Professional Documents
Culture Documents
— Tildo o que estou dizendo, irmão, é que essa garota ao seu lado
pode ser boa para você.
Foi preciso toda a força de vontade de Gabriel para não revirar os
olhos. Lis, sua irmã, estava no meio de uma de suas famosas palestras
enquanto percorriam os municípios. Os guardas os cercavam, mantendo
as pessoas comuns a uma distância segura.
— Lis, — disse ele com um suspiro, — pelo menos uma vez,
poderíamos falar sobre qualquer coisa além da minha vida amorosa?
— Ou a falta dela, — ela brincou. — Hoje é um grande dia, Gabriel.
Você deveria estar animado.
O rei estava prestes a retrucar com sua própria resposta ácida quando
uma comoção à frente o distraiu.
— O que é aquilo? — Lis perguntou, franzindo a testa.
Os guardas se aproximaram, pedindo para que eles entrassem na
carruagem. Mas agora, Gabriel também estava curioso. Enquanto ele
abria caminho pela multidão, ele viu algo que fez seus olhos se
arregalarem em choque.
Uma perseguição estava acontecendo no meio do bairro histórico. E
não era uma perseguição comum. Um ladrão estava correndo pela feira a
toda velocidade, enquanto as autoridades comam atrás dele.
Mas lá em cima, uma jovem estava voando — sim. voando! — usando
algum tipo de poder elemental para impulsioná-la para o céu.
Gabriel ficou boquiaberto em descrença quando a garota ergueu a
mão, conjurou uma bola de fogo c a disparou com todas as suas forças.
As chamas explodiram bem na frente do ladrão, criando uma parede
de fogo e parando-o em seu caminho.
Ele parou e ergueu as mãos aterrorizado enquanto ela descia.
Agora, Gabriel podia ver que o fogo estava girando em seus olhos
também. Eles eram os olhos mais bonitos e assustadores que ele já tinha
visto.
— Largue isso, — ela disse, e o ladrão obedeceu, deixando cair sua
bolsa de joias roubadas aos pés dela. A garota respirou e só percebeu que
uma multidão enorme a observava quando terminou. Os olhos estavam
por toda parte.
Incluindo os dele. Os olhos do rei.
Neste momento, seus olhares se encontraram.
LYDIA
Lydia nunca tinha feito tanto com seus poderes de Slifer antes em sua
vida. Era como se outro espírito tivesse assumido o controle de seu corpo
e ela tivesse apenas participado da jornada.
Mas agora não. Agora, ela era Lydia de novo. E olhando para ela,
cercado por todo um batalhão de guardas reais, estava um homem alto,
moreno e misterioso com a roupa mais decorada que Lydia já tinha visto.
Todos suspiraram e se curvaram ao vê-lo.
Ele tinha um queixo largo e um maxilar bem definido com maçãs do
rosto salientes. Sua pele era pálida e sem defeitos. Seu nariz reto. Seus
lábios rosados, carnudos. Seus olhos eram rígidos, penetrantes e de uma
cor que Lydia nunca tinha visto antes. Eles eram do cinza das nuvens
depois de uma tempestade.
Mas algo em sua aura era escuro e sombrio... o que só o tomava mais
bonito. Na verdade, Lydia percebeu que ele era de longe o homem mais
bonito que ela já vira.
Quando seus olhos se encontraram, foi como se o laço mais forte e
magnético tivesse se encaixado. Parecia que o destino literalmente os
uniu.
Mas quem era ele?
— Vossa Majestade, — uma voz familiar soou.
Ela se virou para ver Lucius correndo, sem fôlego.
Ele acabou de dizer... Majestade?
Lucius se virou para ela e, como se estivesse lendo sua mente,
assentiu. — Lydia, permita-me apresentá-la ao Rei Gabriel.
Capítulo 3
VOTOS QUEBRADOS
LUCIUS
Gabriel voltou para sua sala do trono, sentindo a cabeça ainda zumbir
com a cena bizarra que acabara de se desenrolar em público. A verdade
era que... no segundo em que ela o rejeitou, Gabriel a achou
infinitamente mais atraente.
Era como se cada vez que fechava os olhos, tudo o que pudesse ver
fossem aqueles olhos... queimando. Ele imaginou como seria abraçá-la.
Sua pele estaria quente ao toque? Seus lábios estariam escaldando? Se
seus corpos se entrelaçassem, Gabriel sentiria como se estivesse
derretendo?
Ele afastou esses pensamentos indesejáveis e sentou-se em seu trono
de prata. Uma fênix foi esculpida na parte de trás, com as asas abertas.
Depois de muitas voltas e reviravoltas do dia, Gabriel esperava que
finalmente estivesse sozinho.
Mas sua solidão não durou muito.
— Gabriel, me desculpe, eu tentei impedi-la...
Ele se virou para ver as portas abertas com Aero atrás de Lis, que
invadiu a sala do trono. A irmã de Gabriel não parecia feliz.
— O que foi isso, Gabriel? — ela perguntou.
— Tudo pareceu bastante claro para mim, Lis, — disse ele, apertando
o nariz com frustração. — Não sei por que tenho que explicar para você.
— Nós dois sabemos que o velho feiticeiro está certo.
Se você desafiar a vontade dos Deuses...
— O quê? Algo terrível vai acontecer? Tenho ouvido isso há séculos,
Lis. E ainda assim, Imamia prospera, não é?
Lis olhou para baixo, ponderou e deu um passo em direção a seu
irmão.
— Nós dois sabemos o custo de seus poderes, Gabriel. Se você não for
cuidadoso, sua magia das sombras
— Eu sei, — ele disse, com os olhos ficando sombrios.
— Mas será que alguma vez considerou que aquilo de que o reino
precisa de ser protegido é de... você?
Gabriel não conseguia acreditar no que sua irmã estava sugerindo. Ele
abriu a boca para responder, mas nenhuma palavra saiu de seus lábios.
Parecia que ele havia levado um soco no estômago.
Lis gentilmente pegou sua mão. — Gabriel, talvez esta garota... seu
fogo, sua luz... talvez ela ilumine sua alma. E mantenha as sombras
afastadas. Talvez isso, como os Deuses decretaram, seja como ela nos
salvará.
Gabriel desviou o olhar. Havia verdade nas palavras de Lis que ele não
podia negar. Embora lhe doesse admitir.
— O que você quer que eu faça? — ele perguntou baixinho.
— Vá até ela. Encontre-a. Antes que seja tarde.
Mas como? A garota poderia ter se teletransportado para qualquer
lugar. Então, Gabriel se lembrou de como se sentiu ao fechar os olhos.
Como se ele ainda pudesse vê-la.
Aqueles olhos ardentes e inflamáveis que sua irmã acreditava que
poderiam salvar sua alma.
Ele podia vê-los agora.
Ela estava em perigo.
LYDIA
Lydia não sabia para onde os havia levado, mas quando seus olhos se
abriram, ela e Lux estavam no meio de uma densa floresta.
Ela queria ir para algum lugar longe do reino. Para algum lugar
remoto. Mas agora ela estava aqui no escuro sozinha, a não ser por seu
fiel companheiro felino, Lydia se perguntou se ela tinha cometido um
erro.
— Para onde você nos levou? — Lux perguntou, um pouco assustado.
— Não tenho certeza, Lux, — ela disse. — Estamos em algum lugar na
floresta ao redor de Imamia, eu acho. — Lydia se sentou embaixo de uma
grande árvore, juntando as pernas e apoiando o queixo nos joelhos. Lux a
seguiu e enrolou seu corpo perto do dela.
Era hora de bolar um novo plano. Uma nova vida. Ela nunca poderia
voltar para sua casa em Vera. Lucius deixou bem claro que concluir sua
— tarefa — era sua prioridade.
Então, para onde ela iria?
Lydia tentou acender um fogo para mantê-los aquecidos, mas seus
poderes de Slifer estavam tão exauridos pelo teletransporte que ela mal
conseguia criar uma faísca.
Foi quando ela ouviu. Galhos quebrando. Passos pesados.
— O que foi isso? — Lux perguntou, com sua voz rangendo.
— Tenho certeza de que não há nada a temer..., — disse ela.
Mas então, Lydia ouviu um rosnado baixo e desumano e seu sangue
gelou. Ela lentamente se virou para olhar além da árvore e viu...
Um lobisomem. Caninos à mostra. Saliva pingando. Olhos amarelos
perfurando os de Lydia com um olhar selvagem.
— Tenho certeza de que não há nada a temer..., — disse ela.
Mas então, Lydia ouviu um rosnado baixo e desumano e seu sangue
gelou. Ela lentamente se virou para olhar além da árvore e viu...
Um lobisomem. Caninos à mostra. Saliva pingando. Olhos amarelos
perfurando os de Lydia com um olhar selvagem.
Um olhar que dizia que ia rasgar ela e Lux membro por membro.
Lydia engoliu em seco. — Lux... eu vou contar até três e nós corremos,
tá?
— Tá.
— Um... dois...
Mas antes que ela pudesse dizer três, o lobisomem avançou.
Capítulo 4
O SALVADOR DAS SOMBRAS
LYDIA
— CORRE!
Lydia e Lux correram o mais rápido que seus pés e patas podiam
suportar. O lobisomem cinza escuro, coberto com manchas de sangue de
alguma vítima anterior, saltou em direção a eles, ganhando velocidade,
lambendo suas costeletas.
Eles estavam prestes a ser a próxima refeição deste monstro se Lydia
não fizesse algo—e rápido. Ela sabia o que tinha que fazer, mas ela teria
forças?
As chamas circundaram as mãos de Lydia quando ela parou, se virou e
lançou a bola de fogo na fera. Mas com apenas um aceno de sua garra, as
chamas se dissiparam.
Oh não.
Um segundo depois, o lobisomem se chocou contra Lydia,
prendendo-a no chão da floresta. Se não fosse pelo escudo de fogo com
que ela cercou seu corpo no último segundo ele já teria rasgado seu
pescoço.
Ela podia ver seus olhos amarelos famintos, desesperados para se
alimentar. Em algum lugar dentro do lobisomem estava um homem
torturado.
A lua estava cheia esta noite, permitindo que a besta reinasse.
Lydia se perguntou se ela poderia chegar até ele... quem quer que ele
fosse.
Ele continuou investindo e mordendo, mas o escudo dela o estava
mantendo a distância. Não duraria muito mais, e ela sabia disso. Tanta
energia foi gasta pegando o ladrão e se teletransportando para este lugar.
— Lydia!
Ela se virou e viu Lux correndo na direção deles, tentando ajudar.
— Lux, não!
Mas era tarde demais. O lobisomem girou sobre o gato, batendo uma
pata contra seu peito e o fazendo voar. Ele bateu em uma árvore e
desabou no chão.
— NÃO!
De repente, chamas explodiram de todos os poros do corpo de Lydia,
mandando o lobisomem para o céu. Ela não parou para ver onde a
criatura pousou. Em vez disso, ela correu até seu amigo felino e o
embalou em suas mãos.
Ele estava miando baixinho, ferido e vivo.
— Eu sinto muito, Lux, — ela sussurrou, as lágrimas enchendo seus
olhos.
Mas então ela ouviu o uivo do lobisomem. Ele estava vindo para
terminar o que havia começado. Ele estava correndo em direção a eles.
E desta vez, Lydia não tinha mais magia para afastá-lo.
Ela fechou os olhos e segurou Lux com força contra o peito,
balançando-se para a frente e para trás contra a árvore. Se esse fosse o
fim... pelo menos ela não estava sozinha.
O lobo estava a apenas alguns metros de distância.
Ela podia ouvir suas garras golpeando a terra. Sentir o cheiro do ar
quente de seu hálito fétido. Provar o ferro da quase morte em sua língua.
Tudo estava prestes a acabar. Mas assim que as presas do lobo estavam
prestes a se prender em sua garganta, algo impossível aconteceu.
Ele congelou.
Uma forma escura e ilusória estava segurando o lobisomem. Um
salvador feito de sombras. Mas quem era ele?
GABRIEL
— Lydia! Acorde!
Lydia piscou, esfregando os olhos para ver os grandes e amarelos de
Lux olhando para ela. O gato estava enrolado em seu peito.
— O que está acontecendo? — ela perguntou com um bocejo. —
Onde...?
Lydia sentou-se para ver que estava deitada em uma cama de dossel
com cortinas de veludo azul e bordados prateados. O lugar era o maior e
mais magnífico quarto em que ela já havia dormido.
Havia uma grande varanda com vista para um jardim bem cuidado, e
os pássaros podiam ser ouvidos no chilrear das árvores. A sua esquerda
estava a penteadeira mais decadente que ela já tinha visto.
E então havia o vestido bege que ela estava usando. Ela nunca tinha
usado um vestido em sua vida. Como isso veio parar aqui? Quem colocou
isso?
E então tudo voltou correndo. O ladrão. O lobisomem. O rei.
Ele a levou de volta para seu palácio e, exausta, ela adormeceu em seus
braços. Seus servos devem ter feito o resto, presumiu Lydia.
A ideia de que ele poderia tê-la visto nua enquanto ela estava sendo
trocada... isso a fez corar e inchar com um calor interior.
Agora não, ela disse a si mesma. Você precisa se situar.
Lydia sentou-se lentamente, acariciando Lux atrás da orelha. —
Você... lembra de tudo?
Lux concordou. — Quase tudo. Tivemos muita sorte de o rei ter
aparecido naquela hora.
Lydia desviou o olhar, resmungando: — Tanto faz.
Mas Lux não a deixaria escapar tão fácil. — Sabe, eu vi aquele...
momento... entre vocês dois.
— Não sei do que você está falando, — Lydia respondeu rápido
demais.
Lux sorriu. — Os gatos são mais intuitivos do que você imagina.
Aceite o conselho de um animal. Você não pode ignorar seus instintos
por muito tempo.
— O que você está sugerindo...?
O gato lambeu a pata maliciosamente, antes de sair da cama. Lydia
revirou os olhos. — Às vezes, gostaria que você não falasse tanto, Lux.
Só então, houve uma batida na porta, e uma voz doce disse: — Você
está acordada?
Lydia disse que sim, e então uma bela jovem abriu a porta e entrou.
Ela não andou. Ela deslizou com uma graça que Lydia nem sabia que era
possível.
Ela era alta, com pele da cor de marfim, olhos castanhos grandes e
cabelo castanho curto. Ela usava um vestido longo e brilhante de platina,
que refletia a luz lançada através da vidraça.
Mesmo sendo uma visão adorável de se ver, Lydia deu um passo
instintivo de autoproteção para trás. A garota sorriu.
— Não há razão para ter medo, Lydia. Sou Lis. A irmã do rei. Eu sou
aquela que curou suas feridas.
Lydia olhou para Lux, que estava se banhando. Ele parou para acenar
afirmativamente. Esta não era apenas uma garota. Esta era a princesa de
Imamia.
Lydia fez uma reverência. — Eu... eu devo a você minha gratidão,
Vossa Alteza. Obrigada.
— Faço tudo o que puder para ajudar. — Ela colocou a mão no ombro
de Lydia, e algo no jeito que ela sorriu a fez se sentir como se ela fosse
alguém que a princesa estava procurando.
Lydia não sabia como responder, então não disse nada.
Nesse momento, outra voz interrompeu o encontro. E era muito
menos doce.
— Irmã...
O Rei Gabriel entrou na sala, com seus olhos cinzas tempestuosos
fixos em sua irmã quando ela se virou para encontrá-lo.
— Irmão, o que você está fazendo aqui?
Ele suspirou, então se virou para considerar Lydia.
— Slifer, posso ter uma palavrinha com você no meu escritório?
Lydia não queria ir, mas ela sabia que, por trás do pedido, havia uma
ordem velada. Por causa da gentileza de Lis, ela não iria discutir com ele.
Desta vez.
Com um sorriso fraco, ela assentiu. — Claro, Vossa Majestade.
Lydia estava com o rei em um escritório finamente decorado. Em toda
parte, havia livros, retratos e tapeçarias. Uma lareira rugia com uma luz
cintilante. As chamas eram um conforto para Lydia agora.
Antes que Lydia pudesse perguntar o que eles estavam fazendo aqui,
ele começou.
— Eu chamei você aqui para lhe oferecer um acordo, Slifer.
Isso não era o que ela esperava. Mas ela tentou permanecer
impassível.
— Que tipo de acordo?
— Você deseja ser mais forte, eu entendo.
O rei estava certo. Ela havia treinado todos os dias nos últimos
dezoito anos para ser uma feiticeira imortal. Mas aonde ele queria
chegar?
— Eu não sei o quanto Lucius disse a você, — o Rei continuou, — mas
tenho certeza de que você está bem ciente de que seu corpo deveria
pertencer a mim?
As bochechas de Lydia esquentaram, mas ela concordou mesmo
assim.
— Bem, saiba que, para que sua magia se desenvolva, terei que criar
uma união com você. Fisicamente e mentalmente. Quando isso for feito,
sua verdadeira magia será liberada. E você será a Slifer que sempre
imaginou.
Então, essa era a razão pela qual seus poderes eram tão fracos... Estava
começando a fazer sentido. Mas Lydia não concordaria tão facilmente.
— Mas ainda não entendo o que você está propondo, — disse Lydia.
— Eu pensei que você não me queria?
Ele se inclinou na direção de Lydia agora, com seus penetrantes olhos
cinza fixos nos dela. Ela podia sentir seu coração acelerando e seu rosto
ficando mais quente com a proximidade repentina. Ele parecia gostar da
maneira como o corpo dela enrijecia.
— Deixe-me esclarecer uma coisa, — ele disse calmamente. — Eu não
tenho nenhum interesse em você. Se você não quer isso, fique à vontade,
eu não me importo. Você pode continuar sendo uma garota que lança
bolas de fogo pelo resto de sua vida imortal.
Seus insultos estavam começando a incomodar Lydia. Mas ela sentiu
que ele ainda não tinha acabado.
— Mas se você concordar... você estará seguindo o comando dos
Deuses e garantindo a segurança do meu reino. Por isso, estou disposto a
colocar meus próprios interesses de lado. Entendeu?
Lydia estava sem palavras. Com um nó na garganta. Essa era
realmente a única maneira?
— Você será minha. Para dormir comigo e cair fora como eu achar
melhor. Está claro?
Era a última coisa no mundo que Lydia queria. Mesmo que seu corpo
implorasse por algo diferente. Mas se isso significava que ela se tomaria
seu eu mais poderoso, a Slifer que estava destinada a se tomar, Lydia
sabia que não tinha escolha.
Ela se inclinou para perto dele agora, fazendo com que eles ficassem a
apenas um fio de cabelo de distância. E então Lydia selou seu destino.
. — .. Combinado.
Capítulo 6
VOSSA MAJESTADE
LYDIA
A Slifer era tão apertada que Gabriel sentiu como se ela pudesse
quebrar sua masculinidade dentro dela.
As amarras de sombra eram ideia dele; ele sempre gostou de um
pouco de brincadeira.
No entanto, ele respeitou seus desejos. Afinal, ela era virgem. Ele se
inclinou para que pudesse colocar todo o seu peso em suas estocadas.
Sua respiração ofegante ficou mais pesada quando ele jogou mais de
seu peso nela, penetrando cada vez mais forte enquanto ele ganhava mais
velocidade.
E entre os dentes, ele sussurrou,
— Eu sabia que você era uma vadia... já está de joelhos.
Isso o assustou um pouco, mas então ela se virou e olhou para ele, que
era exatamente o que ele queria... Seus olhos, queimando, o trouxeram
mais perto de seu limite.
Ele conheceu muitas mulheres em sua longa vida. Muitas mulheres
habilidosas e apaixonadas... mas havia algo sobre a Slifer. Embora ela
fosse inexperiente, transar com ela estava colocando o rei em chamas.
Ele empurrou, enterrando-se dentro dela. Ele viu seu pênis
desaparecer em seu corpo perfeito e apertado, de joelhos por ele.
Inclinando-se para frente, ele agarrou o ombro da Slifer. Ele sabia que
deveria ter cuidado. Esta era a primeira vez dela. Mas ela era tão boa. A
capa que ela estava rangendo violentamente havia caído de sua boca, e
ela gritava a cada estocada.
Logo, o rei sentiu sua luxúria crescendo dentro dele. Ele ficou dentro
dela o máximo que pôde, antes de se retirar rapidamente.
Ele gemeu ao gozar, acariciando-se, respingando nas costas da Slifer.
Ela se inclinou por alguns momentos, recuperando o fôlego.
Assim que ele gozou, o encanto foi quebrado. Gabriel já estava
vestindo as calças e fechando o cinto.
LYDIA
Lux: O que em nome dos Deuses aconteceu? Parece que seus pulsos foram amarrados!
Lydia: Ele disse que não me tocaria a menos que eu dissesse que queria fazer sexo com
ele.
Lydia: A pior parte disso tudo é que meus poderes aumentaram. Ainda apenas fogo
normal, nada mais.
Lux: E você tem que continuar fazendo isso para ficar mais poderosa?
Lydia: Acho que sim. Vamos apenas esperar que meus poderes se manifestem mais
rápido do que o esperado.
GABRIEL
A Slifer ajoelhada diante dele mexeu com Gabriel. Ele olhou para seus
olhos grandes e inocentes.
Ela piscou os cílios.
Ela mordeu o lábio.
Ele sentiu suas calças começarem a ficar apertadas.
Ele a viu notar, e seus olhos se arregalaram.
Parte dele queria desesperadamente abrir o zíper das calças e deixar
seu pênis livre na frente da Slifer. O que ela faria?
O pensamento de sua boca sobre ele o deixava louco.
A repentina onda de luxúria apertou seu peito. Bem onde ela o
acertou com uma bola de fogo. Ele tirou as fantasias de sua mente.
Ele se lembrou do que disse a ela antes. Ele a queria fora de seu
palácio.
— Não. Eu não vou te ajudar, — Gabriel disse.
— Por favor, — disse ela. — Você é o único que pode...
Ele foi se virar, mas a Slifer agarrou sua mão.
Assim que as pontas dos dedos se tocaram, o mundo ao redor deles se
dissolveu. Cenas passaram diante de seus olhos.
Ele estava em cima dela. As pernas dela estavam enroladas na cintura
dele, puxando-o para mais perto.
Havia apenas um pequeno gemido em seu ouvido. Era a única coisa no
mundo.
— Sim, — disse ela, tão suavemente que mal foi falado.
— Goze para mim. Dê tudo para mim.
Apenas o som da sua voz, implorando a ele, trouxe-o perto do orgasmo. E
como ela se sentiu...
Ele se moveu lentamente, esfregando-se nela.
Sentindo-a em cada centímetro de seu comprimento inchado.
Quando a respiração dela diminuiu, ele se deixou levar. Seu corpo
empurrou contra ele, montando-o, enquanto ela gozava também.
Ela explodiu em chamas ao redor dele.
Cinzas caíram do teto do quarto, pousando sobre os amantes leves como a
neve.
Gabriel: Uau!
Lydia: Deuses...
Gabriel:
Na minha cabeça?!
Lydia: Eu também.
Lydia só tinha visto a cidade durante o dia em que tinha chegado pela
primeira vez com Lucius. Agora, ela estava impressionada com a forma
como brilhava durante a noite.
Pedras de fada, pequenas joias brilhantes, estavam envoltas em
lâmpadas ao longo das ruas de paralelepípedos, iluminando os vários
caminhos.
Ayana disse a ela que a loja de Aramis ficava próxima à Grande
Entrada do comércio.
Lydia percebeu que tinha passado por ela logo na primeira vez que
procurou. Era tão discreta que ela tinha passado por cima da sua porta
indefinida.
Ela apertou os olhos para a placa ao lado da porta, que dizia:
A. Lester
Livreiro e antiquário
Ela olhou pelas janelas. Não parecia que havia alguém dentro. Não
havia luzes acesas lá dentro. Lydia tentou a maçaneta, mas a porta não se
moveu.
Ela bateu os nós dos dedos contra ela bruscamente.
Houve alguns sons de movimento antes que a porta se abrisse.
— Quem está aí? — resmungou uma voz de dentro. Lydia olhou pela
janela, mas não viu ninguém. — Ei, aqui embaixo! — Lydia olhou para
baixo e viu um anão do outro lado da porta.
— Oi, você conhece Aramis Lester? A loja está aberta? — ela
perguntou.
— Nah, nunca ouvi falar dele, — grunhiu o anão. — Não estou aberto
para negócios.
O anão tentou fechar a porta, mas Lydia a segurou. Ela não o deixou
fechá-la.
— Vamos, Lydia, podemos voltar pela manhã, — disse Lux. — Esse
cara não se parece com alguém com quem você quer mexer...
— Pare ou chamo os guardas! — o anão disse ameaçadoramente. Seu
rosnado se transformou em surpresa, seus olhos se arregalando quando
ele olhou para a mão de Lydia.
Na empolgação, quando ela bateu à porta, ela começou a derreter a
pintura da frente. Pequenas chamas vazaram de seu punho. Percebendo,
ela rapidamente retirou a mão.
A porta foi escancarada e o anão saltou, envolvendo os braços em
volta dos joelhos dela.
— Mestra do Fogo! Você chegou! — gritou o anão, em um completo
reverso de sua personalidade anterior.
— Huh? — Lydia estava totalmente confusa.
— Entre, entre! — disse ele, alcançando a mão dela e arrastando-a
para dentro da loja.
Na loja, o anão bateu palmas e as velas se acenderam.
O que antes era escuro tomou-se iluminado, com centenas de velas
acesas ao mesmo tempo.
— Você também é um Slifer do Fogo? — disse Lydia. O anão jogou a
cabeça para trás e riu como se fosse a melhor piada que já ouvira.
— Você está falando sobre as luzes? Não, isso é apenas um pequeno
feitiço que coloquei nelas. É você quem é a Slifer do Fogo, — o anão disse.
— Mas onde está minha educação? Aramis Lester, ao seu dispor. — O
anão estendeu a mão rechonchuda. Ela a apertou e o deixou sacudi-la
vigorosamente.
— Bem, sente-se! Eu volto para atender você em um segundo, —
Aramis disse.
Ele bateu palmas novamente, e um sofá puído se materializou na loja.
Ele se dirigiu para uma sala dos fundos enquanto Lydia se sentava.
Ela deixou cair a bolsa ao lado do assento e Lux se contorceu para
fora, se esticando.
A dupla olhou para as prateleiras. A loja deveria ter três andares.
Milhares de livros cobriam as paredes.
Havia de tudo: livros de receitas para conjurar comida do nada;
remédios mágicos para remover verrugas; enciclopédias de monstros.
Ela olhou para o balcão e viu o livro sobre o qual Ayana havia falado: o
Livro de Decimus.
Sua capa era de um vermelho profundo e tinha uma marca
semelhante à do pulso. Aramis voltou com duas xícaras de chá.
— Chá de abóbora caseiro, — ele disse enquanto passava um para ela.
— Orgulho-me da receita.
Lydia olhou para o chá. Tinha um tom nada saudável de laranja
escuro, mas ela decidiu tomar um gole em sinal de respeito ao anfitrião.
O chá estava horrível.
Ela rapidamente colocou a xícara de chá no chão, tentando esconder
sua careta.
Enquanto isso, Aramis já havia bebido dois terços de sua xícara. Uma
gota rolou por sua grande barba.
— Então... — começou Lydia. — Vim aqui porque uma amiga disse
que havia um Livro de Decimus... — Ela apontou para o livro atrás da
mesa. Aramis assentiu.
— Foi-me confiado pelo próprio Deus do Fogo, — disse Aramis. — Há
muito tempo sou um devoto dele. Ele me disse que a Slifer do Fogo viria
procurá-lo.
— Você acabou de dizer que conheceu o Deus do Fogo? — Lydia
perguntou. — Onde?
— Há muito tempo... não vou entrar em detalhes, — disse Aramis,
com um aceno de mão. — Mas eu trabalhei para ele enquanto ele ainda
vagava por Ignolia.
— Posso dar uma olhada no livro? — Lydia perguntou.
— Fique à vontade, — disse Aramis. Lydia foi até o balcão e pegou o
livro. Ela abriu.
Era um livro que detalhava todas as técnicas que um Slifer do Fogo
poderia executar. Era perfeito.
Lydia voltou ao seu lugar e tentou enfiar o livro na bolsa.
— Não! — rugiu Aramis, rolando do sofá e arrancando o livro de suas
mãos. — Este livro é o único exemplar no mundo. Você não pode
carregá-lo em uma simples bolsa.
— Então, como faço para ler? — Lydia perguntou.
— Vou mantê-lo sob vigilância, — disse Aramis. — Vamos treinar na
minha oficina, para não levantar suspeitas.
— Encontre-me na minha loja dentro de dois dias, ao amanhecer.
— O que você sabe sobre treinar Slifers do Fogo? — Lydia perguntou.
— Preciso te lembrar que eu trabalhei para o próprio Decimus? —
Aramis disse. — Estudei este livro durante toda a minha vida.
— Ugh, tudo bem, — disse Lydia, pegando sua bolsa de lona. Lux
voltou e habilmente subiu em seus ombros e voltou para dentro.
— Lembre-se, ao amanhecer, — ele disse, enquanto a conduzia de
volta para a rua. — E tenha cuidado—sua visita aqui pode ter atraído
atenção indesejada.
E com isso, ele fechou a porta.
Lydia olhou em volta. O que ele quis dizer com atenção indesejada?
Lydia começou a voltar para o palácio.
Enquanto ela caminhava, ela sentia uma presença ao seu redor. Lux
sussurrou: — Há um homem nos seguindo.
Ela começou a andar mais rápido.
Eles caminharam por mais cinco minutos antes que Lydia parasse de
andar. No meio da multidão leve de compradores noturnos havia dois
homens.
Um era baixo e magro, o outro grande e gordo.
Eles tinham linhas pintadas idênticas nas pontas de seus narizes. Cada
um tinha um sorriso diabólico no rosto.
Lydia se virou instintivamente. Apenas para encontrar outro homem
atrás dela.
Ele era musculoso, com a cabeça raspada e uma cicatriz profunda
onde deveria estar o olho direito. Ele acariciou o ferimento e deu um
sorriso malicioso.
Eles a encurralaram.
Lydia olhou em volta. Ela avistou um beco escuro e decidiu aproveitar
qualquer oportunidade que tivesse. Lydia saiu correndo.
Ela ziguezagueou pela multidão enquanto os três homens a
perseguiam. Ela se espremeu no beco, e o homem grande apareceu à sua
frente em uma névoa branca.
Lydia olhou para trás. Os homens estavam bloqueando a outra saída.
— Vamos nessa, então, — ela rosnou, acendendo as mãos. O homem
com a cicatriz estendeu a mão para a frente, projetando o que parecia ser
uma teia de aranha de sua mão.
Ela se envolveu na garganta de Lydia.
Lydia ofegou, tentando recuperar o fôlego. Ele puxou a corda em sua
direção, fazendo Lydia cair no chão.
Lux caiu da bolsa com um grunhido, antes de se levantar de um salto.
— Lux! — Lydia murmurou. — Busque ajuda!
O gato não precisava ser avisado duas vezes. Depois do ataque do
lobisomem, ele sabia quando seus oponentes o superavam.
Ele rapidamente escalou um tubo de drenagem, evitando rajadas de
magia do pequeno homem.
Lydia olhou para o homem com a cicatriz enquanto ele puxava um
cajado com uma joia vermelha no topo. Enquanto pressionava a joia na
testa de Lydia, sombras invadiram o beco.
Lydia sentiu a teia em volta do pescoço se soltar quando o rei
apareceu na sua frente.
Ele empurrou para trás o homem com a cicatriz, focalizando seus
tentáculos em uma entrada do beco. O grande homem cambaleou para a
frente.
— Cuidado! — Lydia gritou.
GABRIEL
Gabriel: Repete.
Gabriel: Sim...
Gabriel: Adoro quando você me pede.
Lydia: Meu rei... por favor! Eu quero sua boca em mim... Eu não consigo aguentar.
LYDIA
Lydia sentiu o rei morder sua coxa antes de finalmente se mover para
o centro dela. O rei colocou a língua em seu clitóris, tocando-o
levemente.
Ele ainda estava brincando com ela. E ela odiava admitir o quanto ela
gostava.
Lydia estava vendo faíscas quando ele pressionou a língua contra ela,
movendo-a lentamente para frente e para trás.
Lydia gemeu, fechando os olhos. Ela ainda podia ver as faíscas atrás de
suas pálpebras, brancas brilhantes. Ela segurou a nuca dele sobre a saia,
mantendo-o ali.
Lydia queria mais.
Mas ela sabia que o rei amava o poder que tinha sobre ela agora. Ele
fez uma pausa, se afastando. Ela se contorceu sob seu hálito quente.
Finalmente, ele voltou para ela. Desta vez, ele não escondeu nada.
Estava claro que ele sabia exatamente o que ela queria o tempo todo. Ele
estava chupando seu clitóris, colocando a quantidade certa de pressão.
Era quase como se ele pudesse ler sua mente... Oh, espere. Ele podia.
E então ele deslizou dois dedos dentro dela.
Isso era tudo que ela podia aguentar. A sensação da combinação foi
tão intensa que ela já podia sentir seu corpo se contraindo ao redor de
sua mão.
Ele a estava acariciando, alcançando um lugar que nunca havia sido
tocado.
Lydia podia sentir o rosto enrubescer, todo o corpo quente, como se o
calor emanasse de suas pernas. Seus olhos permaneceram fechados.
O toque especialista do rei a levou ao orgasmo sem esforço. Lydia não
conseguia acreditar na rapidez com que seu corpo alcançou o ápice.
Ela percebeu apenas um momento antes de sua liberação que ela
estava prestes a gozar.
Segurando a cabeça do Rei contra seu sexo com as duas mãos, Lydia
gozou. Ela gritou, sem se preocupar se o cocheiro da carruagem pudesse
ouvir. Ela não se importava com nada no mundo.
Seu corpo ficou tenso. O prazer caiu sobre ela em ondas.
O rei manteve sua língua nela, continuou trabalhando, e Lydia gozou
por um tempo consideravelmente longo. Ela nunca havia sentido algo
tão poderoso.
Eventualmente, o orgasmo terminou. O rei beijou seu sexo uma vez.
Ela estava agora tão sensível que estremeceu.
Ele puxou a cabeça de debaixo da saia dela.
As pálpebras de Lydia se abriram. Em seu momento de recuperação,
levou um momento para ver que a carruagem estava em chamas.
— Deuses! — ela gritou.
As almofadas do assento e as cortinas estavam pegando fogo.
Ela agitou os braços freneticamente, tentando apagar o incêndio, mas
só conseguiu atiçar as chamas.
Ela olhou para o rei com os olhos arregalados, mas ele piscou para ela.
Ele pegou a mão dela e apertou-a uma vez antes que toda a carruagem
ficasse preta.
GABRIEL
A Slifer do Fogo estava com medo. Ainda bem que ele era o rei e estava
sempre sob seu controle.
Ele fechou os olhos e cobriu todo o interior da carruagem com as
sombras.
Essas chamas eram fortes! Gabriel sabia que ele era bom, mas ele não
percebeu que ele era tão bom.
Depois de um momento de escuridão total, ele lentamente os puxou
de volta.
A Slifer do Fogo estava exausta. Suas roupas foram queimadas em
farrapos.
O rei não pôde deixar de rir.
Ela olhou para ele, perplexa. Então, como aceitando que o perigo
tivesse passado, e percebendo que o perigo tinha sido sua culpa, ela corou
profundamente.
E então ela riu também.
— Eu nunca fiz um sexo tão quente antes, — o Rei brincou.
Então, eles realmente gargalharam. Gabriel mal conseguia respirar. A
Slifer cobriu o rosto com as mãos e desabou no colo do rei.
Ele não sabia dizer se eles estavam rindo de alívio, ou de vergonha, ou
o quê. Mas não importava.
Ele percebeu que seu braço foi colocado sem esforço em seu corpo e
sua mão estava tocando seu cabelo.
Como era fácil estar com ela.
Percebendo o quão confortável ele havia se tomado, o rei enrijeceu.
Ele tirou os dedos do cabelo dela, mas manteve o braço apoiado nela.
Ele teria que se manter na defensiva. A Slifer do Fogo quase incendiou
a carruagem.
Apenas algumas semanas atrás, ele nunca a conheceu, e agora ela
estava morando em seu castelo. Ela ainda era uma garota do campo. Ela
não sabia nada de sua vida.
No entanto, ela estava ocupando seus pensamentos, mesmo quando
eles não estavam juntos.
Isso não era bom.
Ele tirou o braço dela completamente. Ela ergueu os olhos, como se
quisesse verificar sua expressão, mas ele não a olhou nos olhos.
A última vez que o rei deixou alguém entrar, ela destruiu sua vida. Ela
o havia mergulhado em uma noite profunda e interminável.
O rei Gabriel não permitiria que isso acontecesse novamente.
— Pare aqui! — gritou Gabriel para o motorista.
— Mas estamos quase lá, senhor, — o motorista gritou de volta.
Gabriel rosnou, antes de simplesmente se teletransportar para fora da
carruagem e para longe da Slifer.
Ele precisava ficar sozinho. Ele não queria ficar perto da Slifer. A
plebeia estava ligada a ele contra sua vontade.
A presença dela não era nada para ele, apenas um incômodo.
Ele repetiu esse pensamento, que ele considerou verdadeiro não há
muito tempo. Ele descobriu que estava ficando cada vez mais difícil de
acreditar.
LYDIA
Lydia ficou vermelha mais uma vez. Mas desta vez, ela estava sozinha
na carruagem.
Ela pensara que o rei também estava se divertindo, mas seu
desaparecimento implicava o contrário.
O que mudou? Em um momento, ele estava relaxado, acariciando
seus cabelos e puxando-a para perto dele, e no seguinte, todo o seu corpo
ficou rígido.
Ela alisou o cabelo e puxou o colarinho ao redor do rosto para
esconder as bochechas coradas.
A carruagem parou. Lydia olhou para fora e viu uma silhueta parada
nos degraus da frente, com as mãos nos quadris, e um gato nos
tornozelos com uma cauda balançando.
Lydia saiu. Lux saltou sobre ela, acariciando seu rosto.
— Onde você esteve?! — gritou Lis. — Ayana disse que contou a você
sobre esse sujeito Aramis Lester. Ela está quase chorando só de pensar
em você fugindo! O Rei foi atrás de você pessoalmente!
— Lamento preocupá-la. E sinto muito ter incomodado o rei, — Lydia
respondeu brevemente.
— Quero dizer... não é um incômodo. — Lis ficou quieta, enquanto
sua raiva rapidamente se transformava em simpatia.
— Eu estarei fora de seu caminho em breve, — Lydia continuou
correndo pelas portas do palácio para ficar sozinha em seu quarto.
— Oh, Lydia! — Lis estava atrás de Lydia e Lux estava empoleirado em
seu ombro. — Eu nunca quis dizer isso. Não seja boba.
— Não, sério, — disse Lydia, quase triunfante. — Eu deveria partir
depois do funeral de qualquer maneira.
Finalmente, ela se virou para Lis. A princesa parecia prestes a chorar.
— Por que você faria isso?
— O rei me pediu isso, — disse Lydia. — E estou descobrindo que não
me encaixo muito bem aqui, afinal.
— Oh, entendo... — disse Lis. Por um momento, Lydia se preocupou
em ter ferido seus sentimentos.
Mas Lis respirou fundo, recuperando a compostura. Ela parecia tão
graciosa quanto uma princesa mais uma vez. — Bem, eu gostaria de pedir
a você para ficar no palácio—como minha convidada.
— Lis... — Lydia começou. — Obrigada, mas...
— Sem desculpas. Gostei de ter você aqui, — disse a princesa. Ela
tocou o braço de Lydia e Lux ronronou. — Eu realmente penso em você
como uma irmã para mim.
As palavras honestas da princesa fizeram Lydia corar.
— Também sou grata por nossa amizade, — disse Lydia, com
sinceridade. — Mas Gabriel disse...
Lis fez um gesto com a mão como se estivesse espantando uma mosca.
— Não se preocupe com ele. Ele não sabe o que quer de qualquer forma.
— E acredite em mim, — continuou a princesa, com um sorriso
sorrateiro, — o rei pode não aceitar ordens de ninguém, mas ele me
escuta.
Lydia encolheu os ombros. Ela resolveria mais tarde.
A princesa sorriu, sabendo que ela havia vencido. — Chega de coisas
pesadas. Tenho boas notícias.
Lis segurou o braço de Lydia e a guiou de volta para seu quarto. — O
Grande Baile de Imamia é em dois dias. É o evento da temporada!
— Amanhã a melhor costureira do Reino vem para ajustar nossos
vestidos!
Elas pararam em frente à porta de Lydia. — Agora, vá para a cama, —
disse Lis, antes de puxar Lydia para um abraço apertado. — Descanse. E
não pense em ir a lugar algum.
— Obrigada, Lis, — Lydia disse. Ela ficou parada na porta por um
momento, observando a princesa caminhar pelo corredor.
*
Lydia estava secretamente temendo seu encontro com a costureira,
mas uma vez que ela estava lá, sendo medida e cutucada, ela descobriu
que estava gostando.
A mulher rechonchuda dançava ao seu redor, acenando com uma
almofada de alfinetes na mão. O tecido parecia surgir do nada, caindo
sobre o corpo de Lydia e medindo-se.
Lydia baixou os olhos. Ao contrário do vestido da Cerimônia de
União, todo o vestido era da cor de fogo.
Era camada sobre camada de chiffon de seda em vermelho e laranja, e
quando Lydia se movia, parecia que chamas reais estavam escalando seu
corpo.
Lydia girou ao sentir que a princesa a observava. Lis gritou: — Você e
Gabriel vão ficar lindos dançando juntos!
— Hum. Como assim? — Lydia arfou, parando em seu caminho.
— É tradição, — disse Lis, parecendo estar preocupada com seu
reflexo, — que o rei dance com sua parceira. E você é a Slifer dele, então é
o certo.
Lydia engoliu em seco.
Oh, Deuses. Lydia e o Rei juntos, diante dos melhores e mais
brilhantes do Reino? A última vez que o viu, ele havia se dissolvido diante
de seus olhos.
A costureira estalou, e o vestido mudou do corpo de Lydia para a mão
da mulher. Lydia foi pegar sua roupa anterior.
— Vou fazer o vestido amanhã à noite. — A costureira sorriu.
Lydia deu um sorriso fraco enquanto ela desabava em uma cadeira.
Com sorte, ela conseguiria realmente ficar com este vestido, em vez de
tê-lo rasgado e deixado em um deserto sombrio. Como o último.
A costureira estalou, e o vestido mudou do corpo de Lydia para a mão
da mulher. Lydia foi pegar sua roupa anterior.
— Vou fazer o vestido amanhã à noite. — A costureira sorriu.
Lydia deu um sorriso fraco enquanto ela desabava em uma cadeira.
Com sorte, ela conseguiria realmente ficar com este vestido, em vez de
tê-lo rasgado e deixado em um deserto sombrio. Como o último.
Ela suspirou. Amanhã seria um grande dia. Treinar com Aramis pela
manhã e dançar com o Rei à noite.
Ela conjurou o rosto do rei em sua mente. Ela podia ver seus lindos
olhos, seus lábios vermelhos, mas metade de seu rosto estava oculto pelas
sombras.
Ele era um mistério para ela. O que diabos ele faria a seguir?
Capítulo 16
A DANÇA E O LIVRO DE DECIMUS
LYDIA
GABRIEL
Lydia: O quê?
Gabriel olhou em seus olhos para ver se ela entendeu a mensagem. Ela
olhou para ele por um segundo antes de assentir.
— Ótimo, — disse ele. Ele deu um beijo na mão dela antes de girar nos
calcanhares e se afastar. Ele sorriu com antecipação.
Ela pode não saber dançar, mas pelo que ele tinha guardado, seus pés
nem precisariam tocar o chão.
Capítulo 17
UMA NOITE DE PAIXÃO
LYDIA
Lydia ficou no Grande Baile por mais uma ou duas horas antes de ir
para a cama.
Ela havia comido um pouco e recusado uma dança de Gerard, todo
vestido de prata, e de uma mulher incrivelmente bela que fazia parte da
comitiva do rei Morrison.
Em toda a realidade, ela tinha ficado perturbada com o pedido do rei.
— Primeiro, ele me odeia, depois ele está se convidando para o meu
quarto, — ela disse a Lux enquanto soltava o cabelo.
Ela abriu o zíper do vestido, gentilmente pendurando-o e colocando-o
no armário.
— Você não vai colocar suas mãos sombrias neste aqui, — ela disse
para si mesma com um sorriso, antes de ir para o banheiro. Ela preparou
um banho, deslizando na espuma com um suspiro. Quando ela fez sexo
com o rei antes, doeu muito, mas quando ele caiu sobre ela na
carruagem...
Lydia passou a mão debaixo d'água e começou a se esfregar
suavemente. Talvez, se ela já estivesse molhada lá quando o rei chegasse,
não doeria tanto quanto da última vez que ele a penetrou.
Ela tentou recriar os movimentos e pressões que o rei havia usado
habilmente nela na carruagem. Ela continuou até que a água do banho
ficou morna e sua pele enrugou. Ela finalmente conseguiu atingir um
orgasmo longo e prolongado.
Ao fazer isso, a temperatura da água aumentou significativamente.
Lydia olhou por entre as bolhas e viu as pontas dos dedos chiando. Ela
esperou que o fogo se dissipasse antes de sair.
Ela se enrolou em um roupão de banho antes de ficar perto da porta e
assobiar. Lux, cochilando na cama, ergueu as orelhas.
— Eu preciso de você fora daqui, — disse Lydia, abrindo uma fresta da
porta.
— Estou dormindo, — disse Lux, colocando as orelhas para trás. Lydia
marchou até ele e o pegou. Lux sibilou e tentou cravar as garras nas
cobertas, mas Lydia era forte demais para ele.
— Você realmente quer estar aqui quando o rei chegar? Você quer se
sentar no canto enquanto nós... fazemos aquilo?
— Eca, não! — disse Lux, mostrando sua língua de gatinho.
— Certo, então, você precisa ir, — disse Lydia, apontando para a
porta. — Não volte por algumas horas ou mais. Vá para a cozinha. Talvez
eles ainda tenham um pouco daquela comida que você estava olhando no
bufê.
Os olhos de Lux brilharam com a ideia. Ele se virou, dando uma
última olhada para ela, antes de sair trotando pelo corredor.
Lydia fechou a porta com um suspiro e se virou. Ela deu um pulo,
encontrando o Rei atrás dela.
— Quanto tempo você esteve aí? — ela perguntou.
— Acabei de chegar. Parece o momento perfeito.
Ele tinha vindo ligeiramente arrumado, apenas em sua camisa social e
calças. Lydia brincou com o cinto do roupão.
— Posso perguntar por que esta noite? — ela disse. O rei sorriu.
— Desde que você se ajoelhou diante de mim e tocou minha mão, não
consegui tirar você da minha cabeça. E quando eu vi você esta noite...
Lydia deu um pequeno sorriso.
— Bem, então, vou tentar agradá-lo. — Ela puxou levemente o cinto
do roupão, enviando o tecido macio em cascata para o chão.
Lydia se virou lentamente, sentindo os olhos do rei percorrendo suas
costas nuas.
Quando havia outros por perto, os dois eram rivais. Perto de inimigos.
Ele estava sempre tentando derrubá-la.
Mas sozinhos...
O relacionamento deles se tomava algo totalmente diferente.
Competitivo, excitante, inegavelmente sexy.
— Então, eu sou uma boa dançarina ou o quê? — Lydia perguntou. Na
verdade, ela não tinha ideia de como dançar. Nem mesmo o suficiente
para fingir.
Ela pulou na cama e se virou, com seu corpo exposto para ele.
Ela amava a sensação dos olhos dele nela. Eles pareciam uma brisa
fresca, como se estivessem sentados na sombra.
Isso era bom, porque estar perto dele sempre deixava Lydia tão quente
que ela estava quase queimando.
A pele de Lydia, quente e úmida do banho, sussurrava contra os
lençóis de seda.
— Você é... — o Rei começou. Mas ele estava distraído. Sua mão estava
alcançando o cinto.
GABRIEL
Lydia não tinha ideia de por que ela fez isso, mas parecia certo. O rei
parecia confuso com o gesto dela, mas logo retribuiu a paixão quando ele
começou a trabalhar lentamente nela.
Lydia gemeu, interrompendo o beijo. Ela deixou suas bocas se
encontrarem novamente, seu hálito quente se misturando. Ela passou a
língua pelo lábio dele.
Agora, ela estava apenas impulsionada pela luxúria.
O rei se estabeleceu em um ritmo constante, com uma mão apoiando
seu peso e a outra em sua cabeça entrelaçada com a dela.
Ela cravou as unhas em sua mão e se contorceu sob seus impulsos,
tentando levá-lo mais fundo.
O rei desvencilhou sua mão da dela, movendo-a para mais alto, em
direção ao seu couro cabeludo. Ele enrolou o cabelo dela em volta do
punho e deu um puxão forte para baixo enquanto continuava a penetrar.
Lydia gritou de dor, mas segundos depois, o som foi substituído por um
gemido de prazer.
Ela precisava dele—por completo.
Lydia enviou faíscas pelos lençóis e chamas começaram a lamber sua
pele nua. Quando as faíscas alcançaram o rei, suas sombras apagaram as
brasas.
No final, seus poderes estavam lutando lado a lado em um jogo de
gato e rato, correndo sobre seus corpos. Lydia adorava a sensação dos
redemoinhos negros frios passando por seu corpo.
Quando o rei finalmente acelerou seus movimentos e ela o sentiu
apertar dentro dela, ele puxou para fora, agarrando sua masculinidade e
continuando a se estimular.
Ele se ajoelhou em direção ao rosto dela.
Lydia instintivamente abriu a boca, pronta para tomar seu membro,
quando ele explodiu prematuramente.
Estrias quentes e pegajosas de esperma espirraram de sua
extremidade, cobrindo seus lábios e pálpebras. Um pouco pingou em sua
boca, deixando-a saboreá-lo pela primeira vez.
O rei rolou para o lado, ofegando intensivamente. Lydia ficou imóvel
por alguns segundos, com o sêmen do rei esfriando rapidamente em seu
rosto.
Ela lambeu os lábios, saboreando o gosto estranho que ele havia
deixado. Isso a deixou curiosa... e querendo mais. O rei colocou a mão
embaixo das cobertas e apertou a mão dela.
Ele olhou para ela e abriu um sorriso tímido. — Desculpe por isso.
Acho que não consegui evitar.
Ele saltou da cama e voltou um momento depois com uma toalha
bordada felpuda.
Ela enxugou o rosto com o material precioso. Então, ela se levantou
para usar o banheiro.
O rei já estava com os olhos fechados quando ela voltou. Ela subiu na
cama ao lado dele e sentiu o desejo de se envolver em seus braços.
Enquanto ela se movia um centímetro mais perto dele, ela notou sua
bolsa ao lado de sua cama.
Estava brilhando.
Como se estivesse chamando por ela. Como se tivesse os segredos
para desbloquear seu poder, e quisesse contar a ela agora.
O rei estava nu em sua cama, e sua pele quente a convidava a voltar
para ele. Mas o objetivo de tudo isso era fortalecer seu poder.
Ela pegou a bolsa e retirou a fonte da luz brilhante. Era o Livro de
Decimus, piscando levemente em vermelho. Ela o abriu lentamente e
começou a ler.
Capítulo 18
SEGREDOS DO PASSADO
LYDIA
Uma pedra se ergueu no ar, como se fosse leve como uma pena. Ela
pousou no meio de um jardim de rosas, embora não tenha esmagado
nenhuma.
Redmond apontou o dedo para o chão. Ele era o epitome da elegância
em um suéter verde profundo e calças justas. Ele soprou no dedo como
se fosse uma arma fumegante e piscou para Lydia. — Sua vez,
Fumacinha.
Lydia suspirou. Ela adorava estar perto de Redmond e Ayana. Quando
ela olhava nos olhos deles, ela via o mesmo brilho sobrenatural que ela
tinha nos seus próprios.
Eles eram os únicos no mundo que realmente podiam entendê-la,
porque eram Slifers.
Os únicos outros no reino, pelo que ela sabia.
Por mais que se sentisse conectada a esses dois, seus companheiros
mágicos elementais, Lydia não pôde deixar de se sentir intimidada. Pelo
controle que eles tinham sobre seus poderes.
Suprimindo seus nervos, Lydia fechou os olhos. Ela sentiu seus dedos
subirem em chamas suaves ao se lembrar da noite anterior.
Como Gabriel beijou sua orelha depois de mordê-la, como ele traçou
uma linha em sua mandíbula com a língua. Como ele prendeu seus
pulsos na cama enquanto a fodia tão lentamente que mal se movia.
Como cada movimento duro tinha uma contrapartida gentil. Sombras
brincando sob as chamas.
Como ele acariciou a si mesmo quando ele estava sobre ela, prestes a
gozar em seu rosto...
De repente, Lydia sentiu as chamas crescerem e se tornarem brancas e
ergueu os braços sobre a cabeça. Torres de fogo dispararam de suas mãos
para o céu claro.
Lydia as segurou por um momento antes de apagá-las. As folhas das
árvores acima estavam fumegando. Nuvens de fumaça subiram de seus
dedos.
— Caramba. garota! — Redmond exclamou.
— Alguém está praticando, — Ayana sorriu, erguendo a mão para
Lydia, mas retirando logo em seguida. A mão de Lydia ainda fumegava.
O rosto de Lydia se iluminou em um sorriso. Agora isso parecia bom.
Ayana saltou até a fonte de mármore que gorgolejava no jardim e
abaixou a cabeça para beber de um riacho que caía. Levantando-se mais
uma vez, Ayana cuspiu a água por entre os lábios franzidos.
Ela esguichou quase na testa de Redmond antes de subir em uma
nuvem de vapor.
A expressão no rosto de Redmond fez Ayana e Lydia desabarem de
tanto rir.
— Ora, eu devo revidar! — Redmond gritou, entrando em ação.
Concentrando-se em um canteiro de jardim, ele ergueu centenas de
flores no ar. Rosas, freesia, Alstroemeria e violetas giravam no alto.
— Ha! — Redmond gritou, e todas as flores caíram em cascata sobre
Ayana e Lydia, enterrando-as em uma pilha de flores.
Enquanto todos riam juntos, Lydia sentiu uma felicidade
desconhecida. Ela tinha Lux, mas nunca teve um amigo humano
verdadeiro. Finalmente, ela encontrou amigos com quem ela poderia ser
ela mesma.
Que a entendiam e não a fazia se sentir uma aberração da natureza.
Ayana e Redmond até entendiam o que era estar ligado à realeza.
Embora seus relacionamentos com o rei e a rainha parecessem
diferentes, isso trouxe paz a Lydia.
Afinal, quem em Ignolia poderia ter um relacionamento como o dela e
o do Rei Gabriel?
Ayana estava lavando as flores em pequenos riachos de água, e Lydia
jogou uma no ar e a pôs em chamas.
De repente, o jardim, que antes estava cheio de cantos de pássaros,
ficou totalmente silencioso e o ar parou. Os três Slifers trocaram um
olhar, imaginando qual deles estava prestes a dar um show.
O silêncio durou muito tempo, e Lydia percebeu em um momento de
preocupação que nenhum deles estava no controle da quietude.
Assim que o ar se acalmou, ele se ergueu em uma lufada horrível,
explodindo pelo jardim pacífico. Isso fez com que a pilha de flores de
Redmond voasse.
Lydia teve dificuldade em se manter de pé enquanto o vento soprava
mais forte, arrancando plantas do chão, quebrando o anjo em cima da
fonte de mármore.
Sentindo o perigo, Lydia se agachou no chão.
Ela queria gritar por Ayana e Redmond, mas não conseguia ouvir nada
acima do vento.
Ousando espiar por entre os dedos, o estômago de Lydia se revirou ao
ver um tornado cair.
O tornado rodou flores de todas as cores. Embora fosse lindo, ele
destruía tudo o que tocava.
Estruturas de pedra desmoronaram conforme o tomado crescia,
ganhando velocidade. Ele estabeleceu seu curso de destruição: os três
Slifers, e depois o palácio real...
Lydia não conseguia mais assistir. Ela fechou os olhos, preparando-se.
Mas não veio nada.
O assobio ensurdecedor do tomado voltou ao silêncio da morte.
Lydia abriu os olhos mais uma vez, apenas para ver uma mulher na
frente dela, olhando para Lydia, Ayana e Redmond.
A mulher era alta e usava um vestido de seda que a envolvia apesar do
ar parado. Seus membros eram longos e elegantes, e cachos loiros
voavam atrás dela.
Ela estava com a mão no quadril e um sorriso maligno tocou seus
olhos. Olhos que brilharam com o conhecimento dos Deuses. Lydia
prendeu a respiração.
— Como é que ninguém me convidou para jogar? — a mulher
perguntou. Os amigos amontoados olharam para ela. — Vocês estavam
tão fofos, eu queria entrar.
— Você é uma Slifer? — Ayana perguntou: — Por que diabos você nos
atacou assim?
— Oh querida. É simplesmente adorável como vocês estavam tão
assustados. Acho que você nunca viu o verdadeiro poder de um Slifer
antes.
— Com licença? — As mãos de Lydia se transformaram em punhos e
seus olhos queimaram com o calor derretido.
— Vejo que vocês estão apenas aprendendo. Especialmente você,
Faísca. Foi o show de fogo que me atraiu... que brincadeira de criança! Eu
tive que trazer a grande liga.
O calor irradiava da pele de Lydia. Como essa mulher ousa reduzi-la?
Depois de ficar tão orgulhosa de seu progresso?
Lydia permitiu que a raiva permeasse seu próprio ser. Vazando de seus
poros.
GABRIEL
Uma torre de chamas, brilhando na noite escura, apenas para ser apagada
por uma rajada de vento.
Lydia estava deitada em sua cama sobre pilhas de travesseiros de seda.
Ela estava imersa em sonhos enquanto Lux ronronava em seu peito. O
sol estava apenas começando a se pôr, mas o dia durou séculos.
Ela suspirou ao abrir os olhos, exausta com as visões de seu próprio
fracasso que apareciam sempre que ela descansava.
Seu corpo se lembrava da batalha perdida com Elise também. Seus
arranhões e cortes queimaram suas coxas, costas e mãos de quando seu
corpo tocou o chão.
Houve uma batida em sua porta.
Puxando um lençol leve sobre ela, Lydia chamou: — Entre. — Ela não
estava com disposição para companhia, mas estava cansada demais para
mandar embora quem quer que fosse.
O Rei Gabriel abriu a porta lentamente. Lux soltou um miau ao pular
para o chão, balançando o rabo. Ele caminhou em direção à porta,
ronronando, enquanto Gabriel fazia carinho em sua cabeça.
Huh. O rei nunca havia prestado atenção em Lux antes, e ainda mais
estranho, Lydia ouviu o ronronar do gatinho.
Lux saiu e Gabriel trancou a porta atrás de si.
A sós com o rei, a pele de Lydia se esticou quando ela percebeu sua
nudez. Ela sentiu seus mamilos endurecerem e ela esperava que ele não
pudesse perceber, mas o lençol de seda era fino. E seus olhos estavam em
seu corpo.
Ele parecia exausto do dia também. Ele não disse nada até estar ao
lado da cama dela.
— Como você está se sentindo, Slifer? — O cansaço em sua voz passou
como ternura.
— Tudo bem, — Lydia começou tentando manter sua fachada de
pedra, mas ela estava exausta demais até para isso. — Só cansada.
— Você teve um longo dia. — Ele fez uma pausa. — Eu trouxe este
bálsamo para suas feridas. Lis o encantou com seus poderes de cura,
então isso vai te ajudar a curar rapidamente. Ele se sentou no canto da
cama. — Bem, posso?
Lydia assentiu, retirando a mão de debaixo do lençol e estendendo-a
para ele. A mão dele na dela era gentil e forte.
Ela relaxou em seu toque firme e seguro, permitindo-se ser abraçada.
O bálsamo era quente e, à medida que os dedos dele trabalhavam
lentamente em sua pele ensanguentada, ela se curava.
A sensação era tão agradável que Lydia fechou os olhos, apenas para
abri-los novamente quando sentiu um beijo em sua mão onde havia
estado o ferimento. Capturando o olhar de Gabriel por um momento,
havia malícia em seus olhos.
Ela desviou o olhar, passando a outra mão para ele. O rei esfregou o
ferimento em sua palma.
Gabriel: Esse corte é profundo. Você tem sentido muita dor, Slifer?
Lydia: Eu simplesmente não consigo acreditar que aquela vadia arrogante acabou
comigo.
Gabriel: Dê um tempo. Você acabou de fazer dezoito anos. E nós começamos agora...
Lydia fez uma pausa antes de se virar e revelar os arranhões nas costas,
cobrindo a parte inferior com o lençol.
Gabriel massageou o bálsamo em seu corpo com cuidado. Seu toque
praticamente a embriagou. Quando ele terminou, ela se virou
novamente, levantando o lençol para expor suas coxas, deixando apenas
seu sexo coberto.
Quando ela suspirou, era saudade que Lydia ouviu em sua respiração?
Enquanto ele massageava suas coxas, Lydia vagou mais uma vez. Quando
ela abriu os olhos, as feridas haviam sumido, mas os dedos de Gabriel
ainda estavam traçando onde estiveram.
— Só tenho mais um, — disse Lydia, abaixando a ponta do lençol para
que seus seios ficassem expostos e o arranhão na lateral do corpo, o pior
de todos, aparecesse.
— Oh, — disse Gabriel quase involuntariamente, e ela não sabia se ele
estava respondendo a seus seios ou a sua lesão. Seus mamilos estavam
duros e ela ardia sob seu toque, mas ela não podia dizer se ele havia
notado.
A lesão final foi aliviada pelas mãos atentas do rei.
Os olhos de Lydia estavam fechados, e ela sentiu sua hesitação antes
que os dedos do Rei se movessem de sua cintura até o lado de seu seio,
tocando-o suavemente com a ponta do dedo, circulando ao redor de seu
mamilo...
Vozes ressoaram no corredor. Rei Morrison e Rainha Adria, discutindo
na grande escadaria.
A intoxicação de Lydia se dissipou. Ela se sentou na cama, segurando
o lençol contra o corpo nu. A ansiedade que sentira antes, ao ouvir os reis
e as rainhas discutir, voltou imediatamente para ela, e ela percebeu que
aquele poderia ser o momento de contar a Gabriel sua preocupação.
— Venha comigo, — ela explodiu antes de se recuperar, — se você
quiser, Vossa Majestade.
Agora havia malícia nos olhos dela.
GABRIEL
Lydia amarrou o robe de seda em volta dela mais uma vez. Depois de
gozar, ela mal podia acreditar que tinha se arriscado tanto.
Até mesmo deixar seu quarto com roupas tão sensuais tinha sido
perigoso. E ela mordeu a mão dele com força. Mas estar com o rei em seu
quarto a colocou em transe. Só agora, na beira do orgasmo, o encanto se
quebrou.
Suas bochechas queimaram quando ela percebeu que ele tinha gozado
dentro dela.
O braço do rei roçou sua cintura enquanto ele pegava sua camisa.
Seus pensamentos imediatamente enviados a ele: Lydia: Oh Deus. Não posso
arriscar engravidar agora...
Gabriel: Eu tomei minha dose de infertilidade do dia, então não se preocupe.
Mulheres.
O Rei Gabriel ficou mais uma vez confuso, logo quando ele estava
começando a entender a Slifer do Fogo.
Ele suspirou, sem saber o que havia feito de errado.
Certamente, quando o encontro acabou, ele sentiu a mudança de
humor também. Mas ele não entendia por que Lydia tinha saído furiosa
daquele jeito.
Ele permaneceu na biblioteca por mais alguns momentos, olhando
para o enorme livro. É claro que o aviso de Lydia chamou sua atenção,
mas o que ela queria que ele fizesse? O rei Uzier ficou preso praticamente
durante toda a vida de Gabriel. Ele estava quase certamente morto.
Ele suspirou mais uma vez. A essa altura, já era tarde da noite e
Gabriel decidiu que não havia mais nada a fazer hoje. Melhor ir para a
cama.
O corredor estava escuro. O rei Gabriel achou estranho por um
momento, mas ele conhecia o castelo como a palma de sua mão.
Além disso, ele sempre se sentira confortável no escuro. Não foi
problema para ele encontrar a curva que levava à escada de seu aposento
principal.
Finalmente, ele fechou a porta pesada atrás de si. Que dia longo.
O rei Gabriel estava prestes a tirar a roupa para tomar banho quando
uma voz profunda chamou seu nome. Surpreso, ele se virou para ver o
Rei Calix sentado rigidamente em sua espreguiçadeira dourada.
O rei Calix sempre foi elegante e fino. Agora não seria diferente.
Suaves peças de ouro cintilavam em sua pele escura, e ele descansava um
braço coberto de seda em um cajado de marfim.
— Não é minha intenção assustá-lo em seus aposentos privados. Mas
há um assunto que eu não poderia esperar até amanhã para discutir. — A
boca do rei Calix estava cerrada em uma linha fina.
— Olá, Calix. Bem-vindo. Gostaria de um pouco de rum élfico? Eu
mesmo tomarei um copo, depois do dia que tive...
— Isso não seria adequado para a gravidade da situação, Vossa
Majestade.
Gabriel parou no meio do movimento, olhando para o Rei sempre
sério de sua barra folheada a ouro que ostentava mais de cem garrafas de
cristal.
— E qual é exatamente a situação?
O rei Calix se levantou. Sua altura por si só exalava poder. — Minha
Elise está sendo mantida em sua masmorra, Gabriel. Ela está sofrendo e
com frio depois de ser amarrada por sua própria sombra à parede úmida.
E eu sei que foi devido à sua Magia das Sombras.
— Oh, Calix. — Gabriel tomou um gole. — Eu sinto muito por tê-la
aprisionado. Mas você tem que entender, ela chegou e arruinou o jardim
da minha irmã. E então feriu minha hóspede, sua colega Slifer. Achei que
você teria feito o mesmo com ela.
— Como ousa assumir minhas ações?
— Não foi isso que eu quis dizer... Não tive a intenção de te ofender.
— É tarde demais para um pedido de desculpas, — King Calix
disparou, — se é isso que esse desrespeito bêbado significa para você.
— Woah, woah, woah! — Gabriel começou. Isso estava ficando fora de
controle. Agora, Calix estava sendo rude com ele. Em seu próprio palácio.
Em seus próprios aposentos! Tentáculos sombrios começaram a circundar
os pés de Gabriel.
— Já chega, Gabriel. — Calix cravou o bastão no chão. O quarto
inteiro estremeceu. — Chega de bobagens! Eu tenho certeza de que você
não deseja despertar minha ira!!!
Capítulo 22
BRISA FRIA E VENTO UIVANTE
GABRIEL
Lux: Bem, ela está sentada onde eu gostaria de tomar meu café da manhã.
Lux: E eu acho que você pode descobrir que tem algo em comum com ela. Vocês duas
são Slifers. Ela pode ser poderosa, mas ontem você a socou na cara.
Lydia: Ugh.
Whoo-WHOOOSH!
Uma bola de fogo explodiu no ar. Um dente-de-leão branco preso em
seu caminho fumegou conforme as chamas morreram.
WHOOSH!
Outra bola de fogo, desta vez mais longe, quase até a cerca dos fundos
do quintal de Aramis atrás de sua loja.
WHO O-WHO O-WHOOSH!
A única coisa boa sobre a maneira como Lydia estava se sentindo era
que seus fogos eram grandes, ela pensou consigo mesma. Eles estavam
quentes, bagunçados, quase fora de controle. Como sua raiva.
Ela podia sentir Aramis olhando para ela de sua porta. Ela não
precisava se virar para saber exatamente o sorriso que ele estava
exibindo. Um sorrisinho astuto que perguntava: — Então o que
exatamente aconteceu hoje senhorita?
Ela tentou esquecer que ele estava ali. Isso provou ser fácil. Na
verdade, era fácil esquecer tudo que não fosse o que a estava
atormentando.
Ela guardou uma imagem do rosto de Elise em sua cabeça, aquele
sorriso malicioso antes de contar a Lydia o — velho segredo — que ela
poderia querer saber.
É claro que ela queria saber!
FOOM!
Outra bola de fogo, esta pequena como uma pedra de arremesso, mas
mais quente, mais rápida e indo mais longe do que suas outras bolas de
fogo. Ela navegou através dos galhos do velho carvalho encantado de
Aramis.
— Cuidado com as minhas casas de pássaros! — ele implorou.
Lydia parou por um momento. Ela estava lançando fogo como um
impulso, como uma reação à raiva em seu coração, mas talvez ajudasse
ser estratégica.
Ela imaginou a cabeça de Gabriel no telhado de Aramis, escondida
entre os fios do para-raios um tanto estranho e elaborado de Aramis.
Acertar Gabriel e não explodir o para-raios da casa—bem, não
explodir o telhado da casa— exigiria precisão.
Ela dobrou os joelhos e colocou os punhos na frente do rosto como
uma lutadora. Fechando os olhos, ela imaginou Gabriel, o Rei, ao lado de
um Sacerdote da Magia no dia de seu casamento, observando com olhos
amorosos sua noiva começar a caminhar pelo corredor.
Uma expressão que ele nunca mostrou a ela! Com um amor que ele
nunca poderia-sentir por ela!
Lydia lançou outra bola de fogo compacta, voando até o telhado e...
bem entre as estruturas de metal do para-raios.
— ISSO! — ela comemorou.
Lux estava sentado em cima da cerca do quintal. — Muito bem, Lydia!
Talvez você queira fazer uma pausa depois de todo o seu trabalho árduo.
S-só por um momento? — Seu sorriso falso mostrou que ele estava
nervoso, Lydia poderia queimar a loja de Aramis se ela continuasse.
Tudo bem. Lydia poderia fazer uma pequena pausa. Ela cruzou o
gramado rapidamente e desabou na grama fria à sombra do carvalho.
Ela fechou os olhos e suspirou. Por que a história de Elise a afetou
tanto? Não era como se ela se importasse, em teoria, que Gabriel tivesse
estado com outras mulheres. Ela sabia que ele tinha — ele tinha três
séculos de idade, afinal!
Mas havia algo sobre essa notícia... que Gabriel tinha sido casado.
Por alguma razão, foi o suficiente para fazer Lydia explodir em
chamas. Com raiva, sim é mágoa. E confusão. Por que ela se importava 1
Importar-se não implicava que ela tinha sentimentos pelo rei?
Ou até mesmo que ela o amasse? Não. Ela não o amava.
Ela já sabia que ele já havia se apaixonado antes. Mas essa novidade
era diferente. Foi porque ele tinha sido casado 1
Ou seus próprios sentimentos mudaram desde que Lis contou a ela
sobre o passado de Gabriel no jardim?
Ela tentou ordenar suas emoções. O sexo era bom. E ela gostava do
fato de que ele tomava seus poderes mais fortes.
E às vezes, ela gostava de falar com ele, ou apenas olhar para ele
quando ele sorria. E ela gostava do momento depois que eles faziam sexo,
quando eles desabavam um sobre o outro e ainda estavam se tocando,
ainda se beijando...
Ela se levantou e decidiu praticar mais seus poderes de fogo. Essa era
uma boa maneira de canalizar suas emoções, certo?
Aramis subiu na grama com suas perninhas.
— Lydia, querida, tenho um exercício para você. Você gostaria de
tentar?
— Claro, Aramis. Vá em frente. — Lydia estava irritada. Cada segundo
passado sem fazer fogo, ela se sentia mal-humorada e desconfortável.
— Então... — Ele nervosamente ajustou seus óculos de arame grosso.
— Vamos praticar uma parede de fogo. Isso servirá como um limite para
conter ou proteger quem você deseja. Que tal você criar uma parede de
fogo ao redor do gramado? — Ele correu de volta para a segurança da
porta, falando: — Apenas, por favor, não queime minha cerca de
madeira!
Lydia aceitou o desafio. Fechando os olhos, ela imaginou uma parede
forte e quente de chamas circundando todo o gramado.
A parede impediria a entrada de qualquer coisa e qualquer pessoa que
pudesse machucá-la. A parede a protegeria. Com a parede ao seu redor,
ela poderia permanecer forte, independente, intocada...
Erguendo os braços lentamente, uma serpente de fogo começou a
queimar perto da cerca dos fundos. Como se ela tivesse derramado um
rastro de gasolina, as chamas seguiram ao redor do gramado.
Elas se moviam lenta, mas firmemente, crescendo até que quase três
lados do gramado estivessem cobertos.
As chamas rastejantes pararam. Lydia cuspiu, cerrando os punhos e
franzindo a testa em concentração até que o suor começou a jorrar.
Até que seus músculos se contraíram com o esforço, e a linha de fogo
não cresceu, mas desvaneceu-se em uma nuvem de fumaça.
— ARRRRGHHHHHHHHHH! — Lydia gritou, caindo de joelhos no
centro do gramado e pendurando a cabeça entre as mãos.
Ela sentiu uma pequena língua áspera lambendo seu ombro. As patas
de Lux tocavam em seu braço enquanto seu companheiro felino subia
nas patas traseiras para ver como ela estava.
— Oh, Lux... — ela suspirou. Lydia estava exausta. E totalmente
frustrada. E nem mesmo era mais sobre o rei, mas sobre seus poderes.
Sua parede estava tão fraca que uma criança poderia pular por cima.
Ela tinha visto seus companheiros Slifers criarem cachoeiras,
tornados, jardins inteiros. Eles poderiam fazer qualquer homem adulto
na terra correr para se proteger. Eles poderiam se proteger. E Lydia não
podia.
Aramis entrou. Ela o ouviu chamar da cozinha: — Entre para tomar
uma boa xícara de chá gelado quando estiver pronta, certo, querida?
Oh não. Mais chá de abóbora horrível. Mas Lydia estava cansada e
com sede. Qualquer coisa seria melhor do que nada. Levantando-se do
chão, Lydia seguiu Aramis em sua pequena loja com Lux atrás dela.
Ela se sentou em seu sofá irregular, mas confortável. Estava
remendado com pedaços de diferentes tecidos brilhantes.
Lux se enrolou como uma bola ao lado dela e Aramis se sentou em sua
cadeira de couro, que era tão alta que seus pés não alcançavam o chão.
Ele colocou xícaras de chá gelado suados na mesa surrada.
— Lydia, filha da chama, deixe-me dizer primeiro, estou orgulhoso de
você por seu trabalho hoje. Suas chamas eram fortes e surpreendentes.
— Eu acho que elas surpreenderam até você às vezes, — o velho anão
riu.
— Eu quero falar com você sobre a natureza do fogo. Você sabe que a
água flui, e o vento uiva, a terra produz vida. Talvez mais do que ninguém, o
fogo queima...
Lydia olhou para ele. Às vezes, parecia que ele só falava em enigmas.
— Hum, bem, sim. — Aramis não se incomodou. Ele continuou, — Por
sua própria natureza elementar, o fogo é reativo. O fogo é caótico,
apaixonado, imprevisível.
Difícil de controlar.
Aramis olhou para Lydia por cima dos óculos, com as sobrancelhas
erguidas, como se esperasse que Lydia entendesse.
— Olha, Aramis. Eu entendo que o fogo é especial, que tenho sorte de
tê-lo como meu poder, blá, blá, blá. Mas Ayana, Redmond e Elise têm
tanto controle sobre seus elementos, enquanto eu ainda sinto que não
consigo controlar meu fogo. Às vezes, acho que ele me controla.
— Minha filha, — ele continuou. — Isso é natural. Pois o fogo está
inextricavelmente ligado às emoções da Slifer do Fogo. E as emoções são
impossíveis de controlar.
O anão piscou e Lydia tentou não revirar os olhos. — Mas a chave
para a Slifer do Fogo não é controlar as emoções. E abraçá-las. Você
notou que quando sente raiva, ou medo, ou amor, seu fogo é mais forte,
não é?
Lydia assentiu.
O sábio anão fez uma pausa para sorver seu chá de abóbora. — Isso e
sexo.
Lydia quase engasgou. — Com licença?
— De fato, a ligação entre um Rei e uma Slifer sempre fortalece
ambos. Mas para nenhum par isso é mais verdadeiro do que a Slifer do
Fogo e seu parceiro destinado. O fogo é paixão.
— Quanto mais apaixonado o relacionamento. mais poderosos se
tomam a Slifer do Fogo e o Rei. Se houver amor verdadeiro entre os
dois... a Slifer do Fogo e seu parceiro real são capazes de chocar o mundo
inteiro com sua força.
Lydia o encarou, absorvendo tudo isso. Amor verdadeiro? Não era algo
de contos de fadas? Ela sabia que ela e Gabriel não tinham isso, mas o
sexo deles era apaixonado... certo?
— Sinto muito, minha querida. Eu fui longe demais. Você está muito
pálida. Por enquanto, eu aconselho você a se concentrar em sexo. Faça
mais sexo e explore sua paixão. Nunca tenha medo do que você sente,
filha da chama.
Ele sorriu calorosamente para ela. irradiando boa vontade.
— Obrigada, Aramis, — Lydia disse, falando sério. — Você me deu
muito em que pensar.
Lydia e Lux pediram licença para sair da loja.
— Vamos correr, Luxy! — Lydia disse. Ela sentiu uma explosão de
energia. Ela não estava com humor para conversar. Ela estava com
vontade de seguir o conselho de Aramis—encontrar o rei e explorar sua
paixão.
GABRIEL
O rei sentou-se em seu trono. A coroa pesava tanto em sua cabeça que
ele se apoiou no punho enquanto olhava pela janela aberta. O jardim
soprava delicadamente com a brisa. Era um dia de outono perfeito.
Cercado por seus conselheiros reais, Gabriel se sentia exausto. Eles
estavam discutindo a possibilidade do rei Uzier ainda estar ativo, e ainda
tentando criar problemas.
Seus conselheiros não acreditavam que isso fosse possível, mas não
tinham nenhuma outra sugestão de por que os Caçadores de Feiticeiros
estavam assolando todos os reinos de Ignolia.
Aero estava andando de um lado para o outro. Distraído por um
momento, Aero perguntou: — Gabriel, você machucou sua mão?
— Oh. Erm... Eu deixei cair um livro sobre ela na biblioteca na outra
noite.
Aero ergueu uma sobrancelha. Os conselheiros estavam envolvidos
em pequenas divergências.
De repente, a porta da sala do trono se abriu. Todos ficaram em
silêncio.
Era Lydia, sem fôlego e coberta com um brilho de suor do dia quente.
Seu cabelo estava rebelde. Sua expressão mostrava que ela não esperava
encontrar uma reunião real ocorrendo, mas também, ela não se
importava. O fogo latente em seus olhos dizia que ela precisava ver o Rei,
agora.
Ao vê-la, o rei sentiu uma onda de energia.
— Todo mundo. Para fora. AGORA!
Os velhos trocaram olhares de cumplicidade, mas partiram
rapidamente, a fim de permitir que o rei e sua feroz hóspede
conversassem em particular. Lydia exigiu uma reunião de emergência. E
palavras não seriam necessárias.
Capítulo 24
O TRONO DO REI LYDIA
Lydia sentiu um frio na barriga no momento em que ficou sozinha
com o rei. Ele estava sentado em seu trono e seus olhos não haviam
deixado seu corpo desde que ela entrou na sala.
Ele sorriu um sorriso diabólico. A tristeza e a raiva que Lydia sentiu no
início do dia pareciam uma memória distante. Agora, ela só sentia
luxúria.
— Venha aqui, Lydia, — chamou o rei. Ainda era um comando, mas
pelo menos ele usou o nome dela desta vez.
Ela obedeceu, mas se moveu lentamente. Ela caminhou sensualmente
pela sala, sem pressa. Fazendo ele esperar. De seu assento no trono, ele
abriu as pernas.
Lydia se aproximou do trono. O rei ficava devastadoramente bonito
em sua coroa. Era de ouro, que brilhava em seus olhos, e os rubis
vermelhos colocados na frente cintilavam com seu poder.
— Como posso ajudá-la hoje, Slifer do Fogo? — perguntou ele, com a
mão apoiada no cajado. Ainda havia malícia brilhando em seus olhos.
— Estou aqui para solicitar uma reunião com Vossa Majestade, —
Lydia entrou na brincadeira, olhando para o rei. Ele parecia exuberante
em seu enorme assento dourado.
— Você tem toda a minha atenção, — disse ele, — mas talvez nossa
reunião seja mais produtiva se tirarmos nossas roupas primeiro.
Tomada por uma confiança desconhecida, Lydia começou a
desabotoar a parte de cima do vestido amarelo. Desfazendo a fita em sua
cintura, ela deixou cair o vestido inteiro no chão de madeira escura. Ela
não estava vestindo nada por baixo.
O rei lambeu os lábios e pousou a mão no colo. Ela podia ver o
contorno de sua ereção e, quando ele a alcançou, sua respiração ficou
presa na garganta.
— Sua vez, senhor — sussurrou Lydia, enquanto subia o degrau que
elevava o trono dele. Ele tirou a túnica de linho e desabotoou as calças.
Puxando-as para baixo, mas nunca deixando seu trono, ele tirou o pênis
das calças e acariciou-o lentamente. Lydia não conseguia desviar o olhar.
Com a mão livre, o rei estendeu a mão para ela, e eles finalmente
fecharam a distância entre eles.
No momento em que seus lábios se encontraram. sua paixão não pôde
mais ser contida.
Lydia segurou o peito forte do rei enquanto subia em cima dele no
trono. Ela podia sentir seu pau duro latejando sob ela, e isso fez a
umidade entre suas pernas florescer ainda mais.
Ele suspirou, segurando suas nádegas com ternura, então sua cintura.
Ele a segurou como se ela fosse o melhor tesouro de toda a Irmania.
Incapaz de aguentar a espera por mais tempo, Lydia alcançou seu
pênis e o colocou debaixo dela. Ela abaixou seu peso sobre ele, e o rei
gemeu em seu ouvido, perdendo-se. Ela o montou, com seu enorme
membro a preenchendo.
Ela sentiu a mão dele em seu seio, sentiu-o subindo até a garganta,
onde a segurou por um momento, mas então seu aperto ficou mais
forte...
Abrindo os olhos, Lydia estava prestes a pedir a Gabriel para ser mais
gentil quando viu a mão em seu pescoço.
Não era a mão de Gabriel, mas o esqueleto de uma. Osso branco
descorado, coberto de podridão...
Lydia gritou, pulando do trono e do rei. Ela gaguejou e segurou o
pescoço.
Era a mesma mão que viera para ela do Livro de Decimus! Ela olhou
ao redor, mas a mão fantasmagórica havia desaparecido.
Gabriel olhou para ela, nu e totalmente confuso. — Do que você está
com medo? — ele perguntou. Pela primeira vez, sua voz era baixa.
— Eu... eu não tenho ideia... — Lydia balbuciou: — Sua mão, mas era...
GABRIEL
Ainda abalado por sua 'reunião' com Lydia, o rei Gabriel bateu na
porta do quarto de sua irmã.
— Lis? Sou eu.
Ela abriu a porta. — Irmão! — ela o abraçou e o convidou a se juntar a
ela em sua mesa na varanda. Seu bloco de notas estava aberto e sua
caneta de pena mergulhada em tinta.
— Você estava escrevendo? — ele perguntou.
— Sim, mas eu estava entediada de qualquer maneira. Estou feliz que
você esteja aqui, — ela inspecionou seu rosto, — Pensando em algo?
Ele suspirou. — Sim. Acabei de ver Lydia... — Ele não tinha certeza de
como continuar. — Estou preocupado que ela esteja com medo de mim.
— Ele apoiou a cabeça nas mãos.
— Oh, irmão, — Lis disse, com amor em seus olhos. — Você já pensou
que talvez ela tenha medo do que sente por você, e não de você?
— O quê? Não, não acho que seja isso. Acho que ela tem medo da
magia das sombras dentro de mim. Quer dizer, como posso culpá-la?
Essa é a primeira parte de mim mesmo que mostrei a ela. — Gabriel
olhou para o Reino.
Ele poderia dizer qualquer coisa a Lis, mas não conseguia encontrar
seus olhos. — E às vezes, também tenho medo disso. Não posso deixar de
pensar em Evine... como ela se entregou à sombra.
Lis colocou a mão no braço de seu irmão. Quando ele finalmente
olhou para ela, viu lágrimas em seus olhos.
— Confie em você mesmo, irmão, — ela disse, com amor em sua voz.
— Você é um Rei forte e justo. Evine foi seduzida pelo poder que
encontrou na escuridão.
Ela continuou: — Nós dois sabíamos disso antes mesmo das coisas
darem tão errado. Você conhece o poder por toda a sua vida. Você não se
perderá em tal tentação.
Gabriel olhou para ela. — Obrigado, Lis. Acho que você está certa
sobre a escuridão. Tenho me sentido mais forte contra isso, como se
pudesse resistir mais.
— Desde que conheci Lydia, na verdade... — Ele ficou quieto por um
momento. — Eu só me preocupo que a escuridão do meu passado irá
afetar ela.
— Gabriel, o único que pode fazer você se sentir melhor sobre isso é
ela. Acho que você precisa contar a ela sobre o seu passado... Tenho a
sensação de que ela pode surpreendê-lo.
O rei suspirou.
Ele sabia que sua irmã estava certa.
Mas ele não pôde deixar de pensar na última vez em que se abriu para
alguém.
Quanta dor ela causou a ele.
Examinando sua propriedade da varanda de Lis, ele notou um grupo
de pessoas sentadas à mesa no gramado. Pelo cabelo flamejante, ele sabia
que Lydia estava com eles.
Ela estava rindo e sua beleza o impressionou mais uma vez.
Talvez desta vez possa ser diferente...
LYDIA
Lydia: Você não vai acreditar, Lux. A mesma mão esquelética do Livro de Decimus veio
para mim ontem.
O rei adorava passear com a Slifer do Fogo porque sua curiosidade era
contagiante.
Ele havia se acostumado tanto com Imarnia que estava cego para sua
beleza, mas a admiração nos olhos de Lydia o fez ver isso de novo.
— Primeiro, — ele perguntou ao proprietário, um homem corpulento
tão velho quanto as antiguidades que vendia, — gostaria de ver o livro
que encomendei.
— De fato, Vossa Majestade Real Suprema, — o lojista curvou-se.
— Por favor, — respondeu o humilde Rei, — chame-me de Vossa
Majestade.
O proprietário tirou um pacote de debaixo da caixa registradora. Era
um livro grosso embrulhado em papel pardo. Ansiosamente, o rei rasgou
o embrulho. 'Guia de Jardinagem de Ignolia, Edição I'.
— É um presente para minha irmã. — O rei sorriu.
— Para o aniversário dela. E um guia para o cultivo das plantas mais
raras de Ignolia. Existem apenas cem cópias ainda existentes.
Ele folheou a ilustração de uma videira enrolada na perna de um leão
enquanto tentava fugir.
— Ela vai adorar, — Lydia disse.
O rei ergueu uma sobrancelha para o proprietário. — Agora, o outro
item que solicitei?
O lojista entregou-lhe uma pequena caixa preta, que o rei passou para
Lydia. Ele encorajou: — Abra!
Ela encontrou um pingente de cristal em um cordão de couro preto.
O rei observou seus olhos arregalados com carinho.
— E encantado. Isso tornará seus poderes mais fortes. — Ele colocou
ao redor do pescoço dela.
O colar combinava com ela e descia elegantemente em direção aos
seios, que Gabriel teve que tomar cuidado para não olhar fixamente. O
vestido dela era realmente incrível.
Ele realmente adorava veludo vermelho.
Dentro do cristal havia uma pequena flor vermelha, que ardia com a
mesma chama sobrenatural dos olhos de Lydia. Olhando para ela,
Gabriel tocou suavemente com o dedo. De repente, pequenas fitas
escuras, como fumaça, ergueram-se da flor vermelha. O colar ficou ainda
mais bonito.
O rei tentou sinalizar para o dono da loja para não dizer o preço na
frente de Lydia, mas o homem bem-intencionado gritou: — O colar vai
custar dez mil rúpias, senhor.
— Dez mil?! — Lydia exclamou, gesticulando para remover o colar. —
Eu jamais poderia...
Gabriel tocou seu pulso para detê-la. — Eu insisto. E uma ordem do
seu rei. — Ele piscou. Sentindo que Lydia ainda não estava convencida,
ele continuou.
— Que tal isso... Vou comprar um colar para você e você pode me
comprar um rum quente na taverna da esquina?
Lydia suspirou. Ela segurou seu colar. O rei sabia que ela queria
muito.
— Obrigada, — ela exalou. Seus olhos brilharam.
LYDIA
Lydia: Me beije!
Gabriel: Aqui?
Ela hesitou por um momento, olhando em seus olhos. Ele sabia que
ela estava surpresa por ele estar pedindo a ela para assumir o controle.
Mas ele estava. Ele queria estar totalmente ao dispor dela.
Ela puxou a camisa dele pela cabeça, inclinando-se para beijar seu
pescoço e peito nu, que brilhava ao luar. Sua pele era macia e esticada
sobre seus músculos magros.
Lydia não hesitou mais. O rei sentiu as mãos dela subirem por suas
coxas até que ela sentiu sua ereção, que estava esticando sob suas calças.
Sua respiração ficou tensa.
Ela empurrou para baixo o ombro de seu vestido vermelho,
removendo um braço e depois o outro, para que ficasse em volta de sua
cintura. Seus seios o chamavam. Ela deixou todo o vestido cair no chão.
Tudo no mundo desbotou.
Era apenas seu corpo nu. Ela ficou ali por um momento, deixando-o
observá-la. Havia aquela mesma expressão em seus olhos. E algo que
parecia... poder.
Ela desabotoou a calça dele com uma das mãos e ele se levantou
enquanto ela a abaixava. Sentando-se mais uma vez, sua masculinidade
saltou entre as pernas.
Chamando por ela. Finalmente, eles estavam nus. Suas peles cantavam
uma contra a outra com energia quase elétrica. Faíscas e sombras.
Eles não conseguiam parar de se beijar. Havia tantos lugares para
beijar, para tocar.
Ela o empurrou para a cama até que ele se deitasse.
Ela rastejou em direção a ele em suas mãos e joelhos. Ela beijou seu
peito, descendo por seu estômago até que ele pudesse sentir seu hálito
quente em seu pênis.
Ele exalou. Ela pegou seu membro em seu punho, apertando-o
suavemente e movendo sua mão para cima e para baixo, lentamente.
O rei gemeu.
Quão desesperadamente ele queria sentir sua boca...
Finalmente, ela deu a ele o que ela sabia que ele queria.
Ela colocou a extremidade de seu pênis entre os lábios e o chupou.
Era tão bom que o rei ficou preocupado em chegar ao ápice naquele
momento.
O pensamento de gozar em sua boca o deixava louco.
E a maneira como ela o lambia, acariciando seu eixo enquanto
chupava sua extremidade, o fazia gritar. Ele não conseguia desviar o
olhar.
Ele disse: — Se você não parar, eu vou...
Ela olhou para ele. Sua mão ainda estava em seu eixo, mas ela parou
de beijá-lo.
— Ainda não, — ela respondeu. Uma gota de líquido opaco brilhou na
ponta de seu pênis. Seu desejo, vazando, pronto para explodir. Ela
lambeu e ele não pôde deixar de gemer.
Ela subiu em cima dele, posicionando seu pênis embaixo dela. Ele
penetrou nela, e os dois suspiraram.
Finalmente.
Ela o cavalgou, gemendo, com seus seios saltando. Um brilho de
chamas cercou sua cabeça e seus ombros, iluminando atrás dela. Ela
parecia um anjo. Um anjo de fogo.
Abaixando-se sobre ele, a respiração dela estava quente em seu
ouvido.
Ouvindo seus gemidos tão perto dele, ele sabia que não poderia durar
muito mais tempo. Mas ele sabia que ela sentia o mesmo.
Ela estava se esfregando contra ele como se o quisesse tão pro
fundamente quanto ela poderia tê-lo. Seus gemidos estavam
aumentando...
Sua liberação veio como uma inundação, como ser levado por uma
onda de calor. Seu estremecimento mostrou que ela tinha gozado
também.
Ele a segurou perto de seu peito, travando os braços ao redor dela. Ele
a segurou tão perto que nada poderia ficar entre eles.
Nada poderia tocá-los, se eles continuassem assim...
Tão confortável que parecia feliz, o Rei adormeceu apenas um
momento depois, ainda dentro da Slifer do Fogo.
LYDIA
O salão do baile era um inferno. Lydia estava pronta, mas tudo estava
acontecendo tão rápido que ela não sabia para onde se virar.
— Lydia! — Lux chamou, correndo em direção a Redmond, que
acabara de receber um golpe no braço de um chicote de Caçador.
Imediatamente, Redmond começou a sangrar, seu braço aberto como
se o chicote tivesse sido revestido por vidro quebrado.
Lydia lançou um grande e selvagem fogo contra o Caçador. Ele estava
envolto em chamas. Quando o fogo se extinguiu, a fumaça subiu do
Caçador, cuja pele estava carbonizada. Ele estava ferido, mas não morto,
e soltou um gemido doentio de dor.
Elise se materializou ao lado dela. Lydia percebeu que a Slifer do Ar
estava tão sobrecarregada quanto ela.
Pessoas estavam morrendo e ninguém estava seguro. Se os Slifers e os
Reis não pudessem proteger o Reino, o que seria deles?
Lydia estava apavorada. O medo tomou seu fogo quente e pesado,
imprevisível.
— Elise! — ela gritou, e os olhos das Slifers se encontraram. Ambas
eram puro fogo. — Com ar e fogo juntos, podemos criar... uma
tempestade! — As duas deram as mãos, estendendo as mãos livres até o
teto. Instantaneamente, criou-se um céu turvo, ficando laranja. Deve ter
sido da própria cor do inferno.
O trovão rugiu tão alto que sacudiu as paredes do palácio e
interrompeu todas as brigas no salão em seus lugares. Apenas por um
momento.
Relâmpagos irregulares desceram do teto, atingindo os Caçadores de
Feiticeiros.
O que Lydia havia queimado foi eletrocutado até a morte, e muitos
outros foram atingidos também. O Rei Morrison ajudou as Slifers
enviando seus próprios raios.
O salão de baile brilhava com relâmpagos e cheirava a carne podre.
A cena era grotesca, mas as Slifers estavam tendo sucesso. Os
Caçadores estavam caindo como moscas.
Elas poderiam salvar o dia?
Lydia sentiu uma presença atrás dela, tão fria e escura quanto o centro
de uma floresta esquecida por Deus. Virando-se lentamente, tudo que ela
podia ver era uma cicatriz. Profunda e penetrante. Onde antes estivera
um olho direito.
Um hálito fétido e podre encheu suas narinas e umedeceu seu rosto.
Oh. Deuses.
De repente, Lydia foi atirada do lado de Elise. A tempestade evaporou
instantaneamente. O Caçador de Feiticeiros havia escolhido seu próximo
alvo.
Ele fez a Slifer do Fogo colidir com a parede do palácio.
Lydia não gritou, nem mesmo quando seu corpo bateu na pedra com
a força de cinquenta moxars em movimento.
Ela tentou se levantar do chão, lutando para enviar uma bola de fogo
em direção ao Caçador. Uma chuva de faíscas surgiu na frente dela, mas
ela estava muito fraca para acendê-las.
O Caçador gargalhou.
Ele enviou cordas brancas serpenteando até ela, apertando ao redor de
suas pernas, sua cintura, cortando sua carne com seus fios afiados,
espiralando até que se enrolaram em seu pescoço...
Lydia observou o Caçador de Feiticeiros machucá-la, observou-o
segurar sua mão, prestes a minar sua magia...
De repente, uma lança explodiu no peito do Caçador. Ele desabou no
chão, finalmente derrotado.
As cordas brancas se dissolveram em areia.
Um velho feiticeiro com longos cabelos brancos balançou onde seu
assassino estivera.
— LUCIUS?! — A enfraquecida Slifer do Fogo pensou que ela poderia
estar tendo alucinações.
Mas não—era o famoso bruxo, Lucius, que havia retomado bem a
tempo de salvar sua amada neta.
Um cantil caiu e tilintou contra o chão no salão de baile agora
silencioso.
— Oi, Lydia, — ele resmungou. — Desculpe, estou atrasado.
Lydia mal teve um momento para perceber que ela estava viva, muito
menos seu querido guardião morto há muito tempo. Porque a sala estava
subitamente imersa em uma escuridão tão profunda que ninguém
conseguia ver um centímetro diante deles.
Uma luz surgiu no teto, fraca como um farol no mar.
A mulher flutuando na luz pálida estava em silêncio, envolta em um
pano escuro. Como se ela não pudesse suportar mais brilho. Como se ela
tivesse se tomado uma com a sombra.
A mulher era terrivelmente magra. Mesmo que sua presença física
fosse leve, era difícil desviar o olhar dela. Seu fino cabelo loiro caía sobre
os ombros e descia até a cintura.
Sua pele era pálida e fina, como se nunca tivesse visto o sol. Em sua
garganta, havia uma ferida profunda...
— Voltei ao Palácio de Imarnian para reivindicar meu lugar de direito,
— gritou a mulher. Sua voz era tão alta e aguda que Lydia sentiu um
corte direto em seu peito.
O sangue da Slifer do Fogo gelou. Ela poderia ser...?
Capítulo 29
A FÚRIA DA SLIFER DO FOGO
GABRIEL
O rei observou Lydia queimando de agonia. Agora, seu fogo era tão
brilhante que poderia iluminar o mundo para sempre. Essa sombra
nunca poderia vir novamente.
Mas a que custo?
Lydia teria que se perder no processo. E tudo iria queimar, não só o
mal.
O rei não poderia perdê-la para um poder sinistro.
De novo não.
Lydia, uma bola de fogo derretida, ergueu-se no ar e mirou em Evine.
A Slifer do Fogo rugiu em sua direção quando a confiança de Evine
finalmente hesitou. A Rainha das Sombras ergueu a mão para proteger os
olhos da luz ofuscante.
Lydia precisaria de um grande incêndio para destruir a rainha das
sombras.
Ela sabia que o poder deve corresponder ao poder, e a escuridão na
alma de Evine poderia encher o abismo do oceano.
Então, seu incêndio tinha que ser tão grande. Tão insondável e
profundo...
A explosão de Lydia se concentrou em Evine. A mulher sombra
encolheu-se no calor extremo, cobrindo a cabeça.
O fogo se expandiu para dentro do salão. O rei sabia que ela
incendiaria o castelo. Ela queimaria todo o reino....
— Pare! — Gabriel gritou. Ele enviou sua sombra atrás dela.
Ele se lembrou por um momento da primeira e última vez que a
controlou com sua sombra, quando eles estavam na floresta. Quando ele
a suspendeu no ar e ela despertou sua luxúria...
Quão longe eles estavam daquele momento.
Sua sombra não era páreo para o poder derretido de Lydia.
O rei sabia que só havia uma maneira de alcançá-la. Apenas uma
maneira de trazê-la de volta à sua humanidade.
E não era com magia.
Ele se aproximou dela, embora o ar ao seu redor estivesse tão quente
que ele já estava queimando.
O rei estendeu a mão para ela e colocou-a em seu braço. Oh,
queimava! Sua pele fervilhou no instante em que tocou sua pele
derretida.
Mas ele precisava continuar. Ele precisava fazê-la o sentir.
— Lydia! — ele gritou. Sua respiração estava ofegante enquanto a
queimadura subia por seu braço.
— Escute! E o Gabriel. Estou aqui. Eu preciso que você me escute...
Não queime tudo. Por favor. Você destruirá tudo no processo.
— Até você mesma. E você não pode fazer isso... Você não pode...
O rei estava gravemente ferido. Mas Lydia estava lá em algum lugar.
Ele não podia permitir que ela se entregasse à escuridão interior. Ele
nunca faria isso, agora que a conhecia.
A Slifer do Fogo que virou seu mundo de cabeça para baixo.
A chama cintilou por um momento. Antes de explodir de uma vez em
uma nuvem de fumaça, que cobriu todo o salão de baile com cinzas
brancas.
A fumaça estava por toda parte. O rei estava coberto de fuligem negra.
Desabando no chão, todo o corpo de Lydia estava preto como carvão.
Ela se enrolou em si mesma, exaurida pelo calor que havia exercido.
A batalha acabou. Os caçadores restantes haviam queimado em suas
chamas.
O rei caiu de joelhos, envolvendo seu corpo cansado em seus braços.
Fumaça emergia deles. Seu braço ferido doía, mas o rei não pensou nisso.
Ele pensou em Lydia.
— Sinto muito, muito mesmo, — exclamou o rei.
Ele pensou em sua respiração uniforme enquanto ela dormia em sua
cama pela manhã. Como, quando eles fizeram amor, seu cabelo pegou
fogo porque ela não conseguia conter sua paixão.
O brilho malicioso em seus olhos quando ela o provocou. O jeito
amoroso com que ela coçava a cabeça de Lux.
— Lydia. Sinto muito por ter colocado você nesta confusão... mas eu
simplesmente não posso deixar você ir.
Finalmente, os olhos de Lydia se abriram. Ela nunca pareceu tão
pequena para o rei. Ela estava fraca. Com tristeza e cansaço.
Ela não disse nada, mas colocou os braços em volta do pescoço do rei.
Eles se abraçaram com a força que tinham.
O coração do rei doía, mas ele se entregou ao toque dela. Naquele
momento, ele se sentiu aquecido pelo calor de sua chama. Naquele
momento, estava claro o suficiente para que a escuridão o engolfasse.
Ainda sentindo a respiração da Slifer do Fogo em seu pescoço, o Rei
desabou em cima dela e o salão de baile ficou escuro.
Capítulo 30
DIA DE HONRA
GABRIEL
Ulu estava localizada no sopé das montanhas mais áridas que Lydia já
tinha visto. Se elas pudessem ser chamadas de montanhas — pequenas e
nada imponentes como pareciam.
O resto do terreno ao sul era plano e infértil.
A torrente constante do sol sem dúvida havia eliminado cada
centímetro da folhagem, permitindo que apenas os mais determinados
permanecessem.
Isso a lembrou das cidades fantasmas sobre as quais ela havia lido em
antigos livros de histórias. Mas esses contos de fadas não faziam justiça a
esta terra desolada.
— Chegamos, — Redmond anunciou. — A aldeia de Ulu.
O Slifer sorriu ligeiramente. Embora nunca tivesse visitado esta parte
de Vallas antes, ele ainda estava feliz por retomar à fronteira de seu reino
natal.
Os outros — Marsie, Dorian, Lydia e Lucius — simplesmente
observavam confusos.
— Onde está todo mundo? — Marsie perguntou em espanto. —
Nunca vi um lugar tão vazio.
Eles entraram na pequena cidade, mas não viram ninguém. Parecia
que havia sido abandonada anos atrás. Os prédios amarelos eram
coloridos como as areias em que estavam. Uma grande torre do relógio
no centro da pequena vila parecia indicar a hora correta.
Mas quem estava por perto para notar?
— Esta cidade fantasma está me dando arrepios, — Lucius soluçou.
— Não quero ser aquele cara, — Dorian disse, — mas você sempre
parece ter um mau pressentimento.
Lucius olhou para o jovem bruxo e franziu a testa.
— Você parece minha neta.
— E o que há de tão errado nisso? — Lydia perguntou.
Lucius descartou a questão com um aceno de mão.
Ele pegou seu cantil e o inclinou para trás.
Nem mesmo uma gota sobrou para cair em sua língua.
— Bem, parece que tenho algumas coisas para resolver.
Os outros o observaram decolar pelas ruas desertas. Seu pescoço se
esticou enquanto tentava encontrar o bebedouro mais próximo.
— Devemos nos espalhar? — Perguntou Redmond. — Talvez um de
nós possa encontrar um aldeão que tenha informações sobre a Realeza.
— Não sei se é uma boa ideia, — respondeu Lydia. — Eu sinto uma
presença. Não tenho certeza se é a Realeza, mas definitivamente há algo
aqui.
Lydia olhou para os edifícios desolados, tentando localizar a presença.
Era como um zumbido constante que retumbava profundamente em
seus ossos. Ela só tinha realmente sentido algo semelhante quando
estava ao lado de Gabriel.
Tinha que ser um sinal.
— Eu também posso sentir, — disse Marsie.
— Todos nós podemos, — Dorian observou. — É exatamente o que
Gerard descreveu.
— Precisamos ficar juntos. Se isso é uma armadilha, todos precisam
estar preparados, — alertou Marsie.
— Diga isso a ele, — Dorian disse, apontando para a estrada.
Lucius estava subindo e descendo com as mãos balançando. As
bochechas de Lydia coraram. Mais um dia, mais uma chance de ficar
envergonhada pelo velho mago...
— Ei! — ele gritou sem fôlego. — Por aqui. Encontrei pessoas que
falam!
Lucius se virou e desapareceu por uma porta escura. Acima da entrada
estava pendurada uma placa que dizia:
CANTINA DO DINO
Ó
Ótimo pensou Lydia. Ele não estava preocupado com a minha
segurança. O bêbado estava apenas preocupado que eu acabasse com a
sua farra...
O grupo se dirigiu para a pequena cantina, mantendo os olhos fixos
nos prédios pelos quais passavam. Algumas cortinas balançaram quando
eles se aproximaram.
Ainda havia gente na cidade.
Mas por que eles não queriam sair e conhecer seus novos visitantes?
LUCIUS
Para uma aldeia sem muro, era cada vez mais difícil encontrar um
caminho seguro. Os destroços dos edifícios profanados bloqueavam
todas as rotas disponíveis.
Lydia queria se teletransportar para fora dali, mas seria impossível
levar todos aqueles aldeões de uma vez.
Foi sobre isso que Lucius me avisou! Pensou Lydia enquanto
ziguezagueavam pelas estruturas em ruínas. Pela primeira vez eu deveria
ter ouvido seu papo de bêbado. Se sairmos disso, vou ouvir a vida toda!
Marsie estava à frente do grupo acenando com os braços para que os
aldeões a seguissem. Dorian havia se posicionado no meio enquanto
Lydia ficava na parte de trás para se certificar de que eles não deixassem
nenhum retardatário para trás.
Lydia olhou para trás em direção à posição de Redmond. Sua visão
estava bloqueada por entulho, poeira e fumaça. Mas de vez em quando,
uma explosão de luz incendiava o céu. Eles ainda estavam lutando. Ela
esperava que seu amigo fosse capaz de se manter firme contra a poderosa
rainha.
Ela tentou pensar como seria lutar contra Gabriel. Seus poderes
combinaram com os dele no passado. Mas ela sabia que seria quase
impossível para ela. Lutar contra seu companheiro certamente a
destruiria.
Seja forte, Redmond.
— Por aqui! — Marsie gritou enquanto mais prédios caíam à distância.
Dorian conduziu os aldeões para frente. Ele olhou para Lydia e
acenou com a cabeça, como se dissesse, podemos fazer isso.
— Onde está Lucius? — Dorian perguntou quando Lydia finalmente o
alcançou.
Ela se virou quando uma explosão lançou poeira no beco. Eles
protegeram os olhos.
— Ele provavelmente se perdeu em toda a comoção, — respondeu ela.
— O bebum simplesmente tinha que encher a cara em uma missão.
— Sinto-me ofendido! — Lucius respondeu.
Dorian e Lydia se viraram e pegaram o velho mago espirrando poeira.
Lydia correu e abraçou o avô. Fazia tanto tempo que eles não
compartilhavam nenhum afeto que o gesto os pegou de surpresa. Lucius
deu um tapinha nas costas dela, grato por sua neta.
— Onde está Redmond? — ela perguntou, se afastando.
Lucius balançou a cabeça. — Eu voltarei para ele mais tarde. Agora,
precisamos ter certeza de que todos estão seguros.
Lydia sorriu com a determinação embriagada do mago. Talvez não
fosse tão ruim tê-lo com o grupo, afinal. Enquanto ele colocasse os
outros antes de si...
— Siga-me, — Dorian gritou acima dos estalos ensurdecedores que
ecoavam pela cidade. Parecia que uma exibição de fogos de artifício deu
errado.
Eles dobraram uma esquina e observaram com alívio os aldeões
entrando em um buraco na parede. Finalmente, algo estava dando certo!
Quando o último dos sobreviventes conseguiu chegar em um local
seguro, Dorian ergueu os punhos em vitória. Marsie girou com as mãos
nos quadris e um sorriso de alívio no rosto.
Lydia e Lucius se entreolharam enquanto davam um suspiro de alívio
simultaneamente.
— Conseguimos! — Lydia gritou. — Agora, vamos voltar para a rainha
antes que... — Algo não estava certo... Lydia pôde sentir no momento em
que a voz de Marsie se interrompeu. Uma presença sinistra...
As sombras dançavam em volta de sua visão, indescritíveis na nuvem
de poeira.
— E agora? — gemeu Lucius.
Caçadores de Feiticeiros se espalharam pelos edifícios rachados e
pularam as paredes caídas. Uma emboscada! O grupo se preparou para a
batalha. Mas eles estavam cercados.
Lydia olhou para seus colegas. Seus olhos ferozes, todos contavam a
mesma história... era hora de cuidar dessas pragas de uma vez por todas...
Capítulo 7
LUTANDO CONTRA VELHOS AMIGOS
LYDIA
Decimus: Claro. Eu sou um Deus... agora, diga-me por que você me convocou.
— Meu Deus... — Lydia disse com admiração. Ela queria dizer mais,
mas as palavras não pareciam se formar.
Dorian e Lydia estavam olhando para um belo jardim iluminado por
tochas. Normalmente era preenchido apenas com uma única árvore e
alguns arbustos. Mas esta noite, foi transformado em uma visão
magnífica cheia de árvores e flores vivas cercadas por um tapete de grama
macia e aveludada.
Era como se o chão de pedra se cansasse da vida monótona da cidade
e brotasse magicamente uma pequena floresta no meio de Ellesmere.
Fechando a bela vista, havia uma pequena cachoeira alimentada por uma
fonte subterrânea. Um pequeno riacho serpenteava caprichosamente
pelo jardim.
— Como você... nem consigo... — gaguejou Lydia.
— Eu tive uma ajudinha de seus amigos, — Dorian admitiu.
Redmond, Ayana e Elise saíram de trás das árvores. Eles acenaram
para Lydia enquanto a Slifer do Fogo corria e abraçava cada um deles.
— Não fique emotiva demais, — disse Elise enquanto endireitava o
vestido. — Não é só para você.
Lydia acenou com a cabeça em concordância. Ela lutou contra Gabriel
por apenas uma fração de segundo. A dor dessa percepção doeu como
uma picada de abelha.
O pobre Redmond quase morreu nas mãos de sua rainha.
— Não fomos só nós, — disse Redmond.
Lydia seguiu seu olhar e viu Dorian parado na beira da grama, seu
sorriso tão brilhante quanto a lua no céu.
Os outros três Slifers começaram a se afastar. Lydia os seguiu.
— Onde vocês estão indo? — ela perguntou, confusa.
Redmond deu uma risadinha. — A Srta. Ar aqui esqueceu de trazer os
lanches que pedimos.
— Fiquei animada para ver a vista! — ela rebateu.
— Iremos com ela para garantir que ela os traga desta vez, — brincou
Ayana. — Até daqui a pouco.
Dorian observou Lydia caminhar em sua direção e decidiu que
finalmente era a hora.
— Antes de você dizer qualquer coisa, — disse ele, — eu queria
adicionar um toque especial à noite.
Suas mãos começaram a brilhar em um roxo escuro. O brilho era
hipnotizante e iluminava a escuridão. Quando os olhos de Lydia se
reajustaram, ela pôde ver o gramado do jardim cheio de criaturas
celestiais de todas as formas e tamanhos.
Os pássaros voavam de uma árvore a outra. Peixes pequenos nadavam
no riacho. Uma longa cobra com a cor de um caleidoscópio deslizava em
tomo de um galho baixo. As raposas trotavam entre os arbustos
perseguindo coelhos que se moviam rápido demais para serem
capturados.
Lydia se aproximou de Dorian como se estivesse sonâmbula em um
sonho. Ela colocou os braços em volta dele e o beijou na bochecha antes
mesmo de perceber o que estava acontecendo.
— Oh! — ela disse, dando conta de si mesma. — Eu — eu sinto
muito...
Ela podia sentir suas bochechas ficando vermelhas a cada segundo, e
tentou esconder seu constrangimento virando-se. Mas a mão de Dorian
gentilmente tocou seu braço e a virou de volta.
Ela olhou para o jovem mago sob uma nova luz. Havia outra coisa que
ela sentia também... um certo estremecimento no peito que a lembrou de
como era bom ser tocada por um homem. Especialmente alguém tão
bonito e capaz...
— Não há nada para se desculpar, — Dorian disse, arrancando-a de
seus pensamentos. — Estou feliz que você gostou.
— Eu amei, — ela corrigiu. — Por que você fez isso?
— Todos nós precisávamos de algum tipo de incentivo depois de Ulu.
E felizmente seus amigos Slifer concordaram em ajudar. — Ele se sentou
na grama macia.
Lydia se juntou a ele, sentindo uma necessidade repentina de chegar
mais perto.
Malditos sentimentos de surpresa! Pensou ela. Ela tentou distrair sua
mente desses desejos indesejados. Seus olhos seguiram um lindo canário
que pousou na margem do riacho para beber.
— Se eu posso dizer, — Dorian disse calmamente, — Estou surpreso
que você seja tão forte assim. Não com seus poderes. Mas suas emoções.
Ver Gabriel atacar você hoje foi demais, até para eu aguentar.
Lydia sentiu o frio na barriga tomar conta.
Ela tentou afastar esses pensamentos, mas era impossível. Mesmo o
arrojado bruxo ao seu lado não podia ignorar o fato de que seu
companheiro quase a matou...
Mas ela não era a única sofrendo. Redmond tinha visto sua
companheira, a Rainha Adria, dizimar Ulu. Parecia não haver volta após
testemunhar tal ato, mas o Slifer da Terra havia se esforçado para fazer
este jardim insípido florescer com imaginação e beleza.
Se ele podia fazer isso, então ela também podia.
— Voltamos! — Ayana anunciou.
Os três Slifers se sentaram na grama ao lado de Dorian e Lydia. Cada
um trouxe uma cesta cheia de petiscos doces e salgados. Lydia olhou para
uma cesta cheia de garrafas de água mineral e rapidamente pegou uma,
molhando a garganta ressecada com o líquido formigante.
Esta noite, ela iria se divertir, mesmo com as incertezas incômodas
nos cantos de sua mente.
REDMOND
Gabriel:...
Gabriel:... Evine?
Evine: Eles subestimam sua força. Liberte-se de suas restrições frágeis e volte para mim
imediatamente.
Gabriel: …
LYDIA
— Puta merda!
Lydia xingou por seu próprio descuido. Ela rapidamente ajudou Ar amis
enquanto ele pegava um cobertor pesado para abafar as chamas que estavam
se espalhando pela perna de uma mesa de mogno no escritório.
-Depois que o incêndio foi extinto com segurança, o anão puxou um
lenço e enxugou o suor de sua testa enrugada. — É, — ele disse depois de
fazer uma pausa para recuperar o fôlego. — Talvez este seja um bom
momento para fazer uma pausa de cinco minutos.
Lydia desabou desanimada em uma das poucas cadeiras de madeira
do escritório que permaneceram intactas. — Achei que realmente tivesse
conseguido, — disse ela, olhando para as próprias mãos.
Ela estava treinando com Ar amis Lester há um tempo, embora ainda
parecesse que nenhum progresso havia sido feito até agora. — Não entendo o
que continuo fazendo de errado. — Aramis lançou a ela um olhar simpático.
— Não há nada de errado com sua técnica, — ele disse. — Nada de errado
com sua postura. Talvez o problema com o seu controle seja mais mental do
que físico.
O anão passou a mão pela barba emaranhada, pensativo. — Acho que sei
exatamente a solução.
— Por favor, não diga que é mais daquele chá horrível, — Lydia respondeu
com tristeza.
— Ainda melhor, — Aramis respondeu, pegando um banquinho que tinha
sido apenas ligeiramente queimado até agora pelo treinamento de Lydia. — É
uma história.
Lydia observou enquanto o anão se erguia em cima do banquinho,
sustentando sua baixa estatura e permitindo que a linha de seus olhos ficasse
igual à dela.
Ele fez um grande show ao limpar a garganta em voz alta e depois estufou
o peito dramaticamente, como um orador prestes a recitar um discurso para
um auditório lotado.
A postura provavelmente foi feita para fazê-lo parecer mais digno, mas
Lydia não pôde deixar de dar uma risadinha ao ver seu professor parecendo
tão sério.
Aramis estendeu a mão, sinalizando para ela ficar quieta.
— Há muito tempo, — disse ele. em uma voz pro funda e dramática. —
Quando o mundo foi recém-formado, toda a criação foi nitidamente dividida
em três reinos: o reino dos mortais, o reino das sombras e o reino dos Deuses.
Lydia abriu a boca parei fazer uma pergunta, mas Aramis balançou o
dedo para ela ficar quieta.
Ele continuou, — e no reino dos Deuses, não havia ninguém mais forte do
que o poderoso Decimus.
— O Deus do fogo era incomparável em termos de poder bruto: sua pele
era grossa e forte como rocha ígnea, e o magma incandescente corria por suas
veias.
— Mas. embora Decimus fosse um Deus poderoso, ele também era um
jovem Deus naquela época e ainda tinha um longo caminho a percorrer antes
de estar pronto para entender seu lugar neste novo mundo.
O anão fez uma pausa para um efeito dramático.
— Em sua busca pela autodescoberta, Decimus começou uma
peregrinação ao reino mortal. Lá, ele encontrou os primeiros homens e
mulheres e viu pela primeira vez como eles realmente viviam.
— Enquanto os deuses desfrutavam do luxo de seu próprio paraíso
pessoal, os mortais estavam nus e com frio, famintos e com medo.
— Quando Decimus olhou para baixo, para suas formas emaciadas e
trêmulas, uma pontada de empatia perfurou seu coração em chamas como
uma adaga gelada.
— Como um ato de piedade, o Deus legou aos mortais um pedaço de sua
própria essência: um fogo, com o qual eles poderiam se aquecer, cozinhar sua
comida e afugentar os animais da noite e das sombras.
— E foi então que Decimus percebeu qual seria o seu papel. Ele se
autointitulou protetor e guia para o reino mortal.
Lydia revirou os olhos. — Uma história comovente, — disse ela. — Mas o
que isso tem a ver comigo?
Aramis saltou de seu lugar em cima do banquinho. — Porque, — ele
disse, pegando a mão dela. — Até agora, você só usou o seu fogo para
destruir indiscriminadamente. Você o maneja como uma arma, porque
para você isso é tudo. Mas o fogo pode ser muito mais do que isso.
O anão levou Lydia pela mão até a cozinha. Uma chaleira estava
pousada em cima de um fogão de tijolo cru.
— Um fogo pode acender uma vela em uma noite escura, — continuou
Aramis, — ou aquecer um viajante cansado que busca refúgio durante uma
nevasca, ou aquecer a água para preparar uma xícara de chá fresco.
Aramis ergueu as mãos de Lydia e colocou-as de forma que ambas as
palmas ficassem pressionadas contra a chaleira. O vapor começou a subir
do bico quando o calor das mãos de Lydia rapidamente fez a água ferver.
— Viu? — Aramis perguntou, dando um passo para trás. — O fogo é uma
ferramenta poderosa. Pode ser usado para atacar aqueles que desejam
prejudicá-la; mas com a mesma facilidade, pode ser usado para proteger
aqueles com os quais você se importa.
*
PRESENTE
Lydia deu um passo rápido para trás para evitar que seu companheiro
acidentalmente se chocasse contra ela. — Gabriel, — ela disse com um
sobressalto.
Gabriel parou na frente dela, parecendo culpado.
Por um momento, a Slifer sentiu o desejo de fingir que os últimos três
meses nunca haviam acontecido e retomar sua vida com Gabriel como se
ele nunca tivesse partido.
Ela estava revivendo suas noites ardentes juntos em sua mente por
tanto tempo que ver Gabriel em carne e osso — e finalmente livre do
controle de Evine — alimentou seu desejo como nunca.
Mas a expressão de dor no rosto de seu amante fez Lydia perceber que
ele não poderia esquecer tão facilmente.
Lydia silenciosamente se repreendeu por pensar de forma tão egoísta.
Gabriel estava sofrendo; ela decidiu que precisava fazer tudo o que
pudesse para ajudá-lo a superar isso.
Lentamente, sem palavras, ela estendeu a mão e segurou o lado de seu
rosto com a mão. Com um estremecimento, ela percebeu que ainda
podia ver a marca onde suas chamas o atingiram; uma leve cicatriz de
queimadura onde a joia de jade de Evine estivera.
— Eu sinto muito, — ela disse ternamente. — Ainda dói?
— Um pouco, — respondeu Gabriel. Ele levou a mão ao rosto,
colocando-a sobre a dela. — Mas você não tem nada pelo que se
desculpar. Afinal, você salvou minha vida.
Lydia sorriu fracamente. — Não seria a primeira vez, seria?
Gabriel sorriu de volta na mesma intensidade, mas então ele desviou
seu olhar do dela. Ela poderia dizer que ele tinha muito em que pensar.
— Você parece cansado, — disse Lydia. — Venha, eu vou te levar para
meus aposentos para que você possa descansar.
— Uma oferta tentadora, — respondeu Gabriel. — Mas não há tempo.
Ainda precisamos
— Não foi um pedido, — Lydia disse severamente, — vossa majestade,
— ela adicionou para garantir. Gabriel deu um suspiro indiferente. —
Suponho que nunca haja sentido em discutir com você, não é? — ele
perguntou. Lydia balançou a cabeça e sorriu.
— Certo, — disse Gabriel com um sorriso. — Por decreto real, ordeno
que me conduza aos seus aposentos.
Os dois continuaram pelo corredor, de braços dados, Gabriel
encostado em Lydia para se apoiar. Por um tempo, houve um silêncio
entre eles, nenhum som, exceto os sapatos deles batendo contra o chão
de ladrilhos do corredor. Após uma longa pausa, Gabriel falou.
— Lydia... — ele começou. — Tenho tentado lembrar o que aconteceu
quando eu ainda estava... sendo manipulado. É difícil.
Lydia se virou para olhar para ele. O rei estava olhando para a frente,
aparentemente para nada em particular.
— É como tentar lembrar um sonho, realmente. Bem, talvez mais
precisamente um pesadelo. Ocasionalmente, haverá um gatilho, algum
lampejo de detalhes, mas... nada disso me agrada particularmente poder
lembrar, para dizer o mínimo.
O rei deu um suspiro cansado. — Lydia, se houve algo que eu... disse
ou fiz, enquanto estava sob o controle de Evine, se ela me obrigou a fazer
algo para machucá-la pessoalmente... sinto profundamente. Espero que
com o tempo você me perdoe.
Lydia sorriu. — Agora é a minha vez de dizer que você não tem nada
pelo que se desculpar, — disse ela. — Você realmente espera que eu o
responsabilize por algo que estava fora do seu controle?
Os dois pararam em frente a um par de portas duplas de madeira. —
Bem, aqui estamos, — disse Lydia. Brandindo uma chave, a Slifer
destrancou a porta e conduziu Gabriel para dentro.
O rei deu uma olhada ao redor do quarto interrogativamente. —
Então, é aqui que você está hospedada?
Ele examinou os aposentos da cama. Era pequeno e relativamente
esparso na decoração: além da cama e da cômoda, apenas os acessórios
mais básicos foram adquiridos para o quarto, dando-lhe uma aparência
inacabada.
— Eu conheço essa expressão, — Lydia repreendeu. — O que foi desta
vez?
— Expressão? — Gabriel ergueu uma sobrancelha.
— Que expressão?
— Você tem um problema com este quarto, — respondeu Lydia. — Vá
em frente, acabe com isso. Diga o que quer dizer.
Gabriel deu uma risadinha. — O quarto está bom, — disse ele. — É só
um pouco...
— Um pouco o quê? — disse Lydia. — Vá em frente e desembucha.
— Um pouco pequeno, — respondeu Gabriel. — Isso é tudo.
Lydia fez uma careta. — Bem, sinto muito que não seja do seu agrado,
majestade, mas temo que todos nós temos que começar a fazer
sacrifícios. Afinal, estamos no meio de uma guerra.
Ela sorriu para ele. Gabriel sorriu de volta, mas ele desapareceu
rapidamente. Lentamente, ele foi até o pé da cama e se sentou.
— Todo mundo diz que eu não devo assumir a responsabilidade pelo
que aconteceu, — disse ele. — E ainda sinto que devo assumir alguma
culpa. A magia de Evine era forte, mas mesmo assim... eu deveria ter sido
capaz de lutar contra ela. Tenho vergonha de ser manipulado com tanta
facilidade. Eu não deveria ser tão fraco.
Lydia se sentou na cama ao lado dele. — Acho que você está se
culpando demais, — disse ela. — Todos os outros membros da Realeza
caíram sob o feitiço de Evine com a mesma facilidade. Você acha que eles
também são fracos?
Gabriel se irritou com a pergunta. — Claro que não, — ele disse.
— Então, por que você está se sujeitando a um padrão diferente? —
Lydia perguntou. Ela colocou a mão sobre a dele e apertou.
— Olha, eu não sei como é estar sob o controle de outra pessoa assim.
E, francamente, espero nunca ter que descobrir. Mas... não há nada de
construtivo em se punir pelo que aconteceu. Todo esse tempo que você
gasta ficando com raiva de si mesmo é apenas energia desperdiçada.
Gabriel olhou para seus pés. — Lis e Aero me atualizaram, — disse ele.
— Eles disseram que eu estive fora por três meses. Passei três meses sob o
controle de Evine e mal me lembro disso. Pensar no que posso ter feito,
no que posso nem me lembrar...
Ele estremeceu. — Sinto um arrepio na espinha ao pensar que algum
dia compartilhei voluntariamente a cama com ela. Mesmo que tenha
sido trezentos anos atrás.
— Não vamos pensar nisso agora, — disse Lydia. — Para o nosso bem.
— Mas, acima de tudo, — Gabriel continuou, — a pior parte de estar
ausente por três meses é o medo e a preocupação que devo ter causado a
você durante esse tempo. Lamento não ter conseguido dizer onde estava
ou fornecer qualquer pista para me encontrar. Eu espero que você saiba
que eu teria se eu pudesse.
Lydia sentiu uma pontada de tristeza empática ao ouvir a voz de
Gabriel, mas também alívio em igual medida. Ela colocou a mão sob o
queixo de Gabriel, virando sua cabeça para que ele ficasse de frente para
ela.
— Nada disso importa agora, — disse ela. Ela se inclinou e o beijou. —
Tudo o que importa é que você está aqui agora, e está seguro, e eu irei me
certificar de que eles nunca o levem novamente.
Gabriel sorriu e eles se beijaram novamente. Por um momento, os
últimos três meses não passaram de uma memória vazia, como acordar
de um sonho meio lembrado.
O resto do mundo ao redor deles derreteu e, naquele momento, os
dois desfrutaram da companhia um do outro no centro de seu próprio
universo pessoal.
Colocando delicadamente a mão em seu peito, Lydia empurrou
Gabriel de volta para a cama e subiu em cima dele, montando a cintura
do rei entre suas coxas.
A Slifer do Fogo começou a balançar para trás em um movimento
rítmico, esfregando-se contra Gabriel enquanto o ouvia soltar um
suspiro profundo e desperto, como um urso emergindo da hibernação.
Ela se abaixou e
O momento foi abruptamente interrompido, no entanto, quando
houve uma batida na porta de seus aposentos.
Capítulo 18
OLHOS E OUVIDOS CURIOSOS
LYDIA
Lentamente, Lydia foi até a porta e abriu uma fresta. Através da fresta
da porta aberta, ela viu o rosto ansioso de Dorian olhando para ela do
outro lado.
— Boa noite, Lydia, — Dorian disse, sua voz carregada de uma
pontada de nervosismo.
— Dorian, — Lydia respondeu, tentando mascarar seu aborrecimento
com a interrupção. — Está tudo bem?
— Oh, com certeza, as coisas estão perfeitamente bem, — disse
Dorian. — Eu só estava me perguntando se eu poderia tomar um pouco
do seu tempo. Lucius e os outros Slifers estão discutindo estratégias em
nosso próximo movimento contra Evine e Uzier, e eu apreciaria ser capaz
de
— Tudo isso parece muito importante, Dorian, — Lydia disse,
interrompendo o bruxo. — No entanto, você sem dúvida está ciente do
fato de que acabei de ter um dia especialmente cansativo. Receio não ser
útil para você ou qualquer um dos outros Slifers até que eu tenha algum
tempo para descansar e me recuperar. Tenho certeza de que você
entende.
Dorian assentiu, embora Lydia pudesse ver uma contração de
decepção no rosto do feiticeiro. — Claro, — ele respondeu. — Nesse caso,
desculpe incomodá-la. Sem dúvida, leve todo o tempo de que precisar.
Lydia sorriu. — Obrigada, Dorian. Você deveria descansar um pouco
também, não podemos ter um de nossos principais feiticeiros
sobrecarregado em momentos como este.
Dorian sorriu com orgulho. — Sem dúvida, — disse ele. — Avise-me
se precisar de alguma coisa
O feiticeiro foi mais uma vez interrompido quando Lydia fechou as
portas de madeira. Ela sentiu uma leve pontada de culpa por afastar
Dorian tão bruscamente; ao mesmo tempo, no entanto, a última coisa
que ela queria fazer era traçar estratégias e planos de batalha.
— Quem era aquele? — Gabriel perguntou, agora totalmente
reclinado na cama. Era evidente que o rei estava apenas ouvindo pela
metade a interação na porta.
— Apenas um dos feiticeiros da corte verificando como estou, —
Lydia respondeu. Após uma pausa, ela acrescentou: — Tenho a suspeita
de que ele pode voltar mais tarde.
Gabriel se ergueu e se sentou. Lydia notou que ele parecia um pouco
menos desamparado do que alguns momentos antes — sem mencionar a
formidável ereção tremendo entre suas pernas.
Talvez o reencontro deles já estivesse começando a lhe fazer bem?
— Então, o que você está me dizendo é que este lugar não é seguro
para nós, — disse ele com um brilho malicioso nos olhos.
Lydia sorriu, forçando seus olhos da masculinidade de Gabriel. — No
mínimo, não é seguro para nossa privacidade, — disse ela. — Tente não
ficar muito desapontado; Eu sei como você estava animado para passar
mais tempo no meu quarto pequenininho.
— Eu nunca disse que era pequenininho, — Gabriel disse
defensivamente. — Eu só disse que era pequeno.
— Não são a mesma coisa? — Lydia perguntou, erguendo uma
sobrancelha.
— Dificilmente, — Gabriel respondeu com naturalidade. —
Pequenininho fica um nível abaixo de pequeno. Um nível abaixo disso, e
temos minúsculo. É um conceito fácil de entender, na verdade.
— Essas são as medidas oficiais? — Lydia perguntou com uma risada.
— Elas podem ser, se eu quiser, — disse Gabriel com altivez. — Afinal,
sou o Rei de Imamia. Minha palavra é lei.
— Bem, então, vossa majestade, — Lydia brincou, aproximando-se do
pé da cama. Ela colocou as mãos nos joelhos dele e se inclinou para
frente de modo que sua testa tocasse a dele. — Onde você acha que
deveríamos nos esconder para evitar os olhos e ouvidos curiosos deste
castelo?
Gabriel sorriu. — Estou aberto a sugestões.
GABRIEL
— Lydia!
A Slifer se virou ao ouvir uma voz do outro lado do corredor. Quando
ela se virou, ela viu Dorian correndo rapidamente em sua direção.
— Bom dia, Dorian, — Lydia disse quando ele a alcançou. — Peço
desculpas mais uma vez sobre a noite passada.
— Não foi nada, — Dorian falou em resposta. — Você deve estar se
sentindo em melhor forma agora, afinal de contas.
Lydia ergueu uma sobrancelha. — O que você quer dizer? — ela
perguntou.
— Bem, o Rei Gabriel está de volta são e salvo, antes de mais nada, —
Dorian explicou. — Saber que ele está livre do controle de Evine deve
tirar um peso da sua cabeça.
— De fato, — Lydia respondeu, aliviada por ele não estar se referindo
ao show de fogos de artifício que ela provocou com Gabriel na noite
anterior. — Para ser honesta, ao longo dos últimos meses, comecei a me
preocupar com a possibilidade de nunca mais o ver.
— Sim, que pena seria, — Dorian disse em resposta. Lydia lançou ao
mago um olhar interrogativo, mas antes que ela tivesse a chance de falar
novamente, ele disse: — Eu estava indo dar um passeio até as fontes do
jardim. Eu não me importaria de ter companhia se você estiver
disponível.
— Não tenho nada mais urgente no momento, — respondeu Lydia. —
Suponho que seria do nosso interesse andar em maior número em
tempos como este.
— Eu não poderia concordar mais, — disse Dorian.
Nesse momento, Lydia ouviu outra voz do outro lado do corredor.
— Lydia! — Gabriel disse, caminhando até a Slifer e o mago.
— Gabriel, — disse Lydia alegremente. — Você voltou cedo. Suponho
que sua audiência foi boa?
— Tão boa quanto o esperado, eu acho, — disse Gabriel. — Diga-me,
quem é seu amigo aqui? Não acredito que tenhamos sido formalmente
apresentados.
— Dorian, vossa majestade, — Dorian disse, estendendo a mão
educadamente. — O prazer é todo meu.
— Bem, Dorian, é certamente um prazer conhecê-lo, — Gabriel
respondeu, segurando a mão de Dorian em um aperto de mão firme.
Talvez um pouco firme demais, observou Lydia. Dorian quase pareceu
estremecer com a intensidade do aperto do rei em sua mão.
Lydia teve que lutar contra o desejo de revirar os olhos. Gabriel
conhece Dorian há menos de um minuto e já estava fazendo o possível
para intimidá-lo.
Ela sabia que o rei era excessivamente competitivo, mas essa
desavergonhada demonstração de machismo era constrangedora de
assistir. Além disso, não era como se ela fosse um prêmio a ser ganho...
... E ela não tinha sentimentos por Dorian, é claro.
Ele era bonito? Talvez à sua maneira. Mas aos olhos dela, nenhum
homem poderia rivalizar com Gabriel. Principalmente depois da noite
passada.
— Se você me dá licença, Lydia, acabei de lembrar que devo me
encontrar com Agatha para discutir os planos para defender Trinivan, —
disse o jovem bruxo. — Vejo você mais tarde?
— Claro, — disse Lydia. — Foi bom falar com você, Dorian.
Enquanto Dorian se afastava rapidamente, Lydia lançou um olhar
para Gabriel. — Você sabe que não precisava assustá-lo daquele jeito, —
disse ela com severidade.
— Assustá-lo? — Gabriel perguntou. — Tudo que fiz foi apertar a mão
do homem.
— Você quase esmagou a mão dele, foi isso o que você fez, — corrigiu
Lydia. — E não pense que não percebi você estufando o peito como um
pássaro altivo. Ciúme não fica bem em você, Gabriel.
— Não tenho a menor ideia do que você está falando, — disse Gabriel
com orgulho.
Lydia revirou os olhos. — Honestamente, se você vai começar a brigar
com todo homem com quem eu falo, as coisas vão ficar muito cansativas
muito rápido. Você confia em mim, não é?
Gabriel ficou surpreso. — Claro que confio em você, — disse Gabriel.
— Eu confio em você com todo o meu coração.
— Nesse caso, — disse Lydia. — Talvez você devesse agir como tal.
EVINE
O sol agora estava bem fora de vista, e o ar noturno deixou uma brisa
enquanto Lydia e Dorian desciam o caminho de terra que levava para
longe de Ellesmere. Ao redor deles, vaga-lumes dançavam e flutuavam no
ar como brasas espalhadas por uma fogueira.
— Bem, você estava certo, — ela disse a Dorian. — Eles certamente
são uma bela vista.
Dorian riu. — Veja isso, — disse ele, estalando os dedos.
Lydia observou quando a forma espectral de um corvo apareceu,
circulando ao redor dos dois no céu noturno. O vento das asas batendo
do pássaro varreu e girou os vaga-lumes ao redor deles, espalhando-os
em padrões estranhos e hipnotizantes.
— Receio ter uma confissão a fazer, Lydia, — Dorian disse. — Eu não
trouxe você aqui apenas para observar os vaga-lumes.
Lydia ergueu uma sobrancelha para ele. — Oh? E o que isso quer
dizer?
Dorian respirou fundo. — Na verdade, Lydia, acho que pode se dizer
que estou preocupado com você.
— Comigo? — Lydia perguntou. — Que motivo você teria para se
preocupar comigo?
Dorian olhou para ela. — Responda-me honestamente, Lydia, — disse
ele, — quão feliz você está com Gabriel?
Uma expressão de choque cruzou o rosto de Lydia. — Como? Ela
perguntou alarmada.
A franqueza da pergunta de Dorian a deixou totalmente desprevenida.
O que ele estava tentando sugerir? As bochechas da Slifer coraram com
uma mistura de vergonha e raiva.
— Eu vi a maneira como o rei trata você, — Dorian disse com desdém.
— Como ele tenta impor o controle sobre você o tempo todo. É
profundamente injusto para você ser tratada como posse dele.
— Você faz suposições demais, Dorian, — Lydia retrucou. — Gabriel
não é assim de verdade. E, além disso, nós fomos feitos um para o outro.
Era o meu destino.
— Destino? — Dorian disse a palavra com desdém, como se falar
tivesse deixado um gosto amargo em sua língua.
— Tudo o que essa palavra serve para fazer é reforçar o fato de que
você não teve escolha. Você foi criada exclusivamente para reforçar os
poderes do rei. Se você não fosse uma Slifer, você realmente acha que ele
ainda se importaria com você do jeito que se importa agora?
Lydia fez uma pausa enquanto as palavras de Dorian rastejavam em
sua mente como tentáculos de dúvida. — Claro... Claro que sim, — disse
ela, embora sua voz tremesse de incerteza. — Gabriel me ama.
— Ele ama a ideia de você, — Dorian respondeu. — Você não é uma
pessoa para ele, Lydia. Você é o troféu dele. Sua bateria. Ele vê você
primeiro como uma Slifer e depois como uma pessoa. — Lydia olhou
para os pés quando o suor começou a se acumular em sua testa. Isso não
poderia ser verdade... poderia?
Ela se lembrou de seu primeiro encontro com Gabriel, a primeira vez
que ficou sozinha com ele, todas as vezes que estiveram juntos desde
então...
Ela acreditava que eles estabeleceram um relacionamento mútuo feliz,
mas, novamente... e se ela estivesse errada? E se Lydia realmente fosse
apenas uma conveniência para o rei?
— Você não prefere algo mais? — Dorian perguntou, dando um passo
à frente. — Vejo quem você realmente é, Lydia. Você é muito mais do que
apenas a Slifer do Fogo.
Ele deu mais um passo. — Você é uma pessoa incrível, linda e
obstinada e merece estar com alguém capaz de reconhecer isso. Você
merece estar com alguém como eu.
Antes que Lydia pudesse reagir, Dorian se lançou para frente e a
beijou. Lydia o empurrou para longe dela, dando um passo para trás em
estado de choque.
O que diabos ele estava fazendo?
Ela sempre sentiu uma pequena atração por Dorian, mas nunca
imaginou agir de acordo. O gosto de desespero nos lábios do mago
imediatamente a repeliu — esse garoto não era nada como o Rei Gabriel.
Vendo a expressão de desgosto em seu rosto, Dorian de repente
parecia desanimado.
— Eu — me desculpe, — Dorian disse. — Eu não tive a intenção de
ofender ninguém. Por favor, não diga ao rei
Lydia deu um passo para trás. — Isso tudo é demais, — disse ela. —
Por que agora, Dorian? Por que você pensaria que agora, de todos os
tempos, seria o ideal para jogar isso em mim?
— Eu não consegui segurar por mais tempo, — Dorian disse. — Eu
realmente sinto muito, Lydia.
Mas você consideraria o que eu disse a você esta noite?
Lydia balançou a cabeça lentamente, dando mais um passo para trás.
— Sinto muito, Dorian, — ela respondeu. — Nós dois sabemos que isso
nunca poderia acontecer.
Dorian baixou a cabeça solenemente. — Eu estava com medo de que
você dissesse isso, — ele disse, sua voz de repente muito mais sombria. —
Suponho que não há como evitar, na verdade...
— O que você... — Lydia começou, e então parou quando uma dor
ardente irrompeu em suas costas. A Slifer desabou no chão quando sua
visão começou a enfraquecer.
Segundos antes de perder a consciência, Lydia olhou para cima, vendo
uma figura passar por ela e entrar em sua linha de visão. Lydia piscou ao
reconhecer...
Evine.
— Você agiu bem, Dorian, — disse a mestra sombria, o sangue de
Lydia pingando da ponta da adaga em sua mão. — Eu sabia que podia
contar com você.
As pálpebras de Lydia tremeram e tudo ficou escuro.
Capítulo 22
SEPARAÇÃO
LYDIA
Lydia gritou de agonia quando outra onda de dor a invadiu. Seu corpo
agora estava coberto por uma coleção de cortes recentes: rasos o
suficiente para evitar feridas duradouras, mas ainda profundos o
suficiente para serem extremamente dolorosos.
Evine parou de torturar Lydia, permitindo-lhe um momento para
recuperar o fôlego. Embora sua mente estivesse nublada pela dor, ela
ainda podia discernir o som de vozes, embora como se estivessem de
uma grande distância.
Lentamente, a dor começou a se transformar em ruído de fundo
enquanto as capacidades mentais de Lydia voltavam para ela. De repente,
ela percebeu que alguém estava falando.
— Eu não vejo porque tudo isso é necessário, — a voz de Dorian disse.
— Ela não seria mais útil para nós sem essas feridas?
— O encantamento não surtirá efeito contra alguém de forte fortaleza
mental, — foi a resposta de Evine. As palavras começaram a penetrar
enquanto a mente de Lydia começava a clarear.
— Para criar um escravo adequado, devemos primeiro quebrar o
espírito do hospedeiro. Ferindo e exaurindo o corpo, nós dilaceramos e
corroemos a força de vontade do alvo até que eles sejam completamente
incapazes de resistir.
Para Lydia, algo era assustador sobre a maneira objetiva como Evine
explicava esse processo ao filho. Se ela estivesse obviamente adorando o
procedimento, gargalhando loucamente o tempo todo, isso teria sido
quase menos perturbador.
Em vez disso, o tom da mestra sombria era simples, quase de natureza
clínica. Ela discutia os pontos mais delicados da tortura humana da
mesma forma que outra pessoa falaria sobre o clima.
— Por falar nisso, — continuou Evine. — Você está terminando a
pedra?
— Está quase terminada enquanto falamos, — respondeu Dorian.
— Esplêndido, — disse Evine. — Seja um bom menino e traga-a para
mim, sim?
— Sim, mã... — Dorian começou. Lydia o ouviu parar rapidamente,
mordendo o final da palavra antes que saísse de sua boca.. —.. Sim,
Mestra Evine.
Com os olhos embaçados por suor e sangue, Lydia observou Dorian
sair da câmara da masmorra. Ela tinha que escapar antes que ele voltasse
com a pedra preciosa que a colocaria inteiramente sob o controle de seus
inimigos. Mas como? Ela nunca se sentiu tão fraca e impotente em sua
vida.
— Que filho obediente, — disse Evine a Lydia. — Sabe, tenho algumas
suspeitas de que ele pode gostar de você, pensando bem.
Lydia observou Evine bater nos lábios, pensativa. — Você pode
imaginar? A atual esposa do rei Gabriel, tendo um caso com o filho de sua
primeira esposa?
A mestra sombria deu uma risada divertida. — Esse é o problema com
essas linhagens imortais, eu suponho. Depois de um tempo, as coisas
começam a ficar tão... confusas.
Estendendo a mão, Evine agarrou um punhado do cabelo de Lydia,
puxando violentamente sua cabeça para cima para que seus olhos se
encontrassem. — Falando nisso, — ela disse, brandindo a adaga em sua
outra mão. — Onde estávamos?
GABRIEL
Lydia:...
Lydia:...
Lydia:... Luxus?
Lux: Talvez eu não seja real, e isso tudo é apenas uma invenção da sua imaginação.
Lux: Mas de verdade ou não, não suporto ver você sofrendo assim.
Lux: Você é.
*
Lydia foi repentinamente despertada pelo som da porta da câmara se
abrindo. Enquanto piscava cansada os olhos para focar, Lydia viu Dorian
parado na porta.
Em sua mão estava uma pedra verde polida.
Capítulo 24
A BATALHA POR TRINIVAN
LYDIA
— Eu sinto muito por tudo que ela fez você passar, — disse Dorian,
aproximando-se de Lydia em sua cela de masmorra com um olhar de
desculpas em seu rosto. — Mas, para ser justo, suponho que parte da
culpa também seja sua.
Lydia cerrou os dentes com raiva. Ela pensava que Dorian era
confiável, mas agora ela conhecia quem ele era de verdade: o pior tipo de
canalha — o tipo que pensa que é um herói.
Com a mão livre, Dorian a estendeu para Lydia, que fracamente
recuou com sua força restante. Dorian abaixou a mão, parecendo
abatido.
— Eu gostaria que você apenas tivesse tido tempo para ouvir a razão,
— disse ele. — Se você tivesse vindo conosco de boa vontade, nada disso
seria necessário. Você causou isso e agora tem que sofrer as
consequências.
O medo começou a dominar a mente de Lydia. Não havia realmente
como escapar disso?
O mago olhou para a pedra jade polida em sua mão, acariciando-a
levemente com o polegar. — Mas suponho que nada disso importe agora,
— ele meditou. — Seus poderes estão diminuindo, não estão? Posso
sentir tão claramente quanto você. Logo você não será nada além de
brasas.
Lydia lutou o melhor que pôde para tentar provar que ele estava
errado. De jeito nenhum ela daria a este idiota chorão a satisfação de ver
sua vulnerabilidade.
Em um acesso de desespero, Lydia tentou invocar magia suficiente
para derreter através das algemas em seus pulsos...
Nada aconteceu.
— Entende o que quero dizer? — Dorian perguntou. — Você está
apenas atiçando as cinzas neste momento. Você também pode parar de
tentar; você já passou do ponto de isso te fazer algum bem.
Dorian ergueu a pedra, aproximando-se de Lydia.
— Eu posso te fazer feliz, Lydia, — ele disse suavemente. — Você pode
não acreditar em mim agora, mas eu serei capaz de mostrar a você em
breve. Assim que Gabriel e os outros estiverem fora de cogitação, poderei
oferecer a você tudo o que você possa desejar. Você vai esquecê-lo em
breve, e nós dois ficaremos muito mais felizes por isso.
Ele brandiu a pedra. — Você só precisa me dar uma chance.
Lydia lutou para desviar a cabeça de Dorian enquanto ele movia a
pedra em sua direção, mas sua energia estava completamente esgotada.
— Apenas espere, — disse Dorian, sua voz um sussurro ameaçador
enquanto ele se aproximava de Lydia. — Algum dia, vamos olhar para
trás e rir...
GABRIEL
Lydia: Dorian?
Dorian: A pedra jade cria um vínculo mental entre seu hospedeiro e o criador.
Dorian: No seu estado atual, eu simplesmente pensei que essa seria uma maneira mais
direta de nos comunicarmos.
Dorian: Isso é o que mais amo em você, Lydia. Você sempre fala o que pensa.
Lydia: Se você realmente soubesse algo sobre mim, saberia que nunca me permitirei ser
controlada por outra pessoa.
Dorian: Você fala de controle como se realmente soubesse o que significava, quando a
verdade é que você nunca esteve no controle de sua própria vida ou ações.
Dorian: Você não vê, Lydia? Não sou eu quem controla você.
*
— Lydia?... Lydia! Deuses, por favor, acorde.
Lydia acordou lentamente e se viu olhando para um rosto familiar.
— Gabriel, — disse ela, sorrindo fracamente para ele. Seu coração se
encheu de alegria com a visão nebulosa de seu amado companheiro.
Livre de suas algemas, a Slifer se viu embalada nos braços de Gabriel
enquanto o rei se ajoelhava no chão da masmorra. Ela mal podia
acreditar que ele era real.
— Dorian esteve aqui... — ela murmurou. — Onde ele está?
— O desgraçado se teletransportou assim que eu arrombei a porta, —
Gabriel respondeu. Com certeza, a porta da câmara da masmorra estava
aberta, pendurada precariamente em uma única dobradiça.
— Mas isso não importa agora. Estou com você e você está segura.
A compreensão a atingiu e, lentamente, fracamente, Lydia estendeu a
mão e colocou a mão na testa. Para seu alívio, ela não sentiu a superfície
lisa da pedra jade, apenas a camada pegajosa de sangue semisseco que
cobria seu rosto.
Virando a cabeça ligeiramente, ela notou algumas partículas de
fragmentos cor de jade espalhados pelo chão e rapidamente juntou dois
mais dois.
— Vamos, — disse Gabriel. — Vamos tirar você daqui.
Em vez de se teletransportar, Gabriel preferiu caminhar, carregando
Lydia pelos corredores das masmorras em direção à superfície.
— Antes de eu sair, Lucius e Elise estavam ocupados lutando contra
Calix e aquele Caçador de Feiticeiros lá em cima, — ele explicou
enquanto avançava. — E você não está em condições de entrar nessa
briga. Melhor agirmos com precaução.
Não havia sinal de Evine enquanto eles se moviam pelo castelo. Lydia
continuava esperando que ela saltasse por trás de cada esquina e portas
fechadas, com uma adaga na mão... e ainda assim, ela nunca o fez. A
Slifer especulou que ela deve ter desaparecido com Dorian quando a
equipe de resgate chegou.
Finalmente alcançando a superfície, Gabriel abriu caminho pelo pátio
em direção aos portões da frente do castelo. Parecia que a luta quase
terminara neste ponto; enquanto grande parte do pátio estava em ruínas,
Lydia pôde ver Redmond e Adria sentados entre os escombros, ambos
sem fôlego.
— Lydia! — a Slifer ouviu a voz de Lucius quando o velho mago veio
trêmulo em sua direção. — Você está bem? Deuses, o que eles fizeram
com você?
— Eu vou ficar bem, Lucius, — disse Lydia, fracamente e um pouco
não convincente. — Eu só preciso de um momento para descansar.
— Fico feliz em ver que você está bem, Lucius, — disse Gabriel. —
Diga-me, o que aconteceu com Jora?
— Bem, ele certamente me deu trabalho. Isso até eu derrubar uma
parte das paredes do castelo em sua cabeça. Esmaguei-o.
O mago esfregou o nariz. — Desnecessário dizer que esse é um
Caçador de Feiticeiros que não vai nos incomodar por um tempo.
Contudo...
Lydia percebeu que Lucius parecia um tanto desamparado. — Isso não
quer dizer que esta batalha não tenha sofrido baixas do nosso lado
também.
Lydia sentiu o peito de Gabriel subir quando o rei soltou um suspiro.
Foi então que ela notou duas figuras um pouco mais à frente,
descansando na ponte levadiça de madeira.
Ela viu a Slifer do Ar, Elise Moran, apoiada em ambos os joelhos com a
cabeça baixa, sua expressão ilegível.
Deitado em seu colo estava o cadáver do Rei Calix, com um longo
pedaço de gelo ainda perfurando seu peito.
Capítulo 25
UMA OFERTA DE CONDOLÊNCIAS
LYDIA