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Cad.Est.Ling., Campinas, (14):13-25, jan./jun. 1988 EXPRESSGES LINGLISTICAS E A NOGHO DE “ESOUEMA” Mério A. Perini (UFMG) 1 0 termo “esquana” se aplica atualmente a certo nurero de nocdes bastan- te diferentes, servindo para cobrir ura gara de entidades cognitivas muito pouco ex- ploradas. Um esquema pode ser, segundo os autores ou as diferentes passagens de un autor, um tipo de regra de inferéncia, ou ura sequéncia tipica de eventos, ou 0 ro- teiro de ur tipo particular de texto (fébula, piada etc.) e assim por diante. Eviden- terente, todos esses tipos esqueras sdo necessérios, e espera-se que suas diferencas venhan a ser devidarente explicitadas para o futuro. Aqui vou ocupar-me apenas do ti- Po de esquara que se relaciona car entidades nocionais “ataricas”, aproximadarente correspondentes a predicados e argurentos da ldgica, e que frequenterente se expres- san através de itens léxicos ou de sintagras simples, caro GATO, CORRER, PEDRO, AZUL MARINHO etc. Espero que a discussdo e a exemplificacao aceber deixando essa nocéo to- leravelrente clara no decorrer do artigo. Cor esse grau de vaguidéo nao faco mais que seguir 0 uso geral, talvez inevitével no atual estado da investigacéo. Vou explorar certos aspectos da relagéo entre os esquenas (tais caro acima conceituados) e as expressoes ling(iisticas. Argurentarei, primeirarente, que as expresses linguisticas deserpenhar um papel metodoldgico crucial na depreensdo e es- tudo dos esquaras, 0 que desrente a afirracao frequente de que o que se estuda ao li- dar can esqueras séo entidades purarente cognitivas. Depois, a partir do reconheci- mento da inportancia metodolégica do uso das expressdes lingilisticas, farei alguras sugesties de caTo se pode utilizar o fendreno da montagen de textos para depreender Certos tracos importantes da estrutura dos esqueres. 2. Encontra-se constanterente na literatura sobre esqueras a idéia de que eles séo entidades purarente cognitivas, ou seja, essencialmente nao-linguisticas. Enbora se relacioner com expressdes lingilisticas, os esqueras representarian ur re- corte proprio do mundo dos conceitos, em principio diferente do que é imposto pelos itens léxicos e outros elerentos da lingua. A meu ver, essa posicao pode ser correta, ‘mas néo se aplica ao trabalho de pesquisa habitualmente realizado na érea. Qu seja, ainde que a existéncia de entidades purarente cognitivas néo este ja er questo, 0 que vé na literatura é um trabalho realizado sobre entidaces mistas, cognitivo-lingllisti- cas. £ inportante reconhecer essa situacao explicitamente, construindo una metocolo- gia e ura teoria de acordo. Tarems camo exenplo o inportante artigo de Ruelhart & Ortony (1976). Rurelhart & Ortony insistem na idéia de que os esquamas so de natureza cognitive ("the building blocks of cognition”), no se confundinds con elerentos lingthisticos tais como sintagnas e itens léxicos. E uma posic3o que ndo se pode aceitar san quali- ficagao. Rurelhart & Ortony consideran os esquemas “estruturas de conhecimento que interagan entre si” ("interacting knowledge structures”), e prosseguem: "Os esquaas séo. estruturas de dados para representar os conceitos genéricos amazenacos na maroria. Eles existen para conceitos generalizados que subja- zem a objeto, situaces, eventos, sequéncias de eventos, ages e sequéncias de acoes” (Rurelhart % Ortony, 1976:3) Dao eles duas razGes para que nao se possa considerar ura identificacao entre os es- quetas e os itens léxicos. As razdes sao: (a) os esquamas representan conhecimento enciclopédico, e nao apenas definicional (creio que queren dizer cam isso que 0S es- quamas incluem ndo sO tracos essenciais, mas tatbén informacao prototipica, caro "coelhos caren cenouras”, que riao fazem parte da definicao do conceito); e (h) “enquanto os diciondrios procuram fornecer registro dos “‘significados das palavras’, os esquemas representan conhecimento associado a conceitos; en consequéncia nao so entidades linguisticas mas representaies sinb6licas abstratas do conhecimento.”” (id., pag. 16-17) Enbora concorde que esquanas e itens léxicos (e expressdes !ingllisticas en geral) nao se identifican, devo notar que essas razes so pouco convincentes. A primeira razao contrasta os esqueras com verbetes tais cam se encontran nos diciona- rios usuais, que cam efeito nao costumam incluir tais informagdes na definicao de itens léxicos. Assim, 0 verbete me nao inclui a informagdo de que o conceito corres- pondente se liga a expectativa ‘carinhosa’, en oposicao a madrasta (nao obstante nem todas as mées serem carinhosas e nem todas as madrastas seem nao-carinhosas). Esses tracos (“expectativas”) ndo sao necessarianente parte da definicao desses itens, mas é inegavel que se ligem aos itens tao intimamente quanto os tracos essenciais “femi- nino’, “animado” etc. A diferenga esté en que no primeiro caso se trata de expectati- vas, no segundo de trago definicionais (se X é mae, entao X é ferinino). Nao creio que seja correto dizer que os tragas essenciais se liga ao item léxico e as expecta- tivas se prendem a outra coisa qualquer. Portanto, nao vejo ai un ponto de oposicao - 14 - entre esquenas (que incluirian 0 conhecimento enciclopédico) e itens léxicos (que so teriam os tragos definicionais). Quanto & segunda razo epresentada por Rurelhart & Ortony para dis- sociar esquanas e itens léxicos, nao consigo ver nenhum sentido claro nela. Se, por exenplo, os autores adnitirem que 0 trago essencial “feminino’ pertence ao iten lexi- co me, COT se poderé negar que esse item inclua “conhecimento associado com concei- to”? Qual seré a diferenga entre “conhecimento associado cam conceitos” e "significa- do”? Concordo, claro, que 0 conhecimento associado com conceitos é (en parte) nao- linglistico, mas dai nao decorre que se algo representa tal tipo de conhecimento, en- tao é un elerento nao-lingiistico. Aceitar esse raciocinio, aliés, inplicaria em ne- gar @ serantica seu caréter lingiiistico. A posicao de Rumelhart & Ortony se reencontra na maior parte da litera- tura. Assim, por exerplo, Schank (1981), considera os esquenas (para ele, “scripts") caTo entidades independentes da forma caro se exprimem lingllisticamente. Ele parece ligar isso @ crenga en uma representacao ndo-linglistica do significado: "Eu acreditava (e ainda acredito) que porque as pessoas podem facilmente traduzir de una lingua para outra e, de certo modo, ndo pensar em nenhura delas, deve haver a0 alcance da mente una representacdo do significado in- terlingiistica, isto é, livre de vinculacéo a una lingua em particular ("Language-free”) .” (Schank, 1981:106) E preciso discutir nao a existéncia de uma representacao nao-linguisti- ca do significado, mas antes a acessibilidade dessa representacao. 0 problema, por- tanto, centra-se nos dados de que dispomos para justificar enpiricanente a depreensao de tracos da organizacao das entidades do plano conceitual; os dados que nos chegan s20 resultados da evocacao de porgdes do plano conceitual através de estimulos (no caso, de natureza linglistica). Assim, ainda que aceitems a argumentaggo de Schank en favor da existéncia de ura representacao nao-lingliistica do significado, nen por isso precisamos adnitir que os esquaras "scripts", “frames” etc.) cam que trabalha~ ‘mos usualmente sejam de caréter puranente conceptual . Repito que nao identifico esqueres com itens léxicos; mas nao vejo ma- neira de trabalhar extensamente cam esquemas sen a0 mest tempo lidar cam expressdes lingliisticas. Rurelhart & Ortony, camo outros autores, deslizan constantenente para 0 uso de entidades linguisticas consideradas coro representantes de esqueras. Ocorre isso, por exenplo, quando tratam da “generalizacao de esquaras”, un proceso de aprendizagem pelo qual "una parte fixa de um antigo esquera € substituida por uma varidvel para construir um esquema novo e mais abstrato” (Rurelhart & Ortony, 1976:40) -15 -- O exemplo utilizado € 0 do esquera BREAK "quebrar”. 0 esquama “original”, segundo Ru- melhart & Ortony, corresponde @ idéia de quebrar um objeto fisico, como um copo de vidro etc. Dai, 0 esquara passa a se aplicar a nogao de quebrar ura pronessa, por exerplo; essa passagan € engenhosamente descrita por Rurelhart & Ortony em termos de “destruicao da funcao normal de un objeto”: assim, tanto un copo pode ser “quebrado” quanto uma promessa, ou um motor, sem que nestes casos haja propriarente uma decarpo- si¢ao em fragrentos. Essa ampliacdo de un esquera € um caso de "generalizacao”; camo resultado, taros um novo esqueta que inclui vérias formas de quebrar. Mas acontece que essa discussao, que pretende ter caro objeto o esquera BREAK, € impossivel de desvincular de una unidade lingliistica, 0 verbo inglés break, "quebrar”. Quero dizer que os autores se deixan levar pelos fatos linglifsticos; o que ‘tém em corum “quebrar o copo” e “quebrar ura promessa”? Apenas 0 fato de que, en in- glés (e tarbén em portugues) se exprimem com auxilio do mest verbo. Mas isso nao é uma propriedade dos conceitos envolvidos, antes das expressdes lingiisticas utiliza~ das para veicula-los en certas Linguas. Um francés diz casser le verre "quebrar 0 co- po", mas no utiliza o verbo casser para dizer "quebrar uma promessa”. A que titulo poderiamos convencé-lo de que “quebrar o copo” e “quebrar ura praressa” tem um esque- ma comun? 0 esqueta "generalizado” BREAK na verdade sO é uma unidade enquanto repre- sentado pelo item léxico break; néo é uma unidade conceitual verdadeira, nen sequer uma unidade léxica en todas as linguas naturais. 3. 0 exenplo de BREAK, evidentemente, néo demonstra a necessidade de se vincular os esquemes, de alguna forma, a entidades lingllisticas; mas ilustra un des- lize freaiente que, sustento, decorre de dificuldades intrinsecas @ tentativa de tra- balhar con esqueras definindo-os de meneira estritamente concei tual. Tais dificuldades radican no fato de que nosso acesso (explicito) ao ‘mundo cos conceitos € extremarente precdrio, Que critérios tems para definir as fronteiras de um conceito, as linhas que o separan dos conceitos vizinhos? E camo po- demos estar seguros de que estamos lidando can conceitos puros, e nao cam conceitos Ja filtrados pela organizacéo inposta pela lingua que falamos? Nao pretendo entrar no espinhoso probleva da relacao entre a linguagen e 0 mundo dos conceitos. Sobre isso existe ura vasta literatura, ao que parece nao muito conclusiva. Aqui limito-me ao caso especifico dos esqueras, tais coro se enten- dem usualmente (em estudos da compreensao oral e escrita). Nao acho possivel desen- volver atualmente ura metodologia para 0 estabelecimento e depressao dos esquemas ba~ seando-nos unicanente en suas caracteristicas conceituais. Schank & Abelson (1977) propdem un sistera de “primitivos” independente da lingua. Mas mesmo eles reconhecen seu caréter provisdrio (p.11) e é facil encontrar éreas onde o estabelecimento de es- queras primitivos € arbitrario. Isso no tira a proposta de Schank & Abelson impor- téncia com un passo inicial no rio certo; mas certamente é necessério operar con grande prudéncia, pelo menos por ora. Veja-se 0 caso, ja cléssico, das cores: 0 espectro solar é segnentado de maneira diferente pelo sistema serantico de diferentes linguas naturais. Un exem- -16- plo muito citado é 0 do galés: nessa lingua, a palavra glas cobre aproximadanente a parte do espectro que corresponde 20 verde, ao azul e a cinza co portugués. 0 japonés aoi denota a faixa do azul a0 verde, inclusive. Por outro lado, aquilo a que chamamos azul é distinguido pelo russo em duas éreas, que se consideram “cores” diferentes: goluboy “azul clalro" e siniy “azul escuro”. Note-se que 0 russo néo ten ura palavra para cobrir o que em portugues se chana azul, assim com o portugues nao ten corres- pondente para o galés glas ou 0 japonés adi. Agora lebramo-nos de que a nogao de esquera purarente cognitivo nos obriga a encontrar, para cada cor, un esquena presunivelmente universal, independente das linguas naturais. Mas 0 que € uma “cor”? Seré que essa é ura nocao real, ura vez dissociada de sua expressao lingllistica? Eu diria que ndo, e que a divisdo do espec- tro em diversas “cores” é essencialmente arbitréria. Creio que para considerarmos co- mmo real, nao -lingllistico, 0 conceito de cor especifica (azul, verde etc.) seria _ne- cessério aceitarmos que a subdivisdo do espectro en faixas discretas ten alguna base Fisica ou perceptual, de modo que poderia ser depreendida como camposta de unidades discretas independentarente da lingua que se considere. Mas € dificil conseguir isso: qualquer pessoa ten, claro, uma percepcéo muito fina de matizes de cor, e pode por exenplo dizer se dois objetos sdo exatanente da mesma cor ou nao (ainda que atbos se- Jam "azuis"). Eu néo chamaria essa habilidade de "cognitiva’, mas de “perceptual”. Cognitivo implica em conhecer, reconhecer, menorizar (isto é, ter ura categoria na mendria de longo prazo onde colocar lerbrangas) e inclusive sintetizar mentalmente. Mas consideremos a situacao de alguém a quen se apresenten dois objetos azuis un de- les de matiz ligeiranente diferente do outro. Essa pessoa nao teré dificuldade en perceber que néo so exatanente da mesma cor. Mas, se a0 invés de lhe apresentarmos os objetos simultaneamente, nds Ihe mostrarmos une, 24 horas mais trade, o outro, ela Ja poderé ser incapaz de dizer que s40 ou nao exatamente da mesma cor. Interpreto esse fato como decorrente de que @ pessoa utilizou um mesmo esquema para memorizar a cor do primeiro objeto e para reconhecer @ cor do segundo objeto; etbora os dois se- Jam de cores diferentes, suas cores foram armazenadas juntas, pelo fato de que sé ha un esquera disponivel para arbas. Essa conclusao nao se altera ao reconhecermos que a um esquena com AZUL se vinculam esquemas subordinados camo AZUL PISCINA, AZUL MARINAD etc. —Indepen- dentenente do numero de tais esqueres subordinados, a manorizacdo das cores € sempre discreta, a0 passo que sua percepcao é continual. De onde se origina esse carater discreto da memorizacao das cores? Certanente nao dos tracos perceptuais das cores, camo se viu acima. 0 mais provavel é que a divisdo am faixas discretas estabelecida pela lingua seja tatbam utilizada can objetivos cognitivos - essa alternativa € pelo menos mais plausivel do que a de termos ua divisdo em faixas para uso "puramente” Cognitivo e ainda uma outra divisao para uso lingllistico. Acredito mesmo que ha meios de obter evidencia empirica relevante para essa questo. Pode-se, por exenplo, testar pessoas de varias linguas para ver se sua capacidade de merorizacao e reconhecimento de cores reflete tragos sananticos de sua -W- lingua. Digamos que se faa o teste de mamorizacao de dois obejtos azuis, um mais claro e outro mais escuro, com russos e brasileiros. Se se verificar que OS russos ‘tem um desempenho consistenterente melhor na menorizacao de identidades e diferencas nesse caso particular, sera possivel arqurentar que isso se deve a distingao que faz a lingua russa entre siniy e goluboy (riote-se que estou aqui falando de reconhecimen- to e manorizacao, nao de percepcao). 0 arqumento, e a possibilidade de testagan, se estende a muitas dreas, como a da classificac3o quotidiana das frutas: an portugues, a banana da terra é um tipo de banana, ao lado da banana ouro e da bana prata; mas em inglés, banana € ura fruta e plantain “banana da terra” € outra fruta. Mesmo dentro do portugues, seré que lime é um tipo de laranja ou ura fruta diferente? Ou entao tomemos 0 caso do inglés wed e do francés bois, que corresponden a dois itens portugueses, bosque e madeira. Sera que bois corresponde a dois esquaras, para un francés? Verifiquei a divisao em verbetes an alguns dicionérios franceses; um divide bois en dois verbetes; e trés co- locan atbas as acepcdes en um verbete Unico; seré que isso tem algura significacao? 4, A argurentaco acima é, camo observei, essencialmente metodoldgica. Nao ‘creio que se possa afinrar por ora (enquanto nao disponos de evidéncia relevante) que ‘os esquemes sao, de algura forma, conectados @ evpressdes lingllisticas. Mas creio que casos cava 0 das cores evidenciam a impossibilidade de se depreender esquamas - 0G seja, determinar quais séo eles, coro se estruturan internarente, caro integragen nia corpreenséo etc. - sen partir de fatos da Linguagem. Para Lidar cam esquamas na pra- tica seré preciso encontrar critérios que nos permitam, para camecar, delimité-los uns en relacdo aos outros. Ora, camo fazer isso independentenente da linguagen? Voltando ao caso das cores, é facil verificar se as pessoas consequen ‘ou nao perceber a diferenca entre dois matizes apresentados simultanearete. Mas se isso for tarado camp critério de delimitacao de esquenas, enfrentareros probleras em baracosos: (a) 0 numero de esqueras subordinados a un esquema geral como AZUL seré muito grande, vastamente maior do que o @imero de itens léxicos disponiveis para se referir a matizes do azul, (b) os limites entre esses esquevas sero nevulosos; sera quase como se tivésseros un numero potencialmente infinito de esquemas, indo do cla- ranente verde ao claranente roxo; (c) terfams de desvincular a existéncia de esque mas da facilidade de menorizagao e reconhecimento, jé que, provavelmente, nao ha coincidéncia entre o que se pode perceber e o que se pode letbrar ou reconhecer pos~ teriormente. Este ultimo incoveniente € 0 mais sério, dado que un dos cbJetivos da postulagao dos esquaras € justarente a explicitacao do fendmeno do reconhecimento e da metorizacao. ‘As objegées acima seriam refutadas se fosse possivel depreender sempre tracos "naturais” de orgenizagao do mundo; nesse caso, os esqueras poderian ser def1- Nidos en fung3o desses tragos. Parece que alguns autores tenden a essa posigao; as- sim, Winograd menciona que Minsky -18 - “enfatiza a estruturacao das “frames” em correspondéncia com agruparentos naturais do mundo externo.” (Winograd, 1980:17) Mas essa concepcao de uma estruturacao natural do mundo (independente de nossa per- cepcao do meso) é dificil de sustentar em muitos casos, cam se viu através dos exemplos anteriormente dados. 0 que nos parece ser "agrupanentos naturais” de entida~ des do mundo pode ser, na verdade, um reflexo da estruturacéo da linguagem, e mesmo de ura lingua en particular. Ura lima é ura fruta diferente da laranja e da _mexerica em razao da organizagao natural do mundo ou em razao de maneira camo se organiza o léxico portugués? Nao vejo, no manento, meneira de eliminar essa suspeita de forma enpiricarente justificavel. Outros autores vislurbran a vinculagao que existe entre esquemas e ex- pressoes linguisticas, sem no entanto chegarem a estebelecer clararente 0 papel cru- cial do material linguistico em qualquer metodologia de depreensao de esquemas. Por exenplo, Metzing afirma o seguinte: "Questdes técnicas da representacao das “frames” e de sevantica léxica séo geralmente discutidas separadamente. Mas, obviamente, ha boas razdes para se chegar a un tratanento mais interdisciplinar de atbas” (Metzing, 1981:320) Entretanto, o artigo de Metzing parece propor essa abordagen camo um meio cer as duas teorias, no como ura necessidade. 0 texto deixa de pé a poss: se fazer algum estudo objetivo das “franes” (equivalentes, no que nos interessa, 20s esquemas) independentemente de sua expressao lingllistica; e é essa possibilidade que coloco em divida. 5. Devemos concluir do que se viu que as entidades referidas na literatra camo “esquemas” so na verdade de caréter misto, lingliistico-cognitivas - 0 que evi- dentenente ndo Ihes retira a inportancia e 0 interesse para a teoria. Nesta seao vou esbocar ura definigdo de “esquera” que leve en conta essa natureza hibrida. Parece-me importante atacar desde ja essa questao, por mais prenatura que seja, para evitar que se trabalhe cam entidades de cuja natureza se é serianente ignorante. Da maior parte da literatura sobre esquemas se depreende un quadro se- gundo 0 qual o sistema de conhecimentos que compte nossa menoria serantica é formado ce um espécie de “tecido", feito de nédulos que se relacionan de diversas maneiras can outros ndédulos (pode-se tarbén falar de circuitos particulars, en vez de nédu- Jos; no momento néo hé maneira de saber sequer se as duas cconcepsbes sé realmente distintas). Pode-se tarbén adnitir que nao hd nesse tecido éreas discretas correspon- dentes aos diversos esqueras, mas apenas un grande enaranhado de nédulos conexdes , sendo estas de varias naturezas; os nddulos incluiriam varios tipos de tragos defini- torios. -19- Para dar um exemplo, digamos que haja um nédulo (ou circuito) definido por tracos que resultan em algo coro “pessoa do sexo feminino, casada com o pai de X sem ser mae de X"; um segundo nédulo teria os tracos “carinhoso”; finalmente, haveria ura conexao entre esses dois nédulos, rotulado “expectativa NEGATIVA”, unidirecional, de modo que a expectativa vale somente para o primeiro nddulo. A tradugéo seria que ‘temos a nocao de "madrasta”, a de “carinhoso”, e a expectativa re que madrastas nao séo carinhosas. Digamos agora que uma expressa0 lingllistica (assim cam outras tipos de estimulos) ter a propriedade de ativar parte do tecido: um circuito conposto de un ou varios nédulos, juntanente com as conexdes relevantes. E digamos ainda “gue ro circui- to ativado por uma expressao lingliistica seja possivel Gistinguir un nédulo, ou ura Grea focal, mais aitanente ativada, assim como ua drea intermediéria, pouco ativada etc., em um continuo até chegar a éreas nao ativadas. Desse modo, erbora nao se possa delimitar com preciséo a érea ativada, haverd ura espécie de niicleo claranente ativa- do, além de ura zona semi-ativada em graus diversos. Definiremos entao un esquere como sendo ura rea do tecido cognitive que € ativada por ura expressao lingllistica (um iten iéxico ou sintagra). Talvez va~ Iha a pena, em outros contextos, considerar igualmente esquemas as éreas ativadas por ‘outros tipos de estimulos, ndo-lingllisticos. Pode-se entéo dizer que cada esquera desse tipo particular possui um mame”: a expressao lingllistica qe 0 ativa. Assim fala-se do esquara GATO ou do es- queva MAIRASTA para referir-se as éreas ativadas Por esses itens. Un esquera é un Circuito, e certarente nem todos os circuitos possiveis possuen naves consagrados? ; aprender um novo item léxico é dar none a um novo circuito. Esse esbogo do funcionamento dos esquemas deixa, evidenterente, muita coisa em suspenso. Por exemplo, as condicdes que determinan o grau de ativacao dos diversos elementos segundo os estimulos apresentan problemas muito grandes (primeira- mente apontados, a0 que me consta, por Conrad, 1972). Aqui nao seré possivel ocupar- nos desses problemas, pois devemos centrar-nos sempre na relagéo esqueras / expres- sbes lingliisticas. Note-se, entao, camo a concepcao de esquema acima proposta ( inpli- cita, aliés, en muitos trabalhos) permite considerar, em principio, as expressoes linglisticas e 0 material cognitivo tanto separadanente quanto en sua inter~ Telacéo. Nao somos forgados nen a negar 0 papel das expressoes lingtlisticas na depreensio dos esquaras (com tenden a fazer Rurelhart & Ortony, 1976), nen a admitir a existéncia sistenética de “agruparentos naturais” de conceitos (camo fazem outros), nen final- mente @ postular una identificacao de esquenas cognitivos ccm as expresses lingliis- ticas (ou con seu contetido) . 6. Una vez reconhecida a relacdo entre esquaras € expresses lingllisticas nos termos acima, podemos tentar desenvolver os principios de uma metodologia de de- preensdo de certas caracteristicas dos esqueras. A base dessa metodologia € a obser- vagio de que @ cada iten 1éxico significative corresponde un esquera - isto é, cada item define um recorte no que chanei "tecido cognitivo”. 0 que vou fazer no restante -20- deste artigo é explorar uma fonte de evidencia para essas caracteristicas dos esque- mas, a saber, o fendmeno da montagem de textos. Vou comegar fazendo umas breves con- sideragdes sobre a estrutura dos esquatas; a seguir, darei alguns exerplos de cam se pode utilizar a montagem de textos para investigar essa estrutura. Digamos que entre os elerentos internos de muitos esquamas consten trés tipos particulares: tracos definitorios, varidveis e expectativas. Os tragos defini- tOrios séo essenciais para a caracterizacéo de um esquera enquanto reflexo de ura real idade’ exterior. Assim, GATO é "animado” e "néo-hurano”, e se nao tiver esses tra- gos deixa de ser um gato, Esses tragos formam camo que 0 nucleo bésico do esquera, aquele que corresponde, por um lado, a ura expressao lingllistica e, por outro, a un recorte genérico no mundo dos conceitos. As variéveis tarbém esto presentes no es- quera, as vezes obrigatorianente, mas nao precisam ser sempre especificada. Assim, adnitams que GATO inclui “raga” e “none”. Um gato ten necessarianente uma raga (ain- da que seja “vira-lata”), e nan sempre un nome. 0 que distingue a varidvel “raga” de un traco definitério € que a varidvel pode ainda ser preenchida cam informagdo suple- mentar, nao necesséria para a caracterizacéo do esquema. Assim, posso (ou nao) saber que un gato é siamés; mesmo na auséncia dessa informagao, pode-se ainda dizer que sei 0 que € um gato. Alén disso, tanando-se un gato especifico, diganos Mimi, posso nao sabera que raga ele pertence e ainda assim diremos que 0 “conheco”. Nao se poderia dizer que “conheco" 0 conceito genérico de GATO se eu nao soubesse que se trata de un animal, ou de un mamifero etc. Finalmente, as expectativas encerran informacoes prototipicas, de certo modo esperadas, mas nigo necessarianente presentes”. Para GATO, teriams expectativas do tipo “mia”, "caca ratos”, “nao serve para comer” etc. Tracos definitorios, yarié- veis e expectativas sao trés tipos importantes dentre os tipos de informacao que um esquema contén. Reconhecendo erbora 0 muito que ai resta a investigar, vou utilizar esses trés conceitos para exenplificar a utilidade potencial da montagen de textos camo fonte de evidéncia a respeito dos esqueras. 7. Tratenos agora das expectativas, e de detetar sua presenca en un esque- ma especi fico. Sebenos que as expectativas nao sao parte da definicdo do conceito, e que ne sequer sao sempre un reflexo da realidade extra-lingliistica (a maioria dos ga~ tos nao caca ratos). Como obter evidencia da presenga de expectativas ligadas a um esquera? E que importancia tém as expectativas no estudo do fendmeno da campreensao? Creio que podams partir da seguinte observacao: as expectativas sao un fator importante de coesdo textual. Qu seja, en muitos casos 0 que confere o esta- tuto de texto a ura sequencia de frases é uma espécie de encadeamento de expectativas entre alguns dos esquamas envolvidos. Sabe-se que o que faz de una sequéncia um texto nao € apenas a sua estruturacao formal; € essencial que 0 receptor tena condigdes de estabelecer conexdes entre os esqueras que aS expressGes linguisticas ativan. Hé ne- turalmente ura grande variedade de conexées possiveis, ¢ uma dessas € a que envolve as expectativas como un ingrediente crucial. £ duvidoso que se pudesse montar conve- nienterente textos sen a existéncia de expectativas. -a- Ora, isso por outro lado nos permite estebelecer ura meneira de depre- ender a presenga de ura expectativa particular ligade a un esquera: basta encontrar casos em que aquela expectativa tenha que estar presente para explicar a possibilida- de de montagen de un texto (en determinado ponto de seu desenvolvimento). Vejaros un exerplo: (1) a. Aninha comprou um gato b. A casa dela esta cheia de ratos. E intuitivarente claro que un elevento essercial na coeséo desse pequeno texto - um os elementos que fazem com que @ sequéncia (1a) + (1b) seja um texto, e nao apenas a Justaposigéo de duas frases - é a informacdo de que “gatos cacan ratos” (Juntanente com a de que "ratos séo indesejéveis numa casa” etc.). Se substituinms gato por un item que denote animal serelhante, mas cujo esquera ndo inclua essa expectativa, 0 texto cai em pedacos: (2) a, Aninha conprou um coelho b. A casa dela esté cheia de ratos. Aqui temos duas frases enfileiradas, néo un texto coeso. Observe-se coro os julgamen- tos acerca de (1) e (2) so constentes: meso pessoas que néo acreditan na qualidade dos gatos como cagadores de ratos fazem facilmente a montagan de (1) con base na ex- pectativa de que gatos cacan ratos (ver a nota 3). E verdade que essa coincidéncia de julganento ndo vale para todas as pecas de informacdo que merecem o name de expectativas. Encontrams desde expectati- vas que refleten esteredtipos quase universais ("gatos cacam ratos”, “trocadores de Gnibus so pobres”, “cachorros protegen a casa”) até aquelas que séo propriedades ex- clusiva de unas poucas pessoas. Um exemplo dessas Ultimas é dado pelo texto seguinte: (3) a. Desisti de jogar poquer com a tunra hoje. b. 0 Zulmiro disse que ia 14. ‘A integragéo de (3) depende do conhecimento das expectativas ligadas ao esquena de ZULNIRO. Quem no as conhece (por nao corhecer Zulmiro) fica sem saber exatarente 0 que é que liga as duas frases em um texto: Zulmiro é um companheiro indeseJével? Ten uma sorte exagerada no Jogo? Ten autoridade para proibir o jogo? Aqui tenos un exem- plo de excectativa ligada a um esqueta muito particular (néo-genérico) que so de do- minio de un numero restrito de pessoas. Nao deve ser surpreendente, pois isso reflete © fato de que 0 conhecimento das pessoas € relativarente uniforme no que se refere a conceitos genéricos, mas difere amplamente quando se chega a conceitos particulares. Voltenos @ conceituacdo de “expectativa”, € a0 texto (1): (1) a. Aninha conprou um gato. b. A casa dela esta cheia de ratos. Nao creio que seja possivel explicar 0 fato de 0 texto (1) ser uma unidade somente 2 partir dos tracos definitorios ou das variaveis dos varios esquenas evocados. A com Paracéo com (2) nos mostra que GATO é um esquema crucial para que as duas frases se integrem em um texto. 0 que é que GATO tem que COELHO nao ten? Algunas das diferengas (tarenho des orelhas, tipo de voz etc.) sao claranente irrelevantes. A diferenca re- levante deve ser que gatos, e nao coelhos, cacan ratos. Essa expectativa, juntamente can a informacdo de que “ratos sao indesejéveis", permite ao leitor construir ura “ponte” entre (1a) e (1b), transformendo ume sequéncia de frases en um texto. Deixo para outra oportunidade a discusséo de varios aspectos interes- santes do uso de empectativas na montagen de textos, tais camo sua "forga de presen- a” (alguras expectativas seriam mais fortes do que outras); 0 contetido possivel das expectativas e seu relacionarento com os esquemas en geral; sua presunivel classifi- cacao etc. Observo, entretanto, que a montagam de textos € en geral possivel, mes- mo na auséncia de expectativas claras, porque podemos “sintetizar” pontes de sentido @ partir de expectativas construidas ad hec. Por exerplo, cam algum esforco sera pos- sivel integrar (2a) + (2b) em um texto: Aninha pode ter a idéia de que coelhos tanbén cagan ratos; ou entao chegou a um grau de desespero tal que resolveu encher a casa de bichos de uma vez etc. Possivelmente qualquer sequéncia de frases pode ser integrada, cam maior ou menor esforgo de parte do receptor. 0 que caracteriza 0 uso de expecta- tivas € a facilidade muito grande do processo. A dificuldade de integracao de um texto (proveniente, possivelmente, da falta de expectativas relevantes) € revelada por sintanas tais camo: (a) sensagao de dificuldade: 0 leitor percebe que é dificil integrar o texto, precisa exercer algun esforgo consciente etc.; (b) variagao entre as pessoas quanto a0 tipo de “ponte” construida para ligar as partes; (c) tendencia a compreender defeituosarente certos elerentos. Por exenplo, em sua sequencia camo (4) a, Abrado assasinou Zérocles onten na Praca Sete. b. O enterro de Abrado é hoje as 6 da tarde. haverd tendencia a entender Zénocles ao invés de Abrado na segunda sentenga, porque ha expectativa de que 0 assassinado, e ndo 0 assassino, seja enterrado (erbora possa haver a expectativa, algo fraca, de que os amigos de Zénocles tenhan tirado vinganga contra Abrado, matando-o, 0 que explicaria 0 seu enterro). 8. Procurei, nas paginas precedentes, argurentar em favor de trés pontos principais, que aqui resuro @ guisa de conclusao. -B- Primeiro, os “esqueras” ("scripts”, "frames”) arplarente utilizados na literatura sobre cognigdo, compreensdo e mandria sao entidades de natureza mista. De- finen-se ndo em termos cognitivos puros, nan em terms lingllisticos, mas cam recor- tes impostos ao tecido cognitivos pelas expressoes lingllisticas. Estas se conceben como estimulos, que tém a propriedade de ativar partes do tecido cognitivo. Em segundo lugar, argurentei que, uma vez reconhecido esse “status” hi- brido dos esqueras, pode-se justificar une 4 metodologia de depreesnao de caracteris- ticas, metodologia crucialmente dependente da observacdo de fatos Lingllisticos. Finalmente, mostrei que a montagem de textos pode ser ura fonte Util de dados relevantes na depreenséo de certas caracteristicas da estruturacao dos esque- mas; em particular, sao Uteis na investigacao de expectativas. NOTAS 1, 0 nosso sistema cognitivo (formado por esquemas) € capaz de compensar diferencas de cores bastante pronunciadas, desde que possa interpretar essas diferengas camo acidentais. Nesse casos, ele armazena os diveros matizes camo se formassen um con- Junto indissociado, e os recupera indissociadarente, coro uma cor havogénea. E 0 caso de um objeto exposto @ luz, de modo que parte dele é ben mais clara que o resto: Perceptualmente falando, a Fig. 1 € composta de éreas de diversas cores: a drea A € mais escura do que B, e esta € mais escura do que C etc. Entretanto, qualquer pessoa desavisada diré que sua cor € uniforme (isto é, nao é um traco saliente da Fig. 1 ser ela colorida de varias cores), € armazenaré como tal. Creio que ela te- ria dificuldade en dizer posteriomente que partes estavan mais escuras (ou “na sarbra”) no objeto quando o viu. Esse exenplo ilustra novanente a discrepancia que existe entre a percepcao e a cognicao de um objeto. 2. Nao é dificil imaginar circuitos cabiveis, mas que ndo correspondem a nenhun item léxico, enbora naturalmente sejam exprimiveis en teros de expressdes lingliisticas mais conplexas. Assim, “hanicidio” é 0 ato de matar un ser hurano; mas no teTos nore para o ato de matar um tatu, ou em engenheiro etc. Um esquere sem nore em ge- ral ten numero menor de expectativas, pois se trata nonmalmente de nodes cultu- -m- ralmente pouco importantes. Pode-se citar por exemplo a oposicao entre os terms latinos patruus e auunculus € seus correspondentes portugueses tio paterna e tig Mateo; sintareticamente, somente na soriedade rarana essa distingao tinha impor- tancia cultural. 3. E importante observar que as expectativas nao decorrem proprianente do reconheci- mento de realidades, nem das crencas das pessoas, mas antes de uma espécie de es- tereotipia cultural. Assim, entre nds, ha a expectativa de que gatos cacam ratos € de que madrastas séo malvades, erbora mito poucos gatos hoje en dia se jam cagado- res de ratos, e etbora ninguém acredi!e na malvadeza das madrastas. BIBLIOGRAFIA CONRAD, C.E.H. 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