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Educagao e sociedade Como vimos no capitulo 1, os individuos s6 se tornam verdadeiramente humanos quando interagem com outros individuos, convivendo com eles em sociedade. Em outras palavras, sem 0 denso tecido de interagées sociais do qual participa toda crianga, simplesmente nao haveria humanidade. ‘Nosso capitulo final esta voltado para o estudo do papel da escola e da educagéio nesse processo de interagéio social e de socializagéo. E por meio da educagao que os povos transmitem 4s geragies mais jovens sua heranga cultural, seus conbecimentos, seu modo de vida e suas regras e valores. Ao passar por ela, os indivtduos adquirem as informagoes necessdrias para uma vida ativa em sociedade e stio preparados para conviver com os outros de acordo com as normas dos grupos sociais a que pertencem. Objetivos da educa¢gao O que integra o individuo a sociedade e ao grupo social ern que vive é 0 patriménio cultural que ele recebe. Essa transmissao comega no momento em que ele nasce (e até mesmo an- tes, quando ele se encontra ainda no Utero ma- terno e recebe estimulos de diversas proce- déncias do meio social). O vefculo pelo qual ela é realizada nesse momento inicial da vida é a familia. Depois, toda a sociedade interage com ele. Em todos esses momentos, 0 individuo est assimilando valores e regras por meio da educagao. Assim, so objetivos da educagaoa trans- misséo da cultura, a adaptagao dos individuos & sociedade, o desenvolvimento de suas poten- cialidades e, como conseqiiéncia, o desenvohi- mento da personalidade e da prépria sociedade.y A ccrianga, ao aprender as regras de com- portamento do grupo em que nasceu, inicia seu processo de socializagao. Isso acontece desde que aprende a dar os primeiros passos, a falar as primeiras palavras, de forma a poder se comunicar com os outros seres humanos. A partir desses contatos primérios, ela assimila uma série de informagGes basicas para a con- vivéncia humana. Amedida que cresce, seu processo educa- tivo vai adquirindo complexidade. E um processo Permanente, que nunca termina, pois vai acom- panhé-la durante toda a vida, Em uma palavra, ela estara sempre aprendendo novas coisas: informagdes, valores, formas de comportamento. Introdugao a Sociologia Entretanto, a educagao nao é um processo de aprendizagem i abana aprende, acrianga reage com atitudes e formas de agir, sentir e pensar que exercem influéncia no pré- prio processo educativo. Além disso, a educa- gao permite que a crianga, ao crescer, também possa interferir no meio social em que vive, aju- dando a incorporar inovagées e até a modifi- car padrdes culturais estabelecidos — ou seja, contribuindo para transformar a sua prépria tealidade, HZ 0 processo educativo 5 A educagao pode ser informal ou formal. is (Educacao informal, assistematica ou difusa. E a que ocorre na vida didria ‘por in- termédio dos contatos priméarios (com.a familia, por exemplo) e pelo aprendizado das tarefas normais de cada grupo social, pela observago do comportamento dos mais velhos, pela con- vivéncia com outros membros da sociedade)} E realizada sem nenhum plano, sem local ou hora determinada. Todas as pessoas, todos os grupos; enfim, toda a sociedade participa des- sa forma de educagao.\A expressao popular “Quanto mais se vive, mais se aprende” reflete 0 processo pelo qual as pessoas estao con- tinuamente aprendendo. | /Nas comunidades mais isoladas, onde ain- da no ha escolas, a educagdo assistematica 6a Unica forma de educagdo existente. Nessas comunidades, criangas e jovens aprendem ao Participar ativamente da vida familiar e comu- nitériay Assim, adaptam-se pouco a pouco ao estilo de vida do grupo. No caso de povos indi- genas, por exemplo, as provas pelas quais os adolescentes passam antes de ingressar no mundo dos adultos representam um rito de pas- Sagem necessério para consagrar uma adap- tagdo jA efetivada (lela o boxe a seguir). Aprender vivendo Entre os ind{genas brasileiros, os meni- nos observam os homens quando estes fa- zem arcos e flechas; os homens os chamam para perto de si e eles se véem obrigados a observa-los. As mulheres, por outro lado, levam as meninas para fora de casa, en- sinando-as a conhecer as plantas boas pa~ ra confeccionar cestos ¢ a argila que serve para fazer potes. Em casa, as mulheres tecem os cestos ¢ curtem a pele de cabrito diante das meni- nas, dizendo-lhes, enquanto estdo traba- Thando, que observe cuidadosamente, pa~ ra que, quando forem grandes, ninguém as possa chamar de preguigosas e ignorantes. Ensinam-nas a cozinhar e aconselham-nas sobre a busca de bagas e outros frutos, assim como sobre a colheita de alimentos. (Adaptado de: Carlos Rodrigues Brando, O que € educapdo. S20 Paulo, Brasiliense, 1984. p. 21.) “Edueacao sistematica ou formal. Embo- ra esteja sempre presente na vida do individuo, em sociedades complexas a educagao infor- mal nao é suficiente. A divis&o do trabalho e a diversidade de papéis sociais exigem de crian- Gas e jovens a passagem pela escola, onde re- cebem educagao sistemética ou formal{Seu objetivo basico é a transmissdo de determina- dos legados culturais, isto 6, de certos conhe- cimentos, técnicas ou modos de vida, de forma a preparar o individuo para os papéis que ele sera chamado a desempenhar ao longo da vi- da em sociedade (ter uma profissdo, ser pai ou mae de familia, estar preparado para exercer a cidadania ete.) } Ainstrugao formal é uma modalidade orga- nizada, metédica e seletiva de educagdo, jA que, diante das caracteristicas da cultura de cada Capitulo 12 * Educagiio e sociedade sociedade, seus promotores selecionam os as- pectos que consideram essenciais ou mais ne- cessarios para serem transmitidos. Embora as instituigGes sociais - como a familia, a lgreja e os meios de comunicagao de massa — exergam grande influéncia na educa- cao das pessoas, a escola (em todos os seus niveis) € a instituigéo especificamente organi- zada para transmitir esses conhecimentos. (Quanto mais desenvolvida uma sociedade, mais amplos e complexos os processos de educagao formal que, pela sua extensao, ten- dem a se tomar cada vez mais especializados. Nas sociedades modernas, a escola passou a ocupar um papel essencial na integragéo do individuo & sociedade. Y A medida que, com as novas tecnologias, os meios de produgao se automatizam, o tra- balho manual vai perdendo importancia. J nao & possivel, como ocarria no passado, que pes- soas com pouca ou nenhuma instrugéo pos- sam progredir profissionalmente. Na sociedade do futuro, a do conhecimento, terdo vez apenas s individuos dotados de uma educagao apro- priada. Os que néo tiverem acesso a ela serao inevitavelmente excluidos. Diante disso, a educagao formal qualificada tornou-se prioridade absoluta dos governos. Os paises que nao se prepararem convenien- temente para o novo mundo que esta surgindo ficarao para trés, assim como seus cidadaos. Dessa forma, a educagao passa a ser cada vez mais um instrumento vital para que 0 individuo possa enfrentar os desafios da sociedade con- temporanea. Por sua vez, a universalizagao da educa- 40, isto 6, a possibilidade de acesso de todos 98 jovens a instrugo formal, passa necessaria- mente pelo ensino publico. Cabe ao Estado investir macigamente na educagao, especial- mente no ensino basico, como forma de garan- tir oportunidade igual a todos os membros da sociedade. E nessa perspectiva que 0 professor Cris- tovam Buarque, ministro da Educagéo do go- verno de Luiz Inacio Lula da Silva entre janeiro de 2003 ¢ janeiro de 2004, alerta sobre a mer- cantilizagao do ensino (uma tendéncia do mun- do neoliberal), que pode chegar ao que ele chama de “estado de dessemelhanga”. Nesse caso, dentro de trinta anos haveria uma minoria educada, alienada e integrada ao mundo da globalizagéo, em contraste com uma grande maiorla sem acesso & educagéo. Além disso, para o professor Buarque a mercantilizagéo do ensino pode conduzir a uma segregacao de contetidos. Os curriculos das escolas tendem a dar importéncia apenas a matérias de interesse imediato, econémico, deixando de lado questes humanisticas, que formam a base da convivéncia civilizada em toda sociedade democratica (leia os boxes “O Brasil precisa melhorar sua educagao” e “Uni- versidade: um funil para poucos") O Brasil precisa melhorar sua educacdéo © ministro da Educagao, Cristovam Buarque, langa hoje 0 Mapa da Exclusio Educacional. O estudo do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio- nais), feito a partir de dados do IBGE (Ins- tituto Brasileiro de Geografia e Estatistica) e do Censo Educacional do Ministério da Educagao, mostra o nuimero de criangas de sete a catorze anos que estao fora das escolas em cada Estado, Introdugiio a Sociologia » Segundo 0 mapa, no Brasil, 1,4 milhao iangas, ou 5,5% da populagao nessa de faixa etdria (sete a catorze anos), para a “qual o ensino & obrigatério, nao freqiientam as salas de aula, 0 pior indice € 0 do Amazonas: 16,8% das criangas do estado, ou 92,8 mil, estao fora da escola. O melhor, o Distrito Federal, ‘com apenas 2,3% (7 200) de criangas exclut- das, seguido por Rio Grande do Sul, corn 2,7% (39 mil) e Sao Paulo, com 3,2% (168,7 mil). De acordo com dados divulgados pelo IBGE, a situagao € pior na faixa dos sete anos: 7,7% das criangas em todo o pats ainda nao comegaram a estudar. A situacéo mais rttica ocorre em alguns estados do Norte: em Rondénia, a taxa é de 28%; no Acre, 24,5%. 0 quadro também nao é nada favorével quando se tomam os dados do iiltimo Censo sobre a populagao de quatro a seis anos, que deveria freqiientar a pré-escola. Cerca de 38,6% dessas criangas, o equivalente a 3,8 milhes, nao recebem atendimento escolar. Isso € pior para a faixa de 0 a 3 anos: apenas 9,4% freqiientam creches. As divulga- ¢6es anteriores do Censo jA mostraram que, de 1991 a 2000, a escolarizagdo aumentou em todas as faixas etdrias, O analfabetismo, para a populagao com mais de 15 anos, caiu de 19,4% em 1991 para 12,9% em 2000. Para Ana Liicia Saboia, chefe da Divisdo de Indicadores Sociais do IBGE, a preocupagao com as criangas menores se deve ao fato de que, muitas vezes, a crianga de sete anos que nunca foi a escola antes sente dificuldade no aprendizado. ‘A situagdo do pré-escolar é muito ruim. Os estudos mostram que o in- gresso com quatro anos é fundamental para 0 desenvolvimento cognitivo”, afirma. Estudo feito por ela com base em dados do Censo mostra que o Brasil tem 224 mu- nictpios com 100% das criangas de quatro anos fora da escola. (Ménica Bergamo. Folha de 5,Paulo, 3.12.2003.) Universidade: um funil para poucos 0 Brasil € um pats de poucos diplomas Universitérios, concentrados numa elite: ape- nas 6,8% da populagdo com mais de 25 anos Coneluiu o ntvel superior. A regido Sudeste, a mais rica do pats, concentra 59,7% dos di- Plomas e os brancos tém quatro vezes mais acesso ao ensino superior do que os pretos, Pardos e ind{genas. ‘bltulo 12 + Educagiio e sociedade Ao todo, s6 5,8 milhées de brasileiros tam nivel superior, sendo 5,5 milhdes com gra- duagao (6,4% do grupo acima de 25 anos) e 304 mil com mestrado ou doutorado (0,4%). Houve um aumento em relagdo a 1991, quan do essa proporgao era de 5,8%. No conjunto da populagao (169,7 mi- Thées), a proporgéio das pessoas com nivel su- + perior concluido cai para 3,4%, de acordo com as dados do Censo 2000 realizado pelo IBGE, Em 1991, a taxa era de 2,7%. Apesar do aumento em relagéo a 1991, a proporgio de brasileiros com ntvel superior € considerada baixa pelos especialistas se comparada a de patses desenvolvidos ou em desenvolvimento. O IBGE fala em “quadro perverso” para a educagao no Brasil. Dados do Banco Mundial assinalam que, no final dos anos 1990, o Brasil tinha uma taxa bruta de escolarizado no ensino su~ perior de cerca de 15%, enquanto, na mesma época, a taxa era de 36% na Argentina, 63% na Australia, 38% no Chile, 54% na Franga, 21% no México e 73% nos Estados Unidos. Essa taxa ndo mede o nuimero de graduados, mas 0 nimero de matriculas em comparagao com a populagao em idade universitaria. Para a consultora em educagdo Dolores Kappel, a expansao do ensino superior na iltima década ficou muito abaixo das ne- cessidades do pats. (...) As mulheres (equivalentes a 50,3% da po- pulagao) representam 54,3% dos que tém nt- vel superior, sendo 55% dos graduados e 43% dos que tém mestrado ou doutorado. Os til- timos vinte anos foram fundamentais no aces- so feminino ao ensino: em 1991, as mulheres (isto 6, todas as mulheres do pats, endo ape- nas as que tém curso universitdrio) alcanga- ram amédia de 4,8 anos de estudo, empatando com os 4,7 anos obtidos pelos homens. Em Por sua vez, os instrumentos de diftusao do conhecimento também se ampliaram conside- ravelmente, colocando a disposigéo dos que tém acesso a computadores uma quantidade 2000, chegaram a 5,9 anos, enquanto os ho- mens registraram 5,6 anos de estudo. Mais brancos 0s dados do Censo mostram que a uni- versidade no Brasil é quase uma exclusivida- de dos brancos: da populagao com mais de 25 anos e ntvel superior, 82,8% sao brancos; 12,2% sao pardos, 2,1%, pretos e 2,3%, ama- relos. $6 0,1% & indfgena. Em comparagao com o total da populagao do pats (53,8% de brancos, 6,2% de pretos, 0,5% de amarelos, 39,1% de pardos e 0,4% de ind{genas) ha mais brancos ¢ mais amarelos que o esperado. Quase nada mudou em relagao a 1991, quando o Censo apontou que 83,1% dos que tinham nivel superior eram brancos. Para o cientista social José Luiz Pe- truccelli, do Departamento de Indicadores Sociais do IBGE, a baixa presenga de negros na universidade “nao tem outra explicagao a néo ser racismo”. “E a discriminagao, é a sociedade de castas presente no Brasil.” (Adaptado de: Fernanda da Escéssia. Folha de S.Paulo, 3.12.2003.) crescente de informagdes, como acontece ho- je com a Intemet. Esse novo meio de comu- nicagéo, como veremos a seguir, poderd ser um inestimavel auxiliar do processo educativo. Introdugao a Sociologia A escola 6, por definigéo, um lugar de transmisséo de conhecimentos e de socializaggo. Para cumprir esse objetivo, deve dispor de meios materiais compativeis com sua fungo e seus integrantes devem trabalhar em condigdes de seguranga. Nem sempre, contudso, isso acontece no Brasil. Como consequiéncia da exclusdo social, muitas pessoas extravasam seu ressentimento depredando escolas, algumas vezes para roubar. Na foto, jenela de escola quebrada em Campinas, Séo Paulo, 5.12.2001. Educagao e Internet Vivemos em uma época na qual nunca foi 10 facil obter informagées. Em 2003, por exem- plo, existiam na Internet cerca de 3 bilhdes de Paginas disponiveis. Atualmente, uma sd edi- $40 do jornal norte-americano New York Times Contém mais-informagéo do que uma pessoa Comum poderia receber durante toda a sua vida na Inglaterra do século XVII Com a incorporagao dos recursos quase ili- Mitados da Internet ao ensino, a educagao esta Se modificando. Para os estudantes surgiram no- Yas formas de apreender o conhecimento, mas grande desafio transformar essa enxurrada Capitulo 12 + Educagao e sociedade de informagées eletrénicas em conhecimento verdadeiro, isto é, sistematico e util para a for- magdo de espititos criticos, dotados de discer- nimento e capacidade de pensar por si proprios. Como instrumento de conhecimento, a In- ternet oferece vantagens, como permitir o aprendizado a distancia, por meio de educagao virtual, sem que seja necesséria a presenga de um professor; fazer rapidas pesquisas em bi- bliotecas, enciclopédias e arquivos de todo o mundo; visitar museus em outros paises sem sair de casa; participar de teleconferéncias; tro- car informagées com pessoas de qualquer lu- gar do planeta; assistir 4s aulas de professores das melhores universidades do mundo, fazen- do perguntas e recebendo respostas na hora (ou “em tempo real”) O que antes era apenas um sonho dos fu- turdlogos da ficgao clentitica transformou-se rapidamente numa realidade tangivel, utilizavel por qualquer crianga do Ensino Fundamental ‘ou por adolescentes inscritos em cursinhos pré-universitarios, Com sua rede mundial de computadores, que chega as escolas e residéncias pela linha telef6nica, via cabo ou satélite, ela 6 0 recurso ‘tecnolégico que possibilita tais contatos e trans- miss6es instantaneas. A Internet coloca a disposigao de alunos e professores um volume de informagées nunca antes imaginado. Aquele texto que antes po- deria ser encontrado provavelmente em uma biblioteca distante, 0 quadro exposto em um museu do outro lado do mundo, aquele mapa que s6 0 professor conhecia, a exposig&o do corpo humano nas aulas de biologia ~ tudo isso e muito mais - agora estao ao alcance de todos por intermédio do teclado e do mouse do computador. Como o contetido das aulas é posto diaria- mente na rede, criangas que tenham faltado & escola, por exemplo, podero recuperar as au- las perdidas sem sair de casa e sem precisar recorrer a ajuda de colegas. ¥ Por outro lado, a Internet provoca um novo desafio pedagégico: ganha-se em velocidade e em volume de informag6es, mas perde-se aquilo que antes era proporcionado pela pre- senga humana, 0 olho no alho, 0 contato fisico, a pesquisa direta nas fontes|Como aproveitar ao maximo os ganhos gerados pela nova midia e diminuir as danos causados pelos mesmos recursos é 0 atual dilema dos especialistas em educagao (lela 0 boxe a seguit) Ensino real e educacao virtual Até que ponto recursos tecnolégicos como a Internet e o computador poder&o ocupar o lugar do professor no processo de ensino-aprendizagem? Com a Internet se tem acesso a ilimitadas possibilidades de conhecimento, mas os contatos humanos diretos tendem a diminuir, estimulando 0 isolamento ¢ o individualismo, em detri- mento da convivéncia e da interago. Ques- tdes como essas so discutidas no texto do sociélogo francés Edgard Morin que voce vai ler agora. Apesar de todos os avangos da informa- tica, € dificil que 0 ensino virtual, via In- ternet, substitua com os mesmos resultados 0 que é ministrado pelo professor de carne ¢ osso. Na verdade, a figura do professor que conhece cada um de seus alunos jamais seré substituéda pelo ensino virtual, que pode, no méximo, ser um bom complemento. Lamento que os pais e mestres j4 nao sirvam tanto de modelo para os jovens numa sociedade as voltas com profunda crise de valores e de autoridade. : A educagao convencional, no ensino ba- sico e universitdrio, ja esta em dificuldades devido a um sistema escolar que se tornou muito especializado. O saber hoje & servido em fatias, e os elementos nele contidos nao se ligam uns aos outros. Diante disso, as novas tecnologias agravam ainda mais essa situagao. Introdugao a Sociologia » » Por exemplo, vejamos o caso da Internet. por meio dela, a pessoa pode pesquisar e reu- io dispersos. Por tanto, trata-se de um canal que nos permite ter acesso a diferentes fontes de informagées ¢ adquirir um certo nivel de conhecimento. Agora, um erro grave pensar que tais su- portes eletrdnicos, inclusive as videocon- frincias, irdo resolver os atuais problemas da educagao. nir conhecimentos que e O certo é que nada, no processo educativo, poderé substituir a importancia do, contato pessoal, humano. E por conhecer os alunos em suas individualidades que 0 professor pode ajudé-los a ter um melhor desempenho. 0 computador e a videoconferéncia ndo po- derdo fazer a mesma coisa. Nao dispdem, co- mo o mestre, do carisma e da paixao que ocupam um papel essencial no ensino. Hi Aescola A escola, em geral, emprega atualmente varios meios para atingir seus objetivos edu- cacionais. Destacamos alguns: ulocal e instalagdes apropriadas; a curriculos e programas planejados para cada etapa da educagao; "proposta pedagégica clara e baseada em Principios filosdficos definidos; «métodos e materiais didaticos apropriados & transmissdo das varias disciplinas, incluindo laboratérios de ciéncias e informatica; "professores especializados. ) Nos anos 1970, com os trabalhos do fil6- Sofo, psicdlogo e pedagogo sulgo Jean Piaget (1896-1980), houve uma grande mudanga na forrna de se conceber o ensino/aprendizagem © 4 telagdo entre professor e aluno. ‘*pitula 12 * Educagiio ¢ sociedade Em suma, a conversa com o professor € incomparavelmente mais fecunda e esponta- nea do que 0 didlogo interativo que se possa estabelecer com uma maquina. Novas tec- nologias, como a Internet, podem ajudar a desenvolver e enriquecer a educacdo, mas esta nao pode ficar reduzida a esses equipamentos e seus suportes conexos. As escolas que aderirem a nova tecnologia educacional devem ter a preocupagao de re- ‘forcar a socializago dos alunos, pois as relagdes humanas devem ser preservadas pa~ ra se evitar o individualismo excessivo, uma caractertstica marcante deste intcio de século. (Adaptado de: Edgar Morin. Ensino real e educagao virtual. O Estado de S. Paulo, 4.2.2001.) 4% Até entdo, predominava uma concep¢ao tradicionalista, na qual o aluno era tratado co- mo um agente passivo no processo pedagé- gico..Partia-se do principio segundo o qual a memorizagao, os exercicios continuos e a re- petigao constitufam o melhor método de apren- dizagem. Nessa perspectiva, 0 professor era considerado 0 Unico portador e difusor do co- nhecimento. Em oposigao a isso, Piaget desenvolveu uma concepgao pedagdgica na qual a crianga deixava de ser vista como um ser passivo, pas- sando a ocupar posigao central no processo educativo. Com base nessa concepgao, a psi- céloga argentina Emilia Ferrero desenvolveu uma nova filosofia de ensino: a concepgao construtivista. Segundo Emilia Ferrero, a aprendizagem de- ve estar diretamente ligada as coisas significa- tivas para a crianga, a sua realidade. De posse a oS ee Ensino tradicional m0 professor 6 0 centro do ensino-aprendizagem eed m0 aluno é 0 centro do processo educativo = 0 professor ensina, o aluno aprende m0 aluno é estimulado a levantar hipoteses wha objetivos (conhecimentos, habilidades e competéncias) a atingir 1m predominio da agao reflexiva m pensamento dedutivo ™ pensamento indutivo mapelo & memorizagao, a repetigao e ao treinamento wha habilidades a serem atingidas, o que pode ser feito em niveis dentro do mesmo grupo wha um programa a ser necessariamente cumprido 0 programa depende do proceso de ensino-aprendizagem dessas informagées, o professor deve desen- volver um ambiente emocional propicio a um aprendizado criativo. A concepgao construtivista foi adotada com sucesso nos anos 1980 e 1990, mas em dado momento comegou a apresentar proble- mas, tendo sua eficiéncia questionada. Desde entao, as escolas passaram a ado- tar uma posigao intermediaria entre o ensino tradicional e os novos métodos, aproveitando parte de cada um deles para difundir 0 co- nhecimento. O quadro acima compara as caracteristicas basicas do ensino tradicional e do ensino cons- trutivista. A escola como grupo social e como instituiga Do ponto de vista sociolégico, a escola pode ser estudada como grupo social ou como. instituigéo(Por um lado, ela ¢ uma reunido de individuos (alunos, professores e funcionérios) com objetivos comuns e em continua intera- cq) Vista por esse Angulo, a escola é um gru- Po social que transmite conhecimento. , Mas a escola é também uma instituigao, ou seja, uma estrutura mais ou menos permanente que redne normas e procedimentos padroni- zados, altamente valorizados pela sociedade, (bujo objetivo principal é a socializagao do in- dividuo e a transmissdo de determinados as- pectos da cultura e do conhecimento}, Educadores, educandos e outros grupos No estudo da estrutura da escola, perce- be-se a coexisténcia de dois grupos distintos mas interdependentes: os educadores e os educandos. \ Os educadores (diretor, professors, orien- tadores pedagégicos, auxiliares) representam - um grupo maduro — geralmente de idade mais elevada do que a dos alunos -, integrado aos valores sociais vigentes.|Sua principal tarefa Consiste em transmitir aos educandos esses valores sociais, além dos conhecimentos ba- sicos necessérios, de modo a prepara-los para avida em sociedade. O grupo dos educadores ocupa um status que Ihes permite dirigir 0 pro- cesso educativo, estabelecer normas e exercer lideranga sobre os alunos, Ba Introdugao a Sociologia Manifestagéo organizada pela UNE (Unido Nacional dos Estudantes) diante do Ministério da Educagao em apoio & greve de professores nas universidades federais. Brasfia, 18.06.98. No Brasil, apenas 3,4% da populacéo tem diploma universitério. A interdependéncia entre educadores e educandos se estabelece desde 0 inicio do processo pedagégico: um existe em fungao do outro. As formas pelas quais se manifesta es- sarelagao é que variam, indo das que se esta- belecem por meio da cooperagao — em que ambas as partes apresentam uma interdepen- déncia saudavel e significativa dentro do pro- Cesso educativo — as que se desenvolvem por Meio de um conflito - como quando a indisci- lina impede a evolugao da aprendizagem de uma classe ou quando o professor nao inspira Confianga aos alunos. Existem diversos métodos, principios e for- mas de educagao. O-construtivismo, por exem- Plo, € considerado por muitos a forma mais adequada para a absorgao do conhecimento, Pois se assemelha a uma aventura intelectual (leia 0 texto “Por que 0 construtivismo" na se- 40 Leituras complementares). Mas ha os que Preferem um modelo de ensino tradicionalista, baseado na imposig&o do professor sobre os alunos e uma estrita disciplina. Além desses dois grupos basicos (educa- dores e educandos), é possivel identificar na escola varios outros, tais como: grupos de ida- de e sexo (adultos, criangas e jovens; meninos meninas; garotas e rapazes); grupos associa- tivos (que se formam entre os alunos no dia-a- dia da escola); grupos de ensino (classe). Va- mos estudar os dois Ultimos. Grupos associativos Criados de forma quase esponténea a par- tir da vivéncia escolar, os grupos associativos podem ser de trés tipos: = grupos intelectuais - sao aqueles que se for- mam para estudo e pesquisa, discussao de assuntos tratados em aula etc.; m grupos recreativos - organizados para brinca- deiras, jogos em equipe, disputas e gincanas que se realizam na escola, mas fora do pe- rlodo de aulas; grupos cooperativos — S40 os que se organi- zam para realizar agdes nao relacionadas ao aprendizado da escola, Para atender determi- Capitulo 12 + Educagiio € sociedade nadas necessidades ou desejos individuais, podem surgir grupos cooperativos como os de jovens que se retinem para organizar uma festa, realizar viagens, conversar sobre sexo, planejar uma aventura etc. Grupos de ensino + Otipico grupo de ensino é a classe. Em ca- da sala de aula se retine uma classe. Os alu- nos e alunas que a compdem estao sujeitos a hordtios fixos e programas determinados, de- vendo freqiientar obrigatoriamente as aulas e submeter-se a verificagao de presenga e as fe- gras de aproveitamento escolar. {As classes so grupos artificialmente for- mados, uma vez que alunos e professores nao participam deles por escolha propria, mas por designagao da administragao}Além disso, seus integrantes, pelo menos no inicio, sao desco- nhecidos uns dos outros: Com 0 tempo, pode surgir um sentimento de solidariedade entre os alunos e entre estes € 08 professores, o que em geral facilita a trans- miss&o do conhecimento e o desenvolvimento da sociabilidade. Mas podem também surgir conflitos entre alunos e professores, e esta si- tuagao, no limite, pode levar a expulsao do alu- no ou a substituigdo do professor. Mecanismos de sustentagao dos agrupamentos na escola Seja como instituigao, seja como grupo so- cial, a escola reflete os valores da sociedade em que se encontra, Ao mesmo tempo, em seu interior ocorrem interagdes e surgem mecanis- mos reguladores bem especificos. A seguir, es- tudaremos trés desses mecanismos: lideranga, normas e sangées. \ Lideranga. O professor exerce sobre os alunos uma lideranga institucional, isto é, que decorre de sua propria posigo na estrutura da escola] Mas o bom andamento das atividades escolares depende também da lideranga posi tiva exercida por alunos, que, Por suas carac- teristicas pessoais (ou por seu carisma), se co- locam em posigao de orientar 0 grupo. 4A contrapartida disso 6 a lideranga negati- va — quando a orientagao dada pelo lider pode colocar em xeque a lideranga institucional do professor. Nesse caso, podem ocorrer conflitos e rupturas no grupo como um todo. (Normas. Existem regras que orientam o comportamento de alunos e professores. Assim, espera-se que o professor esteja presente no horario da aula, que cumpra o programa esta- belecido, que responda as duividas dos alunos etclDos alunos também se espera que estejam na escola no horario certo, que realizem as ati- vidades propostas pelos professores, que estu- dem a matéria ensinada, que usem roupas ade- quadas (ou uniformes, em certos casos) etc. ‘As normas pedagdgicas se referem ao de- sempenho escolar. Elas estabelecem critérios para a avaliagéio dos conhecimentos adquiri- dos, pelos quais se pode chegar a reprovagéo do aluno quando ha insuficiéncia. As normas pedagégicas também envolvem a superviséo da participagao do aluno no processo educa- tivo, sua atitude em sala de aula, os cuidados com 0 material escolar etc. (Sangées. Podem ser de dois tipos: = administrativas - baseiam-se na legislagao e Nos regulamentos internos da escola; exem- los: suspensao e dispensa por atitudes con — sideradas graves e reprovaco por falta; mgrupais ~ sao aplicadas pelos varios grupos e atingem tanto alunos quanto professores; podem assumir a forma de zombaria, rejeicé0. 0 idisciplina, fa iboracdo, desacato, avaliagao negativa pelo mau com: — portamento em detrimento de boas notas etc. Introdugao a Sociologia (Fuelmlels) (slulalelR i plols] 4k Cédigo de honra — Robert Mandel : 4 Bianca — Nanni Moretti Sociedade dos poetas mortos — Peter Weir %* Juventude transviada — Nicholas Ray % Sementes da violéncia - Richard Brooks Je Elefante — Gus van Sant SITES RELACIONADOS AO CAPITULO: Site do Ministério da Ecucagao: http://portal mec. gov.br/ Site do Férum Social Mundial: http:/wwwforumsociaimundial.org.brfindex.php Site da Organizagao das Nagbes Unidas para a Educagéi, a Ciéncia e a Cultura (Unesco): http://www.unesco.org.br QUESTOES PARA ESTUDO . Releia a resposta do indigena norte-ame- ricano ao convite do governo do estado de Virginia para que jovens da tribo fos- sem enviados para serem educados nas escolas dos brancos (capitulo 8). Depois, escreva um texto comentando a contra posigdo entre educagao formal e informal ali exposta. 2, Explique com suas palavras por que a ff educago 6 fundamental para todas as sociedades humanas. Depois, dé um de- poimento pessoal sobre um aspecto im- portante da educagao que Ihe foi transmi- tida nos bancos escolares. 8. Segundo o texto do capitulo, o objetivo da educagao 6 preparar os individuos para @ vida em sociedade, desenvolvendo suas potencialidades a propria sociedade. Ex- plique de que maneira ocorre o desenvol- vimento da sociedade na forma apresen- tada por essa definigdo. Cite exemplos em sua argumentacao. 4, Cite um exemplo concrete, tirado de sua vida, de educagdo assisteméatica ou in- formal. 8, Educadores e educandos. Escreva um pequeno texto sobre a interdependéncia entre esses dois grupos bésicos da es- cola 8. Cite trés grupos associativos de que vo- cé participa. Explique-os. 7. "O professor exerce sobre seus alunos uma lideranga institucional.” Explique es- sa afirmativa. Distinga normas de sangoes. Cite exem- plos de cada um desses mecanismos de sustentacéo dos agrupamentos escolares. /%. Qual a situagao atual da educagéo no Brasil? 0. Qual a importancia da educagao formal como instrumento de afirmacao da cida- dania? —_ TT Pesquisa em grupo Realize uma pesquisa para saber 0 que esté sendo feito no Brasil para implantara informatica na educagao, Que medidas esto sendo tomadas e com que resultados? Quais as dificuldades? A informatizaao na educagdo eqini- Me, ou seja, ela 6 igual em todas as regiGes do pals? Quais as vantagens da educacao informatizada em relagao a edu- agao tradicional? ‘pitulo 12 » Educagio e sociedade 423)

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