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O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS

Visão global da obra:


Representações do século XX: o espaço da cidade, o tempo
histórico e os acontecimentos políticos
Em 1936, assiste-se a uma Europa politicamente conturbada entre as
ditaduras de índole fascista e os movimentos de esquerda que tentavam
triunfar. Foi o que aconteceu em França e em Espanha. Neste último
caso, a eleição de um governo republicano democrático de esquerda, em
coligação com o Partido Socialista (e com aliança com comunistas e
anarquis- tas), conduziu a um golpe de Estado levado a cabo pelas
forças nacionalistas (falangistas) e encabeçado pelo general Franco,
culminando numa sangrenta guerra civil. A Alemanha e a Itália
afirmavam-se, em contrapartida, como grandes potências económicas e
tentavam alargar o seu domínio territorial: ocupando a Renânia (no caso
alemão) e anexando a Etiópia (no caso italiano). A tudo isto assistia
indiferente a Sociedade das Nações, e a Inglaterra, que, ao mesmo
tempo que se escusava a tomar uma posição sancionatória em relação à
Alemanha e à Itália, reivindicava a redistribuição de colónias
portuguesas.

Em Portugal, vivia-se um regime ditatorial, liderado por Salazar,


fortemente enraizado através de uma intensa propaganda política, que
pretendia fomentar a ideia da prosperidade e da grandeza do império, da
conivência da Igreja, assente na visão de Salazar como o salvador da
moralidade cristã, e da criação de movimentos, como o da Mocidade
Portuguesa, que desde cedo incutiam na população os valores e a
ideologia do regime. A censura, a repres- são policial, a tortura ou a
prisão eram as armas usadas contra quem se opunha à ordem vigente,
tendo sido para o efeito criada a Polícia de Vigilância e Defesa do
Estado. De uma forma geral, o povo vivia na miséria e o país estava
mergulhado num estado de estagnação.
É para estas realidades que o narrador, velada e indiretamente, pretende
chamar a aten- ção. A cidade de Lisboa, palco da ação, apresenta-se
como um labirinto, monótona, pobre, sombria, silenciosa, chuvosa, de
águas turvas, metáforas que contribuem para evidenciar a opressão e a
repressão exercidas pelo regime sobre o povo.
Desta forma se percebe a afirmação final: a terra aguarda pela mudança.

Deambulação geográfica e viagem literária


Ao fim de dezasseis anos, Ricardo Reis regressa à pátria e revisita a
cidade de Lisboa, constatando que pouco mudou – sinal da estagnação
do país. No entanto, o percurso pelas ruas (desde a rua do Comércio ao
Terreiro do Paço, do Chiado à praça da Figueira ou da rua do Alecrim ao
Alto de Santa Catarina) permite deambulações de natureza literária.
Assiste- se, assim, a pretexto do que Reis vai observando e captando da
realidade, à evocação de diversos textos, entre
os quais a Bíblia, e de autores como Fernando Pessoa, Alberto Caeiro,
Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Camões, Eça de Queirós, Cesário
Verde, Almeida Garrett, Jorge Luís Borges, Dante, Cervantes ou Virgílio.

Representações do amor

Intertextualidade: José Saramago, leitor de Camões, Cesário


Verde e Fernando Pessoa
Linguagem, estilo e estrutura
REPRODUÇÃO DO DISCURSO NO DISCURSO

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