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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0000479717

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1032611-


93.2017.8.26.0001, da Comarca de São Paulo, em que é apelante GIOVANA MOURA
EVARISTO (MENOR(ES) REPRESENTADO(S)), é apelado BELEZA BLACK
CABELEIREIROS.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 15ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUCILA TOLEDO


(Presidente) e ELÓI ESTEVÃO TROLY.

São Paulo, 17 de junho de 2019.

Mendes Pereira
Relator
Assinatura Eletrônica

Apelação nº 1032611-93.2017.8.26.0001 - São Paulo - Voto nº 18.638


R.O.L
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 18.638
Apelação nº 1032611-93.2017.8.26.0001
Apelante: Giovana Moura Evaristo (representada por sua mãe Ionara Ramalho Moura)
Apelado: Beleza Black Cabeleireiros
Comarca: São Paulo
15ª Câmara de Direito Privado

RESPONSABILIDADE CIVIL - Prestação de serviços - A revelia


do réu, nos termos do art. 344 do CPC induz a presunção de
veracidade dos fatos narrados na inicial - Não obstante, a prova
colacionada aos autos demonstra que os cabelos da autora eram
compridos antes do procedimento e ficaram na altura das orelhas
após o corte, cujo tamanho prometido era de dois dedos do
comprimento - A não execução do corte da maneira indicada e
esperada causou aborrecimentos à jovem que na data do evento era
uma adolescente de treze anos de idade - Não obstante, ficou
incontroverso que os produtos utilizados no “permanente afro”
causaram ardência e ressecamento dos fios, sendo necessárias
hidratações para melhorar a saúde dos cabelos - Notas fiscais de
cremes e óleos hidratantes corroboram tal alegação - Indenização
por danos morais devida e majorada de R$ 1.000,00 para R$
3.000,00 - Recorrido que compõe uma rede de salões
especializados no tratamento de cabelos afro, com unidades no
Centro da capital paulista e atuação não só com salões de beleza,
mas também com linhas próprias de produtos de beleza capilar e
sequer impugnou o pedido indenizatório - A autora foi vencedora
na integralidade da demanda. O fato de não ter sido acolhido o
“quantum” indenizatório de R$ 46.850,00 sugerido na inicial não
enseja sucumbência recíproca - Inteligência da Súmula 326 do STJ
- Sentença de parcial procedência reformada em parte - Recurso
provido para majorar a indenização por danos morais de R$
1.000,00 para R$ 3.000,00, bem como para condenar o apelado a
arcar integralmente com o ônus da sucumbência, majorados os
honorários de R$ 500,00 para 20% do valor da condenação.

Adotado o relatório da r. sentença de fls. 45/50 cumpre


acrescentar que o pedido da ação de indenização por danos morais e materiais foi julgado
parcialmente procedente, condenado o apelado no pagamento de indenização por danos
materiais no valor de R$ 1.353,35, com juros a partir da citação e correção monetária
contada do ajuizamento da demanda. Condenou-se, ainda, o recorrido a arcar com
indenização por danos morais no valor de R$ 1.000,00, com juros a partir da citação e
correção monetária contada do arbitramento. Reconhecida a sucumbência recíproca,
determinou-se o rateio das custas e despesas processuais, bem como se fixaram honorários
no valor de R$ 500,00 a serem suportados por cada uma das partes aos patronos dos
adversos.

Apelou a demandante (fls. 56/65) alegando, em síntese, que o


valor da indenização por danos morais fixada seria diminuto e desproporcional aos danos
sofridos. Assim, pugnou pela majoração. Sustentou, ainda, que o apelado teria sucumbido
integralmente e por isso, deveria arcar com tal ônus.
Apelação Cível nº 1032611-93.2017.8.26.0001 -Voto nº 18.638 2
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Não houve contrarrazões, diante da revelia do recorrido (fls.


69).

A douta Procuradoria de Justiça opinou pelo desprovimento


do apelo.

É o relatório.

O apelo comporta provimento.

A revelia do réu, nos termos do art. 344 do CPC induz a


presunção de veracidade dos fatos narrados na inicial.

Consta da prefacial que a apelante pretendia fazer um


“permanente afro” em seus cabelos. Contudo, o preposto do recorrido orientou que antes
do procedimento era necessário um corte de “dois dedos” do comprimento.

Observa-se das fotografias de fls. 04/05 que os cabelos da


recorrente eram compridos. Todavia, após o corte, seus cabelos ficaram na altura das
orelhas.

Ora, a não execução do corte da maneira indicada e esperada


causou aborrecimentos à jovem que na data do evento era uma adolescente de treze anos de
idade. Não obstante, a inicial narra que os produtos utilizados no “permanente afro” lhe
causaram ardência e ressecamento dos fios, sendo necessárias hidratações para melhorar a
saúde dos cabelos. Tal alegação foi corroborada pelas notas fiscais de fls. 10/13 que
demonstram a aquisição de cremes e óleos hidratantes para os cabelos.

Desta forma, é devida a indenização por danos morais fixada.

Frisa-se que não houve a interposição de recurso pelo réu.


Apenas a autora pretende a majoração do “quantum” indenizatório fixado em R$ 1.000,00.

Ora, para a fixação do valor da indenização por danos morais,


deve se levar em conta o grau e tipo da ofensa perpetrada, bem como a extensão dos danos
causados por conta da mesma, o que, no caso vertente, bem se verificou que foi de âmbito
considerável, em razão da drástica mudança no corte dos cabelos que sequer foi solicitada
pela autora.

Assim, tem-se que o valor de R$ 3.000,00 é mais adequado


ao caso, pois leva em conta a extensão do dano, as possibilidades das partes, bem como o
caráter pedagógico da indenização.

Frisa-se que o recorrido compõe uma rede de salões


especializados no tratamento de cabelos afro, com unidades no Centro da capital paulista e
atuação não só com salões de beleza, mas também com linhas próprias de produtos de

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beleza capilar, conforme informações extraídas do seu próprio “site”1.

Não obstante, sequer impugnou o pedido indenizatório.

Quanto aos honorários, algumas considerações devem ser


feitas.

A autora foi vencedora na integralidade da demanda. O fato


de não ter sido acolhido o “quantum” indenizatório de R$ 46.850,00 sugerido na inicial
não enseja sucumbência recíproca. É o que dispõe a Súmula 326 do STJ:

“Súmula 326 do STJ: Na ação de indenização por dano


moral, a condenação em montante inferior ao postulado na
inicial não implica sucumbência recíproca”.

Desta forma, o réu deve arcar integralmente com o ônus da


sucumbência, e honorários advocatícios majorados de R$ 500,00 para 20% do valor da
condenação, nos termos do art. 85, § 11 do CPC.

Ante o exposto, dá-se provimento ao recurso para majorar a


indenização por danos morais fixada de R$ 1.000,00 para R$ 3.000,00, bem como para
condenar o apelado a arcar integralmente com o ônus da sucumbência, majorados os
honorários de R$ 500,00 para 20% do valor da condenação.

MENDES PEREIRA
Relator

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R.O.L.

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