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252 PSICOLOQIA GERAL 253

A3 ILUS0E3 DA PBRCEPÇÂO
— C'omo se vê, fi <jl)n da cartola
é muilo vicnor do quo a altitra
da mesma (vide con/Irmoçdo
n o fi m d o c a p i t u l a ) .

FIGURA il

FIGURA *5
A8 ILL'SÔBS DA PERCBPÇXO

Çual a HnAa pontcada mais comprida: a d« eaquerda


(B-0) ou a àa direUa (A-iî)? (Tïfîa resposta «o saçôes me dâo estâ correto: uma forma îr^Hpfinida»
fi m d o c a p U u l o . ) or prêta, uma sensaçâo de movimento Mas auando eu
reuno essas sensaçôes em minha consciên^fa interP^®^
as e digo que aquilo é um ladrâo ou f,m fkntesm^'
mmha percepçao se engana* tn? c de uma
cortn
i a pend^uU „a fa^a
l . aço^a^pC
' vtn^o^ • •

OUA.VrOS CUBOS SAf


OJhando para «
Cao cm çue se encontra,
mos 7 euboa IncUnando o ^
FIGURA 48 para a dlrciio, chego o
e
ffue vemoa apeMS ®
m

AS 1LU80B8 DA PEROEPÇIO

Oomo se vô logo, a linha ponteada do primelro trapézto


4 nmUo maior gue a do aegundo trapôzlo (vidé con/irmaçdo
FIGURA 50
n o fi m d o c a p U u I o ) .
254 AFRO DO AMARAL FONTOURA PSICOLOGIA GERAL 255

Tais erros de percepçâo constituem uma conseqiicn- Tôdas as cliamadas "ilusôes de ôtica" dos almana-
cia daquela bellssima capacidade de nosso espi'rito : a es- ques e das revistas, como os truques dos mâglcos, têm
trutura ou sintese mental, Cada fenômeno de percepçâo por causa a alteraçâo de um dos fatôres do esquema que
é um esquema de fatôres fisicos, fisiolôgicos e psi'quicos. nossa consciência jâ tinha formado a respeito de uma
Sempre que um dêsses elementos falta, ou se altera, nos percepçâo qualquer.
so psiquismo o compléta. E da mesma forma, quando
ao conjunto de fatôres ant-igos se junta um elemento Exemplo: pelo meu esquema mental das percepçôes
nôvo,^ essa modlficaçâo logo altera nossa percepcâo a visuals, eu sei que, dados dois objetos do mesmo tama-
respeito do objeto. nho, mas situados a diferentes distâncias de mim, o obje
to mais afastado se apresentarâ mener que o objeto mais
prôximo. Muito bem. Olhando agora para duas figu
ras humanas desenliadas num papel, em dois pianos dife
rentes, e aparentemente do mesmo tamanho, eu dirai lo
go que a mais afastada é maior que a mais prôxima (pois,
como vimos acima, se fôssem do mesmo tamanho, a mais
afastada pareceria mener). Mas êsse desenho (vide fi
gura 51 na pagina 254) foi feito apenas para iludir mi-
nlias percepçôes E, na realidade, as duas figuras sâo
exatamente do mesmo tamanho, como o leitor poderâ
medir com o compassé ou a régua...

Outra causa comum nos erros da nossa percepçâo


é que, como jâ foi dito, tendemos sempre a perceber aqui-
lo que queremos perceber... Assim, quando espero um
amigo numa esquina, parece-me vê-lo, a cada memento,
em uma pessoa que se aproxima...

O aluno que aguarda ser chamado à argtiiçâo pélo


professor, "ouve" a cada instante o mestre pronunciàr
0 seu nome, "vê" que o professor nâo tira os olhos délè,
embora, na realidade nadà disse esteja acontecendo...
FJGURA 61

ILVSÔES DA. PERCEPÇAO § 1 0 0 ) PAT O L O G I A D A P E R C E P Ç A O

Quem é malort o aoJdadri


o soldaào. ndor Vide £lvidente,nente Tôdas as "ilusôes da percepçâo" a que nos referi-
mos no parâgrafo anterior sâo de aspecto momentâneo;
quando, porém, assume çarâter permanente, pas-
PSICOLOGIA GERAL
258 AFRO DO AlrlARAL FONTOURA 257

Alucmaçao e muito comum no "delirio alcoôUco"


sam a scr
de patologia da
casos
forma de loucura dos individuos que se deLm tatori-
car completamente pelo alcool. CraheceC uessoS
percepçâo, ciija
causa pode ser
mente um caso, em que o louco olhava para a janeia
e 'Ivia' arvores, nas quais "via" individuos treuados out
uma lesîïo cere
0 msultavam constantemente; o doente "S" i ta-
bral, um chocfue
ps.'quico violento,
sultos que os homens Ihe dirigiam. e dizia "files Istâo
um fenomeno de
me chamando disso e daquilo". *
desagrega çâo
mental. Os casos
à niunirin^^- ■ ~~ ^âo OS fenômenos opostos
patologicos mais
comiins sac as
tem T nâo exis-
"a sua trente.
alucinaçôes, as ag
Ou melhor, ve, mas nao os reconhece: tem sensaçôes
nosias e a dis- do objeto, mas nao a percepçâo do mesmo. O paciente
junçâo do real. ve, mas nao sabe dizer o que estâ vendo; escuta, mas
nao entende o que esta escutando; toca num obieto
100,1) alu mas nao consegue dizer em que estâ tocando.
cinaçôes — Jâ
FIGURA 52 dissemos. no § 96.3 Entre os casos de agnosia se coloca a afasia, que
que a alucinaçâo e a incapacidade do individuo falar, embora nâo tenha
A LT B R A Ç O E S D A P E R C E P Ç 1 0 é uma falsa per- nenhum defeito no sistema nervoso, isto é, nenhuma
cepcao: è o feno paralisia.
Na figura adma vemoa, aJtcrnadamente wna meno de "vermes"
taça ffocalisando a parte 6ranca) o« o perfxl
de t peasoaa eorrindo (no parte prêta} ■
uma cousa que 100.3) DISJUNÇAO DO REAL. — Recebe este
A figura serve também para o estudo da nao exi.ste. de nome o fenômeno de desintegraçâo das percepçôes in
"persisténcia da imagem" : fixando os olhos, "oiivirmos" pala- ternas, isto é, os casos de desagregaçâo do eu. O doente
durante um minuta sôbre a imagem da taça, vras que nao fo- perde o esquema do eu, dado pelo conjunto das percep
e, em seguida, olhando para uma parede ram proniinciadas
bra^ica, ver-ae-d a mesma figura na parede,
çôes do seu prôprlo corpo e do seu psiqpismo. PIERRE
por'dm a taça aparecerd prêta e o guadro em ( v i d e N Ô T U T. A JANET nos explica:
t â n w, b r a ' n c o . n.® 37. ahaixo).

NÔTULAS — N.o 37 ^ntada


(jra. a_ em uma poltrona
poltrona à sua Afrente.
estava vazla. falsa que o olhavaera
percepçâo fixamente.
tâo pré
cisa, tâo real como as percepcôes verdadeiras. os objebos em
Patologia da percepçâo volta. A mào da pessoa repousava sobre o braço da poltrona,
e essa mâo era tâo nîtida, tâo definlda como a prôpria poltrona.
GOBLOT nos descreve o seguinte caso aluclnatorlo: A cabeça da pessoa estava cobrindo. em parte, uma gravura que
—; M. me contou que tinha uma alucinaçâo repetlda. todos se encontrava à parede"... E no entanto, minutes depois, essa
OS dîas à mesma hora, e durante um espaço de tempo bastante visao sç ia egfuinando e desapareçia completamente..."
longo. Sentado à sua mesa de trabalho, êle "via" uma pessoa

Pslcoioglû Gérai — C^.


260 AFRO DO AMARAL FONTODBA

PSICOLOGIA GERAL 261


5 102) PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Aplicaçôes pedagôgicas do présente cnpitulo A quarta concîusâo é também da mâxima impor-


tância: é quanto aos métodos de aprendizagem da lei-
A Psicologia estruturalista teve a maior impor- tura. Se nossas percepçôes sâo estruturadas, se apre-
tância possîvel na renovaçâo da Pedagogia. Com efeito, endemos o todo antes da parte, entâo também a apren
na educaçâo moderna se dâ grande ênfase à globalizd' dizagem da leitura deve partir do todo para a parte.
çâo do ensino. E o raciocinio é êste: se todos os conhe- Em outi'as palavras: devemos usar métodos analîticos
cimentos existem esiniturados em nossa consciência, e nâo sintéticos para o ensino da leitura; devemos par
entâo quanto mais oferecemos ao aluno um ensino glo- tir do todo, que é a frase e nâo da parte, que é a silaba
balizado, isto é, estrutvrado, tanto mais fàcilmente êle ou a letra. Melhor ainda: devemos partir do conto, que
0 assimilarâ. é um todo estruturado, com sentido prôprio, com um
enrêdo completo. O método de contos é, portante, o
A segunda concîusâo é o que o professer deve ter o mais indicado para ,o ensino da leitura, de acôrdo com
cuidado constante de unir o conhecimento nôvo com a ciência psicolôgica.
o antigo. Isso signlfica que deve haver uma continui-
dade, uma forte îigaçâo entre a aula de ontem e a aula
de hoje. 5 103) EXERCICIOS E EXPERIÊNCIAS

For essa razâo é que os programas de ensino mo 1. Teste de percepçâo visual — o taquitoseôpio
dernes nâo sâo divididos em pontos, independentes entre
si, mas sim em unidades de assuntos correlates. Colocar diante do taquitoseôpio (que pode ser uma
Da mesma forma os modernos métodos de ensino. mâquina fotogrâfica, sem o filme, como dissemos no §
baseados na Psicologia. sâo globalizadores, tais como o 101-A) um cartâo, com algarismos, palavras ou dese-
nhos. O aluno olha de dentro da mâquina para fora.
método dos "Centros de Interêsse", de DECROLY e o
" M é t o d o d e P r o j e t o s " , d e D E W E Y: e m v e z d e s e r e m d i
O professor abre e fecha o obturador e pede que o
aluno reproduza o que viu no cartâo. Cada cartâo pode
vididos em "matérias" ou em "pontos" sâo apenas conter 5 algarismos: um escrito em cada canto e um
divididos em "fases" ou unidades de tempo (visto que no meio. O tamanho do cartâo nâo deverâ exceder de
nâo é possîvel dar tudo ao mesmo tempo) (vide Nô- 5 X 4 cm.
TULA n.o 38, abaixo).
2. Teste de percepçâo visual (II)

NôTULAS — N.o 38 Nâo havendo nem taquitoseôpio, nem mâquina fo


Métodos de ensino
togrâfica, a experiência pode ser feita num quarto
escuro. O professor inscreve palavras ou desenhos num
A ^ E S T O L A V I VA ? " d e s t a C < V quadro, colocado dentro do quarto. O aluno ficarâ em
mesnio aytof. Metodologla do Ensino Prlmârlo", do frente a esse quadro. O professor abrirâ a luz e tor-
narâ a fechâ-la, instantâneamente. O aluno deverâ di-
zer 0 que viu no quadro, no momento em que se acen-
deu a luz.
^âîCOLOQÎA ÔËRAL
m A f R O D O A M A R A L F O N TO U Ë A

3. Teste de percepçâo visual (III) 8. Erros de percepçâo

Nao existindo nem taquitoscôpio, nem maquina, O professor poderâ fazer numerosas experiências
nem quarto escuro, o professor escreverâ as letras ou cbm seus aluhos, nesse sehtido, com o abundante ma
numéros ou palavras sobre uma fôlha de papel, que terial que as revistas e almanaques oferecem sobre as
cobrirâ com um pane. Em seguida, com a maior rapi- "ilusôes de ôtica".
dez possivel, descobrirâ o quadro e tornarâ a cobri-lo,
9. A percepçâo como estrutura (I)
pedindo que o aluno diga o que viu ali.
4. Teste de percepçâo visual (IV) Para verificar a força das nossas estruturas men
tais (conf. dissemos no § 101), fazer o aluno repetir
_ Ainda outra forma de aplicar a experiência : passar uma frase de trâs para diante, palavra por palavra.
ràpidamente diante de uma vitrine, numa loja qual- É muito dificil porque a frase constitui um todo forte-
quer, e notar quantos objetos ali percebeu. Relacionâ- mente estruturado.
los. Depois, voltar à vitrine, para conferir a relaçao
feita com a realidade. Ver-se-â a tendência de nosso 10. A percepçâo como estrutura (U)
espirito de completar os quadros falhos.
o mesmo exercicio: fazer o aluno «petir a frase
5. A percepçâo como sîntese (X) de trâs para diante, porém silaba por silaba. No teste
anterior, a frase o menino viu a bola "P,
verificar experimentalmente o quanto a per- tlda asslm; bola a viu menino o. Neste teste a repeti
sîntese dos nossos sentidos, mandar o çâo correta serâ la-bo-ci'Viu-no-ni-me-o.
os olhos vendados, tocar em vârios objetos,
necidos e desconhecidos, e dizer quais sâo êles. 11. A percepçâo como estrutura (ill)
6. A percepçâo como sintese (II) o mesmo exercicio; mandar o aluno ràpida
mente as letras que formam uma P^lav^ ^er
fecharinf^wo ®^®riência: fazer o aluno, de olhos diante. Exemplo: brastletro, o aluno deverâ oiz
irrepiiiarm!^f simples pedaços de papelâo, cortados o-r-i-e-l-i-S'a-r-b.
apresentarem nenhuma forma
12. prova de Teorla Estruturalista
dos papelôês ° aluno desenhar a forma
■ Verificar que é muito mais fâcil guardar palavras
7. Decomposlçâo da percepçâo comuns do que palavras sem nexo; e mais fâcil g^^rdar
fJ^es do que palavras sôltas. Para isso mandar os
nos ^imnîef°^ ^i^ais ou me- ^Is repetirem as 3 séries seguintes (todas com o
mesmo numéro de palavras) :
m AfftO DO AMAfiÂL t'ONTOtiiiA PâiCÔLÔGiA GÈÎiAL 2BS

I) gloteb — bruniv — castex — reot — cineris 2. DOCKRAY, Floyd — ''General Psychology"; Pren
— oric — sefro — vlica. tice Hall; New York, 1936.

II) casa — elefante — borracha — rio — tinta — 3. FRôBES, José, S. J. — "Tratado de Psicologia
pilula — mulher — feijào. Empirica y Experimental"; Ediciones Fax; Madrid,
1946.
Ill) Os soldados Invadiram cidades pacatas cau-
sando grandes prejuizos. 4. TOULOUSE & PIERON — "Psicologia Experimen
tal"; Jorro Editor; Madrid, 1906.
RESPOSTAS AS FIGURAS
5. WARREN, Howard — "Précis de Psychologie";
Figura 45; cachorro. Figura 46: Mel. Édlpo. Fi Marcel Rivière; Paris, 1923.
gura 47: as duas diagonals sac perfeitamente Iguais.
Figura 48: as linhas pontilhadas dos dois trapézios sâo
iguais. Figura 49: sâo iguais a altura e a aba da
cartola.

5 104) TÔPICOS PARA DEBATE EM CLASSE


1 Diferençar peTcepçâo de sensaçâo.
2. "Perceber é reconhecer" _ Explicar isso.
3
Zda™'- ^
4 . Quai 0 mecanlsmo das ilusôes da percepçâo?
5. Que se entende por guestaltismo ou estruturalismo?
6 .
^ aiscutir essa afirmaçâo.

fi105) LEITURAS COMPLEMENTARES


ALVES DA SILVA _ •'PcT..ni« •
Saraiva Editôres; Sâo Paulo. Experimental";
CÂPîTULO tl
Os Fenômenos Intelectivoéi
III) A Imagem

Ficba-resnmo:

SS

106) CONCEITO DE IMÂGEM

Ë a representaçâo de um objeto ausente.


Imaglnaçâo é a capacidade de representar em nosso
espîrito um objeto na ausêncla do mesmo.
101) DIFERENÇA ENTRE PERCEPÇAO E IMAGEM
A percepçâo é um registre vivo; a imagem é uma
revivescência, é a representaçâo de uma percepçâo
anterior.

108) CLASSIFICAÇAO BAS IMAGEN5


A) Quanto à realidade
1) Imagens reals
2) Imagens irreals

B) Quanto as condiçôes de produçâo


1) Imagens espontâneas
2) Imagens voluntàrlas
3) Imagens aberrantes
4) Imagens obcedantes
C) Quanto à matéria sensivel que evocam

1) Imagens visuals
2) Imagens auditives

(continus)
268 AFRO DO AMARAL FONTOURA

Ficba-resumo (conclusao) :

§ 106) CONCEITO DE IIVLVGEM

3) Imagens olfativas, gustativas e tàctela. Imagem é a representaçâo de um objeto ausente.


4) Imagens qulnestésicas ou motoras. "É o conteùdo de consciência sensivel. concrete, ten-
do alguma relaçâo com o mundo das cousas, os objetos
109) 0 EIDETISMO ou as situaçôes. o real, enfim, e que nos leva de volta
a êsses elementos. Ela se produz mdependentemenU
É 0 fenômeno do individuo ver com absoluta preclsâo
OS objetos ausentes de seus olhos, projetados sôbre
de qualquer percepçâo atual, indépendante de qual-
uma tela. quer estimulo atual dos ôrgâos dos sentidos; aparece
espontâneamente ou depois de um esforço de evocaçao
110) IMPORTANCIA DA IMAGINAÇAO (MEYERSON) .
1) A Imaginaçâo é a fonte de todo progresse
2) A imaginaçâo é a maior consoladora da vida bu- . Podemos dizer que imaginaçâo é a de re
m a n a . viver na consciência objetos ausentes n momento. É
3) A imaginaçâo é a fonte da arte, da beleza e da a faculdade de formar imagens de cousas nao percebi-
literatura.
4) Os perigos da imaginaçâo.
das naquela ocasiào. É a
^a ausência do mesmo. Ou ainda. imaginaçâo é a fa
111 ) P S I C O L O G I A E D G G A C I O N A L : culdade de représentai* objetos ausentes.
Aplicaçôes do présente capitule à Pedagogia.

11 2 ) E X E R C t C I O S E E X F E R I Ë N G I A S
§ 107) DIFERENÇAENTRE PERCEPÇAO E IMAGEM
11 3 ) L E I T U R A S C O M P L E M E N TA B E S .
o regiVîmes no obj
stro de um capitule
eto emanterior o ®
nossa consci
ência Pois be^
«nagem é a representaçâo de ^
ipr. Em outras palavras: a percepçâo
^ivo, é uma apresentaçào do objeto ^
enquanto a imagem é uma ûm! eTuéde de
^Qntaçao (CUVILLIER). A imagem é uma espécie
oôpia da percepçâo, tal coino a Çdpi^ S
présenta o objeto ausente.
268 APRO DO AMARAL FONTOtmA

Flcha-resnmo (conclusâo) :

§ 106) CONCEITO DE IIVLVGEM

3) Imagen^ olfatlvas, gustatlvas e tàctels. - "É Imagem é ade


0 conteùdo representaçâo
consciência de um objconcreto
sensivel, eto ausente.
ten-
4) Imagens quinestéaicas ou motoras.

109) O EIDETISMO ou alguma relaçâo corn o mundo das cousas os objetos


as situaçôes, o real, enfim, e que nos leva de volta
a êsses elementos. Ela se produz
É 0 fenômeno do Individuo ver com absoluta precisâo
OS objetos ausentes de seus olhos, projetados sôbre qualquer percepçâo atual,
uma tela. quer estimulo atual dos ôrgâos dos sent dos aparece
espontâneamente ou depots de um esforço de evocaçao
110) IMPORTANCIA DA IMAGINAÇAO (MEYERSON) .
1) A Imaginaçâo é a fonte de todo progresse
2) A imaginaçâo é a malor consoladora da vida bu- Podemos dizer que imaginaçâo é a
viver na consciência objetos ausente nprppbi
m a n a .
3) A imaginaçâo é a fonte da arte, da beleza e da a faculdade de formar imagens L ïîn
literatura.
4) Os perlgos da imaginaçâo. naquela do
Ua ausência ocasiào.
mesmo.ÉOua ainda.
f^j,o-inannn
i =. Ç ^ n fa-
111 ) P S I C O L O G I A E D D C A C I O N A L :
cuidade de représentai objetos ausentes.
Aplicaçôes do présenta capitule à Pedagogla.
§ 107) DIFERENÇAENTRE PEBCEPÇAO E IMAGEM
11 2 ) E X E R C I C I O S E E X F E B I Ê N C I A S

Vimos de
noum
capitulo
11 3 ) L E I T C R A S C O M P L E M E N TA B E S .
u registre objetoanterior
em nossao nercencâo ante-
a imagem é a representaçâo de uma p P.
rior, Em outras palavras: a no<;<in esnîrito
é uma avreseniacâo do objeto ao nosso espirito,
^nquant
o a(CtTVILLIER).
sentaçào iZgeré uma A imageni ^ j-e-
^ôpi
a da percepçào, tal como a C^pia fotogrâfica. re
présenta 0 objeto aqsepte.
2 7 0 AFRO DO AMARAL FONTOURA PSICCLCGIA GSRAL 271

S 108) CLASSIFICAÇAO DAS IMAGENS


falando de comidas gostosas e, de repente, me vem ao
espirito a imagem de um homem enforcado numa
ârvore.
108.1) imGENS REAIS E IRREAIS — As ima-
geiis se classificam segundo sua realidade ou nao. Ima- Enfim, hâ as imagens ohcedantes, que voltam cons-
gens reats sao as que correspondem a algo que existe, tantemente ao nosso espirito, constituindo uma verda-
que jâ conhecemos, que jâ estêve alguma vez présenté deira angustia para nôs. Ê a ohcessao do individuo que
em nosso espirito. Tern sua origem em percepçôes que tern um complexe de culpa (vide capitulo IV) ou uma
foram um dia registradas per nos e a seguir arquiva- idéia fixa qualquer. Exemple: a pessoa que "vê" ou
das na memôrla. Imagens irreais sao as que nao cor "escuta" sempre um ladrao em toda parte. A imagem
respondem a percepçâo alguma; sao pura criaçao de obcedanfe tende a degenerar na alucinaçâo jâ referida
nosso espirito, sem nenhuma relaçâo com o mundo ob- anteriormente (vide § 100).
]etivo. E, aliâs, nesse sentido de iato irreal, fantastico,
que vulgarmente se usa a palavra imaginaçào. Quando 108.3) CONTEÛDO — Quanto ao seu conteudo
d zemos a uma pessoa: — "Isso é imaginaçào sua" — as imagens podem ser representative cSo
queremos significar que ela estâ com devaneios, estâ imagens representativas, também nossuem
no reino da. fantasia. No capitulo anterior (vide § 100) as que contem apenas lembranças Nossa
referimos as alucinaçôes, que sao também ima- somente conteûdo intelectivo ou intelectu^^^ Nossa
^cliS iTTBdiS • consciência se porta, neste ° ^^«««-ens moto-
o desfile das imagens. Ao l^te é um
108.2) CONDIÇÔES DE PRODUÇAO — Como ras trazem em si esbogos de movim
^ imagens sao espontâneas, isto é, apa- dos fenomenos mais «îo a imagem de um
nosso cérebro à medlda que vamos racioci- gens: eu formo em mmha confie j^eu sis-
sobre qualquer assunto. Se objeto pesado e, ao que seriam necessâ-
tema muscular os g^^tos de forç quando pen-
mr dp
mar, de fnavios,
assuntos maritimos,
de cenas asnnp
da viaeem imagens do
fir mp vêm riso
osparal
evantar oobjeto. Ou^ assunto, posso chegar
fortemente a respeito que estou pen-
a formar a imagem das imagens verbais po-
sando (imagens verbais) ; e ndentes, os movi-
cie outra
dem despertar as atitudes ® fonador (disposi-
mentos respectives em meu ap palavra falada).
çâo da laringe e dos outros 0 g
vocadas^peto luiihrf^n"^ voluntârias, isto é, pro- Segundo
TTTrti'oc; as imagens motoras
& sur]a novamente em seu espirito. despertam a sinergia de rw , atingir um ob-
tençâo de fazer nioviment impulses
acode à"nos^ coMcfênâl de ® jeto qualquer é acompann Q^imento 0 jôgo de mS'
com 0 assunto de4questainos
e Smo<;faiando. Exemplo: estou que têm por fim colocar „„icmo".
canismos motores do meu 0 g
272 AFRO DO AMARAL FONTOURA

PSICOLOGIAGERAL 273
1 0 8 . 4 ) M AT É R I A S E N S Î V E L Q U E E V O C A M —
As imagens correspondem, como vimos, às percepçôes. gens motoras. (Jâ nos referimos a elas, na "classifi-
Por isso elas se classificam, segundo a matéria sensi- caçâo das imagens quanto ao conteùdo".)
vel que evocam, de acôrdo com os vârios ôrgâos dos
sentidos. Assim, as imagens podem ser visuais, auditi- A força dessas imagens motoras é muito poderosa:
vas, olfativas, gustativas, tâteis, quinestésicas e verbals. — "depois de um longo trajeto de estrada de ferro,
0 viajante pode ter durante certo tempo a impressâo
de sentir o movimento do trem". E quando sai de
108.4.1) Imagens visuais — Sâo as mais nume- um navio que jogou muito, o viajante continua tendo,
rosas e as mais fréquentes. Podem referir-se a tôdas as
no corpo e principalmente nas pernas, a impressâo do
proprledades da percepçâo visual (forma, tamanho, cor, balanço da embarcaçâo.
relêvo e localizaçâo no espaço). Em gérai o individuo,
para ter as imagens visuais com mais nitidez, fecha os Sâo as imagens motoras que nos permitem adqui
olhos; mas isso nâo é lei. Hâ algumas pessoas que de rir habitas motores, tais como os de escrever, andar,
olhos abertos representam perfeitamente outros qua- ou tocar piano, ou escrever a mâquina, ou manejar
dros, e nâo misturam os detalhes do quadro que estâo um aparelho qualquer. Os movimentos que o indivi
vendo com os do que estâo imaginando. duo realiza repetidamente se unificam no seu esquema
motor, integram-se no seu prôprio "eu".
108.4.2) Imagens auditivas — Podem, como as Sâo ainda as imagens motoras, associadas às tâc-
Visuais, adquirir grande nitidez. Beethoven, o genial teis que permitem aos cegos lerem, através do "alfabe-
mùsico surdo, tinha imagens auditivas tâo perfeitas que to Braile", em relêvo.
pôde conservar na consciência extensas mùsicas, mes-
mo depois de nâo mais as ouvir. Assim, o aparelhamento da nossa consciência é
tâo maravilhoso que os vârios ôrgâos dos sentidos se
correspondem e se substituem entre si, dando em re-
108.4.3) Imagens olfativas, gustativas e tâteis — sultado que as imagens originârias de determinados
Sâo de menor freqùência e pequena importância. No sentidos se completam com as de outros, ou substituem
entanto, por um fenômeno compensatôrio dos mais in as dos outros (vide NÔTULA n.o 39, abaixo).
téressantes e dificilimo de explicar, os indivlduos des-
providos de outros sentidJos, conseguem, apenas com
estas imagens, chegar a fazer um juizo bem perfeito do NÔTULAS — N.o 39

mundo. Todos sabem que os cegos conseguem ter, sô- O caso de Helen Keler
mente com a conjugaçâo das imagens auditivas e tâ
teis, um conhecimento muito desenvolvido da ciência, O exemplo mais notâvel que a Histôria conhece a respelto
da filosofia e do mundo em gérai. é o de HELEN KELER. que era cega, surda e muda de nascença,
e no entanto conseguiu tamanho desenvolvimento com os sen
tidos que Ihe restavam que se tornou célébré no mundo inteiro
108.4.4) Imagens quinestésicas — Também se pelos seus conhecimentos e pela sua cultura. HELEN KELER
chamam imagens musculares, ou, melhor ainda, ima- chegou a obter imagens tâo perfeitas sobre todo o universo que
terminou por escrever a sua prôpria experiência, num impres-
sionante livro — "A histôria da minha vida".

Pslcologla Ocrai — Cad. 18


PSICOLOGIA GERÂL 275
274 AFRO DO AMARAL FONTOURA
soluta nitidez, imagens de fenômenos ocorridos hâ
§ 109) 0 EIDETISMO multo tempo. Por exemplo: a pessoa contempla um
quadro (como o da figura 54 atrâs), durante menos
O fenômeno do eidetismo foi pela primeira vez de um minuto e quinze dias depois pode ver na sua
anunciado pelo psicôlogo JAENSCH, da escola de Mar- consciência o quadro, com os minimos detalhes, cores,
burgo, e é um dos mais impressionantes da Psicologia. formas, relevos, etc. (vide NÔTULA n.o 40, abaixo).
Consiste na faculdade de ver, sobre uma tela ou uma
parede, a imagem que foi anteriormente percebida § 110) IMPORTANCIA DA IMAGINAÇAO
pelo indlviduo. O eidetismo é, assim, uma projeçâo da
imagem, tal como Até aqui falamos da imaginaçâo reprodutora, isto
a mâquina de ci
nema projeta as é, daquela que reproduz as imagens um dia registradas
pelo nosso espirito. Mas agora vamos referir-nos a
imagens sobre a uma das mais maravilhosas capacidades do psiquismo
tela (e per isso humano: a imaginaçâo criadora.
mesmo se chama
"projelor de ci Imaginaçâo criadora é a nossa capacidade de criât
nema") . imagens novas, baseadas em conhecimentos anteriores,
0 individuo ei- em imagens antigas. De regra gérai as imagens que
dético funciona surgem em nosso espirito sâo aquelas referentes aos
como se fosse, re- fatos jâ nossos conhecidos. Isso é o que acontece com
almente, um apa- 0 homem comum. Mas existem individuos prmle-
relho de projeçâo giados que conseguem transformar, misteriosamente,
cinematogrâfica: a uma imagem real, conhecida, numa outra nova, por
ta] ponto que se êles criada.
afastarmos a tela, É verdade que todos nos, homens comuns, vez por
as imagens que outra também somos atravessados - por esse lampejo
êle vê crescem de de imaginaçâo. A imaginaçâo criadora é, assim, quem
FIGURA. 64
tamanho; ao con
trario, se colocar- EIDETISMO
mos o individuo NÔTULAS — N.o 40
eidético mais pro A pessoa çue é eidétioa contempla êste qua-
ximo à parede, as dro atentamente durante 1 minnto e vàrioa Impressionanie Eidetismo
diaa depoia proSeta o quadra, ieto é, ao olhar
imagens que êle para a parede, vê o quadrol O caso mais impresslonante a respeito nos é relatado por
vê diminuem de DWELSHAUVERS ; — um individuo eidético consegue dar uma
tamanho. descriçâo mais perfeita ainda do quadro que êle viu muito tem
Hâ também autores que consideram como de eide po atrâs se olha através de uma lente para a parede ou tela
em branco, exatamente como se visse a imagem al projetada ç &
tismo um fenômeno ligeiramente diverso: o individuo lente fôsse para aumentâ-la!...
nao chega a ver suas imagens projetadas sobre a pa
rede ou tela, mas consegue ver dentro de si, com ab-
276 AFRO DO AMARAL FONTCURA
PSICOLOGIA GERAL

produz nossas fantasias, nossos devaneios, nossas "vl- em forças e onde nossos desejos aparecem realizados.
soes". Também é ela quem fornece as imagens que O maior poder da criatura humana é talvez êsse de
povoam OS sonhos e as alucinacoes (vide NÔTUDA sonhar acordado, isto é, imaginar, devanear, fantasiar,
no 41). A imaginaçâo é o processo de lihertaçâo de nossas an-
gustias, de nossos recalques e complexes.
11 0 . 1 ) A I M A G I N A Ç À O É F O N T E D E T O D O
PROGRESSO — A imaginaçâo é o primeiro marco de
11 0 . 3 ) A I M A G I N A Ç A O É A F O N T E D A A R T E ,
separaçâo entre o animal e o homem. Com efeito, a DA LITERATURA — A imaginaçâo é a suprema do-
capacidade de imaginar é que faz a grande superio- minadora da arte. Ela se chama a inspiraçào do mû-
ridade das crîaturas humanas. É pela imaginaçâo que
sico, do pintor, do escritor. É a imaginaçâo quem pro
nossa consciência sobe além do nlvel concrete, mul- duz as obras de ficçâo, glorias da literatura universal
tiplica os conhecimentos, vai mais longe do que o 6 enlève para o pensamento de miRiôes de criaturas:
simplesmente percebido pelos sentidos. A invençào é um "Otelo" de SHAKESPEARE, um "Os miserâveis"
uma forma de imaginaçâo: todos os inventes que fazem de VICTOR HUGO, um "Dom Quixote" de CERVAN
a maravilha do mundo atual — a bùssola, a imprensa. TES, um "Braz Cubas" do nosso querido MACHADO
o arranha-céu, 6 râdio, o cinema, o microscôpio, a DE ASSIS. Da mesma forma é a imaginaçâo quem
televisâo — foram o fruto da imaginaçâo de alguém produz a "Serenata" de SCHUBERT, a "Polonaise" de
que "viu" mentalmente cousas até entâo jamais vistas CHOPIN, a famosa tela "A Ceia do Senhor" de LEO
pelos outres homens. NARDO DA VINCI, ou quadros modernistas do nosso
PORTINARI. E ainda as ôperas, as operetas, as comé-
11 0 . 2 ) A I M A G I N A Ç A O É A M A J O R C O N S O L A - dias e os di'amas do teatro e do cinema, bem como as
DORA DA VIDA HUMANA — ,É a imaginaçâo o grande novelas de râdio.
remédie para as nossas desgraças. Ela nos arranca
das realidades tristes da vida e nos leva a ver uma 110.4) OS PERIGOS DA IMAGINAÇAO — A ima
situaçâo melhor, onde nossas fraquezas se transformam ginaçâo é, por outro lado, a fonte de numerosas des
graças, porque leva o individuo a falsear a vida, a
fugir da realidade. O administrador, o chefe que tem
imaginaçâo exaltada, pode praticar os atos os mais
NÔTULAS — N.o 41
absurdos, com prejulzo para a coletividade que dirige
e para a propria sociedade. A falta do sentido de rea-
Inventores on âeseqnUibrados? lidade por parte de certes administradores do BrasU
foi uma das maiores desgraças nacionais...
que?rop?e Imaginaçâo de alguém
vida: trata-se de um sempre nessa dû- A imaginaçâo superexaltada passa a ser doentia,
grande capacidade. um i^vSntîîr ^ criador de Entra-se, entâo, no domlnio da "Patologia da percep-
um ^onhador, um d'SlSniteador O" çâo", estudada no capltulo anterior, pois a imaginaçâo
doentia leva o individuo a ver e ouvir cousas inexis-
coiLS foram a"minc?Dirf ^^jentores e criadorea
até encarcerados
tentes no mundo real. A alucinaçâo é um fenômeno
desse gênero.

\
f^SICOLOQIA GERAL 279
278 AFRO DO AMARAL FONTODRA
Assim também quando o menino monta a cavalo num
E dentro do campo alucinatôrio, o mais comum cabo de vassoura, êle se sente realmente galopando
dos casos de superimaginaçâo é a mania de perse- num cavalo. E a menina que acalenta a boneca nos
guiçào: o individuo se imagina perseguido, cercado de braços sente-a realmente uma criança, tanto que con
pessoas que Ihe querem fazer mal. Em um estado mais versa e ralha com a boneca.

grave, chega a "ver" o inimigo perseguindo-o nas ruas Por ai se vê como é errado, do ponto de vista
e dentro de casa. pedagôgico e psicolôgico, falar na mania de mentir da
A respeito de "imaginaçâo doentia" uma das mais criança. Nem deve ela ser castigada por isso; nâo hâ
notâveis pâginas até hoje escritas é "Le malade ima intençâo de mentir: o que hâ é imaginaçâo ou fàbula-
ginaire" (1673), a deliciosa peça de MOLIÈRE. çâo naturais.
E tanto essa imaginaçâo tem por objetivo preen-
cher um vazio na consciência da criança que, à medida
§ 111) PSICOLOGIA EDUCACIONAL
que vai crescendo, seu poder imaginative vai dimi-
AplicaçÔes do présenté capitnlo à Pedagogla nuindo, vai se adaptando às suas experiências. A
fabulaçâo vai sendo substituida pelo juizo e pelo ra
ciocinio .
assume enorme papel na infâncla.
E a éiwca em que o espirito da criança desperta, Mas a imaginaçâo nâo desaparece totalmente, e,
cresce, tem necessidade de açâo. Mas hâ uma descor- pelo contrârio, como vimos linhas acima, é ela um dos
relaçao entre a atiyidade mental e a ativldade real da grandes motores do mundo.
criança: sua capacidade de agir é diminuta. De forma Nesse sentido, o artista, cujo poder criador é enor
êsse vâcuo com a imaginaçâo cria- me, conserva-se sempre uma criança. Mas cada um
de nôs é também um pouco criança, pois, conforme
«nac* a mundo de cousas, pes- mostramos anteriormente, conserva um pouco êsse
Qnn ^ feiçâo, mundo que preenche poder de ausentar-se do mundo real, de vez em quando
TTiiinrtl ? atmdade e realizar:
onde ela "faz
realiza tudo que no (vide NôTULA n.® 42, abaixo).
comida", "trata
"gLeS"! é "ban^d^™"' ' ^ ^ NÔTULAS — N.o 4Z
discernimento da criança Somos sempre um pouco crianças
c?daL auf raciocinio capl E tanto somos um pouco crianças que apreciamcKS as fâ-bulas,
impede-a de distinm^^^^^^ infantil nâo possui ainda)
cérebro nào t o. verdadeiro do falso. Em seu os romances e as fantasias em tôdas as suas formas: llteratura
— cinema — teatro... Dai o sucesso das "Aventuras de GuU-
imagem criada
a reaUdade ^^a ^^"^^
da fantai imagem reproduzida
^ criança da
nâo distingue
v e r " o u d e " Ta r z a n " , d e " R o b i n s o n C r u s o é " o u d e " G i g a n t e
Voador", dos desenhos anlmados de Walter Disney, ou dos he-
rôis populares que surgem perlbdicamente.
Em suma, a imaginaçâo tem um papel tâo importante na
varanda^do seu^^aSStnr^^ elefante na nossa vida que, para satisfazê-la. trabalham milhares de ho-
imagem de um formou a mens, noite e ^a, gastando mUhôes de dôlares para fazer
nâo sabe que essa consciência; apenas filmes, ou melhor, fitas, isto é, quimeras, fantasias...
^ aeia, isto é, na realidade exterior,
sua cons-
280 AFRO DO AMARAL PONTOURA
PSlCOLOOtA GEftAii

§ 11 2 ) E X E R C I C I O S E E X P E R I Ê N C I A S 2. BERGESON, Henri — "L'Imagination Créatrice";


Alcan; Paris, 1929.
1. Apresentar urn quadro ou gravura para o pa-
3 . D O W N E Y, J . E . — " C r e a t i v e I m a g i n a t i o n " ; N e w
ciente observai durante 30 a 45 segundos e depois
descrevê-lo sem o ver. A descriçâo poderâ ser feita York, 1929.
per escrito ou oralmente. 15 dias depois pedir-se-â ao 4. DUMAS, Georges — "Nouveau Traité de Psycholo
paciente que faça outra descriçâo do mesmo quadro,
gie"; Alcan; Paris, 1930.
por escrito, comparando-se essa com a anterior.

2. Apresentar ao paciente objetos ou desenhos em 5. RIBOT, Th. — "L'Imagination Créatrice"; Alcan;


Paris, 1920.
relêvo, sem que êste os possa ver, mas apenas observai
pelo tato. Depois, o paciente devera fazer os desenhos
num papel ou no quadro negro, dos objetos ou relevos
que tateou.
3. Fazer vârias crianças descreverem o mesmo
q u a d r o q u e a n t e s c o n t e m p l a r a m . Ve r l fi c a r c o m o a
criança compléta com a imaginaçâo aquêles detalhes
que nao guardou ou nâo compreendeu.
4. Procurar descobrir a existência dos casos de
eidetismo: pessoas que sejam capazes de "ver" cenas
passadas consigo tempos atras, ou que sejam capazes
de "projetai" as imagens dessas cenas sôbre a parede.
5. Quais sâo as imagens que mais comumente
Ihe voltam à consciência? O experimentador deve
anahsâ-las e procurar interpretâ-las : hâ sempre uma
razâo, perfeitamente determinâvel, dêsse reapareci-
mento sistemâtico de uma imagem qualquer na cons
ciência do individuo.

§ 113) LEITURAS COMPLEMENTARES

1. AGRAMONTE, R. — "Psicologia"; 2 volumes;


Cultural S.A.; La Habana, 1942.
CAPÎTULO XII

Os Fenômenos Intelectivos:
IV) Idéia, Juizo, Raciocinio

Ficha-resumo:

§ §

11 4 ) C O N C E I T O D E I D Ë I A E D E I D E A Ç A O

— Idéla é a simples representaçâo intelectual de mn


objeto.
— Ideaçâo é a capacidade ou funçâo de formar
idéias.

115) DIFERENÇA ENTRE IDÉIA, FERCEPÇAO E


IMAGEM:

— A pereepçâo é sempre concreta, a idéia é abâtrata.


— A imagem é a revivescêncla de uma pereepçâo
registrada pelos nossos sentidos. A idéia nâo tem
conteûdo sensivel.

11 6 ) M E C A N I S M O D A I D E A Ç A O :
1.» fase — Abstraçâo — Consiste em sô conslderar
os caractères comuos a determlnados
sêres.
2.^ fase — Generalizaçâo — Consiste em atribulr
êsses caractères a todos os sêres da mes-
ma espécie.

11 7 ) VA N TA G E N S E F E R I G O S D A I D É I A :
a ) Va n t a g e n s : a i d é i a é a f o n t e d e t ô d a f t l o s o f l a ,
da ciência, da literatura.

(continua)
PSICOLOGIA GERAL 289
284 AFRO DO AMARAL FONTOORA

Ficha-resamo (coniinuaçâo): Ficha-resnmo (ccnclosâo):

9 § § §

b) Perigos: as generallzaçôes multas vêzes sâo fal« 122) A RAZAO OU RACIOCINIO:


sas. Atribuimos qualldades a seres que nao co-
— É a faculdade de formar raclccinlos. É a mais
nhecemos.
alta capacidade humana: — o homem é um ani
mal racional, isto é, possuldor de razâo.
U8) A 1DÊIA, A PALAVRA E A LINGUAGEM:
A idéla se expressa mediante a palavra. £ o pensa- 123) PSICOLOGIA EDUCACIONAL:
mento, que é o conjunto das Idélas, pela linguagem,
que é o conjunto das palavras. A palavra é quern dà Apllcaçôes do présente capitulo à Pedagogla.
corpo à idéla.
124) EXERCICIOS E EXPERIÊNCIAS.
11 9 ) C O N C E I X O D E J U I Z O :
1 2 5 ) T Ô P I C O S PA R A D E B AT E .
So resultado da comparaçâo entre duas Idélas:
A é B. O cachorro (A) é mamifero (B>.
126) LEITURAS COMPLEMENTARES.
IZO) o jmzo £ SINTÉTICO E ANALITICO:
a) O juizo é sintético: aproxima duas idélas até
entào separadas.

b) O juizo é analitico: sépara, no melo de um todo,


uma sô qualldade — Pedro é alto.

m) DO JUIZO AO RACIOCINIO:

— O Juizo é a comparaçâo entre duas Idélas. E o ra-


cloclnlo é a comparaçâo entre dois juizos. Nossos
mais complexes pensamentos resultam sempre
dessus séries de comparaçôes de Idélas e de Jui
zos, dois a dois.
— Esquema do raclocinlo: A é B;
B é C;
logo, A é c.

(continua)
s 114) CONCEITO DE ID£IA E DE IDEAÇAO

Idéia é o terceiro fenômeno no campe inteleciivo


(ou representative ou cognitive), conforme vimos no
§ 80. É uma sintese de percepçôes, assim como a per-
cepçâo é uma sintese de sensaçôes. Veremos, Imhas
abaixo, que a idéia nao é apenas isso; provisôriamente,
porém, sirva-nos tal definiçâo.
Para RUYSSENS, "a idéia nâo é senâo um extrato
da imagem genérica, que é, per sua vez, um extrato
da percepçâo".

Segundo LAHR, "idéia é a simples representaçâo


intelectual de um objeto". Diz-se "simples represen
taçâo" para diferençar do juîzo (que estudarem^ a
seguir). No juizo se relacionam duas idéiast "cacriôr-
ro" e "bonite"; entâo eu digo "o cachorro é bonito^.
"Cachôrro" é uma idéia. "Bonito" é outra idéia.^
Assim, "bondade", "nada", "infinito", "Brasil , eu
sâo idéias.

A idéia também se chama conceito ou noçâo.


Assim, no alto dêste paràgràfo poderiamos ter escnto
"conceito de conceito" ou "idéia de idéia"...
O fenômeno gérai da produçao de idéias se chama
ideaçào (ou conceituaçâo ou concepçâo). Podemos
dizer, pois, que ideaçào é o ato de formar idéias.
5 115) DIFERENÇA ENTRE IDÉIA, PERCEPÇAO E IMAGEM

Nâo se confundem a idéia ou conceito e a percep


çâo; esta é sempre concreta, ou melhor, é o resultado
da impressâo causada em nossp çérebro por sêres coD'
288 AT R O DO AMARAL PONTOUBA PSICOLOGIA GERAL 289

cretos, reglstrados por nossos sentidos. A idéia, ao e sintese. A anâlise se faz por meio da abstraçâo e
contrârio, é sempre àbstrata. A percepçâo é, por natu- a sintese por meio da generalizaçào. Sâo estas, pois,
reza, individual, a idéia pode ser individual ou geral. as duas fases na formaçâo dos conceitos.
Também nao se confundem a imagem e a idéia.
A imagem é a prôpria percepçâo, revivida na ausência 1.a Fase: .^STRAÇAO — Vejo pela primeira vez
do objeto. A idéia, ao contrârio, nao contém nenhum um gato em minha frente e em meu cérebro se im
elemento sensfvel, isto é, trazido pelos nossos ôrgâos prime a percepçâo do gato. Depois de ver êsse ou
dos sentidos. Exempio: a idéia de "nada", de "bem". outros gatos, minha consciência é capaz de formar a
A idéia, repetimos, é sempre abstrata. A imagem, como a imagem do felino na ausência do mesmo. Ao fim de
certo tempo o esplrito compreende que, apesar de
percepçâo, é sempre particular, a idéia pode ser geral. todos os gatos serem diferentes entre si (tâo diferentes
Exempio: eu posso formar a imagem de um certo homem.
0 meu colega Jorge de Lemos. Mas quando eu digo "o que eu nâo os confundo na vida real), possuem deter-
minados elementos ou caracteristicos em comum. En
homem é um ser racional", entâo nâo estou pensando em
nenhum homem particular: é a idéia homem. tâo, a consciência abstrai, tira êsses caracteristicos
comuns a todos os gatos, abandonando os elementos
Outro exempio: a imagem de livro sô pode ser a diferenciais de cada bichano. Eis al a abstraçâo. Ela
imagem de um certo livro que vi um dia diante de
meus olhos; ou entâo pode ser uma imagem esquema- é, pois, um processo de separaçâo, de anâlise mental.
tica^ uma espécie de esbôqo de imagem, résultante da 2.a Fase: GENERALIZAÇAO — No momento se-
fusâo de tôdas as imagens que possui'mos sobre livros guinte, de posse dêsses elementos comuns a todos os
que conhecemos. Ao contrârio, a idéia de livro nâo se
référé a livro nenhum
gatos, eu formo na minha consciência um idéia de um
gato abstrato, ao quai servem êsses caracteristicos.
Assim, uma palavra qualquer, conforme seu sen- E vejo, depois, que êsse gato ideal estâ em conformi-
tido na frase, pode estar representando uma percep dade com todos os felinos da mesma espécie que co-
çâo, uma imagem ou uma idéia: nheço. Entâo, eu generalize, e firmo em minha cons
ciência 0 conceito ou idéia de gato, que nâo se référé
A) "Êsse livro sobre a mesa é azul" (livro aqui a nenhum dos que conheço, mas que serve a qualquer
é percepçâo, refere-se a um livro que estou vendo) ; bichano do mundo, que exista, jâ tenha existido ou
v e n h a a e x l s t i r.
• "Lembr^me de um livro que vi antes" (em
nunha consciência surge b. imagem dêsse-livro);
Assim, o conceito de gato é um gato vazio de con-
(^) "O li^o é_o maior amigo do homem" {livro teùdo, vazio de qualidades senslveis ou de caracteris
^ui e pura idéia, nâo se référé a nenhum livro concreto. ticos particulares : é uma pura idéia, universal, abstra
material). ta, genérica.
5 116) MECANISMO DA IDEAÇAO Em suma: abstraçâo é "isolar o objeto de sua exis-
tência concreta". Generalizar é atribuir determinados
caracteristicos ou qualidades a todos os indivlduos de
nfroT^
atravesconceito
de um ou idéia
longo e se forma em
insensivel nossa consciência
processo de anâlise uma mesma espécie.

PslcQloglîi Geral —19


PSICOLOGIA GERAL 291
290 AFRO DO AMARAL FONTOURA

vagamente, de maneira imprecisa e pouco nitida, e


Quando eu digo "os brasileiros sâo sentimentais", também nâo chegamos a corporificar nossas idéias em
minha consciencia esta praticando, ao mesmo tempo, palavras. Finalmente, lia ocasiôes em que desejamos
duas operaçôes: a) esta fazendo abstraçào de todos os traduzir nossos pensamentos em palavras e sentimos
elementos diferenciais dos brasileiros (sexo, idade, al- dificuldade em encontrâ-las. É comum, quando uma
tura, beleza, cor, Estado onde nasceram, etc.); b) esta criatura deseja falar, mas esta dominada pela emoçâo,
fazendo uma generalizaçào, isto é, atribuindo a todos dizer: "nâo encontro palavras para exprimir minhas
OS individuos da mesma espécie (.os que nasceram no idéias..." Tudo isso mostra que a idéia existe indepen-
Brasil) a qualidade de serem sentimentais. dentemente da palavra. Mas é esta quem personifica,
dâ corpo, esclarece e firma a idéia.

§ 11 7 ) VA N TA G E N S E F E R I G O S D A I D É I A
§ 119) CONCEITO DE JUÎZO

Do que dissemos acima se verificam as grandes van-


O primeiro fenômeno de conhecimento é a sensci'
tagens e os terriveis perigos da idéia. Vantagens\ é a
idéia que nos permite subir do particular para o geral, çào; acima delà se encontra a percepçào; esta se trans
do concrete para o abstrato; ela é a fonte de tôda forma em imagem, que per sua vez dâ origem à ideia,,
tudo conforme foi exposto nos capitules anteriores.
filosofia, ciência, literatura; é a idéia quern dâ forma
aos nossos estados d'alma. Desvantagens: como vi- Vamos agora ver que as idéias se unem formando
mos acima, a idéia encerra essencialmente uma gene mizo e êstes se combinam em raciocinios, que sao
ralizaçào, que muitas vêzes é falsa e sempre perigosa. juizos multiples ou compostes. E estara compléta a
Ela faz atribuirmos antecipadamente certas qualida- escala dos fenômenos do conhecimento (ou fatos inie-
des a sêres que nâo conhecemos, e aos quais nem sem lectivos, ou representatives), como se segue.
pre se ajusta essa idéia a-priori que dêles fazemos,
A generalizaçào deve, assim. para maior segurança, 1. sensaçâo
ser sempre cautelosa e basear-se em mùîtiplas obser- 2. percepçào
3. imagem
vaçôes.
4. idéia ou conceito
5. juizo
§ 118) A IDÉIA, A PALAVRA E A tINGUAGEM 6. raciocinio.

A idéia ou conceito sô se expressa mediante a


palavra. E o pensamento, que é o conjunto das idéias Podemos définir o juizo como o resultado da com-
a respeito de um assunto, se expressa mediante a paraçâo entre duas idéias. Exemple: tenho a idéia A
guagem, que é o conjunto das palavras. No entanto, e a idéia B em minha consciência; comparo-as entre si,
a ideia pode existir sem a sua representaçâo material, vejo que A convém a B e digo "A é B". Ou seja: tenho
que é^ a palavra. Muitas vêzes pensamos sqtti pulavrcts, a idéia cachorro e a idéia mamifero; comparo-as entre
isto é, as idéias desfilam em nosso espirito com tal §i, vejo que uma serve ou convém à outrg e digo:
rapidez que nâo chegamos a revesti-las de palavras.
Outras vêzes. a corrente da noss^ çonsciência dçcorre
292 AFRO DO AMARAL FONTOURA FSICOLOGIA GÊRAL

0 cachorro é um mamifero. Esta é a expressao mais juf2o a uih outro, é à outro mais, cainînhando inde-
finidamente. Mas para passai do primeiro juizo a ura
simples de todo jui'zo.
A importância do juîzo é enorme, em nossa vida. segundo, é precise que haja entre êles também uma
Passâmes o dia Inteiro e a vida tôda a julgar, a esta- ligaçào, um nexo; é imprescindivel que no segundo
belecer conexoes dêsse tipo: "A é B". "O juizo é a ope- juizo haja alguma das idéias contidas no primeiro
raçâo fundamental da inteligência", diz CUVILLIER. juizo; essa idéia é a ponte, ou o intermediârio entre
E jâ KANT afirmara que todo pensamento humane se ambos. Estabelecida a ligaçâo entre êsses dois juizos,
reduz ao julzo: — "pensar é julgar". jâ pode 0 espirito avançai mais, e formulai um ter-
ceiro, relacionado com aquêles.
E assim, de idéia em idéia, ou melhor, comparan-
§ 120) O JUiZO É SINTÉTICO E ANALfTICO do sempre as idéias duas a duas, vai o espirito humano
progredindo, até alcançar os mais altos cimos da ciên-
Cada jufzo, por mais simples que seja, envolve um c i a e d a fi l o s o fi a .
trabalho de sintese: é a aproximaçâo de duas idéias A êsse conjunto de duas idéias ligadas entre si, uma
das quais se liga depois a uma terceira é que se chama
"hi separadas.
bonito", Exemple:
que existem as idéias
separadamente, "Pedro"
podem e
ser unl- raciocinio. Portante, o raciocinio é a comparaçâo
das por um trabalho de sintese do meu espirito, e entâo entre duas idéias, por intermédio de uma outra. Usan-
direi: "Pedro é bonito". do de uma imagem vulgar: o raciocinio é semelhante
Mas o juizo é também uma operaçào de anàlise: ao caso da apresentaçâo de duas pessoas até entâo
a pesquisa, no meio de um todo, de uma qualidade desconhecidas entre si, apresentaçâo essa que é reali-
Que nos intéressa no memento. Exemple : para eu poder zada por intermédio de um amigo comum a ambas.
"Pedro é bonito", devo separar tôdas as outras qua- Êsse "amigo comum", no caso do raciocinio, se
aades de Pedro (altura, côr, inteligência, etc.) e sô chama o têrmo médio, cuja funçâo é "fazer passai de
considérai* a qualidade "bonito". uma idéia a outra, de um juizo a outro".
Exemplo: tenho em mînha consciência os conceitos
S 121) DO JUfZO AO RACIOCINIO "carioca", "brasileiro" e "sul-americano". Comparando
os dois primeiros, estabeleço um primeiro juizo: "o
carioca é brasileiro". Comparando em seguida os dois
£09 consciência se limitasse a estabelecer juu ùltimos, digo: "o brasileiro é sul-americano", e formel
munrin tS poderiamos conhecer a respeito do assim um segundo juizo. Comparando agora os dois
des flnc luaximo, conseguiriamos atribuir qualida- juizos entre si, posso estabelecer um terceiro: "o carioca
entro ^ e iestabelecer
entre duas_ a relaçâo de conveniência
déias quaisquer. é sul-americano".
A êsse conjunto de très juizos é que se chama um
acontece, porém. Nosso espirito tem uma
raciocinio, o quai é também "o resultado da compara
nheriHn ^^cnsa de progredir na sua marcha do co- çâo entre très conceitos, dois a dois".
vioipnto ° desconhecido,
^Jojenta de fazê-lo. e sente uma necessidade Como salienta bem DELACROIX, escrevendo no
gigantesco "Tratado de Psicologia" de GEORGES DU*
r\ entrp^rfit?'
duas iestabelecidû uma
déias, a consciênci primeira
a passa dêsseligaçao
primeiro
^âîCÔLÔGÎA GÈRÂL 'lèh
m AFRO DO AMARAL FONTOÙRA
O raciocinio também pode assumir a formula
MAS (vide NÔTULA n.o 43, abaixo), 'do ponto de A é B,
vista psicologico o raciocmio e o juizo sac uma mes- C é A,
ma operaçâo" — e per esse motivo é que ao fazermos logo, C é B.
a classificaçâo dos fenômenos psicolôgicos (capitule
VIII), colocamos num sô quadro o juizo e o raciocinio, Exemplo: sejam as très idéias ou conceitos A
sob a denominaçâo gérai de raciocinio, por ser este o (homem), B (mortal), C (José). Teremos: homemé
mais elevado fenômeno do conheciniento humano. mortal; José é homem; logo, José é mortal. A idéia
Em suma: o longo caminho sensaçào 'percep- A (homem) foi o intermediârio, ou têrmo médio entre
B e C.
çào ^ imagem ^ idéia _>. juîzo raciocinio exprime
a marcha ascendente do espirito em busca do saber e
§ 122) A RAZAO OU BACIOCINAÇAO
da verdade. Tais fenômenos representam, como cha-
mou MEYERSON, "le cheminement de la pensée". E, Assim como a faculdade de formar idéias se chaîna
em seu conjunto, constituem o Pensamento, a Razâo
ideaçao, assim também a faculdade de formar racio-
ou a Inteligência, glôria suprema do espirito humano. cinios se deve chamar raciocinaçào. Essa palavra, em-
Esquemàticamente, o raciocinio se resume em ex- bora regisirada pelos dicionârios portuguêses, é pouco
primir a conveniência entre duas idéias, por intermé- empregada, sendo em gérai substiiuida pelo vocâbulo
dio de uma terceira, ccmo vimos. Sua formula abre- razâo.
viada é, pois: Razâo, portanto, é a faculdade de raciocinar. Mas
A é B, comumente se chama razâo ao conjunto dos très fenô
ora, B é C, menos superiores da consciência: a idéia, o juizo e o
logo, A é C. raciocinio, porque os très estâo muito ligados entp si,
Êsses très fenômenos sâo privatives da consciência
Exemplo: sejam as idéias A = Gate; B = Mami- humana, ao passo que os fenômenos anteriores da
féro, e C = Vertebrado. Diremos entâo: o gato é ma- inteligência (a sensaçào — a percepçâo — a imagina-
mifero; ora, o mamifero é vertebrado; logo, o gato é çào) sào comuns ao homem e aos animais, pelo mènes
vertebrado. aos animais superiores. Por isso se diz que o homem
é um animal racional, isto é, o ûnico animal que pos-
sui razâo.
NÔTULAS — N.o 43
§ 123) PSICOLOGIA EDUCACIONAL
Para quem deseje aprofundar-se em Pslcologla é Indlspensâ-
vel o manuseio e a consulta amiudada a essa obra de GEORGES
DUMAS — "Noveau Traité de Psychologie", a maior obra de Aplicaçôes do présente capitulo à Fcdagogia
Psicologia do mundo, em 10 grossos volumes, de 500 paginas
cada um, a saber: 1.® Metodologia, Sistema Nervoso; 2.°) Sen- I) Como vimos neste capitulo, a idéia é sempre
Associaçôes sensitivo-motoras; 4.5 Aten- abstrata. Todo conceito é uma abstraçào. Exige, por
ti^' Memoria; 5.° Operaçôes intelectuals; 6.° Vida afe- isso, um certo desenvolvimento mental por parte do
Sinteses mentais; 8.®) Psicopatologla; 9.)
^j^^°P^^°Patologia: lO.o) Psicologia Aplicada. (Editera FeliX
296
tJO AMARAL FONTOUËA PSICOLOGIA GERAL 297

sem pensar em nenhnîîi^ ^ *^6 homem d) Que tome sempre como ponto de partlda a ex-
é format os conceitn^^i^^T?^^^ particular. Mais difi'cil periência da criança.
jwsiîça, categoria pfp «+« nada, iyifinito, virtude,
JU120S e racioclnios bâ'cpfS* dificil ainda é formulai 5 124) EXERCICIOS E EXPERIÊNCIAS
seados nessas abstraçôes.
1. Recortar de um jornal ou revista os quadrinhos
para o mental é dificultoso de uma "historia sem palavras". Baralhà-los e man
ança. Esta, por natur^t^ impossivel o é para a cri- dat o paciente reconstitul-los logicamente. Êsse exer-
cicio serve para verificar o tigo de ideaçào do Individuo
«rjdade mental so rnm^ imperativo de sua ima-
toca comnos séus
as sentiri!?^^^^
màos f ela ° ^ concreto, o que
ve, escuta,
e sua capacidade logica.

ndo do domfnio do connrpt^"^^^^^ ^ criança pas- 2. Recortar as palavras de uma frase, colando
cada uma sobre um cartào. Baralbâ-los e pedir ao
jjj) concrete para o abstrato. paciente que reconstitua a frase. Por exemple; pobres
— Deus — aos — é — emprestar — a — dar —, para
êtp4 tanto^ alunos, em nossas esco- reconstruir: "dar aos pobres é emprestar a Deus". Ve-
t r a amente
f o m a i s e f âfazer
c i i ^ form
m a t éQue
r i a : raciocinar
p o r q u e , pabs-
ara rificar-se-â o segulnte: a) que o pensaraento trabalha
^ para entender. sôbre estruturas, é estruturaiista, e por isso é mais
fâcil reconstituir um provérbio do que outra frase qual-
compj^g®"'io alunofll ^^oraçâo é uma reaçâo quer; b) as diferentes tendências do esplrlto do indi
viduo, segundo o sentido da frase que êle procura iov-
mente P^ra o sen ® fôssem mais
dadaa ^unosidade inata kinfantil,
a n, a nen^o ®ôbre osêle
mesmos,
certa- mar; c) o tempo dispendido pela inteligência de cada
um, para consegulr reconstituir as frases, que pode-
rào set variadas em tamanho e dificuldade.
V) Da crianças, tâo acentuada.
ef assuntos fôssem vivos, 3. Dar ao paciente um texto de 20 linhas, com
compreendi^i muitn mteressaria varias palavras faltando, para que êle as descubra e
P^eende-ios. ' mais faciiidade per
teriaêles,
em escreva.
VI) Ent~
é Indispensâ^el;^"® nieninos aprendam, real- 4. Dar ao paciente um provérbio, para que êle o
interprète.

^anto quanto possi'vel, ba- (Todos estes exercicios se tornam mais intéressan
tes quando feitos por um grupo — uma classe de estu-
dantes por exemple — a fim de que o psicologo possa
Parti
ndo^do^cnn'
0 remoto, ^^ nsado
do P^ra o ah^f^^^aente e agradâvel
? 'método intuitivo,: comparât os resultados e as diferenças de tempo gasto
' présente para o pasl^^^ prôximo para nas respostas. Uns e outre permitem verificar as va
rias tendências do espirito de cada estudante.)
m APnO t)0 AUAkAL F'ONl'OÙêÂ
CAPÎTULO Xlli

5 1 2 5 ) T 6 P I C 0 S PA R A D E B AT E Os Fenômenos Afetivos:
1. Diferençar percepçâo de idéia ou conceito. I) Prazer e Desprazer
2. Explicar como sobe o nosso espi'rito da percepçâo
à idéia.

3. Mostrar quais sâo os perigos da idéia.


4. É possivel dizermos: "nâo tenho palavras para ex- Ficha-resumo:
pressar minhas idéias"?
5- Preencha com idéias adequadas êste esquema:
A é B, 127) V I D A A F E T I VA E VIDA R E P R E S E N TAT F VA :
ora, C é A, Os fatos represcntativos existem fora de nos,
logo, C é B. os fatos afetivos sâo criaçôes do nosso espirito.
6. Por que tendem os alunos a decorar as liçôes? 123) CONCEITO DE PRAZER E DESPRAZER:
Sâo 0 resultado da satisfaçâo ou nâo de alguma ten-
dència, de uma atividade moderada.
5 126) LEITURAS COMPLEMENTARES
1 2 9 ) O P R A Z E R C O M O R E S U LTA D O D A " TO N A L I D A D E

1. BERGSON, Henri — "Matière et Mémoire"; Alcan; A F E T I V A " :

Hâ uma "temperatura" ou "carga afetiva" ou "tonus


Pans; 1896. afetivo" em nosso "eu"; conforme sua intensidade,
2. BINET, Alfred — "Psychologie du Raisonnement"; temos prazer ou desprazer nas cousas.

Alcan; Paris, 1886. 1 3 0 ) O P R A Z E R C O M O R E S U LTA D O D A AT I V I D A D E :


^ ~~ "Traité de Psychologie"; Viver é agir. A vida normal exige atividade. O pra-
.. zer é 0 resultado dessa atividade de nossas funçôes.
Payot; Paris; 1934.
1 3 1 ) C L A S S I F I C A Ç A O D O S FATO S A F E T I V O S E L E
S. J. — "Psicologia Experimental"; MENT ARES:
Ediciones Fax; Madrid, 1948. Sâo 0 prazer e o desprazer ou dor. Podem alnda ser
fl s i c o s o u m o r a l s .
— "L'évolution des idées générales":
Alcan, Paris, 1905. 132) CONDIÇÔES DE PRODUÇAO DO PRAZER:
O prazer é sempre motivado por um fenômeno re
presentative, por algo que conheeemos.

(continua)
300 AFÎIO DO AMAilAL i^ONTOtmA

Ficba-rcsumo (conclusao):

5 127) VIDA AFETIVA E VIDA REFRESENTATIVA

133) FILOSOFIA DO FRAZER E DA DOR: Depois de havermos sucessivamente examinado


1) O Pessimismo — "Tudo o que existe neste mun- f Kx fsriômenos psiquicos da vida representativaf
do é dor". jambém
raento ouchamados fatos(aintelectivos
da inteligência ou do conhecl-
saber; sensaçâo, percep-
.2) O Otimismo — "Tudo val bem no melhor dos
mundos". Çao, Imaginaçâo, Idéia ou conceito, juîzo e raclocînio),
3) Soluçâo modcrada — Nâo é verdade que so entramos agora no estudo da vida afetiva. Os fenôme-
exista dor", nem que tudo esteja multo bem: nos que a compôem se chamam afetivos ou do senti-
0 mundo é suscetivel de ser melhorado por nés. mento ou emocionais. (Sempre a mesma pletora de
Prazer e dor estao sempre présentés, Juntos,
por tôda parte. vocabulârio!...) ^ ^
Hâ uma diferença fundamental entre os fenômenos
134) FINALIDADE DO PRAZER E DA DOR:
e os da vida afetiva'. é que êstes
A dor é a sentinela da natureza. Ela nos defende. uitimos se referem ao nosso "eu", nâo existem fora
A dor chama o homem à realidade. « ^^^.^viduo,
w5s
. o csâo
iU
intelectivos criaçôes
se
^ dosempre
referem "eu". Enquanto
a algumaisso, os
cousa
135) FISIOLOGIA DO PRAZER E DA DOR:
... ^ ^ûlguém, isto é, a objetos que vivem fora da cons-
1) Alteram o ritmo cardiaco;
3) Produzem expressôes fisionômicas prôprias. l'^presentaçôes em nosso espirito de algo
existe fora dêle. Dai o seu nome de fenômenos
2) Produzem efeitos quîmicos sôbre o organisme;
ï^epresentativos.
136) LEIS DO PRAZER:

O prazer depende do momento, das clrcunstânclas, S 128) CONCEITO DE PRAZER E DESFRAZER


da dlsposlçâo do indi?lduo e dos seus Interêsses no
m o m e n t o .
Ou elementar da vida afetiva é o prazer»
137) FSICOLOGZA EDUCACIONAL:
prazer com o seu correspondente des-
Primtr-" fatos sâo indeflnîveis, por serem simples,
Aplicaçôes do presents capitule à Pedagogla. pofinir é analisar. E aquilo que é simples,
138) EXERCICIOS E EXFERIENCIAS nâo pode ser analisado, justamente porque
1 3 9 ) T Ô F I C O S FA K A D E B AT E
Pontone
? têrmo antes
referêneia ou de si, que possa servir como
comparaçâo.
140) LEITURAS C O M F L E M E N TA R E S
Um Podendo définir, é pelo menos cabîvel formar
uma idéia gérai do 'prazer, embora defei-

î\
302 AFRO DO AMARAL FONTOURA PSICOLOGIA GERAL 303

tuosa. Digamos: prazer é aquilo que nos agrada, que a) resultado da satisfaçâo de algumas tendências;
nos dâ bem-estar, satiàîaçâo. b) resultado das atividades ûteis à expressâo da
vida;
Varias explicaçôes têm sido dadas, visando définir resultado do enriquecimento da vida;
c)
melhor o prazer.
d) resultado da satisfaçâo de uma das nossas ati-
Diz CUNHA LOPES: — "Prazer é o estado agra- vidades;
e) r e s u l t a d o do aumento da energia vital;
dâvel da sensibilitîûde, oriundo da satisfaçâo d'algu-
f) r e s u l t a d o do funcionamento normal dos nossos
ma tendência. Dor (ou desprazer) é o estado penoso
da sensibilidade oriundo de alguma tendência contra- ôrgâos;
g) r e s u l t a d o do tonus afetivo.
riada".

Explica lAGO PIMENTEE: — "O prazer ou o


agradâvel séria aquilo que o individuo procura natu- 129) O PRAZER COMO RESULTADO DA 'T0NALID.4DE
ralmente e que em gérai é necessârio ou util à expan- A F E T I V A "

sào de sua vida; o desprazer ou o desagradâvel séria


aquilo de que o individuo foge e que, na maioria das As mais recentes teorias psicolôgicas sâo acordes em
vêzes é inùtil ou nocivo à mencionada expansâo. Se afirmar que nosso "eu" vive subordinado a uma tonali-
assim é, o prazer anunciaria que a vida do ser se enri- dade afetiva, a uma "temperatura" afetiva, tal como pos-
queceu, que houve para êle conservaçâo, progresse ou
sui sempre uma temperatura fisica. Uma pequena al-
aquisiçâo de alguma coisa; o desprazer, pelo contrârio, teraçào, para mais, dêsse tonus afetivo da nossa perso-
denotaria que a vida do ser se empobreceu, sofreu uina nalidade, causaria um prazer. Uma diminuiçâo no to
parada, faltou-lhe alguma coisa". nus afetivo traria um desprazer. E um aumento exces
sive da nossa tonalidade afetiva também daria em resul
tado um desprazer.
ni fx? exprime o Revmo. Padre Dr. ALVES
tiiif "" "Pï^azer é aquêle estado afetivo que re- Mas que vem a ser essa tonalidade afetiva? Outro
S atrndTd^^"" consciente, atual, de alguma de nos- fenômeno indefinivel... Em todo caso, sabemos que a
cada momento nosso "eu" assim como possui uma de-
ABEL REY: "O prazer é a expressâo -erniinada carga de calor, de eletricidade, de magnetis-
^ aumento da energia vital; a dor e a mo, possui também uma detenninada carga de afeti-
'^idade.
"O consciente do seu rebaixamento". E adiante: Essa afetividade é a maior ou menor capacidade de
dos Sntes%4Tos""^®^° funcionamento normal gostar ou de nào gostar das cousas, de agradar^e ou
aborrecer-s8 com o mundo que rodeia o individuo. Quan-
propôsito, essas varias defini- do nosso tonus afetivo esta elevado, achamos tudo
se encarar utn çomo hâ diversas maneiras de tudo bonito e agradâvel. É um estado de euforia. ao
® primitive... Mas, re contrârio, nas ocasiôes em que desce de nivel nosso on
dder que ufetivo, passamos a julgar tudo feio, sem cplorig , . w
desagradâvel.
PSICOLOGIA GERAL 305

304 AFRO DO AMARAL FONTOURA

5 131) CLASSIFICAÇAO DOS FATOS AFETIVOS


Como bem mostra DWELSHAUVERS, os fatôres me- E L E M E N T A R E S

teorolôgicos (chuva — umidade — calor — vento — frio)


têm real influência sobre nosao tonus afetivo; as sensa- Os fenômenos elementares da vida afetiva podem
çôes internas ou cenestésicas, isto é, provenlentes de dividir-se em dois grupos, segundo nos causam agrado
nossas viceras e glândulas de secreçâo interna, tambéra ou desagrado. Como acabamos de ver nos parâgrafos
têm grande importância sobre nossa afetividade. Essas 127 a 129, o fenômeno de agrado se chama prazer.
causas expllcam porque, sem nenhuma razâo externa Quanto ao fenômeno de desagrado, alguns autores Ihe
ou consciente, hâ dias em que estâmes bem dispostos ou chamam dor, outres dizem desprazer.
eufôricos e achamos tudo bom em volta de nôs, enquanto Preferimos esta ultima denominaçâo e explicamos
hâ outras ocasiôes em que estâmes mal dispostos (de porque: nem sempre um fenômeno de desagrado pode
mau humor, como se diz vulgarmente) e achamos tudo ser chamado uma dor. Com efeito. a impressâo desa-
aborrecido e insipido... gradâvel que recebemos com a picada de um alfinête
ou corn uma pancada é uma dor; mas uma impressâo
Da mesma forma aumenta o nosso tonus afetivo, desagradâvel, da mesma intensidade que afetc um outro
ficamos eufôricos quando a vida nos corre bem, ganha- ôrgâo dos nossos sentidos nâo pode ser chamada uma
oios um dinheiro com que nao contâvamos, somos bem dor, emhora seja o oposto ao prazer. Exemplo: a impres
sucedidos nos negôcios, no emprêgo, no amer, no jôgo, sâo desagradâvel que nos causa um cheiro fétido ou a
nos empreendimentos que Idealizamos. Uma vitôria em eontemplaçâo de um quadro feio nâo é uma dor. Mas
é um grande desprazer. Dai a nossa preferência por essa
Qualquer dêsses campos nos dâ uma carga de prazer al- ûltima denominaçâo (vide NôTULA n.o 44, abaixo).
gum tempo.
O s f a t o s a f e t i v o s e l e m e n t a r e s s e c l a s s i fi c a m a i n d a
em fisicos e marais. Um objeto qualquer que agrade
5 130) o PRAZER COMO RESULTADO DA ATIVIDADE a vista ou o olfato, um jantar opiparo, um afago, a sa-
tisfàçào de um instinto causam um prazer fisico. Uma
boâ notfcia, uma condecoraçâo, um elogio, a leitura de
um livro nos causam um prazer moral. Inversamente,
TFiSa 2.000 anos atrâs jâ o genial ARISTÔ- um ferimento, uma pancada, uma carie dentâria, um
é aotr que a vida normal é atividade. Viver
esDh-it* qualquer forma, c.om o corpo ou com o
menfnc'H^ satisfaz, por isso, aos prôprios funda- NÔTULAS N.o 44
vidade riâ humana. E, por essa razâo, a ati-
resultado da outras palavras, o prazer é o Feio de doer
seja normal if/n f ' desde que, é lôgico, essa atividade
exagerada iipm t' à natureza humana e nâo nos ^er^nn^ ream
l ente o cherio é tâo nauseabundo que parece
dea l aao
P v r a jôgo
d ô gnormal
l o r i o f n prazer
^ s t a é correspon-
a propria
Pessoa mesma forma se diz a respelbo de uma
é o resuJtartn^^^^i' acompanha as açôes mé- M a iisso? e expressào
Q u e a tpopular
é d ôei nâo
o l cientifica.
har para
gerada", ^-esmtado da funçâo contrariada ou exa-
Pflloologla Gérai — Cad. 20
PSICOLOQIA OERAL 307
306 AFRO DO AMARAL FONTO.mA

Nos tempos mais prôximos de nés KANT e seus seguidores


cheiro nauseabundo nos causam desprazer fisico. A no- ressuscitam o pessimisme. "Para KANT o prazer é a corwci^ft-
ticia da morte de um amigo, o resultado mau de um efa do esfôrço vital, é a satisfaçâo de um esfôrço; ora. o esfôrço
exame, uma injustiça que nos façam sâo causas de des supôe um obstâculo. um sofrimento; logo, se nâo tivesse havido
sofrimento nâo teria havido também o prazer e por consegulnte
prazer moral (nestes ûltimos é sempre Ucito empregar a dor é aiie é o fato nositivo. nnrma] da vida, e o prazer é apenas
a palavra dor moral). a i n t e r m i t ê n c i a d a d o r " ( A LV E S D A S I LVA ) .

SCHOPENHAUER, seguidor do kantisme, ê o malor de todos


os pessimistas. Diz êle: a essência de tôdas as cousas é a von-
5 132) CONDIÇOES DE PRODUÇAO DO PRAZER tade; a essência da vontade é desejar sempre atineir novos ob-
Jetos: e à medida que estes sâo atineidos. a vontade passa logo
Os fenômenos afetivos nâo se produzem por si: têm a desejar outros... Assim. a vida humana nâo passa de uma
cadeia de deseios insatisfeitos e a dor domina a humanidade.
sempre uma causa exterior a êles, Em outras palavras: O prazer posiWvo é uma ilusâo e a felicidade uma quimera.
o fato afetivo surge ligado a um fato representatîvo: Tudo é dor.
todo prazer ou dor é motivado sempre por algum fato
do mundo que nos rodeia, ou por algo que sucede conosco. "Ouerer é essencialmente sofrer. e porque viver é
querer. tôda vida é na sua essência dor. Quanto mats
elevado é o ser tanto mais sofre... A vida do homem nao
. Çntretanto, assim nâo acontece no infcio da nossa é senâo uma cacada incessante, na quai, ora caçadores,
existência. Com efeito, a vida afetiva surge na criança ora cacas, os sêres disputam entre si os pedacos de um
niuito antes da vida de conhecimento. "Tudo leva a horrîvel pasto: uma espécie de histôrîa natural da dor que
crer que a vida mental começa pela afetividade. Os fatos se resume nisto: ouerer sem motivo sofrer sempre. sem
de comportamento na criança parecem indicar, antes pre lutar. depois morrer. e assim nor diante pelos séculos
de toda diferenciaçâo, que a primelra apariçao dos sin- dos séculos. até que êsfre nosso nlanêta se despedace em
pequenos fragmentes" (SCHOPENHAUER).
?omas da vida mental é nelo menos dominada por dîna
îonalidade afetiva" (DWELSHAUVERS). Antes de co- 133.2) FILOSOFIA DO PRAZER— O OTIMISMO — Os fi-
lôsofos otimistas nâo têm sido tao numerosos
tÎia cousas,
P esmente a criancinha
porque as aceita
elas Ihe causam ou ou
prazer récusa sim-
desprazer. mistas... O pai do Otimismo e LEIBNITZ, filoso^ do século
17 Diz êle* Deus é perfeito, logo nao la produzir uma obra im-
Mas a partir dos 4 ou 6 meses, vao ganhando coipo perfdta* logo o mundo é o mais perfeito dos mundos possiveis;
assim. tudo que existe, existe da melhor forma que
s conhecimentos da criança e, desde entâo, os fatos aj^' vel Se houvesse possibllidade de qualquer cousa^ ser melhor
'^os sao sempre ligados a fatos représentatives. neste mundo, Deus a teria fait» melhor. Conclusao: tudo val
bem no melhor dos mundos...

133.3) SOLVÇAO MODERADA — Nâo é verdade^ que tudo


§ 133) FILOSOFIA DO PRAZER E DA DOR seja dor neste mundo; nem é verdade que todo esforco traga
aborrecimento; pelo contrario, o esforco empregado razoàvel-
mente numa causa justa é um grande motivo de prazer.
OS — o PESSIMISMO —
Também nâo é verdade que êsse mundo seja o melhor dos
lôsofos tempos da Antiguidade até hoje. numerosos n mundos Deus nâo o fêz absolutamente perfeito. Concedeu, isto
gava n afirmam s6 haver dor neste mundo. Assim ^ sim, aos homens. a faculdade de se aperfeiçoarem, de melhora-
das dezenas de séculos antes de Cristo. rem êste mundo e, por êsse processo, aproximarem-se, de voltia,
SubUmes" de BUDA é: — "Tudo o
ao Crlador.
afirma qu^"1* século lii a. C. g filôsofo grego
portantn»bem supremopois
a 0 repouso, do todo
homem é a ausência
movlmento de dor *
produz dor".
808 AFRO DO AMARAIi FONTOCRA

PSICOLOGIA GERAL S09


S 134) FINALIDADE DO PEAZER E DA DOR

§ 135) FISIOLOGIA DO PR.AZER E DA DOR


Como acabamos de ver, êste mundo nâo é sô prazer,
nem sômente dor. Um e outra coexistem e se alternam. O prazer e a dor repercutem profundamente no
Do p.onto de vista prâtico têm até, ambos, enorme im- sistema nervoso. E as modificaçôes nervosas produzem,
portância. Com efeito, o prazer e a dor sâo as sentinelas por sua vez, grandes modificaçôes orgânicas.
da natureza; indicam ao homem o que é bom e o que é
^De maneira gérai, o prazer aumenta a assimilaçâo
niau, aquilo que Ihe é util e o que llie é prejudicial. Nos orgânica e a dor diminui essa assimilaçâo.
ûniiwais irracionais, em que a vida nâo se tornou tâo ar Por outro lado, prazer e dor sâo reversiveis: passa-se
tificial como entre os homens, o prazer e a dor funcio- insensivelmente de um a outro. Exemplo: o ato de afa-
nam maravilhosamente como sentinela do bem e do mal gar ou de coçar, que, em grau razoâvel, pode dar prazer,
Tudo aquilo que agrada ao animal é porque Ihe é util; elevado na sua intensidade, transforma-se em dor. E hâ
tudo 0 que desagrada ao animal é porque Ihe é pTe- dores brandas que dâo prazer; é conhecida a expressâo
judicial. popular dorzinha gostosa...
Que séria da vida humana se nâo fosse a dor, para Examinemos detalhadamente os efeitos fisiolôgicos
marcar limites de trabalho e périodes de descanso? do prazer e desprazer:
O individuu, preocupado com um problema cientffico ou
135.1) RITMO CARDfACO — A dor diminui o
niosôfico, mergulhado num jôgo ou numa atividade pre ritmo cardiaco, ,o prazer aumenta o numéro de batimen-
judicial, séria capaz de persistir na sua atividade até o tos do coraçâo (experiências de LEHMANN).
total aniquilamento se nâo fosse a dor Ihe marcar uma
barreira intransponivel. 135.2) EFEITOS QUIMICOS — Prazer e dor pro
duzem efeitos quimicos sobre o organismo. A dor altera
É ainda a dor quem desperta a atençâo da pessoa
para os seus ferimentos, para os seus ôrgâos internes
afetados, que assim podeni ser logo medicados... NÔTULAS — N.o 45
No terreno moral, mais ainda, a dor tem um papel Nossa mestra a dor
^portantissimo. É sempre ela quem chama o homem
a realidade. O orgulho, a vaidade, o convencimento, a A dor melhora o carâter dos homens. Isso é tâo certo que,
mania de "ser importante", tudo desaparece em face da quando o povo dépara com um individuo arrogante e intolérante,
dor, à custa da dor. É ela quem ensina as criaturas diz logo: — "èle é assim porque nunca sofreu"...
A dor é a grande mestra da vida. As maiores obras literâ-
humanas a serem mais tolérantes e mais bondosas para rlas e artisticas da humanidade nasceram de autores cujas
corn o proximo... (vide NÔTULA n.o 45, adiante). a i m a s e s t a v a m c h e i a s d e d o r.
Quase podemos dlzer que em tôda grande vida hâ, a ins-
por outro lado, se sô existisse a dor, o mundo sena pirâ-la, uma grande dor. Eis os casos de Beethoven, Schuman,
trâgico, e os pessimistas teriam razâo. Mas ao seu lado Chopin, Goethe, Chateaubriand, Marcel Proust, e dos nossos
existe o prazer, que com ela se alterna E tanto é ver- Alvares de Azevedo, Casimiro de Abreu. Fagundes Varela Ma-
aade que o homem nêle mergulha e podê até esquecer-se chado de Assis. Mais recentemente, a dor converteu dois li
terates mais ou menos, frivclos — HUMBERTO DE CAMPOS e
pétuas^^^ *1^® antes Ihe pareciam insuportâveis ou PAULO SETUBAL — em escritores cheios de sentlmento hu-
m a n o
PSICOLOGIA GERAL 311
310 AFRO DO AMARAL. FONTOCRA

pslcologia afetiva, do ritmo fundamental da vida. Esta


a composiçâo do sangue, fazendo derramar toxinas na se reduz ao fato ultimo da nutriçâo, constitulda por dois
corrente circulatôria. O prazer atua como tonificante processos reciprocamente dependentes, um dos quais im-
do organismo. A dor faz surgir manchas pelo corpo. O plica o outro: assimilaçâo, desassimilaçâo; integraçâo,
prazer desopila o fi'gado... O prazer aumenta o apetite, desintegraçâo."
a dor o faz desaparecer (vide NÔTULA n.o 46, abaixo).
135.4) EXPRESSÔES FISIONÔMICAS — O pra
135.3) EFEITOS MUSCULARES — A dor produz zer e 0 desprazer ou dor provocam uma série de reaçôes
aniquilamento, debilitaçâo muscular. O prazer dâ exu- fisionômicas. "As reaçôes da vida ao desprazer sào bem
berâneia de movimentos, provoca o riso facll, leva a pes- conhecidas: fechamos as pâlpebras, vlramos a cabeça
&oa a cantar, inconscientemente. A dor torna o individuo para evitar a excitaçào sensorial ou diminuir sua inten-
encurvado, com a face enrugada. O prazer, ao contrario, sidade. Para evitar os odores desagradâveis recurvamos
faz a pessoa ficar mais desempenada, mais jovial. O 0 nariz, aproximamos as narinas do lâbio superior"
prazer aumenta a energia vital, a dor a diminui. A êsse ( G R AT I O L E T ) .
respeito sao muito positivos os trabalhos de FÉRÉ, cita- De maneira gérai, podemos dizer que a dor contrai
d o s n a o b r a d e R I B O T: os mûsculos, sobretudo os faciais, e o prazer os relaxa.
— "As pesquisas de FÉRÉ sobre as sensaçôes olfa- A dor faz apertar os olhos, emugar a testa, abrir ou
tivas mostram que o prazer ou o desprazer que as acom- entreabrir a bôca, contrair os seus cantos. O prazer faz
entreabrir os lâbios, num meio sorriso, as "maçàs do
panha se traduz por um aumento ou por uma diminui- rosto" sobem ligeiiamente, o corpo se abandona.
çâo de pressâo no dinamômetro. No individuo cuja força
dinamométrica é naturalmente 50/55, um odor desagrâ- GEORGES DUMAS, no seu volumoso e nunca assaz
vel abaixa para 45; um odor agradavel a eleva a 65. louvado "Traité de Psychologie", apresenta numerosas
Em outro (histérico), o cheiro do almlscar, a principio fotografias de pessoas em momentos de prazer ou de dor,
é muito agradavel, dâ no dinamômetro 46 em lugar de demonstrando tôdas as suas contraçôes faciais (vide
NÔTULA n.o 47, abaixo).
23 (que é a sua força normal) ; ao cabo de 3 minutes,
torna-se desagradâvel : o dinamômetro baixa para 19...
Assim entendida, a transformaçâo do prazer em dor, e
da dor em prazer, nao é senâo a traduçâo, na ordem da NÔTULAS — N.o 47

Ficar com os cabelos em pé

NÔTULAS — N.o 46 Hâ, inclusive, na obra de DUMAS, uma tremenda fotogra-


ria de uma muiher sendo supliciada, num pals oriental. Nessa
O sofrimento faz envelhecer espant-osa folo aparece um lenomeiio muito laiaûo, muito re-
petido pelo povo, mas rarissimamente visto: — os cabelos da
mumer estâo inteiramente de pé. levantados como se îôssera
A dor faz embranquecer os cabelos precocemente. O exem-
fios de arame pregaûos na cabeça!!! Pela primeira vez verifica-
plo mais célébré é o da ralnha Maria Antonieta, cuja bela ca- mos que "flcar com os cabelos em pé" nâo é apenas uma ma
beleira embranqueceu em uma sô noite. na Revoluçâo France- neira de faiar, mas existe na realidade, em ocasiôes de extre
sa, quando ia ser guilhotinada. Igualmente faz surgir no rosto me pavor.
rugas précoces e envelhece o Individuo mais cedo. A melhor
receita para nao envelbecer é; nâo sofrer, nâo se deixar domi-
n a r p e l a d o r.
312 AFRO DO AMARAL FONTOURA PSICOLOGIA GERAL 313

agradâvel e intéressante. Porque ninguém foge do lugar


§ 136) LEIS DO PRAZER onde se sente bem...

Hâ vârias leis que regem o fenômeno do prazer, mas II) O outro grande ensinamento do capitule é que
o homem joi feito para a açâo (conforme § 130). A ati-
que deixamos de citar per serem de mener importância. vidade causa prazer. Êsse é um dos mais fortes argu
Reglstramos aqui apenas a lei da relatividade. mentes em favor da escola ativa. A aula de "ouvir
De acôrdo com essa lei, um determinado prazer ou
dor se altera conforme sua posiçâo e relaçâo a outros apenas, em que os alunos ficam imôveis e mudos, es-
fenômenos da mesma espécie, ocorridos com a mesma cutando a palai^a do professor que "fala sozinho", pré
cisa ser substitulda pela aula viva e ativa, em que o aluno
pessoa. Exemple: um prato de sopa, que pode causar vibra, participa, trabalha, age, discute, faz cousas, p5e
muito prazer a um indlviduo, certamente Ihe causara em constante funcionamento seu cérebro e suas mâosl
desprazer se Ihe for servido depois de um lauto jantar... Muitas vêzes a distraçâo do aluno em aula, sua conversa,
A dança, que dâ muito prazer ao jovem, pode tornar-se suas brincadeiras têm por causa a necessidade de açào,
um desprazer conforme sejam a orquestra, ou o seu par, de usar a cabeça e as mâos, que o professor deixa inûteis,
ou 0 local da festa. exigindo das crianças, apenas, que "fiquem quietas" e
Inversamente, um estado desagradâvel pode trans- "escutem".
formar-se num prazer, ou pelo menos se tornar quase
insensivel. Exemple: a dor de um ferimento afeta o in- § 138) EXERCICIOS E EXPERIÊNCIAS
dividuo com uma certa intensidade. No entante, o mes-
hio ferimento pode nâo causar nenhuma dor a um sol- 1. Verificar o carâter reversivel do prazer. — Fa
dado, no auge da batalha. A grande tensâo nervosa do zer no paciente uma excitaçâo qualquer agradâvel
espirito anula momentâneamente o efeito do golp^ (cocegas, coçar, etc.) e ir aumentando de intensidade
fi s i c o . até que o prazer se torne em desprazer.
.2. Verificar os efeitos muscular es do prazer; medir
§ 137) PSICOLOGIA EDUCACIONAL a força do paciente no dinamômetro, antes e depois do
piazer. Êste pode ser produzido por um perfume agra-
Aplicaçôes do présente capitule à Pedagogia davel ou por uma mùsica embaladora.
3. Verificar os efeitos musculares do desprazer;
I) O grande ensinamento que o présente capitulo medir a força do paciente antes e depois de um despra
nos proporciona é este: devemos fazer com que nossas zer. Este pode ser produzido pelo cheiro do almiscar ou
aulas ofereçam prazer aos nossos alunos. Se as criatu- outra substância de odor igualmente forte e desagradâ
i^as adultas procuram o prazer e fogem da dor, muito vel. P,ode-se tornar o resultado mais intéressante, medin-
uiais o fazem as crianças. Quando o aluno mata o aul-^ do a dinamogenia do paciente: a) antes de começar;
para ir ao cinema, ou simplesmente para ficar escondido b) depois do cheiro agradâvel c) depots do odor desa
ho banheiro, êle esta, na realidade, obedecendo a essa
lei fundamental da natureza humana- — iugir do gradâvel. A pressâo obtida no dinamômetro da 1.^ vez
e desagradâvel.
é a normal, na 2.a vez deve ter aumentado e na 3.» deve
ter diminuido.
^ professor deve, é claro, punir tais alunos; nias
deve sobretudo evitar a causa da juga, tornando sua aula
314 APRO DO AMARAL FONTOORA
CAPÎTULO XIV
4. Repetir as experiências anteriores, porém com
grupos de estudantes. Poder-se-a escrever todos os Os Fenômenos Afetivos:
resultados, comparando entre si os rapazes. Tais resul-
tados variam segundo a maior acuidade olfativa, o poder II) As Emoçôes
de resistência do individuo e o seu estado geral.
5. Experiências idênticas podem ser feitas com os
mais variados excitantes: ruidos fortes, musica, luz in-
tensa sobre os olhos, corrente elétrica moderada que se
possa ir aumentando gradativamente. Ficha-resumo;

5 1 3 9 ) T Ô P I C O S PA R A D E B AT E
§ §

1. Explicar a teoria pessimista de SCHOPENHAUER. 141) CONCEITO DE EMOÇAO:


2. Explicar a teoria otimista de LEIBNITZ. Ê tôda perturbaçâo violenta e pessagelra do tonus
afetivo.
3. Mostrar a utilidade da dor; a) no campo orgânico;
b) no terreno moral. 142) TIPOS DE EMOÇAO:
4. Comentar a frase; "a dor eleva o homem", 1) Emoçâo-choque: violenta, desaparece logo.
2) Emoçâo-sentimento: menos violenta, permane-
5. Explicar os efeitos fisiolôgicos do prazer e da dor. ce mais.

143) ELEMENTOS DA EMOÇAO:

§ 140) LEITURAS COMPLEMENTARES a) Representaçâo de um objeto Inesperado;


b) Alteraçâo do tonus afetivo;
c) Perturbaçôes orgânicas.
1. FÉRÉ — "Sensation et Mouvement"; Paris, 1887.
^ Pa^^^^g— "^sy^lio-Physiologie de la douleur"; 144) FISIOLOGIA DAS EMOÇOES:
1) Localizaçâo das emoçôes: no thalamus ou cére-
bro Intermediârlo.
^ Phénomènes affectives et les lois 2) Reaçôes emotivas: variam da "mudança de côr"
e ieur apparition"; Paris, 1887. Eté a sincope cardiaca (morte).
3) Os emotivos e os hiperemotivos: sâo devldos a
^ "Psychologie des Sentiments"; um temperamento nervoso muito excltâvel.
4) Emoçôes excitantes e deprîmentes: aumento de
energia ou relaxamento geral.
— "Problèmes de Psychologie Affe
ctive '; Paris, IQio.
(continua)
PSiCOLOaiA GERAL 317

318 AFRO DO AAIARAL FONTOURA

Ficha-resumo (concîusâo) :

Ficha-rcsumo (con(inuaçâo) :

1 4 7 ) E M O Ç Ô E S C O L E T I VA S :

5) Classificaçâo das rcaçôes emotivas: — As emoçôes sâo contagiosas, por sngestâo.


— Os grupos facilmente se deixam emocionar, mca-
a) Alteraçôes do ntmo cardiaco e rwpiratorlo; mo sem causa real: rimos sô porque vemos os
b) Alteraçôes motrizes; outres rirem.
c) Distùrbios secretôrios;
d) Reflexo psicogalvânico.
148) PSÏCOLOGIA EDUCACIONAL:

145) CLASSIFICAÇAO DAS EMOÇÔES; Aplicaçôes do présenté capitule à Pedagogia.


149) EXERCICIOS E EXPERIÈNCIAS.
1 ) A l e g r i a : h i p e r t o n i i s m u s c u l a r, e n e r g l a .
2 ) Tr i s t e z a : h i p o t o n u s m u s c u l a r, d e s â n i m o . 150) TÔPICOS PA R A D E B AT E .
3) Mêdo: paralisia generalizada, perturbaçôes dl
gestivas (estômago, intestines, bexiga). 151) LEITURAS C O M P L E M E N TA R E S .
4) CoJera: rlgidez no olhar, musculos contraidos.

146) ESTUDO EXPERIMENTAL DAS EMOÇÔES;

1) Aparelhos para medir reaçôes circulatôrias:


Esfigmôgrafo.

2) Aparelho para medir reaçôes respiratôrlas:


Pneumôgrafo + tambor de Marey + Quimô-
grafo
Pletlsmôgrafû

3) Aparelhos para medir reaçôes nervosas:

a) Galvanômetro;
b) Mâquina de registrar mentiras;
c) Aparelho de SOMMER;
d) Piocesso fotogrâflco.

(continua)
9 141) CONCEITO DE EMOÇAO

Emoçào é o segundo fenômeno, em ordem crescents


de complexidade, no campo da afetividade. O fato pri
mitive da afetividade é, como vimos no capituîo anterior,
0 prazer-desprazer. Etimolôgicamente, emoçào significa
"movimento por uma causa interna". Podemos defini-la
oomo sendo "tôda perturbaçâo violenta e passageira do
tonus afetivo". (Sôbre "tonus afetivo" vide capitulo an->
terior, § 120.) Diz PIÈRRE JANET que a emoçâo "résulta
de uma modificaçâo sùbita no meio que nos cerca".
A.inda segundo o mesmo psicôlogo, a emoçâo "é uma os-
cilaçâo do nivel mental".
emoçâo é sempre causada pela presença de um
fenômeno representativo em noSsa consciência. Sô nos
emocionamos quando conhecemos algo de novo ou de
inesperado.

§ 142) TIPOS DE EMOÇAO

Os psicôlogos modernes, seguindo GEORGES DU


MAS, distinguem dois tipos de emoçâo: a emoçao-choque
e a ernxiçào-sentimento. A primeira é râpida, desaparece
dentro de poucos instantes; a segunda, menos violenta,
é também mais lenta, custa mais a desaparecer.
142.1) Exemplo de ejnoçâo-choquc. estou calma-
niente sentado e, de repente, ouço um enorme grito ao
meu lado, o que me faz ter um sobressalto na cadeira.
como se tivesse levado um verdadeiro ctioque. Um
320 AFRO DO AMARAL FONTOJRA PSICOLOQIAGERAL 321

ruido violento, a sûbita presença de uma pessoa ines- reaçôes de desespêro fica mais desesperado. Coriseguin-
perada, etc. nos causam emoçôes dêsse tipo. do dominar suas reaçôes orgânicas, mais depressa Ihe
v o l t a a c a l m a a n t e r i o r.
142.2) Exemple de emoçào-sentimento: acabo de
saber da morte de um amig.o que ainda ontem estêve
em mlnha casa; levo um choque, como no exemple an- S 144) FISIOLOGJA DAS EMOÇOES

teriorj mas desta vez, passado .0 efeito do choque, minha


emoçâo nâo desaparece totalmente: ao contrario, persiste
de forma forte ou branda. 144.1) LOCALIZAÇAO DAS EMOÇÔES — Os psi-
côlogos têm procurado descobrir uma sede cerebral
para os fenômenos afetivos, assim como jâ estabeleceram
I 143) ELEMENTOS DA EMOÇAO mais ou menos uma sede para os fatos representatives
elementares e para os fenômenos de linguagem. Ora,
sendo enorme a correlaçâo existente entre os fatos emo-
O fenômeno emotivo se compôe, assim, de très ele- cionais e as reaçôes do sistema nervoso vegetative, tem-
se logicamente pretentiùo atribuir à emoçâo a mesma
mentos diver&os: sede que possui tal sistema. Segundo é sabido, o sistema
a) Representaçâo de um objefo ou fato inesperado nervoso da vida vegetativa. ou simpâtico, tem sua sede
em nossa consciência; no thalamus, também chamado cama ôtica ou cérebro
intermediârio. Essa séria, pois, a sede das nossas emo
b) Alteraçâo do tonus afetivo reinante em nosso çôes. O problema ainda estâ em debate.
"eu";
Mas 0 fato é que hâ uma extrema dependència entre
c) Pej'turbaçôes orqânicas diversas. que variam de a efetividade e o sistema nervoso simpâtico e parassim-
^au conforme a intensidade com que atuou sobre nos pâtico: o individuo emotivo manifesta constantemente
o fenômeno representativo. distùrbios do estômago e intestines, além de perturba-
çôes do ritmo cardiaco {taquicardia) e das glândulas se-
É intéressante notar que hâ uma revepibhidade' cretôrias; alteraçôes bruscas de pressâo e tempera-
as reaçôes^ orgânicas. provocadas pela emoçâo, concor- tura, etc.
rem também para aumentar essa emoçâo. Tanto assim.
que, se 0 individuo consegue abafar as reaçôes orgam- Ao mesmo tempo, é grande a relaçâo existente entre
cas, faz diminuir de muito a emoçâo que o assalta. o nervo pneumogâstrico ou vago e as visceras acuna ci-
exemple: nossa dor diminui quando conseguimos conter tadas, pois, segundo sabemos, 0 nervo pneumogâstrico
nossas expressôes externas de tristeza. Ou entâo: sou é um dos componentes do sistema nervoso parassimpa-
tornade per um grande mêdo, mas se consigo conter meu tico. For essa razâo, os individuos de temperamento
iremor, respirar funde e levantar 0 peito, meu mêdo pas emotivo sofrem comumente de dois estados morbidos
sa ou diminui. gêmeos: a vagotonia e a simpaticotonia. Diz-se que sao
vagotônicos ou simpaticotôniços,
^esma forma, a fuga aumenta o mêdo, o chôro
laz aumentar a tristeza. O individuo se entregando as
Fslcologla Oeral — Cad. 21
822 AFRO DO AMARAL FONTOURA PSICOLOGIA GERAL 323

144.2) REAÇÔES EMOTIVAS — Ficou bastante uma reaçâo para outra. A primelra emoçâo diante de
claro que todo fenomeno emotivo desperta uma reaçâo um acontecimento pode ser logo a sincope ou a morte
fisiolôgica correspondante, que se chama reaçâo emotiva. (vide § 144.6).
A razâo de ser dêsse fenômeno é que tôda emoçâo oca-
siona uma descarga brusca de energia nervosa no or 144.3) OS EMOTIVOS E OS HIPEREMOTIVOS
ganisme. — O aparecimento ou nâo de uma dessas reaçôes, bem
como sua maior ou mener intensidade, depende funda-
*Quanto
q > u a n t o maior
m a i o r for
l o ro ochoque
c n o q u eemocional,
e m o c i o n a i , maior
m a ^ o i serâ
seia mentalmente da constituiçâo do individuo, isto é, do seu
a descarga de energia e mais esta se irradiarâ pelo or-
^ ^1- x_ i rtv_

sistema nervoso e do seu temperamento. Pessoas calmas


ganismo. De forma que a reaçâo fisiolôgica correspon se emocionam menos; pessoas de temperamento nervoso
dante pode variar desde a simples reaçâo local, minima, sâo muito mais sujeitas a tais reaçôes emotivas. Por isso
até a reaçâo violenta e total do organisme. Vamos tentar mesmo se chamam emotivas ou temperamentos émo
J^/G^si'quizâ-las,
violenta :
partindo da mais simples para a mais tives.

E existem ainda os individuos hiperemotivos,


aquêles que por qualquer pequeno motive se emocionam
intensamente : ficam vermelhos ou pâlidos; tremem ou
REAÇÔES EMOTrVAS suam frio; ficam gagos ou choram, e, quando nâo, fi
cam, como se diz, "com o coraçâo aos pulos", ou, como
1. enrubescimento dizem outros "com o coraçâo a sair-lhe pela bôca".
2. empalidecimento
3. tremor
4. expressôês mimicas 144.4) EMOÇÔES EXCITANTES E DEPRIMEN-
5. s u c r e s TES — De maneira gérai, as reaçôes emotivas acima
6. taqulcardia descritas podem ser reunidas em dois grandes grupos:
7. descontrôle de movimento as emoçôes estimulantes e as deprimentes. Nas emoçôes
8 . respiraçâo arfante
9. eriçamento dos pêlos estimulantes hâ uma elevaçâo gérai do tonus afetivo:
10. vômitos a pessoa fica alegre, muito falante; hâ um acréscimo de
11 . desordens do aparelho dlgestlvo iniciativa, "aumento de energia, prontidâo e segurança"
12. gagueira nas açôes.
13. rlso
14. soluço Nas emoçôes deprimentes "verifica-se um vacuo no
15. làgrimos esplrito. Nada se encontra para dizer ou fazer. O curso
16. chôro do pensamento fica estagnado, nâo mais se associam
17.
paralisia; perda da voz as idéias e as plavras se tornam ininteligiveis" (CUNHA
18.
sincope
19. sincope cardiaca (morte). LOPES). É o que se chama inibiçào. Hâ um relaxa-
mento gérai dos mûsculos: a bôca fica entreaberta, os
braços caidos, as pernas frouxas (vide NÔTULA n.o 48,
adiante).
.signScf ordem
.^bnitica que o individuonâo é obrigatôria:
vâ passando nâo
gradualmente de
324 AT S O DO AMABAL PONTOURA PSICOLOGIA GERAL 325

É tao grande a influência das emoçôes sôbre a fi


sionomia que se pode com absoluta certeza saber o es-
144.5) CLASSIFICAÇAO DAS REAÇÔES EMOTI- tado de espirito de uma pessoa através da observaçâo
VAS — O psicôlogo DWELSHAUVERS classifica as rea- de seus estados fisionômicos. A êsse estudo, que é aliâs
çôes emotivas em cinco grupos fundamentals: 1) altera-
çôes do ritmo cardi'aco e respiratôrio; 2) alteraçôes mo-
interessantlssimo, se dâ o nome de Fisiognomonia. Por
seu intermédio conseguimos nâo sô analisar os estados
trizes; 3) movimentos de expressâo; 4) distûrbios secre- emocionais da pessoa, mas também (até certo ponto)
tôrios; 5) reflexo psicogalvânico. estudâ-la nos aspectos gérais de seu temperamento e
c a r â t e r.
Examinemo-los de perte;
^ 144.5.4) Distûrbios secretôrios — É enorme a in
144.5.1) Alteraçôes do ritmo cardîaco e respira- fluência das emoçôes sobre as secreçôes do nosso orga-
tôrio — As emoçôes excitantes produzem taquicardia, nismo. CANNON nos conta que num gato atemorizado
isto é, fazem o coraçâo bâter mais depressa e tomam pelo ladrar de lun câo se nota a presença de adrenalina
a respiraçâo mais forte. A pessoa fica arquejante. As no sangue das veiîis suprarrenais. A "adrenalina assim
deprimentes, ao contrârio, diminuem o ritmo rardiaco liberada détermina a dilataçâo das pupilas, o eriçamento
e tornam a respiraçâo mais superficial. dos pêlos, a aceleraçào do coraçâo, a constriçâo dos va-
&0S sangumeos". Da mesma forma, a tirôide, o flgado,
144.5.2) Alteraçôes motrizes — Uma emoçâo vio a hipôfise, o pâncreas, etc., sâo diretamente perturbados
lenta pode ocasionar a paralisia dos movimentos. Uma pelas emc^ôes e, em conseqûência, funcionando irregu-
pessoa atacada de forte mêdo fica, como se diz vulgar- larmente, alteram todos os fenômenos do métabolisme
mente, "pregada ao solo". A reaçâo oposta, e também h u m a n o .

possivel, é a fuga.
144.5.5) Reflexo psicogalvânico — O psicôlogo
144.5.3) Movimento de expressâo — A emoçâo alemào VERAGUTH descobrlu recentemente que as
altera a fisionomia das pessoas: leva-as a abrir desme- reaçôes emotivas do indivlduo se manifestam através
suradamente ou apertar os olhos, a enrugar a testa, a do reflexo psicogalvânico: como se sabe, existe em nosso
apertar os lâbios, a fechar a mâo, a contrair ou distender organismo um potencial elétrico, que recebe o nome de
os mùsculos em gérai. eletricidade galvânica. As variaçôes emotivas do indivl
duo alteram esse potencial elétrico, podendo ser medi-
T " ■ ' ' ' - . . 1,1
das por um aparelho elétrico a êle ligado: o galvanôme-
tro (vide § 146.3).
NÔTULAS — N.o 49
144.5.6) Paralisia e morte — Choques emocionais
A emoçâo dos cxamcs muito violentos podem tornar o individuo momentânea-
mente mudo ou paralitico. Mas se êle fôr um tempera
Êsse fenômeno da inWîçâo ou paralisia emocional é muitw mento ultranervoso, essa paralisia pode ficar permanen-
connecido dos alunos nos dlas de exame... Todos os professô- temente. Também hâ casos de pessoas que desmaiam
res reglstram casos de bons alunos durante o ano que, na hora
fio exame ficam incapazes de dizer duas palavras...
PSICOLOGIA GERAL 327
m APRO DO AMARAL FONTOORA

pela alegna, os olhos brilham, os movimentos sâo exa-


de emoçâo. O caso extremo da reaçâo emotiva é a sin- gerados, o riso surge a pr.opôsito de tudo; a alegria traz
cope cardiaca (morte), ùltimamente tem havido nu- uma satisfaçâo gérai, que leva a pessoa a achar que tudo
merosos casos de morte por emoçâo, porque a comple- esta bem, que tudo é bonito. "Quando se esta alegre,
xidade e a enorme agitaçâo da vida moderna, nas gran tudo é côr-de-rosa", diz a sabedoria popular.
des cldades, fazem ràpidamente o individuo ficar com o
coraçâo enfraquecido, cansado (vide NÔTULA n.o 49, 145.2) TRISTEZA — A tristeza acarreta reaçôes
abaixo). exatamente opostas à da alegria: hâ um hipotonus mus
cular. O individuo quando estâ triste se sente desani-
mado, cansado, sem dlsposiçâo para fazer nada. Suas
§ 145) CLASSIFICAÇAO DAS EMOÇÔES energias desaparecem. A tristeza causa "uma opressâo
sobre o peito"; torna o rosto do individuo contraido e
pâlido. Causa perda do apetite e insônia. O olhar fica
Segundo a maiorla dos psicôlogos, hâ quatro emo- parado e os olhos descoloridos.
çôes fundamentals : alegria — tristeza — mêdo e côlera.
145.3) MÊDO — O mêdo causa uma paralisia ge-
145.1) ALEGRIA — Esta emoçâo fundamental se neralizada no corpo humano e às vêzes nos animais.
caracteriza por hipertonus muscular. Hâ "superati- Hâ um relaxamento do nervo facial, do que résulta ficar
vidade do aparelh.o motor voluntârio e diJataçào dos a bôca aberta, as sobrancelhas suspenses, os olhos des-
vasos capilares" (LANGE). No individuo dominado mesuradamente abertos. Essa paralisia do sistema motor
pode chegar a ser tâo grande que o individuo "fica pre-
gado no lugar": quer fugir e nâo pode. Às vêzes acarreta
gagueira ou até mutismo integral. Pode também causer
perturbaçôes gérais no aparelho digestivo, com relaxa
NÔTULAS — N.o 49 mento do estômago e dos intestinos. Sâo muito citadas,
popularmente, expressôes que mostram a influência do
O bilhete premiado mêdo sôbre o relaxamento dos intestinos e da bexiga.

Tem havido muitos casos de morte por emoçâo, em campo3 145.4) CÔLERA — A côlera se manifesta através
de futebol, quando o torcedor fanâtico assiste o seu clube fazer de contraçôes enérgicas dos supercilios, que se tornam
gôl. Per ai se vê que as grandes reaçôes emotivas nâo sâo ape- obliques e inclinados para baixo na sua parte interna;
nas consequências de desgraças, mas também de alegrias... Mor-
re se de alegria... Tem muita razâo, portante, os médicos quan- pela oclusào enérgica da bôca e pela forte dilataçâo das
narinas (GEORGES DUMAS). O individuo encolerizado
^°/®'^oniendam—aos parentesOdodoent*e
"Cuidado! doente nâo
que esta
podecom
ser ocontraria^
coraçâo adquire uma rigidez caracteristica no olhar, cerra os
aoi Nem cofrer emoçôes fortes!" dentes, aperta os lâbios, contrai os mùsculos de maneira
gérai. A côlera atua muitissimo sôbre o sistema vas
conta-se o caso do Individuo que desejava lou- cular: por isso se diz "ficou vermelho de raiva" ou "fi-
"sorte grande" na loteria, e gastava todo seu cou branco de raiva".
ver{ffn«? bilhetes. Ao fim de vârios anos, um dia.
câft lao
vrto ts grande
bilhete que
tinha sido
calu parapremiado e teve uma emo-
trâs, morto...
PSICOLOaiA GERAL
328 AFRO DO AMARAL FONTOtJBA 329

corpo, que aumenta ou dimFnuf de * ^ volume do


§ 146) ESTUDOS EXPERIMENTAIS DAS EMOÇOES dos emocionais da pesaoa é nm -i
tendo âgua quente até a metad?
Tôdas as reaçôes emotivas podem ser estudadas pela gulha a mào e o braço Ouarfri. °
volume, a âgua do cilindro aumenta de
observaçâo dlreta. E a técnica de laboratôrio jâ conse- que vai registrar as variacôpq ® ^^^P^une uma agulha
guiu obter aparelhos para registrar varias delas. Èsses dor (vide também § 13.2.6) tambor registra-
aparelhos podem ser divididos em 3 grupos principals:
1) os que se destinam a medir as reaçôes circulatôrias,
2) os destinados às reaçôes respii*atorias e 3) os que me- N E RTO S—
NEKVUbAS AS PAcomum
G mais R A Mdêles
E D éI R11T71
R Eqimnlpç
AÇÔES
dem reaçôes da corrente nervosa.
" f bs r' accoo r^ rd eo n t e s ^
146.1) APARELHOS PARA MEDIR REAÇÔES tios
CIRCULATÔRIAS — Existem varies. G mais usado é LtP cofrn irSn quaisquer reaçôes emotivas que
talvez o esfigmôgrafo (vide figura 13 no § 13.2.4), ins r po
registxar-se not egalvanomètre
n c i a l e l é tligado
r i c o aeseus
, p obraços.
r t a n t oO,
trumente que serve para registrar a altura e a velocidade galvanometro serve, portanto, para medir o reflexo psi-
dos batimentos cardiacos, através da medida do pulso. cogalvamco citado no § 144.5.
Entre vârios modelos, salienta-se o esfigmôgrafo de VON
FREY, que trabalha ligado a um cilindro, onde umA 146.4) A MAQUINA DE REGISTRAR MENTIRAS
agulha vai registrando gràficamente os movimentos do — Kecentemente, um padre americano, SUMMERS, in-
pulso. G cilindro por sua vez estâ ligado a um mecanismo ventou um aparelho do género do galvanometro, a que
de relôgio, o que Ihe permite ter um movimento de ro- deu 0 nome de Patrômetro, cujo fim é descobrir se uma
taçao regular, uma velocidade uniforme por segundo. pessoa esta falando verdade ou mentira. G aparelho foi
logo denominado mdquina de registrar mentiras, e teve
MEDIR reaçôes enorme sucesso de publicidade. Em sintese, o Patrômetro
é 0 seguinte: duas fitas metâlicas sâo ligadas às mâos
grafo pneumôgrafo e o pletismd- do paciente; essas fitas sâo por sua vez ligadas a um
galvanometro e êste a um cilindro registrador elétrico.
9 Vf^&umôgrafo serve para mostrar o curso da res- Desde o momento em que se liga a corrente elétrica, o
fluxo nervoso do paciente vai sendo seguidamente re-
dP ^^^cica ou abdominal, por meio de um balâo
do elâstica que se prende em volta do peito oU gistrado no cilindro, em forma de grâfico. Se as reaçôes
emotivas e nervosas do paciente se alteram, a linha do
as extrpSJîT f ^ O estâ fechado de ambas grâfico logo o registra, através de grandes subidas e
Çâo comprimido, durante a inspira- descidas.
se vâo conseqiiência, oscilaçôes do ar que
bgado an nnl tambor de MAREY, prèviamente SUMMERS partiu do principio, hoje aceito por todo
um lapis tambor possuj
um quimôgrafo rhi^^^ J registrando as oscilaçôes em mundo, de que qualquer mentira provoca uma reaçào
r\ ^®^bos no cap il fi^ gravuras dêsses apa-
330 APRO DO AMARAL FONTOURA PSICOLOGIA GERAL
331

emocional; ninguém pode pronunciar uma mentira sem


que sofra, com isso, uma perturbaçâo no seu tonus afe- f] n
tivo-nervoso. E tal perturbaçâo é imediatamente regis-
trada pelo aparelho.
O patrômetro de SUMMERS fêz sua entrada triun-
fal nos tribunals americanos em 1942; tinha havldo um
crime de roubo, e o acusado, em todos os depoimentos
que prestava, jurava sua inocência. O juiz, sem saber
como decidir, em ultima analise, apelou para a Tnâquind
e registrar mentiras. O acusado foi submetido à prova
e enquanto falava, negando a autoria do crime, o pon-
ff ? patrômetro permanecia
linha no seu
muito calma sobrecaminho regular,
o cilindro regis-
FIGURAS 56 C 57
inocente ^ ^oi, à vista dessa prova, declarado Na prlmeira lluha vemos o grâTlco traçado pelas reaçOes emotlvaa
do indlvitiuo que fala a verdade; na aegunda llnha, as reaçOes
dissc^ numerosas vêzes têm sido postos à daquele que estâ respondendo mentiras.
descobrindo mentiras, de-
aS^ ? verificando se as pessoas estâo
ass^rn?. ® Por outras, etc., etc. Qualquer que seja o
paciente nos^rioi rin n tenham duvidas, liga-se o niodificaçôes invisiveis, na sua corrente nervosa, e tais
guntas. Se suas resurSt*^^'^® ® oomeça-se a fazer as per- ïnodlficaçôes serâo registradas pelo aparelho...
registrara um eraficn verdadeiras, o cilindro
guffaSnte (fig 56)."^''° ^«'"o se vê na fi- 146.5) FOTOPOLÎGRAFO DE DARROW — Jâ nos
^eferimos a essa complicadissima mâquina (vide capitu-
uma aitemçâ"n
' o%ônus°^af^^^^^ mentirosas, haverâ lo XI, § 13.4): é um detector de reaçôes nervosas com
apresentarâ assim ccnl^ afetivo-nervoso, e o grafico se
ra 57). ™o ve na segunda linha (figu-
plète, capaz de registrar, de uma sô vez, todas as altera-
Çôes da respiraçào, ritmo cardiaco, pressao sanguinea
Pulsaçâo, reflexo psicogalvânico e, amda ^
uma pessca^deTemperîmenT^^' ^' ~ ^ Possivel que ^mpo, fotografa
^da Corn esta mâquias
na reaçôes fisionomi
nâo hâ possi cas do
biUdade paci
^ œultarent
qu 1
ïnesmoàestando
experiência, acS^ elevadas,
inocente? nervosas subme- luer mentira, nem intençào, nem sentiment ...
"gura 14 no citado § 13.4).
jMesmo
idade de^o
quandoSdMd?o°menUr ""nhâ
êle é ultranai^^ ^ mâqui possi
a nâo bi-
acusar. .bém
. 146.6) APARELHO DE SOMMER
sobre si, sôbre seus ® absoluto dominio para medir as alteraçôes do 7.
„uase invi-
vei e unpassiveJ, ainda assim ® ^dsculos, ficando imo; Xestadas através dos movimentos tempo,
' se estiver mentindo haverâ «Iveis. o aparelho de SOMMER registra, ao mesmo
PBICOLOGIA QERAL 333
332 AFRO DO AMARAL FONTOUBA

3 espécies de reaçôes; a pressâo dos mûsculos, os movl- grande grupo de pessoas estâ atingido pela mesma
emoçâo.
mentos dos mûsculos e os movimento do dedo anular,
que esta prêso ao aparelho e envolto numa tira de Assim se expîicam, em grande parte, as atltudes
borracha. das multldôes que aplaudem ou valam, no cinema, no
teatro, no futebol. Assim se explica também a facili-
1 4 6 . 7 ) P R O C E S S O F O TO G R A F I C O — E n f i m , u m dade com que as multldôes veneram um chefe ou o tru-
qutro processo usado para o registro das reaçÔes emo- cidam em praça pûblica... (vide NÔTULA n.o 50).
tivas é o de pr.ovocar no individuo os fenômenos emo-
cionais, enquanto outro experlmentador fotografa con- Mas êstes fenômenos constituem um capitule espe
secutivamente as reaçôes que se apresentam na fisiono- cial: a Psicologia das Multldôes ou a Psicologia Social,
lïiia do paciente. Numerosas fotografias obtidas por êsse que sera estudada mais adiante.
processo, constituem a maravilhosa coleçâo de GEORGES
DUMAS.
§ 148) PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Apllcaçôes do présenté capitule à Pédagogie


§ 147) EMOÇOES COLETIVAS
I) O professor deve procurar conhecer seus alunos
e verificar quais sâo os émotives. Êstes merecem um
fenômenos afetivos possuem esta propriedade pouco mais de cuidado no tratamento, pois sâo mais
susceptiveis, com mais facilidade se descontrolam e to-
extraordlnâria, slngularissima: sâo contagiosos. Cota mam atltudes extremadas, de que se arrependem depois.
ds alguns sentlmentos ou tendências, os fatos
aietivos sâo contagiosos como qualquer moléstia. É a
n) As emoçôes pr.oduzem estados de inibiçào em
pçf sobre as emoçôes. Uma sugsstào é um que 0 aluno, às vêzes, quer falar e nâo pode, quer res-
pnnc se desperta no individuo, sem a presença da ponder às perguntas do professor, mas nâo sabe fazê-lo.
deveria despertar tal estado. Por exenj-
7 ^ chôro é causado pela tristeza; no entanto, às ve-
j, pessoa chora sômente porque vê outras chora-
rimn^ comum ainda
sem têrmos umaé razâo
a sugestâo dosô
para isso, riso: às vèzos
porque vimos NÔTULAS — N.o 50

outras pessoas rirem. O contégio das emoçôes coletivas

^ sugestâo desempenha papel importante nos Nada mais confragioso do que um individuo, na rua, em face
emotivos indlviduais, mais ainda é importante de um acontecimento qualquer gritar "nâo pode! nâo pode/".
No instante seguinte jâ hâ uma porçâo de gente a seu favor,
nâo grupos. Com efeito, as emoçôes coletiv^^ emocionada, quase colérica, achando também que "nâo pode!",
na causa; um primeiro Individuo se em^io- sem saber bem o quê...
um razâo qualquer; transmite essa emoçao a
Sundo, a um teraeiro, e dentro em pouco todo um
334 AFRO DO AMARAL FONTOORA PSICOLOGIA GERAL S35

É precise que o mestre saiba conhecer tals estados sentam as pessoas, procurando relacionar tais mâsca
de inibiçào, a fim de nâo julgar que o aluno seja mal- ras com os estados emocionais mais comuns: alegria —
triteza — côlera — mêdo.
criado, teimoso ou vadio.

III) Com bastante pratica, observaçâo e... paclen- ^ 5. Exercicios de auto-anâlise. — Cada estudante
farâ um quadro das suas reaçôes emotivas mais comuns.
cia 0 professor conseguira, ao fim de certo tempo, veri- Verificar quais sao as suas expressôes emocionais mais
ficar e interpretar as reaçôes emotivas de seus alunos,
comuns, isto é, os seus hâbitos ou "tics" emocionais.
funcionando como uma espécie de "mâquina de regis Cada indivfduo tem certa maneira particular de se por-
trar emoçâo", muito rudimentar. tar quando esta zangado ou alegre. Confrontar as suas
auto-observaçoes com o juizo que amigos e colegas façam
IV) O mestre deve usar largamente da "capaci- também a seu respeito.
fidde emotiva das massas", isto é, transmitir emoçôes
à sua classe, estimulando e entusiasmando os alunos 6. Emoçôes coletivas — Verificar como reage um
para a consecuçâo dêste ou daquele trabalho escolar. grupo qualquer diante de um determinado estimulo
emocional. Dizer, por exemple, diante de um grupo;
"houve uma grande desgraça!" ou "colegas! foram sus-
§ 149) EXERCICIOS E EXPERIÊNCIAS pensas as aulas!" ou outra cousa qualquer. É claro que
a frase deve ser pronunciada com ênfase, com emoçâo,
para despertar reaçâo. Analisar essas reaçôes. Pedir que
^ 1. E:^eriência de VERAGUTH — Apresenta ao cada um diga o que sentiu no momento. Confrontar as
paclente varias séries de palavras, que o experimentador confissôes de cada um com a impressâo que o mesmo
ia, pouco a pouco. As palavras que têm um contcûdo causou ao observador. naquele momento.
à^ocional paradâo
afetividade, o paciente,
reaçôes isto é, queque
emotivas Ihepodem
tocamser
de apre-
perto
ciadas mediante a experiência do reflexo psicogalvânico. § 1 5 0 ) T Ô P I C O S PA R A D E B AT E

2, A mesma experiência — procurar descobrir, 1. Enumerar as principals "reaçôes emotivas".


pelo proces&o psicogalvânico, se o paciente esta falando
verdade ou meptira, em determinado assunto. (Processo 2. Que se entende por "emoçôes coletivas", Como se
fua mâquina de descobrir as mentiras.) produzem? Dê exemples.
3. A mesma experiência. Em falta de galvanô- 3. Que é "inibiçâo"? Dê exemples.
Jietro, pode-se apenas observar as reaçôes fisionômicas 4. Como devem ser tratados os alunos de temperamen-
ri? P?^^i®ute,
uas figuras quediante das histôrias que Ihe contamos ou
Ihe apresentamos. to emotive? Exemplifique.
5 • Quais os principios que regem a "mâquina de regis
®^^^dos prâticos de Fisiognomonia: verificar trar mentiras" e o "fotopoligrafo de DARROW"?
bol> na classe,
na rua, no mâscaras
as varias bonde, no campo de
fisionômicas quefute-
apr^'
338 AFRO DO AMARAL FONTOLRA
CAPÎTULO XV

5 151) LEITURAS C O M P L E M E N TA R E S Os Fenomenos Afetivos:

1. DEJEAN, René — "L'Émotion"; Paris, 1934. HI) Os Sentimentos

2. DUMAS, Georges — "Les Émotions"; Paris, 1937.

3. DWELSHAUVERS — "Traité de Psychologie"; Ficba-resamo:


Payot; Paris, 1934.
4. LANGE — "Émotions"; Paris, 1895. S§

5. PIÉRON, Henri — "Psicologia Experimental"; Edi- 152) CONCEITO DE SENTIMENTO:

çôes Melhoramentos; Sao Paulo, s/data. É um fenômeno do campo afetlvo, consciente, com-
plexo, elaborado, intenso e duradouro.

153) DIFEBENÇA ENTRE SENTIMENTO E EMOÇAO:


A emoçâo é sùbita e passageira, o sentlmento é de
elaboraçâo lenta, porém duradouro. Aquela é mais
violenta, êste mal.s calmo.

154) ORIGEM DO SENTIMENTO:

O sentimento, segundo RIBOT, é uma emoçâo trans-


formada. Essa transformaçâo pode ser:
1) Por evoluçâo
2) For parada do desenvcivlmento
3) Por composiçâo.

155) CLASSIFICAÇAO DOS SENTIMENTOS:


1) Classificaçâo de TXTCHENER:

a) Sentimentos rellgiosos
b) Sentimentos éticos ou sociais
G) Sentimentos estéticos

d) Sentimentos intelectu^ ou lôgicos

(continua)

Psicologia Geral — Cad. Î2


338 AFRO DO AAIARAL FONTOUEA

Flcba-resumo (conclasâo) ;

i \

§ 152) CONCEITO DE SENTIMENTO


2) Classificaçâo tradlcional:
a) Sentlmentos egolstas O sentimento é o terceiro fenômeno, em ordem
b) Sentlmentos altruistas crescente de complexidade, segundo o esquema didâtico
c) Sentlmentos impessoals.
que apresentamos (vide capitule VIII). É jâ um fenô
1 5 6 ) I M P O E TA N C I A D O S S E N T E W E N T O S ; meno complexo porque nêle se misturam elementos
representativos e volitivos, isto é, nêle intervêm, eœ
1) Sao OS sentlmentos que dâo colorido à vida. maior ou mener escala, a nossa inteligência e a nossa
2) O sentlmento dâ realidade e bumanidadc à In-
vontade. Podemos définir; sentimento é um fenômeno
teligêncla.
3) Tôda atividade é pouco frutifera se nâo é co- do campe afetivo, consciente, elaborado. intense e du-
mandada por um sentimento. radouro. ■*
4 ) Atrâs de tôdas as grandes crlaçôes e movimen-
tos da Hlstôrla humana existe sempre um sen
timento; — Amor — ôdio — Ambiçâo — Vln- 5 153) DIFERENÇA ENTRE SENTIMENTO E EMOÇÀO
gança — Glôrla.
5) O homem pensa corn a cabeça. mas age com o O sentimento nâo se confunde com a emoçâo: esta
coraçâo. é sûbita, porém passageira; aquêle é o resultado de
uma elaboraçâo lenta, porém é duradouro. A emoçâo
157) 0 SENTIMENTO NOS INDIVJDUOS E NOS PO VOS:
é violenta, o sentimento é mais calmo. A emoçâo é
1) A pessoa sentimental é aquela que se deixa gular como um raio que atinge o nosso "eu"; o sentimento é
na vida muito mais pelb sentimento do que pela como uma moléstia crônica... Uma emoçâo dura al-
razâo pura. O sentimental é uma aima aberta.
2) Nos povas também hâ o predominlo de um dos guns instantes; um sentimento qualquer pode acompa-
trê.*? campos: inteligência. sentlmento e vontade. nhar o indivlduo a vida inteira.
O braslleiro é um sentimental, como o portu- Nem sempre é fâcil diferençar a emoçâo do senti
guês, o negro, o arabe, o sîrio. mento, apesar de tudo... Na realidade, o sentimento^
muitas vêzes tende a se dégradai* em enioçâo. As vêzes
158) PSICOLOGIA EDUCACIONAL:
parece que uma pessoa possui determinado sentimento
Aplicaçôes do présenté capitule à Pedagogla. quando, na realidade, possui apenas as atitudes cxfe-
159) EXEBCfCIOS E EXFERIENCIAS
riores, isto é, emocionais correspondentes a esse sen-
men to. For exemple: Joâo gosta de Maria, tem scnti-
160) TÔPICOS PA R A D E B AT E mento por ela; entâo, quando a vê se eraociona, abra-
1 6 1 ) L E I T U R A S C O M P E E M E N TA R E S . ça-a e beija-a. .Mas é possîvcl que ê.ssc sentimento um

I
340 AFHO DO AMARAIi FONTOURA

dia acabc, desaparcça, e Joao continui a abraçar e A côîera (emoçâo) diante de determinado fato pode
beijar Maria apenas pela emoçào que tais gestos cau- paralisar-se no seu desenvolvimento, tornando-se num
sam. As vêzes é possivel que nâo seja mais nem emo surdo e duradouro rancor (sentimento).
çào, mas simples habite, simples gesto automâtico..-
154.3) TRANSFORMAÇAO POR COMPOSIÇÂO
— Finalmente. podo ocorrer que duas ou mais emo-
3 15'J) ORIGEM DO SENTIMENTO
çôes diferentes ocorram ao mesmo tempo no espirito é
se reûnam, formando um sentimento. Exemple: o senti
Segundo I2IBOT, (vide NÔTULA n.o 51, abaixo) o mento amor é o î'esnltado da composiçâo de vârias'
sentimenLo nasce da emoçâo. Diz ele; "o sentimento
é uma emoçâo transjormada". E enumera os très emoçôes diferentes (emoçôes estéticas, provenientes de
atrativos fisicos: simpatia; admiracâo pelas qualidades
processes pelos quals uma emoçâo se pode transformar morais. etc.).
c'm sentiiuenlo:

154.1) TRANSFORMAÇAO FOR EVOLUÇÀO — E s s a t e o r i a q u e a fi r m a s e r o s e n t i m e n t o o r e s u l -


Qualquei' emuçâo pode crescer em complexidade e tado da transformaçâo de uma emoçâo, desenvolvida
assim se translormar em sentimento. Exemplo: a sim por RIBOT, nâo é aceita por todos os psicôlogos. Hâ
ples ernogao causaaa pela palestra com uma pessoa multas flutuaçôes e dûvldas ainda. a l'espeito do fenô-
mteligenie ou que teiuia aflnidade conosco pode evo- meno "sentimento".
luii', crescer, e com a continuaçào, transtormar-se em "A maior parte dos problemas sôbre a natureza
aentvmenio de amizade. A emoçâo despertada pelo dos sentimentos", diz o psicôlogo americano WILLIAM
conheciinento de certa moça pode transformar-se, mais JAMES, "ainda nâo estâ resolvida. Quer se trate das
tarde, em um sentimento; o amor. condiçôes psicolôgicas ou blolôglcas da mimica, do
mécanisme psicolôgico e cerebral dos sentimentos, de
1 5 4 . 2 ) T R A N S F O R M A Ç A O F O R PA R A D A D O seus centres, da sua natureza. temos chegado sempre a
D E S E N V O LV I M E N TO — A s v ê z e s u m a e m o ç â o p a r à - soînçoes incompletas. "
lisa seu crescimento e se transforma em sentimento,
passando de estado agudo e violento a cronico e bran- § 155) CLASSTFICAÇAO DOS SENTIMENTOS
do. Exemplo: o individuo pode transformar a sua
violenta doT pela morte de um pafènte (emoçâo) em Também a êste respelto nâo chegaram ainda a
uma profunda, porém branda resîgnaçâo (sentimento). uma conclusâo os psicôlogos. Hâ diferentes tentativas
de classificacâo dos sentimentos. Aqui citaremos ape
nas a de TITCHENER e a tradicional.
NÔTULAS — N.o 51

155.1) CLASSIFICAÇÀO DE TITCHENER — O


Bibot e o sentimento psicôlogo americano TITCHENER considéra quatre
O grande mestre da Psicologla francesa, RIBOT, tem. duas grandes classes de sentimentos;: 1) Religiosos; 2) Étl-"
cos ou sociais; 3) Estétlcos; e 4) Intelectuais ou lôgicos.
® Psychologiec ldes
àssicas. em matérla de sentimentos. Chamani'
Sentiments" e, "I'd,Logique des Sentiments"
PSICOIjOGIA GTSRAXi 343

342 AFRO DO AMARAL FONTOURA


Alguns sentimentos fazem parte de mais de um
155.1.1) Entre os sentimentos religiosos classifies grupo. Tal é o caso por excelência do amor, que é, ao
o temor, a veneraçâo, a humildade, o sentimento de mesmo tempo, egoista e capaz de todos os sacrificios.
indignidade, a fé, a crença, a resignaçâo, a exaltaçâo
e 0 remorso. 3 1 5 G ) I M P O K TA N C I A D O S S E N T I M E N T O S

155.1.2) Entre os sentimentos éticos ou sociais 156.1) É enorme a importâneia dos sentimentos
TITCHENER coloca a vergonha, a humilhaçâo, a val- îia existência do indivlduo e da humanidade. A vida
dade, os sentimentos de culpabilidade ou inocência, de de nada valeria sem êles. De fato, sâo os sentimentos
liberdade ou de coerçâo, de confiança ou desconfiança, que dào colorido, que dào sentido à vida. Sem êles,
de gratidâo ou ingratidâo, de inveja ou compaixâo, de o mundo séria uma massa amorfa de sêres a correrem
ciûme ou magnanimidade, de emulaçâo ou modéstia, ■de um lado para outre, automàticamente.
de clemência ou espirito de vingança, etc.
156.2) A inteligência sôzinha nâo bastaria, como
■nâo basta, para dar um ohjetivo, uma finalidade a
155.1.3) Entre os sentimentos estéticos estâo o
amor ao belo, o horror ao feio, o sentimento do cômico, tôdas as nossas açôes. A inteligência é fria e indiferente
do sublime, do trâgico, etc. como uma mâquina.
Tanto é asslm que os prôprios sâbios, filôsofos e
155.1.4) Entre os sentimentos intelectuais ou ^ cientistas se lançam ao trabalho e à pesquisa, semprs
gicQs estào o amor à verdade, o repùdio à falsidade, o -impulsionados por um sentimento: o amor de uma mu-
asnor à justlça, etc. Iher, ou o amor à gloria, ou o amor à humanidade....
•E nas poucas vêzes em que a obra dos sâbios nâo
é movida por essas causas sentimentais, torna-se fria,
155.2) CLASSIFICAÇÂO TRADICIONAL — ^
î*sico!ogia tradicional costuma classificar os sentimen- perde o sentido de realidade, deixa de ser humana.
^ apenas em très grupos: egoistas — altruistes ^ 156.3) Na vida diâria vemos que tôda atividade
itnpessoais. é inùtil, ou, pelo menos, pouco frutifera, quando nâo
comandada pelo sentimento: sô fazemos bem aquelas
155.2.1) Entre os sentimentos egoistas se encoB cousas que gostamos de fazer. Para veneer numa pro-
^ram: ambiçâo — ciûme — vaidade — orgulho — cora- fissâo ou numa emprêsa qualquer, a primeira condl-
gem — pesar — mêdo — angùstia — remorso —• honra
çâo é gostar delà (vide NÔTULA nP 52, abaixo).
dignidade — inveja — raiva — rancor, etc.
155.2.2) Entre os sentimentos altruistes estâo; J NOTULAS — N.« 52

a^ade
uiU ^ a— a gratidâo
caridade — a—lealdade
o desejo—dea ser bom — de—ser
solidariedade » Técnica e sentimento

^Jerancia — a confiança, etc. A técnica, que é fruto da inteligência e do raclocinlo, vale


pouco se nâo é impulsionada pelo sentimento. Vemos prova dis
se a cada instante e em todos os fenômenos, dos mais elevados i
155.2.3) Entre os sentimentos impessoais se
*^icVerdade—os
am o amor àsentimentos
beleza — orôligiosos;
amor à juestéticos,
stiça — oetc.
amo*
PSICOLOGIA GERAI^ 34&

344 AFRO DO AMARAL FONTOURA


regra gérai, prédomina um dos très campos fundamen
tals da consciência: a inteligência, ou a vontade, ou a
156.4) O amor vence obstâculos, salta barreiras,
descobre soluçôes para cases impossiveis, ajuda os sentimento, donde os très tipos psicolôgicos bâsicos —
os intelectuais, os voluntariosos e os sentimentais.
doentes a ficarem bons, faz das fraquezas fôrça. O
mestre domina pelo amor os mais indisciplinados alu- Ocupar-nos-emos. aqui dêstes ùltimos: os-sentimen-^
tais ou afétivos. Sâo pessoas nas quais a fôrça da
nos. E o chefe que se faa amar pelos seus subordina- afetlvidade prédomina sobre a da inteligência e a da
dos consegue obter deles o que nâo obteria o mais seve vontade. Se, em ponto pequeno, tôdas as criaturas.
re dos regulamentos. humanas tendem a agir mais de acôrdo com os seus
Em uma palavra: atrâs de tôdas as grandes crla- gostos do que segundo os ditames da razâo pura, con
çôes e dos malores movimentos da Histôria humana forme vlmos acima, — com os individuos sentimentais.
e^te sempre um sentimento — seja a ambiqâo de tal forma de agir é a mais constante.
César e de Napoleâo, seja o amor incomensurâvel de O tipo afetivo faz todos os projetos para agir de
Cleôpatra, seja o sentimento religioso que moveu as acôrdo com um determinado raciocinio, mas na hora
Cruzadas, seja o desejo de vingança, que fêz gfuillio- da açâo segue mesmo os ditames do coraçâo...
tinar Luis XW, pacato e inofensivo, pelos erros acumu- A criatura sentimental ama ou odeia com facilida-
lados de seus antecessores. de. Briga e perdoa. É capaz de ^'andes excesses, como
amigo, e de maîores ainda, como inimigo.
156.5) O homem pensa com a cabeça, isto é, com Em tese, hâ nos povos, como nos individuos, um
a inteligência, mas age com o coraçâo, isto é, guiado
pQio sentimento. Em outras palavras: o sentimento, traço psicolôgico prépondérante (conforme dissemos
no capitulo VTII). Hâ povos em que prédomina, como
muito mais que o inteligência, é o grande motor da traço marcante, a fôrça da inteligência; outiros que se
^da humana. Quando gostamos de uma cousa, pro caracterizam mais pela fôrça da vontade (como os
curamos fazê-la ou consegui-la, mesmo sabendo que holandeses, vencendo o mar, e os japoneses, vencendo
nao nos serâ ùtil. a natureza adversa) e outros, enfim, em que prédomina
Êste diàlogo recomeça dezenas de vêzes por dia.' a fôrça do sentimento (vide NÔTULA n.o 53, abaixo).
"Porque você fêz isso, Antônio?" "Ora, porqu^ Nôs, brasileiros, por exemplo, somos terrivelmente
^os
gosto!" E essa
atos que é a suprema
fazemos razâo
ou deixamos para aemmaioria
de faz^^r nossa sentimentais. Isso nâo significa que sejamos desprovi--
dos de inteligência ou de carâter, mas que a fôrça da
vida.
sentimento sobrepuja as duas outras. O brasileiro .se
deixa levar, principalmente, pelo coraçâo; é como se
s 157) O SENTIMENTO DOS INDIVlDUOS E NOS POVOS"
Ao estudarmos a classificaçâo dos fatos psfquicos^
(capitule VTII) dissemos que em cada individuo, de NÔTULAS — N.o 53

Isso nâo significa, naturalmente, que todos os habitantes


aos mais simples: o professor dâ meUiores aulas quando gosta
de sua turmâ;'o operârlo tràbalba.'mais quando gosta . de sua daquele pais tenham tal tipo psicolôgico. mas slm.que êsse tipo
domina como média do povo, tomado em seu conjunto.
obra. E um "team" de.futebol.'qué't>enha muita técnlca é co-
^umentemais
Possua derrotado
ariior por
ao oùtro'
eîuhe,com mëhôs"''"clàsse",
dccejo de vencer! mas que
m AFRO DO AMAKAL FONTOURA PSICOLOGIA GERAL 347

diz vulgarmente, uma alma aberta (vide NôTULA n.^ O sentimentalismo é também o traço psicolôgico
54, abaixo). prédominante no povo português e no negro (donde o
Dêsse sentimentalismo nacional nasce a nossa tra- nosso sentimentalismo atâvico); e ainda no espanhol,
dicional hospitalidade, tao gabada por todos os estran- no russo, no arabe, no sirio, etc. Todos sâo, como os
brasileiros, grandes amorosos. Êste ultimo povo é co-
geiros que nos visitam. Dai, também, nasce a compai- nhecido pelo seu profundo amor à familia.
xâo que sentîmes per todos os que pedem esmolas na
rua, tornando a propssâo de mendigo uma das mais ren-
dosas e cômodas do pals...
§ 158) PSICOLOGIA EDUCACIONAL
Nos tribunals de jùri sào comuns as absolviçôes ré
sultantes da pena que os jurados têm do criminoso. .Aplicaçôes do présenté capitulo à Fedagogia
A facilidade com que os brasileiros recebem outras
pessoas, abrindo-lhes sua casa, ou entabulando cama- Èste capitulo nos leva diretamente à Pedagogia do
radagem na rua, no onibus, nas filas de espera, etc., é Amor: se os argumentos de ordem afetiva tém mais
outra afirmaçâo do nosso sentimentalismo. Igualmente força que os de ordem intelectual pura, entâo, saiba-
o é a extrema facilidade com que considérâmes as mos aproveitar a afetividade das crianças para melhor
outras pessoas como nossos "amigos", usando essa poder educà-las. Muito mais do que os adultes, as cri
palavra a cada passo. Até para abordarmos um des- anças sâo susceptiveis de se deixarem levar pelo cari-
conhecido na rua, dizemos: "o amigo pode prestar uma nho, pela maneira afàvel com que as tratemos.
informaçâo?" Muito mais do que corn pancadas, o pal consegue
Outra prova do nosso sentimentalismo é a maioria obter tudo do filho pelo amor e pelo cariniio. Da mes
absoluta dos crimes de amor cometidos no Brasil. En- ma forma o professor, sobretudo na escola primâria.
quanto em certos paises predominam os assaltos, os Pois se até os animais gostam de cariniio e pelo carinho
crimes de natureza econômica, politica, Ideolôgica, etc. sào domesticados, quanto mais as criaturas humanasl
no Brasil os crimes, na sua maioria, sao os de marido A Pedagogia do Amor foi o grande método educa-
e mulher, noivo contra a noiva, etc. Da mesma forma tivo através do quai DOM BOSCO conseguiu conquistar
OS suici'dlos, na sua quase totalidade, sao por amor. seus alunos, recrutados entre os garotos abandonados,
moleques e pequenos delinqùentes.
O mecanismo é simples: se o professor ama verda-
deiramente sua missâo, sua carreira, sua escola, seus
alunos, sem dùvida se farâ também amar por êles; ©
NÔTULAS — N.® 54 dêles obterâ o que nâo se consegue nam pela ameaça
nem pelo castigo.
Sentimentalismo nacional Pela puniçào e pela ameaça podemos obter de
nossos alunos atitudes negativas: que nâo façam de
Somos trâo sentimentais que, quaiido nâo conseguimos con- terminada cousa; nâo "matem" a aula, nâo se compor-
veneer alguém de nos concéder determinada cousa. depols de tem mal, nâo brinquem em classe, nâo deixem de fazer
apelarmos para a lei, para o dlreito, para a justlça (argumentes
de prdem intelectual), dizemos: "mas, afinal, você é nosso o exercîcio marcado para casa. Mas sô pela afetividade,
amlgo ou nâo é?" E èste argumente, de ordem sentimentaU
inuitas vêzes-decide a questâo a nosso favor.;;
5»SICOI.OGlA GERAL 349
348 AFRO DO AMARAL FONTOURA

1 • ( ) Se um grande amigo seu cometesse nma falta,


pela alegria, pela satisfaçâo se conseguirâ dos alunos e vocè fosse julgà-lo, a amizade Iria Ihfluir ou
atitudes afirmativas: que estudem, trabalhem, se dedi- nâo, favoràvelmente ao julgamento?
quem às tarefas, procurem o bem. 2. ( ) Ese êsse grande amigo fosse 0 seu prôpriopai?
Vocè procuraria Inventar um argumente para
S6 0 amor é verdadeiraviente constriitivo.
desculpar-Uie a falta?
•3. ( ) Procura vocè aproveitar tôdas as oportunida-
% 159) EXERCICIOS E EXPEUÏENCIAS des para fazer o bem aos outres?

•4. ( ) Sente vocè um mal estar ou uma révolta inti


N 0 1 — Verificar os senlinientos prédominantes ma quaudo vè alguém ser vitlma de uma in-
numa pessoa ou num grupo de pessoas. Cada quai Justiça, receber um castigo Imerecldo, ser
m a l t r a t a d o ?
deverâ marcar com um x, na lista abaixo, os sentimen-
tos que julgar possuir cm dose regular: â. ( ) Vocè tem ralva ou rancor de multa gente?

) Ambîçîto ) l'CHar
É claro que uma pessoa muito sentimental respon-
f-ooistof ) Ciûme ) M6do
) Va l d a d f "
deria Sim a rôdas essas perguntas.
( ) AngrûstJa
) OrfTulho ) Remorso
) Honra ) Inveja
N.o 4 — Verificar a marcha do seu sentimento por
) Coragero ) DIffïiJdad».* •um cclega ou por um amigo qualquer: — Como come-
) Tîancor çou? — A que atribui voce o fenômeno da transfor-
maçâo de sua emoçdo pelo coiega em verdadeira ami
} Atnlzade ( ; I>e9eJo <io eer boœ zade? — Que fazem você e éle para manterem vivo
) Amor ( ) Deeejo do Ûtl' ésse sentimento?
) OratidSo ( ) Solldarledade
) Carldadf ( ) J ^ ^ l d a d e
) To l e r â n c i a < ) Con fiança
) Piedado < f Amor à crlança § 1 6 0 ) T Ô F I C O S PA R A D E B AT E

^^Umcnton ) Amor à bfileza < ) Amor & Justlça


^"^Possoais ) Amor à v€rda«Je f ) Sentimontos
Mostrar a diferença entre "emoçâo" e "sentimento".
) Sentimcntos estéticof ( ) Amor A humanldodo
Explicar como nasce um sentimento, dando exem
N.o 2 — Na relaçâo acima estâo enumerados^ 30- ples.
®entimentos. Se o indlviduo assinala a maioria dêles, É possivel Xazer-se uma boa classificaçâo de sen-
Possuindo-os em forte dose, é um sentimental. É timentos? Enumere você os que considéra mais im
®tvel fazer-se uma "prova de contrôle", pedindo a um
portantes .
^ dois
elaamigos da pessoa
possuidos, que assinalem
confrontando-os osque
com os sentiment^
ela pru- Devemos combater os maus sentimentos? Quais sâo
pna assinalou. - . . ■ -
êles, na sua opiniâo? Como combatê-los?

frs.
'ases- adiante,
TESTES DEe responda
médité SENTIMENTO - Leia as
Sim ou Nâo:
350 AFRO DO AMARAL FONTOURA
CAPfTULO XVI
5. Discutir a frase: so o amor é verdadeiramentB'
Os Fenomenos Afetivos:
construtivo.
JV) Inclinaçôes e Paixôes
5 1 6 1 ) L E I T U R A S C O M P L E M E N TA B E S

1. JAMES, William — "Précis de Psychologie"; Mar


cel Rivière; Paris, 1932.
Ficha-resumo:
2. PAULHAN. Fr. — "Les phénomènes affectifs";
Paris, 1912.
§ §
"Psychologie des Sentiments": Paris.
162) CONCEITO DE INXLINAÇAO OU TENDENCU:
— É a prcdlspoâiçâo natural do ser em direçâo a
logique des Sentiments": determinado objeto. Ê um movimento afetivo for
te e completo.

5. TITCHENER — "Manuel de Psychologie"; 163) CLASSIFICAÇAO DAS INCLINACOES:

Alcan; Paris, 1922. 1) Inclinaçôes pessoais:

1.1) Intelectivas ou cognltlvas: curiosldade,


credulidade. amor ao estudo, ace livros.
1.2) Afetivas: amor do bem estar; amor às
emoçôes.
1 . 3 ) Vo l i t i v a s : a m o r à l i b e r d a d e ; d e s e j o d e
autoridade, amor à propriedade.
2) Inclinaçôes socials:

2 . 1 ) E l e t i v a s : n m i z a d e ; a m o r.
2.2) Domésticas; amor matemo, paterno, filial.
2 . 3 ) C o r p o r a t l Ta s : b a i r r i s m o ; r é g i o n a l i s m e ;
patriotisme; espirito de classe.
2.4) Fiiantrôpicas: ~'soUdariedàde u humana; <
am'or ao prôximo.
3) Inclinaçôes. ideaisi-pelo Bem, pelo Belo, pela
Verdade, por Dèiis.' Delas surgem a Arte, a Pi-
losofia, a Ciência, a Religiâo.

(continua)
PSICOLQGIA GERAL 353
552 AFRO DO AMARAL FONTOURA

Ficlia-reiumo (continuaçâo):
Ficha-resumo (conclusâo) :

§ §
164) COXCEITO DE FAIXAO:
170) REMÉDIOS CONTRA AS PA I X O E S :
— E a inclinaçâo tornada violenta e impetuosa. — E' muito difîcil destruî-las, diretamente; é mais
fâcil canalizâ-las, orientâ-las para um fim nobre.
165) IN'CLÏNAÇâO E FAIXAO: A sublimaçËo.

— A inclinaçâo exagerada se transforma em palxâo.


171) OS TIPOS PA S S I O N A I S :
Aquela e mais calma e estâvel. A paixâo, mais
i«rte. — Sâo os temperamentos ultra-emotlvos, que fàcil-
mente se deixam possuir pelas paixôes. O passio
1 6 6 > E L E M E N T O S D A PA I X A O :
nal é um indivîduo dificil e às vêzes perigoso. O
passionalismo no Brasil.
— Ao elemento natural, afetivo se junta um eie-
mento représentative, que é a imaginaçao. 172) PSTCOLOGIA EDUCACIONAL:

167) CAKACTEKfSTICOS DAS PAIXOES: Aplicaçôes do présente capitule à Pedagogia.


— Sâo absorventes; irraclonais; embotam os sen-
173) EXERCtCIOS E EXPERIÊNCIAS.
tidos; ievam ao fanatismo. Sâo sempre açâo.
174) TÔPICOS PA R A D E B AT E .
168) V.ILOK DAS PAIXÔES:
— Aumentam o "tonus vital". Provocam as grandes 175) LEITURAS C O M P L E M E N TA R E S .
reformas sociais e morais, as invençôes e desco-
faertas. Sô os apaixonados conseguem realizar re-
îormas.

16») CLASSIFICAÇÔES DAS PAIXOES:


i. •

— E Igual à das incllnaçôes:


1) Paixôes pessoais, avareza, ambiçâo.
2) Paixôes sociais: amor, espirito de classe.
3) Paixôes ideals: paixâo pela Ciéncia, pela R®'
ligiâo.

(continua) PaScolosla Gora'. — Caii. 2a


fi 162) CONCEITO DE INCLINAÇAO OC TENDÈNCIA

Inclinaçâo ou tendência é o quarto fenômeno do


campo afetivo, jâ havendo sido estudados o prazer, a
emoçâo e o sentimento. É a predisposiçâo natural do
ser em dlreçào a determinado objeto. DWELSHAUVERS
diz: — "Inclinaçôes sâo os movimentos afetivos que
nos encaminham em direçâo a um objeto".
Para esclarecer o assunto, diremos que as incUna-
çôes ou tendências, apesar de serem um fenômeno psi-
colôgico complexo ou uma estrutûra, sâo um fato pri-
mitivo, isto é, inato. Existem em potencial no indivi-
duo, desde o seu nascimento. E muitas vêzes sâo here-
ditârias, apresentando os filho as mesmas inclinaçôes
paternas ou maternas.

§ 163) CLASSIFICAÇAO DAS INCLINAÇOES

Geralmente as inclinaçôes sâo classificadas em


pessoais, sociais e ideais. Vejamos cada um dêsses
grupos.

163.1) INCLINAÇÔES PESSOAIS — Sâo as que


têm por objeto imediato o cmor à vida, ou seja, a con-
servaçâo do eu. Tendem a satisfazer as necessidades
fundamentals da nossa alma, tais como ;o amor ao
belo, o amor à liberdade, o amor ao bem estar, etc. As
inclinaçôes pessoais se subdividem em intelectivas, afe-
tivas e volitivas, conforme o campo da nossa conscién-
cia a que se referem.

163.1.1) INCLINAÇÔES INTELECTIVAS OU


COGNITIVAS — Sâo as que se referem à nossa facul-
356 AFRO DO AîvIARAIi FONTOURA PSICOLOGIA GERAL 357

dade de conhecer, à nossa inteligência. As principals tas que êle prôprio cometla na véspera, antes de possuir
sao a curiosidade e a credulidade ou crença. A curio- a autoridade...
sidade é a inclinaçâo que temos para conhecer cousas Enfim, o amor à propnedade também brota das
novas, para pesquisar o desconhecido. A credulidade ou mais profundas tendências da aima humana. Revela-se
crença é a inclinaçâo que temos para acreditar naqui- pelo desejo de possuir muitas cousas: roupas ou casas,
3o que nao vemos e que nos dizem. Outras inclinaçÔes objetos de arte ou dinheiro, mesmo em quantidade mui-
dêste gênero sâo o amor à pesquisa, aos estudos, à cul- to superior àquela que normalmente a pessoa poderâ
usufruir durante a vida intelra.
tura, aos livros.
Outra forma do amor à proprledade bastante co-
mum é a mania de colecionar livros ou selos, moedas
163.1.2) INCLINAÇÔES AFETIVAS — Sâo as ou orquideas, caixinhas de fôsforos ou xicaras...
que se referem à nossa afetividade. As principals sâo
o amor do bem estar, o amor do progresse, o amor do
163.2) INCLINAÇÔES SOCIAIS — Sâo as que
oelo, o amor das emoçôes. É esse amor das emoçôes que têm por objeto o meio ambiente, as pessoas ou as ins-
leva os homens a procurai- as aventuras, as vlagens, o tituiçôes que nos cercam. Tais inclinaçôes compreen-
alpinismo, os esportes perigosos. dem quatre grupos: eletivas — domésticas — corpora-
tivas — filantrôpicas.
163.1.3) INCLINAÇÔES VOLITIVAS — Sâo as
que se referem à nossa vontade, à nossa necessidade d® 1 6 3 . 2 . 1 ) I N C L I N A Ç Ô E S E L E T I VA S — S â o a s
rnovimento, de ativldade livre. As principals sâo: o que têm por objeto uma pessoa livremente escolhida
mor a liberdade, o amor da proprledade. por nos. Podem ser a amizade ou o amor.
O amor à liberdade é uma inclinaçâo tâo profunda A amizade é a força espiritual que liga duas cria-
0 nomem que constantemente relutamos em fazer al- turas qualsquer. Baseia-se na afinidade mental: ten-
demos a gostar daquelas pessoas que pensam como nos,
que apreciamos, sô porque nos mandaram têm os nossos habites, os nossos gostos. Também a pro-
. ^ o-uior à liberdade chega às vêzes a ser mais vio- ximidade facilita o despertar da amizade: proximidade
° amor à vida, tanto assini que ru- de vizinhança, de profissâo, etc. A amizade, quando pro
funda, tende a fundir os dois individuos mentaîmente
uomens, através dos séculos, nâo hesitaram era num sô (vide NÔTULA n.o 55, abaixo).
n a r trazer
para « f gumu i pouco
l h o t imais
n a de
o uliberdade
n a s aog mundo!
uerras
doc.,- ? possm'-la.
Ju u® ® intenso Em otodos
amor à autoridade,
os grupamentos huma'^
NÔTULAS — N.o 55

Expressâo da amizade
Ihn' uum brinquedo de crianças, seja num traba-
movimento politico, hâ logo dissidênci^- RENAN disse, a respeito de sua amizade com BERTHOLET;
porque muitos querem mandar... Tal é a força desta "pensàvamxis tâo em comum que às vèzes eu nâo sabzc se de»
terminada idéia era minha ou dêle"...
ppfo ° homem, investido de uma pequena par- Êsse é 0 grau supremo a que pode atlnglr a amizade entre
duas aimas privUegiadas!
na CO ^ Poder, fica imediatamente transformado: tor-
nnilo
pouco dis^^ï'ogante, imperioso,
posto a comprecnder inexorajel.
e a perdoar aquelas fal"
358 AFRO DO AMARAL FONTOURA PSlCOLOaiA OERAL 359

O amor é a força que liga um homem a uma mu- 0 individuo, loucamente, préféré fazer desaparecer da
Iher, e que compreende nao so uma atraçâo fisica mas terra o seu objeto amado, destrui-lo com suas màos, do
também moral. Quando so existe a afinidade fisica, o que vê-Io fugir de si.
amor dura pouco: na realidade nao era amor, era de- ^Em suma, o amor é a mais importante das incli-
sejo carnal. Passados os entusiasmos dos primelros tem naçôes e constantemente é tâo violento que se transfor
ma em paixâo. O amor é o supremo sentiraento do
pos (o periodo chamado de lua-de-mel), vêm o tédio e homem e o motor por excelência da vida humana.
0 aborrecimento mutuos. Quando so existe afinidade in-
Grandes obras na literatura e na arte, na ciência e na
telectual, moral ou arti'stica, também nâo é amor ver- politica tiveram por inspiraçâo e alavanca o amor. E,
dadeiro: é admiraçâo ou amizade. Sômente quando como tantas vêzes se tem dito, atrâs de cada grande
existem simultâneamente a atraçâo fi'sica e moral se homem existe sempre, a guiar-lhe os passos e a ani-
pode falar em amor. Nesse caso, passado o periodo de mâ-lo, o vulto da mulher que o ama. Sem o amor
entusiasmos e arroubos da lua-de-mel subsiste uma li- quase nada restaria do cinema, do teatro e, enfim, de
gaçâo que com o decorrer dos tempos se vai tornando tôdas as artes. O amor dâ um objetiv.o à vida, é o
cada vez mais forte, mercê de uma maior compreensâo grande estimulo para tôdas as formas de atividade e
mûtua. trabalho.
O verdadeiro amor é, ao mesmo tempo, fisico e Em compensaçâo, tem sido o amor o môvel de
mental, porque a criatura humana é, ao mesmo tempo, inûmeros crimes: assassinates, roubos, desfalque%
corpo e alma, sexo e espirito. Mas, assim como o espi- traiçôes...
rito nâo se deve dominar pela matéria, assim também E para que o amor seja a fonte da felicidade hu
no amor, para que haja uma felicidade duradoura, é mana e nâo das desgraças, é indispensâvel que o espi
indispensâvel que a atraçâo moral e espiritual seja mais ritual prepondere sobre o carnal. Por tôdas essas razôes
forte que a atraçâo sexual (vide NÔTULA n.® 56, é que a Religiâo santifica a uniâo dos cônjuges, o Es-
abaixo). tado a reconhece e protege, a sociedade a respeita e
O amor, justamente por causa da sua intensidade, reverencia.
se transforma com facilidade em odio. Isso porque a
criatura que ama nâo se conforma em perder o objeto 163.2.2) INCLINAÇÔES DOMESTIC AS — Sâo as
do seu amor, que represenca, para ela, algo da sua vida que ligam entre si as vânas pessoas da mesma faml-
ou uma parte do seu proprio ser. E assim, às vêzes, lia do mesmo sangue: é o amor paternal, maternal,
filial, fraternal, etc,

NÔTULAS — N.o 56 163.2.3) INCLINAÇÔES SOCIAIS PRÔPRIAMEN-


TE DITAS (ou CORPORATIVAS) — Sâo aquelas que
O amor profundo
ligam o individuo ao seu meio .fisico, moral e social.
0 aTTior é uma incllnaçâo tâo profunda que marldo e mil
O homem tende irresistivelmente para o meio em que
nasce e em que vive.
der no com
te um fim de
o muitos anos
outro, e, chegamaté
às vêzes, atéfisicamente...
a parecer-se moralmen- A incllnaçâo pelo meio fisico é o bairrismo, o regie-
E a afinidade que liga os esposos é tâo grande, em certes nalismo ou o patriotisme, conforme tenha por objeto
casos, que, à morte de um dêles logo se segue a morte do outro
ponjugel
360 AFRO DO AMARAIi FONTOORA PSICOLOGIA GERAL 361

0 local, a regiao ou o pais de nascimento. O mais forte pelo Bem tem o nome de mriude; pelo Belo se chama
é o patriotismo e per êie milhôcs de indlviduos têm a Arte; pela Verdade constitui a Ciência e a Filosofia.
dado a vida. Mas às vêzes a inclinaçâo regionalista Finalmente a inclinaçâo do homem pelo Ser puro, que
é maior do que a patriotica, e surgem as guerras de é Deus, se chama a Religiâo.
secessâo e o separatismo. As antigas cidades gregas sâo O espirito religiose é, assim, fundamental, inato e
um exemplo da inclinaçâo regional dominando o senti- natural no homem, tanto como o espirito de famllia
mento nacional, tanto assim que a velha Grécia jamais ou de classe. — "O homem é um animal social", disse
conseguiu ser uma grande naçâo. ARISTÔTELES. "E religioso" acrescentou QUATRE-
PAGES. E ambos tinham razâo!
Vivo É, ^^cï^^açâo pelo meio moral e social em que se
sistivelmpntr nos tende irre-
escola dp il gi'upo (companheiros de % 164) CONXEITO DE PAIXAO
etc.).' de clube, de religiâo,
um' c'omnnTi?i^°^ l ajudar mais depressa um colega, Etimologicamente, paizâo significa
do individuo", (do latim pati - gentimentos
fuSconZdP
aça parte do ndp°
ossf |rou
u°pode
^° """partido
individuopolitico,
que nao xonada so/re a açâo de fatôres divei
os mais desencontrados. _ a nma inclinaçâo exa-
Podemos définir: - f=Xâa que se tornou
fôrça'
que^û^^g FILANTRÔPICAS — A
^^-se a inclinacân humanas entre si cha-
gerada". Ou; "paixâo e inclinaçâo vio-
impetuosa". Ou ainda: "paixao e uma m
■ua, ou espirito de solidariedade huma- lenta e anormal".

jîÊNcio afirmava-' "çn? ^ o poeta latino TE- 5 165) INCLINAÇAO E ^


Sla?® ® e Vor isso nada que G conceito e a
niuito discutivel. Costumam o g^iste
^

ifo/. ^^^u^da num Vela humanidade aparentada da mclinaçao.^ ^ diferença que


Pazes uientalml^i^^^^ral multo supe- mento exagerado desta. Vej giLVA): ,^^çâ,o,
uiuito Dn afetn l mferiores nâo sâo ca- entre ambis (segundo ALVES v ^ rncm t
Pessoas d?^^^ inclinap^o humanidade. Quando a) A paixâo é impetuosa
piental médini- - e domestical • embora forte, é mais oalm . nienos dirige-se
^udistintamprff
he todos nq îî^ .^^hividuos di^ as inclinaçôes
^°ha a conseguem amar b) A inclinaçâo e °%pre
Jeto: a caridade; a PO^^^gr^inada oja e pré
sssi -.rss, 'ïïS para um objeto unico. d geia^ vida,
c) A inclinaçao é, ue gualquer ep
iiva; a paixâo é adqwnda, pctâvel; a païf "
S ï ï f -■
^ =«".
l _» v.S?iV»*5
s,, „ e muitas vêzes tardiam e pgjsoa li*ta -
d) A inclinaçao é per' jyel uma i'
é OU pode ser passageîi'U-
362 AFRO DO AMARAIi FONTOtJRA
PSICOLOGIA GERAL
se de determinada paixào, mas é quase impossivel um
individuo fazer desaparecer uma inclinaçâo. . 167.3) A PAIXAO EMBOTA OS SENTIDOS — O
e) A inclinaçâo mantém o sujeito dentro do sen ^dividuo apaixonado
tes que todos nâo
vêem, no consegue
objeto da suaver aquêles
paixào. défai
Os crimes
estado de equïlïbrio afetivo; a paixao é a ruptura do
cometido por pessoas dominadas pela pabcâo, sâo qua
equillbrio afetivo e psfquico. se sempre perpetrados debaixo de pnvaçâo dos senti-
8 166) ELEMENTOS DA PA I X A O
dos, e da inteligência.

Na paixao, além do elemento afetivo, natural, exis 167.4) A PAIXAO LEVA AO FANATISMO — Êste
te também, ligado àquele, um elemento representativo
caracteristico é uma consequência dos itens 1 e 2: por
ser absorvente e embotar o raciocinio, a paixào com
(a imaginaçâo), cuja força é enorme na criaçâo e no facilidade se transforma numa espécie de adoraçâo
desenvolvimento das paixôes. É o nosso poder imagi-
cega, de fascinaçâo absoluta, que repele qualquer es-
nativo, quase sempre, quern exagera e da coloridos vio pirito de critica. As paixôes politicas ou religiosas
lentes aos nossos sentimentos e inclinaçôes, transfor- muitas vêzes atingem até o fanatismo (vide NÔTULA
mando-os em paixôes (vide NôTULA n.o 57, abaixo). n.o 58, abaixo).

§ 1 6 7 ) C A R A C T E R I S T I C O S D A S PA I X O E S 167.5) A PAIXAO SE APROXIMA DA LOUCURA


— Embora nâo se possa dizer que tôda paixào tende
167.1) A PAIXAO É ABSORVENTE — Représenta para a loucura, o certo é que hâ muitos casos de lou
a cristalizaçâo da consciência em um sô objeto. Da cura nos hospicios que tiveram como causa paixôes
cristalizaçâo pode passar à desagregaçào, que é o inicio irrefreâveis e violentas. A paixào pelo âlcool, pelos
da loucura. entorpecentes, pela macumba tem conduzido centenas
de pessoas ao manicômio.
167.2) A PAIXAO É IRRACIONAL — Embota o
raciocinio, parallsa a capacidade de discriminaçâo e 167.6) A PAIXAO É AÇÀO — Ao contrârio do
anâlise da eriatura humana. Irracional significa, assim, sentimento e da inclinaçâo, que podem ser contempla-
fora do raciocinio.
NÔTULAS — N.« 58
NÔTULAS — N.o 57
Fanatismo
Quem ama o feîo..
Fanatismo é uma forma de obcessâo terrivel, em que o In
De fato, a imaginaçâo transforma o objeto das nossas pai dividuo sô vê sua paixào, vive exclusivamente para ela, e por
xôes: veste-o de atributos que êle nao passai, na realidade. Exa ela é capaz de todos os crimes. Fanâticos eram inùmeros se-
gera suas boas qualidades, oculta seus defeltos e maleficios. Bem guidores do nazismo e do fascismo, como o sâo muitos adeptos
diz 0 provérbio; — "quem ama o feio, honito Ihe parece"... A do comunismo. Recentemente uma horda de fanâticos, no In
pessoa apaixonada pelo âlcool imagina razôes fantàsticas para terior do Brasil, pisou o corpo de uma mulher corn sapatos de
justificar sua paixào, ou para descobrir-lhe cartas vantagens: pregos na sola, até matâ-la, "para extralr o demônlo que es-
"estimula o organismo"... ou outra semelhante.., tava dentro delà"Il
364 AFRO DO AMABAL FONTOURA
PSICOLOGIA GERAL 365

tivos e silenciosos, a paixao exige açâo violenta e cons


tante. Um homem fortemente apaixonado por uma § 1G9) CLASSIFICAÇAO D.4S P.AIXÔES
mulher ou por um ideal qualquer, sente indomâvel ne-
cessidade de agir, de procurai' o objeto da sua paixâo,
As paixôes humanas sâo em numéro quase infinite
de dominâ-lo e ser por êle dominado. podem ter os mais variados objetos. Citernes, entre
outras, as seguintes paixôes:
5 168) VA L O R DAS PA I X O E S
a) Pelos bens materials (avareza, ambiçâo);
As paixôes, na sua maioria, servem apenas ao in- b) Por outras pessoas (amer prèpriamente dite;
dividuo que as manifesta, nâo possuindo valor social. amor à familia; amer aos amigos; ôdio);
Mas, têm algum valor para quem as sofre, pois satis-
fazem as necessidades humanas de querer, de adorar, c) Pela ciência (os inventores);
de entregar-se inteiramente a um objeto ou causa. d) Pela arte (os grandes artistas) ;
Além disse, concorrem para aumentar o tonus vital e
afetivo do apaixonado, incrementando todos os seus e) Pela religiâo (os profetas, os grandes devotes,
fenômenos de metabolismo; como consequência, desen- os santos) ;
volvem suas forças fisicas e morais. f) Por uma idéia qualquer (ura trabalho,^ uma
Quanto às paixôes morais e sociais, embora se realizaçào, uma iniciativa a que o sujeito se
manifestem com menos freqûência nas criaturas huma dedica totalmente);
nas, desempenham um papel importante no desenvol-
vimento do mundo, pois sâo elas que provocam os g) Pela politlca (os chefes politicos; os reforma-
maiores movimentos da Histôria, as reformas sociais, dores sociais) ;
as invençôes e descobertas (vide NÔTULA n.o 59,
h) Pelo grupo social a que o sujeito peitence (a
abaixo).
classe, a profissâo, a religiâo, a Pâtria).
Comumente as paixôes acima sâo ciassificadas em
NÔTULAS — N.o 59 très grupos:
As grandes paixôes
1) Paixôes
o individuo pessoais:
0 Prôpri (avareza, paixpeiS
ao pelfôgo.
o 3 ë »pelo
p
cpaarei xSâ^co?m
f op1
r aetm
am?
'JnotTaan^^a^ sDua
' Ac
ra
cusm
a,oar rpeornetûmdepIhoer dseud-ia alcool, etc 1 •
Bosco, Madame Purî! S?' ^^^stovao Colombo, Pasteur, Dom fân. nor objeto as pes-
Francisco de Assis Sanfn Mozart, Beethoven, Sâo 2) Paixôes sociais: as vivemos.
Qi^alquer re^orm« Loiola... oas que nos rodeiam, o j^izade; amor). Pff
poison' "^^^Postos a sofrprJS""'^® oxige individuos apaixo- videm-se em paixôes elettvas familia entie si)_
oferece semnl/ pela sua causa, o^zésticas (que unein os men corpo
apafionado radlca], sobrSSn Grande resistência a
Wvismo do m«f veneer a lnd}?o? moral Sô um PQza:ôes sociais propriani^nte j^iantroptcas
oieio ambiente ^"^iferença, o egoi'smo. o nega- de classe) e
"hmanldade);
S66 AFRO DO AMARAL FONTOURA P8ICOLOQIA GERAL 387

3) Paixoes ideais: sao as que têm por objeto puras a consciêncla, no capitule IV (vide NÔTULA n.® 60,
Idéias — a Ciência, o Bern, o Belo, a Verdade, Deus. abaixo).

Como se vê, a classificaçâo acima é idêntica à das § 1 7 1 ) O S T I P O S PA S S I O N A I S


inclinaçôes que demos no parâgrafo 163, o que se
compreende fàcilmente, pois jâ salientamos que as pai- Chamam-se Individuos passionais aquêles que fà
xôes sào inclinaçôes exageradas e violentas. cilmente se apaixonam pelas cousas. Assim como hâ
individuos ultra-sanguineos, nos quais o sangue estâ
sempre pronto a jorrar ou a afluir fortemente para
5 1 7 0 ) R E M É D I O S C O N T R A A S PA I X Ô E S determinada parte do corpo, assim também hâ pessoas
de temperamento ultra-afetivo que, por qualquer razâo,
Sendo as paixôes sempre perigosas, embora nem se transbordam, sâo dominadas pela torrente de ener-
sempre sejam perniciosas, devemos normalniente evi- gia afetiva que existe no seu "eu".
ta-las. Mesmo as boas paixôes podem levar o indi- Os passionais amam com mais fôrça e odeiam com
viduo a excessos (caso do fanatisme religiose, por mais ferocidade. Quando o passional é egoista, acre-
exemple). dita piamente que o mundo foi criado para êle, que
todos os sêres e objetos existantes têm por finalidade
A rigor, nâo hâ remédies diretos centra a paixao.
apenas servi-lo e causar-lhe prazer. Mas quando o
gérai quando e sujeite dâ acôrdo de que se passa passional é altrulsta, é capaz de dedicar-se integral-
no seu^ "eu" jâ esta terrivelmente apaixonado. Forque mente a uma obra, com o ûnico prazer de fazer bera
» paixâo, como as moléstias orgânicas, tem um période
Oe incubaçâo, de latência, e quande seus sintomAS aos outros.

se manifestam exteriormente, jâ ela esta bastante de- Infelizmente, como o passional nâo pode dominar
sua torrente de afetividade, é mui^s vêzes joguete nas
senvolvida.
mâos das paixôes que o dominam. Em matéria de cri
- sendo possfvel extirpâ-la come se extirpa nin me sâo o passionais que fornecem os maiores contin
• ^^^®ocionado, o remédie para cembatê-la ^ gentes para as penitenciârias è os necrotérios, pois com
a intensidade com que àmam ou odeiam, fàcilmente
uni wdirefo. É canalizar a fôrça da paixâo p^ra
objeto, menos perigese ou mais util. Assiin, chegam aos extremes do assassinato e do suicidio.
fflpM destruir uma paixâo, é relativamente
É corne diz o provérbio:
-se uma paixâo com outra paixâo"... NÔTULAS — N.o 60

Sublimaçâo
processo de A criatura que tem uma t_ra"s-
^onscient^ P muito amiùde pelo nesso ia em outro objeto. Exemplo: a P paixâo
®°fo... Como sahpmn se révéla um bom filo- inconscientemente, esse ^mo apaixonados pela
^ezes tende a exnr^^o' frustrada muitas
é a outre objeto. Ta l feno- gela pintura. pela caridade. indijWuos^ em fazer
# jâ exphcada quando estudamo^ ^ uma oente querido sublimO'ni
proximo.
368 AFRO DO AMARAL FONTOURA PSICOLOGIA GERAL 369

Sendo o brasileiro urn povo sentimental (como dis- naçâo pela leitura, façamo-lo 1er bons livres em vez de
semos no capitule XV), com facilidade se empolga pelas pasquins ordinârios. ^Lcvemo-lo a 1er JULIO VERNE
razôes de ordem afetiva, entrega-se, passa da inclina- em vez de "Flash Gordon" ou o "Monstro de Lun-
çâo à paixâo. Todos os advogados, juizes, funcionâ- newille"...
rios da poli'cia sabem a quantidade enorme de crimes Il) O professor précisa ter o mâximo cuidado
passionais existantes entre nos. O brasileiro é uma com os tipos passionais, aconselhando-os sempre, para
criatura fundamentalmente boa. Raros sac, em nosso que aprendam a se controlar, pelo menos um pouco,
pais, os crimes corne cidos para roubar, e despertam Tanto quanto possivel, deve procurar dar a essas pal-
sempre uma onda de révolta na populaçâo. No entan- xôes objetos construtivos: os livros, as pesquisas, a
to, os crimes passionais, isto é, os crimes de amor, en- caridade, os trabalhos manuals, as atividades sociais,
chem 0 noticiârio dos jornais todos os dias (vide NÔ- eu, em ultimo caso, os esportes.
TULA n.o 61, abaixo).
§ 173) EXERCiCIOS E EXPERIËNCIAS
§ 172) PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Aplicaçôes do présente capitulo à Fedagogia .1. Verificar, através da estatistica policial, a fre-
quência dos criines passio7iais no Rio e no Brasil. Ve
I) O mestre deve estudar seus alunos, para veri-
rificar a proporcào entre os crimes de amor e todos os
<iutros crimes.
ficar-lhes as tendências ou inclinaçôes, ajudando a
desenvolver as boas e combater as mâs. 2. Observai* a atitude do individuo apaixonado
Como dissemos, é muito dificil arrancar uma incli- em politica ou em amor. Registrar seus gestes e atos
naçâo, mas é relativamente fâcil canalizâ-la para uin ^ais peculiarcs. Confrontar com as atitudes tipicas do
objeto melhor, mais util. individuo apaixonado pelo dinlieiro ou pelo josu
Exemplo: é dificil destruir a "tendência colecio- Por uma idéia qualquer.
nadora" da criança; é mais fâcil canalizâ-la, fazendo 3. Exei-cicio de auto-introspecçâo - «eleni-
com que o menino, em vez de colecionar figurinhas de
balas passe a colecionar selos. Se o jovem tem incli-
lembrar-se das paixôes jâ teve. Separa-l^ em
amorosas. politico, ideais. etc., de ^
sificaçâo dada no § 169.
NÔTULAS — N.o 61
<^a.da uma? — Quai foi a mais violenta.
Pareceram ou se transformaram. „mcipais in-
Crimes passionais 4. Idem — Procurar do § 163)

um seman^as sem que se registre ^iinaçôes (de acdrdo corn a , ^jjte ou por escnto.
crever cada uma delas, nien a qus
tanto, diàriamente hâ meL perversidade. No en-
a mulher". da "moHnT.o ^ do "marido que ma-
n" ° uamoradC' e do aîifi ^ vestes porque , 5. ob„,„, n« «rl.'»;
a t a c0a ami
mgo.
o tT
i odos
v o êssW
f û t i l sâî^^^trol
s e daa, "ficdai fora
s c ude
s ssia",»e.
^picamente casos passionais-
t^ ^e^ '^'aSm 'e.nrt a: i s . , oerai -"
PSICOLOGIA GERAL 373
372 AFRO DO AR'IARAIi FONTOUBA

Ficha-resumo (continuaçâo) :

Ficha-resumo (couciusâo):

88
I' H
I 181) CARACTERiSTICOS DO REFLEXO
b> loao. compléta BECHTEREW: tôda Psicologia
■j nâo é mais do que uma Reflexcologia. Todos os
a) é um ato simples
) b) é imediato fenômenos psiquicos se reduzem a reflexos. (Isso
c) é automàtico é false.)
d) é constante
e) é Inato. 186) PSICOLOGIA EDDCACIONAL

182) LEIS DOS REFLEXOS tAplicaçôes do présente capitule à Pedagogia)


a) iei da localizaçâo 1) Os reflexos na criança: Os PrimeiiM a sur^^
b) lei da coordenaçâo
c) lei da irradiaçâo S°de agaSar^ oX^eV"b i ro
i %d ' o antà
i r Novos
?eflexi sf formam a vida inteira segundo nos-
183) CLASSIF1CAÇAO DOS KEFLEXOS sas atividades prépondérantes.

a.) quanto à sede: medula — bulbo — cerebelo ou


cérebro;
b) quanco ao conheciniento: conscientes ou Incon-
cientes; aprende o que intéressa.
c) ciassiî'icaçao de WARREN, conforme podem ou

(■
nào ser modificados pelo sujeito.
181) EXERCtCIOS E EXPERIÈNCIAS.
184) PAVVLOW E OS KEFLEXOS CONDICIONADOS
188) TÔPICOS PARA DEBATE.
a) reflexo condicionado é a reaçâo do indivlduo
peranto um estimulo improprio, artificial;
b) a experiéncia de PAWLOW com o cacliorro; o
189) LEITURAS COMPLEMENTARES.
animal acaba salivando apenas ouve o toque da
campainha que éle associbu ao jsrato de carne.

185) BECDTEKEW E A BEFLEXEOLOGIA

a) todos OS fenômenos associatives cerebrals podem


s e r c o n c e b i d o s c o m o r e fl e x o s ;

(continua)
§ 176) O MOVIMENTO COMO CAKACTERlSTICO
fundamental do universo

AO estudarmos a classificaçâo dos fatos


<capitulo Vin) dividimo-los em très
tativos ou intelectivos, afetivos e voUtivos.
do examinado os dois anteriores, cabe agora es
fenômenos ativos ou volitivos. Diz-se ativo porque o i -
nômeno dêsse campo é sempre um ato, uma açao.
se volitivo porque o fenomeno mais importante do gru-
po é a vontade.
A açào, o Tnovvmento sac os caracteristicos funda
mentals do universo: os plané tas Tnovcni'Se no espa-
ço: OS rios e os mares movimentam-se velozmente,^ a
crosta terrestre, se bem que mais lentamente, tambem
possui movimento. Hâ movimentos de atraçâo e repul-
sâo nos corpos inorgânicos. E o movimento é a condi-
çâo primeira da existência dos sêres vivos ou org^-
zados. Dentro do homem, por mais repouso que este
aparente, hâ a cada instante milhôes de movimentos
de ôrgâos, de células, agindo uns sobre os outros...
Bem razào tem o genial BERGSON quando afirma que
*'tvjdo que existe, existe em movimento"... (vide NÔ-
TULA n.0 62).

NÔTULAS — N.® 62

Tudo que existe, existe cm movimento

Essa admirâvcl aflrmaçâo de BERGSON, verlficada a todo


Instante pela nossa experlência. sô encontra reslstência na es-
cola antiga, do tipo tradiclonal, onde se exigein das crianças si-
lêncio e imobllldade durante as 4 horas de aula, e ainda si-
iêncio no refeitorio, na forma, nos corredores, na sala de estu-
do, no auditôrio, na ginâstlca, no banhelro, no dormltôrio...
376 AFRO DO AMARAL FONTOURA PSICOLOGIA GERAL. 377-

b) Heliotropismo — movimento do individuo em


§ 177) I B R I TA B I L I D A D E direçâo à luz do sol. Êsse fenômeno é muito
comuni nas plantas, cujos caules descrevem
Resumindo o paragrafo acima, podemos dizer que- grandes deslocamentos à procura da luz solar.
vida é movimento. É também o ccnhecido caso das flores que
No entante, o movimento nao se processa anàr- acompanham o giro descrito pelo sol, tal como
quicamente. Hâ sempre uma direçâo, um sentido, uma o girassol.
finalidade em todo movimento. Foi ARISTÔTELES quem
primeiro disse isso; — Omnes agens agit 'propter fi- Podem ainda ser citados; c) '(mo".
nem" (tudo que age, age para um fim).
A causa do movimento é um agente exterior que
Çào por uma corrente 'e)
vimento em direçâo ao centro da
se chama excitante ou estîniulc. pismo (atraçâo por certos agente q^u ^ movimen-
O primelro fenômeno de movimento se chama irrv-
Wiimade. Podemos defini-la: — é o movimento pri- ^t eEm gérai
s do s v ése
g édâ
t a io
s nome
e a n ii;m
°P'a^i°,'s,3ervanao-se
a n i m a i s s uo,-
mitiyo do ser diante de qualquer excitante exterior. nome de tactismo para os os ôrgâos dos
BERNARD diz: — "Irritabilidade é a periores e do homem, onde ja predommam
^ elemento anatômico de en- sentidos (dai o nome de tactismo) -
infïna^i^ ï' excitantes
mtiuencia de ® reagir exterlores".
de certa maneira sob a
d e m a entos
n i f e chamados
s t a a t r amcnnmentos
v é s d e celulares.
uma séri^
Crescendo mais ainda
^lidade
DUMAS:passa de tropismo a .. celular
5 178) TROPISMO — "Reflexo é a irratibHicaa
systematica". rcacdo aufcmâ-
rtossui ma^o^r'^poder^^ elevado, isto é, qu^ pod»». - «s/
*yca e involuntâria do orgo-i *
Podemos définir- se chama tropisino.
atraçâo e renubin '^P^smo sâo os movimentos de rior qualquer.
fisico-quîmlcos" (DXJMAS)^' certos agentes
MECANISM„O ATO BEFtEXO
180) DO ^ ^efiexo se
Jâ serem^m^^ol
terminado iMeSn"^
estimulo irritabi
ser, lidade
em simplde
razâo es por-
de- Em sua expressâo mai^^Qjjecida-
• pnncipais sâo:
c^cpressa pela formula ia d
^^^^^ronisTjin
como sucprio em direçâo à
mexoràveimente certos rtio. fCdÇ^'
pada ou veîa ^^Q-^dos pelainsetos que sao
luz de uma lâni- é, todo estimulo provocd
^remos a demonstrar:
578 AFRO DO AMARAL FONTOURA PSICOLOGIA GERAU 379

A êsse conjunto de estimulo via sensitiva


centra nervoso via motora ^ reaçâo é que se chama
E S T fl t f U L O PROVOCA REAÇAO um area refiexo (conforme figura 22 de capitule HI).
Os americanos costumam designer e arco refiexo
Irrltaçâo na garganta .. To s s e
pela formula S -y 1 .> R, em que S é o estimulo, I é a
Picada de alfinête no Eu puxo automàtica- integraçào do estimulo em nesso organisme, iste é, no
meu braço mente o braço centre nervoso, e R é a reaçâo de organisme, tal cemo
Um barulho forte E u To l t o a c a b e ç a nos mostra a figura abaixe:

Vejo uma comida gostosa Começo a salivar


M U N D O x o s s o MUNDO
Alguém me faz côcegas .. m ~ y Meu corpo se contrai,
eu rio KXTRRIOH DHGANISMO !-:xti:riou

Sinto uma dor forte Làgrlmas nos meus


y Estiimil'.) liilograç«îo Kcaçâo
olhos

S ^y I R

^ Em um ato refiexo hâ, pois, que considerar: 1) o FIGURA 58


estimulo ou excitaçâo externa; 2) a reaçâo do nosso
organisme. Esta ultima, por sua vez, compreende très o AHCO KVFLEXO

elementos: a) um neurônio sensitive; b) um centre ner- Uni cHliniulo S, provtniicntc do niundo exterior, /cre um ôrgdo
voso; c) v.m neurônio meter. doo Hcntidoa, v Icvado por «ma via nervosa sc^iBiliva a «m oc^
tro ncrvoHOj a{ ne dd a inlcgraçâo I, isto é. élc ®
» i w s o o r / Ta i « t . s m M . f r n n s / o r m a , i d o - 5 C c m „ , o f o r a « .
t'i f»nr«i o ïfti/ju/o rxfcrior, otrovdff lias
qualquer (a luz, o som, a
or<r5o'i rin« ° alguém) fere os nosses
nios • ^^s^levam, através dos neurô- ,181,CAKACIEKISXICOSDOBEFLEXO
§ 181) CAftai. A
maioria dnc o' a um centra nervosa (na . «ada exis
lado ou intpnrnHn ai, o estimulo é asslmi-
em reacào vnu-^n* centre nervoso, e se transferma dêle
a) O renexo
é.aprimeira
primeira forma
forma
é um ato "
de de .^alo df
gar aos^nossos mnton? '^^'^T'ànios motores até che-
tado, déterminant "^o^spondentes ao ôrgâo afe- b) O refiexo é ijnediato^ ^ ^ tâo pequ«"
ni. i IB^^^^rm'etla lue decorre entre o
^ue é pràticamente despr ^pneiide de nenl^"
0 puxo, nesse" centésimo^^t^° picada no braço e
^ pica^ e a puxada h a k que decorre entre
acabamos de enunciar! ! acontece tudo Isso que interefrência de „ossa a
"ora, em alguns casos, f
^^«ainul-lo.
380 AFRO DO AMARAD FONTOURA
psicologia geral S81

d) O reflexo é constante: aparece sempre nas tinuarmos a arranhar ou causticar a pata da râ, todo o
mesmas circunstâncias, e se apresenta scmelhantemente
em todos os individuos da mesma espécie. Hâ certes seu corpo sera sacudido per treraores.
reflexes que sâo mesmo comuns a homens e animais
§ 183) CLASS1FICAÇA0 DOS REFLEXOS
(exemple: a dilataçâe da pupila, a salivaçâo, puxar o
membre afetado, etc.). 183.1) QUANTO À SEDE — Os reflexes podem
ser classiiicados quanto à sua sede em: reflexes da
e) O reflexo é inato: existe no individuo desde o medula, do bulbo, do cerebelo e do cérebro.
seu nascimento e independente do anrcndizagem, come lèm seae os refiexos da pele e dos os re
veremos abaixo. des membros, os de defesa. No J suor,
flexos dos centros respiratôrios, das s estâo
•da saUva, da tosse, do f f " ,n;brio. Finalmente,
§ 1S2) LEIS DOS REFLEXOS
sltuados OS centros dos reflexes do equ ^ olhos,
no cérebro se localizam os centros do
^*^^ômenos
inadas as reflexes obedecem a très leis, cha-
lets de PFLtJGER: ouvidos, etc. ,^^^0
roNHEClMENTO
183.2)
— Hà doisQUANTO
grupos deAO relaçâo
g os ao riosso
conscientes^.^^^^
excite PA LOCALIZAÇÂO — Quando se
ou resposta
OU se processa
resnnqtn local no
domesmo local.
organismo, a reaçâo Wiecimento: os f„„êles dos ^u^'^^pf^xos do
ïetiexos inconscientes sao visceras de
ciência, tais como os das nossas^^^^ S'^^fefx^«o-
Çâo é maS forte ^ estômago, do figado, dos ^ g^to,
SO na parte dn ^ reaçao passa a ser nao secreçào, etc.). ChamaimoO conUecim ^
fica simétrica ^^oitada como também na que ^os que se produzem dos membr ,
como o espirro, a contiaça ^
■<los olhos. etc. _ ^aKKEN ^cinco
é ainda mais ^ort?^ — Se a excitaçâo
^ fegiao simétrica « maior tempo, nao s6 183.3) CLASSmCAÇAO^.^g os
ganismo comeca a rof • ^ ^oage, mas também o or- C Q l o g o a m e r i c a n o WA K i ^ m o d i *
A experiê^ia ^0^0. grandes grupos: .nfluenoiod<«diia-_
Pitada, que contlmm ^ respeito é a da râ deca-
seus reflexes normaic' de morta, a apresentar
^a, com um âcido fnrfô se excitatmos a pata da
183.3.1) R®"®.®|j„Tnei-voso ^' °ùse^ol°®nto°
ficaçôes do nosso siste» dos J^^jeciinent ,
coirespondentes à nl+o estilete, os musculos ■taçâo da pupila; /no ^uiito; est
^présenta "lago e dos intestinos, s
® fôr maiscontmna?^
interna ^ movimento, e o
excitaçâo con- mento dos pêlos). ^ pdipeW»^'
Pnmeira, tambémcontra
se contV pata, simétrica à
â. Pinalmente. se con- . 133.3.2)
^controlados pelo

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