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Entrevista sec: LUND, MALU GASPAR “Sem eficiéncia nao ha petroleo” 0 presidente do gigante noruegués Statoil diz que 6 os mais inovadores sobreviverao e informa que o governo nao se mete na estatal: “Se nae der lucro, me mandam embora” residente da pelea Stati, oats munciis do ete, Helge Aa e Land, 50 anos, dz coisas que pe. CUS Tenuta ty dem soar inacreditaveis para um brasilet- - PRU eerie yo, Primeio:gaante que nto sfte pes 6a da reserva de mercado. Framers, prize scutasano Se- fall ATAU ERT eM Rage coceacvanie : ee Dresses pee de ne _consenso entre os politicos ‘com 0 objetivo de alcangar resultados ca: da vez mais expressivos. “Os politicos de ry avpasecedianqeonehorpe (Meese Uae Meu ae is eet CAE aed cional com 30% da produgao vinda do. ‘exterior. No Brasil, onds esté sua opera- (ao mas Eafe aaNeneee explora dreas do pré-sal, em sociedade. tate crperarto Saint cedsiaVElh a gence, ‘A Noruega é citada como a grande fonte de inspiragéo para o novo modelo exola- ratério do pré-sal brasileiro. A compara- G40 faz jus & realidade? Até cero ponto, sim, Os dois pafses compartiham da ccompreensdo de que 0s recursos natu- mais devem se converter em riqueza per- ‘mianente e possuem estatais que atua ‘como indutoras da inddstria do petrdleo. ‘Mas uina diferenga signficativa nos dis tancia: a Statoil ndo tem direito automé- tico sobre todas as reas exploratérias, como a Petrobras, que revebe pelo me- ‘n0s 30% de cata bloco licitado, Na No- Tega, temnos de competir com gigantes ‘multinacionais como Exxon, Shell, BP e Chevron. E também podemos decidir em quais licitagdes entrar: Isso ¢ bom, para a empresa, porque nao nos obriga ‘2assuimir negocios que nao nos inte. Fessam, ¢ benético a economia do pats. vela | Se Entrevista HELGE LUND A légica que nos rege ndo € a da reserva dde mercado, mas a da busca da eficién- cia. Felizmente, hé um razoavel consen- so entre 0s politicos nomegueses de que ‘a competicao ¢ um valor inabalavel. Quais foram os efeitos da politica de conteiido local minimo adotada na explo- ragdo do petréleo noruegués? Na pri- ‘meira década, exigia-se das petroleiras a compra de até 60% dos equipamen- tos produzidos no pafs. Aos poucos, cconforme essas empresas foram se ex- pandindo e se tomnando realmente competitivas, 0 porcentual foi caindo, caindo, até se extinguir de vez. O inte- ressante 6 que 0s fornecedares locais continuaram a ser parceiros preferen- ciais das petroleiras de fora. S6 que is- 50 nao ocorrett por questoes de Viés na- cionalista, mas, sim, porgue eles so hoje os mettiores do mercado. Entio o senhor acha natural que o pais ppague mais caro polos equipamentos do pré-sal em nome da criagdo de uma in- diistria local? A exigencia do contetido nacional se foriou um tema central em todos os pafses onde a exploragzo de petr6leo € fonte importante de riqueza, ‘como a Rissia, de onde acabo de voltar, ‘ou Angola, onde proctuzimos 190000 barris por dia. Nao confego ninguém que discorde da ideia de aproveitar a ‘chance para consolidar uma indtistria local, O grande debate hoje ¢ justa- ‘mente sobre como fazer i890 com efi- iencia e competitividade, Do contrétio, esforgo tera sido em yao. (Como fazer com que empresas que tem reserva de mercado busquem eficiéncia © se tornem competitivas? Um bom marco tegulatsrio, que Ihes imponha metas © estabelega umn prazo para o fim dos sub- sidios, a € um bom comego. Mas € pre- iso, antes de tudo, criar meios para que ‘a busca pela competitividade se tome parte indissocidvel da cultura das com- Danhias que recebemn umn empurrao do - estado. F tum processo lento, gradual, «que depende a0 mesmo tempo delas, das agéncias reguladoras ¢ do proprio -govemo. Na Statoil, somos obrigados a [Pensar nisso todos os dias. Pagamos G@Nao conheco ninguém que discorde da ideia de usar a exploragao de petréleo para consolidar uma indistria local. O grande debate é sobre como fazer isso com eficiencia e competitividade —ou0 esforgo serd em va0e9 78% de impostos sobre a aividade pe~ trolifera. E impossivel sobreviver e dar Juero aos acionistas sem ganhar eficien- cia e baixar eustos. Os politicos nos del- xan (rabalar gulados pelas lels de mer- ado por entender que, quanto mais rescemos, mais impostos pagamos. A Statoil esta preocupada com 0s altos custos de explorarpetréteo no Brasil? és e todas as outras empresas. Na mi- nha posicao, tenho de observar atenta- ‘mente 0s gargalos com 0s quais convi- ‘vemos mundo afora. A indiistria de leo e gs esté operand a plena capa- cidade. F esperado. portant. que haa eseassez de certos recursos. Minha ‘maior preocupacio diz respeito a falta de engenheiros — no apenas no Bra- sil, mas em ambito global. E um pro- blema que me aflige porque nfo tem soluigao imediata, Para se ter uma ideia, So necessérios de oito a nove anos pa ra formar um engenlieiro realmente om. © Brasil precisa de muitos deles, nas o pior entrave a atividade petrolife- ra brasileira ainda 6 a ineficiéncia, Quais so as evidéncias disso? Hoje ‘no Brasil setores que funcionam de for- ‘ma muito mais eficaz e sem desperti- ios, como por exemplo a indsiia au- tomobilistica. Mas na drea do pearéleo Brasil tem ainda de avangar muito. A ‘comecar pela relagéo entre as petrole- ras ¢ sua enorme cadleia de fomecedo- res. No € preciso nada de mito mira- bolante af. Uma boa iniiatva seria ado- {ar padroes mais universais de operaci, ‘de miiquinas a métodos que possam vir a set replicados por toda a indUstria, pa- ra ganhar escala e reduzir custo. (0 senhor poderia dar um exemplo priti- ‘0? Fé dois anos, a Statoil inka varios ‘campos de tamanho médio relativamen- te préximos uns dos outros, mas cada ‘um comprava suas préprias maquinas & ‘contava com uma estrutura propria. Montamos endo uma central nica para adquirir varios equipamentos de uma ez. s6 e criamos um time comum de cengenhariae projetos para atuar em di- yerSos campos 20 mesmo tempo. Con- ‘seguimos assim baixar om 30/7 os eus- tose reduzir a metade o tempo entre 0 infeio da atividade explorat6ria e a pro- ‘Cuedo propriamente dita. Ha que pensar sobre que iniciativas se aplicariam me- Thor ao caso brasileiro, mas € esse 0 tipo de raciocinio que precisa ser adotado. AAStatoil nao sofre interferéneia do go- vero e dos politicos? Nao. O governo noruegués tem 65% das agdes, mas apenas tum tinico representante 110 co- mité que nomeia os conselheiros. ‘Em 2001, quando passamos a vender agies na bolsa, 0 estado noruegueés as- sumiu publicamente 0 compromisso de rinea, sob hipstese algnima. tentar ar- bitrar os rumos da companhia, Minha ‘obrigacdo € gerar valor para 0s acionis- tas, Se fallar, o govemo me manda embora, Se nio Tosse assim, jamais te- riamos conseguido quintuplicar a pro- ‘Cuedo na dea interacional na ltima década. 0 senhor ja teve motivos para temer uma intervencao do estado na condueao dos nnegécios? Tive, Em 2007, decidimos fundir a Statoil com a divistio de dleo e ‘g4s de outra grande empresa noruegue- sa, a Norsk Hydro. No infcio, houye resistencias, porque se imaginou que a fusdo iria proyocar demissGes em mas- 16 | BDEFEVEREIRO, 2013 | vele sa, Mas, ao analisar 0 negécio como Acionista, o governo entenden que era estrategicamente importante e l6gico, ‘}4qque traria mais luero, e acabou apro- vando. Outro assunto que gerou muito debate foi a entrada da Statoil na ex- pploragao do petroleo das aretas betumi- ‘nosas do Canads, atividade que emite Iulto g4s earbonico, Na ocasiao, hou ve intensa polémica e muitos politicos foram & imprensa dizer que queriam a Statoil fora do Canada. Mas ninguém no governo nos pedi nada, porque res- peitam o sistema de governanga que eles proprios construftam, ‘A Statoil nao precisa pedir autorizacdo 20 zoverno para aumentar o prego dos com- bbustiveis? Claro que no. O prego dos ‘combustiveis deve ser regulado pelo ‘mercado global, nao pelo governo. Ven- demos nossos produtos no exterior ¢ es- tamos bem cientes de que os-valores no ‘mercado interno devem refletir as cifras internacionais. ‘que 0 governo nterfira no pre¢o dos combusti- vels? Nao atuamos na érea de combust eis no Brasil. O que posso dizer & que, ‘de modo geral, deve haver uma coerén~ Cia entre os pregos cabrados no merca- do interno e no extemo. ‘A indistria petrolfera opera em paises. ‘onde hd muita corrupeao. Como a sua ‘empresa lida com iso? H4 poucos fato- res que podem realmente ameacara so- brevivencia de uma campanhia eoma a Statoil. Um deles é um acidente de srandes proporedes ow um desasire en- ‘olvendo vidas humanas. Outro é um éseindafo como o que nos auinglu no inicio dos anos 2000. Esse ¢ o motivo, aids, por que estou aqui. Na époce, hhouve uma dentincia de comupeao en- vyolvendo funcionatios nossos no Ir. O presidente do conselho, 0 CEO € o che- fe de operagdes intemacionaistiveram desair. Ao assumir o cargo, eu me em- ‘peahei em tentar consolidar valores © ‘construir um sistema de controle mais severo contra as ms priticas. O princi- pal esté em um guia que contém as dire- ttizes da empresa instrugdes bem pre- petroleiras dependem cada vez mais de ganhos de produtividade e boa geréncia de riscos. 0 pré-sal é um laboratério desse futuro. Apenas os mais experientes, eficazes e inovadores vao prosperar®® cisas sobre como agir em cada caso. Em ‘uma companhiia com 20000 funcions- Tos, néo hé como garantir que nao va acontecer outta vez. Mas acredito que adotar um regime de total intolerancia com esse tipo de pritica pode inibir a sua reprodugzo, 0 que extaelece o guia anticoruneso da Stato? Sabomes que nao basa dizer «0 funciondrio que ele sera demitido caso se envolva em algum esquema, porque 2s pessoas sempre podem nos eng Por isso, ciamos resras que compelem cada ermpregado alevar geste emba- ragosas a eves sporore, para que Sejm disoutias deforma clara e aber. ta. Analisamos cada cao indivicual. mente. £ comum nosso pessoal receber pedidos de pagamento para liberarao de bagagem em aeopors, por exemplo, Isso 6 terminantemente peibido. Mas pode acontecer de alguem do nosso Siaffcorer isco em algum lugar e sua vida depender de uma propina. Nesse aso, se for uma questo de vida on morte — ese a decisao for tomada por um conjunto de pessoas —, 0 pagnmen- to poder, sim, ser feito, masa compa- nia ter de ratar 0 assuno com toda a tranoparéncia unto a seus invesidores, explicando as razdes. Dividindo o pro- blema fica mais fécil chegar as decisoes corretas. Se, a0 contrario, o funcionrio tiver de conduzir tudo sozinho, a proba- bilidade de ertos 56 cresce. Que licées a Statoil depreendeu até azo- ra da convivéncia com a paceira Petro bras? A Petrobras deu um interessante exemplo de persisténcia no caso do pré- sal. Meus funcionérios me contaram aque, muitos anos ats, a Statoil fi chaimada a participar, como sci, de alguns dos blocos que a estatalbrasile- ra hoje explora Rejetamos a proposta O riscoera alto demais, A Pettobras acabou ficando sozinha nessasércas ¢ abriu uma oportnidade nica, daque Jas que raramente aparecem. Aiguns execativos da companhia até hoje que- rem nos beijar cada vez que nos véem, por causa de nossa desisténcia no pas- Sado. Fles apostaram no pré-sal quando ainda era uma fonteira muito incerta e agora esto sendo recompensados. Es- {64 mato impressionado com o tama- iho do desatio de extai essa rqueza de lugares to remoios. A togisticaen- volvia na operacdo é complexa. Os campos esi muito cistantes da costa. Transportar as maquinase 0s suprimen- tos € dificil, chegar 4s profundezas do ‘ceano, mais ainda, Mas € algo que ja std ao alcance da india Do que depend o sucesso da empreita- dda? A tinica forma de dar conta da tare- fa investir em eérebros, tecnologia © inovagéo, Em outras palavras, o nome -do jogo ¢ cficitncia, As grandes pottu- Uferas estao se transformando em orga- nizagdes voltadas, de um lado, para ga- thos de produtividade e, de outro, pa- aa geréncia de tiscos. O pré-sal, as- sim como grande parte das novas fron- teiras do petréleo, é uma espécie de la- borat6rio desse futuro. A complexidade da aventura em busca do 6leo negro se elevou exponencialmente.Iss0 nao va- Je s6 para o pré-sal brasileiro, mas tam- ‘bem para os pogos de alta temperatura e presto do Golfo do México ou para a extragio de dleo do Artico. Nao ha ‘tivida de que apenas os mais expe- rientes, ficazes e capazes de inovar consegnriran pmsperar = ‘vela | 19DEPEVEREIRO, 2015 | 17

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