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SUMARIO. reo tempo, etinneo exteaturay AY Angels Vo 1, Sitmando a Dmpeses do oor da fang raserns, 96 Doestimulo sensorial rede sgnificante 2 war do“estmulo” m clini com bebés 2 patedo cone epstemolegco lpsicandise, 58 MI Apistemaligics ming precvee? Euucapie proce? Interven precce? — problemas win de wma espsfidade clinica, 66 ‘matema, (O sintorma parental e olugardto beba, 104 Doquescescutano dscasso parental co ques ena produsio doebé, 105 Inver ica com bebés, 110 Sustentando a dade do bebé, uma e outa vers 111 Reeosheeimenio, filiagio e diagndstico, 119 [Um pequeno ri como futuro em xeque trazido a titamento, 122 Osaberdo elinico face 20 fucuro do bebé, 126 no marco de estinvalaa precorg 132 na intervengio com be 36 dedescjo e demand encontex uma fratuta, 139 itudes pulsionais do bebé ao circuito de desejo & demanida do Outro, AM Aintervencio comoo estiramento da corda pulsional do bebé, 145 8 Tomporatidade + desemobionnte, 149 Grescimento, maturscio e desenvolvimento, 150 Limites impostos peta passagem do tempo cronolégico a0 desenvolvimento, 152 © que a passagem do tempo cronolégico nio resolve quanto 20 desenvolvimento, 154 Organismo e marcassimbéiieas, 156 Parcialidade da pulsio e sujeito do inconsciente, 157 Da pascialidad> pulsional& antecipagio de umaimagem do corpo, 159 Da antecipagio do Qutro encarnado a precipitagio de uma sealizagio do Debi, 160 Fangio paternu ¢ constituigio na inféncia recor clinigo), 163, Sobre 0; diferentes momentos kigicos implicidos na constiuigio do sujeto, 165 Desenvolvimento como linha imaginiia costo «over, 167 Aautoria de uma aquisigio instrumental e a subversio do desejo, 171 91 O bebe 9 sintoma, 74 Diferenciando o mal-estar dos paisde efesivos problemas na coastituiga0 do bebé (recorte clinica), 175 Quandoo bebé apresenta um sintema que tor clinica, 181 ‘Sintoma do beb/ou no be, 185 essiria a intervengio 10 Pidho oecorregador — o que destiga quando brincanas~ (caso clinics) 194 Do quack orgiaico’leturslinica do sincoona, 195 Do encaminhamento médico a formulagzo de uma demanda parental, 199 Incetvindo com o sincoona de Peéto © com sus articulagao ao sincoma parental, 201 (Ocratamento como abertura de um higare um tempo pata as produgdes de Pedro, 204 Di posigio de impoténcia 4 delimitagio do impossivel, 207 Realizagio psicomotera, reconhecimentoe surgimento do sujeito, 210, Realizasioinstrumenualcomo precpitagio dosujitoe como ato simbeion, 216 A repetigio propria do brincar eo avesso 20 simbdiico,219 ‘A muclanga na primazia de zona erdgena,220 Deslizamento significance eestiramento da carda pulsional, 223 1B pas Prevensio secundiria ra clinica combebés, 2 Prevencia primitia na clinica com bebis, 255, Critérios para detweciio precoce de problemas no desenvolvimento ena preven ene ob reste remsediar constituigia pfquiea ; - Diferences modalidades de intervengio para detecgio precoce, 256 12 Clinica com bebe da etrutura ao nasrinents do sujet, 258 Obebéexestretura edipica, 260 Consideragdes acerea do conceit de estrutura em psicanaise, 266 A estrutuza psiguiea e suas temporalidades, 276 \ temporatidade implicada na constcuigao de um bebé como sujcivo face ‘vestrutura, 283 Vamos brincar enquanto 0 futuro no ve, 294 PREFACIO SOBRE 0 TEMPO, ESTIMULO FE ESTRUTURA Angela Verearo O texto ue agiea se dé a ler € profundamente instigate. Com sua honestidade intelectual, Joliet Jerusalinsky se permite a capacidadede interrogar o aparentemente dbvio porque jainstituido, fazendo vigorar o fato de que as graves psicopatologias infantis nos Ponvoquem a problemtizar a teoria psicanalitica levando-a a avancar partir do que, na eliniea, nos interroga. 25 constatagdes tomam impossivel ficaralhelo Aarticulagio centre tempo, estimulo ¢ estrutura elaborados pela autora, E nos levam a interrogar a preseaca desses termos em nossas proprias hiporeses de trabalho, € no que ha de imaginario em nossos operidores elinicos ‘Além disso, os leitores que se dispuserem a enfrentar essas questdes encontrario nesses escritos o prazer da letura agradavel e provocativa que ptoblemaciza a capacidade operatéria da teoria psicanalitica nos confins da clinica com bebés, evidenciando a crilha {que amarca suas hipéteses, 0 crivo de sua eritica ea clareza de sua competéncia eliaica, Assim, além de nos oferecer um exemplo de ‘autoria, ta! leitura nos proporciona também a vontade de distinguir noseas priprias modalidades de engajamento a teoria e clinica Mas 0 que se mostra mais surpteendente € que aquilo que aqui comparece como escrito repete o que se revels na interlocugio W ENQUANTO 0 FUTURO NAO VEM direta com a autora, com amesma generosidade com que ela acolhe ¢ discute cada hipétese wérica, cada aeoatecimento elinico ou instivacional Localizando tempo, estimulo € esteutura, distinguidos ¢ fculados pela autora num mesmo gesto, e ainda, ao recolber, do texto no-senrecifrada por bebés, o testemunha de haver ali linguagem posta em funcionamento, Julieiz Jerusalinsky me oferece aqui a possibilidade de resgatar alguns apontamentos sobre « homologia centre a excansio temporal ¢ a instalagio da estrutura significante no organismo, dos quais situo meu testemenho: ar Hii alguns anos, lidandlo com criangas fora da Fengio da fala ue, a despeito de ferirem-se, batiam-se incessantemeate, nio podia desconsiderar as guestdes: que espécie de usufruro da vida € este, gue insiste em reproduzir o afeto de dor no compo, como se apenas assim, com esse go70, singularidade dls sua vida Fosse comemorada? Como é possivel quea crianga insista em machucar-se, mesmo diante de todas a8 outeas ofertas que cla recusa? Thata-se de um subjetivo nessa recust as palavras € ne: ou de una alienagio plena? incidéncia do afeto de dor Lacan nas lembra que nada sabemos sobre 0 pozo do ofginismo pone, sem a mediacio sgnificante, vivo € goro se equivalem. Por isso, a nogio de astintonos é tio cara, Afinal, com 0 termo instinto, podemos nos relerir a um caber do qual ni se Feaparg, de dizer quvissoquan, mas que se preaunce gus tubs conva resultado quea vida subsist © bebé humano € gaiado pela inrervencio da alteridads que sigeifica o organismoe assim desfilea o instinto vital de sua plenitude. Afinal, condurido unicamente por seu fluxo, a condicio de insuficiéncia do onganismo o mataria, A alteridade opera a perda do gozo instintual inserindo-o no campo da linguagem, Seus cuidados sio interpretagties em stos simbélicos, exjos sentidos so imperativos por arbinatem valor, constringindo a pureza do gozo da vida, 20 acolhé-lo, emeldurando e decidindo sua signilic Por isso, o desempenho de fungio materna depende de a mulher, 12 PREFACIO| na condigio de mie, ser desejante. Diante desse desejo, uma crianga nfo éindiferente, pois ele autoriza a mascara da repeticio do gozo' Portanto, a alteridade, na condigdo de tie, incita ¢ frangucia ‘6 gor na erianca, Mas, jd que sua condigio de ser falante impede reproduzi-lo ela convida a esianga a simalé-o, com a linguagem, ax empre, mascara do que teria havido, Enfim, nessas repet c 2 relacies primérias, a mie age sobre seu filho de modo a, num s6 ona linguagem e permitir ao goz0 ousar a mascara da sepetigio. Fazendo-se de drgio extra-corpotea da crianga, ela reconheceas urgéncias vitaise simula a equivaléncia destas 4 decisio que toma quanto a signifieacio que teriam, A mie faz, desi mesma, cia de satisfacio do filha, na medida em que tempo, ins ovinstrumento dh vi m cla se prende ao que a prépria natureza ozginica da erianga oferece coma spare dipares cv patito. A ware iz Lacan, fer igfianter F sia aon hamanas. O (qe sstruturams ¢ mrdelan a organize inongaral das relat “ F. com a materialidade oferecida pot sua propria narureza que o organism sofre os efeitos de sua desnaturalizegio desde que « ordem simbélca implantada pela mie passe # regular sua economia, © organismo tomado pela mie como ser passa a bedecer a uma univocidade de signos, pressupostos por sua mie como partihados com seu filho, nium linguagem capaz de realizar ica assegura imaginariamente tama fusio com ele. ‘Tal inguagem a comunicacio exata com seu filho', Nessa perspectiva € que ‘Melman! afiema que 0 termo Osiro-ertisnve podria sexo come do ante-wrotion, oa medida em que a crianga goza do corpe que, entretanto, € territ6rio db Outro, O Outro € 0 corpo infinite representado na origem pela mie, corpo que @ ctiangs mio pode Treques Lacan, 0 Semin, dare XV, O anes dep hess RY, pS prcanile Maca (1968), 0 Semin Lin XI. Or gate cots fi JZE., RJ pe 25. Coaries Metmnan, Quevtnur de lvigue poransbign, 6, M0 de outubro de 1985, AFT, Pars sminsize de * Chases Meimaa, opus cit, 12¢ 19 de dezembro de 1985, AFI, Fars 3 ENQUANTO OPUTURONAO VEM coater ou apreender, mas, so cantritio, 4 contém. © cospo proprio 6, portanto, de inci, lugar propicio ao goz0 do Onto, gore privads que se oferece 4 crianga camo Dorn, e Ao permitir que © filho estabelega com ela uma condigiv patasitatia, a mie Frangueia ao gozo a ousadlia da mascara dh replticao: lendo como sigaificantes e estabelecendo 0 sentido do texto onginico do Filho, ela o ultrapassa, anteeipanco um sujito, an mesmo tempo que estende, irstala ¢ atribui 4 crianca a posiga indeterminével de um sujeita do goro" _ Por isso, 0s abjetos de sadist erecidlos a * objetos de sadisfagio oferecidos a erianga alojam: ‘na em uma posigio de alienacao plena, onde se inscreve somente 0 regstro de uma diferenca entre dois estados qué $¢.recabrem, A possibilidade do apaziguamento permitir a cessagio do estimulo adverso que provoca tensio faz funcionar a alienagio numa alternancia de reciprocidades que se opem ao mesmo tempo em que se anulam, e portanto, se equivalem. Nao hi descontinuidade nessa circularidade. A relacio de mera opo liernante sobrepa se em continuidade reeiproca, A mi ferenca posta em j se em cont le sta em jogo de arene érenovagio em que a possibildade da ausénciaé seguranga da presenea. Por nao implicar existéncia positiva, apenas reenvia 4 relagio entre termos quaisquer, logicamente anteriores 4s propriedades dos termos presenea e auséncit que nio tém neahum ‘alr determinado, nenhuma significasio, mas que se determiaam reciprocamente na relagio diferencial em que se reenviam um a0 outro. A a legen manutcrgao clessa alteraaneia reeiproca pela mae a zl fie permite a relao cana presen sobre «finda de austnela« com a auséncia na medida fm que esta constcu a presensa. Agenciando a mascara da repeticio da go7o, a maternagen” da soporte esse tempo mftico $6 posicionivel retroativamente, apts sua fata, Este funcionamento simbélico acéialo do orgunismo € 0 leito estrutural necessério em que se situa a cadela sign: ficante J. Lacan, Semindns NA Angier, inédito, ala de 13/05/5, J Lacan(1956-7), Seino IA relaio de etn, Luk, pIB6, CE J Lacan: Sind VIE (4 Een ds Paconae Somindrs NN (Mai ainda 14 PREEA que comanda a presentificacio do assujeitamento do ser, 6 lade desre tivo chamads d subjetivario® que dispoe do funcionamento sincopado antes de engajar-se na linguagem ou de af localizar um semelhante? Qualquer determinacio de syjie depende do discarsa, Hi um discurso tecido na pritica de ardiculacio sigaificante, wamada pelo saberdaquele que agencia a funcio matenna diante de um organismo. Assim, 0 onganismo é dito sr pelo agente materno, ou seja, ser que io sabe dizer, de seu proprio lugar <>, mas que € dito de outro lugar: <. Desse lugar, inicialmente, todos os significantes se equivalem, jogando apenas com a diferenca de cada tum com todos 0s outtos (ndo sendo, cada um, o que os outros so). Mas uma modalidade de ligagio significante se distinguira alearoriamente, pelo uso especitico completamente e instalas-se- siculacao jf presente es siuificante qualauer vomado dess: Como a mie é um ser falante, © proprio funcionamento ritmado da alterndncia, operada por ela, acaba por realizar uma dlefasagem que se inscreve entre os termos difeenciais, fazendo incidir Lacuna, alteridade real, na relacio ritmica em que um termo anulava 0 outto alternadamente. Afinal, diferentemente da erianca, mente submetida @ lingua, ow seja, ainda ffins, a mae esta t funciona sob allei do significante, que aio equivale a nenhum outro ignificante, nem a si mesmo. O desencontro entre os termos alternantes marcari a exclusio de um destes, cortado pelo adiamento ou pele precipitagio da e crianga, Diante alternincia, introduzindo aequivacidade entre m: esse aco da defasagem temporal, o iyfins ocupaci a posigie vazia por meio do grito, substituindo o termo sustentador da alternancia, que nao compareceu em seu lugar, onde j4 podia, pelo funcionamento alternante, ser experado. |A relacdo de oposicto presenga-ausencia, sustentadora da alternéncia que articalava 0s termos € rompida, A hidncia acidencal hha sustentagao desst primeira estrutara simbélica, em que falta 0 ] Lacan (1964, Senna NI, op. dt, pa%. ‘em, Ibidem, ENQUANTO O FUTURONAOVEM «que aincla nio esti representado, pontia a enconero fl ‘ contro faltose,figando o serantes que ele posse guraro qu escapa sin aprensi. Instn sea situagio de privas | antes de o sujeito ser subjetividade, : ass0.€ porto mat central daestratura da identfago do sito" Xs eet de prvi algo falta em sels, << sm wade primeiro passo e, A falta, portanto, s6 € apreensivel por intermédio do jé estrutanda (lo simbsico), onde algo inominade falta na posi esperada, O grito que se faz apelo ao retorno da coisa alternante & compo que se ofereee a0 que falta na aternincia simbotica. Assim, tna dupla de termos alrernantes, aincidéncia de uma falta localizar « impossivel sustentagan da automaticidede tensio-apazi to np casao-apaziguamento, A articulneao da crianga no registro do apclo a situa Be nogio de um agente que pasticips da ordem simbdlica eo primeito elemento de uma ordem simbélica — 0 par de termos opostos em eadeia. Capel / » assumindo funcio antes de ser percebido como tal © antes de se distinguir um eu eum n&o-eujs€ atua izacao, na experiénci, da estrutura miaima do significaate, que agorincidirs no fifa como real, tracando o recalque otiginitio. precipita) cemporal que desnaturaliza 6 Outro. ‘ Essa condicio de falta demarea uns lugar, incoduzindo um tage. No momento em que a crianga enconiza a falta num dos termos da estrutura_simbélica constituida por alternincia do cacal primitivo de articulacio significante, a coisa desconecta-se de seu Brito, elevando-o 4 fengao de de da. no grito-significs ato ; \ grito signiticante-da isn Ogi elas plo pequeno com aped deuggnca dante 4 falta opera a primeisa substiuigio do sggans:a falta faz deslizar 0 A aiade Privagio-ts 4 sustragio-Casagio refex objezo. A privagio € a falta teal de om objeto sibs J. Lacan (1951-2), Seminiis BX, modaliaig6es da falta de a trustiagio € 0 dino eon ction, aula de 07/03/62, inédive, 16 j PREFACIO ito dle apelo com o que preenchetia 9 0co. Isto que se desprende fhomo grito, que se separa do ixfans pasando por um orificio do forpo, ultrapassa a fungi fonmria do organiemo, ¢ referencia J, que faz dessa emissio 0 \nyocante, resquicio de um objeto indizi que nio pode se dizer. Assim, 0 sujeto aparees no que the faz lteridade: no que o primeizo significante ~ 0 grito ~ incide coma entido, significante unirio que, por +6 poder se prestar a intimar Juma recuperagio, nfo se faz. equivaler a ela, apenas traga sua falta. Esse uso especifico de um significante estrutura 0 saporte initico ultra-reduzido em que o ser sustenta-ne, equivalendo-se a tse significante, que toma como sf mem. ‘Tal saber mitico no subjetivo de ser idéntico a seu proprio significante é para Lacan, fato definivel, em estrutura, Afinal, a partic da separacio de um signifcante-nestre, esse significante se define no organismo perdide pelo individue biolégico, para orientar a constituigio do corpo onde se inscreverao todos os outros significantes. Por isso, para Lacan, Urvenhing quer dizer que hay na cesiratur, uma ligagao significante completamente radical: o elemento de impossibilidade como fato de estrutura. Esse impossivel € 0 teil, que surge como 0 escolho légico daquilo que, do simbélico, se enuneia como impossivel. Ki nesse ponto da primeira ligagie — do St ao S2— que abre-se a falka chamada sujeito, falha onde os efeitos da ligagio signifieanie operam, Produz-se uma cudcia que indu2 e determina esta posigio de sujcito ‘Assim, um sigaificante qualquer vem em posiglo de sigfeant- mur, com Fangio eventual de represestar um suite para todo outro significante. Este significante inico, o signfcant-mestr, opeta por sua relagio com os significantes presentes jd articulados ali ariicolando-se a eles a0 ordent-los. Entretanto, 0 sujeito que ele representa nio é univoco. Hsti © timbém no esti representado: algo fiea oculto em relago a esse mesmo significante, pois a linguagem deixa as coists nessa hiéncia, Pode-se denominar essa 17 ENQUANTO O FUTURO NAO VEM Tiincia de rial oftito de tingnagem, € 0 teemo pai real" a qualifica melhor, consderando o que Freud’ aponta da identificagio ao pail como seado absolutamente primordial. O pai preside a essa primeirissim ilentificagio", em que nao se trata do Um mficant mas da identificacio pivd, on seja, 0 trago undrio, 0 ser arcade coms siren “7 A criacio repettiva inaugural parte da impoténcia original da esianca, onde o significant-meste se produz dle le digicams Ali alguma coisa falta ~e¢ justamente isso que, de safda, caractesiza © sujeito, Basta dar ao tsago unario, $1, a companhia de um outm trago, S2, para que, send significante também licto, o trago da fala sime © sentido do sujeito e sua insercio no Ourso, Na medida do fancionamento da linguagem, ela se demonstra pelos seus efeitos que s40 sempre retroatives, Assim, cla manifesta que ela & ata ar a finguagem€domanda qe fears ndo és éxito, mas sua epetiegn, que mgendia a disvensae da perda Nao se trata, portanto, do filtramento de sensagdes de aparelhos e orgios vita, Certamente os digios fltram ¢ nos servimos deles, mas é articalagio significante que entram em Jogo os termos de soletracio, termos elementares que enlacam um significante a outro significant, e que jd produzem efeitos, posto que erent 86 € manipulivel em sua definicao porque tem tum sentido, ou seja, ele representa, para outzo significante, um s vada mais, —_—— "© pal tl te do pa da eldadeinagnado como «pr A pig scot pal al cs tend en ces Cat ure a ie = rd ia agateigte deve sone age et en Pgs aw Ante dB SO Auli pes oes pl lige crianga & mic, como 4 bos pidlian Hae dieaedindce eto Idea contin pen Geto camel Gr us ulate cae eo ‘configuragdes primordiais do discurso. Para Lacan, a configaracdo subjetiva ‘a she configs te upsbta, wna shades oeicisteom nuh funda poniidade da iuerpmagta CE. Sem NYE, O ses de rena 18 PREPACIO (0 significante, entio, se artioala por representar um sujeito ante, Essa defini¢io permite dar sentido & & rpetipio questa 0 goxn. Ela Pinto a outro signif perp inant, ca medida em que cla jlo € um efeito de meméria bioldgica, mas relaciona-se ao limite Wo. ber, que quer dizer xox Lissa perspectiva permite recomar a pequena interrogagio inica que apresentei, reladivad comemonagio da dor, e que Lacin te refere ao falar da fantasia de Bagelacio"*. Esse estado de gozo \iferido do gozo narcisico mostra que a relagio de objeto antecede i narcisismo. Afinal, identificada aa abjete de ergy, a crianca porta a ria da marca, antes de sua constituigio narcisiea. O gozar assume ai s ambipiiidade da equivaléncia entse 0 gato de Outro que marca © @ Lurpo tomads como objeto de gozo: Gozo de quem porta a gléria da ‘narea, gozn do Outro, A consisténcia da imagem especular na qual Uy narcisismo se edifica é sustentada por esse objeto perdido, que ele apenas veste, por onde o gozo se introduz na dimensio do ser do spenas por um acidente que © gozo entra em agio. sujeito. 1 Mas interessa notar que ja €referido a uma estruturat matricial sipnificante minima, ou seja, temporalizada nama escansio titmada que articula ¢ alterna dois termos, que ele se distingue e se produz, mesmo que visando a mascara da repetigio plena. E é desse lugar que possivel ao elinieo criar uma extensao, uma outra inscrigio sigaiffcante que mediatize e diferencie um compo, 10 limite enere so20 € organisms. © texto de Julieta Jerusalinsky nos apresenta os modos temporais de diferentes registros, em ciclos queyeciclam um residuo onde reside 0 que, do sujeito, comparece. Distinguir essa condi¢io é fondamental para que © sujeito se aparelhe com a linguagem, ulerapassando 0 gozo acélalo que permite manifestar-se no campo simbélico, E. com tal distingio que a intervengio psicanalitica, na dlinica com bebés, pode incidir para acolher a producio de outros ciclos, Mais ainda, esta intervencio, feita do movimento provocado Sinsndrie XV, opes eit 19 20 ENQUANTO O FUTURO NAO VEM. pelo texto ne campo psicanalitico, me convidow a dar aqui meu testemunhy Ir, cera tesemunbo 20 eit era de ue, 2 pated leurs ee poder Sio Paulo, Julho de 2002 SITUANDO A CLINICA COM BEBES — 0 gue? O sevbor subeten criancinbas dandlise? Criangas com mess ests anos? Kiso pode sor fete? EL nko & pita arvircado para as eriancas? A interpetacio acima, dirigida a Preud, data de 1926. Se, mais dle sete décadas depois, j4 nao causa tanta surpresa o tratamento de Cangas em idade escolat, ainda ha certo sobressalto quando se fala cm intervengio com pequenas criangas ¢ bebés.? — Extinnlacas precce? O que isso quer dizer’ E uma pergunta cexcutach intimeras vezes por aqueles que se dedicam a tal intervengio cilnica, ‘Ao definir © marco da estimulagio precoce como a clinica com bebés e pequenas criangas que apresentum problemas de constitnigao psfquica e de desenvolvimento — relativos as aquisicdes de psicomorricidade, Tinguagem © aprendizagem —, constatamos «que, no interlacutorinteressade, tl eselarecimento costuma despertar utras intesrogagoes Sgmnd Fred (1926), A questo da anilise liga, ESB. vol Juneizo, images. 24. Rio de Tris vferéncts a esta questio no antigo © pé esquendo do academicismo ~ sole bebés, pricandlisee estiemalsrdo peccoce, Pict, ove liar para wna et, Comba APPOA, a 83, Assocagio Psicanalitica de Porso Alegre, 2000 Neda). ENQUANTO 0 FUTURO, oVEM = Maas os bebe tom. reblomas? Quer diner dsculpe, no me enterda smal, mas & possvel te problemas tia ceda na vids? E, afinal, 0 que woe cliice pork fase cane rm babi . curioss « insisineia com que tas questOes continuam a camparecer desde o social, principalmente se levarmos em conta a sual explosio editorial dedicata A puericaltura e desenvolvimento, assim como a proliferagio de técnicas ¢ atividades dirigidas a bebés. Hoje em din parccem iio bistar a Formagio e os euidados «ze um bebé recebe a0 conviver com a8 pessoes de sua Fain Ou ao freglientar uma creche até o tempo em que se tornar’ uma pequem ctiaga © comerard a ter uma educagao,formalizada sob o modo de currculo escolas. Cada vez mais cedo eb maior amet atividades dirigidas vem superlotar a agenda dos bebés, fazendo deles uma espécie de pequenos exccutivos sem tempo a perder quanto ao “aprimoramento de suas aptidées", Ao entrar em uma loja de brinquedos resulea praticamente impossivel ~ ou a0 minimo ss pfetsnsio anacrnica ~ comprar algum cama simples tum behé posea vir a se d cada minimo chocalho, corde] ou cubo dee embalagem uma lista de recomencagdes acesca do scu uso ¢ da suposta aprendizagem que ral objeto propiciaria a0 bebé, rir com ele, pois para uma encontramos na Podemos vislumbear nisso um novo sintoma social no que ‘ange a infiincia: os pais corrematris das mais diversas possibilidades para “superequipat” o quanto antes seus pequenos filhos na esperanca de melhor prepari-los para o furnso, Enquanto isso, proliferam técnicas que se propdem a favorecera potencializagio de talentose a acelerar as aquisigdes dos rebentos, Exidentemente, o lago puis-filhos esti permeado pelo sintoma social de cada epoca, E, como na nossa, a promessa do quando rect ro fica conjugada & ameaca de um nas hi ugar para todos, patece ‘io restar tempo a perder na preparagio de um bebé paca uma insergao social cada ver mais caleada na corsida do triunfo individual, "Abosdt sia questo no artigo Bebés oa pequenos executives, Balin db CERAGLA, 1.2, Brasfia, CEPAGIA, 1993 (N, ct A), 22 SETEANDOACLINICA COM BEBRS Entio hi algo de paradoxal quando nossos diversos \nterlocutores leigos interrogam at6nitos se é possivel que um bebé ‘enha problemas, Pois ao mesmo tempo em que proliferam técnicas © publicagSes dedicadas a adequar 0 bebé como objeto de gozo do social, continua a despertar desconcerto que se reconhera — porcue, evidentemente, tanto menos se quer saber disso ~ que & cl, sim, ter problemas tio cedo a vida © que tais problemas ‘lo se restringem a questdes orginicas de base, mas também podem ser welativos & constituigio psiquica do bebé ¢ ao modo como tal constituicio incide ne funcionamento das suas fungdes orginicas, Como nos indica Freud, se os bebés sio deposivérios das esperancas de wanscendéacia ¢ realizacio parental, tanto mais doloroso resulta, pelo narcisismo neles depositado, que sejam eles 1g atingidos por um problema, que sejam eles os que padegam de uma dificaldade ncaminbado a fratanmeuto? Moc quarde e cama smn eb (Os bebés sio ttazidas a teatamento quando, em algum ponto, falham em eelagio a0 que deles eta esperado, quardo 0 huscimento do bebé, 0 comunicado do diagndstico da patologia que ele apresenta, on 0 exercicio da matemnidade ou paternidade com ele, produzem am sintoms, um obsticulo, um padecimento neste circuito de realizagia de ideais sociais ¢ parentais Assien, a clinica com bebss fica situada justaments no avesso dlesses Jerseller de aconselhamentos a pais ¢ “técnicas estimulantes dle aptiddes do bebé”, nao s6 porque ocorre @ partir do ponto em paternidace e aprimeira infancia que os ideais sobrea maternida cpcontram ui fracasso em sua realizgio, mas porque o trabalho dlinico diante de tal fracasso opera pela escuta, sustentagio © intervencio dos interrogantes pelos quais cada pal © mae ficam singularmente implicados com o seu filho, em Tagar de partir do conselhamento anénimo. Oencaminhamento de um bebé para avaliacio ou tratamento em estimulagio precoce ocore quando os profissionsis que 23 ENQUANTOO. FTURO NAO VEAt corriqneiramente lidam com a infineia ~ pediatras, neurologistas, orientadotes educecionais, entre outros ~ alertam que hé algo que nifo anda bem com o bebé c que o problema por ele apresentado excede © fmbito do acompanhamento médico e educacional de * As veves, tal encaminhamenta acorre apés 0 diagndstico de um problema organico no bebé; outras vezes se deve a presenca de signos clinicos que se manifestam iia prodagio expontinea deste € que escapam aos parimetros tomados como referéncia de ‘norenaldace em nossa cultura ainda que nao constituam diagnésticos definidos de quadros patoldgicos plenamente configurados. Assim, chegam até nés pacientes com-indicagdes de tratamento por causas hastante amplas: “sindrome genética”, “lesio nenrol6gica”, “malformacio congénita”, “deficiéncia sensorial”, “deficitncia fisica”, “atraso global do desenvolvimento”, “imaruridade generalizada’, “atraso sem causas orginicas defiridas”, “condutas atipicas” ¢ “problemas na telagio mae-bebé” sio alguns dos mais recorrentes. Também chegam bebés e pequeaas criangas ‘que apresentam sintomas aparentemente restritos a um determinado aspecto da vida, pelo qual o funcionameato de uma fungio especifica passa a acorrer de modo patolégico ~ por exempla, aos distizbios do sono, da aimentacio, da deglutigio, do contiole esfincteriano, da respiracao, entre outros. B inegivel que as priticas interdisciplinares favoreceram € favorecem que, cada vez mais, aqueles profissionais que normalmente intervém com a infincia possam detectar nos bebes © pequenas criangas os primeiros sinais que apontam riscos quanto ao seu desenvolvimento € constituigao psiquica, A medida em que clinicos especialistas em estimulagao precoce passaram aintervir no Ambito da Satide ~ junto a pediatras, enfermeitos, neonarologias e obstetras ~ € no mbito da Bducagio ~ junto a professores ¢ psicopedagogos, a0 tealizar o trabalho de inclusio ou acompanhamento de criancas pequenas com problemas de desenvolvimento no ensino ~ foi possivel it inscrevendo a 24 SFTUANDO ACLINICA COM BERES, importincis clinica de, diante de um problema do desenvolvimento ou de constituicio psiquica, mo deixar o tempo passat paraintervir. No entanto, a implantagio de setvigos clinicos interdisciplinares de estimulasio precoce foi e ainda ver send realizida desde a iniciaiva isolada de algumas equipes dedicadas & intervengiio com bebés*, uma vez que tal pritica ainda na se constituiu como uma diretsiz governamental de saiide publica preventiva, Em diferentes paises da América Latina, Jamentavelmente, ainda ha muito a set feito no sentido de uma politica de sauide € 10 ¢ deteceio precoce de problemas na constituigao psiquica e desenvolvimento’ , Atualmente educagio que privilegie a interven: é bastante grande o contigente de eriangas que, com uma idade que vatia entre os seis ¢ nove anos, é encaminhado a tratamento por rientadores educacionais, Ao recolhermos a historia clinica de tais criangas logo se percebe que, em muitos casos, os problemas por clas apresentados vinkam s¢ instalande € agravando hi tempo, Porm, é somente com a entrada na escola que se estabelece um momento decisive quanto ao olhar que o social dirige & crianga que, até entio, fica, nesses paises, quase que exclusivamente sob a responsabilidade do nicleo familiar, Podemor cas, ese seo aexpeiéncia relia em Buenos Altes Acgentna, desde 1993, pela Raf Intestate de Eatinaiiéy To hptstagin de snigon de ein precoce em dxetos hore pbs 1 (1995), Clinic estimuk recoce 10, Ver: ML. Terzagui e M. Pelemonte (1998), Cliice da estimalagio hospi pen, Harts di Crone, Porto Alege, Cengo Lda Cosi de Porto Alege (da A). que consiste aa a Snide ow Fducar: 25 denomimdas como 25 ENQUANTO © FUTURO NAD VEM © problema da deteegio precoce e do encaminhamento para tratamento cm estimulacio precoce se da, entio, em dois niveis _ ~O primeito relative a fata de circulagio, nos locals onde os bebés sao normalmente acompanhados fem creches & servigos de pedliactia, por exemplo), de alguns conhecimentos clinico-testicos fundamentais para a derecgao precoce de problemas de constiniicao psiquica ¢ deseavolvimento. Ocorre que tis conhecimentas clinico-tedricos nic se restringem aos oferecidos pelas diferentes formagdes acedémicas de base intervindo de modo isolado, sejam elas pediatria, pedagogia, Fisioterspia, fonoaudiologia, psicologit, entre ougtas “Av tralar-se da incervencio com a infincia, © ainda mais con bebés, toma-se nnecessairia uma pritica clini interdisciplinar. A linia interdisciplinarem estimulacio precoce, nos hugares onde ela ocorre, tem se revelady exttemamente favorecedora da circalagio de tis conhecimentos, A especficidade desta prosit permitiu estabelecer am obar e uma escuca clinica cada vez mais apusada ma deteocio dos primeirs snaisque desperam alera quanto a possiveis problemas de um bebé. Possibilta, deste modo, uma mudanca no eixo do acompanhamento da infincia, que passa a ficar mais cenzado em propiciar a um bebé com problemas as condigdes para sua constinsigio, em Ingar de intervir apenas dante de um quidco patolégico plenamente contigurado, — O segundo nivel do problema diz respeito a que, ainda quando 0s médieos detectam problemas de deseavolvimento nv hhebé que exigisiam uma intervengio especifica em estimulagio Precoce, tropega-se com a earéncia de serrigos piiblicos especializados no atendimento ao bebé e criangas pequenas 20s quis seja possivel realizar encamiahamentos. Core nos demons peracid mene 1 aespeioc deintavengioem poses, UTI psn tsubslecimento de indi am vdieo der a darmehs hot realzados no Posto de Saige Bun, em Sto Pal, no an0 2000, eno HUB de dem So Palo ano 20, e no CB de Beasaem 230, cca oliborii dos profssonas des seigos pecs ede en mcent grupo de pss oes coondeados por ans ain Baste Mala Cains Kuper amo ao Minis da Sade do Governa Fade (NA), 26 SITUANDO ACLINICA COM BEBES Assim, entre o nascimento no hospital ea entrada na escola, freqientemente, deina-se passar um tempo que ¢ decisivo para a constiruicao psiquica ¢ desenvolvimento de bebés c pequenas eriangas jue, na maior parte dos casos, s6 vém a ser atendidos quando os jproblemas apresentados encontram-se muito mais cristalizados e, asiveis a possiveis madificagdes pela ‘estroturalmente, muito menos s intervengio [A infincia, os bebés © o surgimento da estimulagao precoce Por mais evidente que possa resultar-nos atualmente adiferenga que existe entre um auto wnsttsido © wma rianga en costing, sahemos que nem sempre o “sentimento da inffincia”, a sua representacio foi a mesma. Dai que seja preciso situar 0 bebé ¢ © surgimenro da estimulagio precoce enquanto disciplina dentro de uma dimensio histérica, Hoje em dia, espera-se desde o ideal social que 0 nascimento de um hebé "sua majestade 0 beb&", como situa Freud’ — comporte um grande investimento narcisico por parte dos pais em tclacio a este bebé recém-chepado ao mundo. As familias costumam. depositar no nascimento de um bebé a possibilidade de transcendéncia da morte pela transmissio dos xleais 20 filho, zelando assim pela satide, educagao, formaco € constituigao desse pequeno beba Mas esse modo do aco de pais € filhos € bastante recente. Voi someate na passagem da sociedade medieval & sociedade moderna que ocorreu a organiza¢io do nacleo familiar em torn da criagao edtucacio das eriangas, Na sociedade medieval, a duragio da infancia era reduzida ao seu perfodo mais frigil, enquanto 0 filliote do homem no conseguia bastar-se. Mal a crianea adquitia lesembarico fisico, era logo misturada aos adultos e pastithava de seus trabalhos ¢ jogos, De criancinha pequena era transformada imediatamente em homem jovem.* Signund Freud (1914), fatrodueeisn al nascisismo, OC, vol. S Aires Amoceortu, p88. ctagto completa € vetomads na nora 2 do capitelo Tremporalidude « eiica com bebis (N. da A), Philippe Acts 973), A Hotinla Sent de Feel eda Criay, segunds edizio, Rin de Janceo, Geanaban, p 10 Buenos 27 ENQUANTO 0 FUTURO NAO VEM “Se aarve medieval representa aclange comoum hemem emescala redid (.) a crianca era portato cliferente do homem, mas apenas to tamanho ena forga, quanto ts outras caracteristcas peemanecia igual.) exianea ers um ano, mas um ano seguro. de que alo parmanecer sno, salvo ent caso de feiigaria” Quando s crianga sobrevivia aos primeiros anos, freqiientemente passava € viver em outa cast que nio ade sua familia de origem. A familia tinha por missio a sobrevivéncia que individvalmente era impossivel, praticava um oficio comum, assicn como ajuda e protegio miitua da vida ¢ honra, Ali o amor sao era tcessdo @existéncia nem ao equillbri da fami eexistsse, tanto melhor © “um sentimento superficial da crianga—“paparicagio” — elaainda era uma ecisinhaengragadinha. As pessoas se diventiam com 4 crianga pequena como com um snimalzinho, um macaquinho impudico, Seela morresseentio, como muitas vezes acontecia alguns posiam fear desolados, mas aregra pra era nao fazer muito caso, pois uma outta ceianga logo a substicuica, A crianga nfo chegavaa sai de uma espéce de anonimato,”” Sennas civilizagdes antigas havia uma educacio formal drigida s08 jovens, na Idade Média, mais do que educasio ditigida a formar as criancas, havia um convévio indiferenciado destas com os adultos, que assim thes comunicavam seu sanvirsfiire € 0 savsirviore® A medida em que a infincia comecou a ser representada como uma etapa diferente da vida adulta, também foi se criando uma resposta que, desde o social, viesse a dar conta dessa diferenga. Surgiu assim, partir do final do século XVII, a escola. Tal instituigio passou por diversas modificacies, mas manteve o seu catiter inicial ce “formar moralmente individuos que ainda no estavam prontos “dem p46 15, Tdem, p11, 17, 18 19 Edem,p. 10 » dem, p16 28 SITUANDO A CLINICA COM BEBES serem cidadios”. Ao mesmo tempo em que a familia foi se ilo como um lugar de afeic2o necessiria entre conjuges € Jib fils, passou-se a anibuir importincia cada vex maior suglo, Os pais passaram a interessar-se pelos estudos de seus ‘eu acompanha-los com uma solicitude habitual nos séculos JK © XX". Cada crianga foi se tornando, assim, unica ¢ situivel ‘Ao mesmo tempo em que a Familia passa a muclear-se em Jorno de uma aposta narcisica de transcendéacia de sua cealizacio yw erlanga, desce 0 social também passa a se fazer da Formacio da Alunga umma aposta por “um mundo faruro melhor”, Assim, a partir Wo inicio do seculo XX, tratamentos passam a ser aplicados as fériangas quando algo neste circuito de realizagio fracassa. Desdea ciéncia as diferentes disciplinas, tomando como cemne Ale investigagao seus respectivos objetos cientificos, comecaram a Jterrogar-se sobre as peculiaridades que estes assumiam na infancia, lun etapa da vida que, desde © aspecto andtomo-fisialégico, se tancteriza por fungdes que ainda nao estio constituidas, mas em lum tempo de constituicio. Comesa entdo a ser estabelecido um eouhecimento sobre o processo de desenvolvimento € a serem configuradas diferentes modalidades de intervengao diante dos problemas apresentados na infincia F interessante notar que as primeiras técnicas de intervengdes terapéuticas so inicialmente estabelecidas tomando como ponto dhe referéncia a experiéncia com a penta de determinadas fungdes emadultos ca sua reeducada Parte-se dasuposigio de que o proceso dle reaquisicao no adulto que havia perdido uma fungdo seria semelhante a0 da aquisigio na infancia. E somente num segundo momento que se estabelece 0 estudo € conhecimento acerca das caracteristicas propria da infincia, sendo considerada a diferenca cenire intervir com um adulto ¢ com uma crianga, pois, a0 intervie com criangas, passa a ser necessirio saber di legaldade que rege as aquisigdes durante o desenvolvimento, idem, p12. 29 ENQUANTO O FUTURO NAO VEM © modo pelo qual se dew conta da diferensa entre eriangas ¢ adultos implicou no su jento de diversas escalas que passeram a enabeleces'« vortnpondanci eoirt determines Wadet ¢ determinadas aquisicées. A partir delas, foram desenvolvidos testes © Kenicas com 0 objetivo de avaliar o desempenho da crianca e acteompard-lo com tais escalas estabelecidas — indicar se estaria siteado do tado da “normalidade” ou da “patologia”. Emm outras palavras, poderia se dizer que tais téenicas wém avaliar até que ponto uma crianga se adequa a0 que dela se espera. E uma tentativa de trnarmensuravel, através de testes aplicados, a medida dessa “adecuagio” ou “inadequagio”, aplicando, a partir dai, dnices neducatvar como objetiva de sanat o dit apresentado,! Mais adiante encontramosa possibilidade de situara producto de um bebé ou de uma crianga desde ests de derenvohinvent, oxt seja, desde os passos que fazem parte de seu processo de aquisigio. Isto permite que a intervengio passe a procedes nao mais desde tum modelo reedueativo (le adequagio ¢ inadequagio, de certo cerrado), mas a partir de uma leiura que pesmtte situar a produgio © 0 problema da erianga, assim come as ofertas que podem vir a favorecer suas conguiscas, dentro de um proceso de aguisigio cada vez mais complexo, Este é um eftito eliaico propiciado, por exemplo, pela Epistemologia Genética de Jean Piaget: Situamos ainda um terceito marco no que diz respeito ao tratamento ¢ interven¢io com criancas com problemas no desenvolvimento: trata-se do cont epistenoligin operado pela pricandhise, desde 0 qual constatamos que o processo das iquisigées instrumentas que constituem o desenvolvimento nao é independente da constituigao psiquica, O desenvolvimento nao ocotre por automatismos desencadeados pela mera passagem do tempo e seus efeitos na maturagio no organismo, Tampoueo é pelo mero encontro com o teal que se desencadeiam estruturas epistémicas de progressiva * Zulema G. Yaiez (1990), Desde o verbo de Nicolis, Porto Alegre, Cento Lydia Corie de Porto Alegre. sits da erianga, 00 3, ‘Jean Piaget (1972), J naciminto del intelonia eno nit, Madi, Agu 30 SITUANDO ACLINICA COM BEBES eoordenacio nas acdes de um bebé.’* O desenvolvimento esta Aatrelalo & constitigio psiquiea ¢, portanto, a0 lago que um bebé fou crianga estabelecem com 0 Outro.” Percebe-se,cleste modo, que ha diferentes modos de conceber processo de devir adulto de uma crianga. Tais diferengas «em ‘feito no que se propde como tratamento c intervencio diante de lum problema que se apresenta na infanea. Cortamente tim grande pass cientifico foi dado ao diferenciar \umadulto constieuido de umacriaaga em constituigio. Foi justamente ‘0 reconhecimento desea diferenga que deu lugar ao surgimento de expecialidades dedicadas 4 infancia, tais como pediatsia, neuropediacsia ov psicandlisede eriangas. Mas hi outta diferenciagio ‘que, apesar de bastante mais sutil, é de grande importincia clinica: rata-se do rceonhecimento das caracteristicas prdprias da primeira incia, on seja, do que situa a diferenga entre um bebé ¢ uma ir crianea, © modo como os pais ficam implicados na vida de um behé, a forma com gue se fazem presentes os padecimentos € as nanifestacdes patolégicas de um ser que ainda nao fala, peculiaridades que exigem que um bebé cuma crianga sejam situados tle modo diferenciado desde 0 enquadramento clinico. Pois, ainda aque o tempo de ser bebé faga parte da infancia como um todo, as carneteristicas desse primeim tempo da constituicéo exigem uma intervengio que contemple elinicamente a especificidade apresentada pelos bebe. Foi diante da necessidade de dar esse passo que nasceu a Jinies interdisciplinar en estimadagae precore, forremente vinculada 2 importincia quea deteccRa e intervengia precoces tém na evolucio clinica de um bebé que apresenta problemas em sew desenvolvimento ¢ constituigao psfquics Taf que cesde a fundamental diferenga entre o patadigma da epistemclogia endlca ¢ da peianilise em rlagio ao deseavolsimento, Ver: Alfredo Jerusalnsky 1988), Paani + derenvchinento infor, cap. 2, primeira dicho, Porto Alegre, Antes Médias (N. da AD. Esieaspecto € retmadoe mais amplamente dscutidono caprtulo Temporaldade desenvolvimento (N. da A) 31 ENQUANTO O FUTURO NAO VEM A estimulagio preeoce surgi como especialidade clinica ha aproximadamente 30 anos, a0 longo dos quais vem inscrevendo os efeitos de sex trabalho ao eampo da iatervengio com problemas do desenvolvimento infantil, Seu surgimento se d4 em um lugar fronteitico com 0 de varias outras disciplinas, com as quais se faz necessiria uma permanente interlocugio, dado que seus conhecmentos sao fundamentais pasa o trabalho com bebés", Tal € 0 caso da neurologia ¢ da genética em relagio ao processo de ‘maturagio no inicio da vida, da lingistica e da fonoaudiologia para compreendes a aquisi¢ao da linguagem, da psicopedagogia e da epistemologia para compreender 0 processo de aprendizigem ¢ construcio do pensamento, da fisioterapia ¢ de psicomotricidade para conhecer a legalidade e estabelecimento dos movimentos do corpo, ¢ da pediatia com sen saher sobre a puericultura Mas, 20 mesmo tempo em que todas estas disciplinas dispunham ¢ dispdem de conhecimentos fundamentais para a {ntervengGo com bebés, foi na lacuna deixada entre suas provir que se fundou talespecialidade, situando 0 bebé no cerrie da intervengio clinica Com © avango cientifico, nao s6 propiciado por conhecimentos que foram possbilitando a realizacao de diagnasticos clinicos mais acurados, como também pela importincia decisiva que o progresso tecnoldgico foi ganhando nesse processo, fo! sendo possivel realizar cada vez mais cedo a precoce deteccio de patologias orginicas, Mas, uma vez que os médicos e os pais pessaram a ter acesso 2 diagndsticos orginicos precoces, encontraram-se com um vazio quanto A possibilidade de uma intervencao clinica que contemplasse a especificidade apresentada por um bebé com problemas de desenvolvimento, Esse foi 0 caso de bebés que, no final da década de 60, tinham finalmente diagnosticada geneticamente a trissomia no par 21 como causa da sindrome de Down, Naquele momento, além "slog Coit (1997), Pricer elnia com Bd, Port Alegre, Artes & Oficios 32 SITUANDO A CLINICA COM TERES Fealleagio diagnéstica, pouco mais havia para se oferceee além rontioles médicos de rotina.” Foi a clinica que impés 2 necessidade de estabelecer uma Jilervencio especifica que sustentasse, juntoao bebé e a sua familia, Ses que possibilitam a constituicao psiquica ¢ o avolvimenta, Porisso, anesar de queinicialmente foraim recebidos Hebés com sindrome de Down, logo comegaram a chegar a {ritumenio cm cstimulagio precoce bebés acometidos por diversos ‘outros problemas, com ou sem quadros orpiinicos de base, que Jwmpouco eram contemplados desde as praxisde outtas disciplinas.” Deste modo, o surgimento € a sustentagio de uma pritica Woes interdiseip lina em estado preeace se dew a partir da possibilidade le reconhecer que a intervengio de um bebé com problemas ¢ sua lumiia implicava uma especificidade da qual nao havia como dar gona de modo isolado desde os diferentes campos te6rico-clinicos f estabelecidos, ¢ de que a questio tampouco se resolvia por uma Justuposicao maliidisciptinar dos mesmos. — Para gue tatar se 0 problewa aprsentads nao rom cura? — Como intervie 9 digndstia orginien oe quadra pollen do bebé 19 estin plenementeconfigurades? — Qe tratameno indicar quando won bebé tem difeuldades em sérias reas de desenvolimento? Estes sio questionamentos que se repetem uma € outra vez, provenientes do ambiente médico, do social ¢ do parental, em 10. a bebés que apresentam problemas de desenvolvimento. W Cacti gt etm vigil eb gtalfg onndsa-s hadrons de Doan, 6 center camparcenam oe mata, pongas te profisionaie vconteananess devalidar diane da af de seu pacientes fmiliaes (..) Nem a eduapo eles, mm as wdicapbes baie ertetam a pina dtrnnayis da mainia ddster ang. (Lydia Coriat, 1971), Cido por Esa Coriat (1997), obra ctada, p.63 (Nd A), UNICEE (1978), Estinlacn Tenprara — nortan del ancient para of dares nif Saciago de Chile. Ver tambénn: Ilsa Coriat, obra citada, p. 64 (N. ea AL) 33 ENQUANTO O FUTURONAO VEM Justamente por isso, eles estdo situados a0 cerne da clinica interdisciplinar em estimulagdo precoce. ‘Tal clinica surge da possibilidade de escuta destas questdes © sua presi arpus te6rico se fundam pela formulagio ¢ teformulacio de respostas a estas questdes que insistem no dia-a-dia da vida de um bebé com ptoblemas e sua familia 1- Quando se detecta a presenga de um quadro orginico inexorivel — como é 0 caso de quadros sindrdmicos, Icsionais ou de malformagdes congénitas ~ a intervengio terapéutica pode ficar questionada, ma vez que ela nko conduzir A cura da patolagia. Para gue tratar se no tem cna? O que vai ser tratado, e nda bei como cesober 0 problenea? Concebemos que, diante de tal interrogacio, a intervencio com o bebé ¢ sua familia tem uma importante fungio clinica a0 conduzir uma diveia de cura do que nda s+ curs para que os efeitos Fantasisticos ~as fantasias inconscientes ~ engendrados nos pais pelo diagndstico orginico nto terminem produzindo uma série de obstéculos para o bebé tanto mais graves qué'as limitagdes impostas pela patologia organics em Como aponta Maud Mannoni ~ psicanalista pioneira na intervencdo com criangas acometidas de graves problemas orginicos: “Quando um fitor ogtnico est em jogo, esta eianga notem 36 que fazer fice a uma dificuldsde constitucional, mas ainda i Imaneira pela qual @ mle udliza esse defeito em um mundo fantasmstion que scaba por sercomum 20s dois. A realidadeda doenga nio 6, em momento algum, subestimads em uma pscanilise, mas o que se procura evidenciar & como a situagio realévivida pelacriang2 e pelasua fami, O que aiquie, entic, um seatido€ o valor simbélico que o sujeitoaribuia essa situagio em ressondnca 2 uma certahistériaFanilia.”= ¥ Com apora Alfa Jersaanly, obra iad, cap. 4(N. da A) . Por tae de prdconizagio na ado dos concetos,oseditones optic porfonriae rat 0 inves ce nao era, apes dh ator por veres via ets limos de juveativa des opgio em "Postico ~ Sobre tration Drisrods Prone Fic & Lovo, vl 2 edo, Again, Salvator, 1997) (N. dos E) Ma Man oc ng oy, So aay Vis Leer, 199, 9. 34 SITUANDO A CLINICA COM BEBES 2. A tradig2o médica toma como modelo para sua intervensio 0 diagnéstico realizado desde quadros patsl6gicos Fecnados. Parte, assim, para o estabelecimento de sua nosogralia, de um modelo adultomorfo, ow seja, de patologias plenamente configuradas que se apresentam com seus diversos sintomas estabelecidos.® Fintio, como situar af um bebé? Como indicar sm tratamento como intervir se 0 diggnistirs angdnico ou 0 quadro pratoligica do bebé ado estta plesamenteconfiguradse? Dado que a clinica da estimulagio precoce intervém nos Jempos primardliais, muitas ve7es recehemos pacientes que, mesmo diante da suspeita de um quadro orginico, ainda nao foram submetidos a rodos os exames necessérios para chegar a um duyndstico, pois nio tém sequer o tempo de vida suficiente para Imo, Por isso, a0 tratar-se de bebes, 0 etalvheimento do real, rmuites yezes, vai ocorrenda ao longo do tratamento, © ponto € que a vida nio pode ficar em suspenso enquanto ‘odiagndstico orginico no se define, pois a intervencio € com o ebé que apresenta um problema e nZo com a patologia Ha, nesse sentido, uma série cle operagoes clinieas que apontam ‘ onganizar 0 masco que faz possivel a constituigio psiquica € 0 desenvolvimento de um bebé, independentemente da patologia ‘onginica que estejaem jogo, e ambém a que os pais possam exercet as fungSes materna € paterna com o seu filho em lugar de fiearem tomades pela incerteza que composta o tempo de espera de uma definigio diagndstica. Jntervir no tempo de inilefinig20 diagndstica, tempo em que \filiago de um bebé pode ficar em suspenso & espera do parecer A respeto dns modebs psleapatolégicos ver Jean Jacques Rassil (1990), Psicose i adoleseéncia, Ennion de Chama, n4, Porto. Akgre, Centro Lydia Coriat de Porto Alegre (. da A. Zoma sponta Alfed Jenssalincky, nestabelecimerso do teal Eumpassoazcessicio pasa a dizegio do tratamento na interengio com problemas do desenvelviment infanel. Tal passo permite extabelecer até que ponto urm limitagio presente ns podusio da ctianga tem causts oxganicas. Obra citada, cap. 4 (N- da Ad, 35 ENQUANTO 0 FUTURO NAO VEN médico, é vio importante quanto intervie diante da certezs de uma patologia que vem a fazer obsticulo a que os pais cologuem em cena seu saber inconsciente e consciente para exetcer 4 materna e pateena com o bebé. Fangdes |. Acinica da estimulagao precoce nao se limita a intervie com bebés que apresentam suspeitt ou confirmacio de problemas onginicos. Muitas vezes recebemos bebés em relic2o aos quais os médicos percedem que “algo no esté bem”, ainda que, exame apés exame, no se encontre neles nenhum comprometimento onginico de base. Assim, pot exemplo, chegam bebés com alteragdes fRuncionais especificas — no sono, na alimentac2o, no estabelecimento psicomotor etc. ~ e, mais freqiientemente, bebés que apresentam “atrasos generalizados no desenvolvimento”, ou ainda, bebés com “tragos de desconexao” © pequenas criangas com “condutas estereotipadas” ou “atipicas” queapontam incidéncia de problemas na constituigao psiquica. Sio casos em relaglo aos quais, pela precoce detecgio intervengio, pode-se evitar a plena instalacig da patologia , em grande parte deles, dar lugar a uma reinsctigio do modo de fancionamento da estrutura psiguica do bebé ou pequena crianca. Daf a importincia de trabalhar junto Aqueles profissionais que normalmente intervém com a infincia, sais como pedagegos € pediatras, ji que a detecc4o precoce permite que possa ser realizada uma intervengo — as vezes mais curta eespecifica, oucrasimplicando. um tratamento — em lugar de se ficar esperando que quadro clinicu de bebé esteja absolucamente eonfiguradlo em todas as suas manifestagdes patolégicas, que corresponda ponte a ponto a todos os critérios nosogrilicos para fechar um diagnéstico ¢, poranto, que sé se intervenha diante da patologia plenamente instalade, A clinics com bebés open pela precoce deteceio de tragos que, a partir dos cuidados parentais € das produgdes do bebé, indicam a incidéneia de problemas no marco da constituigio do bebé. Nao é preciso esperar que 0 quadro patolégico esteja plenamente instaurado para intervir, pois é possive ler os primefros indicadores clinicos que levantam a suspeita de que a constinuigio 36 SITUANDO A CLINICA COM BEBES hebé io vai bem, em um rempo em que ainda estio sendo Jecidas as primeiras inscrig6es do sett funcionamento pulsional, Mle sua constituicio psiquica e, portant, em um tempo em que yyWuralmente hd maior permeabilidade a inscricdes e reinscrigdes.* 3 Como intevir quando 0 bet apresenta difculdades em vitiasdreas do desemvobioenta? Atualmente é comum que, a0 set detectado um quadro de %incdirbio global do desenvolvimento”, um bebé seja eneaminhado 4 multiplos tratamentos. J4 quando 0 diagndstico indica omprometimento orginico de uma determinada fangio do bebé, Inuilas veres se procede com uma “estimulacio especifica” da dea Afctada. Por exemplo, se i um déficit auditivo, indica-se “estimulagio aucltiva” em fonoaudiologia, ou se ha paralisia cerebral ne intervém desde métodos fisiorerapeaticos, © assim por diante. Neste ponto ¢ preciso recordar que, quando a estimulagio precoce surgiu enquanto clinica dedicada a intervengio com bebés, diferentes disciplinas como fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, pedagogia, pscologia, entre tantas outras existentes, tinhan um trabalho com a infancia dirigido, principalmente,a criangas cem idade escolar, Hoje em dia a situacio é outra, As mais diversas disciplinas eomecam a ficarsobre a bebé sur objeto de estudoe a intervir ‘com este a partir de wm recorte de sua érea de conhecimento, Ovorte, assim, uma transposicio da aplicacio do conhecimento de cada firea, de suas técnicas jf estabelecidas ou de novas téenicas de “estimulayao especifiea”, no bebe. © problema é que onde se vé a frvore nao se vé a Floresta. Quando o alhar fica centrado no deficit ¢ na técnica a aplicar, 0 que se perde de vista é 0 bebé, Se a ciéncia veio se organizando pela subdivisio de seus objetos de estudo, permitindo ter conhecimento acerca da legalidade que sege a aquisicio de cada area na infiscia, 0 que tende a ficar esquecido nese processo € que uma aquisicao instcumental, para que seja efetivamente ums aquisicio, tem que ser de alguém, Tal quest €abondacla no cana FE possvel prevenirou w res emedin? (Nida A), aq ENQUANTO O FUTURO NAO VEM O estabelecimento do circuita pulsional® que permite que luma fangio atue no ocorre de modo auténomo, E preciso que haja ai um desejo implicado — desejo que, para um bebé, 6 inicialmence sustentado por um Outro encarnado. Neste sentido, quando se procede a partir de multiplas intervencdes ox de intetveneties que tecortam o déficit, desconsideranda as condigies constituintes de um bebé e lancando-o a0 anoaimato de varias técaicas, os efeitos podem ser iatrogéricos. Ignoraristo, oa intervira partirda pritica que pretende deixar ‘1 inserigio do sujeito do desejo “de fora”, tem os seus efeitos, efeitos estes extremamente desorganizadores para criancas pequenas ¢ tanto mais para um bebé (que ainda ni tem esiabetecido o Eu), seja porque tal bebé passa a padecer 0 super-invedtifiento que se dirige justamente Aquilo que no seu compo Fracassa, seja porgue a multiplicidade de intervencdes fragmenta sua possibilidade de reconhecimento, Deste modo, a experiénelt clinica apontou a importincia de estabelecer um dispositive que, contemplande os conhecimentos cieatificos de diversas areas que sio necessirios a esta intervencio, ao mesmo tempo, propiciasse um marco favorecedor para a ‘constituisio psfquica e para as aquisigdes instrumentais de um bebe Foia parti da consideraciode tais quesides clinicas que seconfigurou 0 dispositivo de wn terapeuts nia vo mare de tana equipe intedicipinar® na intervengio com a primeira infineia ® Questio trabalhada no capitulo Temporaldade ¢ desenvolvimento {N, de AY). ‘modaldade de intervengio de um Torgpen tic em eximulao priser ne mano inecdieptinar proposta c utleada hé mais de 25 aros pelas equipes do Centro Lydia Cone de Porto Alegee e de Buenos Alzes na intervengio com bebis 6,4 panic dal, por outmas instiraigdes que passaram cam! ‘como refetencia na intervencao com 2 primein infanda. A fandamentagio edrica deta dispositive pode ser encontrada em diferentes producSescientificas pubicadas [por esss instituigbes, tis como as tevistas Chadonto el Desaralo Ion, Buenos Altes; Estes da Chiania Porto Alegres Erorasd la lnfowda, Buenos Aires liveo in de Alftedo Jerasalinsy Prcondtvee Problimas do Drsenobsento Infanti Artes e Oilelos; €0 livzo de autoria de Elsa Curia Py tom bubs Porto Alegre, Attes © Offcis (N. da A). 38 im a tomar tl dispasitivo mate nto SITUANDO ACLINICA COM BES A interdisciplina possiilita af a interlocueio entee diversas reas, o que éimprescincivel ao trarar-se debebése criancas pequenas pom problemas de desenvolvimento. [ a intervengao de ww Jerapeuta especializado no trabalho com bebés « cargo da direcio do tratamento cumpre a importante fancdo de possibilitar o gitabclecimento de uma referéncia no tratamento, Deste modo, nio lo os pais e 0 bebé que tém de padecer efeitos desagregadores a0 lear deparados com os diversos discursos cientificos ou efeitos de fedugio do bebé ao déficie diante de uma intervengao que sublinha A fungio que fracsssa fato que, desde o nascimento da estimulagio precoce até ioje em dia, Foram surgindo novas concepgaes elinicas ~ quanto a0 Modo e findlidade da ietervencio, 20 lugar do paciente ¢ dos pais ho tratamento ¢ também quanto 4 fungio eo lugar do elinieo. Assim, sob 0 mesmo nome de “estimulacin precace” hoje coexistem lntervencdes elinicas muito divergentes que se apoiam em diferentes cortes epistomolégicos. © surgimento de tais pritieas sempre se produz ~ quer elas déerm conta disso teoricamente ov nao - como fp estabelecimento de regpostas, deste uma ow ourra inclinacao étiea, os questionamentos centrais anteriormente citados que se lpresentam na vida de bebés com problemas € suas familias + Fntre algumas das explicagdes mais recorrentes que hoje mn dia justificam as mais diversas intervengdes com bebés podemos encontrar priticas fundadas em explicagdes tautoldgicas do estimalar porque é bom” ¢ “quanto antes melhor” que auto~ explicam seas beneficios a partir da atribuigho de uma inazdncia orapinticn de certos dbjetoe ~ sejam eles a gu, 08 animals, as cores, 28 formas, 0 movimento, etc, Actescem a0 nome de tis objetos a palavea “terapia” 6, a partie dos spostos efeitos benéiieos por cles propiciados, sugerem que a “experimentagio” dos mesmos pelo bebé seria, por si s6, propiciadora de desenvolvimento. Sia poucosas pais que situam todas.as suasapostis de melhora do filko nesse tipo de intervencdes, mas muitos deles as mantém ‘atividades complementares do tratamento propriamente 39

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