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VULNERABILIDADE E SOCIEDADE DESCRICAO A producdo da vulnerabilidade como impasse para o desenvolvimento social. PROPOSITO Compreender como se produzem situagées de vulnerabilidade na sociedade em que vivemos 6 importante para desenvolver um pensamento critico da estrutura social e suas dinamicas. PREPARAGAO Levando-se em conta a riqueza e as milltiplas possibilidades de andlise do tema, é importante ter 4 mao um bom Dicionario de Teoria Politica ou de Ciéncias Sociais. Sugerimos 0 Diciondrio de Politica, de Norberto Bobbio, ¢ 0 Dicionario de Sociologia, da UFSC/Repositério. Ambos disponiveis em formato virtual. OBJETIVOS MODULO 1 Reconhecer a diversidade social como potencializadora da igualdade MODULO 2 Reconhecer as dinamicas de exclusdo estruturantes da sociedade MODULO 3 Contrastar 0 problema social da populagao de rua com o instituto legal da dignidade humana Fonte: R.classen / Shutterstock.com INTRODUGAO Propomos caminharmos juntos, tendo a frente um desafio: refletir sobre a vulnerabilidade em suas diversas dimensées, desenvolvendo um olhar critico voltado para as estruturas da sociedade em que vivemos. Nesse caminho, aprenderemos os significados de conceitos como “diferenga” e “desigualdade” social e estabeleceremos um raciocinio voltado para o problema da invisibilidade de certas mazelas sociais que se arrastam ao longo da historia. Por que alguns problemas como a fome e a pobreza sao tao antigos apesar de todos os avangos técnicos e tecnolégicos? Seré que, em nossa vida didria, conseguimos enxergar ou pensar com clareza sobre a parte oculta deste imenso ‘iceberg” que é a exclusdo social? Quais so 0 desafios de uma sociedade mais inclusiva? E por onde comegar a pensar e a trabalhar um tema tao complexo? Abordaremos as relagdes possiveis entre diversidade e igualdade, para que vocé seja capaz, ao final deste estudo, de desvincular a ideia de exclusao e injustiga social do fenémeno da variedade e multiplicidade de perfis individuais e grupos nas sociedades contemporaneas ‘Também encontraremos ferramentas para relacionar as condigées de vulnerabilidade e a nogao de inclusdo social. E assim, compreenderemos o principio moral e juridico norteador das discussées feitas sobre este tema. MODULO 1 @® Reconhecer a diversidade social como potencializadora da igualdade DIVERSIDADE Fonte: Lightspring / Shutterstock.com O conceito de diversidade se refere a variedade de tipos humanos e grupos existentes no planeta. Ha miiltiplas culturas mundo afora, como as nacionais, por exemplo. E miltiplas microculturas dentro de um recorte cultural maior, como ¢ 0 caso das regionais, se tomarmos as culturas nacionais como exemplo. Existem culturas religiosas variadas, também com suas préprias clivagens e seus subtipos. Pense na variedade de formas que o cristianismo assumiu ao longo da histéria: no final dos anos 1990, o ISER ja contabilizava, no Brasil, mais de 85 diferentes denominagdes pentecostais. Além disso, ha ainda comportamentos culturais relacionados a classe social qual o individuo pertence, bem como comportamentos culturais relacionados ao sexo e ao género dos individuos. Perceba a diversidade de formas de vida existentes no mundo se considerarmos apenas a diversidade cultural dos grupos humanos. ISER Instituto de Estudo da Religiao — foi fundado ha 50 anos e apresenta, em seu site, uma ‘série de documentos, pesquisas e publicagdes que permitem ampliar a andlise social no ‘campo religioso-cultural-social. Um exemplo classico de diversidade. Fonte: Smithsonian Institution / Wikimedia commons Aantropéloga Margareth Mead realizou um estudo classico chamado Sexo e temperamento (2011), no qual pesquisou entre trés sociedades tribais da Nova Guiné: os arapesh, os mundugumor e os tchambuli Em cada uma dessas tribos ela observava os comportamentos culturais relacionados ao valor da masculinidade e, em fungao dos contornos especificos que cada uma das culturas dava aos papéis sociais do homem na comunidade, tinha-se como resultado um temperamento especifico, uma espécie de ténica relacional entre homens e mulheres que conduzia as interages humanas ali. MARGARETH MEAD Aquestéo do desenvolvimento da personalidade na infancia, sua relagao com as formas culturais estabelecidas e o "carater” adulto dai resultado foi desenvolvida em diferentes trabalhos da antropéloga estadunidense Margaret Mead (1901-1978). Seus estudos sobre a infancia na Nova Guiné e mesmo seu trabalho mais conhecido sobre as relages entre sexo e temperamento abordam a condicao infantil em termos de sua progressiva moldagem rumo a personalidade adulta. (MENDONGA, 2010) Assim, enquanto os tchambuli pareciam operar uma espécie de inversdo dos nossos papéis sociais atribuidos a homens e mulheres (as mulheres ocupavam-se da pesca e negociacao de excedentes, enquanto os homens mostravam-se emocionalmente frageis e se ocupavam de atividades artisticas e estéticas), entre os mundugumor os valores relacionados a masculinidade, como a virilidade e a coragem, dominavam toda a cultura e, entre os arapesh, ‘os mesmos valores ndo eram tao expressivos. Mas, além de toda a variedade cultural, existem ainda miltiplas caracteristicas individuais, fisicas e psicolégicas que tanto se constituem através das culturas nas quais 0 individuo esta inserido quanto so interpretadas pela cultura fazendo com que um individuo ocupe determinada posigao na sociedade e goze de certo status social. Podemos entender que as culturas sao teias de significados (GEERTZ, 2015). Mas isso nos leva a perguntar: Que significados culturais sao tecidos, atualmente, por exemplo, a respeito do corpo de uma pessoa com algum tipo de deficiéncia fisica? E que significados a deficiéncia fisica encontra em uma tribo indigena némade? E que significados culturais havia, na Europa do século XVIII, para esses mesmos sujeitos? \Vocé pode responder a essas perguntas imaginando como seria a vida de uma pessoa deficiente fisica nesses trés contextos culturais. E vocé pode pensar ainda que, mesmo em cada um desses contextos, seria interessante conhecer mais especificamente a posigao do sujeito — individuo que tem nome, mora em tal lugar e exerce determinado papel social -, naquela cultura, a fim de imaginar como seria a sua vida. Por exemplo: Fonte: Agéncia Brasil Fotografias / Wikimedia commons Seria concebivel que, ha alguns séculos, pessoas deficientes pudessem participar de competigées esportivas? Podemos dizer que, no mundo globalizado atual, a diversidade se coloca como uma questao muito importante. Pessoas de diversas partes do mundo estao em contato, os fluxos de deslocamentos e a comunicagao nunca foram tao intensos. Ha também um avango tecnolégico sem precedentes que pode, como nos faria pensar a foto, concorrer para a incluso de pessoas com as mais diversas formas de vida e necessidades. E para mantermos nossa proposta reflexiva, vale perguntar: Como os avangos técnicos e tecnolégicos tém sido usados? De que modo o seu acesso esté distribufdo entre as pessoas de todo o mundo? Isso nos remete a um segundo conceito fundamental no contexto do tema estudado. Vejamos! DESIGUALDADE Fonte: tomertu / Shutterstock.com Podemos caracterizar a desigualdade social como o problema relacionado a distribuigao dos recursos e do acesso aos servigos. De fato, os avangos técnicos e tecnoldgicos nao estéo disponiveis a todas as pessoas independentemente da sua posigao na sociedade. Para seguirmos em didlogo com tépico anterior, basta mencionar que o equipamento da atleta, na foto, custa caro demais para a imensa maioria da populaga . Nossa sociedade ¢ marcada pela desigualdade em diversos niveis: de renda, de direitos, de status. Isso tem a ver com pessoas que pertencem a diferentes classes sociais, religides, residentes em varios locais do Brasil e do mundo, homens e mulheres, com orientagSes sexuais distintas, com corpos sdos e doentes, com ou sem deficiéncia, pertencentes a diversas geragées; velhos, jovens. Mas como cada uma dessas pessoas, com as suas especificidades, consegue ter acesso aos bens, servigos, a uma vida digna e o quanto conseguem fazer valer os seus direitos? Uma sociedade desigual ¢ aquela que nao garante igualdade ou justia no acesso aos bens, servigos e a uma vida digna. DESIGUALDADE Fonte: Sapann Design / Shutterstock.com DIFERENCA E hora, entdo, de percebermos que desigualdade nao é 0 mesmo que diferenga. Vimos que as sociedades atuais so plurais, convivemos com o diferente o tempo todo, muito mais do que nas sociedades dos séculos anteriores. Desde que vocé acorda até o momento em que vai dormir, provaveimente interage, ou pelo menos cruza na rua, com pessoas que tém uma vida muito diferente da sua e uma em relagao a outra: 0 padeiro e o motorista de énibus; 0 dono e 0 funcionarios de uma pequena loja; o morador de rua Isso porque, na sociedade globalizada, as diferentes tarefas esto divididas entre muitas pessoas para que as coisas funcionem. Chamamos isso de divisdo social do trabalho. As formas de trabalho sao também muito diversas, e cumpridas por milhdes e milhdes de individuos. Se vocé pensar no sistema feudal, por exemplo, ou em uma tribo indigena de pequeno porte, vera que o trabalho pode ser muito menos variado, se comparado maneira como o trabalho & dividido na sociedade capitalista contemporanea. Fonte: Rawpixel.com / Shutterstock.com DIVISAO SOCIAL DO TRABALHO Aexpressdo “divisdo social do trabalho” tem sido usada no sentido cunhado por Karl Marx (1818-1883) para designar a especializagao das atividades presentes em todas as sociedades complexas, independentemente de os produtos do trabalho circularem como mercadoria ou ndo. Designa a divisdo do trabalho social em atividades produtivas, ou ramos de atividades necessarias para a reprodugao da vida. Fonte: Dicionario de Educagao Profissional / FioCruz Para compreendermos essa diferenga, podemos buscar os conceitos de Durkheim (2010): SOCIEDADES DE SOLIDARIEDADE MECANICA Em sociedades que ele chama de “simples”, o “vinculo de solidariedade” que da aos individuos © sentimento de pertencerem a uma mesma sociedade é de tipo mecdnico. E a identificagao que mantém as pessoas como partes de um mesmo grupo. Entre os yanomami, por exemplo, ‘os homens cagam e as mulheres cultivam a terra. Isso quer dizer que um homem yanomami se identifica com outro homem yanomami, que desempenha a mesma tarefa que ele para que sua sociedade funcione. SOCIEDADES DE SOLIDARIEDADE ORGANICA Nas sociedades ditas complexas, de solidariedade de tipo organico, o trabalho é muito estratificado, com fungdes variadas e muito especializadas. E, nesses casos, 0 que mantém as pessoas unidas e a sociedade coesa 6 a complementaridade de fungdes. Podemos concluir, até agora, diante do exposto, que vivemos em uma sociedade plural, onde a divisdo social do trabalho é imensa. Nela, cada um dos individuos que vemos na rua, em um dia comum, tem um trabalho bastante especifico e que depende dos papéis desempenhados por todos os demais individuos para funcionar. = Fonte: Agéncia Brasil Fotografias / Wikimedia commons Mas isso valeria para todos os individuos? Se sim, qual 6 0 papel do morador de rua, por exemplo, no funcionamento social? Ele nao tem um papel na cadeia produtiva, a nao ser o de garantir que haja sempre mais gente do que as fungées sociais conseguem absorver, sejam essas fungées o trabalho remunerado ou as instituigées sociais como a familia, as instituigdes de satide ou o Estado. Por fim, e pensando especificamente na questao do trabalho remunerado para trazer a discussdo das desigualdades para um plano mais imediato, imaginemos quanto ganham um engenheiro e uma empregada doméstica por seus respectivos trabalhos; um jogador de futebol reconhecido, um médico, uma manicure, um professor, uma modelo com fama internacional, uma bailarina do Fausto. E 0 préprio Faustdo? E 0 padeiro? O motorista de énibus? Paralelamente a remuneragao, pensemos na importancia e no reconhecimento que cada uma dessas ocupagées agrega ou pode agregar a cada uma das pessoas que as desempenham Concluimos que a diferenga (também chamada de alteridade quando pensamos em diversidade cultural) 6 o produto da convivéncia de pessoas diversas na sociedade, com ocupagées distintas, corpos diversos, culturas diferentes; a desigualdade é quando essa diferenga & decodificada hierarquica e excludentemente, de maneira que se torne uma diferenga de reconhecimento, de salario, de direitos, de oportunidades, de acesso a bens e servigos. CIDADANIA KAAPRALRIAA AA be Fonte: Ljupco Smokovski / Shutterstock.com Podemos definir cidadania como a qualidade de ser cidadao, E quem ¢ 0 cidadao? Cidadao é 0 individuo socialmente inserido, Como parte de uma sociedade, um individuo se torna sujeito de direitos e deveres. Provavelmente, vocé jd ouviu o provérbio que tenta resumir a questao: “o direito de um acaba onde o do outro comega”. Aprofundando um pouco mais 0 conceito, podemos compreender a cidadania moderna subdividindo-a em trés grandes grupos de direitos e deveres (MARSHALL, 1967): DIREITOS CIVIS Fincaram raizes e se espalharam pelo mundo apés a Revolugdo Francesa, com a Declaragao Universal dos Direitos do Homem e do Cidadao, um documento que listava, na forma de artigos, prerrogativas relacionadas as liberdades individuais. Assim 6 que, tomando por base nossa Constituigao, podemos citar, como exemplos de direitos civis: 0 direito de ir e vir, a liberdade de expressao, a liberdade de culto. Fonte: Freedom Studio / Shutterstock.com DIREITOS POLITICOS ‘So aqueles que se referem a participagao do povo no processo politico e foram sendo gradualmente conquistados desde o século XIX como resultado das reivindicagées dos movimentos sociais: movimento feminista, movimento negro e movimentos de trabalhadores, organizados por meio de sindicatos, So exemplos de direitos politicos: 0 voto universal, 0 direito a manifestar-se pacificamente e 0 direito de organizagao e participagdo em partidos politicos. Fonte: Rawpixel.com / Shutterstock.com DIREITOS SOCIAIS Constituem o grupo de direitos mais recentes na histéria da cidadania. Passaram a ser garantidos pelos Estados especialmente a partir do século XX. S40 exemplos: o direito a educagao, a satide, a vida digna, ao lazer, ao trabalho e moradia. Muitos desses direitos sao apenas formalmente garantidos, e nao garantidos de fato, haja vista que muitas pessoas nao tém acesso aos beneficios que eles prescrevem. E embora essa problematica seja, talvez, mais evidente quando se trata desse grupo de direitos, podemos pensar a respeito de todos os direitos que caracterizam o cidadao modemo. Existem, portanto, a cidadania real e a cidadania formal. Fonte: Monkey Business Images / Shutterstock.com Tal problematica nos leva a discussdo sobre os Direitos Humanos, to propalados quanto incompreendidos pelo senso comum atualmente. Para a historiadora Néri de Barros Almeida, professora da UNICAMP e coordenadora do Comité Gestor do Pacto Universitario pela Promogao do Respeito a Diversidade, da Cultura da Paz e dos Direitos Humanos da UNICAMP, 0s Direitos Humanos tém sido erroneamente interpretados como um “cobertor curto": alguém tem que passar frio, ela diz (ALMEIDA, 2018). E como se os direitos e as garantias do Estado néo pudessem mesmo alcangar todos os individuos e, sendo assim, os direitos devessem ser garantidos apenas ao “cidadao de bem’, identificado por meio de um viés moral: aquele que nao delinque, que tem uma retidéo de carater e que trabalha. Segundo essa narrativa, a histéria atual é lida através de uma ambivaléncia simples: de um lado, os “cidadaos de bem’, dignos, trabalhadores; do outro, os “pandidos’, aqueles que fazem 0 mal e que, portanto, nao merecem ter garantidos os seus direitos. Mas, como quase todas as vezes que estruturamos um raciocinio de forma ambivalente, essa é uma leitura superficial e equivocada do que sejam e de para que servem os direitos humanos, NERI DE BARROS ALMEIDA Graduada em Histéria pela Universidade de Sao Paulo, Neri de Barros Almeida é doutora em Histéria Social pela mesma instituigao e livre-docente pela Universidade Estadual de Campinas. Realizou pesquisas de pés-doutorado nas universidades do Porto (Portugal) e Lyon 2 (Franga) e no Centre Nationale de la Recherche Scientifique (CNRS/Franca). ‘Atualmente 6 professora junto ao Departamento de Histéria do Instituto de Filosofia e Ciéncias Humanas da Universidade Estadual de Campinas. € coordenadora do niicleo UNICAMP do Laboratério de Estudos Medievais Fonte: IFCH / Unicamp Fonte: Lightspring / Shutterstock.com De fato, sé faz sentido pensar em Direitos Humanos ao admitir que eles nao sao negociaveis caso a caso @ em fungdo do contexto. Trala-se de um grupo de direitos basicos extensiveis a todos, independentemente de credo, raga, sexo, religido, género, classe social, geragdo, cultura, orientagao sexual, moralidade. Independe de ser ou no um trabalhador, um homem de bem ou um criminoso. Independente também de que tipo de crime possa ter cometido. E, de fato, uma ideia radical e, historicamente, foi gestada como tal DIREITOS HUMANOS S40 um grupo de direitos reconhecidos mundialmente como fundamentais para garantir a cidadania de qualquer pessoa. Vejamos como isso se institui, a partir de trés legislagées fundamentais, nas quais se reconhece, internacional e nacionalmente, a igualdade de direitos basicos entre todos os homens: “Os homens nascem e sao livres ¢ iguais em direitos. As distingdes sociais s6 podem fundamentar-se na utilidade comum". (Declaragao Universal dos Direitos do Homem e do Cidadao, 1789, art. 1°). 2 “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Sdo dotados de razo e consciéncia e devem agir em relagao uns aos outros com espirito de fraternidade’. (Declaragao Universal dos Direitos Humanos, 1948, art. 1°). 3 “Todos sao iguais perante a lei, sem distingdo de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no pais a inviolabilidade do direito a vida, a liberdade, Aligualdade, a seguranga e a propriedade”. (Constituigao Federal do Brasil, 1988, art. 5°). Fonte: Denis Cristo / Shutterstock.com © que sustenta os dispositivos legais, fazendo com que atravessem as barreiras do Estado- Nagao e estejam presentes em regramentos e pactos intemacionais, é 0 principio geral da igualdade, que vai sendo gestado lentamente ao longo da histéria do Ocidente. Esse principio vai inspirando tanto as formas pelas quais os Estados se organizam (estabelecendo-se como principio democratico) quanto os contornos morais da cultura como um principio que deva ser buscado. Vai se estabelecendo também como palavra de ordem dentro do préprio regime cientifico de produgao do conhecimento, desde que o sujeito de conhecimento se tome o homem comum, nao mais o sacerdote dos regimes de saber magicos ou religiosos. Assista ao video a seguir para saber mais sobre cidadania e direitos humanos. Para assistir a um video D, sobre o assunto, acesse a ° vers&o online deste conteudo —o— VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. VIMOS QUE DIFERENGA E DESIGUALDADE SOCIAL NAO SAO SINONIMOS. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CORRESPONDE A EXEMPLOS DE CADA UM DOS DOIS CONCEITOS, RESPECTIVAMENTE: A) O racismo e as repercussdes do género nos direitos do individuo. B) Aestrutura social que prevé que haja ricos e pobres, e a multiplicidade de caracteristicas fisico-anatémicas nos corpos das pessoas. C) O regionalismo e o nacionalismo. D) Aexisténcia, nas sociedades contempordneas, de individuos de diversas origens étnico- raciais e o racismo. E) O feminismo e as distancias geracionais. 2. A RESPEITO DA DISCUSSAO SOBRE CIDADANIA, MARQUE A UNICA ALTERNATIVA INCORRETA. A) Cidadania é a garantia de pertencimento do individuo a sociedade, regulada por direitos e deveres. B) Cidadania formal é o conjunto de direitos e deveres garantido aos individuos por lei. C) Cidadania real é o conjunto de direitos e deveres pertinente a determinados individuos, independentemente de qualquer distingao ou condigao D) Adiscussdo sobre cidadania esta intimamente relacionada ao valor da igualdade nas sociedades ocidentais contemporaneas. E) Acidadania, segundo Thomas Marshall, é um conjunto de direitos civis, politicos e sociais. GABARITO 1. Vimos que diferenga e desigualdade social nao sao sinénimos. Assinale a alternativa que corresponde a exemplos de cada um dos dois conceitos, respectivamente: Aalternativa "D " esta correta. Avariedade étnico-racial configura a diversidade humana, constituindo, portanto, uma diferenga. O racismo, por sua vez, tem a ver com a ma distribuigdo de direitos e oportunidades, constituindo um modo de desigualdade social. 2. Arespeito da discussao sobre cidadania, marque a Unica alternativa incorreta. Aalternativa "C " esta correta. A cidadania real ndo se confunde com a cidadania formal. A cidadania real tem a ver com 0 Conjunto de direitos e deveres que, de fato, é garantido aos individuos de carne e osso na nossa sociedade. MODULO 2 © Reconhecer as dinamicas de exclusao estruturantes da sociedade VULNERABILIDADE Fonte: karnaval2018 / Shutterstock.com Se buscarmos, no dicionario, o significado da palavra “vulnerabilidade", vamos encontrar definigdes que se aproximam da ideia de “fragilidade”. No contexto das discussées sobre sociedade, é comum utilizarmos a expresso “vulnerabilidade social” para nos referirmos a condigées de vida precarias e que, portanto, resultam em uma diminuigdo das possibilidades de escolha dos individuos, E sendo assim: ‘Que peso devemos dar a uma “escolha” feita em um universo de possibilidades tao restrito? ww EXEMPLO Para pensarmos a questo da vulnerabilidade social, temos o caso da prostituigdo de rua Mulheres que se prostituem na rua estéo expostas violéncia diariamente por desempenharem uma atividade profundamente estigmatizada. Sao, em geral, mulheres pobres, que enxergam, na pratica da prostituigao, uma alternativa para o seu sustento, algo que pode ser mais rentavel que outras atividades que nao exijam qualificagdo profissional ou formagao. Pesquisas apontam que, quando perguntadas sobre que motivos levam essas mulheres a se prostituir, elas respondem que a prostituigao Ihes dé muito mais dinheiro e ainda mais flexibilidade de horario que outras atividades igualmente precarizadas. Mas como garantir que essa op¢do de trabalho seja uma escolha legitima, uma vez que essas mulheres se encontram na pobreza e enfrentam dificuldades para manter seu préprio sustento ede suas familias? No limite, podemos pensar no quo valida é a “escolha” de alguém que toma alguma atitude sob coagdo. Um caixa de banco, por exemplo, no caso de um assalto e sob a mira de uma arma, faz uma escolha ao entregar o dinheiro para o assaltante. Ele poderia ter feito a escolha de ser morto a colaborar com o criminoso. Mas poderiamos esperar isso dele? Da mesma maneira, muitas discussées sobre a vulnerabilidade social passam por questionar as préprias escolhas dos vulnerdveis, considerando que tais pessoas fazem suas escolhas sob grande pressdo, Ha, por exemplo, uma polémica atual sobre a forma de nascimento de criangas no Brasil. No nosso pais, as taxas de nascimento por cirurgia cesariana sao, segundo © Ministério da Satide (CONITEC, 2015), de 55,5% ao ano enquanto, segundo a comunidade médica internacional, a taxa ideal de cesareas em cada pais nao deveria ultrapassar 15% dos nascimentos. Acontece que a duragéo de uma cirurgia cesariana é muito menor do que 0 tempo de duragao médio de um parto normal. © que faz com que seja muito mais rentavel, para um obstetra e para as empresas dos pianos de satide, optar pela cirurgia, ainda que se reconhega que o parto normal ¢ fisiologicamente mais saudavel e indicado para os nascimentos. Fonte: Olly / Shutterstock.com Durante o trabalho de parto, as parturientes, sob a dor das contragées uterinas, ficam vulneraveis as sugestées médicas. Pedem que seja feita cesariana, pedem anestesias que atrasem as contragées, pedem injegao de horménio para acelerar o nascimento, entre outras praticas médicas interventivas, Movimentos sociais envolvidos com a questo dos direitos que dizem respeito aos nascimentos e as parturientes tem denunciado, sistematicamente, o que chamam de “violéncia obstétrica” — que seriam abusos médicos da condigao da mulher no parto. Essa discussao tem a ver com as reflexdes em torno do juizo de consentimento e poder de escolha de uma pessoa em situagao de fragilidade por qualquer motivo que seja. Pensemos agora nas variadas situagées possiveis e frequentes de vulnerabilidade social. O morador de rua, 0 pobre, o desempregado, a mulher vitima de violéncia doméstica, a crianga pequena, 0 érfao, o idoso sem condigdes de cuidar de si mesmo, o refugiado, aquele que cumpre trabalho analogo a escravidao, o que precisa do servigo pliblico de satide e nao recebe assisténcia, entre muitos outros casos. Podemos admitir que esses individuos sejam capazes de escolher, de opinar e de consentir sobre os assuntos que dizem respeito 4 sua condigéo de vulneraveis? Se, por um lado, parece justo considerar que suas escolhas tém 0 peso das circunstancias que envolvem precariedade, violéncia e auséncia de cuidado devido, por outro, descredibilizar essas escolhas pode, as vezes, significar apenas subtrair mais um direito das pessoas em situagao de vulnerabilidade. INCLUSAO SOCIAL Ainclusao social é um movimento contrario em relagao aquele movimento que constitui a segregagao ou a exclusdo social. A inclusao social passa por politicas publicas e praticas cotidianas que visam a ampliagaio do acesso aos bens e servicos disponiveis para os cidadaos — passa mesmo por ampiificar a prépria cidadania real. Fonte: Corepics VOF / Shutterstock.com Mas existe uma distingdo conceitual entre: EXCLUSAO Tem a ver com 0 abandono de certos grupos ou individuos. x SEGREGAGAO Significa a separagao de grupos ou individuos menos favorecidos, tendo em vista 0 ja referido acesso aos bens e servigos. Tanto a exclusdo quanto a segregagao sao processos sociais que nos afastam de uma sociedade igualitaria, fazendo com que proliferem as situagées de vulnerabilidade. E a vulnerabilidade é, como vimos, um entrave filosdfico 4 consolidagéo da democracia, uma vez que langa sombras sobre o poder de consentimento e 0 sentido do agir dos individuos. Podemos lembrar agora a pergunta que encerra o tépico anterior. Devemos admitir que a melhor resposta para aquela dificil questdo seja a que vai ao sentido de localizar quais so as dindmicas que estruturam a sociedade, gerando excluidos, segregados, vulneraveis e violentados em diversos niveis. Por que existe, afinal, o morador de rua? © pobre? O desempregado? A mulher agredida pelo cénjuge? Sera que podemos depositar sempre e apenas nos préprios individuos a responsabilidade por esses incidentes? Se sim, por que esses sao fenémenos de grande escala, recorrentes? Ser culpa da mulher que sofreu violéncia conjugal o fato de ter sido agredida? Sera verdade o que dizem, que ela “certamente fez por merecer”? Fonte: Tiko Aramyan / Shutterstock.com Uma interessante discussdo, a respeito da relagao entre “género” e “violéncia’, é feita por Maria Filomena Gregori para pensar sobre o movimento, na histéria recente do Brasil, de relagdes envolvendo dominago, vulnerabilidade e expectativa de um ordenamento social justo ¢ inclusivo que respeite a equidade e a igualdade das mulheres em relagao aos homens: REFLEXAO Para pensar os paradoxos que envolvem as relagGes violentas, em uma abordagem que nao abandona as dindmicas concretas e experienciais de que elas sao revestidas, adotamos a perspectiva que acredita na coexisténcia de varios nucleos de significado que se sobrepdem, se misturam e estéo permanentemente em conflito Na situagao das relagdes familiares, por exemplo, cruzam-se concepgées sobre sexualidade, educagao, convivéncia e sobre a dignidade de cada um. Cruzam-se também posigdes definidas por outros marcadores ou categorias de diferenciagao que implicam variadas posigdes de poder: geracionais ou etdrias, marcadores raciais e também os relativos a classe e @ ascensao social. Exercer uma posicdo é agir em fungdo de varias dessas concepgées, posigées e marcadores, combinando-os mesmo quando sao confliivos. Desse modo, importa salientar que ao tratar de posigdes de género é preciso considerar que, certamente, existem padrées legitimados socialmente importantes na definigao de identidades e condutas. Contudo, é preciso ter em mente que eles devem ser vistos como construgées, imagens, referéncias compostas e adotadas de modo bastante complexo, pouco linear e nada fixo, (GREGORI; GUITA, 2008) MARIA FILOMENA GREGORI Professora livre-docente do Departamento de Antropologia (UNICAMP), possui graduagao em Ciéncias Sociais pela mesma universidade, mestrado em Ciéncia Politica (USP), doutorado em Antropologia Social (USP), estudos de pés-doutorado no Departament of Anthropology (University of California, EUA) e programa de Visiting scholar na Columbia University (Nova York). Fonte: PAGU / Unicamp A inclusao social, pensada em uma légica de garantia de direitos, significa entao admitir que existe um limite. O limite, nesse caso especifico, seria: ainda que a mulher “merega’, o marido, ou quem quer que circunstancialmente se encontre na posigao do agressor — posigao conferida, mesmo no ambito das relagdes matrimoniais, conforme as autoras argumentam, por diferentes marcadores sociais além do género —, esta pessoa nao pode dar o tapa, 0 soco, 0 chute, Nao pode agredir! Esse é 0 limite que separa a civilizagao da barbarie. O limite da lei Faremos, outra vez, a pergunta: Quais séo as dinamicas que estruturam, na sociedade, essa modalidade tipica de violéncia que a domestica? O que, na cultura e na historia, criou as condigdes necessérias para a recorréncia desse evento? Diversos elementos devem ter concorrido para isso. A narrativa cultural segundo a qual a mulher é um ser biologicamente mais fragil, bem como a fragilidade legal dos direitos das mulheres, ao longo da histéria, com certeza devem entrar nessa conta, Basta dizer que, no Brasil, apenas no inicio da década de 1930, as mulheres tiveram o seu direito ao voto reconhecido, E toda a cultura ocidental, que se desenvolveu tendo por referéncia a Antiguidade classica, ¢ herdeira de tradigdes democraticas nas quais nao se consideravam nem as mulheres, nem os escravos ou os estrangeiros como cidadaos. A familia patriarcal é um modelo institucional que esteve na base da formagao social brasileira desde a nossa colonizagao, marcada pelo instituto juridico do “patrio poder’, que depositava, na figura do pai, o papel de chefe e administrador do grupo familiar. O socidlogo Pierre Bourdieu é autor de uma obra, atualmente considerada classica nas Ciéncias Sociais, chamada A dominagao masculina, na qual ele analisa o funcionamento das. relagdes entre homens e mulheres na familia e também na escola, na Igreja e no Estado. Ele conclui que, na nossa sociedade, “as mulheres sao bens simbdlicos que circulam em um mercado de trocas protagonizado pelos homens” (BOURDIEU, 2002) Fonte: Ciramor1992 / Wikimedia commons PIERRE BOURDIEU Considerado um dos maiores sociélogos de lingua francesa das ultimas décadas, Pierre Bourdieu (1930-2002) é um dos mais importantes pensadores do século XX. Sua produgdo intelectual, desde a década de 1960, estende-se por uma extensa variedade de objetos e temas de estudo. Embora contemporaneo, é t&o respeitado quanto um classico Critico mordaz dos mecanismos de reprodugao das desigualdades sociais, Bourdieu construiu um importante referencial no campo das ciéncias humanas. Fonte: Secretaria da Educacao do Parana Vejamos que curiosos sao 0s sentidos ocultos da linguagem coloquial: “apanhar" é um verbo transitive, que necesita de um complemento. Quem apanha, apanha alguma coisa de alguém. Quando uma mulher “apanha’, ela “apanha’ todo um legado cultural de violéncia que passa inclusive, por momentos histéricos e acordos relacionais privados onde nao ha o reconhecimento das agressdes como situagdes de violéncia, entao entendidas como parte da normalidade Para retomarmos a questo dos nascimentos, apontada no tépico anterior, faremos também a mesma pergunta, que nos serve de eixo para a discussao do t6pico presente: Quais séo as dinamicas que estruturam, na sociedade, esta modalidade tipica que é a violencia obstétrica? Anterior ao problema de se ¢ legitimo ou nao o pedido de cesariana por uma parturiente em estado de contragdes dolorosas durante o trabalho de parto, a questéo que devemos observar €: por que ela chega a pedir cesariana? Apenas a dor motiva esse pedido, ou sera que ha, em volta da mulher que opta por cesariana, um contexto maior de nao acolhimento da opgao pelo parto normal? Entendemos que o debate sobre incluso social passa pela discusséo de fenémenos violentos, nas suas mais diversas manifestagées, porque, afinal de contas, a exclusdo e a segregacao tanto produzem situagées de violéncia quanto, ao nos afastar de uma sociedade justa e igualitaria, so dinamicas violentas. E LEGITIMO OU NAO O PEDIDO DE CESARIANA Para perceber que a questo nao é simples, vale lembrar a Lei n° 17.137, de 23 de agosto de 2019 (Assembleia Legislativa do Estado de Sao Paulo), apresentada pela deputada estadual Janaina Paschoal, que permitia a parturiente optar pela cesariana ou pelo parto normal, dando a mulher o direito a essa escolha. Em menos de um ano, em 1 de julho de 2020, a lei foi considerada inconstitucional pelo Tribunal de Justiga de Sao Paulo, Ainda ha quem, de um lado, afirme que a lei valorizava a mulher, sua escolha e satide. E, por outro, quem afirme que a cesariana é mero instrumento rentavel. No caso do Brasil, as discussdes que giram em tomo da inclusao social intensificaram-se nos uiltimos anos, gragas ao félego que os movimentos sociais ttm ganhado com debates e dentincias feitos pelas redes sociais. Movimentos de mulheres vém se popularizando, com miittiplas bandeiras e reivindicagées. O Movimento Negro tem feito, nos tltimos vinte anos, uma importante discussao sobre a politica de cotas raciais e sociais, atualmente vigente em parte dos processos seletivos para vagas de empregos, de escolas, bolsas e beneficios em universidades publicas e privadas. Fonte: Tyler Olson / Shutterstock.com Essa politica de acao afirmativa tem sido levada, inclusive, para o debate sobre a inclusdo de diversas outras minorias de direitos, como os deficientes fisicos e as mulheres. Em 2012, foi criada a Lei de Cotas, pelo Governo Federal, para promover a inclusao no ensino superior de estudantes oriundos de escolas publicas, de familias de baixa renda, negros, indigenas e pessoas com deficiéncia. Na educagao, alias, fala-se muito na inclusao de criangas com deficiéncias fisicas e mentais ¢ em uma transformagao da instituigo escola no sentido de acolher os perfis mais variados de alunos, passando por um apelo pela necessidade de atengao aos mais diversos perfis e urgéncias do puiblico discente = eZ EY | any, ne Ww Fonte: Joanna Dorota / Shutterstock.com RESUMINDO Pode-se afirmar que os debates sobre a inclusdo social assumem, contemporaneamente, quatro principais vieses, embora se possa pensar em uma variedade muito maior de situagdes onde as praticas sociais sdo segregacionistas e excludentes e a respeito das quais cabe reflexdo sobre como seria possivel transformar esse quadro. Os referidos vieses (cada um dos quais merecia um médulo préprio de discussao) sao: INCLUSAO DE PESSOAS COM ALGUM TIPO DE DEFICIENCIA FISICA OU MENTAL INCLUSAO DE GENERO (PESSOAS TRANSGENERO E MULHERES) INCLUSAO DE PESSOAS NEGRAS INCLUSAO DE PESSOAS PERTENCENTES AS CLASSES SOCIAIS MAIS BAIXAS OU MENOS FAVORECIDAS Entende-se que cada um desses nticleos tem sofrido sistematicamente processos de exclusdo e segregagao. Para percebermos isso, é importante estarmos atentos a alguns dados, a fim de que nao deixemos a discussdo cair em mera questao opinativa. Quando, no médulo 1, dévamos como exemplo que pessoas com deficiéncias motoras poderiam encontrar entraves para a sua adaptagao, que passam pelo proprio valor dos recursos adaptativos, apresentamos uma atleta usando uma cadeira de rodas especial para atletismo. Uma pesquisa com 27 deficientes visuais e 22 deficientes motores que tinham disponivel um Nuicleo de Esporte Adaptado ja demonstrava claramente a questéo (COTTA, 2007). Um dos motivos (41%) que, estatisticamente, mais contam para afastar a pessoa com deficiéncia fisica (motora) da pratica dessas atividades, como podemos ver no grafico a seguir, 6a falta de material adequado; podemos, sem diivida, considerar as questées financeiras como umas das razées para isso. Porém, o motivo mais importante (45%) é a falta de transporte adequado para chegar a locais de treinamento. PERCENTUAL DOS MOTIVOS QUE DIFICULTAM A PRATICA DAS ATIVIDADES ESPORTIVAS ADAPTADAS MOTOR VISUAL LEGENDA: Falta de profissional especializado; Falta de transporte; Falta de local adaptado; Medo da exclusa Falta de desporto adaptado; Vergonha de me expor; Condigao financeira; Medo de me machucar; Falta de material adequado; Nao me sinto bem com muitas pessoas reunida Outros. @ Imagem adaptada / Fonte: Leituras: Educagao Fisica e Esportes Fonte: Angyalosi Beata / Shutterstock.com Outro fator estatistico refere-se & Associagao Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). A associagao libera dados bimestrais a respeito do numero de mortes de pessoas transexuais. No primeiro semestre de 2020, ha registros oficiais de 89 mortes de pessoas transexuais no pais: um numero bastante alto, se considerarmos a subnotificagao que marca, normalmente, grande parte dos registros puiblicos de diversos tipos e, ainda, a proporgao de pessoas transexuais em relagdo as pessoas chamadas cisgénero, ou seja, aquelas que se identificam com 0 seu sexo de nascimento, Outro dado importante! Segundo Rezende (2016), o IPEA (Instituto de Pesquisa Econémica Aplicada) demonstra que a taxa mais alta registrada de mulheres, em cargos de diregao, esta na casa dos 30%, embora sejam a maioria da populagao. De acordo com os dados apresentados em 2016, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, apenas 13,6% dos quadros executives séo compostos por mulheres ¢ 4,7% por negros. Segundo dados do IBGE, liberados em 2020, 65% dos mais de 12 milhées de desempregados no pais atualmente sao negros. Fonte: Fizkes / Shutterstock.com Em estudo realizado em 2018, o IPEA fez um levantamento do perfil racial entre os estratos de maior e menor rendimento per capita na populacdo brasileira. Constatou que, entre os 10% com maior rendimento, os brancos representavam 70,6%; enquanto, entre os 10% de menor rendimento, 75,2% sao negros. ‘A questo da pobreza e da inclusdo dos estratos mais baixos da populago tem sido muito representada nas grandes cidades pelas discussées a respeito das populagées residentes em favelas. Mas, em areas rurais, ha formas comuns de ocupagao irregular, como as palafitas. Segundo dados de 2019, do IBGE, ha mais de 5 milhées de domicilios clasificados como “subnormais’. O Estado do Amazonas lidera 0 ranking da maior proporgao de domicilios em ocupagées irregulares: 34,59% dos domicilios do estado. As populagdes que vivem sob esas condigées de moradia, geralmente, tém um acesso mais dificil aos servigos puiblicos basicos, como o de saneamento. Fonte: Tamaphotography / Pixabay.com Que essas pessoas sejam incluidas entre as parcelas da populagao que gozam de acesso aos bens e servigos pliblicos ou privados de que necessitam para viverem sua vida de forma confortavel 6, antes de tudo, uma responsabilidade do Estado. Nosso Estado Democratico de Direito sustenta-se, como instituigdo, gragas a um “contrato social” assegurando que os poderes administrativos da nagdo e das federagées serdo delegados aos representantes eleitos que devem garantir, em troca, a boa ordem social e a vida digna a todos os seus cidadaos. Assista ao video a seguir para saber mais sobre vulnerabilidade e escolha. Para assistir a um video D, sobre 0 assunto, acesse a ° versdo online deste conteudo. —o— VERIFICANDO O APRENDIZADO 41. AVULNERABILIDADE SOCIAL E UMA CONDIGAO QUE PODE AFETAR QUALQUER PESSOA. A ESSE RESPEITO, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA. A) A vulnerabilidade social tem a ver com a condigao fisica ou inata da pessoa, mais do que com a sua posigdo na sociedade. B) A vulnerabilidade é socialmente determinada e depende do contexto historico e cultural C) Avulnerabilidade é uma condigao que pode afetar qualquer pessoa, mas, atualmente, é um fenémeno raro na sociedade brasileira. D) Se o individuo possui cidadania real, ele ndo enfrentaré nenhuma condigdo de vulnerabilidade social. E) Avulnerabilidade é marca caracteristica de uma sociedade justa e igualitaria. 2. UMA SOCIEDADE INCLUSIVA NAO DEVE APRESENTAR PROBLEMAS RELACIONADOS A: A) Segregagao territorial de populagdes menos favorecidas. B) Violéncia entre individuos cénjuges. C) Mortes acidentais de criangas e idosos. D) Mulheres e pessoas negras em cargos de chefia E) Respeito as parturientes e opgées de procedimentos médicos para nascimentos mais humanos e saudaveis, conforme orientagées da OMS. GABARITO 1. A vulnerabilidade social é uma condigao que pode afetar qualquer pessoa. A esse respeito, marque a alternativa correta, Aalternativa "B " esta correta. Conforme os exemplos abordados no tépico “vulnerabilidade”, a condigao de fragilidade que um individuo enfrenta depende, sobretudo, de como o contexto social em que ele esta inserido interpreta e cria narrativas para os fatos da cultura. E de como gera dinamicas de violéncia e solidariedade, inclusao e exclusao. 2. Uma sociedade inclusiva nao deve apresentar problemas relacionados a: Aalternativa " esta correta Uma sociedade inclusiva nao é aquela em que ndo existem problemas pessoais, relacionais ou mesmo culturais. Mas a inclusao ¢ sempre um movimento que se estabelece por oposi¢o aos movimentos de exclusdo e de segregagao. MODULO 3 © Contrastar o problema social da populagdo de rua com o instituto legal da humana POPULAGAO DE RUA Fonte: Panitanphoto / Shutterstock.com De acordo com a definigdo da Secretaria Nacional de Assisténcia Social, a populacdo de rua é um grupo social misto, heterogéneo, de pessoas que se encontram “em situagao de rua” pelos mais variados motivos. Essa condicao pode ser transitéria/temporaria ou permanente. Pode ser de menor durago ou se alongar. O que faz com que pensemos nessas pessoas como um grupo sao as seguintes caracteristicas em comum: pobreza absoluta, falta de moradia e vinculos sociais fragilizados. A pobreza absoluta significa a total auséncia de rendimentos e, portanto, que essas pessoas no tém condigées de se manter, nao tém renda que as permita se alimentar, se deslocar ou se vestir dignamente. Afalta de moradia, por sua vez, esta especialmente relacionada a fragilizagao dos vinculos familiares e sociais. Essas pessoas nao encontram maneiras de se sustentar em suas redes de relagdes nucleares, seja por serem oriundas de familias que ja vivem em condigées de extrema pobreza quanto por enfrentarem situagdes de violéncia sistematica ou, ainda, por sofrerem com dependéncia quimica ou doenga mental sem o devido tratamento médico ou acompanhamento especializado. Fonte: Luis War / Shutterstock.com A populagao de rua é, talvez, o mais imediato exemplo de exclusdo social, e seu crescimento indica uma intensificagao das dindmicas de exclusao. Segundo os dados recentes do IPEA, a populago de rua tem aumentado muito nos ultimos anos. Mais que dobrou, segundo o levantamento feito em 2012. Quase alcanga a marca de 222 mil habitantes que estao distribuidos, principalmente, pelas regides Sul, Sudeste e Nordeste, nas grandes cidades brasileiras. Essas informagées, dado o contexto sanitario da pandemia de COVID-19 em 2020, nos lembram do quanto estamos ligados por este vinculo que Durkheim (2010) chamou de “solidariedade social” e as mazelas de um grupo tendem a se tornar as mazelas de muitos, ou de todos. Poderiamos confirmar esse raciocinio pensando em problemas como a violéncia urbana. A partir do momento em que se cria um estado cultural de violéncia nas cidades, passamos todos a viver em uma cidade mais perigosa e estaremos, portanto, expostos a perigos. Mas, no caso da pandemia, em que os governos do mundo inteiro adotaram politicas de isolamento social para conter a disseminagao do virus, a importancia de ter quase 222 mil pessoas que, simplesmente, nao tém onde morar, passa a afetar mesmo aqueles que tém casa, comida, trabalho, conforto e que estao em isolamento. Nesse contexto, medidas assistenciais foram adotadas em carater emergencial pelos governos das capitais do pais, como o abrigamento, a higiene e a alimentacao dessas pessoas. Outras pesquisas como essa, que procuram compreender o problema social da populagao de rua durante a pandemia, focalizaram o grupo de criangas e adolescentes em situagao de rua. Constitui grave violagao dos Direitos Humanos que criangas sem qualquer tutela dos pais, responsaveis ou do Estado, estejam nas ruas expostas a violéncia, ao trabalho precoce, ao racismo estrutural e & prépria luta pela sobrevivéncia. Historicamente, a ineficdcia das politicas pUblicas para atender as populagées em situagao de rua abriu espago para a atuagao de organizagées nao governamentais (ONGs) ¢ religiosas, que tradicionalmente distribuem alimentos e roupas aos moradores de rua. E muitas das pesquisas feitas sobre as populagées de rua, seja nas Ciéncias Sociais ou no Servigo Social, desenvolvem-se em didlogo com essas experiéncias assistencialistas. E 0 caso da pesquisa que nos serve de referéncia teérica para este tépico: o trabalho do antropdlogo doutor Tomas Henrique de Azevedo Gomes Melo. Fonte: Tamaphotography / Pixabay.com Melo (2016) aborda a transformagao do perfil da populagao de rua nos ultimos vinte anos em cidades grandes do Sul e Sudeste em virtude do surgimento e crescimento de dependentes quimicos do crack. Assim como o sistema capitalista de produgao prevé um “exército de reserva’ — uma mao de obra pauperizada que o mercado nao consegue absorver, e que se torna um grupo de desempregados crénicos e disponiveis para o trabalho mal remunerado —, os dependentes de crack, em situagao de rua, com seu contato direto e frequente com o trafico para a compra da droga, acabam constituindo um exército de reserva para o trafico, disponiveis para prestar pequenos servigos e realizar favores em troca de dinheiro ou da propria droga. Fonte: Lucas lg54 / Wikimedia commons ‘Como vimos no médulo 2, os poderes administrativos outorgados ao Estado so constituidos por meio de um contrato social, prevendo uma gestdo na qual a dignidade da vida humana seja garantida pelo estatuto da cidadania Na tentativa de cumprimento dessa responsabilidade, no que tange ao problema social da populagao vulneravel em situagdio de rua, em 2009, foi instituida, por meio de decreto, a Politica Nacional para a Populacao em Situagao de Rua, a fim de assegurar 0 acesso dessa populacdo aos servigos assistenciais especializados. Conforme dispée no seu paragrafo tinico, 0 decreto, em conformidade com a definigao prevista pelos estudos especializados no tema, considera: (...) POPULAGAO EM SITUAGAO DE RUA O GRUPO POPULACIONAL HETEROGENEO QUE POSSUI! EM COMUM A POBREZA EXTREMA, OS VINCULOS FAMILIARES INTERROMPIDOS OU FRAGILIZADOS EA INEXISTENCIA DE MORADIA CONVENCIONAL REGULAR, E QUE UTILIZA OS LOGRADOUROS PUBLICOS E AS AREAS DEGRADADAS COMO ESPACO DE MORADIA E DE SUSTENTO, DE FORMA TEMPORARIA OU PERMANENTE, BEM COMO AS UNIDADES DE ACOLHIMENTO PARA PERNOITE TEMPORARIO OU COMO MORADIA PROVISORIA. (DECRETO n° 7.053/2009, art. 1°) Dentre os valores cultivados pela Politica Nacional para a Populagdo em Situagaio de Rua esto 0 respeito e a promogao da igualdade e da diversidade. E entre suas principais diretrizes, a tentativa de promover campanhas de conscientizagao da populagao em geral a respeito da condigao do morador de rua, o compromisso de cumprimento dos Direitos Humanos e 0 incentivo a pesquisa sobre esse problema social a fim de que se pudessem desenhar caminhos para minoragdo dessa antiga mazela social: SAO PRINCIPIOS DA POLITICA NACIONAL PARA A POPULAGAO EM SITUAGAO DE RUA, ALEM DA IGUALDADE E EQUIDADE: | - RESPEITO A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA; Il - DIREITO A CONVIVENCIA FAMILIAR E COMUNITARIA; Ill - VALORIZAGAO E RESPEITO A VIDAEA CIDADANIA; IV - ATENDIMENTO HUMANIZADO E UNIVERSALIZADO; V - RESPEITO AS CONDIGOES SOCIAIS E DIFERENGAS DE ORIGEM, RAGA, IDADE, NACIONALIDADE, GENERO, ORIENTAGAO SEXUAL E RELIGIOSA, COM ATENGAO ESPECIAL AS PESSOAS COM DEFICIENCIA. (DECRETO n° 7.053/2009, art. 5°) Arespeito da sua efetividade, podemos ponderar 0 quanto a assisténcia social, no Brasil, desliza, historicamente, da caridade as politicas nacionais assistenciais. O que tem sido objeto de criticas frequentes é 0 problema que certas politicas pUblicas apresentam de manterem um plblico-alvo cativo que nao encontra inclusao na sociedade englobante. Em outras palavras, mantendo um rango caritativo, politicas pliblicas voltadas ao atendimento da populagéo marginalizada e em situagao de rua nao encontram efetividade quando se pensa na dimenséo da solugdo estrutural do problema social que elas atacam A escassez dessas politicas ainda, ou a invisibilidade desse problema social, mantém o quadro geral no qual iniciativas da sociedade civil prestam assisténcia a essa populagao com medidas emergenciais que se esgotam em si mesmas. DIGNIDADE HUMANA Fonte: Yevgenij_D / Shutterstock.com Adignidade humana é um principio moral que norteia o conjunto de direitos fundamentais dos individuos. Juridicamente falando, a dignidade seria uma qualidade inerente ao ser humano, sendo essa condi¢ao naturalmente marcada por uma busca e manutengdo de nossa prépria dignidade. Fonte: Arthimedes / Shutterstock.com REFLEXAO [...] a qualidade intrinseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideragao por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a Ihe garantir as condigdes existenciais minimas para uma vida saudavel, além de propiciar e promover sua participagao ativa e corresponsdvel nos destinos da prépria existéncia e da vida em comunhao com os demais seres humanos (SARLET, 2007). Adignidade é uma busca pessoal e social por respeito, a consciéncia que temos de nosso préprio valor, “imprecificavel’, segundo Immanuel Kant (2004). Tem a ver com nossa honra e autoridade, E como se buscassemos instintivamente manter nossa dignidade como pessoas para que um “ser humano”, um ser cultural, possa habitar nosso corpo animal. E, pois, a dignidade que nos distingue dos animais ao procurarmos manter a coeréncia nos nossos atos e nas nossas palavras e com a tentativa permanente de evitagao do sentimento de vergonha Para Kant, é a dignidade que limita a autonomia, ou seja, é a ética contida na nogao de dignidade que impée freio a liberdade dos homens. A liberdade, como autonomia, traduz-se ento no primeiro principio da Republica. E a dignidade da pessoa é o que 0 fildsofo chamaria de um imperativo categérico, isto 6, um principio categoricamente imperativo, ou necessario, para o bem viver, Nossa razéio, como seres humanos e pensantes, capazes de calcular, nos garante que 0 estabelecimento do respeito a dignidade, ou a dignidade como limitadora da autonomia, seja um caminho fecundo para a civilidade e a vida O FILOSOFO ALEMAO PROCUROU ENTENDER O QUE SERIA AQUELA LEI MORAL DENTRO DE TODOS OS SERES RACIONAIS QUE, A TODO MOMENTO, DIZ “ISSO E CORRETO” OU “ISSO E INCORRETO”, SERVINDO COMO UMA BUSSOLA NO JULGAMENTO DE TODAS AS AGOES. PARA A MODERNIDADE, O AVANGO PROMOVIDO PELA CONCEPGAO UNIVERSALISTA DA FILOSOFIA PRATICA KANTIANA E BASTANTE IMPRESSIVO, SOBRETUDO QUANDO SE PRECONIZA FIELMENTE A UNIDADE E A DIGNIDADE DE TODOS OS SERES HUMANOS, INDEPENDENTEMENTE DA COR DA SUA PELE OU DO TIPO E DO GRAU CIVILIZACIONAL DAS SUAS SOCIEDADES. (WEYNE, 2007) No ordenamento juridico nacional e internacional, diversos dispositivos estao baseados no principio da dignidade humana, como a citada Declaragao Universal dos Direitos Humanos e a prépria Constituigo Federal de 1988. O Estado tem por obrigagao tutelar defender o bem juridico, que é a dignidade da pessoa humana, porque é ele o valor supremo da democracia. Entende-se que a dignidade nao é estabelecida juridicamente ou culturalmente. Ela seria preexistente € fundante, tanto do ordenamento juridico, ou do Estado Democratico de Direito, quanto da prépria cultura, Poderiamos até dizer que a eminéncia da dignidade da pessoa humana é tal que é dotada ao mesmo tempo da natureza de valor supremo, principio constitucional fundamental e geral que inspira a ordem juridica, Mas a verdade é que a Constituigao Ihe da mais do que isso, quando a pée como fundamento da Republica Federativa do Brasil constituida em Estado Democratic de Direito, se é fundamento é porque se constitui num valor supremo, num valor fundante da Republica, da federagao, do pais, da democracia e do Direito. Portanto, nao é apenas um principio da ordem juridica, mas o é também da ordem politica, social, econémica e cultural. Dai sua natureza de valor supremo, porque esté na base de toda a vida nacional (SILVA, 1998). Trata-se de um principio moral, legal e cultural que atravessa todas as discussées apresentadas nestes trés médulos, Esta presente como 0 elemento de fundo e que da sentido a absolutamente todas as questées propostas até agora por meio de exemplos, e costura os contetidos dos médulos uns aos outros. E a dignidade humana que esta em jogo no parto, no problema da violéncia doméstica e conjugal, das criangas em situagdo de rua, e também, claro, no drama social de toda a populagao de rua, especialmente no contexto pandémico. Esta na dependéncia quimica do uso do crack e outras drogas, no racismo e na transfobia, e nos obstaculos que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho para aleangar os cargos decisérios. E uma questo de dignidade humana tomar urgente que os transportes estejam adaptados as pessoas com deficiéncias motoras, para que elas tenham condigdes de superar suas préprias limitagdes fisicas. E, no fim das contas, a atengdo ao cumprimento do principio da dignidade humana que pode fazer com que a diversidade nao seja marcada por movimentos socioculturais de exclusdo e para que as diferengas nao nos paregam mais sinénimo de desigualdade, mas uma forma, justamente, de alcangar a igualdade por meio da inclusao, Assista ao video a seguir para saber mais sobre o atendimento 4 populagao de rua Para assistir a um video D, sobre 0 assunto, acesse a ° versdo online deste conteudo. —o— VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O PRINCIPIO DA DIGNIDADE HUMANA ESTA AUSENTE DO SEGUINTE DISPOSITIVO: A) A Declaragao Universal dos Direitos Humanos. B) A Constituicéo Federal. C) O Contrato Social que confere poder ao Estado. D) A Convengao Americana de Direitos Humanos. E) Na prdtica contratual de trabalho andlogo a escravidao. 2. SOBRE O PROBLEMA SOCIAL DA POPULAGAO EM SITUAGAO DE RUA NO BRASIL, MARQUE A OPGAO CORRETA: A) Devemos pensar que, na maioria dos casos, as pessoas que estdo na rua encontram-se nessa condigao gragas a sua tinica e exclusiva responsabilidade (ou falta de), como 0 caso de alcodlatras e dependentes quimicos. B) A populagao que vive em situagdo de rua é um grupo heterogéneo com diversos perfis etarios, majoritariamente negro, com baixa escolaridade e com individuos que tém em comum a dependéncia quimica de crack e outras drogas. C) O Estado nao deveria ser responsabilizado por garantir a dignidade dessas pessoas ja que, muitas vezes, nem elas mesmas querem que sua propria condigao seja transformada. D) Gragas a ineficacia das politicas publicas para lidar com esse problema, ONGs e entidades religiosas prestam assisténcia a essas pessoas. A pandemia trouxe visibilidade para a questo do morador de rua, trazendo-a para o debate puiblico. E) No caso do Brasil, o problema social dos moradores de rua nao é tao grave como ha alguns anos. Trata-se de um fenémeno eminentemente rural, que se diferencia do que ocorria no passado, quando os moradores de rua se concentravam mais nos centros urbanos. GABARITO 1. 0 principio da dignidade humana esta ausente do seguinte dispositivo: Aalternativa "E " esta correta. trabalho andlogo escravidao desrespeita o principio moral de uma justa remuneragdo e condigées de trabalho adequadas ao trabalhador livre. Por isso fere a dignidade do contratado. 2. Sobre o problema social da populagao em situagao de rua no Brasil, marque a opcdo correta: Aaltemativa "D " esta correta. Aineficacia da gestao desse problema social pelo poder pubblico criou um vazio de solugées politicas que as iniciativas civis como das ONGs e entidades religiosas vém tentando suprir. Essa mazela antiga e negligenciada pelo Estado e por parte da propria sociedade somente com a pandemia chamou a atencdo para o fato ignorado de que, em sociedade, nao se pode pensar sempre e apenas de forma individual e isolada. CONCLUSAO CONSIDERAGOES FINAIS Elaboramos, no estudo que fizemos até aqui, uma apreciagao socioantropolégica dos assuntos relacionados a vulnerabilidade na sociedade, abordando aspectos da cultura por meio de exemplos e conceitos. Tais exemplos e conceitos devem motivar a reflexao e permitir a desnaturalizagao do olhar sobre processos excludentes estruturais, como o da ma distribuigao do acesso aos bens e servigos necessarios 4 manutengao de uma vida digna e 0 da precariedade na garantia de direitos pelo Estado. Assim, vocé, apés 0 estudo acerca da vulnerabilidade e sociedade, terd adquirido familiaridade com o corpus conceitual apresentado, sendo capaz de desenvolver um raciocinio critico a respeito da sociedade em que esta inserido, bem como dos préprios conceitos que foram apresentados. Afinal, como afirmamos, 0 sujeito do conhecimento tem de ser cada um de nés. Para ouvir um podcast sobre o assunto, acesse a versao online deste conteudo. REFERENCIAS ALMEIDA, Néri de Barros. Ser ou néo ser a favor dos direitos humanos. Direitos Humanos Unicamp, 2018. BOURDIEU, Pierre. A dominagao masculina — a condi¢ao feminina e a violéncia simbdlica. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002 BRASIL. Constituigao da Republica Federativa do Brasil. Brasilia, DF: Senado Federal: Centro Grafico, 1988. BRASIL. Decreto 7.053 de 23 de dezembro de 2009. Institui a Politica Nacional para a Populagao em Situagdo de Rua e seu Comité Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento, e da outras providéncias. 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Como forma de contraponto a alguns conceitos apresentados, exatamente porque sempre ¢ importante apresentar vertentes, ampliando os pontos de vista, vale conferir os artigos Como a cultura progressista esté destruindo as legitimas aspiragées das mulheres, de Catarina Rochamonte, e A diferenga salarial entre homens e mulheres no Brasil, de Leandro Narloch CONTEUDISTA Natania Pinheiro de Oliveira Lopes @ CURRICULO LATTES

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