You are on page 1of 8
ae Jovens e Adultos Marilena Chaui Filosofia em T OL Volume nico CAPITULO 19 - O PENSAMENTO Pensando. Certa vez um grego " pensamento € o passeio da alma” . Com isso quis dizer que o pensamento ¢ a manei- ra como nosso espirito parece sair de dentro de si mesmo e percorrer 0 mundo para conhecé-lo. Assim como no passelo levamos nosso corpo a toda parte, no pensamento levamios nossa alma a toda parte e mais longe do que 0 corpo, pois @ ‘alma nao encontra obstaculs fisicos para seu caminhar. pensamento é essa curiosa atividade por meio da qual saimos de nés mesmos sem sairmos de nosso interior. Por isso, outro filosofo escreveu que pensar é a maneira pe- la qual sair de si e entrar em si so uma s6 e mesma coisa. Como um v6o sem sair do lugar. Em nosso cotidiano usamos as palavras pensar e pensa- mento em sentidos variados e miltiplos. Podemos chegar a uma pessoa amiga, vé-lasilenciosa e dizer-Ihe: “Por favor, di ga-me seu pensamento, em que vocé esta pensando?”” Com isso, reconhecemos uma atividade solitaria, invistvel pa- ra nés e que precisa ser proferida para ser compartilhada. Outras vezes, porém, podemos dizer a essa mesma pessoa: “Vocé pensa que no sei o que vocé esta pensan- do?". Nesse caso, damos a entender que dispomos de si- nais que nos permitem “ver” o pensamento de alguém e, portanto, acreditamos que pensar também se traduz em si- ais corporais e visiveis. O pensamento é menos solitério e menos secreto do que se poderia supor. ‘Algumas vezes, chegamos para alguém e indagamos: Como 6, pensou?”, e ouvimos a resposta: “Sim. Varios fazer 0 trabalho". Ou entao: “Ainda estou pensando no assunto. Vamos ver depois”. Nesses casos, pensar é toma- do por nés como sindnimo de deliberacao e de deciséo, co- mo algo que resulta numa acéo. Muitas vezes, podem dizer-nos: “Vocé pensa demais, no faz bem a sate”. Ou ouvimos a frase: “Ela ficou para- da Ié na esquina, quieta, pensando, pensando”. Podemos falar: "Por mais que pense nisso ndo consigo acreditar e, quanto mais penso, menos acredito”. Agora, pensar é visto como preocupacao (fazendo mal a satide), cisma (ficar pa- ‘ada, quieta, cismando), dévida (quanto mais penso, me- ‘nos acredito) ieee publicar algo que alguém . : “© pensamento do dia &...”, querendo dizer com isso que uma determinada idéia, definindo al- um assunto, foi publicamente anunciada. Essa mesma identificagao entre pensamento e idéia pode aparece, quando, por exemplo, um criticoliteraio escreve: "0 lyg de Fulano tem alguns bons pensamentos, mas tem outios banais", classificando idéias em “boas” e “banais", is ¢ umas que dizem algo novo ou interessante e outras quere. petem lugares-comuns ou frivolidades. Supomos, dss maneira, que ha bons € maus pensamentos, tanto assim que felarnos em "pensamento positivo” € em "afastar os maus pensamentos”. Um professor pode crticar 0 trabalho de um aluno d- zendo a ele: “Esse trabalho mostra que voce no aus pen- sar”. Aqui, pensar no é s6 ter idéias, mas também ago que se pode querer ou nao querer, algo voluntarioedelbe- rado, uma forma de atencdo e concentracéo. Essa imagem de concentracio aparece, por exemplo, quando alguém se zanga e diz: "Querem, por favor, fazer silencio? Nao esto vendo que estou pensando?” E jd mencionamos 0 célebre “Penso, logo exsto” (Co gito, ergo sum), de Descartes, e a definigdo do homem co mo “canigo pensante”, feita por Pascal. Aqui, pensar e pen samento indicam a propria esséncia dos seres humanos. © pensamento é, assim, uma atividade pela quala consciéncia ou a inteligencia coloca algo diante de si pare atentamente considerar, avaliar, pesar, equilibrar, eur, compreender, escolher, entender e ler por dentro O pensamento exprime nossa existéncia como seres racionais e capazes de conhecimento abstrato e intel” tual, e sobretudo manifesta sua propria capacidade pa dar a si mesmo leis, normas, regras e principios para aa cara verdade de alguma coisa. Quando pensamos, pomos em movimento o que ns vem da percepcSo, da imaginacéo, da meméria; apfeene mos 0 sentido das palavras; encadeamos e artculamos ir ficacbes, algumas vindas de nossa experiencia sensvel OF tras de nosso raciocinio, outras formadas pelasreacoes ®* tre imagens, palavras, lembrancas e ideias anteriores. Oper samento apreende, compara, separa, analisa, reune, orden’, sintetiza, conclui reflete, decifra, interpreta, interro9# inteligencia po" or obi” peer A psicologia costuma definir 2 fungéo, considerando-a uma atividade que tem P vo realizar nossa adaptacéo ao ambiente pelo es! LL “uansetato emespeho sc abradoartsta MC Eschey de 1935,0 reflex na sera nos sugere es caractestia do pensament:uma atiidade pela qua a

You might also like