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Pee a: L mat Tu UE 2a EDIGAO A. SANTOS JUSTO LIVRO I PARTE GERAL TITULO I INTRODUCAO © CAPITULO I NOGOES FUNDAMENTAIS 1. DIREITO ROMANO 1.1. Nogio Nao ha agrupamento humano que dispense um conjunto de normas que disciplinem © comportamento dos seus elementos. Esta exigéncia esta patente no célebre brocardo “onde houver uma sociedade, ai neces- sariamente haveré direito” . Simplesmente, o direito é uma realidade cultural muito complexa e, portanto, dificil de definir. Os préprios jurisconsultos romanos adver- tiam que “toda a definigéo em direito civil é perigosa” ® e, por isso, nao surpreende que nao o tenham definido. Todavia, poder-se-4 entender que o direito romano é um conjunto de normas ou regras juridicas que vigoraram no mundo romano desde a fundago de Roma (753 a.C., segundo a tradig&o) até 565 (ano da morte de Justiniano, Imperador do Oriente). "A bibliografia, que se omite, poderé ser consultada nos volumes 1 a V do nosso Direito Privado Romano, publicados em Studia Iuridica 26 (1997), 50 (2000), 76 (2006), 93 (2008) e 97 (2010), dos quais este Breviario constitui uma versio cle- mentar. \ “Ubi societas, ibi ius.” © D, $0,17,202: “Omnis definitio in iure civili periculosa est. 10 MANUAL DE Dikerr0 Rony — $e Rot ao 1.2. Desenvolvimento Cumprindo a fungao de disciplinar juridicamente a vida dos homen, em sociedade, 0 direito esta sujeito a um processo de desenvolviments que Ihe permite satisfazer juridicamente as novas necessidades, Compreende-se, portanto, que 0 direito romano tenha softido pro. fundas alteragdes nos catorze séculos da sua vigéncia. Segundo o critério juridico interno ©, assinalam-se as seguintes épocas na evolugio do direito romano: 1. Epoca arcaica: decorre entre os anos 753 ¢ 130 a.C. ® ¢ caracteriza-se pela mistura do juridico com a religiao e a moral e pela existéncia de instituigdes juridicas rudimentares. Merece destaque a criag&o do pretor urbano e do pretor peregrino, respectivamente em 367 e242 aC. ; 2. Epoca classica: situa-se entre os anos 130 a.C. ¢ 230 ¢ com- preende as seguintes subépocas: a) pré-classica: decorre entre os anos 130 e 30 a.C. ™ e caracte- tiza-se pelo desenvolvimento ascensional muito significativo da ciéncia juridica (iurisprudentia); © Assinalam-se ainda outros critérios: 0 critério politico, que tem por base a historia politica de Roma, distingue as épocas mondrquica (de 753 a 510 a.C.), repu- blicana (de 510 a 27 a.C.), imperial (de 27 a.C. a 284) e absolutista (de 284 a 565); 0 critério normativo, que atende aos modos de formagao das normas juridicas, considera as épocas do direito romano consuetudinario, legitimo, jurisprudencial e constitucional; © 0 critério juridico externo que distingue as épocas nacionalista (ou quiritéria), univer- salista (ou do ius gentium) ¢ oriental (ou helénica). “ Comesponde a data da lex Aebutia de formulis que legalizou 0 processo das formulas que contribuiu para o grande desenvolvimento do direito romano. Vide infra, n° 60. Vide infra, n° 14. © Assinala-se, nesta altura, 0 inicio da decadéncia da ciéncia juridica e a subs- tituiga0 do processo das formulas pelo novo processo da cognitio extra ordinem. Sobre este proceso, vide infra, n.° 61 Nesta altura verifica-se a generalizagiio definitiva do proceso das formulas a afirmagao da iurisprudentia como ars e scientia e 0 transito da Reptblica ao Princi: pado. Sobre a iurisprudentia, vide infra, n.° 24. Titulo 1 — Introdugao TT ) classica central: vai de 30 a.C. a 130 ® e é marcada pelo esplendor da iurisprudentia que se manifesta na perfeigaio e na sabia estilizag’o da casuistica; no equilibrio entre o fecundo casuismo, os princ{pios doutrinais e as regras juridicas; e na criagdo de novas actiones que integraram e modernizaram 0 ius civile ; c) classica tardia: decorre entre os anos 130 ¢ 230 e assinala o inicio da decadéncia da iurisprudentia que, esgotada, se voltou para a elaboragdo de exposigdes monograficas do ius civile € para o desenvolvimento do ius publicum com destaque para os direitos administrativo, militar, fiscal, penal e processual civil. 3. Epoca pés-classica: situa-se entre os anos 230 e 530‘ e compreende duas etapas: 12 — de 230 a 395 marcada pela confusdo (de termino- logia, de conceitos, de instituigées) e pelo advento da Escola que substituiu a iurisprudentia e se dedica a elaboragao de glosas, glo- semas e resumos de textos que revelam uma ciéncia simplista ¢ elementar; 2 — de 395 a 530: é caracterizada: a) no Ocidente, pela vulgarizagao do direito romano que se traduz na simplificagdo de conceitos, na confusio de nogoes classicas, no predominio do aspecto pratico sem atengiio pelas categorias légicas e pela desordem na expo- sigdo das matérias; ® Nesta altura, 0 processo da cognitio extra ordinem & fortemente dinamizado © a iurisprudentia burocratiza-se com 0 triunfo da administragdo técnica a partir de Adriano © Sobre o ius civile, vide infra, n.° 6. (1) Neste ano, Justiniano, Imperador do Oriente, encarregou Triboniano de ela- borar o Digesto, parte importantissima do Corpus Iuris Civilis. Vide infra, n.° 26. “Neste ano, o Imperador Teodésio | dividiu definitivamente o Império Romano em duas partes (Ocidente ¢ Oriente) pelos seus filhos Honério ¢ Arcédio. Mantuat DF Dinsiro Rony to b) no Oriente, pela reacgao antivulgarista (classicismo (12), que, alimentada sobretudo nas Escolas de Constantinopiy Alexandria ¢ Beirute, conseguiu (ravar a expanstio qo, fendmenos vulgaristicos ¢ impedir que, tornando-se domi. nantes, se transformassem em direito romano vulgar, Além do classicismo, assinala-se também a helenizacao: tendén. cia para sublimar a terminologia e certas Construgdes juridicas, informando-as de principios e de ideias filos6f. cas gregas. 4. Epoca justinianeia: decorre entre os anos 530 © 565 () ¢ g igualmente caracterizada pelo classicismo e pela helenizagao. A sua especificidade deriva da maior compilagao juridica jamais feita: 9 Cor. pus luris Civilis que actualizou o direito romano e transmitiu 0 sey conhecimento as geragdes vindouras 1.3. Caracterizagio O direito privado romano apresenta caracteristicas que o distinguem dos outros direitos. Destacam-se: O desinteresse pela codificagao: sé no século V foi publi- cado 0 Cédigo Teodosiano e, no século VI, 0 Corpus Luris Civi- lis ), E provavel que a principal causa deste desinteresse seja 0 escasso relevo das fontes escritas; 2. A prioridade da acgao sobre o direito: a iurisprudencia preocupou-se fundamentalmente com a resolugao dos problemas praticos, e quando nao havia direito (ius), a sua protecgao era asse- gurada através da criag&o de actiones que, portanto, precedem 0 reconhecimento dos direitos (iura); 5 ; le ‘°) Pode caracterizar-se o classicismo como a tendéncia intelectual que pretend valorizar ¢ imitar 0 clissico, ‘Neste ano faleceu Justiniano, Imperador do Oriente. Vide infra, n° 126. Vide infra, n° 26, iy itulo 1 — Introdugdo B 3. A simplicidade das solugdes e a auséncia de sistema: ha, nas solugdes juridicas, uma extraordindria naturalidade e simpli- cidade que se revelam em duas tendéncias bem marcadas: a de utilizar um instituto juridico para a satisfagao de diversos fins praticos; e a de configurar as instituigdes jurfdicas com clareza e precisao, evitando a criagao de institutos hibridos. O espirito eminentemente pratico dos jurisconsultos romanos justifica a auséncia de regras gerais e o desinteresse pela construgéo de sistemas juridicos; 4. A diferenciagao de conceitos: a iurisprudentia romana preocupou-se em separar 0 juridico dos usos sociais ¢ das regras morais e, no campo do direito, isolou o direito divino, o direito humano, 0 direito privado, o direito publico, o direito civil, 0 direito pretério, o direito das gentes, etc.; 5. A forga da tradigao: ha, no pensamento juridico romano, uma grande devogiio pelas normas juridicas do passado. Por isso, as novas regras juridicas, acomodadas as recentes exigéncias, sao colocadas ao lado das normas antigas que acabam por morrer por falta de aplicag4o; 6. A ponderacao e a coordenagao de liberdade e autoridade: Os Romanos entendiam que liberdade sem autoridade é anarquia e autoridade sem liberdade é tirania. Por isso, as conciliaram supe- riormente; 7. O reconhecimento da fides, do officium, da humanitas e da amicitia. so valores que os jurisconsultos romanos introduziram na campo do direito e através dos quais lhe conferiram uma assi- nalavel dimensdo ética ¢ humana. Haja em vista, v. g., que a fides (cumprimento fiel da palavra, sentimento de lealdade contratual) é uma forca moral que se impés nas diversas relagGes juridicas; que 0 officium (dever que se cumpre desinteressadamente) est4 presente em relagdes publicas e privadas (tutela, responsabilidades paternais, mandato, gestdo de negocios, etc.); que a humanitas, que se mani- festa no respeito e na valorizagao da pessoa humana, se encontra em diferentes relagdes, como as que se estabelecem entre pais e filhos e entre credores e devedores; e que a amicitia inspira 0 regime juridico de varias figuras, como 0 depdsito, 0 comodato, o mandado, a gestao de negécios, etc. MANUAL DE Diner Rov, 1.4, Utilidade O estudo do direito romano que, na Universidade ee Temontz & sua origem, justifica-se por varios motivos: vg, 0 contri oe form do jurista, a perfeigdo técnico-juridica, 0 interesse pritico e st6rico, ete Assinala-se, nomeadamente, a fungiio desempenhada Pela in spr. dentia na interpretagao, na aplicagdo e na criagéo do direito; a termino. logia, que faz do direito romano “o alfabeto e a gramdtica da linguagem Juridica”; a compreensao de figuras juridicas que somente se torna Possivel com o estudo das suas origens: etc. 2. TUS E FAS Inicialmente, os vocdbulos ius ¢ fas significavam 0 que era licito, ou scia, 0 que a vontade divina permitia; por isso, equivaliam-se, Todavia, sofreram uma evolugdo em sentidos diferentes: enquanto © ius conheceu um processo de lenta Secularizacao, fas passou a iden- tificar-se com o ius divinum, ou seja, 0 conjunto de normas que estabe- lecem 0 que é permitido pelos deuses e cuja inobservancia é sancionada com penas religiosas 3. JUSTICA E EQUIDADE versal (a soma de todas i mas como virtude particular ou legal, det de a justica (ustitia) & na definiggo de ULPIANUS, “a vontade constante e Perpétua de atribuir a cada wy o seu direito” ". Constitui, portanto, 0 ontolégico do Jjuridico: acting ue como juridica, a vida social, cabendo ao © configura, direito (ius) ital a sua E constituida pela seguintes elementos logicgs. Tealizacao, 'S Cons; ing: que se dé © o que recebe; entre o que se ae entre o © © 0 que se © D. 1,1,10pr: “lustitia est constans ef Tustit SIAM €F perpen volte tribuendi” ius suum cuique _ Titulo I — Introdugdo s presta; entre os delitos e as penas; e na distribuigao dos direi- tos e deveres correlativos. Na lapidar definigdo de Danre, “é a propor¢ao do homem para o homem” \"?; b) igualdade: resulta da proporcionalidade e implica o trata- mento igual dos casos iguais e desigual do que é diferente. A igualdade determina que as normas juridicas sejam gerais e abstractas. Por sua vez, a equidade (aequitas), que tem sido definida como a justiga do caso concreto, cumpre as fungées de adequar a norma geral e abstracta ao caso swb iudice, de suavizar o rigor da lei, de afastar solugdes absurdas, etc. No entanto, a equidade nfo foi, em Roma, somente a justica do caso concreto: inspirou o legislador e a iurisprudentia na cria- ¢40, interpretagdo e transformagao do direito positivo. Por isso, CELSUS definiu 0 direito como “a arte do bom e do equitativo” “. 4, IURIS PRAECEPTA Os iuris praecepta sao principios fundamentais do direito e, por- tanto, essenciais a qualquer norma juridica. Nas palavras de ULPIANUS, sao trés: no abusar do seu direito (honeste vivere) “, nao prejudicar ninguém (alterum non laedere) e atribuir a cada um o que é seu (suum cuique tribuere) °°, O primeiro tem uma base profundamente ética e a sua esfera é mais ampla do que a do licitum (o que & conforme ao direito); e os outros sio também postulados da justiga, como esclarece CicERO: “O primeiro fundamento da justiga é néo prejudicar ninguém” °; ¢ “a justiga determina dar a cada um o que é seu”). De Monarchia I, ¢., U-XI: “Hominis ad hominem proportio”. 0% D. 1,1,lpr: “Jus est ars boni et aequi”. © No campo do direito, viver honestamente ¢ no abusar do seu direito. ©) 1D. 1,1,10,1: “Juris praecepta sunt haec: honeste vivere, alterum non laedere, suum cuigue tribuere”. @) Cicero, De of. 1,20,7: ©) Cicero, De rep. 3,24, ‘undamentum iustitiae primum est ne cui noceatur”. “Justitia percipit suum cuique reddere”. 16 Manual. DE DiretTo Ros 5. DIREITO PUBLICO E DIREITO PRIVADO Nos primeiros tempos, as relagdes do populus (entendido con organizagao politica a que modernamente se chama Estado) eram di ciplinadas pela lei (/ex); ¢ as dos cidadaos romanos (cives romani), pelo direito (ius civile). Posteriormente, quando a /ex se tornou fonte do ius °), a anti contraposig’io lex — ius foi substituida pela nova distingdo entre direito: publico (ius publicum) e direito privado (ius privatum). Tém sido propostos varios critérios para os distinguir. Todavi: merece referéncia um texto de ULPIANUS, que nos fala de duas posi¢t “0 direito piiblico é 0 que se refere ao estado da repiiblica e o privad @ utilidade dos particulares, pois hd coisas de utilidade publica e outras de utilidade privada” °. ULpianus parece atender ao critério da utilidade, segundo a qt as normas do ius publicum visam os interesses da comunidade so enquanto as do ius privatum satisfazem as necessidades dos particu- lares. a DIREITO CIVIL, DIREITO PRETORIO E DIREITO -HONORARIO direito civil (ius civile) é 0 direito especifico dos cidadaos roma- tas romana. Este ius, igualmente denominado quiritario ™, ito formalista e rigido. ito pretério (ius praetorium) & criado pelo pretor urbano, de “interpretar, integrar e corrigir o direito civil”, co} romanos denominavam-se Quirites. rium est quod praetores introduxerunt adiuvandi ¥ Titulo I — Imtrodugdo "7 E 0 direito honorario (ius honorarium) é criado por certos magis- trados: 0 pretor, os edis curtis e os governadores das provincias. Portanto, 0 ius praetorium é uma parte do ius honorarium, mas é tao grande que 0 direito dos restantes magistrados resulta pouco signifi- cativo e, por isso, é comum falar de ius honorarium como sinénimo de ius practorium. 7. DIREITO DAS GENTES E DIREITO NATURAL O principio da personalidade do direito, dominante no mundo antigo, foi também aplicado em Roma: o direito civil dos romanos (ius civile romanorum) & 0 direito préprio e especifico da civitas romana @?. Porém, em consequéncia da expans’o de Roma, as relagdes com os povos de distintas civitates impuseram que se aplicasse, a romanos e estrangeiros (peregrini) as normas do ius civile romanorum que, coin- cidindo mais ou menos com as destes povos, nao se consideravam patriménio exclusivo dos cidadios romanos. A estas normas foram-se juntando outras que, oriundas do tréfico mercantil e formuladas em forma consuetudinéria, foram adquirindo permanéncia. E de umas ¢ outras surgiu 0 direito das gentes (ius gentium) que disciplina as relagbes entre romanos e¢ estrangeiros e entre estes. Segundo Gatus, “o que, na verdade, a razdo natural constitui entre todos os homens é observado igualmente em todos os povos e chama-se direito das gentes, como se fosse o direito que todas as gentes utili- zam” ®), Esta ideia de que o direito das gentes se funda na razio natural (naturalis ratio) ©) foi difundida pelos jurisconsultos que passaram a chamar direito natural (ius naturale) as normas e instituigdes em cuja © Vide supra, n2 6. ©) Gaus, 1,1: “Quod vero naturalis ratio inter omnes homines constituit, id apud omnes populos paraeque custoditur vocaturque ius gentium, quasi quo iure omnes gentes utuntur”. ©) Na filosofia grega, a naturalis ratio significa a ordem natural das coisas. Vide Aristore.es, Eth. Nicom. 5,10; ¢ Rhet. 1,13. 2 — Brevirio de Di. Priv. Romano is MANUAL DE DIREITO Rostung im, ULPIANUS refere que este “é 4 origem vém a razio natural. AS fe 60, direito que a natureza ensinou a todos os animais” ‘A base comum aproximava o direito das gentes do direito natural Todavia, este recebeu, no direito justinianeu, uma base teoldgica, afin. mando-se que “os direitos naturais estabelecidos por certa providéncia divina permanecem sempre firmes ¢ imutéveis” ©. Estamos, agora, perante um sistema ideal de normas que contém exigéncias abstractas de justiga: 6 um outro direito que transcende o direito positivo. Ora, esta nova visto produziu a separagao daqueles direitos, como se observa na escravatura: se, na época classica, o direito natural e o direito das gentes fundavam-se na realidade objectiva das coisas (natu- ralis ratio) e, por isso, eram considerados escravos os filhos de escrava, doravante, por forga do principio de que todos os homens nascem livres, a escravatura foi afastada do direito natural restringida ao campo do direito das gentes. 8. DIREITO COMUM E DIREITO SINGULAR. BENEFICIO E PRIVILEGIO Entende-se por direito comum (ius commune) um conjunto de nor- mas juridicas que tém cardcter geral: aplicam-se a uma série ilimitada de casos abstractamente fixados. E, por direito singular (ius singulare), 0 direito que, por virtude duma particular ratio, se afasta do ins commune, aplicando-se a uma categoria especial de pessoas ou de coisas. Como simples exemplos, apontam-se as doagdes , cuja vali- dade (ius commune) é contrariada pela proibigdo das doagdes entre marido ¢ mulher (inter virum et uxorem) ®); ¢ a faculdade de qual- quer pessoa garantir uma divida alheia, a que se opée a norma do © D. L113: “est quod natura omnia animalia docuit”. OL 1.2.11: “Sed nanuralia quidem iura (...) divina quadam providentia cons- tituta, semper firma atque inmutabilia permanent. ©) Vide infra, n.° 349. ©) Vide infra, n° 352. 1 — Introdugao 9 Velleianum que proibe as mulheres de intercederem a favor de quer homem “*, Em varias ocasi6es, o direito singular traduz uma vantagem especial pessoas a quem se aplica. Por isso, fala-se de beneficio (beneficium): g., 0 beneficio de competéncia (beneficium competentiae) permite a ios devedores no serem condenados além das suas possibilidades némicas “); e o beneficio de inventario (beneficium inventarii) que uulta ao herdeiro a possibilidade de responder unicamente por dividas e nao excedam o patriménio hereditario. Quanto ao privilégio (privilegium), & provavel que, na época da Lei s XII Tdbuas (meados do séc. V a.C.) consistisse numa pena ou edida desfavoravel imposta a determinada pessoa. Mais tarde, adqui- ju um significado geral: 0 de privilégio favoravel ou desfavoravel, ou seja, estabelece um tratamento juridico diferente do ordinario (prescrito lo ius commune). E, finalmente, passou a significar, téo-s6, uma ituagdo favoravel reconhecida a uma pessoa ou grupo de pessoas, mando-se dificil distinguir privilegium e beneficium. DIREITO NOVO Com a absorgao crescente das fungdes dos magistrados pelos Impe- radores, as constitutiones imperiais °® tornaram-se, sucessivamente, a fonte predominante e tinica do direito romano. E com elas surgiram normas juridicas que alguns textos designam de direito novo (ius novum) em oposigéo a direito antigo (ius anti- quum) °?, Todavia, nem sempre estamos perante um ordenamento juridico novo, oposto ao direito civil e ao direito honorério: haja em vista que muitas constitutiones imperiais se limitaram a interpretar 0 ius civile. 9 CED, 161,215 -16,1,2,2. © ¥ g, O sécio, a quem (na actio pro socio) se reclama 0 seu contributo ou obrigagao derivada do contrato de sociedade; 0 marido, a quem (na actio rei oriae) se pede a restituigio do dote; os militares; etc. 8 Vide infra, n° 23. © Cf, D. 53,1. 20 MANUAL DF Dintiro Roxy _ = Na época classica encontramos referéncias a0 ius civile, a honorarium © a0 ius novum. Todavia, ja havia um processo co; de influéncias reciprocas que iria facilitar a sua unificagaio no justinianeu, depois de a época pés-classica a ter acelerado, 0 ius ntinu direitg 10. CONCEPCOES JURIDICAS MODERNAS APLICADAS Ag DIREITO ROMANO 10.1. Preliminares A técnica juridica actual utiliza uma série de conceitos que servem de base as construgées da ciéncia do direito. A sua forma- go resulta duma evolugdo histérica lenta em que participaram, sobretudo, Glosadores, Comentadores, Jurisconsultos Cultos e Pan- dectistas Simplesmente, 0 processo de abstracgio, que tornou possivel a formulacao destes conceitos, j4 permite compreender a dificuldade de encontrar, no direito romano, uma correspondéncia perfeita. Todavia, nao podemos deixar de os utilizar, embora nio se afaste a preocupagao de determinar até que ponto coincidem ou foram pres- sentidos pelos jurisconsultos romanos. Porque sé assim se poderd cumprir a fungdo atribuida ao direito romano de contribuir para a for- magao do jurista moderno. 10.2. Direito objectivo O direito objectivo pode definir-se como o conjunto de normas juridicas que disciplinam a conduta humana na sua vivéncia em sociedade. E este direito que ja vimos, quando nos ocupamos, v. g., do direito civil 6%, do direito honorario © e do direito das gentes “®. 9 Vide supra, ne 6. 9 Vide supra, n° 6. Vide supra, n° 7. Titulo | — Introdugdo i 10.3. Direito subjectivo Este direito traduz-se no poder ou faculdade, reconhecida a uma pessoa pela ordem juridica, de exigir a outra um comportamento positivo (facere) ou negativo (non facere); ou de invadir a esfera juridica alheia, impondo-lhe irresistivelmente determinados efeitos juridicos. Na pri- meira parte, estamos perante um direito subjectivo proprio ou em sentido estrito; na segunda, observa-se um direito potestativo. Aquele, corres- ponde uma obrigagao de colaboragao; a este, uma sujeic¢ao. O direito subjectivo, que manifesta a autonomia individual, nao aparece definido nas fontes romanas, embora tenham frequentemente utilizado 0 vocdbulo ius em sentido equivalente: v. g., “ninguém pode transferir para outrem mais direito do que teria” “”; ¢ “parece que ninguém, que faca uso do seu direito, actua com dolo” “). Quando, no uso da sua autonomia e nos limites reconhecidos pelo direito objectivo, um individuo dita normas que ordenam a sua conduta e mesmo a conduta alheia, estas normas adquirem uma fungao seme- Ihante as definidas pelos érgaos do Estado e, por isso, so designadas por leges privatae “), A sua forca vinculativa apoia-se no principio “conforme o que for expresso em palavras, assim seja direito”, consagrado na Lei das XII Tabuas “), 1. INTERPRETACAO A interpretagaio juridica é uma actividade intelectual que procura determinar o sentido normativo de uma fonte do direito: retirar uma norma (ou critério) juridica que permita decidir um problema que reclama solugdo juridica. A sua indole nao é simplesmente hemenéutica ou exegética, mas normativa: procura assimilar 0 sentido juridico normativo (extraido da 0D. 50,17,54: “Nemo plus iuris ad alium transferre potest, quam ipse haberet”. () PD. 50,17,55: “Nullus videtur dolo facere, qui suo iure utitur”. © Y g, fala-se de lex contractus (D. 16,3,1,6); de lex donationis (D. 1,5,22); ete. VIL: “Uti lingua muncupassit, ita ius esto”. 2 MANUAL DE Diner Rony ——_ 2? Rony, fonte) ao concreto problema, de modo a que seja um critéri mente adequado de uma decisio justa. Na interpretatio da lei recorre-se a varios elementos, fact critérios: ao elemento gramatical ou literal (a letra) e a element cos (histérico, sistematico e teleolégico) que determinam o «, da lei. E a sua conjugacao depende do relevo que lhes deva buido em fungéo do problema concreto. Os jurisconsultos romanos nao elaboraram uma doutrina sobre 4 interpretatio, mas nao deixaram de oferecer algumas regras a que aindg hoje se recorre. Referimos a necessidade de: 0 jUutidica, tores oy tos igi. °Spiritor Ser atr. q) interpretar, mesmo que 0 texto seja claro. Nas Palavras de ULPIANUS, “ainda que 0 edicto do pretor seja clarissimo, néo deve dispensar-se a sua interpretagao” “), 4) considerar o texto integral e nao parcialmente; ¢) privilegiar a finalidade da lei em relagao as palavras utilizadas Segundo Cetsus, “conhecer as leis nao é conhecer as suas palavras, mas a sua finalidade” “), A interpretatio cumpriu uma fung&o extremamente importante na dinamizagao do direito romano. Compreendé-la-emos facilmente se tivermos em atengo 0 ntimero escasso de leis e a linguagem lapidar e esquematica da Lei das XII Tabua, considerada a “fonte de todo 0 direito piiblico e privado” “, que rapidamente se revelou inadequada A resolucdo dos novos problemas, Fruto desse trabalho notavel ¢ a criago de novos instrumentos juridi- cos que permitiram ao velho ius responder prontamente as novas exigéncias: v. g., a adopeao “), a emancipacaio “, o testamento “, etc. © D. 25,4,1,11: “Quamvis sit manifestissimum edictum praetoris attamen 70" est neglegenda interpretatio eius”. “9D. 13,17: “Scire leges non hoc est verba earum tenere, sed vim ac pores tate” “Vide Trto Livio, 3,34. 9 Vide infra, n? 223, Vide infra, n° 253.3.2. © Vide infra, n° 295. Titulo I — Introdugdo w E esta actividade fecunda explica que as fontes considerem os jurisconsultos romanos os “autores do direito” e “criadores do direito” °"); e que POMPONIUS apresente 0 ius civile como 0 diteito “que sem ter sido escrito vem composto pelos prudentes” CAPITULO II ORGANIZAGAO POLITICA 12. DIREITO E POLITICA O direito romano esta intimamente ligado ao poder politico de Roma: a sua vigéncia atingiu a grandeza quando o Império conheceu o auge; e a sua decadéncia coincide com a profunda crise que o abalou. Direito e politica trabalharam em conjunto para fazer da urbe um orbe: ao mesmo tempo que 0 direito progredia 4 sombra do poderio politico, a politica afirmava-se através do direito. Por isso, 0 estudo do direito romano nio prescinde duma referéncia a organizacao politica dos Romanos. 13. ROMA PRIMITIVA A tradig&o assinala a data da fundagao de Roma nos anos 754 ou 753 a.C. Até ao século III, Roma foi uma cidade-Estado: um agrupa- mento de homens livres estabelecidos num pequeno territério que defendem e onde participam nas decisdes respeitantes ao interesse comum através de érgaos politicos fundamentai A familia constitui o nucleo primitivo, a cujo chefe (paterfami- lias) © se submetem pessoas € coisas. Depois, diversas familias jun- tam-se num agrupamento denominado gens, onde ficam politicamente ‘Cf. Gaus, 1,7. © D. 1,2,2,5: “... quod sine scripto venit compositum a prudentibus”. © paterfamilias é um cidadio romano que no esta sujeito ao poder de outro ater. Tem o estatuto de sui iuris e & 0 chefe de uma familia, mesmo que seja cons- ‘ituida somente por si proprio. Vide infra, n.° 34.4.1 4 unidas sob a autoridade do pater gentis. E da agregacio de Vatiag gentes nasceu a civitas romana, in A primitiva Roma tem um governo monarquico ¢ a sua organizagig politica compreende trés érgio 1, Rei (rex): é um monarca vitalicio, designado pelo sey antecessor ou pelo inferrex (chefe de gens que interinamente desempenha as fungdes régias no caso de 0 trono vagar). Ditige a civitas e cumpre fungées religiosas, militares e judiciais; 2. Senado (senatus): € um 6rgéio cujas composi¢ao e atribuj. ges sao incertas. Tera sido provavelmente uma assembleia cons. tituida pelos patres das gentes que fundaram a civitas em nimero que a tradigao fixou em 100. Além de ser um érgao de consulta do rei, confirmava os acordos celebrados © nomeava 0 interrex que desempenhava as fungdes daquele enquanto 0 povo (populus) nao aclamasse um novo rei; 3. Comicios das ctirias (comitia curiata): sio assembleias do Populus romanus em que as trinta ciirias se reunem. Cada cidadao s6 votava na sua ctiria e a maioria dos votos, recolhidos pelo chefe (curio), constituia 0 sentido de voto dessa cuiria. E provavel que aprovassem a instituigio de herdeiros pelos respectivos patresfamilias (testamento comicial) “, a incorporagdo de um paterfamilias noutra familia (arrogatio) °° © na investidura de poderes de magistrados. 14. REPUBLICA A Repiiblica foi instituida no ano 510 pelo exército das centirias (exercitus centuriatus) constituido por patricios © e plebeus 7. Repre- (9 Vide infra, n° 296.1.1 © Vide infra, n° 222. Os patricios foram a classe mais elevada dos cidadaos romanos. Estrutura- ram-se em gentes ¢ detinham as magistraturas, os cargos sacerdotais e auxiliavam o rei no governo da cidade, Reuniam-se em comicios, onde votavam as leis rogadas. Vide infra, n.2 20. © Os plebeus constituiam uma classe menos elevada, Ocupavam-se dos trabalhos agricolas, do pequeno comércio ¢ do artesanato, estavam afastados das fungbes gover Titulo I — Introdugéio 35 senta uma forma sabia de solidariedade entre patricios ¢ plebeus e assenta em trés 6rgdos constitucionais: 1, Magistratura: é 0 encargo de governar e distribui-se por varios magistrados com competéncias especificas: a) censores (censores): administram os bens publicos, fazem a lista dos senadores, organizam o recenseamento dos cidadiios romanos ¢ tutelam a moralidade romana, Sao cleitos dois censores por periodos de cinco anos (/ustrum) nos comicios das centirias; b) cénsules (consules): desempenham as fungdes dos antigos reis. Gozam do poder de soberania (imperium) que lhes permite comandar 0 exército, convocar o Senado e as assembleias populares (comitia) e administrar a justiga “*). Sao eleitos dois cénsules e exercem as suas funcdes durante um ano; c) pretores (praetores): desempenham praticamente as mesmas fungdes dos cénsules de quem dependem como colegas meno- res. Todavia, a sua fung&o importante é a administragao da justica entre cidadaos romanos (pretor urbano) e entre estran- geiros ¢ romanos ¢ estrangeiros (pretor peregrino). O pretor urbano e o pretor peregrino foram criados, respectivamente, no ano 367 € no ano 242 a.C.; d) edis curtis (ediles curules): fiscalizam os mercados e a lim- peza da cidade, ocupam-se das vias e dos edificios piblicos, vigiam o transito, regulamentam os pre¢os, cuidam do abas- tecimento de cerais, vigiam os pesos e medidas, organizam espectaculos e guardam os arquivos do Estado. Exercem a jurisdigao civil nos contratos de compra e venda de escravos e de animais realizados nos mercados e tém a jurisdigao cri- nativas e reuniam-se em concilios, onde votavam os plebiscitos. Reagiram contra a desigualdade com que eram tratados em relago aos patricios e, depois de uma Iuta longa € tenaz, acabaram por ser equiparados aos patricios. © A partir do ano 367 a.C., com a criagao da magistratura do pretor, s6 admi- nistram a justiga de forma extraordinéria. 26 Manvat aE Ditty Rou, minal nos delitos relacionados com as suas atriby: policia; e) questores (quaestores): administram a justiga criminal multas ¢ ocupam-se dos confiscos e do governo da estatal (aerarium). GBs , cobra in esouraria Em situagdes de crise grave, estas magistraturas eram Suspensa, nomeava-se um ditador que concentra todos os poderes politicos nie tares, administrativos ¢ judiciais que exeree durante seis meses, ey” total independéncia e irresponsabilidade. ae Os magistrados sao investidos de pofestas: poder de representar ° populus romanus. Os cénsules ¢ os pretores ¢ 0 ditador gozam também de imperium (poder de soberania a que nenhum cidadio pode subtairse) que permite dirigir 0 governo do Estado, reerutar e comandar 0 exércita, indagar a vontade dos deuses através de certos sinais, administrar justica “?, aplicar multas, reter e arrestar bens e convocar e presidir ao Senado e aos comicios. Detém a iurisdictio (poder de administrar a justiga) os pretores, nas causas civeis; e os edis curtis e questores no Ambito das fungdes que desempenham. Estes poderes esto sujeitos a varias limitacdes: a) temporalidade: em regra, 0 magistrado exerce o seu cargo durante um ano. Exceptuam-se os censores, eleitos por cinco anos; ¢ 0 ditador, que desempenha as suas fungdes durante seis meses. Em circunstancias particulares (guerra, administra¢0 das provincias), 0 prazo de um ano pode ser prorrogado pot um ano, sendo o cénsul e o pretor denominados, respectiva- mente, proconsul e propraetor; b) colegialidade: dentro de cada magistratura, o poder esta repat tido, em regra, por dois magistrados, cada um dos quais pode vetar (ius intercessionis) as decises do outro. Também um magistrado superior pode vetar as decisées de um inferior ¢) pluralidade: 0 poder est repartido por varias magistraturas: © Antes de 367 a.C., de forma normal; depois, com a eriagao do pretor urbane” de forma extraordinaria, Titulo I — Introdugdo ra d) provocatio ad populum: é 0 direito de qualquer cidadao apelar para os comitia sobre uma pena ou castigo imposto por um magistrado; e) responsabilidade: os magistrados respondem pelos actos prati- cados contra a lei. 2. Assembleias populares. Sao os: a) comicios das ctrias (comitia curiata): dio posse a alguns sacerdotes, participam na adrogatio e nos testamentos e inves- tem nos seus poderes os magistrados eleitos nas outras assem- bleias; b) comicios das centirias (comitia centuriata): intervém na eleigao dos magistrados detentores do poder de imperium (cénsules, pretores, ditador) e dos censores e votam as leis que aqueles magistrados propdem; ¢) comicios das tribos (comitia tributa): si0 assembleias em que a unidade de voto é a tribo e tém atribuigGes eleitorais (eleigao de magistrados), judiciais (conhecimento, em apelagao, de determinadas sentengas) ¢ legislativas (aprovagio de leis pro- postas pelos magistrados); d) concilios da plebe (consilia plebis): sio assembleias da plebe, convocadas e presididas por tribunos (tribuni plebis) que yotam os plebiscitos e recebem a provocatio ad populum contra determinadas penas aplicadas pelos tribunos. Com a obrigatoriedade geral dos plebiscitos imposta pela lex Hor- tensia de plebiscitis do ano 287 a.C., tornaram-se verdadeiras assembleias legislativas com fungées andlogas as dos comitia tributa. 3. Senado: é a assembleia dos homens considerados mais representativos por virtude da sua riqueza ¢ autoridade. Desempenha fungdes politicas de elevada importéncia: nas relagGes internacionais, na guerra, na administragdo publica, no culto, na direcgao do exér- cito, na designagdo de governadores das provincias, no processo legislativo (concede a auctoritas patrum as deliberagées dos comi- cios), ete. Mavuat DE DIRE Roy, tN Rt 15. PRINCIPADO a nova forma de organizagao politica que foi instaurada no an, 27 a.C. por Octavio, sobrinho ¢ filho adoptivo de Julio César. ° Emerge a figura do principe (princeps) que vai assimilando ¢ subs tituindo as fangSes das magistraturas republicanas que, em consequéncig viio perdendo a sua importincia. novos funciondrios que depen. ‘A administragao burocratiza-se com : dem directamente do princeps, junto de quem funciona um conselhy (consilium principis) integrado pot jurisconsultos eminentes e por tty. lares de cargos elevados. ‘Assinala-se, no Principado, 0 embrido da futura monarquia. 16. DOMINADO Esta organizago politica, para a qual evoluiu o Principado, foi consagrada definitivamente por Diocleciano que, designado imperador pelas suas tropas, Iangou as bases de uma nova constituigdo marcada pela absoluta concentragao do poder. O Imperador é considerado dominus et deus ¢ 0 seu poder, que assenta numa investidura divina, exerce-se sobre um Estado patri- monial. ‘A nova constituig&o foi consolidada por Constantino que s6 10 aspecto religioso se afastou de Diocleciano ™. 17. ADMINISTRAGAO LOCAL A administragio local variou segundo os modos de organizari consagrados em Roma, © Diocleciano favoreceu o paganismo ¢ procurou a unidade religiosa O™ ° fortalecimento dos cults tradicionais, sobretudo o ligado ao Imperador que se consior® emanagio corpérea do Sol, Pelo contrério, Constantino abragou Cristianismno 1 Teodésio I converteu na religido oficial do Impé it — Introdugac Titulo 1 — Introdugéio as No Principado, as provincias dividem-se em duas classes: a) as senatoriais, que sto as mais romanizadas e pacificas, siio vigiadas pelo Senado e governadas por proconsules durante um ano; b) as imperiais, que exigem especiais cuidados, so vigiadas pelo Imperador e governadas por propraetores. O seu cargo nao tem duragao definida. Quanto ao regime municipal, é regulado por uma lei municipal (lex municipalis) € os seus 6rgios so: 1. Magistratura: os magistrados sao eleitos entre os decurides (membros do Senado municipal) e exercem o cargo durante um ano em regime de colegialidade; 2. Senado: é constituido por 100 membros eleitos e 0 seu cargo é vitalicio; 3. Comicios: agrupam os municipes repartidos em dez cirias ou tribos e assumem, até ao século II, fungdes eleitorais. Durante 0 Dominado, o Império Romano foi dividido em dois Impérios (Oriente e Ocidente) ¢ em cada parte foram constituidas duas prefeituras, cada uma das quais é governada por um funciondrio (praefec- tus). A prefeitura divide-se em dioceses e estas em provincias, que sio dirigidas, respectivamente, por um vigario (vicarius) e pelo gover- nador (praeses) que depende do Imperador e desempenha fungdes administrativas ¢ jurisdicionais. CAPITULO III FONTES DO JUS CIVILE 18. PRELIMINARES A expresso “fontes do direito” (fontes iuris) € uma metafora por- que, em rigor, fonte é 0 local onde a agua aparece: se vé € se pode facilmente recolher. so —_ MANUAL DE DIREITO Roy Por isso, ndo tém faltado tentativas de a substituir por outra expressdes ‘! € os proprios jurisconsultos romanos da época léssiea preferiam escrever ius constat ius venit ©), Todavia, aquela met fora, quigd intrduzida por CiceRo (©, impds-se na lingusgem juridica ¢ esté consagrada nas codificagdes civis modernas Pade faler-se de “fontes do direito” em varias sentidos, Destaca. mos, no entanto, as fontes: a) exsistendi: sto os 6rgaos que produzem as normas juridicas, Qecim, 0 populus, 08 comitia, os concilia plebis, o senado, leuns magistrados, 0 imperador e os jurisconsultos: b) manifestandi: sio os modos de formagto das normas juridicas, ‘tceim, o costume (mores maiorum, consuetudo) 2 lei rogada (lex rogata), 0 plebiscito (plebiscitum), 0 senatusconsulto (sena- tusconsultum), 0 edicto (edictum), a constituigzo imperial (constitutio) ¢ as tespostas dos jurisconsultos (responsa) ©) cognoscendi: sto os textos que contém as normas juridicas. ‘anim, 0 Corpus luris Civilis, as Institutiones de GAIUS, as ‘Sententiae de PAULUS, ete. 19. COSTUME © costume foi a primeira fonte do direito romano @, no seu pro- cesso evolutivo, assinalam-se duas espécies: 1. Mores maiorum: sito a tradigdo duma comprovada mor lidade que a interpretatio jurisprudencial desenvolveu ¢ adapiow as novas exigéncias da vida, A sua decadéncia ocorreu com @ publi- casio da Lei das XII Tébuas que os acolheu e, reduzidos ao diet (J, g, “fuctos normativos”, “factos de produeio normativa”, etc © CED. Gaws, 1,2. 0) CED. 11, 7pr Cf. De leg. 1,16,10; -1,2033 Chart. 1°, n? 1, do Cédigo Civil portugues. Titulo I — Introducao 1H publico, desaparecem quase por completo na época classica, inte- grados nas outras fontes; 2. Consuetudo: surge mais tarde, na época pés-classica, e pode definir-se como uma pratica constante observada durante largo tempo pela generalidade do populus romanus com a forga obrigatéria da lei. Na época classica, os jurisconsultos romanos fundamentavam 0 costume no consentimento tacito do povo (tacitus consensus populi); e entendiam que era indiferente que o consentimento do povo se mani- festasse expressamente na lei ou tacitamente no costume. Por isso, ocupando a lei e 0 costume o mesmo plano, tanto aquela podia ab-rogar o costume, como este a lei. Todavia, aquela doutrina comegou a vacilar e, na época pés-clas- sica, Constantino determinou que a autoridade do costume nao deve prevalecer sobre a lei ‘°°. 20. LET A lei (ex) é uma declaragao solene com valor normativo, feita pelo populus romanus que, reunido nos comicios (6, aprova a proposta que o magistrado (presidente) apresenta ¢ 0 Senado confirma “), A lex pode ser: a) rogata: é proposta pelo magistrado 4 assembleia comicial a que preside. Depois de aprovada, deve ser referendada pelo Senado que lhe confere a auctoritas patrum, ) data: é dada por um magistrado no uso de faculdades delegadas: pelos comicios e contém normas de caracter administrativo. Con- tribuiram para o estabelecimento do regime municipal ®. CEC. 8,53(52),2. © Vide supra, n° 14. © CE. 13,1; Gaws 1,3. Na Peninsula Ibérica, sao leges datae, v. g., a lex Salpensana e a lex Mala- citana que definiram o regime municipal, respectivamente, de Salpensa e de Mélaga. Manat DE DIRETO Rony 32 ttn As leges rogatae, que sio as mais importantes, sao estruturalment constituidas pelas seguintes partes: 1. Praespriptio: & 0 preficio; 2. Rogatio: € a parte dispositiva; 3. Sanctio: é a parte final, onde so fixados os termos que ficdcia, Atendendo natureza da sanctio, as leis asseguram a sua ¢f rogadas dividem-se em: a) perfeitas (leges perfectae): declaram invalidos os actos contririos ; b) menos do que perfeitas (leges minus quam perfectae): no declaram invélidos os actos contrérios, mas aplicam multas aos transgressores (””; c) imperfeitas (imperfectac): nao estabelecem nenhuma sangtio , As leis rogadas propostas por um consul contém os nomes dos dois, cénsules, pelos quais stio conhecidas “. 21, PLEBISCITO O plebiscito (plebiscitum) & uma deliberagdo da plebe ™ que, reunida em assembleia (concilium plebis), aprova uma proposta do seu tribuno (tribunus plebis) °. ™ Vg, & perfecta a lex Voconia (do ano 169 a.C.) que declara nulos os legados cujo valor exceda o dos bens que pertencem aos herdeiros. Vide infra, n.° 320. Kg, & minus quam perfecta a lex Furia testamentaria (do ano 200 a.C.) av® impés a pena do quédruplo a quem tenha recebido um legado superior a 1,000 asses, excep? 50 legatirio for parenteconsanguineo do testador até a0 6. grau, Vide ina, .° 320. ” Vg. € imperfecta a lex Cincia (do ano 204 a.C.) que proibe as doagdes ave ¢cedam um cero valor (que ignoramos), excepto se feitas entre parents consanuretS € a0 7 grau, afin, tutores e pupilos, escravos e libertos. Vide infra, n.° 349. oy i ee lex Valeria et Horatia (cénsules Valério ¢ Horécio). “ide supra, nota 57. "Cf. Galus, 1,3. Titulo I — Introdugdo 3 Nos primeiros tempo, nao teve caracter vinculativo. Posterior- mente, a lex Valeria Horatia de plebiscitis (do ano 449 a.C.) atribuiu-Ihe forga vinculativa entre os plebeus; e, no ano 287 a.C., a /ex Hortensia de plebiscitis estendeu-a aos patricios “, ficando, portanto, equiparado as leis rogadas “. O plebiscito é conhecido pelo nome do tribuno autor da pro- posta 22, SENATUSCONSULTO O senatusconsulto é uma disposi¢ao normativa do Senado que se tomou vinculativa no Principado Até ai, a decis&io do Senado constituia um simples parecer dado a quem 0 consultava: senatus consultum. Depois, 0 poder legisla- tivo deslocou-se dos comicios para 0 Senado, embora este se limi- tasse, na sua colabora¢do com o principe, a acolher as suas propos- tas; por isso, os jurisconsultos romanos falam, por vezes, de oratio do Imperador. Os senatusconsultos sao designados de diferentes modos: pelo seu contetido ®; pelos nomes adjectivados do magistrado proponente “! ou do Imperador “2; ¢ pelo nome da pessoa que deu motivo a deciséo do Senado ©. Vide supra, a nota 56. ™ Vide supra, n.° 20. ©) ¥ g, lex Aquilia (do tribuno Aquilio). Vide supra, 0. 14 ¢ 15. © ¥ g¢, 0 sc. de baccchanalibus (do ano 186 a.C.), que proibiu as festas noc- ‘umas em honra do deus Baco. ®) 1g, osc. Tertullianum (do ano 120), que concedeu & mae consanguinea 0 direito de suceder, jure civili, na heranga dos seus filhos. Vide infra, n.° 342.3. © ¥, g, 6 sc. Claudianum (do ano 52), que reduziu a escrava do dono do escravo a mulher romana que se unisse sexualmente a esse escravo contra a vontade expressa do seu dono. © ¥g, osc. Macedonianum (provavelmente do ano 75), que proibiu o emprés- timo de dinheiro a todo 0 filiusfamilias, destinado a fins imorais. 3 — Brevirio de Dir. Priv, Romano 34 - __ Mavuat be Dire po, — Hay 23. CONSTITUICAO IMPERIAL A constituigdo imperial (constitutio) é uma lei em a vontade do Imperador “, Na sua evolugdo, assinalam-se varias fases, destacando.. inicio no Principado e 0 termo no Dominado “®) afirmou como a tnica fonte do direito. Reveste as seguintes modalidades: We se maniteg, a S€ 0 sey » Poca em que sy a) edicto (edictum): é uma disposigao geral; b) decreto (decretum): & uma sentenga do Imperador nos proces, sos da cognitio extra ordinem ®. Vincula no caso sub indice e foi aplicada a situagdes iguais e andlogas “); ©) escrito (rescriptum): € uma resposta a consulta juridica dirigiy a0 Imperador por magistrados, funciondrios ou particulates; d) mandato (mandatum): é uma instrugao do Imperador em matéria administrativa, sobretudo aos governadores das provincias, 24, JURISPRUDENCIA A jurisprudéncia ¢ a ciéncia do direito ou, segundo ULPIANus, “a ciéncia do justo e do injusto, partindo do conhecimento de coisas divi- nas e humanas” ©), Foi a grande fonte do direito romano e desempenhou as seguintes fungées: a) respondere: resolugéo de casos praticos, através de parecerts (responsa) dados a particulares ou a magistrados. E a fungio mais importante; © Cf. Gatus, 1,5. 9 Vide supra, n° 15. (Vide supra, n.° 16. © Vide infra, n.° 61. Cf C. 1,14,12pr ©) D. 1,1,10,2: “Iuris prudentia est divinarum atque humanarum rerum 10! justi atque iniusti scientia”. iti Titulo 1 — Introdugdo s b) caver a iconselhamento dos particulares na realizagiio dos seus negocios juridicos ; o agere: aconselhamento dos particulares em matéria proces- sual ©), Atingiu 0 seu esplendor na época cldssica, dominada por duas correntes (ou Escolas) famosas, fundadas, respectivamente, por Labeo e por Capito e denominadas Proculeiana e Sabiniana, em aten¢do aos seus sucessores, Proculus e Sabinus. A partir do século IV entrou em decadéncia, sucedendo-lhe a Escola que se dedica a elaboragao de glosas, glosemas e resumos que denotam uma ciéncia simplista e rudimentar. CAPITULO IV COMPILACOES 25, COMPILACOES PRE-JUSTINIANEIAS A partir dos finais do século III tornou-se necessaria a elaboracdo de colectineas de textos juridicos para afastar a incerteza a que, em grande parte, conduziu 0 esgotamento da jurisprudéncia. Foram elaboradas compilagdes de: a) direitos (iura), de que destacamos: 1. Sentengas de Paulo (Pauli Sententiae): é uma pequena exposic¢ao de direito romano com base em obras de PAULUS (¢ talvez de outros jurisconsultos classicos), provavelmente do século Ill ou principios do século IV; 2. Epitome de Gaio (Epitome Gai): é uma sintese imperfeita dos trés primeiros livros das Institutiones de Galus, provavelmente feita por uma escola galica no século V; © Y, g, palavras a proferir, cléusulas a introduzir, etc. © ¥ g,, palavras a proferir, prazos a respeitar, etc. 36 Mewes 0€ Die Roy, Livro singular de regras de Ulpino (Upian reap, liber singularis): também denominada Tituli ex corpore Ulpiani. uma obra elementar, composta nos fina dosécul I ¢pingh ¢ do século IV. Apesar do sew nome, teré sido redigida com ho nas Insttutiones de Gaius ¢ contém também nogbes viros sek ceitos de outros jurisconsultos cléssicos, ineluindo ULpianue 4. Res Cottdianae (ou libri aureorum Gai: € uma prise i Insttutiones de GAtUs ¢ a algumas obras de ULPIANUS € de Pavnie Pertence aos finais do século III ou principios do século IV ¢ teré sido elaborada por um discipulo de Gaius. b) leis (leges), de que destacamos: 1. Cédigo Gregoriano (Codex Gregorianus): & uma compila- so privada feita no Oriente entre os anos 291 e 292 pot um juris. consulto chamado Gregério ou Gregoriano. Contém constitutiones desde Adriano a Diocleciano; 2. Cédigo Hermogeniano (Codex Hermogenianus): € outra compilagao privada feita no Oriente, provavelmente por HeRMoce- NIANUS, nos finais do século III ou comegos do século IV, Contém constitutiones de Diocleciano ¢ é vista como um complemento do Codex Gregorianus; 3. _Cédigo Teodosiano (Codex Theodosianus): é uma compi« lagio oficial ordenada pelo Imperador Teodésio I. Foi publicada ‘ho ano 438 ¢ contém consitutiones promulgadas desde 313 até 438 Foi promulgada no Ocidente por Valentiniano Ill, no ano 438. ©) direitos ¢ de leis (compilagdes mistas). Destacamos: 1. Fragmenta Vaticana: é uma colecedio de obras de PAPINIA- NuS, PAULUS € ULPIANUS, a que se juntaram algumas constitutiones imperiais, sobretudo de Diocleciano. Teré sido feita no Ocidente para fins praticos e escoldsticos entre os anos 372 ¢ 438. O seu nome deriva do facto de ter sido descoberta na Biblioteca do Vati- cano, em 1821. Ignora-se 0 seu autor e o verdadeiro titulo; 2. Colllatio legum mosaicarum et romanarum: contém wma comparagao entre prineipios do direito mosaico e do diteito romano, Titulo | — Introdugao 37 utilizando tradugdes latinas de textos biblicos, fragmentos de Gatus, PAPINIANUS, PAULUS e MODESTINUs € constitutiones imperiais reti- radas dos Cédigos Gregoriano e Hermogeniano. Tera sido elabo- rada nos principios do século IV para demonstrar a tese de que o direito romano procede das leis mosaicas; 3. Consultatio veteris iurisconsulti: foi descoberta por um discipulo de CusAcio ®) e tera sido composta na Gélia entre os séculos V e VI. Contém constitutiones imperiais retiradas dos Cédigos Gregoriano, Hermogeniano e Teodosiano e textos das Sentengas de Paulo; 4. Livro Siro-romano: é um manual diddctico de direito romano composto no século V. Contém uma exposi¢ao do ius civile antigo com modificagées introduzidas por constitutiones imperiais a partir de Constantino; 5. Scholia Sinaitica: sio breves comentarios em grego aos livros 35 a 48 de ULPIANUS ad Sabinum, descobertos no Monte Sinai, em 1880. Terao sido escritos no Oriente nos finais do século V ou principios do século VI e, além dos comentarios de ULPIANUS, ha referéncias a PAULUS, FLORENTINUS, MaRCIANUS ¢ MODESTINUS e textos dos Cédigos Gregoriano, Hermogeniano e Teodosiano; 6. Leis romano-barbaras: foram promulgadas pelos reis bar- baros e contém preceitos de iura e leges. Destacamos: J — Brevidrio de Alarico (Breviarium Alarici): também denominado lei romana dos Visigodos (Lex romana Wisigotho- rum), foi promulgado por Alarico II, no ano 506. Contém um resumo das Instituiones de Gatus, textos das Pauli Sententiae, um fragmento de PAPINIANUS e extractos dos Cédigos Grego- riano, Hermogeniano e Teodosiano e das Novelas Pés-teodo- sianas. Vigorou na Peninsula Ibérica até ao século VII; e em Franga, Alemanha e Inglaterra até aos séculos XI e XII; II — Lei romana dos Burgindios (Lex romana Burgun- dionum): foi promulgado pelo rei Gundobado nos comegos do ) CusActo é considerado 0 caput scholae da Escola Humanista ou dos Juris- Consultos Cultos que se desenvolveu em Franga no século XVI. Manual DF Ditto Rony TO Roy, século VI para a populagio romana do Sul de Fran por base os Cédigos Gregoriano, Hermogeniano ¢ Toa as Novelas Pés-teodosianas, as Sentengas de Paulo ¢ as in tutiones de GAUS; ns. Ill — Edictum Theodorici: & uma compilagao promul por volta do ano 300 pelo rei Teodorico, para Koma Ostrogodos. Inspirou-se nas mesmas fontes das leis romang. -barbaras. 26. CORPUS IURIS CIVILIS: leis (leges), que Justiniano, cuja denominagdo foi dada por ris Civilis é uma compilagao de direitos (iura) e de Imperador do Oriente, mandou elaborar ¢ Dionisio Godofredo na edigo que publi © Corpus tu cou em Genebra, em 1583. Compreende as seguintes partes: 1, Instituiges (Unstitutiones): constituem um manual ele- mentar de direito romano destinado a estudantes que iniciam 0 cetudo do Direito. A sua elaboracio foi confiada a Triboniano, Teofilo e Doroteu e publicada em 21 de Novembro de 533, alear- gando forga de lei em 30 de Dezembro do mesmo ano por efeito or constituigto Tanta, O seu plano, que se inspirow nas Institue gbes de GAIUS, divide as matérias em 3 grupos: pessoes, coisas € fogdes. Compreende 4 livros, que se dividem em titulos ¢ sts em paragrafos; 2, Digesto (Digesta ou Pandectae). E uma compilagdo de fragmentos extraidos de obras dos principais jurisconsultos classi- cox, Compreende 50 livros que se dividem em titulos (excepie © Tivos 30 2 32 que se ocupam de legados ¢ fideicomissos), est em fragmentos e em pargrafos, o primeiro dos quais denomina-s¢ principium. Foi publicado e obteve forca de lei pela constituigio Tanta de 16 de Dezembro de 533; 3. Cédigo (Codex): & uma compilagao de até Justiniano. E composto por 12 livros que s los ¢ estes em leis cronologicamente ordenadas. Foi pul leis desde Adriano e dividem em ‘itu tblicado pela Titulo 1 — Introduedo 39 constituigdo Cordi em 16 de Novembro de 534 e obteve forga de lei em 29 de Dezembro do mesmo ano; 4. Novelas (Novel/ae): sio as constituigées imperiais promul- gadas depois do Cédigo. Nao dispomos de uma compilagao oficial, mas de trés colecténeas privadas: a) Epitome das Novelas de Juliano (Epitome Iuliani Novella- rum): contém 122 constituigdes dispostas por ordem cro- nolégica e tera sido elaborada por Juliano, provavelmente Professor de Constantinopla, em 555 ou 556; b) Auténtico (Authenticum): contém 134 novelas desde os anos 535 a 556, escritas em grego e traduzidas em latim. Encontram-se ordenadas cronologicamente até ao namero 127; c) Colectanea grega: contém 168 novelas redigidas em grego e foi elaborada por um autor desconhecido no reinado de Tibério II, talvez no ano 580. A maioria esta disposta por ordem cronolégica. Vigou na Grécia até ao ano 1940. 27. COMPILAGOES POS-JUSTINIANEIAS Depois do falecimento de Justiniano fizeram-se indices, tradu- ges, glosas e obras monograficas do Corpus Juris Civilis, de que destacamos: 1. Uma Pardfrase das Instituigdes (Paraphrasis Institutio- num); € um comentério em grego das Instituigdes, provavelmente de Te6filo, 0 mesmo jurisconsulto que participou na elaboragao desta obra; 2. Uma Ecloga de Leis (Ecloga /egum): é um extracto, em lingua grega, das obras de Justiniano e de outras disposigdes pos- teriores. Foi publicada no século VIII por ordem de Ledo, o Tsau- rico, e de seu filho Constantino Coprénimo; 3. O Procheiron e a Epanagoge: sao sinteses de direito jus- tinianeu para uso dos tribunais, mandadas fazer no século IX por Basilio, 0 Macedo; - —__ Meret 0€ Deno toy, 4. Os Basilicos: & uma recom do Digesto, do Cédigo e das Novel ordem de Ledo, 0 Filésofo, que cor lio, 0 Macedo; 5. 0 Hexabiblos: & um manual de diteto romano bizanti feito por volta do ano 1345 por Constanting Hermenépulo, juiz in Fanica Esteve em vigor durante o dominio tres «a forga legal na Grécia, em 1835. ‘uiriy Pilagdo oficial das las de Justiniano, mpletou a obra do Instituigdg Tealizada SCU pai, Bas, CAPITULO Vv SUPERVIVENCIA DO DIREITO ROMANO 28. PRELIMINARES velho mundo romano. A presenga do diteito ro1 difere no Oriente © no Ocide durante o dominio turco; aqui, adormeceu na vulgatizavto ¢ Tenasceu com grande interesse a partir do século XII. Justifiea-se, por isso, uma referéncia separada, mano tem, no entanto, uma historia que te: ali continuou a ser aplicado mesmo 29. NO ORIENTE Apesar de Justiniano ter proibido que se fizessem comentarios a0 Corpus Iuiris Civilis ©, as necessidades da vida pritica determinaram "CE. constitutio Tama 21; ¢ constitutio Deo Auctore, 12. Titulo 1 — Introdugao 41 que aquela proibig&o nao fosse acatada. Foram redigidos varios comen- tarios, indices resumos e outras obras “. Estas obras estiveram em vigor na Grécia até ha relativamente pouco tempo ¢ algo de semelhante ocorreu na Bulgaria, na Sérvia e na Russia. Sem que se deva ignorar a influéncia do direito romano, através dos cédigos civis nos paises do Oriente, como o Japao. 30. NO OCIDENTE Observa-se que, depois da queda do Império Romano do Ocidente, © direito romano, embora vulgarizado, nao deixou de estar presente, através das compilagées feitas pelos reis birbaros ®). Todavia, foi no século XII que o seu estudo renasceu na Escola de Bolonha, fundada por IRNERIO, Mestre de um grupo notavel de jurisconsultos conhecido pelos “quatro doutores”: Jacobo, BUL- GARO, MARTINHO e HuGo, a que se seguiram Acursio, AZAO e ODOFREDO. Fizeram-se também comentarios, resumos, colecténeas de casos priticos, regras, definigdes e outros trabalhos, sem esquecer a Magna Glosa ou Glosa de Actirsio que, entre nés, foi aplicada como direito subsididrio até a Lei da Boa Razfio, de 18 de Agosto de 1769. No século XIV, a Escola dos Comentadores continuou 0 estudo do direito romano, substituindo a escola de Bolonha, que se tinha esgotado. Novos jurisconsultos se destacaram, como BARTOLO, CINO DE PIsTOIA, BALDO e outros, merecendo destaque as opinides de BARTOLO que se impuseram, também, entre nds, como direito subsididrio até a Lei da Boa Razio. Das Escolas italianas irradiou a cultura juridica que produziu um sentimento de unidade espiritual e fez do direito romano o direito comum (ius commune). Seguiram-se, na Franga, a Escola Culta, que se preocupou em restaurar a autenticidade do direito romano classico; ©) Vide supra, n.° 27. © Vide supra, n.° 25. Manuat | 42 _ = ae ANUAL DE Ditang ~ - — Rony, | na Alemanha, a orientagao do usus modernus Pandectarum, curou filtrar o direito romano velho ¢ novo e, depois, a Escola aia que se preocupou com 0 estudo do direito romano, tig Com a promulgagao dos codigos civis, a crise instalou- I-50, ma direito romano niio deixou de ser estudado. lids, estes cédigos gy 8* tantes obras nas quais 0 contributo do direito romano é fundamental e, yy isso, a sua compreensio nao dispensa 0 estudo deste direito, TITULO II RELAGAO JURIDICA CAPITULO I SUJEITOS SECCAO I NOGOES FUNDAMENTAIS 31. PERSONALIDADE JURIDICA A personalidade juridica define-se como a possibilidade ou suscepti- bilidade de ser sujeito de direitos e obrigagées. Trata-se dum conceito estritamente qualitativo (pois nada diz se uma pessoa tem muitos ou poucos direitos), que constitui o fundamento ea pré-condi¢ao de todo o direito. Diferentemente do que ocorre hoje , no direito romano nem todos os homens gozavam de personalidade juridica: era necessario ser livre e havia homens que, nao o sendo, eram considerados res e, portanto, susceptiveis de serem objecto de negécios juridicos ®”. ‘Além das pessoas fisicas, 0 direito romano reconheceu a algumas organizages humanas a possibilidade de terem patriménio proprio, inde- pendente do patriménio de quem as integra. Nas palavras de ULPIANUS, © Qualquer homem, pelo facto de o ser, goza de personalidade juridica. Cf. art. 66., n° 1, do Cédigo Civil portugués. © Vide infra, n° 34.2.3. MANUAL DE Dy ae MREITO Ry E 0M s ee wporagaio é devi , nao se d - “se a uma corporacde © devido algo, e deve aos seus memb, nem o que a corporag io deve, 08 SeUS membros devern” (°8), | i izer~ is organizagdes Por isso, pode dizer se que tals ore igBes (corporagdes) om | também de personalidade juridica ©”. | 32. CAPACIDADE JURIDICA A capacidade juridica consiste na aptidao para ser titular de un | circulo, com mais ou menos restrigdes, de relagdes juridicas. | Trata-se dum conceito quantitativo que tem por lastro a personali. | dade juridica. Esta capacidade juridica, também denominada capacidade de gozo de direitos, nao se confunde com a capacidade de agir (ou capacidade de exercicio de direitos) que se pode definir como a aptidao de um | sujeito juridico para praticar, por si proprio ou através de representante voluntério, actos juridicos. sECCAO II PESSOA FISICA 33, NASCIMENTO A personalidade juridica comega com 0 nascimento, que deve obe- decer aos seguintes requisitos: 1, Separagdo completa do corpo da mae: antes, o embrito ¢ considerado “porgdo da mulher ou das suas visceras”, cone refere Uneanus “, que acrescenta: “O que ainda néo foi dado luz mio se diz, com razdo, que seja homem” °°”; 0% D.3,4,7,1: “Si quid universitati deberur, singulis non deberu nec quod det universitas singuli debent™. © Vide infra. uP, 25.4,1,1: “Mulieris portio vel viscerum”. 00), 35,2,9,1: “Partus nondum editus homo non recte fuisse dicitur” Titulo 11 — Relagdo Juridica 45 2. Vida prdpria: o ser humano deve nascer vivo, porque, escreve PAULIUS, “os que nascem mortos ndo se consideram nem nascidos nem procriados” “), Na opinitio dos Proculeianos, 0 nascimento com vida deve ser provado com um gemido, enquanto os Sabinianos entendem que basta um qualquer sinal: um simples movimento do corpo ou respiragdo. O direito justinianeu acolheu esta posigéio Ademais, 0 parto deve ser perfeito, ou seja, ocorrer depois de uma gestagaio que, segundo a experiéncia médica que remonta a Hipécrates ea Pitagoras, deve durar, pelo menos, seis meses completos ('; 3. Forma humana: quem nasceu deve ter forma e natureza humana. Por isso, 0 monstro n&o goza de personalidade juridica porque, nas palavras de PAULUS, “ndo sdo filhos os que sdo pro- criados contra a habitual forma do género humano, como se a mulher der @ luz algo de monstruoso ou anormal” \!®°), Quem sofre de simples deformidade nao é considerado monstro (9, Do exposto resulta que o nascituro nado é considerado pessoa, afirmando-se que “ainda ndo estd na natureza das coisas” °” ou “nas coisas humanas” “) e que é “uma porgdo da mulher ou das suas vis- ceras” "®), Todavia, a sua futura humanidade nfo deixa de ser relevante para determinados efeitos juridicos, justificando uma atengao especial: v. g, a mae pode pedir um curador (curator ventris) para defender os interesses do nascituro “'; as sucessées mortis causa sio suspensas até ao nascimento '"); abre-se a possibilidade de os bens hereditarios serem atribuidos 4 mulher gravida “); etc. 2), 50,16,129: “Qui mortui nascuntur, neque nati neque procreati videntur”. (CFC. 6,29,3. 0 CFD. 1,5,12. 95), 115,14: “Non sunt liberi, qui contra formam humani generis converso more procreantur: veluti si mulier monstruosum aliquid aut prodigiosum enixa sit”. 0% CF. D, 50,16,135; PS. 1V,9,3. © Cf. Gatus, 2,203; D. 30,14pr. (0 CF. D, 38,9,1pr; -44,2,7,3. © Cf. D. 25,4,1,1. (1 CF. D, 26,5,20pr. (1) Vide infra, n° 342.1.1 01 Vide infra, n° 273.3.2. Manual DE DiR#s70 Romany 46 “we oT Foi a partir destas situagdes que, nO direito justinianeu, foi labo. rada a regra segundo a qual “quem estd no ventre materno é conside. rado como se tivesse nascido, sempre que se trate das suas Prépra (0 ou “quem esté no ventre materno é considerado, em ume tod ivi ido” ); e os jurisconsultos medie. quase todo o direito civil, como nasci ee ules med vais claboraram o principio de que “o concebido (ou nascituro) & tidy como jd nascido” \"""). 34, CAPACIDADE JURIDICA 34.1. Preliminares Nao basta, porém, que o nascimento tenha as caracteristicas assi- naladas para que o nascido goze de personalidade ¢ de capacidade juridicas. Sao necessarios outros requisitos. Durante muito tempo, s6 0 paterfamilias (por ser livre, cidadio romano e independente ou sui iuris) “" teve capacidade juridica de 2020 e de agir. Quanto aos estrangeiros (peregrini), s6 mais tarde foi reconhecida, embora limitada aos seus direitos nacionais e no ambito do ius gentium. E, no ano 212, adquiriram a cidadania romana por efeito da constituigao antoniniana, adquirindo, em consequéncia, a capacidade juridica de gozo © agir. Também os filhos ¢ a esposa (wxor) acabaram por gozar desta capacidade, depois de uma evolugao lenta. E, com o reconhecimento da capacidade patrimonial, aos escravos foi reco Patrimonial de gozo ¢ de agit. Muitos gozaram de privilégios que 08 transformaram em homens de negécios que enriqueceram e chegaram @ comprar a sua propria libertagio. nhecida a capacidade YD. 15,7: “Qui in utero est, es ‘st, perinde ac si in rel ydlitur, wotiens de commodisipsus parts qucrinn bus humanis esset custo. ("9 D. 1,5,26: “Qui in utero sunt, in toto . natura esse”. ‘Qui in utero sunt, in toto paene iure civil intelleguntur in rerum "9 “Conceptus (ow nasciturns 89" Vide supra, nota $3 8) pro iam nato habetur™, Titulo II — Relagao Juridica ‘ Importa salientar que a capacidade juridica de gozo nao se confunde com a capacidade juridica de agit. Basta referir que 0 infante (infans) ('") fe ter um patriménio se for sui iuris e, portanto, capacidade de gozo Pits nfo pode, s6 por si, adquirir direitos e contrair obrigagdes e, por isso, precisa de uma pessoa (tutor) que o proteja. Por outro tado} os escravos, porque slo homens, tém capacidade de agir, mas nao possuem capacidade de gozo, por serem igualmente considerados coisas (res): podem, portanto, realizar negécios juridicos, mas os seus efeitos produ- yem-se na esfera patrimonial dos seus donos (domini). 34.2. Estatuto de liberdade 34.2.1. Cidadaos romanos Como se referiu, ¢ necessario ser livre e cidad4o romano para gozar de personalidade e de capacidade juridicas. Importa, néo entanto, distinguir dois tipos de cidadios romanos: 1. Ingénuos: sdo 0s cidaddos romanos que nascem livres ¢ nunca foram escravos (!8), Mais tarde, no Império, é também a pessoa que, tendo nascida escrava, adquiriu aquele estatuto por decisiio do Impe- rador (restitutio natalium) com 0 consentimento do patrono. No direito de Justiniano, é ingénuo quem nasceu livre de matriménio de dois ingénuos, de dois libertos, de ingénuo e liberta ou de ingénua e€ liberto; ¢ também é considerado ingénuo o filho de mie livre (” e de pai escravo ou incerto. 2. Libertos: so os escravos a quem foi concedida a liber- dade “29 € se encontram numa relag&io de dependéncia do seu antigo dono (dominus), denominado patrono (patronus). 0 Vide infra, n.° 34.6.1. 1) Cf. Gatus, 1,11. (9 Nao importa que a mae tenha sido escrava no momento da concepgao, desde que tenha adquitido a liberdade no momento do nascimento. ‘Também se considera ingénuo o filho de mae escrava, mas livre no momento da concepgao ou apenas durante algum tempo da gestagao. Cf. 1. 1,4prs D. 1,5.5.2-3 (29 "Q acto de concessio de liberdade, denominado manumissio, reveste, no direito civil, as seguintes formas: a) manumissio vindicta: perante 0 magistrado 48 MANUAL DE DiReITO Rowan, Embora tenham adquirido a liberdade e gozem, em regra, da cid. dania romana, os libertos nfo esto plenamente equiparados aos ingé. nuos. Como meros exemplos, ndio podem ocupar determinados cargos piblicos 2; 0 seu voto nos comicios \”) tem valor reduzido; nag podem contrair matriménio com senadores e seus descendentes; ¢ a relagiio de dependéncia em que vive (direito de patronato) onera-os com os deveres de: a) reverentia (obsequium ou honor): 0 liberto deve respeitar o patrono como se fosse seu pater. Por isso, nao o deve deman. dar com uma acgao penal infamante ‘?) e com outra acgio qualquer sem autorizagiio do magistrado “*; b) operae: deve prestar determinados servigos ao patrono, como administrar bens, cuidar dos filhos, realizar trabalhos manuais, etc, Trata-se, no entanto, duma obrigagao natural (25), a menos que as operae sejam posteriormente prometidas com juramento (pretor, cénsul ou governador), comparecem o dono, 0 escravo € um terceito Este toca no escravo com uma varinha (festuca) ¢ afirma solenemente que é um homem livre. O dono ndo contesta ¢ © magistrado confirma a declaragao; 5) manu missio censu: consiste na inscrigdo do escravo, com o consentimento do dono, na lista ide recenseamento dos cidadios; c) manumissio testamento: € uma declaragio de libertagdo feita pelo dono num testamento. Pode fazer-se de modo directo (0 testador concede, com palavras imperativas, a liberdade imediatamente apés a aceitagdo da heranga e 0 escravo toma-se liberto do defunto) ¢ indirecto (0 testador solicita ao seu herdeiro, legatirio ou fideicomissario que conceda a liberdade a determinado escravo. Feita a manumissio, 0 escravo torna-se liberto do manumissor. Além destes modos solenes previstos no direito civil, impuseram-se, na prética, manumissiones sem for malismos, ditas menores ow irregulares, que 0 pretor acabou por proteger ¢, por iss0, pertencem a0 direito pretério. Destacamos: a) manumissio inter amicos: & a decl- ragdo de libertagao feita na presenga de testemunhas; b) manumissio per epistulam: é a libertagdo por carta dirigida a0 escravo; ©) manumissio per mensam: ocorte quando, a convite do dono, 0 escravo se senta & sua mesa, Cf, ULPIANUS, 17-10; C. 74,15; Gaius, 1,41; PS. 1V,12,2; D. 41,2,38pr. 2)”, g., nfo podem ser magistrados. 02) Vide supra, n.° 14. 02) Vide infra, n.° 56.2.5. (De contririo, incorre na condenago de pagar dez Cf. Gaius, 4,46 (25) Sobre estas obrigagdes, vide infra, n.° 149. il sestércios ao patrono. Titulo IT — Relagao Juridica 49 (promissio iurata liberti) \?9 ou através duma stipulatio “7, situagdes em que pode ser demandado judicialmente; c) bona: 0 liberto e o patrono devem prestar reciprocamente ali- mentos, no caso de necessidade. Quanto ao patrono, é obrigado a proteger o liberto, a assisti-lo e a defendé-lo em juizo ¢ ndo deve acusd-lo de delito capital \'**), Por outro lado, a concessao da liberdade cria uma espécie de vin- culo de filiagdo do liberto ao patrono, com reflexos no direito sucessé- rio: se o liberto nao deixar descendentes, o patrono é chamado a herdar 0s seus bens. 34.2.2. Estrangeiros So estrangeiros (peregrini) os homens que vivem no mundo romano, mas nao sao cidad&os romanos (cives romani) nem latinos (latini) >, Os que so membros duma comunidade politica com relagdes internacionais com Roma sao considerados livres e conservam as suas leis e a sua organizagao politica e podem realizar determinados negécios juridicos com a populagao romana no ambito da capacidade reconhecida pelo tratado de alianga (foedus) ou por disposigao unilateral (ex civita- tis) de Roma. Verificou-se, no entanto, uma tendéncia para estender a cidadania romana aos estrangeiros. Regista-se, sucessivamente a sua concessio aos habitantes do Lacio, aos aliados de Roma, aos habitantes da Alia Transpadana, a determinadas pessoas e comunidades e, finalmente no 9 E uma promessa unilateral reforgada com juramento, que pode ocorrer depois da libertagdo do escravo (manumissio). Se a promessa fosse demasiado gravosa 0 Pretor podia intervir, protegendo o liberto com a denegagao da acgiio (denegatio actio- nnis) intentada pelo patrono. Vide infra, n° 86.1. CED. 38,2,14pr, A acusagiio de crime capital tem lugar quando se pratica um acto punivel com o suplic fli ‘i cidadanee iplicio ou exilio que, como a deportagao, implica a perda da iy * Os povos que vivem fora do Império Romano denominam-se barbaros. 4— Brevirio de Dir. Pri. Romano

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