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EDUCACAO DE BEBES: cuidar e educar para o desenvolvimento humano F José Ricardo Silva ina Aparecida Marques de Souza Suely Amaral Mello _ Vanilda Gongalves de Lima (Organizacio} ucacao de bebés: cuidar e educar 10 desenvolvimento humano ff Pedro: Joao editores Copyright © dos autores ‘Telos os dirvitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser rwproduzida, transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos dos autores. ee José Ricardo Silva; Regina Aparecida Marques de Souzo; Suely ‘Amaral Mello; Vanilda Gongalves de Lima (Orgs) Esducagio de bebés: cuidar e educar para 0 desenvolvimento Jnumano, So Carlos: Pedro & Joko Fditores, 2018, 310p. ISBN 978-85-7993-343-5 1. Educagio de bebés. 2. Cuidado de bebis. 3. O espago para xbts, 4. Papel do profescor de bebér. 5. Autores. LTitule, cbp-370 ——— Capa: Andersen Bianchi Tditores: Pedro Amaro de Moura Brito & Joao Rodrigo de Moura Brito Conselho Cientifico da Pedro & Joao Editores: “Augusto Ponio (Bar/itslia); Jo%o Wanderley Gerald (Unicamp! Brasil); Nair F. Gurgel do Amaral (UNIR/Brasil); Maria Isabel de ‘Moura (UFSCar/Brasil); Maria da Piedade Resende da Costa (UPSCor/Brasily; Valdemir Miotello (URSCar/Brasi) & Pedro & Joio Editores www pedroejoaoeditores.com.br 13568878 - Sio Carlos — SP 2018 SUMARIO Proficio —A margem 7 Paulo Sérgio Fochi Apresentacao: Estudar os bebés para adotar 13 priticas de cuidado c educagio de criangas "pra brilhar” José Ricardo Silva Regina Aparecida Marques de Souza Suely Amaral Metlo Vanilda Gongalves de Lima Parte 1 - Perspectiva histérico-cultural no cuidado e educacao dos bebés bebé como sujeito ativo na creche 23 José Ricardo Silva © papel do professor e da professora no 49 desenvolvimento dos bebés nas creches Barbara Cibelli da Silva Monteagudo: Algumas especificidades na constituicio da or inteligéncia e da personalidade na primeira infancia Neire Marcia da Cunha Selma Aparecida Ferreira da Costa Criangas independentes ¢ auténomas, 0 papel do professor e da professora no desenvolvimento dos bebés nas creches Barbara Cibelli da Silva Monteagudo Introdugio ‘A partir do que ouvimos as pessoas dizerom sobre © papel da creche, percebemos que, para muitas, ainda no houve superacio do conceit etimoldgico, prevalecendo o entendimento como espago para apenas cuidar. Outras consideram boas as creches que escolarizam e antecipam atividades que seriam de idades posteriores. E nés, profissionais ligados a esta faixa etéria, como concebemos 0 papel da creche? E 0 papel do professor e da professora? Pretendemos, aqui, refletir sobre o papel do professor € da professora, sobre a importincia de seu olhar investigativo, que observa 0 que a crianea ji sabe e amplia suas referéncias humanas. Discutimos a importincia de conhecermos as caracteristicas do desenvolvimento. dos bebés e, a partir desse conhecimento, organizar aghes intencionais_ que provoquem a atividade principal de comunicasio, capaz de promover neoformagoes no desenvolvimento a9. da consciéncia, isto. & da intéligéncia eda personalidade dos bebés. Nessa perspectiva, teoria e rotina estardo presentes fem nossas reflexdes em busca de uma educagio desenvolvente. Um desafio para 0 nosso trabalho nas creches é conseguir provocar a atividade dos bebés sem que eles percam o encantamento em querer descobrir. Por isso, pensando nos elementos que compoem 0 coticiano das creches, queremos discutir neste capitulo, a acolhida dos bebés, a alimentacio, © brincar ~ aqui entendida como a atividade livre com objetos -, as trocas de roupas e fraldas, 0 banho eo sono. Mello (2004) aponta a importancia da organizagio de condiges adequadas de educaglo para 0 desenvolvimento das criangas. Com este pressuposto, pretendemos refletir sobre o bebe, seu desenvolvimento © as intengées na ago do professor ou da professora para proporcionar esse desenvolvimento. Para a concepséo histérico-cultural, “o ser humano nao nasce huimano, mas aprende a ser humano com as ‘outras pessoas, com as geragies adultas © com as criangas mais velhas — com as situagdes que vive, no momento historico em que vive e com a cultura a que tem acesso” (MELLO, 2004, p.136). Assim, a educagio necessita ser organizada de forma a promover © desenvelvimento de aptidées, por meio da apresentagio da cultura acumulada historicamente pela humanidade, uma vez que a cultura ¢ a fonte das qualidades humanas que foram acumuladas nos objetos & medida que estes foram criados (VYGOTSKY, 2010). Nas creches, o fazer difrio, educar ¢ cuidar, podem acontecer como agées educativas intencionalmente orientacias para 0 maximo desenvolvimento humane das criangas. A antecipagio da escolarizagio ¢ a negagio da propria infancia. No entanto, ¢ importante considerar que a forma como as criangas aprendem em cada idade no & determinada pelos adultos que a cuidam e educam, mas pela atividade principal que a crianga realiza em cada idade, Essa atividace principal & na verdade, a linguagem por meio da qual a crianga ve relaciona com 0 mundo e aprende. Zaporozhetz (1987) aponta que para potencializarmas as melhores condigies para a educagio das criangas temos que aprofundar as formas da atividade Iidica, priticas e plisticas. Assim, nio ¢ pelo abreviamento da inféneia que 0 desenvolvimento humano se potencializa; a antecipacao da escolarizagao & ‘a negagao da prépria infancia. A teoria vigotskiana do desenvolvimento direciona nosso olhar para as criangas 20 enfatizar a importincia da aprendizagem para o desenvolvimento humano. Mello destaca a importincia da aprendizagem ao apontar que ela “antecede, possibilita ¢ impulsiona 0 desenvolvimento” (MELLO, 2004, _p.143). Nesse sentido, dois conceitos serio fundamentais para compreender © papel do professor ou professora em suas agies intencionais, Um & 0 conceito de zona de desenvolvimento real, representado pelo que a crianga ja sabe e ¢ capaz de fazer sem ajuda; expressa 0 desenvolvimento ji alcangado pela crianga. Outro é 0 conceito de zona de desenvolvimento préximo, 51 expresso pelo que a crianga é capaz de fazer com ajuda do outro. Para haver aprendizagem, a atividade deve adiantar-se ao que a crianca ja sabe; a ajuda deve possibilitar que cla caminhe para farer a atividade sozinha. Por isto, é importante © planejamento, a agio intencional do professor e da professora que visa o desenvolvimento da crianga. Para isso, conhecer as especificidades do desenvolvimento em cada periodo da vida é condigio essencial. A aprendizagem, na perspectiva histérico-cultural, resulta da atividade do sujeito - em nossa discuss especifica, dos bebés, Fles tém papel ativo em seu proprio desenvolvimento. Em cada periodo da vida ha uma_atividade principal por meio da qual a pessoa melhor se relaciona ‘com 0 mundo ¢ com as pessoas a0 secu redor ¢ aprende = © se desenvelve. Com os bebés, esta € a atividade chamada comunicagao emocional - no primeiro ano- e a manipulagdo de objetos — na primeira infancia compreendida como 0 periodo entre 1 e 3 anos. Sio essas atividades que proparcionam o desenvolvimento da meméria © da atengao que jé existem na crianga como em todos 0s outros animats ¢ que se desenvalve para serem voluntarias, isto 6, controladas pela crianga. Também promovem a formagao e desenvolvimento da percepcio e da fala que constituem parte da ‘comunicagao neste periodo. Na organizagio das creches, nds, professoras e professores, a0 priorizarmos uma _—_educagio desenvolvente que —proporcione 0 maximo desenvolvimento humano, organizamos os espacos e as 32 relaghes com os bebés de forma que eles estejam em atividade (Leontiev, 1978). Estar em atividade significa realizar aquilo que faz sentido para a crianga, algo que a envolve, algo que ela faz. por iniciativa pripria, com vontade, tal como no caso dos objetos, que ela explora pela necessidade de obter impresses. Nés, professoras e professores, seremos um apoio para o desenvolvimento do bebé, um profissional que compreende a crianga e seu papel. A maturagdo geral do organismo apresenta-se no como causa motriz, mas como condigao para _o desenvolvimento infantil, consicleranda que 0 desenvolvimento psiquico da ccrianga depende da atividade da crianga com os objetos do mundo € em sociedade, ou seja, com os outros € a cultura que a rodeiam O recém-nascido Para Vigotski (1996a, p.285), “a relagéo da crianga com a realidade circundante é social desde o principio”, porém, por volta dos dois meses de idade, 0 bialégico ainda tem grande carga, como se este periodo fosse uma extensio do desenvolvimento no titero materno, com periodes intensos de sono, aprendizagem de respirar sozinho, alimentarse pela boca: uma verdadeira adaptagio do bebé na passagem do titero para o meio externo, A segunda peculiaridade deste momento, ¢ que os bebes no carecem de comunicagaa social em forma de linguagem verbal, hé comunicagio sem palavras, por gestos, balbucio, manipulagio ~ a comunicagao 53 emocional. Vigotski (1996a) aponta que, aos dois ‘primeiros meses de vida, aparece reaches, especificamente sociais nos bebés: eles prestam atengio na voz € agem de forma reativa. Alimentam-se com mais rotina, choram menos. Vigotski (1996a) afirma que se desenvolvem novas formas de conduta: a ‘experiéncia liidica com o corpo, o balbucio, a atividade inicial dos érgaos sensoriais, a reagao ativa em relagéo a postura, a coordenacia dos érgdos que atuam simultaneamente, as primeiras reagées sociais que se manifesta em gestos expressivos de prazer e surpresa, De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educagao n° 9399/1996, os bebés podem comecar a frequentar as creches a partir do quarto més e a creche tem papel importante no desenvolvimento das qualidades e capacidades intelectuais especificamente humanas, tais como, a meméria e atengao volintaria, a percepcio € a fala que se encontra ja em process de formacao. F preciso observar o bebé, sua atividade Principal, para nem cair na idela errénea de que é Possivel ensinar qualquer coisa em qualquer idade, em pensar que os bebés nia sto capazes de estabelecer relagSes. E importante o cuidado para nao sairmos de uma situagio em que os bebés ficam sem fazer nada para uma situagio em que se antecipa um movimento de escolarizagio inadequado. A. organizagio intensa do trabalho por nds, professoras Professores, requer uma atitude sistematica de refletir sobre nosso papel na organizacao do espaga ena relagio a ser estabelecida com os bebés. Condigdes adequadas na educagio ¢ cuidado dos bebés envolvem a organizagio dos espagos, a presenga e organizagao dos objetos, consideragao pelos tempos dos bebés e& relacdes acolhedoras pelos profissionais da creche. Tudo isso de modo que proporcionemos 0 acesso ans objetos da cultura também aos bebés. Existe neste aspecto um triplo protagonismo: crianga que olha eouve @ toca, professor ¢ professora que onganizam o trabalho pedagégico © os objetos que vamos apresentando as criangas de forma direta ou indireta. No caso especifico dos bebés, podemos falar em crianca curiosa, professor ou professora que organiza as condigGes adequadas de acesso dos bebés 4 cultura que os rodeia. A concepgao de crianga como ser capaz, requer um professor ou professora com olhar investigative para proporcionar intervengSes adequadas para uma atividade livre e autnoma, compreendica nos diversos espagos da escola infantil ~ tantos os diversos espagos na drea interna ‘como as muilas possibilidades na area extema: na sombra de uma arvore, de uma lona ou tecido; no sok na areia; no jardim; na quadra; no refeitério; nos corredores; sob as ‘eseadas; nas salas - ¢ interaghes ~ no hanho, na troca, na alimentagdo, na atividade de exploragio de objetos, na acolhida, na despedida A atitude do professor e da professora, frente & erianga, reconhecendo-a como © foco da comunicagio, permite a emergéncia do. sujeito. Destacamos a importincia de © professor ou professora falar diroto, com a crianga, sem se dirigir de forma genérica para 0 grupo; a importincia do olhar, do chamar pelo nome, do dar tempo e atengio as iniciativas de comunicacsa, 55 da crianga, do falar com a crianca — iniciativas que Promovem possibilidades reais de comunicagio. © olhar do adulto acolhe e dé tranquilidade enquanto 9 bebé brinca e rola e explora objetos. A crianga que se sente acolhida fica mais tempo ‘experimentando com os objetos. A atengio é algo que se estrutura na propria relagdo com os objetos e com 0 adulto que permanece atento a crianga. ‘Também 0 posicionamento adequado do bebé tem impacto importante em sua explaragio do entorno, Pois, se estiver em uma posigaio cémoda, adequada a seu desenvolvimento motor, poderd direcionar sua energia © forga para outras relagées ao seu redor. Porém, se cst em uma posicio incimoda, que exige um dominio motor maior, sua forga e energia sio usadas para superar seu desconforto. Por isso, de acordo com a abordagem Pikler-Loczy (FALK, 2011), 0 adulto que cuida e educa 0 bebé nunca o coloca numa posigdo que o beb® nao possa alcangar e sair dela sozinho. Isto significa, por exemplo, nunca o colocar sentado antes que ele seja capaz de se sentar sozinho, nunca forgar uma posigao, Qualidade na educagao e cuidado dos bebés requer atividade de acesso a cultura socialmente mediada, salto no desenvolvimento, em uma perspectiva em que a atividade promove o desenvolvimento do corpo (motor), intelectual (psiquico, pensamento) e de identidade (afetivo). Assim, “escolher bem aquilo que seri proposto iis criangas é essencial” (MELLO, 2004, p.152), tendo como referéncia que a crianga é um ser capaz desde o nascimento. Nas relagdes estabelecidas entre bebés, professores e objetos da cultura humana, as boas escolhas sero aquelas que respeitam 0 desenvolvimento, favorecendo aprendizagens novas € atitudes aut6nomas frente ao mundo, Cuidados a comunicagio dos bebés Promover o desenvolvimento do bebé com vistas & sua maior autonomia e independéncia é um desafio a0 trabalho da creche. Para isso, a maneira como 0 bebé passa 0 dia na creche, aquilo que ele faz enquanto est acordado deve ser pensado para promover 0 desenvolvimento nas diversas situages que vive: banho, alimentagao, troca, sono, exploragio de objetos. Se as cuidados com 0 bebé so realizades “com carinho, considerando as necessidades individuais e reagindo frente aos seus sinais” (FALK, 2011, p24), 0 bebé comega a acumular uma experiéncia positiva de relacdo com os adultos e vai se tornando cada vez mais receptivo a essa relago. Quando 0 professor ou professora ¢ um/a investigador/a, atento/a as atividades ¢ a0 desenvolvimento do bebs, aos seus sinais, voz, movimentos, posigao do corpo, essa relagao positiva vai se estabelecendo. Ao banhar a crianga, desde o momento em que a pega no colo, o cantato visual olho no olho @ a conversa explicativa do que fara juntos tornam possivel a comunicagio. O adulto acolhe, conversa, explica, pede licenca (ao informar 0 que farao juntos, ao deixar o bebé perceber sua presenga antes de retiré-lo do bergo, por exempio), espera um gesto, uma atitude, um sorriso, um sinal do envolvimento da crianga. Em situagSes do dia a dia em que a crianga é 37 envolvida desta forma em seus cuidados, a crianga é colocada como sujeito da atividade, como parceira e colaboradora de seus proprios cuidados. ‘A simples atitude de mostrar para o bebé 0 que ele vestini, contribui para a conslituigio da autonomia, Tratado dessa forma, o banho torna-se um ato educativo, verdadeiro canal de comunicagio que favorece © desenvolvimento do bebé. Tudo feito com calma, sem, ppressa, respeitando e observando as reagées do bebé. “Eyitariames muitos problemas se, desde 0 comego, considerissemos 0 cuidar como um movimento intimo, pleno de comunicagio” (FALK, 2011, p34) O respeito 4 vontade e ao ritmo do bebé também se da na escolha do local em que ela ficaré nos diversos momentos em que esti na creche. O berco é local para dormir ou descansar, nao ¢ espaco para brincar, esperar ou passar tempo. A crianga acordada precisa estar fora do bergo porque ha a possibilidade de escolha dos objetos a serem explotados, aqueles que chamam sua atengag, © encontro casual com outras objetos € 0 inicio do estabelecimento de relagSes entre eles, quando a crianga comega a perceber semelhancas e diferengas, por exemplo, Fora do bergo, numa superficie firme, ha estimulo ao deslocamento, as mudangas de posicao mais possiveis fora que dentro de um bergo e © préprio encontro com outros bebés. Para isso, 0 professor ou a professora organiza areas comuns, dentro ¢ fora da sala, fora do prédio, para as criangas manipularem. objetos e se comunicarem com 0 mundo. Enquanto o professor ou professora troca, alimenta 0u banha uma crianga, ele/a se dedicara inteiramente a 58 ela, conversando, manifestando carinho ¢ atengdo, ¢ as demais criangas brincam, se movimentam, tateiam objetos de forma auténoma; e mesmo que chorem demandando atengao, podem ser acalmadas pela voz do adulto ¢ vio aprendendo a esperar sua vez. Assim, nao se confunde atividade auténoma com abandono, pois 0 professor/a estars sempre por perto para apoiar as agdes das criancas com gestos e movimentos, com palavras ¢ com o olhar, significando ‘© quanto cada uma ¢ importante. Falk (2011) aponta que em Loczy! existem quatro principios fundamentais na educagio de bebés: valorizagio positiva da atividade autinoma do bebé, valor das relagdes pessoais estaveis, aspiragio pela construggo na crianga de uma imagem positiva de si mesma e manutencdo da satide fisica da crianga. A abordagem Léczy baseia-se em uma concepsio de bebés ativos e sujeitos no seu desenvolvimento afetivo, social e moral. ‘A identidade da crianga & algo construido nas relagdes entre ela e o professor/a, desde os primeiros cuidados com seu corpo. © envolvimento, 0 contrale visual, a aproximagio do corpo, a suavidade na voz a0 falar e saber aguardar a resposta da crianca constituem aspectos essenciais de comunicagio, Solicitar a colaboragao do bebé e aguardar sua manifestacao, 0 "Instituto Pikler (Léezy), com atividades iniciadas na década de 40 do século pascado, & uma experidncia importante ra educagao de bebés © criangas. Sediada em Budapaste, na Hurgria, constitul referncia para o mundo no que lange 4 pesquisa e A experiGneia ‘com a primei . a ‘coloca em uma atitude cooperativa. “Henrique, vamos vestir a calga? Cologue seu pezinho aqui”, e esperar um movimento, um alhar, um sinal. “Maria, vamos tirar a blusa? Levante o bracinho” e esperar um sinal de sua atengio. Nessa hora, momento essencial_ de comunicagio com 0 bebé — e, por isso, momento de ‘educagio — no procuramos distrair a atengio da crianga dando-lhe objetos para manipular, o momento é de troca e comunicagio entre o bebé e o adulto. Importante este destaque para os tipos de didlogos do professor/a com as bebés. Sio apenas comandos, cordens e advertincias? Observar e registrar a rotina de um dia com as criangas, com enfoque nos didlopos, pode ajudar a perceber as rolages entre professor/a e bebé e com isto contribuir para uma nova atitude frente aos bebés, A crianga deve ter identidade no didlogo, ou seja, ser alguém que deve participar e ndo receber a comunicagao. Assim, falas do adulto que sio dirigidas a0 grupo ou que sao ordens - como, por exemplo, “parem de chorar” - nio ‘contribui para a comunicagio entre professor/a e bebe. Ha ‘comunicagio quando 0 profeseor se dirige & crianga ¢ interpreta 0 scu problema, “Joao, porque vocé chora? Perdew a bolinha?’ ‘Quantas palayras tém as frases ditas? Séo usadas para apoiat, consolar, animar ou para proibir, apressar, dar ordens? A comunicagao tem cariter positive? E amavel, tem identidade? Nos momentos de banho, troca & alimentagio, € importante a presenga do mesmo professor/a rotineiramente, pois a crianga se sentiré melhor acolhida se puder desfrutar de uma mesma pessoa que a cuida e educa. A presenga que ela reconhece a fara sentirse mais segura. Ter calma, tranquilidade, conversar com os bebés sobre © que vai acontecer, de forma que o ele que naquele momento © educador tem sua atengdo toda voltada para ele: essa seguranga permite que as criangas que ndo estio sendo cuidadas naquele momento tenham autonomia para brincar e entreter-se enquanto o educador auida do outro. Atividade com objetos, organizagito ios espacos como parte da commicagiio dos bebés com 0 mundo As intervengies do professor/a sao orientadas pelas concepgies que ele vai apreendenco no meio social, portanto, nfo so naturais, Os ambientes em que a ctianga passa o dia na Instituigao, como esta vestida, os abjetos a que tem acesso, as relagdes com o professor/a, suas possibilidades de movimento, que séo aspectos importantes que condicionam a vida e a aprendizagens dos bebés, so fundamentadas pelas concepgies do professor/a. “Emmi Pikler estava convencida de que a erianga que pode mover-se com liberdade sem restrigao & mais prudente” (FALK, 2011, p.18). Mover-se com liberdade requer espago adequado, roupas que favoreyam o livre movimento © possibilitem atitudes auténomas desde bebé, 0 que requer professores que tenham “confianga na capacidade de desenvolvimento das criangas” (FALK, 2011, p. 20). Se 0 bebé puder explorar seus movimentos, seu tateio, a partir daquilo que j& faz sozinho, poder ampliar a autoconfianga em si mesmo e com isto 61 estabelecer uma relagio de maior independancia no ambiente € no mundo. Um professor/a que respeite e facilite © proceso de formagio da autonomia do bebé por meio da liberdade de movimentos, possibilitada pela escolha adequada do local, dos objetos para tateio © da posigao do corpo no nivel de desenvolvimento em que se encontra (deitado ou sentado) promovera o desenvolvimento de sua autoconfianga, um equilibrio entre o desenvolvimento fisico e o psiquico. Por volta dos seis meses o bebé explora as objetos pela manipulagio e respeitar sou tempo, deixar que ele fique deitado, gire, deitando-se de lado e de brugos, contribui para seu desenvolvimento. A crianga deve ser colocada pelo adulto em posigdo que possa movimentar- se, de acordo com sua capacidade, sem ajuda. A posigio em que 0 beds ¢ colocado pode possibilitar ou no seus movimentos € relagdes sociais. Impor a posigao sentada, quando 0 bebé ainda nao se senta sozinho, 0 deixa insegum e impede outros ‘movimentos possiveis dentro de seu desenvolvimento. espaco, a0 mesmo tempo, rica em elementos que atraiam a atengdo da crianca ¢ Ihe dé liberdade de movimento melhor promove experiéncias desenvolvimento da percepgao, da meméria ¢ dominio do proprio corpo. O lugar the deve ser habitual, com objetos e espago adaptado para sua livre circulagio, A ajuda do professarfa deve ser imediata ao bebé, de acordo com a necessidade, para sua plena seguranga, pois, “quando o adulto esti ausente, o bebé se sente indefeso” |...) “a outra pessoa ¢ para o bebé © centro psicoldgico de toda situacio” (VIGOTSKI, 1996a, p. 62 304). Nas palavras do autor, “podemos afirmar com, plena seguranga que © interesse positivo da crianga pelo ser humano se deve a todas as suas necessidades satisfeitas pelo adulto” (VIGOTSKI, 1996a, p. 303). Quando uma crianga tem a iniciativa de contato com o professor/a, seja polo olhar, gestos ou balbucio, ela precisa do retomo, da comunicagio afével com ele. A integrago das regras da vida ocorre também através das atitudes dos professores. Nas atividades de manipulagio, as criangas devem ter ao seu aleance varios tipos de objetas escolhidos, ctiteriosamente pelo professor/a, assim 0 bebé tem possibilidade de movimento e exploragio. O professor/a nio conduz.a atividade, fica préximo e de forma pontual se comunica com a crianga. Seu papel de responder aos comportamentos da crianca e estimular © comportamento desejado. “Isto corta”, ao invés de: “Nao, isto é perigoso, nao pegue”. “Nao jogue a bomeca”, pode ser dito: “pegue a boneca e coloque no bercinho”; “muito bem, vocé guardou direitinho”. O olhar @ a fala do professor ou da professora melhor educam quando afirmam a atitude adequada, expressam o comportamento positive da erianga, Solicitar a0 beb® que escute 0 adulto é mais importante que expressar um comando geral ou advertir sem que a crianga saiba que & com ela. “Joao, colhe aqui, quero falar com voce”. A expectativa do professor ou educadora deve ser positiva frente & crianga: Yatitude pedagdgica positiva baseada na confianga” (DEHELAN; SZEREDI; TARDOS, 2011, p72). Assim, nas brincadeiras auténomas dos bebés, a comunicagio do educador ocorre em momentos precisos da atividade endo para direcionar 0 que devem fazer: “Maria, que legal, a bola coube no cubo’, “Paulo, que barulho interessante! ”, “Guilherme, muito bom, pegou a cesta”. Para Vigotski (1996a), no primeiro ano as fungdes sensoriais e motoras constituem uma tinica estrutura central, 0 afeto; “a percepgao & a agio estdo unidas pelo afeto” (VIGOTSKI, 1996a, p.297). Para (VIGOTSKI, 1996a, p. 299), Os impulses afetivos so acompanhantes permanentes de cada etapa nova de desenvolvimento da crianga, desde a inferior a0 mais superior. Cabe dizer que o afeto inicial do proceso psiquico do bebé, a formacio de sua personalidade encerra este processo, culminando assim, todo desenvolvimento da personalidade. Por volta do final do primeio ano hi um desenvolvimento impetuoso na vida afetiva, pelo surgimento do afeto e personalidade proprias, ow melhor, da vontade infantil, que se manifesta justamente quando aumenta a necessidade da crianga de se comunicar com seu entomo. A comunicagio com gestos € balbucio jé ndo ¢ mais suficiente, nao supre 0 desejo da crianga. Assim, ela desenvolve uma nova linguagem: “a aparigdo da linguagem auténoma infantil como forma de transican da etapa sem linguagem autinoma & verbal é um dos eixos mais importantes” (VIGOTSKI, 1996a, p. 336), § Para Vigotski (1996), a crianga desenvolve a comunicagio desde cedo, © apoio do dedo indicador quando quer se comunicar demonstra um aspecto do desenvolvimento da linguagem, uma forma de comunicagie com as pessoasao seu recor. Para Vigotski (1996a), a Tinguagem auténoma se distingue em trés momentos: — ~ a estrutura articulatéria se diferencia de nossa linguagem, Com um ano, o deseja de se comunicar por palavras faz com que a crianga desenvolva uma linguagem auténoma, a sentido da palavra “gui” para designar mamadeire, faz sentido para a crianga, mas nao representa uma palavra de uso comum as demais pessoas. Como exemplo, primeiro ela usa “gui” para mamadeira, depois, para tado liquido que for beber, em. seguida para toda vasilha para que possa por liquido, nao sé de beber, mas de forma generalizada. ~ as palavras auténomas, com significados préprios para as crian¢as, ndo possuem o mesmo significado que as nossas palavras. “Gui” é palavra auténoma de uma crianga, mamadelra € a palavra de uso social des demais pessoas, = a crianga compreende suas palavras autnomas compreende as nossas, antes de aprender a fala-las. Falamos mamadeira e ela “gui”, para ambas as palavras, ela compreende mamadeira ~ a crianca participa ativamente da construséo de suas palavras auténomas. © fim da Tinguagem auténoma pode ser um sintoma da passagem desta etapa, pols, ela desenvolve a linguagem auténtica, utilizada em seu grupo social. Consideracées finais A crianga se torna humana, a medida em que se apropria da cultura, do legado construido ao longo da hist6ria do homem, ¢ o professor tem papel essencial no oferecimento de condigdes adequadas para o acesso a esta cultura. Para tal, precisa ter clareza de como a crianga aprende, do significado do nivel de desenvolvimento real e da zona de desenvolvimento préximo ou iminente, organizar o espago e as relagdes, de modo a tornar 0 cotidiano da creche um espago de atividade que promova aprendizagens nos bebés como sujeitos de sua atividade e da atividade que realizamos. com eles. Proporcionar 0 desenvolvimento da autonomia e da independéncia da crianga depende de acado intencional do professor e da professora, depende do reconhecimento do bebé como sujeito do processo. A creche que promove desenvolvimento esta atenta a organizagdo dos espagos e tempos das relagSes dos bebés com objetos, adultos, ‘bebés, favorecendo a comunicagao em todos os seus aspectos.

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