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Sinopse

Em seu aniversário de dezoito anos, Lydia descobre que está destinada a


se casar com o rei Gabriel de Imarnia, e sua vida inteira vira de cabeça
para baixo. Usando seus raros poderes de fogo e anos de treinamento,
Lydia tenta resistir ao destino a todo momento.
Mas o rei Gabriel tem outros planos...
Classificação etária: 18 +
Autor original: Suri Sabri
Título Original: The Flames That Bind Us
Livro sem Revisão
E-book Produzido por: Galatea Livros, Meu Alfa me Odeia e
SBD
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Sumário dos Livros
Livro Um
Livro Dois
Livro Três – Não Lançado
Livro Um
Sumário
1. Segredos e Fogo
2. Olhos do Rei
3. Votos Quebrados
4. O Salvador das Sombras
5. O Poder da União
6. Vossa Majestade
7. A Slifer da Água
8. A Cerimônia de União
9. A Noite da União
10. A Artimanha de Lucius
11. Um Passeio no Jardim
12. Visões de Luxúria
13. O Funeral
14. Aramis Lester, Ao Seu Dispor
15. Intimidade na Carruagem
16. A Dança e O Livro de Decimus
17. Uma Noite de Paixão
18. Segredos do Passado
19. Um Novo Slifer na Cidade
20. O Toque de Cura do Rei
21. Fogo na Biblioteca
22. Brisa Fria e Vento Uivante
23. O Exercício de Fogo
24. O Trono do Rei
25. Doces Surpresas
26. Uma Noite com o Rei
27. A Rainha de Imarnia
28. Penetras
29. A Fúria da Slifer do Fogo
30. Dia de Honra
LUCIUS VOLTAIRE,
Você foi convocado para a Montanha Vidente pelas Vigilantes do Destino.
Apresse-se e não conte a ninguém sobre esta carta.
O futuro de toda Ignolia depende disso.
Aguardamos sua chegada...
— SEVERINA
Capítulo 1
SEGREDOS E FOGO
LUCIUS

Nenhum ser mortal jamais pisou dentro da caverna antiga e


sobreviveu para contar a história. Felizmente para Lucius, ele não era um
mero mortal.
O velho feiticeiro entrou mais fundo na escuridão, arrastando os
dedos enluvados ao longo das paredes rochosas, examinando os
desenhos a carvão que descreviam a história de seu mundo.
Imagens de reis e rainhas, magos e lobisomens...
Ele reconheceu uma das figuras, ele pensou. Uma pequena mancha
negra heroica enfrentando o que parecia ser... um dragão.
Lucius reprimiu uma expiração forçada, pegando seu cantil e
tomando um longo gole. Fazia muitos anos desde que Lucius era aquele
— feiticeiro. Ele só estava aqui agora porque as Vigilantes do Destino
exigiram sua presença.
As três poderosas irmãs bruxas não eram brincadeira. Ninguém tinha
vindo para esta montanha em séculos. E o motivo dessa carta, desse
convite... intrigava Lucius.
Há décadas que ele não fazia magia. O que elas poderiam querer com
um velho bêbado como ele?
O caminho escuro torceu e girou até que, finalmente, Lucius viu: uma
abertura em uma grande caverna, iluminada por estranhas estalactites
brilhantes acima.
Era uma sala do trono, Lucius percebeu. Sentadas em três tronos de
mármore idênticos, estavam três mulheres idênticas.
As irmãs sagradas.
As bruxas videntes.
As Vigilantes do Destino.
— Lucius, bem-vindo...
A do meio, que ele imaginou ser Severina, levantou-se lentamente. Ela
tinha cabelos brancos e sedosos que chegavam aos joelhos. Sua pele era
da cor de mel escuro e seus lábios um tom ainda mais escuro. Suas vestes
prateadas abraçavam seu corpo esguio e etéreo.
Embora ela fosse idêntica às irmãs, havia uma autoridade em seu tom
que dizia a Lucius que ela estava no comando.
— Já faz muito tempo que não te vemos... — Severina disse.
Eles nunca se conheceram, é claro, mas as Vigilantes do Destino
podiam ver qualquer pessoa em qualquer lugar do reino. No presente, no
passado ou no futuro.
Lucius sorriu com uma careta. — Eu tenho estado ocupado.
Ele percebeu então porque estava apertando os olhos. A bruxa da
direita estava segurando um orbe branco brilhante cheio de energia
incandescente.
Era a única fonte de luz na caverna. Era magnífico e assustador ao
mesmo tempo, como se o menor movimento pudesse fazer com que
explodisse.
Severina continuou: — Minhas irmãs e eu temos algo urgente para
compartilhar com você.
— Se for uma missão, — Lucius disse, balançando a cabeça, — você
sabe, existem outros feiticeiros mais jovens, — mais adequados...
— Esta ordem não vem de nós, Lucius, — Severina o interrompeu.
— Mas dos Deuses...
Com isso, Lucius ficou mortalmente em silêncio. A vontade dos
Deuses nunca deveria ser questionada. Ainda assim, Lucius achou que
isso não soava bem. A última vez que os Deuses interferiram nos
assuntos mortais, o resultado foi uma guerra de um século.
Uma guerra em que Lucius havia perdido muito.
— O que os Deuses poderiam querer de mim? — ele perguntou.
Severina se virou para sua irmã segurando o orbe e assentiu. De
repente, as bruxas fecharam os olhos, murmuraram em uníssono e o
orbe se ergueu no ar...
Lucius sentiu os pelos de seus braços se arrepiarem. Nunca em sua
vida ele sentiu uma magia tão poderosa como esta.
A esfera começou a tremer descontroladamente no ar, ficando cada
vez mais brilhante, como se estivesse prestes a explodir. Lucius ergueu a
mão para proteger os olhos.
Finalmente, o orbe flutuou para descansar em um altar de pedra e,
com um estalo ensurdecedor, se abriu, deixando apenas uma substância
derretida branca...
— Contemple, Lucius, — Severina sussurrou. — Sua missão.
Dentro da substância leitosa escorrendo do altar, havia uma pequena
forma cor de rosa. E agora um estranho som ecoava nas paredes da antiga
caverna.
O som do choro de um bebê.
Lá, deitado na superfície dura, nascido do próprio orbe, estava uma
criança. Lucius não podia acreditar em seus olhos quando deu um passo
trêmulo em direção a ela.
— Por que...? — ele gaguejou. — Quem...?
— Ela não é uma criança comum, Lucius, — disse Severina. — Ela é
uma Slifer.
Essa era a última palavra que Lucius esperava ouvir. Uma Slifer?! Eles
eram apenas mitos, ele pensou. Feiticeiros que podiam controlar um dos
quatro elementos da natureza.
Esse poder elemental era algo que só os Deuses podiam fazer...
— O que você espera que eu faça com ela? — ele perguntou.
A última vez que ele viu uma criança, terminou com um coração
partido. Ouvir o som dos gritos desta, ver seu corpinho inocente... o
perturbava profundamente.
— Segure-a, Lucius, — Severina exigiu.
Ele relutantemente pegou a criança e olhou para ela.
— Você vai protegê-la. Cuide dela. Por dezoito anos. Até o dia fatídico
em que seu destino se entrelaça com o do Rei.
Então por isso ela era tão importante. Lucius balançou a cabeça. Ele
não poderia criar uma criança. O que essas bruxas e os Deuses estavam
pensando?!
— Eu sei que isso deve ser difícil para você, — Severina disse
conscientemente. — Mas você deve fazer isso, Lucius. Por Ignolia. Pelo
seu povo.
Lucius olhou mais uma vez para a criança. Ele prometeu a si mesmo
naquele momento que faria o que os Deuses exigissem, mas ele não
criaria laços.
Ela seria sua aprendiz, nada mais.
Ele a chamaria de... Lydia, pois parecia um nome totalmente comum.
E para uma criança com destino como esse, a aparência de normalidade
seria o mais importante.
— Você vê o que ela é, Lucius? — Severina perguntou. — Seu
verdadeiro poder?
O bebê olhou para ele com grandes olhos inocentes. Eles eram da cor
de chamas, uma mistura de dourado, vermelho e laranja. As sombras de
fogo giravam e dançavam quase como chamas reais, brilhando de forma
não natural.
— Fogo, — Lucius sussurrou. — Ela vai queimar o mundo se eu não
tomar cuidado.
— Isso mesmo, — Severina disse, acenando com a cabeça
solenemente. — Você controla o destino do nosso mundo, Lucius. A filha
das chamas.
DEZOITO ANOS DEPOIS...
LYDIA

— Concentre seus sentidos, Lydia! Mire com precisão!


Embora pudesse ouvir a voz distante de um homem, Lydia só viu
escuridão. Nada. E no vazio, um longo e fino poste de madeira começou
a tomar forma.
Seu alvo.
— Você não deve ficar tensa! A magia só funcionará se estiver calma...
Ela fechou os dedos em um punho, tentando abafar seu conselho de
bêbado. Suas calúnias estavam apenas deixando-a mais furiosa.
Mas...
Talvez isso ajudasse.
Lydia já podia sentir o vapor quente deslizando entre seus dedos.
Um estalo e um som crepitante se seguiram. Lydia não precisou abrir
os olhos para reconhecer o fogo laranja envolvendo seu punho inteiro.
Estava funcionando. Ela poderia fazer isso!
— Não hesite! Liberte o seu poder, Lydia! AGORA!
Droga, velho! Ela não estava hesitante até ele mencionar o fato. Agora,
enquanto ela arremessava a bola de fogo pelo ar, ela abriu os olhos e...
A bola de chamas voou logo depois do poste de madeira, chamuscando
o material, mas mal o queimou. O fogo explodiu no ar com um chiado
esvaziado.
Enfurecida, Lydia se virou para repreender seu guardião, mas ele nem
estava prestando atenção. Deitado na grama sob uma árvore estava o
outrora grande feiticeiro Lucius Voltaire.
Guardião de Lydia e única família.
Lucius estava virando o que restava de uma garrafa barata de rum
élfico, com o pescoço esticado para trás, alheio.
— Sério?! — ela perguntou, cruzando os braços com um olhar feroz.
Com isso, ele se virou para considerá-la, com os olhos turvos. — Você
não está praticando o suficiente, criança. O que posso dizer?
Lydia detestava quando ele a chamava de criança. Era tão
condescendente.
— Talvez se você realmente me treinasse em vez de beber o tempo
todo...
— Desculpas e mais desculpas, — disse ele, acenando com a mão e
tomando outro gole.
— Bem, vovô...
Seus olhos cor de jade brilharam com intensidade súbita e sóbria. —
Eu já disse para não me chamar assim!
Lydia sorriu. Esta era a única maneira que ela sabia de irritá-lo. —
Qual é o problema? Você tem novecentos e dezoito anos mesmo!
A verdade é que, embora ele a tivesse criado, ele sempre instruiu Lydia
a chamá-lo de Lucius. Por quê? Ele nunca diria. Mas todos os anos, por
volta de outubro—no aniversário de Lydia, exatamente—ele ficava muito
mais bêbado do que o normal.
Como hoje.
Aniversário de dezoito anos de Lydia.
— Se você me perguntar, você foi ótima, Lydia.
Lydia olhou para baixo e viu Lux se enrolando em seu pé. Ele era um
gato preto com olhos amarelos penetrantes e um lado sociável. Afinal, o
felino podia falar.
— Obrigada, Lux — Lydia disse com um suspiro. — Mas você também
acha que peixe combina perfeitamente bem com bolo.
Ele pulou nos braços de Lydia e se aninhou contra ela enquanto ela
coçava atrás de suas orelhas. Lux era seu melhor amigo desde os cinco
anos de idade. Ela o encontrou em um beco atrás de uma loja de poções.
Lydia presumiu que Lux devia ter tomado um gole de algo mágico
para lhe dar o poder da fala. Mas ela nunca perguntou a ele.
— Então, o que vamos fazer no seu aniversário? — ele ronronou
afetuosamente.
— Boa pergunta, Lux, — Lydia disse, virando-se para Lucius. —
Alguma ideia, vovô?
Mas ela ficou surpresa com a expressão atormentada no rosto do
velho feiticeiro. Parecia que ele estava escondendo algo profundamente
doloroso.
'Vá se amimar para a escola, — ele murmurou.
Em seguida, ele se levantou e deixou Lydia e seu gato sozinhos no
quintal. Ela acariciou a cabeça de Lux.
— Tudo bem, Lux. Nós vamos encontrar algo.
— Você tem dezoito anos! É algo importante.
Lydia assentiu. Talvez, mas por que isso era tão importante para
Lucius?
*
A casa deles ficava no topo de uma colina em uma cidade chamada
Vera, nos arredores do reino de Imamian. Da janela do quarto de Lydia,
ela podia ver as torres do palácio distante.
O palácio onde o rei, Gabriel James Imamia, vivia e governava.
O homem mais bonito do mundo.
Ou era o que diziam.
A verdade era que Lydia sabia muito pouco sobre o rei. Mas ela
sempre foi curiosa. Aparentemente, ele tinha trezentos e trinta e nove
anos, mas por causa de sua magia de feiticeiro, parecia não ter mais de
vinte e oito.
E ele nunca se casou por algum motivo. Então, ele ainda estava sem
uma Rainha.
Às vezes, Lydia encontrava cartas seladas entre o rei e Lucius e se
perguntava sobre o que poderiam ser relacionadas. Lucius não praticava
magia há anos, exceto para treiná-la como usar seus poderes de Slifer.
Então, o que era?
Ela se vestiu, colocando seu horrível uniforme escolar — um avental
cinza sem graça, com uma camisa de manga curta branca e uma gravata
borboleta vermelha e cinza ainda mais feia—e tentou adicionar um
pouco de glamour usando o máximo de pulseiras possível.
Mesmo que ela tivesse que usar a mesma roupa que todos os outros
na escola, todos sabiam que ela era diferente.
Da pele cor de oliva aos cabelos, com mechas vermelhas e pretas
intensas, Lydia sempre se destacou.
Seus olhos, acesos com fogo, diziam a todos na cidade que ela era uma
Slifer, quer ela quisesse que eles soubessem ou não. Pelo menos a marca
em seu pulso, dois S’s brilhantes entrelaçados, ela poderia esconder com
a manga ou acessórios.
Contudo, principalmente, as pessoas olhavam para ela de forma
estranha por causa do bruxo bêbado que por acaso era seu guardião.
Lucius havia feito com que ela prometesse preservar a sua virgindade.
Por quê? Sinceramente, depois de todos esses anos, Lydia se cansou
até de perguntar. Mas ela obedeceu com a esperança de um dia entender.
Quando finalmente ficou pronta, Lydia desceu correndo as escadas
com Lux correndo atrás dela.
— Certo, estamos prontos!
— Bom, — Lucius resmungou, estendendo a mão. — Estou com
pressa. Então...
Lydia conhecia o procedimento. Quando Lucius não estava a fim de
viajar a pé, ele os teletransportava para onde precisassem ir. Ela pegou a
mão dele e abriu a bolsa para que Lux pudesse entrar.
— Vamos, — disse ela.
Com um redemoinho repentino, o mundo girou ao redor deles e eles
foram transportados.
Lydia piscou, ajustando-se ao novo ambiente, então franziu a testa.
'Vovô... — ela disse, confusa. — Onde...? 1 — Eu disse para você não
me chamar assim, — ele disse, com firmeza.
Ele dobrou uma esquina e Lydia o seguiu rapidamente, chocada ao ver
os enormes portões do palácio Imamian diante deles. O que eles estavam
fazendo aqui?
— Talvez seja uma surpresa! — Lux ronronou da bolsa de Lydia. —
Para o seu aniversário!
— Lucius, — disse ela, usando o nome que ele preferia. — Você vai me
dizer o que está acontecendo?
Lucius se virou e suspirou, com os olhos voltados para baixo. — Há
algo que preciso lhe contar, Lydia. Algo que eu deveria ter contado a você
anos atrás...
Agora, Lydia sentiu seu estômago apertar em um nó. O que quer que
estivesse por vir não era bom. Até aí, ela sabia.
— O que, Lucius? — ela perguntou em um sussurro.
Ele se virou para considerar o palácio. — Anos atrás, três bruxas
poderosas me disseram que esse dia chegaria. O dia em que o seu destino
e o do rei se entrelaçariam. No seu aniversário de dezoito anos.
— Entrelaçariam? — Lydia perguntou, sentindo sua mente girar. — O
que isso significa?
Ele se virou para observá-la, com seus olhos verdes cheios de emoção
descuidada.
— Lydia, hoje... você será reivindicada pelo rei.
Capítulo 2
OLHOS DO REI
GABRIEL

Em algum lugar lá fora, entre os habitantes de seu reino em expansão,


estava a garota que Gabriel deveria reivindicar. Ele tinha sido rei por mais
de três séculos, e ainda de alguma forma, ele nunca a encontrou.
Até agora.
Hoje, Gabriel finalmente encontraria a Slifer. Então, por que ele não
estava feliz?
— Gabriel, você está bem?
Gabriel se virou para ver seu segundo em comando e melhor amigo,
Aero, ao lado dele. Ele suspirou, balançando a cabeça, sabendo que tinha
sido pego em flagrante. Ele estava no topo da muralha mais alta de seu
reino, com um olhar melancólico que Aero conhecia bem.
— Tudo bem, Aero, — disse ele. — Eu só precisava espairecer.
— Você está pensando nela de novo, não está? — Aero perguntou. —
A garota?
— Como não pensar, Aero? Hoje é o aniversário de dezoito anos dela.
As Vigilantes do Destino haviam avisado Gabriel anos atrás que esse
dia chegaria. Embora ele não tivesse ideia de quem ela era, as palavras de
Severina continuavam a assombrá-lo.
— A garota está destinada a protegê-lo. A salvar você... e seu reino.
Ele balançou a cabeça, enojado. Desde quando Gabriel precisava de
proteção? Ele era um dos feiticeiros mais poderosos de toda a Ignolia!
Que poder uma adolescente poderia ter que pudesse salvá-lo?
O que tomava essa garota tão especial?
— Você está com aquele olhar, Gabriel, — Aero avisou. — O olhar
sombrio.
Gabriel riu amargamente. — Engraçado, não é? Eu governo um reino
tão brilhante e lindo que cega aos olhos. E mesmo assim, meu coração e
minha magia... estão repletos de escuridão.
Aero estremeceu. Ele tinha visto Gabriel conjurar sombras — antes.
Ele sabia do que seu rei era capaz... e que perigos essas sombras
representavam para sua alma.
— Venha, Gabriel, — Aero disse finalmente, quebrando o silêncio
agourento que caiu sobre eles. — Sua irmã tem perguntado por você. Ela
se reunirá com as massas hoje em preparação para a cerimônia e sugere
que você participe.
— Sugere, hein? — Gabriel disse comum suspiro. — Exatamente o que
eu preciso.
Mas Aero cutucou suas costelas com uma piscadela e um sorriso
malicioso. — Nós dois sabemos quem realmente governa o reino,
Gabriel. Melhor se apressar.
Gabriel riu sem conseguir se conter. — Lis não aceita não como
resposta, isso é verdade. Mas tome cuidado, Aero.
— Aí está o Rei que eu conheço.
Gabriel gostava de Aero por seu humor. Por mais sombrio que o dia
parecesse, seu mestre das armas sempre conseguia trazer um sorriso ao
seu rosto.
— Tudo bem, tudo bem, — disse ele, seguindo Aero. — Vamos ver Lis.
Já fazia um tempo que Gabriel não aparecia para o seu povo. Talvez
estar no solo em vez de no alto de sua torre de marfim fosse exatamente
o que ele precisava.
De qualquer forma, se ele estivesse fora do palácio, ele não teria que
encontrar a garota Slifer.
Para isso, o rei estava disposto a ir a qualquer lugar.
LYDIA

— Eu vou... eu vou, O QUÊ?!


Lydia ainda não conseguia acreditar no que Lucius acabara de lhe
dizer. Do lado de fora dos portões do palácio, ela olhou para seu guardião
incrédula.
Eu?
Ser reivindicada pelo Rei?!
Certamente, Lucius estava brincando. Mas seus olhos de jade
entristecidos, postura curvada e mão trêmula alcançando seu cantil
diziam o contrário.
— Lamento nunca ter contado a você, Lydia — disse ele solenemente.
— Eu temia que, se você soubesse, o segredo acabaria sendo revelado e...
— E o quê?
— E você estaria em perigo! Você mal consegue fazer uma bola de
fogo, muito menos se defender. Eu precisava treinar você primeiro.
Lucius deu um gole em seu mm. Lydia, completamente indignada e
chocada com essa revelação, jogou o cantil de sua mão no chão de
paralelepípedos.
— Eu não consigo acreditar em você! — ela gritou. — Todos esses
anos, você guardou esse segredo, e...
e...
Lydia não tinha palavras. Sua boca estava subitamente seca. O ar,
impossível de respirar. Parecia que o mundo, como ela sempre soube,
estava desabando ao seu redor.
— Não é minha vontade, Lydia, — Lucius tentou explicar. — Os
Deuses exigem isso. Somente quando vocês dois estiverem unidos, o
reino estará seguro.
— Tudo faz sentido, — disse ela, recuando e balançando a cabeça. —
Suas regras ridículas. Seu treinamento.
Você estava... me engordando como uma vaca para o abate.
— Não é desse jeito...
— Preservando minha virgindade para que o Rei a pudesse tirar?!
Ensinando-me a usar meus poderes para benefício dele?!
— Isso é tão errado? — Tildo o que Lydia sempre quis foi ser uma
grande e poderosa feiticeira um dia. Como Lucius já foi, de acordo com a
lenda. Agora, ela deveria ser reivindicada. Uma mulher presa. Um peão
em algum jogo de xadrez sendo controlado por forças além de sua
imaginação.
Era demais.
— Lydia, por favor, — disse ele. — Eu não fiz isso para machucar você.
Você... você é como uma família para num.
A palavra — família — forçou Lucius a fazer uma careta
involuntariamente. Por que ele sempre manteve essa distância entre eles,
por que ele sempre odiou que ela o chamasse de vovô, Lydia nunca
entendeu. Mas agora, tudo fazia sentido.
Porque, um dia, Lucius sabia que teria que abandoná-la.
Lydia sentiu Lux tremendo em sua bolsa, o pobre gato estava preso no
meio do confronto mais estranho de todos os tempos.
— Lydia... — ela o ouviu miar baixinho. — O que tudo isso significa?
Ela não sabia o que dizer. Por tudo que ela sabia, entrar naquele
palácio significaria o fim de sua amizade com Lux. Que tipo de rei
permitiria que um gato falante se sentasse à mesa?
Ela se afastou ainda mais de Lucius, e seus olhos se arregalaram.
— Lydia, não... — disse ele, estendendo a mão para ela.
— Você não deve ir embora. Este é o seu destino!
Mas Lydia não iria ouvir mais uma palavra da boca mentirosa do velho
feiticeiro.
— Você não me controla mais, Lucius, — disse ela.
E com isso, Lydia se virou e fugiu do palácio, disparando para as ruas
movimentadas de Imamia, enquanto a voz de Lucius a chamava.
— Lydia... LYDIA!
*
Lydia vagou pelo antigo bairro histórico da cidade quase sem enxergar
nada, seus olhos estavam embaçados de lágrimas. Lux rastejou para fora
da bolsa e se enrolou em seu pescoço, ronronando baixinho, tentando
confortá-la.
Embora isso atraísse alguns olhares estranhos das pessoas, Lydia não
se importava. Ela estava grata por ter seu amigo peludo.
De qualquer forma, ela estava acostumada a receber olhares
estranhos. Seus olhos de fogo eram a coisa mais distante do normal. O
custo de ser uma Slifer do Fogo.
Ela pensou novamente em Lucius e em todos os segredos que ele
escondeu dela. A ideia de que ela, entre todas as pessoas, estava destinada
a proteger o Rei de Imamia... era demais para processar.
Ela sentiu que ia começar a chorar de novo quando Lux esfregou o
nariz em sua bochecha.
— Lydia, olhe ao seu redor... — ele disse com admiração. — Este lugar
é incrível.
Lux estava certo. Lydia nunca se aventurou tão longe de sua pequena
cidade. Ver a capital em toda a sua glória foi quase o suficiente para
afastar sua mente de todo o drama do dia. Quase.
— O que... o que é isso? — Lydia perguntou, apontando.
Uma carruagem grande e luxuosa passava por eles, conduzida pelos
animais mais estranhos que Lydia já vira. Eles eram como cavalos, mas
brancos, com listras azuis grossas.
Ao vê-los, os olhos de Lux se arregalaram e, por instinto, ele correu de
volta para a bolsa.
— Não tenha medo, Lux, — disse Lydia, rindo. — Eles não mordem.
Ela se lembrava de seus nomes agora. Moxars. Ela aprendeu sobre eles
na escola primária. As crianças brincavam nas proximidades e os
compradores entravam e saíam das lojas com os braços cheios de sacolas
e compras.
Tudo sobre esta cidade parecia vivo.
Lydia sentou-se ao lado de uma fonte esculpida em pedra e admirou
sua beleza. Riachos de água saíam da boca de uma fênix prateada. Lydia
se lembrou do que ela aprendeu uma vez... que quando Imamia foi
fundada, o Deus Azareth concedeu ao rei uma fênix assim.
Lydia se perguntou se isso era mera lenda ou se havia alguma verdade
nisso. Afinal, era assim que as pessoas uma vez falaram sobre Slifers.
Como se fossem pura fantasia. Coisas de contos de fadas.
Mas aqui estava Lydia, cuja existência provava que eles estavam
errados.
— Lux, — ela disse. — Você acha que?
Mas ela não conseguiu terminar aquela frase porque, de repente, a
beleza e a calma do bairro histórico de Imamia foram interrompidas por
um grito estridente.
— PARE! LADRÃO!
GABRIEL

— Tildo o que estou dizendo, irmão, é que essa garota ao seu lado
pode ser boa para você.
Foi preciso toda a força de vontade de Gabriel para não revirar os
olhos. Lis, sua irmã, estava no meio de uma de suas famosas palestras
enquanto percorriam os municípios. Os guardas os cercavam, mantendo
as pessoas comuns a uma distância segura.
— Lis, — disse ele com um suspiro, — pelo menos uma vez,
poderíamos falar sobre qualquer coisa além da minha vida amorosa?
— Ou a falta dela, — ela brincou. — Hoje é um grande dia, Gabriel.
Você deveria estar animado.
O rei estava prestes a retrucar com sua própria resposta ácida quando
uma comoção à frente o distraiu.
— O que é aquilo? — Lis perguntou, franzindo a testa.
Os guardas se aproximaram, pedindo para que eles entrassem na
carruagem. Mas agora, Gabriel também estava curioso. Enquanto ele
abria caminho pela multidão, ele viu algo que fez seus olhos se
arregalarem em choque.
Uma perseguição estava acontecendo no meio do bairro histórico. E
não era uma perseguição comum. Um ladrão estava correndo pela feira a
toda velocidade, enquanto as autoridades comam atrás dele.
Mas lá em cima, uma jovem estava voando — sim. voando! — usando
algum tipo de poder elemental para impulsioná-la para o céu.
Gabriel ficou boquiaberto em descrença quando a garota ergueu a
mão, conjurou uma bola de fogo c a disparou com todas as suas forças.
As chamas explodiram bem na frente do ladrão, criando uma parede
de fogo e parando-o em seu caminho.
Ele parou e ergueu as mãos aterrorizado enquanto ela descia.
Agora, Gabriel podia ver que o fogo estava girando em seus olhos
também. Eles eram os olhos mais bonitos e assustadores que ele já tinha
visto.
— Largue isso, — ela disse, e o ladrão obedeceu, deixando cair sua
bolsa de joias roubadas aos pés dela. A garota respirou e só percebeu que
uma multidão enorme a observava quando terminou. Os olhos estavam
por toda parte.
Incluindo os dele. Os olhos do rei.
Neste momento, seus olhares se encontraram.
LYDIA

Lydia nunca tinha feito tanto com seus poderes de Slifer antes em sua
vida. Era como se outro espírito tivesse assumido o controle de seu corpo
e ela tivesse apenas participado da jornada.
Mas agora não. Agora, ela era Lydia de novo. E olhando para ela,
cercado por todo um batalhão de guardas reais, estava um homem alto,
moreno e misterioso com a roupa mais decorada que Lydia já tinha visto.
Todos suspiraram e se curvaram ao vê-lo.
Ele tinha um queixo largo e um maxilar bem definido com maçãs do
rosto salientes. Sua pele era pálida e sem defeitos. Seu nariz reto. Seus
lábios rosados, carnudos. Seus olhos eram rígidos, penetrantes e de uma
cor que Lydia nunca tinha visto antes. Eles eram do cinza das nuvens
depois de uma tempestade.
Mas algo em sua aura era escuro e sombrio... o que só o tomava mais
bonito. Na verdade, Lydia percebeu que ele era de longe o homem mais
bonito que ela já vira.
Quando seus olhos se encontraram, foi como se o laço mais forte e
magnético tivesse se encaixado. Parecia que o destino literalmente os
uniu.
Mas quem era ele?
— Vossa Majestade, — uma voz familiar soou.
Ela se virou para ver Lucius correndo, sem fôlego.
Ele acabou de dizer... Majestade?
Lucius se virou para ela e, como se estivesse lendo sua mente,
assentiu. — Lydia, permita-me apresentá-la ao Rei Gabriel.
Capítulo 3
VOTOS QUEBRADOS
LUCIUS

Lucius podia realizar muitos tipos de magia, mas quando se tratava de


amor? O feiticeiro não tinha ideia alguma. Ainda assim, vendo Lydia e o
rei se olharem agora, ele podia sentir que algo estranho estava
acontecendo entre eles.
De repente... eletricidade no ar. Uma tensão. Como a calmaria antes
de uma tempestade.
Os Deuses haviam planejado seu encontro anos atrás, então, é claro,
este momento não se desenrolaria da maneira que Lucius o planejou
cuidadosamente.
Ainda assim, ele sentiu uma pontada de arrependimento crescendo
dentro dele enquanto olhava para Lydia. Ele havia passado anos criando
uma barreira entre eles, mantendo uma distância necessária.
Eles não eram uma família.
Eles não podiam ser uma família.
Ela era apenas sua missão, nada mais.
E, no entanto, mais do que gostaria de admitir, Lucius estava achando
a ideia de perdê-la cada vez mais difícil de aceitar. Ele a treinou bem o
suficiente? Ela estava pronta?
— Lucius... — Lydia disse, assustada. — Este é...?
— Sim, — respondeu ele. — O rei. É bom ver você de novo, Gabriel.
Ele e Gabriel apertaram as mãos. Como os dois bruxos mais poderosos
de toda a Ignolia, era importante para eles manterem contato ao longo
dos anos. No entanto, ele nunca havia contado a Gabriel sobre Lydia,
mantendo sua identidade em segredo.
— Então, esta é ela? — ele perguntou. — Uma Slifer? Sério? Eu pensei
que eles eram...
— Eles são reais, — disse Lucius. — Você viu com seus próprios olhos.
Lucius nunca tinha visto Lydia conseguir tanto quanto uma bola de
fogo antes, muito menos voar ou criar uma parede de chamas. Parecia
que ele estava olhando para uma pessoa diferente.
Seu aniversário de dezoito anos havia desbloqueado algo dentro de
Lydia?
Ou era sua proximidade com Gabriel?
O que exatamente estava prestes a acontecer entre a Slifer e o rei?
LYDIA

Lydia estava sem palavras.


Ela tinha ouvido errado? Ou Lucius realmente disse Rei Gabriel?
O homem sobre o qual ela cresceu ouvindo histórias, o homem com o
qual seu destino estava inexplicavelmente entrelaçado, o governante de
toda a Imamia, estava a apenas alguns metros de distância.
Lydia não pôde deixar de pensar que as mulheres de sua cidade
estavam certas—a beleza dele era realmente algo para se admirar. Pela
maneira como o povo o olhava, eles claramente compartilhavam a
mesma opinião.
Mas havia algo estranho, algo sombrio e escondido atrás de seu rosto
perfeitamente estruturado. Isso fez com que Lydia se sentisse de alguma
forma... desconfortável.
Ela podia sentir um calor estranho dentro dela, aumentando.
Diferente do tipo que ela usou para deter o ladrão. Isso era algo
totalmente diferente.
Mas quando o rei finalmente falou e ela ouviu as palavras mais
surpreendentes saindo de sua boca, toda a atração de Lydia desapareceu
em um instante.
GABRIEL
— Claramente, houve um engano, — declarou Gabriel com
naturalidade. — Se esta é a vontade dos Deuses, eu questiono seu
julgamento.
O rei sabia que seus súditos leais estavam assistindo e que uma
declaração tão provocativa poderia ser considerada heresia, mas ele
nunca esteve tão certo de nada em sua vida.
Ela era deslumbrante, sim. Seus olhos eram feitos de fogo literal, sim.
Havia uma atração magnética entre eles, mais uma vez, sim.
Mas nenhum estranho se tomaria o protetor de Gabriel pela doutrina
de alguma divindade invisível. Agora que ele tinha visto seu poder, talvez
ele estivesse com um pouco de medo de admitir... ele estava
impressionado.
Quando ele foi informado de que uma garota iria protegê-lo e ao seu
reino, ele assumiu que o destino queria dizer isso figurativamente. Mas o
poder bruto dessa garota era algo a ser considerado.
Ele se perguntou se suas sombras eram páreo para algo tão elementar.
Isso fez seu lábio curvar com desgosto.
— Vossa Majestade, — disse Lucius, horrorizado. — Certamente, esta
é uma resposta precipitada. Como você sabe muito bem, a vontade dos
Deuses é imutável. Você nem sabe o nome dela...
— Eu não me importo, — disse ele com um encolher de ombros. —
Vamos recompensar a Slifer por seu ato de bravura hoje, mas este será o
fim deste encontro. Para sempre. Está entendido?
Vagamente, Gabriel podia sentir Lis atrás dele, suspirando e
balançando a cabeça em decepção. Ela estava ansiosa para ter uma irmã
da realeza.
Mas esta era uma decisão que Gabriel tinha que tomar por conta
própria.
— Não haverá cerimônia hoje, — declarou ele com grande
determinação.
Gabriel esperava que a garota se ofendesse, explodisse em lágrimas,
reagisse de alguma forma fraca e patética. Mas para seu espanto absoluto,
ela fez a última coisa que ele esperava.
Ela sorriu.
LYDIA

Lydia não conseguia acreditar em sua sorte. Primeiro, ela estava


sorrindo. Depois, rindo. Por fim, ela estava gargalhando como se ela
tivesse acabado de receber o maior presente do mundo. Até Lux estava
ronronando de alegria em sua bolsa.
— Que alívio! — ela exclamou antes que pudesse se conter.
O rei parecia absolutamente pasmo com a reação dela. Ele franziu a
testa e seus olhos escureceram, parecendo ainda mais tempestuosos.
— Como é? — O Rei disse, quase rosnando.
Ela encolheu os ombros. — Acredite ou não, Vossa Majestade, eu
também não quero ser sua.
Essa era a verdade. Sua rejeição significava que ela poderia viver sua
vida como sempre quis, sem qualquer interferência dos Deuses. Mas,
obviamente, ofender o orgulho do rei foi um erro, porque agora a
multidão estava ofegante e Lucius parecia aterrorizado.
Mas quando ela olhou para o rei, ela podia ver por trás de sua irritação
uma sugestão de diversão mórbida. Quando o canto de sua boca se
contraiu em um sorriso torto, Lydia sentiu o mesmo calor dominá-la
novamente.
Ela tinha a sensação de que, se ele quisesse, o rei poderia despi-la
apenas com os olhos.
— Você tem muita coragem, garota, — ele disse calmamente.
— Por favor, Rei Gabriel, — Lucius disse hesitantemente. — Ela não
quis dizer nada com isso. Minha neta adotiva, ela é... teimosa.
— Você quer dizer, sua aprendiz, — ela disse, corrigindo Lucius. —
Lembre-se, não somos realmente uma família, somos?
— Lydia, por favor... — ele tentou.
— Não, Lucius. Você teve sua chance. Tanto Vossa Majestade quanto
eu sentimos claramente o mesmo. Os Deuses terão que viver sem esta
união.
— Não cabe a você decidir! — ele gritou agora. — Você não entende?!
Para garantir a segurança de nosso reino, você deve ser reivindicada! Esta
é minha tarefa final como feiticeiro.
Aquela palavra. Tarefa. Como se isso fosse tudo que ela sempre tinha
sido para ele.
Os anos que ele passou criando-a não foram nada além de uma
miséria para ele? Era tudo apenas seu trabalho? Ele nunca a quis de
verdade, não é?
Luxus envolveu Lydia em uma tentativa de confortá-la, mas ela mal
podia sentir.
As palavras de Lucius a quebraram. De repente, ela esqueceu que
estava cercada por plebeus, pela guarda real, pelo próprio rei.
— Você não é meu avô, — ela sussurrou para Lucius. — E você nunca
foi.
Então, fechando os olhos e concentrando toda a sua energia Slifer em
uma bola de fogo furiosa, Lydia abriu um portal de fogo dentro de sua
mente e se teletransportou, desaparecendo das ruas da cidade e deixando
todos os que assistiam sem palavras.
GABRIEL

Gabriel voltou para sua sala do trono, sentindo a cabeça ainda zumbir
com a cena bizarra que acabara de se desenrolar em público. A verdade
era que... no segundo em que ela o rejeitou, Gabriel a achou
infinitamente mais atraente.
Era como se cada vez que fechava os olhos, tudo o que pudesse ver
fossem aqueles olhos... queimando. Ele imaginou como seria abraçá-la.
Sua pele estaria quente ao toque? Seus lábios estariam escaldando? Se
seus corpos se entrelaçassem, Gabriel sentiria como se estivesse
derretendo?
Ele afastou esses pensamentos indesejáveis e sentou-se em seu trono
de prata. Uma fênix foi esculpida na parte de trás, com as asas abertas.
Depois de muitas voltas e reviravoltas do dia, Gabriel esperava que
finalmente estivesse sozinho.
Mas sua solidão não durou muito.
— Gabriel, me desculpe, eu tentei impedi-la...
Ele se virou para ver as portas abertas com Aero atrás de Lis, que
invadiu a sala do trono. A irmã de Gabriel não parecia feliz.
— O que foi isso, Gabriel? — ela perguntou.
— Tudo pareceu bastante claro para mim, Lis, — disse ele, apertando
o nariz com frustração. — Não sei por que tenho que explicar para você.
— Nós dois sabemos que o velho feiticeiro está certo.
Se você desafiar a vontade dos Deuses...
— O quê? Algo terrível vai acontecer? Tenho ouvido isso há séculos,
Lis. E ainda assim, Imamia prospera, não é?
Lis olhou para baixo, ponderou e deu um passo em direção a seu
irmão.
— Nós dois sabemos o custo de seus poderes, Gabriel. Se você não for
cuidadoso, sua magia das sombras
— Eu sei, — ele disse, com os olhos ficando sombrios.
— Mas será que alguma vez considerou que aquilo de que o reino
precisa de ser protegido é de... você?
Gabriel não conseguia acreditar no que sua irmã estava sugerindo. Ele
abriu a boca para responder, mas nenhuma palavra saiu de seus lábios.
Parecia que ele havia levado um soco no estômago.
Lis gentilmente pegou sua mão. — Gabriel, talvez esta garota... seu
fogo, sua luz... talvez ela ilumine sua alma. E mantenha as sombras
afastadas. Talvez isso, como os Deuses decretaram, seja como ela nos
salvará.
Gabriel desviou o olhar. Havia verdade nas palavras de Lis que ele não
podia negar. Embora lhe doesse admitir.
— O que você quer que eu faça? — ele perguntou baixinho.
— Vá até ela. Encontre-a. Antes que seja tarde.
Mas como? A garota poderia ter se teletransportado para qualquer
lugar. Então, Gabriel se lembrou de como se sentiu ao fechar os olhos.
Como se ele ainda pudesse vê-la.
Aqueles olhos ardentes e inflamáveis que sua irmã acreditava que
poderiam salvar sua alma.
Ele podia vê-los agora.
Ela estava em perigo.
LYDIA
Lydia não sabia para onde os havia levado, mas quando seus olhos se
abriram, ela e Lux estavam no meio de uma densa floresta.
Ela queria ir para algum lugar longe do reino. Para algum lugar
remoto. Mas agora ela estava aqui no escuro sozinha, a não ser por seu
fiel companheiro felino, Lydia se perguntou se ela tinha cometido um
erro.
— Para onde você nos levou? — Lux perguntou, um pouco assustado.
— Não tenho certeza, Lux, — ela disse. — Estamos em algum lugar na
floresta ao redor de Imamia, eu acho. — Lydia se sentou embaixo de uma
grande árvore, juntando as pernas e apoiando o queixo nos joelhos. Lux a
seguiu e enrolou seu corpo perto do dela.
Era hora de bolar um novo plano. Uma nova vida. Ela nunca poderia
voltar para sua casa em Vera. Lucius deixou bem claro que concluir sua
— tarefa — era sua prioridade.
Então, para onde ela iria?
Lydia tentou acender um fogo para mantê-los aquecidos, mas seus
poderes de Slifer estavam tão exauridos pelo teletransporte que ela mal
conseguia criar uma faísca.
Foi quando ela ouviu. Galhos quebrando. Passos pesados.
— O que foi isso? — Lux perguntou, com sua voz rangendo.
— Tenho certeza de que não há nada a temer..., — disse ela.
Mas então, Lydia ouviu um rosnado baixo e desumano e seu sangue
gelou. Ela lentamente se virou para olhar além da árvore e viu...
Um lobisomem. Caninos à mostra. Saliva pingando. Olhos amarelos
perfurando os de Lydia com um olhar selvagem.
— Tenho certeza de que não há nada a temer..., — disse ela.
Mas então, Lydia ouviu um rosnado baixo e desumano e seu sangue
gelou. Ela lentamente se virou para olhar além da árvore e viu...
Um lobisomem. Caninos à mostra. Saliva pingando. Olhos amarelos
perfurando os de Lydia com um olhar selvagem.
Um olhar que dizia que ia rasgar ela e Lux membro por membro.
Lydia engoliu em seco. — Lux... eu vou contar até três e nós corremos,
tá?
— Tá.
— Um... dois...
Mas antes que ela pudesse dizer três, o lobisomem avançou.
Capítulo 4
O SALVADOR DAS SOMBRAS
LYDIA

— CORRE!
Lydia e Lux correram o mais rápido que seus pés e patas podiam
suportar. O lobisomem cinza escuro, coberto com manchas de sangue de
alguma vítima anterior, saltou em direção a eles, ganhando velocidade,
lambendo suas costeletas.
Eles estavam prestes a ser a próxima refeição deste monstro se Lydia
não fizesse algo—e rápido. Ela sabia o que tinha que fazer, mas ela teria
forças?
As chamas circundaram as mãos de Lydia quando ela parou, se virou e
lançou a bola de fogo na fera. Mas com apenas um aceno de sua garra, as
chamas se dissiparam.
Oh não.
Um segundo depois, o lobisomem se chocou contra Lydia,
prendendo-a no chão da floresta. Se não fosse pelo escudo de fogo com
que ela cercou seu corpo no último segundo ele já teria rasgado seu
pescoço.
Ela podia ver seus olhos amarelos famintos, desesperados para se
alimentar. Em algum lugar dentro do lobisomem estava um homem
torturado.
A lua estava cheia esta noite, permitindo que a besta reinasse.
Lydia se perguntou se ela poderia chegar até ele... quem quer que ele
fosse.
Ele continuou investindo e mordendo, mas o escudo dela o estava
mantendo a distância. Não duraria muito mais, e ela sabia disso. Tanta
energia foi gasta pegando o ladrão e se teletransportando para este lugar.
— Lydia!
Ela se virou e viu Lux correndo na direção deles, tentando ajudar.
— Lux, não!
Mas era tarde demais. O lobisomem girou sobre o gato, batendo uma
pata contra seu peito e o fazendo voar. Ele bateu em uma árvore e
desabou no chão.
— NÃO!
De repente, chamas explodiram de todos os poros do corpo de Lydia,
mandando o lobisomem para o céu. Ela não parou para ver onde a
criatura pousou. Em vez disso, ela correu até seu amigo felino e o
embalou em suas mãos.
Ele estava miando baixinho, ferido e vivo.
— Eu sinto muito, Lux, — ela sussurrou, as lágrimas enchendo seus
olhos.
Mas então ela ouviu o uivo do lobisomem. Ele estava vindo para
terminar o que havia começado. Ele estava correndo em direção a eles.
E desta vez, Lydia não tinha mais magia para afastá-lo.
Ela fechou os olhos e segurou Lux com força contra o peito,
balançando-se para a frente e para trás contra a árvore. Se esse fosse o
fim... pelo menos ela não estava sozinha.
O lobo estava a apenas alguns metros de distância.
Ela podia ouvir suas garras golpeando a terra. Sentir o cheiro do ar
quente de seu hálito fétido. Provar o ferro da quase morte em sua língua.
Tudo estava prestes a acabar. Mas assim que as presas do lobo estavam
prestes a se prender em sua garganta, algo impossível aconteceu.
Ele congelou.
Uma forma escura e ilusória estava segurando o lobisomem. Um
salvador feito de sombras. Mas quem era ele?
GABRIEL

Não demorou muito para que Gabriel a encontrasse. Os olhos de sua


mente o guiaram, trazendo-o a esta campina remota na floresta
Imarniana.
Assim que ele se materializou, ele viu que a garota estava, de fato, em
perigo mortal. Um lobisomem estava perto de fazer picadinho dela.
Por que ela não usava seus poderes de Slifer para matar, Gabriel não
conseguia entender. Talvez ela não fosse tão forte quanto parecia
originalmente.
Não importava agora. Salvá-la era a prioridade de Gabriel. Ele
lentamente focou sua mente na escuridão interna, convocando as
sombras...
Um buraco negro giratório apareceu na grama sob seus pés.
— Ascenda, — ele comandou.
Com um aperto de punho, uma sombra negra emergiu gritando do
buraco, circulando ao redor dele, esperando por sua ordem.
— Mate a besta, — disse ele.
E com isso, a sombra se lançou em direção ao lobisomem, ecoando
seu grito impiedoso por toda a floresta.
Gabriel observou calmamente enquanto a sombra agarrou o
lobisomem quando estava prestes a acabar com a garota. A besta tentou
se libertar, arranhando e rasgando a sombra.
Mas a escuridão se reconstruiria constantemente, crescendo,
envolvendo o lobo na escuridão, aprisionando-o.
O lobo soltou um último uivo aterrorizado quando a sombra o
consumiu e implodiu em nada, deixando a floresta em silêncio... como se
nunca houvesse um lobo nem uma sombra.
— Bom garoto, — disse Gabriel com um sorriso. Então, ele fechou o
buraco negro.
— Lydia!
Gabriel franziu a testa, confuso. De quem poderia ser essa voz? Então,
ele viu o gato aninhado entre os braços da garota, cutucando-a, falando.
Um gato falante?!
Gabriel tinha visto muitas magias estranhas, mas nunca em seus
trezentos e trinta e nove anos ele tinha visto algo assim.
— Você está bem? Deuses, Lydia. Eu estava com tanto medo, — ele
ronronou.
— Estou bem, Lux. Mas como... quem...?
Então, ela olhou para cima e o viu, e seus olhos se arregalaram de
surpresa. — Você...
— Acho que você quer dizer ‘Vossa Majestade', — corrigiu ele.
Mas a garota ainda se recusava a se dirigir a ele apropriadamente. Ela
se levantou lentamente, franzindo a testa. — Você me salvou... por quê?
— Você não tem educação, não é, Slifer? Um simples 'obrigado' seria
suficiente.
— Meu nome é Lydia. Não Slifer.
Ela disse isso quase entre os dentes cerrados. Gabriel não podia
acreditar em sua audácia. Especialmente depois que ele salvou sua vida.
— Vou perguntar de novo, — disse ela. — Por que me salvou?
Gabriel encolheu os ombros. — Eu vejo isso como um favor para
Lucius. Com o passar dos anos, o feiticeiro fez muito por mim. Então
como você é a neta dele...
— Sua aprendiz, — ela interrompeu. — Nós não somos família. Ele
deixou isso bem claro.
— Tudo bem, então. Acho que perdi meu tempo. Eu poderia
simplesmente ter deixado você morrer.
— Eu não pedi sua ajuda.
— Mas você certamente precisava, não é? Por que você não usou seu
fogo?
— Eu tentei... eu...
Ela parou. Foi a primeira vez que Gabriel viu essa garota, Lydia,
mostrar vulnerabilidade. Isso fez seus olhos ferozes parecerem ainda
mais deslumbrantes.
— Eu ainda estou muito fraca, — ela admitiu. — Não sei por quê.
Minha magia é supostamente a mais poderosa, mas...
De repente, tudo fez sentido. Gabriel entendeu o que ela precisava
para dominar a arte do fogo. Era algo que só ele poderia dar a ela. Mas ele
não tinha intenção de fazer isso.
— Venha, Slifer, — disse ele, balançando a cabeça. — Vou levá-la de
volta para Vera, onde você pertence.
Ele estendeu a mão, mas para sua surpresa, Lydia mais uma vez o
desafiou.
— Não. Eu não vou voltar.
Ele não conseguia acreditar no que estava ouvindo. — Você ousa
desobedecer ao seu rei?
Um silêncio pesado passou entre os dois, ambos se recusando a
recuar. Gabriel podia vê-la engolindo em seco visivelmente, mas ela não
estava tremendo. Seus olhos ainda estavam fixos nos dele, mas um toque
de rubor subiu em suas bochechas cor de oliva.
Por um segundo, ele perdeu o foco em seus olhos e vagou para seus
lábios franzidos, sentindo algo quente se formar em seu peito que não
era raiva.
— Você virá comigo, goste ou não.
Ele estava prestes a agarrá-la quando ela escapou de seu alcance e
recuou.
— F-fique longe de mim! — ela gritou com um olhar feroz.
Um pequeno fogo acendeu entre seus dedos, circulando em sua
palma. A chama estava fraca, mas isso não importava. Ela o estava
ameaçando. Seu salvador. Seu Rei.
— Quem você pensa que é?! — Gabriel gritou. — Eu poderia jogar
você em uma cela e...
Mas ele não conseguiu terminar a frase porque, uma fração de
segundo depois, uma bola de fogo passou voando por seu rosto. Ele
sentiu as chamas passarem chicoteando por sua bochecha, passando de
raspão em sua pele.
Ele piscou em descrença.
Ela o atacou.
— Eu... eu sinto muito, você me assustou, — ela gaguejou. — Eu não
queria...
Mas Gabriel parou de ser bonzinho. Uma onda de escuridão explodiu
de seu peito, prendendo as mãos e os pés de Lydia e erguendo-a do chão.
Ela flutuou no ar. Com as mãos amarradas. Desamparada.
Embora o rei devesse ter sido dominado pela raiva, outro sentimento
começou a tomar conta dele.
Suas pernas, abertas. Sua camisa baixando, prestes a expor seu decote.
Seus olhos, sempre queimando.
Lydia acendeu os desejos de Gabriel.
LYDIA

— O que você está fazendo?! — Lydia gritou. — Me solte!


Mas algo nos olhos de Gabriel havia mudado. Onde antes havia raiva,
rejeição e indignação, agora havia... luxúria.
Mais uma vez, Lydia sentiu aquele calor estranho subir dentro dela.
Ser aprisionada por sua magia sombria, congelada, era diferente de tudo
que ela já havia experimentado.
Ela podia sentir sua escuridão deslizando ao longo de seu corpo.
Como se fossem expressões perversas de sua essência interior.
Visões carnais começaram a embaçar suas pálpebras. Ela e o rei,
fisicamente interligados. Esfregando-se e gemendo um contra o outro.
Um turbilhão de emoções, uma luta de fogo e sombras.
Era a sensação mais estranha. Ficar furiosa e excitada ao mesmo
tempo.
— Solte-a!
Mas então Lydia ouviu uma vozinha que a tirou de seu estupor. Era
Lux. Ele estava sob os pés de Lydia, andando de um lado para o outro,
tentando alcançá-la.
— Por favor! — ele ronronou desesperadamente.
— Você vai se comportar, Slifer? — Gabriel perguntou, com um
tremor baixo e ameaçador em sua voz.
Embora seu corpo estivesse preso por sua magia negra, ela ainda tinha
o controle de sua boca.
— Você pode ser o Rei, Gabriel, — ela disparou. — Mas eu mando em
mim mesma.
— Veremos isso.
Então, ele acenou com a mão e Lydia caiu no chão.
As sombras se foram. Lux aninhou-se contra ela com conforto.
— Me desculpe, eu não pude proteger você, — ele ronronou.
— Tudo bem, Lux, — ela disse. — Esse é o meu trabalho. Fui eu quem
falhou. Mas isso não vai acontecer de novo. Eu vou ficar mais forte.
Espere e verá.
— Já chega! — o rei exigiu. — Levante-se. Vocês dois vem comigo.
— Para onde? Já te disse, não vou voltar para a minha cidade.
— Me desculpe, eu não pude proteger você, — ele ronronou.
— Tudo bem, Lux, — ela disse. — Esse é o meu trabalho. Fui eu quem
falhou. Mas isso não vai acontecer de novo. Eu vou ficar mais forte.
Espere e verá.
— Já chega! — o rei exigiu. — Levante-se. Vocês dois vem comigo.
— Para onde? Já te disse, não vou voltar para a minha cidade.
Quando Lydia se levantou, ela observou Gabriel olhando-a de cima a
baixo. Seus olhos turvos estavam cheios de emoções estranhas e
conflitantes.
Emoções, admitiu Lydia, que ela mesma estava sentindo.
— Não vamos para sua cidade, Slifer, — disse o rei.
— Vamos para o meu palácio.
Capítulo 5
O PODER DA UNIÃO
GABRIEL

— Você fez o quê?!


Gabriel estava caminhando pelos corredores de seu palácio, com Aero
logo atrás. Seu segundo no comando não conseguia acreditar no que
estava ouvindo.
— Eu já disse, — disse Gabriel. — Eu ouvi minha irmã, salvei a vida da
garota e a trouxe de volta para o palácio. Fim da história.
— Você pulou a parte em que usou sua magia das sombras para
amarrá-la!
Aero, assim como Gabriel, tinha uma marca alinhada em seu pulso
que lhe permitia se teletransportar e saber quando seu rei estava usando
magia de feiticeiro.
— O que posso dizer? — Gabriel disse com um encolher de ombros. —
Ela estava sendo teimosa.
Aero balançou a cabeça, decepcionado. — As vezes, Gabriel, eu juro, se
você não fosse o rei...
Gabriel riu muito disso, dando um tapinha nas costas de Aero. — O
quê, Aero? Você se acha mais cavalheiro do que eu, é isso?
— Só estou dizendo. Essa garota deveria ser sua futura protetora,
Gabriel. Talvez um pouco de civilidade possa ser útil.
— Oh. Eu ainda não vou reivindicá-la. Eu só a trouxe aqui como um
favor para Lucius.
Aero parecia prestes a explodir. Gabriel piscou.
— Relaxe, Aero. Raiva não combina com você.
Então, Gabriel abriu as portas de sua sala do trono e entrou sozinho.
Esperando por ele, olhando para a fênix de prata esculpida no trono,
estava Lucius.
*
— O presente de Azareth, — disse Gabriel, balançando a cabeça. —
Sempre gostei dessa história.
— Você acha que é um mito, Vossa Majestade? — Lucius perguntou,
dando um olhar estranho para a fênix esculpida no trono.
— Os Deuses não interferem nos assuntos mortais há séculos. Se é
que alguma vez o fizeram. Por que qualquer Deus daria a um rei, meu
ancestral, uma fênix como um presente? Nunca fez sentido.
Lucius se virou, olhando o rei orgulhoso com atenção. — Aí, Vossa
Majestade, é onde você está enganado. Se você me permitir ser tão
direto.
Normalmente, qualquer homem que contradisse o rei seria jogado em
uma masmorra e deixado para apodrecer. Mas Lucius não era um
homem normal e Gabriel respeitava sua opinião.
Mesmo que ele fosse um velho bêbado.
Ele foi até um armário e pegou o rum élfico mais caro que tinha,
servindo-lhes dois copos. Ele entregou um para o velho feiticeiro, que o
considerou com uma fungada e um suspiro.
— Um desperdício para mim. Não consigo distinguir entre o mais
barato e o melhor.
— E ainda assim, você pode me dizer que estou enganado sobre as
histórias dos Deuses.
— Sim. — Lucius assentiu, tomando um gole. — Veja... você assume
que os Deuses fazem sentido. Que seus motivos, suas ações... podem ser
entendidos por mentes tão limitadas como as nossas.
— Você está dizendo que sou muito pequeno para a grandiosidade de
seus planos? — Gabriel perguntou com uma carranca.
— De jeito nenhum, Vossa Majestade, — Lucius corrigiu. — No
mínimo, o fato de eles terem escolhido você como o Rei da profecia...
aquele destinado a encontrar o salvador de nosso reino... isso deve dizer a
você tudo.
Gabriel balançou a cabeça, ainda irritado com a ideia de que de
alguma forma Lydia era a salvadora. Ele tinha visto do que ela era capaz
—ou, mais precisamente, do que ela não era.
Ela não conseguia nem se defender de um lobisomem. Como ela
deveria proteger o reino de Imamia?
— Você duvida do poder dela? — Lucius perguntou.
— Algumas bolas de fogo não a tomam uma salvadora, Lucius, —
Gabriel respondeu. — Não quero insultar o seu treinamento, mas...
— Ela tem um longo caminho a percorrer, é verdade. Mas você
considerou outra razão pela qual seu poder total permanece inexplorado?
Gabriel sabia exatamente a que Lucius estava se referindo. O poder da
união. Mas ele não estava prestes a mudar de ideia agora.
Um rei inconsistente era pior do que o governante mais monstruoso.
Porque mudar de ideia mostrava fraqueza. E fraqueza levava a golpes e
caos.
— Eu sei a que você se refere, Lucius. Mas é tarde demais para isso.
Nós já nos conhecemos. E nós dois concordamos. Não somos adequados
para ficarmos juntos.
Em resposta, Lucius bebeu o copo inteiro de uma vez.
— Você percebeu que acabou de engolir três mil rúpias? — Gabriel
perguntou, exasperado.
— Eu estava lá, Gabriel, — Lucius disse, ignorando o comentário e
olhando mais uma vez para o Trono da Fênix. — Quando Azareth
concedeu a Fênix ao seu ancestral, eu estava lá.
Os olhos de Gabriel se arregalaram em descrença. Ele sabia que Lucius
era velho. Mas tão velho assim?!
— E eu estava lá quando Decimus abençoou o pássaro com o mais
puro fogo branco. O tipo que apenas Deuses e seus filhos, seus Slifers,
podem conjurar...
— O que você está dizendo, meu velho?
Gabriel estava ficando cansado dos quebra-cabeças do feiticeiro. Parte
dele suspeitava que uma revelação viria e mudaria tudo. O tipo de
verdade terrível que ele não queria ouvir.
— Foi aquele fogo que salvou o reino, Gabriel. O sacrifício daquele rei.
E o desaparecimento daquela Fênix... que permitiu esse futuro.
— Você quer dizer que... está acontecendo de novo? — Gabriel
perguntou, enquanto seu rosto brilhava com compreensão.
— Algo se aproxima, Vossa Majestade. Um inimigo que pode significar
o fim do mundo como o conhecemos. E a menos que você tenha esse
fogo ao seu lado... a menos que você cumpra o desejo dos Deuses e
reivindique Lydia... todos nós podemos estar condenados.
Desta vez, foi Gabriel quem terminou sua bebida em um único gole.
LYDIA

— Lydia! Acorde!
Lydia piscou, esfregando os olhos para ver os grandes e amarelos de
Lux olhando para ela. O gato estava enrolado em seu peito.
— O que está acontecendo? — ela perguntou com um bocejo. —
Onde...?
Lydia sentou-se para ver que estava deitada em uma cama de dossel
com cortinas de veludo azul e bordados prateados. O lugar era o maior e
mais magnífico quarto em que ela já havia dormido.
Havia uma grande varanda com vista para um jardim bem cuidado, e
os pássaros podiam ser ouvidos no chilrear das árvores. A sua esquerda
estava a penteadeira mais decadente que ela já tinha visto.
E então havia o vestido bege que ela estava usando. Ela nunca tinha
usado um vestido em sua vida. Como isso veio parar aqui? Quem colocou
isso?
E então tudo voltou correndo. O ladrão. O lobisomem. O rei.
Ele a levou de volta para seu palácio e, exausta, ela adormeceu em seus
braços. Seus servos devem ter feito o resto, presumiu Lydia.
A ideia de que ele poderia tê-la visto nua enquanto ela estava sendo
trocada... isso a fez corar e inchar com um calor interior.
Agora não, ela disse a si mesma. Você precisa se situar.
Lydia sentou-se lentamente, acariciando Lux atrás da orelha. —
Você... lembra de tudo?
Lux concordou. — Quase tudo. Tivemos muita sorte de o rei ter
aparecido naquela hora.
Lydia desviou o olhar, resmungando: — Tanto faz.
Mas Lux não a deixaria escapar tão fácil. — Sabe, eu vi aquele...
momento... entre vocês dois.
— Não sei do que você está falando, — Lydia respondeu rápido
demais.
Lux sorriu. — Os gatos são mais intuitivos do que você imagina.
Aceite o conselho de um animal. Você não pode ignorar seus instintos
por muito tempo.
— O que você está sugerindo...?
O gato lambeu a pata maliciosamente, antes de sair da cama. Lydia
revirou os olhos. — Às vezes, gostaria que você não falasse tanto, Lux.
Só então, houve uma batida na porta, e uma voz doce disse: — Você
está acordada?
Lydia disse que sim, e então uma bela jovem abriu a porta e entrou.
Ela não andou. Ela deslizou com uma graça que Lydia nem sabia que era
possível.
Ela era alta, com pele da cor de marfim, olhos castanhos grandes e
cabelo castanho curto. Ela usava um vestido longo e brilhante de platina,
que refletia a luz lançada através da vidraça.
Mesmo sendo uma visão adorável de se ver, Lydia deu um passo
instintivo de autoproteção para trás. A garota sorriu.
— Não há razão para ter medo, Lydia. Sou Lis. A irmã do rei. Eu sou
aquela que curou suas feridas.
Lydia olhou para Lux, que estava se banhando. Ele parou para acenar
afirmativamente. Esta não era apenas uma garota. Esta era a princesa de
Imamia.
Lydia fez uma reverência. — Eu... eu devo a você minha gratidão,
Vossa Alteza. Obrigada.
— Faço tudo o que puder para ajudar. — Ela colocou a mão no ombro
de Lydia, e algo no jeito que ela sorriu a fez se sentir como se ela fosse
alguém que a princesa estava procurando.
Lydia não sabia como responder, então não disse nada.
Nesse momento, outra voz interrompeu o encontro. E era muito
menos doce.
— Irmã...
O Rei Gabriel entrou na sala, com seus olhos cinzas tempestuosos
fixos em sua irmã quando ela se virou para encontrá-lo.
— Irmão, o que você está fazendo aqui?
Ele suspirou, então se virou para considerar Lydia.
— Slifer, posso ter uma palavrinha com você no meu escritório?
Lydia não queria ir, mas ela sabia que, por trás do pedido, havia uma
ordem velada. Por causa da gentileza de Lis, ela não iria discutir com ele.
Desta vez.
Com um sorriso fraco, ela assentiu. — Claro, Vossa Majestade.
Lydia estava com o rei em um escritório finamente decorado. Em toda
parte, havia livros, retratos e tapeçarias. Uma lareira rugia com uma luz
cintilante. As chamas eram um conforto para Lydia agora.
Antes que Lydia pudesse perguntar o que eles estavam fazendo aqui,
ele começou.
— Eu chamei você aqui para lhe oferecer um acordo, Slifer.
Isso não era o que ela esperava. Mas ela tentou permanecer
impassível.
— Que tipo de acordo?
— Você deseja ser mais forte, eu entendo.
O rei estava certo. Ela havia treinado todos os dias nos últimos
dezoito anos para ser uma feiticeira imortal. Mas aonde ele queria
chegar?
— Eu não sei o quanto Lucius disse a você, — o Rei continuou, — mas
tenho certeza de que você está bem ciente de que seu corpo deveria
pertencer a mim?
As bochechas de Lydia esquentaram, mas ela concordou mesmo
assim.
— Bem, saiba que, para que sua magia se desenvolva, terei que criar
uma união com você. Fisicamente e mentalmente. Quando isso for feito,
sua verdadeira magia será liberada. E você será a Slifer que sempre
imaginou.
Então, essa era a razão pela qual seus poderes eram tão fracos... Estava
começando a fazer sentido. Mas Lydia não concordaria tão facilmente.
— Mas ainda não entendo o que você está propondo, — disse Lydia.
— Eu pensei que você não me queria?
Ele se inclinou na direção de Lydia agora, com seus penetrantes olhos
cinza fixos nos dela. Ela podia sentir seu coração acelerando e seu rosto
ficando mais quente com a proximidade repentina. Ele parecia gostar da
maneira como o corpo dela enrijecia.
— Deixe-me esclarecer uma coisa, — ele disse calmamente. — Eu não
tenho nenhum interesse em você. Se você não quer isso, fique à vontade,
eu não me importo. Você pode continuar sendo uma garota que lança
bolas de fogo pelo resto de sua vida imortal.
Seus insultos estavam começando a incomodar Lydia. Mas ela sentiu
que ele ainda não tinha acabado.
— Mas se você concordar... você estará seguindo o comando dos
Deuses e garantindo a segurança do meu reino. Por isso, estou disposto a
colocar meus próprios interesses de lado. Entendeu?
Lydia estava sem palavras. Com um nó na garganta. Essa era
realmente a única maneira?
— Você será minha. Para dormir comigo e cair fora como eu achar
melhor. Está claro?
Era a última coisa no mundo que Lydia queria. Mesmo que seu corpo
implorasse por algo diferente. Mas se isso significava que ela se tomaria
seu eu mais poderoso, a Slifer que estava destinada a se tomar, Lydia
sabia que não tinha escolha.
Ela se inclinou para perto dele agora, fazendo com que eles ficassem a
apenas um fio de cabelo de distância. E então Lydia selou seu destino.
. — .. Combinado.
Capítulo 6
VOSSA MAJESTADE
LYDIA

Lydia irrompeu em seu quarto palaciano e fechou a porta atrás de si.


Hiperventilando, ela pressionou as costas contra a porta, lentamente
deslizou para baixo e fechou os olhos, tentando recuperar a compostura.
Mas ela estava perdendo o controle. Lydia estava prestes a se tomar a
protetora de Imamia. Ela concordou com os termos do rei. Ela aceitou
que eles teriam que dormir juntos para solidificar a união.
Só agora, no quarto de Lydia, toda a grandiosidade da decisão
começou a atingi-la.
— Lydia, você está bem?
Lux saltou, acariciando sua perna. Com a cabeça apoiada nas mãos,
balançando para frente e para trás, Lydia mal percebeu que seu amigo
felino estava ali.
— Lydia, o que foi? — ele perguntou, ronronando.
— Eu... eu consegui, Lux. Fiz um acordo com o rei.
— Você quer dizer...?
Ela assentiu, ainda em choque. Lux pulou em seu colo, forçando-a a
encontrar seus olhos vermelhos.
— É a única maneira de obter controle total dos meus poderes de
Slifer, — ela disse trêmula. — Se eu realmente quero ser uma grande
feiticeira, eu tenho que fazer isso.
— Mas você será dele agora. Como—?
— Ele diz que assim que eu for reivindicada e a união for...
consumada...
Ela estremeceu. Até mesmo dizer essa palavra a fez imaginar todos os
tipos de possibilidades impertinentes que estavam prestes a se desdobrar
com o rei.
. — .. então ele não vai se importar com o que eu faço depois. Que
posso deixar o reino. Eu estarei livre.
— Oh, Lydia, — disse Lux, esfregando o rosto na palma da mão dela,
tentando confortá-la. — Isso é... demais.
— Eu sei.
— Quando será a cerimônia?
— Não tenho certeza. Em breve. Os preparativos já estão em
andamento. O rei mencionou que o anúncio real acontecerá primeiro.
Alguns visitantes estão a caminho.
Lux assentiu, franzindo a testa. — E quanto a mim? Ainda poderei
ficar com você?
Lydia percebeu que ela nem tinha perguntado. É claro que Lux iria
ficar com ela. Se Gabriel negasse, ela o forçaria a reescrever o contrato.
Ela estava prestes a dizer isso a ele quando uma batida forte na porta
atrás dela a fez pular. Ela podia sentir as batidas vibrando contra sua
espinha.
— Lydia, abra a porta, — disse uma voz rouca.
Ela conhecia aquela voz, e seus olhos franziram em uma carranca. Ela
se levantou lentamente e abriu apenas uma fresta.
— O que você quer?
Lucius, com os olhos vermelhos e bêbado, estava do outro lado,
cambaleando.
— Acho que precisamos conversar...
*
O velho feiticeiro estava sentado em uma cadeira de frente para a
cama de Lydia. Seus ombros estavam curvados. Em suas mãos, ele
segurava seu fiel cantil. Lydia percebeu que tinha um amassado novo, de
quando ela o jogou fora dos portões do palácio.
Ela se sentou na cama com Lux aninhado no colo, esperando que ele
começasse.
— Então? — ela perguntou impaciente. — O que foi?
— Eu sei que você e o Rei Gabriel chegaram a um acordo... — ele
disse. — Como você se sente sobre tudo isso?
— Não é como se eu tivesse muita escolha, Lucius. Ele me disse que só
serei uma verdadeira Slifer depois de nos unirmos. Um fato que você
nunca pensou em trazer à tona durante todo o nosso treinamento.
— Eu não sabia como...
— Então, todas as nossas aulas eram apenas para exibição? Uma
maneira de me manter ocupada? Afinal, ainda sou fraca. Eu não consegui
nem me defender de um lobisomem.
— Não!
Seu grito a pegou de surpresa. A emoção em sua voz era algo a que ela
não estava acostumada.
— Não, — ele repetiu mais baixo. — Tudo isso era importante.
Quando seus poderes estiverem totalmente ativados, você verá. Tudo o
que ensinei a você estabeleceu sua base.
— Por que eu deveria acreditar em uma palavra que você diz?
Lucius assentiu com tristeza. — Se eu fosse você, também não
confiaria em mim, Lydia. Eu vou te deixar em paz. Agora que você tem o
Rei, não precisa mais de mim. Mas antes de eu ir, quero que você saiba de
uma coisa...
É claro que o velho bêbado iria deixá-la. Isso só provou o que ela
passou a acreditar: que ele nunca realmente se importou com ela.
Mas então, quando ela olhou nos olhos de Lucius, ela viu que eles
estavam cheios de lágrimas.
— Há centenas de anos, antes de começar a beber, algo me aconteceu.
Algo que me mudou. Eu não posso te dizer o quê. Mas basta dizer que
morri um pouco por dentro.
Lydia não podia acreditar que Lucius estava se abrindo—embora sua
imprecisão, sua recusa em confessar totalmente, a enfurecesse ao mesmo
tempo.
— Eu forcei você a ser apenas minha aprendiz, Lydia, porque embora
eu estivesse criando você, eu sabia que esse dia chegaria. O dia em que eu
teria que dizer adeus.
— Lucius, — ela sussurrou, com os olhos cheios de lágrimas de raiva.
— Não, Lydia, — ele a interrompeu. — Me chame do que você sempre
É
me chamou. Seu avô. É assim que eu quero que você se lembre de mim.
Então, antes que Lydia pudesse impedi-lo, Lucius se levantou e a
abraçou, segurando sua cabeça contra seu peito. Ela podia sentir o cheiro
de rum em sua capa. Era o cheiro do seu lar.
Ele entregou a ela uma pulseira de prata. — Guarde isso com você.
Sempre, Lydia.
Lydia não entendeu por que ou o que Lucius quis dizer, mas ela sentiu
que a pulseira era importante.
— Sentirei sua falta, — disse ele. — Seja boa para o rei. Embora haja
escuridão em seu coração, você pode mostrar-lhe a luz.
— Vovô, espere!
Mas ele já estava se afastando, parando apenas para beijá-la na testa.
— Adeus, Lydia...
Então, ele saiu do quarto e fechou a porta atrás de si, deixando Lydia
sozinha, tendo apenas Lux como companhia.
Tão dominada pela emoção, Lydia não pôde fazer nada além de
desabar em sua cama em lágrimas. Ela lentamente colocou a pulseira de
prata.
Depois de todos aqueles anos, depois de todos os seus segredos e
traições, a verdade era que o velho feiticeiro realmente amou como uma
família.
Como ela iria sobreviver sem ele?
GABRIEL

— Está tudo pronto, Aero?


O Rei Gabriel entrou no grande pátio com Aero logo atrás dele. Em
todos os lugares, os servos se preparavam para o Dia de Honra,
preparando apenas as melhores mesas e talheres para o banquete que se
aproximava.
Lampiões iluminavam o jardim, fazendo-o brilhar com uma luz quase
mística.
— King Morrison deve chegar com um convidado especial a qualquer
momento, — disse Aero, acenando com a cabeça. — Assim que tiverem
descansado, as festividades vão começar logo pela manhã.
— Excelente, — disse Gabriel. — Estou curioso para conhecer esta
mulher misteriosa.
Muitos falaram sobre a garota que aparentemente apareceu do nada
para capturar o coração do Rei de Freyr. Este era o reino vizinho mais
próximo e, embora não fosse do tamanho ou proeminência de Imamia,
era um aliado histórico da mais alta importância.
Gabriel estaria mais curioso para ver como sua nova protetora, Lydia,
se comportaria agora dentro do acordo. A ideia de anunciar sua união
não agradou a Gabriel.
Mas depois de sua conversa com Lucius, uma vez que ele entendeu o
que estava em jogo, o rei percebeu que não tinha escolha.
Era reivindicar a Slifer ou colocar todo o reino em perigo. Como rei,
ele tinha que colocar seu reino em primeiro lugar, independente de seus
próprios sentimentos.
Ainda assim, a ideia de dormir com a garota o fez vibrar com uma
onda de emoções contraditórias. Por um lado, ela tinha apenas dezoito
anos, ainda era virgem e era indigna em todos os aspectos que ele
esperava da realeza.
Mas também havia algo bruto e animalesco sobre Lydia que ele não
podia deixar de desejar. Quanto mais ele olhava em seus olhos ardentes,
mais ele se perguntava como seria vê-los se abrindo ainda mais quando
ele a penetrasse...
Apenas a ideia por si só foi suficiente para fazê-lo enrijecer de
ansiedade.
Ele limpou a garganta quando uma voz distante e familiar
interrompeu seu devaneio.
— Gabriel! É verdade mesmo?!
Ele se virou para ver sua irmã, Lis, sorrindo, correndo em direção a ele
e Aero pelo pátio. Ele suspirou, exasperado.
— Sim, Lis. Lydia concordou com os termos. Estou pronto para
reivindicá-la. Em um nível puramente comercial, entenda. Ela não será
família.
— Como quiser, Gabriel, — disse ela, jogando os braços em volta do
pescoço e abraçando-o com força. — Eu estou tão feliz.
Mesmo sem querer deixar transparecer, Gabriel sorriu. Fazer sua irmã
sorrir era um dos únicos vestígios de alegria que o rei ainda mantinha
perto de seu coração. O resto, ele sacrificou em troca de poder.
A magia das sombras dentro dele fazia sua alma escurecer a cada dia.
Mas Lis o lembrava de quem ele era. Ela o fazia acreditar que poderia
ser aquele rei de bom coração novamente um dia.
Como se ela estivesse lendo sua mente, Lis se afastou e olhou para seu
irmão de perto.
— Você está preparado para o que a união entre vocês dois vai
desencadear?
Ele não gostava de falar sobre sexo com sua irmã. Era impróprio em
todos os níveis. Mas sua preocupação não era sobre o ato de intimidade
em si. apenas os resultados.
Lis sabia que não apenas os poderes da Slifer seriam ampliados, mas
também os seus próprios. Depois que ele e Lydia fizessem sexo, quem
permaneceria? O rei ou a sombra?
— Não se preocupe, Lis, — disse Gabriel, afastando-a.
— Tenho tudo sob controle.
Mas agora, tudo em que ele conseguia pensar era em perder o
controle. Com Lydia...
LYDIA

Os dedos dele se enroscavam no cabelo dela.


Os quadris dele estavam entre as pernas dela.
O hálito quente dele umedecia a nuca dela.
Nunca em sua vida Lydia havia experimentado uma sensação tão
primitiva, tão insaciável, tão avassaladora quanto esta. O rei estava em cima
dela, com seus olhos cinzas tempestuosos fixos nos dela, vermelhos ardentes.
Instando-a, implorando para que ela se perdesse.
Ela podia sentir o fogo em seu estômago se desdobrando como uma cobra
e deslizando por cada parte de seu corpo. Consumindo-a.
Cada estocada dele afazia estar ainda mais em chamas.
Sua pele estava ondulando com o calor. Ela não conseguia entender como
ele não estava queimando. Ela era pura luxúria derretida... e ele era a
escuridão.
Suas sombras e seu fogo estavam lutando e dançando um com o outro
enquanto faziam amor.
Logo, ambos seriam totalmente conquistados por seus desejos mais
básicos, por sua fome carnal, por seu poder bruto.
— Lydia, — ele sussurrou, empurrando.
E ela poderia dizer que ele estava chegando perto. Ela se encolheu em
antecipação, com os olhos revirando, e o fogo queimando em suas mãos.
— Gabriel... — ela implorou. — Vossa Majestade...
E de repente, quando o Rei estava prestes a atingir o clímax, Lydia
explodiu com fogo...
*
Lydia acordou assustada, respirando com dificuldade.
O que diabos foi isso?!
Ela jogou as cobertas de lado e saiu da cama, sentindo-se como se
ainda estivesse em chamas. Na ponta da cama, Lux estava enrolado,
ainda dormindo.
Ela estava grata por isso. A última coisa que ela queria era explicar o
que acabara de sonhar.
Ela abriu a janela da varanda silenciosamente, deixando o ar fresco
tocar sua pele e acalmá-la. Ela respirou.
É claro que ela tinha sentido instintos sensuais curiosos sobre o rei
antes. Mas nunca desse jeito. Nunca em um sonho tão impiedoso,
visceralmente real.
— Controle-se, Lydia, — ela se repreendeu.
Ela estava prestes a fechar a janela e voltar para a cama quando ouviu
um som distante e curioso. Uma voz muito agradável e misteriosa...
cantando.
— Uma sereia sorri à beira-mar,
Estendendo as mãos para o oceano.
E conforme a água flui,
Ela cantarola junto com uma melodia.
Triste pode ser, o som sem alegria,
A sereia sorri,
Pendurando pérolas para uma coroa.
Por razões que Lydia não conseguia entender, ela se sentiu atraída
pela voz. Ela tinha que saber sua fonte. Então, pegando uma capa, ela
silenciosamente saiu do quarto e a seguiu.
*
Enquanto Lydia seguia a voz até uma clareira, ela sentiu uma onda de
poder inconfundível por ela. Uma magia familiar, tão poderosa e
elementar, que ela tinha que saber a quem pertencia.
— Lágrimas cobrem seu rosto.
Seu coração pulsante dói.
Enquanto o luar prateado banha seus olhos,
Ela sorri de novo e se despede...
Lydia parou em seu caminho quando viu a figura de uma jovem
deitada sozinha na beira de um rio. A lua brilhante acima lançava um
brilho prateado na água cristalina.
Então, Lydia viu o que ela estava fazendo e sentiu como se seu coração
tivesse parado. Passando a mão pela superfície da água, a mulher estava
criando um delicado fluxo no ar.
Ela estava fazendo movimentos circulares e acenando com a mão,
criando a forma de um cisne na água flutuante.
Era a visão mais linda que Lydia já tinha visto.
E quando seu estômago embrulhou, ela percebeu que não era uma
magia comum. Esta mulher estranha na margem do rio era exatamente
como ela.
Lydia encontrou outra Slifer...
Capítulo 7
A SLIFER DA ÁGUA LYDIA
Lágrimas cobrem seu rosto,
Seu coração pulsante dói,
Enquanto o luar prateado banha seus olhos,
Ela sorri de novo e se despede...
Outra Slifer? A mente de Lydia estava a mil. Ela pensou que era a
única viva...
Ela observou com admiração enquanto os dedos da moça dançavam.
A água girava em tomo dela. Lydia se moveu lentamente em sua direção
através da mata, tentando não assustar a outra mulher.
Uma nuvem se moveu sobre a lua acima, obscurecendo a Slifer por
um momento, antes de passar e iluminar sua pessoa inteira.
Lydia suspirou ao ver o cabelo da Slifer: loiro brilhante, mesclando-se
em vários tons de azul quando chegava às pontas.
Seu cabelo chegava até os quadris, balançando suavemente com a
brisa da noite.
Lydia avançou para frente, querendo chegar o mais perto possível da
Slifer. Ela não sabia a próxima vez que veria alguém de sua espécie
novamente.
Lydia pôde ver que a Slifer de Água tinha um 'S' no pulso, idêntico à
sua própria marca.
Seria esse o símbolo dos Slifers? Ela traçou o dedo sobre o pulso.
SNAP!
Os olhos de Lydia se arregalaram com o som que veio de seus pés. A
Slifer da Água se virou. Ela adotou uma postura de luta, enquanto a água
a rodeava.
— Quem está aí? — a Slifer da Água gritou, fazendo sua voz lírica
reverberar pela floresta.
Lydia decidiu se revelar. Ela saiu da mata arrastando os pés, erguendo
as mãos para indicar que não queria fazer mal.
Á
— Quem é você?! — a Slifer da Água perguntou. A água que ela
comandava se acalmou ligeiramente.
— E-ei... eu sou uma amiga, está bem? — Lydia disse, continuando a
seguir em frente.
— Não se aproxime! — a Slifer da Água gritou, enquanto a água ao
redor dela se transformava na forma de serpentes.
Merda! Lydia deu um passo para trás, baixando o olhar.
— Olha, eu vi seu poder e só queria...
— Viu meu poder?! — a Slifer da Água gritou. Lydia não sentiu raiva
em sua voz, parecia mais como medo.
— Você é uma Caçadora de Feiticeiros!
Antes que Lydia pudesse negar a acusação, a Slifer da Água ergueu as
mãos e as jogou na direção de Lydia.
As serpentes d'água seguiram os movimentos de sua mestra, voando
para frente com suas presas à mostra.
Lydia cobriu o rosto com os braços, gemendo de dor enquanto as
cobras cravavam suas mandíbulas nela.
Seus antebraços pareciam estar sendo picados por agulhas quentes
enquanto as serpentes a rodeavam, mordendo-a a cada poucos segundos.
Ela gritou.
— Olha, eu não sou uma Caçadora de Feiticeiros! Eu só quero
conversar! Eu só...
Lydia soltou um grito, com suas mãos explodindo em chamas. As
cobras se dissiparam, algumas voltaram para a mestra, outras
evaporaram na hora.
Os olhos da Slifer da Água se arregalaram quando ela percebeu o
poder de Lydia antes de recuperar a compostura.
A Slifer da Água abriu os braços novamente, estendendo vários
tentáculos das pontas dos dedos. Ela os usou como chicotes, misturando
a combinação enquanto lutava com Lydia.
A Slifer da Água era rápida. Lydia mal se esquivou de um tentáculo
que voou em sua direção como uma lança.
Lydia começou a avançar, mas a Slifer da Água rapidamente torceu
seu pulso, derrubando Lydia.
Lydia caiu de bunda com força no chão. Ela se abaixou e rolou para se
manter longe da enxurrada contínua de chicotes. Lydia cerrou os dentes.
Ela se preparou. Se essa garota não iria ouvi-la, a força teria que fazer
o trabalho. Lydia respirou fundo, esperando o momento certo para
atacar.
A Slifer da Água retirou seus chicotes, formando uma grande bola de
água, e jogou em Lydia com força.
FWOOSH!
Lydia expirou, espalhando as mãos, com as palmas voltadas para a
Slifer da Água.
Uma onda de fogo saiu de seus dedos. As chamas dissolveram o
ataque da Slifer da Água e lamberam seu corpo. A Slifer da Água gritou e
saltou para trás, correndo para longe do fogo.
Lydia sorriu com sua reação, mas no processo perdeu a concentração.
A onda de fogo se apagou com um lamento.
Ela reacendeu as mãos, esperando que a próxima rajada de água
começasse. A Slifer da Água fez o mesmo, com orbes de água girando
lentamente ao redor de seu corpo.
As duas se encararam, desafiando a outra a atacar primeiro.
Um estrondo de trovão quebrou a tensão entre elas. Lydia cobriu os
olhos guando um raio atingiu o solo entre ela e a Slifer da Água.
Ela espiou por uma lacuna em suas mãos e viu um homem parado
onde o raio havia caído.
Ele usava uma jaqueta de couro descontraída e calças largas. A única
coisa que indicava que ele tinha algum poder 'sobrenatural' era a cor de
seus olhos.
Eles eram dourados e brilhantes, cintilando à meia-lua.
Ele estalou os dedos, provocando faíscas.
— Ayana, fique para trás! — ele chamou por cima do ombro, com sua
voz firme.
Lydia manteve uma nota mental de seu nome. Ayana. Slifer da Água.
<
Lydia de repente percebeu o que estava acontecendo. O homem que
pousou na frente dela tinha uma postura ampla, plantando os pés no
chão.
Ele ergueu a mão para o céu e as nuvens começaram a tremer.
Antes que Lydia pudesse gaguejar um apelo ou levantar as mãos, um
redemoinho de sombras passou por sua orelha e pegou o homem,
levando-o para o céu.
A iluminação e as sombras formaram um arco no céu noturno,
enquanto faíscas corriam pela fumaça negra e profunda.
Lydia apurou os ouvidos. Ela pensou que podia ouvir uma risada lá de
cima.
— Gabriel, é você? — uma voz gritou no céu. — Quanto tempo, cara!
As duas formas continuaram a cruzar o céu, mas seus movimentos se
tomaram menos agressivos, mais lúdicos.
Lydia ficou tão extasiada com a exibição espontânea que não viu a
Slifer da Água se recompor lentamente antes de estender a mão.
Globos de água um pouco maiores do que cascalho voaram na Slifer
do Fogo. Eles atingiram Lydia, ferindo sua pele e deixando suas roupas
encharcadas.
Lydia tentou acender as mãos, mas o jato constante de água apagou
qualquer faísca que ela tentasse produzir. Só havia uma coisa que ela
podia fazer: encobrir-se e esperar até que o vôlei terminasse.
Ela não teve que esperar muito.
Outro raio de luz atingiu o solo próximo, junto com um redemoinho
de sombras.
— Ayana, pare! — chamou o homem de olhos dourados. Ayana soltou
a mão e a água baixou. O homem misterioso e o Rei Gabriel se
materializaram no chão. Gabriel tinha uma expressão de total
desaprovação no rosto.
Ele marchou até Lydia. Ele pegou um dos braços dela e a colocou de
pé.
— O que foi, meu rei? — Ayana perguntou, ficando perto do outro
homem. — Eu pensei que ela era uma Caçadora de Feiticeiros.
O homem riu e balançou a cabeça.
— Não, querida. Você não pode sentir o poder dela? Ela é uma Slifer,
assim como você.
Ayana olhou para Lydia com uma expressão vergonhosa. — Oh, eu
sinto muito. Eu não te machuquei, machuquei?
Lydia sorriu sem jeito e balançou a cabeça. Ela se livrou do braço do
rei que agarrava o dela como um prendedor.
Ela soltou um suspiro, aquecendo o corpo para se secar. Ela conseguiu
evaporar o excesso de água, mas ainda estava bastante úmida.
O homem com Ayana deu um passo à frente.
— Eu sou o Rei Morrison, governante de Freyr, — disse ele, com uma
reverência exagerada. — E esta é Ayana, a Slifer da Água.
Ayana deu um pequeno aceno e um sorriso tímido, ainda um pouco
envergonhada com suas travessuras anteriores. — Não se preocupe com
ela, — continuou Morrison. — Ela apenas tem um medo intenso de
Caçadores de Feiticeiros.
Morrison colocou ênfase extra nas três últimas palavras, fazendo sua
voz soar assustadora.
Ayana riu de sua teatralidade, mas todos podiam dizer que sua fobia
era extremamente séria. — Portanto, você pode entender por que eu
fiquei um pouco... distante quando vi você e Ayana se enfrentando.
— Está tudo bem, — disse Lydia categoricamente.
— Eu não faria o mesmo por ela, — pensou o Rei em voz alta, para que
Lydia pudesse ouvi-lo. — Ela tem sido um incômodo desde que chegou
aqui.
Lydia revirou os olhos.
Morrison olhou para o par heterogêneo, esperando que Gabriel o
apresentasse à Slifer.
A expressão fria do rei mostrava que ele preferia estar em qualquer
outro lugar do que na floresta, ao lado de uma garota encharcada que
havia sido impingida a ele.
Lydia deu um passo à frente.
— Eu sou Lydia Voltaire, Slifer do Fogo, sob a proteção do Rei Gabriel
de Imamia. — O rei zombou do uso de — proteção — por Lydia.
— Prazer em conhecê-la, Lydia. Por acaso você é parente de Lucius
Voltaire?
A Slifer do Fogo fez uma careta ao som do nome dele, mas concordou.
— Ele é meu avô.
Morrison assentiu, com um sorriso se esticando em seu rosto.
— Lutamos muitas vezes juntos. Ele alguma vez lhe contou a história
da Batalha de Kelper Gorge?
Ela balançou a cabeça em negativa. A expressão de Morrison desabou.
— A Batalha de Galdrath?
Lydia balançou a cabeça novamente. Morrison parecia preocupado. —
Nem mesmo a luta contra o terrível Mozdox comedor de bruxos?
— Meu avô não me contava nada sobre este mundo, — ela respondeu.
— Oh, meus valentes esforços, confinados ao esquecimento, —
Morrison disse ironicamente. — Poucos sabem a verdade entre os contos
de fadas.
O rei tossiu.
— Está ficando tarde, — declarou. — Devemos voltar para o castelo.
— Ele girou nos calcanhares e começou a caminhar para a floresta, sem
nem mesmo olhar para trás.
Morrison o alcançou facilmente, deixando as duas Slifers caminhando
sem jeito lado a lado.
A dupla tentou conversar um pouco, mas permaneceu em silêncio na
maior parte do tempo. Elas começaram a ouvir a conversa de Morrison
com o rei.
— Quando vocês dois se conheceram? — Morrison perguntou.
— Outro dia, — disse o rei, com desdém evidente em sua fala.
— Ela sabe por que está aqui? — ele perguntou, dando uma olhada
para trás na Slifer do Fogo.
O rei encolheu os ombros.
— Pela mesma razão que você tem uma ninfa do rio mordendo seus
tornozelos.
Ayana deu um suspiro silencioso de ofensa. Morrison olhou para trás
e parou, a fim de ficar ao lado de Ayana e atrás do rei.
Ele passou um braço em volta dos ombros dela e sussurrou palavras
doces em seu ouvido.
— O rei é um bom homem, você tem muita sorte, — disse ele a Lydia.
— Ele só pode ser um pouco mal-humorado. Mas tenho certeza de que a
cerimônia de união será adorável.
— A cerimônia de quê? — ela perguntou em direção a seu rei.
Ele não olhou para trás, em vez disso respondeu: — É amanhã à noite.
O olhar confuso de Lydia fez com que Morrison explicasse.
— Cada Slifer está conectado a um Rei ou Rainha.
Quando os dois se unem, o poder do Slifer fica mais forte.
— E ele me 'reivindica', eu sei, — ela respondeu. — O que é a
cerimônia?
— É como uma cerimônia de casamento, uma grande festa. A união
da realeza e de seu Slifer, — respondeu Morrison. Ayana animou-se com
a perspectiva de uma festa.
— Ooh, que legal! — Ayana gritou. — A nossa foi linda. — Ela
acariciou o rosto de Morrison, fazendo-o sorrir.
— Até sua esposa pareceu gostar.
Morrison riu, puxando Ayana para mais perto dele enquanto
caminhavam.
Lydia observou os dois amantes rindo como pássaros. Como seria isso?
ela imaginou. Eles pareciam tão felizes em reivindicar um ao outro; em
ser reivindicado.
Lydia não queria ser reivindicada por ninguém, muito menos pelo
narcisista Rei Gabriel, com sua cabeça e coração cheios de sombras.
Ela orou para que o sol nunca mais nascesse, para poupá-la da
vergonha e do constrangimento de ser simbolicamente conectada ao rei
na frente de seus súditos.
Isso não era tudo. A grandeza e as circunstâncias da cerimônia pública
eram uma coisa.
Mas o que precisava acontecer entre Lydia e o rei...
A união... Apenas o pensamento disso fez o estômago de Lydia revirar.
A CERIMÔNIA DE UNIÃO
Capítulo 8
A CERIMÔNIA DE UNIÃO
GABRIEL

Os olhos de Gabriel estavam bem fechados. Ele estremeceu ao sentir sua


pele sobre a de outra pessoa.
O Rei rosnou enquanto acariciava o pescoço de sua parceira, deixando
beijos ao longo de sua clavícula.
— Por favor, Gabriel... — ela sussurrou em seu ouvido, puxando-o para
mais perto. Ele segurou sua masculinidade e a colocou contra seu sexo,
empurrando lentamente.
Ela suspirou, cravando as unhas em suas costas quando ele começou a se
movimentar.
Seu ritmo começou lento, mas ele rapidamente ganhou velocidade com
cada impulso.
Depois de vários minutos a caminho disso, Gabriel atingiu seu auge.
Ela gozou logo atrás dele.
As pernas dela estavam enroladas firmemente em sua cintura. Quando
eles terminaram, ele ficou dentro dela e eles se beijaram suavemente.
Gabriel quase sentiu que eles estavam se comunicando telepaticamente,
eles pareciam estar se movendo como um só.
— E... — ele sussurrou.
— Gabriel, — ela respondeu. — Olhe para mim.
Ele abriu os olhos lentamente. Eles se alargaram em choque. A Slifer do
Fogo estava deitada embaixo dele, com um sorriso se espalhando em seu
rosto.
Ela o agarrou levemente por trás do pescoço e o puxou para um beijo.
— NÃO! — O rei gritou.
Ele pulou da cama, tentando ficar o mais longe possível dela. Ele ficou
enrolado nos lençóis e tropeçou. Ele caiu de bunda com um baque.
— Vamos, Gabriel, eu não vou te machucar... a menos que você queira, é
claro! — a Slifer do Fogo sussurrou sedutoramente.
Uma adaga se materializou em sua mão. — Eu sei que você me quer, —
ela ronronou, arrastando levemente a adaga sobre seu corpo nu. —
Aproxime-se.
Gabriel balançou a cabeça. Ele ficou no chão. A Slifer rugiu. — Você não
me ama?
— Não, — ele gritou, — Eu nunca vou amar outra pessoa enquanto eu
viver!
A Slifer começou a chorar.
— Se você não me amar, — ela gritou, — Eu não quero viver!
Ela cravou a adaga no pescoço, rasgando-o da esquerda para a direita.
Gabriel gritou horrorizado enquanto um líquido negro escorria ferozmente de
seu pescoço.
Ela não desmaiou.
Em vez disso, ela se levantou.
Ela começou a andar em direção a Gabriel, girando a adaga manchada de
sangue.
Ele recuou, tentando ficar o mais longe possível. Gabriel finalmente
bateu no batente da porta. Ele estendeu a mão para trás para tentar a
maçaneta, mas ela não se mexia.
Ele observou aterrorizado a Slifer sobre ele. Ela se ajoelhou, montando em
seu colo, pingando sangue negro por todo o seu peito e rosto.
— Este Reino vai queimar, Gabriel, — ela cuspiu. — Eu vou destruir tudo
que você sempre amou. Ninguém será poupado.
Ela ergueu as mãos acima da cabeça antes de abaixá-las com o máximo
de força que pôde, enterrando a faca no peito de Gabriel.
— AAAAAHHHHH!
Gabriel acordou assustado.
Segundos depois, a porta se abriu. Aero estava na entrada. Ele estava
armado com uma espada.
— Vossa Majestade! — ele exclamou. — Está tudo bem? Eu ouvi um
grito.
Gabriel caiu de costas na cama com um suspiro.
— Desculpe, Aero. Alarme falso. Apenas um pesadelo.
Aero assentiu.
— Uau, deve ter sido um pesadelo terrível. — Aero deu uma risada. —
Esses foram os três segundos mais emocionantes que tive durante o ano
todo! Imagine se você estivesse sendo atacado. Eu poderia ter visto uma
ação de verdade!
Gabriel lançou um olhar de desaprovação antes de responder
ironicamente: — Não acho que você deva desejar mal ao seu rei, capitão.
Esse tipo de conversa pode ser classificado como conspiração contra a
família real.
Aero respondeu na mesma moeda.
— Oh, mas dificilmente eu seria necessário em um atentado contra
sua vida, senhor. Você é um dos feiticeiros mais poderosos de todo o
reino. Eu apenas torceria por você como se fosse uma competição de
duelo!
A dupla riu. Aero continuou: — Bem, eu estava vindo para cá de
qualquer maneira. Lis me enviou. Você precisa se preparar para a
cerimônia. Ela está ajudando a Slifer do Fogo.
Gabriel resmungou. De todos os membros da realeza de Ignolia, por
que ele — tinha que suportá-la?
O rato do campo encontrou seu caminho para a cidade grande. Ela
tinha sorte de ficar no palácio, e ela não conseguia nem valorizar isso. Ela
não tinha elegância.
Por que ele tinha que se relacionar com esta plebeia?
— Lis gastou tempo e energia organizando isso, então é melhor você
aproveitar, — avisou Aero.
— Ugh, está bem. Desço em uma hora.
— Esplêndido, — Aero sorriu. — Os alfaiates chegarão em dez
minutos para fazer o design de seu traje.
— Mas eu ia usar meu temo de veludo!
— Não quero nenhuma desculpa. Lis me disse que você precisa de um
traje novo.
E com isso, Aero curvou-se e fechou a porta, deixando o rei sozinho
com sua infelicidade.
LYDIA

Lydia acordou com Lux encostando a pata em seu rosto.


— Tem alguém batendo na porta, — ele ronronou, balançando o rabo.
Ela esfregou os olhos. Com a luz do sol lá fora, parecia ser por volta do
meio-dia. Lydia ficou agitada a noite toda, pensando na cerimônia, e
adormeceu apenas quando o sol nasceu.
— Entre, — Lydia resmungou.
A princesa Lis e duas criadas entraram. Elas arrastaram Lydia de sua
cama e começaram a trabalhar com maquiagem e penteado para a
cerimônia antes mesmo que ela tivesse a chance de tomar o café da
manhã.
— Vamos, Lydia, precisamos fazer você ficar perfeita para a cerimônia!
— Lis disse, empurrando-a para uma cadeira.
As três mulheres trabalharam incansavelmente por horas. Lis falava
enquanto dançava ao redor de Lydia, aplicando sombra e grampos de
cabelo.
— Percebi que você está nervosa, — Lis disse. Ela colocou uma mão
calmante em cima da de Lydia. — Eu sei que meu irmão pode ser um
pouco... reservado. — Lydia conteve uma risada.
A maneira diplomática de falar de Lis só poderia pertencer a uma
princesa.
— Mas ele quer que esta noite corra bem tanto quanto você. Vai ficar
tudo bem, confie em mim.
Quando o sol estava começando a se pôr, elas finalmente entregaram
um espelho a Lydia. Ela se assustou com seu reflexo.
Lydia nunca se interessou muito por maquiagem, possuía apenas
alguns produtos do mundo mortal. Uma vez que percebeu que não podia
usar lentes de contato ou tingir o cabelo para tentar parecer menos
chamativa, ela quase desistiu deles.
Em sua mente, o único objetivo da maquiagem seria diminuir suas
feições sobrenaturais.
Mas Lis e suas duas ajudantes claramente tinham uma perspectiva
diferente. Os olhos de fogo de Lydia, delineados em carvão, brilhavam
como chamas reais. A sombra laranja e amarela em asa combinava
perfeitamente com as pontas de seu cabelo, que estava penteado em
tranças intrincadas.
Lydia estava linda.
— E aqui está o seu vestido, — disse Lis, entregando-o a Lydia.
Era de seda branca, com bordados em vermelho, laranja e amarelo. O
tecido cintilava entre seus dedos. Ela nunca havia sentido algo tão bom
em sua vida.
Lydia experimentou.
Ela tinha que segurá-lo para que não caísse no chão. Uma das criadas
fez um movimento com a mão e a roupa encolheu até se ajustar
perfeitamente a cada curva do corpo de Lydia.
Seu vestido brilhava como uma pérola quando Lydia se virou,
admirando seu corpo como se nunca o tivesse visto antes.
Lis se abaixou e acariciou a cabeça de Lux. Ele ronronou quando ela
criou uma coleira do mesmo tom tricolor do vestido de sua amante.
O gatinho tentou puxá-la no início, mas cedeu quando viu seu reflexo
no espelho.
Lis ofereceu a mão para Lydia. Lydia a aceitou e deu um sorriso fraco.
Seus joelhos tremiam de medo enquanto Lis a guiava pelo corredor para
a cerimônia no jardim.
*
O sol poente lançava longas sombras sobre os gramados. Lâmpadas
penduradas em galhos de árvores e aninhadas em canteiros de flores,
infundidas com cores de vermelho, laranja e amarelo.
Lydia podia sentir os olhos do rei perfurando sua alma. Ele estava
todo vestido de preto, com o mesmo bordado do vestido de Lydia.
Ele estava em um estrado de pedra na outra extremidade do jardim
com uma expressão de puro tédio no rosto.
Lis guiou Lydia através da multidão até o rei.
Tanto os camponeses quanto a nobreza acabaram testemunhando a
união de seu rei com uma Slifer.
Lydia notou que devia haver pelo menos duzentas pessoas presentes.
Todos pensavam que ela e o rei estavam prestes a formar uma união feliz.
Se eles soubessem o quão infeliz ela realmente estava...
Lis deixou Lydia no estrado de pedra ao lado do Rei antes de dar
alguns passos para trás.
A cerimônia começou com o canto das sacerdotisas.
Havia três delas, simbolizando as Vigilantes do Destino. Elas
entoaram orações e deram ofertas aos Deuses para abençoar o futuro
casal.
Elas acenderam buquês de flores de cheiro doce e os jogaram ao redor
do estrado de pedra.
O rei se abaixou e sussurrou para que apenas Lydia pudesse ouvir: —
Eu sei o que você está fazendo, Slifer. Você está apenas me usando para
fortalecer seus poderes.
Lydia olhou para ele. Para o público, deve ter parecido que ele
sussurrou algo doce para ela.
— Achei que fosse esse o objetivo, Vossa Majestade, — Lydia sibilou.
O rei fez uma careta. Lis e Aero trocaram um olhar preocupado.
— Eu sei tudo sobre você e pessoas como você. Saindo do campo para
sugar a nobreza da cidade...
Lydia arfou. Como ele ousa? — Você não sabe nada sobre mim! Seu...
seu... cretino convencido!
O rei riu. Agora, toda a multidão começou a notar algo estranho sobre
essa cerimônia de união...
— Você está apenas abrindo as pernas para conseguir um lugar no
castelo. — O rei sorriu, como se estivesse gostando da exasperação de
Lydia.
— Não, eu não estou, — ela sussurrou. — Eu apenas sou — Só uma
garota boba, — concluiu o rei. — Na verdade, isso é muito gentil... Você
não é nada além de uma vadia plebeia.
O rei sorriu cruelmente.
Agora, isso foi o suficiente.
Ele não estava apenas dizendo que Lydia era uma oportunista, mas
também que todo o seu povo era.
Lydia nunca sentiu uma conexão com os outros cidadãos de sua
pequena aldeia. Mas agora que seu Rei era condescendente com eles, ela
se sentia protetora.
Era tudo que Lydia podia aguentar.
Lydia deu um empurrão forte com as duas mãos, jogando o rei para
trás. Ele tropeçou alguns passos antes de recuperar o equilíbrio.
Ele mostrou os dentes enquanto a multidão explodiu em gritos de
choque. — Um covarde, hein? — Lydia gritou. — Experimente isso,
então!
Lydia lançou a mão para o ar e inflamou-a. Ela deixou as chamas
ganharem calor antes de pular em direção ao rei e acertá-lo diretamente
no coração.
Membros da multidão gritaram enquanto o rei arfava e apertava o
peito. Seus olhos ficaram pretos e as sombras a seus pés começaram a
girar.
Lis gritou em direção ao estrado.
— Gabriel, não! Não deixe as sombras consumirem você! — Ela
avançou, em direção ao casal, mas as sombras impediam qualquer um de
alcançá-los.
Lydia começou a se arrepender de aceitar as provocações do rei. Ela
pode ser uma Slifer, mas ele era um guerreiro fortalecido pela batalha, e
ela tinha acabado de levá-lo ao limite.
O rei correu na direção dela e agarrou-a pela cintura. Lydia gritou
quando ela e o rei desapareceram em uma nuvem de fumaça.
O rei jogou Lydia no chão. Ela olhou em volta. Para onde o rei os havia
levado? A escuridão os rodeava e formas estranhas flutuavam no ar.
— Onde estamos? — ela perguntou.
— Estamos no Reino das Sombras, — o Rei explicou, colocando-a de
pé. — Em algum lugar onde não podemos ser incomodados.
— Por que razão?
— Eu não vou te dar a chance de me atacar
novamente, — o Rei rosnou. — Então, vamos acabar com isso.
— Acabar com o quê? — Lydia arfou.
— Vamos nos unir. Agora. Você queria sexo para fortalecer seus
poderes, então vamos fazer isso. Pegue o que você precisa de mim e saia
do meu reino, — o Rei rosnou.
Lydia engoliu em seco. Ela se levantou. Ela não deixaria o rei colocá-la
para baixo. Principalmente agora. Ela não deixaria o rei ver seu medo...
Capítulo 9
A NOITE DA UNIÃO
LYDIA

— Você quer fazer sexo aqui? — Lydia exclamou.


Tudo o que ela podia ver ao seu redor era escuridão e rochas.
O rei rosnou enquanto tirava sua capa, colocando-a no solo rochoso.
— Eu não vou fazer isso com você na minha casa, na minha cama! —
ele rugiu.
Ele respirou fundo, fechou os olhos e abriu os braços. As sombras o
cercaram, restaurando qualquer dano que Lydia tinha feito com seu
ataque de fogo.
— Só peço uma coisa de você, Slifer, — disse o rei. Ele afastou as
sombras.
— E o que seria? — ela respondeu.
— Preciso do seu consentimento, — disse ele, brincando com a fivela
da calça.
— Você sabe que eu preciso dessa união para ter meu poder, embora
eu te despreze, — ela disparou. — Então, por que você simplesmente não
faz isso logo?
— Você acha que eu não sou um homem de princípios?
Lydia zombou.
— Você é um dos homens mais repugnantes que já conheci.
— Tenho sentimentos semelhantes por você. Mas podemos ajudar um
ao outro. Você quer ser mais forte, eu quero você fora do meu reino. Esta
transação faz as duas coisas.
Lydia suspirou.
— Ugh, tudo bem, então.
— Tudo bem, o quê?
— Hmph. Sim, vou fazer sexo com você.
O rei sorriu.
— Que bom.
Com um movimento do pulso, as sombras envolveram Lydia,
rasgando seu vestido. Parte por parte, o vestido foi rasgado, até que ela
ficou apenas com sua roupa de baixo.
Lydia se cobriu automaticamente, tentando esconder sua nudez do
rei. Ela lhe lançou um olhar de desprezo. Ele devolveu o olhar dela com
nada além de luxúria em seus olhos.
O rei desabotoou a camisa rapidamente, dobrando-a e colocando-a
em cima da capa.
— Ele é sempre tão organizado? — Pensou Lydia, olhando para os
pedaços rasgados de seu vestido que estavam a seus pés.
O rei agarrou Lydia pela cintura. Ele a puxou para perto, deslizando a
mão por sua barriga e entre as pernas.
O rei começou a acariciar Lydia sobre suas roupas íntimas finas,
fazendo seu corpo inteiro estremecer. Ela começou a balançar na mão do
rei enquanto ele fazia movimentos circulares com os dedos.
— Não precisa se conter, Slifer. Não há mais ninguém aqui para ouvi-
la. Só eu, — disse o rei.
Lydia ergueu os olhos para o rei. Ele era inegavelmente sexy e
certamente sabia o que estava fazendo... lá embaixo. O rei encontrou seu
olhar e se inclinou para beijá-la.
— Não! — Pensou Lydia, virando a cabeça.
— O que você está fazendo? — rosnou o rei.
— Desculpe—só... sem beijos.
O rei olhou para ela.
Lydia continuou. — Nada sentimental.
O rei assentiu e continuou a estimulá-la. Apesar de não querer beijá-
lo, ela gostava de ter seu corpo pressionado contra seu abdômen duro
como granito.
E isso não era nada comparado à sensação de seus dedos. Quando ele
avançou...
— Ugh, oh, Deuses! — Lydia gritou quando atingiu o orgasmo. Suas
pernas cederam e ela se dobrou. Ela desabou em cima da capa do rei em
sua frente, com suas roupas íntimas ficando enroscadas em tomo de seus
tornozelos.
Enquanto ela tentava recuperar o fôlego, ela tossiu cinzas. Isso foi
estranho. Ela rapidamente colocou a mão sobre a boca, esperando que o rei
não tivesse visto.
Lydia relaxou um pouco enquanto apreciava a sensação, até que ouviu
o cinto do rei sendo desafivelado e caindo no chão. Ela ficou sobre as
mãos e os joelhos.
Ela se virou e ficou chocada ao ver o rei, nu, ajoelhado atrás dela. Sua
masculinidade estava ereta.
Lydia ficou de queixo caído, maravilhando-se primeiro com o
tamanho, depois ficando preocupada.
Ela ainda era virgem. Ele ia caber dentro dela?
Ele colocou uma mão gentil na parte inferior das costas dela,
acalmando-a um pouco com seu toque leve. Ele soltou as alças de suas
roupas íntimas, deixando-as cair no chão em seus pulsos.
O rei segurou seu pênis e o pressionou contra seu sexo.
Ela se sentia surpreendentemente confortável... até que as sombras
girando ao redor deles serpentearam sobre seus pulsos, prendendo-os ao
chão.
— O que é isso? — Lydia perguntou, com o medo aumentando em sua
voz, lembrando como ele amarrou suas mãos quando eles lutaram fora
da floresta.
— Só um pouco de diversão, — respondeu o Rei, abrindo um sorriso.
— Por favor, não! — ela disse. Ela queria ser capaz de correr se
precisasse, apesar de estar em um reino povoado com nada além de
sombras.
— Muito bem, como a senhorita quiser, — respondeu o rei. As
sombras a soltaram instantaneamente.
— Então é isso que o Rei curte, — pensou Lydia.
O rei segurou sua cintura e se guiou para dentro dela. Lydia não pôde
evitar um gemido escapando de sua boca quando foi penetrada pela
primeira vez. Ela respirou fundo, tentando se ajustar a essa nova
presença dentro dela.
— Deuses, eu não acreditei que você fosse virgem! — o rei sussurrou.
— Mas eu nunca transei com alguém tão apertada quanto você!
Ele se retirou ligeiramente e tudo o que Lydia queria era que ele
voltasse para dentro dela. Seu desejo foi concedido um segundo depois,
quando o Rei a penetrou novamente, indo mais fundo do que antes.
Lydia gritou de dor ao sentir algo escorrer por sua perna. Ela só podia
assumir que era sangue. Ela olhou de volta para o rei, cujos olhos
pareciam ter revirado em seu crânio.
O rei se inclinou em cima dela e começou a mordiscar seu ombro.
Suas mãos se moveram para frente e ele segurou seus seios.
Ele começou a provocar suavemente seus mamilos enquanto
empurrava superficialmente dentro dela.
Lydia gemeu com a satisfação de seu toque em um momento, então
gritou quando ele penetrou um pouco fundo demais.
Ela inclinou a cabeça para baixo na superfície macia da capa do rei,
enfiando um pouco na boca para ter algo para morder.
Pareceu ajudar com a dor concentrar-se em outra coisa. Com uma
mordida final em seu pescoço, o rei voltou à sua forma ereta.
O rei agarrou a cintura de Lydia com força, envolvendo seu corpo com
suas mãos, e começou a empurrar. Ele começou devagar no início, mas
rapidamente aumentou sua velocidade.
Lydia tinha ouvido falar que sexo podia ser doloroso da primeira vez,
mas ela não esperava isso. Parecia que o rei a estava partindo em duas.
GABRIEL

A Slifer era tão apertada que Gabriel sentiu como se ela pudesse
quebrar sua masculinidade dentro dela.
As amarras de sombra eram ideia dele; ele sempre gostou de um
pouco de brincadeira.
No entanto, ele respeitou seus desejos. Afinal, ela era virgem. Ele se
inclinou para que pudesse colocar todo o seu peso em suas estocadas.
Sua respiração ofegante ficou mais pesada quando ele jogou mais de
seu peso nela, penetrando cada vez mais forte enquanto ele ganhava mais
velocidade.
E entre os dentes, ele sussurrou,
— Eu sabia que você era uma vadia... já está de joelhos.
Isso o assustou um pouco, mas então ela se virou e olhou para ele, que
era exatamente o que ele queria... Seus olhos, queimando, o trouxeram
mais perto de seu limite.
Ele conheceu muitas mulheres em sua longa vida. Muitas mulheres
habilidosas e apaixonadas... mas havia algo sobre a Slifer. Embora ela
fosse inexperiente, transar com ela estava colocando o rei em chamas.
Ele empurrou, enterrando-se dentro dela. Ele viu seu pênis
desaparecer em seu corpo perfeito e apertado, de joelhos por ele.
Inclinando-se para frente, ele agarrou o ombro da Slifer. Ele sabia que
deveria ter cuidado. Esta era a primeira vez dela. Mas ela era tão boa. A
capa que ela estava rangendo violentamente havia caído de sua boca, e
ela gritava a cada estocada.
Logo, o rei sentiu sua luxúria crescendo dentro dele. Ele ficou dentro
dela o máximo que pôde, antes de se retirar rapidamente.
Ele gemeu ao gozar, acariciando-se, respingando nas costas da Slifer.
Ela se inclinou por alguns momentos, recuperando o fôlego.
Assim que ele gozou, o encanto foi quebrado. Gabriel já estava
vestindo as calças e fechando o cinto.
LYDIA

Lydia ficou imóvel, apenas deixando cair as mãos ao lado do corpo


enquanto as sombras se afastavam.
Ela ainda estava tentando compreender a sequência de sensações que
acabara de sentir.
Ela colocou a mão entre as pernas, estremecendo ao tocar suas áreas
sensíveis. Ela rolou para o lado e inspecionou a ponta dos dedos.
Sangue.
Perto, no chão, ela viu farrapos do que tinha sido seu vestido. Ela
pegou um e limpou a viscosidade do Rei de suas costas. Ela se enxugou.
Sangue em seda branca.
Quando ela sentiu que finalmente estava limpa, ela jogou o pano ao
vento antes de estalar os dedos, acendendo as chamas.
Ela inspecionou sua mão. As chamas não pareciam queimar maiores,
ou mais quentes, ou ainda mais brilhantes.
— Não me sinto mais poderosa, — disse ela ao vento. Ela começou a
fungar. Ela suportou a dor, recebeu apenas uma lasca de prazer de volta,
e tudo foi em vão.
— Leva tempo, — o Rei interrompeu, deslizando em suas botas. Ele
olhou para as lágrimas se formando em seus olhos. Sua testa franzida. —
O que foi que você disse? ‘Nada sentimental’? Enxugue essas lágrimas e
levante-se, você está na minha capa.
Lydia enxugou os olhos com as costas da mão e se levantou,
abaixando-se e pegando a capa do rei.
— O que você está fazendo? — o rei exigiu, enquanto Lydia pendurava
a capa em volta de seu corpo.
Ele agarrou a ponta de sua capa e puxou-a para longe dela.
— Não tenho nada para vestir, o que devo fazer? — ela lamentou.
— Você deveria ter pensado nisso antes, — disparou o Rei, mostrando
os dentes.
E com isso, ele segurou seu cotovelo e deu um passo à frente em uma
nuvem de fumaça.
*
Eles emergiram nos portões do palácio. De alguma forma, era de
manhã.
Uma carruagem puxada por um moxar quase achatou a dupla
enquanto eles tentavam cruzar para o outro lado. As pessoas que
passavam começaram a sussurrar,
— Quem é aquela?
— A pobre menina está nua!
— Sério?
— Não há mais decência!
O rosto de Lydia queimou. Este era um dos caminhos mais
movimentados em todo o Reino.
Ele a trouxe aqui de propósito.
O rei deu um pequeno empurrão em Lydia para se separar dela, antes
de se virar e se teletransportar para longe.
Suas últimas palavras ao passar pela fumaça: — Agora, dê o fora da
minha cidade!
Capítulo 10
A ARTIMANHA DE LUCIUS
LUCIUS

— Garçom! Mais um! — Lucius chamou no bar. Ele apontou para o


copo vazio.
O barman, um elfo vestido de verde da cabeça aos pés, observou
perplexo.
— Tem certeza de que tem dinheiro para pagar por tudo isso, meu
velho?
Lucius zombou.
— Eu tenho o dinheiro... em algum lugar...
Ele pegou sua bolsa de moedas e tirou suas últimas três moedas de
ouro. O barman voltou com a garrafa de rum caramelizado, servindo
uma dose para o outrora grande feiticeiro.
— Aproveite, — disse o barman, sorrindo. Lucius disparou um olhar
furioso para ele.
Se o barman soubesse do que o velho feiticeiro era capaz, ele tiraria
aquele sorriso idiota do rosto.
Lucius virou sua dose, chamando o barman novamente. Ele despejou
sua bolsa de moedas no balcão, mas apenas algumas moedas de bronze
caíram.
— Apenas moedas de ouro são aceitas aqui, cara, — disse o barman.
Enquanto Lucius procurava por itens que carregava consigo para usar
como pagamento, uma mão surgiu ao lado, deixando o pagamento pela
bebida e, em seguida, uma gorjeta.
— Eu pagarei por ele, — disse Gerard Vastia. Ele puxou uma cadeira
ao lado de Lucius e se sentou. O barman serviu outra dose. — Embora eu
raramente tolere beber ao meio-dia, vou abrir uma exceção para um
velho amigo.
Lucius acenou com a mão.
— Eu preciso de um favor.
— Outro favor, você quer dizer? — Gerard ergueu uma sobrancelha. —
Direto ao assunto. Tudo bem então.
Ele continuou: — O que é tão importante que o Chefe da Defesa no
Congresso de Magia deve encontrar um bruxo não praticante em um bar
decadente?
Lucius olhou para o fundo de seu copo.
— Você soube de alguma coisa sobre Lydia?
Gerard assentiu.
— Há rumores de que a união foi concluída. Alguns dizem que até a
viram fora dos portões do palácio completamente nua esta manhã,
embora isso não tenha sido confirmado. Posso ir ver como ela está, se
quiser.
Lucius suspirou, desejando não ter perguntado. — Sim, por favor,
verifique como ela está. Você não precisa voltar para mim. Meu único
outro pedido é que você dê isso a ela.
Lucius enfiou a mão dentro de sua capa e tirou uma carta endereçada
à jovem. Ele a entregou a Gerard, que começou a abrir o papel...
— NÃO! — Lucius explodiu. — Destina-se apenas aos olhos dela.
Quando chegar a ela, seu conteúdo será verdadeiro.
Gerard examinou o velho, com sua testa franzida de preocupação.
— Lucius, eu respeito sua privacidade. Mas se vou entregar esta carta,
devo saber algo sobre seu conteúdo...
Lucius sorriu fracamente.
— Meu amigo, é simplesmente uma tentativa de um velho de se livrar
de seus arrependimentos. Uma última vez...
Sua voz estremeceu no ar úmido do bar. Gerard engoliu em seco e
cruzou as mãos.
Lucius sentiu a inquietação de seu companheiro.
Quando Gerard abriu a boca para protestar, o velho feiticeiro saltou
da cadeira.
— Eu agradeço muito pelo seu serviço, Gerard. Mas devo seguir meu
caminho.
— Lucius, espere! — Gerard apressou-se, gesticulando para o barman,
— Deixe-me pagar outra bebida para você. Certamente, posso tentá-lo...
— Não, não, — Lucius gritou, juntando suas vestes sobre ele. Talvez
pela primeira vez na vida, ele recusou uma bebida grátis.
— Há algo que devo fazer imediatamente, — Lucius murmurou,
apertando a mão de Gerard.
O velho feiticeiro saiu às pressas do bar, deixando o jovem
congressista sozinho com a boca aberta.
Lucius invadiu a noite, pronto para começar sua missão secreta.
LYDIA

Lydia finalmente deslizou para a cama. Era meio-dia, mas ela


precisava descansar.
Aero a encontrou tentando escalar uma seção baixa do muro do
jardim. Ele a envolveu em sua capa e a levou aos médicos da corte.
Eles a examinaram antes de dizer que ela precisava de um bom
descanso. Ele a levou de volta para o quarto dela, ainda envolta em sua
capa.
— Eu vou chamar a Lis, — disse Aero.
— Não, por favor, não, — disse Lydia. — Eu não quero causar um
problema.
— Ela estava fora de si quando Gabriel levou você embora, — disse ele.
— Ela me mandou informá-la quando você voltasse. — Aero curvou-se e
fechou a porta, deixando Lydia se limpar com privacidade.
Lydia suspirou antes de ir ao banheiro.
Ela tomou um banho, limpando-se de sangue e sêmen. Depois de se
secar, ela se enrolou em seu edredom.
— Onde você esteve? — ele disse enquanto ela se ajeitava. — Eram
hematomas em seus pulsos? E sangue?
— Lux, — Lydia resmungou, — estou cansada demais para falar. Só...
— ela bateu na cabeça com os dedos. Lux pulou na cama e se aninhou ao
lado dela. Lydia sentiu sua língua áspera em sua bochecha.
Quando era mais jovem, Lydia descobriu que a poção que concedia a
Lux sua voz tinha outro efeito colateral: telepatia de contato próximo.
Lux: Você não me contou o que aconteceu...

Lydia: O Rei me levou embora... e nós fizemos.

Lux: O que em nome dos Deuses aconteceu? Parece que seus pulsos foram amarrados!

Lydia: Não é o que você pensa. Eu consenti.

Lux: Você permitiu que ele te machucasse?

Lydia: Ele disse que não me tocaria a menos que eu dissesse que queria fazer sexo com
ele.

Lydia: A pior parte disso tudo é que meus poderes aumentaram. Ainda apenas fogo
normal, nada mais.

Lux: E você tem que continuar fazendo isso para ficar mais poderosa?

Lydia: Acho que sim. Vamos apenas esperar que meus poderes se manifestem mais
rápido do que o esperado.

GABRIEL

— Como você pôde, irmão? — Lis gritou quando invadiu a sala do


trono.
Gabriel acenou para seus conselheiros judiciais saírem. Enquanto eles
formavam uma fila, ele se recostou na cadeira, esperando a ira de sua
irmã.
Quando o conselheiro final fechou a porta, Lis reiniciou seu discurso.
— Aero me informou que encontrou a jovem nua, tentando entrar no
jardim! Ela tinha hematomas nos pulsos e sangue escorrendo pela perna!
Ele me disse que seus poderes de sombra estavam em pleno vigor!
— Ela consentiu. Pergunte a ela. Ela vai dizer o mesmo.
— Você quase destruiu metade do jardim quando deixou as sombras
consumirem você! Você quase matou a congregação de susto!
Gabriel levantou-se de um salto, ficando de frente para a irmã.
— Acho que foi uma resposta necessária. Ela tinha acabado de me
acertar bem no meio do coração com uma lança em chamas!
— Você precisa manter seus poderes sob controle. Eles estão se
tomando uma responsabilidade, mais do que uma habilidade.
— Eu não sou o mesmo homem com quem você cresceu. Eu mudei.
— Não! — Lis respondeu. — Você é o rei! Você deve mostrar
humildade e ser responsável, um exemplo para a próxima geração. Não
ameaçar destruir tudo ao seu redor quando uma adolescente provocar
você... ou dizer a ela que ela é uma vadia na cara dela.
Gabriel recuou, com um lampejo de preocupação cruzando seu rosto.
Lis sorriu, triunfante em fazer seu irmão se arrepender de suas ações.
— Oh sim, eu sei de tudo. Você pode ter pensado que estava muito
longe para os participantes ouvirem. Mas você se esquece de que as
pessoas podem fazer leitura labial, irmão.
Gabriel recostou-se na cadeira e fechou os olhos. Lis continuou.
— Eu sei qual é o problema. Vamos, fale comigo.
— Não há nada para conversar.
Lis balançou a cabeça.
— Você precisa falar sobre Evine. Quando você a perdeu... eu vi a
mudança em seus olhos. Você não nos deixou entrar em seu quarto por
dias. Toda vez que eu ouvia seu quarto tremer, eu queria te ajudar, mas
você não me deixava entrar.
Lis continuou. A nitidez de sua voz cortava a pele rígida de Gabriel.
Fazia quase um século desde que Lis mencionou o que tinha acontecido.
— Já passou muito tempo. Você tem que falar sobre isso. Se não for
comigo, então alguém. Qualquer um.
Gabriel não respondeu.
Lis saiu e bateu à porta, deixando o rei sozinho no escuro.
Trezentos anos atrás
Gabriel arfou ao sair de cima de Evine. Mesmo agora, doze anos
depois de se conhecerem como halflings, eles ainda eram amantes
apaixonados.
Ele olhou para o rosto dela, seus olhos castanhos brilhantes, tão
cheios de calor.
Evine deitou a cabeça no peito de Gabriel.
— Diga-me aonde iremos em nossa lua de mel, — ela sussurrou.
— As Florestas de Galdehym, — disse ele, acariciando a cabeça dela. —
A floresta é tão profunda e bela quanto seus olhos. — Sua mão e seus
olhos se moveram para baixo em seu corpo esguio. — Descendo o
caminho entre as Montanhas de Dorzom.
Gabriel acariciou a pele macia entre seus seios, antes de deslizar o
dedo até um de seus mamilos.
Ele brincou até que ficou duro. Evine respirou fundo quando ele a
despertou. — Talvez ir ao cume se tivermos tempo.
Ele continuou descendo. — Através das planícies de Imamia... — A
mão de Gabriel agarrou seu quadril, saltando de sua cintura como um
precipício rochoso.
Ele se agarrou a ela o máximo que pôde, antes que sua mão caísse em
sua coxa. — Depois, no Vale dos Deuses.
Evine sorriu.
— Ouvi dizer que existem tesouros no Vale.
— Bem, deixe-me explorar... Tenho certeza de que posso encontrar
algo de valor, — Gabriel disse enquanto beijava seu corpo, com um
sorriso divertido em seus lábios.
Mas o lindo plano nunca aconteceu.
O fim de seu amor destruiu toda a vida de Gabriel em um instante. Às
vezes, ele pensava que o que tinha acontecido estava fora de seu controle,
enquanto outras vezes, ele encontrava pessoas para culpar.
E ele era uma delas.
O que mais doía era a possibilidade de ele ter impedido se a tivesse
alcançado a tempo.
Lis e Aero tentaram confortá-lo, mas ele não permitiu que ninguém
entrasse em seu quarto. Quando ele finalmente emergiu, o branco de
seus olhos tinha ficado preto e as sombras engolfavam todos os seus
movimentos.
Ele só voltou à sua aparência normal quando assumiu o trono.
Quando ele precisou colocar um rosto humano para seus súditos.
Mas de vez em quando, ele tentava libertar seus demônios. Ele rugiu,
enviando uma onda de choque de sombras ao redor da sala,
estremecendo as paredes e o teto. O lustre tilintou em desaprovação.
Preciso que a Slifer vá embora, pensou ele. Ela me lembra muito dela.
Mesmo agora, trezentos anos depois, ele ainda não conseguia explicar
o que havia acontecido com Evine. Às vezes, em seus sonhos, ele via os
olhos dela sem vida.
Castanhos cintilantes que se tomaram totalmente negros.
Ele havia procurado as razões do porquê, mas apenas uma resposta
continuava voltando para ele. Uma resposta que gerava muitas outras
perguntas terríveis e sem resposta.
O Feiticeiro das Trevas, Uzier, a pegou. Mas quando? E como?
Capítulo 11
UM PASSEIO NO JARDIM
LYDIA

Lydia acordou cedo na manhã seguinte, revigorada de um dia e meio


de descanso. Ela só se levantou para deixar Lux sair de seu quarto para
que ele pudesse vagar pelos corredores.
Ela ouviu a porta se abrir e uma criada entrar graciosamente, a fim de
não incomodar a garota adormecida. Lydia rolou na cama, olhando a
bandeja que ela havia deixado.
Estava repleta de um café da manhã digno de um rei: ovos de pato
fritos com gemas bem laranjas, bacon, batatas assadas, torradas com
manteiga e geleia, chá e suco.
Lydia pensou no cereal desidratado que costumava comer antes da
escola, enquanto a gema de ovo escorria por seu queixo.
Em seguida, Lydia tomou um banho. Ela se inspecionou enquanto
estava debaixo d'agua. Seu corpo manteve o registro dos eventos do dia
anterior, embora sua mente se lembrasse disso como um sonho.
Seu corpo ainda estava sensível pelo que o rei havia feito. Ela olhou
por cima do ombro no espelho e viu uma fileira de marcas de mordidas
onde seu pescoço e ombro se encontravam.
Ela ficou boquiaberta com seus pulsos. Quase parecia que ela estava
usando pulseiras roxas de longe. Ela se secou e, em seguida, procurou em
seu armário por uma blusa de manga comprida—algo que escondesse as
marcas que eram mais evidências de violência do que de fazer amor.
Enquanto ela terminava de escovar o cabelo no banheiro, ela ouviu
uma batida na porta de seu quarto.
— Entre, — ela disse. A princesa Lis entrou na sala. — Bom dia,
princesa, — disse Lydia.
Lydia se pegou sorrindo. Foi como se a princesa invadisse o quarto
sombrio de Lydia e o iluminasse.
— Espero não estar atrapalhando, — Lis disse enquanto abria as
janelas, deixando entrar a brisa e o canto dos pássaros.
— Não, de forma alguma, Princesa. Só estou terminando de me
arrumar, — disse Lydia, largando a escova.
— Por favor, Lydia, me chame de Lis. Você me faz sentir como uma
velha, — disse Lis, dando uma pequena risada e afastando as rugas
inexistentes em seus olhos. Como se as princesas fossem velhas.
Lydia riu também, mordendo a língua para não dizer: — Bem, você
tem mais de trezentos — anos!
Em vez disso, ela perguntou: — O que a traz ao meu quarto?
— Achei que um momento de garotas faria bem a você, — disse ela.
A princesa pegou o braço de Lydia e as duas caminharam pelo
corredor. Lis continuou.
— Não há muitas mulheres no palácio além de todas as criadas. Todas
as outras mulheres com quem falo durante o dia estão tentando me
agradar de alguma forma, — disse Lis, guiando a dupla escada abaixo em
direção ao jardim. — É bom ter alguém com quem posso conversar
normalmente.
— Bem, obrigada, Lis. É bom ter uma companhia, — respondeu Lydia.
Lydia suspirou quando elas entraram no jardim. Ela só o tinha visto à
meia-luz durante a cerimônia e não percebeu a escala e a beleza dele.
— O jardim é meu território, — Lis disse, enquanto caminhavam ao
longo do gramado. — Eu o faço ganhar vida. E eu conserto quando meu
irmão bagunça tudo.
Ela gesticulou para o estrado de pedra quebrado e lançou a Lydia um
olhar astuto.
Lis continuou: — Estamos prestes a entrar no meio dos meses de
verão, então nem todas as flores tiveram tempo de desabrochar ainda. Se
você acha que está lindo agora, espere mais algumas semanas.
— Tem certeza de que não é a Slifer da Terra disfarçada? — Lydia
perguntou. Lis riu e sua risada ecoou pelo jardim como um sino de vento.
Elas pararam perto de um canteiro de flores e Lis se abaixou.
— Mmm, adorável, — ela disse, pegando a flor amarela do arbusto. Ela
apresentou a flor para Lydia. — Freesia. Simbolizando inocência e
consideração.
— Obrigada, Lis, é impressionante, — Lydia disse, pegando a flor.
— Complementa a cor do seu cabelo também, — Lis disse, radiante.
— Agora, escolha uma para mim.
— Huh?
— Vá em frente, — disse ela com um sorriso. — Escolha uma flor de
qualquer um dos canteiros aqui.
Lydia olhou em volta. Havia tantos para escolher. E ela não sabia o
que significavam. Ela iria querer explodir em chamas vergonhosas se
trouxesse de volta para a princesa que significasse 'desdém’ ou 'ódio’.
Lydia começou uma caminhada lenta em tomo dos canteiros de
flores, sentindo os olhos de Lis seguindo cada passo dela. Havia tantas
flores bonitas, mas Lydia sabia que precisava de uma especial para a
princesa.
Ela parou em frente a uma flor com a mesma coloração das pontas de
seu cabelo. Era uma mistura brilhante de pétalas vermelhas, amarelas e
laranja, com rosa no centro. Era perfeita.
Ela pegou alguns botões antes de voltar para a princesa.
— Ah, Alstroemeria. Uma boa escolha, — murmurou a Princesa,
apreciando seu perfume. — E um símbolo de prosperidade e riqueza, mas
também de amizade. Tenho esse último item em alta consideração. —
Ela deu uma piscadela para Lydia antes de continuarem.
As duas seguiram em silêncio, parando de vez em quando para sentir
o perfume das flores. Foi Lis quem quebrou o silêncio.
— Eu vi seus pulsos quando você foi colher as flores, — ela disse, com
sua voz um pouco tensa. Ela não encontrou os olhos de Lydia.
— Meu irmão não é uma pessoa ruim. Quando ele era mais jovem, ele
era tão cheio de vida. Agora, ele está frio e sombrio. Ele nem mesmo
conversa comigo.
— O que o tomou tão... diferente? — perguntou Lydia, tocando o
braço de Lis para mostrar que ela estava bem.
— Bem, honestamente... ele está assim desde que perdeu o amor de
sua vida.
A visão de Lydia ficou um pouco turva. Parecia que Lis estava falando
sobre uma pessoa diferente.
O rei que Lydia conheceu não parecia capaz de amar ninguém.
Lydia pigarreou antes de perguntar: — O que aconteceu com eles?
— O nome dela era Evine, — disse Lis. Ela disse o nome como se
tivesse comido um pedaço de fruta estragada. Lydia não pôde deixar de
se perguntar o que Lis realmente pensava sobre isso Evine — Ela era uma
garota de um reino vizinho. Eles se conheceram em um baile real quando
tinham cerca de dezesseis anos. Ele queria impressioná-la com sua magia
e saltou pela janela. Ele caiu em uma cerca viva.
Lis riu da memória antes de continuar.
— Meu pai ficou tão zangado que o deixou de castigo por um mês e o
proibiu de falar com ela. Infelizmente para meu pai, Gabriel tinha
aprendido a se teletransportar até então.
— Parece que ela era especial, — disse Lydia, olhando para os pés.
— Ela era. — Lis sorriu com tristeza. — Ela faleceu, infelizmente.
Suspeitamos que o feiticeiro das trevas Uzier a amaldiçoou, mas nunca
houve qualquer prova. Gabriel ficou tão abalado pela dor que nem
conseguiu comparecer ao funeral.
Quando elas passaram por um caminho de cascalho perto da parte de
trás do jardim, Lis assentiu para a esquerda. Lydia viu uma grande cripta
familiar de mármore branco.
— Lugar de descanso final de minha mãe e meu pai, — Lis comentou.
— Minha mãe morreu na mesma época que Evine. Meu pai ficou ao lado
de sua cripta por uma semana inteira quando ela foi enterrada, sem
receber comida e sem sair do seu lado.
— Quando Gabriel finalmente saiu de seu quarto, ele fez o mesmo.
Foi muito doloroso ver os dois passarem por essa tortura.
— Onde Evine foi enterrada? — Lydia perguntou.
— De volta ao seu país de origem, — Lis suspirou. — Os guardas que
partiram com ela nunca mais voltaram. Provavelmente assassinados por
sua terrível missão... Sua morte dentro de nossas fronteiras estragou
todas as relações entre nossos governantes. Até mesmo agora, trezentos
anos depois, eles não enviam delegados.
Lydia sentiu algo ácido correndo sob a voz de Lis. Ela ficou quieta.
Lis guiou Lydia pelos jardins, vendo Ayana e Morrison em sua própria
caminhada enquanto passavam pelas fontes.
Ayana estava pulando entre os jatos de água, equilibrando-se
precariamente em cima da escultura da fonte.
Um jato de água atingiu a Slifer da Água bem no rosto. Ninguém
conseguiu conter o riso. Até Ayana, que ria e cuspia água no rei.
Lis e Lydia continuaram até que voltaram para o ponto de partida.
— Bem, essa foi uma caminhada excelente, — observou Lis. —
Obrigada por me acompanhar.
— O prazer foi todo meu, princesa, — disse Lydia, fazendo uma
reverência. Lydia olhou para trás da princesa e viu um homem se
aproximando sorrateiramente dela.
O homem deu um pulo, fazendo cócegas em Lis sob as costelas,
fazendo-a gritar de susto.
Lis olhou em volta e viu David, seu noivo.
— Seu idiota, você quase me matou de susto, — disse ela, dando um
beijo em seu nariz. — David, conheça Lydia Voltaire, a extraordinária
Slifer do Fogo.
David deu um passo à frente e fez uma reverência.
— Muito prazer em conhecê-la, — disse David.
— Igualmente, — respondeu Lydia. Seguindo alguns passos atrás de
Davi estava o rei.
Ele cumprimentou Lis com um largo sorriso.
Seu sorriso esmaeceu um pouco quando ele voltou sua atenção para
Lydia e avistou seus pulsos. Lydia também percebeu. Seu impulso foi
abaixar as mangas, mas ela parou.
Foda-se, ela pensou. Foi ele quem lhe deu os hematomas. Por que ela
deveria escondê-los?
— Slifer, — ele começou.
— Sim, Vossa Majestade? — Lydia respondeu, erguendo as
sobrancelhas. Um silêncio constrangedor dominou quando o rei não
disse nada.
Lis educadamente deu a volta em David e começou a andar na outra
direção, falando sobre o tempo.
— Eu... eu espero que não esteja doendo muito, — o Rei gaguejou.
— Esqueça isso. — Lydia acenou com a mão na frente do rosto. —
Tínhamos o nosso acordo. Merdas acontecem, podemos seguir em
frente.
O rei assentiu.
— Certo. Enfim, estava procurando por você. Você tem uma visita. Me
siga.
Ele se virou e voltou para o palácio. O rei olhou por cima do ombro
para ver se ela o estava seguindo.
Lydia ficou surpresa quando ele encontrou seu olhar. Ele sempre havia
decolado antes, nunca se perguntando se ela o estava seguindo. Não era
típico dele se importar com outra pessoa.
Mas, com base no que Lis disse, ele pode estar escondendo uma
personalidade totalmente diferente...
Lydia lembrou por que eles estavam ali e se perguntou quem poderia
ser o visitante. O único outro ser mágico que ela conhecia era...
— É melhor não ser Lucius! — ela avisou o rei. Ele olhou para trás
com um olhar sério. A dupla se dirigiu para a sala do trono do rei.
Um homem alto estava do outro lado da sala, vestindo um conjunto
de vestes cerimoniais elegantes.
Lydia notou a flor peônia prateada em seu peito. Era o símbolo do
Congresso de Magia, a mais alta ordem de mágicos do país.
— Lydia Voltaire, presumo? — perguntou o homem. Lydia assentiu. —
Eu sou Gerard Vastia, Chefe da Defesa do Congresso de Magia. Receio ter
más notícias. Seu guardião, Lucius Voltaire...
Lydia o interrompeu.
— O que o velho fez agora?
Gerard olhou para o chão. Lydia sentiu o ar na sala mudar. Ela olhou
para o rei. — Caramba, isso foi uma piada. Ninguém por aqui ri? — ela
perguntou.
— Lucius Voltaire, — disse Gerard, olhando nos olhos flamejantes de
Lydia. — Ele está morto.
Capítulo 12
VISÕES DE LUXÚRIA LYDIA
O coração de Lydia batia forte. Não podia ser verdade.
Isso tinha que ser alguma pegadinha doentia.
Lucius voltaria de alguma farra de uma semana, e tudo ficaria bem
novamente.
— Eu era um grande amigo de Lucius, — comentou Gerard, com um
olhar de tristeza em seu rosto. — Ele era um bom homem e um bruxo
excelente.
Lis e David entraram atrás do rei e de Lydia.
Lydia sentiu a princesa envolvê-la em seus braços, segurando-a com
força e esfregando suas costas enquanto ela sufocava as lágrimas.
— C-como... como ele morreu? — soluçou Lydia. Gerard olhou para
baixo antes de limpar a garganta.
— Ele estava saindo de uma taverna na cidade próxima quando foi
atacado pelo que parecia ser uma matilha de lobisomens adolescentes.
Parece que a cidade tem problemas com essa gangue há algum tempo.
— Pelo menos sabemos que ele caiu lutando. Havia uma adaga de
prata em sua mão.
Essa última observação fez Lydia sorrir por dentro por um segundo;
ele havia morrido com sua honra.
Mas então ela percebeu, ele estava em perigo mortal e mesmo assim
não tinha usado sua magia.
Novas lágrimas rolaram de seus olhos quando ela se lembrou do
quanto seu guardião era teimoso.
Lis continuou a esfregar suas costas. A empática princesa também
chorava, sentindo a dor de Lydia.
Até a expressão de pedra do rei pareceu vacilar ao ouvir sobre a morte
do grande feiticeiro. Sua mandíbula se apertou e ele mudou de posição.
Gerard colocou a mão dentro de sua capa e tirou um envelope
lacrado.
— Recentemente, ele me confiou esta carta. Deveria ser entregue a
você quando ele morresse. É uma pena ter de entregá-la tão cedo depois
de recebê-la.
Ele estendeu o envelope para Lydia. Ela o pegou e inspecionou a
caligrafia na frente.
Não havia engano. Era a letra de seu avô. Então, era realmente
verdade...
Lydia, perturbada, não pôde deixar de se perguntar se ele havia
planejado sua morte. Ele estava saudável quando ela o viu pela última
vez. Bem, tão saudável quanto um velho bêbado poderia ser.
Não era típico dele vagar em situações perigosas. Ele poderia ter feito
isso de propósito?
Uma das últimas coisas que disse a Lydia foi que ela não precisaria
mais dele. Que ele a deixaria em paz...
Pensar assim estava fazendo Lydia se sentir mal.
O rei finalmente falou.
— Traga o corpo até aqui. Ele era um grande feiticeiro. Ele ajudou a
defender e moldar este reino. Ele será enterrado no Jardim dos Nobres
Lembrados, com todas as honras militares e do Congresso.
Gerard assentiu.
— Certamente, Vossa Majestade. Que ideia excelente. Informarei o
Congresso da sua decisão.
Lydia olhou para cima para ver Gerard olhando para ela.
Seus olhos amáveis a encheram de conforto. Ela piscou para afastar as
lágrimas e olhou de volta para a carta.
— Devo voltar ao Congresso. Adeus, — disse Gerard, curvando-se
para o Rei, a Princesa e Lydia individualmente.
Ele estalou os dedos e evaporou diante de seus olhos. O rei voltou-se
para a irmã.
— Lis, informe os criados e os servos sobre um funeral. Daqui a dois
dias. Peça-lhes que enviem convites a todos que o conheceram. Ele
merece nosso respeito eterno.
— Certo, irmão. Vou escoltar Lydia de volta ao quarto dela primeiro,
— respondeu Lis. — Vamos, Lydia, acho que você precisa descansar.
No caminho, Lis falou sobre como ela reagiu quando soube que sua
mãe e seu pai haviam morrido.
Ela disse a Lydia que era perfeitamente natural que tudo parecesse um
pouco surreal e que emoções fortes assumissem o controle.
Lydia não prestou muita atenção. Tudo o que ela conseguia pensar era
que seu avô estava morto. Nada em que ela pensasse parecia entorpecer a
dor de perdê-lo.
Lis deixou Lydia aos cuidados de Lux antes de voltar para começar a
organizar os preparativos do funeral.
Lydia caiu na cama, exausta com o peso da informação que a atingiu.
Lux estava massageando seu ombro com as patas e lambendo sua
bochecha.
Lucius. Seu avô. Finalmente morto.
Ela abriu a carta que Gerard lhe deu e começou a ler.
Para minha querida Lydia,
Quando você abrir esta carta, saiba que não sou mais deste mundo.
Não tema por mim. Eu nunca fui embora de verdade. A pulseira de prata
que eu dei a você quando saí está imbuída da minha magia.
Antes de dar a você, usei meus poderes mais uma vez para deixar uma
marca. Contanto que você o use, estarei ao seu lado.
A pulseira foi feita na oficina dos Deuses. E seu direito de nascença. Eu
apenas adicionei meu pequeno trabalho para que minha neta se lembrasse de
mim.
Comecei a escrever esta carta desde o seu aniversário de dezoito anos, mas
nunca consegui encontrar as palavras certas.
Eu sei que nem sempre fui o guardião mais gentil ou mais atencioso...
Mas saiba que eu sempre te amei. Lux pode testemunhar isso.
Lux ronronou e enxugou as bochechas molhadas de Lydia com o rabo.
Quando você veio pela primeira vez aos meus cuidados, tentei não me
apegar. Quando nos encontramos com o rei Gabriel nos portões do
palácio, me expressei mal quando me referi a você como uma 'tarefa'.
Você nunca foi uma tarefa. Você foi o maior presente que um homem na
minha posição poderia ter recebido, apesar de estar continuamente
colocando fogo no estofado.
Lydia sorriu em meio às lágrimas.
Quando você atinge minha idade de vida, você começa a olhar para trás e
fazer um inventário.
Lembro-me do seu nono aniversário. Você desejou que nós—você, eu e Lux
—pudéssemos partir em uma aventura. Ver as terras de Ignolia.
Eu gostaria que pudéssemos ter visto essas terras juntas. Mas acho que
será você e Lux de agora em diante.
A única coisa que peço a você é que você perceba seu verdadeiro potencial.
Eu posso ver o talento bruto dentro de você.
Faça o que for necessário para atingir o seu máximo.
Torne-se uma Slifer com a qual os cronistas e estudiosos ficarão
maravilhados nos próximos séculos.
Deixe as crianças entusiasmadas com suas façanhas e faça com que os
mais velhos relembrem seus grandes feitos.
Apenas certifique-se de ficar longe de coisas inflamáveis!
Para sempre cuidando de você,
Lucius Albert Voltaire.
As mãos de Lydia tremeram ao terminar a carta. Ela a releu mais três
vezes, sentindo a perda de seu avô novamente a cada vez. Novas lágrimas
rolaram de seus olhos.
Ele a amou todos aqueles anos. Ela olhou para a mesa de cabeceira.
Ela havia colocado a pulseira lá duas noites atrás, na noite da cerimônia.
Ela tropeçou no edredom e a colocou sobre a mão. O metal começou
a tremeluzir e brilhar.
Ela sentiu que o buraco que a morte de Lucius havia aberto se fechava
um pouco. Ela estalou os dedos.
Sua mão se acendeu, o fogo parecendo mais ousado e mais brilhante
do que antes.
— Isso já parece melhor, — veio uma voz de sua porta.
Lydia saltou com o barulho, Virando-se. As chamas se dissiparam.
O rei estava parado na porta, com um pequeno sorriso preocupado no
rosto.
— Você já ouviu falar em bater? — ela disse, deslizando para fora da
cama.
— Sim, — ele respondeu. — Eu ouvi você chorar, então pensei em dar
uma olhada em você. Há algo que eu possa fazer?
Lydia pensou por um momento.
Ela ficou surpresa com seu comportamento. Ele parecia quase tímido.
Como se ele realmente quisesse ajudar, mas estivesse preocupado em
piorar as coisas.
Uma atitude diferente da que Lydia viu no Reino das Sombras.
Ela pensou na cobrança final de Lucius.
Perceba seu verdadeiro potencial
Lydia cambaleou até onde ele estava e lentamente se ajoelhou diante
dele.
Seus olhos traçaram sobre a protuberância sutil em suas calças antes
de olhar para ele.
— Ajude-me a me tomar a Slifer mais poderosa que o mundo já
conheceu.
Ela estendeu a mão para ele.
GABRIEL

A Slifer ajoelhada diante dele mexeu com Gabriel. Ele olhou para seus
olhos grandes e inocentes.
Ela piscou os cílios.
Ela mordeu o lábio.
Ele sentiu suas calças começarem a ficar apertadas.
Ele a viu notar, e seus olhos se arregalaram.
Parte dele queria desesperadamente abrir o zíper das calças e deixar
seu pênis livre na frente da Slifer. O que ela faria?
O pensamento de sua boca sobre ele o deixava louco.
A repentina onda de luxúria apertou seu peito. Bem onde ela o
acertou com uma bola de fogo. Ele tirou as fantasias de sua mente.
Ele se lembrou do que disse a ela antes. Ele a queria fora de seu
palácio.
— Não. Eu não vou te ajudar, — Gabriel disse.
— Por favor, — disse ela. — Você é o único que pode...
Ele foi se virar, mas a Slifer agarrou sua mão.
Assim que as pontas dos dedos se tocaram, o mundo ao redor deles se
dissolveu. Cenas passaram diante de seus olhos.
Ele estava em cima dela. As pernas dela estavam enroladas na cintura
dele, puxando-o para mais perto.
Havia apenas um pequeno gemido em seu ouvido. Era a única coisa no
mundo.
— Sim, — disse ela, tão suavemente que mal foi falado.
— Goze para mim. Dê tudo para mim.
Apenas o som da sua voz, implorando a ele, trouxe-o perto do orgasmo. E
como ela se sentiu...
Ele se moveu lentamente, esfregando-se nela.
Sentindo-a em cada centímetro de seu comprimento inchado.
Quando a respiração dela diminuiu, ele se deixou levar. Seu corpo
empurrou contra ele, montando-o, enquanto ela gozava também.
Ela explodiu em chamas ao redor dele.
Cinzas caíram do teto do quarto, pousando sobre os amantes leves como a
neve.
Gabriel: Uau!

Lydia: Deuses...

Gabriel: O que você está fazendo aqui?

Gabriel:

Na minha cabeça?!

Lydia: O que você acabou de ver?

Gabriel: Hum... nós.

Lydia: Eu também.

Gabriel: Então, você está nos meus pensamentos, hein?


Ã
Lydia: Não foi minha intenção. Eu NÃO queria estar!

Lydia: E você também está na minha!

Gabriel: Acho que quando nos tocamos... vemos os pensamentos um do outro.

Gabriel: Que estranho...

Gabriel: Chega dessa bobagem.

Lydia: Tudo bem, colega. Eu também não gosto disso!

A Slifer saltou para trás, quebrando a conexão entre ela e o rei.


Ela olhou para os próprios pés e suas bochechas ficaram vermelhas.
Gabriel estava totalmente desorientado. Pela visão e pela comunicação
inesperada.
Era demais. Ele não queria admitir que havia despertado seu desejo.
Foi tudo muito próximo. Muito íntimo.
— Nunca me toque de novo, — Gabriel rosnou enquanto abria a
porta. — Nosso acordo foi concluído.
— Você pode ficar para o funeral. Quero prestar meus respeitos ao seu
avô. Mas assim que o enterro terminar, quero que vá embora na manhã
seguinte.
E com isso, ele se virou e desapareceu no corredor.
Mesmo que ele tivesse acabado de lhe dar um ultimato, Gabriel de
alguma forma sabia que sua visão com a Slifer se tomaria realidade.
Ele sabia disso por dentro.
Capítulo 13
O FUNERAL
LYDIA

Chovia sem parar.


Lydia olhou para o mar de guarda-chuvas pretos à sua frente. Todas
essas pessoas conheciam Lucius?
Ele nunca tinha falado de amigos ou conhecidos.
Mas mesmo com seu breve período no palácio, Lydia percebeu que
seu avô conhecia muitas pessoas.
Ele simplesmente nunca contara a Lydia sobre elas.
Lydia estremeceu em sua cadeira. Lux sentiu seu desconforto e se
enrolou mais perto de seus tornozelos.
Lis e David sentaram-se ao lado de Lydia, junto com Morrison e
Ayana, Gerard do Congresso de Magia e alguns outros que ela não
reconhecia.
Uma mulher se destacou para ela. Ela tinha cabelo loiro platinado,
pele marrom escura e características faciais muito marcantes.
Lydia apertou os olhos e viu que ela usava a mesma peônia prata que
Gerard adornou em seu peito. Ela arfou, percebendo que já havia
estudado a mulher em sua aula de história.
Era Agatha Alastair, a fundadora do Congresso de Magia. Lydia ouvia
contos sobre ela desde que era criança. Histórias sobre como Agatha
destruiu fortes de bandidos apenas erguendo a sobrancelha.
Lydia se perguntou o que ela estava fazendo aqui. Gerard disse a ela que
era amigo de Lucius—será que Agatha Alastair também era?
O rei parou na frente dela, dirigindo-se à multidão por trás de um
púlpito. Um tentáculo de sombra segurava um guarda-chuva sobre sua
cabeça.
— Hoje é um dia triste para Ignolia, — a voz do rei ecoou pelos
terrenos reais. — Nos despedimos de nosso grande amigo e feiticeiro,
Lucius Voltaire.
— Tenho orgulho de dizer que meu pai e eu lutamos ao lado de Lucius
durante a guerra contra Uzier. Ele deixa para trás um mundo que está em
dívida com seus sacrifícios... e uma neta para cuidarmos.
O rei terminou seu discurso, olhando para Lydia.
Suas bochechas começaram a queimar quando ela percebeu que toda
a multidão se virou para olhar para ela.
O rei assentiu em sua direção. Era a vez de ela falar.
Lis havia dito a ela que era comum que os parentes mais próximos
fizessem um discurso no funeral. Lydia tentou escrever um por horas
antes de finalmente desistir.
O que ela poderia dizer sobre o homem?
Todos os outros reunidos aqui sabiam mais sobre ele do que ela. O
que ela poderia acrescentar?
Lydia levantou-se lentamente, alisando o vestido enquanto caminhava
em direção ao rei.
A sombra que segurava o guarda-chuva serpenteava até a mão de
Lydia, guiando-a para pegá-lo.
Assim que ela agarrou o guarda-chuva, o tentáculo se esgueirou de
volta para seu mestre, que saiu e se sentou ao lado da senhora com cabelo
loiro platinado.
Lydia pigarreou ao chegar ao púlpito.
— Erm... h-oi, — ela disse, com sua voz magicamente ampliada pelo
púlpito. — Eu sou Lydia, neta do vovô — quero dizer, neta de Lucius. Oh,
espere, não... desculpe. Eu quis dizer, er...
Ela olhou para a multidão e seu estômago começou a dar
cambalhotas. Ela respirou fundo antes de começar novamente.
— O que eu quis dizer é que Lucius era meu avô adotivo. Ele me
encontrou quando eu era um bebê e me criou como se fosse dele.
— Há muitas coisas que eu poderia falar sobre as quais vocês já
sabem... por exemplo, como ele gostava de sua bebida à noite.
A multidão explodiu em risadas silenciosas, mas respeitosas. Lydia
deu um sorriso fraco antes de continuar.
— Ele não pediu para me criar. Quer dizer, eu não era parente dele
nem nada, mas ele sempre se importou comigo. E me desafiou.
— Mesmo quando quase coloquei fogo no cabelo dele. Felizmente, ele
conseguiu apagá-lo antes que tudo queimasse. Sua franja nunca voltou
ao normal de verdade...
Mais risadas vieram da multidão. Lydia continuou.
— Ele me ajudou a me tomar quem sou hoje, então sou grata por isso.
Lydia olhou para o rei, que se levantou e caminhou de volta ao
púlpito. Um tentáculo de sombra se estendeu e pegou o guarda-chuva.
Lydia o entregou, só percebendo depois que não tinha abrigo contra a
chuva.
Ela se arrastou para o lado enquanto o rei subia ao púlpito
novamente.
— Agora, os membros... ou, membro... da família do falecido acenderá
as Velas de Despedida, para ajudar a guiar sua alma na noite sem fim.
Um criado veio correndo pela lateral do palco, segurando uma
pequena tala de madeira iluminada. Lydia pegou a tala.
Ela teve que caminhar entre os convidados reunidos até as velas
situadas ao redor do caixão de Lucius.
Lydia avançou para a chuva e a tala foi retirada.
O servo correu para o lado dela com uma caixa de fósforos, riscando
vários, mas nenhum deles acendia.
Lydia levantou a mão e ele lentamente recuou. Ela largou a tala e
estalou os dedos.
A multidão arfou quando suas mãos explodiram em chamas. Ela abriu
caminho entre os convidados.
As chamas pareciam mais escuras e vibrantes do que antes. A sessão
de união com o Rei realmente fortaleceu seu fogo?
Quando alcançou o caixão de Lucius e parou diante da vela principal,
Lydia olhou para a pulseira que ele lhe dera antes de ela partir.
Estava brilhando muito levemente, refletindo as chamas em sua
superfície prateada.
— Isso é para você, velho, — disse ela enquanto erguia a palma da mão
para o céu e soprava a chama.
O fogo flutuou até o pavio da vela e explodiu em chamas.
Os convidados se reuniram dentro do salão principal do palácio para
fugir da chuva.
Várias pessoas que Lydia nunca conheceu antes vieram e agradeceram
o adorável funeral e se maravilharam com suas habilidades mágicas.
Ela cumprimentou as pessoas pela metade e ouviu suas experiências
com Lucius. Ainda parecia a Lydia como se o herói do tempo de guerra
de que falavam fosse um homem diferente daquele que ela conhecia.
Lydia ficou aliviada ao ver Gerard e receber suas condolências, só
porque sabia quem ele era.
— Infelizmente, devo retomar ao Congresso, — disse ele, envolvendo-
se em seu manto.
Ele olhou nos olhos dela. Lydia piscou, tirando Gerard de seu
devaneio. — Lucius me pediu para cuidar de você, então, sem dúvida,
estarei de volta antes que você perceba.
Ele pegou a mão de Lydia, dando-lhe um leve beijo, antes de se
teletransportar.
Lydia esfregou a mão onde Gerard a beijou enquanto olhava ao redor.
Morrison e o rei estavam conversando com Agatha Alastair, enquanto
Lis e David circulavam pelos outros convidados. Todos que ela conhecia
estavam ocupados.
Até Lux havia desaparecido assim que as criadas liberaram uma mesa
de bufê.
— Ei, Lydia, posso falar com você? — uma voz chamou. Lydia se virou
e viu Ayana parada atrás dela.
O rosto de Lydia se transformou em um sorriso. Ela estava querendo
falar com Ayana por um tempo, mas não teve a chance.
As duas garotas se afastaram para um canto, longe de olhos e ouvidos
curiosos.
— Sinto muito pelo seu avô, — disse Ayana. — Quando o funeral foi
anunciado, Morrison me contou tudo sobre ele. Ele parecia um homem
interessante.
— Sim, — disse Lydia, olhando para os outros convidados. — Eu
nunca soube que ele era tão conhecido. Ninguém vinha nos visitar.
Ayana riu.
— Soa como minha mãe adotiva. Ela estava com tanto medo de que
eu me machucasse que ninguém aparecia. Foi muito assustador quando a
Guarda Real veio e me levou embora.
As duas garotas riram.
— Então... você está... com Morrison? — Lydia perguntou. Ayana
sorriu enquanto acenava com a cabeça.
— E eu estou supondo o mesmo com você e o Rei? — ela respondeu.
Lydia concordou com relutância.
Ayana continuou. — É claro que foi estranho no início. Especialmente
porque Morrison tem uma noiva. Mas ela foi ainda mais favorável do que
ele.
Lydia começou a rir. Imagine se seu rei tivesse uma esposa? E se
aquela garota Evine estivesse morando aqui?
Ela sorriu, imaginando o rei mais perturbado do que de costume, com
sua esposa o acusando de traição.
— Eu também queria falar com você porque vi algo na cidade, —
Ayana disse, baixando sua voz para um sussurro conspiratório. — Há um
livreiro chamado Aramis Lester.
— Eu estava em sua loja outro dia e vi um livro em uma caixa de vidro.
Dizia 'O Livro de Decimus' na capa.
— Eu pensei que poderia ser do seu interesse. Ele até tinha a nossa
marca 'S' nele.
Os olhos de Lydia brilharam. Decimus era o Deus do Fogo; os Slifers
do Fogo eram seus descendentes diretos. O livro era para ela?
— O que era? — ela perguntou. — Um livro de magia? Um guia?
Ayana encolheu os ombros. — Não sei, mas vale a pena dar uma
olhada!
*
Lydia tinha planejado ir para a cidade assim que o funeral terminasse,
mas Lis a parou quando ela alcançou os degraus da frente.
É
— É um risco de segurança. Você é uma Slifer. Você sabe o quão
importante você é? — Lis tinha dito.
Ela conduziu Lydia de volta para seu quarto. Lydia ficou por um
tempo, mas apenas porque gostava da princesa.
Se o rei tivesse tentado impedi-la, ela teria dado a ele um gancho de
esquerda.
Então, Lydia teve uma ideia. Eles podem estar vigiando sua porta, mas
quem vigiaria sua janela?
Com a ajuda de Lux, ela juntou os lençóis e amarrou-os na cabeceira
da cama.
Ela silenciosamente desceu, com Lux dentro de sua bolsa.
Lydia ouviu a porta do quarto se abrindo e a voz de Lis chamou lá de
cima.
— Lydia, você está no banheiro?
Lydia caiu no chão e correu assim que ouviu Lis se dirigir à janela
aberta.
— Gabriel! Gabriel, venha rápido! — Lis gritou enquanto Lydia se
afastava.
Oh, Deuses!
Ela se dirigiu ao muro do jardim que escalou uma vez antes—quando
o rei a deixou nua.
Ela rapidamente escalou os galhos que se agarraram às pedras e
escorregou por cima.
Ela precisaria ser rápida se quisesse chegar à loja antes que o rei a
encontrasse.
Lydia começou a correr quando ouviu um galho estalar atrás dela. Ela
se virou, mas não viu ninguém.
Ela examinou a área por alguns segundos antes de se virar.
— Lux, — disse Lydia. — Fique de olho atrás de nós, certifique-se de
que ninguém do palácio nos siga. — Lux miou em confirmação enquanto
partia em direção à cidade.
GABRIEL
Lis praticamente jogou Gabriel pela janela atrás da Slifer. Ele a
encontrou com relativa facilidade, mas ficou intrigado por ela ter pulado
a parede.
Ela estava realmente indo embora como ele disse a ela? Ela nem havia
feito as malas. Não pode ser esse o caso. Para onde iria a Slifer?
Gabriel deu um passo à frente para segui-la, mas ouviu um estalo sob
seu pé. A Slifer se virou. Gabriel se encolheu nas sombras, ocultando sua
forma.
Seu coração acelerou quando os olhos dela examinaram o ambiente,
mas ele relaxou quando ela rapidamente se virou e se dirigiu para a noite.
Ele deu a ela alguns minutos para se mover antes de segui-la,
certificando-se de que suas sombras ocultassem cada passo...
Capítulo 14
ARAMIS LESTER, AO SEU DISPOR
LYDIA

Lydia só tinha visto a cidade durante o dia em que tinha chegado pela
primeira vez com Lucius. Agora, ela estava impressionada com a forma
como brilhava durante a noite.
Pedras de fada, pequenas joias brilhantes, estavam envoltas em
lâmpadas ao longo das ruas de paralelepípedos, iluminando os vários
caminhos.
Ayana disse a ela que a loja de Aramis ficava próxima à Grande
Entrada do comércio.
Lydia percebeu que tinha passado por ela logo na primeira vez que
procurou. Era tão discreta que ela tinha passado por cima da sua porta
indefinida.
Ela apertou os olhos para a placa ao lado da porta, que dizia:
A. Lester
Livreiro e antiquário
Ela olhou pelas janelas. Não parecia que havia alguém dentro. Não
havia luzes acesas lá dentro. Lydia tentou a maçaneta, mas a porta não se
moveu.
Ela bateu os nós dos dedos contra ela bruscamente.
Houve alguns sons de movimento antes que a porta se abrisse.
— Quem está aí? — resmungou uma voz de dentro. Lydia olhou pela
janela, mas não viu ninguém. — Ei, aqui embaixo! — Lydia olhou para
baixo e viu um anão do outro lado da porta.
— Oi, você conhece Aramis Lester? A loja está aberta? — ela
perguntou.
— Nah, nunca ouvi falar dele, — grunhiu o anão. — Não estou aberto
para negócios.
O anão tentou fechar a porta, mas Lydia a segurou. Ela não o deixou
fechá-la.
— Vamos, Lydia, podemos voltar pela manhã, — disse Lux. — Esse
cara não se parece com alguém com quem você quer mexer...
— Pare ou chamo os guardas! — o anão disse ameaçadoramente. Seu
rosnado se transformou em surpresa, seus olhos se arregalando quando
ele olhou para a mão de Lydia.
Na empolgação, quando ela bateu à porta, ela começou a derreter a
pintura da frente. Pequenas chamas vazaram de seu punho. Percebendo,
ela rapidamente retirou a mão.
A porta foi escancarada e o anão saltou, envolvendo os braços em
volta dos joelhos dela.
— Mestra do Fogo! Você chegou! — gritou o anão, em um completo
reverso de sua personalidade anterior.
— Huh? — Lydia estava totalmente confusa.
— Entre, entre! — disse ele, alcançando a mão dela e arrastando-a
para dentro da loja.
Na loja, o anão bateu palmas e as velas se acenderam.
O que antes era escuro tomou-se iluminado, com centenas de velas
acesas ao mesmo tempo.
— Você também é um Slifer do Fogo? — disse Lydia. O anão jogou a
cabeça para trás e riu como se fosse a melhor piada que já ouvira.
— Você está falando sobre as luzes? Não, isso é apenas um pequeno
feitiço que coloquei nelas. É você quem é a Slifer do Fogo, — o anão disse.
— Mas onde está minha educação? Aramis Lester, ao seu dispor. — O
anão estendeu a mão rechonchuda. Ela a apertou e o deixou sacudi-la
vigorosamente.
— Bem, sente-se! Eu volto para atender você em um segundo, —
Aramis disse.
Ele bateu palmas novamente, e um sofá puído se materializou na loja.
Ele se dirigiu para uma sala dos fundos enquanto Lydia se sentava.
Ela deixou cair a bolsa ao lado do assento e Lux se contorceu para
fora, se esticando.
A dupla olhou para as prateleiras. A loja deveria ter três andares.
Milhares de livros cobriam as paredes.
Havia de tudo: livros de receitas para conjurar comida do nada;
remédios mágicos para remover verrugas; enciclopédias de monstros.
Ela olhou para o balcão e viu o livro sobre o qual Ayana havia falado: o
Livro de Decimus.
Sua capa era de um vermelho profundo e tinha uma marca
semelhante à do pulso. Aramis voltou com duas xícaras de chá.
— Chá de abóbora caseiro, — ele disse enquanto passava um para ela.
— Orgulho-me da receita.
Lydia olhou para o chá. Tinha um tom nada saudável de laranja
escuro, mas ela decidiu tomar um gole em sinal de respeito ao anfitrião.
O chá estava horrível.
Ela rapidamente colocou a xícara de chá no chão, tentando esconder
sua careta.
Enquanto isso, Aramis já havia bebido dois terços de sua xícara. Uma
gota rolou por sua grande barba.
— Então... — começou Lydia. — Vim aqui porque uma amiga disse
que havia um Livro de Decimus... — Ela apontou para o livro atrás da
mesa. Aramis assentiu.
— Foi-me confiado pelo próprio Deus do Fogo, — disse Aramis. — Há
muito tempo sou um devoto dele. Ele me disse que a Slifer do Fogo viria
procurá-lo.
— Você acabou de dizer que conheceu o Deus do Fogo? — Lydia
perguntou. — Onde?
— Há muito tempo... não vou entrar em detalhes, — disse Aramis,
com um aceno de mão. — Mas eu trabalhei para ele enquanto ele ainda
vagava por Ignolia.
— Posso dar uma olhada no livro? — Lydia perguntou.
— Fique à vontade, — disse Aramis. Lydia foi até o balcão e pegou o
livro. Ela abriu.
Era um livro que detalhava todas as técnicas que um Slifer do Fogo
poderia executar. Era perfeito.
Lydia voltou ao seu lugar e tentou enfiar o livro na bolsa.
— Não! — rugiu Aramis, rolando do sofá e arrancando o livro de suas
mãos. — Este livro é o único exemplar no mundo. Você não pode
carregá-lo em uma simples bolsa.
— Então, como faço para ler? — Lydia perguntou.
— Vou mantê-lo sob vigilância, — disse Aramis. — Vamos treinar na
minha oficina, para não levantar suspeitas.
— Encontre-me na minha loja dentro de dois dias, ao amanhecer.
— O que você sabe sobre treinar Slifers do Fogo? — Lydia perguntou.
— Preciso te lembrar que eu trabalhei para o próprio Decimus? —
Aramis disse. — Estudei este livro durante toda a minha vida.
— Ugh, tudo bem, — disse Lydia, pegando sua bolsa de lona. Lux
voltou e habilmente subiu em seus ombros e voltou para dentro.
— Lembre-se, ao amanhecer, — ele disse, enquanto a conduzia de
volta para a rua. — E tenha cuidado—sua visita aqui pode ter atraído
atenção indesejada.
E com isso, ele fechou a porta.
Lydia olhou em volta. O que ele quis dizer com atenção indesejada?
Lydia começou a voltar para o palácio.
Enquanto ela caminhava, ela sentia uma presença ao seu redor. Lux
sussurrou: — Há um homem nos seguindo.
Ela começou a andar mais rápido.
Eles caminharam por mais cinco minutos antes que Lydia parasse de
andar. No meio da multidão leve de compradores noturnos havia dois
homens.
Um era baixo e magro, o outro grande e gordo.
Eles tinham linhas pintadas idênticas nas pontas de seus narizes. Cada
um tinha um sorriso diabólico no rosto.
Lydia se virou instintivamente. Apenas para encontrar outro homem
atrás dela.
Ele era musculoso, com a cabeça raspada e uma cicatriz profunda
onde deveria estar o olho direito. Ele acariciou o ferimento e deu um
sorriso malicioso.
Eles a encurralaram.
Lydia olhou em volta. Ela avistou um beco escuro e decidiu aproveitar
qualquer oportunidade que tivesse. Lydia saiu correndo.
Ela ziguezagueou pela multidão enquanto os três homens a
perseguiam. Ela se espremeu no beco, e o homem grande apareceu à sua
frente em uma névoa branca.
Lydia olhou para trás. Os homens estavam bloqueando a outra saída.
— Vamos nessa, então, — ela rosnou, acendendo as mãos. O homem
com a cicatriz estendeu a mão para a frente, projetando o que parecia ser
uma teia de aranha de sua mão.
Ela se envolveu na garganta de Lydia.
Lydia ofegou, tentando recuperar o fôlego. Ele puxou a corda em sua
direção, fazendo Lydia cair no chão.
Lux caiu da bolsa com um grunhido, antes de se levantar de um salto.
— Lux! — Lydia murmurou. — Busque ajuda!
O gato não precisava ser avisado duas vezes. Depois do ataque do
lobisomem, ele sabia quando seus oponentes o superavam.
Ele rapidamente escalou um tubo de drenagem, evitando rajadas de
magia do pequeno homem.
Lydia olhou para o homem com a cicatriz enquanto ele puxava um
cajado com uma joia vermelha no topo. Enquanto pressionava a joia na
testa de Lydia, sombras invadiram o beco.
Lydia sentiu a teia em volta do pescoço se soltar quando o rei
apareceu na sua frente.
Ele empurrou para trás o homem com a cicatriz, focalizando seus
tentáculos em uma entrada do beco. O grande homem cambaleou para a
frente.
— Cuidado! — Lydia gritou.
GABRIEL

Gabriel olhou por cima do ombro. Um homem grande estava


correndo em sua direção, pronto para lançar uma explosão de magia em
suas costas indefesas.
A Slifer gritou e saltou no caminho, estendendo as mãos.
O fogo flamejou da ponta dos seus dedos, fazendo o homem grande
cambalear. Gabriel e a Slifer ficaram costas com costas, comunicando-se
sem palavras enquanto lutavam contra seus agressores.
Até mesmo o toque de seus casacos levava a Slifer para sua cabeça.
Sombras fluíram dos dedos do Rei Gabriel. Ele estava no beco, lutando
contra os Caçadores, mas em sua mente ele estava com a Slifer.
Os dois em um reino de sombras. Sua masculinidade entre suas pernas,
sua mão ao redor de seu pescoço, segurando-a enquanto ele se movia dentro
dela...
Ela estava vendo o mesmo?
Ele balançou a cabeça, dissipando a fantasia. Era hora de lutar, não se
perder em devaneios de desejos que ele não podia admitir que tinha.
Gabriel flexionou os dedos, enviando seus dois agressores para longe
sobre o telhado mais próximo.
Ele se virou e, junto com a Slifer, atingiu o homem grande com uma
rajada sincronizada de magia que o deixou no chão.
— Por aqui! — ele gritou, pegando a mão da Slifer.
Os dois correram de volta para a rua principal.
Gabriel tentou se teletransportar, mas os poderes do cansado rei
haviam se esgotado na batalha.
Ele olhou ao redor e viu uma carruagem de táxi com dois Moxars
esperando preguiçosamente na estrada. Gabriel assobiou para chamar a
atenção do motorista.
— Para o palácio, — ele chamou, enquanto ele e a Slifer entravam na
parte de trás.
A dupla reclinou-se nos assentos confortáveis enquanto a carruagem
partia a meio galope.
— Eu te segui, — disse Gabriel, tentando recuperar o fôlego. — Lis viu
que você escapou. Você estava flamejando um fogo impressionante...
você salvou minha vida.
O rei ergueu as sobrancelhas em diversão e surpresa.
Os olhos da Slifer do Fogo brilharam para ele antes que ela os
fechasse. Ela descansou a cabeça no assento almofadado, tentando
recuperar o fôlego.
O rei se pegou olhando para o pescoço dela, que brilhava com uma
fina camada de suor. Ele se lembrou de sua visão. O rei se perguntou
como seria a sensação de seu batimento cardíaco sob seus dedos...
Como o suor dela teria gosto em sua língua...
— Uh, sim, então—aqueles homens, você sabe quem eles eram? — ele
perguntou.
A Slifer balançou a cabeça. — Caçadores de Feiticeiros, — Gabriel
disse, em tom sério. — É preocupante que tenham chegado a Imamia.
Devo informar os guardas.
Os dois ficaram em silêncio por um minuto antes de Gabriel começar
a rir.
— O que é tão engraçado? — perguntou a Slifer.
— A profecia se tomou realidade. — O rei estava com as pernas bem
abertas. Ele estava confortável e relaxado. — Você salvou minha vida!
A Slifer olhou para ele, com um sorriso divertido em seus lábios e um
brilho nos olhos. — Então, você vai reconsiderar minha oferta...? — ela
perguntou, com sua voz baixa. — Vai me ajudar a me tomar a Slifer mais
forte do mundo?
Gabriel demorou um momento antes de assentir.
Ele estava olhando para o lugar onde sua mandíbula encontrava seu
pescoço. Que bom seria passar a língua nele...
— Sim, — disse ele, deslizando de joelhos na frente dela. — Eu
prometo fazer tudo ao meu alcance... começando agora mesmo!
Capítulo 15
INTIMIDADE NA CARRUAGEM
GABRIEL

Gabriel desceu de seu assento na carruagem e se ajoelhou diante dela.


Ele estava ajoelhado, como um cavaleiro prestes a ser nomeado.
— Eu prometo fazer tudo ao meu alcance... começando agora mesmo!
Ele deslizou as mãos por baixo da saia da Slifer do Fogo e segurou seus
quadris. Sua pele estava macia e ainda úmida de suor. Seus quadris
estavam cheios em suas mãos.
Ele a ouviu prender a respiração antes que ficasse pesada.
Ele enrolou o dedo sob o cós de sua roupa íntima. Seu corpo estava
tenso como um elástico.
Gabriel gemeu novamente quando a mão de Lydia encontrou seu
membro latejante. A ponta dele já estava molhada, e ela também. Ele
tirou sua roupa íntima e ergueu suas pernas no ar.
Colocando a cabeça sob sua saia longa, ele estava em um dossel azul
profundo. A única coisa que existia era seu sexo, que agora foi revelado
ao rei. Ela abriu ainda mais as pernas para ele.
Ele enterrou o nariz em seus pelos e respirou seu aroma, fazendo
cócegas nela com seu hálito quente.
A Slifer do Fogo estremeceu quando ela antecipou a boca do Rei nela.
As mãos dele ainda estavam em cima da saia dela, de cada lado de seu
corpo no assento da carruagem, e ela as segurava.
Lydia: Por favor, meu rei!

Gabriel: Repete.

Lydia: Meu rei?

Gabriel: Sim...
Gabriel: Adoro quando você me pede.

Lydia: Meu rei... por favor! Eu quero sua boca em mim... Eu não consigo aguentar.

Gabriel: Eu sempre faço a vontade dos meus súditos!

Lydia: Ah... sim!

LYDIA

Lydia sentiu o rei morder sua coxa antes de finalmente se mover para
o centro dela. O rei colocou a língua em seu clitóris, tocando-o
levemente.
Ele ainda estava brincando com ela. E ela odiava admitir o quanto ela
gostava.
Lydia estava vendo faíscas quando ele pressionou a língua contra ela,
movendo-a lentamente para frente e para trás.
Lydia gemeu, fechando os olhos. Ela ainda podia ver as faíscas atrás de
suas pálpebras, brancas brilhantes. Ela segurou a nuca dele sobre a saia,
mantendo-o ali.
Lydia queria mais.
Mas ela sabia que o rei amava o poder que tinha sobre ela agora. Ele
fez uma pausa, se afastando. Ela se contorceu sob seu hálito quente.
Finalmente, ele voltou para ela. Desta vez, ele não escondeu nada.
Estava claro que ele sabia exatamente o que ela queria o tempo todo. Ele
estava chupando seu clitóris, colocando a quantidade certa de pressão.
Era quase como se ele pudesse ler sua mente... Oh, espere. Ele podia.
E então ele deslizou dois dedos dentro dela.
Isso era tudo que ela podia aguentar. A sensação da combinação foi
tão intensa que ela já podia sentir seu corpo se contraindo ao redor de
sua mão.
Ele a estava acariciando, alcançando um lugar que nunca havia sido
tocado.
Lydia podia sentir o rosto enrubescer, todo o corpo quente, como se o
calor emanasse de suas pernas. Seus olhos permaneceram fechados.
O toque especialista do rei a levou ao orgasmo sem esforço. Lydia não
conseguia acreditar na rapidez com que seu corpo alcançou o ápice.
Ela percebeu apenas um momento antes de sua liberação que ela
estava prestes a gozar.
Segurando a cabeça do Rei contra seu sexo com as duas mãos, Lydia
gozou. Ela gritou, sem se preocupar se o cocheiro da carruagem pudesse
ouvir. Ela não se importava com nada no mundo.
Seu corpo ficou tenso. O prazer caiu sobre ela em ondas.
O rei manteve sua língua nela, continuou trabalhando, e Lydia gozou
por um tempo consideravelmente longo. Ela nunca havia sentido algo
tão poderoso.
Eventualmente, o orgasmo terminou. O rei beijou seu sexo uma vez.
Ela estava agora tão sensível que estremeceu.
Ele puxou a cabeça de debaixo da saia dela.
As pálpebras de Lydia se abriram. Em seu momento de recuperação,
levou um momento para ver que a carruagem estava em chamas.
— Deuses! — ela gritou.
As almofadas do assento e as cortinas estavam pegando fogo.
Ela agitou os braços freneticamente, tentando apagar o incêndio, mas
só conseguiu atiçar as chamas.
Ela olhou para o rei com os olhos arregalados, mas ele piscou para ela.
Ele pegou a mão dela e apertou-a uma vez antes que toda a carruagem
ficasse preta.
GABRIEL
A Slifer do Fogo estava com medo. Ainda bem que ele era o rei e estava
sempre sob seu controle.
Ele fechou os olhos e cobriu todo o interior da carruagem com as
sombras.
Essas chamas eram fortes! Gabriel sabia que ele era bom, mas ele não
percebeu que ele era tão bom.
Depois de um momento de escuridão total, ele lentamente os puxou
de volta.
A Slifer do Fogo estava exausta. Suas roupas foram queimadas em
farrapos.
O rei não pôde deixar de rir.
Ela olhou para ele, perplexa. Então, como aceitando que o perigo
tivesse passado, e percebendo que o perigo tinha sido sua culpa, ela corou
profundamente.
E então ela riu também.
— Eu nunca fiz um sexo tão quente antes, — o Rei brincou.
Então, eles realmente gargalharam. Gabriel mal conseguia respirar. A
Slifer cobriu o rosto com as mãos e desabou no colo do rei.
Ele não sabia dizer se eles estavam rindo de alívio, ou de vergonha, ou
o quê. Mas não importava.
Ele percebeu que seu braço foi colocado sem esforço em seu corpo e
sua mão estava tocando seu cabelo.
Como era fácil estar com ela.
Percebendo o quão confortável ele havia se tomado, o rei enrijeceu.
Ele tirou os dedos do cabelo dela, mas manteve o braço apoiado nela.
Ele teria que se manter na defensiva. A Slifer do Fogo quase incendiou
a carruagem.
Apenas algumas semanas atrás, ele nunca a conheceu, e agora ela
estava morando em seu castelo. Ela ainda era uma garota do campo. Ela
não sabia nada de sua vida.
No entanto, ela estava ocupando seus pensamentos, mesmo quando
eles não estavam juntos.
Isso não era bom.
Ele tirou o braço dela completamente. Ela ergueu os olhos, como se
quisesse verificar sua expressão, mas ele não a olhou nos olhos.
A última vez que o rei deixou alguém entrar, ela destruiu sua vida. Ela
o havia mergulhado em uma noite profunda e interminável.
O rei Gabriel não permitiria que isso acontecesse novamente.
— Pare aqui! — gritou Gabriel para o motorista.
— Mas estamos quase lá, senhor, — o motorista gritou de volta.
Gabriel rosnou, antes de simplesmente se teletransportar para fora da
carruagem e para longe da Slifer.
Ele precisava ficar sozinho. Ele não queria ficar perto da Slifer. A
plebeia estava ligada a ele contra sua vontade.
A presença dela não era nada para ele, apenas um incômodo.
Ele repetiu esse pensamento, que ele considerou verdadeiro não há
muito tempo. Ele descobriu que estava ficando cada vez mais difícil de
acreditar.
LYDIA

Lydia ficou vermelha mais uma vez. Mas desta vez, ela estava sozinha
na carruagem.
Ela pensara que o rei também estava se divertindo, mas seu
desaparecimento implicava o contrário.
O que mudou? Em um momento, ele estava relaxado, acariciando
seus cabelos e puxando-a para perto dele, e no seguinte, todo o seu corpo
ficou rígido.
Ela alisou o cabelo e puxou o colarinho ao redor do rosto para
esconder as bochechas coradas.
A carruagem parou. Lydia olhou para fora e viu uma silhueta parada
nos degraus da frente, com as mãos nos quadris, e um gato nos
tornozelos com uma cauda balançando.
Lydia saiu. Lux saltou sobre ela, acariciando seu rosto.
— Onde você esteve?! — gritou Lis. — Ayana disse que contou a você
sobre esse sujeito Aramis Lester. Ela está quase chorando só de pensar
em você fugindo! O Rei foi atrás de você pessoalmente!
— Lamento preocupá-la. E sinto muito ter incomodado o rei, — Lydia
respondeu brevemente.
— Quero dizer... não é um incômodo. — Lis ficou quieta, enquanto
sua raiva rapidamente se transformava em simpatia.
— Eu estarei fora de seu caminho em breve, — Lydia continuou
correndo pelas portas do palácio para ficar sozinha em seu quarto.
— Oh, Lydia! — Lis estava atrás de Lydia e Lux estava empoleirado em
seu ombro. — Eu nunca quis dizer isso. Não seja boba.
— Não, sério, — disse Lydia, quase triunfante. — Eu deveria partir
depois do funeral de qualquer maneira.
Finalmente, ela se virou para Lis. A princesa parecia prestes a chorar.
— Por que você faria isso?
— O rei me pediu isso, — disse Lydia. — E estou descobrindo que não
me encaixo muito bem aqui, afinal.
— Oh, entendo... — disse Lis. Por um momento, Lydia se preocupou
em ter ferido seus sentimentos.
Mas Lis respirou fundo, recuperando a compostura. Ela parecia tão
graciosa quanto uma princesa mais uma vez. — Bem, eu gostaria de pedir
a você para ficar no palácio—como minha convidada.
— Lis... — Lydia começou. — Obrigada, mas...
— Sem desculpas. Gostei de ter você aqui, — disse a princesa. Ela
tocou o braço de Lydia e Lux ronronou. — Eu realmente penso em você
como uma irmã para mim.
As palavras honestas da princesa fizeram Lydia corar.
— Também sou grata por nossa amizade, — disse Lydia, com
sinceridade. — Mas Gabriel disse...
Lis fez um gesto com a mão como se estivesse espantando uma mosca.
— Não se preocupe com ele. Ele não sabe o que quer de qualquer forma.
— E acredite em mim, — continuou a princesa, com um sorriso
sorrateiro, — o rei pode não aceitar ordens de ninguém, mas ele me
escuta.
Lydia encolheu os ombros. Ela resolveria mais tarde.
A princesa sorriu, sabendo que ela havia vencido. — Chega de coisas
pesadas. Tenho boas notícias.
Lis segurou o braço de Lydia e a guiou de volta para seu quarto. — O
Grande Baile de Imamia é em dois dias. É o evento da temporada!
— Amanhã a melhor costureira do Reino vem para ajustar nossos
vestidos!
Elas pararam em frente à porta de Lydia. — Agora, vá para a cama, —
disse Lis, antes de puxar Lydia para um abraço apertado. — Descanse. E
não pense em ir a lugar algum.
— Obrigada, Lis, — Lydia disse. Ela ficou parada na porta por um
momento, observando a princesa caminhar pelo corredor.
*
Lydia estava secretamente temendo seu encontro com a costureira,
mas uma vez que ela estava lá, sendo medida e cutucada, ela descobriu
que estava gostando.
A mulher rechonchuda dançava ao seu redor, acenando com uma
almofada de alfinetes na mão. O tecido parecia surgir do nada, caindo
sobre o corpo de Lydia e medindo-se.
Lydia baixou os olhos. Ao contrário do vestido da Cerimônia de
União, todo o vestido era da cor de fogo.
Era camada sobre camada de chiffon de seda em vermelho e laranja, e
quando Lydia se movia, parecia que chamas reais estavam escalando seu
corpo.
Lydia girou ao sentir que a princesa a observava. Lis gritou: — Você e
Gabriel vão ficar lindos dançando juntos!
— Hum. Como assim? — Lydia arfou, parando em seu caminho.
— É tradição, — disse Lis, parecendo estar preocupada com seu
reflexo, — que o rei dance com sua parceira. E você é a Slifer dele, então é
o certo.
Lydia engoliu em seco.
Oh, Deuses. Lydia e o Rei juntos, diante dos melhores e mais
brilhantes do Reino? A última vez que o viu, ele havia se dissolvido diante
de seus olhos.
A costureira estalou, e o vestido mudou do corpo de Lydia para a mão
da mulher. Lydia foi pegar sua roupa anterior.
— Vou fazer o vestido amanhã à noite. — A costureira sorriu.
Lydia deu um sorriso fraco enquanto ela desabava em uma cadeira.
Com sorte, ela conseguiria realmente ficar com este vestido, em vez de
tê-lo rasgado e deixado em um deserto sombrio. Como o último.
A costureira estalou, e o vestido mudou do corpo de Lydia para a mão
da mulher. Lydia foi pegar sua roupa anterior.
— Vou fazer o vestido amanhã à noite. — A costureira sorriu.
Lydia deu um sorriso fraco enquanto ela desabava em uma cadeira.
Com sorte, ela conseguiria realmente ficar com este vestido, em vez de
tê-lo rasgado e deixado em um deserto sombrio. Como o último.
Ela suspirou. Amanhã seria um grande dia. Treinar com Aramis pela
manhã e dançar com o Rei à noite.
Ela conjurou o rosto do rei em sua mente. Ela podia ver seus lindos
olhos, seus lábios vermelhos, mas metade de seu rosto estava oculto pelas
sombras.
Ele era um mistério para ela. O que diabos ele faria a seguir?
Capítulo 16
A DANÇA E O LIVRO DE DECIMUS
LYDIA

— Você deve fazer um movimento de arco com as mãos, — disse


Aramis, lendo o Livro de Decimus.
Lydia havia chegado cinco minutos depois do amanhecer, para grande
aborrecimento de Aramis.
Ele a conduziu pela loja até sua sala de estar.
Lydia quase bateu com a cabeça no teto ao passar.
Ela teve que torcer desconfortavelmente o pescoço só para olhar para
Aramis.
— Não deveríamos treinar em algum lugar diferente? — ela
perguntou, apontando para o teto.
— Ah, eu vejo o problema, — disse Aramis. Ele se agachou, erguendo
as mãos acima da cabeça antes de se levantar lentamente. A casa
começou a roncar.
As paredes começaram a se esticar e o teto subiu.
Alguns segundos depois, Lydia conseguiu se levantar.
— Tem certeza de que você não é um feiticeiro? — Ela disse com um
sorriso.
— Não, eu tenho altocelarofobia... medo de tetos altos. Juntamente
com o medo do teto desabar.
Lydia parecia alarmada.
Ela pensou nos sons de rachaduras que a casa fez quando Aramis a
transformou e se perguntou o que isso poderia ter feito para a
integridade estrutural. Ela lançou um olhar cauteloso para o céu.
— Acho que você me deixou com medo de algo que eu nem sabia que
tinha medo, Aramis.
O anão sentou-se em sua poltrona e, nas três horas seguintes,
começou a treinar Lydia nas técnicas de Slifer do Fogo. Eles ainda
estavam na primeira.
— Tente de novo, — disse Aramis, enquanto Lydia abaixava os braços,
emitindo apenas baforadas de fumaça.
— Não sei o que há de errado, — Lydia lamentou, olhando para o fogo
em suas mãos. — Estava escuro e volumoso, mas agora está quase
transparente. Duas noites atrás, quase incendiei a carruagem do rei.
Ela corou, percebendo o que ela havia aludido.
— Seu poder é muito limitado, — disse Aramis, fechando o livro. —
Você precisa se libertar.
— Afinal, o que isso quer dizer? — Lydia disse, balançando a cabeça. —
Eu acho que você está apenas lendo o livro errado. Deixe-me dar uma
olhada, então posso descobrir.
Lydia pegou o livro, mas Aramis o moveu para fora de seu alcance.
— Não! Eu sei do que você precisa... um pouco mais de chá de
abóbora!
Ele saiu correndo antes que Lydia pudesse detê-lo. Ele colocou o livro
em uma mesa próxima antes de ir para a cozinha.
Ela ficou tentada a estender a mão e pegá-lo, mas antes que pudesse se
mover, Aramis já havia retomado.
— Beba, filha da chama. — Ele acenou, colocando uma xícara na mão
dela. — Isso ajudará em seus níveis de poder.
— O gosto parece inflamável, — Lux murmurou para Lydia enquanto
ela fingia beber. — Talvez seja isso que ele quer dizer com seus 'níveis de
poder'. A menor faísca vai acendê-lo.
— Então, Mestra do Fogo, — perguntou Aramis depois de engolir
meia xícara de seu chá, — como estão indo as sessões de união?
— Sessões de união? — Lydia disse, confusa.
Aramis zombou.
— Você não está treinando de outras maneiras?
— Aramis, eu não tenho... oh, AQUILO disse Lydia, entendendo o que
Aramis queria dizer.
— Não admira que seu fogo não esteja ficando mais forte se você está
negligenciando cinquenta por cento do seu treinamento. Como você vai
se tomar uma Slifer?
Lydia estremeceu com a palavra 'tomar'. Como se fosse o Rei quem a
completaria.
— O Rei está negligenciando seus deveres. As sessões são esporádicas,
— disse Lydia, colocando a xícara na mesa. Aramis resmungou.
— Eu acho que talvez eu deva fazer uma visita ao Rei, — Aramis disse,
terminando seu chá. — Como mensageiro do Deus Fogo Decimus,
preciso informá-lo do que é exigido dele.
— Um mensageiro? Não sabia que você era o mensageiro dele, — disse
Lydia.
— Queridos Deuses, por que vocês acham que estou aqui? — Aramis
disse. — Para entregar suas habilidades aos seus descendentes.
Os dois ficaram sentados em silêncio por um tempo, antes de Lydia
começar a falar.
— Mas não acho que você gostaria do palácio, Aramis. Os tetos são
bem altos...
Aramis ficou branco.
— Quão alto?
Lydia sorriu.
— Mais alto do que a árvore mais alta. Você mal consegue ver o topo.
Aramis estremeceu.
— Chega desse absurdo. Vamos continuar treinando.
— Não posso. Desculpe, — Lydia disse, pegando sua bolsa e se
levantando. Ela devolveu a xícara a Aramis.
— Por que não? — ele disse enquanto levava as canecas de volta para a
cozinha. Assim que ele deu as costas, Lydia rapidamente foi até a mesa e
pegou o livro, colocando-o em sua bolsa antes que Aramis voltasse.
— Tenho um Grande Baile para comparecer.
Aramis se iluminou com a palavra.
— Um Grande Baile? Perfeito. O melhor lugar para lançar seus
encantos sobre o Rei e começar a se relacionar novamente!
Lydia revirou os olhos ao se virar. — Na mesma hora da semana que
vem, — Aramis gritou atrás dela, — quero ver se você passou algum
tempo a sós com o rei!
*
Lydia estava um pouco apavorada. Ela podia ver pela janela de seu
quarto a quantidade de pessoas que chegavam para o Grande Baile.
Devia haver bem mais de cem pessoas, todas vestidas com esmero.
A costureira veio junto com as criadas de Lis e ajudou a arrumar seu
cabelo e fazer sua maquiagem.
O cabelo de Lydia estava preso alto, adicionando alguns centímetros
extras à sua altura.
Ela se olhou no espelho. Lydia parecia ainda mais incrível do que na
Cerimônia de União.
Enquanto ela descia as escadas, Ayana a cumprimentou.
— Ei, Lydia, há alguém que eu quero que você conheça! — Ela pegou o
cotovelo de Lydia e a guiou em direção a um casal.
Um deles era uma mulher, elegantemente vestida com um vestido
branco puro que se agarrava a seu corpo estruturado.
Seu companheiro era um jovem. Ele não parecia mais velho do que
Ayana ou Lydia. Ele usava um terno do verde mais profundo, que
complementava o choque de cabelos ruivos escuros em sua cabeça.
— Lydia, esta é a Rainha Adria de Vallas, — Ayana anunciou. Lydia
curvou-se em reverência. Adria respondeu com uma breve reverência de
cabeça. — Prazer em conhecê-la, Lydia, — disse Adria, um tanto
bruscamente. — Eu sei que você é a neta de Lucius Voltaire. Infelizmente
não pude comparecer ao funeral.
Lydia olhou para o jovem. Ele parecia um pouco tímido—nervoso, até.
— Este é o seu marido? — Lydia perguntou, apontando para o
homem. O jovem sorriu quando a Rainha apontou para trás de Lydia.
— Minha esposa está ali. — Lydia queimava de vergonha com sua gafe.
Ela olhou por cima do ombro, seguindo o dedo da Rainha para uma
mulher comandante.
— Aquela é a General Malla, — Ayana sussurrou no ouvido de Lydia.
Malla parecia ainda mais brusca do que sua esposa, elevando-se sobre a
maioria dos convidados e olhando para qualquer um que olhasse em sua
direção.
— Não, este jovem é Redmond, — apresentou a Rainha, guiando o
jovem em direção às duas garotas. — Eu acredito que vocês três têm algo
em comum. Vá em frente, Redmond. Mostre a elas.
Redmond sorriu. Ele estendeu o punho fechado, os dedos voltados
para cima. Redmond olhou para as duas garotas antes de abrir
gradualmente o punho.
Uma pequena flor branca apareceu no meio de sua palma,
desabrochando em poucos segundos. Lydia arfou e Ayana sorriu.
— Você é o Slifer da Terra? — Lydia perguntou, sem fôlego.
— Acho que sim, — respondeu Redmond, abrindo um sorriso. — E
pelos seus olhos brilhantes, imagino que você seja a Slifer do Fogo?
Lydia assentiu vigorosamente. Redmond continuou. — Ambas as
roupas são deslumbrantes, mas talvez... me permite...?
Ele contraiu os dedos, produzindo dois botões individuais, laranja
brilhante e azul.
— Uma de Bluestar, outra de Crocosmia, — anunciou ele, oferecendo
às garotas suas respectivas flores. Ambas ficaram radiantes quando
Redmond desviou o olhar, um pouco envergonhado.
— Um bom partido, você não concorda? — A Rainha Adria disse com
um sorriso. — Ele tem um dom e tanto quanto ao Jardim Real.
TAP. TAP. TAP.
O maestro bateu com a batuta na estante de partituras, sinalizando
para que todos se dirigissem para a pista para a primeira dança.
Lydia observou Adria, Redmond. Morrison e Ayana se dirigiram para a
pista.
Três Slifers! Todos ao mesmo tempo. Lydia achava que isso não era
possível.
Lydia ouviu um assobio atrás dela. Ela olhou para trás e viu o Rei,
vestido com mantos semelhantes que ele tinha usado para a Cerimônia
de União. As sombras giraram em tomo dele.
— Boa noite, Slifer do Fogo, — ele disse. Havia algo de sarcástico em
sua atitude. Como se eles compartilhassem uma piada particular.
Talvez ele estivesse pensando no tempo que passaram na carruagem.
Lydia corou.
Mas um sorriso estava se contorcendo no canto de sua boca. Quase
como se ele estivesse feliz em vê-la.
— Boa noite, Vossa Majestade, — respondeu Lydia.
— Pronta para dançar? — disse o rei. Ele segurou a mão de Lydia sem
esperar por uma resposta e a guiou para a pista.
Ele a trouxe contra o peito, puxando-a com força com uma mão em
tomo de sua cintura. Ele estava jogando dos dois lados: gentileza e
desdém.
Lydia sentia que não conseguia respirar. Seus seios estavam
pressionados firmemente contra o peitoral do rei. Ele teria uma visão
perfeita se olhasse diretamente para baixo.
Ele não pareceu notar, em vez disso, olhou para uma distância média,
como se sua mente estivesse em outros assuntos além das medidas dela.
A orquestra começou e o Rei liderou. Lydia nunca tinha ido a um baile
antes, então ela deixou o rei conduzi-la ao redor do salão. O rei girava e
rodopiava, deixando-a tonta.
Lydia: Oh não! Acho que vou vomitar!

Gabriel: É melhor você não fazer isso!

Lydia: Você poderia parar de me girar então? Mal consigo enxergar.

Gabriel: Tudo bem...

GABRIEL

Gabriel balançou a cabeça. A Slifer não tinha ideia de como dançar.


Que garota simples.
Ele olhou para baixo. Seus seios estavam pressionados contra ele.
Agora que ele pensou sobre isso, ele podia senti-los em seu corpo. A testa
de Gabriel se franziu enquanto ele bloqueava tais pensamentos de sua
mente.
A banda terminou sua primeira peça e a dupla se separou.
— Obrigado pela dança, Slifer, — disse Gabriel, erguendo o maxilar.
Ele agarrou o pulso da Slifer.
Gabriel: Seu quarto. Hoje à noite.

Lydia: O quê?

Gabriel: Hoje à noite.

Gabriel olhou em seus olhos para ver se ela entendeu a mensagem. Ela
olhou para ele por um segundo antes de assentir.
— Ótimo, — disse ele. Ele deu um beijo na mão dela antes de girar nos
calcanhares e se afastar. Ele sorriu com antecipação.
Ela pode não saber dançar, mas pelo que ele tinha guardado, seus pés
nem precisariam tocar o chão.
Capítulo 17
UMA NOITE DE PAIXÃO
LYDIA

Lydia ficou no Grande Baile por mais uma ou duas horas antes de ir
para a cama.
Ela havia comido um pouco e recusado uma dança de Gerard, todo
vestido de prata, e de uma mulher incrivelmente bela que fazia parte da
comitiva do rei Morrison.
Em toda a realidade, ela tinha ficado perturbada com o pedido do rei.
— Primeiro, ele me odeia, depois ele está se convidando para o meu
quarto, — ela disse a Lux enquanto soltava o cabelo.
Ela abriu o zíper do vestido, gentilmente pendurando-o e colocando-o
no armário.
— Você não vai colocar suas mãos sombrias neste aqui, — ela disse
para si mesma com um sorriso, antes de ir para o banheiro. Ela preparou
um banho, deslizando na espuma com um suspiro. Quando ela fez sexo
com o rei antes, doeu muito, mas quando ele caiu sobre ela na
carruagem...
Lydia passou a mão debaixo d'água e começou a se esfregar
suavemente. Talvez, se ela já estivesse molhada lá quando o rei chegasse,
não doeria tanto quanto da última vez que ele a penetrou.
Ela tentou recriar os movimentos e pressões que o rei havia usado
habilmente nela na carruagem. Ela continuou até que a água do banho
ficou morna e sua pele enrugou. Ela finalmente conseguiu atingir um
orgasmo longo e prolongado.
Ao fazer isso, a temperatura da água aumentou significativamente.
Lydia olhou por entre as bolhas e viu as pontas dos dedos chiando. Ela
esperou que o fogo se dissipasse antes de sair.
Ela se enrolou em um roupão de banho antes de ficar perto da porta e
assobiar. Lux, cochilando na cama, ergueu as orelhas.
— Eu preciso de você fora daqui, — disse Lydia, abrindo uma fresta da
porta.
— Estou dormindo, — disse Lux, colocando as orelhas para trás. Lydia
marchou até ele e o pegou. Lux sibilou e tentou cravar as garras nas
cobertas, mas Lydia era forte demais para ele.
— Você realmente quer estar aqui quando o rei chegar? Você quer se
sentar no canto enquanto nós... fazemos aquilo?
— Eca, não! — disse Lux, mostrando sua língua de gatinho.
— Certo, então, você precisa ir, — disse Lydia, apontando para a
porta. — Não volte por algumas horas ou mais. Vá para a cozinha. Talvez
eles ainda tenham um pouco daquela comida que você estava olhando no
bufê.
Os olhos de Lux brilharam com a ideia. Ele se virou, dando uma
última olhada para ela, antes de sair trotando pelo corredor.
Lydia fechou a porta com um suspiro e se virou. Ela deu um pulo,
encontrando o Rei atrás dela.
— Quanto tempo você esteve aí? — ela perguntou.
— Acabei de chegar. Parece o momento perfeito.
Ele tinha vindo ligeiramente arrumado, apenas em sua camisa social e
calças. Lydia brincou com o cinto do roupão.
— Posso perguntar por que esta noite? — ela disse. O rei sorriu.
— Desde que você se ajoelhou diante de mim e tocou minha mão, não
consegui tirar você da minha cabeça. E quando eu vi você esta noite...
Lydia deu um pequeno sorriso.
— Bem, então, vou tentar agradá-lo. — Ela puxou levemente o cinto
do roupão, enviando o tecido macio em cascata para o chão.
Lydia se virou lentamente, sentindo os olhos do rei percorrendo suas
costas nuas.
Quando havia outros por perto, os dois eram rivais. Perto de inimigos.
Ele estava sempre tentando derrubá-la.
Mas sozinhos...
O relacionamento deles se tomava algo totalmente diferente.
Competitivo, excitante, inegavelmente sexy.
— Então, eu sou uma boa dançarina ou o quê? — Lydia perguntou. Na
verdade, ela não tinha ideia de como dançar. Nem mesmo o suficiente
para fingir.
Ela pulou na cama e se virou, com seu corpo exposto para ele.
Ela amava a sensação dos olhos dele nela. Eles pareciam uma brisa
fresca, como se estivessem sentados na sombra.
Isso era bom, porque estar perto dele sempre deixava Lydia tão quente
que ela estava quase queimando.
A pele de Lydia, quente e úmida do banho, sussurrava contra os
lençóis de seda.
— Você é... — o Rei começou. Mas ele estava distraído. Sua mão estava
alcançando o cinto.
GABRIEL

Gabriel se despiu rapidamente, deixando suas roupas em uma pilha ao


pé da cama. Ele subiu e se deitou em cima da Slifer, roçando seu pênis em
seu estômago.
Gabriel começou a acariciar seu pescoço, deixando rastros de seu
hálito quente ao longo de sua clavícula.
Gabriel então se moveu para baixo em seu corpo, acariciando
suavemente o esterno da Slifer quando um de seus mamilos encontrou
seu caminho em sua boca. Ele mordiscou e chupou suavemente,
movendo a mão para brincar com o outro mamilo.
Ele trocou de seio, beijando sua pele enquanto se movia entre os dois.
Quando ele moveu sua mão, ele podia sentir seu coração pronto para
bater em seu peito.
Assim que Gabriel terminou de provocar seus seios, ele desceu pelo
estômago da Slifer, traçando um dedo delicado sobre as camadas de
músculos perto de seu diafragma.
A respiração da Slifer tomou-se irregular enquanto ele desenhava
ziguezagues com o dedo, chegando mais perto de onde as pernas dela se
separavam.
Sua boca assumiu de onde seu dedo parou, beijando a parte inferior
de seu estômago e seu osso púbico.
Ele beijou ao redor de sua abertura, beijando e lambendo sua parte
interna das coxas, indo tão baixo quanto seus tornozelos, antes de voltar
para seu sexo.
Gabriel a lambeu de baixo para cima, estabelecendo-se em seu clitóris.
Lembrando-se dos movimentos que a levaram a incendiar sua
carruagem, ele replicou esses movimentos, provocando guinchos e
contorções da Slifer.
Gabriel percebeu que estava gostando de fazer a garota se contorcer
de prazer mais do que em um nível puramente físico.
Ele estava começando a sentir palpitações no coração. Ele queria estar
com ela mais do que nesses breves encontros. O pensamento o deixou
mais duro do que nunca.
Ele se abaixou entre as pernas e começou a acariciar levemente seu
pênis.
Ele olhou para a Slifer, que percebeu que ele estava dando prazer a si
mesmo. Ela tinha um sorrisinho sexy.
— Venha aqui, — ela sussurrou.
Ele subiu em cima dela. Ele podia sentir o quão molhada ela estava.
Ele queria se inclinar direto para ela. Ele beijou seu pescoço,
descansando seu pênis entre seus pelos pubianos, escorrendo pré-sêmen
sobre ela.
Ele esfregou seu pênis contra sua abertura, fazendo-a gemer. Ela se
contorceu embaixo dele, empurrando seus quadris contra os dele.
— Pare de me provocar, — ela respirou.
Enquanto ele empurrava para dentro dela, a Slifer o surpreendeu. Ela
agarrou a nuca dele e o beijou profundamente.
Com a mão dela em seu cabelo, ele estabeleceu seu ritmo em cima da
Slifer.
LYDIA

Lydia não tinha ideia de por que ela fez isso, mas parecia certo. O rei
parecia confuso com o gesto dela, mas logo retribuiu a paixão quando ele
começou a trabalhar lentamente nela.
Lydia gemeu, interrompendo o beijo. Ela deixou suas bocas se
encontrarem novamente, seu hálito quente se misturando. Ela passou a
língua pelo lábio dele.
Agora, ela estava apenas impulsionada pela luxúria.
O rei se estabeleceu em um ritmo constante, com uma mão apoiando
seu peso e a outra em sua cabeça entrelaçada com a dela.
Ela cravou as unhas em sua mão e se contorceu sob seus impulsos,
tentando levá-lo mais fundo.
O rei desvencilhou sua mão da dela, movendo-a para mais alto, em
direção ao seu couro cabeludo. Ele enrolou o cabelo dela em volta do
punho e deu um puxão forte para baixo enquanto continuava a penetrar.
Lydia gritou de dor, mas segundos depois, o som foi substituído por um
gemido de prazer.
Ela precisava dele—por completo.
Lydia enviou faíscas pelos lençóis e chamas começaram a lamber sua
pele nua. Quando as faíscas alcançaram o rei, suas sombras apagaram as
brasas.
No final, seus poderes estavam lutando lado a lado em um jogo de
gato e rato, correndo sobre seus corpos. Lydia adorava a sensação dos
redemoinhos negros frios passando por seu corpo.
Quando o rei finalmente acelerou seus movimentos e ela o sentiu
apertar dentro dela, ele puxou para fora, agarrando sua masculinidade e
continuando a se estimular.
Ele se ajoelhou em direção ao rosto dela.
Lydia instintivamente abriu a boca, pronta para tomar seu membro,
quando ele explodiu prematuramente.
Estrias quentes e pegajosas de esperma espirraram de sua
extremidade, cobrindo seus lábios e pálpebras. Um pouco pingou em sua
boca, deixando-a saboreá-lo pela primeira vez.
O rei rolou para o lado, ofegando intensivamente. Lydia ficou imóvel
por alguns segundos, com o sêmen do rei esfriando rapidamente em seu
rosto.
Ela lambeu os lábios, saboreando o gosto estranho que ele havia
deixado. Isso a deixou curiosa... e querendo mais. O rei colocou a mão
embaixo das cobertas e apertou a mão dela.
Ele olhou para ela e abriu um sorriso tímido. — Desculpe por isso.
Acho que não consegui evitar.
Ele saltou da cama e voltou um momento depois com uma toalha
bordada felpuda.
Ela enxugou o rosto com o material precioso. Então, ela se levantou
para usar o banheiro.
O rei já estava com os olhos fechados quando ela voltou. Ela subiu na
cama ao lado dele e sentiu o desejo de se envolver em seus braços.
Enquanto ela se movia um centímetro mais perto dele, ela notou sua
bolsa ao lado de sua cama.
Estava brilhando.
Como se estivesse chamando por ela. Como se tivesse os segredos
para desbloquear seu poder, e quisesse contar a ela agora.
O rei estava nu em sua cama, e sua pele quente a convidava a voltar
para ele. Mas o objetivo de tudo isso era fortalecer seu poder.
Ela pegou a bolsa e retirou a fonte da luz brilhante. Era o Livro de
Decimus, piscando levemente em vermelho. Ela o abriu lentamente e
começou a ler.
Capítulo 18
SEGREDOS DO PASSADO
LYDIA

Lydia abriu lentamente o Livro de Decimus e começou a ler.


Há muito tempo, um Slifer da Terra costumava vagar pelo território de
Ignolia, ajudando onde podia.
Quando as colheitas fracassassem, ele as restauraria.
Quando as indústrias derrubaram árvores, ele as fez crescer duas vezes
mais fortes.
Ele corrigiu o que considerou injustiças contra a Mãe Natureza.
Ele parou para descansar na cidade de Imarnia um dia, mas sentiu que
algo estava errado.
Ele olhou para os habitantes da cidade. Suas roupas estavam enegrecidas e
algumas estavam gravemente feridas. Ele perguntou a uma das vítimas.
— Somos migrantes, senhor, — disse-lhe um deles. — Bandidos alinhados
com Uzier devastaram nossa colonização. Agora vamos para Imarnia! — O
Slifer consultou os olheiros do rei, que confirmaram a reivindicação do
refugiado. Assim que a bandeira de guerra de Uzier foi vista no horizonte, o
Slifer da Terra foi ao seu encontro.
O Slifer reuniu seu poder, antes de expelir o máximo de força que pôde.
Seus pés ficaram enraizados no chão enquanto as videiras se estendiam de
suas mãos.
Arvores e mata começaram a brotar por toda a cidade, como seus galhos
se entrelaçando.
O Slifer fechou os olhos enquanto a casca da árvore rastejava por seu
pescoço e rosto, sacrificando-se para criar uma floresta.
O exército de Uzier tentou abrir caminho, mas descobriu que sempre que
eles cortavam um galho, um novo voltava a crescer em seu lugar.
Eles tentaram queimar a floresta, mas não conseguiram. Os bandidos
eventualmente recuaram, incapazes de se aproximar das paredes.
Quando o Rei saiu para inspecionar a floresta, os galhos se separaram e o
mata recuou, permitindo que ele passasse ileso.
Contanto que fosse alguém puro de coração que não desejasse violência
contra outro, eles teriam permissão para passar pela floresta.
O coração de Lydia estava disparado. Algo assim aconteceria com ela?
Ela teria que se sacrificar, tomando-se puro fogo para parar a guerra?
Ela virou a página, apenas para encontrar um buraco negro
rodopiante semelhante aos tentáculos sombrios do rei. Ela olhou mais de
perto.
Uma mão voou para fora da página. Não apenas qualquer mão. Uma
mão esquelética. Branca e coberta de podridão. Seus dedos ossudos se
enrolaram em sua garganta. A visão de Lydia começou a escurecer
quando a mão tirou o ar dela.
Em seguida, tudo ficou preto.
*
Lydia acordou com tosse. Ela olhou para o lado. A cama estava vazia
ao lado dela.
Ela girou a cabeça, procurando de um lado para o outro, lembrando-se
dos momentos finais de consciência. Onde estava o livro?
Ela o encontrou fora de sua bolsa, encostado na parede. A visão era
real?
Lydia se levantou e, à meia-lua, olhou para o pescoço no espelho do
quarto. Havia um pequeno hematoma ao redor dele.
Mas isso foi o rei? Ela não se lembrava de que ele tinha sido rude.
Ela pegou o livro e folheou as páginas, tentando encontrar a página
onde o buraco negro havia aparecido.
Não havia nada na página além de uma série de runas. Lydia fechou o
livro e o devolveu à bolsa.
Ela iria ver Aramis pela manhã, mesmo sabendo que ele ficaria
furioso.
Lydia voltou para a cama. Quando sua cabeça bateu no travesseiro, ela
olhou para a mesa de cabeceira.
A pulseira de prata que Lucius lhe dera brilhava fracamente,
iluminando uma fração do quarto.
— Oh, vovô, — pensou Lydia. — Se ao menos você estivesse aqui.
Você saberia o que fazer...
*
Lydia estava certa sobre Aramis. Ela o visitou com Lux na manhã
seguinte.
— Eu pensei ter dito na próxima semana, — ele disse quando ela
entrou pela porta. Ela timidamente puxou o livro de sua bolsa.
— Sua maldita ladra! — ele gritou. — Eu estava enlouquecendo
tentando encontrar isso. Achei que tinha perdido ou vendido
acidentalmente. Imagine... o Deus do Fogo teria me ferido onde eu
estava!
Ele desabou no sofá, feliz que o livro estava seguro.
— Algo estranho aconteceu com o livro... — Lydia começou. Aramis
ergueu uma sobrancelha. — O Rei e eu... nós, er... 'nos unimos'. E depois,
o livro começou a brilhar... tipo, piscar em um vermelho brilhante.
— Continue... — Aramis respondeu.
— Comecei a ler sobre o Slifer da Terra e como ele se transformou em
uma árvore...
Aramis sorriu.
— Um conto clássico, se é que posso dizer.
— E isso que vai acontecer comigo? Terei que me sacrificar? — Lydia
perguntou.
— Se estiver a serviço do seu rei, — observou Aramis. Lydia franziu a
testa com suas respostas evasivas.
— Como seria estar a serviço do Rei? Eu protejo seu corpo de um
ataque? Eu o ressuscito? O quê? — Lydia respondeu.
— Slifers trabalham de maneiras misteriosas, — disse Aramis,
endireitando-se. — Todas as opções, ou talvez apenas uma ou duas delas.
Talvez apenas durante os finais de semana. Pode ser assim que ele
declarar seu amor por você.
— Eu acho que isso nunca acontecerá, então, — Lux murmurou
enquanto se espreguiçava no chão de Aramis.
— Outro Slifer surgiu no baile, — disse Lydia. — Por que estão
aparecendo mais?
— Os Deuses estão zangados e os Slifers os ajudam a restaurar o
equilíbrio, — respondeu Aramis.
— Que equilíbrio? Uma guerra?
— Pode ser. Ou apenas um confronto.
— Você não está ajudando! — Lydia gritou. Ela pegou o livro
novamente. — Havia algo mais, — disse Lydia, virando para a página
com as runas. — O que esta página tem de especial?
Ela entregou o livro. Aramis estudou as runas, murmurando
silenciosamente enquanto as traduzia. Ele terminou de ler e olhou
diretamente nos olhos de Lydia.
— O que você viu nesta página?
Lydia relatou os eventos da noite anterior, poupando-o dos detalhes
sujos. Aramis franziu a testa.
— Esta página enfoca a antiga magia negra, — disse ele, colocando o
livro de lado. — Feitiçaria de manipulação.
— Então, fazer as pessoas agirem contra sua vontade? — Lydia
perguntou.
— Sim, — disse Aramis, franzindo a testa com preocupação. — Ser
enfeitiçado e não ter nenhum controle sobre si mesmo. O feiticeiro que
lançou a maldição poderia fazer a pessoa fazer o que bem entendesse.
— Era comum durante a guerra com Uzier. Muitos assassinatos foram
realizados com feitiçaria de manipulação.
— Ele quase destruiu toda a Ignolia, fazendo com que os líderes os
voltassem uns contra os outros. Eles não podiam nem mesmo confiar em
sua própria carne e sangue.
— Então, eles enfeitiçariam alguém que estaria em contato próximo
com alguém em posição de autoridade... — Lydia disse, parando.
— Sim, alguém como um rei, — Aramis terminou sua frase. Os dois
ficaram em silêncio por um tempo, antes de Lydia falar.
— Mas foi um sonho, não foi?
— Você se lembra de cair no sono? — perguntou Aramis.
— Não... o Rei tinha adormecido e eu fui ao banheiro, e quando voltei,
vi o livro...
A sobrancelha de Aramis franziu.
— Devemos manter o livro aqui sob uma série de encantamentos. Isso
é muito preocupante. — Aramis abanou a cabeça. — Eu preciso de um
pouco de chá para acalmar meus pensamentos.
LUCIUS

Lucius Voltaire estava gostando da morte.


As notícias de seu funeral aparentemente se espalharam por todo o
Reino, chegando até o Reino de Freyr antes mesmo de ele cruzar a
fronteira de Imarnia.
Aparentemente, sua neta tinha feito um espetáculo acendendo as
Velas de Partida usando sua magia. Lucius sorriu quando ouviu isso.
Lucius ficou surpreso que, assim que as pessoas acreditaram que ele
estava morto, pararam de reconhecê-lo. Era bom não ter olhos curiosos
seguindo cada movimento seu...
Assim que foi confirmado que ele estava morto e enterrado, ninguém
olhou duas vezes. Ele havia sido apagado de todas as suas memórias
coletivas.
Agora, Lucius olhava para o Pico da Insanidade, parcialmente visível
através do céu da manhã.
Ele tirou um cantil de rum com mel de sua capa e deu um gole rápido,
deixando o álcool lhe dar um calor temporário.
Assim que deixou Lydia com o Rei, Lucius decidiu vir para cá. Ele já
estivera aqui uma vez, eras atrás. Os Picos da Insanidade eram o
esconderijo de Uzier.
Deste ponto de vista, ele era capaz de atacar todos os cantos de Ignolia
com facilidade. Lucius precisava ver por si mesmo se os restos do
Feiticeiro das Trevas estavam aqui.
O retomo dos Slifers foi um sinal de que o passado se repetia. Que o
Reino logo se transformaria em guerra. Ele precisava ter certeza de que as
forças das trevas não tinham apoio.
Lucius enfiou o cantil de volta na capa antes de subir. A escalada foi
particularmente fácil, desgastada pelas botas de bandidos e feiticeiros
malvados eras atrás.
Ele continuou adiante, finalmente alcançando uma rocha que
bloqueava seu caminho. Lucius colocou a mão contra a rocha e aplicou
sua magia.
A pedra nem mesmo vibrou. Estava encantada. Nem mesmo um
feiticeiro poderoso seria capaz de movê-la.
Lucius recuou e se sentou, cruzando as pernas e fechando os olhos.
Ele ficou sentado por muito tempo.
Ele concentrou sua energia, vendo os encantamentos que protegiam o
esconderijo; as complexidades, as fraquezas. O movimento exato que lhe
permitiria mover a pedra.
A pedra nem mesmo vibrou. Estava encantada. Nem mesmo um
feiticeiro poderoso seria capaz de movê-la.
Lucius recuou e se sentou, cruzando as pernas e fechando os olhos.
Ele ficou sentado por muito tempo.
Ele concentrou sua energia, vendo os encantamentos que protegiam o
esconderijo; as complexidades, as fraquezas. O movimento exato que lhe
permitiria mover a pedra.
Seus olhos se abriram. Com alguns movimentos de sua mão, a pedra
rolou para trás, revelando uma entrada. Lucius olhou em volta.
Era de manhã cedo quando ele tentou mover a pedra pela primeira
vez. Da posição do sol, parecia que estava quase anoitecendo. Os truques
mágicos deste lugar já estavam começando a brincar com sua mente. Ele
precisava agir logo.
Lucius passou furtivamente pelos túneis dentro da montanha, antes
de entrar em uma abertura expansiva. Lucius criou uma fonte de luz e a
jogou no ar, lançando raios pela caverna.
Um caixão de pedra estava à sua frente. Lucius caminhou até ele,
examinando as sombras apenas no caso de algum sistema de defesa final
estar esperando por ele. Ao chegar ao caixão, ele leu a inscrição no topo:
Expulso do alto, ele encontrou seu reino em Ignolia.
— Até parece, — disse Lucius. Ele colocou as mãos na tampa do
caixão e hesitou.
Se Uzier estivesse aqui, ele estaria errado. Ele teria feito Lydia passar
pela agonia de sua morte, de nunca mais vê-lo... por nada.
Mas ele precisava saber. Se Uzier estivesse vivo, isso significaria um
desastre.
Lucius se abaixou e lentamente empurrou a tampa do caixão para
fora. A tampa de pedra atingiu o chão e rachou, enviando ondas sonoras
reverberando ao redor da caverna.
A poeira do caixão voou para o ar, finalmente liberada depois de
séculos sendo trancada.
Lucius acenou com a mão na frente do rosto para limpar o ar, antes de
olhar para o caixão.
Capítulo 19
UM NOVO SLIFER NA CIDADE
LYDIA

Uma pedra se ergueu no ar, como se fosse leve como uma pena. Ela
pousou no meio de um jardim de rosas, embora não tenha esmagado
nenhuma.
Redmond apontou o dedo para o chão. Ele era o epitome da elegância
em um suéter verde profundo e calças justas. Ele soprou no dedo como
se fosse uma arma fumegante e piscou para Lydia. — Sua vez,
Fumacinha.
Lydia suspirou. Ela adorava estar perto de Redmond e Ayana. Quando
ela olhava nos olhos deles, ela via o mesmo brilho sobrenatural que ela
tinha nos seus próprios.
Eles eram os únicos no mundo que realmente podiam entendê-la,
porque eram Slifers.
Os únicos outros no reino, pelo que ela sabia.
Por mais que se sentisse conectada a esses dois, seus companheiros
mágicos elementais, Lydia não pôde deixar de se sentir intimidada. Pelo
controle que eles tinham sobre seus poderes.
Suprimindo seus nervos, Lydia fechou os olhos. Ela sentiu seus dedos
subirem em chamas suaves ao se lembrar da noite anterior.
Como Gabriel beijou sua orelha depois de mordê-la, como ele traçou
uma linha em sua mandíbula com a língua. Como ele prendeu seus
pulsos na cama enquanto a fodia tão lentamente que mal se movia.
Como cada movimento duro tinha uma contrapartida gentil. Sombras
brincando sob as chamas.
Como ele acariciou a si mesmo quando ele estava sobre ela, prestes a
gozar em seu rosto...
De repente, Lydia sentiu as chamas crescerem e se tornarem brancas e
ergueu os braços sobre a cabeça. Torres de fogo dispararam de suas mãos
para o céu claro.
Lydia as segurou por um momento antes de apagá-las. As folhas das
árvores acima estavam fumegando. Nuvens de fumaça subiram de seus
dedos.
— Caramba. garota! — Redmond exclamou.
— Alguém está praticando, — Ayana sorriu, erguendo a mão para
Lydia, mas retirando logo em seguida. A mão de Lydia ainda fumegava.
O rosto de Lydia se iluminou em um sorriso. Agora isso parecia bom.
Ayana saltou até a fonte de mármore que gorgolejava no jardim e
abaixou a cabeça para beber de um riacho que caía. Levantando-se mais
uma vez, Ayana cuspiu a água por entre os lábios franzidos.
Ela esguichou quase na testa de Redmond antes de subir em uma
nuvem de vapor.
A expressão no rosto de Redmond fez Ayana e Lydia desabarem de
tanto rir.
— Ora, eu devo revidar! — Redmond gritou, entrando em ação.
Concentrando-se em um canteiro de jardim, ele ergueu centenas de
flores no ar. Rosas, freesia, Alstroemeria e violetas giravam no alto.
— Ha! — Redmond gritou, e todas as flores caíram em cascata sobre
Ayana e Lydia, enterrando-as em uma pilha de flores.
Enquanto todos riam juntos, Lydia sentiu uma felicidade
desconhecida. Ela tinha Lux, mas nunca teve um amigo humano
verdadeiro. Finalmente, ela encontrou amigos com quem ela poderia ser
ela mesma.
Que a entendiam e não a fazia se sentir uma aberração da natureza.
Ayana e Redmond até entendiam o que era estar ligado à realeza.
Embora seus relacionamentos com o rei e a rainha parecessem
diferentes, isso trouxe paz a Lydia.
Afinal, quem em Ignolia poderia ter um relacionamento como o dela e
o do Rei Gabriel?
Ayana estava lavando as flores em pequenos riachos de água, e Lydia
jogou uma no ar e a pôs em chamas.
De repente, o jardim, que antes estava cheio de cantos de pássaros,
ficou totalmente silencioso e o ar parou. Os três Slifers trocaram um
olhar, imaginando qual deles estava prestes a dar um show.
O silêncio durou muito tempo, e Lydia percebeu em um momento de
preocupação que nenhum deles estava no controle da quietude.
Assim que o ar se acalmou, ele se ergueu em uma lufada horrível,
explodindo pelo jardim pacífico. Isso fez com que a pilha de flores de
Redmond voasse.
Lydia teve dificuldade em se manter de pé enquanto o vento soprava
mais forte, arrancando plantas do chão, quebrando o anjo em cima da
fonte de mármore.
Sentindo o perigo, Lydia se agachou no chão.
Ela queria gritar por Ayana e Redmond, mas não conseguia ouvir nada
acima do vento.
Ousando espiar por entre os dedos, o estômago de Lydia se revirou ao
ver um tornado cair.
O tornado rodou flores de todas as cores. Embora fosse lindo, ele
destruía tudo o que tocava.
Estruturas de pedra desmoronaram conforme o tomado crescia,
ganhando velocidade. Ele estabeleceu seu curso de destruição: os três
Slifers, e depois o palácio real...
Lydia não conseguia mais assistir. Ela fechou os olhos, preparando-se.
Mas não veio nada.
O assobio ensurdecedor do tomado voltou ao silêncio da morte.
Lydia abriu os olhos mais uma vez, apenas para ver uma mulher na
frente dela, olhando para Lydia, Ayana e Redmond.
A mulher era alta e usava um vestido de seda que a envolvia apesar do
ar parado. Seus membros eram longos e elegantes, e cachos loiros
voavam atrás dela.
Ela estava com a mão no quadril e um sorriso maligno tocou seus
olhos. Olhos que brilharam com o conhecimento dos Deuses. Lydia
prendeu a respiração.
— Como é que ninguém me convidou para jogar? — a mulher
perguntou. Os amigos amontoados olharam para ela. — Vocês estavam
tão fofos, eu queria entrar.
— Você é uma Slifer? — Ayana perguntou: — Por que diabos você nos
atacou assim?
— Oh querida. É simplesmente adorável como vocês estavam tão
assustados. Acho que você nunca viu o verdadeiro poder de um Slifer
antes.
— Com licença? — As mãos de Lydia se transformaram em punhos e
seus olhos queimaram com o calor derretido.
— Vejo que vocês estão apenas aprendendo. Especialmente você,
Faísca. Foi o show de fogo que me atraiu... que brincadeira de criança! Eu
tive que trazer a grande liga.
O calor irradiava da pele de Lydia. Como essa mulher ousa reduzi-la?
Depois de ficar tão orgulhosa de seu progresso?
Lydia permitiu que a raiva permeasse seu próprio ser. Vazando de seus
poros.
GABRIEL

Gabriel saiu correndo da reunião real na sala de estar para o jardim.


Aero, seu fiel companheiro, estava logo atrás dele.
O rei sabia que os Slifers estavam praticando, mas o vento louco
mostrava que poderia haver problemas. Conhecendo a Slifer do Fogo,
não seria uma surpresa.
— Merda, — o Rei exalou.
Com certeza, o jardim estava em ruínas. A princesa Lis ficaria
arrasada.
Observando do portão, Gabriel viu uma mulher elegante apontando
para os três Slifers, que pareciam estar colados ao chão.
— Eu sou Elise Moran, Slifer do Ar. Companheira do ilustre Rei Calix.
E meu nobre prazer...
A Slifer do Ar, com seu dedo tocando seu peito e seu nariz voltado
para o céu, foi interrompida.
A terra sob seus pés estava em chamas e seu vestido estava
chamuscado nas pontas. Ela pulou ao redor, tentando apagar o fogo.
A Slifer do Fogo se levantou, rindo alto. Ela mal estava de pé quando
uma grande rajada de vento a jogou pelo jardim.
Ai o Rei fez uma careta. A Slifer do Fogo caiu em um caminho de
espinhos.
Elise correu em sua direção. Ela não deixaria a Slifer do Fogo escapar
tão facilmente.
— Droga! — Aero gritou. — Você não deveria parar com isso?
O rei afastou Aero. Ele considerou intervir, mas estava curioso para
ver as habilidades da Slifer do Fogo... especialmente depois de sua última
sessão de união.
A Slifer do Fogo ainda estava no chão, tirando um espinho da palma
da mão. Elise ficou de pé sobre ela, montando em seu torso com suas
pernas de quilômetros de comprimento.
— Ahhhhh! — a Slifer do Fogo tentou queimar os cachos loiros de
Elise, mas a Slifer do Ar apagou as chamas. A Slifer do Fogo parou,
parecendo exausta.
Mas então, seu punho veio voando de sua lateral e encontrou o rosto
da Slifer do Ar com um alto crack!
Caramba! Mas o rei não pôde deixar de sorrir.
Aero cobriu a boca com a mão. Agora, o rei tinha que fazer algo.
— Tudo bem, Senhoritas. Isso foi divertido o suficiente por um dia...
— Rei Gabriel gritou.
Gabriel enviou os guardas para levar Elise para a masmorra. Ela havia
causado estragos no jardim de sua irmã. E ela tinha machucado a Slifer
dele... hum, a Slifer do Fogo.
Elise gargalhou e zombou dos outros enquanto era carregada. O Rei
Gabriel afastou suas mãos. Crise evitada. Ele caminhou em direção à
Slifer do Fogo, que estava se levantando do chão, arranhada e
machucada, mas geralmente ilesa.
Ela se recusou a encontrar o olhar do rei, mesmo quando ele
perguntou se ela estava bem.
— Tudo bem. — Ela já estava voltando para o castelo. — Vou me
limpar.
LYDIA
Tudo o que Lydia queria era um banho quente, mas a comoção na sala
de estar a deteve.
— Então, quem diabos o Rei Calix pensa que é, soltando Elise desse
jeito? — Rainha Adria gritou.
— Como você pode culpar seu rei pelas ações de um Slifer? —
Morrison perguntou. — Rei Calix não está em lugar nenhum.
— Alguém precisa pagar pelos reparos no jardim da minha irmã, e
tenho a sensação de que não será Elise, — Gabriel argumentou enquanto
entrava na sala.
Todos estavam de pé e a tensão era alta. Lydia não disse nada
enquanto espiava pela porta. Ela estava exausta e seus arranhões estavam
sangrando.
Não só isso, ela estava perturbada pelo fato de que. pela segunda vez.
ela foi atacada por sua própria espécie.
Ela ficou incomodada com isso e com a desordem que se abateu sobre
a sala de estar. Não era um bom sinal de que os governantes do reino
estavam brigando uns com os outros. E o rei Calix ainda não tinha
chegado.
Lydia não pôde deixar de se perguntar se Aramis poderia estar certo...
Uzier havia levado o reino à guerra virando seus líderes uns contra os
outros uma vez antes.
Quem disse que ele não faria isso de novo?
Capítulo 20
O TOQUE DE CURA DO REI
LYDIA

Uma torre de chamas, brilhando na noite escura, apenas para ser apagada
por uma rajada de vento.
Lydia estava deitada em sua cama sobre pilhas de travesseiros de seda.
Ela estava imersa em sonhos enquanto Lux ronronava em seu peito. O
sol estava apenas começando a se pôr, mas o dia durou séculos.
Ela suspirou ao abrir os olhos, exausta com as visões de seu próprio
fracasso que apareciam sempre que ela descansava.
Seu corpo se lembrava da batalha perdida com Elise também. Seus
arranhões e cortes queimaram suas coxas, costas e mãos de quando seu
corpo tocou o chão.
Houve uma batida em sua porta.
Puxando um lençol leve sobre ela, Lydia chamou: — Entre. — Ela não
estava com disposição para companhia, mas estava cansada demais para
mandar embora quem quer que fosse.
O Rei Gabriel abriu a porta lentamente. Lux soltou um miau ao pular
para o chão, balançando o rabo. Ele caminhou em direção à porta,
ronronando, enquanto Gabriel fazia carinho em sua cabeça.
Huh. O rei nunca havia prestado atenção em Lux antes, e ainda mais
estranho, Lydia ouviu o ronronar do gatinho.
Lux saiu e Gabriel trancou a porta atrás de si.
A sós com o rei, a pele de Lydia se esticou quando ela percebeu sua
nudez. Ela sentiu seus mamilos endurecerem e ela esperava que ele não
pudesse perceber, mas o lençol de seda era fino. E seus olhos estavam em
seu corpo.
Ele parecia exausto do dia também. Ele não disse nada até estar ao
lado da cama dela.
— Como você está se sentindo, Slifer? — O cansaço em sua voz passou
como ternura.
— Tudo bem, — Lydia começou tentando manter sua fachada de
pedra, mas ela estava exausta demais até para isso. — Só cansada.
— Você teve um longo dia. — Ele fez uma pausa. — Eu trouxe este
bálsamo para suas feridas. Lis o encantou com seus poderes de cura,
então isso vai te ajudar a curar rapidamente. Ele se sentou no canto da
cama. — Bem, posso?
Lydia assentiu, retirando a mão de debaixo do lençol e estendendo-a
para ele. A mão dele na dela era gentil e forte.
Ela relaxou em seu toque firme e seguro, permitindo-se ser abraçada.
O bálsamo era quente e, à medida que os dedos dele trabalhavam
lentamente em sua pele ensanguentada, ela se curava.
A sensação era tão agradável que Lydia fechou os olhos, apenas para
abri-los novamente quando sentiu um beijo em sua mão onde havia
estado o ferimento. Capturando o olhar de Gabriel por um momento,
havia malícia em seus olhos.
Ela desviou o olhar, passando a outra mão para ele. O rei esfregou o
ferimento em sua palma.
Gabriel: Esse corte é profundo. Você tem sentido muita dor, Slifer?

Lydia: Não muito. Fere mais meu orgulho.

Lydia: Eu simplesmente não consigo acreditar que aquela vadia arrogante acabou
comigo.

Gabriel: Acabou com você?

Gabriel: A batalha não terminou. Eu só interrompi porque Elise já causou problemas o


suficiente para um dia. Você estava jogando um bom fogo.

Lydia: Eu gostaria. Eu simplesmente não sou poderosa o suficiente.

Gabriel: Dê um tempo. Você acabou de fazer dezoito anos. E nós começamos agora...

Gabriel: Mostre-me outro ferimento.

Lydia fez uma pausa antes de se virar e revelar os arranhões nas costas,
cobrindo a parte inferior com o lençol.
Gabriel massageou o bálsamo em seu corpo com cuidado. Seu toque
praticamente a embriagou. Quando ele terminou, ela se virou
novamente, levantando o lençol para expor suas coxas, deixando apenas
seu sexo coberto.
Quando ela suspirou, era saudade que Lydia ouviu em sua respiração?
Enquanto ele massageava suas coxas, Lydia vagou mais uma vez. Quando
ela abriu os olhos, as feridas haviam sumido, mas os dedos de Gabriel
ainda estavam traçando onde estiveram.
— Só tenho mais um, — disse Lydia, abaixando a ponta do lençol para
que seus seios ficassem expostos e o arranhão na lateral do corpo, o pior
de todos, aparecesse.
— Oh, — disse Gabriel quase involuntariamente, e ela não sabia se ele
estava respondendo a seus seios ou a sua lesão. Seus mamilos estavam
duros e ela ardia sob seu toque, mas ela não podia dizer se ele havia
notado.
A lesão final foi aliviada pelas mãos atentas do rei.
Os olhos de Lydia estavam fechados, e ela sentiu sua hesitação antes
que os dedos do Rei se movessem de sua cintura até o lado de seu seio,
tocando-o suavemente com a ponta do dedo, circulando ao redor de seu
mamilo...
Vozes ressoaram no corredor. Rei Morrison e Rainha Adria, discutindo
na grande escadaria.
A intoxicação de Lydia se dissipou. Ela se sentou na cama, segurando
o lençol contra o corpo nu. A ansiedade que sentira antes, ao ouvir os reis
e as rainhas discutir, voltou imediatamente para ela, e ela percebeu que
aquele poderia ser o momento de contar a Gabriel sua preocupação.
— Venha comigo, — ela explodiu antes de se recuperar, — se você
quiser, Vossa Majestade.
Agora havia malícia nos olhos dela.
GABRIEL

O Rei Gabriel seguiu a Sifler através de seu palácio até a biblioteca.


Como era estranho que essa jovem se movesse com tanta confiança pelo
castelo.
Quase como se ela fosse dona do lugar.
Ele tinha que admitir que lhe agradava, assim como lhe agradava vê-la
pular da cama, nua, e vestir o robe que ele havia providenciado para ela.
A Slifer empurrou a porta de madeira maciça, esculpida com fênix,
montanhas e oceanos. A biblioteca cheirava a papel velho, do melhor
tipo, e a cera de abelha.
Velas estavam acesas em quase todas as superfícies.
Elas iluminavam as dezenas de estantes, as almofadas de veludo
vermelho e os sofás. A madeira escura esculpida pelos melhores artesãos
ao longo dos séculos.
O rei ficou impressionado com a rapidez com que ela se movia na
biblioteca, com a certeza de que estava selecionando um volume grosso,
tão pesado que seus braços esticados com o peso. Ela abriu o livro
enorme em uma página marcada com uma fita dourada.
— Eu tenho que te dizer uma coisa. Tem a ver com a última guerra
que quase destruiu o mundo, e não tenho certeza se você vai gostar... mas
ouça.
O rei estava ouvindo.
— Veja aqui, a última guerra começou com discórdia entre dois Reis.
Eles eram aliados e amigos próximos, mas o Slifer de um seduziu o outro,
e eles rapidamente se tomaram inimigos. — Lydia estava folheando as
páginas, apontando para ilustrações envelhecidas.
Ela continuou: — Os outros Reis e Rainhas do reino tomaram partido,
e com as alianças do reino fragmentadas, eles lutaram uns contra os
outros brutalmente, matando milhares e quase destruindo as belas
cidades de nossa terra. Isso durou um século.
Gabriel observou a Slifer do Fogo, sem saber para onde ela estava indo
com tudo isso.
— Então... você pode pensar que foi o Slifer quem causou a guerra.
Isso é o que muitos historiadores escreveram. Mas este livro diz algo
diferente. Diz que o rei Uzier foi o responsável pela guerra. Que ele foi
capaz de causar discórdia no reino porque sabia sobre a magia negra de
um rei. Sua... magia das sombras.
Ela fez uma pausa, olhando para Gabriel por baixo de seus cílios. Algo
dentro dele havia paralisado. Não era exatamente medo, mas algo
próximo. Algo que nem ele conseguia detectar. Aonde ela queria chegar?
Mesmo assim, ela continuou.
— Este livro diz que o Rei Uzier foi capaz de obscurecer a magia das
sombras do rei. Até que o controlasse. Obscurecer de uma forma que ele
vivesse em uma longa noite. Tão obscuro que ele nunca mais poderia ver
o sol.
Gabriel ficou tenso. A Slifer continuou. — Eu sei que Uzier está
supostamente morto... mas e se ele não estiver?
— O que você está tentando dizer, Slifer? — O rei cruzou os braços.
Ele não queria admitir seu medo. Ele não queria admitir que podia
sentir medo. Principalmente para ela.
Mas secretamente, ele estava preocupado. Ele havia sentido a sombra
vir atrás dele antes, agarrando seu coração e tomando-o negro. Ele
sentira isso em sua primeira noite com a Slifer na floresta.
Ele temia que a sombra pudesse crescer além de seu controle. Que sua
sombra cobriria seu rosto, até que ele não passasse de escuridão.
Mas ele não podia deixá-la saber disso.
Ele também não podia admitir como a história do infiel Slifer o
afetou. Apenas o pensamento foi suficiente para lançar um véu escuro
sobre o sol.
Mas por que ele se importava? Essa sensação apenas agitou Gabriel
ainda mais.
O rei estava perdido em pensamentos. Mas a Slifer olhou para ele, seu
rei, com um pequeno sorriso.
— Achei que você pudesse estar preocupado com a magia das
sombras... — ela começou. Embora o rei estivesse seguro de si, ele se
esquivou de seu olhar.
Ela continuou: — Mas o Rei nos velhos tempos se entregou às trevas.
Ele amou o poder que encontrou no escuro. Então, ele nunca lutou...
Não como você.
Agora, a Slifer estava desviando o olhar. Ela correu a fita dourada
entre os dedos.
— O quê? — disse o rei, embora não fosse mais do que um sopro.
Como essa Slifer, essa garota 9 poderia entender sua relação com sua
própria sombra?
Ela olhou para ele e, finalmente, seus olhos se encontraram. Mais uma
vez, ele ficou sem fôlego pela chama que ardia em seus olhos, que
ofuscava como um fogo eterno.
Ele poderia olhar para eles a noite toda, aquecido por suas chamas.
Ele sentiu que se tivesse essa luz, a luz dela 9 a escuridão nunca
poderia consumi-lo.
— Eu sei que você resiste à sua sombra, Vossa Majestade. — Desta vez,
não houve sarcasmo no tom. — Eu sei que você não se entregaria às
trevas. — O rei ficou surpreso com o calor que sentiu. Que ele, o homem
mais poderoso do Reino, estava comovido. Isso, é claro, era outra coisa
que ele nunca poderia admitir.
Ele olhou para seu punho, adornado com as joias mais
impressionantes de Ignolia.
— Claro, — ele disse. — Um homem de grande integridade e poder
não cede à fraqueza.
Ele pigarreou. Sua garganta real.
— Certamente, Vossa Majestade. — O sarcasmo estava de volta.
Bem. Ele tinha a sensação de que não iria embora por muito tempo.
— Então... — O rei fechou o grande livro, roçando os dedos na mão da
Slifer onde ela repousava sobre a mesa de mogno. — Acho que é lição de
história suficiente por um dia.
Ele se deslocou para trás dela para que pudesse cheirar o almíscar de
seu cabelo, sentir o calor de seu corpo enquanto ele se inclinava sobre ela
com o seu próprio.
— Eu sou uma ótima professora, não sou, Vossa Majestade?
Ele finalmente fechou a distância entre eles. Sua masculinidade,
endurecendo ao pensar em seu corpo sob o lençol fino apenas uma hora
antes, roçou o topo de seu quadril.
— Você é muito boa, Lydia... — ele exalou. Ele estava quase tão
distraído com o corpo dela que não percebeu que a tinha chamado pelo
nome verdadeiro, não por Slifer. Pela primeira vez.
Mas ela não deixaria algo assim passar despercebido.
Ela se virou para encarar seu rei.
— Então, no final das contas você sabe meu nome, hein? — Aqueles
olhos. Eles estavam queimando. O rei sabia que os dois estavam ardendo
de saudade.
Ela era tímida; ele sabia que ela não iria tocá-lo.
Mas seu corpo estava aberto para ele. Seus braços apoiados contra a
mesa, seus seios implorando para que ele os tocasse. O robe de seda que
ele havia providenciado para ela estava começando a cair...
Capítulo 21
FOGO NA BIBLIOTECA GABRIEL
O rei não se conteve. Sua ereção pulsava contra o tecido fino de suas
calças enquanto ele pressionava o quadril da Slifer. Quando ela mordeu o
lábio, ele alcançou seu seio dentro de seu robe de seda.
Ele suspirou.
A forma como o seio dela preenchia sua mão o fez quase perder o
controle... sua pele macia, seu mamilo, atado sob seu toque. Ele o
segurou entre os dedos e a ouviu respirar fundo.
— Aqui? — Seus olhos estavam em chamas. Com saudade e incerteza.
Eles estavam na biblioteca! Alguém poderia entrar a qualquer momento e
encontrá-los.
Mas ele era o rei. E este era o seu palácio. Ele poderia fazer o que
quisesse. E agora, o que ele queria era foder Lydia aqui mesmo, agora.
Nesta mesa de mogno.
— Aqui, — disse ele, fechando a distância entre eles, beijando-a com
força, enquanto os seios dela subiam para ele sob sua mão.
— Mas e quanto...? — ela começou, mas foi interrompida. Por seu
próprio gemido, quando o Rei se moveu para baixo em seu corpo,
levando seu mamilo em sua boca. Tirando o robe para trás, para que seus
seios fartos ficassem expostos.
— Ninguém vai nos encontrar. Contanto que você fique quieta. — Ele
colocou seu mamilo sob sua língua. Ele o mordiscou. Ele adorava ouvi-la
gritar, mesmo quando ela mordia a mão para se conter. — Se é que você
consegue fazer isso.
O rei olhou para ela com olhos tortuosos. A outra mão dela estava
presa em seu cabelo escuro, agarrando-o para manter sua boca bem... ali.
Ele daria a ela o que ela queria, mas primeiro, ele precisava de um
alívio. O alívio de libertar seu pau duro da calça apertada. O alívio de
esfregá-lo na pele macia de Lydia. Contra a pele macia de sua coxa, seu
estômago, seu seio. Seu sexo.
Ele não pôde deixar de gemer com o pensamento.
— Shhh... — Lydia colocou o dedo nos lábios dele enquanto ele se
levantava. Ela traçou a sua profunda plenitude cor-de-rosa, depois
retirou-o e colocou o seu dedo na sua própria boca. Ela chupou-o, com
uma pequena provocação, enquanto rosnava: — Vossa Majestade.
Isso era tudo que o rei podia aguentar. Ele ergueu seu corpo
facilmente até que suas nádegas estivessem sobre a mesa e desamarrou
aquele robe incômodo. Finalmente, seu corpo foi revelado a ele.
Suas mãos estavam em sua cintura enquanto ele olhava para os pelos
crescendo entre suas pernas. Ele queria sentir sua maciez escorregadia
com a mão, cheirá-la, saboreá-la.
Ele estendeu a mão para o botão da calça. Desabotoando-o, ele a
empurrou para baixo. Seu pau duro saltou quando foi liberado. Ele o
segurou na mão e o encostou na parte interna da coxa de Lydia.
Seu corpo se moveu em direção a ele, ardendo por ele. Ele daria a ela o
que ela queria, mas ainda não.
Ele a beijou, envolvendo a mão em sua garganta. Seu membro roçou
entre suas pernas e ele podia sentir sua umidade. Os dois estremeceram,
com cuidado para não gritar.
Ele a empurrou de volta até que ela estava deitada na mesa, beijando
seu corpo. Ficando de joelhos, seu sexo estava bem na frente dele.
Ele segurou suas coxas abertas e olhou para ela. Ele piscou. — Morda a
mão, — disse ele.
Lentamente, ele lambeu seus lábios externos, respirando-a, sentindo
seus quadris se contorcerem para ele. Ele brincou com as bordas dela até
que ele precisava prová-la.
Ele lambeu seu centro, de baixo para cima, e nem mesmo sua mão
conseguiu silenciar seus gritos de prazer. As velas na sala brilhavam mais
forte, ameaçando incendiar o local.
Chega de brincadeiras. O rei subiu na mesa em cima dela. Ele se
ajoelhou entre suas pernas e lentamente, um centímetro de cada vez,
acomodou sua masculinidade dentro dela.
Ele estremeceu. Estar com ela sempre era ainda melhor do que ele se
lembrava.
Ele se apoiou nas mãos, trabalhando nela. A respiração de ambos
estava quente e pesada.
O rei gemeu, abaixando o peito em cima dela, aninhando o rosto em
seu pescoço. Ele mordeu a orelha dela, esperando que ajudasse a mantê-
lo quieto.
Ele continuou empurrando dentro dela enquanto ela agarrava suas
costas, segurando-o com mais força. Ele podia sentir que ela começava a
se apertar em tomo dele. A maneira como ela gemia em seu ouvido o
deixou saber que ela estava perto também. Que os dois estavam prestes a
gozar.
Assim que seus músculos se contraíram ao redor de seu membro, seu
gemido ficou mais alto.
Ele colocou a mão sobre a boca dela e ela mordeu.
A dor disparou através dele quando o prazer da parte inferior de seu
corpo atingiu o auge. Ele não se conteve. Ele atingiu o clímax, logo
depois dela. Ele lançou sua semente em suas profundidades pulsantes.
LYDIA

Lydia amarrou o robe de seda em volta dela mais uma vez. Depois de
gozar, ela mal podia acreditar que tinha se arriscado tanto.
Até mesmo deixar seu quarto com roupas tão sensuais tinha sido
perigoso. E ela mordeu a mão dele com força. Mas estar com o rei em seu
quarto a colocou em transe. Só agora, na beira do orgasmo, o encanto se
quebrou.
Suas bochechas queimaram quando ela percebeu que ele tinha gozado
dentro dela.
O braço do rei roçou sua cintura enquanto ele pegava sua camisa.
Seus pensamentos imediatamente enviados a ele: Lydia: Oh Deus. Não posso
arriscar engravidar agora...
Gabriel: Eu tomei minha dose de infertilidade do dia, então não se preocupe.

Lydia: Você poderia ter me contado antes.

Gabriel: Oh. Desculpe. Na próxima...

Mas Lydia se afastou dele, quebrando o contato. A magia que


dominou os amantes momentos antes se foi.
— Eu deveria voltar para meu quarto. Foi idiotice sair do meu quarto
com nada mais do que um robe. — Lydia agarrou o tecido leve ao seu
redor.
— Bem, é meu castelo, e eu aprovei. Então, não importa. — O rei
sorriu para ela por baixo de seus cílios negros e grossos, quase tímido.
Lydia se levantou, colocando os pés no chão. Suas palavras a fizeram
se sentir um pouco melhor, mas ela estava ansiosa para ficar na
privacidade de seu quarto. Espiando atrás dela, Lydia avistou o volume
encadernado em couro ainda sobre a mesa.
Oh, é verdade. Isso era o que eles pretendiam fazer. Antes de se
empolgarem.
— Então, você vai pensar sobre o que eu disse a você... sobre Uzier,
como ele controlou a última guerra?
O rei passou os dedos pelos cabelos. — Oh. sim. Vou me lembrar do
terrível rei. Mas Uzier não é visto há 300 anos. Certamente ele está
morto. É bobagem preocupar-se com a possibilidade de ele voltar.
Lydia não disse nada. Ela o encarou por um momento, nunca
afrouxando o aperto em seu robe. Seus olhos estavam vazios da afeição
que os coloria poucos minutos antes.
Agora, a chama queimava branca, como um sinal de fogo no deserto
solitário e escuro.
— Boa noite, então, Vossa Majestade, — ela disse, em um tom
monótono. Sem lhe dar tempo de responder, Lydia saiu da biblioteca
silenciosa como uma sombra.
No corredor rochoso à luz de velas, Lydia caminhou lentamente de
volta para seu quarto. Ela sentiu a raiva crescer dentro dela.
Como ousava o rei rejeitar seu aviso com tanta indiferença? Como ele
ousou descartar a conversa que no momento parecera tão significativa?
Ela fez uma pausa quando a umidade foi liberada entre suas pernas.
Gotejando por sua coxa.
Confusa, ela tocou a substância e segurou-a contra a luz.
Oh, certo. Seu esperma. Então, ela não era nada mais para ele do que
um trapo. Uma maneira de sentir prazer.
Estreitando os olhos, ela apontou o dedo molhado para a vela. Ela
concentrou sua raiva no próprio fogo vermelho e quente. Chamas
saltaram de seus dedos, acendendo todas as velas no corredor em espirais
ondulantes de chamas irregulares. O corredor estava se enchendo de
fumaça enquanto ela estendia a mão, continuando seu caminho.
Então, o rei não deu ouvidos ao seu aviso. Ele não a respeitava o
suficiente para ouvir.
Sem problemas.
Ela era uma Slifer e tinha o poder de proteger o Reino também. Ela
poderia usá-lo, assim como ele a estava usando.
Como uma forma de se tornar mais forte, para alimentar a chama
dentro de si.
Com nova determinação, Lydia cerrou o punho, apagando todas as
velas do corredor. Ela caminhou o resto do caminho para o quarto na
escuridão total.
GABRIEL

Mulheres.
O Rei Gabriel ficou mais uma vez confuso, logo quando ele estava
começando a entender a Slifer do Fogo.
Ele suspirou, sem saber o que havia feito de errado.
Certamente, quando o encontro acabou, ele sentiu a mudança de
humor também. Mas ele não entendia por que Lydia tinha saído furiosa
daquele jeito.
Ele permaneceu na biblioteca por mais alguns momentos, olhando
para o enorme livro. É claro que o aviso de Lydia chamou sua atenção,
mas o que ela queria que ele fizesse? O rei Uzier ficou preso praticamente
durante toda a vida de Gabriel. Ele estava quase certamente morto.
Ele suspirou mais uma vez. A essa altura, já era tarde da noite e
Gabriel decidiu que não havia mais nada a fazer hoje. Melhor ir para a
cama.
O corredor estava escuro. O rei Gabriel achou estranho por um
momento, mas ele conhecia o castelo como a palma de sua mão.
Além disso, ele sempre se sentira confortável no escuro. Não foi
problema para ele encontrar a curva que levava à escada de seu aposento
principal.
Finalmente, ele fechou a porta pesada atrás de si. Que dia longo.
O rei Gabriel estava prestes a tirar a roupa para tomar banho quando
uma voz profunda chamou seu nome. Surpreso, ele se virou para ver o
Rei Calix sentado rigidamente em sua espreguiçadeira dourada.
O rei Calix sempre foi elegante e fino. Agora não seria diferente.
Suaves peças de ouro cintilavam em sua pele escura, e ele descansava um
braço coberto de seda em um cajado de marfim.
— Não é minha intenção assustá-lo em seus aposentos privados. Mas
há um assunto que eu não poderia esperar até amanhã para discutir. — A
boca do rei Calix estava cerrada em uma linha fina.
— Olá, Calix. Bem-vindo. Gostaria de um pouco de rum élfico? Eu
mesmo tomarei um copo, depois do dia que tive...
— Isso não seria adequado para a gravidade da situação, Vossa
Majestade.
Gabriel parou no meio do movimento, olhando para o Rei sempre
sério de sua barra folheada a ouro que ostentava mais de cem garrafas de
cristal.
— E qual é exatamente a situação?
O rei Calix se levantou. Sua altura por si só exalava poder. — Minha
Elise está sendo mantida em sua masmorra, Gabriel. Ela está sofrendo e
com frio depois de ser amarrada por sua própria sombra à parede úmida.
E eu sei que foi devido à sua Magia das Sombras.
— Oh, Calix. — Gabriel tomou um gole. — Eu sinto muito por tê-la
aprisionado. Mas você tem que entender, ela chegou e arruinou o jardim
da minha irmã. E então feriu minha hóspede, sua colega Slifer. Achei que
você teria feito o mesmo com ela.
— Como ousa assumir minhas ações?
— Não foi isso que eu quis dizer... Não tive a intenção de te ofender.
— É tarde demais para um pedido de desculpas, — King Calix
disparou, — se é isso que esse desrespeito bêbado significa para você.
— Woah, woah, woah! — Gabriel começou. Isso estava ficando fora de
controle. Agora, Calix estava sendo rude com ele. Em seu próprio palácio.
Em seus próprios aposentos! Tentáculos sombrios começaram a circundar
os pés de Gabriel.
— Já chega, Gabriel. — Calix cravou o bastão no chão. O quarto
inteiro estremeceu. — Chega de bobagens! Eu tenho certeza de que você
não deseja despertar minha ira!!!
Capítulo 22
BRISA FRIA E VENTO UIVANTE
GABRIEL

— Espere, espere! — Gabriel gritou, deixando cair seu copo de cristal


em toda a comoção, ouvindo-o quebrar em um milhão de pedaços.
O rei Calix parou, embora estivesse prestes a bater novamente com o
cajado no chão. Seus olhos, que estavam fechados em concentração,
agora estavam abertos.
Eles estavam olhando para Gabriel em confusão.
O Rei Gabriel estava perdido em pensamentos. Sua conversa com
Lydia voltou à sua mente de repente.
E se essa fosse a confusão e o conflito que colocaria reis e rainhas uns
contra os outros? Isso pode levar à guerra? Aqui, assim como na história
de Lydia, um Slifer causou problemas entre os Reis.
Mas e se houvesse outra força no controle?
— Espere... — Gabriel continuou tentando organizar seus
pensamentos que estavam tão dispersos quanto os pedaços de seu copo
de cristal. — Vamos voltar um segundo. Rapazes nobres como nós não
deveriam partir tão rapidamente para a violência.
Isso atingiu o rei Calix. O rei de Trinivan gostava de ser chamado de
nobre. Vendo que suas palavras estavam funcionando, Gabriel
continuou.
— Vossa Majestade, peço desculpas sinceramente por prender sua
Slifer. Foi cruel e desrespeitoso. Prometo oferecer a Elise e a você os
maiores luxos que Imarnia pode proporcionar pelo resto de sua estadia
em meu castelo.
O rei Calix pousou seu cajado. Ele limpou uma partícula invisível de
sujeira de sua manga. — Desculpas aceitas, senhor.
— Maravilhoso! — Gabriel comemorou. — Sente-se comigo e vamos
conversar como homens.
Gabriel cruzou seu quarto em duas passadas.
Ele abriu a porta do quarto e estalou. Um servo materializou-se
instantaneamente, e o rei disse-lhe para alertar os guardas que Elise seria
libertada imediatamente.
Gabriel se juntou ao rei Calix na sala de estar. Ele se sentou no sofá de
veludo vermelho oposto. O rei Gabriel amava veludo vermelho.
— Então, Calix, Rei de Trinivan, diga-me... Você tem alguma ideia de
pôr que Elise agiu assim hoje?
O rei Calix cruzou as pernas. — De fato, meu companheiro
governante, eu tenho. Talvez seja por isso que reagi tão fortemente à
prisão dela em seu castelo. E porque eu sei que ela já sofreu muito.
— Lamento ouvir isso, — respondeu Gabriel com a testa franzida. —
O que a está incomodando?
— Caro amigo, temo que a melhor pergunta seja, quem. Infelizmente,
Trinivan tem sido invadida por multidões de Caçadores de Feiticeiros em
nossa fronteira mais ao sul.
Gabriel quase cuspiu seu rum. Caçadores não eram capazes de cruzar
aquela floresta desde que ela foi encantada pelo Slifer da Terra séculos
atrás.
Calix continuou: — É claro que nossos guerreiros mais competentes,
eu inclusive, estamos defendendo nossa terra e seu excelente povo. Devo
dizer que... — Calix se inclinou e baixou a voz.
— Eu nunca vi tanta força em um Caçador antes. Quase não me
lembro de um momento em que nossa terra foi tão difícil de defender.
Os Caçadores têm matado com sucesso alguns dos feiticeiros honrados
de Trinivan, deixando-os loucos. Roubando suas capacidades mágicas.
Gabriel exalou, com sua mente a mil.
— Eles quase pegaram Elise, — lembrou o Rei Calix, com um olhar
distante. — Estávamos lutando juntos há apenas uma semana, e a
floresta estava tão escura que estávamos separados. Eu estava lutando
contra uma dúzia de caçadores quando a ouvi gritar.
Gabriel estava na ponta de seu assento de veludo vermelho.
— Eu interrompi minha batalha e rasguei a floresta para encontrá-la.
Quando finalmente a encontrei, ela estava amarrada com uma corda fina
e translúcida. Quase como a teia de uma aranha. Ela estava apavorada.
— Um homem estava de pé sobre ela, estendendo as mãos como se
pudesse extrair sua essência. Consegui detê-lo, feri-lo e salvar Elise. Mas
mesmo ferido, o Caçador era furtivo e forte, e ele escapou antes que eu
pudesse destruí-lo.
Calix continuou: — Elise saiu ilesa, mas ficou traumatizada. Durante
dias, ela não conseguiu dormir, e ela se assustava ao menor barulho. Mas
então, algo mudou. Ela decidiu praticar até que seus poderes fossem tão
fortes que ninguém pudesse tocá-la.
— Desde então, ela tem estado tão... confiante. Arrogante, na verdade.
Consumida por suas próprias capacidades.
— Eu entendo, — disse Gabriel. — Você se lembra de como era o
Caçador?
— De fato. Tenho medo de nunca me esquecer. Ele tem uma cicatriz
profunda sobre o olho direito, onde seu olho estaria...
Uma cicatriz no olho direito...
Gabriel foi transportado de volta à temível luta no beco com a Slifer
do Fogo.
— Rei Calix, devo lhe contar algumas notícias perturbadoras. Eu
também vi e lutei com o mesmo Caçador de Feiticeiros. Ele estava atrás
de Lydia.
Os homens ficaram sentados em silêncio, olhando-se nos olhos.
— O que esta notícia significa para você, Vossa Majestade, Rei Gabriel?
— por fim perguntou o Rei Calix, entrelaçando os dedos que brilhavam
com faixas de ouro.
— Meu honorável companheiro, — Gabriel exalou, — Eu não posso
dizer nada com certeza. Mas parece que os Caçadores estão atrás dos
Slifers. E depois de todos os feiticeiros.
Gabriel fez uma pausa, refletindo sobre sua conversa com Lydia na
biblioteca. — Eu me preocupo que eles possam estar tentando construir
um exército. Eu me preocupo que eles possam se tomar uma ameaça
para a Ignolia que conhecemos.
LYDIA

Lydia acordou na manhã seguinte com o sol e o canto dos pássaros em


seu quarto. Lux sentou-se no parapeito da janela aberta, tentando dar
patadas em uma borboleta.
— Bom dia, gatinho — Lydia chamou. Ela se sentiu rejuvenescida de
seu longo descanso, e o dia lindo melhorou significativamente seu
humor.
— Para você é Lux, senhorita — ronronou o gatinho, pulando na cama
de Lydia e acariciando seu queixo.
— Bom dia, Luxie.
— Eu diria o mesmo, mas não é mais de manhã. Você dormiu por
tanto tempo. Eu estava prestes a acordar você.
— Eu precisava descansar. Ontem foi uma loucura. — Ela coçou a
cabeça negra e peluda de Lux enquanto ele ronronava. — E estou me
sentindo muito melhor hoje.
— Bem, estou feliz em ouvir isso. Podemos conversar mais durante o
café? Estou atrasado para minha tigela de leite da manhã.
Lydia se vestiu rapidamente com um longo vestido amarelo que Lis
comprou para ela. Ela desceu a escada em espiral para o grande saguão,
onde o chão era feito de mármore branco tão liso que Lydia quase podia
patinar nele.
Ela enfiou a cabeça na cozinha e foi saudada por um dos muitos servos
do castelo. — Bom dia, senhorita. Posso trazer seu café da manhã no
gramado da frente?
— Uau, sim, com certeza! E uma tigela de leite para Lux também, por
favor.
— Claro. — O servo sorriu.
A caminho do gramado, Lydia refletiu sobre sua vida no castelo. Com
que rapidez ela se adaptou ao luxo da vida real. Ela se perguntou o que
seu avô pensaria dela agora, se ele pudesse vê-la.
Sua pele era macia e não havia sujeira sob as unhas. Morar em Vera
parecia que tinha sido em outra vida.
O sol no gramado da frente estava forte e quente. Uma leve brisa
levantou sua saia longa e soprou em seu cabelo flamejante. Era
maravilhoso como a brisa esfriava sua pele.
Lydia se virou para caminhar em direção à mesa, mas parou no meio
do caminho.
Sentada à mesa estava Elise, a Slifer maluca que a derrubou ontem. O
que ela já estava fazendo fora da masmorra?
Lux, que estava atrás de Lydia, pulou em seu ombro.
Lux: Eu sei que você ainda está brava, mas acho que você deveria ir falar com ela.

Lydia: E por que eu faria isso?

Lux: Bem, ela está sentada onde eu gostaria de tomar meu café da manhã.

Lux: E eu acho que você pode descobrir que tem algo em comum com ela. Vocês duas
são Slifers. Ela pode ser poderosa, mas ontem você a socou na cara.

Lydia: Ugh.

Lydia:... Você está certo.

Mas Lydia não ia deixar a Slifer se safar totalmente com isso.


Ela se esgueirou por trás dela.
— Bom dia, Slifer! — ela gritou. Ao observar Elise pular da cadeira, ela
reprimiu uma risada.
Vendo quem era, Elise estreitou os olhos, — Não é mais de manhã,
Faísca.
— Foi o que meu amigo Lux também disse, — Lydia disse, sentando-
se à mesa redonda e apontando para o gato em seu ombro. Lux miou
como uma saudação.
A Slifer loira era linda, mas a briga de ontem a deixou com um olho
roxo e um nariz torto. Lydia tinha que admitir, ela parecia exausta.
Elise não disse nada por um momento, voltando seu olhar para as
colinas que o castelo contemplava. — Que belo lugar você tem aqui,
Slifer. O castelo é bom. Seu rei também não é tão ruim. E ouvi ótimas
críticas sobre a masmorra.
— A masmorra? Eu não saberia.
Os criados chegaram com ovos de pato, pão e frutas vermelhas para
Lydia, e um copo de leite e uma tigela para Lux.
— Olá, Calix. Receber. Posso te oferecer um pouco de rum élfico? Eu
mesmo tomarei um copo, depois do dia que bebi...
Slurp! Lux e Lydia beberam seu leite.
E então, Lydia continuou. — Bem, suponho que seu rei tenha
chegado. Porque você está aqui. sabe.
— Sim, estou apenas aproveitando o dia. Estou criando uma brisa. —
Ela se virou para Lydia. — A brisa deixa o seu cabelo lindo, não é?
Lydia pigarreou, recusando-se a deixar que sua colega soubesse que
gostava de sua brisa.
Elise continuou enquanto Lydia devorava seu café da manhã. — Não
se preocupe, Faísca. Não vou roubar sua comida. Exceto por esta amora...
— Ela pegou uma amora e a engoliu logo em seguida.
Lux e Lydia olharam para ela. — Então, nossos Reis ficaram
discutindo assuntos urgentes até tarde da noite e durante toda a manhã.
— Eu não saberia. Eu não fico de olho no meu Rei. Eu estou bem
sozinha.
Elise zombou. — Sim, acho que é por isso que ele teve que vir te salvar
ontem.
— Estava mais para salvar você. E um belo olho roxo.
Elise não disse nada, mas tocou seu olho instintivamente. Isso fez
Lydia sentir uma pontada de culpa.
— Lis tem um bálsamo curativo no castelo. Vou pegar para você
depois do café da manhã, — Lydia continuou.
— Obrigada, — disse Elise. As Slifers sorriram uma para a outra. Elas
podem não ser amigas, mas não precisam ser inimigas.
— Então... — a Slifer do Ar continuou, com um brilho de malícia em
seus olhos. Talvez essa garota fosse problema. — Há algo que eu queria te
dizer Tem a ver com o seu doce Rei Gabriel.
Ela continuou: — É um segredo antigo, passado de minha querida
tutora para mim, nas histórias fantásticas que ela me contava antes de eu
dormir... Quer saber?
Capítulo 23
O EXERCÍCIO DE FOGO
LYDIA

Whoo-WHOOOSH!
Uma bola de fogo explodiu no ar. Um dente-de-leão branco preso em
seu caminho fumegou conforme as chamas morreram.
WHOOSH!
Outra bola de fogo, desta vez mais longe, quase até a cerca dos fundos
do quintal de Aramis atrás de sua loja.
WHO O-WHO O-WHOOSH!
A única coisa boa sobre a maneira como Lydia estava se sentindo era
que seus fogos eram grandes, ela pensou consigo mesma. Eles estavam
quentes, bagunçados, quase fora de controle. Como sua raiva.
Ela podia sentir Aramis olhando para ela de sua porta. Ela não
precisava se virar para saber exatamente o sorriso que ele estava
exibindo. Um sorrisinho astuto que perguntava: — Então o que
exatamente aconteceu hoje senhorita?
Ela tentou esquecer que ele estava ali. Isso provou ser fácil. Na
verdade, era fácil esquecer tudo que não fosse o que a estava
atormentando.
Ela guardou uma imagem do rosto de Elise em sua cabeça, aquele
sorriso malicioso antes de contar a Lydia o — velho segredo — que ela
poderia querer saber.
É claro que ela queria saber!
FOOM!
Outra bola de fogo, esta pequena como uma pedra de arremesso, mas
mais quente, mais rápida e indo mais longe do que suas outras bolas de
fogo. Ela navegou através dos galhos do velho carvalho encantado de
Aramis.
— Cuidado com as minhas casas de pássaros! — ele implorou.
Lydia parou por um momento. Ela estava lançando fogo como um
impulso, como uma reação à raiva em seu coração, mas talvez ajudasse
ser estratégica.
Ela imaginou a cabeça de Gabriel no telhado de Aramis, escondida
entre os fios do para-raios um tanto estranho e elaborado de Aramis.
Acertar Gabriel e não explodir o para-raios da casa—bem, não
explodir o telhado da casa— exigiria precisão.
Ela dobrou os joelhos e colocou os punhos na frente do rosto como
uma lutadora. Fechando os olhos, ela imaginou Gabriel, o Rei, ao lado de
um Sacerdote da Magia no dia de seu casamento, observando com olhos
amorosos sua noiva começar a caminhar pelo corredor.
Uma expressão que ele nunca mostrou a ela! Com um amor que ele
nunca poderia-sentir por ela!
Lydia lançou outra bola de fogo compacta, voando até o telhado e...
bem entre as estruturas de metal do para-raios.
— ISSO! — ela comemorou.
Lux estava sentado em cima da cerca do quintal. — Muito bem, Lydia!
Talvez você queira fazer uma pausa depois de todo o seu trabalho árduo.
S-só por um momento? — Seu sorriso falso mostrou que ele estava
nervoso, Lydia poderia queimar a loja de Aramis se ela continuasse.
Tudo bem. Lydia poderia fazer uma pequena pausa. Ela cruzou o
gramado rapidamente e desabou na grama fria à sombra do carvalho.
Ela fechou os olhos e suspirou. Por que a história de Elise a afetou
tanto? Não era como se ela se importasse, em teoria, que Gabriel tivesse
estado com outras mulheres. Ela sabia que ele tinha — ele tinha três
séculos de idade, afinal!
Mas havia algo sobre essa notícia... que Gabriel tinha sido casado.
Por alguma razão, foi o suficiente para fazer Lydia explodir em
chamas. Com raiva, sim é mágoa. E confusão. Por que ela se importava 1
Importar-se não implicava que ela tinha sentimentos pelo rei?
Ou até mesmo que ela o amasse? Não. Ela não o amava.
Ela já sabia que ele já havia se apaixonado antes. Mas essa novidade
era diferente. Foi porque ele tinha sido casado 1
Ou seus próprios sentimentos mudaram desde que Lis contou a ela
sobre o passado de Gabriel no jardim?
Ela tentou ordenar suas emoções. O sexo era bom. E ela gostava do
fato de que ele tomava seus poderes mais fortes.
E às vezes, ela gostava de falar com ele, ou apenas olhar para ele
quando ele sorria. E ela gostava do momento depois que eles faziam sexo,
quando eles desabavam um sobre o outro e ainda estavam se tocando,
ainda se beijando...
Ela se levantou e decidiu praticar mais seus poderes de fogo. Essa era
uma boa maneira de canalizar suas emoções, certo?
Aramis subiu na grama com suas perninhas.
— Lydia, querida, tenho um exercício para você. Você gostaria de
tentar?
— Claro, Aramis. Vá em frente. — Lydia estava irritada. Cada segundo
passado sem fazer fogo, ela se sentia mal-humorada e desconfortável.
— Então... — Ele nervosamente ajustou seus óculos de arame grosso.
— Vamos praticar uma parede de fogo. Isso servirá como um limite para
conter ou proteger quem você deseja. Que tal você criar uma parede de
fogo ao redor do gramado? — Ele correu de volta para a segurança da
porta, falando: — Apenas, por favor, não queime minha cerca de
madeira!
Lydia aceitou o desafio. Fechando os olhos, ela imaginou uma parede
forte e quente de chamas circundando todo o gramado.
A parede impediria a entrada de qualquer coisa e qualquer pessoa que
pudesse machucá-la. A parede a protegeria. Com a parede ao seu redor,
ela poderia permanecer forte, independente, intocada...
Erguendo os braços lentamente, uma serpente de fogo começou a
queimar perto da cerca dos fundos. Como se ela tivesse derramado um
rastro de gasolina, as chamas seguiram ao redor do gramado.
Elas se moviam lenta, mas firmemente, crescendo até que quase três
lados do gramado estivessem cobertos.
As chamas rastejantes pararam. Lydia cuspiu, cerrando os punhos e
franzindo a testa em concentração até que o suor começou a jorrar.
Até que seus músculos se contraíram com o esforço, e a linha de fogo
não cresceu, mas desvaneceu-se em uma nuvem de fumaça.
— ARRRRGHHHHHHHHHH! — Lydia gritou, caindo de joelhos no
centro do gramado e pendurando a cabeça entre as mãos.
Ela sentiu uma pequena língua áspera lambendo seu ombro. As patas
de Lux tocavam em seu braço enquanto seu companheiro felino subia
nas patas traseiras para ver como ela estava.
— Oh, Lux... — ela suspirou. Lydia estava exausta. E totalmente
frustrada. E nem mesmo era mais sobre o rei, mas sobre seus poderes.
Sua parede estava tão fraca que uma criança poderia pular por cima.
Ela tinha visto seus companheiros Slifers criarem cachoeiras,
tornados, jardins inteiros. Eles poderiam fazer qualquer homem adulto
na terra correr para se proteger. Eles poderiam se proteger. E Lydia não
podia.
Aramis entrou. Ela o ouviu chamar da cozinha: — Entre para tomar
uma boa xícara de chá gelado quando estiver pronta, certo, querida?
Oh não. Mais chá de abóbora horrível. Mas Lydia estava cansada e
com sede. Qualquer coisa seria melhor do que nada. Levantando-se do
chão, Lydia seguiu Aramis em sua pequena loja com Lux atrás dela.
Ela se sentou em seu sofá irregular, mas confortável. Estava
remendado com pedaços de diferentes tecidos brilhantes.
Lux se enrolou como uma bola ao lado dela e Aramis se sentou em sua
cadeira de couro, que era tão alta que seus pés não alcançavam o chão.
Ele colocou xícaras de chá gelado suados na mesa surrada.
— Lydia, filha da chama, deixe-me dizer primeiro, estou orgulhoso de
você por seu trabalho hoje. Suas chamas eram fortes e surpreendentes.
— Eu acho que elas surpreenderam até você às vezes, — o velho anão
riu.
— Eu quero falar com você sobre a natureza do fogo. Você sabe que a
água flui, e o vento uiva, a terra produz vida. Talvez mais do que ninguém, o
fogo queima...
Lydia olhou para ele. Às vezes, parecia que ele só falava em enigmas.
— Hum, bem, sim. — Aramis não se incomodou. Ele continuou, — Por
sua própria natureza elementar, o fogo é reativo. O fogo é caótico,
apaixonado, imprevisível.
Difícil de controlar.
Aramis olhou para Lydia por cima dos óculos, com as sobrancelhas
erguidas, como se esperasse que Lydia entendesse.
— Olha, Aramis. Eu entendo que o fogo é especial, que tenho sorte de
tê-lo como meu poder, blá, blá, blá. Mas Ayana, Redmond e Elise têm
tanto controle sobre seus elementos, enquanto eu ainda sinto que não
consigo controlar meu fogo. Às vezes, acho que ele me controla.
— Minha filha, — ele continuou. — Isso é natural. Pois o fogo está
inextricavelmente ligado às emoções da Slifer do Fogo. E as emoções são
impossíveis de controlar.
O anão piscou e Lydia tentou não revirar os olhos. — Mas a chave
para a Slifer do Fogo não é controlar as emoções. E abraçá-las. Você
notou que quando sente raiva, ou medo, ou amor, seu fogo é mais forte,
não é?
Lydia assentiu.
O sábio anão fez uma pausa para sorver seu chá de abóbora. — Isso e
sexo.
Lydia quase engasgou. — Com licença?
— De fato, a ligação entre um Rei e uma Slifer sempre fortalece
ambos. Mas para nenhum par isso é mais verdadeiro do que a Slifer do
Fogo e seu parceiro destinado. O fogo é paixão.
— Quanto mais apaixonado o relacionamento. mais poderosos se
tomam a Slifer do Fogo e o Rei. Se houver amor verdadeiro entre os
dois... a Slifer do Fogo e seu parceiro real são capazes de chocar o mundo
inteiro com sua força.
Lydia o encarou, absorvendo tudo isso. Amor verdadeiro? Não era algo
de contos de fadas? Ela sabia que ela e Gabriel não tinham isso, mas o
sexo deles era apaixonado... certo?
— Sinto muito, minha querida. Eu fui longe demais. Você está muito
pálida. Por enquanto, eu aconselho você a se concentrar em sexo. Faça
mais sexo e explore sua paixão. Nunca tenha medo do que você sente,
filha da chama.
Ele sorriu calorosamente para ela. irradiando boa vontade.
— Obrigada, Aramis, — Lydia disse, falando sério. — Você me deu
muito em que pensar.
Lydia e Lux pediram licença para sair da loja.
— Vamos correr, Luxy! — Lydia disse. Ela sentiu uma explosão de
energia. Ela não estava com humor para conversar. Ela estava com
vontade de seguir o conselho de Aramis—encontrar o rei e explorar sua
paixão.
GABRIEL

O rei sentou-se em seu trono. A coroa pesava tanto em sua cabeça que
ele se apoiou no punho enquanto olhava pela janela aberta. O jardim
soprava delicadamente com a brisa. Era um dia de outono perfeito.
Cercado por seus conselheiros reais, Gabriel se sentia exausto. Eles
estavam discutindo a possibilidade do rei Uzier ainda estar ativo, e ainda
tentando criar problemas.
Seus conselheiros não acreditavam que isso fosse possível, mas não
tinham nenhuma outra sugestão de por que os Caçadores de Feiticeiros
estavam assolando todos os reinos de Ignolia.
Aero estava andando de um lado para o outro. Distraído por um
momento, Aero perguntou: — Gabriel, você machucou sua mão?
— Oh. Erm... Eu deixei cair um livro sobre ela na biblioteca na outra
noite.
Aero ergueu uma sobrancelha. Os conselheiros estavam envolvidos
em pequenas divergências.
De repente, a porta da sala do trono se abriu. Todos ficaram em
silêncio.
Era Lydia, sem fôlego e coberta com um brilho de suor do dia quente.
Seu cabelo estava rebelde. Sua expressão mostrava que ela não esperava
encontrar uma reunião real ocorrendo, mas também, ela não se
importava. O fogo latente em seus olhos dizia que ela precisava ver o Rei,
agora.
Ao vê-la, o rei sentiu uma onda de energia.
— Todo mundo. Para fora. AGORA!
Os velhos trocaram olhares de cumplicidade, mas partiram
rapidamente, a fim de permitir que o rei e sua feroz hóspede
conversassem em particular. Lydia exigiu uma reunião de emergência. E
palavras não seriam necessárias.
Capítulo 24
O TRONO DO REI LYDIA
Lydia sentiu um frio na barriga no momento em que ficou sozinha
com o rei. Ele estava sentado em seu trono e seus olhos não haviam
deixado seu corpo desde que ela entrou na sala.
Ele sorriu um sorriso diabólico. A tristeza e a raiva que Lydia sentiu no
início do dia pareciam uma memória distante. Agora, ela só sentia
luxúria.
— Venha aqui, Lydia, — chamou o rei. Ainda era um comando, mas
pelo menos ele usou o nome dela desta vez.
Ela obedeceu, mas se moveu lentamente. Ela caminhou sensualmente
pela sala, sem pressa. Fazendo ele esperar. De seu assento no trono, ele
abriu as pernas.
Lydia se aproximou do trono. O rei ficava devastadoramente bonito
em sua coroa. Era de ouro, que brilhava em seus olhos, e os rubis
vermelhos colocados na frente cintilavam com seu poder.
— Como posso ajudá-la hoje, Slifer do Fogo? — perguntou ele, com a
mão apoiada no cajado. Ainda havia malícia brilhando em seus olhos.
— Estou aqui para solicitar uma reunião com Vossa Majestade, —
Lydia entrou na brincadeira, olhando para o rei. Ele parecia exuberante
em seu enorme assento dourado.
— Você tem toda a minha atenção, — disse ele, — mas talvez nossa
reunião seja mais produtiva se tirarmos nossas roupas primeiro.
Tomada por uma confiança desconhecida, Lydia começou a
desabotoar a parte de cima do vestido amarelo. Desfazendo a fita em sua
cintura, ela deixou cair o vestido inteiro no chão de madeira escura. Ela
não estava vestindo nada por baixo.
O rei lambeu os lábios e pousou a mão no colo. Ela podia ver o
contorno de sua ereção e, quando ele a alcançou, sua respiração ficou
presa na garganta.
— Sua vez, senhor — sussurrou Lydia, enquanto subia o degrau que
elevava o trono dele. Ele tirou a túnica de linho e desabotoou as calças.
Puxando-as para baixo, mas nunca deixando seu trono, ele tirou o pênis
das calças e acariciou-o lentamente. Lydia não conseguia desviar o olhar.
Com a mão livre, o rei estendeu a mão para ela, e eles finalmente
fecharam a distância entre eles.
No momento em que seus lábios se encontraram. sua paixão não pôde
mais ser contida.
Lydia segurou o peito forte do rei enquanto subia em cima dele no
trono. Ela podia sentir seu pau duro latejando sob ela, e isso fez a
umidade entre suas pernas florescer ainda mais.
Ele suspirou, segurando suas nádegas com ternura, então sua cintura.
Ele a segurou como se ela fosse o melhor tesouro de toda a Irmania.
Incapaz de aguentar a espera por mais tempo, Lydia alcançou seu
pênis e o colocou debaixo dela. Ela abaixou seu peso sobre ele, e o rei
gemeu em seu ouvido, perdendo-se. Ela o montou, com seu enorme
membro a preenchendo.
Ela sentiu a mão dele em seu seio, sentiu-o subindo até a garganta,
onde a segurou por um momento, mas então seu aperto ficou mais
forte...
Abrindo os olhos, Lydia estava prestes a pedir a Gabriel para ser mais
gentil quando viu a mão em seu pescoço.
Não era a mão de Gabriel, mas o esqueleto de uma. Osso branco
descorado, coberto de podridão...
Lydia gritou, pulando do trono e do rei. Ela gaguejou e segurou o
pescoço.
Era a mesma mão que viera para ela do Livro de Decimus! Ela olhou
ao redor, mas a mão fantasmagórica havia desaparecido.
Gabriel olhou para ela, nu e totalmente confuso. — Do que você está
com medo? — ele perguntou. Pela primeira vez, sua voz era baixa.
— Eu... eu não tenho ideia... — Lydia balbuciou: — Sua mão, mas era...
GABRIEL

Ainda abalado por sua 'reunião' com Lydia, o rei Gabriel bateu na
porta do quarto de sua irmã.
— Lis? Sou eu.
Ela abriu a porta. — Irmão! — ela o abraçou e o convidou a se juntar a
ela em sua mesa na varanda. Seu bloco de notas estava aberto e sua
caneta de pena mergulhada em tinta.
— Você estava escrevendo? — ele perguntou.
— Sim, mas eu estava entediada de qualquer maneira. Estou feliz que
você esteja aqui, — ela inspecionou seu rosto, — Pensando em algo?
Ele suspirou. — Sim. Acabei de ver Lydia... — Ele não tinha certeza de
como continuar. — Estou preocupado que ela esteja com medo de mim.
— Ele apoiou a cabeça nas mãos.
— Oh, irmão, — Lis disse, com amor em seus olhos. — Você já pensou
que talvez ela tenha medo do que sente por você, e não de você?
— O quê? Não, não acho que seja isso. Acho que ela tem medo da
magia das sombras dentro de mim. Quer dizer, como posso culpá-la?
Essa é a primeira parte de mim mesmo que mostrei a ela. — Gabriel
olhou para o Reino.
Ele poderia dizer qualquer coisa a Lis, mas não conseguia encontrar
seus olhos. — E às vezes, também tenho medo disso. Não posso deixar de
pensar em Evine... como ela se entregou à sombra.
Lis colocou a mão no braço de seu irmão. Quando ele finalmente
olhou para ela, viu lágrimas em seus olhos.
— Confie em você mesmo, irmão, — ela disse, com amor em sua voz.
— Você é um Rei forte e justo. Evine foi seduzida pelo poder que
encontrou na escuridão.
Ela continuou: — Nós dois sabíamos disso antes mesmo das coisas
darem tão errado. Você conhece o poder por toda a sua vida. Você não se
perderá em tal tentação.
Gabriel olhou para ela. — Obrigado, Lis. Acho que você está certa
sobre a escuridão. Tenho me sentido mais forte contra isso, como se
pudesse resistir mais.
— Desde que conheci Lydia, na verdade... — Ele ficou quieto por um
momento. — Eu só me preocupo que a escuridão do meu passado irá
afetar ela.
— Gabriel, o único que pode fazer você se sentir melhor sobre isso é
ela. Acho que você precisa contar a ela sobre o seu passado... Tenho a
sensação de que ela pode surpreendê-lo.
O rei suspirou.
Ele sabia que sua irmã estava certa.
Mas ele não pôde deixar de pensar na última vez em que se abriu para
alguém.
Quanta dor ela causou a ele.
Examinando sua propriedade da varanda de Lis, ele notou um grupo
de pessoas sentadas à mesa no gramado. Pelo cabelo flamejante, ele sabia
que Lydia estava com eles.
Ela estava rindo e sua beleza o impressionou mais uma vez.
Talvez desta vez possa ser diferente...
LYDIA

Ao sol, Lydia se sentia ela mesma de novo. Ela estava começando a


recuperar o fôlego após a cena estranha na sala do trono.
Ela não via mais uma mão esquelética sempre que piscava. Ela ficou
feliz em encontrar Rei Calix desenhando Elise em sua mesa favorita no
gramado da frente.
Ela caminhou em direção a eles com Lux empoleirado em seu ombro.
Ele enrolou o rabo macio atrás da orelha dela.
Lux: O que ACONTECEU, Lydia? Seus pensamentos estão a mil.

Lydia: Você não vai acreditar, Lux. A mesma mão esquelética do Livro de Decimus veio
para mim ontem.

Lydia: Quando eu estava com Gabriel.

Lux: O QUÊ?! O que vocês estavam fazendo?!

Lydia: Erm... você sabe...

Lux: Ah, entendi.

Lydia: Lux, pensei que fosse ELE me agarrando.

Lux: Oh, Deuses!


Lux: Você acha que Gabriel tem algo a ver com isso?

Lydia: Não sei... Há tanto que não sei sobre o Rei...

Eles chegaram à mesa e se sentaram. Elise era uma modelo natural,


piscando os cílios enquanto se reclinava sobre a mesa.
— Linda, minha querida. Mantenha essa pose. — Os traços do lápis de
Rei Calix eram certeiros e escuros. Ele representava suas curvas com
elegância e sem esforço. A sensualidade em seu esboço atingiu Lydia.
Ela desejou que alguém desenhasse ela assim, embora ela nunca iria
admitir isso.
— Você é um artista incrível, Vossa Majestade, — Lydia respirou. —
Este desenho é tão sensual que quase acho que você está apaixonado por
Elise.
Elise piscou para Lydia e jogou seus cachos.
— Elise, querida, sem movimentos, — o Rei pediu, nem por um
momento parando sua mão. Ele riu do comentário de Lydia: —
Obrigado, Lydia. Na verdade, talvez eu esteja.
Elise riu. — Ele é gay, — ela sussurrou falsamente.
Lydia não sabia o que dizer.
— Sim, — disse o rei, desenhando uma sombra na parte superior da
coxa de Elise. — Mas as coisas raramente são tão diretas. Na verdade,
acho que nunca são.
— Pelo menos, não para algo tão evasivo como a sexualidade. — O rei
encontrou os olhos de Lydia por um momento. — E nem me fale sobre
amor.
Lydia estava confusa. — Não tenho certeza se entendi. Vossa
Majestade.
— Querida, é porque você é jovem. Você e Elise são jovens, e os anos
vão tomá-las mais sábias. Em meus cinco séculos, tive muitos amantes.
Calix continuou: — Eu amei a todos, do meu jeito, embora às vezes os
encontrasse apenas uma vez. Embora às vezes, eles me machucavam, ou
eu os machucava.
— Eu vim para descobrir que o amor tem muitas sensações diferentes.
— Ele largou o lápis e olhou para longe.
— Eu tive um amor verdadeiro uma vez. Eu sei que era verdade
porque quando estávamos juntos, todo o resto desaparecia. Ele viu o
melhor e o pior de mim e ainda me amava.
— Mas eu o perdi. — Rei Calix folheou seu caderno de desenho para a
imagem de uma montanha sombreada de vermelho e fumegante com
uma fumaça laranja fétida.
Lydia arfou, sem conseguir se conter.
— Aconteceu aqui, no Pico da Insanidade. Foi a guerra que o levou. A
última batalha terrível daquela guerra horrorosa que durou metade dos
nossos dois séculos como amantes.
— Eu sinto muito, — Lydia respirou. Sua história trouxe lágrimas aos
olhos dela.
— Obrigado, minha querida. Eu também sinto muito. Mas o amor é
uma coisa poderosa.
— Não desaparece quando uma pessoa se vai. Ele se transforma. Ele
nos encontra de novo e de novo.
Isso nos ajuda a encontrar o que não sabíamos que precisávamos.
O rei sorriu sabiamente quando Elise saltou da mesa e o beijou na
bochecha. Na verdade, parecia que a união que compartilhavam era algo
como o amor.
Lydia olhou para o castelo que se tornou sua casa. Ela avistou Lis
sentada em sua varanda com o rei Gabriel.
Ela pensou em como ela não sabia que precisava dele, como o resto do
mundo desaparecia quando eles estavam sozinhos.
Mas isso não poderia significar que o que estava acontecendo entre
eles era amor... poderia?
Capítulo 25
DOCES SURPRESAS
LYDIA

Na manhã seguinte, Lydia acordou cedo. A Slifer do Fogo nunca


sentia frio, mas até ela podia sentir o ar gelado.
O corpo adormecido de Lux tremia. Ela se levantou e fechou a janela
antes de empilhar mais cobertores em sua cama e envolver os braços em
volta de Luxie. Aconchegantes e quentinhos, os dois melhores amigos
dormiram até tarde.
Vestindo um suéter de lã, Lydia espiou pela janela. O que ontem era
uma brisa suave agora era um vento forte que assobiava por entre os
galhos das árvores.
— Acho que o inverno está chegando, Lux, — ela suspirou.
— Oh, bem, — o gato ronronou, balançando o rabo em seus joelhos.
— O inverno nos convém. Tantas oportunidades de fazer fogo.
— Verdade, — ela riu. Ela apontou para a lareira, que até então estava
apagada, e a acendeu.
Knock! Knock!
— Entre! — Lydia disse.
Era o rei Gabriel. Ele usava um casaco de pele de cordeiro cinza que o
fazia parecer tão elegante e bonito que quase doía. Lux ronronou e
correu para ganhar carinho.
— Lydia, solicito sua presença. Você gostaria de fazer um passeio
comigo?
— Para onde vamos, Vossa Majestade?
— Isso é uma surpresa. Mas vista-se para um passeio de carruagem. —
Ele ergueu um baú de madeira e o colocou no canto do quarto dela. —
Aqui estão algumas roupas quentes que Lis escolheu para você. Está frio
hoje.
— Obrigada, Gabriel. Encontro você na carruagem. — Apesar dos
estranhos acontecimentos dos últimos dias, Lydia não podia negar que
estava animada para um passeio com o rei. Ela abriu o baú e examinou as
roupas luxuosas. Lis tinha um gosto incrível.
Lydia escolheu um vestido de veludo vermelho com mangas
compridas. O decote era profundo em V. Olhando no espelho, ela foi
atingida pela mulher que a olhava de volta.
Lydia estava acostumada a se ver como uma menina.
A mulher em que ela se tomou parecia elegante e forte, até poderosa.
Ela usou um pouco do bálsamo de beterraba que Lis tinha passado
para ela em suas bochechas e lábios, então eles brilharam com um tom
rosa claro.
Ela escolheu um longo casaco preto feito de pele de animal.
— Tchau, Luxie, — disse Lydia, inclinando-se para beijar o gatinho
que dormia na cama.
O rei estava alimentando os moxars perto da carruagem quando ela
chegou.
— Eles terão uma longa jornada hoje, Vossa Majestade?
— Não muito longa. — Ele piscou. — Você vai ver. — O rei e Lydia
fecharam as portas da carruagem atrás deles. Os assentos eram macios e
confortáveis, e eles compartilhavam um cobertor de lã grosso sobre as
pernas.
Lydia sonhava acordada enquanto olhava pela janela, observando as
estátuas de pedra alinhadas na entrada do castelo passarem até chegarem
à cidade de Irmania, com suas praças deslumbrantes com grandes fontes.
— Você gosta da cidade, Slifer? — perguntou o rei.
Ela exalou. — Eu adoro.
Edifícios de tijolo vermelho erguiam-se no céu. Leões e gárgulas feitos
de pedra adornados esquina após esquina. As ruas fervilhavam de
vendedores de pão ou chá encantado e especiarias de terras longínquas.
A carruagem parou e Gabriel estava de pé no chão, oferecendo a mão a
Lydia para ajudá-la a desembarcar.
A loucura da cidade! Um moxar passou disparado, perseguido por três
homens que tentavam pegá-lo.
Gabriel não soltou sua mão. — Aqui estamos, — disse ele. — Há algo
que eu gostaria que você visse.
Juntos, eles desceram as escadas para o antiquário. Gabriel empurrou
a porta, embora estivesse escrito, 'FECHADO'.
GABRIEL

O rei adorava passear com a Slifer do Fogo porque sua curiosidade era
contagiante.
Ele havia se acostumado tanto com Imarnia que estava cego para sua
beleza, mas a admiração nos olhos de Lydia o fez ver isso de novo.
— Primeiro, — ele perguntou ao proprietário, um homem corpulento
tão velho quanto as antiguidades que vendia, — gostaria de ver o livro
que encomendei.
— De fato, Vossa Majestade Real Suprema, — o lojista curvou-se.
— Por favor, — respondeu o humilde Rei, — chame-me de Vossa
Majestade.
O proprietário tirou um pacote de debaixo da caixa registradora. Era
um livro grosso embrulhado em papel pardo. Ansiosamente, o rei rasgou
o embrulho. 'Guia de Jardinagem de Ignolia, Edição I'.
— É um presente para minha irmã. — O rei sorriu.
— Para o aniversário dela. E um guia para o cultivo das plantas mais
raras de Ignolia. Existem apenas cem cópias ainda existentes.
Ele folheou a ilustração de uma videira enrolada na perna de um leão
enquanto tentava fugir.
— Ela vai adorar, — Lydia disse.
O rei ergueu uma sobrancelha para o proprietário. — Agora, o outro
item que solicitei?
O lojista entregou-lhe uma pequena caixa preta, que o rei passou para
Lydia. Ele encorajou: — Abra!
Ela encontrou um pingente de cristal em um cordão de couro preto.
O rei observou seus olhos arregalados com carinho.
— E encantado. Isso tornará seus poderes mais fortes. — Ele colocou
ao redor do pescoço dela.
O colar combinava com ela e descia elegantemente em direção aos
seios, que Gabriel teve que tomar cuidado para não olhar fixamente. O
vestido dela era realmente incrível.
Ele realmente adorava veludo vermelho.
Dentro do cristal havia uma pequena flor vermelha, que ardia com a
mesma chama sobrenatural dos olhos de Lydia. Olhando para ela,
Gabriel tocou suavemente com o dedo. De repente, pequenas fitas
escuras, como fumaça, ergueram-se da flor vermelha. O colar ficou ainda
mais bonito.
O rei tentou sinalizar para o dono da loja para não dizer o preço na
frente de Lydia, mas o homem bem-intencionado gritou: — O colar vai
custar dez mil rúpias, senhor.
— Dez mil?! — Lydia exclamou, gesticulando para remover o colar. —
Eu jamais poderia...
Gabriel tocou seu pulso para detê-la. — Eu insisto. E uma ordem do
seu rei. — Ele piscou. Sentindo que Lydia ainda não estava convencida,
ele continuou.
— Que tal isso... Vou comprar um colar para você e você pode me
comprar um rum quente na taverna da esquina?
Lydia suspirou. Ela segurou seu colar. O rei sabia que ela queria
muito.
— Obrigada, — ela exalou. Seus olhos brilharam.
LYDIA

A taverna era aconchegante e silenciosa, e Lydia e o rei estavam


sentados a uma bela mesa no canto perto da lareira. Ela tinha que
admitir, era romântico.
Cada um deles tinha uma caneca de cidra quente com rum. As
especiarias formigaram na garganta de Lydia.
Ela sentiu os olhos de Gabriel sobre ela, e ela se virou para encontrá-lo
olhando, com um pequeno sorriso em seus lábios. Ela se virou, corando.
— Quero conversar com você sobre algumas coisas, — disse ele,
entrelaçando os dedos.
— Primeiro, eu preciso me desculpar por como eu tratei você quando
nos conhecemos. Pela primeira vez que... nos unimos. — Ele estava
olhando para as próprias mãos. — Eu sinto muito se eu causei alguma
dor.
Lydia mal podia acreditar no que estava ouvindo. Ou vendo, enquanto
observava o nobre rei desviar o olhar dela.
— Uh, obrigada, — disse ela. — Eu também sinto muito. Pelas coisas
ruins que eu disse.
Ele encontrou seu olhar. — Nem se preocupe. — Ele exalou, como se
estivesse liberando uma carga pesada que carregava.
— Queria dizer que, desde que te conheci, sinto que estou mudando.
Sinto que estou ficando mais leve.
O Rei continuou: — A escuridão ainda me puxa, mas ficou mais fácil
lutar contra ela desde então.
— Seu fogo traz luz à minha vida. — Ele sorriu timidamente.
Como ela poderia dizer a ele que desde que se conheceram, ela sentiu
uma profundidade de poder e potencial dentro de si mesma que ela não
sabia que era possível?
Que seu mundo desabrochou como uma flor?
Gabriel olhou para suas mãos mais uma vez. — Quando nos
conhecemos, eu estava em um lugar escuro. Eu deixei as sombras me
consumirem. Eu não queria te conhecer... — Ele engoliu em seco, — Eu
não queria estar perto de ninguém. Não queria depender de ninguém
para obter meu poder e não queria que ninguém dependesse de mim.
Definitivamente não uma mulher...
O rei continuou: — Veja, outra coisa que tenho a lhe dizer é sobre algo
que aconteceu há muito tempo. E sobre alguém que amei. A única
mulher que amei.
— O nome dela era Evine. — Ele fez uma careta ao ouvir o nome dela.
— E eu era tão jovem. Eu tinha apenas dezesseis anos quando nos
conhecemos.
Lydia prendeu a respiração. Ela mal podia acreditar que este era o rei
que ela conhecia.
Sua vulnerabilidade a chocou. Ela pensou na raiva que sentiu ontem,
quando imaginou Gabriel com outra mulher.
Como aquele sentimento era diferente da tristeza que ela sentia agora.
Quão diferente da empatia e do desejo de protegê-lo. De segurá-lo em
seus braços e mantê-lo aquecido, acendendo chamas para manter as
sombras afastadas.
— Eu era tão jovem que dei tudo a ela. Eu não conseguia ver que ela
estava se tomando outra pessoa diante dos meus olhos...
— Nós íamos nos casar. Tudo estava bem até o dia do nosso
casamento. Ou, eu achava que estava tudo bem. Oh, Deus, o dia do
casamento...
Ele parou, cobrindo os olhos por um momento.
— Eu vi o que apareceu nos olhos dela. Era escuridão, como a morte.
Não havia amor quando ela olhou para mim naquele dia.
— Estávamos no altar quando ela... surtou completamente. Ela puxou
uma adaga de seu vestido e ela... ela cortou sua própria garganta.
Gabriel ficou em silêncio. Ele prendeu a respiração e Lydia percebeu
que ele estava lutando contra as lágrimas. Ele estava partindo seu
coração. Ela pegou a mão dele e a segurou com força.
— Sinto muito, — disse ele. — É difícil falar sobre isso. Nossa, é difícil
até mesmo pensar sobre isso. Porque fica ainda pior.
— Quando ela se matou, minha mãe morreu também. Havia cortes na
garganta de ambas. Evine nunca teve poderes, então deve ter sido um
feitiço. Um maldito feitiço das trevas.
— Gabriel, não consigo imaginar, — disse Lydia. — Eu sinto muito que
você tenha passado por isso. Eu não tinha ideia de que foi assim que você
perdeu sua mãe Ele olhou para ela com os olhos marejados e suspirou.
— Sim. Foi há muito tempo, mas ainda dói. Eu não quero que você
sinta pena de mim.
— E o que eu passei não justifica a maneira como tratei você. Mas
desde que isso aconteceu, tenho medo de me... aproximar... de mulheres.
De qualquer mulher.
Ele estava tentando dizer que se sentia próximo dela?
— E nos meus piores dias, temo que o que aconteceu com Evine possa
acontecer comigo. As sombras vêm para mim também, e eu me preocupo
que um dia, eu ceda.
— Que elas pudessem me virar contra as pessoas que amo.
Ele suspirou novamente e tomou um longo gole de sua cidra. Lydia
havia se esquecido totalmente dela. Estava fria.
— Então, era isso que eu queria dizer. — Ele sorriu fracamente.
— Obrigada por me contar, — ela disse, beijando sua mão.
Lydia continuou: — Que bom que eu sei fazer muita luz, então. Isso
significa que não precisamos nos preocupar muito com as sombras.
— Somos uma boa combinação um para o outro.
Ele riu baixinho. — Sim. E quase como se você tivesse sido feito para
mim.
Ela corou e desviou o olhar. O rei havia se tornado uma pessoa
totalmente diferente diante de seus olhos.
— Tenho um último convite para hoje, Slifer. — Gabriel sorriu. Ele
estava relaxado e recostou-se na cadeira. Era tão sexy vê-lo se soltar.
— Eu gostaria de convidá-la para meus aposentos depois do jantar
esta noite. Você poderia trazer seu pijama, porque eu gostaria que você
passasse a noite comigo.
Lydia ergueu as sobrancelhas. O dia estava repleto de agradáveis
surpresas.
— Bem, o que você me diz? — o rei cutucou.
— Com certeza. — A Slifer sorriu. Ela já estava imaginando outras
maneiras de o rei surpreendê-la.
Capítulo 26
UMA NOITE COM O REI
GABRIEL

Durante toda a viagem de volta ao palácio, Gabriel estava pensando


que a carruagem não poderia estar rápida o suficiente. Finalmente,
chegou a hora.
Os dois se separaram brevemente para que Lydia pudesse reunir seus
pertences e dizer a Lux que ela dormiria em outro lugar durante a noite.
Gabriel estava esperando por ela em seus aposentos, sentado em seu sofá
de veludo vermelho com um copo de rum élfico.
O rum o fez se sentir aquecido e solto, pronto para desabar em uma
pilha de travesseiros de seda com Lydia e não sair até de manhã.
Alguém bateu em sua porta. Por um momento, a formalidade da
batida o surpreendeu.
Depois do dia que tiveram, ela deveria ter aberto a porta e já estar em
seus braços.
Mas quando ele abriu a porta para ela, ela apenas sorriu para ele por
baixo dos cílios.
— Entre, — ele disse, pegando a mão dela.
Assim que se tocavam, eles estavam se comunicando telepaticamente.
Gabriel: Estou tão feliz por estar sozinho com você.

Lydia: Me beije!

Gabriel: Aqui?

Lydia: E aqui... e aqui...

Gabriel: Perfeito. Tudo com você é tão bom.

Lydia: Vamos parar de pensar. Me leve para a cama.


Gabriel estava feliz por ela ter dito isso. Suas emoções estavam
fugindo dele e as palavras eram muito pequenas. Tudo o que precisava
ser dito, ele poderia dizer com seu corpo.
Eles estavam se beijando. O Rei Gabriel a conduziu lentamente para
sua cama.
Ele se sentou na beirada e Lydia ficou entre suas pernas. Ele segurou o
rosto dela entre as mãos. Aqueles olhos estavam queimando.
Suas mãos alcançaram sua túnica de lã. Seu toque era tão
reconfortante como fogo em uma noite fria.
Lydia: Sim, Vossa Majestade.

Gabriel: Tire isso.

Gabriel: Toque em mim.

Ela hesitou por um momento, olhando em seus olhos. Ele sabia que
ela estava surpresa por ele estar pedindo a ela para assumir o controle.
Mas ele estava. Ele queria estar totalmente ao dispor dela.
Ela puxou a camisa dele pela cabeça, inclinando-se para beijar seu
pescoço e peito nu, que brilhava ao luar. Sua pele era macia e esticada
sobre seus músculos magros.
Lydia não hesitou mais. O rei sentiu as mãos dela subirem por suas
coxas até que ela sentiu sua ereção, que estava esticando sob suas calças.
Sua respiração ficou tensa.
Ela empurrou para baixo o ombro de seu vestido vermelho,
removendo um braço e depois o outro, para que ficasse em volta de sua
cintura. Seus seios o chamavam. Ela deixou todo o vestido cair no chão.
Tudo no mundo desbotou.
Era apenas seu corpo nu. Ela ficou ali por um momento, deixando-o
observá-la. Havia aquela mesma expressão em seus olhos. E algo que
parecia... poder.
Ela desabotoou a calça dele com uma das mãos e ele se levantou
enquanto ela a abaixava. Sentando-se mais uma vez, sua masculinidade
saltou entre as pernas.
Chamando por ela. Finalmente, eles estavam nus. Suas peles cantavam
uma contra a outra com energia quase elétrica. Faíscas e sombras.
Eles não conseguiam parar de se beijar. Havia tantos lugares para
beijar, para tocar.
Ela o empurrou para a cama até que ele se deitasse.
Ela rastejou em direção a ele em suas mãos e joelhos. Ela beijou seu
peito, descendo por seu estômago até que ele pudesse sentir seu hálito
quente em seu pênis.
Ele exalou. Ela pegou seu membro em seu punho, apertando-o
suavemente e movendo sua mão para cima e para baixo, lentamente.
O rei gemeu.
Quão desesperadamente ele queria sentir sua boca...
Finalmente, ela deu a ele o que ela sabia que ele queria.
Ela colocou a extremidade de seu pênis entre os lábios e o chupou.
Era tão bom que o rei ficou preocupado em chegar ao ápice naquele
momento.
O pensamento de gozar em sua boca o deixava louco.
E a maneira como ela o lambia, acariciando seu eixo enquanto
chupava sua extremidade, o fazia gritar. Ele não conseguia desviar o
olhar.
Ele disse: — Se você não parar, eu vou...
Ela olhou para ele. Sua mão ainda estava em seu eixo, mas ela parou
de beijá-lo.
— Ainda não, — ela respondeu. Uma gota de líquido opaco brilhou na
ponta de seu pênis. Seu desejo, vazando, pronto para explodir. Ela
lambeu e ele não pôde deixar de gemer.
Ela subiu em cima dele, posicionando seu pênis embaixo dela. Ele
penetrou nela, e os dois suspiraram.
Finalmente.
Ela o cavalgou, gemendo, com seus seios saltando. Um brilho de
chamas cercou sua cabeça e seus ombros, iluminando atrás dela. Ela
parecia um anjo. Um anjo de fogo.
Abaixando-se sobre ele, a respiração dela estava quente em seu
ouvido.
Ouvindo seus gemidos tão perto dele, ele sabia que não poderia durar
muito mais tempo. Mas ele sabia que ela sentia o mesmo.
Ela estava se esfregando contra ele como se o quisesse tão pro
fundamente quanto ela poderia tê-lo. Seus gemidos estavam
aumentando...
Sua liberação veio como uma inundação, como ser levado por uma
onda de calor. Seu estremecimento mostrou que ela tinha gozado
também.
Ele a segurou perto de seu peito, travando os braços ao redor dela. Ele
a segurou tão perto que nada poderia ficar entre eles.
Nada poderia tocá-los, se eles continuassem assim...
Tão confortável que parecia feliz, o Rei adormeceu apenas um
momento depois, ainda dentro da Slifer do Fogo.
LYDIA

O corpo de Lydia estava no salão principal do palácio, mas sua mente


estava no quarto do rei.
Ela não conseguia parar de pensar na noite anterior. E na manhã.
Quando ela acordou, Gabriel estava olhando para ela, como se a
tivesse observado dormir.
E havia tanta ternura em seus olhos, tanto calor que ela nunca tinha
visto antes...
Lis apareceu no topo da grande escadaria.
— Bom dia, Lydia! — a princesa disse.
Ela notou Lux, que apareceu por trás de uma cortina, — E bom dia,
Luxie! E um lindo dia para se preparar para uma festa.
Lis chegou ao pé da escada e deu uma pirueta. — Amanhã à noite, este
mesmo salão estará repleto das pessoas mais interessantes e fabulosas de
toda a Irmania!
— Estou realmente ansiosa, Lis, — Lydia disse, recebendo uma
distração. — Estou ao seu dispor para ajudar com a preparação da festa.
— Que bom. querida, — ela riu, — porque eu finalmente, depois de
muito debate, defini um tema: 'os elementos'
— Achei que seria apropriado, visto que temos todos os quatro Slifers
no castelo pela primeira vez em...
— Sempre!
Lydia sorriu. Ela amava o quão dramática Lis era.
— Vamos todos ajudar na preparação, então!
— Sim, já disse aos outros para nos encontrarem aqui. Eles já sabem o
plano.
— Siga-me, querida. — Ela deslizou para o salão de baile. — Eu confio
em vocês Slifers para tomar tudo divino, mas eu só tenho alguns
pedidos...
Lis falou e falou, dando ordens como apenas uma princesa poderia.
Ela detalhou planos para o salão de baile, o salão principal, a escada e o
gramado da frente, antes de chegar ao ponto mais importante.
— Meu Deus, quase esqueci. O evento é uma festa à fantasia, querida,
então todos vão se vestir de acordo com seu elemento de escolha.
— E eu vou me vestir como fogo. é claro, porque é o mais sexy.
— Mas você já sabe disso. Pedi à costureira que fizesse algo para você
também, então você vai encontrar em seu quarto esta noite.
— Obrigada, princesa!
Ayana, Redmond e Elise apareceram na porta.
— Devemos começar no hall de entrada? — Redmond sugeriu.
Redmond teceu guirlandas de flores brancas e azuis ao redor do
corrimão da grande escadaria. Ele colheu buquês das flores mais exóticas
que uma floresta tropical poderia oferecer, e Ayana criou para ele vasos
de gelo que não derretiam, que eram transparentes e fortes como
diamantes.
Lydia conjurou mil velas do ar e as fez flutuar perto do teto. Elas
lançam uma luz suave e íntima sobre todos os cômodos do castelo.
Ela podia sentir sua Magia do Fogo fluindo livremente e facilmente
hoje, com uma onda de poder correndo por baixo de seus feitiços.
Potencial não utilizado.
Ela sabia que era por causa de sua união com Gabriel na noite
anterior.
Elise soprou os melhores perfumes de um mercado distante para o
castelo. O cheiro era diferente de tudo que Lydia havia experimentado
antes.
Era inebriante e parecia o perfume mais caro do Reino. Lis iria adorar.
A equipe de Slifers trabalhou durante toda a manhã, superando uns
aos outros.
Ayana criou fontes elaboradas e borbulhantes.
Lydia fez cada lareira rugir.
Redmond fez crescer uma árvore no centro do salão de baile com
exuberantes folhas prateadas e pequenos frutos vermelhos que, quando
comidos, causavam felicidade, baixas inibições e boa conversa.
Lydia mal podia esperar para ver o salão cheia de pessoas dançando
sob a árvore encantada. Ela a iluminou com centenas de pequenas
chamas, e parecia algo de outro mundo.
Quando terminaram, Lydia ficou encantada com a energia que ainda
sentia. Seus poderes estavam fortes hoje. Ela decidiu fazer uma visita a
Aramis.
*
Lydia entrou na loja de Aramis. Ele estava na pequena cozinha de
avental.
— Bom dia, meu pequeno vaga-lume! Você parece estar respirando
novos ares hoje. — ele a cumprimentou.
— Obrigada, Aramis. Estou me sentindo ótima. O que você está
fazendo?
— Estou preparando um bolo para levar na festa de amanhã à noite.
Deve ficar perfeito para a princesa Lis, então esta rodada é uma prática.
— Talvez você possa experimentar comigo? Mas tem que cozinhar por
uma hora, infelizmente... 1 disse ele, abrindo o forno e colocando o bolo
enorme dentro dele.
— Sem problemas! — Lydia disse, sentindo seu estômago roncar. Ela
fechou os olhos e concentrou sua energia no forno, que começou a
brilhar e tremer. Ela queria criar um calor que cozinharia o bolo sem
queimá-lo, até ficar crocante....
— Tenha cuidado com meu bolo...! — o anão estalou, dançando pela
cozinha em perigo. Lydia riu e o forno apitou.
Pronto!
O bolo estava perfeitamente assado. Irradiava um perfume delicioso
para a loja.
— Meu, meu, vaga-lume! — o anão sorriu. — Vamos provar este
pedaço gostoso no sofá.
O bolo estava bom.
Foi a única coisa deliciosa que Aramis já tinha feito, até onde Lydia
sabia.
Lydia sorriu para si mesma pensando que talvez fosse seu cozimento
que deu um sabor tão maravilhoso.
— Você está forte hoje, Lydia, — ele sorriu.
— Eu estou. — A Slifer do Fogo ergueu uma sobrancelha
conhecedora.
— Então, as coisas estão indo bem com o Rei... — o velho anão deu
uma risadinha.
— Sim, elas estão na verdade! — Ela estava sorrindo sem conseguir se
conter.
— Que bom, filha da chama. — Aramis saiu da cozinha com outra
rodada de bolo. — Você está ficando mais forte. Mas não se apresse.
Ele continuou: — Leva tempo para acender uma fogueira. Tempo e
pressão.
Lydia sorriu. Ela sabia que estava ficando mais forte.
— Você ainda não atingiu todo o seu potencial.
— Mas deixe isso inspirar você! Continue aquecendo para o fogo.
— E continue se comunicando com o rei, — aconselhou o anão sábio.
— Ele é muito bonito e charmoso, se bem me lembro, então presumo que
essa não seja uma tarefa desagradável...
Lydia encolheu os ombros e agradeceu a Aramis pela ajuda e pelo
bolo. Ela o encorajou a fazer o mesmo para amanhã.
Capítulo 27
A RAINHA DE IMARNIA GABRIEL
O rei Gabriel abriu a pesada porta de sua sala do trono. Ele mal podia
esperar para ver a expressão no rosto de Lydia quando ela visse...
No centro da sala, ao lado do enorme trono dourado do Rei Gabriel,
agora estavam dois outros.
Havia um mini, do tamanho de um gato, que apresentava uma
confortável almofada de veludo vermelho.
O trono maior era feito de mármore rosa, com linhas curvas
inclinadas e gravado com chamas onduladas e rosas florescendo.
Foi incrustado com rubis, assim como o trono real do próprio rei.
Lydia não disse nada. Ela só conseguia olhar.
— Então... — o Rei cutucou. Lux estava acariciando suas canelas. Os
ronronados do gatinho eram tão altos que as paredes praticamente
vibravam.
— Uh... — Lydia disse. Havia descrença em seus olhos.
Ele queria mantê-la neste estado de confusão feliz. Mas a melhor
parte do suspense era saber o quão feliz ela seria. Quão feliz ele a faria.
— Lydia. — Ele pegou a mão dela e se moveu para que eles ficassem de
frente um para o outro. Imediatamente, ele se perdeu nos olhos dela.
— Eu mandei erguer este trono para você. Do mais fino mármore rosa
de toda a Ignolia.
— Espero que você se sente ao meu lado. — Ele não pôde deixar de
sorrir. — E que possamos governar Imarnia juntos.
— Vossa Majestade! — Lydia estava sem fôlego.
— Estou honrada.
Ela o beijou. Como sempre, ele foi dominado por um sentimento de
total felicidade.
— Mas, hum... devo dizer a você, — disse o rei, afastando-se, — este é
um arranjo estritamente político. A união não é, hum. romântica e não
vinculativa, por assim dizer.
— Claro, Majestade, — disse Lydia, com os olhos brilhando
maliciosamente. Ela gostava que ele se sentisse desconfortável. — Nada
sentimental.
Ela piscou para ele.
— Exato, — disse ele.
— É uma honra ajudá-lo a proteger Imarnia. — Lydia sorriu. — Eu
sempre disse que formávamos uma ótima dupla.
Luxus subiu em seu pequeno trono. Ele balançou o rabo.
— E você até fez um trono para Luxie! — Lydia mal conseguia conter
sua empolgação. Seu cabelo se ergueu no ar com a vibrante energia das
chamas.
— Achei que seria a única maneira de você aceitar minha proposta, —
disse o rei.
A Slifer do Fogo se aproximou dele, como se a qualquer momento ela
pudesse pular em seus braços.
Do lado de fora das janelas da sala do trono, o sol estava começando a
se pôr sobre as colinas de Imarnia.
— Eu gostaria de poder ficar... — o Rei começou verificando seu
relógio real, — mas eu planejei uma reunião urgente com meus
Conselheiros Reais para que eu pudesse informá-los de minha decisão.
De governar com você.
Ele a beijou uma vez, rapidamente. A paixão no beijo o fez esquecer
que tinha outros compromissos no mundo. Que ele tinha que fazer
qualquer coisa além de beijá-la.
Seu rosto corou quando ele se afastou.
— Pode ser uma reunião longa. Pode até durar a noite toda.
— Mas vejo você amanhã na festa de aniversário de Lis. E talvez
amanhã à noite, você possa se juntar a mim novamente em meu quarto.
Lydia sorriu. — Possivelmente.
E então, o rei observou Lydia sair da sala do trono, Luxus em seus
calcanhares, dando patadas na barra do vestido como um gatinho faria.
LYDIA
De volta a seu próprio quarto, Lydia desabou em sua cama. Lux pulou
em seus braços e ela o abraçou, gritando de felicidade.
— Cuidado! — ele ofegou.
Ela o soltou para segurar um travesseiro contra o rosto e gritar nele.
Lux lambeu sua bochecha. Ele rolou e enterrou seu corpo elegante nas
cobertas de seda.
Ambos estavam sorrindo.
Lydia apoiou-se no cotovelo e olhou para seu companheiro felino.
— Bem, Luxie. Olhe para nós. — Um enorme sorriso tomou conta de
seu rosto. — Não consigo nem acreditar!
— E melhor você acreditar, — o gatinho ronronou. — Você está
prestes a ser a Rainha de Imarnia!
— A Rainha de Imarnia... — Lydia disse para si mesma.
O rei Gabriel nunca tinha estado tão aberto com ela antes. Mas até
mesmo agora, ela não sabia como interpretá-lo na verdade.
Ela governaria Imarnia com ele, mas era estritamente político. Ele a
respeitava como uma poderosa Slifer. Como um trunfo para Imarnia.
Deixando de lado o relacionamento pessoal deles, isso por si só foi o
suficiente para manter Lydia acesa em chamas felizes por dias.
Ela ainda não entendia o rei. Ele permanecia escondido atrás de sua
própria sombra, mas Lydia se sentia em paz com isso.
Ela seria a Rainha de Imarnia...
Ela se imaginou sentada na sala do trono com Gabriel, com cetros nas
mãos.
Ela se imaginou deitada com ele em sua cama pela manhã, enquanto a
neve caía suavemente lá fora.
Ela se imaginou parada com ele na Igreja Sagrada da Praça Imarnia, no
altar, enquanto um padre dava sua bênção...
Oh, Deuses! Chega de sonhar acordada.
Já era noite e amanhã seria a grande festa.
O vestido que Lis havia escolhido para ela estava pendurado em seu
guarda-roupa, mas ela ainda não o havia experimentado.
Ela provaria amanhã. Por enquanto, ela queria deitar-se na cama.
Fazer carinho em Lux e sonhar acordada.
Lux estava ronronando em seu estômago, e suas pálpebras estavam
pesadas como pedra.
Ela estalou uma vez, acendendo o fogo na lareira, e mais uma vez,
apagando as velas do quarto.
*
Lydia acordou com o sol se pondo em seu quarto e música alta vindo
do andar de baixo. A festa!
Ela se vestiu rapidamente e desceu a grande escadaria para encontrar
Lis no grande salão. Ela estava andando freneticamente.
— Lydia! Meu Deus. Eu mal posso acreditar. — Ela agarrou os ombros
de Lydia. — O chef está doente, logo hoje! Aramis está aqui. Ele chegou
tão cedo.
— Quando soube da minha situação, ele se ofereceu para cozinhar a
refeição inteira. É tão gentil da parte dele... mas ele é um bom cozinheiro?!
Lydia fez uma careta.
— Este vai ser o evento da temporada e se a comida não estiver
perfeita, tudo vai desmoronar. Você pode ajudá-lo, Lydia?
— Claro! — a Slifer do Fogo disse, e ela e Lux correram para a cozinha.
Aramis estava de pé em um banquinho, comandando todas as facas da
cozinha para cortar vegetais, frutas e carnes...
As colheres para misturar cremes e confeitos, os rolos de macarrão
para achatar massas para pães e biscoitos.
— Vaga-lume! — ele exclamou. — Eu sou o chefe de cozinha du jour. E
você é um colírio para os meus olhos! Acenda o fogo. Ajude-me a
cozinhar a refeição.
*
Apenas trinta minutos antes da festa começar, Lydia correu para seu
quarto.
Ela e Aramis cozinharam o dia todo. Luxus só ajudou provando o
peixe, mas Lydia gostava de sua companhia.
Ela rapidamente entrou na banheira e despejou óleos especiais que Lis
havia deixado para ela.
Os óleos a faziam cheirar a realeza e, enquanto ela penteava os longos
cabelos, suas mechas vermelhas tremeluziam à luz das velas.
Finalmente, ela abriu seu guarda-roupa para o vestido que Lis havia
escolhido para ela.
Ela ficou boquiaberta. Lis se superou.
Seu vestido era preto como carvão, mas brilhava com iridescência,
como uma poça de óleo.
Ela deslizou dentro do vestido, que roçava o chão e se pendurava em
seus ombros.
Havia uma coleira combinando para Lux, feita de couro preto com
grandes tachas de diamante. O gato ronronou e pulou na frente de Lydia
enquanto ela se olhava no espelho.
A Slifer do Fogo mal podia acreditar em seus olhos. Ela estava linda.
Ela parecia uma Rainha. Ela não queria admitir, mas mal podia esperar
para ver o rei.
Ela colocou o colar que ele lhe dera em volta do pescoço. Brilhava
como se estivesse queimando. Ela deslizou sua pulseira de prata em seu
pulso.
— Eu gostaria que você pudesse me ver agora, vovô, — ela sussurrou.
E com isso, ela correu de volta escada abaixo para a festa.
O salão principal já estava zumbindo. Jazz fluía do salão de baile.
Os convidados estavam vestidos com esmero. Lis estava certa: este
seria o evento da temporada.
Lydia avistou o Rei Calix vestido com uma roupa feita inteiramente de
couro cinza claro. Elise usava um vestido da cor de uma tempestade, feito
de seda clara, com uma fenda que percorria sua longa perna. Eles eram
Ar, é claro.
Elise acenou para Lydia.
— Boa noite, Faísca, — disse ela, com os olhos brilhando. — Você está
linda.
— Obrigada, Slifer. Igualmente.
Pelo canto do olho, Lydia viu Ayana, que usava um vestido longo que
era reflexivo como a superfície de um lago parado. E o rei Morrison usava
um terno azul profundo. Eles estavam rindo juntos.
Redmond usava um smoking de veludo verde com uma orquídea no
bolso da camisa. O minivestido da rainha Adria era feito inteiramente de
flores secas. Ele florescia ao seu redor em uma extravagante nuvem de
minúsculas flores brancas.
Suas longas pernas se estendiam por baixo dele. Ela sempre foi alta,
mas em saltos altos, ela se era ainda mais.
Lydia pediu licença e foi para o salão do baile, que parecia realmente
mágico agora que a festa estava no auge.
Lis ficaria em êxtase. Este era o evento da temporada.
As pessoas estavam saboreando vinho, comida e frutas vermelhas
mágicas enquanto dançavam sob a árvore encantada. As travessas de
prata na mesa do bufê brilhavam.
Lux contornou seus pés. Sua coleira brilhava com a luz.
Do outro lado do salão, Lydia viu Lis e o Rei Gabriel brindando. Ele
disse algo que a fez rir, e ele tocou suas costas.
Lydia foi tomada por uma sensação de calor.
Como ela se sentira confortável no palácio. Ela estava começando a
pensar nele como sua casa.
E ela passou a amar a família real. Lis era como uma irmã e Gabriel era
como...
Ele olhou para cima e chamou sua atenção.
Ele parou de falar. A boca do rei ficou aberta por um momento.
Parecia que a noite inteira poderia passar assim, no olhar do rei, e Lydia
ficaria feliz.
Mas ele pediu licença e atravessou a festa em direção a ela.
O temo dele era feito do mesmo material do vestido dela. Era preto
como carvão e, quando certas partes refletiam a luz de velas, brilhavam.
Observá-lo se mover deixou Lydia sem fôlego.
De repente, o rei estava ao seu lado. Ele não disse nada, mas sorriu
diabolicamente para ela.
Lydia sentiu-se enrubescer.
— É um vestido e tanto, — disse ele, erguendo as sobrancelhas de uma
forma que fez Lydia desmaiar. — Combina com você.
Ela sorriu.
Ele se moveu imperceptivelmente para mais perto dela e tocou suas
costas. Antes que ela percebesse, ele a estava guiando suavemente em
direção à pista de dança.
Lydia se lembrou da última vez em que dançaram, quando ele quase a
fez cair no esquecimento.
— Sem gracinhas, agora, — disse ela. Ela estava brincando com ele.
Ela sabia que desta vez seria diferente.
— Que gracinhas? — o rei fingiu inocência. Sua mão estava na dele
agora, e ela sentiu a outra palma pressionando sua parte inferior das
costas.
Gabriel parou embaixo da árvore e arrancou algumas frutas. Lydia
pegou um pouco de sua mão, e elas imediatamente a fizeram se sentir
relaxada e leve.
Eles giravam em círculos ao lado de Lis e David, e ao lado da realeza
de toda a Ignolia. Para qualquer convidado da festa, ela e o rei podem
parecer um casal feliz.
Lydia estava feliz. A respiração do rei estava em seu pescoço e ele a
segurava próxima a ele. Era quase impossível imaginar o que ele estava
pensando, mas Lydia achou que ele também poderia estar feliz.
Seu palácio estava iluminado e cheio de celebração. E Lydia estava em
seus braços com o vestido preto decotado nas costas.
Os dedos do rei traçaram a borda do tecido, tocando sua pele
levemente. A sensação era quente e elétrica onde a pele dele encontrava a
dela.
De repente, sua pulseira de prata começou a vibrar e brilhar com uma
luz ofuscante. O que estava acontecendo?
Ela ouviu um grito. — Lydia! CORRA!
Era uma voz familiar. Vinha de sua pulseira... e soava como ninguém
menos que o falecido Lucius Voltaire.
Capítulo 28
PENETRAS
GABRIEL

O rei Gabriel segurou Lydia perto de seu peito.


A festa estava se transformando... Todas as chamas que iluminavam a
árvore encantada se extinguiram de uma vez. As luzes do salão estavam
assustadoramente baixas.
A banda parou de tocar. Os convidados dançando pararam de se
mover. Ninguém sabia o que estava acontecendo.
A pulseira de Lydia ainda estava gritando na voz de Lucius e emitindo
luz.
O ar frio encheu o salão do baile. Os convidados olharam em volta
com incerteza.
O que estava acontecendo?
Um grupo de homens irrompeu no local. Eles usavam longos casacos
pretos que varriam o chão.
Oh não.
Em uma fração de segundo, os Reis e as Rainhas trocaram olhares de
conhecimento. Os Slifers fizeram o mesmo.
E hora de lutar contra os Caçadores de Feiticeiros. O Rei observou
enquanto os Caçadores lentamente se infiltravam na sala. Eles já estavam
causando estragos, embora ainda não tivessem tocado em ninguém.
Copos se espatifaram nas mãos dos convidados da festa.
O Rei Gabriel sentiu as sombras surgirem das profundezas de seu
coração. Elas giravam em tomo de suas mãos como luvas de boxeador,
mesmo enquanto ele segurava Lydia com força.
A realeza de Ignolia e seus Slifers entraram em ação. Todos eles
atacaram os Caçadores com sua magia ou força física.
— Procurem abrigo! — o Rei de Irmania gritou.
Com isso, o silêncio amedrontado se quebrou, e a sala voltou ao caos.
Cordas brancas translúcidas saltaram dos dedos dos Caçadores de
Feiticeiros. Os cordões envolveram os tornozelos dos convidados,
fazendo-os tropeçar enquanto tentavam escapar.
O rei se recusou a soltar Lydia, embora a sentisse se contorcendo
contra ele.
Ele lançou sua longa sombra pela sala para cegar os Caçadores, mas
funcionou por apenas um momento. Os Caçadores de Feiticeiros se
livraram dela.
— Droga!
— Gabriel! — Lydia gritou: — Me solte! Eu preciso ajudar.
Ele olhou para ela, esperando que ela não pudesse ver o medo em seus
olhos. Ele queria estar perto dela, para protegê-la. Mas ele não podia.
— Vamos, — disse ela. E a dupla se juntou à luta.
Era difícil para o rei saber onde se concentrar.
Os caçadores estavam por toda parte, amarrando as pessoas. Gabriel
observou Lydia enviar faíscas que queimaram suas teias encantadas.
As pessoas escaparam e as cordas se retorceram no chão como
minhocas cortadas. O rei viu um caçador estendendo a mão sobre uma
jovem, uma fada. Ela estava inconsciente e uma nuvem rosa cintilante
ergueu-se de sua cabeça como uma névoa.
— NÃO! — Gabriel gritou. Eles haviam extraído sua magia.
Ele correu e deu um soco no ar, enviando uma sombra que puxou o
Caçador para longe e o prendeu na parede.
Os poderes da fada já estavam exauridos, mas pelo menos ele conteve
o Caçador... por enquanto.
Bolas de fogo explodiram na frente dos Caçadores. Um gritou,
batendo freneticamente na cabeça para apagar o fogo que atingiu seus
cabelos.
Todos os Slifers estavam frenéticos, planejando seus próximos
ataques.
Ayana estava lançando estalactites de gelo como lanças. Uma atingiu o
alvo, afundando no peito de um Caçador, e ele desabou no chão em uma
poça de sangue negro.
Sangue.
Estava em toda parte. A festa havia se transformado em um pesadelo.
Pessoas em suas roupas de festa estavam deitadas no chão...
Mortas, exauridas de seus poderes, rastejando para se proteger.
O coração do rei estava partido. Ele observou o salão em desespero. As
sombras que ele enviou para a batalha não foram tão eficazes contra os
Caçadores como ele esperava.
Como eles se tomaram tão fortes?!
Seus olhos encontraram os de Aero. Em seus olhos, ele viu medo e
confusão. A mão de Aero estava manchada de sangue. Ele estava lutando
contra os Caçadores de Feiticeiros com os punhos.
Onde estava Lydia?
Ele a encontrou, de pé com o Rei Calix, usando suas mãos como
lança-chamas, lançando fogo em um Caçador. O caçador gritou de dor.
Onde estava Lis?
Olhando para a cena horrível, ele avistou o cabelo curto e castanho de
sua irmã.
Não—
A princesa estava no chão, presa na teia dos Caçadores. Ela estava se
contorcendo e tentando colocar as mãos na frente dela para que pudesse
conjurar um feitiço...
— Pare! — o Rei rugiu, lançando sua sombra pela sala, na esperança
de paralisar o Caçador.
Ao se aproximar, percebeu que era o Caçador com a cicatriz no olho
direito.
O Caçador lutou, limitado pela sombra, mas de alguma forma se
livrou dela, criando um chicote com a grossa corda branca.
Ele a jogou para frente, envolvendo-a no pescoço do rei duas vezes.
O rei não conseguia respirar. Ele observou o malvado Caçador ficar de
pé ao lado de sua irmã. Suspendendo a mão na frente do rosto dela, ele
ergueu uma nuvem de névoa rosa de seu corpo e a absorveu nesta mão.
Ã
NÃOOOOOOO!
Tendo extraído a magia de Lis, o Caçador encontrou o olhar do Rei e
sorriu nauseante. Ele torceu o pescoço de Gabriel antes de soltar o
chicote.
O Caçador passou por cima de Lis e seguiu em frente.
Gabriel rastejou até ela, segurou sua cabeça em seu colo enquanto ela
lentamente recuperava a consciência.
A princesa viveria, mas sua magia havia se esgotado para sempre.
Havia lágrimas silenciosas rolando por suas bochechas, mas seus olhos
mostravam que ela estava grata por estar viva.
Em um momento de silêncio, o Rei Gabriel abraçou sua irmã,
beijando suas bochechas, enquanto a batalha sangrenta continuava
acontecendo ao redor deles.
LYDIA

O salão do baile era um inferno. Lydia estava pronta, mas tudo estava
acontecendo tão rápido que ela não sabia para onde se virar.
— Lydia! — Lux chamou, correndo em direção a Redmond, que
acabara de receber um golpe no braço de um chicote de Caçador.
Imediatamente, Redmond começou a sangrar, seu braço aberto como
se o chicote tivesse sido revestido por vidro quebrado.
Lydia lançou um grande e selvagem fogo contra o Caçador. Ele estava
envolto em chamas. Quando o fogo se extinguiu, a fumaça subiu do
Caçador, cuja pele estava carbonizada. Ele estava ferido, mas não morto,
e soltou um gemido doentio de dor.
Elise se materializou ao lado dela. Lydia percebeu que a Slifer do Ar
estava tão sobrecarregada quanto ela.
Pessoas estavam morrendo e ninguém estava seguro. Se os Slifers e os
Reis não pudessem proteger o Reino, o que seria deles?
Lydia estava apavorada. O medo tomou seu fogo quente e pesado,
imprevisível.
— Elise! — ela gritou, e os olhos das Slifers se encontraram. Ambas
eram puro fogo. — Com ar e fogo juntos, podemos criar... uma
tempestade! — As duas deram as mãos, estendendo as mãos livres até o
teto. Instantaneamente, criou-se um céu turvo, ficando laranja. Deve ter
sido da própria cor do inferno.
O trovão rugiu tão alto que sacudiu as paredes do palácio e
interrompeu todas as brigas no salão em seus lugares. Apenas por um
momento.
Relâmpagos irregulares desceram do teto, atingindo os Caçadores de
Feiticeiros.
O que Lydia havia queimado foi eletrocutado até a morte, e muitos
outros foram atingidos também. O Rei Morrison ajudou as Slifers
enviando seus próprios raios.
O salão de baile brilhava com relâmpagos e cheirava a carne podre.
A cena era grotesca, mas as Slifers estavam tendo sucesso. Os
Caçadores estavam caindo como moscas.
Elas poderiam salvar o dia?
Lydia sentiu uma presença atrás dela, tão fria e escura quanto o centro
de uma floresta esquecida por Deus. Virando-se lentamente, tudo que ela
podia ver era uma cicatriz. Profunda e penetrante. Onde antes estivera
um olho direito.
Um hálito fétido e podre encheu suas narinas e umedeceu seu rosto.
Oh. Deuses.
De repente, Lydia foi atirada do lado de Elise. A tempestade evaporou
instantaneamente. O Caçador de Feiticeiros havia escolhido seu próximo
alvo.
Ele fez a Slifer do Fogo colidir com a parede do palácio.
Lydia não gritou, nem mesmo quando seu corpo bateu na pedra com
a força de cinquenta moxars em movimento.
Ela tentou se levantar do chão, lutando para enviar uma bola de fogo
em direção ao Caçador. Uma chuva de faíscas surgiu na frente dela, mas
ela estava muito fraca para acendê-las.
O Caçador gargalhou.
Ele enviou cordas brancas serpenteando até ela, apertando ao redor de
suas pernas, sua cintura, cortando sua carne com seus fios afiados,
espiralando até que se enrolaram em seu pescoço...
Lydia observou o Caçador de Feiticeiros machucá-la, observou-o
segurar sua mão, prestes a minar sua magia...
De repente, uma lança explodiu no peito do Caçador. Ele desabou no
chão, finalmente derrotado.
As cordas brancas se dissolveram em areia.
Um velho feiticeiro com longos cabelos brancos balançou onde seu
assassino estivera.
— LUCIUS?! — A enfraquecida Slifer do Fogo pensou que ela poderia
estar tendo alucinações.
Mas não—era o famoso bruxo, Lucius, que havia retomado bem a
tempo de salvar sua amada neta.
Um cantil caiu e tilintou contra o chão no salão de baile agora
silencioso.
— Oi, Lydia, — ele resmungou. — Desculpe, estou atrasado.
Lydia mal teve um momento para perceber que ela estava viva, muito
menos seu querido guardião morto há muito tempo. Porque a sala estava
subitamente imersa em uma escuridão tão profunda que ninguém
conseguia ver um centímetro diante deles.
Uma luz surgiu no teto, fraca como um farol no mar.
A mulher flutuando na luz pálida estava em silêncio, envolta em um
pano escuro. Como se ela não pudesse suportar mais brilho. Como se ela
tivesse se tomado uma com a sombra.
A mulher era terrivelmente magra. Mesmo que sua presença física
fosse leve, era difícil desviar o olhar dela. Seu fino cabelo loiro caía sobre
os ombros e descia até a cintura.
Sua pele era pálida e fina, como se nunca tivesse visto o sol. Em sua
garganta, havia uma ferida profunda...
— Voltei ao Palácio de Imarnian para reivindicar meu lugar de direito,
— gritou a mulher. Sua voz era tão alta e aguda que Lydia sentiu um
corte direto em seu peito.
O sangue da Slifer do Fogo gelou. Ela poderia ser...?
Capítulo 29
A FÚRIA DA SLIFER DO FOGO
GABRIEL

— Eu sou Evine, serva da sombra, líder dos Caçadores de Feiticeiros.


Estou aqui para garantir que o sol nunca mais nasça sobre Imarnia
novamente.
Gabriel mal podia acreditar no que estava ouvindo. Ou vendo.
Evine.
Durante séculos, ele temeu que ver o rosto dela novamente incitasse
nele sentimentos de amor. Mesmo depois de toda a dor que ela lhe
causou. Mesmo que ela própria fosse má.
Mas ela era apenas a sombra da mulher que ele um dia amou. A
sombra depravada, com olhos que conduziam a sua alma negra.
Gabriel estava congelado. Mas com suas palavras, Evine chamou seus
Caçadores, e o salão de baile explodiu novamente com lutas, mesmo
submerso nas sombras.
O Caçador que estava restringindo o Rei se foi. Gabriel se levantou. A
mulher sombra desceu ao chão e caminhou em direção ao rei Gabriel.
Seus olhos o perfuraram. Eles estavam mortos e profundos como buracos
negros.
Agora, olhando para ela, Gabriel sentia apenas raiva. Raiva e nojo por
esta mulher ter se entregado tão completamente ao mal.
Por ela ter sacrificado sua habilidade de sentir qualquer calor humano
por poder.
Por ela trazer violência ao palácio dele.
Por ela ter machucado sua irmã e sua Slifer.
A raiva consumiu o rei tão completamente que ele não conseguiu
dizer nada.
Evine caminhou na direção dele, girando os quadris.
— Vossa Majestade Real. Meu Gabriel.
— Não me chame de seu.
Bolas de fogo subiram em direção ao teto do salão de baile. Lydia. A
Slifer do Fogo. Iluminando o salão.
Um lampejo de dor cruzou o rosto de Evine. Mas o rei sabia que era
falso, que fingir fazia parte de seu jogo.
— Oh, Gabriel, eu sei que te machuquei. Mas isso foi há muito
tempo... — Ela se aproximou dele. Ela ergueu a mão como se fosse tocar
seu rosto.
— E eu tenho uma oferta que pode compensar por tudo. Isso poderia
nos unir novamente. — Sua voz não era mais que um sussurro.
— Nada poderia compensar o que você fez, — o Rei disparou.
Ele agarrou a mão dela em seu punho e a abaixou, largando-a. Como
um trapo sujo. — E eu não tenho nenhum interesse em ficar com você.
Evine deu uma risadinha. — Sim, eu sei sobre sua nova namorada.
Mas o que eu tenho é maior ainda do que você e eu...
Ela olhou para o céu escuro. — E sobre a sombra.
E sobre a escuridão. O que isso pode fazer por você, se você apenas
permitir... Se você apenas se entregar a ela.
Ela voltou seus olhos negros para o rosto do rei. Ela sabia que não
estava conseguindo convencê-lo. — Você não vai acreditar no poder que a
escuridão vai lhe dar. Como isso cobre a dor.
— Você nunca terá que sentir dor de novo! É tudo prazer e poder. Você
já provou, eu sei que já. Eu sei que está chamando por você...
Gabriel estreitou os olhos. O que ela quis dizer, ela sabia que a
escuridão estava chamando por ele?
Em um instante, ele entendeu tudo.
Era Evine o tempo todo. A sombra que o chamava. Isso o tentava a
ceder à escuridão, ao controle, ao poder...
O Rei Gabriel destruiria Evine. E todo o seu exército do mal.
Mas primeiro, ele precisava encontrar Lydia.
LYDIA
Lydia estava montando uma nuvem sobre a batalha. Ayana criou a
nuvem a partir de um milhão de gotas de água e Elise a impulsionou com
o vento.
Deste ponto de vista, a Slifer do Fogo atirava bolas de fogo nos
lutadores restantes.
Corpos cobriam o chão. Mais da metade do grupo estava morto.
Lydia estava tão cansada, mas ela continuaria lutando enquanto
houvesse pessoas para proteger. Lux estava em seu ombro, apontando
para os Caçadores um após o outro.
Lucius estava tropeçando, mas ainda conseguia emitir feitiços
poderosos de sua varinha. Lydia não podia acreditar que ele estava vivo,
mas ele teria que explicar isso mais tarde.
Por enquanto, eles estavam ocupados.
De repente, a nuvem evaporou e Lydia rolou para o chão. Ayana estava
ocupada lutando contra um Caçador e, em sua distração, ela deixou cair
a nuvem.
Lydia rolou e se posicionou com os joelhos no chão, pronta para
atacar. Lux estava bem ao seu lado.
— Lux, onde estão os Slifers? Onde está Gabriel? Lucius? Eu preciso
de...
Ela parou. Ela precisava de um parceiro. Em seu estado de cansaço, ela
não queria lutar sozinha.
Luxus lambeu sua bochecha. Como se eles não estivessem no meio de
uma batalha. Como se a coisa mais importante que ele pudesse fazer
naquele momento fosse conversar com ela.
— Lydia, você não precisa procurar mais ninguém. Eu sei que os
outros podem tomá-la mais forte... mas lembre-se, você não precisa deles.
— Você já tem tudo de que precisa dentro de você.
Ela encontrou os olhos amarelos do gato. O melhor amigo dela. Ele
sempre sabia o que dizer.
— Obrigada, Luxie. — Ela o coçou atrás da orelha por um momento.
Em seguida, ela disparou e enviou uma explosão de chamas em um
Caçador que estava perseguindo a Rainha Malla.
A base de suas calças pegou fogo e ele gritou: — AGGGGHHHHH!
De repente, um homem apareceu na frente de Lydia. Do nada. Ele era
grande como uma parede. Ele correu em direção à Slifer do Fogo como se
pudesse sufocá-la, achatá-la e fazê-la desaparecer...
— MROWWW! — Luxus gritou, escalando o peito do Caçador e
arranhando freneticamente seu rosto.
Com uma mão enorme, o Caçador estendeu a mão e agarrou o gato.
Antes que Lydia pudesse piscar, o homem jogou Luxus no chão.
Houve um estalo nauseante.
Não...
O mundo de Lydia parou. Ela não estava mais no meio de uma
batalha, no palácio.
A única coisa que existia no mundo era Luxus.
Seu pequeno corpo. Seus olhos, que não abriam. Seu coração, que não
batia mais, que ainda estava sob os dedos de Lydia.
— NÃOOOOOOOOO! — Lágrimas escorriam dos olhos de Lydia.
Ela estava perdida em desespero.
Mas isso durou apenas um momento, enquanto o desespero se
transformava em raiva.
Seu melhor amigo estava morto.
Ela precisava de vingança. Ela destruiria o Caçador que matou Lux,
seu companheiro mais querido e leal.
Mas ela não iria parar por aí.
Não.
Lydia destruiria Evine, mesmo que tivesse que incendiar Imarnia
inteira.
Lydia não pararia até que o mundo inteiro se transformasse em
fumaça.
— AHHHHHH! — ela gritou. Sua pele ficou vermelha, como metal
antes de se transformar em líquido. A Slifer do Fogo estava queimando.
Ela estava se tornando a encarnação do fogo.
As chamas eram quentes e brilhantes, de outro mundo.
Seu fogo nunca tinha sido tão forte antes. Foi impulsionado por sua
devastação, uma emoção tão forte que poderia alimentar o sol.
Suas chamas imediatamente lamberam as cortinas pesadas
penduradas nas janelas do salão de baile.
Todos fugiram da Slifer do Fogo, caçadores e civis. Todos, isto é,
exceto o rei Gabriel.
GABRIEL

O rei observou Lydia queimando de agonia. Agora, seu fogo era tão
brilhante que poderia iluminar o mundo para sempre. Essa sombra
nunca poderia vir novamente.
Mas a que custo?
Lydia teria que se perder no processo. E tudo iria queimar, não só o
mal.
O rei não poderia perdê-la para um poder sinistro.
De novo não.
Lydia, uma bola de fogo derretida, ergueu-se no ar e mirou em Evine.
A Slifer do Fogo rugiu em sua direção quando a confiança de Evine
finalmente hesitou. A Rainha das Sombras ergueu a mão para proteger os
olhos da luz ofuscante.
Lydia precisaria de um grande incêndio para destruir a rainha das
sombras.
Ela sabia que o poder deve corresponder ao poder, e a escuridão na
alma de Evine poderia encher o abismo do oceano.
Então, seu incêndio tinha que ser tão grande. Tão insondável e
profundo...
A explosão de Lydia se concentrou em Evine. A mulher sombra
encolheu-se no calor extremo, cobrindo a cabeça.
O fogo se expandiu para dentro do salão. O rei sabia que ela
incendiaria o castelo. Ela queimaria todo o reino....
— Pare! — Gabriel gritou. Ele enviou sua sombra atrás dela.
Ele se lembrou por um momento da primeira e última vez que a
controlou com sua sombra, quando eles estavam na floresta. Quando ele
a suspendeu no ar e ela despertou sua luxúria...
Quão longe eles estavam daquele momento.
Sua sombra não era páreo para o poder derretido de Lydia.
O rei sabia que só havia uma maneira de alcançá-la. Apenas uma
maneira de trazê-la de volta à sua humanidade.
E não era com magia.
Ele se aproximou dela, embora o ar ao seu redor estivesse tão quente
que ele já estava queimando.
O rei estendeu a mão para ela e colocou-a em seu braço. Oh,
queimava! Sua pele fervilhou no instante em que tocou sua pele
derretida.
Mas ele precisava continuar. Ele precisava fazê-la o sentir.
— Lydia! — ele gritou. Sua respiração estava ofegante enquanto a
queimadura subia por seu braço.
— Escute! E o Gabriel. Estou aqui. Eu preciso que você me escute...
Não queime tudo. Por favor. Você destruirá tudo no processo.
— Até você mesma. E você não pode fazer isso... Você não pode...
O rei estava gravemente ferido. Mas Lydia estava lá em algum lugar.
Ele não podia permitir que ela se entregasse à escuridão interior. Ele
nunca faria isso, agora que a conhecia.
A Slifer do Fogo que virou seu mundo de cabeça para baixo.
A chama cintilou por um momento. Antes de explodir de uma vez em
uma nuvem de fumaça, que cobriu todo o salão de baile com cinzas
brancas.
A fumaça estava por toda parte. O rei estava coberto de fuligem negra.
Desabando no chão, todo o corpo de Lydia estava preto como carvão.
Ela se enrolou em si mesma, exaurida pelo calor que havia exercido.
A batalha acabou. Os caçadores restantes haviam queimado em suas
chamas.
O rei caiu de joelhos, envolvendo seu corpo cansado em seus braços.
Fumaça emergia deles. Seu braço ferido doía, mas o rei não pensou nisso.
Ele pensou em Lydia.
— Sinto muito, muito mesmo, — exclamou o rei.
Ele pensou em sua respiração uniforme enquanto ela dormia em sua
cama pela manhã. Como, quando eles fizeram amor, seu cabelo pegou
fogo porque ela não conseguia conter sua paixão.
O brilho malicioso em seus olhos quando ela o provocou. O jeito
amoroso com que ela coçava a cabeça de Lux.
— Lydia. Sinto muito por ter colocado você nesta confusão... mas eu
simplesmente não posso deixar você ir.
Finalmente, os olhos de Lydia se abriram. Ela nunca pareceu tão
pequena para o rei. Ela estava fraca. Com tristeza e cansaço.
Ela não disse nada, mas colocou os braços em volta do pescoço do rei.
Eles se abraçaram com a força que tinham.
O coração do rei doía, mas ele se entregou ao toque dela. Naquele
momento, ele se sentiu aquecido pelo calor de sua chama. Naquele
momento, estava claro o suficiente para que a escuridão o engolfasse.
Ainda sentindo a respiração da Slifer do Fogo em seu pescoço, o Rei
desabou em cima dela e o salão de baile ficou escuro.
Capítulo 30
DIA DE HONRA
GABRIEL

A Slifer estava enrolada na cadeira de veludo vermelho favorita de


Gabriel. Ela estava aninhada sob os cobertores.
Havia um fogo aceso na lareira dos aposentos do rei. Ele mesmo havia
feito o fogo. Lydia estava muito cansada.
Dois dias se passaram desde o ataque sangrento no salão de baile, e a
Slifer do Fogo ainda estava sem energia.
O rei estava dividindo sua atenção entre cuidar de Lydia e ajudar na
recuperação de Lis, além de juntar os cacos após o ataque.
Desde que os poderes de Lis foram minados, não havia curandeiros
encantados para cuidar dos feridos no castelo. Os bálsamos e as ataduras
do armário encantado de Lis acabaram em poucas horas. Embora a
princesa estivesse arrasada com sua perda e fraca, ela continuou a tratar a
dor.
Entre eles estava o próprio Gabriel. Seu braço queimado doía de forma
enlouquecedora. Lis se importava com isso, e o rei cuidava dela, tentando
tirá-la de sua depressão.
Os mortos foram enterrados. Anúncios foram feitos ao Reino. Evine
estava presa no fundo da masmorra. Os reparos no castelo estavam em
andamento. O Dia de Honra seria amanhã, e Imarnia estava ocupada se
preparando.
O rei estava exausto.
Este era seu lugar favorito para estar. Em seu quarto, com Lydia.
Seus olhos se abriram.
O rei Gabriel havia pedido sopa de caldo de osso ao chef e ele se
levantou para pegá-la.
Gabriel mal conseguia desviar o olhar de Lydia. Os terríveis
acontecimentos da semana passada o deixaram mais ciente do que ele
tinha. O palácio brilhava diante de seus olhos. A comida tinha um gosto
mais vital. Sempre que via Lis no corredor, ficava tão feliz que quase
podia chorar.
E Lydia...
Ele estava muito grato pela Slifer do Fogo, que caiu como um cometa
em sua vida escura e a iluminou.
Lydia segurou a tigela de sopa no colo.
— Como está seu apetite hoje? — ele perguntou.
Ela sorriu fracamente. — Muito bom. doutor.
Mas ela não fazia piadas sempre. As coisas mudaram para Lydia
também, desde o ataque. Ela caía em longos períodos de silêncio.
Ela comeu devagar enquanto ele a observava.
— Estou me sentindo melhor hoje, eu acho, — a Slifer meditou.
O rei suspirou. — Essas são ótimas notícias.
Desde a batalha, Lydia não estava muito bem. Ela mal podia acreditar
que Lux havia morrido.
Ou que Lucius estava vivo. Mas ele havia desaparecido novamente,
não sendo visto desde a batalha terrível.
Gabriel não entendia aquele velho. Como ele pôde ser tão frio com
Lydia? Só um louco faria isso...
Oh, espere, ele tinha feito isso. Mas ele estava muito perdido naquela
época.
— Sim, estou me sentindo muito melhor, — declarou a Slifer. — Acho
que me faria bem dar uma volta.
— Tudo bem, — concordou o rei, — vou pegar nossos casacos e botas.
Lydia segurou sua mão. — Eu acho que preciso ir sozinha, Gabriel.
Mas obrigada pela sopa.
Ele assentiu. Ele observou a Slifer do Fogo colocar o grande casaco de
inverno e sair pela porta, deixando-o sozinho.
LYDIA
O ar estava frio, mas limpo no Jardim dos Nobres Lembrados.
Lydia subiu uma colina para encontrar o canteiro de túmulos
recentes. Só de ver as pilhas de terra úmida, ela se sentia mal.
A terrível batalha passou diante de seus olhos. O corpinho de Lux,
sem vida no chão...
Aqui estava seu túmulo. O menor de todos eles, que dizia:
Lux Voltaire
Bom Felino e Verdadeiro Amigo de Lydia Voltaire, a Slifer do Fogo e
Rainha de Imarnia
Ao lado do túmulo havia arranjos de flores secas amarrados com fita
azul. Uma fonte encantada.
Um salgueiro brotava do solo. Uma tigela de leite, enfeitiçada com um
feitiço de frescor, sobre um travesseiro de veludo vermelho.
Presentes finais de Lis, Ayana, Redmond, Gabriel. O coração de Lydia
inchou. Todos que conheceram seu pequeno Lux se apaixonaram por ele.
Lágrimas encharcaram suas bochechas. Seu querido companheiro...
Ela não podia aceitar que nunca ouviria seu ronronar novamente. Que
ele nunca mais lambeira sua bochecha ou envolveria seu corpo magro em
volta do pescoço.
Lydia tirou uma vela preta fina do bolso. Ela o trouxera em memória
de seu companheiro. Ela a plantou na terra fresca e fechou os olhos.
Ela imaginou o movimento de sua cauda preta. Seu ronronar
profundo que fazia vibrar todo o seu corpo.
A vela estava acesa quando ela abriu os olhos. Sua força estava
voltando.
Enquanto observava a chama, Lydia refletiu sobre a última coisa que
Lux havia dito a ela. Seu desafio para ela. Sua afirmação.
Ele acreditava em sua habilidade. Que ela não precisava de ajuda. Ela
poderia alcançar todo o seu potencial sozinha.
Ela decidiu então que iria realizar seu último desejo. Ela poderia se
tomar a Slifer mais forte que ela poderia ser—sozinha. Mas como?
Ela sabia em seu coração que precisaria deixar o palácio. Ela precisaria
ver mais de Ignolia. Em suas viagens, ela poderia se encontrar.
De repente, houve um estrondo atrás dela quando um objeto caiu no
chão.
— Vovô?! — ela disse.
Com certeza, era Lucius. Surpreendendo-a pela segunda vez naquela
semana.
— Lydia, — disse ele. — Oi.
Seu cantil caiu no chão. Pelo menos ele era confiável.
Mas Lydia não tinha nada a dizer ao velho.
Ele a entregou ao rei sem nem mesmo olhar para trás, mentiu sobre
sua própria morte e finalmente voltou... apenas para desaparecer
novamente.
Lydia olhou para a lápide de Lux. O único que poderia fazê-la se sentir
melhor tinha ido embora.
Lucius se abaixou no chão ao lado dela.
— Oh, Luxus, — ele disse enquanto olhava para o túmulo. — Sabe,
quando eu dei o dom da fala ao gatinho, eu pensei que seria divertido.
Mas eu nunca percebi o quão forte seria a união que vocês formariam.
Lydia prendeu a respiração. Ela olhou para o avô, surpresa. Seu
relacionamento com Lux—seu maior presente—tinha sido dele?
— Eu não culpo você se você me odeia neste momento, — ele disse.
— Estou cansada demais para odiar, — disse ela.
— Lamento não ter vindo ver você desde a batalha. — O velho
feiticeiro olhou para suas mãos, que tremiam. — Eu tenho... muito pelo
que me desculpar. A única maneira de fazer isso é começar do início.
Lydia olhou para ele, mas ele se recusou a encontrar seus olhos.
— Há muito tempo, — ele começou, — mesmo antes da última
guerra, eu tinha minha própria família. Eu tinha uma esposa. Duas filhas.
Lydia imaginou Lucius em outra vida. Um homem mais jovem, com
amor no coração. Será que o velho bêbado na frente dela agora é aquele
homem?
— Eu os perdi, — sua voz sumiu... — de uma vez só. A noite mais
sombria que já vivi. Eu não sabia que eles estavam nas trincheiras... Eu
não poderia saber...
— O que você quer dizer? — Lydia perguntou. Sua voz era um
sussurro.
— Eles estavam lá. No lugar que destruí. Recebi ordens para explodir
as trincheiras até o esquecimento. Mas eu não sabia que eles estavam lá.
Eles estavam lá ajudando os feridos...
Suas mãos tremiam descontroladamente. Como se demonstrar
emoção depois de tantos anos o fizesse entrar em combustão.
O coração de Lydia batia forte no peito, mas ela ainda pegou a mão
dele.
Ele havia matado sua família.
— Então, eu acho que é por isso que fui tão frio com você o tempo
todo. Eu sabia que iria perder você quando você fizesse dezoito anos. E
eu não suportaria perder alguém de novo...
Seus ombros tremiam com seus soluços.
— Vovô. Vovô! Está tudo bem, — disse Lydia.
— O objetivo de tudo isso é dizer, eu sinto muito. Por mantê-la
distante. Por dizer que eu morri. Por abandonar você de novo.
Ele olhou nos olhos dela.
— Eu te amei o tempo todo, Lydia. Fiquei orgulhoso de você o tempo
todo. Pela Slifer que você se tomou. Pela mulher que você se tomou.
— Eu sabia que tinha que ficar fora do seu caminho se você quisesse
encontrar seu verdadeiro potencial. Mas nunca pensei em como isso
pode ser doloroso.
— Oh, vovô! — Lydia exclamou. Ela o abraçou rapidamente, porque
seu rosto estava em chamas.
— Eu tive que deixar você encontrar seus poderes por conta própria,
— ele continuou. — Tive que ajudá-la a encontrar a emoção profunda, e
não pensei que o Rei seria capaz de extraí-la de você.
— Você pensou que ele fosse um tolo. Então, espalhei a notícia de que
estava morto. Achei que isso ajudaria você a sentir.
Lydia balançou a cabeça. Que bizarro.
— Eu entendo, — disse Lydia. — Vamos esquecer isso.
O par compartilhou um pequeno sorriso. Então, ela perguntou: —
Então... onde você esteve esse tempo todo?
Lucius suspirou.
— Sim, eu preciso te contar sobre isso também.
Estive procurando pelos restos mortais do Rei Uzier no Pico da
Insanidade.
— E devo dizer que é o suficiente para deixar um homem louco. O ar
ao redor da montanha está saturado com um gás intoxicante. Isso faz as
pessoas... se perderem.
Ele olhou para longe e riu.
— Felizmente, eu tenho gastado meu corpo com intoxicantes. O gás
não me atingia. A única vez que a bebida me fez bem... — Ele sorriu
timidamente.
— Você encontrou o corpo de Uzier?
— Não exatamente. — Lucius fez uma careta. — Seu túmulo está
vazio.
Lydia arfou. — Eu sabia!
— E isso não é tudo... Ele organizou o ataque.
Evine é sua guerreira. E suponho que Uzier não ficará feliz em saber
que Evine está trancada na masmorra...
*
Dia de Honra.
Como as festividades pareciam estranhas do ponto de vista de Lydia
no cemitério.
Dizer adeus a Lux antes de sua viagem. E dizer a ele que ela realizaria
seu último desejo. Viajaria para o deserto de Ignolia.
Para descobrir seu poder.
Todos em Imarnia devem ter se reunido para comemorar a fundação
de seu reino, Lydia pensou.
Os aplausos aumentaram quando o rei Gabriel se levantou e acenou
para seu povo. Ele caminhou até o enorme objeto sob uma cobertura
vermelha, e com um movimento de sua mão, revelou-o.
Era uma enorme estátua de mármore de uma fênix. O pássaro estava
em pleno voo e suas asas estendiam-se poderosamente no ar.
As chamas rastejavam até a metade de seu corpo. Estava emergindo
do fogo. Todos sabiam que a estátua era uma referência para a Slifer do
Fogo.
Lydia sorriu com orgulho.
Ela queria ficar ao lado dele na frente do Reino. Como sua rainha.
Mas não haveria tempo.
Ela deveria pegar a estrada.
Ignolia a chamava. Ela não sabia aonde sua jornada a levaria, mas ela
sabia que deveria ir sozinha.
Ela poderia se banhar no Mar Caleidoscópio ou fazer uma fogueira
nas montanhas nevadas que cercam Trinivan.
O Livro de Decimus pesava muito na bolsa de Lydia. Seria seu guia
nesta jornada incerta.
Ela usava um longo casaco de pele que a manteria aquecida mesmo
enquanto ela viajava no auge do inverno. Ela se sentia totalmente
sozinha.
Todos que ela uma vez se sentiu próxima estavam longe. Lux se foi. E
Lucius também se foi—em outra missão auto atribuída ao Pico da
Insanidade. O rei estava lá, mas desde a batalha, Lydia sentiu que se
afastou dele. Ela não sabia o porquê.
Ela olhou para a praça. Ela não tinha contado ao rei seu plano. Que
estava indo embora.
A multidão ainda estava celebrando Gabriel quando ele retornou ao
seu trono. Ele se sentou ao lado dos outros governantes de Ignolia.
De repente, uma espessa fumaça roxa subiu ao redor da estátua. Era
como se as chamas aos pés do dragão fossem reais. O rei se levantou
enquanto toda a praça ficava em silêncio. A fumaça se dissipou e gritos
emergiram da multidão. A estátua havia sumido. Os suspiros se
transformaram em gritos quando a fumaça começou a subir ao redor dos
tronos...
E então, a realeza de toda Ignolia desapareceu em uma nuvem de
névoa roxa.
À
Lydia piscou. Ela cambaleou. À medida que o nevoeiro se dissipava, a
praça da cidade tomou-se caótica. Os cidadãos de Imarnia perceberam
que seus líderes haviam desaparecido.
Sozinha no Jardim dos Nobres Lembrados, a respiração de Lydia
estava saindo irregular. Toda a Ignolia clamou por ela, convidando-a a
descobri-la e a descobrir seu próprio poder nela.
Mas isso teria que esperar. Agora. Imarnia precisava de sua rainha.
Lydia saiu correndo para o palácio. Ela precisava falar com os outros
Slifers.
Livro Dois
Livro sem Revisão
E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
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Capítulo 1
EPÍLOGO
LYDIA

Lydia desceu a colina até o centro da cidade de forma estrondosa. Ela


correu tão rápido quanto suas pernas podiam levá-la. O Livro de
Decimus batia contra seu corpo.
Ela tinha que encontrar Aramis.
Ele era o único que poderia ajudar ela e os outros Slifers. Ele era o
único que tinha uma conexão com os deuses.
Quando, uma hora antes, Lydia chegou à praça do Jardim dos Nobres
Lembrados, ela se juntou aos Slifers, que estavam reunidos.
Ayana hiperventilava enquanto Redmond segurava sua mão. Ele
olhava para o chão sem dizer nada.
— Então?! — Lydia ofegou. — O que vamos fazer? — Elise olhou para
ela. Lydia não havia considerado a possibilidade de ninguém saber. Que
ninguém teria um plano para encontrar a realeza de Ignolia. Mas os
olhares vazios nos rostos dos Slifers mostravam que eles não tinham a
menor ideia, assim como Lydia.
— Onde você estava? — uma voz baixa perguntou atrás dela. Virando-
se, Lydia viu a princesa Lis. Seu rosto estava pétreo.
— Eu estava... — Lydia começou, antes que ela percebesse que não
podia dizer.
— Você deveria protegê-lo, — Lis disse. O gelo em seus olhos
praticamente fez o sangue de Lydia congelar.
— Lis... — Lydia começou. O que ela poderia ter feito, mesmo se ela
estivesse lá?
David se materializou atrás da princesa. Ele abriu um pequeno sorriso
para Lydia.
— Querida, — disse ele a Lis, — vamos.
Lágrimas estavam começando a se formar nos olhos de Lis. Ela não
piscou enquanto olhava para a Slifer do Fogo. Ela se virou sem dizer uma
palavra.
— Eu vou encontrá-lo! — Lydia disse para as costas da princesa.
Voltando-se para os Slifers, Lydia sabia que só havia um homem que
poderia ajudá-los. Bem, um anão, na verdade.
Foi o que a levou à livraria de Aramis.
Chegando sem fôlego, Lydia bateu na porta. Quando ele não
respondeu, ela bateu com tanta força que a madeira ameaçou se partir
com a força.
Ela inclinou a cabeça para trás, fechou os olhos e suspirou. Quando
ela os abriu, a porta estava aberta.
— Aramis! — ela gritou, entrando.
Mas o anão não estava em lugar nenhum. A loja estava escura e fria,
como se estivesse desabitada há dias.
Para onde Aramis poderia ter ido? E se ele não estava aqui, quem abriu
a porta?
Lydia ficou dispersa. Pela primeira vez desde que a realeza de Ignolia
desapareceu, ela teve um momento para pensar.
O que ela ia fazer? Aramis não estava aqui e Lydia não sabia mais para
onde ir.
O velho sofá puído de Aramis estava em seu lugar de costume, e Lydia
desabou sobre ele. Ela largou o livro na mesa. Ela fechou os olhos e
pressionou os dedos nas têmporas.
De repente, ela ouviu a ignição de uma chama. Abrindo os olhos, ela
viu que a lareira estava acesa. Bem como as velas. O espaço estava quente
novamente e claro.
Ela estava prestes a chamar Aramis quando notou uma figura parada
no canto.
— Deuses! — Lydia ofegou, praticamente pulando fora de sua pele.
— Não tema, filha da chama, — disse a figura em voz baixa e
uniforme. Lydia descobriu que isso a acalmava, mesmo enquanto seu
coração batia descontroladamente.
Ela se levantou. — Quem é você?
A figura não parecia um caçador de feiticeiros, mas Lydia não podia
ser cuidadosa demais.
A figura permaneceu em seu lugar. Ele era mais alto do que Lydia e
usava uma capa preta com um capuz que cobria o rosto.
Olhando para a mesa, Lydia percebeu que O Livro de Decimus havia
desaparecido. Isso foi estranho.
A figura começou a falar.
— Você pode descobrir que sabe quem eu sou, — disse ele, — se olhar
para dentro de si mesma.
Após uma pausa, Lydia respondeu: — Não estou encontrando nada.
Ele não disse nada, mas todas as chamas na sala começaram a
aumentar. Chamas brilhantes se enrolavam na lareira. As velas
queimavam.
De repente, em seus ossos, Lydia soube.
— Você é Decimus, — ela sussurrou.
As chamas continuaram a queimar mais forte. Lydia sentiu o calor em
sua pele. A qualidade das chamas era tão poderosa que Lydia sabia que
ele poderia incendiar todo o edifício em um instante, mas ele não o fez.
— E você é minha filha. Lydia Voltaire, Slifer do Fogo.
Com essas palavras, Lydia sentiu um calor em seu coração que nunca
sentira antes. A sensação de aceitação aqueceu seu corpo inteiro. O
sentimento de família.
Ele se aproximou dela, e sob seu capuz, ela podia ver olhos que
queimavam como os dela.
— Meu pai... — Lydia entendeu, quase em um sussurro. Com isso, a
figura a puxou em direção a ele, e ela foi envolvida em um abraço de urso
gigante.
A dupla ficou assim por um momento. Abraçados pela primeira vez. O
coração de Lydia, que havia sentido tanto naquele dia, parecia que ia
explodir.
Ele a segurou com o braço esticado. — Agora, vaga-lume, deixe-me
olhar para você.
Ela ainda mal conseguia distinguir suas feições, mas podia sentir o
poder desumano irradiando dele. Afinal, ele era um Deus.
— Você é tão linda. Tão cheia de vida, — disse ele. — Que tal fazermos
um chá e ter uma longa conversa?
Imediatamente, o cheiro acre de chá familiar encheu a sala. O cheiro
de... chá de abóbora.
Lydia ofegou. — Você é Aramis também?!
— Na verdade, minha filha, — seu pai floresceu, — eu estive com você
o tempo todo.
— Agora, vou buscar um pouco de chá para nós. — Seus olhos
brilharam com calor e amor. — E então nós realmente devemos ir ao que
interessa.
LUCIUS

Lucius olhou através da névoa vermelha.


O Pico da Insanidade. Tinha se tomado um território familiar para
ele, infelizmente.
Não havia nada de agradável nos penhascos da montanha,
pontiagudos como vidro quebrado. E o ar enevoado e podre que pairava,
imóvel, e nunca ficava claro como o dia e nunca tão escuro quanto a
noite.
Os gritos de abutres enlouquecidos ecoavam enquanto vasculhavam a
rocha em busca de qualquer coisa morta.
O acampamento de Lucius ficava no meio da montanha. Ele tinha
conjurado uma pequena barraca e um fogão, um pequeno tanque para se
lavar. Era o suficiente para um lar.
Ele era um velho. Ele não precisava de luxos. Agora, ele estava diante
do tanque equilibrando seixos em sua superfície. Esse era um velho
truque que ele aprendera com uma bruxa amiga, quando ainda era um
jovem bruxo.
Com as pedras do lugar que você deseja ver, pode-se equilibrá-las em
qualquer poça de água e criar um portal para ele. Só se pode ver pelo
portal, é claro.
Mas ver era tudo que Lucius precisava.
Desde seu retomo ao Pico, ele tinha ouvido estrondos, gritos e danças
—danças nauseantes, o estalar de ossos—de dentro da montanha.
Ele sabia que Uzier tinha feito seu covil lá. Ele estava construindo seu
exército. E eles estavam ficando inquietos.
E Lucius descobriria o que eles estavam planejando.
Com as pedras no lugar, Lucius começou a entoar. Fechando os olhos,
ele mergulhou a cabeça no tanque.
Quando ele os abriu, ele estava no topo de uma enorme caverna.
Olhando para baixo, ele viu duas figuras na penumbra. Tocando as
pedras na superfície com os dedos, ele foi capaz de ajustar seu ponto de
vista.
Até que ele estivesse praticamente sobre a cabeça deles.
A mulher com a ferida vazando em sua garganta e o Rei insano. A pele
dele era como a dela, com um brilho branco e translúcido de anos no
escuro.
Ele usava uma enorme coroa enferrujada e seus olhos se arregalaram
enquanto ele olhava para algo atrás de Lucius.
Lucius se virou para encontrar quatro tumbas feitas de mármore
vermelho. Em suas superfícies havia labirintos intrincados com rotas
sinuosas.
Os sulcos de cada labirinto estavam cheios de sangue.
Runas, Lucius sabia. Uma magia negra tão perigosa que poucos bruxos
a haviam tentado. E poucos tiveram sucesso.
O feitiço exigia uma quantidade quase mortal de sangue. Voltando-se
para Uzier e Evine, Lucius notou novos cortes, com centímetros de
comprimento, em cada um dos braços e pernas de Uzier.
Sua roupa foi enrolada para não atrapalhar as feridas.
Que par horrível, Lucius pensou consigo mesmo.
Evine ficou na ponta dos pés, estendendo a mão para beijar Uzier sob
o queixo.
— Minha querida, — disse ele, e se inclinou para beijar o pescoço dela,
embora sangrasse. Lucius ofegou.
— Tem certeza de que está na hora, meu bem? — ela arrulhou. — Eu
me preocupo que você esteja muito fraco.
— Eu nunca estou fraco. — A voz do rei era cortante. Ele agarrou a
mão dela com tanta força que ela gritou.
— Claro, meu Rei, — ela disse rapidamente.
— Agora, dê-as para mim.
Ela puxou uma bolsa de veludo do bolso de sua longa capa. Ele o
pegou dela e o esvaziou na palma da mão aberta.
Quatro pedras verdes jade caíram. Elas eram grandes e ocupavam toda
a sua mão.
Lucius observou Uzier encará-las. Como se fossem as únicas coisas no
mundo.
O rei insano ergueu-as até os olhos e murmurou baixinho. Então, ele
esfregou sua bochecha contra elas.
Evine o observou. Seu rosto estava em branco.
Como se ela fosse uma boneca. Como se ela estivesse vazia.
O rei ainda estava sussurrando para as pedras.
As tumbas com suas gravuras assombradas ainda estavam sobre o
altar.
Lucius tinha visto o suficiente. Ele puxou o rosto para fora do tanque.
— Pelo amor de Deus, — disse ele. Sem limpar a água do rosto, ele deu
um longo gole em seu cantil.
Ele se levantou. Não haveria tempo a perder.
O plano de Uzier estava mais avançado do que Lucius pensava.
Era hora de ele construir seu próprio exército.
Capítulo 2
O GRUPO DE BUSCA
LYDIA

O sol da tarde estava se pondo sob as colinas do reino de Imamia.


Ela estava de camisola à janela da sacada, seu costume a essa hora do
dia. Era fácil presumir que ela fazia isso apenas pela vista, absorvendo-a
antes de ir para a cama. Mas sua vigília tinha um propósito muito mais
significativo.
Ele vai voltar, pensou ela. Este é o seu reino. Ele deve voltar.
O rei tinha partido há muito tempo, desaparecendo sem nenhuma
pista de onde ele poderia estar. Era difícil para todo o Reino de Imamia
não saber o paradeiro de seu governante—não saber se ele estava vivo ou
morto.
Embora a ausência de seu amante ficasse cada vez mais longa, Lydia
ainda acreditava no fundo que ele voltaria. Seu rei, Gabriel James Imamia
—um mago das sombras, voltaria para reivindicar seu lugar de direito ao
lado dela no trono.
— Lindo, não é? — disse uma voz de barítono familiar.
Lydia girou sobre os calcanhares e ofegou com a figura de pé ao lado
da cama. Ele estava usando a mesma roupa que usava no momento em
que desapareceu—seu uniforme militar com dragonas adornando os
ombros. Seu cabelo preto na altura dos ombros balançava
tentadoramente sob os raios laranja do sol.
Ela deu um passo para trás, a princípio com medo de que ele pudesse
ser um fantasma. Mas a bela figura à sua frente não se moveu. Em vez
disso, ele sorriu, e isso a deixou sem fôlego.
— Onde você esteve?
— Em uma missão secreta, — disse ele, avançando. — Eu queria te
contar. Mas eu temia que isso colocasse sua vida em perigo. — A mão
dele acariciou seu rosto, e o calor de mil sóis queimou seu corpo. Foi o
toque com que ela sonhou por tantas noites sem dormir.
Seus dedos se enrolaram em seu cabelo, traçando as listras vermelhas
e laranja acentuadas pelo sol poente.
— Não posso ficar longe de você assim, — disse Lydia, puxando-o para
mais perto. — Você não pode desaparecer e simplesmente aparecer
quando quiser.
O rei sorriu novamente. Os joelhos de Lydia ficaram fracos. Ela queria
gritar, castigá-lo por deixá-la sozinha. Mas eles estavam juntos agora.
Não havia sentido em brigar. Não quando havia tantos outros
sentimentos percorrendo seu corpo.
Ela o beijou, sentindo a suavidade de seus lábios pela primeira vez em
meses. Era tudo o que ela esperava e muito, muito mais. Sem tempo a
perder, ela agarrou a jaqueta do uniforme dele e a arrancou. Botões
explodiram do tecido e ricochetearam pelo quarto.
Ele caiu na cama, e ela já estava em cima dele. Ela podia sentir o
volume em suas calças e desejou acariciar seu enorme eixo.
As mãos de Gabriel envolveram os seios de Lydia, deixando-os encher
suas palmas com seu calor suave. Ele rasgou seu vestido ao meio, seu
tecido não era páreo para sua força bruta e intenções carnais.
Ela sentiu a umidade de sua boca enquanto chupava um mamilo
endurecido, e então se movia para o outro seio. Ela desabotoou
febrilmente as calças e puxou-as para baixo para permitir que seu
membro monstruoso balançasse livremente.
Já molhada de seus beijos gentis, ela se posicionou acima de sua
cintura, baixando suavemente os quadris até que sua espada deslizou em
sua bainha.
Gabriel gemeu de êxtase e o corpo de Lydia estremeceu, já perto do
orgasmo—fazia tanto tempo que ela não conseguia se conter. Seus
quadris balançaram para frente e para trás, lentamente no início, mas
rapidamente ganhando velocidade até que parecia que todo o quarto
estava tremendo sob o ato de amor.
Tentáculos sombrios serpentearam do peito de Gabriel e envolveram
o pescoço de Lydia, enforcando-a apenas o suficiente para intensificar a
experiência.
Um fogo ardeu no fundo de suas veias, crescendo em intensidade até
que todo o quarto estava brilhando em luz laranja. Mas não eram os raios
do sol que se desvaneciam que enchiam a sala. Ela estava em chamas—e
as chamas só ficavam mais quentes com cada impulso de seus quadris.
— Deuses! — Gabriel gemeu. — Eu nunca vou sair do seu lado. Eu
sempre estarei com você.
Suas palavras a encheram de combustível suficiente para fazer com
que o local parecesse uma fornalha. Ela respirou fundo quando o sentiu
se liberar dentro dela, enchendo-a com sua semente real...
*
— De novo não! — uma voz feminina gritou. — Lydia! Lydia! Sua
cama está pegando fogo!
Lydia se levantou na cama bem a tempo de testemunhar os restos de
seus lençóis queimando e virando cinzas.
— Excelente! — Lydia gemeu.
A jovem empregada que acordou a Slifer do Fogo ficou à distância de
um braço, sem saber o que poderia acontecer a seguir.
— Vou comprar lençóis novos imediatamente, — disse a empregada.
Outro conjunto de lençóis... esta seria a terceira vez este mês! Não
apenas estava ficando caro, mas também era constrangedor. Ela teria que
falar com um mestre dos feitiços para encontrar uma maneira de tomar o
próximo conjunto à prova de fogo antes que eles pegassem fogo também.
Cansada e confusa do sonho vívido, Lydia cambaleou até o banheiro e
fechou a porta. Ela jogou água fria de uma bacia no rosto e se olhou no
espelho.
Fazia três meses desde o desaparecimento da realeza. Três longos
meses que testaram o vigor de todos no reino. Após a perda de Gabriel,
sua irmã Lis foi nomeada Rainha Regente do Reino de Imamia.
Ela insistiu que não estava pronta para o trabalho, mas todos sabiam
que ela seria mais do que adequada para liderar. Se nada mais, iria
mantê-la ocupada e distraí-la de seu irmão desaparecido, bem como de
seus poderes roubados.
Não muito depois do desaparecimento, Lydia e os outros Slifers foram
convidados a se mudar para a capital de Ignolia—a maravilhosa cidade de
Ellesmere.
Os Slifers concordaram em se juntar a outros magos graduados na
caça à Realeza. Foi uma honra trabalhar para a chanceler Agatha Alastair,
chefe do Congresso de Magia. Mas era solitário para Lydia estar tão longe
de casa e sem o conforto de seu companheiro.
Lydia trançou o cabelo rapidamente enquanto observava seu rosto no
espelho. Ela podia ver linhas sob seus olhos — e ela tinha apenas dezoito
anos!
Ela escorregou para fora dos farrapos queimados de sua camisola e
colocou o vestido verde esmeralda pendurado na parede. Era lindo e
combinava bem com ela; o verde acentuava as mechas de vermelho e
laranja em seu cabelo preto como carvão.
Lydia Voltaire estava pronta para enfrentar o dia.
— Lá está ela! — Disse Redmond, radiante enquanto Lydia se dirigia à
praça central da enorme cidade. Redmond estava acompanhado por um
jovem bruxo chamado Dorian, que Lydia conheceu apenas brevemente,
mas que parecia charmoso e inteligente. Seu cabelo escuro e
encaracolado e olhos castanhos davam a seu corpo esguio, mas
musculoso, uma aparência misteriosa.
Os três estavam em frente a uma grande fonte cercada por um
mercado movimentado.
— É bom ver você, — Dorian disse com uma reverência. — E em uma
tarde tão adorável.
Redmond deu uma risadinha. — Deixe para Lydia dormir a metade do
dia.
— E deixe que Redmond nunca me faça esquecer isso.
— Eu só estou brincando. Não é como se tivéssemos algo importante
para fazer, — Redmond respondeu com um sorriso malicioso.
— A chanceler Alastair certamente não se importará se tirarmos o dia
para fazer compras o quanto quisermos, — Dorian acrescentou com uma
piscadela, olhando para as barracas de carne fresca e outros produtos.
Lydia sentiu sua pele enrubescer de vergonha, mas não sabia por quê.
Dorian era um jovem bonito, mas era apenas um conhecido. No entanto,
algo no brilho em seus olhos fez Lydia desviar o olhar.
— Como quiser. Mas estou indo para a floresta para continuar
procurando por vestígios da realeza, — Lydia disse, determinada.
— É isso que gosto de ouvir, — respondeu Redmond. — Onde vocês
dois pararam pela última vez? — perguntou Dorian.
Mais uma vez, Lydia se viu hipnotizada por seus olhos castanhos
escuros e cabelos negros cacheados. — Bem... nós... uh...
Ela balançou a cabeça, ainda tentando se recuperar totalmente de seu
sonho delirantemente real.
E agora este jovem bruxo simplesmente não conseguia parar de olhar
para ela...
— Eu acredito que foi a fronteira oeste da Floresta Majestosa, — disse
Redmond.
— Sim! Sim, foi... — Lydia disse apressadamente.
— Muito bem! Então, vamos começar.
Dorian e Redmond deram as mãos, formando um semicírculo. Lydia
pegou cada uma de suas mãos livres. Como a única feiticeira entre eles
que podia se teletransportar, sempre cabia a ela enviá-los ao local certo.
Ela fechou os olhos e se concentrou em sua última memória da
floresta: um riacho murmurante que levava a uma pequena cachoeira no
fundo do mato denso.
— Preparados? Aqui vamos nós.
Um flash de luz encheu a praça agitada e os três jovens companheiros
haviam partido.
— Eu não sinto nada, — disse Lydia severamente. — Não há nenhum
vestígio.
— Não deixe isso te derrubar. Devemos encontrá-los em breve, —
Redmond disse positivamente.
Foi bom ouvir a esperança em sua voz, mas isso só tomou a realidade
da situação deles muito mais palpável. O pequeno grupo estava
procurando por várias horas, sem sucesso.
O sol, brilhante e quente quando eles começaram, agora estava
avançando abaixo do horizonte. Eles teriam luz por apenas mais uma
hora, no máximo. Então Lydia, Redmond e Dorian voltariam ao castelo
como fizeram tantas vezes antes — sem nada para mostrar por seu
trabalho árduo e determinação.
A chanceler Alastair enviava grupos de busca quase todos os dias
desde o desaparecimento da Realeza. Doze semanas de pistas vazias e
becos sem saída foram suficientes para levar até a pessoa mais sã ao
estado de loucura.
— A chanceler Alastair escolheu vocês, Slifers, para ajudar por uma
razão, — Dorian disse encorajadoramente. — E eu confio em sua
recomendação. Nós os encontraremos. Mesmo se for a última coisa que
fizermos.
— Não diga isso! — Lydia gemeu. — Se houver uma última coisa, será
a queima de Evine em cinzas. — Dorian e Redmond sorriram com o
pensamento. Mas Lydia sabia que Dorian estava certo. Agatha Alastair
confiava em seus esforços de busca e, no final, eles encontrariam Gabriel
e os outros membros da realeza.
Lydia se certificaria disso... sim, mesmo que fosse a última coisa que
ela faria...
O trio começou a caminhar ao longo do pico de um pequeno
penhasco com vista para uma bela paisagem engolfada pelas copas das
árvores verdes luxuriantes. Lydia estava prestes a encerrar o dia e
teletransportá-los de volta quando percebeu que Dorian havia ficado
para trás.
Ela o encontrou a vários metros de distância, olhando para os
arbustos que os rodeavam.
— O que foi? — Lydia perguntou.
— Há algo ali, — Dorian respondeu, parecendo tenso.
Ela tentou afastar a ideia de que alguém possivelmente os estivesse
observando, mas de repente eles ouviram o estalo de um galho.
Redmond deu um passo ao lado dela, com um olhar determinado em
seu rosto.
— Prepare-se para uma luta.
Capítulo 3
REPORTANDO AO CONGRESSO
LYDIA

— São os Caçadores de Feiticeiros? — Lydia perguntou enquanto ela e


Redmond se juntavam a Dorian.
— Eu não sei, — Dorian respondeu. — Mas soa como mais de um.
Seja o que for...
Os braços de Redmond se transformaram em madeira em preparação
para a batalha. Era bom eles estarem na floresta, já que ele seria capaz de
usar o ambiente a seu favor.
Dorian estava preparado para libertar seus próprios poderes. Suas
mãos brilharam em um violeta escuro, e uma massa de energia girou
diante dele. Ele era conhecido em Ellesmere por conjurar bestas celestiais
que podiam dominar qualquer mortal e muitos feiticeiros fortes.
Lydia só tinha visto sua magia uma outra vez, quando ele conjurou
um grande pássaro para voar alto e inspecionar a área. Foi
impressionante, para dizer o mínimo.
O farfalhar ficou mais alto e ela se preparou para o pior. Suas mãos
estavam quentes com antecipação quando orbes de fogo se formaram na
superfície de suas palmas.
— Estão vindo! — Redmond avisou quando várias figuras sombrias
romperam a densa folhagem.
Lydia de repente deixou cair as mãos para os lados, rindo de alívio.
Dorian e Redmond juntaram-se a sua risada enquanto as duas Slifers à
frente avançavam para os últimos raios de luz morrendo.
Elise e Ayana pareciam estar caminhando há dias. A sujeira manchava
seus braços e seus vestidos estavam rasgados em vários lugares.
— Deuses, é bom ver rostos amigos! — Lydia gritou.
— Nada nesta floresta é bom, — retrucou Elise.
— Majestosa, uma ova.
Lydia e Redmond correram e as abraçaram enquanto Dorian recuava.
— Nunca pensei que veríamos vocês aqui, — Ayana disse enquanto
enchia uma pequena bolsa com água de suas mãos. Ela tomou vários
goles e ofereceu a Elise, que torceu o nariz com o gesto.
— Água de mão? Não, obrigada.
Redmond pegou a bolsa e bebeu avidamente.
— Vocês procuraram nesta parte da floresta o tempo todo? — Dorian
perguntou, finalmente se juntando ao grupo. Lydia percebeu que devia
ser mais difícil para ele se sentir parte do grupo. Afinal, ele era o único
entre eles que não era um Slifer.
— Onde mais poderíamos procurar? — Ayana perguntou. — É aqui
que nos disseram para olharmos.
— Recebemos ordens para nos encontrarmos aqui, — disse Elise
severamente. — Parece que todos nós perdemos nosso tempo. Parece
mais ou menos isso, considerando tudo o que passamos.
Elise se afastou, seguindo o pico do penhasco. Os outros rapidamente
alcançaram e Lydia colocou um braço em volta de Elise.
— Pelo menos estamos juntos.
— Eu concordo, — acrescentou Redmond. — Você é uma surpresa
muito melhor do que um grupo de Caçadores de Feiticeiros.
— Falando em surpresas, por que você não nos surpreende com
algumas boas notícias? — Elise bufou em aborrecimento. — Estamos na
Floresta Majestosa. Você não pode pedir a seus amigos da árvore para
ajudar a encontrar nossos amigos? Talvez eles os tenham visto pisando
nos arbustos. — Redmond tentou não permitir que o comentário o
incomodasse, mas era tarde demais. Os outros Slifers estavam cansados,
irritados e procurando briga.
— Claro. Deixe-me falar com os carvalhos e descobrir o que eles
viram, — Redmond respondeu secamente. — Ou talvez você pudesse
ouvir os sussurros do vento. Tenho certeza de que teria o mesmo sucesso.
— Na verdade, parece uma boa ideia! — Ayana disse alegremente.
Claramente, ela era a única Slifer que não conseguia usar sarcasmo esta
noite.
— Eu também tenho algumas ideias para você, menina da água, —
Elise resmungou.
— Tudo bem, já chega, — Lydia disparou. — Estamos todos cansados,
mas não há razão para brigarmos uns com os outros.
— Lydia está certa, — acrescentou Dorian. — Estamos fazendo o
melhor que podemos.
Elise revirou os olhos com tanta força que o chão da floresta
estremeceu sob seus pés. — Diz o menino que faz bichinhos lindos
aparecerem do nada.
Dorian riu do comentário rude, pegando Lydia de surpresa.
— Ninguém nunca os chamou de 'lindos', mas obrigado! — Dorian
disse com um sorriso deslumbrante.
Por que esse jovem bruxo estava sempre de tão bom humor? Lydia não
podia negar que a fazia se sentir melhor apenas por estar em sua
presença. Se ao menos os Slifers pudessem aprender algo com ele.
— Acho que é hora de voltarmos, — disse Lydia. Os outros se
aproximaram, formando um pequeno círculo para ser transportado de
volta para Ellesmere.
*
— Você nos mandou procurar no mesmo lugar! Sem a gente nem
saber! — Elise gritou. Sua raiva estava começando a crescer, e cada
explosão provocava uma nova rajada de vento pela pequena sala.
Ao retomar para Ellesmere, Dorian e os quatro Slifers foram
convocados para os aposentos de Marsie Maroo. Marsie era a chefe das
equipes de busca e o braço direito da chanceler Alastair.
Embora Lydia só tenha conhecido sua alegria e positividade, Marsie
ainda era uma figura imponente. As muitas cicatrizes em seus braços e
rosto falavam de uma mulher que conseguia cuidar de si mesma e não
tinha medo de lutar.
— Estamos fazendo o melhor que podemos, — respondeu Marsie. —
Dada a falta de recursos, eu diria que vocês fizeram um bom trabalho
vasculhando a maior parte de Ellesmere.
— E agora? Quer que verifiquemos a masmorra em busca de pistas
sobre o paradeiro deles? — Elise respondeu.
Marsie sorriu o mais educadamente possível, dadas as circunstâncias.
— Se você acha que vai ajudar.
— Vamos nos acalmar, — disse Lydia. Ela olhou ao redor da sala para
os rostos cansados. — As coisas já estão difíceis o suficiente sem que
briguemos entre nós.
— Ela está certa, — disse Redmond. — Sinto falta de Adria em todos
os momentos de cada dia. E o general Malla também. Mas todos nós
estamos sentindo falta de alguém importante. Temos que trabalhar
juntos se houver alguma chance de consertar o que está errado.
O grupo ficou em silêncio por vários momentos enquanto pensava no
que fazer a seguir. Marsie pigarreou e pegou sua jaqueta de couro
marrom. — A chanceler Alastair está nos esperando no Congresso de
Magia, — disse ela, dirigindo-se à porta. — Seria sensato não deixá-la
esperando.
O grupo seguiu Marsie para fora e pelas ruas ainda movimentadas da
capital. Os comércios estavam começando a fechar, os comerciantes
voltando para suas famílias.
O sol já havia se posto abaixo do horizonte. Uma brisa fresca
substituiu seu calor suave, esfriando o grupo e deixando arrepios em suas
peles.
Virando na rua principal que leva ao Congresso de Magia, o grupo
pôde sentir algo mais frio do que a brisa da noite. As pessoas os
observavam enquanto eles passavam.
Alguns zombaram aborrecidos com a presença dos Slifers. Seus
sussurros altos eram carregados pelas ruas de paralelepípedos. Era quase
como se eles quisessem que os Slifers ouvissem...
Eles não fizeram nada pelos membros da Realeza desaparecidos.
Que grupo de busca é esse? Todos esses poderes e eles só prejudicaram o
reino.
Patético. Eu gostaria que os Deuses pegassem de volta sua prole
fracassada.
Lydia podia ouvir as palavras duras. Elas a encheram de raiva, mas ela
sabia que seria infantil responder.
Ela continuou seguindo Marsie sem perder o ritmo. Logo eles teriam
notícias da chanceler Alastair. Essa era a única opinião que valia a pena
ouvir.
*
A chanceler estava em um grande pódio rodeado por vários membros
do congresso. Ela olhou para a reunião de senadores, representantes e
diplomatas, mas principalmente para o grupo de Slifers com Marsie
Maroo.
— Que novidades você tem? — A voz suave, mas severa, da chanceler
Alastair encheu a sala.
— Nada ainda, excelência, — respondeu Marsie. Ela lançou um olhar
para Elise, esperando que ela não falasse.
— Nesse caso, foi um fracasso total, — respondeu Alastair.
Murmúrios ecoaram por toda a sala. Os Slifers se entreolharam
desconfortavelmente. Eles não apenas perderam sua Realeza, mas agora
o Congresso de Magia os estava acusando de não fazer o suficiente.
Lydia quis dar um passo à frente e falar, mas Marsie estendeu a mão
para impedi-la. A líder deles sentiu a ansiedade crescendo nos Slifers e
faria tudo que pudesse para evitar que transbordasse.
— Nosso pessoal está fazendo o melhor que pode, — disse Marsie
corajosamente.
— O melhor absoluto teria nos dado uma pista até agora, — Alastair
retrucou.
Outra onda de murmúrios.
— Por que você não levanta a bunda daí e tenta fazer alguma coisa?, —
sussurrou Elise. Ela estava sempre pronta com uma resposta inteligente.
Seu desejo de encontrar seu companheiro foi superado apenas por seu
desejo de brigar.
— O que foi isso, Slifer do Ar? — Alastair disse com olhos furiosos.
— Nada, excelência, — disse Elise, constrangida.
— Foi o que pensei, — respondeu Alastair. — Nada. Exatamente como
o que essas equipes de busca conseguiram.
Marsie deu um passo à frente para acalmar a situação.
— Ainda temos mais um grupo que ainda não se reportou. Eles devem
voltar em breve com novidades, — disse Marsie, esperançosa.
— Isso seria benéfico para todos nós. Mas duvido que teremos algo
novo, — disse Alastair. — Enquanto isso, estou disposta a retirar-lhe as
designações oficiais.
Mais uma onda de sussurros, desta vez junto com suspiros dos Slifers.
Lydia balançou a cabeça em descrença. Procurar por Gabriel deu a ela
um motivo para ter esperança durante esses tempos de incerteza. Ele era
seu companheiro, e Lydia sentiu que era seu dever continuar
procurando, não importa quanto tempo levasse.
— Vossa excelência, — gritou Marsie. — Estamos tentando o nosso
melhor.
— No momento, o que você tem de melhor não está ajudando nosso
reino, — disse Alastair estreitando os olhos.
De repente, as portas se abriram e um pequeno grupo abriu caminho
pelo corredor até a frente da sala. Era conduzido por um homem de
ombros largos e andar confiante. Gerard Vastia, o oficial chefe de defesa.
Ele era alto e orgulhoso, sua testa brilhando de suor.
— O que significa isto?! — a chanceler gritou.
— Perdoe-nos, vossa excelência, — Gerard disse, recuperando o
fôlego. — Mas voltamos o mais rápido possível.
— É melhor você ter boas notícias para nos contar, — disse a
chanceler, inclinando-se para a frente. A sala ficou em silêncio. Bancos e
cadeiras gemeram com o peso dos membros do público movendo-se para
a borda de seus assentos, ansiosos com antecipação.
— Na verdade, eu tenho, — Gerard disse com um sorriso malicioso. —
Meus homens e eu encontramos vestígios da realeza. Achamos que
conseguimos o rastro deles.
Capítulo 4
TRAÇOS DE ESPERANÇA
LYDIA

Os gritos de surpresa da multidão ecoaram por todo o edifício. Por


um momento, Lydia se perguntou se a pura emoção deles derrubaria o
teto.
— Ordem! — A chanceler Alastair gritou. — Ordem já!
Enquanto as vozes se dissipavam, a chanceler olhou severamente para
Gerard.
— Que rastros você encontrou? Conte-nos tudo, — ela exigiu.
Gerard enxugou o suor da testa e pigarreou. — Estávamos no sul,
perto da fronteira de Vallas.
Redmond ofegou ao ouvir o nome de seu reino. Elise e Ayana se
voltaram para ele em apoio. Lydia tentou imaginar como ela poderia ter
se sentido ao ouvir que os membros da Realeza tinham sido rastreados
até Imamia. O choque era demais para compreender.
— A presença deles era inconfundível, — Gerard continuou. —
Parecia que uma enorme força de energia emanava... crescendo a cada
momento em que estávamos lá.
— Onde exatamente você estava? — Alastair disse, fazendo a pergunta
que todos queriam que fosse respondida.
— É uma pequena cidade chamada Ulu. Teríamos perdido se não
tivéssemos ouvido os sinos de sua inconfundível torre do relógio.
— Você conhece esse lugar? — Lydia perguntou a Redmond.
Ele balançou sua cabeça.
— Parece familiar, mas nunca estive lá pessoalmente, — admitiu.
— Bem, agora você pode ter sua chance, — disse Elise com um sorriso.
— Não me exclua, — Ayana respondeu com entusiasmo.
A atenção dos Slifers foi trazida de volta para a chanceler quando ela
se levantou, exigindo o respeito de todos.
— Você deverá ir até lá amanhã cedo, — ela disse, olhando para
Gerard. Seu olhar então se voltou para Marsie e os Slifers. — Marsie,
escolha sua equipe. Precisamos dos melhores que temos.
Os aposentos de Marsie estavam ainda mais apertados do que antes.
Cada Slifer, mago graduado e soldado se reuniram na esperança de serem
escolhidos.
— Não há necessidade de rodeios, — disse Marsie, olhando para os
rostos ao seu redor. — Alguns de vocês não ficarão felizes com as
escolhas que estou fazendo. Mas é para o bem da equipe de busca.
Lydia podia sentir os nós se apertando em seu estômago. Se Gabriel
estava em Vallas, ela precisava estar lá.
— Eu quero Redmond, já que ele é o único Slifer do reino, — disse
Marsie.
Redmond acenou com a cabeça em compreensão. Seu rosto estava
calmo, mas Lydia sabia que, por baixo da superfície, ele provavelmente
estava enlouquecendo. Ela sabia que seria...
— Dorian está aqui? — Marsie perguntou.
— Você sabe que sim, — Dorian respondeu, levantando a mão. Todos
os olhos se voltaram para ele.
— Eu confio em seus instintos, e muito provavelmente vamos precisar
de suas habilidades.
Dorian acenou com a cabeça e levantou o polegar.
Marsie levou um tempo extra enquanto olhava para a multidão. Seus
olhos encontraram os de Lydia por apenas um momento antes de ela
passar para outra pessoa.
— Lucius Voltaire?
— Bem... aqui... — O velho mago deu um passo à frente e quase caiu
no chão. O rosto de Lydia queimou de vergonha. Ele estava bêbado de
novo!
Mesmo depois de todo esse tempo juntos em Ellesmere, Lydia ainda
tinha dificuldade para se acostumar com a ideia de que seu avô estava por
perto. Não que ela o visse com muita frequência. Ele estava sempre
sozinho como um lobo solitário.
O velho mago tinha perdido muito da confiança de Lydia depois de
fingir sua morte. Mesmo agora, ela não podia evitar se sentir traída cada
vez que via seu rosto avermelhado.
— Você está pronto para o desafio? — Marsie perguntou, estreitando
seus olhos. Era fácil entender por que ela iria querer o poderoso mago.
Também era fácil entender por que ela estaria preocupada.
Lucius tirou o boné e fez uma breve reverência. — Farei tudo o que
me for pedido, — respondeu ele com um soluço.
— E se eu lhe pedir para ficar sóbrio antes da viagem? — adicionou
Marsie
— Então você vai perder um mago, — ele disse, tentando piscar. Em
seu estado de embriaguez, saiu mais como um piscar confuso — como se
algo simplesmente não saísse de seu olho.
— É justo. É isso, pessoal, — ela disse para as reclamações por toda a
sala. — Estamos mantendo um grupo pequeno para não chamar a
atenção. O resto de vocês terá a chance de ajudar em breve, tenho
certeza.
O queixo de Lydia caiu. Enquanto a sala se esvaziava, ela caminhou
em direção a Marsie.
— Que diabos? — Lydia esbravejou. — Por que fui deixada para trás?
— Sem ofensa, — Marsie começou, — mas sinto que às vezes você
deixa suas emoções tirarem o melhor de você.
Lydia riu incrédula. — E suponho que nenhum dos outros Slifers tem
nada envolvido nessas buscas?
— Eu quero pessoas que não serão cegadas pela paixão quando as
coisas ficarem difíceis, — Marsie respondeu.
Lydia cerrou os punhos, tentando ao máximo impedi-las de se
transformar em bolas de fogo. — E Lucius é uma escolha melhor? Bêbado
o tempo todo — sem dar a mínima para ninguém além de si mesmo?
— Ele pode ser um bêbado, mas é poderoso. Vamos precisar dele se
tivermos problemas.
Lydia não pôde evitar. Ela sentiu suas mãos se transformarem em fogo
e observou Marsie dar um passo para trás.
— E eu ajudei a lutar contra Evine quando ela se infiltrou em Imamia,
— disse Lydia, ficando cada vez mais agressiva. — Se houver problemas
— e é provável que haja — você precisará da minha ajuda.
— Você está me ameaçando? — Marsie perguntou, perplexa.
— Estou avisando que você está fazendo uma escolha errada, —
respondeu Lydia. — Imagine se fosse a chanceler Alistair desaparecida.
Você aceitaria deixar outras pessoas buscarem enquanto você fica para
trás?
Marsie pensou por um momento. Finalmente, ela ergueu as mãos e
acenou com a cabeça em concordância. — Está bem. Você está dentro.
Mas não estrague tudo.
Quando Lydia abaixou as mãos, ela podia sentir as chamas se
dissiparem até que não houvesse mais nada. Ela tentou esconder o
sorriso, mas foi impossível. Depois de todos esses meses, ela teria outra
chance de sair e encontrar o homem que estava procurando.
Embora não houvesse certeza, Lydia sentiu um toque de calor
crescendo em seu peito. Ela tinha que ser positiva e acreditar que era
isso. A chance de se reunir com o rei Gabriel.
Marsie balançou a cabeça, incapaz de evitar um sorriso.
— Talvez precisemos da sua paixão, afinal.
— Definitivamente, — Lydia respondeu antes de se virar para sair.
— Essa foi uma bela demonstração de força, — disse uma voz
arrastada enquanto Lydia descia o beco.
— Lembre-me de nunca ser seu inimigo.
Lydia parou em seu caminho e observou Lucius sair das sombras.
— Você sabe que isso é assustador, certo? — ela disse, irritada.
Ele limpou a garganta e focou seus olhos em Lydia. — Ouvi dizer.
Apesar de seu aborrecimento, ela não pode deixar de se sentir
sentimental sobre o maldito velho. Sua atitude grosseira era tudo o que
ela conhecia durante a infância, então não a surpreendeu agora.
— Existe uma razão para você estar me perseguindo dos becos? Ou
você apenas sente minha falta? — ela perguntou.
— Eu sei que você quer ir com o grupo de busca, — disse Lucius,
deixando escapar um arroto. — Mas é tão importante para você ficar
aqui.
Lydia olhou para o avô com olhos enfurecidos.
Ele realmente acreditava que ficar para trás era tão crucial quanto
encontrar Gabriel e os outros?
Ela balançou a cabeça. — Não há nada para eu fazer aqui. Meu talento
seria desperdiçado. Eu vou, quer você goste ou não.
Lydia começou a descer a rua, mas Lucius a alcançou rapidamente.
Mesmo embriagado, ele era rápido. Será que a bebida deu a ele seus
poderes? Ela se perguntou.
— Tenho um mau pressentimento sobre Ulu.
Suas palavras fizeram Lydia parar. Ela olhou para o rosto do avô para
ter certeza de que ele não estava completamente fora de si, mas havia
clareza em seus olhos avermelhados.
— Você sempre tem um mau pressentimento, — ela respondeu
incerta.
— Mas desta vez é diferente.
— Provavelmente é apenas o seu fígado avisando sobre sua dieta
terrível, — disse ela, tentando tomar a conversa mais leve.
Lucius se aproximou e Lydia pôde sentir o cheiro de álcool em seu
hálito. Ela queria dar um passo atrás, mas algo em seu comportamento a
forçou a ouvir.
— Pense nisso, Lyd, — ele sussurrou com um toque de suspeita. — Há
quanto tempo estamos procurando pela Realeza? Três meses de trabalho
e não encontramos nenhum vestígio.
— Azar, — disse ela em dúvida.
— Eu diria um grande azar. E agora mudou? — Os olhos de Lucius
estavam ficando arregalados. Ele parecia um cético que acabara de
encontrar um Deus cara a cara.
— O que exatamente você está tentando dizer? — ela perguntou,
esperando que ele não confirmasse suas suspeitas.
— Gerard e os outros não fizeram nada diferente.
Eles foram para onde lhes foi dito, — respondeu ele. — Acho que
Evine e Uzier queriam que eles encontrassem algo.
Lydia ouviu as palavras, mas não conseguiu acreditar no que estava
ouvindo.
— Nós não sabemos disso, — ela protestou.
— Continue dizendo isso a si mesma. Mas nós dois sabemos que eles
estão por trás de tudo isso. — Lucius recuou, finalmente dando a ela
algum espaço. — Se você for nesta missão, me preocupo que todos
estejamos apenas sendo manipulados por eles.
— Que bom! — Lydia disse. Ela de repente se encheu de coragem
inesperada. — Eu quero encontrar Gabriel. Mas também quero punir
Evine por todos os danos que ela causou.
— Eu sei que você quer. Mas isso é exatamente o que eles esperam!
— O que você está tentando dizer, então? — Lydia perguntou.
— Eu posso cuidar de mim mesmo, — Lucius respondeu. — Marsie
está certa. Estou preocupado que você não veja o perigo porque você está
muito envolvida.
— Claro que estou envolvida, — disse Lydia, sorrindo. — E por isso
que estou aqui.
Lucius balançou a cabeça em desacordo.
— Eu vou, — afirmou ela. — E nada do que você disser vai me fazer
mudar de ideia.
Ela se virou e andou depressa pela rua. Ela sentiu os olhos do velho
queimando suas costas.
Lydia queria que Lucius confiasse mais nela. Depois de tudo o que eles
passaram, o mínimo que ele podia fazer era respeitar as decisões dela.
Afinal, o velho maluco era a única família que ela realmente tinha... além
de Gabriel.
Um toque de desespero invadiu sua mente, mas ela tentou forçá-lo a
sair. Ela sentia muita falta de Gabriel para permitir que alguém ou
qualquer coisa a impedisse.
Lydia sabia que fizera a escolha certa. Ela faria todas as suas próprias
escolhas de agora em diante. E seu avô aprenderia a respeitar isso,
gostasse ou não.
GABRIEL
Os ventos sopravam uma paisagem desolada. Pedaços de arenito
cortante se chocavam contra o penhasco irregular. Gabriel não pareceu
notar, visto que foi atingido na pele como o ferrão de uma centena de
insetos. Sua atenção estava em outro lugar.
À distância estava a pequena aldeia que eles foram enviados aqui para
visitar. Mas ele não era um turista nesta terra. Ele tinha um objetivo
muito maior do que ver os pontos turísticos...
Uma luz verde brilhante chamou sua atenção para uma mulher ao seu
lado. A rainha Adria permaneceu ereta e decidida. No meio de sua testa,
uma joia verde-jade pulsava com luz sobrenatural, lançando sombras
misteriosas em seu rosto.
Ela acenou com a cabeça de modo imperceptível antes de se erguer no
ar como uma pena ao vento, flutuando em direção à vila desavisada
dormindo pacificamente abaixo.
Gabriel a observou sem admiração ou surpresa. Sua mente estava
vazia, exceto por um pensamento... Destruir tudo.
— Está na hora, — disse Evine vertiginosamente. Ela pairou no ar na
frente de Gabriel, indicando com um dedo para ele se juntar. — Ulu será
nosso teste... o primeiro de muitos lugares que iremos conquistar.
Capítulo 5
VIAGEM A ULU
LYDIA

Ulu estava localizada no sopé das montanhas mais áridas que Lydia já
tinha visto. Se elas pudessem ser chamadas de montanhas — pequenas e
nada imponentes como pareciam.
O resto do terreno ao sul era plano e infértil.
A torrente constante do sol sem dúvida havia eliminado cada
centímetro da folhagem, permitindo que apenas os mais determinados
permanecessem.
Isso a lembrou das cidades fantasmas sobre as quais ela havia lido em
antigos livros de histórias. Mas esses contos de fadas não faziam justiça a
esta terra desolada.
— Chegamos, — Redmond anunciou. — A aldeia de Ulu.
O Slifer sorriu ligeiramente. Embora nunca tivesse visitado esta parte
de Vallas antes, ele ainda estava feliz por retomar à fronteira de seu reino
natal.
Os outros — Marsie, Dorian, Lydia e Lucius — simplesmente
observavam confusos.
— Onde está todo mundo? — Marsie perguntou em espanto. —
Nunca vi um lugar tão vazio.
Eles entraram na pequena cidade, mas não viram ninguém. Parecia
que havia sido abandonada anos atrás. Os prédios amarelos eram
coloridos como as areias em que estavam. Uma grande torre do relógio
no centro da pequena vila parecia indicar a hora correta.
Mas quem estava por perto para notar?
— Esta cidade fantasma está me dando arrepios, — Lucius soluçou.
— Não quero ser aquele cara, — Dorian disse, — mas você sempre
parece ter um mau pressentimento.
Lucius olhou para o jovem bruxo e franziu a testa.
— Você parece minha neta.
— E o que há de tão errado nisso? — Lydia perguntou.
Lucius descartou a questão com um aceno de mão.
Ele pegou seu cantil e o inclinou para trás.
Nem mesmo uma gota sobrou para cair em sua língua.
— Bem, parece que tenho algumas coisas para resolver.
Os outros o observaram decolar pelas ruas desertas. Seu pescoço se
esticou enquanto tentava encontrar o bebedouro mais próximo.
— Devemos nos espalhar? — Perguntou Redmond. — Talvez um de
nós possa encontrar um aldeão que tenha informações sobre a Realeza.
— Não sei se é uma boa ideia, — respondeu Lydia. — Eu sinto uma
presença. Não tenho certeza se é a Realeza, mas definitivamente há algo
aqui.
Lydia olhou para os edifícios desolados, tentando localizar a presença.
Era como um zumbido constante que retumbava profundamente em
seus ossos. Ela só tinha realmente sentido algo semelhante quando
estava ao lado de Gabriel.
Tinha que ser um sinal.
— Eu também posso sentir, — disse Marsie.
— Todos nós podemos, — Dorian observou. — É exatamente o que
Gerard descreveu.
— Precisamos ficar juntos. Se isso é uma armadilha, todos precisam
estar preparados, — alertou Marsie.
— Diga isso a ele, — Dorian disse, apontando para a estrada.
Lucius estava subindo e descendo com as mãos balançando. As
bochechas de Lydia coraram. Mais um dia, mais uma chance de ficar
envergonhada pelo velho mago...
— Ei! — ele gritou sem fôlego. — Por aqui. Encontrei pessoas que
falam!
Lucius se virou e desapareceu por uma porta escura. Acima da entrada
estava pendurada uma placa que dizia:
CANTINA DO DINO
Ó
Ótimo pensou Lydia. Ele não estava preocupado com a minha
segurança. O bêbado estava apenas preocupado que eu acabasse com a
sua farra...
O grupo se dirigiu para a pequena cantina, mantendo os olhos fixos
nos prédios pelos quais passavam. Algumas cortinas balançaram quando
eles se aproximaram.
Ainda havia gente na cidade.
Mas por que eles não queriam sair e conhecer seus novos visitantes?
LUCIUS

— Dino, seu filho da... — Lucius arrotou, interrompendo sua própria


frase. — Este é o rum de sabugueiro mais forte que já provei! Qual é o
segredo?
Dino olhou para o bruxo bêbado tanto com desprezo quanto
admiração. Já fazia muito tempo que ele não tinha um cliente digno de
tomar sua bebida mais potente em um só gole, e nenhum deles ainda
tinha fôlego para discutir o assunto depois.
— Se eu te contasse, — resmungou Dino, — não seria segredo.
— Um homem que pensa como eu. — Lucius ergueu um segundo
copo e bebeu-o. O calor queimou sua garganta como fogo e sugou o
fôlego de seus pulmões.
Até agora, esta missão estava se saindo melhor do que ele poderia ter
imaginado.
— Por favor, me diga que era apenas suco, — disse Marsie secamente.
Ela e os outros haviam entrado e olhavam em volta do bar mal
iluminado com desconfiança.
— Não seja tola, — brincou Lucius. — Mas se você quiser que eu
minta para você, é só dizer.
Marsie e os outros encontraram um lugar no bar. O nariz de Lucius
torceu em aborrecimento. O maldito espaço estava quase vazio, exceto
alguns beberrões no canto. Eles não poderiam ter se sentado em outro
lugar?
— A chanceler vai acabar comigo se você ficar bêbado e algo de ruim
acontecer, — disse Marsie, olhando para Lucius.
Lucius soluçou e então tomou uma dose extra por via das dúvidas. —
Isso presumindo que alguma coisa aconteça.
— Que história é essa de chanceler? — Dino perguntou em uma voz
rouca.
O grupo se entreolhou, sem saber como responder à sua pergunta.
Lucius notou que esses jovens provavelmente não estavam
acostumados a frequentar muitos bares. Especialmente os sujos e
sombrios, cheios de personagens desagradáveis. Mas esse era exatamente
o tipo de imersão para a qual Lucius vivia.
— Estamos aqui a negócios oficiais, — Lucius respondeu.
— Há rumores de que um poder misterioso foi rastreado até esta vila,
— Redmond acrescentou. — Sou de Vallas. Recebemos a tarefa de visitar
a área para descobrir qualquer coisa fora do comum.
Redmond olhou para Marsie para ver se ele deveria continuar. Ela
acenou com a cabeça antes de voltar sua atenção para os homens no
canto. Lucius também os notou. Antes de o resto entrar, eles mostraram
pouco interesse no mago. Agora eles estavam começando a ficar agitados.
— Você observou algo extraordinário nos últimos tempos em Ulu? —
Redmond perguntou ao barman. Dino estufou o peito e balançou a
cabeça. — Nada desse gênero.
— Bom o suficiente para mim, — Lucius respondeu. Ele estendeu a
mão para pegar seu copo cheio de rum, mas Dino o empurrou.
— É o bastante. Eu acho que é melhor sua espécie ir embora.
— Nossa espécie? — Lucius ofegou. Como ele poderia ser confundido
com esses outros? Era um ultraje! — Escute aqui...
Marsie segurou o braço de Lucius com firmeza. — Agora não, — ela
avisou.
— Não queremos problemas, — respondeu Lydia.
— Nós só queremos ajudar.
Os beberrões no canto se levantaram. Suas cadeiras arranharam o piso
de madeira desgastado, chamando a atenção de todos. Não parecia bom...
— Não haverá nenhum problema se vocês saírem agora, — Dino
rosnou. — Esse é o seu último aviso. — Dorian sorriu para o barman. —
Sua hospitalidade será sempre lembrada.
O grupo se levantou em uníssono. Nunca foi fácil fugir de uma
ameaça, mas entrar em uma briga de bar não era a missão que eles foram
enviados para cumprir. Enquanto caminhavam em direção à entrada,
Lucius lançou um último olhar vacilante para o barman.
— Que se dane, — Lucius deixou escapar. — Parece que não vou
provar mais aquele lixo que você chama de bebida. Melhor assim! Vou
guardar minha moeda para um estabelecimento respeitável que vale meu
tempo.
Os olhos de Dino estavam enfurecidos com o insulto. Ele alcançou o
outro lado do bar para segurar a capa de Lucius, mas o mago antecipou
seu movimento. Ele agarrou a mão de Dino e olhou nos olhos do
bartender atordoado. Mesmo em seu estado de embriaguez, ele ainda era
tão rápido como sempre.
— Péssima escolha, — Lucius balbuciou. Ele conjurou um feitiço
rápido, quebrando todos os ossos da mão de Dino.
O barman gritou de dor e caiu no chão. Em um instante, os beberrões
no canto saltaram em direção ao velho mago, mas os outros o cobriram.
Marsie deu um passo à frente e chutou um banquinho com força,
fazendo-o voar pelo local. Ele bateu em uma das pernas do bruto com
uma força inacreditável. Ele virou de ponta-cabeça, finalmente caindo
em uma mesa com um baque, derrubando-a no chão.
Um segundo desajeitado pegou uma garrafa de bebida alcoólica do bar
e atirou-a para o outro lado. Lydia a lançou de volta para o homem com
seu fogo, efetivamente transformando-a em um projétil em chamas. Ela
voou pela cantina e se espatifou na parede, incendiando-a.
O homem gritou enquanto tentava escapar do calor. Ele desabou
sobre o bar, terminando em cima do ainda cambaleante Dino.
Os braços de Redmond se transformaram em videiras e dispararam
em direção a um homem parecido com um sapo segurando uma faca. As
vinhas envolveram seu corpo e os olhos do homem se arregalaram de
medo quando ele ficou preso onde estava, incapaz de se mover.
Um último homem permaneceu. Uma cicatriz na bochecha mostrava
que ele estava acostumado a esses encontros violentos. Ele quebrou uma
garrafa de vidro e segurou-a como uma faca.
— Quem vai querer? — disse o bruto de forma enrolada. — Eu dou
conta de todos vocês.
Dorian sorriu e deu um passo à frente. Um brilho roxo escuro encheu
a sala quando ele ergueu as mãos do lado do corpo. Do chão ergueu-se a
figura de um enorme lobo celestial.
O homem com cicatrizes deixou cair a garrafa de vidro, tentando
cobrir as calças com as mãos.
Ele se mijou na hora. Sem outra palavra, o homem correu em direção
a uma janela aberta e saltou por ela.
Lucius bateu palmas alegremente.
— Agora, isso é o que eu chamo de show! — ele gritou de alegria
causada pela embriaguez.
— Idiota! — Marsie gritou. — Não apenas lutamos contra um bando
de zés-ninguéns, mas conseguimos obter zero informações no processo!
Ela bateu com o punho na mesa. A madeira estilhaçou e rachou de
ponta a ponta. Lucius imediatamente fechou a boca.
— A chanceler Alastair vai acabar com a gente por isso.
Principalmente comigo! — Marsie acrescentou, enfurecida.
— Droga, Lucius! — Lydia gritou de raiva, mas sua reclamação foi
interrompida.
Gritos vindos de fora da cantina desviaram a atenção de todos da
bagunça que haviam feito. Um por um, eles correram para o sol
escaldante do meio-dia. O que eles testemunharam os fez parar no meio
do caminho.
A torre do relógio no meio da praça oscilou sob alguma pressão
invisível. Ele balançou muito para um lado e começou a tombar. Com um
grande estrondo, ele caiu no chão como um gigante, demolindo tudo nas
imediações.
Moradores escondidos nos prédios próximos estavam espalhados em
todas as direções.
— Pelos Deuses! — Lydia gritou. — O que está acontecendo?
Como se em resposta, do céu flutuou uma figura majestosa inundada
por um brilho verde opaco. A figura pousou no chão a apenas alguns
passos do grupo...
— Rainha Adria! — Redmond ofegou. — Nós encontramos você...
Capítulo 6
MISSÃO DE RESGATE
REDMOND

Redmond sorriu de alegria ao ver sua rainha. Os últimos meses foram


muito difíceis sem ela ao seu lado. Encontrá-la em seu reino foi a cereja
no topo de um bolo de lama.
— É tão bom ver você! — ele disse alegremente.
Porém, algo não estava certo, embora Redmond não conseguisse
identificar o quê.
A rainha Adria não estava respondendo como ele pensava que faria.
Havia algo peculiar nela. Sua pele radiante estava mais pálida do que o
normal, e adornando sua testa havia uma joia verde-jade brilhante.
Redmond sorriu para sua rainha em confusão. Ela o encarou de volta
com uma apatia que ele não conseguia entender. Ele percebeu que estava
se movendo para mais perto de Adria sem perceber. Puxado por algum
cordão invisível que conectava seus espíritos.
— Redmond, espere! — Lydia gritou por trás. — Há algo errado!
Quando ele estava a poucos passos dela, as palmas das mãos da rainha
brilharam com a magia. Ele protegeu seu corpo, mas a explosão o atingiu
com tanta força que ele virou de ponta-cabeça, caindo aos pés de Marsie.
— O que diabos está acontecendo? — ela ofegou.
— É uma armadilha! — gritou Dorian.
Redmond tentou se levantar, mas o golpe da magia de sua
companheira o deixou perplexo. Ele sentiu a pressão sob seus braços e
percebeu que Lydia o estava puxando de volta para a segurança da
cantina.
Nada disso fazia sentido! Por que a rainha se voltaria contra ele? Era
como se ela nem reconhecesse a pessoa que a amou por todos esses anos.
O que estava acontecendo?
A rainha Adria se preparou para outra explosão e mirou direto no
peito de Redmond. Teria encontrado seu alvo se Lucius não tivesse
intervindo no último segundo com um escudo de magia.
Ele salvou o jovem Slifer. Mas a magia de Adria teve um efeito
negativo sobre o velho mago.
— Ela é mais poderosa do que eu pensava! — Lucius gritou. — Vão
para um lugar seguro!
Ao se aproximarem da entrada da cantina, Redmond se livrou das
mãos de Lydia e se levantou.
— O que você está fazendo? — Lydia perguntou, confusa.
— Essa é minha rainha, — ele respondeu.
— Então você pode explicar o que diabos ela está fazendo? — Marsie
exigiu. Seus olhos estavam arregalados enquanto ela observava o velho
mago e a rainha lutarem.
— Não sei, — disse Redmond, — ela não é assim. — Marsie balançou a
cabeça em descrença. — Não temos outra escolha. Se é assim que ela vai
nos cumprimentar, então temos que derrubá-la!
Redmond olhou para o grupo. Por que isso estava acontecendo?! A
poeira da torre do relógio destruída enchia o ar com uma névoa
sufocante.
Redmond balançou a cabeça com o caos. A rainha Adria realmente
causou tanta destruição?
Ele queria fazer tantas perguntas, mas sabia que não receberia
respostas... Pelo menos não agora.
— Eu vou contê-la, — disse Redmond. — Deixe-me tentar chegar até
ela.
Redmond saiu correndo, transformando seus membros em madeira
rígida. Lucius estava grato por ver o Slifer da Terra se juntar à sua batalha
contra a rainha. Ele odiava admitir, mas ela estava começando a cansá-lo.
Talvez toda a bebida estivesse começando a afetá-lo...
— Rainha Adria! — Redmond gritou com sua voz dolorida e incerta.
— Por que você está fazendo isso com o seu próprio reino?
A rainha não respondeu, ao invés disso o encarou como se ele fosse
um estranho. O silêncio o matou. Ela fora amante, melhor amiga e
confidente de Redmond; ela o moldou no jovem que ele se tomou. Mas
todos os traços daquela mulher amorosa foram lavados no brilho verde
da joia verde-jade.
Ela enviou outra rajada de magia, mas Redmond estava pronto. Ele
conjurou uma rocha diretamente da terra abaixo deles, protegendo seu
grupo da poderosa explosão.
A rainha Adria voltou sua atenção para os edifícios circundantes.
Convocando uma rajada de vento, ela derrubou as paredes, causando o
colapso das estruturas.
Gritos ecoaram pelas ruas empoeiradas. Os aldeões se esforçaram para
evitar os destroços à medida que mais edifícios tombavam em uma
reação em cadeia. Parecia que as réplicas de um terremoto estavam
ribombando sob seus pés.
— Ajudem os aldeões! — Redmond ordenou, desviando de outra
rajada de magia.
— Aguente firme! — Marsie disse enfaticamente, seguindo seu
comando.
Redmond observou enquanto Dorian, Lydia e Marsie corriam por
uma rua lateral. Eles reuniram aldeões em pânico enquanto tentavam
encontrar a rota mais próxima para um local seguro.
Lucius se aproximou do Slifer da Terra e manifestou mais um escudo
de magia.
— Boa sorte, — Lucius grunhiu antes de desaparecer em uma nuvem
de magia.
Redmond foi deixado cara a cara com sua companheira. Seu estômago
parecia um acrobata cambaleando. Foi um momento agridoce finalmente
encontrar sua amada. Mas agora a única pessoa que ele amou estava
tentando esmagar seus pulmões em pó.
— Você não é assim! — Redmond implorou mais uma vez. — Por
favor, Rainha Adria, ouça minha voz!
Mas a rainha se recusou a ouvir... ou não pôde.
A atenção de Redmond mais uma vez voltou para a joia verde
pulsando em sua testa. Era esta a razão pela qual ela parecia uma pessoa
tão diferente? Não fazia sentido, mas era a única informação que ele
tinha para continuar.
Quando a rainha atingiu o escudo de Lucius, Redmond rolou para o
lado e convocou outra barragem de pedras dentadas. Por um momento, a
rainha desapareceu, perdida dentro do labirinto de rochas.
Ele imediatamente mandou trepadeiras que se enrolaram na pedra, na
esperança de prender a rainha lá dentro.
'Isso é para o seu próprio bem! — ele gritou.
De repente, as rochas e trepadeiras explodiram, enviando estilhaços
em todas as direções. Redmond foi jogado para trás por seu próprio
poder e caiu com força no chão.
Quando seus olhos se abriram e a poeira baixou, ele só conseguiu
ofegar de horror. A rainha Adria estava flutuando acima dele. Apesar de
seu medo, ele não pôde deixar de pensar em como ela era bonita
enquanto o vento soprava seu cabelo e sua capa.
— Por favor... — ele murmurou. — Pare.
Mas ela não quis ouvir.
Com uma onda de choque de energia, ela fez Redmond entrar em
convulsão. Os espasmos dificultavam a respiração. Ele tentou bloqueá-lo,
mas seus poderes estavam muito fracos.
Minha rainha...
Redmond podia sentir o ritmo lento de seu coração quando a rainha
esmurrou seu corpo.
LYDIA

Para uma aldeia sem muro, era cada vez mais difícil encontrar um
caminho seguro. Os destroços dos edifícios profanados bloqueavam
todas as rotas disponíveis.
Lydia queria se teletransportar para fora dali, mas seria impossível
levar todos aqueles aldeões de uma vez.
Foi sobre isso que Lucius me avisou! Pensou Lydia enquanto
ziguezagueavam pelas estruturas em ruínas. Pela primeira vez eu deveria
ter ouvido seu papo de bêbado. Se sairmos disso, vou ouvir a vida toda!
Marsie estava à frente do grupo acenando com os braços para que os
aldeões a seguissem. Dorian havia se posicionado no meio enquanto
Lydia ficava na parte de trás para se certificar de que eles não deixassem
nenhum retardatário para trás.
Lydia olhou para trás em direção à posição de Redmond. Sua visão
estava bloqueada por entulho, poeira e fumaça. Mas de vez em quando,
uma explosão de luz incendiava o céu. Eles ainda estavam lutando. Ela
esperava que seu amigo fosse capaz de se manter firme contra a poderosa
rainha.
Ela tentou pensar como seria lutar contra Gabriel. Seus poderes
combinaram com os dele no passado. Mas ela sabia que seria quase
impossível para ela. Lutar contra seu companheiro certamente a
destruiria.
Seja forte, Redmond.
— Por aqui! — Marsie gritou enquanto mais prédios caíam à distância.
Dorian conduziu os aldeões para frente. Ele olhou para Lydia e
acenou com a cabeça, como se dissesse, podemos fazer isso.
— Onde está Lucius? — Dorian perguntou quando Lydia finalmente o
alcançou.
Ela se virou quando uma explosão lançou poeira no beco. Eles
protegeram os olhos.
— Ele provavelmente se perdeu em toda a comoção, — respondeu ela.
— O bebum simplesmente tinha que encher a cara em uma missão.
— Sinto-me ofendido! — Lucius respondeu.
Dorian e Lydia se viraram e pegaram o velho mago espirrando poeira.
Lydia correu e abraçou o avô. Fazia tanto tempo que eles não
compartilhavam nenhum afeto que o gesto os pegou de surpresa. Lucius
deu um tapinha nas costas dela, grato por sua neta.
— Onde está Redmond? — ela perguntou, se afastando.
Lucius balançou a cabeça. — Eu voltarei para ele mais tarde. Agora,
precisamos ter certeza de que todos estão seguros.
Lydia sorriu com a determinação embriagada do mago. Talvez não
fosse tão ruim tê-lo com o grupo, afinal. Enquanto ele colocasse os
outros antes de si...
— Siga-me, — Dorian gritou acima dos estalos ensurdecedores que
ecoavam pela cidade. Parecia que uma exibição de fogos de artifício deu
errado.
Eles dobraram uma esquina e observaram com alívio os aldeões
entrando em um buraco na parede. Finalmente, algo estava dando certo!
Quando o último dos sobreviventes conseguiu chegar em um local
seguro, Dorian ergueu os punhos em vitória. Marsie girou com as mãos
nos quadris e um sorriso de alívio no rosto.
Lydia e Lucius se entreolharam enquanto davam um suspiro de alívio
simultaneamente.
— Conseguimos! — Lydia gritou. — Agora, vamos voltar para a rainha
antes que... — Algo não estava certo... Lydia pôde sentir no momento em
que a voz de Marsie se interrompeu. Uma presença sinistra...
As sombras dançavam em volta de sua visão, indescritíveis na nuvem
de poeira.
— E agora? — gemeu Lucius.
Caçadores de Feiticeiros se espalharam pelos edifícios rachados e
pularam as paredes caídas. Uma emboscada! O grupo se preparou para a
batalha. Mas eles estavam cercados.
Lydia olhou para seus colegas. Seus olhos ferozes, todos contavam a
mesma história... era hora de cuidar dessas pragas de uma vez por todas...
Capítulo 7
LUTANDO CONTRA VELHOS AMIGOS
LYDIA

A Slifer do Fogo e seus parceiros formaram um pequeno círculo. Se os


Caçadores de Feiticeiros tentassem cercá-los, eles não deixariam suas
costas expostas.
— O que fazemos agora? — perguntou Dorian.
— Lute como se sua vida dependesse disso, — Lucius respondeu, —
porque depende.
Os Caçadores de Feiticeiros os cercaram, mas pareciam estar
esperando um sinal para atacar. Lydia pensou em colocar um anel de
fogo protetor em tomo do grupo, mas mudou de ideia. Quero ver cada um
deles quando caírem pensou ela.
— Pelo menos colocamos os cidadãos em segurança, — acrescentou
Marsie com um sorriso. Ela tem que ser sempre tão positiva diante dos
conflitos.
— Nos dá mais liberdade para mostrar nossas habilidades, — Dorian
respondeu vertiginosamente. — Eu quero ver quanto tempo leva até que
o primeiro grite.
Lydia olhou para Dorian com olhos arregalados. Ela nunca o tinha
ouvido falar assim antes, mas tinha que admitir que gostava. Os
Caçadores de Feiticeiros haviam tirado tanto dela que a vingança sempre
esteve em sua mente.
— Vamos fazer isso pela Rainha Lis, — disse ela aos outros. — E por
todos os outros que perderam algo para esses bandidos assassinos.
Depois de ouvir essas palavras, Dorian conjurou várias bestas
celestiais: um lobo, um urso e uma águia que circulava no alto.
— O que você está esperando? — Lucius gritou. — Dê um passo à
frente e decida qual deles vai ficar de pernas pro ar.
— Essa é uma ameaça terrível, — Lydia resmungou.
— Não importa. Vamos eliminar esses vagabundos da face da terra, —
Lucius disse em resposta.
De repente, os Caçadores de Feiticeiros começaram a se separar,
deixando uma lacuna em suas fileiras. O grupo olhou de um para o outro
antes de voltar sua atenção para os caçadores.
— Ora, ora, — uma voz profunda chamou. — Se não são nossos
velhos amigos... — Uma figura se materializou na névoa cheia de poeira.
Ele era alto, com longos cabelos loiros e uma cicatriz cobrindo seu olho
direito.
— Jora Zayn, — Lucius rosnou.
A respiração de Lydia deixou seus pulmões e seu coração parou.
Parado na frente dela estava um tirano... o mesmo homem que roubou os
poderes de Lis.
Ela podia sentir sua raiva crescendo enquanto seus braços se
transformavam em chamas. Durante seu último encontro no baile, ela
falhou não só com Lis, mas com todo o Reino de Imamia quando Jora
escapou.
Era hora de fazê-lo pagar por suas ações!
— Pelos Deuses, — gritou Marsie, — temos mais companhia!
Ela apontou para o céu enquanto três figuras brilhantes envoltas em
energia escura flutuavam no chão, juntando-se a Jora e seus homens.
— Agora é uma festa, — Lucius respondeu, sua voz impetuosa se
enchendo de incerteza.
A rainha Adria se juntou a eles, descendo do céu. Pairando diante dela
estava um Redmond derrotado, em exibição para que todos vissem.
Lydia mal podia acreditar em seus olhos. A sorte deles certamente
havia acabado.
— Redmond! — Marsie gritou ao ver seu corpo.
O coração de Lydia doeu pelo Slifer da Terra e por tudo que ele havia
passado... mas seus olhos não estavam fixos nele. Era a mulher à direita
de Jora, surgindo com energia negra.
Evine!
LUCIUS

Bem, isto se transformou em um verdadeiro inferno absoluto, pensou


Lucius. E bem quando minha embriaguez está começando a passar...
A rainha Adria jogou o pobre Slifer da Terra no chão. Seu corpo caiu
na terra e nas pedras até descansar aos pés de Lucius. Era uma mensagem
— e nada sutil. Eles vieram para destruir tudo e todos nesta cidadezinha.
E eles falavam sério.
Lydia correu para o lado de Redmond. Lágrimas brilharam no canto
de seus olhos. Com esforço, ela puxou seu companheiro Slifer para trás
de um afloramento de rocha que ajudaria a protegê-lo enquanto ele
tentava se recuperar.
Lucius não era de sentir emoções, mas até mesmo isso era um pouco
demais. Ele lutou contra as próprias lágrimas e substituiu a tristeza por
pura raiva.
— Isto é tudo o que você tem? — ele gritou para a sorridente Evine. —
Eu acho que não vamos nem suar.
O urso e o lobo de Dorian rugiram em uníssono, enervando alguns
dos Caçadores de Feiticeiros. Marsie enfiou a mão em sua pequena bolsa
e tirou um graveto curto. Até Lucius se perguntou o que diabos isso
poderia fazer, mas ele rapidamente pensou o contrário.
Com um movimento de seu pulso, o pequeno pedaço de madeira
cresceu em um longo bastão de luta. Ela o girou com precisão enquanto
cerrava os dentes em um sorriso assustador.
— Por toda Ignolia... — ela disse com orgulho.
Os outros acenaram em resposta. Lucius não conseguiu conter seu
próprio sorriso perverso. A adrenalina pulsou em suas veias e encheu a
boca do estômago com fogo.
Como uma dose de rum quente.
A primeira onda de Caçadores de Feiticeiros invadiu o grupo, mas eles
estavam prontos. As feras de Dorian mataram vários em meros segundos.
Sua águia soltou um grito estridente ao mergulhar na direção de suas
cabeças encolhidas.
Lucius sentiu a juventude preencher seus velhos ossos enquanto
choques de eletricidade dançavam de seus dedos, fritando os homens
onde eles estavam. Apesar de todos os reforços que os vilões trouxeram,
mal parecia uma luta.
Talvez ele estivesse certo afinal. Eles não precisariam suar muito para
cuidar desses lacaios...
BOOM!
Uma explosão de luz brilhante quase cegou o velhote. Depois que seus
olhos se ajustaram à luz, seu coração afundou alguns centímetros no
peito... Evine estava brilhando como uma estrela explodindo, e ao redor
de toda a vila agora havia um campo de força crepitante.
Lucius tinha visto a mesma coisa anos atrás. Se fosse o que ele
pensava, este campo de força era quase impenetrável. Você não poderia
passar através, por cima ou por baixo sem arriscar a morte...
Ele enxugou o suor acumulado da testa e praguejou baixinho. Sempre
havia uma maneira de escapar. Ele só precisava encontrar!
LYDIA

Lydia olhou para as feridas do Slifer da Terra. Seu amigo estava


gravemente ferido, mas ele era resistente. Com um pouco de tempo e
algumas poções regenerativas, Redmond estaria como novo. Mas isso
não significava que ela não pudesse compartilhar sua dor.
O jovem acabara de lutar no duelo mais horrível de sua vida — contra
sua própria amada!
Ela espiou por cima dos escombros e observou enquanto seus amigos
lutavam contra o ataque. Considerando que eles estavam em
desvantagem numérica, parecia que as coisas poderiam acabar a seu
favor...
— Vá, — disse Redmond, segurando a dor nas costas. — Eles precisam
de você.
— Você também precisa de mim, — disse Lydia, insegura.
Redmond sorriu e tossiu em sua mão machucada. — Eu vou ficar bem
por agora. Mas se não os derrotarmos... nenhum de nós ficará.
Lydia sabia que ele estava certo. Era doloroso ver seu amigo lutar
apenas para respirar. Mas ela queria vir nesta missão por um motivo. Ela
até prometeu a Lucius que se Evine aparecesse, ela estaria pronta.
Ela tinha que manter sua promessa e provar a Lucius que ela poderia
fazer isso.
O ar ficou mais denso com a poeira enquanto a batalha continuava.
Lydia usou isso a seu favor, escondendo-se enquanto se esgueirava por
entre os escombros. Ela estava cheia de energia pura e se sentia
estranhamente viva.
De certa forma, a missão de busca foi melhor do que o esperado. Eles
conseguiram encontrar um dos membros da Realeza desaparecidos e
revelaram Evine e Jora no processo. Mas eles subestimaram o poder que
enfrentariam.
Seria difícil afastar seus agressores por muito mais tempo. Se eles não
fizessem algo logo, sua missão seria em vão. Uma mensagem precisava
ser enviada para Evine e seus seguidores. Seu reinado de terror tinha que
chegar ao fim!
Lydia espiou por uma fenda em uma seção da parede destruída pela
Rainha Adria. Ela havia encontrado um ponto de observação atrás de
Evine e dos outros — a atenção deles estava inteiramente voltada para a
batalha e ninguém parecia perceber que ela havia saído.
Essa era a chance dela.
Ela mergulhou por um buraco na parede e amorteceu a queda com
uma cambalhota, pondo-se rapidamente de pé.
Evine flutuava sobre os poucos Caçadores de Feiticeiros restantes, mas
ela havia se esquecido de proteger suas costas. Lydia se certificaria de
fazê-la sentir todo o impacto da surpresa que havia planejado.
Como um pavio acendendo-se sob a chama de um fósforo, o corpo
inteiro de Lydia pegou fogo. Ela manteve as palmas das mãos juntas
antes de lentamente separá-las, centímetro a centímetro. No espaço
entre suas mãos cresceu uma bola de fogo, queimando com intensidade
incomparável.
— Isto é por você, Redmond, — ela disse enquanto mirava a bola de
fogo na bruxa.
Com um empurrão silencioso, ela a enviou girando pelo ar. Um
sorriso apareceu em seu rosto, pois parecia estar indo direto para seu
alvo.
Evine sentiu o projétil e tentou se esquivar... mas era tarde demais. A
furiosa bola de fogo queimou seu ombro, o impacto a enviando girando
no chão com um baque duro.
Em um instante, o campo de força ofuscante ao redor da aldeia se
dissolveu no ar. Lydia não conseguiu conter seus sentimentos de raiva.
Ela gritou a plenos pulmões...
CRASH!
Lydia se viu no chão, lutando para respirar. Sua visão estava embaçada
e seus ouvidos zumbiam. O que diabos tinha acontecido?!
Ela se virou de costas, tentando respirar. Uma figura escura estava de
pé sobre uma pilha de escombros, olhando para seu corpo dolorido. Era a
silhueta de um homem... alto, com ombros largos e músculos
protuberantes.
Um físico que ela reconhecia muito bem...
— Gabriel?
Uma joia verde latejava no meio de sua testa, lançando um brilho
sinistro em seu rosto impassível.
Ela o havia encontrado! Seu amante há muito tempo perdido, o
companheiro que alimentou suas chamas, finalmente foi encontrado
depois de três meses. Mas por que ele estava agindo assim?
Lydia tentou sacudir as teias de aranha de sua mente. Gabriel desceu
dos escombros e estendeu a mão. Lydia pensou que era uma oferta para
ajudá-la a se levantar, mas então ela viu a lança sombria se formando em
sua mão. Ele a ergueu sobre o ombro e apontou a ponta diretamente para
o coração dela...
Uma luz branca ofuscante tirou sua visão. Lydia lutou para se
levantar, mas se perdeu em uma névoa de dor. Antes que ela soubesse o
que estava acontecendo, seu mundo ficou escuro e silencioso...
Capítulo 8
IMPULSOS OBSCUROS
LUCIUS

O velho mago sóbrio levantou-se do chão com um gemido alto.


Sempre era o pior momento de ressaca depois de um dia de bebedeira.
O que sempre piorava as coisas era quando ele não bebia quase o
suficiente e não conseguia chegar ao seu ponto ideal. Junte isso a uma
batalha que ele não deveria ter na sua idade, e isso causou uma
verdadeira dor de cabeça.
'Oh, deuses, — Marsie gemeu.
— Eu concordo com esse sentimento, — Lucius respondeu.
Seus olhos finalmente se ajustaram o suficiente para ver que ele tinha
teletransportado todos de volta aqui com sucesso... bem, o mais seguro
que eles poderiam estar depois de uma luta tão exaustiva.
— Por que minhas costas doem tanto? — Dorian perguntou enquanto
se levantava. Sua coluna deu três estalos altos que provocaram um grito.
— Talvez porque estejamos no meio da praça central de Ellesmere, —
disse Lydia com uma pitada de aborrecimento.
— Pelo menos eu trouxe todos nós aqui, — Lucius respondeu.
O velho mago não percebeu a princípio, mas eles conseguiram acabar
bem no meio da capital. E cada cidadão que passava recusou-se a desviar
o olhar do grupo irregular amontoado em tomo da fonte gigante.
— Espere um minuto... — Lydia ofegou. — Onde está Redmond?
Ela ficou de pé e imediatamente colocou as mãos na cabeça. Seu corpo
esguio vacilou enquanto ela tentava manter o equilíbrio.
O grupo olhou em volta e, pela primeira vez em muito tempo, Lucius
sentiu uma pontada de culpa. Se aquele Slifer da Terra tivesse sido
deixado para trás, o velho cachaceiro sofreria as consequências. Agatha
Alastair cuidaria disso pessoalmente.
— Estou aqui, — gritou a voz fraca de Redmond.
Seus braços caíram sobre a borda da fonte, puxando seu corpo para
cima da água.
Marsie sorriu com a visão. — Como se a batalha não bastasse, você
quase teve que afogá-lo!
Alguns riram da piada, mas era difícil encontrar muito humor em sua
situação atual. Claro, eles conseguiram encontrar alguns dos membros
da Realeza desaparecidos... mas eles também falharam em impedir que
uma vila inteira fosse varrida do mapa.
Lucius tirou o pó de sua capa e acenou para alguns transeuntes que
passavam por ele. Ele podia sentir um olhar fulminante em sua direção e
se virou para encontrar Lydia fervendo de raiva.
— O que foi agora? — ele disse amargamente.
— Você nos teletransportou para fora de lá! — ela exclamou.
— Que bom que eu te criei para ser tão
observadora...
— E todos aqueles pobres aldeões? — Lydia perguntou. — Nós os
deixamos no deserto enquanto sua cidade estava sendo arrasada!
— Pelo menos eles saíram antes de Evine e seus comparsas
aparecerem, — disse Marsie.
Ela estava tentando ser positiva, mas não parecia que iria funcionar.
Marsie pós a mão no ombro de Lydia, mas a puxou rapidamente. Isso
confirmou as suspeitas de Lucius... sua neta era uma chaleira que havia
sido deixada por muito tempo no fogo.
— Nós falhamos com eles, — disse Lydia.
— Fizemos o que podíamos, — respondeu Redmond. Ele conseguiu
sair da fonte, apesar de seus ferimentos.
— Eu sei que você não gosta de pensar assim, — Dorian acrescentou,
— mas nós obtivemos a informação que estávamos procurando. Os
membros da Realeza ainda estão vivos.
— Sob o controle de Evine e Uzier, — Lydia apontou.
— A chanceler Alastair vai querer ouvir de nós, — afirmou Marsie,
subindo a rua. — E eu, pelo menos, não quero deixá-la esperando.
GABRIEL

Por suas ordens, todos os edifícios da cidade haviam desmoronado.


Gabriel ficou mais do que feliz em realizar os desejos de Evine. Para
garantir, ele e a Rainha Adria combinaram seus poderes para uma
explosão final que transformou as últimas estruturas de pedra em
cascalho.
Ninguém se lembraria deste lugar. Seu nome já estava perdido em sua
mente. O primeiro de muitos assentamentos que se tomariam crateras
fumegantes.
Evine gargalhou ao ver os escombros. Ela sempre era tão bonita e viva
quando ria. Gabriel sempre amou isso nela... quanta energia e vida fluíam
de sua felicidade.
Fazer Evine feliz era tudo o que ele sempre quis. Vê-la triste era um
vazio que ele sentiu a compulsão de preencher.
Evine se aproximou de Gabriel. Ele inalou seu doce perfume
misturado com as brasas da vila em ruínas. O cheiro de luxúria e vitória
se fundiu em um.
— Você se saiu tão bem, meu querido, — ela sussurrou em seu ouvido.
Ele sentiu o hálito quente dela fazer cócegas em sua pele, alimentando
um desejo profundo em suas entranhas.
— É tudo por você, — respondeu ele.
A rainha Adria se aproximou da mestra obscura. Evine tocou o rosto
de Adria, tirando uma mecha de cabelo dos olhos. O rei Gabriel não
conseguiu conter o ciúme queimando em seu coração.
Adria também fez o que Evine queria, arrasando uma das aldeias de
seu reino. Mas ela não deveria receber toda a adulação de sua deusa
Evine!
— Vocês dois cumpriram minhas ordens, — disse Evine docemente. —
E eu vou retribuir a vocês.
— Eu sirvo a mestra, — a Rainha Adria disse em uma voz monótona.
— Sim, você serve, — respondeu Evine. Ela se inclinou e beijou a
rainha Adria na bochecha.
A joia verde na testa de Gabriel brilhou com uma intensidade ainda
maior. Evine observou com o canto dos olhos e sorriu ante sua exibição
de inveja. Ela se virou para Gabriel e tocou seu ombro.
— Leve-nos embora, — ela disse.
Seus braços se fecharam ao redor dele.
Isso era tudo que ele sempre quis... sentir o toque lisonjeiro de Evine
ao cumprir suas ordens... era um sonho que se tomava realidade.
Ele sorriu para sua amante quando ela se aproximou. Em um piscar de
olhos, ele os teletransportou de Ulu.
EVINE

Com um flash de luz escura, o trio chegou a uma floresta sombria. O


teletransporte de Gabriel os colocou exatamente onde eles precisavam
estar. Ela beliscou sua bochecha e começou a caminhar por entre as
árvores densas.
Quando a folhagem mostrou uma clareira, ela pôde ver a grande
cabana que abrigava a operação dela e de Uzier. Ela subiu os degraus e
abriu a porta, sentindo a lufada de ar frio lá dentro.
Ela se virou para Gabriel e Adria, em posição de sentido atrás dela. —
E hora de vocês descansarem.
Temos muito mais planejado e vocês precisam estar com força total.
Evine observou seus obedientes escravos se afastarem, como zumbis,
descendo um lance de escadas que levava ao porão.
— Você está de volta, — uma voz profunda chamou por trás. —
Demorou mais do que eu esperava.
Evine se virou para ver seu marido Uzier parado na porta. Ele era
ameaçadoramente bonito, com cabelo escuro e um brilho travesso nos
olhos.
— Tivemos alguns problemas, — respondeu ela com um chiado.
— É isso que eu gosto de ouvir, — ele sorriu.
Ela caminhou até ele e colocou os braços em volta de sua cabeça.
Puxando suavemente, ela conseguiu trazer o rosto de seu homem
corpulento para mais perto do seu. Seus lábios flexíveis encontraram os
dele, e a luxúria nadou dentro dela como uma enguia elétrica.
Suas mãos eram grandes e calejadas, mas ela gostava de sentir a
aspereza em sua pele. Cada vez que ele a abraçava, isso provocava
arrepios por sua espinha.
Aquele idiota, Gabriel, ela pensou enquanto seu marido a beijava com
força. Ele nunca vai saber o amor que tenho por este homem. Ele nunca
mais conhecerá o calor dos meus beijos ou o gosto da minha língua.
Ela empurrou Uzier de volta para uma pequena cama que tinha sido
feita no quarto principal da cabana. Ele caiu com um baque e puxou-a
para cima dele. Evine montou em sua virilha com os quadris e puxou
seus corpos juntos com força, fazendo com que o homem debaixo dela
gemesse de prazer.
Ele sempre gostou de preliminares ásperas. Mas hoje, depois de tudo
que ela testemunhou, as coisas seriam mais do que um pouco brutas.
Seu membro estava enrijecendo sob seu peso. A espessura do eixo a
deixava louca de desejo. Ela tirou a roupa íntima, mas manteve o vestido
curto. Com uma mão, ela desabotoou a calça e puxou seu membro
latejante.
— Eu vou foder com você até o esquecimento, — ela sussurrou em seu
ouvido. — Assim como aquela vila no deserto.
Ele estremeceu de prazer quando ela se sentou em seu pau,
empurrando-o completamente dentro dela. Uzier se sentou e puxou-a
para mais perto, sentindo cada pedacinho de seu interior.
— É melhor você não mentir para mim, — ele disse enquanto
gentilmente mordia seus mamilos. — Ou então eu farei mais com você
do que devastar seu corpo.
As unhas dela cravaram em suas costas, deixando rastros em sua pele
enquanto deslizavam para baixo.
Suas primeiras estocadas foram suaves, então ela mordeu sua orelha.
As próximas foram brutas e a deixaram querendo mais. Ela gritou de
prazer quando a primeira onda de um orgasmo pulsou por seu ser.
Este era seu verdadeiro amor — o companheiro que ela sempre quis
ter — e juntos eles colocariam o mundo de joelhos!
GABRIEL
Gabriel e Adria desceram os degraus de pedra esculpidos à mão que
levavam ao porão sob a cabana. Era escuro e frio. Uma pausa bem-vinda
do inferno escaldante de onde tinham acabado de voltar.
Quando encontraram os últimos degraus, Gabriel registrou uma
respiração pesada de dentro. Quatro tumbas foram esculpidas na pedra
da terra.
Duas estavam ocupadas, preenchidas com os outros membros da
Realeza. Ele passou por eles, olhando para seus rostos adormecidos. O rei
Morrison e o rei Calix teriam a oportunidade de provar seu valor a sua
amante. Eles logo seriam chamados para visitar seus próprios reinos...
Gabriel se deitou ao lado de Adria e fechou os olhos enquanto os
gritos de prazer ecoavam pela caverna.
Ele teria sua vez também. E toda Imamia saberia seu verdadeiro
poder...
Capítulo 9
CAMINHOS INCERTOS
LYDIA

Lydia ficou maravilhada com o opulento escritório particular da


chanceler Agatha Alastair, uma das políticas mais poderosas de toda a
Ignolia.
O teto era tão alto que ela imaginou nuvens se formando nos cantos.
Livros cobriam as paredes embutidas da biblioteca — tantos que Lydia
não conseguia acreditar que alguém tivesse tempo para ler todos.
Uma lareira acesa estava localizada diretamente atrás da mesa de
mogno gigante de Alastair. As chamas se enrolavam, lambendo a lareira
de pedra. Isso lançava à chanceler uma luz majestosa, embora agourenta,
enquanto ela se sentava em sua cadeira.
— Havia apenas dois membros da Realeza? — ela perguntou.
— Graças aos deuses, havia apenas dois, — disse Marsie. — Se
houvesse mais, não seríamos nada mais do que sombras queimadas na
areia.
O resto do grupo de busca acenou com a cabeça em confirmação.
Redmond já estava começando a melhorar, no entanto. Ao entrarem na
mansão da chanceler, ele recebeu uma poção que curou
instantaneamente vários de seus cortes e hematomas.
Dorian e Marsie não pareciam tão desgastados... esses tipos de batalha
pareciam dar a eles mais vida do que poderia ser tirada. Lucius
finalmente ficou sóbrio, mas ela não podia dizer o mesmo sobre seu
humor. Ele odiava reuniões oficiais de qualquer tipo e a expressão em seu
rosto mostrava isso.
— Isso parece preocupante, — Alastair murmurou.
— Apesar de não termos conseguido impedir Evine, fomos capazes de
salvar os habitantes locais, — acrescentou Marsie. — Nosso grupo lutou
bravamente.
A chanceler acenou com a cabeça, mas não respondeu de outra forma.
Ela estava perdida em pensamentos.
— Se for possível, excelência, — disse Lydia, dando um passo à frente.
— Eu gostaria de pedir fundos extras para ajudar os moradores de Ulu a
serem realocados.
Os olhos contemplativos de Alastair pousaram em Lydia. O peso de
seu olhar foi suficiente para fazer a Slifer recuar para as sombras. Mas
Lydia respirou fundo e manteve a cabeça erguida. Ela tinha todo o direito
de fazer parte dessa conversa. Suas ações provaram isso.
— Lydia Voltaire, — disse a chanceler. — Marsie mencionou que você
lutou por um lugar no grupo de busca.
Lydia estava muito atordoada ao ser destacada para falar. Ela acenou
com a cabeça ansiosamente, tentando não parecer muito ansiosa.
— Estou feliz por isso, — disse Alastair, com um sorriso malicioso. —
Parece que você voluntariamente arriscou sua vida por pessoas que
nunca conheceu... vocês todos fizeram.
Alastair olhou de um membro do grupo para o outro, mas seus olhos
voltaram para Lydia no final. Ela sorriu para a Slifer do Fogo e acenou
com a cabeça quase imperceptivelmente.
Ela está impressionada comigo? Lydia pensou enquanto seu estômago se
embrulhou três vezes. Acho que a chanceler está impressionada comigo!
Ela estava tão animada que queria se transformar em uma bola de
fogo e voar ao redor da sala para queimar um pouco dessa adrenalina.
Mas ela suprimiu o desejo e simplesmente sorriu de volta para a
chanceler.
Nós nos saímos bem, ela pensou, agora se pudermos simplesmente
derrotar Evine e Uzier. Ela afastou o resto de seus pensamentos. Eles já
os haviam encontrado. Não era o suficiente para Lydia, mas teria que
servir por enquanto.
— Estou feliz que você esteja melhor, jovem Redmond, — Alastair
continuou. — E eu prometo que o povo de seu reino será compensado
por essas ações cruéis contra suas casas, família e amigos.
— Obrigado, vossa excelência, — Redmond disse com uma reverência.
Vinte minutos atrás, ele teria se encolhido e doído com tal movimento,
mas já estava quase de volta à saúde plena.
Um movimento na visão periférica chamou a atenção de Lydia. Ela
olhou para encontrar Lucius dando-lhe uma piscadela quase sóbria. Foi
bom finalmente ter alguma gratificação de seus colegas e mais velhos.
Significava o mundo para Lydia saber que outros acreditavam tanto nela.
— Obrigada, — disse a chanceler Alastair. — Tenho muito o que
refletir antes de tomar qualquer decisão. Todos vocês estão dispensados.
E pelo amor dos deuses, por favor, descansem um pouco.
Lydia entrou em seus aposentos sentindo o cheiro de lavanda fresca e
hortelã-pimenta. Lençóis limpos foram colocados em sua cama e junto
com um pequeno bilhete que estava em seu travesseiro. Ela o abriu e riu
da inscrição: Esses lençóis foram embebidos em um corante à prova de fogo.
Queime o quanto quiser!
Ela queria tomar um banho e lavar a sujeira de seu dia, mas em vez
disso se jogou de cara na cama. Lá se vão os lençóis novos...
Era demais puxar seu corpo cansado e dolorido do conforto de sua
cama. Seus músculos pareciam mingau, e cada respiração era um esforço
por si só. Sem mencionar que as ações e revelações do dia continuavam
passando em sua mente.
Encontrar Gabriel e testemunhar suas intenções de colocar um raio
de sombra em seu coração foi o suficiente para esmagar até mesmo à
vontade mais forte. Mas Lydia não conseguia afastar certas lembranças
sobre a altercação.
A joia verde brilhando em sua testa... a mesma que a Rainha Adria usou
ao destruir a cidade com as próprias mãos...
Algo estava terrivelmente errado. Gabriel não faria coisas horríveis
com pessoas inocentes. E a rainha Adria não destruiria voluntariamente
seu próprio reino. Não, a menos que forças externas estivessem em jogo...
Ela precisava de mais respostas se alguma vez fosse encontrar paz
naquela noite. Lydia pulou na cama e olhou para a mesa de cabeceira. Lá
estava o Livro de Decimus, com sua capa vermelha escura e o símbolo —
S — inconfundível — exatamente como aquele em seu pulso.
Lydia fechou os olhos e colocou os dedos nas têmporas. Ela tentou
convocar seu pai — Decimus — pensando em seu nome, da mesma
forma que ela o havia convocado antes. Abrindo um olho um momento
depois, ela percebeu que o quarto estava exatamente o mesmo.
Vamos, pai! Eu realmente preciso de alguns conselhos, ela pensou
desesperadamente.
Respirando fundo e deixando a tensão diminuir, ela tentou
novamente. Desta vez, houve um vento de mudança no quarto. Seus
olhos se abriram para diferenças sutis, mas inegáveis.
Uma vela na mesa de cabeceira ganhou vida. Sua chama brilhava mais
forte do que qualquer pavio comum deveria permitir. O Livro de
Decimus brilhou levemente vermelho, e quando ela olhou para seu
braço, o símbolo — S — brilhou também.
WHOOSH!
Um floreio de chamas no canto do quarto chamou sua atenção. Lydia
saltou da cama e viu seu pai parado do outro lado do quarto.
— É bom ver você de novo, — Decimus a cumprimentou. — Eu estava
me perguntando quando você precisaria de algum conselho.
Ela correu e abraçou o Deus do Fogo. Só depois de envolver os braços
em volta dele, ela percebeu o quão inesperado isso tinha sido.
Suas preocupações diminuíram um pouco quando Decimus retribuiu
o abraço, envolvendo-a em seus braços enormes. Ela fechou os olhos e
respirou o leve cheiro de enxofre e, estranhamente, de flores silvestres.
Lydia: Abraçar o Deus do Fogo? Droga! Por que não consigo controlar minhas emoções!

Decimus: Porque até os deuses podem ter sentimentos.

Lydia: Céus! Você está lendo meus pensamentos!

Decimus: Claro. Eu sou um Deus... agora, diga-me por que você me convocou.

Ela finalmente se afastou dele e se sentou na beira da cama. Decimus


deu alguns passos mais perto, mas permaneceu de pé. Tinha sido demais
ouvir a voz de seu pai dentro de sua cabeça.
Ela precisava pensar com clareza... e ouvir suas palavras não ditas
tomava tudo mais confuso.
— Não sei o que fazer, — começou Lydia. — Finalmente encontramos
Gabriel e Adria, mas eles não eram os mesmos.
Decimus acenou com a cabeça enquanto Lydia falava, mas não
respondeu. Ela sabia que seria difícil arrancar informações de um Deus,
mas se ela fosse encontrar alguma resposta, era uma tarefa necessária.
— Eles destruíram uma pequena aldeia. Era tão diferente deles. Eu
não posso deixar de pensar que eles estão sob algum tipo de controle
mental, — ela continuou. — Por favor, me diga o que está acontecendo!
Decimus sorriu para a filha, mas balançou a cabeça. — Infelizmente,
não consigo ver o futuro. — O queixo de Lydia caiu. Um Deus onisciente
que carece de conhecimento? Mais uma coisa que não fazia
absolutamente nenhum sentido...
— Achei que todos os deuses poderiam ver o futuro, — disse ela,
incrédula. — Isso é algum tipo de teste? Se for, não quero participar.
— Eu gostaria que fosse, — disse Decimus tristemente. — Mas por
causa da forma como os eventos se desenrolaram... o sequestro dos
membros da Realeza quando eles deveriam estar seguros... o futuro está
cheio de nuvens negras das quais nem mesmo eu posso separar.
— O que você quer dizer com os membros da Realeza deveriam estar
seguros? — ela perguntou, confusa.
— Não estava fadado a serem raptados, pelo menos, não do que
tínhamos visto antes, — respondeu Decimus. — Evine e Uzier
contornaram o destino e tomaram o futuro do seu mundo em suas
próprias mãos.
— Como? — Lydia ficou boquiaberta. Parecia quase impossível para
duas pessoas, não importa o quão poderosas, tomar as rédeas do destino.
— Não sei, — admitiu Decimus. — Mas meu palpite é provavelmente
magia de sangue.
Lydia acenou com a cabeça em compreensão. É claro que esses
demônios se rebaixariam a tais níveis subterrâneos para trazer seus
desejos mais sombrios à vida.
— Então, o que devemos fazer agora? — Lydia perguntou, sentindo-se
perplexa com essas revelações.
Decimus balançou a cabeça. — O caminho a seguir é incerto.
Infelizmente, não cabe aos Deuses interferir na vida de seus súditos.
Incluindo a minha filha.
— Fantástico, — disse Lydia, cerrando os dentes.
— Desejo toda a sorte, — respondeu Decimus. — E tenho fé que você
vai olhar dentro do seu coração e fazer o que é melhor para o seu povo.
Lydia queria lembrar a Decimus que, como Deus, eles também eram
seu povo. Mas com uma nuvem de fumaça, o Deus do Fogo se foi.
A Slifer do Fogo caiu de costas em sua cama, sentindo todo o peso de
sua conversa. Se até mesmo os deuses tinham dificuldade em ver o
futuro, como ela saberia o que fazer a seguir?
Ela nunca desistiria de tentar salvar Gabriel. Mas a revelação de
Decimus tomou muito mais difícil para ela saber como tudo funcionaria
no final.
Lágrimas se formaram em seus olhos e escorreram por suas
bochechas. Agora que ela estava totalmente sozinha, não havia problema
em liberar suas emoções. Decimus poderia ter tanta fé nela quanto
quisesse, mas por esta noite, a pouca fé que Lydia normalmente tinha
agora estava completamente drenada.
Passos do lado de fora da porta forçaram Lydia a se endireitar. Ela
enxugou as bochechas furiosamente, sentindo-as começando a ficar
irritadas por enxugar as lágrimas.
Uma batida leve soou em sua porta.
— Vá embora, — disse Lydia.
— Desculpe incomodar, — a voz de Dorian respondeu, — mas há algo
urgente que precisa de sua atenção.
O que aconteceu agora? Ela pensou, com raiva. Não posso simplesmente
ficar sozinha!
Dorian pigarreou e tentou mais uma vez, — Seria melhor se você
viesse imediatamente.
Capítulo 10
DISTRAÇÕES CELESTIAIS
DORIAN

A Slifer do Fogo seguiu Dorian pelas largas ruas de pedra da capital.


Foi quase impossível fazê-la sair de seu quarto, mas com certa
persistência, o jovem bruxo conseguiu conquistá-la.
— Você tem certeza de que é urgente? — Lydia perguntou enquanto
olhava para as ruas quase vazias.
— É de extrema importância, — respondeu ele com um sorriso
misterioso.
Lydia tocou seu ombro com a mão, interrompendo seu movimento.
Havia algo especial em seu toque. Ele parecia perceber isso em seu
âmago, mais do que com qualquer mulher que ele já conheceu.
Ele sentia algo por esta jovem Slifer. Mesmo que ela fosse
comprometida ao Rei de Imamia, a energia entre eles era inegável. Ele só
tinha ouvido a risada dela algumas vezes, mas quando aconteceu, foi
como ouvir o canto de um pássaro canoro no sol do meio-dia.
Era doloroso enganá-la... mas uma mentirinha inocente não podia ser
tão ruim, não é?
Ele acreditava que sua missão secreta era vital e só esperava que ela
sentisse o mesmo, especialmente se tivesse o efeito que ele pretendia.
Eles subiram um conjunto de degraus curtos. Antes de chegarem ao
topo, ele ouviu Lydia suspirar.
LYDIA

— Meu Deus... — Lydia disse com admiração. Ela queria dizer mais,
mas as palavras não pareciam se formar.
Dorian e Lydia estavam olhando para um belo jardim iluminado por
tochas. Normalmente era preenchido apenas com uma única árvore e
alguns arbustos. Mas esta noite, foi transformado em uma visão
magnífica cheia de árvores e flores vivas cercadas por um tapete de grama
macia e aveludada.
Era como se o chão de pedra se cansasse da vida monótona da cidade
e brotasse magicamente uma pequena floresta no meio de Ellesmere.
Fechando a bela vista, havia uma pequena cachoeira alimentada por uma
fonte subterrânea. Um pequeno riacho serpenteava caprichosamente
pelo jardim.
— Como você... nem consigo... — gaguejou Lydia.
— Eu tive uma ajudinha de seus amigos, — Dorian admitiu.
Redmond, Ayana e Elise saíram de trás das árvores. Eles acenaram
para Lydia enquanto a Slifer do Fogo corria e abraçava cada um deles.
— Não fique emotiva demais, — disse Elise enquanto endireitava o
vestido. — Não é só para você.
Lydia acenou com a cabeça em concordância. Ela lutou contra Gabriel
por apenas uma fração de segundo. A dor dessa percepção doeu como
uma picada de abelha.
O pobre Redmond quase morreu nas mãos de sua rainha.
— Não fomos só nós, — disse Redmond.
Lydia seguiu seu olhar e viu Dorian parado na beira da grama, seu
sorriso tão brilhante quanto a lua no céu.
Os outros três Slifers começaram a se afastar. Lydia os seguiu.
— Onde vocês estão indo? — ela perguntou, confusa.
Redmond deu uma risadinha. — A Srta. Ar aqui esqueceu de trazer os
lanches que pedimos.
— Fiquei animada para ver a vista! — ela rebateu.
— Iremos com ela para garantir que ela os traga desta vez, — brincou
Ayana. — Até daqui a pouco.
Dorian observou Lydia caminhar em sua direção e decidiu que
finalmente era a hora.
— Antes de você dizer qualquer coisa, — disse ele, — eu queria
adicionar um toque especial à noite.
Suas mãos começaram a brilhar em um roxo escuro. O brilho era
hipnotizante e iluminava a escuridão. Quando os olhos de Lydia se
reajustaram, ela pôde ver o gramado do jardim cheio de criaturas
celestiais de todas as formas e tamanhos.
Os pássaros voavam de uma árvore a outra. Peixes pequenos nadavam
no riacho. Uma longa cobra com a cor de um caleidoscópio deslizava em
tomo de um galho baixo. As raposas trotavam entre os arbustos
perseguindo coelhos que se moviam rápido demais para serem
capturados.
Lydia se aproximou de Dorian como se estivesse sonâmbula em um
sonho. Ela colocou os braços em volta dele e o beijou na bochecha antes
mesmo de perceber o que estava acontecendo.
— Oh! — ela disse, dando conta de si mesma. — Eu — eu sinto
muito...
Ela podia sentir suas bochechas ficando vermelhas a cada segundo, e
tentou esconder seu constrangimento virando-se. Mas a mão de Dorian
gentilmente tocou seu braço e a virou de volta.
Ela olhou para o jovem mago sob uma nova luz. Havia outra coisa que
ela sentia também... um certo estremecimento no peito que a lembrou de
como era bom ser tocada por um homem. Especialmente alguém tão
bonito e capaz...
— Não há nada para se desculpar, — Dorian disse, arrancando-a de
seus pensamentos. — Estou feliz que você gostou.
— Eu amei, — ela corrigiu. — Por que você fez isso?
— Todos nós precisávamos de algum tipo de incentivo depois de Ulu.
E felizmente seus amigos Slifer concordaram em ajudar. — Ele se sentou
na grama macia.
Lydia se juntou a ele, sentindo uma necessidade repentina de chegar
mais perto.
Malditos sentimentos de surpresa! Pensou ela. Ela tentou distrair sua
mente desses desejos indesejados. Seus olhos seguiram um lindo canário
que pousou na margem do riacho para beber.
— Se eu posso dizer, — Dorian disse calmamente, — Estou surpreso
que você seja tão forte assim. Não com seus poderes. Mas suas emoções.
Ver Gabriel atacar você hoje foi demais, até para eu aguentar.
Lydia sentiu o frio na barriga tomar conta.
Ela tentou afastar esses pensamentos, mas era impossível. Mesmo o
arrojado bruxo ao seu lado não podia ignorar o fato de que seu
companheiro quase a matou...
Mas ela não era a única sofrendo. Redmond tinha visto sua
companheira, a Rainha Adria, dizimar Ulu. Parecia não haver volta após
testemunhar tal ato, mas o Slifer da Terra havia se esforçado para fazer
este jardim insípido florescer com imaginação e beleza.
Se ele podia fazer isso, então ela também podia.
— Voltamos! — Ayana anunciou.
Os três Slifers se sentaram na grama ao lado de Dorian e Lydia. Cada
um trouxe uma cesta cheia de petiscos doces e salgados. Lydia olhou para
uma cesta cheia de garrafas de água mineral e rapidamente pegou uma,
molhando a garganta ressecada com o líquido formigante.
Esta noite, ela iria se divertir, mesmo com as incertezas incômodas
nos cantos de sua mente.
REDMOND

Dorian estava certo. Todos eles precisavam de uma trégua do horror


que testemunharam no início do dia. Com tudo que ele passou, ele
deveria estar desmaiado em sua cama. Mas havia muito em que pensar
para ele dormir.
A rainha Adria era uma casca de seu antigo eu. E seu poder — sempre
foi poderoso, mas misturado com a magia negra de Evine, parecia
insuportável.
Redmond sentiu um toque em seu braço e olhou para ver Lydia
lançando um olhar muito sério em sua direção.
— Eu sei que pode não ser o momento certo, mas podemos conversar
sobre hoje? — ela perguntou.
Os outros Slifers estavam conversando e rindo, mas depois de ouvir
sua pergunta, eles começaram a se acalmar.
— Suponho que sim, — admitiu Redmond. — É tudo em que consigo
pensar.
— Eu sei que você deve estar sofrendo, — disse Lydia, — porque eu sei
que com certeza estou.
Ayana e Elise chegaram mais perto enquanto Dorian mantinha uma
curta distância. Era difícil lidar com a realidade do que eles
testemunharam nas mãos de seus companheiros. Dorian poderia tentar
simpatizar, mas como um não Slifer, seria quase impossível.
— Eu também estou com medo, — disse Elise, chocando quase todos.
— Eu sei que Calix não estava lá. Mas se Evine tinha Adria e Gabriel...
— Então ela deve ter Calix e Morrison, — Ayana terminou.
Todos acenaram com a cabeça em contemplação silenciosa.
— O que nós vamos fazer? — Perguntou Redmond. Ele sabia que era
uma pergunta boba, mas tentar respondê-la sozinho certamente o
deixaria louco.
— Bem, eu sei uma coisa que podemos fazer, — Elise disse com
confiança. — Não desistir.
— Eu concordo! — Ayana entrou na conversa.
— Aquela bruxa malvada tem nossos companheiros, e a última coisa
que quero fazer é dar a ela a satisfação de pensar que ela ganhou.
— Mas e se ela já tiver feito isso? — Dorian perguntou. — E se ela
estiver apenas brincando com a gente agora?
O grupo olhou para ele com surpresa em seus olhos, e talvez um
vislumbre de desprezo. Eles teriam que perdoar sua ignorância. Um
mago sem um companheiro não poderia entender o que significava para
um Slifer perder a mesma pessoa que ajudava a abastecer seus poderes.
— Ela não ganhou, — disse Lydia severamente. — Enquanto
estivermos vivos, vamos garantir que ela nunca ganhe.
Dorian acenou com a cabeça e desviou o olhar do grupo, absorvendo a
beleza do jardim uma última vez.
— Esta noite, faremos um pacto, — disse Redmond.
— Não importa o que aconteça... não importa o quão difícil possa
ficar... não podemos abandonar um ao outro.
— Sempre ficaremos juntos, — disse Lydia, triunfante.
O grupo de Slifers aplaudiu como um só. Esta noite não era sobre
esquecer as provações de seu dia — era sobre encontrar o poder de seguir
em frente.
GABRIEL

— Por favor, não!


O homem franzino ofegou seu último suspiro quando Gabriel o
esfolou com a ponta de sua lança sombria. Ele passou por cima do corpo
amassado e entrou na sala do trono.
A rainha Adria estava sentada no topo do trono que Evine prometeu
que conquistaria.
Adria olhou pela janela. As dunas de areia de seu reino agora estavam
cheias de corpos daqueles que tentaram detê-la. Era quase muito fácil
desmantelar as forças defensivas criadas para impedi-los de conquistar
Vallas.
Gabriel sorriu com alegria perversa. Um reino havia sido dominado e
faltavam mais três. O Reino de Imamia seria o próximo, e logo ele
voltaria para se sentar em seu próprio trono.
Assim que o fizesse, Evine ficaria mais do que satisfeita. Ela havia
confiado a ele essas missões. E ele faria tudo o que pudesse para agradá-
la.
Ninguém poderia detê-los. E se tentassem, ele os esmagaria com seus
próprios pés.
LYDIA

Dorian e os Slifers estavam quase terminando de recolher o último de


seus lanches quando passos ecoaram escada acima.
Marsie Maroo chegou ao topo e caminhou até o pequeno piquenique.
Seu cabelo estava uma bagunça e sua voz estava áspera enquanto ela
tentava recuperar o fôlego.
— O que aconteceu? — Lydia perguntou, temendo o pior.
— O Reino... — Marsie gaguejou. — O Reino de Vallas foi atacado!
Redmond saltou com a rapidez de um coelho.
— Precisamos ir até lá! — ele gritou, com medo. — Não podemos
deixar o reino cair nas mãos de seu próprio governante!
Mas Marsie balançou a cabeça com grande tristeza. — É tarde demais,
— disse ela. — A capital já caiu.
Capítulo 11
RETORNO À IMARNIA
LYDIA

— Embora a cidade tenha sido colocada sob o protocolo de evacuação,


havia muitas pessoas deixadas para trás, — leu a chanceler Alastair na
carta em suas mãos. — A Rainha Adria e o Rei Gabriel devastaram a
capital... certificando-se de que nenhum retardatário tenha sido deixado
vivo.
O Congresso ficou em silêncio mortal enquanto a chanceler Alastair
parou por um momento para se recompor. A carta do general Malla
forneceu muitos detalhes sobre os esforços da cidade para conter os dois
ataques da realeza.
Mas se feiticeiros graduados e Slifers não podiam mantê-los sob
controle, era evidente para todos no Congresso como os esforços do
general Malla haviam sido inúteis.
Elise e Ayana colocaram o braço em volta de Redmond enquanto ele
continuava a enxugar as lágrimas. O coração de Lydia estava partido. Ela
não apenas sentia pelo Slifer da Terra, mas também sentia dor pelo que
Gabriel tinha feito.
Essa loucura estava superando os sonhos mais selvagens de qualquer
pessoa.
A chanceler Alastair pigarreou e tomou um gole d'água.
— O general Malla e seus guardas mostraram bravura incomparável,
— disse Alastair. — Eles conseguiram escapar e encontrar segurança nas
colinas de Valias. Mas devemos ter certeza de que seus esforços valentes
não foram em vão.
Um murmúrio de concordância surgiu do público no salão. Ele logo
foi interrompido quando a chanceler Alastair ergueu a mão dela.
— Infelizmente, essa não é a única notícia ruim que tenho para
compartilhar com vocês.
Lydia e os Slifers se entreolharam. Mesmo que apenas algumas horas
atrás eles tivessem feito seu piquenique no jardim, parecia que séculos
haviam se passado.
— Momentos antes da reunião do Congresso, houve ataques nos
arredores de Imamia, — disse Alastair com tristeza.
O salão ficou barulhento com sussurros exasperados. Era como se
uma pegadinha horrível estivesse sendo pregada em toda Ignolia.
Lydia se perguntou se ela estava tendo um pesadelo sem fim. De
alguma forma, faria mais sentido do que todo o caos e confusão enviados
a ela.
— Eu dei a Marsie Maroo o controle total sobre as próximas etapas da
intervenção, — gritou a chanceler Alastair acima do barulho. — Façam o
que ela pedir e depois façam mais! Todo o reino de Ignolia depende disso.
*
O grupo de bruxos e soldados amontoou-se nos aposentos de Marsie.
Todos se contorciam de nervos, enquanto esperavam fazer o bem pela
chanceler e por toda Imamia.
Os olhos de Marsie estavam arregalados de determinação enquanto
ela olhava para o grupo à sua frente. Lydia só podia imaginar o que ela
estava pensando. Tinha sido uma semana infernal até agora, e as coisas
só iam piorar a menos que ela tivesse uma palavra a dizer.
— Calem-se e escutem bem, — rosnou Marsie. — Eu sei que estamos
sofrendo um impacto um segundo após o outro, mas temos que nos
manter focados e alertas.
Lydia observou enquanto Marsie examinava os rostos à sua frente,
avaliando rapidamente cada membro. Se eles pretendiam obter qualquer
tipo de vitória, teriam que começar formando as melhores equipes
possíveis.
— Valias pode ter caído, mas ainda há uma operação de resgate em
andamento, — ela continuou. — Esse grupo consistirá em Redmond,
Ayana, Gerard e eu.
Redmond e Ayana deram-se as mãos, acenando com a cabeça
enquanto aceitavam sua próxima missão. Gerard ergueu o polegar na
parte de trás da multidão. Marsie acenou com a cabeça, assegurada de
que eles seriam mais do que o suficiente para eliminar quaisquer
Caçadores de Feiticeiros remanescentes e ainda salvar vidas.
— A equipe designada para Imamia será Lydia, Elise, Dorian e Lucius,
— disse Marsie. — Eu confio em vocês para irem por conta própria. Não
me decepcionem.
— Não vamos decepcionar, — Lydia assegurou.
— Tudo bem, — gritou Marsie, — não vamos perder mais tempo!
As duas equipes se juntaram separadamente. Dentro de instantes, dois
flashes de luz encheram os pequenos aposentos enquanto eles se
teletransportavam para seus destinos.
*
Cidadãos gritando.
Prédios em chamas.
Montes de entulho.
Lydia e os outros não podiam acreditar no caos que estava diante de
seus olhos. Era como se um terremoto sacudisse as bases de Imamia
enquanto um asteroide despencava do céu.
— Toda essa devastação, — disse Lucius, boquiaberto. — Com que
objetivo? — Quando jovem, Lydia sempre imaginou como seria viver em
uma cidade tão agitada como esta e, por vários meses, ela teve a
oportunidade de viver seus sonhos.
Mas isso era um pesadelo. Criado nos recessos mais sombrios da
mente e trazido à vida por um mal como este reino tinha visto apenas
uma vez antes.
— O que vamos fazer? — Dorian perguntou.
— Precisamos chegar ao castelo! — Lydia gritou acima do som dos
edifícios ainda em ruínas.
O caminho para o castelo não seria simples. Havia muita devastação
em seu caminho. Mas, de certa forma, era importante que eles vissem o
máximo possível dos destroços para avaliar honestamente a situação.
Lydia abriu o caminho enquanto os outros a seguiam. Quando eles
encontraram um prédio derrubado, Elise conjurou um pequeno tomado
para varrer as minas. Quando eles cruzaram uma ponte e tiveram que
parar por causa de um buraco, Lucius criou uma ponte mágica que os
permitiu avançar.
Lydia tentou o seu melhor para se concentrar no castelo, mas seus
olhos vagavam. Crianças chorando estavam cobertas de fuligem e cinzas.
Homens moviam pedras desesperadamente para tentar libertar amigos
presos. Mulheres distribuíam água para quem estava morrendo de sede.
— Precisamos fazer algo por eles! — Elise gritou quando eles se
aproximaram do castelo.
— É tarde demais para isso, — Lucius resmungou. — Se não
encontrarmos Gabriel rapidamente, não haverá um reino sobrando para
salvar.
Lydia e os outros finalmente escalaram os últimos montes de
destroços para se encontrarem nos portões lacrados do castelo. As portas
estavam bem trancadas e parecia não haver como entrar. Enquanto eles
se olhavam em busca de respostas, duas figuras encapuzadas apareceram
como se saíssem do ar. Os punhos de Lydia cerraram-se enquanto ela se
preparava para uma batalha...
Mas em vez disso, ela se viu engolfada por um alívio avassalador.
Eram Lis e Aero — a Rainha Regente e um dos conselheiros mais
confiáveis do reino. Eles se abraçaram rapidamente, sua saudação
calorosa, mas breve.
— O que aconteceu? — Lydia perguntou. — Quem fez isto?
Lis olhou atentamente para a Slifer do Fogo; seus olhos estavam
pesados de tristeza. — Foi meu irmão, o rei Gabriel.
O coração do grupo afundou coletivamente. Foi um golpe perceber
que já o haviam lutado uma vez. Mas doeu ainda mais saber que eles não
haviam chegado a tempo de evitar que tal devastação acontecesse em
Imamia — especialmente pelas mãos de seu próprio governante.
— Ele apareceu do nada, — disse Aero. — Quando soubemos o que
estava acontecendo, ele havia usado seus poderes das sombras para
destruir metade da cidade. Ele era como uma tempestade de raiva e
destruição.
Lis conteve as lágrimas enquanto tentava falar. — Depois de enviar a
cidade ao caos absoluto, ele dirigiu-se ao castelo. Felizmente, havíamos
evacuado a maior parte da corte.
Lis e Aero se entreolharam, compartilhando a dor que tiveram que
suportar.
— Nós conhecíamos algumas rotas de fuga que Gabriel se esqueceu de
verificar, — acrescentou Aero. — Desde então, tem sido um jogo de
espera até vocês aparecerem. Nós esperávamos... nós rezamos... para que
alguém viesse. — Elise e Dorian olharam para a cidade destruída atrás
deles. Lucius tirou um cantil do bolso e deu um bom gole.
Lydia pensou em repreender o velho, mas, nessas circunstâncias,
quase teve vontade de tomar um gole também.
Como Gabriel poderia ter feito isso com seu próprio reino? Mesmo
que Evine o tivesse sob algum tipo de controle mental, qual era o objetivo
final de tomar de volta o reino de alguém apenas para destruí-lo? Era
como um jogo doentio.
— Precisamos detê-lo, — disse Lydia com determinação.
— E como você sugere fazer isso? — Lucius perguntou com um
soluço.
— Por qualquer meio possível, — disse Elise.
Lydia percebeu que a expressão em seu rosto não era mais de tristeza,
mas de raiva. Elise sem dúvida imaginou como seria ver seu próprio reino
passando por uma situação catastrófica semelhante.
— Eu concordo, — Dorian acrescentou, erguendo os punhos em
apoio. — Gabriel precisa pagar por isso.
Lydia voltou sua atenção para Lis e Aero. — Onde estão essas
passagens secretas? Precisamos entrar no castelo agora.
GABRIEL

Do ponto de vista de seu trono, Gabriel podia ver a fumaça subindo da


cidade destruída. Era glorioso saber que havia caído por suas mãos. A
rebelião foi rápida, mas fraca, e ele os derrotou sem exercer mais força do
que o necessário.
Adria precisava de um exército para destruir seu reino — um exército
que incluía Gabriel. Mas o rei de Imamia planejava mostrar a Evine tudo
o que tinha. Ela sem dúvida ficaria impressionada com sua dominação...
Gabriel se levantou de seu trono e examinou a sala. Uma energia
familiar pulsava por todo o castelo... emitida por uma jovem... mas não
era sua amante, Evine.
Era outra pessoa.
Uma Slifer!
A mesma que ele quase matou alguns dias antes.
Ela deve ter vindo com a esperança de se infiltrar em seu castelo e
pegá-lo de surpresa.
Gabriel desabou em seu trono com um sorriso sinistro.
Finalmente! Ele seria capaz de terminar o trabalho para Evine.
Seria seu prazer esmagar a Slifer do Fogo e assistir os últimos
momentos de vida drenando de seu corpo.
Capítulo 12
UMA CRISE DE FOGO E SOMBRA
LYDIA

O túnel da passagem secreta estava frio e escuro. Cada passo ecoava


nas paredes enquanto eles percorriam a passagem surpreendentemente
longa.
— Isso nos levará ao lado da sala do trono, — Aero assegurou.
— Tem certeza de que é isso que precisamos fazer? — Perguntou Lis.
— Eu já vi Gabriel com raiva... mas isso... era algo totalmente diferente.
— Se vamos retomar o castelo, precisaremos de um plano de ação, —
respondeu Lydia.
— E não qualquer plano: um plano infalível, — acrescentou Elise.
O grupo lentamente parou enquanto pensavam em qual deveria ser
seu plano de ação. Apesar da atmosfera fria, o suor já brilhava em suas
testas. A passagem subia em uma inclinação que parecia nunca ter fim.
— Alguma ideia? — Dorian perguntou hesitante.
O grupo descansou enquanto ponderava sobre o que fazer. Lydia se
lembrou de como foi difícil lutar contra a rainha Adria. Contra a magia
das sombras de Gabriel, a batalha pode ser duas vezes mais difícil.
Quando sua explosão a pegou por trás em Ulu, a atingiu como uma
pedra em fuga, quase a deixando sem sentido. Se eles não conseguissem
pegar Gabriel de surpresa, poderia ser uma luta até a morte...
Ela se encolheu ao pensar em Gabriel machucando seus amigos. Mas
para parar sua loucura, eles teriam que usar tudo o que tinham com ele.
Principalmente agora que estava sob o controle de Evine.
Gabriel não parou quando as pessoas de seu reino jaziam ensanguentadas
e destruídas no chão.
Derrubar o rei a machucaria como nunca. Mas era o que eles tinham
que fazer para remover o domínio sombrio de Evine e Uzier sobre esta
terra.
— Podemos tentar emboscá-lo, — disse Elise. — Se atacarmos todos
de uma vez, ele será dominado.
Aero balançou a cabeça tristemente. — Isso não é uma opção. Ele teria
mais facilidade com todos nós juntos em uma área.
Lis acenou com a cabeça em concordância.
Lydia estendeu a mão e segurou a de Lis. Ambas queriam parar
Gabriel sem ferir o rei muito severamente. Mas elas tinham visto sua ira e
sabiam que era difícil desafiá-lo sem que ninguém se machucasse.
Lis sorriu fracamente para Lydia, mas parecia uma vitória. A Rainha
Regente havia passado por tanta coisa nos últimos meses: primeiro
perdendo seus poderes, depois seu irmão. A última coisa que ela
precisava era uma guerra acontecendo ao redor deles.
— Nós poderíamos tentar atraí-lo, — Dorian disse. — Tentar preparar
uma armadilha que caia bem em nossas mãos.
— E nos prendermos enquanto fazemos isso, — Lucius resmungou.
Ele abriu a garrafa e tomou um grande gole. O cheiro pungente de
álcool encheu o túnel úmido.
— Você tem uma habilidade especial, garoto, — Lucius continuou,
olhando para Dorian. — Mas a magia das sombras do rei não é nada com
que se possa brincar.
— Qual é a sua sugestão, então? — Dorian perguntou, irritado. — A
menos que você não tenha nenhuma?
Lucius riu da ousadia de Dorian e deu um tapa nas costas dele.
— Minha sugestão seria reduzir nossas perdas e voltar com reforços,
— disse ele severamente.
O resto do grupo resmungou de aborrecimento. Lucius sentiu o ar no
túnel mudar a seu favor. Ele tomou um último gole de seu cantil antes de
guardá-lo.
— Mas já que isso seria claramente um erro... — sua voz falhou. O
olhar do velho mago caiu sobre cada rosto que olhava para ele.
— Fale logo, — exigiu Elise. — Não temos o dia todo.
— É o companheiro de Lydia lá em cima. E ela já lutou com ele uma
ou duas vezes antes, — disse ele, acenando com a cabeça para a neta. —
Se você se transformar em uma bola de fogo pura, ela será capaz de
neutralizar sua magia sombria.
— A luz supera a sombra... — Lis assentiu.
— Vou dar o meu melhor, — respondeu Lydia.
— Eu sei que você vai, querida, — Lucius sorriu.
Ela ficou surpresa ao ver seu avô rabugento abrir um sorriso genuíno.
O tamanho de seu coração pareceu dobrar no local. Ela sorriu de volta
para ele. Mesmo no túnel escuro, ela podia ver um rubor em suas
bochechas.
— Isso realmente parece um plano, — acrescentou Aero. — Assim que
ela entrar e chamar sua atenção, podemos atacá-lo.
— E depois? — Elise perguntou.
— Depois vamos mostrar a ele tudo o que temos, — disse Aero,
sorrindo.
*
— Eles estão em toda parte, — Lis ofegou.
O grupo estava amontoado no final da passagem secreta, olhando
para os corredores que levavam diretamente para a sala do trono.
Eles sabiam que chegar a Gabriel não seria fácil, mas isso estava
mudando seus planos.
Bestas gigantes das sombras patrulhavam os corredores, farejando
qualquer sinal de intrusos. Era difícil acreditar que Gabriel pudesse
manifestar seus poderes dessa forma. A magia de Evine parecia colocar
suas habilidades no máximo.
Até mesmo Dorian olhava com espanto perplexo. Ele só podia esperar
que seu domínio da energia celestial um dia chegasse a alturas de cair o
queixo.
— O que nós vamos fazer? — Aero perguntou, incerto. —
Definitivamente não estávamos preparados para isso.
— É hora de improvisar, — respondeu Elise.
Ela girou o dedo em um círculo e um rugido suave cresceu no túnel.
Depois de alguns momentos, ela moveu o pulso para longe da sala do
trono.
O vento assobiava enquanto corria pelos corredores. Cada conjuração
bestial ergueu seus ouvidos com o som. Um por um, eles dispararam pelo
corredor, deixando o caminho para a sala do trono totalmente livre.
— Muito bem! — Lydia disse com orgulho.
— Não vamos perder mais tempo, — Lucius insistiu. Aero abriu a
pequena escotilha para o túnel e eles caíram silenciosamente no chão.
Enquanto caminhavam pelo corredor, tomou-se aparente quanto dano
Gabriel havia infligido, mesmo dentro de seu próprio castelo.
Corpos estavam espalhados pelo corredor. O sangue trilhava o chão,
enquanto havia marcas de garras gravadas nas paredes de pedra.
Alguns corpos estavam empilhados uns sobre os outros. Sem dúvida,
guardas tentando proteger seus colegas do fim horrível que todos
inevitavelmente encontraram.
Lis se virou para Aero, que a envolveu em seus braços, tentando
protegê-la dos horrores a seus pés. Elise e Dorian estavam visivelmente
abalados, mas não conseguiam desviar os olhos. Isso é o que Adria
provavelmente fez ao seu reino. O que Calix também faria em breve, se
eles não o impedissem.
Lydia prendeu a respiração. Ela queria gritar.
Ela queria chorar até que as visões tivessem desaparecido de sua
mente. Esta missão estava se tomando uma loucura bem diante de seus
olhos. Alguns dos mortos não eram muito mais velhos do que ela. Eles
tinham esperanças e sonhos que foram destruídos em um piscar de
olhos.
Que justiça havia no mundo se os deuses podiam permitir que coisas
tão horríveis acontecessem a pessoas inocentes?
Ela sentiu uma mão em seu ombro e se virou para ver Lucius olhando
para ela. Seu rosto estava solene. Isso era muito para qualquer um ver, até
mesmo um bruxo de novecentos anos. Seu toque gentil era um lembrete
silencioso de tudo pelo que eles tinham que lutar.
— Não importa o que você veja, — disse ele, — este é o trabalho de
Evine. Pura e simplesmente Evine. — Suas palavras acenderam uma carga
em Lydia que empurrou suas pernas incertas para frente. Cada passo
aumentava sua força e solidificava sua resolução.
Não vamos falhar! Pelo povo de Imarnia, esse horror vai parar!
Lydia parou do lado de fora da sala do trono. Ela olhou para os outros
e acenou com a cabeça. Era isso. O fim da linha. Não importa o que
acontecesse, eles dariam tudo de si.
Com os dentes cerrados, o corpo de Lydia explodiu em uma bola
escaldante de fogo e fúria. Ela se concentrou intensamente em seus
poderes, tomando-se a mais brilhante que já havia queimado. Os outros
recuaram quando o calor de seu fogo lavou seus corpos.
Lydia correu para a sala do trono. Com um pulso de magia, ela enviou
uma onda de choque de fogo em todas as direções. Ela se abaixou para
uma posição defensiva e esperou a primeira rajada de magia das
sombras...
Nada aconteceu.
Seus olhos ardentes varreram a sala, não deixando nenhum canto
desmarcado.
O que estava acontecendo? Ela podia sentir a presença de Gabriel. Sua
conexão como companheiros tomava quase impossível não senti-lo
quando eles estavam próximos.
Os outros avançaram por trás, prontos para um ataque total.
— Que diabos? — Lucius disse, confuso.
— Ele não está aqui, — Dorian disse.
O fogo continuou a consumir o corpo de Lydia, mas lentamente
desapareceu enquanto ela perdia a esperança de que eles seriam capazes
de vencer Gabriel.
— Então onde ele está? — Elise perguntou. Uma rajada de vento
girava em tomo dela, um pequeno tomado que ela usaria para derrubar o
rei imediatamente.
— Bem aqui, — a voz de Gabriel gritou.
O grupo girou em uníssono. A figura do Rei de Imamia se
materializou nas sombras nos recessos da sala. Com a combinação das
sombras, seu oponente foi revelado.
Era Gabriel, sim. A joia verde-jade estava no centro de sua testa. Seu
brilho emanava por toda a sala, lançando pavor sobre o grupo enquanto
eles ficavam boquiabertos com sua chegada.
— Desista, Gabriel! — Lydia gritou. — Você está cercado.
A risada do rei encheu a sala do trono. Ele olhou para o grupo com
uma alegria perversa.
— Acho que você está enganada, — respondeu ele.
— São vocês que estão cercados.
Bestas das sombras preencheram a entrada da sala do trono. Seus
dentes estavam à mostra e os pelos eriçados, prontos para atacar.
— Estou feliz que você finalmente pôde se juntar a mim, — disse ele,
olhando para Lydia. — Já faz um tempo que estou esperando por este
momento.
Lydia engoliu em seco. Isso era o que ela temia o tempo todo: uma
luta entre companheiros que finalmente determinaria o destino traçado
pelos deuses.
Mas como ela poderia atacar o homem que amava? Ele tinha feito o
mesmo com ela apenas alguns dias antes, mas não era culpa dele... era?
Lydia se lembrou de quando se conheceram.
Como ele tinha sido mau e ingrato. A forma como seus tentáculos de
sombra a mantinham no lugar enquanto ele fazia o que queria com ela...
As chamas em seu corpo dispararam, atingindo o teto. Ela sorriu para
seu companheiro e viu como seu rosto ficou tenso de raiva.
Ela estava pronta. Ela sempre esteve pronta...
Capítulo 13
PODERES COMBINADOS
GABRIEL

A Slifer do Fogo brilhava tão intensamente quanto o sol no céu. Seu


calor assava cada centímetro da sala do trono com sua fúria.
Gabriel sorriu com o espetáculo.
Evine o avisou que Lydia viria para impedir sua ascensão ao trono. Ela
havia expressado seu desejo de que ele a esmagasse sob os pés.
Evine parecia falar da Slifer com uma pitada de ciúme. Gabriel não
conseguia entender por que, mas não cabia a ele questioná-la.
Tudo o que ele fez foi por sua mestra sombria. Se ela pedisse a ele para
arrancar todas as montanhas do mundo, ele passaria a vida realizando
esse mesmo objetivo — ou morreria tentando.
A pequena mulher com o cabelo com mechas de fogo era muito
confiante para seu próprio bem. Ela escapou de sua ira na primeira vez
que se encontraram, salva pelo teletransporte do velho mago.
Mas desta vez, as coisas terminariam de forma diferente. Gabriel faria
o que foi ordenado. Ao final do dia, ele se certificaria de que seu
batimento cardíaco tivesse cessado, que o sangue quente dentro de seu
corpo esfriasse para sempre.
— Vamos, Gabriel, — ela gritou. — Vamos terminar isso de uma vez
por todas!
Ele podia sentir suas emoções. Ela falava com certeza, mas ele sabia
que era falsa confiança.
Se você quer o meu melhor, pensou ele, então prepare-se para morrer.
Gabriel fechou os olhos e alcançou suas profundezas. O poder em seu
ser crescia com cada batida de seu coração. Com pouco esforço, ele
puxou as sombras dos cantos da sala do trono e as trouxe para baixo
sobre o corpo em chamas de Lydia.
BOOM!
O peso de sua magia esmurrou a jovem Slifer do Fogo.
Um grito abafado escapou de sua garganta.
A sala do trono escureceu. Por um momento gloriosamente longo,
parecia que seu fogo seria extinto sem uma batalha adequada.
Isso foi muito fácil! Ele pensou.
Em questão de instantes, a Slifer estaria morta e ele mataria o resto de
seus colegas um por um. A vitória parecia ao alcance. E nada que eles
tentassem o impediria.
LYDIA

Lydia quase não conseguia acreditar no que acabara de acontecer.


Ela deixou Gabriel pegá-la desprevenida e a derrubou no chão. Ela
podia sentir a magia negra se contraindo ao seu redor de todas as
direções. A batalha quase escapou de suas mãos.
Mas Gabriel parecia esquecer um fator crucial. Ele sempre subestimou
o desejo de vitória de Lydia.
E esse desejo se traduziu no poder que ela poderia gerar.
As sombras tentaram engoli-la inteira. A escuridão se fechou em tomo
dela, ameaçando extinguir seu fogo.
Um grito escapou de seus lábios, mais de surpresa do que de dor.
Não desista! Ela se encorajou.
Com um escudo de fogo, ela queimou as sombras e irrompeu na
escuridão. Sua figura fumegante iluminou a sala como fogos de artifício.
Até o rei das sombras teve que cobrir seus olhos da magnífica exibição.
— Achou que acabaria tão cedo? — ela disse astutamente.
Ela emanou uma rajada dupla de fogo de suas mãos. Gabriel voou de
volta para a parede quando as chamas o derrubaram.
Lydia sentiu-se encorajada pelo esforço. Ela flutuou para fora do chão,
levitando sobre o trono que Gabriel havia tentado reivindicar.
— Isso não vai acabar bem para você, — disse Gabriel estoicamente.
— Eu esperava que você tivesse aprendido que não gosto de ser
ameaçada, — Lydia retrucou.
Um raio de sombra vicioso voou direto em seu rosto. Lydia
habilmente esquivou-se do ataque e enviou mais algumas rajadas
próprias. Gabriel estava de pé e movendo-se rapidamente ao redor da
sala. Seus movimentos rápidos tomavam difícil localizar sua posição.
— Gabriel! — ela gritou. — Pare com isso. Nada de bom pode resultar
de nós lutarmos um contra o outro!
O rei se recusou a ouvir, respondendo a seus apelos com fragmentos
de sombras afiadas que zuniam por seus ouvidos.
Ela sabia que provavelmente era impossível. Mas este era seu
companheiro! Uma batalha terminando com um deles morto... Lydia
afastou esses pensamentos. Era muito difícil pensar em perder Gabriel.
Ela ansiava por seu toque por três meses. Ele inundava seus sonhos e
enchia cada momento de sua vida com saudade.
E toda aquela energia gasta para encontrá-lo... Só para perceber que
ele estava tentando acabar com a vida dela...
— Você não se lembra de mim? — ela implorou.
Algumas rajadas de fogo saltaram da pedra à sua frente. Ele estava
diminuindo a velocidade. Mas isso não significava que ela precisava bater
nele para derrotá-lo.
Talvez ela pudesse atravessar a névoa que Evine estava usando para
nublar sua mente. Talvez ela pudesse encontrar o homem que ela havia
aprendido a amar.
— Eu não quero mais machucar você, — ela admitiu. Era bom falar
com ele assim. Mesmo em seu estado distorcido.
— Eu pensei que tinha te perdido uma vez, — ela continuou, — e isso
quase me matou. Eu te amo, Gabriel.
O rei parou. Ele olhou para Lydia. Seus olhos pareciam estar
procurando... lembrando-se da pessoa que pairava acima dele... talvez as
tentativas dela estivessem realmente funcionando! As mãos de Gabriel
dispararam rapidamente e enviaram uma explosão massiva de magia
sombria passando por Lydia. Ele errou, mas ela percebeu rapidamente
que não era o alvo.
A parede acima dela começou a desabar. Uma pedra caiu do teto,
espatifando-se no chão abaixo.
Lydia tentou voar para fora do caminho, mas foi atingida por um
estilhaço. Ela caiu no chão com um baque nauseante.
Gabriel olhou para ela, sem emoção. Ele não tinha ouvido suas
palavras. Ele estava apenas procurando uma maneira de destruí-la.
Ela o observou se aproximar, localizando a joia verde-jade em sua
testa. Ela tinha que encontrar uma maneira de quebrar sua conexão com
Evine...
LUCIUS

As bestas das sombras eram quase impermeáveis a tudo o que jogavam


nelas. Mesmo com sua poderosa magia, Dorian e Elise estavam
paralisados com as horríveis criaturas.
Aero lutou ao seu lado enquanto Lis ficou atrás deles, evitando o
máximo possível do ataque.
— Isso é tudo que precisamos, — disse Aero, quase sem fôlego. — Um
bando de criaturas sombrias que não morrem!
Dorian conjurou outro urso que encontrou seu igual na besta das
sombras de Gabriel. As duas criaturas lutavam enquanto seus rugidos
ecoavam pelos corredores.
— Cuidado! — Lucius gritou.
Elise ouviu seu aviso e se virou bem a tempo. Ela viu o tigre sombrio
atacando por trás e convocou uma rajada de vento. O tigre foi derrubado
e arrastado pelo corredor, imobilizado.
— Nós precisamos mais disso! — Lucius disse apressadamente. — Ou
então estamos perdidos!
Ele tentou focar sua atenção na criatura mais próxima, mas o latejar
em sua cabeça era quase insuportável. Passaram-se apenas alguns
minutos desde sua última bebida, mas seu corpo já ansiava por mais.
Se este não é o meu alerta, ele pensou amargamente, então eu não sei o
que é.
Ele gerou um choque elétrico que causou o colapso de um lobo
sombrio em convulsões. O ataque pode ter sido bem-sucedido, mas fez
com que seus batimentos cardíacos martelassem em seus ouvidos como
um tambor de guerra alertando sobre o apocalipse.
— Puta merda! — ele gritou para ninguém em particular. — Não
podemos fazer uma pausa? — Eles estavam dando tudo o que tinham e
mais um pouco, mas as criaturas continuavam vindo!
Lucius arriscou um olhar para dentro da sala do trono. Lydia estava
pairando no ar como uma fênix ressuscitada. Suas chamas eram
hipnotizantes.
Ela era sua única esperança. Se Gabriel pudesse ser derrotado de
alguma forma, as criaturas das sombras parariam de se regenerar.
— Para a sala do trono! — ele gritou.
— Você está louco? — Dorian perguntou. Sua águia celestial
mergulhou na cabeça do urso das sombras, arrancando pelos de suas
orelhas.
— Talvez, — pensou Lucius, — mas essa é a única coisa que temos a
nosso favor.
LYDIA

A atenção de Gabriel foi tirada de Lydia enquanto os outros entravam


na sala. Isso foi inesperado, mas Lydia não se importou nem um pouco.
Isso deu a ela tempo para explodir os destroços de suas costas.
Agora que ela estava livre, ela poderia se juntar a seus amigos. Se fosse
assim que tudo terminasse, pelo menos eles estariam lutando juntos.
Ela voou para se juntar a sua equipe. Gabriel ergueu as mãos. Mais
criaturas sombrias se formaram ao redor dele.
Era isso. A carga final para determinar o resultado desta batalha...
Elise se preparou para o próximo ataque. O vendaval rodopiante
sugou o fogo do corpo de Lydia, misturando-o com os ventos fortes.
— E isso! — Lydia disse com inspiração repentina.
Ela se virou para Elise. — Eu preciso que você confie em mim. Agora,
concentre-se...
Elise assentiu com olhos determinados.
— Crie um tomado diferente de tudo que você já fez antes.
— Nesta sala pequena? — Lis disse, preocupada.
— Fiquem ao meu lado no olho do furacão, — alertou Elise aos
amigos. — E não seremos sugados.
Dentro de instantes, os ventos que chicoteavam ao redor deles se
intensificaram dez vezes. À medida que as rajadas poderosas
continuavam a ganhar força, o grupo se aproximou o máximo possível de
Elise.
Gabriel enviou suas criaturas sombrias para atacar, mas o rei esperou
tempo demais. As feras foram atingidas por uma parede de vento que as
fez voar pela sala.
Lydia sorriu quando a confusão tomou conta da expressão
anteriormente estoica de Gabriel. Ele disparou rajadas de energia
sombria no tomado, mas não adiantou. Suas pernas começaram a tremer
quando a tempestade finalmente atingiu sua posição.
Estendendo a mão para o vento, Lydia observou com prazer enquanto
ele sugava seu fogo. A magia das Slifers do Ar e do Fogo combinada,
criando algo absolutamente inspirador...
Um tomado de fogo!
Os ventos escaldantes açoitaram a pele de Gabriel. Ele tentou se
proteger, mas tropeçou em seu próprio trono. As rajadas implacáveis o
jogaram pela sala e o prenderam contra a parede.
Uma por uma, suas criaturas sombrias indefesas queimavam com a
força impressionante do tomado.
Gabriel tentou pela última vez se forçar contra os ventos, mas não
adiantou. Sua cabeça foi jogada para trás e colidiu com a parede, quase o
deixando inconsciente.
— Tudo bem, a hora é agora, — Lydia gritou.
Elise liberou o tomado e os ventos diminuíram lentamente. Lydia
saltou para frente enquanto Gabriel tentava reunir energia suficiente
para se levantar. Com uma explosão final de fogo, ela o acertou no peito,
jogando-o no chão.
Comemorações encheram a sala do trono. A batalha foi vencida!
Gabriel ficaria inconsciente por pouco tempo. Evine certamente viria
em busca de seu bem precioso.
Eles não tinham tempo a perder...
Capítulo 14
UM REI ACORRENTADO
EVINE

A floresta se estendia até onde a vista alcançava. Evine viu Imamia


inteira enquanto ela planava sobre as copas das árvores. Por onde ela
passava havia uma trilha de Caçadores de Feiticeiros, liderados pelo
infame Jora Zayn.
Cada pequena vila ou cidade que encontraram foi deixada em ruínas.
Como o Reino de Vallas, Imamia sucumbiria à sua vontade brutal.
Evine olhou à frente, para a fumaça que subia do castelo de Gabriel.
Em seu zelo por agradá-la, seu escravo não queria nada mais do que uma
chuva de destruição sobre sua capital.
E por que ela não permitiria isso? A destruição de Vallas pela rainha
Adria foi mais um teste para ver se a realeza cumpriria suas ordens. Mas
ela ficou satisfeita. Mais do que satisfeita.
Evine sabia que Gabriel faria tudo o que ela pedisse. Estava em seu
sangue. Afinal, ele era o mesmo homem triste que acreditava que Evine
era sua verdadeira companheira há mais de trezentos anos.
Mesmo depois que ela assassinou sua mãe e fingiu sua própria morte,
o rei de Imamia ainda não conseguia quebrar sua devoção inabalável.
Gabriel era seu fantoche. Um brinquedo destrutivo que nunca dizia não e
não podia ser impedido. Não por qualquer mortal, pelo menos.
Os Slifers acabaram sendo uma infeliz dor de cabeça. Mas quando ele
pediu para invadir Imamia sozinho, os olhos impetuosos de Gabriel
diziam tudo para Evine.
Ele estava pronto para enfrentar sua companheira Slifer e fazê-la
pagar por tudo que fizera aos planos de Uzier. Evine esperava ver aquela
vadia da Lydia no chão aos pés de Gabriel. O rei quase havia derrotado
sua companheira em Ulu, e não haveria como escapar dele agora.
Evine se deleitou com a brisa fresca da noite. Ela podia sentir os
últimos raios de sol morrendo abaixo do horizonte. Logo cairia a noite. O
momento em que ela se sentia mais viva.
Mas algo não estava certo...
A cidade estava sem dúvida em ruínas. A fumaça ainda estava subindo
de pequenos incêndios que queimavam no centro da cidade. E enquanto
ela podia ver que o castelo tinha sofrido danos significativos, ela podia
sentir que estava vazio por dentro.
Evine: Eu vejo seu rastro de destruição...

Evine: Muito bem, meu querido...

Evine: Me diga o quanto você machucou aquela pobre garota Slifer...

Evine: Gabriel? Eu ordeno que você me responda!

Havia algo errado. Gabriel nunca iria ignorar sua comunicação.


Nenhum de seus escravos poderia.
A menos que...
Evine acelerou sua abordagem ao castelo, temendo o pior.
LYDIA

Lydia observou o homem inconsciente caído no chão. Pela primeira


vez desde que se reuniram, ele finalmente estava em paz.
Seus olhos vasculharam cada centímetro de seu rosto. Fazia muito
tempo desde que ela teve a chance de apreciar a beleza áspera que era o
rei Gabriel James Imamia. Ele tentou matá-la e quase conseguiu.
Mas agora que o viu fora do controle de Evine, ela se lembrou de todas
as coisas que sentia falta dele.
Se ela pudesse quebrar a conexão com aquela bruxa malvada! Lydia
tocou a gema verde-jade com o dedo. Era lisa e polida. Mas dentro dessa
joia aparentemente inofensiva havia uma força conectiva que conduzia a
loucura de Gabriel.
— Não quero trazer más notícias, — disse Elise, — mas algo está
voando bem em nossa direção.
A Slifer do Ar estava olhando pela janela, onde os outros rapidamente
se juntaram a ela.
Um pontinho rasgava as copas das árvores. Quem quer que fosse —
ou o que quer que fosse — parecia estar indo direto para o castelo.
— O que é aquilo? — perguntou Dorian.
— Isso, meu garoto, — Lucius disse severamente, — é nosso pior
pesadelo.
Lydia abriu caminho até a frente do grupo e olhou atentamente para a
figura que se aproximava. Mesmo que ela não pudesse dizer com certeza,
parecia a energia de Evine.
— Precisamos sair daqui, — disse Lydia. — E não apenas por causa
dela.
Seus olhos se voltaram para o homem no chão. Os outros
concordaram com a cabeça. Se ele acordasse antes que eles pudessem
contê-lo adequadamente, as coisas iriam de mal a pior.
— Bem, eu acho que é aí que eu entro, — Lucius resmungou. — Todos
se reúnam e eu vou nos teletransportar para um local seguro. Como de
costume.
A maior parte do grupo caminhou em direção ao corpo inconsciente
de Gabriel. Lis e Aero ficaram alguns passos atrás, olhando um para o
outro com nervosismo.
— O que foi? — Lydia perguntou.
— Se todos nós partirmos, então Imamia não terá mais ninguém para
protegê-la, — Lis disse, preocupada.
Lydia entendia suas preocupações, mas parecia que eles não tinham
muitas outras opções. — O que mais você sugere? — ela perguntou.
Aero colocou um braço em tomo de Lis e a puxou para mais perto.
— Ela está certa, Lis, — disse ele. — Ficar para trás seria assinar nossa
própria sentença de morte. — Lis finalmente cedeu e se juntou ao resto
do grupo. Lágrimas correram pelos cantos de seus olhos enquanto ela
tomava uma das decisões mais difíceis de sua vida.
— Todos prontos? — Lucius perguntou. — Aqui vamos nós!
Em um flash de luz, eles estavam de volta à capital, Ellesmere. Lucius
sempre foi rápido e preciso... na maior parte.
Ufa!
O grupo soltou um gemido coletivo ao pousar com um baque
próximo aos degraus que levavam ao Congresso de Magia.
Dorian se levantou e começou a esfregar seu traseiro, tentando tirar a
dor dele.
Lydia rolou e olhou para o céu noturno. As estrelas cintilavam como
diamantes em um manto de veludo escuro. Era lindo e
momentaneamente tirou a dor de sua aterrissagem desagradável.
— Abram caminho! — A voz de Marsie Maroo gritou.
Ela desceu correndo as escadas do congresso com guardas logo atrás.
— É bom ver vocês, — ela disse. — Eu estava ficando preocupada.
Marsie parou em seu caminho quando viu o Rei Gabriel deitado no
chão.
— Minha nossa, — Marsie gaguejou. — Rei Gabriel!
Lucius violentamente bateu em suas costas enquanto se levantava.
— Conseguimos contê-lo depois de uma luta pesada, — disse Lucius.
— O que você já está fazendo de volta de Vallas?
— Voltei assim que a rainha Adria e Vallas estavam sob controle, —
respondeu Marsie. — E estou feliz por ter feito isso.
Lydia se levantou do chão e ficou feliz em ver que Gabriel ainda estava
inconsciente. Mas ela notou uma vibração de movimento em suas
pálpebras.
Ele não ficaria assim por muito mais tempo.
— Precisamos prendê-lo, — acrescentou Lydia, apontando para o rei.
— E rápido!
Seus dedos estavam começando a se mover e sua respiração estava
menos superficial do que antes.
Marsie saltou ao comando e puxou um conjunto de algemas do cinto.
Ela as prendeu ao redor de seus pulsos e se certificou de que estavam
bem ajustadas.
— Felizmente, não precisamos dessas algemas encantadas em Vallas,
— disse Marsie. — Mas eu sabia que elas seriam úteis em algum
momento!
Com um estalar de dedos, os guardas cercaram o Rei Gabriel e o
colocaram de pé. Seus olhos se abriram e seus lábios formaram um
grunhido.
Ele lutou para se libertar e tentou com todas as suas forças conjurar a
magia das sombras, mas não adiantou. As algemas funcionaram
perfeitamente, impedindo-o de usar qualquer um de seus poderes
opressores.
— Levem-no para as masmorras, — Marsie comandou.
Eles carregaram Gabriel pelas ruas enquanto os cidadãos paravam
para assistir.
O coração de Lydia doeu por ele. Mesmo que ele ainda estivesse sob
controle mental, era insuportável ver seu companheiro desfilar pelas ruas
como um troféu. Ela queria segui-los e certificar-se de que ele fosse
tratado como o rei que era.
Lucius deu um passo à frente dela e estendeu as mãos.
— Deixe-os ir, — ele disse calmamente. — Assim que o prenderem,
teremos oportunidade mais do que suficiente para visitá-lo.
Lydia olhou nos olhos do avô e assentiu com tristeza. Ele estava certo.
Eles já haviam passado por tanta coisa; não faria nenhum bem
continuar assistindo seu amante lutar e resistir. Afinal, este homem não
era verdadeiramente seu amante. Não enquanto aquela pedra preciosa
verde-jade ainda estivesse fixada em sua testa.
— Além disso, — Lucius acrescentou, — parece que temos uma
companhia inesperada...
REDMOND

Redmond sorriu para a multidão boquiaberta reunida na escadaria do


Congresso. Era bom ver tantos rostos amigáveis em um só lugar.
Seu retomo a Vallas foi repleto de emoção.
Era difícil esquecer o que a Rainha Adria tinha feito ao pobre vilarejo
de Ulu e muitos outros assentamentos no Reino de Vallas. Mas era seu
dever voltar e tirar sua companheira do controle de Evine.
Sua equipe encontrou a Rainha Adria sentada em seu trono. Seu reino
inteiro estava em ruínas, mas isso não impediu o Slifer da Terra e seus
companheiros de terminar sua missão.
A batalha foi difícil. Com a ajuda dos poderes sombrios de Evine, a
magia da Rainha Adria estava mais potente do que nunca. Mas Redmond
alcançou suas profundezas e encontrou forças para detê-la.
Finalmente, e felizmente, eles trouxeram Adria de volta ao seu juízo
perfeito.
A equipe de Lydia aplaudiu quando Redmond chegou com o General
Malla. Entre eles estava sua amada Rainha Adria, delirando e desmaiada.
— Deuses, — Lydia gritou. — Onde está a joia verde?
Redmond sorriu com orgulho enquanto olhava para a Slifer do Fogo.
— Esmagada em um pó fino e espalhado entre as areias do deserto.
Os olhos de Lydia brilharam como um farol.
— Existe uma maneira de destruir a gema?! — ela gritou, com
desespero em sua voz. — Conte-me! Então, posso acabar com o controle
de Evine sobre meu companheiro de uma vez por todas!
Capítulo 15
QUEBRANDO A MAGIA GABRIEL
— Me deixem sair! — Gabriel gritou.
Seu ombro batia contra as barras. Era inútil, mas ele não conseguia
pensar em mais nada para fazer. Sua raiva era palpável em toda a
masmorra. Ele sabia porque os guardas mantinham distância, mesmo
com as algemas enfeitiçadas em seus pulsos.
Evine não ficaria feliz. Ele a convenceu a atacar Imamia por conta
própria, quase garantindo uma vitória rápida.
Em vez disso, ele deixou aquela maldita Slifer e seu bando de bruxos
derrubá-lo.
Perdeu os sentidos em sua própria sala do trono! Ele nunca imaginou
que eles iriam derrotá-lo. E ainda assim, a combinação dos poderes das
Slifers era avassaladora.
— Ela virá atrás de mim, — disse ele ao guarda mais próximo. — Evine
não vai tolerar isso. A última coisa que você verá é o sorriso dela
enquanto ela arranca a vida de você.
Um jovem mago de plantão deu um passo à frente e tocou as barras
com o dedo. Um choque elétrico transmitido pelo metal e atingiu
Gabriel.
A Realeza tropeçou para trás e caiu no chão com um baque.
— Se ela vier, — respondeu o mago, — ela não ficará feliz por você ter
sido pego, rei de Imamia.
Gabriel fervia enquanto observava o mago se afastar. O desgraçado
estava certo. Evine deu a ele uma chance de mostrar seu verdadeiro
poder, e ela falhou magnificamente.
A Slifer do Fogo deve pagar, ele pensou. Ela é uma pedra em meu sapato.
Gabriel balançou a cabeça ao se lembrar da batalha. Lydia Voltaire era
uma jovem inimiga vivaz, mas algo nela era quase cativante. Várias de
suas bolas de fogo erraram o alvo. A princípio, ele imaginou que isso
fosse um sintoma de sua pouca idade e preparação medíocre.
Pensando bem, quase parecia uma escolha. Ela tentou falar com ele
durante a luta. Quase como se ela o conhecesse...
Gabriel fechou os olhos. A pele cor de oliva de Lydia e o cabelo preto
escuro sorriram de volta para ele. As listras de fogo nas pontas de seu
cabelo brilhavam como a chama de uma vela.
Você não se lembra de mim? Perguntou seus lindos lábios. Eu não quero
mais machucar você...
Gabriel abriu os olhos, olhando através das barras de metal de sua
cela.
Era impossível entender por que ele se sentia assim, mas tinha certeza
de que essa jovem Slifer significou algo para ele em um determinado
momento.
Mesmo quando ela teve a chance de matá-lo, ela escolheu o caminho
certo. Ele odiava ser mantido atrás das grades, mas era muito mais
humano do que qualquer coisa que Evine faria quando o encontrasse.
E ele sabia que se tivesse tempo suficiente, ela iria encontrá-lo...
Ele destruiu seu próprio reino para sua mestra sombria. Assistiu
enquanto pessoas gritavam por ajuda enquanto seus entes queridos
morriam ao seu lado.
Depois de tudo isso, Lydia ainda havia poupado sua vida.
REDMOND

— Eu não pensei que fosse conseguir, — disse Redmond. Ele olhou


para as Slifers e os magos que se reuniram nas escadas do Congresso para
ouvir a história de como ele resgatou sua rainha do controle de Evine.
— Mas eu sabia que, se não tentasse, ela nunca mais voltaria, — disse
ele com tristeza.
'O que você fez? — Elise perguntou, curiosa.
O rei Calix ainda estava em algum lugar lá fora, controlado por Evine
e Uzier. Quanto mais ela soubesse, mais bem preparada estaria para
libertar seu companheiro e parar o que quer que seus inimigos
estivessem planejando.
O general Malla apertou a mão da rainha Adria com força. A
companheira de Redmond já tinha passado por tanta coisa, e ainda assim
ela foi forçada a reviver suas ações repetidas vezes.
Mas era importante para todos saberem que não foi obra da rainha
Adria. A magia do sangue que Uzier e Evine usaram nas gemas era mais
poderosa do que qualquer coisa que eles já enfrentaram.
— Enquanto os outros a seguravam, — Redmond continuou, — eu
agarrei a joia verde-jade em sua testa. Levou quase cada grama da minha
magia. Com meu braço se transformando em madeira sólida, finalmente
consegui arrancá-la e esmagá-la sob meu poder.
A multidão ofegou quando ele se lembrou da história.
— Foi muito heroico, — acrescentou Ayana, sorrindo.
— Eu só fiz o que qualquer outra pessoa faria por sua amada, — disse
Redmond. — Sem dúvida, todos vocês terão que fazer o mesmo.
As Slifers se entreolharam com convicção solene.
Soluços ecoaram ao lado de Redmond quando a rainha Adria desabou.
Não era a primeira vez que ela fazia isso, e certamente não a última.
— Eu sinto muito, — ela chorou. — Eu podia ver o que estava
fazendo. Mas era como um pesadelo que eu não tinha controle.
Redmond abraçou a rainha Adria e deu-lhe um beijo na bochecha. Ver
o amor de sua vida tão abatido partiu seu coração em dois.
— Sabemos que não é sua culpa, — disse Lydia, enxugando as próprias
lágrimas. — Evine é uma mestre da manipulação e não havia como você
se libertar sozinha. Isso poderia ter acontecido com qualquer um de nós.
— Talvez, — Adria disse, — mas não aconteceu. Aconteceu comigo e
agora destruí todo o meu reino. Todas as pessoas que confiaram em mim
para liderá-las...
Sua voz sumiu quando ela enterrou o rosto no ombro de Redmond.
Ele acariciou seu cabelo suavemente enquanto sussurrava palavras de
encorajamento.
— O que vai acontecer agora? — Dorian perguntou. — Existe uma
razão pela qual Evine e Uzier forçaram você e Gabriel a destruir seus
reinos?
O general Malla apertou a mão de Adria novamente para apoiá-la. A
rainha enxugou os olhos, balançando a cabeça.
É
— É a retribuição de Uzier pelo que os reinos fizeram a ele anos atrás,
— ela finalmente disse.
— Isso foi antes do nosso tempo! — exclamou Elise.
— É verdade. Mas Uzier não se importa, — continuou Adria. — Todos
nós, da realeza, estávamos vivos quando os bruxos o baniram para o
Reino das Sombras.
— Ele não vai parar até que todos os reinos sejam destruídos, —
acrescentou o general Malla. — Isso inclui Ellesmere.
Alguns suspiros soaram da multidão. A capital de Ignolia era uma bela
cidade que tinha a vantagem de ser o lar de várias dezenas de bruxos
graduados. Mas, nestes tempos de incerteza, até mesmo um lugar que
não conhecia a guerra há muito tempo poderia ser vítima do mal.
— Faremos tudo o que pudermos para detê-los, — disse Marsie
Maroo. Gritos de apoio explodiram dos outros.
— Sem dúvida, — Malla concordou. — Mas primeiro devemos libertar
até o último membro da Realeza das garras mortais que estão atualmente
sob controle.
— Como? — perguntou Ayana. — Não suporto pensar no horror que
Rei Morrison está sofrendo.
Redmond acenou com a cabeça em compreensão. Se alguém sabia o
que ele estava passando, eram as outras Slifers.
— Depende de nossos companheiros, — disse Adria. — Os Slifers são
os únicos que podem quebrar a magia do sangue que domina a Realeza.
LYDIA

As palavras de Adria atingiram Lydia com força, tirando-lhe o fôlego.


Ela tinha estado na resposta o tempo todo: não era apenas a joia verde-
jade que estava controlando a Realeza, mas cabia a ela acabar com a
escravidão de Gabriel a Evine.
Todos os olhos se voltaram para Lydia.
Ela geralmente odiava que a atenção caísse sobre ela. Mas ela
entendeu por quê. Afinal, era sua Realeza que tinha sido arrastada pelas
ruas xingando e se debatendo apenas alguns momentos atrás.
Não importava em que estado de espírito ele estava, Gabriel sempre
encontrava uma maneira de envergonhá-la além da conta. Mais uma vez,
cabia a ela salvar seu traseiro e consertar as coisas.
Mas ele a deixaria? Ele ao menos se lembrava de quem ela era? Toda a
devastação que ele causou mostrou a ela que ele não sabia de nada. Mas
nem Adria, e assim que Redmond quebrou o feitiço, ela voltou ao
normal.
Ela poderia realmente salvar Gabriel?
— Bem, — disse Lydia finalmente. — Acho que é melhor eu começar!
EVINE

— Como ele ousa! — Evine gritou. Os Caçadores de Feiticeiros


cobriram os ouvidos de seu lamento estridente.
Ela permitiu a Gabriel seu desejo mais profundo — destruir seu reino
sozinho. E o que ele acabou fazendo? O idiota deixou uma garota e sua
equipe de desajustados mágicos capturá-lo!
Evine descarregou sua fúria nas paredes do castelo de Imamia
enquanto seus capangas recuavam com medo.
Uma explosão gigante de magia atravessou a pedra, sacudindo o teto
acima de suas cabeças.
— Nós o encontraremos, minha rainha, — um caçador gaguejou.
Evine respondeu a seu incentivo esmagando sua traqueia usando
apenas seus pensamentos. Já era ruim o suficiente ela ter perdido seu
bem precioso. Uzier iria com certeza repreendê-la por seus fracassos — e
não de uma forma sexy.
O que tomou as coisas significativamente piores foi o fato de que a
rainha Adria se perdeu enquanto ela e seus homens estavam em Imamia.
A conexão com a Realeza tinha escurecido enquanto ela corria em
direção ao castelo para verificar Gabriel.
A Rainha de Valias era mais fraca do que Gabriel. Mas Evine não
esperava que o Slifer da Terra destruísse a gema que a cativou.
Jora pigarreou para falar, mas Evine o interrompeu. Até mesmo o líder
dos Caçadores de Feiticeiros deve saber quando segurar sua língua.
— Se outro de vocês abrir a boca, — ela retrucou, — vou arrancar suas
cabeças e alimentar os lobisomens que vagam por estas florestas com
seus corpos.
Jora calmamente deu um passo para trás, sem ao menos um passo
ecoando nas paredes.
As coisas não estavam indo de acordo com o planejado... mas ainda
havia uma fresta de esperança nas nuvens no horizonte.
Evine ainda podia sentir sua conexão com o rei Gabriel. Seus inimigos
conseguiram tomá-lo como refém, mas ainda não tinham quebrado o
controle que ela mantinha sobre sua mente.
Pelo menos ainda não...
Mas ela faria tudo que pudesse para mantê-lo assim.
Capítulo 16
ENCONTROS DIFÍCEIS
Evine: Gabriel.

Gabriel:...

Evine: Acorde, Gabriel.

Evine: Ainda há trabalho a ser feito.

Gabriel:... Evine?

Evine: Sim, Gabriel. Sou eu.

Gabriel: Os Slifers me capturaram... Estou trancado em uma de suas masmorras...

Evine: Eles subestimam sua força. Liberte-se de suas restrições frágeis e volte para mim
imediatamente.

Gabriel: Eu me sinto... me sinto fraco, Evine...

Gabriel: Eu preciso de... algo...

Evine: Você precisa escapar dos Slifers, Gabriel.

Evine: Eles vão voltar para buscá-lo em breve. Tempo é essencial.

Gabriel: Mas... Lydia...

Evine: Não se preocupe com a garota Slifer, Gabriel.

Evine: Ela não significa nada para você.

Evine: Volte para mim.

Gabriel: …

LYDIA

Lydia caminhou lentamente pelo corredor das masmorras em direção


à cela em que Gabriel estava detido. Quando um nó começou a se formar
em seu intestino, a Slifer pensou nos ensinamentos de seu pai...
QUATRO MESES ATRÁS

— Puta merda!
Lydia xingou por seu próprio descuido. Ela rapidamente ajudou Ar amis
enquanto ele pegava um cobertor pesado para abafar as chamas que estavam
se espalhando pela perna de uma mesa de mogno no escritório.
-Depois que o incêndio foi extinto com segurança, o anão puxou um
lenço e enxugou o suor de sua testa enrugada. — É, — ele disse depois de
fazer uma pausa para recuperar o fôlego. — Talvez este seja um bom
momento para fazer uma pausa de cinco minutos.
Lydia desabou desanimada em uma das poucas cadeiras de madeira
do escritório que permaneceram intactas. — Achei que realmente tivesse
conseguido, — disse ela, olhando para as próprias mãos.
Ela estava treinando com Ar amis Lester há um tempo, embora ainda
parecesse que nenhum progresso havia sido feito até agora. — Não entendo o
que continuo fazendo de errado. — Aramis lançou a ela um olhar simpático.
— Não há nada de errado com sua técnica, — ele disse. — Nada de errado
com sua postura. Talvez o problema com o seu controle seja mais mental do
que físico.
O anão passou a mão pela barba emaranhada, pensativo. — Acho que sei
exatamente a solução.
— Por favor, não diga que é mais daquele chá horrível, — Lydia respondeu
com tristeza.
— Ainda melhor, — Aramis respondeu, pegando um banquinho que tinha
sido apenas ligeiramente queimado até agora pelo treinamento de Lydia. — É
uma história.
Lydia observou enquanto o anão se erguia em cima do banquinho,
sustentando sua baixa estatura e permitindo que a linha de seus olhos ficasse
igual à dela.
Ele fez um grande show ao limpar a garganta em voz alta e depois estufou
o peito dramaticamente, como um orador prestes a recitar um discurso para
um auditório lotado.
A postura provavelmente foi feita para fazê-lo parecer mais digno, mas
Lydia não pôde deixar de dar uma risadinha ao ver seu professor parecendo
tão sério.
Aramis estendeu a mão, sinalizando para ela ficar quieta.
— Há muito tempo, — disse ele. em uma voz pro funda e dramática. —
Quando o mundo foi recém-formado, toda a criação foi nitidamente dividida
em três reinos: o reino dos mortais, o reino das sombras e o reino dos Deuses.
Lydia abriu a boca parei fazer uma pergunta, mas Aramis balançou o
dedo para ela ficar quieta.
Ele continuou, — e no reino dos Deuses, não havia ninguém mais forte do
que o poderoso Decimus.
— O Deus do fogo era incomparável em termos de poder bruto: sua pele
era grossa e forte como rocha ígnea, e o magma incandescente corria por suas
veias.
— Mas. embora Decimus fosse um Deus poderoso, ele também era um
jovem Deus naquela época e ainda tinha um longo caminho a percorrer antes
de estar pronto para entender seu lugar neste novo mundo.
O anão fez uma pausa para um efeito dramático.
— Em sua busca pela autodescoberta, Decimus começou uma
peregrinação ao reino mortal. Lá, ele encontrou os primeiros homens e
mulheres e viu pela primeira vez como eles realmente viviam.
— Enquanto os deuses desfrutavam do luxo de seu próprio paraíso
pessoal, os mortais estavam nus e com frio, famintos e com medo.
— Quando Decimus olhou para baixo, para suas formas emaciadas e
trêmulas, uma pontada de empatia perfurou seu coração em chamas como
uma adaga gelada.
— Como um ato de piedade, o Deus legou aos mortais um pedaço de sua
própria essência: um fogo, com o qual eles poderiam se aquecer, cozinhar sua
comida e afugentar os animais da noite e das sombras.
— E foi então que Decimus percebeu qual seria o seu papel. Ele se
autointitulou protetor e guia para o reino mortal.
Lydia revirou os olhos. — Uma história comovente, — disse ela. — Mas o
que isso tem a ver comigo?
Aramis saltou de seu lugar em cima do banquinho. — Porque, — ele
disse, pegando a mão dela. — Até agora, você só usou o seu fogo para
destruir indiscriminadamente. Você o maneja como uma arma, porque
para você isso é tudo. Mas o fogo pode ser muito mais do que isso.
O anão levou Lydia pela mão até a cozinha. Uma chaleira estava
pousada em cima de um fogão de tijolo cru.
— Um fogo pode acender uma vela em uma noite escura, — continuou
Aramis, — ou aquecer um viajante cansado que busca refúgio durante uma
nevasca, ou aquecer a água para preparar uma xícara de chá fresco.
Aramis ergueu as mãos de Lydia e colocou-as de forma que ambas as
palmas ficassem pressionadas contra a chaleira. O vapor começou a subir
do bico quando o calor das mãos de Lydia rapidamente fez a água ferver.
— Viu? — Aramis perguntou, dando um passo para trás. — O fogo é uma
ferramenta poderosa. Pode ser usado para atacar aqueles que desejam
prejudicá-la; mas com a mesma facilidade, pode ser usado para proteger
aqueles com os quais você se importa.
*
PRESENTE

Sons assustadores vindos da cela de Gabriel trouxeram Lydia de volta


ao presente.
Na masmorra, Gabriel se debatia e uivava como um animal enjaulado
enquanto Lydia rapidamente tirava a mão de sua testa. O vapor sibilante
subia da pedra verde incrustada ali, mas apesar dos melhores esforços de
Lydia, ela ainda não mostrava sinais de rachaduras.
De cada lado de Gabriel, Redmond e Elise lutavam para conter o rei,
cada um deles segurando firmemente um de seus braços acorrentados
para impedi-lo de atacar.
— Alguma sorte? — Redmond perguntou sobre os sons dos
resmungos de Gabriel.
Lydia parecia abatida. — Nada ainda, — disse ela. — Não entendo o
que estou fazendo de errado.
— Talvez você possa aumentar a temperatura, — sugeriu Elise,
grunhindo enquanto Gabriel lutava para se livrar de seu aperto.
— Se eu fizer isso, corro o risco de machucar Gabriel, — Lydia
respondeu. — Tivemos sorte da última vez que libertamos alguém do
controle de Evine por acidente. Desta vez, temos que ter cuidado. Deve
ser preciso. Cirúrgico.
Todas as coisas que nunca fui capaz de fazer, pensou Lydia, mas
guardou esse acréscimo para si mesma.
— Talvez pudéssemos tentar trocar de lugar, — Redmond sugeriu. —
Eu poderia tentar o que fiz por Adria
Redmond foi interrompido quando uma gavinha sombria se enrolou
em seu braço, arrancando-o de Gabriel e jogando-o na parede de pedra
da masmorra com um baque.
Lydia observou com horror enquanto a gavinha cortava as algemas
que prendiam o pulso de Gabriel como se fossem feitas de papel. Com
seu braço recém-libertado, Gabriel estendeu a mão e arrancou Elise de
cima dele também.
— Ele está se libertando! — Redmond gritou, lutando para se levantar.
— As algemas não deviam ser fortes o suficiente!
Gabriel empurrou Elise para o chão e uma lâmina de material sombrio
cortou a outra algema que o prendia à parede.
O rei estava dobrado como uma besta ferida, uma mão massageando
seu pulso enquanto olhava para Lydia com olhos negros como carvão e
um rosnado feroz.
Lydia observou quando Gabriel deu um passo cambaleante em sua
direção, apenas para ser jogado para trás quando uma rajada de vento
forte atingiu Gabriel, mantendo-o firmemente pressionado contra a
parede.
— Temos que contê-lo de novo! — Elise gritou, já tendo se levantado.
Ela estendeu as duas mãos e outra rajada de vento jogou Gabriel contra a
parede. — Rapidamente, antes que ele tenha a chance de se
teletransportar!
Levantando-se com dificuldade, Redmond ergueu a mão para usar sua
magia também. Nas rachaduras da parede de pedra da masmorra, raízes
grossas e fibrosas começaram a emergir, envolvendo os pulsos e
tornozelos do rei.
Mas o esforço foi muito pequeno, muito tarde; mais tentáculos de
sombra saltaram do chão e cortaram as raízes com facilidade.
Lutando contra o vento, Gabriel acenou com o braço e um tentáculo
de sombra envolveu a cintura de Elise e a puxou para baixo, jogando seu
corpo no chão.
O vento cessou e Gabriel se lançou para frente, jogando Lydia para o
lado enquanto ele batia um de seus ombros largos na porta de ferro da
câmara da masmorra, forçando-a a se abrir.
Lydia rapidamente se levantou e correu atrás de Gabriel enquanto ele
corria para o bloco de celas do lado de fora. A Slifer estendeu a mão e
uma parede de chamas surgiu na frente de Gabriel, bloqueando sua única
saída do corredor.
— Gabriel, por favor, — Lydia gritou do outro lado do corredor. Sua
voz estava trêmula e seus brilhantes olhos laranja-avermelhados estavam
começando a se encher de lágrimas.
Ela queria ser forte por causa de Gabriel. Mas ser forçada a lutar
contra a pessoa que amava estava cobrando um preço emocional
considerável.
— Por favor. Simplesmente pare. Eu só quero te ajudar.
Ao som de sua voz, Gabriel se virou para olhar para Lydia. Seu rosto
estava sem expressão, a luz lançada da parede de chamas, fazendo com
que as sombras dançassem e cintilassem descontroladamente em seu
rosto.
O rei encantado ergueu a mão e Lydia observou enquanto as sombras
ao redor deles começavam a se aglutinar em um portal giratório ao longo
da parede à direita de Gabriel.
Ele vai se teletransportar Lydia percebeu.
Seu coração afundou ao perceber o que isso significaria: se Gabriel
desaparecesse, Evine provavelmente o impediria de vê-lo novamente.
O medo de Lydia se transformou em determinação enquanto ela
rangia os dentes e se preparava mentalmente para a próxima ação.
Era agora ou nunca.
Lydia estendeu o braço, com o dedo indicador apontado para a pedra
alojada na testa de Gabriel. Enquanto ela reunia suas forças, a voz
familiar de Aramis — não, Decimus — ecoou de dentro de sua cabeça:
— O fogo é uma ferramenta poderosa. Pode ser usado para atacar
aqueles que desejam prejudicá-la; mas com a mesma facilidade, pode ser
usado para proteger aqueles com os quais você se importa.
Um pequeno raio de fogo disparou da ponta do dedo de Lydia,
atingindo Gabriel diretamente na testa. O rei cambaleou para trás e o
portal sombrio se dispersou imediatamente.
— Gabriel! — Lydia gritou. A Slifer avançou quando o rei estava
prestes a desmaiar, pegando-o nos braços. Os dois caíram de joelhos no
chão da masmorra enquanto Lydia envolvia os braços ao redor de Gabriel
com força.
— Lydia... — Gabriel disse fracamente, levantando a cabeça para
encontrar o olhar dela. Seus olhos voltaram ao normal e, quando o olhar
de Lydia se voltou para cima, ela pôde ver que a pedra também havia
sumido; apenas um pequeno pedaço de pele carbonizada permaneceu
onde a gema estivera.
— Lydia... — Gabriel repetiu, e então enterrou o rosto no ombro da
Slifer. Os dedos do rei se fecharam nas costas de sua camisa, enrolando o
tecido.
— Deuses, — Lydia o ouviu dizer baixinho. — O que eu fiz?
Capítulo 17
RECONCILIAÇÃO
GABRIEL

— Felizmente, Lydia foi capaz de libertá-lo do controle de Evine, —


Lis concluiu, efetivamente atualizando Gabriel sobre os últimos três
meses.
O rei estava sentado curvado na sala de jantar, olhando para as
próprias mãos como se as visse pela primeira vez. Sua irmã havia
colocado um manto sobre ele, pois ele tremia quando Lydia o trouxe até
ela.
— Entendi, — respondeu ele sem erguer os olhos.
— Então, a destruição do meu castelo, todas aquelas pessoas que
foram mortas... — ele parou, sua voz falhando ligeiramente. — Isso foi
tudo culpa minha, então.
Nas horas desde que Lydia veio em seu resgate e o libertou da joia,
Gabriel estava lentamente conseguindo juntar as peças do que aconteceu
após seu desaparecimento.
Sua memória ainda estava nebulosa, mas enquanto ele falava com
Aero e Lis, o relato dos eventos começou a desencadear flashes de
percepção sobre as coisas que ele havia feito enquanto estava sob o
controle de Evine.
Em circunstâncias normais, o conhecimento de que ele havia sido
manipulado teria feito o sangue do rei ferver, mas estranhamente, isso
era diferente. Saber que Evine era capaz de prolongar sua influência
sobre Gabriel o fazia se sentir... vulnerável. E com medo.
Sentindo uma mão em seu ombro, Gabriel olhou para cima para ver
Aero olhando para ele.
— Agora não é hora de se culpar, — disse ele, oferecendo um sorriso
fraco. — Evine usou algum tipo de magia sinistra para transformar você e
os outros membros da realeza em escravos pessoais dela. O que
aconteceu enquanto você estava sob o controle dela não é sua
responsabilidade. Nenhum desses pecados é seu para se redimir.
O rei puxou o manto mais apertado em tomo de seus ombros. —
Mesmo assim, — ele disse. — As pessoas me viram atacando essas
cidades, não viram? Você acha que os sobreviventes aceitarão essa
explicação tão rapidamente?
— Essa é uma ponte que podemos cruzar quando chegarmos a ela, —
Lis respondeu, tentando soar reconfortante. — O que importa agora é
que você está de volta conosco e está finalmente seguro.
— Seguro? — Gabriel se levantou. — Seguro por quanto tempo? Evine
e Uzier foram capazes de convocar a mim e aos outros membros da
realeza para seu esconderijo pessoal contra nossa vontade coletiva. Agora
que fui libertado, quem pode dizer que eles não vão simplesmente me
puxar de volta para eles?
— Gabriel, por favor, — Lis deu um passo à frente. — Agora não é
hora de pensar assim
— Então, quando é a hora? — Gabriel retrucou para ela. — Eu poderia
desaparecer novamente a qualquer momento. Pelo que sabemos, Evine já
está planejando uma nova maneira de me transformar em sua marionete.
— Precisamos encontrá-la e acabar com tudo isso antes que aconteça.
Cada momento que passamos ociosos é um momento que não podemos
conseguir de volta.
Gabriel se moveu em direção à porta, apenas para encontrar Aero
bloqueando seu caminho.
— Isso pode ser verdade, — disse Aero severamente. — Mas você não
será capaz de realizar nada em seu estado atual. Você já passou por um
inferno aqui, Gabriel. Precisa descansar.
Gabriel desviou os olhos do olhar de Aero, olhando para o chão. Ele
sabia que seu amigo estava certo, embora não quisesse admitir em voz
alta.
— Precisamos traçar um plano de ataque, — disse ele bruscamente. —
Tempo é essencial.
Com isso, Gabriel passou por Aero e saiu pela porta. Diretamente
em...
LYDIA

Lydia deu um passo rápido para trás para evitar que seu companheiro
acidentalmente se chocasse contra ela. — Gabriel, — ela disse com um
sobressalto.
Gabriel parou na frente dela, parecendo culpado.
Por um momento, a Slifer sentiu o desejo de fingir que os últimos três
meses nunca haviam acontecido e retomar sua vida com Gabriel como se
ele nunca tivesse partido.
Ela estava revivendo suas noites ardentes juntos em sua mente por
tanto tempo que ver Gabriel em carne e osso — e finalmente livre do
controle de Evine — alimentou seu desejo como nunca.
Mas a expressão de dor no rosto de seu amante fez Lydia perceber que
ele não poderia esquecer tão facilmente.
Lydia silenciosamente se repreendeu por pensar de forma tão egoísta.
Gabriel estava sofrendo; ela decidiu que precisava fazer tudo o que
pudesse para ajudá-lo a superar isso.
Lentamente, sem palavras, ela estendeu a mão e segurou o lado de seu
rosto com a mão. Com um estremecimento, ela percebeu que ainda
podia ver a marca onde suas chamas o atingiram; uma leve cicatriz de
queimadura onde a joia de jade de Evine estivera.
— Eu sinto muito, — ela disse ternamente. — Ainda dói?
— Um pouco, — respondeu Gabriel. Ele levou a mão ao rosto,
colocando-a sobre a dela. — Mas você não tem nada pelo que se
desculpar. Afinal, você salvou minha vida.
Lydia sorriu fracamente. — Não seria a primeira vez, seria?
Gabriel sorriu de volta na mesma intensidade, mas então ele desviou
seu olhar do dela. Ela poderia dizer que ele tinha muito em que pensar.
— Você parece cansado, — disse Lydia. — Venha, eu vou te levar para
meus aposentos para que você possa descansar.
— Uma oferta tentadora, — respondeu Gabriel. — Mas não há tempo.
Ainda precisamos
— Não foi um pedido, — Lydia disse severamente, — vossa majestade,
— ela adicionou para garantir. Gabriel deu um suspiro indiferente. —
Suponho que nunca haja sentido em discutir com você, não é? — ele
perguntou. Lydia balançou a cabeça e sorriu.
— Certo, — disse Gabriel com um sorriso. — Por decreto real, ordeno
que me conduza aos seus aposentos.
Os dois continuaram pelo corredor, de braços dados, Gabriel
encostado em Lydia para se apoiar. Por um tempo, houve um silêncio
entre eles, nenhum som, exceto os sapatos deles batendo contra o chão
de ladrilhos do corredor. Após uma longa pausa, Gabriel falou.
— Lydia... — ele começou. — Tenho tentado lembrar o que aconteceu
quando eu ainda estava... sendo manipulado. É difícil.
Lydia se virou para olhar para ele. O rei estava olhando para a frente,
aparentemente para nada em particular.
— É como tentar lembrar um sonho, realmente. Bem, talvez mais
precisamente um pesadelo. Ocasionalmente, haverá um gatilho, algum
lampejo de detalhes, mas... nada disso me agrada particularmente poder
lembrar, para dizer o mínimo.
O rei deu um suspiro cansado. — Lydia, se houve algo que eu... disse
ou fiz, enquanto estava sob o controle de Evine, se ela me obrigou a fazer
algo para machucá-la pessoalmente... sinto profundamente. Espero que
com o tempo você me perdoe.
Lydia sorriu. — Agora é a minha vez de dizer que você não tem nada
pelo que se desculpar, — disse ela. — Você realmente espera que eu o
responsabilize por algo que estava fora do seu controle?
Os dois pararam em frente a um par de portas duplas de madeira. —
Bem, aqui estamos, — disse Lydia. Brandindo uma chave, a Slifer
destrancou a porta e conduziu Gabriel para dentro.
O rei deu uma olhada ao redor do quarto interrogativamente. —
Então, é aqui que você está hospedada?
Ele examinou os aposentos da cama. Era pequeno e relativamente
esparso na decoração: além da cama e da cômoda, apenas os acessórios
mais básicos foram adquiridos para o quarto, dando-lhe uma aparência
inacabada.
— Eu conheço essa expressão, — Lydia repreendeu. — O que foi desta
vez?
— Expressão? — Gabriel ergueu uma sobrancelha.
— Que expressão?
— Você tem um problema com este quarto, — respondeu Lydia. — Vá
em frente, acabe com isso. Diga o que quer dizer.
Gabriel deu uma risadinha. — O quarto está bom, — disse ele. — É só
um pouco...
— Um pouco o quê? — disse Lydia. — Vá em frente e desembucha.
— Um pouco pequeno, — respondeu Gabriel. — Isso é tudo.
Lydia fez uma careta. — Bem, sinto muito que não seja do seu agrado,
majestade, mas temo que todos nós temos que começar a fazer
sacrifícios. Afinal, estamos no meio de uma guerra.
Ela sorriu para ele. Gabriel sorriu de volta, mas ele desapareceu
rapidamente. Lentamente, ele foi até o pé da cama e se sentou.
— Todo mundo diz que eu não devo assumir a responsabilidade pelo
que aconteceu, — disse ele. — E ainda sinto que devo assumir alguma
culpa. A magia de Evine era forte, mas mesmo assim... eu deveria ter sido
capaz de lutar contra ela. Tenho vergonha de ser manipulado com tanta
facilidade. Eu não deveria ser tão fraco.
Lydia se sentou na cama ao lado dele. — Acho que você está se
culpando demais, — disse ela. — Todos os outros membros da Realeza
caíram sob o feitiço de Evine com a mesma facilidade. Você acha que eles
também são fracos?
Gabriel se irritou com a pergunta. — Claro que não, — ele disse.
— Então, por que você está se sujeitando a um padrão diferente? —
Lydia perguntou. Ela colocou a mão sobre a dele e apertou.
— Olha, eu não sei como é estar sob o controle de outra pessoa assim.
E, francamente, espero nunca ter que descobrir. Mas... não há nada de
construtivo em se punir pelo que aconteceu. Todo esse tempo que você
gasta ficando com raiva de si mesmo é apenas energia desperdiçada.
Gabriel olhou para seus pés. — Lis e Aero me atualizaram, — disse ele.
— Eles disseram que eu estive fora por três meses. Passei três meses sob o
controle de Evine e mal me lembro disso. Pensar no que posso ter feito,
no que posso nem me lembrar...
Ele estremeceu. — Sinto um arrepio na espinha ao pensar que algum
dia compartilhei voluntariamente a cama com ela. Mesmo que tenha
sido trezentos anos atrás.
— Não vamos pensar nisso agora, — disse Lydia. — Para o nosso bem.
— Mas, acima de tudo, — Gabriel continuou, — a pior parte de estar
ausente por três meses é o medo e a preocupação que devo ter causado a
você durante esse tempo. Lamento não ter conseguido dizer onde estava
ou fornecer qualquer pista para me encontrar. Eu espero que você saiba
que eu teria se eu pudesse.
Lydia sentiu uma pontada de tristeza empática ao ouvir a voz de
Gabriel, mas também alívio em igual medida. Ela colocou a mão sob o
queixo de Gabriel, virando sua cabeça para que ele ficasse de frente para
ela.
— Nada disso importa agora, — disse ela. Ela se inclinou e o beijou. —
Tudo o que importa é que você está aqui agora, e está seguro, e eu irei me
certificar de que eles nunca o levem novamente.
Gabriel sorriu e eles se beijaram novamente. Por um momento, os
últimos três meses não passaram de uma memória vazia, como acordar
de um sonho meio lembrado.
O resto do mundo ao redor deles derreteu e, naquele momento, os
dois desfrutaram da companhia um do outro no centro de seu próprio
universo pessoal.
Colocando delicadamente a mão em seu peito, Lydia empurrou
Gabriel de volta para a cama e subiu em cima dele, montando a cintura
do rei entre suas coxas.
A Slifer do Fogo começou a balançar para trás em um movimento
rítmico, esfregando-se contra Gabriel enquanto o ouvia soltar um
suspiro profundo e desperto, como um urso emergindo da hibernação.
Ela se abaixou e
O momento foi abruptamente interrompido, no entanto, quando
houve uma batida na porta de seus aposentos.
Capítulo 18
OLHOS E OUVIDOS CURIOSOS
LYDIA

Lentamente, Lydia foi até a porta e abriu uma fresta. Através da fresta
da porta aberta, ela viu o rosto ansioso de Dorian olhando para ela do
outro lado.
— Boa noite, Lydia, — Dorian disse, sua voz carregada de uma
pontada de nervosismo.
— Dorian, — Lydia respondeu, tentando mascarar seu aborrecimento
com a interrupção. — Está tudo bem?
— Oh, com certeza, as coisas estão perfeitamente bem, — disse
Dorian. — Eu só estava me perguntando se eu poderia tomar um pouco
do seu tempo. Lucius e os outros Slifers estão discutindo estratégias em
nosso próximo movimento contra Evine e Uzier, e eu apreciaria ser capaz
de
— Tudo isso parece muito importante, Dorian, — Lydia disse,
interrompendo o bruxo. — No entanto, você sem dúvida está ciente do
fato de que acabei de ter um dia especialmente cansativo. Receio não ser
útil para você ou qualquer um dos outros Slifers até que eu tenha algum
tempo para descansar e me recuperar. Tenho certeza de que você
entende.
Dorian assentiu, embora Lydia pudesse ver uma contração de
decepção no rosto do feiticeiro. — Claro, — ele respondeu. — Nesse caso,
desculpe incomodá-la. Sem dúvida, leve todo o tempo de que precisar.
Lydia sorriu. — Obrigada, Dorian. Você deveria descansar um pouco
também, não podemos ter um de nossos principais feiticeiros
sobrecarregado em momentos como este.
Dorian sorriu com orgulho. — Sem dúvida, — disse ele. — Avise-me
se precisar de alguma coisa
O feiticeiro foi mais uma vez interrompido quando Lydia fechou as
portas de madeira. Ela sentiu uma leve pontada de culpa por afastar
Dorian tão bruscamente; ao mesmo tempo, no entanto, a última coisa
que ela queria fazer era traçar estratégias e planos de batalha.
— Quem era aquele? — Gabriel perguntou, agora totalmente
reclinado na cama. Era evidente que o rei estava apenas ouvindo pela
metade a interação na porta.
— Apenas um dos feiticeiros da corte verificando como estou, —
Lydia respondeu. Após uma pausa, ela acrescentou: — Tenho a suspeita
de que ele pode voltar mais tarde.
Gabriel se ergueu e se sentou. Lydia notou que ele parecia um pouco
menos desamparado do que alguns momentos antes — sem mencionar a
formidável ereção tremendo entre suas pernas.
Talvez o reencontro deles já estivesse começando a lhe fazer bem?
— Então, o que você está me dizendo é que este lugar não é seguro
para nós, — disse ele com um brilho malicioso nos olhos.
Lydia sorriu, forçando seus olhos da masculinidade de Gabriel. — No
mínimo, não é seguro para nossa privacidade, — disse ela. — Tente não
ficar muito desapontado; Eu sei como você estava animado para passar
mais tempo no meu quarto pequenininho.
— Eu nunca disse que era pequenininho, — Gabriel disse
defensivamente. — Eu só disse que era pequeno.
— Não são a mesma coisa? — Lydia perguntou, erguendo uma
sobrancelha.
— Dificilmente, — Gabriel respondeu com naturalidade. —
Pequenininho fica um nível abaixo de pequeno. Um nível abaixo disso, e
temos minúsculo. É um conceito fácil de entender, na verdade.
— Essas são as medidas oficiais? — Lydia perguntou com uma risada.
— Elas podem ser, se eu quiser, — disse Gabriel com altivez. — Afinal,
sou o Rei de Imamia. Minha palavra é lei.
— Bem, então, vossa majestade, — Lydia brincou, aproximando-se do
pé da cama. Ela colocou as mãos nos joelhos dele e se inclinou para
frente de modo que sua testa tocasse a dele. — Onde você acha que
deveríamos nos esconder para evitar os olhos e ouvidos curiosos deste
castelo?
Gabriel sorriu. — Estou aberto a sugestões.
GABRIEL

Em um flash de luz laranja brilhante, Lydia se transportou e levou


Gabriel para um novo local.
— Onde estamos? — Gabriel perguntou. Ele olhou em volta para se
orientar. Eles pareciam estar em uma sala cilíndrica com móveis ou
decoração esparsos; uma cama simples posicionada no meio do quarto
constituía a única decoração.
O céu noturno pairava acima deles, a luz das estrelas irradiando
através de uma grande abertura no telhado, e Gabriel podia sentir o leve
frio de uma leve brisa.
— Estamos na torre de vigia no topo da sede do Congresso de Magia,
— explicou Lydia.
Com certeza, uma série de amplas janelas retangulares percorriam a
circunferência da sala. Gabriel se aproximou de uma e olhou para fora,
observando a cidade abaixo.
Outra rajada de ar entrou pela janela aberta, despenteando
suavemente seu cabelo enquanto ele respirava fundo.
— E você tem certeza de que ninguém nos encontrará aqui? — ele
perguntou a Lydia com cautela.
A Slifer acenou com a cabeça. — Até onde eu sei, ninguém usa mais
esta torre, — disse ela.
— Presumo que tenha sido originalmente construída para detectar
intrusos à distância, mas proteções mágicas teriam tomado torres como
essas obsoletas há algum tempo. Não há sentido em desviar a força de
trabalho para ficar de olho nos invasores, agora que podemos
simplesmente usar magia para detectar um inimigo nos portões.
Gabriel piscou. — Não sabia que você era tão versada em magia, —
disse ele.
Lydia sorriu. — Caso você tenha esquecido, majestade, eu fui criada
por um mago.
Gabriel olhou para baixo, ligeiramente envergonhado. — Peço
desculpas, — disse ele. — Não quis desrespeitar
— Não quis desrespeitar
— Lydia repetiu de volta para ele, zombando de seu tom. Gabriel a
encarou, e ela mostrou a língua para ele em resposta. — Honestamente,
ouça o que está dizendo. Certamente muito diferente do arrogante Rei
de Imamia que conheci.
— Suponho que não me trouxe até aqui só para zombar de mim, —
disse Gabriel, fingindo estar ofendido.
— Não, — disse Lydia, dando um passo à frente. — Pelo contrário, eu
trouxe você até aqui para foder.
Ela traçou levemente um dedo no peito de Gabriel. Pode ter sido
imaginação do rei, mas quase parecia como se faíscas voassem de suas
pontas do dedo ao fazê-lo.
— Três meses, — disse Lydia, sua voz quase um sussurro. — É muito
tempo para uma Slifer ficar sem seu parceiro, você não acha?
Gabriel apoiou ambas as mãos na cintura dela.
— De fato, — ele respondeu. — Parece que temos muito a fazer se
quisermos recuperar o tempo perdido.
— Isso também ajudará a fortalecer nossos poderes contra o inimigo,
é claro, — acrescentou Lydia. Ela lentamente traçou as duas mãos ao
redor e nas costas do rei. — Pense nisso como... um acordo mutuamente
benéfico.
Gabriel deu uma risadinha. — Eu gostaria que você não usasse minhas
palavras contra mim desse jeito.
Lydia sorriu, suas unhas cravando-se ligeiramente em suas costas.
— Me obrigue.
Gabriel olhou para sua amante como um lobo esfomeado olha para
uma jovem corça carnuda. Ele torceu as mãos no tecido de seu vestido e
rasgou-o ao meio em um movimento rápido.
Lydia ofegou quando ele removeu as roupas íntimas, sua boca
imediatamente fixada em seus seios fartos. Enquanto a língua de Gabriel
dançava em seus mamilos, o luxurioso rei não conseguia se lembrar de
ter provado algo tão doce em seus longos séculos de existência.
Lydia gemeu em necessidade. Gabriel beijou sua boca, acariciando
suavemente seu cabelo com uma mão enquanto a outra traçava de volta
para seus seios, sua barriga e, finalmente, a pequena região de pelos
escuros em cima de seu monte.
Como ele desejou tocá-lo...
Senti-lo.
Gabriel apoiou Lydia na cama e deslizou por seu corpo. Ele lambeu e
beijou sua parte interna das coxas, seu nariz roçando seu sexo muito
suavemente enquanto ele se movia entre elas. Lydia gemeu, contraindo-
se sob as mãos firmes segurando seus quadris, já perto do orgasmo.
Gabriel não deixaria sua companheira esperar muito. Centrando-se
entre suas pernas, ele lentamente lambeu seus lábios, levando-os
suavemente em sua boca, até que sua língua finalmente raspou em seu
clitóris faminto.
Lydia gritou bem alto.
As suaves lambidas de Gabriel continuaram até que Lydia não
aguentou mais. Com outro grito agudo, ela cravou as mãos em seus
cabelos e gozou, ensopando o rosto do rei com seus fluidos.
— Eu... eu sinto muito... — ela balbuciou em uma voz confusa.
Gabriel simplesmente enxugou o rosto.
— Sinto muito que já se passaram três meses desde que você gozou
assim.
Lydia o olhou com avidez, o fogo em suas virilhas já reacendendo.
— Sua vez, — disse ela, levantando-se.
Gabriel tirou as calças e se deitou na cama enquanto Lydia se enrolava
em seu corpo. Ela agarrou seus braços fortes para se preparar enquanto
ajustava seu comprimento dentro dela. A sensação familiar de sua vagina,
lisa e quente, quase fez Gabriel gozar imediatamente.
Com grande autocontrole, ele suprimiu essa vontade.
O rei queria que isso durasse o máximo possível.
Lydia se chocou contra ele, logo crescendo com a velocidade frenética
que ela sabia que seu amante preferia. A Slifer se contorcia e
movimentava seus quadris ritmicamente enquanto sua respiração ficava
mais rasa. O rei envolveu duas mãos fortes em tomo de suas costas,
acenando para que ela se abaixasse para que ele pudesse sentir a pressão
de seu peito nu contra o dele.
Por um momento, eles não eram mais duas pessoas, mas uma única
entidade com dois corações e duas vozes, batendo e respirando em
uníssono enquanto seu ritmo aumentava.
Ficando impaciente, Lydia agarrou a gola do rei com as duas mãos.
Com um floreio, a Slifer rasgou sua camisa ao meio, revelando seu
peitoral e abdômen brilhantes por baixo.
— Essa camisa era cara, — disse Gabriel em provocação.
— Meu vestido também, — disse Lydia, sussurrando no ouvido do rei.
— Acho que isso nos deixa quites.
Gabriel não conseguiu se conter mais. Ele estava fazendo amor com a
mulher mais perfeita da Terra, e ele já estava surpreso por ter durado
tanto tempo.
— Eu vou... gozar... — ele gemeu.
— Eu também, — sua companheira gritou.
Enquanto eles alcançavam o clímax simultaneamente, Gabriel
observou Lydia jogar a cabeça para trás, sua coluna arqueando quando
um pilar de chama laranja brilhante irrompeu de seu corpo, se lançando
para cima através do telhado aberto da torre de vigia e explodindo em
uma chuva de fogos de artifício.
A luz piscando iluminou a sala ao redor deles, lançando sombras
compridas que pareciam se mover suavemente no ritmo da cama que
ainda balançava. O casal parou um momento para descansar, respirando
ofegante enquanto o cheiro adocicado de suor permeava o ar ao redor
deles.
Descansando as mãos no peito de Gabriel, Lydia se inclinou e beijou
seu rei profundamente.
— Bem-vindo de volta.
DORIAN

Dorian se sentou em um banco de pedra no jardim do castelo,


respirando profundamente enquanto deixava o ar frio soprar sobre ele.
Uma luz laranja começou a brilhar em sua visão periférica, e o mago
olhou para cima para ver uma coluna de chamas brilhante irrompendo
do telhado de uma torre de vigia próxima. Dorian parou por um
momento para refletir sobre isso, e então, ao perceber, soltou um suspiro
de cansaço.
— Então é por isso que ela não queria conversar, — disse ele em voz
alta, para ninguém em particular.
Dorian estalou os dedos, e a forma espectral de um corvo apareceu
diante dele. O corvo saltou em direção ao banco, antes de voar para cima
para pousar no ombro de Dorian. Preguiçosamente, o mago ergueu um
dedo para dar ao pássaro uma amigável carícia sob o queixo.
— Sabe, — disse ele ao pássaro em tom de conversa.
— Eu honestamente não entendo o que ela vê nele.
O corvo apenas grasnou em resposta. Dorian suspirou novamente.
— Eu sei que eles esteio destinados um ao outro, — ele respondeu irritado.
— Isso ainda não significa que seja necessariamente certo.
O corvo bicou o ombro de Dorian antes de sair voando e inspecionar
o solo aos pés do mago. — Eu não estou pronto para desistir ainda, —
Dorian continuou. — Ela só precisa de um tempo para mudar de ideia, só
isso.
Ele acenou com a mão no ar preguiçosamente, e o corvo translúcido a
seus pés desapareceu com uma leve nuvem de fumaça.
— Minha mãe sempre me ensinou a ser paciente.
Capítulo 19
CONVERSA DE TRAVESSEIRO
LYDIA

Lydia descansou confortavelmente na curva do braço de Gabriel


enquanto os dois estavam deitados na cama, olhando para o céu noturno
através da abertura no telhado. Após um momento de silêncio
confortável, a Slifer decidiu arriscar uma pergunta.
— Então... — Lydia começou. — O que acontece agora?
— Que impaciente, — Gabriel riu. — Dê-me um momento para
recuperar minhas forças e então poderemos continuar.
Lydia fez uma careta e deu um tapa de brincadeira no peito dele. —
Não foi isso que eu quis dizer, — disse ela. — O que quero dizer é, o que
acontece agora que você está de volta? Devemos voltar com Aero e Lis
para Imamia?
Gabriel parou por um momento, ponderando a questão. — Esse pode
não ser nosso curso de ação mais sábio, — ele finalmente disse.
— E por quê? — Lydia perguntou. — Você é o rei, não é? Você não
deveria retomar ao seu reino?
— Se fosse simples assim, — Gabriel respondeu cansado, deixando
escapar um suspiro desamparado.
— Você e eu podemos saber a verdade sobre o que aconteceu nos
últimos três meses, mas duvido que sejamos capazes de explicar de forma
convincente ao povo de Imamia por que seu governante desapareceu por
três meses e só voltou para uma onda de assassinatos.
Ele estremeceu um pouco com suas próprias palavras, como se dizê-
las em voz alta fisicamente o machucasse. — No mínimo, certamente
seria difícil convencê-los.
— Então, o que você acha que devemos fazer? — Lydia perguntou
interrogativamente. — Esconder você de nosso povo até que o assunto
seja resolvido?
— Idealmente? — Gabriel respondeu. — Sim.
Lydia se contorceu com raiva debaixo do braço de Gabriel e puxou-se
para uma posição sentada. — Isso parece um pouco covarde, você não
acha? — ela perguntou com raiva. — Pelo contrário, eu acho que o povo
de Imamia ficaria aliviado em saber que seu rei voltou ao normal.
— Ainda há a questão de Uzier também, — acrescentou Gabriel. — E
Evine. Os dois ainda estão foragidos, e dois dos membros da realeza
desaparecidos continuam em suas mãos. Não se pode esperar que eu me
concentre em meus deveres como rei enquanto a ameaça permanecer.
Lydia ficou tensa com a menção dos dois membros da Realeza
desaparecidos: Rei Morrison e Rei Calix. Agora que Gabriel e Adria
haviam retomado em segurança, ela quase havia esquecido que ainda
havia dois monarcas sob o controle de Evine. Ela silenciosamente se
xingou por sua própria falta de visão.
— Por enquanto, eu acho que é melhor se permitirmos que minha
irmã continue como Rainha Regente, — Gabriel continuou. — Não há
ninguém mais vivo a quem eu estaria mais disposto a confiar meu reino.
Enquanto isso, devemos nos esforçar para pôr fim a tudo o que Uzier e
Evine estão tramando.
Lydia soltou um suspiro e deitou-se ao lado de Gabriel. Seu plano
parecia fazer sentido.
— Se isso é o que você acha que é melhor, — ela disse, envolvendo os
braços ao redor dele. — Caso precise repetir, farei tudo ao meu alcance
para ajudá-lo a detê-los e me certificarei de que ela não o leve
novamente.
— Eu sei, — disse Gabriel suavemente. — E eu te amo ainda mais por
isso.
Lydia sorriu e aninhou-se mais perto dele, lentamente caindo em um
sono bem merecido.
GABRIEL

— Desde a minha libertação do feitiço de Evine, minhas lembranças


dos últimos três meses têm sido um pouco confusas, — Gabriel
começou.
O rei se apresentou ao Congresso de Magia. Embora ele falasse com
uma presença de comando, havia uma leve falha em sua voz enquanto ele
examinava os muitos olhos que o observavam.
Olhando para todos os rostos, alguns visivelmente tentando mascarar
o medo ou preocupação, um pensamento desconcertante borbulhou na
mente de Gabriel.
Eles ainda estão desconfiados de mim pensou consigo mesmo. Até onde
eles sabem, eu ainda posso estar sob o controle de Evine. E o que é pior,
eles têm total razão em suas suspeitas. Se eu estivesse no lugar deles, sem
dúvida seria cauteloso também...
— No entanto, — ele continuou. — Agora que tive tempo para
descansar e recuperar minhas forças e meu juízo, muitos mais detalhes
sobre minha prisão mental voltaram à minha memória.
— O principal deles, — ele fez uma pausa para limpar a garganta, — é
a localização da fortaleza onde Uzier e Evine estão se escondendo.
Houve uma série de murmúrios abafados entre os outros membros do
congresso. A chanceler Agatha ergueu a mão e, entendendo a indireta, os
outros membros do congresso rapidamente ficaram em silêncio
novamente.
— Rei Gabriel de Imamia, — ela começou. — Embora até agora você
não tenha nos dado motivos para duvidar de sua afirmação, você deve
entender que precisaremos de mais evidências para apoiá-lo.
Gabriel estremeceu. Ele tinha suspeitado que o congresso ainda
estaria desconfiado, mas ser lembrado do fato só serviu para machucar
ainda mais seu orgulho ferido.
— Como você sabe, chanceler, a rainha Adria também era uma escrava
de Evine e submetida a todos os mesmos tratamentos que eu sofri
enquanto estava sob seu controle, — disse Gabriel com cuidado. — Ela
sem dúvida será capaz de corroborar esta informação também.
A chanceler Agatha acenou com a cabeça sabiamente. — Muito bem,
— disse ela. — E por uma questão de transparência, você tem alguma
maneira de provar ao resto deste congresso que tanto você quanto a
rainha Adria estão completamente livres do controle de Evine? Que isso
não é simplesmente um estratagema para nos atrair para mais perigo?
Gabriel refletiu sobre a questão por um momento enquanto o resto do
congresso parecia prender a respiração coletiva.
Ele tinha?
Depois de uma pausa longa e tensa, o rei falou novamente.
— Suponho que não há nada que eu possa dizer para convencê-la de
forma adequada e aliviar suas suspeitas, — disse ele, escolhendo as
palavras com cuidado.
— No entanto, o fato da questão é que o Rei Morrison e o Rei Calix
permanecem à mercê de Evine e Uzier e, no momento, estou fornecendo
a única pista que poderia resultar em seu resgate seguro. Resumindo:
você vai ter que confiar em mim.
Mais murmúrios começaram a surgir durante o congresso. Com um
suspiro irritado, Agatha ergueu a mão novamente e o público se
silenciou.
— Obrigada por sua honestidade, vossa majestade, — ela disse. — E
eu peço desculpas que as circunstâncias exigem que eu questione seus
motivos.
— Ainda estamos lutando para decifrar a natureza da magia de
controle da mente de Evine, pois é diferente de qualquer feitiço que já
vimos antes. Você pode entender por que é necessário proceder com
cautela.
— Eu concordo plenamente, — Gabriel retomou.
— Com base nos padrões dos ataques anteriores, acho incrivelmente
provável que o próximo ataque das forças de Uzier seja na cidade de
Trinivan. Indiquei implantarem medidas defensivas na área o mais
rápido possível.
— Quanto a elaborar um plano de ataque à fortaleza de Uzier, vou
deixar este plano de missão em particular para Lucius Voltaire.
Satisfatório?
— Claro, chanceler, — disse Gabriel humildemente. Ele não poderia
ter ficado mais aliviado ao passar pelo escrutínio de Alastair, embora uma
pequena parte dele ainda não achasse que era digno de sua confiança. Ele
estava ansioso para provar seu valor a ela — e ao resto de Imamia.
— Muito bem, — Agatha respondeu ao rei, voltando para a procissão.
— O Congresso de Magia está encerrado.
LYDIA

— Lydia!
A Slifer se virou ao ouvir uma voz do outro lado do corredor. Quando
ela se virou, ela viu Dorian correndo rapidamente em sua direção.
— Bom dia, Dorian, — Lydia disse quando ele a alcançou. — Peço
desculpas mais uma vez sobre a noite passada.
— Não foi nada, — Dorian falou em resposta. — Você deve estar se
sentindo em melhor forma agora, afinal de contas.
Lydia ergueu uma sobrancelha. — O que você quer dizer? — ela
perguntou.
— Bem, o Rei Gabriel está de volta são e salvo, antes de mais nada, —
Dorian explicou. — Saber que ele está livre do controle de Evine deve
tirar um peso da sua cabeça.
— De fato, — Lydia respondeu, aliviada por ele não estar se referindo
ao show de fogos de artifício que ela provocou com Gabriel na noite
anterior. — Para ser honesta, ao longo dos últimos meses, comecei a me
preocupar com a possibilidade de nunca mais o ver.
— Sim, que pena seria, — Dorian disse em resposta. Lydia lançou ao
mago um olhar interrogativo, mas antes que ela tivesse a chance de falar
novamente, ele disse: — Eu estava indo dar um passeio até as fontes do
jardim. Eu não me importaria de ter companhia se você estiver
disponível.
— Não tenho nada mais urgente no momento, — respondeu Lydia. —
Suponho que seria do nosso interesse andar em maior número em
tempos como este.
— Eu não poderia concordar mais, — disse Dorian.
Nesse momento, Lydia ouviu outra voz do outro lado do corredor.
— Lydia! — Gabriel disse, caminhando até a Slifer e o mago.
— Gabriel, — disse Lydia alegremente. — Você voltou cedo. Suponho
que sua audiência foi boa?
— Tão boa quanto o esperado, eu acho, — disse Gabriel. — Diga-me,
quem é seu amigo aqui? Não acredito que tenhamos sido formalmente
apresentados.
— Dorian, vossa majestade, — Dorian disse, estendendo a mão
educadamente. — O prazer é todo meu.
— Bem, Dorian, é certamente um prazer conhecê-lo, — Gabriel
respondeu, segurando a mão de Dorian em um aperto de mão firme.
Talvez um pouco firme demais, observou Lydia. Dorian quase pareceu
estremecer com a intensidade do aperto do rei em sua mão.
Lydia teve que lutar contra o desejo de revirar os olhos. Gabriel
conhece Dorian há menos de um minuto e já estava fazendo o possível
para intimidá-lo.
Ela sabia que o rei era excessivamente competitivo, mas essa
desavergonhada demonstração de machismo era constrangedora de
assistir. Além disso, não era como se ela fosse um prêmio a ser ganho...
... E ela não tinha sentimentos por Dorian, é claro.
Ele era bonito? Talvez à sua maneira. Mas aos olhos dela, nenhum
homem poderia rivalizar com Gabriel. Principalmente depois da noite
passada.
— Se você me dá licença, Lydia, acabei de lembrar que devo me
encontrar com Agatha para discutir os planos para defender Trinivan, —
disse o jovem bruxo. — Vejo você mais tarde?
— Claro, — disse Lydia. — Foi bom falar com você, Dorian.
Enquanto Dorian se afastava rapidamente, Lydia lançou um olhar
para Gabriel. — Você sabe que não precisava assustá-lo daquele jeito, —
disse ela com severidade.
— Assustá-lo? — Gabriel perguntou. — Tudo que fiz foi apertar a mão
do homem.
— Você quase esmagou a mão dele, foi isso o que você fez, — corrigiu
Lydia. — E não pense que não percebi você estufando o peito como um
pássaro altivo. Ciúme não fica bem em você, Gabriel.
— Não tenho a menor ideia do que você está falando, — disse Gabriel
com orgulho.
Lydia revirou os olhos. — Honestamente, se você vai começar a brigar
com todo homem com quem eu falo, as coisas vão ficar muito cansativas
muito rápido. Você confia em mim, não é?
Gabriel ficou surpreso. — Claro que confio em você, — disse Gabriel.
— Eu confio em você com todo o meu coração.
— Nesse caso, — disse Lydia. — Talvez você devesse agir como tal.
EVINE

Depois que os sons de gritos e batidas cessaram, Evine voltou com


cuidado para a cabana.
Pedaços de móveis de madeira estavam em pilhas espalhadas por toda
a sala, e no centro de tudo estava Uzier, ainda furioso.
Evine revirou os olhos. O homem tinha séculos de idade, mas quando
algo não acontecia do seu jeito, ele se comportava como uma criança
petulante.
— Anos de planejamento, — Uzier fervia de raiva, para ninguém em
particular. — Décadas, na verdade. E tudo isso destruído por uma mera
aplicação de força bruta por alguns Slifers infelizes. Agora dois de nossos
peões mais poderosos estão perdidos, junto com os segredos que
trabalhamos tão cuidadosamente para esconder.
— Você se preocupa demais, milorde, — disse Evine suavemente. —
Talvez em vez de ver isso como uma crise, pudéssemos ver esses
desenvolvimentos como uma oportunidade.
Uzier se virou para encará-la, olhando para a rainha com olhos negros
como tinta. — É de que forma esses incidentes podem nos trazer uma
vantagem? — ele perguntou.
— Para começo de conversa, agora sabemos como meu controle pode
ser potencialmente dissipado, — ela respondeu friamente. — Isso
significa que podemos começar a tomar precauções para evitar que esses
incidentes se repitam no futuro. Além disso...
Ela deu um passo mais perto e colocou a mão em seu peito, aliviando
o humor de seu amante. — Estou começando a pensar que talvez
tenhamos escolhido os alvos errados. Você não concorda?
O canto da boca pálida de Uzier se curvou em um sorriso de escárnio
quando ele percebeu o que Evine estava sugerindo.
— Entendo, — respondeu ele. — Por que você não me diz o que tem
em mente, minha rainha...
Capítulo 20
DESCONFIANÇA
LYDIA

Lydia cravou os calcanhares no chão e se preparou quando uma rajada


de ar a empurrou para trás; ela lutou desesperadamente tentando manter
o equilíbrio.
Quando o vento diminuiu, a Slifer rapidamente entrou em ação,
conjurando uma bola de fogo que ela arremessou diretamente em Elise.
Lydia observou Elise conjurar graciosamente uma parede de vento
para bloquear a chama, fazendo com que o projétil se partisse em dois e
passasse inofensivamente pelos dois lados da Slifer do Ar antes de ser
extinto.
Lydia sorriu para Elise com um respeito relutante. Já fazia um tempo
que ela não treinava com tudo e, pela primeira vez, a Slifer do Fogo
saboreava o desafio.
Talvez, ela pensou consigo mesma enquanto evitava por pouco outra
rajada de vento, essa mudança de atitude tivesse algo a ver com o retomo
de Gabriel; tanto pelo alívio que sua segurança proporcionava, quanto
pelo efeito tangível que sua presença tinha na força de seus poderes.
Lydia começou a reunir forças para preparar outro ataque quando sua
concentração foi repentinamente interrompida pelo som de outra pessoa
entrando no jardim.
— Lydia! Elise! — Dorian gritou. — O que, em nome dos deuses,
vocês duas estão fazendo?
Lydia sinalizou para Elise que precisava de um tempo, então se virou
para o mago. — Está tudo bem, Dorian, — ela gritou de volta para ele. —
Apenas uma sessão de treinamento amigável. Queremos manter nossas
habilidades afiadas para que possamos nos preparar para o próximo
ataque de Uzier.
— Ah, entendo, — Dorian assentiu. — Nesse caso... alguma de vocês
se oporia se eu me juntasse a vocês?
Lydia tentou reprimir uma risada. A ideia de um mago comum
enfrentando seus invejáveis poderes — mesmo em uma partida de
treinamento — era uma piada absoluta.
— Tem certeza? — Elise perguntou a Dorian, avaliando-o com
diversão. — Sem ofensa, mas eu não acho que você já teve a
oportunidade de treinar com uma Slifer antes. Muito menos duas. Só
quero ter certeza de que você não está se metendo em uma coisa maior
que você.
Dorian riu. — Tenho certeza de que você já sabe que sou mais do que
capaz de me controlar.
Lydia observou o mago sair para a grama do jardim.
Quando ele se aproximou, duas imagens brilhantes e translúcidas
começaram a aparecer, flanqueando Dorian de cada lado.
Quando as duas figuras começaram a assumir uma forma mais
definida, Lydia percebeu que o que ela estava olhando era um par de
lobos celestes, rosnando e estalando as mandíbulas enquanto
caminhavam lentamente em sua direção.
— Um truque fofo para festas, — Lydia provocou de brincadeira. —
Mas eu dificilmente vejo como você pode esperar derrubar uma Slifer
com um simples par de lobos ilusórios.
— Ilusórios? — Dorian perguntou. A boca do mago se curvou em um
sorriso malicioso. — Quem disse alguma coisa sobre eles serem ilusórios?
Dorian estalou os dedos e um dos lobos espectrais começou a correr
em direção a Lydia a toda velocidade. A compreensão a atingiu, e Lydia
rapidamente rolou para o lado quando a besta rosnando passou
rapidamente, suas mandíbulas quase errando-a.
— Agora você está apenas jogando sujo! — Lydia gritou. — Se esses
lobos forem reais, eles podem causar alguns danos graves!
— Qual é o problema? — Dorian zombou de brincadeira. — A grande
e má Slifer do Fogo tem medo de pegar dois cachorrinhos bem treinados?
— Parece um pouco injusto ser tão agressivo quando estamos apenas
treinando, — disse Lydia.
— As forças de Uzier não terão misericórdia de você no campo de
batalha, — disse o jovem mago. — Portanto, também não vejo razão para
ser misericordioso.
Dorian estalou novamente, e o segundo lobo avançou para frente.
Desta vez, no entanto, Lydia estava preparada.
Quando a besta rosnando disparou em sua direção, Lydia
rapidamente lançou um jato de chamas para baixo com força suficiente
para lançá-la no ar.
Na verdade, ela pode ter aplicado força demais; embora sua estratégia
pretendida fosse escapar do lobo e contra-atacar com um ataque aéreo,
Lydia, em vez disso, tombou no ar enquanto se esforçava para se
endireitar.
Talvez fosse a emoção, ou apenas o fato de que seus poderes
recentemente foram revigorados, mas de repente a Slifer do Fogo não
parecia mais perceber sua própria força.
— Tudo bem! — ela ouviu Dorian gritar quando ela começou a cair
em direção ao chão. — Aguente firme, eu te pego!
Com poucas outras opções em mente, Lydia simplesmente fechou os
olhos e se preparou para o impacto inevitável.
GABRIEL

— Está tudo bem? — Gabriel gritou enquanto corria para o jardim. O


rei estava dando um passeio pelo castelo para clarear a mente antes que o
estrondo alto o assustasse.
Sabendo que Lydia estava usando o jardim como campo de
treinamento improvisado, ele temeu o pior enquanto corria para
investigar. O que ele encontrou não foi exatamente a visão que esperava,
embora tenha sido o suficiente para fazer seu sangue ferver rapidamente.
No meio do jardim, Gabriel viu o mago conhecido como Dorian
deitado de costas na grama. Em cima dele estava ninguém menos que
Lydia; as coxas dela atualmente ocupando a cintura do mago, as mãos
firmemente plantadas em seu peito.
Que merda era essa?!
Ao lado estava Elise, que tossiu ruidosamente para sinalizar a chegada
de Gabriel aos outros. Lydia se virou para olhar o que Elise estava
sinalizando. Quando ela encontrou o olhar de Gabriel, seu rosto corou, e
ela imediatamente saltou de cima de Dorian.
— O que, em nome dos deuses, vocês dois estão fazendo? — Gabriel
exigiu.
— Gabriel! — Lydia disse, sua voz tingida de vergonha. — Eu garanto
a você, não era o que parecia.
— Eu espero que não, — Gabriel retrucou. — Ela fala a verdade, vossa
majestade, — Dorian disse, levantando-se também. — Apenas um
pequeno acidente durante o treinamento de combate. Fique tranquilo,
todos estão sãos e salvos.
— Eu posso ver isso, Dorian, — Gabriel disse, sua voz um rosnado
baixo. Virando-se para Elise, ele acrescentou. — Se vocês dois não se
importam, eu preciso ter uma palavra com Lydia em particular. —
Enquanto Dorian e Elise se afastavam, Lydia cruzou os braços e lançou
um olhar zangado para Gabriel. — Então, estamos de volta ao ciúme
mesquinho, não é? — ela perguntou com raiva.
— De que outra forma você espera que eu reaja depois de uma
exibição como essa? — Gabriel rosnou.
— Exibição? — ' Perguntou Lydia. — Pelo amor de Deus, Gabriel, foi
um acidente!
Os olhos duros de Gabriel se suavizaram enquanto ele olhava ao
redor, percebendo que seus gritos estavam começando a chamar a
atenção. — Devíamos conversar em outro lugar, — disse ele a Lydia. —
Nós estamos começando a fazer uma cena.
— O que você quer dizer com 'nós'? — Lydia exigiu enquanto os dois
decolavam para um corredor próximo. — Pelo que me lembro, não sou
eu que perdi o controle em resposta a um erro inofensivo.
— Não parecia tão inofensivo para mim, — disse Gabriel indignado
enquanto eles continuavam pelo corredor.
— Viu, é exatamente disso que eu estava falando, — disse Lydia. —
Como você pode esperar que lutemos lado a lado se não podemos nem
confiar um no outro?
O ritmo de Gabriel diminuiu. Lydia observou enquanto o rei abaixava
a cabeça e soltava um suspiro longo e cansado.
— Sinto muito, — ele disse suavemente. — Meu comportamento foi
desnecessário. Eu sei que deveria confiar mais. Nós apenas passamos
muito tempo separados, só isso.
Lydia deu um passo à frente, colocando a mão na parte inferior das
costas de Gabriel. — Eu entendo, — disse ela. — Se eu pegasse você em
uma posição comprometedora com Ayana, provavelmente ficaria tão
chateada quanto.
Gabriel zombou. — Por que Ayana é a primeira pessoa que vem à
mente?
— Você está certo, sinto muito, — disse Lydia com naturalidade. — É
muito mais provável que se você me traísse, seria com Redmond. Eu vi
como você admira aqueles ombros largos quando pensa que ninguém
está prestando atenção.
Os dois compartilharam uma gargalhada. Gabriel parou para enxugar
uma lágrima do olho.
Como ele poderia pensar que sua companheira poderia traí-lo? Eles
pertenciam um ao outro. Eles não estavam apenas presos ao destino, mas
também por suas almas gêmeas.
— Mas, para ser mais sério, — Lydia disse, segurando uma das mãos
de Gabriel nas suas. Ela deu um passo à frente e lançou um olhar
malicioso para ele.
— Se você realmente precisa que eu prove minha lealdade a você,
então tenho algumas ideias de como fazer isso...
Ela beijou seus lábios vigorosamente, então desceu para seu pescoço...
Sim, Gabriel pensou enquanto a puxava para mais perto. Não
poderíamos ser uma combinação melhor.
EVINE

Nos arredores de Ellesmere, uma figura se mexeu no mato. De sua


posição isolada entre as sombras, Evine observava o reino de uma
distância segura.
Todas as peças estão se encaixando, ela pensou consigo mesma. Em breve,
seremos capazes de atingir as linhagens reais onde mais os machuca.
Tudo o que temos que fazer agora é aguardar o sinal...
Capítulo 21
CONFISSÕES
LYDIA

Já era tarde e o sol começava a descer no horizonte. O céu estava


inundado por um brilho laranja quando Lydia se encostou na grade da
varanda com vista para Ellesmere.
Embora a visão do sol poente fosse linda, não fez nada para aliviar a
tensão que Lydia sentia atualmente, apertando o coração como um
punho cerrado.
O que Gabriel disse a ela era verdade: Uzier ainda estava lá fora, em
algum lugar, e nenhum deles seria capaz de descansar até que os dois
últimos membros da realeza estivessem livres de sua influência e de
Evine.
— Com licença, — disse uma voz atrás, surpreendendo Lydia de sua
introspecção. Ela rapidamente se virou para ver Dorian parado atrás dela,
parecendo envergonhado.
— Dorian, — Lydia disse, aliviada. — Se você continuar a se aproximar
furtivamente das pessoas assim, temo que tenhamos que amarrar um
sino em seu pescoço para saber que está chegando.
— Minhas mais sinceras desculpas, Lydia, — Dorian disse
humildemente. — Não sabia que esta varanda estava ocupada.
— É grande o suficiente para ser compartilhada, — respondeu Lydia.
— Não me deixe impedir você de apreciar a vista.
Hesitante, Dorian deu um passo à frente, encostando-se na grade da
varanda ao lado dela.
— Suponho que foi bom tê-la encontrado de novo, — disse o mago
após um segundo. — Eu esperava poder me desculpar pelo que
aconteceu no jardim antes. Eu não sabia que minhas ações poderiam ter
colocado você em uma situação difícil com o rei.
Lydia zombou. — Dorian, você não tem do que se desculpar, — ela
disse, — Você dificilmente é o culpado. O rei precisa perceber a
importância de não tirar conclusões precipitadas.
— Mesmo assim, posso entender de onde vem a preocupação dele, —
disse Dorian. — Se eu pudesse ter uma mulher metade tão encantadora
quanto você, eu também temeria a ideia de perdê-la. — Lydia revirou os
olhos. — Agora você está começando a soar como ele.
Dorian gaguejou sem jeito. — Sem querer ofender, minha mestra.
Lydia reprimiu uma risada. — Deuses, você é sempre tão formal.
Suponho que seus pais devem ter te educado bem.
Dorian desviou o olhar e por um momento Lydia se perguntou se ela
acertou em cheio. Quem eram os pais de Dorian? Por sua aparência
elegante e comportamento formal, ela sempre presumiu que ele
descendia de algum tipo de linhagem nobre.
Então, novamente, você nunca poderia julgar um livro pela capa.
Afinal, o pai de Lydia era um Deus. E a aparência da Slifer do Fogo não
gritava exatamente — mais sagrada do que você.
Após um breve momento de silêncio, Dorian falou novamente.
— Suponho que você não estaria interessada em se juntar a mim em
uma caminhada fora das paredes de Ellesmere, — ele arriscou. — Os
vaga-lumes sairão em breve. Essa visão é muito mais agradável quando
você tem alguém com quem compartilhá-la.
Um olhar repentino cruzou seu rosto, e então ele acrescentou, — a
menos que você ache que vossa majestade faria objeções, é claro.
Lydia enrubesceu e então lançou um olhar zangado para Dorian. —
Vossa majestade, — disse ela, — não tem propriedade sobre mim e, como
tal, não terá voz no assunto.
Ela pegou um Dorian perplexo pelo braço em um gesto cortês. —
Venha, Dorian, — ela disse em seu tom mais régio. — Vamos ver esses
vaga-lumes dos quais você fala tão bem.
LUCIUS

Lucius piscou, seus olhos cansados lentamente voltando ao foco no


balcão sujo do bar à sua frente.
Um barman anão ranzinza tirou seu copo, deixando um anel de
condensação na bancada. O mago mergulhou um dedo no líquido e
começou a rabiscar preguiçosamente na bancada enquanto esperava sua
próxima bebida chegar.
— Deuses, — ele resmungou irritado na direção do barman. — Seus
sapatos são de chumbo sólido? Eu esperava que minha próxima bebida
chegasse no final do século.
O anão voltou, com raiva batendo uma caneca na frente de Lucius
com força suficiente para enviar um pouco da cerveja espirrando pela
borda.
— Ao contrário do que se pensa, — disse o barman em um rosnado
baixo, — eu não abri este estabelecimento apenas para servir um velho e
murcho favus como você. Embora, dado o número de bebidas que você
pediu esta noite, suponho que poderia.
Lucius segurou a alça da caneca de forma mal-humorada e arrastou-a
para mais perto do seu lado do bar. — Bem, você pode achar difícil de
acreditar, mas não estou aqui pela atmosfera e conversa encantadora.
Ele virou a caneca e terminou em três goles inteiros. — Desce mais.
Enquanto o anão resmungava para longe, Lucius ouviu uma voz
familiar atrás dele.
— Favus, — Gabriel disse, perplexo. — Não posso dizer que já ouvi tal
palavra antes. O que isso significa?
— É uma palavra antiga dos anões, — murmurou Lucius, sem se
preocupar em se virar e cumprimentar o visitante.
— Traduzido diretamente, suponho que se aproximaria de 'pé de
feijão'. Dado o contexto de nossa conversa agradável, suponho que ele a
estava usando como uma espécie de calúnia contra os humanos.
Provavelmente algo a ver com a diferença de altura.
— E você vai apenas deixar ele se dirigir a você assim?
Lucius encolheu os ombros. — Já fui chamado de coisa pior. Com
razão, na maioria das vezes. — Lucius sentiu Gabriel colocar uma mão
firme em seu ombro. — Venha comigo, velho amigo, — disse ele. — Eu
acredito que você já bebeu o suficiente por uma noite.
— Então você subestima meu poder, — Lucius respondeu, tirando a
mão de Gabriel de cima dele. — Deixe-me afundar em meus fracassos do
passado. E então, amanhã, podemos olhar para frente e traçar planos
para meus fracassos futuros também.
Mesmo sem se virar para olhar, Lucius podia sentir a raiva e a pena
irradiando de Gabriel em igual medida.
— Espero que você entenda o quanto me dói vê-lo assim, — disse ele.
— Considerando tudo o que está em jogo atualmente, acho que esperava
que você fosse melhor.
— Isso implicaria que eu tinha essa capacidade em primeiro lugar, —
Lucius meditou. — Desculpe desapontá-lo, amigo, mas sou exatamente
como os Deuses me criaram.
— Um instrumento para ser usado e descartado à vontade, deixado
para apodrecer quando meu propósito atinge sua conclusão lógica. Você
poderia fazer melhor do que se associar com um lixo usado como eu.
— É assim que um herói de guerra fala? — Gabriel exigiu com raiva.
— A guerra não tem heróis, — Lucius disse amargamente. — Agora, se
esta pequena intervenção acabou, sugiro que saia antes que alguém aqui
o reconheça como o rei que destruiu seu reino.
Lucius ouviu quando Gabriel saiu do bar.
Um leve sentimento de culpa conseguiu borbulhar à superfície do
estupor encharcado de rum do mago. Seu amigo havia retomado
recentemente de uma experiência traumática, e ele o rejeitou
insensivelmente devido ao seu próprio medo e egoísmo.
Apenas mais um dia na vida do bruxo menos sóbrio do mundo.
Depois de um momento, Lucius enfiou a mão lentamente no bolso,
jogando um punhado de moedas na bancada. Então, com certo esforço,
ele se levantou e se despediu também.
LYDIA

O sol agora estava bem fora de vista, e o ar noturno deixou uma brisa
enquanto Lydia e Dorian desciam o caminho de terra que levava para
longe de Ellesmere. Ao redor deles, vaga-lumes dançavam e flutuavam no
ar como brasas espalhadas por uma fogueira.
— Bem, você estava certo, — ela disse a Dorian. — Eles certamente
são uma bela vista.
Dorian riu. — Veja isso, — disse ele, estalando os dedos.
Lydia observou quando a forma espectral de um corvo apareceu,
circulando ao redor dos dois no céu noturno. O vento das asas batendo
do pássaro varreu e girou os vaga-lumes ao redor deles, espalhando-os
em padrões estranhos e hipnotizantes.
— Receio ter uma confissão a fazer, Lydia, — Dorian disse. — Eu não
trouxe você aqui apenas para observar os vaga-lumes.
Lydia ergueu uma sobrancelha para ele. — Oh? E o que isso quer
dizer?
Dorian respirou fundo. — Na verdade, Lydia, acho que pode se dizer
que estou preocupado com você.
— Comigo? — Lydia perguntou. — Que motivo você teria para se
preocupar comigo?
Dorian olhou para ela. — Responda-me honestamente, Lydia, — disse
ele, — quão feliz você está com Gabriel?
Uma expressão de choque cruzou o rosto de Lydia. — Como? Ela
perguntou alarmada.
A franqueza da pergunta de Dorian a deixou totalmente desprevenida.
O que ele estava tentando sugerir? As bochechas da Slifer coraram com
uma mistura de vergonha e raiva.
— Eu vi a maneira como o rei trata você, — Dorian disse com desdém.
— Como ele tenta impor o controle sobre você o tempo todo. É
profundamente injusto para você ser tratada como posse dele.
— Você faz suposições demais, Dorian, — Lydia retrucou. — Gabriel
não é assim de verdade. E, além disso, nós fomos feitos um para o outro.
Era o meu destino.
— Destino? — Dorian disse a palavra com desdém, como se falar
tivesse deixado um gosto amargo em sua língua.
— Tudo o que essa palavra serve para fazer é reforçar o fato de que
você não teve escolha. Você foi criada exclusivamente para reforçar os
poderes do rei. Se você não fosse uma Slifer, você realmente acha que ele
ainda se importaria com você do jeito que se importa agora?
Lydia fez uma pausa enquanto as palavras de Dorian rastejavam em
sua mente como tentáculos de dúvida. — Claro... Claro que sim, — disse
ela, embora sua voz tremesse de incerteza. — Gabriel me ama.
— Ele ama a ideia de você, — Dorian respondeu. — Você não é uma
pessoa para ele, Lydia. Você é o troféu dele. Sua bateria. Ele vê você
primeiro como uma Slifer e depois como uma pessoa. — Lydia olhou
para os pés quando o suor começou a se acumular em sua testa. Isso não
poderia ser verdade... poderia?
Ela se lembrou de seu primeiro encontro com Gabriel, a primeira vez
que ficou sozinha com ele, todas as vezes que estiveram juntos desde
então...
Ela acreditava que eles estabeleceram um relacionamento mútuo feliz,
mas, novamente... e se ela estivesse errada? E se Lydia realmente fosse
apenas uma conveniência para o rei?
— Você não prefere algo mais? — Dorian perguntou, dando um passo
à frente. — Vejo quem você realmente é, Lydia. Você é muito mais do que
apenas a Slifer do Fogo.
Ele deu mais um passo. — Você é uma pessoa incrível, linda e
obstinada e merece estar com alguém capaz de reconhecer isso. Você
merece estar com alguém como eu.
Antes que Lydia pudesse reagir, Dorian se lançou para frente e a
beijou. Lydia o empurrou para longe dela, dando um passo para trás em
estado de choque.
O que diabos ele estava fazendo?
Ela sempre sentiu uma pequena atração por Dorian, mas nunca
imaginou agir de acordo. O gosto de desespero nos lábios do mago
imediatamente a repeliu — esse garoto não era nada como o Rei Gabriel.
Vendo a expressão de desgosto em seu rosto, Dorian de repente
parecia desanimado.
— Eu — me desculpe, — Dorian disse. — Eu não tive a intenção de
ofender ninguém. Por favor, não diga ao rei
Lydia deu um passo para trás. — Isso tudo é demais, — disse ela. —
Por que agora, Dorian? Por que você pensaria que agora, de todos os
tempos, seria o ideal para jogar isso em mim?
— Eu não consegui segurar por mais tempo, — Dorian disse. — Eu
realmente sinto muito, Lydia.
Mas você consideraria o que eu disse a você esta noite?
Lydia balançou a cabeça lentamente, dando mais um passo para trás.
— Sinto muito, Dorian, — ela respondeu. — Nós dois sabemos que isso
nunca poderia acontecer.
Dorian baixou a cabeça solenemente. — Eu estava com medo de que
você dissesse isso, — ele disse, sua voz de repente muito mais sombria. —
Suponho que não há como evitar, na verdade...
— O que você... — Lydia começou, e então parou quando uma dor
ardente irrompeu em suas costas. A Slifer desabou no chão quando sua
visão começou a enfraquecer.
Segundos antes de perder a consciência, Lydia olhou para cima, vendo
uma figura passar por ela e entrar em sua linha de visão. Lydia piscou ao
reconhecer...
Evine.
— Você agiu bem, Dorian, — disse a mestra sombria, o sangue de
Lydia pingando da ponta da adaga em sua mão. — Eu sabia que podia
contar com você.
As pálpebras de Lydia tremeram e tudo ficou escuro.
Capítulo 22
SEPARAÇÃO
LYDIA

A cabeça de Lydia latejava com raiva enquanto ela lentamente lutava


para voltar ao mundo da consciência. Ela se sentia exausta, sua boca
tinha gosto de sangue e, pior de tudo, ela não tinha ideia de onde estava.
— A princesa gostou de seu descanso de beleza? — disse uma voz.
Quando sua visão voltou ao foco, Lydia pôde ver uma figura solitária
parada diante dela.
— Evine, — Lydia sibilou, recuperando sua memória.
— Ao vivo e a cores, — respondeu Evine com indiferença. Lydia fez
um gesto para atacar, apenas para perceber que suas mãos estavam presas
à parede por um par de algemas. Olhando ao redor, ela percebeu que as
duas estavam em algum tipo de câmara subterrânea de pedra polida, não
muito diferente das masmorras subterrâneas de Ellesmere.
— Eu não lutaria muito se fosse você, — disse Evine com indiferença.
— Você pode se machucar. E então você apenas estaria fazendo meu
trabalho por mim.
Lydia zombou. — Do que se trata isso, então? — ela perguntou. — Eu
roubei Gabriel de você, então você decidiu me prender em um acesso de
ciúme?
— Oh, dificilmente, — respondeu Evine. — Embora, para dar crédito
onde é devido, você libertar Gabriel do meu feitiço foi certamente um
incômodo. Então, parabéns por isso, eu acho.
— Então, o que você quer de mim? — perguntou Lydia irritada. — Na
verdade, o que é que você quer de qualquer um de nós? Por que você está
fazendo a ordem de Uzier em primeiro lugar?
— Minha nossa, como é impaciente, — disse Evine, a voz cheia de
aborrecimento. — Eu posso ver por que você se identifica tanto com
Gabriel agora. Ele sempre teve uma preferência pela gratificação
instantânea.
Com isso, Evine passou as mãos pelo próprio corpo provocativamente.
Lydia fez uma careta.
— Oh, vamos lá, não me olhe assim, — disse Evine, fazendo beicinho.
— Ninguém gosta de um mau perdedor.
Lydia ficou furiosa com o comentário insultuoso de Evine. E pensar
que depois de tudo que essa mulher fez, ela poderia simplesmente agir
como se tudo isso fosse um jogo infantil. A Slifer sentiu seu sangue
começar a ferver quanto mais ela era forçada a olhar para o rosto de
Evine.
Ela deu um passo na direção de Lydia. — Tudo bem, vou te dizer uma
coisa, — ela disse claramente. — Vamos ficar um bom tempo juntas de
agora em diante, então, para passar o tempo, posso também abordar
aquelas perguntas que você parece querer tão desesperadamente que
sejam respondidas.
Ela estendeu a mão para tirar uma mecha de cabelo do rosto de Lydia.
Lydia se debateu, tentando mordê-la; Evine puxou a mão no último
segundo e lançou a Lydia um olhar impressionado.
— Insolente, — ela disse. — Então, você realmente é uma guerreira,
afinal.
Lydia se esforçou, lutando contra as algemas mais uma vez antes de
desistir de exaustão.
— Agora, — continuou Evine. — Suponho que faria mais sentido
começar do início...
GABRIEL

— Desaparecida? — Gabriel questionou, com suas narinas dilatadas de


raiva. — O que você quer dizer com ela está desaparecida? Como você
perde uma Slifer?!
O guarda do castelo se encolheu com a intensidade das palavras de
Gabriel. — Nenhum de nós a viu desde a noite passada, — ele gaguejou.
— Ela deixou as paredes de Ellesmere para dar um passeio e não voltou
desde então.
— Certamente há mais que você pode oferecer do que isso, — Gabriel
disparou. — Há algum outro detalhe que se destaca para você? Ela estava
com mais alguém quando saiu?
O guarda pegou um lenço e começou a enxugar a testa nervosamente.
— Erm, agora pensando nisso, acredito que ela estava com aquele jovem
bruxo, — ele disse. — Dorian, eu acredito que o nome dele era esse.
— Dorian! — Gabriel fervia.
Ele deveria saber que aquele desgraçado estava por trás disso.
— Aquele safado! — ele gritou. — Se eu descobrir que ele é o
responsável pelo desaparecimento de Lydia...
O rei girou sobre os calcanhares, avançando em direção à porta.
— Onde você está indo, vossa majestade? — o guarda perguntou com
uma voz trêmula.
— Houve uma mudança de planos, — disse Gabriel. — Não podemos
esperar mais para planejar nosso ataque ao covil de Uzier. Pelo bem de
Lydia, devo reunir nossas forças e atacar agora.
— Mas, vossa majestade! — o guarda gritou atrás dele. — Você não
deveria estar ajudando no esforço de defesa em Trinivan?
— Dane-se Trinivan, — disse Gabriel. — Este é um assunto de muito
maior importância. Eu deixaria cem cidades queimarem antes de
permitir que Lydia se machucasse.
Ele abriu as portas da sala de reuniões, apenas para ser encontrado do
outro lado por...
— Lucius? — Gabriel perguntou perplexo. — O que você está fazendo
aqui?
— Estou aqui pelo mesmo motivo que você, — Lucius respondeu sem
rodeios. — Parece que Lydia está desaparecida e eu pretendo ajudar a
encontrá-la.
Gabriel fez uma careta para o velho com desdém. — Então, o grande
mago escolheu agora como o momento para nos agraciar com sua
presença, — ele disse amargamente. — Basta dizer que não vou precisar
de um velho bêbado na minha missão de resgate.
Os olhos de Lucius brilharam com uma intensidade repentina, que
Gabriel não via há algum tempo. O rei deu um passo para trás surpreso.
— Eu esperaria que você escolhesse suas palavras com um pouco mais
de diplomacia, vossa majestade, — Lucius disse em voz baixa. — Você
pode estar apaixonado por Lydia, mas os próprios Deuses me escolheram
para agir como seu único guardião e protetor. Ela é minha missão, minha
responsabilidade. Mas principalmente...
O rosto enrugado do mago se suavizou. — Ela é minha família.
A expressão dessa palavra final disse a Gabriel tudo o que ele precisava
saber. Era óbvio: Lucius sentiu como se o desaparecimento de Lydia fosse
sua culpa.
Gabriel sabia que o mago era autodepreciativo às vezes, mas a
expressão nos olhos de Lucius agora era de uma autodepreciação intensa
que o rei nunca tinha visto antes.
Gabriel lançou a ele um olhar simpático. — Perdoe-me, velho amigo,
— disse ele. — Se meu temperamento parece ter explodido, é só porque
me preocupo com a segurança de Lydia tanto quanto você.
— Eu poderia ter evitado isso, — disse Lucius, parecendo desanimado.
— Se eu não estivesse tão ocupado entregando-me aos meus próprios
vícios e sentindo pena de mim mesmo, talvez eu pudesse ter feito mais
para fortalecer Ellesmere contra a infiltração.
— Agora não é hora de buscar culpados, — Gabriel repreendeu o
velho. — Não há nada construtivo a ser encontrado nisso. Em vez disso,
vamos concentrar nossos esforços em garantir que Lydia volte para nós
em segurança.
— Concordo, — disse Lucius. — No entanto, também não devemos
nos esquivar de nossa responsabilidade de proteger Trinivan. Eu sei que
Lydia nos repreenderia se soubesse que a estamos priorizando em vez de
centenas de outras vidas.
Gabriel baixou a cabeça. — Sim, ela faria isso, — disse ele.
— Além disso, — Lucius continuou. — Embora você possa pensar que
conhece Lydia, por acaso a conheço há toda a sua vida. Ela é forte,
Gabriel. Forte o suficiente para se defender de qualquer coisa que Uzier
ou qualquer outra pessoa tente fazer com ela. Vamos nos apressar para
Trinivan e, uma vez que tenhamos garantido sua segurança, seguiremos
em frente para salvar Lydia.
Quando Lucius se virou para sair, Gabriel colocou a mão em seu
ombro, grato pelas palavras de seu velho amigo — e pela clareza
surpreendente.
— Lucius, — disse ele. — Algo sobre você parece diferente. Você está...
— Sóbrio? — disse Lucius. — Por enquanto. Não me faça arrepender.
LYDIA

— Ao contrário de certas pessoas de sorte, nasci em uma linhagem


fraca de magia, — explicou Evine para seu público cativo. Deixada com
poucas outras opções, a Slifer ouviu pacientemente.
— E quando digo 'linhagem', quero dizer literalmente. Como meus
ancestrais antes de mim, nasci com a capacidade inerente de manipular o
sangue, tanto em mim como nos outros. Uma habilidade grotesca com
certeza, mas certamente não sem seus usos.
Tirando uma adaga da bainha em seu quadril, Evine arrastou
lentamente a lâmina nas costas da mão esquerda. No mesmo instante,
Lydia sentiu uma pontada aguda de dor intensa também na mão
esquerda. Ela soltou um grito assustado quando o sangue começou a
escorrer lentamente por seu braço algemado.
Que diabos Evine estava fazendo?
A mestra sombria sorriu. — Ao infligir um ferimento leve a mim
mesma, posso transferir os efeitos desse ferimento para outra pessoa de
minha escolha, desde que eu tenha um pouco de seu sangue. Além do
mais, a dor da lesão que meu alvo recebe é dez vezes a intensidade
daquela que foi infligida a mim.
Ela se inclinou para mais perto de Lydia e sorriu. — Estou
especialmente orgulhosa dessa parte. Levei um bom tempo para
aprimorar minhas habilidades para atingir esse nível de transferência.
Quando eu era apenas uma iniciante, levaria todo o meu poder apenas
para infligir alguém com um corte de papel.
Ela deu um passo para trás, batendo no lado plano da faca na palma
da mão. — Claro, isso foi antes de eu conhecer Uzier. Ele me mostrou a
extensão do que meus poderes poderiam ser, e por isso, sou eternamente
grata. — Ela lançou a Lydia outro sorriso malicioso. — Eu continuo a
mostrar minha gratidão sempre que posso, e em mais de uma maneira...
— Então você trocou Gabriel por Uzier? — Lydia perguntou. — Pena
para ele, você parece um grande partido.
Evine sorriu afetadamente. — Oh não, eu conheci Uzier muito antes
de meu casamento com Gabriel. Ele ajudou a organizar isso, na verdade.
Sempre foi minha missão me infiltrar na família real de Ignolia.
O coração de Lydia disparou.
O quê?!
Evine caminhou pela masmorra, deliciada com o choque que deve ter
visto no rosto de Lydia.
— Depois de receber a confirmação de que Uzier sobreviveu à guerra,
cumpri o resto da minha missão. Eu matei a mãe de Gabriel, e então
simulei minha própria morte para escapar de suspeitas. O dano
emocional que infligiu a Gabriel foi, lamentavelmente, apenas um
benefício colateral.
Lydia sentiu as veias do pescoço incharem enquanto lutava para se
libertar. Ela nunca o amou?! Como se ela já tivesse motivos suficientes
para desprezar Evine, o fato de ter manipulado emocionalmente Gabriel
por anos a fio era o suficiente para fazê-la espumar pela boca.
Lydia cuspiu no chão. — Você é um monstro, — ela assobiou.
— E você é uma garota acorrentada a uma parede, sem meios para se
defender, — respondeu Evine. — Então, eu seria um pouco mais
cuidadosa com os xingamentos se eu fosse você. Não que o bom
comportamento vá mudar alguma coisa, é claro.
— Gabriel e os outros vão impedi-la, — disse Lydia.
— Gostaria de vê-los tentar, — respondeu Evine. — Afinal, nenhum
deles teve bom senso o suficiente para notar um espião entre eles. Duas
vezes, inclusive.
— Duas vezes? — Lydia perguntou, confusa.
Como se fosse uma deixa, uma figura saiu das sombras no canto da
masmorra.
Ao perceber o recém-chegado, o coração de Lydia afundou com uma
mistura de choque e pavor.
— Dorian, — Lydia disse, sua voz gotejando com nojo.
— Sim, ele me disse que vocês dois se conheceram, — disse Evine. —
Eu imagino que ele provavelmente se esqueceu de mencionar uma coisa,
no entanto.
Lydia olhou para Dorian, que parecia determinado a evitar seu olhar.
— Veja, — continuou Evine. — O jovem Dorian é meu filho.
Capítulo 23
ENCONTROS FORTUITOS
LYDIA

Lydia gritou de agonia quando outra onda de dor a invadiu. Seu corpo
agora estava coberto por uma coleção de cortes recentes: rasos o
suficiente para evitar feridas duradouras, mas ainda profundos o
suficiente para serem extremamente dolorosos.
Evine parou de torturar Lydia, permitindo-lhe um momento para
recuperar o fôlego. Embora sua mente estivesse nublada pela dor, ela
ainda podia discernir o som de vozes, embora como se estivessem de
uma grande distância.
Lentamente, a dor começou a se transformar em ruído de fundo
enquanto as capacidades mentais de Lydia voltavam para ela. De repente,
ela percebeu que alguém estava falando.
— Eu não vejo porque tudo isso é necessário, — a voz de Dorian disse.
— Ela não seria mais útil para nós sem essas feridas?
— O encantamento não surtirá efeito contra alguém de forte fortaleza
mental, — foi a resposta de Evine. As palavras começaram a penetrar
enquanto a mente de Lydia começava a clarear.
— Para criar um escravo adequado, devemos primeiro quebrar o
espírito do hospedeiro. Ferindo e exaurindo o corpo, nós dilaceramos e
corroemos a força de vontade do alvo até que eles sejam completamente
incapazes de resistir.
Para Lydia, algo era assustador sobre a maneira objetiva como Evine
explicava esse processo ao filho. Se ela estivesse obviamente adorando o
procedimento, gargalhando loucamente o tempo todo, isso teria sido
quase menos perturbador.
Em vez disso, o tom da mestra sombria era simples, quase de natureza
clínica. Ela discutia os pontos mais delicados da tortura humana da
mesma forma que outra pessoa falaria sobre o clima.
— Por falar nisso, — continuou Evine. — Você está terminando a
pedra?
— Está quase terminada enquanto falamos, — respondeu Dorian.
— Esplêndido, — disse Evine. — Seja um bom menino e traga-a para
mim, sim?
— Sim, mã... — Dorian começou. Lydia o ouviu parar rapidamente,
mordendo o final da palavra antes que saísse de sua boca.. —.. Sim,
Mestra Evine.
Com os olhos embaçados por suor e sangue, Lydia observou Dorian
sair da câmara da masmorra. Ela tinha que escapar antes que ele voltasse
com a pedra preciosa que a colocaria inteiramente sob o controle de seus
inimigos. Mas como? Ela nunca se sentiu tão fraca e impotente em sua
vida.
— Que filho obediente, — disse Evine a Lydia. — Sabe, tenho algumas
suspeitas de que ele pode gostar de você, pensando bem.
Lydia observou Evine bater nos lábios, pensativa. — Você pode
imaginar? A atual esposa do rei Gabriel, tendo um caso com o filho de sua
primeira esposa?
A mestra sombria deu uma risada divertida. — Esse é o problema com
essas linhagens imortais, eu suponho. Depois de um tempo, as coisas
começam a ficar tão... confusas.
Estendendo a mão, Evine agarrou um punhado do cabelo de Lydia,
puxando violentamente sua cabeça para cima para que seus olhos se
encontrassem. — Falando nisso, — ela disse, brandindo a adaga em sua
outra mão. — Onde estávamos?
GABRIEL

A cidade de Trinivan ficava ao norte, cercada por invernos


impiedosamente longos e fontes curtas e provocantes. Os magos foram
encorajados a se vestir de acordo. Embora a distância entre Trinivan e
Ellesmere fosse grande, a magia de teletransporte dominada por alguns
membros do Congresso de Magia condensou muito a jornada. A cidade
estava excepcionalmente fria quando Gabriel e os outros chegaram ao
centro da cidade. As ruas estavam vazias; em parte devido ao frio, e em
parte porque Agatha teve a precaução de enviar um mensageiro à frente
para evacuar a maior parte da cidade em antecipação à chegada de Uzier.
Claro, Gabriel tinha pouca preocupação com Trinivan, pelo menos
neste momento. Embora ele desempenhasse seus deveres como um
membro da realeza com o melhor de sua capacidade, sua única
preocupação real era garantir a segurança de Lydia. Até então, todo o
resto era uma mera distração para ele.
Gabriel deu uma olhada ao redor, examinando os edifícios altos de
vários andares que cercavam a praça por todos os lados. Eles estavam
recentemente desertos, é claro, embora, desde a evacuação, as pegadas
dos habitantes em fuga tivessem sido cobertas pela neve recém-caída.
O rei deu um passo hesitante à frente. Houve um estalo quando sua
bota perfurou a crosta gelada que formava a camada externa de neve sob
os pés. Além da neve, parecia que a cidade também havia sofrido
recentemente um ataque de chuva congelante.
O rei olhou e viu Redmond admirando uma árvore, seus galhos puros
envoltos em uma camada cristalina de gelo. Em qualquer outro contexto,
pode ter sido uma visão bonita.
Gabriel puxou o capuz de sua capa grossa sobre a cabeça. — Qual é o
plano? — ele perguntou, referindo-se a Lucius. O mago atravessou a neve
até ficar ao lado de Gabriel, tremendo apesar do casaco de inverno grosso
que vestia.
— Experiências anteriores me dizem que as forças de Uzier
provavelmente se esconderam no castelo, — respondeu o velho mago. —
Eu teria nos levado lá diretamente, mas eles sem dúvida já estabeleceram
todos os tipos de armadilhas para tal ocorrência. Melhor se
teletransportar para algum lugar próximo, para avaliar a situação.
— Pensamento sábio como sempre, Lucius, — Gabriel disse
sabiamente. — Vamos prosseguir com o máximo de cautela
Gabriel parou quando uma onda de calor de repente estremeceu seu
corpo frio. Ele cambaleou para trás em choque quando Lucius o olhou
interrogativamente.
— O que foi? — o mago perguntou, segurando o braço de Gabriel em
uma tentativa de oferecer suporte.
— Lydia, — disse Gabriel. Foi uma única palavra, mas foi tudo o que
foi necessário para deixar Lucius atualizado.
— Ela está aqui? — Lucius perguntou, perplexo. — Mas onde?
O Rei Gabriel apontou e Lucius se virou para seguir o que ele estava
apontando. O castelo Trinivan pairava sobre o resto da cidade de forma
ameaçadora, sua arquitetura consistia em uma série de torres e pontas
cristalinas, dando a aparência de um iceberg colossal.
— Então, — disse Lucius. — Suponho que devamos considerar este
um caso de matar dois coelhos com uma cajadada só.
— Hum, pessoal? — a voz de Redmond fez Gabriel e Lucius se
virarem. O Slifer da Terra estava olhando para cima, em direção aos
telhados dos prédios ao redor da praça. — Acho que podemos não estar
totalmente sozinhos aqui...
Gabriel olhou para cima e percebeu o que Redmond queria dizer.
Formas gigantescas e serpentinas se enroscavam nos pontos mais
altos dos edifícios, deslizando lentamente pelos telhados à medida que
começavam a convergir para a praça. Seus corpos eram feitos de gelo
transparente, tomando-os quase invisíveis para qualquer pessoa que não
estivesse conscientemente atenta a sinais de perigo.
À medida que se aproximavam, a serpente de gelo mais próxima abriu
sua boca larga, revelando duas presas parecidas com gelo do tamanho do
corpo de um homem. Um chiado arrepiante encheu o ar ao redor do
grupo quando a Realeza, os Slifers e o mago começaram a se preparar
para a batalha.
Gabriel deixou escapar um suspiro. — É por isso que odeio Trinivan.
LYDIA

Lydia caiu cansada contra a parede da masmorra, pendurada em suas


mãos algemadas. Evine decidira dar um tempo na tortura, embora Lydia
soubesse que suas motivações para isso estavam longe de ser altruístas.
Eles claramente a queriam viva, o que significa que Evine era calculista
o suficiente para evitar quebrar acidentalmente seu novo brinquedo sem
possibilidade de conserto.
No entanto, a mestra sombria cobrou um grande impacto sobre ela:
uma série de exsudação, cortes rasos e rasgos cruzavam o corpo da Slifer.
O sangue gotejava do rosto e do couro cabeludo de Lydia, ardendo em
seus olhos e deixando um gosto metálico na boca. Pior de tudo, a Slifer se
viu completamente esgotada de sua força, sem a energia necessária até
para gritar de frustração. Então, em vez disso, Lydia apenas ficou
pendurada ali, vagando intermitentemente da consciência para a
inconsciência, imaginando fugas e resgates que nunca aconteceriam.
Não havia janelas na câmara da masmorra; como tal, não havia como
Lydia determinar quanto tempo havia passado desde a partida de Evine.
A fadiga mental começou a se instalar enquanto Lydia ponderava suas
opções, apenas para perceber que não tinha nenhuma. O coração da
Slifer afundou em resignação quando ela começou a perceber que ela
morreria nesta cela, ou pior: se tomaria a próxima escrava de Evine.
Quando ela voltou a adormecer mais uma vez, a Slifer de repente
ouviu uma voz, distante mas inconfundível, ecoando em sua própria
mente:
Lux: Lydia...

Lydia:...

Lux: Lydia, você pode me ouvir?

Lydia:...

Lydia:... Luxus?

Lux: Em carne e osso!

Lux: Bem, não literalmente, infelizmente.

Lydia: Isso é só um sonho, não é?

Lydia: Você foi morto... Eu me lembro disso.

Lydia: Isso não pode ser real.

Lux: Talvez você tenha razão.

Lux: Talvez eu não seja real, e isso tudo é apenas uma invenção da sua imaginação.

Lux: Mas de verdade ou não, não suporto ver você sofrendo assim.

Lydia: Não tenho certeza de quanto mais disso eu aguento, Lux.


Lydia: Gabriel... Lucius... Eu nem sei se eles estão seguros.

Lux: Bem, só há uma maneira de descobrir, certo?

Lydia: O que você quer dizer?

Lux: Você tem que sobreviver a isso, Lydia.

Lux: Você tem que aguentar.

Lydia: Não sei se consigo.

Lydia: Não sem Gabriel...

Lux: Eu sei que você consegue.

Lux: Você é mais forte do que isso, Lydia.

Lux: Gabriel não é a fonte do seu poder.

Lux: Você é.

*
Lydia foi repentinamente despertada pelo som da porta da câmara se
abrindo. Enquanto piscava cansada os olhos para focar, Lydia viu Dorian
parado na porta.
Em sua mão estava uma pedra verde polida.
Capítulo 24
A BATALHA POR TRINIVAN
LYDIA

— Eu sinto muito por tudo que ela fez você passar, — disse Dorian,
aproximando-se de Lydia em sua cela de masmorra com um olhar de
desculpas em seu rosto. — Mas, para ser justo, suponho que parte da
culpa também seja sua.
Lydia cerrou os dentes com raiva. Ela pensava que Dorian era
confiável, mas agora ela conhecia quem ele era de verdade: o pior tipo de
canalha — o tipo que pensa que é um herói.
Com a mão livre, Dorian a estendeu para Lydia, que fracamente
recuou com sua força restante. Dorian abaixou a mão, parecendo
abatido.
— Eu gostaria que você apenas tivesse tido tempo para ouvir a razão,
— disse ele. — Se você tivesse vindo conosco de boa vontade, nada disso
seria necessário. Você causou isso e agora tem que sofrer as
consequências.
O medo começou a dominar a mente de Lydia. Não havia realmente
como escapar disso?
O mago olhou para a pedra jade polida em sua mão, acariciando-a
levemente com o polegar. — Mas suponho que nada disso importe agora,
— ele meditou. — Seus poderes estão diminuindo, não estão? Posso
sentir tão claramente quanto você. Logo você não será nada além de
brasas.
Lydia lutou o melhor que pôde para tentar provar que ele estava
errado. De jeito nenhum ela daria a este idiota chorão a satisfação de ver
sua vulnerabilidade.
Em um acesso de desespero, Lydia tentou invocar magia suficiente
para derreter através das algemas em seus pulsos...
Nada aconteceu.
— Entende o que quero dizer? — Dorian perguntou. — Você está
apenas atiçando as cinzas neste momento. Você também pode parar de
tentar; você já passou do ponto de isso te fazer algum bem.
Dorian ergueu a pedra, aproximando-se de Lydia.
— Eu posso te fazer feliz, Lydia, — ele disse suavemente. — Você pode
não acreditar em mim agora, mas eu serei capaz de mostrar a você em
breve. Assim que Gabriel e os outros estiverem fora de cogitação, poderei
oferecer a você tudo o que você possa desejar. Você vai esquecê-lo em
breve, e nós dois ficaremos muito mais felizes por isso.
Ele brandiu a pedra. — Você só precisa me dar uma chance.
Lydia lutou para desviar a cabeça de Dorian enquanto ele movia a
pedra em sua direção, mas sua energia estava completamente esgotada.
— Apenas espere, — disse Dorian, sua voz um sussurro ameaçador
enquanto ele se aproximava de Lydia. — Algum dia, vamos olhar para
trás e rir...
GABRIEL

Gabriel correu em direção aos portões do castelo a toda velocidade, a


neve pesada puxando suas botas enquanto ele o fazia. Ao seu redor, o ar
do inverno explodiu em um caos total. Adria, Redmond e Elise estavam
lutando para afastar as serpentes de gelo que atualmente convergiam na
direção deles.
Enquanto Gabriel se aproximava do castelo, a cabeça cristalina de
uma das serpentes emergiu de um beco próximo, suas mandíbulas
escancaradas em antecipação.
Gabriel se preparou e...
Fwoosh!
Uma onda de ar quente tomou conta de Gabriel, fazendo com que sua
capa ondulasse diante dele e obscurecesse sua visão. Quando o vento
diminuiu, Gabriel viu o corpo da serpente desabar sem vida no solo
coberto de neve, sua cabeça derretida em um toco úmido e gotejante.
Virando-se, Gabriel viu Lucius e Elise parados diretamente atrás dele e
percebeu que a rajada de ar quente deve ter sido um esforço combinado
da parte deles.
— Posso não ser um Slifer, — disse Lucius, estalando os nós dos dedos
ruidosamente. — Mas eu conheço magia o suficiente para acompanhar
vocês, filhotes.
— Cuidado com quem você está chamando de jovem, — disse Gabriel,
sorrindo.
— Comparado a mim, — Lucius retrucou, — você ainda é uma muda.
Você deveria aprender a respeitar os mais velhos, vossa majestade.
— Talvez possamos reagendar esta competição idiota para outro
momento, — Elise gritou. — Antes de mais nada — vamos terminar a
missão.
Gabriel enrubesceu de vergonha. — Concordo, — disse ele.
O rei se virou para o castelo. O prédio era cercado por um fosso que
atualmente estava coberto de gelo. Uma ponte levadiça robusta de
carvalho negro obstruía a entrada principal, com uma crosta de gelo da
chuva congelante.
— Afaste-se, — disse Gabriel, dando um passo pesado para frente. —
Eu posso fazer isso sozinho, pelo menos.
Lucius e Elise observaram enquanto vários tentáculos de sombra
negra se estendiam do solo em tomo dos pés do Rei Gabriel. As gavinhas
se estenderam em direção à grande ponte levadiça de carvalho, abrindo
caminho nas fendas minúsculas entre ela e a entrada real.
Com um forte gemido de Gabriel, houve o som de gelo quebrando e
madeira rangendo enquanto as gavinhas puxavam com força contra a
ponte levadiça, soltando-a de sua posição vertical e puxando-a para baixo
até que o portão de entrada estivesse totalmente aberto.
Gabriel levou um momento, lutando para recuperar o fôlego. Lucius
deu um tapinha em seu ombro.
— Você venceu a competição idiota por enquanto, — disse ele. —
Agora vamos salvar Lydia.
— Não vamos nos precipitar agora, — disse uma voz.
Elise, Lucius e Gabriel olharam para frente para ver Jora parado no
portão agora aberto do castelo. O Caçador de Feiticeiros de olhos cheios
de cicatrizes brandia uma espada longa, que segurava com uma das mãos.
— Jora, — disse Gabriel, sua voz tensa.
— Não apenas Jora, — disse o Caçador de Feiticeiros. Como se fosse
uma deixa, outra figura saiu lentamente do canto do portal. Quando a
figura apareceu, Elise soltou um suspiro agudo, cobrindo a boca com as
duas mãos.
— Calix, — ela disse, sua voz cheia de dor ao ver seu companheiro.
Com certeza, o monarca encantado estava diante deles. A pedra jade
incrustada em sua testa brilhou com uma camada adicional de luz;
quando Gabriel focalizou seus olhos, ele pôde ver que a pedra parecia
estar envolta em uma camada protetora de gelo.
— Parece que precisamos dividir nossos esforços, — disse Lucius. —
Elise, você acha que pode desalojar aquela pedra da cabeça do Rei Calix?
Elise engoliu em seco, enrijecendo-se quando o ar começou a girar ao
seu redor. — Eu definitivamente posso tentar.
Gabriel acenou com a cabeça, embora sua confiança estivesse abalada
na melhor das hipóteses. Ele sabia que estava pedindo muito à Slifer do
Ar, mas não via outra opção.
Vamos torcer para que todo o treinamento dela com Lydia valha a pena...
— Bom o suficiente para mim, — Lucius respondeu. — Gabriel, você
pode sentir a presença de Lydia. Encontre-a antes que mais algum mal
aconteça a ela. Quanto a este bastardo caolho...
Lucius deu um passo à frente, as pontas dos dedos estalando com
energia. — Deixe-o comigo.
Lydia: Onde estou?

Dorian: Olá, Lydia.

Lydia: Dorian?

Lydia: O que você fez comigo?

Dorian: Nada ainda.

Dorian: A pedra jade cria um vínculo mental entre seu hospedeiro e o criador.

Dorian: No seu estado atual, eu simplesmente pensei que essa seria uma maneira mais
direta de nos comunicarmos.

Lydia: Saia da minha cabeça.


Dorian: Mesmo prestes a se tornar uma escrava, você continua tão forte como sempre.

Dorian: Isso é o que mais amo em você, Lydia. Você sempre fala o que pensa.

Lydia: Eu me recuso a cumprir suas ordens, Dorian, e nunca vou te amar.

Lydia: Se você realmente soubesse algo sobre mim, saberia que nunca me permitirei ser
controlada por outra pessoa.

Dorian: E ainda assim você se permite ser controlada pelo destino.

Dorian: Pelo Rei Gabriel.

Dorian: Por Lucius Voltaire.

Dorian: Por seu pai, Decimus.

Dorian: Você fala de controle como se realmente soubesse o que significava, quando a
verdade é que você nunca esteve no controle de sua própria vida ou ações.

Dorian: Você não vê, Lydia? Não sou eu quem controla você.

Dorian: Sou eu que vou libertar você.

*
— Lydia?... Lydia! Deuses, por favor, acorde.
Lydia acordou lentamente e se viu olhando para um rosto familiar.
— Gabriel, — disse ela, sorrindo fracamente para ele. Seu coração se
encheu de alegria com a visão nebulosa de seu amado companheiro.
Livre de suas algemas, a Slifer se viu embalada nos braços de Gabriel
enquanto o rei se ajoelhava no chão da masmorra. Ela mal podia
acreditar que ele era real.
— Dorian esteve aqui... — ela murmurou. — Onde ele está?
— O desgraçado se teletransportou assim que eu arrombei a porta, —
Gabriel respondeu. Com certeza, a porta da câmara da masmorra estava
aberta, pendurada precariamente em uma única dobradiça.
— Mas isso não importa agora. Estou com você e você está segura.
A compreensão a atingiu e, lentamente, fracamente, Lydia estendeu a
mão e colocou a mão na testa. Para seu alívio, ela não sentiu a superfície
lisa da pedra jade, apenas a camada pegajosa de sangue semisseco que
cobria seu rosto.
Virando a cabeça ligeiramente, ela notou algumas partículas de
fragmentos cor de jade espalhados pelo chão e rapidamente juntou dois
mais dois.
— Vamos, — disse Gabriel. — Vamos tirar você daqui.
Em vez de se teletransportar, Gabriel preferiu caminhar, carregando
Lydia pelos corredores das masmorras em direção à superfície.
— Antes de eu sair, Lucius e Elise estavam ocupados lutando contra
Calix e aquele Caçador de Feiticeiros lá em cima, — ele explicou
enquanto avançava. — E você não está em condições de entrar nessa
briga. Melhor agirmos com precaução.
Não havia sinal de Evine enquanto eles se moviam pelo castelo. Lydia
continuava esperando que ela saltasse por trás de cada esquina e portas
fechadas, com uma adaga na mão... e ainda assim, ela nunca o fez. A
Slifer especulou que ela deve ter desaparecido com Dorian quando a
equipe de resgate chegou.
Finalmente alcançando a superfície, Gabriel abriu caminho pelo pátio
em direção aos portões da frente do castelo. Parecia que a luta quase
terminara neste ponto; enquanto grande parte do pátio estava em ruínas,
Lydia pôde ver Redmond e Adria sentados entre os escombros, ambos
sem fôlego.
— Lydia! — a Slifer ouviu a voz de Lucius quando o velho mago veio
trêmulo em sua direção. — Você está bem? Deuses, o que eles fizeram
com você?
— Eu vou ficar bem, Lucius, — disse Lydia, fracamente e um pouco
não convincente. — Eu só preciso de um momento para descansar.
— Fico feliz em ver que você está bem, Lucius, — disse Gabriel. —
Diga-me, o que aconteceu com Jora?
— Bem, ele certamente me deu trabalho. Isso até eu derrubar uma
parte das paredes do castelo em sua cabeça. Esmaguei-o.
O mago esfregou o nariz. — Desnecessário dizer que esse é um
Caçador de Feiticeiros que não vai nos incomodar por um tempo.
Contudo...
Lydia percebeu que Lucius parecia um tanto desamparado. — Isso não
quer dizer que esta batalha não tenha sofrido baixas do nosso lado
também.
Lydia sentiu o peito de Gabriel subir quando o rei soltou um suspiro.
Foi então que ela notou duas figuras um pouco mais à frente,
descansando na ponte levadiça de madeira.
Ela viu a Slifer do Ar, Elise Moran, apoiada em ambos os joelhos com a
cabeça baixa, sua expressão ilegível.
Deitado em seu colo estava o cadáver do Rei Calix, com um longo
pedaço de gelo ainda perfurando seu peito.
Capítulo 25
UMA OFERTA DE CONDOLÊNCIAS
LYDIA

Após a batalha em Trinivan, alguns dias misericordiosos se passaram


sem incidentes.
Lydia e os outros voltaram para Ellesmere, onde a Slifer do Fogo
conseguiu dedicar um tempo para recuperar suas forças e permitir que
suas feridas sarassem.
Redmond conseguiu um bálsamo mágico para Lydia feito de uma
seleção de ervas e flores especializadas, que ajudou a esconder os muitos
ferimentos que Lydia havia sofrido e evitou que deixassem cicatrizes.
Em dois dias, a evidência do trabalho de Evine era pouco mais do que
uma série de linhas tênues e desbotadas no corpo de Lydia, e em mais um
dia até mesmo essas eram pouco mais do que uma lembrança
desagradável.
Foi no segundo dia que Lydia decidiu testar a extensão de sua
recuperação aventurando-se fora de seus aposentos, vagando pelos
corredores vazios do castelo de Ellesmere.
Foi ao passar por um desses corredores que encontrou Elise, olhando
para a mesma vista da sacada onde ela mesma estivera alguns dias antes.
Elise não tinha falado com ninguém desde o retomo de Trinivan. Com
base no relato de Lucius, a Slifer não conseguiu remover com segurança a
pedra jade que controlava o Rei Calix. Depois de lutar para passar pelas
bestas guardiãs de Uzier, Redmond e Adria chegaram aos portões do
castelo e tentaram ajudar Elise.
Quando Calix ameaçou destruir Redmond e Adria em sua violência,
Elise foi forçada a intervir, usando sua magia do vento para lançar um
turbilhão de pingentes de gelo em forma de lança no coração do rei
encantado.
O Rei Calix foi o primeiro entre os membros da Realeza que os Slifers
não conseguiram salvar. Lydia não conseguia nem começar a imaginar o
tipo de dor emocional que Elise deveria estar sentindo.
Por mais que odiasse admitir, Lydia esperava evitar essa conversa em
particular com Elise. A Slifer do Fogo sabia muito bem que nenhuma
quantidade de palavras amáveis ou condolências eram suficientes para
remover a dor aguda que acompanhou a perda de um ente querido. O
que se poderia dizer nesta situação?
Lydia sabia que se alguma coisa tivesse acontecido com Gabriel, ela
provavelmente estaria tão inconsolável quanto Elise estava agora.
Ainda assim, ela tinha que dizer algo, certo?
Respirando fundo, Lydia lentamente se aproximou de Elise na
varanda.
— Ei.
Elise não disse nada em resposta.
Lydia respirou fundo. — Você não precisa dizer nada se não quiser, —
disse ela. — Eu sei que também não diria se fosse eu.
Elise olhava fixamente para a frente, sem dar nenhuma indicação de
que estava ouvindo.
— Mas, se você quiser conversar, o resto de nós está aqui para oferecer
qualquer ajuda que pudermos. — Elise virou lentamente a cabeça. Lydia
esperava que os olhos da Slifer estivessem vermelhos e inchados de tanto
chorar; em vez disso, seus olhos estavam simplesmente vidrados e
mortos.
— Não posso ser ajudada, Lydia, — disse Elise com tristeza. — Calix
está morto e é tudo minha culpa. Eu falhei com ele.
Lydia fez uma pausa, lutando enquanto tentava pensar em uma
resposta apropriada. Elise continuou: — Deixe-me perguntar uma coisa:
de que adianta ser uma Slifer se não posso nem usar esses poderes para
proteger as pessoas de quem gosto? Se eu pudesse perder minhas
habilidades como Slifer para trazer Calix de volta, eu o faria.
Elise voltou seu olhar para a varanda, para a vista, com sua expressão
ainda vazia.
— Talvez todos nós estaríamos melhor se eu não fosse uma Slifer
antes de mais nada.
Essa sugestão pegou Lydia desprevenida. Mesmo que ela nem sempre
gostasse, ser uma Slifer estava enraizado na identidade de Lydia
enquanto ela estava viva. Até agora, a ideia de ser qualquer coisa diferente
de Slifer nunca havia passado por sua mente.
Ao mesmo tempo, os pensamentos de Lydia voltaram para o que
Dorian havia dito a ela; embora ela soubesse que ele estava apenas
tentando manipulá-la, ele não estava errado no fato de que seu papel
como Slifer significava que ela era mais ou menos um brinquedo do —
destino, — seja lá o que isso implicasse.
Ela teria sido mais feliz se nunca tivesse nascido Slifer?
No mínimo, ela sem dúvida seria mais livre: livre para tomar suas
próprias decisões de vida, sem que sua vida fosse ditada pelos caprichos
das pessoas e dos Deuses que pretendiam usá-la para algum propósito
nobre. Esse foi certamente um cenário atraente para sonhar acordada.
Claro, se ela nunca fosse uma Slifer, ela nunca teria conhecido Gabriel
também...
Lydia descartou esses pensamentos dispersos de sua cabeça,
reorientando seus esforços para ajudar Elise.
— Olha, — ela disse. — Não vou amenizar a situação, Elise. Não vou
te dar uma história adocicada de que tudo vai ficar bem no final. Porque
não vai.
— Você perdeu alguém que amava, e isso é terrível. É uma maldita
tragédia. Dizer qualquer coisa que sugira o contrário seria um insulto
para você e para a memória do rei Calix.
Elise se virou para olhar para Lydia, assustada com essa explosão
repentina.
— Para ser honesta, — Lydia continuou. — Não tenho certeza se as
coisas vão melhorar tão cedo.
Estamos no meio de uma guerra. Fui traída por alguém em quem
pensei poder confiar, sequestrada, torturada e quase transformada no
fantoche estúpido de uma bruxa assassina. Também não foi a minha
semana mais agradável, afinal de contas.
A Slifer do Fogo respirou fundo. — No entanto, — ela disse. — O que
você sugere que façamos em resposta a esses eventos? Devemos
simplesmente passar um tempo afundando em nossa culpa e tristeza,
então esperar que Uzier e seus capangas nos ataquem sem lhes
proporcionar uma luta?
Elise olhou para seus pés, de repente parecendo culpada.
— Ou, — disse Lydia, — deveríamos, em vez disso, pegar toda essa
emoção negativa e canalizá-la para algo que seja possivelmente mais
construtivo? Digamos, por exemplo, destruindo Uzier e Evine e evitando
que eles e seus lacaios causem problemas novamente?
Elise demorou um pouco antes de responder.
— Eu... suponho que a última opção seja preferível.
— O que Calix faria nesta situação? — perguntou Lydia.
— Ele iria... ele iria lutar. Para me vingar, — disse Elise. — Não há
dúvida sobre isso.
Lydia acenou com a cabeça. — Algo a se pensar, — concluiu ela, — e
sinto muito por sua perda.
A Slifer do Fogo saiu pela porta da varanda aberta e fez meio caminho
pelo corredor antes de parar para questionar se o que ela disse tinha sido
apropriado.
No mínimo, ela esperava que suas explosões não tivessem piorado a
situação de Elise. Ainda assim, ela manteve a crença de que o que disse
era verdade e, portanto, precisava ser dito.
Além disso, não havia tempo para pensar em tentativas fracas de
discurso motivacional. Havia outra coisa que ela precisava fazer agora
que tinha suas forças de volta.
— Lydia — — Gabriel começou quando ela dobrou o corredor que
levava a seus aposentos. O rei estava parado do lado de fora da porta de
seu quarto; pareceria que ele pretendia ver como ela estava antes de
perceber que ela não estava.
Antes que Gabriel tivesse a chance de terminar a frase, Lydia já estava
sobre ele, envolvendo os braços em volta do pescoço e beijando-o
profundamente.
— Venha, — disse ela, abrindo a porta do quarto. Foi uma instrução,
não um pedido. Sem outra palavra, Gabriel a seguiu para dentro.
A Slifer do Fogo tirou suas roupas e se deitou na cama, provocando o
rei com sua nudez.
A tristeza de Elise perder Calix a fez querer saborear cada segundo que
tinha com Gabriel. Principalmente no quarto.
Ela viu Gabriel morder os lábios enquanto caminhava em sua direção,
descartando apressadamente suas próprias roupas. Lydia estudou a
geografia de seu corpo. Seu queixo em forma de penhasco, as colinas de
seus peitorais, o fluxo crescente de cabelo das planícies planas de seu
abdômen até seu pênis montanhoso abaixo...
Ela ficou molhada com desejo, com vapor praticamente subindo de
seu sexo ardente.
— Venha aqui e me foda, — ela instruiu.
— Só porque você pediu com educação, — disse Gabriel com uma
piscadela.
Ele se juntou a ela na cama, seus dedos conectando-se com seu clitóris
como se atraídos por uma força magnética. Ele a esfregou suavemente,
então lentamente ganhou velocidade. Lydia mal conseguia se manter à
tona nas ondas de êxtase que atormentavam seu corpo.
Ela agarrou os lençóis enquanto Gabriel mergulhava dois dedos
dentro dela, curvando-os para trás para acariciar sua parede mais
sensível. A qualquer segundo, o intenso prazer ameaçava fazê-la gozar
como uma tempestade de verão...
Mas ela queria ser fodida apropriadamente primeiro.
Lydia alcançou a masculinidade de Gabriel, acariciando seu eixo
alongado antes de guiá-lo em sua direção. Os dedos de Gabriel
escorregaram para fora de seu sexo apenas para serem substituídos por
seu membro latejante.
Se Lydia já não tivesse o sentido tantas vezes, ela teria jurado que ele
era demais para ela. Ela estremeceu com a doce sensação dele enchendo-
a.
Gabriel começou a empurrar...
E empurrar...
E empurrar!
Ele olhou profundamente nos olhos de Lydia, como se tentasse ler
cada desejo de sua amada.
Foda-me parei sempre, Lydia pensou febrilmente, sentindo o prazer
começar a levar o melhor dela.
Gabriel de repente a virou, ainda dentro dela enquanto começava a
penetrá-la por trás, indo mais fundo em seu núcleo com cada investida...
Lydia soltou um gemido primitivo quando finalmente gozou, Gabriel
terminando logo depois. Ela apreciou a liberação de seu líquido entre
suas pernas enquanto ele se retirava suavemente.
Ela nunca deixaria que o destino de Calix se abatesse sobre Gabriel.
Não enquanto o sexo deles fosse tão bom.
GABRIEL

— Agatha está enviando um exército para Freyr, — disse Gabriel


enquanto os dois se reclinavam na cama. O rei suava visivelmente;
claramente, ele não havia previsto um treino tão intenso logo após uma
batalha igualmente feroz.
O rei olhou para Lydia, reclinando-se de costas e também
recuperando o fôlego.
Sua pele nua parecia banhada por um brilho vermelho-laranja, seus
seios erguendo-se acima dos lençóis à prova de fogo como um nascer do
sol gêmeo.
— Freyr? — Lydia perguntou. — O que a deixa tão convencida de que
Uzier vai atacar lá a seguir?
— Em termos simples, — respondeu Gabriel, — porque é o único
lugar até agora que ainda não foi atacado.
Lydia refletiu sobre essa informação. — Suponho que você se juntará a
este exército, então.
— É meu dever jurado como um membro da Realeza de Ignolia, —
Gabriel respondeu.
— Provavelmente atacando nas linhas de frente, sem dúvida.
— Existe uma possibilidade distinta disso, sim.
— Perfeito, — disse Lydia. — O que devo levar para a viagem?
Gabriel ergueu uma sobrancelha para ela. — Você não pode estar
falando sério, — disse ele em descrença. — Depois de tudo que você
passou, você acha que está em boas condições para lutar outra batalha?
— Depois do que acabamos de fazer, você deve saber do que sou
fisicamente capaz, — Lydia retrucou. — E também, você é um idiota se
pensa que vou deixar você partir e lutar sozinho.
— Isto não está aberto a discussão, — disse Gabriel.
— Sim, concordo, — disse Lydia. — É por isso que eu vou, e você não
pode me impedir.
— Vou chamar os guardas do castelo, — disse Gabriel indignado. —
Mandarei que a confinem em seus aposentos até meu retomo de Freyr.
Lydia zombou. — Você realmente acha que os guardas do castelo serão
o suficiente para me impedir? — ela perguntou incrédula. — Ou você
esqueceu que eu posso literalmente me teletransportar?
— Minha decisão ainda é a mesma, — disse Gabriel com firmeza. —
Não vou permitir que mais nenhum mal aconteça a você.
— Como você acha que me sinto sobre toda essa situação? —
perguntou Lydia. — Da última vez que te deixei com seus próprios
recursos, você voltou como uma espécie de marionete movida a jade.
Não estou exatamente ansiosa para que isso aconteça novamente.
Gabriel suspirou, incapaz de pensar em uma resposta.
A verdade era simples, ele queria manter Lydia segura, embora
também não quisesse deixá-la para trás.
Embora ele preferisse não admitir, a Slifer era forte o suficiente para
não precisar de sua proteção e, talvez de forma mais egoísta, ele
dificilmente queria se separar dela por mais tempo do que o necessário,
especialmente quando tinham voltado a ter intimidade há pouco tempo.
— Olha, — disse Lydia, segurando a mão de Gabriel na dela. — Somos
uma equipe. Isso é o que os deuses parecem ter pretendido para nós, de
qualquer maneira. Somos mais fortes quando estamos juntos.
Ela se inclinou e o beijou, enviando uma sensação de formigamento
por seu corpo. — Entende? — ela disse.
Gabriel sorriu. — Muito bem, — respondeu ele. — Partimos para
Freyr amanhã.
EVINE
De seu esconderijo entre as árvores, Evine observou fileira após fileira
de soldados começarem a marchar do castelo de Ellesmere, seus cavalos e
carroças movendo-se em formação em direção à distante cidade de Freyr.
Os lábios de Evine lentamente começaram a se curvar em um sorriso
malicioso.
Tudo estava indo de acordo com o planejado.
Se eles querem ter uma batalha, pensou consigo mesma, suponho que
devemos fazer o nosso melhor para lhes dar uma.
Capítulo 26
ESFORÇOS DIVIDIDOS
EVINE

O estrondo de um trovão ecoou sobre o castelo enquanto um


aguaceiro de chuva batia implacavelmente contra o caminho de
paralelepípedos que saía de sua entrada principal.
Um dia se passou desde que a maior parte das forças de Ellesmere
partiu para a cidade de Freyr, deixando apenas um pequeno contingente
de guardas postados como defesas do castelo.
Com a maioria dos protetores mágicos usuais do castelo também
ajudando no esforço de guerra, os guardas restantes de Ellesmere
também não tinham o benefício de proteções de detecção, exigindo que
eles mantivessem um perímetro defensivo no castelo da maneira antiga.
A chanceler Agatha Alastair estava a caminho para verificar os guardas
quando outro estrondo de trovão ecoou acima. Ela estalou a língua com
desgosto com o clima atroz.
Quase me faz desejar estar na linha de frente, ela meditou. Pelo menos
Freyr provavelmente tem um clima mais tolerável do que este.
Nesse momento, um relâmpago clareou o céu, iluminando uma figura
de pé no parapeito à sua frente, curvada como uma gárgula. Outro flash,
e a chanceler assistia com terror silencioso enquanto a figura se erguia
em toda a sua altura.
— Olá, — disse Evine. Seu cabelo comprido estava emaranhado em
seu rosto pela chuva torrencial, dando-lhe uma aparência especialmente
fantasmagórica. — Com certeza está um tempo terrível para uma
invasão, você não concorda?
LYDIA

O exército que partia para Freyr havia parado para armar um


acampamento e passar a noite em uma clareira considerável na orla de
uma vasta floresta. Enquanto os soldados erguiam suas tendas e
coletavam lenha para a noite adiante, Lydia vagava pelas fileiras inquieta,
tentando descobrir para onde Gabriel tinha ido.
Quando ela alcançou os arredores do acampamento, ela encontrou
Lucius, sentado sozinho na beira de um pequeno lago.
Lydia soltou um suspiro audível. Essa era outra conversa que ela
esperava evitar por enquanto. Mesmo assim, agora era um momento tão
bom quanto qualquer outro...
Lydia casualmente caminhou até o velho mago e sentou-se de pernas
cruzadas ao lado dele. Ela olhou para o lago, onde um aglomerado de
libélulas estava voando de um lado para outro entre as longas taboas que
se projetavam da água.
— Então, — ela disse. — Gabriel me disse que você parou de beber.
Lucius respirou fundo antes de responder.
— Por mais que me dói admitir, — disse ele. — Vou realmente precisar
de minha inteligência para o que está por vir.
Lydia olhou para ele. — Isso foi tudo o que foi preciso, então? — ela
perguntou duvidosamente.
— Bem, — Lucius coçou a barba. — Suponho que não seja tudo,
admito.
Lydia sabia que ele estava se referindo ao desaparecimento dela.
Lucius nunca iria admitir isso bêbado ou sóbrio, mas ele se importava
profundamente com a Slifer do Fogo que ele criou desde um bebê. Sua
sobriedade era um reconhecimento de que ele queria expiar por permitir
que ela fosse sequestrada sob seu nariz vermelho.
Houve uma pausa enquanto os dois sentados lado a lado
permaneciam em silêncio, observando as libélulas.
— Esta é uma guerra perigosa, — disse Lucius por fim.
— Todas as guerras são perigosas, — respondeu Lydia. — São ossos do
ofício, eu acho.
— Talvez, — disse Lucius. — Mas esta guerra é especificamente mais
perigosa do que a maioria. — O velho mago suspirou. — Não vou tentar
medir minhas palavras, — disse Lucius. — Eu fui um guardião horrível
para você. A pedido de um poder superior, permiti-me tomar-me frio,
controlador e manipulador. Concordei em criá-la como um instrumento
dos Deuses, mas nunca parei para questionar se esta era ou não a vida
que você queria.
Lydia ouviu em silêncio.
Embora ela já tivesse visto as rachaduras na armadura do mago antes,
isso era algo totalmente diferente. O velho mago atualmente sóbrio
estava deixando suas paredes ruírem completamente, tomando-se
emocionalmente vulnerável de uma forma que ela nunca tinha visto
antes.
Deve ser assim que as crianças se sentem, pensou Lydia, quando
percebem que seus pais não são heróis, monstros ou santos, mas pessoas
reais e imperfeitas...
— Suponho que seja tarde demais para consertar as coisas, — Lucius
continuou. — Mas, no mínimo, posso fazer tudo ao meu alcance para
evitar que elas piorem. O que significa que farei tudo o que for necessário
para garantir que você saia desta guerra com vida.
Lydia sorriu fracamente, as lágrimas brilhando nos cantos dos olhos.
— Obrigada, vovó, — ela disse fracamente. — E para constar, acho que
você fez o melhor que podia na sua situação.
Lucius encolheu os ombros. — Eu gostaria de pensar dessa forma, —
disse ele. — Mas, ainda assim, sinto como se tivesse roubado a sua
autoridade com minha cumplicidade neste chamado destino.
Lydia olhou para o lago. — Acho que vou começar a fazer meu próprio
destino, — respondeu ela. — E vou começar salvando Ignolia.
ELISE

Elise correu pelos corredores do Castelo de Ellesmere, sem arriscar a


chance de olhar por cima do ombro com medo de que isso pudesse
atrasá-la. Atrás dela, ela ouviu várias dezenas de passos enquanto um
grupo de Caçadores de Feiticeiros invasores a perseguia em uma caçada
obstinada.
Ainda se recuperando de sua dor, a Slifer do Ar decidiu ficar para trás
enquanto o resto dos Slifers e a Realeza decidiram marchar sobre Freyr.
Ela agora estava começando a se arrepender dessa decisão.
Aproveitando suas habilidades naturais, Elise se concentrou quando
uma forte rajada de vento abriu as janelas do corredor. O ar girou em
tomo de Elise antes de criar um vento em popa, empurrando-a para
frente e aumentando sua velocidade de corrida para escapar dos
Caçadores de Feiticeiros.
Elise dobrou o corredor, apenas para encontrar um beco sem saída.
Mais especificamente, ela estava de volta à entrada, que levava à varanda
do castelo. Ouvindo gritos dos caçadores atrás dela, Elise respirou fundo
e, convocando seus poderes para ajudá-la em seu voo, deu um pulo
correndo por cima da borda da varanda...
... E imediatamente sentiu uma dor aguda e intensa em seu abdômen,
fazendo-a espiralar descontroladamente fora de controle e se espatifar
nos paralelepípedos abaixo.
Tentando se recuperar dessa aterrissagem dolorosa, Elise rolou de
lado para se levantar. O sangue se misturou à água acumulando-se entre
as rachaduras nos paralelepípedos enquanto a chuva continuava a cair
impiedosamente.
— Ninguém nunca te disse que pular de janelas é perigoso? — disse
uma voz.
De sua posição no chão, Elise ergueu uma mão manchada de sangue
para limpar o cabelo encharcado de chuva de seu rosto. Ela viu Evine,
caminhando lentamente em sua direção, com uma adaga na mão.
Sua barriga estava descoberta e Elise notou um corte recente
escorrendo sangue perto do quadril da mulher, no mesmo lugar onde a
própria Elise acabara de sentir uma dor aguda.
— Pobre rouxinol, — disse Evine, caminhando em direção à Elise
caída. Em sua visão periférica, a Slifer do Ar podia ver as formas dos
Caçadores de Feiticeiros movendo-se em sua direção também, cercando-
a por todos os lados.
— Parece que alguém teve que cortar suas asas.
Evine se agachou, olhando para Elise quase com simpatia.
— Acabou, — disse Evine. — Ellesmere caiu. A chanceler Agatha
Alastair do Congresso de Magia está morta pelas minhas mãos. Meus
Caçadores de Feiticeiros inundam as ruas da cidade. Você pode muito
bem se render neste momento e me poupar tempo.
Elise resmungou algo em resposta, sua voz abafada pela chuva e
trovões.
— Como? — perguntou Evine, fingindo educação. — Eu não ouvi
direito.
Elise falou de novo, sua voz um mero sussurro na tempestade que se
alastrava. Enquanto ela falava, uma rajada de vento soprou sobre a área,
obscurecendo ainda mais suas palavras.
— O que você disse? — Evine exigiu, a educação sumiu de sua voz. —
Exijo que você repita, Slifer!
Por meio de sua expressão de dor, Elise foi capaz de dar um sorriso
fraco, mas triunfante.
— Eu não estava falando com você.
Capítulo 27
SUSSURRO AO VENTO
LYDIA

— Bem, — disse Gabriel. — Aqui estamos.


O exército havia chegado à cidade de Freyr. A sonolenta comunidade
de pescadores estendia-se sob seu ponto de vista no topo de uma grande
colina com vista para o vasto oceano além de suas costas.
'Há algo errado, — disse Ayana após uma pausa.
'Tudo parece muito... normal.
Com certeza, enquanto Lydia olhava para Freyr lá embaixo, tudo
parecia realmente... normal. Não havia sinais de ataque, nenhum fogo se
espalhando, nenhum vestígio das forças de Uzier.
— Será que nossas suspeitas estavam erradas? — Gabriel se perguntou
em voz alta. — Se Freyr não é o próximo alvo de Uzier e Evine, então o
que é? — Nesse momento, uma brisa suave soprou sobre Lydia. Ao fazer
isso, um nó duro de choque e medo se formou em seu intestino.
Enquanto o vento soprava perto de seu ouvido, carregava a voz
inconfundível de Elise Moran, entregando uma mensagem levada pelo
próprio vento:
— Ellesmere está sob ataque.
Lydia rapidamente olhou nos olhos de Gabriel. Com base na
expressão dele, ela rapidamente deduziu que ele também recebera a
mensagem. Uma olhada nos outros confirmou que todos tinham ouvido
a voz de Elise no vento.
— Fomos enganados! — Lucius disparou. — Freyr nunca foi um alvo!
Uzier e Evine simplesmente queriam desviar nossos esforços aqui para
enfraquecer as defesas de Ellesmere.
— Isso soou como a voz de Elise! — Ayana disse.
— Você acha que ela está bem?
— Esperemos que sim, — disse Redmond, embora sua voz estivesse
cheia de preocupação.
— Lucius, — Gabriel disse com urgência. — Com que rapidez
podemos devolver o exército a Ellesmere?
— Você sabe a resposta tão bem quanto eu, — Lucius respondeu. —
Dois dias para chegar aqui, dois dias para voltar.
— Não podemos teletransportá-los? — Redmond sugeriu.
— Nem todos, — disse Lydia. — Teletransportar uma pessoa ou até
mesmo um pequeno grupo de pessoas é uma coisa. Agora teletransportar
um exército inteiro? Temo que isso esteja além da capacidade de um
Slifer.
— Parece que nosso curso de ação é óbvio, então, — disse Gabriel.
Redmond olhou para ele. — Você não pode estar falando sério, —
disse ele.
— Estamos sem opções, — respondeu Gabriel. — Nós podemos voltar
para Ellesmere. Não teremos o luxo de trazer um exército conosco, mas
seremos mais úteis lá do que estaríamos de braços cruzados aqui em
Freyr.
Lydia percebeu instantaneamente que Gabriel estava certo. Embora a
ideia de retomar a Ellesmere sem a força de um exército a preocupasse,
ela estava confiante de que seria capaz de lidar com isso... certo?
— Mas como sabemos para onde nos enviar? — Marsie perguntou. —
Não temos ideia de quais partes de Ellesmere estão sob o controle de
Uzier agora. Podemos acabar caindo diretamente em uma emboscada.
— Eu posso ter um lugar, — disse Lucius. — Uma casa segura
escondida localizada nos corredores subterrâneos sob o Castelo de
Ellesmere. No mínimo, poderíamos usá-la como um ponto de vantagem
para reunir informações sobre a extensão total do que aconteceu lá até
agora.
— Muito bem, — disse Marsie. — No entanto, vou escolher ficar para
trás com o exército. Afinal, alguém tem que manter as coisas sob controle
por aqui.
— O resto de vocês, foque em Lucius, — Gabriel continuou. — Ele
sabe a localização deste esconderijo, então será ele quem nos
teletransportará para lá.
A Realeza e os Slifers baixaram a cabeça em concentração. Lucius fez o
mesmo, e em um flash brilhante, tudo mudou...
EVINE

Dentro do edifício do Congresso de Magia, Evine estava atrás do


pódio do palestrante. Ela se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos
no pódio enquanto uma expressão entediada surgia em seu rosto.
— Por que eles estão demorando tanto? — ela se perguntou em voz
alta.
Como se fosse uma deixa, as portas principais do salão de congressos
se abriram dramaticamente. A figura intimidante que era Uzier entrou
no corredor, flanqueada de cada lado por Dorian e Rei Morrison.
— Bem, já era hora, — disse Evine, corrigindo a postura. —
Honestamente, você me deixou preocupada com a possibilidade de
perder sua própria festa de inauguração.
Uzier examinou o interior do corredor com os olhos fixos. — Este
castelo é certamente um substituto aceitável para nosso covil anterior, —
ele disse preguiçosamente. — E a Realeza e seus Slifers?
— Sem dúvida, chegando a Freyr neste momento, — disse Evine com
orgulho. — Podemos muito bem ter pedido a eles que deixassem a porta
dos fundos aberta para nós.
Uzier sorriu. — Suas décadas de planejamento estão finalmente à
beira da realização, — disse ele. — Apesar de nossos contratempos mais
recentes, — ele adicionou, Virando-se para encarar Dorian, que desviou o
olhar amuado.
— Não vejo por que devo ser o único responsável pela fuga de Lydia,
— disse ele. — Não vi nenhum de vocês dois contribuindo para evitar
isso.
— Não me teste, garoto, — Uzier repreendeu. — Minha paciência com
você está se esgotando. Comportamento insolente como esse é
impróprio para seu papel destinado ao meu braço direito.
Dorian se irritou, mas não disse mais nada.
— Bem, agora isso está bem mais alegre do que na maioria das nossas
reuniões de família, — disse Evine. — Você não concorda, Morrison?
O rei encantado não disse nada em resposta.
— Agora começa a próxima fase de nossa expansão, — disse Uzier. —
De Ellesmere, um novo império surgirá. Nossos Caçadores de Feiticeiros
se espalharão por todos os quatro cantos deste mundo amaldiçoado,
extinguindo a resistência onde quer que ela apareça. Minha vontade
estará além da de ferro, e devo supervisionar meu domínio de um trono
de obsidiana polida: fria, perfeita e eterna.
— Bem, isso parece absolutamente esplêndido, — disse Evine. —
Agora, o que você diria sobre um almoço? Regicídio abre o apetite, afinal.
Um estrondo distante interrompeu repentinamente a reunião, como
o som de uma pessoa correndo ouvido de longe. Os olhos negros como
carvão de Uzier examinaram a sala.
— Intrusos, — disse ele, sua voz um rosnado baixo. — Eu sinto uma
presença mágica diferente da nossa nas proximidades.
— Bem, parece que alguns de nossos amigos voltaram para
interromper nossa alegria, — disse Evine, desapontada. — Dorian, seja
bonzinho e vá procurar nossos hóspedes indesejados.
Capítulo 28
LOBOS ENCURRALADOS
LYDIA

Desta vez, Lydia estava totalmente preparada enquanto os lobos


celestiais se lançavam em sua direção. Ela evitou a primeira das duas
bestas com um floreio, lançando um pequeno raio de fogo enquanto o
fazia.
O projétil atingiu o lobo na lateral, quebrando-o no chão com um
grito
O segundo lobo tentou atacá-la. A Slifer se abaixou sob a criatura
enquanto ela saltava, disparando uma torrente de chamas diretamente
abaixo dela. O lobo disparou para cima, lutando para recuperar o
equilíbrio quando caiu no chão da caverna.
Levantando-se, Lydia olhou em volta, avaliando o caos que se
desenrolava ao seu redor.
O amplo espaço que constituía o esconderijo subterrâneo de repente
se tomou um lugar apertado enquanto os membros da Realeza e os
Slifers enfrentavam os Caçadores de Feiticeiros que agora inundavam o
local.
No centro de tudo estava Dorian, caminhando calmamente em
direção a Lydia. A Slifer adotou a postura de luta que Decimus lhe
ensinou quando as chamas começaram a girar e dançar para a vida em
tomo de seus punhos cerrados.
— Se você tivesse algum senso sobrando, você teria ficado longe deste
lugar, — disse Dorian, suas palavras gotejando veneno. — Eu esperava
passar por toda essa provação sem ter que machucar você.
— É um pouco tarde para isso, — respondeu Lydia. — Além disso, eu
nunca fui realmente do tipo passiva.
Dorian ergueu a mão e os lobos celestiais se levantaram. As feras
enormes começaram lentamente a cercar Lydia, esperando a ordem para
atacar.
— Por caridade, apresentarei a você uma oferta final, — disse ele. —
Junte-se a mim, Lydia, e podemos limpar este borrão de nossos destinos
e viver uma vida de acordo com nossos próprios desejos e vontades.
— Isso pode resultar em um conflito de interesses, — disse Lydia com
veemência. — No momento, todos os meus desejos e vontades atuais
parecem envolver matar você.
As bochechas da Slifer ficaram vermelhas quando ela sentiu sua raiva
aumentar.
Dorian sorriu. — Decepcionante, — disse ele, — mas não é
surpreendente. Nunca diga que eu me recusei a oferecer a você uma
chance final. — Dorian estalou os dedos, e os dois lobos correram para
frente novamente, desta vez mirando em Lydia em uma formação de
pinça.
Lydia se lançou no ar, impulsionando-se de maneira semelhante à sua
primeira luta contra Dorian. Desta vez, no entanto, Lydia sabia o que
estava acontecendo.
Empurrando a mão para trás no ar, Lydia soltou outra rajada de fogo,
alterando sua trajetória enquanto desviava em uma diagonal acentuada.
Em vez de pousar em cima de Dorian, Lydia deu um chute voador
bem no peito do mago, lançando-o para trás.
Lydia observou Dorian cambalear para trás e, em seguida, uma ponta
de madeira irrompeu de seu peito. O mago caiu para trás em uma raiz de
árvore que Redmond arrancou do chão, empalando-o. Dorian olhou para
a raiz maciça emergindo de seu peito, e então de volta para Lydia antes
que seus olhos nublassem completamente.
Por um momento, um sentimento fugaz de pena percorreu a mente
de Lydia. Apesar de tudo, ela conhecia Dorian como amigo há mais
tempo do que ele o conhecia como inimigo, e havia algo estranhamente
patético sobre a vida dele terminar tão rapidamente.
Ao mesmo tempo, no entanto, a outra parte de seu cérebro pensou:
Que se dane!
Os dois lobos celestiais soltaram um uivo triste antes de piscar e
desaparecer de vista.
O filho de Uzier e Evine, Dorian, estava morto.
Ao ver Dorian empalado na raiz, os Caçadores de Feiticeiros
sobreviventes imediatamente recuaram, correndo de volta para fora da
porta aberta para a escuridão além.
— Onde você acha que eles estão indo? — Ayana perguntou,
observando os caçadores recuando em confusão.
— Sem dúvida, estão indo contar aos seus mestres o que acabou de
acontecer, — disse Lucius. — Parece que nosso esconderijo já foi
comprometido.
— O que vamos fazer agora? — perguntou Lydia. — Devemos ficar e
lutar, ou devemos tentar fugir antes que a notícia chegue a Uzier?
Gabriel levou um momento para fazer um balanço de suas opções.
— Eles sabem deste lugar agora, — disse ele.
— Se fugirmos, teremos perdido para sempre o elemento surpresa ao
recuperar Ellesmere.
Ele olhou para os outros.
— Em outras palavras, — ele disse. — Não temos escolha a não ser
ficar e lutar.
Lucius acenou com a cabeça sabiamente. — Se for preciso, — disse
ele. — No entanto, devo recomendar que não esperemos simplesmente
que eles venham até nós desta vez.
Ele gesticulou para a câmara do esconderijo ao redor deles. — Toda
essa área é um beco sem saída — disse ele. — Se Caçadores de Feiticeiros
suficientes forem capazes de se afunilar aqui, certamente seríamos
oprimidos por números absolutos rapidamente.
— Nesse caso, — disse Lydia. — Talvez seja a hora de levarmos essa
luta diretamente para Uzier.
EVINE

— Mestra Evine! — chamou um dos Caçadores de Feiticeiros. Evine


ergueu os olhos do pódio quando o grupo de caçadores invadiu o salão
do congresso.
— O que foi agora? — Evine perguntou, visivelmente irritada.
— A Realeza e seus Slifers estão embaixo do castelo! — o líder dos
caçadores gaguejou. — Tentamos emboscá-los, mas eles conseguiram
resistir ao nosso ataque.
— Bem, lá se vai a boa vizinhança, — disse Evine.
— Isso não é tudo, mestra, — disse o caçador líder, de repente
parecendo nervoso.
Os olhos de Evine se estreitaram ameaçadoramente. — O que você
quer dizer?
— Seu filho, Dorian, — o caçador disse. — Os Slifers... eles o mataram,
minha mestra. — A temperatura dentro do prédio do congresso pareceu
cair vários graus. Evine se levantou em toda a sua altura. Os Caçadores de
Feiticeiros se encolheram de medo.
— E mesmo? — ela disse. Seu rosto era uma máscara de estoicismo,
mas os caçadores podiam sentir a emoção crua no ar ao seu redor. Evine
estava de luto, embora não se permitisse ser vista fazendo isso.
— É doloroso para mim te dizer isso, minha mestra, — disse o caçador
líder, estremecendo.
Evine fez uma pausa. — Vocês se saíram bem em entregar essas
informações para mim, — disse ela aos caçadores. — Agora, podem ir.
Encontrem a Realeza e seus Slifers. Eu cuidarei do resto.
Os Caçadores de Feiticeiros assentiram e imediatamente deram meia-
volta e se espalharam para fora do prédio. Assim que eles saíram, Evine
colocou a mão acima da cabeça, concentrando-se enquanto todo o
potencial de sua magia do sangue começava a fazer efeito.
— A hora para misericórdia já passou há muito tempo, — ela disse a
ninguém, sua alma fria atormentada pela dor. — Agora nenhum deles
deve deixar este lugar com vida.
LYDIA

Gabriel e Lydia conduziram os outros dos corredores subterrâneos aos


níveis da superfície do castelo. Quando chegaram ao jardim, Lucius
parou repentinamente, fazendo com que os outros se virassem e
olhassem para ele confusos.
— Há algo errado, — Lucius explicou. — O campo de força de Evine
está cercando o castelo.
— Do que você está falando? — perguntou Gabriel incrédulo.
— É como a barreira em Ulu, — disse Lucius. — Mas muito mais forte.
Está engolfando toda a cidade, até mesmo sobrepujando os contrafeitiços
protetores que o Congresso de Magia tem em vigor há séculos. Deve ser
algum truque de sua magia do sangue.
— Isso não pode ser verdade, — disse Lydia. — Evine me disse que ela
só pode realizar magia de sangue se tiver o sangue da pessoa em quem
está realizando o feitiço.
— A menos que o catalisador para o feitiço seja o próprio sangue dela,
— Gabriel arriscou. — Talvez estejamos pensando nisso ao contrário; em
vez de criar uma barreira para nós, ela está criando uma barreira pela
qual só ela pode passar.
— Não é totalmente impossível, — disse Lucius. — Mas a quantidade
de magia que seria necessária para realizar tal ritual é... impressionante.
Se Evine é a causa, ela deve ser mais forte do que pensávamos.
— Ou ela pode realmente nos querer mortos, — disse Redmond. —
Ela provavelmente já recebeu as notícias sobre seu filho agora.
— Então, você está dizendo que ela está queimando completamente
sua energia em um último esforço para nos matar? — perguntou Ayana.
— Parece provável, — disse Lucius. Olhando para a frente, ele
acrescentou. — E parece que ela não é a única.
Lydia se virou. Do outro lado do jardim estava o Rei Morrison,
flanqueado de cada lado por uma pequena coleção de Caçadores de
Feiticeiros. O governante encantado encarou o grupo com olhos frios e
desapaixonados.
Lydia deu um passo à frente, mas foi inesperadamente parada quando
um braço se estendeu para bloqueá-la.
— Não, Lydia, — Ayana disse, olhando para Morrison. — Todos nós
sabemos qual de nós precisará lutar esta batalha.
Lydia recuou a contragosto. Embora ela não gostasse, ela reconheceu
o fato de que Ayana conhecia Morrison melhor do que ninguém. Isso
significava que ela provavelmente estava a par de suas fraquezas. Ela era a
única que poderia lutar contra seu companheiro — e ela tinha que fazer
isso sozinha.
Ainda assim, olhando para o campo de batalha, Lydia não pôde deixar
de sentir uma pontada de preocupação com o que iria acontecer a
seguir...
Capítulo 29
SACRIFÍCIO
LYDIA

Lydia observou tensa conforme Ayana dava um passo à frente, sem


tirar os olhos do encantado Rei Morrison.
— Não sei se você pode me ouvir agora, — ela ouviu a Slifer da Água
dizer ao rei. — Mas se você puder, saiba que estou aqui para salvá-lo.
Sinto muito por ter demorado tanto.
Ayana ergueu as duas mãos e glóbulos de água começaram a se formar
e girar ao redor da Slifer, aumentando gradualmente de tamanho.
Enquanto ela observava, Lydia percebeu o que estava acontecendo;
Ayana estava extraindo a umidade ambiente do ar como água para
abastecer seus poderes.
Conforme a água ao redor de Ayana começava a crescer e inchar, os
glóbulos individuais começaram a se juntar, até que finalmente
assumiram a forma de uma serpente d'água se enrolando protetoramente
ao redor do corpo da Slifer.
Em resposta, Morrison abriu as mãos quando faíscas de relâmpago
começaram a sair de seus dedos. O rei deu alguns passos decididos para
frente antes de finalmente sair correndo em direção a Ayana. Seguindo o
exemplo do rei, os Caçadores de Feiticeiros que o flanqueavam também
atacaram.
Sem perder tempo, Lydia aproveitou suas próprias habilidades de
Slifer enquanto ela e os outros avançavam para se envolver com os
Caçadores de Feiticeiros, deixando Morrison em seu duelo com Ayana.
Vendo Ayana olhando para seu amante com determinação, Lydia não
pôde deixar de pensar em sua própria batalha contra Gabriel.
Ela esperava que esta acontecesse da mesma forma.
O Caçador de Feiticeiros liderando a matilha não perdeu tempo em
atacar primeiro, tentando apunhalar Lydia com uma espada curta de
ferro.
Lydia evitou o golpe, enganchando o braço da espada do agressor
entre seu quadril e cotovelo, deixando-o vulnerável a uma explosão à
queima-roupa de magia de fogo de sua mão livre. As chamas abrasadoras
atingiram o caçador diretamente no rosto, fazendo-o desabar no chão
com um grito de agonia.
Outro caçador tentou atacar do lado oposto, dando um amplo golpe
em Lydia com uma arma de lança. Lydia se abaixou sob o ataque e
atingiu as pernas do agressor com chamas, fazendo-o cair de cara no
chão.
Agora encontrando-se com um pouco mais de espaço para respirar,
Lydia fez uma pausa para ver como seus aliados estavam se saindo.
Gabriel, sem surpresa, ainda estava em seu habitat, com sua sombra
mágica cortando os infelizes Caçadores de Feiticeiros como uma foice na
cevada. Redmond e Adira eram igualmente incomparáveis, sua
sincronicidade natural os transformando no par de lutadores ideal.
Lydia observou que até Lucius estava dando conta de seus confrontos,
usando rajadas de teletransporte de curto alcance para compensar sua
mobilidade limitada.
A verdadeira guerreira de destaque, entretanto, era Ayana: mesmo em
seu próprio confronto inicial, Lydia nunca tinha visto a Slifer da Água
lutar com uma mistura tão igual de ferocidade e graça.
Lydia observou com admiração enquanto Ayana serpenteava sem
esforço em tomo do Rei Morrison, usando a condutividade natural de
sua água para se esquivar e desviar o fluxo dos ataques de relâmpago do
rei, puxando os raios para longe dela com a mesma facilidade com que se
passa a mão por uma teia de aranha.
Apesar disso, no entanto, Lydia percebeu que embora Ayana fosse
capaz de evitar os ataques de Morrison, ela não estava desferindo
nenhum golpe decisivo contra seu oponente. O rei arremessava flecha
após flecha, sem deixar aberturas e forçando Ayana a lutar
defensivamente enquanto ela se esforçava para ganhar tração.
O duelo deles era um impasse firme.
A ideia de interferir para influenciar a luta em favor de Ayana cruzou a
mente de Lydia, mas foi rapidamente interrompida quando um feiticeiro
caçador empunhando um machado curto deu um golpe de mergulho
nela.
A Slifer do Fogo se esquivou, rolando para longe. A lâmina do
machado atingiu o chão a seus pés. Ela colocou a mão no lado plano da
lâmina, canalizando seus poderes quando a arma começou a brilhar com
uma intensidade incandescente.
O caçador largou o machado quando o calor atingiu suas mãos
desprotegidas, deixando escapar um grito de dor antes de ser derrubado
pelas sombras tangíveis de Gabriel.
— Quantos desses Caçadores de Feiticeiros Uzier tem à sua
disposição? — Gabriel gritou, passando para outro oponente indigno.
— Talvez se ele reduzisse sua quantidade, ele poderia se dar ao luxo de
treiná-los adequadamente, — Lydia respondeu, explodindo fogo
enquanto derrubava outro Caçador de Feiticeiros.
Um relâmpago chamou a atenção de Lydia, e ela mudou seu foco para
Ayana e Morrison. O impasse parecia estar se transformando em favor do
rei encantado, suas rajadas de relâmpagos desgastando Ayana conforme
cada relâmpago sucessivo evaporava a água da Slifer em nuvens de vapor.
Lydia podia ver o rosto de Ayana se contorcer de preocupação
enquanto ela lutava para manter o equilíbrio, tentando encontrar uma
abertura contra o ataque aparentemente interminável de Morrison.
— Ela precisa acabar com isso logo, — Lydia ouviu Gabriel dizer. —
Ou então ela vai ficar sem água antes de ter a chance.
Com certeza, o que antes era uma impressionante serpente d'água
agora estava reduzido a alguns glóbulos remanescentes, cada um deles
encolhendo gradualmente conforme Ayana os dividia repetidas vezes na
tentativa de continuar a desviar os raios de Morrison.
Então, algo mudou repentinamente. Lydia observou uma série de
expressões passar rapidamente pelo rosto de Ayana, variando da
preocupação à resignação e, finalmente, à determinação de aço. Um
lampejo de compreensão de repente atingiu a mente de Lydia quando ela
deduziu o que Ayana estava prestes a fazer.
— Ayana, espere... — Lydia gritou, mas já era tarde demais.
Quando Morrison lançou outro relâmpago, Ayana coletou sua água
restante e atirou diretamente na testa do rei em uma única explosão de
alta pressão.
Os dois ataques passaram um pelo outro e acertaram quase
simultaneamente; quando a explosão de água atingiu a cabeça de
Morrison, seu raio também acertou o alvo, atingindo Ayana bem no
peito. Os dois voaram para trás.
— Ayana! — Lydia gritou com medo, correndo para sua amiga caída.
Da mesma forma, Gabriel e Redmond correram para Morrison.
Enquanto Lydia se ajoelhava ao lado de Ayana, ela podia ver que a
condição da Slifer era tão ruim quanto ela previra. Uma enorme cicatriz
de queimadura percorria todo o torso de Ayana, e a respiração da Slifer
era superficial e fraca.
— Lydia... — ela disse fracamente. — Diga-me...
Morrison está bem?
Olhando por cima, Lydia viu Redmond e Gabriel levantando
Morrison. Quando o rei ergueu a cabeça, a pedra jade caiu em dois
pedaços perfeitos, batendo contra os paralelepípedos do jardim.
— Sim, — Lydia disse suavemente para Ayana. — Você quebrou a
pedra. Você o salvou.
Ayana sorriu fracamente para Lydia. — Que bom, — ela disse, sua voz
rouca. — Eu estava com medo... de que tinha errado...
Lydia piscou para conter as lágrimas. — Foi imprudente o que você fez
ali, — disse ela. — Não havia razão para você se arriscar daquele jeito.
— Aprendi com... alguém que conheço... — Ayana disse com um
sorriso.
Lentamente e sem palavras, o Rei Morrison se aproximou de Ayana.
Lydia observou o rei se abaixar suavemente e pegar a Slifer caída nos
braços.
— Morrison, — disse Ayana, sua voz ficando ainda mais fraca. —
Estou tão feliz que você esteja seguro... por favor... a fonte...
Morrison acenou com a cabeça e caminhou lentamente com Ayana
em direção à fonte que constituía a peça central do jardim; Lydia e os
outros seguiram em passos largos.
Delicadamente, Morrison abaixou Ayana na fonte, onde ela flutuou
virada para cima na água rasa. Embora sua voz fosse crua e natural, Lydia
ouviu enquanto a Slifer da Água lentamente começou a cantar uma
melodia final:
— Lágrimas cobrem seu rosto.
— Seu coração pulsante dói,
— Enquanto o luar prateado banha seus olhos.
— Ela sorri de novo e se despede...
A pele de Ayana adquiriu um brilho translúcido, conforme o corpo da
Slifer lentamente começava a se dissolver, fundindo-se com a água da
fonte. Em poucos segundos, Ayana desapareceu completamente.
Lydia deixou escapar um soluço abafado de dor, agarrando-se ao
braço de Gabriel em busca de apoio. A Slifer do Fogo observou enquanto
o Rei Morrison abaixava a cabeça, as lágrimas fluindo livremente dos
olhos do monarca.
Ayana foi a primeira Slifer que Lydia conheceu. Em muitos aspectos, a
Slifer da Água foi a primeira amiga de verdade de Lydia depois de Lux.
A ideia de ela ter partido para sempre era quase insuportável.
Para a surpresa de Lydia, Lucius se aproximou e colocou a mão firme
no ombro de Morrison.
— O custo da guerra costuma ser alto, — disse o mago. — Talvez
injustamente. Ayana, Calix, devemos honrar seu sacrifício e nos esforçar
para terminar nossa jornada na estrada que eles construíram para nós.
— Um sentimento comovente, Sr. Voltaire, — disse uma voz atrás do
grupo. — Infelizmente, é com o coração pesado que devo informá-lo de
que seus amigos morreram em vão.
Lydia e os outros se viraram lentamente para ver uma figura descendo
do céu enluarado acima deles. Uzier pousou nos paralelepípedos a dez
metros do resto do grupo, com seus olhos escuros como duas poças
profundas de tinta observando-os.
— Uzier, — Gabriel sibilou, dando um passo à frente. — Então, você
finalmente decidiu dar as caras.
— Você diz isso como se eu estivesse me escondendo, — disse Uzier
friamente. — Até agora, eu apenas me contentava em deixá-lo com meus
subordinados. No entanto, parece que sua interferência finalmente me
forçou a isso.
Tentáculos parecidos com sombras começaram a girar e dançar ao
redor dos pés de Uzier enquanto ele falava.
— Nenhum de vocês deixará este lugar vivo.
EVINE

Enquanto Uzier falava, Evine rastejava em direção aos Slifers e aos


membros da Realeza com determinação implacável, segurando
firmemente sua adaga. Como esperado, o súbito aparecimento de Uzier
prendeu fortemente a atenção de seus inimigos, permitindo que Evine se
aproximasse sem ser detectada.
Neste momento, ela poderia facilmente matar a Slifer do Fogo usando
sua magia de sangue e acabar com isso. Mas isso era muito impessoal. A
Slifer havia escapado de suas mãos. Ela humilhou Evine publicamente na
frente de Uzier e dos Caçadores de Feiticeiros.
Ela havia matado seu filho.
Não — isso seria bem próximo e pessoal.
Aproximando-se do alcance, Evine ergueu a adaga, com o rosto
contorcido em uma expressão de raiva sádica.
Houve um flash de luz brilhante e...
LYDIA

Lydia cambaleou para recuperar o equilíbrio, tendo acabado de ser


teletransportada dois metros para a esquerda de onde estivera segundos
antes.
Olhando para onde ela tinha estado anteriormente, a Slifer do Fogo
viu seu amigo mais antigo e mentor, Lucius Voltaire, com a adaga de
Evine mergulhada profundamente em seu peito...
Capítulo 30
VITÓRIAS VAZIAS
LYDIA

O coração de Lydia parou quando ela viu Lucius desabar no chão.


Acima dele estava Evine, olhando para Lydia com uma expressão de
aborrecimento.
— Velho tolo sentimental, — ela disse enquanto brandia sua adaga, a
lâmina ainda manchada de vermelho com o sangue do mago. —
Suponho que ele acreditava que se martirizar o absolveria de seus muitos
erros. Não importa; o sacrifício dele apenas atrasa a sua morte.
Lydia cerrou os punhos ao sentir o sangue ferver. Evine deu um passo
para trás quando as chamas começaram a lamber o chão ao redor de seus
pés.
Ela não se permitiria mais estar à mercê dessa feiticeira vil. Evine já
havia causado danos suficientes, tanto para Lydia quanto para seus entes
queridos. De jeito nenhum ela iria deixá-la escapar — não desta vez...
— Ora, ora, não vamos fazer nada imprudente, — disse Evine. — Não
gostaríamos que o velho bêbado morresse por nada, não é?
Embora as palavras de Evine impliquem confiança, seu tom transmitia
um sentimento totalmente diferente. A cadência calma usual em sua voz
agora estava ausente, substituída por um leve tremor quase
imperceptível.
Se ela não estivesse atualmente cega de raiva pela perda de Lucius,
Lydia poderia ter percebido isso e notado algo importante:
Evine estava com medo.
Sem hesitar, Uzier ergueu a mão, enviando uma onda de sombras em
direção a Lydia. Quando estava prestes a atacar, Gabriel saltou para o
caminho do ataque, separando as sombras como as ondas do mar
quebrando em um penhasco íngreme.
— Nós podemos lidar com Uzier, — disse Gabriel para Lydia. — Você
cuida de Evine.
Engolindo sua raiva, Lydia se concentrou na tarefa em mãos e
canalizou sua fúria para abastecer seus poderes. Lucius seria vingado esta
noite...
Sem outra palavra, Lydia deu um salto voador na direção de Evine,
enquanto as chamas envolviam o corpo da Slifer.
— Afaste-se! — Evine gritou, erguendo a faca. Ela brandiu a arma
ameaçadoramente, preparando-se para mirar em Lydia com sua magia de
sangue.
Mas desta vez, Lydia estava preparada. A Slifer lançou uma bola de
fogo escaldante diretamente na mão de Evine. Com um grito de dor,
Evine cambaleou para trás quando sua adaga caiu no chão. Ela se curvou,
sibilando por entre os dentes enquanto verificava a mão queimada.
— Você vai pagar caro por isso, — rosnou Evine, mas a ameaça era
pequena e tardia; em seguida, um anel de fogo começou a circundá-la,
impedindo Evine de pegar sua adaga.
À medida que Lydia se aproximava, Evine recuava ansiosamente até a
borda do círculo de fogo; ela olhou para Lydia, a intenção de matar nos
olhos da Slifer perfeitamente refletida nos dela.
Decimus ensinou a Lydia que o fogo pode ter uma variedade de usos
diferentes, além da simples violência. Você pode acender uma vela, por
exemplo, ou fazer uma fogueira.
Mas às vezes, Lydia pensou consigo mesma, às vezes você só quer
queimar alguma coisa.
Lydia soltou um grito primitivo quando uma coluna de chamas
irrompeu debaixo de Evine.
Essas chamas, alimentadas pela súbita onda de emoção, eram mais
brilhantes do que qualquer uma que Lydia já havia conjurado antes,
assumindo uma tonalidade azul brilhante com o puro calor e intensidade
que exalavam.
Evine soltou um gemido de agonia, que foi rapidamente abafado pelo
rugido do fogo quando as chamas azuis a consumiram.
Em um instante, acabou. Lydia caiu de joelhos, sentindo-se
repentinamente exausta por gastar tanta energia de uma vez. A coluna de
chama azul entrou em colapso e rapidamente se extinguiu; não havia
mais vestígios de Evine, exceto pela adaga ensanguentada, que ainda
estava sobre os paralelepípedos.
— Evine? — disse a voz de Uzier atrás de Lydia. A Slifer se virou e viu o
mago das sombras olhando para o local onde Evine estivera. Seu olhar
então se direcionou para Lydia, exibindo seus olhos negros como tinta
acesos com malícia vingativa.
Uzier ergueu a mão na direção de Lydia em retaliação, mas foi
interrompido quando Gabriel aproveitou sua distração; usando sua
própria magia das sombras, os tentáculos obscuros do rei rapidamente
atacaram e se enrolaram ao redor do braço de Uzier, impedindo-o de
completar o feitiço.
— Isso não muda nada! — Uzier gritou. Uma batida de pé criou uma
onda de sombra que rapidamente se expandiu ao longo do solo ao redor
dele, jogando os outros combatentes para longe.
Lydia caiu com força, batendo com o ombro nos paralelepípedos
enquanto rolava até parar.
— Meus planos foram longe demais para terminar com algum
contratempo mesquinho, — disse Uzier, sua voz pingando de ódio. —
Minha esposa e filho podem ser destruídos, mas meu exército de
Caçadores de Feiticeiros deve persistir! Minha vontade é indomável! Meu
império será eterno!
Só então, o som de uma trompa de guerra ecoou do outro lado das
paredes do castelo, seguido pelo som de centenas de passos se
aproximando do castelo de Ellesmere.
— O exército voltou? — perguntou Adria. — Mas como? Eles teriam
levado pelo menos dois dias para retomar a Ellesmere.
Eles podem ter tido uma ajudinha parei chegar aqui mais rápido — disse
uma rajada de vento que passou pelo ouvido de Lydia.
Uma onda de alívio tomou conta da Slifer do Fogo; no mínimo, Elise
ainda estava viva, apesar de tudo o que havia acontecido.
— Elise? — Perguntou Redmond. — Onde você está? — Nets
masmorras abaixo do castelo, o vento disse na voz de Elise. Mas como a
Slifer do Ar, não preciso estar presente para dar uma mão. A melhor parte
de ser capaz de ouvir o vento é esta: o vento conhece todos os melhores
atalhos.
Os sons de armas se chocando ecoaram de fora dos corredores
enquanto Marsie e seu exército se engajavam na batalha com os
Caçadores de Feiticeiros. Ao se levantar do chão, Lydia não pôde deixar
de sorrir ao ver uma expressão de raiva desenfreada no rosto de Uzier. O
mago se ergueu no ar quando as sombras começaram a se formar ao seu
redor.
— Redmond! — Adria comandou. Redmond acenou com a cabeça em
compreensão e ergueu a mão em direção a Uzier.
Ao comando de Redmond, um emaranhado de raízes emergiu do solo
abaixo de Uzier, envolvendo as pernas do mago e impedindo-o de levitar
mais.
Gabriel atacou com outro filete de sombras, envolvendo os braços de
Uzier e os unindo.
— Lydia! — Gabriel gritou. — Não vamos conseguir segurá-lo por
muito tempo! Agora é sua chance!
Lydia se levantou, olhando para Uzier com determinação de aço.
Chamas azuis começaram a se aglutinar e girar em tomo do braço da
Slifer enquanto uma bola de fogo se formava na palma de sua mão.
— Uzier, — disse ela, sua voz tão dura e afiada como uma lâmina
temperada, — seu reinado de terror termina hoje.
E com isso, a bola de fogo azul irrompeu da mão de Lydia,
consumindo Uzier em um flash de luz azul brilhante.
Quando as chamas se dissiparam, o mago Uzier não existia mais.
Com o corpo torturado pela exaustão, Lydia mancou lentamente até
Lucius, ajoelhando-se ao lado de seu avô caído. Ele ainda estava
respirando, embora fracamente.
— Parece que você não precisava da minha ajuda afinal, — Lucius
disse, dando uma risada fraca e rouca.
— Não fale, — disse Lydia. — Economize sua força. Nós ainda
podemos levá-lo a um curandeiro se você apenas esperar
Lucius ergueu a mão trêmula para acalmá-la. — Lydia, tenho centenas
de anos, — disse ele, cansado. — Acho que já passou tempo suficiente
para que eu possa dizer com segurança que tive uma boa vida. No
mínimo, é uma agradável surpresa para mim estar morrendo sóbrio.
Lydia riu, embora as lágrimas começassem a brotar de seus olhos.
— Não sei o que vou fazer sem você, — disse ela com tristeza.
— Nem eu, — disse Lucius. — Mas essa é a graça... você não acha?
O velho conseguiu abrir um sorriso fraco para Lydia. — Uzier foi
derrotado. Seu destino foi cumprido. O que você faz com a sua vida
agora depende inteiramente de você.
— Mas como vou saber se as escolhas que faço são as corretas? —
Lydia perguntou.
— Você não vai, — disse Lucius. — Mas... vale a pena... eu tenho fé. Eu
criei você... para ter um coração forte e uma cabeça equilibrada, e isso
deve ser o suficiente para você...
Lydia sorriu, segurando a mão de Lucius na sua. — Obrigado, vovó.
E com isso, Lucius lentamente fechou os olhos e soltou seu último
suspiro.
Sete dias se passaram desde a derrota de Evine e Uzier na Batalha de
Ellesmere.
Após a morte de Lucius, Marsie e o exército de Ellesmere repeliram os
Caçadores de Feiticeiros restantes, muitos dos quais ficaram
desmoralizados e fugiram após perceber o destino de seus líderes.
O exército passou os dias seguintes fazendo um balanço de seus
mortos e feridos. Eles começaram os reparos necessários na capital
devastada pela batalha. Com o lugar vago de Agatha, Marsie Maroo
deixou seu posto para se tomar a nova chanceler do Congresso de Magia.
Lentamente, mas com segurança, as coisas estavam voltando a algum
aspecto do normal.
Naquela manhã, Lydia acordou ao raiar do dia, deslizando lentamente
para fora da cama para evitar incomodar Gabriel. Seu ombro ainda doía
por causa da batalha com Uzier, e sua dor silenciosa, mas constante, a
impedia de dormir por mais do que algumas horas de cada vez.
Isso, e o fato de que a morte de Lucius ainda pesava muito em sua
mente. Seus sonhos estavam se tomando insuportáveis enquanto as
memórias de seu mentor borbulhavam à superfície de seu subconsciente
adormecido. Ela teria que pedir a Redmond uma mistura à base de ervas
que ela pudesse usar para aliviar a dor.
Agora que estava bem acordada, Lydia decidiu aproveitar ao máximo o
silêncio, saindo para a varanda com vista para o reino de Ellesmere.
Quando ela olhou para cima, entretanto, algo chamou sua atenção.
Estranhos padrões climáticos pareciam estar se formando na cidade. Na
verdade, quase parecia que as próprias nuvens estavam se afastando
quando um raio de luz entrou pela janela da sacada.
Os olhos de Lydia se arregalaram ao perceber o que estava
acontecendo...
Os deuses estavam vindo para Ellesmere.
Continua no Livro 3…
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