Professional Documents
Culture Documents
1643-Texto Del Artículo-8403-2-10-20221229
1643-Texto Del Artículo-8403-2-10-20221229
ÿ https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1643
Abstrato
Esta pesquisa teve como objetivo estudar a polarização política de grupos de esquerda e de direita e
suas Representações Sociais (RS) entre si, bem como investigar a experiência da violência política e a
crença em um mundo justo (CMJ). Uma pesquisa on-line foi realizada. Os grupos de esquerda usaram
os termos igualdade, empatia e justiça para se descreverem, enquanto os grupos de direita usaram
liberdade, conservadorismo e justiça. Ambos os grupos usaram termos negativos para descrever os
seus oponentes; os esquerdistas descreveram os direitistas como egoístas, ignorantes e intolerantes e
os direitistas descreveram os esquerdistas como corruptos, intolerantes e extremistas. Em relação à
violência, 72% afirmaram conhecer alguém que sofreu violência política nos últimos dois anos,
principalmente através das redes sociais. Quanto às médias da escala CMJ, os esquerdistas tiveram
média inferior aos direitistas. Existem diferenças significativas nas RS e nas posições entre os grupos, o
que pode estar no cerne da violência.
Palavras-chave: Psicologia Social; Violência; Representação social; Polarização política
Resumo
O objetivo deste trabalho é estudar a polarização política e as Representações Sociais (RS) dos grupos
de direito e de esquerda entre si, além de verificar a experiência da violência política e a crença em um
mundo justo (CMJ). Uma consulta on-line foi realizada. Os grupos de izquierda usaram os termos
igualdade, empatia e justiça para descrever a si mesmos, enquanto os grupos de direita usaram
liberdade, conservadorismo e justiça. Os dois grupos usaram pontos negativos para descrever as
oportunidades; os de derecha foram descritos como egoístas, ignorantes e intolerantes, e os de derecha
foram descritos como corruptos, intolerantes e extremistas. Sobre a violência, 72% disseram saber que
alguém sofreu violência política nos últimos dois anos, principalmente nas redes sociais. E sobre as
mídias na escala CMJ, os da esquerda percorreram um caminho mais baixo do que os da direita. Há
diferenças importantes no RS e posições entre grupos que podem estar no centro da violência.
2 Giacomozzi, Andréia Isabel; Tavares, Amanda CA; Silveira, Anderson e Justo, Ana Maria
INTRODUÇÃO
Seguindo uma tendência mundial, uma grande polarização política tem sido observada entre
os brasileiros (Giacomozzi et al., no prelo). Tal contexto polarizado é de interesse para uma
análise da psicologia social sobre como as realidades argumentativas validam
progressivamente as realidades sociais, o que pode favorecer o surgimento de discursos
políticos que fecham a possibilidade de ampla participação democrática. Pretendemos
analisar a polarização política e como ela está associada às representações sociais do seu
grupo (ingroup) e do grupo com posição política oposta (outgroup), considerando que tais
tensões podem gerar violência.
Na América Latina, os estudos sobre polarização foram conduzidos por Ignacio Martín-Baró
(1988, 2000), que define a polarização como um processo psicossocial no qual diferentes
posições em relação a um problema tendem a ser progressivamente reduzidas a duas
posições opostas e excludentes dentro de um espaço social. Acontece quando a posição de
um grupo pressupõe uma referência negativa à de outro, considerado rival. É um processo
dinâmico de forças sociais, onde classificar o outro torna-se uma necessidade para orientar o
próprio comportamento, o que pode gerar violência. Esse tipo de violência toma conta das
relações interpessoais, inclusive as mais íntimas.
Embora o mito da não violência exista no Brasil (Chauí, 2019), o país foi forjado com o
massacre dos povos originários e marcado por períodos de dominação autoritária com forte
militarismo e violência (Gomes et al., 2019). A violência está presente em diversos espaços
sociais e se manifesta principalmente contra determinadas populações marginalizadas,
pobres e negras (Giacomozzi et al., 2021, 2022; Vitali et al., 2021, 2022).
As RS podem ser um meio para os grupos afirmarem suas particularidades, o que demarca
sua importância na análise da dinâmica intergrupal (Deschamps & Moliner,
http://quadernsdepsicologia.cat
Machine Translated by Google
O número de pessoas que acedem às notícias através das redes sociais aumentou à escala
global (Newman et al., 2019). No que diz respeito à polarização política nas mídias sociais,
a teoria das RS pode auxiliar na compreensão da seletividade na busca por informações.
Serge Moscovici (1981), ao conceituar as mudanças provocadas pela comunicação nas
sociedades dos séculos anteriores, afirmou que enquanto a organização transforma massas
espontâneas em massas organizadas, a comunicação transforma estas últimas em públicos,
que, para ele, seriam verdadeiras massas em casa . As comunicações virtuais são elaboradas
através de mecanismos de operação específicos porque, ao se configurarem a partir da
comunicação anônima e à distância, colocam em xeque a capacidade discursiva e expressiva
de uma outra comunicação baseada na afirmação linguística e nos modos de operacionalização
sistemática em massa (Camino et al. ., 2019).
Posicionamento Político
Os significados de direita e esquerda adquiriram matizes diferentes ao longo da história e
serviram de combustível para os mais diversos regimes políticos do mundo.
Segundo Norberto Bobbio (2017), há mais de dois séculos, os conceitos de direita e esquerda
existem e, sendo antagônicos, pretendem divergir concepções, ideologias e práticas políticas.
A representação dos termos direita e esquerda está ligada ao modo de pensar das díades na
esfera do conhecimento.
4 Giacomozzi, Andréia Isabel; Tavares, Amanda CA; Silveira, Anderson e Justo, Ana Maria
sociedade, com maior distribuição de renda e interferência do Estado. Por outro lado, ser de direita
representaria uma visão mais conservadora, atrelada à tradição, com a intenção de manter o poder
centralizado em si mesmo e na prosperidade individual. Na esfera económica defende a iniciativa de
mercado com
uma economia livre, sem intervenção do Estado (Barros, 2019).
Nos últimos anos, tem-se percebido no Brasil uma avaliação negativa dos partidos de esquerda,
provavelmente devido aos escândalos de corrupção em que o Partido dos Trabalhadores (PT) esteve
envolvido, além do impeachment de Dilma Rousseff e da prisão do ex-presidente Lula, o que levou à
imagem manchada do partido e ao aumento do tom depreciativo dos partidos de esquerda (Mariano,
2019). Em contraste, a direita também tem sido estereotipada desfavoravelmente desde o regime
militar. Essa percepção, no entanto, sofreu mudanças desde que representantes de direita foram
eleitos nas eleições de 2018, com Jair Bolsonaro, que utilizou um discurso antipartidário e conservador
no campo dos costumes em sua campanha eleitoral. Além disso, o crescimento político do “sentimento
anti-PT” acompanhou a ascensão do conservadorismo religioso (Costa, 2019). Portanto, infere-se que
os estereótipos (Rodrigues et al., 2015) sobre ser “de direita” ou “de esquerda” se popularizaram no
Brasil e se fortaleceram desde as eleições de 2018, potencializando a polarização política no país.
Essa distinção de lados também resulta em conflitos de interesses e valores associados a grupos
sociais, bem como pode repercutir na forma como a justiça social é concebida.
A crença em um mundo justo (CMJ) é um construto utilizado para pensar a justiça a partir de uma
perspectiva psicossocial e pode auxiliar na compreensão do processo de polarização. Voltada para a
compreensão de uma série de fenómenos sociais, a investigação tem-se centrado na investigação
dos fenómenos e processos psicológicos que permitem uma compreensão de como as pessoas julgam
questões relacionadas com a justiça. A base desta teoria é que os indivíduos são motivados a perceber
o mundo como justo, onde as pessoas têm o que merecem e merecem o que têm (Lerner, 1998; Maes,
1998). Haveria uma tendência dos indivíduos a recorrerem a estratégias a fim de eliminar qualquer tipo
de ameaça à CMJ, como a injustiça e o sofrimento da vítima. Assim, a injustiça não seria um conceito
congruente com esta teoria, uma vez que os infortúnios que ocasionalmente acontecem às pessoas
são atribuídos à sua própria responsabilidade, através do pensamento de que coisas ruins acontecem
a pessoas más (Lerner, 1998).
http://quadernsdepsicologia.cat
Machine Translated by Google
entre esses grupos e os conflitos entre eles, bem como compreender como o fenômeno de
polarização política vivido no Brasil pode estar afetando as relações cotidianas entre grupos
de pessoas, amigos e familiares, considerando os aspectos psicossociais associados ao
fenômeno , como BJW.
MÉTODO
Instrumentos
Foi desenvolvida uma pesquisa online, composta por itens abertos e fechados, com base em
pesquisas anteriores (Gerber et al., 2017; Iyengar et al., 2019; Pimentel et al., 2010; Wisneski
& Skitka, 2017). O questionário era composto por 54 questões divididas em 8 seções,
abordando os seguintes temas:
a) a Escala Global de Crenças em um Mundo Justo, composta por sete itens para avaliar
CMJ (Pimentel et al., 2010); b) uma questão sobre a percepção da situação do país em
relação à polarização política; c) uma pergunta fechada sobre posições políticas e duas
perguntas abertas sobre relações intergrupais, nas quais os participantes foram solicitados,
após declararem sua posição política, a descreverem seu próprio grupo (ingroup) usando
três palavras, e depois descrever o grupo adversário (exogrupo) usando mais três palavras;
d) questões sobre os conflitos decorrentes do tema político e, em caso de respostas
afirmativas, com quais grupos de pessoas, em que situações/locais ocorreram e como a
situação se desenvolveu com determinados grupos de pessoas (12 questões fechadas).
ções); e) Questões sobre sentimentos associados à polarização política e à violência (15
questões, sendo 14 fechadas e uma aberta); e)
6 Giacomozzi, Andréia Isabel; Tavares, Amanda CA; Silveira, Anderson e Justo, Ana Maria
Perguntas sobre quais meios de comunicação foram utilizados para obter informações sobre política
(5 questões); g) Questões sobre confiança nos meios de comunicação e sobre o atual sistema político
brasileiro (4 questões); h) ao final do questionário foram incluídas seis questões sociodemográficas,
como sexo, região do estado brasileiro onde os participantes residiam, idade, renda, nível
socioeconômico, religião e escolaridade para posterior análise.
Análise de dados
Foi realizada análise estatística descritiva e relacional das questões fechadas por meio do software
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS-17.0). As respostas às questões de evocação de
palavras foram analisadas por meio do software IRaMuTeQ para análise de dados textuais (Ratinaud
& Marchand, 2015). Foi realizada análise prototípica, para que o material coletado na prova de
evocação fosse analisado considerando as dimensões individual (frequência) e coletiva (ordem média
de evocação), identificando assim a centralidade dos elementos nas representações (Wachelke et al.,
2016).
RESULTADOS
Quanto à região de residência, 6% dos participantes relataram residir na região Centro-Oeste, 10,1%
no Nordeste, 3,4% no Norte, 31,7% no Sudeste e 48,9% no Sul do Brasil. Quanto à renda familiar
mensal, observou-se que a maioria dos entrevistados possuía renda entre 5 e 10 salários mínimos
(SM) (26,4%) e entre 3 e 5 SM (19,4%). Outros dados mostraram que 2,4% relataram não ter nenhum
tipo de renda, 0,4% ganhavam até meio salário mínimo, 2,9% entre 0,5 e 1 salário mínimo, 12,6%
mais de 1 a 2 salários mínimos, 13,7% mais de 2 a 3 salários mínimos. salários mínimos, 17,1% mais
de 10 a 20 salários mínimos e 5% ganhavam mais de 20 salários mínimos.
http://quadernsdepsicologia.cat
Machine Translated by Google
Quanto à escolaridade, observou-se que 0,7% dos entrevistados relataram não ter
concluído o ensino fundamental, 0,5% ter concluído o ensino fundamental, 1,9% não
ter concluído o ensino médio e 9,1% ter concluído o ensino médio, ou seja, um
percentual de 12,2. % da amostra concluiu apenas um determinado nível do ensino
básico. Em contrapartida, um maior percentual da amostra (87,8%) tinha acesso ao
ensino superior, com 26,4% dos entrevistados relatando ensino superior incompleto,
23,8% ensino superior completo, 6,5% pós-graduação incompleta e 31,1% pós-
graduação completa. -graduação.
Ao cruzar a escolaridade com o pertencimento político, observou-se que as pessoas
que se declaravam de esquerda concentravam-se na pós-graduação completa
(37,8%), no ensino superior incompleto (28,3%) e no ensino superior completo
(19,3%). categorias, enquanto a direita se concentrou nas categorias ensino superior
completo (28,3%), ensino superior incompleto (24,5%) e pós-graduação completa
(24,5%). Houve associação estatisticamente significativa mostrando que os
esquerdistas eram ligeiramente mais escolarizados que os direitistas [ ² = 43,82; gl =
7; p < 001]. Observou-se também que as mulheres estavam concentradas na
pertença política de esquerda (62%), enquanto os homens estavam na direita
(67,9%). Houve associação estatisticamente significativa entre as variáveis [ ² =
70,96; gl = 2; p < 001].
Quanto à concordância com a afirmação de que o Brasil está dividido politicamente,
obteve-se média geral de 5,1 (DP = 1,25) em uma escala de seis pontos, com o grupo
de esquerda apresentando média um pouco superior (M = 5,29, DP = 1,17). ) do que
o grupo de direita (M = 5,04, DP = 1,30) [t(726) = 2,76; p < 0,01).
8 Giacomozzi, Andréia Isabel; Tavares, Amanda CA; Silveira, Anderson e Justo, Ana Maria
Solidariedade 15 1,9
http://quadernsdepsicologia.cat
Machine Translated by Google
Diálogo 6 6 2
Ética 6 1.8 Valores 5 2
Mercado livre 5 1.4 Futuro 5 2
Moderado 5 1.4 Estúdios 5 2
Ordem 5 1.4 Crescimento 5 3
f<
10 Giacomozzi, Andréia Isabel; Tavares, Amanda CA; Silveira, Anderson e Justo, Ana Maria
http://quadernsdepsicologia.cat
Machine Translated by Google
12 Giacomozzi, Andréia Isabel; Tavares, Amanda CA; Silveira, Anderson e Justo, Ana Maria
fÿ
Comunista 10 Egoísta 14 2.2
Autoritário 10 1.5 Ingênuo 11 2
Iludido 8 1.6 Mudo 11 2.4
Socialismo 8 1.5 Desonesto 11 1,9
Socialista 8 1.6 Fanático 10 2
http://quadernsdepsicologia.cat
Machine Translated by Google
Por fim, na segunda periferia, ou quadrante inferior direito, o grupo de esquerda listou
o elemento “fanático” como a melhor descrição para o grupo externo (f = 6, MEO = 2),
e em seguida: “utópico”, “religião” , “desinformado” e “indiferente”, o que indica uma
ideia representativa de alienação sobre o mundo. Também houve elementos ligados
ao preconceito: “homofóbico” e novamente “racismo”. Por fim, ainda no que diz
respeito aos afetos, o grupo de direita também elegeu elementos próximos da alienação
para descrever o exogrupo, tais como: “desinformado”, “invejoso” e “gado”. Este grupo
também utilizou elementos como “fome”, “desigualdade” e “doutrinação” para designar
uma representação da falta de apoio económico e alienação do grupo de esquerda
da esfera social.
14 Giacomozzi, Andréia Isabel; Tavares, Amanda CA; Silveira, Anderson e Justo, Ana Maria
Diferença
Político Padrão
Itens avaliados n Significar Entre o
posição Desvio
significa
http://quadernsdepsicologia.cat
Machine Translated by Google
Erro padrão
Político Padrão
n Significar do
posição Desvio
significar
Quanto a ter causado violência em grupos adversários, 42% relataram tê-la causado
nas redes sociais (Twitter/YouTube/Instagram); 30% via WhatsApp; 24% relataram
ter causado violência verbal pessoalmente e 2% violência física. Em relação às
diferenças entre os grupos, numa escala de seis pontos, o grupo de esquerda
apresentou média ligeiramente superior (M = 1,71, DP = 1,21) por ter provocado
através do WhatsApp do que o grupo de direita (M = 1,50, DP = 1,13) [t(730) = 2,45;
p < 0,05]. O cenário inverte-se no que diz respeito a ter causado violência física,
onde a média dos participantes de direita (M = 1,09, DP = 0,54) foi ligeiramente
superior à dos participantes de esquerda (M = 1,01, DP = 0,09) [t (3870 = 2,95;p
< 0,005].
No que diz respeito aos conflitos decorrentes de divergências políticas, medidos
numa escala de seis pontos (onde 1 = nunca e 6 = sempre), a família e os amigos
tiveram o valor mais elevado (M = 3,13; DP = 1,42); conhecidos (M = 2,99; DP =
1,44) e estranhos (M = 2,58; DP = 1,53). Em relação a parentes/amigos [t (730) = 6,27; p <
16 Giacomozzi, Andréia Isabel; Tavares, Amanda CA; Silveira, Anderson e Justo, Ana Maria
DISCUSSÃO
http://quadernsdepsicologia.cat
Machine Translated by Google
18 Giacomozzi, Andréia Isabel; Tavares, Amanda CA; Silveira, Anderson e Justo, Ana Maria
http://quadernsdepsicologia.cat
Machine Translated by Google
“liberdade” são elementos que sustentam uma visão de uma comunidade menos
corrupta, intolerante, radical e hipócrita.
Destaca-se o papel que os estereótipos desempenham na articulação de ideias
construídas através das relações intergrupais, pois são produzidos a partir de fatores
motivacionais e identitários ligados à dinâmica social de grupos e ideologias.
Marcos Emanoel Pereira et al. (2003) apontam que os estereótipos surgem quando os
indivíduos inicialmente imaginam e definem o mundo, e depois o observam. Esse
mecanismo de pensamento é obtido a partir da categorização, que permite simplificar a
realidade para selecionar elementos do estímulo e agrupá-los em uma categoria
unificada. Assim, as opiniões relativas ao grupo externo são geralmente construídas
pelo pensamento categórico e manifestam-se através de crenças estereotipadas
partilhadas pelos membros do grupo. Este é um preconceito intergrupal, onde existe
uma vontade de classificar os membros do grupo externo como mais homogéneos do
que os do grupo interno, bem como uma tendência relacionada para beneficiar os
membros do grupo interno em detrimento daqueles do grupo externo (Tajfel, 1981; Pereira e outros, 2003).
As RS são caracterizadas como conhecimentos estruturados com função importante na
forma como os indivíduos agem diante da realidade (Rouquette, 1998). Para os
participantes deste estudo, a representação do seu grupo e do grupo adversário está
relacionada com estereótipos de grupos políticos nos domínios social e económico. Os
elementos centrais referem-se a uma dimensão avaliativa da RS, enquanto os elementos
periféricos são mais dinâmicos, referem-se a especificidades e a uma dimensão de
representação mais objetiva (Abric, 2003). As RS identificadas evidenciam a polarização
política no Brasil e remetem ao sistema de forças descrito por Ignacio Martin-Baró
(1988) em que a posição de um grupo pressupõe a referência negativa à posição de
outro, considerado rival. A polarização política é um fenômeno que permeia diversas
instâncias; não está apenas no raciocínio filosófico, mas também nas teorias políticas,
bem como nas RS e nas políticas públicas, que são questões concretas na vida política
quotidiana das pessoas. Desta forma, a análise representacional da polarização política
pode ajudar a compreender o contexto em que os indivíduos vivem e se relacionam
entre si. Tal rivalidade, marcada pela polarização política, causa intolerância para
ambos os lados, gera insatisfação e reduz o nível de representação política,
desgastando os preceitos democráticos e a legitimidade dos representantes (Costa,
2019).
Foi observada profunda insatisfação com o sistema político brasileiro entre os
entrevistados, e esse sentimento é mais pronunciado entre os de esquerda,
provavelmente porque vivemos atualmente sob um governo de direita. A confiança dos
participantes na mídia brasileira ficou ligeiramente abaixo do ponto médio da escala,
com os grupos de esquerda tendo uma média ligeiramente superior aos grupos de direita. Nisso
Neste sentido, face à sobrecarga de informação na Internet, os tempos são difíceis para
20 Giacomozzi, Andréia Isabel; Tavares, Amanda CA; Silveira, Anderson e Justo, Ana Maria
http://quadernsdepsicologia.cat
Machine Translated by Google
Neste estudo, o fenômeno da polarização política foi abordado a partir de duas dimensões.
Primeiramente, a relação intergrupal foi considerada sob a contribuição teórica das RS.
Verificou-se que os grupos de esquerda e de direita percebem-se de forma diferente, com
alguns elementos comuns, cujos significados se distinguem quando se consideram as
relações entre os diferentes elementos evocados. Por sua vez, a representação do exogrupo
agrava a diferença, trazendo a prevalência de elementos negativos estereotipados, o que
corrobora o fenômeno de polarização descrito por Ignacio Martín-Baró (1988). Além disso, a
caracterização dos grupos, em termos de posições e crenças, mostra diferenças importantes
entre a direita e a esquerda, destacando que convivemos com diferentes formas de pensar e
conceber a sociedade, o que acaba por gerar conflitos e sofrimentos que também parecem
operam de maneiras diferentes entre os grupos. Parece-nos que o viés intergrupal, ao
exacerbar a diferença entre os grupos, estaria contribuindo para a manutenção de
representações e ações polarizadas, uma vez que a identidade de um grupo se constrói a
partir da oposição ao outro. Consequentemente, vivenciam-se a intolerância e a violência
contra a diferença.
Consideramos importante acrescentar que a polarização política pode ser bastante prejudicial,
como pode ser visto na recente pandemia de Covid-19, em que informações polarizadas e
falsas influenciaram indivíduos e grupos na descrença sobre a letalidade da doença e não
-adesão às medidas de higiene e isolamento recomendadas pelas autoridades de saúde em
todo o mundo (de Rosa et al., 2021) e também no Brasil (Giacomozzi et al., 2022; Justo et
al., 2020).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo deu visibilidade à polarização política vivida atualmente no Brasil e à profunda
insatisfação com o sistema político brasileiro vivenciada pelos participantes. Além disso,
observamos RS significativamente diferentes do grupo interno e externo, crenças e posições
dos grupos de direita e de esquerda no Brasil. Tais diferenças e concepções relativamente à
estereotipagem de grupos rivais podem estar no cerne da violência que ocorreu entre eles.
Tanto nas redes sociais como nas relações interpessoais diretas, a polarização política tem
sido alimentada por diferentes visões de mundo e formas distintas de inter-relacionamento.
22 Giacomozzi, Andréia Isabel; Tavares, Amanda CA; Silveira, Anderson e Justo, Ana Maria
REFERÊNCIAS
Baltar, Fabíola e Brunet, Ignasi (2012). Pesquisa social 2.0: Amostragem de bola de neve virtual
método usando o Facebook. Pesquisa na Internet, 22(1), 57-74.
https://doi.org/10.1108/10662241211199960
Barros, Paulo SDA (2019). Ações e discursos dos governos de esquerda e de direita no Brasil:"O
simbolismo dos cem primeiros dias" (Trabalho de Conclusão de Curso inédito). Universidade Federal
de Campina Grande. http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/
handle/riufcg/10904
Bobbio, Norberto (2017). Liberalismo e democracia (1a ed., Trad. Marco Aurélio No-
gueira). Édipro.
Camargo, Brígido V.; Scholösser, Adriano e Giacomozzi, Andréia I. (2018). Aspectos epistemológicos
do Paradigma das Representações Sociais. In: Emerson D. Medeiros, Ludgleydson F. Araújo, Maria
PL Coutinho & Lidiane S. Araújo (Orgs.), Representações Sociais e práticas psicossociais
(pp. 47-60). CRV.
Camino, Leôncio F.; LEAL, Tatiana. CA; Silva, Lawerton B. & Silva, Taciana (2019). A
Política Psicologia e a conjuntura atual. In Frederico A. Costa & Marcos R. Mesquista (Orgs.), Psicologia
Política no Brasil e Enfrentamentos a Processos antidemocráticos (pp. 35-56.) Edufal.
http://quadernsdepsicologia.cat
Machine Translated by Google
de Rosa, Annamaria S.; Mannarini, Terri; Gil de Montes, Lorena; Holman, Andrei;
Lauri, Maria A.; Negura, Lilian; Giacomozzi, Andréia I.; da Silva Bousfield, Andrea B.; Justo, Ana
M.; de Alba, Marta; SEIDMANN, Susana; Permanadeli, Risa; Sitto, Karabo e Lubinga, Elisabeth
(2021). Processos de construção de sentido e representações sociais da covid-19 no discurso
público multivoz: exemplos ilustrativos de comunicação institucional e mediática em dez países.
CPGP, Com. Psíquico. Globo. Persp. 7(1), 13-
53. https://doi.org/10.1285/I24212113V7I1P13
Deschamps, Jean-Claude & Moliner, Pascal (Eds.) (2009) A identidade em psicologia social: dos
processos identitários às representações sociais (Lúcia ME Orth, Trad.).
Vozes.
Doise, Willem (1992). A angústia nos estudos sobre as representações sociais. Bulletin de
Psychologie, 45(405), 189-195. https://www.persee.fr/doc/bupsy_0007-
4403_1992_num_45_405_14126
Furnham, Adrian (2003). Crença em um mundo justo: progresso da pesquisa na última década.
Personalidade e diferenças individuais, 34(5), 795-817. https://doi.org/
10.1016/S0191-8869(02)00072-7
Gerber, Alan S.; Huber, Gregory A.; Biggers, Daniel R. e Hendry, David J. (2017). Por que as
pessoas não votam nas eleições primárias dos EUA? Avaliar explicações teóricas para
participação reduzida. Estudos Eleitorais, 45, 119-129.
https://doi.org/10.1016/j.electstud.2016.11.003
Giacomozzi, Andréia I.; Fiorott, Juliana; Bertoldo, Raquel B. & Contarello, A. (em
imprensa). Representações sociais da polarização política através da mídia tradicional: um
estudo do caso brasileiro entre 2015 e 2019. Postdisciplinary Humanities & Social Sciences
Quarterly.
Giacomozzi, Andréia I.; Bousfield, Andrea BS; Fiorott, Juliana G.; Leandro, Maiara e Silveira,
Anderson (2020). Representações sociais da violência no trânsito e aspectos psicossociais
relacionados. Saúde e Pesquisa, 3(1), 193-204. https://doi.org/10.17765/2176-
9206.2020v13n1p193-204
Giacomozzi, Andreia I.; Castro, Amanda; Barbará, Andrea BS; Nunes, Priscila P. & Xavier,
Marlon (2021). Representações Sociais da Violência entre Estudantes de Escolas Públicas.
Em Clarilza P. Sousa & Serena ES Oswald (Eds.), Representações Sociais para o Antropoceno:
Perspectivas Latino-Americanas (pp. 325-337). Springer, Cham.
Giacomozzi, Andreia I.; Rozendo, Adriano; Bousfield, Andrea BS; Leandro, Maiara; Fiorott,
Juliana G. & Silveira, Anderson (2022). COVID-19 e Mulheres Idosas – um Estudo das
Representações Sociais no Brasil. Tendências em Psicologia, 2022, 1-17. https://
doi.org/10.1007/s43076-021-00089-9
Gomes, Marcela A.; Lima, Alessandra; Guerra, Ana S.; CORRÊA, Bruna; Nascimento, Vitória N.
& Favaretto, Valésia (2019). Como lidar com os efeitos psicossociais da violência? O curso de
capacitação como um dispositivo clínico e político. In Maria L. Lo-pedote, Daniela S. Mayorca,
Dario Negreiros, Marcela A. Gomes, Tompas Tancredi & Tadeu Breda (Eds.), Corpos que
sofrem: Como lidar com os efeitos psicossociais da violência? (págs. 54-68). Elefante.
24 Giacomozzi, Andréia Isabel; Tavares, Amanda CA; Silveira, Anderson e Justo, Ana Maria
Gouveia, Valdiney V.; Pimentel, Carlos E.P; Miranda Coelho, Jorge AP; Maynart,
Viviane AP & dos Santos Mendonça, Tamara (2010). Validade fatorial confirmatória e
consistência interna da Escala Global de Crenças no Mundo Justo–GJWS. Interação em
Psicologia, 14(1). http://dx.doi.org/10.5380/psi.v14i1.12687
Iyengar, Shanto; Lelkes, Yphtach; Levendusky, Matthew; Malhotra, Neil e Westwood, Sean J.
(2019). As origens e consequências da polarização afetiva nos Estados Unidos. Revisão
Anual de Ciência Política, 22(1), 129-146. https://doi.org/10.1146/
annurev-polisci-051117-073034
Jodelet, Denise. (2001). Representações sociais: um domínio em expansão. Em D.
Jodelet (Org.), As representações sociais (pp. 17-41). UDUERJ.
Jost, John T. (2017). Abundam as assimetrias: diferenças ideológicas em termos de emoção,
partidarismo, raciocínio motivado, estrutura de redes sociais e confiança política. Jornal de
Psicologia do Consumidor, 27(4), 546-553. https://doi.org/10.1016/j.jcps.2017.08.004
Justo, Ana M.; Bousfield, Andrea BS; Giacomozzi, Andreia I. & Camargo, Brígido V.
(2020). Comunicação, representações sociais e polarização prevenção-informação
sobre a COVID-19 no Brasil. Artigos sobre Representações Sociais, 29(2), 4-1. https://
psr.iscte-iul.pt/index.php/PSR/article/view/533
Koteyko, Nelya; Jaspal, Rusi e Nerlich, Brigitte (2013). Mudanças climáticas e
'climategate' nos comentários dos leitores online: Um estudo de métodos mistos: Mudanças
climáticas e 'climategate' nos comentários dos leitores online. A Revista Geográfica, 179(1), 74-
86. https://doi.org/10.1111/j.1475-4959.2012.00479.x
Lerner, Melvin J. (1998). As duas formas de crença em um mundo justo. Em Léo Montada &
Melvin J. Lerner (Orgs.), Respostas às vitimizações e crença em um mundo justo (pp.
247-269). Springer EUA. https://doi.org/10.1007/978-1-4757-6418-5_13
Maes, Jurgen (1998). Justiça imanente e justiça última. Em Leo Montada e Melvin J. Lerner
(Orgs), Respostas às vitimizações e crença em um mundo justo (pp. 9-40).
Springer EUA. https://doi.org/10.1007/978-1-4757-6418-5_13
Mariano, Matheus BA (2019). A relação entre perfil de liderança política e
governabilidade: um estudo do caso dos ex-presidentes dos governos do PT. Caderno Virtual,
2(43). https://
www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/cadernovirtual/article/view/3454/1612
Martín-Baró, Ignácio (1988). A violência política e a guerra como causas do trauma psicossocial
em El Salvador. Revista de Psicologia de El Salvador, 7(28),123-141. http://
www.uca.edu.sv/coleccion-digital-IMB/wp-content/uploads/2015/11/1988-
La-violencia-pol%C3%ADtica-y-la-guerra-como-causas-del-trauma-RP1988-7-28-
123_141.pdf
Martín-Baró, Ignácio (2000). Guerra e trauma psicossocial do menino salvadorenho. Em Ignacio
Martín-Baró (Org.), Psicología social de la guerra (pp. 234-247). Editores UCA.
Moscovici, Serge (1981). L'Age des Foules [A Era das Multidões]. Biblioteca Arthème
Fayard.
Moscovici, Serge (2011). Um ensaio sobre representações sociais e minorias étnicas.
Informação em Ciências Sociais, 50(3-4), 442-461.
https://doi.org/10.1177/0539018411411027
http://quadernsdepsicologia.cat
Machine Translated by Google
Newman, Nick; Fletcher, Ricardo; Kalogeropoulos, Antonis & Nielsen, Rasmus K. (2019).
Relatório de notícias digitais do Reuters Institute 2019. Instituto Reuters para o
Estudo do Jornalismo. https://ora.ox.ac.uk/objects/uuid:18c8f2eb-
f616-481a-9dff-2a479b2801d0/download_file?file_format=pdf&safe_filename=reuters_institute_digit
al_news_report_2019.pdf&type_of_work=Relatório
Pereira, Marcos E.; Fagundes, Ana LM; da Silva, Joice F. & Takei, Roberta (2003). Os
estereótipos e a visão lingüística intergrupal. Interação em Psicologia, 7(1).
https://doi.org/10.5380/psi.v7i1.3215
Pimentel, Carlos E.; Gouveia, Valdiney V.; Diniz, Pollyane K.; Saenz, Daniele P.;
Santos, Alessandra MV & Vieira, Igor S. (2010). Evidências de validade de construção e
precisão da Escala Geral do Mundo Justo. Boletim de Psicologia, 60(133), 167-180.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-
59432010000200004&lng=pt&tlng=pt
PNAD/IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pesquisa Anual por Amostra
de Domicílios Contínua (PNAD-Contínua) (2019). PNAD Contínua 2018: educação
avança no país, mas desigualdades raciais e por região persistem. Autor.
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-
noticias/releases/24857-pnad-continua-2018-educacao-avanca-no-pais-mas-
desigualdades- raciais-e-por-regiao-persistem
Ratinaud, Pierre e Marchand, Pascal (2015). Des mondes léxicos aux representações
sociais. Uma primeira abordagem de temática nos debates na Assembleia Nacional
(1998-2014). Mots. Les langages du politique, 108, 57-77. https://
doi.org/10.4000/mots.22006
Rodrigues, Aroldo; Assmar, Eveline ML e Jablonski, Bernado (2015). Psicologia
Social. Vozes.
Rossi, Amanda; Carneiro, Julia D. & Gragnani, Juliana (2018, 30 de setembro). EleNão:
Uma manifestação histórica liderada por mulheres no Brasil vista por quatro ângulos.
BBC News Brasil. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45700013
Rouquette, Michel-Louis (1998). Representações e práticas sociais: alguns elementos
teóricos. Em Antônia SP Moreira & Denize C. de Oliveira (Orgs.), Estudos
interdisciplinares de representação social (pp. 39-46). Editora AB.
Tajfel, Henry (1981). Grupos humanos e categorias sociais: estudos em psicologia social
sim. Arquivo da Copa.
Vitali, Marieli; PRESOTO, Gabrielle; Gizzi, Flávia; Gomes, Marcela A. & Giacomozzi,
Andréia I. (2021). #BlackLivesMatter: Um estudo das representações sociais do Twitter.
Psicologia Comunitária em Perspectiva Global, 8(1), 1-19.
https://doi.org/10.1285/I24212113V8I1P1
Vitali, Marieli; Giacomozzi, Andréia I.; Bousfield, Andrea BS e Vidal, Gabriela
(2022). “Me atacaram de diversas maneiras, só não me bateram”: Representações
sociais da violência entre pessoas em sofrimento psíquico. Psicologia Comunitária
em Perspectiva Global, 8(2), 37-58. https://doi.org/10.1285/I24212113V8I2P37
Wachelke, João; Wolter, Rafael & Rodrigues, Fabíola M. (2016). Efeito do tamanho da
amostra na análise de evocações para representações sociais. Liberabit, 22(2), 153-
160. http://www.scielo.org.pe/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1729-
48272016000200003&lng=es&tlng=pt
26 Giacomozzi, Andréia Isabel; Tavares, Amanda CA; Silveira, Anderson e Justo, Ana Maria
Wisneski, Daniel C. e Skitka, Linda J. (2017). Moralização através do choque moral: Ex-
explorando antecedentes emocionais para a convicção moral. Boletim de Personalidade e
Psicologia Social, 43(2), 139-150. https://doi.org/10.1177/0146167216676479
https://orcid.org/0000-0002-3172-5800
ANDERSON SILVEIRA
FORMATO DE CITAÇÃO
EDITORIAL DE HISTÓRIA
Recibido: 25-05-2020
1ª revisão: 08-06-2021
Aceito: 07-04-2022
Publicado: 30-12-2022
http://quadernsdepsicologia.cat