You are on page 1of 37
CONTACTO DE CABOVERDIANO E PORTUGUES E CRIATIVIDADE BILINGUE EM LETRAS DE RAP DE LISBOA Christina Marzhauser 1. Introducao ESTA CONTRIBUICA RESUME ALGUNS ASPECTOS DA MINHA TESE DE DOUTORA- MENTO EM LINGUISTICA TEORICA E APLICADA, nas Universidades de Munique de Coimbra (2006-2009), sob 0 titulo Portugués e Caboverdiano em contacto. Alternéncias de cédigo e inovagio lexical em Rap de Lisboa", onde analisei letras de rap de MCs"! bilingues em portugués e caboverdiano de Lisboa. 0 rap como genre musical em Portugal define a cultura hip hop norte-americana como uma das suas raizes, mas nao se limitou A imitago do modelo norte-americano e raramente recorre A produgio de misicas em ingles. Tem evoluido desde a década 1990 como cultura local e nacional, e ndo sé eruza estilos musicais mas também usa ampla- ‘mente a lingua portuguesa, incluindo ainda linguas de minorias lin- ‘guisticas como a lingua caboverdiana. Encontra-se representado pelas denominagdes de Hip Hop Nacional, Hip Hop ou Rap Tuga, e, cantado em caboverdiano, como Rap Kriolu. A diversidade misico-linguistica eo amplo panorama musical que surgiu neste Ambito tornam-se visiveis " Publicada em aleméo sob o titulo “Portugiesisch und Kabuverdianu im Kontakt Muster des Code-switching und lexikalische Innovationen in Raptexten aus Lissabon” Berlin Frankfurt a.M.: Peter Lang, 2001. » MC = do inglés Master of Ceremony’ (lit. mestre de ceriménia) designa um(a) cantor(a) de rap. us conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE us OLHARES SoBRE 9 BILINGUISMO: nos paleos em Lisboa (e além) e na pesquisa no mundo on-line (veja p. ex. Myspace e paginas web de hip hop). © ponto de partida do presente estudo é uma andlise detalhada do emprego das duas linguas, caboverdiano e portugues, na miisica rap da capital portuguesa por MCs bilingues e dos fenémenos linguisticos que surgem do contacto destas duas linguas na produgao das letras de rap. © ponto (2) descreve a base de dados e alguns detalhes sobre o trabalho de campo. Em (3) encontram-se alguns detalhes sobre o perfillinguistico dos rappers bilingues. No ponto (4) abordarei as motivagées (referidas pelos rappers nas entrevistas) da escotha duma ou das duas linguas na criagéo das suas letras. A parte seguinte (5) descreve as estratégias de alternancia de cédigo encontradas no corpus de letras analisado. A. anélise continuard em (6) com observacées sobre a cria¢io de palavrase fenémenos de contacto a0 nivel do léxico, Segue-se uma breve conclusio (eas referéncias utilizadas, incluindo a discografia do corpus. Sao excluidas, neste artigo, as observacdes relativamente ao amplo ‘uso de anglicismos nas letras de rap, que é um fenémeno tipico da cul- tura hip hop, nao sé em Portugal como em outros paises ndo-angléfonos (para mais detalhes ver Marzhiuser, 201). 2. Base de dados e trabalho de campo A base de dados consiste num corpus de 99 letras de rap, em Portugués (PD) e Caboverdiano (CV) de 26 MCs ou 16 crews (grupos de rap). O caboverdiano é representado em metade das cangoes. No total o cor- pus contém a volta de 50 000 palavras, destas 32% em caboverdiano. O trabalho de campo, realizado ao longo de quatro estadias em Lisboa entre 2006-2007, incluiu 17 entrevistas com 21 MCs e outros informan- tes ligados ao Rap Kriolu, eo levantamento de dados dos MCs e jovens ouvintes de Rap, no total de 24 pessoas, através dum questionario com perguntas respeitante ao uso da lingua no dia-a-dia, auto-avaliacao da competéncia em portugués e caboverdiano, praticas na criagdo das letras de rap e preferéncias no consumo musical. Conseguiram-se dados completos (letras, entrevista, questionério) de 14 informantes. Incluem-se dados adicionais da imprensa (p. ex. entrevistas com MCs conhecidos) e da internet (Myspace, paginas web c blogues sobre o hip hop em Portugal), e para o corpus letras de MCs de descendéncia caboverdiana e de projectos de Rap Kriolu. InformagGes adicionais provém da literatura, por um lado de traba- hos sociolégicos e antropol6gicos sobre jovens dos bairros suburbanos, veja Martins (1997), Saint-Maurice (1997), Borja (1998), Contador (2001), Batalha (2004), Carvalho (2005) ou mais recentemente Barbosa (2008). Por outro lado, o rap em Portugal é abordado do ponto de vista cientifico ‘por Contador & Ferreira (1997), Fradique (2003), Assungao et al. (2006). Os autores Cidra (2002), Raposo (2003, 2005, 2007), Domingues (2005), de Juan (2007), de Juan & Rodrigues (2008) e Martins (2009) também fazem referéncia ao rap cantado em caboverdiano. Por coincidéncia trabatharam, em parte, com os mesmos informantes. Também se recomendam os filmes de documentagao ,Outros bairros“ (Gongalves et al,, 1998), ,Nu bai ~ rap negro Lisboa" (Raposo, 2006) e ,Music of Resistance 6" (Al Jazeera, 2009). ‘A partir destes dados, constréi-se o perfil inguistico dos informan- tes e descrevem-se as suas praticas linguisticas, ambos no quotidiano como nas suas criacSes artisticas. A andlise da escolha de lingua e das alterndncias de cédigo entre portugués e caboverdiano nas letras de rap baseia-se no corpus € nos comentarios dos MCs nas entrevistas. A anilise das criagdes lexicais observadas nas letras tem como base varios diciondrios da lingua caboverdiana e estudos comparaveis sobre derivagdes transcédicas, semelhangas de morfemas derivacionais e blends com falantes bilingues. 3. Perfil dos rappers (MCs) bilingues Antes de proceder & andlise do comportamento linguistico farei, neste pardgrafo, uma breve caracterizagao dos informantes. Trata-se, no total, de 32 informantes (11 9, 21 ), com idades entre 0s 16 e os 34 anos. Sao todos bilingues em caboverdiano e portugués, mas nem todos so falantes nativos do caboverdiano ou de descendéncia caboverdiana. A maioria dos informantes canta rap em portugués e / ou caboverdiano, e as suas letras so inchaidas no corpus estudado."*! Todos os informantes tém ligacSes a varios ‘bairros’ na periferia de Lisboa (Linha da Sintra, Chelas, Linha de Cascais, Margem Sul), como por exemplo Casal da + Foram ineluidos também como informantes a organizadora de um projecto de rap, dois DJs (do ingl. disc jockeys) de grupos relevantes e alguns fis de Rap Kriolu 11 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE us OLHARES SoBRE 9 BILINGUISMO: Boba, Reboleira, Portela, Alto da Cova da Moura, Madorna, Porto Salvo e Arrentela. 3.1. Dados biograficos dos informantes Os dados relativos & ‘hist6ria de familia’ dos informantes foram reti- rados dos questiondrios. Nestas constelagGes familiares diversas, a imagem biografica mais frequente é a de um descendente nascido em Portugal de dois pais oriundos de Cabo Verde. No entanto, na amostra, ha também grande variacio relativamente ao lugar de nascimento dos pais (Cabo Verde, Angola, Holanda, Portugal), mesmo sendo os dois caboverdianos. Ha ainda varias combinacées de casais bi-nacionais. Sao representados na amostra deste estudo sobretudo migrantes caboverdianos da segunda geracao', isto quer dizer descendentes de pais que emigraram para Portugal, mas cles proprios ja nasceram em. Portugal, de nacionalidade portuguesa e outra. Também se incluiram alguns informantes de outra origem. Apesar de nao serem todos os informantes de descendéncia caboverdiana, todos reportavam com- peténcia no uso do crioulo caboverdiano (lingua caboverdiana). Os dados confirmam a observacao de Contador (2001): A.veiculagéo do crioulo no seio familiar, assumido de antemao como vvefculo da cultura das origens, passou a fronteira do reduto familiar eétnico peculiar ~ caboverdianos de Sao Vicente [..] da Praia e eventualmente ‘guineenses ~ para ir consolidar novas raizes na rua, onde o seu uso no est restrito aos novos luso-caboverdianos e / ou novos luso-guineenses, mas poder eventualmente ser falado por novos luso-angolanos ou até ‘mesmo jovens portugueses [brancos]. (Contador, 2001: 62) Este fenémeno explica-se pelo uso comunicativo do caboverdiano nas comunidades, sobretudo entre os jovens nos bairros suburbanos e nas respectivas escolas. 4 Veja a discussio do termo problemético ‘segunda geragao’ em Carvalho (2005), que Portes (1999) define como sendo consttuida por “individuos nascidos de pais, estrangeiros no pais de acolhimento” (Portes, 1999: 97. 3.2. Aquisicao e uso das duas linguas em diferentes areas comunicativas © perfil linguistico dos falantes pode explicar-se pela aquisigao e o uso das duas linguas em diferentes dreas comunicativas. Variam individualmente factores como a lingua dos pais / lingua em casa e ‘no seio familiar, lingua quotidiana na vizinhanca e lingua usada nas instituigdes de educagdo, comecando em muitos casos na creche ou no jardim infantil, assim como a influéncia dos media audiovisuais. Quanto a relagao Li / L2, em alguns casos, deve-se assumir uma aqui- si¢do simulténea (embora nem sempre os dois idiomas evoluiram de forma separada; sobre interferéncias do CV no PT veja Pereira, 2003; Cardoso, 2005; interferéncias do PT no CV cf. Albino, 1994). A aquisi- cio do portugués da-se no seio da familia, na creche / jardim infantil, na escola, no bairro e através dos media, mas também a aquisicZo do caboverdiano acontece na familia, no bairro, e até na escola, como vou explicar mais tarde. Assim, podem construir-se varios cendrios em relagio a0 uso da(s) lingua(s) nos dominios i) familia, ii) bairro / vizinhos, iii) grupo de amigos (peergroup) e iv) escola/trabalho. Num contexto de migra¢4o, assume-se frequentemente que a lingua de heranga familiar, neste caso o caboverdiano, é adquirida e usada sobretudo no seio familiar e, por outro lado, a lingua do pais de residéncia, neste caso o portugués, ¢ falada fora da familia, sobretudo nas instituigGes de ensino. Como jé mostrou uma anilise anterior com criangas e jovens bilingues no bairro A.C.M. (ef. Mirzhauser, 2006), encontram-se entre os jovens de descendéncia caboverdiana residentes nos arredores de Lisboa (e talvez em muitas familias com histéria de migragdo, até nas primeiras geragdes num outro pais) as seguintes constelagées relativamente ao usa das linguas no dia-a-dia: (2) CV emeasa, PT fora da familia (2) Todos dominios do dia-a-dia bilingues com PT & CV (3) PT na familia, CV dominante no grupo de amigos (peergroup),bairro, ete, ‘A partir deste quadro também se pode entender como a aquisi¢ao do caboverdiano, sendo em alguns casos dificultada ou negada por pais, 149 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 150 OLHARES SoBRE 9 BILINGUISMO: caboverdianos por razes de receio de estigma social, melhor sucesso escolar ou desprezo do idioma caboverdiano, pode realizar-se mais, tarde, em muitos casos na adolescéncia. No grupo de amigos, em esco- as com percentagem elevada de alunos crioulo-falantes e nos bairros, ‘mas também em reas de trabalho onde convivem muitos falantes do caboverdiano. Até portugueses e pessoas de outras origens familiares adquirem o caboverdiano e comegam a falé-lo. Numa escola na Margem Sul, Pereira (2003) observou que: HA alunos de outras origens, como os ciganos ¢ os angolanos, que ‘comunicam em crioulo com os caboverdianos, embora 0 seu crioulo corresponda ainda, naturalmente a uma variedade ou a um estadio de aprendizagem. (Pereira, 2008) No nosso estudo, um informante bilingue com caboverdiano La também usa CV nas suas letras. Ele é de origem sao-tomense, mas tem experiéncia migratoria em Angola. O caboverdiano fazia parte da sua vida quotidiana ao longo do seu percurso de vida, Outros MCs nao caboverdianos afirmam no questionario e nas entrevistas que possuem, competéncias no caboverdiano. Usaremos doravante o termo ‘falante nativo do caboverdiano’ para todos os informantes de descendéncia caboverdiana por pelo menos um dos pais, independentemente do contexto da sua aquisigao do CV. 3.3. Competéncia dos informantes em portugués e caboverdiano FE claro que as competéncias (activas e passivas) nas duas linguas variam bastante entre os falantes bilingues. Neste contexto, éimportante assi- nalar que, pelo nivel de competéncia no CY, o factor da descendéncia familiar é menos decisivo que o uso da lingua caboverdiana no dia-a-dia, em qualquer contexto que seja. Por outro lado, o nivel de competéncia em portugués padrao (reportado muitos vezes como problematico em criancas de origem caboverdiana de bairros suburbanos problemati- cos) é bastante elevado nos informantes deste estudo, como revelam também os dados quanto ao nivel da sua escolarizacio. Aauto-avaliagéo das competéncias em caboverdiano (CV) portu- gués (PT) (que sempre deve ser vista como puramente subjectiva!) nos dados de 24 questiondrios, entre eles de 17 falantes bilingues nativos e 7 ndo-nativos, deu o quadro seguinte: Tabela 1. Auto-avaliagdo das competéncias linguisticas ‘Auto-avaliagao dos falantes Nivel de competéneia Pr cv 1) bem 9 0 2) razoavel 8 8 3) um pouco ° 2 4) Nao falo mas percebo, ° 3 5) Nao falo nem percebo. ° ° E importante notar que todos os informantes reportam pelo menos conhecimentos passivas em caboverdiano. Mesmo os falantes nio- nativos entrevistados descrevem a aquisi¢o do CV no grupo de amigos ea sua motivagdo de entender os seus pares crioulofones e também as letras do rap caboverdiano. Dos dados de auto-avaliacio dos 19 falan- tes fluentes em ambas linguas (os que marcaram ‘bent’ ou ‘razoavel’ para ambas linguas) constréi-se o quadro seguinte, que caracteriza os falantes relativamente ao seu nivel de conhecimento nas duas linguas em quatro tipos (A: boa competéncia em ambas Iinguas, B: melhor competéncia em PT do que em CY, C: melhor competéncia em CV do que em PT, D: competéncia razoavel em ambas linguas.) Dado a subjectividade desta mera auto-avaliagio, esta categorizagao deve ser interpretada simplesmente como contra-argumento & critica de ‘falta de conhecimento no PT como razio para rappar em CV’, como vai ser explicado na seceao 4. 151 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 182 OLHARES SoBRE 9 BILINGUISMO: Tabela 2. Competéncias dos 19 falantes bilingues fluentes Niveis de competéncia em CV e PT PT. cv bem| bem| bem| razoavel razoavel | bem. ola le |> 12 fos for for razoivel | razodvel Comparado com os comentarios nas entrevistas, os questionarios mostram que, sobretudo a avaliagao de conhecimentos ao nivel ‘razo- vel’, depende mais das altas expectativas relativamente as proprias capacidades em portugués ou de inseguranca linguistica relativamente a0 uso do portugués padrao do que do nivel de conhecimento real. Isso mostra o exemplo de MC P, que julga falar melhor 0 CV do que o PT. (tipo C = fala CV bem e PT ‘razoavel’). MCP: Eu canto mais em Crioulo, E onde eu sinto me bem a comunicar também. Eu, quando eu falo, domino mais a palavra do Caboverdiano do que do Portugués. (...) Portugués nao falo assim muito, muito... sé na escola, $6 tenho aquele Portugués que aprendi na escola, O meu Portugués € fraquito.. [....]. Por acaso, eu foi melhor aluno em Portugués até 7’ano, sé que fui perdendo, Eu estudei até o 9°, mas fui perdendo, fui perdendo, até agora dou umas bacoradas engracadas (Entrevista 2/07) Nao se discutiu no presente estudo a variedade do portugués falado pelos informantes, uma vez que os falantes referiam-se (impli- citamente) s6 ao portugués padrao na sua auto-avaliacdo. Também nao foram analisadas supostas interferéncias do CV na produgio em portugués. Para entender a inseguranga linguistica de alguns falantes em relagao ao seu portugués, deveria discutir-se o papel do insucesso ou abandono escolar eo estatuto do caboverdiano como lingua crioula face A sua lingua lexificadora ou superstrato, o portugués. Uma atitude critica face as préprias capacidades e a ambigao de aperfeicoar-se nas duas linguas sao expressas na entrevista de MC JZ, que tinha marcado ‘razoavel' para ambas as linguas no questionario. 0 participante fala do ‘desafio' de escrever letras de rap nas duas linguas e da sua inspiracao em Camées. C: Porque agora cantas em Portugués? MC JZ: Comecei de escrever em Crioulo, correu muito bem, adorei, quero voltar a escrever em Crioulo, mas depois achei que o Portugués também tinha uma coisa para explorar que no cria deixar de lado, ¢ depois num projecto eu cantava em Portugués, é este mesmo projectoem ‘que continuo a trabalhar porque o Portugués tém muito para descobrir € ‘que me apetece descobrir. Eu tou entusiasmado pelo Camées. Cah, & ‘MC JZ: Portugués pode ser uma lingua fantastica também. C: Entio a tua referencia é mesmo literatura? MC JZ: A minha referéncia é 0 desafio. (2/07) Estes exemplos ilustram a boa competéncia dos MCs nas duas lin- ‘guas, que é confirmado parao portugués nos seguintes dados relativos ao seu nivel de formacio, 3.4 Nivel de formacao dos informantes © que salta aos olhos na abordagem dos dados relativos ao nivel de formagio dos falantes* é 0 seu elevado grau de escolarizagio e 0 seu empenho no mereado profissional, para a maioria, além da earreira artistiea. No sample havia sé um MC que nao completou o 9° ano (= 4%), e dois sem emprego / formagao - ambos com filhos pequenos. 37% completaram 0 12"ano, 30% 0 11° ano, 12% 0 10°ano e outros 17% tém 0 ensino basico completo. Ao nivel da formaao profissional e emprego, 13 dos 24 informantes frequentam (ou completaram) um curso universitario ou uma formacao profissional, e s6 dois esto sem formacao profissional e sem emprego. Ha quatro MCs que perseguem a sua carreira musical full-time. Os seguintes quadros resumem o nivel de escolarizacio e a formacao ou profissao na altura da recolha de dados. + Dos questiondrios estavam disponiveis os dados de 24 informantes nesta seegio. 153 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 184 OLHARES SoBRE BILINGUISMO. Tabela 3. Nivel de escolarizacao dos informantes Escolarizagio (Anos completos) 12° Ano (Aceso a0 ensino superior) 9 11° Ano i 10° Ano 3 4 9° Ano (Ensino basico completo) 8° Ano Tabela 4, Percurso profissional dos informantes Formagio / profissio corrente Curso universitario Formagao profissional Escola secundaria ‘Trabalha em profissao qualificada ‘Trabalho nao-qualificado Miisico full-time 3 4 4 2 ‘Sem trabalho/formacao Os rappers escolhidos para o presente estudo so, portanto, bilin- gues fluentes em caboverdiano e portugués, que é talvez algo surpreen- dente A primeira vista perante os critérios de seleceo dos informantes (se lembramos os esterestipos acerca de jovens de origem cabover- diana nos bairros suburbanos e dos rappers'*!), Mas visto que todos 0s informantes trabalham como artistas na produgio de letras de rap em pelo menos uma das duas linguas, a sua versatilidade e habilidade «Carvalho aborda o problema de estere6tipos acerca da segunda gerago: “A nogo de segunda geragio jé surge com uma carga negativa, com representagdes que a ‘conotam A delinquéncia juvenil, ao insucesso escolar eao desenraizamento cultural, [..] Embora sendo caracteristicas possiveis de serem encontradas no seio desses jovens, ndo podem ser tomadas como os tragos fundamentais sem uma anélise ‘exaustiva e sistematica que autorize extrapolagées.” (Carvalho, 2005: 25) linguistica devem ser vistas como parte essencial da sua carreira como MCG, independentemente do seu background social. Em segundo plano, 6 estudo contrapie as imagens negativas espalhadas, por exemplo, pela imprensa, mostrando alta criatividade destes jovens, que lidam duma maneira produtiva com uma realidade complicada. Nesta linha de pensar, veja também Raposo (2003), letras de rap criticas, ou os projects de hip hop e rap no Moinbo de Juventude, de Lagos na rua, e Putos qui a ta cria, onde o préprio rap funciona como meio de ensinar e de reflexao critica. No seu trabalho criativo, os MCs usam portugués e / ou cabo- ‘verdiano, as vezes em combinac&o com outras linguas como o inglés, francs ou espanhol. © improviso (freestyle), em conjunto como break- dance, é percebido como actividade de tempo livre no grupo de amigos. A gravacdo dos sons ¢ a produgao de CDs ou, alternativamente e muito mais barato, a presenca medial em myspace ¢ 0 lado visivel deste ‘movi- mento’ hip hop suburbano. A produgao de letras de rap (improvisadas, escritas, enum segundo passo, gravadas) muitas vezes inspira-se nas vivéncias de dia-a-dia nos bairros, abordando temas de critica social e assumindo o papel de um rap de intervengao, como os préprios MCs o definem. Querem passar as suas mensagens A geracdo mais jovem. Cantam sobre temas variadas como hip hop, festa, politica, critica social, relagées pessoais, a vida num bairro e outros. Participam em projectos ligados ao hip hop e em concertos em palcos piblicos e festas nos bairros. © pablico das misieas rap encontra-se, por um lado, entre os jovens dos bairros, por outro lado, entre jovens (e adultos) em muitos outros lugares em Portugal e até noutros paises luséfonos e criouléfo- ‘nos como Mogambique ou Cabo Verde, ou em paises com falantes de portugués e caboverdiano que emigraram, como a Franca, a Holanda ete. Existem aqui clos transnacionais dentro da cultura hip hop, ea difusdo das miisicas depende sobretudo do destaque do MC no mer- cado musical. No panorama portugués dominam as gravacées de rap em portugués, mas também ha grupos populares como Boss AC ou Niggapoison que cantam em ambas as linguas, e outros MCs que se limitam a rappar em crioulo. No corpus, o CV esta presente na metade das cangées. Para os MCs, a escolha da lingua nas suas letras de rap depende do piiblico-alvo, e de varios outros factores discutidos na seguinte seccdo. 155 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 186 OLHARES SoBRE 9 BILINGUISMO: Escolha da lingua nas letras de Rap Enquanto o piiblico-alvo é certamente um dos factores mais impor- tantes na criagao de letras de rap, como misiea centrado no texto, com 0 objectivo de passar uma mensagem, existem outros factores deter- ‘minantes na escolha da lingua (eaboverdiano, portugués, ambas as inguas ou outra lingua?), que surgem nas letras do corpus e sobretudo nas entrevistas realizados com os rappers bilingues. Os varios argumentos mencionados nas entrevistas incluem a) a competéncia a nivel da La / L2, b) o vocabulario, c) a lingua emocional- mente adequada, d) o tema da cangao, e)o pitblico-alvo, f) argumentos politicos, g) argumentos pedagégicos, h) a identidade cultural e a identificagao com o grupo, i) o mercado musical ej) a censura. Todos os argumentos desempenham um papel importante em relacio A opco de rappar emi) caboverdiano ou em ii) portugués.” Além destas duas possibilidades, existe, como terceira solugao, o uso alternado das duas linguas, que se pode realizar como iii) alterndncias entre as cangées, isso é, a producdo de uma letra em PT ¢ de outra em CY, ou iv) na combinacao de ambas as linguas dentro duma cangao. Esta tiltima opcio ser abordada mais detalhadamente no préximo capitulo, Cada possibilidade tem as suas vantagens e desvantagens, havendo uma estreita interligagao entre os diversos factores. Entre os artistas de rap estudados, ha exemplos para cada uma das quatro estratégias na escolha da lingua (os artistas entre parénteses na tabela 5 nao sao de origem eaboverdiana). ‘Vemos que a opgao de cantar sé em portugués (i) diz respeito sobretudo aos MCs que nao sao de origem caboverdiana ou a grupos de rap femininos em que s6 uma das duas rappers é de origem cabo- verdiana. Trés MCs optaram por cantar s6 em caboverdiano (ii), mas a clara maioria dos MCs bilingues usa ambas as linguas nas suas letras. Em quatro casos, alternam a lingua entre as cangées (iii), quatro gru- pos alternam dentro duma can¢io (iv), outros quatro usam ambas as estratégias de alterndncia (iii e iv). * Para uma abordagem mais detalhada da argumentacio dos MCs, veja Marzhiuser Gow). Tabela 5. Escolha inforrantes lingua nas letras de rap com indicaao dos Escotha de lingua nas letras de rap nas duas linguas Letras de , i sé iii) alternancias | iv)alternancias rp i)soemPT | i) ssemCV | entrecangdes | dentro da cangio MCs/ DMSistas | MCG MCF (uc str) Crews (icp) | MCKR Mcp. Putos qui atacria (MCA) MCL. MCJZ 100% BCV (McLa) McT Souljah MCB MccH McK&MecP Mec ‘As letras ‘misturadas’ tém a vantagem de atingirem um piiblico mais amploe variado. A alternancia entre o caboverdiano e o portugués numa letra é portanto vista como estratégia promissora no mercado, 4 que nem exclui aderentes do rap kriolu, nem ouvintes luséfonos monolingues, como descreve uma participante do projecto Putos qui atacria. MC F: A Ietra que foi para o projecto foi a meias, Foi tipo metade Crioulo, metade de Portugués, porque houve uma preocupagao, por exem- plo se eu soubesse que havia ptiblico (..) que nao percebia se de nada s6 do Portugués, pelo menos sabia mais ou menos qual era o tema que eu ‘tava a falar. Houve essa preocupacéo (Entrevista 8/07) Aeescolha duma lingua pode ser expresso da pertencaa um grupo e da identificagao cultural. 100% B.CV: Usamos a lingua portuguesa para toda gente perceber e ‘© Crioulo porque nos, os rappers, aqueles que vivem mais o hip hop aqui ‘em Portugal sio os caboverdianos ou filhos de caboverdianos. Porisso nos uusamos muito a lingua materna dos nossos pais. Eentendemos também o ‘que exprimir o que sentimos na lingua dos nossos pais, tas.a ver, esabe bem 187 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 188 OLHARES SoBRE 8 BILINGUISMO. cantar ¢ lembrar as tradigdes...vivemos muito a nossa tradigao, por isso ‘que ‘tamos também a cantar o Hip Hop em Crioulo. (Entrevista 2/07) Neste contexto, letras que combinam varias Kinguas reflectem a identidade multicultural do grupo e estao inseridas no discurso acerca duma sociedade multilingue e multicultural. A nivel individual, reflec- tem, por um lado, o multilinguismo quotidiano dos rappers: adoptamos as duas linguas e pomos em prética as duas limguas, mais do que isso cantamos nas duas linguas, ‘tas a ver, ¢ claro, isso tem a ver com 0 meio social onde estamos inseridos. (Entrevista 2/ 2007) Por outro lado reflectem asua ‘identidade miltipla’ ~ como pessoa real ou / e como persona artistica de MC construida. Como o descreve Carvalho (2007): “Podemos dizer que o proceso de constituigao identitéria desses jovens enquadra-se numa nogao de identidade que tem como base uma multiplicidade de elementos e nao apenas um tinico.”(p. 22) O autor descreve para os jovens descendentes caboverdianos em Portugal “uma diversidade de posicionamentos identitarios que vai para além da auto-identificagao como caboverdiano ou como portu- gués. Também sao assumidas identificagdes como Juso-caboverdiano, pretogués ouaté mesmo black” (p.22) e refere a “possibilidade de busca de referéncias que se inserem numa cultura juvenil global.” (p.23). A miisica rap serve como palco experimental excelente duma tal cultura juvenil global. © uso das duas linguas na mesma cangio, adicional- mente, ajuda a integrar o caboverdiano como lingua minoritéria no panorama discursivo pitblico, tendo até o efeito de ouvintes lus6fonos aprenderem o caboverdiano com as letras: T: Sim, mas depois temos outra coisa. © Crioulo um pouco parecido com o Portugués, alguns termini sio semelhantes, nao é? Entio faz.com ‘que 0 ptiblico Portugués percebe o que nés ‘tamos a cantarem Kriolu. Eu tenho um refrao que chama-se ‘Mi teni saudadi’ C: Eu tenho saudade, ‘T; Toda gente percebe, E quando digo ,saudadi, todos percebem. E depois cu ajudo as pessoas quando eu digo que tenho saudades de Cabo Verde, patatipatata, depois no refiio ‘N teni saudadi’- isso faz com que as ‘pessoas entram na misica e percebem a mensagem. (Entrevista 2/2007) A mistura de CV e PT no rap 6 classificado no questionario por ‘um informante como “uma nova cultura para a edueago dos jovens portugueses e que aprende um pouco desta nossa cultura”. No sentido de alternancias metaféricas (conforme Gumperz, 1982), a alternancia entre CV e PT abre niveis de significado adicionais, conforme o prin- cipio de layering of meaning descritos por Rose (1994) como tipicos para o hip bop. A ruptura com uma tradigao de texto monolingue coincide com o principio de rupture in line (Rose, 1994: 38), a recombinacio desta ‘mistura de linguas’ num flow lirico individual prova versatilidade do MC. Alternancias de e6digo alargam as possibilidades da composi¢ao textual eda rima. MC C: Eu misturo um bocado de tudo. ‘T; Entéo misturas Crioulo, Portugués ¢ Inglés? (MCC: Exacto. Isso também é uma maneira tu mostrares a tua versa- tilidade, mostrares que és um artista versétil. (Entrevista 6/07) Asestratégias artisticas de combinar as duas linguas, CV e PT, no. corpus sao descritas no pardgrafo seguinte sobre aspectos formais no sentido de code-switching e code-mixing. 5. Alternancia de cédigo nas letras de Rap Os autores seguem varias estratégias de alternancia de cédigos (code- switching / -mixing) nas suas letras de rap. Porém, segundo Sarkar e Winer (2006), a andlise de code-switching/-mixing em cangdes até foi pouco explorada na anélise linguistic: In contrast to the large body of theoretical and empirical work that exists on the phenomenon of code-switching in spontaneous conversation, the study of code-switching in song lyrics is relatively new and not well, developed." (Sarkar/ Winer 2006: 10) 159 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 160 OLHARES SoBRE 9 BILINGUISMO: Distinguem-se alterndncias de cédigo em cangdes em diferentes niveis. A conceptualizagio elaborada pela anilise inspira-se nos traba- Thos de Auzanneau (2001, 2003), Billiez (1998), Muysken (2000), Elwert (1980) e Fritsche (2002). As categorias diferenciadas sio: + Alterndncia entre cangdes (escolha de lingua tipo ii, veja capitulo 4) + Code-switching ~ Macro-alternancias"*! ~ Alternancias entre partes duma cancfo (entre titulo, preliidi refrdo, estrofes, coro, coda) ~ Micro-alternancias ~ Alterndncias entre rimas (2 linhas numa lingua AA-BB ou linhas rimadas em linguas diferentes A-B) ~ Troca meio-linha + Code-mixing (alterndncias intra-frasicas)! ~ Alternation (ALT) entre estruturas de knguas diferentes ~ Insertion (INS) de material de uma lingua na estrutura duma outra ~ Congruent lexicalisation (CON) de material de léxicos diferentes numa estrutura partilhada + Formagio transeddica de palavras/ hybrid blends (Criatividade lexical Dilingue, veja capitulo 6) Na minha dissertacio, distinguem-se para cada nfvel alternncias entre CV e PT denominadas alterndncias primdrias, e entre uma destas duas Iinguas e uma terceira (como por exemplo o inglés ou o francés), chamadas alternéncias secundérias. Alternancias secundérias, como no exemplo (1), um preliidio tipico de SAMP em que os MCs se dirigem 20 pliblico alternando entre CY, inglés e portugués, s4o omitidas no presente artigo. [1] S[AMP] ki ta txiga/ dos sampadjudo na microfone} ‘Worldwide HipHop Tuga/ Representa/ O.P.P,/ Portela Portela project/ Curte nha som nigga. (SAMP) * Veja Billiez (1998) “les macro-alternances et les micro-alternances’. » Para a distineo de code-switehing versus code-mixing © as diferentes estruturas sintécticas do code-mixing veja Muysken (2000). Seguidamente so analisadas alterndncias primarias entre CV e PT, comegando no nivel intra-frasico. A disting’o do code-mixing por Muysken (2000) em insertion, alternation e congruent lexicalisation € baseada em critérios sintdcticos. Insertion inclui no trabalho de Muysken também stem insertion (INS do tronco lexical duma palavra de outra Jingua), que vai aqui ser analisado no ponto (6) como processo de con- tacto no léxico. INS de palavras inteiras é um processo raro entre PT e CV, comparado comas intimeras palavras do inglés inseridas tanto nas letras em PT como em CV. Um exemplo de alternation entre PT e CV é a seguinte linha duma estrofe cantada em PT do rapper Chullage.(*! [2] / sem nunka abandonar |tud nha influéncia negra/ (Chullage) Nesta alternancia (ALT) muito marcada entre o verbo em portugues 0 objecto directo em caboverdiano, a alternancia serve para sublinhar o contetido do NP objecto caboverdiano, que refere as raizes africanas (caboverdianas) do MC. No exemplo (3), ha uma clara alternancia (ALT) entre o sujeito € 0 verbo dicendi em caboverdiano e o discurso dos dois policiais a falar em portugues. A alternancia é um claro sinal de que os auto- res distanciam-se dos ditos policiais, marcando os diferentes papéis, discursivos. [3] / Es fla | saiam ja do carro mostrem j& os documentos / (Niggapoison) Que a reproducio de lingua falada pode ser raz4o para alternar entre CV e PT manifesta-se em varias letras, como “Xuxu mandadu” de Souljah. Também se mostra em (4), onde um telefonema fingido (simulado pelo tocar dum telemével no background da gravagio) rappado em PT (iltima linha) como micro-alternancia numa estrofe emCV. » Nos exemplos marcarei as partes em portugues com letra normal, as em cabover: diano em ico, etodos os pontos de alternancia (switch point) com um risco vertical, por exemplo “... abandonar! tud nba ..”. As linhas de verso sio delineadas com /, correspondente & sua transcri¢o nas capas dos CDs / o seu ritmo cantado. 161 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 1a OLHARES SoBRE 8 BILINGUISMO. [4]. / sempre k um nigga voka / m'ta kemaz sima broka/ payaz sima koka / ‘muzika pa tcha pataker kebrod boka | ok, amanhi as dez levo a rima k choka/ (Chullage) Nos proximos dois exemplos, a alterndncia é ligada ao uso de fra- ses fixas do portugués numa letra em caboverdiano. Em (5), a formula religiosa portuguesa descansa em paz é dirigido aos dois bairros Damaia e Mariana (a palavra CV cu, escrita seguindoo ALUPEC, significa ‘e’ em portugués), portanto pode ser interpretado como insertion duma frase fixal”, Is] Dia algun tempo ki nba ghetto dia bai/ dj'és caba ku nha ghetto/ ma mi inda N ka kaif damaia cu mariana | descansa em paz | / Sebeyks manda props pa bu rappa | (Sebeyks) Em (6),a frase feita portuguesa uma mde ndo deve um filho enterrar é introduzida por um verbo dicendi em portugués, resultando numa micro-alternancia entre duas linhas rimadas (PT enterrar rima com CV azar). [6] Nha ka bai enterro, pa ka dé azar / | dizem que uma mie nao deve um. filho enterrar/ nha kasinba ka ta da pa stabal/ ambiente pesada, tudu algen sa ta txoraba J (SAMP) Podemos concluir que no corpus ha poucos elementos do eabo- verdiano inseridos no flow em portugués. Sio mais numerosas as alternancias miiltiplas entre o caboverdiano e elementos portugueses que tomam a forma de congruent lexicalisation, que explicarei a seguir. Nos exemplos até agora, era reconhecivel uma clara motivagao para © ponto de alterndncia; ou serve para a modelago duma situagio de didlogo ou discurso reportado como em (3) ¢(4), reproduz frases feitas da outra lingua como em (5) ¢ (6), ou serve como marcador cultural *Compare a hierarquia de complexidade das estruturas propostas por Muysken (2000: 153), do mais frequente ao menos frequente: stems < compounds «fixed phrases < modifier + head combinations «discontinuous idioms. como em (2). Pelo contrério, no caso das linhas seguintes, nem é pos- sivel marcar os pontos de alternncia com certeza, nem atribuir sem. davidas a lingua certa as partes destas frases. [7] MCs bue confuso es perdi um parafuso/ telecomandado es fica ja sem ‘uso/ (Niggapoison) A determinante um (CV un) esta na sua grafia mais perto do PT, mas dado que a escrita do CV nas letras raramente segue uma estan- dardizagao, isso nao pode servir factor determinante para lhe atribuir a marca ‘portugués’. O CV pode usar un neste contexto, mas também pode expressar uma interpretacio de singular indefinida sem deter- minante (sobretudo em posi¢ao pés-verbal), dai nao poder ser negada a influéncia estrutural do PT. Isso corresponde & tendéncia geral de linguas em contacto para CON. No exemplo (7) um niimero significativo das palavras como confuso, um, parafuso, uso pode ser classificado como homophone diamorphs'*!, que por sua vez facilitam CON, ie. alternancias para tras e para a frente entre duas linguas. If congruent lexicalisation is frequent in a bilingual setting, it could bbe due to two things: overabundance of homophonous words, diamorphs, that serve as bridges or triggers for the code-mix. (Muysken 2000: 123) Palavras hom6fonas também surgem de formas intermediarias (intermediate forms em Muysken), cujo emprego também se genera- liza nas variedades coloquiais de ambas as Iinguas, ou na forma de diamorfos, Esta ‘mistura de lingua’ pode ocorrer no cédigo do grupo bilingue, onde as normas monolingues so mais aleatérias e livres e se formam estruturas convergentes entre as duas linguas. Desta maneira, as formas pa und p’ra surgem tanto no CV como no PT dos mesmos autores. Sobretudo a forma pa, que coincide com a prepo- sigdo do CV, pode ser considerado como igualmente corrente num portugués coloquial, como mostram os exemplos (8) em caboverdiano € (9) em portugués. ° Diamorphs sio definidos como palavras homéfonas em duas inguas distintas por Muysken (2000), também foram chamados bilingual homophones por Clyne (1980). 163 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 164 OLHARES SoBRE 8 BILINGUISMO. [8] Pa tud nha peoples na tchon | (Chullage) [9] Pa todos aqueles que ja se encontram debaixo da terra/ (Chullage) Contudo, os MCs evitam na maioria das suas letras entre-ligar as duas linguas, 0 caboverdiano e o portugués, na forma de CON, talvez para tomar uma clara posigdo em relagdo ao piiblico-alvo e para demonstrar as suas competéncias bilingues, isto 6, para evitar a acusacao de ‘nao saber falar a lingua’, seja qual das duas for"! Isso talvez também explica por que no corpus s6h4 umaalternancia priméria entre duas linhas rimadas (A em PT e Bem CV), enquantoas micro-alternancias secundarias (sobretudo alterndncias com o inglés) so mais frequentes. Aparecem entre versos (AA-BB), onde hi também linhas em francés e espanhol, entre linhas rimadas (A-B) eno meio da linha. As alternncias secundérias servem para mostrar a habilidade dos MCs e para marcar o elo & cultura Hip Hop. Nas alternancias primérias, sio mais frequentes no corpus as macro-alternancias entre diferentes partes do texto. Assim, os rappers escolheram um titulo noutra lingua (CV ~ PT) em 21% das 99 cangées. Entre eles, é mais frequente um titulo em PT referir a uma cangaoem CV do que o caso inverso. Isso explica-se pela presenca dos misicos no mercado nacional, onde é mais pratico referir a cangées através dum titulo em portugués, ao alcance de todos. Os titulos “Corda”, “Fartu” “Mana” séo homéfonos bilingues. Resumindo a anélise do corpus, o portugues é usado mais frequen- temente para intitular uma cango em CY, palavras ambiguas para intitular anges em PT. Foram encontrados alguns titulos em inglés, sobretudo para cangées que abordam o tema da festa, ou na fung&o de hedging ou signifying. Macro-alternancias primérias empregam-se sobretudo entre estro- fes e prehidio ou refrao. Aqui o caboverdiano predomina no preltidioe no refrao, com a fungao de se relacionar com 0 puiblico ‘eaboverdiano’, entre estrofes em lingua portuguesa, que relatam a mensagem a um amplo piblico-alvo. Observamos no corpus poucas partes textuais em PT inseridas em letras em CV como macro-alternancias. Muitas vezes ® Precisam de enfrentar tanto o preconceito dos ‘rappers caboverdianos dos subiir- bios néo falarem bem o portugués’, quanto a suspeita de falarem um erioulo aportuguesado’ um MC dirige-se aos ouvintes criouléfonos com um refrdo ou uma coda rappada em caboverdiano, enquanto canta as estrofes em portugués para aleangar um piblico mais alargado com a sua mensagem. Em “Dedicatoria” de Chullage, com estrofes em portugués, 0 refrdo em caboverdiano (10) dedica a cango 4 comunidade caboverdiana. Tem, portanto, uma funcao directiva (no sentido de Gumperz, 1982) a este ptiblico-alvo"™!, [10] Pa tud nba peoples na tchon/ tud nba peoples na prison/ Tud nba peoples 1a ltd pa sé pon, li quel som/ Pa tud nba people que ta sofré oli quel som niggaz/ 6li quel som} (Chullage) Oautor persegue a mesma estratégia que na can¢do ‘Bazas d’Lum’, com refrao e coda em CV. Também é possivel encontrar esta estratégia em varias raps de SAMP (cf. preltidio exemplo (1)). Na letra “2.7” do projecto Putos quia ta cria, em que o refrao e duas estrofes so rappados em PT e outra estrofe em CV (turn no mic), a coda em caboverdiano: também serve para dedicar a can¢io & comunidade crioulo-falante. Veja as linhas em (11). [11] Kel é pa tudu nbos/ pa putos ki a ta kria/ tcheka, tebeka (Putos qui ata ria) Macro-alternancias entre estrofes correspondem, por vezes, 3 troca de microfone entre dois MCs. Partes mais longas rappadas em inglés sdo raras, recorrendo-se, frequentemente, a um MC estrangeiro para a gravacdo destas. As macro-alterndncias primérias so sobretudo usadas com funcao directiva e expressiva. 6. Fendémenos de contacto e inovacies no léxico Analisamos agora os fenémenos de contacto das duas linguas ao nivel do léxico, Na anélise do léxico usado nas letras de rap, notam-se forma- es novas criadas por estratégias de transferéncia de material lexical (6,), transferéncias ao nivel da semantica (6.2) e blending (6.3). Para a “A palavra ‘people’ do inglés aqui serve como marca adicional dum ingroup-code, 165 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 168 OLHARES SoBRE 9 BILINGUISMO: andlise do léxico do caboverdiano, é importante registar de antemio alguns detalhes acerca as suas caracteristicas lexicais. Constata-se, na perspectiva diacrénica, que mais do que 95% das palavras sio de origem portuguesa. Na crioulizagao do léxico, processos fonolégicos, decalques semanticos e a reandlise de lexemas portugueses deram origem ao léxico desta lingua crioula, bem como a integragao de palavras das linguas africanas (vj. Quint, 2006; Rougé, 2004). Depois do periodo de génese do crioulo, formaram-se por um lado numerosas palavras novas dentro desta lingua crioula, dinamica que é descrita como ‘evolugao auténoma’ por Rougé. “Ledéveloppement autonome se caractérise, au niveau lexical, par ex- tension de la dérivation et dela composition ainsi que par les nombreuses rémotivations qui consistent, généralement lorsque létymologie nest plus évidente, a donner une explication créole un lexéme et & faire évoluer la forme en fonction de cette explication.” (Rougé, 200415) Por outro lado, observam-se entre os lexemas de etimologia por- tuguesa no CV diferentes estratos temporais, motivados pelo contacto continuo do CV com o portugués, ou seja, é possivel identificar uma continuidade de empréstimos do portugues para o caboverdiano a0 longo da sua historia. Observa-se uma variagdo considerdvel na disténcia fonolégica de palavras face ao portugues, que depende, por um lado, da data de insergdo e de variagao diat6pica e diaféisica, por outro lado, de processos de transferéncia em falantes bilingues. O caboverdiano encontra-se numa fase muito produtiva, o seu uso escrito cresce em diferentes reas como a literatura, a comunicagio social, a publicidade, a politica, a ciéncia e nos meios de comunicagao electrénicos (sms, email, chat, como também na internet em geral). Como lingua moderna transna- cional experimenta um enriquecimento do léxico no uso diario e em discursos politicos, téenicos e artisticos"!. Na sua maioria, as palavras + £ muito produtiv odiscurso intelectual e politico em CY, onde aparecem frequen- temente names abstractos novos como bilinguismu, kiriatividédh, problematizason, ‘mas também adjectivos / advérbios como puzitivamenti, kontraditori, jenériku, itunémiku todos exemplos de'TV. da Silva, 2005), que surgem no CV como formas paralelas ao portugués, novas nao se encontram registadas em nenhum diciondrio. Numa andlise sincrdnica, surge o problema de identificar elementos novos no CVES, por isso, € dificil quantificd-los e definir a sua estabilidade em termos de variagao.e aceitagao na comunidade dos falantes. Apesar de formagées novas auténomas, empréstimos sio a fonte principal para as inovagées lexicais. Mendes ef al. (2002) mencionam empréstimos correntes do Portugués em Areas discursivas, como a teenologia ea ciéncia. Lang (2002) escreve na introdugio do seu dicionério: (0s vocébulos modemos dos dominios econémicos, técnico, politico e administrativo eas nomenclaturas das ciéncias modernas, que, consoante anecessidade, so simplesmente importadas, com alteragées fonéticas imprescindiveis, do portugués ou de outras linguas de grande projec¢ao ‘mundial, nao figuram neste dicionario. (Briiser/ Lang 2002: X) ‘A predominancia do portugués como base lexical para um grande ntimero de empréstimos / palavras novas nao causa surpresa: O por- tugués continua como lingua oficial em Cabo Verde e lingua de ensino. Porém, todos os falantes do caboverdiano alfabetizados, tanto em Cabo Verde como em Portugal, sao bilingues nos dois idiomas e dispdem de um vocabulério mais amplo em muitos dominios em portugués devido ao contexto de aprendizagem na sala de aula, através da leitura, dos média etc.("), A grande interseceao dos dois léxicos e uma fraca deli- ‘mitagdo na érea lexical entre as duas linguas facilita as transferéncias Parao caboverdiano, estéo disponiveis os seguintes diciondrios: Fernandes (1971, posthum) Léxico do Dialecto Crioulo do Arguipeligo de Cabo Verde, Mindelo; Lopes da Silva (1984) Cap. “Léxico” em 0 Dialecto Crioulo de Cabo Verde, Lisboa (ca. 5000 palavras); Quint (1998) Diciondrio Caboverdiano Portugués, Lisboa (4000 lemata, CD-Rom); Mendes/ Quint etal. (2002) Diciondrio Pritico Portugués-Caboverdiano, Variante de Santiago, Lisboa (4085 lemata); Briiser/ Lang (2002) Diciondrio do Crioulo da ltha de Santiago (Cabo Verde), Tiibingen (8.388 lemata); Rougé (2004) Dictionnaire Aymologique des eréoles portugais d’frique, Paris; Dicionétios on-line: www.anindelo. info/dico creole francais abe.php (1000 palavras, crioulo de SVincente); * Oestudo da producio linguistica de falantes bilingues monstra que o ambiente da aprendizagem duma érea intelectual cientifiea numa certa lingua funciona como trigger para o uso dos termos técnicos desta 4rea nesta lingua, mesmo quando a lingua do enunciado é outra. (vgl. David Li, 2007 “Medium-of-instruetion-induced codde-switching: Evidence from Hong Kong SAR and Taiwan), 167 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 168 OLHARES SoBRE 9 BILINGUISMO: como meio de criar palavras novas no CV para novas areas tematicas. Um problema com todas as palavras recentemente emprestadas do portugués é que a influéncia desta lingua sobre o crioulo é muitas vezes entendida como descrioulizagao ou “aportuguesamento”, que colide com um certo purismo linguistico e com esforgos de delimitar 0 caboverdiano do portugués e fortalecer a sua autonomia. Mas os ‘neologismos’ podem também ser vistos como resultado do processo da lexicalizagao congruente tipico para falantes bilingues, que vou mostrar no seguinte ponto. 6.1, Transferéncias lexicais e producao bilingue Notamos na analise do corpus muitos termos novos no CV (comparado com as entradas existentes em dicionérios), oriundos de transferén- cias lexicais do portugués para o caboverdiano, sobretudo em areas tematicas que carece de vocabulario no CV, p. ex. politica ou critica social. O material lexical transferido aparece com diferentes graus de integracao fonol6gica e morfologica, p.ex. ptg. destruir > destrui/ destruido/ destruidu/ distrui, pg. destruigio > destruison /distruison. Se olharmos para as correspondéncias fonol6gicas, apresentadas na tabela, 6, percebemos quais sao as regularidades da mudanga fonolégica, que ja eram produtivas na creolizagao (veja também Lang 2002: XXV fi). Estas regularidades também se aplicam a diferentes morfemas derivacionais que o caboverdiano adoptou do PT: Tabela 6: Sons © morfernas correspondentes entre CV e P) Pig les Moxplieme /-of Cul) a! (ap kv. -osu, -éntu hel Go) [ev GD |v 4a)mémt, mt. -C(m}dide ao! (feu) -on/ (ot) | sv. -e2, -som, fre! (rst) ira! (lee) |v ra O caboverdiano realiza o som final [ul] também como naescrita, contudo, devido a falta de estandardizagao do CV deixamos de lado a anilise ortogrifica das letras. Importam aqui as regularidades fono- T6gicas que reaparecem em morfemas derivacionais nas duas linguas. Assim, PT -de aparece como CV -di, como nos exemplos undi, grandi , sedi, € em geral com 0 morfema derivacional PT (i/n)dade > CV (i/n) dadi em substantivos como atitudi, saudadi/ sodadi, vontadi, e no pre~ fixo portugués des- > CV dis- como em diskansu, distinu, disgosto e em formas verbais crioulas (variante de Santiago) como p.ex. podi, perdi, defendi, dependi, bendi. O prefixo portugués re- aparece como ra- em caboverdiano, p.ex. em CV 0 verbo rabola vem de PT rebolar-se, como significado ‘rebolar as ancas’, ou CV rabenta de PT rebentar. O ditongo portugués -do corresponde ao som nasailsado cv. -on, p. ex. pg. chao < Cv. fron, pg, pao cv. pon, que é também visivel no morfema derivacional muito produtivo cv. -son de pg. “edo como em distruison. ‘Aanilise das palavras do corpus que contém morfemas deriva- cionais mostra que os sufixos -(/n)dadi, -mentu, (a)menti, -(a)ntie-son sio usados de maneira bastante regular na forma adaptada (apesar da variagao na escrita). Tabela 7: Adaptacao de palavras com sufixos derivacionais paralelos Ocorréncias (entradas num dicionario do CV) Origem provavel: do PT, ambigue/ ambas Tinguas, formagéo auténoma no CV Morfema deri- |Freq/ n° pal/ vacional PT, amb, aut atualidadi, bondadi (4), capacidadi (kapasidadi), eternidadi, falsidadi (4x), frat ernidadi, idadi, igualdadi (3x), irmandadi (gx), karidadi, kriminalidadi, kumunidadi Gx), mentalidadi, naciunalidadi, éstilidadi -GMn)dadi(asx) | s7x/ -GMm)dadias) | 25 pal/ “dade (10%) 15120 | realidadi (6x)/ rialidadi (4x), rivalidadi, simplicidadi, sodadi, vedadi/verdadi/ vverdadi (4x) julgamento, movimentu, pensamente ~mentu (65) (Gx)/ pensaméntu, conhecimentu/ ri- sméntu (ex) — | 9° 8P8l/ | punhicimentu, sentimentu (:x)/ sentimen- ~ mento (5x) 460 | tuz (ax), sofrimentu/ sufrimentu (ax)/ sufriméntu 169 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 70 OLHARES SoBRE 9 BILINGUISMO: - menti (10x) - mente (5x) 15x /13pal/ 72,0 brutalmente, certamenti (2x), completa: enti / kompletamenti, diariamenti/diaria- mente, diprimenti, diretamenti, especial- ‘menti/ ispicialmenti (ax), juntament, lentamente, mentalmente, vuluntariamenti, invuluntariamenti, somenti anti Gx), ante (0x) sx /4pal 130 ignoranti, importanti x), intolerantis, tiranti -conjedn (2) -¢80 (3) 55x /atpal/ 24, 16,1 colonizagon, complicason, conclusén, ‘confuson (4x), coragon / Kuragon / coracdo, cor-rupgon, cumunicason, eurtigon, dedi ‘eagon (ax) / dedikason (3x), deskriminagio destruison / distruison (2x), educaron (2x), ‘errupgon, escuridon, excluson, exploragon, expluson, exterminagon, ficgon, geragon. iluson (6x), informagon, kreduson (6x), liber- tacon, manifestagon, nogon / nogao, opresson (2x) / opressio, oragon, plantagon, pressio, produson (3x), proliferacon, reason, refeigon repres-son, revuluson / revolugon, situagon / situason, solugon / solucon, tel- evis6n / televisio, tradicao, traigon HA maior variago coma forma portuguesa com os prefixos dis-e ra-. Tabela 8: Adaptaco de Palavras com prefixos derivacionais paralelas Morfema derivacional Freq/n* pal/ PT, amb, aut [Ocorréneias com variantes no corpus ¢ (entra: das num dicionério do CV) /Origem provavel: do PT, ambigue/ ambas [Kinguas, formagio auténoma no CV dis- (07%) des- (29x) 46x / 30 pal / 18,12, 0 [desconto, discontra (5x) / descontra Gx, Jdiscrimina / deskriminacéo, descubri, disespero / desespero /desispera, disfarca / desfarca, dis- gadja, disgosto / desgosto, disgraga / desgra- ga (3x)/ disgraciados, diskansu / discango, /deskansa, descansa (2x), disliza, disorienta (0), dispara (4x), dispensa, distrui-som / des- truison, distrui / destrui / destruidu / destrui / Jdestruido, disviadu, desamparadu, descompo / /descompos-tura, desconhecidu (2x), desen- rola, desfazi, desilegal, desliga, desmarea, despedi, despi, destant, destemiduy re GO re: (x) [éx/§ pal/ raganha, rabola, ragalado, rafogado Gx), rapre- senta (-blend?)/ representa Das 125 ocorréncias analisadas de palavras sufixados, 102 s40 morfologicamente adaptadas ao CV (61,6%) e s6 23 aparecem no cor- pus com o sufixo portugués (18,4%). Das 52 formas prefixadas, 22 so morfologicamente adaptadas ao CV (42,3%) e 30 aparecem coma forma portuguesa do prefixo, isto &, nao sio adaptadas (57.7%). Esta Sbvia diferenga no grau de adaptagio entre prefixos (42,3%) e sufixos (61,6%) pode ser explicada, por um lado, com a saliéncia fonolégica da ‘altima silaba, por outro lado, com diferengas relativas & transparéncia formal da prefixacao e sufixacao, como descreve Marzo (2009) para o proceso de decodificagao : Ein Prifix blockiert den Zugang zum Stamm insofern, als es im men- talen Lexikon Eintriige aktiviert, die ihm formal ahneln, aber nicht dem Stamm. Man bleibt also zunichst im Dunkeln, was die Wortbedeutung. angeht, Bei Suffigierungen hingegen wird sofort der Teil, der wesentlich fiir die Worthedeutung ist, aktiviert. Wenn dann das Suffix wahrgenommen wird, ist man also, was die lexikalische Bedeutung angeht, schon Lingst, auf der richtigen Palhrte, (Marzo 2009: 193) Assumimos que adicionalmente a capacidade de segmentacao morfolégica, cuja transferéncia entre duas linguas pode ser dtil para os conhecimentos aprendentes de uma La.como 0 desereve Sabourin (2005), é aplicada na adaptagdo de palavras portuguesas ao CV. Serait-il possible qu'un apprenant puisse appliquer dans sa L2 une capacité de segmentation morphologique qu'il maitrise dans sa L1? Une {elle stratégie de transfert morphologique (... pourrait ére trés utile lorsque evocabulaire des deux langues se recouvre (p. 40f) (..) Silapprenantest sensible la structure morphologique des mots, il peut aussi profiter dela structure morphologique partagée pour approfondir ses connaissances des mots” (Sabourin 2009: 44) Naadaptagao do material portugués ao caboverdiano ocorre uma «segmentation du signifiant en LE (langue étrangére)” e uma “recom position morphologique de la dérivation en LM (langue maternelle)” (Degache & Masperi 1998: 364), de forma que o morfema lexical (tronco) i” conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE m OLHARES SoBRE 8 BILINGUISMO. € combinado com o morfema derivacional correspondente do CV."*! Os rappers (bilingues proficientes) aplicam regras de correspondéncias morfematicas entre CV e PT num processo de produgao bilingue, tal como Alvarez (2004) as descreve para estratégias de aprendentes de espanhol L2. Miiller-Laneé (2001, 2002, 2003) analisa-as como vantagem na aquisigdo sucessiva de varias linguas romanas. Uma consciéncia (meta-)linguistica sobre sons e morfemas correspondentes entre PT e CV pode tornar-se produtiva na adaptagao de palavras para serem mais facilmente aceites pelos falantes do CV. Os falantes substituem o som / morfema portugués por outro correspondente do caboverdiano, dando assim origem a um neologismo com tracos morfo- e fonolégicos do caboverdiano. Estas correspondéncias explicam formas como coloni- zacon, confuson, dedikason, excluson, exploracon, libertacon, manifestacon, opresson nas letras, que ainda nao se encontram registadas como parte do léxico do caboverdiano, mas passam por palavras caboverdianas. £ importante que as palavras novas sao aceites por outros falantes do caboverdiano, por isso devem ter ‘uma conexao com a lingua’ e nao ser feitas ‘completamente mal em crioulo’, como comenta MC CH em relacio a criatividade lexical da banda rap Submundo e das suas proprias formagées lexicais. MC CH: Ouvir Submundo é mesmo um desafio ao crioulo, porque cles pegam as palavras que usas no dia-a-dia em Portugal no rap, trans- formam-nas em crioulo, fazem um rap brutal, like pft-tktk-pfft. E esta ‘cena me inspirou bué para fazer rap em crioulo, O que uso em portugues ‘também tem que usar em crioulo, que é para nao limitar em crioulo, mas ‘tém que ter um minimo de conexio com a terra ou com a lingua. Uma palavra que faco completamente mal em crioulo um gajo ndo vai usar (Entrevista 6/07) Uma hierarquia de processos de integracéo de palavras pode ser construida através da comparagio das formas encontradas. Assume-se que estes processos ocorrem em fases sucessivas (transformagGes imediatas, transformacdes pro- _gressivas ¢ integragio no léxico) como as descrevem Schmidt-Radefelde (1995) ou Freitas/ Ramilo/ Soalheiro (2005: 47-48). Aqui a integragio parece ser muito mais {mediata’ relativamente A forma morfo-sintactica dos lexemas e nfo corresponde As fases de integragio delineadas. A criagao de neologismos no CV a partir de empréstimos de morfe- mas lexicais do PT é um processo activo e consciente, sendo a adaptagio morfologica das palavras uma estratégia de tornar-las mais aceitaveis. Os MCs tomam, porém, cuidado em nao exagerar 0 uso de palavras portuguesas nas letras em CV, como ¢ ilustrado na entrevista seguinte com MCL. (CM: As vezes tu usas palavras portuguesas? MC L: Sim, ha palavras portuguesas. (CM: Entdo tu misturas também? MC L: Nao, nao, nao. Falo crioulo, s6 falo crioulo, s6 que no crioulo ha palavras que sio idénticas ao portugués. (CM: Nao emprestas uma palavra do portugués para o crioulo? MC L: Ha termos, ha termos téenicos do portugues. Isso jé utilizo. (Entrevista 6/2007) Nesta linha de argumentacao, podemos perceber a criatividade dos MCs na criagao dum novo léxico para as suas letras em cahoverdiano como um Ausbau ou alargamento consciente do léxico do cabover- diano relativo aos termos téenicos em certas areas tematicas (veja 0 conceito de Ausbau em Kloss, 1967). O objectivo dos MCs é a criagéo dum vocabulirio para poder rappar em caboverdiano sobre temas como a critica social, centrais na onda de rap de intervencao e para os MCs que querem passar uma mensagem educativa a jovens de origem, caboverdiana, como comenta MC L: “o meu rap é consciencializar” (interview 6/07). 6.2. Transferéncias semanticas Em relag&o As numerosas transferéncias lexicais entre as duas linguas que ficam visiveis numa anélise lexical mais detalhada, notamos que hA algumas (poucas) transferéncias do CV para o PT, mas é possivel identificar interferéncias semanticas de palavras com uso frequente no CV para os seus equivalentes em PT, p.ex. cota, que em CV pode ser utilizado com significado mais amplo de ‘pessoa da gerac4o mais velha’, enquanto em PT o seu uso é mais restrito. O campo de transfe- réncias e mudancas semanticas e neologismos para denominagoes de 171 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 1m OLHARES SoBRE 9 BILINGUISMO: lugares e pessoas foi estudado com mais detalhe na minha dissertagao (cf. Marzhauser, 20n, capitulo 8.6). 6.3, Blends Nacriagao de palavras novas, os MCs recorrem também ao blending, isto 6,4 fusio ou mesclagem i) formal de duas palavras e ii) conceptual de dois conceitos. Fala-se de blends hibridos quando as duas bases lexicais, provém de duas linguas diferentes. Nas letras, ha sobretudo blending entre palavras portuguesas, mas também alguns de criacao bilingue. © titulo da cango “Imigra.som” de Chullage contém um jogo de palavras bilingue: a homofonia entre a palavra portuguesa som (‘miisica’) ¢ 0 sufixo caboverdiano -son abre dois niveis de interpretacéo para imigra.som, que é sublinhado pela grafia do autor (com ponto entre os dois morfemas imigra- e-som), e inclui o blending conceptual de imigracao + som (= miisica de imigrantes etc). A seguinte criag&o nao é bem um blend hibrido entre CV e PT. O lexema fuga pode ser visto como parte do e6digo de grupo dos jovens estudados, € produtivo em composigdes como rap tuga ou hip hop tuga. ‘Numa letra de Boss AC, o blending de tuga + caboverdiano serve para a criagdo duma nova categoria étnica-cultural, o fugaverdiano. Poucos entendem o plano, rap veteran ‘Ouves umas dicas em inglés mas no sou americano, Nem Italiano, chama-me Tugaverdiano Mano ist’é hip hop lusitano. (Boss AC & Sam the Kid, “Paz o favor de entrar (Tuga night) Os outros blends no corpus consistem ou em formagées hibridas entre inglés e portugués (muitas palavras com rap-, como rap + rapti- blica — rapuiblica, rapresentar, rapensar, rapresalias etc.) owem blending de duas palavras portuguesas (preto + Portugal— Pretugal, corrupedo + democracia —» corrupcracia). Sao criticados e negociados perante estas palavras conceitos da realidade social. Também se destaca um MC com a invengao de novas palavras. 7. Conclusao O papel do bi- ou multilinguismo na criagao das letras de rap foi ana- lisado em relacao 4 escolha da lingua para uma cangao (caboverdiano ou portugués, ou ambas?). As diferentes estratégias de combinar as duas linguas, o caboverdiano e o portugués, na producdo de letras de rap sio as alternancias de cédigo (code-switching entre partes do texto e entre frases e code-mixing dentro de frases) e a formagio de palavras através de transferéncias lexicais e blends hibridos. Acriacao de letras bilingues, i.e. rappar alternando entre CV e PT, abre novas possibilidades em termos de rimas e estruturagao da cacao. A escotha de uma lingua s6 ou de alternancia entre duas linguas nas letras pode funcionar como sinal de in- ou exclusao dos respectivos grupos, dependendo da orientac&o dos rappers ao mercado musical e 20(s) pitblico(s)-alvo(s), ie. aos ouvintes lus6fonos (monolingues) e/ou aos jovens das comunidades caboverdianas. As alternancias entre CV ¢ PT também sao expressio da identidade bilingue dos MCs. A transferéncia de morfemas lexicais do PT para o CV, aplicando regras de correspondéncia morfolégica e fonolégica do CV, serve aos rappers, que sio todos bilingues proficientes, como possibilidade de explorar novas 4reas tematicas em crioulo, ultrapassando limitagdes em termos do vocabulirio disponivel devido ao uso restrito do cabo- verdiano em dominios da vida quotidiana e em contextos privados. Os MCs utilizam o rap como forma consciente para exprimir, rede- finir e recriar a sua posigdo social e identitéria em relagio a sociedade de origem e 4 sociedade de acolhimento. A pratiea de combinar as, duas linguas nas letras rap é vista por alguns informantes como uma nova cultura urbana em Lisboa. No discurso sobre uma sociedade multicultural dentro da cultura hip bop sio criadas novas categorias e des-categorizagdes perante blends (como tugaverdiano ou Pretugal), que surgem como alternativa ou em oposi¢ao a cultura dominante. Os comportamentos linguisticos dos MCs influenciam a lingua juvenil em grupos de jovens que sio fis do hip hop, tendo influéncia nas varie- dades correntes faladas nas suas comunidades. Através das praticas linguisticas observadas nas letras de rap podem ser depreendidos alguns factos sobre as variedades juvenis faladas nos bairros subur- anos de Lisboa. 175 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 1% OLHARES SoBRE 9 BILINGUISMO: Referéncias Auseia, Maria (2004),“More about blends: Blending with Proper names in Portuguese Media”, in A. Silva (ed.) Linguagem, Cultura e Cognigdo. Extudos de Linguistica Cognitiva, Coimbra, Almedina, pp. 145-158. ALamiva, Maria (2006), “Blend-Bildungen im Portugiesischen und Deutschen”, in J. Schmidt-Radefelat (ed.) Portugiesisch kontrastio geschen und Anglizismen ‘weltweit, Frankfurt, Peter Lang, pp. 241-257 Auwvanez, Elsa (2004), Inferlanguage lexical innovation, Miinchen, Lincom, Assuncho, C.,C. Atmeipa & L. Praoico (2006), .0 hip hop ‘tuga’- Das ruas de Nova Iorque para os subiirbios portugueses”, disponivel em www2.fesh. unl pt/cadeiras/-plataforma/ foralinha /atelier/a/www/viewasp? edicao- ~o6&artigo=242, consultado em 14/05/07. Auzanxeau, Michelle (2000), -Jdentités africaines:lerap comme lieu dexpression’, Cabiers d'Etudes africaines 63-164 XLU3/4, pp. 71-734. Barsosa, Carlos & Max R, Ramos (2008), ,Vozes e movimentos de afirmagao: os fillos de cabo-verdianos em Portugal", in Pedro Géis (ed.), Comunidades) Cabo-verdiana(s) as miltiplas faces da imigragao cabo-verdiana, Lisboa, ACIDI, p.173-191, Barats, Luis (2004), “Contra corrente dominante: historias de sucesso entre cabo- vverdianos da segunda gera¢io", Etnognifica vol. 8, n°. 2, Lisboa, pp. 297-333, Buti, Jacqueline & D. Simon (eds) (1998), Alernance des langues: enjeux soio-culturels tidentitaires, Grenoble, Université Stendhal. Buuitez, Jacqueline (1998), “Lalternance des langues en chantant”, in J. Billiez & D. ‘Simon (eds.) Alernance des langues: enjewx socio-culturels et idemtitaires, Grenoble, Université Stendhal, pp. 125-140. Bons, Orlando (1998), ‘A segunda geragé0 de imigrantes cabo-verdianos em Portugal: Processos de insergao social”, Cultura Ano a/2, Julho 1998, Praia, pp. 85-91. BowsA, Orlando (2002), “E(Dmigrantes caboverdeanos: Da integraglo tarida a luta pela cidadania’, disponivel em www-governo.cv/indexa.-php.optio docman&itask=doc_viewégid =15 <emi/, consultado em 17/02/07. Brose, M. & J.Lane (2002), Dicionério do Crioulo da Wha de Santiago (Cabo Verde), ‘Tiibingen, Gunter Narr. 0A. (2005), ,Filhos de imigrantes caboverdeanos em Portugal: a questio identitaria“, disponivel em hitp//www:socinovamigration.org/, consultado em 10/11/10, Canvatato, Franc! Caavatso, Francisco A. (2007), “Segunda Geragao ¢ Crise de Identidade. Breve Discussio de Conceitos’, in S. Ferreira, F. Carvalho & C. Tavares (eds.) Actas «do Encontro de Jovens Investigadores Cabo-verdianos (FJIC), Lisboa, pp. 1726. CinrA, Rui (2002), Ser real: orap na construcio de identidades na Area Metropolitana de Lisboa", Ethnologia 2003, pp. 189-222. Curve, Michael (1980), ,Zur RegelmaBigkeit von Sprachkontakt - Erscheinungen bei Bilingualen”, Zeitschrift fir Germanistsche Linguist 08/1980, pp. 28°33. Convanor, A.C. & B.L, Ferreira (1997), Ritmo ¢ poesia: os eaminkos do RAP, Lisboa, Assirioe Alvim. Contanor, A. (2001), Cultura Jucenil Negra em Portugal, Oeiras, Editora Celta De Juan, Eduarne (2007), “Nu ta valoriza nos raiz:el Rap Krioulo yla Construccién Identitaria de los j6venes en la Cova da Moura, Lisboa", Conference Paper First International Conference Young Urban Researchers, 06/2007, Lisboa. Dr Juan, Eduarne & D. Ropricurs (2008),“A Miisica Rap ea Construgao Identitaria dos Jovens de Origem Cabo-verdiana da Cova da Moura’, (anversiff Domincurs, Nuno (2005), Jovens Negras em Lishoa: Biografia(s) de uma festa Hip hop, Dissertagio de Licenciatura em Sociologia, Universidade Nova de Lisboa. Exwext, Theodor (1980), “Sprachmischung und Sprachverballhornung im romani- sschen Lied, in P. Arizeuren (ed.) Romania Cantat IL, Tibingen, pp. 651-656. Franiqut, Teresa (2003), Fixar o Movimento, Representapdes da misica rap em Portugal, Lishoa, Publicagdes Dom Quixote. Fexwanpes, Ana (2005), Putos quia ta cria, A Animario Sociocultural na promocao da articipagdo Juvenil, Tese de Licenciatura Escola Superior de Educagao Jean Piaget, Lisboa, Ferns, T, M, Ranito & F. SoaitteiRo (2005), “O proceso de integracio dos estran sgeirismos no Portugués Europeu’, in H. Mateus & Nascimento (eds.) A lingua Portuguesa em Mudanga, Lisboa, pp. 37-5. Frrrscit, Michael (2002), “Macearonea -2000 Jahre Sprachmischung in satirischer Dichtung’, disponfvel em http://wwweuro-sprachenjahrde/ Veranstaltungen ‘macearonea.htm, consultado em 10/02/07. Guwenz, John (1982), Discourse Strategies, Cambridge, University Press. Henoior, Dick (1979), Subculture: The meaning of style, London, Routledge. Jantonxa, Frank (2009), ,Styles sociaux communicatifs et alternance codique dans le rai, Passages transculturels», PhiNV 50/2009, pp.t-22, disponivel em http:// ‘web fu-berlin.de/phin/phinso/ psott.htm, consultado em s/10/2010. Kineton, Eva (ed.)(2004), Rap: More than Words, Frankfurt, Peter Lang. Koss, Heinz (1967), “Abstand languages and Ausbau languages”, Anthropological Linguistics Vol. 9, No.7 (Oct., 1962), pp. 29-41 7 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE "8 OLHARES SoBRE 9 BILINGUISMO: Koss, Heinz (1978), Die Entwicklung neuer germanischer Kultursprachen seit 1600, Dilsseldorf, Schwann, Lanca, Martha (2007), ,Luanda esta a mexer. Hip Hop undergroudn em Angola", disponivel em http://www.uni-hildesheim, de/ntama/index:php?option-com -content-&view-artiele &id -201luanda-esta-mexerhip-hop-underground-em- angolaécatid-79:african-hip-hopééltemid-3o/, consultado em 17/04/09. Lane, J, J. Hou, J. Rouct & M. Soares (eds.) (2006), Cabo Verde-Origens da sua sociedadee do seu Crioulo, Tibingen, Gunter Narr. Lee, Jamie (2004), “Linguistic hybridisation in K-Pop: discourse of self-assertion and resistance”, World English’, Vol. 23/3, pp. 429-450. Manznauses, Christina (2006), “Entre Kriolu e Portugués. A situacao de migran- tes caboverdianos em Grande Lisboa — um estudo de caso em Alta Cova da Moura”, in Thomas Krefeld (ed.) Modellando lo spazio in prospettiva linguistca, Frankfurt, FFM, pp. 173-194 MAnzitAuser, Christina (201), Portugiesisch und Kabuverdianu in Kontakt: Muster ides Code-switching und lexikalische INnovationen in Raptexten aus Lissabon. Dissertation LMU Miinchen/ FLUC Coimbra; Frankfurt a.M./Berlin: Peter Lang Verlag. Manis, Humberto (1997), Ami Cunhd CumpadriPitécu - Uma Etnografia da Linguagem eda Cultura Juvenil Luso-Africana em Dois Contextos Suburbanos de Lisboa, Tese de Mestrado ~ Instituto de Ciéncias Sociais: Universidade de Lisboa, Menoes, M & Nicholas Quuvr (eds) (2002), Diciondrio Prtico Portugués Caboverdiano, Lisboa, Verbalis. Mowreiro, Vladimir (sem ano) , imigragao caboverdiana em Portugal”, disponi- vel em http://www. caboindex.com/musica/A-imigracao-cabo-verdiana-em- Portugal.php/, consultado em 03.05.07. Mo.ieR-Laxcé, Johannes (2001), ,Méglichkeiten der Untersuchung lexikali- cher Strategien bei Mehrsprachigen’, in Franz-Joseph MeiBner & Marcus Reinfried (eds.) Bausteine ir einen neokommunikativen Franzisischunterricht. Lernerzentrierung, Ganzheitlcbkeit, Handlungs-orientierung, Interkulturalitt, Mebrsprachigheitsdidaktik, Tibingen, Narr, pp.205-295 ‘MouLeR-Lanct, Johannes (2002), “La corrélation entre la ressemblance morpho- logique des mots et la probabilité du transfert interlinguistique”, in Gerhard Kischel (ed.), EuroCom - Mebr-sprachiges Europa durch Interkomprehension in Sprachfamilien, Hagen, FernUniversitat/ Gesamthochschule, pp. 141-159. Muvsken, Pieter (2000), Bilingual Speech, Cambridge, University Press. Portes, Alejandro & R. Rusmavr (2001), Legacies: the story of immigrant second gene- ration, California, University of California Press. Pontes, Alejandro (1999), Migrapéesinternacionais:tipos, rigens e modos de incorpo ragdo, Ocieas, Celta Editora, Quint, Nicholas (1998), Diciondrio electrénico Caboverdiano-Portugues, Lisboa, Verbalis, RawPron, Ben (1995), Crossing: Language and ethnic Longman. RaPoso, Otévio (2008), Saciabildades Juvenis em Contexto Urbano - Um olbar sobre osjovens do bairro Alto da Cova da Moura, ese de Liceneiatura, Universidade Nova de Lisboa. among adolescents, London, Ra?oso, OtAvio (2008), ,Socialilidades juvenis em contexto urbano: um olhar sobre alguns jovens do bairro Alto da Cova da Moura’, Férum Socialégico, Lisboa, 1.13/14, pp-151-170. Raposo, Otavio (2007), “Niggaz, brothers, blacks, soldados ou gangsters: os jovens Red Eyes Gang", disponivel em http://conferencias.iscte pt/viewpaper.- phptid=1698cf3, consultado em 17/05/08. Rost, Tricia (1994), Black noise: Rap music and black culture in contemporary America, ‘Middletown, Wesleyan University Press. Rous, Jean (2004), Dictionnaire étymologigque des créoles portugais dAfrique, Paris, Karthala Saint-Maurice, Ana (1997), Identidades Reconstruidas, Cabo-Verdianos em Portugal, Oeiras, Celta, Sagan, M.,L, Winer & K. Sariak (2009), “Multilingual Code-Switching in Montreal Hip-hop: Mayhem meets method or “Tout moune qui talk trash kiss mon black ass du nord”, disponivel em wwwlingref com/ish/4/16018B4, consultado em 6/nv/06. SaRKAR, M., L. Wink, I. & A. Dawn (2006), “Montreal hip-hop and multilingual codeswitching: hybridity, identity and language use”, disponivel em www. lingref.comy ish/4 /1601SB4, consultado em 16/11/06. Scsnmor-Raverrinr, Jlirgen (1995), ,Adaptationsphanomene der Anglizismen. ‘Zur Konvergenz und Divergens in den romanischen Sprachen’, in Wolfgang Dahmen (ed) Konvergens und Divergens in den romanischen Sprachen, Tilbingen, Gunter Narr, pp. 191-203. Sitva, Tomé V. (2008), (Kon) Tributu (pa litertason y dizanvolviméntu), Praia, Instituto da Inves-tigago e do Patriménio Culturais. Sousa pe Mnio, Alexandre (2008), “Neologismos populares: a questio do vocabulavio do Hip-Hop, diponivel em http:/recantodasletras.uol.com br/artigos/846994, consultado em 20/01/09. 179 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE 100 OLHARES SoBRE 8 BILINGUISMO. Srenter, Susanne &T, SkRANoies eds.) (2007), Hip-Hop und Rap in romanischen Sprachwelten-Stationen einer globalen Musikkultur, Frankfurt, Peter Lang. ‘Tyunewey, N. (Gem ano), ,Lexique Créole- Frangais”, disponivel em www.mindel. {nfo//dico creole - francais abe-php, consultado em 10/4/2009, Vans, Robert F. (2008), “Una derivacién transeédiea en el espanol de Tos paisos ceatalans y el papel del conocimento linguistico en su génesis" in C. Sinner & A. Wesch (eds.)Eleastellano en las tierras de habla catalana, Frankfurt / Madrid, Vervuert / Iberoamericana, pp. 269-286. Wien, Katharina (2005), ,Transgresiones Lingtiisticas bidirecionales: El len- ‘guaje juvenil entre el castellano y el catalan’, in Torsten Kénig etal. (eds.) Randbetrachtungen. Beitrige sum 21. Forum Junge Romanistik Dresden 2005, Bonn, Romanistischer Verlag, pp.133-147. Zona bs Onnas & J. Lostatta (eo. (2008), Diccionario de Hip-Hop 9 rap afrolatinos (Espana, Italia, Portugal, Francia, Latinoamérica e Africa), Madrid, Sociedad General de Autores y Editores. Discografia Samnuse, “Rarosuica” (1994) “Puros gui ata cxia” (2006) ‘Nacho Hir Hor” (2008) Boss AC “Mapa Cava" (1998) “Ruma Conta A Mane” (2002) “Ritmo AMOR # PALAVRAS” (2005) CHutace “RAPRESALIAS..” (2001) “Ravensan” (2004) Dawa Brrr, Panvizparion 1s “Putos Qui A'TA CRIA” (2006) “Dr Iavat para Iouat” (2007) L.BC Miao Sovrnjant Mixtape “Lagrimas pr sancur” (2009) Niccapotsox ‘Popia Sex ‘Mr (2001) ‘RusistexTEs” (2006) SAMP/ SS “Escuta $6" (2004) “ConrinvagAo" (2005) “Onur Lite” (2006) Sousa “Pa NHA RAPA2" (2007) Tony MC Drrap “00 Papas Na Lit wun” (2004) Mixtape “2780 Ontras Vot.1” (2007) Neoxcuenia (Luanoa) “Nconaurnuiacdo” (2004) Filmes “Ovrnos patnnos” (1998) Inés Goxcauves, Vasco Pimentel, Kiluanje Liberdade “Zowa J” (1998) Luowss. Vieira (FicrAo) “Nu sat. Rap saxo Listoa”, (2006) Otivio Raposo “Lusorow, a (R)Evolugao”, (2006) Red Bull Music Academy “Music of Resistance” (2008), Folge 6 ,Finding dignity as an African immigrant in ‘Europe - Chullage”, von Al Jazeera, http://english.aljazeera.net/programmes/ sgeneral/ 2009/02/20092213401464360-html 181 conracto DE CABOVERDIANO PORTUGUES CRIATIVIDADE

You might also like