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Interpretação de Texto - Livro Único - Poliedro 2021
Interpretação de Texto - Livro Único - Poliedro 2021
INT
PRÉ-VESTIBULAR
INTERPRETAÇÃO
DE TEXTO
LIVRO
ÚNICO
Coleção PV
Copyright © Editora Poliedro, 2021.
Todos os direitos de edição reservados à Editora Poliedro.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal, Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ISBN 978-65-5613-074-3
4 Funções da linguagem......................................................................................................................93
Introdução, 94
As funções da linguagem, 94 Texto complementar, 103
As várias funções juntas, 97 Resumindo, 103
Revisando, 97 Quer saber mais?, 103
Exercícios propostos, 98 Exercícios complementares, 104
9 Variantes linguísticas.....................................................................................................................219
Comunicação oral e escrita, 220 Texto complementar, 229
Coloquial e culto, 220 Resumindo, 230
Revisando, 224 Quer saber mais?, 230
Exercícios propostos, 226 Exercícios complementares, 231
10 Coesão...........................................................................................................................................237
A função da coesão, 238 Texto complementar, 250
Os marcadores de coesão, 238 Resumindo, 251
Revisando, 242 Quer saber mais?, 251
Exercícios propostos, 243 Exercícios complementares, 251
11 Coerência e concisão......................................................................................................................259
Coerência, 260 Exercícios propostos, 267
Formas de coerência, 260 Texto complementar, 273
Concisão, 263 Resumindo, 274
Mecanismos gramaticais e textuais, 264 Quer saber mais?, 274
Revisando, 265 Exercícios complementares, 274
Gabarito..............................................................................................................................................299
1
CAPÍTULO Aspectos do texto – nível fundamental
A fotografia é como o romance, a crônica e o quadro de pintura; emprega uma
linguagem (fotográfica), discute um tema, passa uma mensagem, pressupõe um enun-
ciador e um leitor; é um todo composto por partes que se relacionam.
Na foto acima, de Fernando Angulo, há um questionamento, e o primeiro plano é
a pista para o leitor, é o que nos leva a refletir: tanto espaço e o pássaro preso! Por
quê? Por capricho do ser humano? Por que o mundo é assim? O fechado e o aberto, a
natureza e a civilização, o estático e o dinâmico (o voo que poderia ser) são algumas
oposições encontradas no texto visual de Fernando, criando um efeito de sentido que
permite entender a mensagem do autor: a principal oposição talvez seja entre liberda-
de e opressão.
Reprodução
Veja o que diz o poeta barroco Gregório de Matos acerca
da relação parte/todo.
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo [...]
Gregório de Matos; James Amado (Org.). Obra poética. 3. ed.
Rio de Janeiro: Record, 1992.
Texto e contexto
A palavra “contexto” pode ser entendida como a si-
tuação que cerca o ser. Na linguagem verbal, o contexto é
a frase, o período, o parágrafo, ou o próprio texto, o todo.
Se desconhecemos o significado de uma palavra, devemos
interpretá-la, levando em consideração o contexto que a
cerca (a situação em que a palavra é inserida). Observe a
Nesses dois primeiros quadrinhos, a expectativa que se palavra “fogo” em quatro contextos diferentes.
cria é a de que o casamento traz felicidade. Agora, observe
o último quadrinho.
Fig. 3 Contexto: em um incêndio. Significado: fogo. Fig. 4 Contexto: na rua, um dos interlocutores está Fig. 5 Contexto: uma menina de dez anos subindo em uma
com cigarro. Significado: fósforo. árvore. Significado: levada, peralta.
Como se pôde notar, o significado da palavra “fogo” varia de contexto para contexto (de situação para situação).
Observe agora a tirinha a seguir.
Laerte
A fala da personagem no último quadrinho tem sentido ambíguo: pode significar o progresso do filho em relação ao
violino, mas, se levarmos em conta o contexto (a fisionomia do pai olhando pela janela para os estabelecimentos vizinhos,
que estão fechados), pode também remeter ao fato de que o filho, por ainda tocar mal o violino, estaria espantando a vizi-
nhança indesejada.
Devemos, pois, interpretar segundo o contexto, relacionando as partes e extraindo a sua síntese. Em nosso cotidiano,
descontextualizar é omitir a situação que envolve o ser (ou parte dela), é olhar para um fato sem levar em consideração
os motivos que o geraram; é ver uma criança na rua, malvestida, andando sem rumo e chamá-la de marginal, sem que
saibamos o porquê de ela estar ali, naquelas condições. Olhar para o contexto é enxergar um pouco além, perceber que
há uma explicação para o mundo. A foto a seguir sugere uma reflexão. Pense sobre isso.
Nilton Ricardo/Opção Brasil Imagens
não tiver acesso ao conhecimento de mundo exigido, o entendimento do texto será parcial. Veja o exemplo a seguir.
Reprodução
rico: o massacre na Praça da Paz Celestial. Deng Xiaoping,
líder comunista da República Popular da China, ordenou
Adivinha qual que os tanques passassem por cima dos estudantes. O
a marca mais chinês anônimo que enfrenta uma fileira de tanques foi
lembrada fotografado por Jeff Widener da Associated Press. Essa
por mais de foto virou um ícone do final da década de 1980.
150 milhões O conhecimento de mundo é adquirido na escola e
de brasileiros?
Dica: não é uma fora dela; a ida ao teatro, a leitura de jornais, o conheci-
marca de bebidas. mento sobre artes plásticas, tudo contribui para o nosso
enriquecimento.
Ayse Kongur/stock.xchng
Fig. 8 Massacre na Praça da Paz Celestial. Fig. 9 Receita de bolo, um exemplo de progressão.
a progressão, foi alterada; veja a progressão correta. A existência, no poema de Mário Quintana, é compa-
1. Na batedeira, bata as claras em neve. rada a uma encenação em um palco ou picadeiro, em que
2. Em seguida, acrescente o açúcar e bata por mais uns o indivíduo é submetido aos caprichos do destino. Implici-
3 minutos. tamente, o poeta faz uma reflexão da existência humana.
3. Coloque as gemas, o trigo, o suco e continue baten- No nível da frase, os implícitos podem ser disparados por
do até formar uma massa homogênea. meio de elementos linguísticos (palavras-gatilho) como
4. Por último, ponha o fermento, bata por mais 40 se- verbos, advérbios, construções nominais e adjetivos. Veja
gundos na menor velocidade da batedeira. os exemplos a seguir.
5. Despeje, agora, a massa em uma forma média e un- I.
tada.
6. Colocada na forma, asse a massa em forno preaque- Mariana, o Josimar
parou de vender
cido em temperatura média por aproximadamente 40 contrabando do Paraguai?
minutos ou até dourar.
Em destaque, temos as palavras que possibilitam a or-
Ele vendia
denação correta, são elas que estabelecem a ligação e a coisas do Paraguai?
progressão do texto.
fios invisíveis
E havia súbitas e lindas aparições como
aquela das longas tranças
FRENTE ÚNICA
Hagar deixa implícito que o filho tem uma visão equi- Oposições semânticas
vocada, pois o mundo não poderia ser redondo, pois o que A busca pelas oposições abstratas justifica-se, pois o
ele, Hagar, vê é uma superfície reta. A situação criada por sentido nasce das oposições, interpretamos o mundo por
Dick Browne não é muito diferente das situações cotidianas. meio delas. É possível reconhecer o grande, o alto, o gordo,
porque temos a medida do pequeno, do baixo e do magro;
O Rafa é lindo; não
é, mãe? se o texto discute a guerra, de forma implícita ele também
Você precisa usar
discute a paz, pois esta é o cessar daquela. Todo texto apre-
óculos, minha filha. senta uma oposição de ordem abstrata, seja um conto, uma
poesia, uma peça de teatro ou uma pintura. Reconhecer
essas oposições é necessário para a identificação do tema.
A oposição, como categoria semântica, é a mais solicitada
nos exames. A análise do nível mais abstrato do texto, o nível
fundamental, possibilita investigar as oposições semânticas
subjacentes ao texto, que devem ser traduzidas, preferen-
cialmente, por termos abstratos, por exemplo:
Fig. 10 Oposições.
© EduardHarkonen/Istockphoto
Fig. 11 Euforia e disforia.
Essas máscaras representam, respectivamente, a tragédia grega e a comédia. A segunda é eufórica, há o sorriso; a
primeira, disfórica, há tristeza. Vejamos esta anedota encontrada em diversos sites da internet, e de origem desconhecida.
Numa empresa fabricante de sapatos, trabalhavam dois vendedores. Um deles era otimista. O outro, pessimista. Ambos foram
enviados a um longínquo país africano para investigar a possibilidade de vendas naquele local. Após certo tempo, o pessimista
enviou um telegrama à empresa, dizendo:
– Más notícias. Aqui ninguém usa sapatos.
Ao mesmo tempo, o otimista enviou esta mensagem para a empresa:
– Boas notícias! Aqui ninguém usa sapatos!
A piada ilustra com clareza o fato de que um acontecimento pode ser eufórico para uns, mas disfórico para outros.
Pode-se ainda ter a disforia em contexto eufórico (um assassinato no circo) ou o contrário, uma euforia em situação disfórica:
nascimento de um bebê em plena guerra; tais procedimentos constituem-se em efeitos de sentido.
Transformação tímica
A mudança de um estado para outro denomina-se transformação tímica. Existirá transformação tímica quando da
disforia passa-se à euforia ou o contrário, como na tira a seguir.
Laerte
publicidade.
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Conectivos da oposição
As conjunções e as preposições têm por finalidade ligar
palavras ou orações, são conectivos da língua. Conjunções,
como mas, todavia, embora, conquanto, entre outras, esta-
belecem oposições semânticas (o “mas” pode assumir outros
significados). Observe a funcionalidade de um desses conec-
tivos no texto a seguir.
conectivo “embora” estaria introduzindo o argumento mais fra- Impede-se o proibir, proibindo. Quando a oposição não
co, o fato de ser feia seria o relevante; haveria, pois, alteração for simultânea, não provocar uma contradição, temos a an-
de sentido. Fique atento às aulas sobre orações coordenadas títese, isto é, uma oposição de ideias, pois há palavras com
adversativas e subordinadas adverbiais concessivas (livro de sentidos opostos, mas sem a contradição. O texto a seguir é
gramática), pois esse estudo será aprofundado. um exemplo de antítese:
Não existiria som / Se não houvesse o silêncio / Não ha-
Figuras de linguagem da oposição veria luz / Se não fosse a escuridão / A vida é mesmo assim, /
O paradoxo e a antítese são figuras de linguagem e Dia e noite, não e sim...
fazem uso da oposição como recurso expressivo; a primeira Lulu Santos; Nelson Motta. “Certas coisas”. Intérprete: Lulu Santos.
In: Tudo azul. Wea, 1984. Faixa 9.
pela contradição das ideias; a segunda pela simples oposi-
ção de sentido. Veja o fragmento a seguir. Quadrado semiótico das oposições
O amor é velho-menina As oposições são suscetíveis a transformações. Da
O amor é velho, velho, velho
vida passa-se à morte, da liberdade passa-se à opressão
e menina e vice-versa. A passagem de um polo para o outro é um
O amor é trilha momento de transição. Não se passa abruptamente do dia
de lençóis e culpa para a noite, há o entardecer; não se passa da infância para
medo e maravilha. a fase adulta, há a juventude. Observe o esquema a seguir.
[...]
O nascimento A morte
Tom Zé. “O amor é velho-menina”. Intérprete: Tom Zé. In: Brazil Classics 5: the
hips of tradition. Estados Unidos: Luaka Pop, 1992. Faixa 9. S1 S1 S2 S2 S1 S1 S2 S2
Ao definir o amor como “medo” e “maravilha”, o autor dia dia noite
noite vidavida morte
morte
o considera ambíguo, paradoxal; trata-se de uma figura de
linguagem chamada paradoxo. O paradoxo ocorre quando
há contradição de ideias. A ideia de simultaneidade de
aspectos opostos em relação a um mesmo ser é uma carac- S2 S2 S1 S1 S2 S2 S1 S1
terística dessa figura de linguagem. Veja a imagem a seguir. nãonão
noite
noite nãonão
dia dia nãonão
morte
morte nãonão
vidavida
O nascimento A morte
S1
S1 S2
S2 S1
S1 S2
S2
Homem
Homem Deus
Deus Homem
Homem Deus
Deus
FRENTE ÚNICA
S1
S1 S2
S2 S1
S1 S2
S2
não
não Deus
Deus não
não Homem
Homem não
não Deus
Deus não
não Homem
Homem
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Exercícios propostos
Texto para as questões de 1 a 3.
A casa das ilusões perdidas
Quando ela anunciou que estava grávida, a primeira reação dele foi de desagrado, logo seguida de franca irritação.
Que coisa, disse, você não podia tomar cuidado, engravidar logo agora que estou desempregado, numa pior, você não tem
cabeça mesmo, não sei o que vi em você, já deveria ter trocado de mulher havia muito tempo. Ela, naturalmente, chorou,
chorou muito. Disse que ele tinha razão, que aquilo fora uma irresponsabilidade, mas mesmo assim queria ter o filho. Sempre
sonhara com isso, com a maternidade – e agora que o sonho estava prestes a se realizar, não deixaria que ele se desfizesse.
– Por favor, suplicou. – Eu faço tudo que você quiser, eu dou um jeito de arranjar trabalho, eu sustento o nenê, mas, por
favor, me deixe ser mãe.
Ele disse que ia pensar. Ao fim de três dias daria a resposta. E sumiu.
Voltou, não ao cabo de três dias, mas de três meses. Àquela altura ela já estava com uma barriga avantajada que tornava
impossível o aborto; ao vê-lo, esqueceu a desconsideração, esqueceu tudo – estava certa de que ele vinha com a mensagem
que tanto esperava, você pode ter o nenê, eu ajudo você a criá-lo.
FRENTE ÚNICA
Estava errada. Ele vinha, sim, dizer-lhe que podia dar à luz a criança; mas não para ficar com ela. Já tinha feito o negó-
cio: trocariam o recém-nascido por uma casa. A casa que não tinham e que agora seria o lar deles, o lar onde – agora ele
prometia – ficariam para sempre.
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1 Unifesp As duas frases finais do texto deixam evidente que ter mais filhos:
a é uma possibilidade pouco atraente para o casal que, por ora, já conquistou algo à custa de sofrimento.
b será para o casal uma forma de alcançar a felicidade, já que a mulher e seu companheiro poderão ter a casa cheia
de crianças.
c pode tornar-se lucrativo na ótica do companheiro, embora a mulher ainda veja isso com olhos sonhadores.
d se torna uma forma de compensar o episódio pouco feliz da doação do primeiro filho do casal.
e não alteraria em nada a vida do casal, já que não haveria como fazer os dois esquecerem a criança doada.
2 Unifesp O casal age de modo contrário aos sentimentos comuns de justiça e dignidade. No contexto da narrativa, tais
comportamentos explicam-se:
a pela falta de amor que há entre a mulher e o companheiro, fazendo com que tudo que os rodeia se torne um ne-
gócio vantajoso.
b pelo amor exagerado que a mulher sente e pela confusão de sentimentos que o companheiro vive na descoberta
desse amor.
c pelo ódio exagerado que a mulher sente do companheiro e pela forma displicente e pouco amável como ele a vê.
d pela submissão exagerada da mulher ao companheiro e pela forma mesquinha e interesseira como ele resolve
as coisas.
e pela forma irresponsável com que a mulher age em relação ao companheiro, o que o faz tomar atitudes impensadas.
Calvin & Hobbes, Bill Watterson © 1994 Watterson / Dist. by Universal Uclick
a) Da leitura dos dois primeiros quadros, depreende-se uma opinião geral do garoto Calvin sobre proibições. Que
opinião é essa?
b) Observe o que faz Calvin no último quadro da tira e explique o que essa ação significa no contexto da história.
c) Suponha a seguinte situação: numa autoestrada de alta velocidade, uma placa de sinalização diz “Não pare na
pista”. Bem à vista da placa, um motorista trafega em marcha à ré, no acostamento. Pela lógica de Calvin esse
motorista está errado?
a) Escreva duas palavras ou expressões do texto que ganharam novos sentidos na área da informática.
b) Em se tratando de relacionamentos amorosos, levar “gato” (ou “gata”) no lugar de “lebre” poderá ser um bom
negócio. Explique por que é possível essa interpretação.
6 Enem PPL 2019 Algumas palavras funcionam como marcadores textuais, atuando na organização dos textos e fazen-
do-os progredir. No segundo parágrafo desse texto, o marcador “agora”
a define o momento em que se realiza o fato descrito na frase.
b sinaliza a mudança de foco no tema que se vinha discutindo.
c promove uma comparação que se dá entre dois elementos do texto.
d indica uma oposição que se verifica entre o trecho anterior e o seguinte.
e delimita o resultado de uma ação que foi apresentada no trecho anterior.
LAERTE
Jogos de imagens e palavras são característicos da linguagem de história em quadrinhos. Alguns desses jogos podem
remeter a domínios específicos da linguagem a que temos acesso em nosso cotidiano, tais como a linguagem dos médi-
cos, a linguagem dos economistas, a linguagem dos locutores de futebol, a linguagem dos surfistas, entre outras. É o que
ocorre na tira de Laerte.
a) Transcreva as passagens da tira que remetem a domínios específicos e explicite que domínios são esses.
b) Levando em consideração as relações entre imagens e palavras, identifique um momento de humor na tira e
FRENTE ÚNICA
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Por que velhos são “coroas”? – Quando houve a proclamação da República, tudo o
que era imperial passou a ser sinônimo de coisa antiga. Em seu Novo dicionário da gíria
brasileira (3 ed. Rio de Janeiro: Tupã, 1957, s.v. – a 1ª edição é de 1945), Manuel Viotti
define coroa como gíria militar, com o sentido de “Antiguidade, a monarquia decaída”. Por
força do recrutamento obrigatório dos jovens de 18 anos, que, findo o treinamento, voltam
às atividades civis e difundem a linguagem da caserna, muitas palavras da gíria militar
acabam adquirindo foro de universalidade. Foi o que ocorreu com “rancho”, que designa
o restaurante e, por extensão, a comida ou a refeição, como em “hora do rancho”, ou o
que ocorreu com batebute, corruptela do inglês battle boot, “bota de batalha”, que designa
o coturno ou o chapim. Assim, tudo o que era antigo ou velho era da coroa ou, simples-
mente, por metonímia, era “coroa”. Um homem velho, portanto, é antiguidade, é coroa.
Por que se diz “conto do vigário”? – A palavra “vigário” vem do latim vicariu, que sig-
nifica “substituto”. Isso quer dizer que o sacerdote é chamado vigário por ser um substituto
do bispo, numa paróquia. O Papa é chamado de “vigário de Cristo”, isto é, o substituto de
Cristo. É nesse sentido original de substituto que se chama “vicário” (com c, por ter entrado
na língua por via erudita) o verbo que, numa oração, substitui outro, da oração precedente,
como em “Se ele pergunta é porque não sabe”, onde o É está no lugar de PERGUNTA. A
expressão “conto do vigário”, para designar um engodo, relaciona-se com o sentido primitivo do termo latino, e não com o
sacerdote. Em outras palavras, “conto do vigário” é a história em que uma pessoa leva o substituto (sem valor) de algo que
pretendia adquirir com vantagem. Em termos proverbiais: leva gato por lebre. Também se chama “conto do paco”. Paco veio
do latim paccus ou do francês pacque (palavra originária do étimo neerlandês packe), por intermédio do lunfardo, como
gíria de ladrões. Pacote é diminutivo de paco.
Por que “amigo da onça”? – Alguns autores fantasiam a origem da expressão popular “amigo da onça”. Magalhães
Júnior, em seu Dicionário brasileiro de provérbios, locuções e ditos curiosos (4 ed. Rio de Janeiro: Documentário, 1977, s.v.
amigo da onça), conta a seguinte história: um caçador mentiroso dizia que fora acuado por uma onça de encontro a uma
rocha. Sem armas e sem ter como fugir, escapa dando um grito tão violento que a onça, assustada, fugiu em pânico. Ante
o descrédito do ouvinte, o contador de história pergunta: “Você é meu amigo ou amigo da onça?”. Antenor Nascentes, no
Tesouro da fraseologia brasileira (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, s.v. amigo), conta outra história: um caçador, à beira
de um abismo, encontrou uma onça. Tentou matá-la, mas a espingarda falhou. O caçador então pergunta ao ouvinte se ele
imagina o que aconteceu em seguida. Este, obviamente, responde que a onça teria devorado o caçador. E o caçador, indig-
nado, pergunta: “Você é meu amigo ou amigo da onça?”. São histórias fantasiosas sem respaldo documental.
Ora, “onça”, na expressão em estudo, não designa o felino, porque está no sentido clássico de “miséria”. “Estar na onça”,
para João Ribeiro (Frazes feitas, Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1908, p. 125-6) é estar na penúria. A libra tem doze onças.
Estar na undécima onça é estar quase na miséria. João Ribeiro refere-se à expressão também em italiano: “su l’undic’once”,
isto é, na undécima onça, quase na miséria. Macedo Soares (Dicionário brasileiro da língua portuguesa. Rio de Janeiro: MEC/
INL, 1954, vol. I; 1955, vol. II, s.v. onça) explicita que “estar na onça” é “loc. dos estudantes, não ter vintém”. Quem só
tinha uma onça procurava guardá-la ou evitava gastá-la, para não ficar a zero. Tornou-se, portanto, compulsoriamente, um
“amigo da onça”. Com o tempo, “amigo da onça” passou a sinônimo de “amigo da miséria” alheia, como o personagem
que o humorista Péricles de Andrade Maranhão imortalizou nas páginas da revista O Cruzeiro.
Por que o mau motorista é barbeiro? – Viterbo afirma que barbeiro era o oficial “que se ocupava de alimpar, açacalar,
dar esmeril e guarnecer as espadas, adagas etc.” (VITERBO, Joaquim de Santa Rosa. Elucidário das palavras, termos e frases
que em Portugal se usaram e que hoje regularmente se ignoram. Edição crítica de Mário Fiúza. Porto: Civilização, 1965,
s.v. Barbeiro das espadas.). O dicionário de Moraes Silva diz que barbeiro é o “homem que faz as barbas, e as rapa, corta
ou apara.” E conclui: “há barbeiros de lanceta, ou sangradores, outros dantes consertavam as espadas limpando-as, e afian-
do-as, aliás alfagemes” (s.v. Barbeiro). No seu Glossário crítico de dificuldades do idioma português (Porto: Simões Lopes,
1947), Vasco Botelho do Amaral (s.v. Barbeiro) cita Gonçalves Viana, que informa que, “sobretudo, o barbeiro tinha amplas
funções de médico de aldeia, aplicando mezinhas e sanguessugas, fazendo sangrias, cortando calos e tirando dentes” e
que “os barbeiros da aldeia tinham, além de outras, também funções de sangradores e de cirurgiões”. Vasco B. do Amaral
lembra um anexim popular de sua época: “quem lhe dói o dente busca o barbeiro”. Ora, quando um barbeiro era infeliz
em alguma missão diferente daquela que lhe garantira o nome da profissão – ater-se à barba e ao cabelo – o povo lembrava
que o insucesso da empreitada era “coisa de barbeiro” e não de médico ou de dentista especializado. Por extensão, era
chamado barbeiro quem fazia de modo infeliz alguma coisa para a qual não era profissionalmente preparado. Um motorista,
consequentemente, é barbeiro quando realiza algum tipo de manobra que denota a sua inabilidade ao volante ou a sua falta
FRENTE ÚNICA
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Nível fundamental
yy Todo texto traz uma oposição. yy Nas oposições, um polo é eufórico e o outro é disfórico.
yy Essa oposição pode estar explícita ou implícita. yy O que é eufórico ou disfórico depende da visão de mundo.
yy Ao falar da guerra, fala-se da paz. yy O conectivo “mas” introduz o argumento mais forte.
yy As oposições devem ser traduzidas abstratamente. yy O conectivo “embora” introduz o argumento mais fraco.
yy A euforia é a positividade. yy A antítese é mera oposição de sentido.
yy A disforia é a negatividade. yy O paradoxo é uma contradição de ideias.
Livro Filme
yy PLATÃO e FIORIN. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: yy Amarcord, 1972. Direção de Federico Fellini.
Ática, 2006.
Exercícios complementares
Texto para a questão 1. Textos para as questões 2 e 3.
Seria difícil encontrar hoje um crítico literário I. Temos saídas. Temos, por exemplo, um setor agríco-
respeitável que gostasse de ser apanhado defendendo la imenso. Nesse sentido, o MST tem razão. Não o
como uma ideia a velha antítese estilo e conteúdo. A MST, a política de assentamento, de pequena econo-
esse respeito prevalece um religioso consenso. Todos mia familiar.
estão prontos a reconhecer que estilo e conteúdo são Fernando Henrique Cardoso, em entrevista concedida à revista Veja,
indissolúveis, que o estilo fortemente individual de cada 10 set. 1997. p. 25.
escritor importante é um elemento orgânico de sua obra II. Ao falar, não posso usar borracha, apagar, anular;
e jamais algo meramente “decorativo”. Na prática da tudo que posso fazer é dizer “anulo, apago, retifico”,
crítica, entretanto, a velha antítese persiste praticamente ou seja, falar mais. Essa singularíssima anulação por
inexpugnada. acréscimo, eu a chamarei de “balbucio”.
Susan Sontag. “Do estilo”. Contra a interpretação. Roland Barthes.
1 Fuvest 2019 Consideradas no contexto, as expressões 2 Fuvest Baseando-se nessa definição de Roland Bar-
“religioso consenso”, “orgânico” e “inexpugnada”, thes, transcreva o trecho do texto I em que houve
sublinhadas no texto, podem ser substituídas, sem al- balbucio.
teração de sentido, respectivamente, por:
a místico entendimento; biológico; invencível. 3 Fuvest Nota-se que o entrevistado repetiu duas vezes
b piedoso acordo; puro; inesgotável. a palavra “Temos”, cada vez com um complemento di-
c secular conformidade; natural; incompreensível. ferente. Explique a relação semântica que o contexto
d fervorosa unanimidade; visceral; insuperada. linguístico (os dois períodos em sequência) permite
e espiritual ajuste; vital; indomada. estabelecer entre os dois complementos utilizados.
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8 UFG A referência espacial sugerida no título é recupe- 9 Uece Se antes precisávamos correr em busca de informa-
rada com base: ções de nosso interesse, hoje, úteis ou não, elas é que
a na posição enunciativa do leitor. nos assediam...
b nas informações não verbais. Na mensagem dessa frase, está implícito que
c no conteúdo do texto. a não buscamos mais as notícias.
d nas expressões indicadoras de lugar. b precisamos estar mais atentos à leitura de mundo.
e no espaço de circulação do texto. c somos perseguidos pelos meios de comunicação.
d ficamos plenamente satisfeitos com as informações
Texto para as questões 9 e 10. digitais.
A memória e o caos digital
10 Uece Está implícito no texto que:
A era digital trouxe inovações e facilidades para o a o HD (disco rígido) armazena dados como a memó-
homem que superou de longe o que a ficção previa até
ria humana.
pouco tempo atrás. Se antes precisávamos correr em busca
b a era digital permite à mente humana produzir infi-
de informações de nosso interesse, hoje, úteis ou não,
nitas informações.
elas é que nos assediam: resultados de loterias, dicas de
c na era digital a quantidade de informações dificulta
cursos, variações da moeda, ofertas de compras, notícias
de atentados, ganhadores de gincanas, etc. Por outro
a memorização.
lado, enquanto cresce a capacidade dos discos rígidos e d a velocidade das informações da era digital com-
a velocidade das informações, o desempenho da memó- promete a inteligência humana.
ria humana está ficando cada vez mais comprometido.
Cientistas são unânimes ao associar a rapidez das infor- 11 Leia o texto a seguir.
mações geradas pelo mundo digital com a restrição de
Analfabetismo
nosso "disco rígido" natural. Eles ressaltam, porém, que o
problema não está propriamente nas novas tecnologias, Conforme informação da Folha de S.Paulo, de
mas no uso exagerado delas, o que faz com que deixemos 26/05/2007, baseada em dados do IBGE, o analfabetis-
de lado atividades mais estimulantes, como a leitura, que mo no Brasil, no ano 2000 (12,1%), era maior do que o
envolvem diversas funções do cérebro. Os mais prejudi- existente nos Estados Unidos, em 1940 (2,9%). Mas até
cados por esse processo têm sido crianças e adolescentes, que caminhamos bastante. Em 1940, o analfabetismo
em cima da mesa. Se eu como o pêssego, o que é que fica? de ter o mundo inteiro como a nossa casa.
– O caroço, professora! MIA COUTO. Adaptado de fronteiras.com, 10/08/2014.
27
d Denúncia do escândalo das fontes energéticas e à naturalidade e se distancia do interlocutor." Além disso,
baixaria de Thomas F. Friedman. os termos, em alguns casos, transcendem o bom senso. As
e Crítica à baixaria de Thomas L. Friedman e ao ape- expressões "terceira idade" e "melhor idade", criadas por
lido dado por ele. técnicos da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), para
29
Fernando Gonsales. “Níquel Náusea”. Folha de S.Paulo online. Disponível em: <www.uol.com.br/niquel>.
a) No primeiro quadrinho, a menção a “palavrões” constrói uma expectativa que é quebrada no segundo quadrinho.
Mostre como ela é produzida, apontando uma expressão relacionada a “palavrões”, presente no primeiro quadri-
nho, que ajuda na construção dessa expectativa.
b) No segundo quadrinho, o cômico se constrói justamente pela quebra da expectativa produzida no quadrinho
FRENTE ÚNICA
anterior. Entretanto, embora a relação pressuposta no primeiro quadrinho se mantenha, ela passa a ser entendida
num outro sentido, o que produz o riso. Explique o que se mantém e o que é alterado no segundo quadrinho em
termos de pressupostos e relações entre as palavras.
31
e eu nem sequer tenho duas estrelas nos meus olhos. encontrar no mercado equipamentos para as mais diver-
Lembro-me das noites em que me fazem deitar sas finalidades, desde o mais simples jato de tinta de U$
tão cedo e te oiço bater, chamar e bater, 300 até uma sofisticada plotter de tinta sólida com preço
na fresta da minha janela. em torno de U$ 100 mil. Mais ainda, as tecnologias de
33
suplício. Mas que digo? Tenho presciência exata de todo de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1930.
35
Eu do meu lado
Tudo em redor então escureceu,
Aprendendo a ser louco
E foi longínqua toda a claridade!
Maluco total
Ceguei... tateio sombras... que ansiedade!
Na loucura real.
Apalpo cinzas porque tudo ardeu!
[...]
Raul Seixas e Cláudio Roberto. “Maluco Beleza”. Intérprete: Diversos. In: Há
dez mil anos atrás. Rio de Janeiro: Philips/Universal Music, 1976. Faixa 13. Descem em mim poentes de Novembro...
A sombra dos meus olhos, a escurecer...
No nível fundamental de todo texto, encontra-se uma Veste de roxo e negro os crisântemos...
FRENTE ÚNICA
oposição semântica (a semântica tem como escopo E desse que era meu já me não lembro...
o significado); essa oposição pode ser explícita ou Ah! a doce agonia de esquecer
implícita. No texto lido, percebe-se uma oposição do A lembrar doidamente o que esquecemos...!
tipo: Florbela Espanca.
37
2
CAPÍTULO Tipologia textual e gêneros discursivos
A campanha chama a atenção para um problema que diversas regiões brasileiras
têm enfrentado atualmente: a crise de abastecimento de água nas cidades. A fim de
cumprir essa função, a mensagem é criada a partir da relação entre texto verbal e
visual: o slogan traz uma estrutura objetiva, que sintetiza a consequência de a popula-
ção não se conscientizar sobre o consumo exagerado de água, evidenciando que, sem
esse recurso, o futuro de todos é a miséria; além disso, o texto faz uso do imperativo
em “Leve” e “Passe”, a fim de engajar o interlocutor nessa campanha. Nesse sentido, a
imagem colocada de fundo é a de um papelão rasgado, fazendo alusão a situações de
vulnerabilidade. Trata-se, portanto, de um texto com função informativa e persuasiva.
Nas próximas páginas, estudaremos as estruturas responsáveis pela criação dos
textos e as funções sociocomunicativas que eles podem cumprir na sociedade.
É possível perceber que os textos dos quadrinhos Analisando o texto, é possível identificar todas as eta-
compõem uma narrativa, construída a partir de um desen- pas das estruturas narrativas estudadas: a introdução é
volvimento temporal, sem o qual seria impossível contar a marcada pela apresentação e descrição das personagens,
história. Essa é a principal característica do texto narrativo, que são os alunos indisciplinados e o professor irritado e
a que o diferencia dos demais tipos de textos: a narração arrogante. No desenvolvimento, o conflito do texto é cria-
sempre irá apresentar passagem de tempo. Assim, temos do quando o mestre desafia os alunos a ficarem de pé. O
como elementos constitutivos de um texto narrativo: clímax surge quando, minutos depois do desafio, um deles
yy Tempo: momento em que se dá a ação ou que dura se levanta e o professor questiona sua ação. O desfecho,
a narrativa. por sua vez, é criado quando o garoto responde, de modo
yy Espaço: local em que a ação se desenrola, podendo sarcástico, ao professor, colocando um final no desafio
ser físico, social ou psicológico. lançado pelo docente. Nessa etapa conclusiva, podemos,
yy Personagens: pessoas, animais ou objetos que par- inclusive, depreender um conselho implícito na narrativa:
ticipam da história, que fazem com que a narração não devemos usar de uma posição de autoridade para de-
aconteça. safiar as pessoas desnecessariamente.
yy Enredo: é a trama da narrativa, é o desenrolar de
ações que envolvem as personagens. Atenção
yy Narrador: é o responsável por contar a história, po-
É interessante destacar que nem toda narração obedecerá à ordem
dendo estar inserido ou não no enredo. convencional das etapas; existem muitos textos narrativos que ini-
Portanto, o texto narrativo apresenta personagens ciam a história a partir de algum ponto do desenvolvimento (recurso
que realizam ações (enredo) em um determinado espaço denominado in media res), ou mesmo pelo desfecho, e depois voltam
e tempo, contadas por um narrador. Esses elementos se ao ponto inicial dos acontecimentos. Tais recursos estão presentes
organizam em etapas que estruturam o texto narrativo (a em narrativas de diversos gêneros, como filmes, séries, novelas, ro-
estrutura narrativa) da seguinte forma: mances, e geralmente são utilizados a fim de aumentar a expectativa
1. Introdução: nessa etapa, o autor apresenta as perso- do público em relação ao enredo da obra.
nagens e os problemas que serão enfrentados pelos
protagonistas. Outros elementos fundamentais da
Anedota: narrativa curta e bem-humorada que apresenta uma cena
narrativa também são introduzidos aqui, como o ce-
do cotidiano com um desfecho inusitado. Grande parte das vezes,
nário em que o texto será desenvolvido, o momento permite que o leitor conclua uma moral no final da história.
histórico em que ocorrerá, as personalidades das per-
sonagens, dentre outros.
2. Desenvolvimento: nessa parte, a narrativa envolve o Finalidade comunicativa do texto
leitor a partir dos esforços feitos pelas personagens narrativo
para solucionarem os problemas vividos. Essa etapa é Consideramos finalidade comunicativa como a principal
de grande importância porque concentra os conflitos função de uma mensagem na sociedade. Os textos narra-
que justificam as ações das personagens. tivos, por exemplo, são sempre idealizados para contar ao
3. Clímax: é o momento ápice da narrativa, em que os leitor uma história, seja ela real ou fictícia. Nesse sentido,
problemas e os conflitos das personagens chegam a também é possível apontar outras finalidades para a narra-
um ponto máximo de concentração, exigindo ações ção, dependendo do contexto em que ela é enunciada: o
diretas para enfrentá-los. O momento em que o clímax depoimento de um jovem aprovado no vestibular pode ser
é alcançado pode ser percebido pelo leitor quando feito para encorajar estudantes para as provas de seleção;
todas as tensões envolvidas no enredo se encontram um conto infantil lido pelos pais de uma criança antes da hora
na história, o que determina uma passagem para a de dormir pode ajudá-la a cair no sono. Essas são considera-
etapa final. das finalidades secundárias e surgem apenas em contexto.
4. Desfecho: momento resultante do clímax da história; Para compreender uma narrativa, devemos sempre,
no desfecho o autor apresenta as consequências das portanto, analisar a intenção do enunciador ao nos apre-
ações das personagens, encerrando o texto. sentar a história.
41
b. tempo não linear: também pode ser denominado Parecia ter vinte anos, e contava mais de trinta. Graciosa,
como tempo psicológico; nesse tipo de desenvolvi- afável, nenhum acanhamento, nenhum ressentimento. Olhá-
mento, a sequência do texto é apresentada em ordem vamos um para o outro, com as mãos seguras, falando de tudo
e de nada, como dois namorados. Era minha infância que
indireta, podendo ser iniciada, por exemplo, com uma
ressurgia, fresca, travessa e loura; os anos iam caindo como as
lembrança do narrador ou até mesmo pelo desfecho
fileiras de cartas de jogar encurvadas, com que eu brincava em
da história. Um dos exemplos clássicos da literatura
pequeno, e deixavam-me ver a nossa casa, a nossa família, as
brasileira em que o tempo da narrativa é apresenta- nossas festas. Suportei a recordação com algum esforço; mas
do dessa forma é o livro Memórias póstumas de Brás um barbeiro da vizinhança lembrou-se de zangarrear na clás-
Cubas, de Machado de Assis, cujo prólogo da história sica rabeca, e essa voz — porque até então a recordação era
apresenta um narrador já falecido (defunto autor), que muda — essa voz do passado, fanhosa e saudosa, a tal ponto
nos contará momentos de sua vida a partir da morte, me comoveu, que... Os olhos dela estavam secos. Sabina
em um caixão. Veja a introdução do livro: não herdara a flor amarela e mórbida. Que importa? Era minha
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo irmã, meu sangue, um pedaço de minha mãe, e eu disse-lho
princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu com ternura, com sinceridade...
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova
nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja come- Aguilar, 1994. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/
çar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar texto/bv000215.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2020.
diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente
c. monólogo interior (ou fluxo de consciência): tam-
um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa
bém considerado um tipo de digressão, o narrador
foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais
galante e mais novo. interrompe a história para que o leitor visualize os
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova
pensamentos da personagem. Esses pensamentos,
Aguilar, 1994. Disponível em: <http://machado.mec.gov.br/obra-completa- por sua vez, são marcados por um diálogo da perso-
lista/item/download/16_ff646a924421ea897f27cf6d21e6bb23>. Acesso em:
nagem consigo mesma.
17 jul. 2020.
A cama desaparece aos poucos, as paredes do aposento
Ferramentas do texto narrativo: a quebra se afastam, tombam vencidas. E eu estou no mundo solta e
fina como uma corça na planície. Levanto-me suave como
temporal um sopro, ergo minha cabeça de flor e sonolenta, os pés le-
Outro recurso disponível para o desenvolvimento da ves, atravesso campos além da terra, do mundo, do tempo, de
narrativa é a quebra da sequência narrativa, usada para Deus. Mergulho e depois emerjo, como de nuvens, das terras
contato, aqui, com um pensamento de Sofia. Com isso, é da fala ou do pensamento da personagem por parte do
possível concluirmos que, além de representar diálogos em narrador e, por conta disso, os verbos são criados com
uma narração, um discurso também pode ser feito para que pronomes de terceira pessoa. Analise o exemplo a seguir:
43
CASOS VERBAIS
Nessa cena, o protagonista Fabiano é levado para a cadeia de maneira injusta por um desentendimento com o “soldado
amarelo”. Lá, sem entender o que aconteceu, ele começa a divagar sobre as razões de ter sido preso. Repare que os trechos
destacados podem representar, simultaneamente, um pensamento da personagem Fabiano, indignado com a violência
que sofrera, bem como uma intromissão opinativa do próprio narrador. Isso ocorre porque essas orações são um registro
do discurso indireto livre: as duas vozes (narrador e personagem) encontram-se reproduzidas em uma mesma sentença.
Embora esse tipo de discurso dispense o emprego dos verbos elocutivos, há algumas ferramentas estruturais muito
usadas para introduzi-lo no texto. Veremos cada uma delas a seguir:
FRENTE ÚNICA
45
Embora sejam tipos de textos distintos, algumas vezes é Nesse exemplo, percebemos que o autor aborda de
preciso bastante atenção para diferenciar um trecho narrativo maneira explícita um assunto bastante pertinente para nossa
de um descritivo. Para isso, devemos nos apoiar sempre na sociedade: o consumo de água. Podemos dizer que a disserta-
finalidade comunicativa de cada um: a narração sempre será ção, nesse sentido, é o tipo de texto predominante em jornais
desenvolvida em uma sequência temporal e apresentará e revistas, por exemplo, uma vez que as discussões propostas
uma história ao leitor; já a descrição sempre será desenvol- pelo jornalismo tendem a refletir um debate de interesse pú-
vida a partir de uma caracterização feita com qualidades de blico. Esse é um dos motivos pelos quais grande parte dos
um objeto, pessoa, cena etc. exames seletivos do país, como os vestibulares e concursos
Além dessas diferenças entre as funções sociocomu- públicos, tende a solicitar aos candidatos a elaboração de uma
nicativas de cada tipo de texto, também é possível apontar dissertação – é por meio desse tipo de texto que os examina-
dores podem tomar conhecimento das posições assumidas
FRENTE ÚNICA
47
49
Composição estrutural
a) Prosa: padrão de parágrafo produzido em linha reta, com pouca ou nenhuma preocupação com ritmos sonoros e a
metrificação dos períodos. Comum em textos não literários, como notícias, reportagens e editoriais. A divisão dos
textos é feita em parágrafos.
b) Verso: padrão de paragrafação oposto à prosa, no verso há preocupação com o ritmo sonoro e a metrificação das pa-
lavras. É comum nos textos literários, como poesias. A divisão dos textos é feita em estrofes.
Atenção
Para que os gêneros textuais sejam elaborados, é necessário que haja um suporte em que deverão ser escritos. Devemos considerar suporte como
o meio físico (papel, cartolina, caderno, entre outros) ou digital (blog, redes sociais, editor de texto, entre outros) no qual produzimos os textos.
a) Notícia: trata-se do primeiro texto jornalístico que se produz a respeito de algum acontecimento. Sua função é comu-
nicar, de modo imparcial e objetivo, o acontecimento a que se refere. É produzida em terceira pessoa, de modo que
não há diálogo entre o enunciador e o interlocutor do texto. Na notícia, predomina a estrutura narrativa, com trechos
descritivos. Costuma seguir o modelo a seguir:
da notícia. São elas: o que aconteceu, com quem aconteceu, quando aconteceu, onde aconteceu e como aconteceu.
yy 2º parágrafo em diante: as partes restantes do texto apresentam um aprofundamento da notícia. Trazem informações mais
detalhadas e, muitas vezes, contêm depoimentos em discurso direto, como forma de garantir imparcialidade no texto.
Considerando essa estrutura padrão, veja na página seguinte um exemplo de uma notícia.
51
André Dahmer
atraso na oferta do serviço
Há muito tempo não surge uma grande novidade tecno-
lógica no saneamento básico. Ao longo dos séculos 19 e 20,
diversas nações vieram desenvolvendo seus serviços de entrega
de água potável e de coleta e tratamento de esgoto mais ou
menos da mesma maneira.
A necessidade de investimentos elevados poderia ser em-
pecilho para países pobres, mas não para os que, como o Brasil, A análise dessa tirinha revela que sua estrutura é narra-
há muito superaram os limiares da baixa renda. tiva, pois os quadrinhos se desenvolvem em uma sequência
[...] temporal. A quebra de expectativa nas duas últimas cenas
O vergonhoso estágio do saneamento no Brasil decorre introduz o humor do texto, ao mesmo tempo que permite
de várias décadas de desprezo pela boa governança, em nome depreender uma crítica às redes sociais. No geral, a pas-
do atendimento a apetites imediatos do patrimonialismo. Será sagem da penúltima para a última cena de uma tirinha é o
preciso muito esforço para romper com esse legado. momento em que o autor revela o aspecto crítico e humo-
“Saneamento urgente”. Folha de S.Paulo. Disponível em: <https://www1.folha.uol. rístico do texto.
com.br/opiniao/2020/07/saneamento-urgente.shtml>. Acesso em: 17 jul. 2020.
Angeli /Fotoarena
riormente. Isso porque ela não está associada a uma
notícia: o tema abordado é escolhido livremente pelo
autor e, geralmente, trata-se de um assunto relacio-
nado a um evento cotidiano banal, sem relevância
pública. Esta é a principal diferença entre a crônica e
o artigo de opinião, visto que ambos são produzidos
em primeira pessoa e tendem a usar uma linguagem
subjetiva e figurada. O trecho do texto a seguir exem-
plifica a seleção temática de uma crônica, bem como
o tipo de linguagem usada para desenvolvê-la:
Amar não é sofrer
A frase que dá título a esta crônica é óbvia, mas mi-
lhares de pessoas não a levam a sério e vivem relações
absolutamente torturantes sem conseguir rompê-las. Homens
e mulheres preferem abrir mão da própria liberdade para
continuar sendo amadas: deixam de ser quem são, deixam Essa charge, por sua vez, deve ser considerada apenas
de externar suas opiniões, deixam de agir como sua natureza descritiva, visto que não apresenta o desenvolvimento de
manda, deixam de ser elas mesmas para não perderem seu uma história. Sua crítica se dá no campo da marginalização,
amor, perpetuando assim uma relação esgotante e dolorosa.
sobretudo na apatia da justiça, representada pela estátua,
Acreditam que amar é ser vítima, que o flagelo emocional
em relação à existência de pessoas em constante contato
faz parte do romance.
com a criminalização – é possível depreender que o autor
Para quem se reconheceu nesse primeiro parágrafo, aca-
ba de ser lançado um livro que vem a calhar: Amores de Alto faz referência à incapacidade da justiça em promover ações
Risco, do psicólogo, filósofo e professor italiano Walter Riso. para que as pessoas possam viver de modo digno, sem
MEDEIROS, Martha. “Amar não é sofrer”. Disponível em: <www.refletirpararefletir. recorrer à violência como forma de existência.
com.br/cronicas-martha-medeiros-amo>r. Acesso em: 17 jul. 2020. Embora os gêneros vistos sejam considerados os mais
f) Tirinhas e charges: ainda na esfera jornalística, te- importantes em uma edição de jornal, há outros que pode-
mos a tirinha e a charge como os primeiros gêneros mos destacar com semelhante relevância. Veja-os a seguir.
verbovisuais que veremos. Apresentam sempre uma
relação entre um texto verbal com uma imagem e, a) Carta do leitor: trata-se de um texto produzido por
muitas vezes, o texto visual é fundamental para a um leitor do jornal ou revista para comentar alguma
compreensão do sentido. A estrutura é predominan- matéria da edição anterior em que é publicado. Essa
temente narrativa, embora possam ser criados apenas carta pode ser produzida manualmente ou enviada
por uma descrição. Apresentam linguagem figurada, por e-mail, o que é mais comum na era digital. Sempre
FRENTE ÚNICA
53
Revisando
1 Fuvest entrava o rumor das vozes alteradas, as ruas deviam estar
Ser consciente é talvez um esquecimento. cheias de gente, a multidão a gritar uma só palavra, Vejo,
Talvez pensar um sonho seja, ou um sono. diziam-na os que já tinham recuperado a vista, diziam-na
Talvez dormir seja, um momento, os que de repente a recuperavam, Vejo, vejo, em verdade
Voltar o ‛spirito nosso a ser dono. começa a parecer uma história doutro mundo aquela em
[Fernando Pessoa] que se disse, Estou cego. (...) Por que foi que cegámos, Não
sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres
a) O trecho anterior, do ponto de vista da compo- que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos,
sição, classifica-se como descritivo, narrativo ou penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que,
dissertativo? vendo, não veem.
A mulher do médico levantou-se e foi à janela.
Olhou para baixo, para a rua coberta de lixo, para as pes-
soas que gritavam e cantavam. Depois levantou a cabeça
b) Justifique sua resposta, transcrevendo pelo me- para o céu e viu-o todo branco, Chegou a minha vez,
nos dois elementos do texto. pensou. O medo súbito fê-la baixar os olhos. A cidade
ainda ali estava.
JOSÉ SARAMAGO
Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
55
O filme 12 anos de escravidão, considerado uma excelente obra de arte cinematográfica pela crítica, tem seu roteiro
baseado na narrativa Doze anos de escravidão. Assistindo-se ao filme e lendo a narrativa, percebe-se, por exemplo,
a ausência no filme de algumas cenas presentes na narrativa. Esse fato deve ser considerado uma falha do filme?
Justifique sua resposta.
FRENTE ÚNICA
57
Exercícios propostos
1 Fuvest essas pessoas não tentam evitar ganho de peso com os
métodos compensatórios. Os episódios vêm acompanha-
Das vãs sutilezas dos de uma sensação de falta de controle sobre o ato de
Os homens recorrem por vezes a sutilezas fúteis e vãs comer, sentimentos de culpa e de vergonha.
para atrair nossa atenção. [...] Aprovo a atitude daquele Muitas pessoas com essa síndrome são obesas, apre-
personagem a quem apresentaram um homem que com sentando uma história de variação de peso, pois a comida
tamanha habilidade atirava um grão de alpiste que o fazia é usada para lidar com problemas psicológicos. O trans-
passar pelo buraco de uma agulha sem jamais errar o gol- torno do comer compulsivo é encontrado em cerca de 2%
pe. Tendo pedido ao outro que lhe desse uma recompensa da população em geral, mais frequentemente acometendo
por essa habilidade excepcional, atendeu o solicitado, de mulheres entre 20 e 30 anos de idade. Pesquisas demons-
maneira prazenteira e justa a meu ver, mandando entregar- tram que 30% das pessoas que procuram tratamento para
-lhe três medidas de alpiste a fim de que pudesse continuar obesidade ou para perda de peso são portadoras de trans-
a exercer tão nobre arte. É prova irrefutável da fraqueza torno do comer compulsivo.
de nosso julgamento apaixonarmo-nos pelas coisas só Disponível em: http://www.abcdasaude.com.br.
Acesso em: 1 maio 2009 (adaptado).
porque são raras e inéditas, ou ainda porque apresentam
alguma dificuldade, muito embora não sejam nem boas Considerando as ideias desenvolvidas pelo autor,
nem úteis em si. conclui-se que o texto tem a finalidade de
Montaigne, Ensaios a descrever e fornecer orientações sobre a síndrome
O texto revela, em seu desenvolvimento, a seguinte da compulsão alimentícia.
estrutura: b narrar a vida das pessoas que têm o transtorno do
a formulação de uma tese; ilustração dessa tese por comer compulsivo.
meio de uma narrativa; reiteração e expansão da c aconselhar as pessoas obesas a perder peso com
tese inicial. métodos simples.
b formulação de uma tese; refutação dessa tese por d expor de forma geral o transtorno compulsivo por
meio de uma narrativa; formulação de uma nova alimentação.
tese, inspirada pela narrativa. e encaminhar as pessoas para a mudança de hábitos
c desenvolvimento de uma narrativa; formulação de alimentícios.
tese inspirada nos fatos dessa narrativa; demons- Leia o excerto do livro Violência urbana, de Paulo
tração dessa tese. Sérgio Pinheiro e Guilherme Assis de Almeida, para
d segmento narrativo introdutório; desenvolvimento responder à questão abaixo.
da narrativa; formulação de uma hipótese inspirada
nos fatos narrados. De dia, ande na rua com cuidado, olhos bem abertos.
Evite falar com estranhos. À noite, não saia para caminhar,
e segmento dissertativo introdutório; desenvolvimen-
principalmente se estiver sozinho e seu bairro for deserto.
to de uma descrição; rejeição da tese introdutória.
Quando estacionar, tranque bem as portas do carro [...].
De madrugada, não pare em sinal vermelho. Se for assal-
2 Enem tado, não reaja – entregue tudo. É provável que você já
Transtorno do comer compulsivo esteja exausto de ler e ouvir várias dessas recomendações.
Faz tempo que a ideia de integrar uma comunidade e
O transtorno do comer compulsivo vem sendo sentir-se confiante e seguro por ser parte de um coleti-
reconhecido, nos últimos anos, como uma síndrome carac- vo deixou de ser um sentimento comum aos habitantes
terizada por episódios de ingestão exagerada e compulsiva das grandes cidades brasileiras. As noções de segurança
de alimentos, porém, diferentemente da bulimia nervosa, e de vida comunitária foram substituídas pelo sentimento
3 Unesp 2017 O modo de organização do discurso pre- Considerando o modo como as ideias estão organiza-
dominante no excerto é das, é correto afirmar que o texto
a a dissertação argumentativa. a defende a ideia de que a verdade sobre os fatos
b a narração. é uma só e independe das opiniões e dos pontos
c a descrição objetiva. de vista.
d a descrição subjetiva. b descreve uma polêmica com duas soluções pos-
e a dissertação expositiva. síveis, justapondo argumentos em favor de uma e
contra a outra solução.
4 Fuvest (Adapt.) c argumenta sobre como dois pontos de vista opos-
Salão repleto de luzes, orquestra ao fundo, brilho de tos podem ser conciliados se os defensores das
cristais por todo lado. O crupiê distribui fichas sobre o opiniões divergentes entrarem em diálogo.
pano verde, cercado de mulheres em longos vestidos e d expõe uma questão polêmica e elenca elementos
homens de black-tie. A roleta em movimento paralisa o para mapear as divergências entre diferentes pon-
tempo, todos retêm a respiração. Em breve estarão defi- tos de vista.
nidos a sorte de alguns e o azar de muitos. Foi mais ou e narra a saga das religiões cristãs, do tempo de Cris-
menos assim, como um lance de roleta, que a era de ouro to até os tempos de hoje.
dos cassinos ― maravilhosa para uns, totalmente repro-
vável para outros ― se encerrou no Brasil. Para surpresa
da nação, logo depois de assumir o governo, em 1946, o 6 UFU 2015 O McSorley’s ocupa o térreo de um prédio de
presidente Eurico Gaspar Dutra pôs fim, com uma simples tijolinhos vermelhos, é o número 15 da rua 7, vizinho à
penada, a um dos negócios mais lucrativos da época: a Cooper Square, onde termina a Bowery. Foi inaugurado
exploração de jogos de azar, tornando-os proibidos em em 1854 e é o bar mais antigo de Nova York. Em seus
todo o país. [...] 86 anos, teve quatro proprietários – um imigrante irlandês,
Jane Santucci, “O dia em que as roletas pararam”, Nossa História. seu filho, um policial aposentado, sua filha –, todos eles
avessos a mudanças. Embora disponha de energia elétrica,
Crupiê: empregado de uma casa de jogos. o bar teima em ser iluminado por duas lâmpadas a gás –
Black-tie: smoking, traje de gala. toda vez que alguém abre a porta, a luz oscila e projeta
sombras no teto baixo coberto de teias de aranha. Não
No texto, a autora utiliza vários recursos descritivos.
há caixa registradora. As moedas são atiradas em tigelas –
Aponte um desses recursos. Justifique sua escolha.
uma para as de 5 centavos, uma para as de 10, uma para
5 Famerp 2016 Leia o texto de Tzvetan Todorov. as de 50 –, e as notas são guardadas num cofre de madeira.
Desde o início da história europeia, criamos o hábi- MITCHEL, Josef. O bar do McSorley. Piauí. São Paulo, ano 9, n. 100, p. 42,
jan. 2015. (Fragmento).
to de distinguir entre poder temporal e poder espiritual. (Este texto foi publicado na década de 40 pela revista The New Yorker. As
Quando cada um deles dispõe da autonomia em seu datas do original foram mantidas)
domínio e se vê protegido contra as intrusões do outro,
fala-se de uma sociedade laica ou, como se diz também, No fragmento, retirado de um texto em que se conta a
secular. Poderíamos crer que, na parte do mundo marca- história de um bar nova-iorquino, são predominantes
da pela tradição cristã, essa relação em torno da questão as sequências textuais de tipo
FRENTE ÚNICA
59
a diferença era proveniente de juros. d Fabiano sabia que era enganado nas contas, mas
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bru- não conseguia provar.
to, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a e Fabiano aceitava a situação e se resignava, por
mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel medo de ficar sem trabalho.
61
1
lhada pela representação dos dois idiomas, enquanto nas sarmento: ramo delgado, flexível.
2
pessoas que aprendem a segunda língua, na vida adulta, colubrino: com forma de cobra, sinuoso.
3
duas regiões vizinhas, separadas, cuidam cada uma de antropomórfico: descrito ou concebido sob forma hu-
um idioma. A representação conjunta talvez explique a mana ou com atributos humanos.
63
Texto complementar
Jornalista defende importância de saber contar boas histórias até no mundo dos negócios
Treinamento
Em 2012, uma mulher usando um quimono e segurando cartões escritos a mão gravou um vídeo em uma rua de Mel-
bourne, na Austrália. Um por um, os cartões eram virados e contavam uma história.
Depois de deixar a gravadora onde haviam feito seu último álbum, ela e sua banda passaram quatro anos escrevendo
músicas para um novo disco. O problema é que não tinham condições de produzir o álbum sozinhos. Ela precisaria da ajuda
das pessoas para fazer o projeto dar certo.
O vídeo foi postado no Kickstarter. Em 30 dias, ele angariou US$ 1,2 milhões. 24.883 pessoas encomendaram o disco
com antecedência, compraram a arte da banda ou simplesmente doaram dinheiro. O álbum e a turnê fizeram sucesso, e a
artista transformou sua música em um negócio rentável.
Para quem ainda não conhecia a história, essa mulher era Amanda Palmer. Ela fez uma palestra “Ted talk” extremamente
popular, em que contou sua experiência.
Com essa campanha, Palmer mudou as regras do jogo para os músicos independentes. E ela não fez isso simplesmente
pedindo dinheiro às pessoas, mas contando uma história.
O poder das histórias
“Storytelling” tem sido uma palavra-chave utilizada desde o nascimento da publicidade, e sempre vem à tona porque é
uma habilidade atemporal. Boas narrativas nos surpreendem, nos fazem pensar e sentir. A principal razão porque o Kickstarter
funciona é que ele permite que as pessoas apresentem suas histórias ao público.
Pesquisas mostram que 78% dos diretores de marketing acreditam que o conteúdo é o futuro do marketing. Dois terços dos
profissionais da área afirmam que conteúdo patrocinado é superior a relações públicas, correio direto e propaganda impressa.
O “storytelling” deixou de ser um luxo exclusivo da classe dominante ou de empresas que possuem os meios de im-
pressão e distribuição. É uma habilidade que todas as empresas e indivíduos precisarão dominar.
Estamos ficando acostumados a conversar com empresas, e elas estão mais do que prontas para colocar seu conteúdo
em nossa timeline do Facebook, ao lado de imagens de entes queridos e de links jornalísticos.
Enquanto a quantidade de conteúdo e os meios para acessá-lo aumentam, o que se destaca precisa ser extremamente envol-
vente. Somente aqueles capazes de criar, encontrar e compartilhar boas narrativas conseguirão construir bases sólidas de seguidores.
Isso é verdade tanto para empresas quanto para indivíduos. Pessoas com marcas pessoais poderosas largam na frente
para conseguir vagas de emprego e ser promovidas para cargos de liderança. Essas marcas pessoais se baseiam, entre outras
coisas, na habilidade de contar e compartilhar ótimas histórias.
Histórias tornam apresentações melhores, fazem com que ideias “peguem” e nos ajudam a persuadir. Líderes experientes
contam histórias para nos inspirar e nos motivar. Eles sabem que a maneira como você conta alguma coisa costuma ter mais
impacto do que a coisa em si.
Assim como os cartões de Amanda Palmer a tornaram simpática a dezenas de milhares de estranhos, histórias nos ajudam
a criar negócios e carreiras independentes. Embora ainda precisemos da ciência e de dados para tomar decisões corretas,
os melhores livros de negócios e oradores usam histórias para nos ajudar a reter os pontos principais, mesmo quando as
estatísticas já sumiram da memória.
Há um provérbio indígena na parede do meu escritório que diz: “Aqueles que contam histórias comandam o mundo”.
Enquanto a tecnologia desenvolve nossas relações cada vez mais, acredito que isso se torna mais e mais real. Nossa missão
como empresas, trabalhadores e líderes é garantir que as pessoas boas sejam aquelas que estão contando as melhores histórias.
Infelizmente, na era do PowerPoint e das rápidas atualizações de status, muitos de nós nos esquecemos de como contar
uma boa história. Assim como acontece com qualquer habilidade, vamos precisar de prática nisso.
SNOW, Shane. “Jornalista defende importância de saber contar boas histórias até no mundo dos negócios”. Folha de S.Paulo, 19 abr. 2016. Disponível em:
https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2016/04/19/jornalista-defende-importancia-de-contar-historias-ate-no-mundo-dos-negocios/. Acesso em: 10 set. 2020.
65
Livros Sites
yy Oficina de escritores: dissertação yy Portal da Imprensa Nacional
Obra que auxilia no processo de desenvolvimento de textos disser- Portal oficial do governo federal com notícias e reportagens sobre
tativos, muito cobrados em vestibulares atuais. assuntos relacionados ao poder público.
<https://ftd.com.br/detalhes/?id=6420> <http://www.in.gov.br/web/guest/inicio>
yy Da leitura literária à produção de textos yy Portal EduCapes
Obra que estabelece uma relação entre a leitura de textos literários, Portal oficial da agência CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento
sobretudo dos gêneros crônica, conto, romance e poesia, e a prática de Pessoal de Nível Superior) com acesso a milhares de textos de
de produção de redações. diversos gêneros científicos.
<https://www.editoracontexto.com.br/produto/da-leitura-literaria-a- <https://educapes.capes.gov.br/>
-producao-de-textos/1496837
Exercícios complementares
Texto para as questões 1 e 2. viveram um instante que focou toda a sua vida. Atingido
o sofrimento máximo, nada já nos faz sofrer. Vibradas as
Cumpridos dez anos de prisão por um crime que não
sensações máximas, 4nada já nos fará oscilar. Simplesmen-
pratiquei e do qual, no entanto, nunca me defendi, morto
te, este momento culminante raras são as criaturas que o
para a vida e para os sonhos: nada podendo já esperar e
vivem. As que o viveram ou são, como eu, os mortos-vi-
coisa alguma desejando – 1eu venho fazer enfim a minha
vos, ou – apenas – os desencantados que, muitas vezes,
confissão: isto é, demonstrar a minha inocência.
acabam no suicídio.
Talvez não me acreditem. 2Decerto que não me acre-
* Cherchez la femme: Procurem a mulher.
ditam. Mas pouco importa. O meu interesse hoje em gritar
(Mário de Sá-Carneiro. A confissão de Lúcio, 2011.)
que não assassinei Ricardo de Loureiro é nulo. Não tenho
família; não preciso que me reabilitem. Mesmo quem esteve
dez anos preso, nunca se reabilita. A verdade simples é esta. 1 Unifesp 2015 Na referência 1, afirma-se: “eu venho
E àqueles que, lendo o que fica exposto, me per- fazer enfim a minha confissão”. Tal confissão se mate-
guntarem: “Mas por que não fez a sua confissão quando rializa textualmente em
era tempo? Por que não demonstrou a sua inocência ao a uma argumentação confusa, com oscilação dos
tribunal?”, a esses responderei: – A minha defesa era im- tempos verbais entre presente, passado e futuro,
possível. Ninguém me acreditaria. E fora inútil fazer-me relacionados a situações da vida do narrador.
passar por um embusteiro ou por um doido… Demais, b uma narrativa objetiva, com predomínio de verbos
devo confessar, após os acontecimentos em que me vira nos tempos passado e presente, relacionados a si-
envolvido nessa época, ficara tão despedaçado que a tuações conhecidas do narrador.
prisão se me afigurava uma coisa sorridente. Era o es- c uma narrativa subjetiva, com predomínio de verbos
quecimento, a tranquilidade, o sono. Era um fim como no tempo passado, relacionados a situações das
qualquer outro – um termo para a minha vida devastada. quais participara o narrador.
Toda a minha ânsia foi, pois, de ver o processo terminado d uma argumentação racional, com predomínio de
e começar cumprindo a minha sentença. verbos no tempo presente, relacionados a situa-
De resto, o meu processo foi rápido. Oh! o caso parecia ções analisadas pelo narrador.
bem claro… Eu nem negava nem confessava. Mas quem e uma descrição pessoal, com predomínio de verbos
cala consente… E todas as simpatias estavam do meu lado.
no tempo presente, relacionados a situações que
O crime era, como devem ter dito os jornais do tem-
marcaram a existência do narrador.
po, um “crime passional”. Cherchez la femme*. Depois,
a vítima, um poeta – um artista. A mulher romantizara-se
desaparecendo. Eu era um herói, no fim de contas. 3E um 2 Unifesp 2015 Segundo o narrador afirma, a prisão lhe
herói com seus laivos de mistério, o que mais me aureo- serviria para
lava. Por tudo isso, independentemente do belo discurso a amenizar os transtornos pessoais que arruinaram a
de defesa, o júri concedeu-me circunstâncias atenuantes. sua existência.
E a minha pena foi curta. b mostrar a todos que estava sendo injustiçado e
Ah! foi bem curta – sobretudo para mim… Esses dez que deveriam rever o caso.
anos esvoaram-se-me como dez meses. É que, em realida- c coroar a sua existência de erros e desacertos, im-
de, as horas não podem mais ter ação sobre aqueles que possível de ser recomposta.
67
69
Distopia: Pensamento, filosofia ou processo discursivo caracterizado pelo totalitarismo, autoritarismo e opressivo controle da
sociedade, representando a antítese de utopia. (BECHARA, E. Dicionário da língua portuguesa. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora
Nova Fronteira, 2011, p. 533).
12 AFA 2018 Do ponto de vista da composição, só NÃO é correto afirmar que o texto se vale de
a apresentação de ideias contrárias que vão conduzindo a argumentação.
b descrição de uma realidade imaginária que dá ensejo à discussão.
c exemplos que esclarecem conceitos menos acessíveis ao leitor.
d citações que conferem autenticidade aos argumentos.
14 Fuvest (Adapt.) O excerto está redigido em linguagem que apresenta traços de informalidade. Identifique dois exem-
plos dessa informalidade.
15 Fuvest (Adapt.) Redija o excerto alterando as expressões informais por outras adequadas a um contexto jornalístico
formal.
A notícia é tomada como um gênero textual da esfera jornalística que tem como objetivo divulgar temas da atualidade
de maneira imparcial. Na notícia acima, este objetivo é alcançado pelo enunciador por meio de alguns recursos linguís-
ticos textuais, EXCETO pelo(a)
a uso predominante do discurso direto como forma de o enunciador atribuir a outrem as informações divulgadas.
b presença de elementos linguísticos avaliativos, como o termo “fenômeno” (referência 1), que amplia a dimensão
informativa do gênero notícia.
c emprego de verbos dicendi, como “afirmou” (referência 5) e “disse” (referências 6 e 10), para isentar o enunciador
de revelar o seu ponto de vista.
d presença do relato em terceira pessoa, o qual busca um distanciamento em relação ao fato, o que constrói a ideia
da objetividade, de forma a sustentar a credibilidade da informação.
17 Enem PPL 2019 É através da linguagem que uma sociedade se comunica e retrata o conhecimento e entendimento de si
própria e do mundo que a cerca. É na linguagem que se refletem a identificação e a diferenciação de cada comunidade e
também a inserção do indivíduo em diferentes agrupamentos, estratos sociais, faixas etárias, gêneros, graus de escolaridade.
A fala tem, assim, um caráter emblemático, que indica se o falante é brasileiro ou português, francês ou italiano, alemão ou
holandês, americano ou inglês, e, mais ainda, sendo brasileiro, se é nordestino, sulista ou carioca. A linguagem também ofe-
rece pistas que permitem dizer se o locutor é homem ou mulher, se é jovem ou idoso, se tem curso primário, universitário ou
se é iletrado. E, por ser um parâmetro que permite classificar o indivíduo de acordo com sua nacionalidade e naturalidade,
sua condição econômica ou social e seu grau de instrução, é frequentemente usado para discriminar e estigmatizar o falante.
LEITE, Y.; CALLOU, D. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
71
Escrevendo o roteiro
Escrever um roteiro é um fenômeno espantoso, quase misterioso. Num dia você está com as coisas sob controle, no dia
seguinte sob o controle delas, perdido em confusão e incerteza. Num dia tudo funciona, no outro não; ninguém sabe como
ou por quê. É o processo criativo; que desafia análises; é mágica e maravilha.
Tudo o que foi dito ou registrado sobre a experiência de escrever desde o início dos tempos resume-se a uma coisa —
escrever é sua experiência particular, pessoal. De ninguém mais.
Muita gente contribui para a feitura de um filme, mas o roteirista é a única pessoa que se senta e encara a folha de papel
em branco.
Escrever é trabalho duro, uma tarefa cotidiana, de sentar-se diariamente diante de seu bloco de notas, máquina de es-
crever ou computador, colocando palavras no papel. Você tem que investir tempo.
Antes de começar a escrever, você tem que achar tempo para escrever.
Quantas horas por dia você precisa dedicar-se a escrever?
Depende de você. Eu trabalho cerca de quatro horas por dia, cinco dias por semana. John Millius escreve uma hora por
dia, sete dias por semana, entre 5 e 6 da tarde. Stirling Silliphant, que escreveu The Towering Inferno (Inferno na Torre), às
vezes escreve 12 horas por dia. Paul Schrader trabalha com a história na cabeça por meses, contando-a para as pessoas até
que ele a conheça completamente; então ele “pula na máquina” e a escreve em cerca de duas semanas. Depois ele gastará
semanas polindo e consertando a história.
Você precisa de duas a três horas por dia para escrever um roteiro.
Olhe para a sua agenda diária. Examine o seu tempo. Se você trabalha em horário integral, ou cuidando da casa e da
família, seu tempo é limitado. Você terá que achar o melhor horário para escrever. Você é o tipo de pessoa que trabalha
melhor pela manhã? Ou só vai acordar e ficar alerta no final da tarde? Tarde da noite pode ser um bom horário. Descubra.
(Syd Field. Manual do roteiro, 1995.)
18 Unesp 2013 Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transformar num conto ou num romance.
Ao empregar na frase apresentada o advérbio eventualmente, o que revela Clarice Lispector sobre a criação de um
conto ou romance?
19 Unesp 2013 No sétimo parágrafo do texto de Syd Field, que informação o autor passa ao aprendiz de roteirista com
os diversos exemplos que apresenta?
20 Unesp 2013 Clarice Lispector coloca inicialmente o processo da criação literária como uma maldição. Em seguida,
ressalva que é também uma salvação. Com base no texto da crônica, explique como a autora resolve essa diferença
de conceitos sobre a criação literária.
FRENTE ÚNICA
3
CAPÍTULO Figuras de linguagem ligadas aos aspectos fonético
e sintático
O poema de Augusto de Campos emprega sessenta combinações com as letras
da palavra acaso; com isso cria um trocadilho em torno de um mesmo vocábulo, resul-
tando em palavras que não existem, com exceção de duas: “acaso” e “caos” (“caaos”),
se desprezarmos a ortografia e considerarmos a sonoridade. O caos está no fato de
as palavras serem construídas ao acaso. O trocadilho decorrente das combinações
dá ao poema visualidade e sonoridade, características da poesia concreta. Esse movi-
mento explorou sobretudo os aspectos formais de modo que estes se aproximassem
do conteúdo.
Paronomásia
Denotação
A denotação (do latim denotatione, “indicação”) está
Quinho
presente no texto no instante em que o enunciador utiliza
as palavras em sentido literal (ao pé da letra), ela “remete”,
como afirma Massaud Moisés, no Dicionário de termos literá-
rios, ao que no sentido é comum a todos os falantes de uma
mesma língua. Assim, a palavra “mala”, em sentido denotativo,
terá sempre o mesmo significado: “saco de couro ou pano;
caixa de madeira revestida de couro ou lona, destinada, ge-
ralmente, ao transporte de roupas” (Dicionário escolar da
língua portuguesa, Francisco da Silveira Bueno). A denotação
move-se, mais frequentemente, no discurso científico, caracte-
rizado pela “univocidade” das palavras (um só sentido). Nesse
tipo de texto, a enunciação utiliza as palavras em sentido
literal, em conformidade com o dicionário. A denotação tem
sua equivalência na função referencial, também chamada
função denotativa. Dessa forma, todos os textos de caráter
informativo, que apresentem linguagem objetiva, fazem uso Também chamada parequese em português (calembour,
da denotação (livros didáticos, manuais, memorandos etc.). em francês), a paronomásia consiste no emprego de pa-
Quando se tem a denotação, a carga semântica (o significado) lavras semelhantes na grafia e/ou no som, mas diferentes
deriva, não do contexto, mas da convenção. ou opostas no sentido. Todo trocadilho se vale da paro-
nomásia; os poetas, jornalistas, redatores utilizam esse
Conotação recursopara dar elegância ao texto.
A conotação (do latim cum + notatione, “notação”,
Sagres sagrou então a Descoberta...
“marca”) é empregada no texto no momento em que uma
Miguel Torga. “Sagres”. Poemas ibéricos.
palavra ou expressão tem seu sentido literal alterado. Por Coimbra: Coimbra Editores, 1965. p. 21.
associação mental e por meio do encadeamento de ima-
D’esta arte a gente força e esforça Nuno
gens ou alusões, chega-se a um outro sentido, que não o
Luís Vaz de Camões. Os Lusíadas.
literal. A poesia é por excelência conotativa, ao passo que
a prosa narrativa típica (um romance, um conto etc.) pro-
Mas não tremas, nem temas
move uma harmonia entre esses dois níveis de linguagem.
Padre Antônio Vieira.
Segundo Massaud Moisés, num texto poético cada palavra
pode assumir mais de um sentido, num texto em prosa Todas nove nos braços o tomaram, criando-o com seu
(parágrafo) o vocábulo isolado tende para a denotação, e leite no seu leito.
só adquire sentido conotativo no conjunto da obra em que Luís Vaz de Camões. Lírica de Camões.
se insere. Compare: Esse eficiente físico é um deficiente físico.
Você é um mala, Roberto!
Esqueceu minha mala em casa! Se você não pede, o Paraná perde.
74 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 3 Figuras de linguagem ligadas aos aspectos fonético e sintático
BUM
Colos, calos, cuspo, caspa.
David Mourão-Ferreira. Capital.
Laura Glover/stock.xchng
determinados sons.
© Dsukhov | Dreamstime.com
75
76 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 3 Figuras de linguagem ligadas aos aspectos fonético e sintático
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo (todos os homens: terceira pessoa do plural; somos:
digere, tudo acaba. primeira pessoa do plural)
Padre Antônio Vieira. Sermões.
ras? As pedras não são criaturas? (grupo: terceira do singular; Falavam: terceira do plural)
FRENTE ÚNICA
77
(na ordem direta: O teu sangue não é de maior primor que Ó minha menina loura, / Ó minha loura menina
o meu sangue.) Fernando Pessoa.
De tudo, ao meu amor serei atento Crédit Lyonnais: A banca do futuro / a vossa futura banca
Antes, e com tal zelo, e sempre...
Vinicius de Moraes. Soneto de fidelidade.
Apóstrofe
(na ordem direta: Serei atento ao meu amor antes de tudo...) Essa figura é utilizada para evocar um ser, animado
ou não.
Anacoluto
Trata-se da ruptura sintática da frase; o anacoluto é mui-
to frequente na linguagem oral. Este procedimento resulta
do fato de o locutor dedicar mais atenção ao pensamento do
que à organização sintática. O anacoluto ocorre, por exem-
plo, quando o enunciador interrompe a oração principal para
introduzir a subordinada e não dá sequência à primeira ora-
ção; a oração principal ficará incompleta sintaticamente, pois
não teve seu término.
A noite
– Como ela vinha!
Morna, suave,
Muito branca, aos tropeções, Ó mar salgado, quanto do teu sal
Já sobre as coisas descia São lágrimas de Portugal!
E eu nos teu braços deitado Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Até sonhei que morria Quantos filhos em vão rezaram!
António Botto. As canções de António Botto. Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Eu, parece-me que sim; pelo menos nada conheço, que Fernando Pessoa. Mar português. In: O guardador de rebanhos e outros
se lhe aparente. poemas. 7. ed. Cultrix: 2004. p. 207.
M. de Sá-Carneiro. Cartas escolhidas.
Homens: porque não nasci apenas no espelho,
O homem daqui, seu conceito de felicidade é muito mais Sem alma deste lado?
subjetivo. José Gomes Ferreira. O escritor.
Rachel de Queiroz. Felicidade.
Mortos, Mortos, Desenganai estes vivos! Dizei-nos que
O professor... eu não fiz a lição, meu Deus! pensamentos e sentimentos foram os vossos quando entrastes
e saístes pelas portas da morte?
No primeiro exemplo, a oração principal não teve
Padre Antônio Vieira. Sermões. São Paulo: Edições Layola, 2008. p. 44.
sequência (“A noite...”). Nos três últimos, faltou o primeiro
predicado.
Paralelismo
Quiasmo Trata-se de repetição de estruturas sintáticas ao longo
do texto.
Viva vaia (1972) AUGUSTO DE CAMPOS
78 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 3 Figuras de linguagem ligadas aos aspectos fonético e sintático
Revisando
De 1 a 3, identifique a(s) figura(s) de linguagem. 7 Explique a silepse de autoria do grupo de rock Ultraje
a Rigor:
1 Na messe, que enlourece, estremece a quermesse... A gente somos inútil!
Eugênio de Castro. Roger Moreira.
4 Leia o texto a seguir e diga quais as figuras empregadas.
Sem lenço sem documento.
Caetano Veloso. Alegria, Alegria.
10 Em prosa, a zeugma costuma receber vírgula. Pon-
tue adequadamente o texto a seguir, empregando a
zeugma.
As meninas cortavam a laranja e os meninos a me-
5 No texto a seguir, a aliteração possui efeito onomato- lancia.
paico. Explique.
Estamos roxos de raiva com o arrocho salarial.
Jornal Unidade Bancária.
79
Exercícios propostos
Texto para a questão 1. Decidiu mover uma guerra implacável, sem quartel, às
telas de Van Gogh, onde quer que estivessem. Começaria
Saltos altos estalam seco nas ressonantes escadas de pelas mais próximas, as do Museu de Arte Moderna de São
pedra. Ar de inverno no castelo, cotas de malha enforcadas, Paulo. Seu plano era de uma simplicidade diabólica. Não
castiçais de ferro tosco por sobre as espirais das espiraladas faria como outros destruidores de telas que entram num
escadas. Tiques e taques de saltos altos, ecos altos e ocos. museu armados de facas e atiram-se às obras, tentando
Alguém lá embaixo quer falar com a senhorita. destruí-las; tais insanos não apenas não conseguem seu
James Joyce (Adapt.). intento, como acabam na cadeia. Não, usaria um método
científico, recorrendo a aliados absolutamente insuspei-
1 Em de saltos altos, ecos altos e ocos, o significante (letra/ tados: os cupins.
Deu-lhe muito trabalho, aquilo. Em primeiro lugar, era
som) aproxima-se do significado; tal recurso também
necessário treinar os cupins para que atacassem as telas de
é observado em: Van Gogh. Para isso, recorreu a uma técnica pavloviana.
a A luz das tuas feridas é o fato de o sofrimento levar à Reproduções das telas do artista, em tamanho natural, eram
espiritualidade. recobertas com uma solução açucarada. Dessa forma, os
b “Ouvia zum de besouro na cabeça, estava enlou- insetos aprenderam a diferenciar tais obras de outras.
quecendo.” Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um tipo
c A árvore no alto da montanha parecia um velho de cupim que só queria comer Van Gogh. Para ele era
repulsivo, mas para os insetos era agradável, e isso era o
sábio.
que importava.
d Às tuas feridas, ofereço-lhes o meu mel. Conseguiu introduzir os cupins no museu e ficou à
e – Não me seduza, o seu tropeço é a minha sorte. espera do que aconteceria. Sua decepção, contudo, foi
enorme. Em vez de atacar as obras de arte, os cupins
Leia a crônica “Inconfiáveis cupins”, de Moacyr Scliar, preferiram as vigas de sustentação do prédio, feitas de
para responder à questão 2. madeira absolutamente vulgar. E por isso foram detectados.
O homem ficou furioso. Nem nos cupins se pode
Havia um homem que odiava Van Gogh. Pintor des- confiar, foi a sua desconsolada conclusão. É verdade que
conhecido, pobre, atribuía todas suas frustrações ao artista alguns insetos foram encontrados próximos a telas de Van
holandês. Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis Gogh. Mas isso não lhe serviu de consolo. Suspeitava que
girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes os sádicos cupins estivessem querendo apenas debochar
deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu dele. Cupins e Van Gogh, era tudo a mesma coisa.
instinto criador. (O imaginário cotidiano, 2002.)
80 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 3 Figuras de linguagem ligadas aos aspectos fonético e sintático
surda, amigo da água, bem com o escuro, filho do fundo, No último verso, encontramos algumas figuras de lin-
poupando forças para o fim. Nada mais, nada de graça; guagem. Uma delas é:
nem um arranco, fora de hora. Assim. a eufemismo.
João Guimarães Rosa. “O burrinho pedrês”. Sagarana. b anacoluto.
c pleonasmo.
3 Fuvest Como exemplos da expressividade sonora pre- d elipse.
sente nesse excerto, podemos citar a onomatopeia, em e anáfora.
Chu-áa! Chu-áa..., e a fusão de onomatopeia com ali-
teração, em: 6 FMU Leia.
a “vestindo água”.
b “ruge o rio”. De tudo, ao meu amor serei atento
c “poço doido”. Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
d “filho do fundo”. Vinicius de Moraes.
e “fora de hora”. A repetição da conjunção e constitui uma figura de
linguagem que chamamos:
Texto para a questão 4. a eufemismo.
A onda b anacoluto.
c hipérbato.
a onda anda
d hipérbole.
aonde anda
e polissíndeto.
a onda?
a onda ainda
ainda onda 7 EsPCEx 2019 Assinale a alternativa em que a palavra
ainda anda “boca” apresenta sentido denotativo.
aonde? a Em boca fechada não entra mosquito.
aonde? b Não contem nada a ninguém! Boca de siri!
a onda a onda c Vestirei minha calça boca de sino.
FRENTE ÚNICA
81
82 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 3 Figuras de linguagem ligadas aos aspectos fonético e sintático
83
84 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 3 Figuras de linguagem ligadas aos aspectos fonético e sintático
Texto complementar
A paronomásia rompe o discurso (hipotaxe), tornando-o espacial (parataxe), criando uma sintaxe não linear, uma sintaxe
analógico-topológica. Num poema, a paronomásia horizontal (aliteração, coliteração) cria a melodia, enquanto a paronomásia
vertical é responsável pela harmonia. A rima constitui a paronomásia vertical mais comum. Un coup de dês, de Mallarmé, e
os poemas concretos, trabalham com paronomásias audiovisuais horizontais e verticais. A repetição dos sons sempre é uma
repetição que se dá no tempo. Essa repetição dos sons no tempo cria uma rede especial rítmica – um diagrama, uma sintaxe
topológica. Ritmo é ícone. O som com marcação de tempo é ritmo, assim como é ritmo a marcação espaciotemporal (na
dança, no cinema ou numa cadeia de montagem) e a espacialização do espaço (na arquitetura ou na pintura). O ritmo é
um ícone relacional. Resumindo, a similaridade sonora gera semelhanças e correspondências espaciais – e aqui nós temos
o fundamento principal da sintaxe icônica subjacente na poesia e em certos tipos de prosa, como as obras ,
Ulysses e Finnegans Wake. A paronomásia seria a ponte do verbal para o icônico.
FRENTE ÚNICA
Décio Pignatari. Semiótica & Literatura. 6. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004. p. 181.
85
Livro Site
yy ANTUNES, Arnaldo. Palavra Desordem. São Paulo: Iluminuras, 2002. yy <www.poesiaconcreta.com.br/imagem.php>.
Filme CHARGE/CRONISTA
yy O grande ditador. Direção: Charlie Chaplin, 1940. yy Bessinha.
yy Jânio de Freitas (colunista e membro do conselho editorial do jornal
Folha de S.Paulo).
86 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 3 Figuras de linguagem ligadas aos aspectos fonético e sintático
— Logo vi que era “gentinha”... 01 A expressão “Eis um traço merecedor” (linha 46)
— Você viu o “jeito” dele (ou dela)? Descobri imedia- exerce uma função anafórica ao retomar o subs-
tamente quem era pelo modo como ele (ou ela) se sentou, tantivo “‘aparência’” (linha 46), denotando ironia
comeu e falou. discursiva por parte do autor.
87
88 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 3 Figuras de linguagem ligadas aos aspectos fonético e sintático
Caco Galhardo
5 UFSCar Leia o texto.
Eu tinha o medo imediato. E tanta claridade do dia. O
arrojo do rio e só aquele estrape, e o risco extenso d'água,
de parte a parte. Alto rio, fechei os olhos. Mas eu tinha até
ali agarrado uma esperança. Tinha ouvido dizer que, quan-
do canoa vira, fica boiando, e é bastante a gente se apoiar 7 Unicamp No quadrinho de Caco Galhardo, outras as-
nela, encostar um dedo que seja, para se ter tenência, a sociações com a crise política podem ser observadas.
constância de não afundar, e aí ir seguindo, até sobre se sair a) “Vossa Excelência me permite um aparte” é uma
expressão típica de um espaço institucional. Qual
no seco. Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse: ― “Esta
é esse espaço e quais as palavras que permitem
é das que afundam inteiras. É canoa de peroba. Canoa de
essa identificação?
peroba e de pau-d'óleo não sobrenadam...” Me deu uma
b) A expressão ‘um aparte’ pode ser segmentada de
tontura. O ódio que eu quis: ah, tantas canoas no porto,
outra maneira. Qual a expressão resultante dessa
boas canoas boiantes, de faveira ou tamboril, de imburana,
segmentação? Explique o sentido de cada uma
vinhático ou cedro, e a gente tinha escolhido aquela... Até
das expressões.
fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra! c) Levando em consideração as relações entre as
Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, p. 88-89.
imagens e as palavras, explique como se constrói
Estrape: instrumento de tortura. a interpretação do quadrinho.
Diz Alfredo Bosi a respeito de Guimarães Rosa: ‘Grande Textos para a questão 8.
Sertão: Veredas’ e as novelas de 'Corpo de Baile’ incluem
e revitalizam recursos da expressão poética: células Mar (fragmento)
rítmicas, aliterações, onomatopeias, rimas internas, ousa- A primeira vez que vi o mar eu não estava sozinho.
dias mórficas, elipses, cortes e deslocamentos de sintaxe, Estava no meio de um bando enorme de meninos. Nós
vocabulário insólito, arcaico ou de todo neológico, asso- tínhamos viajado para ver o mar. No meio de nós havia
ciações raras, metáforas, anáforas, metonímias, fusão de apenas um menino que já o tinha visto. Ele nos contava
estilos, coralidade. que havia três espécies de mar: o mar mesmo, a maré,
Alfredo Bosi. História Concisa da Literatura Brasileira. p. 430. que é menor que o mar, e a marola, que é menor que a
maré. Logo a gente fazia ideia de um lago enorme e duas
a) De qual dos recursos enumerados Guimarães lagoas. Mas o menino explicava que não. O mar entrava
Rosa faz uso no trecho Eu disse isso. E o canoeiro pela maré e a maré entrava pela marola. A marola vinha
me contradisse? Explique. e voltava. A maré enchia e vazava. O mar às vezes tinha
b) Com qual desses recursos pode ser associada a fra- espuma e às vezes não tinha. Isso perturbava ainda mais
se Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra! ? a imagem. Três lagoas mexendo, esvaziando e enchendo,
com uns rios no meio, às vezes uma porção de espumas,
tudo isso muito salgado, azul, com ventos.
6 Fuvest Leia o texto. Rubem Braga
a) É correto afirmar que o verbo “dormia” tem uma Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
conotação positiva, tendo em vista o contexto em Mas nele é que espelhou o céu.
que ele ocorre? Justifique sua resposta. Fernando Pessoa
89
90 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 3 Figuras de linguagem ligadas aos aspectos fonético e sintático
91
92 INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 3 Figuras de linguagem ligadas aos aspectos fonético e sintático
4
CAPÍTULO Funções da linguagem
Para passar informações, o jornal emprega dois códigos: o verbal e o visual. Na
manchete da Folha de S.Paulo, a linguagem visual aparece na foto de Obama olhando
para a câmera para criar efeito de diálogo com o leitor, exercendo função apelativa
(centrada no receptor). E o texto verbal usa a impessoalidade e a linguagem objetiva
(trata-se da função referencial, associada ao contexto e ao referente).
O texto como um todo (verbo-visual) é parcial: Obama é manchete e ocupa o lu-
gar de maior destaque. Não há veículo de comunicação imparcial, pois o editor-chefe
seleciona e veicula o fato segundo uma visão de mundo, uma ideologia. Os leitores
devem comparar as notícias e, se possível, comprová-las, e o estudo das funções da
linguagem auxilia bastante nesse sentido.
grande importância para a Literatura e para a Língua Portu- Marcas: sentimentos do “eu”, primeira pessoa, excla-
guesa, a sua cobrança nos exames vestibulares é uma prova mação.
disso. O seu entendimento passa pela correlação com a cha-
mada teoria da comunicação. Observe o esquema a seguir. III.
Reprodução.
Referente
(função referencial)
Código
(função metalinguística)
Reprodução
Rosa, Graciliano Ramos etc.), anúncios publicitários, entre
outros tipos de texto.
I. Eu gosto de palavras tortas
Como as colheres de sopa.
[...]
Flávio Aguiar.
Arnaldo Antunes
Fig. 2 Marcas: presença de pergunta e pronome de tratamento “você”.
III.
ATX-BA/PROPEG
Função metalinguística
Centralizada no código, a função metalinguística serve
para dar explicações ou precisar o código utilizado. Os dicio-
nários e as nomenclaturas utilizadas na ciência (objeto direto,
por exemplo) possuem essa finalidade (a linguagem fala da
própria linguagem).
Temos metalinguagem pictórica (pintura), televisiva, teatral,
FRENTE ÚNICA
95
laerte
Marcas: trabalho com os códigos linguísticos.
II. Tudo o que contei no fim do outro capítulo foi obra de um instante.
Machado de Assis. Dom Casmurro.
DA IMPRESSIONANTE TRAGÉDIA
destinatário; a neutralização de ambos é intencional, a objetivi- Como se tornaram amantes - A primeira
nuvem - O abysmo - Um anniversário funesto - A tragédia
dade não é obra do acaso. Se a função emotiva está centrada
A IMPRESSÃO CAUSADA EM S. PAULO
no “eu”, a conativa no “tu”, a referencial – também chamada
“denotativa” ou “informativa” – está centrada no “ele” neutro, Fig. 6 Função referencial.
Revisando
1 Cite os elementos da teoria da comunicação e relacione-os com cada uma das funções da linguagem.
FRENTE ÚNICA
97
4 Por que a composição de Paulinho da Viola pode ser
considerada metalinguística?
3 Qual é o papel de cada uma das funções menciona-
das no exercício anterior?
Texto para as questões de 4 a 6.
5 Que função da linguagem observa-se em “Quando
Vem, quando bate uma saudade
surge a luz da criação no pensamento”, levando em
Triste, carregado de emoção
conta o investimento na linguagem conotativa?
Ou aflito quando um beijo já não arde
No reverso inevitável da paixão
Quase sempre um coração amargurado
Pelo desprezo de alguém 6 Exemplifique um trecho em que se nota a função emo-
É tocado pelas cordas de uma viola tiva de forma mais evidente.
É assim que um samba vem
Quando o poeta se encontra
Sozinho num canto qualquer do seu mundo
Vibram acordes, surgem imagens
Exercícios propostos
1 Qual é o objetivo da utilização da função conativa no Dizem que eu sou louco.
nome da revista a seguir? Explique. Dizem: oração principal; que eu sou louco: oração su-
bordinada substantiva
REPRODUÇÃO/VEJA
99
para mim, um simples dever de admiração e de inveja. b) Amarás a Deus sobre todas as coisas
Separados um do outro pelo espaço e pelo destino, o mal Não tomarás seu santo nome em vão
aparecia-me agora, não só possível mas certo. Guardarás os domingos e feriados
“Uma ponta de Iago”, Dom Casmurro, Machado de Assis Honrarás pai e mãe
Não matarás
6 Mackenzie 2018 Assinale em qual trecho podemos en- Não pecarás contra a castidade
contrar o recurso da metalinguagem. Não furtarás...
a “Tal foi o que me mordeu, ao repetir comigo as pa- Os Dez Mandamentos.
lavras de José Dias: «Algum peralta da vizinhança». c) Ligue-se!
b “A minha memória ouve ainda agora as pancadas Com o Palm III, dá para mandar e-mail, checar a agen-
do coração naquele instante.” da, consultar bancos de dados, navegar pela Web... tudo
c “Há alguma exageração nisto; mas o discurso hu- por menos de 1.000 reais.
mano é assim mesmo, um composto de partes Revista Info, capa, n. 150, set. 1998.
excessivas e partes diminutas, que se compensam,
ajustando-se.”
d “Em verdade, nunca pensara em tal desastre.” Texto para as questões de 10 a 12.
e “Separados um do outro pelo espaço e pelo destino, Sexa
o mal aparecia-me agora, não só possível mas certo.”
– Pai...
– Hmmm?
7 Comente os recursos que caracterizam a função poética – Como é o feminino de sexo?
no texto a seguir. – O quê?
O não me irrita – O feminino de sexo.
O sim me excita – Não tem.
negra, em imagens de produtos de beleza presentes em pectivas, gerando uma pluralidade de teorias que buscam
comércios do nordeste goiano. Evidencia-se que a presen- compreendê-la e explicá-la.
ça de estereótipos negativos nessas imagens dissemina um Esmeralda Vailati Negrão, “A cartografia sintática”,
imaginário racista apresentado sob a forma de uma estética em Novos caminhos da Linguística
101
Prezado senhor:
Gosto de palavras. Gosto de palavras gordas, untuosas, como lodo, torpitude, glutinoso, bajulador. Gosto de palavras
solenes, como pudico, ranzinza, pecunioso, valetudinário. Gosto de palavras espúrias, enganosas, como mortiço, liquidar,
tonsura, mundana. Gosto de suaves palavras com “V”, como Svengali, avesso, bravura, verve. Gosto de palavras crocantes,
quebradiças, crepitantes, como estilha, croque, esbarrão, crosta. Gosto de palavras emburradas, carrancudas, amuadas,
como furtivo, macambúzio, escabioso, sovina. Gosto de palavras chocantes, exclamativas, enfáticas, como astuto, estafante,
requintado, horrendo. Gosto de palavras elegantes, rebuscadas, como estival, peregrinação, Elísio, Alcíone. Gosto de pala-
vras vermiformes, contorcidas, farinhentas, como rastejar, choramingar, guinchar, gotejar. Gosto de palavras escorregadias,
risonhas, como topete, borbulhão, arroto.
Gosto mais da palavra roteirista que da palavra redator, e por isso resolvi largar meu emprego numa agência de publici-
dade de Nova York e tentar a sorte em Hollywood, mas, antes de dar o grande salto, fui para a Europa, onde passei um ano
estudando, contemplando e perambulando.
Robert Pirosh
Madison Avenue, 385
Quarto 610 Nova York
Eldorado 5-6024.
(USHER, Shaun .(Org) Cartas extraordinárias: a correspondência inesquecível de pessoas notáveis.
Trad. de Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 48.)
Resumindo
yy Função emotiva (ou expressiva): centrada no emissor, expressa a sua atitude em relação ao conteúdo da mensagem e da situação. É o caso da
interjeição com valor emotivo, julgamentos subjetivos, entonações características, reticências, apostos (linguagem de primeira pessoa, é o próprio
falante), adjetivos, advérbios, torneios sintáticos, metáforas, comparações e uso de primeira pessoa.
yy Função apelativa (ou conativa): centrada no receptor, essa função procura estabelecer um diálogo direto com o destinatário da comunicação (o
receptor, linguagem em segunda pessoa). É frequente o uso de demonstrativos e possessivos de segunda pessoa, imperativos e vocativos.
yy Função poética: centrada na mensagem, suplementa o sentido da mensagem por meio do jogo de sua estrutura, de seu ritmo e de sua sonoridade.
yy Função metalinguística: centrada no código, a função metalinguística serve para dar explicações ou precisar o código utilizado.
yy Os dicionários e as nomenclaturas utilizadas na ciência (objeto direto, por exemplo) possuem essa finalidade (a linguagem fala da própria linguagem).
yy Função referencial (denotativa ou informativa): centrada no referente, essa função remete aos referentes situacionais ou textuais. Visa a informar;
a ênfase é dada à terceira pessoa (impessoalidade).
yy Função fática: serve para iniciar, prolongar ou interromper a comunicação e verificar se o canal funciona. Ou seja, tem a função de instaurar ou
manter o contato.
Livro Filme
yy BUARQUE, Chico. Budapeste. São Paulo: Cia. das Letras, 2003. yy Batismo de sangue. Direção: Helvecio Ratton.
Site Teatro
yy <www.semiotica.com.br/?page_id=5>. yy Qorpo Santo. Relações naturais. São Paulo: Mercado Aberto.
Charge
FRENTE ÚNICA
103
105
Poiesis II
luz lapidada
de ourives segredo
incorruptível brilho
faz da sua chama
meu ideograma.
Carlos F. F. de Magalhães. Perau. Goiânia: Vieira, 2004. p. 203.
8 Cite uma passagem em que se observa a presença da função metalinguística em ambos os textos.
Coplas
I II
O GERENTE – Este hotel está na berra! O GERENTE – Nesta casa não é raro
Coisa é muito natural Protestar algum freguês:
Jamais houve nesta terra Coisa é muito natural!
Um hotel assim mais tal! 15 Acha bom, mas acha caro
5 Toda a gente, meus senhores, Quando chega o fim do mês.
Toda a gente ao vê-lo diz: Por ser bom precisamente,
Que os não há superiores Se o freguês é do bom-tom
Na cidade de Paris! Vai dizendo a toda a gente
Que belo hotel excepcional 20 Que isto é caro mas é bom.
10 O Grande Hotel da Capital Que belo hotel excepcional!
Federal! O Grande Hotel da Capital
CORO – Que belo hotel excepcional etc. Federal!
CORO – Que belo hotel excepcional etc.
coplas: espécie de estrofe; berra: estar na moda.
O GERENTE (Aos criados) – Vamos! Vamos! Aviem-se! Tomem as malas e encaminhem estes senhores! Mexam-se! Mexam-se!...
(Vozerio. Os hóspedes pedem quarto, banhos etc. Os criados respondem. Tomam as malas, saem todos, uns pela escadaria,
outros pela direita.)
CENA II
O GERENTE, depois, FIGUEIREDO
O GERENTE (Só) – Não há mãos a medir! Pudera! Se nunca houve no Rio de Janeiro um Hotel assim! Serviço elétrico
de primeira ordem! Cozinha esplêndida, música de câmara durante as refeições da mesa redonda! Um relógio pneumático
em cada aposento! Banhos frios e quentes, duchas, sala de natação, ginástica e massagem! Grande salão com um plafond
pintado pelos nossos primeiros artistas! Enfim, uma verdadeira novidade! – Antes de nos estabelecermos aqui, era uma ver-
gonha! Havia hotéis em São Paulo superiores aos melhores do Rio de Janeiro! Mas em boa hora foi organizada a Companhia
do Grande Hotel da Capital Federal, que dotou esta cidade com um melhoramento tão reclamado! E o caso é que a empresa
está dando ótimos dividendos e as ações andam por empenhos! (Figueiredo aparece no topo da escada e começa a descer.)
Ali vem o Figueiredo. Aquele é o verdadeiro tipo do carioca: nunca está satisfeito. Aposto que vem fazer alguma reclamação.
Arthur Azevedo. A Capital Federal. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, 1972.
Plafond: teto.
10 Uerj O texto faz parte de uma peça de teatro, forma de expressão que se destacou na captação das imagens de um Rio
de Janeiro que se modernizava no início do século XX.
a) Aponte o gênero de composição em que se enquadra esse texto e um aspecto característico desse gênero.
b) A fala do gerente revela atitudes distintas, quando se dirige aos criados e quando está só. Identifique o modo
verbal e a função da linguagem predominantes na fala dirigida aos criados.
107
oferece para uma eficaz expressão poética faz do Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo.
autor, seja poeta ou compositor, um artista, o que
evidencia que não cabem distinções de ordem al- Mal de te amar neste lugar de imperfeição
guma entre o fazer de um e do outro. Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.
Sophia de Mello Breyner Andresen, “Terror de te amar”. In: Antologia, 1944-1967.
12 Leia o verbete a seguir e faça o que se pede.
ciência [do lat. scientia]. s. f. [...] conjunto de conhecimen- I. Aproximam-se pelo tema do amor e pelo fato de
tos socialmente adquiridos ou produzidos, historicamente empregarem um mesmo tipo de repetição.
acumulados, dotados de universalidade e objetividade que II. Distanciam-se pela forma de tratar o amor (em
permitem sua transmissão, e estruturados com métodos, Camões o amor é impessoal, e em Andresen é
teorias e linguagens próprias, que visam compreender e, pessoal, há a função conativa).
possivelmente, orientar a natureza e atividades humanas. III. O texto de Sophia, assim como o de Camões,
a) Descreva a linguagem utilizada no texto citado. utiliza oposições semânticas para definir o amor,
b) Quais funções da linguagem ocorrem? como em Onde tudo nos mente e nos separa.
18 Você sabe o que é arte “naïf’”ou arte primitiva? Segundo alguns catálogos de artes plásticas, trata-se da criação intuitiva
de artistas populares, sem qualquer formação técnica ou erudita. Um dos maiores representantes brasileiros dessa vertente
artística foi Heitor dos Prazeres, que também se consagrara como sambista na primeira metade do século passado.
No texto anterior, nota-se a presença de algumas funções da linguagem; entre elas, destacam-se a que promove uma
aproximação com o leitor e a que informa a respeito do assunto. Diga quais são.
109
Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
BRASIL. Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres. Balanço anual 2016.
Disponível em: <https://goo.gl/W59kFm>. Acesso em: 12 abr. 2018.
– Guerreiros, ouvi-me;
– Quem há, como eu sou?
Antônio Gonçalves Dias. Cantos e Recantos. Rio de Janeiro: Ediouro.
20 UFU 2018
a) Indique a função da linguagem predominante no Macunaíma
texto I e justifique sua resposta.
b) Considerando-se o total de 140.350 relatos de (Epílogo)
violência à Central de Atendimento à Mulher, es- Acabou-se a história e morreu a vitória.
creva um parágrafo com, no máximo 10 linhas, a Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na
partir do texto II, cuja função da linguagem predo- tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em
minante seja a referencial. um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles
campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos,
21 UEG Leia estes trechos: aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um
silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum
Trecho 1 conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem
A lembrança da vida da gente se guarda em trechos contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber do
diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com Herói?
os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, Mário de Andrade. Macunaíma.
111
5
CAPÍTULO Categorias de mundo e temas e figuras
No quadro do pintor surrealista René Magritte, vê-se um homem diante do espelho,
em uma cena simples, com os elementos presentes bem figurativizados, claros. Contu-
do, há uma quebra de expectativa, pois a imagem do homem no espelho está de costas,
criando uma incoerência que instiga a fantasia. Seu tema, portanto, é o estranhamento
ante uma realidade com a qual o observador do quadro não lida no dia a dia.
No entanto, toda a subversão é construída com categorias bem conhecidas nos
textos em geral, como espaço e pessoa, e figuras comumente representadas, um ho-
mem e objetos do cotidiano. Toda a diferença obtida da subversão figurativa se obtém,
assim, da escolha do sujeito da enunciação, ou seja, o autor da obra. E esses elemen-
tos são o objeto de estudo deste capítulo.
Já o estudo dos temas e das figuras permitirá ao aluno iden- Na manchete da revista Veja, o enunciador estabelece
tificar com mais clareza o assunto discutido no texto, o tema. diálogo com o leitor por meio do ponto de interrogação e do
verbo “saber” no imperativo (saiba você); esse procedimento
Categorias pessoa-tempo-espaço cria efeito de aproximação e subjetividade. Além disso, a
O sujeito da enunciação, segundo Diana Luz Pessoa frase “assim é demais” constitui-se em um juízo de valor,
de Barros, professora livre-docente da Universidade de São outra marca de subjetividade. Os dois procedimentos tornam
Paulo, faz uma série de opções para projetar o discurso, a manchete subjetiva, o que é coerente com esse tipo de
tendo em vista os efeitos de sentido que deseja produzir. revista. No texto da Folha de S.Paulo, não há a conversa
Essas opções criam efeitos de proximidade ou distanciamento com o leitor nem o juízo de valor, o fato é colocado de modo
da enunciação e efeitos de realidade. objetivo e impessoal.
Enunciador
Narrador
Interlocutores
115
Fig. 4 (...esta...)
117
Texto 3
Gustave Courbet/Wikipedia
Fig. 6 Gustave Coubert. Mulheres peneirando trigo. Museu de Belas Artes de Nantes, Nantes, França.
Texto 4
Os realistas, sob o comando de Gustave Coubert, reagem ao convencionalismo neoclássico e à emoção dos românticos.
Negam a imaginação. A pintura é uma arte objetiva, destinada a fixar as coisas existentes, não as imaginadas. O pintor representa
somente aquilo que vê.
Disponível em: <http://taislc.blogspot.com/2010_01_27_archive.html>.
Os textos 1 e 3 são figurativos, predominam as categorias concretas, elementos do mundo natural, possuem função
representativa, como esquematiza a tabela:
Texto 1 Texto 3
mulher de costas em primeiro
plano
lobo
mulher deitada
cordeiro
menino
córrego
utensílios do quarto
água
o próprio quarto
o trigo
percurso figurativo
percurso figurativo
Os textos 2 e 4 são temáticos, predominam as categorias abstratas, possuem função interpretativa. Observe a tabela:
Texto 2 Texto 4
discussões
convencionalismo
ignorância
emocionalismo
brutalidade
imaginação
razão
percurso temático
percurso temático
FRENTE ÚNICA
Os textos 1 e 3 falam por meio de figuras; os textos 2 e 4, por meio de temas. Os textos 1 e 3 são mais subjetivos; os
textos 2 e 4 são mais objetivos, diretos.
119
121
Exercícios propostos
1 ITA Assinale a opção em que a manchete de jornal Alguns, chumbados, morreram.
está mais em acordo com os cânones da “objetivida- O morro ficou mais encantado.
de jornalística”:
a O mestre do samba volta em grande forma. Mas as vozes do morro
O Estado de S. Paulo, 17 jul. 1999. não são propriamente lúgubres.
Há mesmo um cavaquinho bem afinado
b O pior do sertão na festa dos 500 anos.
que domina os ruídos da pedra e da folhagem
O Estado de S. Paulo, 17 jul. 1999.
e desce até nós, modesto e recreativo,
c Proteína direciona células no cérebro. como uma gentileza do morro.
Folha de S.Paulo, 24 jul. 1999. (Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012, p.19.)
d A farra dos juros saiu mais cara que a da casa própria.
Folha de S.Paulo, 13 jun. 1999.
2 Unicamp 2016 No poema “Morro da Babilônia”, de Car-
e Dono de telas “falsas” diz existir “armação”. los Drummond de Andrade,
O Estado de S. Paulo, 21 jul. 1999. a a menção à cidade do Rio de Janeiro é feita de
modo indireto, metonimicamente, pela referência
Texto para a questão 2. ao Morro da Babilônia.
Morro da Babilônia b o sentimento do mundo é representado pela per-
cepção particular sobre a cidade do Rio de Janeiro,
À noite, do morro aludida pela metáfora do Morro da Babilônia.
descem vozes que criam o terror
c o tratamento dado ao Morro da Babilônia asse-
(terror urbano, cinquenta por cento de cinema,
melha-se ao que é dado a uma pessoa, o que
e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua
Geral). caracteriza a figura de estilo denominada parono-
másia.
Quando houve revolução, os soldados d a referência ao Morro da Babilônia produz, no per-
espalharam no morro, curso figurativo do poema, um oxímoro: a relação
o quartel pegou fogo, eles não voltaram. entre terror e gentileza no espaço urbano.
FRENTE ÚNICA
123
125
c a antipatia do jornalista no que diz respeito à busca Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais
de identidade dos artistas entrevistados. do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem
d a sinceridade dos intelectuais que são objeto das essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
crônicas dos jornalistas. Charles Chaplin. “O último discurso”. O grande ditador.
127
Texto complementar
Cadáver boiava na piscina
Fuzilado primo de cartola tricolor
Estas são as manchetes, colhidas aleatoriamente, do jornal NP do dia 1° de março de 1999. A malícia, aliada do riso,
pressupõe, como já ressaltamos, um distanciamento emocional da enunciação em relação ao enunciado. Então, onde se julga
ver morbidez, desponta o tom malicioso de voz, ao construir a tragédia cotidiana do outro, que também é a de si próprio.
O estado da malícia, nesse caso, passa a constituir-se em meio auxiliar para que o sujeito se mantenha intensamente con-
junto com o objeto desejado, a satisfação das necessidades primárias, objeto discursivizado na afirmação da sobrevivência
emocional e física. O ator malicioso pauta-se, aqui, pela imagem dada por um poder-ser, um saber-ser, um querer-ser, um
dever-ser, à revelia, ou por insubordinação, frente às próprias desgraças. Nesse caso, opõe-se a malícia ao temor, em que há
“uma espera, modalizada ao mesmo tempo e de modo conflitual pelo poder-ser (a eventualidade) e pelo querer-não-ser (a
recusa)”, como dizem Greirnas e Fontanille* (1993: 193). Firmam-se os papéis do ator da enunciação, que não pode e não
deve querer-ser temeroso. Isso, paradoxalmente, por meio de um narrador que submete, aos gritos, o narratário, para que
este possa “engolir sem mastigar” as notícias.
Confirmamos que o estilo de um jornal definitivamente não pode ser buscado apenas em fenômenos pontuais da ex-
pressão ou em desvios, com suposto significado “subjetivo” e “subjetivizador”, em relação a suposta norma. Imaginando que
se acrescentariam tais desvios à suposta norma zero, “despida de estilo”, porque também supostamente despida de figuras
de linguagem, de efeitos especiais e literários, de apelos estéticos, enfim, não encontraríamos estilo em NP, ou em jornal
nenhum. Não. O estilo é uma determinada artimanha discursiva reiterada, definível num único enunciado totalizador, sendo
este enunciado a abstração da sequência de muitos enunciados, como temos visto.
Ficando com a artimanha, voltemos à primeira página de NP, que aprisiona o leitor na fluência anárquica de emoções.
Cristalizam-se, aí, competências Iinguísticas e enciclopédicas de um leitor que, quanto mais evocado, menos se constitui num
coenunciador, se considerarmos que lhe é dado interagir com um sentido mais “acabado”, ou com um texto menos pontilhado
de lacunas a preencher. O inverso é verdadeiro, para os outros jornais. Em NP, uma homogeneidade aparente, verdadeira e
assumida faz emergir um enunciado que, também aparentemente, elimina contradições. Num parecer que se confunde com um
ser, um ator da enunciação, um sujeito semiótico, vai fazendo ser um sentido. Um enunciado, objeto semiótico, por sua vez e
Observação: * Do ponto de vista da produção do discurso, pode-se distinguir o sujeito da enunciação, que é um actante implícito logicamente
pressuposto pelo enunciado, do autor da enunciação: neste último, o ator será, diagamos, “Baudelaire”, enquanto se define pela totalidade de
seus discursos.
A. J. Greimas & J. op. cit., p. 35.
** O sentido, longe de ser recebido ou percebido, é pensado como o fruto de um ato semiótico gerador.
E. Landowski, “Simulacres em construction”, In: Parret H. (Org.), Language, 70, Paris, Larousse, 1983, p. 75.
Resumindo
Categoria pessoa-tempo-espaço
Enunciação Pessoa
yy Instância pressuposta no texto, criada pelo autor, responsável pelas yy Primeira: efeito de aproximação.
operações linguísticas. yy Terceira: efeito de distanciamento.
yy A interlocução (a comunicação entre enunciador e enunciatário).
Subjetividade Objetividade
yy Uso de figuras e/ou. yy Linguagem denotativa.
yy Primeira pessoa e/ou. yy Terceira pessoa.
yy Julgamentos de valor e/ou. yy Não há diálogo com o enunciatário.
yy Comunicação com o enunciatário. yy Não há julgamento de valor.
Embreagem
yy Embreagem: emprego conotativo das pessoas do discurso. Eis algumas possibilidades:
1. terceira pessoa pela primeira do singular. 5. segunda pessoa do singular pela primeira do singular.
2. terceira pessoa pela primeira do plural. 6. primeira pessoa do plural pela segunda do plural.
3. segunda pessoa do plural pela terceira. 7. segunda pessoa do singular pela primeira do plural.
4. primeira pessoa do singular pela segunda do singular. 8. primeira pessoa do singular pela segunda do plural.
Temas e figuras
Os textos podem ser figurativos ou temáticos. mesa, cerveja, homens bebendo constituem o percurso figurativo do bar, o
Na maioria das vezes, os textos são “predominantemente” figurativos ou qual pode tematizar, dependendo do contexto, a boemia e a embriaguez.
temáticos. Percurso temático é o conjunto de termos abstratos que convergem para
Textos figurativos são aqueles que utilizam figuras, elementos verbais ou um mesmo universo semântico (ou tema). Por exemplo: serenidade, con-
visuais que remetem ao mundo natural, como homem, jogar futebol, bar, centração, silêncio, reflexão podem constituir um percurso temático de
frio, azul. Textos temáticos são aqueles que utilizam categorias abstratas, uma seita religiosa.
FRENTE ÚNICA
como amor, rivalidade, violência, paz. Para interpretar um texto figurativo, é preciso passar do concreto para o
Percurso figurativo é o conjunto de figuras que remete a um mesmo uni- abstrato. Quando há vários percursos (figurativos ou temáticos), a interpre-
verso semântico, ou a um mesmo tema. Por exemplo: cadeira, geladeira, tação decorre da relação entre os percursos e de sua abstração.
129
Livro Filme
yy ORWELL, George. Revolução dos Bichos. São Paulo: Cia. das Letras, 2007. yy Nosferatu. Direção: Werner Herzog. Classificação indicativa: 10 anos.
Fábula sobre o poder, o livro narra uma revolução promovida pelos Refilmagem do clássico expressionista de 1922 de F. W. Murnau, o
outros animais contra os humanos. No entanto, a revolta progride filme traz uma versão da história do vampiro Drácula, criado pelo
para uma tirania ainda mais ferrenha que a anterior. escritor Bram Stoker no final do século XIX.
Site Teatro
yy <www.louvre.fr> yy IONESCO, Eugène. A Cantora Careca. Campinas: Papirus.
Acesse o grandioso acervo do famoso museu e faça uma visita Escrita em 1949, a peça é considerada a primeira obra da corrente
on-line para empreender um verdadeiro passeio pela história da arte batizada Teatro do Absurdo. Com texto irônico e diálogos absurdos,
nas suas mais variadas manifestações, atentando para os elementos o que se mostra é a total impossibilidade de comunicação entre os
narrativos abordados no capítulo. seis personagens.
Exercícios complementares
Para responder à questão 1, leia o trecho do livro O vida. Armado dessa máscara, o indivíduo consegue manter
homem cordial, de Sérgio Buarque de Holanda. sua supremacia ante o social. E, efetivamente, a polidez
implica uma presença contínua e soberana do indivíduo.
Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição No “homem cordial”, a vida em sociedade é, de certo
brasileira para a civilização será de cordialidade — dare- modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente
mos ao mundo o “homem cordial”. A lhaneza1 no trato, em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em
a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de
estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um expansão para com os outros reduz o indivíduo, cada
traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, vez mais, à parcela social, periférica, que no brasileiro —
em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral como bom americano — tende a ser a que mais importa.
dos padrões de convívio humano, informados no meio Ela é antes um viver nos outros.
rural e patriarcal. Seria engano supor que essas virtudes 1
lhaneza: afabilidade.
possam significar “boas maneiras”, civilidade. São antes (O homem cordial, 2012.)
de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extre-
mamente rico e transbordante. Na civilidade há qualquer
1 Unifesp 2020 Está empregado em sentido figurado o
coisa de coercitivo — ela pode exprimir-se em manda-
termo sublinhado em:
mentos e em sentenças. Entre os japoneses, onde, como
a “Detém-se na parte exterior, epidérmica do indiví-
se sabe, a polidez envolve os aspectos mais ordinários do
convívio social, chega a ponto de confundir-se, por vezes,
duo, podendo mesmo servir, quando necessário,
com a reverência religiosa. Já houve quem notasse este de peça de resistência.” (2.° parágrafo)
fato significativo, de que as formas exteriores de veneração b “Entre os japoneses, onde, como se sabe, a polidez
à divindade, no cerimonial xintoísta, não diferem essen- envolve os aspectos mais ordinários do convívio
cialmente das maneiras sociais de demonstrar respeito. social” (1.° parágrafo)
Nenhum povo está mais distante dessa noção ritua- c “São antes de tudo expressões legítimas de um
lista da vida do que o brasileiro. Nossa forma ordinária fundo emotivo extremamente rico e transbordan-
de convívio social é, no fundo, justamente o contrário da te.” (1.°parágrafo)
polidez. Ela pode iludir na aparência — e isso se explica d “Nenhum povo está mais distante dessa noção ri-
pelo fato de a atitude polida consistir precisamente em tualista da vida do que o brasileiro.” (2.° parágrafo)
uma espécie de mímica deliberada de manifestações que e “Na civilidade há qualquer coisa de coercitivo — ela
são espontâneas no “homem cordial”: é a forma natural e pode exprimir-se em mandamentos e em senten-
viva que se converteu em fórmula. Além disso a polidez ças.”(1.° parágrafo)
é, de algum modo, organização de defesa ante a socieda-
de. Detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo, Para responder à questão 2, leia o trecho de uma
podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de
carta enviada por Antônio Vieira ao rei D. João IV em
resistência. Equivale a um disfarce que permitirá a cada
4 de abril de 1654.
qual preservar intatas sua sensibilidade e suas emoções. Por
meio de semelhante padronização das formas exteriores da No fim da carta de que V. M.1 me fez mercê me manda
cordialidade, que não precisam ser legítimas para se mani- V. M. diga meu parecer sobre a conveniência de haver
festarem, revela-se um decisivo triunfo do espírito sobre a neste estado ou dois capitães-mores ou um só governador.
131
subjetivos.
8 Unifesp Considere o texto e analise as três afirmações
6 ITA Leia o texto seguinte. seguintes.
I. A frase “Toda criança deve ser assistida quanto
“No dia 13 de agosto de 1979, dia cinzento e triste, ao seu direito à atenção e ao carinho dos adultos”
que me causou arrepios, fui para o meu laboratório, onde,
está correta quanto aos sentidos propostos no
por sinal, pendurei uma tela de Bruegel, um dos meus
texto e também quanto à regência.
favoritos. Lá, trabalhando com tripanossomas, e vencendo
uma terrível dor de dentes...”. Não. De saída tal artigo
II. Deve-se interpretar a referência do pronome você
seria rejeitado, ainda que os resultados fossem soberbos. como criança, conforme sugerido pelo título do texto.
O estilo... O cientista não deve falar. É o objeto que deve III. As duas orações que compõem as perguntas es-
falar por meio dele. Daí o estilo impessoal, vazio de emo- tabelecem entre si relação de adversidade.
ções e valores:
observa-se, Está correto apenas o que se afirma em:
constata-se, a I.
obtém-se, b II.
conclui-se. c III.
quem? Não faz diferença... d I e II.
Rubem Alves. Filosofia da ciência. São Paulo: Brasiliense, 1991, p. 149. e II e III.
133
fragmentos da Carta e do livro O povo brasileiro é a a) O texto contém termos do universo do futebol,
diferença entre as visões de mundo dos dois escrito- como, por exemplo, “tabelinha”, uma jogada
res, distanciados no tempo por 495 anos. Tomando rápida e entrosada normalmente entre dois jo-
por base este comentário: gadores. Retire do texto outras duas expressões
a) localize uma passagem do texto de Caminha que, embora caracterizem esse universo, também
na qual, em meio a expressões de admiração e assumem outro sentido. Explique esse sentido.
louvor, se subentende a ideia de conquista do in- b) O título pode ser considerado ambíguo devido
dígena pelo branco civilizado. à expressão “sob medida”. Aponte dois sentidos
b) explique o significado que adquire no texto de possíveis para a expressão, relacionando-os ao
Darcy Ribeiro a expressão “guerra biológica”. conteúdo do texto.
16 UFSCar Segundo o Novo dicionário Aurélio básico da língua portuguesa, “sermão” é um “discurso religioso geralmen-
te pregado no púlpito”.
a) De que forma o autor reproduz, no texto escrito, características próprias do discurso falado?
b) O texto apresenta uma relação de oposição entre estaticidade e movimento. Indique, no trecho destacado em negrito, qual
dessas ideias é abordada e a forma de construção de período utilizada para exprimi-la.
135
FRENTE ÚNICA
6
CAPÍTULO Texto, ideologia e argumentação
Na imagem, ainda que seja feita uma colagem de textos de mesmo gênero (foto-
grafia), constrói-se uma ideia a partir de um constraste bem marcado entre a visão de
um sistema prisional, simbolizando a limitação da liberdade, a opressão e a vigilân-
cia, em um ambiente áspero e antinatural, e uma flor, como se estivesse depositada
aos seus pés, em primeiro plano, representando a vida e a pulsação da natureza.
Temos, portanto, um texto imagético em que um sistema de governo ou um tipo
de sociedade é poeticamente criticado, funcionando como uma maneira de propor
uma reflexão e fazer propaganda ideológica contrária a esse sistema. Esse compo-
nente ideológico do texto – a visão de mundo, a ideologia – também compõe outros
textos; trata-se de um nível de análise textual.
Interdiscursividade, intertextualidade
e propaganda ideológica
Interdiscursividade
O conceito de discurso está ligado à ideologia, con-
junto de ideias e ações de uma pessoa ou de um grupo
de indivíduos.
A ideologia é inerente ao homem, todos nós a pos-
suímos, trata-se de valores adquiridos ao longo de nossa
existência, passados de geração para geração, valores
transmitidos pela família, pela escola, pelos amigos, pela Fig. 1 Claude Monet. Claude Monet e sua mulher no seu atelier flutuante, 1874.
mídia e pelo sistema econômico vigente no país em que Óleo sobre tela. Nova Pinacoteca, München, Alemanha.
se vive; somos produto de muitos discursos. Não há um
discurso original; há, sim, um estilo original; todo discurso
reproduz um discurso que já existe, ao mesmo tempo em Jean-Auguste-Dominique Ingres/Wikipedia
Fig. 4 Pablo Picasso. Guernica, 1937. Óleo sobre tela. Museu Nacional da Rainha
Outra canção do exílio
Sofia, Madrid, Espanha. Minha terra tem Palmeiras,
Corinthians e outros times
Discursos e teorias de copas exuberantes
que ocultam muitos crimes.
Os textos científicos também possuem um discurso, uma
As aves que aqui revoam
visão de mundo; a ciência evolui, novas descobertas são
FRENTE ÚNICA
139
Fig. 8 Barack Obama em campanha presidencial, que ficou famosa pela frase:
“Yes, we can”.
Reprodução
141
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outros, pelo contrário, queriam propagar as ideias deste
homem e daquele período.
A palavra falada
Reprodução
Teatro
Oficina de atores
Fig. 13 Lenin discursando para o povo.
A palavra escrita
A letra a seguir é de Chico Buarque de Holanda.
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice Fig. 15 “Aquele que diz sim aquele que diz não”, de Bertold Brecht, peça apresentada
De vinho tinto de sangue no Teatro Dercy Gonçalves, em agosto de 2007, com direção de Rafael Cruz e alunos
da Oficina de Atores no elenco.
Como beber dessa bebida amarga Na Revolução Francesa, tivemos o teatro dos revolu-
Tragar a dor, engolir a labuta cionários; na União Soviética, o teatro dos bolchevistas; na
Mesmo calada a boca, resta o peito Alemanha, o teatro operário de Bertold Brecht. No Brasil,
Silêncio na cidade não se escuta destacam-se os nomes de Plínio Marcos (dramaturgo que
[...] denunciou a pobreza do país e o submundo das grandes
Gilberto Gil; Chico Buarque. “Cálice”. Intérpretes: Diversos. cidades) e José Celso Martinez Corrêa (diretor de teatro
In: Álibi. Rio de Janeiro: Polygram/Philips, 1978. Faixa 2. que se confunde com a história do Teatro Oficina, em São
Paulo, lugar em que muitas peças denunciavam a opressão
Afastar o “cálice” é afastar o “cale-se”, ou seja, a cen- dos governos militares). Cada teatro comunicava valores
sura e a opressão; o texto de Chico Buarque propaga um que julgava ser importantes para a compreensão e trans-
ideal de liberdade. formação de seus respectivos contextos.
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Erasmo
A charge mostra a preocupação de segmentos políticos
em relação a Lula, o advérbio “só” cria um implícito de que
ele deveria sair do governo.
As charges podem também tachar políticos ou partidos
Fig. 16 Pôster do filme Superman − O Retorno, lançado em 2006.
colocando-os responsáveis por um contexto considerado
O Super-Homem é um herói que é movido essen ruim.
cialmente por valores humanitários. Sempre está tentando
Denúncias infundadas
© Pierre Merimee/Corbis/Corbis (DC)/Latinstock
143
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Fig. 20 Capa de Caetano Veloso, lançado em 1968.
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O primeiro livro a gente
“Todos são iguais perante a lei”. nunca esquece
A frase acima não condiz com a realidade; a lei, na
prática, muitas vezes acaba beneficiando os que têm maior
poder aquisitivo e os que melhor se relacionam com as altas
esferas do poder público.
Conceitos ambíguos
Atente para como o conceito de trabalho é usado por
partidos políticos de posturas ideológicas diferentes, o que
torna esse conceito ambíguo. ... mas acaba perdendo.
Compre no sebo O Passado.
PTB – Partido Trabalhista Brasileiro
PDT – Partido Democrático Trabalhista Fig. 21 O anterior sobre o posterior.
PT – Partido dos Trabalhadores
yy O posterior sobre o anterior: x é posterior a y; logo,
PTC – Partido Trabalhista Cristão
x é melhor, ou é mais moderno, eficiente que y.
PT do B – Partido Trabalhista do Brasil
PRTB – Partido Renovador Trabalhista Brasileiro
PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado Trata-se de um carro de última geração, a mais moderna
PTN – Partido Trabalhista Nacional tecnologia, o que há de melhor. Os outros? Carroças! Coisa
do passado!
Universalização O ensino tradicional está superado, o aluno não aprendia
A universalização consiste na divulgação de ideias que a refletir, apenas decorava. O ensino moderno de língua por-
se referem aos interesses de um grupo social, mas que são tuguesa faz com que o aluno pense.
apresentadas como de interesse geral.
Por exemplo, na Revolução Francesa, a ideia de Liber- Nas bancas, a última palavra em tecnologia:
dade, Igualdade e Fraternidade foi difundida como válida
para todos os homens. Contudo, quando a burguesia teve
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seus interesses de classe garantidos, os conceitos de li-
berdade, igualdade e fraternidade sofreram uma séria
relativização.
Tipos de argumento
Argumentar significa provar. O enunciador de um texto,
ao estabelecer uma tese, procura defendê-la, utilizando os
mais variados argumentos. Se digo que o time x é melhor
que o time y, preciso provar, isto é, apresentar argumentos,
não basta afirmar. O conhecimento dos tipos de argumen-
tos permitirá a você identificar as estratégias persuasivas uti-
lizadas nos mais variados textos. A seguir, há uma relação de Compre e acelere seu conhecimento.
argumentos empregados nos mais diversos textos. Leia-os.
Fig. 22 O posterior sobre o anterior.
yy O anterior sobre o posterior: x é anterior a y; logo, x é
yy O durável sobre o efêmero: x dura mais que y; logo, x é
melhor que y, ou x tem mais direito que y.
melhor do que y, merece a nossa confiança.
O índio chegou primeiro nestas terras, logo ele é o dono
Vulcabrás, o sapato para a vida toda.
delas.
Slogan marca de sapato.
Sandálias Havaianas: as legítimas.
Slogan de sandálias. Vai ser jogador de futebol? Não faça isso! A carreira de joga-
dor é curta demais. Seja médico, é profissão para a vida inteira.
As escolas antigas é que ensinavam, havia disciplina e
muita leitura. Hoje... bom... ninguém lê! yy O efêmero sobre o durável: x é mais rápido do que y;
Os judeus não são extraterrestres que vieram de outro logo, x é melhor.
planeta. Eles vivem aqui há mais de 2.000 anos. Por isso, luto
Dicas para não poluir: cuidado com as embalagens de
FRENTE ÚNICA
145
Abrir um negócio?
E ficar rico?
Um carro feito por encomenda, o único do mundo. Fig. 25 Argumento baseado na competência linguística.
em 90% dos
É possível fazer acordos? nunca
casos
Existe cela especial? sim não
Tempo para julgar um caso de
6 anos 3 anos
homicídio:
Há vagas para todos os
não sim
condenados?
Veja, 7 fev. 2001.
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Fig. 26 Argumento baseado em prova concreta.
Segundo um ex-presidente francês, o Brasil não é um país O provérbio “olho por olho, dente por dente” é um
sério. Leve em conta o número de escândalos políticos que exemplo desse argumento.
ocorrem anualmente em nosso país.
yy Argumento de ressalva: faz-se uma ressalva, dá-se
De mulher para mulher: Marisa. um argumento contrário, porém de menor peso (evita-
Slogan das lojas Marisa. -se, na maioria das vezes, a generalização).
Ninguém pode ser considerado um leigo em língua; o [...] Embora Chico afirme em diversas entrevistas que a
analfabeto utiliza orações absolutamente complexas ao falar atração pela literatura é anterior ao gosto pela música, um
com seus filhos. Como dizia Chomsky, o maior linguista do fato chama a atenção: antes de partir para Roma, deixou
século, já nascemos com uma competência linguística. para a avó um bilhete, de uma crueldade ingênua, só per-
mitida às crianças: “Vovó Heloísa. Olhe vozinha não se
FRENTE ÚNICA
A Rede Globo tem uma enorme influência no cotidiano esqueça de mim. Se quando eu chegar aqui você já esti-
do brasileiro, isso devido ao seu poderio econômico. Segundo ver no céu, lá mesmo veja eu ser um cantor do rádio. [...]
a revista Forbes, Roberto Marinho era um dos homens mais Wagner Homem. Histórias de canções: Chico Buarque.
ricos do mundo. São Paulo: Leya, 2009. p. 7.
147
yy Argumento por sacrifício: alguém sacrifica-se por você; dessa forma, é preciso retribuir.
Revisando
Texto para as questões de 1 a 4.
De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos
não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental
que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a
Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas
de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso
futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não
o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado.
Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou
de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores
globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não
deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano.
Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo
gosto de um proprietário ou de um país.
Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele
quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio,
mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso,
eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria per-
tencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com
sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a
Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até
porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do
que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas
florestais do mundo em troca da dívida.
Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Interna-
cionalizemos as crianças, tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece
cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do
mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram
quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me
tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.
* O autor foi governador do Distrito Federal (PT) e reitor da Universidade de Brasília (UnB), nos anos 1990. É palestrante e humanista respeitado mundialmente.
Cristovam Buarque. “Discurso sobre a Internacionalização da Amazônia”. Estados Unidos, nov. 2000.
2 Na passagem “Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos espe-
culadores globais.”, Cristovam utiliza o argumento baseado no raciocínio lógico. Para isso, emprega conectivos como
“tanto... quanto”, que dão uma direção argumentativa ao texto. Que valor semântico esse tipo de correlação conjuntiva
imprime ao período? Cite um período do terceiro parágrafo em que esse argumento também esteja presente.
3 Como pode ser entendido o termo “brasileiro” no contexto em que foi empregado?
4 Quais são as duas visões de mundo acerca da Amazônia apresentadas pelo texto? Sintetize como o autor do texto
defende a sua visão.
5 O autor emprega a intertextualidade em “Eu semeio vento na minha cidade/Vou pra rua e bebo a tempestade.” A que
FRENTE ÚNICA
149
7 Que recurso expressivo de natureza semântica (a intertextualidade é de natureza coesiva) foi empregado na relação provér-
bio-música?
Exercícios propostos
Qual a diferença entre publicidade e propaganda? Textos para a questão 2 e 3.
Esses dois termos não são sinônimos, embora sejam Texto 1
usados indistintamente no Brasil. Propaganda é a atividade
associada à divulgação de ideias (políticas, religiosas, par-
Quer virar um gênio da web? Saiba como
tidárias etc.) para influenciar um comportamento. Alguns criar seu meme para WhatsApp
exemplos podem ilustrar, como o famoso Tio Sam, criado Por Márcio Padrão
para incentivar jovens a se alistar no exército dos EUA; ou 27/10/2018
imagens criadas para “demonizar” os judeus, espalhadas No princípio, era o verbo. Depois, o e-mail, o link e
na Alemanha pelo regime nazista; ou um pôster promo- o website. Logo em sequência, o GIF do bebê dançando,
vendo o poderio militar da China comunista. No Brasil,
um dos primeiros memes da internet. Desde então, essa
um exemplo regular de propaganda são as campanhas
forma de comunicação dos novos tempos se alastrou como
políticas em período pré-eleitoral.
um tsunami em todas as nossas conversas e redes sociais.
Já a publicidade, em sua essência, quer dizer tornar
Mas e você? Já fez algum meme?
algo público. Com a Revolução Industrial, a publicidade
Memes são conteúdos multimídia que se espalham (vi-
ganhou um sentido mais comercial e passou a ser uma
ralizam) rapidamente, recriando fatos ou algum conteúdo
ferramenta de comunicação para convencer o público a
original com um propósito humorístico ou de sátira. Tudo
consumir um produto, serviço ou marca. Anúncios para
vira meme na mão do povão: uma cena importante de
venda de carros, bebidas ou roupas são exemplos de
"Game of Thrones", um discurso político, uma derrota
publicidade.
VASCONCELOS, Y. Disponível em: https://mundoestranho.abril.com.br.
de um time de futebol ou uma foto bizarra de um anônimo.
Acesso em: 22 ago. 2017 (adaptado). A graça dele é que justamente qualquer um com uma
boa sacada pode criar um meme ou participar de um que
já está rolando na web. Se você quer fazer um, lembre-se
1 Enem PPL 2019 A função sociocomunicativa desse de que um bom meme geralmente possui essas caracte-
texto é rísticas, segundo o site "Thrillist":
a ilustrar como uma famosa figura dos EUA foi criada
para incentivar jovens a se alistar no exército. Mensagem simples e eficiente
b explicar como é feita a publicidade na forma de É preciso que a frase/imagem/áudio/legenda/GIF/vídeo
anúncios para venda de carros, bebidas ou roupas. traga uma mensagem curta e clara, e com referências e
c convencer o público sobre a importância do consumo. contexto fáceis de identificar. De preferência, sobre algo
d esclarecer dois conceitos usados no senso comum. que ainda esteja fresco na memória das pessoas. Por isso,
e divulgar atividades associadas à disseminação de o autor do meme também deve ser rápido se quiser "surfar"
ideias. no assunto do momento.
b Narração de acontecimentos relacionados ao tema, biodiversidade. Junte-se a esses fatos a emergência de uma
que tem a função de prender a atenção do leitor cultura popular que se serve dos meios técnicos antes
para o conteúdo do texto. exclusivos da cultura de massas, permitindo-lhe exercer
151
Ministério da Saúde/Ministério do
Transporte
Minha terra tem campos de futebol, onde cadáveres
amanhecem emborcados pra atrapalhar os jogos. Tem uma
pedrinha cor-de-bile que faz “tuim” na cabeça da gente.
Tem também muros de bloco (sem pintura, é claro, que
tinta é a maior frescura quando falta mistura) onde pousam
cacos de vidro pra espantar malandro.
Minha terra tem HK, AR15, M21, 45 e 38 (na minha Textos para a questão 9.
terra, 32 é uma piada). As sirenes que aqui apitam, apitam Texto 1
de repente e sem hora marcada. Elas não são mais das fábri-
cas, que fecharam. São mesmo é camburões, que vêm fazer GRITO
aleijados, trazer tranquilidade e aflição. Quadro que fundou o expressionismo nasceu de um
Fernando Bonassi. 100 coisas. São Paulo: Angra, 2000. p. 19.
ataque de pânico.
Edvard Munch nasceu em 1863, mesmo ano em que
7 Considere as seguintes afirmações acerca do texto. O piquenique no bosque, de Édouard Manet, era exposto
I. O texto de Fernando Bonassi entra em oposição no Salão dos Rejeitados, chamando a atenção para um
à visão ufanista contida no poema de Gonçalves movimento que nem nome tinha ainda. Era o impres-
Dias, “Canção do Exílio”. sionismo, superando séculos de pintura acadêmica. Os
II. Em “tranquilidade e aflição”, o autor cria um pa- impressionistas deixaram o realismo para a fotografia e
radoxo em que o primeiro termo torna irônico o se focaram no que ela não podia mostrar: as sensações, a
segundo. Implicitamente há uma crítica à ação da parte subjetiva do que se vê.
polícia. Crescendo durante essa revolução, Munch – que,
III. Em “as sirenes que aqui apitam”, observa-se o aliás, também seria fotógrafo – achava a linguagem dos
uso da assonância, da onomatopeia e do ana- impressionistas superficial e científica, discreta demais
coluto. para expressar o que sentia. E ele sentia: Munch tinha
IV. O texto põe a nu uma realidade brasileira em que uma história familiar trágica: perdeu a mãe e uma irmã
na infância, teve outra irmã que passou a vida em asilos
o crime domina e a ação do Estado é ineficaz.
psiquiátricos. Tornou-se artista sob forte oposição do pai,
que morreria quando Munch tinha 25 anos e o deixaria na
Estão corretas:
pobreza. O artista sempre viveu na boemia, entre bebedei-
a apenas I e II.
ras, brigas e romances passageiros, tornando-se amigo do
b apenas I, II e IV. filósofo niilista Hans Jæger, que acreditava que o suicídio
c apenas II, III e IV. era a forma máxima da libertação.
d apenas I, III. Fruto de suas obsessões, O Grito não foi seu primeiro
e apenas I e IV. quadro, mas o que o tornaria célebre. A inspiração veio do
que parece ter sido um ataque de pânico, que ele escreveu
8 Identifique o tipo de argumento utilizado. em seu diário, pouco mais de um ano antes do quadro:
a) O homem é um ser racional. “Estava andando por um caminho com dois amigos – o
b) Para uma empresa atingir um lucro significativo, é sol estava se pondo – quando, de repente, o sol tornou-se
preciso fazer um plano de marketing. vermelho como o sangue. Eu parei, sentindo-me exausto,
c) e me encostei na cerca – havia sangue e línguas de fogo
sobre o fiorde negro e a cidade. Meus amigos continuaram
José
Fogaça
andando, e eu fiquei lá, tremendo de ansiedade – e senti
(PMDB)
Maria do Manuela
um grito infinito atravessando a natureza”.
Rosário D’Avila Ali nasceria um novo movimento artístico. O Grito
(PT) (PCdoB) Brancos e nulos: 8%
seria a pedra fundadora do expressionismo, a principal
Luciana
Genro
Onyx Não sabe/não opinou: 9% vanguarda alemã dos anos 1910 aos 1930.
Lorenzoni (Aventuras na História)
(PSOL) Entrevistados: 830 eleitores
(DEM) da capital, a partir dos 16
anos de idade, nos últimos
dias 23 e 24 de julho.
Subsídio para a leitura do texto 2.
5 Pedro Américo, pintor brasileiro nascido na Paraíba,
8 Margem de erro: três pontos
20 18 percentuais (para mais ou
29 para menos).
foi um grande cultivador da arte acadêmica. Viveu sob
a proteção de D. Pedro II, que lhe financiou cursos na
Número de registro da
pesquisa na Justiça Europa. O Imperador Brasileiro foi um verdadeiro Mece-
FRENTE ÚNICA
Eleitoral: 9/2008.
nas (indivíduo rico que protege artistas, homens de letras
Demais candidatos
Nelson Marchezan Junior (PSDB), Paulo ou de ciências, proporcionando-lhes recursos financeiros
Rogowski (PHS) e Vera Guasso (PSTU):
1% cada um.
para que possam dedicar-se, sem preocupações outras,
Fonte: Datafolha/ 25 jul. 2008. às artes e às ciências). Foi por encomenda de D. Pedro II
153
é único não tem preço, e seu valor aumenta pelo próprio Se essa peroração teve tanto sucesso (o apelo resultou
fato de não ser avaliável. Por isso, Quintiliano aconselha ao na fundação do Hospital das Crianças Abandonadas), é ao
orador não cobrar a sua colaboração, porque “a maioria das lugar do irreparável que o deve.
155
Resumindo
Discurso/ideologia yy O durável sobre o efêmero: x dura mais que y; logo, x é melhor do
que y, merece a nossa confiança.
yy Ideologia: visão de mundo; conjunto de ideias; maneira de conceber
a realidade. yy O efêmero sobre o durável: x é mais rápido do que y; logo, x é melhor.
yy Discurso: visão de mundo presente no texto. yy O existente sobre aquilo que é possível: x é certo, y é um risco.
yy Interdiscursividade: todo texto utiliza um discurso que já existe; a yy Argumento de qualidade: x é superior a y porque x possui mais qua-
relação entre os discursos recebe esse nome. lidade que y (ou é mais raro).
yy Oposição de discursos: todo discurso opõe-se a outro existente. yy Argumento de quantidade: x é superior a y porque x possui mais
do que y.
yy Linguagem: sistema de regras e repertório, varia no tempo e no es-
paço, a exemplo dos discursos. yy Argumento de direção: para atingir y é preciso passar por x.
yy Intertextualidade: quando um texto cita o outro (a paródia, por exem- yy Argumento baseado na competência linguística: refere-se à habili-
plo). dade com que o enunciador utiliza a linguagem.
yy Intertextualidade estilística: quando um texto cita o outro no estilo. yy Argumento baseado em provas concretas: trata-se da apresentação
de estatísticas, cifras, documentos, fatos históricos e fatos do cotidiano.
yy Argumento de autoridade: citar uma autoridade sobre o assunto do
Tipos de argumento qual se fala.
yy O anterior sobre o posterior: x é anterior a y; logo, x é melhor do que yy Argumento de consenso: quando não há discordância em torno do
y, ou x tem mais direito que y. que se fala, a comunidade científica trata do tema como verdade in-
yy O posterior sobre o anterior: x é posterior a y; logo, x é melhor, ou é questionável.
mais moderno, eficiente. yy Argumento baseado no raciocínio lógico: trata-se do uso de compa-
rações, relações de causa e efeito, silogismos etc.
Teatro Livro
yy GOMES, Dias. O pagador de promessas. Rio de Janeiro: Bertrand yy MÁRQUEZ, Gabriel García. Relato de um náufrago. Trad. de Remy
Brasil, 2006. Gorga Filho. Rio de Janeiro: Record, 1997.
Esse texto discute a religiosidade brasileira sob dois aspectos: a Mistura de relato real e ficção, pois García Márquez, jornalista além
visão do povo, abrangente a ponto de julgar todos os animais me- de escritor de romances, foi procurado pelo citado náufrago para
recedores do sacramento do batismo, em contraste com a posição narrar a trágica aventura em que perdeu alguns companheiros ma-
intransigente de alguns membros da Igreja. Foi a base para o roteiro rinheiros.
de filme de mesmo nome, única obra brasileira até hoje a ganhar
a palma de Ouro do Festival de Cannes (1962, direção de Anselmo Filme
Duarte).
yy Carandiru. Direção: Hector Babenco.
Jornal/Revista Esse é um bom exemplo para usufruir o texto narrativo a partir do
entrelaçamento de dois gêneros: o próprio filme, aqui indicado, e o
yy Carta Capital. Ed. Confiança.
livro do escritor Drauzio Varela no qual o diretor baseou sua obra.
yy Clóvis Rossi, colunista da Folha de S.Paulo.
Entre muitos outros exemplos de periódicos e de colunistas, você poderá
observar em suas leituras como se constroem textos argumentativos
defendendo uma visão do mundo dos veículos (mais à esquerda, no
caso da revista Carta Capital) e progressista, ainda que buscando certa
neutralidade, no trabalho do falecido cronista Clóvis Rossi.
Exercícios complementares
1 Unicamp Em setembro de 2003, uma universidade Ninguém:
brasileira veiculou um convite-propaganda para a pa- – Como hás nome, cavaleiro?
lestra “Desenvolvimento da saúde e seus principais
problemas”, que seria proferida por José Serra, ex- Todo o Mundo:
-Ministro da Saúde. Do convite-propaganda fazia par- – Eu hei nome Todo o Mundo,
te uma foto de José Serra sobre a qual foi colocada e meu tempo todo inteiro
uma tarja branca com o seguinte enunciado: sempre é buscar dinheiro,
e sempre nisto me fundo.
A “Universidade X”
ADVERTE: Ninguém:
ESSA PALESTRA – E eu hei nome Ninguém,
FAZ BEM À SAÚDE e busco a consciência.
157
159
Reprodução
Viktor Chagas. Mesmo o textão mais longo na verdade é
um textinho: faz parte da lógica do espaço em que circula.
TAB UOL,“Vim pelo meme e era textão”.
Disponível em https://tab.uol.com.br/. Adaptado.
9 Mário de Andrade, ao usar o estilo clássico, ridiculariza II. Você pode atirar pérolas aos porcos. Mas não
uma certa norma do português, o que era tido por “portu- adianta nada atirar pérolas aos gatos, aos cães ou
guês castiço” no período. Ironiza uma forma de escrever, às galinhas porque isso não tem nenhum significado
em que, sem o menor propósito, se cita a literatura clás- estabelecido.
sica. É um caso de imitação de estilo por subversão, Millôr Fernandes. Millôr definitivo: a bíblia do caos.
também chamada de...:
a) Considerando-se que o texto II tem como referência
Platão e Fiorin. Lições de texto.
o texto I, qual é a expressão que, de acordo com
a metalinguagem. Millôr Fernandes, tem um“significado estabelecido”?
b quebra do paralelismo. b) No texto I, os significados dos segmentos “não deis
c paródia. o que é santo aos cães” e “nem atireis vossas pé-
d antítese. rolas aos porcos” reforçam-se mutuamente ou se
e prosopopeia. contradizem? Justifique sucintamente sua resposta.
Texto 2
Os dois acontecimentos, embora intimamente relacionados, são de natureza totalmente diferente. O fim dos comu-
nismos marca o fim de uma era. Já a Guerra do Golfo marca o começo de uma era. O primeiro acontecimento encerra,
o segundo inaugura. Um pede um exame, o outro uma avaliação. Um é a história de esperanças frustradas; o outro, de
receios ainda não materializados.
Immanuel Wallerstein.
Estão incorretas:
a apenas I, II e III.
b apenas I e II.
c apenas III e IV.
d apenas I e III.
e nenhuma.
14 Unicamp 2019 O xeque-mate – do persa shah mat: o rei está morto – ocupa uma função controversa nas leis do jogo de
xadrez. Trata-se de uma expressão que designa o lance final – é quando um dos reis não tem mais qualquer possibilidade
de movimento. De saída, e nisso consiste o primeiro traço de ambivalência da expressão, a rigor, o rei não morre. Pode-se
dizer até que o rei agoniza – mas de seu destino quase nada sabemos. Em resumo, o xeque-mate é exatamente, negando
o que enuncia a expressão, o lance anterior ao que podemos chamar de morte. Diferentemente do senso comum, que vê
grandeza naquele que luta até o último instante – a saber, até a morte –, o jogador de xadrez deve ter a medida de seu
esforço. Saber abandonar uma partida no momento certo, portanto, é uma demonstração de domínio da própria derrota.
A morte, por jamais tornar-se concreta, fica sendo pura potência. Talvez seja este caráter inacabado – o jogo acaba sem-
pre antes de acabar – que concede, afinal, ao jogo de xadrez, na forma de rito, a possibilidade de um eterno recomeçar.
(Adaptado de Victor da Rosa, “Xeque-mate”. Disponível em http://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/xequemate.html. Acessado em 04/09/2018.)
15 Assinale a opção que melhor substitui a expressão destacada no trecho a seguir e, ao mesmo tempo, esteja
de acordo com a relação por ela estabelecida.
[…] Embora o Enem seja um avanço no sentido de permitir uma avaliação do Ensino Médio, ele pode incorrer em
um problema que existe atualmente: tornar-se um modelo para os currículos das escolas. […]
Folha de S.Paulo. “Risco é Enem virar modelo curricular”. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/enem2408/pag1ris.htm>.
161
Estão corretas:
a apenas I.
b apenas II.
c apenas I e II.
d apenas I e III.
e todas.
19 Fuvest
Crianças perguntam... Einstein responde!
a
O professor da 5 série de uma escola americana descobriu que seus alunos ficavam chocados ao aprender que os seres
humanos são classificados no reino animal. Então sugeriu que escrevessem para grandes cientistas e intelectuais e pedissem
a opinião deles sobre isto. Albert Einstein respondeu: “Queridas crianças. Nós não devemos perguntar ‘O que é um animal?’,
mas, ‘Que coisa chamamos de animal?’. Bem, chamamos de animal quando essa coisa tem certas características: alimenta-se,
descende de pais semelhantes a ela, cresce, movimenta-se sozinha e morre quando seu tempo se esgotou. É por isso que cha-
mamos a minhoca, a galinha, o cachorro e o macaco de animais. E nós, humanos? Pensem nisto da maneira que eu mencionei
anteriormente e então decidam por vocês mesmas se é uma coisa natural nós nos considerarmos animais”.
Ciência Hoje – Crianças.
a) Em sua resposta às crianças, Albert Einstein propõe a substituição da pergunta “O que é um animal?” por “Que
coisa chamamos de animal?”. Explique por que essa substituição já revela uma atitude científica.
b) Fazendo as adaptações necessárias e conservando o seu sentido original, reconstrua o último período do texto
(“... Pensem nisto da maneira que eu... animais.”), começando com “[...] Decidam por vocês mesmas... animais”.
20 Unicamp O texto abaixo é extraído de artigo jornalístico no qual se comparam duas notícias que chamaram a atenção
da imprensa brasileira no mês de outubro de 2007: de um lado, o caso entre o senador Renan Calheiros e a jornalis-
ta Mônica Veloso; de outro, o artigo em que o apresentador de TV Luciano Huck expressa sua indignação contra o
roubo de seu relógio Rolex.
Aparentemente, o que aproxima todos esses personagens é a disputa por um objeto de desejo. No caso dos assaltantes
de Huck, por estar no pulso de um “bacana”, mais que um relógio, o objeto em questão aparece como um equivalente
geral que pode dar acesso a outros objetos [...]. Presente de sua mulher, a igualmente famosa apresentadora global Angé-
lica, um relógio desse calibre é sinal de prestígio, indicando um lugar social que, no Brasil, costuma “abrir portas” raras
vezes franqueadas à maior parte da população. [...] Mais afinado com as tradições patriarcais de seu Estado natal, Renan
aparece nos noticiários, bem de acordo com a chamada “preferência nacional” dos anúncios de cerveja. Daí que não
seja possível, em ambos os episódios, associar os casos em questão àquele “obscuro objeto de desejo” que dá título a um
dos mais instigantes filmes de Luís Buñuel. Tratava-se, para o cineasta, de mostrar como um desejo singular, único, podia
engendrar um objeto de grande opacidade. Em direção oposta, tanto na parceria Calheiros/Veloso, quanto no confronto
Huck/assaltantes, há uma espécie de exibição ostensiva dos objetos em jogo, como que marcando a coincidência de
desejos que perderam sua singularidade para cair na vala comum das banalidades.
Eliane Robert Moraes. Folha de S.Paulo, edição de 14 out. 2007. (Adapt.). Grifos nossos.
a) Um dos usos de aspas é o de destacar elementos no texto. Explique a finalidade desse destaque nas se-
guintes expressões presentes no texto: “bacana”, “abrir portas” e “preferência nacional”.
b) No caso de “obscuro objeto de desejo”, as aspas marcam o título de um filme de Buñuel. Explique como a refe-
rência a esse título estabelece uma oposição fundamental para a argumentação do texto.
21 Unicamp O trecho abaixo (texto 1), extraído de um artigo publicado no caderno Vida& do Estado de São Paulo,
de 18 de agosto de 2006, aborda uma questão polêmica relacionada à ética médica. Esse artigo inclui dois excertos:
um do Código de Ética Médica (texto 2) e uma Resolução do Conselho Federal de Medicina (texto 3).
FRENTE ÚNICA
163
Texto 2
O que dizem as normas.
Código de Ética Médica: O artigo 98 afirma que é vedado ao médico “exercer a profissão com interação ou dependência
de farmácia, laboratório ou qualquer organização destinada à fabricação, manipulação ou comercialização de produtos de
prescrição médica de qualquer natureza [...].
Texto 3
Resolução 1595 do Conselho Federal de Medicina: Considerando que “o trabalho do médico não pode ser explorado
por terceiros com objetivo de lucro”, o CFM proíbe “a vinculação da prescrição médica ao recebimento de vantagens
materiais oferecidas por agentes econômicos interessados na [...] comercialização de produtos farmacêuticos ou equipa-
mentos de uso na área médica.
a) As posições expressas nos Textos 2 e 3 são semelhantes? Responda sim ou não e justifique.
b) A situação descrita no Texto 1 fere as normas apresentadas nos Textos 2 e 3? Responda sim ou não e justifique.
7
CAPÍTULO Nível da expressão – relações entre linguagens
O texto de Augusto de Campos emprega duas linguagens: a verbal e a visual. A relação
entre elas é de complementariedade. O azul do poema aponta para o espaço e as palavras
para o que há dentro dele, se levarmos em conta o título, o pó do cosmos. O poema permite
várias leituras, na diagonal, na vertical, na horizontal, de cima para baixo, de baixo para cima;
as palavras estão diagramadas no texto de uma forma que mimetizem planetas girando em
torno de algo, no caso, duas palavras: “um” e “luz”. A luz pode ser a do Sol, a do conheci-
mento, a luz divina; o poema é aberto. A obra de Augusto de Campos faz uma reflexão sobre
o estar no mundo: o pó do cosmos é o próprio homem, visto que ele está presente no espaço
de muitas maneiras e por muitos motivos. E essa multiplicidade é mimetizada nas inúmeras
possibilidades expressivas do signo em seu labor poético.
A existência do signo
Fora da sociedade, os signos não existem. O signo é uma convenção dos homens; o que é um sistema de signos,
linguagem, em uma sociedade, pode não ser em outra. A fumaça pode vir a ser linguagem, código, sistema de signos
se naquela tribo for uma mensagem decodificável. Duas pancadas fortes e uma pancada fraca poderão se tornar um
sistema de signos se em uma prisão for um meio de comunicação para se transmitir uma mensagem; neste caso, os sons
decorrentes da pancada serão o significante, o qual se associa a um significado (por exemplo, o carcereiro não está no
corredor). A própria leitura dos objetos varia de sociedade para sociedade, uma cadeira pode virar ornamento em uma
sociedade indígena. Seja como for, cadeira para sentar ou cadeira para ornar, é preciso que haja uma sociedade para
que essa leitura exista.
Jak/Morguefile
infinito, prolongado, ilimitado, algo a ser conquistado ou
percorrido. A perspectiva faz com que o contínuo não te-
nha fim, como se não houvesse o descontínuo. Na figura a
seguir, a perspectiva cria o efeito de sentido profundidade.
Há a sensação de que se está à procura de um objetivo,
no caso, o fim do túnel.
© Creasencesro | Dreamstime.com
Fig. 5 Close.
O dinâmico e o estático
© Gino Santa Maria | Dreamstime.com
Fig. 3 Perspectiva.
O primeiro plano
O primeiro plano é um recurso enfático, um efeito de
aproximação. Ao colocar em primeiro plano um objeto ou
um ser, o enunciador faz com que o olhar do enunciatário
dirija-se a esse ser, colocando-o como foco principal. No
teatro, é a colocação de um ator na frente dos demais;
FRENTE ÚNICA
167
A superatividade, a inferatividade, a
Constantin Brancusi
lateralidade
Viktor Vasnetsov/Wikipedia
Atenção
Fig. 8 Superativo/inferativo.
Constantin Brancusi é considerado um dos maiores
escultores do séc. XX (Craiova, Romênia, 1876-Paris,
© Dmitriy Shironosov | Dreamstime.com
Nicolas Raymond/stock.xchng
Fig. 16 O aberto.
Fig. 12 Formas moles.
Fig. 17 O fechado.
Desfigurativização e o figural
Immanuel Giel/Wikimedia Commons/Joan Miró
FRENTE ÚNICA
169
Fig. 20 Hieronymus Bosch. O jardim das delícias terrenas, 1504. Óleo sobre ma-
deira. Museo del Prado, Madrid.
Fig. 21 Rembrandt. Mulher banhando-se num córrego, 1654. Óleo sobre madeira.
Fig. 19 Pablo Picasso. El Toro, 1945. Litografia. The National Gallery, Londres, Inglaterra.
No Barroco, tanto na literatura como na pintura, ex- Que fora de algodão o teu capote!
plora-se a emoção, em oposição ao racionalismo da arte Gregório de Matos. “Pondo os olhos primeiramente na sua cidade conhece,
que os mercadores são o primeiro móvel da ruína, em que arde pelas
renascentista; conciliam-se forças antagônicas, como o mercadorias inúteis e enganosas.” In: Antologia Poética. Rio de Janeiro:
bem e o mal; Deus e diabo; céu e terra; pureza e pecado; Ediouro, 1997.
171
Aleijadinho/Wikipedia
talinguísticos, pelo jogo de palavras e também pela crítica
à postura de alguns homens.
Reprodução
[...] O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao
inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os
de maior calibre e de mais alta esfera, [...].
Pe. Antônio Vieira. “Sermão do bom ladrão”. In: Sermões. São Paulo: Hedra,
2001. p. 395. Fig. 27 Aleijadinho. Cristo carregando a cruz. Escultura. Santuário de Congonhas
do Campo, Minas Gerais, Brasil.
Entre 1733 e 1748, em Minas Gerais, o ciclo do ouro
viveu o seu apogeu. A Igreja Matriz de Nossa Senhora do
Pilar (foto a seguir) foi construída em 1733 e é a segunda Romantismo
igreja mais rica do Brasil; nela foram gastos 400 quilos O Romantismo surgiu nas últimas décadas do século
de ouro a fim de revestir talhas e anjos esculpidos. Ela XVIII na Europa, estendendo-se por grande parte do sé-
possui um dos mais completos arquivos documentais de culo XIX. A Revolução Francesa excitou o imaginário de
Ouro Preto. No subsolo da Igreja Matriz, há o Museu de muitos jovens da época. Os alemães Schelling, Holderlin
Arte Sacra; nele se encontram artefatos religiosos, peças e Hegel, quando souberam da tomada da Bastilha, plan-
sacras, prataria e vestimentas utilizadas em celebrações taram uma árvore, batizando-a de “árvore da liberdade”.
em Vila Rica. Com o Congresso de Viena, no entanto, para os jovens
da época, a sociedade parecia regredir com a volta dos
Luis Rizo/Wikipedia
[...]
No quadro estão presentes o nacionalismo, a emoção políticos, acontecimentos históricos, episódios medievais
(o que implica movimento), a subjetividade e o tema da e costumes pitorescos árabes.
liberdade; tanto no quadro como na poesia de Garrett o A poesia a seguir é de Álvares de Azevedo, poeta
que se privilegia é o lado emocional e não o racional. romântico de perfil niilista.
173
Gustave Courbet/Wikipedia
Que pensamentos desfloraram meus dias,
Oh! tu não creras meu sorrir leviano,
Nem minhas insensatas alegrias!
E por te amar, por teu desdém, perdi-me... O Realismo na literatura surgiu no século XIX. Como
Tresnoitei-me nas orgias macilento, afirmou o historiador Eric Hobsbawm, o século XIX europeu
Brindei blasfemo ao vício e da minh’alma é marcado por uma dupla-revolução: política e econômica.
Tentei me suicidar no esquecimento! Por um lado, no campo econômico, a Segunda Re-
volução Industrial se expande e as relações capitalistas
Como um corcel abate-se na sombra, tornam-se predominantes na Europa. O positivismo de
A minha crença agoniza e desespera... Auguste Comte (filósofo francês, 1798-1857), nesse senti-
O peito e lira se estalaram juntos... do, exaltava religiosamente a ciência, a qual deveria tomar
E morro sem ter tido primavera! conta de todos os campos de atividade humana, destruindo
[...] tudo aquilo que fosse “metafísico”. A objetividade e a prati-
Álvares de Azevedo. Lira dos vinte anos. São Paulo: Nobel, 2009. p. 182-3.
cidade científica eram o ideal a ser seguido. Na política, por
Rompimento, dor e perturbação: eis o mundo ro- exemplo, deveria ser instaurado um Estado laico, governado
mântico. Eles eram homens que não conseguiam por uma ditadura de tecnocratas, enquanto os políticos e
esconder sua perplexidade ante as guerras, a sua democracia, retórica, demagógica e metafísica, deve-
violência napoleônica, o industrialismo, as mudanças riam ser esquecidos.
no campo. Sem conseguir apontar um rumo certo para Por outro lado, no campo político, os princípios da Re-
esse mundo, restava uma única solução: o ensimesma- volução Francesa tomam conta da Europa e da América,
mento, a volta para o eu, para o indivíduo. O grito solitário do derrubando reis, esmagando nobres e ridicularizando pa-
poeta maldito, devorado por fúrias interiores, chegou ao seu dres em uma série de Revoluções em 1820, 1830 e 1848. No
limite, quase uma compulsão paranoica, onde já espreitavam dia 24 de fevereiro de 1848 – sob a bandeira democrata,
o perigo do isolamento absoluto e a prisão em um universo jacobina e republicana – foi implantado um governo pro-
estritamente individual. E o poeta se via como um gênio, visório republicano na França. A Revolução teve grande
senhor de um domínio superior, livre dos problemas mun- repercussão na Europa. Nas palavras de Hobsbawm, “o que
danos, encarando a si próprio como portador de um nobre em 1789 foi o levante de uma só nação, era agora a Primavera
desígnio: irradiar simpatia dentro de um mundo ameaçado. dos Povos de todo o continente”, anunciando uma nova fase
Desse panorama de dor e ensimesmamento, vem um da história europeia. Eram movimentos essencialmente
ingrediente básico do Romantismo: o desenraizamento do populares, amplos, com grandes promessas, misturando
presente, a busca por um mundo melhor, seja no futuro, ideais liberais, nacionalistas e socialistas. Ao mesmo tem-
após uma revolução, em um paraíso distante, ou mesmo po, a crise econômica que ocorreu na década de 1840
no sonho, no devaneio, na loucura. Daí que proliferam os matava de fome populações inteiras em lugares como a
romances de ficção: escrever sobre o que não existia era Irlanda. Tanto na Alemanha quanto na Itália, movimentos
mais estimulante que falar sobre este mundo. Shelley dizia republicanos e pró-unificação ganharam força, de manei-
que se arriscar do outro lado do espelho era como procurar ra que Veneza instaurou uma república; a Sicília teve sua
a luz no fim do túnel, era vislumbrar nas sombras o semblan- constituição liberal; e muitos territórios protestaram contra
te de um mundo futuro. A ficção, dessa forma, constituiu o domínio austríaco. Dentro do império austríaco, protestos
um sintoma dessa frustração, dessa vontade de um mundo de tchecos, iugoslavos, húngaros, romenos e venezianos,
melhor. Especialmente na Alemanha, os românticos, sem unindo-se a operários e estudantes, fizeram o chanceler
modificar sua realidade, refugiaram-se num mundo ideal e Metternich fugir de Viena, ao mesmo tempo em que o im-
mais valioso, essencialmente diferente do real, as utopias. perador Ferdinando I ordenava massacres e bombardeios,
A filosofia de Hegel, tipicamente romântica, está ligada a matando dezenas de milhares de revoltosos, especialmente
esse ideal. na Hungria e na Tchecoslováquia.
175
Honoré Daumier/Wikipedia
Eça de Queirós o responsável, juntamente com Antero de
Quental, pela introdução desse movimento no país. O ro-
mance social, psicológico e
Divulgação
de tese passa a ser a princi-
pal forma de expressão do
Realismo e a literatura se
torna um veículo de crítica à
sociedade burguesa, à reli-
gião, às instituições etc.
Antero de Quental, poe
ta realista, estudou Direito
em Coimbra, porém se de-
dicou também à Filosofia e
à política. Durante a faculda-
de, manifestou as primeiras
ideias socialistas. Ele fundou Fig. 35 A obra Primo Basílio, de Eça
a Sociedade do Raio, que de Queirós, também foi adaptada
pretendia renovar o país para o cinema.
pela literatura.
Evolução Fig. 36 Honoré Daumier. Der Künstler vor Notre-Dame. 1834. Óleo sobre tela.
Museu Calvet, Avignon, França.
Fui rocha, em tempo, e fui, no mundo antigo,
Tronco ou ramo na incógnita floresta... Veja o trecho a seguir, retirado do livro Como entender
Onda, espumei, quebrando-me na aresta a pintura moderna, de Carlos Cavalcanti.
Do granito, antiquíssimo inimigo...
Ser realista [...] não é ser exato e minucioso como uma
fotografia. Ser realista é ser verdadeiro. Ser verdadeiro é se-
Rugi, fera talvez, buscando abrigo
lecionar, sintetizar e realçar os aspectos mais característicos,
Na caverna que ensombra urze e giesta;
expressivos e, por isso mesmo, mais comunicáveis e inteligíveis
Ou, monstro primitivo, ergui a testa
das formas da realidade, não sendo necessário idealizá-las
No limoso paul, glauco pascigo...
ou perturbá-las com a emoção. Ao representar um tigre, por
exemplo, o realista não precisa ser minucioso [....], não pre-
Hoje sou homem – e na sombra enorme
cisa fazer as pestanas do tigre, pode ser sintético, porque será
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
verdadeiro, desde que nos transmita o caráter do tigre, isto
Que desce, em espirais, da imensidade...
é, sua ferocidade e poderosa força elástica. No caso do retra-
to, se o modelo tiver aquele queixo irregular, denunciador de
Interrogo o infinito e às vezes choro...
sua personalidade, que o neoclássico esconderia em nome da
Mas, estendendo as mãos no vácuo, adoro
forma idealmente bela, o realista não o corrigirá; fixa-o com
E aspiro unicamente à liberdade.
verdade, pois certamente o achará belo e rico.
Antero de Quental.
Carlos Cavalcanti. Como entender a pintura moderna. Rio de Janeiro: Rio,
1975. p. 77. (Adapt.).
Na poesia de Antero, a emoção cede lugar ao pensa-
mento; há uma perfeita articulação entre forma e fundo. Agora, observe os quadros a seguir de Gustave Courbet.
Em Odes modernas, fase tipicamente realista, observa-se
Gustave Courbet/Wikimedia Commons
Pablo Picasso
tres, marítimas e cenas de trabalho. Os seres retratados
são despidos de emoção, há uma ênfase à razão e à ob-
jetividade. Considerado anarquista, Coubert era amigo do
filósofo anarquista Proudhon, do poeta Charles Baudelaire e
do caricaturista Daumier. Ao representar as coxas e a vulva
de uma mulher, na obra A origem do mundo, o pintor abalou
o meio artístico da época.
Observe agora uma escultura de Rodin.
Auguste Rodin/Mary Harrsch/Flickr
Fig. 41 Pablo Picasso. Interior com duas meninas, 1935. Óleo sobre tela. Museu
de Arte Moderna, Nova York, Estados Unidos.
177
[...]
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
[...]
Fernando Pessoa (Álvaro de Campos). “Ode Triunfal”. Antologia poética de
Fernando Pessoa. São Paulo: Ediouro, 2004. p. 54.
Impressionismo
Pierre Auguste Renoir
Fig. 46 Monet. Weg in Monets Garten in Giverny, 1902. Belvedere. Viena, Áustria.
Fig. 44 Pierre-Auguste Renoir. Banhistas, 1918-19. Óleo sobre tela. Museu d’Orsay,
Paris, França. Segundo Carlos Cavalcanti, [...] O pintor impressionista
não está a rigor interessado no modelo como ser humano, [...].
O pintor impressionista preocupa-se com as tonalida- As suas reações e intenções artísticas diante de uma pessoa
des que os objetos adquirem ao refletir a luz solar em um serão praticamente as mesmas diante de uma árvore, de um
determinado instante, pois as cores da natureza estão em lago, de uma praia, [...] a sua preocupação exclusiva será ob-
constante transformação. As figuras não devem ter contor- servar e fixar as constantes e sutis modificações que a luz do
nos nítidos, pois a linha é uma abstração do ser humano sol produz nas cores da natureza. [...] – o seu primeiro cuidado
para representar imagens. As sombras devem ser luminosas foi retirar o modelo do interior do atelier, [...] para colocá-lo
e coloridas, como é a impressão visual que nos causam; ao ar livre, [...]. [...] os impressionistas são chamados pintores
e não escuras ou pretas, como os pintores costumavam do plen air, ao ar livre, plenaristas ou arlivristas.
empregá-las no passado. Carlos Cavalcanti. Como entender a pintura moderna. Rio de Janeiro: Rio,
1975. p. 78.
Claude Monet/Wikimedia Commons
Edouard Manet/Wikipedia
As cores e tonalidades não devem ser obtidas pela Fig. 47 Edouard Manet. Piquenique na relva, 1863. Óleo sobre tela. Museu
mistura das tintas na paleta do pintor; mas devem ser puras D’Orsay, Paris, França.
179
Edgar Degas/Wikipedia
Fig. 49 Edgar Degas. Bailarina de quatorze anos. 1880. Escultura em bronze com
vestuário. Museu de Arte de São Paulo, São Paulo, Brasil.
Divulgação
O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.
[...]
Cesário Verde. “Ave-Maria”. O livro de Cesário Verde. Ática, 1959. p. 101.
Edvard Munch
nista no cinema, temos ainda Louis Delluc, Marcel L 'Herbier
e Germaine Dulac.
Expressionismo
Edvard Munch
Fig. 52 Edvard Munch. A cama do defunto, 1895. Coleção Rasmus Meyer, Bergen,
Noruega. Fig. 53 Edvard Munch. Nude by Wicker Chair, 1929. Óleo sobre tela.
Munch Museum, Oslo, Noruega.
O Expressionismo surge na Alemanha no início do sécu-
lo XX; trata-se de uma arte em que se privilegia o instinto, a A pintura expressionista trabalha com cores inverossí-
dramaticidade, a subjetividade, “a expressão dos sentimen- meis, que dão forma plástica ao amor, ao ciúme, ao medo,
tos humanos”. A arte expressionista revelou em suas obras à solidão, à miséria humana, à prostituição; deforma-se a
um niilismo (amargura) que se instalava nos meios artísticos e figura para ressaltar o sentimento.
intelectuais da Alemanha pré-bélica, bem como da Primeira O pintor expressionista mais famoso foi Edvard Munch;
Guerra Mundial (1914-1918) e do período Entreguerras (1918- em seus quadros, há rostos sem feições e figuras distor-
1939). Nesse tipo de arte, há a predominância dos valores cidas. Sua obra mais famosa, O grito, é uma das mais
emocionais sobre os intelectuais. importantes na história do Expressionismo.
Edvard Munch
Programa
Não queremos poesia,
Queremos mágicas, artifícios,
Procuramos tapar na existência fatais vazios
E apesar de imenso esforço, uma atrofia.
industrializada, na qual o indivíduo vê-se isolado e alienado. de engajamento e de tempos incertos. Os poemas são
O existencialismo dessa escola traduziu-se em uma ênfase sombrios e os temas impactantes (erotismo, tragédias,
à emoção, à tragédia humana e à morte. morte etc.).
181
Divulgação
Lâmpada, não esquente.
Da parede saiu um braço magro de mulher.
Era pálido e tinha veias azuis.
Os dedos estavam carregados de preciosos anéis.
Quando beijei a mão, assustei-me:
Estava viva e quente.
Arranhou-me o rosto.
Peguei uma faca de cozinha e cortei algumas veias.
Um grande gato lambeu graciosamente o sangue do chão.
Entretanto um homem de cabelos arrepiados subiu
Por um cabo de vassoura encostado à parede.
Jacob van Hoddis. "O visiotário". In: Poesia expressionista alemã: uma
antologia. Tradução de Claudia Cavalcanti (Org.). São Paulo:
Estação Liberdade, 2000.
Georges Braque
Fig. 57 Vincent van Gogh. Sorrowing old man ('At Eternity's Gate'), 1890. Óleo
sobre tela. Kröller-Müller Museum, Otterlo, Países Baixos.
Cubismo
O Cubismo prega a simplificação das formas, reduzin- Fig. 59 Georges Braque. Casas em estaque, 1908. Óleo sobre tela. Kunstmuseum
de Berna, Berna, Suíça.
do-as a elementos geométricos básicos. Esse movimento
de vanguarda busca também a percepção total do objeto, Um dos representantes mais conhecidos do Cubismo
mostrando-o em todos os ângulos. Para que isso aconteça, foi o pintor Pablo Picasso. O quadro a seguir, Guernica, é
o pintor cubista passará a fazer a decomposição da estrutu- uma referência à Guerra Civil Espanhola.
ra dos objetos, na intenção de sugeri-la na totalidade, como
se tivéssemos vista total e simultânea do objeto retratado.
Pablo Picasso
Fig. 60 Pablo Picasso. Guernica, 1937. Óleo sobre tela. Museu do Prado, Madri,
Espanha.
183
No excerto acima, nota-se a falta de pontuação e de nexos lógicos; há ainda antíteses, sinestesias (cores vivas nos
canais de água suja) e metonímia em Gondolamos. O humor ocorre por meio de clichês sentimentais (graciosamente/
suspiramos) e a imagem da ponte aponta para um ícone cubista.
Surrealismo
Salvador Dalí
Fig. 61 Salvador Dalí. O sono, 1937. Óleo sobre tela. Col. Edward James, Sussex, Inglaterra.
O Surrealismo foi um movimento artístico que investiu fortemente na representação do irracional e do subconsciente.
Para o artista dessa escola, a imaginação deve se manifestar livremente, sem a opressão do ego e do superego; o impor-
tante é o impulso psíquico.
Os surrealistas deixam o mundo real para penetrarem no irreal; para esses artistas, as emoções do ser humano ex-
pressam-se apenas com a aproximação do fantástico, quando a razão humana perde o controle. André Breton, um dos
líderes do movimento, afirmava que o sonho pode ser também aplicado à solução das questões fundamentais da vida; no
sonho, o inconsciente aflora, a criatividade é maior.
Os surrealistas buscavam um automatismo psíquico que pudesse ser expresso pictoricamente ou verbalmente, de
modo que a obra de arte revelasse o funcionamento real do pensamento. Os dois mais importantes pintores surrealistas
foram Salvador Dalí e René Magritte; nos dois percebem-se associações que rompem a lógica, criando o fantástico.
René Magritte
Fig. 62 René Magritte. Castelo nos Pirineus, 1959. Museu de Israel, Israel, Jerusalém.
Divulgação
Fig. 63 Ismael Nery. Essencialismo, 1931. Óleo sobre tela. Coleção Chaim José
Hamer, São Paulo.
185
Reprodução
de, cujos valores morais e espirituais estavam deteriorados.
Decorrente dessa visão, rejeitavam teorias e modelos: “Não
reconhecemos nenhuma teoria. Basta de academias cubis-
tas e futuristas: laboratórios de ideias formais”.
Fig. 67 Na foto, Hugo Ball, poeta e escritor alemão, um dos principais artistas
do Dadaísmo.
Fig. 70 Max Ernst, O gigante acéfalo (sem cabeça), 1921. Óleo sobre tela. Tate
Gallery. Londres, Inglaterra.
Futurismo
Fig. 71 Umberto Boccioni. Carga dos lanceiros, 1915. Têmpera e colagem sobre
papel-cartão. Coleção Juncker, Milão, Itália.
fosse participar da primeira comunhão, recitava poemas o documento defendia ainda a guerra, o militarismo, o
pornográficos. patriotismo, a bofetada e o soco.
187
O teatro sintético futurista (1915) emprega em sua dramatização ações simultâneas que tomam o palco e a plateia, a
chamada intervenção cênica (Teatro da surpresa, 1922, e Teatro visionário, 1929). O cinema (Vida futurista, 1916) é visto
como a nova forma de expressão artística que atenderia à necessidade de uma expressividade plural e múltipla. Desta-
cam-se os filmes Funerale dell’anarchista Galli (Carrà, 1911), Velocità astrata, l’auto è passato (Balla, 1912), Ballerina al Bal
Tabarin (Severini, 1913) e Dinamismo di un Foot-baller (Boccioni, 1913),
Revisando
Textos para as questões 1 e 2.
Texto 1
Richard Hamilton
Richard Hamilton. Just what is it that makes today’s home so different, so appealing? 1956.
Colagem. Kunsthalle, Tübingen, Alemanha. ©DACS/ The Bridgeman Art Library.
Texto 2
A arte na década de 1960
Nos anos 60, predominou a arte pop, influenciando não somente quadros e pinturas, mas todo o estilo de vida. Os artistas
pop (entre eles, Andy Warhol, Roy Lichenstein, Jasper Jogns e Robert Indiana) compartilham todos de uma utilização mais ou
menos direta do nosso meio ambiente na realização de suas obras, sendo quase invariável a sua seleção de motivos recolhidos
nos meios de comunicação de massa, o que justifica o epíteto pop.
A arte pop mais característica é essencialmente um produto da sociedade de vastos horizontes, sempre em mutação, da América.
Como movimento, a arte pop não emergiu espontaneamente do povo, em qualquer país, nem constituiu uma fusão internacional
de estilos. Seus padrões eram determinados por uma decisão de abordar o mundo contemporâneo com uma atitude mais positiva.
Apesar dos aspectos carnavalescos, das cores orgíacas e da escala gigantesca, a alternativa da arte pop baseou-se claramente em um
FRENTE ÚNICA
padrão adequado aos anos 1960, donde estavam excluídos o desagradável, o nonsense, o preciosismo, o refinamento. A arte pop é
espontânea, direta e extrovertida.
Rodrigo Landulfo Rocha. Arte Pop. 18 set. 2004. Disponível em: <http://amigonerd.net/trabalho/19244-arte-pop>.
189
Exercícios propostos
1 Unifesp 2018
O Surrealismo buscou a comunicação com o irracional e o ilógico, deliberadamente desorientando e reorientando a
consciência por meio do inconsciente.
(Fiona Bradley. Surrealismo, 2001.)
191
Pablo Picasso
(Andy Warhol. Lata de sopa Campbell, 1962.)
turas.[...]
193
c O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
VALENTIM, R. Emblema 78. Acrílico sobre tela. 73 x 100 cm. 1978. Ferreira Gullar.
Disponível em: www.espacoarte.com.br. Acesso em 2 ago. 2012.
d Não sou nada.
A obra de Rubem Valentim apresenta emblemas que,
Nunca serei nada.
baseando-se em signos de religiões afro-brasileiras, se Não posso querer ser nada.
transformam em produção artística. A obra Emblema 78 À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
relaciona-se com o Modernismo em virtude da Fernando Pessoa.
a simplificação de formas da paisagem brasileira.
b valorização de símbolos do processo de urbanização. e Os inocentes do Leblon
c fusão de elementos da cultura brasileira com a arte Não viram o navio entrar. [...]
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo igno-
europeia.
ravam,
d alusão aos símbolos cívicos presentes na bandeira
mas a areia é quente, e há um óleo suave
nacional
que eles passam nas costas, e aquecem.
e composição simétrica de elementos relativos à
Carlos Drummond de Andrade.
miscigenação racial.
aos utensílios
que dormem na fuligem;
os seus olhos rurais
não compreendem bem os símbolos
desta colheita: hélices,
motores furiosos;
e estende mais o braço; planta
no ar, como uma árvore,
a chama do candeeiro.
[...]
Tarsila do Amaral. Operários, 1933. Óleo sobre tela. Acervo Artístico-cultural Carlos de Oliveira. In: Eugénio Andrade. Antologia pessoal da poesia
do Palácio do Governo do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil. portuguesa. Porto: Campo das Letras, 1999.
1 1
2 2
3 3
a b c d e f
Texto complementar
A produção do som e os tipos de afasia
1. O som
A produção de fonemas obedece ao seguinte percurso: o ar expelido pelos pulmões (via brônquios) penetra na traqueia e atinge a laringe; ao
atravessar a glote (abertura entre duas pregas musculares das paredes superiores da laringe, conhecidas pelo nome de cordas vocais), encontra
o primeiro obstáculo: a glote aberta ou fechada. Se relaxada, ele passa e produz articulações surdas; senão, sonoras. Ao sair da laringe, o fluxo de
ar entra na cavidade faríngea (uma encruzilhada de duas vias de acesso ao exterior: o canal bucal e o nasal), na qual fica suspenso o véu palatino,
que é capaz de obstruir, ou não, o acesso do ar na cavidade nasal. Quando o véu palatino se prende à parte posterior da faringe, temos os sons
orais; quando abaixado, deixa livres as fossas nasais e orais, então, o ar se divide e produz sons nasais. Na cavidade bucal, outros órgãos influem:
maxilares (arcada dentária), bochechas, lábios e língua.
2. Os tipos de afasia
yy Afasia motora: priva o sujeito da fala, mas não lhe retira a capacidade de compreensão ou mesmo de leitura.
yy Afasia sensorial: torna a fala incompreensível; a leitura impossível; e a emissão defeituosa corresponde a um distúrbio de ordem intelectual. Existem
no cérebro zonas da linguagem, cuja destruição resulta na desorganização da função linguística. Certos tipos de afasia afetam a capacidade que o
indivíduo tem de combinar e selecionar as unidades linguísticas.
Observação: falar implica na seleção de certas entidades linguísticas; e sua combinação em unidades linguísticas de mais alto grau de complexidade
[...] quem fala, seleciona palavras e as combina em frases de acordo com o sistema sintático de cada língua.
yy Distúrbio da similaridade: afeta a capacidade de seleção e substituição; o contexto é indispensável e decisivo. Dando fragmentos de palavras ou
frases à criança, esta as completa (capacidade reativa). Palavras-chave podem sumir ou ser substituídas por anafóricos abstratos. Substantivos
como “coisa” substituem todos os inanimados.
yy Distúrbio da contiguidade: dificuldade de combinar entidades linguísticas mais simples em unidades mais complexas. Perdem-se as regras
sintáticas mais complexas (agramatismo, um monte de frases) para dar espaço a um estilo “telegráfico” (desaparecem as palavras de função
puramente gramatical: conjunções, preposições, pronomes, artigos).
yy Afasia universal: a perda total do poder de utilizar ou aprender a falar.
FRENTE ÚNICA
195
Filme Livro
yy A lista de Schindler. Direção: Steven Spielberg. Steven Spielberg. yy NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra Rio de Janeiro: Civi-
Esse trabalho traz uma ótima oportunidade de conhecer como a lin- lização Brasileira, 1998.
guagem fotográfica pode ser empregada de maneira extremamente Conhecer o filósofo Friedrich Nietzsche é mergulhar um pouco no
criativa. Todas as cenas são em preto e branco, mostrando uma universo em que frutificaram movimentos artísticos como Impres-
reconstituição primorosa da época, destacando-se em alguns mo- sionismo, Expressionismo, Realismo e todo o frutífero e tumultuado
mentos a figura de uma pequena menina loira de casaco vermelho, a ambiente do fim de século XIX e início do século XX.
única figura em cores até pouco antes do final, quando os atores do
filme são mostrados lado a lado dos judeus ainda vivos na época da
Site
filmagem e que foram salvos pelo industrial alemão Oskar Schindler.
yy <www.tarsiladoamaral.com.br>.
Teatro Conhecida sobretudo por trabalhos como Abaporu e Operários, a
artista produziu vasta obra, de alta qualidade, que a cada dia se
yy RODRIGUES, Nelson. Vestido de noiva. Rio de Janeiro: Nova Fron- torna mais valorizada e conhecida mundialmente.
teira, 2004.
O enredo da peça é desenvolvido em três planos: a realidade, a aluci-
nação e o sonho, lembrando bastante os procedimentos surrealistas.
A montagem de estreia, dirigida pelo diretor de origem polonesa
Ziembinski, colocou em cena esses três planos simultaneamente,
aprofundando seu teor psicológico.
b locuções adverbiais.
E tia Gabriela sogra grasnadeira grasnou graves grosas c substantivos que designam elementos da natureza.
de infâmias. d preposições.
Oswald de Andrade. “Mobilização”. Memórias sentimentais de João Miramar. e locuções verbais com gerúndio.
197
6 Ao longo do texto, percebe-se o uso sistemático do pretérito imperfeito do indicativo (misturava... abriam... erguia...
atingia... haviam... puxavam...). Que relação existe entre o emprego desse tempo verbal e o crescimento do subúrbio?
A ideia de uma língua única, que não se altera, é um mito, pois a heterogeneidade social e cultural implica a hete-
rogeneidade linguística.
(...)
Embora Brasil e Portugal tenham uma língua comum, é nítido a qualquer falante do português que existem
diferenças entre o português falado nos dois países – claro que elas também existem com relação aos demais países
de língua portuguesa. (...) Essas diferenças são tão grandes que podemos afirmar que no Brasil se fala uma língua diferente
da de Portugal, que os linguistas denominaram de português brasileiro. Isso é tão evidente que, se você observar
um processador de textos, o Word, por exemplo, na ferramenta idiomas há as opções português e português brasileiro ou
português (Brasil). Por quê? Como são línguas diferentes, o corretor automático do processador precisa saber em que
“língua” está sendo escrito o documento, pois o português europeu e o brasileiro seguem regras diferentes.
Quando ouvimos um habitante de Portugal falando, percebemos imediatamente um uso diverso da língua.
A diferença mais perceptível é de ordem fonológica, ou seja, na maneira de produzir os sons da língua. Identificamos
rapidamente que ele fala português, porém com “sotaque ou acento lusitano”. Se atentarmos com mais cuidado,
perceberemos, entretanto, que as diferenças não são apenas de ordem fonológica. Há também diferenças sintáticas (poucas) e
lexicais. Um mesmo conceito é designado por significantes diferentes, o que prova o caráter imotivado do signo linguístico. (...)
(Ernani Terra, Revista Língua Portuguesa, adaptado, julho/2018)
GOELDI, O. Sem título. Bico de pena. 29,4x24 cm. Coleção Ary Ferreira
Macedo, circa 1940. Disponível em: https://revistacontemporartes.blogspot.
com.br. Acesso em: 10 dez. 2012.
Pablo Picasso, representante do Cubismo.
Texto 2 Retrato de Igor Stravinsky, Pablo Picasso.
e
Na sua produção, Goeldi buscou refletir seu caminho
pessoal e político, sua melancolia e paixão sobre os inten-
sos aspectos mais latentes em sua obra, como: cidades,
peixes, urubus, caveiras, abandono, solidão, drama medo.
ZULIETTI, L. F. Goeldi: da melancolia ao inevitável. Revista de Arte Mídia e
Política. Acesso em 24. abr. 2017. (Adaptado).
199
Salvador Dalí. Persistência da memória, 1931. Óleo sobre tela. MoMA, Nova
Estão corretas:
York, Estados Unidos. a apenas I, III e IV.
b apenas II, III e IV.
Assinale a alternativa que não se relaciona com o quadro.
c apenas I e II.
a A atitude realista é fruto da mediocridade, do ódio
d apenas I e IV.
e da presunção rasteira. É dela que nascem os li-
e apenas I.
vros que insultam a inteligência.
b A mania incurável de reduzir o desconhecido ao
11 Utilizando o seu conhecimento de mundo, assinale a
conhecido, ao classificável, só serve para entorpe-
alternativa que aponta para um autor que desenvol-
cer cérebros.
veu o tema presente no quadro de Portinari.
c Hoje em dia, os métodos da Lógica só servem para
a Casimiro de Abreu.
resolver problemas secundários.
b Gregório de Matos.
d A extrema diferença de importância que, aos olhos
c Fernando Pessoa.
do observador ordinário, têm os acontecimentos de
d Graciliano Ramos.
vigília e os do sono sempre me encheu de espanto. e Eça de Queirós.
[...] Talvez o meu sonho da noite passada tenha dado
prosseguimento ao da noite anterior e continue na Texto para a questão 12.
próxima noite com rigor meritório.
René Magritte
e Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insô-
nia febril, o passo de corrida, o salto mortal, a bofetada
e o sopapo.
FRENTE ÚNICA
8
CAPÍTULO Implícitos, ambiguidade e semântica
A charge de Angeli trabalha com significados implícitos; a placa “passa-se o ponto”
e a imagem dos comércios ligados ao mundo do entretenimento deixam entrever a
opinião do autor sobre o ensino no Brasil: a educação está perdendo espaço para o
universo dos jogos eletrônicos e para outras formas de diversão (“Cyber Café”).
A charge faz, pois, uma reflexão sobre o ensino, um dos temas mais importantes
para a vida do brasileiro. Sabe-se que o ensino público e parte do privado não aten-
dem o padrão de qualidade que uma escola precisa ter. É preciso repensar o ensino,
levando em conta a dura competição do mundo do entretenimento.
Implícito: subentendido
Segundo Diana Luz Pessoa de Barros, em Teoria do
discurso, “no caso da pressuposição, o enunciador pode
sempre atribuir o conteúdo pressuposto ao ‘senso comum’, Você viu a Carla,
a fatos conhecidos de todos e pelos quais ninguém res- Daniel?
ponde; no [caso] do subentendido, a forma implícita de
dizer faz a responsabilidade recair sobre o enunciatário
[receptor], podendo o enunciador afirmar, em qualquer
tempo, que não foi ele quem disse, mas o outro quem
assim interpretou”. Veja o exemplo a seguir: Fig. 1 Subentendido.
– O que você achou do filme? Uma das leis da conversação é a de que para toda per-
– O final é bom. gunta há uma resposta. Juliana não dá a resposta a Daniel,
com isso, deixa um subentendido: ela não quer encontrá-lo
Quando o interlocutor diz que “o final é bom”, deixa
depois da aula do Renato. Ela quebra uma lei da conversa-
subentendido que o restante não o é. Leia agora o seguinte
ção. Observe agora o exemplo a seguir:
trecho extraído do livro de Dominique Maingueneau:
Em A ilha dos escravos de Marivaux, Iphicrate e seu escra- Bianca, o que você
vo, Arlequim, desembarcam numa região onde são os escravos achou do meu novo visual?
que dão as ordens a seus senhores. Iphicrate continua, contudo,
comportando-se como antes: O botão da camisa
é interessante!
IPHICRATE: Acompanha-me, vamos!
ARLEQUIM (assobio): hu! hu! hu! Você está dizendo
IPHICRATE: Como! O que queres dizer? que o resto está ruim?
ARLEQUIM (distraído, canta): tra-lá-lá-lá-lá!
Arlequim quer fazer Iphicrate compreender que ele não é
mais seu escravo. Em vez de lhe dizer explicitamente, recorre a
uma estratégia de subentendido. Viola abertamente as regras de
conversação, pois assobia ou canta em vez de responder, agin-
do como se não tivesse ouvido. Iphicrate seria, desse modo,
levado a construir uma hipótese capaz de conciliar o postulado
de que Arlequim respeita essas máximas e o fato de que aqui Fig. 2 Avaliação parcial.
ele as transgride. Essa hipótese é que Arlequim quer lhe fazer Bianca transgride uma lei da conversação (lei da exaus-
deduzir um subentendido; “não sou mais teu escravo”. tividade) no momento em que faz uma avaliação parcial; o
Pragmática para um discurso literário, p. 106. emissor do primeiro diálogo espera que Bianca esgote as
O subentendido é inferido de um contexto singular e informações acerca do visual, mas Bianca faz uma avaliação
sua existência é sempre incerta; já o pressuposto é está- parcial, citando apenas o botão, o que gera o subentendido.
Para finalizar, eis as palavras de Maingueneau sobre
vel; o primeiro está ligado à enunciação (o enunciatário
os implícitos:
participa da interpretação), o segundo, à frase (inscrito no
enunciado). Para ilustrar essa diferença, Maingueneau dá O julgamento sobre o manejo do implícito é, aliás, ambí-
o seguinte exemplo: guo. Pode-se nele ver tanto uma recusa da franqueza quanto
uma marca de delicadeza, tanto uma falta de vontade de con-
A: Estou procurando alguém para consertar meu carro.
vívio quanto uma extrema vontade de convívio.
B: Meu irmão está em casa.
A: Mas ele está sempre tão ocupado!
Ambiguidade
Pressuposto: B tem um irmão (inscrito no enunciado).
Ambiguidade – latim ambiguu(m), ambíguo, que apre-
Subentendido: B propõe a A empregar seu irmão (con-
FRENTE ÚNICA
203
Pronome relativo
A vizinha do chefe, que estava muito doente, ligou para o
escritório.
O relativo que pode recuperar vizinha ou chefe.
Pronome possessivo
Os assessores do presidente comunicaram a sua demissão. Fig. 3 Ambiguidade verbo-visual.
Elipse
O rapaz foi maltratado pelo pai inúmeras vezes, sempre
de maneira muito cruel. O vizinho, um alemão de dois metros de
altura e com forte sotaque, sabia do fato, mas não denunciava
às autoridades, pois temia uma reação violenta do pai, uma
pessoa imprevisível. Certa vez, em pleno carnaval, discutiram
de maneira tão violenta, que uma viatura da polícia que pas-
sava pelo local chegou a intervir. Dois anos depois, o rapaz,
cansado de tanta briga, fugiu de casa. Não se obteve mais
notícia do filho.
Quem discutiu, o vizinho e o pai ou o pai e o filho?
(elipse do sujeito de discutir). Fig. 4 Ambiguidade visual.
Exemplo 2:
Rompeu a roupa no arame farpado. (rasgou) Carga tímica: negativo ( – ), positivo ( + )
Romper um segredo. (revelar)
e neutro
FRENTE ÚNICA
205
O repertório
O emprego das palavras depende também do vocabulário do enunciador. A pobreza vocabular pode, em muitos
casos, tornar o positivo negativo (uso da variante coloquial no lugar da culta.)
Foi ao casamento. ( + )
Foi ao casório. ( – )
Revisando
De 1 a 4, traduza o sentido da palavra “grave”. 5 O que fica implícito na charge?
1 Doença grave.
6 Qual palavra dispara esse implícito?
2 Voz grave.
7 Leia a piada a seguir.
Dois amigos conversam:
3 Vocábulo grave.
– Rapaz, todas as noites eu vejo crocodilos azuis.
– Você já viu um psicólogo?
– Não, não. Só crocodilos azuis.
Explique como o humor é construído.
4 Homem de aspecto grave.
Texto para a questão 8.
Texto para as questões 5 e 6.
Ninguém: Que mais buscas?
Todo o Mundo: Lisonjear.
Ninguém: Eu sou todo desengano.
Belzebu: Escreve, ande lá, mano.
Dinato: Que me mandas assentar?
Belzebu: Põe aí mui declarado,
não te fique no tinteiro
Todo o mundo é lisonjeiro,
e ninguém desenganado.
VICENTE, Gil. Auto da Lusitânia.
do período atual são, entre outras, a unicidade da técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do planeta. É
nessas bases técnicas que o grande capital se apoia para construir a globalização perversa de que falamos acima. Mas essas
20 mesmas bases técnicas poderão servir a outros objetivos, se forem postas a serviço de outros fundamentos sociais e políticos.
MILTON SANTOS
Adaptado de Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2004.
207
209
12 Unicamp 2020 Embora os dois textos tratem do ter- Mais big do que bang
mo “maratonar” a partir de perspectivas distintas, é A comunidade científica mundial recebeu, na se-
possível afirmar que o Texto II retoma aspectos apre- mana passada, a confirmação oficial de uma descoberta
sentados no Texto I porque sobre a qual se falava com enorme expectativa há alguns
14 Enem 2018 No título proposto para esse texto de di- 18 ITA Leia o texto seguinte.
vulgação científica, ao dissociar os elementos da
Sítio Bom Jardim apresenta Forró Sertanejo com a
expressão Big Bang, a autora revela a intenção de
banda Casa Nova, no dia 30 de outubro, a partir das 21 ho-
a evidenciar a descoberta recente que comprova a
ras. Mulher acompanhada até 24 horas não paga. Venha
explosão de matéria e energia.
e participe desta festa.
b resumir os resultados de uma pesquisa que trouxe Jornal Vale ADC’S, out. 1999. (Adapt.).
evidências para a teoria do Big Bang.
c sintetizar a ideia de que a teoria da expansão de a) Localize o trecho em que há ambiguidade.
matéria e energia substitui a teoria da explosão. b) Aponte duas interpretações possíveis para esse
d destacar a experiência que confirma uma investi- trecho, considerando o contexto.
gação anterior sobre a teoria de matéria e energia.
e condensar a conclusão de que a explosão de ma- 19 Dentre as seguintes frases, assinale aquela que não
téria e energia ocorre em um ponto microscópico. contém ambiguidade.
a Peguei o ônibus correndo.
15 Unicamp O humor da tirinha a seguir gira em torno de um b Os professores do colégio, que detêm um terreno
enunciado ambíguo (isto é, que pode ter mais de uma na zona Sul, pediram demissão.
interpretação): c O guarda deteve o suspeito em casa.
d O menino viu o incêndio do prédio.
© 2010 King Features Syndicate/Ipress.
há ambiguidade no último período, o que pode dificul- c) Redija novamente o trecho de modo que não haja
tar o entendimento. mais o problema de clareza.
211
213
Da réplica de B, podemos deduzir o pressuposto “B tem um irmão”; trata-se de uma proposição implícita, mas inscrita no
enunciado, qualquer que seja a situação de enunciação. Pode-se também deduzir dessa réplica um outro conteúdo implícito,
por exemplo, que B propõe a A empregar seu irmão. Ora, esse conteúdo não é inferido por A a partir do valor literal da réplica,
mas por uma espécie de raciocínio que se poderia glosar do seguinte modo: “Ele me diz que seu irmão está em casa; posso
presumir que fala de modo adequado e, portanto, que sua enunciação tem relação com o que acabo de dizer; certamente
pretende me dizer com isso que seu irmão conseguiria fazer esse conserto.” Vemos até que ponto os dois tipos de implícitos
são diferentes; o subentendido é inferido de um contexto singular e sua existência é sempre incerta; já o pressuposto é estável.
O primeiro é tirado do enunciado, o segundo da enunciação.
É claro que a análise dessas inferências não pode se operar independentemente do tipo de enunciado nas quais elas
intervêm. Aqui, a problemática dos gêneros literários desempenha um papel crucial. Retomemos nossos primeiros versos
de O Cid:
Do verso 1, podemos deduzir o pressuposto de que Elvira fez um relato; do verso 2, que o pai de Chimena disse algo.
Também deduziremos que Chimena tem um pai (pressuposto existencial), pois basta introduzir uma descrição definida ou
um nome próprio no discurso para que por aí se pressuponha que esse indivíduo existe na realidade. Esse poder conferido
ao enunciador oferece a possibilidade de muitas manobras.
Porém, dessas duas questões de Chimena, podemos igualmente inferir o subentendido: a moça está muito preocupada
com o que seu pai disse. De fato, como a segunda questão é redundante com relação à primeira, é permitido pensar que
essa estranheza pode ser explicada se levarmos a hipótese de que Chimena está particularmente envolvida nos propósitos
de seu pai.
A diferença de estatuto entre esses dois tipos de implícito é nítida: qualquer locutor que sabe o português pode, em
princípio, identificar os pressupostos, enquanto a decifração dos subentendidos é mais aleatória. Ademais, o número desses
subentendidos é aberto por definição. Suponhamos que o espectador desse início de O Cid conheça bem as convenções da
tragicomédia dessa época; como Chimena parece muito impaciente e como as heroínas desse tipo de peça só fazem conduzir
intrigas amorosas, ele terá bons motivos para pensar que a moça fala de seu amor. Como esse espectador sabe, ademais,
que são os pais que concedem a mão de suas filhas, talvez também inferirá que o conde falou do casamento de Chimena.
Detenhamo-nos aqui quanto aos subentendidos e consideremos sobre quais elementos se apoiam os conteúdos implí-
citos. É possível distinguir três fontes sem dificuldade:
– a competência linguística para os pressupostos;
– o conhecimento das leis do discurso (que excluem, por exemplo, a redundância);
– um certo saber “enciclopédico”: por exemplo, o conhecimento das convenções de um gênero teatral ou dos costumes
matrimoniais numa determinada sociedade.
A construção das inferências só pode, portanto, ser um trabalho complexo; ao lado de um núcleo relativamente duro,
os pressupostos, existem zonas muito mais instáveis, os subentendidos, que se distribuem entre o mais garantido (cf. os atos
de linguagem indiretos do tipo “o senhor desejaria?”) e o mais incerto.
Dominique Maingueneau. Pragmática para o discurso literário. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 91-3.
215
6 Unicamp O trecho seguinte dá a entender algo dife- No trecho “Muito tempo atrás... atrás de onde? Atrás
rente do que seu autor certamente quis dizer. de minha memória daquele tempo”:
Malcolm Browne, também da Associated Press, de-
veria ter impedido que o monge budista em Saigon não 9 Unicamp Identifique os sentidos de “atrás” em cada
se imolasse, sentado e ereto, impedindo o mundo de ver uma das três ocorrências.
o protesto em cuja foto encontrou seu maior impacto?
Caio Túlio Costa. Folha de S.Paulo, 17 mar. 1991.
10 Unicamp Compare “Atrás de minha memória da-
a) Se tomando ao pé da letra, o que significa exa- quele tempo” com “Atrás do jardim da minha casa”.
tamente o trecho “… deveria ter impedido que o Explique os sentidos de “atrás” em cada uma das
monge… não se imolasse”? frases.
b) Se não foi isso que o autor quis dizer, que sentido
pretendeu dar a esse trecho? 11 Unicamp Na embalagem de um aparelho eletrônico,
você encontra um “Termo de Garantia” no qual se
Texto para as questões 7 e 8. leem, entre outras, as informações a seguir:
Em um piano distante, alguém estuda uma lição lenta, Este produto é garantido pela Amelco S. A. Indústria
em notas graves. [...] Esses sons soltos, indecisos, teimosos Eletrônica dentro das seguintes condições:
e tristes, de uma lição elementar qualquer, têm uma grave 1. Fica garantida, por um período de 6 (seis) meses a
monotonia. Deus sabe por que acordei hoje com tendência a contar da data da emissão da nota fiscal de venda
filosofia de bairro; mas agora me ocorre que a vida de muita ao consumidor, a substituição de peças, partes ou
gente parece um pouco essa lição de piano. Nunca chega componentes que apresentarem defeitos de fabrica-
a formar a linha de uma certa melodia. Começa a esboçar, ção, exceto aqueles decorrentes de instalação e uso
com os pontos soltos de alguns sons, a curva de uma frase inadequado e em desacordo com as especificações
musical; mas logo se detém, e volta, e se perde numa incoe-
contidas no “Manual de Instruções”.
rência monótona. Não tem ritmo nem cadência sensíveis.
2. A Amelco não se responsabiliza pelos produtos
Rubem Braga. O homem rouco.
agregados aos seus pelos consumidores, e ainda por
defeitos que esses causarem.
7 Fuvest O autor estabelece uma associação poética 3. Essa garantia será extinta caso:
entre a vida de muita gente e uma lição de piano. • o defeito for causado pelo consumidor ou por terceiros
Esclareça o sentido que ganha, no contexto dessa as- estranhos ao fabricante;
sociação, a frase “Nunca chega a formar a linha de • o produto tiver sido violado, alterado, adulterado ou con-
uma certa melodia”. sertado por pessoas ou empresas não autorizadas pelo
fabricante;
8 Fuvest “Deus sabe por que acordei hoje com tendên- • sejam interligados ao produto elementos não recomenda-
cia a filosofia de bairro.” dos pelo fabricante;
Reescreva a frase anterior, substituindo a expressão • não sejam seguidas as instruções constantes do manual,
destacada por outra de sentido equivalente. principalmente quanto à correta instalação e voltagem
elétrica.
FRENTE ÚNICA
217
FRENTE ÚNICA
9
CAPÍTULO Variantes linguísticas
A diversidade linguística é enriquecedora e inevitável diante das diferenças existen-
tes entre os seres humanos. Por isso mesmo, não deixa de impressionar que a maioria
de nós ainda hoje insista em entender a língua como uniforme e estática, sem experi-
mentar mudanças no decorrer do tempo e na sua manifestação em diferentes espaços
sociais. Em um exemplo extremo, podemos indagar: como esperar que um morador
da região ártica tenha o mesmo vocabulário de quem habita uma região tropical? A
paisagem, a alimentação, as condições de vida e sobrevivência e também o falar des-
ses humanos são bastante diversos, e o seriam ainda que falassem a mesma língua. O
estudo das variantes linguísticas, objeto de investigação deste capítulo, consiste em
uma tomada de consciência do uso da língua, tão importante para as relações sociais.
Exemplo 2
Reprodução
alfinete: lá é broche
bica: o nosso cafezinho
drogaria: é o nosso armarinho, não vende remédios
estalo: trata-se de uma bofetada
fino: chope pequeno
girafa: cerveja
hipótese: em Portugal significa chance
jogo do galo: é o jogo da velha
pipi: órgão sexual feminino das “meninas”; também
[pode significar “elegante”
quinta: sítio, pequena propriedade
reformado: aposentado
salchicha: é a nossa linguiça
trepador: ciclista
31 de boca: entrar numa fria, mentira
vaivêm: ônibus espacial
Mário Prata. Dicionário de português Schifaizfavoire.
Disponível em: <https://www.dartmouth.edu/~mavall/libguides/documents/
Schifaizfavoire.pdf>. [Adaptado.]
Social
A língua varia de acordo com a classe social. Os se-
Fig. 1 Variante histórica.
tores da sociedade mais privilegiados economicamente
FRENTE ÚNICA
Na publicidade apresentada, do início do século XX, utilizam com mais frequência a variante culta; já os me-
observa-se o emprego de uma ortografia diferente da usa- nos privilegiados, a coloquial. Observe a seguir a letra de
da nos dias atuais; a presença do “ph”, de etimologia grega, uma canção de Adoniran Barbosa – ela retrata o falar de
e do p mudo, por exemplo, projetam a língua no tempo. classes populares:
221
Laerte
Diz respeito à maneira como se pronuncia as palavras. Observe que a palavra “pro” substituiu as palavras “para o”.
Outro exemplo:
Variante culta:
A xícara quebrou.
Variante popular:
A xicra quebrou.
Atenção
É comum o falante pouco instruído transformar uma palavra proparoxítona em paroxítona, que é mais frequente na língua.
As alterações de pronúncia são comuns na oralidade; ao falar, acrescentamos, omitimos, trocamos de posição, substituímos
fonemas; na gramática histórica, esse fenômeno recebe o nome de metaplasmos. Veja a seguir alguns tipos de metaplasmos:
yy Aférese: queda de fonema no início da palavra:
Eu proximei e falei: sai, cão do inferno!
yy Epítese (ou paragoge): adição de fonema no fim do vocábulo, comum nas formas aportuguesadas:
“Recorde” vem de record, epíteses da língua.
Muito frequente na língua oral, ocorre a apócope no discurso direto com o “r” final do verbo “dançar”.
O vocábulo “legal”, por exemplo, veio de legale, houve apócope.
yy metátese: transposição de fonema que se pode verificar na mesma sílaba ou entre sílabas:
– O que significa intertextualidade, José?
– Intretextualidade é...
Em vez de intertextualidade, o falante pronuncia intretextualidade.
Semântico
De uma variante para outra, há alteração no significado.
Variante culta:
Que gata! (feminino de gato)
Variante popular:
FRENTE ÚNICA
223
Revisando
Texto para as questões de 1 a 4.
2 Substitua a palavra “mané” por outra que tenha equivalência semântica e que seja adequada à língua escrita.
225
dizem isso, mas acabam não analisando o padrão, nem as formas linguísticas que de fato os falantes usam.
recomendando-o de fato. Recomendam uma norma, uma b faz uma comparação entre a atividade proposta e
norma ideal. Vou dar uns exemplos: se o padrão é o usado a atividade efetivamente realizada, que consiste na
pelos figurões, então deveriam ser considerados padrões o recomendação de uma norma idealizada.
227
10 A polícia interviu com violência na briga, pois os torce- a) Qual o significado de “tu mete a foice”?
dores estavam munidos de faca. O delegado reteu o b) Que variante está em jogo no excerto inteiro?
chefe da torcida, já que este foi o responsável pelos
distúrbios. Após a confusão, um dos pagantes reaveu 15 Fuvest Uma flor, o Quincas Borba. Nunca em minha infân-
cia, nunca em toda a minha vida, achei um menino mais
a carteira que tinha sido roubada por um dos agitado-
gracioso, inventivo e travesso. Era a flor, e não já da escola,
res. Este foi encaminhado imediatamente para o Deic.
senão de toda a cidade. A mãe, viúva, com alguma cousa
de seu, adorava o filho e trazia-o amimado, asseado, en-
11 Haviam cerca de vinte alunos; a maioria, crianças. Fa- feitado, com um vistoso pajem atrás, um pajem que nos
zem dez anos que esse tipo de desastre não ocorria deixava gazear a escola, ir caçar ninhos de pássaros, ou
na marginal Pinheiros. Uma moradora, aliás, ficou meia perseguir lagartixas nos morros do Livramento e da Con-
tonta com o que viu. Houve uma reunião após o aci- ceição, ou simplesmente arruar, à toa, como dous peraltas
sem emprego. E de imperador! Era um gosto ver o Quin-
dente onde se decidiu pelo fechamento da avenida.
cas Borba fazer de imperador nas festas do Espírito Santo.
De resto, nos nossos jogos pueris, ele escolhia sempre um
Na questão 12, identifique o tipo de leitor e dê as marcas papel de rei, ministro, general, uma supremacia, qualquer
linguísticas características desse público-alvo (fonético e que fosse. Tinha garbo o traquinas, e gravidade, certa mag-
lexical). nificência nas atitudes, nos meneios. Quem diria que...
Suspendamos a pena; não adiantemos os sucessos. Vamos
12 Identifique no nível lexical. de um salto a 1822, data da nossa independência política,
Arrase os monstros com nosso roteiro detalhado, mapas e do meu primeiro cativeiro pessoal.
Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.
e quebra-cabeças. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Observa-se no texto:
a uma relação entre textos, apoiada na interrupção de um discurso por um outro, de outra natureza.
b uma incoerência, pois o segundo período não continua logicamente o assunto do primeiro.
c uma argumentação fundamentada na oposição entre dois discursos: o da religião e o do jovem.
d um tom marcadamente religioso, confirmado, no segundo período, pelo uso do possessivo sua, para referir-se ao
Criador.
e uma inadequação no uso de linguagem coloquial no segundo período, mesmo tratando-se de propaganda.
Na sua coluna diária do jornal Folha de S.Paulo de 17 de agosto de 2005, José Simão escreve:
“No Brasil nem a esquerda é direita!”.
José Simão. Folha de S.Paulo, 17 ago. 2005.
17 Unicamp Nessa afirmação, a polissemia da língua produz ironia. Em que palavras está ancorada essa ironia?
18 Unicamp Quais os sentidos de cada uma das palavras envolvidas na polissemia referida?
19 Unicamp Comparando a afirmação “No Brasil nem a esquerda é direita” com “No Brasil a esquerda não é direita”, qual
a diferença de sentido estabelecida pela substituição de “nem” por “não”?
21 É sabido que as histórias de Chico Bento são situadas no universo rural brasileiro.
a) Explique o recurso utilizado para caracterizar o modo de falar dos personagens na tira.
b) É possível afirmar que esse modo de falar caracterizado na tira é exclusivo do universo rural brasileiro? Justifique.
Texto complementar
Acerca da linguagem
Para certos linguistas, a linguagem foi criada para exprimir, da melhor forma possível, o pensamento; para outros, o pensamento sem linguagem
permaneceria no estado de massa amorfa e confusa. É a linguagem que modela o universo que pensamos; as diferentes línguas remetem a dife-
rentes sistemas de pensamento, a visões de mundo, filosofias, morais, hábitos etc. De acordo com Lévi-Strauss, o povo nambiquara tem apenas
uma palavra para exprimir “bonito” e “velho”; os esquimós possuem cerca de 100 palavras para designar a neve; os árabes possuem cerca de 6
mil palavras para designar o camelo, suas variedades, suas qualidades, empregos etc. Para Watson (1924 – fundador do Behaviorismo – psicologia
experimental), o que a psicologia denomina pensamento não é nada mais senão falar-se a si mesmo. Mais tarde, Piaget (em sua teoria da gênese
do subdesenvolvimento intelectual) ressalta que a função simbólica ou semiótica é anterior à linguagem. Como a linguagem é um sistema de signos,
a criança já estaria predisposta à linguagem. Para a psicologia, a linguagem é adquirida mediante hábitos (reflexo condicionado).
FRENTE ÚNICA
229
Livro Teatro
yy ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 42. ed. Rio de Janeiro: yy STANISLAVSKI, Constantin. A construção da personagem. Rio de
Civilização Brasileira, 1998. Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
Filme Músicas
yy O vagabundo. Direção: Charles Chaplin, 1915. yy Astor Piazzola (jazz/tango).
Jornal
yy O Estado de S. Paulo.
amor, mas de amor pelo seu povo, pelo seu país [...] tora Clarice Falcão.
Paulo Leminski. Os sentidos da paixão. Queria te dizer que esse amor todo por você
Rio de Janeiro: Cia. das Letras, 1995. p. 301. Ele é irônico, é só irônico
231
identificado pela comparação dos dois anúncios? foi embora, com o saco de areia atrás.
233
12 Uece 2018 No texto de Stanislaw Ponte Preta, aparecem com frequência expressões da fala popular, a exemplo de
“tudo malandro velho” (linha 4), “muamba” (linha 22) e “manjo...pra burro” (linha 27). Sobre esta questão, leia as afir-
mações que seguem.
I. Este tipo de linguagem revela, no texto, uma escrita marcada por um estilo coloquial através do uso consciente
de gírias e expressões tiradas da fala informal.
II. Expressões da fala coloquial, como as usadas no texto A velha contrabandista, são próprias da crônica, que é um
gênero que se utiliza de alguns recursos típicos da oralidade para dar maior dinamicidade ao texto.
III. As expressões coloquiais utilizadas no texto, na verdade, mostram uma escrita desleixada do autor que não do-
mina o registro padrão da língua portuguesa.
IV. O emprego destes coloquialismos pode contribuir para o caráter humorístico da crônica.
13 Uece 2018 A expressão “uai!” (linha 24) e o termo “espaia” (linha 32), extraídos da fala da velhinha, revelam uma varieda-
de linguística do português brasileiro específica de um grupo social que pode ser identificado em
a falantes do sexo feminino com idade avançada que moram em metrópole.
b falantes estrangeiros que não dominam certas expressões e determinados sons da língua portuguesa.
c falantes escolarizados do sexo feminino que moram no interior do nosso país.
d falantes de dialeto caipira vindos de regiões interioranas do país para habitarem na cidade grande.
A norma culta não prevê o emprego dos pronomes tal como aparecem no texto. Levando em consideração a propos-
ta de linguagem do movimento literário em que o poema se insere, justifique o uso dos pronomes no primeiro verso.
16 Enem Assinale o trecho do diálogo que apresenta um registro informal, ou coloquial, da linguagem.
a “Tá legal, espertinho! Onde é que você esteve?!”
b “E lembre-se: se você disser uma mentira, os seus chifres cairão!”
c “Estou atrasado porque ajudei uma velhinha a atravessar a rua [...]”
d “[...] e ela me deu um anel mágico que me levou a um tesouro [...]”
e “[...] mas bandidos o roubaram e os persegui até a Etiópia, onde um dragão [...]”
Uma das figuras a seguir é uma representação dos corpos celestes que constituem a constelação da Ema, na per-
cepção indígena.
FRENTE ÚNICA
235
A outra figura mostra, em campo de visão ampliado, como povos de culturas não indígenas percebem o espaço es-
telar em que a Ema é vista.
Órion
Cruzeiro do Sul
Escorpião
a) Transcreva do texto as expressões que mais diretamente exemplificam o “biologuês” mencionado pela autora.
b) Tomada em seu sentido figurado, como se deve entender a expressão “dar nome aos bois”, utilizada no texto?
10
CAPÍTULO Coesão
Em grande parte de suas obras, o pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) utiliza for-
mas geométricas para a retratação de seres ou objetos, em uma aparente fragmentação
que, na verdade, estrutura a representação final. O que se percebe, sobretudo em sua
fase cubista, é que as partes da figura são articuladas de tal maneira que proporcionam ao
apreciador da obra uma visão coerente e coesa, em um registro que foge do figurativismo.
Nos textos verbais, seja do poeta que trabalha simbolicamente a linguagem, seja do
falante da língua que se expressa em situações do dia a dia, também são empregados
recursos coesivos que se articulam para a elaboração de um texto inteligível e eficiente
na transmissão de uma mensagem. Esses recursos constituem o assunto abordado no
capítulo.
LAXMAN/STOCK.XCHNG
quiano esteja implicado nos atentados suicidas”, declarou o
vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney. Ainda não
temos uma impressão digital do Iraque que o implique no
caso [...].
Patrice de Beer. “Parte do governo americano quer implicar Saddam”.
Le Monde, 19 set. 2001.
Exemplo 2
Ontem, o secretário do Desenvolvimento e Assistência
Social, Nelson Guimarães Proença, esteve na cidade para tentar
convencer a comunidade a aceitar a instalação da unidade.
Depois disso, a obra deve começar.
Keila Ribeiro. “Governo quer apressar nova Febem em S. José”.
Folha de S.Paulo, 22 set. 2001. C8.
Os pronomes “este”, “esta” e “isto” também são empregados quando No texto anterior, há palavras e expressões que estão
se quer dar ênfase ou quando se faz referência ao tema tratado. Na em relação sinonímica, a saber:
capa a seguir, o pronome refere-se ao ex-presidente estadunidense,
tema principal de CartaCapital da edição de 26 set. 2001. Problema principal refugiados internos
Divulgação
Exemplo 7
Fernandinho Beira-Mar está preso, a mídia já não dá mais
destaque ao perigoso bandido.
No texto, “bandido” é hiperônimo de “Fernandinho Bei-
ra-Mar”, visto que este é parte daquele. Ademais, o termo
“perigoso” expressa um julgamento de valor acerca do tra-
ficante. Ou seja, além de informar, a coesão por sinonímia
permite ao enunciador emitir sua opinião sobre os seres e
fatos mencionados.
239
Na segunda oração, temos a elipse de “empresa”; essa Veja este outro exemplo:
oração só pode ser entendida em coesão com a frase an- A ajuda deve ser intensificada aos menores abandonados.
terior. A elipse, contudo, pode criar, em certos casos, uma coesão prejudicada: distância entre regente e regido.
ambiguidade (elipse do sujeito da segunda oração). A ajuda aos menores abandonados deve ser intensificada.
• Os policiais civis atacaram os militares, pois estavam bê- coesão: contiguidade entre regente e regido.
bados. (Quem estava?).
• Os policiais civis atacaram os militares, pois estes estavam A distância entre regente e regido pode criar falta de
bêbados. (Os militares). clareza; incoerência, ambiguidades. A seguir, você lerá
um texto em que a coesão prejudica a clareza; procure
Coesão por meio de artigo descobrir no texto 1 os termos regidos que estão malposi-
(definitivação) cionados; em seguida, você terá a resposta.
José tinha um sonho. O sonho era ter um cavalo todo Texto 1: sem coesão
branco.
Em uma de suas colunas, o ombudsman reproduziu um
No primeiro período, empregou-se o artigo indefinido, trecho de uma do jornal Folha de S.Paulo notícia do Jornal e
pois não se sabia que sonho era esse; no segundo período, fez uma do Brasil crítica ao título notícia da mesma.
a colocação do artigo definido ocorre porque o sonho foi
especificado. No texto a seguir, há um problema de coesão. Texto 2: detectando o problema
Surgiu, em Pedras Altas, numa tarde de muito frio, o Em uma de suas colunas, o ombudsman reproduziu um
cavaleiro misterioso. Ninguém o conhecia... O cavaleiro cha- trecho de uma do jornal Folha de S.Paulo notícia do Jornal e
mava-se... fez uma do Brasil crítica ao título notícia da mesma.
Não se apresenta uma personagem com artigo defi-
nido; este ocorrerá apenas quando a personagem já tiver Texto 3: com coesão
sido mencionada.
Em uma de suas colunas, o ombudsman do jornal Folha
Surgiu, em Pedras Altas, numa tarde de muito frio, um cava- de S.Paulo reproduziu um trecho de uma notícia do Jornal do
leiro misterioso. Ninguém o conhecia... O cavaleiro chamava-se... Brasil e fez uma crítica ao título da mesma notícia.
241
As casas espiam os homens 3 Em “mas essa lua/ mas esse conhaque”, o demonstra-
que correm atrás de mulheres. tivo e o conectivo “mas” exercem um papel semântico
A tarde talvez fosse azul, em relação aos substantivos “lua” e “conhaque”. Que
não houvesse tantos desejos.
papel é esse?
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu
coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada. 4 Explique o valor semântico do conectivo “porém” e
substitua-o por outro de mesmo sentido.
O homem atrás do bigode Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu co-
é sério, simples e forte. ração.
Quase não conversa. Porém meus olhos
Tem poucos, raros amigos não perguntam nada.
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Cite dois elementos anafóricos empregados pelo au- se sabias que eu não era Deus
tor e as palavras por eles recuperadas. se sabias que eu era fraco.
Exercícios propostos
1 AFA Leia. e promovem a coesão textual. Nesse trecho, refe-
re-se à(s):
A ilusão de uma verdade puramente exterior, exis-
a liberdade outrora reclamada aos brados.
tindo a priori e sem a participação do indivíduo na
b acomodação do jornalista no presente, advinda de
sua realidade intrínseca, entrou a dominar a literatura
percalços e frustrações do passado.
europeia[...]. A imaginação perdeu seu poder temporal
c dívidas e à renda ordinária provinda do jornal, com
e suas prerrogativas absolutas; as construções que não
a qual Gondim se contenta atualmente.
tinham por base o documento principiavam a vacilar,
d dívidas geradas pelo salário mofino que Gondim
e a observação limitou o terreno da fantasia, nivelou-
recebe do jornal, com o qual se conforma nesse
-lhe a superfície irregular, marcou-lhe(1) as dimensões
momento da vida, apesar de ter protestado no
e determinou-lhe(2) os confins, reduzindo-o(3) a uma
passado.
porção insignificante e quase desprezível.
Ronaldo de Carvalho. Pequena história da literatura brasileira. 13 ed.
Belo Horizonte: Itatiaia, 1984. p. 229. 3 AFA Leia.
Observando-se o emprego dos pronomes assinalados, São Bernardo faz interagir, como num jogo, dois mo-
1, 2 e 3, no processo coesivo do texto, dir-se-á que: dos de focalizar a narrativa: de um lado o modo próprio,
a 1, 2 e 3 retomam a expressão “terreno da fantasia”. autossuficiente e pragmático do fazendeiro; de outro, o
b 1 e 2 retomam “superfície”, 3 retoma “dimensões”. modo de narrar de Paulo Honório-escritor, feito de he-
c 1 retoma “superfície”; 2 retoma “dimensões”; 3 re- sitações, dúvidas e interrogações, as quais ele partilha
toma “confins”. com o leitor. A dupla focalização se explica pelos tempos
d 1 retoma “terreno da fantasia”; 2 retoma “dimen- diferentes em que um e outro se encontram.
Lúcia H. Vianna. Roteiro de leitura: São Bernardo de Graciliano Ramos.
sões”; 3 retoma “confins”.
Os termos em negrito, as quais, ele e um e outro, res-
2 AFA Leia este fragmento de São Bernardo, atentando gatam, respectivamente, estes elementos do excerto:
para o pronome destacado. a “interrogações”; “escritor”; “modos de focalizar a
narrativa”.
Azevedo Gondim reclamava liberdade, aos gritos.
b “modos de focalizar a narrativa”; “Paulo Honório”;
Contenta-se hoje com a renda mofina do jornal e deve os
“escritor” e “leitor”.
cabelos da cabeça. Conforma-se com isso.
c “dúvidas e interrogações”; “fazendeiro”; “fazendei-
Graciliano Ramos. São Bernardo.
ro” e “escritor”.
O pronome em questão faz parte do grupo de instru- d “hesitações, dúvidas e interrogações”; “Paulo Ho-
mentos linguísticos que retomam partes do discurso nório-escritor”; “escritor” e “fazendeiro”.
FRENTE ÚNICA
243
e O elemento coesivo pronominal “ela”, em “É ela, essa pre, o mar! A solidez da terra, monótona/ parece-nos fraca
condição diferente e única própria de cada pessoa”, ilusão! Queremos a ilusão do grande mar / multiplicada
refere-se ao vocábulo “superação”, recuperando-o em suas malhas de perigo. E Nietzsche: Amareis a terra de
para ressaltar a única condição de uma existência feliz. vossos filhos, terra não descoberta, no mar mais distante.
245
Para se entender o trecho como uma unidade de sen- O texto a seguir refere-se às questões de 14 a 19.
tido, é preciso que o leitor reconheça a ligação entre
seus elementos. Nesse texto, a coesão é construída
predominantemente pela retomada de um termo por
outro pelo uso da elipse. O fragmento do texto em
que há coesão por elipse do sujeito é:
a “[...] a palavra gripe nos chegou após uma série de
contágios entre línguas.”
b “[...] “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe [...]”.
c “[...] “O primeiro era um termo derivado do latim
LEITE
12 Mackenzie Leia.
O garoto pedia tudo, até o que não via:
– Pai, eu quero um avião de guerra, de verdade. 1. É natural que você pense que o Leite Longa Vida tenha
– Eu lho dou, assim que tiver vinte anos. alguma coisa. Afinal, os de saquinho duram um ou
dois dias e o Leite Longa Vida dura meses. Isto por-
No texto citado, o pronome “lho” recupera: que ele não tem bactérias.
a o garoto. 2. Como ele não tem bactérias, o Leite Longa Vida não
b tudo. precisa de aditivos nem de conservantes [...].
c o avião. 3. Você não deve desconfiar quando um leite é tudo
d o avião e o garoto. isso.
e tudo e o garoto. 4. Você deve desconfiar quando um leite não é nada
disso.
13 EsPCEx 2017 Pela primeira vez na história, pesquisadores 5. Pensando bem, você nem precisa agradecer o fato
FRENTE ÚNICA
conseguiram projetar do zero o genoma de um ser vivo do Leite Longa Vida fazer tudo isso por você.
(uma bactéria, para ser mais exato) e ‘instalá-lo’ com su- 6. Porque, no fundo, isso não é mais que uma obrigação
cesso numa célula, como quem instala um aplicativo no do Leite Longa Vida.
celular. 7. Beba leite. Este.
247
17 Em “isso não é mais que uma obrigação” (6o parágrafo), o demonstrativo refere-se a:
a leite puro e nutritivo.
b fazer tudo isso.
c Leite Longa Vida.
d obrigação.
e obrigado por não ter aditivos.
20 Fuvest 2015 E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente
do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara
nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar
gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra
verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhan-
do-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir
dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva
daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.
O conceito de hiperônimo (vocábulo de sentido mais genérico em relação a outro) aplica-se à palavra “planta” em
relação a “palmeira”, “trevos”, “baunilha” etc., todas presentes no texto. Tendo em vista a relação que estabelece com
outras palavras do texto, constitui também um hiperônimo a palavra:
a “alma”
b “impressões”
c “fazenda”
d “cobra”
e “saudade”
21 IFPE 2019
COMO A DESIGUALDADE PODE ESTAR IMPULSIONANDO AS SELFIES SENSUAIS
O que está por trás do fenômeno da selfie sexy? A obsessão online que vivemos hoje tem sido vinculada à vaidade e até
à opressão de gênero. Mas esse poderia ser também um comportamento guiado pela economia
(1) Uma imagem vale mais que mil palavras. Da mesma forma, parece que há mais por trás das selfies do que pode
parecer à primeira vista. A obsessão online que vivemos hoje tem sido vinculada à vaidade e até à opressão de gênero. Mas
poderia ser também um comportamento guiado pela economia?
(2) Asma Elbadawi é uma artista visual de origem inglesa e sudanesa. Ela acha que o capitalismo moderno impulsiona
as mulheres a se fotografarem como objetos de desejo. Recentemente, ela postou uma selfie no Instagram com desenhos
O principal referente desse trecho é “Asma Elbadawi”. Para manter esse referente no texto, lançou-se mão de alguns
recursos coesivos, sendo o mais recorrente deles
a o apagamento do sujeito, como em “afirma que sua intenção era...”.
b a retomada por meio de pronomes, como em “ela acha...” e “ela postou...”.
c o uso de aposto explicativo, a exemplo de “ativista reconhecida pelo empoderamento de jovens muçulmanas”.
d o emprego da forma nominal gerúndio, como, por exemplo, “lembrando as marcas...” e “criando uma mensagem...”.
e a retomada nominal pelo sobrenome, a exemplo de “Elbadawi, ativista reconhecida”.
22 Efomm 2019
Passeio à Infância
Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegaremos dois pequenos carás dourados. E como faz calor, veja, os lagostins saem
da toca. Quer ir de batelão, na ilha, comer ingás? Ou vamos ficar bestando nessa areia atravessa a água rasa? Não catemos
pedrinhas redondas para atiradeira, porque é urgente subir no morro; os sanhaços estão bicando os cajus maduros. É janeiro,
grande mês de janeiro!
Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer escorregando no capim até a beira do açude. Com
dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é no mês que vem, vamos apanhar tabatinga para fazer formas de
máscaras. Ou então vamos jogar bola-preta: do outro lado do jardim tem um pé de saboneteira.
Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de pernas magras e vamos passear nessa
infância de uma terra longe. É verdade que jamais comeu angu de fundo de panela?
Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da goiabeira; eu cortarei uma forquilha com o
canivete. Mas não consigo imaginá-la assim; talvez se na praia ainda houver pitangueiras... Havia pitangueiras na praia? Tenho
uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia. Iremos catar conchas cor-de-rosa e búzios crespos, ou armar o alçapão junto do
brejo para pegar papa-capim. Quer? Agora devem ser três horas da tarde, as galinhas lá fora estão cacarejando de sono, você
gosta de fruta-pão assada com manteiga? Eu lhe dou aipim ainda quente com melado. Talvez você fosse como aquela menina
rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de abóbora e coco.
Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali pescarei piaus. Há rolinhas. Ou então ir descendo
FRENTE ÚNICA
o rio numa canoa bem devagar e de repente dar um galope na correnteza, passando rente às pedras, como se a canoa fosse
um cavalo solto. Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar e ficar olhando as nuvens brancas. Bem pouca coisa
eu sei; os outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe. Lembro-me que vi o ladrão morrer afogado
com os soldados de canoa dando tiros, e havia uma mulher do outro lado do rio gritando.
249
Texto complementar
Linguística textual
A linguística textual, como ciência da estrutura e do funcionamento dos textos, começou a desenvolver-se na década
de 1960 na Europa, especialmente na Alemanha.
A origem do termo “linguística textual” encontra-se em Cosériu, embora, no sentido que lhe é atualmente atribuído,
tenha sido empregado pela primeira vez por Weinrich.
As causas de seu desenvolvimento são, dentre outras, as falhas das gramáticas da frase no tratamento de fenômenos como
a referência, a definitivização, as relações entre sentenças não ligadas por conjunções, a ordem das palavras no enunciado,
a entoação, a concordância dos tempos verbais, fenômenos estes que só podem ser explicados em termos de texto ou em
referência a um contexto situacional.
Assim, o que a legitima é sua capacidade de explicar fenômenos inexplicáveis por meio de uma gramática do enunciado
ou, como afirma Conte (1977, pp.17-8), “é a descontinuidade entre enunciado e texto, já que há uma diferença qualitativa
entre ambos (e não meramente quantitativa)”.
Sendo o texto mais do que a soma dos enunciados que compõem, sua produção e compreensão derivam de uma com-
petência específica do falante – a competência textual.
Chegados a este ponto, algumas questões podem ser colocadas:
O que é competência textual? E o que é texto? Do que se constitui e em que se distingue de um conjunto de frases?
O que une, por exemplo, um grito isolado “– Socorro!” – a um soneto de Camões e o que separa estes dois textos de um
pseudotexto, por exemplo, um léxico?
Todo falante de uma língua tem capacidade de distinguir um texto coerente de um alongamento incoerente de enuncia-
dos e esta competência é linguística, em sentido amplo (distingue-se da competência frasal ou linguística em sentido estrito,
como a descreve, por exemplo, Chomsky em Aspects of the theory of syntax – 1965). Qualquer falante é também capaz de
parafrasear um texto, de resumi-lo, de atribuir-lhe um título, de produzir um texto a partir de um título dado e de distinguir
um texto segundo os vários tipos de texto (por exemplo, uma conversação de um texto científico, de uma receita de bolo, de
uma poesia). Todas essas habilidades explicitam a competência textual e justificam a construção de uma gramática textual.
Leonor Lopes Fávero. Coesão e coerência textuais. 11 ed. São Paulo: Ática, 2009.
Exceção 1: quando há dois elementos, usa-se “este” para recuperar o mais próximo e “aquele” para recuperar o mais distante.
Exceção 2: usa-se “este”no lugar de “esse” para enfatizar o termo recuperado.
Livro Teatro
yy TOLSTÓI, Liev. Guerra e paz. Porto Alegre: LP&M, 2007. yy RACINE, Jean. Fedra. Porto Alegre: LP&M, 2001.
Romance histórico que narra a história da Rússia à época de Napo- Esta peça do famoso dramaturgo francês do século XVII estabele-
leão Bonaparte, e descreve os horrores da guerra entre esse país ce uma intertextualidade com o texto de Eurípedes, que viveu na
e a França no século XIX. Grécia Antiga. Ambos os textos tratam do amor proibido de Fedra
por seu enteado.
Filme
Música
yy Titus. Direção: Julie Taymor, 1999.
Baseado na peça Tito Andrônico, de Shakespeare, a obra faz uma yy Philip Glass. "Einstein on the beach" (música minimalista).
releitura da história do vitorioso general que se vê ameaçado por Música elab
intrigas e disputas pelo poder após seu retorno da batalha.
Exercícios complementares
1 AFA A distância entre o motorista de vidros lacrados e o mendigo que pede esmola no sinal vermelho é maior que a distância
entre ele e as trilhas agrestes das novelas e dos comerciais. Nas ruas esburacadas das metrópoles, ele talvez se sinta escalan-
do falésias. No seu coração a cidade embrutecida é a pior de todas as selvas.
Em relação ao excerto citado, extraído da revista Veja e propositalmente alterado, é correto afirmar que:
a redundâncias e tautologias interferem na clareza.
b é claro e conciso, porém apresenta falhas gramaticais.
FRENTE ÚNICA
251
3 Mackenzie Leia.
A propósito da exposição de Malfatti
Há duas espécies de artistas. Uma dos que veem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura,
guardando os eternos ritmos da vida [...]. A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza, e interpre-
tam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas como cá e lá como furúnculos da
cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos da decadência: são frutos de fins de estação,
bichados ao nascedouro.
[...] Se víssemos na sra. Malfatti apenas uma “moça que pinta”, como há centenas por aí, sem denunciar centelha de
talento, calar-nos-íamos, ou talvez lhe déssemos meia dúzia desses adjetivos “bombons”, que a crítica açucarada tem sempre
à mão em se tratando de moças.
Monteiro Lobato. Paranoia ou mistificação. 1917.
QUINO. updateordie.com
Não lembro quem disse que a gente gosta de uma b) explique, com base nessa e em outras passagens
pessoa não por causa de, mas apesar de. Gostar daquilo do texto de Aristóteles, a diferença entre o histo-
que é gostável é fácil: gentileza, bom humor, inteligência, riador e o poeta.
253
255
20 Unicamp Em todas as afirmações, há um padrão que se repete. Qual é esse padrão e como ele estabelece a relação
com a crise política do atual governo?
21 Unicamp Apresente, por meio de paráfrases, duas interpretações para a palavra “tanto” na frase “Getúlio tanto sabia
que preparou a carta-testamento”.
O soneto a seguir, de Machado de Assis, intitula-se “Suave mari magno”, expressão usada pelo poeta latino Lucrécio,
que passou a ser empregada para definir o prazer experimentado por alguém quando se percebe livre dos perigos
a que outros estão expostos.
Suave mari magno
Lembra-me que, em certo dia,
Na rua, ao sol de verão,
Envenenado morria
Um pobre cão.
25 Unicamp Que elemento de coesão está presente no primeiro verso da segunda estrofe que possibilita a retomada
do “cão”?
27 Unicamp Que relação há entre a atitude de Fortunato e o poema “Suave mari magno”?
HONGQI ZHANG/DREAMSTIME.COM
Os Agentes Comunitários de Saúde são pessoas comuns, selecionadas e treinadas para trabalhar com a comunidade em que
vivem. Visitam as moradias, acompanhando de modo permanente o desenvolvimento dos vizinhos. Em especial as crianças, gestantes
e idosos. Assim, a porta de cada casa se torna uma entrada para o sistema de saúde.
Em apenas 5 anos, os Agentes já ajudaram a reduzir em 30% a mortalidade infantil no Brasil. Isso mostra que, com um
mínimo de esforço, nossa gente pode dar um salto para condições de vida mais dignas.
Cada Agente Comunitário é responsável por 150 a 200 famílias, em seu bairro, sua vila ou povoado. Promove a saúde da
vizinhança com informações simples, faz a base da ação preventiva. E identifica pequenos males, antes que estes se agravem
e alimentem as filas dos hospitais. O Agente reforça a ponte entre as pessoas e o posto de atendimento local.
É a concretização de um sonho que parecia impossível: uma saúde que vai onde o povo está, encurtando as distâncias
físicas e sociais que deixam tanta gente à margem dos serviços públicos. Ao fim de 1997, havia 54 mil Agentes atendendo
41 milhões de brasileiros. Até dezembro de 1998 eles já serão 100 mil, trabalhando pelo bem-estar de cerca de 75 milhões
de pessoas (metade da nossa população) em 3 mil cidades.
Nós sabemos que você quer resultados na Saúde. É o seu direito. E o nosso dever.
FRENTE ÚNICA
257
30 Uerj
“[...] não admira lhe saltassem algumas LÁGRIMAS poucas e caladas. As minhas cessaram logo.”
Nessa passagem, encontra-se um recurso de coesão textual em que o termo destacado é retomado por meio de
elipse. Esse mesmo recurso é empregado em:
a “quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos.”.
b “Muitos homens choravam também, as mulheres todas.”.
c “Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la;”.
d “quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta,”.
FRENTE ÚNICA
11
CAPÍTULO Coerência e concisão
A coerência é a compatibilidade de sentido entre duas partes do texto (A é compatível
com B). A falta de coerência prejudica a clareza do texto, compromete a mensagem; porém,
em alguns textos, pode servir como recurso expressivo. No texto de Angeli, por exemplo,
“TV digital ou analógica” (A) é incompatível com o que se vê: a máquina de assar frangos (B).
A falta de coerência nesse caso é proposital, pois enfatiza uma realidade: a pobreza. Para
esta, a TV não é prioridade pois falta-lhe o básico: a comida, o frango (o conteúdo da máqui-
na). A falta de coerência no texto de Angeli denuncia uma falta de coerência na realidade do
país: uma economia forte (“TV analógica, digital”), mas uma estrutura social ainda frágil, pois a
maioria ainda vive em estado precário (“Pra mim tanto faz! O importante é o conteúdo!”).
Neste capítulo, estudaremos os tipos de coerência por meio de textos que pecam no
seu emprego ou que utilizam a falta de coerência como instrumento de criatividade, por
exemplo, o cinema, a propaganda, a charge etc.
T
algo anterior). Entretanto, não há coerência, visto que cada rês menores fantasiados de “marcianos” roubaram
período aponta para um assunto diferente; diz-se nesse a principal padaria de São Miguel Paulista, São
caso que não há textualidade (não é possível entender); Paulo. Os menores foram presos instantes depois,
em outras palavras, para que um texto seja compreendido em um terreno próximo, comendo os doces roubados.
é preciso no mínimo haver coerência. Os infratores foram conduzidos à Fundação Casa.
As pessoas calar-se-iam diante daquela cena, ainda
que fossem medrosas. Fig. 1 Coerência com dados da realidade.
A B
Falcão; Tarcísio Matos. “O dinheiro não é tudo, mas é 100%”.
Intérprete: Falcão.
261
René Magritte
A B
Nos dois casos, o argumento (B) não sustenta a tese (A).
Veja agora o anúncio a seguir.
Fig. 6 René Magritte. A traição das imagens, 1928-1929. Óleo sobre tela. Los
Angeles County Museum of Art, Los Angeles, Estados Unidos.
Coerência visual
René Magritte
O que rouba, mas faz!
Fig. 4 Coerência no nível da argumentação.
Coerência temporal
Ocorre quando há uma progressão temporal coerente
com os fatos assinalados.
Nos exemplos a seguir, a ordem dos fatos gera incoe-
rência.
Saiu, vestiu a calça com pressa, ligou o carro e disse
adeus àquela casa que não soube entendê-lo.
O correto seria: Vestiu a calça com pressa, saiu, ligou
o carro e...
Coerência verbo-visual
Trata-se da compatibilidade de sentido entre o verbal Fig. 7 René Magritte. Império das luzes, 1953-1954. Óleo sobre tela. Guggenheim
Museum, Nova York, Estados Unidos.
(as palavras) e o visual (as imagens).
Observe o anúncio a seguir.
René Magritte
© Abdul Sami Haqqani | Dreamstime.com
Há uma metáfora, o carro é comparado a um foguete, Fig. 8 René Magritte. Golconda, 1953. Óleo sobre tela. Coleção Menil, Houston,
a incoerência é aparente. Texas, Estados Unidos.
Publicidade
Concisão
Reprodução
Importância da concisão
De modo geral, a concisão é necessária para que não
percamos tempo com o não necessário; há textos em que a
concisão é princípio estético, o caso da poesia; e há textos
em que só a concisão é necessária – um texto empresarial,
por exemplo. Seja como for, há recursos gramaticais que
promovem a concisão.
Provérbios, máximas
Se pagares o mal com o bem, com que, então, recompensarás a bondade?
Pagarás o bem com o bem e o mal com a justiça.
Confúcio.
Revisando
1 Leia o anúncio a seguir. O experimento reuniu 63 pessoas de duas cidades do
Colorado: o primeiro de Boulder, um município com maioria
Entre o conforto de uma casa e a segurança de um
de esquerda, enquanto o outro reunia pessoas de Colorado
apartamento, fique com os dois.
Springs. Ambos os grupos discutiram aquecimento global,
Explique a falta de coerência e o motivo pelo qual isso ações afirmativas e união civil para casais do mesmo sexo.
ocorre no texto. Nas duas discussões, o principal efeito foi tornar os
membros do grupo mais extremos em suas opiniões, compa-
rado ao que eram antes de começarem a conversar. Ou seja:
progressistas se tornaram mais progressistas nas três questões,
enquanto conservadores se tornaram mais conservadores.
“Todos queremos tomar decisões melhores. Estudos
identificam os papéis benéficos das estruturas de diversidade
de pensamento, subgrupo e liderança plana na otimização
de ideias e resolução de problemas”, diz Zac Baynham-
-Herd, analista da prática de ciências comportamentais da
Texto para as questões 2 e 3.
Ogilvy Consulting. “À medida que a atividade online cresce,
Como o comportamento de manada explica o potencial de proliferação de 'ovelhas negras' e ‘compor-
adesão impensada aos ativismos políticos tamento de manada’ também aumenta”, acrescenta.
Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-o-
O ativismo se expressa, sobretudo, através de movi- comportamento-de-manada-explica-adesao-impensada-aos-ativismos-politicos/>.
mentos coletivos. Mas essa própria noção de coletividade Acesso em: 23 set. 2019. Publicado em 22 set. 2019. [Fragmento adaptado.]
pode ser uma pressão para pessoas participarem de um
movimento simplesmente para sentirem que fazem parte
de algo: a chamada “mob mentality” ou comportamento
2 Acafe 2020 Assinale a alternativa que melhor resume
de manada é um instrumento político e uma arma para o texto.
promover a agenda de grupos específicos. a O comportamento das multidões políticas do mo-
A teoria psicológica de “comportamento de manada” mento presente é um exercício de simplificação
sugere que seres humanos têm maior probabilidade de adotar radical, que decompõe ativamente todos os ele-
determinados comportamentos porque seus amigos, colegas mentos da individualidade e da civilização.
de trabalho e vizinhos já o adotam. Basicamente, ninguém b O comportamento de manada pode levar as pes-
quer ser o primeiro ou o último a fazer algo, mas sim estar soas a participarem de uma ação simplesmente
seguro e inserido em um determinado grupo social. porque simplifica ideias complexas — o que deve-
“Se a questão é o que fazer com uma caixa de pipoca riam ser as pautas dos movimentos sociais.
vazia em um cinema, com que rapidez dirigir em um de-
c O perigo do comportamento de manada é que dá
terminado trecho de rodovia ou como comer o frango em
um jantar, as ações das pessoas ao nosso redor serão impor-
permissão para atitudes que os indivíduos, sozi-
tantes para definir nossa resposta”, diz o psicólogo Robert nhos, provavelmente não assumiriam, como por
Cialdini, autor de “Influência: A Psicologia da Persuasão”. exemplo participar de bullying ou agredir pessoas.
d O comportamento de manada, que significa a adoção
FRENTE ÚNICA
265
4 Um erro de coesão pode levar a um erro de coerência; explique como isso ocorre na manchete citada.
7 PUC-PR 2015 A parte final do texto a seguir foi retirada, como indicado pelas reticências. Analise as frases que seguem
e marque a alternativa que apresenta o desfecho mais coerente para o final do texto.
Presidente ou presidenta?
Se quisesse seguir a lei com um rigor, digamos, ortodoxo para seus hábitos, o brasileiro teria de oficialmente referir-se
a Dilma Rousseff como "presidenta". Sim, a Lei Federal 2.749, de 1956, do senador Mozart Lago (1889-1974), determina o
uso oficial da forma feminina para designar cargos públicos ocupados por mulheres. Era letra morta. Até o país escolher sua
primeira mulher à Presidência da República. Criada num pós-guerra em que os países incorporaram direitos em resposta a
movimentos sociais, a lei condiciona o uso flexionado ao que for admitido pela gramática. O que daria vez à forma "presi-
dente". O problema é que não há consenso linguístico que justifique opção contrária à lei. Em novembro, muitos professores,
gramáticos e dicionaristas se apressaram em dizer que tanto "a presidente" como "presidenta" são legítimas. (...)
Disponível em: <http://revistalingua.com.br/textos/62/presidente-ou-presidenta-248988-1.asp>. Acesso em: maio 2015.
Exercícios propostos
1 AFA Observe os excertos I, II e III.
I. Os morcegos entraram pela janela e voejaram sobre a classe. De repente um dos mamíferos enroscou-se nos
cabelos de Pat, a aluna mais chata. Foi uma gozação geral!
II. Muito derrotista apregoa que o plano econômico do atual governo tende ao fracasso, mas eles estão completa-
mente enganados.
III. A casa de Anacleto no bairro de Santana, em São Paulo, é bastante confortável. Além das dependências convencio-
nais, possui escritórios, biblioteca, sauna e uma espaçosa varanda voltada para o leste, onde todas as tardes se vê
Anacleto, em sua cadeira de balanço, admirando o pôr do sol.
Dir-se-á que:
a I é coeso, mas não é coerente; II é coeso e coerente; III é coeso e coerente.
b I é coeso e coerente; II é coeso e coerente; III é coeso, mas não coerente.
c I é coeso e coerente; II é coerente, mas não é coeso; III é coeso, mas não coerente.
d I é coerente, mas não coeso; II é coeso, mas não é coerente; III é coerente, mas não coeso.
267
269
Marcel Duchamp
Procuradoria determinando que seja investigado [...]
c A posição do Governo brasileiro é de que esgotem
todas as possibilidades de negociação para que se
alcance uma solução pacífica.
d Havia um elo de ligação entre o governo militar e a
elite empresarial da época.
e Suicidou-se, mas a polícia não sabia o motivo.
271
22 Utilize a zeugma.
Os preguiçosos querem o fácil, os valentes querem o difícil.
23 UPE 2017
Pedestre, a medida de todas as coisas
Na palestra que fiz mês passado no seminário A Mobilidade a Pé e o Futuro do Recife, organizado pelo INTG – Instituto
da Gestão – e apoiado pelo Cesar, pela Urbana/PE e pela Fiepe, tive oportunidade de falar sobre a importância crucial do
pedestre para o urbanismo contemporâneo. Esse seminário regional foi um desdobramento, no Recife, do seminário inter-
nacional Cidades A Pé, realizado em São Paulo, no mês de novembro do ano passado.
Disse que, embora graduado em Arquitetura e Urbanismo pela UFPE, só fui entender o que considero vital na questão
urbana atual depois que andei milhares de quilômetros no Recife. Depois, portanto, que, na prática, me “pós-graduei” pelos
pés. O essencial do que aprendi foi que se o pedestre se sente mal no solo é porque o urbanismo é ruim e o planejamento
urbano, se houve, falhou.
O planejamento urbano tradicional, o que se aprende na escola e amiúde se aplica por aí, começa olhando o espaço
pelo satélite (ainda mais agora com a proliferação das tecnologias de internet…), depois “desce” para o mapa, para a planta,
para o detalhe, e termina por não chegar ao nível do chão, de quem está andando na rua. Depois de gastar muita sola de
sapato por aí, defendo que haja uma inversão de sentido, que o planejamento comece pelo chão, por onde anda o pedestre
e, aí, vá “subindo” até chegar ao satélite. Se isso fosse feito, com certeza, não teríamos muitas das atrocidades que suportamos
nas cidades brasileiras andando por elas…
Na Grécia antiga, a filosofia pré-socrática defendia que “o homem é a medida de todas as coisas”. Na cidade, a medida
de todas as coisas, sem a menor sombra de dúvida, é o pedestre! Não entender isso é ficar na contramão da história con-
temporânea do urbanismo. Que o digam Jan Gerl com seu consagrado livro “Cidade para as Pessoas”, e Jeff Speck com o
seu excelente livro “Cidade Caminhável”. Que o digam as cidades da Europa e, já, muitas dos EUA, além de praticamente
todas as capitais latino-americanas…
Já existem, inclusive, um conceito e um conjunto de indicadores que ajudam a materializar essa tendência. Trata-se, o
conceito, do Walkability, e o conjunto de indicadores, do Walk Score, que mede o quanto “caminhável” é determinado local,
bairro ou cidade. Temos que seguir por aí. Afinal, como repete aquele complemento de comercial de rádio e TV, independente
do meio de transporte que utilizemos, “na cidade, todos somos pedestres”.
Francisco Cunha. In: Revista Algomais, Ano 11, n.124, julho de 2016, p.50. Adaptado.
Considerando os recursos utilizados para assegurar a coesão e a coerência do Texto 1, assinale a alternativa CORRETA.
a A opção por iniciar o segundo parágrafo por “Disse que...” se configura como um equívoco nos elos coesivos do
texto, pois nele não são fornecidas informações que contextualizem a ação de “dizer”.
b No trecho: “O planejamento urbano tradicional, o que se aprende na escola e amiúde se aplica por aí” (3º parágra-
fo), o termo destacado representa uma retomada de “na escola”.
c No trecho: “Se isso fosse feito, com certeza, não teríamos muitas das atrocidades que suportamos nas cidades
brasileiras andando por elas…” (3º parágrafo), o autor obriga o leitor a relacionar o segmento sublinhado com os
parágrafos anteriores, nos quais algumas atrocidades foram listadas.
d No trecho: “Que o digam Jan Gerl [...] e Jeff Speck [...]” (4º parágrafo), o termo destacado indica o complemento do
verbo “dizer” e se refere às afirmações feitas pelo autor, nos períodos imediatamente anteriores, no texto.
e Para compreender o segmento destacado no trecho: “Que o digam as cidades da Europa e, já, muitas dos EUA,
além de praticamente todas as capitais latino-americanas…” (4º parágrafo), o leitor deve completar a seguinte infor-
mação que está implícita: “muitas pessoas dos EUA”.
24 FMP 2017
Mais velho, poucos amigos?
Um curioso estudo divulgado na última semana mostrou que a redução do número de amigos com a idade, tão comum
entre os humanos, pode não ser exclusivo da nossa espécie. Aparentemente, macacos também passariam por processo se-
melhante em suas redes de contatos sociais, o que poderia sugerir um caráter evolutivo desse fenômeno.
No trabalho desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa com Primatas em Göttingen, Alemanha, se identificou uma redução
de grooming (tempo dedicado ao cuidado com outros indivíduos, como limpar o pelo e catar piolhos) entre os macacos mais
velhos da espécie Macaca sylvanus. Além disso, eles praticavam grooming em um número menor de “amigos” ou parentes.
tar tanto em homens como em outros animais. Para garantir a unidade e a coerência, todo texto deve
Na pesquisa, publicada pelo periódico New Scientist,
seguir uma determinada ordem de apresentação das
os cientistas perceberam que macacos de 25 anos tiveram
ideias. Ao desenvolver o processo argumentativo, o
uma redução de até 30% do tempo de grooming quando
texto apresentado, depois de informar que a redução
comparados com adultos de 5 anos. Se esse fenômeno
acontece em outros primatas, ele também pode ter che- do número de amigos pode ser fruto de uma escolha
gado a nós ao longo do caminho de formação da nossa pessoal do idoso, afirma que
espécie. Se chegou, qual teria sido a vantagem evolutiva? a a depressão, as limitações físicas, a vergonha da
Durante muito tempo se especulou que esse “enco- aparência são alguns fatores que podem afetar as
lhimento” social em humanos seria, na verdade, resultado pessoas idosas.
de um processo de envelhecimento, em que depressão, b o grooming entre os macacos equivale à relação
morte de amigos, limitações físicas, vergonha da aparência de carinho e de contato entre os humanos.
e menos dinheiro poderiam limitar as novas conexões. c o homem não é o único ser vivo que sofre uma
Mas, pesquisando os idosos, se percebeu que ter menos redução de amigos ao longo do seu processo de
amigos era muito mais uma escolha pessoal do que uma
envelhecimento.
consequência do envelhecer.
d os especialistas defendem posições distintas so-
Uma linha de investigação explica que essa redução dos
amigos seria, na verdade, uma seleção dos mais velhos de bre a relação entre envelhecimento e redução de
como usar melhor o tempo. Mas outros especialistas defen- amigos.
dem a ideia de que os mais velhos teriam menos recursos e os macacos mais velhos tiveram redução do tempo
e defesas para lidar com estresse e ameaças e, assim, de grooming, segundo uma pesquisa alemã.
Texto complementar
Coesão e coerência – devem-se distinguir?
A coesão e a coerência constituem dois fatores importantes da textualidade. Deve-se distingui-las? Como fazer?
Há autores que distinguem dois níveis de análise, correspondendo a coesão e coerência, embora a terminologia possa
ser diferente; outros não distinguem, e outros ou fazem referência a apenas um desses fenômenos ou estudam vários de seus
aspectos sem qualquer rotulação.
Halliday e Hasan (1976) afirmam que o que permite determinar se uma série de sentenças constitui ou não um texto
são as relações coesivas com e entre as sentenças, que criam a textura:
“Um texto tem uma textura e é isso que o distingue de um não texto. O texto é formado pela relação semântica de
coesão” [...].
Isenberg, linguista alemão da Academia de Ciências de Berlim (um dos mais importantes centros de formação de gra-
mática gerativa da Europa), procura fundamentar sua gramática de texto na teoria-padrão gerativa, postulando, porém, como
unidade básica de estudo o texto, e não o enunciado.
Em seu trabalho cita treze fenômenos somente explicáveis no âmbito da estrutura textual (por exemplo, a anáfora, a
seleção de artigos, a pronominalização e os elementos pró-adverbiais, a sucessão dos tempos), que podem ser considerados
fatores de coesão, ao lado de diversos tipos de textualização, ou seja, relações entre os enunciados assindeticamente conju-
gados (por exemplo, conexão causal, conexão de motivos, tematização de objetos novos), estes podendo ser considerados
fatores de coerência.
Weinrich estuda aspectos relevantes para a elaboração de uma macrossintaxe dos discursos, como a sintaxe dos ar-
tigos e dos tempos verbais; mostra que a distribuição do artigo é um aspecto importante da estrutura sígnica textual,
orientando o receptor na compreensão dos demais signos do texto. Quanto aos tempos verbais, classifica-os em dois
grandes grupos, com limites bem definidos: os do mundo comentado e os do mundo narrado. Embora não fale nem em
coesão nem em coerência, tanto os artigos quanto os tempos verbais devem ser incluídos entre os elementos de coesão.
Beaugrande e Dressler (1981), autores que serviram de ponto de partida para este trabalho, consideram constituírem a
coesão e a coerência níveis diferentes de análise.
A coesão, manifestada no nível microtextual, refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as
palavras que ouvimos ou vemos, estão ligados entre si dentro de uma sequência.
A coerência, por sua vez, manifestada em grande parte macrotextualmente, refere-se aos modos como os componentes
FRENTE ÚNICA
do universo textual, isto é, os conceitos e as relações subjacentes ao texto de superfície, se unem numa configuração, de
maneira reciprocamente acessível e relevante. Assim a coerência é o resultado de processos cognitivos operantes entre os
usuários e não mero traço dos textos.
Leonor Lopes Fávero. Coesão e coerência textuais. 11. ed. São Paulo: Ática, 2009.
273
Teatro Música
yy VIANNA FILHO, Oduvaldo. Rasga coração. yy Lenine, “Paciência”.
Última peça do autor, que faleceu com 38 anos, o texto se equilibra A letra dessa canção é um bom exemplo de uso bem resolvido de
entre a linguagem popular, o retrato do brasileiro comum e a realidade elementos coesivos construindo o texto.
política social do país na época da ditadura, estabelecendo também
um paralelo com a luta pela liberdade na época do Estado Novo. É uma
boa oportunidade para ver a maestria do autor em construir um drama
coerente e coeso articulando tempos e espaços diversos.
Exercícios complementares
1 AFA Leia o período a seguir.
Fita-Verde resolveu tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso.
Fita-Verde encontrou borboletas, avelãs e plebeiínhas flores.
Guimarães Rosa.
Assinale a alternativa em que as ideias acima estão organizadas num só período coerente e coeso e expressam
relação de causa e consequência.
a Assim que Fita-Verde resolveu tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso, encontrou bor-
boletas, avelãs e plebeiínhas flores.
b Fita-Verde encontrou borboletas, avelãs e plebeiínhas flores, posto que resolvesse tomar este caminho de cá, louco e
longo, e não o outro, encurtoso.
dações para relaxamento dos olhos. (I, II e III) que a segue, considerando que:
275
277
279
22 UPE 2015 O Texto apresenta algumas perspectivas sobre o futuro das profissões. Assinale a alternativa que sintetiza
adequadamente sua ideia principal sobre esse tema.
a O futuro dos profissionais, no cenário atual, está cada vez mais ameaçado pelas novas tecnologias.
b Certas áreas, como a de Direito, passarão a oferecer uma maior variedade de possibilidades de carreira.
c Haverá união de áreas distintas, com atividades mais específicas e profissionais mais versáteis.
d Só sobreviverá no mercado de trabalho o profissional que exercer uma das novas profissões do futuro.
e As profissões com melhores perspectivas de sucesso sempre serão as mais concorridas do mercado.
23 UPE 2015 Sobre algumas das estratégias utilizadas pelo autor para alcançar os efeitos pretendidos, analise as afirma-
tivas a seguir.
I. A fiel repetição de um trecho do primeiro parágrafo no último indica que o autor reafirma e ao mesmo tempo dá
importância ao conteúdo desse trecho.
II. Para angariar a atenção do leitor, o autor opta por fazer uma afirmação categórica e surpreendente em “As pro-
fissões fundamentais nos dias de hoje não existirão daqui a dez anos” (2º parágrafo).
III. No trecho: “criando-se nichos e subnichos de empregos, sub, super e ultraespecialidades de uma mesma área,
gerando megaprofissionais” (2º parágrafo), o emprego recorrente de prefixos selecionados amplia os sentidos
da ideia veiculada.
IV. No trecho: “Hoje em dia entram para descobrirem a que carreira abraçarão, seja policial, diplomática, fiscal”
(3º parágrafo), o emprego de metáfora e de algumas elipses promove, ao mesmo tempo, expressividade e con-
cisão.
Estão CORRETAS:
a I e II, apenas.
b I e III, apenas.
c II e IV, apenas.
d I, III e IV, apenas.
e I, II, III e IV.
24 UFPR Assinale a alternativa que pode ser usada no início do trecho a seguir, tornando-o coerente.
O estudo, envolvendo 545 homens, constatou que os mais otimistas têm metade das probabilidades
de morrer de doenças cardiovasculares. Os pesquisadores acreditam que isso provavelmente acontece porque os otimistas
fazem mais exercícios e lidam melhor com a adversidade.
Folha de S.Paulo, 5 mar. 2006.
a As mulheres vivem mais do que os homens, afirmam os pesquisadores do Instituto de Saúde Mental da Ho-
landa.
b Os otimistas têm menos possibilidade de morrer de doenças cardiovasculares do que os pessimistas, afirmam
os pesquisadores do Instituto de Saúde Mental da Holanda.
c Os homens que fazem diariamente exercícios físicos têm menos chance de terem problemas mentais, afirmam
pesquisadores do Instituto de Saúde Mental da Holanda.
d As mulheres vivem mais do que os homens, mas têm menos chance de terem problemas cardiovasculares,
afirmam os pesquisadores do Instituto de Saúde Mental da Holanda.
e Os homens com perfil pessimista que fazem diariamente exercícios físicos têm menos chance de terem pro-
blemas mentais, afirmam pesquisadores do Instituto de Saúde Mental da Holanda.
25 Utilize a elipse.
Eu sou o que eu penso ser? Ele é o que ele imagina ser? Nós somos o que pensamos ser? Ou somos o que os outros
acham que somos? Nós somos a tensão dessas duas visões.
12
CAPÍTULO Figuras de linguagem ligadas ao aspecto semântico
A foto apresenta recursos expressivos presentes na literatura: no contraste entre os
tons de pele, temos a antítese visual; há ainda uma sinédoque visual ao se colocar a parte,
as mãos, no lugar do todo, o adulto e a criança. O uso de linguagem figurada não se res-
tringe à literatura; na fala do cotidiano, na publicidade, na piada, também empregamos o
sentido conotativo (figurado). Neste capítulo, estudaremos as figuras de linguagem ligadas
ao aspecto semântico.
III. A copa sem chutes. O poema apresenta uma sucessão de metáforas, o que
Anúncio publicitário. dá um caráter alegórico ao texto.
Muitas metáforas são utilizadas como xingamento ou gíria:
Catacrese (do grego katáchresis)
I. Vai lá, seu banana!
II. Ela é uma gata, cara.
Toma-se de empréstimo um termo de outro campo
semântico que possua uma relação de semelhança com
A metáfora apresenta-se de duas maneiras: o objeto ou coisa a que se refere. Exemplo:
a. com os dois seres em confronto, explícitos na super-
fície do texto: Embarcaram no avião sem medo de serem revistados.
O metrô é o inferno!
Atenção
b. com os dois seres em confronto, em que um deles
está implícito: Outros exemplos de catacrese: perna de mesa, asa de xícara, boca
do estômago, dente de pente, braço de rio, cabeça de alfinete etc.
A Devido ao seu uso corrente na língua, a catacrese é considerada
uma metáfora desgastada.
Voltei do inferno!
(metrô)
Prosopopeia (do grego Prosopopoiía)
B É quando se dá uma característica humana a um ser
Observe que, nesse exemplo, há uma substituição por inanimado ou irracional; também denominada personifica-
comparação (na metonímia, há substituição por implicação). ção ou antropomorfização.
I.
Alegoria (do latim allegoria, ae) As paredes pareciam escutar as confissões.
II. Agora que se cala o surdo vento,
Na fala ou na escrita, em vez de referirmo-nos diretamen- E o rio enternecido com meu pranto.
te a uma situação, utilizamos uma série de comparações, Francisco Rodrigues Lobo. Obras de Francisco Rodrigues Lobo.
metáforas; quando isso ocorre, temos um texto alegórico. Lisboa: Offic. Miguel de Cervantes, 1774. p. 118.
Autor: Neruda
Obra: o livro
283
Símbolo
Essa figura, citada por Rocha Lima em Gramática nor-
mativa da Língua Portuguesa, ocorre quando “o nome de
um ser ou coisa concreta assume valor convencional, abs-
trato”, nas palavras do filólogo. "Balança", por exemplo, é o
símbolo da justiça.
O Evangelho e o Corão estão frente a frente no resultado Fig. 2 Antítese.
das suas doutrinas.
As duas palavras destacadas relacionam-se, respecti- Paradoxo (do grego Parádoxon, pelo
vamente, aos cristãos e aos maometanos; o livro, elemento
concreto, remete ao abstrato, isto é, à visão de mundo con-
latim Paradoxon)
tida em cada um dos livros. Trata-se de uma contradição nas ideias (ou ideias anta-
gônicas). O paradoxo agrupa significados que se excluem
Perífrase (do grego Periphrasis) mutuamente. Veja os exemplos:
I. Que o amor seja infinito enquanto dure.
Trata-se da substituição de um nome (ser) por um de Vinicius de Moraes. Soneto de Fidelidade.
seus atributos ou por um fato que o consagrou.
O mestre nos ensinou. II. Que a casa que ele fazia
Mestre = Cristo Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
Atenção Vinicius de Moraes. O operário em construção.
Outros exemplos de perífrase: rei das selvas (leão), cidade-luz (Paris), Em Vinicius, a contradição se estabelece na relação
Águia de Haia (Rui Barbosa), cisne de Mântua (Virgílio), poeta negro amor eterno/amor efêmero (enquanto dure); o amor não
(Cruz e Sousa). pode ser eterno se um dia ele vai terminar. O objetivo do
poeta é passar a ideia de que esse amor é intenso. No
segundo texto, a casa é concomitantemente a sua liberda-
Eufemismo (do grego Euphemismós) de (era dele) e a sua escravidão (exigia a sua dedicação).
Essa figura é utilizada com a finalidade de suavizar Nota-se que, no paradoxo, a oposição é simultânea e há
a mensagem, a fim de torná-la mais agradável ou menos contradição, o que não ocorre com a antítese. No exemplo
ofensiva. a seguir, temos uma antítese, pois não há contradição, mas
oposição (não há contrassenso).
Ele faltou com a verdade.
Uns gozam da liberdade; outros vivem na escravidão
Faltar com a verdade = mentir antítese
visual auditivo
João Guimarães Rosa.
Trata-se de uma enumeração de ideias seguindo uma Não vos pintarei os tumultos, a grita da multidão: o sangue
graduação crescente ou decrescente. de todos os lados, o corpo do filho estendido [...]
Costa e Cunha.
Os meninos não tinham brinquedo, não tinham divertimen-
to, não tinham escola, não tinham comida, não tinham nada. Alusão (do latim all usio, onis)
Alphonsus de Guimaraens
Ocorre a alusão, afirma Rocha Lima, quando o enun-
Acabava o crepúsculo e o céu escurecia devagarinho, pas- ciador faz referência a fatos ou personagens conhecidos.
sando do rosa pálido e do amarelo transparente, ao lilás, ao
Qual Prometeu, tu me amarraste um dia.
cinza, ao roxo, ao azul-escuro, numa gradação suave. Castro Alves.
Malu de Ouro Preto.
Há, na frase do poeta, uma referência à personagem
da obra Prometeu acorrentado.
Hipérbole (do grego hyperbolé)
É a figura de linguagem que engrandece ou diminui Clímax
exageradamente os fatos. O Clímax é uma intensificação, ou um tipo de gradação,
que contribui para acentuar a ideia fatos crescente.
Chorei bilhões de vezes com a canseira.
Augusto dos Anjos. Onde o bom exemplo calando avisa, avisando emenda e
emendando afeiçoa.
FRENTE ÚNICA
285
a) De que maneira o conceito de firehosing aproxima-se da imagem do fluxo de uma mangueira de incêndio?
b) Explique com suas palavras a metáfora “verdade-sanduíche” usada pelo linguista George Lakoff.
2 No texto, observa-se uma figura de linguagem denominada catacrese. Explique como se dá sua ocorrência.
6 Explique por que o autor do texto acaba empregando o eufemismo ao contrário, o disfemismo.
7 Nos textos a seguir, foi empregada a mesma figura de linguagem. Explique a relação semântica utilizada em cada
uma das metonímias.
I. As barbas longas merecem ser ouvidas.
II. Estou comendo a crise, por isso estou assim.
8 Camões empregou uma figura denominada perífrase. Explique seu significado e a relação semântica envolvida.
FRENTE ÚNICA
287
1
6 Barcos de ouro/Barcos de papel. Expressões contrá- placards: nome que se dava às tabuletas que traziam
rias a que a Língua dá o nome de: resultados de competições esportivas, publicados nos
a antítese. jornais.
b zeugma. a) “no meio da multidão que jorrava das portas da
c pleonasmo. Central, cheia da honesta pressa de quem vai tra-
d anacoluto. balhar” (1o parágrafo).
e polissíndeto. Identifique as figuras de linguagem utilizadas pelo
narrador nas expressões sublinhadas.
b) Reescreva o trecho “lembrava-se que nem mes-
7 ITA Leia:
mo o nome delas sabia pronunciar” (2o parágrafo),
É terminantemente proibido animais circulando nas áreas empregando a ordem direta e adequando-o à
comuns a todos, principalmente para fazerem suas ne- norma-padrão da língua escrita.
cessidades fisiológicas no jardim do condomínio, onde
podem pôr em risco a saúde das crianças que ali brincam 9 Faap “Um homem forte de ombros tão curvos”.
descalças.
Os termos em destaque estão em oposição, revelan-
Extraído de um relatório de prestações de contas da
do a figura chamada:
administração de um prédio.
a prosopopeia.
Assinale a opção que apresenta as figuras de lingua- b anacoluto.
gem presentes no texto: c pleonasmo.
a pleonasmo e eufemismo. d antítese.
b metonímia e eufemismo. e silepse.
c pleonasmo e polissíndeto.
d pleonasmo e metonímia. Leia a crônica “Inconfiáveis cupins”, de Moacyr Scliar,
e eufemismo e polissíndeto. para responder à questão 10.
Havia um homem que odiava Van Gogh. Pintor des-
8 Unesp 2020 Para responder à questão, leia o excerto conhecido, pobre, atribuía todas suas frustrações ao artista
do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto. holandês. Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis
girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes
Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em
deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu
pleno Campo de Sant’Ana, no meio da multidão que jor-
instinto criador.
rava das portas da Central, cheia da honesta pressa de Decidiu mover uma guerra implacável, sem quartel, às
quem vai trabalhar. A sua sensação era que estava numa telas de Van Gogh, onde quer que estivessem. Começaria
cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios e os seus pelas mais próximas, as do Museu de Arte Moderna de São
FRENTE ÚNICA
amores; no subúrbio, tinha os seus companheiros, e a sua Paulo. Seu plano era de uma simplicidade diabólica. Não
fama de violeiro percorria todo ele, e, em qualquer parte, faria como outros destruidores de telas que entram num
era apontado; no subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, museu armados de facas e atiram-se às obras, tentando
era bem Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do destruí-las; tais insanos não apenas não conseguem seu
289
291
Texto complementar
Da correção do estilo
O princípio do estilo é falar com pureza, segundo o espírito da língua, o grego, por exemplo. São ne-
cessárias para isso cinco condições. A primeira reside no emprego das conjunções que devem ser colocadas
segundo a ordem natural, umas em primeiro lugar, as outras em seguida, como pretendem certos autores; assim µε´ν e
'εγω´ µε´ν exigem ser seguidos de δε´ e de δ δε´. É preciso que elas se correspondam uma à outra, antes de se ter esquecido
a precedente; não devem estar separadas por longo intervalo e é preciso evitar que uma conjunção seja colocada antes da
que é necessária. Só raramente ficará bem deixar de cumprir esta regra. Não se dirá: “Mas eu, depois que ele me falou (por-
que Cléon tinha vindo solicitar-me e suplicar-me), pus-me a caminho tendo-os tomado comigo”. Nesta frase, encontramos
muitas conjunções intercaladas antes daquela que devia ser expressa; havendo grande intervalo entre o princípio e o verbo
'επορευο´µην, a frase torna-se obscura. Uma primeira regra consiste, pois, no emprego correto das conjunções. A segunda
consiste no uso dos vocábulos próprios, sem termos de recorrer às perífrases. A terceira consiste em evitar expressões anfi-
bológicas (ambíguas), a não ser que propositadamente se tome o partido contrário. É o que fazem as pessoas que nada têm
o que dizer e que, no entanto, querem dar ares de dizer alguma coisa; tal é o caso dos que se exprimem de maneira poética,
como Empédocles. Pois um longo circuito de palavras deslumbra facilmente os ouvintes que se encontram em situação
idêntica à da multidão diante dos adivinhos; em face de suas respostas anfibológicas, não recusa o assentimento. Exemplo:
Creso, depois de transposto o Hális, causará a ruína de um grande império.(Heródoto (Histórias, I, 53, 101) refere-se
esta profecia, em reposta às oferendas trazidas de Delfos pelo lídios, em nome do Rei Creso).
Exprimindo-se em termos gerais, os adivinhos expõem-se a um erro menos grave, visto que só falam das coisas segundo
os gêneros. Há mais probabilidades de acertar no jogo do par ou ímpar respondendo par ou ímpar do que precisando o
número; é igualmente mais fácil dizer que uma coisa acontecerá do que indicar em que momento ela se produzirá. Isso
explica por que os oráculos têm cuidado de não acrescentar o momento do acontecimento. Tudo isto se assemelha, e daí
a necessidade de evitar todos estes equívocos, salvo especial razão em contrário. A quarta regra é seguir Protágoras que
distingue o gênero dos nomes: masculinos, femininos e neutros. É uma divisão que importa aplicar exatamente: “Ela veio,
falou comigo e retirou-se”. A quinta regra consiste em observar os números, distinguindo se se trata de muitos ou de poucos
objetos ou de um só. Exemplo: “As pessoas vieram e bateram-me”. Em geral, importa que o que se escreve seja fácil de ler
e pronunciar, o que é uma e a mesma coisa. Não se obtém este resultado, empregando muitas conjunções, nem se as frases
forem de difícil pontuação, como sucede com as de Heráclito [Heráclito de Éfeso, filósofo, viveu por volta do ano 500 a.C.].
É extremamente árduo pontuar as obras de Heráclito, porque nunca sabemos ao certo a que palavra um termo se refere, se
à que o precede, se à que o segue. Diz ele no começo de seu tratado: “Esta razão que subsiste sempre os homens são inca-
pazes de a compreender”. Não se sabe exatamente a que termo se deva ligar pela pontuação o advérbio: sempre. Acontece
ainda que se comete um solecismo, quando não se atribui a duas palavras, que se juntam, um termo que convém a cada
uma delas. Tomemos como exemplo as palavras: som e cor: a forma verbal “vendo”, não é termo próprio; o termo próprio é
“percebendo”. Por outro lado, há obscuridade no estilo, quando não se exprimiu ao princípio o que deveria ter-se expresso
e se intercala na frase uma multidão de ideias, por exemplo: “Eu devia, após haver falado com essa pessoa sobre isto, sobre
aquilo e desta maneira, pôr-me a caminho”. É preferível dizer: “Eu devia pôr-me a caminho, depois de ter falado com essa
pessoa”. Em seguida, acrescente-se que se fez isto e aquilo e desta maneira.
Aristóteles. Arte retórica e arte poética. p. 184-5.
Filme
tece com tantos pintores. Caracteriza-se, assim, como expoente do
yy EISENSTEIN, Sergei. O encouraçado Potemkin, 1925. Expressionismo, mas extrapola os limites de qualquer escola, pois
Obra indispensável para quem gosta de cinema, narra uma revolta uma de suas maiores lições é tornar evidentes os recursos artísticos
de marinheiros e outras categorias de trabalhadores na Rússia em que emprega para criar beleza.
293
65 pal adorno de seu espírito, não lhe sofreu confessar outra “Simão Bacamarte recebeu-o com a alegria própria de um
coisa além de um nobre entusiasmo; declarou-a sublime sábio, uma alegria abotoada de circunspeção até o pescoço.”
e verdadeira, e acrescentou que era “caso de matraca”. (linhas 29 a 31)
Esta expressão não tem equivalente no estilo moderno. A figura de linguagem construída no trecho em
Naquele tempo, Itaguaí, que como as demais vilas, arraiais
negrito é a(o)
70 e povoações da colônia, não dispunha de imprensa, tinha
a ambiguidade.
dois modos de divulgar uma notícia: ou por meio de car-
b apóstrofe.
tazes manuscritos e pregados na porta da Câmara, e da
matriz; – ou por meio de matraca. c sinestesia.
Eis em que consistia este segundo uso. Contratava-se d personificação.
75 um homem, por um ou mais dias, para andar as ruas do e hipérbato.
povoado, com uma matraca na mão.
De quando em quando tocava a matraca, reunia-se 5 ITA Leia o seguinte texto.
gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam, – um re-
A psicologia evolucionista aprontou mais uma: “des-
médio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um
cobriu” que mulheres preferem homens mais másculos
80 donativo eclesiástico, a melhor tesoura da vila, o mais belo
quando estão na fase fértil do ciclo menstrual.
discurso do ano etc. O sistema tinha inconvenientes para
A pesquisa foi realizada pela Escola de Psicologia da
a paz pública; mas era conservado pela grande energia de
Universidade de Saint Andrews, na Escócia (Reino Unido).
divulgação que possuía. Por exemplo, um dos vereado-
É um gênero de investigação que anda na moda e acende
res, – aquele justamente que mais se opusera à criação da
polêmicas onde aparece. Os adeptos da psicologia evolu-
85 Casa Verde, – desfrutava a reputação de perfeito educador cionista acham que escolhas e comportamentos humanos
de cobras e macacos, e aliás nunca domesticara um só são ditados pelos genes, antes de mais nada.
desses bichos; mas, tinha o cuidado de fazer trabalhar a Dito de outro modo: as pessoas agiriam, ainda hoje, de
matraca todos os meses. E dizem as crônicas que algumas acordo com o que foi mais vantajoso para a espécie no pas-
pessoas afirmavam ter visto cascavéis dançando no peito sado remoto, ou para a sobrevivência dos indivíduos. Entre
90 do vereador; afirmação perfeitamente falsa, mas só devida
FRENTE ÚNICA
295
12 Os escritores modernistas modificaram sensivelmente a expressão linguístico-literária, tanto na poesia como na prosa.
O texto de Guimarães Rosa serve como exemplo dessa renovação, no campo ortográfico quando utiliza a seguinte pas-
sagem: Sururjão não; é solorgião. As duas grafias são resultantes de deturpações de pronúncia de uma palavra bastante
comum em nossa língua. Qual é o efeito pretendido pelo autor ao fazer tais deturpações?
13 Uerj 2019 O poema a seguir foi retirado do Livro de Sonetos, de Vinicius de Moraes (São Paulo: Companhia das Letras,
2009).
Soneto da hora final
Será assim, amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente
O beijo leve de uma aragem fria.
5 Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia
Para a porta de treva aberta em frente.
a) Sabe-se que as palavras são polissêmicas, isto é, podem assumir vários significados dependendo do contexto. A
palavra “embagulhar” foi criada a partir da palavra “bagulho”.
Explique de que maneira ela foi formada e seu significado contextual.
b) Invente quatros frases em que a palavra “bagulho” mude de sentido. A seguir, dê o sentido dessa palavra em
cada uma das suas ocorrências.
FRENTE ÚNICA
297
I. A vírgula após o advérbio de negação corresponde a uma pausa na linguagem oral; ela poderia ser eliminada da
frase em que está inserida, sem prejuízo para o sentido.
II. A expressão “cheio da grana” possui duplo sentido; o sentido negativo liga-se à ideia de luxúria, riqueza, osten-
tação.
III. Embora calcado no humor, o texto discute um assunto que preocupa os setores ligados à ecologia: o desrespeito à
natureza, a caça indiscriminada de animais para fins lucrativos.
IV. A personificação das personagens é decisiva na construção do humor, uma vez que no universo humano a expres-
são “cheio da grana” possui um sentido que não condiz com o que se fala no final, o que contribui para a quebra de
expectativa.
Estão corretas:
a apenas II, III e IV.
b apenas III e IV.
c apenas I, II e III.
d apenas II e III.
e todas.
299
301
9. Os adjetivos “magro”, “pálido”, “arrepia- d) É preciso chegar a um consenso quan- a) Aspectos formais e conteudísticos que
do só há oposições. contrariam a impessoalidade do estilo
dos”; os substantivos “faca” e “sangue”;
científico: “dia cinzento e triste, que me
as formas verbais “assustei-me” e “arra- e) Em festa de rico, pobre não tem vez.
causou arrepios”/“onde, por sinal, pen-
nhou-me”. f) Quem se conforma com pouco, não tem durei uma tela de Bruegel, um dos meus
10. Esses animais se referem, na realidade, grandes chances de vencer. favoritos”/“e vencendo uma terrível dor
aos seres humanos. Trata-se da perso- g) O conhecimento não é acessível àque- de dentes…” – por conterem visão pes-
nificação. les que possuem uma visão de mundo soal, digressão da natureza filosófica,
11. “Com perseverança, tudo se alcança”. cristalizada. desfocando o objeto da análise.
303
307
309
a) A palavra que permite concluir que o Capítulo 12 – Figuras de b) Tem-se “lembrava-se de que nem mes-
mo sabia pronunciar o nome delas”.
fragmento apresentado não é o início do linguagem ligadas ao aspecto 9. D
texto é o pronome demonstrativo “essa”.
Apenas com o trecho dado, não é possí- semântico 10. A
vel determinar a qual atividade o partido
X se dedica, pois o pronome “essa” — de Revisando 11. E
caráter anafórico — só adquire sentido 1. 12. Antítese.
pleno confrontado com um termo ante- a) Há uma metáfora que aproxima o conceito 13. A
rior a que faz referência. de firehosing e o fluxo de uma mangueira 14. O Brasil, espaço geográfico, que o Bra-
b) A incoerência do trecho estabelece-se de incêndio. Esta, ao combater as chamas, sil, o brasileiro, não conhece. Trata-se do
pela seguinte passagem: “falta [...] de in- é capaz de, por exemplo, dar vazão a emprego da metonímia (Brasil no lugar
capacidade”. uma grande quantidade de água em um de brasileiro).
Se falta incapacidade ao partido, significa pequeno espaço de tempo, o que é uma
15. C
dizer que ele é capaz para resolver o pro- característica também atribuída, no texto,
blema ao qual se tem dedicado. ao mecanismo propagandístico russo, 16. B
Entre as maneiras de se eliminar a incoe- visto que se trata de uma tática discursiva 17. A
rência, eis duas: com “alto volume de conteúdo” e de “pro- 18.
1. por falta de vontade, de vocação ou de dução rápida, contínua e repetitiva”.
a) Pleonasmo/Anacoluto.
capacidade; b) O autor explora a imagem metafórica de
2. seja por falta de vontade, de vocação, b) Sinestesia.
um sanduíche, que é um alimento pro-
seja por incapacidade. duzido com camadas diferentes, para c) Prosopopeia/Aliteração.
c) Entre as passagens que apontam uma explicar que o método de combate ao d) Sinestesia.
postura pessimista (crítica) em relação firehosing envolve também uma sequên- e) Pleonasmo.
ao partido X, pode-se destacar: “está cia de etapas (ou camadas): exposição do
19. E
longe do desejado”. fato verdadeiro, seguido do apontamen-
Essa passagem, em coesão com “de- to da mentira analisada e a consequente 20. B
dica-se a essa atividade mais do que conclusão dos impactos gerados por ela. 21. D
311