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RENATO COUTO GOMES PELKMAN, Jaques. Regionalism in world rade: vice or virtue? In: European amd global interdependence, Bruxelas: European Interuniversity Press, 1993 REVISTA ONLINE MERCOSUL. Disponivelem: hitp://www.mercosul.gow-brf SEIDL-HOHENVELDERN, Ignaz. diternational economic law. 3*edition, Dodrecht: Kluwer Law International, 1999. : SILVA, Roberto Luiz, Direito econdmico internacional e direito comunité- rio. Belo Horizonte: Det Rey, 1995, Direito internacional piiblico resumido, Belo Horizonte: Inédita, 1999, THORSTENSEN, Vera, OMC — Organizagio Mundial do Comércio — As Fegras do comércio e a nova rodada de negociagées. 2. ed, So Paulo: Adua- neiras, 2001, WORLD Trade Organi ion. Disponivel em: htip//vww.wto.org/ 380 DA SUBSTITUIGAO TRIBUTARIA PROGRESSIVA Rhenan Mazzoco Araiijo* Sumiério, Ne 1. Intrdito. 2. Aspectos gerais. 3. Fato jurigeno presumido4, Su- jeito passivo substituido, 5, Da restituigio imediatae preferencial. 6. Da violagio do Ordenamento constitucional. 6.1. Prinefpio da ccapacidade contributiva, 6.2, Principio do ndo-confisco. 6.3. Prin- cipio da conceituagiio determinada e da seguranga juridica. 7. A posigdio adotada pelo plendrio do Supremo Tribunal Federal. 8. Conclusio. 9, Referéncias bibliogriticas, 1 INTROITO O direito e, primordialmente,o direito tributério configuram-se como meios de obtengaio de seguranga e certeza nas complexas relagdes em socieda- de, O direito tributdrio regula e restringe o poderestatal de tributare, também, efetua a regulamentagio dos deverese direitos dos contribuintes © Acadmico do 7 perfodo da Faculdade de Dinzito da UFMG 381 RHENAN MAZZOCO ARAUJO. No caso especial do direito tributiio, a luta contra a inseguranca jurfdica ‘emonta a tempos imemoriais, sendo sempre relembradaa avenga entre os ba. es ingleses ¢ o monarca Joao Sem ‘Terra, episcdlio do qual surgiu fortalecidoo prinefpio da legalidade da tributagao plasmada na famosa Magna Charta de 1215. Nao obstante, a luta dos contribuintes contra o ius tributandi estatal, ‘mais especificamente o abuso no exercicio deste poder, continua no decorterda historia de todas as eivilizagdes organizaclas em sociedade, especialmente em Sociedade complexas como as contempordineas. Constante, pois, aresisténcia da sociedade contra a voracidade do Estado Fi liberctades indivicuais, Em semelhante teor do exposto, os preclaros ensinamentos do professor a Universita di Genova, Victor Uckmar: ista em nome da garantia das “As liberdades ~ a Hist6ria nos ensina— so geralmente violadas por Aisposigdes fiscais. Numa das primeiras decisdes de Direito Constitucio- nal Tributdtio — a deciso da Suprema Corte americana, proferida em 1819, no caso MeCulloch versus Maryland ~ foi tangada a adverténcia dde que the power to tax involves the power to desiroy. Tal adverténcia, até hoje bastante vilida, infetizmente,€ muitas vezes esquecida poraque- Jes que elaboran as les tributétias.” Hodiemamente, wma das mais recentes ¢ expressivas preocupagties dei do exereicio do poder tributério estatal foi a introdugao da denominada Substituigéo uibutériaprogressiva no ordenamento tributiio brasileim pela Emen- «da Constitucionaln, 3/93 que, dentre outras ofensas ao ordenamento juridico, admite @ possibilidade de se tributar fato futuro incerto, Apesarde a emenda constitucional refer ia jd ter sido introduzida ha certo tempo, seus efeitos e stia | UCKMAR, Victor Prinepios comuns de diveita comstiuucionat tributiro. Trad, Marco Auréio Greco, 2, ed, 840 Paulo: Malhiros, 1999 p. 19, 382. REVISTA DO CAAP, abrangéncia ainda tém sido objeto de vastas e ardorosas discusses douttindti- ase de litigios que, como nao poderia deixar de ser, chegaram A nossa Corte Constitucional e que, por enquanto, nao se pode afirmar que se tenha logrado escorreita delimitagiio do mecanismo por parte do Poder Judiciério. 2 ASPECTOS GERAIS © mundo intro- ‘A Emenda Constitucional n, 3/93, em seu art. 1°, trouxe pa |juridico a denominada suibstituigo tributéria progressiva ou “para frente’ duzindo, por conseguinte, no art, 150 da Constituigao Federal, 0 § 7°, que assim determina: “Aci poder atribuira sujeito passivo de obrigagao ibutéria a condigio de responsiivel pelo pagamento de imposto ou contribuigao, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferen- cial restituigio da q © 0 fato gerador presu- mido.” tia paga, caso ni Constata-se, a partir da introdugao da referida emenda constitucional, aque fic Facultad ao legislador infracontitucional a possibilidade de criar noma que determine acobranga de trihuto sem que tenha ocorrido 0 devido fato jurfgeno tributério, ou seja, que se possibilite a cabranga de tributo sem que tenha nasei- 400 fatoimponivel do tibuto. A emenda permite, portanto,atributagdo de um Fao futuro presumido, ainda no existente no mundo fenomenico. Na substituigdo tributiria progressiva, ou “para frente”, tem-se como pen- samento preliminar que o fato impontvel tributario, fato conereto descrito como aspecto material da hipotese de incidéncia, ovomerem futuro lapso temporal, justificando-se, por conseguinte, aefetiva cobranga da exagio fiscal pela Fa- zenda Piiblica, Ressalta-se que nao hi simples cobranga antecipada de tribu- acobranga antecipada de tributo nao devido, ja que nao ocortera, como anteriormente salientado, 0 fato impontvel da obrigagio tributétia. 383 RENAN MAZZOCO ARAUIO A inconstitucionalidade da Emenda Constitucional n, 3/93, que acrescen- (ou 0§ 7° no art, 150 da Constituigaio Federal, é notsria. Ainda que se Fagam esforgos exeacticos para se admitiro mecanismo da substituigdo tributavia pro- gressiva, nenhuma tentativa sera suficient baureiras juridic nente convincente para superar-as aur impostas pela prépria Constituigao Federal. Aceitaro meca- nismo 6 também consentir com atos ce vilipéndio contraos prinefpios de nature- aconstitucional eas imitagdes constitucionais ao poder de tibutar, vigas mes- {ras da ordem constitucional ¢, conseqtientemente, da ordem juridico-tributéria, 3 FATOJURIGENO PRESUMIDO. A obrigacdo de natureza tibutatia nasce coma realizagio do fatoimponivel, 4 jurigeno, previsto na hipstese da norma ributéria. Assim, ocorrendo no mun. do fatico 0 fato in concreto previsto na hipotese de incidéncia, sera instaurada uma obrigagiio determinada no mandamento da norma, ordenando ao sujeito passivo que entregue dinheiro a0 sujito ativo da obrigagiio, mormente ao Esta do, Logo, o mandamento, ou a conseqiiéncia, da norma tributatia gera ao sujei- to passivo contribuinte uma obrig, da obrigagao wibutat io de dar (entregar dinheiro av sujeito ativo Nos termos clos ensinamentos ministrados pelo mestre Geraldo Ataliba,2 ahipbtese de incidéncia “é a descrigao legislativa (nocessariamente hipotética) dem fato a cuja ocorréneia in concretu a lei atribui a forga juridica de determi- nar o nascimento da obrigagiio tributaria, ‘Ainda sobre a norma tributaétia, ensina-nos o Prof. Sacha Calmon 2 ATALIBA, Geraldo, Hipdtese de incidénciatributdra, 6, ed. Sio Paulo: Malheivas, 2001, p. 16. 384 ft ISTA_DO CAP, “As normas tributirias apresentam, como toda norma de conduta, estru- jo constitufdas cle fatos licitos € tura dual, Suas hipoteses de incidén suas conseqiiéncias de prescrigGes, mandando entregar dinheiro ao Bsta- do, Os fatos que entram na composicao da hipstese de incidéncia da norma tributéria sao escolhidos pelo legislador no mundo fitico. Uma vez ‘posto na norma, tai fatos passama ser modelos de fatos jurfgenos. Toda vvez que na vida fatos se derem iguais ao modelo incidiré a conseqiiéncia prevista na norma tributéria: o dever de pagar tributo.”* No teordo exposto, fica claro que somente a partirda ocorréncia do fato jurfgeno, ou imponivel, no mundo do ser é que sera devido tributo. A conira- rio sensu, nfo tendo sido realizadlo 0 fato jurfgeno no mundo fenoménico, ne- nnhum tributo sera devido. O professor tedesco Albert Hensel,! da Universidade de Kénigsberg, hi ‘muito ja havia nos ensinado que “o comando—deves pagar os impostos ~& sempre condicionado a frase: se realizas 0 fato impontvel”. Naesteira do entendimento, como poderfamos admitir, entio, a hipétese ‘vibutar fato que ainda no aconteceu? Pois bem, é esta a grande incongru- nica —cm que se constitui o teor do § 7° do art. 150 da io do Brasil. Para clarificar, exempli gratia, em matéria de (CMS, no qual é muito aplicadaa norma em epigrafe, um estabelecimento industrial que vende os pro- dutos transformados, industrializados, a determinados revendedores deverd re- colher a0 eritio tanto 0 tributo do qual este seja contribuinte de fre pela ocor- téncia do fato impontvel desencadeado pela venda, como também otributo que, presumirs-e-d, seria devido pelo revendedor ao realizar 0, fato jurigeno corres~ pondente & revenda do bem. 3 COELHO, Sacha Calmon Navaro, Teoria geval do tibuto eda exomeragado tributiria, 2. Belo Horizonte: Del Rey. 1999. p. 105. 4 HENSEL. Albert Diiuo Wilutario, Tradurione di Ding Jarach. Milano: Giufi®, 196, p. 148, 385 RHENAN MAZZ0CO ARAUIO A presungao adotada pela norma jurfdica baseia-se em fato conhecido cujtexisténcia 6 cert, real, ¢ impde certeza juridica afato nfioconhecido cuyja existéncia € provavel, mas incerta, em virtude de relagto“Iogica’ entre os dois fatos. Ouseja, a presungzto “tem por ponto de partda a verde de um fato: de tum fato conhecido se infere outro desconhecido”’ $ Mas, es o fato jurigeno presumido? Nao obstante existirem o} constitucionalidade do § 7° do a ‘aso ilo ocorre| pinides divergentes defendendo a ut, 150, introduzido pela Emenda Constitucional 1. 493, a Consttuigdo Federal nfo coaduna com acobranga de tibuto por fato Presumido. O ordenamento consttucional tibutériosomente condicionao nas. ccimento da obrigaciio tributaria a ocomréncia de fato geradlor de obr ‘igagio tibu- ‘aria nto possibilidade de ocoréncia de fato gerador A obtigugi tibutivig Somente€ devida com a efetiva acomréncia do fato previsto como jurigeno, 0 Qual se subsume a hipétese descrita na norma jurfdica geral e abstrata. correndo o fato imponivel, nao haverd tibuto devido, também nes ‘tid a Ligaio de Dino Jarach, em sua obra El Hecho Anponible, a qual passamos a transcrever: “Por vor ade da lei, a obtigagdo do contribuinte ea pretensio correlativa do fisco se fazem depender da ocomréncia de um fat ju nado pressuposto legal dotributo,o fato imponivel.”™ ico, o denomi- E meridianamente claro ‘que 0 legistador constituinte derivado, ao legislar Sobre o mecanismo de substituigdo tributdria, rogressiva, teve o escopo de aten der aos anseios da Fazenda Pblica epostivar em nossa Constituigdoum meee, iismo que atendesse ao pernicioso prinepio da praticabilidade da tributagao 5 BECKER, Alfredo Au p.463, © JARACH, Dino Et hecho imponibte~ Teoria genera del derecho triby Buenos Aires: Abeledo Perot, 1982, p87 so. Teoria gerald direito wibutriv, 2. el. Sio Paulo: Saraiva, 1972, rio substantive, 3.4, 386 REVISTA DO CARP (prine{pio?). E conhecido de todos o receio da. Aclministragdo Pablica, na rete das vezes infundado, de que o contibuinte pratique aclisio fiscal ou 0 toi eo conhecio como evasio isa, No enantio, €injustifcdvel queem nome dos interesses fazendiirios atropelem-se os direitos ¢ garantias individuais do contri- do ocorrido ou que talvez.nem vena a aconte~ fato aint buinte, tributando-s cer no mundo do ser. Be Vislumbra-se, pois, que o legislador, em nome do referido cripto prine pio, relevou um ordenamento constitucional que prima pela proteciio da segu- juridica do cidaddo contribuinte. Faz rio ressaltar que o princ- pio da seguranga juridica tem intrinseca relagio com os princfpios ¢ iis individuais, e que, sendo estes cldusulas pétreas, nao poderiam ter: ate an dos pela malsinada emenda constitucional insttuidora da substituigdo tributéria “para frente”. : , Faz-se oportuno rememorar a ligdo do Prof. Victor Ukmar sobre a rele- vaneia da certeza e seguranga juridico-tributaria: “A nfl legistativ, alata a um teencismo decadente além de poe eerie o sistem tributério (que deverainsprar-se em erteios de equidade, eficiénciae twansparéneia), freqlentemente vulnerno pr ae fundamental da certeza: jé Adam Smith advertia que he tax which each individual is bound to pay ought to be certain, and not arbitrary Alémdisso, aincerteza determina inevitaveis dificuldades de interpret ‘$40, encorajamento A evasio tributaria, aumento do contencioso e 1 do sistema tributério como um todo.” Destaite, a importanciae a preeminéneia da seguranga juridica do contti- e mos, nem as diretrizes cons 7 UCKMAR, Vietos Op.cit, p63 387 RIIENAW MAZZ000 AKAGI eee EE «das por tecnicismos que, em verdade, afrontam a ordem constitue ional, causan- do inseguranga c instabilidade. Salientando a necessidade de se goranti a seguranga juridic de, caracteristica intrinseca ao Estacto de Di no Alberto Pinheiro Xavier: socieda- leciona-nos o professor lusita- _concepedo de um Estado de Diteitoatibui ea fun de principal instrumento da justiga mater 1; Mas a essa mesma concepgio é ainda inerente « idéia de que a lei deve garantir, na maior extensao possivel, a seguranga juridica ou a certeza do diteito. Se a justiga material pode ser concebida essencialmente como rigorosadelimitagio de esferas juriicas &-Sobretudo no campo do Diteito Paiblico, como uma estrita tutela dos {iteitos subjetives privados—liberdade e propriedade— ela nfo podria deixar de se apoiar num prinejpio que conferisse estabilidacle ds esferas assim: delimitadas, subtraindo a atividade. dos cidadios das dle: s docon- lingentee do arbitrio”,* Sabe-se que as presungdes juridicas em matévia trbutéria Bm escopo de faciltar aarrecadagao; no entanto, nao se pode admit que sejam aviltades & valores protegdos pela ordem constituconalvigent, anda mais sob pio do arbitrio leg luc esti em causa, deve-se salientar, éa efetividade de toda uma ordem de normas principiolgicas de hier rarquia constitucional, que So “imodificéveis por emenda, ou mesmo por revisio, que fazem parte da. uele nicleo de normas iredutivel, aque se refere ait, 60, 4°, da Consttu. gio”? 8 XAVIER, Albero. Os princiias da legalidade ede tncdade da ribuugde, $30 Paul: RT 1978, p. 43 9 DERZ1, Misael de Abreu Macao. Nota BALEEIRO, Alin. Lites constconais ‘40 poder de wibtta. 7. ed, Rio de Sanco: Forease, 2001p. 1. 388, RT Es REVISTA DO CAP, 4 SUJEITO PASSIVO SUBSTITUIDO No que conceme ao sujeito pasivo substitu, como se poderia substi- tuirumsujeito passivo de obrigagZo tributéria inexistente e que poder, inclusi- ves nuinea vir aexistc? Sem divide configura-se um conta-senso. Inexistente a relagiojurdico-tributriae, em geral,ocontribuinte a ser substtuido, nao ha que cogitar de substituigZo tributéria por fato futuro c incerto. Segundo a percuciente ligo da Prof Misabel Derzi, em suas notas de alualizagiio 1 obra de Aliomar Baleciro “seniio ocorre 0 fato gerador, inexiste contribuinte, relagiio juridica, subs- {ituto ¢ substitufdo, Ouse ele ocorre no mundo fenoménico de modo ou forma diferente daquela presumida abstratamente na lei, nfio se dia subsungo da norma ao fato ou a sua base de célculo (em desacordocom ‘os dados da realidade)”." Logo, se nfo existe obrigagiio tributiria, porndio ter ocorrido o fato jurfgeno ttributério, nfo existird, por conseguinte, o sujeito passivoa ser substituido. 5 DARESTITUICAO IMEDIATA FE PREFERENCIAL No inal do texto do malsinalo §7°, adicionadlo ao art, 150 da Constiti- «fo do Brasil pela EC n, 3/93, determina-se que, no oeorrendoo fatojurfgeno presumido, deve ser “assegurada a imediatae preferencial restituigoda quantia paga’’a titulo de tributo indevido. Comefeito, tal designio configura-se um abrandamento legislative da vio- leneia aos direitos e garantias individuais a que a substituigao tributaria progres- 10 DERZI, Misabel de Abreu Machatlo, Notas ao livro Direto uibusiria brasileiro, de Aliomar Baleciro, 11, ed Rio de Janeiro: Forense, 2002. p, 450, 389 RENAN MAZZ0C0 Ratio Sivaacomete os contribuintes, Nao obstante, a previsiio do mecanismoem co- nento nao tem o condiio de sanar as inconstitucionalidacles da possibilidade de Libutar fato presuimido, futuro e incesto, Ressalta-se que a Constituigo determinou competéncia privativa lei Somplementar para dispor sobre substituicao tributaria—art, 155,§2°, XI, alinea a devendo, pois, serem eriados mecanismos efieazes de researc mentoem favor do contribuinte. No entanto,infelizmente ainda nfo ocorret a devica diseiplina normativa que promovesse a testtuigdio imediatae referencia como determinado pelo § 7" do at. 150 da Constituigio. Nocaso do lmposto sobre Circulago de Mercadorias e Servigos (cms), a Lei Complementar n. 87/96, a pretexto de assegurar a devida restituigfio ime- «lala preferencial, somenteinstiticionalizou wi draconiano modo de devoltz $0 mediata e ndo-preferencial dotributo, podendo vir, inclusive, a no ocorrer arestitwigao do imposto pago. E o que se pode inferir do art. 10da Lei Comple- nenlar n. 87/96, quando determina que o contribuinte deverd requeter a re: tule do imposto indevido,assegurado um prazo de noventa dias parao Fisco “preciar o pedido. Somente depois de decorrido o prazo assinalado, sem a ‘manifestagao da Fazenda Pablica, é que o contiibuinte seu | \ciso Poderiicreditar-se em T0 fiscal. Destaca-se que niio hd previsto de rest uigdo, mas somente Drecii dieito do conttibuinte dese creditardoimposto inlevido pago, Logo, a cléusula de restituigao imediata e preferencial — eldusula anticonfisco-— fo transformada, nocasodoICMS, em barretas inconstitcionais ‘20 diteito subjetivo do contribuinte de ser ressarcido, Ederessaltar que, no que se refere aos limites Aatividade do legislador infraconstitucional, a Constiuigao “go outonga a legisladorpocteresem brane Co part estabelecer a seu capricho o contetido das leis, O poder da maiori Parlamentareleitademocraticamente est submetido aos direitos funclamentai © Prof. Sacha Calmon, em inaredvellgdo sobre oobtigatéio cumpri- ‘mento da cléusula de restituigdo imediata pret renciall, predica-nos 1H MIPAE, Klas. Monat uti del uae yd los conndmpnes. Teadscion Peo M, Hemera Molina, Madrid: Mazcial Pons, 2002, p, 99, 390 REVISTA DO CAA (Os contsbuines so titulaes eum dteitosubjtivo timed estiui- «20 (faculas agend,deraizconsitucional, use, previstona propria Lei Maior. Trata-se de direito sobranceiro que para ser exercido desnecessita de qualquer fundamento legal que nao aquele fineado na Const. A contro senso, toda esa (le complement, ek ordinéria ou deereto regulamentar) que contrariaro querer constitucional rd inconstitucional Consttuigio de 198, substtuigao tibutria para frente icons sua pritica aque, em no se realizandloa operago ou Fosse esta real i por valor inferior ao teal, se restituisse de modo imediato e preferencial a quantia paga em excesso. Onde ha poder, hé também limitagao”, Ademais, no que concere a cléusula de restituigao umes entendemos quo valor do tributo indevido pago deveria ser devolvid esi Homa coc somo mi ljyinpalsed eH eto lia a trios, que podem, inclusive, nunca vira ser aproveitados pelo contribuinte, Pe gratia, no caso de empresas exclusivamente exportadoras. E, ainda ane one rido crédito possa ser aproveitado, a vinculagdo a aproveitamento credit es apacidade econémica do contribuinte que teve de pagar tributo nao de- raplicado, inclusive, re vido, desviando parcela de seu capital que poderia s inyestimentos produtivos. “cmactioe Destarte, todas.as normas infraconstitucionais que contrariarema cli ; oi co~deverdo, ou de- de restituigzio imediata e preferencial —cléusula anticonfisco —deverzo, veriam, ser julgadas inconstitucionais pelo Poder Judicio. tari brositero, 6, Rio de Janie 12 COBLHO, Sacha Calmon Navarro, Curso de dieito wibutirio brasil Forense, 2002, p. 618, 391 RHENAN MAZZ0C0 Al 10 a 6 DAVIOLACAO DO ORDENAMENTO CONSTITUCIONAL _ AConstituigio do Brasil, como ja ressaltado, no consente com {agio baseada em fatos presumidos, de ocorréncia futurae ince. Aléi dis aantecipagao presumida do fato jurigeno tributario traz cor igo umac: ne arriseada: todos os outros. Aspectos da norma tributaria Provavelmente re Presuimidos e, por conseguinte, incerios, Juntocomo fato jurigeno tributé ie Presumido | ‘também serio | Presumidos a base de calculo, os sUjeito passivo. auhes tituido, o aspectoteritoral, dentre outros Esta vasta gama de presungSes: condi pode produzirofensasa virios dispositives constitucionais, mormiente aos pri cipios direcionadores do Sistema Tributitio Nacional, nn Violar oordenamento principiol6gico da Consttuigdo é rmuito mais grave do que desrespeitar uma regra infraconstitucional, visto. ue 0s prineipios’ or s tituem a base da estrutura e do funcionamento do sistema juridico, =" Nas otis Sica ligao do jurista Celso Ant6nio Bandeira de Mello, a desatengaio ao) rHinciis implica ofensa nao apenas a umespecit vio apena ipecifico mandamento obtigatério, m o sistema de comandos.!4 eee No casoespecifico da substituigao tribu Na8S inconstitucionalidades decomentes das peculiariades co mecanismo, dene as quais a violagZo aos supremos prine‘pios da capacidadle contributiva, do onfisco, da conceituazio determinadlae da seguranga juriica . atribu- a progressivapodem ser elencadas 61 Principio da capacidade contributiva “roca MinPio da capacidade contributiva aparece consagraclo na Constit ‘ocomo expresso fundamental da isonomia, como ettério de justia dstributiva 13. PONTES, Hetenison Cun Dialetca, 2000. p. 38, }4 BANDEIRA DE MELLO, Celso Ani Malic, 1999, p. 748, © principio da proporcionaidade eo direit trbu iio. Se Pau: nia. Curso de drei aduinistrative. 12 6, Sa0 Paulo 392 IS TERS REVISTA DO CAP, E.um daqueles prineipios fundamentais que aparece em todas as Constituiges de paises consagradores do Estado Democrético de Dircito, seja de modo ex- plicito, como no caso das Constituigdes do Brasil e da Italia, ou implicitamente, exempli gratia, na Norma Fundamental da Alemanha, Quanto a0 aimbito de sua aplicagio, “o prinefpio dacapacidade contributiva anima—enquanto afim da igualdade— tanto a produgao de lis tributérias quanto Aaplicagdo das mesmas 40s casos conecretos”.!° Sendo um principio de tal mag- nitude, é claro que as normas tributdrias de qualquer hierarguia devemse respal- dar em seus valores fnsitos, ainda que seja uma emenda 0. que nao ocorreu no caso da Emenda Constitucional n.3/93, introdutora da substitui- iio tributaria progressiva Constatt-se, por conseguinte, que o dispositivo contido no § 7°, do art. 150 da CF/88 nio observa o magno principio da capacidade contiibutiva, visto que este predica que a capacidade econ6mica avaliada deve ser concretae alual, endo futura e incerta, nem muito menos presumiida, como acontece coma acdlo do dispositivo substitutivo, Ademais, como avaliar a capacidade contributiva de sujeito passivo que nem se obrigou nda? 6.2. Principio do nio-confisco fesa pela Constituiga0 do Brasil (art. 150, inciso IV). Nao obstante & presenga expressa do refericlo principio, a tributagtio dé fato futuro e incerto—como quer avemendaConsitucional n.3/93— pode vira efetivar 0 confisco de patriménio docontribuinte, Basta pensarmos na hipétese de sere cos inexistentes e que poderaio nem vir a se coneretizar, ou se efetivarem de modo diverso, existindo apenas no plano da eventuallidace, o que sabemos épassivel de tributagio, 15 COLHO, Sacha Calmon Navarro Contentirios i Constiicdo de 1988 — Sistema trbtéto. 5. ed. Rio de aie: Forense, 1993, p94, 393 HENAN MAZZ0CO ARAUIO A titulo de exemplificagao, no caso do ICMS, pode ocorte, ainda, que a base de céleulo presumida pela Fazenda Pablica seja maior do que aefetiva- mente ocomrida no negécio juridico efetivado pelo contribuint. fn casu,ense se-iaaresttuigio imectiata e preferencial do tuibuto pago.a maior, sob pena de contiscatoriedade. Parece-nos que anda. prevalecer a arbitratiedade 6.3 Principio da conceituagao determinada ¢ da seguranga juridica Apesar de nao estar expresso na Constituigio, 0 prinefpio da seguranga Juridica deriva de outros princfpios ordenadores expressos pelo ordenamento Constitucional, como a iguatdade dos contribuintes | (art. 150, inciso 11), aestrita legalidade dos tributos (ai 150, inciso I), a anterioridade (art, 150, inciso III, ), a ieretroatividade das leis tributdrias (art. 150, inciso III, a), ¢ os demas s irradiados pelo ordenamento constitucional, A pripria nogiio de E ado Demoeritico de Direito revela o compromisso com a seguranga juridica, impondo restrigdes ao exercicio da competéneia tibutiria, como ‘escopo pri- mordial de proteger os direitos fundamentais ¢ evitar o arbitrio dos Poderes iblicos. Em suma, o principio da seguranga juridica visa a certeza nas rel Juridicas na sociedade, Para robustecer a protego da confianga do contribuinte tem-se como imprescindtvel o principio da tipicidade fechada ou conceituagdo determinada ue “exige a uilizagao de conceitos determinaclos, entendendo-se porestes (e tendo em vista a indeterminagio imanente a todo 0 conceito) aqueles que nao afetam a seguranga jurdica dos cidadios, isto 6, a sua capacidade de previsao objetiva dos seus direitos e deveres tibutérios”." 16 XAVIER. Albeto,Tipicitade da tia, sinulago e novi antielisins Sio Pa lo: Dikéten, 2001. p. 19. 304, REVISTA DO CAP, Destarte, o principio da determinagaio conceitual exige que 0 tributo s0- ‘mente possa serexigido quando ocorrer no mundo fenoménico 0 fato previsto na norma como ju - aes Logo, 0 mecanismo da substituigdo tributéria progressiva viola frontal mente a segurangajurdiea 20 admitx como jusfgeno fio faturocincerto Inad- mnissivel, por conseguinte, as prestingSes admitidas pelo mecanismo, i quees- tas presungdes levam 2 inseguranga jurfdica e ao arbitrio em nome da praticabilidade da tributacao. 7 APOSICAO ADOTADA PELO PLENARIO DO SUPREMO ‘TRIBUNAL FEDERAL “O Indicisrio, principalmente pela ago do Supremo Tribunal Federal, veio a situar-se como o grande fator de protegio dos direitos priblicos subjetivos do individuo."” Por determinagilo constitucional (art. 102), 0 Supremo Tribunal Federal tem a magna tarefa de efetuar a guanda e protegdo dos preceitos contidos na Constwigio do Brasil Pertence, pos, ao Supreme, acompeténcin para exer tara jurisdigao constitucional de forma concentrada e defender os valores con- sagraclos em nossa ordem jurfdica constitucional . No entainto, nem sempre as decisGes de nosso Pretério Excelso respo dem aos anscios da sociedade. Em recente julgamento feito pelo Plendrio do Supremo Tribunal Federal, na ADIn n. 1,851-4/Alagoas, consentiu-se a violagio de diversos direitos fun- damentais do contribuinte, dentre eles 0 naio-confisco e a seguranca juric 395 HENAN MAZZ0CO ARAUUO Nesse julgamento, no qual foi relator o Ministro limar Galvio, decidi-se pela constitucionatidade de norma estadual que restringe os efeitos da clausula cons. titucional de restituigdo imediata.e preferencial. Reswmindo, ‘norma infraconstitucional negasse eficéci titucional, Podemos constatar, no voto do ilustre relator, que um dos principais mo- {ivos que levaram ao teor ca infeliz decisio foi ode preserva os efeitos “prit- cos" da substituigto tributéria progressiva. Ou seja, nas palavras do Ministro relator, ACCitOUI-se que Adeterminagdio de hierarquia cons- ‘no seria, realmente, de admitir que, diante desses efeitos praticos, deci- sivos para a adogaio da substituigao trihutiria, viesse o legislador a ctiar mecanismo capaz.de inviabilizar a utiizago do valioso instituto, comoa Coinpensagaio de eventuais excessos ou faltas, em face do valor real da Lltima operagao,cleterminando o retorno da apuragzio mensal do Prética que justamente teve 0 escopo obviar”. © Supremo Tribunal Federal consagrou comessa decisio teratoligica a ‘fensa a importantes prine{pios constitucionais, tudoem nome da “praticabilidade” da tibutagio, Desse modo, deixou de efetuar oriamente a proteeiio dos direitos fundamentais do contribuinte, direitos estes consagrados na Constitui 6%, em nome dos interesses meramente aryecadatérios do 6. Arestrigio & obrigat6ria cldusula de resttuigao imediata e preferencial, efetivada pela lei do Estado de Alagoas, admite claramente o conti ferminar que no caberi restituigao de tributo pago a maior pelo contribute. Diante da consagragdo dessa espécie de norma confiscats podemos chegar sabendo que, na substituigaio tributdria Fazenda presumir 0 valor da base de calculo do tibuto’ cconfiar na moral tributicia do Fisco? 0, a0 cle a, aque conclusses progressiva, cabe a "? O contribuinte pode Destaca-se que somente trés Ministros votaram pela inconstitucionalidade daeferida lei estadval, ou seja, a tendéncia do Supremo, no que concerned substitu ‘vibutdria progressiva, éde admitir a constitucionalidade de norma REVISTA DO CAP. de natureza confiscatGria em detrimento dos direitos e garantias fundamental docontribuinte plasmados na Constituigo do Brasil, taazendo insegurangae incerteza nas relagdes juridico-t 8 CONCLUSAO A substtuigdo uibutévia progressiva,introduzida em nosso ordenamento peloart, I°daEmenda Constitucional n, 3/93, viola frontalmente varios principios constitucionais, dente os quis os prine(pios da capacidade contibutiva, do niio-confisco, da conceituagzio determinada ou tipificagdo fechada, da nio- ‘cumulatividade eda seguranca ju Por coeréncia l6gica, a propria Lei Complementar n. 87/96 —ou qualquer ‘outra norma infraconstitucional que versar sobre substituigao tributaria progres siva—é inconstitucional na parte que concerne ao mecanismo, considerando-se a inconstitucionalidade da propria Emenda Constitucional n. 3/93, que introdu, Ziu.0 $7 ao ar. 150, da Constituigao do Brasil, porafronto 3s cldusulas pétreas. Aditi a tributagio de fato jurfgeno presumido, futuro ¢ inceito, € tam- bém aceitar como ortodoxa a hipétese retratada na famosa obra O Processo, dle Franz Kafka, na qual a penalidade ince sobre um cidado sem que este tenha cometido o precedente atoilfeito, Ea consagragiio de tempos de insegu- , incerteza e arbitrariedade, 9 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ATALIBA, Geraldo, Hipétese de incidéncia triburdria. 6. ed., Sto Paulo: ‘Malheiros, 2001 trativo. BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. Curso de direito admin 12.ed,, $0 Paulo: Malheiros, 1999. BECKER, Alfredo Augusto. Teoria geral do direito tributdrio. 2. ed., Sio Paulo: Saraiva, 1972. 397 RHENAN MAZZ000 ARALIO COBLHO, Sacha Calmon Navarro. Teoria geral do tributo e da exoneragéo tributdria. 2. ed., Belo Horizonte: Del Rey, 1999. ~= + Curso de direito tributdrio brasileiro, 6. ed, Rio de Janeiro: Fo- rense, 2002. Comentarios a Constitnigdo de 1988 — Sistema tributatio, 5 ed., Rio de Janeiro: Forense, 1993. DERZI, Misabel de Abreu Machado. 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Sao Paulo: RT, 1978, Tipicidade da tributagao, simulagao € norma antiel Paulo: Dialética, 2001 isiva. So 398 A PERSPECTIVA DO DIREITO DA CONCORRENCIA NO AMBITO DA OMC Ricardo Gardini de Andrade! Sumario. J. Introdugio.2. 4 aplieagio extraterttoral do deito da coneo rucia. 3, Osacordos bilalerais de cooperagio, 4. Concorrénei: aspecto multilateral de seu tratamento, 5. A perspectivado direto daconcorréncia no ambito da OMC. 6. Conclusio. 7. Referéncias bibliogriticas. 1 INTRODUCAO Falarsobre comécio intermacional pressupde abordar a estrutura negocial ¢ regulatriaforjada pela Organizagio Mundial do Coméicio. Esta, oi 5 sand palo de decisdes sobre a condugio das relagdesecondmicas ite entre os paises, as quais se refletem, diretamente, em suas estnuturas politicas wernas, Por outro viés, fular sobre ‘coméicioé, inevitavelmente, fazer areferén- A concorréneia, visto que é por meio da garantia eda possiblidade de entrar no mercado, nete permanecere dete sar, que se encontraré a plena expansiio ividades eo resultado iltimo dessa interatuagaio: o prego justo dos bens e da plina Direito Internacional Privadod Faculdade de 1 Académico do periodo e monitor da dis Direito cla UPMG, 399

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