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NEUROCIÊNCIAS E O
PROCESSO DE APRENDIZAGEM
2

Isabella Christina Carvalho de Lima


Michele Aparecida Cerqueira Rodrigues

NEUROCIÊNCIAS E O PROCESSO DE
APRENDIZAGEM
1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2022
3

© 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A.

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Coordenador
Giani Vendramel de Oliveira

Revisor
Isabella Christina Carvalho de Lima
Michele Aparecida Cerqueira Rodrigues

Editorial
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
Márcia Regina Silva
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


_____________________________________________________________________________
Lima, Isabella Christina Carvalho de
Neurociências e o processo de aprendizagem / Isabella
L732n
Christina Carvalho de Lima, Michele Aparecida Cerqueira
Rodrigues. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais
S.A., 2022.
35 p.

ISBN 978-65-5356-183-0

1. Neurociência. 2. Neuroanatomia. 3. Dificuldades de


aprendizagem. I. Rodrigues, Michele Aparecida Cerqueira.
II. Título.
3. Técnicas de speaking, listening e writing. I. Título.
CDD 153
_____________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB: 010289/O

2022
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
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NEUROCIÊNCIAS E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM

SUMÁRIO

Apresentação da disciplina ___________________________________ 05

Introdução à neurociência e à neuroanatomia________________ 06

Neurociências e a contribuição para a educação______________ 19

Princípios da aprendizagem: principais teorias________________ 30

Dificuldades de aprendizagem________________________________ 39
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Apresentação da disciplina

A neurociência contribui em diversas áreas de estudo, entre


elas podemos citar a neuropsicopedagogia, a neuroeducação e
a neuropedagogia. E o que elas têm de diferente? A disciplina
Neurociências e o processo de aprendizagem tem o intuito de responder a
esta e a outras questões acerca do tema.

Nessa jornada de conhecimento, você entenderá as principais funções


do cérebro que interferem diretamente no processo de aprendizagem.
Além disso, verificará como o sistema nervoso central e o sistema
nervoso periférico trabalham em conjunto para evitar problemas no
aprendizado.

Em seguida, você conhecerá um pouco da história relacionada


à neurociência, com suas descobertas e contribuições para o
desenvolvimento cognitivo e as bases neurológicas da educação. Como
ponto de partida, serão apresentados os principais teóricos responsáveis
pela perspectiva de aprendizagem cognitiva do desenvolvimento
humano.

Ademais, você conseguirá ter um panorama de como a memória, a


atenção e as emoções são cruciais para o bom desempenho durante
a aquisição e a retenção de novas informações. Por fim, analisaremos
quais problemas de aprendizagem podem surgir nos estudantes quando
ocorre alguma alteração no progresso de evolução do sujeito enquanto
ser pensante.

Ao longo das aulas, a prática também estará presente nos exemplos


mencionados e nas atividades solicitadas. Bons estudos!
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Introdução à neurociência
e à neuroanatomia
Autoria: Isabella Christina Carvalho de Lima
Leitura crítica: Michele Aparecida Cerqueira Rodrigues

Objetivos
• Introduzir noções básicas sobre neurociências e
neuroanatomia.

• Apresentar o sistema nervoso e seus componentes.

• Explicar o funcionamento básico dos processos


cerebrais.
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1. Introdução à Neurociência
O homem deve saber que de nenhum outro lugar, mas apenas do
encéfalo, vem a alegria, o prazer, o riso e a diversão, o pesar e o luto, o
desalento e a lamentação. E por meio dele, de uma maneira especial, nós
adquirimos sabedoria e conhecimento, enxergamos e ouvimos, sabemos
o que é justo e injusto, o que é bom e o que é ruim, o que é doce e o que é
insípido... E pelo mesmo órgão nos tornamos loucos e delirantes, e medos
e terrores nos assombram...Todas essas coisas nós temos de suportar
quando o encéfalo não está sadio...Nesse sentido, opino que é o encéfalo
quem exerce o maior poder no homem.

– Hipócrates, Da Doença Sagrada (Século IV a.C.) (BEAR; CONNORS;


PARADISO, 2017, p. 4)

O estudo do sistema nervoso é algo tão antigo quanto a ciência em si.


Arqueólogos, em seus estudos sobre as civilizações antigas, descobriram
registros de estudos sobre o cérebro desde a civilização egípcia até
a civilização greco-romana. Hoje, com a tecnologia a nosso favor,
esses estudos avançaram em uma velocidade impressionante. Graças
a microscópios cada vez mais potentes e ecografias cada vez mais
detalhadas, podemos chegar a observar os processos mais básicos de
atividade neuronal e aprender mais sobre como e por que nosso corpo
funciona. Nesse contexto, vamos estudar aqui um pouco sobre os
conceitos básicos de neurociências e neuroanatomia.

A curiosidade sobre o mundo a nossa volta, como e por que as coisas


funcionam, de que maneira as civilizações viviam no passado ou viverão
no futuro, é algo inato do ser humano. Neil de Grasse Tyson afirma em
seu discurso para o Space Technology Hall of Fame Award Dinner (Jantar
de Premiação do Hall da Fama da Tecnologia Espacial, em tradução livre)
que a criança nasce cientista – “Um cientista adulto é uma criança que
não cresceu” (GOALCAST, 2018).
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O estudo do sistema nervoso e de seus componentes é tão antigo


quanto a própria ciência. A Neurociência, também chamada de ciência
neural, é a ciência que estuda o sistema nervoso, seus componentes
e suas funções. Tem por objetivo desvendar e compreender o
funcionamento das células nervosas e suas conexões. Alguns estudiosos
usam o termo no plural – “neurociências” – por se tratar de um campo
muito amplo de conhecimento.

Alguns dos seus diversos campos de estudo são:

• Neurociência cognitiva: estuda pensamentos, aprendizado e


memória. Ex.: como aprendemos, como e por que esquecemos e
como “selecionamos” o que lembrar.

• Neurociência comportamental: estuda como nossos pensamentos,


nossas cognições, nossas emoções e nossos comportamentos se
influenciam mutuamente.

• Neuroanatomia: estuda a parte anatômica propriamente dita, os


componentes físicos do sistema nervoso e suas funções.

• Neurofisiologia: estuda o funcionamento do sistema nervoso. Ex.:


como os impulsos nervosos são formados e propagados.

Há ainda campos como neurociência afetiva, neuropsicologia,


neurobiologia etc. Neste Tema, vamos focar nossos estudos nos campos
da neuroanatomia e da neurofisiologia.

2. Neuroanatomia

Quando você pensa em neuroanatomia, o que vem primeiro à mente?

A maioria de nós pensa no cérebro. De fato ele é fascinante e podemos


dizer que é o “astro rei” do sistema nervoso, mas não é o único. Além
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do cérebro, o sistema nervoso é formado pelo encéfalo, pela medula


espinhal e pelos feixes de fibras nervosas (os nervos), que levam as
informações de todo o corpo para o cérebro e vice-versa.

O sistema nervoso é como um grande centro de controle, onde as


informações são recebidas, captadas, analisadas, processadas e
respondidas. Assemelha-se a uma grande rede de comandos.

Anatomicamente, é dividido em Sistema Nervoso Central (SNC, em


vermelho na Figura 1), formado pelo encéfalo (que é composto pelo
cérebro, pelo cerebelo e pelo tronco encefálico) e pela medula espinhal,
e em Sistema Nervoso Periférico (SNP, em azul na Figura 1), formado
pelos nervos e pelos gânglios nervosos.

Figura 1 – Representação da localização do sistema nervoso central


e do periférico no corpo humano

Fonte: adaptada de VectorMine/iStock.com.


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2.1. Sistema Nervoso Central (SNC)

Que tal você prestar atenção em tudo que seu encéfalo está fazendo
neste momento? Já pensou sobre isso?

Nosso encéfalo é mesmo maravilhoso e neste momento está atuando


em comandos múltiplos. Ao mesmo tempo que os feixes de luz são
enviados aos seus olhos, sendo traduzidos e interpretados como as
palavras deste texto, seu encéfalo está mantendo sua atenção focada,
seu sistema límbico disparando, talvez, emoções de curiosidade,
guardando informações para que você de fato memorize, além de estar
atento às sensações externas, como frio, calor, barulhos e possíveis
ameaças. Tudo isso e mais! Ele simultaneamente controla as atividades
autônomas do nosso corpo, como os batimentos cardíacos, a respiração,
a deglutição de saliva e as sensações, como fome e sede.

Nos mamíferos, o encéfalo e a medula espinhal estão protegidos pelo


sistema esquelético. O encéfalo está contido na caixa craniana e a
medula está contida na coluna vertebral. Eles são protegidos por três
membranas, chamadas de meninges (“cobertura”, em grego), são elas:

• Dura-máter (“mãe dura”, do latim): possui uma consistência


semelhante a um couro fino.

• Aracnoide (“aranha”, do latim): possui aparência e consistência de


teia de aranha.

• Pia-máter (“mãe piedosa”, do latim): membrana fina que adere à


superfície do encéfalo).

Também são protegidos pelo líquido cérebro-espinhal (também


chamado de líquor), que se localiza entre a aracnoide e a pia-máter. Essa
proteção é essencial para a nossa sobrevivência, visto que qualquer
lesão nesse sistema pode nos causar risco à vida.
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Figura 2 – Organização das meninges na caixa craniana

Fonte: adaptada de VectorMine/iStock.com.

2.1.1 Cérebro

Vamos agora nos aprofundar um pouco mais no estudo do cérebro. O


nosso cérebro constitui a maior porção do encéfalo (cerca de 80%) e
é dividido em dois hemisférios, separados pela fissura sagital. O lado
direito recebe as sensações e controla os movimentos do lado esquerdo
do corpo, enquanto o lado esquerdo controla o lado direito do corpo.

Ele pode ser dividido em quatro lobos, que recebem os mesmos nomes
dos ossos do crânio a que estão subjacentes: Frontal, Parietal, Occipital e
Temporal.
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Figura 3 – Divisão do cérebro humano em lobos

Fonte: adaptada de blueringmedia/iStok.com.

Cada lobo possui regiões que acumulam funções de controle de


determinadas áreas do corpo.

• Lobo Frontal: responsável pelos movimentos voluntários do


corpo, pela elaboração de pensamento, pela linguagem, pela
resolução de problemas, pela tomada de decisões e pelo controle
comportamental e emocional.

• Lobo Parietal: responsável pela percepção sensorial (dor,


temperatura, pressão e sensações tácteis), pela lógica matemática
e pela percepção espacial.

• Lobo Occipital: responsável pelo processamento de informações


visuais.
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• Lobo Temporal: responsável pela percepção auditiva, pela


codificação de memórias, pelo processamento dos afetos, pela
linguagem e pela percepção visual.

2.1.2 Cerebelo

O cerebelo está situado posteriormente ao cérebro e, apesar do


tamanho pequeno, contém tantos neurônios quanto o cérebro. Sua
principal função é de controle de movimento e tudo que isso envolve,
como a manutenção do equilíbrio e da postura, o controle do tônus
muscular e a aprendizagem motora.

2.1.3 Tronco Encefálico

Bear, Connors e Paradiso (2017, p. 183) definem o tronco encefálico


como:

O tronco encefálico se situa abaixo do cérebro e é um conjunto complexo


de fibras e de neurônios que serve, em parte, para retransmitir informação
do cérebro a medula espinhal e ao cerebelo, e vice-versa. No entanto,
ele também é uma região que regula funções vitais, como a respiração, a
consciência e o controle da temperatura corporal.

2.1.4 Medula espinhal

A medula espinhal está ligada ao tronco encefálico e, como dito


anteriormente, encontra-se dentro da coluna vertebral. Sua principal
função é transmitir a informação que vem da pele, das articulações
e dos músculos ao cérebro, assim como transmitir do cérebro para o
corpo a resposta a esses estímulos.

Essa troca de informações acontece através dos nervos espinhais,


que saem da medula pelos espaços entre cada vértebra (chamados
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de espaços intercostais) da coluna vertebral. Cada um desses nervos


possui duas ligações com a medula, chamados de raiz dorsal (que
traz a informação do corpo para a medula) e raiz ventral (que leva a
resposta do sistema nervoso para o corpo). A medula espinhal tem
um importante papel no que chamamos de atos reflexivos, que são os
atos que fazemos sem pensar, como retirar o pé quando sentimos que
pisamos em algo pontiagudo, ou cuspir uma comida muito quente antes
que ela queime os tecidos de nossa boca.

Figura 4 – Representação da medula espinhal e sua


organização na coluna vertebral

Fonte: adaptada de VectorMine/istock.com.


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2.2 Sistema Nervoso Periférico (SNP)

O sistema nervoso periférico é composto pelos nervos e gânglios


nervosos que formam uma grande rede neuronal responsável pelo
trânsito das informações entre todas as estruturas de nosso corpo e o
SNC. Os nervos são compostos por feixes de fibras nervosas, envoltos
por tecido conjuntivo, e podem ser de dois tipos: cranianos, que se
originam do tronco encefálico e inervam a cabeça, e espinhais, que se
originam da medula e inervam o corpo.

O SNP pode ser dividido em: Sistema Nervoso Somático, que controla
todas as ações voluntárias de nosso corpo, e Sistema Nervoso Visceral
(ou Autônomo), que controla as ações involuntárias do corpo, como
batimentos cardíacos, respiração e digestão.

3. Do que é feito o sistema nervoso?

O tecido nervoso de todas essas estruturas de que falamos até aqui é


composto por neurônios, células da glia e neurotransmissores.

3.1 Neurônios

Os neurônios são células especializadas do sistema nervoso, cuja função


é propagar os impulsos nervosos. Operam em grandes conjuntos
chamados de circuitos ou redes neurais. São compostos pelo corpo
celular (ou soma), pelo axônio e pelos dendritos.

• Soma ou corpo celular: possui as organelas básicas da célula


(núcleo, mitocôndrias, retículo endoplasmático etc.).

• Axônio: prolongamento único, mais longo do que os dendritos,


que emerge da soma e leva o impulso nervoso para outras células.
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É encoberto pela bainha de mielina, com alguns espaços livres,


chamados de nódulos de Ranvier.

• Dendritos: prolongamentos múltiplos que recebem o impulso


nervoso vindo de outro neurônio.

A região de contato entre um axônio de um neurônio (chamado de


neurônio pré-sináptico) e os dendritos do outro (chamado de neurônio
pós-sináptico) é denominada sinapse. É uma região fundamental para o
processo de transmissão de informações para o sistema nervoso.

Figura 5 – Estrutura do neurônio

Fonte: adaptada de wetcake/iStock.com.


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3.2 Células da Glia

Glia é a palavra grega para “cola”. As células da glia eram vistas como a
“cola dos neurônios” pelos primeiros neurocientistas. Acreditava-se que
elas serviam só para agregar e sustentar os neurônios. Hoje sabe-se que
elas fazem muito mais do que isso.

Além de agregar e sustentar os neurônios, elas também podem


participar da regulação de íons e nutrientes e atuar como mensageiros
químicos nas proximidades do neurônio, pois seus prolongamentos
podem formar uma “ponte metabólica” entre capilares sanguíneos,
células nervosas e outras células da glia. Podem também se enrolar em
volta dos neurônios e formar a bainha de mielina e ainda desempenhar
a função de proteção contra agentes agressores e regeneração de fibras
nervosas.

3.3. Neurotransmissores

Neurotransmissores são sinais químicos liberados pelos terminais


nervosos pré-sinápticos (pelo axônio do neurônio) na fenda sináptica
(espaço entre o axônio de um neurônio e os dendritos do outro). Sua
ligação subsequente a receptores específicos nos neurônios pós-
sinápticos muda transitoriamente as propriedades elétricas dessa célula,
facilitando a passagem do impulso nervoso.

Referências
BEAR, Mark; CONNORS, Barry; PARADISO, Michael. Neurociências: Desvendando o
Sistema Nervoso. 4. ed. Porto Alegra: Artmed, 2017. 974 p.
COSENZA, Ramon. Fundamentos de Neuroanatomia. 4. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2012. 156 p.
GOALCAST. How to Raise Smarter Children. YouTube, 12 mar. 2018. Disponível
em: https://youtu.be/tbX6aMfPtEw. Acesso em: 25 fev. 2022.
18

LENT, Roberto. Cem bilhões de Neurônios. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2003.
MACHADO, Angelo; HAERTEL, Lucia. Neuroanatomia Funcional. 3. ed. São Paulo:
Atheneu, 2014. 344 p.
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Neurociências e a contribuição
para a educação
Autoria: Isabella Christina Carvalho de Lima
Leitura crítica: Michele Aparecida Cerqueira Rodrigues

Objetivos
• Discutir sobre as contribuições da neurociência para
a educação.

• Introduzir noções sobre as bases neurológicas da


aprendizagem.

• Apresentar o conceito de plasticidade cerebral.


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1. Introdução

O estudo do sistema nervoso (SN) se desenvolveu muito nos últimos


anos. Graças à tecnologia, pudemos estudar mais a fundo como ele se
forma e funciona e utilizar esse conhecimento para melhorar diversos
aspectos de nossas vidas. Um desses aspectos, de que vamos tratar
neste Tema, é a educação. A união da pedagogia, da neurociência e da
psicologia forma o campo da neuroeducação.

[...] alguns dos princípios que norteiam a Neuroeducação são: os alunos


consolidam melhor a sua aprendizagem quando são motivados para isso;
o tom de voz de outros indivíduos é rapidamente julgado pelo cérebro
como ameaçador, assim como este órgão julga de forma instantânea
as expressões faciais como boas ou más; a ansiedade, a depressão, o
estresse podem prejudicar o aprendizado; o movimento pode potencializar
a assimilação dos conteúdos ministrados e os aspectos nutricionais
interferem na assimilação do conhecimento. Além disso, afirma que os
indivíduos apresentam diferentes estilos de aprendizado (preferências
cognitivas), devido a estrutura única de cada um. Similarmente, a
diferenciação nas práticas de sala de aula é resultantante das diferentes
inteligências dos alunos; o sono é muito importante para a memorização; o
feedback é um recurso muito valioso no processo de ensino-aprendizagem
e, as emoções possuem um papel-chave na aprendizagem e memorização
de informações. (PÓVOA, 2015 apud SANTOS et. al, 2020, p. 2)

2. Desenvolvimento do Sistema Nervoso

O sistema nervoso se organiza de forma parecida, mas é único em


cada indivíduo. O que o faz ser assim é a maneira como os neurônios
se interligam em cada pessoa. Além de fatores genéticos, fatores
ambientais também interferem em sua composição e em seu
desenvolvimento.
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O início de seu desenvolvimento se dá já nas primeiras semanas de vida


embrionária. A princípio, ele consiste em um tubo minúsculo composto
por células-tronco que vão dar origem aos neurônios e às células da
glia. Em poucas semanas esse tubo se desenvolve e suas células se
multiplicam e possibilitam a formação de bilhões de neurônios, que
se deslocam para formar o sistema nervoso central (SNC) e o sistema
nervoso periférico (SNP). Depois que essa organização é concluída,
dá-se início à formação de conexões entre neurônios (o crescimento
dos axônios e dendritos) e a sinaptogênese (a formação de sinapses),
que vão ser a base para a execução de diversas tarefas (desde as mais
simples, como sucção e deglutição, até as mais complexas, como andar e
falar) no futuro.

Guerra (2011) ressalta a importância dos cuidados pré-natais para


o desenvolvimento saudável do feto. Uma alimentação inadequada,
consumo de drogas lícitas ou ilícitas, infecções ou síndromes genéticas
podem alterar o desenvolvimento do feto, causar prejuízos sérios
ao sistema nervoso e acarretar dificuldades para toda a vida desse
indivíduo.

É importante lembrar que o desenvolvimento do sistema nervoso não


cessa no útero. O cérebro dos bebês humanos ainda é muito imaturo
em comparação com o de outros animais. Um bebê girafa, por exemplo,
já nasce com a capacidade de ficar em pé, enquanto nos humanos essa
capacidade se desenvolve aos poucos e costuma acontecer entre 9 e 15
meses de vida.

Bebês humanos nascem com o cérebro pesando em torno de 400 g e,


ao final do primeiro ano de vida, esse peso vai ter dobrado de valor.
Isso acontece graças aos estímulos recebidos pelo bebê nessa primeira
fase. Luzes, vozes, toques e cheiros são novidades que o bebê vai
absorvendo aos poucos e formando novas sinapses que contribuem
para o crescimento e o desenvolvimento de seu cérebro e o permitirão
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a aprender atividades mais complexas à medida que mais experiências


forem adquiridas.

Vamos tomar como exemplo o desenvolvimento do sistema visual.


Desde que nasce, a criança já tem os componentes necessários para
enxergar, mas a princípio só enxerga luz/sombra e formatos “borrados”.
À medida que vai crescendo, interagindo e sendo estimulada por
brinquedos coloridos, por exemplo, novas sinapses vão se formando
e permitindo que ela enxergue formas e cores mais definidas. Dessa
forma, é possível concluir que nós “aprendemos” a enxergar.

3. Plasticidade Cerebral

Guerra (2011) explica a neuroplasticidade como a propriedade de “fazer


e desfazer” conexões entre neurônios. Ela possibilita a reorganização
da estrutura do SN e do cérebro e constitui a base biológica da
aprendizagem e do esquecimento.

De fato, o sistema nervoso é um sistema muito adaptável. Nos primeiros


anos de vida, suas capacidades de adaptação são muito extensas,
mas, ao contrário do que se pensava, existem regiões do cérebro que
mantêm a capacidade de produzir células a vida inteira, ainda que de
forma muito limitada.

Quanto mais jovem o cérebro, melhor é sua adaptação. Em crianças e


adolescentes que sofreram alguma lesão, é possível que a formação
de novas sinapses assuma as funções da área lesionada sem deixar
sequelas. Em adultos, por outro lado, o processo é mais difícil, e muitas
vezes as sequelas são inevitáveis, porém, com o tratamento adequado,
pode ser possível uma melhora.

Esse “fazer e desfazer” de ligações não é útil só em casos de lesões.


Todas as atividades que fazemos geram novas ligações (sinapses) e
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algumas destas necessitam evocar conhecimentos mais básicos para


que conhecimentos avançados se desenvolvam. Então, as sinapses
aproveitam essa base para fazer ligações mais complexas, mas, se essas
ligações não são utilizadas com frequência, ou seja, se não treinamos
uma determinada habilidade, elas podem se desfazer.

Quem assistiu ao filme Divertidamente (produzido pela Disney/Pixar


em 2015) deve se lembrar de uma cena em que dois “funcionários”
estão limpando as memórias de Riley, classificando-as em necessárias
ou desnecessárias. Algumas das memórias não usadas chegavam a
desbotar. Uma das fileiras era de aulas de piano que ela teve por 4 anos
quando pequena e depois não treinou mais. A decisão dos funcionários?
“Na boa? Salva os ‘parabéns’ e manda pro lixo todo o resto!”.

De uma forma bem simplista, é isso que acontece com os


conhecimentos não usados. São esquecidos para dar lugar àqueles
que são considerados mais úteis. Já os mais úteis são evocados
constantemente para se aprimorarem e formarem novas ligações que
nos permitem evoluir para aprendizados cada vez mais complexos.

4. Aprendizagem

A aprendizagem é definida como o processo de aquisição de


conhecimento, habilidades, comportamentos ou valores e acontece
quando entramos em contato com um novo elemento em nosso
ambiente. Nosso cérebro precisa encontrar uma resposta para esse
novo estímulo, que pode acontecer através de estudo, experiência ou
observação. Essa capacidade de analisar situações e aprender novas
habilidades é o que nos faz mais adaptados ao ambiente em que
vivemos.

A educação tem por finalidade o desenvolvimento de novos


conhecimentos ou comportamentos, sendo mediada por um processo que
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envolve a aprendizagem. Comumente, diz-se que alguém aprende quando


adquire competência para resolver problemas e realizar tarefas, utilizando-
se de atitudes, habilidades e conhecimentos que foram adquiridos ao
longo de um processo de ensino-aprendizagem. Ou seja, aprendemos
quando somos capazes de exibir, de expressar novos comportamentos
que nos permitem transformar nossa prática e o mundo em que vivemos,
realizando-nos como pessoas vivendo em sociedade. (COSENZA; GUERRA,
2011, p. 141)

Vamos tomar como exemplo um bebê brincando com um cubo em


que tenha que encaixar peças de diferentes formatos. Dependendo
da idade, ele primeiro colocará o objeto em sua boca. Depois de
constatar que aquilo não é de comer, poderá experimentar jogar esse
objeto ou colocá-lo em algum móvel. A pessoa que estiver com ele
pode nesse momento colocar o cubo em sua frente e encaixar uma
peça, demonstrando para que serve aquele objeto. Assim, através de
experimentação e observação, esse bebê acabou de aprender uma nova
habilidade.

Figura 1 – Bebê brincando com um cubo de encaixe

Fonte: monkeybusinessimages/iStock.com.
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Como dito anteriormente, a fase da primeira infância é importantíssima


para o desenvolvimento cognitivo. Nessa etapa, as redes neurais estão mais
suscetíveis a mudanças e o aprendizado acontece de maneira mais fácil. A
falta de estímulos pode prejudicar esse desenvolvimento, fazendo com que
a criança tenha mais dificuldade para aprender certas habilidades, pois seu
cérebro não vai ter tantas conexões desenvolvidas como o de uma criança
da mesma idade que foi estimulada corretamente.

Um sono tranquilo, exercícios físicos, alimentação adequada, um ambiente


familiar saudável e uma boa escola são fatores que auxiliam na capacidade
de aprendizagem e de memorização de conteúdos. É importante citar
que fatores socioeconômicos também têm um papel importante. Uma
escola em local seguro, material escolar adequado, uma sala de aula
com os equipamentos básicos necessários (carteiras, quadro, ventilação
e iluminação apropriadas), acesso a livros e revistas para pesquisas e
incentivo de pais e professores podem facilitar e estimular o aluno ao
aprendizado.

5. Neurociência e Educação

Dito isso, como a neurociência e a educação se relacionam?

Como vimos na introdução, a neurociência, junto com a pedagogia e a


psicologia, tem a intenção de estudar como o aluno aprende e, assim,
facilitar o processo. Ela não vem apresentar métodos milagrosos nem
uma nova pedagogia; simplesmente pretende dar aos professores mais
ferramentas para lidar com a diversidade de alunos em sala de aula
(lembre-se de que falamos que cada cérebro, e logo cada aluno, é único),
sejam eles neurotípicos ou neuroatípicos.

Estudar os mecanismos da atenção, motivação e memória de curto e


longo prazos para a aprendizagem pode ajudar o professor a fazer uma
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aula mais interessante e significativa para a realidade daquela criança ou


jovem, já que temos a tendência de aprender aquilo que é útil para nossa
sobrevivência ou o que nos dá prazer. Assim, se o aluno considerar que a
nota é o importante, ele estudará para a prova com o objetivo de tirar uma
nota boa, e não de realmente aprender aquilo que estudou, visto que o
conteúdo estudado precisa fazer sentido na realidade daquela criança ou
adolescente. Quantos de nós já não ouvimos um aluno falar: “Mas pra que
que eu tenho que aprender isso? Onde eu vou usar isso na minha vida?”.

Essa é uma discussão válida. Apesar de sabermos que alguns conteúdos


podem não ser usados nunca mais na vida daquela pessoa, precisamos
seguir a orientação do MEC e ensiná-los mesmo assim. Então como fazer
isso de forma prazerosa para o aluno?

O uso de elementos lúdicos, experimentos e atividades grupais pode ajudar


nessa difícil tarefa. Arte e esporte também são grandes aliados. Peças
de teatro, músicas, desenho e massinha, por exemplo, podem ajudar a
despertar o interesse do aluno por um assunto que antes ele achava chato.

Figura 2 – Exemplo de aprendizado lúdico

Fonte: SDI Productions/iStock.com.


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Estudos recentes também frisam a importância do afeto para o


aprendizado. Um aluno que gosta de determinado professor ou matéria
tem mais probabilidade de aprendê-la com facilidade. Esses estudos
estão de acordo com a teoria de Henry Wallon, psicólogo francês
que considerava que o desenvolvimento da criança só era possível
quando se integravam três aspectos: motor, afetivo e cognitivo. Corpo
e mente dependem da afetividade para se desenvolver, já que, desde
que nascemos, somos seres totalmente dependentes de outros e
continuamos sendo por muitos anos.

Dessa forma, é importante para o educador levar em consideração


todos esses aspectos quando for montar sua aula. A seguir
apresentamos um quadro com alguns princípios da neurociência e sua
aplicação em sala de aula.

Quadro 1 – Princípios da Neurociência com potencial


aplicação em sala de aula
Princípios da Neurociência Aplicação em sala de aula

Aprendizagem como atividade social:


1. Aprendizagem, memória e emoções ficam alunos precisam de oportunidades
interligadas quando ativadas pelo processo para discutir tópicos. Ambiente tran-
de aprendizagem. quilo encoraja o estudante a expor
seus sentimentos e suas ideias.

Aulas práticas/exercícios físicos com


2. O cérebro se modifica aos poucos, fisio-
envolvimento ativo dos participantes
lógica e estruturalmente, como resultado da
possibilitam associações entre expe-
experiência.
riências prévias e entendimento atual.

Ajuste de expectativas e padrões de


3. O cérebro mostra períodos ótimos (sensí-
desempenho às características etá-
veis) para certos tipos de aprendizagem, que
rias específicas dos alunos; uso de
não se esgotam mesmo na idade adulta.
unidades temáticas integradoras.
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Estudantes precisam sentir-se “de-


tentores” das atividades e dos temas
4. O cérebro mostra plasticidade neuronal
que são relevantes para suas vidas.
(sinaptogênese), mas uma maior densidade
Atividades pré-selecionadas com pos-
sináptica não prevê maior capacidade gene-
sibilidades de escolha das tarefas au-
ralizada de aprender.
mentam a responsabilidade do aluno
no aprendizado.

Situações que reflitam o contexto da


5. Inúmeras áreas do córtex cerebral são
vida real, de modo que a situação
simultaneamente ativadas no transcurso de
nova se ancore na compreensão an-
novas experiências de aprendizagem.
terior.

Promover situações em que se acei-


6. O cérebro foi evolutivamente concebido tem tentativas e aproximações ao ge-
para perceber e gerar padrões quando testa rar hipóteses e apresentar evidências.
hipóteses. Uso de resolução de casos e simula-
ções.

Propiciar ocasiões para alunos ex-


7. O cérebro responde, devido à herança pri- pressarem conhecimento através de
mitiva, a gravuras, imagens e símbolos. artes visuais, música e dramatiza-
ções.

Fonte: Bartoszeck (2015 apud GONÇALVES et al., 2020, p. 257).

Para concluirmos, é importante notar a importância da


interdisciplinaridade na educação. Só neste pequeno texto, pudemos
ver como a neurociência, a psicologia, a arte e o esporte podem ser
aliados da educação nessa tarefa de despertar o interesse do aluno pelo
aprendizado.

Referências
COSENZA, Ramon M.; GUERRA, Leonor B. Neurociência e educação: Como o
cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.
GONÇALVES, Jonas Loiola et al. A neurociência e sua contribuição para a
aprendizagem. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 6., 2020, Campina
Grande-PB. Anais... Campina Grande: Conedu, 2020. v. 2. p. 255-269.
29

GUERRA, Leonor Bezerra. O diálogo entre a neurociência e a educação: da euforia


aos desafios e possibilidades. Revista Interlocução, [s.l.], v. 4, n. 4, p. 3-12, 2011.
SANTOS, Francilene de Melo et al. A neurociências e suas contribuições para a
educação: as emoções e sua importância no processo de ensino-aprendizagem.
In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 7., 2020, Campina Grande-PB. Anais...
Campina Grande: Conedu, 2020.
30

Princípios da aprendizagem:
principais teorias
Autoria: Michele Aparecida Cerqueira Rodrigues
Leitura crítica: Isabella Christina Carvalho de Lima

Objetivos
• Apresentar os principais estudos de Pavlov, Watson,
Skinner e Bandura sobre aprendizagem.

• Conhecer os tipos de memória e a importância da


aquisição delas para a aprendizagem.

• Entender como as emoções influenciam no processo


de aprendizagem.
31

1. Teorias da aprendizagem

Sabia que a maneira como você se comporta diante de uma informação


pode influenciar em sua aprendizagem? Isso mesmo! A aprendizagem
depende do comportamento e vice-versa, e por isso é importante
entender como o processo funciona. Dessa forma, é possível adequar
as metodologias e delimitar as expectativas de aprendizagem de acordo
com o perfil do aluno.

Na perspectiva da Educação Inclusiva, o professor precisa entender cada


aluno como ser único e, assim, adequar as práticas pedagógicas para
que todos tenham uma aprendizagem significativa. Nesse contexto,
trazemos as principais teorias relacionadas à aprendizagem.

1.1 Teoria do Condicionamento Clássico (Pavlov)

Para o fisiologista russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936), a


aprendizagem ocorre somente devido aos estímulos ambientais. Para
ele, a emoção ou a motivação presente na perspectiva cognitiva de
Piaget e Wallon não influencia o processo. É como se a aprendizagem
fosse um processo de “adestramento”, em que o indivíduo se desenvolve
a partir de comandos, ao que damos o nome de condicionamento
clássico.
32

Figura 1 – Condicionamento Clássico

Fonte: Yerkes e Morgulis (1909, p. 4).

A Figura 1 pode parecer estranha, mas esse é o contexto da experiência


de um dos discípulos de Pavlov, Nicolai, em 1907. O condicionamento
clássico acontece da seguinte maneira (COLIN et al., 2016, p. 60):

1. Estímulo incondicionado (comida).


2. Reflexo incondicionado (salivação).
3. Estímulo neutro (toque do sino).
4. Reflexo condicionado (aprendizagem).
5. Estímulo condicionado (toque do sino).
6. Reflexo incondicionado (salivação).

Basicamente, quando um estímulo é apresentado, o cachorro reage


a ele. O estímulo, então, é trocado e o cachorro continua reagindo
da mesma maneira anterior. Seria como se ele entendesse que a
comida irá aparecer quando o sino tocar. Porém, mesmo que a comida
não seja mais entregue, ele conecta o toque do sino à comida e, por
consequência, saliva.
33

1.2 Teoria Comportamental (Watson)

John Broadus Watson (1878-1958) foi um psicólogo e professor


behaviorista que realizou suas pesquisas com base em Pavlov. Ele
transportou os estudos feitos anteriormente para crianças, e o
foco passou a ser a observação do comportamento como base na
aprendizagem. Para isso, utilizou-se do Estímulo-Resposta dando a
ideia de que os bebês seriam capazes de aprender qualquer coisa
apresentada pelos adultos, ou seja, eles poderiam ser moldados
(PAPALIA; FELDMAN, 2013).

Além disso, as emoções básicas como raiva, medo e amor podem ser
aprendidas e atreladas a objetos por meio do estímulo-resposta. Assim,
os bebês dariam respostas emocionais condicionadas à apresentação
de objetos específicos. Sendo assim, qualquer pessoa pode ser treinada
para fazer qualquer coisa (COLIN et al., 2016).

1.3 Teoria do Estímulo-Resposta (Skinner)

Toda ação tem uma reação, e é exatamente isso que Burrhus Frederic
Skinner (1904-1990) propõe. Para ele, o comportamento mudará de
acordo com os estímulos que o meio envia, e a resposta pode ter uma
consequência boa (reforço) ou má (punição).

Quando o reforço é positivo, o sujeito então tende a fazer a ação


novamente. Skinner fez seus experimentos em ratinhos de laboratório,
que recebiam reforços tanto positivos quanto negativos. Esses últimos,
por exemplo, eram feitos através de pequenos choques elétricos que
adestravam as ações do rato, que eram inibidas. No contrário, quando
havia reforços positivos, o processo era inverso e o comportamento
tendia a se repetir. Assim, o processo de ação-estímulo-reação é cíclico:
34

Figura 2 – Ação, reforço positivo e reação

Fonte: adaptada de Colin et al. (2016, p. 81).

1.4 Teoria da Aprendizagem Social (Bandura)

Albert Bandura (1925-2021) foi um psicólogo canadense que entendia o


desenvolvimento como um acontecimento bidirecional no qual o meio
tem influência sobre o indivíduo e este, por sua vez, no meio. A esse
processo deu-se o nome de determinismo recíproco.

Bandura afirma que as pessoas aprendem por meio da observação do


outro, e não por reforços. Dessa forma, reproduzem o comportamento
alheio mentalmente e, depois, o próprio comportamento é moldado.
Para isso, são necessárias quatro condições: atenção, retenção,
reprodução e motivação.
35

2. Teorias cognitivas e o processo de


memorização e aprendizagem

Algumas das teorias apresentadas podem parecer um tanto quanto


ultrapassadas se o ponto de partida for o aluno como centro do processo.
Atualmente, quando se fala de aprendizagem, são consideradas
todas as dimensões de desenvolvimento do sujeito, e não somente a
comportamental. Então, vamos partir para a influência da cognição!

2.1 Epistemologia genética (Piaget)

Jean Piaget (1896-1980) foi um psicólogo suíço pesquisador dos


processos cognitivos. Para ele, “o saber é um sistema de transformações
que se tornam progressivamente adaptados.” (COLIN et al., 2016, p. 266).

Além dos Estágios do Desenvolvimento, Piaget estudou com afinco a


inteligência nas crianças. Nesse caso, a inteligência para ele se refere
ao processo cognitivo presente na aprendizagem, e não o quociente de
inteligência (QI). Nesse sentido, os professores possuem um papel de
mentor e devem incentivar as formas de aprender naturais das crianças
(COLIN et al., 2016).

Figura 3 – Ação, reforço positivo e reação

Fonte: elaborada pela autora.


36

2.2 Teoria sociocultural (Vygotsky)

Lev Semionovitch Vygotsky (1896-1934) propôs a psicologia com viés


sociocultural. Ele entende que a criança absorve os conhecimentos de
gerações anteriores acumulados ao longo do tempo. Porém, para que os
conteúdos sejam assimilados ela precisa interagir socialmente (COLIN et al.,
2016).

Desenvolvimento + Desenvolvimento = Teoria


cognitivo Cultural sociocultural

Na Teoria Sociocultural, as funções psicológicas se baseiam nas biológicas,


nas relações sociais e nos contextos históricos. Durante a aprendizagem,
deve-se focar no processo, e não na retenção de conhecimento final.
Diferentemente do behaviorismo, a relação com o objeto é sempre
mediada e nunca direta.

Assim, durante o recebimento da informação, o sujeito tem a possibilidade


de resolver o problema sozinho (zona de desenvolvimento real) ou precisa
somente de ajuda (zona de desenvolvimento potencial). O distanciamento
entre as duas é chamado de zona de desenvolvimento proximal.

Figura 4 – Zona de Desenvolvimento Proximal

Fonte: elaborada pela autora.


37

2.3 A memória, as emoções e a aprendizagem

Piaget estudou a cognição apresentando como as informações são


assimiladas e guardadas na memória. Além disso, ele afirma que para
haver aprendizagem é necessária a motivação, a qual, segundo Prates
e Joly, pode estar dividida em desmotivação, motivação extrínseca e
motivação intrínseca (RODRIGUES, 2021).

[...] é sempre a afetividade que constitui a mola das ações das quais
resulta, a cada nova etapa, esta ascensão progressiva, pois é a afetividade
que atribui valor às atividades e lhes regula a energia. [...] a afetividade não
é nada sem a inteligência, que lhe fornece meios e esclarece fins. (PIAGET,
1989, p. 69-70)

Na motivação extrínseca, os reforços são provenientes do meio de


regulação: “externa (reforços positivos ou negativos), [...] introjetada
(necessita de aprovação), [...] identificada (relevância pessoal na
atividade) e [...] integrada (obedece ao que é pedido)”. Para haver
cognição, além da motivação, é necessária a inclusão de processos
mentais, como pensamento, atenção, raciocínio, memória e emoções
(RODRIGUES, 2021, p. 3682).

Posto por Piaget, a motivação relaciona-se à questão da afetividade,


ou seja, o sujeito motivado emocionalmente pela informação tende a
aprendê-la de maneira mais efetiva quando o reforço é positivo. Aqui,
então, estão entrelaçadas as questões comportamental (Skinner),
biológica (Piaget) e emocional.

Porém, para que o funcionamento do processo de aprendizagem


aconteça, são necessários alguns tipos de memória, cuja classificação
pode se dar tanto pela forma (explícita, implícita) quanto pelo tempo de
armazenamento (sensorial, curto prazo ou de trabalho, longo prazo).
A figura a seguir pode elucidar a junção de todos os envolvidos na
aprendizagem que vimos até aqui:
38

Figura 5 – Tipos de memória e a aprendizagem

Fonte: Sanchez, Sanchez e Albertin (2015, p. 513).

Referências
COLIN, C. et al. O livro da psicologia. 2. ed. São Paulo: Globo Livros, 2016.
PAPALIA, E. D.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 12. ed. Porto Alegre:
AMGH Editora, 2013.
PIAGET, J. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989.
RODRIGUES, M. A. C. A contribuição da afetividade no desenvolvimento da
inteligência lógico-matemática. Latin American Journal of Development, [s.l.], v. 3,
n. 6, p. 3677-3692, 2021.
SANCHEZ, L. H. A.; SANCHEZ, O. P.; ALBERTIN, A. L. Gestão de recursos do EaD:
Como adequar as tecnologias aos perfis de assimilação. Revista de Administração
de Empresas, [s.l.], v. 55, n. 5, p. 511-526, 2015.
YERKES, R. M.; MORGULIS, S. The method of Pawlow in animal psychology.
Psychological Bulletin, [s.l.], v. 6, n. 8, p. 257-273, 1909.
39

Dificuldades de aprendizagem
Autoria: Michele Aparecida Cerqueira Rodrigues
Leitura crítica: Isabella Christina Carvalho de Lima

Objetivos
• Discutir as diferenças entre dificuldades de
aprendizagem e transtornos específicos de
aprendizagem.

• Dialogar sobre os fatores causadores das


dificuldades de aprendizagem.

• Analisar as consequências que as dificuldades de


aprendizagem podem trazer aos alunos.
40

1. Diferenças entre dificuldades de


aprendizagem e transtornos específicos
de aprendizagem

Os Transtornos Específicos da Aprendizagem estão presentes no Manual


diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (APA, 2014) na categoria
intitulada Transtornos do Neurodesenvolvimento. Eles aparecem, em
sua maioria, no início do período escolar. A seguir trazemos a diferença
entre transtornos e dificuldades de aprendizagem.

1.1 Transtorno Específico de Aprendizagem (TEAp)

Por característica principal, o transtorno ou distúrbio específico de


aprendizagem tende a permanecer por mais de seis meses, enquanto a
dificuldade se apresenta por menos de seis meses e pode acompanhar
outro transtorno ou deficiência. Para saber se algum dos dois está
presente na vida acadêmica da criança, você deve verificar se: as
habilidades acadêmicas estão abaixo da média geral; há uma ansiedade
pré-prova; ocorrência de uma deficiência intelectual; problemas
emocionais etc.

Para o TEAp, temos três níveis a considerar (APA, 2014):


41

Figura 1 – Níveis do TEAp

Fonte: elaborada pela autora.

Temos três tipos principais de TEAp: dislexia (com comprometimento


na leitura), discalculia (com comprometimento na matemática) e
disortografia (com comprometimento na escrita). Nesses casos, as
inteligências do sujeito são desenvolvidas de maneira heterogênea.

1.2 Dificuldade de Aprendizagem (DA)

Em relação às dificuldades, podem ser derivadas de problemas


emocionais ou interferências do ambiente. Nesse caso, o quociente de
inteligência (QI) se apresenta na média. Distúrbios como Transtorno do
Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade
(TDAH) e Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) podem gerar
problemas de aprendizagem que acompanham os indivíduos durante
toda a vida.
42

2. Fatores causadores da DA e do TEAp

No TEAp, as dificuldades são consequência do próprio distúrbio causado


pelo desencadeamento de alterações no funcionamento cerebral. Dessa
forma, entendemos que elas serão sempre intrínsecas, sem interferência
do meio. A dificuldade de aprendizagem pode ter origem intrínseca
derivada de problemas atencionais, emocionais, sensoriais etc., ou
extrínseca, como problemas socioemocionais, de didática do professor,
de metodologia escolar, entre outros.

2.1 Discalculia

Na discalculia, as redes neuronais são afetadas provocando déficits


nas habilidades matemáticas. Ela pode ser verbal, practognóstica,
léxica, gráfica, ideognóstica e operacional. As áreas com alteração são
o giro angular esquerdo (1), o sulco intraparietal esquerdo (2) e o sulco
intraparietal direito (3).

Figura 2 – Cérebro matemático

Fonte: http://lizditz.typepad.com/.a/6a00d83451b6fc69e20147e1ae1eaf970b-800wi.
Acesso em: 8 jun. 2022.
43

2.2 Dislexia

A dislexia interfere na precisão, na velocidade e na compreensão da


leitura. Geralmente os alunos apresentam em simultâneo a discalculia.
Ela pode ser auditiva, visual e mista, atingindo as áreas cerebrais
conforme a Figura 3:

Figura 3 – Áreas do cérebro afetadas pela dislexia

Fonte: elaborada pela autora.

2.3 Disortografia

A disortografia refere-se a dificuldades relacionadas à precisão na


ortografia e na gramática, além de prejuízo na clareza na expressão
escrita. Ela pode ser: temporal, perceptivo-cinestésica, cinética,
visuoespacial, dinâmica, semântica e cultural.
44

Figura 4 – Escrita de uma pessoa com disortografia

Fonte: Ranieri (2014, [s.p.]).

2.4 Dificuldades de aprendizagem (DA)

As dificuldades de aprendizagem podem ser de origem externa ou


interna. As emoções, os problemas sociais, a didática do professor e a
baixa estimulação são alguns dos fatores que podem acarretá-la. Além
disso, distúrbios como TDAH, TEA ou TOD podem ocasionar problemas
nos processos educacionais.

Disgrafia – Não está presente no Manual Diagnóstico e Estatístico


de Transtornos Mentais (APA, 2015) e, portanto, não é um TEAp. Na
verdade, ela está relacionada a Transtornos Psicomotores, nos quais a
criança tem dificuldades no ato de escrever, tem “letra feia”.
45

Figura 5 – Escrita de uma pessoa com disgrafia

Fonte: Goulart (2010, [s.p.]).

Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) – Pode causar dificuldades


de aprendizagem devido aos baixos índices de atenção, concentração
e foco. Pode causar, por exemplo, releituras excessivas de um mesmo
texto ou de uma frase de modo a obter impressão de maior retenção do
conteúdo.

Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) – A


dificuldade de atenção e a alteração na memória de trabalho provocam
falhas no processamento da aprendizagem.

Transtorno do Espectro Autista (TEA) – A dificuldade em manter


contato visual e os déficits no comportamento social limitam o processo
de aprendizagem. Além disso, os alunos podem apresentar hiperfoco,
resistindo à introdução de novos conteúdos.
46

Figura 6 – Causa e efeito das dificuldades de


aprendizagem em alunos com TEA

Fonte: Grossi et al. (2020, p. 32).

Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC) – O PAC é


causado por uma alteração no ouvido que dificulta o processamento
e a interpretação de estímulos auditivos. Pode causar problemas de
compreensão, dificuldades na expressão oral e na leitura, troca de letras
etc.

Síndrome de Irlen – Doença rara que causa sensibilidade extrema à


luz, o que ocasiona dificuldade de leitura e, por consequência, falhas na
aprendizagem. A criança precisa utilizar overlay ou óculos com lentes
especiais durante a leitura dos livros didáticos e escrita no caderno para
amenizar o desconforto nos olhos.
47

Figura 7 – Overlay

Fonte: https://rsaude.com.br/londrina/materia/dificuldades-de-leitura-pode-ser-causada-
pela-sindrome-de-irlen/15276. Acesso em: 8 jun. 2022.

Como vimos, a neurociência pode alavancar os processos de


aprendizagem em crianças com dificuldades e transtornos específicos.
Portanto, quando a família e o educador entendem o desenvolvimento
cerebral, mesmo que de maneira sucinta, abre-se um mundo de
possibilidades de estimulação nas necessidades da criança. Dessa
forma, a aprendizagem se tornará prazerosa e significativa, minimizando
os pontos fracos e potencializando os fortes.

Referências
APA. American Psychiatric Association. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
GOULART, Nathalia. Letra feia não é só pressa ou preguiça. Pode ser disgrafia. Veja,
24 jun. 2010. Disponível em: https://veja.abril.com.br/educacao/letra-feia-nao-e-so-
pressa-ou-preguica-pode-ser-disgrafia/. Acesso em: 13 abr. 2022.
GROSSI, Márcia Gorett Ribeiro et al. O processo de ensino e aprendizagem dos
alunos com TEA nas escolas regulares: uma revisão de teses e dissertações. Cad.
Pós-Grad. Distúrb. Desenvolv., São Paulo, v. 20, n. 1, p. 12-40, jun. 2020.
48

RANIERI, Priscilla. Você já ouviu falar em disortografia?. Priscila Ranieri, 4 set.


2014. Disponível em: https://www.priscillaranieri.com.br/single-post/2014/09/04/
Voc%C3%AA-j%C3%A1-ouviu-falar-em-DISORTOGRAFIA. Acesso em: 13 abr. 2022.
49

BONS ESTUDOS!

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