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Sobre ensino daleitura _ ery Tudo que é belo é uma alegria para sempre: s ° sen encanto cresce; ndo cairé no nada paste a John Keats Marla do Rosario Mortatl Magnani™ 1 = Introdugio | © titulo deste aitigo' pode sugeris um encaminhamé roraneas sobre o tema, respostas 20 como en: sino da leitura, re obviedade de ia racionalidade pode ser depreendida das gua e/ou literatura, Como contsibuigao 10 nao resolvida, a ay ya em voga no Bras 1s pelos professores jproponho, num segundo momento, refleades sobre a poss fo em outta racionalidade, que enfatiza a leitura d3 co gio e de um su | D ‘Trata-se, portanto, de deslocar a discussio de como par nde contingente de exctuldos da <1 2—A guisa de balanco ‘por que ensinar a ler, escrita © num final de a0, que colocam em. resenga de novas tecnologias de com terial impresso e clo livso, em especial 2.1 Um projeto de escolartzagao da lettura A experiéncia como professora de lingua ¢ literatura na escola de 1° ¢ 2° grays assim ont oe estados © pesquisas que venho realizando sobre a hisiGria do ensino de « nepanunento de Educate, FT, UNESP ~ Camp de Pesente Paden: For ard cm eas FS Fa ae nels Porgrnduagio em Edcagto,FFC, UNESP ~ Campus de Marl Sstsk Th... wel Iingua e literatura no Brasil tem apontado 0 delineamento, nas ditimas décadas, de um ‘projeto de escolarizacao ca Jeiura destinado preferencialmente & escola publica ~ onde Se encontra a malor parte dos estudantes brasileiros ~ ¢ cuja implementagto vem demandando a busca de bases cada vez mais cienifica, visando a ajustes necessérios, no ‘que se refere, em particula[a adequabilidade do material para leit ‘Embora esse projeto no apresente contornos defi priticas que 0 representam e 0s discursos que 2s corientam apreender 0s aspectos gerais que o caract seguit. A partir de necessidades impostas por um ideas tico, que, visando ao “esclarecimento das mas do acesso 20 mundo da a crise da leitura, mediante a prom leitura, os professores de lingua e/o devem executar © gerenciar préticas excolares de técnicos de administragao educacional mercado editorial. Para uma acdo fica ppartida, a realidade do aluno e, cot lade crescente do mat “dos de acordo com as et idade, de modo que, medi emprego de técnicas de motivagio mente, propiciem estimulos para que 0s alunos construam seu conheci-| mento, inar © processo com 0 comportamento esperado: a feitura ‘dos “longos clissicos do vestibular”, como coroamento das habilidades fescola e para a vida ~ para as quais esses alunos vieram sendo pre} Slfabetizag2o. Os alunos, por sua vez, devem vivencié-la, para adqi e para saberem decodificar tudo aquilo que thes for oferecido esse projet Sdvém tanto da quantidade de textos adequaclos lidos nas aulas dos Giretamente envolvidos, quanto do retorno demonstrado pelo desempenho ¢: 3s didaticos e paradidaticos. ‘© que tem ficado dessas priticas escolares de leitura? Como as avaliam aqueles que as vivenciam, executam, gerenciam, plancjam ¢ fomentam? Quem delas tom-se feneficiado? Penso ser necessario esse balanco e gostaria de, a0 menos, provoci-lo com e consideragbes. ‘almeieestrategicamente a construco de conhecimento aue redunde Wiades supostamente Gtels nlo apenas para a escola, mas também para a vida do os efeitos dessas priticas parecem se restringir aos viciados limites escolares, vente az matérias lingua e/ou literayra. Mesmo assim, os indicadores de Fesultados nao sto alvissareisos: os alunos ~ quindo permanecem na escola (publica) ¢ ‘quando iéem de fato os textos ~ aeabamn Tendo do modo como sabem € apenas o que Ron > pie” wer ic se iti ni sagas park g's Necsneae ao ame, © esti centrada em constantes exerciclos de leitura, planejados com base no princ!- pio da adequabilidade, conforme 0 qual a aprendizagem deve estar subordinada 20 desenvolvimento cognitive, tomando gecundais as|selagtes de ensing, © a seleydo de textos, por sua vez, deve estar subordinada 20 interesse imediato € “gosto” do aluno, implicando 2 interditaglo de todo procedimento e material que se distanciem desse principio; 1b) para esses exescicios, tem-se atribuido considerfvel importancia a dois tipas dle material: 0s denominados “textos do cotidiano” veiculados por certos “portaclores cle texto” com 0s quais os alunos convivem € aos quais tém mais facil acesso; € os te2 denominados de literatura infantil e/ou juvenil, veiculados pelas colegdes paradiciticas respostas para 0 professor e com titulos constantemente renovados, os quais, atender Aquele principio da adequabilidace demandado por sua destinaclo e centre uri pablico infantil e juvenil que frequenta a escola; ©) dadas as condigées atuais de trabalho e formacto, © tepertério de leitura do 40s do projeto que executa e gerencia, preocupando-se apenas com a oilmizagio ‘dos procedimentos, que the sio oferecidos por intermédio tanto de cursos de capacitaglo ¢ teinamento como de instrugdes apresentadas por autores € edltores, © com base nos quais infere eritérios para avaliagao de sua pritica e da de seus alu- nos; € ©) no caso de resultados considerados animadores, os esforgos dispendios pelo constatagio de que os al respeitados, tendosthes Mediante essas consideragdes, pode-se depreender, no ambito da escola publica ‘brasileira - onde se encontram, quando podem, sobretudo os excluidos da cultura escrita —0 delineamento de uma situagao em que, baseadas tanto nas experiéncias de vida e leitura dos alunos quanto no entrecruzamento de resultados de estudos em Psicologia Genética, Pedagogia ¢ Literatura Infantil, 3 pricas de leitura contribuem para o ‘engendramenio de um triplice (¢ mesmo) proceso de dentificacao; a) entre menoridade ‘cognitiva e menoridade social e cultural do “aluno das classes populares’; b) entre ‘menoridade cogmuuva, social © cultural © menondade quanttativa © qualiatva do material de leitura a ele destinado; ¢ ©) infantil ¢ juvenile escola_correspondendo a adjetivaglo do termo “literatura” a atributos pejorativos decorrentes do estatuto de menoridade apontado em a) e b). De inter-relaglo desses seu circulo, a indicag2o por parte do professor ¢ a aceitaglo, pelos passam a (re)orientar a (fe)produgao € selegio de novo material com as mesmas férmulas, de modo que, por um processo de incansével repeticdo, vai sendo sedimentado| perpetuado, porque insttucionalizado pela escola, um modelo de “gosto", que, tendendo & uniformizagto e regulacdo de significados € ‘O principio da adequabilidade, diretamente relacionado cot dim, remete, desse pomto de vista, a processos de “peterpanizagio" do leitor, de fal ca literatura, € de 19] P passado, presente e futuro, consttutivas da meméria e identidade dos sujeitos socials historicos. Agudiza-se, assim, tanto a ilusto do “pathos do novo" (Arendt, 1979, p. 226) para aqueles a quem se prometera a emancipacio social mediante o acesso a0 mundo da cultura letrada quanto a ilusio pseudodemocritica dos bem-intencionados professores que julgam dever dar a cada um de acordo com sua capacidade. Que conhecedor dos homens! Faz-se crianga com as criangas, Mas a frvore e a crianga buscam 0 que € mais alto do que elas. (Holderlin, 1991, p. 101) Penso ser possivel e necessirio questionar essa légica perversa, de acordo ‘com a qual as préticas escolases de eitura, resumi mento, 2 Sis seen eterna) de signficagdes, impedem a conquista do direito de buscar o diferente © 0 desco- 0 ditelto de saber o que de “mais alto" se pode buscar, o diteito de ‘aprender a conhecer ¢ formular necessidades diferentes das que #20 apresentadas como evidencias © de aprender, ainda, a satisfazer essas necessidades; de acordo com 2 qual, enfim, professores e alunos acabam por viver uma privagio semelhante a de Satanas, apos a queua cos ceus: jad 3 Como podem os professores contribuir consigo € com seus alunos na busca do ‘que € “mais ao do que eles”? © que pode ser esse “mais aio"? 3~-"Como uma frégil passarela sobre o abismo": outro projeto 3.1 Constitutgdo do sujetto lettore formago do gosto unio, no ajo, ene conceber, exer aalar proj: idenien 0 dos, nem tampouco como fatalismo ou voluntarismo; een ar ¥ ‘Auz desses pressupostos, gg € uma atvidade especficamente humana, intersubjetiva ‘endo natural, supondo aprendizagem ¢, portanto, ensino, os quais se tornaram necesss- riamente escolares no caso das sociedades letradas contemporiineas, em que a escola se apresenta como mediadora entre © mundo piblico € 0 privado, entre o passado, 0 presente € o futuro. No entanto, apesar da institucionalizacao das relacbes de ensino- aprendizagem da leitura e da implementacdo de projetos como o discutido anteriormente neste texto, aprender ¢ ensinar a ler podem ser compreendidos como atividades cujo sentido advém de sua condirio de constituicao do suleito que Jé, sobre o qual o lido atua ‘© que, com e pela leitura, constitui-se como tal. Ow seja, como sujeito que busca, na tensio entre determinagao s6cio-hist6rica ¢ auto-regulaglo e entre consciéncia e contin- ‘géncia, constituir aquilo que Ihe € peculiar, caracteristico € indispens4vel, enquanto principio da diversidade © atuante nas “zonas de desenvolvimento proximal", como condigao do processo de constituicao do sujeito que Ie. ‘Uma sintese desse projeto, a ser representada pelas relacdes de ensino-aprendiza- ‘gem que ocorrem no Ambito das matérias lingua € literatura © desde o perfodo da social e historicamente produzidos, como fendmenos do mundo piblico da cultura, onde se cruzam arte e politica; e, especialmente, qualidades e valores relativos 20s ‘menos tteis e mundanos objetos culturais: 25 obras de ane ¢, em particular, as obras literdrias. Trata-se de uma atividade, enfim, que, envolvenda aspecios éticos e estéticos, ‘guestiona a selativismo,e a opinita da maioria ¢omo substitutos da razdo € critérios de verdade. 35 ados para esse ensino. ‘Vale ressaltar que, enquanto “materializacio” di relacdes de ensina ¢ apeendizagem Entende-se, aquiferayomo presenta como espaco d& enunciagto, unidade de sme van. va.can-oaun son esien 919 pene nOv4 WeneeN Bid Debate Abd ARAN GIA NORAA GIADA AE oie cli (© goso, portnto, na medida em que, como qualquer outtojuzo, aPete 08 Ca emum, €'0 proprio oposto dos “sentimentos fntlmos”. Em julz08 de, come pela lekura, sebretudo 4 da literatura. B, porque # aon rt formacio do feuto como foma de desafar o desejo do sujet leitor de ‘constituir como tal, Boo com telocugio e a diveridade de modelos, pde-se compreendes o Mavic apresentase como mediador, ras diferentes mattiae do curtculo escolar. Tecnufica as matéxias lingua e Ieratura € a necessidade ‘como mediador, mas também como objeto de estudo, e objeto cultural produzido na interagao verbal, que se le processos discursivos, 0 texto sentido e representagto de um FL projeto, prosuzido por um autor, que — 3 pats de at necessidades, movido por cers roe, Pio breualado pela coningtndas © mediado pela Voge determina das ra vas ¢ socks e no tmbito de cea “formacao deus (Cilandi, istics soos posivels © conhecidas, as opges para excevet AB de oposiglo & literatura dita Iiteratura "de massa” ou titeratura “adulta".trata-5e néncia de um conjunto de se inter-relacionados: as condigbes ivi’, produzida pela indstria cultural ¢ veiculada como “da escola". Sem_disinguir literatura infantil e juvenil de de considerar 0 processe iclorhiettrion de aleican # pemen. textos diversos como “literfrios’, processo no qual encontram- de emergéncia dos textos, (. .) produsii, edicao, difusto, jnstiuigdee escolares e universrias, as condigoes de aprendizagem ca lingua e da leitura, diferentes instincias legistaivas nesse dominio como Enquanto obra de linguagem eminentemente qualitative, que exalia 2 dilewenta © ainteragao do que € diverto, e dado seu cariter de gratuidade ¢ permanéncis'no MPS, important instrumental e utilitiria, mas cot gna got gE poranto, é © trabalho de lnguagem que se produ, enquanto texto, mediante o V9 a palavra escrta, a qual associa o taco visivel 3 colsa invisivel,& coisa ausente, 2 coisa desejads ov ppassarela sobre o abismo. (Calvino, 1990, P. 90) Ide que o$ leltores participam, na escola, "termes de comparacio © paradigmas estéticos, evam a waler mesmo que nos recordemos pouco ou nada do livro lio item a0 menos aprender a conhecer, sea para jilidade, seja para descobrir que a uniformiza~ ‘gosto € 8 atsbutos pejorativos imputados & re stor daguilo que, por vezes sem o saber, mals almejava: a fuigio ‘D que mudam sa0 a8 situagdes sempre irrepetivels de interagao que Ocotre unos e de acordo com as quals se planejam atividades espectficas eaiewamos pensar, entao, ue atuar na formagao do gosto, tomando o Wee Te re abador objeto do tabalho de consitucto do sujeto de, com ¢ Pela a cepacol, significa serem professores¢ alunos leltores interiocutres de fern. tenrdafigumgoes texuais © principalmente de diferente texios lterkroe, de diferentes smb 18 4-480 OPN HU ores ¢époces; leitoresintelocutores, porque dialognn com a mulipliidacie comiativt dos sujeltos ¢ doo textos terdrios e coma diversidade de modelos; Por Gove na multiplicidade e diversidade, aprendem 2 conherer * 72: Rrecuur € womar decisSes ene valores € qualidades. Significs, que “peterpanizando” os leitores, infantilizando e trivializando o literario, Tre enindo objetos culturais e supondo aprendizagem sem ensino, priva os Ie fruicho estética e do conhecimento, 4-0 que fica Porque Ito se aprende a cantar senao perante (Os monumentos da magnificencia. (Yeats, 1992, p- 103) penso ser necessério que professores ¢ alunos come Que reflitam sobre 2 possibilidade de a satisfaca0 Sxem os anicos cxtérios de verdade; ¢ que ousem pensar no ensino da le de vista de qutra razio. Porque os discursos sobre a importincia € a feitura, 0 interesse e 0 “gosto” dos alunos, os métodos ¢ as Sellers escolares, a literatura tivial, as informacbes dos “textos do co gentese effmeras demais para com eles se spender tanto tempo = Brtem sentido ~ 2 vida de professores e alunos. Porque tudo {quando se sai da escola, quando deixa de ser i lo perde (© que fica, porém, € 0 que os poetas Fundam. Golderlin, 1991, p. 131) NOTA + verse prelininares deste aig foram apresentda, em 28/07/1998, mre séee durante © 9" COLE, €, em como eonferéneh, durante Edveacto Basten: Leura, na UNESP de Nala [REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS [ARENDT H. A case na educate. Ins. Bnreopassadoeofauro, Tad Nawro WB, Alek. 2 Perapectva, p, 22147, 1579

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