You are on page 1of 40

'

r" I • ' * *.

? l_l
Kl
'¦*.*
¦
iifBH ii -Hliiii-
«f. 1950 .

¦.-, " ¦ ¦
i_J_i__-____

* «cW- : * .-1.

"m®

________; *j__B__n '^v


* *l B
".* '-^1
^|7!
ifcáll_itô_|^^^^ ;';*í^____:'
mm
",*'-,-'

ea_«3_af-?
^98.' *
_^B__3_^#í
%.fS*_ra
íV-.;--"¦'¦"*'*'¦• ^|B'""¦

¦V^V.'W_____

\:^> _.¦:'•¦'.•*._'.'.''¦•*¦ ."¦: !.;¦:_ 7*-*, v i".""»

*%^__?^^&á^_SU_i__B

v«i #
!«;^H_ -H
II
__J
^s ___. ___________________ m
¦. '*. Í^Í^^_«ai'____;^Ví'''''''''''';*'v''«^__________________L H ^H
.** .;.

. . -.•* __¦* ¦________________. _______________¦ v


__r
H^n ___. ______________¦
II
g5_ar' 1
êÊÊÊ S__^í»S___5^''*'^__________k-•:''-"V<
* __r **-
¦ '¦'í-'
____
_____> H
I
H '" ___¦ ¦ *
^j_-^>'_í*^__!'',,'v'*í-'v'- • ____k _________________________________H
-•_,.__
$Ê<Wsse\wi&* Wi^X-.ASmmF-A1'':
Af **_^*-*^5_i^8I ______ _____________________________
______ ¦ _____
_a_^_^@£__^ri___%^_9B_l
_______f"í_:^^^Bj-,^j
vv^^j^^^' ^É| ^^m _______________________________ _
S^^^^^^^^pfegra«raBres_H_E_^í!___Í^S
__*______!__$
raSs-.*** '__. *'-4iÍ_8 '____'' _____

affvewjcana
. -I^H
___n__B__-S_a_________B____B^__l_______________
msÊk^mm :-r.?r'r~J-í í-/-a* -.."¦<-______rr
ISM^_®TOy__fí3_ll*í5^^r
¦
fi^5M__3«_____g_-M!^g__ri5i..
.*"^g H_ .^fl^^^g^^^^^^^^ ^
"W
^^a^ ^^
______¦_____
.
__________ ______________k _______
_r¥l#
'Ma:aMM0ZL
¦ * v»HE_f5l«I__* ^^ - ^^ ^^
^^ : ÍF57?. • ^^
""**'-
' ' t3»s8 ..."

__..r.^_____rt^___w^M___S^-^^^___t_M_F!^^
mm, II
p*x'^^T_______r^*^*^_________r^í^____B^_____HS^ I -
EXIGIMOS A INTERDIÇÃO ABSOLUTA DA ARMA
llfB___I____lJ_._l_^^ y ATÔMICA, ARMA DE TERROR E EXTERMÍNIO MASSIÇO J|
• <'«i>!$s_P___«b______s_í - .'_^^/_w_tfV.'____'-' nni< *-
M'4_ll_#«»^w
.'¦," '',',¦¦:-.. .¦' - 'SzlÍESflEwF ¦JBPBlHllBBlHWMI_Ti___F______WllBTf^ . ^^]*-_-_*-ff---r--?-----_M_-^
S_^S_^S^__I^_f_s____í
.-¦*-' __:_!3_^B__SÍa__3l
_i'at_14_l
DE POPULAÇÕES.
EXIGIMOS AO MESMO TEMPO, Q. £STABELEC!MEN-
¦rV-âl?*- _J I JLsfls-JW! 1^. . _# .. 3____ . . _-_... . .
1?"
_S ME____W_a_
.J..^_'^-*_:.^__-_--a-----__s^_Vri.
Ui«.-:: '-'-^____é___l'.í
__y__a_l _M_____Ét¦•__l___>____.:' '-'.
IH _H- iii «i»^ _^a ¦ife-r TO DE UM RI|_^qSÔ^C^JI^E\INJ|RNACIONAL
F'-','l7-jT__^
:''^e\W »_»_¦ Br__S__l _____.*'^
-
_^_---fc®w!B^^^BKl^^í_Í^^_9™&felÊS__B__g_^al
IfWSIJB^Ev^K OUE ASSEGURE A APLICAÇÃO DA MEDIDA DE INTER^
fmf^^^Wk __________KtKtc^__________T___________k'z-.'-^l
Km F_^__PK^
'1 ví^____l__^ P
«rw* '^ .^__________V*____V'Ti_t-r____H
tWÊ&ê'_____1__E^ B^ '
BH^*^**i-_iHBÉf_SW___P_^___ã^^H^______H
fiBf(ín8IBf_B_Hr_K2M"IW_!_íír_s__rt %! s3lJ9Ca&rí-A^f7l^''St i_^^__i__«s^''i * ' '**3PIKS^^§I?^S__^_I
i i_: _f^. ~. ^KsaKA^iJB-l _ *T_ai-"?'^^-r •?-H'>_!;wBSi_gBiÍ3_^>8gra8_jJ_^. j KBi™_?__S_a_g*^g__£i
-s *-._í'
f£__^-;s.í'?í__S
SHa^sai__S •í^1^2^_il^_s_'_K?S_^* -'"'-'•^____Rj_B TÊwÊ&fí-'^-Mm^HÍIstMiãfW^ I DIÇÃO.
SSEffi^-íí"? ^í*'*.-• *• '••¦••••-«Irfl

B^^f^^ta^:;^*^:V*'--'•/;:•>;•,..;•¦*."¦ &tf^^JÈ_wí
S_^J#-_Í^ CONSIDERAMOS C$JJj__i <L«£OVÊRNO OUE PRI-\
MEIRO UTILIZAR A ARMA ATÔMICA, NÃO IMPORTA
JEfCR* <2t5T5t|Tf)0
eSzs5SfflSíS__8»i -.'.• a i
IMANí©ADE~e" DEVERÁ4-^!! TRAT^
-___«& -. • á^sS"
COMO CRIMINOSO DE GUERRA.
^%^^«^^^$___ttV»_%^__Sj_e
_S^^l_______S--i/í'.íí!
f_^»_a_iÍS_M
: *•' - '.... ¦¦-. ^-. ií.-íi^SiííWiíSr > <^ i«.,s ,__?__SS__Sk-; "¦ ¦" - '¦
ÍK

SOLICITAMOS A TODOS OS HOMENS DE BÔA


VONTADE DO MUNDO OUE ASSINEM ÊSTE APELO.
I "¦ 'V "¦'-" " ¦¦ •^'¦»-í_^-_-«-'-r.^»M;.'.-'. _'#M»'_i»__L'A
' "•
r'";: yi^^^Ê^^^M&SW^Mw^^^ ^-'"'-" ¦ .'-:'•'/;""?§'
r'¦¦'.
¦'."-.
*¦*.
'-.',>
I- «, .
-_^§®si^^ía^ss_a_H
Ei
I
i^l___Ml)_li^^^
; '^ü.''i_:MÍ.*Tííf-'5-5V"•.' .''.'*.'!..¦ __c_____^^ BS^^S-^^Sfe*' _¦:_; __i__S___â___i_íft_áÈ___!_* :-'
I'i-¦ ¦ .¦'_'¦.-> :V":-'íl;'"'".-';;'*''/,*.,' **'r*^^_a?jS__S___________MK_CT_J_iJ^ Sivi&s.!-^^____*___k______S___S__SjjSJOoM fi
* ví3?&-târ-S',!--^y'¦¦"¦'¦'- ' ¦ ¦•¦ ^^^*^BL%wlLwSi^^^iWBWKa^g^''*ivj*¦^'¦'y'.'>'K*SMS8,y•^'^-'^^'^^''''ííq^^^s^^^xFSSjBBb »

K_tt^^^^_f^^*^^i^____H_____n^>''" '¦""' __^ral^^^â_^l^^^^^l^l_fÍ_llÉ-l_^M l__^__^__^_^m_^_e_il______^^::^^^^^^^


mmÊmmitMÈuA^
' 'j]!J?f£?nK.f^ ''-
¥k

-3 ¦ "BhR*''k;'*i- -
,ii_^%T^^%^^_j^M____§_^__^E^^_^T__^^^_or:_' '*-_____^^

^* -',^4HHHHkHPíp^h^^ ^3 9Hh__í_________I
»- t^»^fe <5 ; t^hHI HH l'<<
WÊÉÊÊm>- WÊ&mÊ IM I y
Lfâ..0ffl-&pL-0^,m^dL#iWg^ :-~ , :,.- :i<S_____________i____::$v:w___MllHIM^ *
rI 'tW.1**. /Pt-»" í-*^*^?» 7 .?./;«' r _«___£l________iy_L«J^__ntt?^_r

II t^SSi^PÍ-. 'VjÍTfJ»"^*. •'v*-'1, ^"^ p^^ ^^ •*


^^ ^^
¦• ^íi^m_^j^j^P-_i ^'^''^ *•'"'"" ^ * ^^•__^>^^:íí___^i_^^_^_è^
"'
V; -*^.'"-^y •^^^EB^^^Wfi_^_^
¦ ^^^B^^^^^^Mfe^^^^^1^®!^ ^
;s#s^^_í^^™s5^^^^Mliaire* ¦* • á^^^.-s^w^"** ^^•^^il^íf -;_3^P_- -#-. íáüH
•*bÊstâ8È&fc1^^ $
••;¦.'...:;_
¦'....
. __i ^_ü mi ^^^éé*-^*^^*^^ ^ ^^^^^^p=^^ií^^^^P'* . *.,: *$êèê.
¦**
-
i^»^«^_^» ^l^^^«_^M^»^lJrara
II ifiS^^K V^^^S^S
II ^B«i; VW^W
:«^-.<;:^ívj-1í||.; T^^ ^ y^^m^m^^^^m^^^ Jr j&"--wm--^
• "'••I

I ¦Mte^' >^Ff«»
ff«^,^^f
" •' r-^* __ ^ _fWím
ira

aSISlHãS13
II I¦»1^^A
____.:V^^^^^I%^^::>%:
\»wi^ ¦
___rV______S__r^ ____¦_______!¦Iffl
¦I _^__r _ ¦________¦ ¦
_-^^_i _¦ ^^|M eWw. __íf__-____f_^___i___f_l______8
IH wmwWWm áf^mjMjm ^H
^H ^^^KV
*™^«I _^r<o^ffei^^í^'__*í:iiÍ#.
^ ^^^H ^^V ______3B I S____0^_'____í______Affi^'.^^¦¦"•¦•___^_S_^*_*.',- í-í*»V*>>.\S'. ¦•
ilkTJ ¦ ^_____l I ____7i ¦ ¦_¦ _______B_H SSSaKis _í* :•:¦>:•' ^SSÈv.•::•**_:•"5";
i_^lA_Sám_«J_i'•^ 1 *^^S________lmi!!!_il,_^Ji^ijy^^lmrrrJ^iffl
I ____¦ ________¦ ¦ ___. _¦ ^______ ______________¦ _____¦ ¦
¦ _¦__ __r _Q
^^^^^:*^^-^^%^ ^^_f^»^^^^í-;^?_?l_^^_^?^^.*_fe^ -':*•*':-**" •*• '¦¦¦•¦¦'••• ^!^:;^ ¦
¦
w|^^BWp^^ç^_^-^í|iç^*^Tf: _p
!^B^^^^^^^^^^^^|^^^BBw_í^_bB__I__^________B____m^ '•*-. ^^3___S*o?S-_Ív_^^ír^^'È^^ '*'^v^'*-_* :*"-; **,.«§«-H
^Km^^B^-^S
||H| ¦tvC;;-*^*.'. «*vs;>. <i^^;Cs^>_yX."'.A.v^-ffiçBÍy^^ __wJ_K'-** *"• •• ^8r*flfc__>t___ ^%

v •"•>-" .v> _ _*_S__3___BHÍ ___P5W_- \v.' •. • .V-•• _.¦* * __ÜSC*v-. . . .ju* s* -___•¦• vSSHKOC*.-.* . v___wv9laor v^SB____HI___*í_SJ0 _,_>lfiv7ttCÍ-__> •__.

^*"' '*$:• V
^-^ iíí.:^mS -:^'*^
i_. ^^_^_r-^ yjA.-. ^i'.$fà'A&.-y.i?tt
«it ,-..,- ?- ^^Í^^^_SK_;ÍÍ.:: %.:*•:. /v5^Ã^**^^_____8__^_?^^^^_;-_^ :^5?»P^#- . _____g_á^tofc_' - ,<^--^ WHf
" 'li 9
'".__ _____Tl T _.. r *
HB^ K* ' aí

I mt km^^^Ám m\ II mv,

HP'.' -

II • N.o 15 • Maio-Junho 1950

{eomissão de Redação: Afonso Schmidt,


^Artwr Neves, Caio Prado Júnior, J. E.
hy
\Fernandes e Rui Barbosa Cardoso.

* .,

/Onselho de Redação: Annibal M. Machado,


Wíparicio Torelli, Artur Ramos (f), Astro- Concurso de contos Monteiro Lobato
$jildo Pereira, Cândido Portinari, Clóvis
^Çhracixmo, Edison Carneiro, Qaleão Couti-
ç^jriho, Graciliano Ramos, J. Vilanova Arti- a PRO' APELO DE ESTOCOLMO >>
ftlífas, Mario Schenberg, Moacir rWerneck de
lastro, Oscar Niemeyer e Samuel Barnsley
Pessoa.

INDICE "10 MIL CRUZEIROS PARA O MELHOR CONTO
^mLJx X UiílAJj . . o
PRONUNCIAMENTOS SÔBRE A
4 CONTRA A BOMBA ATÔMICA"
^BOMBA ATÔMICA
^ ALTA DO CAFÉ — POLÍTICA DE
COLONIZAÇÃO — Elias Chaves Fundamentos, no intuito de incentivar a luta pela interdição das
JÜ 7
Neto armas atômicas e levando em conta que o APELO DE ESTOCOLMO
PAPEL E TAREFAS DO ESCRITOR constitue a mais alta expressão dessa campanha humanitária, resolveu,
SOCIALISTA — Jakub Berman .. 10
CRISE DÈ ENERGIA ELÉTRICA
em resposta àquele histórico documento, instituir o presente concurso
— Catulo Branco 13 PRÓ ÀPÊLO DE ESTOCOLMO, cujo prêmio único leva o nome do
QUEM É KERÉNSKI —- Palmiro Tog- grande escritor que fundou esta revista.
liatti 14
V LEMBRANÇAS — Afonso Schmidt .. 17
EXIJAMOS A INTERDIÇÃO DAS AR-
MAS ATÔMICAS — Mário Schen- CONDIÇÕES GERAIS
.¦.*:''*.

CONTRIBUIÇÃO AO III CONGRES- i.°) Os contos deverão constituir uma contribuição à luta pela paz e pela
SO DOS ESCRITORES — João interdição das armas atômicas.
Palma Neto 20
2.°) Os originais devem ser datilografados em 3 vias, com dois espaços, e
APRO.. .fundamentos — Barão de Ita- ser enviados à redação de FUNDAMENTOS até 30 de setembro p. fu-
raré .... 22 turo. Não deverão ultrapassar 10 laudas, formato oficio.
? A TRAGÉDIA PEQUENO-BURGUESA
NUM PALCO DA BRODWAY — 3.°) Os trabalhos devem ser assinados com pseudônimo. Em envelope à
Jacob Gorender 23 parte, fechado, que acompanhará os originais, e só será aberto após o
julgamento, o autor deverá fornecer o seu nome, o seu pseudônimo
ÇIPRIANO BARATA, JORNALISTA e o titulo do conto para a identificação futura.
POLÍTICO — Fernando Segis-
muncto ^3: 4.°) Êste concurso está aberto não só. aos escritores profissionais, como a
[RADENTES — Diego Pires de Cam- toda e qualquer pessoa que a êle queira concorrer.
5.°) Será concedido um único prêmio de Cr. 10.000,00 ao conto que obtiver
MISTIFICAÇÃO E PLANO MAR- o 1.° lugar.
SHALL — Carlos Frederico 29 6.°) Serão concedidas MENÇÕES HONROSAS aos contos classificados em
NOTÁVEIS PROGRESSOS DA MEDI- 2.° e 3.° lugares e os mesmos serão ilustrados, e publicados em FUN-
CINA SOVIÉTICA — Ivan Kocher- DAMENTOS.
guin 31 x 7.°) FUNDAMENTOS terá o direito, sem qualquer outra remuneração, de
VOS SÁBIOS ENTRE OS LOUCOS — publicar todo e qualquer conto que entrar em concurso. Os originais
Mareei Cachin 31 não serão devolvidos. •" ¦ •:
'
i *; -;¦
,

OS HOMENS DE AMANHÃ — Ester


___

.. v .
¦: . :C .: .{' V,V.VV:-:
., Chiaverini ....: 32 .

:A GRANDE ARTE — V. Pudovkin .. 33


A ALUCINANTE ORQUESTRA — COMISSÃO JULGADORA
Jorge Amado 34 m
IfcüSICA 35 AFONSO SCHMIDT — GALEÃO COUTINHO — HELENA SILVEIRA
pTOTAS ^ NOTICIAS 37
VO ESTADO POLICIAL NOS ESTADOS JOSÉ GERALDO VIEIRA — ARTUR NEVES.
UNIDOS 38
Jll
' CONVENÇÃO FEMININA 38
pESENHA POLÍTICA DO MflSS ...... 39

• ¦¦
>iretor responsável: Rui Barbosa Cardoso, A SERVIÇO DA PAZ
PONHA SUA INTELIGÊNCIA

tedáção e Administração: Rua Barão de CONCORRENDO A ÊSTE HONROSO PRÊMIO LITERÁRIO
JtCmpetiwmga 275 - 9S - S. 96 - São Paulo

VISTA DE CULTURA MODERNA

*:
m,t,-\-_. :- .,*;*¦ - .^ .¦__, ¦ —, - ._,.-!¦;_¦•¦ j ...:.¦ ..* -¦--• *¦-

*
-
¦-,',.
.

NDA.DOR
'SraiMi
z -
À CRUZADA HUMANITÁRIA
Os diretores, redatores e auxiliares de admi- Comitê Mundial dos Partidários da Paz, em sua
"FUNDAMENTOS", cumprindo o Terceira Reunião Plenária de Estocolmo, e assim
nistração de
seu dever de cidadãos para com a humanidade, redigido:
subscrevem integralmente o apelo lançado pelo

Exigimos a interdição absoluta da arma atômica, arma


de terror e de extermínio maciço de populações.
Exigimos ao mesmo tempo, o estabelecimento de um rigo-
roso controle internacional que assegure a aplicação da medida
de interdição.
^ Consideramos que o governo que primeiro utilizar a arma ¦"?«

atômica, não importa contra que país, terá cometido um crime


contra a humanidade e deverá ser tratado como criminoso de
w
guerra.
Solicitamos a todos ós homens de boa vontade do mundo
que assinem este apelo. {••' Z-ly_

im.
. ---FM

0 grande movimentados Partidários da Paz Em face dessa sombria perspectiva, o homem


visando impedir a deflagração de uma terceira tem hoje diante de si a própria luta pela vida,
guerra, já atinge as populações de todos os países que, em sentido prático do momento, se traduz
e entrou agora na sua fase culminante, com o na campanha mundial pela interdição das armas
Apelo de Estocolmo para a interdiç|o_das armas atômicas, luta essa que constitui, por seu objetivo Ji

atômicas e para a caracterização como criminoso o denominador comum da união dos homens e ir
Vííi

de guerra aquele governo que primeiro fizer uso mulheres de todas as crenças, religiões, ideologias,
do bombardeio atômico. , raças, e convicções políticas. k ¦v. V/i

E' grande a responsabilidade dos intelectuais A Assembléia Geral da ONU, compreendendo ¦'•y-'4'y

nesse 'amplo movimento de opinião que visa o o papel decisivo que representa a arma nuclear
banimento do uso das armas de reação nuclear, no problema guerra e paz, aprovou em 24 de
janeiro e 14 de dezembro de 1946 uma indicação
m
porque foram os intelectuais de vanguarda de
Zi/f-T.

todo mundo, representados no memorável Con- no sentido da interdição da bomba atômica, pro-
gresso de Wroclaw, no outono de 1948, que inau- pondo que o Conselho de Segurança estabelecesse
um sistema capaz de garantir a proibição de uso
guraram a jornada mundial dos Partidários da da energia atômica para fins de guerra estabele-
Paz, agora em pleno desenvolvimento, depois de
marcar suas etapas mais vigorosas com o Pri- cendo-se para isto uma fiscalização internacional
meiro Congresso Mundial de Paris, com o Con- à altura da sua finalidade. A ONU não conse- 1
guiu, porém, sair do impasse criado no problema m
gresso Continental do México e inúmeros outros dos
congressos nacionais, a que têm estado sempre que, por isto mesmo, foi colocado nas mãos, ¦$9
m
hoje que
presentes os escritores, artistas e cientistas de povos. E toda a humanidade constata
todos os recantos da terra, numa demonstração o seu destino se encontra diante do dilema: a paz •¦'? •*

bem nítida do sentido de responsabilidade dos ou a guerra, e que o cerne da questão é a bomba 7
*

intelectuais no trabalho de. preservação da paz. atômica. mm


'A
Esta é a razão por que a interdição da bomba
Os escritores brasileiros há pouco reunidos em
' ' ¦¦'."

atômica passou a ser a chave da preservação da


Z¦-.-:.¦¦¦'!'.-!.;

seu Terceiro Congresso realizado na cidade do ¦§m


Salvador, colocando-se também diante de sua res- paz e como o problema está nas mãos dos povos,
somente a manifestação maciça da opinião mun-
ponsabilidade na luta contra uma nova conflagra- dial, através da campanha de assinaturas do
ção muidial, adotaram como uma de suas mais Apelo de Estocolmo, será capaz de fazer frustrar
importantes resoluções a interdição da bomba atô- os sinistros desígnios daqueles que pretendem de-
v-

mica, passo decisivo para a preservação da paz sencadear uma nova guerra.
¦F

entre os povos. Coriipreenderam os escritores bra- ; ;*"*j

sileiros, ao tomarem essa tão memorável resolução, Colocada a questão assim nestes seus justos
que uma nova guerra ameaçaria os fundamentos termos, não se pergunta com quem está o cidadão,
$8m
da própria civilização, porque todos os povos porque isto seria trabalho diversionista. Pergun-
passariam a ser alvos de bomardeio atômico, de- ta-se apenas a cada um: Sois pela vida ou pela
pois que a bomba atômica deixou de ser mono- morte? Pelo massacre atômico ou contra êle?
pólio de um só país, os Estados Unidos. As convicções de quantos respondem — pela vida,

Maio-Junko 1950
¦-F

Si**5*
•»¦« •»

*i
contra a bomba atômica — podem coexistir num a virem cumprir esse dever de honra, e manifesta
mundo de paz. As convicções dos que respon- a sua firme confiança na atitude de luta pela
z-
Z-Z
dem — pela morte, pela guerra atômica — de- paz de todos os escritores, artistas, cientistas, es-
nunciam a sua origem criminosa de reacionário tudantes, mulheres, jovens e do povo em geral,
fascista e não encontram repercussão no coração na certeza de que todos saberão responder à per-
generoso dos povos. gunta de todo dia, com concretos resultados po-
sitivos: — Quantas assinaturas você já colheu
Dentro dessa compreensão e do sentido dessa contra a bomba atômica? — Quantos coletores
responsabilidade, é que as figuras mais expressi- de assinaturas você conseguiu entre os seus amigos
vas de todos os setores, intelectual, artístico, ci- e conhecidos?
entífico, universitário, trabalhadores, escritores, A grande Gruzada Humanitária pela interdi-
pastores de todas as crenças, militares, mulheres ção da arma atômica vai lançando todos os ho-
e crianças, vêm engrossando o caudal de assina- mens e mulheres numa renhida emulação na co-
¦^>,r-
'.-¦¦¦

-fcz-'-'-'-:
' turas de apoio ao pronunciamento de interdição leta de assinaturas do Apelo de Estocolmo, emu-
da bomba atômica. lação essa que terá por certo grandes participantes
"FUNDAMENTOS" concita todos os intelec- entre os intelectuais e universitários, dispostos a
tuais que ainda não deram seu apoio e sua'ajuda superar as marcas dos maiores coletores que
ao movimento pró interdição da bomba atòniica operam em todos os setores.

í-K-

Pronunciamentos contra a bomba atômica


Do apelo do Comitê Internacional da Cruz Vermelha aos do progresso terá dentro em breve, estou certo, grande nú-
governos de 61 países, preconizando a proibição da arma atô- mero de aplicações, podendo superar de muito os combustíveis
mica: «O uso da bomba atômica impediria qualquer tentativa atualmente utilizados. Como arma de destruição em massa,
de socorro aos feridos de guerra, destruindo pela base todo a bomba atômica deve ser proibida.»
programa da Cruz Vermelha.»

Do Padre Medeiros Neto, deputado federal pelo P. S. D.


Da entrevista do ex-ehanceler Osvaldo Aranha: «A inter- de Alagoas: «Acho que esse engenho de terrível poder destrui-
dição da bomba atômica será o primeiro passo no sentido do dor deve ser condenado por todos os homens e mulheres, por
desarmamento geral, sem o qual a paz viverá ameaçada pela todos os governos e povos do mundo. Somente os que estão
força e pela brutalidade.» desesperados pelo ódio à humanidade ou pelas ambições de
domínio e de posse, os que estão voltados contra Deus e con-
tra a vida, poderão insistir ainda na manutenção de estoques
Do presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Sr. de bombas atômicas ou de hidrogênio. Como' sacerdote ou
Herbert Moses: «A bomba atômica, arma terrível de destrui- como homem público eu só tenho uma opinião a respeito do
ção em massa, entendo que deve ser proibida. Assim como os assunto: as bombas atômicas devem ser destruídas, os gover-
gases arfixiantes na última conflagração, a bomba atômica nos das nações que possuem esses instrumentos de morte
não deverá passar de uma ameaça no fundo do quadro.» deverão rapidamente entrar em acordo e criar uma comissão
a fim de controlar a destruição dessas bombas. Utilizárlas
contra mulheres e crianças, contra os povos que desejam a
Do presidente da Cruz Vermelha de S. Paulo, Sr. Francisco
paz e não a guerra, é um crime imperdoável contra a civiU-
Patti: «Em primeiro lugar, sou contra o uso de uma das zação, contra a humanidade, contra os preceitos cristãos.»
mais terríveis armas de extermínio, que torna impossível
qualquer socorro às vítimas, por uma questão de humanidade.
Em segundo lugar, uma questão ideológica, porque todos Do Dr. Francisco Mangabeira, líder católico e professor
nós, presidentes ou não da Cruz Vermelha, somos partidários da Universidade Católica do Bio de Janeiro: «A bomba atô-
de uma política internacional humana. Finalmente porque é mica e ainda mais a bomba de hidrogênio, por princípio, não
de esperar que o progresso do direito internacional torne se limitam aos pontos de estabelecimentos militares das cida-
desnecessário não só a bomba atômica como a própria guerra.» des. São feitas contra a população civil, para destruí-la, para
'
%z-:y
aniquilá-la, para reduzir a cinzas toda a cidade. São, pois,
instrumentos previamente destinados a uma atuação frontal-
Ainda da entrevista do Sr. Francisco Patti: «Depois da mente contrária às convenções internacionais e ao direito
bomba atômica não se poderá dizer que esta cidade é e aquela internacional. O seu simples fabrico já indica e revela o obje-
outra não é base militar. Todas passam a ser objetivos mili- tivo declarado de violação das convenções internacionais so-
tares e» todas são vulneráveis. As que constituem centros lenemente assinadas. Por isso mesmo, deve ser colocado fora
industriais, como São Paulo, serão alvo predileto em caso de da lei internacional, não somente* o uso das bombas atômicas,
guerra.» mas ainda o seu fabrico.»

Do romancista José Lins do Rego: «Sou contra a bomba Do escritor Aníbal Machado: «Da bomba atômica só po-
atômica como arma de destruição em massa de homens, mu- dera resultar a destruição de centros de cultura e progresso,
lheres e crianças, porque sou contra tudo que aparece contra um verdadeiro flagelo para a humanidade. E' de toda ur-
o homem e suas liberdades. Sou contra a bomba atômica
como sou contra o câncer, a lepra, a morféia. Aplicá-la para gência que se chegue, na ONU ou por outro meio quatquer, à
interdição das armas atômicas. Que nenhum dos paises que
fins de guerra e destruição é um crime imperdoável contra a as possuem chegue a tomar a iniciativa macabra de utilizá-las
humanidade.»
contra populações -civis inteiras, como meio de agressão e
• aniquilamento, seja de que nação fôr. Essa é uma daquelas
Do poeta Jorge de Lima: «Acho que a bomba atômica idéias que só podem unir o mundo inteiro.»
deve ser destruída eomo tudo que é mau.»

Do senador Lúcio Corrêa, do P. S. D. de Santa Catarina:


Do cientista César Lates, a maior autoridade em Física Os americanos já lançaram bombas atômicas sôbre o Japão.
Nuclear, do Brasil: «A energia atômica no sentida da paz e Não quero discutir se naquela oportunidade o fizeram acerta-

4 Fundamentos
• _.,„¦¦..

"•' - ' '' "


'¦'\.\u.'a;¦-:"/ -¦¦¦' A '¦¦

damente ou nâo. O que acho hoje, como cristão, é que nin- Resposta — «Julgaria esse governo indigno de pertencer .4,'t

guém deve jogar bomba atômica em ninguém.» à comunhão das nações civilizadas. O mínimo que lhe devia
acontecer era o fuzilamento de todos os seus membros.»

Do desenhista Augusto Rodrigues: «Sou contra todo e EMINENTES PERSONALIDADES ITALIANAS


MOBILIZAM-SE CONTRA A BOMBA ATÔMICA
qualquer elemento de destruição. Não só a bomba atômica,
como qualquer arma que destrua o homem, o indivíduo, são Informa um telegrama de Roma que em reunião de que
coisas que eu não posso aceitar.» participaram homens políticos de diversas tendências, inclu-
sive representantes da ala direita do Partido Democrata Cris-
tao, o velho estadista Vitor Manuel Orlando, ex-chefe do
Do Padre João Batista de Carvalho, deputado estadual, governo, que não pertence a nenhum partido político, leu um
pelo P. S. D. de São Paulo: «Todas essas armas devem ser manifesto pedindo a proibição imediata da bomba atômica.
destruídas. São armas desumanas, anticristãs, cujo emprego O manifesto formula o voto de que «seja declarada, entre
só pode ser inteiramente lesivo aos mais sagrados interesses as nações, a interdição absoluta das armas atômicas e a des- m
da humanidade. E' preciso lutar por todos os meios para truição das que existem, em ligação com a adoção de um
que não haja um governo que atire a bomba atômica em método de controle, de acôrdo entre as grandes potências.»
primeiro lugar.» Termina o manifesto condenando a ação de qualquer go-
• vêrno que infrinja tal proibição e responsabilizando-o perante
a humanidade como responsável por um crime contra o homem
Do escritor Gontijo de Carvalho, diretor da revista «Di-
e a humanidade em geral. Além de Orlando, assinaram o
gesto Econômico», são as declarações seguintes: manifesto mais dois antigos chefes do governo, Francisco Sa-
«Eu acho que a ciência não deve nunca servir a fins
verio Nitti e Ivanoe Bonomi, e o estadista, que foi o primeiro
guerreiros. Todos devemos cooperar para a manutenção da presidente da atual República Italiana, Enrico de Nicola.
/
paz no mundo, exigindo que as descobertas científicas sejam
empregadas no sentido do progresso, da construção. ERICO VERÍSSIMO CONTRA A BOMBA ATÔMICA
Prossegue:
«A bomba atômica é uma arma de extermínio indiscri- E' o seguinte o texto integral da declaração do escritor
minado que nos deixa a todos em constante sobressalto. A Érico Veríssimo sôbre a interdição do uso da bomba atômica:
sua existência é uma ameaça dirigida contra todos os homens «Com a bomba atômica está inventada a arma com que a
e mulheres do mundo. Por isso deve ser destruída. Eu não humanidade poderá eventualmente sucidar-se. Será, entre-
sou dos que acreditam na legenda «Si vis pacem, para bellum» tanto, um suicídio sem o consentimento da maioria, razão
(se queres a paz prepara-te para a guerra.) Eu acho que se por que talvez seja melhor e mais justo usar a expressão
queremos a paz temos de lutar por ela.» «assassinio em massa.»
E' urgente interditar a bomba atômica. Essa interdição
parece-me, só poderá ser feita por meio das Nações Unidas,
O universitário José Frejat, presidente da União Nacio- e a comissão encarregada do controle da produção de armas
nal de Estudantes, assim se manifestou: atômicas deverá ter acesso a todos os países.
«Devemos evitar a todo custo a deflagração de uma A paz só poderá ser mantida mediante o desarmamento
nova guerra. As guerras modernas são totais, atingem as dos exércitos e dos espíritos, seguido da solução duma série
populações civis. Por isso entendo que a bomba atômica e a de problemas econômicos e políticos.
bomba de hidrogênio devem ser postas fora da lei, assim como Parece-me, entretanto, tolo ou faccioso proceder como se
tôdas as demais armas de destruição em massa, as armas a agressão só pudesse partir dum lado, e que portanto só esse
químicas e bacteriológicas. Até as bombas comuns devem ser lado deverá tratar do desarmamento, ficando o outro com
proibidas, pois conhecemos seu poder de destruição.» carta branca para fazer o que lhe convier e aprouver. Para
A pergunta sôbre como julgaria o governo que primeiro começar o grande trabalho em prol da paz, é melhor imaginar
atirasse uma bomba atômica, respondeu o presidente da — o do Oriente e o do Ocidente
que nenhum dos dois lados
U. N. E.: — é o lado dos anjos.
«Esse governo deveria ser levado a um novo tribunal Essa é a minha opinião.
A
de Nuremberg.»
(As.) ÉRICO VERÍSSIMO .;..••*

O JORNALISTA PLÍNIO BARRETO CONDENA EMINENTES PERSONALIDADES NACIONAIS


A ARMA ATÔMICA
i
— MANIFESTAM-SE CONTRA A ARMA ATÔMICA
Foi incisivo o Sr. Plínio Barreto, deputado paulista e di- Numerosas personalidades — parlamentares, cientistas,
retor de «O Estado de São Paulo», em sua resposta a um escritores, artistas, homens de profissões liberais, jornalistas,
questionário do Comitê de Jornalistas Contra as Armas Atô- professores, líderes populares e operários, estudantes e ex-com-
micas: reclamou a pena de fuzilamento para todos os mem- batentes — homens e mulheres representativos dos mais di-
bros de um governo que primeiro empregue a energia nuclear versos setores da vida nacional, firmaram conjuntamente uma
em ato de agressão a outro país. importante declaração contra o emprego da arma atômica. •
Damos a seguir as perguntas formuladas pelo Comitê de Esse documento, do qual se pode dizer sem dúvida que |
Jornalistas e as respostas do Sr. Plínio Barreto: se reveste de caráter histórico, vem trazer maior estímulo à
«1) Acha V. Excia que a energia atômica deve ser em- campanha que nestes dias empolga o povo brasileiro, mobili- ui
¦;4)'i;

pregada para fins de guerra? zado em esca^ crescente para impedir que a humanidade seja : "Al
Resposta — Não. Para caracterizar a selvageria da nossa mergulhada numa guerra. '¦
• Y..j./#jj|jgB
;ÍÍí
época basta o bombardeio aéreo. E' o seguinte o texto da declaração: -
2) Sabendo-se que os gases asfixiantes e processos quími- «Colocando-nos acima dos pontos de vista de cada um a
cos foram proibidos pelas organizações internacionais por respeito das origens da atual ameaça de extermínio que pesa
visarem a destruição indiscriminada de bens e pessoas, não sôbre a humanidade;
lhe parece que a bomba atômica, arma, também, de destruição Com a consciência que temos das tradições pacifistas do
indiscriminada, deve ser proibida conforme recomenda a Cruz povo brasileiro e de seus anseios de justiça e bem-estar;
e
Vermelha Internacional em sua reunião de Genebra? Movidos pelo dever de preservar a vida humana e os va-
Resposta — «Sem dúvida que sim. Tudo quanto vise a lor es espirituais e materiais da civilização —
destruição indeterminada de bens e pessoas deve ser eliminado Concitamos os brasileiros de boa vontade a subscreverem
dentre os engenhos de guerra. Não sendo possível abolir a e conosco apoiarem a seguinte:
própria guerra, urge que a façamos cada vez menos de-
f
"
WJ:

sumana.» DECLARAÇÃO
8) Diante do clamor popular contra a bomba atômica e do
fato de representar esta um perigo de extermínio para toda Somos pela proibição da bomba atômica, arma de des-
a humanidade, como V. Excia. julgaria o governo que em truição indiscriminada e maciça das populações.
primeiro lugar utilizasse esse engenho de morte contra qual- Reclamamos o controle internacional rigoroso dessa prol-
quer outro país? bicão a fim de torná-la efetiva.

5
Maio-Junho 1950
*'"
?
¦

iR»1"'»•.
*,- *
Condenaremos como criminoso de lesa-humanidade o go- de Pernambuco. Ernâni Graeff, chefe do secretariado da
vêrno que primeiro utilizar a bomba atômica, não importa União Estadual dos Estudantes do Bio Grande do Sul. Neri-
contra qual país. deus Brasil, representante do B. G. do Norte no Conselho
5B „
r':-M^ Queremos que os responsáveis pelos destinos das nações
í
Nacional dos Estudantes. Bomeu Silva Sofarini, representante
promovam o entendimento e a coexistência pacífica entre elas, dn São Paulo no Conselho Nacional dos Estudantes. Salomão
realizando, assim, o ideal de Paz de todos os povos. Malina, ex-combatente da FEB e membro do Conselho da Fe-
Senador Matias Olímpio, presidente do Centro de Estudos deração Mundial da Juventude Democrática».
e Defesa do Petrólio e da Economia Nacional. Deputado
Gurgel do Amaral, lider do Partido Trabalhista Brasileiro na
Câmara Federal. Deputado Campos Vergai, lider do Partido A PALAVBA DO PRESIDENTE DA CBUZ VEBMELHA
Social Progressista na C. Federal. Deputado Benicio Fonte- BRASILEIRA CONDENANDO A BOMBA ATÔMICA
nelle. . Deputado Ferreira Lima. Deputado Pedro Pomar. ' r*".'
Deputado José Leomil. Deputado Deodoro Mendonça. Dr. O Dr. Vivaldo Lima Filho, presidente da Cruz Vermelha
Neves-Manta, professor da Faculdade Nacional de Medicina e Brasileira, teve oportunidade de manifestar a condenação ao
diretor da «Imprensa Médica». Dr. Couto e Silva, professor uso da arma atômica, aumentando assim com a sua autori-
da Faculdade de Medicina. Dr. Pedro Pernambuco Filho, zada palavra a repercussão do grande movimento humani-
r professor da Faculdade Nacional de Medicina e representante tário que empolga todos os países, com o objetivo de se banir
da América Latina na Seção de Combate aos Tóxicos da
¦
esse tenebroso engenho de destruição em massa.
vr •¦.¦¦..¦
^¦'*'

UNESCO. Dr. Odilon Batista. Dr. Jaime Leite Guimarães. Dr. Perguntado se o apelo do Comitê Internacional da Cruz
•/';'
*
«Samuel Kanitz. Dr. Cleto Seabra Veloso, nutrólogo e escritor. Vermelha, feito de sua sede em Genebra, Suíça, deveria ser
p * Evandro Lins e Silva, criminalista. Sinval Palmeira, advogado.
"'
¦

atendido pelos governos dos 62 países a que foi dirigido, assim


te*'!*: J. C. Sampaio Lacerda, professor da Faculdade Nacional se manifestou o Dr. Vivaldo Lima Filho:
de Direito. Milton Roberto, presidente do Instituto de Arqui- «Perfeitamente. Nada poderia trazer mais benefícios à
tetos do Brasil. Oscar Nieméyer, arquiteto e autor do projeto humanidade do que isso. Aliás, nesse apelo, foram relembrar
da sede da ONU. F. F. Saldanha, ex-presidente do Instituto das as intervenções do Comitê, especialmente por ocasião da
r'.: de Arquitetos do Brasil. Luiz Hii d eb rand o Horta Barbosa, VIU Conferência da Cruz Vermelha, que se realizou no ano
engenheiro e membro do Conselho Diretor do Clube de Enge- de 1948, em Estocolmo, sendo também deliberado que todos os
nharia. Aníbal Machado, escritor. Borges da Costa, professor organismos envidariam esforços no sentido de colocar fora
da Universidade de M. Gerais e diretor do Instituto de Radium da lei a arma atômica, pertencesse ela ao leste ou ao oeste,
de Belo Horizonte. Dr. Lucas Machado, professor da Univer- pouco importa a nação de que seja detentora.»
sidade de Minas Gerais. Dr. Clovis Salgado, professor da «A interdição — prosseguiu o presidente da Cruz Ver-
Universidade de Minas Gerais. Eloi Pontes, crítico literário. melha Brasileira — não deve ser restringida somente à bomba
y- Graciliano Ramos, escritor* Lourival Coutinho, jornalista. atômica, mas também às outras armas que o Comitê Inter-
Álvaro Moreyra, presidente da Associação Brasileira de Escri- nacional chama de «armas cegas» ou sejam foguetes-voadores,
tores, Carlos Sussekind de Mendonça, vice-presidente da Asso- discos-voadores, etc. Hoje em dia fala-se nos discos como de
ciação Brasileira de Escritores. Caio Prado Junior, sociólogo. coisas inofensivas, mas é bem possível que caiam amanhã
Edison Carneiro, etnólogo. José Geraldo Vieira, escritor. Ciro sôbre nações livres, matando indistintamente pessoas inocen-
Martins, escritor. Edmar Morei, jornalista. Arnaldo Estrela, tes. Como sempre, virão depois as eternas desculpas de que
pianista. Di Cavalcanti, pintor. Cláudio Santoro, compositor. não houvera o propósito de violar a soberania de qualquer
Quirino Campoflorito, pintor e professor da Escola Nacional nação, etc. Mas o fato já estará consumado e será tarde para
de Belas Artes. José Pancetti, pintor. Raul Deveza, pintor. desculpas. Por isso reafirmo: a arma atômica está sendo
Camargo Guarnieri, regente. Aparicio Torelly, escritor. Ba- condenada pelos povos, mas essa condenação deve ser esten-
fael Correia de Oliveira, jornalista.' Pedro Mota Lima, jorna- dida às outras armas que os técnicos militares estudam, con-
lista. Samuel Pessoa, professor da Universidade de São Paulo. siderando-as como de maior poder destruidor, entre as quais
Moacir Amorim, professor da Escola Paulista de Medicina. se situa, inclusive, a bomba de hidrogênio.»
David Bosemberg, professor da Faculdade de Medicina de São «Duas bombas arrasaram completamente duas cidades
Paulo. Mario Lago, compositor. Sra. Nuta Bartlett James, japonesas, causando tremendo morticínio. Se sôbre o mundo
Sra. Horta Barbosa. Sra. Gabriela Vilela Botelho. Adalgisa estender-se novamente a negra sombra da guerra, iremos assis-
Nery, escritora. Arcelina Mochel, secretária da Federação de tir a uma catástrofe de conseqüências imprevisíveis. E' fato
Mulheres do Brasil. Eudoro Prado Lopes, do Conselho Diretor sabido que tanto o oriente quanto o ocidente possuem essa
do Clube de Engenharia. Fernando Luiz Lobo Carneiro, en- arma. Agora pergunto: o país que fôr agredido ficará pas-
genheiro.* Maria de Lourdes Lebert, escritora. Lia Corroa sivo? Evidentemente não. Ocorre-me outra pergunta: Valerá
Dutra, professora e escritora; Antonieta Dias de Morais Silva, a pena resolver controvérsias políticas e ideológicas com a
escritora. Sra. Mary Emilie Tuminelli, presidente da Asso- destruição da própria humanidade? A resposta será a mesma:
ciação Feminina do D. Federal. Dr. Amilcar Viana Martins, Evidentemente nüo.»
professor da Universidade de Minas Gerais. Padre José Bar- «E' por isto que sou contra a guerra, acrescenta o Dr.
bosa Lima, capelão de São João Batista. Sra. Alice Tibiriçá, Vivaldo Lima Filho. Do contrário não. estaria presidindo à
presidente da Federação de Mulheres do Brasil. Dr. Valério Cruz Vermelha, um dos órgãos da Cruz Vermelha Internacio-
Konder, sanitarista. Dr. Mario Fabião, professor da Facul- na!, e ocupando uma das vice-presidências da Liga das Socie-
dade Nacional de Medicina e presidente da Organização Bra- dades da Cruz Vermelha, sediada em Genebra.»
sileira de Defesa da Paz e da Cultura. Dr. Abel Chermont, «Sim. A Paz pode ser conquistada através da intensi-
ex-senador federal. Dr. Hugo Firmeza, professor da Pontifi- ficação de relações econômicas e também de um intenso in-
cia Universidade Católica. Dr. Murilo Cardoso Fontes. Dr. tercâmbio de delegações culturais entre os países do oriente
Francisco de Sá Pires, professor da Universidade de Minas e e do ocidente, isso apesar da diversidade de regimes ali exis-
da do Brasil. Dr. Américo Valério, professor da Universidade tentes. Quando digo delegações culturais quero referir-me a
do Brasil. F. Costa Netto, secretário da Organização Brasi- todos os setores da atividade humana, desde os homens de
leira de Defesa da Paz e da Cultura. José Antônio Bogê ciência, os escritores, os jornalistas, até o trabalhador braçal,
Ferreira, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes. o operário. No meu ponto de vista isto deveria ser periódico
Capitão J. L. Pessoa de Andrade, presidente do Conselho Na- e estimulado, sendo até obrigatória a consignação de uma
cional dos Ex-Combatentes. Francisco Trajano de Oliveira, verba especial nos orçamentos de todos os países a ser em-
da Confederação dos Trabalhadores do Brasil. A. L. Bacelar pregada nesse sentido. Exemplificando por que me bato pela
do Couto, da União Sindical dos Trabalhadores do D. Federal. intensificação de relações direi somente que devido às reuniões
Ursulino Leão, vice-presidente da União Nacional dos óstudan- da Cruz Vermelha Pan-Americanas e Internacionais é que
tes. Grimaldi Ribeiro, secretário da União Nacional dos nos entendemos harmônicamente, existindo uma verdadeira
Estudantes. Banulfo de Melo Freire, presidente da União cordialidade entre os homens e mulheres que integram a Cruz
Estadual dos Estudantes de Minas Gerais. Paulo Segundo da Vermelha no mundo inteiro. E mais ainda: para que a paz
r Costa, presidente da União Estadual dos Estudantes da Bahia.
possa ser colimada, cumpre também que a Cruz Vermelha
Angarita Silva, vice-presidente da União Estadual dos Estu- Brasileira reforce por atos e palavras o apelo feito pelo pre-
dantes de M. Gerais. Boberto Gusmão, representante da sidente do Comitê Internacional, Sr. Paul Rugger. E' o que
UNE no Conselho da União Internacional dos Estudantes. faremos muito brevemente, concluiu o Dr. Vivaldo Lima Filho,
Isaac Pereira, presidente da União Estadual dos Estudantes por considerar essa atitude altamente humanitária.»
Ms
-
ÉSri 6 Fundamentos

.-. A'
MM

•»
¦

f-fUTADO fi\FE POWnCADE ¦

ELIAS CHAVES NETO


i
COLONIZAÇÃO país à sua polít:ca) mas não produziu efeitos, como geral-
mente se pensa, que influíssem favoravelmente na vida eco-
nômica da nação.
WÊÊÊM
' a,.'

*'
- * ;<isnBn
'Imi
*;í*ftl
>*w

No dia 28 de agosto do ano passado, às vésperas da ' »mÊBR


alta espetacular do café na Bolsa de Nova York, o General OS VERDADEIROS BENEFICIADOS
Dutra — que fora emprestar o ar de sua graça às festas
Nos diversos manifestos publicados por associações de
do Pinhal em homenagem a Caxias *— teve oportunidade de lavradores — depois de passada a primeira impressão da
fazer naquela cidade a seguinte declaração, respondendo à
alta — e nos quais êstes choram as suas mágoas e fazem
pergunta de um fazendeiro de café: . L
críticas acerbas ao governo, é dito que apenas 10% dos agri-
"Posso adiantar uma boa notícia para os ca- cultores foram beneficiados com a alta do café, pois esta se
feicultores, pois o mercado está bom e a tendên- verificou depois de já haver a maio? parte dos lavradores
cia é para melhoras ainda mais~ acentuadas. vendido a sua produção. Com relação ao ca,fé verificou-se
(Diário da Noite, l.a edição de 29/8/1949). mais uma vez o que todos os anos se repete com os nossos
produtos agrícolas, a saber, por ocasião da safra os preços
Por estranho que pareça, a profecia se realizou: o café, caem nara tornarem a subir quando a produção já se encon-
que em 26 de agosto era cotado em Nova
por libra, chegou a ser cotado em novembro
York a Us$ 0,28.24
a Us$ 0,52.00.
Em Santos, a saca de 60 quilos subiu de Cr$ 590,00
a
tra toda ou quase toda em mão dos intermediários. Com
relação ao produtor o preço age apenas como um incentivo
destinado a manter o interesse na produção, espécie de mira-
distin-
i
Cr$ 1.070,00.
de
...
euforia
. ;-.
% todos
invadiu os gem atrás da qual êle se esfalfa. Convém entretanto sempre
Em* conseqüência, uma onda guir o grupo numeroso dos pequenos fazendeiros,
olhado
círculos econômicos do país: o governo passou a ser vítimas dessa situação, daquele outro grupo de grandes fa-
lavradores;-
com ternura pelos banqueiros, comerciantes e em de- rendeiros e latifundiários, que êste se beneficiou grandemente
os americanos, que antes, quando o mercado estava círculos ca- com a alta, estreitamente lidados a banqueiros e casas co-
clínio, eram abertamente responsabilizados, nos ser os iriissárias, como veremos adiante. #
feeiros, pelas dificuldades existentes, passaram a e con- Os lucros realizados pelos intermediários de bantos,
beneméritos da nossa economia. Tudo muito simples ameri- aue são principalmente as casas comissárias e exportadoras,
os com que
veniente, como se ve. Conveniente sobretudo para são .astronômicos. Apesar da majoração enorme
canos e seus prepostos no governo brasileiro. encargos do
sentido carregaram suas despesas, para diminuir os os seus
A alta teve, assim, antes de mais nada, um imposto de renda e tornar menos escandalosos pro-
político. Beneficiou um pequeno grupo deaos pessoas que passou ventos, os lucros se contam por dezenas e mesmo
centenas
americanos (ta-
a entoar hinos de louvor ao governo e do nosso de milhões de cruzeiros, como se vê do quadro
abaixo:
'
cilitando .deste modo o processo de arregimentação li-.,
LUCRO BRUTO DESPESAS LUCRO LÍQUIDO ¦
FIRMAS ¦ -. J im

7.369.927,50 93.848.008,70 ¦ ¦ íf
e Exportadora ...... 101.217.936,20 51.212.707,30
Cia Leme Ferreira Comissária Exportadores Sy A 59.902.466,50 8.689.759,20
Mãlão Nogueira - Comissários 10.568.410,30 40^.940.942,80
- Comissária Exportadora .... 51.509.353,10
Almeida Prado S/A 40.967.541,70 7.841.124,80 33.126.416,90
S/A ...
Alves Ribeiro — Comissários Exportadores 39.023.490,50 10.496.954,50 28.526.536,00 ^>~J$mm
Rosato S/A - Comissária e Exportadora
'»¦''*.'¦'
34.668.140,80 17.216.099,20 17.452.041,60 •" -:

S/A ......... •
VA

Leon Israel Agrícola e Exportadora 32.455.270,60 15.118.923,10 17.336.347,50


— Comissária e Exportadora de Café ...
" S. A. Levy
E. Johnston & Cia. Ltda.
•• 32.099.728,50
30.702.955,50
12.755.767,30
11.022.577,60
19.343.961,20
19.680.377,90 *' 11
Cia. Paulista de Exportação •*•¦•£/• .......-- • • • 28.238.363,40 9.892.026,50 18.346.336,90
Casa Exportadora Naumann Geppi S7Ae Exportadores 23.253.209,20 3.085.832,00 20.167.377,20
Luiz Ferreira S/A — Comissários S/A .... 22.047.180,70 5.469.167,50 16.578.013,20
H. La Domus, Comissária e Exportadora • • 20. $96.685,80 4.578.403,30 16.118.282,50
Nicolau Lunaa*delli S/A ......... ....••••• 2.151.475,30 18.416.766,80
Exportadora . 20.568.242,10
Ferraz Almeida S/A - Comissária e Mercantü _ 18.217.667,40 4.027.717,40 14.189.950,00
Moraes Irmão S/A - Com ssána e União b/A 17.250.465.5Q 8.660.176,30 8.590.289,20
Comissária, Exportadora e Importadora 15.424.349,80 8.714.196,80 6.710.153,00
Exportadora Junqueira S/A • • • 14.524.007,70 8.148.744,50 6.375.263,20
Cia. Prado Chaves Exportadora ...... •••• b/A .. 13.743.256,20 5.302.892,50 8.440.363,70
Barros, Guerra, Comissários e Exportadores ... •, • 12.928.048,90 8.758.979,40 4.169.069,50
Moura Andrade S/A — Comercial e Agrícola S/A .. 12.491.558,90 5.782.896,30 6.708.662,60
Barros, Leite — Comissários e Exportadores 3.650.634,20 8.345.000,00
Sampaio Bueno S/A - Comissários e Exportadores 11.995.634,20
5.266.862,40 6.667.556,60
• Comissários e Exportadores Barros S/A •••••• • •; • 11.934.419,00
S/A 11.756.008,90 3.367.376,90 8.388.632,00
Kanneblay, Assumpção Comissária Exportadora .. 5.327.561,90 6.025.000,00
Leite Barreiros S/A — Comissária e Exportadora •• 11.352.561,90
6.909.278,50 4.272.799,50
Vidigal Prado — Comissária e Exportadora' S/A 11.182.078,00
2.746.645,80 4.764.237,40
Sociedade Nacional Exportadora S/A 7.510.883,20
• • • • •v • • • • 7.431.000,80 3.724.123,70 3.706.877,10
S/A Comercial e Comissária Café b/A 1.094.937,40 4.824.446,50
Francisco Botti Comissária e Exportadora de 5.919.383,90
3.940.157,40 ••isfÉI
S/A Horacio Ferreira Comissária e Mercantil 4.946.585,60 1.006.428,20
2.101.659,20 2.493.155,80 m¦'4
Casa Comissária Bassetto S/A ••••••/ 4.594.815,00
.... • • • • • • 4.047.819,70 3.714.777,60 333.042,10
Importadora e Exportadora Malgon b/A b/A ..• 1.430.799,90 1.353.634,80 m
Comissária e Exportadora Coelho Junqueira 2.784.434,70
591.344,50 2.070.559,60
S/A Amaral, Comissária, Exportadora e Importadoia 2.661.904,10
1.367.982,90 1.090.670,50
Almeida Prado, Faria S/A - Comissária Exportadora 2.458.653,40-
1.749.061,10 539.702,30
J. B. Alencar — Comissária Exportadora b/A 2.288.763,40
1.913.397,60 286.930,50
. Mercantil Nacional de Café S/A 2.200.328,10
¦» ¦ •**¦*¦*¦ ¦¦ ¦ . ¦ ¦ ii ¦—

746.995.192,90 221.614.923,10 525.380.269,80

Maio-Junho 1950

7y
. i- - *.--,*—* ¦ * ¦¦"
wr< - ¦¦¦•;/.
¦¦¦¦

¦
¦¦¦'"* ¦
¦.'¦'¦¦"¦: ¦'
.

'¦ ¦¦-," -.<"" ¦' ..'"-' .-'-. _¦ ,-:' *\ ¦''.'.-"¦¦¦ U "'«4- './"""*.:¦ ,".**»."' ;.'.-' - : -'"'' '.'"-'..• "*''-.:,-'''.'-- '

"i*
j,.
'-" :-. 'r-
A -*"¦''¦'¦','•'¦•'•¦ > >¦•"'¦¦'"
^
¦'*¦¦¦¦ .
~v.
¦ *'¦'-,¦
'¦'¦ '" ¦ ¦"'¦"¦¦'¦-»- T ¦'-' •'¦ *--/
Büf'
gpP..:'

Das cento e tantas casas comissárias e exportadoras lanços e verificar-se-á o quantum espantoso dos juros e des-
existentes em Santos, apenas 87 se acham mencionadas contos pagos. Não é pois sem razão que um dos Bancos
acima, pois só elas publicaram seus balanços até a data de locais — o Banco Brasileiro de Descontos — declarou em
coligarmos esses dados. Entretanto, somente elas realiza- seu relatório de 1949: **
ram 525 milhões de cruzeiros de lucros líquidos confessados. "Forçoso será afirmar que o semestre último
No quadro não estão incluídas algumas das maiores firmas
comissárias exportadoras de Santos, estas de nacionalidade foi excepcional para o Banco. Estivemos apare-
americana, como a American Coffee Corporation (versão lhados para desfrutar com vantagem o surto de
sul-americana do poderoso Truste Atlantic & Pacific) que prosperidade decorrente dos ótimos preços alcan-
1--
exportou o ano passado 1.005.300 sacas de café, e a Hard, çados pelo nosso principal produto, cujos , reflexos
Rand Oo. que exportou 704.619 sacas, donde é perfeitamente foram sensíveis em tôdas as esferas de atividade."
lícito calcular que os proventos realizados com a alta do café O Banco do Comércio e Indústria de São Paulo — hoje
na praça de Santos foram pelo menos o dobro desta impor- o maior e mais próspero banco particular do Estado — dis-
tancia, ultrapassando a casa de 1 bilhão de cruzeiros. Há tribuiu (como outros Bancos, aliás) dividendos de 12% mais
mesmo quem fale num lucro total, entre Santos e Rio de Ja- uma bonificação de 4 cruzeiros por ação de 200 cruzeiros,
neiro, de 1 e meio a 2 bilhões de cinzeiros, incluindo as dando-âe ainda recentemente à liberalidade de conceder um*a
especulações nos mercados a termo de Santos, Rio e Nova nova bonificação por motivo do seu 60.° aniversário. O seu
York. Como 429c das exportações pelo porto de Santos se relatório do ano findo é um hmo entusiástico de louvor
processam por intermédio de firmas americanas. pode-<e con- à política cafeeira do governo, cuja história traça minucio-
cluir que a atual alta do café beneficiou, em primeiro lugar, samente. Esse entusiasmo é tanto mais compreensível quan-
aos próprios norte-americanos, que dominam o comércio de to se sabe que diretores desse Banco atuaram como inter-
café na de Santos e em grande parte das zonas pro-
praça
falemos dos lucros es- mediários em alsruns empréstimos estrangeiros feitos paTa
dutoras. Isto aqui no Brasil. Não a política de valorização do café.
pantosos realizados nos Estados Unidos pela Atlantic & Devemos ainda assinalar que, além dos comissários-
Pacific, Hard, Rand & Co., Leon Israel & Co. e outros impor-
banqueiros e dos comissários-fazendeiros-banqueiros, existe
tadores, que aproveitaram em' cheio a alta repentina veri- um grupo anreciável de grandes fazendeiros associados de
ficada, dobrando os milhões de dólares que já habitualmente firmas comissárias e exportadoras de Santos, que, devido a
realizam em condições normais. essa condição, também se lavaram em áenia de rosas com a
Beneficiaram-se em seguida os banqueiros. Os relato- presente alta. Citamos, para exemplo, alguns casos: a firma
rios dos nossos grandes bancos transbordam de satisfação Alves, Ribeiro (lucro líquido de 33 milhões), é composta de
com a alta do café, que defendem calorosamente como um cafeicultores do sul de Minas; a firma Figueiredo, Lima &
trí fenômeno justo e que se impunha em* face da situação em Cia. Ltda. (balanço não publicado) tem como principais só-
que se encontrava a lavoura. O que os referidos relatórios cios alguns dos maiores fazendeiros da zona de Mocóca; os
não dizem é quem foram os grandes beneficiários da alta. sócios da firma Junqueira Netto & Cia., uma das níaiores e
para cuja prosperidade o povo está pagando hoje café a 27 mais antigas de Santos, são grandes fazendeiros e latifun-
cruzeiros o quilo. Esses beneficiários são justamente aquê- diários na zona de Ribeirão Preto; a firma Moura Andrade
les que nada têm a ver com as dificuldades pelas quais a & Cia., a que pertence o udenista Auro Soares de Moura
lavoura atravessa, principalmente a pequena lavoura, aquela Andrade, é a latifundiária de Andradina, possuindo milhões
que não está ligada a Bancos nem é sócia de casas comissá- de cafeeiros no Norte do Paraná; Max Wirth S/A, é firma
rias e exportadoras de Santos. Muito pelo contrário, os de pronriedade do conhecido nazista e magnata internacional
favorecidos são os que vivem à custa da lavoura e mais uma aMx Wirth, que já em 1931 possuía patrimônio de terras
vez, nesta emergência, realizam os lucros que deveriam caber calculado em 300 milhões de cruzeiros, na Alta Paulista,^ na
à lavoura e principalmente ao trabalhador agrícola que, êste, Noroeste e no Norte do Paraná. Achamos dispensável
Tive na miséria costumeira. prosseguir na enumeração. Todavia, de passagem, convém
registrar que até o próspero Sr. Ademar de Barros, também
Os interesses de banqueiros e comissários, e não raro fazendeiro e dono do Banco do Estado, tem a sua firma de
de grandes fazendeiros e latifundiários, se entrosam. Os café — Comissários e Exportadores Barros S/A — cujo
mesmos homens fazem parte, muitas vezes, de um e outro balanço acusou,um lucro líquido de 6,6 milhões.
grupo. Exemnlifiquemos: O Banco de São Paulo é contro- Com relação ao nosso país param aí os benefícios da
lado pela família Almeida Prado, fazendeiros de café na zona alta do café e na qual, mesmo em nossa terra, os americanos
de Jaú e latifundiários na zona de Araçatuba, donos das
Almeida Prado S/A líquido de 41 tiveram uma grande parte, se não tiveram a parte do leão.
firmas cafeeiras (lucro Mas não aí as vantagens que estes tiveram com a alta,
milhões), Cia. Paulista de Exportação (lucro líquido de 19 param
líquido de 1 sem mesmo nos referirmos aos lucros que sempre o impor-
màlhões) e Almeida Prado, Faria S/A (lucro tador realizou comprando por preço barato a nossa produção
milhão). A esse Banco acha-se ainda estreitamente ligada
a família do "rei do café", Geremia Lunardelli: a firma (e a alta não veio modificar essa situação, pois a diferença
Nicolau Lunardelli S/A (lucro líquido de 20 milhões) tem é sempre descarregada sôbre o consumidor), a qual é reven-
como presidente um Sr. Almeida Prado. A firma JMellão dida por preços incomparavelmente mais caros ao consumi-
Nogueira S/A (lucro líquido de 51 milhões) e o Banco*Bra- dor estrangeiro, no que consiste um dos aspectos coloniais
do nosso comércio externo. Trata-se da disponibilidade em
sileiro para a América do Sul são controlados pelo Sr. João dólares resultantes da alta, que permitirá ao Brasil pagarmos
Mellão. As firmas Vidigal, Prado S/A (lucro líquido de 4 seus débitos nos Estados Unidos. Veja-se a êste respeito
milhões), Leite Barreiros S/A (lucro líquido de 6 milhões) o artigo do "Toledo Blade" de 26 de fevereiro de 1950. ar-
e o Banco Mercantil de São Paulo são dominados nelo conhe-
tigo de Michael Soully, condensado pelo Reader's Digest:
ddo beneficiário do estado-novo, Sr. Gastão Vidigal. A
firma Queiroz Ferreira (balanço não publicado) é dirigida "A
Paulo. perspectiva imediata é esta: enquanto em
por um diretor do Banco do Comércio e Indústria de S. 1948 mandamos para o Sul 672 milhões de dóla-
A firma Barreto Holl & Cia (balanço não publicado) tem res, em 1950 mandaremos 1 bilhão e 200 milhões.
como principal sócio o dono do Banco F. Barreto, que também O Brasil receberá cerca de metade dessa quantia
é proprietário de diversas fazendas em Mocóca. As firmas e a Colômbia pelo menos 250 milhões. Salvador,
Moreira Salles S/A (balanço não publicado) e Comissária,
Guatemala, México, Venezuela, Haiti, Costa Rica,
Exportadora e Importadora União S/A (lucro liquido de 8 República Dominicana, Nicarágua, Equador e Hon-
milhões) pertencem à família do Sr. Walter Moreira Salles, duras também serão beneficiados. Quase todos
que também é diretor do Banco do Brasil. As firmas E. A. esses países estão em grande débito conosco desde
Sodré, e Bandeirantes Comercial S/A (balanços não publi-
cados) são dirigidas, assim conio o Banco Bandeirantes do a guerra e diminuíram suas importações para eco-
Comércio, pelo Sr. Erico Sodré. A Cia. Comercial Paulista nomizar dólares. A conseqüência mínima da nova
de Café e o Banco Noroeste do Estado de São Paulo pertencem renda que vão usufruir será liquidar seus débitos
ao Sr. Wallace Simonsen, que é_ainda representante de ban- e aumentar suas compras nos Estados Unidos."
queiros ingleses (Lazard Brothers & Co.) que nos fizeram E mais adiante:
empréstimos para valorização do café.
Independentemente de tais ligações, foram os Bancos "O Brasil,
por exemplo, já pagou aos expor-
que forneceram os' capitais para a especulação sem prece- tadores americanos 409ó do débito de 1949, de 150
dentes que enriqueceu tanta gente em Santos. Examinem-se milhões de dólares, e a sua renda aumentará de
í' os itens das despesas gerais das firmas que publicaram ba- 300 milhões de dólares por ano."

8 Fundamentos
MOTIVOS DE APREENSÃO de difícil colocação nos Estados Unidos, pela sua baixa qua- ¦í
lidade. E a quem beneficiou a negativa do governo brasi- vt
¦ft • São esses os benefícios da alta, os quais deixam o nosso leiro? Exclusivamente aos Estados Unidos que, por essa '¦V
lavrador e principalmente o nosso trabalhador agrícola na forma, vêem afastada a concorrência da indústria tcheca no
mesma situação. Mas não está fora de conjectura supor mercado brasileiro e afastada a possibilidade da criação de
que satisfeitos todos esses interesses não torne o café a cair, novos mercados para o nosso café, fato que, futuramente,
servindo para isto de pretexto o interesse do consumidor nos libertaria da nossa absoluta subordinação ao mercado
americano, conforme permite supor a campanha iniciada lencano. ¦¦¦¦..

neste sentido pelo senador Gillette.


POLÍTICA DE COLONIZAÇÃO
A alta anunciada com tanta segurança pelo Presidente
Dutra não passou, como vimos, de uma manobra política Tudo isso revela unia política econômica que tem um
com o fito de lhe dar o apoio de certos círculos financeiros com único fito: colocar o nosso país cada vez mais na dependen-
influentes no país, ao mesmo tempo que se beneficiava des- cia dos Estados Unidos. A alta do café não passa de uma
as grandes esperanças que a alta despertou e continua cortina de fumaça destinada a ocultar ao nosso povo os seus
nertando em certas camadas da população, tudo resultando verdadeiros interesses, uma espécie de sucedâneo sul-ame-
num movimento de simpatia em favor dos norte-americanos, ricano do Plano Marshall, já tão bem definido por Luís Car-
de toda esta prós-
que aparecem assim como o sustentáculo visada los Prestes em documento de maio de 1949 (Problemas n. 19,
neridade. Esta foi a manobra política pela alta do pág. 32), no qual diz:
o destino de nossa
café que vem facilitar o trabalho de ligar "Essa 'Mm
às aventuras guerreiras dos Estados Unidos — o política de altos preços seguida pelo
pátria e o movei de
wande problema internacional do momento governo brasileiro e acompanhada pelos demais
Mas apesar de governos da América Latina, foi, ao que tudo in-
£T« política norte-americana jao mundo. dica, prestigiada pelo próprio governo dos Estados
ceticisnu> pelos fgggos
2 isto^aTretbida com certo Unidos e utilizada por êle como um dos pontos de
apoio para a sua política continental."

lÍíÍmPp||S.S^^»r E* uma política que só aparentemente beneficia o nosso


país. pois traz vantagem exclusivamente para uma classe
diminuta de comerciantes, financistas e grandes fazendeiros,
«O governo brasileiro mantém-se apático que se tornam o esteio do governo e da sua política de total
desses fatos e limita-se. a desfrutar a eufo- subserviência ao imperialismo. A êsse respeito, Luís Carlos
diante melhores preços. Prestes (documento citado) assim se exprime:
ria de dólares resultante dos os maiores
São contente com isso vem criando "No entanto, essa
noutras moedas e política acentua nossa de-
embaraços às vendas de café pendência dos mercados norte-americanos e da boa
de que perdemos
pa7a outros países, na ignorânciae vontade do governo de Washington e concorre
com isso mercados substanciais provocamos uma
encalhando-, para a permanência no país de uma exploração
c^scente retenção da mercadoria arti- agrícola de tipo colonial que tende a se expandir
nos para o absurdo de uma superprodução em contraposição com a queda geral já verificada
ficial." . em São Paulo no ano de 1948, da produção de al-
*
fundamen- godão, feijão, arroz, milho, mamona, batata e
E' o Brasil um país cuja economia repousa, e matérias trigo."
talmente, na exportação de gêneros alimentícios valor das nossas
primas O café; concorrendo com 50% do da nossa eco-
Mais uma vez a alta do café vai determinar a corrida
exportações, situa-se no centro de gravidade — que para essa cultura, em' detrimento, por exemplo, do algodão,
nomia. E acontece — não por mera coincidência desse
cuja expansão não convém, de modo algum, aos americanos,
os Estados Unidos são o nosso grande comprador a braços, novamente, com enorme superprodução.
sacas, ou seja cerca
produto: em 1949 receberam 12.321.910 Dai
de 64% da nossa exportação total de 19.368.468 sacas. * INALTERADA A SITUAÇÃO DO TRABALHADOR
a expressão que constantemente ouvimos: Que seria.de
de café
nós se os Estados Unidos dificultassem as entradas absoluta
AGRÍCOLA '• W
em seu território?" Daí também a situação de
"boa vontade dos Mesmo admitindo-se que a alta do café venha a contri-
dependência em que nos achamos da con-
bons vizinhos americanos. Se tivermios a veleidade de nos buir para a prosperidade dos fazendeiros, a grande massa
trariar uma pretensão dos1 americanos, bastar-lhes-a sobre o
dos trabalhadores agrícolas que constitui o grosso da nossa
ameaçarem com a criação de um simples imposto população rural ficaria na mesma. Devido ao regime do
0 café importado para levar-nos ao pânico! trabalho nas grandes propriedades agrícolas, no qual o co-
lono depende do armazém para a aquisição de tudo quanto
O governo brasileiro, que em verdade não é um governo necessita para a sua subsistência, todo aumento de salário
nacional, poderia ronrper com essa situação de inteira de- é imediatamente contrabalançado pelo aumento dos gêneros
pendência em que nos encontramos se procurasse desenvol- que se vê obrigado a coiriprar nos armazéns da cidade —
ver a exportação de café para outros países. No entanto,
o que faz é exatamente o contrário, pois isso é o que convém dos quais muitas vezes os próprios patrões são sócios —
a aos seus mentores yankees. A denúncia da FARESP, no mediante ordens fornecidas pela fazenda. Dinheiro pràti-
manifesto acima citado, publicado pela Folha da Manhã em camente o colono nunca vê e, portanto, nada lhe sobra e o
14 de abril último, é uma confirmação disso. que ganha mal dá para atender às suas necessidades mais
fundamentais. Êste é o regime que impera nas fazendas, ¦cc.t
Para comprovação dêste ponto de vista há, entre outros,
o fato concreto de ter o nosso governo, há quase dois anos que por sua própria natureza mantém o trabalhador na de-
atrás, se recusado a aceitar a seguinte proposta da Tche- pendência permanente do latifundiário.
coslováquia: êsse país propôs mandar-nos uma primeira Os problemas de cuja solução depende realmente o bem-
partida de maquinaria, automóveis, tratores e outros mate- estar do nosso povo e o interesse da nacionalidade, esses
riais de que tanto necessitamos, no valor de 20 milhões de não podem ser resolvidos com uma simples alta do café, ou
coroas tchecas. Desses 20 milhões, 10 milhões seriam reti- de qualquer outro produto, pela qual se procura ocultar à
dos pelo Banco do Brasil para serem aplicados na amortiza- nação seus verdadeiros interesses. Esses residem numa po-
ção antecipada do débito daquele país conosco, dívida essa litica que vise elevar pela revolução agrária o padrão de
que pelos acordos vigentes, só começariam a ser paga dois vida do nosso homem do campo; que vise pela defesa de
ou três anos mais tarde. Òs restantes 10 milhões seriam nossas riquezas naturais permitir a industrialização do país,
aplicados na compra de café de baixa qualidade, de difícil realizando assim, o brasileiro, os lucros hoje auferidos por
exportação. A resposta do nosso governo foi um NÃO ca- aqueles que compram a vil preço as nossas matérias primas,
tegórico. Com tal resposta, deixamos de usufruri as se- uma política enfim que lute pela independência econômica
guintes vantagens: a) começar a receber antecipadamente e política do país, ao invés de nos atolarmos cada vez mais
uma dívida; b) receber maquinaria altamente qualificada e no processo de colonização da nossa pátria, da qual a alta
de que tanto necessitamos; c) vender café em um novo mer- do café é apenas o narcótico destinado a adormecer a cons-
cado, que certamente 8*9 ampliaria depois, e, note-se, café ciência política do brasileiro.

Maio-Juriho 1950
,^
. - A -.

PAPEI E A1MM A D
O nosso trabalho se propõe a trazer Para dar cabo dessa tarefa, é preciso
— êsteé o dever do escritor — conhecer
J AKV B
uma contribuição para superar as des-
'proporções as leis de desenvolvimento social, fazer
que existem entre a intensi-
VV
dade da criação literária e a intensidade sua uma visão científica do mundo, cons-
do trabalho e das transformações que tituída pelos princípios do marxismo-
leninismo. Sem isso, sem essa bússola, zia eu que isso seria decerto me-
ocorrem em. uxío o país. Todos sabemos
¦
lhor para nós, que agiríamos jus-
pode-se vagar e debater, pode-se às vezes
flfc*?-

que hof-e m éia essa distância é grande, tamente, porque a nossa' Polônia
qiE«e jhhs. a imtifsisidade da criação lite- conquistar algumas migalhas da verdade,
mas nunca se conhecerá toda a verdade. terá melhor proveito de melhor
ráiix* *esa fe sm caráter, nem o seu linho, tricoline e batista, e man-
etatoeid* M^l^fe* «wrr^s^p^udem as ne» Deve-se ter ainda em mente, que o
marxismo não se aprende apenas pelos teremos alto o nome de Andry-
cessiéaÈikiS svrèaâs*. .SauWlfeG ainda todos chow".
m«ós QEe a^vMG -íÈeasír* as obras consa- livros, e sim, também, pelas próprias
gradas à «fttvaSniadte f»eca3& p-eío esquema- experiências, pela participação direta e
tismo. pela aràficialiáaáe áa concepção e pessoal na luta cotidiana. O que ressalta dessa carta? E' a
"atitude
das situações e, às vères. pela falta ma- Qual é o eixo da luta de classes na exprime claramente a socialista
nifesta do conhecimento da >ida. nossa etapa? O desalojamento dos ele- diante do trabalho". Essa nova atitude <
Qual o fator mais importante hoje mentos capitalistas e um rápido cresci- refletiu-se vivamente no coração da- ope-
em dia, que se pode tornar alavanca do mento dos elementos socialistas. Qual rária, que agora ama o seu trabalho,
a alavanca desse processo? 1 — Rápida
desenvolvimento da nossa literatura? compreendeu com justeza o sentido da
Parece que só há uma' resposta para industrialização, sobretudo dentro do Pia- brigada de emulação, e orgulha-se por
esta pergunta: no Sexenal, 2 — reestruturação progres- toda Andrychow.
Aprofundamento da atitude marxista siva na agricultura em bases socialistas, Temos também outras formas. Te-
consciente, cada vez mais conseqüente, do e, 3 — revolução cultural. mos o movimento de racionalização, de
escritor, e a sua aproximação com a nova O fundamento de todos os problemas aproveitamento da invenção dos opera-
vida. da nossa vida social é constituído pela rios, tão rica e fecunda.
O que está pesando até hoje na nossa realização dos planos econômicos e a sua
produção artística? alavanca é a emulação socialista do tra-
Não superamos até agora a onipotên- balho, a atitude socialista diante do tra- O SENTIDO MAIS PROFUNDO DA
cia do espontâneo na criação literária. ^ balho. AUTOCRÍTICA
Será suficiente observar apenas, im- Já somos donos de um rico patrimô-
nio constituído pelas transformações da Ao lado das contradições antagôni-
pregnando-se com a vida, absorvendo
a espontaneidade dos acontecimentos consciência operária, e já estamos presen- cas, relacionadas com a luta de classes
sociais? ciando um imponente movimento dos tra- cada vez mais aguda, temos também entre
Deixar de lado os processos espon- balhadores de choque. nós os primeiros embriões de contradições
tâneos na arte, constituiria, é claro, um Com o exemplo dos pedreiros e opera- não antagônicas, dessas contradições que
absurdo. Estes processos afiguram-se rios de construção de Varsovia podemos hoje se encontram na União Soviética. Te-
muito valiosos, mas são insuficientes, e, nós convencer, com nossos próprios olhos, mos a luta contra o atraso da consciên-
IUI * o que é pior, freqüentemente desencami- do quanto eles souberam transformar o cia, a luta contra o desleixo, a rotina, a
nham o autor. seu meio, como mudaram os homens, suas burocracia, uma luta difícil, que devemos
¦iii 7 Sabemos por experiência, sabemos ambições, seus hábitos, como se ampliou ganhar e para a qual dispomos de uma
arma potente, constituída pela crítica e
St'' pelo estudo da literatura dos últimos de- neles a disciplina interior.
cpnios, que uma atração especial, um Não pretendo absolutamente idealiza- pela autocrítica.
encanto particular é oferecido pelos temas los, más trata-se justamente de uma cousa Deve-se frisar que a compreensão des-
que tratam dos lados estranhos da vida, preciosa: do conflito, do choque entre os sa arma não é suficiente entre os escri-
ou seja, da margem da vida mais prò- hábitos de ontem, as más tradições do pas- tores. Ouvem-se às vezes nos meios lite-
priamente do que do seu curso principal. sado com os novos hábitos, apenas nas- rários opiniões que provam uma confusão
O proletariado não tem sido o herói prin- cidos, ainda brote jantes mas dinâmicos, de conceitos, uma identificação da auto-
cipal, o sujeito da criação literária, e, sim, novas tradições, novo orgulho, nova dig- crítica com a autoflagelação, com o exibi-
os grupos sociais na fronteira do lumpen- nidade de trabalhador de choque. cionismo, com algo que rebaixa, ao passo
proletariado. Com freqüência os escrito- ''¦"¦%¦¦ ..- ¦¦
que a crítica e a autocrítica são armas que
res sentem-se atraídos mais pela patolo- destroem -os traços maus — a inveja, a
A CARTA DE MARIA ZYWIOL, UMA presunção, o narcisismo, libertando os me-
gia da vida do que pelo seu lado são, EXPRESSÃO DA NOVA ATITUDE
excitando-se com o cheiro podre da vida lhores traços da natureza humana. $
SOCIALISTA DIANTE DO TRABALHO Em que consiste a emulação socialista?
que se vai.
Ora, não se trata de uma observação Não devemos confundi-la com a concor-
Quero citar um exemplo, que chegou rencia capitalista, com a rivalidade do
insensível do curso elerno da vida. Trata-
¦ <¦¦'"¦
i* -'77

às minhas mãos, uma carta da operária


se da vida que pulsa em nossos braços, mundo capitalista, submetida à lei ani-
Maria Zywiol, da fábrica têxtil de Andry-
em nosso sangue. Trata-se da vida que mal: "abater aqueles que ficam atrás".
chow. A companheira Zywiol escreve:
se forma sobre os escombros das antigas Entre nós, reina outra lei: "puxar para
formas sociais, num terreno coberto ainda "Essa coisa de emulação é a frente aqueles que ficam para trás",
"alcançar os
'. por entulhos das velhas formas. como uma mãe com o seu filho. que estão na frente". Esta
é a quintessência da emulação. Não uma
¦'"V

Quando a mãe ama o filho, ela


procura fazer qtie o filho fique mania de recordes e uma corrida pelo pra-
É DEVER DO ESCRITOR CONHECER AS zer de correr, mas um soerguimento cole-
limpo, com boa saúde, bonito e
LEIS DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL contente tivo. Em 1929 Stalin disse algumas pala-
*:**
. ¦ bem vestido... Fica
Os escritores de atitude decidida em quando as outras mães se admiram vras sobre a emulação que vale a pena
relação à nova realidade são justamente e têm inveja dela. O mesmo acon- relembrar:
os que sabem distinguir e apreender corre- tece cqm o trabalho: quando a "A emulação socialista é uma
tamente no calidoscópio dos acontecimen- tecelã trabalha com todo o «fora- expressão da autocrítica objetiva e
tos a luta entre o novo e o velho, os ção, e ama a sua tarefa, então revolucionária das massas, baseada
rebentos do novo nos escombros do velho. cuida dela como de um filho. Por- na iniciativa criadora de milhões
E sentem então o verdadeiro pathos dos que a ama. E quando não a ama, de trabalhadores".
nossos tempos, compreendem o papel ln- saem de suas mãos peças como
':
gente e, muitas vezea decisivo da van- uma criança tratada pela madrasta %

guarda, o papel do partido da classe — suja, mal lavada, esfomeada e Este é o sentido mais profundo da
operária, o papel de homens novos e maltrapilha Amo o meu traba- autocrítica, este é o sentido mais profun-
vivos* que crescem nessa luta. São justa- lho como a um filho. do da emulação e este o liame org: nico
mente os que sabem aplicar na sua ativi- Insisti, portanto, parn que for- que as une. A obtenção dos melhores
dade criadora o realismo socialista. máisemos uma dessas brigadas. Dt- resultados de trabalho é uma autocrítica

10 Fundamentos
'-¦'ê$à&
x-~i-4lÊÊ£ma\à' .

»Hp ESCRITOR SOCIALISTA


Nós apenas ingressamos nesse cami- ficado. Realizaram-se, nessa ocasião, mi-
BERM AN nho, mas já temos também dezenas de
milhares de projetos de racionalização, e
lhares de reuniões camponesas nas quais,
usando a potente arma de pressão moral, iül
¦'•''li 1
as economias que deles resultam somam concitaram-se os camponeses ricos a ven- ». ¦''^íIh
biliões de zlotys. der o seu trigo ao Estado.
das massas trabalhadoras, é a superação
Há ainda vacilações na massa campo- -.) ¦¦-'¦
da rotina, a quebra das velhas normas ggs
técnicas. Poder-se-ia achar dezenas de AS TRANSFORMAÇÕES DO CAMPO nesa. Quem observa, porém, atentamen-
exemplos, que ilustrem o sentido desses te, o que ocorre no campo, vê a solidarie-
fenômenos. Ao encararmos os processos mais sig- dade cada vez mais cristalizada de cam- '*h
nificativos que ocorrem no campo, parece- poneses pobres e médios na luta contra o
E* suficiente analisar o desenvolvi- nos que o eixo do problema, o problema campesinato rico e na aliança com a cias-
mento da luta pela rapidez do corte dos mais real é o processo de diferenciação se operária. y-:A.m
metais, do seu dramático transcorrer, de política.
como normas reconhecidas e canonizadas Cartas recebidas pelas redações dos
durante decênios foram abatidas pelos Nosso campo acha-se fortemente dife- nossos jornais camponeses, muitas vezes
operários de Leningrado, Arystarchow e renciado em classes, mas o seu processo ingênuas e falhas, refletem o sentido dos
Bortkiewitch. de diferenciação política, ou seja, o pro- fenômenos que ocorrem no campo. Apre- m
cesso de libertação dos pobres e médios ender esses fenômenos, decifrá-los, arran-
Esse movimento foi iniciado entre nós camponeses de sob a influência dos ri- car a casca que encobre a realidade desses
e está tendo um alcance cada vez maior. cacos e especuladores, é um processo processos — eis uma questão de grande
No momento em que rompemos as complicado e difícil, difícil nele pesam significado. m
cadeias do capitalismo, as possibilidades porque preceitos seculares, hábitos e tra- Temos ainda outro fenômeno nessa
de aperfeiçoamentos técnicos se tornaram dições de um modo de vida em grande ampla diferenciação de classe — o agrupa-
infinitas e constituem o motor e o impul- parte sedimentado. mento dos elementos de vanguarda, no
so de um contínuo desenvolvimento da Tivemos ultimamente algumas inicia- campo, em cooperativas de produção.
técnica. tivas no campo que, sem dúvida alguma,
O ingente esforço de trabalho, de con-
Será suficiente citar um único alga- permitiram acelerar e esclarecer esses pro- vicção, persuasão, de luta contra o ricaço
rismo para mostrar como é potente essa cessos. Ao lado da ação fiscal, que dife-
do campo já deu resultados. Hoje pode-
alavanca. Durante o ano 1948 na União rencia claramente o campo segundo os mos constatar a existência de mais de 500
Soviética foram apresentados 4.000.000 de caracteres de classe, tivemos a classifi- cooperativas de produção; hoje podemos
projetos de racionalização. Vede, portan- cação dos terrenos, a qual fêz irromper fazer honóscopos da cooperação para o ""'¦¦<£

to, como são grandes as massas postas contradições e antagonismos muitas vezes ano 1950 e que atingem quase duas mil
em movimento, quanta invenção preciosa, ocultos e acelerou o processo de matura- cooperativas.
quanta iniciativa humana, quantos talen- ção da luta de classes. Também a ação
tos liberta o novo regime social. de compra dos cereais teve grande signi- Esse movimento está ganhando em ex-
pansão. Sabemos que para garantir o
ÍÈÊ&ÈÊè seu aprofundamento devem-se ampliar os ¦rS,
elos de ação proletária, operária, deve-se
fortalecer a união entre a classe opera-
I ¦'¦'if4sm
ria e a vanguarda camponesa.
Daí resulta a importância dos Centros
de Maquinaria Agrícola do Estado (CMAE), ¦rí

que servem às cooperativas. O papel dos


CMAE ultrapassa as funções produtivas. ¦0í&
Esses centros devem tornar-se focos de ¦ ¦ ¦» »*,ypi

irradiação política e cultural, devem tor-


nar^se uma forma de ação do elemento
proletário sobre a massa camponesa, sôbre
os camponeses pobres, devem ser um elo
que cimenta a aliança operário-camponesa.
w
Por isso no vosso trabalho e nas
vossas observações vale a pena dedicar
especial atenção aos CMAE, ao pessoal dos
CMAE, aos seus diretores e funcionários,
à gente que pertence ià classe operária e
à qual a classe operária confiou esses
postos difíceis e de enorme responsabi-
lidade.

EM TODAS AS PARTES DA POLÔNIA


OCORREM TRANSFORMAÇÕES PROFUN-
DAS E REVOLUCIONÁRIAS
Hs
Ao mesmo tempo está se cristalizando
um novo tipo de ativista, oriundo da massa
^m\wLf^ |BAjH
^^H
^wÊ ilmmf}m\^S3mK^a^À^ÊaM.^aamw-^(' ** **w* • ^^PííXíiKtRi^íIWBpvXj-jwBjÕBBy^BS-BBnfl
operária, sentindo-se responsável pelo J
que acontece no campo, ativista cujos
horizontes ultrapassam os limites da fá-
.*r!'v?*rt'
. S-i
brica, da qual se sente dono, cuja cons- y-,y

ciência está se enriqueendo também com yli


elementos de responsabilidade pelo
campo.
A quintessência das nossas transfor-
mações consiste em equacionar tudo de
acordo com aqueles que vão à frente, os
3 melhores, os que mais ânimo demons-
2)
MW
y-yy

Maio-Jtinho 1950 11

y-iy*>;:í?

[ . 'Ay.---".
«»>¦"<-""'' -vr
'_¦ '"'•'':a ';'';;" '' ¦
^f^ ,-.

KS

siasmado e dedicado ao trabalho nessas consciente, mais vigilante, mais comba-


U tram na luta pelo socialismo. Neste fato
condições? E aqui também vemos o cho- tiva é a atitude dos operários, tanto mais
reside uma imensa carga política e ideo-
que da velha bagagem de preconceitos e insignificantes são os resultados dessa
J lógica, e esta é uma das garantias de ação inimiga.
nossa vitória. prevenções com a nova vida, que desba-
rata as velhas formas e atinge a cons-
E por isso - é preciso observar cari- Mesmo
ciência dos médicos e cientistas. "inteli-
hhosamente esses processos, essas trans- os grupos mais sensíveis da
formações, esse crescimento de novos ho- gentsia" são atraídos pelo curso constru- MILHÕES DE LEITORES À ESPERA DE
mens. tivo da nova vida, pela sensatez do plane- NOVOS E BONS LIVROS

Em todos os recantos da Polônia ocor- jamento, que não permite extraviar-se em Acabo de enumerar uma série de con-
ii-./ rem hoje em dia tranformações profundas pormenores, pegandb pelos chifres as tradições da nossa vida em cuja supera-
e revolucionárias, em tôdas as partes age questões sociais e permitindo em poucos ção reside a fonte de nosso desenvolvi-
o fermento revolucionário. anos desenraigar as calamidades sociais mento. O escritor que se integra nessa
que dizimavam a nossa população. luta, que a exprime do modo mais com-
Ao tomarmos contacto com a juven-
pleto em sua obra, resguardando a inteira
tu, ficamos admirados e muitas vezes ma- liberdade de tema e forma literária, êste
ravilhados com a profundeza desse fer- AO CALOR DA LUTA PELO NOVO escritor acelera o nascimento das novas
mento, com a luta muitas vezes aguda, REGIME FORMA-SE O ATIVO forças, que se expandem para o alto, auxi-
por exemplo, a luta por pertencer ou não lia a liquidação das forças que nos arras-
à Associação da Juventude Polonesa, luta Algum "filósofo" sofisticado dirá tal-
vez que se trata de um processo normal tam para trás, acelera o nascimento de
que, muitas vezes, se relaciona com tragé- Nada um homem novo e melhor, aumenta as
dias pessoais, acarretando a rutura de re* de formação de uma nova elite.
lações entre pessoas. Vejamos a riqueza de mais falso. Não se trata de um forças do socialismo.
entra
4as transformações que ocorrem no seio grupo que se fecha em si mesmo, O exemplo da literatura soviética é
dos moços das brigadas de "Serviço à na sua casca e se contrapõe à classe e a melhor prova disso. A literatura sovié-
Polônia". Quantos conflitos internos, na à nação. E' uma vanguarda que seorigi- tica soube conquistar a posição honrosa
luta com os hábitos anarquistas dos jovens na em sua classe, e somente tem sentido e importante de co-criador da vida. Não
das grandes cidades, quanto esforço para na medida em que coloca tôdas as suas apenas o reflexo desta, não apenas a sua
se acostumar ao trabalho na indústria por forças a serviço da sua classe e da nação. transformação artística, mas a ação, o
parte da juventude camponesa, quantos E por isso mesmo ela atrai às suas fileiras aprofundamento, a aceleração do cresci-
sentimentos nobres surgem no entusiasmo todos os mais capazes, o que há de melhor mento do novo homem socialista.
do trabalho comum, quantos jovens cam- na classe trabalhadora.
Escritores como Gorki e Maiakowski
poneses conquistam novas qualificações, Ao calor da luta pelo novo regime
W: ingressando nas minas, fábricas, fun- trouxeram uma enorme contribuição à
social está se formando entre nós o ativo. edificação do socialismo, sulcaram pro-
dições! Assim se forma o ativo dos mais labo- fundamente a gleba literária, criaram um
Quem observou o movimento femini- riosos, o ativo do partido. E nada pode- novo clima na literatura soviética. Escri-
no viu como milhares de mulheres açor- rá compreender a respeito do que ocorre tores-educadores como Makarenko ajuda-
daram para a vida, ganharam novos inte- entre nós aquele que não quiser compre- ram os escritores a penetrar nos segredos
ender o papel do o papel do ati-
resses, novo sentido da vida, mais rico, ' partido, das transformações que ocorriam nos
mais orgulhoso, deixando atrás os limites vo do partido. homens e formar o homem soviético. Po-
estreitos da cozinha, das panelas e dos Obviamente, aqui e acolá as organiza- deríamos muito aprender, muito facilitar
afazeres cotidianos.
ções do partido têm ainda muitas falhas o nosso trabalho, examinando o caminho
Ora, êste é apenas o início do movi- e sôbre elas pode pesar o cunho dos ve- e as tentativas cheias de nobre paixão e
mento que se está ampliando ainda, mas lhos hábitos e tradições. Mas não verá obstinação dos escritores soviéticos. O
que já penetrou profundamente no campo, o motor das nossas transformações aquele que há de mais nobre do que a vocação
abrangeu a maior parte das operárias, e que se percfer nesses detalhes e cochilos, de escritor socialista?
atingiu as esposas dos operários. sem ver o que é mais real: a idéia eo À medida que a revolução cultural
dinamismo dessa gente, a expansão de está se aprofundando entre nós, aumenta
E não é um assunto de interesse
seus horizontes, o crescente sentido de a fome de bons livros sôbre a nossa vida.
apaixonado o processo que ocorre no seio
" responsabilidade pelo conjunto, a busca de
da nossa " inteligentsia ? Quantos dentre Milhões de homens principiam a viver
resposta a todos os males humanos. Não
os nossos engenheiros já se transforma- uma vida conscientemente cultural. Eles
se trata de um. grupo de homens que exigem novos e bons livros, poemas, pe-
ram e se identificaram com. a nova vida!
A luta continua ainda acirrada entre a procura adquirir a técnica de governar, ças de teatro, filmes.
nova e a velha vida, entre a influência mas de um ativo ligado a milhões de
homens* e que tira da vontade e energia As transformações que ocorrem entre
do antigo meio, dos antigos hábitos e tra-
desses milhões a fonte de sua força e a nós, e que se relacionam com o Plano
dições, a submissão ao americanismo, de
Sexenal, produzem grandes feitos, criam
i.
U
um lado, e, de outro, a irradiação das possibilidade de dirigir o Estado.
novos homens. Milhões de leitores espe-
massas operárias, do partido, do novo E por isso conviria que, observando a ram de vós obras que ajudarão a formar
meio, da nova ideologia e da nova reali- multiplicidade das cousas, assuntos e estes homens, heróis de nossos tempos,
dade, que abala e traz interrogações só homens, vós pudésseis apreender o pro- nossos grandes tempos.
respondíveis de modo positivo. cesso do crescimento do ativo do partido,
fu da formação do partido e da formação de Alguém dirá: mais um apelo à cons-
E aqui de novo pode-se saber, por
$ti'A''
seu papel. ciência do escritor? Sim, mais um apelo
numerosas carfas, como essas transfor-
àqueles que, dentre os escritores, querem
mações profundas ocorriam em homens Lembremo-nos ainda que a luta está extrair da vida e das lutas a matéria de
A
que, •muitas vezes, nos eram estranhos,, se travando numa escala internacional, seu trabalho literário, que não pretendem
ou mesmo hostis, que abalos eles sofriam
que não estamos isolados, que somos o tornar-se narcisos concentrados em sua
internamente, saber como somente agora, objeto de uma feroz penetração do ini- solidão e no seu passado, que não querem
nos últimos anos, sentiram ter em mão migo, dos agentes do imperialismo, agen-
a possibilidade de criar coisas grandiosas; que o rápido curso da vida os deixe à
tes que se recrutam entre os sobreviveu- margem.
saber como essa corrente os arrancou, tes das classes esmagadas, capitalistas,
como fêz arder neles a força interior, latifundiários, policiais, secretas e indiví- Milhões de trabalhadores vos esten-
que antes nem mesmo sentiam. duos pervertidos. dem as mãos. O país intensifica o seu
esforço, c pode também exigir um esforço
Temos o mesmo fenômeno entre os No Pleno do Comitê Central temos intensificado por parte dos seus escritores.
professores, particularmente entre os mes- mobilizado a vigiKncia dc classe. Graças
tres-escolas rurais. Observamos lá) um * Apreciação dos problemas do escri-
a essa mobilização, pudemos liquidar mais
impulso para estudar, para progredir. de um atentado, mais de um ataque do tor feita pelo Ministro da Cultura da Po-
inimigo. Essa luta dramática, repleta tle lônia, Sr. .lakub Berman, ao se encerrar
Ou tomemos os médicos. Quando por
tensão e de perigos, está sendo travada nma mesa redonda de escritores que par-
ventura os médicos tiveram entre nós
diariamente, está sendo travada nos esta- tiam para estágios de observação em di-
possibilidades tão extensas de trabalho versos setores da reconstrução polonesa.
-construtivo? Como não se sentir entu- belecimentos de trabalho. E quanto mais

Fundamentos
12
¦¦wm ml
•:- >,..'mI

¦m

•¦&

D E ENERGIA ELÉTRICA
\

Aqueles que acompanham de longa os desejos e ambições da Light, que, CATULO BRANCO
data o desenvolvimento econômico ue após 25 anos de desenvolvimento,
nosso pias, ainda se lembrarão, torço- montou unidades no Cubatão que
samente, da crise sem precedentes correspondem a pouco mais de 50%
ocorrida na industria elétrica em S. da potência total então concedida. a Sorocabana, para finalmente propor
Paulo, em 192o. O pretexto íoi, então, Tal não se deu. A Cia. que, diante ao Governo, como compensação, o
a seca e também o surto rápido de das conseqüências da crise, havia direito de poder lançar o Paraíba
progresso; argumentos estes, apresen- obtido com tanta facilidade as cq$- no Tietê. *
tados apenas para confundir incautos; cessões de todas as possibilidades A denúncia oficial de tais latos
do Alto Tietê, voltou suas vistas es*caiiuaiosos pos em uuicinuaue a
pois bem sanemos que uma granuea cubiçosas para outro grande manan-
empresa dispõe de estatísticas que pronta reauzaçao uos desejos da m
orientam, nao só quanto à previsão ciai das vizinhanças da Capital — i^ignt. im ivóó, estudos toiy-
de progresso de consumo, como quan- o das possibilidades de transborda- gráficos e inurológicos da re-
to à ocorrência de seccas normais mento do rio Paraíba em Caragua- ^«.o vieram reveiar, nao so o aosuruo .Vi
ou excepcionais, aquelas que pro- tatuba — cuja potência é da ordem uô peuiuo, uma vez que as águas do
movem os ebamados minimos-mi de 1.000.000 de C.V., e cuja montagem raraiba estavam duzentos metros
minimorum da vazáo dos rios, ele- exige obras civis de muito menor abaixo das uo juetê, como tambem a
mento este fundamental para o pro- porte do que as que se tornaram e^s tencia ue situação topogiauca
jeto das usinas. necessárias à montagem da usina do ,,.:remamente; lavoravel ao íança-
O município da Capital e suas Cubatão. Acresce ainda que o desvio xiicdtò do .Paraíba serra abaixo, cum
circunvizinnanças eram então supridos do Paraíba dispensa usinas de re- jjussioiliuade para montagem ae ...
pelas usinas Hidroelétricas de £>o- calque, enquanto que o desvio das x.ouü.uuu ae l,. V. em uma usina
rocaba e Parnaloa, cuja potência águas do Tietê é feito através de próxima a Caraguatatuba. Ksxa usina
somava 90.000 kw., e uma usina duas usinas elevadoras do canal do v.ra ainda resolver um probuema
termoelétrica de emergência, aoca- rio Pinheiros, o que encarece de muito muito senüdo em todo o Vaie do
lizada na rua Paula Sousa, com po- o preço da energia em alta tensão. A Paraíba, o da regularização da vazão,
tencia de 3.000 kw. usina em Caraguatatuba era, portanto, „>xianüo enchentes que são granue-
A ocorrência da crise de 1925 trouxe concorrente perigosa; vejamos quais mente desfavoráveis a agricultura.
enorme perturbação ao consumo em as manobras que desenvolveu a Light •

geral e grande prejuízo à indústria. no sentido de se apoderar do grande


Por outro lado, facilitou a rápida
¦%

manancial do Paraíba. DESVIO DO PARAÍBA EM BARRA ¦c^^M

aprovação dos pedidos de concessão DO PIRAÍ


feitos pela companhia Light, visando PEDIDOS DE CONCESSÃO NO
assenhorear-se de todas as possibili- ALTO PARAÍBA Não obstante haver fracassado em
dades hidroelétricas das cabecei-
ras do Tietê. Naquela ocasião, como sua primeira manobra, em l93ü, nem
Enfrentava a Light, então, um novo de se
por isto abandonou a idéia hidroe-
demonstração de boa vontaae para apossar-se do Vale do
com as indústrias e como propaganda
problema: apossar do grande manancial
recordista, comprometeu-se a montar
Paraíba. Era preciso porém, pro- iclimco repr esentt ado pelo rio ta.-
curar um motivo plausível para a Cia., caiba. Nova ofensiva íoi por ela
a usina de Rasgão, com 28.000 kw., que já era detentora de concessões uesenvolvida em 1945, na ocasião
dentro do prazo de um ano. que já iam a mais de 1.000.000 de C. em que pediu autorização para desviar
V. O pretexto surgiu em 1928, quan- o rio Paraíba em Barra do Pirai
USINA DO CUBATÃO do a Sorocabana, iludida por infor- no Estado do Rio. Sob pretexto de
. m

inações erradas que lhe' haviam sido necessidade de maiores dispombui-


Logo após a crise de 1925, obteve fornecidas pela própria Light, lançou dade de água, pediu autorização para
a Light duas vultosas concessões que os trilhos da Mayrink-Santos dentro represar o alto Paraíba, obrigando-
correspondiam à potência total de da bacia do Guarapiranga, em zona se o Governo a não permitir o
cerca de 900.000 C. V. Foi ela auto- já concedida à Light. Como com-
transbordo das águas do rio Paraíba
rizada, primeiramente, a barrar o rio pensação a esta perda, pediu a Light para fora de sua bacia hidrográfica;e
Grande nas vizinhanças de Sauto e concessão para lançar o rio Paraíba isto é, o Governo não executaria
Amaro e invertir o curso de suas nc Tietê e aumentar assim as águas nem permitiria que alguém exe-
águas para a Serra do Mar; conco- (usooníveis para o Cubatão — perdia cutasse a usina de Caraguatatuba. E
mitantemente foi ela autorizada a a concessão de um córrego e ganharia êste pedido absurdo foi aprovado
V
elevar o nível de sua represa do a de tôda a bacia hidrográfica üe sob pressão de nova crise de energia,
Guarapiranga (represa velha), de üm grande rio, o Paraíba. crise esta, pela qual a única respon-
forma a que suas águas pudessem ~ sável é a própria Light.
transbordar para a bacia do rio Estes fatos foram trazidos a pú-
blico logo após a revolução de 1930, Conseguida esta vitória e como
Grande, obra esta que não foi exe- estas obras são «de execução de-
cutada. pelo engenheiro Plínio de Queirós, morada e com possíveis mudanças
Na mesma época, uma segunda assistente técnico do Secretário da
Viação, o saudoso Dr. Monlevade. de orientação e recuo, obtém do
concessão permitia à Light represar "O Estado Conselho de Águas e Energia Elétrica
e regularizar a vazão de todos os Em artigo publicado em
de S. Paulo" de 14-12-1930, declarava uma exigência especificada na parte
afluentes do rio Tietê, acima de Moji final da Resolução n.d 558, referente
das Cruzes, canalizar o rio Pinheiros êste ilustre engenheiro que a Light
havia fornecido informações inexa- ao racionamento de energia elétrica
e inverter o sentido de suas águas, fica a Light
através de duas usinas de recalque tas à Sorocabana que, em conse- no Distrito Federal:
"obrigada" a realizar estas obras com
que colocariam as águas do rio Tietê üêncda localizou os seus trilhos
dentro da bacia do rio Grande. dentro da área concedida à Light; prazo de 90 dias para entrega dos
E' evidente que tais concessões que a companhia, apesar de
conhe- primeiros trabalhos. Assim se exigiu
cedora da situação, deixou de notificar mente, aquilo pelo que luta há 20 :
deveriam ter saciado perfeitamente ¦¦¦

13
Maio-Junho 1950

_____
kA ,
/ MWBgij^«W»3»«ffi^.- arrasa
¦

ET " anos. Ê ainda interessante observar A ATUAL CRISE DE ENERGIA zer que jamais se forneceu a
^Y
que a Light cumprisse obrigatória- ELÉTRICA uma potência estrangeira maior
:: que, com a primeira crise de energia, No desenvolvimento desta política soma de informações sobre as
¦,F. obteve a Light as concessões do Alto
ck- restrição de energia elétrica, com nossas dificuldades, sobre as
fe
'
¦*.
Tietê e, com a segunda, a do Alto
o objetivo primordial de impedir o nossas deficiências e necessi-
€¥-' Paraíba. dades mais prementes de toda
desenvolvimento das indústrias bási-
em*, nosso país, freqüentemente outros a espécie sem que daí resultasse
setores do consumo têm sido atingidos. qualquer vantagem."
PROJETOS ECONOMICAMENTE
i :
Foi o que se verificou na crise de
ERRADOS 1925, com enormes prejuízos ocorri- E no mesmo trabalho, vemos à
dos em nossa pequena indústria, e é pag. 12 que, de 1940 a 1948, enquanto
Esta revista, em seu ri.0 14, já o que presentemente está ocorrendo o consumo aumentou de 179%, a
abordou um assunto, ao qual se deve frente à atual crise, cuja justificação potência instalada aumentou de ape-
aqui fazer referência. E' o fato da apresentada* ao público pela Light nas 18%.
Light sempre projetar usinas, em que baseia-se, ora no crescimento muito E como sabe a Cia. que da restri-
ka água passa por bombeamentos su- rápido do consumo, ora em secas ção do produto só pode resultar au-
cessivos ante de poder ser usada no muito pronunciadas. mento de seu preço, vai logo reivin-
Evidentemente dicando novas tarifas com aumento
desnível útil para a produção da ener- não iremos admitir, que uma grande
de preço que por vezes chega a 300%,
gia. Assim é na usina do Cubatão, e velha empresa argumente com a
como é o caso da calefação, cujas ta-
em que passam as águas primeira- falta de previsão do aumento de
mente por duas usinas de bombea- consumo; e quanto ao outro argu- rifas são regulamentadas pela Portaria
n.° 187, assinada pelo Ministro da
mento no canal do rio Pinheiros; mento, o das secas, foi inteiramente Agricultura — Sr. Daniel de Carvalho
assim é também no caso de Barra contesíado com as cheias excepcionais — que, sem qualquer cerimônia, de-
do Piraí, em que as águas passam de todos os rios. clara no preâmbulo desta mesma
por duas usinas de bombeamento; O que aqui convém assinalar, é que Portaria, desconhecer o elemento fun-
assim também no aproveitamento do a Cia. havia sido seriamente advertida damental para o estabelecimento
baixo Tietê, em que a usina de pelos engenheiros das Repartições de tarifas — o Capital da Light —
Parnaíba será transformada em usina Públicas, já em 1942, quando para o não obstante os enormes aumentos ali
de bombeamento; e assim também no Brasil veio a Comissão chefiada pelo impostos ao público.
proposto lançamento do Paraíba no cidadão americano chamado Morris Este último agravamento da crise
Tietê com elevação de 200 metros em Cook. deste produto básico — a energia
usinas de bombeamento. Naquele Sobre este assunto encontramos no elétrica — ocasiona enormes danos à
artigo ficou bem demonstrado o obje- trabalho do engenheiro Plínio Branco nossa população. As conseqüências
tivo imperialista de semelhantes — "Crise de Energia Elétrica e Au
principais do racionamento poderão
erros que visam impedir o desen- mento de Tarifas" — à pag. 35• ser assim resumidamente discrimi-
volvimento das indústrias eletroqui- "Tendo em vista nadas:
"dossier" com o imenso
micas em nosso pais, indústrias estas
que daqui par-
que não suportam tarifas elevadas tiu o Sr. Morris Cook, de a) Paralisação do progresso in-
acima de certo limite. volta à sua terra, podemos di- dustrial — impossibilidade de

QU
No Parlamento italiano, por duas vezes, o nome de Ke-
rênski foi evocado pelos dirigentes da Democracia cristã,
os quais, diante da oposição que reclama respeito às leis e
uma politica de reformas sociais, faziam entender que, se o
governo nada concede a este respeito é porque quer ser um
governo forte, quer evitar de seguir as pegadas do homem
de Estado russo que precisamente pelas suas fraquezas em
frente do movimento revolucionário, teria aberto o caminho
à revolução bolchevista e assegurado o seu triunfo. Os di-
PALMIRO TOGLIATTI
rigentes demo-cristãos que assim se expressam sobre Kerêns-
ki podem ser desculpados. A sua cultura histórica é limitada.
Não se lhes pode exigir que estejam perfeitamente informa- aliados, da ofensiva nas frentes orientais que custou ao
dos sobre o modo como se desenrolaram os fatos nó período russo rios de sangue. A ofensiva foi precedida e seguida,povo
compreendido entre março e outubro de 1917, na Rússia. em todo o exército, de uma violenta ação repressiva do mo-
Êlesjião podem, portanto, fazer mais do que repetir uma ,
opinião que os historiadores recusam, mas que nem por isso vimento dos comitês dos soldados com o escopo de restabele-
deixa de circular em toda a literatura política burguesa, cer a antiga disciplina. Por obra de Kerênski introduziu-se
nesse sentido. Esta opinião, porém, é substancialmente falsa. de novo no exército, como medida disciplinar largamente
E' falso admitir que Alexandre Kerênski, que esteve no usada para estrangular o movimento revolucionário, a pena
poder, primeiro como ministro de diferentes pastas, e depois de morte. Kerênski estava no poder quando foi afogada em
como chefe de governo, nos últimos meses de sobrevivência sangue a manifestação popular organizada em Petrogrado
na Rússia do regime capitalista, tenha sido um homem de no mês de julho pelos bolchevistas. Foi êle quem mandou
governo "fraco", no sentido que vulgarmente se atribui a destacamentos da polícia reacionária atirar, naquela ocasião,
este termo, e no sentido subentendido por aqueles que es- contra os operários. Foi êle quem, depois da manifestação
m conjurando-o, lhe citam o nome. Lénin, com muita justeza de julho, dissolveu a Guarda Vermelha e iniciou a perseguição
definiu Kerênski como um agente ativo do imperialismo e contra o movimento dos Sovietes e contra o Partido Comu-
da contra-revolução, um serviçal das classes reacionárias/ nista, apoiando-se para isso na organização dos oficiais con-
Kerênski pôs a serviço desta sua função uma teatralidade e tra-revolucionários. A direção do Partido Comunista foi
uma retórica de baixa qualidade, como o poderiam fazer, perseguida e acusada, tanto que, por decisão do Comitê Cen-
por exemplo,.um Sforza ou um Pacciardi, e também um trai, Lénin foi obrigada a afastar-se de Petrogrado e a viver
Scelba; prestou-se por conseguinte ao ridículo, mas a subs-
tancia dessa sua ação foi uma luta sem distinção contra o clandestinamente longe da cidade, até o dia da insurreição.
movimento revolucionário dirigido pelos comunistas. Os bandos de tipo fascista que então começavam a formar-se,
estipendiados pela burguesia reacionária para esmagar a re-
>zY-\' Basta recordar os fatos. Na primavera de 1917, coube volução, foram efetivamente apoiados pelo governo de Ke-
a Kerênski, que era então ministro da guerra e da marinha, rênski, sendo verdade que este não esteve em condições de
o desencadeamento, por ordem dos governos imperialistas dos fazer nada por ocasião do golpe de mão do general Kórnilov,

14 Fundamentos

\\á
f

¦ ''

¦>í
serem montadas novas fábricas denominação de-"Empresas Elétricas Mas, para execução deste processo,
— diminuição das horas de Brasileiras." Da mesma forma, a tornar-se-ia necessária a fiscalização
trabalho na indústria. Light adquiria tôdas as empresas das empresas especialmente em sua
existentes na região da Estraua de contabilidade e, para isto, era de suma i
b) Desemprego. Ferro Central do Brasil e lutava por importância a fixação do capital des-
c) Montagem de caldeiras e moto- se apossar de todos os mananciais pendido no empreendimento.
res de explosão, onde houver hidroelétricos da região. Decorridos alguns anos, em 1934,
necessidade de mais força mo- Foi tão pronunciada a operação estes princípios tomavam base legal
triz. econômica, que chamou a atenção de no Código cie Águas. Passados, po-
d) em decorrência, elevação' do muita gente, desenvolvendo-se, em rém, alguns anos, as duas maiores
preço de instalação industrial e nosso meio social, a discussão e o empresas do Brasil — Light e Em-
aumento dos preços dos pro- estudo do assunto. Entre os traba- presas Elétricas Brasileiras (Bond
dutos. lhos mais notáveis aparecidos então, and Share) — nem ao menos reco-
e) aumento do consumo de óleo, achava-se o do Professor Anhaia nheciam valor legal ao Código de
gasolina e carvão e conseqüente "Serviços de Águas e, só após 4 a 5 anos, é que
Mello em seu livro
agravamento do nosso déficit Utilidade Pública", repositório de pre- a Light apresentava os documentos ÍS.J
no comércio exterior. ciosas informações que até hoje muito preliminares exigidos pelo Código (o
f) aumento do consumo de '— lenha nos auxiliam no estudo do problema. chamado manifesto.) i
e carvão de madeira e A sua tese fundamental era a de As cartas enviadas pelo General
conseqüente desmatação, ero- que êste serviço de utilidade pública, juarez Távòra ao Congresso Federal
são e empobrecimento da terra. o de produção da energia elétrica, vieram documentar de forma irre-
g) agravação das dificuldades de era realmente um monopólio, princi- futável: a) que a Light havia des-
transporte, suprimento de água pio êste aceito, aliás, por todos os respeitado as leis do País; b) qfue
e conseqüente encarecimento grandes juristas norte-americanos. apossado ilegal-
a Light se havia "Societé
da grande maioria das utili- Aceita a idéia do monopólio, decorre :*híe do acervo da Anonyme
dades, e mais o estabelecimento a da fixação do preço da energia, du Gaz"; c) q^ie a Light havia agido
de verdadeiro câmbio negro na na base de seu custo (isto é, in- junto aos poderes públicos para im-
obtenção de futuras ligações de cluindo tôdas as despesas). Não se pedir a construção da usina do Salto,
luz e força. poderia mais aceitar a teoria do agindo por métodos üicitos, conse-
'"valor do serviço", difundida até guindo inclusive o desvio de docúmen-
^
A LEGISLAÇÃO FISCAL EM NOSSO hoje pelas empresas, e de acôrdo íos oficiais.
PAIS com a qual o preço é uma função da Não obstante todos estes fatos,
necessidade do consumidor. agressivos agentes do imperialis-
Há cêrcà de 20 anos aportou no Após muitas discussões sôbre o mo norte-americano continuam a se
Estado de São Pa"ulo, a Bond and assunto, à grande maioria das pes- apresentar em nosso pais, pleiteando
Share e, a toque de caixa, adquiriu soas, apresentou-se, como uma idéia modificações em nossas leis que per-
"monopólio de mitam maiores facilidades, e amplas
quase tôdas as empresas de supri- evidente, a do
mento de energia elétrica do interior, fato", decorrente dai a necessidade liberdades de ação ao capital estran- JK
formando um empreendimento que da fiscalização e da prestação de geiro. Não só em Congressos^ pa- ?2
"serviços tronais nacionais, como o de Araxá,
pelo preço de custo.

passaria a funcionar sob a agradável

mm
E i
golpe êste que se não obteve êxito, se deve exclusivamente bolchevistas, conseguiu apoderar-se de todo o país e organi- "
üs
à resistência do povo, guiado pelos bolchevistas. zá-lo em condições tais que o habilitaram a rechaçar o ataque :U-~ri

E' absurdo, pois, apresentar Kerênski como um ministro armado dos governos da Entente e a insurreição das classes
que houvesse pecado pela
"fraqueza", isto é, que em lugar reacionárias. Onde está a diferença e, portanto, quais forani
de servir-se da força armada com finalidades repressivas, as verdadeiras causas da derrocada de Kerênski, de seu go-
tivesse feito compromisso com a vanguarda da revolução, vêrno e do regime que êle defendia? A diferença está no
naufrágio. A repressão de-
provocando assim seu próprio "socialista" fato de que a crise aberta pela guerra imperialista e ir rom-
sencadeada e dirigida por êste marca Noske, foi pida com a Revolução de Março havia colocado na ordem do
sem dúvida mais ampla e mais cruel, do que a praticada dia do país alguns píroblemas vitais, que não podiam ser
pelo regime fascista e por Mussolini nos anos que precederam protelados, mas, ao contrário, era necessário resolvê-los a
o 25 de julho de 1943. Não obstante isso, Kerênski foi ba- qualquer custo, de tal forma que, não somente surgia como
tido, esmagado, arrastado pela revolução bolchevista, obri- um imperativo da situação objetiva, mas se impunha como
gado a fugir da Rússia vestido de mulher, entre os apupos uma necessidade à consciência das grandes massas da * popu-
e a maldição do povo. Seu exemplo, não deveria portanto lação. Tomemos alguns exemplos desses problemas vitais:
ser citado mais precisamente para demonstrar que, em de- o da paz, o da terra, e o da criação de uma nova administra-
terminadas circunstâncias históricas o recurso à força brutal, ção do país. Para salvar-se a si mesmo da catástrofe o
à repressão sanguinolenta, ao emprego de força armada po- povo russo teve necessidade antes de tudo de sair da gueira,
licial contra o movimento popular, etc, são expedientes que de fazer a paz a qualquer preço. Esta era uma necessidade i
não servem absolutamente para salvar regimes afinal desti- objetiva e ao mesmo tempo, a aspiração ou melhor, a vontade
nados a desaparecer. Seu exemplo, não deveria por conse- precisa da parte ativa da nação: operários, soldados, campo-
guinte, reforçar a convicção de que não é na ausência de neses. Era preciso resolver a questão saindo da guerra, ou
violência e brutalidade na repressão do movimento popular então ser arrastado por ela. E assim, impunha-se dar a
que deve ser procurada a causa do fracasso destes regimes, terra aos camponeses, se se queria de igual modo resolver
mas em uma direção completamente oposta? um problema inderrogável, encaminhando a maior parte do
As condições da Rússia em 1917 eram profundamente povo para um trabalho produtivo. Precisava-se livrar a Rús-
diversas da dos países capitalistas nos dias de hoje. A sia de todas as sobrevivências da velha burocracia czaristae
guerra, as derrotas, a má administração a corrupção^ tinham criar novos órgãos de governo que extraísse sua própria
criado condições de extrema desordem. Em condições aná- força do povo, constituindo-se a base de um sólido poder.
logas, ou melhor, em circunstâncias ainda piores, depois da A "fraqueza" de Kerênski não consistiu em não saber atirar ã
3 Revolução de Outubro, o governo soviético, dirigido pelos sobre o povo e dar caça aos comunistas, mas em não ter
'
15
Maio-Junho 1950

h: m m
mKtp&mmm
i i»r<w-n— •»*«
./•"¦¦:>
• ' * *7

¦ ¦

ir*..

como em todas ase reuniões feitas feridas exclusivamente a brasileiros; de nitrato e fosfatos — podere-
sob a direção dos grandes repre- c) o da exigência de maioria de dire- mos nós ter esperanças de ver
sentantes do capital estrangeiro, tais tores brasileiros e mínimo de dois a política de nosso pais orientar-
como Abbink — Kennan — Miller terços de engenheiros e três quartos se neste sentido e opôr-se ao interesse
e Kemper, exigências claras e po- de operários brasileiros, nas em- imperialista de poderosas forças eco-
sitivas têm sido feitas no sentido presas de serviços públicos. nômicas que sòlidamente se aninha-
de que: a) plenas garantias sejam Felizmente, porém, os aconteci- ram em nosso meio social e econó-
dadas contra a encampação; b) garan- mentos têm ultimamente conduzido mico? Poderá tudo isto ser realizado
tias e privilégios relativos à tribu- ao desmascaramento das manobras em país, onde empresas estrangeiras
tação; c) garantias de que os lucros imperialistas, tendentes a destruir as e imperialistas são detentoras de con-
possam sempre ser transferidos para bases legais dos princípios acima cessões para o uso dos rios?
o país de origem do capital; d) ga- expostos. Evidentemente tal não é possível.
rantias de disponibilidade de cam- E foi por isto que, ao estudar o pro-
biais para a retirada de juros e lu- blema do reerguimento do Vale do
cros; e) nenhuma discriminação con- O FUTURO DA INDÚSTRIA ELÉ- Paraíba, a nossa bancada, a bancada
rí>
tra diretores e técnicos estrangeiros. TRICAEM NOSSO PAÍS comunista, declarava em conclusão na
^ São estas, exigências que, se satisfei- Os fatos aqui apontados; as acusa- Assembléia Legislativa Estadual em
tas, nos levarão à dependência eco- soes do General Juarez à Light, acusa- 1947:
nômica integral. A concessões des-
ta natureza se referiu o Presidente ções estas confirmadas pela Assem- " .. ,é que só conseguiremos
bléia Federal; o caso do escabroso afastar as dificuldades legais e
Wilson, declarando que conduziam empréstimo feito à Light; e o agrava-
a uma situação intolerável. o desenvolvimento do Vale do
mento da situação desta indústria, nos Paraíba, com a encampação da
Para que tais exigências sejam esclarecem a ação imperialista desta
satisfeitas, nceessário se torna a anu- Light; e, para isto, precisamos
empresa e a contradição, profunda
lação de diversas leis do país e, entre entre os seus interesses de lucro promover a preparação finan-
estas, com especialidade, o Código ceira. Nada deveremos esperar
e as necessidadesx de progresso de de uma empresa que, em 1947,
de Águas. Assim se explica a cam- nosso país.
panha «sistemátida q|ue, de alguns toma atitude absolutamente
Não temos dúvidas, porém, que idêntica à de 1930, isto é, obs-
meses para cá, vemos desenvolverem caminhamos rapidamente para a uni-
contra tal lei — jornais da imprensa truindo a possibilidade do de-
ficação de todas as empresas de ener- senvolvimento através de subtis
mais reacionária, revistas técnicas e
comentários sobre convênios e con- gia elétrica em* mãos do Estado; é pedidos de concessão. Esta
esta, na hora atual, uma operação im-
gressos semelhantes ao realizado pelas, empresa nos seus atuais funda-
organizações patronais em Araxá. prescindível ao progresso. Nesta épo- mentos, já chegou à sua etapa
ca, em que compreendemos toda a ne- A
O que exigem os cavalheiros que cessidade indiscutível de ver reali- final de desenvolvimento.
escrevem nestes periódicos é invarià- zadas obra progressistas para conser- única saida para uma nova
1 velmente a modificação do Código de vação do solo, através de represa- etapa de desenvolvimento em
Águas e isto, porque este Código deu mento de rios, através de barragens que se promova o reerguimento
fundamento legal a vários princípios e usinas — águas regularizadas — do Vale dó Paraíba, será aquela
altamente interessantes para a defesa campos irrigados — produção de que corresponde ao afastamento
K,'< da economia do nosso pais, entre os energia elétrica farta e barata — do maior antagonismo a este
quais: a) o do custo histórico para desenvolvimento1 das indúsMas reerguimento: será a de encam-
fcü 1 o capital; b) o das concessões con- eletroquímicas, especialmente as pação da Light.

sabido reconhecer, enfrentar e resolver radicalmente estes feitas pela União Soviética. A fraternidade de classe pre-
"fraqueza" nele, valece sobre a razão. Em nome desta fraternidade o impe-
problemas da vida nacional. Mas, esta
era orgânica, insuperável e incorrigível. De fato, êle estava rialismo norte-americano a todofe arrasta a uma política de
no governo em nome e em função de grupos sociais incapa- guerra em que se exaurem as riquezas e a tranqüilidade das
zes pela sua própria natureza de resolver estes problemas. nações.
Não podia dar a paz à Rússia porque era o agente dos im- De nada serve despertar- a atenção para as questões
perialistas estrangeiros e dos militaristas indígenas. Não vitais que surgem da realidade da vida do nosso país, s.
podia dar a terra aos camponeses, porque se apoiava nos necessidade de profundas transformações sociais para ini-
capitalistas e nos financistas que não queriam saber de me- ciar uma renovação. O velho grupo dirigente privilegiado
dida revolucionária, nem mesmo de reforma agrária decente. fêz do atual partido de governo o seu partido, assimilou-lhe
Não podia criar novo poder democrático porque o separava os quadros, sem permitir afastar-se da. velha política de de-
do povo toda a sua orientação política contra-revolucionária. fesa da ordem constituída.
Poderá servir para alguma coisa havermos recordado
estes elementos de fato aos chefes da democracia cristã que De nada serve apontar a generosidade e a sabedoria
tanto medo têm de se parecerem, pela sua "fraqueza", ao com as quais os partidos avançados da classe operária, cons-
Kerênski que não conseguiu impedir o triunfo da Revolução cientes de sua força quanto de suas necessidades objetivas,
de Outubro? Não o cremos, porque estes chefes, em ver- se desdobram para que a sociedade italiana se renove se-
dade, tal como aconteceu há trinta e dois anos a Kerênski, guindo a estrada menos dolorosa, que importe menos riscos
longe de se orientarem ^segundo as lições dos fatos, ou por e menos sacrifícios. As velhas forças reacionárias, empe-
um raciocínio, ou para as objetivas necessidades da vida nacio- nhadas na defesa obstinada dos seus privilégios a qualquer
nal, obedecem a um complexo de interesses e de sentimentos preço, reexumaram do pútrido lodaçal fascista o anticomu-
nismo como amálgama "ideal" do bloco criado para esta
que são depois de tudo, neles e para eles, mais fortes do
que qualquer raciocínio. ^ defesa. A Igreja Católica aspergiu-a com água benta. Inú-
De nada serve evocar neste segundo após guerra euro- til pois, raciocinar, demonstrar, procurar convencer. És um
peu, que deveria ser chamado a confirmar nos fatos, em bolchevista! És um ser infernal, és um homem dotado de
toda a Europa; a condenação do capitalismo egoísta e expio- rabo e três narinas. Seja confiada à física violência da
"Célere" o aniqüilamento das tuas razões!
rador, provocador de miséria e de guerra, amadurecida afinal
na consciência de milhões e milhões de homens. Da forta- Quem, pois, faz o papel de Kerênski, nesta situação?
leza capitalista sobrevivente nos Estados Unidos veio a pa- São aqueles que ignorando ou desprezando as necessidades
lavra de ordem de salvar a qualquer custo o caoitalismo, vitais da nação, do povo, da Europa e do mundo inteiro no
na vã tentativa de fazer retroceder a roda da história, e momento presente, tentam em vão impedir o curso dos
ei-los todos entregues a esta obra, com seu plano Marshall, acontecimentos, obstruir aquela marcha para a renovação
com seus absurdos e ridículos "volta ao liberalismo", mas que é imposta pelas coisas e pela consciência dos homens.
em verdade com o sacrifício real dos interesses populares e Ê, não importa que eles também, a exemplo de Kerênski,
da possibilidade de construção de um mundo renovado. lancem anátemas, ameacem, recorram à violência, persigam
De nada serve proclamar a absoluta necessidade de paz e matem. Isto, quando muito, serve para tornar ainda mais
da Europa e do mundo, a vontade de paz dos povos, as con- inevitáveis as soluções que com o recurso à violência eles
cretas propostas de permanente colaboração internacional pretendem esconjurar.

16 Fundamentos

aj
7

LEMBRAI Ç A S .M
•:

No catálogo dos poetas paulistanos aqueles que tinham retrato no Almanaque AFONSO SCHMIDT
do começo deste século não se deve omi- de Lembranças". Conheci-o já aos cin-
y
tir o nome de Artur Goulart. Seria des- qüenta e muitos janeiros. Alto, grisalho, 0.
7

marcada injustiça. Não digo que êle tivesse cara rapada — o que não era comum na-
coisa, o que não acontecia comigo. Lia
escrito obra de polpai ou deixado tra- quele tempo — sobrecasaca preta, chapéu todos os jornais, estava a par do movi- m
dição de genialidade, mas venceu galhar- mole de largas abas, pince-nez de ouro
com, um cordão de seda negra preso à mento literário no País e no mundo, cor-
damente no mundo das letras, criando
lapela. Passava as tardes a remexer nas es- respondia-se com pessoas residentes em
e mantendo um» alarido ensurdecedor à outros Estados. E residia com a familia no
.
volta do seu nome. Nutria sincero amor lantes das livrarias, cortejado pelos cai-
subúrbio.
pela literatura e o seu sentimento era xeiros e fregueses, distribuindo frases si-
bilinas. São Paulo inteiro conhecia e apre- Tanto me convidou para almoçar
tanto mais respeitável quanto os seus de-
ciava esses dois homens de letras. com êle que um dia aceitei.
tratores, assaz numerosos, afirmavam de
Artur Goulart sentia sincera admi- — É fácil — explicou-me, você toma
pés juntos tratar-se de um amor não cor- o trem, desce em Todos os Santos, toma
respondido. ração por Francisco Gaspar. Francisco
Com tenacidade a toda prova, êle Gaspar, por seu lado, retribuía largamen- a rua fronteira e logo encontra a nossa
te o sentimento do ilustre amigo. Tanto casa.
nunca se deu por vencido. Escrevia. Es- Domingo está bem?
crevia sempre. Prosa, verso, critica, ensaio, assim que, todos os anos, Gaspar publi-
teatro, artigos de jornal e, principalmente, cava uma "plaquette" sôbre Goulart. Domingo. Não falte.
livros didáticos, nos quais desasnou-se E Goulart, para corresponder a esse ato No/ domingo seguinte, apeei em
"plaquette" sôbre
toda uma geração. Aquela geração que, de justiça, dava uma Todos os Santos e ao deixar a estação
se não fêz esbórnias de talento, pelo menos Gaspar. Eram, pois, literatos à conta in- tomei a rua indicada. Já não lembro o
teira. E deram côr ao seu tempo. Por isso, V«s
não desmereceu das anteriores, nem das número que êle me deu. Era um chalé
que se lhes seguiram. Nas festas escola- aqui lhes consagro um pensamento de côr de ora com duas ianelas azuis. Entra-
res de fim de ano letivo, o nome de simpatia e uma florzinha roxa a que, na- va-se pelo portãozinho ao lado. Seguia-
Artur Goulart brilhava, dos programas es- quele tempo, se dava o lindo nome de se um muro descarnado. Sôbre êle, es-
. .**.*.?
i
colares constavam peças teatrais, poesias, saudade... piavam as bananeiras, os mamoeiros, os
monólogos, diálogos e discursos saídos de nes de re^edá. Bati no portão. Uma
sua pena prolífica. senhora apareceu na janela.
Cá fora, porém, êle não encontrava a
LIMA BARRETO —One despia? m
mesma unanimidade admirativa. Lembro Sou amigo do Lima Barreto, "fale
Francisco de Assis Camargo, escritor
de três ou quatro jornalistas de 1906 ou está?
carioca, está escrevendo a biografia do 0"pr»rlo o senhor encontrou com
1907 que, uns por bom, outros por mau
romansista Lima Barreto. Por intermédio
humor, encontravam na literatura de <->]<-. ifijo í-lfírnn vp*7r
**f*íp,!-|
de Edgar4 Leuenroth, pediu-me que lem-
Artur Goulart um alvo propício a mofinas TTq n*n«- orií-tm dias.
brasse os meus encontros com o grande \7, *~o
e verrinas. E< êle, firme, topava a parada. — Poi< at- Kriv* amrecen
boêmio. Para falar a verdade, tais encon-
Rebentavam as polêmicas. Engalfinhavam- em r^sa: riamos rom çindãdò
tros não foram numerosos.
se nas colunas dos jornais. Por isso, o seu Cnnvírlnn-rne nara entoar. Se o Lima
Ali por 1918 ou 1919 eu dirigia a Barreto tinha marrado enrontro para aouê- .*â
nome esteve sempre em evidência. Foi, "Voz do Povo", diário da manha, com '
>j*F

durante vinte anos pelo menos, um es- le día, talvez n^o demorasse "a chegar.
escritório à Rua da Constituição n.° 12. Mns eu preferi desnedn--me. tomar o su-
critor negado, afirmado, discutido, com a
De quando em quando, ia à Associação biirbio e voltar para a cidade. Logn depois,
sua turma de partidários recrutados dentro
Brasileira de Imprensa, que, nos seus pri-
e fora do território conflagrado das a situação do país esourecen Ti-re de
meiros tempos, estava instalada à Rua
letras... r*pivpr o iornal e regressar a São Paul*"*.
13 de Maio, num casarão baixo e escuro. Anni. rhegpu-me f-ts mãos umf1 car^a de
A verdade, entretanto, é que Arthur Lá havia um salão com máouinas de es-
Goulart tinha mérito, se não o valor imen- Lima Barreto. Ainda tenho de cor as
crever e uma pequena biblioteca, com
so que êle próprio se atribuía, pelo menos livros de consulta. Ali eu me encontrava primeiras palavras:
"Meu caro Xará. — Trato-o de xará ¦\.

talento, amor à literatura e uma bondade com diversos colegas, entre os quais Odu-
oue o levou a amparar incinientes plumi- valdo Viana, redator de
"A Noite" e
já porcme, não »co*i se vo^ê sabe, eu também
tivos. tanto de São Paulo, como de outros me r^amo Afonso. . ."
autor de revistas e oneretas. O-nr-l'-' pnrWn r-q-H-n? Seria difíKl,
M
RcfWdos. Sua facção não era talvez a mais es-"-*.
Um día saindo em companhia de assim do
brilhante, mas era com certeza a mais impossível mesmo, encontrá-la
Orl-ivnl^o Vinrm. pas^mos Dela porta de
nnmerosa. Francisco Gaspar, outro poeta, pé prá mão.
um modesto café fiual ficava nas proximi-
admirava-o cem nor cento dades da Associação. Na porta estava um
AH-nr Goulart e Frànpi'sço Oasnar homem alto, magro, de côr. oue nos abria
entendiam-se às mil maravilhas, O pri-
o*-- hraros com alegria. Anroximamo-nos. MARIA LACERDA DE MOURA
meiro. diretor do Gruno Escolar do Marco
Vestia terno de côr amarelada, iá no fio, Em fevereiro de 1945, um jornal do
de Meia T,poma, o secundo entregue ao
colarinho que na véspera deveria ter sido Rio de Janeiro, entre numerosos avisos
descanso de funcionário públiro j-mosenta-
prfl engomado e uma gravata de laço mal fúnebres, publicou modesto convite para
do;. Onando COnh^i Artur Gov-Vrt; feito. A palheta, escura, ora pendia para o enterro de uma senhora, convite que,
plp nm ouarentão de estatura mediana, ar-
a frente ora para o lado.
por certo passou despercebido a muita
¦>M
mivisr-ndo. de nince-vet, e barba à morla
Oduvaldo disse-me:
nazarena. Vestia quase semnre terno cinza gente. Encimava-o o nome popular de
E' o Lima Barreto. Você não Maria Lacerda de Moura. Embalde pro-
zento, de fraaue, o chapéu redondo da
"plastrons", conhece? curamos nesse e nos outros iornais cario-
mesma côr. E era exigente nos
Dali a pouco estávamos íntimos. Mas cas, da mesma data, as linhas habituais
das tonalidades mais sugestivas. Publicava
com, dificuldade uma revista,
"A Nova o escritor parecia indignado com alguns na secção de falecimentos (da véspera.
Cruz", em cujas páginas muitos estreantes elementos políticos de São Paulo e apro- Nada.
veitou a nossa presença para fulminá-los No entanto, Maria Lacerda de Mou- *.^»j
alçaram voo. Contou-me êle, certa vez,
com leeítimo orgulho, que o seu soneto com a sua cólera. ra deixou fortes vestígios de sua passa-
"Celeste" iá bavia sido reproduzido por Ainda hei de ir procurá-los, a ca- gem pela terra. Nascida em Alfenas, Minas,
mais de duzentos semanários do País valo e de facão! Assim... formada pela Escola Normal dessa cidade,
inteiro. Encontrei-o algumas vezes, nesse café dedicou-se desde muito jovem ao ma-
Seu amigo Francisco Gaspar parecia ou em outros. Notei que êle, apesar da gistério e às letras. Mas trazia na alma,
um literato alfacinba, do Chiado como vida desregrada, tinha tempo para muita cheia de idealismo e de desprendimento,

Maio-Junho 1950 17

•(•"¦Jl^.flti'!''!*'.
* :; ft

,}H

i
IXIJUMOS il ivriitwno
Um movimento geral de indignação e imperiosa se tornou a necessidade de por MARIO SCHENBERG
horror abalou todos os homens de bom termo à corrida aos armamentos atô-
senso, ao saber que Truman ordenara a micos. O próprio Churchili, um dos ini-
fabricação de uma bomba de hidrogênio, ciadores da "guerra fria", inesperada-
mente veio reconhecer a necessidade de dirigentes não tivessem esperanças de um
ainda mais destruidora do que as bom- desenvolvimento rápido da tecnologia atô-
bas atômicas de urânio e plutônio lança- novas negociações com a União Sovié-
tica. É verdade que isso aconteceu du- mica em seu país. Ora, diz Lippmann,
das sôbre Hiroshimã e Nagasaki. Figu-
rante a campanha eleitoral e deu aos con- quando Mólotov e Gromiko repudiavam
ras eminentes das igrejas protestantes, na O.N.U. o plano Baruch, já sabiam quc
homens de ciência como Einstein e até servadores um de seus melhores trunfos.
Não parece porém, descabido supor, que estava bem próximo o dia em que a
líderes políticos reacionários, como Mac bomba atômica poderia ser fabricada na
Mahon e Millard Tydings, protestaram a atitude de Churchili traduza preocupa-
União Soviética, e, assim sendo, nenhu-
contra a nefasta decisão que ainda mais ções dos círculos mais reacionários da ma vantagem teria o seu governo em
veio agravar a criminosa política atô- Grã-Bretanha, pois, não estamos mais
nos dias felizes em que Churchili dizia aceitar as duras condições impostas no
mica do governo norte-americano. É plano apresentado pelo ilustre financista
certo que não devemos nos iludir com poder dormir tranqüilamente porque só ianque. Na realidade, a União Soviética,
o clamor dos Mac Mahon e Millard Ty- os norte-americanos dispunham da bomba
atômica. Nao devem ter escapado, ao ou qualquer outro país livre da tutela
dings, que visam apenas enganar o elei ianque, nunca poderiam ter aceitado um
torado norte americano nas eleições que atilado homem político britânico, os in-
"rece:- plano que visava entregar a um truste,
se aproximam. Não deixa, porém, de ser convenientes de se encontrar no
extraordinária significação, o fato de dois ving end'' numa eventual guerra atô-
dirigido de fato pelos Estados Unidos'.
o controle total da produção da energia
í
chefes de comissões militares do Con- mica. A' perspectiva de servir de
"coussin atomique" também' causa bas- atômica e dos estudos atômicos, tanto
gresso americano terem achado necessa- para fins militares como pacíficos' e que
rio um protesto, ainda que demagógico, tante desagrado a muitos bons fautores
de guerra da França e arredores. ainda deixava ao governo norte-anierica-
contra uma decisão atômica de Truman. no a posse de suas instalações e esto-
Diz a imprensa .norte-americana que Mac Walter Lippmann é. incontestável-
mente, um dos mais autorizados e inte quês de bombas atômicas por um prazo
Mahon recebeu mais de sete mil cartas indefinido. Parece mesmo pouco prova-
de seus eleitores, exigindo ou apoiando ligentes jornalistas "respeitáveis", isto é, vel que o próprio governo norte-ameri-
sua atitude. Os três órgãos mais inflúen- que traduzem" o pensamento do punhado cano tivesse podido supor que tal plano
tes do imprensa dos Estados Unidos de famílias respeitáveis" que dão o tom
em Wall Street e dirigem tôda a vida pudesse ser aceito pela União Soviética
O New York Times, o New York He- e as democracias populares. A apresen-
rald Tribune e o Washington Post — econômica> e política da chamada parte tação do plano Baruch foi uma tenta-
também manifestaram grande frieza para "cristã e ocidental" do mundo. Lipp- tiva para embair a opinião pública mun-
com a decisão de Truman e a política mann reconheceu que tôda a política dial, fazendo-lhe crer que o governo
de força preconizada por Acheson. Fora atômica do governo norte-americano norte-americano desejava impedir o em-
dos Estados Unidos a onda de protestos fracassara, porque se baseara na ilusão prego militar da energia atômica, e cons-
fo-i obviamente muito maior. de um monopólio prolongado da técnica tituiu um golpe para obrigar os países
Pode-se dizer que, atualmente, mesmo de produção da bomba atômica. Na capitalistas a entregar aos Estados Uni-
os que crêem ser inevitável uma terceira sua opinião, o plano Baruch de controle dos as suas riquezas de minérios atô-
guerra mundial, justamente por deseja- da energia atômica só poderia ter sido micos. Aliás, o governo de Washington
Ia, não podem mais deixar de ver quão aceito pela União Soviética, se os seus obteve grandes sucessos com êsse últi-

tôda a inquietação do seu tempo. Daí, Janeiro, depois para São Paulo. Aqui lutou java. Transferiu-se para o Rio de Janeiro.
.talvez,' os obstáculos que encontrou na desesperadamente para viver. Publicou a Foi morar num daqueles subúrbios que
carreira e que foram crescendo a cada revista "Renascença", que literàriamente parecem situados a mil léguas da cidade
passo que ela dava, a ponto de lhe im- alcançou êxito, mas financeiramente lhe Estudava como sempre e o seu estudo foi
pedirem a conquista do lugar de relevo agravou as amarguras. Montou uma pensão. tão profundo que ela acabou por perder o
irft-V
no nosso mundo intelectual, lugar a que Passava os dias na cozinha, as noites debru- contacto com os seus semelhantes. Pene-
tinha incontestável direito. cada sôbre a mesa, a encher tiras de papel. tou-se, alcançou climas tão altos e tão dife-
Ainda estava em Barbacena quando Os pensionistas eram estudantes, poetas, <:rou pela porta estreita da Metafísica, liber-
"Renascença", sua
publicou primeira obra, artistas sem contrato que o mundo atirava rentes que quando falava das suas conquis-
Foi um grito tão alto, tão inesperado, na em São Paulo. Muitos não pagavam. E tas os homens do quarteirão sorriam.. . _•s

defesa dos direitos da mulher que a eram os mais exigentes... Ela esqueceu-se do mundo, o mundo
América Latina fixou nela molhos perple- Assim mesmo, Maria Lacerda de Mou- esqueceu-se dela. Havia bem uns dez anos
xos. Os patrícios, porém, taparam os ou- ra escreveu livros, folhetos" artigos de jor- que o seu nome não aparecia como anti-
vidos para não escutá-la. Seu nome tor- nais. Fêz conferências. Traduziu obras de gamente, no alto de um livro, de um fo-
nou-se corrente na Argentina, no Uruguai, Han Ryner. Um dia, depois da primeira lheto, ou mesmo numa coluna da im-,
no Chile, tio México, em todas as repú- As últimas .colaborações foram
ms-:c*,
blicas continentais. Colaborou nas grandes guerra mundial, a brutalidade humana se prensa. "Jornal
organizou sob a forma de fascismo, de na- para o do Comércio". Mas isso"
revistas de arte e filosofia de tôda a Amé- zismo. Sua oposição data do primeiro dia já faz muito tempo. Ninguém se lembra
rica. Um dia, os admiradores longínquos e foi admirável. No nosso meio provocou daqueles artigos, uns artigos de cultura
ouiseram conhecê-la pessoalmente. Man- inquietações, tumultos. Certa vez realizou que ela, a pobre, convertia em artigos
k- daram-lhe uma passagem de ida e volta de primeira necessidade. A 20 de feve-
uma conferência sôbre a personalidade de
„ e anunciaram as suas conferências. Foi Matteoti, a grande vítima. O vespertino reiro de 1945, segundo o aviso fúnebre
uma viagem triunfal Montividéu, Bue- "II Piccolo" excedeu-se~em críticas. O
m ^ nos Aires. Santiago. por povo publicado pela família, na secção paga
A França, que era a tomou o partido da conferencista, foi ao de um jornal carioca, a sonhadora de
capital do pensamento, notou a sua pre- Anhangabaú e empastelou o jornal ita- mundos melhores cerrou serenamente os
sença. Han Ryner, filósofo quase centena- liano. _. ^ olhos para os mundos piores em que
rio, que morava numa trapeira do Bairro Mais tarde, desgostosa da multidão, viveu. Nem sequer esperou o fim, do na-
Latino, nomeou-a seu apóstolo. retirou-se para Guararema e lá vivei alguns zismo, contra o qual tão valentemente se
Ao rumor dos primeiros triunfos ela anos, num rancho à beira da estrada. Mas batera, no livro, no jornal e na mesa de
deixou Alfenas, transferiu-se para o Rio de aí mesmo não encostrou a paz que dese- conferência.

¦18 Fundamentos
'Yk

m
^ Z.H

DAS ARMAS ATÔMICAS ¦ I


,*'!*
w

mo objetivo, invocando a defesa do mun- gissem Pequim. Heno' Stiníson, minis- Qualquer tentativa honesta de pôr um 1
"ocidental" tro da guerra norte-americano durante a
do pretensamente ameaçado termo à corrida atômica deve se basear
por uma União Soviética a que se última guerra, conta, em suas memórias, numa análise objetiva da atual situação
atribuíam propósitos agressivos. Deixe- o grande temor dos .dirigentes' norte- dum mundo dividido em dois campos, ¦¦4
mos, momentaneamente, de lado, o exa- americanos em Potsdam. Stimson revela ideologicamente antagônicos, mas poden-
me -dos planos de controle da energia cinicamente nesse livro, que os dirigentes do coexistir pacificamente e mesmo cola-
atômica, para apreciar" outros aspetos ianques chegaram a pensar que a bomba borar. No momento atual, há na Assem-
interessantes da argumentação de Lipp- atômica forçaria os povos soviéticos a bléia das Nações Unidas, uma maioria
"renunciar ao socialismo e
mann. Segundo o jornalista america- a restaurar o considerável de representantes de gove^r-
no, a adopção dum plano de controle da capitalismo." As experiências atômicas nos que obedecem' incondicionalmente as
de Bikini, em julho de 1946, visaram ordens de Washington. A Assembléia z:Y"
energia atômica não era premente,
enquanto a União Soviética não podia influenciar a Conferência de Paz com os não é, . portanto, um órgão adequado
dispor de armas atômicas, mas tornara- satélites do Eixo. As experiências atô- para dirigir uma Comissão de controle
se urgente desde que isso se dera. micas de Eniwetok, em 1948 coincidiram da energia atômica. Qualquer plano de
Observe-se, de passagem, que essa foi com o início das conversações sobre o controle das armas atômicas propondo
também a atitude do Vaticano, que só
chamado bloqueio de Berlim. A fim o estabelecimento de uma Comissão de
se pronunciou em favor da interdição de contrabalançar o efeito das notícias energia atômica subordinada à Assem-
sobre a aplicação na União Soviética da bléia da O.N.U.,-ou outro organismo de
das armas atômicas no fim de 1949, energia atômica para destruir montanhas, metsma composição, é uma m/-f.iobm'
duvidar
quando já não era mais possível no do- foi ordenada a fabricação de bombas a diversionista e uma sabotagem do con-
da capacidade da técnica soviética hidrogênio. Já tinham começado a sur- trôle efetivo, porquanto a União \Sovié-
mínio atômico. Agora, conclui Lippmann, tica, a China e as democracias populares
as premis- gir vacilações no campo imperialista.
já caducaram completamente "Para
que serve agora o Pacto do Atlâri- não poderiam entregar o controle da çner-
*as 'do plano Baruch e impõe-se uma
tico?" perguntava de Gaulle. Taft «de- gia atômica a uma Comissão em que* o
revisão 'da orientação do governo norte- clarava no Congresso norte-americano predomínio ianque seria total. A comis- -m
no-
americano, que deveria .participar-da de "Ninguém acredita que a Rússia se pre- são de controle das armas atômicas tem
vas discusões sobre o controle ener-
diferente, pare para invadir a Europa ocidental... que ser subordinada ao Conselho de Se-
gia atômica, com uma atitude Este programa levará antes à guerra gurança da O.N.U., de acordo com o
não se limitando a rejeitar sistemática- ' espírito da Carta das Nações Unidas.
mente quaisquer proposições soviéticas. do que à paz, e a velha corrida'
aos armamentos recomeça." Depois de Aliás, seria preciso que o Conselho de
O "Times" de Londres avança um pouco Segurança pudesse funcionar, o que não
mais e enxerga que o plano Baruch não uma publicidade bem orquestrada sobre acontece atualmente, em virtude da insis-
supunha, nem
é tão perfeito como se insatisfatório... o poder mirífico da nova bomba — pu- tencia do governo norte-americano em M
o plano soviético tão blicidade que dava a entender que só negar ao povo chinês o direito de parti-
Apesar das numerosas críticas e das os americanos poderiam^fabricá-la — foi cipar do Conselho mantendo o reoresen-
que lhe são feitas, mes- apresentada ao mundo a imagem hamle-
grandes reservas "ocidentais", "cristãos tante de Chiang-Kai-Shek. O direito de "M
•mo em círculos tiana de um Truman indeciso, debatendo- veto das grandes potências no Conselho
e "atlânticos", êsse plano continua a ser se em dolorosos exames de consciência, de Segurança permite aos países do 'tSjM
a base da resolução da maioria da Co- quecenfim resolve dar a ordem fatídica campo socialista participar em condições 'zFíim
"'C'.M
missão dp energia atômica da O.N.U. e de fabricar a bomba de hidrogênio. de relativa igualdade, apesar da maioria
,v-«
Truman acaba de reafirmar que,, por Como no caso das bombas de urânio do Conselho obedecer fielmente às dire- ¦-¦''- v.'>'á
m
enquanto ainda é o único plano aceitável trizes de Washington.
e plutônio, a importância militar de uma
para òs Estados Unidos. Noutras pala- eventual bomba de hidrogênio foi exage- Há dois aspetos essencialmente dis-
77-ST

vras, o governo norte-americano nega-se.


y-W

a discutir qualquer esquema realista para rada desmesuradamente. No episódio tintos no problema do controle da ener-
impedir o emprego de armas atômicas. atual da chantagem atômica há unia cir- gia atômica, que o imperialismo procura
Essa atitude ainda mais se agrava com cunstância nova: ainda não existe a bom- confundir deliberadamente: o problema
o início de uma corrida armamentista ba de hidrogênio, nem se saberá tão cedo das armas atômicas e o problema da
se a adjunção de substâncias hidroge- utilização pacífica de energia atômica.
atômica desabalada. À medida que crês- As armas atômicas devem ser proibidas,
ce o movimento mundial contra a guerra nadas e outros elementos leves aumen-
tara consideravelmente o poderio das os estoques existentes destruídos e os
e -que se manifestam as primeiras vacila- estudos de novas armas atômicas inter-
bombas atômicas. Afirmam alguns dos
ções sérias de forças do campo imperia- '
lista, intimidadas pela pressão popular e mais autorizados cientistas atômicos ditos. Não é porém admissível qualquer
norte-americanos que, só dentro de três restrição ao emprego pacífico da energia 1
o assombroso surto econômico, científico atômica, nem à verdadeira pesquisa cien-
e tecnológico da União Soviética e dos anos, conseguirão saber se uma super-
bomba de hidrogênio é possível. De tífica atômica, que devem ficar livre-
países de democracia popular, os círculos mente afetos a todas as nações. É indis-
dirigentes da política norte-americana qualquer modo, mesmo sem superbom,-
sobre o bas atômicas,, as perspetivas de massacre pensável o estabelecimento de um pro-
procuram reforçar o seu controle cesso eficaz de vigilância a fim de impe-
povo americano e as classes dominantes indiscriminado de populações civis, em
tempo de guerra, por bombas atômicas dir a fabricação e o ensaio clandestino
dos países capitalistas, por uma intensi-e de novas armas atômicas.
ficação oa política de força e dureza ordin.rias, são uma triste realidade e re- Para que
voltam as grandes massas de todos os essa vigilância seja possível, é imipres-
pelo aumento frenético .dbs armamentos cindível que as instalações destinadas à
em geral e, especialmente, dos atômicos. países. A tentativa de insuflar o balão
A chantagem atômica desempenhou
murcho da chantagem atômica redundou
"gaffe". Era vez de faci-
produção pacífica da energia atômica
também sejam fiscalizadas pela comissão
.1
numa tremenda internacional de controle. Não é 'porém
continuamente um papel de primeira litar a preparação guerreira dentro dos
ordem na política exterior americana, necessário que as instalações para a uti-
O criminoso bombardeio quadros dos Pactos do Atlântico e do lização pacífica pertençam à comisão de
desde 1945. Rio de Janeiro, galvanizando a burguesia
atômico de Hiroshima e Nagasaki foi de- dos países do campo imperialista, veio
controle e, muito menos, as jazidas de
cidido enquanto Truman e Churchill se dar um' ímpeto ainda maior à luta de
minérios.
encontravam em Potsdam. O objetivo todos os povos pela paz, mostrando de A Uunião Soviética propôs a assina-
era diminuir a importância política das modo indiscutível o monstruoso desprê- tura simultânea de dois acordos: um proi-
grandes vitórias soviéticas sobre a
Wehrmacht e forçar a capitulação dò zo pela vida de milhões de homens que bindo o emprego militar da energia atô-
anima os círculos dirigentes ianques. mica e determinando a destruição dos
Japão antes que as tropas soviéticas atin-

Maio-Junho 1950 19

Fi
Z'F
¦¦numiTi^-ji,, i.

I *
estoques existentes; outro estabelecendo
uma comissão internacional de controle,
subordinada ao Conselho de Segurança
Contribuição do III
da O.N.U., e dispondo -de todos os po-
deres de fiscalização necessários. O JOÃO PALMA NETO
plano americano (plano Baruch) não pro-
Os escritores que estiveram presentes ao III Congresso aproveitaram os debates
põe a proibição imediata da fabricação de
ri'

armas atômicas nem a destruição ime- encetados sôbre literatura, sobretudo no concernente à maneira como conduzir o
diata dos estoques acumulados; a inter- seu trabalho de ficção, por uma senda verdadeira, real, honesta, de modo a dar
dição só entraria em vigor quando todo uma contribuição eficaz e decidida para a construção de um mundo justo.
o mecanismo de controle estivesse em Reconheceu o III Congresso a liberdade ampla e ilimitada para os escritores
pleno funcionamento. A comissão
de produzirem o que quiserem. Mas reservou-se, também, o direito de orientar «*•
controle prevista pelo plano americano esclarecer os escritores quanto ao desvirtuamento da literatura a serviço de uma
não estaria subordinada ao Conselho de elite decadente, que está infelicitando, no seu desespero e estrebuchamento de
Segurança, nem haveria o direito de morte, os povos, pretendendo ensangüentar a humanidade.
veto nesta comissão. Isso daria ao go- Ficou constatado, também, que, na etapa histórica presente, quando se separam
vêrno norte-americano o domínio ^ total em torno dos problemas sociais cada vez mais em dois campos — forças do ontem
da comissão, por^meio da maioria de e do amanhã — os homens, necessariamente em torno dos problemas literários
votos que caberia aos países do campo opera-se essa divisão.
imperialista. O controle seria estabele- As reflexões em torno desses problemas levaram o III Congresso a conclusões
cido por etapas sucessivas,, começando pe- objetivas, no que tange a literatura brasileira.
Ia prospeção geológica em todos os pai-
'ses Ê óbvio que o problema foi abordado pelo lado positivo.
e terminando, num futuro indeter- A literatura de um país deve ser a expressão da vida econômica, social e
minado, pelo controle das instalações de política, principalmente desse país, seu povo, seus problemas, suas lutas, seus
de ener-
produção de armas atômicas e sofrimentos e seus ideais, transportados para a obra de arte, com objetividade
gia atômica. A comissão internacional crítica, realismo puro e romantismo revolucionário.
seria proprietária de todas as jazidas de A verdadeira literatura, hoje, a literatura do campo da paz, do progresso, da
SB mineiros atômicos e de todas as instala- liberdade e da felicidade humana, é a que se cerca desses atributos, nasce retratando
de
ções e fixaria as quotas de produção a vida em sua época e vive em função da verdade, das conquistas sociais que
energia atômica de cada país. A comis-
*':.£ ¦'*

agitam a história dos povos, veiculando experiências e apontando caminhos para


são internacional dirigiria todas e quais- a libertação, enfim, co-construindo a nova vida.
'^v*;.;

quer pesquisas científicas relacionadas Tal literatura, objetiva, realista, crítica, romântica revolucionária, estará
com a energia atômica. Uma comissão escoimada dos artifícios de construção literária puramente formais, do subjetivismo
constituída de acordo com o plano inconcludente, da metafísica que nenhuma solução preconiza, das metáforas de
Baruch poderia limitar arbitrariamente a efeito que não representam o belo. Será sim, uma literatura vazada em estilo
nos
produção pacífica de energia atômica simples, direto, assimilável. O seu arcabouço de construção, as próprias situações
países do campo socialista e restringir. da vida nela refletidas, a realidade transplantada, nas quais influirá conscientemente
a seu bel-prazer, todas as pesquisas cien- o escritor sôbre os fenômenos que retratar; as linhas gerais do movimento social
tíficas que não interessassem ao governo de vanguarda projetado na sociedade, crescendo, agindo e reagindo no homem e
norte-americano. Os trustes, que domi- no meio social, precipitando o processo evolutivo, quebrando os padrões do velho
nam a produção de carvão, petróleo e sistema e com eles as verdades e os valores ultrapassados, na medida da
eletricidade no mundo cap;talista, pode- receptividade da massa humana; os choques que determinaram mudanças, a
riam assim dificultar consideravelmente consciência das forças motoras da sociedade levando-as à posição determinante.
o desenvolvimento pacífico da energia . Os seus personagens, o elemento humano que conduz essa luta, seus heróis, os
atômica, usando dá enorme influência que
vanguardeiros do movimento social em todos -os setores da atividade humana a
exercem sôbre os governos de todos os
massa que se alevante para cercar e fechar sôbre essa época as portas do passado
países capitalistas. O imperialismo ianque e fazer do futuro grandiosa realidade presente, viva, palpitante.
ooderia conservar seus estoques de bom-
bas atômicas, e aumentá-lo ainda mais, Verificou-se, ainda, ser esse campo o único em que o escritor pode participar
. durante um' período indefinido. cumprindo a sua função social, ajudando, contribuindo com a sua arte.
De um ponto de vista abstrato, fora E só nele encontra o escritor possibilidades de se realizar de fato: Campo
de qualquer 'realidade, parece ótima a amplíssimo, nele está fermentando o mundo novo, a nova sociedade. Seus temas
idéia d'e dar o monopólio da energ:a são inesgotáveis, e os únicos que se prestam às obras de fôlego, ao épico, ao heróico
atômica a um truste internacional, em no sentido -humano, porque dão à obra de arte a intensidade da época em que
vivemos, porque nele se desenrolam os processos de morte do velho e do nascimento
que todos os governos teriam* o mesmo
voto. Levando-se porém èm conta que do novo, a superação dos antagonismos sociais pelo sacrifício, pelo heroísmo, pelo
o funcionamento de um tal organismo só amor à humanidade que é o ideal dos povos.
seria possível se as grandes potências o O III Congresso, reconhecendo a liberdade do escritor, chamou a atenção dos
consentissem, vê-se aue. na pratica., uf? delegados e dos escritores brasileiros para a outra literatura. A literatura do
tal^sistema apresentaria todas as desvan- campo da guerra, do desnivelamento social e econômico, da opressão, da decom-
tagens oriundas do direito de veto, re-
conhecido às gtandes potências no Con- MENSAGEM DOS ESCRITORES tencem à vanguarda dos combatentes da
frente mundial de luta pela paz e pelo
( selho de Segurança, sem anresentar ne- ALBANESES
nhuma das vantagns efetivas de um progresso — Amado, Neruda e Varela —
Nossos melhores votos pelo êxito do
organismo subordinado ao Conselho «Hp Congresso, bem como pela luta dos es-
perseguidos pelos governos reacionários
Segurança. Insistir em planos ideal- de seus países, somente pelo fato de que,
critores brasileiros em defesa da paz fiéis aos ideais da Democracia e do Hu-
mente magníficos mas praticamente ino- mundial. Sentem-se felizes os escritores
perantes. redunda em sabotar efe+í^pme^- manismo, eles se opõem aos propagan-
da República Popular da Albânia, ao distas do genocídio atômico. Estes mes-
te qualquer controle, procurando iludir saberem que no Brasil a magna causa
os ingênuos. Felizmente, o número dos mos nomes causam entre nós amor e
da paz é cada dia enriquecida pela con- respeito.
oue podem ser iludidos em sua boa-fé — União dos
quista de novos adeptos.
diminui rapidamente em todo o mundo Escritores da Albânia, Tirana.
Não poderia acontecer diferentemente
apesar dos esforços inerentes da imprensa num país que sentiu os efeitos da guerra
marshallizada e de todos os demais re- MENSAGEM DA ASSOCIAÇÃO DOS imperialista contemporânea.
cursos de propaganda do imperialismo ESCRITORES POLONESES AO III Estes exilados e prisioneiros represen-
anglo-ianque. CONGRESSO BRASILEIRO DE tam para nós os verdadeiros sentimentos
Os povos saberão impor sua vontade ESCRITORES e a vontade das suas nações.
aos fautores de guerra, através «de sua Representam, também, o espírito da
luta organizada pela paz que dia a d'a Em nome dos escritores poloneses
adquire maiores proporções. A inter- enviamo-vos calorosas saudações, assim literatura combativa, seu otimismo po-
dição das armas atômicas é o primeiro como votos de debates bem sucedidos pular, sua fé na transformação da vida,
objetivo a ser atingido e o será oorque e fecundos. Os escritores do vosso país, na superioridade do trabalho humano e
vossas
já mobiliza as grandes massas de homens juntamente com os escritores das criador, sôbre o egoísmo destrutivo de
honestos em todo o mundo. nações irmãs da América do Sul, per- classe da oligarquia capitalista.

20 Fundamentos
¦
¦¦ , '
.

¦ff.

Congresso de Escritores Convictos de que é nesse espírito que se


desenvolverão os trabalhos do vosso
Congresso, enviamos os nossos melhores ;1
w.

¦¦>.

posição social. A literatura decadente, a serviço de uma elite desesperada que votos pelo seu grande sucesso.»

quer se manter entre os escombros da própria desgraça. A literatura representada DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS
W
DO 4'Sr
por decantadas obras de arte, em que não mais a boêmia desenfreada, o sensualismo TERCEIRO CONGRESSO
exarcebado, o pessimismo inconseqüente, o misticismo grotesco, a angústia, os ;,r
dramas passionais, de que foram porta-vozes um Forjaz Sampaio, um Pitigrilli, um Tem o seguinte texto, a Declaração
Proust, são os temas preferidos, mas a podridão moral, o charco em que se de Princípios aprovada por unanimida-
promiscui a burguesia moribunda, a degradação, o sexualismo como fonte criadora, do no III Congresso Brasileiro de Es-
as perversões morais, tôdas, o sadismo, a morbidez, a pusilamidade, a traição, critores:
estão na ordem do dia como temas. E são impingidos aos desavisados ao público «Os escritores brasileiros, reunidos
ledor, não como as misérias engendradas pela sociedade de classe, mas como se fos- em III Congresso na histórica Cidade
sem os próprios sentimentos humanos. Temas esses que só conduzem à loucura, ao do Salvador, com firme consciência dos 't».i
suicídio, à depravação como soluções para o desespero em que se debate o mundo seus deveres e responsabilidades peran-
.¦:«

capitalista, e que tem num Gide, num Artur Koestler, num Truman Capote, num te a Nação e inspirados na tradição dos
Camus, num Jean Paul Sartre, manipuladores de talento a serviço, conscientemente I e II Congressos, proclamam que um
dos imperialistas, que pretendem governar o mundo mergulhando-o no dos principais obstáculos ao desenvolvi-
obscuran-
tismo, na degradação, na expansão das taras e deformações mento da cultura é a situação de atraso
que são exceção no
homem. - .econômico de nosso país.
O III Congresso evidenciou que a literatura brasileira tem sofrido, se bem Em tal situação, o povo cada vez
em proporções ínfimas, os influxos dessa literatura de escombros. que menos encontra meios de utilizar livros
Os chamados
novos principalmente, se têm embalado e enveredado por temas desse e publicações como fatores de aperfei-
jaez, que
não são nossos, .felizmente, e não encontram receptividade no público ledor nacional. çoamento cultural, limitando-se, na mes-
Como contribuição ao combate à essa enxurrada de lodo, fêz ver que o na medida, as possibilidades ao exerci-
patri- cio da atividade profissional do escritor.
mônio cultural brasileiro, se bem que novo e posterior a outras culturas, delas
tendo sofrido influências, possui os vínculos nacionais que sobreviveram às influên- Considera igualmente o Congresso que
cias tôdas e dão-lhe o caráter nacional, da verdadeira cultura do nosso povo, e tão a liberdade é essencial à plenitude da
pronunciados, que derribaram a própria falsificação da nossa cultura. criação literária e artística. Entretanto,
Essa literatura nacional traz em seu bojo as características da verdadeira no âmbito nacional, sucedem-se os aten-
literatura. Constitui para nós, um respeitável patrimônio, uma grande experiência, tados à liberdade de pensamento, entra-
uma partida segura para a nova literatura que faremos, a literatura do campo da vando a missão do escritor e imoondo-
paz e do humanismo, aquela que virá em auxílio do povo brasPeiro. lhe o dever de vigilância e combatividade
Amar e ajudar a libertação desse povo é a obra dum escritor honesto. na defesa da livre manifestação das
A fim.de cumprir tão grande e histórica missão, é mister que o escritor esteja idéias.
Ai-ü
armado para tal. Não poderá prescindir daquilo que Monteiro Lobato chamou No momento em , que os escritores
de «lastro científico e filosófico». brasileiros realizam êste Congresso, au-
Não de qualquer lastro bronco e pseudocientífico, mas daquele lastro que en- men*a o perigo de uma nova guerra
cerra os conhecimentos científicos e filosóficos de vanguarda, capaz de desvendar mundial com a ameaça de extermínio
as verdades do desenvolvimento social, suas leis e sua determinação científica. em massa das ponulaeões pe1a arma atô-
mica. Na condenação e na repulsa a
Mas ainda, aliar a esses conhecimentos os de outros ramos de ciência, como história,
esse crime, unimo-no* às melhores cons-
biologia, sociológica, a exemp^ de Jacú London.
ciências de nosso tempo.
Só assim, preparados e capacitados para sentir o mundo e a vida em sua mar-
Fiéis às tradições e asniraçoes de nos-
cha inexorável, tendo uma visão panorâmica do mundo e dos seus processos evolu-
so povo e de nossa cultura, aue são de
tivos, mesmo os mais sutis, poderão os escritores produzir qualitativamente a
contento. paz. amor à Pátria e à liberdade, os es-
critores brasileiros adotam os seguintes
Não basta o talento apenas; se bem que imprescindível, sozinho êle nada
conseguirá na etapa presente, perd,er-se-á em abstrações ou descambará, no melhor princípios:
I — E' indispensável ao exercício da
dos casos, para uma literatura inócua, contraproducente, isenta de idéias e dire-
profssão do escritor a existência de
trizes, restringida à patologia e aos dramas passionais. Incapaz, por conseguinte, condições materiais adequadas. Sentem,
de abarcar os processos sociais, retratar a época e ajudar a evolução da sociedade. DOT ISSO, OS p«l*>r*fnvo«s, p_ppoccsi.fi a <fo fle
O talento aliado à ciência social de vanguarda e aos conhecimentos comple- lutar pela emancinação econômica e o
mentares, são as armas dum escritor honesto. desenvolvimento do nosso naís;
O III Congresso Brasileiro de Escritores não poderia ser mais grandioso em H — É! condição do livre exercício
suas conclusões, apontando aos intelectuais caminhos tão seguros para a sua rea- da atividade criadora no domínio da li-
lização artística e humana. teratura e da arte um clima democra-
tico e de garantias constitucionais. No
Separados de vós pelo oceano, cujo OS ESCRITORES TCHECOSLOVACOS Brasil tais s-arantias têm sido constante-
nome serve hoje para ornamentar pactos O III Congresso Brasileiro de Escrito- mente violadas por atos de arbítrio do
sombrios e conluios imperialistas, ve- res recebeu a seguinte mensagem da poder público e postas ern nerig:o nor
mos em vós companheiros e combatentes União dos Escritores Tchecoslovacos, proietos de leis obscurantistas e retro- m
da luta comum, colocados na primeira firmada pelo seu presidente, Jan Drda: gadas como os de imprensa e de segu- 'U
linha da frente mundial da Paz, nas po-
¦:.m

«Os escritores tchecoslovacos enviam ranea nacional:


sições mais avançadas, contra os inimi- calorosas e fraternais saudações aos es- ul — Os escritores brasi1 eiros, em
gos da Humanidade. critores brasileiros por ocasião do seu face da ameaça de gnerra e do empre-
III Congresso. Seguimos com grande go dí», bomba atômica. proola/mam sua
Fazemos votos para que luteis com vontade de lutar pela interdição dessa
interesse o novo desenvolvimento de vos-
persistência. Fazemos votos pela vitó- arm4». && agressão e de extermínio e nela
ria total da Liberdade e da Democracia sa literatura e acompanhamos com pro-
funda simpatia a participação ativa dos conclusão de uni entendimento entre as
em vosso país. Tende a certeza de que nri" cinais potências que integram a
a nação polonesa, com a classe operária escritores e intelectuais brasileiros na
luta mundial pela paz. ONU;
à frente, pelo seu esforço cotidiano e IV — Para alcançar tão nobres ob-
Para nós, como para vós, a vitória
pela ingente obra de edificação socialis- jetivos devem os escritores trabalhar
ta, de ano para ano, de mês para mês, nessa luta — que dia a dia se torna mais ..AÀ

violenta, mas também mais importante por uma amnla unidade, acima de anais-
fortalece o poderio das forças populares Assim, ao mesmo
— não significa somente a garantia de quer divergências.
da Paz em todos os continentes. tempo raie traduzem os anseios da, maio-
uma vida livre e feliz para nossos povos,
Que vossos poemas e vossos livros in- e sim, ao mesmo tempo, a única possi- ria. identificando-se com a realidade, ';i*>{

diquem o caminho da vitória para vossa bilidade de continuarmos nosso trabalho noderão colocar sna arte a serviço do » fií!

nação. Que eles sejam a inspiração e o literário e artístico. povo, dos ideais de paz, democracia,
impulso para tôdas as nações do mundo. Devemos trabalhar para criar obras prnfrfosso f>! Th°nn-Asf.aT;

que ajudem nossos povos nessa luta de- Cidade do Salvador, Dia de Tiradentes
as.) Leon Kruczkovski, Presidente da 21 de abril de 1950.
Associação dos Escritores Poloneses. cisiva pela vitória mundial da paz.
4

Maio-JunJio 1950 21
Sm
... , ¦--. ......
¦ •"...<¦¦ . ,fV:i--- ,4t
ft. _

V
A CANDIDATURA MACHADO VEM DEFENDER O CRISTIANISMO

ANO I Diretor: BARÃO DE ITARARÉ JUNHO 1950 N.° 3


mm--
WÊki:
UMA TRISTE E REPUGNANTE HISTORIA
Durante a vigência da lei seca,
nos. Estados Unidos, havia um po-
K?¥f-
bre e miserável chefe de famiiia
que, para sustentar sua numerosa
prole, embarcava todas as serria-
nas, de avião, para Cuba e ali to-
mava formidáveis, earraspanas de

Joií
rum e outras bebidas fortíssimas.
(Este detalhe não é absurdo
"Norte por-
que na America do é tao
elevado o nivel de vida que até
os mendigos podem andar em
fe,-;
aviões de propulsão a jato). Quando o infeliz ebrio sen-
•¦¦

tia o estômago estourando e os miolos encharcadas pelos


vapores alcoólicos, tomava o avião de retorno e, ao desem-
barcar em Nova York, se postava nas proximidades do
"Empire Building",
que- é, depois do Martinelli, o prédio
mais alto do mundo. As emanações etílicas que o envol-
viam, numa nuvem de perfume embriagador, chamavam
tanto a atenção dos transeuntes que logo se aglomerava
r-ft ¦'¦-.

.-
em torno dele uma enorme e tumultuosa multidão. Mas,
A MOÇA E O BURRO A Principio, este burro só fazia es-
como os americanos são tambem os homens mais orga- ' trepolias e queria dar coíces em «to-
«:• - do o rraundo. Então, a mocinha, com muita paciência, foi lhe
Thps luzacfos e práticos do mundo, dentro de poucos minutos mostrando que, assim êle ia tomar um bonde errado, porque ha,
formava-se uma extensa fila, que dava quatro voltas em por toda parte, muita gente que não é burra e não está disposta
a levar coices sem reagir. O burro foi se amansando e agora já
torno do quarteirão, e o nosso herói, então, colocando dá a entender que quer ficar bonzinho, para ganhar uma roupinha
de marinheiro e uma bombinha de hidrogênio de brinquedo, só
ao lado a sua maquina registradora portátil, passava a para assustar as crianças. *
vender o bafo por um dólar, ha mais perfeita• ordem.
RETARDADOS CONSELHOS ÚTEIS
CONSELHOS ÚTEIS As crianças na Alemanha oci- Para não manchar a roupa
dental, na zona de ocupação ame-
Um cão policial nunca che- Para conservar os vinhos ricana, com dez e até quinze Para evitar que as canetas-
gará a detetive, por mais cão e licores finos, o melhor processo anos de idade, ainda não sabem tinteiro se derramem no bolso e
e mais policial que seja. é mante-los escondidos e guar- dizer
"Pai" nem "Mãe". Dizem, manchem a roupa, o mais pra-
"Fater" e Mutter".
dados a sete chaves em lugar em vez, .,#>
tico ê não enche-las de tinta,
que nem o nosso querido pai mantendo-as sempre secas e lim-
desconfie. PRECAUÇÃO pas e escrevendo a lápis, sempre
Os homens deviam morrer O Barão de Itaboraí, ao ter- que fôr necessário.
como as arvores; — de pé e se- minar o almoço, levantava-se da PACIFISTA
cando ao spoucos. mesa, recomendando á esposa:
Os filhos de pais vegetaria- — Não me ofereça café, por- Aquele cidadão era tão paci-
nos podem ter vegetações no que me tira o sono na repartição. fista que se recusou termlnante-
mente a morar num* - edificio de
cimento armado.
O HOMEM E O GATO SINTOMA
Quando os politicos começam
is*. ,
A nossa decantada civili- a falar muito nos "altos, inte-
resses da nação"; é sinal de que
zação ocidental acabou rebai- estão preparando um golpe muito
baixo.
M xando o homem a uma condi-
CONSELHO
ção moral muito inferior ao Casa-te, rapaz. Mas casa-te
gato. Ura escritor, por exem- com uma mulher que não tenha
, o senso do humor.' Só assim,
pio, para poder viver, nos dias irmão, terás a certeza de que
'
que correm, é forçado a exi- I~\ <cÁ—p M—i ( ) u-H/ ^VPkczII —-' \ 1 ela não se rirá de ti.
bir, sem nenhum respeito pelo
O porco é um bicho que tem
publico, o produto de suas mal- um rabiniio com ondulação per-
V--. -cheirosas elocubrações inte- manente.

lectuais. O gato, entretanto, Poesia é um conjunto de linhas
r ainda pode dar uma demons- que não chegam até o fim.
— Que é que você acha da companha dos
tração de bom-senso, tapando " lencinhos brancos " ? Apolonio Sales é mais feio que
com terra, discretamente, a —i Magnifica. Quando eles perderem as cuspir em cima de um tapeie
novo numa sala de visita cle ce-
sua produção. eleições já terão com que secar as lagrimas... rimonia.

22 Fundamentos
A TRAGÉDIA PEQUENO-BURGUESA
NUM PALCO DA BROADWAY *:*•;!*
'¦ *».t»*í

A linha dominante na mais recente literatura norte-americana JACOB GORENDER m


vem sendo, [ora de qualquer dúvida, aquela que interessa a **.

ordem social dominante, em cuja suprema hierarquia se encon-


tram as sessenta famílias de barões financeiros. A esta Unha Que era necessário para isto? Willy acredita piamente em que
aderiram ou pelo menos se mostraram incapazes de resistir vários basta ter boa aparência física, personalidade, saber fazer amigos
escritores de maior projeção. Também isto explica porque já entre as pessoas importantes e agir com uma vontade rude e
se tornaram os Estados Unidos o melhor mercado de exportação
*¦:.
*


dominador a. E' de acordo com semelhante receita que educa os ¦
7J.
'':)':}
do existencialismo francês. filhos. Transmite a êstes a sua concepção da sociedade, a dc
Mas, em luta contra a linha dominante e produzindo obras que esta é uma jungle em que se pode vencer com facilidade: é —>*MnSftp
literárias de alto valor, existem escritores de tendências progres> suficiente ser destemido, não se deter diante de pequenos escrú-
sistas ou abertamente comunistas, como é o caso de Howard Fast, pulos, atuar com audácia, etc.
que tem o seu lugar, no plano mundial, entre os maiores roman* Mas também ai Willy Loman se engana cruelmente. Biff
ceadores de assuntos históricos. Apesar do boicite a que os nada consegue no mundo dos negócios e se transforma num semi-
submete a monstruosa ditadura capitalista ianque e que não deixa desclassificado, num vagabundo que vai de um a outro trabalho
de afetar e entibiar os menos firmes, conseguem esses escritores braçal, com a sensação íntima de estar desperdiçando a sua vida,
alcançar em alguns Casos extraordinária repercussão com as malogrando as suas aspirações. O segundo filho, Happy, mal
suas obras, dentro mesmo dos Estados Unidos, o que seria mani- chega a insignificante empregadozinho no comércio. Ao tempo
tA
festamente impossível sem a existência de um amplo movimento em que escarnece dos filhos pelo seu decepcionante fracasso,
democrático-progressista, cercado pela simpatia de importantes Willy cristaliza subjetivamente um atroz sentimento de culpa e
setores das massas. Esta "DeatH parece-me a razão do grande "Morte
sucesso de frustração. Atribui a si mesmo a responsabilidade pelo fra-
obtido pela peça de teatro of a Sàlesman" (1) -—• casso dos filhos, acusa-se de não os haver preparado suficiente-
de um Vendedor" -—, escrita por um autor ainda jovem, Arthur mente para vencer na jungle. A si mesmo se acusando, por um
Miller, e apresentada na Broadway pelo famoso metteur-en-escene momento sequer não vislumbra que é a sociedade em que vive
Elia Kazan. A consagração que a peça recebeu do público foi que deve ser julgada. Velho e desempregado, dilacerado pelo
a maior dos últimos anos, o que naturalmente exerceu a sua in" sentimento de culpa e já desfeitas as últimas expectativas, o infe-
a outorga ao autor dos mais relevantes prêmios,
fluência para "Pulitzer liz caixeiro-viajante recorre ao suicídio, ainda aqui com a espe-
inclusive do Prize." rança de legar os vinte mil dólares de seu seguro de vida aos
1
A apresentação e o sucesso da peça de Arthur Miller revela filhos, a fim de que êstes possam tê-los como ponto de partida 7 ¦•¦;,-.',

que o teatro tem sofrido um pouco menos do que o cinema o para a grande conquista da..>. opulência.
controle implacável da alta finança ianque. Exigindo muito me- A última cena, que o autor denomina de requiem, transcorre
nores capitais e sem depender de mercados tão vastos como os diante do túmulo^ de Willy Loman. Depois do emocionante final
de que necessita o cinema, oferece o teatro algumas brechas den- do segundo ato, o requiem aparece como um misto dc tranqüila
"cultural" monopolizado e espiritualmente dirigido
tro do sistema compaixão e de ironia. O caixeiro-viajante é chorado pela fiel
pelos barões da Wall Street. E' aproveitando-se dessas brechas, companheira, que não compreende o seu gesto, precisamente
evidentemente poucas, que conseguem chegar às massas norte- quando, após vinte e cinco anos, havia sido paga a última pres-
americanas certas manifestações artísticas inspiradas pelo incon- tação da casa em que residiam e quando até a conta do dentista
formismo, de variável clareza, diante da mais capitalista de todas . Como deixar a vida depois de se libertar
havia acabado. ."Estamos
as sociedades e, por isso, daquela que mais brutalmente esmaga dessas contas? livres..." diz Linda e, com estas pala-
a pessoa humana. O que não preocupa, por exemplo, aos carne- vras. imagináriamente dirigidas a Wlly Loman, termina peça.
lots do Vaticano, êste desde a Idade-Média impertêrrito defensor A trama não é, porém, exposta por Arthur Miller da maneira
da pessoa humana e da liberdade em que pese as autos de fé, ¦
direta, que tem neste ligeiríssimo resumo. Ao subir o pano, todos .-,.¦¦:...- . ._ ,M

etc. etc. os dados da tragédia já estão lançados, à maneira clássica. O JJ*


"Death of a Sàlesman",
que o próprio autor denominou autor chega a empregar, não de todo, mas até certo ponto, as
*¦**'.

De
**"***

"certas conversações diretrizes clássicas da unidade de tempo (tudo se piassa durante,


de privadas eu dois atos e um requiem' ,
vai a seguir um ligeiro resumo, sem a pretensão de transmitir uma noite e um dia) e de lugar [a casa da familia Loman, aos
sequer uma parcela da forca dramática e, algumas vezes, do fundo do palco, ê um cenário permanente, embora algumas cenas
clímax patético, que o original encerra. se desenvolvam fora dela). Para voltar ao passado o autor se
Willy* Loman, sua mulher Linda e seus dois filhos, Biff e utiliza não só da narrativa de um ou outro personagem, mas
"dramatis
Happy, são as principais personae". Willy Loman, principalmente das reminiscências de Willy que servem para o
"flash-back"
aos sessenta e três anos, é um homem completamente esgotado. emprego de um recurso semelhante ao cinematográ-
Durante mais de metade da sua vida trabalhou como caixeiro- fico. Nesse particular, a maestria de Miller é extraordinária.
viaiante para uma mesma firma. Conseguiu levar apenas uma Através de Willy, o presente e o passado estão em constante
mesquinha existência pequeno-burguesa, contraindo dívidas das inter penetração e os momentos de transição de um tempo para o
quais nunca pôde se desembaraçar. Na velhice, as suas antigas outro são explorados com originalidade para criar situações dra-
"fundo musical",
relações comerciais vão desaparecendo e êle não tem mais a ca- máticas. A utilização de um segundo as indi-
pacidade para renová-las, nem para rodar com"negócioo seu carro atra- cações do autor, é feita com muita sensibilidade e sutileza. As
vês das estradas, de cidade em cidade. Mas, é nepório" cenas que se passam fora da casa da família Loman não requerem
e não deve ser outra a norma de um patrão. Embora Wiíly decoração especial. O autor se limita a mandar iluminar deter-
ouse dizer ao seu patrão que êle hão pode comer a laranja e minado canto da parte dianteira do palco, deixando tudo o mais - * 'JJ
'¦•¦¦
' '

jogar fora a casca e que um homem não é uma laranja,


o fato às escuras. Dois ou três móveis devem, caracterizar, quando ne* ¦ ¦
¦¦'';

é que o pobre vendedor, após trinta e seis anos de serviço inf a- cessário, um escritório ou um reservado de restaurante.. . A pesar
tigável, vai para a rua da amargura, cnm a triste recompensa de \de sua complicação aparente, a peça é de uma grande simpli*
uma sumária despedida do emprego. TrAoico, sem dúvida. Ha, cidade técnica.
mais ter- Sem demorar na análise das qualidades formais da peça,
porém, nm outro aspecto no caso de Willy, realmente
rível. E' êste aspecto, alia*, o leit-motiv da tragédia. cumpre, todavia, ressaltá-las, porque se é verdade que a forma
A sociedade ensinou a Willy, desde a sua juventude, que os deve existir em função do conteúdo, em função da necessidade
homens existem para atingir uma determinada finalidade suprema. de pleno desenvolvimento da sua riqueza interior, não é menos 1
& de acordo com o grau em oue a aiinqem que podem ser sociaU verdade que nenhum conteúdo pode ter validade para a arte sem' ¦7

mentg aferidos. Esta finalidade consiste simplesmente em enri- uma forma efetivamente estética. "Death
ouecer. Wiílu, êle mesmo, chega à idade madura com a sensação Arthur Miller não se afirma, em of a Sàlesman",
"mercurial", como
de haver fracassado. Caráter sem firmeza, como um poeta de vôo alto. Evidentemente, não. Mas é um
o define Miller. o caixeiro-via jante mergulharia num tenebroso mestre do ritmo, o que lhe permite dosar as cenas e passar de
sentimento de frustração, em que de fato merouíhará mais tarde. uma para outra com admirável segurança, criando uma atmos-
¦¦«wm
não fôsse o desvelo da esoôsn e. principalmente, a esperança fera de permanente interesse e, às vezes, como já foi dito, de
E por
que deposita nos filhos, sobretudo em Biff, o mais velho. clímax patético, E' no momento justo que êle corta toda situação
que não haveriam os filhos de vencer no mundo dos negócios? ameaçando cair no melodrama piegas, armadilha comum aos temas ¦y.

que abordam, as relações entre pais e filhos. Os personagens


Arthur Miller -- "Dealeli of n Vikinc; Pres*, .*~*'^;je!
Sale-sman".
(1) são desenhados de modo nítido, completo e inconfundível: cada
New York, IP-10.

Maio-Jtmho 1950 23

"MB
¦
¦¦:

:>r

CIPRIANO BARATA f
A representação brasileira nas Cortes evangelho, culminando por negar-se a Custou-nos a Independência, ainda,
era de 70 deputados, — número, porém, assinar e jurar a Constituição portu- mais sangue e sofrimentos, pois ao
jamais completado. O efetivo português guêsa recém-elaborada. As reuniões f i- brado de Pedro I, — irreprimível onda
ia a 130 cadeiras. A maioria de votos nais das Cortes celebrizavam-se pela revolucionária espraiou-se por largos
bafejava inalteràvelmente aos interesses firmeza e audácia com que patrocinou trechos do território, só indo perder o
de Portugal. E, na ocasião, Portugal os interesses brasileiros contra esma- impulso em fins da primeira metade do
planejava a nossa recolonização, con- gadora maioria refratária aos mesmos. século.
tando com as tropas sediadas no Brasil Agravaram-se, mais e mais, as rela- Do momento da inversão à conquista
e o auxílio dos seus nacionais derra- ções entre Portugal e Brasil. Aos real da Independência, digladiavam-se
mados pela administração pública. Outro representantes deste escasseavam as no cenário político duas facções dis-
agente valioso de sua causa era o últimas garantias indispensáveis ao tintas: a portuguesa e a brasileira.
comércio, todo, ainda, em mãos dos desempenho dos mandatos. À míngua Obstinava-se aquela em manter seus
lusos. de segurança e ante a oossibilidade de privilégios, procurando obter as sim-
Nas Cortes de Lisboa avultou a ação serem molestados, resolvem nossos de- patias do regente, a princípio, e, de-
de Cinriano Barata. O desempenho putados deixar o país, com destino à pois, as do filho. Consistia a tarefa
do árduo mister, em tão difíceis cir- Inglaterra. Embarcam às ocultas/para da outra em afastar a ambos do grupo
cunstâncias, reaueria coragem, perti- evitar a animosidade da população. luso, acenando-lhes, no caso de anuên-
nácia. desassombro. Nesta conjuntura, Na Inglaterra, Cipriano redige um cia, com o ddsfrhrtJe tranqüilo do
auando a Pátria corria o maior perigo protesto pscI a recendo sua atitude. In- Governo.
de sua vida, anos haver divisado a, seriu-o Hipólito da Costa no Correio Na hipótese de insucesso, haveriam
independência, Cipriano agigantou-se, Brasiliense. Mais tarde, seria o do- de prosseguir os motins deflagrados
sun^rando José Bonifácio de Andrada cumento reproduzido em Pernambuco desde os tempos mais recuados da
e Silva e os demais colegas. e no Rio de Janeiro. Colônia e os quais, mais dia menos
Juntamente com outros representantes dia, acabariam por derrubar a realeza.
brasileiros, opôs-se a que Portugal INDEPENDÊNCIA DO BRASIL Tríunfante o partido nacional, en-
.;.»•*;
remetesse reforços para o comandante Hàb?lmtente 'atraído pai<a a causa traram seus agentes a fracioná-lo,
das arma** na Bahia — brigadeiro Luís dos autonomistas, o princi up-reeente arregimentando-se em novas parciali-
Madeira de MpIo —, o aual persistia em germinou por concluir a empresa ence- dades, consoante as forças econômicas
manter a província submissa à soberania tada, havia tanto, pelos patriotas. que representavam. Blocos hostis entre
lusa. , Fora declarada, enfim, a Indeuendô.ncia. si sucederam à unidade primitiva, —
Sua determinação em resguardar a circunstância de que se valeu o inteiriço
"interesses do Bro sil,
As contradições econômicas
autonomia da pátria, levou-o ao extremo acentuadas pelos políticos partido português para alcançar pro-
de a.erredir o coloca marechal Luís postos em jôeo nos útimos anos, deram veitos.
Paulino Pinto da França, defensor da azo a chn-nues de rua p sérios recontros Desenharam-se distintamente duas
tese recolonizadora. nas províncias, notadamente no Pará, correntes no partido brasileiro: a
Nem auando fhpgou à velha Metro- Maranhão e Bahia. Nesta, nos embates conservadora e a liberal., de quando em
pole a nova do Fico, arrefeceu Cinriano contra o bnVadpi^o Marlpira dp M*°lo, vez matizadas de vivas nuancas
a paixão com qne defendia suas idéias. distinguiram-se Sôror Joana Anerélica radicais e passadistas. As duas iriam
Em perigo de vida, prosseguiu no seu e Maria Quitéria de Jesus Medeiros. atuar por longos anos, refletindo no

um com o seu movimento próprio e coerente. A curta cena final, de nreconceito* twicos da classe média e os relaciona com os
que o autor denominou de requiem, apesar de sua beleza, pare-* conflitos psicológicos dos personagens.
ceu-me. porém, desnecessária {nada acrescenta de substancial à Entretanto, "Death of a Salesman" tem uma debilidade impor-
exposição do argumento), constituindo mesmo uma quebra do tante. ET qué, sentindo estar a solução
ritmo, após o forte final do segundo ato, que poderia perfeita* para a tragédia da
pequena^ burguesia fora dos seus limites de cfasse, o autor ape-
ment* encerrar a tragédia. "Death nas indireta e vagamente acena para ela. Em uma das últi-
Oual a forca e, ao mesmo tempo, qual a debilidade de mas cenas do segundo ato, Biff Loman chega a compreender
of a Salesman?"
que devia acabar com a mer,firosa e desnrezível ilusão da cor-
A sua força está em qué, através de uma traaédia peaueno- rida atrás da riqueza e verifica, com intima alegria, ;
burauesa, traz ao hanco dos réus à própria sociedade canüalista que o seu
caminho está na proletarização honradamente aceita. Biff che-
norte-americana. E*ta sociedade é oue é responsável pela vida
mesouinha da família Loman. pela deformação e nela asfixia da ga metmo a compreender o oue hà) de puro e belo na vida do
trabalhador, em contraste com a vida pequeno-hurguesa, mis*
persnnalídad» dns nrotacronistas. E* esta sociedade aue alimenta to de humilhação, hipocrisia e vã expectativa. Isto já significa,
as Hmões subjetivas de um ser humano, sussurrando-lhe as mais
sedutoras promessas, e ohietivamente, leva-o a uma frustração sem d""ida, ultrapassar os limites de classe da peauena huroue-
.:•',¦
cruel. Natuaralmente, alauém poderá argumentar que esta conclu- sta. Mas. por si mesmo, ainda nãn constitui um chamado para
são não se encontra exn^cita na neca: o caso de Willu Loman a luta consríonte contra a sociedade canitatrsta. Êste chamado,
é um cano indiiii^ii^. Mas a verdade é ove o autor, apesar de se desenvolvido através de sua própria trama, seu recurso ao
seu excessivo cuidado em não generalizar, deixa dam. em certas pronaaandismn retórico, poderia impregnar a peça de uma força
passa^&ns. oue nãn considera individual o caso de Willu Loman poética, que ficou lonqe de atinoir.
"Você A quem, entretanto, responsabilizar pela ausência nesta peca
(<— nunca foi mais do aue nm caixeiro aue semnre deu
duro rm frah*ii>n e cam numa lata de'lixo como todos eles!, dir- de uma forca poética mais densa, dentro dd' sentido a oue a^u-
lhe o filho Biff). Isto. todavia, em essência nouco importa. O dimos e que seria o único coerente com o seu argumento? Pa-
aue conta é nue na tranédia individual de Willu Loman milhares rece-me oue aí se trata menos da insuficiência do prónrio au-
de pequeno-burgueses cheaarão facilmente a reconhecer, ajudados tor — ainda que esta exista .—- do aue da teroz perseguição
I por um nenetraníe nonto de vista' crítico, aspectos dé sua própria
vida. O sucessn da peca não poderá ser explicado de outra ma-
reacionária aue se abate, nos Estados Unidos, sôhte toda mani-
festação cultural progressista. O autor não poderia ultrapassar
neira. Com a intensidade de um símbolo, ainda que imnerfeito, certos limites imnunemente: veria a sua peça sem possibilidade de
o caso d<> Wdlu Loman concentra e condensa as multiformes representação. Sofreu com esta circunstância terrível o valor ar-
maneiras através das quais se apresenta na vida real a tragédia tístico de sua obra. O ane não deixa de ser uma prova maoní-
da pennena burouesia. fica da espécie de liberdade de criação ane existe na civiliza-
Uma circunstância a notar é ane o autor não se deixa cair ção ianaue, mui cristã, ocidental e canitalista...
na tentação, aue certos detalhes dn argumento oferecem, de ex- De qualquer maneira, porém, Arthur Miller cumpriu bem a
plicar pelo esquema da psicanálise os conflitos psicolóaicos sua tarefa, como diria Engels, ao fazer uma descrição fiel das
dos nersonagens, como vem sendo muito de moda nos Esta- relações reais e ao abalar o otimismo da mundo burguês, mesmo
r/A<? Unidos. O oue prevalece é a erriUcação social desses con- sem indicar diretamente a solução histórica. Já isto é um gran-
* flitos, que o autor da peça aprofunda com enorme talento de mérito para o artista que o faz, embora mais ainda dele exi-
Particular referência merece a maneira como focaliza uma série ja a era crucial em que vivemos.

2é Fundamentos

..'yy
V;

JORNALISTA POLÍTICO
Império e no interregno regencial as ¦ m
¦ti

clubes acanhados para dar expansão


contradições econômicas da novel nação ao seu patriotismo, passa a utilizar-
FERNANDO SEGISMUNDO
americana. se de um veículo mais amplo, de pe- ¦"¦}¦
enquanto a reação dos portugueses se 'i.K-iitJ-

netração mais funda: a imprensa.


levantava coesa, evoluindo para o ab-
soiutismo, com D. Pedro á frente, De volta à Pátria, é através do jor-
nalismo que se fará sentir sua atuação. Além do mentor principal do Após-
lavrava a cizânia entre conservadores tolado, eram inimigos de Cipriano
Inicia a vida de imprensa propriamente
e democratas rao,ieais. Desejavam
aqueies consolidar, a custa do regime dita em 1823. "E apenas pasquineiro Barata os portugueses e os defensores
'
será daí por diante, até 1835, com as destes, como a Junta Governativa Pro-
formado, as vantagens adquiridas sobre vincial de, Pernambuco, que acabaria YsSj
os antigos colonizadores. interrupções de duas longas prisões,
sob o Primeiro Reinado e a Regência por prendê-lo.
Os segundos aceitavam a Indepen- A mando dos governistas, soldados
dencia como simples etapa da obra Trina, motivadas pelo inegável perigo
representado por seus constantes inci- rasgavam-lhe as folhas. Pasquins
de iioertaçao econômica p social do manuscritos, de procedência lusa e
Brasil, a qual devia completar-se com tamentos à revolta e pelo habitual
recurso à intriga entre brasileiros e oficiosa, declaravam-no " destruidor per- ¦ 'Aí
o leueraiismo, a libertação dos escra-
vos e a república. portugueses, aos quais passou a dedicar pétuo de Pernambuco."
o mais intenso ódio" (11). No Rio repercutiam suas atividades.
Constituíam o grupo dos conserva-
dores os proprietários rurais e seus Estréia aos 60 anos na Gazeta Per- Na sessão de 4 de novembro da As-
nambucana, fundada por Manuel Cie- sembléia Constituinte, o deputado Fran-
aliados. Os democratas englobavam as
mente do Rego Cavalcanti e redigida cisco Moniz Tavares pronunciou vio-
classes populares. instas aspiravam
pelo padre Venancio Henriques de lento libelo contra êle, dando-o como
por reformas sociais proiundas. Upri- desejoso de "plantar a anarquia" em
mídas desde sempre, sua situação se Resende. No dia 9 de abril de 1823
apareceu o primeiro número da Senti- Pernambuco e "sublevar os habitantes
agravava com o mercantilismo, o crês-
nela da Liberdade na Guarita de Per- e fazê-los separar da União Brasileira."
cente numero de escravos introduzidos
nambuco, que escreveu juntamente com Por fim, o jornalista despediu-se
no pais e a concorrência dos estrangeiros.
a Gazeta. A Sentinela circulou até dos pernambucanos e pediu à Junta,
bua composição era bastante nete- ri
novembro desse ano, quando seu redator dirigida por inimigos seus (Pais Barreto
rogenea. Ue um lado, o imenso con-
foi preso, apesar das imunidades par- e Francisco de Paula Cavalcanti de
tangente da massa escrava, sem direitos
lamentares de que era portador. Albuquerque) passaporte para a Bania.
políticos nem acesso à instrução, es- Ambos esses periódicos alcançaram Responderam-lhe que embarcasse para
painaua pela imensidade do território, a Corte, a fim de ocupar o cargo de
segregada nas propriedades rurais. De grande repercussão. Impetuoso e com-
bativo, Cípriano imprimia-lhes suas deputado à** Assembléia Constituinte.
outro lado, as camadas médias e in-
lenores, cuja disparidade de interesses convições republicanas e a antipatia Negou-se Cipriano a atender aos i
que. votava aos lusitanos. seus desafetos. Soldados cercaram-lhe
mais as repelia do que aglutinava. do dia 17
José Bonifácio, seu antigo compa- a residência na madrugada
"alaridos,
Por isso, quando atuavam contra a assuadias
ordem estabelecida, sua atitude revolu- nheiro nas Cortes, combatia-o tenaz- desse mês e, com
cionana" era " inconseqüente" mente. Cipriano opusera-se à instaura- e violência" (palavras suas), intima-
(IU). ção em Pernambuco duma seção do ram-no a se lhes entregar. Recolhe-
O projeto da Constituição de l«z3,
Apostoíado da Nova Ordem dos Cava- ram-no à Fortaleza do Brum no dia
redigido por Antônio Carlos, reílete
leiros de Santa Cruz, — sociedade imediato. Aí, decorridas apenas 24
claramente o comuto entre os proprie-
secreta que congregava os políticos mais horas, prepara a Sentinela da Liber-
tários rurais e a burguesia mercantil dade na Guarita de Pernambuco, ata-
do país e traduz o receio da recoioni- reacionários da Corte: palacianos,
funcionários do Estado, eclesiásticos, cada e presa na Fortaleza do Brum
zaçao lusa. íáão limitados os poderes "elementos da
do imperador em proveito da sooerania negociantes, fazendeiros, por ordem da força armada reunida.
direita" (12), em oposição aos liberais, Do cárcere dirige-se à Junta em
nacional, o que eqüivale dizer: em lavor
denominados pedreiros-livres e auto- longo documento, acentuando a incom-
desses mesmos proprietários, <amda há da mesma para ordenar sua
nomistas. petência "Não
pouco tão oprimidos pelo regime O Apostoíado era criação de José têm (os componentes da
colonial. prisão.
Bonifácio, que também presidia, na Junta) poder, nem sôbre os deputados
Mas a Constituição não chega a ser da sua Província, quanto mais sôbre
votada. (Jaem os Andradas, é dissol- qualidade de Grão-mestre, o Grande
Oriente do Brasil, sociedade maçônica os da Província alheia; os deputados
vida a Constituinte. O partido nacional temida pelos Cavaleiros de Santa só estão sujeitos às Cortes soberanas
perde o controle dos negócios públicos Cruz ... Sua fundação ocorreu a 2 e não têm nada com o Governo Exe-
e os absoiutistas (portugueses) ascen- de junho de 1822. Eis alguns de seus cutivo; os deputados não podem ser
dem ao poder. Durante os próximos membros proeminentes: José Inácio da obrigados, nem pelo Imperador, a to-
anos serão eles os dominadores. Cunha, desembargador intendente da mar assento na Assembléia."
Ante a ameaça que inimigo tão pode-
roso representa para a sorte do país, polícia; Francisco da França Miranda, Nesse mesmo papel chama os mem-
desembargador que presidiu à bonifá- bros da Junta de traidores e indignos
voltam a unir-se os grupos brasileiros. cia (devassa contra os liberais); Mi- "satélites de manobras tenebrosas do
A imprensa e a p<raça públicia, são Gabinete do Rio de Janeiro," que se
guel Nunes Vidigal (Major Vidigal), "com muitos europeus
palco ae embates formidáveis, quer na comandante da Guarda Real da Polícia. combinam por-
capital, quer nas províncias. E' tal o José Bonifácio, ministro de D. Pedro, tuguêses .. . para perseguirem os bra-
desespero dos nacionais que se chega ordenou à Junta de Pernambuco obri- sileiros e oprimirem a Pátria." Acaba
a planejar o (assassinato do monarca. gasse Cipriano Barata a deixar a denunciando sua prisão como manobra I
Província. Êste, no número 47 da do Apostoíado, isto é: dos Andradas.
O JORNALISTA Sentinela (13.IX. 1823), escreveu"cons- que Embarcado à força para o Rio de
Cípriano Barata não era estranho a o Apostoíado não passava duma Janeiro, ao chegar aqui, no dia 4 de
tão decisivos acontecimentos. Muito
piração adotada pelos senhores Andra- dezembro, a Constituinte já fora dissol-
ao contrário. Ora participando em das para restaurarem no Brasil o vida. Então segregam-no na Fortaleza
pessoa das agitações de ruia, ora redi- governo realista tirânico e lançarem de Santa Cruz e abrem devassa contra m
gindo jornais inflamados, sua passagem cadeias à sua Pátria, com a condição êle.
notabiliza-se no cenário nacional. de serem eles os grandes e poderosos.
Por essa época, opera-se fundamental Sua definição particular é a seguinte: CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR
mudança em suas atividades políticas. uma sociedade ou um clube de espiões, Em conseqüência da dissolução da
O parlamentar que até ali tivera os espalhados pelas nossas províncias com Assembléia Constituinte, caiu a Junta
movimenots tolhidos pelas formalidades ocultas correspondências e em bene- Governativa de Pernambuco. Designa-
do cargo, o agitador que até então se ficio do Ministério, a fim de restabe- da outra, sobrevieram vários incidentes,
valera das comissões secretas ou dos lecerem a monarquia absoluta." que concorreram para que não tivesse ¦•¦*;

9*
Maio-Junho 1950 ámiO

_...,„... .
'
'¦" 7 <X
PB ',-'• ''").'''
í' >z
ZZ" ' * V
w_ ¦
Zi\' .—r*
[.'¦•
"tornou-se
CU*so o pedido .'de devassa. \ Agra- ticos. Fundada havia poucos anos, governador das armas (êle)
V.:. . vando a exaltação dos ânimos, começou sua presente exuberância; como que o supremo árbitro dos destinos da
pretendia justificar o tempo anterior- província." (19) Repetidamente re-
a circular (25.XII. 1823) o Tifis Per-
namhucano, de Frei Joaquim do Amor mente perdido. presenta o general à Junta contra o
Divino Caneca, destacado"bem Durante três séculos a Metrópole Diário. Segundo as denúncias, o deste-
participante mido órgão concitava" aos povos para
da Revolução de 1817 e portuguesa não consentira no estabe-
aprovei-
';-.... tado discípulo de Barata." (13) iecimento da imprensa no Brasil. Todas se reunirem iao Rio de Janeiro; era
Ante »a iminência de se concretizar as tentativas dos elementos progres- incendiário e os seus autores pertur-
Fz
fm.. a «reintegração do Brasil no regime sistas redundaram inúteis, com a quei- badores da ordem estabelecida." (20)
colonial, os liberais empunham armas '1747, das letras e dos prelos.
ma e destruição Por seu turno, a Junta oficiava ao
Ainda em regia de
uma carta "converti- ouvidor do crime, recomendando-lhe a
(24.YII.1824-). De Alagoas ao Ceará D. João V advertia não ser severa aplicação da lei de imprensa"cadaaos
ecoa o grito de guerra ao traidor Pedro
I. Pela efetiva independência do .ente se imprimam (na Colônia) papéis redatores do periódico, os quais
,país e pela implantação da república no tempo presente." De Portugal de- dia se tornam mais arrojados, espa-
mm
organiza-se a Confederação do Equador, viam vir os livros e jornais com as lhando doutrinas que excitam os povos
da qual "Barata pode ser, com toda licenças da Inquisição e do Conselho à rebelião ..." (21)
Ultramarino. Mas a folha delende-se de todas as
justiça, considerado um dos mais au- À transmigração da Corte deve-se o investidas, ü negociante português e
torizados precursores." (14)
Da nova tentativa autonomista^ a estabelecimento da imprensia no Brasil. procurador da Câmara Joaquim José
custo reprimida pelo Governo Imperial, A edição de qualquer manuscrito de- da Silva Maia, que já editava o Semi-
pendia da aprovação da junta diretora nário Cívico, opõe ao Diário mais três
sagraram-se heróis, entre outros, Frei a Sentinela Baiense, O
Caneca, o Padre Mororó, João Gui- da Impressão Regia (Kio de Janeiro). publicações:
lherme Ratcliff e Tristão Araripe, -- Se o manuscrito se relacionava com a Anaiisaaor e O Baluarte.
este morto em combate e os mais fuzi- religião ou a política, era revisto Debalde. O jornal resiste e prós-
por outras pessoas, que o podiam segue na campanha redentora. E\
lados ou enforcados.
A favor de Cipriano Barata, levan- corrigir. A importação de livros con- quando os inimigos do Brasil recorrem
tam-se apelos na Bahia e no Ceará, logo tinuava a depender de licença do de- a destruição das máquinas e à violência
após sua detenção arbitrária e no sempargo do paço. física. Executando ordens superiores,
decorrer do ano de 1824. As Juntas Na .bahia, o Governador D. Marcos o Tenente-Coronel Vitorino José de Al-
dessas províncias e.a Câmara do Sal- de Noronha e Brito, animando a mon- meida Ser rão (alcunhado o Rwivo) di-
vador pedem reiteradamente sua liber- tagem duma oíicma tipogranca, auto- rige-se em companhia de oíiciais e
"ido-
riza o dono a trabalhar desde que os soldados à tipografia onde era impresso
tação. Os cearenses chamam-no
lo do povo brasileiro" (15). Mas só escritos se lhe apresentem com as o Diário.
em novembro de 1824 começa o pro- competentes e precisas aprovações." Aí, após insultarem o proprietário
cesso."enormes, Nennum manuscrito, livro ou jornal da casa, " empastelaram o numero do
Atentando para os delitos M
poderia ser impresso sem licença dos jornal que se acuava composto", cer-
do jornalista ("lanarquizar os povos, censores do Governo ou do arcebispo caram a residência de Corte imperial,
chamá-los à rebelião"), ordena Pedro I da diocese. E, após tantos óbices à que lá não estava, quebraram todos os
"como exige a boa difusão do pensamento, podiam os tra- vendia
moveis, foram às lojas onde se "espan-
;;?' que se o condene balhos impressos ser [apreendidos. a folha e despedaçaram "Assimtudo,
administração da justiça, tranqüilidade termi-
e segurança, pública e salvação do Com a repercussão do movimento cando os venaedores."
Império." constitucional iniciado nas Cortes Ge- nou, vitima de selvagem atentado, a
Transferido para a Fortaleza de Laje, rais de Lisboa, o príncipe regente gloriosa carreira de O Constitucional.
desde junho desse ano, aí redige Ba- ordenou cessasse a revisão prévia das Ferozmente perseguidos, foram os
rata importante memória intitulada obras que se imprimissem (Aviso de partidários da Independência refugiar-
Motivo dê minha perseguição e desgraça 20. VIII. 1821). " se na Vila de Cachoeira, constituída em
em Pernambuco e Rio de Janeiro etc., Durante o Primeiro Reinado e, so- núcleo de resistência à Metrópole e onde
dando conta de suas (atividades poli- bretudo na capital do Império, a liber- D. Pedro já íôra reconhecido príncipe
ticas, das represálias dos portugueses dade de imprensa íoi ilusória, devido regente (25.VII. 1822).
e da vilania dalguns compatriotas à intervenção constante do poder, Enviada numa escuna pelo Imperador,
opondo-lhe por vezes restrições que de chegou, em fevereiro de 1823, uma ti-
(abril de 1825). fato a aboliam."
Influenciados, de certo, pelo recente (18) pograiia. Acompanhava-a, na quali-
movimento liberal (Confederação do Na verdade, os patriotas, para fia- dade de diretor, José Francisco Lopes.
Equador), os juizes . condenaram Ci- zerem circular seus Jornais, tiveram de Com o título de Tipografia Nacional,
sustentar constante luta, muitas vezes dela saíram várias publicações oíiciais
priano Barata à prisão perpétua. De heróica.
nada valeram as defesas, requerimen- e avulsos, além do primeiro jornal
Na Bahia, onde atuava Cipriano "cachoeirano — O Independente Cons-
tos, alegações e falas que redigiu a
seu favor. Apenas a transferência de Barata, e após o motim deflagrado nas titucional redigido pelas mesmas penas
ruas da Capital (10.XI.1821) em con- de O Constitucional. Este, transferida
presídio lhe foi concedida, por motivo seqüência dos sucessos de 1820 ^m
de saúde. Em 1828 passou para a a Tipografia para Salvador, continuou
Fortaleza de Santa Cruz. Quando o Portugal, moveram as .autoridades lusas a sair ali até 1827 (22).
Imperador visitava as cadeias, Cipriano obstinada perseguição aos jornais pró-
voltava-lhe as costas "acintosamente." independência, procurando, por todos O JORNALISMO LIBERAL DO
ós meios, impedi-los de circular. IMPÉRIO
(16) Em oposição ao Seminário Civico, No Parlamento e na imprensa de-
Afinal, ao cabo de quase sete anos
de encarceramento, um recurso de seu arauto*' da facção européia, lançaram frontavam-se, cada vez mais aguerridas,
advogado, interposto na Relação da os baianos o Diário Constituicional, sob as hostes absolutista e liberal. Na
Bahia, deu-lhe ganho de causa. Estava a responsabilidade de, Francisco Corte capital; como nas províncias, sucediam-
livre, mas os magistrados da Corte Real (mais tarde Corte Imperial), se os pronunciamentos nativistas, enèr-
não tiveram pressa em expedir-lhe o Francisco Gomes Brandão Montezuma gicamente repelidos pela reação.
alvará de soltura. (depois Francisco Gê Acaiab«a Mon- O império assentava no latifúndio e
Era em 1830. Um ancião franzino, tezuma e Visconde de Jequitinhonha), na escravaria. Não quiseram os con-
as cãs a lhe caírem até aos ombros, José Avelino Barbosa e Euzébio Valerio. servadores, orientados pelos Andradas,
SK';V'""¦."*'
deixiaVa, jo presídio, aiquebnado pelo Embora competisse à Junta Gover- extinguir a escravidão africana; ao
aB*flt|!i:t!
diabetes. Festejou-o a "ativa imprensa nativa assegurar a liberdade de im- revés tornaram letra morta os tratados
oposicionista, que o considerava um prensa, o Diário Constitucional foi de 1815, firmados entre Portugal e
mártir, receberam-no seus admiradores vítima de tais arbitrariedades que Inglaterra. A lei posterior, Ide
no Largo do Paço." (17) teve de suspender a publicação, só vol- 7.XI. 1831, já na Regência e pela qual
tando a aparecer meses depois, sob o os escravos vindos de fora do Império
A IMPRENSA LIBERAL NA. governo presidido por Francisco Vi- eram declarados livres, também não
BAHIA cente Viana. seria cumprida. O comércio de carne
A imprensa representava papel dos Nomeado o "autoritário e impetuoso" haveria de prosseguir até meados do
mais salientes nos acontecimentos poli- general Inácio Luís Madeira de Melo século XIX.
*
26 fundamentos
'>'-mÍM
i
m
A economia imperial repousava prin- Pernambucana de 1817 caíra em terre- dum atentado mandado perpetrar pelos
cipalmente no açúcar, no algodão e no impropriado aos germes da árvore. Andradas.
na pecuária; secundariamente, no ta- da liberdade ..." Antônio Borges da Fonseca, que iria
báco e no Café. Nosso comércio, ini- "Com efeito, não soa
o menor apelo notabilizar-se com O Rejmblico, mal
ciado em 1808 com a Inglaterra, desde aos ideais republicanos em nenhum dos estréia no jornalismo da Corte, pro-
logo favorecida com taxas menores que diversos atos que definiram e coroaram pugnando pela federação, é levado a
as pagas por outros países, generalizou- triunfalmente a nossa crise liberta- júri (24).
se, a partir de 1826, com a França e dora" (23). Menos afortunado que os predeces-
outras nações, às quais, por fim, se Representantes voluntários das mas-, sores, Luís Augusto May, diretor de
outorgaram os mesmos benefícios obti sas abandonadas faziam repercutir nas A Malagueta, sofreu agressões também
dos pela "rainha dos mares." colunas dos jornais os seus desejos às mãos da gente dos Andradas. A
Em última instância, os elementos dos mais sentidos, ao mesmo tempo que primeira, em 1823; a segunda em 1828,
dois partidos — conservador e liberal — verberavam d procedimento das classes quando, investido da função de depu-
recrutavam-se dentre os senhores de dirigentes. tado, deixava a Câmara. Dessa vez,
engenho, os fazendeiros de café e os Faziam-no com audácia, em perigo atingiram-lhe a cabeça e fraturaram-
estancieiros. Daí, o vigor oposto por constante de vida, face às vindictas*que lhe um braço.
ambos os partidos, excetuadas as cama- se lhes opunham. Virtualmente, após a A Libero Badaró, responsável pelo
das médias e populares integrantes da Independência e durante o período re- Observador Constitucional, de São
facção democrática, a tôdas as medidas gencial, esteve suprimida a liberdade Paulo, mandou o Imperador assassinar
a libertar os africanos, a estabelecer a de imprensa. Ofensas pessoais, em- (20.XI.1830).
república e a melhorar a sorte do povo. pastelamentos de folhas, perseguições Outros grandes jornalistas agitavam
Tanta pertinácia na defesa de seus de todo o gênero, aureolavam o exército as questões mais decisivas da nacio-
interesses e no combate às aspirações da profissão. nalidade: Joaquim Gonçalves Ledo,
populares, por parte das elites nacio- José Inácio de Abreu e Lima, a quem
Evarísto da Veiga, orientador da o povo apelidara de General das Massas,
nais, levou respeitado historiador a Aurora Fluminense, de tão destacada
reconhecer: Teófilo Otôni, um dos principais co-
"Parece atuação nos preparativos da Indepen- laboradores do Sete de Abril, através
que o sangue dos mártires dencia e, ao depois, membro do reá- da Sentinela do Serro.
da Conjuração Mineira e da Revolução cionário partido conservador, foi vítima
Ao a(air do cárcere, Cipriano Ba-
rata encontra o ambiente político ainda
mais tenso do que em 1823. D. Pedro
voltava-se cada vez mais para os
portugueses e já se valia de batalhões
estrangeiros para reprimir as manifes-
tações populares. Atacado sem cessar,
tanto pelos conservadores como pelos
liberais, sua popularidade desaparecera
há muito, sendo substituída por um
quase unânime sentimento de rancor do
povo. Avizinhava-se a Abdicação.
Prostrado pela idade e pela moléstia,
e desejoso de rever a terra natal,
despediu-se o velho lidador dos compa-
nheiros do Rio. Quis a sorte fosse O
Repúblico o veículo de suas palavras.
Em tão extraordinário momento dos
destinos |do Brlasil, os dois maiores
jornalistas da época apertavam-se as
mãos, emocionados, em breve pausa de
seu apostolado exemplar.
Borges da Fonseca, então com 22 anos
de idade, iria ser o continuador da II
grandiosa obra de Cipriano Barata,
dobrado ao peso dos 68 anos, da doença
e das vicissitudes.

A REGÊNCIA — ÚLTIMA PRISÃO


Voltando ao Salvador, reinicia Ci-
priano, a 12 de janeiro, a lida jorna-
lística, publicando nova Sentinela da
Liberdade, — hoje na Guarita do Quartel
General de Pirajá, na Bahia de Todos
os Santos.
Ao Sete de Abril sucederam-se, na pro-
vincia, desordens provocadas pelos por-
tuguêses, inconformados com a nova
I » Jái * ^^SmBéC^^Fi' V ^_r_____4^______n_^____________________. ~*_^V* f*B * taaar- t-i _¦____. _J ^_____^ _¦'___¦ . Jr* jt ^f1 IXsX^ Vl^l f*W___Pfc__l7 wQj____T__r^iC jn_H_* J rtf'"* ^aaWa^Fm»\aw9tmJfé»\\imíáa\ B^I_L_tl__yJ^__________i^___l^___raí y i _Jm j^^ »h situação. Nelas envolveu-se o incansá-
vel lutador. Seus antigos camaradas,
convertidos, agora que desfrutavam o
poder, em moderados, mandaram prende-
lo. Recolhido ao Forte de São Pedro,
aí redije, a 29 de maio, nova Sentinela.
O exaltado Cipriano era un% obstá-
culo aos senhores do dia. Por isso
remetem-no de novo para o Rio de Ja-
neiro, onde deverá ser julgado por
atentar contra as instituições e "pro-^*
!.'.'í_W
¦...;

mover a rebelião dos pretos." (25)


m O movimento liberal de 7 de abril
fora, em grande parte, obra da im-
prensa.- Pregaram-no com desassombro
Evaristo da Veiga, Gonçalves Ledo,

Maio-Junho 1950 27

':
**. ,

Teóíilo Otôni, Borges da Fonseca e, cerceamento das liberdades, como sejam


samente, com nomes, fatos, minúcias. a de reunião, a de manifestação do
uo èíarcere, 0 inaomito barata. A vida política das províncias e os
Destes, nem toaos cnegariam às suas atos do governo merecem-lhe comenta- pensamento oral, a de consciência, a'
"ivànsto nao de associação e a de imprensa.
últimas conseqüências rios e críticas veementes. Tudo é ana-
íez mais ao que coniormar-s>e com a lisado e combatido, exceto o povo, cujas
revoiuçao, aceica-la como uma latali- enaltecer. Quanto a esta repitamos, in-
qualidades jamais deixou de
uaae, sem jamais acaricia-la como um Como os tribunais da capital nao o cessantemente, com Rui Barbosa:
íaeai." {'Aó) "Ledo nao nascera para quisessem julgar, reenviam-no paracon-
a "DE TODAS AS LIBERDADES
mártir, faltavam-lhe a aonegaçao e Bahia (tiezembro de 1832), onde E' A DA IMPRENSA A MAIS
a persistência ae um uipriano barata'." tinua na prisão até o ano seguinte. CONSPÍCUA: SOBRANCEIA
«t-0 us outros, snu, iriam prosseguir Solto, não esmoreceu, e a tal ponto E REINA ENTRE AS MAIS.
na obra por que sempre se bateram: atuou contra a situação dominante que CABE-LHE, POR SUA NATU-
a leueraçao e a republica. lhe moveram, os antigos correligionários, REZA, A DIGNIDADE INES-
Borges aa Fonseca íoi aos primeiros assíduas perseguições. Era "j^enso, TIMÁVEL DE REPRESENTAR
a cnegar ao Campo ae ban t* Ana quanao então, seu prestígio. A Paraíba e Minas TODAS AS OUTRAS." (30)
ao amotmamento ao povo e ae parte Gerais indicam-no, em lista tríplice, nos
ua tropa contra o imperador, .uiaa anos de 1833, 1834 e 1835, para o Se-
antes, sua viaa correra perigo. Us nado do Império.
portugueses percorreram as ruas bra- Septuagenário, sentindo as torças di-
aanao peio seu nome, inaicanao-o à ira minuírem-lhe, recolhe-se a Pernambuco, (10) CAIO PRADO JR. —- Evolução
do- popuiacno. Fim pos, na veria ae à sua primeira Guarita. Escrita ou ins- política ão Brasil, 2." edição, pág. 127.
continuar na senaa revolucionaria, al- pirada por êle, sai no Recife a
folha (11) HÉLIO VIANA — Ob. cit,
vorotanao o povo em varias províncias federalista Razão e Verdade. pág. 459.
e ievanta.nao-o, iinaimente, na seaiçao A última das Sentinelas publica-a (12) CARLOS RIZZINI — O livro, o
de 1»48, aa qual se tornou taivez a entre 16 de agosto de 1834 e 2 de agosto jowial e a tipografia no Brasil, pág. 411.
— Ob. cit.,
ngura maior. de 1835. Na Guarita da amada pro- (13) HÉLIO VIANA
pág. 472.
quanto a Cipriano, como vimos, não vincia pernambucana, tão patriótica e
lhe loram iavuraveis os êxitos ae sua revolucionária, lança êle seu derradeiro (14) Idem, id., pág. 472.
lacçao na r>ania. Foi uma aas pri- grito de alerta. (15) ALCIDES BEZERRA, segundo
meiras vítimas da nova ciasse ascen- HÉLIO VIANA, ob. cit-, pág. 473.
ueiiLe. bneie ae ponueraveis massas (16) HÉLIO VIANA Ob. cit.,
MORTE E EXEMPLO pág. 478.
populares, constituía eie, tanto quanto " . . .Sem — Ob. cit.,
VIANA
seuá seguiuorecs, serio perigo a estabi- que de suas longas ativi- (17) HÉLIO
pág. 479.
Vft liaaae ua oruem recem-imposta. dades e sofrimentos resultasse qualquer
(18) * ALFREDO DE CARVALHO —
!'•'..¦ Ate ali, as classes populares e abas- conforto pessoal e estabilidade de posi- Gênese e progressos da imprensa periódica
com-
taaas lutaram em comum contra o ção..." (28), retira-se o altivo no Brasil, pág. 29.
estrangeiro e seu representante maxi- batente para Natal, onde vai viver na (19) JOÃO N. TORRES e ALFREDO
mo; aeposto êste e anuiaao o poaerio miséria seus últimos dias, — lecionando DE CARVALHO —« Anais da imprensa da
Bahia, pág. 23.
dos' portugueses, laçaram, na arena po- primeiras letras e línguas ou exercendo — História ão
litica, as uuas iacçoes brasileiras, a ais- a clínica, desde que lho permita a (20) MELO MORAIS
Fintre ambas saúde combalida. Brasil Remo, I, pág. 273, apud João Torres
putarem-se o governo. e Alfredo de Carvalho, ob. cit., pág. 23.
travo%se imediata, longa e sangrenta Expira a 11 de junho de 1838, dei-
(21) JOÃO TORRES e ALFREDO DE
luta, (Jhe so se extmguiria na metade xando família — mulher e filhos — nas CARVALHO -*- Ob. cit., pág. 24.
do século. maiores dificuldades. José Bonifácio,
(22) Além de O CONSTITUCIONAL,
Abalando a consolidação das classes palaciano, monarquista, restaurador, de- cujos serviços à causa brasileira são ines-
conservaaoras, expioairam, através aa magogo e seu maior adversário, morrera timaveis, e das valorosas Sentinelas de
Regência e aa Maionaaae, várias revol- dois meses antes. Cipriano Barata, divulgaram-se na Bahia
muitos outros jornais que bem revelam o
tas, airigmas, tamoem, contra o ele- mas não se extinguiu Ci-
Expirou, "Barata grau de maüureza política e cultural (le
mento português, cujo aommio não íòra priano José de Almeida. Seus seu povo. Ocorrem-nos os seguintes: O
ae. toao liquiaaôo. Ocorreram, amaa, exemplos de pugnacidade, desprendi- menior da injancia. (1846), uma das pri-
meiras publicações brasileiras dedicadas à
bernaruas ue caráter social e iiDeransta. mento, amor ao povo e fervor patriótico educação; A Estrela Infantil (1872);
Dentre tais rebeliões, assinalaram-se recolheram-no, ainda em sua vida, jor- CAiiTJtcü ALVES (1884), periódico literá-
a Cabanagem (1833), a farroupilha nalistas e batalhadores como Vicente r.o e abolicionista; A República Federal
(1850), a aos negros na Bahia {lòóo), Ferreira Lavor (29) — o periodista da (1888-90), órgão destinado à propaganda
republicana; O Democrata (18y0), órgão
a baoinaaa {101) e a üalaiada (1838). Cabanagem —, Borges da Fonseca — do Centro Republicano Democrático; O
Cipriano e os ae sua grei, na qual O Repúblico — e Abreu e Lima — Socialista (1890-91), órgão de propaganda
sobressaiam os baianos Ferreira França, redator do Diário Novo dos praieiros. republicana.

representavam, ja agora, a pieoe, os Mais tarde, nas campanhas da Abo- (23) BASÍLIO DÈ MAGALHÃES
anarquistas, aos quais os proprietários lição e da República, ei-lo que resusci- . Estudos de História do Brasil, pág. 22.
"a assistência, de
e inaustriais iriam opor severo enírea- taria nas penas fulgurantes de Joaquim (24) Foi absolvido e
ma.s de 200 pessoas, depois da leitura da
V mento. "Ci- Serra, Alcindo Guanabara, Lúcio de sentença, prorrompeu em vivas à Consti-
De volta ao Rio de Janeiro, é Mendonça, Ferreira de Menezes, Sal- tuição, à liberdade de imprensa e ao artigo
priano encarcerado na ilha das Cobras danha Marinho, Tavares Bastos, Quin- sôbre a federação" Cf. a Aurora Fluminen-
tino Bocaiúva, Ferreira de Araújo, José se, n.° 409, de 19.1.1831.
(junho de 1831). Sem tardança redige — cit.,
nova S ent ene ia e instiga um levante do Patrocínio e Rui Barbosa. (22) HÉLIO VIANA Ob.
militar. Mudam-no de prisão por isso. Hoje, no instante em que o Brasil se pág. 482.
E7 levado para o forte de Viliegagnon encontra, de novo, assoberbado por tre- (26) OTÁVIO TARQUÍNIO DE SOUSA
—« Evaristo da Veiga, pág. 139.
de 1831) e para bordo da
(dezembro"Niterói" menda crise econômica e política, tendo, — Ob. cit.,
fragata (janeiro de 1832). de um lado, o estrangeiro a asfixiá-lo, (27) CARLOS RIZZINI
pág. 384.
Das duas prisões saem novos números e, do outr(f, filhos degenerados a come- VIANA ~- Ob. cit.,
da tíentineta, indicando os respectivos terem contra o regime democrático, por- (28) HÉLIO
pág. 493.
locais de redação. fiando em liquidar as liberdades pú-
(29) Vicente Ferreira de Lavor Papa-
Dominavam amplamente os conserva- blicas, mormente a de expressão do gaio, por extenso. Redigm e imprimiu
dores. Diogo Antônio Feijó, Ministro pensamento escrito, — hoje é para fi- avulsos no Pará. Em 1832 iniciou a pu-
Maranhense na Gua-
da Justiça, e, a seguir, Regente do guras imortais como Cipriano Barata blicação da
rita do Pará,
Sentinela
— nome influenciado pelas
Império, do qual Evaristo da Veiga que nos voltamos, ao retemperar ener- Sentinelas de Cipriano. Quando se declarou
seria o maior sustentáculo, é apontado gias para o combate decidido a um e a revolta dos cabanos, nativistas e repu-
por Cipriano como inimigo da liberdade outro desses grupos, e em prol duma blicanos, contra os restauradores e a Re-
de imprensa. Violentos ataques são Pátria livre, soberana e progressista. gênexa, Lavor foi ter ao quartel dos insur-
retos e pôs sua pena a serviço da causa
dirigidos aos portugueses e aos jornais No ensejo dum congresso de jorna- liberal, influenciado por Cipriano Barata,
simpáticos ao Governo. A repressão listas, reunido na gloriosa terra de Teófilo Otôni deu ao seu periódico o nome
movida pelos moderados à imprensa Castro Alves, e tendo o pensamento de Sentinela do Sewo.
radical e aos militares que discordam voltado para Cipriano Barata, concla- (30) A Imprensa, Rio de Janeiro,
do situacionismo é denunciada vigoro- memos contra todas as tentativas de 5.X.1898.

Fundamentos
28
¦ ¦ ¦ • ¦.¦ ¦ '

y ¦¦¦

y|*>*£

TIRADENTES MISTIFICAÇÃO E
Dl EGO PIRES DE CAMPOS PLANO MARSHALL
Brasileiro! COMO SE COMPRA A MÁ-FÉ DA IMPRENSA
Exaltemos a história de um símbolo! CAPITALISTA
Deste homem cujos passos lendários CARLOS FREDERICO
ainda refinem nas fraldas das serras,
Um dos fenômenos sociais de enorme significação na atua-
no bojo dos vales, lidade é a perda de prestígio, cada vez mais crescente, dos
no colo dos rios... jornais burgueses capitalistas, tenham o colorido político que
tiveram... O "democrata" — assim esse se intitula hipócrita-
Era um filho do Povo. mente — "O Estado de S. Paulo", acolhe na redação figuras
Vibrava-lhe a alma no cimo das montanhas, remanescentes do fascismo italiano ou do nazismo germLnico:
Giannino Carta e Frederico Heller, último subserviente ser-
a terra sentindo morrer exangue, sugada,
vidor dos interesses americanos que vem ilulindo a boa-fé dos
por bocas estranhas ... diretores do setuagenário órgão de Júlio Mesquita. Nem a pró-
pria burguesia — classe social que se alimenta do noticiário
tendencioso das agências telegráficas estrangeiras, tão fértil na-
Cresciam os dízimos que a Corte exigia...
quele matutino — se impressiona mais com as suas campanhas,
A cruz que os homens tristes das minas tal o setárismo de que se revestem. Isso sem falar na manipu-
levavam nos ombros lação dos telegramas, devidamente dosados e selecionados, coisa
não tinha que todos os órgãos da imprensa mundial costumam praticar com
a maior desfaçatez... Na "Folha da Manhã"*, "Diário de São
mais fim. Paulo" e outros de menor porte, as notícias passam pelo crivo
E toda a riqueza da Terra, comum pelo qual todos se pautam: o balcão de anúncios. E
corria das serras aos barcos que o mar de branco tingiam, aí, pontificam as empresas de propaganda, todas sem excepção
com velas bordadas, ligadas a poderosas firmas norte-americanas, desde a Sear's até
a Anderson, Clayton & Cia. Elas é que orientam o sentido das
em forma informações. Aquela falta de prestígio pode ser facilmente
tranqüila ... avaliada se considerarmos que só a população da cidade de São
Por isso. êle andou de casa em cabana, Paulo atinge agora cerca de 2.000.000 de habitantes e que a
circulação diária dos principais matutinos e vespertinos, soma-
de mina em gro toes.
da, não atinge, na capital 300.000 exemplares... No rádio se
Nas noites compridas — fantasma de lenda! — verifica o mesmo fato: ao povo é dado música, piadas e futebol,
pregava convicto: além dos dramalhões, comédias e episódios policiais pejados
lutar ou morrer. de tolices. Servem, porém, para nele amortecer qualquer ve-
leidade de luta contra um estado de coisas por êle reputada
A voz do guerreiro subia as montanhas,
má.. .Enquanto isso, os donos dos jornais e das rádio-emisso-
nos vales descia, ras se enriquecem, não obstante os balanços anuais procurem
corria nos rios, precisamente mostrar o contrário. O melhor atestado da inca-
infiltrava-se na terra, pacidade de penetração dos jornais nas massas populares é que
todos escondem a circulação, conhecida, e geralmente com ine-
que abria suas furnas: xatidão, apenas das empresas de propaganda... E' por esse mo-
o grito a reboar... tivo que os leitores mais atilados não lêem os editoriais, dando
E poetas havia, lutado ao seu lado, preferência às informações. O comentário sem assinatura pro-
sem medo, sem nada, até perecer. cura sempre mistificar. Nunca é sincero, salvo nos casos em
que a direção do jornal percebe perigo para seus interesses...
Todos se dizem "independentes", mas nenhum deles o é. Uns
Silverio dos Reis, um dia, surgiu ... estão presos aos cordões dos cofres do Banco do Brasil, do ¦ ¦ . :-v
¦ *

As mãos que se ergueram, ficaram sangrando Banco do Estado ou da Caixa Econômica Federal. Outros, es-
tão amarrados diretamente ao Tesouro Federal ou do Estado,
em duros grilhões.
quando não ao do município. São tantos os jornais e tão poucos
Depois... os anúncios que se vêem na contingência de apelar para o poder
à forca subindo, sozinho, "otários" que dispõem de capitais,
público ou, então, para os
de onde o lançamento de emprésticos "populares"... Esse é
pelo Povo explorado e oprimido,
o clima em que vive a imprensa burguesa, em São Paulo, no
vai, firme e impoluto, morrer "apolíticos" ou sirvam a ideo-
país e no resto do globo. Sejam
com valor. logias favoráveis ao capitalismo, todos informam o público de
Os olhos imóveis, distantes ... acordo com as conveniências pessoais dos diretores ou dos gru-
— no azul do céu e nos montes que saltam depressa pos financeiros e industriais a que prestam obediência.
prá levar o grito rebelde A "MARSHALLIZAÇÃO" DA EUROPA E OS JORNAIS
a todos os rincões — PAULISTANOS
Já notaram os leitores habituais dos nossos matutinos e
pareciam ver todo o Brasil raiar soberano
vespertinos como nos anos mais próximos vêm êle mantendo
sôbre o sangue que ia correr.
tácito silêncio sôbre a elevação do custo de vida? Já observa-
Vestido de branco, ram que procuram evitar tocar sem rebuços no "mercado negro"
o corpo é um dia em humana alvorada de dólares, automóveis, geladeiras e problemas que dizem res-
peito à vida do homem da rua? Já se deram ao trabalho de
que se agita acompanhar com cuidado como se processam certas campanhas
no ar. de imprensa, inclusive aquelas em que se tacha o industrial*8
Francisco Matarazzo Júnior de "tubarão", quando o proprietá-
rio do jornal que assim procede paga aos redatores ordenados
O Corpo deste símbolo, cujos passos lendários, dos mais miseráveis, incompatíveis com a profissão de jorna-
ainda retinem nas fraldas das serras, lista? JáJ compreenderam por que o noticiário do SESI é tão
no bojo dos vales, \ bem difundido? O leitor inteligente — mesmo burguês — deve
no colo dos rios ... ter tirado suas deduções e meditado sôbre a inutilidade de ler

Maio-Junho 1950 29
' ' ' *
BgflSr*»**' , ; ;

ii-;";.-'
notícias filtradas por interesses de toda sorte, cujo fito exclu- os rendimentos, isto é, os dividendos, vão para Nova York. Só
sivo, único é o de GANHAR DINHEIRO ILUDINDO O POVO. são aplicados no país onde se originam diante de medidas de
Nenhum jornal, dos qualificados como "honestos" ataca um proteção que certos governos burgueses tomam, a fim de evitar
grande tubarão; podem voltar suas baterias contra figurões po- maior saída de dólares e, com isso, maior depreciação de suas
líticos de seu desagrado- mas para fim em regra ilícitos* que próprias moedas.
sabem mascarar de legítimos com a refinada hipocrisia da de- Asseguram os autores do famoso plano que a aplicação dele
cadente sociedade burguesa-capitalista contemporânea... Sua tinha por fito não só resolver o problema da falta de dólares,
íliT*^""*;
Eminência o Cardeal, ah! esse é um dos intocáveis... Sua como ainda o de reanimar a vida econômica dos países benefi-
Excelência, o Sr. Ministro da Fazenda, ah! (o nome não vem
;•<*¦

S-.:
'

ciários, restabelecendo o livre câmbio de mercadorias em toda
o ao caso, hasta, que tenha acedido em conceder os empréstimos a Europa e no resto da terra submetido ao dólar. Embora, sob
pedidos...) esse é um varão íntegro, de atitudes rígidas. Salvo, certos aspectos, a economia européia tenha apresentado algu-
todavia, se procura servir a outro amigo — também "jornalis- mas melhoras, provenientes sobretudo do financiamento de in-
ví1;**'' ta" — mas que pertence a outra cadeia de jornais. Nessa hi- dústrias de guerra pelos norte-americanos (siderurgia, aciaria,
. *.
pótese, então, pau nele... Assim são todos os jornais conser- estaleiros e correlatas), a verdade é que o Plano Marshall fa-
vadores de São Paulo, do Brasil, da América Latina e a maio- lhou. Bem, o seu malogro pode ser explicado do ponto de vista
ria da Europa Ocidental. Os que servem ao povo, os que com dos povos interessados, como o inglês, o francês, o italiano, o
H*'3=-.' êste comungam nos mesmos ideais, esses só podem existir à belga e outros. Do ponto dé vista americano, propriamente
Er custa da circulação ou de doações de cada um dos leitores. Se dito êle tem sido um êxito: o domínio econômico-financeiro de
conseguem sobreviver é porque respondem a sincero anseio das Washington cresce continuamente, fortalecendo a obra política
multidões, que têm fome e sede de justiça. Só por isso. Em- do Departamento de Estado junto das camadas dirigentes dos
bora as autoridades os persigam inexoravelmente, dia e noite. países burgueses do Velho Mundo.
O Plano Marshall é o exemplo mais típico de como atuam E quem assegura que as esperanças dos europeus no plano
os jornais da burguesia capitalista. Você, leitor, já topou- pór imperialista falharam não sou eu (velho marxista estudioso de
acaso, com algum estudo minucioso e verdadeiro acerca dos questões econômicas) nem os jornais de Moscou. Quem o diz
efeitos do Plano Marshall sôbre a economia mundial? Não, a é uma revista de economia, dirigida pelo dominicano, o hoje
-;.-
ftfr'
menos que leia as publicações realmente populares e democra- célebre padre Lebret. "Économie et Humanisme", de Paris, em
tas. O que relatam os órgãos burgueses tem o objetivo de número recente, afirma textualmente: "O Plano Marshall fra-
ocultar a realidade, descrevendo-a diversa daquilo que é. cassou exatamente no seu objetivo principal, que era o de res-
O fim do Plano Marshall é o de submeter toda a economia tabelecer o comércio livre internacional". Acrestando que
•¦:
*
do globo ao poderio dos trustes e monopólios norte-americanos. esse resultado era de se prever. Pondera, a seguir:
A toda evidência, você deve ter lido nos "grandes" jornais que "A fórmula atual do
plano Marshall conduz fatal-
aquele plano tem por alvo libertar a Europa da influência co- mente ao imperialismo econômico..*."
munista, do "totalitarismo de esquerda" como eles gostam de
classificar os regimes democráticos populares dominantes na São os católicos de esquerda que se condenam a execução de
-.;* Plano Marshall*, embora, como era de se prever, o aceitem sob
Polônia, Hungria, China, Tchecoslováquia outros países cen-
certas condições... Só o fato de condená-lo, por essa forma,
tro-europeus. Aí só reina a mais abjeta escravidão; não existe
abertamente, expressa o estado de espírito de grandes correntes
liberdade, os salários são ínfimos, o custo de vida sobe dia a
dia e avulta de mês para mês o número de desempregados... político-religiosas européias que temem a expansão do impe-
rialismo, sob quaisquer de suas formas, seja vestido com estas
Esse é o quadro por eles descrito*.
ou aquelas roupagens. A conseqüência lógica do Plano Mar-
Tudo isso é verdade?
shall é, sobretudo, de impedir o desenvolvimento da crise nos
Não.
iPor que? Acompanhe o relato que vou fazer e depois você Estados Unidos (atenuada em virtude dos preparativos guerrei-
mê dirá de que lado está a razão. ros) que marcha pára uma eclosão (próxima ou remota, mas
fatal), e que só poderá ser retardada mediante a obtenção de
Falta de dólares; escassez de dólares; mercado negro de
mercados onde possa abastecer-se de matérias-primas (ferro,
dólares... Isso lemos e ouvimos todos os dias desde o ama-
nhecer até o anoitecer. Qual foi o fator desse fenômeno eco- manganês, bauxita, chumbo, areias monazíticás, borracha, etc),
nômico-monetário? A queda das importações dos Estados Uni- cujos preços serão por eles ditados, como aliás toda a gente
dos. não ignora. E' inelutável, assim, o domínio dos americanos
sôbre o mundo, já que „ precisarão cada vez mais de mercados •
O excesso .das vendas americanas nos diversos mercados do
mundo em relação às compras de mercadorias procedentes dês- para escoamento de uma produção que não encontra clientes
ses mesmos mercados foi em 1949 de 5.374.000.000 de dólares, dentro do mercado interno, cujo poder aquisitivo apresenta
e a isso denomina os ianques "the export over import gap" ou, tendências de declínio de ano para ano mais acentuado. "A
numa linguagem menos artificial, o "buraco" causado pelo dó- economia americana — escreve aquela revista do padre Lebret —
lar nos mercados do exterior... Em 1939, ano inicial da guerra está na dependência do mundo inteiro tanto para suas merca-
dorias como para as matérias-primas de que carece."
que devia prolongar-se até fins de 1945, esse "gap" ou "bura-
co" foi de 859.000.000 de dólares; em 1948 somara 5.544.0OO.000 Acentuemos — de passagem e para finalizar — que a agudi-
e em 1947 totalizara 9.607.000.000 ou cerca de 80% mais que no zação da luta de classes no plano nacional e internacional é
ano anterior. De onde se origina tão volumoso déficit de dó- uma conseqüência da agudização da crítica no plano ideológico;
lares no comércio internacional entre os Estados Unidos e os essa tem por fim ressaltar o papel da luta de classes no desen-
outros povos? Da miséria desses últimos, da sua incapacidade volvimento econômico, político e social, o que não agrada aos
em se libertar do domínio dos monopólios petrolíferos, de capitalistas e seus lacaios...
transporte marítimo, de fornecimento de energia elétrica (a Np Brasil os "benéficos" resultados da aplicação do Plano
*4*Light", Marshall na Europa (efeito por tabela, me disse um jogador de
por exemplo), de mineração (as minas de chumbo),
cobre, estanho e outras da América Latina, de propriedade de bilhar...) estão refletidos num documento de grande valor, o
trustes com sede nos Estados Unidos), de alimentos (o café dis- relatório do diretor do Banco do Brasil sôbre o exercício de
1949. Diz êle, a propósito do custo de vida:
põe de um único mercado, o americano, que dita os preços do "CONSIDERANDO OS DADOS DE
produto, como, igualmente, a castanha do Pará, a cera de car- 1946 COMO
naúba, o cacau, o sisal e outros artigos da exportação brasi- EQUIVALENTES A 100, TIVEMOS, EM FINS DE 1948,
leira, absorvidos, na quase totalidade, pelos americanos, que O ÍNDICE 126, E, AO TERMINAR O ANO DE 1949, O
lhes fixam os preços, como e quando bem entendem...). Para DE 136"...
o jornal "O Estado de S. Paulo", contudo, os preços são for- Reconhecendo, embora, a alta do custo de vida, alega o
i^''»-*. mados pelo livre jogo da oferta e da procura, na opinião de autor do relatório que contribuiu para isso o "maior poder aqui-
Heller e caterva... O que sucede com matérias-primas brasi- sitivo colocado à disposição das classes trabalhadoras". Trata-
lei ras acontece também com as procedentes de toda a América se de uma afirmação enganosa, ilusória porque esse aumento
Latina, da África, da Ásia (a China, felimente para ela e foi muito maior. Não mencionou êle o mercado negro de pro-
infelizmente para Washington, já constitui agradável excepção dutos importados, a queda nos preços das exportações (com
nesse negro quadro de exploração colonial pelo imperialismo excepção do café), e o mercado negro de cereais, os verdadeiros
capitalista),, e da Oce-nia. Visando ao despistamento, os ame- responsáveis pela alta do custo de vida e não o maior poder
ricanos instalam "fábricas" de montagem, como ocorre com os aquisitivo colocado à disposição das classes trabalhadoras.
automóveis, enceradeiras elétricas, aparelhos de rádio, etc. Só Maior poder aquisitivo vemos é nas mãos dos "tubarões", dos
se dispõem a fabricar automóveis em países como a G;rã-Bre- atravessadores, dos monopolistas, dos negocistas de toda sorte,
tanha, onde vão concorrer com as marcas locais e, por meio de- de enriquecimento.
para quem o estômago do povo é um veículo "crianças.
las, "concorrem" com as suas próprias marcas no estrangeiro: Equilíbrio econômico... História de ninar

30 Fundamentos
,í_f*.ÍUÜfll

"..,._' .,:'._• ¦

:' -'*•"!'¦-•- '¦%


- '"
'_, W

¦*-¦-.' /
.

¦¦¦¦¦.¦.¦ .'¦'-':''
f

NOTÁVEIS PBOGBEIIOI DA '¦'m

MEDICINA SOVIÉTICA r»t. nw kochbrcubi .¦r-ér

§ÉfH
lim
•Jl

Na União Soviética foram criadas sor Dzhanelidze oferece em sua mono- trabalho do autor, dedicado ao estudo
condições excepcionalmente favoráveis grafia «As fístulas bronqueais resultan- comp.eto deste problema. Ao mesmo
para o desenvolvimento da medicina. tes de feridas por arma de fogo.» Uma tempo em que faz uma exposição e uma ¦.ss»

A medicina Soviética que é objeto de exposição deta.hada dos métodos de ex- análise crítica dos trabalhos nacionais
atenção especial por parte de todo o ploração dos enfermos, descreve as al- e estrangeiros, o professor Rubitchenko »
povo e do Partido Comunista, se enri- terações anatomopato ógicas da parede apresenta algumas teses novas sôbre ¦¦¦''¦•'¦

quece de ano para ano com novas des- toráxica do tecido pulmonar que predis- esta questão. 4$-
cobertas que tendem a aperfeiçoar os põe à formação de fístulas bronqueais e
métodos destinados a prevenir e curar expõe diversos métodos para seu trata- Lazar Rubitchenko oferece uma classi-
as enfermidades do homem. mento conservador e cirúrgico. ficação simples e completa das enfermi-
Uma prova evidente dos êxitos obti- dades puerperais. Determina e salienta
A monografia de Dzhanelidze de-
dos pela medicina na U.R.S.S. são os que no período puerperal as infecções se
monstra com toda evidência* qúe um transmitem fundamentalmente por via
Prêmios Stain com que têm sido distin- dos problemas mais difíceis do trata- sangüínea. Esta conclusão tem uma
guidos os trabalhos mais relevantes rea-
.¦;¦

mento racional e eficiente das fístulas


lizados no campo da medicina em 1949. grande importância teórica e prática
bronqueais foi satisfatoriamente resol-
O governo soviético outorgou prê- para a prevenção e o tratamento da in-
vido» pela medicina soviética. fecção puerperal.
mios Stalin de primeira classe a dois
destacados cirurgiões soviéticos: Nico- O professor Nicoiai Stoiko foi distin- O professor Fedor Andreiev foi lau-
lai Bogoráz e Yustin Dzhanelidze. guido com o prêmio Stalin de segunda reado com o prêmio Stalin de segunda
classe por sua obra «Tratamento cirúr- classe, por ter elaborado e levado à prá-
O professor Bogoráz é autor de com-
gico da Tuberculose Pulmonar», na qual tica terapêutica o método de tratamentos
plexas investigações científicas e clínl- resume sua experiência de trinta anos
cas, no campo da cirurgia plástica, apre- . das enfermidades internas, por meio de
dedicados a esse prob.ema e apresenta sono pro^ngado. Tomando como base
sentadas em sua monografia «Cirurgia
Neste trabalho se faz um uma descrição completa de todas as in- a teoria do acadêmico Ivan Pavlov. que
Plástica». "tra-
vestigações cirúrgicas aplicadas ao considera o sono como uma «inibição
estudo completo das operações destina-
tamento da tubercu^se pulmonar, fa- protetora» do sistema nervoso, o profes-
das a restaurar os órgãos e partes do
zendo especial empenho nas indicações sor Andreiev foi o primeiro a aplicar o
corpo humano perdidos ou atrofiados.
e contra indicações de cada uma d^las. sono no tratamento das enfermidades
X N. Bogoráz elaborou e levou à prática
Faz também upia exposição detalhada internas. Depois de seis anos dedicados
médica vários métodos cirúrgicos origi-
do cuidado post-operatório dos enfermos. ao pstudo experimenta1 do problema, o
nais destinados a alongar os ossos, cor- *
rigir defeitos do esqueleto e permitir aos Em seu trabalho, o professor Stoiko professor Andreiev conseguiu demons-
paralíticos uma Tçcomoção normal. apresenta a grande experiência dos mé- trar com toda evidência o grande valor
dicos soviéticos em .relação ao trata- terapêutico deste método, sobretudo nas
O professor Y. Dzhanelidze, membro
mento cirúrgico da tuberculose pul- úlceras gfastro-duodenais e na hipertonia.
da Academia de Ciências Médicas da
TJRSS, foi laureado com o prêmio Sta- monar. Êste método encontrou aplicação na
An pelo seu trabalho dedicado ao tra- A obra do professor Lazar Rubitchen- prática terapêutica da União Soviética,
èamento das fístulas bronqueais, um dos ko «A Infecçâo Puerperal» foi distin- A concessão dos prêmios Stalin aos
problemas mais complexos da cirurgia guida pelo governo soviético com o homens de ciência soviéticos é uma ¦¦
-¦&

toráxica. prêmio Stalin de segunda classe. Esta manifestação de solicitude staliniana


Baseando-se em sua grande expe- obra apresenta as. investigações cientí- pelo desenvolvimento da ciência mais
riência, pessoal, no estudo minucioso e ficas e clínicas relativas ao diagnóstico, avançada e mais revolucionária, posta a
na análise crítica da literatura nacional à prevenção e ao tratamento das infec- serviço do povo que está edificando o
e estrangeira sôbre o assunto, o profes- ções puerperais, e resume 35 anos de comunismo.
m*

OS SÁBIOS ENTRE OS LOUCOS maio * MARCEL


mm

¦..ri

Encontramos no «New York Tribune», [%de 13 de CACHIN


último, a seguinte notícia:
«Dez professores e sábios da Universidade de Harvard e
do Instituto Tecnológico de Massachusets acabam de dirigir mundo». Ela não pode levar senão a uma catástrofe para os
ao povo americano um Manifesto contra o emprego da bomba americanos e para toda a civilização em si mesma. Os Es-
atômica.» tados Unidos aparecem assim como um aliado muito perigoso!
Esses sábios pertencem às instituições universitárias mais Seria melhor multiplicar os esforços políticos e econômicos
reputadas dos Estados Unidos. para criar uma situação de paz durável.
Convidam o povo americano inteiro a discutir publica- 2) A estratégia fundada sôbre o emprego da bomba atô-
mente os problemas de estratégia militar. Declaram que esses mica não pode senão voltar-se contra os aliados da América
Os civis
problemas interessam em primeiro lugar aos civis. e contra ela própria. y^u:"
devem falar antes dos militares, porquanto os militares ame- Contra ela própria! Porque a bomba atômica (pequena
ricanos professam uma «fé mal colocada» no valor dos bom- ou grande) não é um monopólio. E a América é duma ex-
bardeamentos e das armas atômicas. A crença fundada no
:-;

não cepcional vulnerabilidade. Sua população e sua indústria sao^


poderio estratégico das armas atômicas é ilusório. Ela muito concentradas. Seria ela própria vítima da arma a&
garante absolutamente a segurança! mica.
Quais são seus argumentos? 3) Quanto aos aliados da América, como a Grã-Bretanha
1) O áistema estratégico atômico diminui a força moral
e a França, qual será sua sorte em caso de guerra? Se for
e política dos Estados Unidos através do mundo. Os Estados
iniciada na Europa ocidental, o Exército Vermelho, que se
Unidos pretendem dirigir moralmente o Universo. Ora, a es-
tratégia de seus militares (embora jamais tenha sido aplicada) pretende deter, não poderá ser atacado pela arma atômica
resultará em «uma destruição maciça da vida humana no senão com a condição de destruir inteiramente a população
.. .

Maio-JunJio 1950 31

,-'.:.
„-? r -t T ^

Cientistas poloneses dirigem-se aos


cientistas -^norte-americanos
OS HOMENS DE AMANHA
ESTHER CHIAVERINI
Por iniciativa das redações de duas revistas científicas
"Cl
*<« polonesas, os professores das escolas superiores na Polônia di-
rigiram uma carta aberta aGs cientistas norte-americanos, os
quais exigiram a interdição da produção ç utilização das Campo desolado, sem gado pastando
armas atômicas num apelo enviado ao Presidente Truman. Sem gente,
Na carta dos cientistas poloneses lemos:
«Estamos convosco. A pobre cabana de porta arrancada,
O apé o de cerca de 100 personalidades dos meios cientifi- Os quatro pertences jogados no chão...
cos, .sociais e religiosos dos Estados Unidos, dirigido ao Pre- Campo abandonado, onde está,
sidente Truman e exigindo a interdição da produção e da Onde foi o teu lavrador?...
utilização de qualquer espécie de armas atômicas — causou
uma prGfunda impressa nos meios científicos poloneses. Bebeu, matou? Tirou o alheio?
EstamGs felizes, porque Vós não renegastes os ideais hu- Será que queimou o sitio vizinho?
manitários do Vosso grande sábio Benjamin Franklin, porque Será que morreu?
não concordais em que a ciência, cuja vocação é servir à Aquele que magro, silencioso, ossudo,
humanidade, .seja explorada para fins de guerra e de exter-
mínio de homens em massau Pela chuva lavado, tostado pelo sol,
Nós, trabalhadores científicos poloneses, podemos vos cer- Sem grandes recursos, sem máquinas, nem ajuda,
tífícar de que nos solidarizamos plenamente com a vossa ati- De manhã e á tarde, que seja domingo
tude corajosa e nobre. So idarizamo-nos convosco junto com
os cientistas da União «Soviética, à qual devemos a vitória Que seja segunda,
sôbre a besta-fera de hitlerismo, junto com os cientistas da Batia e arava e, num grande milagre,
China Libertada, dos paises de Democracia Popular, junto Fazia gerar a terra alheia,
com os cientistas progressistas da Grã-Bretanha, França, Está preso.
Itália e outros países, junto com centenas de ^milhões de
homens do povo no mundo inteiro, que estão assinando o Foi preso, jogado no cárcere, torturado.
apelo do Comitê Permanente do Congresso Mundial de De- Sôbre o corpo, descarnado pela vida difícil,
fensores da Paz sôbre a necessidade de se considerar como Os açoites desciam, uivando no ar.
crime contra a humanidade a utilização da energia atômica
Quebraram-lhe os dentes, fraturaram o braço...
para fins bélicos. Solidarizamo-nos convosco profundamente Por que castigá-lo assim?
convencidos de que vós representais a verdadeira opinião e
vontade da nação americana, que deseja a paz tal como as Nos anos de guerra, durante a carestia,
outras nações. Levando aos lares o desespero da fome,
Cientistas honestos nunca poderão concordar em que os Teria vendido a carne, o pão
resultados de suas pesquisas sejam utilizados para fins de des- Por preço que só os ricos podiam pagar?
truição. A ciência deve servir ao Homem e edificar a sua Enganou talvez a menina da roça
felicidade. Os cientistas não permitirão que mãos tintas de
sangue dos provocadores de guerra enlameiem a missão sa- Com um belo vestido de seda florida?
grada da Ciência. Ou falando bonito de Deus e da Pátria
A libertação da energia atômica — uma conseqüência das Jogou na guerra milhares de homens,
it pesquisas sôbre a radio-atividade, iniciadas há quase meio Irmãos contra irmãos, em carnificina tremenda?
século por nossa compatriota Maria Sklodowska-Curie e o
marido des*a Pierre Curie, — descortina perspectivas magní-
Ou leis criou que amparam o forte,
ficas de florescimento feliz da humanidade. Dos cientistas, de Castigam o justo, impedem a liberdade?
vós e de nós, depende a Ciência se tornar uma maldição ou Não. Vendo a miséria da terra,
um benefício para a humanidade. A nós, cientistas honestos Dos sítios sem água, sem luz, sem escolas
de todos os países, compete fazer com que a humanidade Ouviu a voz de um homem como êle.
abençoe a ciência. Deus, soube, era inocente da sua desgraça
Para nós, poloneses, as feridas da última guerra são por
demais recentes, as devastações por ela causada por demais E não o queria assim:
fundas, lembramo-nos ainda por demais bem dos seus horro- Amarelo e velho antes do tempo.
res, para que possamos nos situar fora do campo dos Defen- Soube também que no pais oprimido
sores da Paz. Surgia a luta por um mundo melhor
Todos os cientistas honestos, cuja consciência resiste à E, mesmo que pobre, podia querer
idéia da guerra, integrar-se-ão na possante frente da paz, que
conta com centenas de milhões de homens no mundo inteiro, Alegria e saúde para si e para os filhos.
frente essa que aniquilará os planos criminosos que visam Lutou.
provocar um novo conflito». Lutou por aqueles que, construindo estradas,
A carta foi assinada por 587 professores. nunca viajam de trem.
Lutou pelos pedreiros que moravam em tabiques,
e a herança cultural dos povos do Atlântico Norte, cuja de- pelas crianças que dormiam em porão.
fesa a América pretende garantir. Lutou por aqueles que nunca escrevem,
4) O emprego da bomba atômica no solo russo tornaria Não cantam, não pintam, não tocam,
impossível toda a reconciliação no após-guerra.
Lutou pelas mães que, largando os seus,
5) Nessas condições, o primeiro dever dos americanos é
submeter a uma discussão pública geral o problema da estra- Criam os filhos alheios.
Lutou pelos tristes, esfarrapados, famintos,
Jégia atômica que lhe querem impor seus militares. E* pre-
livrar o povo .americano e o mundo desse pesadelo». Estéreo para ouro e café.
A atitude corajosa desses dez sábios prova que na própria Lutou e foi preso. Que importa?
América do Norte se fazem ouvir vozes as mais autorizadas Solto um dia, tornará a lutar.
para que sejam colocadas fora da lei as armas atômicas. Dez Falará e será ouvido. E, junto com êle,
mm. dos maiores sábios dos Estados Unidos justificam assim, à sua
maneira, o Apelo de Estocolmo. Que milhões de homens é de Outros irão:
mulheres o assinem na França como em todos os países do Mártires de ontem, heróis de hojo,
mundo! Os homens de amanhã!
fep
82 Fundamentos
.

3lsí
''JfiaB
'>-íim
¦} zzzrcíu

^A AA ákjmmmmMyÊ ãTmmm* ^ V il^ lUiV^ J^ M ^MMmWJW^MmWM^

A GRANDE
O Cinema soviétxo não nasceu num deram a contribuição mais importante.
ARTE ¦
!M

* ;:r
F- .

deserto. Da mesma forma que toda a São homens de diferentes regiões vindos V. PUDOVKIN
m
cultura soviética, êle cresceu e se desen- de diferentes horizontes: S E'senstein
volveu em estreita ligação com a vida do era engenheiro, A. Room médico, F. gerais da época contemporânea. O tema
povo. Suas fontes é necessário procura- Ermler veio diretamente das file'ras do da ioima nova, socialista, o trabalho mo-
las nas tradições democráticas da arte e exército vermelho. Na Ucrânia o pintor d.ficando a consciènc-a do homem sovié-
da literatura russa no século XIX e do A. Dovjenko, e na Geórgia o escultor tico, aproximando o último deste ideal
início do século XX. M. Tchiaureli foram também, atraídos preciso: o de ser um membro ativo da
pela nova forma de expressão artística. sociedade socialista.
Já nos primeiros anos do século XX
apesar da organização capitalista que do- Esses homens eram pc-ssuídos do elã Quase na mesma época aparece um
ímna\a o cinema russo, a-ve^sos diretores de sua juventude, uma sede de ação, filme de Dovjenko "a lerr^." que re-
e artistas deram numerosos exemplos de uma vontade de arrojar-se na pesquisa de lata, com lirismo e pujança*os primei-
novas formas. ros passos ua edihcaçao kalkoziana vi-
uma verdadeira criação artística.
Desde o início o partido bolchevique tor.osa. Em 1934 é a vez de "Xcha-
A grande Revolução Socialista de Ou-
deu apoio enérgico a esses jovens pionei- paiev" o grande filme dos irmãos S. e
tubro inaugurou uma nova época na evo- G. Vassihev dar o seu testemunno da
lução desta arte. O poder soviético de ros, ajudando-os a produzir e assimilar
"O Grande Mudo" um recente realidade soviética. A respeito
imediato viu em os princípios do realismo socialista nas-
cente. Essa ajuda produz seus frutos J. Stalin "O escreve aos tiabalhadores do
poderoso instrumento de instrução, de cinema: poder soviético espera de
elevação cultural e de educação política já em 1924, quando o "Couraçado Potem- vós novos êxitos, de novos íilmes glori-
das massas populares. kin" faz sua aparição sobre as telas. ficando a imagem de "Tchapa.ev" a
São basiante conhecidas as palavras O mundo inteiro aplaude êsse filme
"de todas as artes o cinema revolucionário. Seu grande mérito con- grandeza dos processos h.stóncos dos
de Lénin: traüaihadores e dos camponeses da União
é a mais importante para nós." E' sabido siste em ter colocado em cena uma gran- Soviética na luta peio poder...";-" -
também que por proposta de Lénin foi de coletividade de homens unidos por Nos anos que se seguem, o trabalho
sentimentos comuns e por uma atividade
promulgado em 1919 o decreto de nacio- comum. Pela primeira vez a multidã
kiikoziano atrai a camera de inúmeros
nalização do cinema. A partir dessa realizadores, entre os quais, I. Raisman,
data memorável, há pouco comemorada deixou de ser um pano de fundo dia'- com "Terras Desbravadas", Ermler que
do qual se desenrolava entre um pequeno "Os Camponeses". Desta coorte
pela União Soviética pela 30.a vez o ci- número de personagens a ação. A mui-
produz
nema soviético libertou-se dos entraves um recem-vindo se destaca: é I. Pjriev,
resultantes das preocupações comerciais tidão ela própr a torna-se um protago- que golpe a golpe roda "Atrês filmes sobre
e especulativa. nista do filme. A influência do "Coura- a vida camponesa: Noiva Rica",
çado Potemkin" foi enormemente ben- "Os Tratoristas" e, "Encontro em Mos-
Como todo o país, o cinema soviético se
fazeja sobre as obras ulteriores dos mes- cou". Esses filmes que são de novo gê-
desenvolveu sob a égide do bolchevismo.
tres do cinema soviético. Um após outro nero, a comédia lírica, marcam um grande
Em seus começos, o cinema soviético
aparecem "A Mãe" tirado do romance de
se lança na ''Crônica filmada." Nas passo na direção de uma arte profunda-
"Brigadas cinematográficas de agitação" Górki, "O Fim de S. Petesburgo" e mente nacional e socialista por sua vez.
"Tempestade
sobre a Ásia" (filme reali- Seria injusto passar em silêncio sobre
que circulavam por todo país jovens e zado por mim V. P.)
ardentes cineastas filmavam aquilo que Na Ucrânia outro gênero de comédias a comédia oti-
Dovjenko ro^ia "O Arsenal" e "Aero-
eles viam tanto na frente de guerra mista, que reflete a alegria de viver. G.
civil, como nas regiões onde nascia a grade." Na Geórgia Tchiaureli produz Alexandrov com "Os Alegres Meninos",
"Khabarda" "O Crco" e, "Volga-Volga"
nova ordem social. sátira mordaz sobre os parece ter
meios intelectuais burgueses georgianos, se especializado nesse ramo onde êle é
Esta "Crônica filmada" pode ser con- '-F
' siderada como primeiro contacto da arte Todos esses realizadores não somente um dos melhores representantes.
uj^l:zam os numerosos novos elementos Malgrado a amplitude e a variedade
cinematográfica com a vida do povo. "Couraçado Po-
que foram trazidos pelo dos temas e gêneros dos filmes soviéti-
Dessas fitas de atualidade foram tirados temkin" mas ainda cies investigam o cos, eles têm todavia, um laço comum:
filmes originais de caracter informativo, a determinação de mostrar na tela a
nos quais os realizadores se esforçavam jogo dos atores fazendo-os render o
máximo em profundidade e de verdade, personagem positiva do homem soviético,
por agrupar em torno de um tema único da mesma maneira que eles. procuram de o fazer aparecer como um exemplo
— a guerra civil, a reconstrução da indús- a exatidão e a veracidade das persona- digno de ser seguido. Essa personagem
tria, a organização da agricultura — as gens. Nesta ordem de idéias as tradi- conquista progressivamente o lugar cen-
imagens documentárias filmadas por ope- ções realistas do Teatro de Arte de Mos- trai na tela. Aparece no filme "Os Ma-
radores diferentes em lugares dierentes. cou exercem feliz influência sôBf? a obra rinheiros de Cronstadt" de E. Dzigan,
No domínio dos filmes de arte própria- cinematográfica. Os conceitos da persona- engrandecido nas três partes da trilogia
mente ditos, a evolução da união do gem da tela tornam-se pouco a pouco de "Maxime" de G. Kozintsev e L.
cinema com o povo foi mais lenta e mais o do homem novo, do homem da socie- Trauberg, enfim se afirma e se impõe,
complexa. Todavia, desde o começo ve- dade socialista. em "O Grande Cidadão" de Ermler.
lhos cineastas se aproximaram dos novos "O Grande Mudo"
Por cerca de 1930 É trabalhando na cr'acão da imagem
temas. Entre eles citamos o diretor I. aprende a falar. À imagem anmada se filmada do herói positivo soviético, na f.
Protazanov realizador do primeiro filme junta o som: "O um grande enriquecimento. criação «da imagem do homem comunista
sobre Lénin. Ou ainda I. Perestiani, a O filme Contra-Plano" de F. que os cineastas sovietivos foram natu-
"Os Dia-
quem se deve o filme de arte Ermler e S. Iutkevitch é precisamente ralmente conduzidos a tentar levar à tela
bretes Vermelhos". servido por êsse enriquecimento. Marca a imagem dos grandes dirigentes do povo.
Mas nesse domínio foram os jovens progresso na tendência que tem o cine- Esta delicada e árdua empresa, malgra-
criadores recém-vindos ao cinema que ma soviético de se inspirar nos temas do as dificuldades que apresenta foi co-

Maio-Junho 1950 23
_. \f.
"
nBí
¦

___________________¦£*-?',,

WÈaSm ¦

ami'
>.j.

A AlilJCIUíAHiTE ORQUESTRA
O diretor do Instituto de Folclore da morte pelo governo monarco-fascista, que
os americanos mantêm pelas armas na in-
JORGE AMADO
Rumania esteve longo tempo na prisão
pelas suas atividades subversivas contra o feliz Atenas, escreveu, há pouco tempo,
regime monárquico. Suas atividades pare- de sua prisão ao romancista André Kedros, O Instituto dè Folclore da República Po-
ciam particularmente suspeitas aos poli- exilado em Paris, uma carta pedindo que pular Rumena é um modelo no gênero.
ciais de Carol e do imperialismo, porque lhe enviasse uma "gramática da língua Passei ali um dia inteiro escutando as
êste intelectual percorria o campo, reco- chinesa." Quem nos diz que êste prisio- gravações recolhidas por especialistas que
Hiendo da boca dos camponeses as suas neiro, condenado à pena máxima, não percorrem todo o país acompanhados do
canções, procurando impedir que o riquís- será amanhã um representante de uma material necessário, descobrindo às vezes
simo folclore rumero se perdesse pe- Grécia livre numa China igualmente livre? grandes artistas entre os camponeses até
_______K_#*> ¦>-""'"

H__N__ilkr>"-V- ?¦_-¦¦•
'

rante^a invasão cosmopolita das estações Pode acontecer que seja executado antes então desconhecidos. Muitos cantores de
de rádio rumenas provocada pela música de ter terminado o estudo desta língua di- talento já forain descobertos por essas
dos foxes ianques (como acontece hoje fícil. Mas a lição que se pode tirar do equipes do -Instituto. Vários camponeses e
p_fi_a_ll_(!.í*-: ¦¦;••
com a música popular brasileira, cuja me- que sucede com o ex-prisioneiro rumeno camponesas, operários e marítimos vieram
lodia e palavras são diariamente alteradas e com o atual prisioneiro grego é que um de suas aldeias, fábricas ou portos para
comunista jamais perde a esperança.
pelo cosmopolitismo da música imposto a rádio de Bucareste para figurar nos
pelo imperialismo ianque.) Assim o folclore rumeno, obra de coros de dança popular.
Dirigia-se aos campos e aos portos do criação popular, ia se perder diante do
Mar Negro, escutando as canções tão doces Ouvi, no Instituto, uma cantora de
desinteresse propositado de um governo
e tão nostálgicas dos pescadores e dos ma- voz inesquicível. Não decorrera ainda um
antipopular, pela penetração de elementos
niês que especialistas do Insútuto a haviam
rítimos. À sua atividade de militante re- estrangeiros antinacionais que deformavam descoberto numa fazenda coletiva. Fora
voludonário se iuntava um trabalho de a sua melodia. Os países de democracia chamada a Bucareste e atualmente gravava
estudo do folclore. Foi durante os longos popular, seguindo o exemplo da União So-
dias de sua prisão que projetou toda a viéüca, dão uma importância e prestam para o Instituto: professores educavam a
sua voz; brevemente o seu nome será co-
estrutura deste Instituto do Folclore da Re- uma a;uda imensa ao folclore Os coros nhecido e amado por todo o povo da
pública Popular Rumena. E nisso se en- populares se formam e se desenvolvem, República.
contra a admirável condição humana dos assim como os conjuntos de dança popu-
comunistas: jamais perdem de vista o fu- lar regidos por maestros, músicos e espe- Quero, porém, tratar de um outro
turo, sabem que a noite precede a aurora, cialistas em folclore, incumbidos de reco- aspecto da obra do Instituto de Folclore:
e podem, nas condições as mais difíceis, lher e difundir as canções e as danças po- da maneira como acompanha, pela gra-
olhá-lo cie frente. Podem sonhar porque o pulares, de manter viva a tradição dos vação sistematizada, a evolução da música
seu sonho está profundamente enraizado costumes típicos, de fazer reviver às vezes popular. Durante o regime semifeudal dos
na realidade. Eis aqui um exemplo: um instrumentos de música do povo, já aban- latifúndios, nos dias da dominação im-
jovem comunista grego, condenado à donados diante da avalanche dos "fazzes". perialista sobre um país semicolonial, os

7\
roada de sucesso." "O Grande Clarão" O Filme artístico documentário fêz "Lendas
da Terra Siberiana", de I. Py-
de M. Tchiaureli "Lenin em Outubro", grandes progressos ao correr-da guerra. riev; "A
questão Russa" de M. Romm
"A
e "Lénin em 1918" de Mikhail Romm, Operando, em tôdas as frentes, muitas Guarda" de Si Guerassimov;
"O Homem com fuzil", de S. Iutké- "A Jovem
vezes com as' unidades de vanguarda do História de um Homem verdade to"
vitcji, enfim "O Juramento" de M. exército soviético, outras tantas em li- de A. Stolberg; "O Tribunal da Honra"
Tchiaureli e alguns outros filmes fizeram gação com as unidades de guerrilhas, os' de A. Room e numerosos outros fil-
magnificamente viver na tela as grandes cineastas — cronistas, recolheram uma mes qúe enriquecem progressivamente o
figuras, e também a obra de Lénin e rica colheita de imagens autênticas e po- cinema soviético.
Stalin. * derosas. A partir desses materiais os Hoje em dia o cinema soviético dis-
flmes artistivos, foram rodados conser- põe de uma possante base técnica. Ao
Esses filmes provocam unia observa-
vando escrupulosamente a exatidão do- longo destes últimos anos d;o após guer-
ção importante. Elaborando uma nova cumentária dos acontecimentos e dos fa- ra, a rede de salas de projeção se esten-
maneira de abordar a representação das
tos que eles descrevem. deu como em nenhum outro país do
'
•¦¦; personagens diante dos acontecimentos É esta preocupação de exatidão da mundo. No momento atual, tanto nas
históricos, os cineastas soviéticos decla-
.

raram uma guerra implacável às ten- parte dos cineastas, e a exigência da ver- distrtos, nas aldeias e kolkozes, as insta-
¦:
-

dade formulados pelos espectadores que lações fixas e ambulantes permitem à


í x tativas de limitar todo filme histórico
interditam daqui para diante o cinema enorme população da URSS seguir pela
XX. a uma descrição do destino pessoal de
uni indivíduo isolado. soviético de se colocar aquém de seu imagem a-vida do povo soviético, seu
Orientaram-se Em particular, nenhuma fal-
antes de tudo no sentido da atividade objetivo. passado seu presente e suas ..perspectivas
soc.ial da personagem histórica, no sen-
sificação. henhuma onrssão. nenhuma ne- para o futuro.
tido da descoberta de suas ligações com gligência serão toleradas. Em setembro Porque os cineastas soviéticos, que se
de 1946 o comitê central do part:do Co- inspiram no grande partido de Lénin e
as massas populares. "Alexandre Névs-
munista (bolchevique) da URSS. fa- de Stalin têm consciência de seus deve-
ki", de S. Eisentein, "Pedro o Grande",
zendo-se intérprete da grande massa do res para com o povo.
de V. Pétrov e os meus filmes "Minime Desejam repetir em suas obras *a luta
e Pojarski" e "Suvorov" que foram ro-- público, publicou uma resolução espe-
ciai sobre certo número de filmes que heró;ca do povo soviético por uma vida
dados poucos antes da guerra, ilustram
apresentavam falhas mais ou menos gra- melhor, pelo comunismo.
esta tentativa dos cineastas soviéticos. "A "Contemporaneidade" tal
ves. Esta crítica severa e justificada é o termo
Wx Suas atividades, todavia não se limi- abrange os filmes "A Grande Vida" do que pode definir a arte cinematográfica
"Ivã,
taram a filmes destinados ao público diretor Lukov, a segunda parte de soviética comp atividade orientada para
"As Pes-
adulto. Outros, gêneros apareceram enri- o Terrível", de S. Eisentein, o objetivo preciso e não como o divagar
qU/ecendo a arte cinematográfica sovié- soas Simples" de G. Kusintev e L. Trâu- errante sem finalidade da fantasia do
tica. Além dos desenhos animados, e berg, da mesma maneira que o meu filme artista através de um mundo imagin*
"Almirante Nakhimov". rio e falsificado. O passado de um
filmes de bonecos animados.. mais espe-
':"TB&9o_'
cialmente destinados ao público infantil, Ao tratar com intransigência os defei- povo não é feito de recordações fúnebres.
um novo gênero conquista cada vez mais tos de toda a obra artística em geral e o futuro de um povo não é feito de
o agradp de todos os públicos: o filme da obra cinematográfica em particular, sonhos vagos; o passado e o futuro do
artístico documentário, ao qual o cine- a política conseqüente do partido produ- povo soviético estão estritamente ligados
W ma colorido e o cinema em relevo for- z"u resultados. Fortalecidos com essac na sua realidade viva' do presente, às
necem diariamente novos aperfeiçoa- críticas os cineastas daí em diante reali- profundas raízes do comunismo que sus-
mentos. zaram puras obras primas. Tais são: tenta na altura seus troncos sadios.

34 Fundamentos
¦:x:
wer
V\;>V*W

, r
'
f

cantos de trabalho e suas danças eram çados pelo conjunto do exército húngaro O Instituto cle Folclore reuniu em todo
melancólicas e por vezes mesmo deses- representava admiràvelmente a luta do o território da Rumania libertada os mú- ft
"'*'¦*,' '

perados: refletiam a vida dos servos da camponês pobrfc, apoiado pela classe sicos ciganos, arrancou-os de sua vida hu-
terra, o trabalho sem recompensa e sem operária, contra o kulak. O êxito alcan- milhanfe e compôs com eles a mais extra-
alegria; os cantos das cidades e dos por- çado por êste ballet popular demonstra «ordinária orquestra que os ouvidos huma-
tos estavam impregnados do mesmo dra- o sucesso do aproveitamento político da nos possam escutar. Eram mais de cin-
ma. Alguns refletiam também, 'a luta, arte nascida no seio do povo. Nas qüenta músicos, de faces bronzeadas, tra-
sobretudo os que eram compostos nas suas danças e nas suas canções, os can- zendo ainda nas expressões de seus olha-
fábricas, por entre as greves. Hoje, sob tores do povo não contam apenas a sua res a lembrança das paisagens vistas do
".-'¦''« '}>\'

V
tf» ¦'

o novo regime, as canções, os cantos de vida: ajudam também as grandes massas alto de suas carroças ambulantes, com os
trabalho, as romancas têm outra signi- a compreender os problemas e a seus diversos instrumentos, alguns dos
pro-
ficaçao: a alegria da terra conquistada, curar para eles as melhores soluções. Ao
mesmo tempo, o imenso material reco- quais eu até então desconhecia. Que mara-
do trabalho livre, do governo do povo, vilha de ritmo, que calor de execução, que
do socialismo em construção. Os campo- lhido é colocado à disposição dos com- riqueza de melodia: uma orquestra aluei-
neses celebram agora os novos tempos positores e dos profissionais do teatro, nante! Eu ouvia os solos; um maestro cé-
em que a terra lhes pertence, em que o aos quais facilita a composição de obras
lebre dirigia a orquestra.
governo envia tratores para facilitar o que têm um conteúdo socialista e uma Eram vagabundos que percorriam as
seu trabalho. Os operários cantam a vi- forma nacional.
estradas mendigando a esmola dos senhores
tória dos trabalhadores, a edificação do Outra característica do Instituto de feudais, de latifúndio e latifúndios. Na
novo regime; saúdam os dirigentes da Folclore da República Rumena que , e sua maior parte analfabetos, mas a mú-
República e os dirigentes soviéticos, mes- preciso não equecer é o seu caráter mui- sica nascera com eles e tal era o £eu des-
tres amados; saúdam o camarada Stalin: tinacional. Na República Popular Rume- tino. Hoje têm casa, alimentação e perce-
Tboara pasare infoqhor na vivem, além dos rumenos, homens de bem honorários, possuem, uma escola onde
Peste Volga, peste Dw diferentes nacionalidades: húngaros e gre- recebem conhecimentos gerais, onde se en-
Si te-aseza en zbor lm gos, turcos e búlgaros, albaneses e ci- sina a ler aos analfabetos e onde se eleva
Fe foreastra lui Stalin. ganos. Dezessete idiomas são falados na o nível de cultura de todos; hoje aparecem
República, e o Instituto" de Folclore, re^ nos grandes teatros, nas fábricas, nos es- -,-</..
Eis as palavras de um canto de cam- fletindo a sábia atividade do governo, ba- tabelecimentos coletivos; hoje, levam a sua
ponêses; todo o amargor ou tristeza desa- seada na política staliniana das naciona- música às grandes massas do povo. Entre
pareceram. Os camponeses livres falam lidades, se preocupa não somente com eles se encontram compositores cujas me-
da boa colheita, do tratores; aclamam a a obra criadora de origem rumena, mas lodias se perdiam ontem pelas estradas e
"E viva a nossa terra, também oom a de todas as nacionalidades
República Popular: hoje são populares em todo o país.
a República Popular!" que habitam o seu território.
É assim que, após haver visitado o Quando a orquestra lançava os seus
Vem munci grandini, ogoare ritm.os impossíveis, o diretor do Instituto
Instituto, o seu diretor me diz ter ainda
Cu masini si eu tractoare. assumia uma expressão austera; ficava.dis-
alguma cousa a me mostrar. Dirigimo-nos
Si-o syaoem recolia buna, traído e o seu pensamento distante: nos
Toata lumea sa ne spuna; a um imóvel vizinho, também dq pro-
dias de opressão, quando a noite do fas-
Sa traiasca a nosastra tara priedade do Instituto. De lá ouvíamos a cismo se espalhava pelo mundo, êle sò-
músiVa executada pela orquestrada mais
Republica populara. 'j nhava com tudo isso, entre as grades de
fantástica que iá ouvi.
Todos sabem que os ciganos peram- sua prisão, sonhava com as melodias po-
Hoje, os cantos constituem alegres bulam pelo mundo, como vagabundos .fa- pulares, com os ciganos, com a música e
afirmações da vida e confiança no fu- mintos e ladrões. A sua vocação é a mú- com a poesia. Houve talvez quem o jul-
turo. Também as danças. Assisti na Hun- gasse então louco, sonhador impenitente,
sica; as suas melodias são as mais ro-
gria a um espectaculo do corpo jie ballets mânticas, os seus violinos são os melhores, mas sabia que o seu sonho se baseava na
populares do exército húngaro. Os temas instrumentos admiráveis que reproduzem
realidade da classe operária em marcha
populares dos cantos e das danças foram o canto dos pássaros. Os ricos senhores para o poder através das lutas e do sofri-
sempre realistas: o realismo é a marca mento. Os violinos da orquestra inicia-
feudais atiravam moedas a esses músicos
primordial da obra de criação popular. vagabundos quando, nas estalagens das es- rama música e a voz de uma camponesa
E com o mesmo realismo que se manifes- se elevou, cantando a época da felicidade
tava ontem para descrever nas suas danças tradas, vinham alegrar os seus festins ou
as suas bacanais desenfreadas. Eram então conquistada.
os sofrimentos de uma vida amarga que
os camponeses celebram hoje as suas vi- mendigos que viviam das sobras das boas Lá fora brilhava o céu azul de Bu-
tórias e as suas lutas. Um. dos ballets dan- mesas, muito mais que músicos. careste.

MUSICAA publicação pela revista "Problemas" do discurso pro-


to de relevayite importância no cenário musical contempo-
rãneo. Vejamos, em seus diferentes aspectos:
1.° — O discurso é a condensação de uma série de discus-
soes levadas a efeito emi todo o território da União Soviética,
das quais participaram compositores, críticos, intérpretes,
nunciado por André Jdanov durante a dicussão da música professores, estudantes e o público em geral. As criticas
nele contidas são, portanto, as que foram levantadas por
soviética veio, por si só, concorrer para o esclarecimento todos os que militam diretamente na vida-wiusical do País,
de uma série de pontos ligados à questão, que havia sido com. debatidas num sentido amplamente democrático e no inte-
pletamente deformados e mistificados pela imprensa ao che- rêsse da coletividade.
gorem, até nós os (primeiros telegramas a respeito. Alguns
espíritos pouco avisados e outros apegados a preconceitos^ e 2.° — Desta primeira conclusão chegamos logicamente
velhos chavões pseudo-estéticos puseram-se logo a fazer coro a outra: o povo soviético e seus dirigentes dedicanh ao mo-
com tais "informações", certos de estarem, assim, defen- vimento musical um carinho e um entusiasmo que não se
Ü
dendo os sagrados direitos e a liberdade de criação do ar- pode deixar de assinalar e admirar. MMÊfèfmm
tista. "Pois então — diziam — deve o compositor curvar- S.c — André Jdanov não era somente um homem de ¦«Êm
se ante as imposições de um governo cujos membros mal ação, o herói que organizou a defesa de Stalingrado, mas vÊÊM
devem conhecer o abe da música, e somente compor o qtie também, um grande exemplo de intelectual de novo tipo e
êsse gi^upo de homens lhe ditar? Como se fosse possível, profundo conhecedor de música. Aliás, parece que sua in-
agora, "dirigir" a inspiração musical!" E outros comen- tervenção na música soviética contém tôda uma série de consi-
tarios do mesmo calibre. derações técnicas, com exemplos musicais, etc, que aind.a
não conhecemos.
Ora, a simples leitura do discurso de Jdanon vem revê-
lar-nos, de maneira tremendamente clara e precisa, que nada U.° — O tom geral do discurso não é o de crítica in-
disso se verifica e ao contrário, êle constitui um documen- transigente ou pretensiosa e sim compreensiva e fraternal,
¦
v-^ííi-Wj

Maio-Junho 1950 35

' *

¦
¦

terminando mesmo com um apelo confiante aos principais se poderão servir outras músicas para a luta contra o for-
compositores colocados em foco durante as discussões e em malismo, se vô, no momento, gravemente ameaçada de soco-
prol do engrandecimento da música russa e de seu tmxior brar no cosmopolMsmo desfibrador, se não forem desenvol-
contacto com o povo. vidos entre nós os estudos iniciados com tanto carinho por
5.0 — Os próprios compositores Chostakovitch, Prokofiev, um Luciano Gallet, por um Mário de Andrade. E não só
Miakovski, Katchaturian, Popov, Kabalevski e Chebalin de- desenvolvidos, mas, difundidos e assimilados, pois, embora se-
Luís
ram sua contribuição aos debates. Posteriormente, Proko- jam conhecidos os esforços atuais de Oneida Alvarenga,de Eu-
•• enn Heitor Correia de Azevedo, Rossini Tavares de Lima,
fiev escreveu um artigo em que esclareceu sua atitude nice Catunda, nesse sentido, é bem verdade que, em face da
face da questão e expõe "Para seus planos. Esse artigo foi publi-
Todos" e deve ser lido. situação penosa em que são obrigados a trabalhar, sem apa-
cado, aqui, pela revista relhamento necessário, com as dificuldades que enfrentam
6° Os principais problemas subetidos à critica do país, suas
durante o desenrolar das longas discussões foram: o aban- para se deslocarem para os diferentes pontos concatenar-se,
atividades se vêem limitadas e não chegam a
dono quase total da critica e autocHtica por parte dos prin- a sistematizar-se. Por outro lado, os coãpositores e profes-
cipais responsáveis pela vida musical soviética (composito- sores mal podem participar desses esforços, cumulados que
res e criticos); o menosprezo e o afastamento das tradições estão de encargos para o ganha-pão cotidiano. E as fontes
da música clássica e das fontes populares de inspiração; o de nossa música popular vão pouco a pouco se extinguindo
cultivo do novo pelo novo, da inovação gratuita que se si- ou se contaminando. E o povo que não vai sequer aos con-
tua fora da realidade do mundo socialista; o apego ao natu- certos, não ouve os nossos compositores, nem sequer lhe co-
ralismo cru que conduz a manifestações patológicas e irra- nhece os nomes, vai se intoxicando com a música de rádio
'""'.¦"*

*.

cionais na música. ou de cinema, perniciosa ou de baixo valor na sua quase


Vemos assim que, contrariamente ao sufocamento que totalidade.
tais "expurgos" significariam, existe no mundo musical so-
viético uma vitalidade e uma efervescência que não é mais Contra essa situação achamos legítimo dirigir um brado
,•*.*,
possivel ignorar. Enquanto que a música marasmo ocidental burguesa de alerta à consciência patriótica dos membros da coletividade
vem, há muito tempo se afundando num verdadei- musical brasileira. Lutemos pela preservação da grande obra
ramente assustador. Tomemos como testemunhos dessa si- musical que nosso povo criou, com sua espontaneidade e seu
atuação um de seus compositores mais "Almanach eminentes e um crí- entusiasmo. Saibamos defender essa fonte fabulosa" de inspi-
tico de renome. Na apresentação"Edition do de la Mu- ração para que nossos compositores possam, em criações eru-
1 sique de 1950", publicado pela de Flore", Arthur ditas enriquecidas da seiva popular, retribuir a esse mesmo
Honegger diz a propósito do movimento musical francês)
"Mas, o de povo a dádiva da indispensável matéria prima que lhes ofe-
que é verdadeiramente de ambasbacar é o pouco rece.
JS
música que pode ser ouvida no decorrer dessas manifes-
tações (os concertos). O número delas aumenta de manei-
ra gigantesca, mas, o repertório executado diminui de ano
em ano". E mais adiante: Às vezes, uma nota errada.
Por exemplo, um festival Schoenberg porque Schoenberg vem
de completar setenta e cinco anos, porque a juventude de Wt ÜBSSSlg ^^--T-^-Wi Ws%
1U9 está a descobri-lo e com êle o atonalismo, o dodeca-
à escovinha, a
fonismo que ela associa aos cabelos cortados
camisa de cow-boy americano e à filosofia de J. -P. Startre.
f "A Vidip, mu-
¥¦ Na mesma publicação, em artigrü sôbre
sical na França", o critico René Dumesnil se lamenta amar-
"O mal é tão grave que se pode, sem exügero, jMSraSp*^||^Mi^ -^^m-
gamente: "divórcio"
entre os compositores contemporâneos e
*; "¦ ^•wíSsSísifci*.
JSmWS^y^.<SstW'y.»'<m\^ims%\\w>!Simi^-¦¦¦¦'¦ wW^k- : %7K^irKl6a99BBk7r^^SSb,\lií:
falar de
o público." E, rememorando os famosos choques verifica-
dos no inicio do século por Ocasião da primeira audição de
"A Sagração da Primavera" de Stravinski e J**BM*l5v**ffi'FS&S-jÍ v * ^--x .*a&**3"£-.x
obras como *i3f^S',iÍkJKM*&*3*M BP^'*yrW^mÊ
2s%Wm?^j&Zmm\W&M W&XÊmmr- WkMf^MÊkJtl
^'¦w%SBm Wim£%xS. $*$&,
> ¦'¦ ¦ 'r*^íaki-
"Pelleas et Melisande" de Debussy, Dumesnil constata a ab-
soluta indiferença do público de hoje diante da música atual.
HÉHH
F*^^x<-Zi^.-^rmtwBv.t\m¦BHsn?SBk-..*':":'••'¦;-
jm ¦Ptelpil
-¦¦ • : x»{&«âE&8j.H UsMíi>^-vf>/y^Sfl!t,
*£*B£^-*:'*?«^KtiB*.*S &&.y..yyy.-: :¦¦'-¦•¦¦¦:: ¦#'jSF>%3l!®SSKse^km ¦**flK*^^<*y:-*::¥íS3*a
"A música de hoje se ressente muito menos da hostilidade
da massa do que, em todas as oaasiões, de sua indiferença. |S^ ||p:; *l| I^lIl,*P
A gente não luta contra o vácuo, e é do vácuo que se queixam, i^ÉlÉ^-M **I^1PÍP*W*;*^ •. 'yJWm \t\WÊt$M>x0^^rÊ&
compositores e associações sinfônicas. É esse o grande peri-
go." O conhecido critico passa a analisar em seguida a situa-
a música na '^^^^^ÊM:'(»¦»¦#i|fi
ção de quase penúria material em que se debate M WÊÊÊÈmÈ f^^r^W^.::^
França tanto em Paris quanto nas cidades mais importantes
da província, chegando a lembrar a frase de halo ouvida, que se
perguntava se a música era realmente feita ouvida, para ser
. Sim, a música deve ser feita para ser mas, para
isso é necessário que a criação musical seja constantemente
fertilizada pela critica e autocHtica vazada na realidade so-
ciai. "A discussão construtiva e objetiva, independentemente
da critica, — isto já é axiomático — são os mais importan-a
tes pré-requisitos da produção criadora. Quando faltam se-
critica e a discussão construtivas, as fontes de produção M ^t ^*mW ^^ClSBlEyoW-^l-i^ I

cam e se cria uma atmosfera de decadência e estancamen- •**^'/!«S^***:w** I


to." E' ainda Jdanov que o afirma na primeira parte de VINTÉM POUPADO
VINTÉM GANHO
seu discurso, passando a analisar, em seguida, com impres-
sionante clareza, as duas tendências atuais da música some- •..êste amor de filhinha ficará moça: o poderá tornar-se»
tica. A do realismo socialista, que lança suas raízes na tra- também» independente- se desde já seus pais pensarem
dição clássica e da escola russa, intimamente ligadas ao po- ao seufuturo. Um título da PRUDÊNCIA CAPITALIZAÇÃO
vo, sua música e canções; e a do formalismo que se carac- é a mais fácil das formas de se constituir um pecúlio
teriza pela pesquisa do
"moderno",
pelo repúdio da herança que nos garante os dias de amanhã. Se está em ótimas
"preferindo satis- condições financeiras» apresse-se em oferecer aos seus-
clássica, pelo desprezo da música popular, a consolidação do seu bem-estar adquirindo-lhes um
re-
fazer emoções terrivelmente individualistas de um grupo título da PRUDÊNCIA CAPITALIZAÇÃO.
duzido de estetas seletos."
Essa parte do discurso contém uma série de considerações # COMPANHIA GENUINAMENTE NACIONAL PARA FAVORECER A ECONOMIA •
de grande interesse, em torno da necessidade da revaloriza-
ção e do desenvolvimento da tradição clássica que se banhou PRUQENCIA CAPITMzÀÇÂQ
generosamente nas fonteê musicais populares. De grande fjftè
í'.'.

interesse, no caso, em particular para a música brasileira.


Esta, com efeito, não possuindo essa tradição clássica, de que

36 Fundamentos
V; m

"campos de trabalho forçado", onde,


O IGNOMINIOSO PROCESSO CONTRA PRESTES
segundo tais socialistas, estaria apri-
Estava dormindo nas gavetas do Supremo Tribunal o processo- sionada boa parte da população sovié-
tica! E logo, para "estudar" tal as-
farsa que a reação governamental urdiu há muitos meses contra o sunto, constituiu-se uma comissão de
querido líder do povo brasileiro, o Cavaleiro da Esperança, Luís nove membros, sob a presidência de
Carlos Prestes. Guy Mollet, secretário geral do Partido
De vez em quando a sanha reacionária se aguça a mando dos Socialista Francês.
Mas foi na consideração, nas dis-
senhores da dominação guerreira e imperialista, exigindo novos tribu- cussões e nas resoluções adotadas re-
tos a serem arrancados ao povo, como preço e sinal da submissão de lativamente ao problema crucial da paz
nossa Pátria aos mandões das finanças de Wall Street. Não basta a — que esses falsos representantes dos
usurpação de bases militares e a arrecadação gratuita de minérios e trabalhadores mais claramente revela-
ram a sua vergonhosa capitulação pe-
materiais estratégicos tirados do seio da terra que é nossa. Não
basta a penetração escandalosa das Sears e das Coca-Colas a sugar
rante o imperialismo anglo-norte-ame-
ricano. Morgan Philips (secretário ge- Ü
os lucros que o suor do povo acumula. Não bastam as demonstra- ral das Trade Unions, os sindicatos bri-
tânicos, e do Partido Trabalhista) ataca
ções de subserviências dos sabujos nativos como os Correia e Castro a União Soviética, que, diz êle, "pro-
e Raul Fernandes aos manejos belicosos do Departamento de Estado cura dividir o mundo e para isso se
de Washington, nem a subserviência dos políticos locais aos masca- serve da rivalidade entre os países ca-
dores de chiclete, agentes do FBI, generais da bomba atômica e pitalistas, da luta dos povos coloniais
contra as metrópoles e da luta de cias-
caixeiros-viajantes da Standard Oil, da Light e de outras empresas ses". Nem uma palavra de criticará
exploradoras. exploração deshumana dos povos colo-
O que os agentes de Truman querem sempre é a eliminação de niais e aos preparativos de guerra. O
citado Guy Mollet, ao encerrar a dis-
todos os verdadeiros líderes do povo, que em qualquer situação de cussão, tem a desfaçatez de afirmar que
adversidade estão com o povo, lutando por seus problemas, por sua "as despesas militares não constituem
libertação, pela paz de suas famílias. E quando o líder é da estatura obstáculo ao reerguimento europeu".
de Prestes, lider e esperança de todo o continente americano, os Nem uma palavra contra a "guer-
ra suja" da Indochina, contra a "lei
chacais belicosos se enfurecem exigindo a sua condenação, como pri- celerada" (espécie de lei de segurança
meiro passo para tentarem a execução do plano que sempre acalen- recentemente votada em França, com
taram e que é a eliminação do querido líder popular. apoio desses socialistas!), contra a"
" Como das outras vezes, guerra imperialista e as armas ató-
porém, o clamor do povo em crescente micas!
movimento de opinião barrará o plano sinistro, desmascarando mais Finalmente, era fatal, unia reso-
uma tentativa da reação coonestada pela tibieza e pela conivência lução "denuncia (!) a propaganda de
maliciosa de juizes, mesmo dos mais altos tribunais, que tentam paz" do Bureau de Informações, que
teima em chamar Cominform.
enlear o maior dos brasileiros nos trâmites desmoralizados desse já Temos, pois: que esses malandros
tão desmoralizado processo-farsa. falam a mesma linguagem dos milita-
De todos os recantos do Brasil se erguem as vozes de milhões res milionários e dos milionários míili-
de patriotas condenando os juizes que ousam pretender levar à barra taristas de Washington; Gfue3 em vez
de atacar o inimigo dè classe, atacam a
de julgamento aquele que só tem libelos acusatórios contra muitos pátria do socialismo; que, em vez de
dos usurpadores do poder. O povo vencerá mais uma vez para que apoiar a luta pela paz, apoiam os pre-
se rasguem para sempre os autos da ignomínia, porque Prestes não parativos de guerra; e que, emudecem ífé
será condenado, segundo o veredito do povo. perante os abusos e crimes dos govêr-
nos reacionários de seus países e aplau-
dem a política imperialista.
A QUINTA COLUNA promove cisões e o divisionismo, no seio Não há pois injúria em chamar a
do movimento operário; auxílio desça- tais homens, a tais socialistas — trai-
SOCIALISTA rado à reação nacional nos diferentes
dores da classe operária e lacaios do
países e apoio à política de guerra, e imperialismo.
Quando os verdadeiros socialistas, anti-soviética do imperialismo anglo-
comunistas e socialistas de esquerda, norte-americano, em escala mundial.
unidos na fase atual de luta decisiva Ainda recentemente na reunião da
l.° DE MAIO
V

contra o imperialismo, — censuram Comisco (nova Internacional montada


acremente á conduta dos 'socialistas da pelos imperialistas, espécie de conspi- Em 1901 a cidade de São José do
direita, conduta hesitante, covarde e ração universal contra o verdadeiro mo- Rio Par<io comemorava condignamente
de verdadeira traição às classes traba- vimento socialista, proletário), mais o dia 1.° de Maio. A banda de música
lhadoras e ao proletariado — muitos so- "Riopardense" fez a alvorada,
uma vez revelaram as suas habituais percor-
rialistas e liberais sinceros estranham características da pobreza ideológica, rendo as ruas da cidade. Às seis horas
fm
tal atitude, que dificilmente justificam. covardia e subserviência ao imperia- da tarde realizou-se uma concentração
Entretanto, os socialistas da direita lismo. em frente à sede do "Club Internacio-
que ainda, possuem em certos países, Nesse conclave, começaram por ad- nal Filhos do Trabalho" seguida de
como a França e a Itália, uns restos mitir os dois grupos dissidentes do so- uma marcha "aux flambeaux" e sessão
de influência sôbre os trabalhadores, cialismo italiano: 0 grupo denominado solene no salão do Clube no qual foi
devido a fatores históricos, e a esse re- Partido Socialista Unitário, chefiado por inaugurado um retrato do " insigne mes-
lativo prestígio que dá o poder nos pai- Silone e Romita, e a sinistra gente/de tre socialista Karl Marx. O Jornal local
ses capitalistas; os próprios socialistas Saragat, que integrou o governo cleri- publicou o seguinte manifesto, redigido
da direita cada vez mais se desmasca- cal-fascista de De Gasperi e continua por"AEuclides da Cunha:
ram aos olhos das classes trabalhadoras, a apoiá-lo na infame perseguição que data de 1.° de Maio foi adotada
por seus próprios atos no desempenho do move aos operários e camponeses ita- ;pa:ra comemoração do trabalho pelo
seu duplo e sórdido papel: ação^ de Iianos. Nomearam depois uma comissão Congresso Internacional Socialista de
de nove membros, para estudar esses Paris, no ano de 1889 e confirmada
quinta coluna que semeia a confusão e
Maio-Junho 1950 37

/
*¦¦-."

pelos congressos de Bruxelas e Zurich, morar o dia do trabalho, que marca a


«•*

pelos trabalhadores que acorreram, de


¦¦:¦'¦ *
¦

-¦¦¦'...

:"Z?.

K em 1891 e 1893. todos os recantos dos Estados Unidos, luta do proletariado para a sua liber-
Festa exclusivamente popular, ela se para assistirem aos funerais. As exé- tação. Esse é o sentido que tem a data
destina a preparar o advento da mais quias se passaram no mais impressio- de primeiro de maio para todos os tra-
nobre e fecunda das aspirações huma- nante silêncio, enquanto a cidade re- balhadores conscientes dos seus direitos
nas: a reabilitação do proletário pela gistrava apavorada a cólera muda dos que os demagogos e reformistas de
exata distribuição de justiça, cuja fór- trabalhadores em revolta. todos os matizes não podem adulterar,
m-
Z-'
Foram esses os fatos que o Congres-
mula suprema consiste em dar a cada pretendendo fazer do dia 1.° de maio
um o que cada um merece. Daí a abo- so Internacional Socialista de Paris um dia de ludibrio do proletariado,
lição dos privilégios derivados quer da escolheu, no ano de 1889 para come- para servir com isto à reação.
fortuna quer do força.
Para êste fim é mister promover a
solidariedade entre todos os que for-
mam a imensa maioria dos oprimidos,
0 Eslado Policial nos Estado Unidos
sôbre que pesam as grandes injustiças A revista conservadora Harper's Ma-
das instituições e preconceitos sociais de Miss Marion L. Starkey: "O diabo em
gazine denuncia a maneira pela qual pro- Massachussets" e a novela "Cousa Segura"
da atualidade, destinados a desaparecer cede a Gestapo ianque, o FBI (Federal
para que reine a paz e a felicidade de Merle Miller. O ensaio consiste na nar-
Bureau of Investígation) cujos agentes rativa de fatos históricos espantosos —
entre os povos civilizados.
depois de apresentarem as credenciais de uma dessas loucuras coletivas
Promovendo entre nós a comemora- fiscais do imposto sôbre a renda numa produzidas
"Clube pelo fanatismo religioso, fomentadas pela
ção de uma data tão notável o casa residencial qualquer, iniciam um in-
Internacional Filhos do Trabalho" pro- autoridade espiritual, apoiadas ou toleradas
terrogatório sôbre a vida dos vizinhos, in-
cura a vulgarização dos princípios es- terrogatório que tudo abrange, desde os pela autoridade temporal, freqüentes na
4v-
senciais do programa socialista, em- Idade-Media européia è
meios de vida e educação dos filhos até que em 1692
•'.' ;
penhando-se em difundi-los entre todas ainda chegaram, a dominar a
a marca das bebidas que consomem, os população in-
y.z- as classes sociais." teira da aldeia de Salem, perto de Boston
clubes que freqüentam, os livros que lêem, resultando no enforcamento, depois de
r'". O manifesto de Euclides da Cunha
"pro- as suas relações pessoais, especialmente
preconizava já a necessidade de torturas de 20 homens e mulheres.
p-í mover a solidariedade entre todos os aquelas que possam envolver qualquer fato A novela, "uma novela de mdígná-
que formam a imensa maioria dos opri- de natureza, escandalosa, presentes manda-
çao", como escreve o crítico, relata a tra-
midos" como meio de remover as in- dos ou recebidos, a pessoa que os enviou
gica história de um homem decente, ca-
justiças sociais que, ainda hoje pesam etc. etc. A porta está aberta para os piores
çado e destruído por canalhas e loucos,
sôbre grande parte da humanidade. mexericos e calúnias trazidos a público vítimas menos da perversidade
Êste é o verdadeiro sentido jdo dia pelo Comitê de Atividades Anti-Ameri- que do
delírio que avassalou a Capital — e não
1.° de Maio que os governos fascistas canas ou as inúmeras Comissões de leal- somente a Capital." O autor do livro, es-
e fascistizantes de nossa época pro- dade que pululam no país. Diz o arti- creve Newman "conseguiu apreender ad-
curam falsear para transformá-lo num cu lista que é teiramente novo o senti- irnr-Welmenre o isolamento e a tristeza
dia de demagogia e glorificação dos mento de que é natural e justificado o
senhores da reação que não visam ne- de Washington, sua inquieta consciência,
interrogatório de particulares sobre a vida
nhuma melhoria real na vida dos tra- sua estranha vacuidade e confusão: sobre-
- balhadores. de outros cidadãos. Isto começou duran-
tudo o fedor de medo ane empesta as re-'
te a guerra e apenas dez anos atrás
partições oficiais, òs ônibus, os restauran-
O dia 1.° de maio, escolhido para co- seria considerado uma violação de domi-
tes, os lares — qualquer lugar onde fun-
memoração do trabalho, visa perpetuar cílio, uma chantagem, e acrescenta: —
na lembrança dos trabalhadores os trá- "Uma só década auase nos cionários públicos sc encontrem e conver-
transformou
sem — com a. possibilidade de lhes sur-
gicos acontecimentos de Chicago em numa nação de delatores."
1886, quando se verificaram naquela preenderem a conversa."
cidade grandes greves para a obtenção Fica-se chocado, espantado, mas nada Como feras acuadas, comunistas, so-
da jornada de 8- horas. Poucos dias se faz". E analisando o resultado dessa cialistas, trabalhistas, liberais e progres-
depois, num comício realizado com o baixa e vil situação a que se procura re- s^tas, homens livres e sem partido, têm
mesmío fim, provocadores atiraram uma cluzir um povo inteiro, exclama: "Isto sido imolados ao Moloc de Wall Street,
bomba na massa popular, fazendo foi longe demais Estamos nos dividindo sem recurso a forca, às pedras aue sufocam
igualmente disparos, o que serviu de em caçadores e caçados. Somos delato- ou à progressista cadeira elétrica. São de-
pretexto para o governo determinar a res à polícia secreta. Homens honestos nunciados, sem d^f^cn possível perante
prisão de seis líderes trabalhistas que estão espionando os vizinhos, em nome fuízes e tribunais facciosos, e perseguidos
depois de um processo, que não passou do patriotismo. Podemos estar certos de pelas infâmias dos grandes jornais reacio-
de uma farsa judiciária, foram conde- nue, para cada homem honesto, há dois nários e pela maledieênoia pública, são
nados á morte e enforcados. desonestos que espionam para obter pro- demitidos dos seus carcros e empregos fi-
Após essa ignominiosa execução, os moções pessoais, hoje, e oue estarão
corpos dos trabalhadores sacrificados cando sem trabalho, sem meios de ganhar
espionando mediante paga, dentro de um a subsistência e sem amigos. Os mais ener-
foram entregues às famílias e os seus ano."
funerais constituíram uma impressio- gicos sè lançam à luta. Outros hão de
nante demonstração de revolta dos tra- Em igual sentido, o crítico literário pensar — e alguns iá o fizeram, como
"New Repu- lembra Newman — "que estariam melhor
balhadores norte-americanos. A cidade James R. Newman na revista
de Chicago ficou virtualmente inundada blic" estabelece o paralelo entre um ensaio num sudário."

II CONVENÇÃO FEMININA ESTADUAL, Compromisso de contribuir com ajuda eficaz, material,


e moral, às partidárias da Paz que, no Brasil ou em qual-
Realizou-se nesta Capital, em maio último, a II Con- quer outro País do mundo, venham a sofrer perseguições
vençãó Feminina Estadual, promovida pela Federação de por parte de seus governos.
Mulheres do Estado de São Paulo e de que participaram nu- Considerar que um dos principjais trabalhos femininos
merosas delegações representativas de muitos municípios seja a luta por um salário mínimo que corresponda ao preço
pfaulistas e de diversas entidades locais. das utilidades, promovendo-se um amplo movimento de es-
Durante os quatro dias de reuniões, as mulheres, da clarecinttento junto às donas de casa a fim de uni-las em
Federação puderam debater os seus problemas que^ sao tam- - torno do barateamento da vida.
bém problemas do piovo, relacionados com a fraternidade Intensificação do movimento de união, de esclarecimento
universal, a carestia de vida, a assistência à infância e e de luta em prol das melhorias das condições de trabalho
imprensa feminina. da mulher, pelo barateamento da vida e outras medidas.
Dentre as resoluções mais importantes tomadas pela Exigir o cumprimento por parte das autoridades dos
II Convenção, podemos destacar as seguintes: Direitos da Criança, e promover uma campanha para a
Moção de apoio à Resolução do Comitê Mundial dos proibição definitiva de publicação de uma literatura infan-
Partidários da Paz, reunidos em Estocolmo, em que se con- til perniciosa, como de revistas do tipo "Gibis", "X-9" e
dena a bomba atômica, considerando criminoso de guerra o outras do mesmo gênero.
governo que primeiro utilizar contra qualquer outro país a Tornar a Jornada Internacional da Infância uma bandeira
arma atômica. de união de todas as mulheres, principalmente das mães.
38 Fundamentos

rn l
X /vv«v' jc*"
"^"^\"í^,OÇ*^';i\iv
vwjf 7,7... .*, ¦• p*,.! *¦¦¦'}'..

¦¦ <z

Resenha P do M
O GOVERNO DE WASHINGTON e os governo parisiense demitindo Juliot sua reconstrução pacífica, baseada na
f
seus caudatários prosseguem na Curie produziu a maior repulsa em to- União de todo seu povo, o que se pôde
realização dos planos e preparativos dos os meios culturais e científicos e ver pelas festas realizadas em Berlim,
guerreiros, que visam lançar o mundo toda a consciência pacifista mundial a que estiveram presentes mais de 700
em nova conflagração, para satisfazer os lançou seu protesto contra êsse inomi- mil jovens alemães. Não obstante as
desígnios de dominação imperialista. nável atentado à inteligência. provocações de toda ordem promovidas '¦*•
TM -
Neste último mês, diversos exemplos DO PLANO DE GUERRA IMPERIA- pelos propagandistas de guerra, agentes
vieram confirmar esses propósitos. Foi LISTA constam medidas e serviçais do imperialismo anglo-ame-
o incidente da invasão do território so- que
atingem todos os setores. E' o recru- ricano, as festas berlinenses decorreram
viético pelo avião de guerra da marinha descimento da espionagem nas Demo- na mais completa ordem e alegria, dan-
americana que levou a efeito a mais cracias Populares, de que resultam no- do um exemplo de quanto podem as
ousada provocação destes anos de após- vos processos perantes os tribunais do forças da paz diante dos propagadores
guerra. Poi a Conferência dos Chance- povo para punir os agentes anglo-ame- de um novo conflito mundial. A Ale-
leres de Londres, que teve como finali- ricanos. E' a ordem de fechamento de manha Oriental vai cumprindo seu pro-
dade aprofundar os planos de guerra consulados e redução do número de di- grama de reconstrução, no que tem
do carnpo imperialista, ao mesmo tempo obtido a ajuda da União Soviética, que
plomatas nos Estados Unidos. E' a
que promoveu a- criação de uma nova preparação de um bloco no Oriente Mé- ainda agora resolveu reduzir a apenas
entidade reacionária, que visa o enfra- dio a serviço dos americanos, o que foi 50 por cento o montante das reparações
quecimento da ONU, permitindo aos inaugurado com a decisão de forneci- de guerra a serem pagas pelos germâni-
imperialistas pôr em prática a velha mento de armas a árabes e israelitas. cos ao povo socialista.
proposta de Hoover de se reformar a E' a retomada das bases militares e A CAMPANHA CONTRA A BOMBA
Organização das Nações Unidas sem a aero-navais brasileiras por tropas ian- ATÔMICA, como tivemos oportu-
participação da União Soviética e das ques, a preparação de duas divisões na- nidade de noticiar em outras páginas
Democracias Populares. A palavra do cionais para guerra na África. São as de nossa revista, já atingiu o âmago do
próprio chanceler Acheson veio confir- medidas medievais de opressão do vice-
mar essa deliberação da conferência, povo em todos os recantos da terra,
rei Mac Arthur no Japão, visando re- resultando disto que muitos milhões de
quando disse que «estamos empenhados primir o movimento sempre crescente cidadãos já subscreveram o memorável
na elaboração de uma organização do povo oriental contra a ocupação e o apelo de Estoco .mo, para a' eliminação
mundial não comunista.» Para melhor confisco da indústria local pelos trustes das armas de reação nuclear do rol dos
atingir êsse objetivo, o Departamento americanos, contra os desígnios de uti- instrumentos de guerra e para a ca-
de Estado fêz aprovar a inclusão do lização do país como base de nova raterização da figura de criminoso de
governo de Bonn em seus planos .de guerra de agressão e o lançamento de
mobilização bélica e o governo francês guerra ern que incorrerá aquele go-
exércitos japoneses como mercenários vêrno que primeiro fizer uso da bomba
lançou o «Plano Schuman» de concen- no conflito que Washington pretende atômica, não importa contra qual país.
tração da indústria siderúrgica da Ale- deflagar.
manha, Sarre, França e outros países, NA AMÉRICA LATINA, ressalta-se a
visando com isto seu enquadramento na AS DERROTAS DA REAÇÃO entretan- definitiva submissão do governo
to vão-se acentuando cada dia, em de Peron na Argentina à política do
• *¦ produção de guerra. De tudo isto resul-
tou também a criação do «Alto Conse- todos os setores, a exemplo do que Departamento de Estado, o que foi fi-
lho Permanente do Pacto do Atlântico» acaba de verificar-se na Coréia do Sul, nalmente negociado na base de um em-
onde o governo títere dos americanos préstimo em dólares, que deu como
que é agora o órgão supervisor a exe- foi fragorosamente derrotado nas elei-
cutor do programa de agressão que os uma das condições impostas pelos im-
generais de Truman preparam. ções, mesmo depois de tomar a provi- perialistas o maior arrôxo nas persegui-
dencia de prender 800 mil homens e ções contra o povo e o alinhamento do
O USO DA BOMBA ATÔMICA faz parte mulheres, mais de dez por cento da
do esquema de guerra dos impe- governo da Casa Rosada no bloco anti-
rialistas americanos, o que é confirma- população, a fim de impedir que êsse comunista que se lançou na preparação
do pelas palavras do chefe do governo grande contingente participasse do piei- de nova guerra de agressão. Na Bolívia,
to. Mesmo assim todo o governo foi por sua vez, nem mesmo o completo
de Washington, que, em seus discursos repudiado pelos eleitores não «expurga-
eleitorais há pouco pronunciados na desmascaramento do «plano Cohen» lo-
dos», dando o sinal de quanto é odiada cal, verificado há pouco mais de um
cidade de Pocatello, reafirmou sua de- a dominação dos senhores do dólar. Na
cisão de vir a usar novamente a bomba mês, impediu que o seu reacionário
capital japonesa, quase vinte mil pes- governo se voltasse contra o povo e os
atômica contra cidades de outros países. soas se suicidaram em 12 meses, devido trabalhadores com nova e bestial re-
O ex-embaixador Berle, de quem o povo às condições insuportáveis de vida im-
brasileiro tem a mais desagradável lem- pressão, a título de fazer abortar uma
postas pela ocupação do arrogante vice- «revolução comunista» inexistente, pelo
branca, por suas intromissões descara*?. rei ianque. ái-mplés fato de haverem alguns traba-
das na política interna nacional, entrou
NO CAMPO DA PAZ E DA DEMO- lhadores promovido uma greve de me-
também no* coro dos propagandistas de
CRACIA, ressalta-se o grande em- lhora de condições de vida.
guerra, afirmando que os «Estados Uni-
dos estarão em guerra com a União penho da construção pacífica para o NA NOSSA POLÍTICA INTERNA, se
Soviética dentro de dois anos.» Essa bem-estar dos povos, de preservação da verifica apenas a submissão cada
afirmação é a repetição dos slogans paz e da concórdia entre as nações. vez mais flagrante do país aos interes-
Ern sua recente visita a Moscou, o Sr. ses e direção dos norte-americanos que
guerreiros que vêm sendo veiculados
diariamente por Bradley, Johnson e Trigve Lie, secretário geral da ONU, aqui se encontram como em seu próprio
outros. teve oportunidade de constatar o ar- quintal, reorganizando bases militares,
dente e sincero desejo de paz de todos explorando nossas reservas estratégicas
JULIOT CURIE, sábio que é orgulho da
ciência e da cultura francesa con- os dirigentes soviéticos, notando o bem- e assenhoreando-se de todas as nossas
temporânea, tornou-se um dos principais estar, a alegria e a confiança do povo fontes de produção. Enquanto isto os
m&

alvos da perseguição reacionária e guer- em seus líderes, sem nenhum sinal desse partidos reacionários se empolgam com *!«-

reira, com a sua destituçao pelo governo histerismo belicoso com que a propa- uma campanha de sucessão que visa
de Paris, de seu cargo de principal diri- ganda imperialista procura envenenar a apenas o golpe contra o povo, porque
humanidade. Na Rússia, pôde o secre- ela, mesmo que atinja a solução eleito-
gente do organismo de energia atômica
da França, simplesmente porque a sua tário da ONU sentir a alegria do povo ral de outubro, será na base de concha-
orientação pacifista o levava a empreen- na execução da sua gloriosa tarefa de vos que excluem qualquer participação
der as pesquisas no sentido da paz e construção da pátria socialista, real do povo e qne não procurarão
não da guerra, como é desejo dos go- A ALEMANHA ORIENTAL foi palco por isto mesmo resolver qualquer pro-
vernantes gauleses, sequazes da política neste mês de uma das mais vigo- blema popular de tantos que ai estão
imperialista de Washington. O gesto do rosas demonstrações de vitalidade na pendentes e cada vez mais agravados.

Maio-Junho 1950 39
\

< 7-
m
ttó.

mu m__i_iiii'"""'M*írTiMnr_fTilll MminuwMmmMMWIBI _._._»ia.iia.mm um MhMDKnMMlM


*»»"íl«i_.*W
¦..i»»*<riu-<_.'_.Siai»(íi«SíJf» a-
«W«**_M (*(*|i*"«f-C''íli',.t?*íJ_r."«lr»-'* .ís **.«*•*»' *«w».ii_tr*-'«i*T«__.~"«»*w.-»1* W

Fl;!

):m.: KS-\

p
^n
'•/-.v'

xSl$4ü

SEU PALADAR QUER BRINDE OU


QUER CAFÉ?
PAEAVENTI
"É O
QUE É".
É SÓ CAFÉ

X.'

mm iiwMiJ>y-<fj«-«y»^°ai mof»ismm»f»mimtfMmmm»iiimmmm»mi
»«*awS_W_NM_I_w_s*5««l<a^
?;Sa»RCTil«rí»,*M»W«£f

You might also like