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3 SOBRE A QUE! BRASIL* tho DA INFLUENCIA AMERINDIA NA FORMAGAO DO PORTUGUES Do Lucia Maria Pinheiro Lobato 1 Ixtropu¢ao O propésito deste artigo ¢ trazer novamente para O forum de discussdes, com base em novos dados empiricos, a questéo de uma possivel influéncia de linguas indigenas ou das linguas gerais (de origem indigena) na formasio do portugués do Brasil. Sera defendido que essa formagio se deu em virtude dea aprendizagem do portugués pela maioria da populagdo do Brasil durante os sécuos XVI, XVII ¢ XVIII ter ocorrido como segunda lingua cm idade adulta. O artigo argumenta que isso ocorreu sem influéncia direta estrutural dessas linguas. Nessa linha de pensamento, qualquer influéncia amerindia ter tido 0 mesmo efeito da influéncia das linguas africanas, faladas pelos escravos africanos ¢ afro-descen- dentes, também adquiridas na mesma situagao. A hipotese de a causa da formagao do portugués do Brasil ter sido 0 contato com as linguas indigenas e as linguas gerais parece, a principio, muito plausivel. A colonizag3o portuguesa no Brasil ocorrcu inicialmente na costa, tendo Sio Paulo (precisamente Sao Vicente ¢ Piratininga, no leste do atual estado de Sa0 Paulo) como o limite sul ¢ 0 norte dos atuais estados do Maranhio e do Para como 0 limite norte.' A lingua falada no leste do atual estado de Sao Paulo, 29 longo do Tieté, era o tupi. Do Rio de Janeiro para cima, a lingua falada era 0 tupinamba. O modo como se deu a colonizagio favoreceu nos extremos stl ¢ norte dessa primeira rea colonizada a formacio de Iinguas gerais, de base indigena, tendo-se constituido uma lingua geral paulista no sul, de base tupi © uuma lingua geral amazénica no norte, de base tupinamba. Na longa extens? costeira intermediéria, que vai do Rio de Janeiro ao Piaui, nao houve tal forma¢i0 ae 5 formagio de linguas gerais nessa extensio da costa fi de igragdo portuguesa, com estabelecimento de fam! 56 for ~ ae ae Jf formadas, o que nao permitiu a situagdo de grande mestigagem que se dev #9 dois polos extremos da coloniza si a ‘nio d0s ay 'gao em seu inicio, e, d sxterminio 4 povos indigenas, , €, de outro, 0 ¢: ext Por massacre ou docngas. A formagio de linguas gerais ®°* remos ni i : : See sul do dominio geogréfico da colonizagao foi favorei@ © Porque 0 afluxo de colonos Portugueses nessas regides foi menor do Na verdade, os indios tupis de Sao Pau independente e culturalmente diverso, lo foram-se extinguindo como povo , sobretudo por efeito da escravi: ao intensiva, e sua lingua passou a reproduzir-se essencialmente como idioma dos mestigos, isto é dos mamelucos, ainda quando jé nio mais havia a interferéncia direta de indigenas nas familias: a situagao lingiifstica das farnilias de portugueses casados com mamelucas devia entio ser basicamente a mesma das familias constituidas por mamelucos ¢ mamelucas: falava-se cor- rentemente a lingua originalmente indigena e apenas o marido e, a partir de certa idade, os filhos homens eram bilingiies em portugués (com dominio pleno desta lingua se eram portugueses, com dominio provavelmente restrito em diferentes graus quando cram mamelucos). Nessa situagio, a lingua que falavam os paulistas ja nao mais ser via a uma sociedade ea uma cultura indigenas, mas sociedade e & cultura portuguesa. Essa progressiva mudanga nas condigbes da lingua, somada ao bilingiiismo (de parte) dos homens, deve ter acarretado modificages em varios aspectos desta. Tal lingua, generalizada na populagio paulista de meados do século XVII a meados do século XVII, éque se chamou, em Sio Paulo, de lingua geral. ‘0 Paulo teve inicio no século XVI ¢ 0 uso do tupi como lingua materna pelos mestigos (mamelucos) perdurou até o final do século XVII, como confirmou o padre Anténio Vieira cm 1694: “E certo que as familias dos esto tdo ligadas hoje humas as outras, que as ca lingua que nas ditas rd escola A colonizagao de Si portuguezes ¢ indios de Sao Paulo mulheres ¢ os filhos se criam mystic familias se fala he a dos indios ¢ a porty L.-J"? A lingua geral paulista foi falada genera! nente Pi mae do pirigen : meados do século XVIII, como ja aes opal 4 colonizacao portuguesa somente teve éculo XVII, dep = mneadlos do dos franceses de Sio Luis e areas vizinha século XVIII, quando foi extinta essa populagao indig foi falada desde 0 século XVII ¢ continua em uso ate dos séculos XVIII, XIX ¢ XX. ‘a e domesticamente, iguza a vao 0s meninos aprende Jizadamente pela populagio de No norte, inicio no s. © tupinamba foi falado osé Jigena. A lingua geral amazdnica hoje, havendo dela registros Lucia Maria Pinheiro Lg, to 56 é Brasil ter sido o cont A favor dea causada formagio do portugues onto dois fatos a com fs jis tem0Ss . - Primero fi at as linguas gerais Primero, g as linguas indigenas ¢ com als de pais portugueses nd dois Primeitoy das fai vic XVII) ter sido o tupi em g, fato de a lingua da maioria séculos da colonizagio portug Paulo, e, no segundo século da.c0£ Maranhio e Para, sendo 0 portus’? apre © Padre Vieira. Segundo, © fato de que lingua geral) continuou @ § meados do século xvill, eno Ma ; lois outros fatos. Primelrs azonica ampliara a ees Io XVII), ter sido 0 tupinambs ng or srendido 18 escola pelas criangas, como diss, um desenvolvimento dessas linguas (, 2 paulo, de meados do século XV nphio ¢ Pari, do seeulo XVIE att hoje, Acrescen, XVII tanto a lingua geral paulit, no século g eeu territorio geografico, No ciso dy pandeirantes, que 2 Jevaram para Minas do Parana. No caso da lingua gera sa, que se deu.ao longo do er usado, se a isso d ‘tanto a lingua geral amazénica Tings geral alist, cera essa a lingua dos Gerais, sul de Goias, Mato Grosso ¢ norte a expansio acompankou 3 exP=nsi0 portugues “hy sleangado a Amazbnia venezuelana e colombiana, fs, como veiculo de comunicagio ¢ iniciou na primeira ‘metade do século XVIII, tendo o pais se tornado ver te a partir de meados do século XVI. Apesar de haver pelo menos esses quatro fatos a favor dessa hipétese, hi uma tendéncia quase undnime a se rojeitar a influéncia das Iinguas indigenas e das lingua geras sobre o portugues a nfo ser no vocabuldrio, onde se dew uma rica criagio de empréstimos na toponimia ¢ no Téxico da flora e da fauna, entre drigues, em mais de uma publicagdo (RODRIGUES, e-se a cle a distingio entre duas i) ¢ a amazénica (originada do amaz6nica, "Amazonas ¢ afluentes, ten da lingua geral pelo portugt rio Segundo, a troca didria, somente S -dadeiramente lus6fono soment outros campos seménticos. Ro 1986, 1996), tem defendido essa rejeigao. De Iinguas gerais, a paulista (com origem no tup’ tupinambi).. Segundo cle, a influéncia estrutural se deu comprovadamente do or tus ir i ic ; . 7 poregus paras linguas gerais, ¢ no do tupi, do tupinamba ou das lingues \is para 0 é: énci: i ge P ; portugués. A influéncia dessas linguas para o portugués, nos diz ae ae restringido a0 vocabulrio, Nesses trabalhos cle compat® 0 le ad ete aaa quanto ao sistema de sons, is formas verbais, 20 sistem* vos, a distingao de géi a F . além dso, compara dados de af Bésero ¢ nimero, ¢ a distinjies Jono y lo ‘ fl ~ sso de mudanga lingiifsti imagat em relagdo 3 io ca lingiifstica houv yximagao 0 gramatica do portuguts gt ¢ uma aproximney Teyssier (1997, ace + P- 91) nao s6 rejei , . mas até a ironiza, falando em coats oan hipétese da influéncia amerindits i: Durante lon; 1g0 tempo mui fe PO muitas das particularidades do portugués do Bras! foram explicad: as como ores sultado de influtner, lo de influéncias amerindias ow africanas. D? cvidentes,2 errs, a generalizaesapresad las. Dois fatores, pelo Menos, s¢ mostram contrarios influéncia exclusiva das linguas indigenas ¢ linguas gerais:ofator quantitative (percentual de falanes) co fator duracao do contato, como apontado Por Mattos e Silva (2000). Quanto ao percentual de falantes, o mimero de indigenas s6 era numericamente relevante para justificar tal influéncia nos séculos XVI ¢ XVII, tendo o niimero de escravos africanos e descendentes suplantado, e em muito, o da populacdo de indigenas e descendentes a partir do século XVIII. No século XIX, houve ainda a grande imigracao curop¢ia. Como a populagio indigena, de modo geral, nao se integrou na vida das grandes cidades, é dificil ver que papel teria tido, Quanto ao fator duragio do contato, deixando de lado a regio amazénica, onde a lingua geral foi de uso constante, no sul o tupi sé foi falado em Sao Paulo até meados do século XVilea lingua geral paulista so foi falada no seu territorio expandido até meados do século XVIII. No entanto, ha ainda atualmente estudiosos defensores de uma influéncia indigena, Entre eles podemos citar Naro Scherre (NARO, 1981; Naro e SCHERRE, 2000a) e Mattos e Silva (2003), que advogam uma confluéncia de fatores, entre cles as linguas gerais, como a causa da formagio do portugués do Brasil. Exes autores nao explicitam os pontos onde teria se dado essa influéncia amerindia, Naro e Scherre (2000a, p. 451) somente dizem que a Kingua geral tupi teria sido uma forga adicional em interagao com a deriva secular trazida da Europa c oa forcas mais. Observe-se que estou pressupondo aqui uma influéncia além do ; a {vel influéncia empréstimo vocabular. Passemos agora para a questo de uma possive! i vos (incluindo ai eventuais tal influéncia, ao contrario do contato com as Hnguas africanas faladas pelos escra linguas francas africanas).A hipdtese de ter havido uma ey te adeptos da hipg anflatnet indi encontrado nao soment te re erindias, tem. “ ipotese sobre influéncias arn tos especificos de 560s dias de hoje, amas também adeptos que apontam pons SPT \ ‘ anci: evi influéncia, Guy (1981) usa fatos de concordancia como " pester a do desenvol- a) teve origem crioula. Isto é, 0 portugus a nl pore. “mento de um pidgin ou crioul colonial hipottio, de base Jee PN Essa idéia de ter havido um portugués crioulo também © P Lucia Maria Pinheirg Lob Ato (1979, p. 28-29), que diz, a0 falar do tréfico de alricanos para os grandes latifing; € centros urbanos do Brasil Colénia a partir do inicio do século xvi, Eram contingentes das mais variadas nagSes negras, quer do grupo Biny uy dos & for, . . OMPrOMiss9, para intercurso, Parece que, desde muito cedo, a sua integrarao na socadaf, quer de tribos nao-Bintu, como especialmente os Yoruba. Reuni num novo habitat, tinham necessariamente de criar uma lingua de ¢; branca, com estreitas relagdes com ela na qualidade de escravos Ij 7 ig ligados todas as suas principais atividades, propiciou o desenvolvimento de um portugués crioulo, que uniu entre si os negros das mais diversas proveniéncias ‘Também tudo indica que se adaptaram com relativa facilidade ao uso da li q P lingua geral indigena, dando-lhe ainda mais estilo e expansio. A argumentagio de Guy, com base em dados de concordancia, pode, em parte, scr resumida como a seguir: 1) No PPB a marca de plural ocorre na primeira palavra do sintagma nominal, havendo varia¢3o quanto ocorréncia nas demais posigdes. Como esse fato no tem precedente na historia da lingua, nio pode ser explicado em termos da hipdtese da evolugao natural. 2) Nas linguas africanas que podem ter influenciado na formagao de um pidgin portugués no Brasil, a marca de plural ocorre no comego do sintagma nominal, Logo, hé uma similitude de padrao entre o PPB e essas linguas, quanto a ocorréncia da concordancia. Essa similitude é ilustrada em pares como o homem / os homem do PPB, de um lado, ¢ pares como muntu (0 homem) / banto (os homens), em diversas linguas banto, como 0 songo, ¢ oktnrin (0 homem)/ dwon okinrin (08 homens) do yoruba (dados explicitados por Mussa, 1991), de outro. Em muntu/ banto, mu- ¢ ba- sio prefixos indicadores de numero — singular ¢ plural, respectivamente ~, ¢ de classe gramatical. Em okiinrin/ dwon okinrin, o singular é formado pelo morfema zero ¢ 0 plural, pelo morfema dwon. 3) A similitude ¢ evidéncia empirica a favor da hipdtese de 0 PPB ter surgido por um processo 4° crioulizagéo, uma vez que nao pode ser explicada em termos de evolugao natural. © autor nao se pronuncia acerca de possivel influéncia das linguas indigenas 04 das inguas gerais nem nesse trabalho nem em trabalho posterior sobre o mest? tema (Guy, 1989). Por sua vez, Mattos ¢ Silva (2003, p. 224-225) credita & influéncia 43s Iinguas banto e kw (entre essas iiltimas, sobretudo 0 ewe-fon ¢ o yoruba), juntamente com a influéncia do conservadorismo, a configuragio atual do sistema vocalico brasileiro, que teria mantido a mesma configuragio do sistema vocilic? portugués pré-setecentista. sobre « questo da influéncia amerindia na formagay dy be ‘Ortugués do Brasil 59 Teyssier (1997, p. 91-92), colocando- se manifesta contrério a uma influéncia ali contra a influéncia amerindia: SC em posicg etralmente opost Posigao diametralment posta, © mantf lingua. Os filélogos portugueses davam, geralmente, o seu aval a esta visio das coisas: para Goncalves Viana, por exemplo, os “erros” brasileiros sobre a colocagao dos pronomes atonos sio crioulismos, como também o so a maioria das particularidades fonéticas do portugués brasileiro, Se se defende que houve influéncia exclusivamente indigena ou exclu- sivamente africana, algumas questécs tém de ser esclarecidas, Uma delas é a do dominio geografico, apontada por Mattos ¢ Silva (2000). Essa questio diz respeito ao fato de que as linguas afticanas cobriam uma certa extensio do territério brasileiro, ¢ as linguas indigenas, outra, havendo ainda variagio no dominio de acordo com o periodo histérico. Para contornar esse problema, relativamente a influéncia do contato com as linguas africanas, Mattos e Silva (2000, 2003) levou em conta a mobilidade geogrifica e social da populacio africana e de afro- descendentes, do século XVI ao século XIX, apontada por Mattoso (1990) em sua . Evidentemente, essa mesma linha de argu- obra sobre os escravos no Bras mentagdo no é, pelo menos & primeira vista, plausivel para a populacio falante das linguas gerais, uma vez que no houve lingua geral no longo terrtério costeiro brasileiro que vai do Rio de Janeiro ao Piauf (como jé mencionado, nessa regio ou por genocidio ou por doengas,¢ para ld houve continuada imigragio de portugueses; além disso, para ld houve também grande afluxo de escravos africanos). Contudo, Rodrigues (comunicasso Pessoal) apontou haver uma grande semelhanca estrutural entre : lings oi tupinamba, Dada essa semelhanga cstrutural, 0 mesmo tipo Ge grams! a estava também presente na costa leste, a partir tupinambs, antes de sua extingao no ingistico nessa regizo (algum contato es, mesmo que nio intenso), uma ‘deria em principio ser defendida, dade geogrilica. 0s indios foram praticamente exterminados, subjacente a essas linguas, Rio de Janeiro, e nordeste, habitada pelos século XVII, Portanto, como houve contato | Certamente houve, até com formagao de uni ‘ventual influéncia de linguas indigenas po 'ndependentemente de explicagao por mobil Lucia Maria Pinheiro t, ot 7 bato diz, ao falar do trifico de africanos para os grandes latifingig . 28-29), que sin : Coe Brasil Colénia a partir do inicio do século XVII ¢ centros urbanos do Eram contingentes das mais variadas nagOes negras, quer do grupo Binty, quer de tribos nao-Bantu, como especialmente os Yoruba. Reunidos & fore, vam novo habitat, tinham necessariamente de criar uma lingua de compromissy 10. Parece que, desde muito cedo, a sua integracao na sociedade Jages com ela na qualidade de escravos ligados 3 o desenvolvimento de um para intercurs¢ branca, com estreitas rel todas as suas principais atividades, propiciou 1s das mais diversas proveniéncias, portugués crioulo, que uniu entre si os negro Jativa facilidade 20 uso da lingua Também tudo indica que se adaptaram com rel geral indigena, dando-Ihe ainda mais estilo ¢ expansio. A argumentagio de Guy, com base em dados de concordancia, pode, em 1) No PPB a marca de plural ocorre na parte, ser resumida como a seguil primeira palavra do sintagma nominal, havendo variagio quanto a ocorréncia nas demais posigées. Como esse fato no tem precedente na histria da lingua, nao pode ser explicado em termos da hipétese da evolugo natural. 2) Nas linguas africanas que podem ter influenciado na formagio de um pidgin portugués no Brasil, a marca de plural ocorre no comego do sintagma nominal. Logo, ha uma similitude de padrao entre o PPB ¢ essas linguas, quanto 4 ocorréncia da concordancia. Essa similitude é ilustrada em pares como o homem / os homem do PPB, de um lado, ¢ pares como muntu (0 homem) / banto (os homens), em diversas linguas banto, como 0 songo, ¢ okiinrin (o homem)/ dwon okizrin (05 homens) do yoruba (dados explicitados por Mussa, 1991), de outro. Em muntu/ banto, mu- © ba- sio prefixos indicadores de numero — singular e plural, respectivamente —, ¢ de classe gramatical. Em okdnrin/ won okdnrin, o singular é formado pelo morfema zero ¢ 0 plural, pelo morfema dwon. 3) A similitude ¢ evidéncia empirica a favor da hipétese de o PPB ter surgido por um processo de srioulizagio, uma vez que nao pode ser explicada em termos de evolucao natural. deelingar ge ease de posse nfluénci das ings ndigess a alho nem em trabalho posterior sobre o mes? voctlco brasileiro, que trie nenarla “ lorismo, a configuracio atual do ae Portugués pré-sctecentista, ee td0 da influéncia amerindia na formaca sobre 0 825 ormaséo do portugues do Brasil 59 Teyssier (1997, p. 91-92), colocando- a 'S€ Cm posicao di; ifestacontrério a uma influgncia africana, demons tent oposs, _ cana, do mesmo modo que se manifesta contra @ influéncia amerindia: africana em toda a parte, particularmente na fonética, impossivel que 0s escravos africanos tenham contr: americano uma certa languidez crioula, Mas aquit de substrato. As dificuldades que os aloglotas lingua fazem precipitar certas transformacées . Em verdade, no & ‘buido para dar ao portugués rrata-se de coisa muito diversa tém de articular uma nova i ? provocadas pela deriva dessa lingua. Os fildlogos portugueses davam, geralmente, o seu aval a esta visio das coisas: para Gongalves Viana, por exemplo, os “erros” brasileiros sobre a colocagao dos pronomes atonos sio crioulismos, como também o sio a: maioria das particularidades fonéticas do portuguts brasileiro, Se se defende que houve influéncia exclusivamente indigena ou exclu- sivamente africana, algumas questdes tém de ser esclarecidas. Uma delas ¢ a do dominio geografico, apontada por Mattos ¢ Silva (2000). Essa questo diz respeito 20 fato de que as linguas africanas cobriam uma certa extensio do territério brasileiro, ¢ as linguas indigenas, outra, havendo ainda variagio no dominio de acordo com o periodo historico, Para contornar esse problema, relativamente 4 influéncia do contato com as linguas africanas, Mattos ¢ Silva (2000, 2003) levou em conta a mobilidade geogréfica e social da populagio africana ¢ de afro- descendentes, do século XVI ao século XIX, apontada por Mattoso (1990) em sua obra sobre os escravos no Brasil. Evidentemente, essa mesma linha de argu: mentacio nao é, pelo menos a primeira vista, plausivel para a populagio falante das inguas gerais, uma vez que nao houve lingua geral no longo territOrio costeire brasileiro que vai do Rio de Janeiro 20 Piauf (como jé mencionado, ae regidio os indios foram praticamente exterminados, ou por genocidio ou por io Para Id houve continuada imigragio de portugueses; além disso, Faeerers também grande afluxo de escravos africanos). Contudo, Rodrigues Se saree Pessoal) apontou haver uma grande semelhanga estrutural entre sl eae tupinambé. Dada essa semelhanga estrutural, 0 mesmo “po a 8 ear stbjacente a essa linguas, estava também presente na cosa Jess; Fa io de Janeiro, e nordest, habitada pelos tupinambis, anes eT, século XVI. Portanto, como houve contato lingitistico ness regi a ima Certamente houve, até com formasio de unides, mesmo ME Ts endida ‘ventual influéncia de linguas indigenas poderia em princip! : os ‘fica. independentemente de explicagao por mobilidede geo8® a Lucia Maria Pinheirg Leber Hé, no entanto, um problema crucial para uma tl proposta~sabe.s amudanga lingiifstica ocorre quando se dé a aquisigao da lingua por novas Berasie, que depreendem dos dados a que estio expostas gatilhos que levam & formar, de uma nova gramatica. No caso dos falantes paulistas dos séculos XV] ¢ XVII, dos falantes do norte do século XVI, fica claro que havia todas as condigdes para a formagao de uma nova gramatica, nas familias bilingiies formadas de Pais portugueses e mies indias — 0 portugués era adquirido pelas criancas coms segunda lingua, depois de adquirido 0 tupi (Sao Paulo) ou o tupinamb (Maranhig ¢ Para). O mesmo valia para os falantes das linguas gerais que fossem adquirir, portugués ~ as linguas gerais cram nativas e 0 portugués, a segunda lingua, 0 problema é que nao houve, na costa do Rio até o Piauf, uma situago nem minimamente comparivel, dado que 0 contato nao foi do mesmo tipo, uma vez que nao houve mestigagem numerosa entre indios e Portugueses (apesar de, certamente, ter havido alguma), o que impediu a formagio de bilingitismo generalizado. O mesmo tipo de argumento vale para a suposta influéncia africana ~ apesar da mobilidade gcogréfica ¢ social da populacao africana ¢ de afro. descendentes do século XVI ao século XIX, ela certamente nao chegou a cobrir todo o vasto territério nacional. Voltarei a essa questio da mobilidade ¢ do bilingiiismo na Segio 3.1. Considcremos agora a hipétese de influéncia conjunta, amerindia e africana. Como jé observado, essa hipdtese ¢ defendida por Mattos e Silva (2000, 2003), Apesar disso, a autora se estende mais na argumentagio acerca da influéncia das Iinguas africanas. Aponta trés diferentes tipos de evidéncia a favor da influéncia das linguas africanas: (a) os dados de demografia historica, que mostram que no Brasil do final do século XVI os escravos seriam 42% da populacdo total ¢, & vésperas da Independéncia, 1818, mais de 50%, 0 que indica que “a populagio escrava, africana e crioula, ficou, no periodo colonial, no patamar de 50%”; (b)# mobilidade geogréfica ¢ social da populagéo africana ¢ de afro-descendentes; ¢ (c) “a auséncia de escolaridade desse numeroso contingente populacional”, uma vex que a educacdo escolar do escravo “era totalmente proibida no Brasil até Para os forros e isso perdura ainda na 2* metade do século XIX” (2000, p. 17)-D8 auséncia de escolaridade (terceiro fator) se segue o fato de a grande mass da Populasio adulta de origem africana ter adquitido o portugués como seguné® lingua em condigdes adversas. Essa seria a explicacao para a mudanga. Os dois Primeiros fatores explicariam a “generalizada difusio da lingua portugues? n° territério brasileiro”, Naro.e Scherre (2000a), também, como jé mencionado, adeptos da hipot® de mudanca por confluéncia de fatores, explicitam o que entendem por um2 ' questio da influencia amerindia na formacio do 01 sobre a. C Portugués do Brasil 61 confuenca, Segundo sua hipdtese, 0 gérmen da muda brasileiro s6 ref sa velo como portugués forcou uma mudan ravido para 0 Brasil c 0 contexto a cso. to & 0 portuguésapresentavautna deriva secure me ene om de fatores interagiu para reforcar alguns aspectos dese gan nn tm Serie eae deriva orig fatores foram: (a) a pidginizagao ~ isto é, (A) o uso Didgniade te eee rtugués pelos portugueses em scu contato (i) com africanos, tant Africa, ane ° stculo XVI, sendo sse uso chamado de lingua de preto ou portugués de preto,¢ (i) com os indios, uso chamado de ports de inde (posed lingua gral tpl, © (b) a aprendizagem imperita empeate os Nano E SCHERRE, 2004 evitam, substituindo-a por aquisicio como segunda lingua por adultos). Existe uma grande diferenga entre a Proposta de confluéncia de fatores de Mattos ¢ Silva, de um lado, ¢ a de Naro (1981) e Naro e Scherre (20002), de outro: na proposta de Naro ¢ Scherrre, no hd reestruturagio lingiistica provocada por influéncia de linguas afticanas (¢ nem tampouco de linguas de origem indigena). A hipétese de reestruturagio lingiistica pelo contato com as linguas africanas, presente na obra de Mattos ¢ Silva, & a tese defendida por Guy (1981, 1989) (c também por Hoim, 1992; Baxter ¢ Luccuest, 1997). Para Naro ¢ Scherre (SCHERRE, c.p.), até prova em contrério, a influéncia ame- ‘© na Europa quanto na rindia ou africana seria equivalente. Ui dos pontos cruciais da argumentagao desses autores ¢ especifico de sua proposta é a defesa de que todas as configuragdes estruturais existentes hoje no portugués do Brasil ja existiam nas variedades do portugués europeu que vieram para o Brasil (NaRo ¢ ScHeRRe, 2004). Finalmente, outro fator enfatizado por essa proposta como causador da mudanga é o social — “oaftouxamento das amarras sociais, no sentido bastante natural do termo, tendo em vista a formagdo de uma nova sociedade” (ScHERRE, c. p.). Nas palavras dos autores (2004): oda deriva secular inerente na lingua 0} és brasileiro é o resultad [0] portugués brasileiro é ntato de adultos, trazida de Portugal, ampliada no Brasil pela ate nua pelas flantes de linguas das mais diversas orgens, da natvizago desta ing Po comunidades formadas por estes flantes, em um contexto em que a nom lingifstica natural — que permeia as interagdes — apresentava or liberdade. isticos especificos O problema para essa hipdtese & explicar em termos ling P jtamente no significa dizer (a) que 0 gérmen da mudanga extrs ON Portugués trazido para o Brasil e (b) que a exuberdncie €° c ‘car, em termos Aloglotas ampliou a deriva. Do mesmo mo’ ‘ ‘ “'elamente lingijsticos, como e por que & nativizagse ° que ia preciso explis ; 1, er oeeto portugucs no Bras ye Lucia Maria Pinter ty, ty 62 uudangas tio preci sm contesto de adultos aloglotas, provacou MUSE ° Press quan nu ram no portugués. ‘Os autores tampouco explicam em detalhe qual g elt 7 . a ~, que 0% ancia das linguas amerindias e africanas, j4 que nao se trata, segundy a do de mudanga estrutural. foi uma influéncia conjunt Ic levanta outra questao (Mattos ontato causaram a mudanga, ¢, sobretudo, uma mudangg generalizada, num pais de dimensGes continent tipo de influ cles, de causag: Dizer que hipétese na verdad que diferentes tipos de c relativamente uniforme ¢ n pal ‘ ve mo o Brasil Certamente o processo de aquisicao do portugués como segunj, lingua, por adultos, esté por trés dz explicagao, como defende Mattos ¢ Silva, No cntanto, & preciso entrar em mais detalhes ¢ explicar como © por que isso sedi ¢ como ¢ por que diferentes tipos de contato podem levar a um mesmo tipo de a ndo € por si sd explicative, Fug e Siva, 2000): Come e por mudanga. No resto deste trabalho procuro mostrar pontos de convergéncia entre o tupi ca lingua geral paulista, de um lado, ¢ 0 portugués contemporanco do Brasil, de outro. O que é importante que os pontos de convergéncia que serio mostrados entre essas linguas amerindias ¢ o portugués do Brasil sio pontos de divergéncia estrutural entre o portugués do Brasil 0 portugués curopeu contemporneos. O meu objetivo néo é demonstrar que tem de ser revista a rejeigio automitica & tese de influéncia das linguas indigenas e linguas gerais na formacdo do portugués do Brasil. Antes, o objetivo é levar a reflexdo sobre os efeitos do contato lingitistico na mudanga c mostrar que, apesar de incriveis convergéncias entre propriedades das Iinguas amerindias e do portugués do Brasil contem- porénco, a causa da mudanga pode estar no processo de aprendizagem do portugués como segunda lingua, ¢ no na influéncia dircta estrutural de uma Hngua sobre a outra. Esta € a posi¢do defendida por este artigo. Ela se aproxim bem das anilises de Teyssier (1997), Mattos ¢ Silva (2000, 2003) e Naro¢ Scherre (20002, 2004), no que se refere & proposta de gue o fator a caustt® mmudanga tenha sido a aprendizagem como segunda Nngua, por adultos. one ——- nhs anil se diferencia daquelas por dar mais énfese : de aquisi¢ao representa lin iste oncreta a respeito do que oS fa Pontos, a que retomarci na Seqdp 31, Pn NS Nao © Scherrer ON ‘ao 3.1. Go da influéncia amerindi sobre a quest 19 Na formacéo do Portugues 10 Brasil 68 2A CATEGORIA Pessoa EM LinGuas Amerinpias 2.1 Tupi Deum lado, © objeto pronominal & sempre pré-verbal, como em (1) (1) xéorojuké (Anchieta,folha 37) ev temato Além disso, fica sempre mais préximo de V do que um sujcito igualmente pronominal. De outro lado, a contigiiidade com relagio ao verbo é relevante para a interpretagao da fun¢ao da posicéo. Por exemplo, xé é um pronome que pode ser um nominativo ou um acusativo de primeira pessoa, ¢ a sua posigéo que indica a fungao, como em (2): (2) a.xé oro-juki (Anchieta, folha 37) cu temato bxé juké (Anchieta, folha 12) mematam exe juké Pedro (Anchieta, folha 37) me mata o Pedro “O Pedro me mata’. Por sua vez, em certas circunstancias, hé um cruzamento entre inter- Pretacdo de pessoa gramatical ¢ interpretagao da estrutura sintética, Por exemplo, © prefixo pronominal oro é um acusativo de 2* pessoa. Na forma verbal [oroM esse prefixo, um objeto de 2°, implica necessariamente um sujeito de ra Essa 1* pessoa pode, ou nao, ser manifesta, mas é sempre interpretada. Isso es Tesumido em (3) ¢ ilustrado em (1), repetide abaixo: @) O2prefixal =>S1 (a, xé orodjuké cu te mato b. oro-juks (cu) temato (Anchieta, folha 37) Lucia Maria Pi, 'inheirg 4 ° to Uma caracteristica do tupi, assim como de outras linguas i, dig i a brasileira, 6 total lacuna lexical para pronomes de terceira pessoa, com, os livres. As formas pronominais livres, sempre t6nicas, sio de 1* oy 2 eg us estritamente. [sso pode ser visto no Capitulo V da Gramdtica de Anchi a (oe 10-11), intitulado “Dos pronomes”, onde ele somente arrola pronomes det, 2 de pr nominativo (0) na morfologia verbal (o-jukd= ele mata). Esses prefixos indie, lore de sujeito existem também para a 1° ¢ 2° pessoas. Anchicta (folha 20) rotylg = prefixos de“artigos” (articulos). Quando ha um objeto de 3* pessoa, a moro, ‘erbal indica presence dessa fungéo com um morfomarelacional, comoiluses cm (4), onde i € o morfema relacional. pessoas. A 3* pessoa é expressa sob a forma de NPs e sob a forma Oe b juké Pedro (Anchieta, folha 36) cu R(acle) mato Pedro “Eu mato Pedro” Esse tipo de morfema é examinado em profundidade em Grannier (2005, p. 130), que assim o caracteriza:’ (Os prefixos relacionais] ndo assinalam nem concordancia nem referéncia pronominal definida por propriedades lexicais, O vinculo que eles estbe lecem é definido através da referéncia 4 fungo sintdtica do antecedente, Ou Seja, 0s prefixos relacionais sio prd-formas que remetem & fungio dos cons: tituintes sintéticos da sentenga, o que permite identificar indiretamente 0 antecedente do prefixo como o referente expresso nessa fungio, Na maioria das ocorréncias, o constituinte sintatico no qual se identifica 0 antecedente do prefixo relacional é o argumento externo [8 morfologia vet da propria fungio ex ressa internamente [na morfologia verbal], no predicado, pelo prefixo relacional. Dado que (a) os objetos pronominais sio sempre pré-verbais, (b) as formas Pronominais livres sio estritamente de 3* pessoa sio semy 4, relativo a um obj uma forma prono de 1c 2* pessoas gramaticais, (c) 0s prefixos Pre, ¢ somente, nominativos e (4) em formas com o prefix? eto direto de 3* pessoa, tem-se um morferna relacional € = "minal, conclui-se que os objetos pronominais sio sempre P™ verbais, sempre formas livres e somente de |* ¢ 2: pessoas, 2.2 Linguas gerais A lingua geral paulista ests pouco documentada, Como obser Rodrig (1996, p. 8), © documento principal que se tem & um diciondrio andnimo re 0 0st? da influéncia amerindia na formaséo do portugués do Brasil so ul 65 os pblicado em von Martius (1867, p. 99-122) sob o titulo de“Tupi Austral” reroo Fe o autor fornece exemplos de verbos flexionados de tio oe a nntencial. Felieme! 5 ses exemplos, como os cm (5), mostram que a lingua geral paulista manteve mes cstrutura pronominal que se obscrvava no tupi. gx [ortografia no Glossério) agaugub [ortografia que se esperava] A. s-awsub eu Reamar "Guo amo" : : (6 cvirendin bonhéenga che t- endy mbo: nhe'eng eu R-chamar CAUS falar ‘Me chamam para testemmunhar” Osexemplos mostram também ocorréncia da negacio como prefixo verbal (ad), exatamente como no tupi. Infelizmente, nao existem exemplos com sujeito de 1* pessoa e objeto de iam mostrar sc se manteve 0 jogo pronominal quando a prescnca 2, que pode! 2" implica a interpretagao do sujeito como de 1°, quer este Ultimo do objeto de csteja manifesto ou nao. Na lingua geral amazénica, no entanto, no somente desapareceu 0 jogo pronominal, mas também houve mudanga na estrutura pronominal. Esta lingua na verdade se aportuguesou, mantendo formas do tupinamba mas com uso cemelhante 20 portugues (RopniGuss, 1996). Portanto, a lingua geral paulista foi mais conservadora do que a amazénica. 3, PROPRIEDADES DISTINGUIDORAS DO PE & DO PB E COMPARTILHADAS ENTRE PBeE LINGUAS AMERINDIAS 3.1 Objetos pronominais 3.1.1 O sistema de cliticos do PE ¢ do PB O portugués do Brasil coloquial restringi Pronominais acusativos & posicao pré verbal ¢ limitou Pessoas, nn ort enela basicamente pré-verbal dos cliticos no portugués do etave essa gramitica da do portugués europe’, a ve. ae ae te Peua ocorréncia é tanto proclitica quanto enclitica, depen Xico-sintitica da sentenga (como se sabe, fatores como @ PF ua ocorréncia dos cliticos sua interpretagao as 1* 6 2° Brasil | “ {ucla Maria Pate Lobe, quantificadores, palavras Qu-e negavio, entre outras, sao cruciais PRA colo, | pronominal no portugués europeu). A limitagao da interpretagao ee no contraste em (7). 8) portugués cologual do Brasil e o portugués eurepew, para as formas acy. do singular: 1S 8 % (7) Repertério Clitico Acusativo Singular do PE: me tog (8) Repertério Clitico Acusativo Singulardo PCB: me teoulhe Os exemplos em (9) so conseqiiéncia dessa restrigao: (9) a. Eu lhe vi (PE: #) b.Euovi (PE: *) Deum lado, a proclise &a ordem natural no portugués coloquial do Bra De outro lado, os cliticos em (9) séo interpretados como 2* Pessoa, € no como 3*. No portugués europeu esses exemplos sao agramaticais por diferentes razses (9a), em virtude de he ndo ser licenciado como acusativo nessa gramética ¢ de a énclise ser exigida quando 0 sujeito é de tipo referencial e a sentenga, matriz ¢ afirmativa; ¢ (9b), por esta ima razdo, As formas gramaticais no portugués europeu corrrespondentes a (9a, 9b) séo as em (10a, 10b), respectivamente: (10) a. Vi-o, (PE: OK) b.Eu vio. (PE: OK) De qualquer modo, quando as formas Ihe ¢ 0 sio gramaticais (como em Nao Ihe dei isso./ Nao o vi.) podem ter leitura de 2* ou 3* pessoa. A mudanga ocorrida no sistema de cliticos pronominais do portugués coloquial do Brasil afetou no somente a interpretagio seméntica desses itens, ‘as também a sua interpretagio gramatical. Isso se ve em (11) ¢ (12), ue retomam (7) ¢ (8) acrescentando-Ihes as formas dativas. Esses repertorios mostram que the foi acrescido ao sistema acusati vo do portugués do Brasil vernacular: IS 3 38 (11) a. Repertério Clitico Acusativo Singular do PE: me teo ° b-Repertério Clitico Dativo Singular do PE: me teylhe Ihe (12) a. Repertério Clitico Acusativo Singular do PCB: me —teolhe - b.Repertério Clitico Dativo Singular do PCB: me te,lhe i sto da influéncia amerindi sobre 0 ques ia_na formasao do py ortugues do Br rasil Quanto & fungao, 0 aspecto inovador da do Brasil foi a interpretagdo acusativa para as dativa, de modo que /he, uma forma original passou a Ser licenciada como dativa e acusativa (Eu Ihe +i somente 0s cliticos que cram originalmente de 3* pessoa, pois os de 1 co. acetavam interpretagZo acusativa (Ele me/te viv) e dativa ed a a Be 2 jg Houve, entio, uma regularizagio do sistema, exceto para a forms livro.). mat como acusativa, somente. No entanto, essa forma nio é a as * para referéncia & segunda pessoa acusativa, sendo tea preferencal, segulda a 3.1.2 Como explicar funcionamento dos objetos pronominais no PE, PCR, Tupi e Lingua Geral Paulista? —_ Como explicar as diferengas morfossintaticas entre os cliticos do portugués europe ¢ do portugués do Brasil? Segundo a anilise que fago, a gramitica do portugués do Brasil licencia a linearizagio dos argumentos com tragos extensionais. Isso tem de ser verdadeiro, porque no portugués coloquial do Brasil os cliticos passaram a ocorrer em posi¢ao pré-verbal ¢ com leitura necessariamente de I? ou 2* pessoa, ¢ os tragos de pessoa so extensionais. No portugués curopeu no pode estar ocorrendo 0 mesmo, dado que nao hé correlagio entre posi¢ao estrutural ¢ interpretagfo de pessoa para os cliticos. Por outro lado, hé no portugués curopeu formas cliticas de 3* pessoa especializadas para Caso. Logo, deve haver verificagio de trago de Caso na sintaxe, Minha conclusio & que o portugués curopeu recobre com trago especifico de porque nao licencia na sintaxe a leftura a lingua assegurar que o posicio- Caso a informagio de pessoa dos clitice extensional. Mais claramente, um modo de namento dos eliticos nao é licenciado por trago de pessoa é encapsular os tragos de pessoa com um invélucro de trago de Caso. ; liticos do portugués europeu e do portugues do Brasil aproxima os sistemas pronominais do portugués do Brasil, do epi &» por exemplo, tanto na gramatica do provavelmente da lingua geal do PCB) s6 podem ocorrer gus, O que os distingue, no do objeto, que existe no sulista), mas J amazénica. O que diferencia os sistemas Provavelmente, da lingua geral paulista: Portugués coloquial do Brasil quanto na do tupi ¢ Paulista, objetos pronominais (cliticos no caso Procliticos a0 verbo ¢ sio somente de 1* ¢ 2° pess Jo sujeito € bém na lingua geral p peru na lingua goral amazdnics pa gramatca para 2 inearizasie é fato compartilhado tanto, & 0 jogo pronominal entre pessoas d ‘pi ilustrado em (3) ¢ (1) — (¢ talvez tam! “ono portugués do Brasil, e que, por sinal, se °8 @ propriedade de usar informagao de pess i 7 ‘Go, * sintaxe, mesmo que sob forma diferente na execuss ni 68 Lucia Maria Pinheirg Lobe 0 entre 0 portugués cologuial do Brasil © aquelas citadas linguasamesin . i las, Portant, 0 portugués cologuial do Brasil passou a se assemelhar ao typ 4 a lingua gral paulista quanto ao wso de tragos de pessoa para a construg estrutura morfossintatica, uma propriedade totalmente ausente do Portugua, europeu. 3.2 Deslocamento Sintdtico de Subconstituinte do Argumento Interno 2.2.1 Licenciamento de Sujeito pelo Trago Categorial no PB e Temitico no pe Esta seco apresenta evidéncia de que houve de fato uma fixagio do plano extensional pelo portugués do Brasil para efeito de licenciamento de sujeito oracional, em contraste com 0 portugués europeu. A evidéncia é 0 fato de 9 portugués do Brasil licenciar sujeitos por meio da leitura extensional da expressio nominal, pela verificagao do seu trago categorial, ¢ o portugués curopeu, por meio da leitura temética da expressio nominal, pela verificagZo do seu trago temitico. Em outras palavras, o portugués do Brasil faz a verificacdo de tragos na interface extensional da gramética internalizada onde Ié a propriedade “ser expresso nominal completa” (no sentido de ter propriedade extensional ¢ informagio lexical), ¢ 0 portugués europeu a faz na interface intensional, onde Ié as propriedades que levam & interpretagio temética.? Um tipo de construgdo reveladora da diferenga de planos entre o portugués curopeu ¢ o portugués do Brasil é a presente em (13), que & gramatical no portugués do Brasil, mas ndo no portugués europeu, onde somente (14a ¢ Ib) podem ser geradas: (13) O meu carro furouo pneu (PE:#, PB: OK) (14), Furouo pneudo meu carro, (PE OK, PB: OK) b.Opneudomeucarro furou. (PE: OK, PB: OK) O que é especial em (13) & que tanto a posigao de sujeito quanto @ de objeto sio ocupadas por subconstituintes do argumento interno (0 objet semintico, o tema). Esta seqiéncia ¢ agramatical no portugués europel por somente parte do argumento interno foi algada para a posigao de sujeito, tendo a outra ficado na posigdo de objeto. Como (14a e 14b) mostram, caso told argumento interno ou permanesa na posicéo de objeto ou seja algado p2"* * westdo da influencia amerindia na formaca, sobre 04 90 do portugués do g, srasi! ortugues curopeu O preenchimento se faz Por meio do uso 4 - 1s yirador do argumento como um todo, nao sendo permiti "© do traco caracte. interna oan Oquea gramaticalidade de (13) revela a respeito do 4 que o seu sistema computacional pode examinar o in . ace terio interno, H encontrar dois diferentes subconstituintes, liens ey 6° Meumento encit-los como sujei r ¢ como objeto da mesma sontensa, nio sondo necessétio fene nn Gee nivel de jdentificagiio dos argumentos como tais. Em (13), 0 argumento intern umarcasiotodo~parte, O que concluo que nesarelagoosdoltaien ne io licenciados como sujeito e objeto da mesma orasio porque cine sume condigdes, ambos tém propriedades completas de expressies nominsie (cam tem sua estrutura léxico-conceptual (LC) e cada um tem sua extensio define), A rclagio todo-parte se distingue da relagio de argumento por independer totalmente de qualquer niicleo, ao passo que a relagio de argumento depende de um niileo lexical (todo argumento ¢ argumento de um niicleo lexical). Em outras palavras, ser argumento ¢ informagio lexical, mas ser relacao todo-parte nio é, sendo, antes, um tipo de relagao semantica que reflete a estruturacio do proprio objeto denotado. Logo, os fatos em (13) e (14) justificam a conclusio de que a gramética do portugués europeu opera o licenciamento de sujcitos numa interface em que esté acessivel a marcagao tematica dos argumentos do predicado e a do portugués do Brasil, numa em que esta acessivel a sua marcacdo extensional. 3.2.2 Deslocamento sintatico de subconstituinte do argumento interno nas linguas amerindias ¢ no PB Existe um grande relacionamento entre 0 processo de deslocamento de um subconstituinte do objeto direto nas estruturas do tipo de (13) no PB ¢ 0 Processo de deslocamento de subconstituinte do objeto direto no tupi, gurant antigo e outras linguas amerindias.* Vou considerar aqui dados do guaran antigo, Por uma simples questo de maior facilidade de acesso, mas eles sf0 do mesmo tipo dos do tupi. No guarani antigo o subconstituinte que se desloca (¢ s aoe verbo) & © que designa a parte, ao contrério do que ocorre a Por ne e ¢ Brasil, em que o subconstituinte que designa 0 todo é que se ¢ cae Posiglo de sujcito da sentenga). No entanto, hé algo em comum ce tans des Processo nas duas linguas: o subconstituinte que design # parte Pass aa de Préximo ao verbo do que o que designa o todo. Essa Pe oe opneulD PessGo original de objeto no portugués do Brasil ([O mes 2 incorpora 20 Lucia Maria inheira Lobe 0 70 verbal no guarani antigo, como se ve em (15). Em (15b) foi fa, eamorfologia do constituinte semantico cyud rays ( s di (veia), parte ant Vela do a incorporagio de a (i aa (15a) ambos 0s subconstituintes esto forma, Joao), na morfologia ver de objeto direto. um sintagma que ocupa @ posigao (1S) aa is kutiig cud r-ayét (Granwiex, 2002, p. 81) 1/NOM. R ferir_Joio Re veia b. : ve i tidy cyt (Grane, 2002, p. 82) 1/NOM R veiaferir Joi ‘Bu feria veia de Joo" Uma conclusio razoavel ¢ que hé um certo deslocamento (do subcons. tituinte expressando o todo no portugués do Brasil ¢ a parte no guarani antigo) licenciado pelo fato de permitir essa maior proximidade, em relacdo a0 verbo, do subconstituinte expressando a parte. Isso ¢ bem plausivel, pois a parte expressa © elemento diretamente afetado pela ago verbal. 3.3 Semelhansas entre o PB, o Tupi e a Lingua Geral Paulista: acidente ow influéncia estrutural? Se é verdade que o portugués do Brasil, 0 tupi e a Ingua geral paulista fazem uso de tragos extensionais nas derivagées sintaticas, uma propriedade ausente do portugués curopeu, surge uma pergunta: E essa semelhanga acidental ou foi o resultado de influéncia estrutural? Penso que os fatos Has sobre o portugués do Brasil? Afinal, os falantes c i Fi internaliada Ache erate? om tal tipo de deslocamento em eax gramética * Acho, no entanto, que essa i é a Pode muito bem ter decorrido a sce decrnbgertae sae : ‘ido istic linguagem (isto &, da cornea oe taCteritieas da configuragzo da faculdade de » struturacac i a li ; Chramente, dado © uso pelo percernee nt humana Felativa & linguagem). Mais Pata a gerasio sintbtien, de pene’ 0 Brasil de propriedades extensions Mac i * Impedia que.esses tragos passassem a ser usados aque 0 questo J infusnciaamerindia na formagag dg ayn 0 Brasit a . fF ; / em quaisquer estruturas em que iss0 fosse possivel, sendo uma del ¥ inacusativos, em as lelas a estri com yerbos qe; No portugues, o argumento int. utura argumento desses verbos) pode ocupar tanto a posiga interno (tinico ‘cito. Como a posicao de sujeito fica vaga co de objeto, essa vacincia licencia o 10 de objeto quanto a de : quando o argumento interno esti na i desl posi ‘Ocamento para a mesma. O ‘eenciaria esse deslocamento no a or. - O-que licencia Portugués do Brasil & a tendéncia da lingua a fazor ocupar manifestamente a posigio de sujeito, Tomando como base os dados usados neste artigo até agora, a generalizagio proposta € que © portugués do Brasil fixou a informagio extensional para o licenciamento sintatico de argumentos, em contraste com 0 Portugués curopeu, que fixou a informasio temética. No contexto brasileiro, dada a aprendizagem do portugués como segunda lingua por adultos aloglotas, o uso da informacio extensional era necessério, pois nesse processo de aquisigao os falantes no seguem os mesmos passos da aquisi¢ao de primeira lingua pela crianga. Para a crianga, mesmo que somente nas fases mais iniciais, ha primeiro um dominio fonoldgico, depois um dominio lexical ¢ em seguida um dominio de sentengas. Se bem, é claro, que a aquisigio vocabular em geral acompanhe o individuo por toda sua vida e aaquisi¢ao de novas estruturas sintaticas também possa ocorrer entremeada com anova aquisicao vocabular, Nesse proceso, a crianga de algum modo adquire informagées abstratas relativas 4 estrutura interna das palavras, como, por exemplo, informaggo sobre a estrutura argumental dos verbos ¢ as coloca em pritica na estruturagao de sentengas. O adulto aloglota, ao contrario, tem logo de lidar, simultancamente, com sentencas, palavras ¢ o sistema fonoldgico da lingua, sem ter a seu favor o estigio inicial da faculdade de linguagem com as Propriedades que o caracterizam para a aprendizagem de lingua. Assim, esse falante adulto ndo tem como adquirir de imediato todo um conjunto de informagSes abstratas sobre a estrutura interna das palavras, nao construindo, modo que o faz a crianga a0 que a semelhanga é de aprendizagem em 1a sobre a outra. Ses sintaticas, -os aloglotas Portanto, seu conhecimento da lingua do mesmo aprender sua lingua nativa, A minha hipotese, entio, ¢ Paramente acidental, porque foi conseqiiéncia do process® idade adulta e ndo de influéncia estrutural direta de uma ling cextensionais paraas derivag de os falantes adult adquirir, de imediato, 25 ortugués europed agos Em resumo, a fixagdo dos tragos %0 caso do portugués do Brasil, foi fruto do fato © contexto colonial brasileiro néo terem como informacSes abstratas sobre a estrutura das palavras que © POrugh!® St “Sa nas suas derivagdes sintéticas, 0 que exigit qe recorresse 2 Sxtensionais, PIGMENT EDN Lodge to n 4 Proposta DE ANALISE 4.1 Hipéteses Reeitadas Este trabalho se coloca influéncia de linguas amerindias ou seja, estrutural ou nao, na formaga ona contra a hipdtese de ter havid contra a idéia de ter havido exclusivamente x de Knguas africanas, de qualquer tipo que ‘0 do portugués do Brasil, assim como se lo influéncia conjunta de tipo estrutural, Consideremos a hipotese de ter havido influéncia amerindia, exclusi. ‘ou africana, exclusivamente. Um dos argumentos que ja mencionej ografico: no houve bilingiismo relative cobrisse todo o territério brasileiro, 0 Janeiro ao Piaf. Outro caso ilustrativo é posici vamente, contra essa hipdtese ¢ 0 do dominio ge a linguas amerindias ow africanas que exemplo dado foi o da costa do Rio de 0 caso 6 do sul do pafs. No sul houve a presenga indigena, mas numa situacao totalmente diferente da que ocorreu em Sio Paulo ¢ no Norte. Considere-se 0 caso da regio que vai do sul do Paranapanema até o Rio Grande do Sul, ¢ desde 0 Paraguai (rio Parana) até o litoral do Parana e Santa Catarina ¢ parte do Rio Grande do Sul.” Nessa longa regio habitavam os indios carij6 (nome usado no litoral) ou guarani, cuja lingua, 0 guarani, era lingua irmé do tupi ¢ do tupinambé ‘Toda essa regio estava sob o dominio da Coroa Espanhola, de modo que nio houve contato com o portugués. No fim do século XVII e no século XVIII € que os portugueses entraram na regiao, primeiro militarmente e depois por forga de tratados entre as duas Coroas, os quais aumentaram as fronteiras do dominio de Portugal. Na época, no territério do Rio Grande do Sul havia diversas missbes jesuiticas espanholas. Com a chegada dos portugueses, os jesuitas ¢ os cidadios espanhéis se retiraram para o lado argentino ¢ paraguaio. Houve uma grande revolta indigena, tendo sido os indios combatidos pelos portugueses com seus exércitos. Alguns indios escaparam, mas a maioria morreu. Pequenos prups Mw hr qua sca ra ite de eb = preg pena oportunidade de bilingiiismo que incluisse © sit pres a eg eee sobre pessoa com estrutura sintitica de eee eee pan, lingua portuguesa, é que foi e de ter, antes, adquirido propriedades la a que foi o portugués que de fato influenciou a lingua geral amazOnica, nio se pode concluir a favor de uma influencia ind bre @ formagio do portugués do Brasil neses sens uma influéncia indigena so! a regiao, Enfatizei que minh, a proposta si . a proposta de Naro e Scherr De sean ncmelha, pelo menos parcialments ©. No entanto, as duas propostas se distinguem uestéo da influencia amerindia na formaca sobre 24 © do portugués do Br: ‘asil (1992) ¢ Baxter © Lucchesi (1997), e caracterizam de propostas Nos seguintes termos. (A) Segund. crioulizagao, as estruturas consideradas tipicas do yariagzo no uso da concordéncia) © que parecem aproximé-lo das I . ve bace lexical portuguesa ¢ do Pana das linguss croulas p * © 0s outros sistemas pidgins/crioulos de maneira geral se devem “a um estigio nao documentado de crioulizagio, resultado d contato macigo com linguas afticanas ou com outras linguas tipologicamente diferentes do portugués, sendo as variages verificadss no Brasil, portanta totalmente impossiveis em Portugal”. (B) Segundo a hipétese de Naro e Scherre (2004), “o processo diaerénico que operou no Brasil se deve basicamente 4 expansio de estruturas ja presentes no portugués europcu que veio para o Brasil zo periodo colonial”. A minha posicao consiste numa terceira possibilidade de andlise: a formacao do portugués do Brasil foi resultado do contato macigo com falantes de outras linguas, mas isso no invalida a possibilidade de as estruturas em questio jé terem existido antes no portugués europeu. No caso de terem existido, hd uma diferenga crucial entre as estruturas em Portugal e no Brasil: em Portugal clas sio esporddicas e muitas vezes ligadas a fatores lexicais, 20 passo que no Brasil clas ganharam sistematicidade. Por exemplo, a variagio na concordancia no Brasil parece ter caréter mais sintatico que lexical e nao tem carater regional (SCHERRE, 1988 ¢ 1999), mas, como os dados de Scherre ¢ Naro (2003) ¢ Naro ¢ Scherre (2004) apontam, no portugués europeu ou cla se liga a escolhas lexicais, como “a gente”, ou é dialetal. Por outro lado, para Naro ¢ Scherre (2004), todas as estru- turas que caracterizam 0 portugués do Brasil so estruturas existentes também No portugués europcu. Pelo que sei, estruturas como 2 ilustrada em (13), que Tepito abaixo, no existem no portugués curopeu: (13)0 meucarro furou o pneu. (PE:*, PB: OK) é to brasileiro Concluo que a mudanga que ocorreu no portugues n° contex' Bio foi um caso de crioulizagao, mas tampouco foi um caso de simples expan, ito € ampliagio do uso, de estruturas js presentes no poreiguls "NR Periodo colonial brasileiro. A mudanga pode tanto sistematizar 0 uso de es ‘We tinham uso restrito em Portugal quanto criar novas a —— ‘A minha anilise se diferencia da de Naro e Scherre ém ni a ne Pa sistematicidade da variagio de concordncia que 9°" ‘les (Nano e Scuenne, 2004), “essas estruturas varlavels jorreu no Bi resceram © SC Lucia Maria Pinheiro Lobos "4 or causa da ruptura da norma no proceso de formasio de una Mle de fala”, Acho que essa descrigao dos fatos nio & explicatig nsideremos os casos de preenchimento simulténeo das Posigieg 0 com subconstituintes do argumento interno. Esses casos gy com verbos inacusativos. Por que os falantes teriam’ “escolhido” 1s, ¢ somente cles, para predicado dessas estruturas inova. 0s abstratos dos verbos inacusativos so responsives expandiram p nova comunidas Por exemplo, co de sujeito ¢ objet restritos a orages ‘os verbos inacusativos doras? Certamente, os tra i pelo licenciamento dessas estruturas. Mantendo igualmente esse conceito de traco abstrato, minha hipétese ¢ que a variagao da concordancia no portugués do Brasil ganhou tanta sistematicidade em virtude de um novo funcionamento na lingua (qualquer que seja ele) dos tragos que subjazem ao plural. Igualmente, no me satisfaz a descrigao do portugués brasileiro como “apenas o portugués liberado das amarras de uma norma tradicional de uma comunidade de fala estvel e conseqiientemente livre para manter e desenvolver © uso de estruturas ¢ formas de menor prestigio, ja existentes nas variedades sociais ¢ geograficas do portugués europeu que veio para o Brasil com os préprios portugueses”. Nao me satisfaz porque nao explica (a) a “escolha” de certos itens, ¢ somente deles, para certas estruturas inovadoras, como é o caso de verbos inacusativos na estrutura (13); (b) a “escolha” de certo tipo de item lexical para preenchimento da posicio ndo argumental de sujcito — por que nao ocorre expletivo manifesto no portugués do Brasil como ocorre em certas regides de Portugal (Ele chove), havendo no portugués do Brasil um outro tipo de preen- chimento para posigdes de expletivo, como apontado por Duarte (2000)?"'-j (0) os fatos de gramaticalizagao, que passo a descrever na proxima se¢ao. Adicionalmente, quero me posicionar contra a idéia de ser possivel existit lume evolucao lingistca que no seja natural. Neste ponto, estou voltando & argu- Mentasio apresentada em Guy (1981), que resumi na Introduggo, ¢ defendendo pane, pi 7 gs do Brasil, nao houve, nitidamente, a criago de uma lingua crioula. 0 sy S¢ minha anélise tiver algum fundo de verdade, foi unre rmudan¢ ° iz "ma proposta concreta a respeito do que foi a deriva = nt Sedge Portugués no territério brasileiro — a mudanga decorre4 S Para a geracao sintdtica, ¢ nao de tao ras (incluindo-se af a estrutura argumental)- esto da influencia amerindic sone © qUest2? a m india na formagio do ae Portugués do Brasiy 7 9 Deriva € Gramaticalizagao 42 No Capitulo 7 de seu livro Language, Sapir introd (sf caracterizado como a diresio precisa e pea ° ingstica, © analisou a substituigio de whom Por who em cade trés derivas: (a) tendéncia a suprimir a distinggo rendéncia a uma ordem fixa das palavras na frase, determinada i So sintd aus plas, (0) tendéncia 20 desenvolvimento de palarss see neat Eu gostaria de tomar 0 conceito de deriva como relative aoe golicenciamento das derivagdes. Nessa linha, atese que defendo é que a tendéret wala seguds pelo portugués, no contexte beac fr hee nee Jicenciamento dos argumentos sintaticos com uso dos tragos de inter] ey referencial."” Essa ja era uma propriedade das linguas indigenas trealing Cao a influéncia para a formagao do portugués do Brasil tenha sido conjunta, essa semelhanga entre o portugues do Brasil, 0 tupi c a lingua geral paulista (além de outta linguas indigenas brasileiras) foi somente acidental. Nao importavaa lingua dos aloglotas. Importava a situagdo de aquisico de segunda lingua em idade adulta. Se isso & verdade, vale a tese da gramaticalizagio, que defendi em outra Conceito de deriva que segue a evolugio 10 uso de tragos oportunidade (LossTo, 2001): a mudanga com efeito de gramaticalizagio ocorre em décorréncia do processo de aprendizagem como segunda lingua em idade adulta e em virtude de, nessa situagao, os aprendizes nao fazerem o percurso das criangas em aquisicao de lingua materna (primeiro aquisi¢io de palavras ¢ em seguida construgdo de frases com as mesmas), ocorrendo, antes, uma aprendizagem de frases juntamente com palavras. O que se entende por gramaticalizagio neste contexto? Defendi que a linearizagio das express6es rtugués europeu por verificagio de 1" verificagao do trago extensional. xu, em que hé uma propriedade é verificada na sintaxe para aporta, uma propriedade nominais sujeito ¢ objeto é licenciada no po! taco tematico ¢ no portugués do Brasil, pot Numa gramética como a do portugués europe! temitica, que ¢ propriedade do nivel lexical, que licenciamento da linearizacao da expressio nominal que donivel lexical & que funciona como acionadora do posicionamen'®- Man er Bramitica como a do portugués do Brasil, em que & 0 tas exceniont oe i ‘(We precisa ser verificado para linearizagao de expressio cone os ig . “xtensional é trago categorial, ¢ trago categorial & construtor ee " PYopriedade do nivel da construgio de estrutura équeaacom Uerivasio. Nessa abordagem, 0 processo de gamatializasio pol ee Mtendido como um processo de lincarizagao sinSIUT! TTT Strutural, Como os tragos extensionais si0 de ipo estrus P 1 yem ser %6 lucia Maria Pinheieg Lobaay entendido como dizendo respeito a licenciamento de linearizaciy 20 nivel extensional, ¢ nio intensional. Hé evidéncias de ter havido um processo de gramaticalizagio no Port do Brasil, A mudanca no sistema pronominal clitico é evidéncia ness send ng portugués do Brasil hove fxasio da posicio pré-verbal para oscliticos, em conte com sua ocorréncia pré- ¢ pés-verbal no portugués curopeu (sem Considerar 4 mes6clisc). Essa cristalizagao de posi¢ao estrutural encontra uma explicagio plausivel na hipdtese de gramaticalizagao: elementos gramaticalizados tém Posicionamenty estrutural rigido, cristalizado. A mudanga no sistema clitico, quanto 8 redugao das possibilidades de interpretagio de pessoa ~ de trés diferentes pessoas para dius, como apontado —, também condiz com a tese da gramaticalizagao, dada a conhecida diferenga numérica entre clemento lexical elemento gramatical. No nosso caso, no podemos falar (pelo menos ainda) em redugao do efetivo de elementos, mas hi, de qualquer modo, redugio do nimero de interpretagSes, 0 que, igualmente, recebe explicagio como efeito de gramaticalizagio. Existem outras evidéncias, independentemente motivadas, a favor dessa tese. Uma delas é 0 fato de ter havido no portugués do Brasil perda da informacio cultural associada ao item lexical vocé. Esse item deriva, historicamente, da expressio de tratamento Vossa Mercé. Vossa Mercé implica uma relagio social assimétrica entre falante ¢ ouvinte — o falante se situa em posigio hierérquica inferior 4 do interlocutor. Com a lexicalizag3o da expressao de tratamento soba forma vocé, houve, no portugués europeu, uma inversio da relagao social assimétrica: em Portugal, vocé implica que o falante se situa em posi¢io hierrquica mais alta do que a do interlocutor.'* Esse tipo de informagio cultural 6 pode se situar no plano da estrutura LC desse pronome. No portugues do Brasil, perdemos essa interpretagio da estrutura LC de vocé, e esse pronome é usado sem implicagio de assimetria social.'> Houve entio perda de informagéo semantica, 0 que bem caracteriza 0 Processo comumente identificado com? bleaching, tipico do fendmeno de gramaticalizacio. Lorenzo Vitral (1996, 2000) analisa o processo de redugao fonologica 8 formas pronominais do portugués do Brasil em termos de gramaticalizaio. ES! Perspectiva de andlise ver bem ao encontro da proposta que estou defendend®, © esses processos de reducio fonolégica, quc envolvem também outros pronome® (Por exemplo, es por eles) si um outro tipo de evidéncia independente em favor da tese de gramaticalizagao, Finalmente, os fatos de concordéncia de niimero dio suporteatese dagram” Uicalizagio, em virtude de a variago existente no portugués europe contr” Pordnco ou em estigios anteriores da lingua nio set sistemética como é no portug™® Jo da influéncia amerindi: 5 sobre 2 quests india na formacio do Portugués do Brasil ” do Brasil contemporiineo (Nako ¢ Scere, 2000b). gariagao no portugués do Brasil é um fato surpreen diferentes estudos sobre essa questo em diferentes regises do pai om Scere (1999)-Além dso, a variaio & siieatns ens es 2 mOsEACO qe nio ovorre no Portugués Curopeu. Esses fatos sio compativis coma tan . gramaticalizagao. E cm virtude de o licenciamento ae lado no portugués do Brasil que @ concordéncia de miamero esté em variack A concordincia regular, do tipo existente no Portugués europeu, s6 & com; nh 1 com uma gramatica em que os tracos extensionais sao licenciados na = nominal. No portugués do Brasil, como vimos, os dados apontam para um outrs tipo de gramatica: uma gramética com verificagdo da interpretagdo extensional pela sintaxe oracional. Uma hipdtese vidvel é que a variagdo decorre daf, sendo cla resultado de um processo de mudanga lingiistca, como jf tnha sido apontado por Scherre (1988). regulatidade dos padres da dente, atestado em todos os extensional ter se gramatica- 5 OBSERVACOES FINAIS Este trabalho apresentou dados empiricos que mostram que 0 portugués do Brasil possui a propriedade de usar tragos extensionais para o licenciamento dalinearizagao dos argumentos sintaticos, e que essa propricdade é compartilhada com o tupi ea lingua geral paulista (além de outras linguas indigenas brasilciras), mas nio com o portugués europcu. Apesar disso, o trabalho defende como mais provavel a alternativa de anilise de que a formago da gramatica do portugués do Brasil resultou da situagao de contato lingiifstico do periodo colonial, quando o portugués foi adquirido por grande parte da populacao adulta do pais como segunda lingua, o que teria levado 20uso de tragos extensionais para a derivagio sintatica. Essa conclusio se coaduna com as observagdes de Mattos ¢ Silva (2000, 2003) a respeito das condigoes Sécio-histéricas condicionantes na formagao do portugués do Brasil / Segundo essa abordagem da questéo, 0 fato de diferentes a Portugués curopcu terem sido trazidas para a coldnia nfo foi ator oe ae tmudanga, Nas palavras de Teyssier (1997, p- 78), “0 povoamento CHOP! ® partir de todas as regides de Portugal” e, nessa situagao de conn hae diferentes variedades, houve um processo de padronizaga0, com "e es todos os tragos marcados dos falares portugueses do Norte eer s —-s ‘’s manciras no marcadas do Centro-Sul”. Isso pode oro pa foi, repito, ™8S 0 que importou para a mudanga, segundo a ar _ * uma populagéo ° Processo de aquisigio do portugués como segun la lingua p adulta,"* Lucia Mara Pinheiro oe 78 ty ja do fator interno nesse proce, . segunda lingua em idade aay uk as demals abordagens ye En tar aqui @ importanci cla aprendizagem com! fator interno é 0 que falta a d do feitas da questao. O ponto crucial da explicagao, come a vejo, & que, — sido feitas de quest a aprendizagem da lingua néo se faz, como jé ix pepo oer cons en ¢ em seguida de frases. Ao contri pe ne igre stinonstrar & a relevancia da informacio lexical para a derivagio sintitica, ny portugués curopeu. O dado ilustrado foi o da projesio de sujcito © objeto ng cstrutura oracional. Outro dado é o da importancia da estrutura lexical pataa colocagio dos pronomes. Martins (1992) aponta que 0 sujeito que é relevane para forgar a énclise no portugués europeu contempordneo nio é do tipo quantificacional. Ela ilustra essa afirmagao com 0 seguinte par: Quero ressal mudanga, causado p apresentagao de um (16) a. Muitos amigos meus queixaram-se és autoridades. , Muitos amigos meus se queixaram as autoridades. Essas duas sentengas, ambas gramaticais, tém interpretagao seméntica diferente. (16a) “é verdadeira se um grande nitmero de pessoas que sio meus amigos se queixaram as autoridades.” Mas (16b) “é verdadcira somente se uma grande proporgo dos meus amigos se queixou as autoridades. O néimero de amigos que cu tenho é irrelevante para avaliar a verdade de (16a), mas indispen- sével para avaliar a verdade de (16b). S6 (16b) tema leitura proporcional caracte- ristica dos quantificadores”. (16) a. Muitos amigos meus queixaram-se as autoridades, PE um grande nimero de pessoas que s20 meus amigos se queixaram (Leitura Referencis) , Muitos amigos meus se queixaram 4s autoridades, PE = uma grande proporsao dos meus ‘amigos se queixou (Leitura Quantificacional) A evidéncia & que, como ilustrado em (17), uma relativa nao restritiva pode qualificar o sujeito na oragdo com énclis : Isso se deve ao fato de as relat referencial. ‘¢, Mas nao na oragio com préclise: tivas no restritivas exigirem um antecedent (17), Muitos amigos meus, “ que sio antropdlo; i ‘ D.*Muitosamigos mere Pélogos, qucixaram-se is autoridades. eS 5 autoridades. {testo antropdlogos, se queixaram as autoridades. Dado 0 carater lexical B das condigs Portugués europen, epressupondo que har. : Para a colocaggo pronominal P° ‘© que havia influéncia lexical também na colocas#? que © portugués curopcu faz entre timbres aberto: sbnicas a, ¢ € 0 seguidas de consoante nasal iniciante Por exemplo, nas palavras em que etimologicam consoante nasal iniciante de silaba resulta da contra © Fechados para as vopais de silaba ¢ de base lexical, lente a vogal a seguida de u 20 de duas vogais, cla tem timbre aberto, ao passo que quando etimologicamente corresponde a uma vogal nica tem timbre fechado. Assim é que em ga-anha > ganha (verbo) ¢ ga-anho >gonho (substantivo) 0 a mantém um timbre aberto, apesar da consoante nasal seguinte iniciante de silaba. Mas em cama, cana e banho, onde etimologicamente se tem uma vogal singela, ¢ nao um encontro de vogais, a vogal a tem timbre fechado. Essa distingdo entre vogais com timbre aberto e fechado antes de consoante nasal iniciante de silaba se perdcu inteiramente no portugués do Brasil, onde nesse contexto as vogais sio sempre nasalizadas.'* Naturalmente, nao havia, para uma populacio adulta adquirindo o portugués como segunda lingua, como adquirir um vocalismo que depende de informagao lexical tio abstrata (informagao sobre a estrutura fonoldgica subjacente das palavras). Concluo este artigo sugerindo que, paralelamente a esta linha de investigagio que levei a cabo, também o estudo da hipétese de influéncia das linguas africanas deveria ser aprofundado, com anilises linglifsticas comparativas. Uma questo a ser examinada, por exemplo, é a propriedade das linguas banto (pelo menos as contemporaneas) de serem linguas de sujeito pronominal _ diferentemente do portugués do Brasil, que se tornou uma lingua de sujeito Pronominal manifesto, ao contrario do portugués europeu. Esse SS] gramatical do portugués do Brasil nao seria compativel com a tese aa direta estrutural das linguas africanas, caso as linguas banto Ce SUjeito pronominal nulo na época em que foram trazidas para o Brasil. Notas odelo de pesquisador ¢ cientista as indigenas brasileirase ao incentivo ie : octagésimo aniversiio, Agrades anteriores Ofereco este artigo ao Prof. Aryon Rodrigues, um ™ um exemplo de vida dedicada ao estudo de ling esse estudo, como uma homenagem noanodesewockg™N a leea Daniele Grannier peas cruciais observagbesaFespeio Us Mat deste trabalho e por esclarecimentos a respeito de dads cee Ceformagses relativas do guarani antigo, Agradego a Marta Scherre por vefertn ‘és do Brasil. Isso nao torna Aproposta de Naro e Scherre sobre a formagio do ports {ucla Maria Pinbeirg , 80 cy hum deles responsivel pelas afirmagdes que fa¢0, que sio de ming, in nenhum ing isabilidade. . - Ps repo aqui apresentados sobre as inguas gerais foram extraides de Rog 7 aa a rra desse excelente estudo é essencial para uma compreensiy dos fy 1996. oy sas lingua. Jativos a es . relat “anio 1856. Obras vias, v1, p- 249, Lisboa. Apud Buarque de Holand, 2, Vieira, Pe. Ant 1995. p. 122-123. an 3. Na verdade, 0 texto de Mattos e Silva (2000) deisa divides sobre se de fy, as e linguas gerais foram fatores produtores & id as linguas indigen ; considera que as ling (p. 19, grifos meus) que “Yelm tabeho:encriog ‘mudanga, De um lado ela afirma “Le [...] tenho proposto que no cenario colonial os ‘atores’ lingitisticos Princpais en concorréncia seriam: as linguas gerais indigenas, 0 portugués europeu € o que tenky designado de portugués geral brasileiro em formacio, que teria como falantes principais os indigenas remanescentes que se integraram a sociedade nacional e og africanos ¢ afro-descendentes que, num crescendo, sero de 42%, sobre um; populagdo de 100.750h ao fim do século XVI [...]”-Também afirma (p. 13, gig meu) que “a ‘voz’ africana e dos afro-descendentes, adquirindo necessariamente [...] a lingua dos colonizadores, 2 portuguesa, como lingua segunda, na oralidade do quotidiano diversificado e multifacetado, sem o controle normativizador explicitoda escolarizagio, reesruturow o portugués europeu [...].”Adiante (p. 23, grifos meu), afirma: “é esse segmento numeroso ¢ operante — os africanos e afro-descendentes ~ o agente principal da difusio do portugués no territ6rio brasileiro, na sua face majoritiris, a popular ou vernécula, 4. Apesar de se ouvir com freqiiéncia que o portugués do Brasil é uniforme ao longo de todaa sua extensio geogrifica, essa afirmagao tem de ser relativizada, pois verificam se, as vezes, diferencas regionais marcantes, até mesmo sintaticas. Citoa permanéncia, no Rio Grande do Sul, da propriedade do portugués europeu de expressar 0 artigo depois do quantificador em uma construgio como Tado 0 homem é mortal, que s¢ caracteriza pela auséncia de artigo em outras regides, como a sudeste, em quea forme gramatical é Todo homem é mortal. * a Caster de mortem reacional em Gramier (2005) 8 tradugio por uma questio te ck Fen bora cle Eton 10 lareza da exposi¢ao. A andlise do morfema i- co™ A inguas indige Felacional € a tendéncia atual de andlise entre iosos de © os estudiosos de lingu: 6. A graméti : ca Qs Agni Daa usu coloquial do Brasil também se distingue da do por st fortnal ocprn (net? 20 inventério ¢ uso dos cliticos, Por exemplo, na variant® rmal ocorre a forma o como 3" pessoa : Estou usando a dist ; lo ac . diz respeiti a Aisin entre extensao e intensdo, comum em semantics: 2 ¢xte"™? 10a na Py : ; i *plicagio do item e a intensio, a seu sentido, Como as categor* 0 do influéncia amerindia na formagéo do portugués do 10 Brasil a quest 81 sot gramaticais, 2 sua definigao nacional, dizem respeito aplicagao dos it srtfplo, nomes se referem a entidades, verbos evento), estou consid rundo so de po extensional. Por sua vez, tomo os tracos temiticos como onde ee qe esto intimamenteligados prépria definigo conceal dos prs pean Femplo, comer € ardo de mastigacio ¢ degluticéo de agente sobre tema). has |gradeso 2 Daniele Grannier (c. p.) por ter chamado a minha atengao relacionamento. ee No relato que fago sobre os guarani reproduzo informagio recebida de Aryon Rodrigues (c: P-)- * 10.Se tivesse havido bilingiiismo, terfamos a mesma situagio ocorrida com o tupi e a lingua geral paulista, porque o guarani possula as mesmas propriedades que apontei raaquelas linguas. Considere-se, por exemplo, guarani antigo, que corresponde 4jsvariedades do guarani faladas e documentadas nos séculos XVII e XVIII nas regiées ue correspondem atualmente ao Paraguai, ao norte da Argentina (Misiones) e ao este do Parand e Rio Grande do Sul. Grannier (2002, 2005), em cuja anilise baseio rinhas observages, examinou especificamente a variedade do guarani descrita pelo Padre Antonio Ruiz. de Montoya, no século XVII, ¢ falada nas misses dos jesuitas da antiga provincia de Guair, stuadas na atual regio do noroeste do Parand, O guarani antigo fazia uma correlagao entre selecio de estrutura sintética e morfologica, de um lado, e selecio de pessoa gramatical, de outro. Por exemplo, nas estruturas transitivas, seo objeto é pronominal (analisado como clitico por Grannier), sb pode ser de 1*ou 1 pessoa (porque na lingua s6 existem formas pronominais lives de 1" e * pessoas, como é visto para o tupi. Isso estérepresentado em (), onde a estruturadesquerda datlecha, que contém um objeto clitco, implica a interpretagio da pessoa do objeto como a direita da flecha. @ OCIR-VI, S => O1/2 Nessa estrutura, assim como nas demais onde ocorre, R ¢ simbolo de morfema relacional, atical do clitico como de I* ou 2" pessoa, licagio entre as pessoas do sujeito do necessariamente, ¢ s€ 0 sujeito & ando 0 sujeito & de 2", é Por sua vez, na interpretagao da pessoa gram: na estrutura (i), existe uma relagao de imp] objeto, Se 0 sujeito é de 2* pessoa, 0 objeto é de 1" de 3%, 0 objeto pode ser de 1* ou 2*. Além disso, qu necessariamente manifesto. Quando é de I*, ¢ optativo. Isso ests resumido em (ii): (i) OCI [R-V],S 1 o< 2 (necessariamente manifesto) 1/2 <= 3 (optativamente manifesto) Essas estruturas esto ilustradas em (iii) € (iv): Gi) eye freendy], — epe OCH [Rchamar] _ vocé Lucia Maria Pinheirg Let, ct 82 me chamar vor’ “Voce me chama’. Givyaccyud oye fr endy] Joao OCI! [R chamar] ‘Jodo me chama’. b.cyua ne [r- endy] Joio OCI2 (R chamar] ‘Joao te chama’. Alam desses dois tipos de relages, existem também os seguintes: (a) Se o objeto é prefixal, s6 pode ser de 2° e o sujeito é de 1*: (0-VIs O2eSI Assim, a estrutura em (v) significa ‘eu te chamo’, mesmo que 0 sujeito esteja nio manifesto. (¥) (cye) [oro-endy],, [2sg/O-chamar] (eu) (te-chamar] ‘Eu te chamo’. (b)Se 0 sujeito ¢ prefixal, pode ser de 1*, 2* ou 3*, ¢ 0 objeto é de 3*: (S) [S1/2/3-R-V] => 03 Inversamente, se 0 objeto é de 3*, e se ha prefixo de sujeito no verbo, o sujeito pode serde I, 2" ou 3%, (9) (EY) [a- h- endy) cyut 18. [1S R chamar] Jodo “Eu chamo Joao’, 11. Duarts nae aes P. 31ss) mostrou ocorrer uso de sujeito referencial no portugués 4° bs textos de ocorréncia de expletivos manifestos em linguas que 0s t2* mt vai Contextos existenciais ¢ impessoais: uso do ‘voce? arbitrério com ‘ter’ "Ve" Vocé nao tem mai: mais cl Hientela no centro da cidade (= Nao se tem mais clientelt~) tdo da influéncia ametindia sobre 0 quest na formacéo do Portugues 1BUES do Brasit 83 Eles valem a pena ser salvos cy, Essas coisas levam tempo pra aprender ey d) Algamento para sujeito da matriz, de DP subconsti titui ‘ expressando o todo: inte do argumento interno ¢ Sempre que ela come carne de pore pre ae come Porco, ela solta umas bolinhas na mio, e) Manifestagao de ‘isso’ na posicao de Sujeito cm estruturas existenciais: Isso era em torno de dez pessoas, para os pardmetros (isto é, leva a fixagio de tragos fracos para os nticleos funcionais), Lightfoot (1999, p. 448) associa essa formagdo a falta de robustez de pistas na experiéncia lingitistica engatilhadora da fixagdo de pardmetros, 13.Dada a exemplificagdo que estou usando, neste artigo dou énfase aos tragos exten- sionais. No entanto, no processo de mudanga que houve no portugués do Brasil foram acionados tragos ligados 4 forma em geral, estando ai incluidos os tracos extensionais, vs tragos ligados ao conteiido semintico dos itens. Falar em tragos ligados a forma permite cobrir os tragos relativos & formagao silébica, por exemplo, que também se gramaticalizou no portugués padrio do Brasil. 14.Cunha & Cintra (1985, p. 284) observam que, 20 contririo do que ocorre no Brasil, em Portugal nao é possivel “usar vocé de inferior para superior, em idade, classe social ou hierarquia”, s6 sendo possivel usi-lo como tratamento de igual para igual ou de superior para inferior (em idade, em classe social, em hierarquia). Acrescentam que “so excepcionalmente — e em certas camadas sociais altas — aparece usado como forma carinhosa de intimidade.” Estou generalizando 0s fatos do PE além da obser vagio de Cunha & Cintra, em virtude de minha experiéncia pessoal, que tem mostrado um certo constrangimento dos portugueses ao serem tratados por ‘voce’ em contivot de igual para igual, havendo casos de pedido explicto para mudanga de esco ne Pronome, como relatado por Clévis Santos (c.p.)- A mudanga on — problemética para os brasileiros que tém vocé como a forma natural de segs Pessoa, pois o uso de eu néo é natural em sua gramética. fe tue voct, Os falantes que 1S.Essa 4 inti 4 perda da oposigio entr: perda estd intimamente ligada ap Ps ete ™antém o uso das duas formas sentem uma interpretaga0 apontado por Suzana Cardoso (c. p.)- Peer '6.Essa questio de ndo-marcagao teria de ser aprofundada. cee cele mantido no Rio de Janeiro, entre outras repides 0 2 clanes, POOR NA influgncia da presenga lusitana coma vinda da Corte parse Bris! Moa XIX? Esse trago, a meu ver, seria um trago marcado, € © Centro-Sul de Portugal. Lucia Maria Pinhes 9 Log, st os contextos de préclise obrigatoria 0 05 meg Mos, Po, © que mudou foram os contextos de 4 neem 17,Desde 0 portugués arcaic’ ENClisg és contempora no portugt ; 4). igatoria (MARTINS, 199 obrigatorii timbre fechado é uma vogal com os tragos {-alto] ¢ [-baixo] ¢ em 18.A vogal a com os tragos [-alto] [+baixo], portando ambas o trago = timbre aberto, com (Viana, 1990, p. 236). 01 europen, em que as formas de I" peso ito da primeira conjugagao (ambas 0, ore a se tistingoer pelo timbre (fechado para o presente do indicative ¢ ay cant i para o pretérito perfeito). © portugués nasalizago para ambas as formas. perverse que esa distin 3 faz até hoje no ora de * pessoa plural do presente do indicativo edo prety, grafadas do mesmo modo, por 0 rte do Brasil nio faz tal distingio, e mantén., a REFERENCIAS Awcmeta, Joseph de. Arte de grammatica da lingua mais usada na costa do Brasil. 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