4,6% 4,5% 3,2% 2,8% 4,6% 4,8% 6,1% 6,2%
Pd. Livre e Md. 11 11 9 15 4 9 11 8 4 1 1 -
Forra 13,7% 5,7% 9,8% 4,1% 1,7% 1,1% 1,2% 1,1% 0,6% 0,3% 1,0%
Pd. Livre e - - - - - - - - - - - 1
Protetora 1,0%
Pd. Escravo e 1 5 1 6 2 7 10 3 2 2 - -
Md. Ausente 1,3% 2,6% 1,1% 1,6% 0,8% 0,8% 1,0% 0,4% 0,3% 0,5%
Pd. Escravo e 1 5 3 2 8 7 20 13 7 10 2 3
Md. Livre 1,3% 2,6% 3,3% 0,6% 3,3% 0,8% 2,1% 1,7% 1,1% 2,7% 2,1% 3,1%
Pd. Escravo e 15 40 22 84 62 254 291 178 159 78 23 28
Md. Escrava 18,7% 20,8% 23,9% 23,1% 26,0% 29,7% 30,1% 23,3% 25,0% 21,0% 23,5% 28,9%
Pd. Escravo e 5 26 12 27 20 58 52 21 15 6 1 3
Md. Forra 6,2% 13,6% 13,0% 7,4% 8,4% 6,8% 5,4% 2,8% 2,4% 1,6% 1,0% 3,1%
Pd. Escravo e - - - 1 - - 3 - - - - -
Md. Coartada 0,3% 0,3%
Pd. Coartado e - - - 1 - - - 1 - - - -
Md. Livre 0,3% 0,1%
Pd. Coartado e - - - - - 1 - 1 - - - -
Md. Escrava 0,1% 0,1%
Pd. Forro e Md. - 1 - - - 1 - 1 - - - -
Ausente 0,5% 0,1% 0,1%
Pd. Forro e Md. - - 1 2 5 8 5 11 8 3 1 -
Livre 1,1% 0,6% 2,1% 0,9% 0,5% 1,4% 1,3% 0,8% 1,0%
Pd. Forro e Md. 4 2 2 9 6 17 21 14 13 4 1 1
Escrava 5,0% 1,0% 2,2% 2,5% 2,5% 2,0% 2,2% 1,8% 2,1% 1,1% 1,0% 1,0%
Pd. Forro e Md. 3 5 4 9 7 12 37 14 21 11 - -
Forra 3,7% 2,6% 4,3% 2,5% 2,9% 1,4% 3,8% 1,8% 3,3% 3,0%
Pd. Forro e Md. - - - - - - 1 - - - - -
Coartada 0,1%
2 Mds. Livres - - - - - 1 - - - - - -
(s/pd.) 0,1%
2 Pds. Livres - - - - - - 1 - - 1 1 1
(s/md.) 0,1% 0,3% 1,0% 1,0%
2 Pds. Escravos - - - - - - - 1 1 1 - -
(s/md.) 0,1% 0,1% 0,3%
2 Pds. Forros - - - - - - - - - - 1 -
(s/md.) 1,0%
1 Pd. Livre e 1 - - - - - - - - 1 - - -
Pd. Escravo 0,1%
(s/md)
1 Pd. Livre e 1 - - - - - - 1 - - - - -
Pd. Forro 0,1%
(s/md)
1 Pd. Escravo e - - - - - - 1 - - - - -
1 Pd. Forro 0,1%
(s/md.)
Total 80 192 92 363 239 855 966 766 636 371 98 97
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: Registros Paroquiais de Batismo da Matriz de Nossa Senhora do Pilar de São João del Rei, 1736-1850.

9
O predomínio de pares de padrinhos e madrinhas livres já podia ser imaginado a
partir dos dados das tabelas 1 e 2. Chama a atenção, porém, o fato de sua maior presença nos
batismos de filhos naturais do que nos de legítimos, a exceção da década de 1741 a 1750.
Sheila de Castro Faria também notou, para São Gonçalo do Recôncavo da Guanabara, no
século XVII, e para Campos dos Goitacases, no século XVIII, que os escravos eram em
maior proporção padrinhos de filhos legítimos do que de naturais. Em São Gonçalo, os
cativos representavam 85,6% dos padrinhos de filhos legítimos e, em Campos, 63,3%. Já
para os filhos naturais, 50,5% dos batizados em Campos e 36,2% dos batizados em São
Gonçalo foram apadrinhados por livres ou libertos (FARIA, 1998, p. 319-321). Para além de
demonstrar, como chama a atenção a autora, as teias sociais das escravas solteiras com os
homens livres, estes dados sugerem outra questão. É notória na historiografia a relação direta
entre dimensão das escravarias e nupcialidade dos cativos, uma vez que os senhores
interditavam uniões legítimas entre escravos de diferentes proprietários e que, nas unidades
menores, as possibilidades de se encontrar um cônjuge eram igualmente reduzidas. Ora,
tomando como referência a afirmação de Ana Lugão Rios de que os padrinhos cativos
predominavam nas escravarias maiores e os livres nas menores (RIOS, 1990), parece claro
que legitimidade e presença de padrinhos cativos eram variáveis que acompanhavam a
dimensão das escravarias. Daí serem mais freqüentes os padrinhos escravos entre os filhos
legítimos, pois ambos estariam mais presentes nas unidades maiores.

10
Tabela 4
Condição de Padrinhos e Madrinhas dos Filhos Naturais de Escravas, por década
Décadas 1736- 1741- 1751- 1761- 1771- 1781- 1791- 1801- 1811- 1821- 1831- 1841-
Cond. Pds. 1740 1750 1760 1770 1780 1790 1800 1810 1820 1830 1840 1850
e Mds.
Pd. Ausente e 16 16 5 14 10 19 14 10 9 6 1 5
Md. Ausente 5,5% 2,9% 2,9% 2,2% 2,1% 1,4% 1,0% 1,0% 0,7% 0,8% 0,2% 1,0%
Pd. Ausente e - 1 - 6 1 11 9 7 6 - - -
Md. Livre 0,2% 0,9% 0,2% 0,9% 0,6% 0,7% 0,5%
Pd. Ausente e - 1 - 1 - 1 4 1 1 - 1 -
Md. Escrava 0,2% 0,1% 0,1% 0,3% 0,1% 0,1% 0,2%
Pd. Ausente e - - 1 - - - 2 - - - - -
Md. Forra 0,6% 0,1%
Pd. Livre e Md. 10 22 3 74 37 84 109 50 33 27 14 16
Ausente 3,5% 4,0% 1,7% 11,3% 7,8% 6,5% 8,0% 4,8% 2,5% 3,4% 2,9% 3,1%
Pd. Livre e Md. 119 181 85 294 273 821 912 748 914 553 329 283
Livre 41,0% 32,8% 49,1% 45,0% 57,6% 63,9% 66,9% 71,8% 69,3% 70,3% 67,3% 54,8%
Pd. Livre e Md. 25 43 10 51 29 69 64 50 83 45 26 63
Escrava 8,6% 7,8% 5,8% 7,8% 6,1% 5,4% 4,7% 4,8% 6,3% 5,7% 5,3% 12,2%
Pd. Livre e Md. 35 113 24 61 21 29 18 6 14 6 3 3
Forra 12,1% 20,4% 13,9% 9,4% 4,4% 2,2% 1,3% 0,6% 1,1% 0,8% 0,6% 0,6%
Pd. Livre e Md. - - - - - 1 1 - - - - -
Coartada 0,1% 0,1%
Pd. Livre e - - - - 1 - - - - - 3 4
Protetora 0,2% 0,6% 0,8%
Pd. Escravo e 1 3 - - 2 6 8 7 3 1 3 3
Md. Ausente 0,3% 0,5% 0,4% 0,5% 0,6% 0,7% 0,2% 0,1% 0,6% 0,6%
Pd. Escravo e 7 10 6 7 7 10 13 13 19 14 7 12
Md. Livre 2,4% 1,8% 3,5% 1,1% 1,5% 0,8% 0,9% 1,2% 1,5% 1,8% 1,4% 2,3%
Pd. Escravo e 38 80 17 42 43 144 131 109 172 105 71 115
Md. Escrava 13,1% 14,5% 9,8% 6,5% 9,1% 11,2% 9,6% 10,4% 13,0% 13,4% 14,6% 22,2%
Pd. Escravo e 16 41 11 33 13 36 21 9 15 7 5 6
Md. Forra 5,5% 7,4% 6,3% 5,0% 2,8% 2,8% 1,5% 0,9% 1,1% 0,9% 1,0% 1,2%
Pd. Escravo e - - - - - - - - - - 1 1
Protetora 0,2% 0,2%
Pd. Coartado e - - - - - - 1 - - - - -
Md. Ausente 0,1%
Pd. Coartado e - - - - - 1 - 1 - - - -
Md. Forra 0,1% 0,1%
Pd. Coartado e - - - - - - - - 1 - - -
Md. Coartada 0,1%
Pd. Forro e Md. 1 3 1 7 3 5 1 1 - - - -
Ausente 0,3% 0,5% 0,6% 1,1% 0,7% 0,4% 0,1% 0,1%
Pd. Forro e Md. 4 5 2 10 4 8 8 6 7 2 1 -
Livre 1,4% 0,9% 1,2% 1,5% 0,8% 0,6% 0,6% 0,6% 0,5% 0,3% 0,2%
Pd. Forro e Md. 3 10 4 15 10 16 15 8 11 4 3 2
Escrava 1,1% 1,8% 2,3% 2,3% 2,1% 1,2% 1,1% 0,8% 0,8% 0,5% 0,6% 0,4%
Pd. Forro e Md. 15 24 4 38 19 23 31 14 26 11 7 -
Forra 5,2% 4,3 2,3% 5,8% 4,0% 1,8% 2,3% 1,3% 2,0% 1,4% 1,4%
Pd. Forro e Md. - - - - - - 1 - - - - -
Coartada 0,1%
2 Mds. Livres - - - - - - - - - 1 - -
(s/pd.) 0,1%
2 Pds. Livres - - - - 1 1 1 1 4 3 13 1
(s/md.) 0,2% 0,1% 0,1% 0,1% 0,3% 0,4% 2,7% 0,2%
2 Pds. Escravos - - - - - - - - - 1 1 2
(s/md.) 0,1% 0,2% 0,4%
Total 290 553 173 653 474 1285 1364 1041 1318 786 489 516
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: Registros Paroquiais de Batismo da Matriz de Nossa Senhora do Pilar de São João del Rei, 1736-1850.

Em situação de desigualdade social entre padrinhos e madrinhas, foi mais comum


o par ser formado por um homem livre e uma mulher cativa, sobretudo para os filhos
legítimos. Em relação aos filhos naturais, essa situação era suplantada, até 1770, pelo par
homem livre e mulher forra. Em geral, nos casos de disparidade entre padrinhos e madrinhas,
aqueles eram de situação social superior a destas, o que reforça o argumento de que seria
principalmente dos homens que se esperava um auxílio material e/ou de proteção social, mais
do que das madrinhas. Exceção a esse padrão era a maior freqüência de madrinhas forras e

11
padrinhos escravos, tanto entre os filhos legítimos como entre os naturais, do que a situação
inversa, ou seja, padrinho forro e madrinha cativa. Isto pode ser explicado pela maior
freqüência de alforrias femininas do que masculinas, refletindo-se num predomínio das
mulheres forras em relação aos homens desta condição. Pode-se também lembrar da
importância das mulheres libertas, tanto em termos de prosperidade econômica, como de
congregar em torno de si e de seus negócios espaços de sociabilidade para a população cativa
e liberta7. Nesse sentido, as cativas que escolhiam as forras como madrinhas de seus filhos
poderiam ter em relação a elas expectativas semelhantes as que nutriam em relação a
padrinhos livres. Aliás, Sheila de Castro Faria aponta a freqüência de libertas que
alforriavam crianças cativas, sobretudo meninas, de suas escravarias (FARIA, 2001). É
possível supor que também os pais que as escolhiam como madrinhas de seus filhos
objetivassem uma interferência na busca da alforria para seus afilhados.
No entanto, a presença de madrinhas forras foi decrescente ao longo do período e,
principalmente a partir de 1771, foi se tornando cada vez menos expressiva. Efetivamente,
para os escravos de São João del Rei, a principal opção para o estabelecimento de elos de
compadrio se dava em relação a homens e mulheres livres.

2. A Escravaria de Dona Ana Josefa Sousa: um estudo de caso

Dona Ana Josefa Sousa era viúva e em seu inventário, aberto em 1808, foram
arrolados 19 escravos. Se não era das maiores proprietárias da região, possuía uma escravaria
de dimensão considerável para o padrão local. Entre 1790 e 1808, foram batizados, em São
João del Rei, 18 filhos de cinco cativas de sua propriedade. Das 36 pessoas que
apadrinharam estas crianças, apenas nove eram escravas. Seis delas pertencentes à escravaria
de Dona Ana Josefa e uma à de Manoel Costa Rios, seu genro. Todos os demais padrinhos e
madrinhas eram livres ou libertos. Uma primeira constatação, o predomínio de pessoas de
fora da escravaria a exercerem o compadrio. Dentre as livres, chama a atenção Domingas
Vieira, filha de uma preta forra, que foi madrinha de um filho legitimo de Maria crioula e
Manoel Rebolo e de um filho natural de Dionísia parda. A prole de Dionísia, aliás,
representou estratégia de apadrinhamento bastante interessante. Ela teve três filhos naturais,
entre 1790 e 1794, e cinco legítimos com Domingos, pardo, entre 1797 e 1808. Nenhum
deles teve sequer um padrinho ou madrinha cativo. João, batizado em 1793, foi apadrinhado
pelo casal Manoel Costa Rios e Ana Esméria Sousa, esta filha e aquele genro de Dona Ana
Josefa. Manoel apadrinhou, em 1794, também a Zeferino, que teve como madrinha Joana
Freire, filha de José Mata, proprietário, em 1793, de sete escravos. Entre os filhos legítimos
de Dionísia e Domingos, Francisco, em 1797, teve como padrinhos os filhos de sua senhora,
Francisco José Teixeira e Maria Sousa Monteiro. Ana Esméria Sousa foi madrinha de mais
um filho de Dionísia, Anastácio, batizado em 1800, desta vez, em companhia de seu cunhado
José Costa Rios. E, por fim, Lucinda, batizada em 1805, teve como padrinho Antonio Costa
Rios, que, embora não disponha de informações precisas, suponho, pela semelhança dos
sobrenomes e proximidade do relacionamento, ser parente de José Costa Rios e Manoel Costa
Rios, genro da proprietária da escravaria.
Dionísia foi a única escrava da propriedade a ter como padrinhos de seus filhos
membros da família senhorial. E os teve em abundância! Parecia ser, portanto, uma cativa
que gozava de situação privilegiada em comparação com seus companheiros de cativeiro.
Talvez por isso tenha sido escolhida como madrinha de Gregório, filho legítimo de Ana
Benguela e José Ferreira, crioulo, batizado em 1794.

7
Veja-se, por exemplo, a atuação importante das forras como negras de tabuleiro e a ocupação de espaços de
sociabilidade junto à população negra. Cf. FARIA, 2001 e FIGUEIREDO, 1993.

12
No entanto, não é só através da prole de Dionísia que se pode perceber como o
domínio senhorial se aproveitava dos elos de compadrio para exercer seu poder. O
cruzamento das informações sobre famílias escravas e livres, permitiu-me perceber que o
forro Jerônimo Almeida Coutinho, padrinho de Maria, filha legítima dos cabras Mariana e
Damásio, tinha escolhido como padrinhos de sua filha, em 1792, a João Coelho – padrinho de
mais duas crianças desta escravaria - e Dona Ana Josefa Sousa. Esta foi também madrinha,
juntamente com seu genro Manoel Costa Rios, em 1791, de uma filha legítima da forra Ana
Gurgel Ferreira, que por sua vez foi madrinha de Luciano, filho de Ana Benguela e José
Ferreira, crioulo. Ou seja, uma comadre e um compadre da proprietária da escravaria
apadrinharam crianças a ela pertencentes. A teia de poder e aliança parece claramente
delineada. Enquanto para alguns escravos mais próximos filhos e genros exerciam o
apadrinhamento, para outros, os elos da parentela pareciam mais indiretos, recorrendo a
parentes rituais. Em ambos os casos, porém, fica nítido como eram as relações da família
senhorial que viabilizavam o diálogo entre o que Gudeman e Schwartz afirmaram ser dois
idiomas distintos, ou seja, escravidão e compadrio.
Dizer isso não significa, porém, negar interesses e escolhas feitas pelos próprios
cativos em relação ao compadrio. Se para os senhores era interessante utilizar o compadrio
como mecanismo de reforço de seu domínio, para os escravos não era menos buscar uma
proximidade com a família senhorial, através do parentesco ritual, que pudesse lhes conceder
melhores condições no cativeiro ou mesmo mais chances de conquista da alforria.

3. Compadrio de Escravos Adultos


O apadrinhamento de escravos adultos8 segue padrões distintos dos de crianças.
Como observado para outras regiões, até 1760, é majoritária a escolha por padrinhos
escravos. Este dado tem sido interpretado pela historiografia como sinal de que a escolha
devia ser feita pelo proprietário, que, normalmente, indicava um outro cativo seu, já antigo na
escravaria, como padrinho, objetivando que este ajudasse o afilhado a se ambientar no
cativeiro. Roberto Guedes Ferreira, citando o viajante Debret, destaca o costume dos
senhores escolherem escravos mais “velhos” ou “virtuosos” para apadrinharem africanos
adultos; bem como a responsabilidade dos padrinhos para com os afilhados em sua adaptação
ao cativeiro (FERREIRA, 2001, pp. 53-54).

Tabela 5
Condição dos Padrinhos de Escravos Adultos, por décadas
Cond. Pd. Livre Escravo Forro S/Pd. Total
Décadas
1736-1740 59 15,5% 298 78,0% 20 5,2% 5 1,3% 382 100%
1741-1750 65 19,6% 245 73,8% 20 6,0% 2 0,6% 332 100%
1751-1760 32 28,6% 72 64,3% 8 7,1% - 112 100%
1761-1770 96 41,0% 96 41,0% 36 15,4% 6 2,6% 234 100%
1771-1780 29 48,3% 25 41,7% 6 10,0% - 60 100%
1781-1790 89 49,4% 77 42,8% 12 6,7% 2 1,1% 180 100%
1791-1800 41 53,3% 29 37,7% 7 9,0% - 77 100%
1801-1810 11 55,0% 3 15,0% 4 20,0% 2 10,0% 20 100%
1811-1820 246 66,7% 112 30,3% 8 2,2% 3 0,8% 369 100%
1821-1830 254 75,8% 76 22,7% 5 1,5% - 335 100%
1831-1840 91 67,4% 41 30,4% 3 2,2% - 135 100%
1841-1850 13 68,4% 6 31,6% - - 19 100%
Fonte: MNSP. Registros Paroquiais de Batismo da Matriz de Nossa Senhora do Pilar de São João del Rei, 1736
– 1850.

8
É importante lembrar que estou trabalhando apenas com os escravos adultos batizados em São João del Rei.
Tenho consciência de que muitos já haviam sido batizados na África ou mesmo nos portos de desembarque.

13
No entanto, como se pode observar na Tabela 6, não foram essas décadas as que
apresentaram maior presença de padrinhos escravos do mesmo senhor que o batizando. Ao
contrário, em momentos em que a opção por padrinhos cativos diminuiu, houve crescimento
em termos percentuais da escolha interna à escravaria. Indício talvez de que a maior opção
por padrinhos livres não se deu em detrimento daquela por cativos da mesma unidade, mas
sim da escolha de cativos de fora dela. Ou seja, foi no universo externo à propriedade
escravista, que houve a mudança, passando os escravos adultos a terem como padrinhos
proporcionalmente mais homens livres do que cativos pertencentes a outros senhores.

Tabela 6
Padrinhos Escravos da Mesma Escravaria que o Batizando
Pd. Escravo da mesma escravaria que o batizando Pd. Escravo
1736-1740 93 31,2% 298
1741-1750 41 16,7% 245
1751-1760 13 18,0% 72
1761-1770 22 22,9% 96
1771-1780 13 52,0% 25
1781-1790 32 41,6% 77
1791-1800 19 65,5% 29
1801-1810 2 66,7% 3
1811-1820 52 46,4% 112
1821-1830 28 36,8% 76
1831-1840 9 21,9% 41
1841-1850 2 33,3% 6
Total 326 30,2% 1080
Fonte: MNSP. Registros Paroquiais de Batismo da Matriz de Nossa Senhora do Pilar de São João del Rei, 1736
– 1850.

Ora, se a presença de padrinhos cativos do mesmo senhor que o batizando é


interpretada como sinal de uma escolha senhorial, parece-me que os dados de São João del
Rei permitem questionar se a tendência predominante foi realmente esta. Ou seja, não seriam
os próprios batizandos que escolheriam seus padrinhos? Sheila de Castro Faria, referindo-se
ao batismo de crianças, é categórica ao afirmar que “seria absurdo supor senhores indicando
como padrinhos de seus cativos escravos de outros donos”(FARIA, 1998, p. 321).
Lembrando da preocupação do Conde de Assumar, em 1719, com o fato de cativos serem
apadrinhados por outros escravos, creio que dificilmente essa seria uma escolha senhorial.
Fica, então, a questão: teriam os africanos recém-chegados condições de escolherem seus
padrinhos? Possuiriam teias sociais que embasassem tais escolhas? E mais, por que estas
recairiam preferencialmente sobre pessoas de fora da escravaria?
É comum que os batizandos adultos sejam referidos, na historiografia, como
recém-chegados. Tenho dúvidas, porém, de que os africanos fossem batizados tão
rapidamente. As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia determinavam que os
cativos deveriam ser batizados, mas para isso deveriam manifestar o desejo de sê-lo. E antes
disso, as mesmas Constituições determinavam que deveriam ser instruídos na fé católica, o
que requereria certamente algum tempo e permitiria aos cativos estabelecerem laços com
livres, libertos e escravos de sua escravaria ou não. (VIDE, 1720, Livro Primeiro, Título
XIV).
Além disso, devemos lembrar que os africanos não chegavam ao Novo Mundo
completamente desprovidos de laços sociais. Robert Slenes analisou a constituição de

14
sociabilidades no tráfico, tanto na travessia da Kalunga, quanto ainda em solo africano nas
viagens até os portos de embarque (SLENES, 1992). É claro que muitos malungos eram
separados no desembarque, vendidos para diferentes regiões. Mas muitos podem ter seguido
juntos do Rio de Janeiro para as Gerais, ou mesmo, nesta viagem, novos laços podem ter se
construído entre os cativos destinados a São João del Rei. Na região, mesmo se vendidos para
senhores diferentes, podem ter mantido relações sociais que poderiam se desdobrar em
vínculos de compadrio.
Em relação ao predomínio de pessoas de fora da escravaria a apadrinharem os
cativos, uma vez mais deve se lembrar que o tamanho das mesmas é uma variável importante
a ser considerada. Predominando em São João escravarias de menor tamanho, restringem-se
as possibilidades de escolhas em seu interior.
Em relação às madrinhas, observa-se que, embora as cativas aparecessem em
proporções expressivas, seus índices eram inferiores aos dos homens escravos que atuaram
como padrinhos de africanos. Além disso, nota-se uma tendência, ao longo do período, à
diminuição do percentual de madrinhas escravas e um aumento da opção pelas livres. Assim
como observado para os padrinhos, a maior presença proporcional de madrinhas escravas
registra-se até 1760.

Tabela 7
Condição das Madrinhas de Escravos Adultos, por décadas
Cond. Md. Livre Escravo Forro Protetora S/Md. Total
Décadas
1736-1740 55 14,4% 201 52,6% 110 28,8% - 16 4,2% 382 100%
1741-1750 34 10,2% 129 38,8% 152 45,8% - 17 5,2% 332 100%
1751-1760 17 15,2% 51 45,5% 38 33,9% - 6 5,4% 112 100%
1761-1770 58 24,9% 74 31,8% 90 38,6% - 11 4,7% 233 100%
1771-1780 17 28,4% 21 35,0% 20 33,3% - 2 3,3% 60 100%
1781-1790 63 35,0% 58 32,2% 28 15,6% - 31 17,2% 180 100%
1791-1800 32 41,6% 17 22,1% 15 19,5% - 13 16,8% 77 100%
1801-1810 9 47,4% 6 31,6% - - 4 21,0% 19 100%
1811-1820 191 51,7% 101 27,4% 12 3,3% - 65 17,6% 369 100%
1821-1830 186 56,4% 72 21,8% 4 1,2% - 68 20,6% 330 100%
1831-1840 72 54,5% 39 29,5% 3 2,3% 1 0,8% 17 12,9% 132 100%
1841-1850 14 73,7% 4 21,0% - - 1 5,3% 19 100%
Fonte: MNSP. Registros Paroquiais de Batismo da Matriz de Nossa Senhora do Pilar de São João del Rei, 1736
– 1850.
OBS: Foram excluídos da Tabela 10 registros de batismo de escravos adultos nos quais as madrinhas foram
substituídas por segundos padrinhos: um caso, entre 1761 e 1770; um, entre 1801 e 1810; cinco, entre 1821 e
1830; e três, entre 1831 e 1840.

Uma vez mais o comportamento da escolha de madrinhas se assemelha ao dos


padrinhos: os períodos de maior presença das cativas entre as madrinhas não correspondem
às décadas de maior percentual de escravas pertencentes aos mesmos donos que os
batizandos. São dominantes as relações externas à escravaria na escolha das madrinhas.

15
Tabela 8
Madrinhas Escravas da Mesma Escravaria que o Batizando
Md. Escrava da mesma escravaria que o batizando Md. Escrava
1736-1740 34 16,9% 201
1741-1750 12 9,3% 129
1751-1760 12 23,5% 51
1761-1770 18 24,3% 74
1771-1780 10 47,6% 21
1781-1790 21 36,2% 58
1791-1800 6 35,3% 17
1801-1810 3 50,0% 6
1811-1820 39 38,6% 101
1821-1830 31 43,0% 72
1831-1840 11 28,2% 39
1841-1850 1 25,0% 4
Total 198 25,6% 773
Fonte: MNSP. Registros Paroquiais de Batismo da Matriz de Nossa Senhora do Pilar de São João del Rei, 1736
– 1850.

As escolhas de pessoas de fora da escravaria eram, certamente, mais comuns nas


menores propriedades. Tomando como exemplo uma grande unidade, como a de Tomás
Mendes, que, em 1823, por ocasião de seu inventário, possuía 48 cativos e, entre 1812 e
1815, teve 20 escravos adultos batizados, percebe-se a preferência por padrinhos e madrinhas
pertencentes ao mesmo senhor. Dos 20 padrinhos, 14 eram escravos e 13 deles pertenciam a
Tomás Mendes. Dentre as madrinhas, os números se repetem e, mais do que isso, sempre que
o padrinho era escravo de Tomás a madrinha também o era. O único casal de escravos que
não pertencia à escravaria a apadrinhar um cativo adulto foi formado por Inácio, Inácio
Angola e Faustina cabra. Ambos tinham à época do batizado, em 1815, cerca de 28 anos e
pertenciam ao Capitão Jerônimo José Rodrigues. Genro de Tomás Mendes e casado
sucessivamente com duas filhas suas. A proximidade familiar dos proprietários poderia tanto
justificar uma escolha senhorial dos padrinhos, quanto propiciar maior contato entre seus
cativos, que se desdobrassem em laços de compadrio.
Em relação aos padrinhos pertencentes à escravaria de Tomás Mendes, não pude
identificá-los no inventário do senhor, pois alguns possuíam nomes comuns como Antonio,
João ou José. Já Anacleto, nome mais raro, não foi mencionado naquele documento. Talvez,
já tivesse falecido ou sido negociado, por ocasião do falecimento de seu senhor, cerca de 10
anos depois dos batismos em que atuou. Em relação às madrinhas, a busca foi mais feliz. Em
primeiro lugar, vale destacar que quatro escravas de Tomás Mendes foram madrinhas em 13
batismos. Destas, três eram crioulas, com idades entre 30 e 40 anos. A única africana, Juliana,
de nação Benguela, era casada com Antonio Benguela, e possuía, na ocasião dos três
batismos em que atuou, em 1813, aproximadamente, 60 anos. Ou seja, nitidamente, tratavam-
se de escravas já habituadas à vida no cativeiro, fosse por terem nele nascido ou, no caso da
africana, por já apresentar uma idade avançada. Aptas por tanto a auxiliarem na adaptação
dos novos cativos.

4. Conclusão
É importante reafirmar, nesta conclusão, as idéias de Gudeman e Schwartz sobre
as dificuldades em se compatibilizar os idiomas da escravidão e do compadrio(GUDEMAN
& SCHWARTZ, 1988).

16
O Sargento-Mor João da Silva Ribeiro de Queiroz protagonizou, em São João del
Rei, uma situação incomum à sociedade escravista brasileira. Em seu testamento, datado de
1788, afirmava:
Declaro que possuo um pardo meu afilhado por nome Cesário,
filho de Caetana crioula escrava que foi de Dona Francisca, o
qual, em atenção ao seu serviço, o hei por forro e liberto como
se tal nascesse do ventre da mãe, e juntamente em atenção aos
mesmos serviços, lhe deixo para sua sustentação 400$000 e
meus testamenteiros lhe passarão carta de liberdade no caso que
eu lhe não tenha passado (Inventário post-mortem do Sargento-
Mor João da Silva Ribeiro de Queiroz, 1788, Cx. 421).

Com já visto, raros foram os casos de proprietários que apadrinhavam seus


próprios cativos. É possível que, à época do batismo, Cesário não fosse escravo do Sargento-
Mor, pois sua mãe é referida, no documento acima, como ex-escrava de outra senhora. De
qualquer forma, o modo de redação desta verba testamentária explicita o quanto o testador
parecia não se sentir à vontade com o duplo vínculo que o unia a Cesário. Embora o tenha
mencionado como seu afilhado e beneficiado com a liberdade e com o legado monetário,
justificou estas concessões não pelos vínculos do compadrio, mas – como se fazia
normalmente a outros cativos – pelos serviços por ele prestados. Mesmo destacando-o do
conjunto de sua escravaria – provavelmente em função do parentesco ritual que os unia –
utilizou-se da ideologia escravista, reforçando a lógica dos “prêmios” a que fariam jus os
cativos que prestassem bons serviços a seus senhores.
Mas o Sargento-Mor João da Silva Ribeiro de Queiroz não foi o único senhor a
beneficiar um afilhado, que também era seu cativo, em testamento. O grande proprietário
escravista Bento Pinto Magalhães assim se manifestou em uma das verbas do seu longo
testamento:
Ordeno que um afilhado que tenho por nome Roque e outro por nome
Manoel que não é afilhado estes os coarto em 50$000, com
declaração que servirão qualquer destes até terem 25 anos de idade
por não ficarem fora do domínio; estes sem Doutrina se perdem e
passados os 25 anos lhe darão meus testamenteiros dois anos para
dentro neles procurarem as ditas quantias; e sendo caso que meus
testamenteiros entendam que os sobreditos têm capacidade para se
regerem e governar, dispensarão o tempo que faltar para os 25 anos,
Roque ao fazer deste tem doze anos e Manoel oito; e recomendo a
meus testamenteiros se não descuidem da administração, para que por
falta desta e ensino e castigo procedam mal (Inventário post-mortem
de Bento Pinto Magalhães, 1766, cx. 333).

Bento não era um proprietário escravista comum. Foi senhor de mais de 60


cativos e, em seu testamento, afirmou o desejo de que todos os escravos e escravas que
possuísse, depois de seu falecimento, fossem coartados, para, em um prazo de três anos,
pagarem a terça parte do valor pelo qual fossem avaliados. Esta determinação se justifica,
provavelmente, pelo fato de, por ocasião da redação do testamento, ser Bento ainda solteiro e
sem herdeiros necessários. Quando morreu, porém, já era casado e com filhos, o que
provavelmente justificou o não cumprimento daquela verba. No entanto, é interessante
destacar que, com os dois escravos, Roque e Manoel, a preocupação de Bento parecia distinta
das com os demais. A eles não bastava pagarem pela liberdade, deveriam permanecer até os
25 anos – que, à época, era a maioridade legal – dentro do “domínio”, recebendo o que o
testador considerava serem os meios necessários para terem um bom encaminhamento na

17
vida – “administração, ensino e castigo”. Não tenho como saber os motivos para que Manoel
fosse destacado, mas Roque parecia dever a preocupação especial ao laço do parentesco
ritual. Seriam irmãos estes dois cativos, o que justificaria terem sido tratados pelo senhor de
forma semelhante? Infelizmente, não possuo resposta para a questão. Não localizei seus
assentos de batismo, nem tenho qualquer outra informação sobre eles. O testamento de Bento
foi escrito doze anos antes de sua morte, datando de 1754, enquanto o inventário foi aberto
em 1766. Neste, nenhum escravo de nome Roque foi arrolado. Teria sido ele já alforriado
pelo senhor, uma vez que, nesta época, já deveria estar próximo dos 25 anos de idade? Mais
uma questão que fica em aberto... Escravos de nome Manoel existem vários listados no
inventário... impossível saber se algum deles seria o referido naquela verba.
De qualquer forma, o trecho do testamento deixa mais uma vez clara a
complexidade da sociedade escravista. Um olhar anacrônico poderia não ver, nas palavras do
testador, um benefício ao afilhado e a seu companheiro de cativeiro, posto que os seus demais
escravos ficariam coartados num tempo menor do que o previsto para eles. No entanto, é
importante perceber a existência de uma preocupação pedagógica na atitude senhorial. Ensino
e castigo eram um binômio que, nesta sociedade, orientava – ainda que sob formas e
objetivos distintos – não só a sujeição de cativos, mas também a criação dos filhos9. Desta
forma, esta preocupação do testador com seu afilhado pode ser lida por estes dois lados:
educação filial e subordinação senhorial. Efetivamente, compadrio e cativeiro não eram
facilmente compatibilizáveis. Nos momentos em que afilhados cativos foram de algum modo
beneficiados por seus padrinhos/senhores, nota-se que as concessões eram justificadas
claramente dentro da ideologia escravista. O compadrio – ainda que gerasse uma relação de
parentesco entre as partes envolvidas – não rompia com a ordenação básica da sociedade.
Caso sugestivo, a este respeito, foi narrado por Robert Slenes, referindo-se a uma escrava
que, em Campinas, entre 1863 e 1865, fugiu por duas vezes do locatário de seus serviços, que
era seu compadre, padrinho de uma de suas filhas (SLENES, 1997, p. 259)10, o que
demonstra que não necessariamente o compadrio gerava um vínculo de cumplicidade entre os
envolvidos.
O compadrio não era, por princípio, uma relação entre iguais. Antes, os pais, em
geral, procuravam dar seus filhos a apadrinhar por pessoas de algum modo situadas acima
deles na hierarquia social. Os legados testamentários deixados por padrinhos a afilhados
eram, em certa medida, decorrência daquela lógica.
Por outro lado, é inegável que afilhados se constituíam em recurso de poder
importante de que dispunham os padrinhos. Maria Sylvia de Carvalho Franco tem razão
quando afirma “o componente de dominação existente nos laços entre padrinho e afilhado”
(FRANCO, 1969, p. 81). Acrescentaria, porém, que esta não se manifestava apenas entre os
indivíduos assim vinculados, mas se estabelecia entre suas unidades familiares. O bando do
Conde de Assumar, datado de 1719, demonstra uma percepção de que não só os livres se
utilizavam dos mecanismos de poder presentes nos laços de compadrio. O Governador temia
exatamente o ganho de poder conferido aos padrinhos negros por esse mecanismo, capaz de
fortalecer lideranças entre eles.
No entanto, Maria Sylvia de Carvalho Franco também destaca que esta
dominação se ergue sobre um fundamento de equivalência. Pais e padrinhos aparecem, no ato
batismal, partilhando responsabilidades sobre a criança. Neste sentido, ideologicamente, as
distâncias sociais se minimizam. Simbolicamente, a hierarquia existente no compadrio se
daria entre padrinhos e afilhados. Não foi à toa que se desenvolveu o hábito de estes deverem
tomar a bênção àqueles (GOLDSCHMIDT, 1994). Seria um sinal de respeito quase filial.
9
Sobre o caráter pedagógico e exemplar do castigo para os escravos, cf. LARA, 1988.
10
A história desta escrava é ainda fantástica, por ter-se tornado propriedade de um de seus filhos, tido com o
senhor, que o reconheceu e deixou como herdeiro.

18
Mas pais e padrinhos, em princípio, são tidos nesta relação como “iguais”. Entre eles deveria
haver solidariedade, na intenção do benefício das crianças.
Era, provavelmente, a partir deste aspecto simbólico que afilhados e suas
famílias, de todos os grupos sociais, geravam expectativas em relação aos padrinhos,
sobretudo no que dizia respeito à proteção de seus parentes rituais. Daí a escolha freqüente de
padrinhos mais bem situados na hierarquia social e que, portanto, disporiam também de mais
recursos, não só econômicos, para proteger seus afilhados, inclusive, no caso dos cativos,
facilitando-lhes o acesso à alforria. Não é à toa que, até hoje, os termos padrinho e madrinha
são utilizados para designar benfeitores, ainda que nenhum parentesco ritual exista entre as
partes. A idéia de proteção vincula-se quase que “naturalmente” ao termo apadrinhar, como
se pode perceber, por exemplo, em um crime praticado na Vila de São José, em 1837, e
analisado por Maria Tereza Cardoso (CARDOSO, 2002). Nele, o crioulo Manoel agrediu o
pardo José com facadas, quando ambos procuravam conquistar a companhia da crioula forra
Maria Clara. O agressor tentou ferir também a esta, mas, conforme se afirma no processo, ela
se “apadrinhou” com outras mulheres que estavam no local. Não parece ser à toa que o termo
assumia este significado, o que só se explica pela prática social de os afilhados serem
protegidos por seus padrinhos.
Para concluir, gostaria de destacar que se o compadrio se tornou uma relação
extremamente relevante na sociedade brasileira, isso não se deveu apenas ao significado que
possuía para a religião católica ou para a elite senhorial, interessada em ampliar suas teias de
poder. Os cativos e seus descendentes incorporaram e re-significaram esta relação, a
princípio, construída a partir de um sacramento católico. Nas religiões afro-brasileiras,
encontramos alguns elementos que nos permitem sugerir essa atitude em relação ao
compadrio. Segundo Yeda Pessoa de Castro, o termo compadre refere-se,entre o povo-de-
santo, ao exu que guarda o terreiro (CASTRO, 2001, p. 210). Ora, o exu é a entidade
responsável pelos caminhos, pelo contato entre os homens e os orixás. Em última instância, é
responsável por encaminhar as vidas dos fiéis, por realizar-lhes os pedidos. O paralelo com o
compadrio parece-me claro. Além disso, o exu guardião dos terreiros deve proteger os que ali
se encontram e todos devem saudá-lo ao entrar na casa. No candomblé, o xirê começa
exatamente com cantigas para ele, que detém a primazia entre os orixás. Ora, justamente ele
é referido como compadre. Na umbanda, a gira de Exu é também denominada de “gira dos
compadres e comadres”. Estas últimas são as pombogiras. Ainda no candomblé, no ritual do
oruncó, ou seja, na saída de iaô, quando este anuncia seu nome no meio do terreiro,
assumindo assim uma nova identidade como filho de santo, é fundamental a atuação de um
padrinho ou madrinha de oruncó, escolhido pelo Pai ou Mãe de Santo, entre os presentes. É
esse padrinho ou madrinha que conduz o iaô e lhe indaga sobre seu nome. Normalmente, o
papel é assumido por um outro Pai ou Mãe de Santo e a escolha tem o sentido de estabelecer
ou reforçar laços entre as casa de candomblé. Novamente, o paralelo parece evidente. A saída
de santo marca, para o iaô, o ingresso em uma nova vida e, através dela, se estreitam alianças
entre casas de candomblé. De modo semelhante, no rito católico, o batizando ingressa na
comunidade religiosa e, através do compadrio, se solidificam laços entre sua família e a dos
padrinhos e madrinhas. Entendo que estes pequenos indícios têm força suficiente para
demonstrar como cativos africanos e seus descendentes partilharam e re-elaboraram um
elemento católico à luz de seus universos culturais.

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19
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