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Copyright © 2022 por Caroline Andrade

Gomorra | 1ª Edição
Todos os direitos | Reservados
Livro digital | Brasil

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos aqui são produtos
da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por
qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros
métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia autorização por escrito do escritor,
exceto no caso de breves citações incluídas em revisões críticas e alguns outros usos
não-comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.

Capa: Mellody Ryu


Revisão: Gramaticalizando assessoria
Diagramação: Mellody Ryu

O artigo 184 do Código Penal tipificava como crime, apenado com detenção de 3 (três) meses a 1
(hum) ano, ou multa, a violação de direito de autor que não tivesse como intuito a obtenção de lucro
com a reprodução da obra intelectual protegida.
Asas cortadas, eu era algo quebrado.
Eu tinha voz, tinha uma voz, mas eu não conseguia cantar.
Você me deprimia.
Eu lutava e agonizava no chão.
Tão perdida, cheguei no meu limite.
Eu tinha voz, mas eu não conseguia falar.
Você me colocou pra baixo. Eu luto para voar agora. Mas há um grito
interior que todos tentamos esconder.
Nós nos agarramos tanto a ele, não podemos negar. Nos come vivos.
Sim, há um grito interior que todos tentamos esconder.
Nós nos agarramos tanto a ele, mas eu não quero morrer
Eu não quero morrer.
Agora eu voo, atinjo as notas altas.
Eu tenho voz, tenho uma voz, me escute rugir esta noite.
E eu vou gritar como um pássaro liberto!

Bird Set Free, de Sia


SINOPSE

Mabel embarca para Moscou atrás de esquecer o passado, mas os demônios


nunca deixam seus condenados por muito tempo. Mabel descobrirá muito
mais do que apenas prazer quando adentrar em Sodoma, sendo envolvida em
um jogo perigoso por um sedutor e charmoso russo. Czar Gregovivk
despertará Mabel da vida monótona que ela vive por tantos anos, reprimindo
seus desejos. Um enlace do destino a leva direto para o mais letal oponente
que já cruzou sua vida. De volta ao jogo em Sodoma, em uma trama repleta
de sedução, luxúria, perversidade e prazer, com ameaça de novos e velhos
inimigos que os espreita. Até onde você aguentaria a submissão, antes de
dizer GOMORRA?

AVISO DE ROMANCE DARK.


NÃO RECOMENDADO PARA LEITORES SENSÍVEIS.
CONTÉM CENAS DE VIOLÊNCIA, SEXO, ESTUPRO DE VULNERÁVEL,
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA, RELACIONAMENTO PERVERSO E
NARCISISTA, TRANSTORNO SEXUAL E LINGUAJAR INAPROPRIADO
PARA MENORES DE 18 ANOS.

PODE ACIONAR GATILHOS EMOCIONAIS. SE QUER UM


ROMANCE CLICHÊ, COM TODA CERTEZA NÃO É ESSE, AMORE. SE
CONSEGUIR PASSAR PELO PRÓLOGO, VAI TRANQUILA, QUE O RESTO
É SUAVE.
Sumário
SINOPSE
PLAYLIST
PRÓLOGO
A PRAGA
Mabel Shot
Czar Gregovivk
CAPÍTULO 1
O SEGREDO DA CARNIÇARIA
Mabel Shot
CAPÍTULO 2
O BODE DE BRONZE
Mabel Shot
CAPÍTULO 3
REGALIAS PROFANAS
Mabel Shot
CAPÍTULO 4
O SÁTIRO E O PASSARINHO
Mabel Shot
CAPÍTULO 5
A FLAUTA DE PÃ
Czar Gregovivk
CAPÍTULO 6
O JARDIM DAS DELÍCIAS TERRENAS
Mabel Shot
CAPÍTULO 7
AS ARTIMANHAS DE LUPÉRCIO
Czar Gregovivk
CAPÍTULO 8
SODOMA
Mabel Shot
CAPÍTULO 9
O TRIBUTO DE PÃ
Czar Gregovivk
CAPÍTULO 10
DEMÔNIOS ANTIGOS E NOVOS
Senhora Roy
CAPÍTULO 11
O VOO INESPERADO
Mabel Shot
CAPÍTULO 12
UM JOGO PERIGOSO
Mabel Shot
CAPÍTULO 13
DE VOLTA AO JOGO
Czar Gregovivk
CAPÍTULO 14
VOO RASANTE
Mabel Shot
CAPÍTULO 15
NAPOLITANO
Mabel Shot
CAPÍTULO 16
OS DOIS LADOS DA MOEDA
Mabel Shot
CAPÍTULO 17
DEMÔNIOS LIVRES
Mabel Shot
CAPÍTULO 18
SUBMISSA ALFA
Czar Gregovivk
CAPÍTULO 19
FIOS SOLTOS
Czar Gregovivk
CAPÍTULO 20
SUCO DE LUZ
Mabel Shot
CAPÍTULO 21
O CERNE DA ALMA
Mabel Shot
CAPÍTULO 22
O CÓDIGO DE JAZEBEL
Czar Gregovivk
CAPÍTULO 23
A CAIXA PRETA
Mabel Shot
CAPÍTULO 24
O ACORDO DO SÁTIRO E DA MÚMIA EGÍPCIA
Czar Gregovivk
CAPÍTULO 25
EENTRE PIPOCAS E SEGREDOS
Mabel Shot
CAPÍTULO 26
OLHOS DE JADE
Mabel Shot
CAPÍTULO 27
O PACTO DE SILÊNCIO
Ginger Roy
CAPÍTULO 28
UMA COISA RUIM
Czar Gregovivk
CAPÍTULO 29
120 DIAS EM SODOMA
Mabel Shot
CAPÍTULO 30
O MEDO EM SEUS OLHOS
Mabel Shot
CAPÍTULO 31
QUEIMA DE ARQUIVO
O nascimento de Jazebel
Sieta
CAPÍTULO 32
GOMORRA
Czar Gregovivk
CAPÍTULO 33
OS ESCOMBROS
Ginger Roy
CAPÍTULO 34
A DESTRUIÇÃO DE SODOMA
Czar Gregovivk
EPÍLOGO
Mabel Shot
Czar Gregovivk
O BEDUÍNO E CORCEL SELVAGEM
Stella
AGRADECIMENTOS
PLAYLIST

Para ouvir a playlist de GOMORRA, basta clicar abaixo:


https://open.spotify.com/playlist/0X0QX98TtKzQgkdchYgrVE?
si=91ca95231adb41d4
PRÓLOGO
A PRAGA

Não importa o que fazemos, ainda somos feitos de ganância. Este é o


meu destino. Quando você sentir o meu calor, olhe nos meus olhos, mas não
se aproxime muito, é escuro aqui dentro. É onde meus demônios se
escondem.
(Imagine Dragons – Demons)
Mabel Shot

Cinco anos antes


Nova York

Um som assustador ecoa dentro do quarto, repercutindo entre as


paredes com angústia e lamúria. Demora para que eu perceba que vem da
minha garganta, enquanto tudo me engole. A dor, meu sofrimento, o medo e
a humilhação, tudo me arrasta para o inferno. O sangue se esvai pelo meu
corpo, a urina quente que sai pelo meio das minhas pernas faz com que as
pequenas queimaduras em minhas coxas ardam mais. Minha mente apaga e
volta, largando apenas meu corpo inerte ao chão, até chegar em um ponto que
não sinto mais dor, não sinto nada, para falar a verdade, apenas um vazio de
uma alma morta.
Por entre meus olhos nublados pelo choro e pelo suor e sangue
colados em minha face, vejo-o cair sentado na beirada na cama, seus dedos
trêmulos largando o pequeno canivete no chão, ensanguentado com o meu
sangue. Não me recordo de mais nada, só da escuridão que me leva com ela a
cada piscar de olhos. Olho turvamente para o quarto, enquanto o corte aberto
em meu abdômen jorra sangue. Só há sinal de nós dois aqui dentro. Apago
mais três vezes antes de voltar para a realidade diabólica em que estou presa.
Arrasto meu corpo, como um verme que foi esmagado mais que ainda luta
para sobreviver, se contorcendo pelo chão lentamente, até se aproximar da
parede. Fico sentada, ajustando minha vista ao breu, com meus tornozelos
amarrados. Um cheiro insuportável das minhas fezes e bebida misturado à
minha urina exala no ar, fazendo-me sentir uma ânsia insuportável. Viro meu
rosto para o lado e vomito, até ter apenas o gosto salgado e amargo da bílis
corroendo minha garganta. O ar fica pesado, fazendo meu peito doer a cada
respirada. Ergo os braços, que estão amarrados pelos pulsos, até meus lábios,
e uso-os para me limpar, retirando os cabelos sujos de vômito da frente da
boca. Um movimento no outro canto do cômodo chama minha atenção,
quando o rangido da cama se faz. Ouço sua respiração pesada, quando ele se
levanta e acende o abajur que está ao seu lado.
— Eu tentei ser paciente, fui bom para você. — Sua voz sai lenta,
com ele mantendo seus olhos fixos em mim. — Agora sabe que você não é
nada, é apenas o que eu deixar você ser. — Ele cospe ao chão com nojo.
Ele caminha para mim, me ergue pelos ombros com força, fazendo
sair um grito grotesco de dor e desespero da minha garganta quando meu
corpo fica ereto.
— A quem você pertence, Mabel? — Ele para sua testa perto da
minha, perguntando baixo, esfregando a ponta do seu nariz em meu rosto, me
fazendo fechar meus olhos pela apreensão que seu toque me causa. — Diga o
nome a quem seu corpo pertence, diga a quem ele deve obediência.
Sua face se afasta e dá um sorriso frio. Seus olhos percorrem meu
corpo machucado, retornando para os meus olhos. Meus lábios cerram e
mordo-os com força, até sentir meus dentes perfurando a pele.
— Fale! — Ele aperta mais forte seus dedos em meus ombros,
cerrando sua boca. — Diga meu nome, diga a quem você pertence, Mabel!
Eu disse o seu nome no início, quando meu corpo foi derrubado no
chão e ele me chutava; disse seu nome no meio, quando ele me estuprava e
me espancava; disse seu nome a cada choque que ele me deu, a cada maldita
maneira que ele me destruiu, violando meu corpo e minha alma, entre o
choro, a dor e os berros que rasgavam por minha garganta, implorando para
que ele parasse. Gritei seu nome entre a dor agonizante a cada deslizar da
ponta do canivete em minha barriga, enquanto ele me cortava.
Mas não direi seu nome no fim!
Minha boca se abre, com meus dentes soltando meus lábios, e escarro
fundo, cuspindo uma bola de saliva com sangue em seu rosto, lhe dando sua
resposta. Ele me chacoalha com brutalidade, fazendo meu corpo todo tremer
de dor.
— Meu corpo pertence só a mim! — grito a plenos pulmões, olhando
para ele.
Seu braço solta meu ombro e se ergue no ar, retornando com fúria
para frente, me desferindo um tapa na cara, jogando-me no chão.
— Vadia teimosa!
Caio de barriga para baixo e sinto o impacto do piso bruto em meu
corpo ferido. Os passos pesados se fazem atrás de mim e ele se abaixa. Tento
me levantar, mas ele me imobiliza e sobe em cima de mim.
— Não, não pertence. E antes do fim, antes de tudo acabar, vai saber
que ele nunca pertenceu a você, porque você foi feita para mim!
Sinto quando ele puxa meu cabelo com força e prende os fios entre
seus dedos. Debato-me, mas meu corpo congela quando sinto-o forçar a
entrada do seu pau no meu ânus, que já se encontra ferido por toda a maldita
violação que ele me impôs.
Começo a gritar.
Bato, desesperada, minhas mãos amarradas no chão. Ele puxa minha
cabeça para trás e a cola em seu peito. Sua outra mão esmaga meu seio com
brutalidade. A boca perversa suga minha orelha, fazendo assim meu corpo
responder a ele, sabendo que cada movimento seu irá fazer meu corpo me
trair. Empurra sua pélvis para meu rabo, penetrando seu pau em meu corpo.
Meu rosto está coberto por lágrimas, meu grito sai desesperado, doloroso,
tudo roda à minha volta, tudo se perde na brutalidade. Me debato com fúria,
mas isso não é suficiente para detê-lo. A dor de tê-lo entrando em meu corpo
é insuportável, agonizante e me dilacera de dentro para fora. Seu pau começa
a se movimentar, entrando e saindo, voltando mais forte, ficando lento. Ele
morde meu pescoço até seus dentes passarem a pele fina e esmaga meus
seios. Uma de suas mãos vai até minha boceta, fazendo círculos no meu
clitóris, enquanto ele se move com força e brutalidade. Choro de horror, ódio,
nojo de mim, pois de tudo, o pior não é a dor, mas sim a condenação do meu
corpo, que responde a ele. Sinto a dor em meu corpo, que me consome e se
mistura a um repugnante prazer. Constato o sabor salgado das minhas
lágrimas, que escorrem por minha boca. A mordida em meu pescoço lateja.
Ele havia me destruído a cada segundo de dor que me proporcionou, mas foi
com o prazer que ele condenou a minha alma.
Uma parte de mim nunca mais irá sair desse quarto, ela tinha sido
silenciada, desfigurada. Uma parte de mim tinha nascido das sombras, como
um veneno que aniquila tudo de dentro de mim: minha inocência, minha
juventude, meus sonhos.
Uma parte de mim tinha morrido e um demônio amaldiçoado foi
deixado em seu lugar, uma praga que condenaria minha vida para sempre.
Czar Gregovivk
Austrália – Ilha Norfolk

— Quem autorizou?
Me espreguiço na cadeira, perto do frigobar, e tombo meu rosto em
meu ombro, vendo Jonathan Roy[1] entrar feito um furacão dentro do quarto
de hotel. Levo meu cigarro à boca e o trago lentamente, o olhando.
Hu Li, que está sentado na poltrona perto da cama, se levanta calmo e
leva as mãos ao bolso da calça, deixando seus pés baterem lentamente no
chão. Observo o chinês sereno. Quem o olha, não diz que ele é o maior
ceifador da tríade[2]. É um dos conselheiros mais silenciosos que já ascendeu
dentro de Sodoma, e o mais cruel e imparcial.
— Roy — Hu Li o cumprimenta e faz um gesto de saudação com sua
cabeça, inclinando um pouco do seu corpo para frente. — Não era do
conhecimento dos olheiros que a garota é sua companheira.
Vejo os dedos de Roy se fecharem em punho, ao lado do corpo, e ele
virar sua face na mesma hora para mim, a deixando mal-encarada. Arqueio
minhas sobrancelhas, o provocando, sabendo que ele jamais admitirá que a
garota é sua companheira. A sua mania por autocontrole jamais o permitirá,
mesmo que todos tenham visto que ele está rendido a ela.
— Ela não é minha companheira. — Sua voz soa com raiva, mas não
consegue esconder a amargura escondida em suas palavras.
— Não? — pergunto, debochando dele por sua teimosia. Me levanto e
apago a bituca do cigarro no cinzeiro. — Se ela não é sua companheira, por
que quase avançou na minha garganta um tempo atrás? — o provoco mais
ainda, fazendo-o se recordar do meu encontro inusitado com sua garota.
Estava caminhando tranquilo no calçadão à beira-mar, observando a
praia, indo em direção ao local marcado, no qual Roy me esperava, quando a
desastrada menina trombou em mim e me sujou com sorvete. E antes que eu
pudesse dizer para ela que estava tudo bem, a vi se ajoelhar à minha frente e
limpar meu coturno, que estava sujo de sorvete.
— Não estou aqui para lhe dar satisfação, Czar — Roy fala, bravo, e
dá um passo à frente. — Estou aqui porque uma maldita regra foi quebrada!
— Todos os conselheiros têm conhecimento sobre as restrições um do
outro, Jonathan. Foi um erro cometido e ele já foi corrigido. Alguém abriu a
porta do quarto — Hu li diz para ele. — Os olheiros apenas tomaram
conhecimento depois, quando já estavam fisgados demais na maestria com a
qual você conduzia sua submissa.
— E, salientando, que maestria sua pequena tem, Roy. — Roy chega
ao extremo da sua perca de controle e ergue sua mão, segurando minha
garganta quando o provoco mais. — Até eu me perderia diante da entrega
dela.
Mantenho o ritmo da brincadeira, gostando dessa forma sem controle
dele. Se não estivesse me divertindo tanto em ver o controlador Jonathan
Roy, o conselheiro mais fodido de Sodoma, perdendo a compostura por conta
de uma mulher, com toda certeza teria socado sua cara apenas por ele sequer
pensar em segurar meu pescoço.
— Não me provoque, Czar — ele grunhe como um animal, me
soltando.
— Um mestre apenas perde o controle diante da sua companheira,
Jonathan. — Pisco para ele e arrumo minha jaqueta. — Sua sorte é que tenho
um bom coração e gosto de você, Roy. Para sua alegria, vi quem foi que
abriu a porta do quarto, deixando os olheiros entrarem.
Dou um passo à frente e vou para a porta do banheiro, buscar a
culpada pela quebra da regra que custou um show espetacular de Jonathan,
completamente rendido diante da sua submissa, perante alguns conselheiros
que participaram da festa de iniciação dos novatos, em uma festa exclusiva
para participantes seletos, que ocorreu aqui na ilha, na noite passada.
— Quem foi? — Roy pergunta, com o tom de voz zangado.
Puxo Freire pelo braço, a tirando do banheiro e a levando para o
centro do quarto. Sua face está vermelha enquanto chora. A solto e dou um
leve empurrão em seu ombro, para que ela fique na frente de Jonathan. Ela
acaba se desequilibrando e cai no chão, diante dos pés dele.
— Como sabem, somos uma família. Ninguém fode com ninguém,
ainda mais com um conselheiro. — Mantenho minha voz calma e dou um
passo para trás, levando minha mão ao bolso da jaqueta e olhando para ela.
— Nós nos reunimos essa manhã com o resto do conselho por uma
teleconferência e relatamos o que Freire andou aprontando. — Hu Li a olha,
com desgosto, e balança a cabeça. — A decisão de Salomão é sua, decida
qual será o castigo dela — Hu Li diz, sério, encarando Roy.
— Eu não sabia... — Seus dedos tentam tocar a ponta do sapato dele,
mas Jonathan se afasta, a olhando com raiva. — Juro, Jonathan, não sabia que
era você dentro do quarto...
— Tão falsa quanto esses silicones em suas tetas — falo e caminho
lentamente, parando perto da janela e acendendo um cigarro.
— Não podem me culpar por isso, eu não sabia... — Sua voz
mentirosa fala em prantos, com seus olhos derramando mais lágrimas.
É claro que ela sabia! Eu estava no corredor, andando, entediado,
quando a avistei levando os conselheiros direto para o quarto que estava
reservado para Roy e sua garota.
— Você sabia, Freire! — Roy fala, com ódio. — Estava junto comigo
e Czar quando todos os quartos foram estipulados. Sabia exatamente qual
seria o meu. Fez isso por ser uma vadia vingativa!
— Eu ensinei tudo que você sabe, Roy. Tudo que aprendeu foi eu que
lhe instruí...
— Aposto dez paus que foi por ciúmes — falo, rápido, parando meus
olhos em Freire e tragando meu cigarro. Sempre foi óbvio a paixão platônica
que ela sente por ele. — Nos conte, Freire, o que sentiu quando viu seu
mestre olhando para a submissa dele de uma forma que jamais olhará para
você?
A boca pintada de vermelho treme, e desviando seus olhos de mim,
Freire fica de pé. É uma vaca ressentida mentirosa, que mesmo diante da
verdade do que ela fez, mantém um olhar de quem está sendo injustiçada.
— Está banida, Freire — Roy a sentencia de uma forma fria, com
seus olhos refletindo ódio. Nunca o vi tão fora de si como ele está agora.
— Não pode me banir... — Com medo, ela olha para Hu Li, em busca
de ajuda.
— Você quebrou as regras de um mestre dentro da casa dele, Freire
— Hu Li fala, baixo, deixando seus dedos deslizarem sobre seu terno, o
endireitando.
— O que Jonathan decidir para seu futuro, será acatado. — Minha
voz soa alta, dando a minha sentença. — Está banida de Moscou. Nenhuma
Sodoma na Rússia toda abrirá as portas para você.
— A Tríade de Lótus lhe bane da Sodoma de Hong Kong. — Hu Li
bate o último martelo, quando sua boca se abre, a enxotando de Sodoma.
Fumo meu cigarro tranquilamente, encarando-a, enquanto sua
presença é expurgada de Sodoma. Uma decisão de um conselheiro é a
decisão de todos. Freire está banida de todas as casas dos outros conselheiros,
nenhuma porta de Sodoma se abrirá para ela. Poderá retornar apenas se um
dia Jonathan a chamar novamente. Freire não é burra, está levando seu rabo
de cadela velha no meio das pernas, sabendo que cada passo seu estará em
nossa mira. Um descuido, uma palavra contra, e a retaliação será cobrada alta
demais para ela ter condição de pagar. Todos pagam, de um jeito ou de outro.
Sodoma é a única que vence.
— Vai se arrepender disso, Jonathan — ela fala, amarga, olhando
para ele.
Roy dá um passo à frente, a fazendo se calar e tropeçar para trás.
— Está ameaçando um mestre, Freire? — Jonathan rosna entre os
dentes, a fuzilando com seu olhar, até Freire abaixar sua cabeça em
submissão, olhando seus sapatos.
— Não...
— Ótimo. Agora lhe aconselho que saia da minha ilha antes do
anoitecer, ou juro que ficará aqui para sempre.
Freire se vira, abre a porta e se retira do quarto, enquanto chora
incontrolavelmente, batendo a porta do quarto com força atrás dela.
— Bom, agora que resolvemos o caso da velha obcecada pelo pau de
Jonathan, preciso partir. Tenho assuntos para pôr em dia — digo e dou de
ombros, jogando o cigarro pela janela, me afastando dela. Retiro os óculos
escuros do bolso da jaqueta e solto um longo suspiro.
— Muitas garotas para observar, não é? — Hu Li sorri, me
provocando.
— Há muito tempo que uma não chama minha atenção, todas são
iguais. Bom, se resolverem dar uma passada em Moscou, não me liguem, não
quero ver a cara de vocês por um tempo — falo com desdém para eles, dando
as costas e me retirando do quarto do hotel.
Caminho devagar na direção do elevador, tendo os olhos de Freire me
fuzilando quando ela vira e me olha caminhar para aquela direção. Ela ergue
sua mão e limpa sua face, deixando todo seu rosto sujo de maquiagem.
— Está feliz, não é?
— Para ser franco, não posso afirmar que estou feliz. — Sorrio e paro
na frente da porta do elevador. — Mas meu dia melhorou 15% em ver
Jonathan chutando seu rabo velho para longe de Sodoma.
— Garoto idiota, você e Jonathan não passam de dois meninos
brincando dentro do conselho! — Ela bate seu pé no chão, com raiva, e ergue
seu dedo indicador, apontando para mim. — Seu pai estava errado quando
deu a cadeira dele para você e não para Kaiser!
— Faz o seguinte, quando você morrer — tombo meu rosto para o
lado e viro minha face, olhando para ela —, o que eu presumo que não vá
demorar muito por conta da sua idade avançada. — Ergo meu dedo e toco a
ponta do seu pescoço, alisando a pele flácida, que nem as cirurgias plásticas
dela conseguem esconder mais. — Fale isso pessoalmente para o meu pai, no
inferno!
Pisco para ela, rindo e entrando no elevador quando as portas se
abrem, levando os óculos escuros para meu rosto.
— Você ainda vai me pagar por isso, Czar. — A boca dela treme,
enquanto seus olhos me fuzilam com ódio, me rogando uma praga, parecendo
uma bruxa decrépita maldita. — Mais cedo ou mais tarde você vai pagar pelo
que me fez.
— Идите сами[3]! — Sorrio e falo em russo para ela.
Ergo meus dedos e lhe dou tchau, usando minha outra mão para
apertar o botão para descer, fechando a porta do elevador. A mão de Freire se
precipita e ela segura as portas, bloqueando-as, para não fechar.
— Se acha melhor do que todos, mas você não é. É apenas um
garotinho fraco, brincando de ser adulto. — Seus olhos param em meu peito e
me dá um sorriso amargo. — Por baixo dessa carcaça queimada, que você
tenta esconder com suas tatuagens, ainda é um monstrinho condenado em
chamas.
Retiro os óculos da minha face e cerro meus lábios, com todo meu
corpo ficando rígido. A olho com ódio e dou um passo à frente, ficando a
centímetros dela. Freire esboça um sorriso diabólico e balança sua cabeça
para os lados, notando minha reação ao saber que ela conhece o que as
tatuagens em meu corpo escondem.
— Achou que eu não sabia seu segredinho de família, Czar?! O
doente de merda que você é e o que sua piromania[4] lhe custou... — Sua voz
se cala, com seus globos oculares ficando arregalados.
Meus olhos ficam presos à cor rosada que sua pele branca adquire a
cada segundo que meus dedos espremem sua traqueia, tendo minha mão
apertando sua garganta. Minha outra mão se fecha com mais força,
comprimindo a armação dos óculos entre meus dedos, sentindo o material se
torcendo e se quebrando com a pressão que meus músculos fazem. Desejo
internamente poder fazer com a garganta de Freire a mesma coisa.
— Ar... a-ar... — Suas mãos se fecham em volta do meu pulso, sua
voz fica engasgada.
Estico meu braço e dou um passo para fora do elevador,
desbloqueando a porta, sem soltar Freire, a empurrando para frente, presa
pelo pescoço, vendo-a se erguer na ponta dos seus pés, lutando para respirar,
tendo sua face toda vermelha. Meu rosto se inclina lentamente perto do seu e
aperto um pouco mais seu pescoço. Vejo seus olhos se arregalarem com mais
angústia e seus lábios ficarem roxos a cada pressão que faço em sua garganta.
Deixo meu rosto ficar ao lado do seu, com meus lábios próximos ao seu
ouvido.
— Se conhece meu segredo e sabe o que ele me custou... — Abaixo
meu tom de voz, sussurrando para ela, com minha atenção presa no extintor
de incêndio, que está ao lado do alarme de segurança, perto da parede, no
corredor atrás dela. Meus dedos esmagam com mais ódio os óculos e sinto a
armação quebrar por inteira, desmontando em meus dedos. — Então teria que
ser muito tola ou uma suicida para querer me provocar.
Solto o pescoço dela e a empurro para trás. A vejo cambalear,
tossindo enquanto esfrega sua garganta, forçando o ar a entrar em seus
pulmões. Ela cola suas costas na parede e me olha assustada, com sua face
ainda vermelha.
— Me perguntou se eu estava feliz em ver Roy lhe chutar, e lhe disse
a verdade, não fiquei. Não sou o tipo de homem que fica feliz com coisas
inúteis. — Abro meus dedos e solto os óculos destruídos no chão, o vendo
estilhaçado no carpete do corredor do hotel. Ergo meu rosto para Freire e dou
um passo em sua direção, apreciando a forma como ela se encolhe, feito uma
ratazana assustada, perto da parede. — Mas lhe garanto que ficar assistindo
seu corpo inteiro queimar, até não restar mais nada, além de um esqueleto
retorcido e carbonizado, me daria muito mais felicidade nessa vida, do que
foder mil bocetas em Sodoma! — Estico meu braço e ergo minha mão,
deixando meu dedo tocar em sua face vermelha. — Tenha isso em mente, da
próxima vez que quiser conversar sobre os meus segredos, Freire, a menos
que você queira muito brincar com fogo.
Me afasto dela e caminho na direção da porta de saída de incêndio, a
largando para trás. Olho uma última vez para o extintor de incêndio e respiro
com força, tentando controlar meus pensamentos, antes que eles entrem em
colapso.
CAPÍTULO 1
O SEGREDO DA CARNIÇARIA
Mabel Shot

Moscou – Rússia
Cinco anos depois

— Tem certeza de que eu devia estar aqui, Macro? — pergunto,


baixo, retirando meu casaco e olhando o grande corredor negro à nossa
frente. Uma lâmpada de luz vermelha está acesa apenas sobre nossas cabeças,
iluminando onde estamos.
— Relaxa, está tudo bem! — ele responde, rindo.
Me sobressalto e dou um pulo de nervosismo, girando para olhar para
trás, quando a porta de metal, por onde entramos, é fechada pelo segurança.
Minha preocupação não começou apenas agora, só porque entramos nesse
corredor frio, mas sim há minutos, quando Macro estacionou seu carro na
frente de um estabelecimento fechado e saímos do veículo. Ele nos levou
para uma porta aos fundos do estabelecimento, onde me vi entrando no que
julgo ser o interior de um açougue. Eu ainda estava com dúvida se era isso ou
não, mas o homem grandão lá dentro, usando um avental branco de borracha,
sujo de sangue e pedaços bovinos colados no tecido, confirmou minhas
teorias. O corpulento homem fumava um cigarro, olhando curioso para mim e
depois para Macro, quando paramos à sua frente. Pelo sorriso que se esboçou
nos lábios do nosso estranho porteiro, percebi que os dois se conheciam. Ele
abriu a porta do refrigerador gigante, apontando para lá. Nesse segundo,
quase me virei e bati em retirada, ao olhar o interior do cômodo, repleto de
cortes grandes de vacas e porcos, pendurados, completamente congelados,
em ganchos.
Macro prendeu meus dedos nos seus, me puxando para dentro, rindo,
enquanto caminhava ansioso, nem sequer parecendo se importar que
acabávamos de entrar em um refrigerador com animais mortos e congelados.
A cortina de plástico transparente ao fundo foi aberta quando nos
aproximamos, mostrando uma sala pequena, com paredes pintadas de
vermelho, com um grande S em preto ao centro. Um segurança de terno se
aproximou de Macro, olhando atrás da sua orelha. Meus olhos ficaram presos
na única letra escrita na parede. O segurança se afastou de Macro e balançou
em consentimento sua cabeça para ele. Estava acontecendo tudo tão rápido,
que eu nem tinha tempo de raciocinar para onde ele estava me levando. O
cara abriu a porta atrás dele, nos empurrando para dentro e nos jogando em
um corredor escuro e abafado, sem ventilação alguma.
— Eu ainda penso que não devia ter vindo. — Olho a porta sem
tranca do lado de dentro, o que me diz que apenas o segurança do lado de
fora pode abri-la.
— Claro que sim, lhe garanto que vai gostar da reunião. — O
charmoso ruivo de sorriso largo, pisca para mim, e retira o casaco das minhas
mãos. — Não tem com o que se preocupar!
Macro retira seu casaco, o deixando pendurado em seu ombro,
enquanto segura o meu, nos virando para ficar de frente para o corredor.
— Talvez eu não estaria aflita, se não tivesse acabado de passar por
dentro de um açougue, para chegar até aqui. — Respiro fundo e coço minha
nuca. — Afinal, que tipo de reunião acontece dentro de uma carniçaria?
— O tipo de reunião que você vai se lembrar para sempre — o
descendente de irlandês fala, parando ao meu lado e sorrindo animado. —
Apenas relaxe e contemple o caos da sedução, minha doce criança.
Ele estica seu braço pelos meus ombros, nos fazendo andar no
corredor escuro. Meus olhos se erguem para as lâmpadas, que vão se
acendendo por onde passamos, sendo acionadas por sensor de presença, e
apagando as que ficam para trás. Abaixo meu rosto e tento enxergar, sem
sucesso, alguma saída no longo corredor negro, que parece nunca ter fim.
Estava indo para o quarto, me preparando para deitar, depois de matar
quase uma garrafa de vodca inteira sozinha enquanto assistia televisão, após
o banho, quando meu telefone tocou, às 23h45. Macro apenas me mandou
vestir algo e o esperar na portaria do prédio. Antes que eu pudesse lhe dizer
que estava cansada e que tinha tomado um porre, que não pretendia sair do
quarto, ele já tinha desligado a chamada. Eu vesti uma roupa casual, a que
tinha usado para ir trabalhar, um vestido branco, que coloquei por cima do
meu corpo, nem me preocupando em colocar as peças de roupas íntimas, pois
eu não tinha intenção alguma de sair para qualquer lugar que fosse; calcei
minhas sapatilhas e peguei meu casaco felpudo, para poder me proteger do
frio que estava fazendo do lado de fora do prédio. Sonolenta, cansada e
segurando minha carteira de cigarro, me dirigi para a portaria, ficando do
lado de fora e fumando meu cigarro. Não demorou muito para o carro
vermelho parar à minha frente, e quando seus vidros se abaixaram, lá estava a
criatura mais teimosa e amável que eu conheço.
Macro negou minha recusa para sair, usou de chantagem emocional
para me convencer a entrar no carro, dizendo que eu estava em dívida com
ele, depois dele ter conseguido um encontro comigo e o curador[5] da galeria
de arte onde eu estou trabalhando durante meu intercâmbio.
— Não estou vestida apropriada para um evento social, Macro —
falo, desanimada, desejando poder voltar para casa.
— Você está ótima, e não é um evento social, é uma reunião para
pessoas seletas e alguns convidados especiais! — Ele ri, inclina sua cabeça
para perto da minha e mordisca minha orelha. — Você é minha convidada
especial.
— Por favor, me diz que não é algum tipo de reunião para alcoólicos
anônimos ou aquele lance de encontro às escuras, porque eu tomei
praticamente uma garrafa de vodca, não sei nem como estou conseguindo
andar em linha reta sem cair. — Ergo meus dedos e esfrego meu rosto,
imaginando a vergonha que seria eu entrar em um local desses cheirando à
bebida.
— Claro que não, e te garanto que não tem nada a ver com alguma
reunião de reabilitação ou encontro às cegas. E mesmo se você se interessar
por alguém, posso afirmar que quase não dá para notar seu estado... — Ele
ergue seus dedos na frente do meu rosto, rindo. — Levemente embriagado...
— Você não presta! — Bato em seus dedos, para ele tirá-los da frente
do meu rosto, e ouço o riso dele aumentar.
— Preciso que grave umas palavras. — Ele morde com mais pressão
minha orelha e sussurra em meu ouvido. — Nada mais de freios, nada mais
de barreiras.
Me encolho, rindo, e bato em seu braço, para que ele se afaste.
— Que merda é essa que quer que eu grave? — pergunto, rindo, não
entendendo qual é o motivo dessa frase.
— Você vai saber, assim que pedir para você falar — Macro responde
e afasta sua cabeça de perto da minha.
Ouço o som enferrujado de uma tranca pesada sendo aberta, e antes
mesmo que eu possa saber de onde vem o barulho, uma porta é escancarada a
poucos passos de nós, à nossa frente. Fico paralisada, encarando o homem
alto com seu tórax de fora, usando uma máscara de carrasco medieval
costurada à mão, que tapa sua face, tendo apenas fendas, para seus olhos
ficarem sem restrição do pano para enxergar. Ele passa seus olhos em mim e
depois em Macro, e se mantém em silêncio, com seus braços grossos
cruzados em cima do peito. Meus olhos curiosos não se intimidam em o
estudar minuciosamente, tentando entender por que ele usa esse tipo de
máscara para tapar sua face. A calça negra de couro, colada ao corpo, destaca
cada músculo dele.
— Estou sozinho aqui, estou no fim do mundo, longe de todos os
olhares e sem que nenhuma criatura possa chegar até mim. — Viro meu rosto
para Macro, que recita alto as palavras russas e encara o mascarado. —
Mabel, fala.
Olho perdida para ele e pisco, nervosa, retornando meus olhos para o
gigante que bloqueia a entrada da porta. Os olhos do carrasco me encaram e
ele respira fundo, como se esperasse algo de mim.
— Mabel, as palavras que eu lhe disse... — Macro gira seu rosto para
mim e sussurra em meu ouvido. — Diga a ele.
— Ah, tá... — Sorrio com vergonha. — Nada mais de freios, nada
mais de barreiras. — Abaixo meu rosto e falo as palavras de Macro, tentando
entender qual é o significado delas.
“Estou sozinho aqui, estou no fim do mundo, longe de todos os
olhares e sem que nenhuma criatura possa chegar até mim; nada mais de
freios, nada mais de barreiras.”
Eu já tinha ouvido ou lido essas palavras em algum lugar, me é
familiar essa frase. Apenas não consigo recordar de onde.
— Venha, vamos! — Macro ri e segura meus dedos, me puxando para
dentro do segundo corredor quando o carrasco dá um passo para trás, nos
dando passagem. — Mabel, vem!
Meu rosto vira por cima do meu ombro e olho o segurança que fica
para trás, que ainda mantém seus olhos presos em mim, enquanto Macro anda
rapidamente. O vejo parar a cinco passos à frente e soltar nossos casacos em
cima de um balcão vazio, à sua esquerda. Em seguida, ele se volta para mim,
sorri e segura meu rosto, alisando minhas sobrancelhas.
— Macro, que lugar é esse? — Ergo meus olhos aos seus e busco por
alguma pista de onde estamos. — Por que me trouxe aqui...
— Lembra quando éramos crianças e nós dois fugíamos do nosso
quarto para poder subir no telhado do orfanato? — Ele sorri e me dá um olhar
melancólico. — E você ficava brincando comigo enquanto nós dois
imaginávamos o que aquelas pessoas faziam em suas casas tão distante de
nós?
— Macro, não somos mais aquelas crianças — falo seriamente para
ele e ergo meus dedos, segurando seu pulso. — Você ainda não me
respondeu porque me trouxe até aqui!
— Não, não somos, mas também não somos como aquelas pessoas
que imaginávamos em suas casas. — Sua mão escorrega por minha nuca e
afaga meus cabelos, negando com a cabeça e aproximando seu rosto do meu.
— Do que está falando, Macro?
— De liberdade, Mabel. De finalmente encontrar nosso mundo, nossa
tribo — ele responde, rindo, e beija minha testa. — Nossa essência, um lugar
seguro para deixar nossos demônios soltos.
— Oh, meu Deus, Macro! Está drogado ou o quê? Não estou
entendendo nada do que está falando, acho que eu bebi demais, não devia ter
vindo até aqui. — Rio e ergo meus dedos, segurando seu rosto e o fazendo
olhar para mim.
— Se recorda quando lhe contei que tinha conhecido alguém? —
Macro morde o canto da sua boca e solta meu rosto, dando um passo para
trás.
Sim, me recordo disso, foi há mais ou menos três meses, no galpão do
prédio onde trabalho. Naquele dia estava catalogando uns quadros de um
novo pintor, na galeria de arte, quando meu telefone tocou.
— Eu sabia que tinha alguma coisa errada acontecendo! — falo
seriamente, o encarando e me recordando da sua chamada, que foi a causa
das minhas preocupações com Macro.
Macro estava eufórico no telefone, ele tinha saído com um cliente
peculiar, que tinha o fodido tão bem, que Macro nem sequer cobrou o valor
do programa. Recordo disso porque foi a primeira vez que Macro falou
comigo sobre como foi seu programa. Raramente ele gostava de conversar
sobre seu trabalho, ele não sentia orgulho de ser um garoto de programa. Eu
ouvi tudo o que Macro me contou aquele dia no telefone, e até poderia dizer
que nada parecia estranho entre ele e seu cliente ter tido um sexo
transcendental, como Macro descreveu o ato em si, se não fosse por um
pequeno, mas importante detalhe, que não tinha como passar despercebido.
O cliente em si não era um homem qualquer, como todos os clientes
habituais de Macro, com suas empresas, família em casa, mulheres e esposas,
que queriam sair da rotina uma hora ou outra, transando com um prostituto
homossexual. O cliente que Macro foi atender era um homem da fé, que tinha
feito seus votos de celibato e entregado sua vida para Deus. Depois daquela
chamada, Macro ficou incomunicável praticamente por um mês. Eu ligava
para ele e apenas dava na caixa de mensagem, mandava e-mails e mensagens
eletrônicas, mas nenhuma delas tinha retorno. Fui ao seu apartamento e o
encontrei fechado, ninguém sabia para onde Macro tinha ido, nem as vizinhas
ou seus amigos das boates que ele frequentava.
Eu estava tão nervosa, que cheguei a ir à polícia, hospitais e no último
ato de desespero, aos necrotérios, atrás dele. E um belo dia, quase dois meses
depois do seu sumiço, finalmente ele me ligou em uma tarde de quarta-feira,
perguntando se eu poderia me encontrar com ele no seu novo endereço.
Macro tinha mudado de bairro, estava em uma região nobre da cidade, em um
apartamento mobiliado, próximo ao campus de uma universidade. Ele iria
começar a estudar filosofia, tendo todas as despesas da faculdade sendo
pagas. Eu não precisei ser um gênio para saber quem estava por trás de todas
as coisas boas que estavam acontecendo na vida de Macro. Meu amigo
alegava estar bem, não entrava em muitos detalhes, mas em uma de nossas
conversas, quando eu fui visitá-lo, ele deixou escapar que estava participando
de reuniões, reuniões secretas, e que finalmente tinha achado seu lugar. Eu
sei, pode parecer estúpido da minha parte, mas todos os tipos de hipóteses
passaram por minha mente.
Pensei que esse homem da fé tinha feito uma lavagem cerebral em
Macro, ou talvez o tivesse arrastado para algum tipo de seita. E
vergonhosamente preciso admitir que até cheguei a fazer pesquisas sobre
seitas religiosas que faziam sacrifício humano. Mas quem poderia me culpar
por estar preocupada, tendo teorias macabras? O que mais tem nesse mundo
são pessoas perversas e doentes. Charles Manson[6] está aí para comprovar
que a maldade não tem limites ou fronteiras. Quem poderia imaginar que um
homem pequeno e tão magrelo como aquele poderia trazer tanto mal
guardado dentro de si?!
Macro poderia ter caído nas garras de um psicopata e ninguém se
importaria. Quem iria procurar por um jovem rapaz, garoto de programa,
imigrante, nas ruas de Moscou?! Era praticamente o alvo perfeito para um
predador. Quando contei para ele minhas teorias tenebrosas e os meus medos,
Macro riu de mim, me dizendo que eu sempre espero o pior das pessoas. O
que era justo, um ponto a favor dele, já que isso era verdade. Mas sempre foi
o pior lado das pessoas que eu recebi, de todas que cruzaram o meu caminho,
começando por minha mãe, que me largou em um orfanato quando nasci,
passando pelos doze anos infernais que vivi no orfanato, até ser adotada por
uma família rigorosa que me criou trancafiada dentro de casa, e Nate. Nate
foi o pior de todos, meu primeiro namorado, que conheci quando tinha
dezesseis anos e que deixou a pior lembrança na minha vida quando
completei vinte anos. E todas essas pessoas me fizeram nunca conseguir
confiar em ninguém. Todos eles contribuíram para que eu sempre esperasse o
pior de todos, porque quando você espera pelo pior, nada pode te machucar.
— O que esse homem tem a ver com esse lugar, Macro? — Dou um
passo para frente, o estudando. — O que realmente ele fez com você, que
você não me contou, Macro?
— Ele me libertou, Mabel. — Macro me dá um sorriso de lado e
inclina sua cabeça para cima. Ergue seu braço direito e estica sua mão para
mim. — Me deixa te apresentar esse mundo que é tanto meu quanto seu,
onde os demônios não são condenados.
Ele vira seu rosto e olha para a última porta à nossa frente, que parece
a porta de ferro de elevadores.
— Macro, há demônios que não devem ser despertados — sibilo,
baixo, e ergo meus dedos, esfregando minhas têmporas, ainda incerta do que
pode ter do outro lado dessas portas, e se eu realmente quero descobrir.
— Já está na hora de você tentar seguir em frente. Apenas abaixe a
guarda, por alguns minutos que seja. — Macro suaviza o tom da sua voz e me
dá um olhar demorado. — Precisa continuar seguindo, está há cinco anos
presa dentro dessa bolha que você se trancou depois de Nate.
Abaixo meus olhos e encaro a ponta das minhas sapatilhas,
balançando minha cabeça em negativo. Compreendo que me afastei de tudo e
todos depois do que houve entre mim e Nate. Nunca mais confiei em
ninguém, e muito menos me envolvi com outra pessoa. Eu tinha dezesseis
anos quando minha mãe adotiva me apresentou Nate, um homem educado,
com sorriso doce. Alekessandra, minha mãe adotiva, dizia que ele era o
melhor partido do clube de golfe que ela frequentava, e que Nate queria ser
meu amigo, um bom amigo. Nate era belo, tinha um charme natural, era
romântico e tinha conversas profundas, que para uma menina que foi criada
trancada dentro de casa, sendo educada pela mãe, era o bastante para me
ludibriar. E para minha alma romântica juvenil, era como se eu tivesse
encontrado meu Mr. Darcy[7].
Eu me encantei por ele rapidamente, e vibrei quando ele me pediu em
namoro para o senhor e senhora Shot. Nate era respeitoso, conversava
comigo sobre meu interesse sobre quadros, pintores e qualquer tipo de arte.
Os beijos eram castos, nunca na boca, apenas na testa. Ele dizia que esperaria
até eu ser maior de idade para me dar nosso primeiro beijo, e minha alma
romântica se encantava mais ainda. Me sentia feliz, como se realmente
tivesse encontrado meu “felizes para sempre”, igual das histórias que eu lia às
escondidas de Alekessandra. Eu tinha praticamente toda nossa vida juntos
preparada em minha mente: eu conseguiria convencer Alekessandra a me
permitir cursar a universidade de belas artes, e depois da minha formatura,
Nate e eu casaríamos. Teríamos uma linda lua de mel e moraríamos em uma
bela casa, com vários quartos que futuramente abrigariam nossos filhos. A
essa altura eu já estaria trabalhando de curadora em alguma galeria de arte ou
já seria dona do meu próprio negócio, uma mulher bem-sucedida, casada com
um homem lindo e maravilhoso. Hoje, vejo como era tola, mas uma tola
inocente, que passou sua infância largada em um orfanato, que desejava mais
do que tudo ter um final feliz, uma família. Imaginar todo o futuro da sua
vida ao lado de uma pessoa, penso que seja semelhante a estar jogando em
uma mesa de pôquer[8]. Você pode achar que tem as melhores cartas e dar o
maior lance, só que nunca sabe exatamente qual é a verdadeira intenção do
outro jogador. Sorriso doce e olhares ternos enganam, tanto quanto uma face
triste de um jogador que está blefando, lhe induzindo a acreditar que aquela
rodada você vai vencer. Nate não era o Mr. Darcy da minha vida, ele estava
mais para o Freddy Krueger[9], que transformou meus sonhos em um grande
pesadelo.
— Vem para o terraço brincar mais uma vez comigo, Bel — Macro
fala, baixo, me fazendo erguer meu rosto para ele.
Sorrio, o olhando, ouvindo o apelido bobo pelo qual ele me chamava
quando criança no orfanato. Macro apenas o usava quando estava prestes a
fazer alguma travessura e queria que eu o acompanhasse. A última vez que
ele me chamou assim, foi quando eu fui adotada. Alguns anos depois, eu
encontraria Macro novamente em Nova York, quando saia do cinema junto
com Nate. Minha mãe adotiva autorizava Nate a me levar para o cinema toda
sexta à noite, e em uma dessas sextas, eu encontrei Macro. Como fiquei feliz
naquele dia, era como se eu tivesse voltado à vida, resgatando nossos laços da
juventude. Macro não foi adotado, ficou morando no orfanato até completar a
maior idade. Depois que saiu de lá, caiu no mundo da prostituição. Fazia
pacote completo, sem distinção de sexo, homens, mulheres ou casais.
Pagando o valor correto pelo programa, ele aceitava. Nos separamos
novamente perto do meu aniversário de dezoito anos, quando ele me disse
que estava vindo embora para Moscou, que tinha recebido uma boa proposta,
feita por um antigo cliente, para vir morar com ele.
Mas se recorda quando eu disse que se você espera o pior dos outros,
nada pode te machucar?! Pois é, se Macro tivesse pensado assim, ele não
teria literalmente se fodido. O homem chutou Macro para fora da casa que
eles moravam com uma mão na frente e outra trás, e novamente meu amigo
voltou para a prostituição, e, como sempre, conseguiu se reerguer. Enquanto
isso, eu vivia minha vida atormentada pelo par perfeito, com o qual eu tinha
me iludido em Nova York. Não foi apenas meu primeiro beijo que eu
experimentei no dia do meu aniversário de dezoito anos. Alekessandra
barganhou outro presente, o qual eu daria a ele, minha virgindade, em troca
de realizar meu sonho de ir para a academia de belas artes. E por falta de
coragem e medo dela me punir, eu aceitei a barganha.
Conversava diariamente com Macro por telefone, queria saber como
estava sua vida em Moscou, e ia contando sobre a minha. Às vezes, passava a
noite em claro, conversando com ele por chamada de vídeo, falando como a
universidade tinha me encantado. Tinha conhecido pessoas da minha idade, e
a vida delas não era como a minha. A cada novo dia que eu me descobri
dentro da universidade, naquele leque de informações com o qual meu
cérebro ia recebendo, mais distante a ideia de me casar com Nate ia ficando,
como se eu soubesse dentro de mim que Nate não era o homem certo. Macro
foi o único para quem consegui contar tudo o que Nate fez comigo, no meu
aniversário de vinte anos. Nate me espancou e me violentou depois que eu
disse para ele que nosso relacionamento não tinha futuro, porque os
pensamentos dele não eram os mesmo que os meus, que eu não poderia ser a
mulher que ele desejaria, pois eu queria viver mais, descobrir quais outras
possibilidades minha vida tinha. Ser criada reclusa, sendo educada por
Alekessandra, tinha me tirado muitas experiências.
Não tinha intenção de me formar na universidade apenas para ter um
diploma. Eu queria trabalhar, ter uma carreira, conhecer os museus que
existem pelo mundo. Então me abri com Nate, contei para ele como me
sentia, pensei que ele entenderia, ele era mais velho do que eu, poderia
compreender os pensamentos que estavam me consumindo. Recordo daquele
dia, era uma sexta à noite, não fomos para o cinema, ele me levou para jantar
e depois fomos para seu apartamento. Deixei para conversar com ele lá, onde
estaríamos sozinhos e eu teria coragem para dizer em voz alta pela primeira
vez minhas vontades, meus sonhos e projetos.
Mas, naquela noite, dentro do seu apartamento, eu iria conhecer a
verdadeira face de Nate. Meu pesadelo se iniciou na sexta noite e terminou na
segunda-feira, entre surras e estupro, com cada canto do meu corpo sendo
violado, sem meu consentimento. Fui torturada e humilhada. Não sabia se
conseguiria sobreviver, e apenas sobrevivi a tudo isso por conta da
empregada que chegou ao apartamento dele uma hora mais cedo na segunda-
feira e me encontrou caída no chão do quarto depois que ele foi embora,
completamente machucada. Ela chamou os paramédicos, que me levaram
diretamente para o hospital. Três dias depois, quando acordei, no leito do
quarto, soube que meus pais adotivos tinham feito um acordo sigiloso com
Nate, envolvendo milhões de dólares, para que ninguém nunca soubesse o
monstro que ele é e o que ele me fez no fim de semana. Alekessandra falou
para a polícia que o apartamento foi invadido por um ladrão enquanto eu
estava lá, cuidando do imóvel para meu namorado, que estava viajando a
trabalho.
Cristo, eu queria morrer! Gritava com ódio, pois queria que a verdade
fosse ouvida, que o verdadeiro monstro pagasse pelo que me fez. Mas no
estado que me encontrava, abalada e assustada, fui uma presa fácil para ser
manipulada por Alekessandra. Meu pai adotivo, que raramente eu via, estava
sempre viajando, e deixou tudo ao cuidado dela. Alguns dias após receber
alta, fui para casa. Já recuperada, arrumei minhas malas e saí de casa, não
olhando para trás, barganhando minha liberdade de finalmente sair das garras
dela, pelo meu silêncio. Apenas desejava que todos eles queimassem na porra
do inferno!
Aluguei um apartamento próximo à faculdade e continuei estudando,
tendo apenas Macro para confiar, nunca mais abaixando a guarda para
ninguém. Trabalhava em dois períodos como garçonete, para pagar minha
faculdade e os custos de morar sozinha. Os anos foram passando e eu nunca
mais vi Nate. Mantinha meu contato com Macro, conversando sempre com
ele, e então, em uma das nossas conversas, quando me formei, Macro me
ligou e disse que tinha conseguido uma entrevista para mim com o curador de
uma galeria de artes em Moscou, que tinha interesse em me chamar para
fazer um intercâmbio na Rússia, já que eu sabia falar russo fluentemente.
Acho que essa foi a única coisa boa que Alekessandra me ensinou. Claro que
aceitei na mesma hora, eu queria conhecer mais do mundo, as formas de artes
que existem em outras regiões. Esses dozes meses que eu passaria em
Moscou iriam me ajudar muito quando eu retornasse com mais experiência
para Nova York. Poderia até conseguir abrir minha própria galeria de arte,
achar investidores para minhas ideias com novos artistas contemporâneos, ir
embora para recomeçar minha vida em qualquer lugar do mundo. E nesses
seis meses que já estou morando e trabalhando aqui, é a primeira vez que
deixo Macro me arrastar para algum desses lugares estranhos que ele anda
frequentando.
— Se eu não gostar do que tiver aí, vou simplesmente voltar por onde
eu vim, pegar o meu casaco e ir embora, com ou sem você! — falo, rindo, e
entrelaço meus dedos nos seus, que estão esticados para mim. — Combinado,
senhor Botinhas?
— Combinado! — Macro me dá uma piscada e estica sua mão,
apertando algum botão na lateral da parede. — Apenas aproveite, pense nisso
como um dia no parque.
Antes que eu possa responder, minha cabeça se volta para as portas de
aço que se abrem à nossa frente, trazendo o som alto da música de Kylie
Minogue, que entra nos meus tímpanos com a canção Can’t Get You Out Of
My Head. Do lado de dentro tem luzes neons vermelhas e amarelas
espalhadas por toda parte. Macro segura minha mão e anda reto, me levando
junto com ele, enquanto meus olhos ficam em choque, olhando tudo com
espanto, não sabendo exatamente no que devo me concentrar.
— Oh, meu Deus! — digo, assustada, quando de relance vejo um
corpo cair diante de mim.
CAPÍTULO 2
O BODE DE BRONZE
Mabel Shot

Solto os dedos de Macro e dou um passo à frente, parando perto da


grande grade de metal e inclinando meu corpo sobre ela, olhando para baixo.
A mulher nua, com seu corpo pintado de amarelo, sorri para mim, com sua
cintura e pernas enroladas em um grande pano branco, se contorcionando
sobre ele, se enrolando como se fosse uma cobra. Vejo a multidão abaixo
dela aplaudir o espetáculo de acrobacia que ela faz. Ergo minha cabeça e
encontro dois pares de olhos me observando a poucos centímetros da minha
face. A mulher de ponta-cabeça tem suas coxas presas ao tecido, descendo
lentamente. Ela estica seus braços e deixa a ponta do seu dedo roçar em meu
queixo. Sorri para mim quando solta seu peso de uma única vez, despencando
lá embaixo, sendo sustentada pelo pano a poucos centímetros do chão. Minha
cabeça se ergue e olho o teto com estrutura de aço, que contém vários tecidos
espalhados, presos às barras de ferro, com outras acrobatas descendo por eles.
Vago meu olhar, desbravando esse novo mundo que acabei de entrar,
encontrando cada figura diferente do que poderia imaginar, como se todos os
condenados e inapropriados seres humanos da sociedade moderna estivessem
se aglomerado em um único recinto, com suas faces tapadas por máscaras de
gás tóxico. Homens nus andam em pernas de paus gigantes, com seus
membros balançando entre suas pernas.
— Que lugar é esse... — murmuro, sentindo tanto receio como
curiosidade.
Sinto os dedos de Macro em meu ombro, me puxando lentamente, o
que faz eu me virar e olhar para ele, que sorri para mim. Um garçom para ao
nosso lado e estica a bandeja para a gente. Macro retira dois copos de bebida
da bandeja e fica com um, oferecendo o outro para mim. O pego e o seguro
firme em minhas mãos, enquanto olho perdida para ele.
— Bem-vinda à Sodoma de Moscou, Mabel! — ele fala alto e bate
seu copo no meu, o virando de uma única vez.
— Sodoma? — balbucio, enquanto arregalo meus olhos, vendo um
senhor de idade, que julgo ter uns setenta e oito anos, andando devagar atrás
de Macro, puxando duas correntes em suas mãos.
Já estou virando a bebida de uma única vez em minha boca, assim que
meus olhos encontram duas garotas engatinhando de quatro no chão, como
cadelas domesticadas, atrás do velho, com coleiras de couro no pescoço,
sendo puxadas pelo homem veterano. Deposito o copo vazio na bandeja do
garçom e pego outro cheio para mim.
— Obrigada! — falo para ele, tentando não parecer uma pessoa
completamente assustada com tudo que estou vendo.
O rapaz sorri para mim e me dá uma piscada, virando e andando
lentamente. Fico por um segundo tentando compreender se o que eu vejo é
realmente a sua bunda de fora, com um plug anal enterrado entre suas
nádegas, com uma cauda de guaxinim.
— Oh, meu Deus, que lugar é esse, Macro?! — Volto meu rosto na
mesma hora para meu amigo, segurando seu pulso.
— Um lugar onde todos podem ser exatamente o que são. Um lugar
onde todos podem ser livres, Bel. — Ele segura meu ombro, nos fazendo
andar em direção às escadas.
Com toda certeza, Macro estava erroneamente enganado sobre esse
lugar parecer um dia alegre no parque. De tudo que vejo à minha frente, nada
me faz ter essa ilusão de estarmos em um parquinho, e nem falo isso por
conta do garçom com rabo de guaxinim enfiado no cu, ou do velho com as
garotas andando como cadelas atrás dele. Mas sim pela obra toda, um
conjunto inteiro de perversão, excentricidade e sexo explícito, demonstrado
em cada objeto, pessoas, decoração, em cada canto, de uma forma
completamente longe do velho papai e mamãe imposto pela sociedade, com
quadros enormes espalhados nas paredes, todos retratando atos sexuais que
deixariam qualquer galeria de arte escandalizada pelos traços bem definidos
das genitálias em posições de sexo selvagem, demonstrando a necessidade
carnal e crua do coito. Definitivamente, isso aqui não parece uma seita
religiosa, e muito menos uma reunião de reabilitação, pelo contrário, aqui
deve se encontrar todos os tipos de imoralidade, nem um pingo de fé, mas
sim variedades abundantes de pecados.
— Com toda certeza, isso se parece com Sodoma... — murmuro,
perdida, lembrando das leituras que fiz sobre a cidade que foi apagada da
humanidade por Deus.
— Merda, agora entendo porque Deus teve que criar Eva! Olha o
tamanho do pau de Adão! — Macro fala, rindo, apontando para uma pintura
perto das escadas.
Rio e encontro uma réplica de A criação de Adão[10], de
Michelangelo, na parede, pegando do teto ao chão, da largura de duas portas
abertas. Comprimo meus lábios e seguro o riso, olhando o pau minúsculo de
Adão, retratado por Michelangelo.
— Na verdade, Deus criou Eva para ser a companheira de Adão,
porque Adão se sentia solitário. Assim, Deus retirou uma costela dele e a fez,
para que os dois ficassem juntos como companheiros, em harmonia no
Paraíso. — Ando devagar na direção da arte, parando à sua frente, admirando
a réplica fiel da obra. — Mas a cobra atiçou os pecados de Eva, para ela
comer do fruto proibido, o que fez eles serem expulsos do Paraíso.
Me inclino para frente e olho para o meio das pernas de Adão,
tentando imaginar por qual motivo Michelangelo fez o coitado com um pau
tão pequeno. Estico meu braço e toco a pontinha, quase invisível, da cabeça
do pênis de Adão, achando graça da falta de dotes dele.
— Bem fez Eva, não tem como viver no paraíso com um homem de
pau pequeno. — Caio na risada ao ouvir Macro falar indignado. — Olha o
tamanho dessa merda, Eva tinha que usar uma pinça para masturbar o pau
dele!
— Oh, meu Deus, você é inacreditável, Macro! — Arrumo minha
postura e olho para a tela uma última vez, caminhando para a outra que está
ao seu lado.
Paro diante de um retrato que tem duas mulheres se beijando de forma
apaixonada, sentadas na escadaria de ferro de um prédio, tendo um homem
parado diante das duas, se masturbando e derrubando porra em cima dos
cabelos delas. Meus olhos observam a perfeição que o quadro foi pintado.
Macro segura meu braço e me faz andar e abandonar as telas, nos levando
pela escada e descendo os degraus. Seguro o copo de bebida e o tomo com
mais urgência do que fiz com o primeiro. Quando chegamos lá em baixo, ele
nos empurra entre as pessoas, que estão se aglomerando ao centro do grande
salão.
— POR QUE ME TROUXE AQUI? — Me viro para Macro e grito
por cima da música para ele.
— PARA LHE VER SENDO LIVRE, BEL! — ele responde, rindo, e
retira o copo de bebida da minha mão, o deixando solto em cima de uma
mesa ao canto.
Não compreendo qual é a definição de liberdade que Macro está
querendo me dar, e nem como eu poderia me ajustar nesse lugar. A verdade é
que aqui seria o último lugar do mundo em que eu deveria estar.
— MACRO, SE EU QUISSESSE VER UMA EXPOSIÇÃO DE UM
BANDO DE GENTE TREPANDO, EU FICAVA NO MEU QUARTO
ASSISTINDO PORNÔ E ME MASTURBANDO... — Minha voz é
silenciada quando o som do lugar é cortado abruptamente.
Macro segura o riso e comprime seus lábios, abaixando sua cabeça.
Giro meu rosto e olho por cima do meu ombro, encontrando um peitoral com
uma camisa negra a centímetros de mim. Ergo meus olhos lentamente e sinto
minhas bochechas se aquecerem ao perceber que, com toda certeza, o homem
atrás de mim ouviu meus gritos. Fico com meus olhos concentrados no botão
da camisa negra, que tapa todo o pescoço do meu ouvinte, sem ter coragem
de olhar em seus olhos.
— Merda, me diz que eu não gritei isso! — falo em tom miserável,
encolhendo meus ombros, retornando meu rosto para Macro.
— Poderia me dar licença? — Fecho meus olhos ao ouvir a voz de
timbre rouco atrás de mim.
— Gritou — Macro murmura e segura meu ombro, me puxando para
o lado, dando espaço para o homem passar.
Meu rosto gira e estudo o estranho ouvinte, que escutou em primeira
mão o relato da minha vida sexual de merda. Movo minha face, o olhando, e
fico estática, com meus olhos presos nele. A calça jeans negra adorna bem
seu corpo, junto com os coturnos militares; a camisa negra combina com todo
o resto do conjunto. Ele é gigante, acho que pode passar dos 2 metros de
altura. Meus olhos se erguem por seu corpo e passam por suas mãos ao lado
do corpo, que estão enluvadas, tapando seus dedos. Observo seus braços, que
com certeza são mais grossos que minhas coxas. Mas é quando eu finalmente
olho em sua face, que está virada para mim, que sou pega de surpresa por
seus olhos, que estão me encarando, me pegando no flagra o estudando. O
som da respiração sai alta por trás da máscara de bode de bronze, que está em
sua face, e meus olhos piscam repetidas vezes enquanto observo o homem.
Mas não se trata de algo que deveria ser engraçado, e sim sombrio, posso até
dizer agressivo, pela forma como seus chifres se destacam no topo dela.
— Vem, vai começar! — Macro segura minha mão e me arrasta entre
os convidados, enquanto deixo o estranho homem bode para trás.
— O q-que vai começar? — pergunto, baixo, para Macro, e viro meu
rosto para trás, olhando por cima do meu ombro, não enxergando mais o
estranho mascarado.
— As regalias profanas! — Macro fala, animado, parando de andar.
Me puxa para o lado dele e me deixa ver que estamos na primeira fileira do
círculo.
— Oh, merda! — esbravejo, impressionada, arregalando meus olhos e
me concentrando na cena que está diante de nós, acontecendo no centro do
círculo.
CAPÍTULO 3
REGALIAS PROFANAS
Mabel Shot

Sou o amanhecer do mundo e a última estrela que cai na noite. Assim


como tomei a forma de Caius Calígula, eu posso tomar a forma de qualquer
um. Sou todos os homens e não sou nenhum.
Eu tinha treze anos quando ouvi pela primeira vez essas palavras
sendo ditas pelo ator Malcolm McDowell, que interpretava o louco e sádico
imperador Romano, no filme Calígula[11], em uma televisão velha no sótão
da casa do casal que tinha me adotado. Recordo de estar sentada no chão,
com uma bacia de pipoca entre minhas pernas, segurando o riso enquanto
assistia escondido o estranho filme. Meus pais adotivos tinham uma veia
cinéfila, eles colecionavam uma vastidão de fitas VHS, contendo vários
clássicos, os quais eles descreviam como a sétima arte. A fita cassete antiga
estava dentro de uma caixa, junto com algumas esculturas antigas, e eu
sempre curiosa, queria saber por que apenas aquela fita estava largada dentro
da caixa, e não na estante, junto com as outras. A princípio, estava incerta se
deveria ou não assistir aquele filme, mas não me importei, sempre fui dotada
de uma curiosidade gigantesca para alguém tão pequena quanto eu era.
Lembro que meus olhos não piscavam, desejando não perder um
segundo sequer das cenas que eram retratadas no filme. Alekessandra Shot
me pegou assistindo o filme quando já estava perto do final. Naquele dia ela
me bateu, foi a primeira de muitas das surras que ela me daria. Ela me deixou
de castigo, de joelhos, me mandando rezar, como penitência para expurgar
meus pensamentos pecaminosos e imundos, que eu não tinha que ver aquelas
coisas. O engraçado de tudo aquilo era que eu não me sentia uma pecadora e
nem imunda. Apenas era curiosa sobre sexualidade, e o que seria normal para
a minha idade, já que eu estava entrando na puberdade. Mas ela não viu
daquela forma. Severamente castigada e com minha face inchada por conta
dos tapas que ela me deu, durante a madrugada caminhei para fora do quarto,
andando nas pontinhas dos pés e retornando para o sótão, mas o filme não
estava mais lá, ela tinha sumido com ele.
Alguns anos depois, quando eu já morava sozinha, me vi sentada no
sofá um domingo à noite, assistindo o tão difamado Calígula novamente. Seu
foco principal nem é ser polêmico, e sim transportar a história da antiga
Roma para uma vertente muito mais visceral, suja, apodrecida do ser
humano. Uma legítima obra lendária e excêntrica do cinema dos anos 70,
realmente pode-se dizer que pertence à sétima arte. Uma orgia literal e
metafórica de pornografia e de tortura, recheada de sadismo e perversões que
choca o público. Só que também é estranhamente inofensivo para os padrões
atuais, se pararmos para pensar, mas aqui, agora, olhando o centro do salão, o
qual tem várias pessoas em volta, admirando a cena real que está sendo feita
diante de todos, a sete metros, no centro do salão, percebo que Calígula não
retratava apenas as perversões e desejos obscuros da época dos romanos.
Mas sim de agora!
Minha boca abre e fecha três vezes, sem ter ideia do que falar, como
expressar o que eu estou vendo tão explícito à minha frente. Olho o homem
nu, com sua genitália amarrada com fio de couro, junto com as bolas, tendo
duas bandejas dispostas em suas mãos. Poderia parecer um garçom nudista se
estivesse em outro cenário. Mas a mulher completamente revestida, da
cabeças aos pés, com uma roupa de silicone, atrás dele, ela sim é a estrela
principal do show bizarro. E quando digo completamente revestida, é porque
realmente não se vê nada dela, nem as pontas dos dedos, cabelos, boca, olhos,
nariz, absolutamente nada é visível, seu corpo inteiro está coberto.
— Meu Deus, que isso?! — sussurro, incrédula, não porque eu não
entenda o que está acontecendo diante de mim, mas sim porque nunca
imaginei que veria isso pessoalmente um dia.
É claramente um ato sádico entre a mulher e o homem. Eu já tinha
lido algumas matérias sobre sadomasoquismo[12], e já assisti filmes pornôs de
sádicos, tenho minhas curiosidades, mas nunca pensei que veria isso além das
páginas dos livros e da tela do notebook. Ela chicoteia o rabo dele, enquanto
o homem tenta equilibrar as bandejas em suas mãos, sem derrubar um único
copo que seja que está em cima das bandejas de prata. Outras duas mulheres
caminham, silenciosas, para o centro, se juntando a eles, uma ruiva e uma
loira. As vejo parar na frente do rapaz, que está sendo chicoteado, alisando o
peito dele lentamente, abaixando suas mãos para seu pênis amarrado com
suas bolas. Elas o acariciam, enquanto se beijam na frente dele, suspirando
baixinho. Os tecidos brancos e transparentes no corpo delas vão ao chão, com
elas se despindo. As mãos da ruiva param em cima dos seios redondos da
loira, que joga sua cabeça para trás, tendo a ruiva beijando sua garganta, a
sugando demoradamente. Quando a ruiva se ajoelha, de frente para a loira, e
beija sua barriga, parando sua cabeça de frente para a vagina da loira, escuto
o gemido masculino, que solta um baixo som de dor pelas chicotadas que está
recebendo. Meus olhos param no órgão genital do homem, e vejo seu saco
inchado e completamente roxo, com o pau dele ficando mais duro.
— Por que elas estão fazendo isso com ele? — pergunto para Macro,
não conseguindo desviar meus olhos da face vermelha do rapaz, que segura
as bandejas.
— Elas estão retardando a ereção dele para prolongar o prazer —
Macro responde, baixo, perto do meu ouvido. — Enquanto a dominatrix[13] o
disciplina — ele conta para mim, fazendo um gesto de cabeça na direção da
mulher vestida com roupa de silicone.
— Aquilo ali, para mim, não parece ser um retardamento de prazer, e
sim uma aplicação de dor crua — murmuro, incrédula, imaginando a dor que
esse homem deve estar sentindo no pau dele.
— Para alguns a dor é considerada prazer, Mabel — ele fala e dá um
risinho, cruzando seus braços em cima do peito. — Observe a face dele e me
diga se é dor que ele demonstra sentir.
Estudo a face do rapaz, que está com seu peito acelerado, respirando
depressa, mantendo sua concentração enquanto segura as bandejas, tendo a
mulher loira à sua frente sendo chupada pela ruiva, que está de joelhos entre
suas pernas. A mulher de roupa siliconada atrás dele mantém a cadência das
chibatadas, acelerando gradualmente. O gemido rouco que escapa da boca
dele me faz o olhar com mais atenção, realmente notando que não é dor que
ele demonstra. Um homem negro, alto, sai da ponta esquerda da plateia,
usando uma máscara de gás branca, que tapa todo seu rosto, e anda para o
centro, se juntando aos demais enquanto masturba seu pênis, que está
visivelmente ereto. Ele para atrás da ruiva, que está fazendo sexo oral na
loira, e alavanca seu quadril para cima, a deixando de joelhos no chão e com
o rabo empinado para ele. O vejo se arrumar atrás dela, posicionando seu pau
em seu ânus, enquanto a loira segura sua cabeça, para que ela não se mova, e
automaticamente sinto meu próprio corpo se retrair e se trancar, ficando
rígido ao me imaginar sendo penetrada dessa forma seca, sem nem um tipo
de lubrificação. Porém, o mais estranho disso tudo, é que não é horror que
estou sentindo ao ver isso.
Um segundo retraimento dentro de mim chama minha atenção, ao
notar que estou ficando excitada assistindo o sexo explícito à minha frente.
Colo minhas coxas na mesma hora, sentindo minhas bochechas ficarem
quentes, olhando o homem se retirar lentamente de dentro do rabo dela com o
seu pau, para poder voltar e meter mais fundo depois. As grandes mãos dele
se erguem e alisam os seios nus da loira, prendendo os bicos dos seios dela
entre seus dedos e os beliscando com força.
— Eu preciso sair daqui! — murmuro em choque e ergo minha mão,
tapando meus seios na mesma hora, sentindo-os latejarem e ficarem sensíveis
sobre o tecido.
Olho envergonhada para as pessoas do outro lado do salão e sinto
gratidão por estarem todas concentradas, assistindo seja lá o que for que
esteja rolando no centro da sala. Solto um suspiro baixo e ergo meu rosto
para a grade do piso superior, e sinto minha gratidão morrer rapidamente,
assim que meus olhos param na única pessoa em todo o salão que tem sua
cabeça parada bem rente em minha direção. Não precisa de muito para ver
um homem daquele tamanho parado perto das grades, com as mãos no bolso,
usando a máscara de bronze de bode. Me sinto como se estivesse despida,
não com a roupa, e sim de alma, como se ele soubesse sobre os demônios
antigos que carrego dentro de mim e que estão despertando rápido demais.
Sinto vergonha por ser flagrada dessa forma. Retiro minhas mãos dos meus
seios rapidamente e tento disfarçar, como se estivesse arrumando a alcinha,
mas é notável a forma como meus seios ficaram eretos e excitados por
debaixo do tecido, deixando os bicos apontados, como dois faróis gritando,
dizendo que eu estou excitada.
— Merda! — Encolho meus ombros e respiro depressa, desviando
meus olhos do meu espião.
— O que foi? — Macro pergunta, abaixando seus olhos para mim.
— Macro, acho que agora é aquele momento em que eu procuro o
meu casaco e vou embora — falo para ele e fico na ponta dos pés, lhe dando
um beijo no rosto, me virando e tentando descobrir como vou sair desse lugar
sem ter que usar o caminho por onde eu vim.
— Mas...
— Esse lugar não é para mim, Macro! — Dou um passo à frente e
estico minha cabeça, olhando em volta e buscando por alguma placa próxima
à porta, escrito “saída de emergência”.
As luzes se apagam por completo, e o lugar na maior escuridão me
faz ficar congelada. Ouço apenas os assobios e gritos à nossa volta.
— Droga! — amaldiçoo, baixo, me virando e tentando entender o que
aconteceu.
— Mabel! — Ouço a voz de Macro me chamar. Meus olhos ficam
presos quando logo em seguida um foco de luz para ao centro, iluminando
apenas a loira com a ruiva e o homem que a fode.
— Não devia ter me trazido para cá... — Fecho meus olhos e nego
com a cabeça, sentindo a velha euforia crescer dentro de mim, os
formigamentos em minha pele, a ansiedade me tomando.
— Você pode, olha para mim! — Macro me puxa para perto dele,
segurando meu rosto em sua mão. — Aqui você não precisa ter medo de ser o
que é...
Abro meus olhos e o encaro, mordendo meus lábios. Balanço a cabeça
em negativo para ele. Olho para os lados e vejo todos ficarem agitados
quando, oito mulheres vestidas com seda branca transparente e com uma
coroa de flores em suas cabeças, começam a sair do meio da multidão,
segurando colchonetes de yoga. Elas fazem um círculo em volta do pessoal
ao centro e jogam os colchonetes no chão.
— Anda, vem para cá! — Macro segura minha mão e me faz ficar
mais próxima dele. — As musas vão escolher os tributos da regalia.
— Musas? — Olho perdida para as mulheres, que dançam de forma
envolvente a canção baixa que vai começando a tocar no salão.
— As garotas, elas irão escolher tributos — Macro sussurra em meu
ouvido e apoia seu queixo em meu ombro. — A dança que elas estão
fazendo, é um ensaio da festa pagã original que as ninfas das florestas faziam
para o antigo deus Lupércio[14], como era conhecido entre os romanos. Para
os gregos ele era Pã[15], uma criatura metade homem e metade bode. As
pessoas que forem escolhidas por elas, serão levadas para o centro, onde
jogaram os colchonetes, e esperarão pelas regalias que receberão dos
conselheiros.
— Ok, ok, já deu! — Nego com a cabeça, voltando meus olhos para
Macro. — Isso está ficando mais estranho a cada segundo que passa.
Primeiro pensei que estávamos em um açougue, depois em uma exposição de
pinturas explícitas, sem falar da orgia que está rolando ali, no meio daquele
povo, que até agora eu não entendi, e agora vem me dizer que vai acontecer
um ritual pagão para um deus que eu nunca ouvi falar?! — digo, baixo,
apressadamente, olhando nervosa para ele. — Oh, meu Deus, Macro! Que
porra é essa em que você está se metendo... Eu sabia que estava envolvido
com gente fanática!
Macro cai na risada ao ver meu estado de confusão e segura meu
rosto, chacoalhando seus braços enquanto ri.
— Respira, Mabel, apenas respira! — Macro fala, rindo, me deixando
mais perdida pela forma como ele acha graça do meu estado. — Ninguém
aqui está fazendo um ritual, sua doida! É apenas encenação, algo para
despertar a sexualidade dos convidados. Não te trouxe para um tipo de seita
ou irmandade, o máximo que vai acontecer daqui a pouco é muita gente
trepando em cada canto desse salão.
— Acabou de falar sobre esse tal de Pã!
— Por ser muito viril e amante insaciável, que amava festa de orgias,
como é contado nas histórias dele, Pã ficou associado à virilidade, ao sexo,
entende? É apenas teatro...
— Com todo respeito, Macro, isso para mim não está parecendo uma
peça de Shakespeare[16]! — Viro meu rosto e olho para as mulheres dançando
a alguns metros de nós, esfregando seus seios com as mãos.
— Pode ter certeza de que o que vai acontecer no centro do salão, vai
fazer Macbeth[17] ser uma peça infantil. — Macro solta meu rosto e suspira
com calma. — Sodoma tem o intuito de desprender as pessoas dos seus
pudores, as deixando livres para sentirem todas as formas de prazer, sem
culpa ou medo. E, Bel, você não tem ideia de como existem amplas e
variadas formas de sentir muito prazer. Hoje, nove pessoas serão escolhidas
para libertar sua verdadeira essência.
Volto meus olhos para Macro e observo sua face risonha, com seus
olhos presos nas garotas dançando.
— Tem apenas oito garotas, uma delas vai escolher duas pessoas? —
indago, séria, retornando minha atenção para as garotas, contando
mentalmente as dançarinas.
— A nona pessoa será escolhida diretamente por um dos conselheiros.
— Macro vira sua face para mim e mexe suas sobrancelhas de forma sacana.
— E serão escolhidas para fazer exatamente o quê? — questiono,
pensativa, olhando em volta. — Assistir de camarote a encenação?
— Digamos que não será bem assistir. Falei que é encenação, não que
o que vai rolar será de mentirinha — ele suspira, relaxando seus ombros e
divagando. — Ninguém sabe realmente o que vai acontecer com essas
pessoas que são escolhidas, cada conselheiro age de uma forma diferente,
mas já conversei com algumas pessoas que participaram e elas me relataram
que é uma sensação de perca total de controle, é quase como entregar o seu
poder de escolha para outra pessoa.
Eu, particularmente, não compreendo o que Macro fala, nem o que
precisamente é esse lugar e qual o motivo real dessas pessoas estarem aqui,
que não seja apenas trepar. Desde o segundo que entrei, pensei em várias
possibilidades, para no fim não ser nenhuma delas. Acho estranho Macro usar
a alusão de Macbeth para o que vai acontecer com as pessoas que forem
escolhidas. Se eu não estiver enganada, tenho quase certeza de que a obra de
Shakespeare se trata de uma tragédia. Um regicida foi induzido pela ganância
da esposa a matar o rei, e, ao fim, depois de drama, conspiração e traição,
acabou com sua cabeça decepada. A menos que alguém vá sair de lá trepando
com um cavalo, não consigo imaginar isso pior que Macbeth.
— Macro, por que você me trouxe até aqui? Por que você realmente
me fez vir aqui, conhecer esse mundo que você está frequentando... — Sinto
o ar entrar mais rápido por minhas narinas. As pontas dos meus dedos
formigam, estou ansiosa por sua resposta, para que eu possa ter uma razão
plausível para compreender por que ele fez isso comigo.
Para mim, estar nesse lugar é o mesmo que levar um usuário de droga
em fase de reabilitação para uma festa repleta de cocaína. Minha vida tinha
mudado por completo depois daquele maldito fim de semana com Nate.
— Macro...
Seus olhos se fecham, enquanto ele fica em silêncio e abaixa sua
cabeça, a girando lentamente para mim. Quando seus olhos se abrem, vejo
toda a dor que ele tranca dentro de si.
— Sabe por que a minha vida mudou tanto depois que eu o conheci?
— Macro murmura e me dá um sorriso, não dizendo o nome do homem com
quem ele está saindo.
Macro nunca diz, nem fala como são suas características, em todo
esse tempo, desde o dia que ele começou a se relacionar com esse cara.
— Por quê? — sussurro para ele, o estudando.
— Porque ele me fez entender que não preciso ter medo de quem eu
sou, ele me libertou, Mabel. E nós dois sabemos o porquê de você nunca sair
com ninguém depois do que aconteceu com Nate. Aqui você não precisa ter
medo de ser o que é...
— Sabe que eu não deveria estar aqui... — o corto, negando com a
cabeça.
— Mabel... — Macro começa a falar, mas é interrompido pela mão
fina de uma das garotas que estavam dançando.
Ela o puxa para o centro do salão, o levando para longe. Fico parada,
vendo todas elas correrem e retirarem alguém da multidão, e assim que todas
estão com seus escolhidos, um grande paredão humano vai se formando, com
homens e mulheres ficando de costas para o centro, bloqueando a visão dos
demais para o que vai acontecer. A música volta a tocar alta, com Emily
Browning cantando Sweet Dreams. Sinto meu corpo ser empurrado pelas
pessoas à minha volta, que começam a dançar, com seus corpos colados uns
nos outros.
— Eu preciso de uma bebida. — Fecho meus olhos e esfrego meu
rosto.
Me viro lentamente, buscando por algum garçom, e quando meus
olhos se abrem, enxergo na minha frente, a poucos passos de mim, uma
mulher usando um consolo de silicone negro, com um homem de joelhos
diante dela, o chupando. Ela me dá um sorriso e pisca para mim, alisando os
cabelos dele, o forçando a fazer uma garganta profunda.
— Pensando bem, uma garrafa inteira de bebida será melhor... —
murmuro, envergonhada, e dou um sorriso sem graça para a mulher à minha
frente.
Olho para trás uma última vez, perdendo as esperanças de conseguir
ver alguma coisa ou encontrar Macro. O paredão humano está mais fechado
ainda, impossibilitando qualquer espiada do que irá acontecer lá dentro. Me
viro e fico nas pontas dos pés, tentando olhar por cima das cabeças das
pessoas, para ver se encontro algum bar, já que parece que os garçons
desapareceram. Encontro ao fundo, abaixo das escadas, um paredão cheio de
bebidas, e sorrio, já sabendo para onde vou. Ando naquela direção, me
afastando das pessoas, que estão começando a ficar mais animadas ainda com
a sedução que a música está causando. Ergo meus dedos rapidinho, quando
minha mão resvala em algo duro e de carne.
— Oh, meu Deus, um pau! — falo, assustada, rindo nervosa, andando
rapidinho. — Um pau, eu acabei de tocar em um pau! Respira, Mabel,
respira! Apenas respira, inspira e não pira, mais do que você já é!
Olho para trás, segurando o riso ao ver o homem se masturbando,
olhando um casal de mulheres se beijando perto dele.
— Ok, ok, você só precisa chegar até o bar. Vai ficar tudo bem... —
digo para mim mesma, tentando ser confiante. — Você tem o controle do seu
corpo e das suas vontades, ninguém pode tirar o controle de você!
Quando me viro, meus olhos ficam presos no homem que anda reto
entre as pessoas, caminhando a passos duros, vindo em minha direção,
parecendo um grande tanque militar blindado. Ele se destaca entre a
multidão, não apenas pelo tamanho gigante dele, mas também pela máscara
de bode de bronze em sua face. E eu me pego estranhamente inquieta pela
forma como ele não desvia seus olhos de mim. Um som alto, de um grito
estridente sendo ecoado acima do som da música, me faz virar a cabeça e
olhar para trás, tentando descobrir de onde vem. E é bem aqui, nesse segundo
de descuido e curiosidade, que eu não percebo o ataque.
CAPÍTULO 4
O SÁTIRO E O PASSARINHO
Mabel Shot

Meu corpo é retirado do chão e sou jogada como uma boneca de pano
sobre ombros largos e fortes.
— Oh, meu Deus... Meu Deus, me solta! — grito, me debatendo e
tentando me soltar.
O aperto de aço fica mais forte em volta da minha cintura, meu rosto
tomba em suas costas, enquanto meus cabelos ficam bagunçados, voando
para lá e para cá, com o sangue do meu corpo sendo levado para minha
cabeça. Tento me segurar nas pessoas, para que alguma me ajude, mas apenas
vejo seus sorrisos aumentarem, estão completamente dispersos dos meus
gritos. E tudo fica escuro quando passo pelo paredão humano, que é lacrado
assim que meu capturador atravessa por ele.
— Escuta, olha, eu sou só visita! — falo, nervosa, e tento me virar,
batendo nas costas fortes. — Dá para me soltar, por favor...
Tento erguer minha cabeça, e pisco, confusa, olhando para o lado e
vendo apenas a luz em cima do centro acesa, com tudo ao seu redor escuro. O
homem que comia a ruiva está agora deitado ao chão, com a loira sentada no
pau dele, cavalgando, enquanto a ruiva está agachada, com as pernas abertas
perto do rosto dele, sendo chupada. Meu corpo para de se mover e fico atenta
ao que estou presenciando tão pertinho. Agora o homem que segurava as
bandejas não as tem mais em suas mãos, e muito menos está com seu pau
amarrado junto com suas bolas. O vejo de quatro, com sua cabeça abaixada,
tendo a mulher revestida de tecido siliconado atrás dele, de joelhos, com o
que devo presumir ser seu braço quase por inteiro dentro do seu ânus,
entrando e saindo lentamente do seu corpo.
— Oh, meu Deus... — balbucio, em choque, sem saber se estou
horrorizada ou fascinada com a elasticidade do cu do rapaz.
Minha mente está girando a 360 graus quando sou depositada ao
chão. Piso em algo macio e sinto meus pés descalços notarem que minha
sapatilha se perdeu em algum lugar no meio do trajeto. Tento focar minha
visão no homem que me carregou e empurro meus cabelos para trás,
respirando apressada, ouvindo os gemidos que estão por toda parte. Sons de
homens e mulheres, suspirando e gemendo, com suas respirações arfando.
Volto meu rosto para meu raptor no segundo que ele se move, chamando
minha atenção para a grande sombra parada à minha frente. A sombra dos
chifres sobre sua cabeça, me faz ter certeza de quem é. Praticamente dou um
pulo para trás e ergo minha mão, tentando deixar um espaço entre nós.
— Nem tente fazer algo estranho comigo, e muito menos se
aproximar da minha bunda, grandão! — falo, respirando depressa, tentando
soar firme. — Ou juro que vou chutar tão forte suas bolas, que elas vão subir
para sua garganta — advirto, zangada, desejando soar ameaçadora, mas a
única coisa que ganho é uma risada estrondosa, que faz seu peito vibrar, com
ele parando diante dos meus dedos, que ficam espalmados em seu peitoral.
— O que está fazendo perdida aqui, passarinho? — A voz dele soa
firme e ele fica estático à minha frente.
— Bom, para começo de conversa, eu não estou perdida — respondo
e forço minhas vistas, querendo enxergar alguma coisa além do homem
parado à minha frente. — Eu estou acompanhada.
— Está acompanhada?! — ele repete de forma cínica minhas palavras
e move seu peitoral para cima quando respira fundo. — E onde está seu
acompanhante, passarinho?
— Shot, senhorita Shot — digo, apressada, mantendo meus dedos
presos em seu peito quando ele tenta dar mais um passo para mim. — Não
me leve a mal, mas eu não gosto de receber apelidos de estranhos. Não está
me ouvindo te chamar de sátiro, bode ou seja lá o que essa sua máscara
representa!
Sua risada alta vem mais forte do que a primeira vez, chegando a
chocalhar seus ombros enquanto ri.
— Represento Pã! — Sua voz sai entrecortada com o riso, caçoando
ainda mais de mim. — Não acha que um passarinho seja digno de receber as
regalias de Pã?
Relaxo minhas pernas e baixo meus dedos do seu peito, empurrando
meus cabelos para trás, não entendendo do que ele acha tanta graça.
— Agora que já lhe diverti, poderia me dizer como eu saio daqui? —
falo em tom baixo, me sentindo uma tola por ter aceitado a chantagem
emocional de Macro, o deixando me arrastar para cá.
— Ainda não respondeu minha pergunta, passarinho.
A voz soa séria novamente, me fazendo sentir sua respiração próxima
do meu rosto, quando ele se move e inclina seu corpo para frente, persistindo
em usar um apelido para mim. Sinto algo cair perto do meu pé, sendo jogado
ao chão.
— Onde está seu acompanhante?
Antes que eu possa lhe responder, um gemido escandaloso chama
minha atenção, e eu acabo por infelicidade reconhecendo-o.
— Tenho quase certeza que deve estar a alguns metros de nós —
respondo, chateada, olhando para a esquerda e levando minhas mãos para
minha cintura. — Espero que esteja recebendo um braço inteiro no seu cu,
MACRO! — falo alto, gritando na direção de onde veio o gemido. O
estrondo rouco da risada pesada se faz novamente, me fazendo olhar para
frente, sentindo-o mais perto ainda de mim.
— Interessante! — ele diz, rindo, e sinto meu corpo congelar, ficando
em alerta quando a grande mão se espalma em minha face e escorrega seu
anelar por minha boca. — Um passarinho selvagem e arisco tão pequeno,
perdido entre os sátiros.
A textura do couro da luva em sua mão é ríspida e ao mesmo tempo
fria, trazendo arrepios ao meu corpo.
— O q-que está fazendo, senhor? — balbucio, sentindo meu coração
quase sair pela boca, de tão rápido que ele está batendo.
Escuto a respiração dele ficar mais pesada, puxando o ar para seus
pulmões e um som rouco saindo da sua boca.
— Por que está aqui, passarinho? — ele repete a pergunta de forma
baixa e escorrega seus dedos para minha nuca. Os sinto se embrenhando em
meus cabelos por conta da força que ele segura minha nuca.
— Ohhh... — Fecho meus olhos, querendo abrir um buraco no chão
assim que um gemido escapa dos meus lábios, sentindo o couro da minha
cabeça ficar sensível com a forma que ele está me segurando. — Senhor... —
Mordo meus lábios e seguro o segundo gemido quando ele prende mais forte,
causando um pequeno pico de dor em meu couro quando aumenta a pressão
que segura meus cabelos. A respiração dele se torna mais pesada e dá um
passo à frente, terminando a distância que tem entre nós.
— Senhor? — Ouço a voz dele sussurrar de forma perigosa perto do
meu ouvido. — Tem certeza de que quer me chamar assim, passarinho?
Ergo meus dedos e seguro seu braço, sentindo como se estivesse a um
passo de desabar no chão quando o nariz dele toca a minha garganta e sobe
lentamente para minha orelha e se enterra em meus cabelos.
— Poderia, por favor... — Mordo mais forte meus lábios, ficando
consciente da sua outra mão que está subindo pela lateral da minha perna e
escorregando lentamente por minha coxa, me fazendo contrair meus
músculos vaginais por conta da textura do couro. — Oh, meu Deus!
Comprimo mais forte meus olhos e respiro apressada, com minha
cabeça sendo movida de um lado ao outro devagar, com ele cheirando o outro
lado do meu pescoço, subindo com calma seu nariz e fechando sua boca na
ponta da minha orelha e a mordendo levemente, causando tantos arrepios em
meu corpo que eu nem sei exatamente onde começou.
— O que veio fazer aqui, passarinho? — Ele movimenta sua mão por
minha cintura e puxa meu quadril, o fazendo se chocar com o dele.
— Eu não sei... não sei, senhor. — Minha voz está tão mirrada, que
quase chega a se assemelhar com um choro.
Sinto com mais intensidade os gemidos à nossa volta ficarem mais
altos, o cheiro dele invadir meu sistema respiratório de forma rápida e
agressiva, quase como se fosse uma química injetada diretamente em minha
veia. As batidas da música ficam distantes, tendo apenas minha respiração e a
dele entrando em meus ouvidos. Sua língua desliza por meu ombro e raspa
seu dente, subindo novamente por minha clavícula, lambendo cada canto da
minha curva entre o ombro e o pescoço.
— O que veio buscar, passarinho? — Sua voz está ficando latente
dentro do meu cérebro, como se anulasse o restante de todos os sons, como
uma hipnose sonora.
E eu nem sabia que isso existia, se era possível, mas é justamente isso
que ele está fazendo comigo agora. Me hipnotizando, deixando meu corpo
inerte e meu cérebro em torpor, enquanto ele faz o que deseja comigo.
E o mais assustador disso tudo, não é o fato de estar sendo tocada por
um estranho, ou várias pessoas desconhecidas estarem gemendo à nossa
volta. O mais assombroso de tudo isso é que eu deixo, lhe permito me
envolver nesse perigoso timbre sedutor da sua voz.
E por que eu o deixo?
Eu não sei responder, não tenho ideia de como fazer isso parar, de
como ordenar meu corpo a voltar a me obedecer. Tem algo nele, um
magnetismo dominador, que faz meu corpo se render a qualquer demanda
dele, desencadeando coisas em mim que eu não posso sentir. Acordando um
lado impuro dentro do meu ser, há muito tempo adormecido, que se escondia
em minha alma, recluso e silenciado por mim há muito tempo. Não me
lembro o porquê o escondi, porque o trancafiei, mas sei que o mais sensato
seria o deixar lá.
— “Menina, não se atreva a falar de Deus aqui dentro. Se Deus
existisse, Ele não deixaria a gente fazer isso com você”. — A voz de Nate
recita baixo, falando lentamente, enquanto mantém a leitura do livro.
Meus olhos estão presos no teto, focados na lâmpada que está
piscando. Ela piscou 232 vezes, eu contei a cada novo piscar dela. A mão
suada escorrega por minhas pernas e sobe lentamente, entrando entre elas e
empurrando meu vestido para cima, me acariciando com lentidão.
— Por que está aqui, Mabel? — ele pergunta, baixo, fechando o livro
e se levantando, ficando parado ao meu lado.
Meus dedos, que estão com os nervos rígidos, se prendem à lateral do
meu corpo, ficando presos no tapete.
— Porque eu fiz uma coisa ruim. — Fecho meus olhos e tombo minha
cabeça para o lado, arqueando involuntariamente meu peitoral para cima
quando seus dedos tocam minha vagina, e arfando entre as respirações a
cada novo toque dele. Choro por não conseguir controlar as respostas do
meu corpo.
— O que veio fazer aqui, passarinho? — A voz mais firme pergunta
ríspida e empurra meu vestido para cima, deixando sua mão espalmada em
minha bunda, esmagando a pele entre seus dedos.
Ele aperta mais forte meus cabelos e fecha sua arcada dentária inteira
em meu pescoço, o mordendo profundamente, enquanto me sinto sendo
rasgada entre dor e prazer.
— Oh, meu Deus! — Fico completamente em abandono quando sua
mão solta meus cabelos e escorrega para frente do meu corpo, prendendo
meus seios entre seus dedos e os massageando. — Por favor, senhor, eu
preciso que me deixe ir...
Ele retira sua boca do meu pescoço e raspa sua face com a minha, me
deixando ainda mais cativa, raspando seus lábios em meu rosto. Massageia
minha bunda, enquanto brinca com meu seio em suas mãos.
— Por que, passarinho? — Ouço o som forte da sua respiração,
enquanto ele fala baixo. Me gira tão rápido, que nem consigo entender como
ele nos moveu de lugar.
A mão em minha bunda está agora parada na frente da minha virilha,
enquanto a outra, que acariciava meus seios, está presa na minha garganta.
— Uma pessoa que não sabe o porquê de estar aqui, é porque também
não sabe para onde vai. — Ele cola seu peitoral em minhas costas e me deixa
rente ao corpo dele. — Para onde vai, passarinho?
Fecho meus olhos e respiro com agonia, sentindo meu corpo queimar
a cada deslizar da sua língua em meu ombro. Sua mão espalmada à frente do
meu ventre, puxa com preguiça o tecido do vestido para cima, deixando
minha boceta desnuda livre do tecido que a cobre. Abro meus olhos e fico
com a visão rente à cena dos casais trepando ao centro, onde a luz está
iluminando. Vejo a ruiva deitada por cima da loira, as mãos da ruiva estão
esticadas para cima da cabeça da loira, imobilizando os pulsos da garota,
enquanto aquele homem das bandejas, que estava recebendo um antebraço
dentro do seu ânus, agora está comendo a ruiva, com seu corpo posicionado
por cima do dela. Ele geme, fechando seus olhos, enquanto a dominatrix está
ao seu lado, chicoteando suas costas. O homem negro, de mascará de gás,
tem até suas bolas enterradas dentro do cu do cara das bandejas, que vibra
alegre, fodendo a ruiva, recebendo tanto as chicotadas nas costas como o pau
do cara atrás dele dentro do seu cu. Um sexo grupal e explícito, tendo pares
de bocetas e paus se fodendo como se fossem um só. Sinto meu rosto quente,
meus cabelos sendo empurrados para cima do meu ombro, enquanto minha
própria boceta está pulsando, desejando que essa dor dentro dela seja
aplacada.
— Para onde vai, passarinho? — Sinto o aperto da minha garganta
ficar mais denso, com seus dedos se fechando em volta deles.
E eu tenho a noção que ele pode simplesmente quebrar meu pescoço a
hora que ele quiser, pode quebrar meu corpo inteiro, a julgar pelo seu
tamanho, mas ainda assim não sinto medo, não sinto nada além de uma
necessidade urgente que me consome por inteira, para que ele faça qualquer
coisa, qualquer maldita coisa que me liberte desse estado de perversão.
— Eu não sei, não sei — falo e fecho meus olhos, sentindo mais
medo de mim do que dele.
— Deseja voar, passarinho? — ele pergunta com calma, como se não
estivesse me torturando lentamente com seus dedos, que tocam minha boceta.
— Sim — murmuro para ele e deixo minha mão parada sobre a sua, o
instigando a me tocar com mais pressão.
Mas ele me castiga quando retira suas mãos do ventre e as ergue por
minha barriga, como se estivesse ensinando para uma criança desobediente
que tudo tem o seu tempo e nada acontece quando eu quero.
— Oh, meu Deus, por favor... — Mordo com força meus lábios e
sinto uma montanha-russa de emoções brincar dentro de mim.
— Tão apressada para bater as asas, passarinho. — Ele brinca comigo
como se eu fosse um novo passatempo, controlando as reações do meu corpo.
Sinto seu rosto encostar em minha nuca, com ele respirando fundo,
tendo suas mãos espalmadas em meus ombros, os esfregando lentamente, e
não entendo porque eu quero chorar. Sinto meus olhos queimarem e uma
frustação latente dentro de mim, por ele ter retirado suas mãos de cima do
meu ventre. As alças do vestido são empurradas lentamente, pouco a pouco
pelos meus braços, enquanto o tecido escorrega no chão, ficando parado em
meus pés.
— Dê um passo para o lado e deixe suas mãos posicionadas ao lado
do corpo, passarinho. — Sua voz rouca atrás de mim sai em comando e usa a
ponta da sua bota para tocar em minha canela, para que eu abra as pernas.
Ergo meu pé e afasto o vestido, dando um passo para o lado, fazendo
o que ele pede. Minhas mãos se mexem ao lado do meu corpo e abro e fecho
os meus dedos lentamente, os tendo inquietos.
Sinto o arrepio passar por minhas costas quando seu dedo livre da
luva de couro desliza do começo da minha nuca e escorrega por ela.
— Vai guardar seus sons para mim, passarinho. — Ele não está
perguntando e nem afirmando, mas sim me dando uma ordem. Passa seus
braços entre os meus e volta suas mãos para os meus seios, deixando as duas
paradas, uma em cada lado, os massageando com calma. — Gosto de ouvir o
som que sai dos seus lábios, passarinho, mas irá os deixar fechados, não os
dividindo com os demais, está me entendendo?
Meus ombros se encolhem e sinto o pico de dor que acerta meus seios
quando ele espreme meu bico em seus dedos. Mordo minha boca com toda
força e seguro o gemido.
— Boa menina — ele murmura e deposita um beijo em meu ombro.
Sinto meu corpo ficar mais agitado quando ele escorrega sua boca em
minhas costas e abaixa seu corpo, levando suas mãos junto, que percorrem
minha barriga. Minha pele recebe cada lufada de ar quente que sai por seus
lábios, enquanto ele me beija demoradamente, prolongando minha agonia.
Em um primeiro momento, meu corpo se retrai assim que sinto sua respiração
em minha bunda, mas ele me mantém presa, engaiolando meu quadril com os
seus braços, fazendo minha concentração ficar nos dedos dele, que estão
acariciando meu ventre. Fecho meus olhos. Esmago meus dedos em minha
mão, que fica em punho, e sinto minhas unhas cravarem com força nas
palmas das minhas mãos, com meus lábios sendo controlados pelos meus
dentes que os prendem.
Perversão é algo incontrolável. São aqueles pensamentos assombrosos
que nos pegam em uma tarde qualquer, em momentos inusitados, nos quais
apenas divagamos. Algumas pessoas os rejeitam bem, os empurram para
longe, outras os escondem, reprimem o lado soberbo e escroto da alma. Mas
eles estão ali, sempre à espreita, e às vezes são incontroláveis quando são
libertos. E os meus estão soltos, desenfreados, se sentindo vivos a cada
deslizar do seu dedo em cima da minha boceta, escorregando entre seus
lábios e se infiltrando dentro de mim. Meus olhos ficam presos no sexo
grupal e sinto como se o suor deles estivesse transpirando junto com o meu.
Meu carrasco me empurra para a borda a cada segundo que seu dedo
me fode, usando seu anelar para massagear meu clitóris. A respiração forte
em minha bunda fica mais próxima, com ele abrindo sua boca e abocanhando
um pedaço da carne, a mordendo tão forte como se estivesse tatuando sua
arcada dentária em meu rabo. Sua outra mão sai da frente do meu corpo e
para em minhas costas, a empurrando um pouco para frente, me deixando
com meu corpo levemente inclinado, mas lhe dando exatamente o que ele
deseja e me deixando completamente vulnerável de todas as formas para ele.
Não consigo o mandar parar, não consigo me fazer parar com isso. E ele me
empurra para mais longe nessa onda de prazer depravada, quando segura um
lado do meu rabo, afastando as nádegas.
— Oh, meu Deus... — Tombo minha cabeça e aperto mais forte meus
lábios, sentindo meus dentes machucarem a pele quando o toque invasor e tão
íntimo me pega de surpresa.
Sinto a língua dele tocar meu ânus, escorregando em volta dele, me
castigando quando retira seus dedos da minha boceta por conta de eu ter
falado. Sua boca se vira e morde forte meu rabo, me dando um alerta para
ficar em silêncio.
— Não cante para os outros, passarinhos! — ele fala em tom
dominante, arrastando seu rosto por minha bunda, o esfregando lentamente.
Seguro o soluço de dor e cravo mais forte minhas unhas na palma da
minha mão, sentindo cada nervo e músculo do meu corpo rígido. Ergo meu
rosto, com meus olhos ficando presos nos casais, que trocaram de posição. O
cara das bandejas está deitado no chão, com a loira montada em cima dele,
fodendo seu pau com a boceta dela; a ruiva a beija com paixão, com seus
braços esticados em seu ombro e suas pernas abertas, com seus pés dispostos
um de cada lado do corpo do homem deitado ao chão. O grande cara atrás
dela, com a máscara de gás, está a fodendo lentamente, entrando e saindo
com seu pau do rabo dela, que está vermelho, recebendo palmadas duras.
Meu corpo recebe a descarga de energia que o liga por completo.
Mordo meus lábios e morro com a onda de prazer que me pega ao sentir o
toque da sua língua novamente em meu ânus. Seus dedos malvados, que
largaram minha boceta, retornam para ela, alisando com agilidade e tocando
de forma constante meu clitóris. Quero gritar, quero berrar tão alto ao ponto
de estourar meus pulmões, a cada tremor de prazer que me assalta. Os dedos
dos meus pés se contraem e finco-os no colchonete, com os músculos da
panturrilha endurecendo, junto com os da coxa.
Jogo minha cabeça para trás e fecho meus olhos, respirando mais
forte, sentindo a forma como ele me fode despudoramente com seus dedos e
sua língua, deslizando, circulando, a deixando fluir em cada canto do meu cu.
É a primeira vez que algum homem faz isso em mim, e seria algo que eu
acharia estranho e repugnaria em qualquer tipo de aspecto ou circunstância,
mas aqui, agora, com esse homem ajoelhado atrás de mim, fodendo minha
boceta com seus dedos, me parece a coisa mais certa que alguém já fez
comigo.
Meus olhos se espremem com força, com o resto do meu corpo inteiro
se retraindo, me deixando sentir até a sola do meu pé formigando quando
explodo como uma avalanche de orgasmo que me consome por inteira,
alastrando tremores por minhas pernas. Ele me chupa com mais fome,
praticamente fodendo meu rabo com sua língua, massageando meu clitóris,
que lateja, inchado, vibrando com o gozo que acaba de receber. Sinto o
relaxamento completo me pegar, me fazendo desabar em meus joelhos com
pura exaustão, respirando com dificuldade. Me sinto lânguida, acabada e
esgotada de uma forma tão grande, que apenas desejo continuar nesse estado
de inércia.
Sua mão se retira do meio das minhas pernas, enquanto me sento em
cima das minhas pernas, com meu braço caído ao lado do meu corpo e meus
dedos tremendo. Tento forçar o ar a entrar por minhas vias respiratórias e os
batimentos cardíacos desacelerarem. Meus cabelos colados pelo suor em
minha bochecha, são empurrados lentamente por seus dedos, com ele ficando
de pé, parado ao meu lado. Sinto minha cabeça encostar em sua perna,
enquanto puxo o ar com força. Fecho meus olhos, gostando da sensação de
abandono diante dele, por deixá-lo saber o que acabou de fazer comigo,
enquanto ele acaricia meus cabelos. Sorrio e fecho meus olhos, esfregando
meu rosto em sua mão, como uma felina dócil que ele acabou de domesticar.
Sinto o toque dos seus dedos em minha boca, e quase como se fosse algo
automático do meu corpo responder a ele, meus lábios se entreabrem,
sugando seus dedos para dentro da minha boca. Os chupo pouco a pouco,
sentindo o gosto da minha boceta neles. Ouço o som da respiração dele ficar
mais pesada, com seu corpo se abaixando e sua face a centímetros da minha,
sustentando meu rosto em sua mão, enquanto chupo seus dedos com
preguiça.
— Venha, passarinho, vamos encontrar uma gaiola para você cantar
só para mim! — Sua voz rouca fala firmemente, com o timbre ficando mais
forte e com sua respiração acelerada.
Abro meus olhos e pisco, confusa, sentindo minha mente retornar do
estado vegetativo que ela estava há segundos. O som dos gemidos altos dos
outros à nossa volta entra em meus ouvidos, me fazendo retornar mais
depressa para a realidade. Abro minha boca e liberto seus dedos, tombando
meu corpo para trás, caindo de bunda no piso gelado. Meus dedos
escorregam e vão para trás de mim, para me sustentar, mas acabo encostando
em uma perna nua de alguém. Olho para lá na mesma hora e recolho meus
braços, os deixando sobre meu peito, percebendo que tem pessoas trepando
do meu lado.
— Oh, meu Deus! — Tapo minha boca e empurro meus cabelos para
trás, enquanto respiro apressada, tomando consciência do que acabei de fazer.
— Passarinho? — Volto meu rosto para o homem que acabou de me
foder, o qual eu nem sei como é sua face.
— Não, não... — murmuro, nervosa, e nego com a cabeça,
praticamente jogando meu corpo para a frente quando fico de joelhos e bato
meus dedos no chão, em busca do meu vestido. — Você fez algo ruim,
Mabel... Algo ruim.
Me levanto nervosamente quando encontro meu vestido caído em
cima do colchonete, e o seguro apertado junto ao meu corpo. Sinto o toque
dos dedos que raspam em meu braço quando saio correndo em disparada para
longe dele, atravessando o centro do salão, passando às pressas próxima aos
casais que estão transando. Me assusto quando o cara com a máscara de gás
se vira para me olhar. Impulsiono meu corpo para trás, com medo de que ele
tente me segurar, e acabo caindo no chão. Meus olhos caem para minhas
pernas nuas, subindo por meu corpo nu, parando na deformidade da cicatriz
grande em meu abdômen. Meus dedos trêmulos puxam o vestido com mais
desespero, me tapando.
— Não, não devia ter feito isso, Mabel! — murmuro, assustada,
sentindo as lágrimas queimarem em meus olhos.
— Ei, você está bem, pequena? — o homem da máscara de gás
pergunta, baixo, se aproximando de mim lentamente.
Visto às pressas o vestido, o passando por minha cabeça, e me levanto
rapidamente. O som do tilintar de algo caindo no chão, que estava embolado
em meu vestido, me faz olhar para os meus pés, e vejo a máscara de bode de
bronze a centímetros de mim.
— Ei, pequena, está machucada? — Me sobressalto quando um toque
se faz em meu braço, me fazendo pular para trás. Vejo o homem negro retirar
sua máscara, me dando um olhar preocupado. — Alguém machucou você...
Abaixo meus olhos para a máscara de bode de bronze e sinto meu
corpo todo tremer. Quero gritar que ele tinha feito muito pior, que ele não me
machucou...
Ele libertou meus demônios.
Elevo meus olhos para a direção de onde fugi, a tempo de ver a
grande sombra sair da escuridão e se mover diretamente para mim. Já estou
correndo em disparada quando o rapaz à minha frente tenta me tocar
novamente. Corro mais rápido, não querendo olhar para eles, para nenhum
deles, nenhuma dessas pessoas. Desejo apenas sair desse lugar e rezo para
que eu possa trancafiar novamente esse lado ruim dentro de mim, que ele
soltou.
— MABELLLL! — A voz distante de Macro chama por meu nome,
mas não paro, não olho para trás, não quero esperar por ele, não quero.
Ele não devia ter me trazido aqui. Macro, acima de qualquer pessoa,
tem consciência que esse é o último lugar que eu devia estar. Fecho meus
olhos e limpo as lágrimas, conseguindo passar pelo paredão humano e me
misturando entre as pessoas, correndo em direção às escadas.
— Por que está aqui, Mabel?
— Porque eu fiz uma coisa ruim.
CAPÍTULO 5
A FLAUTA DE PÃ
Czar Gregovivk

Observo a porta do meu escritório ser aberta lentamente, e passos


tranquilos soarem no recinto. Desvio meus olhos da tela do computador e
olho por cima do aparelho para Adrien, que me encara.
— Imaginei que encontraria você aqui — o homem negro, de terno
azul-marinho, fala calmamente e anda de forma felina, desfilando por minha
sala, fingindo estar interessado em alguma porcaria na estante.
— Pensei que já estaria no avião, voltando para a França essa hora,
Adrien. — Relaxo meu corpo na cadeira e estico minhas pernas por debaixo
da mesa.
— Sabe como são as mulheres, apreciam uma compra, não quis
deixá-las chateadas! — Ele desvia seus olhos da estante e retorna para mim,
parando diante da minha mesa, levando as mãos ao bolso da calça e
respirando fundo. — Prometi para elas que passaríamos a noite aqui em
Moscou, e amanhã elas podem sair às compras. O que eu não faço pelas
minhas companheiras?!
Ele sorri e me dá uma piscada. Sorrio e balanço minha cabeça para
frente e para trás, concordando com ele. Todos têm conhecimento da
adoração que Adrien tem por Selena e Walkiria. Adrien só falta beijar o chão
onde suas esposas pisam. Mas pelo seu olhar, sei que não é uma simples
despedida que o traz até aqui, ou um trivial bate-papo entre velhos amigos.
— Vá direto ao assunto, Adrien — falo, sério, e mantenho meus olhos
presos aos seus.
O vejo levar sua mão esquerda para trás da calça, e quando ela volta,
reconheço o objeto em seus dedos, o qual ele deixa lentamente em cima da
minha mesa.
— Apenas um conselheiro estava usando essa máscara essa noite —
Adrien fala, dissipando rapidamente seus ares amigáveis e me confrontando
com seu olhar, que está com o semblante gélido. — Preciso repassar isso para
os outros conselheiros, Czar?
— Não a machuquei — sibilo, mal-humorado, entre meus dentes,
encarando a máscara de bronze.
— Não foi o que os olhos medrosos dela me contaram. — Adrien se
mantém imparcial, me encarando com mais atenção. — A garota saiu
correndo, completamente assustada. Conhece as regras e sabe muito bem por
que eu estou aqui!
— Está aqui como meu amigo de longa data ou como o juiz?
— Estou aqui como um homem que viu os olhos de uma mulher
machucada sair aterrorizada de Sodoma. — Sua voz sai mais grave e ele
retira as mãos do bolso, pegando a máscara em suas mãos. — E realmente
quero acreditar que você não foi o culpado por aquele olhar, mas se for...
Sabe muito bem que eu não serei complacente, pois é meu dever cuidar de
quem quebra as regras. Se caso vier a ser aberta uma reunião de conselho...
Adrien me dá seu pior olhar, carregado de ira, o qual ele sempre
presenteia os integrantes que quebram as regras de Sodoma. O juiz perfeito e
imparcial, que traz um certo desgosto por aqueles integrantes que ferem de
qualquer forma uma mulher. Já o vi em ação, fazendo dominadores virarem
uma barata diante dele, com apenas a menção de estarem maltratando suas
submissas. Sodoma é clara e rígida com suas disciplinas. Somos libertinos,
não animais. Nada acontece sem consentimento de ambas as partes da
relação, independentemente de qualquer tipo que seja seu caráter. Um juiz
não é um conselheiro, não é um praticante de Sodoma, ele é o voto de
minerva. Irredutível e incorrupto, que sentencia sem remorso qualquer um
que ouse quebrar as regras.
— Já lhe disse e irei repetir apenas mais uma vez! — Me levanto e
empurro a cadeira para trás com toda força. — Não a machuquei!
Me viro com raiva e fico de costas para ele, encarando a porra da
janela, vendo o grande salão abaixo de nós sendo organizado por alguns
funcionários. Eu posso ser tudo nessa vida miserável, trazer imensos pecados
sobre meus ombros, mas jamais machucaria uma mulher. Amaldiçoei cada
segundo que se passou desde as últimas horas, depois que o pequeno pássaro
voou para longe. Os seguranças foram incompetentes ao deixarem ela sair do
prédio, antes que eu conseguisse ter a chance de chegar até ela. Quando
avisei Acvo, que era o primeiro segurança da portaria, que ficava no abatedor
de carne, já fazia cinco minutos que ela tinha acabado de passar por ele,
sumindo nas ruas de Moscou.
— Ela era uma convidada, não se tratava de uma iniciante e nem uma
submissa sem dono — Adrien fala atrás de mim e solta a máscara sobre a
mesa. — Foi insensatez, Gregovivk, buscar por uma convidada, quando
poderia ter escolhido qualquer outra integrante da casa. A garota...
— Acha que eu não sei o que ela era assim que a avistei, no segundo
que entrou dentro da minha casa?! — Me viro, o confrontando. — Tenho
ciência de cada um que entra aqui, Adrien, e sabia exatamente o que ela era
quando a escolhi!
— E mesmo assim a escolheu? — Ele me olha com atenção e estufa
seu peito para frente, levando sua mão ao bolso.
— Sim. É isso que quer ouvir?! — Pego a porra da máscara em meus
dedos e fico a encarando, cerrando minha boca. — Eu escolhi a porra de uma
visitante para receber as regalias.
— Por quê? — O tom de voz de Adrien fica baixo, com ele dando
mais um passo para frente, me olhando com curiosidade. — O que o fez
escolhê-la, Czar?
— Conselheiro Czar, está quase tudo pronto. — Ouço a voz de Sieta,
que entra na minha sala, enquanto observo o salão lotado através do espelho
mágico que me dá uma ampla visão de todos os participantes de Sodoma.
Tomo meu gole de bebida lentamente e balanço a cabeça em
confirmação, sem me virar para ela, mantendo meus olhos na pista de dança.
— Senhor, já sabe qual será sua escolhida? — A pequena mulher se
aproxima de mim e para ao meu lado.
— Eu realmente preciso escolher, não pode pedir para um dos outros
conselheiros escolher? — falo com aborrecimento, abaixando o copo dos
meus lábios e virando meu rosto para ela.
Sieta vira seu rosto e olha para trás, percorrendo seus olhos pela
sala, para ter certeza de que estamos sozinhos, e volta sua face para mim,
rindo.
— Não, não posso. — Um sorriso brincalhão estampa sua boca. —
Não vou te livrar dessa vez, Greg — ela fala, rindo, e nega com a cabeça,
erguendo seu dedo e apontando para o espelho mágico. — Escolha uma
garota ou garoto, quem sabe você acabe gostando! — Sieta diz, rindo, e dá
de ombros. — Talvez assim um deles possa até curar esse seu tédio.
— Não estou entediado, apenas não vejo necessidade em ter que
participar disso. — Desvio meus olhos da sua face e encaro as pessoas do
outro lado, dispersas da nossa presença, que observamos a todos por trás do
grande quadro.
— Sua casa, Greg. É seu dever ter que escolher, não pode ficar mais
protelando participar das festas. Já faz tempo que você não participa das
regalias profanas.
— Não sabia que você apreciava ficar contando cada boceta que meu
pau fode — digo, rindo para ela, bebendo minha vodca. — Isso é algum
fetiche novo?
— Não, pelo contrário. Até porque se fosse assim, eu morreria de
tédio, já que eu ando comendo mais boceta do que você, primo. — Ela bate
seu ombro no meu, me provocando e caindo na risada. — Vamos lá, não vai
ser tão ruim assim. Se você demorar para escolher, eu vou escolher por você,
e juro que vou escolher a pior que eu achar!
— Você é uma megera agressiva, Sieta — falo, baixo, percorrendo
meus olhos pelas mulheres, não tendo nenhuma entre elas que prenda minha
atenção.
— Posso até ser, mas pense em mim como uma megera agressiva que
se preocupa com você. — Sinto algo bater em meu peito quando ela estica
seu braço. — Espero que goste, fui eu que a desenhei. Pedi para fazer
especialmente para você.
Seguro a máscara de bode de bronze em meus dedos e olho com
atenção para ela.
— Pã?! — Ergo meus olhos para ela, que está sorrindo de orelha a
orelha.
— Isso aí, satirozinho. Agora foque sua atenção em encontrar sua
flauta, porque falta apenas quinze minutos antes das regalias profanas
começarem.
Fico na sala em silêncio, olhando a máscara, enquanto ela se retira,
tagarelando sem parar. Meu braço se move e levo o copo de bebida para
minha boca, erguendo meus olhos para o espelho mágico e encontrando uma
peculiar senhorita diante de mim. Percorro meus olhos em seu vestido
branco, solto em seu corpo de estatura baixa, que vai até suas canelas, o
rosto limpo sem maquiagem, com os olhos mais negros que eu já vi,
completamente o oposto das pessoas que estão no salão, com algumas
vestindo suas roupas curtas e outros sem nenhuma roupa, desejando chamar
atenção. Mas a estranha criatura não. Ela está confortável, sem um pingo de
maquiagem ou um batom simples aos lábios, fazendo sua beleza ficar
realçada exatamente por isso, sem precisar dos artifícios dos cosméticos.
Parece um pássaro perdido dentro desse barracão, e fico fascinado, a
olhando com interesse, imaginando como esse passarinho entrou aqui. A
vejo dar mais um passo à frente e percorrer seu olhar pela tela que está
diante dela do outro lado da parede. Seus olhos negros brilham com
curiosidade. Um leve movimento em seus lábios chama minha atenção para
sua boca e a vejo morder o cantinho, tombando seu rosto para o lado e
sorrindo envergonhada, se aproximando mais um pouquinho, como uma
criança arteira que não consegue apenas olhar, que precisa tocar também.
Acompanhando seus movimentos, dou um passo à frente e estudo a expressão
risonha em seus lábios quando ela estica sua mão e toca um ponto da tela,
caindo na risada. Seu corpo fica ereto e ela ergue sua cabeça, quase me
fazendo duvidar se seus olhos conseguem me ver ou não. Seus dedos se
movem e empurram seus cabelos para trás, sorrindo envergonhada e virando
e caminhando para longe.
Desvio meus olhos da máscara e respiro pesado, cerrando meus
lábios.
— Czar? — Adrien está parado diante da minha mesa, com um
pequeno sorriso ao canto dos lábios, me encarando. — Por que a escolheu?
— Não a machuquei, Adrien. Se foi por isso que veio, já tem sua
resposta e pode ir ao encontro das suas companheiras. — Mantenho minha
atenção na máscara, finalizando sua visita.
— Acho que consegui encontrar a garota, primo, ela veio
acompanhada de um integrante que está sob os cuidados do conselheiro da
Ita... — Sieta invade meu escritório e tagarela sem parar, olhando o tablet em
suas mãos. — Oh, desculpe, não sabia que Adrien estava por aqui!
Ergo meus olhos para ela, a encarando. Sieta me dá um sorriso
amarelo e encolhe seus ombros. Ouço o som da risada baixa de Adrien, o que
me faz erguer minha cabeça para ele, o encarando, não compreendendo o
sorriso de puto em seus lábios.
— Vou informar Jonathan que você já está cuidando disso
pessoalmente...
— Não precisa avisar ao puto do Roy! — rosno com raiva e nego com
a cabeça.
— Ele já sabe, Czar. — Adrien retira as mãos do bolso da calça e
arruma as mangas do seu terno, mantendo o riso provocador em sua face. —
Mas acho que ele vai apreciar essas novas informações.
— Filho da puta! — falo com raiva e sento na cadeira.
Adrien estica sua mão para mim, para se despedir, e inclina seu corpo
para frente. Assim que seguro em sua mão, vejo seu sorriso brincalhão sumir,
com apenas sua face séria me encarando.
— Lhe aconselho a cuidar disso o quanto antes — ele fala e me dá um
olhar preocupado. — Cuide-se.
Fico em silêncio, observando Adrien sair da sala, se despedindo de
Sieta, enquanto minha cabeça fica analisando as últimas frases dele. Deixo
minha atenção parar em Sieta, que está mordendo sua boca, apertando o
tablet contra seu peito, me olhando envergonhada.
— Foi mal. — Ela dá um passo à frente e se aproxima da minha mesa.
— Dá a porra desse tablet e sai da minha sala, Sieta! — Estico meu
braço para ela, que me entrega o aparelho e bate em retirada rapidinho,
fechando a porta atrás dela.
Meus olhos se concentram na tela do aparelho, onde o pequeno rosto
está focado, pela câmera dos corredores. Dou um zoom na tela e aproximo
um pouco mais seu rosto, vendo seu corpo encolhido, com ela se abraçando.
CAPÍTULO 6
O JARDIM DAS DELÍCIAS TERRENAS
Mabel Shot

— O pessoal está indo tomar uma cerveja, não quer ir conosco?


Boris, o ajudante administrativo da galeria, sorri para mim, enquanto
veste seu blazer do terno e eu bato meu cartão, finalizando meu expediente.
— Eu tenho alguns compromissos para hoje, mas quem sabe vou na
próxima sexta-feira. — Lhe dou um sorriso cordial e arrumo uma desculpa
qualquer, para me livrar do barzinho com o pessoal da galeria ao fim do dia.
— Poxa, é uma pena! Iria ser legal você ir com a gente.
Bato o cartão lentamente na minha mão e encolho meus ombros, me
sentindo sem graça com tantas desculpas que invento para evitar sair com
eles.
— Bom, eu tenho que ir. — Aponto para trás de mim e lhe dou um
sorriso amarelo. — Boa noite, Boris!
Já estou atravessando a porta dos fundos da galeria, quase
praticamente correndo para a rua, antes que ele possa falar mais alguma
coisa. Eu não tenho nada contra Boris ou sair com a turma depois do
expediente, mas eu sei o que Boris quer com esses convites. Meio que é algo
explícito em sua face, toda vez que ele fica despudoramente encarando a
frente do decote do vestido do uniforme, olhando para meus seios. E o fato
dele ser o sobrinho do curador da galeria, o homem que me contratou,
praticamente me impossibilita de poder mandá-lo para o inferno. Eu ouvi
algumas garotas no banheiro falando sobre ele, e acho que eu e a senhora de
meia-idade que trabalha na recepção, somos as únicas que o pau dele não
entrou no meio das pernas, e eu não tenho intenção alguma de mudar esse
placar.
Diminuo o ritmo dos meus passos e guardo meu cartão ponto dentro
da bolsa. Pego a minha touca e a arrumo em minha cabeça. Levo minhas
mãos aos bolsos do casaco, enquanto caminho na direção do prédio onde
moro. Não é longe, mas também não fica do lado. Na verdade, caminho doze
quarteirões até chegar em casa. Para ser franca, prefiro ir andando a pegar
trem ou táxi. Eu gosto de andar, isso me ajuda a pensar, a reagrupar meus
pensamentos e organizar minha mente. Mas, essa semana, nada,
absolutamente nada do que eu faça, me ajuda a sair da confusão que minha
cabeça se encontra desde o bendito dia que entrei naquela carniçaria de
fachada para boate. Aquele homem da máscara de bode invadiu meus
pensamentos por todas as noites, enquanto minha imaginação revivia
constantemente as emoções que senti quando ele me tocou. Cinco anos, cinco
malditos anos lutando para retornar ao meu mundinho seguro, para em
questão de horas ele ser retirado de mim. Percebi que tinha algo de errado
comigo nos primeiros meses depois que me afastei de Nate. O
acompanhamento com a psicóloga me ajudou a entender que de início eu
estava passando por algum tipo de estresse pós-traumático[18], mas eu sabia
que não era só isso, algo dentro de mim tinha mudado, como se tivesse se
quebrado, ficado feio.
Não compreendia meus pensamentos, nem as euforias estranhas que
eu sentia com o simples fato de olhar para uma corda. A primeira vez que
meu corpo respondeu de forma involuntária, ficando excitado, foi um ano
depois do maldito final semana com Nate. Durante uma aula na universidade,
estávamos estudando O jardim das delícias terrenas[19]. Recordo que fiquei
um tempo analisando uma réplica da obra original, sentindo o suor em minha
pele, meus batimentos cardíacos ficarem acelerados e minha respiração
eufórica. E quanto mais tempo eu olhava a pintura, mais excitada eu ficava.
Sentia a garganta seca, meus dedos formigando, e os flashes do que
aconteceu dentro daquele apartamento me pegando. Lembrava-me do meu
corpo amarrado no chão, as lágrimas escorrendo por minha bochecha, a
mordaça em minha boca, e quanto mais eu lembrava dos detalhes do medo
submergindo o pânico, da dor, mais excitada eu ficava. Aquilo era nojento e
ao mesmo tempo assustador, e embrulhou o meu estômago, me fazendo sentir
nojo de mim mesma.
Saí da sala de aula como um foguete, correndo para fora dela.
Consciente que minha calcinha estava úmida, corri para o banheiro para
vomitar. Eu procurei a doutora, uma psicóloga que estava me ajudando com o
tratamento do estresse, e relatei para ela o que senti, como eu fiquei excitada
com as memórias. A princípio, ela disse que poderia ser apenas uma resposta
do meu cérebro, já que fazia um ano do acontecido. Mas não era normal,
nada em mim estava normal. Eu me masturbava com o dobro de frequência,
em puro frenesi. Meu aparelho celular era nojento, de tanta sujeira
pornográfica pesada que continha: sadismo, sadomasoquismo, dominação. Eu
tentava ver outras coisas, qualquer coisa comum, mas meu corpo não
respondia, ele não sentia nada, nenhuma faísca sequer de prazer.
Da pornografia pulei para o real, paguei para um homem da internet,
que eu conheci em uma sala de bate-papo, me bater. Voltei para casa e me
masturbei praticamente o dia inteiro. E quando a noite chegou, eu chorei,
chorei incontrolavelmente, deitada no chão do banheiro, abraçada ao meu
corpo, me sentindo uma criatura horrível. Busquei por outro psicólogo, um
especializado em transtornos sexuais, precisava entender por que eu sentia
prazer em reviver toda aquela merda que aconteceu comigo. Me sentia
envergonhada, suja por meu corpo não conseguir segurar meus impulsos
incontroláveis e destrutíveis. A psicóloga suspeitava que eu tinha
desenvolvido algum transtorno parafílico[20]. A aula de tortura intensiva,
digamos assim, que eu sofri naquele fim de semana no apartamento de Nate,
sendo humilhada, espancada, violentada por diversas vezes, tinha
desencadeado minha alma masoquista[21], que estava fora de controle.
Macro foi o único a saber o que estava acontecendo comigo, e como
eu estava morrendo por dentro, me sentindo uma mulher abominável por
buscar prazer na dor. Sofri muito até conseguir obter o meu controle. Não
saía mais, não tinha uma vida social, joguei todos os meus vibradores no lixo.
Segui a sugestão do psicólogo, que me aconselhou a ir em reuniões com
outras pessoas que sofriam com parafilias[22] mais perturbadoras que as
minhas. Eu me reprimia, controlava as agonias doentias da minha alma,
conversava com meus pais adotivos só por telefone, não ia mais os visitar,
nem aceitava receber visita deles. Tentava esquecer tudo que tinha acontecido
comigo, e julgava que estava indo bem, e foi por isso que aceitei vim para
Moscou. Nutria a frágil ideia que tinha superado toda a merda que passei.
Isso até semana passada, quando Macro me levou para aquele lugar. Aquilo
foi o mesmo que abrir a porta do inferno da minha alma.
Caminho cabisbaixa e me aproximo do meu prédio, fumando um
cigarro, quando o som baixo de Somebody to love chama a minha atenção.
Ergo meu rosto e encontro o ruivo sorridente, com seus braços abertos,
segurando em cada mão uma garrafa de cerveja, encostado no capô do seu
carro, cantarolando Queen, que toca no rádio do automóvel.
— Não! — falo seriamente para Macro, balançando minha cabeça em
negativo, soltando a tragada do cigarro e o jogando ao chão.
Ando na direção da entrada do prédio, passando por ele, não parando
para lhe cumprimentar.
— Mabel, por favor, espere! — Ele se desencosta do carro e anda
atrás de mim. — Estou tentando falar com você a semana toda. Eu sinto
muito.
Viro meu rosto por cima do meu ombro, olhando para ele com raiva.
Sua face está melancólica e me dá um olhar triste.
— Eu juro que não imaginei que você iria reagir daquela forma, Bel.
— Ele abaixa seus braços e nega com a cabeça.
— Você cometeu um deslize! Não pense que vai ganhar meu perdão
com duas cervejas — murmuro, chateada, ficando de frente para ele. — Você
não devia ter me levado àquele lugar!
Fecho meus olhos e respiro fundo, sentindo a culpa me tomar
novamente, o ciclo se iniciando com mais força, onde sempre acaba comigo
revivendo cada segundo que estive naquela reunião, para depois me
masturbar incessantemente por horas dentro do meu quarto. Uma, duas, três,
quatro, cinco vezes, até perder por completo a força do meu corpo e buscar
por libertação naqueles segundos preciosos que endorfinas liberadas na hora
dos orgasmos me dão. E depois que ela se vai, é a culpa que fica, a vergonha
por não conseguir me controlar, o choro, o medo de me perder outra vez, não
conseguindo ser mais dona de mim, das minhas vontades, apenas um corpo
angustiado, que precisa de dor e prazer para poder se sentir vivo.
— Eu não estava pronta, Macro. — Sinto as lágrimas rolarem por
minhas bochechas e viro meu rosto para outra direção, olhando a rua. — Não
estava pronta para deixar outro homem me tocar.
— Queria apenas lhe ver bem, lhe ver livre, como eu me sinto — ele
sussurra, se aproximando de mim e encostando sua testa na minha. — Queria
que você entendesse que não é uma aberração, que não tem nada de errado
com você. Me perdoa se eu acabei me precipitando. Eu sei que devia ter lhe
falado onde estávamos indo, mas senti tanto medo de você recusar. Eu fui um
bobo, um grande tolo...
Abraço suas costas e tombo meu rosto para frente, encostando minha
testa em seu peito, ouvindo o som da sua respiração. Macro suspira e me
abraça, espremendo mais forte seus braços ao redor da minha cintura.
— Me perdoa.
— Você não fez nada de errado, Macro — balbucio, baixinho, e ergo
meu rosto, lhe dando um beijo na bochecha. — Vai ficar tudo bem.
— Quero tanto lhe ver feliz, Bel. — Sua face se afasta um pouco para
trás, com ele me encarando com suas íris verdes completamente vermelhas
pelo choro, tombando sua face para o lado em seu ombro.
Fico em silêncio ao ver seu rosto abatido e notar sua expressão triste e
os olhos marejados pelas lágrimas.
— O que aconteceu? — pergunto, preocupada, esticando minha mão
e tocando em seu rosto.
— Eu fiquei com medo de você partir, de sumir outra vez da minha
vida — ele fala, fungando, e me dá um sorriso triste.
Sorrio para ele e nego com a cabeça, segurando seu rosto em minhas
mãos, dando um selinho em seus lábios. Me afasto e retiro as lágrimas da sua
face, alisando suas bochechas rosadas.
— Tolo, Botinhas, você é um grande tolo. — Abaixo minhas mãos e
pego uma das cervejas em sua mão. — Nada vai separar a gente de novo.
— Sim, sou o maior tolo de todos, pode apostar seu rabo nisso — ele
murmura e afasta seu corpo, segurando minha mão entre a sua e as levando
para perto do seu coração. — Mas um grande tolo que apenas lhe quer vem
bem, e não essa carcaça triste que você criou para lhe revestir.
— Macro, eu não posso fazer isso — o respondo e retiro minha mão
do seu peito. — Eu sinto medo de mim mesma, entende?! Sinto medo dessas
coisas doentes que eu penso.
— Oh, meu Deus, Bel! Essas coisas doentes, como você chama,
fazem parte de você. Não tem nada de errado, você não é uma abominação, e
te garanto que tem gente que sente prazer com coisas mais bizarras — ele fala
apressado, limpando seu rosto, e sorri para mim. — Sodoma pode ajudar
você.
— Cristo, Macro! — Nego com a cabeça e abro a minha cerveja,
caminhando para perto do carro dele e me encostando. — Como acha que um
lugar como aquele pode me ajudar? O máximo que pode fazer por mim é me
deixar mais anormal do que já sou.
— Não! Não vai! — Ele caminha e para ao meu lado, negando
veemente com a cabeça. — Não se trata apenas de sexo, orgia e depravação.
As pessoas lá dentro podem te ajudar, ajudar a ter confiança novamente em
você mesma, nos outros...
Levo minha mão ao casaco e pego um cigarro ao ouvir as palavras de
Macro, não tendo nenhuma fé no que ele diz.
— Pessoas normais não sentem prazer em ser espancadas e
amordaçadas, Macro. — Retiro um cigarro do maço e o acendo, soltando a
fumaça lentamente depois que dou uma tragada.
— Foda-se o normal e quem diz que precisamos ser normais! Olhe
para você, Mabel, uma jovem com vinte e cinco anos que trepou apenas com
um único filho da puta, que literalmente fodeu com você e com sua cabeça, e
que agora reprime tudo o que deseja — ele esbraveja, abrindo sua cerveja e
dando um grande gole. — Uma hora essa merda toda que você empurra para
dentro da sua alma vai explodir e esse controle que você tanto segura vai
fugir das suas mãos e as consequências podem ser graves para você.
— Eu não tenho domínio, Macro, é isso que você não entende.
— Mas não precisa ter, é exatamente nisso que você está pecando. —
Ele dá um passo à frente e fica diante de mim. — Não precisa ter o domínio,
Bel, tem que perdê-lo, deixar que alguém te ajude a mantê-lo instável, está
me entendendo? E de um jeito seguro, que você não se machuque. — Ele
estica sua mão e segura o meu rosto. — Toda vez que lembro que você pagou
para um estranho te bater violentamente, fico completamente amedrontado.
Quanto tempo acha que vai manter o controle, até você o perder novamente e
acabar fazendo outra loucura como essa?
— Macro, eu vou ficar bem, só preciso me policiar até terminar esse
trabalho e depois voltar para casa, para minha rotina...
Minhas palavras são cortadas pelo som do telefone dele, que começa
a tocar no bolso do seu casaco. Macro me olha, perdido, e nega com a cabeça,
segurando meu rosto com força em seus dedos.
— Já tomei minha decisão, Macro — sussurro para ele e abaixo meus
olhos para os botões da sua camisa. — Atenda à chamada, não precisa se
preocupar comigo, eu estou bem.
Ele solta meu rosto e leva a mão ao bolso do seu casaco, tirando seu
aparelho e olhando para a tela. Observo apenas as siglas na tela do seu
aparelho. S.M.
— É ele, o homem com quem está saindo? — pergunto, baixo, o
vendo encolher seus ombros e balançar sua cabeça em positivo.
Solto o ar pouco a pouco por minha boca, o olhando com
preocupação, ainda não tendo ideia se isso será bom ou ruim para Macro.
Não consigo ver nenhuma saída para o rumo que a vida dele tomou, uma
chance de futuro ou qualquer coisa. Caminho lentamente e vou para perto da
porta do meu prédio. Sento nas escadas e observo a noite estrelada de
Moscou, enquanto acendo outro cigarro, dando privacidade para Macro
atender sua ligação. Puxo com força o primeiro trago do cigarro, preenchendo
meus pulmões com a nicotina, sentindo a onda de relaxamento me pegar,
dissipando apenas um pouco das agonias infligidas em minha alma. Fecho
meus olhos e abraço meu corpo como se eu pudesse me sustentar, quando um
vento gelado me acerta e me faz ficar trêmula.
— Por favor... por favor.
— Shhhh! — Suas mãos alisam minha cabeça e escorregam seus
dedos pela lateral da minha face, com sua outra mão apertando a cinta de
couro que prende meus pulsos. — Apenas feche os olhos.
A lágrima escorre por meus olhos quando sinto seus lábios gelados
depositarem um beijo em minha testa.
— Por favor, Nate, me solta... — Meus lábios são silenciados pelo
mordedor de madeira revestido em couro, que ele arruma entre meus dentes.
Sinto o couro da cinta machucar meus tornozelos, assim como as que
prendem meus pulsos queimar minha pele. Meu corpo está suado, com a
transpiração fria escorrendo por meu peito. Ele cantarola baixinho,
enquanto posiciona os eletrodos em minha cabeça, os arrumando com calma
e ajeitando os fios que estão pendurados ao lado da cama, que liga os
eletrodos a uma máquina. Sorri para mim quando termina e bate a ponta do
seu dedo em meu nariz. Meus olhos ficam abertos e olho para o teto. Sinto
sua mão descer por meu ventre e escorregar lentamente sobre meu umbigo,
enquanto se mantém imparcial, olhando para a reação do meu rosto. Viro
minha face para o lado e fecho meus olhos quando seus dedos tocam o cume
de carne sobre minha virilha, posicionando o último eletrodo sobre o clitóris.
Seus lábios se entreabrem e soltam um baixo suspiro. Se afasta da cama e
senta-se ao meu lado, em sua cadeira confortável. Pega o livro e retorna a
leitura de onde parou. O quarto está frio, tão gelado, por conta do ar-
condicionado, que me faz ter calafrios, com meu corpo ficando trêmulo.
— “Nascido falso, duro, imperioso, bárbaro, egoísta, igualmente
prodígio nos prazeres como avaro quando deveria ser útil, mentiroso,
guloso, bêbado, medroso, sodomita, incestuoso, incendiário, ladrão, nem
uma só virtude compensava tantos vícios...”
Sinto a primeira onda de choque percorrer o meu corpo quando a
máquina é acionada, disparando correntes elétricas por meus nervos. Meu
corpo se debate em cima do colchão, impulsionando meu quadril para cima,
mordendo com toda força o mordedor de couro, cravando meus dentes com
pressão, deixando os sons grotescos dos meus gritos abafados saírem como
um ruído quase inaudível. A baba escorre ao canto dos meus lábios,
enquanto sinto meu ventre se contrair, minha pele queimar e a desfibrilação
descompassada das batidas do meu coração, que acelera. Meus dedos
retorcidos se prendem ao colchão, o esmagando com fúria e desespero, com
as lágrimas quentes escorrendo por meus olhos, desejando que isso pare. O
que provavelmente demora segundos, para mim parece uma eternidade no
inferno. Solto todo o peso do meu corpo no colchão quando meus músculos
relaxam, depois que as ondas de choque param.
— “Que digo? Não só não reverenciava nenhuma, como tinha horror
de todas, e volta e meia o ouviram dizendo que um homem, para ser
verdadeiramente feliz neste mundo, devia não só se entregar a todos os
vícios, como nunca se permitir uma virtude, e que o negócio era não apenas
sempre fazer o mal, como, até mesmo, nunca fazer o bem.”
— Mabel. — O toque calmo, dos dedos de Macro em meu ombro,
faz-me levantar lentamente, olhando para ele. — Pense bem, talvez possa ser
bom para você — Macro murmura e olha triste para mim. — Um local
seguro, onde possa aprender a dominar seus desejos, sem perigo de se ferir.
Meus olhos desviam dos seus e encaro o poste do outro lado da rua,
vendo um pássaro pousar nele, me parecendo tão solitário e cansado quanto
eu sempre estive.
— Uma pessoa que não sabe o porquê de estar aqui, é porque
também não sabe para onde vai. — Ele cola seu peitoral em minhas costas e
me deixa rente ao corpo dele. — Para onde vai, passarinho?
A voz intimidadora invade minha mente, ficando apenas ela dentro da
minha cabeça, empurrando as memórias para longe. Eu não sabia responder
sua pergunta, nunca soube para onde irei. Apenas busco calmaria para meus
demônios, os quais não consigo controlar. Uma criatura quebrada,
imobilizada, com minha voz tirada de mim, um pássaro com asas cortadas,
que não pode voar. Isso foi no que eu tinha me transformado.
— Por que realmente me levou àquele lugar, Macro? — pergunto
para ele e mantenho meus olhos no pássaro.
— Porque pensei que a melhor forma de você ser feliz — abaixo
meus olhos e encaro os seus, ouvindo o que ele diz —, não é prendendo seus
demônios, mas aprendendo a viver com eles — Macro sussurra e esboça um
sorriso em seus lábios. — Eu tive que aprender a lidar com meus demônios
para poder conseguir seguir em frente.
— Macro, eu sei que de uma forma bem errada, você teve uma boa
intenção em querer me levar lá, só que não acho que alguém daquele lugar
possa me ajudar. — Dou de ombros e bebo minha cerveja.
— Claro que podem! Olha... — ele fala apressado e me olha com seus
olhos brilhantes. — Existem os conselheiros dentro de Sodoma, alguns deles
ensinam como conseguir lidar com tudo isso que você sente. O homem que
levou você para dentro do círculo, ele é um dos conselheiros...
— Como pode ter tanta certeza, se você nem chegou a ver?! Pode
muito bem ser um tarado que curte putaria grupal. — Nego com a cabeça,
rindo para Macro, não querendo o deixar ver como aquele homem estranho
me afetou.
— Não o vi, mas eu sei que ele é um conselheiro — ele responde de
forma séria e toma sua cerveja. — Apenas os conselheiros e os escolhidos
iriam participar da regalia. O cara grande que pegou você, com toda certeza, é
um conselheiro.
Fico em silêncio, absorvendo suas informações, as reagrupando em
minha mente, ligando os pontos daquela noite.
— A menina que te escolheu para levar para um dos conselheiros,
esse conselheiro era ele, não é?! O homem com quem anda trepando? —
indago, pensativa, e ergo meu rosto para Macro, enxergando a resposta em
seus olhos culpados. — Você sabia que seria escolhido, por isso nos levou
para a frente da plateia.
— Eu sabia, ok? — ele diz, baixo, espremendo a garrafa em seus
dedos.
— Oh, merda, como pôde me levar lá? — falo, chateada, o encarando.
— Consciente que seria escolhido para participar daquele bacanal[23]?! E
teria que me largar no meio daquilo tudo...
— Nunca passou pela minha cabeça que você iria ser escolhida
também por um dos conselheiros. No máximo, achei que procuraria o bar e
iria tomar um porre.
Respiro fundo e fecho meus olhos. Sim, realmente eu estava a
caminho de fazer exatamente isso antes de ser retirada do chão e jogada em
cima dos ombros daquele homem, parecendo uma presa abatida que bobeou
perto de um grande predador.
— Um conselheiro pode te ajudar, ele deve ser mestre em alguma
prática sexual dentro de Sodoma — Macro fala, baixinho. Abro meus olhos e
o vejo morder a boca. — Talvez esse conselheiro consiga te ensinar a se
controlar.
— Ok, Macro, supondo que a versão russa musculosa do Mestre
Miyagi[24] — ergo meus dedos e faço aspas para ele, lhe olhando com
incredulidade —, possa me ajudar a controlar os meus demônios pervertidos,
como acha que teria que ser feito isso? Com toda certeza, não seria com aula
teórica. — Abaixo minha mão e lhe dou um sorriso triste. — Eu não sei se
consigo passar por aquilo de novo, sem perder de vez a minha lucidez.
— Mabel, eu sei o que você passou. — Macro estica sua mão e toca
meu ombro, me fazendo olhar para ele. — Acho que você está pronta, para
dar a si mesma uma chance de pelo menos tentar. Não deixa o que Nate lhe
fez te manter assim para o resto da vida, apenas sobrevivendo ao invés de
viver.
— Estou com medo — murmuro covardemente e olho para a cerveja.
— Não quero me sentir sem controle algum dos meus desejos novamente. E
se não der certo, e se ao invés de me ajudar apenas piorar? O que eu vou
fazer da minha vida, Macro? Esse homem vai querer me submeter, estar com
alguém assim vai me fazer ficar indefesa, igual aquele animal fez comigo
cinco anos atrás.
— Eu pareço indefeso para você? — Macro me olha com carinho e
balança sua cabeça lentamente para os lados. — Estar com ele faz eu me
sentir bem, de uma forma que me dá paz comigo mesmo, Bel. — Macro dá
um passo à frente e beija meu rosto, sorrindo com carinho para mim. — Eu
tenho que ir agora, ele está me esperando. Amanhã nos falamos — ele diz,
sério, e olha para mim. — Se quiser, posso falar com ele e pedir para achar
alguém que lhe ajude, tentar identificar quem é o conselheiro que esteve com
você...
— Não, eu passo. — Nego com a cabeça e tomo minha cerveja. —
Deixo esse lance do O crime do padre Amaro[25] contigo!
Macro ri e me dá um beliscão no braço, por conta da piada irônica que
faço usando a referência do romance polêmico entre um jovem padre e uma
donzela, que acaba em desgraça e com a morte do fruto que nasceu do
envolvimento dos dois.
— Engraçadinha! — ele murmura, rindo, e se vira, indo para seu
carro. — Ele é o único dentro de Sodoma, os outros não são religiosos.
— Isso não é meio estranho? — balbucio, perdida, imaginando até
onde é aceitável essa linha que Macro cruzou.
— O quê? — ele me pergunta e dá a volta no carro, parando diante da
porta do motorista e olhando para mim.
— Você e esse homem, sei lá, não é muita loucura, não acha? —
questiono, olhando para sua face, que está pensativa.
Vejo um relance de conflitos brilharem em seu olhar, com ele
encolhendo seus ombros e negando lentamente com a cabeça.
— Não, isso é Sodoma, Mabel — Macro me responde e abre a porta
do carro, entrando dentro dele.
Ainda fico um tempo parada na entrada do meu prédio, o vendo
partir, antes de subir para meu apartamento vazio, que me aguarda. A cerveja
fica em cima da mesa, junto com a minha bolsa, enquanto caminho em
direção ao banheiro, retirando minha roupa para tomar um banho. Assim que
tiro a camisa, acendo a luz do banheiro e largo-a no cesto de roupa suja, meus
olhos se erguem para o reflexo no espelho, observando a grande cicatriz em
meu abdome, acima da minha barriga, que segue para a lateral e sobe até
parar perto da minha axila. Uma marca tatuada em mim, de como meus
demônios são cruéis e perigosos.
— Para onde vai, Mabel? — pergunto, triste, olhando para o reflexo
da mulher acorrentada dentro dela mesma que reflete no espelho.
CAPÍTULO 7
AS ARTIMANHAS DE LUPÉRCIO
Czar Gregovivk

— Por que sempre tem que deixar essa sala parecendo uma geladeira?
Ergo meu rosto para Sieta, que invade meu escritório, tagarelando,
enquanto mexe no celular.
— Saia — falo, baixo, a encarando e abaixando a tela do notebook.
— E avise da sua chegada.
Os olhos marrons dela se erguem para mim, enquanto guarda o
celular no bolso da calça.
— Por quê? — Ela me dá um olhar de criança mimada e bate seu pé
no chão.
Balanço meu corpo na cadeira e a giro lentamente para o lado,
enquanto ergo minha mão e aponto meu indicador para a porta do escritório.
— Se retire do escritório, bata na porta e se anuncie. Você espera eu
dizer que pode entrar! — Lhe dou uma ordem, mantendo meus olhos presos
aos seus, a deixando saber que não estou brincando.
Sieta solta sua respiração pelo nariz, enquanto revira seus olhos e sai
do escritório feito uma criança malcriada, fechando a porta ao se retirar.
Apoio meus cotovelos na mesa e bato a ponta do meu sapato lentamente no
chão.
— É Sieta, posso entrar?! — ela pergunta, rabugenta, dando batidas
na porta.
— Só um momento — a respondo e olho para a porta, contando
mentalmente até dez, bem devagar. Ouço os resmungos impacientes da
minha prima. — Pode entrar.
Ela abre a porta com força e mantém seu corpo parado entre o vão da
porta, me dando um olhar de birra.
— Para que isso tudo?
— Educação é algo primordial, Sieta. — Paro de me balançar na
cadeira e endireito minha postura. — Não cometa o erro de esquecer dela
novamente, não terei paciência para lhe ensinar na terceira vez!
— Eu sinto muito — sussurra e encolhe seus ombros. — Eu sei que
cometi um deslize ao entrar no seu escritório quando Adrien estava aqui, mas
fiquei tão eufórica por ter encontrado a garota, que não via a hora de lhe
contar. Apenas para constar a meu favor, posso alegar pelo menos que me
senti participando do CSI Miami[26], por isso vacilei?!
— Não está investigando a cena de um crime, Sieta. — Aponto para o
sofá e faço um gesto de cabeça para que sente. — Entre logo e feche a porta.
— Oh, eu sei, mas foi tão emocionante! — Ela esboça um sorriso
arteiro em sua face e entra no escritório, fechando a porta atrás dela. —
Nunca tinha participado de nada disso, foi a primeira vez que você me pediu
ajuda e não queria falhar com você.
Olho para ela e sei que nunca consigo ficar bravo por muito tempo
com Sieta, que é sempre arteira e aventureira, mas leal e fiel. Não lhe digo
que o motivo de eu ter recorrido a ela, não fora porque eu preciso de ajuda,
poderia ter rastreado o pequeno pássaro em questão de segundos, sem
empecilho algum, apenas hackeando o sistema de segurança de Sodoma, mas
o problema é que fui eu que criei o programa anti-hacker para manter a
segurança dos participantes, e todos os conselheiros receberiam um alerta de
invasão no segundo que eu entrasse. Só que Sieta não, ela é neutra, sabia que
se ela entrasse com sua senha no sistema, não chamaria a atenção, já que ela é
meu braço direito na Sodoma de Moscou, cuida de quem entra e sai. Apenas
precisava de um nome para poder chegar até o pequeno pássaro.
E, normalmente, invadir o sistema e deixar os conselheiros saberem,
não é algo que me importaria, mas os deixar a par do que eu buscava, isso
sim era algo que daria assunto para eles me incomodarem. A fuga dela
durante as regalias já tinha chamado a atenção dos demais. Adrien foi quem a
viu passar correndo, fazendo com que o juiz quisesse saber qual era o motivo
da fuga dela. Ele apenas precisou olhar para a porra da máscara caída no
chão, para saber quem era o conselheiro que estava com a garota. Eu estava
tão surpreso pela forma como o pequeno pássaro se deixou ser cativado, se
entregando manso e obediente, que fiquei sem reação quando ela literalmente
bateu asas e voou, correndo para longe de mim, que não consegui nem ter
tempo de impedir sua fuga. Depois da merda feita, Sieta entregou de bandeja
para Adrien o que eu queria esconder: Jonathan Roy, um dos conselheiros,
ficar a par do que aconteceu. Nada poderia melhorar. Sabendo que não
poderia fazer nada, a não ser ter que lidar com as piadinhas de Roy mais cedo
ou mais tarde, preferi gastar meu tempo estudando o pequeno pássaro que
causou uma bagunça em minha casa, e depois que Adrien partiu, em menos
de uma hora, eu já tinha todas as informações abertas em meu computador.
Macro de Aviante, amigo de Mabel Shot, a trouxe como convidada.
Macro é iniciado em Sodoma há pouco mais de três meses. Está sob os
cuidados de Sebastian, o conselheiro da Itália. Era garoto de programa, sem
vício ou antecedentes criminais. Foi deixado pelos tios, aos dez anos, no
orfanato, depois que seus pais morreram em um acidente de carro. O mesmo
orfanato que Mabel Shot já estava há oito anos. Mabel foi adotada na
adolescência pelo casal Shot. Piter Shot, arqueólogo renomado, e sua esposa
descendente de família russa, Alekessandra Shot, dona de casa. Casal de
classe alta, impossibilitados de poder ter filhos, adotaram a jovem órfã sem
muita burocracia. Suspeito que o motivo da adoção ter sido tão fácil foi a
idade de Mabel na época, adolescentes não são adotados com muita
frequência. Os Shot não tinham muita informação decente para chamar minha
atenção, em nenhum deles, para ser franco, tanto o marido quanto a esposa.
Mas o que eles tinham de quantidade absurda de informações inúteis, era o
que o pequeno pássaro tinha de nada.
E digo realmente sério, absolutamente nada!
Fora as informações do orfanato, relatando que foi deixada pela mãe,
que era usuária de drogas, assim que o bebê nasceu, os papéis da adoção,
quando ela já tinha doze anos, e sua formação na academia de belas artes, não
constava mais nada sobre Mabel Shot. Sem antecedentes, prontuário médico,
rede sociais, passagem pela polícia, nada. Ela era quase um fantasma. Um
fantasma que estava escondendo algo, ou se escondendo de alguém, apenas
isso levava uma pessoa a ficar praticamente zerada de dados no sistema.
Sebastian foi quem me passou mais algumas informações, as quais não era
possível rastrear pela internet, depois de explicar para ele qual era meu real
motivo para estar interessado no seu protegido, Macro de Aviante.
Seu pequeno submisso tinha contado fatos interessantes e alarmantes
sobre a família perfeita dos Shot, que adotou Mabel. Alekessandra Shot era
uma boa esposa, conhecida pelas pessoas com quem ela frequentava a roda
da alta sociedade como uma mulher de coração bom e caridoso e de fé
incontestável. Mas por trás dos bastidores, espancava sua filha adotiva cinco
vezes ao dia, quase como se fosse um mantra diário. Professora particular de
Mabel, por isso sem dados de históricos escolar, ela só foi ter registro quando
ingressou na universidade. Mabel não frequentava escola, as aulas eram
lecionadas pela mãe adotiva, e sua saúde ficava aos cuidados de um médico
particular. Ela nunca deu entrada em hospital nenhum em toda Nova York,
não tem registro de nada.
Sebastian me contou que seu submisso, Macro, não conversa muito
sobre Mabel, fala apenas assuntos supérfluos, como o fato dela ser uma
pintora talentosa, que possui um dom nato com o pincel e as telas. Mas
quando perguntado sobre o porquê dele trazê-la para cá, o rapaz se fecha
como uma ostra. Sebastian me confidenciou que tentou induzir seu protegido
a se abrir através da relação dominador e submisso[27], mas Macro preferiu
uma punição a conversar sobre Mabel e ele, o que despertou meu interesse
quando o rapaz demonstrou ter extrema lealdade aos segredos da garota. E
com medo de quebrar o vínculo que ainda está passando por construção e
solidificação entre um dominador e seu submisso, Sebastian preferiu não
prosseguir em frente, para fazer o rapaz falar, dizendo que seu protegido
ainda não está pronto.
O que para o meu humor foi péssimo, pois odeio saber as coisas pela
metade, ainda mais quando é do meu interesse. Isso me irrita. E mesmo sendo
algo que eu teria deixado para lá em qualquer outra circunstância, com o
pequeno pássaro não consegui relevar, não quando é o meu rabo que pode
estar na reta. A fuga dela na noite das regalias tinha posto um alvo gigantesco
em minhas costas, e essas pontas soltas, lacunas abertas do seu passado, me
garantiria uma proteção.
— Foi até a galeria de arte de Rumeu? — pergunto para Sieta e me
levanto da cadeira, andando rumo à janela, olhando para a casa lotada.
Todas as noites o grande salão está repleto de clientes, transitando
dentro da casa fechada. Eu garanto a segurança dos frequentadores de
Sodoma, lhes dando a estabilidade de um local protegido, para poderem se
sentir à vontade.
— Fui até lá, mas não a vi. Ela trabalha no galpão, catalogando os
quadros — Sieta fala e sorri, soltando um estalo ao canto da boca. — Como
me pediu apenas para ir e sondar, não quis ficar fazendo muita pergunta sobre
os funcionários, apenas avisei a Rumeu que meu chefe tinha interesse em
fazer uma afortunada doação para a galeria e adquirir novas telas para sua
casa.
Levo as mãos ao bolso da jaqueta e balanço a cabeça em positivo,
mantendo meus olhos presos no salão abaixo de nós.
— Não sei por que não me deixou ir direto conversar com ela. Sabe
que tenho uma boa lábia, poderia explicar para ela que você ficou interessado
nela.
— Não tenho nenhum interesse na garota. — Me viro e encaro Sieta.
— Sério, quer mesmo usar essa desculpa para cima de mim, Greg? —
A pequena petulante me confronta com seu olhar zombeteiro. — Jura?
Nenhum interesse na garota, nem um interessezinho sequer?
— O único interesse que tenho nela é saber o porquê ela correu,
preciso saber a verdade, assim saberei como lidar com o julgamento do
conselho, se caso vier a acontecer um. — Viro-me e retorno a olhar a janela,
deixando meus olhos perdidos no balanço. — Adrien pode preferir esquecer
isso, mas sei muito bem que os outros podem querer levar o ocorrido adiante,
sua visita não foi apenas por educação.
— Acha que algum deles pode querer lhe expulsar de Sodoma? —
Sieta pergunta, preocupada. — Foi por isso que Adrien veio até aqui...
— Adrien é neutro, Sieta, ele jamais entregaria uma prova que
poderia usar contra alguém, como ele fez com aquela máscara de bode — a
respondo e a olho sério. Adrien a deixou aqui naquela noite apenas para me
deixar em alerta. — Vir até aqui antes de ir embora, e me contar
propositalmente que Jonathan já está a par do que aconteceu, foi apenas uma
forma educada dele me avisar que os outros conselheiros também já sabem.
— Mas Jonathan é seu amigo, ele jamais incitaria os outros
conselheiros a lhe condenar. — Ela se levanta e anda para perto de mim,
parando ao meu lado.
— Sim, exatamente isso, e foi por isso que ele apenas falou o nome
dele. — Viro meu rosto e olho para ela. Sua testa franze e ela repuxa seu
nariz, ficando pensativa. — Alguns conselheiros não ficaram contentes com a
expulsão de Freire, anos atrás, sem ela ter tido um julgamento apropriado
com todos os conselheiros reunidos.
— Mas aquela cadela quebrou as regras, ela levou alguns conselheiros
até o quarto onde um conselheiro já estava presente com a sua parceira,
propositalmente, sem o consentimento dele. Jonathan estava no direito de
declarar a expulsão daquela vadia!
— Adrien não foi o único que viu a menina sair correndo do salão,
Sieta. Havia uma conselheira bem perto deles, que presenciou a cena de
camarote — falo, baixo, e olho para ela.
— Morgana — Sieta murmura, assustada, e morde seus lábios. — Ela
estava literalmente ao lado deles, naquela noite que a senhorita Shot fugiu.
Balanço minha cabeça em positivo, concordando com ela. Morgana, a
dominatrix, uma das conselheiras da Alemanha, estava ao centro do salão
aquela noite, junto com seu submisso, participando da encenação com Adrien
e as esposas dele. Morgana tinha sido um dos conselheiros que foi contra a
expulsão de Freire, alegando que foi injusto seu julgamento. Como tinha sido
eu a entregar Freire para Jonathan, seu ódio por mim ficou mais explícito.
Morgana sempre me detestou, apenas escondia bem sua antipatia por mim.
Quando meu pai anunciou meu nome diante do conselho, comunicando que
eu seria o herdeiro da sua cadeira quando ele morresse, pegou todos os outros
conselheiros de surpresa, pois já era certo para todos os participantes que
Kaiser, meu meio-irmão, filho do primeiro casamento do meu pai, seria o
mais apto a ficar responsável pela Sodoma de Moscou. Mas o velho Czar foi
firme e direto diante da sua decisão, em me deixar como seu sucessor. Ele
dizia que os tempos estavam mudando em Sodoma, que uma nova era tinha
que iniciar junto com sangue novo. Depois de Jonathan Roy, eu fui o segundo
conselheiro mais jovem a ascender uma das cadeiras entre o conselho de
Sodoma.
Nem todos eram a favor, Morgana foi veemente contra a decisão do
meu pai, não escondendo de ninguém que ela preferia Kaiser a mim, já que
ele era o seu pupilo. Sabia que ela apenas estava esperando um deslize meu,
algum motivo para solicitar minha expulsão, mas por todos esses anos, eu
jamais dei esse prazer a ela, demonstrei o porquê do meu pai ter me
escolhido. Minha alma sempre foi perversa e dominadora, não precisava de
alguém para me ensinar a ser sádico, esse traço já tinha nascido comigo. Só
que agora, o pequeno pássaro assustado havia dado um bom argumento para
Morgana pedir minha cabeça em uma bandeja.
Não sei quanto tempo eu tenho, até conseguir descobrir por que ela
fugiu, o que eu fiz para poder assustá-la. Adrien é ético, ele jamais deixaria a
conversa às claras, mas de uma coisa eu sei, a corrida contra o tempo
começou, e vou usar de todas as artimanhas que estiverem ao meu alcance
para fazer o pequeno passarinho cantar a verdade para mim.
— Se vier a ter um julgamento, vai precisar que a garota testemunhe
— Sieta fala, preocupada, me olhando com aflição. — Como pretende fazê-la
estar ao seu lado, Greg?
— Vou jogar — a respondo e ando lentamente para minha mesa, me
sentando na cadeira.
— Sodoma? — Sieta arregala seus olhos e contorna a mesa, parando à
minha frente, espalmando as mãos na mesa. — Czar, mas já tem quase nove
anos desde a última e única vez que você jogou...
— Estou de volta ao jogo. — Ergo a tela do notebook, o ligando,
falando ríspido, cortando sua preocupação. Mantenho meus olhos na tela e
espero-a acender. — Apenas preciso encontrar o pequeno pássaro fujão.
— Mas, Greg... — Ela se cala quando seu telefone toca, o tirando do
bolso e o levando ao ouvido. — Sieta falando... Oh, claro que é para deixar,
merda!
Ergo meus olhos para ela e a vejo com seus olhos expandidos, me
olhando com um brilho de travessura. Encerra a chamada com um largo
sorriso no seu rosto.
— O que aconteceu? — pergunto para ela.
— Penso que não vai precisar se esforçar para encontrar seu pequeno
pássaro — Sieta responde, eufórica, e guarda o celular no bolso. — Acvo
acabou de me ligar para saber se Mabel Shot tem autorização para entrar
aqui.
Demoro alguns segundos para compreender o que Sieta está me
contando.
— Ela retornou? Voltou para Sodoma? — pergunto, surpreso, e me
levanto da cadeira.
— Seu passarinho acabou de pousar, primo. — Sieta ergue seu dedo e
aponta para trás de mim.
Me viro na mesma hora e encontro os olhos negros confusos, olhando
perdida para o quadro que tem do lado de fora da parede. Ando na direção do
espelho mágico e a vejo tão confusa e angustiada, apertando uma touca de lã
branca em seus dedos. E novamente aqui está ela, me cativando com sua
estranha inocência, sem maquiagem chamativa, em um vestido azul-marinho
escuro, longo e comprido, escondendo seu corpo. Tem apenas um delicado
par de brincos de pérolas pequeninas em suas orelhas. Encolhe os ombros,
passa seus dedos trêmulos em seus cabelos, desvia seus olhos do quadro e
caminha rumo às escadas.
— Mandem preparar minha saleta particular. — Dou a ordem para
Sieta.
Me viro e saio da sala a passos duros, andando rumo ao corredor leste.
— Não vai ter chance de fugir novamente, passarinho.
CAPÍTULO 8
SODOMA
Mabel Shot

— O que está buscando, Mabel?! — sussurro, perdida, caminhando


devagar entre as pessoas que estão abarrotando o salão.
Meus olhos observam agora com mais atenção o local, não tendo mais
toda aquela loucura da primeira vez que vim aqui. Em um primeiro momento,
poderia muito bem passar por um clube de dança clandestino, com pessoas
normais que apenas querem fugir um pouco da mesmice do cotidiano das
suas vidas. Noto os casais conversando pelos cantos, enquanto outros estão
dançando na pista ao som de Smooth Criminal. Não está tão lotado como na
primeira vez que vim aqui, mas ainda assim tem algumas pessoas fazendo
volume pela estrutura.
Tudo poderia ser algo simples e normal, se não fosse um fator crucial.
Qual tipo de balada tem seus frequentadores usando roupas siliconadas e
outros com coleiras no pescoço? Vejo uma grande mesa de sinuca a alguns
metros de mim, perto do bar, onde um casal está brincando. Eu sei que é feio
ficar encarando as pessoas, mas não tem como não notar a mulher fantasiada
de enfermeira, brincando com seu parceiro, que está sentado em uma cadeira
de rodas. As pernas do rapaz estão amputadas até os joelhos, assim como o
braço esquerdo dele. Ela alisa seu queixo e sussurra algo em seu ouvido, se
aproximando dele e deixando seus seios fartos quase esfregarem na cara do
rapaz, enquanto ele solta uma gargalhada, pega a mão dela e leva para o pau
dele, ganhando uma massagem nas bolas diante de todos. Olhar para eles me
faz lembrar do rapaz que frequentava as reuniões de distúrbios parafílicos que
eu ia anos atrás, que apreciava acromotofilia[28]. Ele tinha vinte anos e seus
pais o obrigavam a participar das reuniões por conta do desejo que ele sentia
por pessoas amputadas. Eu fico imaginando o que eles pensariam sobre mim,
por passar meses indo todas às quartas-feiras naquelas reuniões, tentando
controlar meus desejos, para agora estar bem aqui, na porta do inferno, onde
nenhum desejo é bizarro.
— Não devia ter vindo! — falo comigo mesma e desvio meus olhos
do casal.
Meus dedos se comprimem mais firme no meu gorro, tendo quase
certeza de que tomei uma péssima decisão de voltar aqui. Já passava das 21h
quando saí do meu prédio e caminhei pelas ruas, apenas parando quando me
vi de frente para o estabelecimento. Não tenho ideia do que estou buscando,
ou até sei, apenas sou covarde demais para admitir. Mas as palavras de Macro
ficaram se repetindo e se repetindo com insistência dentro da minha cabeça.
Eu estou cansada de sempre ter que me policiar, me controlar em cada
pensamento e ato. Sinto como se estivesse aprisionada dentro de mim mesma,
por tanto tempo que já nem sei mais o que sou. Tinha tentado tantas coisas
para me livrar disso, que já nem sei mais ao certo o que fazer, apenas tenho
consciência que continuar do jeito que eu estava não posso mais.
Meus olhos buscam entre as pessoas por um único homem. Um
homem sem face, que eu sequer sei o nome, sua origem, quem ele é. Mas
que, de alguma forma, conseguiu silenciar meus demônios, os domando. Eu
me senti em paz naquele breve segundo depois que a euforia do orgasmo
passou, eu senti apenas plenitude, não foi nojo nem medo ou depreciação,
apenas paz. Toda essa sensação ruim veio após, quando eu compreendi o que
tinha acontecido. Me ver tão vulnerável, sem controle algum diante daquele
homem e me sentindo bem por isso, me assustou. Mas ainda assim o busco.
Por impulso de uma frágil ideia, pensei que talvez se viesse até aqui, eu
poderia encontrá-lo novamente, quem sabe conseguir qualquer tipo de ajuda.
— Você está ficando louca, Mabel! — murmuro, angustiada, e
esfrego minha nuca. — Não tem chance alguma de conseguir encontrar
aquele estranho novamente — me recrimino, sentindo-me burra, sem ter ideia
do que estou fazendo ou procurando.
Respiro com força e solto o ar pela boca lentamente, sentindo-me
chateada, me virando com a intenção de sair desse lugar. Minha testa bate no
grande peitoral que está estacado como uma muralha diante de mim.
— Oh, meu Deus, desculpa, eu não te vi! — falo, envergonhada, e
esfrego minha testa, erguendo minha face para ele.
Mas me calo, as palavras ficam presas em minha boca e meus dedos
se abaixam lentamente, quando meus olhos param em sua face. Sinto aquela
mesma sensação da semana passada, a energia masculina que emana dele.
— Julgo que dessa vez não se perdeu no voo, passarinho! — O som
da voz intimidadora, com timbre rouco, soa séria, mantendo seus olhos
presos em mim.
Sim, é ele. Sua voz me confirma a sensação que meu corpo sentiu, só
que agora não tem mais máscaras ou a escuridão para acobertar sua face. Seu
olhar castanho é intenso, ameaçador, a sobrancelha grossa destaca ainda mais
o castanho dos seus olhos, com a sua altura contribuindo para me sentir ainda
mais indefesa diante dele. Seu nariz contém uma leve depressão na curva
entre as narinas e seus lábios. O rosto quadrado, com traços masculinos
marcantes, tem a sombra de uma barba que está crescendo, a boca é grande,
com o lábio inferior grosso e o superior fino, semicerrados em um sorriso
frio, não demonstrando muita emoção em sua feição. Quase como por um
impulso de proteção, dou um passo para trás e deixo um espaço entre nós
dois. Preciso inclinar quase que por completo minha cabeça para trás, para
continuar olhando o alto homem.
— Gregovivk! — Ouço sua voz enquanto abaixo minha cabeça e olho
para sua mão esticada para mim. — Me chamo Czar Gregovivk, senhorita
Shot. Creio que não tive a oportunidade de me apresentar antes da senhorita
sair correndo.
Mordo meus lábios lentamente e olho para seus dedos, me sentindo
repelida a não retribuir seu cumprimento. Sua bronca não me passa
despercebida em suas palavras. Me recrimina como se eu fosse uma criança
mal-educada, que não retribuiu a gentileza do amiguinho quando ele brincou
comigo. Eu não pensei que o encontraria, e agora não sei como agir.
Realmente a ideia inicial para voltar aqui foi com a intenção de achar o
homem mascarado, mas agora que o vejo diante de mim, tenho o dobro de
certeza que vir atrás dele foi a pior ideia da minha vida. Puxo o ar com força
para meus pulmões, esmagando mais forte a touca em meus dedos, desviando
meus olhos para a direção da escada.
— Mabel Shot, senhor Gregovivk — sussurro e estico minha mão,
tocando meus dedos nos seus.
Sinto uma descarga de eletricidade assim que sua grande mão se fecha
sobre a minha. Seu toque é quente, instigando minha mente a me lembrar
com detalhes sórdidos de como meu corpo vibrou ao senti-lo me tocando.
Ergo meu rosto assim que ouço o som pesado da sua respiração, o vendo dar
um passo à frente e ficar novamente perto de mim. Meu coração palpita e os
pelos da minha nuca arrepiam. Meus olhos mudam de direção do seu rosto e
retornam novamente para a escada.
— Sugiro que tome uma bebida e aqueça seu corpo. — Sua voz é
séria, não escondendo que sua sugestão foi apenas usada como cordialidade,
porque, na verdade, ele está sentenciando o que vem a seguir. Sua outra mão
fica espalmada sobre a minha, prendendo meus dedos entre suas duas mãos,
abaixando sua cabeça e me olhando com atenção. — Está gelada.
— Eu vim andando... — murmuro, tentando tirar meus dedos das suas
mãos.
— Andando? Estava andando sozinha, à noite, nesse frio? — Sinto a
pressão da mão dele ficar mais forte em meus dedos, enquanto seu olhar fica
semicerrado e fala de forma áspera. — Nas ruas de Moscou?
— Sim, eu gosto de andar... — digo apressada, me sentindo mais tola
ainda por ter vindo. — Eu não devia ter vindo aqui... foi um erro.
Nego com a cabeça, a movendo para os lados, e sinto minha
respiração mais acelerada.
— Lamento pela primeira vez que nos vimos, senhor Gregovivk. —
Tento puxar minha mão para que ele a solte, mas o grande homem continua
segurando com firmeza. — Por favor, poderia me soltar, eu preciso ir...
— Senhor Czar, sua saleta está pronta. — Meu rosto vira para o
pequeno homem que para ao nosso lado, falando com o gigante que mantém
seus olhos castanhos pregados em mim.
— Obrigado, Lauren. Eu e minha acompanhante estamos indo para lá.
— Sua mão solta a minha e dá um passo para o lado, me encarando. — Por
favor, acompanhe Lauren, senhorita Shot!
Seus olhos castanhos vão escurecendo, quase chegando perto do
negro, enquanto ele fica sério, me olhando. Me dá um grande alerta, para que
eu nem tente fugir dessa vez, com a forma como sua boca esmaga seus
lábios.
— Merda! — praguejo e abaixo meus olhos, não conseguindo manter
nosso contato visual por muito tempo sem me sentir completamente
intimidada.
Caminho devagar, seguindo o pequeno homem, que me dá um sorriso
cordial, me cumprimentando com um balançar de cabeça. Sinto seus olhos
queimarem minhas costas, com ele me encarando, andando atrás de mim de
forma silenciosa.

Meus olhos observam as labaredas da lareira dentro da saleta,


queimando as madeiras enquanto elas viram brasa. Respiro fundo e inalo o ar
lentamente, com meus dedos cravados em meus joelhos, os achatando com
força no vestido. O grande sofá, no qual estou sentada, fica de frente para a
lareira rústica. Suspiro e desvio meus olhos das chamas, quando a grande
mão se estica e para perto do meu rosto, me estendendo um copo de vodca.
— Obrigada — murmuro para o grande homem e pego o copo em
minhas mãos, levando-o à minha boca e tomando um golinho de bebida.
O estudo silenciosamente, com os meus olhos atentos, acompanhando
seus passos por cima da borda do copo. Ele fica de costas para mim e
caminha até o pequeno bar ao canto, servindo um copo de bebida para ele. A
calça jeans negra se molda em seu corpo, o fazendo parecer ainda mais alto.
Uma jaqueta de couro de motoqueiro está cobrindo seus ombros largos,
combinando com o coturno militar que ele calça. Abaixo o copo de mansinho
e o deixo apoiado em minhas pernas, com minhas duas mãos presas nele. Ele
se vira e se move, autoritário, pela saleta, que está sendo esmagada com sua
presença dominante. Anda com preguiça até uma poltrona e a segura pelo seu
encosto, arrastando para o meio da sala e a deixando posicionada na minha
frente. Vejo seu corpo se sentar, com ele relaxando suas costas no encosto,
mantendo seus olhos presos aos meus.
— Por que está aqui, senhorita Shot? — Seus olhos castanhos se
mantêm intensos, me estudando com atenção, enquanto ele toma sua bebida.
— Recordo de lhe perguntar isso em nosso último encontro, mas não recebi
minha resposta. Espero que a tenha agora.
Levo o copo à boca e fecho meus olhos com força, respirando
depressa, tendo meu peito subindo e descendo com agonia, tentando me
acalmar e sem nem um pingo de ideia do que lhe dizer. Eu nem sequer tinha
certeza de que iria encontrá-lo, não tinha preparado nenhum discurso ou
imaginado algum diálogo entre nós dois, quanto mais ficar sozinha com ele,
dentro de uma saleta trancada.
— Imagino que deva ter gostado da minha casa — ele fala em tom
sério, o que me faz abrir meus olhos e o ver inclinar sua cabeça para o lado,
encarando minha mão, que tem os dedos trêmulos, segurando o copo.
— Sua casa? — Abaixo o copo de bebida e o deixo novamente
apoiado em minhas pernas, olhando perdida para ele. — O senhor mora aqui,
é dono disso, de Sodoma?
— Sodoma não tem dono, senhorita Shot. — Ele arruma sua cabeça e
a deixa reta, erguendo seus olhos dos meus dedos para minha face. —
Sodoma tem conselheiros, e eu sou o de Moscou.
— Eu... — Sorrio, envergonhada, e desvio meus olhos dos seus, me
sentindo estranha de como fico afetada com seu olhar, como se todo o ar dos
meus pulmões acabasse. — Pensei que era o dono. Desculpe, acho que
entendi errado quando disse casa...
— Mas aqui é minha casa. Não onde eu moro, e sim onde eu cuido e
protejo os integrantes de Sodoma que vivem em Moscou, ou qualquer um que
entre pelas portas — ele me responde de forma educada, com palavras fáceis,
como se estivesse explicando para uma criança. — Igual um anfitrião quando
recebe visitas em sua casa, ele as acomoda, cuida delas e garante que sua
estada seja boa e segura.
— Você é o responsável por aqui, entendi. — Viro meu rosto para o
lado e vejo as peculiares decorações da sala: esculturas pequenas de mulheres
nuas, em diversas posições, em cima de um balcão. — As pessoas que
frequentam seu estabelecimento são suas convidadas.
— Exatamente. — Sua voz se mantém calma, com ele bebendo seu
copo de vodca. — Já tem minha resposta, passarinho?
Meus olhos se voltam para seu rosto e o vejo sério, me estudando
enquanto abaixa o copo dos lábios, não demonstrando emoção alguma em
seu rosto taciturno.
— O que seus convidados fazem, exatamente, na sua casa, senhor? —
questiono para ele ao invés de responder sua pergunta, que eu ainda não sei
ao certo qual será a resposta que darei.
O russo sombrio abaixa o copo e o deposita no chão, ao lado da sua
cadeira, inclinando seu corpo para frente e apoiando seus cotovelos nos
joelhos enquanto cruza seus dedos, com seu queixo descansando em cima
dele.
— Você sabe o que é Sodoma, Mabel? — Novamente uma pergunta,
como se estivéssemos brincando de gato e rato, tentando descobrir quem vai
pegar quem primeiro. E ele sabe que nessa brincadeira eu vou perder.
Recordo do primeiro dia que entrei e pensei em tantas teorias:
açougue, uma exposição de quadros depravados, uma seita religiosa de um
homem metade bode, e, por fim, a única coisa que me pareceu ter lógica era
esse lugar ser um clube de swing[29] secreto.
— Uma versão sacana dos illuminati[30] — brinco, tentando usar meu
humor irônico para esconder meu nervosismo.
— Longe disso, pequeno passarinho — ele me responde sério,
mantendo seus olhos presos aos meus. — Sodoma é a união de pessoas
influentes com uma ideia ampla da busca do prazer sublime. Apenas temos
interesses e objetivos comuns e meio limitados.
— Ainda parece uma irmandade de sexo, só que de gente poderosa,
que curte sacanagem e putaria — murmuro e afundo meu corpo no sofá,
olhando perdida para o meu copo.
Merda, onde eu estou me metendo?!
Me dou uma bronca mentalmente, tentando pensar qual será o melhor
momento para dar a minha deixa e me despedir de forma educada, saindo o
mais depressa que posso de dentro dessa saleta.
— Não é uma irmandade, mas sim um legado que atravessou a
história, por assim dizer, que pode ser muito bem encontrada na era pré-
cristã, durante o império romano.
— Os cultos pagãos — digo e ergo meu rosto para ele, o vendo
confirmar com a cabeça.
Lembro de Macro contar sobre o tal Pã e toda a encenação que eles
fizeram naquele dia. Fiz uma pequena pesquisa como lição de casa e descobri
que os romanos curtiam muita putaria e depravação, isso foi algo bem claro.
— Conforme os cultos foram tomando mais espaço, os monarcas
romanos se sentiram ameaçados pela notoriedade que estava sendo criada em
volta disso. E com medo disso atingir o poder e lei deles, optaram por
condenar os praticantes, silenciando para sempre os que se negavam a deixar
a prática de lado.
Fico em silêncio ao ouvir sua voz, que se mantém baixa e calma, me
sentindo novamente como uma menina calada ouvindo as dissertações de
Alekessandra, minha mãe adotiva, quando ela me dava aulas em casa. A
diferença é que não é ela que prende minha atenção, gritando brava comigo,
mas sim os olhos castanhos perigosos, com a voz hipnótica que me prende a
ele.
— Muitas pessoas poderosas do império romano participavam dos
cultos, então com medo da monarquia, eles acharam melhor se esconderem
nas sombras, deixando suas práticas menos chamativas — ele explica
seriamente, voltando seus olhos para minhas mãos.
— Eu acho que me perdi nessa conversa. — Nego com a cabeça e a
balanço lentamente para os lados. — A gente está falando sobre foder ou
monarquia corporativa romana?
— Foder?! — O som alto da sua risada estrondosa me pega de
surpresa. Olho para ele e o vejo se inclinar para trás e endireitar suas costas
enquanto ri. — Estou a tantos anos com Sodoma entranhada dentro de mim,
que, às vezes, me esqueço como é para os de fora, que não compreendem
ainda nossa visão. Percebo que me sinto revigorado em sua companhia,
passarinho.
Ele mantém o riso, me deixando ficar confusa, não entendendo qual o
motivo do riso dele.
— Acho que devia me sentir lisonjeada por minha burrice não o
deixar entediado, senhor — falo, chateada, e ergo o copo de bebida para
minha boca.
— Nunca disse que é burra. — Ele para de rir e volta a ficar taciturno,
me dando um olhar severo, como um professor bravo que repreende a aluna
bocuda. — Mas sim que me sinto revigorado. Se estivesse entediado, você
saberia, pequeno passarinho, pode ter certeza.
Encolho-me novamente no sofá, sentindo que falta muito pouco para
eu fazer parte do estofado, de tão encolhida que me encontro.
— Sodoma é um lugar para todos que desejam ser verdadeiramente
livres em seus desejos, por isso foi retirada dos olhos do mundo, ficando na
clandestinidade. — Ele tomba sua face para o lado e cruza suas pernas. Sinto
minha nuca arrepiar com a intensidade que seus olhos castanhos depositam
em cima de mim. — Luxúria, poder, perversão e liberdade são coisas que
fazem parte da humanidade, mas nem todos conseguem compreender as
almas depravadas, por isso, Sodoma as acolhe e lhes dá o que elas precisam.
— Invisibilidade e segurança — retruco, baixo. Entendo, agora, como
Macro veio parar aqui.
Porque ele se sente livre nesse lugar, com sua relação com seu homem
misterioso. Sodoma garante a segurança deles. Macro disse que era sua tribo,
e eu não tinha compreendido naquele momento. Mas agora entendo, apenas
não sei se essa é a minha tribo. Eu apenas quero arrumar um jeito de
conseguir conviver com meus demônios, para poder ser livre, não os
alimentar ainda mais, me deixando presa a eles.
— Agora que tem sua resposta, me pergunto se eu vou ter a minha,
passarinho! — Ergo meu rosto para o russo de olhar sombrio, que não desvia
seus olhos um maldito segundo sequer de mim. — O que veio fazer aqui?
Deixo o copo vazio ao meu lado, no sofá, e espremo meus dedos em
meus joelhos, batendo lentamente a ponta do meu pé no chão. Sabendo que
chegamos no momento de finalmente eu tomar uma decisão, e para ser bem
franca, acho que pior do que eu já me encontro, eu não ficarei, só me resta
tentar.
— Ajuda... — balbucio, envergonhada, fechando meus olhos,
sentindo o peso da palavra que saiu por minha boca.
CAPÍTULO 9
O TRIBUTO DE PÃ
Czar Gregovivk

— Ajuda?! — repito a palavra para ter certeza de que entendi o que


saiu dos seus pequenos lábios.
A vejo colar seus joelhos um ao outro e esmagar mais forte seus
dedos trêmulos neles. Suas pálpebras se mantêm fechadas, com seu peito
subindo e descendo rapidamente a cada lufada de ar que ela respira.
— Macro, um amigo que me trouxe aqui, na semana passada... — Ela
segura a fala e morde seus lábios, como se estivesse confusa. — Ele... Ele
disse que talvez...
Ela abaixa a cabeça e fica mais nervosa, com sua cabeça balançando
lentamente para os lados.
— Olhe nos meus olhos quando estiver conversando comigo,
passarinho! — falo em tom calmo, mas firme o suficiente para ela entender
que foi uma ordem. E sua resposta é rápida. Ela me obedece e ergue sua
cabeça, deixando seus olhos presos aos meus, fazendo minha alma
dominadora sentir uma pontada de orgulho da obediência dela. — Prossiga
com o que estava dizendo, senhorita Shot.
— Macro me disse que eu poderia encontrar alguém em Sodoma que
pudesse me ajudar — ela diz lentamente, me deixando ver como está a um
passo de levantar e sair correndo da sala, assustada.
— Com o que precisa de ajuda, passarinho? — Abaixo meu tom de
voz e descruzo minhas pernas, ficando de pé à sua frente.
Mantenho meu contato visual enquanto me aproximo lentamente dela.
Seu peito se move com mais rapidez, subindo e descendo, com suas narinas
dilatando e ela me olhando acuada.
— Eu não consigo controlar algumas coisas que sinto, alguns desejos
perturbadores... — Ela abaixa sua cabeça e esfrega seus dedos mais forte em
suas pernas.
— Que tipo de desejos lhe perturbam, passarinho? — Estico meu
braço e toco meus dedos em seu queixo, a fazendo erguer sua cabeça para
mim. — Mantenha seus olhos erguidos.
Seus olhos negros são profundos, como uma constelação perdida no
espaço, cheia de medo e angústia, que chega a ser quase cruel de se ver em
seus olhos.
— Lhe fiz uma pergunta, passarinho, me responda! — falo mais
ríspido, não a deixando mover sua cabeça.
Seus olhos ficam perdidos, olhando para algo que está no seu campo
de visão, chamando sua atenção. Giro meu rosto por cima do meu ombro e
busco pelo que ela olha, encontrando as esculturas que Sieta comprou em
uma feira na Grécia e trouxe para decorar minha saleta. A pequena mulher
delicada esculpida na porcelana, está nua, de joelhos, com seus braços
esticados para frente, com os pulsos e pernas amarrados, olhando para o chão.
— Perfeita, não acha? — indago, baixo, e solto seu queixo,
retornando meus olhos para Mabel.
Ela apenas move sua cabeça lentamente, para frente e para trás. Fecha
seus olhos e passa a mão com desespero em seus cabelos. Me direciono para
a estátua de 40cm e a pego em minha mão, andando lentamente com ela e
parando perto de Mabel, a estudando em silêncio.
— O tributo da imperatriz Messalina[31] para Pã — digo calmamente,
olhando para a estátua e a erguendo, deixando-a diante dos meus olhos. —
Representa a entrega da submissa diante do seu mestre.
Analiso a delicada escultura com mais atenção e observo o contorno
da sua bunda empinada para cima, com suas costas encurvadas para baixo.
As cordas passam por seu corpo entre nós e amarrações. E ao olhar para as
cordas, percebo o que realmente chamou a atenção de Mabel.
— Uma representação do verdadeiro tributo de confiança entre o
mestre e sua submissa. — Me agacho e quebro a linha de dominância, onde
minha presença de pé à sua frente lhe intimida.
A deixo visivelmente mais confortável, quando abre seus olhos e me
encara na mesma altura dos seus olhos. Relaxa os músculos dos seus dedos
da mão e alivia a pressão que ela fazia em seus joelhos.
— Está vendo as cordas no corpo dela? — chamo a atenção dela
novamente para a estátua, traçando meus dedos sobre a corda, nas costas da
mulher de porcelana. — Isso é shibari[32], mais conhecido como bondage[33].
— Ergo meus olhos para Mabel e a vejo observar a ponta do meu dedo
traçando a corda. — Sabe o que é bondage, passarinho?
— Amarrar, conter o parceiro na hora do sexo... — sussurra, perdida,
olhando para a mulher imobilizada.
— Geralmente sim, mas nem sempre bondage é uma prática sexual —
a respondo calmo, a estudando, sem perder uma única reação que seja do seu
corpo. — Além do mais, bondage também pode ser usada com outras práticas
do BDSM[34].
Entrego a escultura para ela e a deixo sobre suas pernas, vendo o ar
ficar preso em seu peito, com seu corpo congelado e suas mãos erguidas para
cima, quando ela olha para a escultura sem saber se a pega ou não.
— Tem muitos praticantes que a usam com sadomasoquismo ou a
dominação e submissão entre o mestre e a submissa. — O canto da sua boca
se repuxa, com ela sugando seu lábio inferior e o mordendo lentamente. —
Isso varia do tipo de experiência que eles estão buscando, prazer ou...
— Dor — Mabel fala, baixo, e estica finalmente sua mão, tocando a
escultura.
— Sim, também. — A cada segundo que a estudo, vendo-a perdida,
olhando para a submissa Messalina de porcelana, mais curioso me pego sobre
o estranho passarinho que repousou em minha casa. — Mas não se trata só de
dor, Mabel. Um bom mestre, para aplicar shibari, precisa ter em mente que a
primeira e mais preciosa regra, é que não se trata de subjugar a sua submissa.
Trata-se de um jogo em que a mulher é quem faz uma escolha. Por mais que
esteja atada e contida, a submissa tem o poder de parar na hora que quiser,
tudo acaba quando se torna desconfortável para ela.
— E se ela não souber a hora de parar? — Sua voz está quebrada,
carregada de medo e melancolia, se igualando ao seu olhar aflito. — E se ela
não tiver controle sobre seus desejos, senhor?
Mabel não entende o significado que suas palavras têm, como ela
instiga meu lado sádico e dominador a cada senhor que sai dos seus lábios, e
eu me controlo. Os seguro em rédea curta, antes que realmente os deixe fazer
o que desejam com o pequeno pássaro de alma submissa e assustada.
— O mestre irá saber, ele irá impor limites — falo seriamente, a
olhando, desvendando o pequeno pássaro que olha perdido para a estátua. —
Não se trata de sexo ou o poder de diminuir alguém, Mabel, mas sim da
confiança total que a submissa entrega para seu mestre, o ato de ensinar e
disciplinar. — Mantenho meus olhos presos aos seus, desejando que ela fale
o que realmente a trouxe aqui, mesmo eu já sabendo em meu íntimo o que
esse perdido passarinho procura. — Por que precisa de ajuda, passarinho?
Apenas diga, preciso apenas que as palavras saiam da sua boca, e eu
poderei entregar o mundo de prazeres soberbos para ela. Mostrarei para
Mabel o quanto de prazer seu pequeno corpo poderá ter, a transformando em
uma quente e provocadora Messalina de carne e osso. Sua alma submissa
grita desesperada dentro de Mabel, implorando por libertação, e qualquer
dominador consegue ouvi-la apenas olhando para a constelação escura dos
seus olhos. Mabel é como essa pequena estátua de porcelana em seu colo.
Um tributo delicado, perdido e solitário, à espera de um mestre que a ensine.
— E-eu... — Seus lábios se mordem, com ela encarando a escultura.
— Eu não tenho controle sobre alguns desejos que sinto, e por mais que eu os
afogue, os reprima, sinto que cada vez que eles aparecem estão mais fortes.
— Gosta de sentir dor, senhorita Shot? — Faço a pergunta direta, já
sabendo a resposta antes mesmo dela dizer.
— Eu não... Mas o meu corpo, ele gosta. — Ela comprime seus lábios
e tenta esconder os tremores dele. — Macro tem medo de que eu faça algo
estúpido outra vez, por isso ele me trouxe até aqui, pensou que eu poderia me
sentir livre...
— E você não se sentiu, naquela noite que eu lhe escolhi para as
regalias, por isso fugiu? — Toco a ponta do seu queixo e a faço olhar para
mim. — Assustei você ou a machuquei?
— Não — Mabel responde rapidamente e balança sua cabeça em
negativo. — Não me machucou, senhor.
É quase impossível segurar o suspiro de alívio que eu solto pela
minha boca ao ouvir suas palavras. Eu tinha consciência que não tinha a
machucado, passei sete dias repassando cada segundo daquela noite em
minha cabeça, tentando compreender o que tinha feito para poder ocasionar a
fuga dela, nunca chegando a lugar algum. Mas agora é libertador escutar
essas palavras saindo da boca dela.
— Mas eu a assustei, por isso correu...
— Não foi você. — Mabel fecha seus olhos e afasta seu rosto da
minha mão. — Eu fugi de mim, senti medo de mim mesma. Medo de passar
por tudo outra vez, de me perder por completo...
Para algumas pessoas, é difícil compreender as emoções do corpo, o
que as levam a sentir prazer, o que impulsiona sua vitalidade. Mas não é isso
que vejo na mulher à minha frente. Mabel não está confusa, ela está a poucos
passos de um colapso, reprimindo o que sua alma está pedindo. Mas me
pergunto: por quê? Há algo mais que ela não conta.
— Há quanto tempo vem sentindo essas necessidades masoquistas,
senhorita Shot?
Ela fica rígida por alguns segundos e me deixa saber que eu acertei o
alvo ao entender qual a necessidade dela.
— Eu não as sentia já tinha alguns anos, acho que dois, quase três. —
Ela tomba sua cabeça para frente e olha perdida para a estátua. — Pensei que
elas tinham ido embora, que tinham ido para sempre. Mas então, semana
passada...
— Elas retornaram — finalizo por ela e pego a estátua em seu colo, a
balançando lentamente em minha mão.
— Mais fortes, mais urgentes. — Mabel volta a esfregar seus dedos
em seus joelhos, por cima do tecido do vestido.
— E por isso retornou para Sodoma. — Me levanto, ficando de pé,
dando as costas para ela e caminhando de volta para o local onde a estátua
estava, a depositando no lugar dela.
— Na verdade, eu voltei mais porque Macro acha que eu posso fazer
alguma estupidez novamente. E para ser bem franca, creio que posso acabar
fazendo isso mesmo — ela diz, nervosa, estalando seus dedos uns nos outros.
— Por isso vim aqui com o intuito de perguntar ao senhor se não poderia me
ajudar...
Prefiro me manter de costas para ela, não a deixando perceber minha
reação de surpresa ao ouvir suas palavras. Já imaginava que seria isso que ela
buscaria, ajuda de algum mestre. Mas não que seria a mim, já que claramente
foi eu que causei as emoções que ela reprimiu. Normalmente, tentamos
entender o que nos aflige desviando do que causa a emoção. E é justamente
em meus pensamentos que tenho minha resposta. Alguém já tinha
desencadeado isso em Mabel, por isso a condenação dos seus instintos.
Talvez não tenha sido uma experiência agradável, mas foi forte o suficiente
para marcá-la para sempre.
— Por duas vezes usou o termo estupidez. — Me viro e a encaro. —
Seu amigo tem medo de que faça novamente uma estupidez, o que me diz
que já ocorreu uma estupidez anterior. — Dou um passo à frente, andando na
direção dela. — Qual foi essa estupidez, passarinho?
— Olha, eu acho que o ponto não é esse. Não precisamos falar sobre
isso, o que me trouxe até aqui, mas sim o fato de que eu estou aqui porque sei
que sou incapaz de lidar por mais tempo com isso sozinha — ela fala,
nervosa, gesticulando com seus dedos de forma apressada. — Eu não quero
tomar seu tempo mais do que já tomei, senhor Gregovivk. Para ser bem
franca, eu nem devia ter vindo aqui, quanto mais pedir algo assim para o
senhor. Não vou lhe julgar se achar que sou uma pessoa desequilibrada,
porque tenho certeza de que no momento é isso que eu pareço.
Seu corpo se levanta depressa, com ela praticamente cuspindo as
palavras de forma nervosa por sua boca.
— Sente-se! — A ordem sai alta pelos meus lábios, de forma dura e
precisa.
A vejo me olhar confusa, piscando repetidas vezes, antes de se sentar
lentamente e encolher seu corpo no sofá. Volta a posição de joelhos colados
um no outro, com suas mãos inquietas os esfregando.
— Olhe nos meus olhos e responda minha pergunta, senhorita Shot.
— Mantenho a postura dominante e fico de pé, a deixando saber que não vai
sair dessa sala antes de eu ter minhas respostas. — Comece contando do
início.
Ela olha para seus dedos e solta um baixo suspiro, antes de inclinar
sua cabeça para cima e me olhar novamente.
— Começou com vídeos. Sites pornográficos de mulheres amarradas,
sendo chicoteadas, amordaçadas, qualquer coisa que envolvesse dominação e
sadomasoquismo. — Sua voz treme enquanto ela tenta se fazer de forte,
mesmo desejando desabar em lágrimas a cada palavra que profere. — Eu me
masturbava constantemente: em casa, no banheiro da faculdade, e evitava
sair, para poder ficar me masturbando. E quanto mais eu me masturbava,
mais meu corpo pedia. Estava tão fora de mim, que eu chegava ao ponto de
me esconder embaixo da cama, para me masturbar por conta da sensação de
sufocamento.
Ela me dá um sorriso triste, com seus olhos brilhando com as
primeiras gotas de lágrimas que os deixa marejados.
— Conversou com seu parceiro sexual sobre isso na época? —
Respiro fundo e sinto um certo desconforto ao imaginá-la sendo
negligenciada por algum otário que não entendia o que ela precisava, ou
talvez ele seja o responsável dela estar aqui.
— Não havia parceiro, usava vibradores — ela responde,
envergonhada, e respira fundo, negando com a cabeça. — Era eu, apenas eu
fazendo aquilo comigo mesma diariamente. Meu rendimento na faculdade
caiu, eu já não me importava com nada, apenas em conseguir ter prazer. Até
no trabalho eu me masturbava no banheiro. E então... — Ela se cala e fecha
seus olhos, me deixando ver as lágrimas escorrerem por sua bochecha.
— Abra os olhos para mim, Mabel — falo calmamente para ela, lhe
dando a ordem. — E então?
Mabel nega com a cabeça e as lágrimas rolam com mais intensidade
por seu rosto. Seus olhos se abrem e ela morde sua boca, deixando eu ver sua
dor explícita em cada íris negra.
— Eu paguei para um estranho que conheci na internet me espancar.
— Ela tapa sua boca e abaixa seu corpo para frente, encostando sua cabeça
em sua perna, enquanto chora.
Respiro fundo e sinto meus dedos se espremerem ao lado do meu
corpo quando fecho meus dedos em punho. Desejo poder atravessar esse
curto espaço que há entre nós e a jogar sobre meus joelhos e lhe dar um
severo castigo, por ter colocado sua vida em perigo de forma tão leviana e
imprudente.
— Tem ideia do que podia ter acontecido com você? — rosno as
palavras com ódio e olho para ela, imaginando uma pessoa completamente
desqualificada, sem noção alguma de como praticar BDSM, a batendo.
— Eu sei... Oh, meu Deus, eu sei... — Ela chora mais forte e balança
seus ombros conforme o choro se intensifica. — Estava assustada, não
entendia o que estava acontecendo comigo, eu apenas queria que aquilo
parasse, que essa maldita necessidade fosse embora... Apenas queria voltar a
ser o que eu era antes daquele monstro destruir a minha vida.
Minha cabeça se ergue para Mabel ao ouvir suas palavras, e ando a
passos duros em sua direção.
— Que monstro? — pergunto com raiva, sentindo nem um pouco de
paciência para conseguir controlar meus demônios. — A que monstro está se
referindo? O homem que pagou para lhe bater... — Me calo e fico pensativo,
repassando todas as suas palavras em minha cabeça.
Meus braços se esticam para frente e a seguro pelos ombros, a
erguendo do sofá, a obrigando a me olhar. Vejo as lágrimas escorrerem por
sua bochecha, com ela parecendo uma criança completamente assustada
diante de mim.
— O que realmente desencadeou essas necessidades em você,
senhorita Shot? — Aperto com força seus ombros e a mantenho presa perto
de mim, tendo noção agora que não foi apenas isso que ela está me contando
que aconteceu. — Responda minha pergunta! — esbravejo, deixando mais
alto meu tom de voz.
O som de alguém batendo na porta faz Mabel se encolher e desviar
seus olhos de mim, se fechando novamente, como uma ostra guardando seus
segredos dentro dela.
— Vá embora, estou ocupado! — Dispenso quem quer que seja que
esteja batendo na porta e mantenho meus olhos nela.
Solto seu ombro esquerdo e deixo minha mão espalmada em suas
costas, a trazendo para mais perto de mim, tentando conectá-la comigo
novamente. Seguro seu queixo e deslizo meu dedo por sua bochecha,
limpando suas lágrimas.
— Olhe para mim, pequena. — Meu tom de voz muda para calmo,
ficando baixo, e passo meus olhos por sua face triste. Ela inclina sua face de
forma delicada em minha mão e fica completamente submissa, recebendo
meu afago e me dando um olhar triste. — Quem machucou você, passarinho?
— Czar, preciso que venha aqui. — Reconheço a voz de Sieta me
chamando, e ela retorna a bater insistentemente na porta. — É urgente! Sabe
que se não fosse, eu não iria vir aqui lhe chamar.
Se tinha alguma chance de fazê-la falar, eu acabei de perder, quando
Mabel se afasta, se desvencilhando dos meus toques. Dá um passo para o
lado e caminha para perto da lareira, abraçando seu corpo. Respiro fundo e
levo meus olhos para a porta, a encarando com raiva quando Sieta bate
novamente.
— Me espere aqui, eu já volto, senhorita Shot.
Caminho para a porta e abro-a, fuzilando Sieta com meus olhos,
sentindo vontade de quebrar seu pescoço fino.
— Espero que realmente seja urgente! — rosno as palavras e dou um
passo para fora, fechando a porta atrás de mim.
— No seu escritório, agora, Greg! — Sieta está com sua face
vermelha e caminha rápido na direção do meu escritório.
Olho uma última vez para a porta, antes de me virar e caminhar,
seguindo Sieta. Quando viramos o fim do corredor, a vejo parar na frente da
porta do meu escritório e abrir a porta. Antes mesmo que eu possa lhe
perguntar o que aconteceu, compreendo a expressão nervosa de Sieta e o
porquê da sua urgência em me chamar. Um correspondente de Sodoma, uma
espécie de carteiro do conselho, está parado no meio da sala, me aguardando.
— Conselheiro Gregovivk. — Ele me cumprimenta com um balançar
de cabeça, abre sua pasta e retira de lá um envelope cinza. — Presumo que já
deva imaginar porque estou aqui.
Ele me dá um sorriso educado e estica o envelope para mim. Balanço
minha cabeça para ele em positivo, sabendo exatamente por que um
correspondente está em minha casa.
— Já tenho uma ideia — respondo sem muita emoção, esticando o
envelope para Sieta, sem nem o abrir para ler. — Tenho quanto tempo, antes
da audiência diante dos conselheiros?
— O senhor tem 22 dias para reunir suas testemunhas — o
correspondente me responde de forma polida, me cumprimentando antes de
sair da sala.
— Oh, meu Deus! Oh, meu Deus, aquela cadela! — Sieta esbraveja,
com raiva, esmagando o envelope junto com a folha dourada que ela segura.
— Morgana solicitou um julgamento, aqui diz que você quebrou as regras de
Sodoma. Aquela vadia, desgraçada!
Esfrego meu rosto e respiro fundo, tentando pensar nos meus passos.
Tinha certeza de que isso acabaria acontecendo.
— Você não tem testemunha alguma a seu favor, além da garota.
Adrien é o juiz, ele não pode testemunhar e julgar ao mesmo tempo, assim
como as mulheres dele não serão permitidas a prestarem depoimentos, por
conta do conflito de interesse do marido delas estar julgando seu caso —
Sieta fala, de forma nervosa, tudo o que já sei. — Aquela cadela da Morgana
irá testemunhar, mas será contra você, mesmo ela não tendo certeza do que
viu. Cristo, Czar! Sua única chance é levar a garota diante do conselho e a
fazer contar a verdade.
— Sieta, cale-se! — Esfrego meu rosto e lhe dou uma ordem. — Me
deixe pensar em silêncio.
— Não sabia se era correto jogar com ela, mas agora vejo que é sua
única saída, precisa fazer ela aceitar jogar...
— SIETA! — grito seu nome, a fazendo finalmente calar sua boca.
Tiro as mãos do meu rosto e as levo para minha nuca, respirando com força.
— Eu não sei se posso jogar com ela — falo sem olhar para Sieta, mantendo
meus olhos focados no teto, sabendo que antes de Mabel chegar, eu estava
disposto a fazer qualquer coisa para levá-la diante do conselho.
— Horas atrás disse que iria jogar com ela...
Só que agora não estou certo disso. Jogar com iniciantes é perigoso,
mas jogar com pessoas quebradas é praticamente suicídio psicológico, um
tiro dentro da cabeça dela, não me deixando saber qual seriam as
consequências disso e quais danos eu poderia acarretar em Mabel. Alguém já
a tinha quebrado. Para jogar com ela, teria que a destroçar ainda mais do que
ela já se encontra.
— Não tem outra opção. — Sieta caminha para perto de mim e para
ao meu lado. — Se ela jogar com você, será um voto de confiança, um que
Morgana não terá nenhuma testemunha para argumentar contra. Jogar
Sodoma é o mesmo que mostrar a todos que você não a machucou. Nenhuma
mulher aceitaria participar disso com um homem que a feriu.
— Posso pedir para ela ir diante do conselho e contar a verdade do
que aconteceu. — Abaixo meu rosto e olho para Sieta.
— Mas ainda assim deixaria aberta a margem para Morgana espalhar
rumores que você pagou a garota ou a intimidou, entende? Seria muito fácil
para ela argumentar em cima disso. — Compreendo a lógica de Sieta, e sei
muito bem do que Morgana é capaz. — Jogar com a menina é a única chance
que tem de calar Morgana para sempre e sair ileso da condenação do
conselho.
Jogar com Mabel é errado. Se eu não a machuquei aquela noite, com
toda certeza, irei a ferir se a induzir a aceitar o jogo. Não posso ter essa
responsabilidade sobre meus ombros.
— Ela está fragilizada, Sieta, as chances de ficar dependente e sofrer
ainda mais do que ela já está, é grande demais.
— Você é quem está em risco agora! Se não jogar com ela, irá perder
sua cadeira diante do conselho e será expulso de Sodoma, Greg. — Minha
prima me olha com agonia, negando com a cabeça. — Morgana vai entregar
sua cadeira de mão beijada para o merda de Kaiser.
“Estava assustada, não entendia o que estava acontecendo comigo,
eu apenas queria que aquilo parasse, que essa maldita necessidade fosse
embora... Apenas queria voltar a ser o que eu era antes daquele monstro
destruir a minha vida.”
Sua voz atormentada por dor e culpa, entra em mim mente, me
fazendo fechar meus olhos e respirar fundo. Mabel jamais terá a vida que ela
tinha antes, depois de jogar Sodoma.
— Então eu perderei. Já está na hora de Kaiser ter alguma
responsabilidade — respondo, sério, e abro meus olhos, encarando Sieta. —
Não vou machucar aquela menina mais do que ela já está, por conta da porra
de uma cadeira entre aqueles velhos decrépitos dos conselheiros. Se for a
minha hora para sair, então eu sairei.
— Mas Sodoma sempre fez parte das nossas vidas, Sodoma
literalmente é a sua vida...
Não a respondo, ando rumo à porta e caminho rápido, indo para fora
do meu escritório, retornando para a saleta onde Mabel está. Abro a porta
lentamente, ficando parado, encostado no batente da porta, e encaro o
cômodo vazio.
CAPÍTULO 10
DEMÔNIOS ANTIGOS E NOVOS
Senhora Roy[35]

Sanatório penitenciário SHIT


Austrália

— E então, o que achou? — Sorrio para ele e lhe observo de cabeça


baixa, olhando atentamente para o primeiro exemplar ilustrado de Vinte mil
léguas submarinas[36], que foi publicado em 1871.
Seu tio tinha conseguido comprar de um colecionador francês, para
que eu pudesse o presentear no dia do seu aniversário de dezoito anos.
— Você sempre consegue me surpreender, Gim. — Os olhos azuis
tão intensos de Jon[37] se erguem para mim e me dão um sorriso amável.
E, por alguns instantes, quase alguns segundos, é como voltar há
cinco anos, dentro da mansão dos Roy, onde eu e ele passávamos grande
parte do nosso tempo dentro da biblioteca, desbravando todos os livros que
tinham lá dentro.
— Bom, presumo que não viajou por horas apenas para me trazer
isso... — Ele deixa o livro sobre a mesinha de canto da sala e caminha
lentamente em minha direção.
Sua face está sem emoção. Já não traz o mesmo sorriso amável de
segundos atrás em seus lábios, e sim olhos mortos, como de um predador. Ele
para a centímetros da parede de vidro que o separa de mim e leva seus dedos
para o bolso da calça branca do seu uniforme. Sua cabeça se ergue e olha para
trás de mim, estudando o grande espelho da parede.
— Olá, titio! — Jon fala, sorrindo, e tomba sua face para o seu
ombro, provocando Jonathan, que está na outra sala, nos observando junto
com o psiquiatra que cuida de Jon. — Bom, lhe convidaria para sentar-se —
a voz dele sai arrastada e retorna seus olhos para mim —, mas como pode
ver, minhas acomodações não permitem que você se junte a mim.
Ele dá um passo para o lado e senta em sua cadeira de acrílico,
mantendo seus olhos presos aos meus.
— Eu estou bem de pé — o respondo e caminho para o lado,
observando a janela. — Não respondeu minhas cartas, eu queria saber como
você está.
— Oh, não tinha muita coisa para contar! Como pode ver, eu não sou
de sair muito, praticamente vivo preso! — Ele ergue sua mão e gesticula com
seus dedos. — Mas li todas elas. A propósito, parabéns pela sua formatura. E
então, já está atuando na sua área?
Paro de andar e me viro para ele, balançando minha cabeça em
positivo.
— Sim, eu me formei já tem um ano, Jon. Abri um consultório no
final do ano passado, em Los Angeles — falo polidamente para ele e ergo
meus dedos, rodando lentamente a aliança de casamento em meu dedo, o
olhando.
— Oh, seria útil para algumas dessas mulheres desse lugar
aprenderem a foder! Você poderia, qualquer dia, dar uma aula para elas —
ele me provoca, desmerecendo minha formação, ao mesmo tempo que me
conta que anda praticando sexo dentro do sanatório.
— Talvez, por que não?! — Mantenho meu sorriso ao respondê-lo,
não alimentando seu ego narcisista.
— Por que está aqui, Ginger? Por que meu tio permitiu você vir aqui
depois de cinco anos? — Jon vira sua face para o espelho novamente,
mantendo seus olhos presos lá.
Na verdade, Jonathan não permitiu, eu vim contra sua vontade, depois
de praticamente criar uma briga feia entre nós dois, para que ele me trouxesse
até aqui. Nesses cinco anos que se passaram, desde a última vez que eu vi Jon
e ele disparou uma bala contra mim, Jonathan entrava em modo de proteção
apenas com a ideia de me deixar próxima de Jon novamente. As únicas
pessoas que vinham o visitar era Roy e Baby, e os dois eram contra a minha
vinda para cá. Então a única forma que eu podia me comunicar com Jon era
através das cartas.
Eu comecei a escrevê-las pouco menos de quatro anos atrás. Contei a
Jon sobre mim e Roy termos nos reencontrado e sobre minhas viagens no
primeiro ano sabático que tirei para mim depois que fugi da igreja, largando
um casamento que eu não queria, com um homem inapropriado para mim,
para trás. Detalhei minhas aventuras em série, as quais, estranhamente, eu
sentia a necessidade de lhe contar. Meses depois escrevi lhe informando da
morte de tia Charlote. O infarto a havia pegado de uma hora para outra, não
dando tempo de conseguir chegar com ela no hospital. Seis meses depois
enviei uma carta para Jon, na qual eu escrevi sobre o dia que iria me casar
com Roy, em uma cerimônia modesta, sem cor de pêssego como decoração,
tendo apenas eu e Jonathan, Baby e Dexter como testemunhas, e o padre, em
uma igreja pequenina no sul da Itália.
Nenhuma das minhas cartas tinham respostas, mas ainda assim eu lhe
escrevia. Sabia que as cartas eram uma forma de eu ainda poder me sentir
ligada a ele, como se eu visse aquele jovem menino, o qual eu me afeiçoei
quando cheguei na mansão Roy para um serviço de acompanhante temporária
e que mudaria o rumo da minha vida para sempre. Mas existe uma única
informação que eu não queria escrever, que eu desejei poder contar
pessoalmente para ele. Entendo perfeitamente o diagnóstico de Jon, o que os
médicos falam sobre ele, sua herança genética ganhada da sua avó paterna,
Sonja. A falta de empatia, de emoção ou de afeto por pessoas à sua volta,
egocentrismo e narcisismo alimentado pela psicopatia dele. Jon nunca
demonstrou arrependimento algum por ter empurrado Bob das escadas e ter
causado a morte do jovem rapaz. Eu assisti a filmagem dele relatando com
puro tédio para o psiquiatra como matou sua avó materna e assistiu o corpo
dela ser esquartejado por Lira, sua prima de segundo grau. Os dois
esconderam os membros da velha dentro da geladeira.
É um demônio, frio e perverso, que usa como carapaça a face
angelical de um jovem rapaz, o qual dentro do meu coração ainda desejo
enxergar como o inocente Jon.
— Por que não tira esse casaco? Está calor dentro da sala — ele
pergunta, calmo, e cruza sua perna esquerda por cima da direita, balançando
seu pé lentamente.
Meus braços passam por cima da minha barriga enquanto os cruzo,
negando com a cabeça.
— Estou bem assim, Jon. — Ando a passo lentos e retorno para perto
da parede de vidro que nos separa. — Fiquei sabendo que gosta de jogar
xadrez e arrumou um companheiro para passar as horas.
— Apenas um exercício diário que faço para exercitar o meu cérebro.
— Jon dá de ombros, estica seu braço e pega o livro que eu trouxe de
presente para ele, que ele tinha depositado sobre a mesinha, e o olha sem
muito interesse. — Meu companheiro de jogo é silencioso, aprecio isso nele.
Jon levanta, folheia o livro e anda lento pela sala. Observo-o com
atenção, vendo o homem bonito que ele se transformou. É praticamente uma
cópia de Jonathan: alto, magro, com olhar intenso e cabelos negros curtinhos.
Imagino onde ele estaria se sua vida não tivesse tomado um rumo tão
sombrio. Provavelmente, estaria pensando na faculdade, ou em garotas, as
quais tenho certeza que não faltariam, por conta do seu charme natural. Ou
viajando, conhecendo o mundo, tendo experiências novas. Só que não foi
essa direção que sua vida seguiu. Está há cinco anos preso em um sanatório
penal, diagnosticado com um distúrbio mental grave, em que apresenta
comportamentos antissociais e amorais, sem demonstração de
arrependimento ou remorso pelos crimes que cometeu.
Jon não ama e nem possui laços afetivos profundos com pessoas
relacionadas a ele, com egocentrismo extremo e sem incapacidade alguma de
aprender com a experiência que viveu. Jon é considerado um risco para ele
mesmo e para os outros que convivem perto dele, por isso a maior parte do
seu tempo ele passa sozinho dentro de uma cela, a qual Jonathan tinha
mandado construir especificamente para Jon, nas dependências do sanatório,
dando ao Jon um pouco que fosse de conforto e dignidade, pois seria o único
lugar que ele conheceria para o resto da vida dele. Esse fora o preço que
Jonathan pagou para manter Jon seguro e vivo. Se Jon fosse julgado diante de
um tribunal, com repórteres especulando sobre os assassinatos que ele
cometeu, com jornalistas remexendo nos segredos da família Roy, isso seria
um alvo nas costas de Jonathan, Baby e Jon. O que acarretaria em Sodoma ter
que fazer a limpeza, para manter o sigilo dos seus frequentadores garantido,
cortando o mal pela raiz e silenciando bocas, cegando olhos e tapando
ouvidos. Jon não duraria um ano de vida se fosse condenado a ficar na
penitenciária federal, e Jonathan sabia disso.
Sodoma sempre vence, de um jeito ou de outro.
E Jonathan garantiu a vitória dela e a vida de Jon em segurança,
pagando bilhões de dólares para o caso do seu sobrinho ser arquivado antes
mesmo de começar, e ele ser mandado para o sanatório SHIT.
— Então, a que devo a honra da permissão da sua visita? Titio não
gosta muito de falar sobre você quando ele vem me ver... — Jon se vira e
fecha o livro, me encarando. — Eu até pedi uma foto sua para ele, mas sabe
como ele é!
Respiro fundo e encolho meus ombros, como se pudesse sentir o olhar
de Jonathan penetrar o espelho de segurança da sala e me acertar com
intensidade.
— Jon, eu e o seu tio, a gente...
— Está de quantos meses? — ele me corta e anda para perto da
parede de vidro, abaixando seus olhos para o meu ventre. — Não foi o casaco
que lhe entregou, mas sim sua respiração cansada e olhar abatido.
Jon ergue seus olhos para mim e me encara sério, inclinando seu rosto
em seu ombro, enquanto espalma suas mãos no vidro.
— Como conseguiu essa façanha, Gim? Pelo que me lembro, meu tio
não pode ter filhos. — Ele sorri e me dá um olhar zombeteiro. — Não me
diga que andou pulando a cerca, sua danadinha...
— Não, Jon, não andei pulando a cerca — o respondo, baixo,
negando com um gesto de cabeça. — Jonathan e eu optamos por inseminação
artificial, eu estou entrando no quarto mês de gestação.
Descruzo meus braços e abro lentamente os botões do meu casaco, o
deixando ver meu ventre, que está começando a tomar uma forma
arredondada.
— Jura?! — ele indaga, rindo, olhando minha barriga. — Deve ser
uma merda não ser homem suficiente para engravidar sua própria mulher,
não acha, tio?! — Jon ergue seus olhos para o espelho e fala em voz alta.
— Jon, não vim aqui para discutir com você sobre a fertilidade do seu
tio, mas sim sobre o doador do esperma...
Jon retorna seus olhos para mim e estuda minha face, logo em seguida
minha barriga. Dá um passo para trás e arqueia sua sobrancelha.
— Aberração — ele fala, rápido, demonstrando nojo em seu olhar. —
Está aqui para me contar que o que cresce em seu ventre é da aberração que
me fez?!
— Jon, por favor, não fale assim...
— Como o devo chamar, Ginger? Primo, irmão? — Ele range seus
dentes e esmaga seus dedos ao lado do corpo. — Não sente medo de estar
trazendo ao mundo outro demônio, tão doente quanto o primeiro que ela
procriou? Sempre foi burra, Ginger... O amor que sente pelos monstros dessa
família lhe cegou. — Ele ergue o tom de voz e caminha para frente,
desferindo um murro com força no vidro que nos separa, gritando com puro
ódio enquanto me dá um olhar cruel.
Meu corpo se assusta e dou um pulo para trás com a reação dele.
Ouço o som do alarme da sala soar alto, enquanto a porta de segurança é
destravada quase que momentaneamente. Jon recua e dá um passo para trás,
olhando para cima dos meus ombros. Sinto os dedos fortes em meu ombro
me segurando com cuidado, e a respiração pesada sendo assoprada no topo da
minha cabeça.
— Sempre burra, Ginger! — Jon fala, seco, e vira de costas,
caminhando para o fundo da sua sala.
— Vem, me deixa te tirar daqui! — Ergo meu rosto para Jonathan e
enxergo seu olhar frio, o qual ele mantém preso em Jon, ficando com seu
corpo posicionado atrás de mim, como uma sentinela.
— Roy... — murmuro com tristeza, sentindo tanta dor dentro do meu
coração.
— Avisei para você que não há nada daquele menino que você
conheceu aqui, Gim — Jonathan sussurra para mim e abaixa seus olhos para
os meus, os deixando ficar brandos quando vê uma lágrima escorrer por
minhas bochechas.
— Vai esquecer de mim? — Movo meu pescoço, repousando meu
olhar na face triste que sussurra ao meu lado, em um tom suficiente apenas
para que eu possa escutar. Jon leva o copo de suco à boca, com seus fones
de ouvido desligados, repousados na nuca e pendurados no pescoço.
— Nunca — cochicho para ele, batendo lentamente meu ombro ao
seu, o vendo deixar um sorriso curto no canto dos lábios.
De tudo que eu vivenciei dentro daquela mansão, de tudo que aprendi,
acho que a única coisa da qual eu ainda não consigo me desprender é do amor
tão real que senti por aquele jovem menino, mesmo sabendo que fora apenas
uma máscara de Jon: a inocência, a ingenuidade e a tristeza. Tudo fora falso e
manipulado por ele. Mas, ainda assim, o carinho e afeto que senti por ele
ficaram marcados em minha alma para sempre. Volto meus olhos para Jon e
o vejo de costas para mim, esmagando mais forte seus dedos ao lado do
corpo.
— Gim, vamos! — Jonathan me segura com mais carinho e me vira
lentamente.
— Eu nunca vou esquecer de você, Jon! — Giro meu rosto por cima
do ombro e falo para ele, antes de Jonathan me arrastar para fora da sala. Saio
chorando, escondendo meu rosto em seu peito.

— Sabia que não deveria ter permitido você vir. — O homem sério,
sentando-se ao meu lado, na poltrona do jato particular, fala zangado.
— Eu estou bem, Roy. — Ergo meu rosto e viro-o para ele, lhe dando
um sorriso calmo.
Solto meu cinto de segurança e estico meu braço para sua perna, o
deixando saber o que eu quero. Jonathan me ergue lentamente e me deposita
em sua perna, me deixando me aninhar em seus braços.
— Eu precisava vê-lo. — Encosto meu rosto em seu peito e passo
meu braço por seu pescoço, falando baixinho, estudando sua face
preocupada. — O que esses olhos azuis me escondem, senhor Roy?
Ergo minha mão e aliso sua sobrancelha, contornando seu cenho
franzido. Jonathan espalma sua mão sobre o meu ventre e o alisa lentamente,
ficando com seu olhar perdido em minha barriga.
— Apenas fiquei com receio dele lhe causar algum mal novamente...
— Jonathan, você instalou um vidro balístico de só Deus sabe o
tamanho da espessura, entre mim e Jon, e se eu não tivesse ido contra as suas
manias de controle, você teria colocado escolta armada na sala — falo, rindo,
e lhe dou um beijo na ponta do seu nariz. — Tenho certeza de que Jon não
poderia fazer mal algum contra mim, mesmo se quisesse.
Roy abraça minhas costas e me deixa mais aninhada em seus braços,
tendo seu queixo apoiado em meus cabelos, inalando o ar profundamente.
— Mas ainda assim acredito que não seja só isso que está lhe
preocupando. — Espalmo minha mão em seu peito, empurrando meu corpo
apenas um pouco para trás, para conseguir olhar em seus olhos. — O que
houve?
Conheço Roy, aprendi a desvendar o mar azul e profundo que reside
em suas íris. A fisgada no canto da boca me deixa saber que algo está
incomodando meu marido.
— Recebi uma convocação essa manhã — ele responde e abaixa seu
tom de voz, com seus olhos ficando fixos em meus lábios. — Morgana, uma
conselheira da velha guarda, que representa a Alemanha, abriu um pedido de
expulsão contra Czar.
— Oh, meu Deus, mas por quê? — Olho perdida para Roy, não
conseguindo imaginar o que Czar poderia ter feito para lhe custar a expulsão
de Sodoma.
— Ela garante que o russo feriu uma moça durante a festa que
aconteceu em Moscou. — Fico em choque, com meus olhos se expandindo,
absorvendo a informação de Roy.
— Czar jamais machucaria uma mulher... — digo, negando com a
cabeça.
Eu havia conhecido mais de Czar com o passar dos anos. Ele tinha
sido o único ligado à Sodoma que sabia sobre meu casamento com Roy, tanto
que viajou para a Itália para se encontrar com a gente. Baby realmente estava
certa sobre dizer que o russo era um gigante assustador, mas que nunca
machucaria ninguém. Poderia ser excêntrico e controlador como o Roy, mas
jamais machucaria uma pessoa.
— Morgana tem quatro testemunhas. Adrien já tinha me contado
sobre o ocorrido na semana passada, mas eu ainda tinha minhas dúvidas se
ela seguiria em frente. — Roy ergue seus olhos para mim e alisa meu rosto.
— Adrien é aquele rapaz que você me contou ser o juiz que não é juiz
de verdade, certo? — pergunto para Roy, me recordando da ligação que esse
homem fez para ele dias atrás.
— Sim, esse mesmo. — Jonathan respira fundo e balança sua cabeça
em positivo.
Pelo que pude entender da explicação de Roy, Adrien foi escolhido
para ser o juiz em Sodoma por conta da sua diplomacia e imparcialidade
entre os conselheiros. Com medo que as regras fossem quebradas e algumas
pessoas saíssem impunes, foi escolhido de comum acordo entre os
conselheiros que um juiz ficaria ao encargo de julgar os erros dos demais,
não importando quem eram os culpados, tanto dentro de Sodoma quanto fora.
Pelo pouco que Roy me fala e o resto que descobri por Baby, Sodoma é
literalmente a única a governar, não interessa quem você seja no mundo
exterior, seu cargo, bens, isso é irrelevante, pois quando você está dentro de
Sodoma, você é apenas você. E nada, absolutamente nada, impera mais que
Sodoma. Literalmente, Sodoma é a maior monarquia, uma roda de luxúria e
prazer, criada para satisfazer as almas perversas de quem a frequenta, não os
egos. Criada por homens poderosos que desejavam se livrar do cargo pesado
do poder e abraçar seus demônios, por isso Sodoma nunca deixaria de existir.
Um só não pode a governar, porque ela é todos. Mas, independentemente de
quem você seja, um conselheiro, protegido, frequentador, curioso ou apenas
alguém em busca de nova emoções, você respeita as regras, porque Sodoma
não perdoa quem as quebra. E isso pode parecer uma grande loucura, mas
não é.
Isso é SODOMA.
— Mas se Adrien é imparcial, por que lhe contou? — Busco respostas
ao olhar para Jonathan. Não entendo por que o juiz lhe contou o que já
imaginava que aconteceria.
— Adrien foi escolhido para ser o juiz de Sodoma por conta do seu
caráter justo, isso faz parte da índole dele, e Adrien conhece a história que
existe por trás de Morgana e Czar, e como ela amaria cortar a cabeça do
russo, até forjaria provas para isso se for preciso.
— História? — Me arrumo no colo de Jonathan e o olho com mais
curiosidade. — Não pode achar que vai me contar essas coisas e eu não vou
querer saber de tudo — falo apressada para ele, garantindo que não irei o
deixar em paz se não me contar tudo.
Roy respira fundo e encosta sua cabeça no assento, fechando seus
olhos e abrindo um pequeno sorriso.
— Havia me esquecido como sua curiosidade nunca tem fim. —
Belisco seu nariz quando ele me provoca.
— Roy, ande, me conta... O que existe entre Czar e essa mulher?
— Morgana foi a mestra de Kaiser, o meio-irmão mais velho de Czar.
Ela tinha que ensinar os dois. Para você se tornar um conselheiro, você
precisa aprender com um mestre da casa. — Ele abre seus olhos e me encara.
— O pai de Czar deu à Morgana os dois garotos, para que ela os moldasse,
mas Czar se negou, e isso, de alguma forma, feriu o ego de Morgana. Czar
nunca pensou que o pai dele escolheria ele, pois todos sabem que é o filho
mais velho que herda a cadeira do pai.
Meus olhos abaixam para o meu ventre, enquanto respiro fundo e
sinto uma agonia dentro de mim.
— Isso é uma obrigação? — pergunto, baixo, para Jonathan.
— Não, não é — ele responde rapidamente e espalma sua mão em
minha barriga, a alisando. — Nosso filho não será obrigado a nada.
Acho que minha respiração de alívio explicita minha felicidade
quando ouço isso sair da boca dele.
— Então Czar negou participar, seria isso? — Ergo meus olhos para
Roy, que está sério.
— Czar preferiu dar atenção para os outros negócios da família na
época. O poder dos Gregovivk nasceu de trabalhos inescrupulosos, e até
posso dizer, atrozes, por conta da ligação com a máfia. — Arregalo meus
olhos e fico mais interessada nessa história toda, não sabendo ao certo que
rumo vai tomar. — Czar sempre foi silencioso, seu cérebro é praticamente
um sistema operacional repleto de códigos, os quais ele quebra e decifra
qualquer segurança na internet. Isso chama a atenção de muitas pessoas, tanto
boas como ruins. Mas uma alma sádica, sempre será sádica, Gim, não
importa onde ela esteja ou o que faça, e, às vezes, algumas situações a traz
com mais selvageria à flor da pele, e Sodoma aguardou o retorno do filho
pródigo para casa.
— Não entendi... Você quer dizer que algo aflorou o lado sádico de
Czar, por isso ele voltou para Sodoma?
— Fogo — Jonathan responde de forma prática e suspira baixo. —
Czar é piromaníaco, Gim.
— Oh, meu Deus! — esbravejo, boquiaberta.
Nunca imaginaria que aquele homem sente desejo incontrolável de
atear fogo nas coisas. Isso está ficando pior e mais estranho a cada nova
informação que Jonathan me dá, o que para ser franca, não sei ao certo se me
assusta ou me deixa mais intrigada.
— Czar chegou a queimar alguém? — questiono, assustada, tentando
entender qual serventia um piromaníaco poderia ter para Sodoma.
— Sim, ele mesmo. — Dou graças a Deus por Roy estar me
segurando, porque tinha grandes chances de eu cair agora de bunda no chão.
CAPÍTULO 11
O VOO INESPERADO
Mabel Shot

— Então conseguiu resolver seus compromissos?


Me viro ao ouvir a voz de Boris, que sorri para mim e entra na sala de
triagem das telas.
— Desculpe, como? — Olho confusa para ele, sem entender ao que
ele se refere.
— Sexta à noite, lembra-se? — Ele me dá um sorriso maior enquanto
retribuo com um sem graça para ele.
Dou um leve balançar de cabeça em positivo como resposta, me
recordando das desculpas que dei para não sair com ele e o pessoal depois do
trabalho na sexta-feira à noite. Volto minha atenção para o quadro, que eu
tenho que separar. Ainda não tenho a mínima ideia de qual é a pretensão
desse autor com essa obra. Não se enquadra em nada do que já vi, nem sei se
isso é contemporâneo, mas arte é arte, certo?!
Minha cabeça está bagunçada, a verdade é essa. Saí daquele lugar na
sexta mais perdida e sem saber o que faria do que quando eu entrei. Me senti
uma tola ao pedir ajuda àquele homem. Há quanto tempo ele devia estar
participando daquilo? Com toda certeza, uma jovem desequilibrada, que não
consegue lidar com os próprios desejos, não seria uma coisa que valeria o seu
tempo. Preferi ir embora a ficar lá e esperar o retorno dele, para ouvir que ele
não poderia fazer nada por mim. Sábado e domingo, passei completamente
largada, deitada em minha cama, sem rumo, sem saber se algum dia eu
conseguiria entender o que eu realmente sou. Não tive nem Macro para poder
conversar, seu telefone só dava fora de área. A única coisa que me restou foi
voltar ao mesmo ponto em que eu me encontrava.
Perdida.
— Fiquei encantado quando vi essa tela. — Boris para ao meu lado,
admirando a tela, e dá um baixo suspiro. — Ela desencadeia tantas emoções,
não acha?
Pisco rapidamente, olhando para a tela, a qual eu nem consigo prestar
atenção. Nem tinha notado que Boris ainda estava na sala, se ele não tivesse
falado, provavelmente eu pensaria que estava sozinha, de tão dispersa que
estou.
— É... — murmuro, olhando para ela, preferindo não dizer qual a
emoção que ela desencadeou em mim. — Talvez seja melhor deixar ela junto
com as da ala de expressionismo[38].
Analiso com mais atenção, optando por deixá-la junto com as outras
telas, realmente decidindo por catalogá-la como expressionismo.
— Sabe, eu estava pensando se tem alguma chance de você me ajudar
e ir à casa de um pintor novo no mercado, hoje, após o trabalho, quem sabe
tenha um olhar clínico para encontrar obras-primas. — Boris me pega de
surpresa e dá um passo à frente, ficando parado entre mim e a tela.
— Bom, na verdade, tenho... — Tento pensar com rapidez, não
sabendo mais o que inventar para dispensar os convites dele.
Minha cabeça está uma grande merda, passei o fim de semana inteiro
completamente perdida nos meus pensamentos, que rodopiavam, parando
sempre no único ponto: o par de olhos castanhos.
— Oh, a encontrei! — O som da voz de Rumeu, o curador da galeria,
entrando alegre dentro da sala de triagem, me faz suspirar aliviada, por não
ter que mentir novamente para me livrar de Boris.
Vejo os olhos de Boris ficarem mais atentos para seu tio, enquanto o
observa por cima da minha cabeça.
— Deixe-me apresentar. Esse é Boris, meu sobrinho, que está
trabalhando comigo atualmente. E essa pequena criatura é a joia preciosa, a
qual lhe disse que tive o prazer de recrutar para me ajudar nessa temporada, a
senhorita Shot. — A voz do homem de idade fica mais animada, dando um
leve toque em meu ombro. — Mabel, meu anjo, quero que conheça uma
pessoa.
Me viro lentamente, começando a tirar as luvas de látex da minha
mão, mas congelo assim que a intensidade castanha me suga para suas íris. O
grande homem no terno negro, me olha com interesse e passa seus olhos de
mim para Boris, retornando para minha face.
— Esse é Gregovivk, filho de um grande amigo meu, que por
infortúnio já nos deixou. Seu pai era um dos nossos maiores doadores, um
amante eterno da arte. — Escuto a voz do meu chefe zumbir baixo em meus
ouvidos, enquanto todo meu corpo está tentando sair da paralisia que estar de
frente para esse homem me causou. — Gregovivk está atrás de telas novas
para sua casa, mas ele deseja quadros mais atuais. Disse para ele que tinha a
pessoa perfeita para lhe ajudar a escolher.
— Senhorita Shot. — O timbre da sua voz é como um despertador
interno, que alarma por inteiro meu sistema neurológico, me fazendo abaixar
meus olhos para sua mão grande, estendida para mim. — É um prazer
conhecer a joia preciosa que Rumeu esconde em sua galeria.
Engulo minha saliva e paro meus olhos nos seus, antes de retirar por
completo a luva da minha mão e esticar meu braço, o cumprimentando.
— Senhor — murmuro para ele, notando o leve sorriso no canto dos
seus lábios quando ele aperta minha mão com mais força, percebendo o
tremor que passou pelo meu corpo.
É como se cada célula e partícula dentro de mim estivessem
adulteradas desde aquele primeiro encontro, ficando à espera de encontrar ele
novamente para serem acionadas. Minhas bochechas ficam quentes, enquanto
tento não pensar em quais partes do meu corpo sua boca, com seu sorriso
pervertido, esteve, e qual foi as sensações que ela me fez sentir.
— Bom, agora que sei que você está em boas mãos, Czar, eu vou
resolver uns assuntos no escritório — Rumeu fala e solta uma palmada
estalada, o que me fez reagir e retirar meus dedos da mão do russo. — Boris,
gostaria que me acompanhasse, quero lhe mostrar umas pendências
administrativas. E Mabel, querida, faça um rombo no cartão de Gregovivk,
sem preocupação alguma, apenas garanta que ele saia satisfeito daqui!
Boris se mantém em silêncio, com seu olhar cravado em mim, o
direcionando lentamente para o senhor Czar, estreitando seu olhar, como se
tivesse percebido essa estranha energia que me ligou ao grande russo. Boris
volta seus olhos para mim de forma intensa antes de caminhar para perto do
seu tio. Olho para Rumeu, ainda não sabendo ao certo se ele sabe sobre quais
tipos de coisas deixaria o senhor Gregovivk satisfeito. Dou um sorriso
educado para meu chefe, consentindo com um balançar de cabeça para frente
e para trás.
— Poderia me acompanhar, senhor — sussurro para o russo que me
encara com interesse.
Passo por ele e ando apressada para fora da sala de triagem. Sinto
seus olhos me queimarem, me dando a certeza de que eles estão cravados em
mim.
— O que o senhor tem em mente, para sua casa? — pergunto para ele,
tentando manter minha forma profissional.
— Para ser franco, ainda estou pensando — ele responde seriamente e
anda feito um tanque blindado atrás de mim.
Percebo os olhares das outras funcionárias e de alguns clientes, que
ficam interessados na montanha ambulante de quase dois metros que está
andando atrás de mim. O som do salto do meu sapato, batendo mais depressa
no chão, me faz pensar que é o barulho do meu coração, que está tão nervoso
quanto meu caminhar.
— Por aqui. — Me direciono rápido para o fim do primeiro salão da
galeria, entrando no corredor e caminhando ainda mais apressada quando
chego ao final dele.
Paro diante da porta e estico meu braço, abrindo, dando um passo
para o lado e a mantendo aberta, esperando que ele passe.
— Está nervosa? — ele questiona, baixo, parando com seu grande
corpo no meio da travessia entre um salão e outro, me deixando encurralada
entre ele e a parede.
— Não, senhor — o respondo rápido e nego com a cabeça, mantendo
meu olhar abaixado, encarando a ponta do meu sapato.
Sinto a pancada da sua colônia me atingir com pura sacanagem e
queimar meus pulmões quando ele se aproxima um pouco mais e me estuda
com interesse.
— Não sabia que Rumeu gostava tanto assim de chamar a atenção dos
seus clientes para outras obras de artes dentro da sua galeria além das telas.
— Ergo minha cabeça quando ele fala em tom áspero, me fazendo sentir uma
fraqueza em minhas pernas ao ver sua face a um palmo da minha. — Alguns
contornos chamam mais atenção, eu creio.
Seus olhos desviam dos meus e ficam direcionados em meu busto.
Abaixo meu rosto e vejo o decote exagerado do vestido social negro, que
Boris vendeu a história para seu tio como uniforme, e desde então faz todas
as garotas usarem, falando que é um uniforme clássico para a galeria. Mas
que, na verdade, não passa de um pano com corte obsceno, que deixa nossos
corpos marcados e à mostra, para ele e seus clientes ficarem observando.
— Na verdade, não foi ideia do senhor Rumeu — digo para ele e
respiro com força, me sentindo inquieta com os olhos castanhos pregados em
meu decote. — Já sabe o que o senhor deseja...
Czar ergue seu rosto e me dá um olhar sacana, arqueando sua
sobrancelha, e sinto vontade de fazer as palavras voltarem para dentro de
minha boca.
— Eu digo sobre o quadro, senhor. — Tento remediar meu
constrangimento, falando apressadamente para ele.
— Claro que está — ele murmura, me fazendo ter consciência de
como ele está tão perto de mim. — Há algum quadro que represente uma
pequena ave fujona nessa galeria, passarinho?
Meus olhos se movem para seu braço, que se estica e fica com sua
mão espalmada ao lado do meu rosto, na parede.
— Não, senhor. — Troco o peso de perna e deixo meus olhos presos
no botão da sua camisa.
— Pensei que soei claro quando lhe dei uma ordem. — Sua voz
traiçoeira, tanto quanto seus movimentos, me deixa presa quando sua outra
mão segura minha cintura com força.
Fecho meus olhos e respiro com agonia, sentindo meu coração
disparar, palpitando dentro do meu peito.
— Olhe para mim, Mabel! — Czar ordena de forma dura, fazendo eu
me sentir uma covarde por não conseguir me recusar a obedecer, e antes que
eu possa resistir, meus olhos estão presos aos seus, que os sugam para ele. —
Nossa conversa ficou inacabada.
— Não tinha mais nada para conversarmos — murmuro e viro meu
rosto, olhando para o corredor, sentindo medo de alguém aparecer e nos
pegar tão próximos. — Se me der licença, há algumas telas na outra ala...
Minhas palavras morrem, ficando presas em minha boca junto com
um grito mudo de surpresa e medo, quando seu joelho se encaixa entre
minhas pernas de forma abrupta e ele o usa como alavanca para me erguer
para cima, junto com sua mão em minha cintura, apoiando a ponta do seu pé
na parede e deixando sua perna flexionada.
— O que... — Olho para ele, assustada, e viro meu rosto na mesma
hora para o corredor. — Cristo!
Meus olhos fecham e solto um suspiro quando a ponta do seu nariz
raspa em minha garganta. Meus dedos seguram em seu ombro, com a minha
perna esquerda erguida, se prendendo em sua cintura, com medo de cair no
chão.
— Senhor...
— Não gosto de ser contrariado, passarinho. E não respeitar a ordem
que lhe dei, de ficar esperando por mim dentro daquela sala, me deixou muito
chateado. — Os arrepios em meu corpo são incontroláveis, ao ter a ponta dos
seus dentes raspando na pele.
— Eu precisava ir, não tinha mais que ficar ocupando seu tempo,
senhor — falo, olhando para minha outra perna, que está pendurada, com
meu vestido torto no corpo, me deixando com a virilha desprotegida.
— Só tinha que obedecer a minha ordem, senhorita Shot! — Fecho
meus olhos e ouço sua voz ríspida, assim como os dedos firmes, que
esmagam meu quadril.
— Ohhh! — gemo, baixo, mordendo minha boca. Abro meus olhos e
encaro o fim do corredor, onde pode aparecer alguém a qualquer momento.
Ele força meu quadril para baixo propositalmente, causando a fricção
entre minha vagina no tecido grosso da sua calça e o osso do joelho,
acertando com precisão meu clitóris. A grande mão, que estava espalmada na
parede, se move para minha garganta e a segura entre seus dedos, me fazendo
olhar para ele.
— Olhe para mim! — ele murmura, sério, percorrendo minha face
com seu olhar.
Respiro mais forte e expando meu peito, soltando outro gemido
quando ele move meu corpo para frente e para trás, acertando meu clitóris
com seu joelho e o estimulando a responder. Gemo mais eufórica e mordo
meus lábios, e como resposta seus dedos aumentam a pressão em volta da
minha garganta, dificultando minha respiração.
— Não queremos chamar atenção para seu canto, não é, passarinho?
— Ele olha para o corredor e rapidamente retorna seus olhos para mim. —
Vai manter-se silenciada.
Sua voz é uma droga perigosa que nubla meus pensamentos, os
deixando completamente desligados das consequências do que estamos
fazendo pode me causar, mas a ideia de que alguém possa aparecer a
qualquer instante nesse corredor e me flagrar praticamente montada em seu
joelho, com meu corpo colado na parede e sua mão asfixiando minha
garganta, me faz ficar mais excitada.
Balanço minha cabeça para ele, em positivo, e mantenho meus olhos
presos aos seus. Um sorriso diabólico se faz em seus lábios, com ele batendo
lentamente minhas costas na parede, forçando minha cabeça para trás, lhe
dando acesso para meu colo. Ele abaixa sua cabeça sem pressa e causa um
frenesi de emoções no meu corpo quando a ponta da sua língua toca meu
seio, o lambendo lentamente. Os movimentos rítmicos do meu quadril, sendo
embalados para frente e para trás, acertam meu clitóris com mais força em
seu joelho toda vez que me empurra para trás, fazendo eu ter a noção que
minha calcinha está completamente encharcada. Ele rosna baixo e sinto a
umidade ficando espalhada em sua perna.
Seguro seu ombro com mais desespero e empurro meu peito para
frente, mordendo meus lábios com força para conter o gemido quando seus
dentes cravam em cima da pele exposta do meu seio esquerdo. Czar mantém
seus dentes firmes mordendo com força, na mesma medida que seus dedos
esmagam minha garganta, acelerando ainda mais os movimentos de vai e
vem do meu quadril em sua perna. Eu estou sendo decisivamente fodida por
seu joelho, sem controle algum das minhas vontades, enquanto ele me faz
ficar presa nos efeitos colaterais que sua mordida causa em meu corpo. O
pico de dor dispara adrenalina e prazer por minhas veias, me fazendo respirar
mais forte, lutando para conseguir inalar pelo nariz, sentindo minha traqueia
quase se fechando. E me pego desejando que ele me morda com mais força,
que ele aperte o quanto puder meu pescoço, marcando meu corpo com seus
dentes e dedos.
— Ohhh, Deus... — balbucio, perdida, sendo consumida pela linha
fina que separa a dor e o prazer, os deixando unidos.
Czar morde com mais força meu peito, como se entendesse o que meu
corpo implora, causando o dobro de dor, como um castigo por não ter
conseguido me conter com meus sons, acelerando o vai e vem da minha
pélvis, causando disparos de eletricidade por todas as minhas veias. Estou
sendo literalmente empurrada na borda a cada toque do seu joelho em meu
clitóris, não sabendo mais o que é certo ou errado, controlável e
insuportavelmente descontrolável. Minha respiração fica presa em meus
lábios e sou tomada pela onda de prazer alta e forte que se inicia antes do
relaxamento final do orgasmo. Czar liberta meu seio dos seus dentes e
empurra sua cabeça para trás, mantendo seus olhos presos nos meus,
enquanto me sinto caindo, caindo, sem nada para poder controlar o orgasmo
que está me consumindo de dentro para fora. Ele me empurra ainda mais
quando sua boca se abre, me dando uma ordem.
— Voe para mim, passarinho! — Sua voz é um comando direto, que
dispara em minha libido, que recebe sua ordem de forma intensa, me
libertando por completo.
E eu o respondo, voo alto, gozando em completo abandono, sendo
fodida por seu joelho, esfregando com mais força meu quadril em sua perna,
como uma cadela no cio que precisa de carinho e está pouco se lixando se
iremos ser pegos nesse ato obsceno. Minhas unhas cravam em seu terno e
empurro minha cabeça para trás, a colando na parede, mordendo minha boca
com força, gozando, eufórica. Sinto sua língua lamber meu queixo com
malícia, enquanto tento controlar meus tremores que me seguiram após a
partida do orgasmo, me restando apenas o relaxamento de cada músculo do
meu corpo, que estão em estado molenga e completamente fracos, mas que
fodidamente estão felizes pra caralho. Czar solta lentamente minha garganta,
enquanto vai me abaixando de mansinho, e eu tento não fraquejar e acabar
desabando por conta das minhas pernas bambas. Ele dá um passo para trás e
arruma seu blazer, olhando para o corredor, voltando seus olhos para mim.
Fico de cabeça baixa e encaro meus sapatos, com minhas coxas coladas uma
na outra, sentindo minha calcinha melada.
— Na próxima vez que lhe der uma ordem, espero que a respeite,
passarinho. — Sua voz é baixa e ameaçadoramente sexy, com ele soltando
um longo suspiro. — Como mestre, aprecio uma aluna obediente.
Vejo sua mão se erguer e ele esticar seu dedo, contornando em cima
do meu colo. Olho para lá e vejo a marca tatuada dos seus dentes,
perfeitamente visíveis em cima do meu seio esquerdo. Tento pensar no que
ele falou, sem saber ao certo se compreendi corretamente.
— Vai aceitar me ajudar... — pergunto, incerta, para ele.
Ele puxa a pontinha do tecido para cima e faz o decote ficar mais alto,
tapando os vales entre as minhas mamas. Meus olhos se movem e param nos
seus. O russo sacana, de face mal-humorada, me dá uma piscada, deixando
um sorriso sedutor no canto dos lábios.
— Deixe assim — ele fala em voz de comando, me fazendo saber que
é uma nova ordem que está me dando, não respondendo minha pergunta.
Czar dá um passo para trás e leva suas mãos para o bolso da sua calça,
me olhando da mesma forma que Rumeu fica quando admira suas telas de
colecionador. Ergo meus dedos e arrumo meus cabelos, girando meu rosto
para o fim do corredor, a tempo de ver Boris caminhando em nossa direção.
— Então, qual obra conseguiu segurar a atenção do senhor
Gregovivk? — ele pergunta, animado, olhando de mim para Czar.
Meus olhos retornam para o gigante de terno negro taciturno à minha
frente, que me encara, não tendo mais o sorriso sedutor em seus lábios.
Apenas seus olhos castanhos semicerrados encaram meu pescoço, com suas
narinas se dilatando, enquanto ele puxa o ar com força pelo nariz.
— Senhor Gregovivk vai ficar com a tela 610 — falo rapidamente,
desviando meus olhos dos seus, girando e caminhando na direção de Boris,
batendo o mais depressa que posso em retirada. — Por favor, poderia
finalizar a compra, Boris.
— Sério, a 610? — Boris caminha em minha direção e olha para trás
de mim com curiosidade. Sinto o olhar intenso do homem sombrio cravado
em minhas costas, enquanto Boris se aproxima de mim.
— Sim, ele gostou da tela. Eu preciso retornar para a triagem agora.
— Mantenho meu passo, sem mostrar intenção alguma de que pretendo parar
para ficar conversando com ele no meio do corredor.
— Claro, tudo bem. — Boris sorri para mim, enquanto o deixo para
trás, passando por ele. — Mabel!
Paro alguns passos à frente e fecho minhas mãos ao lado do meu
corpo, me sentindo assustada quando ele me chama. Por instinto, ergo minha
mão para meu pescoço.
— Sim... — Me viro lentamente, olhando para Boris e para o grande
armário parado a poucos passos dele, com as mãos no bolso.
— Seu uniforme! — Boris fala, baixinho, olhando para o decote
erguido do vestido. — Pensei que já tínhamos conversado sobre isso.
Sinto o suor começar a transpirar pela minha pele, enquanto meu
coração está a um passo de pular para fora da minha boca, de tão acelerado
que está batendo. Tenho certeza que mesmo Boris achando que falou baixo,
apenas para que eu possa ouvir, o soturno russo mal-encarado atrás dele
ouviu. Boris olha para mim com mais insistência, movendo seus olhos do
decote para minha face, esperando que eu o arrume, abaixando-o novamente.
O grande felino com passos silenciosos que anda atrás de Boris, parecendo
um predador, chama a minha atenção, me fazendo olhar para seus olhos
castanhos.
— Senhorita Shot. — Czar assusta Boris quando fala atrás dele, com
sua voz potente, fazendo o homem franzino se sobressaltar e virar
rapidamente. — Estarei em casa às 20h, aguardo a entrega do meu quadro
pela senhorita, como combinamos. — Ele mantém seus olhos focados na face
de Boris, enquanto me sentencia a não poder escapar dele. — Podemos
fechar a compra agora, senhor Boris, tenho outros compromissos que
precisam da minha atenção.
Czar começa a andar, vindo na minha direção feito um trem bala. Dou
um passo para o lado, praticamente colando meu rabo na parede, abaixando
meus olhos para o meu sapato.
— Não se atrase — ele murmura de forma intimidadora quando passa
perto de mim, sendo seguido logo na sequência por um Boris apressado, que
precisa acelerar seus passos para acompanhar o grande homem.
Esfrego meu rosto, colando minhas pernas uma na outra e fechando
meus olhos, enquanto tento assimilar tudo que acabou de acontecer. Se Boris
tivesse chegado cinco minutos antes, ele teria me pegado completamente fora
de mim, gozando no joelho de um cliente. Sem falar que agora estou com
uma grande marca de uma arcada dentária em meu peito, que vai me deixar
por dias impossibilitada de usar essa porra de uniforme de vadia
corretamente.
— Oh, meu Deus! — Meus dedos deslizam por minha face quando
giro meu pescoço para outra direção, onde ficam as telas. — 610, merda...
Merda, Mabel!
Me recrimino com raiva ao me tocar agora que acabei de vender a tela
610 para aquele homem, e serei eu a ter que entregá-la.
CAPÍTULO 12
UM JOGO PERIGOSO
Mabel Shot

— Tem certeza de que é aqui? — Olho perdida para o motorista


particular de Rumeu, que estaciona o carro diante de uma grande casa com
arquitetura moderna, situada praticamente no outro lado de Moscou.
Rumeu não me deixou fugir da porcaria da entrega, fico imaginando
que a venda do 610 tenha o deixado satisfeito pelo tamanho da quantia
astronômica que valia aquele quadro. O curador chegou até abrir mão do seu
motorista, apenas para ter certeza de que a tela chegaria corretamente até o
dono. Tentei convencê-lo que já que o motorista iria trazer, não haveria
necessidade de eu vir também, mas o russo trapaceiro, presumindo que eu
tentaria escapar das suas artimanhas, agiu mais rápido, contando para meu
chefe que eu tinha combinado de ir entregar a tela pessoalmente para ele, e
aproveitaria para analisar as outras pinturas que ele tinha adquirido na Índia,
e ele tinha interesse em doar para a galeria, como um presente para Rumeu.
Czar se certificou que meu chefe não me deixaria fugir desse encontro.
— Foi esse endereço que o chefe deu. — O senhorzinho amável
desliga o carro, parando diante dos portões de ferro que ficam na divisa do
terreno. Vira seu rosto e olha para mim. — Se quiser, posso ficar aqui lhe
esperando, eu aviso ao senhor Boris que só poderei buscá-lo mais tarde.
— Na verdade, acho que não precisa ficar aqui, eu me viro. Gosto de
andar, sabe, e no fim isso é bom, porque conheço novos lugares em Moscou.
Só vou entregar a tela e já vou embora. — Sorrio para ele e olho para o banco
de trás do carona, onde a tela está embrulhada. — Qualquer coisa, eu pego
um táxi. Obrigada por ter me trazido, Bingo. Realmente acho que nunca
saberia chegar até aqui sozinha.
— Esse é meu trabalho, senhorita Shot. — Ele sorri para mim e abre a
porta do carro.
Faço o mesmo, abrindo minha porta e saindo para fora, olhando ainda
confusa para a imponente construção. Passei a viagem toda pensando qual
seria a reação do motorista quando parasse o carro na frente de um açougue,
como explicaria para ele que a tela iria ficar lá. Mas, ao invés do açougue, eu
vim parar em uma mansão luxuosa, em um bairro distante, que fica
praticamente do outro lado da cidade. Pego minha bolsa, que deixei no
assoalho do carro, e arrumo em meu ombro, me sentindo bem mais
confortável com a minha roupa do que com o uniforme. A camisa de mangas
compridas combina com o meu vestido de jardineira jeans, que tem o
comprimento até as minhas canelas; o sapatênis branco é confortável, bem
mais gostoso que o sapato de salto alto que uso durante o dia no trabalho.
Empurro uma mecha solta do meu cabelo para trás da minha orelha, que tinha
se desprendido do rabo de cavalo. Abro a porta do banco de trás e pego com
cuidado a tela embrulhada, completamente protegida envolta de plástico
bolha.
— Obrigada, Bingo — agradeço ao motorista, que me ajuda fechando
a porta do carro.
— Até amanhã, senhorita Shot. — Ele sorri para mim e dá à volta no
carro, retornando para o interior dele e o ligando.
— Até amanhã — murmuro, deixando um sorriso educado estampado
em minha boca, o olhando partir.
Abaixo meus olhos para o quadro e solto um longo suspiro, antes de
encarar a grande casa novamente.
— Que merda, hein, Mabel! Que merda!
Caminho chateada para perto do portão, ainda não acreditando que
entre todas as telas que eu poderia ter vendido para esse homem, foi
justamente essa daqui que escolhi. A violação de Era, como o pintor deu o
nome. A tela veio da Turquia, pintada por um otomano pagão, o qual Rumeu
praticamente vendeu sua alma para conseguir possuí-la. Recordo da primeira
vez que a vi, ela era crua, sem cores, apenas a pintura preta e branca, de uma
violação da natureza representada por uma mulher feita de raiz de árvores,
que tem um anjo negro e perverso forçando seu corpo sobre o dela. Não se
trata de uma pintura que arrancaria suspiros, mas sim que te choca ao mesmo
tempo que te fascina. Eu já tinha passado horas olhando para ela no horário
do meu intervalo, dividindo uma certa empatia por Era, como se
compartilhasse as emoções que ela estava sentindo. É uma pintura que agrada
a poucos, mas que cativa rapidamente os observadores, um ato explícito da
dominância e submissão. Foi tão automático dizer seus números, que nem
sequer parei para pensar para quem eu estava entregando essa tela. Ergo meus
dedos com intenção de tocar na campainha, mas sou surpreendia pelo estalo
do portão se abrindo.
— Ok! — murmuro, mordendo o canto da minha boca.
Dou um passo para frente, consciente de quem me aguarda dentro da
residência. Caminho covardemente, imaginando que essa é minha última
marcha, igual àqueles condenados nos corredores da morte, só que não é uma
cadeira elétrica que me espera ao fim e nem uma injeção letal na veia, mas
sim um sombrio homem, que é três vezes maior do que eu e que tem um
poder estranho sobre mim. Um domador de demônios, perigoso e assustador
adestrador. Faço um estranho exercício mental que me distrai, imaginando o
que poderia ocorrer de pior em todo esse cenário. Assim alivio minha
ansiedade e nervosismo. Ele pode ser um psicopata ou um assassino em série,
que gosta de praticar sexo com as vítimas antes de matá-las, talvez um
perseguidor, isso explica porque foi aparecer na galeria. Tento pensar em
tudo de horrível que ele poderia fazer comigo, que Nate não tenha feito. Mas
não consigo imaginar nada, nem se ele me matasse seria ruim, pelo contrário,
ele estaria me dando paz.
— Qual é, Mabel, quem você está querendo enganar?! — Limpo
minha garganta e respiro fundo. — Ir atrás desse homem foi a maior idiotice
que você já fez. — Nego com a cabeça e pisco rapidamente. — Não! Permitir
que ele lhe fodesse com o joelho dele, dentro do seu trabalho, foi!
Me corrijo sozinha, me amaldiçoando por ter vindo parar aqui. Talvez
eu pudesse apenas alegar que estava exausta na sexta-feira à noite. Eu tinha
trabalhado a semana inteira, estava cansada e com pensamentos desvairados
tomando conta da minha mente, foi apenas um colapso de cansaço. Não
estava muito bem das ideias.
— Com certeza, sexta não estava nos meus melhores momentos —
tagarelo, baixinho, e ergo meu dedo indicador, mordendo o cantinho da unha.
— Inferno, nem pensei que realmente iria o encontrar, quanto mais que ele
aceitaria!
Olho para a porta da casa que me aproximo e vejo a grande varanda
sem nenhuma luz acesa, pensando que o mais sensato seria deixar o quadro
ali, encostado no pilar da varanda. Poderia correr para o portão e tocar o
interfone. Estou de tênis, sou rápida para correr. Antes mesmo dele abrir a
porta, eu já estaria virando a esquina do quarteirão. Tenho papel e caneta na
bolsa, quem sabe não possa deixar um bilhete, agradecendo o tempo dele,
mas que eu tinha recobrado meu juízo e percebi como isso era uma coisa que
não teria chance alguma de rolar.
— Talvez seria melhor não escrever nada — falo, pensativa, ficando
incerta sobre o bilhete. — Foda-se, vou só deixar o quadro e ir embora!
Subo as escadas rapidinho e me inclino para perto do pilar, arrumando
o quadro em minhas mãos, me sentindo uma criminosa andando nas
pontinhas dos pés, furtivamente, no meio da madrugada, rezando para os
donos da casa não acordarem e me pegarem em flagrante. Dou um baixo
suspiro e sorrio de alegria quando encosto o quadro lentamente no pilar, o
depositando no chão. Me viro rapidinho e retorno para as escadas.
— Indo a algum lugar, passarinho?
Fecho meus olhos com força e mordo minha boca, congelando meu
corpo assim que a voz masculina se faz na varanda. A luz dela se acende e o
som de passos pesados se faz, rangendo a madeira.
— Na verdade, no meio do caminho lembrei que já tinha marcado
outro compromisso, dá para acreditar? — Abro meus olhos e endireito minha
postura, passando minhas mãos, trêmulas, por minha jardineira. — Uma pena
já que não vou poder ficar mais tempo, mas seu quadro está entregue.
Sorrio, agoniada, e aponto para o quadro, rapidamente retornando a
descer as escadas, prendendo minha bolsa embaixo da minha axila. Paro de
andar e olho o grande portão sendo fechado, me trancando pelo lado de
dentro.
— Suba! — ele fala de forma despreocupada, mas intensa o suficiente
para não deixar sua autoridade passar despercebida.
Encolho meus ombros e solto o ar por minha boca, me virando
lentamente. Ergo meu rosto e o encontro parado diante das escadas, me
olhando, com seu braço erguido, segurando o controle remoto. Devia ter
desconfiado da porcaria do portão abrindo sozinho. Sou nocauteada de
primeira, me levando para a lona por seu par de olhos castanhos. Talvez a
culpa de todo o meu desconcerto seja dos seus trajes, que o deixam
irresistivelmente sexy. Calça jeans escura e camisa preta nunca me pareceu
algo tão charmoso em um homem. Os coturnos militares marrons combinam
com ele, lhe dando um ar mais predominante. Essa postura rígida e
determinada é algo que realmente casa com esse russo, não como se fosse
uma atitude adquirida, mas sim nascida com ele, uma característica que já faz
parte dos seus cromossomos.
Eu estou ferrada!
Minha mente me alerta, já sabendo antes mesmo de mim que eu me
meti em uma grande encrenca. Seus olhos me estudam por um longo tempo,
me deixando inquieta, com meu coração disparado, querendo entender
porque não foi outra pessoa, porque meu corpo sacana tinha que ter
respondido tão obedientemente para ele. Poderia ser um cara baixinho, o qual
eu não precisasse ter que quase quebrar meu pescoço para olhar nos olhos, ou
então menos musculoso, quem sabe um magrelinho fizesse eu me sentir
menos indefesa e agitada do que esse homem faz apenas com um único olhar.
Ele leva suas mãos para trás das costas e dá um passo para o lado, me dando
uma chamada com um gesto de cabeça. Miseravelmente, como se fosse uma
cadelinha teimosa que acabou sendo pega em flagrante, tentando fugir para
rua, caminho chateada, com o rabo entre as pernas, obedecendo a ordem do
dono. Subo degrau por degrau, parando apenas quando fico de frente para a
porta e o vejo esticar seu braço e pegar sua tela, a levando para baixo da
axila.
— Boa noite, senhorita Shot. Fico feliz que tenha vindo entregar
minha tela — ele fala em tom provocador e para do meu lado.
— Boa noite, senhor Gregovivk. — Giro meu rosto, tendo seu
peitoral como meu campo de visão.
Tento segurar a respiração quando o cheiro da sua colônia me acerta,
começa a me embriagar e alertar meus instintos olfativos.
— Como foi o dia hoje? — Ele passa por mim e abre a porta da casa,
a segurando para que eu possa entrar.
Ele está caçoando de mim descaradamente, deve imaginar como foi o
resto do meu dia depois da sua visita.
— Foi tranquilo — o respondo e caminho para dentro da residência,
mentindo para ele. Jamais admitirei que passei minha tarde feito uma
adolescente ansiosa e eufórica.
É gritante o contraste que existe entre o proprietário e a residência.
Sua casa é clara, sem muitas divisas, com um grande janelão que pega a
parede fora a fora na outra extremidade, mostrando um grande gramado
iluminado com uma piscina, saindo vapor dela. É uma casa que possui um
toque sofisticado e clássico ao mesmo tempo. Olho para cima e vejo o
corredor que suponho levar para os outros cômodos, com uma escadaria
branca de marfim. O paredão à esquerda chama a minha atenção, onde vejo
diversas máscaras africanas, de várias culturas dos povos que residem na
África.
— Me acompanhe! — ele me pede de forma polida e estica sua mão
para mim, me encarando. — E se sinta à vontade em minha casa — Czar fala,
sério, e caminha para o vão, onde tem duas grandes portas abertas.
O sigo a passos lentos e deixo um espaço entre nós dois. Fico perdida
e olho para a grande sala repleta de livros, com prateleiras pegando as três
paredes principais de cima até embaixo. Na parede ao centro, uma grande
lareira rústica, com marfim branco, se destaca. Olho em volta e dou uma
passada rápida em cada canto da biblioteca, parando minha atenção no grande
quadro em cima da lareira. Tombo meu rosto para o lado e o estudo
silenciosamente, vendo a gravura de um bosque escuro, com árvores mortas.
Mas não são os galhos secos que chamam a minha atenção para ele, mas sim
o grande sátiro encostado nela, tocando uma flauta. O desenho da figura de
um ser metade homem, com pernas de bode e chifres na cabeça, tendo casco
ao invés de pés, me faz andar até lá, parando na frente da lareira e olhando o
quadro. Ele apresenta solidão, com apenas a flauta em seus dedos,
assoprando-a com seus olhos melancólicos.
— A solidão de Lupércio! — Ouço a voz masculina falar atrás de
mim, me fazendo virar para o russo. — O conhece?
— Acho que já ouvi algumas coisas sobre ele — o respondo e cruzo
meus braços abaixo do peito, lhe dando um sorriso amarelo.
O senhor Gregovivk anda em direção à mesa e deposita sua tela, a
desembrulhando. Volto minha inspeção pela sala, bisbilhotando-a.
— Pode sentar, passarinho. — Ele aponta para um sofá à direita. Eu
tinha desistido de pedir para ele parar de me chamar assim. O grande homem,
provavelmente, tem um problema de audição, em que se limita a ouvir apenas
o que lhe agrada.
Balanço minha cabeça em positivo e caminho para o sofá ao canto, de
três lugares de couro preto. Sento lentamente e solto minha bolsa ao meu
lado. Um pouco à frente, uma grande poltrona negra está posicionada. Ao
virar meu rosto, vejo um livro aberto sobre uma mesinha oval, próxima ao
braço do sofá. O ergo lentamente e seguro-o na página que está aberto.
Observo a capa ilustrada do rosto de uma mulher sendo montado como um
quebra-cabeça. Leio com atenção o título, que se destaca na capa. Dentre os
mortos[39], um romance de Boileau-Narcejac, que futuramente ficaria
conhecido mundialmente por Vertigo: Um corpo que cai[40], quando
Hitchcock se inspiraria nele para fazer o filme.
Lembro disso porque eu tinha assistido a fita cassete do filme na casa
dos Shot, ele estava entre os VHS da coleção deles. Acho que foi ano
retrasado que comprei o livro em uma livraria de exemplares usados, e passei
horas deitada no sofá, lendo-o. Lembro de ficar presa ao desenrolar da
história. Um policial se aposenta após um evento traumático, o detetive
Flavières. Ele aceita o pedido de um ex-colega de faculdade para que siga sua
esposa Madeleine, que vem se comportando de maneira estranha e
preocupante. Logo, Flavières se apaixona por ela, mas isso não elimina em
nada o mistério que cerca Madeleine. Embora Flavières seja o protagonista, o
enredo da história se concentra em Madeleine, mas ela demora a entrar em
cena, intensificando o mistério que a envolve e aumentando a obsessão do
detetive por ela. Para ser franca, eu o via como um homem vazio, que ficou
obsessivo por essa mulher mesmo tendo consciência de que o que ele sente é
além de inútil, ridículo. Há um perigo pairando sobre ela e,
consequentemente, há um perigo pairando sobre ele, por estar se envolvendo
com ela.
Esse sentimento de urgência, esse desespero que Flavières sente por
Madeleine, foi o que me contaminou com o mesmo desespero que ele sentia.
Meus olhos passaram quase voando pelas páginas, querendo devorar a
história o mais rápido possível, angustiada para ver as coisas acontecerem.
Mesmo já sabendo basicamente o que iria acontecer, foi um dos livros que
mais me marcou. Talvez eu tenha me sentido cúmplice com ele naquela
época por uma obsessão inútil e ridícula. Suspiro baixo e viro o livro
lentamente, olhando para as páginas abertas, lendo mentalmente o trecho
final da página.
“Só os olhos continuavam perfeitos; só eles traíam Madeleine.
Flavières pagou e foi até ela. Sentia vontade de abrir os braços, para
abraçá-la ou para estrangulá-la.”
— Deveria ter estrangulado ela, Flavières! — murmuro, me
recordando do pobre detetive.
Uso o marcador que está na página anterior para marcar a página
correta e fecho o livro, o deixando sobre a mesa.
— É um bom livro — elogio a literatura, o olhando, buscando nisso
uma forma de apaziguar o silêncio que está crescendo e me deixa nervosa.
— Sim! — ele responde apenas isso e volta seus olhos para a tela, que
desembrulha, encerrando o assunto, não dando nem tempo para começar,
para ser franca.
Suspiro e me endireito no sofá, batendo meus dedos nos meus joelhos
no mesmo compasso que meus pés batem no chão de mansinho. Volto meus
olhos para ele e o vejo com sua face indecifrável, analisando a tela sobre a
mesa. Retorno ao desespero inicial, o qual eu tive quando quis morrer por ter
vendido esse quadro para ele. Os olhos castanhos param em mim quando seu
pescoço gira, arqueando sua sobrancelha direita de uma forma elegante, que
chega a ser injusta, de tão descaradamente charmosa que é.
— Arte Otomana — sussurro, envergonhada, dando um sorriso sem
graça. — Não é bem uma ave fujona, mas creio que ela se enquadra bem
nesse contexto.
— A dominação do homem sobre a natureza — ele fala, me fazendo
olhar para ele com mais atenção, por conta da rápida lógica que ele
compreendeu a intenção do pintor. — Representado por um anjo caído e uma
mulher violada.
— Sim... — murmuro, não conseguindo reprimir o sorriso gentil em
meus lábios. Eu já tinha visto outros clientes, pintores, e até mesmo Rumeu e
Boris, analisando a tela, discutindo calorosamente que se tratava da
masculinidade e hierarquia que imperava na época dos antigos Otomanos.
Nunca nenhum deles realmente olhou para a tela com um olhar mais atento,
buscando por outros traços que não fosse a virilidade. Ele desvia seus olhos
dos meus e retorna para a tela, a olhando. Fico cabisbaixa, observando meus
dedos sobre meus joelhos.
— Sempre me surpreendendo, passarinho. — Sua voz fala em tom
baixo, se mantendo perto da mesa.
— Isso quer dizer que gostou dela? — pergunto, receosa, sem saber
se isso significa algo bom ou ruim.
— Sim, eu gostei da tela, Mabel!
O suspiro de alívio que sai da minha boca é incontrolável ao ouvir sua
voz. Estava nervosa dele não gostar dela e acabar querendo devolver. Cristo!
Só Deus sabe o que eu teria que inventar para Rumeu, para lhe explicar
quando me perguntasse porque o cliente estava devolvendo uma tela que ele
tinha escolhido.
— Bom, agora que você viu a tela e gostou, e ela foi devidamente
entregue, eu já posso ir! — Me levanto rapidinho, segurando minha bolsa. —
Foi um prazer, senhor. Agradeço a hospitalidade.
— Se der um passo para fora dessa sala, senhorita Shot, tomarei isso
como um convite para discipliná-la, espancando seu rabo!
Meus olhos se arregalam, enquanto meu coração fica acelerado.
Comprimo a alça da bolsa em minha mão e olho para o grande homem que
acabou de me ameaçar, que observa atenciosamente a pintura. Ele gira sua
face para mim e move seus olhos para o sofá, me dando uma ordem
silenciosa para que eu e meu rabo retornem são e salvos para lá. A saliva
desce pela minha garganta, de forma forçada, enquanto me sento, novamente
olhando para meus dedos. Vários segundos longos e tortuosos se passam
antes de eu escutar os passos dele andando pela sala. Ergo minha cabeça e o
vejo se mover para a poltrona que tem próxima ao sofá, soltando seu peso
nela quando senta de forma confortável. Há algo diferente nele, um olhar
mais sombrio, o qual ele não tinha me dirigido das outras vezes, nem naquela
saleta em Sodoma e muito menos hoje na galeria. Sua face está implacável,
com a boca rígida.
— Vou ser direto e explicar alguns pontos que eu levo a sério e não
tolero, Mabel. — Ele descansa seu braço nas laterais do braço da poltrona,
batendo sua mão lentamente na ponta dela. — Mentir para mim me deixa
com a mão coçando para deixar seu rabo tão dolorido, o qual tão cedo não se
esquecerá de mim, então sugiro que não minta.
Junto minhas pernas, colando meus joelhos, tendo o efeito perigoso
que sua voz rouca tem sobre mim ao dizer essas palavras, causando tremores
sacanas em meu corpo. Meus dedos se apertam mais ao pano, enquanto sinto
os pelos da minha nuca ficarem arrepiados.
— Em nossa conversa inacabada, na sexta-feira à noite, lhe fiz uma
pergunta que não foi respondida. — Ele mantém a voz em tom baixo, mas de
forma intimidadora, me deixando presa em seus olhos. — Quem foi e o que
exatamente ele fez?
— Ninguém importante — o respondo, soltando a bolsa ao meu lado,
deixando minha mão espalmada no estofado do sofá.
— Não me teste, passarinho!
— Não estou — murmuro e nego com a cabeça. — Não estou
mentindo, senhor. Apenas não quero falar sobre isso.
— Por quê? — Ele se mantém imparcial em sua postura dominadora,
me encarando. — Foi um antigo relacionamento, amigo... — Ele nega com a
cabeça, respondendo suas próprias palavras. — Não, foi um namorado.
Fecho meus olhos e balanço a cabeça em positivo, sentindo meu
corpo se afundar pouco a pouco no sofá.
— Você consentiu? — Czar muda seu tom de voz, ficando mais
perigoso quando ela suaviza, pois é bem assim que ela tem o poder maior de
me desarmar.
— Não... — respondo com tristeza, abraçando meu corpo e abrindo
meus olhos para ele.
Sua boca está rígida, com os lábios esmagados. Seus dedos cravam no
braço do estofado e demonstram sua raiva, enquanto sua face se mantém
imparcial.
— Te espancou? — Ele abaixa seus olhos para meus pés, que batem
ansiosos no chão, retornando a me encarar.
Balanço minha cabeça em positivo, respirando rápido. Sinto a
transpiração aumentar em minha pele, não quero falar sobre isso. Por que ele
precisa perguntar essas coisas?!
— Abusou de você...
— Houve muitas coisas naquele fim de semana, senhor — digo,
baixo, girando meu rosto para a porta e fixando meu olhar nela, sentindo que
estou a um passo de levantar e ir embora, mesmo ele tendo me ameaçado.
— Fim de semana? — O russo respira pesado e fala em tom severo.
— Olhe para mim, senhorita Shot!
Retorno meus olhos para ele e descruzo meus braços, levando minhas
mãos para meus joelhos, como se assim pudesse controlar o nervosismo dos
meus pés.
— Sim, foi um fim de semana. — Mordo minha boca, não querendo
me recordar daquilo. — Deu início em uma sexta-feira à noite, e os
espancamentos, as surras, os estupros e os choques cessaram apenas na
segunda-feira de manhã.
Meu corpo se encolhe quando inclino meu peito para frente e abraço
minha cintura.
— Eu tentei esquecer, esquecer tudo que aconteceu, o jogando para o
fundo da minha alma, silenciando os gritos, as lágrimas e soluços que me
atormentavam a cada segundo, invadindo minha mente... — As palavras
saem da minha boca de forma melancólica. — Sentia tanto ódio. Cristo!
Como eu me odiava!
— Por que se odiava, passarinho? — A voz traiçoeira está presa
demais dentro da minha mente para que eu possa conseguir construir uma
barreira para me proteger dela. — Mabel!
Ergo meu rosto para ele e tombo minha face em meu ombro, tendo o
sorriso mais miserável e triste esboçado em minha boca, sentindo meus olhos
queimarem por conta das malditas lágrimas que ameaçam descer.
— Porque meu corpo respondeu àquilo. — Me sinto duplamente pior
ao ter que admitir isso em voz alta. — Eu não consegui controlar as reações
do meu corpo, e a cada nova forma de machucar que ele aplicava em mim,
me torturando enquanto me masturbava, me humilhando, mais meu corpo se
excitava. Eu não consegui ter controle sobre mim...
Morro entre cada soluço que sai da minha boca, junto com o choro,
esmagando meus dedos na lateral do meu corpo, tão forte ao ponto de eu
sentir minhas unhas cravarem na carne junto com o tecido do vestido.
— Ele me feriu da pior maneira, me fazendo ver como meu corpo era
imundo e sujo. E eu não consegui esconder, não consegui esquecer, não
quando todo dia recordo do que eu sou quando me olho no espelho. —
Minhas unhas raspam por cima do pano e esmagam minha barriga, sabendo
que a maldita cicatriz está lá, em minha pele. — Cristo, eu odeio esse
maldito, odeio ele com todas as minhas forças, mas o ódio que sinto por mim
é duas vezes maior! O que eu me transformei, o ponto que eu cheguei quando
perdi o controle...
Czar está completamente ilegível, não demonstrando nenhuma
expressão, não me permitindo ver suas emoções, enquanto estou
completamente nua diante dele, desnudando a sujeira mais impura que tem
dentro de mim.
— Eu preciso de ajuda...
— O que exatamente quer de mim, passarinho? — ele indaga, sério,
mantendo seus olhos presos nos meus.
— Quero tentar ser um pouco mais normal novamente, na medida do
possível, achar uma forma de conviver com toda essa perversidade dentro de
mim e ter um relacionamento comum com outra pessoa — digo,
envergonhada, retornando minhas costas para o encosto do sofá.
— Poderia ter pedido ajuda de outra pessoa, por que veio até mim? —
Ele me empurra mais para a borda, mantendo seus olhos castanhos sombrios.
— Você... — Me calo e descruzo meus braços, levando uma mão ao
rosto e limpando minha face. Não tenho ideia de como posso lhe dizer de
uma maneira que não seja tão humilhante quanto já está sendo, que depois de
Nate, ele foi o segundo homem que realmente me tocou. — Aquela noite que
me tocou, eu me senti viva... Pensei que você poderia me ajudar, por isso fui
atrás de você.
Procuro as palavras certas para dizer, mas a forma como ele me olha
tão intensamente, não me ajuda a encontrar as palavras.
— Quero tentar me relacionar novamente com um homem... — Sugo
a parede interna da minha bochecha, compreendendo que estou deixando
tudo mais confuso, ao invés de simplificado, com a arqueada de sobrancelha
que ele me dá.
— E acha que um mestre em sadomasoquismo pode lhe ajudar,
justamente como? — ele fala, lento, me estudando com interesse.
Respiro fundo e coço minha nuca, batendo mais rapidinho meu pé no
chão.
— Desejo compreender se é possível me relacionar com um homem e
conseguir suprir minhas necessidades ao mesmo tempo, sem ter medo de
perder o controle. — Minha voz envergonhada fala em um sussurro, antes de
eu finalmente tomar coragem e ir ao ponto. — Saber se consigo fazer sexo
com penetração... — Ergo meus olhos para os seus e respiro com pressa. —
Quero que faça sexo comigo, senhor.
O silêncio que se segue é duplamente maior do que o primeiro,
quando ele me ameaçou. A diferença desse é que é extremamente
constrangedor. O russo está sério, olhando para mim de uma forma estranha,
não demonstrando reação alguma, enquanto bate a ponta do seu dedo
indicador no braço do sofá.
— Deixa ver se eu compreendi o que realmente quer. — Ele se
levanta de forma repentina e leva suas mãos ao bolso, fazendo eu me sentir
menor ainda diante da sua altura. — Quer que eu a foda, para saber se
consegue ir até o fim com outro homem?
— É, acho que resumindo em poucas palavras, seria isso — murmuro,
envergonhada, e dedilho meus dedos em meus joelhos.
Mexo-me, inquieta, no sofá, preferindo ficar calada, pois não tenho a
mínima ideia do que se passa na cabeça desse russo. Talvez eu possa ter o
insultado. Eu não entendo muito como funciona isso, posso ter ido longe
demais, provavelmente ofendi seu ego.
— Com quantos homens dormiu depois do que aconteceu com você e
esse cara, passarinho? — ele me pergunta direto, sem muito rodeio, o que me
faz repuxar meu nariz.
— Nenhum, senhor — o respondo e mantenho meus olhos abaixados.
— E antes?
Fecho meus olhos, me encolhendo ainda mais, e mordo minha boca,
sem um pingo de coragem para lhe responder.
— Mabel, olhe para mim — ele ordena de forma urgente, o que
novamente me leva a querer chutar meu rabo, por não conseguir desobedecê-
lo.
— Nenhum, senhor — sibilo, tímida, olhando para ele.
Czar dá um passo para trás e se senta novamente em sua poltrona,
ficando com sua postura rígida, olhando para mim.
— Me julgo ser um homem imparcial, senhorita Shot, nunca fui pego
desprevenido, mas preciso admitir que é a primeira vez que alguém me
surpreende por duas vezes em questão de tão pouco tempo. — Ele desvia
seus olhos dos meus e encara o quadro em cima da mesa do escritório,
ficando taciturno. — Quantos anos tinha, quando o conheceu?
— Tinha dezesseis. — Recordo daquele dia, em que minha mãe
adotiva me levou para o clube de golfe junto com ela. — Eu não saia muito
de casa, não tinha amigas, mas então, um dia, tudo mudou, quando fomos
apresentados no clube de golfe que meus pais iam. Às vezes, penso que
aquele encontro já estava marcado para acontecer. — Divago entre palavras,
lembrando-me daquele dia, de como Alekessandra estava tão animada, me
encorajando a conversar com Nate, me largando sozinha na mesa com ele.
— Era uma criança quando ele fez isso com você! — Me assusto
quando a voz grossa soa alta dentro da sala, retornando seus olhos para mim,
tendo o castanho tão escuro que quase se aproxima do negro.
— Não, não, senhor — respondo rapidamente, negando com a cabeça.
— Foi no meu aniversário de vinte anos. — Respiro fundo e aliso minha mão
em minha perna, me sentindo angustiada.
— Ele precisou de três dias para lhe quebrar. — Sua voz sai amarga,
carregada de agressividade.
Abaixo meu rosto para meus dedos, não suportando ver seu olhar
sombrio preso em mim. Entendo como devo parecer uma doente de merda,
contando todas essas coisas, afinal, eu confiei em Nate, ele foi o único
homem que me tocou, meu amor juvenil. Nunca imaginei que o homem que
conhecia há anos faria aquilo comigo. Fecho meus olhos e balanço a cabeça
para o lado.
— Eu não devia ter vindo! — Me levanto rápido e esfrego meu peito.
— Não devia ter lhe pedido algo assim, senhor.
Minha voz morre em meus lábios quando me sobressalto, com meu
coração quase parando de bater. Nunca vi alguém se mover tão rápido quanto
Czar nesse momento. Ele levanta em um rompante abrupto, me intimidando,
e tombo para o sofá novamente, ficando com meu corpo congelado e meus
olhos arregalados, com sua face a poucos centímetros da minha e com seus
braços me enjaulando no sofá, os tendo um de cada lado, com as mãos
apoiadas no estofado. Sinto a forma que seus olhos me queimam, como se
enxergassem meus pecados.
— Nos próximos vinte dias, você fará tudo o que eu mandar. Todo
seu tempo depois do trabalho e suas horas vagas pertencem apenas a mim
agora, não terá nenhum controle nas decisões que eu tomar e irá me obedecer
sem questionamento. Se me desobedecer, irei castigá-la da forma que eu
julgar correto.
Me colo ainda mais ao sofá, ficando completamente imóvel, sendo
engolida por seu olhar dominador, sentindo os calafrios em minha pele, me
arrepiando com o ar quente que sai dos seus lábios e acerta minha face.
— Sou o senhor do seu controle, e vai aprender a confiar em mim.
Saberei o que esse seu pequeno corpo pode tolerar, tanto da dor como do
prazer. — Ele abaixa seus olhos para minha boca e respira com força. — E
pode apostar seu lindo rabo, que irei o induzir a nutrir todos os prazeres.
— Se aceitar essas coisas, vai me ajudar, senhor? — questiono sem
muita coragem, ainda impactada com todas as coisas que acabei de ouvir.
— Não, não vou te ajudar — ele me responde rápido, relaxando sua
expressão facial, endireitando seu corpo e dando um passo para trás. — Se
aceitar meus termos, iremos jogar, passarinho.
— Jogar? — Pisco, confusa, não entendendo o que seria jogar.
— Sim, jogar. Jogaremos Sodoma.
— E, no fim desses vinte dias, conseguirei me... — Mordo meus
lábios e desvio meus olhos dos seus, ficando sem coragem de falar.
— Ao fim do jogo, irá conseguir ter uma relação com outro homem,
se for essa sua vontade. Também entenderá como controlar sua alma
masoquista — Czar me responde calmo. Volto meus olhos aos seus e fico
perdida sobre se serei capaz de me entregar por completo, renunciando a mim
mesma e ficando à mercê dele. — A única forma de parar o jogo, é dizendo a
palavra-chave. Gomorra!
— Gomorra — repito a palavra, baixinho, tentando entender tudo que
ouvi. — Se falar ela, eu acabo com o jogo?
— Acaba tudo. A partir do momento que essa palavra for dita, nossa
ligação termina, meu poder sobre você, nosso vínculo, não existirá mais
nada! — Ele respira fundo e solta o ar com calma, relaxando os músculos do
seu ombro. Sua mão se ergue e vai para o bolso da calça, com seu olhar se
mantendo em mim. — Entrará no jogo por escolha própria, da mesma forma
que tem a liberdade para acabar com ele no segundo que achar que esgotou
seus limites, mas se aceitar, será sob os meus termos, eu decido tudo, eu
controlo tudo. Será minha para decidir fazer o que quiser, me ter como seu
dominador é aceitar que será minha submissa.
Mas eu não tenho limites, é justamente por isso que me policio tanto.
A perca do controle me levava à ruína. Entendo que se aceitar entrar nesse
jogo será para ele me quebrar ainda mais, por isso a escolha é minha. Não
posso voltar para o que era antes, a chance que ele me oferece é de me
destruir de vez, para aí sim descobrir o que vai restar de mim. Teria que
confiar nele para aceitar entrar às cegas nesse jogo.
— Terá outras pessoas envolvidas? — pergunto, baixo, fixando meus
olhos na poltrona dele.
— Não entendi. Como assim outras pessoas? — Czar dá um passo à
frente novamente, chamando minha atenção para ele.
— Digo, você... — falo sem jeito, não sabendo ao certo como me
expressar. — Pelo que sei, o senhor é um conselheiro em Sodoma, então deve
existir outras submissas... Tocará nelas também enquanto estiver comigo?
É estranho como um homem tão grande, que emana masculinidade e
força pelos poros, consegue ser delicado e atencioso com seu toque. Sinto as
mãos de Czar repousarem em meus ombros, me levantando lentamente, me
mantendo perto dele.
— Não tocarei em outras mulheres enquanto estiver jogando com
você, Mabel. Assim como pode ter certeza de que apenas o meu pau vai foder
sua boceta. — Sua mão áspera e grossa toca meu rosto, usando seu dedo para
erguer meu queixo, o alisando lentamente. — Será apenas nós dois.
Respiro lentamente e me sinto mais cativa do que poderia imaginar
com a forma intensa como ele me olha. Sinto o calor em minha pele, que
recebe seu carinho, com seu dedo afagando meu pescoço. Fecho meus olhos
e suspiro baixinho, tendo minhas pernas fracas, meu corpo balançando
lentamente para frente e para trás, me sentindo segura perto dele, sentindo
novamente aquela sensação de paz, de não ter que controlar tudo à minha
volta.
— A escolha é sua, passarinho. — Czar ergue sua outra mão e a leva
para trás da minha nuca, massageando com pressão meu couro cabeludo.
— Eu aceito! — A lágrima que escorre por minha face não é de dor,
nem de medo, mas sim de alívio, como se um peso esmagador estivesse
saindo dos meus ombros.
CAPÍTULO 13
DE VOLTA AO JOGO
Czar Gregovivk

— Eu aceito! — O som baixo da sua voz é ouvido quando ela abre


sua boca lentamente, com seus olhos fechados, em completo abandono.
Meus dedos se prendem com mais pressão no couro da sua cabeça e
respiro o ar com toda força para meus pulmões, controlando qualquer
expressão de alívio e satisfação que sua resposta possa ter me dado, enquanto
me sinto sendo inflado, com gasolina percorrendo minhas veias, a tendo
diante de mim como a personificação dos meus demônios mais profanos.
Minha mão segue alisando seus cabelos, domando os impulsos da minha
alma sádica, que inflama meu peito de orgulho. Dou um passo à frente e a
seguro com posse, deixando minhas mãos presas em cada lado da sua face,
expandindo meu tórax com uma grande lufada de ar que sugo.
— Eu aceito qualquer coisa que me tire dessa tormenta, senhor. —
Ela inclina seu rosto e murmura, soltando um baixo suspiro quando sua
bochecha se cola em minha mão, tão entregue e avassaladora.
Por conta da minha natureza dominante, sempre me considerei um
homem prático e objetivo, que possui total controle dos impulsos e emoções,
nunca me deixando ser governado por sentimentos repentinos. Mas o
pequeno pássaro tinha conseguido uma peculiar faceta, ela tinha me
surpreendido. Nunca tinha sido pego de surpresa por ninguém, mas aqui,
diante de mim, na doce criatura embalada em curvas suaves femininas, com
aroma de ameixa e morango, está a pior perdição que já cruzou meu caminho,
me desarmando a cada suspiro baixo que solta. Me surpreendeu em aparecer
em Sodoma inesperadamente pela segunda vez, e agora me surpreende com
sua entrega.
Não iria jogar com Mabel, isso era algo que tinha decidido, mas o fato
de não suportar saber as coisas pela metade, me fez seguir adiante, não com
intenção de jogo, mas sim por não conseguir calar minha mente dominadora
que falava mais alto, querendo saber o que a pequena alma submissa de
Mabel desejava. No entanto, ver sua face triste, ouvir as palavras que saíram
da sua boca, fazia com que eu precisasse lutar para controlar meus instintos,
que desejavam rugir tão alto com puro ódio e atravessar a sala, a ordenando a
me dar o nome do filho da puta que a quebrou feito um castelo de cartas. Mas
não podia fazer isso sem correr o risco que Mabel se fechasse dentro de si
novamente. Como todo pássaro arisco, ela bateria as asas depressa e voaria
para o mais longe que pudesse. E isso apenas a deixaria no ponto que está,
mais perdida e confusa.
A pequena aula intensiva agressiva de crueldade pura tinha garantido
para a senhorita Shot um desvio de desejo conturbado, onde apenas a dor a
fazia sentir prazer. Mabel não podia regressar, por isso seus conflitos internos
sobre o certo ou errado, o ódio de si mesma por ter sentido prazer com toda a
merda que ele fez a ela, a deixava tão autodestrutiva, confusa, sem ter o
discernimento que não é a dor cruel que seu corpo pede, mas sim uma dor
erótica. E isso me deixou na berlinda, tendo apenas duas opções: ou eu
terminava o que o filho da puta começou, a domando e fazendo sua alma
submissa se curvar de vez diante dos seus anseios masoquistas, a quebrando
de vez; ou simplesmente virava minhas costas e a mandava partir dessa casa,
a deixando por conta própria, à beira de um colapso.
Apenas não consegui optar pela segunda alternativa, não poderia fazer
isso, não quando sei que em seu interior sua alma borbulha, fervendo como se
estivesse dentro de uma panela de pressão prestes a explodir a qualquer
momento, não querendo mais ficar reprimida, a impulsionando a tomar
atitudes erradas e drásticas. Jogar com ela seria a forma mais rápida de
despedaçá-la, empurrá-la para a borda. Jogar Sodoma lhe garantiria os três
níveis de iniciação em uma única vez. Desorientação dos sentidos,
intoxicação e obediência do corpo, e usar seus sentidos e desejos contra ela
mesma, testando até onde vão seus limites em vinte dias, a libertando por
completo. E fodidamente eu me encarregaria disso!
Não costumo foder as submissas que vão às festas de Sodoma, se
oferecendo para mim, sempre preferi caçar minhas presas, mas o pequeno
pássaro tinha conseguido ganhar minha total atenção, e seria um hipócrita de
merda se negasse que meu pau não deseja, e muito, foder cada parte do seu
corpo, lhe mostrando que sua alma não é suja e nem imunda, que é bela. Em
meu mundo, Sodoma, Mabel é a alma mais tentadora que já tive a
oportunidade de encontrar. A forma mais bela e perfeita, que um dominador
aprecia em uma submissa. Mas, antes disso, preciso descobrir o que esse filho
da puta fez com ela, exorcizar todo o horror que esse verme deixou em sua
mente.
Minha mão em sua face escorrega para sua nuca e a faço ficar imóvel,
enquanto entro em modo dominador, abafando meu ódio por esse maldito
homem.
— Preciso da sua confiança, Mabel. Sem confiança não temos nada,
nem dentro do jogo ou fora dele. — Aliso a lateral do seu rosto e empurro os
fios dos seus cabelos para trás da sua orelha. — Abra os olhos para seu
mestre, passarinho!
Mordo minha boca e seguro o suspiro, mantendo minha face sem
expressão e contendo o pecado da vaidade governada por meu orgulho
quando ela me obedece, abrindo brandamente suas pálpebras para mim. Meu
dedo escorrega por sua bochecha e capturo lentamente sua lágrima, que
escorre em seu rosto, mantendo meus olhos fixos nos seus.
— Antes de começarmos, preciso de respostas, Mabel. — Estufo meu
peito para frente e seguro mais forte sua nuca, não a deixando desviar seus
olhos dos meus. — Sem mentiras ou meias verdades, você para mim é um
livro aberto que eu lerei a hora que bem entender, compreendeu? Se mentir
para mim, irei castigá-la, e, bebê, juro que não vai querer que sua primeira
aula seja com minha mão estourando em seu rabo até eu ter certeza que sua
pele está em brasa!
Sua boca se entreabre e ela segura o ar, com seus olhos negros
ficando arregalados, me olhando assustada.
— Entendeu? — Suavizo meu tom de voz e desacelero meu lado
sádico para não a alarmar antes mesmo de começarmos a jogar.
— Sim, senhor — Mabel responde rapidinho e balança sua cabeça em
positivo.
— O que ele lhe fez durante o fim de semana? — A vejo se encolher,
querendo mover sua cabeça para o lado, mas a prendo com mais força e a
faço morder o canto da boca quando seu couro cabeludo é comprimido em
meus dedos.
— A gente já falou sobre isso, senhor... — Ela fecha seus olhos e
crava os dentes com mais força em seu lábio inferior, erguendo sua mão e
espalmando em meu peito, tentando se empurrar para trás.
— Não ouse se afastar, passarinho! — A prendo pela cintura com
minha outra mão e a faço olhar para mim, mantendo meus dedos atrás da sua
cabeça e puxando mais forte seus cabelos. — Responda!
— Espancou, me estuprou, depois me espancou de novo e de novo,
voltando a abusar de mim, sem nunca cessar — ela diz, nervosa, encruando
seus dedos em meu peito.
Balanço minha cabeça em positivo e respiro pelo nariz, ficando com
meu corpo rígido.
— Ele fodeu sua boceta contra sua vontade? — rosno as palavras por
minha boca e sinto o gosto de fel em minha saliva.
— Sim, senhor — Mabel responde, baixo, e balança sua cabeça para
frente e para trás.
— Fodeu sua boca? — Solto seus cabelos e trago minha mão para
frente, escorregando meus dedos na lateral do seu cabelo, até parar em sua
bochecha.
— Sim... — Ela fecha seus olhos quando meu anelar contorna seus
lábios grossos.
Minha mão se afasta da sua boca e vai para as suas costas, a mantendo
presa perto de mim, enquanto a outra mão em sua cintura desliza para seu
rabo e o massageia lentamente, o esmagando com força em minha mão.
— Ele entrou aqui sem seu consentimento, passarinho? — Mabel dá
um pulo para frente, assustada. Cola seus peitos no meu tórax quando minha
mão aperta com o dobro de força seu rabo.
— Sim, senhor. — Ela abre seus olhos e me olha com vergonha.
— Depois dele, ninguém nunca mais fodeu seu corpo, passarinho? —
Ela confirma com um balançar de cabeça, abaixando seu olhar para minha
garganta.
— Não, ninguém mais. O rapaz que conheci na internet, eu não queria
que ele me tocasse, paguei para ele me bater e depois voltei para casa e me
masturbei.
Respiro pesado e cravo mais forte minha mão em seu rabo, ainda
sentindo raiva ao me recordar do seu ato irresponsável. A imagem dela
sozinha, confusa, dando confiança a um desconhecido, sem entendimento
algum de qual parte do seu corpo tocar, me faz desejar eu mesmo espancar
Mabel, lhe dando uma surra severa, garantindo que ela nunca mais tenha uma
ideia absurda dessa.
— Não tem ideia de como isso ainda mexe com meu lado dominante,
Mabel, e para seu bem, lhe advirto a não tentar mais esse tipo de coisa. A
menos que deseje ser severamente disciplinada.
— Não vou, eu juro. — Ela morde seus lábios e me olha
envergonhada, balançando a cabeça em positivo.
Respiro fundo e me controlo novamente, suavizando a pressão que
faço em seu rabo e endireitando meu corpo, a soltando e dando um passo para
trás.
— Preciso saber o que lhe motivou a mudar de ideia, o que a fez
sentir vontade de querer ir até o fim no sexo. — A estudo em silêncio e passo
meus olhos por seu vestido de menina, que lhe dá um ar jovial, com seu
sapatênis branco.
Graças a Deus, optei por trazê-la em minha residência, se tivesse
marcado esse encontro em Sodoma, Sieta jamais me deixaria em paz,
caçoando de mim ao alegar que sinto tesão por babás adolescentes. Mabel
abaixa sua cabeça e balança seu rabo de cavalo, espremendo seus dedos na
lateral do corpo, tendo o aspecto de uma menina tímida e inocente. Cristo!
Sou um mestre em Sodoma há tanto tempo, que nem sei mais quantos anos já
tenho de prática. Tenho uma veia tão sádica, que creio ser assim desde a
época do ventre da minha mãe. Mas cá está essa criatura devassa, exalando
pureza e perversão em um único corpo, me fazendo sentir como se estivesse
diante da primeira mulher que eu moldaria em masoquismo.
— Estou esperando minha resposta, Mabel! — Deixo o tom de voz
mais firme, não dando brecha para ela escapar das minhas perguntas.
— O senhor. — Sua voz é tão baixa, que quase não pode ser ouvida
dentro dessa sala silenciosa.
Meus olhos pregados nela ficam congelados, enquanto sinto o sangue
fluir mais forte por minhas veias ao ouvir sua resposta tímida. E foda-se, eu
não quero mais me segurar. Sinto meu coração disparar, a tendo me
enfeitiçando perfeitamente em sua timidez, satisfazendo tanto o dominador
quanto o sádico que habita em mim. Se essa mulher à minha frente não
nasceu para ser uma perfeita submissa, eu não sei mais nada da minha vida.
Mantenho minha máscara fria, que está esculpida em minha face, quando ela
ergue seus olhos e me encara apreensiva, não a deixando ver como estou
fodidamente satisfeito em saber que fui eu que a despertei.
— Venha! — Seguro sua mão e a levo para fora da biblioteca, a
fazendo andar apressada para me acompanhar.
— Onde está me levando, senhor?
Giro meu rosto para ela e lhe dou uma encarada, a vendo abaixar seu
olhar e retornar a andar. Deixo passar seu pequeno deslize dessa vez, quando
ela contesta minha ordem, fazendo exatamente o contrário do que eu lhe disse
quando lhe propus o jogo. Retorno meus olhos para frente, não a deixando
perceber que há um certo agrado da minha parte em sua teimosia, afinal,
como um pássaro, Mabel age como tal. A menos que corte suas asas, ou o
tranque em uma gaiola, você não pode esperar que aja contra sua natureza
arisca, que voa para onde quer.
— Quero examinar de perto o que me pertence, passarinho — a
respondo sério, sem lhe olhar, parando diante das escadas e soltando sua mão.
Aponto para cima, para que ela suba. Mabel fica pensativa e olha de
mim para os degraus rapidamente. Lhe dou uma última chance de decidir se
irá ou não, porque a partir do momento que seu pé pisar no primeiro degrau
da escada, o jogo começa. Mabel respira fundo e estufa seu peito para frente,
erguendo sua cabeça, fazendo o que apenas ela aparentemente é capaz de
fazer comigo: me surpreender.
Um sorriso vitorioso esboça em meus lábios e caminho em silêncio
atrás dela, a vendo subir as escadas com determinação. Seu silêncio é apenas
interrompido pela sua respiração acelerada, que fica mais alta a cada passo
que ela dá quando entramos no corredor depois de subir as escadas. Nos
conduzo para o fim do corredor, onde uma porta branca está fechada. Abro e
aponto para ela entrar. Mabel dá um passo vagaroso para dentro e morde seus
lábios, analisando o grande quarto de paredes de pedra.
— Isso seria... — ela fala, tímida, olhando com atenção para tudo,
tendo seu peito subindo e descendo rapidamente.
— Minha sala pessoal de jogos — respondo e fecho a porta atrás de
mim, mantendo meus olhos nela.
— Parece uma masmorra de tortura. — Ela encolhe seus ombros e se
vira, olhando para o outro lado. — Tortura erótica.
Seus olhos passam por tudo, olhando cada vez mais atenta para o que
enxerga. A parede ao canto, de pedra bruta, contém ganchos parafusados
nela, tendo os brinquedos eróticos pendurados. Ela abaixa seus olhos para o
carpete negro e bate seu pé nele lentamente, erguendo sua cabeça e encarando
o grande painel erótico estofado de couro bordô, com algemas em cada lado,
em cima e embaixo. Ela observa o grande X negro gravado nele e solta um
baixo suspiro. A deixo confortável para estudar minha sala de jogos,
caminhando devagar dentro dela, parando seus olhos na mesa almofadada ao
canto. Seus dedos se esticam lentamente e tocam o tecido, e ela vira seu rosto
para mim.
— Sem chance de ter me trazido aqui apenas para jogarmos uma
partida de pebolim[41], certo? — ela brinca, para descontrair, mas o tremor ao
canto dos seus lábios não me passa despercebido.
Ando até sua direção e paro ao lado da mesa, esticando meu braço e
apertando um botão escondido na lateral da madeira. Mabel pula para trás
quando as quatro barras de ferro eletrônicas da mesa sadomasoquista
começam a se erguer em cada ponta do móvel, a deixando ter uma vaga ideia
de para qual é o verdadeiro fim da mesa.
— Foi o que pensei — ela suspira e solta o ar lentamente por sua
boca, mordendo-a lentamente.
— Retire os sapatos. — Lhe dou uma ordem e ando para a esquerda,
perto do paredão de brinquedos, e me agacho, pegando um caixote aveludado
de tecido negro.
A vejo no mesmo lugar quando me viro e ando para o centro do
quarto, posicionando o caixote lá.
— Os sapatos. — Soo mais rígido, lhe fazendo compreender minha
ordem.
Rapidamente a vejo encurvar suas costas para frente, enquanto se
abaixa e desfaz o nó do cadarço do seu sapato, o retirando de mansinho.
Aguardo ela repetir o mesmo gesto com o outro, o tirando do seu pé, ficando
descalça. Estico meus dedos para Mabel e a chamo. Seu corpo balança
quando ela esfrega o pé esquerdo em cima do direito, olhando curiosa para a
caixa.
— Mabel! — A faço olhar para mim quando chamo ríspido. —
Venha!
Ela dá um passo lento atrás do outro e se aproxima com receio. Sinto
o toque quente dos seus dedos quando ela os deixa sobre minha mão.
— Eu preciso me preocupar, senhor? — Ela prende seus olhos negros
nos meus, me dando um olhar apreensivo e ansioso ao mesmo tempo.
— Não, daqui para frente eu me preocupo, eu cuido de você, eu dito o
que vai fazer e como deve fazer. — Minha outra mão se prende em sua
cintura e a tiro do chão, a depositando de pé em cima da caixa. — A única
coisa que tem que fazer é me obedecer e não questionar o que eu faço com o
que é meu! — respondo e analiso o ângulo que ela está, a centralizando no
meio do caixote, para não ter perigo dela escorregar e acabar caindo.
— Fui claro, passarinho? — Dou um passo para trás e levo minhas
mãos para as costas, prendendo meus dedos uns nos outros e erguendo minha
face para a dela.
Mabel apenas balança sua cabeça em positivo e comprime seus lábios,
batendo as pontas dos dedos na lateral do seu quadril.
— Acho que posso me acostumar em ter você assim, uma hora ou
outra. — Ela me faz olhar com atenção para sua face, arqueando minha
sobrancelha.
— Explique-se! — ordeno, esperando por sua resposta e não
devolvendo o sorriso que ela tinha em sua face.
— De cima para baixo. — Mabel morde sua boca e desfaz o sorriso,
me dando um olhar envergonhado. — Normalmente, sou eu que tenho que
ficar com o pescoço inclinado para trás, para te olhar. — Ela solta o ar com
desânimo por sua boca e fecha os olhos, negando com a cabeça. — Foi só
uma sátira que fiz comigo mesma por eu ser baixinha, era uma brincadeira.
Desculpa, eu estou nervosa.
Dou um passo para frente e retorno para perto dela, a olhando com
atenção, tendo a altura dos meus olhos em sua boca. Elevo meus olhos para
os seus no segundo que ela os abre, ficando imóvel e me vendo a centímetros
da sua face.
— Dispa-se! — ordeno, não lhe respondendo que aprecio sua altura.
Percebo seu corpo ficar rígido, com ela tendo a expressão preocupada
e os dedos das suas mãos demonstrando estar tensos, enquanto ela bate mais
rápido as pontas deles ao lado do corpo.
— Já ficou nua perto de mim, passarinho. Tire as roupas! — Caminho
para trás e lhe dou um espaço para poder a estudar melhor.
— Eu sei, apenas foi diferente — ela fala rapidamente e inclina sua
cabeça para frente, olhando seus pés.
— Olhe para mim, Mabel! — digo, firme, chamando sua atenção
novamente, a fazendo me olhar nos olhos. — O que foi diferente naquela
noite?
Mabel ergue sua cabeça e observa o foco de luz, inclinando seu corpo
para frente e para trás lentamente.
— Foda-se! — Ouço o palavrão baixo saindo da sua boca, enquanto
ela ergue seus dedos rapidamente para as alças do vestido, o abaixando com
pressa.
Assim que tem seus braços livres, Mabel empurra o vestido para
baixo de uma única vez e o deixa escorregar por suas pernas. Ela cola suas
coxas e esfrega seus pés um no outro, com seus dedos presos congelados na
barra da camisa de manga comprida. Meus olhos observam suas pernas
torneadas lisas, ficando atento à peça íntima de algodão com rendinha nas
laterais que ela usa.
— Tire tudo. — Ergo meus olhos para sua face e a vejo contrair seu
maxilar, com seus lábios trêmulos tendo uma única lágrima escorregando por
sua bochecha.
Antes que possa lhe ordenar para abrir os olhos, Mabel ergue a camisa
rapidamente e a retira do seu corpo, a jogando ao chão e cruzando seus
braços acima do umbigo com agonia, os mantendo bem presos. Seus olhos
estão fechados e ela os cerra mais, respirando rápido, movendo seu busto
para cima e para baixo. Observo seu sutiã rosa-claro, meia-taça, que cobre
suas mamas. Meu peito se inflama com ar quando meus olhos repousam em
cima da marca dos meus dentes em seu colo, o que automaticamente faz meu
pau responder, ficando mais rígido dentro da calça.
— Mandei tirar tudo — esbravejo, enquanto me viro e caminho para
perto do paredão de utensílios, pegando uma espátula chata de silicone negra,
de 30 centímetros.
Ao me virar, a vejo de costas para mim, mantendo a posição retraída,
com seus ombros encolhidos. Admiro seu rabo e passo meus olhos pela curva
da sua traseira.
— Retire tudo, Mabel, e erga seus braços. — Mantenho meus olhos
nela e estico meu braço, puxando a pequena alavanca acoplada na parede e
liberando as algemas que ficam suspensas no teto, acima da cabeça dela. —
Estou relevando apenas hoje sua teimosia, em me fazer repetir minhas
ordens, não acontecerá isso novamente daqui para frente.
A vejo se retrair e olhar assustada para cima, respirando depressa e
soltando seus braços ao lado do corpo. Retorno para ela e olho para cima,
verificando a altura das correntes. Seus braços ficarão contidos acima da sua
cabeça, os deixando completamente esticados, o que fará seu peito ficar
empurrado para frente, e provavelmente apoiando as pontinhas dos pés no
caixote.
— Mandei... — Me calo quando paro à sua frente e abaixo meu rosto,
olhando seu abdômen, sentindo o sangue parar de correr. — Quem fez isso?
Minha voz é um estrondo, sendo dita de forma carregada, com as
veias dos meus braços ficando saltadas quando esmago a espátula
emborrachada com força em meus dedos.
— Por favor, não olha para isso! — ela fala com voz de choro e tenta
cruzar seus braços em cima do umbigo novamente.
Mas antes mesmo que possa fazer isso, já mantenho meus dedos
fechados em volta do seu pulso, o afastando lentamente, com meus olhos
presos na cicatriz que ela tentou esconder de mim. Meu maxilar trava, com
minha boca cerrando, usando a ponta da espátula achatada para erguer seu
outro braço, seguindo o risco que corta a lateral da barriga e sobe para o lado
do corpo, parando perto da sua axila. Solto um grunhido raivoso por minha
boca e comprimo com pressão meus dedos em volta do seu pulso, erguendo
minha cabeça para ela.
— Pelo seu bem, me diga que não foi você mesma que fez isso com
seu corpo! — rosno com raiva e a encaro. Puxo seu braço para baixo e a faço
me olhar assustada.
Sua cabeça balança em negativo, com ela em choro novamente,
fechando seus olhos.
— Abra esses olhos e não os feche! — Tento manter a porra do
controle da minha voz, enquanto me seguro para não perder de vez meus
impulsos. — O cara que você pagou para te bater, fez isso?
Mabel abre seus olhos pouco a pouco, caindo seu rosto para o lado e
esmagando os lábios, negando com a cabeça enquanto as lágrimas rolam por
sua face. A solto na mesma hora, cambaleando meu corpo para trás. Olho
com mais raiva para a marca que foi deixada em sua pele, já sabendo quem a
fez. O traço fino da linha esbranquiçada por conta da cicatrização, está torto,
o que me diz que não foi algo feito para perfurá-la, mas sim para romper a
pele, causando um estigma que a marcaria para sempre. O que apenas me faz
ter certeza de que vou expurgar esse verme e a crueldade que ele fez com ela
para fora da sua mente. Não me interessa deixar nenhuma lembrança dele
entre mim e ela. Quero que todo seu foco esteja em mim e na quantidade
avassaladora de prazer e dor que vou injetar em seu pequeno corpo, ao ponto
de lhe fazer transbordar, apagando por completo a existência desse merda de
dentro da sua mente. Ele pode ter quebrado esse pequeno pássaro, mas quem
vai o despedaçar para a moldar novamente para voar livre serei eu.
Estou de volta ao jogo!
CAPÍTULO 14
VOO RASANTE
Mabel Shot

Esqueço como é respirar, enquanto me afogo no tom castanho mais


sedutor que já vi. Sinto sua respiração quente tocar minha garganta, tendo o
calor dos seus braços na lateral do meu corpo, enquanto ele solta o feixe do
sutiã, me encarando com um olhar sombrio e dominante. Igual seu toque,
pois é assim que ele me toca, com posse. Posse completa do que é dele. Não
pergunta, nem fica bajulando ou olhando de forma pervertida para o meu
corpo, e nem com asco, como eu imaginei que seria quando ele visse a
cicatriz. Ele apenas mata com dois passos a distância que tem entre nós dois.
Sua mão para lentamente em meu quadril, ficando uma de cada lado,
enganchando seu dedo na calcinha e a empurrando para baixo, me mantendo
cativa em seu olhar, enquanto me despe sem pressa alguma.
Seu toque é calmo, mas possesivo, como se memorizasse cada
centímetro meu, inspecionando com as pontas dos seus dedos sua nova
aquisição. Se livra da calcinha sem um pingo de empecilho da minha parte.
Mantenho-me imóvel enquanto sua mão sobe por minhas coxas, deslizando
para o meu rabo, arrepiando minha coluna quando seus dedos brincam em um
passeio tortuoso pelo meio das minhas costas, parando apenas quando chega
ao feixe da roupa íntima. Ele o solta com lentidão e engancha apenas a ponta
dos seus anelares na alcinha fina da lingerie, um de cada lado. O afasta de
mansinho pelos meus braços, até não ter mais nada tapando um pedaço que
seja de pele do meu corpo.
— Erga os braços, passarinho! — A voz rouca, com timbre grosso
perigoso, me ordena, e eu não consigo dizer não, apenas o obedeço.
Levanto de forma vagarosa meus braços, os deixando meio
desajeitados em cima da minha cabeça. As grandes mãos retornam para o
meu corpo, me fazendo inalar o ar apressada, colando minhas pernas uma na
outra, para garantir que eu não acabe desabando feito uma gelatina. Ele
continua com sua inspeção pelo meu corpo, traçando seus dedos junto com
meus braços, até estarem erguidos. Eu estou paralisada, o vendo tão perto de
mim, com seus olhos pregados nos meus. Recaio meu olhar para sua boca e
sinto meu corpo se abrasar com sua respiração quente. O som do click acima
da minha cabeça me tira dessa embriaguez que ele me causa, me fazendo
olhar para cima, notando que meus pulsos estão contidos por um par de
algemas que está preso em um arco de ferro no teto. Me obrigo a ficar nas
pontinhas dos pés para conseguir acompanhar a altura na qual eu estou presa,
tendo os braços esticados, com meu peito arfando para frente de forma
espontânea. Abaixo meu rosto para Czar e o vejo admirar o par de seios
eretos, com os bicos sensíveis rígidos apontados para ele, e respiro mais
apressada, tentando me equilibrar em cima do caixote.
— Perfeito! — ele diz, calmo, e ergue seu rosto para mim, se
aproximando mais um pouco quando estica seu braço para conferir se estou
bem presa às algemas. — Está apertada?
— Não... — respondo de forma lenta, sabendo que ele me seduz de
forma descarada quando abaixa seu tom de voz e murmura para mim.
— Excelente!
Tento girar meu rosto por cima do meu braço, mas não consigo por
conta das algemas, para ver onde ele está indo quando se afasta e caminha
para trás de mim. Abaixo meu rosto para meus pés, alavancando ainda mais
meu peso para cima. Ok, acho que agora não estou tão certa que deveria ter
aceitado esse jogo. O que ele pretende fazer comigo? E se ele chutar esse
caixote? Eu ficarei presa pelos pulsos, suspensa do chão. E antes que eu
continue a pensar o pior que ele possa fazer, o vejo retornar e parar à minha
frente, segurando uma barra de ferro em sua mão. Meu corpo se retrai na
mesma hora, comigo balançando, tentando me equilibrar, olhando assustada
para a barra.
— Não uso isso para bater — ele me responde com um sorriso cínico
e perverso no canto dos lábios, olhando para a barra com interesse e voltando
a olhar para mim. — A menos que me peça.
Engulo minha saliva e respiro agoniada, vendo-o se divertir com
minha reação enquanto se abaixa à minha frente. Observo as grandes ataduras
de couro ao lado do caixote que ele ergue, passando uma de cada vez em
meus tornozelos. Ele retira o vestido que tem abaixo dos meus pés e o
empurra para o lado, segurando minha panturrilha e levando minha perna
esquerda para uma extremidade do caixote e a direita para a outra. Me deixa
com o espaço suficiente de uma canela para outra, para que ele possa me
prender na barra de ferro, o que garante que manterei minhas pernas abertas
nessa posição.
Em minha cabeça, fico imaginando as formas como ele pretende fazer
isso. Sexo de pé não é muito meu forte, na verdade, acho que nunca fiz.
Recordo de como era fazer sexo normal com Nate. Eu gostava, para mim era
bom. Eu tinha dezoito anos quando finalmente aceitei perder minha
virgindade com ele. Nate foi respeitoso naquela vez, mas também foi a única.
Ele sempre me assustava de alguma forma na hora do sexo, eu sempre
pensava que ele estava esperando algo mais, quando saia de cima de mim e
ficava com seu corpo esticado ao meu lado, em cima da cama, me mandando
ficar de olhos fechados até ele se trocar. E ao fim, eu estava certa, ele
esperava algo mais, e me fez questão de mostrar tudo que queria naquele
maldito fim de semana.
Mas esse homem à minha frente não é Nate, ele não me toca da forma
que Nate me tocou antes ou depois de me mostrar o verdadeiro monstro que
ele é. Czar me assusta, ao mesmo tempo que me dá uma sensação de
segurança, e ainda não sei se isso é bom ou ruim. Fico mais perdida ainda,
sem ter ideia do que pensar quando a ponta do seu dedo toca meu corpo com
curiosidade, deslizando por minha perna e subindo de mansinho, contornando
a lateral da minha cintura. Ele dá a volta no caixote e esfrega minhas costas,
me analisando exatamente como eu faço quando fico observando as telas
novas que chegam na galeria. Meus olhos ficam focados na porta e sinto o
suor tomar conta do meu corpo, desejando que ele me toque mais
intimamente. Respiro fundo, tendo meu corpo agitado, o que me faz balançar
para frente e para trás. A leve batida da ponta do pauzinho de silicone escuro
que ele segura, acerta a lateral interna da minha coxa, me fazendo soltar um
gritinho por conta da ardência que me pega desprevenida.
— Não se mexa! — ele ordena e sobe sua mão por minhas costas, até
pararem em meus cabelos, os puxando para baixo, me repreendendo.
— Cristo... — murmuro e entreabro meus lábios, com minha cabeça
sendo forçada para trás. Deixo meus olhos ficarem parados na argola de ferro
que suspende meus braços no alto, enquanto ele alisa minhas pernas e segura
o material emborrachado.
— Magnífica — fala, orgulhoso, acariciando minhas coxas e fazendo
mais pressão no aperto dos meus cabelos.
Um gemido misturado de dor e prazer escapa da minha boca,
enquanto tudo que desejo é poder fechar minhas pernas, para aliviar essa
euforia que cresce no interior da minha vagina.
— Seu corpo é muito mais sensível do que eu imaginei — ele
murmura de forma curiosa, como se estivesse conversando com ele mesmo.
Dá a volta e para à minha frente, mantendo minha cabeça inclinada para trás
pelo meu rabo de cavalo, que está preso em seus dedos. — Um pequeno
foguete, eu presumo.
— Ohhh, meu Deus! — Mordo minha boca e choramingo quando sua
mão espreme o bico do meu seio com seus dedos, aumentando
gradativamente a pressão.
A dor que ele me faz sentir, ao apertar meu bico, é apaziguada
levemente pelo calor da sua boca quando ele se inclina para frente e deposita
um beijo em cima da marca da sua mordida. Me repuxo com agonia,
causando outro balanço no meu corpo, ganhando outra desferida da ponta da
espátula, só que dessa vez na lateral do meu corpo. Sinto o bico do meu peito
pulsar, agoniado e sensível com o beliscão que ele ganhou. Czar se afasta,
rindo, e solta meus cabelos, me libertando.
— Indisciplinada, muito indisciplinada, passarinho. — Ele ergue seu
braço e escorrega a ponta do objeto emborrachado que ele segura entre o vale
dos meus seios.
Tombo meu rosto para frente e olho para ele, piscando confusa,
perdida entre a nuvem de prazer e dor que está crescendo dentro de mim.
Czar abaixa seu braço e se afasta, andando para trás de mim. Tento me
manter consciente e inalo o ar com mais pressa para meus pulmões, sentindo
a dor ainda pulsar no bico do meu peito. Me assusto quando sinto sua mão
empurrando meu cabelo para meu ombro, e tento girar meu pescoço, para ver
o que ele faz, mas ele não permite.
— O que é isso? — pergunto, nervosa, sentindo a textura grossa de
couro que está sendo passado por minha garganta.
— Curiosa, teimosa e desobediente — Czar fala de forma casual, não
me respondendo, prendendo o que deduzo ser algum tipo de coleira em meu
pescoço. — Prevejo muitos castigos para ter que discipliná-la, passarinho!
— Está colocando uma coleira em mim? — indago, angustiada,
sentindo o couro raspar em minha pele a cada tentativa de virar meu pescoço
para os lados.
— Está me questionando, passarinho? — O puxão me pega outra vez,
me fazendo levar minha cabeça para trás. Só que não é pelos cabelos, e sim
pela coleira que está em meu pescoço.
Ouço sua respiração ficar mais forte, com ele aguardando minha
resposta.
— Não, senhor — sussurro e repuxo meu nariz, sentindo a ardência
do couro em minha garganta.
— Ótimo. Agora se mantenha assim, paradinha, para que eu possa
conter essa sua cabecinha teimosa. — Seu riso é sacana e audível, enquanto
ele me faz ficar com meu pescoço esticado, olhando para o teto.
Escuto o som de correntes sendo arrastadas, e novamente um click, só
que esse não vem de cima, mas sim do chão.
— Perfeito — Czar fala, animado, e passa a ponta do seu dedo em
minha bochecha. — Está machucando?
Meus olhos se movem e consigo observar os dele presos em mim.
Filho da puta alto do caralho! Poderia ter tido pelo menos a decência de
arrumar um caixote mais comprido, para me deixar superior à sua altura.
— O que acha?! — Mordo meus lábios e lhe dou um olhar pirracento,
me negando a lhe dar o prazer de saber que não está tão ruim assim. É um
pouco desconfortável, mas não me machuca.
— Responda quando eu fizer uma pergunta, Mabel. — Ele me castiga
e belisca meu outro seio, o esmagando entre seus dedões, o rolando
lentamente.
— Nãooo... — Mexo-me com desespero e nego com a cabeça,
sentindo o couro queimar mais forte minha pele quando meu corpo balança.
— Ótimo! — Ele solta o bico do meu peito e deixa sua mão acariciar
o outro, me dando um olhar diabólico. — Agora me deixe terminar minha
inspeção e fique quietinha.
Me odeio ao mesmo tempo que me sinto bem, suspirando em puro
prazer quando sua boca beija o bico do meu seio dolorido que ele castigou.
— Onde eu estava? — Ele se afasta, rindo, e retorna a me tocar com a
ponta da espátula.
Fecho meus olhos e solto um gemido baixo, inalando o ar com toda
força para dentro dos meus pulmões quando sinto a ponta do seu dedo passar
de propósito, bem rapidinho, por cima da minha boceta, e subir para minha
barriga.
— Oh, meu Deus, por favor... — balbucio, agoniada, querendo que
seu dedo volte para o centro das minhas pernas.
— Por favor o quê, passarinho? — Czar murmura e traz sua face para
perto do meu ouvido, mordendo minha orelha.
— Me toque — digo, praticamente chorando, ficando novamente na
ponta dos pés, agoniada, sentindo o desespero me comer por dentro.
Ele respira pesado e solta a baforada de ar quente na lateral dos meus
cabelos, subindo sua mão pelo meu ventre e o alisando com preguiça, me
torturando. A ponta dos seus dentes raspando em minha orelha, faz minha
vagina se apertar, contraindo todo seu interior, ficando encharcada. Respiro,
eufórica, com cada pelo em meu corpo se arrepiando, e o prazer se
transformando em um pico forte de dor, me fazendo retrair os músculos da
perna quando ele retorna a beliscar o bico do meu peito, me arrancando
lágrimas dos meus olhos.
— Oh, meu Deus, até isso acabar vou perder os bicos dos meus seios!
— Minha voz chorosa sai baixinho e solto um soluço.
— Pediu para eu lhe tocar, eu lhe toquei! — Sua resposta é cínica,
com ele dando um passo para trás e se afastando de mim. — E não se
preocupe, passarinho, quando eu acabar, seus seios estarão intactos, mas se
recordará da sua teimosia a cada raspar que o tecido der neles. — Ele dá uma
leve batida no bico do seio, seguida de um puxão, me fazendo torcer de dor.
— Agora vai ficar quietinha, ou vai ficar dizendo o que acha que seu corpo
precisa?
— Vou ficar quietinha, ficarei quietinha, eu prometo — respondo
ligeiro, ofegando com agonia quando ele liberta o bico da mama.
Sinto sua respiração ficar próxima do meu seio, com ele abrindo a
boca e o sugando lentamente, me fazendo gemer, só que dessa vez não de
dor, mas sim de prazer, ao sentir a quentura dos seus lábios no bico sensível.
Minha boceta está entrando em agonia, quase me levando ao colapso pela
forma que sinto ela inteira pulsar por dentro, se contraindo com força. Um
grande tremor toma conta do meu corpo inteiro, que se retrai, balançando
para frente e para trás quando seu polegar massageia meu clitóris, deslizando
um dedo para dentro da minha vagina, se afundando dentro dela. Czar suga
com mais pressão meu seio, e minha vagina imita o movimento, com seu
dedo o sugando dentro dela. Solto um som baixo de tristeza quando ele afasta
sua mão para longe de mim.
— Você é mais sensível do que eu imaginava, bebê — murmura,
beijando meu seio, me largando em completo abandono, sem o toque da sua
boca no meu seio e sua mão em minha vagina.
— Cretino! — resmungo e mordo minha boca, sentindo as lágrimas
escorrerem por minha bochecha, ouvindo seus passos se afastando de mim.
Não demora para ele voltar e ficar novamente à minha frente. Meu
corpo fica agitado, curioso com o que ele está fazendo, ouvindo apenas sons
de estalo, estalo de luvas. Preciso de poucos segundos para constatar que
estou certa, pois sinto a textura do látex assim que sua mão toca em meu
calcanhar e retira a contenção que o prende à barra de ferro. Mas não apenas
nisso que meu corpo está curioso, sinto o ar quente da sua respiração acertar
em cima da minha vagina, o que me diz que ele está literalmente com a cara
nela. A sinto retrair ainda mais, apenas com o pensamento de ter a boca dele
a tocando com a mesma intimidade que ele fez em minha bunda nas regalias
profanas. A lembrança me causa picos mais altos de tesão e lembro de como
fui tocada, do toque despudorado da sua língua sacana, que me lambeu entre
as nádegas. Um movimento involuntário responde automaticamente nos
músculos das minhas coxas, que se contraem em pura euforia.
— Ohhhh! — Empurro meu peito para frente e encaro o teto com
minhas pálpebras semicerradas quando ele assopra de propósito em cima do
nervo inchado que pulsa, implorando apenas por um toque, um maldito toque
para poder libertar meu orgasmo.
— Você é encantadora, meu passarinho desobediente — ele fala e dá
uma risadinha sacana, gostando de ver meu estado.
— Eu não sei se posso suportar mais — admito covardemente meu
estado de luxúria, faltando implorar para que ele me toque do jeito que eu
preciso.
— Nem terminei ainda, Mabel. — Sua voz é calma enquanto
conversa comigo, sendo o oposto do estado lastimável e depravado que meu
corpo se encontra.
Czar solta a outra contenção e liberta de vez minhas pernas. Sinto o
contraste da textura do látex em minha canela quando ele segura meu pé em
suas mãos, o alisando sem pressa. Ele sobe sua mão por minha panturrilha e
pula para a outra perna, descendo com calma, repetindo o mesmo movimento
em meu pé. E até isso me faz responder a ele. Nem sabia que sentia prazer em
ser tocada nos meus pés. Fico imaginando a cena que está acontecendo dentro
do quarto, já que estou impossibilitada de abaixar minha cabeça, para olhar
para ele. Meu corpo contido no centro do quarto, com esse grande homem
agachado diante de mim, me inspecionando sem nenhuma restrição, me
deixando em um estado de fragilidade e indefesa novamente, podendo fazer o
que quiser comigo.
Mas estar novamente nessa posição indefesa, sem poder me mexer,
não me assusta, não me dá medo. Me sinto completamente à mercê dele,
dependendo apenas da confiança que eu depositei nele ao aceitar isso tudo.
Tinha receio das imagens daquele quarto, ao qual estava amarrada no chão
anos atrás, retornar à minha mente, mas não é nisso que penso, meu corpo e
meu cérebro apenas conseguem prestar atenção em cada toque do russo
dominador, que me induz a desejar mais do seu toque. Czar solta meu pé e
levanta, e eu sinto um leve alívio por ter minhas pernas fora da contenção.
Mas antes mesmo que eu possa as fechar, para poder relaxar um pouco que
seja os músculos, eu grito, assustada e alarmada, assim que ele chuta o
caixote, tirando por completo o apoio abaixo dos meus pés. Nem chego a
ficar dois segundos que seja pendurada pelos braços, antes das minhas coxas
serem esmagadas em seus dedos, com ele se infiltrando no meio delas, as
fazendo se apoiar em sua cintura. Respiro, nervosa, e aperto minhas pernas
em volta do seu corpo, usando sua bunda para apoiar meu calcanhar quando
travo minhas pernas ao redor do corpo dele.
— Agora vejamos como está esse pequeno paraíso, no qual eu vou
brincar bastante — ele diz despreocupado e alisa minha coxa, enquanto sua
outra mão escorrega para minha bunda.
— Oh, não, não... — Tento me mexer e soltar minhas pernas, para me
empurrar para longe dele.
Czar abaixa sua cabeça e morde a lateral do meu seio, cravando seus
dentes com força, prendendo minha cintura para me manter imobilizada. A
coleira em meu pescoço arde, queimando minha pele, deixando dificultoso
conseguir respirar.
— Disse que examinaria cada parte do que me pertence, Mabel — ele
murmura e relaxa sua mordida, arrastando sua barba por minha pele.
— Assim não, por favor, não preciso disso... — choramingo e fecho
meus olhos, não sabendo se vou conseguir deixar ele me tocar dessa maneira.
— Dói, não quero essa dor, faça qualquer coisa, qualquer outra coisa, menos
isso.
— Vai receber o que precisa, Mabel, depois que eu descobrir o que eu
preciso saber. — Sinto sua testa encostada em meu peito, com ele
alavancando meu corpo ainda mais para cima.
O pau duro, completamente rígido dentro da calça, acerta minha
boceta, me fazendo ofegar entre o prazer e o medo que estou sentindo.
— Eu não posso... — murmuro e fecho meus olhos, não querendo
lembrar dessa dor. Essa foi a primeira que me arrancou gritos de pânico e
desespero.
— Como você se sentiu quando ele tocou em você aqui? — Czar
escorrega seu dedo entre minhas nádegas e alisa lentamente, beijando meu
ombro.
— Como se estivesse sendo dilacerada. Não quero sentir essa dor
novamente... — Soluço e nego com a cabeça, espremendo meus dedos com
agonia e torcendo meus pulsos na algema, para sentir qualquer dor diferente
para me esquecer daquela.
— Não irei causar isso em você, passarinho — ele murmura, mais
brando, me fazendo suspirar com cada raspada que sua barba dá em meu
ombro. — Gostou do meu toque aquela noite, não gostou, nas regalias
profanas?!
As imagens do meu corpo despido, com ele atrás de mim, passando
sua língua em cima do meu cu, invade minha mente. Como se fosse uma
nuvem clara de desejo, empurra as memórias antigas para dentro da caixa que
elas estavam. Gemo, baixinho, e sinto o carinho íntimo dele, que circula a
pequena entrada do meu corpo.
— Gostou, passarinho? — Ele solta minha coxa e alisa minhas costas,
parando apenas quando sua mão se prende em meus cabelos, rosnando feito
um animal, me lambendo lentamente. — Por isso gozou em meus dedos.
— Sim... — Completamente intoxicada, com meu raciocínio caindo
rapidamente por conta do que ele está fazendo comigo, apenas consigo
balbuciar uma única palavra.
— Agora imagine o prazer que pode sentir quando meu pau deslizar
lentamente para dentro do seu corpo, tomando cada espaço, trabalhando
dentro do seu rabo, até tê-lo instalado por completo. — Sugo o ar com força
pelas minhas narinas e fico embriagada pela forma como sua voz me
enfeitiça. — Sentirá dor, mas será uma dor erótica, uma queimação com leve
ardência, para poder expandir seus músculos e se acostumar com o tamanho
do meu pau.
Sua mão desliza entre a divisão da minha bunda e minha boceta,
escorregando seu dedo dentro dela, lambuzando seus dedos dentro de mim.
— Está tão pronta para me receber, bebê. — Ele morde meu ombro e
respira com força. — Cristo, Mabel, nunca tive que me controlar tanto para
não foder uma boceta!
Seus dedos enluvados se retiram de mim e retornam para o meio da
minha bunda. Czar empurra um dedo lentamente, me fazendo ficar retraída,
apertando mais forte minhas coxas em volta da sua cintura, enquanto minhas
unhas estão cravando mais fortes na palma da minha mão. As correntes que
sustentam as algemas estalam, com a euforia do meu corpo se mexendo.
Sinto a leve ardência conforme seu dedo vai entrando, me invadindo com
mais urgência. Ele o mexe devagar, soltando meus cabelos e deixando sua
mão esmagar minha cintura, forçando meu quadril a chocar com o seu,
raspando o tecido jeans da sua calça em cima da minha boceta. Me balanço
com mais agonia quando sinto a ardência virar queimadura assim que um
segundo dedo se empurra para dentro do meu rabo.
— Ohhh...
— Tão apertada e quente, passarinho. — Czar inclina sua cabeça para
frente e raspa seus dentes em meu queixo, afundando de vez seu outro dedo.
— Pode apostar seu rabo que meu pau vai se sentir bem quando se afundar
aqui.
Sua voz causa o dobro de estrago em meus sentidos, assim como sua
boca me beijando perto do seio, movendo meu quadril para raspar em seu pau
duro. Me sinto na borda, desejando que ele estivesse sem essa maldita calça,
que me tomasse por inteira. E a ideia de ter o seu pau me fodendo faz minha
mente esquecer qualquer resquício que possa ter sobrado de lembranças
ruins, apenas Czar está ocupando minha mente, me angustiando, torturando
meu corpo e minha alma, assim como seus dedos fazem no meu rabo.
— Mantenha essas coxas ao redor do meu corpo, passarinho. — Ele
solta meus cabelos e afasta seu peito do meu, mantendo seus dedos fundos
dentro do meu cu.
Gemo com euforia e sinto meu coração disparar, minha mente nublar,
e apenas a sensação dele me dominando, consumindo meu corpo quando seus
dedos param sobre minha boceta, parando seu dedo sobre meu clitóris e o
massageando com pressão.
— Quero que cante alto para mim, passarinho, quando alçar voo —
ele me ordena de forma rigorosa.
Fode meu rabo mais depressa, enquanto me masturba. Sinto os
formigamentos do meu corpo, como se um exército de formigas estivesse
correndo por baixo da minha pele, se alastrando entre a carne e os nervos. Os
músculos ficam rígidos e completamente endurecidos, se retraindo, sendo
pegos por tremores que começam nas entranhas e se expandem por cada parte
do meu corpo.
— Ohhhhhhhh! — grito e tento puxar meu pescoço para frente, mas a
coleira me imobiliza e queima a pele, sufocando o ar de entrar em meus
pulmões.
Mas nada disso importa, absolutamente nada, porque orgasmos
tomam conta de tudo. Eu obedeço, grito a plenos pulmões a cada nova onda
de orgasmos que meu corpo recebe. Feito um pássaro livre, subo em um voo
rasante, me jogando em queda livre na sequência, tendo o gozo me tomando
por completo enquanto tremo, sugando seus dedos para dentro do meu rabo,
os impossibilitando de se mover. Ainda estou sob a nuvem de prazer que me
golpeou quando ele retira seus dedos de dentro de mim e segura minhas
costas, colando meu peito ao seu. Sinto choques de dor e prazer em meu
corpo no simples gesto de raspar meus mamilos sensíveis no tecido da sua
camisa. Me debato, agitada com a descarga de prazer e luxúria que meu
corpo esgotado recebe, me sinto como se fosse um fio desencapado, que
faísca ao ser ligado na tomada. Czar me prende mais forte e esfrega seu rosto
em meu ombro, dando uma leve mordida e respirando pesado.
— Boa menina — murmura perto do meu ouvido.
Sinto meus braços moles sendo soltos das correntes. Estou suada,
respirando com dificuldade, tendo ainda resquício dos orgasmos me tomando,
quando meu corpo é deixado no chão lentamente. Minhas pernas se fecham e
colo uma na outra, me encolhendo enquanto tombo para o lado e fico em
modo fetal, sentindo as ondas de relaxamento me consumindo, e nada mais
importa.
CAPÍTULO 15
NAPOLITANO
Mabel Shot

— Não precisa sentir medo. — Olhos azuis, com cílios negros, piscam
para mim, arrumando meu cabelo atrás da orelha.
Ela anda silenciosa ao meu lado, como se estivesse conferindo até os
últimos detalhes da decoração da sua perfeita reunião que oferece para as
suas amigas socialites.
— Pensei que talvez pudesse ficar em casa hoje — murmuro e olho
para meus sapatos, espremendo meus dedos ao lado do corpo. — Não desejo
ir ao cinema hoje.
Ela para de andar à minha volta e para à minha frente, segurando
meu queixo e me fazendo olhar para sua face.
— Senhor Alkaev está lá embaixo lhe esperando, aguardando você
descer — Alekessandra rosna baixo e crava levemente suas unhas em minha
pele. — Não vou passar vergonha diante dele, e muito menos criar uma rixa
entre mim e a mãe dele. Nossas famílias são amigas há anos, prometi a ela
que você era a companheira perfeita para o filho dela.
— Não estou dizendo que não quero sair com Nate, Alekessandra.
Apenas não sinto que estou pronta para ter com o senhor Alkaev o que ele
deseja de mim, pensei que esperaríamos até nosso casamento...
— Deseja ir para a universidade, não é? — ela me corta, falando de
forma ácida, e dá um passo para trás, me encarando sem um pingo de
emoção.
— Sim, mas...
— Então sugiro que desça e faça exatamente o que eu lhe ensinei. —
Ela cerra seus lábios e passa seus olhos pelo meu corpo. — Não será
agradável e nem terá que gostar. Apenas seja silenciosa e dócil, é isso que
ele espera de você, com o tempo acabará se acostumando.
A vejo sair andando rumo à porta do quarto e o abrir, ficando parada
no corredor, olhando para mim, esticando sua mão. Viro meu rosto e me
olho mais uma vez diante do espelho. O vestido marcado, de alcinhas finas,
com um decote chamativo bordô, o qual Alekessandra tinha me dado de
presente de aniversário de dezoito anos, faz eu me sentir ainda mais nervosa
com o que irá acontecer no segundo que eu e Nate ficarmos sozinhos.
Lembro daquela noite, de como meu coração estava disparado e
minha respiração irregular. Um suor frio escorria por minha espinha, a
sensação da espuma do travesseiro que apoiava minha cabeça, um medo
angustiante que me consumia cada vez mais rápido, mas ainda assim me
mantive silenciosa e dócil, como Alekassandra disse que eu tinha que ser. É
estranho saber que eu descobri que teria minha primeira noite com um
homem, não porque ele me perguntou se eu queria trepar com ele, mas sim
porque tudo foi acertado com minha mãe adotiva, para quando eu atingisse a
maior idade. E ela usou minha virgindade para entregar minha carta de
liberdade. Se eu quisesse ir para a universidade, para me formar na academia
de belas artes, apenas precisava fazer o que ela me ensinou para agradar Nate.
E eu o fiz, mesmo sentindo as lágrimas quentes rolarem por minha bochecha
e sabendo que não era daquela forma que eu tinha pensado que aconteceria
minha primeira noite com um homem.
A primeira vez com ele não foi dolorosa, claro que teve o desconforto
do hímen sendo rompido, a resistência natural do corpo por ser invadido, mas
a única coisa que eu não senti em nenhuma das vezes que ele me tocou antes
daquele fim de semana, foi prazer. Mesmo que o prazer que o meu corpo
sentiu foi contra minha vontade, fora do meu alcance de poder sobre mim
mesma. Nate sempre pedia para eu ficar quietinha, deitada de bruços no
colchão, com a barriga para baixo, e nas raras vezes que ele me fodia de
frente, eu tinha que manter meus olhos fechados. Ele não queria que eu o
olhasse. E eu fazia o que ele me pedia, o que Alekassandra tinha me ensinado
ser.
Silenciosa e dócil.
Eu pensava que sempre tinha que ser assim, que porventura, se algum
dia eu tivesse com outro homem, ele tocaria meu corpo dessa maneira e eu
me manteria de olhos fechados, segurando os gemidos para não escapar dos
meus lábios, e não olharia em seus olhos. E pelas experiências que tive com
Nate, automaticamente foi assim que meu corpo agiu quando o senhor
Gregovivk me ergueu do chão, depois de retirar suas luvas, me depositando
sobre a mesa almofadada e esparramando meu corpo sobre ela. Me virei
lentamente e fiquei de barriga para baixo, com minhas pernas penduradas
para fora da mesa, fechando meus olhos.
— Não mandei se virar! — A voz rouca dele soa, e choca sua pélvis
contra minha bunda, prendendo seus dedos fortes em meus cabelos.
Sugo o ar com força para meus pulmões e abro meus olhos,
respirando com agonia, sentindo seu pau duro pulsar dentro da calça, com ele
o forçando mais bruto contra minha bunda.
— Eu pensei que me queria assim...
Antes mesmo que possa terminar de falar, ele se afasta e solta meus
cabelos, levando suas duas mãos ao meu quadril e me virando sobre a mesa
novamente, como se eu fosse uma boneca de pano, deixando minha barriga
para cima. Os olhos castanhos em tom escuro estão a centímetros dos meus,
me encarando com sua boca cerrada.
— Quando estiver dentro dessa sala, você apenas me obedece — ele
rosna, baixo, fazendo meu corpo se debater quando seus dedos apertam a
pontinha do bico do meu seio, causando um pico de dor na minha mama, que
se alastra pelo meu corpo.
— Merda! — Mordo minha boca, choramingando, tentando fechar
minhas pernas, mas ele prende minha coxa com sua outra mão e a mantém
aberta.
E os dedos que há poucos segundos me castigavam com brutalidade,
agora acariciam lentamente meu seio, com carinho. Meu peito sobe e desce
rapidamente, estufando para cima, com meu corpo respondendo entre
gemidos que escapam da minha boca à sua carícia na mesma medida que
responde aos seus castigos. Um beijo quente sobre meu seio é o suficiente
para disparar meu coração e queimar minha pele a cada cantinho que seus
lábios tocam, enquanto ele desce com preguiça sua boca por meu estômago.
Queria que ele tivesse tirado as malditas algemas dos meus pulsos, para que
eu conseguisse me segurar em qualquer coisa, para não me sentir tão perdida
como eu estou agora com seus beijos em meu corpo. O deslizar da sua língua
me lambendo, causa arrepios em minha pele, mas são seus dedos que
arrancam gemidos incontroláveis dos meus lábios, quando se infiltra de
mansinho dentro da minha boceta, entrando lentamente, como se estivesse
me provocando a suportar a inspeção que sua boca faz em mim.
— Oh, Deus... — Tombo minha cabeça para o lado e retraio minhas
coxas, sentindo cada músculo dela ficando rígido com o raspar do seu dente
em cima do meu clitóris.
— É assim que sempre deve deixar seu corpo para mim, passarinho.
— Um assopro morno sobre minha boceta nunca pareceu uma tortura tão
terrível quanto essa que ele faz agora. — Pertence apenas a mim e sempre
estará pronto para me receber, quente e molhado, como sua boceta está agora.
Ele retorna a beijar minha pele e escorrega sua boca por meu quadril,
subindo de mansinho. Seu dedo me fode com preguiça, brincando sem pressa
em minha boceta, me excitando ainda mais.
— Sim... — murmuro em resposta entre os gemidos e suspiros que
saem da minha boca.
A mão que segurava minha coxa, circula meu pescoço, com seus
dedos alavancando com apenas um puxão meu tronco para cima. Ele me
deixa sentada, respirando apressada, me encarando. Os dedos em minha
boceta se retiram e vão para meu quadril, arrastando meu rabo para a beirada
da mesa, deixando minhas pernas penduradas. Czar se afasta da mesa e vai
para perto do seu paredão. Pega uma grande barra de ferro e uma caixa de
preservativos sobre a bancada. Sinto meu peito disparar, enquanto tento fazer
minha mente se concentrar no que vem agora. Ele deixa a caixa de
preservativos ao meu lado e anda para onde eu estava pendurada, pegando a
argola de ferro que está nas correntes. Passa a barra de ferro no meio dela e
respira fundo, girando seu rosto para mim, me encarando quando retorna e
anda em minha direção.
É meio difícil controlar meu olhar, para não ficar encarando o grande
volume no centro da sua calça. A única vez que vi Nate nu, foi naquele fim
de semana, depois que ele me espancou e ficou pelado na minha frente. Foi
também a primeira vez que vi o pau do cara que me fodia há três anos. O
senhor Czar não me quer de costas, e agora não sei se devo olhar para ele ou
não. E se olhar o deixar bravo comigo, como Nate ficou quando eu olhei? Ele
acompanha meu olhar e abaixa sua cabeça, sabendo que estou olhando para
seu pau.
— Se lembra da palavra-chave para parar o jogo? — ele pergunta
quando para à minha frente, entre minhas pernas. — Porque é apenas falando
ela que pode evitar meu pau de entrar na sua boceta agora.
— Eu não esqueci a palavra. — Pisco rápido e desvio meus olhos do
seu pau para seu rosto.
— Lhe falei a regra, pode falar ela se estiver com medo. — Ouço a
respiração dele ficar mais pesada conforme ele puxa o ar por sua boca.
— Não estou com medo, senhor. — Mordo meus lábios e desvio
meus olhos dos seus, abaixando para as algemas em meus pulsos, com
minhas mãos descansando sobre minhas pernas.
— Seus olhos me dizem outra coisa, Mabel! — Ouço apenas o som
da barra com a argola sendo depositada ao lado do meu corpo, antes dele
retornar a prender minha garganta em seus dedos, não com brutalidade, mas
usando de força o suficiente para não desviar meus olhos dos seus. — O que
a está deixando assustada?
Respiro mais depressa e sinto a respiração dele tocar meu rosto
quando seu corpo se inclina de forma lenta para frente, percorrendo seu olhar
pela minha face.
— Lhe disse que seria um livro aberto para mim, não pode esconder
seus pensamentos de mim, passarinho. — Sua voz é como aço quando fala, e
para seus olhos nos meus. — Diga o que está lhe alarmando.
— O senhor não me quis de costas — falo, baixo, e paro meus olhos
em sua boca, a vendo se esmagar lentamente.
Sinto uma forte vontade de tocá-los com os meus. Qual punição ele
me daria se eu o beijasse? Qual sabor seu beijo deve ter? Nesse jogo que eu
aceitei é permitido o beijar? Deveria ter perguntado sobre isso. Me sinto
agitada, não conseguindo controlar meus pensamentos, que estão infestando
minha mente com o simples fato de olhar para sua boca.
— Me prefere assim, de frente, com os olhos fechados... — Passo
minha língua por minha boca e retorno a olhar para ele, sendo esmagada por
toda masculinidade que esse homem exala. — Se importa se eu preferir ficar
com eles abertos, senhor?
Uma reação breve de confusão toma seu semblante quando ele pisca
rapidamente, estreitando seu olhar, dando uma arqueada sexy em sua
sobrancelha esquerda. Sinto seus dedos apalparem minha coxa, percorrerem a
parte interna, subindo de mansinho até parar na frente da minha boceta,
raspando as pontas dos seus dedos sobre ela. O ar em minha boca vai ficando
menos fácil de sugar, com a sensação de sufocamento que seu aperto causa
em minha garganta.
— Se quisesse eles fechados, eu teria usado uma venda. — Ele
aproxima ainda mais sua face da minha, mantendo a pressão dos seus dedos
em minha garganta. Um milímetro, talvez menos do que isso, e a distância
permitiria apenas colocar minha língua para fora e tocar seus lábios. — Por
que me perguntou isso, passarinho?
Deveria existir alguma proteção em meu cérebro contra sua voz
traiçoeira. Ela brinca comigo de forma despudorada, ficando mais rouca,
baixa e sexy, causando estragos no meu encéfalo, o desligando e deixando eu
agir como uma boneca de ventríloquo que reage a qualquer gesto dele. Ele
respira mais forte e se aproxima, metendo de vez seu dedo dentro da minha
boceta e usando seu anelar para massagear meu clitóris inchado, que deseja
outros orgasmos, como se não tivesse acabado de experimentar uma descarga
grande de ocitocina[42] segundos atrás.
— O que a faz pensar que não vou querer ver esses grandes olhos
negros focados em mim, quando meu pau se afundar dentro dessa boceta
quente, passarinho? — Gemo, baixo, com a mordida que ele dá em meu
queixo, afundando ainda mais seu dedo dentro de mim e o retirando pouco a
pouco.
— Eu não sei... — Solto um soluço de prazer, desejando que ele mova
seu dedo novamente para dentro de mim.
— Responda minha pergunta, Mabel. — Seu dedo sai definitivamente
da minha vagina e prende sua mão atrás da minha cabeça.
Mantenho meu rosto perto do dele, imobilizando seus dedos
comprimidos em minha garganta, e os outros atarracados em meus cabelos.
Os olhos castanhos estão brilhando feito fogo, me queimando a cada segundo
que me encara, aguardando sua resposta.
— Quando era tocada por... — Minha boca se fecha automaticamente
e fico trêmula, sentindo a boca do meu estômago se apertar de asco, apenas
com o fato de chegar perto de pronunciar o nome de Nate em voz alta. — Ele
não me deixava olhar, senhor.
Czar se mantém sério e cerra sua boca, apertando mais forte meus
cabelos, respirando com força.
— Está me dizendo que todas as vezes que ele lhe fodeu
consensualmente...
— Ele me pedia para fechar os olhos ou ficar de costas, senhor
Gregovivk. — Sinto o alívio em meu pescoço dolorido e o ar retornar com
força para meus pulmões, quando ele solta minha garganta e dá um passo
para trás.
A sensação do medo me pegando, e um receio grande quando seus
olhos param em minha barriga, encarando minha cicatriz, me faz ficar
nervosa. Meu corpo não é bonito de se olhar. Tenho noção da deformidade
que Nate deixou em meu ventre, e isso me faz encolher mais.
— Eu não preciso olhar, não preciso... — falo, angustiada, com medo
dele parar justo agora e eu não saber se conseguiria ir adiante ou não.
Faço menção para fechar minhas pernas quando me arrumo, agitada,
na borda da mesa, mas sou impedida por seu braço, que se estica rápido e
segura meu joelho, o mantendo no lugar quando ele se move rápido, parando,
fazendo eu me assustar com a expressão zangada que tem em sua face.
— Por ora, apenas por agora vou deixar esse assunto em aberto,
passarinho — ele rosna feito um animal perigoso arreganhando suas presas,
quando seus dentes ficam à mostra. — Mas iremos conversar sobre isso e,
principalmente, me dará um nome.
Seus olhos mudam de direção e ficam parados na barra de ferro ao
lado da minha perna esquerda, analisando.
— Não aprecio sexo convencional, passarinho — ele diz, sério,
retornando seus olhos aos meus, os abaixando lentamente, e erguendo sua
mão e alisando meu peito lentamente. — Mas acho que podemos fazer essa
baunilha[43] virar um napolitano.
Ele me um dá sorriso frio e se afasta apenas um pouco, espalmando
sua mão em meu peito, me fazendo deitar minhas costas na mesa. Respiro
angustiada e tombo meu rosto para o lado, tentando o ver. Mas ganho um
beliscão no canto do meu seio como castigo.
— Pare de se mexer! — Uma risada baixa sai dos seus lábios, com ele
me olhando de forma quente. — Consigo visualizar tantas formas belas de
castigar esse seu pequeno corpo indisciplinado, passarinho!
Cristo, acho que poderia gozar agora, apenas com o olhar dele sobre
mim, de tão intenso e avassalador que é! E dentro de mim eu desejo que ele
me castigue, que me faça qualquer coisa que aplaque esse descontrole que
seu olhar e sua voz me causam, me deixando em transe. Seu corpo investe
acima do meu e toca o bico do meu seio, que lateja de tão dolorido que está
com seus castigos, o beijando com lentidão. E eu gemo, estufo meu peito
para cima, sentindo a mistura da dor com prazer, das pequenas sugadas que
ele dá. As grandes mãos estão dispersas, acariciando minhas coxas, subindo e
descendo com a mesma despreocupação que sua boca suga meu peito. Seus
lábios descem por meu ventre, que está retraído, se movendo rápido
conforme minha respiração entra mais depressa em meus pulmões. A euforia
cresce dentro do meu corpo e se mistura a receio, angústia e libertinagem.
— Ohhhhh! — Meu tórax se alavanca para cima e forço meu rabo
para baixo, contra o estofado da mesa, assim que sua língua encontra meu
clitóris.
Seu riso baixo é rouco e perverso, igual seus dedos quando esmagam
com brutalidade nas laterais das minhas pernas, as mantendo abertas, as
impossibilitando de se fecharem. Inalo mais forte o ar, sendo conduzida a um
atropelamento de sensações novas dentro do meu corpo. Se julguei ser prazer
o efeito que tomou o meu corpo por inteiro quando sua língua deslizou sobre
meu ânus, naquelas regalias profanas, agora entendo ainda mais o que é
profanação, pois é assim que me sinto sendo violada por sua boca, sem
respeito algum. E a cada escorregar da sua língua entre minha boceta, a
lambendo, me chupando com fome, mais necessitada dessa violação fico.
Não existe mais nada dentro da minha mente que não seja adorar cada
lambida perversa e indecente que ele me dá. Nunca nenhum homem me tocou
assim, não como esse russo me toca, despertando anseios novos e outros
antigos dentro de mim. Os primeiros orgasmos que ele me causou foram
alimentados com dor, mas esses agora que me pegam, sem aviso algum, são
mais selvagens, urgentes e angustiados. Causam tremores em meu corpo,
queimaduras na sola dos meus pés, como se estivesse descalça, pisando em
brasas. Meu corpo se repuxa, enquanto retorço meus pulsos na algema,
desejando que eles tivessem livres para eu poder me segurar em seus ombros,
sentir a força deles em meus dedos. É um céu e inferno resumido em um
único homem, que me deu dor e agora me oferece deleite.
Sua boca se concentra em meu clitóris, fazendo miséria com ele, o
qual nunca consegui sentir com meus próprios dedos. Sua mão esmaga mais
forte minhas coxas, até senti-las tão abertas, que suas partes inferiores se
encostem na mesa almofadada. Uma queimação nos músculos, por estarem
sendo repuxados enquanto estão rígidos, e um estremecimento, me acerta,
como um coração latente disparado dentro da minha boceta. Sua boca força
mais ainda contra minha pélvis, sugando o nervo que implora para receber o
que realmente merece.
— Oh, Deus... — Fecho meus olhos com força e estico meus braços
para cima, com meus pulsos algemados um no outro, me retorcendo na mesa,
sentindo tudo me engolir.
Um estopim de pólvora explodindo dentro da minha cabeça, enquanto
grito, perdendo meus sentidos, sendo tomada pela onda gigantesca de prazer
que me engole dentro dela. Gozo em desespero, desejando que ele pare, que
continue, não sabendo mais o que realmente desejo. E quando aquele homem
se afasta de mim, finalmente soltando minhas pernas e separando sua boca da
minha boceta, estou feito uma folha lisa e esticada em cima da bancada,
completamente exaurida de uma forma fodidamente boa. Um sorriso bobo
estampa minha face, pela recompensa que meu corpo recebeu, após ser tão
negligenciado por tanto tempo. Minha mente desliga sem condição alguma de
raciocinar, e se mantém leve. Talvez, se não tivesse tão absorta na descarga
de prazer que acabei de receber, teria prestado atenção no que ele estava
fazendo. E é apenas quando abro meus olhos, ao ser alavancada para cima
pelos meus pulsos algemados, que noto que seus olhos castanhos podem ficar
ainda mais quentes e lindos. Sua cabeça passa por baixo dos meus braços e se
infiltra entre eles, ficando com sua face a centímetros da minha. As grandes
mãos se prendem em minhas coxas molengas, a sustentando e me fazendo
circular sua cintura com minhas pernas.
— Mantenha seus olhos abertos, bebê, assim como suas pernas estão
em volta da minha cintura. — Ele esmaga seus dedos com brutalidade em
meu rabo e me faz soltar um gemido de dor. — Quero seus olhos em mim,
em cada segundo que meu pau foder sua boceta.
Sem condição alguma de conseguir reformular uma única palavra que
seja, por conta do orgasmo que acabei de ter, apenas me vejo balançar a
cabeça em positivo para ele, me afundando na perdição que são seus olhos.
Ele me alavanca mais para cima e causa uma fricção entre meus mamilos
sensíveis em sua camisa. Retraio minhas coxas em volta dele, gemendo
baixinho. Seus olhos brilham em diversão, me dando um sorriso perigoso,
erguendo ainda mais meu corpo, até ter meu colo na altura dos seus olhos.
Minhas pernas se comprimem ainda mais em volta das suas costas, enquanto
meus braços ficam presos ao lado da sua face. Tento afastar meu peito, para
conseguir aliviar a pressão e angústia que o tecido causa ao tocar nas mamas.
— Fique assim! — Ele solta um tapa forte em meu rabo, que me faz
congelar, sorrindo ainda mais perverso ao ouvir meu gemido.
Suas mãos soltam minha bunda e estica um braço para a mesa,
pegando um preservativo na caixa. Escuto o som do seu zíper sendo
abaixado, e dentro de mim queria que ele tirasse essa roupa, desejava poder
sentir minha pele tocando a dele sem nenhum tipo de restrição entre nós.
Seus olhos não desviam da minha face, enquanto ele cobre seu pau com a
camisinha. Meus cabelos estão colados em minhas costas suadas, e respiro
mais depressa, sentindo tudo novamente crescer dentro de mim, a ansiedade e
o receio. Meus olhos absortos se perdem em seus lábios, ficando presos neles.
Talvez a dificuldade de pensar me faça desejar ainda mais tocá-los com
minha boca. Nem que seja apenas para experimentar, saborear como um fruto
perigoso e provocante. São vermelhos em um tom rosado escuro, me dando a
sensação de ser Eva diante da maçã, quando a serpente a induziu a cometer o
primeiro pecado.
Não me sentia assim quando olhava a boca de Nate, e nem de nenhum
outro homem. Os beijos que Nate me dava eram tão frios e assustadores
quanto seus toques invasivos. A única coisa que apreciava em seus beijos era
que nunca eram longos, ele nunca se prolongava, e na hora que fazíamos
sexo, o único momento que sua boca chegava perto de mim, era após ele
gozar, e nem era nos meus lábios. Um beijo frio era depositado em minha
testa, como agradecimento por ter sido uma cadela obediente e ter ficado de
quatro na cama, em silêncio, esperando ele terminar de foder. Meu corpo fica
mais agitado, com a respiração ficando presa, o coração golpeando com
selvageria, assim que a ponta larga do pau, envolto da camisinha, para na
entrada da minha boceta. Seus olhos queimam com mais luxúria e um som
rouco sai da sua boca, com ele enlaçando minha cintura com seu braço
esquerdo.
— Não desvie seus olhos dos meus, Mabel! — ele ordena com mais
rouquidão, conseguindo deixar sua voz ainda mais sexy.
Respiro forte e fico apenas perdida, olhando para sua boca enquanto
ele empurra pouco a pouco meu quadril para baixo. Meu peito sobe e desce
tão rapidamente, que nem me incomodo mais com a dor que a fricção da pele
contra a textura da sua camisa causa em meus seios. Pelo contrário, eu gosto,
desejo que ele estivesse sem ela, para sentir a quentura da pele dele junto a
minha. Inclino meu rosto para o lado e o deixo me mover vagaroso para
baixo, sentindo a cabeça do seu pau passar entre os lábios da vagina e se
encaixar na entrada da minha boceta.
— É a última vez que irei perguntar, durante todo o jogo, passarinho.
— Sua boca se abre e solta sua voz com resistência, me deixando ver o pomo
de adão do seu pescoço subindo e descendo. — Se lembra da palavra-chave?
— Não... — murmuro, perdida, olhando para seus lábios, me sentindo
ainda mais atraída pelo pecado que está à minha frente.
— Não? — Ele esmaga com mais força meu rabo, me fazendo gemer
em pura dor. — Não lembra da palavra...
— O não é porque não vou dizê-la, senhor... — Ergo meus olhos para
ele e o respondo com sinceridade.
Vejo um brilho diferente em suas íris, que rapidamente é escondido,
ficando completamente o castanho sombrio, o deixando ainda mais sexy. Seu
movimento é rápido, tanto com sua boca, que me condena no segundo que
investe contra mim, me beijando com brutalidade; como seu pau, que se
afunda em uma tacada só dentro da minha boceta, me fazendo ofegar e
apertar mais forte meus braços e minhas pernas em volta dele, chorando com
dor e desejo em seus lábios. Não houve ternura, nem um aviso do que ele
faria, apenas a supremacia da sua masculinidade sendo aplacada em um beijo
selvagem e um pau grosso enfiado tão fundo dentro do meu corpo, que eu
poderia jurar que morreria ali, nos braços dele.
Perdida na linha fina da dor de ser aplacada com fúria e o prazer de
ter minha vagina preenchida, apenas me concentro no prazer. O mais puro e
leviano deleite que já recebi. Czar me beija com fome e escorrega sua língua
por dentro da minha, me tomando com luxúria. Minha boceta se retrai,
tentando o expulsar de dentro de mim com a mesma agonia que o suga para
lhe manter dentro dela. Ele leva suas mãos para meu rabo e o segura no alto,
dando acesso para as penetrações duras que seu pau faz dentro de mim, me
dizendo da forma dele que se eu estava procurando algo convencional, eu
estava no lugar errado, pois era aquilo ali que ele tinha a me oferecer: um
sexo cru e brutal, mas satisfatório pra caralho.
Quando sua boca liberta a minha do seu beijo bárbaro, estou ofegante,
completamente devastada diante do poder que ele me fode. E meu corpo
responde, meu corpo aprecia as batidas duras da sua pélvis contra a minha,
afundando ainda mais seu pau dentro da minha boceta, que o toma. Se eu
queria saber se poderia trepar com algum outro homem depois de Nate, Czar
me responde que sim a cada estocada que recebo do seu pau dentro de mim.
Só que não de uma forma normal. Suponho que nada mais será
normal na minha vida. Ele estava levando minhas perversões para outro
nível. Nate tinha me causado dor, tanta dor que eu achei que morreria, até ela
se transformar em uma sensação estranha de prazer deturpado. Mas o que
Czar faz comigo é diferente, ele não me dá apenas dor, ele me faz desejar o
prazer junto com a dor.
Meus olhos ficam presos aos seus, com meus peitos esmagando sua
camisa, sentindo toda a força bruta que estou sendo fodida, e eu desejo isso.
Minha cabeça tomba para trás, enquanto grito junto com os gemidos, tendo o
som da minha respiração ficando mais alto. Meu corpo é um mercenário que
lhe entrega o que ele quer, apenas para barganhar um prazer novo, o qual
Czar me dá. Sinto minha bunda sendo aterrissada novamente na bancada,
com ele me fazendo deitar sobre ela, mas não quero me separar, não agora.
Inclino minha cabeça e capturo seus lábios para mim, o beijando com
mais volúpia e desejo do que ele me tomou no primeiro. Sua mão esmaga
meu quadril com brutalidade ao lado do corpo, é um aviso para que eu o
solte, mas não quero, meu corpo não deseja tê-lo longe. Não me importo com
a dor da pressão das suas mãos, que esmagam minha pele ao ponto de fazer
meus ossos doerem. Pelo contrário, o instigo a me punir com mais dureza
quando escorrego a língua por sua boca e mordisco seus lábios. E em
contrapartida, ele me fode com mais brutalidade. Minhas mãos, com os
pulsos algemados, se seguram em sua camisa e espremem meus dedos no
tecido. Meus calcanhares vão para trás da sua bunda, o usando como impulso
para mover meu corpo para baixo contra seu quadril, assim que sua pélvis se
choca com a minha. Ele corresponde ao beijo com a mesma necessidade,
tomando controle e fazendo de mim o que deseja. Apenas solto seus lábios
quando sua mão para em meu pescoço, o esmagando com pressão, forçando
minha cabeça a ficar parada, controlando a quantidade de ar que entra e sai
dos meus pulmões.
— Indisciplinada, muito indisciplinada, passarinho. — Sua voz rouca
é dominadora, com ele levando seu quadril para trás, devagar, e retirando seu
pau quase por completo de dentro de mim, voltando forte, com um estouro
bruto ao se afundar dentro da minha boceta novamente.
Tento o beijar de novo, mas sou contida por sua mão que comprime
com mais pressão meu pescoço. Retorna a sair do meu corpo, para foder com
força na sequência. Gemo com agonia e seguro com mais desespero sua
camisa, contorcendo meu corpo abaixo do seu, com minha boca desejando
mais dos seus beijos, do seu sabor de vodca misturado à menta. Sinto como
se fosse uma drogada que experimentou apenas um pouco dos efeitos tóxicos
que a droga causa. Anseio por mais, desejo tudo, e como um malvado
traficante ele me nega, ele nega o que eu quero, porque sabe que apenas um
pouco já foi o suficiente para me fazer pedir mais para ele.
— Solte meu pescoço, Mabel — ele ordena com malícia, com seus
olhos diabólicos brilhando em divertimento, sabendo que descobriu um ponto
fraco em seu oponente de jogo.
— Senhor... — murmuro, quase chorando, quando ele para de se
mover, ficando completamente estático.
— Tão quente e teimosa. — Ele ri e beija meu ombro, esfregando sua
face lentamente por minha pele e parando ao lado da minha bochecha,
respirando pesado. — Deveria privar seu corpo do que ele quer, para lhe
ensinar a não ser teimosa.
Mordo minha boca e sinto meu peito acelerar. Meus olhos ficam
marejados por lágrimas, não quero parar, não quero que ele pare. Mas não
quero que ele se afaste. Meu corpo o deseja assim, sobre mim, com seus
olhos e sua boca perto dos meus. Não tenho como explicar isso para ele, não
entendo nem a mim mesma, apenas preciso que ele me tenha assim. Sinto-me
como uma prisioneira, que estava presa há anos, sem ver a luz do sol,
sentindo o gosto da liberdade pela primeira vez.
— Por favor... — choramingo e nego com a cabeça, segurando mais
forte sua camisa, para que ele se mantenha assim.
Demônios são perigosos para você chamar para brincar, nunca temos
controle sobre eles, ou nos efeitos que eles causam em nossa mente e corpo.
E sei que estou diante dos piores de todos que puderam atravessar o meu
caminho.
— Vou pensar em uma forma de punir esse seu pequeno ato de
rebeldia, Mabel! — Sua ameaça não me faz soltá-lo e muito menos me
amedronta nesse momento.
Nada mais tem importância alguma quando seu corpo retorna a se
mover, me fodendo com lentidão, capturando meus lábios e me fazendo
suspirar entre gemidos de alívio e prazer, apertando mais forte minhas coxas
em volta do seu corpo. Czar solta minha garganta e dá um passo para trás, me
arrastando ainda mais para a borda e deixando suas mãos pregadas em meu
rabo, e eu vou ao céu quando seu pau me fode com brutalidade, aumentando
suas estocadas, parecendo uma maldita britadeira feita de carne. A mordida
dos seus dentes em minha boca é anestesiada pelo prazer que o beijo
dominador dele causa na sequência, impulsionando meu corpo para frente a
cada penetração. Ele apenas quebra o beijo quando sente minha boceta o
sugar com mais pressão, tendo meu corpo, das pontinhas dos pés até meus
dedos das mãos, completamente retraído, com a força do orgasmo que está
crescendo dentro do meu corpo.
Seus olhos estão concentrados nos meus, e como uma ordem muda,
me fazem ficar obediente, mesmo quando tudo que eu vejo na minha frente
são pequenos pontinhos de luz brilhante, com meu cérebro explodindo em
mil partículas na quinta estocada, gozando com força, desesperada, sentindo
minha boceta expelindo fluidos quentes que jorram dela a cada penetração
bruta do seu pau. Entre meu gozo, que nubla minha mente, meus olhos ficam
focados aos seus e os vejo se comprimirem, quase se fechando, com seu
maxilar cerrado, tendo seu próprio gozo. E nada me pareceu algo tão bonito e
másculo quanto ver esse grande homem em cima de mim, indo à lona. Sorrio,
molenga, e fecho meus olhos lentamente, tombando meu rosto para o lado,
com meu coração palpitando em meu peito, afrouxando minhas pernas com
músculos gelatinosos da sua cintura.
— Vai ser castigada por isso, passarinho! — ele murmura, com sua
testa descansando em meu pescoço, e passa sua língua lentamente em minha
garganta.
Meus dedos relaxam e solto o tecido que segurei com tanta força e
sorrio com preguiça, não prestando nem um pouco de atenção em suas
palavras, que estão longe demais para que eu possa raciocinar.
— Sim, sim... — suspiro, baixinho, ao sentir uma última onda sacana
de prazer me percorrer ao toque quente da sua língua, deixando para me
preocupar com isso depois.
CAPÍTULO 16
OS DOIS LADOS DA MOEDA
Mabel Shot

Meu corpo fica parado, encolhido dentro da banheira, com meus


braços em volta das minhas pernas. Deixo meu queixo depositado em cima
do meu joelho e olho perdida para a espuma. Fecho meus olhos e suspiro
baixinho, sentindo os movimentos suaves da esponja em minhas costas,
enquanto ele me banha. Meu corpo estava tão cansado e relaxado, que
apenas concordei com tudo que ele desejou fazer comigo. Cantarolo, baixo,
uma música antiga da banda Eagles. Brincando com a espuma, ergo meus
dedos para cima e abro meus olhos, a assoprando, cantando com preguiça.
— Que música é essa? — ele pergunta, baixo, concentrado na
espuma que passa em minhas costas.
— Hotel Califórnia — respondo e viro meu rosto para ele,
observando-o sentado na borda da banheira, com seus olhos presos em seu
trabalho. — Não acha isso estranho? — murmuro para ele e estico um dos
meus braços quando ele segura, passando a esponja com cuidado.
— Não sei, não vejo muito propósito em uma canção que fala da
estada em um hotel. — Sua voz me responde calmamente, com os olhos
castanhos acompanhando o deslizar da esponja em meus braços.
— Não — digo, rindo, me mexendo dentro da banheira e esticando
minhas pernas. — Hotel Califórnia foi um clássico da década de 70, mas não
me referi à canção — suspiro com preguiça e sinto a quentura da água
escorrer por meus braços quando ele enxagua.
— Explique-se. — Ele solta a esponja e levanta, caminhando para
perto da porta e pegando a toalha no gancho, secando suas mãos. Observo
sua camisa rasgada pelas minhas unhas, que a seguraram com força.
Reprimo um sorriso e desvio meus olhos dela, parando minha
atenção nos calombos que se formaram nos meus pulsos, por conta da
algema.
— Eu deixar você me dar banho como se eu fosse uma criança —
falo, pensativa, analisando isso, e em como eu não me importei de deixá-lo
lavar meus cabelos e me banhar por inteira. Na verdade, eu me senti bem.
— Não — ele responde seriamente, de forma firme.
Volto meus olhos para ele e o vejo secar cada dedo com pura
concentração, retirando qualquer gotinha que seja que possa ter ficado para
trás. Me afundo na banheira e inclino minhas costas para trás, segurando a
borda dela, até meu corpo estar por completo submerso, tendo apenas meu
rosto para fora. Ele anda pelo banheiro de ladrilhos brancos tão limpos, que
penso que a pobre faxineira passou horas esfregando os rejuntes com uma
escova de dentes, para ter certeza de que não passaria nenhuma sujeira
despercebida da sua vista.
O vejo parar ao lado da banheira, com a toalha esticada, aberta em
suas mãos, me olhando sem demonstrar interesse algum em conversar sobre
o que eu disse ou me explicar por que ele passou os últimos trinta minutos
me esfregando milimetricamente. Não que eu esteja reclamando, pelo
contrário, eu me senti bem, um bem-estar diferente, que nunca tinha sentido.
A sensação de estar apenas ali, despreocupada, com meu corpo relaxado e
meus músculos ainda dormentes por conta das algemas de ferro, coleira e os
beliscões em meus seios, me deixaram maleável para aproveitar os cuidados
e atenção que recebia após a pancada de prazer que meu corpo recebeu.
— Levante-se! — ordena, taciturno.
Levanto-me rápido e fico de pé à sua frente quase que imediatamente.
Minhas pernas vacilam e dou uma fraquejada, sentindo o interior das minhas
coxas me recriminando por ser uma sedentária, que agora teve todos os
músculos usados de uma única vez.
— Não faça isso de novo, pode acabar se machucando se cair dentro
da banheira. — Ele estica sua mão e me segura pelo quadril, me dando um
olhar de recriminação.
Me pego balançando minha cabeça em positivo, segurando em seus
braços. Meu corpo tinha adquirido estranhamente, e rápido demais, o
péssimo hábito de obedecer à sua voz. Ainda não descobri por que a voz dele
me deixa tão adestrada, como uma cadela obediente. E digo isso realmente
me referindo no sentido animal, porque toda vez que sua boca abre, sinto que
meu cérebro perde o poder que tenho sobre minha coordenação motora. Não
me levantei rápido porque estava com pressa, e sim porque ele me mandou
levantar, foi automático do meu corpo responder à ordem dele. Czar me
embrulha na toalha e passa sua mão por baixo das minhas pernas, me
tirando da banheira e me depositando na beirada da borda. Bato as
pontinhas dos meus pés no piso e o vejo se virar e buscar a outra toalha no
gancho, a usando para secar meus cabelos quando retorna.
— Ninguém nunca secou meus cabelos. Bom, não que eu me lembre...
— falo, perdida, me recordando da minha infância no orfanato. — Mas acho
que nunca, depois de eu já ser grandinha e saber me virar sozinha.
Solto um suspiro baixo e fecho meus olhos, sentindo os movimentos
dos seus dedos com a toalha em meus cabelos praticamente como se fosse
uma massagem no meu couro cabeludo. Abro meus olhos quando suas mãos
e a toalha se afastam da minha cabeça, e me deparo com as íris castanhas
dele a poucos centímetros da minha. O ar quente da sua boca me acerta
quando ele solta a respiração, olhando meu pescoço e o secando com
cuidado.
— Uma submissa é um objeto valioso, se um mestre não cuida, é
porque não merece a confiança que ela lhe entrega. — Ele toca meu pescoço
e escorrega seu dedo lentamente, com uma pequena faísca se acendendo em
seus olhos de mel. — Gosto de cuidar do que tomo como meu.
— Diz isso durante o jogo, não é? — pergunto, baixo, e solto um
suspiro por conta da ardência em minha garganta, que se abrasa quando ele
a toca. — Daqui vinte dias, quando o jogo acabar, serei minha novamente.
Seus olhos se erguem do meu pescoço e ficam presos aos meus. Sinto
meu coração palpitar dentro do meu peito, como se estivesse diante de um
grande jaguar, que estuda sua presa, para saber qual o melhor momento
para atacar.
O som de mensagem chegando no meu celular me faz sair das
lembranças que ficaram a manhã toda em minha cabeça. Afasto a ponta dos
meus dedos do meu pescoço e pego o aparelho na bolsa, ainda perdida, sem
entender bem o que foi que eu realmente aceitei quando disse que aceito esse
jogo que o senhor Czar me chamou para jogar.
“Como você está? Seu pai sente sua falta. Quando volta para casa?”
Meus olhos observam a mensagem de Alekessandra pela barra de
notificações do celular.
— Nunca — murmuro e ergo meu rosto para o sinal do semáforo,
vendo que está aberto para os veículos.
Retorno a olhar a mensagem e aperto em cima dela, abrindo o
aplicativo de mensagens e digitando rapidamente.
“Estou bem, mande um abraço para ele.”
Desligo o celular e o jogo dentro da minha bolsa. Confiro a hora no
relógio do meu pulso, sabendo que ainda estou dentro do meu horário de
almoço. Encaro o café do outro lado da rua, onde Macro está me esperando.
Hoje de manhã, quando liguei o aparelho, depois de ter o carregado no
serviço, encontrei cinco ligações perdidas dele e mais três mensagens na
caixa de voz. Nem cheguei a ouvir nenhuma delas, pois antes que pudesse
fazer isso, o nome já aparecia na tela, me ligando novamente. Estava apurada
de manhã, disse que conversaríamos à noite, mas ele insistiu para que nós
fizéssemos agora, no meu intervalo do almoço. Acabei aceitando, até para
poder sair um pouco de dentro da galeria.
A manhã foi uma bagunça completa. Boris me repreendeu por ter
chegado dez minutos atrasada e na sequência ouvi um sermão dele quando
perguntou do meu uniforme. Eu tive que inventar uma desculpa, falando que
precisei mandar para o conserto. Seus olhos se estreitaram, ficando sérios e
encarando minha calça jeans e a blusa bordô de manga comprida e gola alta
de algodão em meu corpo. Minha sorte é que hoje teria que organizar as telas
do almoxarifado, o que me garantiria um dia de trabalho escondida na sala de
triagem.
Estalo o canto da boca e atravesso a rua, segurando minha bolsa
quando o sinal fecha e andando apressada, sentindo cada músculo e junta do
meu corpo dolorido, mas uma sensação extremamente confortante de
relaxamento. Ergo meu braço, para abrir a porta do café, para que eu possa
entrar, e o que chama a atenção dos meus olhos é a marca roxa em meu
pulso. A escondo rapidamente e abaixo meu braço, puxando a manga da
camisa para cima do dorso da minha mão e empurrando com meu ombro a
porta. Assim que entro no estabelecimento pequeno, mas aconchegante, com
mesas e cadeiras de madeira, meus olhos param na mesa ao fim, no canto da
parede, ao lado da janela, que dá uma boa visão da outra rua que corta o lado
do café. Macro está sentado, tamborilando seus dedos na mesa, cantarolando
baixo a música que toca no estabelecimento, com uma xícara de café à sua
frente. Sua cabeça se ergue para mim e abre um largo sorriso em seu rosto
quando me vê. Lhe retribuo o sorriso na mesma intensidade e caminho para
ele, que se levanta.
— Onde se meteu ontem à noite, garota?! — Ele me abraça forte
quando me aproximo dele, o que me faz repuxar o canto da boca e abafar um
gemido de dor. Encolho meus braços e dou um leve tapinha em suas costas,
me afastando. — Passei ontem à noite no seu apartamento e você não estava,
só Deus sabe quantas vezes te liguei...
— Cinco — respondo, rindo, e sento na cadeira de frente para ele,
enganchando a alça da bolsa na cadeira.
— Tenho certeza de que foi muito mais que isso — ele retruca,
rabugento, se sentando em sua cadeira e erguendo sua mão, chamando a
garçonete. — Fiquei preocupado!
— Eu estou bem, não tinha com o que se preocupar. — Sorrio para a
moça que para ao lado da mesa e nos cumprimenta. — Uma xícara de café,
por favor.
— Não vai comer nada? — Macro me olha e arqueia sua sobrancelha.
— Não estou com fome, só quero o café. — Sorrio para ela e a vejo
se afastar. Retorno meus olhos para ele, que me observa com interesse.
— Você sempre está com fome!
Reviro meus olhos e balanço minha cabeça para os lados, dando um
sorriso para ele.
— Agora não estou. — Abro meus olhos e o vejo ainda descrente
comigo. — Afinal, por que toda essa agonia por conta de não conseguir falar
comigo? Pelo que me lembro, você ficou o fim de semana todo fora de área, e
nem por isso eu fiquei que nem doida atrás de você. E aí, como foi o fim de
semana, Botinhas?
Retiro o foco de mim nessa conversa, para não ter que explicar para
ele que o motivo de eu ter perdido minha fome, é porque minha cabeça está
completamente focada em tudo que aconteceu na noite passada, desde o
momento que entrei naquela casa, até depois, quando eu parti, após ter sido
banhada por Czar.
— Tive um compromisso. — Macro sorri desavergonhadamente e
vira seu rosto para a janela.
— Compromissos religiosos, Botinhas? — o provoco, rindo, e vejo a
face dele ficar completamente vermelha.
Paro de rir e agradeço à garçonete quando ela retorna e deixa minha
xícara de café em cima da mesa.
— Não me sacaneia, Mabel. — O ruivo, corado de vergonha, com sua
face vermelha combinando com seus cabelos de fogo, retorna seus olhos para
mim e fala baixinho. Vejo seu dedo indicador se erguer e apontar para a
minha face. — Onde se meteu ontem à noite?
Solto o ar da minha boca e cruzo meus braços em cima da mesa,
olhando para a xícara de café. Dou uma leve olhada para Macro, que
impulsiona seu tronco para frente e cola seu peito na mesa, me encarando,
aguardando sua resposta.
— Eu estava com alguém — falo tão baixinho, que se Macro não
tivesse inclinado seu corpo para frente, não teria ouvido.
Vejo seus cílios ruivos piscarem apressados, enquanto ele olha
confuso para mim e para a xícara dele.
— Quando diz alguém, você quer dizer um homem? — Ele ergue
seus olhos para mim e os deixa estreitos.
— Sim, um homem, Macro. — Encolho meus ombros e lhe dou um
sorriso fraco.
— Passou a noite com um homem? — ele fala alto e arregala seus
olhos verdes, me fazendo sentir vontade de bater na cabeça dele com a xícara
de café quente.
— Oh, meu Deus, fale baixo! — Olho por cima do ombro e vejo a
garçonete distraída. Dou graças aos céus por ter apenas nós dois aqui dentro.
— Não passei a noite toda com ele, voltei para casa tarde da noite.
— Ficou com um estranho? — Seu olhar agora não é mais de espanto,
e sim de preocupação, com ele negando com a cabeça. — Merda, me diz que
não fez nenhuma estupidez como aquela novamente...
— Ele não é um estranho, Macro. Bom, não totalmente, eu já tinha o
conhecido... — respondo e levo minhas costas para trás, as encostando na
cadeira e abaixando meus braços para minhas pernas. — E não, não fiz
nenhuma estupidez como aquela... Talvez uma estupidez diferente.
— De que tipo de estupidez estamos falando? — Macro retorna a
arregalar seus olhos, me fuzilando com seu olhar.
— Uma estupidez que, para começo de conversa, foi sua ideia. —
Pego minha xícara de café e a levo para a boca, olhando a face pensativa do
ruivo.
— Não me diga que você... — Ele abre sua boca e fica que nem uma
galinha apavorada à minha frente.
— Voltei na sexta-feira à noite para aquele açougue de fachada que
você me levou, depois que você partiu, para tentar achar o homem da
máscara de bode, que por infortúnio do destino, acabei achando e conversado
com ele. Talvez possa ter pedido ajuda com meu desvio de moralidade
sexual, sem falar que ele, de alguma maneira, apareceu na galeria onde eu
trabalho — solto todos as informações de uma única vez e abaixo a xícara de
novo para a mesa. — E ele deu um jeito de me fazer ir à casa dele ontem à
noite, quando orquestrou uma artimanha com meu chefe, que provavelmente
nem sabe o porquê do homem da máscara de bode me fez ir até lá. E ele me
propôs um jogo que eu ainda não sei se estou certa sobre a decisão de ter
aceitado. — Dou de ombros e olho para meu café. — Então não, eu não digo
se você não quiser.
Quando finalmente me calo, vejo a face que antes estava ruborizada
de Macro, completamente branca, como uma folha de papel, tendo apenas as
sardinhas douradas salpicando sua pele, demonstrando um pouco de cor em
suas bochechas. Ele tomba suas costas no encosto da cadeira e respira fundo,
erguendo sua mão e chamando a garçonete, mantendo seus olhos em mim.
— Vão querer pedir alguma coisa para comer agora? — A menina
sorridente para ao nosso lado, nos olhando.
— Preciso de uma bebida mais forte, vocês teriam? — Macro indaga,
sério, ainda me encarando.
— Acho que temos conhaque...
— Está ótimo, pode trazer! — Ele a despacha sem muita cerimônia,
dando um leve balançar de mão. Vira seu rosto para a janela.
— Macro, pensei que era isso que queria... — Paro de falar quando o
dedo dele se ergue, me dizendo da sua forma que ele está pensando em tudo
que acabou de ouvir.
Me encolho na cadeira e bebo meu café. Logo a garçonete retorna
com um copo da bebida que Macro pediu, e deixa em cima da mesa. Sorrio
para ela, agradecendo, a vendo se afastando. Macro vira um pouco da bebida
alcoólica dentro do café e o mistura, levando para sua boca, me olhando com
incredulidade novamente, depois que bebe.
— Me deixa ver se meu cérebro compreendeu tudo que acabou de
praticamente vomitar em cima de mim... — Ele espalma sua mão na mesa e
alisa como se estivesse arrumando uma toalha de mesa. — Você, sua
danadinha... Oh, meu Deus, Mabel, quero te matar! — Ele ri, nervoso, e
aponta seu dedo indicador para mim novamente, o balançando no ar. —
Levou seu rabo para Sodoma sozinha, achou o conselheiro mascarado e ele
foi até seu serviço...
— Isso. — Balanço minha cabeça em positivo, olhando o tremor na
sua boca enquanto ele tenta manter o sorriso nervoso estampado em sua face.
— Foi para casa dele ontem? — Ele respira fundo e pisca
rapidamente. — Um conselheiro de Sodoma...
— Sim. — Minha voz soa calma, quando, na verdade, desejo rir da
cara engraçada que Macro faz quando está zangado.
— E aceitou jogar com ele... Ouviu bem as palavras que eu falei:
jogar. E não estamos falando de xadrez, mas sim de jogar Sodoma! — Ele
cerra o canto da sua boca e espreme seus olhos quando os fecha.
— Exatamente, seu lindo cérebro compreendeu tudo, Botinhas.
— Cristo, Mabel, está surtada ou quê?! — Macro abre seus olhos e
me fuzila. — Aceitou jogar Sodoma com um mestre, porra!
— Não começa. Isso tudo, para início de conversa, foi ideia sua —
digo, chateada, erguendo a xícara de café e levando para os lábios, apontando
para ele.
— Quem não podia ter começado isso era a senhorita! — ele
esbraveja e tenta controlar seu tom de voz.
— Qual o problema? No fim, não era justamente isso que você queria
que eu fizesse, que achasse alguém para me ajudar? — Olho-o, confusa. —
Não estou entendendo sua reação.
— Jogar Sodoma não é ajudar, Mabel! — Macro solta o ar com força,
não tendo mais os olhos zangados, e sim preocupados novamente. — Queria
que tentasse entender o que seu corpo gosta, que achasse uma forma de
conciliar toda a merda do passado com um jeito de viver bem com o seu
presente...
— Você não pode conciliar algo abominável, Macro — falo, baixo,
negando com a cabeça. — Ou aprende a viver com isso, ou sobrevive
sufocada, como eu estava vivendo nos últimos anos.
— Deus, não tem ideia do que aceitou, Mabel!
— Macro, é um jogo, pior do que Na... — Me calo e mordo minha
boca, abaixando meus olhos para a mesa. — Pior do que o mal que ele fez a
mim, esse jogo não pode me fazer.
— Sim, esse jogo pode. Essa é a intenção do jogo, não é domar seus
demônios, mas sim os alimentar, os deixando mais fortes, até você ficar
completamente dependente do seu oponente. — Ele esfrega seu rosto e
respira apressado.
Olho a face de Macro, estudando-o com mais calma. A reação que ele
teve, a forma como está agora, falando com tanta propriedade em suas
palavras...
— Você jogou com ele... — murmuro, pensativa, entendendo agora
por que ele ficou nervoso. — Jogou Sodoma com esse homem que está
saindo!
— Sim, eu joguei. — Ele para seus olhos em mim e balança a cabeça
para os lados. — E quando o jogo terminou, eu estava tão viciado, tão
condicionado naquele homem, que eu não conseguia ficar longe dele...
— Pelo menos uma vez, diga o nome desse homem, Macro! — digo,
irritada, não entendendo porque ele não me contou isso antes.
— Eu não posso, não posso dizer. Apenas tenho permissão para dizer
seu nome quando estou com ele...
Fico calada, sem conseguir entender. Macro não diz o nome desse
homem com quem vem se relacionando, não porque quer manter ainda mais
seu segredo, mas sim por obediência?!
— Fala sério! — sussurro e nego com a cabeça, coçando minha nuca.
— Está realmente falando sério? Nunca disse o nome dele apenas para
obedecer, sendo que o homem nem está aqui e não teria nem como saber...
— Mas eu saberia. — Macro estufa seu peito e inala o ar com força.
— Eu saberia que desobedeci meu mestre.
— Tem medo desse homem? — Em um instinto de proteção, estico
meu braço e seguro sua mão, olhando aflita para meu amigo.
— Não é medo, é respeito... lealdade. — Macro sorri e me dá um
olhar brando. — Lhe obedeço não por medo, mas sim por amor...
— Cristo, está apaixonado por seu vigário! — Macro não precisa me
responder, está estampado em seu rosto a adoração incontestável que nutre
por esse homem. — O que esse homem fez com você durante esse jogo?
— Tudo, tudo o que desejava e até o que eu nem sabia que desejava.
Eu não consegui ficar longe, não suportei me afastar dele quando o jogo
acabou, porque minha vida ficou completamente vazia... — Ele vira sua mão
e segura forte meus dedos nos seus. — Quando te levei à Sodoma, não era
com essa intenção, queria que você soubesse que não tem nada de
abominável em você, que podíamos achar alguém para te explicar e te ajudar,
não alguém para te impulsionar a ficar mais...
— Masoquista e estranha, mais do que já sou — falo, sorrindo, e
balanço a cabeça lentamente em negativo. — Isso tudo pelo que passou, não
tem perigo de acontecer comigo...
— Você não entende, Bel. O jogo vai te usar contra você mesma.
Todos seus demônios se unindo como um titã, se voltando contra você. E
quando terminar, quando o jogo acabar... — Macro dá uma pausa e esfrega
sua mão na minha. — Você vai estar tão diferente, que nem vai mais
conseguir se reconhecer ao se olhar no espelho, porque não sobra mais nada
seu, só o que os metres nos transformam...
— Talvez seja isso que eu precise, não me reconhecer. — Relaxo meu
corpo e olho para a janela. — Tenha que perder completamente o controle,
para poder me conhecer de verdade e saber o que eu realmente tenho que
controlar, o que restou da minha vida depois daquele merda!
— Pode fazer isso sem precisar jogar, eu tenho certeza de que sim...
— Ele sorri e estica sua outra mão, segurando meu rosto. — Diga a ele que
pensou bem e que não vai jogar, porque para você é arriscado. Aproveita que
ainda não começou a jogar, porque depois só piora. No começo, é bom, algo
que te deixa completamente eufórico, depois te vicia, aumenta a toxicidade
do seu corpo, fazendo você querer mais...
— Não tem como parar, eu não posso... — digo, baixo, tentando
puxar meus dedos da sua mão.
— Claro que sim! Se estiver com vergonha, eu posso pedir para meu
senhor conversar com esse conselheiro...
— Macro, não posso... — Puxo meu braço do dele e esbarro no copo
de conhaque, o tombando, fazendo respingar na minha manga.
— Deixe de falar bobagem. — Ele segura minha mão e pega um
papel toalha para secar a manga, e antes que eu possa o impedir, Macro já
está passando o papel no tecido. — Apenas preciso saber o nome dele, então
colocaremos um ponto...
O vejo se calar, parar com o que estava fazendo e deixar seus olhos
presos em meu pulso desnudo. O grande calombo que circula meu pulso
ainda está fresco.
— O jogo já começou, ontem à noite mesmo... — Macro balbucia,
perdido, olhando para mim. — Você e esse conselheiro já estão jogando...
— Macro, solta minha mão... — peço, baixo, para ele, me sentindo
nervosa quando a garçonete aparece de forma atenciosa ao nosso lado.
Macro solta meu braço e eu puxo a manga para baixo, olhando
envergonhada para minhas pernas. Nos mantemos em silêncio enquanto a
menina retira o copo que tombou e passa um pano sobre a poça pequena da
bebida. O silêncio ainda se mantém grande, com apenas os olhos verdes do
ruivo me encarando.
— Está jogando com um sádico... — Macro sussurra, olhando para
mim. — E nem pense em mentir para mim, porque isso aí em seu pulso é
claramente uma marca de um mestre em sadomasoquismo...
O vejo se calar e ficar com sua face completamente vermelha,
parecendo um grande tomate, com seus olhos faltando pouco para saltar para
fora de órbita, pelo tanto que se arregalam.
— Pelo que me recordo, existem apenas dois mestres
sadomasoquistas em Sodoma, e um deles é casado. O outro... Oh, meu Deus,
Mabel! — Ele ergue a mão para sua boca e a tapa, olhando perdido para mim.
Abaixa sua mão pouco a pouco dos lábios. — Você está jogando com...
— Czar Gregovivk — termino a frase por ele, falando baixinho o
nome do russo.
— Deveria ter pedido para a garçonete trazer a garrafa de bebida —
Macro murmura e ergue sua xícara de café batizado, levando-a aos lábios.
— Vendo você nesse estado, até parece que acabei de dizer que
aceitei jogar Jumanji[44] com o diabo em pessoa. — Olho-o nervosa, não
entendendo o porquê dessa reação toda.
— Não tem ideia do que fez. — Ele morde sua boca, como se
estivesse pensativo, olhando para a janela. — Esse homem é um perigo para
você, Bel.
— Como assim? — pergunto para ele, sem entender o porquê ele
falou isso.
Macro retorna seus olhos aos meus e solta um longo suspiro,
inclinando seu corpo para frente e cruzando seus braços em cima da mesa.
— Czar é um conselheiro em Sodoma, mestre em sadomasoquismo,
mas ele também... — Macro para de falar e esfrega seu rosto novamente. —
Em um dos encontros que fui com alguns subs, eu ouvi histórias sobre ele. —
Macro abaixa seu tom de voz e me faz ficar mais apreensiva ainda.
— Espera, está me dizendo que vocês se reúnem? — digo, rindo
nervosa, imaginando como deve funcionar isso. — É algum tipo de encontro
da hora do chá das cachorrinhas adestradas?
Imagino um bando de mulheres e rapazes reunidos, confraternizando
entre piadas e risinhos, adorando seus senhores.
— Oh, merda, Bel, estou falando sério! — Macro balança a cabeça
em negativo. — Algumas subs tem medo dele, e são bem seletas as mulheres
que aceitam se envolver com esse conselheiro. Ele apenas escolhe as que já
têm um grau avançado em submissão masoquista. — Ele repuxa seu nariz e
balança sua cabeça para os lados. — Por conta de uma atração diferente que
ele tem.
— Você está falando e falando e não estou entendendo nada. — Paro
de rir, ficando aflita.
— Mabel, eu saquei na hora quando me contou como se sentiu
quando Nate lhe machucou, que você talvez pudesse curtir uma pegada mais
pesada. Mas o que aceitou ao começar esse jogo com esse homem é
diferente...
Macro fecha seus olhos e respira fundo, batendo as pontas dos seus
dedos com agitação na mesa.
— Dor erótica é perigosa, Mabel, porque ela vicia muito mais que
qualquer droga que possa encontrar, e cada dose de dor que você sentir, vai
desejar mais, mais e mais. Porque sempre será pouco, nunca será o suficiente.
— Ele respira fundo, como se estivesse pensando sobre o que acabou de
falar. — Por isso que são poucas as garotas que se aproximam dele, apenas as
que realmente querem sentir muita, muita dor e gostam de... Droga, eu nem
sei como explicar isso!
— Explicando de uma maneira direta, porque até agora ainda não
estou entendendo — falo para ele e estalo meus dedos com angústia. — Sei
que o senhor Czar é um homem estranho, eu me assustei também na primeira
vez que o vi, com aquela máscara de bode, só que alguma coisa nele... Não
sei como explicar...
Fecho meus olhos e nego com a cabeça, não entendendo meus
pensamentos. Eu tinha ficado com medo dele em um primeiro momento,
mas, estranhamente, o sombrio russo me causa mais uma sensação de
segurança do que de pavor. Talvez pelo fato de já ter caído nas mãos de um
monstro, não são todos agora que me assustam.
— Não precisa me falar sobre dor, Macro. Não para mim, que senti
todas em cada canto do meu corpo — digo para ele e o vejo balançar sua
cabeça em negativo.
— Não essa dor, que esse homem pode causar. Gregovivk é
conhecido por ser um mestre rigoroso, perfeccionista e bastante controlador.
— Relaxo meus ombros e olho para Macro, não conseguindo reprimir um
riso. — Ele costuma ter umas práticas diferentes dos outros mestres, umas
que são bastante questionáveis até para o BDSM. Há boatos que uma vez ele
acorrentou uma submissa, que aceitou jogar com ele, por vários dias dentro
de um hospital abandonado.
— O que aconteceu com ela...
— Ela ficou viciada nele, completamente viciada, como uma drogada
que faria qualquer coisa para conseguir um pouco mais de cocaína. —
Respiro fundo e esfrego minhas têmporas. Entendo o que Macro acha que
pode acontecer comigo, mas não tem como foder com a mente de alguém que
já foi fodida.
— Macro, não tem como eu ficar viciada em uma sensação que meu
corpo já sentiu. — Solto o ar lentamente pelas minhas narinas e abaixo meus
dedos. — O senhor Gregovivk não vai poder me ferir assim.
— Pelo amor de Deus, não pode ser tão ingênua em achar que vai
entrar em uma cela para brincar com um tigre e pensar que vai sair ilesa dela!
— Ele fecha seus olhos e respira fundo. — Nate foi só um puto doente que
queria causar dor em uma mulher, sem ter a mínima noção do que isso
acarretaria em sua vida. Mas Gregovivk não, ele é sádico sexual por natureza,
Mabel. Pelo pouco que eu entendi, ninguém vira conselheiro se não for
sordidamente bom no que faz. — Ele agita suas mãos no ar de forma
agoniada. — Essa garota, a que aceitou jogar com ele, ela sumiu de uma hora
para a outra.
— Como assim sumiu? — Fico em silêncio, prestando atenção nessa
história e me sentindo nervosa novamente com tudo que Macro está
contando.
— Ninguém nunca mais a viu por muito tempo. — Ele abaixa suas
mãos e me encara.
— Ela simplesmente desapareceu? — Arqueio meu corpo para frente.
— Ela morreu?
— Não, não assim, é tudo muito confuso sobre essa história. Uma
garota, uma submissa, na última reunião que eu fui, contou que essa menina
que jogou com Czar se mudou para a Austrália, parece que ela se arranjou
com um mestre por lá.
— Viu, é apenas fofoca das madames na hora do chá. — Solto uma
longa respiração, me sentindo aliviada. — Por um momento, cheguei a
pensar que você iria me contar que ele escondeu a cabeça da garota na
geladeira, pela forma como ficou todo retraído ao falar dele. — Sorrio e pego
minha xícara, tomando o resto do meu café. — A verdade é que para
participar desse mundo, pelo visto todo mundo tem que ter um parafuso solto.
Olha nós dois aqui como prova viva disso...
— Cristo, essa mania de levar tudo sempre na brincadeira me faz ter
vontade de socar sua cabeça às vezes! — Macro não ri da minha piada,
apenas me dá uma bronca, parecendo uma mamãe leoa rugindo em meus
ouvidos. — Presta atenção, aquele homem fodeu tanto essa mulher, ao ponto
de deixá-la inconsciente. Tem ideia do que é isso?! E é por conta do que
aconteceu com a garota, que ele não fica com a mesma submissa mais de uma
vez.
O senhor Gregovivk me disse que seria apenas nós dois, que durante o
jogo ele não tocaria em outras mulheres, será que ele mentiu para mim? Ele
manterá as outras submissas perto dele enquanto estiver jogando comigo ou
realmente será apenas nós dois? Fico em silêncio, não dividindo nosso acordo
com Macro, para não correr o risco dele ficar mais preocupado com essa
história da garota.
— Isso deve ser só histórias, Macro — falo isso mais para mim do
que para ele mesmo, desejando não acreditar nisso tudo que estou ouvindo.
— Não é, todas as garotas que passaram por ele ficaram dias sem
conseguir se deitar com outros homens, pelo tanto de descarga de dor erótica
que os corpos delas receberam — Macro continua a falar, me fazendo ficar
ainda mais receosa e confusa sobre a decisão que eu tomei. — E o mais
assustador é que elas contam que ele não demonstra reação alguma, elas
dizem que ele é completamente frio, como uma parede glacial de gelo.
— O senhor Gregovivk não me pareceu nada disso na noite passada...
— Abaixo a xícara, olhando-a vazia. — Ele foi diferente.
Paro de falar e abaixo meus olhos para meu pulso, me recordando das
mãos dele me tocando ontem, lentamente, e me erguendo em seus braços
depois que tirou as algemas dos meus pulsos com cuidado. Silencioso sim,
mas não indiferente.
Macro me olha perdido e pisca repetidas vezes, erguendo suas mãos e
apoiando os cotovelos na mesa, deixando seu queixo sobre sua mão.
— Em qual sentido?
— Eu não sei, eu... — Sugo o cantinho do meu lábio, lembrando da
forma como aqueles olhos castanhos silenciaram todos os meus demônios. —
Depois de tudo que rolou, ele cuidou de mim.
— Cuidou? — Macro indaga, espantado. — O que realmente
aconteceu ontem à noite, Bel? — Macro pergunta, baixinho, me olhando
curioso.
— Muitas coisas — sussurro para ele, passando meus dedos
lentamente sobre o calombo, como se pudesse sentir a grande mão
envolvendo meu pulso nela.
— Vocês dois jogaram para valer? — Ergo meu rosto para ele, que
percebe minha confusão, não entendendo sua pergunta. — Digo, ele fodeu
você, de foder para valer, como um mestre sádico?
Sim, ele tinha me fodido, tinha me tocado e feito minha mente se
desligar, mas não sei dizer se foi de uma forma que um mestre
sadomasoquista foderia alguém. Mas depois daquilo, ele não me tocou mais.
Bom, ele me tocou, sua mão passou pelo meu corpo diversas vezes enquanto
me dava banho ou depois quando me secou. Mas em nenhum desses toques
que se seguiu, após ele me tirar daquela masmorra erótica, como eu tinha
apelidado, foi com conotação sexual, talvez paternal. Eu fiquei confusa com
esse homem.
— Bom, ele fez algumas coisas comigo, mas isso foi antes dele me
foder — respondo Macro e esfrego meus pulsos. — E depois ele cuidou de
mim...
— Cristo, agora eu não estou entendendo mais nada! — Macro
recosta na cadeira e solta os braços ao lado do corpo, olhando para a janela e
ficando pensativo. — Ele está jogando com você, como mestre sádico ou
como dominador?
— Eu não sei, acho que como os dois, não entendo muito a diferença
de um para o outro. — Pego minha bolsa e a retiro da cadeira, puxando meu
celular de dentro dela e conferindo a hora. — Eu preciso ir agora, tenho que
voltar cedo para a galeria. Boris quer que eu vá com ele avaliar as telas de um
pintor novo. Ele queria que eu fosse ontem, mas acabou que consegui fugir
dessa...
— Mabel... — Ergo meus olhos para Macro, que está sério agora, me
olhando com sua testa franzida.
— Que foi? — Olho para ele e seguro o celular e minha bolsa.
— Toma cuidado, eu fiquei perdido agora com essa informação. —
Macro estica sua mão por cima da mesa, a estendendo para mim. Ergo minha
mão e toco a dele, o vendo virar meu pulso lentamente. — Se estiver certa ao
dizer que ele está jogando com os dois lados da moeda, precisa se preocupar.
Não só com o lado sádico, mas principalmente com o dominador. O próprio
nome já diz qual a diferença de um para o outro. Um dominador não cuida do
que ele não toma como dele.
Me recordo das palavras de Czar, da forma que sua face expressou
orgulho ao encarar minha garganta marcada. O silêncio que se seguiu dentro
do banheiro depois que lhe fiz a pergunta, sua concentração em me secar
cantinho por cantinho, a mesma que ele teve em me vestir. Tomei seu
silêncio como um sim, depois que o jogo acabasse meu acordo com ele
também terminaria.
— Eu vou ficar bem, Macro, são só vinte dias, depois tudo acaba. —
Sorrio para ele, tentando lhe passar uma confiança que nesse momento eu não
tenho muito, mesmo assim finjo ter, para dissipar seu olhar preocupado. —
Você tinha razão quando disse que eu apenas sobrevivia, eu estou exausta de
apenas fazer isso na minha vida. Eu quero viver, Macro. Não me preocupo
como vou estar ao fim desse jogo, apenas desejo não ser mais o que eu sou
agora.
Ele me devolve o sorriso e ergue sua outra mão, alisando lentamente a
minha.
— E é justamente isso que está me preocupando. A princípio, assim
que recebi a notícia, meu receio era de você ficar ainda mais presa na dor. Só
que agora... agora que disse que ele cuidou...
— O que tem, não é algo normal nesse mundo de vocês? — Macro
me deixa mais perdida ainda.
— Só toma cuidado, está bem? Eu preciso descobrir algumas coisas,
para tentar entender o que está acontecendo, antes de conversar com você
sobre isso. A única coisa que me resta, por ora, é lhe dar um conselho. — Ele
morde o canto da boca, olhando o calombo em meu pulso e suspirando baixo.
— Evite o máximo que puder despertar o lado ciumento de um mestre em
dominação, vá por mim, você não vai querer vê-lo com raiva.
Fico perdida, olhando para Macro, sem saber se ele está falando isso
por preocupação ou se já passou por isso. E antes que eu possa lhe perguntar
alguma coisa, o celular dele toca, fazendo-o soltar meu pulso. Vejo o rosto
dele ficar ansioso, enquanto pega o aparelho do bolso.
— Só um segundo, eu tenho que atender essa chamada — ele fala,
angustiado, olhando mais aflito para o celular.
— Atenda sua ligação, eu tenho que voltar para o trabalho. — Me
levanto, inclino para frente e lhe dou um beijo na testa. — Depois nos
falamos, ok?!
Sorrio para Macro quando saio da cafeteria, o deixando lá, sentado.
Respiro fundo o ar quando atravesso a rua, sem muita certeza se eu tomei a
decisão correta em aceitar o que aquele russo me propôs. Meus olhos se
abaixam e encaro meu pulso, franzindo minha testa quando toco as marcas.
— O que você foi aceitar, Mabel?! — murmuro, angustiada, não
conseguindo sentir mais aquela calma que senti quando entrei no café.
CAPÍTULO 17
DEMÔNIOS LIVRES
Mabel Shot

— Cristo, ele realmente tem muito talento! — Sorrio, pegando minha


bolsa no assoalho do carro entre minhas pernas e a deixando em meu colo.
— Eu disse, não foi?! — Boris vira o volante e entra com o carro na
rua onde eu moro. — Fiquei contente que aceitou ir comigo, as telas que
escolhemos realmente serão uma boa aquisição para a galeria.
— A forma como ele brinca com as linhas, as deixando tão
expressivas... Nossa, eu nunca pensei que telas tão pálidas ficariam belas! —
Giro meu rosto para a direção da janela quando ele estaciona o carro na frente
do prédio onde moro. — Obrigada, Boris, fiquei contente de ter ido.
— Não foi tão ruim assim, não é? — Ele desliga o carro e solta uma
longa respiração.
— Não, não foi. — Retorno meu rosto para ele e sorrio com gratidão.
Confesso que tinha ficado nervosa no momento que entrei no carro
com Boris, depois do expediente, e não vi o senhor Bingo, o motorista
particular do senhor Rumeu, e compreendi que iria apenas eu e Boris na casa
do tal pintor que tinha chamado a atenção dele. Passei o percurso todo
retraída, sentada no banco do carona, tendo meu corpo encolhido, com meus
dedos presos em meu joelho, encarando o painel do carro. Boris ainda estava
visivelmente zangado por conta da falta do uniforme, e não conversou em
nenhum momento da viagem comigo. Eu dei graças a Deus por isso, minha
cabeça estava um caos, bagunçada com todas as informações que Macro me
deu na hora do almoço. Tentava relacionar aquele homem que me deixou na
porta da minha casa ontem à noite, despois de conhecer alguns dos meus
mais vergonhosos demônios, que me deu banho, secou meu corpo, me vestiu
sem pressa alguma e me trouxe para casa, com o conselheiro cruel e
assustador que Macro me descreveu.
A verdade é que acho que estou entrando na toca de um grande urso,
o qual eu ainda desconheço suas piores facetas. Provavelmente, hoje será
mais uma noite longa, que passarei olhando para o teto, tentando entender
que merda eu fui fazer dessa vez. A única coisa que salvou meu dia, foi Oslo
Silt. O pintor jovem que conheci, é realmente impressionante, assim como
suas telas. Por um breve tempo, toda minha agonia se dissipou enquanto eu
observava seus quadros, e até me trouxe um pouco mais de tranquilidade na
viagem de volta, já que Boris demonstrou o mesmo entusiasmo que o meu
por conta dos quadros talentosos de Oslo Silt.
— Obrigada por me trazer em casa, senhor Boris. — Levo meus
dedos à trava do cinto e abaixo minha cabeça. — Amanhã nos vemos na
galeria, tenho certeza de que seu tio vai amar os quadros que foram
escolhidos...
Meu corpo congela, parando por completo seus movimentos no
segundo que sua mão se fecha sobre a minha, me fazendo encarar a pele
pálida que bloqueia os meus dedos de soltar o cinto.
— Sua companhia fez toda diferença, Mabel. — Ergo meu rosto para
ele quando sua voz fala baixa para mim.
— Eu preciso ir agora. — O sorriso de gratidão que tinha antes, morre
em meus lábios, enquanto o vejo me encarar com ansiedade. — Poderia
soltar minha mão, fazendo um favor, senhor Boris?
— Nunca tivemos uma chance para nos conhecer de verdade. — Ao
invés de me soltar, para que eu tire o cinto, ele apenas liberta minhas mãos
para prender meu pulso. — Sinto que temos tanta coisa em comum, apenas
precisávamos de um momento para nós.
Me assusto e jogo meu corpo para trás, o colando na porta do carona
quando Boris investe seu corpo contra mim, com um visível intuito de
aproximar seu rosto do meu.
— O que pensa que está fazendo? — Meus olhos se arregalam e ergo
minha mão, a deixando espalmada em seu peito, para que ele fique longe de
mim. — Acho que está confundido as coisas, Boris.
— Qual é, Mabel, sabe o que eu sempre quis de você, desde o dia que
você entrou naquela galeria! — Seus olhos recaem para a frente da minha
camisa e encaram meu peito, que sobe e desce com agitação por conta da
minha respiração nervosa. — Nós dois podemos nos conhecer melhor ainda
se você permitir que isso aconteça.
Ele força seu corpo novamente para cima de mim, mas meus dedos
em seu peito sobem, parando em sua face e o empurrando para trás.
— Não! — digo, zangada, negando com a cabeça, conseguindo
libertar meu pulso do seu aperto quando me agito no carro. — Está
confundindo as coisas, senhor Boris! — Puxo a manga da minha camisa e
tapo a pele do meu pulso que ficou desnuda, antes que ele veja a marca. —
Não tenho vontade de lhe conhecer, e sendo sobrinho do senhor Rumeu, que
é o meu chefe e o seu também, o senhor não deveria tentar tomar essas
liberdades com os funcionários da galeria.
— Você está de sacanagem? — Ele volta a parte superior do seu
corpo para o banco do motorista, virando seu rosto para o painel com pura
raiva. — Está me dando um fora apenas por que trabalhamos juntos?
— Entenda como quiser, senhor Boris. Mas a partir do momento que
uma mulher fala que ela não quer, é porque ela não quer! — respondo,
nervosa, tentando soltar a porra do cinto. — Estou te dando um fora porque
não tenho interesse algum em você.
Assim que solto o cinto, seguro minha bolsa com medo e me viro para
abrir a porta do carro. Ouço o click da trava das portas sendo acionadas, me
trancando dentro do automóvel.
— Mas com o filho bastardo de Huslan, você quis — Boris fala com
acidez. Ao me virar, vejo sua face me encarando com nojo.
— Não sei do que está falando e nem quero saber. Apenas abra essa
porta, senhor Boris... — murmuro, nervosa, não entendendo o que ele está
dizendo.
— Bingo me contou que você o dispensou ontem à noite, depois que
ele lhe deixou na casa de Gregovivk. — Sua boca se comprime, ficando fina,
com os olhos dele cerrando. — Sentiu interesse pelo bastardo?
— Abra a porta do carro, ou eu vou gritar! — Ergo a bolsa e a deixo
rente ao meu peito, como se pudesse ser um escudo de proteção.
— Meu tio pode ser um velho decrépito que ainda acredita que o
poder de uma família vem do sobrenome, mas eu conheço a fama do bastardo
de Huslan! — ele rosna com raiva, soltando o volante. Estica sua mão e a
deposita em minha perna. — Sei exatamente o que ele é, e que com certeza
não foi por conta de uma merda de tela escrota que ele foi até a galeria, mas
sim por conta da sua boceta.
Sinto meu rosto ficar frio, com todo o meu sangue parando de circular
em minhas veias. Boris sabe sobre Sodoma.
— Senhor Boris, por favor, me deixe sair desse carro. — Minha voz
está trêmula, assim como meus dedos, que se apertam à bolsa, com meus
olhos arregalados encarando os dedos de Boris em minha coxa. — Senhor
Boris...
— Me diga, Mabel, está fodendo com aquele escroto por conta de
grana... Porque se for isso, posso garantir que meu dinheiro é melhor do que
o dele, eu sei qual a procedência do meu...
— O quê? — Pisco, confusa, e ergo meu rosto para o seu.
Minha mente está trabalhando intensamente, ficando mais confusa,
tentando entender o que ele diz. Não é sobre Sodoma, Boris não sabe sobre
Sodoma, ele está se referindo à outra coisa, mas o que será que Boris sabe
sobre o senhor Gregovivk?
— Boris, o dia hoje foi estressante, por favor, me deixe sair desse
carro. — Afasto meu joelho e fico com meu corpo colado na porta, olhando
para ele. — Eu não sei do que está falando, apenas deixei o quadro na casa do
senhor Czar e fui embora logo depois...
— Mentirosa, você não foi! — ele fala, rindo, negando com a cabeça.
— Eu dei a ordem para ele ficar de olho em você! Bingo deu a volta no
quarteirão, e quando ele retornou, viu você entrando na casa do bastardo. Ele
ainda ficou quarenta minutos lá na frente, esperando por você, e você não
saiu!
Respiro mais rápido e sinto o suor frio em meu corpo, com meu
coração acelerado. Sua mão retorna para minha perna, com ele se
aproximando de mansinho.
— Imagina como meu tio vai ficar decepcionado ao saber que a joia
preciosa dele não passa de uma vadia, que gosta de foder com os clientes da
galeria?! — A mão em meu joelho sobe lentamente, se alastrando por minha
perna. — Que o quadro da Índia que você foi avaliar, na verdade, era a cama
de Gregovivk? Seria uma pena, não é... — Ele abaixa seu tom de voz, me
tendo encurralada, o olhando assustada. — Você perder seu intercâmbio
porque não soube escolher o pau certo.
Meu corpo se debate quando ele ataca, tentando fazer sua boca chegar
até a minha, encostando seus lábios na lateral da minha face assim que a viro
com desespero.
— Será nosso segredinho, amor. — Sua mão asquerosa tenta prender
meu rosto no lugar, e eu grito em pavor.
— Nate, por favor... — Choro e balanço a cabeça, encolhendo meu
corpo no canto da sala.
— Tentei ser paciente com você, eu juro por Deus que tentei! — ele
grita com raiva, estourando um vaso na parede. — VOCÊ NÃO VAI ME
DEIXAR, PORRA!
— Abre a porta, Nate, me deixa sair daqui. — Olho para a porta e
sinto minhas bochechas molhadas pelas lágrimas, enquanto soluço,
assustada, não reconhecendo esse homem assustador que Nate se
transformou.
— Estou farto de esperar você estar pronta! — Ele joga seu corpo
para cima de mim, mas desvio e corro na direção do corredor.
Os dedos dele se prendem em meus cabelos e ele empurra minha
cabeça contra a parede. A dor me pega forte, assim como o gosto do sangue
que escorre do meu nariz e entra em minha boca. Meus sentidos ficam
atordoados, com movimentos lentos, quando meu corpo desliza na parede até
cair no chão. O primeiro chute que acerta meu ventre me faz tombar e me
encolho em forma fetal no piso.
— Nate...
— Você não diz não para mim, você não fala que quer me deixar —
ele grita com ódio enquanto me debato, chorando e recebendo outro chute
em meu estômago. — Essa sua vida de merda é minha, Mabel!
Sinto as lágrimas rolarem com mais angústia, assim como a dor que
me consome por dentro. Seus dedos se prendem em meus cabelos, me
fazendo olhar para ele através do choro que transborda pelos meus olhos.
— Chega de ser paciente, já está na hora de você aprender a saber
quem é seu dono. A gente vai brincar muito nesse fim de semana, amor. —
Ele sorri para mim e alisa minha boca. — Vai ser nosso segredinho.
O punho fechado sendo desferido com toda força em minha face, me
faz apagar por completo, me jogando no escuro, onde eu sabia que minha
alma jamais sairia.
Meu corpo se encolhe e grito, assustada, quando o som de vidros se
espatifando se faz dentro do carro, e logo na sequência o corpo de Boris se
afasta do meu. Abraço meu corpo e ergo minhas pernas, parando perto do
meu peito e escondendo minha cabeça entre meus joelhos, sentindo como se
eu não conseguisse respirar. Escuto os gritos dele ficando mais altos, junto
com os palavrões, mas não olho. Me mantenho encolhida, amedrontada,
como se tivesse voltado para aquele quarto em Nova York.
Dou um pulo no assento, gritando, tapando meus ouvidos com o
estrondo que explode, assim como o corpo de Boris. Minha cabeça erguida
encara Boris deitado sobre o capô do carro, com o grande homem o
prendendo pelo colarinho e socando a cara dele. É como ver um ataque de um
grande urso preto, incontrolável e feroz. Sua cabeça se ergue para mim,
depois de dar o segundo soco, com pura fúria, e me faz encolher, como se
fosse eu a estar recebendo o golpe. A imagem de Nate parado diante de mim,
socando meu rosto, me faz chorar enquanto olho Czar batendo em Boris, e
antes que o terceiro golpe seja desferido, ele para, com seu punho fechado
congelando no ar.
Meus olhos ficam arregalados e olho para ele. O castanho está negro,
como se não tivesse nada lá dentro. O vejo respirar fundo e dá um passo para
trás, soltando a camisa de Boris, que desliza seu corpo pelo capô e cai no
chão. Estou tão petrificada, que apenas consigo mexer meus olhos,
acompanhando os passos dele. Ele anda até a porta do motorista, que está
escancarada, e aperta o botão de destravar da porta do carona. Meu coração
bate disparado. Seus passos são lentos, dando à volta no carro e parando
diante da minha porta, abrindo-a.
— Sai do carro! — Sua voz é carregada de rouquidão, como um
rugido de um verdadeiro urso, me dando uma ordem. — Não quero tocar em
você, então sai da porra do carro e sobe para seu apartamento agora, Mabel!
Já estou saindo para fora do carro em questão de segundos, com meus
dedos agarrados em minha bolsa. Paro diante da porta do prédio do edifício
que moro e sinto meus dedos trêmulos tentando achar minha chave dentro da
bolsa. Olho para trás e paro meu olhar no imenso homem parado ao lado do
carro, me encarando. Vejo apenas os pés de Boris caindo perto do carro, com
ele gemendo.
— Lhe dei uma ordem! — ele ruge mais alto.
Meu corpo está tão em choque, que apenas me movo como um robô,
conseguindo achar a chave e abrir a porta e entrar correndo para o interior do
prédio. Não vou para as portas dos elevadores, corro em direção às escadas,
subindo desesperada por elas, parando apenas de correr quando já estou no
terceiro andar, dentro do meu apartamento, trancada no meu banheiro,
escondida entre o pequeno espaço do vaso sanitário e o boxe do banheiro.
— Vai ser nosso segredinho.
Ergo meus dedos e tapo meus ouvidos, fechando meus olhos com
desespero e querendo que essa maldita voz de Nate saia da minha cabeça.

Dou um passo para trás lentamente e olho para o chão quando abro a
porta do apartamento, deixando o grande homem passar. Observo seus
coturnos negros, combinando com sua calça jeans preta, enquanto anda
dentro do meu apartamento. Eu tinha ficado por umas duas horas sentada no
chão do banheiro, chorando, até conseguir tirar a voz de Nate da minha
cabeça. Tomei um banho, lavei o meu rosto e me esfreguei com força, a
ponto de causar dor em minha pele, como se pudesse apagar o toque de Nate
em mim. Quando já estava no quarto, me trocando, escutei as batidas
potentes na porta. Passei a camisola por meu corpo, andei de mansinho para
fora do quarto e olhei para a rua pela janela da sala, vendo que o carro de
Boris não estava mais lá. Mas, ainda assim, eu sabia, meu corpo sabia quem
estava batendo em minha porta.
Ergo meus olhos para ele e fecho a porta do apartamento lentamente,
encarando o grande homem silencioso, que estuda o interior de onde moro.
Seus olhos passam pela sala, vendo meu sofá de dois lugares e a TV na
estante, parando por um breve momento no corredor à esquerda, que leva
para o meu quarto e o banheiro, antes de se virar para mim. Ele deposita uma
sacola de papel sobre a mesa e gira para mim.
— Trouxe comida para você. — Ele aponta para a sacola e retorna
seus dedos para sua jaqueta preta de couro, abaixando o zíper dela.
Meus olhos deviam dos seus e ficam abaixados para meus pés
descalços. Ergo o direito e esfrego as pontinhas dos dedos em minha canela
esquerda, abraçando meu corpo.
— Boris...
— Está na casa dele — me corta, falando seriamente. A cadeira se
arrasta, com ele a puxando e jogando sua jaqueta no encosto dela, antes de
sentar. — Coma!
Meu rosto se ergue e olho para ele, que tem seus olhos concentrados
em mim. Ele inclina seu rosto para o lado e me estuda com atenção. Aperto
mais forte meus braços ao redor de mim e respiro fundo, não conseguindo ver
mais nenhuma semelhança do homem agressivo de horas atrás nesse homem
taciturno que me encara.
— O que houve com ele, senhor? — pergunto, baixo, ainda não
sabendo se devia ter o deixado entrar.
— O levei para a casa dele, já que no momento ele não se encontrava
apto para dirigir. — Dou um passo para trás quando ele levanta rápido.
Seus olhos param em mim brevemente, desviando para os armários da
cozinha. Ele caminha para lá e os abre lentamente, caçando por algo, e logo
encontra quando abre a porta superior do armário em cima da pia, retirando
um prato de lá.
— Tem alguma coisa para beber, ou gosta de comer sem tomar nada?
— Ele mantém sua voz calma e abre a gaveta de talher, retirando um garfo e
uma faca de dentro dela.
— Eu estou sem fome — falo, angustiada, olhando para o grande
predador que eu deixei entrar em minha vida. — Boris, ele...
— Ele está vivo, Mabel! — Seu grande corpo se vira e fica de frente
para o meu, andando rumo à mesa. — Levei Boris para a casa dele e tivemos
um momento agradável enquanto conversávamos. — Ele deixa o prato sobre
a mesa, junto com os talheres. — A propósito, creio que essa semana ele não
conseguirá comparecer à galeria, mas pediu para avisar que a partir da
próxima semana, algumas mudanças acontecerão nos uniformes das
funcionárias.
Solto meu corpo e ergo minhas mãos para minha face, a esfregando
enquanto respiro com mais agonia.
— Meu Deus, senhor Rumeu vai me dispensar...
Boris vai destruir meu futuro assim que abrir a boca dele, perderei
meu intercâmbio e todas as chances de conseguir um dia abrir minha própria
galeria. O senhor Rumeu não vai querer me dar nenhuma referência, ainda
mais depois do que aconteceu com o sobrinho dele. Eu saí com um cliente da
galeria de arte, mesmo que tenha conhecido o senhor Czar fora do meu local
de trabalho, ainda assim Rumeu vai achar que eu dei em cima de um cliente.
Não tinha como explicar para o homem onde verdadeiramente encontrei
Gregovivk sem o deixar saber da maldita sujeira que é minha vida.
— Olhe para mim! — As grandes mãos coladas em meu rosto, o
sustentam, fazendo eu afastar meus dedos da minha face e encontrar os olhos
castanhos tão claros e calmos agora me olhando. — Rumeu não vai lhe
dispensar, assim como Boris compreendeu que você está longe do perímetro
dele.
— Ele vai contar para o tio dele, o motorista particular do senhor
Rumeu ficou me esperando do lado de fora da sua casa a mando de Boris...
— Fecho meus olhos e nego com a cabeça, me recordando do corpo de Boris
sobre o carro. Não tem como esconder os socos que ele recebeu de Czar. —
Boris vai mandá-lo falar...
— Mabel! — A voz de Czar está mais grossa, falando em tom firme,
como uma ordem. Abro os olhos pouco a pouco e o observo. — Boris não irá
falar nada, ninguém vai falar nada.
— Como pode ter tanta certeza, senhor? — Mordo minha boca e sinto
vontade de chorar outra vez. Merda, eu tinha entrado nesse jogo para
conseguir entender porque sou assim, não para foder com tudo na minha
vida!
— Veio até mim por que confiou em mim, não foi? — ele pergunta e
dá um passo à frente, me olhando com tanta dominação que sinto meus
demônios se silenciando dentro de mim, diante do grande urso que segura
meu rosto em suas patas enormes. — Estou certo, Mabel?
Balanço minha cabeça em positivo lentamente, olhando para ele,
sentindo minha respiração se acalmando. A verdade é que até agora nem eu
mesmo entendo porque confiei nele, o que me fez sentir essa ligação. Mas eu
confio, confio nesse grande homem que me engole no poder do seu olhar.
— Ótimo, agora esqueça isso, e nunca mais entre em um carro com
outro homem sem minha permissão. — Ele passa seu dedo por minha
bochecha e esfrega-a com lentidão, não escondendo a zanga em sua voz, que
se tornou perigosa em tom rouco.
— Eu não sabia, senhor... — digo, baixo, para ele, negando com a
cabeça. — Não sabia que Boris iria fazer isso...
Deus, eu quero morrer por ter sido tão idiota! Sempre soube que Boris
era um cretino escroto, mas nunca pensei que ele tentaria fazer algo comigo.
— Não sabia... — murmuro, perdida, sentindo meu peito se esmagar
por dentro.
Ele dá um passo à frente e me segura com mais força, apertando seus
dedos com um pouco de pressão na lateral da minha face. Me sinto pequena,
frágil e minúscula diante da masculinidade dele. Czar faz eu me sentir como
aquela menina solitária que vivia no orfanato, à espera de agradar alguma
família que pudesse me dar um lar.
— Sei disso, pequeno pássaro, mas não cometa esse erro novamente.
— Ele respira fundo e alivia a pressão dos dedos em minha face. — Boris
não vai falar nada, não quando ele quer manter em segredo os pequenos
desvios de dinheiro que ele faz da galeria de Rumeu para a conta bancária
pessoal dele.
— Boris rouba do tio dele... — Pisco, perdida, olhando atônita para
ele, agora que recebi essa informação. — Como soube disso...
— Há anos que ele faz isso — Czar responde, sério, caindo seus olhos
para minha garganta. — Tenho meus métodos para descobrir os pecados das
almas, passarinho, assim como os podres que algumas pessoas desejam
esconder.
Sua voz agora é uma rouquidão completa, com seu peito expandindo.
Minha cabeça é inclinada para trás, com ele investindo a dele para frente e
depositando um suave beijo sobre minha garganta. Um gemido desinibido sai
dos meus lábios, me fazendo respirar forte com o contato da boca dele em
minha pele.
— Venha, não gosto de ser repetitivo! — ele fala sério e se afasta de
mim, dando um passo para trás e se sentando, apontando para a mesa. —
Coma!
Me sinto uma idiota quando meu rosto retorna para ele e o vejo sério,
encarando meu seio. Um olhar maroto reflete em sua face e me encara.
Abaixo meu rosto e observo os bicos das minhas mamas eretas ficando
visíveis no tecido fino da camisola.
— Espero que esteja com fome, porque eu estou faminto. — Ele sorri
e me dá uma piscadinha, empurrando a cadeira vazia perto da perna dele com
o seu pé.
— Eu não estou com fo... — Nego com a cabeça e olho para a mão
dele em cima da mesa, vendo os nervos das juntas dos seus dedos todos
vermelhos e com cortes espalhados em cima da mão, tendo o sangue seco
brilhando nela. Um grande corte reto se destaca entre os pequenos. — Está
ferido, senhor.
Dou um passo à frente e pego sua mão entre as minhas, vendo os
cortes na pele da sua mão.
— Não é a primeira vez que eu dou um soco em um vidro, Mabel —
ele responde rápido.
Lembro do som do vidro da porta do motorista se espatifando. Ele
usou sua mão para socar a janela, por isso tem tantos cortes pequenos
espalhados no dorso da pele. O vidro deve ter lhe ferido.
— Precisa limpar isso, ou pode infeccionar. — Solto seus dedos em
cima da mesa e ando apressada para o banheiro.
— Lhe dei uma ordem! — Ouço sua voz zangada falar alto.
— E eu disse que estou sem fome — respondo e entro no banheiro,
abrindo a gaveta do armarinho de limpeza e pegando uma bolsinha pequena
cor-de-rosa, onde guardo gazes, soro e uma caixinha de Band-Aid.
Abro a segunda gaveta, onde tem uma garrafinha de álcool, e a pego
em minha mão, usando minha coxa para fechar as gavetas. Evito olhar para
sua face quando retorno para a cozinha, pego um pano de prato limpo na
gaveta e molho na torneira da pia, o torcendo.
— Pensei que a parte que você me obedece quando eu lhe dou uma
ordem, ficou clara entre nós dois... — ele sibila, baixo.
Me viro e jogo o pano de prato torcido em meu ombro, olhando sua
face me estudando, com a porcaria da sobrancelha arqueada de uma forma
charmosa, que me faz ter vontade de suspirar. Seguro meu suspiro e me nego
a deixá-lo saber que gosto disso nele, andando a passos decididos em sua
direção e o confrontando.
— Dentro da masmorra erótica! — retruco, deixando a garrafa de
álcool e minha bolsinha em cima da mesa.
— Está me contestando? — Ele torce seu nariz e mantém seus olhos
em mim, enquanto abro a bolsinha e tiro as gazes e o soro de lá. — Espere,
nomeou meu quarto de jogos, passarinho?
— Talvez... — falo sem muita coragem, lhe dando uma rápida olhada
pelos cantos dos olhos e segurando um riso. — E sim, nomeei aquele
calabouço sádico, que de quarto de jogos não tem nada.
Dou um passo para trás e me viro de frente para ele, ficando ainda
mais ordinariamente encantada por sua sobrancelha arqueada. Inclino meu
joelho para a frente e flexiono minhas pernas, até tê-las tocando o chão. Meus
joelhos ficam unidos quando afasto minhas panturrilhas e sento no piso, com
minhas costas eretas e meus dedos espalmados em minhas coxas. Ergo meu
rosto para ele e tento manter meu sorriso covarde em minha face, para tentar
resistir ao charme da sua face descarada. Mas não é a sobrancelha arqueada
sexy que está me esperando, e sim sua testa franzida, com seu cenho
completamente sombrio, olhando para mim de um jeito estranho. Seu peito
estufa forte para frente, com ele cerrando sua boca e inalando o ar pelo nariz,
que se alarga. A camisa branca fica mais comprimida em sua pele, dando a
sensação de que o tecido não vai suportar a forma como seu tórax se expande
para frente. As veias dos seus braços se tornam mais visíveis, assim como a
que pulsa em sua garganta me mostra que seus batimentos estão disparados.
— O que foi? — pergunto, assustada, não entendendo porque ele está
desse jeito.
Pisco, confusa, e o vejo enrijecer todo seu corpo, respirando mais
fundo e escurecendo seu olhar, da mesma forma que o vi quando ele estava
do lado de fora do carro, socando a face de Boris.
— Eu lamento se ofendi sua sala de jogos, senhor — murmuro
rapidamente, me sentindo angustiada e abaixando meus olhos para minhas
mãos em minha perna, não entendendo porque ele está zangado. — Apenas...
apenas falei o que eu pensei quando a vi, foi uma brincadeira. E sobre as
ordens, eu entendi o que me propôs, mas a meu ver, isso seria uma coisa
metafórica, correto?! — digo, mais angustiada, não conseguindo controlar
minha voz ao ouvir sua respiração ficar mais pesada. — Não pensei que
ficaria me dando ordens se estivéssemos fora dela... e isso é uma coisa que...
Me assusto quando a mão dele se move rápida e se prende em meu
queixo, me fazendo calar e erguer minha cabeça para ele, não me deixando
desviar meus olhos dos seus.
— Quem lhe ensinou a sentar assim? — ele pergunta, sério, me
fazendo ficar ainda mais desconcertada.
— Como? — Mordo o canto da minha boca, não sabendo ao certo se
entendi sua pergunta.
— Quem te ensinou a se sentar nessa posição, Mabel? — ele repete a
pergunta, me deixando saber que ouvi corretamente sua primeira pergunta.
— Sempre me sentei assim, senhor — murmuro para ele, olhando
para minhas pernas quando ele solta meu rosto e esfrega suas mãos em suas
coxas. — Sento assim desde que me lembro. — Puxo o pano do meu ombro e
o esmago em meus dedos, não entendendo porque a postura que eu me sentei
o deixou agitado. — Posso limpar seus ferimentos... Se acha estranho eu
sentar no chão, posso sentar na cadeira sem problema algum, apenas me
sento assim porque fico confortável.
— Não, fique onde está. — Ele muda seu tom de voz, que está rouco
e baixo, igual como ficou na masmorra dele quando me levou para a mesa.
Seus olhos estão com um brilho intenso e forte, e não os desvia de
mim, sentada no chão, diante das suas pernas.
— Ok... — sibilo com vergonha e sinto minhas bochechas ficarem
aquecidas com a forma que ele está me olhando.
Estico meu braço de mansinho e infiltro meus dedos lentamente
abaixo da sua mão, vendo meus dedos sumirem embaixo da sua grande pata
de urso branca machucada. Levo o pano para ela, a limpando com calma,
mantendo meus olhos concentrados nos ferimentos e retirando o sangue seco.
— Quem lhe educou, Mabel? — ele questiona, sério, me fazendo
erguer meus olhos para os seus, os vendo curiosos, me observando com
intensidade.
— Minha mãe adotiva, senhor — o respondo calma, retornando a
limpar seus ferimentos. — Eu vivi em um orfanato até os doze anos, quando
fui adotada por um casal de filantropos que não podiam ter filhos.
— Ficou fluente em russo aprendendo a falar com um deles ou teve
aulas com professores? — Ele inclina seu corpo para frente, me deixando
sentir sua respiração no topo da minha cabeça.
— Alekessandra me ensinou. — Abaixo o pano depois de limpar sua
mão, o deixando em cima da minha coxa. Meu rosto gira para a direção da
mesa e procuro pela garrafinha de álcool. — Minha mãe adotiva sentia falta
de ter alguém para conversar na língua mãe dela, então ela me ensinou,
senhor.
— Ela lhe ensinou muito bem. — Ele mantém sua análise em cima de
mim, ficando em silêncio. — Ela que te ensinou a se sentar assim também?
— Pelo que me lembro, não, talvez tenha sido no orfanato... —
Lembro vagamente da cuidadora, quando eu tinha seis ou sete anos,
agrupando as meninas do orfanato e nos ensinando a sentar em roda, todas
ajoelhadas nessa mesma posição. — Nos sentávamos assim no carpete da
sala de brinquedos, e ficávamos em silêncio, aguardando a chegada dos
brinquedos.
Balanço minha cabeça para os lados, como se pudesse dissipar essas
lembranças.
— Vai arder um pouquinho seus ferimentos, por conta do álcool. —
Ergo meus olhos aos seus e me sinto sugada para seu interior, como se ele
estivesse caçando algo dentro de mim.
— Lido bem com a dor, Mabel. — Sua voz é séria quando ele me
responde. — O que mais Alekessandra te ensinou, passarinho?
Abaixo meu rosto e fico perdida, olhando para a garrafa de álcool e
dando um sorriso infeliz para ele. Alekessandra tinha me ensinado tudo,
desde a educação, a como me portar, a conversar com ela em russo, me vestir
e me manter obediente. No começo, eu não me importava, não me
incomodava aprender com ela, que sempre dizia que lecionar em casa seria
melhor do que ir para a escola. Eu tentava ser tudo que ela queria, assim ela
me amaria. Mas Alekessandra nunca realmente amou nada além dela mesma.
Às vezes, acho que nem seu marido ela ama.
— Tudo que sei, senhor — digo para ele e viro o álcool lentamente
sobre sua mão, sentindo uma dor dentro de mim ao pensar em infligir dor a
ele. — Poderia me passar as gazes, por favor? — peço para ele e deixo a
garrafa ao meu lado, ouvindo apenas um baixo resmungo dos seus lábios.
— Então acha que minha sala de jogos é uma masmorra sádica? —
Ele muda o assunto, entregando as gazes para mim. — E eu devo presumir
que sou o carrasco.
Reprimo um risinho e encolho os ombros, secando seus dedos com as
gazes, para limpar seus ferimentos.
— Não, senhor. — Mordo minha boca e nego com a cabeça. — Aiii!
Meu corpo se encolhe para o lado quando sua outra mão se estica e
me dá um beliscão no meu seio.
— Oh, meu Deus, poderia parar com isso?! — Repuxo meu nariz,
sentindo ardência em minha pele, onde ele beliscou.
— Lembre-se sobre a mentira, eu não tolero! — Ele recosta na
cadeira e solta o ar por sua boca. Ergo meus olhos rapidamente para ele e o
vejo sorrir de forma cínica para mim. — Sou seu carrasco, Mabel?
— Eu ainda não sei exatamente o que o senhor é — respondo, sincera,
para ele. Eu ainda não tenho ideia de quem realmente é esse homem. — Não
sei muito sobre o senhor, para ser realista. É confuso saber que o homem que
conhece cada perversão minha, é um desconhecido.
Ele balança sua cabeça em positivo, me encarando com interesse, e
por um breve segundo vejo uma faísca de diversão brilhar em seus olhos
castanhos.
— Vamos fazer uma troca, então, eu respondo uma pergunta sua e
você em contrapartida responde uma minha. — Ele é terrivelmente perigoso,
com sua forma astuta, se mantendo silencioso, me olhando sentada diante
dele. — Pergunte.
Ele se faz de complacente, mas dentro de mim sei exatamente onde
essa brincadeira de toma lá dá cá vai nos levar.
— Qual sua idade, senhor? — Começo a investigação por perguntas
corriqueiras, não sabendo ainda se vou direto ao ponto ou não e lhe pergunto
sobre as coisas que Macro falou.
— Trinta e sete anos, e sim, já faz bastante tempo que estou em
Sodoma — ele responde duas ao invés de uma, como se já soubesse qual
seria minha próxima pergunta, antecipando meus pensamentos.
— De qual lugar da Rússia sua mãe adotiva veio? — ele pergunta,
sério.
— Eu não sei. — Dou de ombros, quase me sentindo aliviada pela
pergunta que ele fez, já que eu tinha medo de que fosse outra. — Para ser
bem franca, Alekessandra nunca conversou sobre o passado dela. Há quanto
tempo é esse seu bastante tempo em Sodoma, senhor?
Abaixo meu rosto e volto a limpar seus ferimentos com as gazes,
segurando os dedos dele com os meus.
— Treze anos como conselheiro. Eu tinha vinte e quatro quando meu
pai me nomeou como conselheiro em seu lugar. — Ergo meu rosto e olho-o
apreensiva, tentando entender o que ele falou. — E dezesseis anos como
frequentador.
— Seu pai era de Sodoma também?
— Negativo, bebê. Uma pergunta, uma resposta. — Ele ergue seu
dedo indicador e o balança no ar. — Como era sua relação com seu pai?
— Na verdade, não tínhamos muito contato, ele sempre viajava
muito. Não tivemos muito tempo um perto do outro, minha mãe era quem
ficava comigo — respondo, baixo, me recordando das poucas vezes que meu
pai adotivo conversava comigo. Eram frases pequenas e rápidas, e logo
partia, me deixando sozinha na casa com Alekessandra. — O senhor já jogou
esse jogo muitas vezes, com outras mulheres? — Fico com o olhar baixo, me
sentindo apreensiva ainda ao me recordar da conversa com Macro.
— Eu fui o primeiro conselheiro a jogar Sodoma, quando ela foi
criada. Com você é a segunda vez. — Ele solta o ar pesadamente. — Quem
foi que lhe apresentou a esse homem, que te deu a marca no seu abdome?
Meu rosto fica frio, com o sangue congelando em minhas veias e meu
fôlego acelerando. Ele evita a pergunta crucial, mas sei que logo chegará
nela.
— Alekessandra nos apresentou. Ele ia no mesmo clube de golfe que
meus pais adotivos frequentavam. Um dia, ela me levou com ela, e ele estava
lá. — Solto as gazes no chão e pego a caixa de Band-Aid. — Já frequentava
Sodoma, por isso seu pai passou a cadeira para você, senhor?
— Sim — ele responde rapidamente, sem piscar ou sequer vacilar. —
Antes de encontrar esse homem, você ia a esse clube de golfe com sua mãe?
— Não. — Nego com a cabeça e pego um Band-Aid dentro da caixa.
— Alekessandra não gostava muito que eu saísse, ela preferia que eu ficasse
em casa, estudando, sendo lecionada por ela, ela não queria que eu perdesse o
foco. Mas acho que aquele dia, em que ela me levou ao clube, foi a primeira
vez que saí da casa onde morávamos.
Arrumo o Band-Aid sobre seu ferimento e tapo o corte maior, dando
um sorriso de satisfação ao ver seus ferimentos limpos.
— Pronto, acabei! — Sorrio para ele e fecho a caixa, pegando as
coisas no chão e me preparando para levantar.
Não chego nem a flexionar minha perna para cima antes dele me
erguer por baixo dos braços e me fazer sentar em sua perna, segurando meu
rosto com sua mão e o mantendo imobilizado.
— Qual o nome dele, Mabel? — Então, certo como um trovão, que
corta o céu depois do raio, quando a tempestade chega, a maldita pergunta é
proferida por sua boca.
— Preciso guardar essas coisas, senhor... — Mordo minha boca e
sinto uma ardência em meu pescoço, quando ele segura forte atrás da minha
nuca.
— Responda minha pergunta! — Sua voz é um aço sendo desferido
contra mim, cravando em minha alma, que grita para ser obediente a ele.
— Por favor... — Fecho meus olhos e nego com a cabeça, não quero
falar o nome de Nate.
Quando invocamos o nome dos nossos demônios em voz alta, é como
se o vento levasse o chamado para eles, desenterrando dor e medo do fundo
das nossas almas.
— Um nome, Mabel...
— Não posso falar o nome dele. — Abro meus olhos e o encaro,
respirando angustiada, implorando em silêncio que ele me faça qualquer
maldita pergunta, menos essa.
— Por que, passarinho? — Seu rosto se aproxima do meu, ficando a
centímetros de mim, e olha para cada canto da minha face, apertando mais
forte minha nuca. — Por que não diz o nome desse filho da puta para mim,
ou prefere que lhe jogue sobre essa mesa e lhe castigue com umas boas
palmadas até dizer o nome dele? Me dê esse nome ou juro que será isso que
vou fazer com você!
— Porque a última vez que proferi esse maldito nome, eu estava
deitada, amarrada no chão, em cima do meu próprio vômito e minha urina,
com minhas pernas machucadas e ensanguentadas. — Fecho meus olhos com
força e nego com a cabeça. — Com ele em cima de mim, marcando meu
corpo com um canivete, enquanto ria, sentindo prazer do que ele estava
fazendo comigo, mesmo eu gritando o nome dele, implorando para ele
parar... — Soluço entre o choro que me pega, negando com a cabeça mais
rápido. — Então não, senhor, eu não vou dizer esse maldito nome nunca mais
em voz alta. Prefiro cortar minha garganta a pronunciar o nome desse filho da
puta novamente. Se deseja me castigar por isso, pode ir em frente, eu não vou
dizer.
Quando meus olhos se abrem, é com um furacão de tempestade de
areia que eu me deparo. O semblante sombrio está duas vezes mais taciturno,
com seus olhos castanhos puxando para o negro, e um rosnado animalesco
saindo dos seus lábios, enquanto ele me prende mais forte. Mantenho meus
olhos presos aos seus, mesmo me sentindo assustada pela forma que ele está.
Czar respira fundo e abre sua boca como uma fera que arreganha suas presas,
pronto para atacar. E eu não lhe dou resistência alguma quando ela me ataca,
feroz e selvagem, me beijando com brutalidade, ao ponto de me fazer gemer
com dor em seus lábios, pela fúria do seu beijo. Os sinto pesados amassando
os meus, entre as mordidas que ele desfere, prendendo sua mão em meus
cabelos com raiva. Os utensílios em meus dedos escorregam, rolando para o
chão quando minhas mãos se seguram em seu peito. Sinto seu coração bater
forte em meus dedos. O som da cadeira indo ao chão é tão abrupta, como a
forma que sou depositada sobre a mesa, com ele puxando minha cabeça para
trás, me obrigando a olhar para ele.
— Está enganada, Mabel, se pensa que sua obediência se restringe
apenas àquelas quatro paredes. — Sua mão grande esmagando minha coxa
me faz arfar, respirando com irregularidade, tendo meus dedos trêmulos em
seu peito. — Seu rabo é meu, sua boceta quente é minha, assim como essa
adorável boca esfomeada. — Ele solta meus cabelos e prende meu queixo em
sua mão, recaindo seus olhos para minha boca. — Não estamos jogando
tabuleiro, passarinho, mas sim Sodoma!
Não tenho tempo de lhe responder ou raciocinar antes dele me beijar
novamente com brutalidade, devastando por completo meus pensamentos
coerentes, como um vendaval que assopra com pura força um castelo de
cartas, desmoronando-o. O prato vai ao chão, junto com os talheres, quando
sua mão me obriga a deitar. Sinto meu peito ofegante arfar a cada ar que
respiro, com meu corpo ficando elétrico e quente. Czar ergue meu rabo e o
alavanca apenas um pouco para cima, enquanto arrasta minha camisola por
cima da minha barriga até minha cabeça. Tento erguer meus braços para ele
tirá-la de vez, mas apenas percebo qual a sua intenção quando ele me gira
com força, me fazendo ficar de barriga para baixo. Meus braços são
imobilizados com um pedaço da camisola e a outra parte ele usa para cobrir
minha cabeça com o pano fino. Sinto-os sendo cruzados atrás de mim,
enquanto fico assustada e excitada ao mesmo tempo.
— Ohhhh! — gemo alto, sendo pega desprevenida por sua boca, que
morde meu rabo com força. Tento soltar meus braços da amarração que ele
fez, para que possa tirar a porcaria da camisola que cobre minha face. —
Merda! — choramingo e mordo minha boca com o tapa de mão aberto que
recebo na outra nádega, fazendo minha bunda arder e doer ao mesmo tempo
por conta da mordida e do tapão. Ele se afasta e me puxa pela cintura,
arrastando minha barriga na mesa, até meus pés tocarem o chão, me largando
sozinha, e eu paro de me mexer, arqueando meu tórax um pouco para cima,
tentando descobrir o que ele está fazendo. Giro minha cabeça, com
dificuldade, para enxergar através do tecido que deixa tudo embaçado.
— Senhor? — o chamo, assustada, respirando forte, sentindo o ar
ficar mais pesado por conta da restrição do pano.
A ponta fria do coturno de couro em seu pé toca meu tornozelo e
afasta minha perna, me fazendo ficar com elas arreganhadas. Sinto a
ansiedade chegando, assim como a agonia e o desejo doentio. Meu rosto vira
novamente para a esquerda, ao ouvir os passos dele andando pela cozinha e o
som da geladeira sendo aberta.
— O que está fazendo? — pergunto, aflita, querendo gritar de raiva
por não conseguir vê-lo.
— Vejo que precisa de ajuda com sua má alimentação — ele fala,
corriqueiro, batendo a porta da geladeira. — Amanhã cuidaremos disso.
— Não, não preciso! — digo, nervosa, tentando descobrir onde ele
está agora. — O que está fazendo, senhor Gregovivk?
Sua mão para em meu quadril novamente, com ele arrastando minha
calcinha para baixo, e respiro mais rápido, sentindo o toque quente dele em
minha pele, a deixando mais quente ao senti-lo escorregando a calcinha por
uma das minhas pernas. E quando ergo meu pé para tirar a outra parte, grito
ao receber outro tapa mais forte em meu rabo.
— Oh, merda! — choramingo, com minha bunda ardendo com suas
palmadas.
Ele faz minhas pernas ficarem unidas novamente, usando a alça da
calcinha para amarrar meu tornozelo, um no outro.
Cristo, minha calcinha já era!
— Por favor, tira isso do meu rosto, senhor! — peço quase chorando
para ele, desejando saber o que ele está fazendo. O terceiro round retorna
com mais força e ardência, fazendo minha boceta se retrair ao receber a
terceira palmada em minha bunda.
— Diga a palavra-chave se deseja que eu pare — ele me provoca,
rindo, e alisa minha bunda onde sua mão me bateu. — Ou me dê o nome que
eu quero ouvir.
— Foda-se! — rosno entre os dentes e mordo minha boca, engolindo
meu gemido de prazer por tê-lo me acariciando, mas logo o gemido se
transforma em grito quando ele bate novamente mais forte. — OH, PORRA!
— Também não é essa palavra, passarinho! — Czar ri e massageia
minha bunda com lentidão. — Perfeita!
— Não vou dizer! — Uso o resto de orgulho que tenho, o qual a essa
altura eu julgaria já não ter mais nenhum, me negando a desistir. — Não vai
ouvir essa palavra saindo da minha boca, senhor, e nem o nome que deseja.
— Esse é meu pássaro selvagem! — Ele ri e me faz arfar quando sua
boca assopra em cima das suas palmadas, instigando a pele a ficar mais
sensível. Sinto o beijo dele me fazendo ter choques ao sentir seus lábios frios
encostando em minha bunda quente. — Passarinho indisciplinado e arteiro!
— Ohhh, meu Deus! — Fecho meus olhos e deposito minha testa na
mesa assim que sua língua escorrega por meu rabo. Sinto as mãos dele se
prendendo uma de cada lado das nádegas e as abrindo. — Fria... Oh, tá fria!
— balbucio e respiro rápido, sendo torturada por sua língua gelada, que raspa
em cima do meu cu e o circula com lentidão. Sinto quando ele causa choque
em meu corpo, e reconheço a sensação do gelo ao ser tocado na pele, assim
que ele o empurra contra meu rabo.
— NÃO! — Me debato e tento me mexer, para fazê-lo parar com o
que quer que seja que esteja querendo fazer comigo.
— Bebê, esse seu rabo está tão quente, que o pobre cubinho de gelo
vai derreter antes do meu pau terminar de foder sua boceta...
— Senhor... senhor, por favor! — Tento me mexer, mas minhas
pernas amarradas pelas canelas, com meus braços presos nas costas, apenas
fazem eu me sentir como um peixe vivo que acabou de cair na frigideira.
— Por isso que peguei a bandeja de cubinho de gelo, para não
atrapalhar a brincadeira. — Ele solta um risinho e empurra a porra do cubo de
gelo dentro do meu cu.
Meu quadril se retrai, comigo colando minha barriga na mesa,
mordendo o tecido da camisola, sentindo a sensação de ter um cubo de gelo
entrando dentro do meu ânus.
— Magnífico, vai ficar mais lindo ainda quando começarmos a
trabalhar nele com os alargadores, o preparando para me receber — Czar fala,
rindo, dando um beijo entre minha bunda e passando sua língua por ela.
— Ohhhh! — O gemido escapa por minha boca, sem controle algum,
assim como meu quadril se empina para trás, gostando de receber o devasso
carinho que a sua língua me dá.
Seu dedo escorrega para minha boceta e esfrega em cima dela, me
chupando com mais ardor.
— Molhada e quente — ele murmura, rindo, soltando um tapa mais
leve em meu rabo.
Czar se afasta e faz eu me sentir completamente abandonada,
necessitando das suas carícias. O que esse homem faz comigo é algo
inacreditável. Ele me entorpece primeiro com a dor, para depois me fazer
implorar por prazer. Ouço o cinto da calça sendo solta, e dentro de mim algo
se agita, ficando eufórico, ansioso.
— Qual o nome dele, Mabel? — Sua voz é firme e me alerta do que
está por vir quando passa lentamente o couro da cinta por minha bunda. —
Eu ainda estou tentando controlar a ira de ver aquele merda do Boris tocando
no que me pertence, Mabel, então sugiro que não queira me testar agora.
— Não... — o respondo, baixo, sentindo a água do gelo escorrer
dentro do meu rabo e minha boceta.
Sinto a primeira batida do couro me atingir com leveza quando ele a
desfere apenas como um aviso.
— Nome! — ele fala novamente, mas nego com a cabeça, mantendo
meus olhos fechados.
— Ohhh, merda! — grito, comprimindo minhas pernas, sentindo o
suor escorrer por minhas costas e uma ardência filha da puta aumentar em
meu rabo.
— Mandei me dar um nome! — Minha pele ardida é apaziguada pelo
toque quente da sua mão, que acaricia minha bunda, onde a cinta acertou. —
Diga o nome dele, passarinho.
Respiro fundo e relaxo meu corpo, tendo minha saliva molhando o
pano da camisola, em cima do meu rosto.
— Não! — respondo e cravo com força minhas unhas na palma da
minha mão, empinando meu rabo para trás.
Czar respira pesado, antes de se afastar e soltar duas cintadas, uma
seguida da outra, em meu rabo, me fazendo chorar e morder minha boca,
encolhendo minhas pernas, apertando os músculos internos do meu rabo em
volta do cubo de gelo e o engolindo por completo.
— Não vai dizer o nome dele, Mabel? — Ele retorna a acariciar
minha bunda, respirando pesado. Sinto o cume duro que raspa em minha
coxa, me deixando saber que o pau dele está completamente duro.
— Não, senhor — falo com voz de choro, negando com a cabeça.
Minhas pernas fracas, que estão encolhidas, se esticam e ficam com meu
corpo largado sobre a mesa, aguardando por seu castigo.
Escuto sua respiração e sinto seu corpo se afastar de mim, com ele
dando um passo para trás. O tremor me pega. O medo, o abandono da
fragilidade por estar amarrada... Dou um pulo, assustada, assim que o som da
cinta estalando em cima da mesa com pura fúria se faz. Fico perdida,
completamente paralisada, não entendendo porque ele não me castigou de
novo. Minha mente está rápida, meu corpo hiperventilando e meu coração
disparado, sem saber qual será seu próximo passo. Um som diferente é feito,
e eu me mantenho em silêncio, tentando descobrir o que vem agora.
— Cristo... — murmuro entre arfadas rápidas e sinto o gelo
escorregar por minha bunda, onde ele bateu.
Uma anestesia se faz sobre o local depois do primeiro contato.
Respiro mais forte e sinto uma sensação prazerosa tomar conta de mim,
dissipando a dor. Czar deita sua cabeça em cima da minha nuca e respira
pesado. Meu corpo fica rígido e sinto o pequeno cubo ser empurrado
novamente para dentro do meu cu. Ele se afasta e tira suas mãos de mim, e eu
quero gritar, pedir para ele se afastar, mas mordo minha boca ao invés disso,
apertando forte meus lábios, esperando pela dor da cintada que vai vir agora,
depois do seu carinho. Mas não é com a cinta que ele me castiga, não quando
aperta meu quadril com suas mãos e empurra seu pau entre minhas pernas.
Sinto a textura do preservativo, a agonia da fricção do tecido raspando na
minha bunda ardida, seu pau se forçando para dentro da minha boceta, o
investindo tão fundo que sinto a mesa se movendo com o impacto. Bruto,
selvagem e nocivo, mas que arranca tudo de mim.
Gritos e gemidos rasgam minha garganta, enquanto meu corpo
imobilizado recebe cada impacto de bom grado que seu pau desfere dentro da
minha boceta, me fazendo arfar mais, me deixando à beira do precipício. Meu
corpo tinha aprendido a lidar rápido demais com a dor, ele apreciava cada ato
bruto que recebia, mas ele respondia apenas de uma forma tão avassaladora a
Czar. Minha mente está tão nublada, que sinto como se estivesse em queda
livre, desabando rápido. O gelo que derrete dentro de mim, o pau dele que
minha boceta engole, tudo me faz gemer desesperada. Sinto o tecido da calça
raspar com mais rapidez em minha bunda. O atrito que alimenta a dor e o
prazer, se torna mais angustiante, e a grande descarga do prazer chuta minha
alma para fora do meu corpo quando o orgasmo me acerta.
Meu corpo estremece, se empurrando para frente, enquanto grito,
gozando com seu pau me fodendo sem parar. Sua mão esmaga mais forte
meu quadril, estourando sua pélvis contra meu rabo, me jogando em uma
onda de prazer e dor, que me afoga a cada segundo que ela me acerta. Com
apenas esse homem que me castigou com seu cinto me segurando no
derradeiro momento que meus demônios se libertam. Czar vem rápido, logo
após de mim, precisando de apenas mais três estocadas fundas antes do seu
grande corpo estremecer, com ele gozando, soltando um ensurdecedor
gemido, abaixando sua cabeça em meu ombro e respirando fundo.
Desabo no chão feito uma gelatina inconsistente, quando ele tira as
amarras do meu braço e liberta minha face da camisola. Meu corpo trêmulo e
suado está completamente languido, com meu cabelo bagunçado, colado em
minha bochecha, e ergo meu rosto para ele, com meus dedos trêmulos
afastando as mechas da minha face. O vejo tirar a camisinha repleta de porra
do seu pau e amarrá-la. Não tem como eu não olhar para o pênis dele, grosso,
com veias saltadas e cabeça larga. Porra, realmente o pau dele faz jus ao
tamanho todo desse homem!
Ele caminha para o lixo da cozinha e descarta a camisinha, andando
com uma postura tão predominante, fazendo meu apartamento parecer mais
pequeno ainda por receber pela primeira vez uma presença masculina tão
potente. Czar retorna e anda para perto de mim, retirando sua camisa e a
jogando sobre a cadeira junto com sua jaqueta, mas é quando ele se vira,
curvando suas costas e erguendo seu pé na cadeira, para tirar o coturno, que
eu prendo o fôlego. A grande marca vermelha da pele encruada, que pega a
parte inferior das suas costas, faz eu sentir meu coração se apertar, ao
imaginar o tamanho da dor que a queimadura deve ter lhe causado.
— Todos trazem cicatrizes, passarinho — ele fala, baixo, sem olhar
para mim, como se soubesse para onde eu estava olhando.
Seu grande corpo se endireita e troca a perna, retirando o outro
coturno antes de ficar ereto e virar para mim. Compreendo agora por que ele
não me olhou com nojo, porque não vi repulsa em seu olhar quando me viu
despida à sua frente, confrontando minha cicatriz. Czar também teve que
aprender a conviver com a dele. Meus braços se esticam e enlaçam seu
pescoço quando ele se abaixa e me ergue em seus braços, de uma forma tão
protetora que chega a ser confusa diante do que ele acabou de fazer comigo
segundos atrás.
Não sei se ele é meu carrasco.
Um demônio pior que o primeiro que marcou minha alma.
Um grande urso protetor cuidadoso.
Ou minha pior perdição.
Mas, nesse momento, ele é tudo que minha alma precisa, e meus
demônios livres se sentem bem ao lado dele.
CAPÍTULO 18
SUBMISSA ALFA
Czar Gregovivk

Meu nariz escorrega por seu pescoço e inalo o perfume dos seus
cabelos molhados, escorregando a esponja por sua pele. As coxas nuas em
volta da minha cintura, tão quentes e macias, ficam confortáveis, como se
elas soubessem que são ali que tem que ficar. Mabel desencadeia as duas
formas que tenho na mesma proporção: o sádico que espancaria seu rabo
mais algumas vezes para fazê-la sentir dor com puro prazer, idolatrando a
teimosia dela; e o dominador, que está implorando para fazer dela nossa
submissa.
— São antigas? — ela murmura, baixo, escorregando seu braço por
minhas costas e tocando com a ponta das suas unhas em minhas queimaduras.
— Sim, muito antigas — respondo e levo nossos corpos para debaixo
do chuveiro, a enxaguando. — Elas lhe incomodam? — pergunto, sem
desviar meus olhos do seu ombro, vendo a espuma ir embora. Não deixava
elas verem, sabia que algumas mulheres se sentiam incomodadas quando
avistavam a queimadura em minhas costas.
— Não, senhor — ela responde com preguiça, depositando seu queixo
em meu ombro. — O senhor costuma fazer isso com todas?
— O quê? — Prendo a esponja no registro de água e ergo meus
dedos, empurrando os cabelos dela para o outro ombro.
— Cuidar... — ela fala, baixinho, quase não me deixando ouvir sua
voz por conta do chuveiro ligado. — Costuma cuidar da suas submissas ou
faz isso comigo apenas por conta do jogo?
Não, eu não fazia. Nenhuma delas iam para Sodoma em busca de
cuidado, a maioria ia apenas para desbravar seus anseios, conhecer mais
delas, foder pra caralho. As que vinham até mim já eram experientes,
queriam testar seus limites, por isso me procuravam. Sabiam que eu não
oferecia nada mais do que estava proposto a acontecer dentro de um quarto
de sadomasoquismo. Mas, novamente, o pequeno pássaro não é como elas,
Mabel não foi para Sodoma em busca de nada disso, e quando apareceu a
segunda vez, quase me fez cair sentado, completamente surpreso, ao ouvir
seu pedido tímido e angustiante de ajuda. Ninguém vai à Sodoma em busca
de ajuda, quem entra por nossas portas vai por curiosidade ou por desespero
em poder encontrar um lugar para poder ser o depravado de merda que é.
— Ser cuidada, isso a incomoda? — Em vez de responder, faço outra
pergunta para ela.
— Não, mas devia, eu acho. — Ela solta um longo suspiro, enquanto
alisa minhas costas. — Para falar a verdade, eu ainda não sei o que pensar
sobre isso, se fiz certo — ela fala, baixinho, e esfrega seu rosto em minha
pele.
— Fez certo o quê? — Colo suas costas na parede, com minha mão
presa em seu rabo, enquanto a outra segura sua coxa.
— O senhor — Mabel responde, baixo, e sinto suas mãos espalmadas
em minhas costas, com ela respirando de mansinho.
O vapor inunda o boxe do banheiro, enquanto ouço o som baixo da
sua voz, angustiada. Sinto seu coração bater junto ao meu, com seus seios
colados em minha pele, raspando lentamente. Meu pau responde rápido
quando ela move seu ventre em cima dele, de mansinho.
— Senhor Czar — ela sussurra em meu ouvido.
— Sim? — Minha voz sai abafada pelo barulho do chuveiro, que
deixa a água cair no chão.
— Posso ter liberdade para te beijar? — Sua boca escorrega por meu
ombro e o beija lentamente, voltando a raspar sua boceta em meu pau.
— Mabel! — Prendo mais forte meus dedos em sua coxa, lhe dando
um aviso para ela parar de se mover.
Ela traz seus olhos para frente e suas mãos pousam na lateral do meu
rosto, me olhando perdida.
— Não vou te tocar novamente, Mabel. — Minha voz sai pesada,
assim como minha respiração. Tento controlar o pequeno corpo teimoso que
me provoca. — Não é assim que o jogo funciona...
— Só me faça esquecer novamente o que me machuca, senhor. — Ela
me silencia, parecendo uma adoração profana e erótica dos meus pecados.
— Passar...
Seu beijo tímido me deixa sem reação, me pegando de surpresa, como
ela sempre faz quando toma a iniciativa. Seguro seu corpo mais firme e
aperto sua bunda macia, a deixando seguir em frente, mesmo consciente que
deveria ter que repreendê-la por seus impulsos. Não porque eu não quero
enterrar meu pau dentro da sua boceta quente, mas sim porque conheço os
demônios de Mabel. Não são apenas os da dor que são perigosos. A forma
que seu corpo faiscou rápido, se acendendo com mais força depois de cada
orgasmo ontem, me fez notar a grande chance que Mabel tem para possuir
hipersexualidade feminina[45]. Seus relatos sobre como estava viciada em
ficar se masturbando me garantem sua compulsão por sexo. Mas sou um puto
doente, que está sendo consumido pelo desejo que ela me causa. Seus dedos
atrevidos soltam o meu rosto, enquanto ela beija meu pescoço com mais
lascividade. Seu rosto expressivo me mostra sua dor misturada com seu
desejo insaciável. Ela não procura delicadeza, ela não procura carinho. O
pequeno pássaro procura libertação.
E só por agora, apenas dessa vez, porque desejo algo em troca, será
isso que darei a ela.
Suas pernas rodeiam a minha cintura com mais força e seu pequeno
corpo se esfrega com maior ardor ao meu, raspando sua pélvis. Mabel devora
meu corpo com sua boca e morde cada parte onde toca, se alastrando por meu
ombro. Fecho meus olhos e sei que ela está tirando meu controle, que nunca
nenhuma delas se entregou de forma tão pura e desesperada como Mabel.
— Por favor, senhor... — ela choraminga, baixo, e alavanca seu corpo
um pouco para cima, me olhando com luxúria.
Sinto quando ela se encaixa perfeitamente, posicionando sua pequena
boceta em cima do meu pau, que está duro, pulsando, implorando para senti-
la pele a pele, sem nada entre nós dois. Seus olhos buscam os meus com seu
pedido inocente, mas que devasta meu controle por completo. Consumido por
seu olhar de menina, não posso me mexer, não me moveria nem se quisesse.
Então, ela começa a descer, inibida e sorrateira. Seus olhos me mostram a dor
que ela sente ao ter meu pau entrando em sua boceta inchada, com meus
dedos esmagando mais forte seu rabo, que está dolorido das cintadas que
recebeu. Mesmo assim, ela não para, Mabel se solta e empurra seu quadril
para baixo. Joga sua cabeça para trás e um grito escapa de sua boca. Meus
olhos ficam petrificados em seu pescoço, que me mostra a marca perfeita da
sua rendição, me fazendo sentir orgulho, desejo e posse inflamar dentro do
meu peito. Meus lábios se fecham em sua garganta e chupo entre meus
beijos, escorregando-os até seu peito. Sugo seu seio quando ela começa a se
mexer sobre mim, me fodendo lentamente.
— Senhor... Gregovi... — Sua voz é embargada de dor, junto com seu
prazer, quando mordo seu ombro.
— Me dê um nome — murmuro com zanga, a fodendo mais lento,
não a dando o que realmente quer.
Sinto sua pequena boceta molhada e quente me apertar, engolir meu
pau dentro dela.
— Oh, Deus, por favor... — ela implora e tenta se mover mais rápido,
mas mantenho meu aperto em seu rabo, o impossibilitando de se mexer.
— Me diga o que eu quero saber. — Beijo seu ombro e raspo minha
boca perto da sua quando ergo minha cabeça. — E eu lhe dou o que quer.
Paro de me mexer por completo, com meu pau imóvel em sua boceta,
que o suga, com ela chorando em angústia por não receber o que quer.
— Por favor... Por favor, me faça ser livre...
— O nome — rosno, baixo, cerrando minha boca.
A faço gemer e mordo a sua boca quando pressiono mais forte suas
costas na parede, segurando seu pescoço e a fazendo me olhar.
— Me entregue o nome dele. — Recaio meus olhos para sua boca,
atrevida, e me aproximo lentamente, fazendo-a arfar quando paro meus lábios
a centímetros dos seus. — E, bebê, eu te prometo que vou te foder tanto essa
noite, que amanhã, a cada movimento que fizer, ainda vai ter a sensação do
meu pau comendo sua boceta.
Vejo os olhos dela ficarem marejados, com uma melancolia os
tomando.
— Por quê? Por que precisa tanto desse nome, senhor? — Ela encolhe
seus ombros e me olha perdida.
Porque odeio o fato de saber que esse bosta ainda está respirando, que
ele tinha machucado algo belo como sua pele, que tinha a ensinado de forma
errada a como responder à dor erótica. Porque eu garantirei uma cicatriz três
vezes maior na pele dele do que a que ele fez com ela.
— Me diga o nome, Mabel — peço novamente e a vejo fechar seus
olhos, se trancando dentro dela, enquanto respira fundo.
Já a estou amaldiçoando por uma vida inteira dentro de mim, sabendo
que meu pau está me condenando por estar enterrado dentro do corpo dela,
sem se mover, desejando a libertar assim como me dar a libertação. Mas
quando seus olhos se abrem e me encaram como um brinquedo quebrado,
ficando parados atrás de mim, com seu braço se levantando lentamente,
Mabel fica perdida. Giro meu pescoço e vejo o que chama sua atenção. Seu
dedo indicador desliza trêmulo no boxe do banheiro, arrastando pouco a
pouco, enquanto escreve no boxe repleto de vapor. Leio com ódio o nome,
sentindo meu peito se inflamar de fúria.
NATE!
Volto meus olhos para ela quando seu braço se abaixa, e vejo as
lágrimas escorrerem por sua bochecha.
— Não diga o nome dele, senhor. — Ela esmaga sua boca e deixa as
lágrimas caírem dos seus olhos.
Minha mão em seu pescoço a solta e inclino meu rosto para frente,
encostando minha testa na sua. Um instinto incontrolável me domina, quando
minha língua flui por sua bochecha e lambo sua lágrima, a tomando para
mim, tomando sua dor como minha, tanto quanto meu pau já tinha
reivindicado sua boceta.
— Voe alto para mim, passarinho — sussurro e respiro rápido,
soltando seu quadril e lhe deixando solta.
Mabel cavalga sobre mim em puro desespero, aumentando o ritmo do
sobe e desce do seu quadril. Dou uma rápida mordida no seu pescoço antes
de começar a beijar seu queixo, lambendo-o. Ela se solta cada vez mais,
minha pequena perversão feminina. Tremendo sobre mim, deixa-me mais
alto do que nunca, sendo fodido por uma mulher infernal. Ela se aperta mais
em mim, explodindo com o orgasmo, com suas pequenas garras enterradas
em minhas costas. Sua cabeça se volta para frente e sinto seus dentes me
morderem violentamente. Puxo seu quadril com mais força, mais rápido,
procurando assim minha própria libertação, a fodendo com fúria e uma fome
insaciável.
Levo meus braços para debaixo das suas coxas e a ergo, a deixando
na altura certa para receber as estocadas fundas do meu pau. Mordo seu
ombro com a mesma força que ela prende seus dentes nos meus, penetrando-
a com vontade. Mabel solta suas garras das minhas costas e me abraça com
desespero, gritando enquanto goza novamente. Tenho apenas tempo de
erguê-la uma única vez, retirar meu pênis de dentro dela e gozar fora da sua
boceta. Ela desaba sobre meu peito e me abraça com seu corpo todo trêmulo.
Vejo seus cabelos negros deslizarem sobre nossos corpos, enquanto ela
respira com dificuldade.
— Cristo... O senhor é meu carrasco, com toda certeza é sim! —
Escuto o riso baixinho dela entre seus suspiros e sussurros.
— Tem alguma ginecologista que te atenda aqui em Moscou? —
pergunto, rouco, com meus olhos fechados, tentando controlar minha
respiração, esmagando mais forte sua bunda em minha mão.
— O quê? — balbucia, confusa, e solta outro riso baixo. — Quer
saber sobre minha menstruação?
— Quero saber se toma algum remédio para não engravidar, Mabel.
— Afasto meu rosto do dela e a encaro. — Porque agora que tomou liberdade
de foder com o meu pau sem camisinha, acho bom começar a se cuidar,
porque será só assim que ele vai te comer daqui pra frente.
Vejo um sorriso tímido se esboçar em seus lábios inchados pelas
minhas mordidas, a fazendo ser meu demônio mais libidinoso, com seu corpo
trêmulo colado em mim e meu anjo puro com olhar envergonhado, que me
atormenta com meus pecados.
— Não, senhor, eu não tenho — ela responde, baixo, e para seus
olhos em meu peito. — E nem tomo.
— Amanhã vamos resolver isso, depois do seu trabalho — falo, sério,
e olho para seu peito, que sobe e desce rapidamente. — Vamos cuidar disso.
— Não devia fazer isso. — Ela fecha seus olhos e nega com a cabeça.
— Eu consigo me cuidar, senhor.
A faço gemer ao morder sua boca, quando pressiono mais forte suas
costas na parede.
— Amanhã eu cuidarei disso — finalizo o assunto e desligo o registro
do chuveiro, saindo do boxe com ela ainda presa em meus braços. Puxo a
toalha e a jogo sobre suas costas.
— Sabe que eu posso ir andando para o meu quarto?! — Ela arruma
seus braços em meu pescoço e me olha com timidez, nem parecendo a
criatura erótica que é. — É meio estranho ficar me levando para lá e para cá,
como se eu fosse uma mochila presa na frente do seu corpo.
Ao invés de responder sua brincadeira, apenas desfiro um tapa em seu
rabo, a fazendo se apertar em volta de mim.
— Aiii... — Ela dá um pulinho e se retorce, negando com a cabeça.
— A gente tinha que estipular umas regras para os castigos durante a semana,
já que é meio difícil trabalhar se eu não puder sentar por conta do meu rabo
dolorido.
— Seu belo rabo dolorido será o de menos, passarinho — a respondo,
saindo do banheiro, segurando-a pela bunda e lhe dando um apertão. —
Tenho outros planos com seu corpo quando chegarmos na cama.
— Na cama? — ela indaga, baixo, e mordisca a sua boca. — Então
acho que temos um problema...
Meus olhos desviam da sua face quando abro a porta de frente para a
porta do banheiro. Meus olhos ficam fixos na cama pequena de solteiro ao
canto da parede.
— Penso que a senhora que me alugou o imóvel mobiliado, não
pensava que eu iria receber visitas masculinas aqui — Mabel fala de forma
risonha, soltando seus braços do meu pescoço e pulando para o chão. —
Pena, não vou poder te pedir para ficar... Aquele sofá da sala é horrível para
dormir também.
Ela ergue sua cabeça para mim e arruma a toalha em seu corpo,
passando seus olhos rapidamente pelo meu corpo, batendo as pontinhas dos
seus pés no chão.
Dou um passo à frente e invado o quarto feminino, com uma
penteadeira com espelho organizada. Retorno meus olhos para frente e encaro
atrás de Mabel, vendo a grande janela. Arqueio minha sobrancelha e a estudo
com interesse, calculando a resistência das grades de ferro de proteção, e
sorrio ao imaginar seu corpo belo posicionado bem ali.
— O que foi? — ela pergunta, confusa, olhando para meu rosto e
dando um passo para trás quando ando em sua direção.
— Como disse, sua boceta vai se lembrar do meu pau amanhã! —
Meus braços já estão erguidos e a seguro pelos cabelos assim que ela se vira,
querendo escapar.
— Oh, não, não... Meus vizinhos são fofoqueiros, senhor. — Mabel
nega com a cabeça assim que compreende para onde tenho interesse em levá-
la.
— Então sugiro silenciar seu canto, passarinho.

— Noite selvagem, chefe! — Acvo ri para mim, me cumprimentando


com um gesto de cabeça quando passo por ele e vou na direção das escadas
que tem ao lado do refrigerador.
— Você não tem ideia, meu amigo. — Pisco e estalo meu dedo,
apontando o indicador para ele. Continuo a andar com calma. — Como está a
casa?
— Repleta de carne nobre, chefe.
— Excelente! — Sorrio e ergo meu rosto para a câmera, ao canto da
sala, dando uma piscada sacana, provocando Sieta, que com toda certeza já
sabe que cheguei.
Subo as escadas e levo meus dedos ao bolso da jaqueta, sentindo a
ardência em minhas costas me pegar quando as estico. Antes mesmo de
chegar na porta do escritório do açougue, ela é escancarada pela pequena
mulher rebelde, que me encara mal-humorada.
— Olá, docinho! — Tiro minha mão do bolso e belisco seu queixo.
— Onde estava? Disse que estaria aqui às 21h30, já são quase 3 horas
da madrugada! — Ela afasta seu rosto, me fuzilando.
— Acabei perdendo a hora. — Estalo o canto da boca e lhe dou um
olhar zombeteiro. — Estou de bom humor, bebê, mas ainda assim cuidado
com os modos! — Sorrio e fecho a porta atrás de mim.
Ando na direção do armário à esquerda e abro a porta, apontando para
dentro.
— Primeiro as damas!
— O que fez na sua mão? — Ela olha o curativo que Mabel fez em
mim e estreita seu olhar.
— Fechei o carro com a chave dentro e tive que dar um jeito de abrir
— falo, rápido, apontando a entrada para ela passar.
— Inacreditável — ela diz, rabugenta, e passa por mim, entrando no
armário falso que leva direto para o interior da casa noturna. — Estamos
prestes a receber todos os conselheiros para te julgar, e parece que você nem
está preocupado.
— Estou pensando ainda no que vamos fazer sobre isso, relaxe. —
Entro no armário e fecho a porta, a empurrando para continuar andando.
— Relaxe? — Ela se vira e me olha brava. — Vou relaxar quando
conseguir achar algum podre daquela cadela desgraçada da Morgana!
Respiro fundo e inalo o ar com força, tentando não perder o meu bom
humor. Meus braços se erguem e seguro nos ombros de Sieta, a fazendo olhar
para mim.
— Vamos dar um jeito de sair dessa, sempre damos — falo em tom
calmo, olhando-a com serenidade. — Lembra quando você enfiou a vela no
cu daquela garota polonesa, porque ela pediu, e depois ela falou que você a
obrigou?
— Oh, porra, com tantas histórias para lembrar, tinha que ser a mais
escrota?! Esla me implorou para fazer aquilo, e ainda por cima quase se
cagou em cima de mim — ela fala com raiva e repuxa seu nariz. — Porca
mentirosa!
Tento não rir da cara da minha prima ao lembrar daquilo. Até hoje
tenho a foto de Sieta com o rosto vermelho, vomitando dentro do quarto
quando a parceira dela teve uma disenteria. Não tive como resistir e não bater
uma foto da cara dela. Sieta me ligou para limpar toda a merda, literalmente,
achando que tinha machucado a menina. A garota só tinha passado mal por
conta de algo que tinha comido, não por conta da vela. Mas o caso foi que
semanas depois, quando Sieta terminou o namoro, sua parceira não aceitou
bem e inventou um falso testemunho contra minha prima, o que deu muita
dor de cabeça para mim e Sieta, já que fui eu que autorizei ela a entrar em
Sodoma. Tive que vasculhar o passado bosta de Esla, para conseguir
comprovar que as alegações dela eram falsas. Esla tinha participado de uns
filminhos pornográficos hardcore[46] na Polônia, que mostravam nitidamente
que vela no cu dela era a menor coisa que já tinha entrado lá.
— O que foi que eu fiz? — pergunto para ela e dou leves tapinhas em
seu ombro.
— Você cuidou da gente — ela me responde e deixa seu olhar mais
brando.
— Isso, e é o que eu vou continuar fazendo. — Balanço minha cabeça
em positivo e solto seus ombros, bagunçando seus cabelos lambidos.
— Pare! — Ela ri e dá um passo para trás. — Estou tentando falar
sério com você, Greg. Estou muito preocupada com a sua situação. Morgana
já tem as testemunhas dela, e a gente não tem nada. O tempo não está a nosso
favor, ainda mais agora, que a menina não voltou atrás de você.
Dou um passo para trás e desvio meus olhos de Sieta quando ela se
refere à Mabel.
— Vamos. — Aponto para o corredor, para que ela continue a andar.
— Tinha esperança de que ela retornasse e você mudasse de ideia
sobre jogar com ela. — Ela vira e anda na minha frente, balançando a cabeça
para os lados.
— Iremos encontrar outros meios de lidar com Morgana e essa
acusação falsa, sem envolver a garota — falo em tom sério, não deixando
brecha para Sieta insistir nesse assunto.
— Uma saída que poderíamos ter, é pedir apoio a algumas casas que
são leais aos Gregovivk. Tem pessoas que podem ir diante do conselho e
afirmar seu caráter, já que não temos a menina. — Sieta para de andar e vira
para mim, me olhando com animação.
— Prossiga. — Sorrio para ela, observando a pequena criatura
maquiavélica, em quem eu confiaria minha vida.
— Morgana tem quatro testemunhas que irá levar diante do conselho,
para afirmar a mentira que ela quer vender para eles. Mas se quatro casas
forem contra ela e reforçarem sua idoneidade, de que nunca forçou mulher
alguma, Morgana terá que se calar — Sieta fala apressada, gesticulando com
seus dedos no ar. — Baby é nossa amiga de anos, assim como Jonathan Roy
sempre foi leal aos Gregovivk. Tio Huslan foi o maior apoiador de Roy
quando ele ascendeu no conselho de Sodoma, isso sem falar que ele cuidou
deles até Roy ter idade de assumir suas obrigações. Baby jamais se negaria a
nos ajudar.
Fico em silêncio ao ouvir as palavras de Sieta. Talvez pudesse ter uma
chance se conseguíssemos ter aliados nesse golpe de merda que Morgana está
querendo me dar.
— Hu Li ficaria do meu lado — digo, pensativo. O chinês jamais me
negaria um favor.
— Sim! — ela afirma e balança a cabeça. — Se a Tríade de Lótus
ficar ao seu lado, terá um peso enorme, porque depois de Moscou, a maior
casa de Sodoma é a de Hong Kong. Também temos Santana, sabe que aquele
espanhol jamais me negaria um pedido.
— Ainda anda se envolvendo com seu antigo mestre? — Rio, a
provocando, me recordando do espanhol carente que até hoje come um
caminhão de merda por Sieta.
— Às vezes, quando passo por Madri, acabo relembrando os velhos
tempos. — Ela desvia seus olhos dos meus e dá um sorriso sacana. — Ele
sabe quais são meus pontos fracos. Mas ainda precisamos de mais uma casa.
— Sim, ainda precisamos de mais uma. — Tento pensar nas outras
casas, para descobrir quais delas seriam leais aos Gregovivk.
Morgana é ardilosa, mantém os hábitos antigos de ficar bajulando os
velhos decrépitos das outras casas, o que garante a ela uma boa frente diante
dos outros conselheiros, os tendo como aliados.
— Irei sondar quem poderá ser a quarta casa, não confio em muitos
deles. Teremos que escolher com calma nossa quarta testemunha.
— A garota — Sieta fala, apressada, e me dá um olhar ansioso. — Me
dê permissão para ir atrás dela, eu posso conversar com ela... — Nego com a
cabeça e passo por ela, sem dar brecha para sua teimosia. — Fazer ela aceitar
jogar com você...
— Sabe melhor do que ninguém que odeio ser repetitivo. Não vou
levar Mabel diante do conselho, não me obrigue a ter que ser mais claro em
relação à minha decisão. — Paro de andar ao notar que ela não me seguiu. —
Sieta, venha!
— Que perfume é esse?
Me viro, vendo-a parada no mesmo lugar, com seu nariz alargando,
enquanto inala o ar com força. Sua cabeça gira para mim na mesma hora e me
olha com espanto.
— Esse odor vindo de você é de ameixa com morango? — Ela dá um
passo à frente e retorna a farejar o ar, me olhando com mais atenção. —
Agora que notei que está com um cheiro diferente...
— Não sinto cheiro nenhum. — Dou de ombros e mantenho minha
face séria, mesmo mentindo para ela.
O cheiro de Mabel ainda está em mim. O suor da pele negra dela, o
odor doce e cítrico do xampu dos seus cabelos gravados em minha roupa
depois que a soltei das amarras que fiz em seu corpo e a peguei em meu colo.
Se cheirar meus dedos agora, garanto que eles ainda têm cheiro da boceta de
Mabel.
— O que mais tem aqui são odores, deve estar vindo do salão. — Me
viro e a largo para trás. — Ou quem sabe Acvo trocou o perfume, passei por
ele quando entrei. — Rio, sacaneando Sieta, não lhe deixando ver meu
sorriso cínico.
— Seu mentiroso, esse cheiro de perfume de mulher está vindo de
você! — Sieta fala, brava, e corre atrás de mim. — Estou quase tendo uma
síncope tentando achar uma forma de livrar nossos pescoços e você me
largou aqui porque estava trepando...
— Sieta, pare! — Me viro e lhe dou uma advertência, para não levar a
conversa para essa direção.
Ela pisca repetidas vezes, olha para o chão e despois para trás, por
onde passamos, batendo seu pé no chão. E quando sua face se volta para
mim, vejo seus grandes olhos ficando maiores ainda.
— É o cheiro da senhorita Shot! — Sua boca pintada com batom
vermelho se espreme, com ela balançando sua cabeça em positivo. — Esse
perfume doce de ameixa com morango ficou dentro da sua saleta no dia que
ela foi até lá. E agora o mesmo odor está praticamente transbordando dos
seus poros. — Ela esmaga sua boca com mais força. — Ohhh, seu cretino,
você estava com ela até agora, por isso chegou tarde!
Continuo a andar, sem lhe responder, e abro a porta no fim do
corredor, que me leva para meu escritório.
— Cristo, temos uma chance! — Sieta ri, tagarelando sem parar. —
Me diz que vocês dois treparam... — Retiro minha jaqueta e a jogo no sofá,
sem olhar para Sieta, caminhando para minha mesa. — Oh, porra, é claro que
sim, olha esse arranhão na sua nuca!
Solto o peso do meu corpo na cadeira quando me sento, ignorando
Sieta e abrindo meu notebook.
— Vai levar ela, não é?! Por isso não está nervoso... — Sieta não
percebe que meu humor está acabando rapidamente, a cada segundo que ela
continua a falar. Ela puxa a cadeira do outro lado da mesa e se senta, me
olhando animada. — Já estão jogando ou ainda vai com calma? Isso não
importa agora, só precisamos deixá-la preparada para o conselho, eles vão ser
cruéis, vão destripá-la, a fazendo contar cada segundo com ricos detalhes...
— Está fora de cogitação!
— Como assim? Nós falamos sobre isso... — Ela espalma suas mãos
na mesa e me olha sorrindo. — Greg, se ela falar, você está salvo...
— Está fora de cogitação. — Minha voz soa mais alta, a calando, e
solto um soco de ira na mesa ao repetir as palavras. — Irei lidar com
Morgana e vou fazer aquela cadela me pagar por tentar me sacanear, mas isso
será feito sem levar Mabel diante do conselho, para que ela seja humilhada
diante daqueles porcos, tendo que contar em detalhes sórdidos tudo que
aconteceu nas regalias profanas.
Quando termino de falar, meu peito está estufado para frente, com
minha respiração alterada. Vejo os olhos de Sieta arregalados, com ela
imóvel na cadeira.
— Está dizendo que vai poupar a menina e deixar a corda no seu
pescoço para não a humilhar...
— Sim, Sieta, é isso que estou dizendo! — Relaxo minhas costas na
cadeira e bato minha mão lentamente na mesa. — Esqueça a senhorita Shot,
vamos procurar pela quarta casa que possa ser leal aos Gregovivk.
Minha prima se levanta, olhando confusa para o escritório.
Acompanho seus passos. Ela anda lentamente até a direção do bar e se serve
de uma dose de vodca, a tomando em um gole só. Ela inala fundo e bate o
copo na mesinha, o enchendo novamente. Puxa outro copo vazio e vira o
líquido da garrafa dentro dele. Seus ombros se agitam, com ela os alongando,
se virando pouco a pouco, olhando séria para mim. Os passos calmos dela
retornam para a mesa do escritório e se senta na cadeira. Meus olhos ficam
presos no copo que ela solta na madeira, usando a ponta do indicador e o
empurrando lentamente para mim.
Ela bebe lentamente sua bebida e encosta na cadeira, cruzando suas
pernas. O copo abaixa dos seus lábios e a ponta do seu dedo o contorna
lentamente.
— E mesmo sem usá-la para te salvar, vai continuar jogando... —
Sieta ergue os olhos para mim, ficando séria e me olhando. — Por quê?
Bebo minha bebida em silêncio e fico calado, observando o notebook.
— Mabel é um perigo para ela mesma. — Olho para Sieta. — Ela não
tem controle sobre até onde seu corpo suporta tanto dor como prazer, teve
uma experiência um tanto conturbada do que seja uma relação
sadomasoquista alguns anos atrás.
— Outro mestre?
— Não! — Esmago minha boca com raiva, sabendo que o porco que
tocou nela era tudo, menos um mestre. — Um verme que não tinha noção do
que poderia desencadear em Mabel, ao fazê-la suportar tanta dor.
— Como assim? — Sieta abaixa o copo e o deposita na mesa. — O
que não está me contando, Greg?
— Há algo diferente nela, eu não sei, talvez seja coisa na minha
cabeça... — Fecho meus olhos e recordo da forma como se sentou no chão,
entre minhas pernas. — Se lembra de quando o velho contava as histórias
sobre submissas perfeitas... Ele as batizou como submissas alfas.
— Isso são fábulas de ninar da velha guarda. — Ela nega com a
cabeça, ficando receosa. — Seu pai contava aquilo apenas para explicar o que
levava um mestre a ficar leal a uma única submissa. Ninguém nunca
confirmou a existência de mulheres assim, na teoria, em Sodoma.
— Mas e se aquelas histórias fossem verdade? — A olho com mais
atenção. — Minha mãe era uma, meu pai sempre afirmava isso.
— Oh, mais isso se devia à educação que nossos avós deram a ela!
Minha mãe sempre contou como a vovó as ensinavam a serem quietas e
obedientes, era outro pensamento, outras ideias... — Sieta fala, pensativa, e
balança sua mão no ar. — Tia Melissa foi a que mais sofreu na mão da vovó,
apanhava feito uma condenada todos os dias, sempre quietinha, até ser tão
submissa que acabou chamando atenção de Huslan e conseguindo se livrar
daquele casamento de bosta arranjado. Mamãe mesmo fala que se tio Huslan
não tivesse aparecido na vida da tia Melissa, ela provavelmente teria morrido,
de tanto que apanhava na mão dos nossos avós ou na mão do marido que eles
tinham arranjado para ela. Minha mãe só não ficou igual tia Melissa porque
fugiu de casa, para não se casar com o marido que foi escolhido para ela.
— Exatamente, isso que estou pensando... Submissas assim tinham
que ser educadas, criadas para essa vida. — Lembro das palavras de Mabel
contando sobre sua educação restrita dentro da sua casa. — Mabel estava
sendo doutrinada, apenas não tinha a noção de qual seria o seu fim. A
senhorita Shot tem um espírito forte, me aguça com sua teimosia... Mas
quando ela é dominada, ela mostra sua verdadeira essência, o que realmente
foi ensinada a ser.
— Está me dizendo que tem alguém por aí educando mulheres para
serem submissas alfas?
— Estou dizendo que Mabel tem a natureza dela assim mesmo. O fato
de ter sido abandonada em um orfanato, sem laços maternos ou paternos,
pode ter contribuído para o espírito dela ser submisso, carente de atenção —
afirmo minhas palavras por ter visto com meus próprios olhos como ela se
entrega. — Convenhamos, Sieta, uma pessoa assim, como a senhorita Shot,
poderia ter chamado a atenção de alguém adepto de dominação. Se fosse bem
treinada e moldada na submissão, se tornaria a submissa perfeita para um
mestre...
— Oh, meu Deus, essas suposições estão ficando mais sérias! — Sieta
se arruma na cadeira e olha perdida para mim. — Mas se fosse isso, ela não
teria fugido de você nas regalias. Uma alma submissa reconhece uma
dominante, é praticamente um ímã para elas...
— Mas uma submissa que ainda não compreende para qual fim ela foi
educada, se assustaria — digo, pensativo, me recordando dela dentro da
saleta quando veio atrás de mim. — Pensaria que são apenas...
Me calo ao lembrar de Mabel, de seu estado abalado quando me
procurou.
— Eu não consigo controlar algumas coisas que sinto, alguns desejos
perturbadores... — Ela abaixa sua cabeça e esfrega seus dedos mais forte em
suas pernas.
— Ela poderia muito bem confundir o que o corpo dela foi ensinado a
ser desde pequena, com desejos estranhos na fase adulta. — Mantenho a
linha de raciocínio, tentando compreender o que Mabel realmente é. — Isso a
deixaria suscetível a ser maleável na mão de qualquer um que quisesse lhe
transformar em...
— Uma submissa alfa perfeita — Sieta termina a frase por mim e se
levanta da cadeira. — Merda, isso que está falando é algo grave, além de ser
criminoso! Para conseguir ter esse tipo de submissão, precisa educar elas
desde jovens, como se fossem filhotinhos de cachorros que precisam ser
disciplinados...
— Ela é — digo, baixo, para Sieta, enquanto me recordo da primeira
vez que toquei em Mabel. — Nas regalias, eu dei uma ordem a ela, mandei
ela ficar em silêncio, apenas queria brincar com ela, saber até onde ela podia
ser levada a instigar sua curiosidade, mas Mabel...
— Ela obedeceu?
— Sim. — Confirmo com um balançar de cabeça. — Ela me
obedeceu, e isso me confundiu, era como se eu estivesse com uma submissa
de verdade, e não com uma visitante curiosa. E depois, quando ela retornou
para Sodoma, pensei que tinha voltado por curiosidade, como a maioria dos
convidados retornam, mas ela veio para me pedir ajuda. Fiquei surpreso em
um primeiro momento, mas então eu vi, vi a alma submissa dela gritando
para ser libertada... Mabel não entendia o que estava acontecendo com ela e
eu ainda não tinha certeza sobre o que ela era, mas hoje, quando ela se
ajoelhou diante de mim, tudo ficou claro...
— Como assim se ajoelhou, você a ordenou? — Sieta fica mais
agitada e me olha receosa.
— Não. — Minha mão se ergue, enquanto meus olhos ficam atentos
aos ferimentos da minha mão. Lembro-me de como eu me desestabilizei ao
tê-la se ajoelhando e se sentando à minha frente como uma dócil cachorrinha
obediente em sentinela, apenas aguardando um comando do seu dono. — Eu
vi apenas uma única vez uma submissa se sentar daquela forma, como Mabel
fez hoje, e isso foi há muitos anos, quando sugeriram treinar garotas para
serem submissas alfas dos conselheiros.
— É proibido, foi uma ideia completamente repugnada pelo conselho.
Recordo do falatório que deu quando foi sugerido educar crianças a se
prepararem para serem submissas domesticadas, como cadelinhas de
estimação.
— A única coisa que foi abafado, foi de quem saiu essa ideia — falo,
sério, e nego com a cabeça, sorrindo com amargura. — Você imagina quem
foi?
— Freire! — Sieta solta o nome com nojo e arregala seus olhos. —
Aquela cadela fria e sádica seria a única a ter uma ideia nojenta como essa.
Ela sentia prazer em humilhar seus submissos, como se eles fossem animais...
— Touché[47]! — Me levanto da cadeira e ando para perto da janela,
observando o salão abaixo, repleto de convidados. — Freire levou uma garota
de vinte anos para a reunião do conselho aquele dia, para demonstrar sua
ideia na prática, mas ela afirmava que quanto mais novas começassem a ser
treinadas, mais obedientes elas se tornariam.
— Mas isso não faria sentido com a senhorita Shot, porque Freire deu
essa ideia há...
— Treze anos atrás — respondo sem me virar. — Sei disso porque foi
a minha primeira reunião participando como conselheiro, e eu votei contra a
ideia de Freire. — Lembro de como senti asco e nojo ao ouvir aquela cadela
falando que meninas jovens poderiam ser treinadas a suportar tudo que seus
mestres desejassem. — E sabe o que mais aconteceu treze anos atrás, Sieta,
quando Freire no mesmo ano deu essa ideia? Mabel estava sendo adotada por
Alekessandra Shot, para ser educada dentro de casa.
Quanto mais penso sobre isso, mais fatos vão os deixando próximos,
fios soltos que vão se ligando lentamente, cruzando as histórias.
— Oh, merda! Se essas duas histórias tiverem ligação e essa garota
for algum tipo de cobaia de Freire...
— Sodoma não vai perdoar. — Me viro e encaro Sieta. — Não iriam
correr o risco de ter uma prova viva do que Freire fez. E você sabe muito bem
como Sodoma reage a qualquer coisa que possa ser sinal de perigo para o
anonimato dos seus integrantes.
— Vão limpar a sujeira, o mal será cortado pela raiz. — Ela ergue sua
cabeça para mim e esfrega seu rosto. — Oh, porra! Com tanto lugar para essa
garota ter que aparecer, tinha que ser justamente na nossa casa?! Por que ela
tinha que vir para Sodoma de Moscou...
— É isso que quero que você dê um jeito de descobrir, o que
realmente trouxe Mabel para Moscou. — Ando para minha mesa e sento na
cadeira. — E o resto deixa comigo. Vou descobrir por onde anda nossa velha
amiga Freire e qual a ligação dela com Alekessandra Shot. Se eu estiver certo
em relação a isso, os outros conselheiros nunca poderão pôr os olhos em
Mabel.
— Droga, droga! — Sieta fecha os punhos ao lado do corpo e respira
fundo, ficando pensativa. — Certo, vou cuidar disso.
— Ótimo. — Retorno meus olhos para o computador.
— Precisa de mais alguma coisa que eu possa fazer? — Desvio meus
olhos da tela para Sieta e me encosto no couro da cadeira.
— Na verdade, tem sim. — Tamborilo meus dedos na mesa e solto
um baixo assobio, já sabendo que minha prima irá me sacanear.
— O quê? Só falar. Quer que eu mesma vá procurar a cadela da
Freire?
— Não, quero um ginecologista de confiança. — Respiro fundo,
falando sério. — E tem que ser uma mulher, não quero um homem tocando
nela.
— Tá de brincadeira comigo? — Sieta arregala seus olhos e me olha
confusa, e logo abre um sorriso debochado, segurando a risada. — Está
realmente falando sério?
— Parece que estou rindo?! — retruco, a olhando com deboche. —
Marque para ela amanhã uma ginecologista, vou estar ocupado caçando
alguns ratos. Preciso que faça isso por mim, Mabel precisa de remédios para
o controle de natalidade.
— Isso nunca fez diferença para você. — Ela morde sua boca e
balança a cabeça para os lados. — Temos bastante intimidade para eu saber
que você nunca tocou em nenhuma mulher sem ter seu pau encapado. Espera,
eu estou entendendo errado ou você está querendo transar com ela sem
camisinha? — Sieta solta um tapa na mesa, enquanto fala de forma animada.
— Está interessado nela! Greg, seu trapaceiro, ardiloso, agora que eu entendi
tudo! Não é apenas medo que o conselho a encontre, quer guardar seu
potinho de ouro só para você.
— Saia da minha sala antes que eu chute seu rabo para fora — digo,
zangado, sem olhar para ela.
Sieta ri de forma descarada e se afasta sem pressa, me provocando
com os assobios que solta lentamente.
— Quem diria que eu iria ver esse dia chegar, o temido Czar
Gregovivk finalmente rendido por uma boceta...
— Sai da porra da sala, SIETA! — falo alto, a fazendo recuar e andar
apressada para a porta. — E não ouse abrir sua boca, falando nada que não
deva para ela.
— Até parece que não me conhece. — Ela ri para mim e me dá uma
piscada. — Vou cuidar direitinho do seu novo brinquedinho. — Sieta para no
batente da porta e me olha, sorrindo.
Fico sério e a fulmino com meus olhos, a um passo de me levantar e
cumprir minha ameaça, a chutando para fora dessa sala.
— Não me desobedeça, Sieta, quero Mabel longe do conselho!
Quanto menos ela souber, melhor será para ela. — Ergo meus dedos e a
dispenso, ficando sério, olhando a tela do notebook e abrindo os arquivos dos
Shot, os quais eu tinha pesquisado.
— Yelena vai ter um infarte quando vê-la! — Sieta gargalha e sai da
sala, fechando a porta da sala.
— Tinha dezesseis — ela fala, tímida, deixando seus olhos ficarem
perdidos ao olhar para suas mãos. — Eu não saia muito de casa, não tinha
amigas, mas então, um dia, tudo mudou, quando fomos apresentados no
clube de golfe que meus pais iam. Às vezes, penso que aquele encontro já
estava marcado para acontecer.
— Já estava marcado para acontecer! — repito as palavras de Mabel,
que ela tinha me dito na minha casa, dentro da biblioteca.
Eu estava tão surpreso e com ódio da forma quebrada que ela foi
transformada, que suas palavras passaram batidas. Releio as informações dos
Shot, sabendo exatamente por onde devo começar: o clube de golfe. Se eu
tiver sorte quando invadir o sistema deles, posso encontrar informações desse
tal de Nate, algum registro dele no clube.
— Ele já estava lá, esperando por ela — murmuro com amargura,
conseguindo localizar o sistema deles. — Foi para conhecer ela, seu filho da
puta, e gostou do que viu, tanto que aguardou até ela ser maior de idade para
tocar em seu corpo. Desgraçado!
Eu vou caçar Freire e esse puto até os confins do inferno, e juro por
Deus que se tiver certo em minhas suspeitas e Mabel foi usada em um
esquema de criação de submissas alfas, meu último ato antes de ser desligado
de Sodoma, será acabar de vez com aquela vadia da Freire, como Jonathan
deveria ter feito há cinco anos.
CAPÍTULO 19
FIOS SOLTOS
Czar Gregovivk

Todas as cadeiras estão viradas para o centro do círculo da sala, em


um hotel na Austrália, na ilha dos Roy. E cada conselheiro mantém seus
olhos presos na mulher calada, sentada ao chão, com as mãos sobre suas
coxas, olhando para o piso.
— Seria magnífico criarmos nossas próprias submissas, uma pequena
cota que seria destinada aos conselheiros. E tenho certeza que quanto mais
cedo começar o ensino, mais perfeitas elas serão. — Freire dá um passo
para trás e estica sua mão, alisando a cabeça da mulher ajoelhada ao
centro. — Podemos criar um status de poder, onde nosso pequeno presente
de ouro seriam elas: pequenas, silenciosas e dóceis... Um produto exclusivo
para cada conselheiro...
— Isto que está sugerindo, quer que seja praticado em uma criança,
Freire? — Jonathan Roy, o jovem taciturno de cabelos negros com olhos
azuis, encara Freire com zanga. — Está rotulando uma criança como um
produto de luxo?
— Bom, não crianças... — ela fala e dá um sorriso amargo, se
afastando da submissa. — Mas sim no começo da sua transição, a melhor
fase seria a do descobrimento da sexualidade delas...
— Adolescentes? — Hu Li é quem a interroga agora, se levantando e
andando em direção ao círculo, olhando para a menina ajoelhada, seminua.
— Posso estar muito enganado, mas acho que se enquadra em pedofilia. Está
sugerindo que os conselheiros cometam um crime?
— Na verdade, meu caro amigo... — Ramsés, o egípcio de humor
ácido, que sempre tem um olhar curioso, fala, batendo a ponta do seu dedo
em seu queixo. — Penso que seria um pouco mais além de um crime, já que
claramente entraria em tráfico de mulher, cárcere privado, alienação e
sequestro de menor, sem falar de estupro.
— Não deturpe minhas palavras, Ramsés. Nunca disse que seriam
sequestradas, e nem cometeríamos nada hediondo... — Freire fala, alterada,
andando para perto dos conselheiros.
— Explique para nós como não seria um ato hediondo criar uma
jovem para ser una[48] puta submissa? — Santana ri e olha para ela,
negando com a cabeça. — Me diga. Iria pedir de forma educada para ela
abrir as pernas, para ser fodida ainda muchacha[49]?
— Não foi isso que sugeri, Santana. — Freire desvia seus olhos dele e
busca auxílio em Morgana, que se mantém calada, observando a mulher
ajoelhada. — Estou dizendo que se elas aprenderem a serem dominadas
desde novas, na fase adulta estarão prontas para serem entregues aos seus
mestres, e somente quando forem maiores de idade iriam se deitar com eles...
— Está sugerindo algo abominável, Freire! Não somos bichos-papões
que saem à caça de crianças — falo com ódio. — Já pensou o que vai
acontecer se uma delas for descoberta? O banquete que seria uma história
dessas para os jornais? Jovens sumindo para se tornarem submissas alfas...
— Toda Sodoma estaria em perigo — Jonathan é quem finaliza
minhas palavras, a olhando com desprezo. — Ficaríamos vulneráveis e uma
caça às bruxas começaria!
— Não, não estaríamos... — Ela se vira e aponta para a moça ao
centro. — Mina nunca se deitou com um homem, nem com uma mulher, mas
o corpo dela saberá que deve obediência para o primeiro homem que lhe
tocar, que despertar sua alma submissa. Uma submissa alfa é leal até a
morte ao seu mestre...
— Dios[50], está falando de una mujer[51] ou una cadela?! — Santana
rosna e nega com a cabeça. — Devia ter vergonha em propor isso!
— Olhe bem para mim, Freire, acha que sou o tipo de homem que
tocaria em uma criança?! — Ramsés fala, amargo.
— Não vou perder meu tempo dizendo o tipo de homem que penso
que você é, Ramsés! — Freire esmaga sua boca e o fuzila com o olhar.
— Basta! — A voz potente de Oliver sai alta, silenciando-a.
O monarca, que está chegando na casa dos sessenta anos, o mais
antigo entre todos os conselheiros, se levanta, dando um ponto final na
loucura de Freire. Meu pai sempre dizia que de todos, Oliver era o mais
perigoso, seu silêncio era tão traiçoeiro quanto ele.
— Não preciso ouvir mais nada. Meu voto é não. — Ele a encara e dá
sua decisão.
— Não! — Jonathan levanta, olhando para Freire.
— No![52] — Santana é o terceiro.
— Não! — A palavra sai firme da minha boca, enquanto olho a
cadela asquerosa ficando zangada.
Um por um, todos os outros conselheiros se levantam e dão seu voto,
e nenhum sim sai da boca deles, nem da de Morgana, quem Freire olha com
incredulidade.
— Como pode ver, o voto foi unânime, Freire — Oliver fala sério, a
olhando. — Esqueça essa ideia, nunca mais converse sobre ela, e limpe sua
sujeira.
Freire abaixa sua cabeça e dá uma leve balançada em concordância,
retraindo seus lábios. Se vira e caminha na direção da garota. Já estou me
levantando, para me retirar, achando que acabou, quando a voz de Oliver se
faz alta novamente.
— Freire, não esqueça de limpar sua sujeira. — Ele dá um passo à
frente, mantendo seus olhos nela.
— Mas... — Freire para de andar e olha assustada para ele.
— Limpe ainda hoje sua sujeira. — Oliver não demonstra
complacência, e muito menos intenção de tirar a ordem. — Ou eu serei
obrigado a limpar toda a bagunça.
— Sim, senhor — ela responde à ordem e sai da sala com a garota.
A última vez que ouvi sobre essa história de criação de submissas
alfas foi há treze anos, dos devaneios doidos de Freire. E a primeira vez que
ouvi o termo submissa alfa, foi dos lábios do meu pai. Era assim que ele se
referia à submissa mais forte dentro do quarto, à mais disciplinada, que se
entrega por completo para seu dominador. Sua primeira esposa, a mãe de
Kaiser, meu meio-irmão, era quem fazia esse papel, dividindo a atenção do
meu pai com outras mulheres dentro do quarto. Isso durou por três anos, até
ele conhecer a jovem Melissa, que o ganhou com seus encantos dóceis.
Minha mãe foi sua segunda mulher, não só dentro do quarto, mas fora dele
também.
Lembro do velho contar que foi amor à primeira vista. Quando ele a
viu trabalhando de garçonete em um bar, me disse que minha mãe emanava
submissão apenas com um simples olhar tímido. Ninguém se importou
quando Huslan Gregovivk a levou para a casa dele, afinal, quem teria
coragem de dizer algo para ele, um dos primeiros conselheiros da velha
guarda de Sodoma, que possuía uma grande influência na política russa?!
Minha mãe não era tratada como amante, ele a queria de igual para igual,
como sua primeira esposa, mas dentro do quarto as duas tinham distinções
diferentes, sendo Valéria a submissa alfa, e minha mãe a beta, isso até minha
mãe se ajoelhar diante dele, de uma forma que desencadeou a verdadeira
essência de um dominador dentro dele. O velho disse que foi a primeira vez
que uma mulher o fez perder o controle dos seus impulsos.
Ele sempre dizia que não era o dominador que controlava a submissa,
mas sim ela que o tinha nas palmas das suas mãos, e quando o espírito de
dominador encontrava seu par, era para sempre. E foi minha mãe que ocupou
o lugar de submissa alfa na relação poliamor dos três. Nessa época, meu
estimado meio-irmão já estava com um ano e meio, e não demorou muito
para minha mãe descobrir que estava grávida também. Meu pai tentava ser
igual para as duas mulheres, dando tudo para ambas, ninguém tinha menos
que ninguém, cada uma tinha sua própria casa e dinheiro, mas minha tia, irmã
da minha mãe, contava que meu pai não conseguiu esconder o orgulho que
sentiu ao saber que Melissa tinha engravidado dele.
E foi por não conseguir esconder, que a menina dos seus olhos era a
meiga garçonete de família humilde, que Valéria, a sua primeira esposa, com
a qual era casado de papel passado, o mandou dar um fim na gestação do
filho bastardo e terminar com a minha mãe. Como pode ver, meu pai não se
livrou de mim, e muito menos abandonou minha mãe, ele fez o oposto que
Valéria queria. Ressentida e com a mágoa instalada dentro do seu coração,
Valéria abandonou meu pai, mas nunca deu o prazer a ele de assinar o
divórcio, o deixando impossibilitado de se unir com minha mãe legalmente.
Mas o velho pouco se fodeu para isso, ele tratava minha mãe como sua rainha
soberana, dando a ela tudo que o seu dinheiro poderia comprar. Muito
dinheiro, que vinha do império dos Gregovivk, construído de trabalhos
inescrupulosos, que foram feitos na máfia, tráfico de arma, drogas,
contrabando de joias e qualquer outra porra que nos desse lucro.
Meu velho, sempre ambicioso, em sua juventude sabia que não queria
se manter envolvido na lama para sempre, e pouco a pouco foi transformando
seu destino, cavando na sujeira entre os porcos, até adentrar na oligarquia da
Rússia. Mas como ele mesmo dizia: você sai dessa vida de merda, mas não
tira o sadismo do sangue dos Gregovivk. Meu pai nos educava para seguir
seu caminho, desejando que seguíssemos seus passos. Aos dezesseis anos, o
sistema de segurança digital era um passatempo para mim, como um simples
jogo de sete erros. Eu podia quebrar código bancário, fazendo transferências
de milhões em cinco minutos, sem deixar rastro algum. Dados pessoais,
nomes apagados, fichas novas sendo feitas na Polícia Federal, qualquer coisa
que tivesse dentro do sistema, eu alcançava. E isso chamou a atenção de
amigos antigos do meu pai, que me contrataram para rastrear pessoas, apagar
nomes do sistema, invadir empresas concorrentes.
Eu pouco me fodia para qual fim eles utilizariam o que eu entregava
para eles, apenas gostava de testar minha capacidade até o limite. E foi nesse
desejo deturpado de testar tudo que me fascinava, que minha primeira
perversão despertou dentro de mim. Afinal, ser um Gregovivk sem nenhum
abalo mental não era digno de carregar esse sobrenome. Meu irmão tinha
uma grave deficiência de controlar sua raiva, conseguia fazer estragos
imensos quando algo o incomodava, tinha um ego emocionado e maior que
seu pau minúsculo. Tanto que se ressente até hoje por minha mãe ter tomado
o lugar da mãe dele ao lado do meu pai, mas eu não me importava, nunca me
importei com a porra do sobrenome ou poder da família.
A única coisa que conseguia prender minha atenção mais do que
códigos e programas era a beleza do fogo, eu era apaixonado por ele. Minha
mãe dizia que eu sempre gostei disso, desde menino. Riscava o fósforo,
ateava fogo em folhas secas, apenas para conseguir o ver crescendo forte e
indomável. Só que com os anos passando, não foram apenas fósforos riscados
e folhas queimadas que me fascinavam. Quando tinha dezessete anos, perdi o
controle da minha paixão pelo fogo e desejei vê-lo se alastrando na casa de
barco abandonada, que ficava no fim da nossa propriedade. Queria ouvir os
estalos da madeira queimando, o calor infernal que suas chamas causavam.
Estava tão eufórico assistindo àquilo, que não notei a maior desgraça que
estava prestes a acontecer. Cheguei perto demais, me desliguei por completo,
aprisionado no prazer que era ver as chamas. Uma madeira se desprendeu do
teto e acertou minha cabeça.
Acordei três semanas depois no hospital, com 40% das minhas costas
queimadas e a notícia de que minha mãe tinha morrido tentando me salvar,
me tirando do incêndio. Ela inalou tanta fumaça, que os pulmões dela não
aguentaram. Ela morreu na ambulância, a caminho do hospital. Meu velho
ficou arrasado, como se tivesse perdido a razão da vida dele. Seu espírito,
como ele a chamava, e por mais que eu soubesse que fui o culpado da morte
dela, ele nunca me culpou, nunca me disse nada para fazer minha alma se
sentir mais desgraçada do que já estava.
Passei um ano inteiro lidando com a dor, não só a do corpo, mas com
a da minha alma fodida, que tinha matado minha própria mãe. Me recusava a
sair do palacete dos Gregovivk, que meu pai tinha dado para ela morar no dia
que ela contou que estava grávida. Odiava a mim, odiava o mundo, desejava
ter morrido junto com ela. Gritava entre a dor da pele queimada, tentando se
cauterizar, e os meus demônios, que me comiam vivos, perturbando minha
mente.
Então veio Sodoma, de forma ardilosa e traiçoeira, usando minha dor
para me fazer ficar de pé, e o que Sodoma não consegue, ela conquista. Aos
vinte anos, trancafiado dentro do palacete, tendo apenas meu cérebro e a
tecnologia para me tirar da culpa, eu já tinha construído meu próprio império,
criptografando sistemas de segurança para os participantes de Sodoma, tanto
na vida deles lá dentro, quanto fora. Bancários, juízes, exército, homens
poderosos que desejavam ter seus nomes e bens escondidos e seguros de
qualquer fiscalização, inimigos que precisavam ser silenciados, calar bocas
para sempre. Eu poderia causar um grande estrago sem nem sair do meu
quarto ou sujar minhas mãos de sangue.
Tudo é tecnológico: aviões, trens, semáforos, carros importados,
qualquer sistema eu invadia, não importava em qual lugar do mundo você
estava. Acidentes acontecem, um elevador que entra em pane, um celular que
explode, um carro que perde o controle do painel tecnológico. Sem rastro,
sem evidências. O que eles precisavam, lhes dava, por uma boa quantia
depositada na minha conta. Usava a empresa antiga do meu avô materno
como fachada. Quem iria pensar que o dono de um açougue era um vírus
assassino? Ninguém!
Eu não me via sentando em um plenário, não quando todos que
lambiam as bolas do meu pai me enxergavam apenas como um bastardo de
merda, e nem pretendia sobreviver às custas da grana do velho, então criei
meu próprio caminho. Kaiser foi quem se destacou na política, seguindo os
passos do papai, de quem ele tanto buscava aprovação. Eu optei por voltar
para as origens inescrupulosas da família, entregando o segredo de quem
você precisava saber pela quantia certa. O que para Sodoma foi algo valioso
demais para eles perderem. Meu pai se manteve no conselho, mesmo ele
nunca mais tendo outra submissa. Ele nunca mais quis tocar em outra mulher
depois da minha mãe. Ele falava que jamais encontraria outra como ela, pois
ela era única. Aos vinte e um anos, de tanto ele encher meu saco, fui
pessoalmente em Sodoma a primeira vez. Meu pai soube me conquistar no
segundo que me levou para lá, e fodidamente o velho tinha razão, ninguém
tira o sadismo do sangue de um Gregovivk, e o meu estava enraizado em
mim até o último fio de cabelo. A dor não era minha inimiga, mas sim a
única sensação que fazia minha mente silenciar.
Dominava meus demônios, os adestrando conforme aprendia com
meu pai a lidar com a perda. Kaiser já estava participando de Sodoma nessa
época também, ele tinha iniciado antes de mim. O velho Huslan queria me
deixar aos cuidados de Morgana, assim como meu meio-irmão, para aprender
a ser um dominador sádico, mas eu não precisava disso. Não quando foi a
própria dor do meu corpo que me educou, e conforme avançava, tendo
apenas os conselhos do meu pai, me negando a ser educado por aquela cadela
sanguinária, mais perfeccionista eu ficava, e aos vinte e três anos já dominava
completamente meu lado sádico. E foi nessa mesma época que Kaiser
vacilou. Ele tinha quase vinte e cinco anos e meu pai nos presenteou com
duas submissas, uma para cada, para poder cuidar. Mas o velho não tinha
feito aquilo apenas para saber se os filhos seriam como ele. Era um teste,
onde meu velho queria saber quem tinha aprendido a ter controle primeiro da
sua alma sádica. Kaiser deslocou o ombro da submissa dele gravemente, não
respeitando a palavra de segurança quando ela disse. E no outro dia, o velho
me nomeou como seu sucessor, depois que ele se fosse, para eu ficar com sua
cadeira.
Kaiser não estava pronto para ter uma submissa, e isso custou uma
grande vergonha para Morgana, já que era ela a educadora dele. E aos vinte e
quatro anos, depois da morte do meu pai, eu ascendi na cadeira diante do
conselho, sendo o novo conselheiro de Sodoma, o segundo mais jovem
depois de Jonathan Roy. Fodi inúmeras bocetas, eduquei submissas de
diversas etnias e idade, mas nunca me senti ligado a nenhuma delas.
Nenhuma vez que fosse elas despertaram meu espírito, como meu pai disse
que minha mãe fez com ele. Isso sempre foram boatos que corriam entre os
integrantes, até o dia que Freire apareceu, apresentando essa ideia, dizendo
que as submissas alfas poderiam ser criadas, moldadas exatamente como seus
mestres desejassem.
A ideia aguçou alguns, assustou outros, mas ao fim foi abominada por
todos, quando ela começou a contar como deveria ser feito. Meninas e
meninos instruídos desde novos para serem educados, disciplinados
duramente, moldando suas almas a serem obedientes e dóceis, acostumadas a
receber castigos. E quando estivessem adultos, seriam apegados aos seus
donos, seus senhores. Era doente, uma ideia aterrorizante, imaginar crianças
sendo educadas para se transformarem em animais domésticos. Mabel deve
ter sido a presa perfeita, sozinha, já desistindo de conseguir ter seu próprio
lar. Não existe tanta busca por adoção na faixa etária dela. Aceitaria qualquer
coisa, achando que seria o correto, já que fazia parte da nova família. A
criaram fechada dentro do ninho, sem influência das escolas, amigas da idade
dela, a preparando e a disciplinando até chegar o momento de apresentar o
futuro dela.
— O tiro saiu pela culatra. — Fico em silêncio, perdido em meus
pensamentos, tentando ligar os pontos. — O que saiu de errado em toda essa
história suja, passarinho...
Os olhos negros de Mabel brilham em minha mente, me fazendo vê-la
sentada naquele sofá em minha saleta.
— Isso varia do tipo de experiência que eles estão buscando, prazer
ou...
— Dor — Mabel fala, baixo, e estica finalmente sua mão, tocando a
escultura.
— Sim, também. — A cada segundo que a estudo, vendo-a perdida,
olhando para a submissa Messalina de porcelana, mais curioso me pego
sobre o estranho passarinho que repousou em minha casa. — Mas não se
trata só de dor, Mabel. Um bom mestre, para aplicar shibari, precisa ter em
mente que a primeira e mais preciosa regra, é que não se trata de subjugar a
sua submissa. Trata-se de um jogo em que a mulher é quem faz uma escolha.
Por mais que estejam atadas e contidas, a submissa tem poder de parar na
hora que quiser, tudo acaba quando se torna desconfortável para ela.
— E se ela não souber a hora de parar? — Sua voz está quebrada,
carregada de medo e melancolia, se igualando ao seu olhar aflito. — E se
ela não tiver controle sobre seus desejos, senhor?
O teimoso pássaro se libertou, a dor a fez despertar para o que o corpo
dela gostava, e isso a deixou confusa. Por isso a instabilidade aos prazeres,
houve efeito colateral ser educada diariamente para ser obediente. Mabel
podia ser uma submissa entregue como uma masoquista perfeita, e isso me
pegou de surpresa a cada gesto dela, como se a submissão dela tivesse
nascido dentro dela, doutrinada de uma forma que as outras não tinham, me
cegando no que estava à minha frente. Um dominador já nasce com essa
característica, é algo que faz parte da genética dele, você sabe que nasceu
para isso. Mas uma submissa não, elas precisam ser despertadas,
compreenderem como se convive com a entrega do seu controle, dando a
outra pessoa. Saber que permitir ser dominada não se trata de subjugar, mas
sim confiar, e raramente alguma delas já nascem assim. Seus espíritos são
submissos, e por isso elas conseguem ter seus dominadores na palma das
mãos dela... As submissas alfas, como meu pai as rotulava. Mas eu nunca
pensei que encontraria uma assim, não até Mabel entrar na minha casa aquela
noite, durante as regalias profanas, e depois no meu quarto de jogos, quando
ela respondeu à cada dor erótica que causei nela.
— Dor! — A palavra explode em minha cabeça, ao lembrar da nossa
conversa. — Porra, o desejo pela dor mudou o rumo!
Meus dedos vão em minha cabeça, enquanto os esfrego, ficando em
silêncio e tentando reunir em minha mente todas as informações que tinha
sobre Mabel e a família. Mabel aprendeu a apreciar a dor, mas não a ter
controle sobre os limites dela. Um dominador a teria ensinado.
E como água cristalina, tudo fica claro, ao me recordar da conversa
com Sebastian, o dominador do amigo de Mabel.
— Alekessandra! — O nome da mãe adotiva de Mabel sai com asco
pelos meus lábios. — Ela batia frequentemente em Mabel, o desgraçado do
Nate apenas libertou o que o pássaro já nutria dentro dele, quando a torturou
no fim de semana inteiro.
Mabel não foi iniciada por um mestre, mas sim por uma submissa.

— Você chegou a dormir? — A porta do escritório é aberta e Sieta


entra assobiando, trazendo um copo de café.
— Nate Alkaev conhece? — Ergo meu rosto e olho para Sieta.
— Isso é um sobrenome russo, mas não me recordo. Para ser franca,
não lembro de ninguém com o nome de Nate, e olha que eu sou bem
perfeccionista com isso, sempre memorizei os sobrenomes e nomes das
famílias influentes...
— É porque Nate Alkaev não existe. — Me levanto da cadeira e
estalo meus ombros, caminhando para ela e pegando o copo de café. — Não
existe nenhum Alkaev na Rússia há mais de trinta anos.
— E exatamente quem é essa pessoa que não existe? — Ela me olha
sem entender e fecha a porta atrás dela. — E como sabe disso?
— O homem para quem Mabel foi entregue aos dezesseis anos. —
Bebo meu café e sinto todas as informações, que me corroeram a madrugada
toda, fervendo em minha mente até o segundo do sol nascer. — Eu invadi o
sistema de registo histórico, essa família teve seu último descendente vivo há
trinta anos, depois o sobrenome se apagou.
— Cristo, é muita informação! Como assim o homem a quem Mabel
foi entregue? — Solto o copo de café na mesa e me viro para Sieta. — Você
não contou sobre isso.
— Alekessandra adotou Mabel para entregá-la a alguém quando
estivesse pronta. — Aponto meu dedo indicador para Sieta. — Aos dezesseis
anos, ela foi apresentada a ele. Mabel me relatou que apenas com dezoito
anos ele tocou nela, aos vinte ele perdeu a paciência, creio que seja isso.
Imagine, estava há cinco anos aguardando por finalmente poder tocar nela
para valer, então perdeu a calma. Ele a machucou, torturou, violentou Mabel,
fez tudo com ela que sempre desejou, em um único fim de semana. —
Esmago meus lábios com ódio, sentindo as palavras saindo da minha boca
como se fossem veneno. — Mas ele não contava com um fator dominante.
— Fator dominante...
— Mabel foi educada por uma submissa, não por um mestre ou uma
dominatrix, foi uma submissa que criou a senhorita Shot, por isso ela não
entendia o que estava acontecendo com ela, por isso ela não tem controle em
suportar dor. — Sento na beirada da mesa e cruzo meus braços. — Sebastian
me contou que em uma das suas conversas com Macro, o garoto lhe
confidenciou que Alekessandra batia constantemente em Mabel, e isso me
leva a crer que Alekessandra é uma submissa masoquista. Ela desencadeou o
mesmo apreço pela dor no pequeno pássaro.
— Freire era uma sádica filha da puta, talvez ela possa ter pedido para
uma das suas antigas submissas criar Mabel — Sieta fala seriamente, me
olhando, e balança a cabeça em positivo. — Esse Nate, você acha que
poderia ser algum participante de Sodoma, usando um nome falso? O que
mais descobriu sobre ele?
— Nada! — Respiro fundo e sinto ódio por isso. Passei a noite
invadindo cada sistema dos Estados Unidos e da Rússia, mas não encontrei
nenhum rastro desse filho da puta. — Não há nada dele, nenhuma foto... O
registro que consegui levantar no clube de golfe que os pais de Mabel iam era
falso. Assim que achei o sobrenome dele e pesquisei sobre eles aqui em
Moscou, percebi que não era legítimo, porque não existe nenhum integrante
da família Alkaev vivo.
— Mas ele deve estar aqui — Sieta fala apressadamente e me olha,
pensativa. — Mas isso é apenas uma hipótese, Greg. Até agora estamos
trabalhando em cima de suposições, certo? Tirando a falsa identidade desse
homem, não temos nada. Alekessandra poderia muito bem ser só uma mãe
louca para achar um bom partido para a filha adotiva, sabe que essas
socialites são assim.
— Alekessandra é uma submissa, eu apenas não consegui achar a
ligação dela com Sodoma ainda — falo rapidamente e nego com a cabeça. —
Ela nasceu em São Petersburgo, mas morou por quinze anos em Moscou, e
foi embora para Nova York. No mesmo mês que partiu, casou com o senhor
Shot, e três meses depois ela adotou Mabel. Tenho certeza que isso vai muito
além de suposições, Sieta.
Sieta anda em minha direção e aperta seus lábios, respirando fundo,
deixando o copo dela sobre minha mesa.
— Esse homem deve estar aqui em Moscou, então, certeza!
Acompanha comigo. Tem uma coisa nisso tudo que me deixou intrigada, algo
que você tem razão e que agora faz mais sentido ainda. Eu passei a noite toda
pensando sobre o que me disse ontem, sobre qual motivo trouxe a garota para
cá. Mabel mal terminou a faculdade e conseguiu que Rumeu se interessasse
por ela. — Vejo o pequeno corpo de Sieta andar de um lado ao outro na sala.
— Logo Rumeu, que sempre foi tão egocêntrico. — Ela para de andar e se
vira para mim. — A menos que ela tivesse sido muito bem indicada para ele,
Rumeu jamais daria chance para uma recém-universitária de outro país entrar
na sua galeria. Precisamos descobrir como Rumeu teve conhecimento de
Mabel, talvez isso nos leve até o tal Nate, se ele realmente estiver aqui.
— Nos primeiros relatórios dela, a vinda dela para cá foi com a ajuda
do amigo... — digo seriamente para ela, lembrando do levantamento que fiz
sobre o rapaz.
— Oh, fala sério! Não que esteja desmerecendo o garoto, mas a
menos que ele tenha pagado um bom boquete para Rumeu, o que eu duvide
que Sebastian tenha permitido, tenho quase certeza de que o garoto foi só
uma marionete...
— Uma marionete que ela confia — falo, pensativo, seguindo a linha
de pensamento de Sieta.
— Se ela é o que você acha que é, alguma cobaia dos experimentos da
Freire, tenho certeza de que Freire não deixaria de ficar com os olhos nela.
— Mabel seria valiosa demais para se perder... Praticamente estava
pronta.
— Sim, mas o verme patético para quem ela foi entregue, perdeu o
controle, e isso a assustou. — Sieta leva as mãos à cintura. — Ela recuou e se
fechou...
— Ficou confusa e assustada quando o corpo dela começou a pedir
mais do que foi ensinado a gostar.
— E então ela encontrou você. Se lembra do que o seu pai falava?
Uma alma submissa sempre reconhece uma dominante, e é verdade, tanto que
ela voltou para Sodoma atrás de você. — Sieta solta seus braços ao lado do
corpo e olha confusa para mim. — Precisamos descobrir quem realmente é
Alekessandra, se quisermos confirmar essa história sobre Mabel.
Desencosto da mesa e puxo a pasta de Alekessandra Shot, já sabendo
quem me dará as respostas que preciso.
— Espero que esteja indo para casa, para dormir...
— Irei depois — falo sem olhar para ela, desligando o notebook.
— Não vai atrás da garota com essa cara de lunático, não é?! — Sieta
indaga, nervosa, negando com a cabeça. — Eu já marquei uma hora para ela,
e acho bom não se aproximar de Mabel hoje.
— Cuide dela, eu vou atrás de Ramsés...
— O conselheiro doido! — Sieta repuxa o nariz e nega com a cabeça.
— Ramsés é a pessoa mais antissocial que eu conheço.
— Se tiver alguém em toda Sodoma que possa me dizer quem é essa
mulher e se ela já esteve algum dia em Sodoma, será Ramsés. — Caminho
para a porta e pego minha jaqueta no sofá. — Cuide dela.
— Não é como se você me dessa muita escolha — Sieta grita, atrás de
mim. — Boa sorte com a múmia egípcia!
CAPÍTULO 20
SUCO DE LUZ
Mabel Shot

Seus olhos não desviam dos meus, nem piscam nenhum segundo
sequer quando ele ergue meus pulsos amarrados, com minha calcinha para
cima. A toalha em sua mão passa por meus pulsos unidos, com sua outra
mão se espalmando em minha face e seu corpo se aproximando do meu.
Inclina sua cabeça lentamente para frente. Minha mente desliga e para de
funcionar assim que sua boca se cola à minha. É um beijo tentador, que
arranca gemidos e o meu fôlego, e meus seios eretos são esmagados por seu
peito. Czar separa sua boca da minha e vira meu corpo, colando seu peito
em minhas costas, deixando meu corpo preso entre ele e a janela. Viro meu
rosto, assustada, na mesma hora para ele, não achando que ele fala sério
quando me empurra para ela. E antes mesmo que eu possa falar alguma
coisa, sua boca já está sobre a minha, me beijando com devassidão, e eu nem
consigo pensar. Solto um gemido rouco, com meu corpo todo se tremendo
quando sua mão acaricia meu seio. Sinto seu pau raspar em meu rabo, o
cutucando com safadeza. Me sinto elétrica, com o sabor dos lábios dele me
levando a uma nova euforia. Seus dedos esmagam mais forte meus seios,
enquanto ele geme rouco entre nosso beijo, me fazendo ronronar manhosa a
cada raspada do seu pau em minha bunda, e a pressão dos seus lábios sobre
os meus.
— Gosto desse som, passarinho — Czar sussurra e afasta sua boca
da minha apenas um pouco, aquecendo minha pele com sua respiração
morna.
Sua mão esquerda desce por minha barriga e eu sinto minhas pernas
fraquejarem, quando tremem ao sentir sua língua deslizar pelo meu queixo e
me mordiscar. Fiquei tão perdida em suas carícias, que apenas notei que
meus braços estavam presos acima da minha cabeça, na barra da janela
aberta, quando quis tocar nele.
— Senhor, me tire da janela... Alguém... Oh, merda! — gemo, baixo, e
mordo minha boca, tendo os dedos dele brincando com os bicos duros do
meu seio.
— Você não vai poder cantar alto, passarinho — Czar sussurra em
meu ouvido e solta uma risada baixa.
— A minha vizinha do prédio da frente, ela pode ver...
— Então mais um bom motivo para ficar quietinha. — Ele ri e dá um
tapa em minha bunda.
— Senhor... — Fecho meus olhos e respiro, ofegante, tentando conter
os ruídos que saem da minha garganta.
Seu pau ereto desliza lento por minha bunda e me faz arfar o peito
para frente. A grande mão envolve meu pescoço com lentidão, fazendo meu
rosto virar novamente, para lhe dar acesso à minha boca, que ele beija com
brutalidade. Um beijo feroz e completamente diferente da preguiça que seus
dedos têm em deslizar por minha barriga, quase como se fosse uma tortura.
Gemo em sua boca e suspiro, agoniada, quando a ponta dos seus dedos toca
na frente da minha boceta, a sentindo úmida.
— A ideia de alguém nos ver te deixa excitada, bebê. — Ele solta meu
pescoço e me faz virar meu rosto para frente, olhando para a janela
escancarada. Sinto seu pau sendo empurrado entre as dobras da nádega,
enquanto ele o empurra lento para baixo e toca apenas a ponta da cabeça
rapidamente em minha boceta, antes de se afastar. — Sentir meu pau te
fodendo lento, para depois começar a foder rápido e duro, enquanto você
não pode soltar um barulhinho sequer, também me deixa excitado.
Czar afasta minhas pernas com seu joelho e deixa seu pau se esfregar
lentamente entre os lábios da minha boceta. Meu corpo treme, ficando frágil
e completamente à mercê dele quando sua mão sai da minha pélvis e segura
na lateral do meu quadril, o fazendo se empinar para trás. Meus olhos se
mantêm abertos, focados na janela do terceiro andar do outro prédio, onde a
luz do quarto está acesa, com a velha fofoqueira do outro prédio sentada em
sua cama, acariciando seu cachorro na cabeça, enquanto assiste TV,
completamente inerte. Se ela apenas virasse sua cabeça para a direita, me
veria do outro lado, amarrada diante da janela, completamente nua, com um
imenso homem atrás de mim. E a ideia de isso acontecer, dela olhar para
mim, faz minha boceta se inundar ainda mais com a possibilidade de ser
flagrada recebendo o pau de Czar dentro de mim, que se empurra
lentamente, sem pressa. Sinto meu corpo sensível, minha boceta inchada,
com a sensibilidade dela mais forte, e mesmo depois de ter o recebido dentro
dela duas vezes, em questão de pouco tempo, eu ainda quero mais.
— Oh, Deus... — suspiro e jogo minha cabeça para frente, a
tombando e olhando para o chão, sentindo sua pélvis colar em meu rabo
quando seu pau está por completo dentro de mim.
— Esse insaciável corpo vai fodidamente se lembrar de mim amanhã,
passarinho, a cada passo que você der.
— Cristo! — Aperto mais forte meus dedos na toalha, que os prende
acima da minha cabeça.
Sinto seu pau voltar a se mover, se retirando sem pressa, enquanto
minha boceta o deseja dentro dela, se apertando em volta dele. Ele retorna
com força e choca nossos corpos, apertando seus dedos em meu rabo,
deixando meu quadril completamente empinado, à sua disposição, recebendo
as estocadas do seu pau, as deixando mais fortes e brutais.
— Oh, Deus! — Mordo minha boca e ergo minha cabeça, com meu
corpo sendo fodido com loucura. Suas mãos soltam meu quadril e as ergo
para meus seios, os massageando.
— Sem barulho, bebê. Não quer que sua vizinha veja como fica tão
dengosa com meu pau lhe fodendo, certo?! — Ele aperta o bico do seio em
seus dedos e me faz morder meus lábios, segurando o grito.
Czar acelera as investidas do seu pau, parando do nada e voltando
lentamente a me foder, entrando e saindo, nos torturando, me levando para o
inferno de luxúria que ele me joga.
— Por favor... senhor. — Minha voz trêmula sussurra no quarto
escuro, implorando para ele fazer o que meu corpo deseja.
Seu puxão em meus cabelos leva minha cabeça para trás, colando em
seu peito. No segundo que viro minha cabeça e sinto sua respiração quente,
meus pés se erguem e choco minha boca com a sua, o beijando com
desespero. Não demora para ele tomar posse do beijo e me devorar com sua
boca, me deixando ainda mais viciada nesse sabor, enquanto ele me fode
com loucura, me penetrando até o fim em rápidas estocadas, me deixando
sentir suas bolas batendo em meu rabo, me fazendo desejar tudo que ele
possa me fazer sentir. E eu explodo nesse redemoinho de loucura, com meu
corpo tremendo, gozando em seu pau. Czar esmaga mais forte meus seios e
cola seu peito nas minhas costas, prendendo minha cintura com seu braço,
me mantendo imóvel. Meu corpo se debate e gemo em sua boca, que cala
meus sons, enquanto gozo forte novamente.
Sua testa fica encostada em meus cabelos, quando o corpo dele para
de se mover, respirando com força. Sinto o coração dele bater rápido dentro
do peito, colado em minha pele, assim como está o meu. Solto um gemido
baixo e sinto seu pau se retirar de dentro de mim. Minhas pernas tremem,
tendo os músculos esgotados. Eu me perdi nos olhos castanhos de Czar
quando ele soltou meus braços, me virando lentamente para ele e erguendo
meu corpo do chão.
— Sua vizinha não está pronta para o ato final, bebê! — Ele ri e dá
uma leve mordida em meu ombro.
— Acho que nem eu estou, senhor — falo com a voz entrecortada,
sentindo meu corpo ser largado na cama de solteiro, completamente
molenga.
Me assusto assim que minhas pernas são erguidas e ficam coladas no
peito dele, com suas pernas se flexionando, tendo sua pélvis na altura da
cama. Os olhos castanhos brilham como ouro, completamente diabólicos.
Fecho minhas pernas e sinto o pulsar dentro da minha boceta, com ela
completamente sensível, respondendo ao menor movimento que eu faço, ao
ter as sacanas lembranças invadindo minha mente.
— Nossa, onde vamos parar com toda essa violência! Ainda bem que
Boris lhe deixou em casa primeiro, Mabel, se não poderia ter acontecido algo
pior com você.
Pisco rapidamente e olho para uma das meninas que trabalha na
galeria, que tagarela à minha frente.
— Desculpa, o que disse? — Abaixo meu rosto para minha bolsa e
termino de guardar minhas coisas dentro dela.
— O assalto de Boris! — ela diz, rápido. — Disse que ainda bem que
ele lhe deixou em casa primeiro.
Sinto o desconforto me pegar, junto com meu coração, que fica
acelerado. Rumeu havia anunciado essa manhã que Boris foi assaltado ontem
à noite, na entrada do prédio onde ele mora. Tinham deslocado seu braço
esquerdo e quebrado o nariz dele na surra que ele levou quando tentou reagir
ao assalto, mas o assaltante levou seu relógio de ouro e o carro importado.
Rumeu não entrou em muitos detalhes, apenas disse que Boris estava bem,
que passou a noite no hospital e que hoje cedo deu queixa à polícia, mas
achava muito difícil eles conseguirem achar os pertences e identificar os
bandidos, já que Boris não se recordava do rosto deles. Tentei parecer
surpresa e assustada, enquanto por dentro estava em choque, por saber a
verdade do que houve com Boris.
— Sim, ainda bem — murmuro sem olhar para ela, me levantando. —
Tenho que ir, já deu meu horário.
Sorrio sem muita emoção e me viro, saindo rapidamente da sala. Sinto
o fisgar entre minhas pernas me deixar desconfortável, o que me faz ter que
endurecer minhas coxas.
— Merda! — Mordo meus lábios e bato o ponto. Saio do prédio com
passos lentos e solto um baixo suspiro.
O som do telefone tocando, me faz pegá-lo dentro da bolsa. Vejo o
nome de Macro na tela e aceito a chamada, erguendo o celular para minha
orelha.
— Oi!
— Dormiu cedo ontem, por isso não me ligou... — ele fala alto, por
cima do barulho de trânsito que tem do outro lado da linha.
— Pois é, acabei dormindo cedo — murmuro para ele, sentindo a
ardência em minha pélvis me desmentir.
— Imaginei, por isso nem quis lhe incomodar. Estava pensando em
passar no seu apartamento e pegar você para irmos jantar fora...
Coço minha cabeça ao ouvir a voz dele, andando lentamente pela rua
de trás da galeria, erguendo minha cabeça.
— O que... — sibilo, perdida, piscando várias vezes para ter certeza
do que estou vendo.
— Jantar fora hoje, vamos?
— Macro, eu... — Paro de andar e olho mais perdida ainda para o
outro lado da rua. — Já te retorno.
Desligo o celular e encerro a chamada, abaixando minhas mãos pouco
a pouco, olhando surpresa para uma jovem risonha de cabelos curtos e
negros, com óculos escuros na face, que está fumando um cigarro, sentada
em cima do capô de um carro amarelo, segurando um papelão escrito com
um canetão vermelho meu sobrenome.
Shot.
Pondero por alguns segundos, olhando para trás, na direção da porta
que eu saí, e qual a chance de voltar para dentro da galeria correndo, antes
que ela me veja.
— Mabel? Mabel Shot? — Volto meu rosto para ela, que está tirando
seus óculos e os ergue para cima da cabeça, olhando para mim.
Levanto minha mão de mansinho e lhe dou um sorriso envergonhado,
a vendo descer do capô do carro e jogar a placa de papelão em um latão de
lixo, no canto do prédio.
— Garota do céu, eu cheguei aqui já tem umas três horas! Estava
morrendo de medo de você sair mais cedo e eu não conseguir te encontrar —
ela fala, animada, parando diante de mim e levando suas mãos em sua
cintura, me olhando com curiosidade. — Então você é a senhorita Shot!
— Sou sim. — Sorrio para ela e estico meus dedos. — E você deve
ser?
— Sieta — ela me cumprimenta e aperta meus dedos aos seus. —
Greg me deixou encarregada de levá-la a uma consulta.
Sua mão solta meus dedos e anda lentamente em minha volta, me
olhando curiosa. Retira seus óculos da cabeça e morde a perninha dele
lentamente, no canto da boca. Fico confusa, tendo a mulher me estudando
como se eu fosse um manequim de loja, olhando dos meus sapatos marrons
para minha calça jeans e meu casaco em meu corpo.
— Greg? — indago, confusa, sem entender, ficando ainda mais aflita
com ela me olhando como se eu fosse um peixe de exposição em um grande
aquário. — Tem alguma coisa errada, por que está fazendo isso...
— Você é baixa! — Ela ri e para seu corpo à minha frente,
balançando a cabeça para os lados. — É menor do que eu. Finalmente
encontrei uma mulher menor do que eu!
Não sei se rio ou se fico com cara de tola, a olhando sem entender,
porque minha altura a faz rir.
— Sou prima do Czar, marquei uma ginecologista para você!
— Oh, droga, eu disse que não precisava! — Fecho meus olhos e
respiro fundo. — Não precisava ele ter que mandar alguém, ficar lhe
incomodando...
— Oh, meu Deus, claro que não me incomodo! Na verdade, isso é
impagável. — Ela leva os óculos escuros para a face e vira suas costas para
mim, andando na direção do carro. — Ande, venha, vai ser legal, eu prometo!
Eu pensei em irmos de trem, mas acho que de carro será melhor.
Ainda estou sem entender qual o maldito problema daquele homem
em me ouvir.
— Detesto andar de trem, a não ser quando estou bêbada... — Ela
para de andar e se vira para mim. — Você gosta de trem, já andou?
— Na verdade, eu andei uma vez só, mas gostei. — Olho perdida para
ela e para o carro. Como essa conversa chegou ao assunto de gostar de trem?
— A senhorita não precisava ter vindo.
— Oh, não, não! — Ela ri e nega com a cabeça. — Nada de senhorita,
me chame apenas de Sieta, prefiro coisas práticas. Sou um tipo de ser
humano solto, prefiro me denominar como uma moradora do mundo, sem
ficar presa a etiquetas. — Ela abre a porta do carro e entra nele, mantendo o
ritmo acelerado da sua fala. — Pedi para Yelena reservar a tarde para nós,
você vai gostar dela.
— Para ser franca, realmente prefiro eu mesma marcar meu
ginecologista. Uma das garotas me indicou o ginecologista dela, ela disse que
é um bom médico.
— Ela é um pouco diferente dos outros médicos, mas ainda assim
garanto que é a melhor — a mulher continua a falar, não ouvindo o que eu
disse e fechando a porta do carro.
Coço o topo da minha cabeça e olho para o carro amarelo. Ela abre a
porta do carro por dentro e a empurra para mim.
— Espero que não seja tímida. Não é, certo? — Vejo sua cabeça vir
para fora, enquanto ela me olha, sorrindo.
— Isso depende da situação. Mas o que estou tentando lhe dizer...
— Duas, então, dependendo do que está no meio das minhas pernas.
— Ela recolhe sua cabeça para dentro do carro, enquanto novamente me
deixa no vazio, não ouvindo o que eu falo. — Apesar que teve uma vez que
eu gozei quando o médico fez exame de toque em mim.
Me aproximo lentamente da porta do carona e a fecho com lentidão,
ficando ao lado dela, quando me inclino para olhar o interior do veículo pela
janela.
— Senhorita Sieta, não quero parecer mal-educada, com sua boa
vontade de ter vindo — digo calmamente, com palavras lentas, tentando ver
se ela me ouve, mas sou completamente ignorada por sua falta de atenção,
enquanto ela digita no celular. — Mas eu irei sozinha ao médico. O médico
que eu escolher...
— Devia atender! — Ela ergue o rosto para mim e me corta, dando
um largo sorriso.
— Atender... — Fico perdida, não compreendendo. — Atender o
que...
Antes que eu possa finalizar minha pergunta, o aparelho em meus
dedos começa a tocar. Me endireito e ergo o celular, olhando para o número
desconhecido.
— Quanto mais demorar para atender, mais chato ele vai ficar! — A
mulher risonha fala para mim. — Vai por mim, Greg fica insuportável
quando não dorme.
— Como ele arrumou meu número? — Solto o ar com força por
minhas narinas e dou um passo para trás. Tenho certeza que não dei o número
do meu celular para ele. Olho mais uma vez para ela, antes de atender a
chamada. — Alô?
— Por que não está dentro do carro? — Ouço o som rouco da voz
dele, que sai em tom zangado.
— Porque não quero. Tenho capacidade de marcar uma consulta com
um ginecologista sozinha, senhor — falo rápido, virando meu corpo e ficando
de costas para o carro de Sieta. — Não precisava ter mandado sua prima para
me levar, como se eu fosse uma adolescente na primeira consulta.
— Está me repreendendo por uma ordem que eu lhe dei ontem. —
Sua voz consegue fazer um estrago em minha mente até pelo telefone, soando
mais perigosa. — Pelo que me lembro, fui bem claro ao lhe dar a ordem.
— Não, não é isso. — Esmago minha boca e me sinto confusa. Fecho
meus olhos e respiro fundo. Eu ainda estava dopada pelo orgasmo que ele me
causou no banheiro, não achei que estava falando sério em resolver isso hoje.
— Ou sim! Quer saber, sim, eu estou te repreendendo por ficar querendo
controlar tudo!
— Uiiii, isso ficou interessante! — Me viro e vejo a face de Sieta, que
olha e ri para mim pela janela do carro. — Continua, eu nunca presenciei uma
mulher dando uma dura em Czar!
— Quer mesmo ir por esse caminho, Mabel?! — O som pesado da sua
respiração fica mais forte, com ele falando rouco.
— E-eu... — murmuro covardemente, abaixando meu tom de voz e
desviando meus olhos de Sieta. — Estou apenas dizendo que estou ciente de
que me mandou ir em uma consulta, assim como eu posso ir sozinha em um
médico que escolhi. Tem coisas que não quero que controle...
— Eu disse que cuidaria disso. Assim como você me deixou controlar
você no momento que aceitou o jogo — ele me corta, suavizando seu timbre.
— Agora entre no carro e acompanhe Sieta até a consulta que foi marcada
para você, ou se preferir, eu posso ir pessoalmente te levar.
Fico em silêncio e ouço o som da chamada sendo encerrada do outro
lado da linha, com ele nem me dando uma chance de lhe mandar ir à merda.
— Cretino! — xingo, baixo, e esfrego meu rosto.
— É, ele é! — A voz alegre da mulher falando atrás de mim, me faz
virar lentamente e olhar para ela. — Venha, prometo que depois da consulta
iremos tomar um porre de vodca e falar mal de Greg até nossas línguas terem
cãibra!
Dou um sorriso sem graça para ela e a vejo empurrar a porta do
carona lentamente. Dou um passo à frente e solto um baixo suspiro. Entro no
carro e sento lentamente, fechando a porta do carona, nem tendo tempo de
colocar o cinto de segurança antes dela ligar o carro e já o acelerar na estrada.
— Me recordo da viagem que fiz para a Espanha, alguns anos atrás...
Foram os melhores dias da minha vida... Sempre digo que toda pessoa em
algum momento precisa conhecer Madri. — Fico com meu corpo rígido e
comprimo meus olhos quando ela atravessa a pista e entra na frente de um
caminhão, sem dar seta para avisar o outro condutor que irá fazer a manobra.
— Sol, homens bonitos e sexys, o único problema é o egocêntrico filho da
puta que mora lá e controla cada passo que eu dou, mas eu acabo esquecendo
a raiva que sinto por ele, porque ele sabe me comer bem pra caralho...
Abro meus olhos e respiro fundo, girando meu rosto e vendo o
caminhão ficar para trás.
— Já foi para Madri, Mabel?
Olho para ela e a vejo segurar o volante com uma única mão,
enquanto leva a outra mão para o bolso da calça e retira seu maço de cigarro,
puxando um com a boca e o acendendo. Meus dedos se erguem na mesma
hora e puxo o cinto de segurança, o passando em volta do meu corpo,
deixando-o preso. Olho o carro sendo puxado para o acostamento, enquanto o
pé dela pressiona o acelerador.
— Conhece a Espanha?
Meu corpo tomba para o lado, seguindo o movimento do carro, que
foi direcionado para a pista novamente, com ela trocando de marcha.
— Não... — balbucio para a tagarela mulher, me arrumando em meu
assento, apertando meus dedos em meus joelhos.
— Garota, você tem que ir, vai amar! Lhe darei as melhores
referências de hotéis e restaurantes. Tem um pequeno bistrô em Madri, que
pertence a Juarez, passe por lá e diga que foi Sieta que te mandou...
— Oh, meu Deus! — Esfrego meu rosto, sentindo meu corpo todo
endurecido.
— Já foi para algum outro país, além da Rússia? Greg me disse que
você é de Nova York.
— Isso. — Confirmo com a cabeça, a respondendo, não desviando
meus olhos da estrada. — Na verdade, Moscou é o único lugar que conheço,
além de Nova York.
— Acho que passei uma vez por lá, não lembro muito bem. — Sieta ri
e fala animada, acelerando ainda mais o carro. — Mas, e aí, me conte, o que
te trouxe para a Rússia?
— Intercâmbio — respondo apressadamente para ela, virando meu
rosto e a vendo me olhar. — Não devia estar prestando atenção na estrada?
— Não se preocupe, sou uma ótima motorista! — Ela corta a frente
de um carro e dá uma risada quando fecho meus olhos e levo meus dedos
para o painel, me segurando nele, duvidando da sua afirmação de ser boa
motorista. — Intercâmbio... Legal! Eu acho que minha vida toda eu sempre
fiz intercâmbio, adoro conhecer as culturas de outros países.
Abro meus olhos quando o carro desacelera, fazendo eu me
surpreender com a vista que encontro. Sieta pegou a rodovia que leva para
fora da cidade, e os campos grandes, com montanhas distantes, ficam
visíveis.
— Confesso que não sou muito ligada à arte — Sieta tagarela e solta
uma tragada do cigarro. — Mas tenho certeza de que conseguiu um
intercâmbio em uma boa galeria de arte.
— Sim, a galeria de arte de Rumeu é muito boa, estou ganhando
muita experiência em trabalhar lá. — Minha voz está mais calma quando me
viro e a estudo. — Essa ginecologista fica fora de Moscou?
— A casa dela fica um pouco distante, ela gosta de ser mais reclusa,
mas te garanto que é excelente. — Sieta sorri para mim e me dá uma piscada.
— Você não teve medo de vir para cá, de sair do lugar de onde nasceu, para
conhecer uma outra cultura completamente diferente da sua, sem conhecer
ninguém?
— Não. — Giro meu rosto e fico com meu olhar perdido na janela.
Vir para Moscou foi a única forma que consegui de fugir de tudo que Nova
York me lembrava. — Tenho um amigo que mora aqui, então não me senti
completamente sozinha.
— Isso é bom, muito bom! — Ela abaixa seu tom de voz e dá um
risinho. — Ter alguém conhecido para nos receber em um lugar novo é
sempre bom.
— Na verdade, quando cheguei, Macro, meu amigo, não estava me
esperando, ele teve um compromisso — a respondo e retorno meus olhos
para ela. — Foi uma amiga do senhor Rumeu que me recebeu. Ela me levou
para a galeria...
Lembro da mulher elegante e bem-vestida que me esperava no
aeroporto naquele dia da minha chegada.
— Uma mulher? — A voz de Sieta, perguntando de forma alarmada,
me faz virar minha face para ela.
— Sim, uma mulher. — Sorrio para ela e confirmo com um balançar
de cabeça. — Como que era mesmo o nome dela?! — Repuxo meu nariz, não
recordando do nome da mulher.
Tento forçar minha mente a se lembrar do nome daquela coroa
bonitona, mas a verdade é que ela não era de falar muito, acho que trocamos
apenas duas frases.
— Freire? — Sieta me corta e me faz olhar, confusa, para ela.
— Não, não era esse nome. O nome dela era diferente. — Nego com a
cabeça, sentindo raiva por não conseguir lembrar o nome dela. — Lembro
apenas que ela estava com uma matrioska[53] dentro do carro. Passei o
percurso todo admirando a delicada boneca.
— CHEGAMOS! — ela me corta e fala de forma nervosa, sorrindo
para mim e retornando sua face para frente.
Viro meu rosto e olho a estrada de terra na qual ela entra, subindo
uma rua de ladeira. A grande mansão cinza, no topo da colina, se destaca
entre o cenário verde, demonstrando toda sua exuberância em cada detalhe
dela, com várias janelas a se perder de vista. Observo a estrutura dividida em
três andares, quando o carro estaciona na frente da casa. Vejo a mulher baixa
que sai pela porta da frente da casa, usando um quimono azul por cima de um
vestido amarelo, com os cabelos loiros caindo por suas costas. Um sorriso
largo aparece em sua face e ela balança suas mãos no alto da cabeça, nos
cumprimentando.
— Ela parece meio doida. Assusta em uma primeira impressão, mas
ela é legal! — Sieta sorri e desliga o carro.
Vejo Sieta sair lentamente do carro, olhando para a mulher, que
mantém seus olhos azuis em mim. Respiro fundo e abro minha porta,
retirando o cinto e saindo do veículo.
— Mabel, essa é Yelena. — Sieta me chama com um movimento de
mão, enquanto dou a volta no carro devagar.
A mulher alegre parece ter o sorriso mais largo ainda de perto. Suas
vestes são tão coloridas quanto suas joias, e não sei para onde olho, se são
para os colares grandes dourados no pescoço ou os anéis de pedras em seus
dez dedos das mãos.
— Olá, senhora Yelena, eu sou Ma... — Antes mesmo que estique
minha mão para lhe cumprimentar, estou sendo esmagada entre seus braços,
que me apertam forte entre eles, me fazendo inalar o odor de incenso
aromático que ela tem.
— Oh, que maravilha! Nem acreditei quando Sie me avisou que
estava vindo acompanhada. — Sinto a cremosidade do batom dela marcar
minha bochecha, que recebe um beijo estalado. — Oh, ela é linda! Não me
disse que estava saindo com uma mulher negra, Sie. Ela é uma bonequinha.
Arregalo meus olhos e fico sem saber o que dizer ao ouvir a alegre
mulher insinuar que eu estou me relacionando com Sieta.
— Oh, meu Deus! Está a deixando com vergonha, Yelena! — Sieta
resmunga e aperta o alarme do carro. — Anda, vamos entrar, estamos
congelando aqui fora!
— Sim, sim! — A loira radiante segura minha mão e me leva para
dentro. — Perdão se te deixei com vergonha, pensei que era mais uma das
namoradas de Sie. Na verdade, desejei que fosse, já que ela nunca me
apresenta nenhuma... — Ela gesticula com sua mão e dá um leve tapinha no
ar. — E então, veio aqui por qual motivo... Quer que eu leia sua sorte na
xícara de chá ou está querendo suco de luz? Olha, ele dá uma brisa, mas faz
maravilhas com sua libido. — Ela se cala e me olha mais atenta. — Na
verdade, ela está com cara de quem veio fazer um aborto, está tão alarmada a
pobrezinha...
— Aborto? — Meus olhos ficam mais arregalados ainda e me afasto
dela, dando um passo para trás, não entendendo que porra de clínica é essa.
— Oh, merda, mãe, está deixando a garota aterrorizada! — Sieta solta
o ar com força e me faz ficar mais perdida ainda ao ouvir ela chamando a
mulher de mãe. — Não sei como as pessoas pagam para vir aqui.
— Mãe? — Fico olhando entre as duas, tentando achar alguma
semelhança entre elas. A mulher loira, com cabelos compridos e roupas
coloridas, não apresenta ser uma mulher de idade que já tem uma filha adulta.
— O quê?! Você não me disse por que estaria a trazendo aqui... — A
mulher começa a andar, cantarolando um mantra.
— Eu disse que ela não causava uma boa primeira impressão. — Sieta
para do meu lado e cruza os braços. — Mãe, Mabel é a companheira de Czar.
— Companheira? — eu e a senhora Yelena falamos ao mesmo tempo,
quando ela se vira e me olha, mais assustada do que eu.
— Olha, acho que houve um engano. Eu e o senhor Gregovivk não
temos esse tipo de relação... — digo, nervosa, negando com a cabeça. — Não
sou companheira de ninguém...
— Ela está aqui pelo que eu estou pensando? — A mulher dá um
passo à frente e me olha, mais curiosa. — Ele nunca mandou nenhuma delas
para mim.
— Sim, ele me pediu ontem. — Sieta passa por mim e retira sua
jaqueta, ficando ao lado da mãe dela, com as duas agora me encarando como
se eu fosse um animal circense. — Quer que ela tenha controle sobre o ciclo
de natalidade, para os dois poderem trepar sem camisinha...
— É apenas para segurança, nós dois não queremos...
Sou silenciada pela mulher colorida, que anda para mim e segura meu
rosto em suas mãos, esmagando minhas bochechas, enquanto me olha de
forma estranha, dando um baixo riso.
— Esse momento pede algo mais forte que o suco de luz. — Ela sorri
para mim e espreme minhas bochechas, que estão começando a ficar
doloridas. — Sieta, pegue vodca na geladeira, e você, meu bem, vem comigo!
Vamos ver se Greg fez o mesmo estrago que o pai dele causou em minha
irmã!
— Sieta... SIETAAA! — chamo por ela, tentando me soltar, enquanto
a animada mulher me empurra para uma porta aberta.
CAPÍTULO 21
O CERNE DA ALMA
Mabel Shot

Estou levemente embriagada e sem mais nenhum pingo de vergonha


restando em meu corpo depois que a senhora Yelena me deitou em uma
maca, no canto da sala, me fez usar um roupão de papel e mediu até a
profundidade da minha vagina. Ela vasculhou meu órgão genital como se ele
fosse uma bolsa de mão e me olhou com malícia quando disse que estava
com meus músculos internos inchados por ter os exercitado em excesso com
o pau do sobrinho dela. Não me restou mais nada, a não ser beber vodca
quando saí da maca, recebendo os parabéns dela por ter uma boceta saudável,
e uma receita para comprar minha injeção para evitar bebês, a qual eu apenas
fui crer que ela poderia realmente prescrever depois de ver o carimbo de
médica de Yelena. Ela me ofereceu um roupão de seda negro, para que eu
vestisse, e um copo de vodca. E só me restou aceitar a roupa e beber para
esquecer o quão íntima a tia do senhor Czar estava comigo agora.
— Czar é igualzinho ao pai dele, sempre mandão e terrível — Yelena
fala, rindo, e enche novamente o meu copo, me dando uma piscada. — Mas
meu pequeno tem bom coração.
Ela ri e solta a garrafa de vodca ao lado da primeira que já
esvaziamos, e senta na poltrona perto do sofá que estou.
— Ela fala pequeno, como se Greg ainda fosse aquele menino
magrelo de dez anos. — Sieta ri e estica suas pernas no sofá, me dando uma
piscada. Ela está sentada na outra ponta do sofá que estou.
— Para mim, ele sempre será. Eu que fiz o parto dele, sabia, Mabel?
— Yelena ri para mim, com seu peito se estufando, falando com orgulho. —
E trinta e sete anos depois de ter o tirado de dentro da vagina de Melissa, eu
tive o prazer de avaliar a boceta da companheira dele...
— Oh, meu Deus! — Quase morro com o acesso de tosse que eu
tenho, quando ela fala, apontando para a maca ao canto da sala.
— Cristo, ela tão tem filtro nenhum! — Sieta toma sua vodca e nega
com a cabeça, caindo na gargalhada. — E depois ela pergunta por que nunca
trago ninguém aqui para apresentar a ela! Tem ideia de como é constrangedor
trazer um namoradinho em casa e sua mãe ensinar para ele onde fica o
clitóris? O pobre nunca mais voltou aqui!
— Estava apenas o ensinando, achei que estava te fazendo um favor!
— Yelena ri e olha para Sieta de forma amorosa.
Não, eu não sabia o que era ter uma mãe fazendo você ficar
envergonhada ou falando coisas sem filtro e lhe provocando. Alekessandra
não era assim comigo, pelo contrário, era rígida e fria. Perto dos meus
dezoito anos, ela não me falava sobre clitóris, mas sim como eu tinha que ser
obediente para satisfazer Nate, independentemente do que ele me pedisse.
Limpo minha boca e abaixo o copo, respirando fundo, com meus olhos
lacrimejados por conta da tosse que tive ao ouvir a palavra companheira.
— Sexo é algo normal para todas as idades. Nunca tive vergonha de
falar sobre isso com Sieta e Greg, e pelo visto, um dos dois prestava atenção
no que eu dizia. — Yelena vira e me olha com doçura. — Veja só como essa
pele está radiante, posso afirmar que não encontraria um melhor
companheiro.
— Senhor Gregovivk e eu não somos companheiros, senhora Yelena
— digo, baixo, dando um sorriso sem graça para ela. — Apenas estamos...
Me calo e fico em silêncio, sem saber como explicar para ela o que
estamos fazendo. Não encontro palavras para contar que é apenas sexo, com
direito a amarras, palmadas e cintadas, sem imaginá-la horripilada, por mais
que eu desconfie que isso não escandalizaria a animada mulher.
— Minha pequena criança. — Ela caminha para mim e alisa meu
rosto, abaixando seus olhos para meu pescoço. — Acho que ele não sabe
disso, então, ou será que é você?!
— Quase certeza que é ela! — Sieta se arruma no sofá e fica de lado,
erguendo o copo em um brinde para mim. — Bem a cara do Greg!
— Melissa foi a mesma coisa, iludida a pobre! — Yelena ri e serve
novamente meu copo com bebida, e enche o dela. — Lembro da primeira vez
que ela falou sobre Huslan para mim. Disse que ele era um homem quente,
que fazia qualquer lugar ficar abafado apenas com a presença dele. Minha
finada irmã não teve nenhuma chance quando aquele urso astuto lhe deu um
ataque.
— Tio Huslan comia um caminhão de merda por conta da titia,
pagava de machão, durão, com aquela face mal-encarada. — Sieta me olha e
fala, rindo. — Mas bastava um olhar da tia Melissa, completamente doce para
ele, e o ursão feroz Gregovivk se transformava em um ursinho de pelúcia.
— Aqueles dois se amaram, podiam falar o que for de como eles se
conheceram, mas a verdade é uma só: Melissa nasceu para Huslan e ele
nasceu para ela.
— Como assim de como eles se conheceram? — pergunto e estico
meus dedos e pego meu copo, entornando minha bebida na boca.
— Quando minha irmã conheceu Huslan, ou melhor, quando ele
colocou os olhos nela, Huslan era casado com Valéria, a primeira esposa
dele. Os dois tinham um casamento aberto, ela participava de Sodoma com
ele.
Meus olhos ficam petrificados, assim como o copo em minha mão,
que está parado no ar quando o abaixo.
— A senhora sabe sobre Sodoma...
— Já fui jovem, meu amor, tive meus momentos de curiosidades, mas
isso não era para mim.
— Mas é para mim! — Sieta responde e se senta, pegando a garrafa
de bebida para encher seu copo. — Aquele dia que você estava na saleta com
Greg, foi eu que interrompi, o chamando.
A vaga memória me pega, me fazendo recordar daquele dia. Era uma
voz feminina que chamava por ele. Eu não vi o rosto dela, porque me
mantive de costas para a porta, mas Sieta participa de Sodoma, então ela sabe
o que está acontecendo entre mim e o senhor Gregovivk. Meus olhos desviam
dos seus e fico com vergonha, pensando se ela me viu também aquele dia nas
regalias. Abaixo o copo para perto do meu joelho e fecho os olhos.
— Não precisa ficar assim, nossa família é liberal. Mamãe e eu nunca
iremos te julgar por gostar da pegada daquele sádico de Greg.
Meu rosto queima, envergonhado, e sinto minha boca trêmula.
Respiro ansiosa, ouvindo a risada das duas.
— Agora quem é que está sendo enxerida, Sie?! — Yelena ri e
balança a ponta do seu pé. — Greg é como o pai, silencioso, com muitos
pensamentos, mas que confia em poucos, e quando encontra algo que lhe
agrada, ele toma para si. — Ela estica seu braço e dá um leve tapinha em meu
joelho. — Não se sinta envergonhada, meu bem, eu entendo o que está
sentindo, vi esse mesmo olhar confuso em minha irmã.
— Melissa também era de Sodoma? — Ergo meu rosto, a olhando.
— Não, Melissa era quieta do jeito dela, mas ela se transformava
quando estava perto dele, parecia uma chama de fogo que se acendia. —
Yelena sorri com tristeza. — Huslan se apaixonou por ela de um jeito que
acontece apenas uma única vez em nossa vida. Ele a levou para o mundo dele
e ela aprendeu rápido demais, o que apenas o deixou mais possesivo, e
quando ela descobriu sobre a gravidez... Cristo, nunca vi um homem ficar tão
eufórico como Huslan ficou ao receber a notícia!
— Valéria, a mulher casada de papel passado com meu tio, ela pediu
para ele matar o bebê e largar da tia Melissa — Sieta fala, baixo, com rancor.
— E quando ele disse que não faria isso, ela largou dele e levou o bosta de
Kaiser junto.
— Kaiser? — pergunto, sem entender, para Sieta.
— O filho do primeiro casamento dele. Valéria não mandava no
coração, Huslan ficou com Melissa e com Greg. Por isso Valéria foi embora
levando o filho primogênito dele, Kaiser Gregovivk — Yelena é quem
responde, soltando um baixo suspiro.
— Ela fez uma lavagem cerebral na cabeça de Kaiser, o deixando
insuportável que nem ela. — Sieta enche meu copo e bate o dela lentamente
no meu.
Tomo minha bebida, ouvindo o que elas me contam e olhando perdida
para a maca.
— Os dois podem ter tido um relacionamento fora do convencional,
mas independentemente disso, foi um relacionamento de amor verdadeiro —
Yelena fala e vira sua bebida na boca.
— Como era o relacionamento dos dois? — pergunto, abaixando o
copo depois de ter tomado a bebida em um gole só.
Vejo as duas ficarem em silêncio, olhando uma para a outra. Yelena
pega a garrafa de bebida da mão de Sieta e aponta com um gesto de cabeça
para sua filha. Sieta olha para mim e solta um suspiro, dando de ombros.
— Tia Melissa era a submissa do meu tio — Sieta diz, sorrindo, me
dando uma piscada. — Ele era sádico, Mabel, igual o Czar.
— Não entendo... Como isso pode funcionar? — Fico perdida, sem
entender se uma relação assim no dia a dia é possível. — Pensei que era algo
apenas restrito ao momento...
— Claro que é, tem muitos casais que apreciam BDSM — Yelena é
quem fala, sorrindo, enchendo o copo de bebida dela e o meu. — É uma
relação normal dentro do mundo deles, não como os casais convencionais,
mas ainda assim é uma relação.
— Igual a que ele tinha com Valéria, a primeira esposa dele? —
indago, baixo, e olho para meu copo.
— Nesse mundo existe a lealdade e a fidelidade. A relação aberta que
ele tinha com Valéria vinha da lealdade que um tinha com o outro dentro da
relação aberta que eles construíram. — Yelena abaixa a garrafa e pega meu
copo, esticando para mim. — Vamos, não me deixe beber sozinha. — Seguro
o copo e olho para ela, o erguendo para minha boca. — Valéria compreendia
que ela não conseguia suprir todas as necessidades que Huslan tinha, por isso
ela aceitava outras mulheres dividirem esse cargo com ela, mesmo sabendo
dos riscos, e a verdade é que ela gostava de deitar-se com outras mulheres
também.
— Ela só não imaginou que um dia apareceria tia Melissa, que iria
derrubar aquele urso de dois metros apenas com um olhar — Sieta fala de
forma debochada e solta um suspiro baixo. — Suprindo tudo o que ela não
conseguia dar para o tio Huslan.
— Como assim...
— Melissa e eu tivemos uma educação mais rigorosa, minha pequena
criança — Yelena diz, triste, como se estivesse recordando de algo ruim. —
Nossos pais eram pobres, achavam que um bom casamento poderia nos
salvar da miséria. Eles praticamente nos entregaram como porcas ao primeiro
comprador que ofereceu um bom dinheiro.
— Desculpe, mas acho que não entendi. — Mordo meus lábios,
estreitando meus olhos e negando com a cabeça.
— Melissa e eu fomos educadas desde meninas para sermos boas
esposas, obedientes, quietinhas e flexíveis. — Yelena fecha seus olhos e nega
com a cabeça. — Melissa parecia um coelho assustado apenas de alguém
chegar perto dela, de tanto que minha mãe nos batia. Ela estava trabalhando
perto da nossa casa, em uma lanchonete que pertencia ao homem que nossos
pais arrumaram para ela se casar, eles queriam que ela se acostumasse a ficar
perto dele.
— E então o grande urso apareceu! — Sieta fala, eufórica, me
olhando e rindo.
— Sim. Por uma infeliz coincidência do destino e um pneu furado,
Huslan apareceu naquela lanchonete. Melissa me contou que sentia como se
ele tirasse todo o ar dos pulmões dela apenas com um olhar das suas íris
castanhas, quando a encarava. — Yelena abre os olhos e os deixa doces,
enquanto dentro de mim sinto uma cumplicidade com o que Melissa sentiu.
— No outro dia, Huslan Gregovivk apareceu na nossa casa, para buscar
Melissa, e ela foi, minha irmã não pensou duas vezes e nem olhou para trás
quando ele esticou a mão para ela.
— Semanas depois, mamãe fugiu de casa, para não ter que casar com
o pretendente dela. — Sieta ri mais alto e fica com suas bochechas
vermelhas.
— Graças a Deus! — Yelena solta uma grande gargalhada,
balançando a cabeça dela em positivo. — Conheci meu Yure por essas
estradas da vida e me casei com o homem que eu escolhi para mim e amei. Se
não tivesse feito isso, Sie seria filha de um leiteiro, e eu uma mulher sem uma
profissão.
— Ouvi um amém! — Sieta enche seu copo e o meu, falando e rindo.
— Amém! — Rio com as duas e bebemos ao mesmo tempo.
— Vou pegar outra garrafa, essa aqui já era! — Yelena diz, rindo, e se
levanta, indo para fora da sala.
— O que houve com ela? — pergunto para Sieta e viro meu rosto,
abraçando meu corpo e me recostando no sofá.
— Maconha, cocaína, acho que ela também comia cogumelo com o
meu pai, quando ele era vivo... — Começo a rir, sentindo cada vez mais a
embriaguez tomar conta de mim ao ouvir a voz risonha de Sieta. — Nunca
entendi as excentricidades da minha mãe.
— Não, não me refiro à sua mãe. — Abaixo meu rosto e tento parar
de rir, suspirando lentamente. — Digo, com Melissa, o que houve com a mãe
do senhor Gregovivk?
Sieta respira fundo e abre e fecha a boca, ao mesmo tempo que estica
suas pernas no sofá.
— Tia Melissa morreu quando Greg ainda era adolescente — Sieta
me responde, não tendo mais o riso e o deboche em suas palavras. — Houve
um incêndio na casa de barcos que tinha na residência dela. Ela inalou muita
fumaça e os pulmões dela ficaram gravemente feridos e não resistiram. Greg
estava dentro da casa de barcos, minha tia entrou lá para salvá-lo...
A grande marca vermelha da pele encruada, que pega a parte
inferior das suas costas, faz eu sentir meu coração se apertar, ao imaginar o
tamanho da dor que a queimadura deve ter lhe causado.
— Todos trazem cicatrizes, passarinho — ele fala, baixo, sem olhar
para mim, como se soubesse para onde eu estava olhando.
Sinto meu coração se espremer e meus olhos ficarem marejados, ao
me recordar das palavras dele e da grande marca de queimadura em suas
costas. Não era sobre a cicatriz em sua pele que ele se referia, mas sim sobre
a perda da mãe dele.
— Vamos jogar! — Me assusto e viro meu rosto na mesma hora para
Yelena, que entra alegre, segurando duas garrafas de vodca, uma em cada
mão. — E beber!
— Oh, na verdade, acho que já está tarde... — Minha voz está lenta, e
pisco algumas vezes para tentar me manter menos embriagada, como se isso
realmente fosse me ajudar. — Já está escurecendo.
— Claro que não, nenhuma hora do dia é tarde para tomar vodca na
Rússia, Mabel! — Sieta ri, se levanta e pega a vodca da mão da mãe dela.
— Venha, vai ser divertido! Jogava isso com Melissa. Conversar
sobre os velhos tempos me deixou com nostalgia! — Yelena se aproxima de
mim e alisa meu rosto. — Dê um pouco de prazer para essa velha, que vive
solitária, abandonada pela filha ingrata!
— Oh, lá vem ela com a carência gigantesca! — Sieta abre a garrafa e
ri para mim. — Vá por mim, Mabel, se não jogar com ela, ela não vai deixar
a gente sair dessa casa.
— Certo, o que a senhora gosta de jogar: cartas, xadrez? — Olho para
Yelena, sorrindo.
— Não, não era esse tipo de jogo que Melissa e eu brincávamos, era
algo um pouco diferente...
— Poxaaa! — Fecho meus olhos, me encolhendo no sofá. — Eu
ainda estou tentando entender o último jogo diferente que eu aceitei
participar. — Abro meus olhos e encontro os da estranha senhora que acabei
gostando, depois do impacto do nosso primeiro contato. — Ok, uma partida
não vai ser ruim.
— Venha, Sieta, me ajude com essa mesinha de centro! — Yelena
fala, rindo.
Me levanto e retiro as garrafas vazias do chão, para que as duas
possam empurrar a mesinha de centro para o canto.
— Assim é melhor para brincar, uma de frente para outra. — A
mulher senta com naturalidade e me olha ansiosa.
Depois de ter deixado ela inspecionar minha boceta de cima a baixo, o
que seria jogar com ela? Entrego as garrafas vazias para Sieta e flexiono
minhas pernas para frente, colando meus joelhos um no outro. Me sento
agachada e esparramo as panturrilhas para os lados, com meus dedos
espalmados nas coxas e minhas costas eretas. Sorrio para Yelena, que está me
olhando com curiosidade. Ela olha rapidamente para Sieta, e eu faço o
mesmo, encontrando o olhar da mulher de cabelo curto preso em mim.
— E então, como é o jogo? — pergunto, rindo, e a vejo se sentar
lentamente, me observando.
— Mamãe, ensina para ela — Sieta murmura e leva o bico da garrafa
que ela abriu para a boca, tomando um grande gole.
— Olhe para mim, Bel — Yelena fala com a voz carinhosa, me
fazendo olhar para ela. — Posso te chamar assim, não é?
— Mulher, você pode me chamar do que quiser depois de ter visto
minha vagina de dentro para fora. — Rio, concordando com a cabeça.
— Ótimo, me chame de Lena, não precisa de formalidades entre nós,
Bel. — Ela segura minhas mãos e as ergue lentamente. — Deixe suas mãos
espalmadas, com os dedos bem colados um no outro.
Faço o que ela manda e sinto sua mão arrumar meus antebraços, os
deixando rentes na lateral do meu corpo, com minha mão espalmada
direcionada para frente, na direção dela. Yelena faz a mesma coisa, ficando
igual a mim, com seus dedos espalmados abaixo dos meus.
— É como se fosse verdade ou mentira, a diferença é que uma vai
falar a verdade sobre a outra. Se eu estiver errada, você bate sua mão na
minha; se eu estiver certa, você vai beber um gole de bebida e eu vou te bater,
e faço outra pergunta até eu errar, e assim acontece a mesma coisa comigo na
sua vez.
— Não sei se quero jogar um jogo que eu preciso te bater. — Tombo
meu rosto para o lado, me sentindo tonta por conta da quantidade de vodca.
— Mamãe nunca perde — Sieta fala e sorri, deixando uma garrafa
cheia de vodca ao nosso lado.
— Tem grandes chances de perder quando não sabe nada sobre a vida
da outra. — Olho rindo para Yelena, que está sorrindo doce para mim. —
Não sei o que falar sobre você, Lena.
— Fale qualquer coisa, a graça da brincadeira é essa, tentar a sorte, ler
a alma uma da outra, como Melissa chamava o jogo. — Ela pisca para mim.
— Vai, começa com você!
Sorrio e fecho meus olhos, não tendo a menor ideia do que perguntar
para Yelena.
— Você sempre foi uma mulher bem resolvida... — Arrisco as
palavras, abrindo apenas uma pálpebra e olhando para ela. — Que nunca foi
influenciada por um homem...
Me assusto com o dorso da minha mão ardendo ao receber uma
palmada forte de Yelena.
— Mentira! Demorei muito para conseguir me soltar dos grilhões que
meus pais colocaram em mim. — Ela ri e nega com a cabeça. — Eles eram
uns fascistas escrotos, que queimariam minha filha viva se ainda estivessem
vivos.
— Uau! — falo, chocada com toda informação que ela solta.
— Minha vez.
— Ok, manda bala! — suspiro e relaxo meus ombros.
— Se sentia solitária em sua infância, gostava de agradar as pessoas,
assim eles não lhe notariam, e preferia sempre estar sozinha que rodeada dos
outros. — Quando ela começa a falar, me sinto sendo capturada por sua voz.
A expressão do seu rosto muda, ficando séria, como se estivesse lendo um
livro diante dela, e não parece mais com a mulher risonha que me recebeu
aqui. — Provavelmente tinha medo do escuro, por isso acha que já está tarde
e precisa voltar para casa. Tenho quase certeza que dorme sempre com
alguma luz acesa perto de você, acordar no breu lhe deixa amedrontada.
Descolo meus dedos e seguro a garrafa de bebida, a levando à boca
lentamente, olhando para ela, retornando meus dedos para a posição antiga.
Meu rosto se abaixa e sinto ardência no dorso da minha mão quando ela
desfere o tapa.
— Sua mãe era ausente, por isso o anseio de agradar os outros. Julgo
que na puberdade se manteve igual à infância, calada e tímida. Sempre
curiosa, gostava de aprender. É inteligente, mas preferia ocultar isso, porque
se pensassem que você era burra, não ficavam zangados com você. Mas não
foi empatia que recebeu, apenas frieza. A forma encolhida que se senta,
sempre retraída, com seus dedos uma hora ou outra alisando suas coxas ou se
esmagando, me fala que teve uma educação severa, de alguém autoritário.
Ergo a garrafa novamente e tomo a bebida, sentindo o líquido descer
rasgando por minha garganta, não sabendo mais se a agonia que estou
sentindo crescer dentro de mim é por conta de ter bebido tanto com o
estômago vazio, ou pela forma como ela está contando a minha vida inteira
na minha frente. Quando meus dedos ficam unidos, outro tapa estala na
minha mão.
— O pai não foi, quase certeza que foi a mãe. Ela exigia muito de
você, tanto que até hoje você segue a educação dela. Cabelos devidamente
penteados, unhas feitas e fala baixa, buscando a perfeição. Suas roupas sem
cor e tapando cada parte do seu corpo, não é apenas pelo frio, ou por conta
das marcas que Czar deixou em você.
Sua cabeça tomba para o lado e me olha com intensidade, me fazendo
ter a sensação de que ela olha minha alma.
— Mas sim porque não gosta de chamar atenção. Se sentiu
desconfortável perto de mim quando pedi para tirar a roupa e se deitar na
maca, o que me faz crer que a figura materna a inspecionava de perto, ela
exigia isso de você, estar sempre pronta, sempre preparada...
Não entendo em qual momento ela me faz ficar assim, completamente
induzida a reviver o passado, como se estivesse ao meu lado por cada dia que
se seguiu junto com Alekessandra. Bebo novamente e outro tapa mais forte
que o anterior se faz, me fazendo encolher meus ombros.
— Ela te criou presa, fechada, sem poder ter contato com ninguém.
Isso lhe deixaria acorrentada apenas as ordens dela, mesmo algo dentro de
você querendo se rebelar. Mas você os silenciava, não queria que ela ficasse
brava, porque quando ela ficava brava, ela te castigava.
— Por favor... — falo, baixo, e fecho meus olhos, sentindo as
lágrimas escorrerem por minha face lentamente.
— Beba! — Yelena me dá a ordem e segura a garrafa de vodca,
estendendo para mim.
Meus dedos estão trêmulos quando seguram a garrafa e a viro
lentamente na minha boca, devolvendo o objeto para o canto dele quando
termino de beber. Fecho os olhos e outro tapa me acerta.
— Ela não te marcava, não com cintas ou chinelos, ou qualquer outra
coisa que ela pudesse machucar o seu corpo. Ela usava as mãos, no rosto, eu
percebo, por isso sempre mantém o olhar baixo e evita contato visual. — A
voz de Yelena é suave e perigosa, descrevendo minha vida pouco a pouco. —
Ela não gostava que você a olhasse, não queria que você se rebelasse, por
isso lhe castigava, a dobrando às vontades dela. Quantas vezes por dia ela te
batia, Mabel? Três? Acho que mais...
— Cinco... — murmuro, desejando esquecer Alekessandra e tudo que
ela me fez.
— Cinco, cinco castigos durante o dia, cinco tapas na face todo dia,
até não restar mais nada de você, até ela tirar tudo que você tinha e você ficar
como um filhote perdido, sem carinho. Você a via como mãe por um tempo,
mas depois ela se transformou em seu pesadelo, uma angústia que fazia você
se retrair e se sentir mal apenas com o fato dela estar perto de você, mas você
não conseguia se afastar dela, não era forte o suficiente para enfrentá-la...
— Não, eu não... — Ergo meu rosto para Yelena e espremo minha
boca enquanto choro.
Alekessandra nunca me viu, era como se ela olhasse para mim e visse
um objeto sem alma, que não merecia carinho ou compaixão.
— Mas você conseguiu escapar dela, não foi, Mabel? O que deu a
ela? Sua alma, seu espírito... — Yelena nega com a cabeça e abaixa seus
olhos para o meu ventre. — Não, ela já tinha sua alma, já tinha machucado
seu espírito. Você deu a ela sua inocência, por isso evita a palavra
companheiro.
Seguro a garrafa de vodca e a viro em minha boca, respirando com
força. Eu tinha entregado minha inocência para Alekessandra, como uma
moeda de troca para conseguir ir para a faculdade.
— Eu queria tanto ver as telas de perto, o cheiro da tinta, o mundo
que eu apenas via pelos livros ou da janela, os quadros que me encantavam...
— Abaixo a garrafa, sorrindo com amargura. — Desejava ver outras pessoas
da minha idade, saber como era a vida fora daquela mansão na qual eu fui
criada trancafiada, então aceitei trocar com ela minha virgindade, para poder
ir à faculdade. Eu me vendi...Vendi a minha inocência.
Abaixo meu rosto, com meus ombros se movendo com a força do
soluço enquanto choro, vendo as lágrimas caindo em meus dedos unidos.
Mas não é o tapa ardido que Yelena tinha que me dar que eu recebo. Desabo
entre o choro assim que seus dedos finos tocam em meus ombros e me
puxam para ela, me abrigando em seus braços. É a primeira vez em minha
vida que alguém me abraça dessa forma maternal.
— Oh, minha criança, me desculpe... — Ela me abraça mais forte e eu
choro. Sinto minha alma sendo rasgada, me recordando de tudo que eu
desejava esquecer.
— Eu condenei a minha alma, só eu... — falo entre o choro,
soluçando com dor.
Talvez, se eu não tivesse aceitado aquela barganha asquerosa, Nate
jamais teria tocado em mim, e eu nunca teria sido deformada em suas mãos.
Yelena me abraça mais forte e me sustenta em seus braços, enquanto eu
choro.
— Não, meu amor, não foi! — Ela beija o topo da minha cabeça e me
deixa ouvir o choro dela.
O simples fato dela me abraçar, me passar seu calor, chorando
comigo, me faz chorar o dobro. Não sei se foi a bebida ou a forma como ela
me cativou que me faz perder o controle das minhas emoções. Nunca tinha
conversado sobre Alekessandra com ninguém, nem com a psicóloga que eu ia
em Nova York. Alekessandra era como um quarto proibido que tinha dentro
da minha mente, onde eu sempre mantinha a porta trancafiada. E Yelena, de
alguma forma, conseguiu abrir essa porta e bisbilhotar dentro dela, me
sustentando quando eu desmoronei. Sua mão alisa meu rosto, com seus olhos
vermelhos de choro me olhando com brandura quando a crise forte de choro
passa e apenas os fungados baixos ficam, junto com o alívio estranho dentro
do peito por ter deixado a dor esvaziar um pouco.
— Como você sabia... — pergunto, baixo, para ela, fungando, não
entendendo como ela sabia tanta coisa.
— Porque foi assim que minha mãe criou Melissa e eu. — Ela
acaricia meus cabelos, os empurrando para trás da minha orelha e me dando
um sorriso quebrado. — Assim que lhe vi, que meus olhos encontraram os
seus, foi o mesmo que enxergar o passado...
Ela se aproxima, deposita um beijo em minha testa e se afasta,
ficando de pé e erguendo suas mãos para mim.
— Venha, quero te mostrar algo! — Seguro sua mão e me levanto
lentamente, vendo os olhos tristes de Sieta presos aos meus. Ela me dá um
sorriso tímido, como se estivesse pedindo desculpa silenciosamente.
Yelena prende meu braço abaixo do dela e esfrega minha mão onde
ela bateu, aliviando a ardência com seu toque calmo. Fico em silêncio e ando
com ela para fora da sala, enquanto ela nos conduz pela casa cheia de
decoração, vasos coloridos e tapeçarias antigas pregadas na parede. Sieta
anda lentamente atrás de nós, nos seguindo. Yelena para apenas quando entra
em uma porta ao fim do corredor, que ela nos levou, e a abre lentamente.
Olho a grande sala, com um tapete macio e grosso no chão, tendo várias
almofadas jogadas sobre ele, o decorando, e um espelho gigante na parede,
com moldura dourada. A única mobília que tem na sala é um grande armário
de madeira ao canto.
— Venha, entre. — Ela solta minha mão e dá um passo à frente, indo
para o armário e abrindo suas grandes portas. — Escolha uma.
Meus olhos ficam presos no interior do guarda-roupa, observando a
quantidade de máscaras que tem lá dentro, penduradas no forro.
— Nossa... — murmuro, surpresa, andando para perto dele.
Máscara de todas as cores. Tem de couro, de madeira, de animais, tem
as gregas, africanas, iguais as que o senhor Gregovik tem na casa dele, outras
são mais sombrias, completamente negras, apenas com os olhos de fora.
— Quer que eu escolha uma? — questiono, perdida, para ela, sem
entender qual o motivo disso.
— Sim, qualquer uma que chame sua atenção, que desperte seu
interesse. Erga o dedo e aponte para ela — Yelena fala e sorri, batendo seu
ombro no meu.
Giro meu rosto para trás, buscando pelo auxílio de Sieta, mas ela
apenas sorri e nega com a cabeça.
— Escolhe! — Sieta fala e entra na sala, se escorando na parede.
Volto meus olhos para o armário e fico perdida, sem entender porque
preciso fazer isso, mas depois de tudo que aconteceu até agora, o que seria
escolher uma simples máscara? Meu olhar vaga por elas, não tendo nenhuma
que realmente chame minha atenção, isso até eu repousar meus olhos na
delicada máscara negra, quase escondida pelas outras, no canto, bem no
finalzinho do armário. As orelhas pontudas menores me dizem que ela
representa um animal. Observo os detalhes dourados que tem na lateral dela e
contornam a abertura do olho. Um focinho negro, com bordas douradas, a
deixa mais bela, e tem uma pedra vermelha encrustada bem ao centro da
testa. E sem perceber ou ficar olhando as outras, me vejo erguer meu braço e
apontar meu dedo para ela.
— Pegue-a, criança. — Yelena me empurra para frente, rindo,
apontando para dentro do armário.
Me abaixo e pego a máscara em meus dedos, a trazendo para perto de
mim. Sua textura é firme, como acrílico, e escorrego meu dedo nos desenhos
dourados que tem nela, constatando que são hieróglifos[54].
— Ela é egípcia. — Sorrio e a olho com mais atenção, tentando
entender qual animal a máscara está representando. Parece um cachorro... A
viro lentamente e sinto as fitas de cetim que tem nas laterais.
— É a máscara de Anput[55] — Yelena fala, baixo, a retirando das
minhas mãos.
— A esposa de Anúbis[56] — murmuro e a olho nas mãos de Yelena,
me recordando de já ter estudado sobre as artes egípcias. Não tinha como não
estudar sobre Anúbis e não ouvir falar sobre Anput.
— A primeira escrava de um mestre. — Yelena ergue seus olhos para
mim e me dá um olhar intrigado. — Conhecida como uma deusa para os
mortais, mas para seu senhor ela era uma submissa.
Yelena a ergue lentamente e a vira de mansinho, levando a máscara
para minha face, sussurrando enquanto caminha para trás de mim, fazendo
um leve laço:
— Em Sodoma, eles dizem que uma alma submissa reconhece uma
dominadora — Sieta fala e se afasta da parede, parando à minha frente. —
Assim como uma submissa sempre mostra seu verdadeiro cerne quando
escolhe sua máscara de jogos. — Ela esmaga sua mão e bate perto do seu
coração. — Mamãe costuma fazer esse teste bizarro com toda garota que ela
conhece que tem ligação com Sodoma, ela fez isso comigo também. Eu
escolhi a do javali, ela representa garra e luta. Se eu aceitasse ter um mestre,
para ele me fazer de submissa, ele iria sofrer na minha mão, assim como eu
na dele.
— Então meu cerne é de um chacal, um tipo de cachorro? — falo,
rindo, e ergo meus dedos, tocando as pontinhas das orelhas. — Céus, acho
que bebi muita vodca, não consigo entender qual é do teste das máscaras!
— Não, minha criança. — Yelena dá à volta e segura meus ombros,
me virando lentamente. — Seu cerne é a lealdade, assim como a obediência.
Ela toca no meu queixo e me faz olhar para frente. Fico em silêncio e
vejo a máscara em minha face, que cobre a parte superior do meu rosto. Sinto
uma sensação estranha, não reconhecendo o olhar da mulher refletida no
espelho, como se ela fosse uma desconhecida que sempre esteve dentro de
mim.
— Olhe para ela, Mabel, e me diga o que você vê. — Yelena se afasta
e dá um passo para trás, falando baixinho.
Ergo meus dedos, toco a máscara e traço os contornos dos desenhos
egípcios dos olhos, na decoração dourada na orelha, abaixando lentamente
até a ponta do focinho.
— Eu vejo... — sussurro, perdida, mantendo meus olhos no espelho.
— O que estão fazendo aqui? — A voz masculina me assusta, me
fazendo tirar a máscara na mesma hora, olhando para a porta da sala.
Os olhos de Czar estão presos em mim. Levo minha mão para trás e
respiro rápido. Sinto o toque suave dos dedos de Yelena em meu ombro, se
aproximando de mim.
— Olá, tia Yelena, como está? — ela o recrimina, o olhando. — Faz
tempo que não venho te ver, perdão por ser um sobrinho ingrato!
Os olhos castanhos desviam dos meus e param em sua tia, que ri para
ele, negando com a cabeça.
— Olá, tia — ele fala, rouco, voltando seus olhos para mim, ficando
atento ao traje em meu corpo.
Sinto o toque da mão de Yelena na minha, retirando a máscara dos
meus dedos.
— Viu como família é um ser interesseiro, Mabel? Apenas nos
procuram quando precisam. — Ela me empurra para frente e me faz dar um
passo na direção de Czar.
Seus olhos ficam presos em minha face, enquanto ouço o armário ser
fechado.
— Mamãe estava mostrando para Mabel a decoração da casa, sabe
como ela é uma velha doida. — Sieta toma à frente, saindo da sala.
— Vim te buscar — ele diz, sério, mantendo a atenção em mim,
dando mais um passo à frente e entrando na sala, me fazendo quase fraquejar
com minhas pernas quando respiro seu perfume.
— Venha, querida, vamos vestir sua roupa! Lembra do que eu te
falei? Nada de sexo por hoje... — Minha bochecha fica aquecida, com meus
olhos se arregalando, com ela encarando Czar. — O senhor me ouviu
também, não é, rapazinho?! O corpo dela precisa de um descanso, a menos
que a queira machucar!
Ela me empurra e desvia dele, nos levando para fora da sala junto
com Sieta, enquanto ouço o som pesado da sua respiração zangada.
— Meu corpo precisa disso, não me lembro de você ter falado isso...
— sussurro para ela, a olhando confusa.
— Não, mas vamos deixar ele de castigo. — Ela pisca para mim e
murmura, dando um risinho.
Olho por cima do ombro e vejo Czar sair da sala, com as mãos no
bolso da calça negra e seus olhos presos em mim, abaixando vagarosamente
sua atenção para minha bunda, me fazendo lembrar da nossa conversa ao
telefone.
— Pensando bem, isso é uma boa ideia... — Retorno a olhar para
frente e ando rapidinho, sentindo os pelos da minha nuca ficando ouriçados
com a forma intensa que seus olhos me queimam. — Uma ótima ideia!
Automaticamente, meus braços vão para trás, ficando com minhas
mãos viradas, com o dorso em cima da minha bunda, como se pudesse
proteger meu rabo daqueles olhos diabólicos dele.
CAPÍTULO 22
O CÓDIGO DE JAZEBEL
Czar Gregovivk

— Trazer ela até você foi com intuito de cuidar da fertilização dela.
— Observo a porta fechada e ouço o riso de Mabel dentro da saleta com
Sieta, enquanto se troca. — Não para embriagá-la e brincar de oráculo com
ela, tia! Não tinha que fazer o jogo da sorte com Mabel.
Ergo meu braço e bato na porta, sentindo pressa em tirá-la daqui.
Meu humor não está um dos melhores. Tinha ido atrás de Ramsés com
esperança de que ele me revelasse algo sobre a mãe adotiva de Mabel, mas
não, ele nunca a viu. Ramsés tem uma memória fotográfica, ele jamais
esquece de um rosto, nome ou local. Seus olhos nunca avistaram
Alekessandra, nem dentro de Sodoma e nem fora dela, mas em compensação,
recebi notícias novas, que me fazem desconfiar de amigos antigos. Sinto
como se estivesse voltado ao início, sem nada que ligue Mabel à Freire, e a
ideia abominável dela de transformar crianças em submissas alfas. Dentro
de mim me nego a acreditar que sejam apenas coincidências, não quando
existem várias similaridades, as levando para o mesmo caminho. Só porque
não encontrei uma ligação concreta, não quer dizer que ela não exista,
apenas não foi achada ainda.
— Ouviu alguma coisa do que eu acabei de lhe contar? — Tia Yelena
dá um passo à minha frente, me olhando nervosa.
— Ouvi! — Me viro e a olho. — Mabel, vamos! — chamo por ela,
mantendo meus olhos em minha tia. — Ouvi muito bem o que me contou, e
entendi que usou seu dom e conhecimento para leitura corporal, se
aproveitou da embriaguez dela para descobrir mais.
Os relatos da juventude dela tinham me deixado mais raivoso,
odiando não conseguir comprovar as minhas suspeitas, para poder dar um
fim de vez naquela cadela de Freire, por ter corrompido a vida de Mabel.
— Avise a ela que estou esperando no carro, tia! — Viro e caminho a
passos duros para fora da casa, não gosto nem um pouco de estar aqui.
Essa casa afastada da cidade tinha sido o primeiro lar da minha mãe,
quando meu pai a trouxe com ele, era onde ele e sua esposa Valéria traziam
suas submissas. Depois que meu pai escolheu minha mãe e a levou para o
palacete, esse imóvel ficou fechado, até meu pai dá-lo de presente para
minha tia morar com Sieta, quando seu marido morreu.
— Anput, Czar! — Escuto a voz da minha tia falando atrás de mim,
me fazendo parar de andar. — A jovem escolheu a máscara de Anput.
Viro lentamente e encaro tia Yelena, que está com sua pele pálida e
me olha nervosa. Ela dá uma rápida olhada na porta, onde Mabel está, e
vira seu rosto para mim, andando até ficar parada à minha frente.
— Fez o teste das faces com ela? — sibilo, estreitando meus lábios.
— O que deu na sua cabeça e na de Sieta, tia?
O teste das faces é uma brincadeira antiga, diziam que foi criada
pelos primeiros conselheiros. Era assim que eles descobriam qual o nível de
entrega das suas submissas. Tia Yelena, por mais que não quisesse entrar no
mundo de Sodoma, se sentiu curiosa, ligada de alguma forma, e durante anos
se aprofundou em seus estudos como se fosse o trabalho pessoal da sua vida.
Ela tinha conhecimento de cada ritual de iniciação, jogos, testes que os
mestres faziam com suas escolhidas. E ela sabia que Anput era conhecida
por ser a primeira escrava sexual do seu senhor. As poucas mulheres que a
escolheram, eram conhecidas como as mais especiais, pois sua entrega se
igualava ao tamanho da sua lealdade e obediência.
— A única vez que eu vi alguém escolher essa máscara, foi há trinta e
oito anos, aqui, nessa casa — tia Yelena murmura e aponta para o chão da
casa. — Dentro daquela mesma sala, quando Valéria fez o teste com sua
mãe!
— Está enganada, tia.
— Eu estava aqui naquela noite, Greg, Melissa me acolheu quando
fugi de casa, foi a primeira vez que eu vi Valéria pessoalmente, com suas
roupas chiques e lenço bordado, com o apelido que seu pai deu para ela.
Valéria me deixou participar, tanto que me pediu para escolher, mas eu não
escolhi, porque não desejava entrar no mundo para o qual minha irmã
estava sendo levada. Não me via dentro dele. — Yelena gira o anel do seu
indicador lentamente, negando com a cabeça. — Mas sua mãe sim! Melissa
aceitou fazer o teste, ela não ficou nem cinco minutos diante das máscaras
antes de apontar para Anput.
— Isso é só uma porcaria de acaso. — Respiro fundo e dou um passo
para trás.
— Não está me ouvindo, sobrinho! — Tia Yelena segura minha mão e
me faz olhar em seus olhos. Enxergo uma nuvem escura pairar sobre seu
olhar azul, um medo refletido dentro dele. — Se tem uma coisa que eu
aprendi, é que não existe acaso em Sodoma, Czar. Eu sei o que eu vi nos
olhos de Mabel, e ao menos que sua avó tenha renascido das chamas do
inferno para atormentar minha alma através dos olhos daquela jovem, me
mostrando o passado que eu e sua mãe fomos criadas, posso garantir que ela
passou pelo que nós passamos.
— Está querendo me dizer... — falo, baixo, e ergo meus olhos para a
porta, que é aberta.
— Que eu tenho quase certeza de quem quer que seja que criou
Mabel, sabia exatamente como Melissa foi educada — minha tia solta as
palavras lentamente, me fazendo olhar para ela, enxergando o real motivo
da preocupação que está refletida em sua expressão angustiada.
— Acho que alguém aqui precisa aprender a tomar vodca! — A voz
de Sieta, rindo, faz-me desviar os olhos da minha tia, enxergando Mabel
encostada nela, assoprando uma mecha de cabelo da frente da sua face e
soltando um soluço.
— Estou pronta, senhor! — Mabel sorri de ladinho e tapa sua boca
quando outro soluço a pega.
— Não há acasos em Sodoma, Greg — minha tia murmura para mim
e se vira, indo na direção delas.
A vejo sorrir para Mabel e segurar sua face, dando um beijo em sua
testa, arrancando um riso dela quando sussurra algo em seu ouvido.
— Poderia ter me levado para casa — ela murmura com preguiça e
boceja, enquanto a tiro do banheiro, entrando com ela no quarto de visitas.
Saio dos meus pensamentos e a seguro mais firme em meus braços,
com seu corpo enrolado na toalha.
— Você não tem uma banheira, eu teria que entrar com você no boxe,
para te limpar — respondo e a sento na beirada da cama. Viro e vou para o
armário, pegando uma toalha limpa para os cabelos dela. — E eu não
pretendia tomar banho com você assim.
— Eu poderia ter tomado banho sozinha, sabia?! — Ela boceja outra
vez, com sua voz ficando mais arrastada. — Comigo assim como?
— Embriagada! Se eu tivesse deixado você tomar banho sozinha,
teria caído lá dentro, e a queda seria feia, por estar alcoolizada. — Volto para
ela e estico a toalha e seco seus cabelos.
— Cristo, você é chato! — ela murmura e solta um gritinho quando
belisco a lateral do seu corpo.
— E você apenas escapou de ser disciplinada por conta da quantidade
de álcool que está em seu corpo. Não pense que acreditei na historinha da
minha tia. — Me agacho perto dela e seco seus braços e suas pernas, vendo o
sorriso arteiro em sua face. — Não pense que não vamos conversar sobre sua
malcriação no telefone, amanhã cedo, antes de você ir para o trabalho.
— Eu podia ter conseguido marcar um médico para mim sozinha,
senhor. — Ela tomba seu rosto para o lado e boceja, com seus olhos abrindo e
fechando, caindo de sono. — Não que esteja reclamando de Yelena. A
princípio, até desconfiei que ela não fosse ginecologista, confesso que me
assustei com ela no começo, quando ela me ofereceu maconha e um suco de
luz, mas tirando o lance do susto com a oferta do aborto, de resto eu gostei
bastante dela. Gostei muito dela, para ser franca, de Sieta também, apesar de
não recomendar ninguém para andar de carro com ela.
Escuto sua risada inundar o quarto. O toque quente dos seus dedos
sobre meus ombros me faz girar meu rosto, olhando sua mão se apoiando em
mim, enquanto ela sorri e solta um suspiro.
— Ela te prescreveu o remédio? — indago para ela e retorno a minha
atenção para seus pés, os secando.
— Sim, o papel está na minha bolsa. — Seus pés se mexem, com ela
rindo, os tentando puxar, me deixando saber que sente cócegas nos seus
dedinhos. — Oh, Deus, pare de fazer isso, senhor!
Ela se encolhe e nega com a cabeça, mas mantenho seus pés presos
em minha mão, olhando sua face.
— Comece a tomá-los amanhã mesmo. — Respiro fundo e percorro
meu olhar por sua garganta, abaixando para frente do seu busto, admirando o
contorno dos seus seios escondidos embaixo da toalha enrolada em seu
corpo.
Mabel me dá um olhar dengoso e respira fundo, mordendo o cantinho
da sua boca e desviando seus olhos dos meus lábios, balançando sua cabeça
em positivo.
— Como foi em seu trabalho hoje? — Mudo o rumo da minha
atenção antes que a foda da forma como meu pau deseja. Abaixo seu pé seco
e pego o outro para secar.
— Boris foi assaltado, sabia?! — Ela solta o ar com desânimo e
encolhe seus ombros, abraçando seu corpo. — Quebrou o nariz dele e
descolou o ombro, senhor. Pensei que me disse que teve uma conversa com
ele, não que o machucou gravemente...
— Sim, eu conversei — falo sem um pingo de remorso e retorno
meus olhos para ela. — E garanti que prestasse atenção em cada palavra que
saiu da minha boca, e eu também pensei que já tinha lhe mandado parar de
pensar nisso.
— Não achei que seria assim, não pensei que o jogo iria sair de dentro
da masmorra. Quando me disse que tomaria controle de tudo, pensei que
seria apenas entre quatro paredes, não que controlaria cada passo meu...
— Não controlo seus passos, Mabel. — Levanto e fico de pé à sua
frente, a olhando sério. — Cuido de você.
— Por que, senhor? — Ela abaixa seu olhar, com um aspecto tão
solitário e frágil, abraçando com mais força seu corpo. — Por que cuidar de
mim...
Porque algo dentro de mim a quer segura, quer lhe mostrar que o
mundo, o meu mundo que lhe foi apresentado, não é essa abominação que
ensinaram para ela.
— Vou buscar uma roupa seca para você, e depois algo para lhe
alimentar — respondo e me viro, saindo do quarto.
Caminho pelo corredor e vou até os meus aposentos. Abro meu
guarda-roupa e pego uma camisa minha para ela. Observo a mesa ao canto,
tendo a tela do computador ligada, ainda carregando o sistema de segurança
das empresas aéreas, o qual me informará quando foi a última vez que Freire
entrou e saiu de Moscou.
— Tem certeza, Ramsés? — Observo o homem de terno, com seus
cabelos negros cacheados, penteados para trás, olhando a foto de
Alekessandra.
Tive sorte em conseguir conversar com ele antes que partisse de
Moscou. Ele estava de passagem pela cidade, finalizando alguns dos seus
negócios hoteleiros que tem, antes de retornar para o Egito. Conversei com
ele na noite das regalias profanas, ele tinha dado uma passada por lá para
me cumprimentar e me contou que ficaria umas três semanas em Moscou
antes de ir embora.
— Não, nunca a vi. — Ele deposita a foto em cima da mesa e olha
para mim, fumando seu charuto. — Qual seu interesse nessa mulher? É ela
que estão acusando de você ter machucado, ou estão caçando um outro
alvo?
Fecho meu semblante e nego com a cabeça, retraindo os músculos da
minha face. Eu nunca machuquei uma mulher, mas apreciaria causar muita
dor, de uma forma bem diferente da qual eu proporciono as mulheres dentro
do quarto, à Alekessandra.
— Não, mas essa em questão eu poderia machucar! — respondo e
pego a foto, guardando no bolso da jaqueta. — Preciso descobrir umas
coisas, por isso estou atrás dela.
— O que realmente está buscando, meu amigo? — ele pergunta
calmamente, mantendo os olhos curiosos em mim. — Confesso que quando
me avisaram que estava me aguardando, pensei que tinha vindo atrás de mim
para ser sua testemunha... Mas noto que não foi por isso que veio.
Fico em silêncio, o encarando, não sabendo se posso confiar em
Ramsés para lhe contar por que estou buscando informações de
Alekessandra, sem correr o risco dele descobrir minhas suspeitas sobre
Mabel. Ramsés foi um dos conselheiros que desprezou Freire severamente
quando ela fez a pequena demonstração com a jovem que ela tinha treinado
para ser submissa alfa, não posso correr o risco dele chegar perto de Mabel.
— Apenas quero saber mais sobre essa mulher. — Me limito em lhe
dar uma resposta breve, não entrando em detalhes com ele.
— Deveria ter cuidado com seus inimigos, meu amigo. Nunca os
perca de vista, é assim que sempre está um passo antes deles. — Ele sorri
para mim e solta o ar do seu charuto. — Porque é quando menos estamos
esperando que eles atacam, não devia ter baixado a guarda.
— Morgana armou para mim, se aproveitou de uma situação que
aconteceu dentro da minha casa para manipular um golpe. — Solto o ar com
raiva por minha boca e me escoro na cadeira. — Tem certeza de que essa
mulher nunca entrou em Sodoma, Ramsés?
— Tenho tanta certeza que ela nunca entrou em Sodoma, assim como
sei que a garota de vestido branco, que passou correndo por mim na hora
que eu fui embora aquela noite, das regalias, nunca tinha pisado em
nenhuma das nossas filiais antes. — Ele sorri e me dá uma piscada,
abaixando o charuto para seu cinzeiro. — E eu sei que foi ela que estava
com você, e não essa aí da foto, apenas queria saber seu real interesse.
— Você a viu! — O olho com mais atenção. — Viu Mabel fugir
aquela noite?
— Sim, eu a vi. Já tinha notado a presença de carne nova antes. É
meio difícil não notar uma mulher como ela dentro de Sodoma: pouca
maquiagem, sem roupas promíscuas, não é o tipo de visitante que passaria
despercebida. — Ele arruma sua gravata e dá uma rápida conferida depois
no relógio em seu pulso. — Eu a avistei antes da fuga, estava no bar quando
ela passou com um dos adestrados de Morgana.
Fico perdido com essa informação, não entendendo a quem ele se
refere. O submisso da Morgana estava no centro do salão aquela noite,
segurando as bandejas, enquanto Morgana o preparava para as regalias
junto com as esposas de Adrien.
— Não, deve ter se confundido com outra garota, não era ela. —
Nego com a cabeça. — O rapaz que levou Mabel aquela noite é o submisso
de Sebastian...
— Eu nunca esqueço um rosto, Czar, sabe muito bem disso. Tanto
que é por esse motivo que está aqui, e lhe garanto que é a mesma garota.
— Mas o rapaz que estava com ela aquela noite é o garoto de
Sebastian...
— Só que antes disso, ele era o da Morgana. — Ramsés me acerta
precisamente com essa nova informação. — Como eu disse, nunca perca seus
inimigos de vista. Como bem sabe, minha relação com Sebastian nunca foi
das melhores, sei cada passo que ele dá.
— O rapaz era submisso de Morgana antes de ser de Sebastian... —
Respiro forte, reagrupando todas as informações em minha cabeça. — Mas
os relatórios apontaram que ele foi iniciado há pouco mais de três meses em
Sodoma...
— Em Sodoma, sim. Mas como um cão obediente de Morgana já tem
quase seis anos.
— Seis anos? — indago, incrédulo. — Então isso quer dizer que ela
anda praticando dominação fora do conselho? — Estreito meu olhar, tendo a
única resposta mais sensata para Morgana ter tido um submisso sem o
conhecimento dos outros conselheiros.
— Sim, eu andei de olho nela também. O amigo do meu inimigo é
meu inimigo também. — Ramsés fica sério, me encarando. — Mantive minha
atenção sobre ela, e você conhece Morgana, ela não costuma deixar pontas
soltas. Demorei quase três anos para conseguir achar alguns deslizes dela, e
tive algumas provas que me levam a crer que a pequena filha leal ao
conselho de Sodoma está se preparando para se rebelar...
— Ela vai abdicar sua cadeira, abandonar Sodoma, que ela sempre
alega ser tudo para ela, ou ela está querendo algo maior... Derrubar os
outros conselheiros e comandar Sodoma sozinha?
— Não, meu amigo russo, Morgana tem pretensões maiores. — Ele
ergue seu dedo e solta um estalo. Não demora muito para um dos seus
seguranças aparecer ao seu lado, com uma pasta, e entregar a ele. —
Julguei mais sensato ficar em silêncio sobre minhas pesquisas particulares
em relação à conselheira Morgana, porque estou atrás de uma prova real,
para jogar a merda toda diante do conselho. Mas julgo que agora será um
bom momento para deixar os outros a par disso, antes que ela consiga ir
mais longe.
Ele deposita a pasta em cima da mesa e a empurra lentamente em
minha direção.
— Deveria ler com calma, vai encontrar algumas coisas bem
interessantes nessa pasta. — Ramsés levanta e me dá um aceno de cabeça. —
Até o dia do julgamento, meu amigo, use com sabedoria. E se me der a
liberdade para te dar um conselho sobre o que anda lhe atormentando a
mente, volte ao início, é isso que eu faço quando chego em uma rua sem
saída, refaço meus passos e encontro a resposta sempre no começo.
O vejo se afastar e caminhar para fora do restaurante do hotel, onde
ele está hospedado, com a orla de seguranças que o protege. Ramsés é um
homem perigoso, com muitos inimigos que adorariam apagar da memória
dele os podres que ele sabe de cada um. Abaixo meus olhos para a pasta cor
creme. A encaro e vejo o carimbo vermelho de um desenho de uma águia,
com as asas abertas. A informação sobre Macro ter sido um aprendiz de
Morgana martela em minha mente.
— Sebastian mentiu para mim! — rosno, baixo, tendo mais certeza
ainda que minhas desconfianças estão corretas.
Alguém tinha trazido Mabel para Moscou propositalmente, e agora
tenho quase certeza de que a primeira noite dela em Sodoma não foi acaso.
— Não há acasos em Sodoma — murmuro e olho a tela do
computador, onde a pesquisa finalizada me mostra que Freire não vem para
Moscou há mais de sete anos. — O que está deixando passar, Czar?!
Saio do meu quarto, segurando a camisa, e volto para Mabel. Assim
que retorno para o quarto, a encontro deitada de lado, na beirada da cama,
com seus olhos fechados. Seu peito sobe e desce lentamente, com as pernas
encolhidas.
— Está querendo me dizer... — falo, baixo, e ergo meus olhos para a
porta, que é aberta.
— Que eu tenho quase certeza de quem quer que seja que criou
Mabel, sabia exatamente como Melissa foi educada — minha tia solta as
palavras lentamente, me fazendo olhar para ela, enxergando o real motivo
da preocupação que está refletida em sua expressão angustiada.
Respiro fundo e olho para ela, soltando a camisa ao canto, perto dos
pés da cama. A ergo em meus braços e ouço seu suspiro baixo, com ela
adormecida, retirando a toalha úmida da sua pele, a deixando nua e
arrumando corretamente seu corpo no meio da cama. A cubro e deixo meus
olhos passarem por sua pele, sentindo meu pau responder à visão do seu
corpo. Respiro forte, não conseguindo entender por que ela mexe tanto
comigo. Giro meu rosto e vejo sua bolsa em cima da poltrona, ao lado da
cama. Estico minha mão e a pego em meus dedos, buscando pela receita
médica que tia Yelena prescreveu para ela.
Seguro uma agenda velha em meus dedos e vejo o elástico passado
em volta dela. A folha dobrada, que está com a ponta para fora, me faz a
puxar, vendo que é a receita do remédio de Mabel. Antes que eu possa
guardar a agenda novamente, um pequeno papel cai ao chão, perto do meu
pé. Dou um passo para trás e me abaixo, pegando-o em meus dedos e o
virando lentamente. Meus olhos ficam focados na imagem da menina com
sorriso tímido, usando um uniforme azul, saia de pregas até os tornozelos e
uma camisa branca, tendo um blazer em cima dela, com uma trança caída em
seu ombro. Ao seu lado, o garoto magrelo de cabelos ruivos sorri, usando o
uniforme masculino. Observo o emblema de algum tipo de ave dourada, com
suas asas abertas, sendo circulada por folhas de louro douradas na lapela dele,
tendo o mesmo emblema na lapela do blazer de Mabel. Retiro meu celular do
bolso e digito o nome do orfanato que Mabel vivia até ser adotada por
Alekessandra.
A ordem das Linas.
Encontro reportagens antigas do jornal de Nova York, relatando a
importância do orfanato na vida das crianças que foram deixadas lá. Fundado
há trinta e cinco anos por um grupinho seleto de esposas de banqueiros e
juízes, a elite de mulheres poderosas, iguais seus maridos. Atualmente,
sobrevive de doações dos familiares dos seus patronos fundadores e outra
orla de socialites, que fazem jantares beneficentes para arrecadar dinheiro.
Fico em silêncio, lendo todas as informações e repassando as fotos que tem
na internet, olhando uma por uma. Mas é apenas uma que prende minha
atenção, a foto do emblema do orfanato, na frente dos portões de ferro. O
brasão de uma águia dourada, com as asas abertas, está encrostado no ferro.
— Ela que te ensinou a se sentar assim também.
— Pelo que me lembro, não, talvez tenha sido no orfanato. — Sua
cabeça se mantém baixa, com ela parecendo perdida em suas lembranças. —
Nos sentávamos assim no carpete da sala de brinquedos, e ficávamos em
silêncio, aguardando a chegada dos brinquedos.
— O orfanato! — murmuro e saio do quarto, levando a bolsa dela e a
foto comigo.
Meus passos me conduzem até meu escritório, no andar de baixo,
onde a pasta que Ramsés me deu está guardada na gaveta. Tinha saído de lá
com a cabeça quente, ainda pensando sobre a mentira de Sebastian e seu
submisso, e vindo para casa. Guardei a pasta e tomei um banho, para poder
dormir um pouco antes de ir buscar Mabel na casa de Yelena. Iria ler os
documentos que tinha dentro da pasta essa noite, com calma, para entender o
que Morgana andava aprontando, e como as informações que Ramsés
descobriu poderiam me ajudar diante do conselho no dia do meu julgamento.
Mas agora, com ela em meus dedos, observando o mesmo símbolo do
carimbo, que é idêntico ao emblema do orfanato que Mabel foi deixada na
porta quando era um bebê, meu mundo entra em ruína. Seguro a foto de
Mabel em meus dedos e abro a pasta lentamente, observando as palavras em
itálico, em caixa alta, escritas em uma folha em branco.
A ORDEM DAS MESSALINAS.
O nome do orfanato brilha em minha mente, como se cada pedaço de
um quebra-cabeça estivesse se formando diante de mim. Solto a foto de
Mabel e leio as páginas com as informações assustadoras de entrega de
mercadoria de luxo, que já estavam prontas para serem entregues aos seus
donos. Uma rota com nomes e horários de leilões de mulheres sendo
vendidas. E a cada parágrafo, mais nojo e ódio vou sentindo. Meu corpo
desaba na cadeira quando chego na última página. É uma folha xerocada de
um diário de contas. Vejo os códigos do que é rotulado como mercadoria da
Elite, tendo apenas alguns nomes, cidades e países para onde foram
entregues, mas é o último, o último código, que me faz inalar o ar com ódio
para dentro do meu corpo.
Jezabel – Nova York: produto corrompido, mas
ainda desejado pelo proprietário. Valerá o dobro
quando estiver finalmente pronta.
Dono: N. A. – Moscou.
— Mabel... — murmuro seu nome, entendendo perfeitamente que
Jezabel foi o código que deram para ela.
Mabel já estava sendo iniciada muito antes de ser adotada por
Alekessandra, e Morgana não estava tentando tomar o poder dos conselheiros
em Sodoma, ela tinha criado seu próprio mundo de perversão, doente e podre,
onde ela usava um orfanato como fachada para criar submissas alfas e
entregá-las para o mestre que pagar o valor mais alto. Sieta tinha razão, o
verme desgraçado que machucou Mabel está aqui, em Moscou. Ele a trouxe
de volta para ele, e a vagabunda da Morgana é quem está metida nisso.
Estava tão focado em Freire, que não percebi quem realmente é a depravada
por trás de tudo!
— Cadela, filha da puta!
CAPÍTULO 23
A CAIXA PRETA
Mabel Shot

O caminho do prazer no cérebro humano não é simples, mas também


não é tão complicado e nem um bicho de sete-cabeças. Todos temos gatilhos
quase universais para nos induzir ao prazer: carinho, beijo, abraço, o romance
e a entrega. No entanto, há pessoas cujo prazer só é desencadeado por
situações mais específicas. Existem algumas coisas ou situações que
gostamos porque somos programados para gostar, educados, doutrinados para
aprender a ter satisfação pessoal com aquilo: sorrir, ser sociável, fazer
amigos, ter um emprego decente; e existem outros pontos da nossa vida que
são essenciais para nossa existência: consumir alimentos, tomar água e
procriar. Mas também existem outras coisas que aprendemos a desfrutar, que
fomos programados para responder ao mais suave e pequeno gatilho. Dor,
para alguns, é insuportável, algo que se evita a todo custo, só que para mim é
meu caos, meu inferno, mas a única que me leva ao verdadeiro prazer.
Corpo suado, colado, com a transpiração escorrendo por cada
centímetro da minha pele. O ritmo cardíaco acelerado, com meu peito
subindo e descendo rapidamente, os bicos dos seios doloridos, não por terem
sido beliscados e apalpados com brutalidade, mas sim pela esfomeação da
sua boca, que os sugou várias vezes, me torturando entre mordidas e sucção.
A imobilização dos meus braços abertos, com meu corpo esticado sobre a
mesa, faz meus músculos sentirem leves picos de dor. Meu clitóris que pulsa
o nervo sensível e inchado ainda por conta do último orgasmo.
— Ohhh, porra! — grito, sentindo as lágrimas escorrerem por minha
bochecha quando as pontas das tiras do chicote de couro raspam em cima da
minha boceta, me fazendo retrair e sugar ainda mais para dentro do meu ânus
o pequeno objeto de silicone emborrachado, lambuzado de vaselina, que meu
terrível e sexy carrasco introduziu em mim.
Sinto o formigamento nos meus pés, que se torcem, com minhas
pernas abertas. As virilhas esticadas, com ardência nas curvas da coxa,
completamente escancaradas, erguidas, presas na lateral das barras de ferro
que tem nos cantos inferiores da mesa almofadada, fazendo o couro em meu
tornozelo queimar ainda mais minha pele, assim como os dos meus pulsos se
apertarem a cada solavanco da mesa quando o quadril dele choca contra
minha pélvis com força, enterrando seu pau dentro da minha boceta. Ele se
retira lentamente, repetindo os mesmos movimentos que estão me torturando,
e por conta da quantidade absurda de dopamina que recebo, me faz ter a
ilusão que estou amarrada, sendo fodida por ele há uma eternidade.
Meu peito estufa para frente, fazendo minhas costas descolarem da
mesa, se alavancando para cima, mas mantenho minha cabeça presa na mesa
estofada. Mas dessa vez não é com uma coleira que ele me imobiliza, mas
sim com uma caixa. Talvez, se não tivesse fodidamente molenga por conta da
sua língua, que me tirou o ar dos pulmões quando ele me chupou de uma
forma tão promíscua, me levando ao gozo, eu teria conseguido prever que
aquela caixa em sua mão, quando ele se aproximou de mim, seria uma
armadilha. Tolamente, pensei que seu castigo aplicado em mim era o
pequeno plug anal. Mas não era. E pensando bem agora, a porra do plug foi
só um bônus do sexo oral que ele me deu. Meu verdadeiro castigo é uma
caixa de madeira um pouco maior que uma televisão de 14 polegadas,
revestida de couro por dentro, com pequenos furos, com o contorno correto
de um pescoço para o acomodar quando é fechada sobre a cabeça, e apenas o
escuro com alguns pontos de luz pelos seus míseros buracos me recebeu
quando o senhor Gregovivk a fechou e deixou minha cabeça imobilizada
dentro dela. Meus olhos piscam rapidamente, tentando se acostumar com o
breu ao qual me prende. O ar abafado da minha respiração, que está ficando
mais rápida, e o oxigênio caindo lentamente a cada soluço que solto, tendo o
chicote de tiras acertando os bicos dos meus seios. Sim, com toda certeza seu
quarto de jogos é uma masmorra, e ele é meu carrasco, que controla minha
alma depravada.
— Merda! — grito, me retorcendo, respirando mais rápido, não
conseguindo manter minhas inaladas de ar lentas.
Seu pau explode fundo, chocando e se afundando dentro de mim, me
fodendo mais forte, aumentando as investidas. Sinto tudo com mais euforia.
O calor da caixa, que me faz ter dificuldade para respirar, os bicos dos meus
seios que estão palpitando como se em cada um tivesse um coração selvagem
batendo, a minha boceta sendo invadida ferozmente, com ele me fodendo
com força, e o plug enterrado dentro do meu rabo, sendo comprimido pelas
paredes internas do meu órgão. Gemo mais alto quando sinto a ponta da sua
língua escorregar pelo meu dedão, mordiscando meu pé com malícia. Seus
movimentos desaceleram, tendo apenas o som da minha respiração
incontrolável entrando em meus ouvidos. Meu corpo se debate com aflição,
odiando-o por ter parado de se mover novamente.
— Senhor... senhor — falo com a respiração entrecortada e o choro de
desespero, desejo que ele me dê o que eu preciso, eu imploro para ele me
deixar gozar.
Ele não fala, me castiga ainda mais com seu silêncio, me negando
tocá-lo, beijá-lo ou ver sua face.
Acordar nua em uma cama, na qual eu nunca tinha dormido, só não
foi tão estranho quanto abrir meus olhos e o ver sentado na poltrona, ao lado
da cama, me observando. Seus olhos castanhos estavam sombrios. Ouvi sua
voz uma única vez quando ele me deu bom dia e me avisou que no banheiro
tinha uma escova de dentes nova e creme dental, que podia fazer minha
higiene, que ele aguardaria por mim. Passou tudo na minha cabeça, uma
bronca por ter o recriminado no telefone, até mesmo umas palmadas e no
máximo umas cintadas na bunda, por não ter desmentido o trote da tia dele na
noite passada. Mas o senhor Gregovivk não fez nada disso. Porém, eu sabia
que algo aconteceria quando saí do banheiro e o vi de pé, no meio do quarto,
esperando por mim. Ele saiu do quarto e eu o segui feito uma cadelinha
obediente, que mesmo sabendo que estava enrascada, ainda o acompanhou,
receosa, mas ao mesmo tempo curiosa pelo castigo. O frio na barriga ao
reconhecer a porta da masmorra erótica só perdeu para o pulsar interno que
tomou conta da minha vagina ao saber para onde eu estava indo.
E cá estou, amarrada feito um cordeiro de abate, com os braços e
pernas contidos, sendo fodida por ele sem um pingo de misericórdia, e de
quebra com uma caixa preta prendendo minha cabeça em seu interior. E eu
que pensava que me masturbar embaixo da cama me fazia ser estranha.
Czar levou minha tara de sufocamento para outro nível.
— Oh, Deus! — Mordo minha boca e balanço minha cabeça para os
lados, gritando em euforia e prazer quando seu pau volta a se mover.
Sinto cada músculo do meu corpo esticado e completamente rígido, as
sensações retornando, o fôlego caindo drasticamente, a onda de choque
retornando, tendo o pau dele entrando e saindo da minha boceta com mais
força, mais rápido, mais bruto, com ele não fazendo menção de parar dessa
vez, pelo contrário, ele está mais animal, incontrolável, escorregando seu
pênis para dentro de mim, acertando a popa do meu rabo com suas bolas. Seu
anelar para em cima do meu clitóris e o massageia na mesma sintonia que seu
pau explode dentro de mim, em várias cadências de entra e sai. Meu corpo
descarado, sem um pingo de amor-próprio, que tinha ficado molengo pelo
orgasmo anterior, responde de forma luxuriante, sem virtude alguma, apenas
repleto de pecado, me levando para o nirvana outra vez.
A mente perde de vez os sentidos quando o gozo explode dentro de
mim. Minha boca se abre e grito em libertação, com meu corpo se
retorcendo, convulsionando com desespero, caindo no mais prazeroso limbo
quando o orgasmo toma conta do meu ser, fazendo meu raciocínio cair para
zero e meus músculos se repuxarem com a descarga de energia que o
consome. Sinto quando seu pau sai de dentro de mim, e não demora muito
para os jatos de porra respingarem em minha coxa esquerda. Suspiro entre as
respirações altas e o coração palpitando, ouvindo o som rouco que sai da sua
boca, com o pau dele esfregando apenas a cabeça em minha perna. Sorrio e
fecho meus olhos, ficando com meu corpo mole, tombando meu rosto para o
lado, sentindo a textura interna da caixa em minha bochecha.
Deveria me sentir envergonhada, deveria me sentir revoltada,
humilhada, como um animal que foi abatido sem misericórdia, mas a única
coisa que sinto nesse momento é paz.

Paro de pé dentro do banheiro e fico de costas diante do espelho, com


o pescoço torto e a cabeça girada para trás, apoiada em meu ombro, tentando
ver o meio da minha bunda. Meu dedo toca lentamente meu ânus e sinto-o
dolorido por conta do plug que estava dentro dele. Solto o ar pelos meus
lábios e me viro lentamente, ficando de frente para o espelho, olhando meu
reflexo. Os seios inchados, com bicos sensíveis, trazem a marca da boca de
Czar, três roxos fortes na coxa, que me garantem que ficarão ali por um bom
tempo. Não lembro como eles foram feitos.
— Mão! — sussurro e fecho meus olhos, recordando agora da mão
dele segurando com força minha coxa.
Abro meus olhos e ergo meus braços para amarrar meus cabelos, mas
meus olhos ficam presos nos meus pulsos, que contêm novas marcas ao redor
deles. Abaixo meus olhos para meus tornozelos e vejo que eles também estão
marcados. Observo a banheira atrás de mim pelo reflexo do espelho, onde eu
acabei de tomar banho. Acho que foi a primeira vez desde quando
começamos isso, que ele não quis me limpar. Apenas me ajudou a sair da
mesa, me pegando no colo e me trazendo para o banheiro. Depois que me
depositou na banheira, se retirou em silêncio e me deixou perdida, sem saber
se eu ainda estava sendo castigada.
Termino de amarrar meu cabelo e saio do banheiro, passando meus
olhos pelo quarto. Há uma camisa dele dobrada no pé da cama, e nem um
sinal das minhas roupas que usei ontem. Caminho para perto da cama, a
vestindo, olhando-a virar um vestido comprido em mim, quase passando para
baixo dos meus joelhos. Agora, com mais atenção, observo o quarto que eu
passei a noite. Ele é imenso, maior que o meu apartamento, se duvidar,
mesmo tendo a grande cama de casal no centro dele, perto da janela, um
guarda-roupa grande branco, no canto acoplado na parede, e uma penteadeira
ao lado, sem nenhum tipo de pertence pessoal. Fico pensando se aqui é o
quarto separado para as submissas que ele recebe, não tem como não pensar
nisso. Imagino as outras mulheres que já devem ter dormido nessa cama antes
de mim. E uma estranha inquietação me aflige, uma que eu não compreendo.
Porque nunca senti algo estranho como estou sentindo agora, mas a cada
pensamento que tenho das outras visitantes que estiveram aqui, maior a
sensação nova vai ficando.
Imaginá-lo tocando outras mulheres, como ele faz comigo, dando
banho nelas, faz eu me sentir infeliz.
— O que esse homem fez com você durante esse jogo?
— Tudo, tudo o que desejava e até o que eu nem sabia que desejava.
Eu não consegui ficar longe, não suportei me afastar dele quando o jogo
acabou, porque minha vida ficou completamente vazia...
Minha mente desenterra as palavras de Macro, me fazendo ficar mais
confusa, olhando para a cama. O senhor Czar me dá o que eu preciso, me
induz à dor, assim como ao prazer, mas quando ele saiu do banheiro, me
deixando sozinha, eu senti melancolia, uma esquisita melancolia por saber
que ele não iria cuidar de mim. Eu ainda não sei ao certo o que pensar sobre
isso. No começo, achei um comportamento estranho, deixá-lo me dar banho
como se eu fosse uma criança, me secando e cuidando de mim. Só que hoje
não foi assim que me senti quando ele saiu do banheiro, mas sim triste, por
ele não ter feito isso.
Será assim que eu vou ficar me sentindo quando o jogo acabar? Não
estamos jogando há tanto tempo, acho que nem chegou a completar uma
semana. Como que eu posso estar sentindo falta de algo que até dias atrás eu
nunca tive?
— Está indo rápido demais — murmuro, preocupada, não entendendo
porque senti falta do cuidado dele.
Demoro um pouco mais dentro do quarto, tempo suficiente para
arrumar a cama e sair de lá, para descobrir onde estão minhas roupas e minha
bolsa. Mas pela luz do sol que entra pelas janelas, posso ter quase certeza que
perdi a hora. Merda, já devo estar no mínimo uma hora atrasada para meu
serviço! Caminho apressada pelo corredor depois que saio do quarto,
esmagando meus dedos ao lado do corpo, olhando em volta para ver se
encontro o senhor Gregovivk. Desço as escadas, e ao chegar no hall, estico
meu pescoço para direção da biblioteca, caminhando na direção da porta
aberta, para saber se ele está lá. Meus olhos veem a sala vazia, mas antes que
eu me vire, o par de copos, com uma garrafa de vodca pela metade, em cima
da mesinha ao lado do sofá, no canto, chamam a minha atenção, o que me diz
que alguém esteve aqui, bebendo com ele. Fico perdida olhando para eles, o
odor forte de tabaco ainda está presente na biblioteca.
— Seu café está pronto! — Me assusto e viro em um pulo assim que
ouço a voz dele atrás de mim.
Czar está parado, segurando uma xícara de café, olhando seriamente
para mim.
— Estava à sua procura. — Sorrio, envergonhada, e esfrego meu
peito.
Seus cabelos úmidos e o cheiro me avisam que ele preferiu se limpar
sozinho, já que está com outra roupa. A calça jeans azul-escura fica bonita
nele, assim como a camisa polo preta, e não sei por que ultimamente tinha
pegado uma certa atração por coturno militar, o qual apenas nele parece ser
tão sexy. Mas são os olhos castanhos que me sugam, que prendem o ar dos
meus pulmões, fazendo eu me sentir tão perdida diante dele.
— Venha! — Ele faz um gesto de cabeça, se virando e tomando seu
café.
— Na verdade, eu queria saber onde estão minhas roupas e a minha
bolsa. — Bato a ponta do meu pé lentamente no chão, desviando meus olhos
para a porta. — Preciso ir para casa e ainda pensar no que vou falar para
Rumeu por conta do meu atraso — suspiro, preocupada, ainda pensando
sobre os copos de bebidas dentro da biblioteca.
O som da respiração pesada acima da minha cabeça, me assusta, me
fazendo girar minha cabeça para frente. O cheiro do seu perfume invade
minhas narinas como brasa. O tenho a poucos centímetros de mim e sinto o
toque quente da mão dele, que ergue meu queixo e escorrega seu dedo em
minha pele.
— Seu café está pronto — Czar fala, mais rígido, e dá um passo para
trás, esperando que eu vá na frente, apontando para a grande porta aberta.
— Droga! — resmungo, baixo, e caminho para a direção que aponta.
— Eu não posso ficar, senhor, preciso trabalhar.
— E você vai, depois do café da manhã — ele me responde e anda
atrás de mim.
Sinto seu olhar me queimar, enquanto ando cabisbaixa, pensando no
que posso inventar para Rumeu, para explicar meu atraso.
— Posso muito bem tomar café da manhã na galeria. — Coço minha
nuca e respiro fundo. — Que horas são? Acho que já devo estar atrasada para
bater o cartão.
— Está duas horas atrasada, e Rumeu já sabe que está comigo!
— Oh, meu Deus! — Me viro na mesma hora. — Duas horas? —
Meus olhos se arregalam e olho sua face. — Como assim já sabe que estou
com você?
— Liguei para ele e o avisei que tomei a liberdade de lhe convidar
para tomar café comigo, enquanto discutimos sobre novas telas que desejo
adquirir. — Sua mão espalma em meu ombro, com ele me virando
novamente.
— Não deveria ter feito isso. — Nego com a cabeça. Rumeu não é
burro, ele notará que tem algo de errado nesses desejos repentinos do senhor
Gregovivk de comprar telas. — Não podia fazer isso, é o meu trabalho.
Nosso acordo não se estende até ele...
— Não interferi, apenas o comuniquei do seu atraso.
— Bom dia, princesa! — Antes que possa falar algo para Czar, sou
surpreendida por Sieta, que sorri para mim, sentada na mesa.
— Oie! — Dou um sorriso amarelo para ela e a vejo morder um
pedaço de pão. — Bom dia, Sieta.
— E aí, animada para a carona? — ela balbucia, falando de boca
cheia e sorrindo para mim.
— Como? — Pisco, confusa, não entendendo ao certo se ouvi bem o
que ela falou.
— Sente-se, vou pegar seu café. — Czar puxa a cadeira do outro lado
da mesa e aponta para mim.
— Ficou bem com o porre? Yelena ficou preocupada, achando que
exagerou na vodca com você.
— Não, eu fiquei bem. — Sorrio timidamente para ela e abaixo
minhas mãos para minhas pernas, quando os olhos de Sieta param em meus
pulsos.
— Percebo! — Ela pisca para mim e se encosta na cadeira dela,
relaxando seus ombros.
Czar se aproxima em silêncio e deixa a xícara de café na mesa à
minha frente, dando uma encarada em sua prima antes de se afastar da mesa
novamente.
— Oh, céus, estava faminta! — ela tagarela para mim, disfarçando
um riso. — Coma essa rosquinha, Mabel, vai amar, comprei na Rua Augsta.
— Acho que já a experimentei. — Sorrio para ela e pego uma
rosquinha. — Foi até a Rua Augsta para comprar rosquinhas? Essa rua fica a
poucos quarteirões de onde eu moro.
Mordo a rosquinha e acompanho com os olhos o senhor Gregovivk
andando pela cozinha, indo perto da bancada da pia e se servindo de café.
Pego a xícara que está cheia à minha frente e a levo aos lábios, retornando
para Sieta e a vendo balançar sua cabeça em positivo, mastigando seu pão.
— Eu sei, passei no seu apartamento quando fui buscar suas coisas,
para trazer para cá.
A chuva de café que sai da minha boca é inevitável, quando ouço sua
resposta, me fazendo olhar perdida para ela. Pego um papel toalha e limpo
meus lábios, respirando apressada.
— Desculpa, mais o que você disse? — Olho dela para Czar, o vendo
ainda de costas para mim.
Fica com seus ombros eretos, o som alto da sua respiração sai
zangada, como um urso mal-humorado.
— Suas coisas? — Sieta ergue o guardanapo e limpa sua boca,
olhando de mim para o senhor Gregovivk. — Pensei que já sabia...
Respiro apressada e abaixo a xícara, a soltando na mesa, virando meu
rosto para ele.
— Por que minhas coisas foram buscadas sem meu consentimento?
— Acho que essa é minha deixa para ir fumar um cigarro lá fora! —
Sieta fala rapidamente e solta um assobio longo, se levantando e saindo da
cozinha.
Me mantenho em silêncio, o olhando, sentindo meu coração disparar
a cada segundo que se passa, não acreditando que ele fez isso.
— Senhor Gregovivk! — o chamo com mais urgência, querendo que
ele me dê uma explicação.
— Termine seu café, Mabel! — ele responde seriamente e se vira,
olhando para mim. — Depois pode subir e se trocar, suas coisas já estão no
seu quarto.
— Oh, meu Deus, você realmente fez isso?! — Levanto em um
rompante, olhando-o incrédula. — E não pensou em perguntar para mim se
eu queria isso?
— Fiz o que achei que seria correto. Você me deu o poder de decisão
quando aceitou jogar. — Sua voz é baixa e perigosa quando ele fala em tom
falsamente calmo, abaixando a xícara em cima da mesa.
— Não! — Nego com a cabeça e cerro meus lábios. — Nosso acordo
era apenas em jogar Sodoma. — Gesticulo com meu braço, fechando meus
dedos, cerrando minha boca. — Lhe dei controle sobre mim dentro do quarto,
e não para decidir minha vida a hora que bem entender, como se eu não
passasse de um capricho seu.
— Capricho? — ele rosna entre os dentes e fica mais ameaçador
quando dá um passo em minha direção, estufando seu peito para frente a cada
inalada de ar forte. — Acha que meu pau a fode por capricho? Que a
necessidade que eu preciso em ter o controle total do que me cerca é apenas
capricho, passarinho?
— Primeiro ligou para Rumeu, interferindo em meu trabalho, agora
descubro que minhas coisas estão dentro da sua casa... — Ergo meus dedos e
esfrego meu rosto com raiva. — Em questão de dias está mudando e
dominando minha vida, sem nem ao menos disfarçar...
— A partir do momento que aceitou meus termos, você me deu esse
poder. Não tenho que disfarçar, faço o que tem que ser feito. E não estou
mudando sua vida, estou cuidando...
— Não pedi para que você cuidasse de mim! — grito com raiva, me
sentindo acuada e assustada.
Czar se move em um rompante, rápido e perigoso, quando as mãos
dele se prendem em meu ombro, me deixando encurralada entre ele e o
armário da cozinha.
— Nos próximos vinte dias, você fará tudo o que eu mandar. Todo
seu tempo depois do trabalho e suas horas vagas pertencem apenas a mim
agora, não terá nenhum controle nas decisões que eu tomar e irá me obedecer,
sem questionamento. Se me desobedecer, irei castigá-la da forma que eu
julgar correto — ele rosna com raiva, com sua respiração acertando minha
pele, me encarando enquanto recita as mesmas palavras que ele disse quando
me propôs o jogo. — Se recorda das minhas palavras, passarinho? Se recorda
de qual foi sua resposta?
— Não disse que teria que morar com você... — murmuro e fecho
meus olhos, virando meu rosto. — Não posso fazer isso...
— Abra os olhos, Mabel! — Ele solta meu ombro e segura meu
queixo, me obrigando a olhar para ele, o fazendo parecer ainda mais alto,
mais dominante, me capturando em seu olhar. — O que não pode fazer?
Me sinto angustiada. Eu tinha passado tanto tempo trancada dentro
daquela casa com Alekessandra, que a última coisa que eu me via fazendo era
conviver novamente com outra pessoa embaixo do mesmo teto. Olho para ele
com dor, não sabendo como explicar para ele o que eu estou sentindo. Os
olhos castanhos me estudam em silêncio por um longo tempo, respirando
fundo e suavizando sua feição.
— Não quero me sentir presa outra vez — sussurro para ele, o
deixando ver o medo e a dor que meus olhos refletem ao me imaginar
passando por todo aquele tormento novamente. — Não sou um passarinho,
senhor, para que possa me prender em uma gaiola...
— Não a trouxe para minha casa para ser minha prisioneira,
passarinho. — Seu toque em meu queixo fica brando, com ele me olhando de
forma intensa e usando o tom baixo da sua voz rouca, que me desarma.
Mas é o calor dos seus lábios, quando ele inclina sua cabeça para
baixo e captura meus lábios, que me dobra de vez. Seu beijo traz o sabor de
café com menta. Um beijo dominante, que vai silenciando meus demônios do
passado, os fazendo se acalmar. Meus dedos se erguem e seguro em seu
quadril, esmagando sua camisa, para me sustentar nesse furacão em forma de
homem que me quebra tão facilmente, apenas para me montar do jeito que ele
deseja.
— Me procurou por que confiava em mim, não foi? — Czar segura
meu rosto com suas mãos e afasta sua boca da minha.
Minhas pálpebras se abrem lentamente, ainda tendo o gosto do seu
beijo nevoando meus pensamentos.
— Não foi? — Ele alisa meu rosto, me tendo à sua frente como um
fantoche que acaba de ser manipulado por seu beijo perigoso.
— Sim... — respondo, baixo, e passo a ponta da minha língua em
minha boca, sentindo meus lábios inchados pelo beijo dele.
— Ótimo, o assunto está encerrado! — Ele me dá um xeque-mate,
finalizando sua jogada ao me beijar novamente com mais urgência.
Gemo baixinho, respondendo ao seu beijo com agrado, mesmo
sabendo que ele estava usando minha fraqueza. Sua mão escorrega para
minha cintura e se alastra para meu rabo, trazendo meu quadril para frente e o
chocando com o seu. Suspiro com mais euforia, deixando minha língua tocar
na sua. Meus dedos espalmam em seu peito, parando minha outra mão em
sua nuca, o beijando com pura vontade.
— Se quiserem, posso ficar lá fora o resto da manhã! — A voz de
Sieta fala em tom de riso, nos fazendo quebrar o beijo.
Gregovivk tem seus olhos castanho-claros e limpos quando meus
olhos se abrem com lentidão e o encaram, e sinto sua respiração acertar a
ponta do meu nariz.
— Suas coisas já estão no quarto, termine de tomar seu café da
manhã, tenho algumas ligações para fazer no escritório agora.
Ele se afasta de mim e dá um passo para trás, apontando para a
cadeira que eu estava sentada. Fecho meus olhos e balanço minha cabeça
para o lado, tentando tirar esse nevoeiro de luxúria que ele me causa com
seus beijos.
— Não posso simplesmente sair do meu apartamento e o deixar
fechado por semanas — falo, alto, ouvindo os passos dele se afastando para
fora da cozinha. — Preciso avisar...
— A senhora que alugou o apartamento para você já sabe que ficará
fora por um tempo — Sieta é quem me responde, rindo, me fazendo
encontrar sua face me bisbilhotando quando eu abro meus olhos. — Eu avisei
para ela que você precisou dar uma viajada a trabalho.
— Exatamente quando foi decidido mudar o rumo da minha vida
entre ontem à noite e hoje cedo? — pergunto para ela, tentando me recompor
da destruição do beijo do senhor Czar.
— Acho que era umas cinco da manhã! — Sieta sorri e me dá uma
piscada. — Greg é assim mesmo, impulsivo, tudo é 8 ou 80 com ele. — Ela
estica seu pescoço e olha para fora da cozinha, retornando sua face para mim.
— Você e o ursão estão ficando pra valer, hein?!
— Não estamos ficando nesse tipo de contexto de relação, Sieta. —
Desencosto do armário e coço minha nuca, negando com a cabeça. — O
senhor Czar e eu só estamos jogando...
— Sei... — Ela sorri para mim com malícia. — Eu já joguei desse
jeito que vocês estão “jogando”. — Seus dedos se erguem, fazendo aspas no
ar. — A diferença é que eu e ele não éramos compatíveis. — Sieta dá uma
risadinha e abaixa suas mãos. — Espero que não fique brava comigo, por ter
ido pegar suas coisas...
Ela muda de assunto rapidamente, desviando seus olhos dos meus.
— Foi até meu apartamento de madrugada, pegar meus pertences? —
Olho para Sieta, não acreditando que ela aceitou participar dessa loucura.
— Na verdade, fui às seis horas. Peguei uma mala de roupa e seus
produtos de beleza. — Ela dá de ombros e vira de costas para mim, pegando
uma rosquinha na mesa. — Coisa pouca. Depois passei na confeitaria, trouxe
o café da manhã e levei suas coisas para o quarto.
— Mas eu não lhe vi entrar! — Cristo, devia realmente estar apagada
na cama! — Estava roncando, na certa...
— Não era bem esse som que você fazia. — Ela ri, falando de boca
cheia. — Estava mais para gemidos...
— Oh, meu Deus, você estava na casa quando eu entrei... — Me sinto
mortificada ao saber que ela estava aqui dentro quando Gregovivk me levou
para a masmorra.
— Venha, vou te mostrar seu quarto! Greg pediu para deixar seus
pertences no quarto ao lado do dele. — Tenho tempo apenas de erguer
minhas mãos, quando Sieta joga uma rosquinha em minha direção.
A sigo e ando apressada atrás dela, que assobia, saindo da cozinha.
Paro meus olhos na porta da biblioteca, que está fechada, me deixando saber
que ele está lá.
— Você estava desde que horas aqui? — pergunto para Sieta,
lembrando dos copos e da garrafa de bebida. Talvez tenha sido Sieta que
estava bebendo com ele.
— Greg me mandou uma mensagem às cinco horas da manhã,
pedindo para eu buscar suas roupas e trazer para o quarto ao lado do dele. Às
seis fui até seu apartamento e passei na confeitaria. Acho que cheguei aqui lá
pelas sete e vinte. Quando cheguei, já estavam trancados no quarto especial
dele... — Ela vira quando chega no degrau ao pé da escada, e me olha
curiosa. — E aí, como é a sala dele? Ele nunca me deixou ver...
— É bem diferente, eu acho. Parece um calabouço... — a respondo,
pensando sobre sua resposta, mordendo a beiradinha da minha boca. — Então
quer dizer que vocês dois não se viram...
— Sério? Só isso... — Ela nega com a cabeça, demonstrando tédio em
sua expressão, com a descrição rápida da sala de jogos do senhor
Gregogovik. — Bom, mas sim, eu não vi aquela carinha cretina do meu
primo, não até ele descer para a cozinha...
Subo as escadas junto com ela em silêncio, descartando a ideia inicial
de que foi Sieta que estava na biblioteca com o senhor Gregovivk. Ouço Sieta
tagarelar enquanto caminhamos pelo corredor, enquanto o cheiro forte de
fumo que eu senti, me faz pensar sobre quem poderia ter vindo aqui. Eu não
sei nada sobre ele, para ser franca, fora as poucas informações que o senhor
Gregovivk me deu, e que também não me dizem muito sobre ele.
— O senhor Gregovivk trabalha exatamente com o quê, Sieta? —
pergunto, baixo, olhando suas costas e a vendo dar de ombros.
— Greg é versátil, a mente dele não o deixa descansar muito.
— Como assim? — Olho com mais atenção para ela.
— Digamos que se Greg fosse um personagem de algum filme, ele
seria Skynet[57]. — Ela ri e vira para mim. — Aquela cabecinha pode fazer
um grande estrago apenas decifrando códigos de placa mãe, ou invadindo um
computador privado.
— Ele trabalha com informações digitais?
— Digamos que sim. Ele faz alguns trabalhos por fora, sem nota
fiscal, entende? — Ela se vira, me olhando, e balanço minha cabeça
lentamente, compreendendo ao que ela se refere.
Agora compreendo como ele sabia que Boris estava desviando
dinheiro da galeria. O senhor Gregovivk invadiu o sistema digital da
contabilidade da empresa.
— Seu quarto é esse aqui. — Ela sorri para mim e para em frente a
uma porta, ao fim de um corredor longo.
Olho com mais atenção agora o caminho que fizemos, e percebo que
eu ainda não tinha vindo para cá. O único corredor que eu conhecia era o que
levava para a masmorra erótica. Sieta abre a porta e aponta para mim, me
dando um sorriso.
— Se achar que ele é muito pequeno, apenas precisa me avisar, que
procuro outro para você agora mesmo — Sieta fala atrás de mim, enquanto
entro e fico parada, completamente perdida no centro do quarto.
Não entendo o que deva ser um parâmetro de grande ou pequeno na
ótica dela, visto que o cômodo que ela apresenta como meu quarto é maior
que o apartamento que eu moro e o quarto anterior, onde eu acordei. O chão
forrado com uma tapeçaria vermelha, destaca os móveis rústicos de madeira.
Vejo a cama enorme, a qual penso que praticamente terei que escalar para
subir nela. Observo a estrutura do móvel, que foi feita por um excelente
carpinteiro, que transformou algo que deveria ser simples em uma obra de
arte ao construir a cama de casal gigantesca com dossel, uma madeira escura
e brilhosa que salienta ainda mais o trabalho manual. Os outros móveis
dentro do quarto, tanto o guarda-roupa de duas portas como a cômoda com
um espelho embutido, trazem a mesma riqueza de trabalho manual que a
cama. Se por um segundo achei a cama extravagante, a lareira ao canto da
parede, dentro do quarto, me diz que isso não é nada. Observo os papéis de
parede laranjas, que revestem as paredes do quarto, deixando minha atenção
parar na grande sacada. Uma porta de duas folhas está aberta à esquerda, as
cortinas beges claras balançam por conta do vento que as acerta, e todo o
quarto é tão iluminado. O cômodo em si é tão lindo, que me faz pensar que
saí do século que estamos e retornei para a era medieval.
— Ali é o banheiro. — Sieta caminha pelo quarto e passa por mim,
apontando para a direita. — Cristo, esqueci a porcaria da janela aberta, esse
quarto está um gelo! — ela fala, zangada, e caminha para lá.
Ela fecha a porta da sacada e se vira, dando um grande sorriso largo
para mim.
— Então, o que achou dele? — Sua voz é animada, me perguntando
de forma tão alegre, que não consigo parar de pensar que talvez eu vá magoá-
la se lhe disser que o achei extremamente exagerado, por conta do tamanho e
ostentação, apenas para me acomodar por alguns dias, até terminar o jogo.
— Eu o achei muito bonito — murmuro apenas isso, lhe devolvendo
o sorriso caloroso, não tão animado quanto o dela, deixando meus
pensamentos apenas para mim.
— Maravilha! — Suas mãos se batem e estala as palmas uma na
outra, enquanto anda em minha direção.
Ela ri e senta na beirada da cama, apontando para o armário.
— Tomei a liberdade de guardar seus pertences.
Caminho devagar até o guarda-roupa e o abro, vendo minhas roupas
dentro dele, meus perfumes na prateleira à esquerda, arrumados
meticulosamente.
— Não precisava ter tido todo esse trabalho, Sieta. — Encolho meus
ombros e me viro para ela, fechando a porta do armário. — Eu podia ter
arrumado, sem precisar ficar lhe incomodando ainda mais.
— Para mim é indiferente, não ligo. Pelo contrário, gosto de quando
Greg pede minha ajuda. — Ela passa os olhos pelo quarto e os repousa em
mim. — Isso o deixa mais humano.
Vejo o brilho do carinho que ela tem por ele refletir em seus olhos e
trasbordar lealdade em cada palavra que sai da sua boca.
— Normalmente é você que faz isso para ele? — Movo os dedos
entre mim e o armário. — Que o auxilia com suas submissas?
— Que submissas? — Ela ri, me perguntando.
— As de Sodoma... — digo, envergonhada, não entendendo sua
explosão de riso.
— Oh, Deus, não! — Ela nega com a cabeça. — Greg não as traz para
cá, ele nunca trouxe uma daquelas mulheres de lá para a casa dele. As garotas
que o buscam em Sodoma, o mais longe que chegaram é na sala de jogos do
clube. Meu primo não tem envolvimento pessoal com ninguém, bom, não
até...
— O jogo? — Abraço meu corpo e sugo a parede interna da minha
bochecha. — As garotas que jogam Sodoma com ele, são as que vieram
aqui...
— Não, Mabel, acho que não entendeu. — Sieta levanta e sorri,
negando com a cabeça e andando até mim. — Czar não traz nenhuma garota
nessa casa, você é a primeira mulher a invadir o santuário dele...
Minha mente tenta raciocinar o que acabei de ouvir. Se Czar não
deixa outras mulheres entrarem, por que ele tem uma sala de jogos particular?
— Eu não sei se estou entendendo... — Meus olhos observam o
grande quarto, me deixando saber que claramente foi construído com
intenção de abrigar uma mulher. — Esse quarto, a sala de jogos...
— Quando Czar construiu esse imóvel anos atrás, foi com o intuito de
ser a casa dele e da companheira dele. — Ela olha em volta e bate a ponta do
seu pé no chão. — Ele é de Sodoma, mas só por causa disso não quer dizer
que ele nunca se imaginou casando...
— Ele fez essa casa para alguém em especial? — Fico olhando a
cama enquanto Sieta anda pelo quarto, o estudando.
— Eu tenho pra mim que não, mesmo a escrota da Gaile soltando
para os quatro ventos que foi para ela.
— Gaile? — Meu rosto se ergue e olho para ela.
Sieta se demora, olhando para mim como se estivesse pensando sobre
seguir adiante com o assunto ou não.
— Ele vai me matar se souber que te contei isso, e além do mais, você
tem que ir trabalhar. — Ela repuxa sua boca, olhando para a porta.
— Já estou atrasada, e pelo que me consta, estou em uma reunião com
o senhor Gregovivk. Uma hora a mais ou a menos não fará diferença no meu
atraso para o trabalho hoje, Sieta. — Dou um passo à frente e fico na sua
linha de visão, olhando ansiosa para ela.
— Ainda não sei se é uma boa ideia... — Ela morde sua boca e leva as
mãos para trás em seu bolso. — Tem coisa que Greg não gosta que conte
sobre ele...
— Fui praticamente despejada do meu apartamento e trazida para cá
sem que eu soubesse. Acho que seria justo eu saber de algo, para variar!
— Bom argumento, passarinho! — Ela estala o canto da boca. —
Mas, ainda assim...
— Sieta, por favor, me conte. Quem era ela? Gaile era a namorada do
senhor Gregovivk?
— Não! — ela responde, baixo, e nega com a cabeça. — Gaile foi a
primeira submissa dele. — Sieta caminha para a cama e senta novamente. —
Meu tio apresentou os dois, foi assim que ele descobriu qual dos filhos iria
ficar com a cadeira dele no conselho. Czar sabia fazer Gaile se submeter.
Caminho devagar e me sento ao lado dela. Apoio minhas mãos no
colchão e bato meus pés lentamente no chão, olhando o tapete.
— Greg e ela eram perfeitos juntos, tanto que chegava a ser irritante
às vezes — Sieta fala, rindo. — Quando o jogo foi inventado por Jonathan
Roy, um dos conselheiros da Austrália, Greg e Gaile foram o primeiro casal
de Sodoma a testar. Os dois jogaram pra valer, se isolaram, ficando em um
hospital abandonado...
Recordo da história que Macro contou, sobre a moça que ficou
viciada em Czar, e meus olhos se erguem para Sieta na mesma hora.
— O que houve com ela depois do jogo?
— Os dois ainda continuaram jogando, mesmo depois do hospital,
tanto que foi por causa deles que inventaram a palavra de segurança — Sieta
conta, rindo, e balança seus ombros.
— Gomorra — murmuro a palavra que o senhor Gregovivk me
contou ser a palavra-chave que encerra o jogo.
— Isso aí. Eles estavam trepando tanto, que ela chegou a perder a
consciência. Greg entrou em pânico, achando que tinha matado a Gaile. —
Sieta para de rir, ficando com uma expressão séria. — O conselho então
estipulou Gomorra, sendo uma piada sobre Sodoma. Só que Gomorra não
acaba só com o jogo, ela encerra tudo. Corta o vínculo que o mestre tem
sobre a submissa.
Sieta solta um grande suspiro e bate suas mãos em sua perna, se
levantando e se virando para mim.
— Greg iria fazer dela sua companheira oficial em Sodoma. — Ela dá
um sorriso fraco, cerrando seus lábios. — Uma semana antes dele fazer isso,
oficializando a união dos dois diante dos outros conselheiros... Czar precisou
viajar. Naquela época, eu estava trabalhando como secretária no
administrativo do açougue, Czar não permitia que eu me envolvesse em
Sodoma.
— O açougue é real, ele funciona mesmo? — pergunto, curiosa. —
Pensei que era apenas de fachada...
— Sim, não deixa de ser, mas é real também. — Sieta esfrega suas
mãos uma na outra e respira fundo. — Não passava de um açougue pequeno,
que pertencia aos nossos avós maternos. Estava fechado há anos, depois que
os velhos morreram, mas Greg o reabriu e o transformou em um comércio
rentável. A estrutura imensa que tem no seu interior caiu como uma luva para
abrir o clube de Sodoma aqui em Moscou, afinal, quem vai imaginar que
pessoas poderosas transitam no interior de uma carniçaria, praticando felação.
— Ninguém — a respondo e balanço minha cabeça em positivo,
entendendo o ponto de lógica dela. — Foi ela, Gaile, que disse a palavra-
chave?
— Não. — Sua cabeça se move em negativo. — Czar a repudiou.
Eles foram os primeiros a praticar o jogo, da mesma forma que ele foi o
primeiro a dizer a palavra-chave.
— O senhor Gregovivk que a disse, ele quebrou o vínculo... — Olho
perdida para meus pés, que estão mais ansiosos, batendo apressados no chão.
— Mas o que ela fez para poder causar isso, para fazê-lo a repudiar?
— Gaile fez a única coisa que meu primo jamais a perdoaria. Eu
precisei ir até o apartamento de Greg, para pegar uns documentos para a
empresa, eu tinha uma chave reserva comigo que ele me deu, para quando eu
precisasse ir até seu apartamento e ele não estivesse lá. — Sieta inclina sua
cabeça apenas um pouco para o lado e fecha seus olhos, coçando agoniada
sua nuca. — Gaile estava lá, eu não sabia. Vi a bolsa dela em cima do sofá da
sala e pensei que Greg tinha retornado de viagem. — Ela abre seus olhos e
me encara. — Eu ouvi sons vindo da cozinha e fui até lá.
Endireito meu corpo e fico com meus olhos presos em Sieta, sentindo
agonia dentro de mim, esperando pelo fim da história.
— Gaile estava fodendo com Kaiser, nua, em cima da mesa.
— O meio-irmão... — Tapo minha boca, com meus olhos ficando
arregalados.
— É! Aquela cadela parece que não conseguia se contentar só com
um pau Gregovivk. — Sieta esmaga sua boca com raiva e respira fundo. — E
ela sabia, sabia que Kaiser era um verme nojento que fazia de tudo para puxar
o tapete de Greg.
— Você contou para ele... — Vejo a resposta nos olhos tristes de
Sieta, abaixando meus dedos da minha boca.
— Sim, eu contei para o meu primo o que eu vi. — Ela balança a
cabeça em positivo. — Não podia permitir que ele fizesse dela sua
companheira, não quando ela fez a única coisa que sabia que o machucaria...
Gravei os dois fodendo na cozinha, com ela de quatro e com seu rosto
abaixado, colado na mesa, com Kaiser nu, a comendo. Não tive coragem de
mostrar para ele, não quando até eu fiquei com meu estômago embrulhado...
— Como assim? — sussurro e vejo a face de Sieta demonstrar asco
puro.
— Eles não me viram, sou pequena, e de onde eu estava não tinham
como me verem, mas eu os via. Vi e gravei tudo que eles fizeram. Kaiser é
um doente depravado que supera a perversão, a fazendo se transformar em
algo nauseante.
Ela dá um passo à frente e retorna a se sentar do meu lado, passando
os dedos em seus cabelos com nervosismo.
— Que tipo de coisas nauseantes?
— Do tipo do pau dele saindo do rabo dela cheio de fezes e sangue, e
ele a fazendo chupar. — Sinto minha bílis subir em minha boca, me fazendo
tapá-la na mesma hora. — É, foi exatamente assim que eu fiquei quando vi, e
vai por mim, não vai querer ouvir o resto que rolou naquele apartamento.
— Cristo! — Dessa vez quem levanta sou eu, enquanto respiro
agitada, tentando conciliar em minha mente tudo que ouvi.
— Eu contei para Greg que Gaile estava no apartamento dele com
Kaiser, e que os vi transando — Sieta suspira e encolhe seus ombros. — Greg
a repudiou no dia que retornou para Moscou. Ela ficou completamente fora
de si... Não aceitou o desprezo dele, indo atrás de Greg no clube, ficando
parada na frente da porta do apartamento dele, mas ele não estava mais
morando lá, ele nem voltou para pegar as coisas que deixou lá, dentro do
apartamento, de tanto nojo que ele sentia do lugar, em saber que ela fodeu
com o meio-irmão dele lá dentro.
— Kaiser, ele soube que o senhor Gregovivk descobriu?
— Oh, sim, ele soube! Czar quebrou a cara dele, foi uma surra e
tanto. Mas, a meu ver, ainda foi pouco para aquele bosta.
— O que houve com Gaile? — Recordo do sumiço dela, que Macro
tinha contado, que ninguém mais a tinha visto.
— Eu mostrei o filmezinho caseiro que ela fez com o Hannibal
Lecter[58] de Kaiser, disse que se ela não saísse de Moscou, eu iria a entregar
para Greg e ela seria expulsa para sempre de Sodoma. — Meus olhos ficam
mais arregalados, olhando assustada para Sieta.
Não sei ao certo o porquê dela estar se referindo ao meio-irmão do
senhor Gregovivk como Hannibal Lecter, já que o personagem é conhecido
por seu paladar, digamos, abominável, de carne humana, e não por fazer
mulheres comerem seus próprios dejetos.
— Lecter era canibal, Sieta... — balbucio e fico ainda mais
aterrorizada ao ver a cabeça dela se movendo em positivo.
— Como eu disse, você não vai querer saber o que rolou dentro
daquele apartamento, mas posso garantir que foi a coisa mais assustadora e
nojenta que eu já vi na minha vida.
— Está me dizendo que ele ingeriu...
— Por que não está pronta ainda? — O som da voz do senhor
Gregovivk, falando sério atrás de mim, me faz dar um pulo e levar as mãos
ao meu coração, respirando depressa, olhando assustada para ele. — O que
aconteceu... Por que está assim?
Olho o grande homem parado na entrada da porta, me observando
desconfiado, com um ponto de interrogação em sua face.
— Estávamos falando sobre livros, Mabel gosta bastante. Eu contei
para ela que o único que eu li foi Dragão Vermelho, e como Hannibal era
assustador. Acho que me empolguei nas descrições das cenas... — Sieta
levanta e para ao meu lado, levando a mão em meu ombro.
Czar volta seus olhos para mim, como se estivesse querendo saber se
o que sua prima conta é verdade.
— Eu me arrumo em dez minutos — digo, baixo, e desvio meus olhos
dos seus.
— Estou te esperando lá embaixo. — Ele respira fundo e ainda posso
sentir seus olhos castanhos fixos em mim. — Sieta, preciso lhe passar umas
coisas...
Escuto os passos dele se afastando, enquanto Sieta caminha até a
porta, e ergo meu rosto para ela, a vendo parada na entrada do quarto, me
olhando.
— Greg nunca trouxe nenhuma mulher aqui e nunca cuidou de
nenhuma delas como ele cuida de você. — Ela me dá um sorriso tímido. —
Ele e Gaile podiam ter uma sincronia, mas eles não tinham o que vocês têm.
A forma como ele olha para você é diferente, os olhos dele ficam vivos,
cheios de calor.
Fico ainda um tempo parada, olhando para a porta aberta quando ela
sai, me deixando mais confusa do que quando eu entrei dentro dessa casa a
primeira vez.
CAPÍTULO 24
O ACORDO DO SÁTIRO E DA MÚMIA EGÍPCIA
Czar Gregovivk

Acendo um cigarro e me aproximo da sacada do quarto de hotel,


vendo Sebastian atravessar a rua a passos apressados, depois que saiu do
hotel. Ele olha para cima uma única vez, como se soubesse que meus olhos o
estão acompanhando. Trago meu cigarro lentamente, acenando para ele com
a cabeça, e o vejo entrar ligeiro em um táxi, quando o carro para à sua frente.
— Não sei se foi muito inteligente o deixar saber que precisa falar
com seu submisso, meu amigo russo. — A voz de Ramsés é baixa, com ele
entrando feito um gatuno silencioso no quarto.
— Estão monitorando-o? — pergunto, sem desviar meus olhos do
carro que se afasta.
— Cada passo, desde o segundo que saiu do quarto.
— Grampearam o celular dele? — Viro e olho o homem de terno
branco, fumando seu charuto e andando para a cadeira perto da mesa de
bebidas.
— Lhe falei que meus homens eram os melhores. Raja o espelhou,
usando uma tecnologia recente de um programa que uns conhecidos meus
adquiriram, que nos deixa acessar os celulares de quem está no mesmo
cômodo. — Ramsés sorri para mim. — Não se preocupe, não fizemos isso
com o seu, mas isso você já sabe, não é?!
— Pode apostar que sim — o respondo brevemente, não me dando ao
trabalho de explicar a Ramsés que fui eu que criei esse programa e vendi para
um grupo de rebeldes da Síria.
— Raja, como estamos indo?
Sua cabeça se estica e olha na direção da porta do banheiro. Logo, ela
é aberta pelo silencioso homem de cabeça raspada, que tem os olhos dele
presos nos meus enquanto segura um notebook, desviando sua atenção para a
tela rapidamente.
— Ele acabou de mandar uma mensagem para o garoto: Vá para a
colina, me espere por lá. Não avise a ninguém. Não leve nada.
O homem ergue seu rosto e olha para mim ao terminar de ler a
mensagem que Sebastian acabou de mandar do celular dele para seu
protegido.
— O táxi que o pegou é conduzido por um dos nossos homens. Qual a
ordem, chefe? — Raja pergunta, fitando Ramsés.
— Eles não vão chegar a se encontrar, se você quiser — Ramsés fala
para mim e se levanta, encarando o bar e passando seus dedos pelas garrafas,
as olhando com tédio, não achando nada do seu agrado e virando sua face
novamente para mim. — Posso mandar um dos meus homens interceptar o
garoto e o trazer para você.
— Não, Sebastian fez exatamente o que eu queria. — Trago meu
cigarro e solto o ar lentamente. — Deixe-os se esconder, apenas ficaremos de
olho, cuidando de cada passo deles, para não os perder.
— Você queria que ele tirasse o garoto daqui, por isso contou para ele
que está atrás do menino... — Ramsés, sempre astuto, não demora muito para
compreender o que eu desejava. — Você manipulou-o para afastar o garoto,
mas por que fez isso?
Desvio meus olhos dos seus e ando até a sacada, jogando a bituca de
cigarro para longe. Sebastian não fugiu à regra. Como eu pensei, ele está
envolvido com Macro além da linha de dominador e submisso, e foi por isso
que quis proteger o garoto de mim. Sabia que se eu ameaçasse ir atrás do
menino, ele iria querer escondê-lo de mim, tirando mais uma peça desse
tabuleiro da jogada.
— Fez isso por ela, meu amigo. — Ouço a risada dele atrás de mim, e
ao me virar o vejo sorrir, balançando seu dedo indicador no ar. — Esperto,
muito esperto, meu amigo russo. Usou a covardia de Sebastian para afastar o
informante de Morgana de perto da sua descoberta.
Respiro fundo e mantenho meus olhos presos aos dele, não o
respondendo.
— Ainda não me disse como descobriu que o menino é um submisso
alfa de Sebastian...
— A representatividade do seu codinome. O segundo nome da lista de
códigos, da última folha do seu dossiê, era o único a estar como entregue ao
dono — respondo seriamente.
— Dalila... — Ramsés fica sério, não entendendo o motivo.
— Nome bíblico, assim como os outros. Os códigos das submissas
alfas que viraram presentes de Elite, são nomes de mulheres pecadoras da
bíblia. Dalila foi enviada a Sansão para descobrir quais eram os segredos
dele, uma espiã. Sebastian era o único conselheiro que não toma submissas,
ele nunca ficou com uma mais de uma vez, e poucos sabem o motivo disso.
— Porque ele prefere brincar com meninos e não com meninas... —
Ramsés me dá um sorriso malicioso. — Mas isso não é segredo para
ninguém.
— Mas ele ser um homem religioso é — respondo e caminho para
perto do bar, me escorando nele. — Sebastian é um dos conselheiros mais
discretos que eu conheço, mas também é o mais suscetível a ser manipulado e
chantageado, por conta da sua posição eclesiástica. Morgana ofereceu algo
tentador demais para Sebastian recusar, e depois de ter provado, ele ficou na
mão dela. E em troca de ficar com o rapaz, ela tinha uma forma de manobrar
a vinda de Mabel para cá. Macro era a única ponte segura que ela tinha para
recuperar seu pequeno projeto, porque Mabel confia no rapaz.
— Jezabel é a sua garota — Ramsés responde e balança o charuto
lentamente em sua mão. — O codinome da pecadora número 5.
— Jezabel Reis 21:23. — Respiro fundo e cerro meus lábios. — “E
acerca de Jezabel o Senhor diz: 'Os cães devorarão Jezabel junto ao muro de
Jezreel’”.
— Elias profetizou contra Jezabel por causa do mal que fez a Nabote.
Ele avisou que Jezabel teria uma morte sangrenta e que os cachorros iriam
comer seu cadáver — Ramsés fala, baixo, ficando pensativo. — Mas por que
usaram Jezabel para ela...
— Não para ela, mas para ele, Nabote.
— Nate! — Ramsés ergue seu rosto para mim, descobrindo a
brincadeira entre os nomes.
— Sim. — Confirmo com um balançar de cabeça. — Mabel foi
entregue ao tal Nate antes mesmo de ser adotada pela família Shot, como se
já fosse profetizado seu destino.
— Cristo, eles inverteram as histórias! — Ramsés esmaga seu punho
e dá um leve soco no braço da cadeira. — Como eu não percebi isso?! Então
os outros nomes também são...
— Herodias, codinome 4, está em Marco 17:29. Dalila, antigo
testamento. — Fecho meus olhos e respiro fundo.
— Mical, codinome 3...
— Samuel 15:23 — murmuro e abro meus olhos, encarando Ramsés.
— E Salomé.
— Novo testamento. — Ramsés tem suas sobrancelhas negras ficando
repuxadas ao franzir sua testa. — O primeiro codinome da lista... Cinco
codinomes de presente de Elite, cinco pecadoras da bíblia.
— Sim, o que a meu ver combina com ordem, já que a imperadora
Messalina não ficou conhecida por conta do seu recato. — Morgana foi
esperta em usar referências bíblicas, satirizando Sodoma, mas foi burra em
deixar Macro em Moscou, na mão de Sebastian. — Dois estão em Moscou.
Um dentro da minha casa, outro Sebastian irá esconder.
— Temos que encontrar as outras três que já foram vendidas. —
Ramsés bate a cinza do charuto no cinzeiro, ao lado da mesinha perto da sua
cadeira.
— A lista das crianças que foram adotadas e as que estão passando
por processo de adoção do orfanato com os nomes das famílias, estará pronta
hoje à noite, encaminharei para você. — Desencosto do armário de bebida e
ando para o centro do quarto. — As outras três já estão na fase adulta, por
isso não achamos rastros, mas estou pesquisando para achar a localização. Já
fiz a minha parte do acordo, como você queria, lhe entreguei um submisso
alfa. Agora preciso da sua palavra que fará a sua.
— Não precisa ser desconfiado comigo, meu amigo. — A voz calma
do egípcio aristocrata é tão perigosa e traiçoeira quanto seu olhar negro. —
Não irei machucar seu presente, e muito menos condená-la diante do
conselho.
— Ela não é meu presente — respondo com meus lábios cerrados,
levando meus dedos para o bolso da jaqueta e esmagando-os. — Mabel nunca
deveria ter sido suja com uma merda dessas.
— Não, não é o seu presente, mas foi trazida para cá com esse intuito,
ser o presente de algum mestre, e por sorte do destino o caminho dela cruzou
com o seu. — Ele fecha seus olhos e respira fundo. — Por Rá[59]! E pensar
que estava entrando no meu jato, prestes a ir embora, quando você me ligou
de madrugada, para me contar a resposta que eu estava pesquisando há um
bom tempo, para desmascarar Morgana. Ainda estou incrédulo que temos
uma prova viva, um presente de Elite da ordem das Messalinas em nossas
mãos. Uma submissa alfa treinada desde criança...
— Você tem um acordo comigo, Ramsés. — Fecho meu semblante e
o fuzilo com meu olhar. — O conselho nunca saberá sobre a existência dela,
levará Macro diante deles.
— Sim, e sou um homem de honra. Manterei minha palavra e
protegerei sua submissa alfa com minha própria vida se for preciso. — Ele
leva sua mão ao coração e curva sua cabeça lentamente, me olhando sério. —
Morgana será desmascarada diante do seu julgamento, o qual ela mesma
orquestrou. Sua menina não será citada e me encarregarei de buscar pelas
outras.
Eu ainda não sabia se tinha tomado uma boa decisão em ligar para
Ramsés depois de um tempo que fiquei em silêncio, digerindo tudo que
descobri no seu dossiê sobre a ordem das Messalinas ontem à noite, no meu
escritório. Mas sabia que ele seria o único a poder me ajudar a protegê-la,
caso eles descobrissem a identidade dela. Recordo da ordem de Oliver para
Freire, todos sabiam qual seria o destino da pequena Mina, que foi usada
como cobaia. Freire a matou afogada dentro da banheira do seu quarto,
naquele mesmo dia. Lembro de ter visto a matéria do jornal, contando que
uma jovem se suicidou, mas não foi suicídio, eu sabia disso. Se Sodoma
souber sobre Mabel, eles a caçarão, para limpar a sujeira que Morgana deixou
à vista, mas se as outras forem encontradas, Sodoma não poderá limpar a
sujeira, mas terá que corrigir os erros que foram cometidos por Morgana.
Mas se algo der errado e eu cair por proteger meu pequeno pássaro,
precisava ter certeza de que outra pessoa a manteria segura, longe de Moscou.
E o astuto egípcio, que vivia em cada canto do mundo, seria minha melhor
opção para escondê-la. Por isso liguei para ele. Ramsés foi até minha casa e
contei tudo o que descobri e também quem estava adormecida no quarto de
visitas.
— Se nossos pensamentos tiverem certos e o jovem Macro for o
informante de Morgana, com certeza ela já sabe que a menina está com você.
— Ramsés me olha com atenção. — Ela deve estar sendo vigiada, é um alvo
fácil para seu comprador.
— Não mais. Para chegar perto dela, ele terá que passar por mim. —
Cruzo meus braços acima do meu peito. — Mabel está sob minha proteção
agora, vivendo sob meu teto.
— Precisa de homens, pode pegar alguns dos meus. — Ele abre os
braços e me olha, sorrindo. — Raja, separe alguns homens para Czar. Não se
preocupe, meu amigo russo, Raja vai separar alguns dos nossos melhores
para cuidar da sua garota.
— Os mantenha afastados, sem que ela perceba. — Olho para Raja,
que consente com um balançar de cabeça. — Mabel pensa que está em minha
casa por conta do jogo, não sabe meu real motivo em protegê-la. Se ela
desconfiar que a estou mantendo presa, mesmo que seja para o seu bem, pode
querer partir.
— Oh, meu amigo, meus homens são os melhores, eu garanto! —
Ramsés ri e senta novamente na cadeira, cruzando suas pernas. — Ela nunca
saberá quem eles são, desde o carro da polícia que passa rondando a rua até o
mendigo que fica na esquina, pedindo dinheiro, sempre terá alguém de olho
nela. Se o homem para quem ela foi vendida estiver por perto dela, eu vou
descobrir. E prometo que você será o primeiro a saber. — Ele traga seu
charuto e sorri friamente para mim. — Pelo pouco que me contou de como
foi a introdução do mundo dela em nosso mundo, creio que deseja ter uma
conversa particular com ele.
— Sim! — Meus dedos se esmagam, enquanto o ar entra mais forte
por meus pulmões. — Quero muito ter uma conversa com ele.
— Assim será, meu amigo russo! — Ramsés ergue sua mão e estica
em minha direção, esperando que eu aperte.
Retiro minha mão do bolso e aperto, mantendo meus olhos nos seus e
segurando firme seus dedos.
— Se você me sacanear, se ao menos pensar em dizer o nome dela
naquele julgamento, nem todos os mercenários da face da Terra que a sua
fortuna pode pagar, vai lhe manter a salvo de mim, Ramsés. — Não desvio
meus olhos dele quando o grandão dentro do banheiro sai para fora e leva a
mão à cintura.
Ramsés o para ao erguer sua mão, a deixando espalmada no ar,
parando seu cão de guarda.
— Ramsés de Naca nunca volta atrás com sua palavra, Czar
Gregovivk! — Ele inclina sua cabeça para frente e sorri para mim. — Apenas
desejo sua sinceridade em troca, meu amigo russo. Conte-me por que
realmente a está protegendo, por que não a levou direto para o conselho, isso
salvaria sua cabeça do julgamento...
— Morgana não fez isso sozinha, ela pode ter estado junto com
Freire, ter medido a febre do conselho quando a primeira cobaia foi
apresentada. Mas por trás das cortinas, depois que a ideia foi repugnada, ela
manipulava a continuidade dessa atrocidade com alguém mais poderoso ao
lado dela, ajudando nisso... — Respiro fundo e fecho meus olhos, recordando
da face da minha mãe e das palavras da minha tia Yelena. — Alguém usou o
tormento que minha mãe foi criada, para fabricar essas submissas alfas, e isso
resultou no sofrimento de Mabel. E quando eu descobrir quem realmente está
por trás disso, meu amigo egípcio... — Abro meus olhos e o encaro, o
deixando ver minha ira. — Juro que farei a maior fogueira que Moscou já
viu, para queimar esse desgraçado!

— Então? — Sieta me olha, curiosa, assim que entro no escritório do


açougue, empurrando a pilha de documentos para o lado.
— Ramsés vai fazer sua parte. Ele vai rastrear as crianças que foram
adotadas e as que ainda estão para ser — respondo, baixo, e caminho para a
mesa ao canto, me servindo de um copo de vodca. — Ela já está em casa?
— Está sim, a deixei depois que fui buscá-la no trabalho. Ela estava
um pouco arisca com essa história de ir morar em sua casa e ficar sendo
levada e buscada da galeria, mas eu contornei tudo, disse para ela que isso é
apenas por conta da distância, por sua casa ser mais afastada do centro, e ela
acabou deixando o assunto morrer depois que a levei para tomar seu
anticoncepcional — Sieta fala, baixo. — E sobre ela, vão dizer que ela é uma
das submissas alfas diante do conselho?
— Não! — Nego com a cabeça e viro um grande gole de bebida na
boca. — O nome dela será protegido.
— Você confia mesmo nessa múmia esperta de Ramsés, Greg? — Ela
está com seus olhos em mim quando me viro.
— Confio tanto nele quanto em uma raposa cuidando de um
galinheiro. Mas Ramsés é um homem inteligente, um jogador nato, ele
aprecia estar sempre um passo à frente dos seus inimigos. — Abaixo o copo e
ando para perto da janela, vendo o céu cinza de Moscou. — Desconfio que
exista um interesse especial oculto da parte dele, em achar os presentes de
Elite que já foram entregues, apenas ainda não descobri qual é.
— Bem a cara daquela múmia sacana. — Ela respira fundo e encosta
suas costas na cadeira. — E o seu julgamento, como ficará?
— Seguirá o percurso, manteremos discrição sobre Mabel. Se
Morgana já sabe que ela está comigo, como eu desconfio que saiba — desvio
meus olhos do céu e olho para minha prima —, prefiro que ela pense que eu
não tenho ideia de quem a menina é. No dia do julgamento, Ramsés levará
Macro diante do conselho e jogará toda a merda no ventilador. O rapaz será a
prova viva, não Mabel.
— Isso é arriscado, tanto para você como para ela, Greg. — Sieta
balança a caneta lentamente em seus dedos. — Não confio em Morgana, ela
não é o tipo de mulher que fica acuada, sem fazer algum tipo de merda para
limpar sua barra.
— Ficarei bem, não me preocupo com isso. — Sorrio para ela e nego
com a cabeça. — Como é o meu julgamento, isso me dá a escolha de decisão
de onde serei julgado. E será em minha casa, sob as minhas regras.
— Vai prendê-la aqui.
— Sim, nosso número de homens será redobrado no dia do
julgamento, as portas serão lacradas. Enquanto eu ou você não der a ordem,
ninguém entra e sai daqui. — Esfrego minha nuca e sinto meus ombros
rígidos. — Consegue cuidar de tudo hoje ou precisa que eu fique?
— Não, eu dou conta. — Ela nega com a cabeça e me dá um sorriso.
— A casa não está tão cheia, vá embora e descanse um pouco, você está
precisando.
Balanço minha cabeça em positivo, me despedindo dela e saindo do
escritório, tendo ainda a face de Sebastian brilhando em minha mente.
— Acha que eu previ o que poderia acontecer? — ele me pergunta,
amargo, negando com a cabeça. — Nunca me senti assim antes por ninguém.
Fiquei vulnerável.
— Mas sabia exatamente o que o rapaz era?
— Não, não sabia. Czar, não tinha ideia. Era para ser só um jogo, ele
estava perdido, tão infeliz... — Ele respira fundo e senta na beirada da cama.
— Mas então tudo saiu do meu controle, não era mais eu que o controlava,
mas sim ele a mim.
— Está apaixonado por ele, Sebastian, se envolveu sentimentalmente
com seu submisso. — Dou um passo à frente e estudo sua face. — Por isso
não conseguiu se afastar dele quando ele foi atrás de você, quando acabou o
jogo... Macro é seu companheiro.
— Céus! — Ele levanta e nega com a cabeça, esfregando seu rosto.
— Sabe que sou o único conselheiro que não pode ter companheiro. Jamais
poderei ter Macro, mas sou fraco... de corpo, de alma... e não pude ficar
longe dele. — Seus ombros se encolhem e Sebastian solta o ar lentamente. —
Você não entenderia o que é isso, a forma como ele me completa, como ele
me cativou com sua submissão, você nunca sentiu isso por ninguém.
Sim, eu compreendo a fraqueza de Sebastian, mais do que ele pode
imaginar, e como foi fácil para o jovem Macro enfeitiçar o dominador que
habita dentro da alma do conselheiro à minha frente, o levando a cair de
joelhos diante do sentimento.
— Precisei ter ele apenas uma vez, e sabia que aquele jovem tinha
sido feito para mim... — Ele sorri com tristeza, com a melancolia refletida
em seu olhar. — Macro já sofreu demais, apenas desejo o proteger...
— Se quisesse mesmo isso, teria me contado a verdade quando eu te
liguei, não teria me dado informações falsas, omitindo que o rapaz não foi
iniciado por você — rosno com raiva, não sentindo um pingo de
misericórdia, a qual Sebastian me implora com seu olhar.
— Ele é só um garoto perdido, Czar, com um passado triste...
— Acha que seu jovem pupilo sofreu? Que o passado dele é triste? —
pergunto com raiva, negando com a cabeça. — Peça para ele contar o
passado de Mabel e qual foi o preço que ele pagou para traí-la. Não tenho
pena dele, Sebastian, não tenho clemência por você. E vou caçá-lo, para
mantê-la protegida. Não espere benevolência da minha parte, não quando
Macro não teve nenhuma ao vender Mabel para o verme que a feriu, para
sair da vida de prostituição e a trazer para cá a mando de Morgana.
— Ele é só um menino, Czar...
— E ela era só uma criança quando foi arrastada para o inferno,
quando foi vendida como um pedaço de carne. — Dou um passo à frente e
mantenho meus olhos presos aos seus, o deixando saber que não mudarei de
ideia. — Preciso falar com ele, e farei isso com sua permissão ou não. Se
interferir nisso, Sebastian, lhe considerarei meu inimigo, e lhe garanto que
Morgana será sua menor preocupação.
O rosto do homem me conta o que sua boca não fala. Os olhos negros
estão amedrontados, mas não por ele, e sim por Macro. Sebastian caiu
rápido diante do seu submisso, só que entre proteger o amor de Sebastian
pelo jovem e jogar Mabel diante do conselho, eu escolho protegê-la.
— Espero por vocês! — Caminho para a porta do quarto e abro, o
deixando saber que nossa conversa encerrou.
Sebastian anda cabisbaixo, com seus ombros caídos, em postura
derrotada, respirando fundo.
— Lhe desejo, meu amigo, que nunca fique na mesma posição que
meu coração me deixou. — Sua cabeça se ergue, com seus olhos presos aos
meus. — Espero que nunca fique à mercê de outra pessoa, que lhe tenha na
palma da sua mão. Amar um submisso é ter um ponto fraco eterno.

Levo o copo de vodca à boca, nem sabendo mais quantas doses tomei,
olhando para a biblioteca escura. Já era tarde quando retornei para casa.
Fiquei em silêncio, observando-a adormecida na cama um bom tempo, antes
de sair do quarto e ficar sentado na poltrona da biblioteca, com as palavras de
Sebastian se repetindo e se repetindo dentro da minha mente. Ergo meu rosto
para a porta aberta quando a luz do interior do cômodo é acesa.
— Eu ouvi sons e imaginei que seria você. — Ela me dá um sorriso
tímido, com os olhos ainda sonolentos, e solta um baixo suspiro. — A noite
foi agitada em Sodoma?
Balanço minha cabeça em positivo, a deixando acreditar que eu estava
lá e poupando-a de saber a quantidade de crianças que eu consegui encontrar
nas minhas pesquisas, que saíram daquele orfanato e foram entregues para
supostas famílias. Solto um suspiro longo e percorro meus olhos por seu
corpo. A camisola solta, de seda rosa-clara, a faz parecer ainda mais inocente
junto com seus cabelos soltos. A pele negra fica à vista em seus braços e suas
coxas desnudas.
— Está tudo bem? — ela pergunta, baixo, esfregando o pé esquerdo
em sua perna direita, abraçando seu corpo e se escorando na porta.
— Gostou do seu quarto? — Desvio meus olhos dos seus e olho para
o copo de bebida em minhas mãos.
— Sim, o achei muito bonito — ela suspira, baixinho, me
respondendo. — Não sabia se voltaria para casa cedo, por isso acabei indo
deitar...
Volto meus olhos para ela, sabendo que eu mesmo apontei uma arma
para minha cabeça e a deixei engatilhada no segundo que tomei a decisão de
trazê-la para dentro dessa casa.
— Está tudo bem, senhor? — Mabel descruza seus braços e se afasta
da parede, andando de mansinho para dentro da biblioteca.
— Você sentia algo por ele? — pergunto, direto, mantendo meus
olhos nos seus, imaginando se no começo ela chegou a nutrir algo por ele. —
Amava Nate quando o conheceu?
Ela fecha seus olhos e respira fundo, negando com a cabeça.
— Abra os olhos, Mabel! — ordeno, sério, precisando ver a resposta
que seu olhar me dará.
Ela me obedece e abre suas pálpebras, deixando seus olhos pararem
nas garrafas vazias no chão, perto da poltrona.
— Penso que já bebeu demais, senhor. — Em um ímpeto de coragem,
mesmo ainda me deixando ver sua dúvida brilhar em seu olhar, a vejo
caminhar lentamente para mim e retirar o copo dos meus dedos, o
depositando na mesa ao lado do sofá. — Deveria ir se deitar...
— Está me dando uma ordem, passarinho? — Meus olhos ficam
presos em suas costas, percorrendo meu olhar para baixo.
— Não, senhor, apenas dizendo o que eu acho. — Mabel vira e me dá
um sorriso tímido. — Já passa da meia-noite, o senhor está visivelmente
cansado, sua expressão me mostra isso, e pelo visto já bebeu bastante
também... Precisa dormir.
Meu corpo se mantém estático quando Mabel dá um passo à frente e
flexiona seus joelhos, ficando ajoelhada perto das minhas pernas. Seu braço
se estica lentamente e pega minha perna, a puxando para frente,
desamarrando o cadarço do meu coturno.
— O que está fazendo? — Inclino minha cabeça para frente e olho
para ela.
— Estou cuidando do senhor. — A voz branda de Mabel sai baixa,
enquanto retira o sapato do meu pé. — Não é como se fosse o fim do mundo,
já que eu o deixo me dar banho.
Ela repete o mesmo gesto com o outro cadarço e retira o sapato do
meu pé, os deixando arrumados ao lado da poltrona de forma silenciosa,
como uma perfeita submissa que está me prendendo em suas mãos. Meu
ponto fraco, o calcanhar de Aquiles que me deixa vulnerável diante dos meus
inimigos.
— Não respondeu minha pergunta, passarinho. — Mabel se mantém
em silêncio, olhando para o tapete, com suas mãos descansando em suas
coxas. — Em algum momento você o amou?
— Eu tinha dezesseis anos na primeira vez que o vi. Como sabe, eu
vivia sempre em casa — ela suspira e dá um leve balançar em seu ombro
esquerdo. — Foi fácil me encantar por ele, aquele amor juvenil de conto de
fadas, senhor, onde ainda pensamos que o príncipe encantado virá nos salvar
das garras da terrível bruxa má... — Mabel ergue seu rosto para mim, tendo
um sorriso triste em seus lábios antes de o abaixar novamente. — Mas ele
não era um príncipe, e não foi lá para me salvar. Ele era o monstro que me
destruiria.
Ela se levanta de mansinho e mantém seus olhos no chão, não
olhando para mim. Vejo sua mão se mover e ficar esticada em minha direção,
me chamando para ir com ela. Sinto sua pele quente, enquanto meus dedos
escorregam entre os seus, se fechando em seu pulso. O pequeno corpo se
inclina para frente quando a puxo, usando sua outra mão para se escorar no
encosto da poltrona para não cair, com os olhos dela perto dos meus, um
negro brilhante tão profundo como um poço.
— Senhor...
— Também não sou um príncipe, passarinho. Eu sou o Bábaika[60],
que se alimenta da sua dor — falo seriamente, a encarando, não a permitindo
se afastar de mim.
— Pessoas como eu, que já tiveram diante do mal — seus olhos
recaem para minha boca, com ela mantendo seus olhos negros lá —,
aprendem rápido que não existe príncipe encantado, e que os Bábaika são os
mais confiáveis, porque eles não escondem quem eles são.
Seus olhos negros se erguem para os meus e me dá um olhar que me
faria arrancar minha própria alma se ela me pedisse. Meu espírito de Jezabel,
pequena pecaminosa na mesma medida que inocente, que veio a mim para
controlar seus demônios de luxúria, mas acabou condenando os meus com
seu olhar doce e alma lasciva. Não sou eu que me alimento da dor de Mabel,
mas sim ela que me vicia nela. A prendo pela nuca e trago seu rosto
lentamente para mim, vendo seus olhos se fechando calmamente, ansiosa e
entregue pelo que está por vir, como se esperasse por mim a noite toda. Toco
seus lábios sem pressa com os meus, me condenando entre seus gemidos e
boca macia, se entregando dócil, obediente e silenciosa.
Sua mão se ergue e se apoia em meu ombro, e afasto seu joelho, o
deixando se encaixar entre minhas pernas, a trazendo para mim. Minha mão
solta sua nuca e desliza sobre suas costas. A puxo de mansinho enquanto me
levanto. Minha mão se aperta forte em suas costas e solto seu pulso, a
erguendo pelo rabo e a beijando com fome, enquanto ela envolve suas coxas
em volta da minha cintura, me fazendo arfar e respirar com força, a tendo tão
entregue a cada beijo como se fosse tão minha, deixando seu corpo se
descobrir em meus braços. Sinto seus braços circularem meu pescoço, me
abraçando com mais força, a mesma que eu a beijo, com posse e dominação.
Ando poucos passos com ela em meu colo, apalpando sua bunda, apertando
com brutalidade. A respiração entrecortada entre nossos beijos fica mais alta,
com ela respondendo o beijo de forma avassaladora. Tombo seu corpo no
sofá, com o meu por cima dela. Apenas separamos nossos lábios por um
segundo, livrando meu corpo da camisa e a jogando longe, voltando a beijar
sua boca. Mabel escorrega seus lábios pelo meu queixo e comprime ainda
mais suas coxas em minha cintura, enquanto lambe minha garganta.
— Ohhh...
Ela geme, baixo, quando minha mão escorrega a alça da camisola
para o lado, deixando seus seios de fora. Abaixo minha cabeça e seguro seu
seio em minha mão, o levando para minha boca, a fazendo se incendiar e
cravar suas unhas em minhas costas, empinando seu busto para cima e me
dando mais liberdade para sugá-los. Meu corpo arqueia para cima e a puxo
junto comigo. Sua mão prende em meus ombros, enquanto as minhas
esmagam sua cintura, a forçando para baixo, a deixando sentir meu pau
rígido dentro da minha calça.
— Confia então no bicho-papão, passarinho? — Colo minha testa na
sua, forçando seu quadril mais para baixo, os deixando chocados. Mordisco
seu lábio inferior entre meus dentes e o sugo devagar, ouvindo o gemido dela.
Sua mão solta meu pescoço e a desliza sobre meu ombro,
escorregando para meu tórax, me beijando lentamente e arrastando seu
quadril apenas um pouco para trás. Os dedos pequenos com unhas compridas
me arranham enquanto se infiltram entre nossos corpos, desabotoando minha
calça e abaixando o zíper, mantendo a euforia do seu beijo. Enquanto leva
sua mão para dentro da minha calça e da cueca, um rosnado sai dos meus
lábios. Solto seu rabo e prendo minha mão em sua nuca junto com o cabelo,
tendo meu pau respondendo ao toque envergonhado dela. Um pequeno
gemido se forma em seus lábios, junto com nossos beijos, e ela geme mais
alto quando desfiro um tapa forte em sua bunda, a esmagando em seguida
entre meus dedos. Mabel segura meu pau duro e fecha seus dedos em volta
dele, deslizando sua mão para cima e para baixo, apenas deixando a ponta do
seu anelar circular a cabeça do meu pau, que pulsa entre seus dedos.
— Sim, eu confio nele — sussurra, afastando seus lábios dos meus,
fazendo eu me perder ainda mais em seus olhos quando eles ficam presos nos
meus, cheios de luxúria.
— Napolitano, bebê? — pergunto, caindo meus olhos para seus seios
eretos e nus, empinados para mim, retornando para sua face.
Seu rosto cai para o lado e se inclina para seu ombro, enquanto um
sorriso travesso se forma em seus lábios inchados.
— Sempre será melhor que baunilha! Oh, meu Deus... — Ela se
segura em meus ombros quando me levanto, nos tirando do sofá e nos
levando ao chão.
De joelhos entre suas pernas, meus olhos passam por seu corpo e vejo
os movimentos agitados do seu peito, que sobe e desce. Levanto e fico de pé
diante dela, levando minhas mãos para minha calça.
— Retire a camisola por cima e a deixe quando chegar no pescoço —
lhe ordeno, mantendo meus olhos em sua pele quente, que está arrepiada
quando ela faz o que mando.
Seus dedos tão apressados levantam a camisola, a arrastando por sua
barriga, com ela flexionando seus joelhos, deixando os pés ficarem no chão,
com as pernas abertas, me presenteando com a visão da pervertida calcinha
amarela de renda. Retiro minha calça e a empurro para baixo junto com a
cueca, me ajoelhando entre suas pernas, parando minhas mãos do lado do seu
quadril, arrastando sua calcinha para baixo e a tirando das suas pernas, tendo
a visão perfeita da sua boceta nua. Esmago a calcinha em minha mão e faço
uma pequena bola com ela. Mabel se atrapalha com a retirada da camisola
quando raspo a ponta do meu dedo sobre seu nervo, o esfregando lentamente.
A cubro com meu corpo, o deixando em cima de Mabel, com as pernas dela
se afastando a cada centímetro que meu quadril se aproxima da sua pélvis.
— Ohhh... — Ela fecha seus olhos e morde sua boca quando seguro a
camisola presa ao redor da sua garganta, enrolando o pano lentamente em
minha mão, com ele se apertando em volta dela.
— Abra sua boca para mim, bebê — ordeno com a voz rouca e meu
pau fica mais rígido a cada raspar da cabeça dele sobre os lábios úmidos da
sua vagina.
Mabel faz o que eu ordeno, e abrindo sua boca, minha cabeça se
inclina para perto da sua, escorregando minha língua por seus lábios
inchados. Antes que ela possa tentar me beijar novamente, me afasto e
introduzo sua calcinha dentro da sua boca, torcendo mais um pouco o tecido
da camisola, comprimindo-o em seu pescoço. Os grandes olhos negros se
abrem e ficam dilatados, com cílios grossos se debatendo rapidamente, me
olhando ansiosamente. Sorrio e abaixo minha cabeça, tocando seus lábios
com os meus, a impossibilitando de me beijar por conta da roupa íntima
dentro da boca.
Afasto um pouco mais sua perna, chocando de vez nossos quadris. Ela
respira mais forte o ar por seu nariz, mantendo seus olhos presos nos meus, e
por um segundo não há mais aquela loucura, a selvageria de segundos atrás, é
como se o tempo estivesse congelado dentro da biblioteca. Seus dedos se
erguem para meus ombros e apertam suas unhas em minha pele, enquanto
colo meu tórax em cima do seu peito, espalmando minha outra mão ao lado
do seu corpo, sentindo o calor da sua pele, e abaixo a minha mão, com seu
olhar me prometendo luxúria e doçura. Olhar em seus olhos negros tão
lindos, repletos de desejo, é como arrancar o ar dos meus pulmões, me
fazendo desejá-la sempre aqui, em meus braços.
— Meu passarinho selvagem — sussurro e escorrego meu rosto ao
lado do seu. Enterro meu rosto entre seu pescoço e seus cabelos, cheirando
seu perfume, e qualquer raciocínio que tinha se perdeu assim que meu pau se
arrumou entre os lábios molhados da boceta dela, se empurrando lentamente.
— Ohhh! — Ouço o som do seu gemido abafado pela peça íntima.
Meu pássaro selvagem me intoxica como uma heroína e morfina, entrando na
minha vida e fazendo ela ser tudo o que eu preciso.
Meu pau vai entrando pouco a pouco dentro do seu corpo, o tomando,
encaixando as pélvis até ter as peles uma colada às outras. Suas pernas se
abrem mais, deixando total acesso para eu foder seu corpo. Um gemido rouco
sai dos meus lábios, quase como um rosnado baixo quando suas unhas me
marcam, me arranhando, fazendo a ardência da pele virar um prazer doentio.
Ela me arranha mais felina, como uma pantera, quando meu corpo começa a
se mover, retirando meu pau e retornando a entrar com mais pressão. Minha
mão ao lado do seu corpo, vai para sua coxa e a esmaga entre meus dedos, a
fodendo devagar.
— Tão quente e pronta para me receber, meu passarinhão. — Minha
língua lambe sua orelha e mordo lentamente a pontinha dela, puxando mais
firme o pano da camisola em volta da sua garganta.
Mabel me abraça com desespero e respira mais rápido pelo nariz,
quando o corpo dela começa a receber os impactos do quadril com mais
brutalidade, tendo meu pau a fodendo do jeito que ela quer, entrando e saindo
forte, rápido e denso. Sinto sua boceta inchada, ainda por conta da forma
como a fodi sem um pingo de misericórdia essa manhã, descontando em seu
corpo o caos que ela causa dentro da minha mente, a impedindo de ver meu
rosto, para que não visse como ela estava me derrubando rápido e sem
controle algum de impedir a minha queda, minha ruína diante dela. Sinto sua
boceta inchada ficar cada vez mais quente e úmida, com os músculos que se
apertam em volta do meu pau, o engolindo com euforia, me deixando saber
que ela está se aproximando da borda. Jogo meu tórax para cima e solto o
pano do seu pescoço dos meus dedos, erguendo seu quadril junto comigo,
sem tirar meu pau de dentro dela, ficando com meus joelhos pregados ao
chão. Mabel cruza suas pernas atrás de mim, enquanto seus olhos lacrimejam,
recebendo as penetrações fortes dentro da sua boceta entre estocadas brutas e
rápidas. Suas unhas se prendem no tapete, o balanço dos seus seios é belo,
enquanto sobe e desce a cada impacto.
É como se toda a porra da minha vida se resumisse apenas a isso:
encher o pequeno corpo de Mabel com puro prazer. Sendo tudo que ela
precisasse de mim, o carrasco, o bicho-papão, o cuidador, o sádico que lhe
enche de dor e prazer, o dominador ou apenas o melhor pau que já fodeu sua
boceta. Eu não me importo, para Mabel eu serei o que ela precisar de mim.
Ela fecha seus olhos e tomba seu rosto para o lado, mordendo com força a
renda da calcinha, enquanto sua boceta vai prendendo meu pau dentro dela,
quase o estrangulando a cada investida que dou, a fodendo. Seu rosto se volta
para o meu, com ela abrindo seus olhos, me mostrando sua queda perfeita e
bela diante do gozo que se aproxima. Estico minha mão e arranco a calcinha
da sua boca, aumentando o ritmo da penetração.
— Senh... Ohhhh, Czar! — Ela respira com desespero, me fazendo
sentir meu peito se inflar ao ouvir meu nome saindo dos seus lábios.
Meu pequeno pássaro sobe como um cometa, rápido e eufórica,
gozando no meu pau, com seu corpo tremendo por inteiro, tendo os músculos
das suas coxas ficando mais rígidos em volta da minha cintura, da mesma
forma que sua boceta faz com meu pau. Me retiro de dentro da boceta de
Mabel e a puxo pela cintura enquanto a deixo em seus joelhos no chão, com o
resto do seu corpo sobre o sofá. Afasto suas pernas e me encaixo dentro dela,
deslizado meu pau para dentro da sua vagina encharcada, que parece um
vulcão escaldante. Meus dedos acariciam suas costas e ouço os gemidos
baixos dela. Paro minha outra mão em seu quadril e aperto com força sua
bunda, retornando a me movimentar mais rápido, a tomando com mais força.
Mabel grita entre os gemidos quando minha mão explode em cheio no seu
rabo, e sorrio a vendo empinar seu quadril para trás. Aliso o local que bati,
desacelerando o ritmo pouco a pouco. Seu corpo pequeno fica rígido assim
que meu dedo escorrega entre sua bunda redonda, sentindo o aperto do
pequeno buraco do seu cu em meu anelar quando o empurro para dentro.
— Senhor... — Seu rosto vira para mim, com seus olhos marejados
me mostrando luxúria e medo.
O dominador dentro de mim idolatra a forma como a palavra senhor
sai tão sexy da sua boca. Mabel usa seus cotovelos para sustentar a parte
superior do seu corpo, os apoiando no sofá. Seus olhos, presos aos meus, vão
se fechando lentamente assim que meu dedo vai empurrando mais fundo para
dentro do rabo dela. O deixo parado enquanto meu pau vai fodendo sua
boceta lentamente.
— Vai gostar tanto quanto eu quando meu pau entrar aqui,
passarinho! — rosno, baixo, respirando o ar com força, começando a mover
meu dedo junto ao ritmo do meu pau, a fodendo lentamente.
Seus dentes mordem seus lábios, a deixando segurar um gemido entre
a dor e o desejo quando minha mão estoura outro tapa em seu rabo, sentindo
a palma da minha mão arder.
— Senhor... Oh, Cristo! — Mabel geme e sinto sua boceta mais
quente e molhada, e aumento o ritmo.
Sua cabeça vira e cai para frente, com seu tórax tombando no sofá. A
fodo com mais força, aumentando o ritmo das penetrações. Mabel suga com
mais pressão meu dedo em seu rabo e meu pau em sua boceta me faz querer
fodê-la mais rápido. Aperto seu quadril com a outra mão e paro seu rabo no
lugar, a impossibilitando de se mexer, estourando tão fundo meu pau dentro
dela, como se pudesse me enterrar por inteiro. Seus gemidos aumentam, com
sua boceta ficando ainda mais quente e molhada, me fazendo gemer com
rouquidão. Retiro meu dedo de dentro do rabo de Mabel e sinto o novo
orgasmo dela lhe acertar quando seu corpo começa a tremer. A fodo mais
duro e solto com toda força as estocadas, esmagando seu quadril dos dois
lados com minhas mãos. Minha respiração acelera, com as batidas do meu
coração ficando disparadas. Meu pau sai da boceta de Mabel no segundo que
liberto meu jato de porra e jogo minha cabeça para trás, gemendo alto como
um animal, a puxando para mim pelos cabelos e colando suas costas em meu
peito, deixando minha porra escorrer nas suas pernas.
— Napolitano sempre será melhor... — ela murmura, rindo, levando
as pequenas mãos em minhas coxas e cravando suas unhas, causando um pico
de dor em meu corpo, aumentando a intensidade do meu prazer. — Quem
precisa de um príncipe encantado, quando se tem um Bábaika, que fode tão
bem?!
Minha cabeça retorna para frente e me inclino para perto do seu
ombro. Mordo seu pescoço, com minha mão presa ao redor da sua cintura, e a
levo comigo quando meu corpo cai para o lado lentamente, nos levando para
o chão. A puxo para mim e passo minha perna sobre a sua, apertando forte
seu corpo junto ao meu. Meu nariz se esfrega em seus cabelos e respiro
fundo. Minha mão bem firme em sua cintura a mantém perto, acariciando sua
pele lentamente.
— Diz meu nome outra vez... — peço, baixo, em seu ouvido,
desejando ouvi-la dizer meu nome novamente.
Seu rosto vira sobre seu ombro, enquanto ela me olha com seus olhos
negros, cheios de doçura e pecado.
— Czar. — O pequeno pássaro me suga com seus olhos negros,
condenando minha alma. — Czar, meu senhor.
O ar entra como gasolina em meus pulmões, com meu peito se
estufando, tendo uma sensação nova me consumindo ao ouvir a voz dela.
— Tem certeza de que deseja usar essa palavra, “meu” passarinho? —
Minha mão se ergue e seguro seu rosto, a mantendo olhando para mim.
— Meu bicho-papão — ela murmura e fecha seus olhos, levando sua
mão sobre a minha em sua face e a acariciando.
— Minha Mabel, meu pequeno pássaro selvagem... — Passo meus
olhos por sua face, sabendo que minha posse sobre ela será completa. —
Minha submissa!
— Sim, sou sua... — Ela sorri e suspira, esfregando seu rosto em
minha mão.
Minha pequena pecaminosa insaciável e dócil Jezabel, minha mais
perfeita e delicada ruína.
CAPÍTULO 25
EENTRE PIPOCAS E SEGREDOS
Mabel Shot

— E então, estão fazendo mais alguma coisa além de foder, nesse


tempo todo que já está aqui?
Quase morro tossindo, sentindo a pipoca parar em minha garganta
quando Sieta fala de forma espontânea, me encarando.
— Oh, meu Deus, Mabel! — Ela ri e dá a volta na ilha da cozinha,
parando atrás de mim e desferindo uns tapas em minhas costas. — Só fiz uma
pergunta, não queria te matar engasgada.
Meus olhos lacrimejando e minhas bochechas queimando de
vergonha em minha face, me faz desejar abrir um buraco e me esconder lá
dentro. Eu ainda não tinha me acostumado com essas mudanças bruscas de
assuntos de Sieta, que em um segundo ia de drinques preferidos dela, para a
quantidade de vezes que eu e o senhor Czar estávamos transando.
— Nós não fazemos apenas sexo — murmuro, envergonhada, ficando
de costas para ela e abrindo a geladeira e pegando a jarra de suco. —
Também fazemos outras coisas...
— Sério? — Ela ri e cruza seus braços em cima do peito, me olhando
debochada. — Tipo o quê? Jogam xadrez e conversam sobre a economia da
Europa...
— Não seja malvada, Sieta. — Sorrio e nego com a cabeça,
caminhando para o armário e enchendo um copo de suco para mim e para ela.
— E você não seja tímida. Está na cara que você e Greg estão
fodendo que nem coelhos, você está fedendo a Gregovivk. — Ela me olha e
ri, quando eu me viro e ofereço o suco para ela.
— Não acho que ele fede — a respondo, disfarçando coçar meu nariz
em meu ombro e inalando o perfume dele na minha camiseta quando ela pega
o copo de suco. — Eu gosto do perfume do senhor Gregovivk.
— Isso se percebe, já que assim que você abriu a porta da casa, eu
senti o perfume amadeirado dele vindo de você. — Ela bebe seu suco e pega
a bacia de pipoca em cima da mesa da cozinha, caminhando na direção da
sala. — Posso apostar que vocês dois estavam se pegando no quarto antes de
eu chegar e chutar o rabo dele para fora dessa casa.
Sorrio com vergonha, andando atrás dela, parando meu olhar no sofá
da sala, não conseguindo reprimir a recente memória do grande corpo nu de
Czar, sentado, com suas pernas esparramadas ali, enquanto eu chupava seu
pau. Minha bunda ainda está ardendo pelas duas cintadas que recebi como
castigo, por não ter parado de chupá-lo quando ele mandou. Eu fiz o
contrário, suguei seu pau até ele gozar em minha boca. Eu gosto do som
rouco e grotesco que sai da boca dele quando está gozando. Mas depois da
minha teimosia e a cintada em meu rabo, fui recompensada por sua boca, que
lambeu tanto a minha boceta, ao ponto de me derreter toda no sofá, feito um
cubo de gelo largado sob o sol quente. Coço minha testa e ergo meu rosto
para ela, que repuxa seu nariz e olha de mim para o sofá.
— Tá de sacanagem! O sofá? — Sieta nega com a cabeça. — Me diz
que não fizeram nada no tapete, ou juro que vou ficar de pé. Cristo, vocês
dois perderam a vergonha depois que você começou a tomar
anticoncepcional! Se alguém apontar luz negra[61] para você, consegue
enxergar esperma por toda parte do seu corpo.
— Talvez. — Rio para ela e sento no sofá, a vendo se sentar no chão
e esticar suas pernas, escorando suas costas no sofá. — Mas não se preocupe,
hoje não fizemos nada no tapete. E então, o que se faz na noite das garotas?
Ligo a televisão e olho para a face dela quando ela se vira para me
olhar e dá de ombros.
— Minha mãe me fazia brincar de virar copo de vodca com ela e
minhas amigas. E você, o que fazia na noite das garotas?
— Eu nunca tive uma noite das garotas — respondo e dou um sorriso
fraco, segurando o copo de suco em cima do meu joelho.
Não tinha amigas, a única pessoa que eu conversava na juventude era
com Alekessandra, e sempre terminava comigo apanhando. No orfanato,
Macro e eu fugíamos para o telhado e ficávamos imaginando como seriam
nossas vidas quando saíssemos de lá. Nunca tive uma amiga como Sieta, que
conversa sobre qualquer tipo de assunto, que me faz rir e me sentir
envergonhada às vezes, com a forma tão natural como ela conversa sobre
minha situação peculiar com o senhor Czar. Nessas duas semanas que
passaram, comigo morando aqui, havia vivido tantas experiências novas, as
quais nunca tive. E não falo apenas pelo sexo sádico, napolitano, que eu e ele
fazemos. Mas, sobretudo, conviver com outra pessoa. Ficar ansiosa para o dia
no trabalho acabar rápido, para eu voltar para a casa dele, ficar na cozinha
preparando algo para comermos, contar para ele sobre as telas novas que
chegaram, lhe mostrar o uniforme novo de camisa e calça social que as
funcionárias da galeria ganharam, lhe contar a forma como Boris evita olhar
para mim desde o dia que voltou para a galeria, após seu suposto assalto.
Esquecer a panela no fogo, porque ele faz minha mente desligar quando me
beija repentinamente. Abrir meus olhos pela manhã e encontrar seu corpo
deitado ao meu lado, e ficar em silêncio, observando sua face adormecida por
um longo tempo antes de levantar-me. Eu ainda recordo de como me senti
confusa a primeira vez que ele me mandou ficar na cama dele, na primeira
noite que dormi nessa casa, quando minhas coisas foram trazidas para cá.
Meu corpo se levantou do tapete da biblioteca e sentia minhas pernas
molengas, sem muita força em meus músculos. Alguns minutos depois que ele
se levantou para atender uma ligação em seu celular, se sentou na mesa de
escritório ao canto, passando seus olhos em meu corpo, enquanto eu tentava
vestir o trapo, sem elástico, que minha camisola se transformou, ele fez um
gesto de cabeça em minha direção. Girou seu corpo e ficou de costas para
mim, sentado na grande cadeira. Isso me pareceu uma ordem para me
retirar. Me abaixei e encurvei minhas costas para frente, pegando minha
calcinha no chão e saindo de lá em silêncio, indo direto para o meu quarto.
Estou saindo do banheiro, depois de tomar uma rápida ducha,
vestindo uma camiseta grande, me preparando para ir deitar, quando a porta
do quarto é aberta de forma abrupta pelo homem nu, com seu tórax se
movimentando a cada respiração pesada e o pau ereto, caminhando a passos
decididos para dentro dele.
— O que está fazendo aqui, lhe mandei ficar! — Pisco, confusa,
ouvindo a voz zangada dele e desviando meus olhos do seu pau duro,
retornando para sua face.
— Pensei que era para me retirar, senhor...
Antes que possa terminar de falar, meu corpo já está sendo tirado do
chão, comigo ficando jogada em seu ombro, tendo a perfeita visão da sua
bunda musculosa. Czar caminha para fora do quarto, não dando nem três
passos antes de parar na porta ao lado, a escancarando, me soltando em
cima da cama feito uma almofada. Caio de bunda no colchão macio e olho
confusa para ele. As grandes mãos dele se fecham em meus tornozelos, me
fazendo cair de costas para trás, abrindo minhas pernas. O colchão se
afunda com o peso do corpo dele quando Czar sobe na cama e fica de
joelhos. Seu corpo se inclina sobre o meu, e minha mente é desligada quando
ele esmaga minha boca com a sua. Czar me beija de forma bruta e leva sua
mão para trás da minha nuca, e a outra para minha bunda, alavancando seu
tórax para trás, me levando junto, até eu estar em seu colo. Ele não espera
meu corpo estar pronto, apenas me penetra em uma única vez. Sinto a
pontada de dor ao ser penetrada sem estar lubrificada. Meu corpo se retrai e
gemo entre a dor e o prazer que vai crescendo dentro de mim, espalmando
meus dedos em seu ombro, tentando me afazer dele. Seus braços se fecham
atrás das minhas costas, aprofundando seu beijo dominador enquanto move
meu quadril, rápido e forte contra o seu.
O senhor Gregovivk não quer prazer, ele quer apenas dor. Como se
me castigasse ou estivesse se castigando, fazendo nós dois sentir dor, porque
a cada penetração bruta que ele me dá, mais fundo minhas unhas se cravam
em sua pele, perfurando. Não nos importamos com a dor, não nos
importamos com nada além da angústia que nossos corpos se chocam,
ficando mais rápidos e selvagens. E entre mordidas, arranhões e beijos
densos, vamos expondo nossos lados mais feios.
Lembro de como eu desabei na cama, depois de ter cada canto do
meu corpo lânguido e marcado com seus dentes, com os dois respirando
quase sem fôlego. Eu comecei a me arrastar devagar para os pés da cama,
para poder sair dela e ir para o meu quarto. Senti seus braços passando por
minha cintura e me puxando para ele.
— Não ordenei para que saísse. — Ele me prende mais forte, fazendo
eu me sentir esmagada entre seus braços de urso.
— Achei que me deu um quarto para ficar, porque não desejava
dividir sua cama, senhor — sussurro e olho para ele, vendo seus olhos
castanhos tão escuros ficarem brilhantes.
— Lhe instalei nos aposentos ao lado do meu, porque pensei que iria
querer ter seu próprio quarto. — Ele abaixa seus olhos para meu ombro e vê
a marca do seu dente, de quando ele me mordeu. — Dormirá aqui agora,
enquanto estiver na minha casa — diz, baixinho, tombando seu corpo para o
lado e deixando-me sentir a quentura do seu peito em minhas costas. — Pode
manter o outro quarto... — Ele solta um grande bocejo. — Mas será em
minha cama que dormirá, passarinho.
Meu rosto se abaixa e vejo a grande perna com pelos negros,
grossos, cobrindo a minha coxa. Seus braços se apertam à minha volta,
engaiolando-me ali, não me deixando sair. Pisco, confusa, e ergo minha
cabeça, ouvindo o som da sua respiração ir diminuindo. O grande quadro
pregado na parede me faz olhar com surpresa, o reconhecendo. A tela 610
está emoldurada, exposta na parede do seu quarto, bem diante da cama,
para que pudesse ser admirada toda noite. Sinto uma paz diferente, uma
estranha felicidade que faz meu peito palpitar, de uma forma que ele nunca
palpitou. Nunca tinha dormido na cama com outra pessoa, e muito menos de
conchinha, isso para mim é tão novo e estranho quanto o deixar me dar
banho. Mas novamente eu não me incomodo, porque sendo feito por ele,
parece ser a coisa mais certa que alguém já me fez.
Experiências que parecem ser tão normais para os outros, e para mim
é tudo novo. Ergo minhas pernas e deposito meu queixo em meu joelho,
segurando o copo de suco e olhando para ele. Duas semanas passaram tão
rápido, que parece que eu sempre estive aqui, e isso me deixa sem entender
como será o meu normal quando eu voltar para minha vida solitária
novamente. Sinto o toque suave dos dedos de Sieta em minha perna, com ela
me dando um olhar brando.
— Por que não fazemos a noite das garotas da nossa maneira? — Ela
sorri e pisca para mim. — Só está nós duas aqui, Czar vai demorar para voltar
de Sodoma.
— É, ele vai, né... — suspiro e analiso isso, o fato dele estar em
Sodoma.
— Greg não toca em ninguém, Mabel — ela fala, rindo para mim,
cortando meus pensamentos antes mesmo que eu pensasse ainda mais sobre
isso.
— Eu não disse nada sobre isso...
— Mas pensou, deu para perceber isso só pela expressão de desânimo
que fez ao falar. — Ela sorri de ladinho e me olha de um jeito estranho. —
Tem ciúme dele, Mabel?
— Não, claro que não. — Tento soar firme com minhas palavras, mas
odeio ser uma péssima mentirosa, e Sieta sabe disso, tanto que ri ainda mais
de mim, dando um leve tapinha no meu pé. — Eu não sei, ok, apenas fico
incomodada em pensar nele...
— Fazendo com elas o que ele faz com você! — ela termina por mim,
já não tendo o riso brincalhão, como se já tivesse sentido isso também.
— Você já sentiu algo assim, Sieta? — A olho com mais atenção e
vejo sua cabeça balançar em positivo.
— Já, e sei como isso é uma merda. Mas é apenas a intensidade do
jogo, é isso que ele faz com você, aflora sentimentos que nunca teve. Fica tão
ligada à pessoa pelo tanto de hormônios que vocês dividem, que acaba
perdendo todo o controle de si... — Ela dá uma longa respirada antes de
soltar um suspiro e sorri para mim com carinho, balançando a cabeça para os
lados. — Mas não se preocupe, porque isso não acontece apenas com você. O
jogo afeta os dois, é uma via de mão dupla. Não sei se Greg te contou, mas
quando está jogando Sodoma, é como fazer um contrato de fidelidade, tanto o
mestre como o submisso não podem ter outros parceiros. E te garanto que
mesmo se não estivessem jogando, Greg também não estaria tocando em
alguma mulher lá dentro, isso não faz parte do caráter dele...
— Como assim? — pergunto, baixo, para ela.
— Czar não é muito social, ele prefere ficar dentro do escritório, de
olho em tudo, como um verdadeiro ursão intocado na toca, mas um urso leal.
— Ela leva sua mão para dentro do pote de pipoca e ergue para a boca,
esticando a bacia para mim. — Quem fica andando mais entre os convidados
sou eu. Ele fica com a parte chata, tendo que lidar com os conselheiros e toda
a merda da burocracia, e eu com a boa, conhecendo quem entra e sai da
Sodoma de Moscou.
Pego a bacia de pipoca e deposito o copo de suco na mesinha de
centro da sala, enchendo minha mão com a pipoca.
— Como foi parar lá, Sieta? — pergunto, curiosa, e levo a pipoca à
boca, olhando para ela e recordando de Sieta me dizer brevemente no dia que
descobri que iria morar aqui, que Czar não a permitia se envolver em
Sodoma.
Sieta é uma mulher divertida, talvez assuste em um primeiro
momento para quem olha a pequena mulher de olhos azuis profundos
esfumaçados, com rímel pesado nos cílios, cabelos negros lisos e curtinhos,
como de um homem. Sua pele é tão pálida que parece neve, as roupas de
couro a dão um aspecto de perigo. Mas depois que a conhece, percebe que
por trás do seu deboche e piadas irônicas, existe uma mulher inteligente e
encantadora.
— Não vai querer saber. — Ela dá de ombros e ri, pegando o pote de
pipoca.
— Vou sim, vou e muito — afirmo e estico minhas pernas, me
sentando no tapete ao lado dela e a olhando com interesse.
— Está falando sério? — Ela vira seu rosto para mim e fala de boca
cheia.
— Claro que sim. — Pego meu copo de suco e tomo um gole,
consentindo com a cabeça. — Você me pergunta sobre o sexo entre mim e
seu primo, não vejo problema algum agora eu querer saber um pouco de
você.
— Aliás, aproveitando que tocou nesse assunto, a senhorita não me
respondeu ainda. — Ela bate lentamente seu ombro no meu e joga uma
pipoca dentro da boca. — Se te contar sobre como fui parar em Sodoma,
você vai ter que me contar qual lance que está rolando de verdade entre você
e Greg... e nem vem com esse papo de jogo, porque está na cara que vocês
estão fazendo muito mais que isso.
— Começa. — Limpo minha boca com o dorso da mão e abaixo o
copo de suco, olhando para ela.
— Depois que o meu pai morreu, descobrimos da pior maneira que
ele tinha deixado uma dívida imensa no banco. Eles tomaram a nossa casa e a
clínica da minha mãe, meu velho tinha penhorado os imóveis. — Ela sorri
com amargura e balança a cabeça. — Eu era bem careta, se te mostrar minhas
fotos de quando era jovem, não vai acreditar que era eu...
— Jovem, quem ouve você falando parece que é uma idosa. — Rio e
olho para sua face tão jovial.
— Sou apenas três anos mais nova que Czar, eu e ele somos
praticamente da velha guarda. — Ela dá de ombros.
— Só tem trinta e quatro anos, Sieta. E eu não acho o senhor
Gregovivk velho. — Ergo minha mão e a deixo na frente do meu rosto
quando ela joga uma pipoca em mim.
— Claro que não acha, ainda mais com ele te fodendo com a mesma
esfomeação de um adolescente de dezenove anos! — Sieta cai na risada e
enche sua boca de pipoca.
— Talvez, mas ainda assim não acho ele um velho. — Pego a bacia
de pipoca dela e rio, tomando um gole de suco.
— Vocês dois estão ficando nojentos, sério! Sabia que esses dias
entrei no escritório e ele estava com uma calcinha sua na mão?! — Ela faz
cara de nojo, brincando comigo, negando com a cabeça. — Daqui a pouco,
ele começa a andar com elas no bolso da jaqueta, feito troféus.
— Na verdade, ele já faz isso — murmuro, não olhando para ela,
ouvindo apenas sua sonora gargalhada.
Czar começou a fazer isso nos últimos dias. Ele simplesmente as
rouba de mim, antes que eu saia para o trabalho, depois de me chupar durante
o café da manhã, como se minha boceta fosse seu prato principal.
— Credo! — Ela se recompõe da sua crise de riso, soltando um longo
suspiro.
— Você parou na parte que você era uma jovem careta. — Me
encosto no sofá e olho para ela.
— Pois então, eu era. Meus pais sempre me criaram de um jeito
diferente. Percebeu como minha mãe tem uma alma eremita, distribuindo paz
e amor, me dando completamente o oposto do que ela teve quando foi jovem.
— Ela ri e repuxa o canto da boca. — Quando papai faleceu, foi um golpe
duro para ela. Perdeu a clínica que ela tinha, que era o sonho realizado da
vida dela, e o dinheiro que ela guardava em uma conta conjunta com o meu
pai, para pagar minha faculdade, tinha sido gasto. Não tínhamos nada. Tio
Huslan não conseguiu recuperar os bens, o banco já tinha vendido para poder
quitar a dívida do meu pai, e os novos compradores não quiseram vender para
ele. Então ele deu aquela casa para mamãe, se ele não tivesse feito isso, a
gente ia estar morando na rua. Então, quando a ficha caiu, que eu nunca iria
conseguir me formar, porque meu pai gastou o dinheiro dos meus estudos, eu
fui até Czar e pedi ajuda para encontrar um serviço.
Entrego a bacia de pipoca para Sieta, olhando sua tristeza enquanto
come a pipoca.
— Tinha vinte e um anos e não sabia fazer merda nenhuma na minha
vida. Vivi grande parte da minha vida achando que tudo era perfeito, que meu
pai era perfeito, que nossas vidas eram perfeitas. Mas não éramos, a verdade
é que meu pai era um bêbado viciado em cartas, que torrou todo o nosso
patrimônio em uma mesa de jogo, e ainda largou uma dívida imensa para
minha mãe, que custou a clínica e a casa.
Ela solta as palavras todas de uma vez, como se estivesse retornando
em suas memórias tristes.
— O senhor Gregovivk lhe ajudou? — pergunto, a olhando.
— Sim, Greg sempre foi como um irmão mais velho para mim. Antes
da tia Melissa morrer, ele vivia dentro de casa, junto com ela. Se queria me
achar, bastava encontrar o Greg; se queria achar ele, só tinha que saber onde
eu estava. A gente aprontava muito junto.
Fico imaginando como seria ter sido criada com mais alguém, se o
sofrimento teria diminuído ao ter um irmão ou uma irmã para dividir meus
medos e sonhos. Mas logo descarto essa ideia, e, infelizmente, sou obrigada a
me sentir feliz por Alekessandra nunca ter adotado outra criança, para
desgraçar com a vida dela, como ela destruiu a minha.
— Por que vocês não se viam mais, depois da morte dela? — Jogo os
pensamentos para longe, prestando atenção em Sieta.
— Greg se fechou, ele mudou depois que saiu do hospital... Não saia
mais de casa e nem recebia visita. A porta do palacete que ele morava com tia
Melissa foi trancada, tio Huslan era o único que ia visitá-lo. — Sieta fecha
seus olhos e nega com a cabeça. — Mas isso é história dele, que ele tem que
conversar com você se ele quiser. Sinto muito, mas não cabe a mim falar
sobre isso.
Mesmo curiosa sobre qual motivo levou Czar a se fechar desse jeito,
ainda assim reprimo minha bisbilhotice, respeitando a lealdade que Sieta tem
por seu primo. Lhe dou apenas um sorriso, consentindo com a cabeça.
— Bom, quando minha mãe e eu ficamos com uma mão na frente e
outra trás, foi um ano antes do tio Huslan morrer de infarto. E eu, sem ter
muita informação acadêmica ou experiência, fazia alguns bicos aqui e ali, até
eu ir atrás de Czar e pedir ajuda. — Ela toma um gole de suco e vira seu rosto
para mim. — Greg não me arrumou um serviço, ele fez outra coisa, pagou
meus estudos e me mandou para a faculdade, para eu me formar em
contabilidade. Bancou minha mãe, dando uma mesada para ela e cuidando da
gente pelo tempo que eu estava na universidade. Ele me disse que eu era um
investimento valioso para ele. Quando me formei e voltei para Moscou,
ajudei Greg com o açougue, ele estava expandindo nessa época e eu sabia
que rolava outras coisas lá, mas Greg nunca me dava permissão para passar
pela porta secreta do escritório.
— Não sei porque isso não me surpreende, depois de ter atravessado
uma sala refrigerada cheia de cortes de boi, com certeza deve ter uma porta
secreta no escritório... — Sorrio e recordo do trajeto que fiz, dos fundos do
açougue até chegar ao salão grande privado de Sodoma. — O que foi que fez
ele mudar de ideia...
— Não foi ele, foi outra pessoa. — Ela sorri e me deixa ver pela
primeira vez suas bochechas vermelhas de vergonha.
— Conheceu alguém de Sodoma? — Sorrio, mais animada, pegando
novamente a bacia de pipoca e comendo enquanto olho para ela.
— Santana, Juan de Santana — Sieta fala o nome lentamente,
respirando fundo. — Cristo, foi uma pancada e tanto a primeira vez que meus
olhos o enxergaram! Fui nocauteada por aquele espanhol de olhos negros
iguais à cor da sua barba. Ele usava um terno negro impecável, e eu não tive
chance alguma quando ele sorriu para mim, me olhando como se eu fosse
uma presa que despertou seu interesse.
— Eu pensei que você gostava de mulheres...
— Sim, eu gosto, amo elas, assim como os homens. — Ela sorri para
mim e toma seu suco. — Mas Santana foi diferente, ele não era apenas um
homem, ele era um mestre, um dos conselheiros de Sodoma. Quando ele
olhava para mim, era como se ele enxergasse minha alma.
— Você e ele...
— Jogamos? Sim, eu aceitei jogar Sodoma com Santana, me deitar
com mulheres e apreciar uma cama com mais de dois corpos. Tudo que
precisava aprender, aprendi com ele. — Ela fecha seu semblante e fica
calada. — Aprendi muitas coisas com ele, e, principalmente, que ser
vulnerável diante de um mestre é perigoso. Fiquei com medo de como
estávamos indo rápido demais, como me viciei nele, e quando o jogo
acabou...
— Você partiu! — Vejo a resposta no olhar dela, Sieta pôs fim à
relação.
— Sim! — Ela dá de ombros e vira seu rosto para frente. — Lembra
quando disse lá na casa da minha mãe que eu escolhi uma máscara?
— Você escolheu uma de javali, garra e luta, foi o que disse que ela
representava...
— Isso aí, garra e luta. — Ela estica seu braço e deixa sobre a
mesinha de centro o copo de suco vazio. — Santana e eu somos bons juntos,
fodemos bem pra caralho, aquele espanhol sabe como dobrar uma mulher
dentro do quarto...
— Se era tão bom, por que não deu certo?
— Não se pode pedir para um tigre se submeter a outro, Mabel. Dois
predadores não se curvam. Eu não conseguia lidar com o controle que ele
tinha sobre mim, não podia ser a submissa dele, e ele jamais se submeteria a
mim.
— Não gostava de receber ordens dele...
— Cristo, eu odiava! Podia viver muito bem com elas dentro do
quarto, mas fora dele, eu e Santana quase nos matávamos de tanto brigar,
com ele querendo me dar ordens e eu negando a obedecer. — Ela esfrega seu
rosto e relaxa seus ombros, empurrando sua cabeça para trás e a deixando
sobre o sofá, olhando para o teto. — Éramos perfeitos juntos, mas, ao mesmo
tempo, incompletos, não tínhamos o que você e Greg têm...
— Como assim? — Estico a bacia de pipoca e a deixo em cima da
mesinha, olhando para ela enquanto arrumo meu copo ao seu lado.
— Veja, Mabel. — Sieta ergue seus braços e gesticula no ar. — Para
ter uma relação assim, aceitar um dominador como seu senhor, precisa saber
que ele dominará tudo, isso faz parte dele, é quase como respirar para eles. Se
algum dia disser não para Greg, vai deixá-lo fora de ar, quase como se
bugasse a mente dele, entende?! Porque ele não foi programado para ser
contrariado...
— Eu digo não para o senhor Gregovivk... — Sieta me olha de rabo
de olho e repuxa sua sobrancelha esquerda para cima. — Às vezes, não
sempre, mas eu falo.
— Mas, no fim, faz exatamente o que ele quer, porque gosta de
agradá-lo. Nunca disse um não de verdade, para valer, que o faça perder o
rumo, o deixando feito um menino diante de você — ela diz, rindo, e abaixa
suas mãos. — Fazer o que ele lhe manda lhe dá prazer. Esse é o verdadeiro
prazer de uma submissa, servir ao seu senhor, e isso nós duas sabemos que é
verdade, basta olhar para o modo de sentinela, como cão de caça, que ele fica
quando está perto de você, protegendo o brinquedo preferido dele.
— Cristo, eu realmente faço isso... — Tombo minha cabeça para trás
no sofá, igual a Sieta, e fico perdida, olhando o teto. — Nunca realmente
disse um não para valer a ele.
Eu gosto de fazer o que ele manda, gosto ainda mais quando seus
olhos castanhos brilham de forma sexy, ficando dominador. Até mesmo
quando me nego a fazer alguma coisa, ainda assim no meu íntimo sei que
apenas digo não para provocá-lo, para ser castigada de alguma forma que sei
que vai acabar com ele tendo o que quer e eu completamente exausta, com
meu corpo molenga pelo tanto de orgasmo que o senhor Gregovivk me dá.
— Eu pensei que fazia isso apenas por conta do jogo, mas não é —
murmuro, pensativa, tendo mais consciência de como o permiti controlar
tudo com tanta facilidade. — Realmente não consigo falar não para o senhor
Czar.
— O jogo serve apenas para trazer seus demônios para fora, as
vontades mais avassaladoras e obscuras que ficam entranhadas dentro do seu
âmago. — Ela respira fundo, enquanto nós duas ficamos encarando o teto da
sala. — Obedecer ao que ele manda, é o que realmente lhe dá prazer.
— Deus, isso é tão louco! — falo, baixo, batendo meus pés no chão.
— Não, isso é Sodoma, Mabel. — Sieta vira seu rosto no sofá e dá
um tapinha de leve em meus dedos, em cima da minha perna. — Sua vez de
me contar como você está.
— Não, mas você ainda me contou como Czar reagiu ao saber que
você estava jogando Sodoma com esse homem. — Tombo meu rosto no sofá
e a encaro. — E, além do mais, o que Santana fez? Ele aceitou o término...
— Nenhum dominador aceita bem um término. Mas ele teve que
aceitar, mesmo ainda me infernizando quando nós dois nos encontramos. Ele
tem medo de Greg. — Ela ri e balança sua cabeça para os lados, antes de
fechar seus olhos e respirar fundo, retornando a virar sua cabeça para frente.
— E Czar, como reagiu?
— Ele não ficou muito contente quando soube. — Ela solta uma
gargalhada. — Na verdade, ele ficou furioso, ainda mais porque foi com
Santana que eu me iniciei. Greg socou a cara de Santana e me deu uma
bronca. Como ele não podia mais me desligar, fez eu ficar como o braço
direito dele na Sodoma de Moscou, feito um grande papai urso protetor.
— Ele sempre foi assim, protetor? — Sorrio, pensando em como Sieta
foi feliz em ter alguém como Czar ao lado dela.
Ela não tem ideia de como foi abençoada por ter uma família, mesmo
que não seja a família perfeita, como ela disse. Mas, ainda assim, teve um pai
e uma mãe que amavam, primo e tios. Por mais que ela sofreu quando a
realidade do vício do pai foi descoberta, ainda assim Sieta não sofreu de
verdade, não como eu, Macro e as outras crianças, que foram renegadas pelos
próprios pais desde pequenas, sendo largadas no orfanato, dependendo da
caridade de alguma pessoa em querer nos adotar.
— Greg era brincalhão quando mais jovem, ria bastante, sempre se
metendo em encrenca — ela suspira, baixo, e nega com a cabeça. — Mas
então ele mudou, ficou silencioso, nem um pouco sociável. Abandonou os
traços risonhos e brincalhão que ele tinha herdado da tia Melissa e ficou mais
parecido com o tio Huslan.
— O que mudou, Sieta? — pergunto e viro meu rosto, olhando para
ela.
Tento entender o que poderia ter acontecido com esse jovem animado,
cheio de vida que despareceu, que Sieta descreve, ficando apenas esse
homem taciturno, que sempre esconde suas emoções por trás dos seus olhos
castanhos.
— Greg ficou mais controlador, rigoroso, sistemático com tudo e
todos à sua volta, assim ele consegue proteger e cuidar das coisas e das
pessoas que são próximas dele. Fazer isso o deixa mais calmo — suspira, me
contando mais sobre o senhor Czar. — A mente dele não desliga, ele precisa
se sentir no controle, assim ele sabe que está tudo bem, que ninguém vai se
ferir.
— Ele sofreu com a morte da mãe dele, foi isso que o fez mudar?
Sieta tomba sua face para minha direção e me olha pensativa,
mordendo o cantinho da boca.
— Foi o que causou a morte dela que fez Greg mudar, Mabel. Tia
Melissa morreu por cul... — Ela se cala ao som do seu telefone tocando. Se
endireita e o tira do bolso da calça, o atendendo. — Oi! Agora?
Ela levanta e caminha para fora da sala, levando sua outra mão para o
bolso da calça. Levanto e pego os copos e a bacia em cima da mesinha de
centro, andando para a cozinha. Fico pensativa sobre a morte da mãe do
senhor Gregovivk, enquanto limpo os copos e a bacia, os deixando no
escorredor depois que lavei. Seco minha mão e desligo a torneira, pegando
meu celular no bolso quando ele vibra.
Solto o ar lentamente e olho a mensagem da operadora do celular,
ficando frustrada por não ser Macro. Desbloqueio o aparelho e abro o
aplicativo de mensagens, vendo que mais uma vez fui ignorada. Nessas
últimas semanas, mandei inúmeras mensagens para ele, e ele não respondeu
nenhuma. Eu tinha ligado para ele só Deus sabe quantas vezes, mas ele não
me atende. No fim da semana passada, fui até o apartamento dele, e estava
fechado. Na universidade, quando procurei por ele, avisaram que Macro tinha
se afastado por uns dias, porque uma tia dele estava doente e ele precisou
viajar para cuidar dela. Soube que era mentira na mesma hora, Macro não se
comunica com seus tios, ele os odeia. Foram os tios dele que o jogaram no
orfanato. Se algum dia ele fosse os encontrar, seria apenas para ver o velório
deles pessoalmente.
“Onde está, Botinhas? Estou preocupada com você.”
Digito novamente mais uma mensagem, na esperança de que ele
responda alguma delas. Eu sei que não devia me preocupar tanto, porque
tenho quase certeza de com quem Macro está. Mas, ainda assim, não consigo
evitar não me preocupar com Macro.
“Me responda, por favor, faça qualquer coisa. Ligue, mande uma
mensagem, um sinal de fumaça ou código Morse, use até uma pomba ou a
porra de uma coruja para se comunicar, me mandando um bilhete, mas
apenas me diga que está bem, Macro.”
Desligo o celular e o guardo no meu bolso, respirando fundo e
coçando minhas têmporas. Tinha pensado em pedir ajudar ao senhor
Gregovivk, sobre quem é esse homem que sai com Macro, se ele podia
descobrir se estavam bem. Mas eu sabia que se fizesse isso, estaria quebrando
a confiança de Macro, quando ele me contou o seu caso com esse homem.
Macro já tinha desaparecido antes, talvez eles estejam apenas dando um
tempo longe tudo, para ficarem juntos. Esperarei até semana que vem, se
Macro não aparecer, vou ser obrigada a conversar com o senhor Gregovivk,
para ele me ajudar a encontrar meu amigo.
— Infelizmente, eu tenho que ir, vou ter que esperar para saber como
está indo o lance de vocês! — Ergo meus olhos para Sieta e a vejo entrar na
cozinha, guardando seu celular no bolso de trás da calça. — Preciso resolver
uns assuntos que apareceram.
— Sério? — falo, chateada ao saber que ela já vai. Eu tinha pegado
um carinho muito grande por Sieta. — Poxa, que pena, estava gostando muito
da nossa noite das garotas!
— Esquenta não, podemos sair amanhã à noite, tem uma balada nova
que abriu, que estou louca para ir.
Sorrio sem graça, ouvindo-a falar, sem muita coragem de lhe dizer
que eu nunca fui em uma balada, que o mais perto que cheguei disso foi ir em
Sodoma, o que eu acho que é bem mais estranho ainda de dizer, já que eu fui
para um tipo de festa de orgia, mas nunca fui em uma balada para dançar.
— Eu não sei se vou conseguir ir — digo e desvio meus olhos dela.
— Vai ter uma exposição na galeria amanhã, às 20h. Estava marcada para o
sábado passado, mas acabou sendo adiada para esse sábado agora. Você não
quer ir? — questiono, animada, para ela. — É um pintor novo, se chama
Oslo, as telas dele são incríveis, Sieta. Ele tem talento e estou tão feliz pelo
senhor Rumeu ter dado essa chance para o rapaz.
— Na galeria... Sério que quer trocar nossa noite de diversão,
dançando e bebendo, para ficar vendo telas que você vê a semana toda? —
Ela ri e nega com a cabeça. — Não gosta de balada, é isso?
— Não... — Mordo meus lábios, trocando o peso de perna e rindo
nervosamente. — É só que...
— O quê? — Ela me olha e abre seus braços, me encarando.
— Eu nunca fui em uma balada. — Fecho meus olhos e respiro fundo,
me preparando para a risada dela.
— Tá falando sério? — Abro meus olhos e encontro os de Sieta
arregalados, me encarando.
— Eu não saia muito, depois que fui morar sozinha saia menos
ainda...
— Garota, a gente vai ter que consertar isso amanhã! — Sieta me
assusta quando dá um passo à frente e segura meu rosto em suas mãos. —
Podemos até passar na galeria e dar uma olhada, mas pode apostar que esse
seu rabo vai para uma balada em Moscou amanhã à noite!
— Não acha que devíamos conversar com o senhor Gregovivk
primeiro e ver o que ele pensa disso? — Dou um passo para trás, mas Sieta
mantém meu rosto preso, esmagando minhas bochechas e me fazendo fazer
biquinho com os meus lábios. — Não?
— Não! — Ela sorri e nega com a cabeça. — Amanhã à noite vai se
divertir e balançar essa sua bela bunda sem a coleira do seu dono em seu
pescoço...
— Isso não vai acabar bem, Sieta... — resmungo entre meus beiços
exprimidos, a vendo rir de mim.
— Isso sim vai ser uma noite das garotas. Garotas malvadas! — Ela
pisca para mim e belisca minha bochecha quando a solta. — Passo amanhã à
noite na galeria e te pego. Vou avisar ao ursão que vou te levar para jantar
fora, depois volto e te deixo em casa, e tudo vai ficar bem!
Ainda fico um tempo parada na cozinha, esfregando minhas
bochechas doloridas, não sabendo realmente qual nível de encrenca ir para a
balada com Sieta vai me trazer.
— Umas palmadas no rabo, talvez ele use o chicote dessa vez... —
Sinto meu corpo se retrair, ficando agitado ao imaginar Czar me castigando
por ter sido uma garota malvada. — Um plug maior do que último que ele me
fez usar, que deixou minha bunda assada por dois dias...
Repuxo meu nariz e balanço minha cabeça, saindo devagar da cozinha
e indo para as escadas, em direção ao quarto.
CAPÍTULO 26
OLHOS DE JADE
Mabel Shot

Ando lentamente pela galeria, observando as telas que eu tinha


ajudado a arrumar, distribuindo conforme a luz do ambiente de cada sala da
galeria. Puxo uma grande lufada de ar em meu peito, me sentindo
maravilhada de como a exposição do jovem Oslo ficou perfeita. Ergo meu
rosto e vejo os convidados conversando entre eles e elogiando o talento do
pintor descoberto por Boris. Uma coisa eu tinha que admitir, aquele cretino
do sobrinho do senhor Rumeu, fez pelo menos alguma coisa boa naquela
noite, ele descobriu Oslo. Não precisou de muito esforço para o senhor
Rumeu se empolgar em querer ser o padrinho do jovem talentoso russo, o
apresentando para a alta sociedade de Moscou.
As telas de Oslo encantam de uma forma impressionante, linhas bem
precisas e marcantes contando em cada tela sua infância na periferia,
depositando em cada pincelada sua alma. Olho perdida na direção da porta,
observando o jovem rapaz que entra conversando com um homem, o que me
faz automaticamente lembrar de Macro novamente. Mais um dia sem
resposta ou algum sinal dele. Suspiro, desanimada. Ando lentamente,
desviando meu rosto da entrada da galeria e caminhando para a grande ala ao
leste, onde o quadro que mais me comoveu está exposto “O engraxador da
praça”.
Evito chamar a atenção do senhor Rumeu para mim, que está em uma
conversa calorosa com o pintor Oslo, o apresentando para os convidados de
elite. Transitando entre as pessoas, me distanciando do salão, paro apenas
quando entro na sala vazia. As paredes brancas, com a luz adequada,
destacam ainda mais a tela da mulher sentada na grama, perto de uma grande
árvore. Um jovem menino está perto dela, com sua cabeça descansando na
perna da mulher. Os dois observam o céu cinza, uma cesta de piquenique ao
lado deles está aberta. Se olhar com mais atenção para o quadro, verá que
Oslo não dá destaque para a cena carinhosa entre a mulher e o menino, mas
sim para o segundo garoto que está ao fundo, ajoelhado diante de um homem,
engraxando seus sapatos atrás deles, com o rosto virado, observando a mãe e
o filho rindo com a cesta de piquenique cheia de guloseimas. Os olhos
solitários e tristonhos do menino são tão expressivos, que parecem ser uma
fotografia, uma memória melancólica que o pintor retratou até os mínimos
detalhes. É uma pintura realista que choca dois mundos diferentes, talvez seja
por isso que poucos pararam para realmente apreciá-la. As pessoas que estão
aqui, os convidados da alta sociedade de Moscou, não entenderiam o que o
artista quis contar com os olhos silenciosos do menino engraxate.
— O que acha que ele está pensando? — A voz feminina se faz ao
meu lado, trazendo um perfume adocicado ao meu nariz, me perguntando
baixo.
— Em como seria a vida dele se estivesse no lugar do outro menino
— respondo calmamente e suspiro lentamente, olhando a tela. — Imaginando
como deve ser não ter medo, não ser sozinho, ter alguém para lhe dar um
carinho e apenas contemplar o céu sem o medo do futuro.
— Uma imaginação de como seria a vida dele, então — ela fala,
pensativa, ficando perto de mim. — O que mais você vê?
— Uma pontinha de inveja e tristeza em seu olhar. Mas não porque
deseja o mal, mas sim porque ele sabe que nunca será digno de viver aquilo.
— Encolho meus ombros e cruzo meus braços acima do peito. — Uma pena
que ele continuará sozinho.
— Por quê? — A voz suave dela mantém o interesse, com nós duas
olhando a pintura.
— Ninguém levará o quadro para casa. — Descruzo meu braço
esquerdo, apontando a tela. — As pessoas não se sentem atraídas pela
verdade, isso causa incômodo, um certo desconforto em ter os olhos tristes de
uma criança lhe encarando.
— Algumas pessoas se sentem bem com o desconforto, a dor sempre
foi a melhor disciplina da alma. — Sorrio ao ouvir a resposta dela, mas não
creio que alguém que esteja essa noite nessa galeria compre o quadro.
— Não esse tipo de dor, as dores que são insuportáveis, como as
dores dos outros — argumento, séria, ainda tendo meus olhos presos no
jovem engraxate. — Veja o homem de pé, diante do menino, que segura o
jornal na frente do rosto. — Aponto para o cavalheiro de terno. — Ele prefere
olhar as notícias do que encarar a face da criança que está ajoelhada diante
dele, engraxando seus sapatos. Isso é mais cômodo, não é a dor dele.
Entendemos a nossa, mas nunca a dos outros, é mais fácil não vê-las, não
querer saber sobre elas, assim não precisamos ter que admitir que somos
egoístas e gostamos de não nos preocupar com ninguém mais além de nós
mesmos.
— Uma roda de poder, onde os de cima esmagam os que estão
embaixo, erguendo o som da melodia da vida frívola para abafar os gritos de
dor dos miseráveis. — Ela solta uma risada e me faz rir junto com ela,
quando fala de forma tão natural.
— Exatamente isso.
Sorrio e me viro para ela. Vejo a mulher elegante olhando para frente,
a pele pálida com um leve rosado por conta do blush em sua maçã do rosto,
um grande casaco de pele branco, que devo deduzir ser legítimo, pela
ostentação do brinco de diamante em sua orelha. Sua face se move, assim
como seu corpo, com ela ficando de frente para mim, me presenteando com
um meio-sorriso de Monalisa, com seus lábios pintados de vermelho. Estreito
meus olhos e a encaro por uma fração de segundo, antes de reconhecer seu
olhar.
— A senhora é a mulher da matrioska. — Sorrio para ela, recordando
dos seus olhos verdes tão intensos, como se fossem uma joia. Duas pedras de
Jade estão escondidas em seu olhar. — Não sei se lembra de mim, mas nos
conhecemos no dia que cheguei em Moscou, a senhora foi me buscar no
aeroporto. — Estico minha mão para ela e sorrio. — Eu sou...
— Mabel Shot — ela responde antes que eu fale, segurando meus
dedos em sua mão.
Vejo a luva branca em seus dedos, que a deixam tão elegante, como
se tivesse acabado de sair do ano de 1964, onde trocou dicas de moda com
Audrey Hepburn[62] no sete de filmagens de Minha Bela Dama[63]. O
penteado que usa é idêntico ao da atriz, assim como seu porte elegante e olhar
altivo.
— Recordo de você, Mabel Shot. — Seus olhos passam por meu
rosto, como se ela estivesse me olhando e analisando, como eu tinha feito
com o quadro de Oslo.
Sorrio, envergonhada, porque não lembro do nome dela. Recordo da
boneca matrioska e da sua postura elegante, mas não do seu nome. E agora
estou em dúvida se devo perguntar novamente e parecer indelicada, porque
ela lembra do meu.
— Eu não quero parecer mal-educada... — sibilo e ergo minha mão
em um gesto de desculpa ao encolher meus ombros, a olhando e preferindo
admitir que sou péssima com memória. — Mas não recordo do seu nome,
senhora. Por favor, não fique brava comigo, mas sou péssima para gravar
nomes...
— Jamais me zangaria com você, Mabel — ela corta minhas palavras
e me faz ficar estática, sem conseguir me mexer quando seu braço se ergue.
Sinto o tecido de luxo da luva deslizar por minha bochecha lentamente.
É estranho como seu toque em meu rosto desencadeia um sentimento
de familiaridade antiga, como uma memória de tato. A forma como ela me
olha, me faz sentir como se eu já tivesse recebido esse mesmo olhar
carinhoso e sido acariciada pelo toque brando. Mas não entendo o porquê
disso, já que a única vez que a vi foi quando cheguei em Moscou. Ela mal
falou comigo e muito menos me tocou. Mas aqui, agora, com esse gesto
repentino do seu braço se erguendo, tocando minha face, é como se eu a
conhecesse há anos.
— Mabel, tem uma mulher te procurando lá na entrada. — A estranha
conexão que essa mulher me faz sentir é quebrada por uma das
recepcionistas, que chama por mim. Dou um passo para trás e me distancio
do toque da mulher elegante.
— Oh, claro... — Pisco rapidamente, dissipando essa nuvem de
nostalgia que me pegou. Olho rapidamente para a recepcionista, movendo
minha cabeça para frente, consentindo. — Eu já irei, obrigada por me avisar.
— Não se prenda por mim, eu já estava de saída. — Volto meu rosto
para a mulher elegante, quando ela fala em tom calmo, me encarando. —
Passei apenas para dar uma olhada. Boa noite, senhorita Shot.
A vejo se afastar, silenciosa, exatamente como chegou, partindo pela
outra saída da esquerda e arrastando seu longo casaco de pele branco no
chão.
— Mabel, você deveria ir logo. — Olho a recepcionista, que me
encara e dá um riso. — A mulher que está procurando por você, está
chamando a atenção dos convidados...
— Como? — Balanço a cabeça para os lados e não entendo ao que ela
está se referindo.
Sei que se trata de Sieta, ela é a única que irá vir aqui. Czar tinha
saído cedo, eu nem vi a hora que ele chegou e muito menos quando partiu.
Apenas soube que ele voltou para casa, por conta do seu travesseiro, que
tinha a marca da sua cabeça. Ando apressada, seguindo a recepcionista,
repetindo em minha mente a desculpa que eu tinha inventado para dar à Sieta,
para não ir até essa balada. Talvez, se tivesse muita sorte, poderia convencê-
la de realmente sairmos apenas para jantar e retornar para casa. Esqueço o
que eu tinha planejado de falar para ela assim que a avisto com um macacão
de couro colado ao corpo, usando uma bota de salto alto, andando lentamente
entre os convidados e observando os quadros. Seus cabelos negros estão
completamente puxados para trás, sem um único fio que seja fora do lugar.
Tem a maquiagem carregada em tons escuros, desde o batom vinho nos
lábios aos olhos esfumaçados em preto. Seguro um riso e vejo ao que a
recepcionista se referia. Entendo porque ela chama a atenção dos convidados.
Não tem como não notar as curvas femininas dela com o decote profundo, em
sua roupa sexy de mulher gato. Apenas faltou a máscara, para ela ficar igual à
personagem dos quadrinhos.
— Oie... — falo para ela e estico minha mão, acenando, caminhando
apressada em sua direção.
— E aí, pronta? — Ela sorri para mim e me dá uma piscada quando
paro à sua frente.
— Eu só tenho que trocar meu uniforme e pegar minha bolsa, e já
podemos sair. — Olho em volta, constatando que os olhares sobre ela estão
aumentando. — Se importa de me esperar aqui ou prefere se encontrar
comigo na saída da rua de trás dos funcionários?
— Rua de trás, com toda certeza!
— Ok. Prometo que não vou demorar! — Sorrio para ela e balanço a
cabeça em positivo.
Vejo Sieta partir, andando rápida e decidida para a saída, nem se
incomodando com toda a atenção que chama.
— Pensei que não veria mais a porra de um Gregovivk entrando nessa
galeria — Boris fala amargamente, parando ao meu lado e me dando uma
bronca.
— E eu pensei que depois do seu assalto, você seria um homem mais
sensato, senhor Boris! — Viro meu rosto, o olhando, arqueando minha
sobrancelha e o confrontando.
— Acha mesmo que tenho medo daquele bastardo assassino? — Ele
abaixa seu rosto e o leva para perto do meu, olhando disfarçado para meu
decote, murmurando com um falso sorriso. — Eu só estou esperando para ver
quanto tempo vai demorar para seu corpo ser encontrado carbonizado. —
Seus olhos retornam para minha face. — Um desperdício de corpo, mas vai
ser merecido, por se envolver com um assassino.
— Do que está falando... — murmuro e dou um passo para trás, me
afastando dessa cobra falsa, sem entender por que Boris está chamando o
senhor Gregovivk de assassino e dizendo essas coisas. — Está inventando
mentiras.
— Estou mesmo?! — Ele ri de forma cínica, fingindo que estamos
tendo uma conversa corriqueira, e não que ele está insinuando que Czar
matou alguém. — Você escolheu errado, Mabel. Poderia ter ficado bem
melhor se escolhesse corretamente o pau que entra em suas pernas.
— Por que está dizendo que ele é assassino? — pergunto, nervosa, e
abaixo meu tom de voz, olhando para os lados e disfarçando um sorriso
quando um casal de convidados passa ao nosso lado.
— Se você não sabe, não sou eu que vou te contar! — Ele leva sua
taça de champanhe à boca e me dá um olhar irônico, se virando para sair de
perto de mim.
Em um impulso, seguro seu braço antes que ele se afaste, o fazendo
não sair e permanecer onde está.
— Conte o que começou, senhor Boris. — Esmago mais forte minhas
unhas em seu braço, sabendo que foi exatamente esse que o senhor Czar
machucou. Cravo com mais força e vejo-o repuxar sua face com dor. — Ou
atravesso esse salão agora e vou até o seu tio e sugiro para ele estudar com
calma o livro caixa da galeria!
— Está mesmo me ameaçando? Acha que...
— Não me importo com o que você acha, mas sei exatamente o que
seu tio, o senhor Rumeu, vai achar quando perceber que os fechamentos de
vendas dos quadros, feitos pelo sobrinho dele, não bate com o que está no
livro caixa!
— Puta! — ele me amaldiçoa com raiva e puxa seu braço para trás.
Ergue sua mão e empurra seus cabelos para trás, disfarçando um sorriso falso
em sua boca. — A cadela estúpida da mãe dele, que Huslan Gregovivk tirou
da sarjeta, mas que nunca deixou de ser uma miserável, mesma coberta com
as melhores joias de Moscou, foi assassinada por seu próprio filho.
— Cristo! — Respiro fundo e sinto meus dedos tremerem. — O
senhor é pior do que eu pensava. Além de ser um escroto de merda, que alicia
as funcionárias, ainda por cima é um verme mentiroso. A senhora Gregovivk
morreu salvando o filho dela de um incêndio, como pode ser tão baixo...
— Ela morreu tirando o doente de merda do filho dela do incêndio
que ele mesmo causou de propósito. — Boris sorri e arruma a lapela do terno.
— Porque ele é exatamente isso que eu te contei, um doente de merda, que
matou a própria mãe! E será exatamente assim que você vai morrer, quando
ele carbonizar seu corpinho. — Ele cheira o ar e dá uma risada. — Qual deve
ser o cheiro que uma puta burra tem ao ser queimada?
— Você é doente — sussurro, me sentindo nauseada olhando para
esse homem. — O senhor Gregovivk não fez isso.
— Não?! Pesquise então, ou melhor ainda, pergunte para ele quem foi
que matou a mãe dele, e vai descobrir quem é o doente.
Fico parada, o vendo se afastar, mas dessa vez não faço menção de
impedir. As lembranças da conversa com Sieta, na casa da mãe dela, me
contando sobre a morte de Melissa, invadem meu cérebro.
— Tia Melissa morreu quando Greg ainda era adolescente — Sieta
me responde, não tendo mais o riso e o deboche em suas palavras. — Houve
um incêndio na casa de barcos que tinha na residência dela. Ela inalou
muita fumaça e os pulmões dela ficaram gravemente feridos e não resistiram.
Greg estava dentro da casa de barcos, minha tia entrou lá para salvá-lo...
Meus passos se movem lentos, enquanto caminho para os fundos da
galeria, me direcionando para minha sala, tendo a imagem da cicatriz de
queimadura das costas dele se misturando com as palavras de Boris.
Enquanto respiro rápido, sinto tudo ficar confuso. Pego minha bolsa, em cima
da bancada, e ando perdida em meus pensamentos, caminhando para a porta
de saída.
— Achei que me disse que iria se trocar... — Sieta, do lado de fora,
olha para minha face e ri, jogando a bituca de cigarro, que estava fumando,
fora. — Quer ir assim?
— Eu pensei bem e prefiro ir para casa, Sieta — respondo, baixo,
para ela, segurando minha bolsa perto do peito.
— Sério? Pensei que iríamos sair para dançar... — Ela me olha e nega
com a cabeça. — Não vai me dá um bolo, não é?
— E-eu... — Fecho meus olhos e respiro fundo. — Prefiro ir para
casa...
— Greg se fechou, ele mudou depois que saiu do hospital... Não saia
mais de casa e nem recebia visita. A porta do palacete que ele morava com
tia Melissa foi trancada, tio Huslan era o único que ia visitá-lo. — Sieta
fecha seus olhos e nega com a cabeça. — Mas isso é história dele, que ele
tem que conversar com você se ele quiser. Sinto muito, mas não cabe a mim
falar sobre isso.
Respiro fundo e me sinto mais angustiada, recordando das suas
palavras ontem. Ela sabia, algo realmente tinha acontecido, mas eu não tinha
me atentado a isso. Por que o pai dele era o único que o visitava? Os dois não
moravam juntos? Por que o senhor Huslan permitiu que o filho fosse morar
sozinho na casa que pertencia à Melissa? Ouço a voz de Sieta conversando
comigo, sem eu conseguir prestar nenhuma atenção nela, só nos fios soltos
das histórias que vão se entrelaçando.
— Foi o que causou a morte dela que fez Greg mudar, Mabel. Tia
Melissa morreu por cul... — Ela se cala ao som do seu telefone tocando.
Culpa dele.
Meu cérebro termina a frase que Sieta me disse ontem, mas não
terminou porque o celular tocando a interrompeu. O senhor Gregovivk tinha
matado a mãe dele, provavelmente não propositalmente. Mas, de alguma
forma, foi por responsabilidade sua que o incêndio começou. Boris falou a
verdade então, ao dizer que foi o próprio senhor Czar que ateou fogo,
causando a morte da mãe.
— Mabel, ouviu o que eu disse? — Sieta segura meu rosto e me faz
olhar para ela. — Ouviu eu dizer que apenas vamos passar lá, para eu
cumprimentar o dono, que é meu amigo, e depois vamos embora?
— O quê? — indago, baixo, para ela, ainda confusa com tudo que
descobri.
— A boate que abriu hoje é de um amigo meu, só vou passar lá para
dar um abraço nele e logo vamos embora, será rápido. — Ela sorri e solta
meu rosto. — Depois te levo para casa, pode ser?
Estou tão aérea, pensando sobre tudo, que apenas me vejo balançar a
cabeça lentamente em positivo.

Respiro fundo e sinto minha cabeça sendo dividida ao meio, junto


com a batida repetitiva da música da boate, me fazendo ter a sensação de ter
um prego sendo martelado dentro do meu cérebro. Meus olhos piscam e tento
me acostumar com os jogos de luzes, que fica trocando de cores, passando do
amarelo para rosa, vermelho, roxo e azul.
— VAI SER RÁPIDO, OK?! SÓ PRECISO ACHAR ELE! — Sieta
grita perto do meu ouvido, me dando um sorriso.
— VOU TE ESPERAR AQUI! — grito em resposta para ela e aponto
para o chão.
— TEM CERTEZA? — ela grita novamente, me olhando
preocupada. — ACHO MELHOR IRMOS PARA SODOMA, TE LEVAR
PARA O GREG.
— EU ESTOU BEM! — Forço um sorriso e nego com a cabeça. —
VAI, EU FICO AQUI TE ESPERANDO.
Ela me dá uma piscada, sorri e vira, logo se misturando entre as
pessoas. Fico parada perto de um pilar, afastada da pista, olhando perdida
para todos, os vendo dançando colados, pulando sem ter nenhum único
espaço que seja entre eles. O local é abafado, com pouca ventilação, baixa luz
e odores mistos de variados perfumes, com bebidas e cigarro. Esfrego minhas
têmporas e inalo o ar com força, me sentindo angustiada de estar aqui, como
se não conseguisse respirar direito pela quantidade de gente que abarrota o
local. Fricciono meus dedos sobre meu peito e espalmo a palma da mão,
massageando em cima do meu coração.
Queria que Macro tivesse aqui, que respondesse minhas mensagens.
Há uma onda de agitação dentro de mim, a qual sinto que estou sendo
esmagada dentro dela. Macro é a única pessoa a quem eu recorreria em uma
situação como essa, contando para ele meus temores e os receios, dizendo as
coisas que Czar está me fazendo sentir, como eu não sei o que é verdade ou
mentira, e nem como agir agora com as coisas que eu descobri. Se
perguntarei ao senhor Gregovivk o que realmente aconteceu com a mãe dele,
ou se optarei por não me aprofundar ainda mais nesse mundo da família
Gregovivk. Alguém passa atrás de mim e resvala seu braço no meu quadril.
Um odor diferente dos outros acerta minhas narinas, se destacando entre os
outros cheiros. Uma fragrância que meu cérebro nunca esqueceu, que causa
arrepios em minha nuca, alarma meu corpo, como se eu tivesse acabado de
ouvir um chocalho de uma cascavel. Ergo minha cabeça, assustada, e me
afasto do pilar, me virando e olhando algumas pessoas andando atrás de mim.
Dou um passo para trás e viro meu rosto para os lados, caçando de onde vem
esse cheiro. Esse maldito perfume, que até no inferno repleto de enxofre e
carniça eu reconheceria.
— Ei, gata, quer dançar? — Dou um pulo, assustada, assim que
alguém toca em meu ombro.
O rapaz sorridente, com aparelho ortodôntico, me olha, com suas
pupilas avermelhadas me deixando saber que está embriagado. Nego com a
cabeça e me afasto dele, me virando e olhando entre os rostos, sentindo meu
coração bater acelerado em puro pavor. Tenho certeza de que eu senti o
perfume forte de Nate. Meu corpo é esmagado por uma roda de gente, que
me empurra para a pista de dança e me arrasta com eles para o meio da
multidão.
— Por favor, me dá licença! — peço, nervosa, tentando sair do meio
deles, mas estão tão eufóricos com a música, que parece que eu sou invisível.
As pessoas me empurram enquanto dançam, fazendo eu me sentir
mais sufocada, amedrontada, como se eu não conseguisse me mover. Olho
para os lados, em busca de alguma saída, uma brecha que seja para sair de
perto deles. Ergo minha cabeça na direção da área VIP e tento achar Sieta,
mas o andar de cima está ainda mais lotado que o de baixo. Aperto a bolsa
com força em meus dedos, sentindo minhas unhas rasparem no material pela
pressão que eu faço. Vejo um homem de costas, usando um terno cinza à
direita, no andar superior, perto do parapeito de ferro. Seu rosto vira apenas
um pouco, com ele olhando para o lado. Apenas a meia visão do traço fino do
nariz dele e o queixo quadrado, me faz sentir um gosto amargo em minha
boca. Sinto minha pele perder o calor, o suor frio escorrer por minha testa,
enquanto meus olhos ardem e minha boca fica trêmula.
— Está tudo bem, moça? — Uma mulher parada diante de mim, me
pergunta seriamente, segurando meu ombro.
— E-eu... — A voz não sai da minha boca, como se estivesse presa
dentro de mim e impossibilitada de sair.
Pisco mais rápido, tentando conter as lágrimas, sentindo meu coração
se comprimir, como se a qualquer segundo ele fosse parar de funcionar,
voltando a palpitar forte com batidas aceleradas em segundos. A dor em
minha cabeça aumenta, minhas pernas estão trêmulas, enquanto sinto os
dedos da minha mão ficarem dormentes e o pavor crescer de forma agressiva,
um medo tomando uma forma descomunal dentro de mim. Sinto como se
estivesse morrendo.
— Senhorita, está passando mal? — Pisco, sentindo as lágrimas
escorrerem por minha face, vendo a mulher me encarar mais nervosa,
levando sua outra mão para a orelha e sussurrando algo.
Dou um passo para trás na mesma hora, me afastando dela, sentindo
como se algo ruim estivesse prestes a acontecer. Uma sensação forte,
insuportável, que faz meu coração doer. Tento respirar, mas cada segundo vai
ficando mais difícil.
— Moça, espere...
Não paro, não olho para trás quando ela grita, tentando me segurar de
volta. Empurro as pessoas e aperto minha mão sobre meu coração, como se
pudesse parar de fazê-lo bater acelerado, sentindo como se a qualquer
segundo eu fosse desabar no chão com uma parada cardíaca.
— Preciso sair daqui, preciso...
O gosto da minha bílis faz minha boca encher de saliva, me dando
ânsia e vontade de vomitar. Fecho meus olhos e os esmago forte, sentindo
meu corpo todo transpirar frio. Ergo minha mão em minha cabeça, como se
pudesse conter as imagens, as malditas imagens que o perfume me trouxe.
Caio de barriga para baixo e sinto o impacto do piso bruto em meu
corpo ferido. Os passos pesados se fazem atrás de mim e ele abaixa. Tento
me levantar, mas ele me imobiliza e sobe em cima de mim.
— Não, não pertence. E antes do fim, antes de tudo acabar, vai saber
que ele nunca pertenceu a você, porque você foi feita para mim!
Sinto quando ele puxa meu cabelo com força e prende os fios entre
seus dedos. Debato-me mais ainda, mas meu corpo congela quando sinto-o
forçar a entrada do seu pau no meu ânus, que já se encontra ferido por toda
a maldita violação que ele me impôs.
Começo a gritar.
Bato, desesperada, minhas mãos amarradas no chão. Ele puxa minha
cabeça para trás e a cola em seu peito. Sua outra mão esmaga meu seio com
brutalidade. A boca perversa suga minha orelha, fazendo assim meu corpo
responder a ele, sabendo que cada movimento seu irá fazer meu corpo me
trair. Empurra sua pélvis para meu rabo, penetrando seu pau em meu corpo.
Meu rosto está coberto por lágrimas, meu grito sai desesperado, doloroso,
tudo roda à minha volta, tudo se perde na brutalidade. Me debato com fúria,
mas isso não é o suficiente para detê-lo. A dor de tê-lo entrando em meu
corpo é insuportável, agonizante e me dilacera de dentro para fora. Seu pau
começa a se movimentar, entrando e saindo, voltando mais forte, ficando
lento. Ele morde meu pescoço até seus dentes passarem a pele fina e esmaga
meus seios. Uma de suas mãos vai até minha boceta, fazendo círculos no meu
clitóris, enquanto ele move com força e brutalidade. Choro de horror, ódio,
nojo de mim, pois de tudo, o pior não é a dor, mas sim a condenação do meu
corpo, que responde a ele. Sinto a dor em meu corpo, que me consome e se
mistura a um repugnante prazer. Constato o sabor amargo das minhas
lágrimas, que escorrem por minha boca. A mordida em meu pescoço lateja.
As lágrimas estão lavando minha face, enquanto empurro as pessoas
para conseguir sair da pista de dança. Meu corpo gira e olho em volta, me
sentindo sufocada, como se eu fosse morrer e não tivesse ninguém para me
ajudar. A sensação de estar sendo observada me faz ficar mais amedrontada,
me fazendo imaginar que a qualquer segundo Nate vai aparecer diante de
mim. Minhas pernas fraquejam e dou um passo para trás. Sinto as mãos
grandes tocarem meu ombro, e eu grito, apavorada, me virando de frente para
ele. Os olhos castanhos estão perto do negro, com sua boca semicerrada e a
face mais mal-encarada que já vi refletida em sua expressão. Mas entre todo
pavor e medo que me engoliu ao olhar para ele, é como se eu soubesse que
estava segura. Feito uma criança assustada pelos pesadelos que a
atormentaram durante o sono por demônios antigos e cruéis, meu corpo se
joga para frente e abraço sua cintura, escondendo minha face em seu peito e
chorando com tanta dor que me faz soluçar e chorar o dobro.
— Fiz uma coisa ruim. Mabel fez uma coisa ruim, senhor. — Choro,
soluçando, me apertando com desespero no corpo dele.
Czar segura meus ombros enquanto choro. Aperto ainda mais meu
rosto em seu peito, com meu coração disparado. A sensação da queda, com
meus joelhos se flexionando enquanto a dormência toma conta das minhas
pernas, deixando meus sentidos dopados, vai me atingindo. Eu ainda sinto
meus braços soltarem sua cintura, mesmo meu coração gritando para me
manter presa a ele. O escuro vai ficando maior dentro da minha mente, tendo
apenas a voz de Nate me arrastando para o inferno.
— Por que está aqui, Mabel?
— Porque eu fiz uma coisa ruim.
CAPÍTULO 27
O PACTO DE SILÊNCIO
Ginger Roy

Los Angeles

— Eu estou bem, pai, e o bebê também, não precisa se preocupar,


ok?! Nós te amamos, assim que tiver um tempinho, iremos para Columbia,
manda um beijo para a mamãe. — Sorrio e encerro a ligação, me despedindo
do meu pai, com minha outra mão espalmada em minha barriga, alisando-a,
observando Roy e Baby na sacada da varanda, com os dois tendo os
semblantes preocupados.
Roy tinha ficado assim perto das 20h, quando recebeu uma ligação e
ficou no escritório por algum tempo. Assim que Baby chegou, depois do
marido dela ter a deixado aqui em casa antes de ir trabalhar, os dois irmãos
foram para a sacada e estão há mais de duas horas lá, cochichando.
— O que será que esses dois estão escondendo da gente, amor? —
murmuro para o bebê, olhando para Roy e Baby.
Levanto lentamente do sofá e ando sem desviar meus olhos dos dois,
me direcionando para eles. Jonathan vira sua face para mim assim que me
aproximo da porta da varanda, olhando do rosto dele para a loira aflita, que
desvia seus olhos dos meus.
— Então, qual dos dois vai me contar o que está acontecendo? —
pergunto para eles e retorno meus olhos para Jonathan.
— Está tudo bem, amor. — Roy caminha para mim e me dá um beijo
na testa. — Deveria ir se deitar, Gim, descansar um pouco.
— Se depender de você e Baby, eu vivo descansando, amor. — Ergo
meus dedos para seu peito e o aliso. — Estou grávida, Roy, não burra. Algo
aconteceu e vocês estão querendo esconder de mim.
Direciono um olhar interrogador para Baby, que levanta e caminha
para o parapeito da sacada, evitando me olhar nos olhos novamente.
— Aconteceu alguma coisa com Jon? — Viro meu rosto na mesma
hora para Jonathan, ficando preocupada que eles estejam me escondendo
alguma coisa sobre o magrelo. Não consigo controlar meu afeto por ele.
— Jon está bem, Gim, não aconteceu nada com ele — Baby fala
rapidamente e me deixa ver seus longos cabelos loiros balançando conforme
ela mexe a cabeça em negativo. — Não aconteceu nada, está tudo bem...
— Então por que vocês dois estão com essas caras de que alguém
morreu... — pergunto, soltando um suspiro, e ergo meus olhos para os azuis
de Roy, notando a expressão preocupada da sua face, como se confirmasse a
minha pergunta. — Oh, meu Deus, alguém realmente morreu?!
Dou um passo para trás e me distancio dele, olhando aflita para Roy e
Baby.
— Não alguém que lamentamos a morte. — Baby vira e caminha para
mim, segurando meu rosto em suas mãos. — Mas sim, alguém morreu.
— Baby! — Roy a repreende e lhe dá um olhar zangado.
— Gim tem o direito de saber — Baby o responde, sem desviar seus
olhos de mim.
— Quem morreu? — Respiro fundo e seguro seu braço. Roy caminha
pela varanda e para onde sua irmã está, olhando a noite de Los Angeles.
— Gim, deixa eu sentar você, bebê. — Ela sorri para mim e nos vira,
fazendo a gente caminhar para as cadeiras que tem na sacada.
— Vou perguntar pela terceira vez, quem foi que morreu? E quero
que me responda. Estou grávida, não virei uma taça de cristal! — Respiro
fundo e olho para ela. — Consigo lidar com uma notícia forte dessas...
— Freire. — Ela dá a notícia de uma vez só, respirando fundo e
silenciando minhas palavras.
— Puta merda! — cochicho e me sento na cadeira, fechando meus
olhos e precisando de um segundo para processar.
— Ela se enforcou dentro de um apartamento em Nova York. —
Baby se agacha e fica com seus olhos presos aos meus. — Estava usando
uma identidade falsa e morando lá com outro nome.
— Como ficaram sabendo? — Viro meu rosto e vejo Roy de costas.
Ninguém mais sabia do paradeiro de Freire, desde o dia que Jonathan a
expulsou de Sodoma. — Quem avisou...
— A polícia! — Jonathan é quem responde, sem se virar para mim.
— A polícia? — balbucio, baixo. Cristo, Freire era uma mulher
insuportável, esnobe e uma cadela obsessiva em Jonathan, mas ela não era o
tipo de pessoa que tiraria a própria vida, era narcisista demais para isso! —
Eu não entendo...
— Freire deixou um bilhete, contando o nome verdadeiro dela, e
escrito o nome de Jonathan Roy, pedindo para comunicarem a ele sobre a
morte dela, porque ela estava indo ficar junto com Mina. — Baby cerra seus
lábios e esmaga seus dedos em meus joelhos. — Até para morrer aquela
vadia tinha que dar um jeito de infernizar a vida dele.
— Meu Deus! — Ergo meus dedos e esfrego minhas bochechas,
respirando fundo, não acreditando que ela foi realmente capaz de se matar.
Mas não é só isso que me confunde... — Por que ela estava usando uma
identidade falsa, ela tinha cometido algum crime?
— Não sabemos, a verdade é que tudo isso nos pegou de surpresa. —
Baby levanta e abraça seu próprio corpo, olhando para Roy.
— Esse segundo nome que ela citou no bilhete, quem é? — pergunto,
baixo, ficando perdida. — Quem é essa...
— Mina! — Roy responde, sério, com a voz carregada de rouquidão.
— E ela foi? — Olho para ele, ainda sem ter ideia de quem seja.
— Uma submissa que morreu afogada na banheira, ela pertencia à
Freire — Baby murmura e olha para o chão. — Era uma moça jovem. Acho
que se algum dia eu realmente vi qualquer traço de humanidade em Freire, foi
quando a submissa dela morreu.
Enquanto ouço a voz de Baby me contando sobre Mina, permaneço
com meus olhos em Jonathan, vendo sua postura rígida, de costas para nós,
respirando forte, com os ombros dele se movendo a cada inalada de ar, me
deixando saber que algo não estava certo nessa história.
— Eu estava tentando entrar em contato com Czar, mas ele não
atende o celular. Roy acha que ele já deve saber sobre a morte de Freire. O
russo estava atrás dela, já tem duas semanas, eu acho... — Volto meus olhos
para Baby e absorvo todas essas informações. — Vou tentar ligar para Sieta
agora, para ver se ela me atende, ela é prima de Czar, vai gostar dela ao
conhecê-la, quando formos para Moscou.
— Você também vai para Moscou? — pergunto para Baby.
— Sim, Sieta me pediu para ser uma das testemunhas de Czar diante
do conselho, no dia do julgamento dele. — Ela respira fundo e solta ar
lentamente, caminhando para fora da varanda.
Levanto lentamente, olhando Baby se afastar, antes de ir para
Jonathan, ficando ao seu lado.
— O que houve com ela? — questiono, baixo, olhando para ele.
— Se matou, como Baby disse... — Ergo minha mão e seguro a sua, o
fazendo olhar para mim enquanto nego com a cabeça.
— Mina, o que houve com ela... Conheço você, quando Baby falou
sobre a menina, você ficou nervoso.
Jonathan respira fundo e vira seu corpo, ficando de frente para o meu,
levando sua mão para o meu ventre, tendo uma nuvem negra pairando sobre
sua cabeça, o deixando preocupado.
— Freire foi ordenada a matar Mina — ele diz, sério, não erguendo
seus olhos para mim.
— Oh, meu Deus, está me dizendo que ela matou a própria
submissa?! Quem ordenou uma coisa dessas...
— O conselho de Sodoma. Não se tratava de qualquer submissa, Gim.
— Ele dilata suas narinas ao respirar e fechar seus olhos.
— Era uma vida, está me dizendo que o conselho mandou matar uma
pessoa... — Me afasto dele e dou um passo para trás. — Me diz que você não
fez parte disso, Roy!
Sim, ele fez, vejo nos seus olhos a resposta, quando suas íris azuis se
abrem e me encaram.
— Sodoma não deixa pontas soltas, Gim. — Ele me encara e dá um
leve balançar de cabeça. — Freire levou Mina diante dos conselheiros há
treze anos, em uma reunião que teve na Austrália.
— Na ilha — falo, baixo.
— Sim, na ilha. Freire alarmou a todos com uma ideia assustadora,
em educar crianças para se tornarem submissas alfas. Jovens que seriam
educadas desde pequenas para agradar seus mestres...
— Cristo! — Tapo minha boca e sinto meus olhos ficarem marejados.
— Isso é crime...
— O conselho não permitiria isso, todos foram contra a ideia de
Freire. Ela levou Mina para mostrar que a ideia dela não estava apenas na
teoria, mas sim em prática. — Roy esmaga seus dedos na mureta. — Freire
não deveria ter levado a menina, não tinha que ter mostrado para os
conselheiros o que ela andava fazendo, não tinha nem que ter pensado em
algo horrível como isso. Sodoma não tolera falhas, e muito menos rebeldia...
— Mandaram matar ela...
— O conselheiro mais antigo, Oliver, ordenou que Freire limpasse a
sujeira. Isso ficaria como exemplo se outros tentassem ir pelo mesmo
caminho que ela foi.
— Céus, Roy, era uma vida, uma moça que foi assassinada...
— Uma moça que era a prova viva da loucura de Freire. E Sodoma
jamais permitiria uma prova viva que pudesse deixar os outros vulneráveis,
chamar a atenção de quem não deve, incentivando outros a quererem
escravizar crianças.
— A mataram como preventivo para uma situação que era apenas
hipotética, talvez ela nunca falasse, ninguém saberia sobre o que Freire fez...
— Não é assim que Sodoma funciona. — Ele vira seu rosto e encara
os arranha-céus. — Veja, Freire...
— Como assim? — Pisco, confusa, olhando-o sem entender. — Freire
se matou...
— Ela foi ordenada a se matar — Roy responde, sério.
— Não, Roy, ela se enforcou, tirou a própria vida...
— Assim como meu pai fez! — Jonathan volta seus olhos para mim,
me deixando ver o que seus olhos escondem.
Recordo da história do pai de Roy e Baby. Ele tinha se enforcado
dentro da prisão, encerrando o burburinho que a mídia estava fazendo em
cima do caso, sobre ele supostamente participar de alguma seita. Ele fez isso
para proteger Jonathan e Baby, mas Freire não tinha amor a ninguém, por que
ela se mataria?
— Não entendo, Jonathan. Você a expulsou de Sodoma há cinco
anos, Freire não fazia mais parte disso... O que houve com o seu pai, os
jornalistas estavam em cima, querendo descobrir tudo. Isso foi bem diferente
com ela...
— Freire não deixou o bilhete apenas para me infernizar, como Baby
pensa. — Jonathan nega com a cabeça, falando sério.
— Ela deixou para que você soubesse que foi alguém que a obrigou a
fazer isso, como foi feito com o seu pai...
— O pacto perpétuo de silêncio! — ele solta as palavras lentamente,
me fazendo calar. — Para entrar no conselho, você precisa fazer um pacto de
silêncio, se porventura venha ser o causador de algum perigo que possa pôr
Sodoma nos holofotes, você mesmo deve consertar o erro, ou algo seu será
tirado. Sodoma nunca perde, sempre tem um pagamento.
Freire era uma cadela ordinária, mas ainda assim era esperta. Se ela
estava usando um nome falso, era porque estava se escondendo de alguém,
uma pessoa que de alguma forma a encontrou. Deixar o bilhete para avisar
justamente Jonathan, o homem que mais a odeia, que se matou igual o pai
dele, quando Sodoma ordenou, foi premeditado, ela sabia que Roy montaria o
quebra-cabeça em segundos.
— Meu Deus, Freire realmente não tirou a própria vida, ela foi
ordenada!
— Exatamente. E tenho certeza de que foi por alguém do conselho.
— Roy vira para mim e estica seus braços, me puxando para ele, depositando
sua cabeça sobre a minha. — Algum conselheiro obrigou Freire a responder o
pacto de silêncio.
— Por que esse pacto foi cobrado agora? O que Freire poderia ter que
ela preferiu proteger e tirar a própria vida... — Não consigo entender isso.
Baby me disse que Freire era sozinha, que não tinha ninguém, apenas o
trabalho e Sodoma. O senhor Roy, o pai de Jonathan e Baby, fez o que fez
para proteger os filhos, mas Freire não tinha ninguém para proteger. —
Alguma coisa não está encaixando, Roy.
— Eu sei, e tenho para mim que o nome de Mina não apareceu à toa
naquele bilhete, assim como o meu. Apenas não sei ainda o motivo, mas
pretendo saber assim que Baby conseguir entrar em contato com Czar...
— O russo? Pensa que foi ele que cobrou o pacto?
— Não, mas sei que Czar estava atrás de Freire. E justo nas vésperas
do seu julgamento, faltando poucos dias para todos os conselheiros se
reunirem, ela aparecer morta realmente é algo a se pensar.
— Acredita que nem Sieta atende o telefone?! — Baby reaparece,
chateada, falando na varanda. — Só dá na caixa de mensagem, assim como o
de Czar.
— Peça para prepararem o jato, Baby. — Roy me prende em seus
braços e olha para ela. — Vamos antecipar nossa ida para Moscou, quero ter
uma conversa cara a cara com Czar.
CAPÍTULO 28
UMA COISA RUIM
Czar Gregovivk

Meu dedo toca a lateral da sua face e aliso seu rosto, que está
retornando à temperatura normal. Ainda posso lembrar da pele fria, com
lábios trêmulos, murmurando palavras desconexas quando a peguei em meu
colo. Eu estava com raiva, muito ódio, quando me direcionei para a boate e
fui atrás dela. Tinha acabado de receber a notícia de que a vaca da Freire
tinha se enforcado, um dos informantes da rede de Ramsés ligou para ele e
avisou que ela tinha sido encontrada. Estávamos há mais de duas semanas
buscando por ela, remexendo em cada canto, tentando encontrar alguém que
a tivesse visto, algum sistema que ela tinha passado. Mas ela tinha
desaparecido sem deixar rastro algum, mas foi justamente em Nova York que
ela se escondeu, e quando a achei, já não me tinha serventia alguma. Ainda
absorvendo a raiva dessa notícia, perdi de vez meu controle quando Ramsés
mandou uma mensagem dizendo que Mabel estava em uma boate no centro
de Moscou. Saí de Sodoma vendo tudo vermelho à minha frente.
Ela só tinha que ficar dentro da porra da casa. Esse foi um dos
motivos que a levei para morar comigo. Quando a encontrei, ela estava
quebrada, assustada, como uma criança, se agarrando a mim entre choro e
medo. Consegui pegá-la em meus braços antes que desabasse no chão. A
segurança de Ramsés que seguia Mabel, ficou ordenada de encontrar Sieta e a
trazer direto para mim. Saí de lá levando o pequeno pássaro em meus braços,
desmaiada para casa. Antes mesmo de parar o meu carro na porta de casa,
Ramsés já estava lá, me aguardando, com um médico de confiança dele.
Mabel retornou à consciência quando o médico a estava examinando.
Seus gritos repercutem dentro do quarto, com ela desferindo tapas no
rosto dele, ao acordar, com o médico tocando no braço dela, para medir seu
pulso. Começa a gritar desesperadamente, debatendo-se em convulsões de
choros e soluços, se arrastando para perto da cabeceira e encolhendo suas
pernas, fechando seus olhos. O médico retorna depois de preparar um
calmante intravenoso para injetar na veia dela, mas Mabel grita e se encolhe
ainda mais na cama.
— Nate... Não, não me toca de novo — ela murmura em meio ao
choro. — Por favor, não...
Seu choro, entre soluços, traz uma onda de dor para dentro do
quarto, me fazendo entender que a mente dela não está aqui.
— Se afaste dela! — Dou uma ordem e afasto o médico de perto dela
quando ele faz menção de se aproximar novamente.
— Mas eu preciso... — Seus olhos já estão arregalados quando o
ergo pela camisa e esmago meus dedos com força, o empurrando para longe.
— MANDEI SE AFASTAR DELA! — grito com raiva, o deixando ver
o tamanho da minha fúria.
O solto e o empurro para trás, sentindo ódio quando ele ergue suas
mãos para cima e balança a cabeça lentamente em positivo. Me viro
lentamente e pego-a com força, sentando-a em meu colo. Meu braço direito
abraça seu corpo e, com a outra mão, trago sua cabeça e apoio-a em meu
peito. Ela ainda está se debatendo, se encolhendo assustada em meus braços.
Escuto seu choro, enquanto apenas as palavras repetidas saem dos seus
lábios, com puro medo.
— Mabel fez uma coisa ruim... — Ela chora e ergue seus dedos,
espremendo em meus braços, respirando com força. — Fiz uma coisa ruim,
muito ruim.
— Shhh! — sussurro em seu ouvido e a aninho, lhe balançando
lentamente junto comigo. — Está segura, passarinho.
Ergo meu rosto para o médico e balanço minha cabeça para ele,
alisando as costas dela, murmurando que tudo está bem em seu ouvido.
— Me dê o braço, Mabel — ordeno e aliso seus cabelos, enquanto
com a outra mão ergo seu braço lentamente, o deixando esticado. — Está
segura. Confia em mim, não confia, passarinho?!
Ela esconde seu rosto em meu peito e crava suas unhas em meu
ombro, murmurando palavras entrecortadas, quase inaudíveis. Seu corpo se
retrai quando o médico acerta sua veia com a agulha, a fazendo chorar
ainda mais. Sinto seu corpo amolecer, com ela murmurando coisas
ininteligíveis. Solto seu braço lentamente e afasto sua cabeça, olhando em
seus olhos negros, cheios de dor.
— Menina, não se atreva a falar de Deus aqui dentro! — ela
murmura e fecha seus olhos, com as lágrimas escorrendo dos seus olhos. —
Se Deus existisse, ele não deixaria a gente fazer isso com você.
— Do que está falando? — Seguro seu rosto e tento entender as
palavras que ela disse. — Mabel, olhe para mim...
Balanço seu corpo, querendo que ela abra seus olhos e me diga onde
ela tinha ouvido essas palavras.
— Eu fiz uma coisa ruim... — Mabel apaga de vez, tombando sua
cabeça para trás, com o efeito do remédio a deixando dopada.

— Jadiri disse que apenas um jovem se aproximou dela, mas não era
um suspeito, apenas uma pessoa aleatória na balada. — Desvio meus olhos
da estante de livros e viro minha cadeira para Ramsés, que está sério, sentado
à minha frente, tomando sua vodca. — Marali me informou que ela vai ficar
bem. Quando acordar estará um pouco zonza, por conta do remédio, mas
estará mais calma.
Desvio meus olhos dos seus e observo a pequena mulher sentada no
sofá ao longe, com seus ombros caídos e olhos assustados. A informante de
Ramsés tinha cumprido sua ordem, trazendo Sieta direto para mim. Ainda
não tinha conversado com ela, desde o momento que saí do quarto, depois de
ter certeza que Mabel estava bem.
— Ela teve um surto de medo que acabou desencadeando a crise de
pânico[64]. — Balanço minha cabeça em positivo e mantenho meus olhos em
Sieta.
— Eu sei, o médico me passou essas informações antes de sair do
quarto. Não sei como agradecer a sua ajuda e a do seu pessoal, Ramsés. — O
vejo se levantar e inclinar sua cabeça lentamente para frente, deixando o copo
sobre a mesa.
— Sou um homem de palavra, Czar, temos um acordo, meu amigo
russo. — Ele me dá um breve sorriso e vira, andando lentamente para fora da
sala. — Até mais ver, Sieta.
Ramsés se despede de Sieta e sai lentamente. Seu rosto fino se ergue e
me encara, me olhando assustada, com sua face preocupada.
— Eu não tinha ideia que isso iria acontecer, Greg — ela murmura e
nega com a cabeça. — Jamais faria isso com ela se eu soubesse...
— Por que foi até lá? Por que a levou para um lugar onde ela seria um
alvo fácil, mesmo sabendo que a queria aqui, dentro dessa casa? — Respiro
fundo e esmago meus dedos. — Por que mentiu para mim, dizendo que a
levaria para jantar? Por que a largou sozinha naquele lugar, para início de
conversa...
— Eu não sabia que Mabel iria ter uma crise de pânico! — Ela
levanta, nervosa, e nega com a cabeça. — Apenas queria levá-la para passear,
para conhecer...
— NÃO MINTA PARA MIM, SIETA! — grito com raiva e desfiro
um soco em cima da mesa, que a faz sentar novamente.
— Eu não pretendia demorar, não pretendia nem levá-la... — Sieta
murmura, olhando para o chão. — Caien me ligou ontem à noite, pedindo
para que eu fosse vê-lo. Kaiser tinha reservado uma sala VIP para ele e mais
um convidado. Eu passei lá apenas para deixar uma escuta com Caien, ele iria
se infiltrar entre eles quando estivessem reunidos...
— Inferno, Sieta! — rosno com raiva e fecho meus olhos, esmagando
minha boca. — Em nenhum momento passou pela sua cabeça que ela deveria
ser a última pessoa a estar lá?
— Ele não tinha chegado — ela responde rapidamente e nega com a
cabeça. — Apenas o convidado dele estava lá. Kaiser não tinha chegado na
boate quando nós entramos. Eu não fiz por mal, Greg, sabia que os homens
de Ramsés estavam cuidando da gente e ela estava segura. — Sieta joga seu
corpo para trás no sofá e tapa sua face. — Só iria entrar e sair, jogo rápido,
depois voltaríamos para casa, apenas queria sondar Kaiser. Ele não é do tipo
de ir em uma inauguração de uma balada, esse homem que ele ia ver é
diferente, eu nunca o vi aqui por Moscou, pensei que podia ser alguma jogada
dele com Morgana...
— Lhe disse que iria cuidar de tudo, porra! E você vai lá e age por
impulso, mentindo para mim — rosno com ódio e sinto o sangue fugir do
meu rosto, com apenas a possibilidade de Kaiser pôr os olhos em Mabel.
Sieta tinha sido irresponsável e descuidada. — Pedi para ficar com ela,
porque eu estou tentando proteger a gente, merda, e você vai e a leva para a
cova do leão!
— Eu sinto muito, Greg... — Ela me olha e vira o seu rosto para mim.
— Não fiz por mal, sabia que não estávamos em perigo, que...
— Freire está morta, Sieta! — digo, sério, a deixando entender o que
eu disse.
Seu rosto fica completamente mortificado, com ela arregalando seus
olhos, se endireitando no sofá e olhando para mim.
— Freire, como assim...
— Foi encontrada morta dentro de um apartamento em Nova York,
enforcada — conto, abaixando meus olhos para a mesa e encarando os
documentos.
— Cristo... — Ela respira fundo e levanta, esfregando sua nuca de
forma agoniada.
— Estava tentando descobrir por que ela fez isso, quando me
avisaram da sua irresponsabilidade. — Fecho meus olhos e nego com a
cabeça, respirando fundo. — Isso que está acontecendo não é um episódio
dos seus programas de investigadores, Sieta, mas sim um perigo real. O que
acha que Kaiser teria feito com você, se ele sequer desconfiasse que estava o
monitorando?! Você e Mabel seriam dois corpos de indigentes que eu estaria
caçando essa hora...
— Greg, eu apenas queria te ajudar...
— Quer me ajudar, retorne para o clube e fique lá até eu lhe chamar
novamente. — Fecho minhas mãos e as esmago em punho, sentindo meus
nervos ficarem rígidos.
— Mas eu não quero deixá-la assim...
— Lhe dei uma ordem! — Desvio meus olhos dos seus, lhe
sentenciando, ligando o computador.
Escuto a respiração dela sendo solta lentamente, com seus passos se
arrastando, caminhando pela biblioteca e se direcionando para a saída.
— Me desculpe.
A voz baixa de minha prima se faz triste e ergo meu rosto para Sieta,
a vendo de ombros encolhidos, com postura derrotada, me fazendo ver a
pequena menina magrela de espírito aventureiro e leal de nossa infância.
— Sabe por que chamo Mabel de passarinho, Sieta? — pergunto,
baixo, batendo meus dedos na mesa.
Sua cabeça se move em negativo, com ela olhando para a porta
aberta.
— Porque é isso que ela é, um pássaro que foi criado preso em uma
gaiola, com asas cortadas e que nunca poderá voar. — Sieta vira seu rosto
para mim e me olha, confusa. — O homem para qual Mabel foi entregue, ele
não apenas lhe iniciou em masoquismo, ele a espancou, violentou, a estuprou
novamente, lhe torturando por um fim de semana inteiro, quebrando a mente
dela em fragmentos, assim como ele rasgou a pele dela com um canivete. E
depois disso ela foi solta, largada à própria sorte. Pássaros que não voam
ficam perdidos e vulneráveis no chão, quando não estão seguros em uma
gaiola.
Vejo a pele pálida de Sieta ficar sem um pingo de sangue, com os
lábios dela tremendo, enquanto seus olhos piscam rapidamente, com as
pupilas avermelhadas.
— Quando ela veio a mim, pedindo ajuda, me disse que queria ser
normal, mas eu sabia que Mabel nunca poderia ser uma menina normal, essa
é a verdade, por isso a mantenho aqui. — Abro meus braços e mostro a casa.
— Segura e protegida dentro dessa gaiola...
— Não contou para ela? — Sieta tomba sua face para seu ombro e
olha perdida para o chão. — Mesmo sabendo que ela nunca terá uma vida
normal...
— Mabel foi criada para ser uma submissa alfa, não para ser livre
como você. — Esmago meus lábios e sorrio com ironia. — Não terá
liberdade alguma para Mabel, porque ela foi resignada a ter uma coleira
invisível em seu pescoço.
Mabel jamais terá um espírito livre, não quando o seu é submisso,
cativo por doutrina e natureza. Estará para sempre propensa a qualquer tipo
de relação abusiva e cruel, buscando dor, motivada pala carência. Foi largada
para ficar sozinha, enquanto seu comprador aguardava o momento de arrastá-
la para o inferno outra vez. Se o pequeno pássaro não tivesse cruzado meu
caminho, com toda certeza Mabel estaria presa nas garras dele outra vez. Não
poderia soltá-la, tinha passado todos esses dias ao seu lado, convivendo com
ela, e a cada dia que se passava, mais preso à Mabel eu ficava, e a deixava
presa a mim.
— O que fará quando o jogo acabar, Greg? — Sieta murmura,
negando com a cabeça. — Como vai poder deixá-la partir, sem contar para
ela a verdade, do que realmente foi feito da vida dela? Irá abandoná-la à
própria sorte? Não compreendo o que ela sente...
— Não vou — respondo firmemente e respiro fundo. — Por isso disse
que cuidaria de tudo. Não posso prendê-la ao meu lado se ela não quiser
quando o jogo terminar, mas posso garantir que ninguém mais a machuque!
Mas para conseguir fazer isso, preciso ter certeza de que tanto ela como você
estão seguras. — Dou um olhar brando para ela, lhe alertando do seu erro e
como poderia ter custado caro se Kaiser tivesse descoberto a intenção de
Sieta. — Não faça as coisas pelas minhas costas novamente, Sieta.
— Não foi com essa intenção. — Ela nega com a cabeça,
murmurando. — Sei que fiz mal, cometi um erro por ter exposto ela dessa
forma, não calculei os danos dos traumas antigos de Mabel. Apenas queria
descobrir o que Kaiser estava fazendo lá e quem era esse homem.
— Esqueça Kaiser, apenas não cometa esse erro de novo. — Respiro
fundo e espalmo minha mão na mesa, apoiando para me levantar. — Kaiser é
o último dos meus problemas, com toda certeza deve ser mais algum dos seus
contatos de propina que custeia sua campanha política.
— Não era — Sieta responde rapidamente e dá um passo à frente, se
aproximando da mesa e levando sua mão para o bolso da calça. — Esse
homem que estava esperando por ele, não é um daqueles almofadinhas,
empresários, que querem ter um aliado no congresso para burlar as leis...
Caien o chamou de Rumão, ele é conhecido por alguns como...
— Dromedário — pronuncio o apelido do iraniano, famoso no
mercado clandestino de Marrocos, assim que Sieta fala. — Yusefe Rumão,
um comerciante perigoso.
— Isso, Caien o chamou assim. — Sieta bate a palma da sua mão em
sua perna e aponta o dedo em minha direção. — Conhece esse homem que
Kaiser iria conversar?
— Não pessoalmente, mas já ouvi histórias sobre ele, se não me
engano é uma antiga animosidade de Ramsés... — Ando silencioso, com meu
cérebro pensando qual é a coincidência de na mesma noite que recebo a
notícia que Freire se enforcou dentro do seu apartamento em Nova York,
Kaiser esteja se reunindo em Moscou com Yusefe Rumão. — Esse homem te
viu, Sieta? Viu Mabel? — Ando para ela e seguro seu braço, perguntando
nervoso.
— Não, ele não me viu... — Ela balança sua cabeça rapidamente para
os lados. — Muito menos viu Mabel. Eu estava perto, Greg, quase
conseguindo deixar a escuta pronta, quando a segurança de Ramsés me
atrapalhou...
— Ela te salvou, Sieta! — Solto seu ombro e dou um passo para trás,
retirando o meu celular do bolso, precisando que os informantes de Ramsés
fiquem de olho em Kaiser.
— Do que está falando? — Sieta me olha, perdida, não
compreendendo meu semblante preocupado.
— Yusefe Rumão, o Dromedário, como é conhecido no mercado
clandestino, é traficante de escravas sexuais em Marrocos! — Solto as
palavras com raiva, sentindo mais medo ainda do perigo que Sieta se expôs
junto com Mabel, e descobrindo agora qual era o interesse oculto de Ramsés.
Ele está de olho em Yusefe.
— Acha que Kaiser e esse homem podem ter alguma ligação, com a
loucura que Morgana fez...
— É isso que pretendo descobrir. — Ligo o aparelho, com a intenção
de discar para Ramsés, e vejo várias chamadas não atendidas de Baby. —
Merda!
— O que foi? — Sieta dá um passo à frente e olha para mim.
Leio a mensagem que ela me mandou, algumas horas atrás.
— A festa vai começar antes da hora! — Ergo meu rosto para Sieta,
enquanto aperto o botão de chamada do aparelho. — Ligue para Ramsés e
conte a ele o que acabou de me dizer, que seu antigo amigo está em Moscou.
Avise ao egípcio que preciso de Sebastian e Macro, está na hora deles saírem
da toca. Jonathan Roy chega segunda-feira em Moscou.
— Eles estão vindo!
Ouço a voz de Sieta se misturar com o toque das chamadas e me viro,
dando um sorriso assim que a voz alta se faz do outro lado da linha.
— Russo desgraçado de merda, quer me matar do coração, estou te
ligando há horas! — Rio com a voz brava que está alterada, me xingando.
— Admita que me ama, Baby, que já cansou de brincar de casinha
com esse seu minúsculo detetive e que sente falta da vida repleta de
promiscuidade que tinha em Sodoma! — falo, rindo, e caminho para minha
cadeira.
— Oh, vai chupar o meu pau, seu russo de merda! — Posso
visualizar a loira alta, balançando sua mão no ar, raivosa, enquanto bate o pé
no chão. — Freire está morta, Czar, você já ficou sabendo?
— Sim, já fiquei — a respondo, olhando para Sieta e a vendo levar o
celular para sua orelha. — Baby, Jonathan está aí com você?
— Sim, por quê? — ela diz, baixo, e muda seu tom de voz, ficando
mais assustada.
— Passe para ele, preciso contar uma historinha de ninar para embalar
os pesadelos do seu irmão! — Aperto um botão no teclado do computador e o
faço acender a tela do monitor.
Minha expressão de riso muda, ficando séria e encarando a foto do
corpo de Freire, enforcada, dentro da sala do apartamento dela, pela tela do
monitor que é interligada com meu aparelho do clube de Sodoma.
— Czar, aqui é Roy. — Ouço a voz séria de Jonathan do outro lado da
linha. — O que está acontecendo que eu não sei?
— As bruxas estão soltas, Jonathan, estão raptando crianças e as
treinando para serem submissas alfas — digo, baixo, esmagando meus dedos.
— E eu pretendo caçar essas malditas bruxas! Irei fazer uma coisa muito
ruim com elas diante do conselho. Mas antes que eu lhe conte tudo que sei,
preciso saber: estará ao meu lado, Jonathan Roy?
— Até a última cinza delas, Czar Gregovivk.
CAPÍTULO 29
120 DIAS EM SODOMA
Mabel Shot

— Sieta não teve culpa alguma... Eu pedi para ela me levar —


murmuro e arrasto meus pés na cama, trazendo meus joelhos para perto da
minha barriga, olhando para o lençol.
— O que eu disse a você que não tolero, na primeira vez que veio em
minha casa, Mabel? — Czar me corta, falando severo e me deixando ouvir
sua respiração profunda.
Me encolho ainda mais, recordando dele ameaçando me bater se eu
mentisse para ele, porque ele não tolera mentiras.
— Mentiras, que elas deixam sua mão coçando para bater no meu
rabo, até ficar tão dolorido que não vou nunca mais esquecer do senhor —
sussurro e dou uma rápida olhada em sua direção, o vendo sentado na
poltrona, encarando o quadro Otomano.
— Já está bastante encrencada, passarinho. Aconselho a não querer
adicionar mentira à sua lista de castigos! — Ele volta sua face para mim e me
encara, o que me faz automaticamente desviar meus olhos e retornar a olhar o
lençol.
Czar já estava no quarto quando eu acordei, silencioso e perigoso,
sentado na poltrona arrumada meticulosamente a poucos metros do pé da
cama, me dizendo que tinha passado algumas horas ali, me observando
dormir. Ele apenas apontou para a bandeja de café da manhã em cima do
móvel ao lado da cama. Se fosse qualquer outro momento, talvez eu teria dito
que não estava com fome, mas os olhos castanhos, sem um pingo de emoção,
tendo apenas um aspecto sombrio, me fez relevar minha decisão de recusa do
dejejum. O silêncio dentro do quarto era três vezes pior do que o olhar gelado
dele sobre mim, enquanto eu tomava o copo de suco e comia uma bolacha
salgada, sendo o limite que eu poderia empurrar para dentro da minha boca,
sem um pingo de apetite, antes de devolver a bandeja para o lugar dela.
Sabia que ele estava zangado. Seu maxilar travado, com os braços
cruzados acima do peito, me alertava para ter cuidado com as palavras que
sairiam da minha boca. Ouvi em silêncio ele me contar que estava chegando
na galeria no momento que me viu saindo de carro com Sieta. Ele nos seguiu
até a balada e estava manobrando o carro, achando um lugar para estacionar,
e quando entrou, caçando por mim dentro da balada, me encontrou tendo uma
crise de pânico no meio da pista de dança. Ele chamou um médico para me
medicar e cuidar de mim, isso explica porque eu tinha acordado às 10h da
manhã. Eu fui dopada.
— Olhe para mim, Mabel — Czar ordena e me faz erguer a cabeça,
olhando para ele. — O que aconteceu ontem à noite?
Mordo o canto da minha boca e abraço mais apertado minhas pernas,
raspando meu queixo no meu joelho, olhando para ele.
— Eu não sei, senti medo... — murmuro covardemente, não
conseguindo encontrar palavras para explicar as sensações horríveis que senti
de forma repentina.
— O que fez você sentir medo, Mabel? — Czar descruza os braços,
os deixando apoiados nos braços da cadeira.
— Acho que tudo, o lugar pequeno, o monte de gente se espremendo,
os cheiros... — Fecho meus olhos e recordo do perfume que eu senti, o que
me faz encolher ainda mais, balançando meu corpo lentamente para frente e
para trás, sentada na cama. — Senti medo, uma sensação de sufocamento,
mais um sufocamento diferente, como se uma mão estivesse esmagando meu
coração. Senti como se eu fosse morrer, e a cada segundo que passava e eu
não conseguia sair de perto daquelas pessoas, mais forte a ideia de que eu
morreria ia ficando...
Solto minhas pernas e esfrego meu rosto, inalando o ar com força e
fechando meus olhos.
— Não foi culpa da Sieta, eu menti para ela. — Retorno a encostar
meu queixo no meu joelho e abraço minhas pernas. — Sieta me perguntou se
eu estava bem, se queria que ela me levasse até você, mas eu menti e disse
que estava bem...
— O que houve antes disso? — Czar me corta, perguntando
seriamente. — Olhe para mim, passarinho.
Faço o que ele manda, não sabendo se devo perguntar sobre a mãe
dele ou não.
— Nada, não houve nada... — Resolvo não perguntar, não querendo
mexer em suas feridas, eu mal consigo lidar com as minhas. — Apenas ando
preocupada com meu amigo Macro.
— Seu acompanhante que te levou para Sodoma? — Czar me estuda
e me olha taciturno.
— Isso, ele mesmo — suspiro e levo meu tórax para trás, o
encostando na cabeceira da cama e esticando minhas pernas, esfregando
minhas mãos no lençol. — Ele não responde minhas mensagens, nem meus
telefonemas já tem alguns dias. Não é a primeira vez que ele some, mas ainda
assim fico preocupada.
— Por que não me falou sobre isso? Suas preocupações são minhas
preocupações, Mabel!
— Não havia motivo. Como disse, não é a primeira vez que ele some.
— Olho para Czar e vejo algo diferente em seus olhos, como se uma sombra
estivesse pairando sobre sua cabeça. Algo estava acontecendo na noite
passada, não vi a hora que ele chegou, nem quando saiu. — Não queria lhe
levar mais problemas.
— Isso é o tipo de coisa que eu decido.
— Às vezes sinto como se me tratasse como se eu fosse de cristal, que
precisa ser cuidada constantemente e protegida. — Nego com a cabeça,
olhando para ele. — Eu não sou de cristal, senhor Gregovivk, consigo lidar
com meus problemas, sempre lidei.
— Igual como lidou com eles na noite passada. Ao invés de ter ido
direto para mim, preferiu mentir! — Czar vira sua face para a janela, me
castigando ainda mais ao não me olhar.
Não suportando ter seus olhos longe de mim, me arrasto mansamente
até os pés da cama, escorrego meu corpo no chão e vou engatinhando até ele.
Seus olhos marrons se voltam para mim, quando sua cabeça gira e para em
minha direção. O vejo sério me observando, com seus olhos castanhos
ficando mais escuros, e mesmo com toda escuridão que vejo lá, sinto meu
coração bater mais acelerado. Não quero que ele fique bravo comigo, não
quero que ele fique zangado com Sieta. Não sei o que está o deixando
nervoso, mas sei que algo mais está sendo escondido por trás dos seus olhos
de predador. Meus joelhos deslizam pelo chão em cima do carpete quando
me aproximo dele, e deixo meus olhos se abaixarem para o chão. Minhas
mãos seguram em suas pernas, percorrendo o tecido grosso da sua calça
jeans. Continuo subindo por elas, até me aproximar do seu colo. Sinto seu
cheiro amadeirado quando alavanco meu corpo para cima. Seu peito sobe e
desce mais rápido, com ele estudando cada movimento meu. Deixo meus
dedos trilharem seu caminho, subindo para seu peito, sentindo o frio do
tecido da sua camisa. Sua respiração morna toca minha pele entre o ar que sai
da sua boca.
— Sempre fui sozinha, Czar, sou mais forte do que julga — murmuro
e contorno a linha da sua face com meus dedos. — Não terei seus cuidados
para sempre, tenho consciência que estarei sozinha novamente quando o jogo
acabar. Não posso me habituar a recorrer a você toda hora que não suportar
lidar com minhas loucuras...
Aproximo meu rosto e esfrego a ponta do meu nariz no seu,
respirando baixinho e sentindo a quentura da sua respiração.
— Não pense que não vou castigar você, passarinho — Czar diz,
baixo, mas não como uma ameaça e nem como uma ordem para que eu pare.
Seus dedos alisam meus cabelos, jogando-os para trás, mantendo seus olhos
presos nos meus.
Meus dedos se movem por seu peito, passando por sua garganta,
subindo para seu queixo, até ter minhas mãos afagando seu rosto.
— Eu sinto muito, senhor — sussurro e ajeito minha bunda em sua
perna, alisando a lateral do seu rosto.
Vejo seus olhos sombrios se fechando lentamente ao sentir meu
toque. Passo os dedos por suas sobrancelhas e contorno cada parte delas.
Escorrego meus dedos da ponta do seu nariz, até tocarem seus lábios, e em
um impulso inclino meu rosto para frente e deposito um beijo casto em seus
lábios. Sinto a dureza da sua boca, que ele me permite tocar. Sorrio e me
afasto de mansinho, deixando uma curta distância entre nós. Seus olhos
castanhos estão mais claros quando se abrem, com sua face parecendo
relaxada. Sua boca ensaia um pequeno sorriso que não sai, como se não
quisesse admitir que gostou do que eu fiz. Suas grandes mãos se encaixam
em meu rosto e alisam meus cabelos, os levando para trás da minha orelha.
— Não pense que vai escapar do castigo — fala, baixo, deixando seus
dedos escorregarem por minha boca. — E pode ter certeza de que será
inesquecível, passarinho. — Ele ergue seus olhos aos meus e esmaga meu
queixo com um pouco mais de força.
Olho para ele e balanço minha cabeça em positivo, dando um sorriso
travesso, abaixando meus olhos para seu pescoço e vendo seu pomo de adão
subir e descer.
— Não esperaria menos, senhor — sussurro e ergo meus olhos para
os seus, me perdendo nos castanhos mais quentes que roubam o meu fôlego.
— Provocadora, teimosa e indisciplinada. — Czar nega com a cabeça
e solta um longo assobio. — Muito castigo para esse seu pequeno corpo
receber, Mabel!
Czar aproxima seu rosto do meu, até ter nossas bocas próximas,
deixando-me sentir seu gosto em um beijo quente e selvagem quando ele
puxa minha cabeça para frente. Sua língua domina a minha rapidamente,
quando invade meus lábios, não tendo nada de casto no beijo que ele me dá,
como foi o que eu dei a ele. Sua força sobre mim aumenta, com ele mordendo
minha boca quando suga meus lábios inferiores. Derreto-me com o calor dos
seus beijos e sinto sua boca me devorar, até não restar mais nada da minha
alma.
Minhas mãos, em um gesto de desespero, entram em sua camisa, e
espalmo meus dedos sobre sua pele, que está abrasadora. Sinto os pelos
sedosos do seu peito tocarem minha pele, seu tórax se move rápido a cada
segundo. Suas mãos descem pelas minhas costas e percorrem um caminho
que ele conhece tão bem, sua boca me toma mais urgente e me arranca
suspiros e gemidos quando ele desfaz o beijo e começa a deslizar seus lábios
pelo meu pescoço, o mordiscando. Sinto quando a grande mão espalma em
minha bunda e aperta mais a carne, esparramando minhas pernas em seu
colo. Czar levanta e meus braços enlaçam seu pescoço, do mesmo modo que
minhas pernas se enroscam na lateral do seu corpo.
Sinto meu corpo em brasa e fico moldada a ele. Quando sua boca
retorna para mim, meu corpo todo está pulsando em pura vida. Meu corpo se
movimenta mais, colando ao seu, friccionando meu seio em seu peito.
Apenas percebo aonde estamos indo quando o colchão se afunda embaixo das
minhas costas, com o nosso peso. Czar se ergue sobre mim e deixa sua mão
escorregar em meu corpo, subindo-a lentamente e levando a barra da camisa
para cima, deixando meus seios à mostra quando ele a tira de mim. Existe
luxúria em seus olhos, animalesca e feroz, e me entrego em abandono para
ela, me rendendo diante dele. Deixo minhas mãos espalmarem em sua
camisa, enquanto meus dedos soltam cada botão. Ele a retira assim que abro
o último, jogando-a ao chão.
Ele traz meus joelhos para frente e puxa minha calcinha, retirando-a
com a mesma facilidade que minha camisa. Seus beijos lentos em minha pele
começam em meus tornozelos, embriagando-me, fazendo cada pelo do meu
corpo se arrepiar.
— Deveria castigá-la agora — Czar fala, rouco, e segura minha perna,
raspando seus dentes. — Chicotear esse seu belo traseiro por ter me
desobedecido.
— Cristo... — Afundo minha cabeça no colchão e respiro mais
rápido, sentindo agonia e prazer com seus dentes mordiscando meu
tornozelo. — Senhor... — Arqueio meu peito para frente, desejando que ele
me toque mais, que faça qualquer coisa comigo, mas que não se afaste de
mim.
— Ou melhor ainda, abandoná-la aqui, saindo desse quarto, e privar
seu corpo dos meus toques. — Quase choro e nego com a cabeça, quando ele
solta minha perna e fala isso.
— Não... — solto as palavras com agonia e abro meus olhos,
implorando para ele não fazer isso comigo.
Czar ergue minha outra perna e a beija com lentidão, mordiscando
como fez com a outra. Suspiro, aliviada por sentir novamente o toque quente
dos lábios dele em mim. Minha perna cai ao lado do meu corpo e viro meu
rosto, mordendo o lençol assim que seus dedos me invadem sem aviso algum.
Sinto meu corpo implorar por mais em agonia, deixando-me molhada a cada
entra e sai do seu dedo dentro de mim. Meus quadris balançam em
movimentos involuntários, indo mais para perto dele.
— É exatamente isso que eu deveria fazer, deixar você aqui, assim,
com sua boceta molhada e quente, desejosa do meu pau enterrado fundo
dentro dela — ele diz com sua voz rouca e com seus olhos presos em meu
rosto. — Mas como eu posso fazer isso, passarinho, quando meu pau está me
castigando dentro da calça, exigindo estar dentro dela?
Czar abaixa sua cabeça e suga meu seio com força, fazendo meu
corpo tremer a cada sugada que ele me dá. Meu corpo se arqueia para ele, lhe
oferecendo mais, que ele pode tirar tudo que quiser de mim, menos seu toque.
Meus dedos se enterram ao lençol, o esmagando com força em minhas mãos.
Vejo o teto sobre nossas cabeças, mas nada mais tem importância, como se
tudo deixasse de ser relevante. Sinto uma imensa solidão assim que seu corpo
se afasta do meu. Volto meu rosto para ele e vejo-o de pé diante da cama,
com seus olhos castanhos presos aos meus. Czar abre seu cinto e seu peito se
move acelerado. Seus olhos castanhos retornam a ficar escuros, tão sombrios,
misturados aos seus desejos.
Meus olhos descem por seu corpo e o admiro. É um urso gigante e
feroz, que me faz sentir tanto em segurança como em chamas. Paro meus
olhos em seu quadril quando ele tira sua calça, e vejo seus dedos envolverem
seu pau firme e ereto, que aponta para mim. Seu corpo já pesa sobre o
colchão, que se afunda com seu tamanho quando ele deposita seu joelho
sobre ele. Engatinhando em minha direção, como um grande predador, seus
braços me enjaulam embaixo dele, minhas pernas se abrem mais para recebê-
lo entre elas. O ar quente que sai da sua boca acerta minha face quando ele
paira sobre mim, deixando nossos rostos tão próximos, afogando-me em seu
olhar castanho.
Czar move seu quadril para frente, investindo sua pélvis contra a
minha, e sinto a cabeça do seu pau me invadir. Minhas unhas se enterram no
lençol com mais força, minha respiração está entrecortada, com meus olhos
presos aos seus. Meu corpo o sente entrando dentro de mim e me esticando,
tomando cada canto da minha boceta com seu pau. Empurro meu quadril para
tê-lo por completo. Quando nossos corpos se colam, com ele tão fundo dentro
de mim, Czar levanta a parte superior do corpo, puxa minhas pernas e as
ergue para sua cintura, com seu quadril se movendo lentamente. Seus dedos
param perto do meu rosto e invadem minha boca, fazendo-me chupá-lo. Sugo
seus dedos em meus lábios e deslizo minha língua por eles.
Seu peito arfa para frente, com seus olhos de luxúria presos aos meus.
Czar se movimenta dentro do meu corpo, na mesma velocidade com que seus
dedos entram e saem dos meus lábios. Sinto cada músculo dentro de mim se
contrair, com suas penetrações bruscas e latentes. Minhas pernas se prendem
mais em seus quadris, fazendo-me assim alavancar mais meu corpo para ele,
chocando nossas pélvis. O grande russo aumenta suas estocadas, e o único
som que invade o quarto é das nossas respirações aceleradas. Nossos olhos
não se separam por nenhum segundo. À medida que ele fode meus lábios e
minha boceta, sinto o formigamento que corre o meu corpo, a corrente
elétrica que nos corta, fazendo-me gritar seu nome, com seus dedos em meus
lábios a cada onda de prazer que explode dentro da minha mente.
— Czar... Oh... — Meus dedos soltam o lençol e se prendem em seus
braços, afundando as unhas em sua pele.
Perdemo-nos a cada movimento, mais rápido, mais acelerado. O
orgasmo me assalta assim que tudo explode dentro de mim. Nem o som da
cama, que bate na parede, nem a luz dentro do quarto, entrando pela janela
aberta, nada mais existe aqui dentro além de nós. Sinto meu corpo tremer,
apertando-se ao seu. Ele aperta mais forte minha coxa, seus dedos saem dos
meus lábios e vão ao meu pescoço, seu pau me fode mais rápido e forte. O ar
me falta, enquanto tudo queima ao nosso redor e meu corpo se enche com
jatos quentes entre o som rouco que sai dos seus lábios. Posso sentir quase
como se estivesse desligando-me do meu corpo, minhas unhas atravessando
sua pele. Seu corpo treme com a última estocada e ele desaba sobre mim,
soltando meu pescoço. Sinto, entre a dor e o prazer do orgasmo, tudo me
nocautear. Seu grande corpo fica sobre o meu em abandono, com nossos
corações batendo acelerados, tentando achar a forma de voltar a respirar
normalmente. Seu rosto esfrega sobre minha pele, encaixando-se em meu
pescoço, enquanto sua língua desliza lentamente pela minha garganta,
tocando a veia que pulsa forte. Sinto o pequeno frenesi de prazer que me
toma, fazendo-me gemer, apertando-me a ele, trazendo-o para mim quando
abraço suas costas com força.
— Deus... — murmuro, sorrindo, com meus olhos fechados, me
sentindo embriagada com tudo que ele faz comigo.
— Menina, não se atreva a falar de Deus aqui dentro — ele sussurra,
rouco, e automaticamente abro meus olhos, encarando o teto.
— Não... não termina... — digo, baixo, sentindo a quentura da
lágrima, que escorre por minha bochecha.
— Se Deus existisse, ele não deixaria a gente fazer isso com você. —
Czar se afasta quando termina de falar, deixando sua face pairar em cima da
minha. — Recitou um trecho de 120 dias em Sodoma[65] ontem à noite. O
que fez, Mabel?
— Eu fiz uma coisa ruim...
Fecho meus olhos e respiro fundo, negando com a cabeça e sentindo
meu corpo ir ficando frio a cada memória que me pega.
Sinto a dor em meu corpo que me consome, meu rosto colado ao
chão, o gosto amargo das minhas lágrimas misturadas ao meu vômito. A
quentura do sangue que escorre pelas minhas pernas, saindo da minha
bunda. Fico aqui, completamente largada no chão do quarto, nua, de barriga
pra baixo. Ouço a respiração desacelerando atrás de mim, enquanto ele
levanta. Tudo está tão escuro, sem vida.
Ouço os seus passos, com ele caminhando lento dentro do quarto,
parando perto de mim. Vejo seus pés próximos ao meu rosto quando ele se
abaixa. Move seus dedos e os deposita em meu rosto, afundando a ponta dos
seus dedos em minha bochecha, sentindo minhas lágrimas.
— Não precisa chorar! — Nate fala, baixo, e dá uma longa
respiração. — Você gostou, senti quando seu cu sugou meu pau para dentro
dele. — Fecho meus olhos e deixo as lágrimas rolarem silenciosamente por
minha face, enquanto ele mantém seu pé sobre meu rosto. — Você é minha,
Mabel, não seja tola de dizer que quer me deixar novamente. Na próxima vez
que cometer esse erro, será essa bela pele da sua bochecha que eu vou
marcar.
Ele passa por mim e vai ao banheiro, recitando novamente os trechos
do maldito livro que ele leu o fim de semana inteiro, enquanto me torturava.
Observo o canivete caído no chão, perto da cama, sujo com meu sangue, e
arrasto meu corpo lentamente, sentindo cada parte minha ferida. Meus dedos
trêmulos seguram o canivete quando estico meu braço e engulo um gemido
de dor. Não quero sair daqui. Desejo morrer dentro desse quarto a deixar
esse maldito homem me tocar novamente. Eu quase posso sentir a frieza da
lâmina quando a trago para perto da minha garganta.
— O que pensa que está fazendo, cadela burra?! — Nate vira meu
corpo e me olha com raiva, estourando minha cabeça na parede.
Meus pulmões doem a cada lufada de ar. Sinto-me morta, quebrada
de todas as formas possíveis. É instinto que me faz erguer meu braço quando
Nate vem para cima de mim novamente. Escuto o grito dele se misturando
com o meu, e meu braço sendo torcido.
— Cadela! — Nate grita com puro ódio e tira o objeto da minha mão,
desferindo um tapa no meu rosto.
Ele se afasta e segura o canivete, o jogando em cima da cama. Sua
cabeça se abaixa e olha para seu mamilo esquerdo, ferido pela lâmina da
faca, que cortou um pedaço dele, o deixando pendurado, sangrando. Seu
dedo se ergue e toca em cima do seu ferimento. O vejo olhar para seu
próprio sangue em seus dedos.
— Fez uma coisa ruim, Mabel. Muito ruim. — Ele fecha os olhos e
respira fundo, negando com a cabeça.
Desmaio quando o pé dele se ergue e chuta meu rosto.
— Quando eu acordei, estava com meu corpo todo enrolado em papel
de insulfilme, dos pés à cabeça, como um grande pedaço de carne embalado a
vácuo — murmuro e encaro o teto, lembrando da agonia que senti por não
conseguir respirar, por estar sufocada. — Ele fez um pequeno corte no
plástico, em cima da minha boca, para que eu pudesse respirar. Derramou
pequenas gotas de cera quente de vela em cima do plástico, o fazendo colar
na minha pele, antes de fazer um rasgo entre minhas pernas e voltar a me
estuprar, comigo inteiramente imóvel, e a única coisa que ele dizia era o
trecho do livro.
Fico em silêncio depois de terminar de contar o que aconteceu
naquele quarto, tendo apenas o som da respiração pesada de Czar ao lado do
meu rosto, com sua face escondida entre meus cabelos e com seu corpo ainda
em cima de mim. Talvez eu deva me sentir agradecida por ele não ter olhado
em meu rosto a cada palavra que sai da minha boca, o deixando saber como
minha alma é suja, por não ter conseguido controlar a resposta do meu corpo
a toda abominação que Nate fez comigo. A cama se movimenta quando o
grande corpo masculino se mexe, com suas mãos se apoiando na lateral do
quadril e com seu tórax se impulsionando para frente. Os olhos castanhos são
sombrios, assim como sua boca, que está esmagada, tendo apenas ódio em
sua expressão.
— Eu achei que senti o aroma do perfume dele, ontem à noite, na
balada. Por isso fiquei com tanto medo... — Viro meu rosto e olho para a tela
na parede, murmurando, sem coragem de olhar em seus olhos.
— Você o viu? — Czar segura minha face e me faz olhar para ele
novamente. — Viu ele lá?
Recordo do homem no segundo andar: a forma, as linhas da lateral da
sua face me pareceram familiar, mas eu não tenho certeza, não sei o que era
projeção da minha mente e do medo.
— Eu acho... — começo a falar, mas paro quando batidas se fazem na
porta.
— GREG! — O som da voz de Sieta, enquanto a mão dela bate forte
na porta, faz nós dois virarmos o rosto para lá na mesma hora.
— Sieta está aqui? Eu não sabia — digo, confusa, voltando meus
olhos para ele.
— Deve ter chegado há pouco — ele responde, zangado, cerrando
seus lábios. — ME ESPERE LÁ EMBAIXO — Czar rosna bravo, retornando
sua face para mim. — Você o viu?
— GREG, É URGENTE!
Antes que eu possa responder, Sieta o chama novamente, com mais
desespero.
— Está tudo bem, senhor. Eu não vi ninguém, foi tudo coisa do medo
dentro da minha cabeça. — Estico minha mão e aliso sua face, lhe dando um
olhar brando. — Pode ir, depois conversamos.
Vejo o senhor Gregovivk se levantar a contragosto e sair da cama,
enquanto sinto o centro das minhas pernas melecado com sua porra. Czar
veste sua calça rapidamente, com seus olhos presos em mim.
— Nossa conversa ainda não terminou. — Ele me dá uma ordem
direta, pega sua camisa e caminha para a porta, virando seu rosto para mim
antes de abri-la. — Não saia desse quarto até eu voltar.
— Não tenho muitos planos de sair dessa cama, a não ser ir para o
banheiro e me limpar. — Levanto rapidinho e caminho apressada na direção
do banheiro.
Meus dedos se erguem para a maçaneta e fecho a porta, o vendo pela
fresta abrir a porta do quarto.
— Sebastian foi encontrado... — Ouço a voz nervosa de Sieta, que
fala apressadamente para ele, ficando entrecortada. — Ramsés acabou de nos
avisar...
— Porra! — o senhor Gregovivk fala, nervoso, segurando o braço
dela, saindo para fora do quarto e fechando a porta com força.
Fico em silêncio e olho para a maçaneta da porta do banheiro,
abraçando meu corpo, tentando entender o que aconteceu.
CAPÍTULO 30
O MEDO EM SEUS OLHOS
Mabel Shot

— Você ficou sabendo? Pagaram uma fortuna no engraxate.


— Eu fiquei sabendo, o comprador pagou o dobro para levá-lo
embora, no sábado à noite.
Mordo meu sanduíche e ergo minha cabeça, olhando para as duas
vendedoras que entram na sala do café, conversando.
— Estão falando do quadro de Oslo? — Limpo minha boca com um
guardanapo de papel, perguntando para elas.
— Sim, o quadro do garoto engraxate foi o quadro mais caro da festa
— uma delas fala, rindo, se servindo de café.
— Pensei que ninguém o compraria... — murmuro para mim mesma,
recordando do quadro do menino.
Os convidados não ficaram muito tempo o olhando, a verdade é que
quase ninguém realmente olhou para ele, apenas eu e a senhora elegante de
luvas brancas.
— Foi uma mulher que o com... — Me calo, sem terminar minha
frase, as vendo saírem da sala do café, conversando entre elas e se
distanciando. — Comprou...
Solto o ar, chateada, ficando novamente sozinha na sala, em silêncio.
Olho meu sanduíche, enquanto respiro fundo e ergo o copo de suco, o
levando à boca, me sentindo novamente tão solitária. Sieta tinha passado o
resto do domingo comigo. Czar, depois que saiu do quarto, não voltou mais,
tanto para o quarto quanto para casa. Sieta bem que tentou desconversar,
rindo nervosamente e desviando seus olhos dos meus quando perguntei o que
estava acontecendo, mas eu sabia que ela não estava me contando a verdade.
— Um dos conselheiros de Sodoma está chegando amanhã, na
segunda-feira. — Ela sorri para mim quando a encontro na biblioteca
tomando vodca, depois que tomei banho e saí do quarto. — Não tem com o
que se preocupar, na verdade, você vai amar tanto a esposa de Jonathan
Roy, a Ginger, como a irmã dele, a Baby.
— É algum evento ligado à Sodoma? — pergunto e estudo a face
dela, que está abatida.
— Não, apenas uma visita de amigos... Irá gostar deles. — A vejo se
levantar e deixar o copo em cima da mesinha ao lado do sofá, esfregando
sua nuca com seus dedos e ficando de costas para mim, andando até a
janela.
— É realmente só isso, Sieta? — indago, séria, e olho sua postura
retraída. — Sei que não posso fazer muito, mas se tiver tendo algum
problema, gostaria de ajudar.
— Claro que é, é apenas isso, não tem problema algum. — Sieta vira
e caminha para mim, abrindo ainda mais um sorriso, esticando seu braço e
levando para meu ombro. — E você, como está? Eu sinto tanto...
— Não, não, por favor. — Nego com a cabeça, me sentindo
envergonhada pela situação que a deixei. — A culpa foi minha, Sieta, eu já
não estava bem, devia ter pedido para você ir sozinha e pegado um táxi e
voltado para casa...
— Aconteceu alguma coisa, não foi? — Ela dá um passo para trás e
me olha mais atenta. — Antes de sair, quando lhe vi, estava alegre, e depois,
quando nos encontramos na porta dos fundos da galeria, parecia aérea.
Giro meu rosto e olho a grande porta da biblioteca aberta. Sei que se
eu quiser descobrir alguma coisa sobre o passado de Czar, terá que ser
agora.
— O que realmente aconteceu com Melissa? — pergunto, rápido,
antes que eu perca a coragem, retornando a olhar para ela.
— Tia Melissa morreu, já conversamos sobre isso, não foi? Em um
incêndio, tentando salvar Greg, os pulmões dela...
— O que eu quero saber é: quem começou o incêndio, Sieta? — Seus
olhos azuis ficam mais arregalados, com ela me olhando receosa. — Foi o
senhor Czar?
— Quem te contou? — ela pergunta e desvia seus olhos dos meus.
— Ouvi no meu trabalho... — Ando lentamente e me sento no sofá,
olhando para o tapete do chão e recordando da noite que ele se chamou de
bicho-papão. — É verdade, então, foi o senhor Czar que começou o
incêndio?
— Sim, mas não foi como as pessoas falam, ele jamais machucaria a
própria mãe de propósito. — Ela respira fundo e senta ao meu lado. — Greg,
quando mais jovem, era fascinado por fogo. Começou com coisas pequenas,
folhas secas caídas das árvores, fósforo sendo riscado... — Sieta fala, baixo,
e olha perdida para suas mãos, respirando fundo.
Ergo minha cabeça e encaro-a.
— Então, o que começou pequeno, tomou um apelo maior. Greg
incendiou uma casa de barcos, só que ele não saiu de dentro dela... — Sieta
dá uma pequena pausa, como se estivesse voltando para o fatídico dia. — Ele
estava hipnotizado pelas chamas, queria ver o fogo tomar conta de tudo. Um
pilar desprendeu do teto depois de ser queimado pelas chamas e o acertou, o
deixando inconsciente... Tia Melissa foi quem viu as chamas dentro da casa
de barcos pela janela do quarto dela. Tio Huslan estava chamando os
bombeiros quando a viu entrar na casa de barcos atrás de Greg.
Sieta fica em silêncio e abraça seu próprio corpo, erguendo seus
olhos para a lareira.
— Eu estava lá, mamãe tinha ido visitar tia Melissa naquele dia.
Quando chegamos, havia tanta fumaça negra, que você conseguia ver na
entrada do palacete as chamas altas, destruindo tudo tão rapidamente. O
som das sirenes dos bombeiros se aproximando... — Ela fecha seus olhos e
dá um sorriso triste. — Eu a vi, quando ela saiu para fora da casa de barcos
em chamas, arrastando Greg. Tio Huslan foi quem chegou primeiro e
socorreu Greg, o pegando no colo e o levando para longe do fogo, o
deitando na grama, enquanto tia Melissa andava atrás dele. Ela parou de
andar e começou a tossir e tossir. Tio Huslan a segurou nos braços, antes
dela cair ao chão. A fumaça negra já estava queimando as vias respiratórias
dela, e ela estava completamente pálida, com a boca roxa. Quando os
paramédicos chegaram, tia Melissa já não estava mais respirando.
— Ela morreu nos braços do senhor Huslan — murmuro, sentindo
tanta dor ao imaginar a perda dele.
— Sim, ela morreu nos braços dele. Ele definhou em vida depois que
a perdeu. — Sieta abre seus olhos e me encara. — Tio Huslan não suportou
ficar mais no palacete, não quando ele construiu todo aquele lugar para ela
e ela não estava mais lá.
— Ele culpava Czar, por isso o largou lá sozinho?
— Não, jamais! — Sieta limpa seus olhos vermelhos de choro e vira
sua face para mim. — Foi decisão de Czar ficar sozinho, tio Huslan nunca
culpou Greg por perdê-la, só que...
— Czar sim — termino a frase por Sieta.
Imagino como deve ter sido para ele, conviver com isso, com a culpa
que a própria alma dele pegou para si.
— Ele se fechou, se odiando por muito tempo, punindo-o dentro
daquele palacete vazio, amargando uma culpa de ter tirado a vida da sua
mãe... Só que ninguém tinha ideia da proporção que a paixão por fogo
estava causando em Czar, nem mesmo ele entendia o que sentia, não até
acontecer a tragédia e os médicos afirmarem que ele tinha um distúrbio com
fogo.
— Está me dizendo que o senhor Gregovivk era piromaníaco... —
murmuro, perdida, voltando a olhar o tapete.
— Ele ainda é — ela me corta e vira seu rosto para mim. — Greg
apenas mantém seus demônios presos, mas se eles estão muito raivosos, eles
escapam de um jeito perigoso.
— Como assim? Ele voltou a incendiar algo depois da morte da mãe?
— pergunto e ergo meu rosto, olhando para ela.
— Apenas mais uma vez. — Sieta morde seus lábios, me olhando. —
Se recorda da primeira submissa dele, que lhe contei sobre ela, a Gaile?
— A menina que dormiu com o meio-irmão dele... — Balanço minha
cabeça em positivo lentamente. Lembro de Sieta me contar sobre o flagra
que deu na Gaile trepando com o irmão do senhor Czar, dentro do
apartamento dele.
— Czar não voltou ao apartamento para pegar suas coisas, porque
ele o queimou inteiro, ele incendiou o prédio todo. — Sieta abaixa seu tom de
voz e respira fundo. — Era um prédio industrial que pertencia a ele, e Greg o
queimou, fez virar cinzas, de tanta raiva e nojo que sentia de Gaile por ter
deixado Kaiser tocar nela. Foi a única vez que o vi ficar tão fora de si,
observando a estrutura queimar inteira do outro lado da rua.
— Ele realmente odeia o irmão... — Esfrego meu rosto e tento
imaginar como dois irmãos podem se odiar tanto.
— Odiar ainda é pouco perto do sentimento que Czar tem por ele.
Kaiser sempre foi um ser humano nojento, desde criança. — Ela cerra sua
boca e esmaga o punho. — Apenas para ter uma ideia do grau de merda que
ele é, no aniversário de oito anos de Greg, tio Huslan deu um cão para ele.
Greg amava o cachorro. Kaiser estava passando as férias no palacete nessa
época, e ele matou o cachorro, quebrando o pescoço do pobre, e o deixou
deitado em cima da cama de Greg, como se o animal estivesse dormindo.
— Meu Deus, que horror... — Tapo minha boca, sentindo arrepios só
de imaginar a crueldade com o coitado do cachorro. — Por que ele fez isso?
— Kaiser é um merda doente, e tio Huslan sabia disso, e é por isso
que ele nunca vai ficar com a cadeira de Greg diante do conselho...
— Kaiser quer tomar o lugar do senhor Gregovivk em Sodoma? —
pergunto, prestando atenção no final da frase de Sieta.
— Querer, todos querem; mas ficar, nunca. — Ela se levanta rápido e
sorri para mim. — Está com fome? Cristo, eu estou faminta!
Sieta sai da biblioteca, mudando de assunto, tagarelando sobre ela
estar ouvindo o estômago dela roncar. Fico sentada, olhando para seu lugar
vazio, com uma sensação de que Sieta não me contou tudo.
O som do meu celular vibrando em meu bolso me faz sair dos meus
pensamentos na hora do meu intervalo. Levo a mão para o bolso da calça e
pego o aparelho, quase tendo um infarto quando vejo o nome de Macro na
tela.
— Cristo, vontade de te matar! — falo alto ao atender o telefone,
sentindo meu coração disparado e aliviado ao mesmo tempo, por enfim ele
ter dado sinal de vida.
— Eu o perdi... perdi ele. — Meu alívio é passageiro, indo embora
assim que ouço a voz de choro dele. — O tiraram de mim...
— Macro, quem perdeu? — pergunto, nervosa, ouvindo o choro dele
mais alto. — O que está falando, Macro?
Apenas o choro dele se faz do outro lado da linha, se misturando a
buzinas e gritos de pedestres.
— Macro, fala comigo! Onde está? Me fala onde está, Macro... —
Levanto-me, me sentindo angustiada, tendo apenas o choro dele ficando mais
forte. — Macro!
— Perdi meu senhor, Bel. Ela o tirou de mim, tirou ele de mim...
— Ela quem, Macro? Do que está falando? — Esfrego meu rosto e
respiro fundo. — Macro, onde você está? Me fala que eu vou até você...
Caminho apressada para fora da sala do café, andando para o corredor
que leva para as portas do fundo da galeria.
— Macro, para de chorar, preciso que me diga onde está!
— Ela o tirou, tirou meu senhor — Macro continua a repetir as
palavras entre o choro, me fazendo ficar mais nervosa ainda pela forma como
ele está abalado, soluçando.
— Macro, vocês brigaram, é isso? Você e o homem que está saindo
brigaram? Está no seu apartamento? — Respiro fundo e olho perdida para a
rua, não sabendo qual direção tomar, enquanto ele não me diz onde está. —
Macro, me fala se está no seu apartamento...
— Não, não posso voltar, ela vai me achar. Eles vão fazer comigo o
mesmo que fizeram com meu senhor... Oh, meu Deus, Bel, eu o perdi!
— Macro, respira, por favor, apenas respira fundo, Botinhas! —
Fecho meus olhos, fazendo eu mesma o que estou falando para ele. —
Respira fundo e se acalma. Me fala onde está e eu vou até você, tenho certeza
que vão se acertar, foi apenas uma briga...
— Eles o mataram, Bel. Mataram ele, a sangue frio...
Paro no lugar, enquanto sinto meu coração bater acelerado ao ouvir a
voz de Macro falando entre o choro desesperado.
— Ela vai me matar, vai me matar... Mas eu não ligo, não ligo,
porque eu sei o que foi que eu fiz. Me perdoa, Bel, me perdoa...
— Macro, onde você está, porra?! — Fecho meus olhos e sinto meu
coração disparar, apenas querendo o encontrar.
O som do vendedor ambulante, gritando do outro lado da linha, soa
alto. Esse homem fica na praça, na esquina de baixo da galeria, reconheço sua
voz. Eu ouvia a voz desse homem todo dia, quando passava pela praça para
vir para o trabalho. Abro meus olhos e viro, correndo para a esquerda, na
direção da rua que vai para a praça.
— Macro, continua falando comigo, quem matou seu senhor? Quem
está atrás de você?
— Ela, ela sempre está atrás de mim, não importa o que eu faça, ela
sempre volta, cobrando mais...
— Dívida? Se meteu em dívida, Macro? — pergunto, angustiada, o
mantendo falando comigo para que ele não desligue, enquanto corro,
sentindo meu coração disparado.
— Eu fiz o que ela pediu, eu fiz... Mas eu não queria, não queria, eu
juro. Nunca quis fazer mal a você, me perdoa...
— Macro, está tudo bem, apenas me diga quem está atrás de você! —
Mesmo ganhando uma buzinada e um xingamento de um motorista, atravesso
a rua, correndo para a praça, com meu pescoço erguido, olhando para os
lados.
Vejo um rapaz sentado em um banco, com o telefone no ouvido,
usando um gorro na cabeça, e corro, cortando caminho por cima do gramado
e indo até ele.
— Macro, fala comigo, quem está atrás de você? — Pulo por cima de
um canteiro de flores e corro para perto do banco.
— Ela disse que me deixaria ficar com ele, que me deixaria ir
embora, mas ela nunca me deixa ir embora, nunca...
— MACRO! — Estico meu braço e toco o ombro do homem no
banco, mas ele vira e olha sério para mim. — Me desculpa... — murmuro e
me afasto dele assim que vejo que não é o Macro.
Volto meus olhos para o local, olhando cada canto, tentando achar o
vendedor ambulante.
— Ela não vai tocar em você, não vai. Vamos proteger você, o senhor
Gregovivk vai ajudar a proteger você... — Sinto meu peito saltar com as
batidas desesperadas do meu coração quando finalmente encontro o ruivo do
outro lado da praça.
— Me perdoa, me perdoa pelo que eu fiz, Bel...
Sorrio, aliviada, e corro em sua direção, acenando. Sua face está
melancólica, com os olhos vermelhos de choro.
— Te achei, Botinhas! — murmuro, ainda tendo o aparelho no meu
ouvido. Corro mais rápido, olhando para seus olhos, que choram ainda mais
quando se encontram com os meus. — Vai ficar tudo bem, não importa o que
esteja acontecendo ou que você fez, vai ficar tudo bem, Macro.
— Eu sinto muito por ter trazido você para cá... — Olho perdida para
ele e nego com a cabeça, correndo mais rápido para me aproximar dele. —
Sinto muito por ter deixado ela destruir sua vida...
— Do que está falando... Quem é ela? — Deixo o celular abaixar da
minha orelha quando estou a cinco passos dele, e paro de correr.
— Sua mãe. — A voz de Macro sai em choro, com ele me olhando
nos olhos. — Me perdoa, Bel.
— Alekessandra? Está dizendo que Alekessandra está aqui, atrás de
você?
— Não, Bel, sua mãe. A mulher que te trouxe ao mundo...
Olho-o, sem entender se ouvi bem o que ele falou, não
compreendendo por que ele está falando da minha mãe. Minha mãe tinha
morrido de overdose em alguma rua de Nova York, Macro sabe disso. Ela
tinha me largado recém-nascida no orfanato, para poder voltar para as drogas.
— Macro... — Nego com a cabeça e dou um passo à frente, esticando
meu braço para tocar nele.
O sangue quente espirra no meu rosto quando um zumbindo passa
perto de mim. Seus olhos arregalados me encaram, com sangue escorrendo
entre suas sobrancelhas e nariz, vindo do buraco no meio da testa dele. Meu
corpo cai no chão, junto com o de Macro, e me debato, gritando, esticando
minha mão para a dele e a segurando em meus dedos.
— MACROOOOOO... — Um grito de dor sai da minha boca,
enquanto me esperneio, tendo um corpo sobre o meu, me prendendo ao chão
e me impedindo de ir até ele.
— EQUIPE DE EVASÃO, AGORA! ALVO EM CAMPO
ABERTO! — Ouço a voz da mulher gritar em cima de mim, protegendo meu
corpo com o dela, sacando um revólver da sua cintura.
Todos que estão na praça correm, o som de gritos fica mais alto,
enquanto fico caída no chão, com meus olhos presos nos de Macro,
segurando seus dedos nos meus, olhando seus olhos que estavam repletos de
dor e medo, e que agora estão sem vida.
— Acha que eles são felizes? — A voz baixa dele me pergunta,
encarando as luzes acesas dos prédios ao longe.
— Não sei, talvez. — Deito meu rosto em seu ombro e desvio meus
olhos para o céu estrelado.
— Tenho certeza de que são mais felizes que nós, que somos sozinhos,
renegados e sem ninguém...
— Eu tenho você — falo para ele, rindo, e ergo meu rosto, olhando
para sua face. — E você tem a mim, Botinhas. Não somos sozinhos. Temos
um ao outro...
— Você promete? — Macro me olha, perdido, com seu semblante
triste. — Promete que seremos um para o outro para sempre, Bel?
— Eu prometo. Seremos um para o outro para sempre! — Sorrio para
ele, sabendo que minha única família verdadeira é Macro.
— Não... Não, Macro... Macro... — Fecho meus olhos e bato meu pé
no chão, enquanto me debato, seguro os dedos dele e grito de dor entre as
lágrimas, deixando a dor rasgar para fora da minha garganta.
Não perdi um amigo, eu perdi um irmão.
CAPÍTULO 31
QUEIMA DE ARQUIVO
O nascimento de Jazebel

Rússia – Moscou
Vinte e cinco anos antes

— Realmente não vai nem querer ver ela? — A mulher deitada na


cama, com seu corpo suado e esgotado pela força que fez para trazer a
criança ao mundo, mantém seus olhos presos na janela. — Morgana, não vai
querer olhar sua filha, a segurar em seus braços?
— Qual a cor dela? — As palavras baixas, sem emoção, escapam dos
seus lábios.
— Ela puxou a cor do pai... — O resmungo lento do bebê, no colo da
mulher, de pé ao lado da cama, se faz quando a criança se mexe em seus
braços e boceja. — Olhe ela, veja que coisa mais linda que trouxe ao
mundo...
Morgana não pode ficar com ela. Teve esperanças até o último
segundo que a criança nascesse branca. Se o tom de pele dela fosse o mesmo
que o de sua mãe, Morgana sabia que talvez pudesse ficar com o bebê. Mas
agora, a sentença tinha sido tomada pela cor da pele da menina. Seu mestre
iria descobrir que ela tinha engravidado do seu submisso, que ela tinha o
desobedecido e se deitado com outro homem sem ser ele.
— Tire ela de perto de mim, Freire! — Morgana rosna entre os
dentes e fecha seus olhos com força, virando o rosto para o outro lado, se
recusando a olhar para a recém-nascida nos braços de Freire. — Minha
filha nasceu morta...
— Mas...
— MINHA FILHA NASCEU MORTA! — Morgana grita mais alto,
assustando o bebê, que começa a chorar.
Morgana fecha seus olhos e respira fundo, sabendo que esse som do
choro de sua filha jamais sairá da sua mente, que jamais se esquecerá. Ela
não pode ficar com a menina, não quando sabe que seu mestre irá matar o
bebê, se souber da sua existência, assim como ele fez com o pai da criança.
— Shhh, não, não, lindinha... Está tudo bem. — Freire tenta acalmar
o bebê, olhando da criança para a mãe deitada na cama, com o rosto virado
para a parede.
— Dê ela para mim, Freire. — Os braços cobertos com luvas brancas
de seda, da mulher séria, se esticam, pegando a neném no colo. — Vem aqui,
pequena...
Os grandes olhos verdes se fixam na bebê, e ela alisa a bochecha
dela enquanto a embala em seus braços.
— Deixe que cuidarei de seu destino, pequenina. — A voz da mulher
sai lenta, com ela mantendo a carícia do seu dedo enluvado na face do
neném.
— O que pretende fazer? Sabe que ele está vindo. Chega
provavelmente amanhã. Como irá explicar o sumiço do neném para ele? —
Freire pergunta, séria, a olhando.
— Da mesma forma que expliquei porque trouxe Morgana para
minha casa, para ela ter seu bebê aqui, para cuidar da saúde frágil dela — a
mulher a responde, sem desviar seus olhos do neném. — E por conta da sua
saúde frágil, o bebê nasceu morto, assim encerraremos a pequena história de
amor de Morgana de vez.
— E você, Morgana? — Freire a chama, falando preocupada. — Vai
realmente abandonar sua filha...
Morgana não fala, se mantém em silêncio, sentindo o que resta do
seu coração se destruir de vez. Se recorda dos olhos de Zilu, negros e belos,
a olhando com tanta paixão, assim como lembra de encontrar o corpo dele
frio e sem vida largado no meio da sala, com seu mestre sério, parado perto
do corpo, a encarando. Ele lhe perguntou se ela tinha deitado com o
submisso. Morgana queria dizer que sim, que o coração dela nunca amou
tanto alguém como amara o homem que jazia sem vida. Mas o pequeno
segredo que crescia dentro do seu ventre foi quem a fez se calar, negando a
pergunta. Sabia que se ele descobrisse, mataria tanto ela quanto a criança.
Mentiu para ele, o manipulando dias depois, quando contou sobre a
gravidez. O fez acreditar que era dele, que dentro da sua barriga o filho de
um mestre era gerado, não o de um submisso. Mas a cor de Zilu era uma
preocupação constante, pois ela sabia que tinha grandes chances do filho
nascer com o mesmo tom de pele negra que ela amava em Zilu. Por isso, nas
vésperas de ganhar o bebê, junto com suas amigas, manobrou o destino e
fugiu para Moscou, para dar à luz ao bebê em um lugar onde os olhos do
mestre não pudessem ver, para ter tempo de saber qual destino seria da
criança se nascesse com o tom de pele escuro.
— A filha do meu mestre nasceu morta — Morgana solta as palavras
e respira fundo, sentindo a lágrima quente escorrer por sua face.
— Ele irá querer ver um corpo... — Freire fala, nervosa, olhando
preocupada para a mulher de pé no meio quarto, segurando o bebê.
— Providenciarei isso, assim como o futuro da criança. Partirá
agora mesmo com ela, Freire, tem um carro nos fundos da casa lhe
esperando. Meu motorista a levará até o hangar, onde um jato fretado
aguarda por você. Vai levá-la para o orfanato... — Ela respira fundo,
olhando o bebê.
— Vai deixá-la lá... Morgana, sabe o que acontecerá com sua filha?
— Freire a olha, perdida.
— Você sabe o que acontecerá a ela se o mestre de Morgana a
encontrar? — A mulher com a criança nos braços, caminha para Freire, a
olhando séria. — Será comida pelos cães dele, enquanto obriga Morgana a
assistir, apenas para depois matá-la.
— Mas, ainda assim, entregá-la...
— Morgana sabia qual seria o destino da criança se nascesse negra
igual ao pai. Ela fez um trato comigo, eu fiz a minha parte e tirei ela da casa
do seu mestre, para que pudesse ganhar o bebê sem que ele visse. — Ela
estende o bebê para Freire e vira o rosto para Morgana, a olhando.
— Deu sua filha para ela, Morgana? — Freire ampara o bebê, o
balançando e olhando para a mulher deitada na cama.
— A filha de Morgana e do mestre dela nasceu morta. — O som dos
passos da mulher de olhos verdes se faz, com ela caminhando para a porta
do quarto e abrindo-a. — O bebê em seus braços é meu, minha... Minha
Jezabel, nascida da traição e da manipulação de dois submissos. Quando ela
tiver pronta, voltará para mim.
Freire ainda olha uma última vez para Morgana, a vendo imparcial
com o destino da criança. Ela respira fundo e puxa uma manta aos pés da
cama, jogando por cima dos seus braços, para cobrir a criança.
— Não quero participar disso... — Freire ergue o rosto para a
mulher parada na porta, que a encara.
— Leve-a, Freire, e como presente lhe entrego a pequena Mina...
Fique com o que deseja e entregue o que me pertence no lugar! — A mulher
dá espaço e aponta para fora. — Agora, parta.
Sieta

Tempo atual
Palacete dos Gregovivk

— Cristo, isso é loucura! — A loira séria, ao lado de Sieta, observa


pela sacada da varanda do palacete, Mabel sentada em um banco de madeira,
no gramado, olhando para o lago.
— Isso é Sodoma, Baby, sabe muito bem disso. — Sieta traga seu
cigarro e respira fundo, percorrendo seus olhos pela propriedade e vendo
alguns homens de Ramsés patrulhando o perímetro.
Havia contado tudo para Baby, sem cortar parte alguma do que eu e
Greg descobrimos, como Mabel chegou até ele, as desconfianças dele ao
notar que ela tinha um comportamento diferente das outra submissas e a pasta
de Ramsés.
— E eu achando que Freire era a única cadela fria de Sodoma. Agora
vejo que Morgana é três vezes pior, ao inventar essa merda de ordem das
Messalinas, treinar crianças para serem tratadas como objetos de presente,
Cristo!
— Greg acha que pode ter mais alguém nisso, que a ideia inicial veio
de Freire, Morgana a lapidou, mas existe uma terceira pessoa oculta, o cabeça
de verdade.
— Porra, quando acho que já vi de tudo em Sodoma! — Baby esfrega
seu rosto e suspira fundo. — Conselheiros começam a matar outros, ainda
não acredito que mataram Sebastian...
Fico em silêncio, lembrando da foto que Ramsés mandou para o meu
celular. O tiro atingiu a garganta de Sebastian e atravessou a nuca. Ramsés
tinha deixado alguns homens para ficar de olho em Sebastian e Macro, eles
estavam fazendo uma ronda distante quando voltaram para ficar de olho nos
dois e notaram a porta da casa arrombada, com os vidros da janela quebrados.
Havia pegadas nos fundos, deve ter sido de Macro, quando fugiu. Czar e
Ramsés estavam atrás do garoto desde o domingo, quando avisei ao meu
primo, até o segundo que a mulher que seguia Mabel, ligou, pedindo ajuda.
Eu estava no escritório do açougue quando o telefone tocou. Czar saiu feito
louco ao ouvir que Mabel estava envolvida. No fim da noite, Ramsés foi me
buscar em Sodoma e trouxe-me para o palacete. Nunca mais tinha voltado
aqui, depois da morte de tia Melissa. O casarão ficou fechado após Czar
partir dele, mas foi pra cá que ele trouxe Mabel, junto com uma orla de
seguranças de Ramsés, que ficam patrulhando a residência. Quando cheguei
aqui na segunda à noite, Jonathan com sua esposa, Baby e o marido dela já se
encontravam no palacete. Mabel estava no quarto, dormindo, com minha mãe
cuidando dela, e Greg conversando no escritório, a portas fechadas, com
Jonathan, Ramsés e o marido da Baby. Mabel estava abalada, minha mãe
disse que precisou dar um calmante para ela. O garoto de Sebastian tinha ido
atrás dela e morreu na sua frente. Eu avisei a Greg que estava na hora de
contar a verdade para Mabel, mas ele não me ouviu.
— Nunca vi Czar assim — Baby murmura e aponta na direção do
banco, onde Mabel está.
Viro meu rosto e encontro o grande homem caminhando com as mãos
no bolso, na direção do banco onde Mabel está.
— Ele está apaixonado, completamente rendido por ela... — sussurro,
olhando a cena distante dos dois, que desconhecem nossos olhos em cima
deles. — Suscetível a fazer um grande estrago para mantê-la protegida.
— Por que diz isso? — Baby cruza seus braços e se escora na mureta,
virando o rosto para mim.
— O rapaz que foi morto ontem seria levado como prova diante do
conselho de Sodoma — murmuro, olhando Czar sentar no banco e erguer
Mabel em seus braços, a sentando na perna dele. — Sem o rapaz, Mabel é a
única prova viva que temos, já que as outras têm paradeiros desconhecidos...
— Sodoma vai querer agir... — Baby compreende o que irá acontecer
e olha preocupada na direção deles. — Mesmo que Jonathan e Ramsés sejam
contra, junto com Czar para protegê-la, ainda assim corre o risco dos outros
quererem limpar a sujeira... Deve ter outra forma de podermos provar a
verdade...
— Freire morreu, Sebastian está morto, assim como Macro...
— Queima de arquivo — Baby murmura, triste.
— Fora o dossiê de Ramsés, Greg não tem mais nenhuma prova viva
do que Morgana está fazendo, além de Mabel. — Me viro, a olhando. — E
ele não vai usar ela.
Eu tenho certeza disso. Greg se negou a levá-la diante do conselho
quando apenas a cadeira dele estava em jogo por conta da calúnia de
Morgana. Se naquela hora ele a protegeu, agora, com a vida dela em jogo,
Czar jamais se arriscaria.
CAPÍTULO 32
GOMORRA
Czar Gregovivk

— Ele estava ali, na minha frente, e eu não pude salvá-lo. — O choro


baixo dela vai ficando mais forte, com seus olhos parados em seus dedos. —
Não pude! Eu devia ter te avisado, perguntado sobre esse homem de Sodoma
que Macro estava envolvido, ter ido atrás deles, mas eu não quis quebrar a
confiança de Macro...
Seguro seu rosto e o trago para o meu peito, enquanto ela soluça com
a face toda molhada pelas lágrimas. Aliso seus cabelos e a deixo se encolher
em meu colo. Não tem como aliviar sua dor ao se sentir culpada por
negligenciar seu amigo, sem ter que lhe contar a verdade, dizendo que
Macro já tinha quebrado a confiança dela há muito tempo.
— Por que fizeram isso com ele? — Mabel prende seus dedos em meu
ombro, enquanto mantenho meus olhos no lago, observando a água parada.
— Eu sabia, no fundo, sabia que a relação dele com esse homem da fé não
podia acabar bem, mas nunca imaginei que terminaria assim...
— A polícia está investigando, Mabel. Iremos descobrir o que
aconteceu — murmuro para ela e passo minha outra mão por sua perna,
arrumando seu corpo em meu colo.
Minto novamente para ela, não lhe dizendo que a verdade é que
Sodoma que está cuidando disso, que grande soma de dinheiro foi entregue
para a polícia abafar o caso, que a queima de arquivo virou um assalto a
mão armada, onde um jovem rapaz acabou sendo morto. Mas Morgana
cometeu um deslize dos grandes. Se ela queria dar um jeito de fazer tudo
desaparecer, errou ao matar um conselheiro. Podíamos dar um jeito nisso,
refutar as provas, fazer parecer um acidente, como Ramsés ordenou que
fosse feito ao ver o corpo de Sebastian sem vida. Seu corpo foi posto dentro
do veículo dele, logo sendo explodido quando o carro caiu de um precipício
em uma estrada vazia. A encenação do acidente ficou bem-feita, com marcas
de pneus derrapando na estrada, como se ele tivesse se perdido na curva;
rápido, prático e limpo, sem levantar suspeitas, tudo isso no domingo à noite
mesmo, para não deixar rastro do assassinato de um padre.
Isso seria o que as pessoas do mundo fora de Sodoma que Sebastian
tinha ligação saberiam, que ele morreu em um acidente de carro depois de
perder o controle do veículo. Só que em Sodoma a verdade era uma só:
alguém o tinha matado. A morte de um conselheiro fez as peças de xadrez se
movimentarem. O encontro dos conselheiros, que seria apenas daqui alguns
dias, para meu julgamento, foi transferido para amanhã à noite. Jonathan
Roy convocou a todos, uma manobra arriscada nossa para precipitar os
próximos passos de Morgana. Se ela já tinha conhecimento do que eu tinha
descoberto, Mabel seria o próximo alvo dela, por isso trazê-la para o
palacete foi a melhor escolha, tenho que deixá-la segura.
— Ele estava assustado, tinha tanto medo... Sofria pela perda...
— De Sebastian, o nome dele era Sebastian. E do jeito dele era um
bom homem, ele amava Macro, jamais faria algo para machucá-lo. — Sua
cabeça se afasta do meu peito e se levanta, com ela me olhando perdida.
— A mesma pessoa que matou esse homem também tirou a vida de
Macro, não foi? — Sua mão ergue e limpa o choro da sua face, me olhando.
— Por que ela os matou, quem é essa mulher?
— Quem lhe disse que foi uma mulher? — pergunto para ela e ergo
minha mão, segurando sua face.
— Macro, ele falava sobre uma mulher, coisas que eu não entendia,
confusas, apenas dizendo que ela tinha tirado o senhor dele, que ela nunca o
deixaria ir... — Ela fecha seus olhos e respira fundo. — Minha mãe, ele falou
sobre minha mãe...
— Alekessandra? — indago, rápido, a fazendo olhar para mim
quando seguro sua face com mais força, limpando suas lágrimas.
— Não, Macro falou da minha mãe biológica, eu não entendi...
Porque minha mãe biológica morreu de overdose, ele sabia disso. Uma
noite, a gente invadiu a secretaria do orfanato, eu queria saber quem era
minha família verdadeira, então encontrei nos registros que minha mãe era
dependente química e que morreu alguns meses depois de me deixar no
orfanato.
— Por que Macro falou da sua mãe, Mabel? — Ela chora ainda mais,
abaixando seus olhos para suas mãos.
— Eu não sei, não sei, senhor. Ela morreu de overdose nas ruas de
Nova York. Macro estava assustado, falando coisas sem nexo, me pedindo
desculpa... Então... — Ela se cala e morde sua boca, chorando mais forte
outra vez e escondendo seu rosto em meu peito.
Não pude tirar mais nada dela, porque o choro de dor e sofrimento a
consumia. Eu sabia que o garoto tinha ido atrás de Mabel para lhe contar
algo, apenas ainda não descobri o que era.
— Como ela está? — Ramsés me pergunta, baixo, quando entro na
sala e o vejo conversar com Jonathan e o marido de Baby.
— Consegui fazê-la dormir um pouco — respondo e ergo meus olhos
para Sieta e tia Yelena, que estão conversando, sentadas com Ginger e Baby
no sofá. — Quem já respondeu à convocação?
— Todos. — Roy é quem me fala. Balanço a cabeça em positivo para
ele e levo meus dedos ao bolso da calça. — Amanhã à noite, todos os
conselheiros de Sodoma estarão em Moscou, pedi para Dexter uma ajudinha
em Nova York.
Olho para o homem sério, de estatura baixa, de pé ao lado de Jonathan
Roy, o detetive particular Dexter. Jonathan alegou que era um homem de
confiança e que poderia nos ajudar. Depois de ter conversado com ele por
telefone e ter contado a Roy todo o esquema de submissas, ele resolveu pôr o
rapaz a par desses assuntos. Jonathan acha que os contatos do seu cunhado,
com alguns policiais de Nova York, poderiam nos ajudar. Tanto que uma
patrulha está sondando a casa de Alekessandra Shot, assim como outra está
observando quem entra e sai do orfanato onde Mabel foi deixada pela mãe.
— Veja, Roy, nunca vi essa foto do papai! — Baby se aproxima e
segura um grande livro negro, antigo, que fica na biblioteca e do qual nem
lembrava mais. Jonathan vira e olha a foto do seu pai. — Esse aqui é o senhor
Huslan, o pai de Czar, Dexter, eles eram os veteranos no mundo de Sodoma.
Ela mostra a foto para seu marido, depois que Jonathan vê. Observo a
foto do pai deles ao lado do meu, com os dois de terno, segurando um copo
de bebida, em algum tipo de festa.
— Esse aqui é o pai de Ramsés? — Dexter pergunta e olha para o
egípcio, que nega com a cabeça.
— Não, eu herdei a cadeira da minha mãe. Ela era de Sodoma. —
Ramsés fica em silêncio, observando a foto por um segundo.
Olho a foto preta e branca na mão dele e noto o homem de terno claro
ao lado deles, observando-o por um longo tempo, o qual também desconheço
quem seja.
— Esse aqui, se não me engano, era Petrus...
— O cachorro louco! — minha tia fala alto, rindo, segurando um
copo de vodca.
Ergo meus olhos para ela, que está apontando para nós, fazendo todos
a olhar.
— Seu pai o apelidou assim. — A olho em silêncio, prestando
atenção nela. — Um fascista completamente lunático, que pregava um
posicionamento político autoritário e antidemocrático, dava náuseas o ver
falando sobre a supremacia das raças[66].
— Você o conheceu, mãe? — Sieta pergunta, a olhando.
— Não, Deus que me livre, nunca troquei uma palavra com esse
homem! Mas para minha infelicidade, ouvi ele uma vez falando em uma das
festas que seu tio Huslan dava aqui no palacete.
— Essa foto foi tirada aqui? — pergunto para ela e pego o álbum,
olhando com mais atenção a face do homem. — Mas eu não reconheço esse
cômodo.
— Sim, foi tirada aqui no palacete, e você está dentro desse cômodo.
— Ela sorri e abre os braços. — Não lembra porque você estava na barriga da
sua mãe ainda — tia Yelena fala, voltando seus olhos para a janela. — Foi
antes do seu pai reformar o lugar, deixando-o do jeito que Melissa queria.
— Seu pai era festeiro, Czar, mais do que você. — Baby caminha
para perto de mim, olhando a fotografia. — Esse sujeito era de Sodoma,
então?
— Sim, ele era um conselheiro, se não me engano, um dos antigos,
mais velho que seu pai e o pai de Jonathan. — Quem nos responde é Ramsés,
bebendo sua bebida.
— Nunca ouvi falar dele. — Olho para Ramsés, em busca de resposta.
— Petrus era marido de Morgana — ele me responde seriamente.
— Você era criança quando ele morreu — tia Yelena diz, baixo, me
fazendo olhar para ela. — Seus pais deixaram você comigo, para ir ao funeral
dele, quando você era criança. Melissa me contou que o funeral foi com
caixão fechado.
— Por quê? — a esposa de Jonathan pergunta e olha para minha tia.
— A morte dele foi horrível, a porta da sauna da casa dele quebrou, o
trancando lá dentro. Quando encontraram ele, três dias depois, já estava
morto, foi cozinhado vivo pelo vapor quente... — ela fala e repuxa o canto da
boca.
— Credo, que horror... — Ginger murmura e ergue a face para o
marido dela.
— Não lamente a morte dele, criança, era um homem ruim. — Minha
tia estica o braço e dá leves tapinhas na mão de Ginger. — Muito ruim, três
vezes pior que a mulher dele, que ficou em seu lugar na cadeira de Sodoma
quando Petrus morreu...
— Por que diz isso? — Sieta pergunta e mantém seus olhos atentos
em sua mãe.
— Petrus era um hipócrita, ele vivia pregando sobre a superioridade
dos arianos, mas mantinha um submisso negro dentro da casa dele, o qual
vivia lá como um escravo sexual dele... — Vejo os olhos da esposa de
Jonathan ficarem arregalados, com ela encarando minha tia junto com Sieta.
— Minha mãe contou sobre isso... — Ramsés fala, baixo, me fazendo
o olhar. — O submisso dele morreu de forma bem suspeita, dizem que foi ele
que matou o rapaz quando desconfiou que a esposa dele estava se deitando
com o rapaz sem ele estar presente...
— Morgana... — digo, sério, vendo o egípcio balançar a cabeça em
positivo.
— Isso aí. Ele era um doente asqueroso, que gostava de ver um
homem negro fodendo a mulher dele, mas não gostava dela trepar com o
homem quando ele não estava presente.
— Está me dizendo que um neonazista tinha fetiche em ver um negro
dormir com a esposa? Mas ficou bravo ao imaginar ela dormindo com o cara
sem ele estar junto? — Dexter, o marido de Baby, olha para ela e fecha os
olhos, balançando a cabeça para o lado, quando ela confirma para ele com um
leve movimento de cabeça. — Meu Deus, quando penso que já entendi esse
mundo de vocês...
— Ficaria surpreso com as coisas que alguns gostam de fazer —
Ramsés fala, taciturno, o encarando, antes de voltar seus olhos para mim,
ficando pensativo. — Tinha esquecido dessa história do romance proibido de
Morgana, minha mãe contava sobre isso.
— Morgana ficou com a cadeira do marido diante do conselho, por
que eles não tiveram filho?
— Eles tiveram, mas o bebê nasceu morto — Ramsés é quem
responde, baixo. Olho para a foto de Petrus, ao lado do meu pai e do pai de
Roy. — Minha mãe me disse que foi o ano mais cruel para os submissos que
passaram na mão dele. Petrus descontava toda sua ira pela morte do bebê nas
chibatas, quase matou Morgana uma vez, de tanto espancá-la.
— Não! — Minha tia soluça e leva os dedos para a boca, rindo. —
Sua mãe estava enganada, o bebê não morreu.
Novamente minha tia consegue ganhar toda a nossa atenção quando
fala isso, tendo os meus olhos, os de Ramsés e os de Jonathan voltados para
ela.
— Como assim? — indago, entregando o álbum para Baby e me
aproximando da minha tia a passos lentos.
— Eu trabalhava na maternidade pública de Moscou na época, estava
fazendo residência lá. Seu pai arrumou o trabalho para mim, Greg. — Ela
aponta para mim. — Uma enfermeira, amiga minha, que já trabalhava há
mais de trinta anos como enfermeira chefe, tirava um dinheiro por fora,
ajudando mulheres a ganharem bebês em casa, e foi ela que fez o parto de
Morgana.
— Mas não pode ser, Morgana e Petrus viviam na Alemanha nessa
época. — Ramsés a olha, perdido, ficando mais atento ao que minha tia fala.
— O bebê nasceu lá, tanto que foi enterrado lá...
— Um bebê desconhecido foi enterrado na Alemanha, porque o
verdadeiro filho de Morgana nasceu em Moscou, ou melhor, a filha dela
nasceu na pátria Rússia, assim como a mãe dela.
— Morgana teve uma filha? — pergunto mais ansioso, a olhando e
tendo meu cérebro trabalhando intensamente. — Está me dizendo que
Morgana teve uma filha aqui em Moscou e fez todos acreditarem que estava
morta? Espere! — Me calo e absorvo toda informação. — Morgana é russa...
— Sim, ela é. Ela podia até tentar enganar os outros com o sotaque
alemão do marido dela, mas Morgana é russa até o último fio de cabelo dela
— minha tia diz, rindo. — Eu reconheço uma russa só de vê-la abrir a boca.
No dia que aquela mulher foi apresentada a mim, eu sabia que ela não era
germânica.
— Mas por que ela faria algo assim? — Jonathan é quem fala, ficando
pensativo. — Por que mentir sobre a morte do bebê?
— Simples, porque a criança que nasceu não era filha de Petrus, a cor
da menina contava quem era o pai dela...
— O submisso — digo, sério, encarando Ramsés e Jonathan.
— Morgana teve uma filha negra com o amante dela? — Baby
pergunta, confusa, e senta-se ao lado da minha tia, com o álbum aberto.
— Não, Macro falou da minha mãe biológica, eu não entendi...
Porque minha mãe biológica morreu de overdose, ele sabia disso.
— Não, não pode ser... — murmuro, não acreditando que o que eu
estou imaginando possa ser verdade. — Tia, tem certeza do que está falando?
Você pode estar enganada...
— Não estou enganada, Greg. Giva, a enfermeira que foi fazer o parto
da menina, nunca mentiria, ela mesmo me contou...
— Por que ela te contou, mãe? — Sieta pergunta e olha para ela.
Tia Yelena tira o álbum da mão de Baby e vira as páginas, como se
procurasse algo, dando um estalo alto com a ponta da língua quando acha e
aponta para ele. Sieta e Baby, que estão sentadas uma de cada lado de tia
Yelena, ficam com os olhos assustados.
— Por conta dela! — minha tia fala, fazendo cara de nojo.
— Essa aqui, abraçada à Morgana, é a Freire, mas essa ao lado delas,
que sua mãe está apontando, eu não conheço... — Baby retorce o nariz,
falando com raiva. A esposa de Roy levanta e se aproxima delas, olhando o
álbum.
— Porra! — Ouço a voz de Sieta, que sai de forma nervosa. — Oh,
merda, Greg! Olhe quem está aqui, junto com elas...
Sieta levanta e pega o álbum da mão de tia Yelena, caminhando para
mim.
— Foi ela que chamou a enfermeira para fazer o parto de Morgana
durante a madrugada na mansão, por isso Giva me contou, porque ela sabia
que eu a conhecia...
— Valéria! — falo o nome da primeira esposa do meu pai.
A reconheço na fotografia preta e branca. A mulher de pé, com seu
vestido preto, parada ao lado de Morgana e Freire, que estão sentadas em um
sofá, tem o grande colar de pérolas caído à frente do corpo. Uma mão está
descansando no ombro de Morgana e a outra em sua cintura, salientando suas
luvas brancas, que vão até o cotovelo.
— Eu até estranhei quando Melissa me contou que Morgana tinha
perdido o bebê, que era a coisa mais linda, com seus cabelinhos loiros e pele
rosada... — minha tia continua a falar, enquanto encaro a foto. — Depois de
alguns dias, quando encontrei Giva, perguntei se ela tinha certeza do que me
falou. Ela me garantiu que a verdade é uma só: Morgana deu à luz a uma
filha negra, saudável, que nasceu viva. Giva pode comprovar o que estou
dizendo, a velha tem mais saúde do que nós, com quase noventa e poucos
anos. Ficariam impressionados com a memória de elefante dela. Se não me
engano, ela está morando em um asilo em Santl.
— Isso faz quantos anos, tia? — Esfrego meu rosto e respiro fundo,
sentindo ainda mais a verdade me esmagando. — Quantos anos tem essa
história do bebê de Morgana...
— Já tem vinte e cinco anos, o pequeno bebê já é uma mulher agora!
Fecho meus olhos e esmago os dedos ao lado do corpo, tendo toda a
verdade se formando na minha frente.
— Ficou fluente em russo aprendendo a falar com um deles ou teve
aulas com professores? — Inclino meu corpo para frente, a deixando sentir
minha respiração no topo da sua cabeça.
— Alekessandra me ensinou. — Ela abaixa o pano depois de limpar
minha mão, o deixando em cima da sua coxa. Seu rosto gira na direção da
mesa, procurando por algo. — Minha mãe adotiva sentia falta de ter alguém
para conversar na língua mãe dela, então ela me ensinou, senhor.
Eu fui tolo, achei que Alekessandra ensinava Mabel a falar em russo
porque seu comprador era daqui. Talvez possa ser um dos motivos, mas o
maior deles era um só: Alekessandra não estava ensinando a língua mãe dela
para Mabel, mas sim a língua mãe dela, Mabel é russa. Macro não a levou
aquela noite para entregá-la para o comprador, a primeira noite de Mabel em
Sodoma foi para ela conhecer sua mãe biológica, sem nem saber quem ela
era. Estava tão focado em proteger Mabel, achando que Morgana viria atrás
dela, que o único deslize que Morgana deu eu não notei. Ela podia ter atirado
em Mabel, matado ela junto com Macro, era um alvo fácil na praça e um bom
atirador teria matado facilmente os dois, mas a bala acertou só o rapaz.
Morgana não queria matar Mabel, ela trouxe a filha para Moscou porque a
quer de volta.
— Cristo, e eu que pensava que Freire que era ruim! — a esposa de
Jonathan fala seriamente. — Mas essa mulher fingiu a morte da própria filha!
O que houve com essa criança, para onde foi...
— Eu não sei. Às vezes fico pensando onde foi parar aquela criança,
qual fim Morgana deu para a própria filha... — minha tia fala, baixo, soltando
um longo suspiro.
— Está dormindo no andar de cima, no meu quarto... — solto as
palavras com peso, sentindo ódio por essa mulher.
— Está querendo dizer que Mabel... — Ramsés dá um passo à frente,
me encarando.
— É a filha de Morgana. Macro foi atrás de Mabel para contar para
ela que a mãe biológica dela estava por trás de tudo, da vinda dela para cá. E
ouvir a verdade que foi dita nessa sala, apenas me fez ligar os pontos. —
Sorrio, sem um pingo de felicidade, apenas a mais pura agonia que me pega.
— Morgana é a mãe de Mabel, ela é o verdadeiro comprador da pequena
submissa alfa.
O som do rádio comunicador que Raja entregou a Ramsés apita,
enquanto todos ficam em silêncio, ouvindo os seguranças avisando sobre um
alarme ter sido disparado em volta da casa.
— Ginger, venha! — Jonathan já está segurando sua esposa pelos
braços e a erguendo no colo, caminhando com ela às pressas para fora da
sala.
Dexter retira o revólver da cintura e se aproxima de Baby e tia
Yelena.
— Proteja elas! — falo rápido para ele, saindo ao mesmo tempo da
sala, junto com Ramsés, que caminha para a porta dos fundos.
Meu corpo gira, com meus pés me levando para outra direção,
correndo para as escadas.
— Greg... Greg, espera! — Sieta corre atrás de mim. — Se isso for
verdade, então precisa contar para ela...
— E como acha que posso contar isso para Mabel? — rosno com ódio
e nego com a cabeça, retirando o revólver da minha cintura. — Como posso
lhe dizer que a mãe dela não passa de uma vadia maldita, que a jogou em um
canil que adestra submissas para serem as cadelinhas dóceis dos seus
senhores e agora a quer de volta...
— Assim... — Sieta fala, apressada, e respira rápido, subindo os
degraus das escadas junto comigo e vindo para o corredor quando viramos à
esquerda. — Não importa como irá contar, o que importa é que será através
de você que ela vai saber disso...
Sieta segura meu braço e me faz parar na frente da porta do quarto,
me fazendo olhar para ela.
— Ela perdeu a única pessoa que ela tinha, Greg, e você agora, nesse
momento, é tudo que ela tem de real e confiável... — ela diz, séria, mantendo
seus olhos presos aos meus, mesmo sabendo que estou a um passo de perder
o controle. — Se Mabel descobrir isso de outra maneira que não seja pela sua
boca, vai acabar com ela de vez, achando que você a manipulou, como todos
vêm fazendo com ela, desde quando ela nasceu.
— E se ela sentir nojo de tudo? De mim, que vim do mesmo mundo
que destruiu a vida dela, Sieta? Sodoma é tão culpada do destino de Mabel
quanto Morgana. — Fecho meus olhos e respiro fundo, tentando achar uma
forma de poupá-la disso. — Não quero perdê-la...
— Você não vai, Greg! Acredite em mim, qualquer um que olhe nos
olhos dela... — Sieta ergue sua mão e aperta seu dedo na porta do quarto. —
Enxerga o quanto ela te ama...
Meu rosto vira para a porta e observo-a se abrir lentamente, me
fazendo desvencilhar meu braço do aperto de Sieta.
— Não deixei essa porta encostada... — Empurro a porta de vez,
vendo a luz do banheiro que eu deixei acesa, iluminando a cama vazia.
Destravo o revólver, o segurando em minha mão e empurrando Sieta para trás
de mim. — Mabel...
Bato meu dedo no interruptor do quarto, fazendo a luz dele acender,
chamando por ela. Caminho em direção ao banheiro no segundo que ela
caminha para fora dele e solta um baixo bocejo, esfregando seus olhos
sonolentos, o que me dá tempo de levar meu braço para trás, não a deixando
ver o revólver em minhas mãos. Sinto os dedos de Sieta quando ela pega a
arma que eu balanço para ela pegar.
— Oi...
Antes mesmo dela dar outro passo, minha mão está na lateral do seu
rosto, o segurando, a pegando de surpresa e colando meus lábios aos seus. Os
dedos de Mabel se prendem em meus braços e ela solta um suspiro lento em
minha boca. Sinto um misto de alívio e angústia enquanto a beijo com mais
posse, amando a forma como ela sempre se entrega quando nos beijamos.
— Eu vou indo! — Ouço a voz distante de Sieta, dando um risinho e
fechando a porta do quarto.
Solto o rosto de Mabel, apenas para alastrar meu braço por suas costas
e a trazer para perto de mim, colando seu peito ao meu. Sinto seu calor, seu
cheiro, que invade minha mente e me deixa mais rendido diante desse
pequeno pássaro que me capturou.
— Saiu do quarto? — pergunto, escondendo meu rosto em seus
cabelos.
— Não, eu acordei meio sonolenta e não te encontrei. Acho que abri a
porta pensando ser a do banheiro, quando vi o corredor, voltei para dentro...
— ela fala, baixinho, esfregando seu rosto em meu peito.
Prendo minhas mãos em sua bunda e a levanto do chão de uma só
vez, a depositando em cima da penteadeira. Seu corpo se encaixa
perfeitamente ao meu, suas mãos descansam em meus ombros, enquanto ela
se perde em meus beijos e eu deixo minha boca descer pelo seu pescoço,
esfregando minhas mãos em suas coxas, entre carícias que meus dedos fazem
em sua pele.
— Está tudo bem? — Ouço sua voz murmurar entre gemidos.
Subo minha boca novamente por sua garganta e mordo a pontinha da
sua orelha, apertando com mais pressão sua pele e respirando com força.
— Senhor, está tudo bem? — Mabel sussurra, mais perdida entre
minhas carícias, estufando seu peito para frente.
— Preciso de você, passarinho. — Minha voz sai ríspida, não
conseguindo disfarçar a necessidade que meu corpo tem por ela. Mordo seu
ombro e raspo o dente em sua pele.
— Ohhh! — ela geme, baixinho, quando me colo mais a ela, a
deixando sentir meu pau roçando em sua virilha.
Ergo Mabel em meu colo e seguro sua bunda. As pernas nuas cruzam
atrás de mim, fazendo sua pélvis se encaixar com a minha.
— Preciso do seu corpo agora, bebê — digo, rouco, esmagando meus
dedos em seu rabo.
E antes que ela possa me dar uma resposta, já estou colando sua boca
na minha. Minha língua brinca com a dela e sinto a forma que ela se entrega
em abandono. Outro gemido mais doce sai da sua boca quando aperto com
mais força sua bunda em minhas mãos. Mabel empurra sua cabeça para trás,
com seus braços em meu pescoço, me deixando ver o vale dos seus seios nus,
tendo minha camisa de botão em seu corpo. Nos viro e ando em direção à
cama, a depositando lentamente sobre o colchão. Minhas mãos deslizam por
seu corpo e abro botão por botão da camisa. Quero tocar nela, sentir sua pele
nua e quente, arrancar essa maldita camisa do seu corpo, ter a sensação dos
seus seios sendo esmagados pelo meu tórax, a fazer ser minha uma última
vez, antes de eu ter que contar a verdade e correr o risco dela não me querer
mais. Minhas mãos descem e puxo sua calcinha lentamente, jogando-a ao
chão. Mantenho suas coxas separadas, segurando-as com minhas mãos
quando minha cabeça se abaixa. Mabel suspira alto quando minha barba
desliza sobre seu clitóris.
— Oh, merda! — ela geme alto e leva suas mãos para meus ombros.
Sinto sua unha cravar em minha pele assim que o toque da minha
língua se faz sobre sua boceta. Meu nome escapa da sua boca entre seus
gemidos, com ela se segurando com mais agonia em meu ombro, o que faz
meu sangue pulsar três vezes mais rápido entre lufadas de ar, me sentindo um
demônio viciado no pequeno pássaro que pousou na minha casa. Meus dentes
mordem levemente sua virilha, enquanto minhas mãos passam em um ritmo
lento sobre sua coxa, causando arrepios na pele quente de Mabel.
— Czar...
Suas coxas tremem e seu calcanhar se afunda no colchão, com minha
boca devorando sua boceta entre lambidas e chupadas. Mabel arqueia seu
corpo e murmura meu nome entre gemidos e suspiros. Meu cérebro explode
com o gosto do corpo dela invadindo meu paladar, me fazendo a querer por
completo. Suas unhas cravam em minha pele, enquanto ela geme, tendo seu
corpo queimando em luxúria. Levo dois dedos para dentro da sua boceta
quente e a fodo rápido, na mesma agonia que a sugo, acelerando e levando-a
ao ápice. Apenas a preparo para mim, sabendo que seu corpo não precisa de
muito incentivo para estar pronto. Ela é minha pequena devassidão em um
corpo feminino suave e carnal.
Mabel responde rápido aos meus toques. Mordo seu clitóris de
mansinho, como se ele fosse o botão que liga sua ruína com a minha. A
pequena dor a leva a gemer mais alto, ficando mais eufórica e respirando
apressada, tendo a onda de explosão de prazer percorrendo seu corpo, e
miseravelmente não consigo me segurar mais. Meu pau anseia por ela, por
sentir suas paredes macias e quentes o engolindo. A deixo sobre a cama mole.
Minha respiração está acelerada, mais alta, enquanto retiro minha roupa e
admiro sua face delicada, seus olhos fechados, com um sorriso pequeno nos
lábios. Os grandes olhos negros se abrem para mim quando subo na cama e
aprisiono-a abaixo de mim. Mabel ergue seu rosto e cola seus lábios aos
meus. O sabor da sua boca se mistura com o da sua boceta, sua língua invade
a minha, e logo suas mãos estão descendo por meu corpo. Nos viro de uma
forma rápida, deixando-a por cima de mim. Ergo um pouco sua bunda para
cima, com minhas mãos tendo suas coxas ao lado do meu quadril. Mabel
encaixa meu pau na entrada da sua boceta, e sem se demorar, ela solta o peso
do seu corpo para baixo, se sentando por completo, tomando meu pau de uma
única vez dentro dela.
— Ohhhh, senhor! — Ela joga sua cabeça para trás e agarra meu
tórax com suas unhas.
Minhas mãos, coladas em seu rabo, o esmagam com mais desejo,
tendo seu quadril se movimentando em um ritmo lento, para frente e para
trás, intercalando entre reboladas.
— Porra! — Minha voz está grossa em pura luxúria e ruge dentro do
quarto.
Mabel se ergue lentamente e deixa meu pau quase por completo fora
da sua boceta, e logo se abaixa com tudo outra vez. Minha boca abre e solto
um urro feroz, enquanto ela continua a repetir essa tortura algumas vezes.
Começa a rebolar quando engole meu pau tão fundo, enterrado em seu corpo.
É uma sensação extremamente nova, tê-la assim, me dominando por
completo, tão livre de seu jeito submisso, me levando ao inferno e ao céu a
cada vai e vem do seu quadril, friccionando meu pau dentro de si. Ela
diminui o ritmo e rebola com lentidão, gemendo baixo e com suas unhas
cravando mais em meu peito. Seus olhos negros param nos meus quando ela
traz sua cabeça para frente, me olhando perdida.
— Estamos fazendo baunilha — ela murmura e abaixa seus olhos
para suas mãos em meu peito, que se movem, subindo e descendo junto com
minha respiração. — Pensei que não gostava, senhor...
E não gosto, nunca me senti atraído pelo convencional, mas Mabel me
faz desejar tudo. Eu me tornei cativo do pequeno pássaro, o qual eu queria
prender à gaiola.
— Quero você assim, passarinho — digo, rápido, abraçando suas
costas.
Antes de impulsionar meu tórax para cima, a deixando montada em
cima de mim quando me sento, Mabel enlaça meu pescoço e cola seus peitos
nos meus, usando seus joelhos para apoiar seu peso no colchão, antes de
começar a se movimentar rápido, subindo e descendo. Minhas mãos soltam
suas costas e param em suas coxas, sustentam seu corpo, que treme com cada
baque forte que solta quando desce, enterrando meu pau dentro dela.
— Senhor... — Mabel me abraça mais forte e aperta meu pau com sua
boceta a cada estocada que ele dá dentro dela.
Sinto seu corpo quente e suado colado ao meu, seu coração disparado
batendo forte, a respiração agitada dela tão angustiada quanto a minha,
subindo e descendo, cada vez mais rápido, tendo o orgasmo dela me
arrastando quando ela morde meu pescoço e abafa seu grito. Sua vagina se
aperta mais, com ela tremendo sob mim. Meus dedos se prendem com mais
força em suas coxas enquanto gozo, libertando minha porra dentro dela.
Abraço Mabel com força e jogo minhas costas para trás, a levando comigo.
Estamos os dois perdidos em nossos delírios, o quarto está impregnado com
nossa luxúria carnal e o som das nossas respirações se acalmando. A seguro
com mais urgência e aninho Mabel sobre meu peito, abrindo meus olhos e
encarando o teto, ouvindo os suspiros dela. Respiro fundo e fecho meus
olhos, tentando encontrar as palavras para contar a verdade a ela.
— Mabel, há algo que preciso...
— Eu não quero me afastar do senhor quando o jogo acabar — ela
diz, baixinho, no meu ouvido, cortando minhas palavras.
Meus olhos, que estavam fechados, se abrem, enquanto sinto meu
coração parar uma batida, sentindo a ponta do seu nariz se esfregando em
meu pescoço.
— Eu sei que o jogo está perto do fim, mas eu não quero que isso
acabe, Czar... — Mabel tem o dom de me surpreender, de me deixar
completamente sem reação.
Sua face se afasta lentamente, com seus olhos negros ficando na
altura dos meus, mordendo o cantinho da sua boca.
— Eu quero ficar com você, senhor — ela diz e me olha com doçura,
murmurando de forma tímida.
Eu serei um grande filho da puta por aceitar, mas as palavras se
silenciam, ficam esquecidas, sendo empurradas para longe quando sua boca
se aproxima timidamente da minha, me entregando a única coisa que eu sei
que não irei abrir mão.
Ela.
Meus olhos se abrem lentamente, enquanto sinto a falta do seu corpo,
que adormeceu em cima do meu. Tombo meu rosto para o lado e encontro a
cama vazia, sem Mabel. Alongo meu pescoço ao passo que sento, observando
a porta do banheiro aberta, me mostrando que ela não está lá também.
Levanto e me estico, sentindo as marcas das suas unhas arderem em minhas
costas e meu peito. Coço minha cabeça, bocejando e andando lento para o
banheiro, jogando uma água no meu rosto. Pego minha calça de moletom que
está pendurada atrás da porta e a visto com lentidão. Caminho na direção do
guarda-roupa, mas paro assim que percebo que a porta perto dele, que leva ao
quarto conjugado com esse, está com uma fresta aberta.
— Não, não, merda! — rosno entre os dentes e ando rápido para a
porta, a abrindo por completo, rezando para que ela não tenha entrado aqui.
Tinha feito um escritório dentro desse quarto, que ficava conjugado
com o meu. Mas ao olhar os papéis em cima da mesa do escritório, com a
pasta que Ramsés me entregou, aberta, junto com todo o resto de anotações
que eu fiz das descobertas, cada passo, tudo revirado, me diz que Mabel
esteve aqui e leu sobre a verdade da vida dela. Fotos de Morgana e algumas
reportagens que Sieta me deu sobre Kaiser estão espalhadas, assim como as
de Macro e Sebastian. Observo a gota de lágrima em cima do jornal, onde a
foto de Kaiser, junto com a biografia dele e do nosso pai, está descrita em
uma matéria do jornal, perto de uma nota do assassinato do rapaz, dizendo
que foi em um assalto. Me viro e fico de frente para o computador, vendo o
papel colado nele. As letras escritas às pressas estão nítidas, com a caligrafia
dela. O puxo para minha mão e o leio em voz alta, sentindo como se uma
faca estivesse entrando dentro de mim a cada letra.
GOMORRA!
— Não! NÃO! — Em um ataque de fúria, solto um grito de ódio.
Meu pé se ergue e chuto a porra do computador, o jogando para o chão. —
Não, porra!
— Eu quero ficar com você, senhor.
A lembrança da sua voz entra em minha mente, assim como o sorriso
doce que abriu em seus lábios quando nos virei, me deixando por cima dela e
a enjaulando, a beijando com tanta necessidade. Chuto com mais raiva o
computador e o faço estourar contra a parede, o espatifando em pedaços.
— GREG! — A porta do quarto, que dá para o corredor, se abre,
tendo Sieta entrando e olhando de mim para o aparelho destruído no chão. —
O que está havendo...
Desvio meu rosto dela e respiro rápido, fechando meus dedos com
força.
— Por que meu tablet está no chão? Merda, isso é água? — Viro e
olho para Sieta, que entra no escritório, a vendo olhar o tapete com um poça
d’água e seu aparelho está caído próximo.
Sieta abaixa e pega seu tablet, que ela tinha deixado no meio da tarde
em meu escritório, para me mostrar as filmagens que Caien mandou para ela
sobre o encontro de Kaiser com o vendedor de escravas. Sieta vira a tela para
mim quando ela aperta o botão, mostrando o vídeo pausado, onde uma
mulher está de frente para o Dromedário, bebendo um drinque e usando um
grande casaco branco de pele, tendo Kaiser parado ao seu lado.
— Valéria estava lá, naquela noite... — Sieta fala e me olha, confusa.
— Ela participou da reunião de Kaiser, junto com o mercenário do mercado
clandestino. Droga, eu não vi a filmagem completa, estava tão atordoada com
a morte de Sebastian, que não assisti ele todo! Veja, Valéria está aqui, ela
apareceu no final da gravação.
Sieta ergue o rosto e olha para os papéis bagunçados, me entregando o
tablet.
— Mabel esteve aqui, ela já sabe sobre o orfanato? — Sieta se cala e
vira para mim, me olhando preocupada, se calando quando olha para a folha
que entrego a ela.
— Ela já sabe de tudo! — Respiro fundo e esmago meus dedos em
volta da merda do tablet, vendo a face de Valéria, antes de esticar meu braço
e devolver o aparelho para ela.
— Ela pediu Gomorra — Sieta murmura e me faz olhá-la, lendo a
folha de papel.
— Preciso falar com ela, Mabel deve estar com tia Yelena... — Viro e
ando apressado para a porta.
— Mamãe estava comigo, Greg, todos estavam na mesa do café da
manhã — Sieta fala, baixo, me fazendo virar e olhar sua face. — Ela não está
com a gente, pensei que estava aqui com você...
Meu corpo já está em movimento, saindo do quarto. Preciso encontrar
Mabel.
CAPÍTULO 33
OS ESCOMBROS
Ginger Roy

— Nada ainda? — Baby pergunta para Sieta quando ela entra na sala.
— Não, já reviraram a propriedade e nada dela aparecer — Sieta nos
responde, esfregando sua face. — Czar está a ponto de cometer uma loucura
se ela não aparecer. Por sorte, Jonathan está por perto, para conseguir
controlar os instintos do meu primo.
— Cristo, mas como ela saiu daqui com tantos seguranças fazendo a
ronda da casa? — Baby senta no sofá ao meu lado, falando nervosa.
— Ramsés disse que os seguranças não acharam rastro algum da fuga
dela...
— Talvez, o lago... Se ela souber nadar, pode ter muito bem cruzado
ele... — Olho para Baby e me mantenho em silêncio, ouvindo a conversa das
duas.
— Acho que não, Mabel morreria congelada antes mesmo de chegar
na metade, de tão fria que a água está essa época do ano — Sieta murmura,
abatida, e caminha para a mesa do bar ao canto, se servindo de uma vodca.
Minha cabeça se ergue e fico parada na direção da janela, olhando a
paisagem enquanto sinto aflição com o desaparecimento da jovem. Era perto
das nove horas quando Sieta desceu e entrou na sala de estar, avisando para
Jonathan que a menina tinha sumido. Eu fiquei preocupada com ela. Já se
passaram quase oito horas do seu desaparecimento e ninguém a encontrou.
Czar está completamente fora de si, a buscando em todos os cantos. Ele saiu
junto com Jonathan e Ramsés e foi para a galeria onde a senhorita Shot
trabalha. Depois passariam no apartamento dela, antes de irem para Sodoma.
Baby, a tia de Czar e Sieta reviraram toda a casa, mas nenhum sinal de
Mabel.
— Acha que alguém a pegou? Morgana ou esse homem que você me
contou? — Baby me faz olhar para ela quando ela pergunta, assustada, para
Sieta.
— Eu não acho provável, Mabel está assustada, não confiando em
ninguém, ela viu todas as anotações de Czar no dossiê de Ramsés. Talvez
pense que Czar mentiu para ela, para a machucar, que nem o desgraçado para
quem ela foi entregue...
— O que houve com ela, Sieta? — pergunto para a prima de Czar e
tento entender o que aconteceu realmente com a jovem.
— Mabel foi adotada por uma família, que a manteve fechada dentro
de casa, a criando para dar seguimento ao que ela já aprendia no orfanato...
Ela foi entregue a alguém, Czar buscou por ele, mas é um nome falso, não
existe. — Sieta esmaga sua boca e deixa visível a expressão de ódio em sua
face. — Mas o que ele fez com ela foi cruel, a machucou, a espancou, a
violentou... Tanto que foi por conta disso que ela chegou até Greg.
Fico mais atenta, tentando entender o que Sieta está me contando.
— Ela pensava que o que corpo dela sentia era alguma coisa ruim,
algum tipo de distúrbio adquirido pelo trauma que ela vivenciou na mão
desse homem. — Sieta inala o ar e balança a cabeça para os lados. — Ela não
consegue ter limite para dor, Mabel sente necessidade por sentir dor.
— Masoquista, por isso foi atrás de Czar... — Baby sibila, baixo, e
fica perdida, olhando Sieta. — Ela desenvolveu isso por conta do que viveu
na mão dele?
— Não é muito comum para uma pessoa que passou por um trauma
como esses querer o reviver, mas ainda assim pode acontecer — murmuro,
pensativa. — Cada cérebro reage de um jeito diferente...
— Só que Mabel não queria reviver, entende? Ela não buscou Greg
para ele machucá-la da forma que aquele verme fez. Ela apenas não
compreendia que não era o trauma.
— Mas sim como ela foi educada — finalizo por Sieta, tentando
imaginar como ela deve ter se sentido confusa e perdida, sem entender o que
sentia.
— Eu tenho medo de imaginar o que Czar é capaz de fazer se ela não
aparecer. — Sieta solta um longo suspiro e senta no sofá à nossa frente. —
Ele jamais a machucaria, foi um tolo em mentir para ela. Mas ainda assim
nunca faria mal algum, mas ele pode fazer mal a ele mesmo se não a
encontrar.
— Muita coisa de uma vez acontecendo — Baby murmura e olha
Sieta. — A morte do amigo, descobrir todas essas coisas... Czar apenas
precisa dar um tempo para ela compreender...
— Nunca o vi assim, Baby, nunca vi Czar tão fora de si...
— Eu sei como se sente, também já senti medo desse jeito. Uma vez,
quando Gim sumiu e Jonathan achou que ela tinha partido, ele só faltou
destruir aquela ilha toda, atrás dela... — Baby fala, baixo, e me dá um sorriso
fraco. — Por sorte, ela estava por perto...
Fico em silêncio, recordando disso, lembrando de quando Freire
contou sobre a monstruosidade que Sonja fez a Roy. Eu apenas corri, fugi,
me sentindo perdida e assustada. Ergo meu olhar e encaro a janela, olhando
um ponto distante.
— O que tem lá? — pergunto para Sieta e me levanto, caminhando
para a janela e estreitando meu olhar, tentando ver o que tem lá longe, entre
as árvores.
— Era uma casa de barcos, agora é só escombros. Os seguranças
deram uma olhada por lá, mas não viram nada... — Sieta me responde, baixo.
— Cristo, queria apenas entender como ela fugiu sem ninguém a ver!
Estávamos todos aqui, ela tinha que ter passado pela porta grande para chegar
até a saída... Nem os guardas a viram sair pelo portão.
Me aproximo ainda mais da janela e olho os escombros distantes. Um
pequeno brilho forte se faz lá dentro, como um reflexo prata quando o sol
bate entre as madeiras.
— É porque ela não saiu... — murmuro para mim mesma e dou um
sorriso de alívio.
— O que disse, Gim?
— Que vou sair um pouco, respirar o ar, ficar trancada aqui dentro
está me deixando mais angustiada ainda. — Sorrio e ando apressadamente
para fora da sala.
— Espere, não quer que eu vá com você? — Baby levanta e anda
atrás de mim. Viro e seguro seu pulso, olhando para a loira fatal à minha
frente, com sua expressão preocupada.
— Prefiro que fique. — Faço um sinal com a cabeça na direção do
sofá, e depois para a janela.
Baby vira sua face e observa a grande janela, olhando para o mesmo
rumo que eu estava.
— Ela...
— Não tenho certeza. — Abaixo meu tom de voz e ergo minha mão,
tocando a face de Baby e a fazendo me olhar. — Fique com o celular,
qualquer coisa eu te chamo...
Baby pisca para mim, consentindo com a cabeça, enquanto saio da
sala e ouço ela conversando com Sieta.

Ergo minhas mãos à frente do meu rosto para fazer sombra,


encarando o que devia ser um imóvel, completamente destruído pelo fogo,
com madeiras pretas queimadas, sendo agora apenas escombro. O grande
lago perto dele faz o vento ser mais gelado a cada aproximação da casa do
lago queimada. Viro meu rosto e dou uma olhada em volta, notando a mata
fechada que vai dos escombros de madeira até próximo ao palacete. Sieta
disse que a janela da sacada do quarto estava aberta. Não era tão alto, se
Mabel tivesse pulado por ela, poderia muito bem ter se escondido entre a
mata e vindo para cá sem nenhum dos seguranças perceber. Giro meu rosto
para frente e ergo meu pé, andando lentamente, passando por cima de uma
madeira caída. Escuto o som dos pássaros dentro da estrutura deteriorada,
enquanto caminho lentamente, os vendo bater suas asas e indo para o lago.
A grande vista do lago é de tirar o fôlego, tendo apenas árvores e
montanhas do outro lado. Solto um grande suspiro e levo uma mão para
minhas costas e outra para minha barriga, alisando lentamente.
— Se importa se eu me sentar um pouco — falo, alto, caminhando
para umas madeiras caídas em pilhas, dando um sorriso. — Depois que fiquei
grávida, o que mais aprecio é um lugar para poder sentar.
Sento lentamente, agradecendo por ter um cantinho para eu poder
descansar da caminhada que fiz do palacete até aqui.
— Jonathan até ri de mim, caçoando por eu sempre procurar um lugar
para sentar quando saio de casa. — Estico minha perna e fecho meus olhos,
tendo apenas o som dos pássaros piando ao longe, sobrevoando o lago. —
Mas ele é o primeiro a me obrigar a descansar toda hora.
Abro meus olhos e viro meu rosto para o canto escuro de uma parede
que ainda ficou de pé, com algumas madeiras apoiadas nela, deixando apenas
um estreito vão entre as madeiras de pé e a parede, onde julgo que os
seguranças não olharam com atenção. Pela estatura dela, poderia facilmente
se esconder ali.
— Não tive a oportunidade de conversar direito com você, Mabel, eu
sou Ginger, a esposa de Jonathan Roy — suspiro, olhando o local. — Deve
ter sentido frio por aqui, não é?! Ainda não me acostumei com essa
temperatura baixa da Rússia. — Esfrego meus braços e vejo a fumaça branca
de ar sair da minha boca enquanto falo. — Jonathan só faltou incendiar o
quarto, de tanta lenha que jogou na lareira, para mantê-la acesa a noite inteira,
para me esquentar, mesmo eu dizendo que não precisava... Às vezes, sinto
vontade de bater na cabeça dele, de tanto que ele tenta me controlar, cuidando
de cada passo que eu dou. Mas do jeito dele, que poucos conhecem, ele cuida
de mim.
Dou uma pausa e aguardo, para ver se consigo achar alguma brecha
para ouvir a voz dela ou sua respiração.
— Ser casada com um mestre não é fácil, eles precisam estar a todo
instante no controle, e isso é irritante, mas ao mesmo tempo é bom —
murmuro e abaixo meus olhos para minha barriga. — Todos podem pensar
que temos que fazer de tudo para agradá-los, para obedecer suas ordens... Só
que é o contrário. Tudo que Roy faz é para mim, cada ação demonstra seus
cuidados e amor do jeito dele, mas ainda assim amor.
Sorrio e tombo minha face para o lado, acariciando minha barriga.
— Quando casei com Roy, eu sabia que não teríamos filhos. Ele não
pode ter filhos, e isso nunca foi um problema para a gente — suspiro e sinto
meu sorriso ficar fraco. — Nunca contava para ele, que dentro de mim eu
queria ser mãe, sempre desconversava, mudava o assunto, dizendo que estava
tudo bem, que nós dois nunca perderíamos nosso amor só porque não iríamos
ter filhos. Mas Jonathan sabia, antes mesmo de mim, que algo estava faltando
na minha vida, que uma lacuna não tinha sido preenchida. Então um dia,
quando eu voltei para casa depois do serviço, Roy estava me esperando. Ele
tinha uns documentos com ele, de uma clínica de reprodução artificial.
Jonathan estava há meses estudando sobre isso, de encontrar uma forma da
gente construir uma família... Baby, a minha cunhada, foi quem se propôs a
fazer a doação do esperma para nosso filho.
— Por que sua cunhada fez doação de esperma? — Sorrio ao ouvir a
voz baixa, perguntando para mim, vindo do cantinho da parede.
— É uma longa história, mas para resumir, Baby tem um pênis que
funciona muito bem, diga-se de passagem. — Rio e fecho meus olhos,
balançando minha cabeça para os lados. — Sei que parece muito louco
imaginar que minha cunhada foi quem doou o esperma para gerar meu filho e
do Roy, mas a gente se ama, e tanto Roy como Baby queriam me ver felizes.
Não estou contando isso para poder aliviar o controle que Jonathan tem sobre
mim, até porque ele também tem suas cruzes, já tivemos que lidar com alguns
demônios do passado. Mas estou te contando isso para que saiba que um
mestre ama de forma intensa, ele sempre coloca a nossa felicidade e bem-
estar acima do dele, mesmo às vezes confundido nossa capacidade de poder
suportar e lidar com a verdade.
Me calo e olho para o lugar onde ela está, aguardando um momento
para ver se ela sai, mas apenas o silêncio predomina novamente.
— Czar é um homem bom, Mabel. Do jeito dele, igual ao Roy,
controlador. Julgo que possa ser até pior, mas ainda assim ele é bom —
sussurro e dou um sorriso. — Quando chegou até nós que ele iria ser julgado
pelos outros conselheiros e poderia perder sua cadeira em Sodoma, por ter
machucado você nas regalias, dando o lugar dele para seu meio-irmão...
— O senhor Gregovivk nunca me machucou... — ela responde de
forma triste, me deixando ouvir um suspiro. — Por que o julgariam por isso...
— Você fugiu aquela noite...
— Mas não por isso, ele nunca me machucou — Mabel me corta,
falando tristemente. — Não quero que ele perca sua cadeira por causa de
mim...
— Eu pensei que você sabia sobre o julgamento de Czar. — Mordo
meus lábios, não sabendo se fiz o certo em contar para ela. — Não tinha
intenção de trazer mais informações para você, apenas pensei que queria
alguém para conversar. Sua cabeça está cheia sobre o que descobriu, ainda
tendo o luto da perda do seu amigo tão recente... Merda, sinto muito, Mabel!
Levanto apressadamente e olho para o local onde ela está, dando um
passo à frente e gesticulando nervosa com minhas mãos.
— Czar não quer o seu mal, ele quer proteger você, Mabel. Jamais lhe
causaria qualquer sofrimento, é visível o olhar perdido que ficou quando não
encontrou você — falo rapidamente, tentando achar as palavras certas para
tentar convencê-la de que Czar nunca a machucaria. — Sei que pediu
Gomorra, e isso parou o jogo, mas não sinta raiva dele, o deixe...
— Não parei o jogo porque estou com raiva do senhor Gregovivk...
— Paro de andar, com Mabel falando de forma tão triste, soltando um soluço.
— Não? — Fico confusa, sem entender o que ela fala. Me aproximo
um pouco mais, até ficar perto das madeiras e esticar meu rosto, olhando para
o vão entre a parede e as toras.
A pequena mulher está encolhida, abraçada às suas pernas, com sua
cabeça encostada em seus joelhos.
— Mabel, por que fugiu? — pergunto, baixinho, e estico meu braço,
tocando em seu ombro.
— O senhor Gregovivk vai sentir nojo de mim quando souber que
deixei o irmão dele me tocar. — Sua cabeça se ergue, com seus olhos
inchados pelo choro. — Preferi eu mesma parar o jogo, antes dele me
repudiar...
Respiro rápido e endireito o meu corpo, sentindo meu rosto ficar frio
e meus dedos trêmulos enquanto tiro o celular do bolso da calça e disco para
Baby. Não precisa nem de dois toques antes de eu ouvir a voz dela.
— Você a encontrou? — ela me pergunta, nervosa, do outro lado.
— Baby, onde está Czar? Temos um problema! — falo, mais aflita
ainda do que Baby.
— Ramsés acabou de avisar à Sieta que eles estão a caminho do
clube de Sodoma, a reunião do conselho vai começar... Por quê?
— Merda! — Fecho meus olhos e esfrego minha face. — Temos que
ir para lá, agora, encontrei Mabel. E, Baby, ela precisa participar desse
conselho.
CAPÍTULO 34
A DESTRUIÇÃO DE SODOMA
Czar Gregovivk

— Ela foi encontrada. — A voz baixa de Ramsés soa ao meu lado, me


fazendo olhar na mesma hora para ele. — Baby acabou de me mandar uma
mensagem dizendo que está vindo para cá com o marido dela, e me contou da
menina.
— Onde ela estava? — pergunto, nervoso, sentindo o ar voltar para os
meus pulmões ao saber que acharam Mabel.
— Na sua propriedade. — O egípcio dá um tapa em meu ombro e
sorri para mim. — Viu, lhe disse que ela nunca passou pelos homens, nada
passa por eles.
— Preciso ir até ela, Ramsés... — Levo minhas mãos aos bolsos da
calça e olho Jonathan, que está ao longe, do outro lado do salão, conversando
com Hu Li e Santana.
— Você irá, depois que esse circo acabar. — Ele respira fundo e
passa seu olhar em volta. — Agora, precisa se concentrar, manter sua mente
focada aqui. Não tem com o que se preocupar, mandei a guarda inteira ficar
próxima à casa, vigiando-a. Praticamente todos os meus homens estão com
ela, menos Raja, que está aqui.
Respiro fundo, sabendo que Ramsés tem razão, mas ainda assim
desejo ir até Mabel e olhar em seus olhos, tê-la em meus braços.
— Vocês irão se acertar. Vai ter tempo para conversar com ela depois
que desmascarar Morgana, sua submissa vai entender...
— Ela pediu Gomorra, Mabel não é mais minha submissa — falo,
baixo, dilatando minhas narinas enquanto sugo o ar com força.
— Ela escreveu em uma folha, não falou cara a cara, diante de
testemunhas. — Ele retira um charuto do bolso interno do paletó e o acende.
— Mas ainda assim é válido, ela anulou o jogo. — Fecho meus olhos,
recordando de cada traço do seu rosto, enquanto dormia em meus braços na
noite passada.
— Mas ela não sabe disso. — Ramsés ri e dá uma batida do seu
ombro no meu. Abro meus olhos e viro minha face para ele, o encontrando
rindo para mim. — Use isso ao invés disso, meu amigo. — Ele aponta da sua
cabeça para seu coração. — Por Rá, é por isso que nunca verão eu me dobrar
para uma companheira, tem coisa mais triste que ver um mestre de coleira?
— Eu também pensei nisso quando vi a situação de Jonathan junto da
Ginger, mas Mabel mudou meus pensamentos quando entrou em minha vida.
— Em minha cultura, homens não se dobram por mulheres, Czar.
Nunca verá um beduíno se ajoelhar diante de um camelo — ele fala
seriamente e solta a fumaça do seu charuto. — Temos regras e disciplina, se
deixar ficar cego por uma mulher é sinônimo de fraqueza. Quando Ramsés de
Naca tiver uma companheira, será porque eu escolhi a dedo uma mulher
obediente, dócil e calma, que acatará minhas ordens. Prefiro um camelo
brando, não um cavalo selvagem que irá destruir minha tenda. Deveria ter
procurado por uma mulher quieta e obediente, meu amigo russo.
Observo ele por alguns segundos, olhando o astuto egípcio sereno,
que esconde seu gênio forte por trás dos seus olhos calmos. Ramsés não é o
tipo de homem que gostaria de testar os seus limites, consegue ir de uma paz
de espírito a uma grande explosão de ira em poucos segundos. Presumo que
uma mulher que não fosse sossegada, como ele almeja ter, o tiraria da sua
zona de conforto, fazendo seu lado agressivo ser mais predominante que o
calmo. O que julgo que seria interessante de ver, já que o astuto egípcio
sempre gosta de se gabar por manter a calma em qualquer circunstância.
— Vou apreciar conhecer o poço de silêncio e obediência quando
você o encontrar. — Rio e ergo minha cabeça, olhando a mulher alta que
caminha para o centro do salão, com um vestido longo e branco. — Morgana
chegou.
Cerro meus lábios, confrontando seus olhos com os meus. Vejo o
sorriso cínico se abrir em seus lábios, enquanto ela anda em minha direção.
— E não veio sozinha, julgo ser o sangue do seu sangue aquele atrás
dela — Ramsés fala, baixo, ao meu lado.
Desvio meus olhos de Morgana e encaro Kaiser, meu meio-irmão,
que anda feito uma cobra peçonhenta, silenciosa, à espreita de dar um bote.
— O que esse verme está fazendo aqui?! — Esmago meus dedos no
bolso e respiro mais rápido, sentindo ódio.
— Julguei que não seria errado convidá-lo para vir. — A voz dela fala
alta, sorrindo para mim quando para na minha frente. — Afinal, logo Kaiser
ocupará a cadeira que lhe pertence por direito.
O sorriso frio nos lábios do meu irmão se mantém imparcial,
enquanto ele me encara e se posiciona de pé atrás da cadeira com o nome de
Morgana.
— Vou ter o prazer ainda de lhe ver apodrecendo em uma cela escura,
onde eu mesmo vou ter o privilégio de lhe jogar, Morgana, enquanto sua
alma asquerosa estiver indo para o inferno se encontrar com a de Freire! —
rosno entre os dentes e retiro minhas mãos do bolso, esmagando-as e
fechando-as em punho. — Vai pagar por tudo que fez.
— O que eu fiz? Além de apontar o seu erro? Você é fraco, Czar, e
seu pai estava errado quando escolheu o filho incompetente para ficar no
lugar dele... — Prendo seu pulso em minha mão quando seu braço se estica
com a intenção dos seus dedos alisarem meu queixo. — Está machucando
uma conselheira diante de uma reunião, Gregovivk?
— Vou fazer muito mais que machucar você, Morgana! Esta noite! —
Esmago minha boca com a mesma força que prendo meus dedos em seu
pulso.
— Tanto potencial negado, poderíamos ter nos divertido muito se
tivesse ficado comigo, Czar... — A solto com nojo quando ela solta um baixo
gemido, apreciando a marca dos meus dedos em sua pele clara. — Seu pai
deveria ter me deixado cuidar de você depois da morte da sua mãe, lhe
educaria para ser um verdadeiro mestre.
— Não fale da minha mãe, cadela! — Dou um passo à frente e a
fuzilo com meus olhos, sentindo vontade de esmagar seu pescoço e o quebrar
feito um graveto em minhas mãos. — Não ouse falar sobre cuidar e da minha
mãe na mesma frase, não passa de uma cadela fria, que não cuidou nem da
própria cria...
— Do que... — Morgana tem sua pele branca ficando mais pálida,
com seus olhos se arregalando, me olhando confusa.
— SENHORES E SENHORA! — A voz alta de Adrien chama a
todos, quando ele entra junto com Oliver e anda para o centro da sala, indo
para a cadeira dele.
Morgana me olha mais uma vez, antes de virar e ir para sua cadeira,
se sentar nela.
— Você viu a reação dela? — Ramsés fala, baixo, e me olha sério
quando nos viramos e caminhamos para nossas cadeiras. — Por um rápido
momento, era como se ela estivesse surpresa...
— Eu percebi! — respondo, me sentando, olhando todos indo para
seus lugares.
Mantenho meus olhos em Morgana, a vendo silenciosa, encarando o
chão, enquanto o verme nojento de Kaiser está parado atrás dela, com suas
mãos no bolso e sua face erguida para mim. Mantenho meus olhos presos aos
seus, o encarando com a mesma raiva que ele me olha, não desviando por um
segundo sequer, até meu meio-irmão quebrar o contato visual e girar sua face
para o outro lado.
— Baby chegou — Ramsés murmura, sentando-se ao meu lado. Ergo
meus olhos para cima e vejo Baby parada ao lado do seu marido, perto da
barra de proteção.
— Nos reunimos aqui neste dia, por conta de um fato alarmante que
vem assombrando Sodoma. — Oliver se levanta e fala seriamente, passando
seus olhos por cada um, tendo sua face taciturna. — Um conselheiro foi
morto e no outro dia seu submisso foi assassinado — Oliver fala e aponta
para a cadeira vazia de Sebastian, antes de abaixar sua mão. — E isso tudo no
mesmo mês que um conselheiro foi acusado de machucar uma visitante
dentro da sua casa. A casa onde nos reunimos hoje.
Sinto os olhares de todos pousando em mim, enquanto encaro
Morgana.
— Como deve ser do conhecimento de alguns, uma antiga
participante de Sodoma se matou em Nova York, Freire. — Oliver se cala e
olha a face de todos. Ergo minha cabeça e olho para ele, o pegando me
estudando com serenidade. — E tudo isso em tão pouco tempo... Me
pergunto se mais alguém quer contar algo para os outros conselheiros que
estão aqui, antes que a investigação particular feita por Sodoma finalize...
— Há algo estranho no fato do rapaz morto, o submisso de
Sebastian... — Morgana aponta para a cadeira vazia do conselheiro morto,
ficando pensativa. — Ser o mesmo jovem que trouxe a essa casa a garota que
fugiu das regalias, na noite que o conselheiro Czar tocou nela...
Meu rosto gira na mesma hora para Morgana, compreendendo
exatamente o que essa cadela está insinuando, jogando a informação no ar,
dando a entender que foi eu quem poderia ter matado tanto Sebastian como
Macro.
— Conselheiro Czar, isso é verdade? — Oliver pergunta, me fazendo
olhar para ele.
Esmago meus dedos no braço da cadeira e paro meus olhos em
Adrien, que está sentado, me encarando, sabendo que não posso mentir,
porque naquela noite ele foi ao meu escritório. Adrien estava lá quando Sieta
invadiu a sala e contou que Mabel tinha vindo acompanhada de um rapaz que
estava aos cuidados de um conselheiro da Itália. Ela não chegou a finalizar a
frase, mas nada passa despercebido do radar de Adrien. Se eu me negar a
confirmar a relação de Mabel com Macro, serei desmentido pelo juiz.
— Sim, é verdade — respondo, rouco, e retorno meus olhos a Oliver.
— Mas não matei Sebastian e muito menos seu submisso. Como todos aqui
sabem, eu prefiro uma morte mais quente a um simples tiro rápido e frio.
Minha cabeça se move, com meus olhos pousando em Morgana e no
meu irmão, sentindo o material se estalando a cada aperto forte que meus
dedos dão no braço, enquanto imagino ser o crânio do meu irmão.
— Sebastian morreu para esconder sujeiras maiores do que essa
porcaria de acusação falsa que fizeram contra mim...
— Nega a acusação de ter machucado uma convidada dentro da sua
casa, conselheiro Gregovivk? — Adrien me pergunta, sério.
— Por que então a menina saiu fugindo de você, aos prantos,
assustada, completamente amedrontada? Nega ter a tocado contra a vontade
dela? — Olho para Morgana e vejo sua boca tremer, enquanto ela me olha
com ódio, um ódio diferente do que ela sempre tem de mim, algo pessoal,
como se realmente pensasse que eu machuquei Mabel, e não porque quer me
tirar de Sodoma.
— Você nega essa acusação feita por Morgana, conselheiro Czar? —
Adrien me pergunta de forma calma.
— Nego, não a machuquei! — falo alto e mais firme, desviando meus
olhos dela e retornando para Adrien. — Não toquei nela contra a vontade
dela, muito menos a machuquei.
— Eu vi ela fugir, meu submisso viu, assim como as esposas de
Adrien e o próprio Adrien. — Morgana treme seus lábios enquanto aponta
para mim com sua face vermelha de raiva. — Cinco pessoas a viram. A
menos que todos tiveram uma fantasia em conjunto de uma mulher assustada
sair correndo de onde você estava, acredito que o que eu vi seja real.
— Eu não a machuquei! — rosno com raiva e sinto minha boca
espumar de ódio, olhando para essa falsa maldita.
— Ao centro, Czar — Adrien chama por mim e aponta o centro do
salão.
Levanto e caminho, com meus olhos presos em Kaiser, antes de me
virar e ficar de frente para todos eles.
— Conselheiro Gregovivk, além da sua palavra negando a acusação,
tem alguma prova ou testemunha para levantar a seu favor? — Adrien olha
para mim e me faz a pergunta em tom calmo. — Onde está a menina?
— Eu não sei, nunca mais a vi depois daquela noite — falo, sério, o
encarando e mentindo, mesmo ciente que Adrien saiba disso.
— MENTIROSO! — Morgana grita mais alto e se levanta, apontando
para mim. — Está jogando Sodoma com ela...
— E como a conselheira Morgana sabe disso? — Hu Li é quem
pergunta, a confrontando e mantendo seus olhos presos em Morgana.
— Porque Macro, o submisso assassinado, era o submisso dela, antes
de ser o de Sebastian. — Viro meu rosto e a fuzilo, mantendo meus olhos
presos aos seus. — E não era só essa ligação que os dois tinham. Há quanto
tempo fazia ele ser sua marionete, Morgana?
— Estamos aqui para julgar você, não a mim, Czar! — ela fala,
amarga, e alisa sua roupa enquanto se senta, mantendo seus olhos em mim.
— Essa informação não era do conhecimento do conselho. — Santana
olha para Jonathan e depois para mim, cruzando suas pernas. — Você e
Sebastian estavam dividindo o brinquedo, Morgana, não sabia que gostava
disso...
— Pelo que sei, não é crime, Santana, não querer mais um submisso e
deixar ele ficar com outro mestre. — Ela empurra seus cabelos para trás e dá
um sorriso falso para ele.
— Não, não é. — Oliver é quem fala, sério, olhando para mim. —
Mas é crime assassinato. Czar, há algo mais que queira nos contar?
Respiro fundo e fecho meus punhos, enquanto tenho minha mente
calculando os riscos de contar a verdade agora, diante do conselho,
desmascarando Morgana e deixando os outros saberem sobre a ordem das
Messalinas, sem ter mais Macro como prova do que ela e Freire andavam
fazendo. Ou manter Mabel em segredo, até eu e Ramsés conseguirmos
encontrar as outras submissas alfas escondidas.
— Eu tenho! — A voz alta atrás de mim, se faz séria, enquanto o som
do seu salto alto bate no chão, com ela andando apressada.
— Baby! — Fecho meus olhos e nego com a cabeça, não entendendo
porque ela se apresentou, já que ainda não é o momento dela.
— Czar passou anos protegendo os nomes de vocês, até o seu,
Morgana! — ela fala alto e aponta para a mulher, parando ao meu lado e
encarando Adrien.
— O que pensa que está fazendo...
— Oh, cale a boca, sua vadia! — Baby corta Morgana e a encara. —
Seja uma cadela obediente e espere sua vez de latir!
Vejo Jonathan reprimir um riso enquanto olha sua irmã. Viro meu
rosto e encaro Baby, arqueando minha sobrancelha e a olhando, perguntando
em silêncio o que ela pensa que está fazendo.
— Não fica zangado, apenas confia em mim! — ela sussurra para
mim e dá uma piscada, retornando a olhar para Adrien.
— Tem alguma coisa para falar a favor do conselheiro Gregovivk,
Baby? — o juiz pergunta seriamente para ela.
— Bom, teria várias coisas para falar, como o fato dele ser cabeça-
dura e burro, também como ele consegue ser mais irritante que Jonathan... —
Ela ergue seu dedo e aponta para seu irmão. — Assim como ele tem um bom
coração e é um verdadeiro amigo que encontrei em Sodoma, o qual estimo
muito... Mas creio que o que eu tenho para falar, não irá direcionar o rumo
dessa reunião, só que...
— Então por que está atrapalhando? — Morgana a interrompe,
falando amarga.
— Já mandei calar a boca, cadela! — Baby rosna mais alto e nega
com a cabeça. Respiro fundo, olhando para Adrien. — Como estava dizendo
antes de ser interrompida, eu não tenho nada para falar...
Mantenho meus olhos em Adrien e o vejo se levantar junto com os
outros conselheiros. O rosto de Jonathan está começando a ficar vermelho,
com a boca dele se esmagando, fechando seus punhos e olhando bravo para
Baby. Olho para sua face sem entender o que está causando essa reação nele.
— Mas ela tem. — Baby dá um passo para o lado, se distanciando de
mim, enquanto ouço os murmúrios dos conselheiros.
Viro no mesmo instante, ao notar que não é para mim e nem para
Baby que eles olham. Seu perfume entra em minhas narinas antes mesmo dos
meus olhos a encontrarem. Respiro fundo, como se fogo estivesse correndo
por dentro dos meus pulmões, e a vejo com as costas encurvadas para frente,
ajoelhada no chão, da forma que ela fez para mim dentro do seu apartamento,
com seus braços esticados para frente, tendo uma mão em cima da outra, em
uma perfeita réplica viva da pequena estátua, da submissa que mostrei para
ela em minha saleta na segunda vez que ela entrou em Sodoma. Mabel
silencia a todos, mostrando para eles exatamente o que eu tentava esconder.
Uma perfeita submissa alfa, silenciosa e entregue, com suas mãos abertas,
esperando pelo seu mestre.
— O que fez, Baby?! — rosno com raiva e viro meu rosto para ela.
— Eu precisava achar um jeito de chamar a atenção de todos de uma
única vez — ela fala apressadamente e dá um passo para trás, se afastando de
mim. — Nada melhor que uma submissa para calar a boca de uma sala
repleta de mestres. E eu acho que funcionou! — diz e morde o canto da boca,
olhando para os outros.
Minha cabeça se move, enquanto vejo eles ficarem mais atentos à
Mabel, ajoelhada no chão, em sinal de rendição.
— Já não vimos essa mesma cena alguns anos atrás... — Hu Li
caminha lento na direção de Mabel, sem desviar seus olhos dela. — Uma
submissa alfa?
— Não se atreva, Hu Li, a menos que queira perder sua mão! — falo
com raiva e ando na direção dele, ficando entre ele e ela quando o braço dele
se estica com a intenção de tocar em Mabel.
— O que andou fazendo, Czar? — Ele tomba seu rosto para o lado,
tentando olhá-la.
— Isso foi proibido! — um dos conselheiros antigos fala, nervoso,
olhando para Oliver.
O burburinho de conversas aumenta, com todos ficando nervosos e
com os olhos pregados nela.
— Levante-se, criança! — A ordem alta faz todos silenciarem e me
faz fechar meus olhos quando reconheço a voz de Oliver.
Já estou parado na frente dela, a deixando longe dos seus olhos,
levando minha mão para trás do meu quadril e o encarando.
— Traga ela para mim, Czar! — Ele estica sua mão e chama por ela.
— NÃO! — rosno com raiva, o encarando e negando com a cabeça.
— Baby, tire-a daqui, agora!
Oliver estreita seu olhar, como se estivesse duvidando que eu vou
mantê-lo longe dela.
— Está desafiando minha ordem, Czar...
— Estou dizendo que não vou deixar você chegar perto dela! —
Retiro a arma da cintura e a prendo em meus dedos, deixando minha mão
parada ao lado do meu corpo. — Antes mesmo de querer dar uma ordem ao
seu segurança, você e ele já irão estar mortos, Oliver.
Viro meu rosto para Ramsés e faço um gesto de cabeça, para que ele a
tire do salão. Mas o vejo parar e olhar perdido para trás de mim.
— Meu nome é Mabel Shot, e eu vim para dar meu testemunho. —
Ouço as palavras de Mabel saindo baixas, mas em um tom audível, para
todos escutarem.
Me viro e olho perdido para ela, a vendo com suas costas retas agora e
com suas mãos em seus joelhos, olhando para o chão.
— Ela não é minha testemunha, me nego a deixá-la falar! — Olho
para Adrien e nego com a cabeça.
— Sabe por que está aqui, criança? — Adrien fala com ela e caminha
lento em nossa direção, parando diante de mim. — Se afaste, Czar, não sou
uma ameaça para ela.
— Sei que está bravo, mas confia em mim... Deixe-a falar! — Baby
murmura ao meu lado e toca em meu ombro, com seus dedos trêmulos.
Viro meu rosto e a encaro, vendo sua face vermelha e ela balançar sua
cabeça para frente e para trás. Aperto com mais ódio a arma e dou um passo
para o lado, o deixando vê-la. Ergo meu rosto e encaro Morgana, que ainda
está de pé, com seus olhos presos em Mabel e seus olhos ficando
avermelhados, como se fosse chorar. A face de Kaiser se mantém séria, com
o olhar dele congelado nela. Adrien estica sua mão e para na frente de Mabel.
A vejo segurar os dedos dele lentamente, enquanto ele a levanta, com a face
dela permanecendo baixa, encarando o chão.
— Está segura aqui, ninguém lhe fará mal. — Adrien solta seus dedos
e a olha. — Não precisa ter medo, apenas conte a verdade. Gregovivk está
sendo acusado de machucar você, Mabel, isso é verdade? — O tom de voz de
Adrien é calmo, enquanto pergunta para ela.
— Sim. — Ouço o murmúrio saindo dos seus lábios, com os dedos
dela se esmagando ao lado do corpo.
— Mabel... — sussurro, perdido, não entendendo porque ela está
confirmando.
— Confirma que ele lhe tocou sem sua permissão? — Adrien vira seu
rosto para mim e me encara com ódio.
— Sim. — Mabel encolhe seus ombros e esmaga mais forte seus
dedos no vestido. — Ele me violentou, espancou por horas, me torturando até
eu desejar querer estar morta, para depois voltar a me estuprar
consecutivamente, repetindo tudo, como um ciclo sem fim.
Vejo Santana levantar com ódio, causando a queda da sua cadeira
para trás, olhando para ela e depois para mim.
— Não, não, Mabel... — Baby segura meu braço quando tento dar um
passo à frente, para me aproximar dela.
— Czar, espere! — Baby diz, nervosa, tirando a arma da minha mão.
— Ele me amarrou, me torturou enquanto marcava o meu corpo, o
cortando com um canivete, sendo só mais um maldito verme que destruiu a
minha vida. — Sua cabeça se ergue e ela tem seus olhos vermelhos e
lágrimas marcando sua face. Mabel levanta sua camisa até a altura do seu
seio, deixando todos verem sua cicatriz, enquanto mantém seus olhos fixos
em Adrien. — Mas não foi o senhor Czar que fez isso comigo.
Ela vira sua face para mim, com um sorriso quebrado em seus lábios
trêmulos, enquanto segura o choro.
— Mas acabou de confirmar que foi Gregovivk! — Morgana levanta
e olha para a barriga de Mabel, com a boca dela se fechando em raiva ao
encarar a cicatriz.
Mabel balança sua cabeça em positivo e desvia seus olhos dos meus,
murmurando um “eu sinto muito” com seus lábios para mim antes de virar
sua face e encarar Morgana.
— Quem fez isso com você? — Morgana dá um passo à frente e olha
a face de Mabel. — Quem machucou você, minha criança...
A voz dela falha quando ela encara os olhos de Mabel, mordendo sua
boca e prendendo o choro.
— Gregovivk. — Ela ergue seu dedo e aponta para trás de Morgana.
— Kaiser Gregovivk.
Meus olhos param em Kaiser na mesma hora, o vendo se afastar
lentamente, andando para trás.
— Está louca, nunca te vi na minha vida, garota! — ele fala, sério,
negando com a cabeça. — Isso é mentira de Czar com essa mulher, para fugir
do seu julgamento.
— Me pediu uma vez que dissesse seu nome, e eu me neguei. Me
garantiu que eu pertencia a você. Mas agora escute minha voz dizendo, Nate.
Só que não falando o nome falso que você se apresentou a mim, mas sim o
seu verdadeiro. — Ela abaixa sua camisa, com sua boca se esmagando e as
lágrimas escorrendo por seus olhos. — Minha dor pertence a Kaiser
Gregovivk! KAISER GREGOVIVK ME ESTUPROU, ME ESPANCOU E
ME TORTUROU!
— Sua louca, está mentindo! — Ele volta a negar, andando para trás e
se virando, mas é parado por Santana, que já está perto dele e o segura pelo
braço.
— Indo a algum lugar, Kaiser? — o espanhol pergunta sério, o
encarando.
— Me deixe passar, não vou ficar aqui para ser acusado injustamente
por uma manobra de Czar!
— Não estou mentindo, e posso provar. — Mabel olha para o chão e
desvia seus olhos de Kaiser quando ele vira e a olha com ódio.
— Cadela mentirosa! — ele rosna mais alto, sendo contido por
Santana quando ameaça vir na direção dela.
Me afasto de Baby e puxo o braço de Mabel, a deixando perto de
mim. Seguro seu rosto e a olho, vendo sua face abaixada enquanto ergue sua
mão e toca em cima do meu peito esquerdo.
— Eu fiz uma coisa ruim, senhor — ela murmura e me faz recordar
da dor que tinha em suas palavras enquanto ela me contava. — Eu não sabia
quem ele era.
Minha cabeça se ergue para Kaiser e o encaro, vendo os olhos dele
presos nela, como um maldito predador encarando sua presa.
— Ergam a camisa dele! — falo, sério, cerrando meus lábios,
sentindo uma fúria me consumir, ao lembrar dela contando que o feriu.
Me afasto de Mabel e ando na direção dele, o vendo se debater,
tentando escapar dos braços de Santana.
— Não, não vou permitir isso! Ela está mentindo!
— Mabel feriu o homem que a torturou por um fim de semana inteiro!
— rosno com raiva e o encaro. — Se nunca a viu, não tem nada, não vai ter
ferimento algum em seu peito esquerdo.
— Acha mesmo que essa puta está falando a verdade? Não vou deixar
você erguer minha camisa por conta das mentiras de uma vadi...
A boca dele se cala quando meu punho acerta seu rosto, o fazendo
cuspir sangue. Santana o larga caído no chão. Meu joelho para em cima do
seu pescoço quando me agacho, o imobilizando. Vejo Mabel virar de costas e
esconder sua face em Baby, quando a loira lhe abraça. Morgana está parada a
poucos passos de Mabel, olhando dela para Kaiser.
— CZAR, ME SOLTE! — meu meio-irmão grita, se debatendo no
chão. Meus dedos estouram os botões da sua camisa quando puxo com raiva,
para abri-la.
A cicatriz no seu mamilo esquerdo está visível, com a parte
desfigurada e apenas um pedaço do seu mamilo. Eu não vejo mais nada à
minha frente quando tenho a confirmação de que foi Kaiser que a comprou.
Tombo em minhas pernas e me ajoelho no chão, retirando meu joelho do seu
pescoço e o vendo abaixar sua camisa, com raiva.
— Como é foder com a minha cadela obediente, irmãozinho?! —
Kaiser cospe no chão, limpando sua boca enquanto tenta se sentar. — Deve
ter sentido o mesmo prazer que eu quando comi a sua.
Minhas vistas ficam vermelhas pela ira, enxergando apenas meu
desejo por sangue, quando soco sua face com raiva, pulando em cima dele.
Desfiro mais dois golpes, mirando meus punhos no seu rosto. Estou com
tanto ódio, que nem sinto os socos dele em minha cintura.
— FILHO DA PUTA DOENTE! — grito com raiva e seguro sua
cabeça com as duas mãos, a socando no chão com força, apertando com toda
pressão meus dedos em volta dela, como se fosse um saco de merda que eu
quero explodir.
Bato novamente no chão e ouço o som seco da cabeça dele
estourando no local, enquanto ele fecha suas mãos em volta do meu pescoço.
— BASTARDO DESGRAÇADO! — Kaiser espuma pela boca,
enquanto o empurro contra o piso novamente e ele cospe uma bola de catarro
de sangue.
— Devia ter me matado há muito tempo, seu doente de merda! —
Esmago com ódio meus dedos em cima dos seus olhos, os empurrando para
baixo, como se pudesse arrebentar suas vistas.
O som do tiro sendo disparado, com todos ficando agitados e um grito
agudo de Morgana, me faz erguer minha cabeça na mesma hora, virando meu
rosto para a direção onde ela está, junto com Mabel. Morgana está com seus
braços abertos atrás de mim e de Kaiser, como se protegesse algo. A mancha
vermelha em seu peito vai crescendo, com ela tombando seus joelhos para
frente, sendo amparada por Mabel, que a segura e fica de joelhos atrás dela,
olhando a mulher deitar sua cabeça em seus braços. Baby cai ao lado delas e
olha assustada para Morgana, espalmando sua mão em cima do seu peito.
Jonathan, assim como Hu Li, sem demora, já estão perto de Baby e Mabel,
olhando para elas e retornando seus olhos para mim.
— Não devia ter feito isso, Morgana. — A voz fria que soa perto de
mim e Kaiser fala com raiva, destravando sua arma e esticando o braço em
minha direção.
Meus olhos param nos sapatos femininos parados a alguns passos de
mim, tendo a mira do revólver em minha face.
— Sai de perto do meu filho, Czar, ou juro que o próximo tiro vai
atingir sua vadia! — Valéria esmaga sua boca e olha para mim, fazendo um
movimento de cabeça.
Reconheço o mercenário que está parado ao lado dela, apontando um
revólver para Ramsés. A mão dele se ergue e gira no ar, e logo vários homens
armados começam a sair das sombras, encurralando os outros conselheiros.
— QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO, MULHER?! — Oliver dá
um passo à frente, mas é parado quando o som do tiro se faz, derrubando seu
segurança pessoal.
— Volta para seu lugar! — Valéria fala com raiva para ele e empurra
o cano da arma em minha cabeça. — Mandei soltar meu filho, bastardo!
Minhas mãos se erguem lentamente, enquanto levanto e dou um passo
para trás, mantendo meus olhos nela.
— Bom garoto, obediente assim como a puta da sua mãe! — Ela
cospe no chão com nojo e mantém sua arma em mim. — Anda, levanta, seu
inútil!
Valéria dá um chute na perna de Kaiser, o mandando se levantar.
Meus olhos dão uma rápida varredura em volta e conto sete homens armados
nos cercando. Ramsés está tranquilo, olhando e sorrindo para Yusefe.
— Fazendo um bico, meu amigo. Vejo que está cada dia mais
decadente nesse seu ramo de trabalho! — Ramsés o provoca.
— Sabe como é, nessa vida sou que nem puta. — O mercenário dá de
ombros e destrava seu revólver, erguendo-o para a cabeça de Ramsés. —
Pagando bem, que mal tem! Apenas você, eu mataria de graça, meu amigo.
— Deveras. Há alguns prazeres nessa vida que não têm preço,
Yusefe. — Ramsés vira seu rosto e olha para mim, enquanto ergue suas mãos
lentamente.
Meus olhos acompanham a direção da sua mão, vendo apenas o brilho
da arma de Raja direcionada para o mercenário.
— Freire era o coração, Morgana o corpo, mas o cérebro é você, não
é, Valéria? — falo, calmo, e abaixo meu rosto para olhá-la. — Por quê? Por
que fazer isso com crianças inocentes?
— Pode conversar com o homem mais poderoso desse mundo, Czar.
— Ela sorri e abaixa seu braço, olhando em volta para os conselheiros. —
Pode perguntar para ele o que ele prefere: lidar com o diabo em pessoa ou
receber a vingança de uma mulher, e tenha certeza de que ele escolherá o
diabo!
— Fez tudo isso por vingança? — Desvio meus olhos dela e encaro
Kaiser, que levanta lentamente, com seu rosto sangrando.
— Do que estão falando? — Oliver pergunta, sério, a alguns passos
de mim.
— Messalinas... — Morgana é quem responde, tossindo, gemendo de
dor.
— Patética, Morgana. Se tivesse feito tudo o que eu mandei, não
estaria agora aí, sangrando feito uma porca! — Valéria revira seus olhos e
nega com a cabeça.
— Mentiu para mim, fizemos um acordo...
— E eu cumpri minha parte. — Valéria desvia seus olhos de Morgana
para Kaiser, negando com a cabeça e lhe dando um olhar de reprovação. —
Está certo que não imaginei o que esse idiota faria, mas ainda assim não me
culpe... Quem educou ele em Sodoma foi você, você quem criou o monstro
que lhe condenaria!
— Do que estão falando? — Oliver pergunta novamente, dando um
passo à frente.
— A ordem das Messalinas, criada por Valéria, Freire e Morgana —
o respondo, mantendo meus olhos em Valéria. — Elas estavam criando
submissas alfas para serem vendidas.
— Menino esperto — ela diz com tédio e dá um sorriso frio,
caminhando para a cadeira de Oliver e se sentando nela. — Sempre o orgulho
do pai, assim como a puta da sua mãe.
Respiro fundo e sinto vontade de estrangular seu pescoço. Meus olhos
se voltam para Mabel, que está olhando assustada para Morgana, que está
perdendo sangue em seus braços.
— Matou Sebastian, assim como o rapaz... — Retorno o olhar para
Valéria.
— Sebastian era emotivo, sempre foi o elo fraco de Sodoma, igual à
inútil de Freire — ela responde sem muita importância e alisa seus dedos no
braço da cadeira. — Sempre imaginei qual era a sensação de sentar aqui, e
me sinto frustrada por entender que realmente vocês são patéticos, brincando
de serem deuses, mas na verdade são apenas homens de merda, que pensam
com o pau ao invés do cérebro. — Ela ergue seus olhos para mim e cruza
suas pernas, soltando o ar lentamente. — Assim como você, Czar, tão burro
por conta de uma boceta, que apenas chegou perto da verdade, mas não viu o
que estava à sua frente. Acha mesmo que eu precisei delas? Eu sou o corpo, o
coração e o cérebro, eu sou a Ordem das Messalinas.
— Isso é só uma porcaria de acaso. — Respiro fundo e dou um passo
para trás.
— Não está me ouvindo, sobrinho! — Tia Yelena segura minha mão e
me faz olhar em seus olhos. Enxergo uma nuvem escura pairar sobre seu
olhar azul, um medo refletido dentro dele. — Se tem uma coisa que eu
aprendi, é que não existe acaso em Sodoma, Czar. Eu sei o que eu vi nos
olhos de Mabel, e ao menos que sua avó tenha renascido das chamas do
inferno para atormentar minha alma através dos olhos daquela jovem, me
mostrando o passado que eu e sua mãe fomos criadas, posso garantir que ela
passou pelo que nós passamos.
— Está querendo me dizer... — falo, baixo, e ergo meus olhos para a
porta, que é aberta.
— Que eu tenho quase certeza de quem quer que seja que criou
Mabel, sabia exatamente como Melissa foi educada — minha tia solta as
palavras lentamente, me fazendo olhar para ela, enxergando o real motivo
da preocupação que está refletida em sua expressão angustiada.
— A ideia foi sua — murmuro, recordando da conversa com minha
tia. Freire apenas foi uma marionete. — Você sabia como minha mãe foi
educada, sabia o que meus avós fizeram dela...
— Sim, sabia. E eu ouvia constantemente Huslan se orgulhar por ser
o único a ter uma submissa alfa como ela. — Valéria esmaga sua boca com
raiva e ergue seus olhos para Oliver. — Mas, no fundo, todos sentiam inveja
e cobiça. Então, qual a maneira de me vingar do seu pai, destruindo a única
coisa que ele amava de verdade, além da puta da sua mãe?! Entregando à
Sodoma o que eles não tinham, por isso plantei a ideia na mente de Freire e a
deixei como testa de ferro...
— Sabia que repudiaríamos sua ideia, tinha consciência que aquela
menina morreria por culpa sua — falo com ódio, a encarando.
— Não, vocês a mataram. — Ela nega com a cabeça e respira fundo,
balançando seu pé lentamente, parando seu olhar em Oliver. — Vocês
ordenaram a morte dela, homens velhos e hipócritas que fingem entender
sobre dominação, mas que não têm a verdadeira ideia do que é isso, mesmo
sendo corroídos pela vontade de ter um ser humano realmente submisso ao
seu poder, a posse completa de uma alma, em carne e osso...
— Nos ofereceu a escravidão de crianças, Valéria! — Hu Li a corta,
falando alto. — Sua ideia era abominável!
— Abominável para homens parados no tempo como vocês! — ela o
responde e nega com a cabeça. — Mas para outros é um objeto inestimável,
um ser criado e educado para ser obediente apenas para um único senhor.
Ela para seus olhos em Mabel, ficando séria, a encarando, soltando
um baixo estalo com sua língua.
— Uma pena que o inútil do meu filho não soube aproveitar o
presente raro que eu lhe dei, era para ser a mais perfeita entre todas!
— E ela é! — Kaiser limpa sua boca e olha para mim. — Pergunte ao
Czar o tanto de dor que o pequeno corpo dela pode aguentar. — Ele ri e
limpa sua boca. — De nada, irmãozinho, por deixar sua puta pronta para
você.
Meu corpo se move para frente, com gana de matar Kaiser, e o vejo
pular para trás, tendo um homem armado andando em minha direção, o
protegendo de mim. Kaiser ri, olhando para Mabel.
— Eu a eduquei muito bem, não foi, Mabel... Ainda lembra quem é
seu verdadeiro senhor, não é?!
— Não fala com ela, seu merda, ou juro que nem os cães da sua mãe
vão poder defender você! — Cuspo na direção dele e acerto sua face.
— Onde estão as outras, Valéria? — Ramsés pergunta, a encarando.
— Para quem entregou as outras submissas...
— Oh, estão por aí! — Ela dá de ombros, dando um sorriso para ele,
parando seu olhar em Yusefe. — Por quê? Não me diga que deseja comprar
uma.
Valéria ri e fica de pé, olhando para todos, respirando fundo antes de
olhar para mim.
— Você me prometeu que cuidaria del... — Morgana fala, enquanto
tenta se manter lúcida, respirando com força, olhando para Valéria.
— Acha mesmo que eu poderia perder a chance de usar um material
tão bom, uma genética submissa por natureza? Ela seria a alfa perfeita! —
Valéria esmaga a boca, negando com a cabeça. — Mas você tinha que ter a
porra de uma crise de consciência, quebrando nosso acordo e a trazendo para
cá. Acha mesmo que aquele viadinho[67] inútil te contava tudo? Não, minha
cara, Morgana, ele te contava o que eu o mandava contar! Não ia perder os
anos que investi no aperfeiçoamento do meu produto. Você estragou tudo no
momento que a deixou pisar em Sodoma e ela parou nas mãos de Czar.
— Está falando de pessoas, as chamando de produtos? — Jonathan
rosna com raiva, a encarando. — Você destruiu as vidas de crianças, as
usando como seus fantoches...
— Não! Como o futuro, o futuro de Sodoma, que está há anos presa
no passado e precisava encarar que os tempos mudaram! Vocês são o
passado, e as minhas criações são o futuro. — Ela respira fundo e olha com
raiva para todos. — Depois que destruir tudo isso aqui, elas serão o futuro!
Sua mão se ergue e aponta para Mabel, fazendo um gesto de cabeça
para um dos mercenários. Meu corpo se move na direção de Mabel, mas sou
jogado ao chão quando um dos homens de Valéria chuta minha perna,
pisando em cima das minhas costas, mirando um rifle na minha cabeça. Os
outros vão para cima de Santana, Jonathan, Hu Li e Oliver, que recebe um
soco quando tenta me ajudar, sacando sua arma.
— Infelizmente, não posso mais ficar, tenho uma entrega para fazer.
— Valéria sorri e volta seus olhos para Kaiser. — Pegue logo o seu pertence
e vamos!
— NÃOOOO, NÃO TOCA NELA! — grito com ódio, tentando me
virar, o vendo rir e andar para ela.
Mabel está agarrada à Morgana, enquanto Baby grita, sendo arrastada,
largando minha arma, que ela tinha tirado dos meus dedos, no chão, perto das
duas. Um segundo homem prende Mabel pelos cabelos, a puxando com força
para trás, o que a faz soltar Morgana.
— Não se preocupe, Czar, vou cuidar bem dela. — Kaiser para ao
meu lado e me olha, rindo. — Morgana me ensinou muito bem a como
adestrar minhas cadelas.
Ele arruma seu paletó e anda para as duas, enquanto eu grito com
raiva, socando a porra do chão e tentando me virar, para tirar esse puto de
cima de mim. Minha mão se prende em sua perna e a puxo para frente, o
fazendo se desequilibrar, enquanto rolo e o derrubo no chão, socando seu
rosto. Seguro sua cabeça com raiva e torço seu pescoço.
— MATEM TODOS! — Reconheço o grito de Sieta, vindo junto
com uma chuva de disparos.
O som dos tiros corta o ar, sendo disparados de todos os lados, vindo
com o grito de horror estridente de Valéria, junto com mais disparos,
enquanto os homens de Ramsés invadem o salão e disparam contra os
mercenários. Levanto com rapidez e vou atrás de Kaiser, mas paro quando ele
cai de joelhos no chão, tombando para trás, com um tiro na cabeça.
— Também te ensinei a nunca chutar cachorro morto, seu maldito! —
Morgana fala e tosse, soltando sangue pela boca, lutando para ficar de pé,
ainda segurando a arma erguida na direção de Kaiser, erguendo seus olhos
para mim.
Ela tenta dar outro passo à frente, mas a pego antes que seu corpo
desabe no chão. A arma cai dos seus dedos, enquanto ela sorri para mim e
balança a cabeça, fechando seus olhos.
— Não a deixe... — Sua voz sai entrecortada e ela se agarra em minha
camisa. — Não a deixe saber sobre mim. — Ela se engasga, com seus olhos
arregalados, abrindo sua boca e tentando lutar para respirar. — Cuide da
minha filha, Czar, como eu nunca pude cuidar...
O último suspiro de vida de Morgana é soltado entre suas palavras,
com sua face tombando para trás. Meus joelhos dobram e a levo para o chão,
depositando sua cabeça no piso e olhando para ela diante de mim, tendo
usado seu último resquício de força para matar Kaiser. Viro meu rosto e vejo
o corpo do meu meio-irmão sem vida. Retorno para Morgana. A mestra e o
discípulo partindo juntos desse mundo.
— A VAGABUNDA FUGIU JUNTO COM YUSEFE! — Ouço os
gritos de Ramsés e me afasto de Morgana, olhando em volta, entre os corpos
dos mercenários caídos no chão.
Jonathan ajuda Baby a levantar, tendo o marido dela com um revólver
em suas mãos, perto da sua esposa, protegendo os dois. Oliver e Adrien estão
com Hu Li, conversando com Ramsés. Sieta tem sua face suada e vermelha e
chuta um corpo para o lado, o tirando de cima de Santana. Ela estende sua
mão para ele e o ergue, mantendo seus olhos nos dele.
— Jurei que o deixaria me matar, mi valiente tigresa[68]. — Ele sorri
para ela e lhe dá uma piscada.
— Não daria esse prazer, que pertence a mim, a ninguém, Santana! —
Ela passa por ele e vira seu rosto para mim, me dando um sorriso. — Graças
a Deus, você está bem!
Sinto seus braços circularem minha cintura, com ela me abraçando
com força.
— Não fica bravo, a gente improvisou de última hora! — Ela se
afasta de mim e sorri para Baby quando vira seu rosto para ela. — Ramsés
nos ajudou.
Passo meus olhos pelo salão e busco pelo pequeno pássaro, sentindo
meu peito disparar quando não a encontro.
— Mabel — grito por ela, olhando entre eles.
Encontro o pequeno corpo perto da parede, se levantando,
cambaleando atrapalhada, assoprando as mechas de cabelo de cima dos seus
olhos, olhando assustada para os corpos no chão, antes de erguer sua face
para mim.
— Eu sinto muito, senhor, não tive coragem de lhe encarar quando vi
aquele jornal com a foto de Nate... — ela balbucia, nervosa. — Não sabia que
ele era seu irmão, eu não sabia...
Já estou cortando o espaço entre nós em poucos segundos e a
prendendo em meus braços, os fechando com força em volta dela e a tirando
do chão. Sua boca se abre com intenção de falar algo, mas se cala assim que
aplaco minha fúria e a beijo com tanta intensidade, sentindo toda minha vida
voltar a fluir por meu corpo ao senti-la protegida perto de mim.
— Não está com nojo de mim... — ela murmura entre sua respiração
entrecortada quando separo nossos lábios, tendo suas mãos em meus ombros.
— Sinto muita coisa nesse momento, Mabel, vontade de gritar com
você, de te virar em meu colo e espancar sua bunda, assim como castigar esse
seu pequeno corpo... — Colo minha testa na sua e esfrego meu nariz em sua
pele, precisando inalar seu perfume que me acalma. — Mas nunca sentirei
nojo de você, meu pequeno pássaro desobediente.
Mabel me abraça mais forte e esconde sua face em meu ombro, com
suas pernas circulando minha cintura, ficando presa a mim.
— Deveria ter lhe contado, ter dito a verdade... — Abraço-a mais
firme e respiro fundo, pressionando meus braços ao redor do seu corpo. —
Eu senti medo, Mabel...
— Medo? — ela sussurra e afasta seu rosto, me olhando confusa. —
Por que sentiu medo, senhor?
— Medo de perder meu pequeno pássaro, dele voar para longe e
nunca mais deixar eu me aproximar dele. — Abaixo meus olhos para sua
boca e retorno para seus lábios. — Medo de você me deixar quando soubesse
que o mal que te manchou veio de Sodoma...
— Assim como o que cuidou de mim. — Ela solta apenas um braço
do meu pescoço e alisa meu rosto. — No fundo, eu sabia que Alekessandra
não me criava como filha, que algo dentro de mim era diferente... O que
Kaiser fez, não foi o que me destruiu, mas sim ser largada naquele orfanato.
Respiro fundo e sinto o peso da verdade esmagar mais forte dentro de
mim, sabendo que nem toda a verdade foi descoberta por ela.
— Eu não me importo, porque eu não tinha voz, apenas dor. — Mabel
ergue seu olhar para seus dedos e os acompanha deslizar por minhas
sobrancelhas. — Agora eu tenho, e ela grita dentro de mim que eu sempre
vou pertencer ao bicho-papão. Não porque foi o que decidiram por mim, mas
sim porque eu escolhi ser dele, meu senhor.
Ela se cala e para seus olhos nos meus, inclinando sua face para frente
e me beijando com doçura. Esmago mais forte seu pequeno corpo, a fazendo
ficar completamente colada a mim, a beijando com posse.
— Eu posso voltar atrás daquilo que escrevi no papel? — Ela separa
nossos lábios, me olhando assustada.
— Nem sei do que está falando, não li papel nenhum. — Nego com a
cabeça e abaixo meus dedos para seu rabo, a endireitando em meus braços.
— Eu escrevi Gomor... — A calo, beijando sua boca, dando um
aperto forte em sua bunda e ouvindo o pequeno gemido que escapa dos seus
lábios.
— Pode escrever quantas vezes quiser, mas nunca vou te deixar sair
de perto de mim outra vez, passarinho, nem que você cante essa palavra. —
Olho sério para ela, a deixando entender que jamais a perderei.
— Eu não vou, não vou! — Mabel sorri e tomba sua face em meu
ombro, voltando a me abraçar e suspirando enquanto esconde sua face em
meu pescoço, a deixando de lado.
Me viro lentamente, com ela em meus braços, tendo a consciência que
todos os olhos estão voltados para nós. A seguro mais firme e encaro cada
uma das faces deles, deixando claro que lutarei com qualquer filho da puta
aqui dentro, se tentarem tirá-la de mim.
— Fique com os olhos fechados, bebê, vou tirar você daqui! —
murmuro para ela, lhe dando uma ordem, tendo sua cabeça balançando em
positivo e seus olhos ficando bem fechados.
Sieta caminha para nós e fica ao meu lado, segurando seu revólver e
entregando outro para mim. Mantenho uma mão presa na bunda de Mabel e
com a outra destravo a arma, encarando Oliver.
— Seu cérebro vai está espalhado no chão, antes mesmo de dar a
ordem! — falo, sério, mantendo meus olhos nele.
Sieta ergue o revólver e aponta para Adrien quando ele faz menção de
se abaixar para pegar uma arma.
— Nem pense nisso! — ela diz, baixo, deixando-o sob a mira dela,
enquanto mantenho Oliver na minha.
— Sabe o que vai acontecer se ficar com ela, não sabe? Abrirá portas
que são perigosas para fechar depois. — Oliver me encara e olha para Mabel
presa em meu corpo. — Está mesmo disposto a manter uma submissa alfa,
mesmo sabendo que pode ser expulso de Sodoma por compactuar com essa
monstruosidade que Valéria fez?
— Meu voto é sim, para Czar e sua companheira — Jonathan fala,
sério, parando do meu outro lado. — Não vou compactuar com o erro do
passado novamente. Sodoma não devia ter apenas varrido a sujeira para
debaixo do tapete, mas sim protegido Mina.
— Meu voto é sim para o russo! — Hu Li fala alto, ficando perto de
Jonathan.
— Para mí es solo su compañero[69]. — Santana para ao lado de Sieta
e cruza seus braços. — Meu voto é sim.
— Sim! — Ramsés fala, baixo, atrás de Oliver, o fazendo se assustar
quando encontra o egípcio a poucos passos dele. — E julgo que é o voto de
todos esses homens armados que estão aqui dentro! — Ele ergue o dedo e o
gira no ar, deixando Oliver ver seus seguranças. — Para chegar até ela e o
russo, terá que passar por mim e por eles, Oliver.
Ramsés sorri para mim e leva sua mão ao coração, curvando
lentamente seu corpo para frente.
— Bom, sei que ninguém perguntou, mas meu voto é sim! — Sieta
fala, sorrindo, batendo seu ombro levemente no meu.
— O meu e o do Dexter também. — Baby ergue sua mão junto com a
do seu marido, rindo para eles. — SIM!
— Julgo que não há perigo algum em Czar manter a moça com ele,
desde que Sodoma cuide do segredo dela — Adrien fala, sério, passando seus
olhos em Mabel e dando um sorriso para mim.
— O que está sugerindo, Adrien? — Oliver pergunta e vira para
encarar o juiz.
— Que Jonathan tem razão. — Adrien fica de frente para Oliver e
aponta para o chão. — Sodoma criou esse monstro, que voltou para nos
engolir e quase nos destruir, e é dever de Sodoma arrumar essa bagunça
agora, não fechando os olhos e fazendo de conta que o que aconteceu aqui
não é real, mas sim encontrando as outras que estão perdidas e proteger as
que ainda estão em poder de Valéria.
— Yusefe conseguiu tirá-la daqui durante o tiroteio. — Ramsés
esmaga sua boca, falando com ódio. — Mas juro que vou caçá-lo, encontrarei
esse maldito mercenário nos confins do inferno e vou fazê-lo me dizer onde
as outras estão, nem que seja a última coisa que eu faça.
— Dexter já avisou às autoridades americanas sobre o orfanato, eles
vão invadir o lugar e remanejar as outras crianças para um lugar seguro, onde
Valéria não as toque — Baby fala, olhando para seu marido. — Desculpe,
Czar, sei que não a queria aqui, mas tivemos que agir rápido. Contei com a
sorte e Ramsés, para poder garantir a segurança dela, não pensei que Valéria
iria parecer.
Olho para Baby e balanço a cabeça em positivo, apertando mais forte
meus dedos no corpo de Mabel. Baby gira e encara seu irmão, dando um
sorriso para ele.
— Gim está segura, não se preocupe. Ela e tia Yelena ficaram sendo
escoltadas por alguns homens de Ramsés no palacete. — Jonathan consente e
balança a cabeça em positivo para ela.
Viro e olho Ramsés, que me observa e dá uma piscada.
— Sou um homem de palavra, lhe disse que a protegeria com minha
vida. Quando Baby me mandou uma mensagem dizendo que estava vindo,
não foi apenas avisando que a encontrou, mas também que ela precisava estar
presente. Avisei à Sieta para deixar os homens preparados. — Ramsés me
olha seriamente.
— É obrigação de Sodoma cuidar dessas submissas alfas — Hu Li
fala alto, olhando para Oliver. — Assim como é nosso dever proteger a
companheira do conselheiro Czar!
— Se é assim que querem, a decisão foi tomada. — Oliver me olha e
respira fundo, balançando sua cabeça para os lados. — Meu voto é sim!
Agora espero que vocês limpem essa bagunça — ele diz e aponta para o
chão, com os corpos dos mercenários e de Morgana com Kaiser. — Duas
cadeiras estão vazias, decidiremos o que fazer sobre elas mais tarde! — Ele
vira e nos dá as costas, caminhando para a saída.
— Conhecemos alguém que seria uma ótima conselheira. — O baixo
murmúrio se faz em meu ouvido, seguido de um risinho, com Mabel
esfregando seu rosto em meu pescoço e me abraçando.
— SIETA! — Minha voz soa alta, o fazendo parar de andar e virar
lentamente, me olhando.
— Greg, o que está fazendo... — Sieta me olha e abaixa a arma da sua
mão, ficando confusa.
— Eu indico Sieta para ficar com a cadeira de Morgana — digo,
sério, não me virando para olhar para ela.
Oliver passa seus olhos de mim para Sieta e arqueia sua sobrancelha.
— Os outros estão de acordo? — Oliver pergunta, passando seus
olhos em todos os conselheiros.
— Por mim, está perfeito — Ramsés fala e sorri para ela, tendo os
outros concordando em seguida.
— Sieta, bem-vinda ao conselho de Sodoma! — Adrien sorri para ela
e lhe dá uma piscada, enquanto a vejo ficar com sua face vermelha e virar seu
rosto para mim.
— Mais alguém quer fazer uma indicação? A cadeira de Sebastian
está vazia — Oliver fala alto, olhando para nós. — Jonathan?
Meu rosto vira para Roy e o vejo encarar Baby, que está distraída,
limpando o rosto do marido dela. Ela nota todos os olhares nela e fica com
seus olhos arregalados, antes de começar a rir e negar com a cabeça.
— Oh, não, eu me aposentei! — Ela balança sua mão no ar e abraça
seu marido. — Apenas passei por aqui para salvar o rabo de Czar!
— Chupa o meu pau! — falo para ela, negando com a cabeça.
— Ou chupa você o meu, seu ingrato! — Baby cai na gargalhada e
ergue o dedo do meio para mim.
— Eu vou embora, já deu para mim! — Oliver fala alto e sai do salão,
enquanto encaro Ramsés, inclinando minha cabeça para frente em um gesto
de agradecimento.
— Então ela realmente tem um pau? — Mabel cochicha.
— Sim. Depois eu te conto, bebê! Agora, fique quietinha, para eu te
tirar daqui. — Dou uma mordida em seu ombro e ouço o gemido dela,
enquanto caminho para a saída. — Conselheira Sieta!
Chamo Sieta, parando e me virando lentamente. Meus olhos passam
em volta do grande salão.
— Já sabe o que fazer. — Ela sorri para mim e balança sua cabeça em
positivo. Pisco para ela e viro, saindo com Mabel em meus braços.
Meus braços se prendem mais forte ao redor do corpo dela, tendo pela
primeira vez algo na minha vida que faz eu me sentir vivo. Minha doce
Mabel, meu pássaro selvagem, minha submissa alfa.

Fim!
EPÍLOGO
Mabel Shot

Quatro meses depois

Me espreguiço na cama e olho para o teto, tombando meu rosto para o


lado e vendo a cama vazia. Sento e estico meus braços, observando o relógio
e não tendo mais preocupação com as horas. Meu intercâmbio na galeria
finalizou há duas semanas e isso me garantiu um intercâmbio avançado em
uma matéria chamada: Czar Gregovivk. Não que não temos trepado feito
coelhos constantemente, como Sieta gosta de dizer. Mas nessas últimas
semanas realmente demos motivos para o falatório dela, pois conseguimos
nos superar. Apesar que saímos esses dias, para comemorar o aniversário da
tia Yelena, que fez questão de me fazer experimentar o famoso suco de luz
dela. Acordei com Czar apagado ao meu lado, com suas roupas rasgadas
perto das minhas, na sala da tia dele, com as portas trancadas, não tendo a
mínima ideia do que eu fiz. Sieta foi quem me contou que eu quase violentei
a honra do seu primo, Greg, e ela e tia Yelena saíram rindo, nos largando
presos lá dentro.
Eu me sentia bem perto delas, como se fossem minha verdadeira
família, a qual eu nunca tive. Falando em família, Alekessandra está foragida
da polícia, assim como o meu pai adotivo. Quando a polícia invadiu a casa
que eu morava com eles, encontraram outra menina lá dentro, acho que ela
estava há alguns meses morando lá. Eles a recolheram e a levaram para um
lugar seguro, assim como as outras crianças que foram retiradas do orfanato.
O orfanato que eu fui deixada quando criança foi desativado, Dexter deu um
jeito de informar para alguns amigos seus, da polícia, o que acontecia lá, sem
citar como ele descobriu isso. Baby e Gim, por quem eu acabei pegando um
amor tão grande, se tornaram minhas amigas, amigas as quais nunca tive, e
que me deram coragem para entrar naquela sala em que Kaiser estava e o
confrontá-lo pela primeira vez depois de tantos anos.
Sieta até ficou com ciúme quando eu disse para Baby e Gim que elas
tinham uma amiga que amava muito elas na Rússia. Mas como falei para
Sieta, não vejo ela como uma amiga, e sim como uma irmã que eu nunca tive.
Ela tentou dar uma de durona, não me mostrando seus olhos marejados
quando ficou de costas para mim, mas eu bem que vi uma lágrima brilhando
em sua bochecha. Ela se negou a admitir que ficou emocionada, falando que
isso não pegaria bem para ela, agora que ela é uma conselheira de Sodoma.
Eu tentava entender um pouco mais sobre como esse mundo deles funciona,
mesmo Czar não querendo.
Sieta, junto com Ramsés e Santana, o qual eu apenas conheci de vista,
foram quem ficaram para limpar a bagunça do dia do julgamento. Eu quase
caí de bunda no chão quando ela me contou que eles explodiram o açougue, e
quando digo explodir, foi literalmente explodir, mandando tudo para os ares.
Nos jornais, noticiaram que uma câmara de gás do açougue havia se partido,
liberando gás inflamável no ar, o que acabou ocasionando a explosão durante
a noite, e que por sorte não tinha ninguém lá dentro. Bom, tecnicamente não
foi mentira, já que todos que estavam lá, estavam mortos. É um esquema
assustador, se parar para pensar, envolvendo polícia, seguro de imóvel, os
bombeiros, todos garantindo que foi uma explosão causada por uma falha da
câmara de refrigeração.
Czar mandou demolir o resto que sobrou, cimentando o lugar por
inteiro, deixando a verdade ficar enterrada lá com os mortos. Mas havia uma
verdade que eu não quis deixar enterrada no meio daquele lugar. No dia que
meu intercâmbio acabou na galeria, eu perguntei ao senhor Rumeu quem
realmente tinha me indicado para trabalhar para ele. O velho senhor sorriu
para mim, olhando pela janela do seu escritório para o senhor Gregovivk, que
me aguardava lá fora, antes de me abraçar e me dizer que foi Macro, que
Macro havia falado tão bem de mim, que ele queria me conhecer, e por sorte
eu me encaixei perfeitamente bem no trabalho.
Me senti aliviada. Confesso que dentro de mim ainda sentia como se
Czar não tivesse contado toda a verdade para mim, depois que voltamos para
casa e ele ficou horas comigo no banho, me ensaboando. Não conversamos
mais sobre isso, nem sobre o que Macro me disse antes de morrer. Czar me
fez perceber que existem coisas que precisam ficar no passado, para
conseguir seguir em frente. E foi isso que eu fiz, quando abracei seu Rumeu,
agradecendo a chance que ele me deu. Não consegui mais saber a verdade
sobre Boris e não contar para ele. Murmurei em seu ouvido, antes de partir,
para ele dar uma olhada nos seus livros caixas e os estudar com calma.
Macro não queria ser enterrado, ele nunca gostou do escuro, assim
como eu, então perguntei para Czar se ele poderia ser cremado. E no dia que
ele virou cinzas, Czar me levou até o despenhadeiro onde Sebastian morreu e
eu joguei as cinzas de Macro, o deixando descansar com seu dono. Admito
que ainda não sabia o que eu iria fazer da minha vida quando o intercâmbio
da galeria acabou, se voltaria para Nova York ou ficaria em Moscou, com
Czar, mas eu tomei minha decisão no segundo que aquele homem enorme
segurou meu rosto entre suas mãos e me beijou com tanta paixão, me dizendo
que não queria que eu fosse embora. Sexo baunilha, seguido de
sadomasoquista, nunca me pareceu tão bom, me deixando ainda mais viciada
nele do que eu já era. Cristo, eu sou uma tola, uma tola apaixonada, essa é a
verdade!
O cheiro de sua colônia invade o quarto assim que a porta do banheiro
é aberta. Meus olhos observam cada movimento seu ao sair do banheiro,
enquanto sento na cama e me espreguiço.
— Bom dia. — A voz forte de Czar, mesmo que baixa, me faz vibrar
quando entra em meus ouvidos, me fazendo suspirar entre a embriaguez que
seu perfume me causa.
Olho suas mãos grandes, que ele usa para secar seu corpo, andando
nu, tão belo em sua masculinidade. Czar abre o guarda-roupa atrás de alguma
peça de roupa para vestir, enquanto suspiro, o admirando.
Eu sou apaixonada por cada parte sua, cada traço, cada movimento e
gesto dele. Ele preenche o quarto todo com sua presença masculina e
dominadora. Ter Czar por perto é o mesmo que ser intoxicada por sua
intensidade. Uma força me puxa de dentro para fora para ele.
— Ramsés me ligou ontem à noite, avisando que está indo para o
Cairo. Ao que parece, ele achou uma pista de Yusefe.
Empurro o lençol lentamente e o tiro de cima de mim, enquanto meu
corpo se move pela cama e engatinho até a beirada, olhando para seus
ombros largos. Ele solta a toalha ao chão e pega uma calça junto com seu
cinto preto.
— Se tivermos sorte, talvez esse homem diga onde Valéria se
escondeu. — Czar respira fundo e relaxa seus ombros, ainda tendo uma
nuvem de preocupação o cercando por conta de Valéria, que ninguém sabe
onde foi parar. — Estava pensando que talvez pudéssemos viajar um pouco,
sair de Moscou, quem sabe te levar para Paris, para você ver pessoalmente o
Museu do Louvre, apenas nós dois, sem ninguém saber para onde estamos
indo.
Seu corpo vira e ele se cala ao me observar ajoelhada aos pés da
cama, em cima do colchão, olhando para ele. Eu iria a qualquer lugar desde
que ele estivesse ao meu lado.
Os olhos castanhos de Czar, que estavam calmos ao sair do banheiro,
agora estão de um tom escuro, brilhando com seu poder. A calça que ele
segura, fica suspensa em seus dedos por alguns segundos, enquanto ele me
olha, até que Czar a deixa ir ao chão junto com a toalha.
— Mabel! — A voz de comando que sai da sua boca vibra dentro de
mim.
Engatinho mais um pouco e paro sobre a base final da cama, me
sentando em meus joelhos. Seu movimento lento no quarto é territorialista ao
caminhar nu e completamente sexy.
— O que está querendo, passarinho?
Meus olhos vão ao chão quando ele diz meu apelido, usado apenas
por seus lábios quando quer me dar uma ordem como sua submissa. Apenas
ele tem o poder de me trazer assim diante dele, tão rendida e completamente
sua. Seu corpo para diante de mim e me faz tremer de antecipação, sentindo
toda a energia que vai crescendo em meu ser. Recebo em abandono seu
toque, quando suas mãos tocam meus cabelos, afagando-os. Mas logo elas se
tornam poderosas, prendendo seus dedos em meus cabelos. Czar me faz olhar
para ele, que segura firme minha cabeça, travando seus olhos castanhos nos
meus.
— O que deseja, passarinho? — A voz em comando dele me faz ter a
sensação de lealdade, a entrega total que eu dava a ele.
O toque frio do couro passa por meu rosto, enquanto ele me observa,
deixando o cinto acompanhar o caminho do meu corpo, o subindo por cima
dos meus seios, até chegar em meu rosto.
— Não tenho muito controle quando está assim, Mabel. — Sua voz é
poderosa e ao mesmo tempo selvagem, junto à perda do controle que nós dois
submetemos um ao outro, me deixando ver meu mestre mais rendido a mim
do que eu a ele.
— Assim como, meu senhor? — murmuro, mansa, sorrindo para ele.
Fecho meus olhos e sinto a quentura de sua respiração perto do meu
rosto quando seu corpo se abaixa e ele inclina sua cabeça para perto de mim.
Ele puxa mais meus cabelos para trás, me fazendo gemer de prazer, tendo a
dor e o desejo me dominando.
— Tão minha, passarinho! — O timbre de sua voz esquenta meu
corpo, como uma fogueira alta que me incendia. Me perco ainda mais na
sensação do couro do cinto, que vai escorregando por minha pele.
Sinto o toque dos seus lábios nos meus e vou caindo em seu
magnetismo, sua força e seu poder. Eu não sou mais minha, sou
completamente sua. Cada canto, cada célula do meu corpo, sabe a quem
pertence. Meu senhor me beija com posse, com luxúria, me fazendo gemer
em seus lábios enquanto retira meu fôlego. E eu desejo seu beijo bruto, pois
ele faz eu me sentir viva, me arrancando gemidos a cada toque de língua.
A verdade é que eu nunca serei normal, e ele me entende. Me protege
de mim mesma, porque Czar também não é normal. Ele é meu senhor, meu
mestre, e eu a sua submissa. Somos o amor cru, a necessidade, a lealdade, o
poder, a posse e o abandono da submissa diante do seu dono. Não me
importo com o que sou ou que fui educada para ser, pois tudo me levou para
ele.
Seu movimento é rápido, como o predador experiente que é, e seu
corpo já se prende ao meu, me imobilizando. Minhas costas tocam o tecido
do lençol, mas meu corpo não o sente. Me queimo em vida a cada toque do
meu dono. Sua mão solta meus cabelos e puxa o tecido fino da camisola,
enquanto o despedaça em retalhos, o fazendo virar um trapo sem importância
diante da sua vontade de me tomar. Me estico mais na cama, como uma gata
manhosa à espera do carinho do seu senhor. Deixo meus olhos se perderem
aos seus, que brilham tão intensos, como uma grande fogueira, que tira todo o
ar dos meus pulmões. Sua mão alisa minha pele e vai me desfazendo entre
gemidos e suspiros, junto ao cheiro fresco dele próximo a mim. Czar usa uma
de suas pernas para afastar as minhas, dando-o mais espaço. Meu corpo
implora por ele, esfregando-se mais em seu quadril. Com apenas um
movimento, Czar prende mais seu quadril ao meu, imobilizando-me por
completo. Ele arrasta minhas mãos para cima, junto com o cinto, ainda com
os olhos presos aos meus, tão quentes e vivos.
— Napolitano — fala, rouco, enquanto sinto o contraste do couro
sobre minha pele lisa do pescoço, quando ele o circula, passando a fivela e
fechando-o.
Em lentos movimentos, enrola o resto do couro que sobrou em sua
mão, até me prender perto dele. Sinto o material que me aperta, quase me
levando a alma. Amo o pulo no abismo, a sensação de queda, de entrega, de
dar o poder a ele, de fazer o que quiser de mim.
Quando seu corpo se encontra com o meu, já estou à espera dele. Já
imploro por seu pau dentro de mim, e o recebo em abandono, em todos os
centímetros que me invadem, me esticando, me tomando com força.
— Czar... — murmuro e mordo minha boca.
Seus olhos se fecham e empurra seu quadril para frente, até não existir
nada além dos nossos peitos colados e do meu nome sendo pronunciado por
sua boca, que se arrasta por minha orelha.
— Mabel, minha perdição...
Ficamos aqui, nesse segundo, apenas contemplando nossos corpos
unidos, com nossos corações batendo rápidos e fortes. Minhas pernas passam
por sua cintura e prendo-me mais a ele. Recrio cada caminho de suas costas
com meus dedos. Juntos somos nossa loucura, nossa doença encarnada na
forma da luxúria e desejo puro de ser e pertencer um ao outro. Czar se move
rápido e se ergue, levando-me com ele, enquanto seu peso lhe sustenta sobre
suas pernas, abraçando mais minhas costas, me deixando montada nele. Meu
corpo se move livre e sinto seu pau pulsar dentro de mim, me fodendo forte e
intenso. Não desvio meu olhar do seu quando sua mão segura o cinto mais
forte, puxando-o para trás, enquanto ele me fode mais firme, mais bruto,
selvagem e carnal. Sinto seu beijo em meu ombro e seus dentes cravarem
sobre minha pele, fazendo-me sentir dor junto ao prazer. Minhas unhas
sobem por suas costas, arranhando-o, rasgando sua pele. Nós nos perdemos,
até não restar nada além dos nossos corpos tão fodidamente ligados, chutando
toda consciência de dentro do meu cérebro. Me perco sobre o domínio do
meu senhor quando ele me abraça tão forte, com uma promessa de nunca me
deixar cair, de ser meu protetor, meu pior carrasco, meu preferido bicho-
papão.
Sua mão sobe por minhas costas e puxa meus cabelos, movendo
minha cabeça para trás e dando a ele todo o acesso aos meus seios. Meu
quadril se move em conjunto com o seu, recebendo-o mais fundo dentro de
mim. Me perco com a quentura dos seus lábios ao capturar meu seio,
tomando-o em sua boca e o sugando com fome.
Solto meus braços de suas costas e me deixo cair para trás, sendo
sustentada pelo meu senhor. Meus olhos, nublados pela luxúria, observam
por entre minhas pálpebras semicerradas o teto branco, que recepta a minha
perdição, enquanto grito, gemendo alto, sentindo como se estivesse voando
livre.
— Olhe para mim, passarinho!
Czar me puxa novamente para ele e aumenta o ritmo do seu quadril,
me fazendo o sentir mais fundo, sentindo sua força que me consome. Seu pau
estoca ferozmente, até meu corpo ser jogado ao nirvana, tendo o orgasmo
arrebatando minha cabeça.
— Oh, Czar!
O sorriso de posse estampa-se em sua boca, enquanto me vejo aqui,
tão submissa a ele, ao meu senhor, ao meu dono. Czar solta meu corpo na
cama e sai de dentro de mim, ficando de pé quando se retira de cima da cama.
Antes que possa perguntar, sinto quando sua mão prende em volta dos meus
tornozelos e me vira de uma única vez no colchão, me fazendo ficar de
barriga para baixo. Ele arrasta minhas pernas até ter apenas meu tórax sobre o
colchão, com meus pés tocando o chão, e sinto seu quadril raspar no meu,
com Czar se abaixando e dando um leve beijo em minha bunda. Seu pé bate
lentamente em minha panturrilha, a afastando, com as mãos dele segurando o
meu quadril. A ponta do seu pau, lambuzada pelos fluidos da minha boceta,
raspa em cima do meu cu, o que me faz erguer minha cabeça e olhar para a
cabeceira, enquanto respiro fundo e cravo minhas unhas no colchão.
— Apenas relaxe, bebê. — Ele respira fundo enquanto sinto a
primeira fisgada de dor ao ter seu pau me invadindo.
— Oh, porra! — Escondo meu rosto no colchão e abafo um grito,
apertando meus dedos com mais força dentro deles.
Czar vai se empurrando e tomando mais espaço dentro de mim,
enquanto meu corpo tenta se acostumar ao tamanho do seu pau. Uma de suas
mãos se ergue e prende meu cabelo, enquanto respiro fundo e sinto um misto
de dor com prazer crescer dentro de mim. Czar leva sua outra mão para
debaixo de mim e esfrega seus dedos em minha boceta lentamente.
Czar Gregovivk

— Ohhh, Cristo! — Mabel grita assim que solto seus cabelos, para
dar um tapa em sua bunda, a empinando ainda mais para me receber dentro
dela.
— Porra, sua boceta é apertada, bebê! — digo, rouco, tentando não
perder o controle e a foder exatamente como imaginei. — Mas nada se
compara a esse rabo quente estrangulando o meu pau. Com certeza esse será
o segundo melhor lugar que ele já entrou, amor.
Puxo seu cabelo mais forte, o apertando em meus dedos, empurrando
meu quadril para trás e afundando meu pau, outra vez, lentamente dentro
dela, com mais desejo em seu rabo redondo, que amortece os impactos da
minha pélvis em sua bunda. As estocadas que começaram lentas vão
aumentando o ritmo conforme o seu rabo vai se adequando ao meu pau o
fodendo.
— Não vamos fazer isso sempre! — ela diz, baixo, entre soluços,
mentindo descaradamente, mesmo tendo sua boceta molhada lambuzando
meus dedos, que se afundam dentro dela e sentem o líquido escorrer sobre
eles, a desmentindo.
A fodo lentamente com meus dedos, junto ao meu pau em seu rabo,
entrando e saindo de mansinho. Como desejei isso, foder sua bunda gostosa e
carnuda, a tendo assim, quente, recebendo meu pau em seu íntimo.
— Nada de mentira, amor! — Solto outro tapa em sua bunda e
arranco dela outro grito.
— Czar, por favor....
Esfrego sua bunda onde eu bati, alisando com carinho e me
debruçando sobre ela. Seus gemidos aumentam quando minha boca para
sobre seu ombro, o beijando, e vou alastrando minha língua até próximo do
seu pescoço, deslizando minha boca por sua pele e mordendo sua orelha.
— Sabe que sou eu que estou tocando você, não é? — Desacelero
meu ritmo, entrando lentamente e saindo, empurrando meu pau em seu rabo,
beijando seus cabelos.
— Sim, meu senhor! — Mabel murmura, gemendo baixo. — Meu
Czar...
Ela choraminga baixinho, com seu corpo arrepiado a cada investida
do meu quadril contra seu rabo. Meus dedos descem por sua pele morna e
afagam seus seios, escorregando as pontas dos dedos sobre eles. Meu quadril
se aperta mais ao seu, deixando meu pau bem fundo dentro dela.
— Czar... — Ela se engasga, gemendo assim que beijo sua nuca.
Minha mão solta seus seios e escorrego-a para sua barriga, deslizando até sua
perna, esmagando a lateral da sua coxa em meus dedos.
Enfio mais fundo meus dedos dentro dela e os deixo lambuzados com
seu orgasmo lento, que vai pegando meu pássaro pervertido e quente. Movo
meu quadril outra vez e a faço gemer baixinho, com sua boceta se contraindo
em meus dedos, junto com seu cu que suga meu pau com mais força, o
estrangulando dentro dela. Mabel rebola lentamente, relaxando seu corpo.
Retiro meus dedos de dentro dela e trago-os à minha boca, os chupando e
sentindo seu gosto doce que me invade o paladar, como uma droga que me
viciou por completo desde a primeira vez que o experimentei.
— Tão minha, bebê. — Sorrio e cheiro seus cabelos, movendo meu
quadril com mais força dentro dela. Seu rosto se abaixa e abafa seus gemidos
no colchão.
Mabel ergue seus dedos e enterra suas unhas na minha perna quando
movo meu corpo para cima, segurando seus quadris pela lateral e soltando
meu peso de uma só vez, enterrando fundo meu pau em seu rabo, como se
fosse um prego na madeira.
— Ohh, meu Deus! — Ela abaixa a cabeça de volta e geme como uma
gata manhosa e sexy.
Meus dedos apertam mais forte sua pele, entrando com várias
estocadas, sentindo meu corpo quase a um passo de explodir, com meu
coração batendo acelerado.
— Vou comer esse rabo todos os dias antes do café da manhã. —
Sorrio e aliso sua bunda. O rosto dela se ergue, com seus cotovelos
sustentando seu corpo no colchão e ela virando para mim, me olhando feito
uma felina selvagem, nem parecendo a gata manhosa de segundos atrás.
— Não tenho certeza sobre isso, senhor!
— Está contestando minha ordem, passarinho? — Olho sua face se
contorcer quando empurro mais forte meu quadril contra o dela.
— Estou, senhor — ela choraminga entre gemidos.
Ergo minha mão e solto outro tapa em seu rabo, a fazendo se
engasgar, acelerando mais as estocadas dentro dela. Seus dentes mordem seus
lábios e volto a segurar seu quadril no lugar, a fodendo mais rápido. Mabel
grita um pouco mais alto e volta a enterrar seu rosto no colchão. Meus braços
passam por baixo da sua barriga, a trazendo para mim, e suas costas se colam
ao meu peito, com seu coração acelerado junto ao meu quando nos levanto.
Nos viro lentamente, sem deixá-la se mover, com meu pau ainda enterrado
dentro do seu rabo. Sento na beirada da cama e a trago comigo, a deixando
depositada no meu colo. Mabel congela e aperta forte suas unhas em minha
perna, enquanto choraminga, sentindo meu pau com mais força enterrado em
seu corpo. Afasto seus cabelos e beijo seu pescoço lentamente, deixando meu
pau imóvel dentro dela, sem me mexer. Ouço os gemidos baixos que ela vai
soltando a cada beijo que dou em sua pele. Beijo sua orelha e mordo um
pedacinho dela, retirando o cinto do seu pescoço, sussurrando em seu ouvido:
— Você comanda, bebê. — Minhas mãos param uma em cada seio e
os seguro forte enquanto massageio o bico. — Fode meu pau, do jeito que
gosta!
— Baunilha? — Ela vira seu rosto para mim e me olha por cima do
ombro, ficando perdida. — Quer que eu faça baunilha...
— Quero foder seu rabo, bebê, mas não comigo te dominando, e sim
com você voando livre para mim. — Minha mão solta seu seio e aliso seu
queixo, a deixando entender que no sexo anal não a quero submissa a mim.
— Quero que sinta o tanto de prazer que você me dá, passarinho.
Inclino meu rosto para frente e toco minha boca na sua, recebendo um
beijo dengoso dela, cheio de suspiros e ternura, e aos poucos seu quadril vai
se soltando e ela rebola em meu pau lentamente. Abaixo minha mão da sua
face e levo meus dedos para baixo, parando em cima do clitóris, que lateja.
Seus dedos apertam com mais força minhas pernas. Mabel vai se soltando
devagar, sei que ela está tão na borda como eu desejava. Seu orgasmo é forte
e latente. Desejo explodir minha porra dentro dela, e ela vai aumentando mais
ainda o ritmo, conduzindo nossos movimentos, me fodendo de uma forma
inocente, que chega a ser perverso, rebolando mais sacana conforme vou
circulando meu dedo em cima do seu clitóris, e a cada levantada que ela dá,
mais forte eu massageio seu seio e a deixo foder meu pau do jeito que ela
quer.
Meu pau pulsa forte, inchando mais ainda dentro do seu rabo, me
garantindo que não durarei muito se ela continuar a rebolar desse jeito. O
sangue bombardeia mais rápido dentro das minhas veias, correndo mais forte
a cada movimento que ela faz, rebolando seu quadril e engolindo meu pau,
apenas para depois quase sair por inteira e logo retornar e o foder. Meu outro
braço aperta sua cintura, a trazendo para mim. Minha testa cola em suas
costas quando ela solta meus lábios, e começo a mover mais rápido meus
dedos, me empurrando para dentro da sua boceta e a fodendo. Mabel grita
entre gemidos, movendo seu quadril mais rápido, com suas unhas bem
cravadas em minha perna. Seu corpo pequeno colado ao meu está suado,
tremendo a cada estocada do meu pau e meus dedos, e ela explode, gemendo,
deixando seu líquido quente escorrer sobre minhas coxas, gozando tão
perfeita, chamando por meu nome em completo abandono. Meus dedos
apertam seu corpo e mordo seu ombro, sentindo o primeiro jato de porra
explodir dentro dela quando ela goza outra vez, me levando ao céu, fazendo
seu cu apertar meu pau com tanta força, que não seguro mais meu gozo.
— Porra! — Abraço-a mais forte, gozando toda porra do meu corpo
de uma única vez, com meu coração batendo tão forte que sinto que vai sair
pela boca.
Nossos corações batem acelerados, assim como nossas respirações,
enquanto aperto mais forte meu pássaro com meus braços, amando a forma
como meu pau encontrou a perdição dentro desse rabo gostoso e quente.
— Oh, Deus, não! — ela choraminga assim que levanto nossos
corpos, com meu pau ainda dentro dela.
A deito na cama, com sua barriga para baixo, e aliso sua bunda,
sentindo meu pau escorregar para fora do seu cu, tendo minha porra saindo
dele. Ela se esparrama toda dengosa na cama, com sua cabeça deitada em
seus braços quando me arrumo ao seu lado. Continuo a acariciar sua bunda,
movendo meu pau devagarzinho na sua pele. Observo com prazer seu rabo
empinado para mim, despejando para fora toda porra que eu tinha deixado lá
dentro. O pequeno buraco escorre a porra cremosa branca, fazendo um
contraste com sua pele negra, e isso me parece a melhor visão que poderia ter
dela dessa forma, toda lânguida e mole, com sua preguiça pós-foda, tendo
minha porra marcando-a como minha. Movo-me, não me controlando e
beijando sua coxa, mordendo a lateral da sua bunda com força. Mabel dá um
pequeno pulo e tenta se afastar, mas a seguro e ouço seu riso quando a prendo
em meus braços. É o pequeno pássaro liberto que faz meu mundo se resumir
a ela quando a tenho tão livre perto de mim. Tombo meu rosto quando sua
cabeça descansa em meu braço, sorrindo para mim de forma amável.
— Eu te amo, Bábaika — ela sussurra de forma tão natural, abrindo
seus olhos preguiçosos e os deixando parar em mim.
Mabel tem um pequeno dom que poucas pessoas têm, ela me deixa
sem palavras quando se declara para mim de forma tão espontânea.
Minha submissa que veio a mim quando nem eu mesmo sabia que
precisava dela. Não foi Mabel que precisava de ajuda, mas sim eu. Quando
aceitei o jogo com ela, não estava apenas arrastando-a para Sodoma, e sim
me libertando. Meu corpo rola por cima do seu e prendo minha mão em sua
face, mantendo meus olhos fixos aos seus.
— Amar um mestre é loucura... — Abaixo meus olhos para sua boca,
acariciando-a com meus dedos. — Assim como um mestre amar uma
submissa como eu te amo.
— Não, senhor... — Ela sorri para mim e ergue seus braços para meu
pescoço, inclinando sua face, até estar a centímetros de mim. — Isso é
Sodoma!
A ORDEM DAS MESSALINAS
O BEDUÍNO E CORCEL SELVAGEM
Stella

Em algum lugar do deserto do Cairo – Egito

Abro meus olhos lentamente, e assim que o clarão acerta minhas


vistas, os fecho outra vez. Uma dor acerta dentro do meu cérebro e respiro
rápido, tentando lembrar o que aconteceu na noite passada. Ainda estou sob
os efeitos das drogas que aquele homem maldito me dava, para me deixar
dopada, e apenas recordo de gritos e olhos marrom-escuros, como café, que
me observava de perto, segurando meu rosto em sua mão. Pequenos flashes
invadem minha mente, indo e voltando. Abro meus olhos novamente e tento
fazer minhas vistas se acostumarem com o claro do dia. Pisco e tombo minha
face para o lado, encontrando uma grande janela que mostra um céu azul. O
vento fresco entra por ela. Há uma mesa grande de madeira, cheia de
documentos, ao canto, junto com uma garrafa de bebida e uns tons dourados
pintados na parede, como decoração.
Pisco, confusa, não lembrando de como vim parar aqui, não sabendo
há quanto tempo estou apagada. Não sei se estou sonhando outra vez ou se
estou acordada realmente. Lembro-me da vaca que tinha me adotado, me
fazendo trabalhar como uma escrava por anos dentro da hospedaria dela, para
no fim me vender como se eu não passasse de um pedaço de carne, me
entregando para aquele verme desgraçado de Yusefe Rumão. Tento me
sentar, mas noto que meus braços estão contidos. Meus olhos vão para cima
da minha cabeça, onde vejo minhas mãos amarradas com retalhos de panos
de seda. O som de um chuveiro ligado chama a minha atenção na mesma
hora, me deixando saber que não estou sozinha. Ouço um assobio sendo
cantarolado assim que o chuveiro é desligado. Ergo minha cabeça e vejo a
maldita roupa de odalisca em meu corpo, com meu corpo esticado sobre uma
cama, lembrando agora do leilão. Yusefe tinha me leiloado, como uma vaca
premiada.
— Não, não... — Meu corpo se debate, enquanto tento me soltar, mas
sem sucesso algum.
Puxo minhas pernas e as encolho, sentindo dor por todo o meu corpo.
Recordo da pousada, das meninas que moravam lá levando os homens para
os quartos com elas. Respiro mais forte e mordo minha boca, lembrando de
tudo que eu odiava naquele lugar. O cheiro de homem por todo canto, os sons
de gemidos, os gritos delas, como se estivessem sendo machucadas. Fico em
alerta, imaginando que esse deve ser meu comprador, para quem Yusefe me
vendeu, como ele teve o prazer de me dizer, quando eu soquei sua cara. Ele
me bateu e me acorrentou no chão antes de me drogar, me contando em
detalhes o que meu comprador faria comigo, o que ele iria me obrigar a fazer.
Fecho meus olhos e respiro fundo, esmagando meus dedos. Não vou
ter esse fim, prefiro morrer a deixar um homem me tocar contra a minha
vontade. Luto até o último suspiro, e só com meu corpo sem vida para deixar
esse desgraçado que me comprou me tocar. Meus dedos vão se fechando e
puxo meu braço para baixo, enquanto torço meus pulsos, tentando me livrar
do pano. Olho para o lado e vejo uma tesoura em cima de um móvel pequeno.
Paro de me mexer assim que a porta do banheiro é aberta, deixando apenas
minhas pernas encolhidas.
Um homem de cabelos negros, com alguns fios acinzentados,
molhados, assobiando, com apenas uma toalha enrolada em sua cintura e seu
corpo pingando gotas de água, sai de lá. Estaca no lugar, me observando e
parando de cantarolar quando me vê o olhando. Recordo vagamente dos seus
olhos tom de café, da sua pele marrom-clara. Ele não é como os homens que
eu já tinha visto pessoalmente, nem lembra de longe aqueles homens
fedorentos, com dentes podres, que frequentam a pensão onde eu morava. Ele
é diferente.
Vejo seu peito subir e descer lentamente, enquanto seus olhos vão
percorrendo meu corpo todo. Ele esmaga sua boca e cerra seu maxilar,
mostrando a pele lisa, de quem tinha acabado de se barbear. Observo-o
respirar fundo e coçar sua nuca, olhando para os lados antes de voltar a olhar
para mim. O filho da mãe é grande, 1,70m ou 1,80m, provavelmente será
uma briga cruel, mas acho que posso ter alguma chance.
— Bom dia, vejo que já está acordada! — Sua voz soa calma, com ele
curvando sua cabeça para frente. — Será um prazer receber você em minha
casa.
Ele se endireita, o encaro e abaixo meus olhos para seu quadril, vendo
perfeitamente o desenho do seu pau abaixo do pano.
Prazer é o cacete, seu tarado de merda!
Meu cérebro o responde dentro da minha cabeça, ao mesmo tempo
que calculo qual a possibilidade de conseguir escapar dele. O vejo andar
lentamente para mim, enquanto mantenho meus pulsos se mexendo, laceando
o pano. Ele tenta disfarçar quando para perto da cama e libera a respiração,
olhando para meus seios e soltando um baixo pigarro, desviando na mesma
hora os olhos do meu peito. Olho para baixo e ergo minha cabeça, vendo a
porra do sutiã de pedraria deixando à mostra um dos meus seios.
— Julgo que precisará de roupas mais apropriadas.
Meus olhos se voltam para ele e o encaro, o vendo olhar para minhas
coxas. Abaixo meu rosto para a tenda, que está se formando dentro da toalha,
me deixando saber que outra parte do corpo dele está ciente dos meus trajes,
com meu corpo deitado e amarrado na cama. Mantenho os movimentos dos
meus pulsos, sentindo dentro de mim uma onda de felicidade quando sinto o
pano ceder, ficando fraco ao seu redor.
— Pedirei para Raja providenciar isso imediatamente — ele fala,
baixo, e me dá um sorriso.
Ele pigarreia novamente e desvia seus olhos do meu corpo, passando
a mão entre seus cabelos negros molhados.
— Sou Ramsés de Naca! — Ele espalma sua mão ao peito, curvando
sua cabeça para ela, e a ergue, me dando uma olhada e esperando que eu o
responda, mas me mantenho em silêncio. — Deve estar com seus braços
doendo de ficar erguidos. Precisei lhe conter, estava meio agitada durante o
estado que se encontrava. Julgo que deveria estar drogada, mas não se
preocupe, isso acabou, está segura comigo.
Vai sonhando, tarado, apenas preciso que chegue mais perto.
Mais perto, só um pouquinho...
Minha mente se concentra nele, enquanto o vejo se abaixar em cima
de mim e esticar sua mão para tocar meus pulsos. Ele não vê e nem sequer
pode se preparar, quando solto os dois pés com tudo no seu peito, assim que
ele se abaixa para soltar minhas mãos. O golpe o leva ao chão, o fazendo cair
de bunda. Rolo no colchão e pulo para fora da cama, dando tempo apenas
para pegar a tesoura em cima do móvel. Meus pés fracos batem ao chão e
fazem todos os meus ossos doerem. Me sinto ainda fraca por ter ficado tantos
dias sem me alimentar, apenas presa naquela maldita cela, feito um bicho.
— Merda! — Fecho meus olhos e repuxo minha boca com dor, mas
não demoro sofrendo com minha dor, me preocuparei com ela depois, agora
tenho que sair daqui, tenho que ir para longe desse lugar.
Antes que eu dê um passo, uma mão prende meu pé e me faz cair ao
chão de joelhos. Abaixo minha cabeça e olho para o maldito homem com
ódio, subindo por cima das minhas pernas, como um tigre nervoso. Desfiro
outro chute na barriga dele com o pé livre, o fazendo se torcer de dor, me
largando.
— CRIATURA SAÍDA DO INFERNO! — ele grita e aperta sua
barriga com sua mão.
Tento me levantar para fugir dele, mas suas mãos se prendem na
merda da saia comprida, me fazendo cair novamente em cima dele.
— Para de me bater, mulher! — Ele prende sua mão em cima do meu
peito e tenta me imobilizar.
— Então me solta, seu velho tarado de merda! — o respondo com
raiva e mordo o braço dele.
— PARA DE ME MACHUCAR, MULHER MALDITA! — Ele
prende meus cabelos em sua mão e tenta me fazer soltar seu braço, mas o
mordo com mais força, soltando uma cotovelada em suas costelas.
Ele grita com raiva e tenta prender minhas pernas nas suas,
empurrando meu corpo para frente com o seu, me engaiolando embaixo dele,
comigo de joelhos no chão e ele por cima de mim. Paro de mexer no segundo
que vejo a toalha caída ao meu lado e algo duro raspando em minha bunda de
fora, por conta da porcaria da roupa de odalisca. O peito dele, colado em
minhas costas, sobe e desce rápido e forte, com ele respirando agitado.
— Para de se mexer! — Sua voz rouca rosna perto do meu ouvido,
com suas mãos apertando mais ainda minha cintura, o que me faz sentir seu
pau duro mais nitidamente quando ele tenta se mover.
Sinto sua pele desnuda úmida sobre a minha, com seu corpo frio. O
cheiro de almíscar sobe dos seus cabelos, ficando com um aroma mais
intenso.
— Vai parar de me machucar e eu vou soltar você, está bem? Não sou
seu inimigo, corcel, apenas se acalme. — Respiro mais rápido, enquanto sinto
sua mão alisar minhas costas e soltar minha cintura lentamente, como se
realmente estivesse afagando um cavalo.
Mas o que mais me deixa confusa é que não entendo porque meu
corpo está queimando de uma forma estranha. Posso sentir minha pele se
aquecer, com a mão dele tocando em mim, e uma sensação estranha entre
minhas pernas a cada raspar do quadril dele em meu traseiro. Não sou burra,
entendo o que acontecia com as garotas no quarto, mas os gritos delas eram
tão estranhos, que me faziam sentir medo de deixar um homem tocar em
mim, mas agora não é medo, é algo novo, como se meu coração fosse pular
para fora do peito a qualquer momento.
— Você me ouviu, corcel... Está segura — ele sussurra e acaricia
mais ainda minhas costas, escorregando uma de suas mãos para o lado e me
deixando sentir o toque do seu dedo raspar a lateral da pele desnuda no meu
seio. — Se prometer ficar calma, vou soltar você.
Balanço minha cabeça em positivo lentamente, tentando empurrar
para longe a reação do meu corpo, não sabendo se posso acreditar nele. Não
estou segura, nunca estive. Fui jogada em um orfanato pela minha mãe,
depois adotada por uma velha cafetina desgraçada, que me obrigava a limpar
os quartos onde suas prostitutas dormiam com os clientes, lavando as roupas
delas, ouvindo gemidos e gritos o dia todo, para no fim ser vendida sem nem
um pingo de escrúpulos para um mercenário maldito que me leiloou. Não
estou segura com um homem que me comprou, como se eu não passasse de
um tapete na feira. Nunca mais deixarei ninguém ser dono de mim, não
mesmo.
— Ótimo, temos um acordo! — ele diz, sério, me soltando. Assim
que ele deixa meu corpo se afastar do seu, uma sensação estranha volta a me
acertar, como se meu corpo quisesse ficar perto dele, e isso me faz sentir mais
raiva.
Eu tinha visto muitos tipos de homens entrar naquela pensão, tinha
me deparado com vários homens cruéis, que gostavam de bater nas meninas,
os que faziam as mulheres gritarem de dor, para no fim larga-las lá,
machucadas, em cima da cama. Esse aqui não parece ser nenhum pouco
diferente deles. A única coisa que eu tenho certeza é que não vou ficar aqui
para descobrir o que ele vai fazer comigo. Assim que seus braços caem para o
lado, tirando a tesoura das minhas mãos, meu corpo reage.
— Não sou um corcel, seu tarado de merda! — rosno entre os dentes,
falando com raiva.
Solto outra cotovelada em suas costelas e jogo minha cabeça para trás
com toda força. Sinto a pontada de dor em minha cabeça quando o atinjo. Ele
cai para trás, gritando e me xingando.
Levanto com pressa e corro para a porta, abrindo e saindo correndo
por um corredor escuro, arrumando a porcaria do sutiã e tapando meu seio,
ouvindo os gritos dele vindo do quarto. Meu coração bate desesperado
enquanto corro mais apressada. Estico meus braços e abro portas e mais
portas, que aparecem à minha frente, até eu sentir o sol tocar minha pele.
Tropeço nos emaranhados de panos que estão presos em minha cintura, o que
faz eu me atrapalhar. Meu corpo bate de frente com uma parede de músculos
ambulante, que me faz cair de bunda no chão. Seus olhos param em mim,
com ele arqueando sua sobrancelha e desviando para a porta que eu saí. Vejo
o coldre da arma pendurado abaixo dos seus braços, com duas armas, uma de
cada lado.
— MULHER MALDITA, POR RÁ, VOU PRENDÊ-LA FEITO UM
CAMELO, AMARRADA A UMA TENDA NO DESERTO! — A voz de
raiva que vem dos corredores me faz levantar na mesma hora.
Antes que o grande homem consiga perceber meu gesto, ajo rápido,
puxo a arma do seu coldre e saio correndo em disparada, para longe dos
gritos estrondosos que vem do corredor. Sinto o piso frio abaixo dos meus
pés descalços, enquanto meus olhos vão percorrendo tudo com pavor à minha
volta, me deixando ver as estruturas da construção da casa. E mesmo depois
de correr tanto, é um grande desespero que me pega quando termino diante
de um parapeito da sacada, tendo apenas um grande mar de areia diante de
mim, até se perder de vista. Olho para baixo e enxergo apenas areia do
deserto e mais nada.
— PORRA, ONDE EU ESTOU?! — Ergo minha mão para minha
testa e sinto as lágrimas escorrerem por minha face. — Não, não! Merda!
O choro vai me pegando com mais desespero, junto a dor da grande
bola de merda que é a minha vida, sendo abandonada e traída pela cafetina,
renegada pela minha mãe, que me largou naquele orfanato e foi embora, e o
pai que nunca conheci. Lutei contra aqueles homens dentro da pensão, para
eles não me tocarem, limpei sanitários sujos de merda dos outros, para não
morrer de fome e frio, com a cafetina me humilhando. A única coisa que fiz a
minha vida toda foi lutar para sobreviver, para me salvar, e quando achei que
estava perto de ser livre, de fugir daquela pousada, fui vendida feito um trapo
velho, para terminar minha vida como escrava de um homem que me
comprou em um leilão. Abraço meu corpo e mordo meu braço para abafar
um grito de dor.
— VOCÊ, SUA CRIATURA INGRATA!
Viro assim que escuto a voz do homem atrás de mim, me olhando
com puro ódio e segurando seu nariz, que sangra, completamente nu, tendo
vários homens atrás dele, me olhando.
— VEM AQUI! — ele rosna e aponta para perto dele. — Ou juro que
te arrasto pelos cabelos de volta para o quarto.
Dou um passo para trás e me aproximo da grande mureta, negando
com a cabeça, limpando as lágrimas do meu rosto.
— Tenta me obrigar a ir, seu velho tarado! — digo com raiva e ergo
meu braço, mirando o revólver nele.
Respiro, nervosa, e me sinto assustada ao ver todos os homens atrás
dele erguendo suas armas e apontando para mim. Apenas o grandão, de quem
eu roubei a arma, que não mira nenhum revólver para mim, ele apenas cruza
seus braços acima do peito, rindo.
— Ela te chamou de velho! — O homem em quem eu trombei e
roubei a arma ri mais alto e nega com a cabeça.
— POR RÁ, FUI AMALDIÇOADO COM UMA TEMPESTADE
INGRATA DENTRO DA MINHA CASA! — O homem nu abre seus braços
e nega com a cabeça, olhando para trás deles. — ABAIXEM A PORRA DAS
ARMAS, MATO O PRIMEIRO PUTO QUE ATIRAR NELA!
Ele grita com mais ódio, virando-se para mim e tendo os homens
obedecendo sua ordem. Volta a olhar para mim com raiva, enquanto
mantenho meus olhos nos seus e não no seu pênis balançando na minha
frente.
— Você, seu corcel teimoso! — ele ruge, cerrando sua boca. —
Abaixe essa arma, antes que eu lhe jogue nos meus joelhos e lhe dê uns tapas
no rabo, por ter a audácia de querer me enfrentar!
Mudo minha mira rapidamente e fecho meus olhos, dando um disparo
no chão, o fazendo parar de andar quando ameaça se aproximar. Meus olhos
ficam mais arregalados quando os abro e encaro a face dele, que olha do chão
para mim.
— Ela disparou contra mim, contra Ramsés de Naca... — Ele vira seu
rosto e olha para o homem grande de braços cruzados, que ri e balança a
cabeça em positivo para ele. — Raja, esse corcel ingrato teve a coragem de
atirar perto do meu pé?
— Sim, e de olhos fechados ainda — o grandão o responde, rindo,
fazendo o homem nu me fuzilar com seus olhos escuros.
— No próximo, acerto no seu pau, se tentar dar mais um passo para
perto de mim, tarado de Naca! — falo apressadamente, deixando minha mira
no meio das suas pernas.
— Oh, sua criatura maldita! — Ele dá mais um passo em minha
direção, enquanto dou dois para trás, sentindo meus braços tremendo. —
Devia ter te mantido amarrada, amordaçada, completamente presa da cabeça
aos pés.
Sinto as lágrimas encherem meus olhos, enquanto nego com a cabeça
e olho para ele, que se aproxima ainda mais, me olhando zangado.
— Nunca mais eu vou ser escrava de ninguém! — digo, rápido, com
minha voz embargada de choro, e desvio meus olhos dos seus para a arma em
minhas mãos. — Eu prefiro morrer a ser tratada como um pedaço de carne.
— Não ouse fazer isso, corcel! — ele fala, nervoso, e estica sua mão
na direção da minha, olhando sério para mim, como se já soubesse o que eu
pretendo fazer.
O som de um disparo alto me assusta, vindo de um dos homens
armados, no mesmo segundo que sinto uma ardência na lateral da minha
panturrilha. A arma escapa da minha mão, com o grande homem bravo a
pegando antes dela cair ao chão, quando eu vejo o sangue escorrer da minha
perna, onde o tiro pegou de raspão. Sinto uma tontura me pegar ao olhar meu
próprio sangue, com minha visão escurecendo. Minha cabeça se ergue e vejo
o homem nu rugir feito um leão bravo, gritando em uma língua que não
entendo, antes de atirar na cabeça de um homem. Meu corpo fica pesado e se
inclina para trás, tendo apenas a queda me esperando quando caio da beirada
do parapeito, não enxergando nada mais à minha frente.

Continua em breve!
AGRADECIMENTOS
Olha, eu nem tenho palavras para explicar ou descrever como me
senti escrevendo GOMORRA, um livro que eu nem sabia ao certo se
escreveria ou não. Mas confesso que me senti maravilhada e agradecida por
Czar ter me atormentado dia e noite para contar sua história, por ter feito eu
me apaixonar por ele e sua Mabel, ter conhecido novos personagens, abrindo
uma porta para esse novo projeto que está a caminho, além de ter me
permitido matar a saudade dos antigos.
Jon, meu querido Jon! Ainda não superei o papel de trouxa que você
me fez passar. Te amei tanto, magrelo. Mas foi incrível lhe encontrar por aqui
novamente, mesmo que tenha sido apenas de passagem.
Agradeço minha querida Val, como sempre. Nunca canso de dizer
como sou grata por tê-la ao meu lado.
Obrigada a todas as pessoas envolvidas nesse projeto. Minhas
revisoras amadas; Mônica, que me presentou com uma capa maravilhosa e
que eu amei muito; e minhas parceiras, que sempre embarcam nessas
loucuras.
E, como sempre, um agradecimento extremante especial para você,
meu leitor que eu amo. Obrigada por permitir que eu lhe arraste para esse
mundo eloquente e intenso de Sodoma.
Aguardo vocês em breve, com A Ordem das Messalinas!
OUTRAS OBRAS
Outras obras:
Primeira série:

KATORZE - LIVRO 1
PAOLO A RENDIÇÃO DO MONSTRO - LIVRO 2
PAOLO O DESPERTAR DO MONSTRO - LIVRO 3

ATENÇÃO: contém cenas eróticas e gatilhos que podem gerar desconforto. não
indicado para menores de 18 anos.

Quando um pesadelo deixa marcas. Quando em um dos piores momentos,


nasce uma luz para guia-la. Quando ela se apaixona por seu algoz e finalmente
tudo está na mesa, o desejo carnal e selvagem se revelam. Mas a ferida agora,
está aberta.
Vocês irão odiá-lo, cobiçá-lo e até mesmo desejá-lo. Conheçam Daario Ávila e
embarquem em uma aventura na Espanha, regada de erotismo e reviravoltas
de tirar o fôlego. Será que o príncipe encantado, pode se tornar um pesadelo?

Criado como um animal de estimação desde criança, entre a sarjeta e os


abatedouros da fazenda Ávila, Paolo se tornou o cão de ataque perfeito de
Joaquim Ávila, um animal feroz, sem remorso, sem empatia. Moldado pela dor
e degradação, é uma alma condenada e vazia, que sente gosto de liberdade
quando sua coleira invisível é quebrada. O destino, contudo, o leva, entre a
vida e a morte, pelas as águas turbulentas do rio, até os cuidados da pequena
Yara.
Em um ímpeto de desespero pela morte que o chama em seu leito, Yara
faz de tudo para salvá-lo, até o que não deve. A pequena boneca solitária só
não sabia que quem ela salvava não era apenas um forasteiro com faces
tristes, mas sim um monstro que traz em seus olhos tanta morte quanto o cano
do seu .38.
Yara entende de monstros. Teve seu caminho cruzado por um, que a
deixou marcada para sempre. Mas ali, diante da face do mal encarnada entre
os olhos marrons daquele forasteiro, que traz uma dor tão antiga, não é medo
que sente, mas sim sua luz, que se liga à escuridão dele.

Tudo nessa vida tem um preço, e Yara sabia disso quando salvou a vida
do monstro que entrou em seu caminho. Tendo que escolher entre o homem
que amava e os frutos dessa paixão que cresciam em seu ventre, partiu,
deixando-o sem olhar para trás. O que ela não sabia é que sua magia deixou
rastros, e agora algo muito pior vêm atrás dela.
Seu mundo desaba quando suas filhas são levadas por um mal maior, e
o destino brinca com a pequena bruxa, colocando-a frente a frente com o
homem que tanto assombrou suas lembranças por longos anos.
O monstro se perde assim que seus olhos pousam na pequena mulher
solitária que vê em seus sonhos, e que agora está em carne e osso na sua
frente. Algo dentro de Paolo desperta, puxando-o para ela cada vez mais, sem
entender o que os liga.
O Cão e a Bruxa estão de volta em mais uma batalha.
Yara lutará com toda sua força para ter suas filhas de volta. No meio da
sua jornada, precisará mostrar ao monstro o poder e a força da magia do amor,
e encarar a ira de cinco anos longe dos olhos tão sombrios quanto o portão do
inferno.
Poderá o cão de caça perdoar a bruxa que o jogou no limbo por cinco
anos, sem despertar o monstro que habita nele?
Um inimigo antigo uniu os irmãos Ávilas em uma derradeira vingança. Daario e Paolo
juntos, lado a lado, abriram as comportas do inferno, trazendo carnificina e sangue
para aqueles que machucaram suas famílias.
A cada percurso da caçada, em uma busca cruel e implacável pelas suas mulheres, os
monstros estavam famintos por morte e justiça, fazendo aliados poderosos e alianças
inquebráveis, deixando um rastro de corpos por onde passavam.
A pequena bruxa Yara encontrou forças para lutar pela sua sobrevivência e do seu
filho quando a destemida pantera Katorze cruzou seu caminho de uma forma
inesperada. As duas mulheres traziam fé em seus corações de que seus monstros iriam
libertá-las, afinal nem todo predador é fatal, mas todos os monstros Ávilas criados
pelo cruel Joaquim são assassinos.

Um amor além do tempo, do universo, do grande desconhecido. E se nada fosse o que


realmente é? E se entre seu mundo tivesse outro, onde magia e realidade se
chocassem? Onde uma maldição foi imposta, obrigando um príncipe do submundo a
enxergar com outros olhos a raça que ele julgava a mais inferior de todas. Onde fosse
condenado a vagar por eras e eras em busca de uma estrela solitária.
E se nada fosse o que é?

Uma maldição rogada por um erro cometido no passado faz Jesse correr contra o
tempo, para conseguir se libertar antes que a Lua de sangue se erga. Porém, o que para
ele é maldição, para Constância significa liberdade. Um segredo do passado entrelaça
o futuro dos dois, mas Jesse não imagina que a única pessoa que poderá libertá-lo é a
mesma que poderá odiá-lo pelo erro que cometeu.
Únicos

ATENÇÃO: CONTÉM CENAS ERÓTICAS E GATILHOS que podem gerar


desconforto. NÃO INDICADO PARA MENORES DE 18 ANOS.

Se me perguntarem se já era amor desde o início, garanto-lhe


com as minhas palavras salgadas pelas lágrimas que sim. Eu já o
amava antes do princípio, assim como no meio e fim. Nosso amor
mórbido e louco nos unia em nossa agonia chamada vida.
Se existia um inferno, eu iria para lá por ele, pois onde mais
dois pecadores poderiam descansar suas almas negras manchadas
pelos pecados da carne? E então, eu fui. Joguei-me de cabeça em seu
mundo. Conforme trazia Ben para mais perto de mim a cada sonho, a
cada parte dele que eu salvava, uma parte minha ficava presa em
seu labirinto. Em meu peito, onde batia um coração de uma menina
apaixonada, não importava em quantos pedaços eu teria que destruir
minha alma para salvá-lo, pois a loucura que o habitava era a mesma
que tinha morada fixa em meu coração.
Lizandra, essa sou eu, ou a sombra de quem eu fui um dia.

ATENÇÃO: CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR INAPROPRIADO


PARA MENORES DE 18 ANOS
Zelda estava preparada para tudo em sua vida: uma híbrida latino Afro-Americana
com sangue quente que desejava apenas ter uma chance para mostrar que não veio ao
mundo para brincar. Queria um lugar ao sol entre as indústrias de construção civil. O
que ela não imaginava, no entanto, ao aceitar o estágio na Indústrias Ozbornes, era
que, junto com a porta do seus sonhos ao mundo do negócios, também se abriria a
porta dos desejos e fantasias quente como o inferno: seus dois chefões em ascensão.

Quatro mulheres desesperadas por apenas uma noite de folga e por um segundo de
descanso ganham, misteriosamente, um sorteio relâmpago de rádio, que tem como
prêmio uma estadia nas suítes luxuosas do novo hotel da pacata cidade.
Cada uma tem sua história e seus segredos, mas todas trazem uma coisa em comum:
desejos reprimidos.
O Dia das Bruxas nunca mais será o mesmo para elas.
Não deixem de perder essa deliciosa noite de Halloween, principalmente se for uma
menina malvada.

Handrey, junto com seu irmão Jonny, participava ativamente de um grupo de


neonazistas violentos, pregando a supremacia branca. Seu destino mudou ao encontrar
o corpo do seu irmão junto a um homem negro dentro do seu apartamento, ambos sem
vida. Ele nutriu apenas ódio e autodestruição por catorze anos, jogado dentro da
penitenciária federal, almejando apenas uma chance de descobrir quem era o
verdadeiro assassino do seu irmão. Sua chance veio acompanhada de um pro bono
misterioso, que lhe deu sua liberdade provisória.
O homem passou a ver as coisas de uma maneira diferente ao se deparar com Eme,
uma stripper negra que o levou a questionar uma doutrina de uma vida inteira. Ele já
não se sentia mais à vontade com o grupo neonazista.
Quando corpos mutilados de mulheres negras e imigrantes começaram a aparecer
pelas ruelas do porto, assombrando todas as garotas de programa ao descobrirem que
tinha um assassino em série que matava por esporte, Handrey percebeu que mais
alguma coisa tinha escapado junto com ele do esgoto imundo que era seu passado.

Dylan Ozborne sabia que a pior época da sua vida era dezembro. Ainda não acreditava
que seu irmão havia o obrigado a ser o Papai Noel para o evento beneficente.
Elly poderia ter sido a boa menina o ano inteiro, mas deixou para ser a menina má
justamente três dias antes do Natal, indignada com o nada bonzinho e muito menos
velhinho Noel. Então resolveu se vingar do tirano e por fim lhe dar uma lição que
nenhum

Sedrico Lycaios, mais conhecido pelas noites quentes regadas às promiscuidades de


Chicago, como uma divindade do prazer, é proprietário do clube peculiar, nada
ortodoxo e, sim, envolvente e pecaminoso: a Odisseia, onde proporciona todas as
experiências desejadas por seus clientes, para aplacar seus prazeres mais obscuros.
Mas, como todo semideus, Dom Lycaios tem sua fraqueza, e é entre as paredes do seu
templo da perdição que se vê sendo fisgado pela doce inocência de Luna, a dançarina
exótica, tão silenciosa e misteriosa, que o prende a cada movimento do corpo dela.
Uma perfeita sugar baby, que desperta o interesse do sugar daddy que ele traz
aprisionado no canto mais obscuro do seu ser. Luna não tem chances para escapar das
manobras do implacável homem, que a envolve em suas teias de aranha. Afinal, o
prazer sempre fora o maior império de Sedrico.
Maria Eloiza estava acostumada com a batalha diária que a lavoura tinha e com o
esforço sobre-humano que seu trabalho lhe trazia. Seguia batalhando mais uma vez,
atrás de outra usina, dando graças a Deus quando essa apareceu, mas nunca imaginou
que o canavial lhe traria mais do que já estava acostumada a ter, até se perder nos
olhos mais verdes que as plantações de cana.
Pedro Raia trazia o legado de sua família junto com ele. Mesmo renunciando aos
sonhos que tinha, aceitou voltar para casa quando foi convocado, cuidando de perto de
cada um que entrava em suas terras, pois nunca foi de ficar dentro de quatro paredes.
Sua paixão pela terra era antiga, desde menino trabalhava na lavoura. Gostava da terra
em suas mãos, sabendo que era dali que vinha toda sua essência. Mas sua vida mudou
quando, entre mais uma remessa de boia-fria, a pequena cabocla, com olhos
assustados, lhe mostrou o mais puro brilho de sua alma. Dois mundos, que andavam
entre linhas finas, se chocaram. A realidade de um contra a vida do outro.

A vida sempre foi puxada para Maria Rita, fazendo-a se tornar o alicerce da sua casa e
a moldando para ser a presença materna e paterna para suas irmãs. Não é de riso fácil,
e muito menos de ser dobrada por homem, mas algo muda em sua vida quando seus
olhos se cruzam com o peão chucro, Zeca Morais. Ele fará de tudo para laçar a mulher
endiabrada, que faz seu coração disparar. Um amor nasce sem freios entre os dois em
meio aos cafezais. E juntos terão que enfrentar um grande inimigo, que fará de tudo
para acabar com a vida de Zeca Morais.
João Paulo Guerra ama a vida que leva, sem ter que dar satisfação do seu destino para
ninguém. No entanto, ele tem apenas uma fraqueza, a qual nunca permitiu nem sequer
se aproximar, pois é a sua perdição. Uma criatura pequena, de boca atrevida, que
sempre lhe provoca. A cada dia está mais difícil ele esconder o sentimento que
aumenta dentro do seu peito por Maria de Lurdes. Mas, entre intrigas, mentiras e
maldades que rondam Maria de Lurdes e João Paulo, eles se aproximam,
especialmente quando Maria é condenada por toda a cidade, com injúrias e calúnias
sendo desferidas contra ela. Porém, há um mal maior a espreitando, o que faz com que
João jogue as cartas na mesa e mostre o lado cruel da família Guerra para defender a
pessoa que ama.

Yane Rinna tem sua vida mudada da água para o vinho quando se torna testemunha
principal de um assassinato. Ela se vê obrigada a entrar em um disfarce para garantir
sua segurança até o dia do julgamento. E de uma stripper desastrada, inteiramente
azarada, se torna uma freira monitora de quatro adolescentes rebeldes. O que ela não
imagina é que no último lugar que poderia sonhar, o amor e o desejo puro estarão no
ar. Dener Murati, o vizinho aristocrata do convento, tem seu autocontrole testado por
uma fajuta freira sexy, nada santa, que invade sua residência para se refrescar na
calada da noite, pelada, em sua piscina. A pequena feiticeira que o encanta vai virar
sua vida meticulosamente organizada de cabeça para baixo.
Cristina Self passou anos reclusa em seu mundo seguro, o qual criou para si mesma
depois de uma separação conturbada e violenta. Até que seu caminho se cruzou com o
notório advogado criminalista Ariel Miller, conhecido nos tribunais por seu cinismo e
frieza calculista. Seduzida pelo magnetismo que ele possui, a encantando com seu
olhar intenso, Cristina se desprende do seu mundo seguro, se permitindo se perder por
uma única noite no calor dos braços do charmoso homem. Mas o que Cristina não
sabe é que o destino tem outros planos para eles, um que ligará as duas almas
quebradas para sempre. E de um engano nada angelical, mas sim completamente sexy
e envolvente, Cristina irá do céu ao inferno para viver sua história de amor.
AVISO DE GATILHO: o livro contém violência doméstica e relacionamento abusivo.
Doty só queria uma coisa: achar o miserável que engravidou Tifany e chutar o rabo
dele até Dallas.
A única coisa que Joe queria era dobrar o demônio de olhos negros que o tirou do
sério e fazê-la pagar por sua língua afiada e boca suja.
Uma proposta!
Sete dias!
E tudo foi para os ares!

Um pacto incomum entre duas amigas, na adolescência, as precede na vida adulta.


Miranda Lester, uma jovem universitária gananciosa e cínica, prestes a ter seu
sonhado diploma, não vê impedimento algum em tirar da prostituição o dinheiro que
paga por seus estudos, pelo conforto da sua família e pela vida de luxo que ela
aprecia. Focada em uma meta que deseja bater antes de largar de vez seu trabalho, cria
um esquema de prostituição usando sua loja, a BDL, como fachada, entregando aos
seus clientes as melhores babás de luxo para adultos que eles possam desejar. O
caminho de Miranda se cruza com um intenso e poderoso admirador, o qual
despertará emoções e desejos antigos nela, silenciados por sua vida adulta precoce,
que a fez amadurecer rapidamente. A chegada de Mr. Red em seu caminho a faz
questionar até onde realmente ela será capaz de ir para manter sua lealdade, sua
ambição por dinheiro e, principalmente, até qual ponto o amor pode levá-la. Um
romance intenso, envolvente, sórdido, soberbo e pecaminoso, com duas almas
nefastas marcadas por seus passados corrompidos, que acarreta em um enlace que os
liga além da moralidade da sociedade.

[1]Personagem principal do livro SODOMA: Um jogo perigoso.


[2] Tríade é um conjunto de ramificações de uma sociedade secreta surgida na China
durante o século XVI e que se expandiu para outros países após 1842, quando a China
perdeu a Guerra do Ópio para a Inglaterra. É importante ressaltar que as Tríades
chinesas não são a mesma coisa que "máfia chinesa". As Tríades são uma organização
geográfica, étnica, cultural e estruturalmente única, sendo que apenas uma parcela de
seus membros é ligada à criminalidade.
[3] Vá se foder.
[4] A piromania é um transtorno psicológico no qual a pessoa tem tendência em
incendiar as coisas, por sentir prazer e satisfação no processo de preparação do
incêndio ou ao observar os resultados e estragos provocados pelo fogo.
[5] Curador, comissário de exposições ou conservador de arte é uma pessoa
responsável pela concepção das obras de arte, montagem e supervisão de uma
exposição da obra, além de ser também o responsável pela execução e revisão do
catálogo da exposição. Existem curadores de caráter público ou privado. Podem atuar
em galerias de arte, museus e fundações.
[6] Charles Milles Manson, nascido Charles Milles Maddox (Cincinnati, 12 de
novembro de 1934 – Bakersfield, 19 de novembro de 2017) foi um criminoso
estadunidense. Em meados de 1967, ele formou e liderou o que ficou conhecido como
"Família Manson", uma seita que atuava na Califórnia. Seus seguidores cometeram
uma série de nove assassinatos em quatro locais em julho e agosto de 1969.
[7] Fitzwilliam Darcy Esquire, geralmente referido como Mr. Darcy, é um dos dois
personagens centrais do romance de Jane Austen de 1813, Orgulho e Preconceito. Ele
é um arquétipo do herói romântico distante, e um interesse romântico de Elizabeth
Bennet, a protagonista do romance.
[8] É um jogo de cartas.
[9] Freddy Krueger é um personagem fictício da série de filmes de terror A Nightmare
on Elm Street (no Brasil, A Hora do Pesadelo; em Portugal, Pesadelo em Elm Street).
Freddy é um assassino de crianças da fictícia Springwood, Ohio, que após ser
queimado por pais vingativos, passa a atacar adolescentes em seus sonhos, matando-
os no mundo real.
[10] A criação de Adão é parte de um afresco presente na Capela Sistina, em Roma.
Quem fez a encomenda foi o papa Júlio II, no ano de 1508. Concretizado em apenas
dois anos, o trabalho realizado no teto é uma das obras-primas do artista plástico
Michelangelo. As representações belíssimas, pintadas em proporções distintas,
registram passagens bíblicas. A parcela que ficou mais consagrada na história da arte
foi a dedicada à criação do mundo, onde Deus e Adão quase se tocam.
[11] É um filme ítalo-estadunidense de 1979, do gênero drama histórico-biográfico,
dirigido por Tinto Brass, com roteiro de Gore Vidal. Contendo cenas adicionais
filmadas por Giancarlo Lui e por Bob Guccione, fundador da revista Penthouse, o
filme conta a história da ascensão e queda do imperador romano Gaius Caesar
Germanicus, mais conhecido como Calígula. Estrelado por Malcolm McDowell,
Calígula foi a primeira grande produção a mostrar atores famosos (John Gielgud,
Peter O'Toole, Helen Mirren) envolvidos em cenas de sexo explícito.
[12] Sadomasoquismo é dar ou receber prazer através de atos que envolvem o
recebimento ou a aplicação de dor física e moral. O termo sadomasoquismo é uma
palavra-valise de duas tendências opostas, o sadismo e o masoquismo. A abreviação
S&M é frequentemente utilizada para se referir ao sadomasoquismo.
[13] A dominatrix, uma mulher que exerce o papel de dominadora, sente prazer em
cuidar, ensinar, guiar, proteger e dominar alguém, sempre respeitando os limites
impostos por quem está sendo dominado.
[14] Os latinos chamavam-no também de Fauno e Silvano e tornou-se símbolo do
mundo por ser associado à natureza e simbolizar o universo.
[15] Pã (em grego: Πάν, transl.: Pán), na mitologia grega, é o deus dos bosques, dos
campos, dos rebanhos e dos pastores. Vive em grutas e vaga pelos vales e pelas
montanhas, caçando ou dançando com as ninfas. É representado com orelhas, chifres
e pernas de bode. Amante da música, traz sempre consigo uma flauta. É temido por
todos aqueles que necessitam atravessar as florestas à noite, pois as trevas e a solidão
da travessia os predispõem a pavores súbitos, desprovidos de qualquer causa aparente,
e que são atribuídos a Pã; daí o termo "pânico".
[16] William Shakespeare (Stratford-upon-Avon, 1564 (batizado a 26 de abril) –
Stratford-upon-Avon, 23 de abril de 1616) foi um poeta, dramaturgo e ator inglês, tido
como o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo. É
chamado frequentemente de poeta nacional da Inglaterra e de "Bardo do Avon" (ou
simplesmente The Bard, "O Bardo"). De suas obras, incluindo aquelas em
colaboração, restam até os dias de hoje 38 peças, 154 sonetos, dois longos poemas
narrativos, e mais alguns versos esparsos, cujas autorias, no entanto, são ainda
disputadas. Suas peças foram traduzidas para todas as principais línguas modernas e
são mais encenadas que as de qualquer outro dramaturgo. Muitos de seus textos e
temas permanecem vivos até os nossos dias, sendo revisitados com frequência,
especialmente no teatro, na televisão, no cinema e na literatura.
[17] Macbeth é uma das obras mais contundentes do dramaturgo britânico William
Shakespeare. Nesta tragédia, considerada a mais concisa, ele enfoca a ambição
humana, a cobiça desmedida e os fantasmas que assombram os atos criminosos. É
possível que o autor tenha elaborado esta história entre 1603 e 1606, não passando,
porém, de 1607.
[18] O transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) é um distúrbio da ansiedade
caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais em
decorrência de o portador ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de
situações traumáticas que, em geral, representaram ameaça à sua vida ou à vida de
terceiros.
[19] O Jardim das Delícias Terrenas é um tríptico de Hieronymus Bosch, que
descreve a história do Mundo a partir da criação, apresentando o paraíso terrestre e o
Inferno nas asas laterais.
[20] O transtorno parafílico se caracteriza em um determinado tipo de parafilia, em que
a busca do prazer, a satisfação provém do que causa sofrimento, angústia, prejuízos no
funcionamento social, ocupacional, dano ou risco pessoal e a outros indivíduos.
[21] A princípio, o masoquista é quem sofre de uma anomalia da sexualidade, na qual
leva o indivíduo a buscar o prazer sexual sentindo dor, fazendo com que outras
pessoas causem dor nelas. Ou seja, o prazer sexual só é sentido junto com a própria
dor.
[22] As parafilias podem definir-se enquanto perturbações sexuais, mais
especificamente, perturbações da orientação sexual, mais comumente designadas por
“perversões sexuais”, na gíria.
[23] Orgia que se promovia na Roma antiga, em honra de Baco, deus do vinho.
[24] Senhor Miyagi Keisuke Miyagi, ou Mestre Miyagi para os íntimos, foi o mestre
do Daniel San no filme Karatê Kid.
[25] O Crime do Padre Amaro é uma das obras do escritor português Eça de Queirós
mais difundidas por todo o mundo. Trata-se de uma obra polêmica, que causou
protestos da Igreja Católica, ao ser publicada em 1875, em Portugal.
[26] CSI Miami é uma série de televisão americana que mostrou o trabalho de
investigação criminal de uma equipe em Miami. O seriado foi o primeiro spin-off e
segunda série da franquia CSI Crime Scene Investigation.
[27] A dominação e submissão são práticas ligadas ao universo BDSM. Também
conhecido como D/S, é a forma de se denominar uma relação desigual estabelecida
entre duas pessoas, onde todo o poder é dado ao dominante e cabe a parte submissa
obedecer por livre e espontânea vontade, realizando tarefas e obedecendo ordens que
podem ou não ter conotação sexual. A dominação pode ser física ou mental.
[28] Acrotomofilia é a preferência sexual por pessoas que tenham alguma parte de seu
corpo amputada, pois a excitação é proporcionada justamente pela falta daquela parte.

[29] Swing ou troca de casais, é um relacionamento sexual entre dois casais estáveis
que praticam sexo grupal como uma atividade recreativa ou social. Existem correntes
que consideram o swing quando um casal adiciona um ou mais elementos numa
relação sexual. No entanto, o swing é um estilo de vida que casais adultos assumem
para permitir e realizar suas próprias fantasias juntando-se com outros casais com a
mesma filosofia para compartilharem a amizade e a intimidade sexual.
[30] Os Illuminati (plural da palavra em Latim illuminatus, "iluminados") é um nome
dado a vários grupos secretos, tanto reais quanto fictícios. Historicamente, o nome
geralmente se refere aos Illuminati da Baviera, uma sociedade secreta da época do
Iluminismo fundada em 1 de maio de 1776. Os objetivos da sociedade eram opor-se à
superstição, ao obscurantismo, à influência religiosa sobre a vida pública e aos abusos
de poder do estado.
[31] Messalina era poderosa e influente, com uma reputação de ser promíscua, alega-se
que ela teria conspirado contra o marido e foi executada quando o plano foi
descoberto.
[32] Shibari é um verbo japonês que significa literalmente amarrar ou ligar. É uma
expressão que tomou um sentido diferente no século XX, quando o uso da corda
(nawa em japonês) começa a ser utilizada no contexto para fim erótico.
[33] Bondage é uma prática BDSM que consiste em prender, amarrar e/ou restringir
consensualmente um parceiro para fins estéticos, eróticos e/ou sensoriais. Um parceiro
pode ser fisicamente restringido de várias maneiras, incluindo o uso de corda,
algemas, vendas, coleiras, fita adesiva, mordaça, grilhão, entre outros.
[34] BDSM é a sigla que denomina um conjunto de práticas consensuais envolvendo
bondage e disciplina, dominação e submissão, sadomasoquismo e outros tipos de
comportamento sexual humano relacionados.
[35] Ginger Roy é protagonista do livro Sodoma: Um jogo perigoso.
[36] Vinte Mil Léguas Submarinas (no original, em francês: Vingt mille lieues sous les
mers) é uma das obras literárias mais famosas do escritor Júlio Verne. Originalmente
publicada em forma de uma série no periódico Magasin d'Éducation et de Récréation,
de Março de 1869 a Junho de 1870, teve uma edição ilustrada publicada em
Novembro de 1871, com 111 ilustrações por Alphonse de Neuville e Édouard Riou.
[37] Jon aparece em Sodoma: Um jogo perigoso.
[38] O Expressionismo foi um movimento artístico e cultural de vanguarda surgido na
Alemanha no início do século XX, transversal aos campos artísticos da arquitetura,
artes plásticas, literatura, música, cinema, teatro, dança e fotografia. Manifestou-se
inicialmente através da pintura, coincidindo com o aparecimento do fauvismo francês,
o que tornaria ambos os movimentos artísticos os primeiros representantes das
chamadas "vanguardas históricas".
[39] É um romance de mistério psicológico de 1954 por Boileau-Narcejac,
originalmente publicado em francês como D'entre les morts ( lit. '"From Between the
Dead"'). Serviu de base para o filme de Alfred Hitchcock , Vertigo, de 1958.
[40] Vertigo : Um Corpo que Cai/A Mulher que Viveu Duas Vezes é um filme
estadunidense de 1958, dos gêneros film noir e thriller psicológico, dirigido e
produzido por Alfred Hitchcock. A história foi baseada no romance de 1954, D'entre
les morts (Dentre os Mortos) por Boileau-Narcejac. O roteiro foi escrito por Alec
Coppel e Samuel A. Taylor.
[41] Futebol de mesa.
[42] Ocitocina ou oxitocina é um hormônio produzido pelo hipotálamo e armazenado
na hipófise posterior (neuro-hipófise) tendo como função: promover as contrações
musculares uterinas; reduzir o sangramento durante o parto; estimular a libertação do
leite materno; desenvolver apego e empatia entre pessoas; produzir parte do prazer do
orgasmo.
[43] Baunilha ou vanilla é o nome que, dentro do jargão da subcultura BDSM, se
aplica ao chamado sexo convencional. Predominantemente, o termo é utilizado para
denominar as condutas sexuais que caem dentro da faixa de normalidade para uma
determinada cultura ou subcultura, e se refere geralmente aos comportamentos sexuais
que não incluem elementos de BDSM: parafilias, kinks ou fetichismos.
[44] Jumanji é um filme americano de 1995 baseado em Jumanji, um livro infantil de
1982 escrito e ilustrado por Chris Van Allsburg. A história descreve um jogo de
tabuleiro com temática da natureza, onde animais reais e outros elementos aparecem
magicamente assim que um jogador joga os dados.
[45] A ninfomania, atualmente chamada de hipersexualidade feminina, é um transtorno
psiquiátrico na mulher caracterizado pelo excesso de apetite sexual ou desejo
compulsivo por sexo.
[46] A Pornografia hardcore ou hard core, é um gênero pornográfico adulto
notabilizado por conter cenas de sexo explícito em todas as formas possíveis, com o
detalhamento específico de genitálias em ações de sexo vaginal, sexo oral, de sexo
anal, ejaculações, entre outras.
[47] Na esgrima, touché (lit. "tocado", em francês; pronuncia-se tu-chê) é usado como
um reconhecimento de um golpe, dito pelo esgrimista que foi golpeado. Um árbitro
pode dizer "touché" para referir-se a um toque usando, por exemplo, a voz francesa:
para "sem ponto", que é "pas de touché" ("não tocado").
[48] Uma.
[49] Menina.
[50] Deus.
[51] Mulher.
[52] Não.
[53] Boneca russa.
[54] Hieróglifo ou hieroglifo (grego antigo, hieros, “sagrado” e glyphein, “gravar”,
"escrita sagrada" é como foram chamados cada um dos caracteres usados como escrita
no Egito Antigo. As escritas logográficas que são pictográficas na forma de modo a
lembrar o antigo egípcio, são às vezes também chamadas de "hieróglifos".
[55] Uma deusa antiga da mitologia egípcia.
[56] Anúbis (em grego clássico: Ἄνουβις) ou Anupo foi como ficou conhecido pelos
gregos o deus egípcio antigo dos mortos e moribundos, guiava e conduzia a alma dos
mortos no submundo. Anúbis era sempre representado com cabeça de chacal.
[57] Skynet é um personagem recorrente da saga Terminator, no papel de principal
antagonista. Skynet é o nome da inteligência artificial que lidera o exército de
máquinas na guerra do futuro contra os humanos, no filme O Exterminador do
Futuro.
[58] Hannibal Lecter é um célebre personagem de ficção criado pelo escritor Thomas
Harris, que apareceu pela primeira vez no livro Dragão Vermelho, de 1981. No
cinema, Hannibal estreou no filme Manhunter, de 1986, interpretado por Brian Cox,
mas, foi apenas no filme The Silence of the Lambs (1991) que o personagem, desta
vez interpretado por Anthony Hopkins, ficou famoso. Mais três filmes e três livros
sobre o médico canibal foram produzidos.

[59] Rá (do português Ré) é o Deus Egípcio do Sol, sendo a principal divindade da
religião egípcia. O culto ao Deus Sol foi muito próspero no Egito, sendo a principal
forma de adoração e um culto oficial por cerca de vinte séculos.
[60] Bábaika é a palavra russa usada para se referir à criatura, que em outras culturas, é
chamada de bicho-papão. Essa criatura geralmente leva embora as crianças que se
comportam mal.
[61] Esse tipo de luz é muito usado pela perícia para a análise de cenas de crime, pois
alguns fluidos fisiológicos, tais como sêmen, saliva e urina, bem como fragmentos de
ossos e dentes, fosforescem na presença da luz negra.
[62] Audrey Kathleen Hepburn-Ruston (Bruxelas, 4 de maio de 1929 — Tolochenaz,
20 de janeiro de 1993), mais conhecida como Audrey Hepburn, foi uma atriz e
filantropa britânica. Após pequenas aparições em vários filmes, ela estrelou na
Broadway na peça Gigi depois de ter sido descoberta pela romancista francesa
Colette, em cujo trabalho a peça foi baseada.
[63] My Fair Lady (Brasil: Minha Bela Dama ou Minha Querida Dama / Portugal:
Minha Linda Lady ou Minha Linda Senhora) é um filme estadunidense de 1964, do
gênero comédia musical, dirigido por George Cukor e baseado na peça teatral
Pigmalião, de George Bernard Shaw.
[64] A Crise de Pânico é um mal-estar súbito que acomete algumas pessoas, gerando
um grande desconforto físico e mental. Geralmente se dá em pacientes com
diagnóstico de Síndrome do Pânico, um transtorno psicológico caracterizado por
causar desespero, mal-estar repentino e sensação de que algo terrível está prestes a
acontecer.
[65] Os 120 dias de Sodoma, ou a Escola de Libertinagem (Les 120 Journées de
Sodome ou l'école du libertinage) é um romance do escritor e nobre francês Donatien
Alphonse François, marquês de Sade. Descrito como pornográfico e erótico, foi
escrito em 1785.
[66] O conceito da superioridade racial germânica, exaltado pelo nazismo através da
associação com a raça ariana, segundo Phillip Wayne Powell (Tree Of Hate, 1985),
teve início na Alemanha do século XV, quando os germânicos começaram a se
ressentir do fato milenar dos italianos olharem para eles com desdém, como um povo
inferior e atrasado.
[67] Termo pejorativo.
[68] Minha tigresa brava.
[69] Para mim é só a companheira dele.

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