Encontramo-nos na Terra como espíritos em transito, aprendendo a
lição da vida e a resgatar os erros das vidas passadas a que se aplica a frase evangélica de sermos «sepulcros caiados por fora, mas cheios de podridão por dentro». Ainda hoje, envolvidos nos nossos pensamentos pecaminosos, que nos levam a actos irreflectidos no que respeita às nossas responsabilidades espirituais, nós não poderíamos ter melhor comparação. Auscultamo-nos nos segredos mais íntimos, mas afastamo-nos de nós mesmos, por vezes horrorizados pelo receio do ignoto que a nossa consciência regista, atormentando-nos com o espectro da trágica visão da morte. Abrem-se as portas da liberdade mas precipitamo-nos, a todo o momento, nas algemas que nos prendem ao sofrimento, pelo abismo de todas as misérias e no lodaçal de todos os crimes. É a consciência entorpecida pelo narcótico dos prazeres materiais que nos venda ainda a visão espiritual do amanhã, em que teremos que resgatar, com juros pesados, o empréstimo contraído para a satisfação dos vícios e da sensualidade, da ambição e da avareza, para onde nos levam o nosso livre-arbítrio. O homem não pensa nos milhões de seres enclausurados na dor, distribuídos em todo o mundo, nesses antros de sofrimento: aleijados, cegos, surdos, anormais, mentecaptos etc. Não pensa nas tragédias dos lares cheios de sofrimentos causados pelas misérias degradantes do mau uso desse património sagrado que Deus nos respeita para nos obrigar a semear o que queremos voluntariamente, e a colher o que não queremos inexoravelmente para melhor podermos aprender a lição da vida. E os restos da podridão infecta entram no laboratório da natureza que tudo reduz ao pó da Terra que nos alimentou fisicamente para depois nos devorar… O que ficou de nós? Uma alma purificada pela dor ou um monstro liberto das algemas da matéria? Algo ainda de belo ficou impregnando o ambiente para que, ao partirmos, possamos sentir que a morte nem tudo desagregou. Ondas magníficas de pensamentos saudosistas recordam, ainda que por fagueiros momentos, a passagem pela Terra de alguém que foi enterrado ou depositado em jazigo como restos de corpos a quem faltou a vida. E tanto a campa rasa como os jazigos arquitectónicos nivelam todos os homens numa personalidade comum e recebem apenas corpos em decomposição, em contraste com outros corpos erectos, cheios de beleza física, aos quais o Mestre chamou de sepulcros caiados onde impera a vaidade, o orgulho e dissimulada hipocrisia que constituem a podridão da alma, tantas vezes chorada ou amaldiçoada por aqueles que ficam aguardando a sua vez. Cultuemos os nossos mortos porque eles se alimentam da nossa lembrança, como nós nos alimentamos com o pão do corpo, mas preparemo-nos para essa grande viagem procurando compreender que não estamos no mundo por acaso, mas sim para aproveitarmos uma grande oportunidade de compreender as Leis Divinas que nos regem e de nos harmonizarmos com elas. Mortos somos nós e mortos permaneceremos, após a morte do corpo, se não cultivarmos as virtudes da alma e se não aprendermos a lição que devemos uns aos outros de nos amarmos como Jesus nos recomenda.