You are on page 1of 27
Contribuigées da Sociolinguistica brasileira para o ensino de portugués Marco Antonio Martins Silvia Rodrigues Vieira Maria Alice Tavares Um dos maiores desafios das aulas de Portugués diz respeito, sem diivida, a0 tratamento da variagdo linguistica e, fundamentalmente, aos saberes gramaticais — permeados por diferentes normas linguisticas — que devem estar presentes na escola. Com o amplo acesso dos brasileiros aos bancos escolares, especialmente no primeiro nivel do ensino fundamental, a multifacetada realidade brasileira, em todas as suas express6es socioculturais, reflete-se na produtiva e saudavel convivéncia de diversas variedades linguisticas na vida escolar, Conhecer essa realidade plural ocupou e ocupa a agenda dos estudos sociolingufsticos brasileiros, cujos resultados vém sendo expostos, ha meio século, em eventos da Area e em publicagdes diversas no pais ¢ no exterior. Se, de um lado, as orientagSes oficiais propdem como alguns dos objetivos da rea de Lingua Portuguesa “conhecer e respeitaras diferentes variedades linguisticas do portugués falado” e “utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais da variedade linguistica valorizada socialmente, sabendo adequa-los as circunstancias da situagdo comunicativa de que participam” (Brasil, 1997: 33), de outro, formulam como “objetos privilegiados de ensino-aprendizagem”, “a lingua eserita e 0 que se tem chamado de lingua padriio” (Brasil, 1998: 33). © conhecimento acumulado pelos estudos sociolinguisticos brasilei- Como s objetos do fe auxiliar no cumprimento desses objetivos e dar conta desse ros pod ~ e este capitulo introdutério, de forma ensino de Portugués no pais? Este livro explicita — pretende dar respostas a essa questo. 10 Ensino de portugués e Sociolinguistica Coniribuigées gerais da Sociolinguistica ao ensino de lingua Do conhecimento provido pelos pressupostos da Sociolinguistica Variacionis- ta, e com especial atengdo pelos estudos desenvolvidos no Brasil, pelo menos trés grandes contribuigdes - desenvolvidas a seguir ~ merecem destaque: (i) _definigdo apurada de conceitos basicos para o tratamento adequado dos fend- menos varidveis; (ii) reconhecimento da pluralidade de normas brasileiras, complexo tecido de variedades em convivéncia; € (iii) estabelecimento de diversas semelhangas entre 0 que se convencionou chamar “norma culta” e “norma popular”, nao obstante os esteredtipos linguisticos (cf. Labov, 1972a) facilmente identificados pela maioria dos falantes. Conceitos basicos para o tratamento da variagao linguistica na pratica escolar Por ser do interesse de todos, a variagdo linguistica tem sido objeto da apreciagdo de especialistas e ndo especialistas, de orientagdes bastante diversas, que, sob olhares igualmente diversificados, acabam por conceituar e/ou nomear de modo distinto el dessa pratica uma variedade de concepgdes acerca das chamadas normas linguis- ticas, especialmente as que se referem aos termos “culta” (normalmente oposto a “popular”) ¢ “padrao” (cf. Faraco, 2008). Com base na deserigio apurada da realidade brasileira, a Sociolinguistica pode aprofundar os limites dessas nogdes ¢ propor 0 uso criterioso desses termos. Essa experiéncia sinaliza que a descri¢a0 dos usos linguisticos pode ser, muitas vezes, 0 melhor caminho para tragar um bom aporte tedrico: essa primeira contribuig&o da area ao ensino de Portugués é Jementos fundamentais 4 compreensio do fendmeno. Resulta portanto, de natureza conceitual. Nao poucas vezes, os professores de Portugués, bus produgiio textual de seus alunos, apontam que determinados usos esto inadequados ao padrio esperado para o texto escrito. Ao justificar suas correg6es, 0 profissional de ensino acaba por atribuir o problema relativo ao uso de certa expressiio ou eS trutura a uma das seguintes razdes: (a) “ela ndo pertence 4 norma culta ou 4 norma § lingua culta ow a lingua padrio)”; (b) “ela é da fala, e no cabe cando aprimorar a pratica de padrao (ou, ainda, Contribuigées da Sociotinguistica brasileira para o ensine de portugués 11 na modalidade escrita”; (c) “ela & informal, nao cabe no texto formal”. Convém assinalar que, por vezes, a correciio da mesma expressio ou estrutura recebe, na sala de aula, qualquer das trés justificativas ora elencadas. Esses limites imprecisos entre “norma”, “modalidade” e “registro” nao sio Propriedade exclusiva do discurso dos professores; na propria drea cientifica e nas orientagSes oficiais do Ministério da Educagiio e Cultura (Mec), para a drea de Lingua Portuguesa, também se verifica a necessidade de delimitagiio conceitual. A esse respeito, o conhecimento amplo da realidade brasileira permite postular alguns fortes principios que devem nortear a pritica do professor de Portugués: (a) As concepgdes de normas podem ser estabelecidas em dois planos: 0 idea- lizado e 0 concreto Da polissemia do termo norma, convém estabelecer duas concepgdes gerais: uma do nivel da idealizagao do que configuraria um modelo para determinado grupo de usudrios da lingua (norma idealizada, abstrata, subjetiva); ¢ outra do nivel da concretizaciio, dos usos mais produtivamente preferidos em determinada comunidade de fala (norma de uso, concreta, objetiva). A primeira dessas concepgdes, costuma-se atribuir, muitas vezes, um perfil nor- mativo, com intengio de regular o comportamento social, seja por parte da tradigdo gramatical (aquela que objetiva estabelecer um modelo clissico, mais especifica- mente para a escrita literdria, conhecido normalmente como norma gramatical ou norma-padrao), seja por parte de grupos de usudrios da lingua (uma norma-padriio assumida por elites socioculturais para uniformizar a fala e sobretudo a escrita de prestigio; uma norma cuja idealizagdo nem sempre coincide com a que fundamenta a norma-padréo gramatical, mas tende a dela se aproximar). A segunda dessas concepgées, cabe 0 perfil daquilo que é normal, costumeiro, na pratica das comunidades de fala, configurando, assim, efetivas variedades lingitis- ticas, Nesse sentido, norma aqui corresponde ao conjunto de usos linguisticos mais produtivos, preferenciais na fala (e na escrita) de certos grupos de falantes. Quando se trata de comunidades de fala com prestigio social — aquelas que pertencem aos meios urbanos, que dominam a cultura escrita, tipica dos escolarizados, especial- mente a aplicavel em registro formal -, atribui-se a essas variedades 0 rétulo de norma(s) culta(s) (de uso) ou variedades cultas;' em oposigao a essas variedades, quando se trata dos usos praticados por falantes nao escolarizados, atribui-se a elas 0 rotulo de normas populares ou variedades populares. - 12 Ensino de portugués e Sociolinguistica Embora nunca se espere resolver o problema da variacao de terminologia pa essas concepes relacionadas ao vocabulo norma, entende-se que, na ae guistica, a oposigao que mais produtivamente tem sido utilizada para tratar dessas duas concepgées em relagdio ao que seria prestigiado socialmente, a ser promovido ha pratica escolar, seria a seguinte: norma-padrao (0 padrio idealizado) vs. norma culta (0 padrao de uso). Aqui também, ao que tudo indica, se nota um descompasso entre o que propoe a Sociolinguistica e 0 que pratica o profissional de Lingua Portuguesa. Nilo raras ervam-se professores preferindo 0 termo norma culta para 0 que acaba io corriqueiras frases como a que se ‘0 pertence & norma culta”, vezes, obs' de se identificar como norma-padrao. Assim, si segue: “isso ndo pode ser usado no seu texto, pordue nai Obviamente, a expressao “norma culta” assim empregada nao se refere, na maior parte das vezes, ao que é praticado por falantes escolarizados (norma culta de uso), antes, traduz 0 que 0 professor julga ser correto, pertencente a norma-padrdo por ele idealizada, inspirado no que diz a norma-padrao gramatical. E importante assinalar que nem sempre os ideais normativos propostos pela escola e os apresentados pela tradigao gramatical coincidem? Teitos os devidos esclarecimentos conceituais, € preciso refletir sobre a nor- basear em suas atividades didrias de que o professor de Portugués vai se fui um fato maem lagdgica. Em primeiro lugar, constit 1s sfio valo- cio dos alunos na pratica ped: orienta sociocultural —e, por extensdo, sociolinguistico — que 0s usos linguistico: rados pelos usuarios dos mais diversos perfis. Isso significa dizer que as expressdes amente utilizadas por um grupo de falantes ~ independentemente as e igualmente linguisticas efetiv da norma utilizada — embora seji validas, sao avaliadas naturalmente como prestigiosas (bonitas, ¢ dentre outros qualificativos) ou desprestigiosas (feias, erradas, desagradaveis). Segundo o quadro tedrico sociolinguistico (Labov, 1972a), ha fatos linguis- ue nao recebem avaliagao de determinada comunidade de fala sfio usados a inconsciente (indicadores); ha outros que recebem avaliagao positival a depender do contexto em que estio inseridos, de modo que situagdes ais acabam por alterar a opgao do falante (marcadores); © outros, ainda, recebem avaliagao no nivel absoluto da consciéncia do falante, de modo m tragos estigmatizantes (e ssor, cabe conhecer 0 perfil d us alunos, avaliar sua natu! xtos que produzem em rela jam todas cientificamente legitim: orretas, agradaveis, ticos q de form negativa mais form que sempre que constitue Ao profe: produgdes de ser adequagao dos te: stere6tipos). las variantes com que lida diariamente nas reza e orientar OS estudantes na busca da cio ao género © asituagao interacional Contribuicas i WvigBes da Sociolinguistica brasileira para o ensino de portugués 13, em que se enconti i es Se airiare watery nenen domine um continuo de normas que, segundo Bo me ee sea soda noob, vai (i) do mais monitorado/formal ag menos a rae vreatinegdernn nitoragao estilistica); (ii) do mais rural ao mais ut = ve Coen es e (iii) do mais oral ao mais escrito (continuo di ; i eee le oralidade-letramento). a outras palavras, cabe dizer que aquilo que a escola idealiza como “norma culta” é, na realidade, um composto de usos que se projeta, segundo Faraco (2008), na interseeao entre o mais monitorado, urbano e escrito. Valendo-se dos trés con- tinuos mencionados, pode-se tragar um novo que sinalizaria, na realidade, normas que vio das mais cultas as mais populares. Ao professor, cabe, no papel que Ihe foi confiado: (i) dar orientagées seguras nas atividades de produgao textual, valendo-se das preferéncias pautadas nas efetivas normas de uso brasileiras faladas ¢ escritas; (ii) promover, nas atividades de leitura ede escrita dos mais diversos géneros, o reconhecimento de usos linguisticos pouco familiares 4 comunidade de fala a que pertencem seus alunos, por serem esses usos pertencentes a outras variedades, prestigiadas ou nao, ou, ainda, a outras sincronias. -am normas diferentes (b) Fala ¢ eserita pr: Qualquer que seja a norma praticada, ¢ fundamental que o professor reconhega as diferengas entre fala e escrita, Assim, por exemplo, a fala praticada por individuos comalta escolaridade difere da escrita praticada por esses mesmos individuos. Diversos estudos sociolinguisticos tém demonstrado essa diferenga. A sega “Contribuigdes da sociolinguistica brasileira” deste capitulo introdutério apresenta produtivos resultados que auxiliardo a pratica do professor no reconhecimento dos fendmenos linguisticos envolvidos na distingao fala vs. escrita. ade é diferente de registro (©) Norma ¢ diferente de registro; mod: nem sempre se apresenta com clareza a distingao modalidade e registro, de modo que, em algumas jos a pensar que a variagdo clusiva de certa norma ou Por mais ébvio que parega, entre norma e registro, ou, ainda, priticas pedagégicas, os alunos sio erroneamente levadl de registro (ou grau de formalidade) seja propriedade ex de determinada modalidade. Embora seja verdadeira a concepgao de estabelecam a partir do que é idealizado em registro que os modelos de norma-padriio se formal, nao é igualmente ver- 14. Ensino de portugués e Sociolinguistica dadeira a correlagao, no que se refere ao plano dos usos linguisticos, entre normag ultas e registros formais, ou entre normas populares e registros informais. Em é preciso assumir que tanto falantes que dominem variedades cyl. s variam quanto ao gray pratica dessa variagag outras palavras, tas quanto falantes que fagam uso de variedades populare: de formalidade, Sem divida, o repertério de recursos para @ pode ser mais limitado em um caso do que em outro. Da mesma forma, nao é produtivo associar, de forma autom de outro lado, a modalidade escrita com o registro \atica, a modalidade falada com o registro informal, e, ‘ssa associagdo também nega a autonomia de cada continuo de variacao que caracteriza a complexa realidade sociolinguistica brasileira. Ademais, empo- brece 0 manejo e o reconhecimento da produtiva variagdo de registro que devem 5 nas aulas de Portugués, seja em géneros textuais falados, seja em formal. E: estar presente: géneros textuais escritos. Reconhecimento de uma norma culta plural: a variedade de usos na pratica de leitura e produgao de textos orais e escritos Dos esclarecimentos conceituais pontuados anteriormente na se¢ao “Conceitos para o tratamento da variagao linguistica na pratica escolar” parece natural pluralidade de normas que compéem 0 tecido sociolinguistico das 5 naturais, e dentre elas a do portugués brasileiro (Ps). Com base negaivel, ainda, postulara improdutividade de concepedes basicos reconhecer a diferentes lingua: nesse reconhecimento, homogeneizantes de normas, idealizados pelo professor em sua trata-se de flagrante heterogeneidade na sala de aula: nao s6 se registram usos ambém se avaliam diferentemente sejam elas de uso (normas cultas), sejam elas padrées pratica escolar (normas-padrdio). Num ou noutro caso, cultos diferentes na fala ¢ escrita brasileiras, mas t as produg@es escolares. Nesse contexto, o professor de Lingua Portuguesa precisa (re)conhecer essa pluralidade de normas com as quais efetivamente tera de trabalhar na sala de aula. Para que o proceso de ensino-aprendizagem faga sentido e tenha efeito nas praticas escolares, a realidade linguistica multifacetada do portugués brasileiro — na produ- fio de textos escritos ¢ orais — tem de ser apresentada/reconhecida/trabalhada. Ea Sociolinguistica brasileira tem apontado para a necessidade do mapeamento dessa pluralidade no ensino de Lingua Portuguesa. Esse trabalho se reflete nos capitulos deste livro e em outras publicagdes na area (Gorski e Coelho, 2006; 2009; Vieira & Brandao, 2007; Martins e Tavares, 2013; Martins, 2013a e b). Contribugbes da Sociolingustica brasileira para oensine de porugués 15 Sem o efeti i 1Vo reconhecimento e trabalho com diferentes normas — con- templando por que, como e quando as ex significam -, 0 ensino de Portugués pode linguisticos absolutamente artificiais ou, presses linguisticas significam o que acabar por considerar padrdes de usos . . ainda, constituir uma atividade inécua voltada a Tepetigao de uma metalinguagem, praticas que em nada contribuem com a necessaria ampliacao das competéncias de leitura e de produgiio de textos. Reconhecimento das semelhancas entre variedades cultas e populares Outra grande contribuigéio dos estudos sociolinguisticos ao mapeamento da realidade linguistica brasileira diz tespeito ao reconhecimento do grande ntimero de estruturas partilhadas pelos falantes, na maior parte das vezes urbanos, das varie- dades populares e das variedades cultas. Ao que tudo indica, as semelhangas entre essas variedades so, em termos quantitativos, maiores do que as diferengas. Desse modo, os estudos permitiram apontar que, em diversos fendmenos, a chamada fala popular nao se distingue efetivamente da chamada fala culta. Assim, é fundamental que o profissional de ensino de Lingua Portuguesa seja capaz de reconhecer os tragos que so descontinuos e que efetivamente caracterizam o falante rural e/ou no escolarizado do falante urbano e/ou escolarizado. Esses tragos — como a auséncia de marca de pluralidade em algumas construgdes ou 0 rotacismo, por exemplo ~ so responsaveis pela avaliagao subjetiva do que se con- cebe como culto ou popular, prestigioso ou nao prestigioso socialmente, Sao esses tracos, na maioria das vezes esteredtipos linguisticos (além dos tragos especificos da escrita), que, via de regra, fazem com que os usuarios da lingua, alunos ¢ pro- fessores, tenham a sensagaio de que ha enormes diferencas entre o portugués que se fala e 0 portugués que se ensina; assim, acabam por considerar, lamentavelmente, que “se fala muito mal a lingua portuguesa no pais”. Contribuigées da Sociolinguistica brasileira: alguns exemplos morfossintaticos e discursivo-pragmaticos Apresentamos, nesta se¢io, algumas contribuigdes da Sociolinguistica brasi- leita & descrigdio de fendmenos variveis nos niveis morfossintatico ¢ discursivo- pragmitico do portugués. Esclarecemos, no entanto, que, dada a grande produgao 16. Ensino de portugués e Sociolinguistice na area, elegemos apenas alguns fendmenos cujos resultados ja spree = consistente deserigao dos padrées caracteristicos de di ferentes variedades ~¢, con. sequentemente, de normas distintas. Nosso objetivo le came longe de apresentar um panorama exaustivo de diferentes estudos, € “soma izar resultados gerais a fim de disponibilizar material para 0 professor em sala de aula no ensing de Portugués, sobretudo, nos niveis fundamental e médio. O sistema dos pronomes pessoais Um dos aspectos muito estudado e descrito em diferentes variedades — ou nor. mas— do portugués brasileiro diz respeito ao sistema dos pronomes pessoais, mesmo porque nele se tém diagnosticado significativas mudangas, frequentemente associadas 4 “migracdo” das formas “vocé/vocés” e “a gente” para o quadro dos pronomes pes- soais (Menon, 1995; Faraco, 1996; Lopes, 1999, 2009a, b; Lopes e Cavalcante, 2011), No vasto quadro ja posto pela literatura sociolinguistica brasileira sobre o sistema pronominal, numa perspectiva sincrénica ou diacrénica, é certo que, no universo das formas encontradas para as referéncias aos pronomes sujeitos ¢ complementos nas normas varias do portugués brasileiro, ha uma uniformidade no sistema dos pronomes pessoais — desde aquelas que configuram as variedades/normas cultas até as variedades/normas populares. Considerando os muitos estudos jé realizados sobre o assunto, apresentamos ¢ destacamos, no quadro 1, a seguir, a sistematizagio feita por Duarte (2013, p. 120) a fim de se fazer reconhecer a contribuigao da Sociolinguistica brasileira para a descrigao do portugués falado e escrito no Brasil. Em se tratando especificamente de um mapeamento da variagio entre vocé (e variantes) e tu e entre nds e a gente no portugués brasileiro falado na atualidade, remetemos a leitura de, respectivamente, Scherre et al. (no prelo) e Viana e Lopes (no prelo). is sujcitos ¢ ee ; ‘complementos és Pessoa Pronoi : mies fe Pronom« ma es complement Fi — Acusativos Dativs TC Obliquos ra Ta woe me mim, comigo + The, 0, a, se, y.] te, Ihe, (apara) | ti, contigo, si, wood voc’ P3 3 ele, ela A, se, cle, ela | Ihe, (a/para) ele’ | si, consigo, (com) = ela elelela agente | nos, nés, agente | nos, (aipara).nds | eonosco, (com = a (a/para) agente _| nds (com) agente 8,8, se, voets | Ihes,(a/para) | (com) voots P6 eles, ek oe elas 5, as, se, eles, | thes, (a/para) eles | si, consigo, (com) elas clevelas Como se pode observar, somente para P1 parece haver uma distribuigdo equili- brada entre diferentes formas para os pronomes sujeitos ¢ complementos: forma nao obliqua morfologicamente marcada com nominativo (eu); formas obliquas tonas morfologicamente marcadas com acusativo ¢ dativo (me); e formas obliquas té- nicas (mim, comigo); muito embora haja registro em variedades populares/norma populares — de fala e de escrita — da forma eu em fungaio acusativa (Ela escolheu eu) ¢ da forma mim em fungiio acusativa (Ela mim viul) ou dativa (....¢ mim disse algumas verdades). Para todas as demais pessoas, as formas alternam-se entre (i) formas obliquas dtonas morfologicamente marcadas com acusativo ou dativo e demais formas obliquas preposicionadas; ¢ (ii) formas pronominais sem correspondentes obliquas usadas em todas as fungdes — sublinhadas no quadro 1. Dentre as formas obliquas correspondentes a P2, P3, P4, PS e P6, muitas delas—em negrito no quadro 1 —estio condicionadas, como muito bem adverte Duarte (2013: 120), a usos mais restritos “a certos grupos sociais ou mesmo em extingiio na fala espontinea”. E 0 caso dos 1s, as acusativos de P2, P3, PS e P6; Ihe dativo de P3 ¢ Ihes dativo de pronomes 0, a, o: : acusativo ¢ PS e PG; os obliquos sie consigo de P2 ¢ P3 e P6 e conosco de P4. O te dativo de P2 6 uma forma ainda bastante recorrente na fala e na escrita, coocorrendo com o Ihe em usos marcados por varidveis estilisticas e diat6picas.* A heranga latina de marcagao de caso morfol6gico no sistema dos pronomes pessoais nao parece ser mais uma realidade geral no portugues brasileiro. Nem todos os pronomes pessoais se desdobram em formas morfologicamente marcadas 18 Ensino de portugués e Sociolinguistica . 4 e ail com nominativo, acusativo e dativo. Quanto aqueles 4 ainda se desdobram, ti, formas estio restritas a certos usos € precisam ser reeuperadas Pela escola, poi, nfo fazem mais parte da gramatica vernacular adquirida pela crianga. Nesse noy sistema pronominal, sem marcagio de caso morfologico - a COMO aconte. ce em P3 (ele/ela) ¢ em P6 (eles/elas) — em P2 (tu/vocé), P4 (nds/a gente) ¢ ps (vocés) as formas obliquas dtonas ¢ tOnicas passam @ ae com as formas no obliquas, ¢ a marcagdo do caso (fungao sintética na oragao) ~ nominativo, ~é abstrata e se manifesta nas relagdes hierarquicas na sinta lenagiio dos constituintes na sentenga, Qs so dos pronomes em questao depende al, est marcado com nominatiy acusativo, dativo xe, especialmente nos padrdes de ord exemplos em (1) deixam evidente que 0 ca: da ordem/relagao deles na sentenga: se pré-verl (1a), se pés-verbal com acusativo (1b). (1) a. Vocé/vocés/a gente/ele/ela/eles/elas viu(viram) a Maria. — nominativo b. A Maria viu vocé/vocés/a gente/ele/ela/eles/elas. —acusativo Nesse sentido, especificamente para tais formas, ja nao se pode falar em pro- nomes nominativos e pronomes acusativos, pois uma mesma forma pronominal, a depender da relagao que estabelece com os demais constituintes da oragdo, assume fungao de sujeito ou fungao de complemento. ‘Nem mencionamos no quadro | vés (eas formas de complemento a ele asso- ciadas) porque tais formas estio extintas da fala ¢ da escrita no PB contemporineo, em qualquer variedade. Quando usadas, encontram-se restritas a contextos muito particulares — como 0 religioso ou o literério — e nao caracterizam nem de longe um padrao adquirido por brasileiros. As formas do sistema com vés nem mesmo siio recuperadas pela escola —_como ainda acontece com algumas formas abliquas, como 0 caso das formas pronominais em negrito no quadro 1 —, uma vez que, quando aprendidas (se é que 0 sao!), nao sao incorporadas a fala ou a escrita em situagdo natural de uso em norma culta ou em outras normas, A sintese apresentada no quadro 1 é de fundamental importancia para © (re)conhecimento e 0 ensino efetivo da norma culta falada e escrita do portugues brasileiro, de modo que nao pode ficar mais restrita a publicagdes da area. Tal quadro deve ser discutido e trabalhado nos diferentes contextos de ensino e aprendizagem de Lingua Portuguesa, para que um efetivo e frutifero resultado no ensino de por tugués seja possivel. Conhecer e entender como e por que o sistema dos pronomes pessoais se constitui € entender de fato 0 que significa e como opera um pronome . ou mais comul i i adas, 5 mente d pass: ces para que sejam reconhecidos e interpretados pelos alu “onsen le uma Vez por tor é Ag nos, & promover 0 a “mss © necessirio assumir que, se um dos objetivos da escola ‘40 culto a ser praticad : lo em textos orais e escri i contextos € registros, todo o sistema de vés n: scritos em diferentes contemporaneo. Se 0 ( i io faz parte do portugués brasileiro - Se © (ze)conhecimento e, consequentemente, o ensino de um sis- tema de vés for ari é Pe a © € para que o aluno consiga ler e conhecer textos de . . - Passadas. Admite-se, assim, que 0 portugués culto falado e escrito no Brasil na contemporaneidade, nem de longe, se resume ao paradigma do ew/tu/ele/ nos/vos/eles. A natureza e a representacdo do sujeito e do objeto Muitos resultados de estudos em Sociolinguistica variacionista tem evidenciado padrées de realizagao do sujeito e do objeto caracteristicos do portugués brasileiro contemporaneo. Desde os trabalhos de Tarallo (1983; 1996), que apresentam a mu- danga segundo a qual o Pp se distancia de outras linguas romAnicas por assimilar um sistema que licencia cada vez mais sujeitos preenchidos ¢ cada vez menos objetos preenchidos, muitas pesquisas tém sido realizadas, de modo que jé dispomos de um padrao de realizagdio do sujeito e do objeto delineado no portugués contemporaneo escrito e falado no Brasil. De modo geral, a discussio sobre a natureza e as propriedades do sujeito gra- matical nas aulas de Portugués fica limitada & reprodugdo automitica de definigdes ¢ de classificagdes, pritica que em nada contribui para o uso efetivo da lingua em suas mais variadas manifestagdes ou para a reflexdio sobre esse uso (Martins, 2013a). Em relacdo ao objeto nulo, entao, absolutamente nada se fala. Assim, 0 conhecimento sobre o tema acumulado em mai y ivros publicados na/e pela academia. O que pretendemos nesta se¢ao é sistematizar aspectos da naturezae dos: padrdes de realizagiio do sujeito ¢ do objeto no portugués brasileiro contempordneo, a fim de disponibilizar tal quadro para o professor de Portugués nos niveis fundamental ‘os, como ja se confirmou, que 0 ensino ancorado em por que, s de 40 anos de pesquisa sociolinguistica no Brasil parece niio sair dos artigos ¢ I © médio. Acreditam 20 Ensino de portugués e Sociolinguistica como ¢ quando as expressbes linguisticas significam 0 que significam pode e muito contribuir para que o aluno tenha efetivamente o dominio consciente da escrita g da fala que contemplem diferentes normas. A representacéo do sujeito pronominal Indiscutivelmente, a representagao expressa/nao expressa do sujeito gramati- cal é uma propriedade que define/marca as linguas naturais. Apesar de toda lingua apresentar obrigatoriamente sujeito, este pode vir quase sempre expresso ~ como no inglés (it rains, it seems...) € no francés (il pleut, il semble...) ~ ou quase sem- pre no expresso — ou nulo, como no italiano (@ piove, @ parlo) e no espanhol (@ Ilueve, O hablo). No portugués brasileiro, a representacdo expressa ou nao do sujeito esta associada Anatureza desse elemento, a qual pode ser determinada, indeterminada (ou arbitraria) ou nao referencial. Berlinck, Duarte e Oliveira (2009: 123), na Gramatica do Portu- gués Culto Falado no Brasil (Gecr), que tomam por referéncia a fala culta de cinco capitais brasileiras — Porto Alegre/rs, Sao Paulo/sp, Rio de Janeiro/rs, Salvador/pa e Recife/e, afirmam que “o portugués brasileiro atual apresenta um comportamento hibrido: prefere sujcitos referenciais expressos e os niio referenciais nulos”. Os trabalhos de Duarte (1993, 1995, 2003, 2007a ¢ b, para citar alguns) ¢ Duarte, Mourdio e Santos (2012) tem mapeado sincrénica e diacronicamente a preferéncia do ps pelo preenchimento do sujeito pronominal. No trabalho de 1993, tomando por base a anilise de pegas de teatro escritas no Rio de Janeiro ao longo dos séculos XIX e Xx, Duarte apresenta resultados que evidenciam uma evolugao na frequéncia de uso de sujeitos expressos, aparentemente condicionados pela pessoa gramatical: para a primeira e segunda pessoas, respectivamente, as taxas saem de 31% e 17% em textos do inicio do século xix para 78% e 82% em textos do final do século xx; para a terceira pessoa, ha um aumento, também significativo, de 7% no século xix para 45% no século xx. Nas conclusdes apresentadas pela autora, @ redugao no paradigma verbal (associada 4 insergdo de novas formas no sistema pronominal — conforme exposto na segaio “O sistema dos pronomes pessoais”) seria um dos motivadores do nao licenciamento e da nao identificagdo da pessoa gramatical e, consequentemente, do maior preenchimento do sujeito pronominal. No processo de mudanga, os tragos semanticos [+/- humano e +/- especificos] do referente teriam um importante papel para a expressio dos sujeitos de terceira pessoa: quanto [+ humano e + especifico], maior a tendéncia a representaga0 expressa do sujeito. S daquelas encontradas na segunda fada a pe ve da 8 Pessoa : 91% de preenchimento a primeira; ¢ 63% o de Preenchimento jet i ara OS Sul Cos] de terceira Pessoa. . on A frequéncia na Tepresentagaig expressa di brasileira confirma esse aumento. De acordo 78% dos sujeitos de referéncia determinada da segunda pessoa; 75% [+ humanos ¢ + especifj 0s sujeitos referenciais da fala culta Com os dados apresentados na crcr, nas sentencas finitas sto expressos e vocé com um percentual de 85% de preen ichimento, cf. (4)—hé na amostra apenas 9 ocorréncias do pronome tu na fala de Porto Alegre, dentre as quais a maioria também aparece preenchido; Para a segunda pessoa do plural, a forma vocés — a Unica encontrada— aparece 87% expressa, of. (5); paraaterceira pessoa do singu- lar ele/ela ¢ do plural eles/elas, os percentuais so respectivamente de 78% e de 71%, fortemente condicionados pelo trago [+/- humano] do referente ~ quando os relerentes so [+ humanos], 0 percentual de preenchimento chega a 84%, cf. (6). (2) Realmente eu tenho muito cuidado com esse problema de alimentagio porque eu tenho uma facilidade enorme para engordar, sabe? (aPcr, 2009: 125) (3) Nés n&o temos habito justamente por nés nao termos também condigées fi- nanceiras. Aqui em casa a gente nao tem por habito de fazer quatro cinco seis pratos. (apcr, 2009: 125) (4) Ai Jodo se vocé justificar da maneira, como voce me respondeu, eu coloco correto. (pcr, 2009: 127) (5) Voegs tém a pergunta ai, ndo €? (Grcr, 2009: 127) (6) Normalmente, quando a gente pede para [uma crianga], de por volta de quatro a cinco anos desenhar uma mesa, ela pde 0 tampo que ela sabe que existe; ela pe as pernas para todos os lados. Por qué? Ora, se ela olhar de um ter minado lado, ela vé duas pernas; se ela andar meio metro, ela ve ou pernas, EntZo ela poe pernas para todos os lados, por qué? Porque ela sabe que : a apoiada a mesa tem um tampo, que ¢ onde ela pde as coisas ¢ que amess es ap 22 Ensino de portugués e Socilinguistica em cima das pernas... Agora isso aqui ela jamais vai poder ver: essa imagem da mesa. Entiio ¢ isso € 0 que ela sabe. Ela esta desenhando 0 que ela tem nq cabega e niio 0 que ela esti vendo. (GPCF, 2009: 128) Em relagdo aos sujcitos de referéncia indeterminada nas sentengas finitas, a repre. sentago expressa do sueito gramatical também éforma "ts recorrente: 22% express pelas formas nés ea gente—ct. (7); 18,5%por vocd cf (8); 17% pores cf (9; 14%, porse—cf.(10).Ando expressiio do: sujeito indeterminado, na terceira pessoa do singular ou plural, é pouco significativa na fala culta, de acordo com os dados apresentados na Grcr, No exemplo a seguir, todos com a forma a gente, fica evidente a preferéncia pela gramatical de referéncia indeterminada, representagdo expressa do sujeito (7) bom eu gosto nao dessas miisicas modernas agora que @ gente nem sabe como dangar... eu gosto de fox... de tango... yalsa, nao é?... bolero também, mas agora ‘a gente nao ouve mais isso nada, né?... é tio engracado, 0 pessoal danga, um aqui outro 14, a gente procura, nem sabe quem &0 par... da gurizada... (pcr, 2009: 133) (8) Euacho quea arte do retrato é muito dificil porque ai vocé exige asemelhanga, enquanto, se voeé esta criando, yocé nao precisa colocar nenhum padrao, anao ser 0 padrao da propria obra, certo? Quando voce cria um retrato, voeé esti dentro da fungaio naturalista. Vocé quer criar uma semelhanga, que todo mun- do olhe e diga “olha a Elisabete Segunda da Inglaterra, como esté parecida”, certo? Entio é mais dificil do que vocé criar uma figura de mulher qualquer que vocé pode distorcer da maneira que voeé bem entender, que voeé pode pintar de vermelho. (arcr, 2009: 133) (0) Agora em Salvador tem assim restaurantes muito bons. Eles esta incremen- tando muito o turismo IA ¢ eles servem muito bem, sabe? (Grcr, 2009: 134) (10) Se na mulher se retira os ovarios, retirando portanto a fonte elaboradora do horménio feminino, as glandulas mamarias elas se atrofiam. (Gece, 2009: 134) Como evidencia 0 conjunto de exemplos ora apresentados, ocorre 0 preenchi- mento de praticamente todos os pronomes de terceira pessoa, 0 que se correlaciona a0 fato de que o referente é [+ humano]. Essa realidade seré aquela com @ qual qualquer professor costuma se deparar nos contextos de sala de aula, especialmente nas atividades de produgio textual. Sio necessarias ferramentas para, em primeira lugar, entender o que esti por tras de tanto preenchimento da posigao de sujeito gramatical, para, entdo, ser possivel trabalhar a relacdo entre os usos praticados na fala das diversas variedades brasileiras e a aquisigao da escrita padrao. ‘pos de algamento — do ti -_ 0 que verl icamento— do tipo Parecer (cf, ( 12a)) ticos (ef. (11a)), com os verbos ter (of. (138) ehaver (f,(13a)), inde ee oan tenis com expletiva do tipo it do inglés ou i do fran ind assim, pelo portugués brasileiro para evitar um a leti sintagma adverbial ou um sintagma preposici ivo nulo — o deslocamento de um ons i jei al locativo ou te algament e do sujeito da sentenga subordinada (cf. 12b) mporal (cf. 11b), 0 pessoal niio referencial (cf. 13b e ¢) ; 12b), ou 0 uso de um pronome (11) a. @ choveu muito uma t . 2009: 143) lemporada quando a gente ia com o Sesc. (GPcF, b. So Paulo chove. O Rio faz sol. (arcr, 2009: 143) (12) iq aie =2 — = ane ou dezoito impostos. (apcr, 2009: 143) m conta dos professores, ao menos € 0 que eu ougo contar, né? (pcr, 2009: 145) (13) a. ... entdio @ havia restaurantes que eles serviam assim um pouquinho de cada coisa... (Geer, 2009: 143) voce tem frutas... vocé tem ftios, eles servem suco, depois ainda servem café com leite. (Grcr, 2009: 149) Vocé tem, em época de Sao Joao em Olinda, vocé ainda vé fogueira e como se vé fogueira! O olindense faz fogueira até em cima do calgamento. (Grcr, 2009: 143) om ° dancia 20 preenchimento do sujeito pronominal textos com sujeitos ndo referenciais. Na sigdo do sujeito, a direita do verbo, ma funao gramatical de sujeito, onstatar nos exemplos Como se pode observar, a tent no pp vem sendo atestada mesmo em con verdade, hd uma tendéncia segundo @ qual a pos ouporum constituinte co! venha sempre preenchida, tureza varia, como Se pode c« ou por outro constituinte de nat em (14), a seguir. (14) a, Natal choveu muito em abril. b. Abril choveu muito em Natal. 24. Ensino de portugués e Sociolinguistice Arepresentacdo do objeto direto ferentes estratégias de representacio do objeto direto ¢ os estudos sociolinguisticos no Brasil ja apresentaram uma descrigdo bastante vasta dessas estratégias, quer sincr6nica, quer diacronicamente. Um mapeamento de tais padrdes na fala do portugués contemporaneo em diferentes regides do pais pode ser encontrado em Duarte e Ramos (no prelo). ‘Apresentaremos, aqui, uma sintese dessas estratégias, com especial atengao a0 objeto nulo, a fim de disponibilizar ag professor de Lingua Portuguesa um panorama que inclui usos distintos associados a diferentes normas de uso e a norma-padrao. Ha varias formas de representagiio do objeto direto em portugués:* um pronome obliquo dtono (15a); um pronome nao obliquo ( 15b); um sintagma nominal (15c); um pronome nulo (15d); ou, ainda, uma oragao completiva de verbo — ou oragao subordinada substantiva objetiva direta (15e). O portugués brasileiro apresenta dil (15) a. A Maria mef/te/Ihe/o/a/os/as/Ihes encontrou na rua. b. AMaria encontrou (eu)/vocé/tu/ele/ela/(nés)/a gente/vocés/eles/elas na rua, c. A Maria encontrou a Marly na rua. d. A Maria encontrou @ na rua. e. A Maria disse que encontrou todo mundo na rua. De acordo com a Grcr, no capitulo escrito por Cyrino, Nunes ¢ Pagotto, sobre os complementos pronominais — conforme exemplos expressos em (15a cb) -, encontramos os seguintes padrdes no portugués culto falado no Brasil: para a primeira pessoa do singular, 0 clitico me é a forma de realizagao do objeto direto (embora 0 pronome nao obliquo eu possa ser encontrado em algumas variedades); para a primeira pessoa do plural, as formas sdo 0 clitico nos e a forma nao obliqua a gente (embora mais uma vez o pronome nao obliquo nés também possa ser encontrado em algumas variedades); para a segunda pessoa do singular e do plural, as formas sao, respectivamente, os cliticos te, Ihe & endo o te a forma mais recorrente —, e 0 pronome vocés; © pronome vocé para a terceira pessoa singular e plural, os pronomes cliticos o(s), a(s) & The(s) apresentam uma frequéncia muito baixa — “chegando mesmo a auséncia em alguns contextos” (Gecr, 2009: 73) - ¢ as formas nao obliquas ele(s) ¢ ela(s) “so raras” na fala culta; ainda referente a terceira pessoa, aponta-se a auséncia completa do clitico neutro 0. Mas se por um lado as formas obliquas marcadas com acusativo e as formas néio obliquas nao so recorrentes, qual a estratégia como acusativos (conforme seco “Q sistem ‘ retomada i a tégias de : _ Objetos anaforicos se tornam mai escrita) culta brasileira, dentre elas 9 objet iis recorrentes na fala (e na pee pastes desctitos a grer oy oat mi (cf. 16). Na amostra considerada r P ese 5 0 dos casos a estratégia d ' . gia de retomada do objeto direto anaforico de terceira pessoa é um Pronome nulo, ilustrado por @ no exemplo em (16). a di i '0S pronomes pessoais”), outras estra- (16) que aqui a se marca estrada com aqueles homens botando aquele ne- gécio e pintando a mio... (Grcr, 2009: 143) Dentre as demais strate as utilizadas na fala culta brasileira, esto a retoma- da por um sintagma nominal (26%), pelos pronomes (s)/a(s) (12%) - sempre em proclise € retomando referentes [+ animados] na quase totalidade -, e, com uma frequéncia muito baixa, encontram-se ainda pronomes demonstrativos (4%) ¢ 0s pronomes ndo obliquos ele(s)/ela(s) (2%). Esse quadro encontrado na fala culta brasileira contemporanea corrobora os resultados e as predigdes de estudos diacrénicos sobre 0 portugués brasileiro (cf. Cyrino, 1997, 2007; entre outros). Os resultados do estudo diacrénico em Cyrino (1997), em especifico, mostram que hé no curso do século xv! a0 XX um significativo decréscimo na distribuigao de posigdes preenchidas (de 89% no século xvi para 21% no século Xx), e, consequentemente, um aumento de de 11% para 45%) do objeto direto anafirico, Nesse cenétio, a posigdes nulas ( ge primeiro aqueles contextos cujo referente mudanga nas posigdes nulas atin: quais o referente poderia ser realizado pelo pronome é sentencial, isto é, nos ‘ir aqueles contextos neutro 0, conforme exemplo em (17), para depois atingi com referentes realizados por um sintagma nominal [- especificos], conforme exemplo em (18). (17) Acstétua: Desde 1863 ndo sei o-que se passa. nos nossos teatros. Tribofe: Parece-me que o melhor é continuar nao saber @. (Arthur Azevedo, século xix — Cyrino, 1997: 243) vn (18) Guithermina: Esta faltando wm copo dos noves, Dona buds w- Lurdes: Se esta faltando € porque voc’ quebrou @. (Marques Rebello, século xx Cyrino, 1997: 243) 26 Ensino de portugués e Sociolinguistica sobre a retomada do objeto direto no portugués brasileiro, é importante registrar que (i) na fala culta brasileira nao hd um percen. tual alto de pronomes nao obliquos ele(s)/ela — muito frequentemente associados a0 padrio do portugues brasileiro; e (i) a estratégia mais utilizada para a retomada do objeto anaférico é, de longe, aquela com objeto nulo. Tal quadro quase nunca mencionado ou mesmo considerado no ensino de Portugués nos niveis fundamental ¢ médio; ou seja, nada se fala sobre objeto nulo. Diante do que foi apresentado Fenémenos discursivo-pragmaticos A variagaio linguistica pode acontecer em qualquer nivel da lingua, do fonético- fonoldgico ao discursivo-pragmatico. Recebem destaque, nesta se¢do, varidveis linguisticas deste ultimo nivel, caracterizadas por Se situarem na fronteira entre a sintaxe e a pragmatica. Segundo Tagliamonte (2012: 247), “tem havido, na socio- linguistica, uma grande onda de interesse em recursos discursivo-pragmaticos ao longo dos iiltimos quinze anos”, Embora mais recentes, as pesquisas que tomam como objeto de estudo varidveis de nivel discursivo-pragmitico ja tém apresentado importantes contribuigdes no que tange a descri¢ao € A andlise de fendmenos que, no raro, sequer stio mencionados por gramiticas normativas ¢ livros didéticos. uma lista nao exaustiva, apontamos que, no que se refere ao portugués brasileiro, vém sendo analisados como variantes de nivel discursivo-pragmatico itens linguisticos como: (i) requisitos de apoio discursivo (sabe? entende? nio tem? ta? certo?) (Valle, 2001; Freitag, 2001a; Gorski e Freitag, 2006; entre outros); (ji) mareadores de especificidade (ai, 14) (Confessor, 2013); (iii) modalizadores epistémicos (talvez, acho que, parece que) (Freitag, 2001b; 2007); (iv) retifica- dores de contetido (quer dizer, vamos dizer) (Gorski et al., 2003); (v) marcadores de chamada de atenc&o (olha, vé) (Rost-Snichelotto, 2009); e (vi) conectores sequenciadores (e, ai, daf, entio ete.) (Silva e Macedo, 1996; Tavares, 2014). Os conectores sequenciadores representam o fendmeno de nivel discursivo- pragmitico que conta, até ento, com mais estudos concluidos — hé pesquisas feitas desde o inicio da década de 1990 até bem recentemente. Trata-se, portanto, de um fendmeno que vem sendo largamente investigado no portugués brasileiro e, assim, ja contamos com bastante conhecimento acumulado a respeito das tendéncias de distribuigdo linguistica, social ¢ estilistica desses conectores, em especial de ¢ € de ai. E sobre esses dois conectores que langamos um olhar mais detido na seetio seguinte, explorando as principais descobertas feitas por alguns pesquisadores, ecialmente os qui especialmente 08 que se vol a tais descobertas pod. po Para a anilise de textos ese , Le médi ‘eM contribuir para o ensi titos, ¢ mostrando fundamental ¢ médio de ensino, ‘nsino de conectores nos niveis Logo a seguir, damos > es; ee chamada d PAGO a dois fendmenos varidveis tipi . dea chamada de atencao © a requisicso de apoio discursi fein Paeaelon orale iscursivo - jlustrar a potenciali com 0 ii ilustrar a p lidade dos estudos voltados & variagao discursi — “ ymatica no sor substanciar portugués brasileiro falado como fonte de informagées para E o profes: aabordagem a essa modalidade da lingua nas aulas de Portugués. Os conectores sequenciadores e e af ae ou seja, elementos que fazem a ligag a ® ne le “analisar Co conjuntivos, “ re oragdes e partes maiores do texto, tendo em vista a coesao textual, conceito que trata da organizagio do texto” (Abreu, 1992: 10), a autora recorreu a um corpus composto por narrativas orais ¢ escritas produzidas por quarenta estudantes cariocas com idades entre 9 ¢ 15 anos. Conside- rando que os conectores ee ai cumpriam uma mesma fungdo de interligagao textual, Abreu submeteu essas formas a um tratamento estatistico que mostrou haver uma grande diminuigdo no emprego de ai nas narrativas escritas, em contraste com sua grande frequéncia nas narrativas orais. A autora apontou como fator determinante da baixa ocorréncia de af nas narrativas escritas 0 cardter estigmatizante que ronda seu uso, afirmando que “apesar de 0 uso deste elemento tanto por adultos quanto por criangas ser um fato até certo ponto natural, a sociedade culta, a escola o rejeitam” (Abreu, 1992: 10). Gorski e Tavares (2003) analisaram conectores sequenciadores em artigos de opiniao, elaborados por candidatos ao vestibular 2001 da Universidade Federal de Santa Catarina, e em trechos de relatos de opiniao produzidos em entrevistas $0 mantes florianopolitanos de 15 a 24 anos, entrevistas essas pertencentes ao Banco de Dados ‘Variagdo Linguistica na Regio Sul do Brasil (Varsul). As autoras encontraram treze conectores nos textos escritos (e, ai, por isso, entio, enfim, assim, portanto, sendo assim, pois, por fim, desta forma, em conse- a0 passo que, nos textos orals, encontraram apenas quatro (e, ai, dai e entiio). O conector predominante foi e, tanto na fala (com 50% dos dados, ao lado de entfio, com 20%, e aie dai, com 14% cada) quanto na eserita (com 61% dos dados). Apenas outros dois conectores tiveram certa recorréncia na escrita: por isso (com 8% dos dados) € entiio (com 7%). ciolinguisticas orais por inforn quéncia, consequentemente), 28. Ensino de portugués e Seciolinguistica Fazendo a distribuigio dos conectores quanto a a relagessemintcosrag, miticas por eles codificadas, sequenciagao textual das in! formagbes € introducdio de ‘aram o uso recorrente de € como sequenciador textual, (em naescrita)e como introdutor de consequéncia, (em na escrita). Nesse papel, 0 esperado seria hayer de consequéncia tipicos, como entig consequéncia, as autoras not 64% das ocorréncias na fala e 61% 22% das ocorréncias na fala e 56% um maior nimero de conectores introdutores = f e portanto, De fato, entio foi o conector mals ligado a introdugao de consequéncig na fala (33% das ocorréncias), mas na escrita teve — duas ocorréncias desse tipo (4% das ocorréncias). Surpreendentemente, entio, na escrita, ocorteu mais como sequenciador textual (10% das ocorréncias). Outro aspecto que Veio a tona foj ‘a baixa frequéncia de conectores diferentes de ena escrita, tanto na sequenciagaig textual das informagdes quanto na introdugio de consequéncia. Segundo Gérski e Tavares (2003), os resultados referentes a distribuigao dos conectores sequenciadores nos artigos de opiniio podem ser interpretados como indicios de que os candidatos ao vestibular dominam poucos conectores do rol de opcdes existentes, e, em razao disso, recorrem excessivamente a um Unico conec- tor, e. As autoras alertam que a grande taxa de emprego desse conector em textos escritos pode se dever a: deficiéncias nos procedimentos de abordagem ao problema adotados nas escolas em geral: no raro, cobra-se dos alunos somente a identificagtio dos rétulos dados aos conectores (aditivos, adversativos, conclusivos, causais, temporais, explicativos, condicionais etc.), sem incentivar a sua utilizago na produgdo de textos préprios, através de atividades de leitura ¢ escrita variadas que poderiam servir para o pro- fessor alertar para a necessidade de diversificag2o dos conectores como forma de enriquecer 0 texto (Gorski e Tavares, 2003: 109) Silva (2013) analisou © uso varidvel dos conectores sequenciadores e ¢ ai em textos de dois géneros da esfera narrativa, 0 conto e a narrativa de experiéncia pessoal, escritos por alunos do sexto ¢ do nono anos do ensino fundamental da rede piiblica do municipio de Natal (RN). Fazendo uso de 128 textos, 64 de cada género textual, a autora identificou contextos linguisticos, estilisticos e sociais que influenciam o emprego desses conectores nesses textos, Foi computado um total de 849 ocorréncias de conectores sequenciadores, dos quais 747 foram de e (88% dos dados) ¢ 102 (12% dos dados) foram de ai. Novamente, foi constatado um grande uso de e, as expensas de outros conectores possiveis nos mesmos contextos. Silva (2013) realizou também, junto aos alunos e seus dois professores de portugués, um teste de atitude linguistica a respeito da possibilidade de uso desses ticamente como ligado ao registro informal; (i) Gi uso possivel em situagdes mais e menos formai € foi considerado, pelos alunos, de ais mraeado esilsticamente Gi una — trata-se, pois, de um conector nao 5 um dos professores também avalia que o emprego do af como conector deva ser restri Sac escrita; (iv) 0 outro professor Pa ane aa bastante formas, de fala e de situacdo que envolva a . emprego seja evitado em qualquer hia conexio de partes do texto, isto é, ele no recomenda 0 uso ome eae eso em situagdes de registro informal (com 96% dos dads) e nas nara lores, € mig conector mais frequente nos contos : vas de experiéncia pessoal (com 77% dos dados), 0 passo que ai teve boa taxa de utilizacao nas narrativas de experiéncia pessoal (23% dos dados), mas ocorreu pouco nos contos (apenas 4% dos dados). Silva (20 13) atri- buiu a esses resultados a seguinte explicago: af, conector estilisticamente marcado ‘como informal, seria mais frequente na narrativa de experiéncia pessoal devido ao cardter tipicamente informal desse género textual (cf. Labov, 2004). Em contraste, esse conector seria menos frequente no conto, um género que tende a ser menos informal quando contrastado com a narrativa de experiéncia pessoal, pois costuma “implicar menor envolvimento emocional por parte do autor do que aquele que geralmente 0 arrebata em uma narrativa de experiéncia pessoal” (Silva, 2013: 103-4). Silva (2013) pontuou ainda que, comparativamente a narrativa de experiéncia pessoal, a composigao de um conto pode trazer uma série de dificuldades a0 aluno aprendiz de escritor, uma vez que ele deve elaborar personagens e eventos distintos de sua realidade pessoal, bem como deve atentar para diversas regras de construgaio da narrativa ficcional. Tais exigéncias poderiam ter resultado em maior atengdio na hora de produgdo dos contos até mesmo no que diz respeito & escolha das formas linguisticas, podendo ter: sido evitadas formas estili ms ca mais — caso do conector ai. Diferentemente, nas narrativas de experiéncia pessoal, jaridade do aluno aprendiz com 0s acontecimentos narrados ¢ ional possivelmente envolvido na narragio,“o texto pode fluir Jegiio das formas linguisticas (a8 formas is na ~ inclusive quanto sel ee arradas)” (Silva, 2013: 102). marcadamente informais podem ter sido menos bs ee Relativamente ao conector ai, que costuma ter seu uso recriminado . ‘Tavares (2013) mostra quesn@ pratica, ele pode ser’ encontrado em diferentes génet0s isticamente marcadas como infor- considerando a famili © componente emo 30. Ensino de portugués e Sociolinguistica marcados por maior informalidade, como contos e romances infantojuvenis, pegas teatrais, historias em quadrinhos, tirinhas, transcrigdio de entrevista em jornais ¢ revistas, letras de musica, e-mails, blogs, mensagens no Twitter etc. A seguir, podem ser observadas duas das ocorréncias apresentadas pela autora, a primeira extraida de um romance de Jorge Amado e a segunda extraida de um romance infantojuvenil de Lygia Bojunga: textuais escritos, em especial naqueles (19) Chegou 0 Gordo trazendo um balde ¢ uma garrafa. Veio também um amarelo com as mesmas coisas e ficou do outro lado. Af apareceu 0 Ant6nio Balduino acompanhado de Luigi. O pessoal do morro, da “Lanterna dos Afogados”, gritou: “Antonio Balduino! Anténio Balduino!” (Amado, 2008: 19) (20) Uma vez (isso foi no ano retrasado, eu ainda ia fazer nove anos) a minha prima veio aqui com uma colega que se chamava Janaina e que ‘tava toda vestida de vermelho. O vestido tinha manga grande, era muito mais comprido que 0 vestido que a minha irmé ¢ a minha prima usavam, ¢ sem nada de outra cor: sé aquele vermelhao que todo mundo na sala ficou olhando. E aqui na testa, feito jogador de ténis, a Janaina botou uma tira do vestido que ela estava usando. ‘Aieu fui e me apaixonei por ela. (Bojunga, 1992: 12) Desses estudos, podemos concluir que, em géneros textuais orais ¢ escritos caracterizados por um registro coloquial, da fala do dia a dia — como as narrativas de experineia pessoal -, formas tidas como estilisticamente informais podem ser frequentes, mesmo que sejam contraindicadas pelos professores de Portugués — caso do conector af, Assim, na escola, os alunos poderiam ser estimulados a apreciar 0 uso de formas coloquiais em geral, a0 lado de outras, quando produtivas. Como nao & papel dos professores combater a varia¢ao linguistica, mas trabalhar com seus alunos as formas em seus contextos de uso e todas as implicagdes desse uso, caberia apresentar reflexivamente toda a riqueza observavel nas situagdes de varia- 0 pragmitico-discursiva, 0 que envolve quem usa, quando usa, por que usa, em que géneros textuais, modalidades da lingua, registros, com que efeitos semantico- pragmaticos, com que intengdes, ¢ qual avaliag’o a comunidade de fala tende a ter a respeito desses usos. Adicionalmente, niio se pode deixar de abordar a questo do preconceito contra formas linguisticas e contra as pessoas que as utilizam. A esse respeito, os alunos podem ser informados sobre as consequéncias de suas escolhas linguisticas para, assim, melhor decidirem sobre elas. Contribuigées da ig6es da Sociolingvistica brasileira para o ensino de portugués 31 Marcadores de ch ~ }omada de atengao e requisitos de apoio discursive Passemos ago ‘gra 40 caso dos marcadores de chamada de atengao, olha e vé, que aparecem “picamente na modalidade oral da lingua, mas também podem ocorrer na escrita, especialmente €m géneros textuais caracterizados por maior informalidade, como os anteriormente listados em referéneia ao uso do conector af. Seguem al- gumas ocorréncias na fala (em entrevistas sociolinguisticas) ¢ na escrita (em pegas teatrais) extraidas de Rost-Snichelotto (2009: 59, 241-2, 261): (21) E: ia Rita, podias Pegar um cafezinho pra nés, faz favor? Eu queria saber mais uma coisa, tu gostas de cozinhar? F: Olha, nao é meu forte, Nao sou muito chegada na cozinha, mas da pra quebrar um galhinho. Mas eu tenho duas receitinhas bem legais. (rLr 01) (22) E, agora esse ali, entdo, [0 Doutor Serafim que é] 0 Doutor, como é 0 nome dele, que é filho do Doutor Serafim. Ai, meu Deus! Vé, como a gente esquece. Ivan Bertaso, casado com a Eliane que é uma senhora, a Eliane Silvestre. S6 esses ali, [] eles tem duas filhas, mas n&io moram mais aqui nao. Nao sei onde esto morando. (cHP 21) (23) Menino 01: Ainda bem que sé falta mais um. (Escreve) Acabei! Menino 02: Eu também!, Menino 01: Sabe que esse negécio de escrever com duas canetas rende mesmo. Olha, se nao fosse isso, nés ficdvamos aqui até de noite! Menino 02: E agora... A gente faz o qué? Esperamos aqui — ou levamos Id (Uma longa historia de amor, Neti Gongalves de Paula, 1999, p. 156) (24) IDIOTA — Nao pense tanto assim, eu me atrapalho. Como pode pensar tanto, ter tantas diividas? FAUSTO - Talvez porque eu nao me chame Idiota. Infelizmente me chamo, nfio sei por quanto tempo neste drama, Fausto. Sabe 0 que significa Fausto, Idiota? Quer dizer, veja sé, Idiota, feliz. No fundo, ser feliz ¢ ser idiota dé quase no mesmo. (Prenome: Fausto, Fabio Briiggemann, 1993, p. 61) Rost-Snichelotto (2009) realizou um estudo variacionista bastante detalhado das formas marcadoras de chamada de atengio olha ¢ vé (e suas variagdes estrutu- rais), valendo-se de dados coletados em entrevistas sociolinguisticas pertencentes ao Banco de Dados Varsul referentes a quatro cidades catarinenses, Florianépolis, Lages, Chapecé e Blumenau. A autora observou que 0 uso varidvel dos marcadores de chamada de atengao olha ¢ vé no é aleatério; ao contrario, é sensivel a con- 32 Ensino de portugués ¢ Soctolinguistica amos aqui OS resultados de natureza (i) em termos da apresentagao formal, os marcadores i 10 imperativo, siio mais frequentes na ra haja também grande ocorréncig nente na amostra de Curitiba; e (ii) que também é favorecido pelas ancias narrativas ¢ descritivas, r ora outro (0 que depende da dicionamentos linguisticos ¢ sociais. Destac linguistica, apontando qu' de chamada de atengao, ori forma derivada do indicativo (olha e ve) da forma veja, derivada do subjuntivo, esp' as sequéncias textuais injuntivas favorecem olha, sequéncias dissertativas em por sua vez, apesar de ora fa cidade), tendem a estar mais relacionadas a vé. 1m? ¢ entende? como variantes Valle (2001) analisou as formas sabe?, nio te! ‘ oio discursivo em uma amostra de 36 entrevistas so- florianopolitanos & integrantes do Banco de Valle (2001: 6): ‘undos de verbos ), embor ecialm 1 Floriandpolis; as sequ vorecerem um marcado da fungdo de requisigao de ap ciolinguisticas feitas como informantes Dados Varsul. Seguem algumas ocorréncias, extraidas de meia xicara de maionese, sabes? sal, pimenta e um pouquinho (25) E tem o molho também pra salada... que Tupegas a maionesezinha, o suco de meio limio, de agticar, t4? (FLP OI FAP: 731) (26) Ela, uma senhora de setenta, eu com. tinha cinquenta anos de experiéncia pra assim, Conversar com a pessoa de cinquent vinte e poucos anos, quer dizer, eu frente, entendes? Eu sempre fui 2 anos, quer dizer, eu tinha vinte. (Fup 04 map: 996) _-uns trabalhos assim [que]-... de comida, nao (27) Ai também nés fizemos lé [uns] - 0 tang pro colégio. Levou tang e a gente tem? Ai um amigo meu levou [um] (“tudo”) baita pra caramba! (Ptr 14 nc: 145) fez tang e ja tomamos tudo la, Valle (2001) verificou, entre outros, que: (i) sabe? ¢ favorecido pelas sequéncias 0 passo que niio tem? & favorecido pelas textuais factuais e de descrigéio de vida, pelas sequéncias argumentativas e de descriga m foco sobre a avaliagao do falante articipantes da interagéio. A autora 2, nfio tem? € sequéncias narrativas ¢ entende? de vida; (ii) sabe? ¢ favorecido em situagdes cor ¢ nfo tem? em situagdes com foco sobre os p observou haver também similaridades nos padrées de uso de sabe (j) eles aparecem com mais frequéncia entre oragdes coordenadas jus (ii) endem a relacionar-se com informagdes novas no discurso; il) tém 1a dos informantes mais jovens e mais escolarizados. io discursivo, em sua entende' tapostas; maior recorréncia na fal ‘A autora concluiu que a selegao de um requisito de ap amostra de dados, parece menos condicionada por varidveis sociais, ¢ mais pela

You might also like