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AULAS PRÁTICAS - DIREITO

PENAL I
AULA 1 - 01.10.2020

CONCEITO FORMAL DE CRIME - razão normativa que abrange um plano objetivo e um plano
subjetivo. Único ramo do direito que associa a estatuição e à previsão. O Código Penal limita as
liberdades fundamentais, sendo elas uma consequência das sanções
ART. 18º/2 CRP - a gravidade das sanções criminais implica que estas só serão justificáveis
quando estivermos perante factos danosos ou direitos de grande valia constitucional - PRINCÍPIO
DA DIGNIDADE CRIMINAL. Neste sentido, é importante uma primeira análise dos filósofos do
Contrato Social (experiência de pensamento) porque tentaram encontrar fundamento para a figura
do Estado, assente numa lógica punitiva do Estado.

> Como se pode justificar a restrição de direitos fundamentais decorrente da aplicação de


uma pena?
Questão 1 - Como se pode fundamentar que uma pessoa cumpra pena de prisão por ter
?praticado um furto
LOCKE - seria aceitável que o Estado impusesse aqui uma pena de prisão. Num Estado de
natureza os Homens já são livres, submetendo-se ao Contrato Social para se sentires seguros, para
salvaguardar os direitos individuais, mas mesmo assim o Homem tem de ser plenamente livre.
ROSSEAU - o Estado é guardião de direitos individuais, o coletivo é composto pelos
indivíduos, logo também faria sentido a aplicação desta sanção. O Contrato social é importante para
garantir a igualdade. No Estado de Natureza as pessoas são naturalmente boas, o Estado serve para
garantir essa igualdade porque as pessoas podem ser desiguais

Questão 2 - Faz sentido a incriminação da ajuda à imigração não autorizada por motivos
económicos?
Faria mais sentido de acordo com LOCKE.
KANT - não defende uma ideia de livre arbítrio, ideia de que alguém é livre em função dos outros.
Uma ação é conforme o direito quando a sua máxima permitir fazer coexistir o livre arbítrio dos
outros. Não s tem em conta os interesses individuais.

AULA 2- 08.10.2020

Questão 3 - Como deve ser pensada a protecção penal dos animais de companhia? E dos
outros animais?
Nussbaum chama à importância dos animais no Contrato Social, na sua perspectiva do
Neocontratualismo. A democracia é quantitativa - aquilo que justifica a submissão do cidadão ao
Estado e o compromisso que estabelece ao restringir a sua liberdade é o facto de o Estado
.proporcionar uma vida digna
Relativamente aos animais, esta autora enuncia quais seriam os 3 assuntos de justiça:
necessidade de trazer para o Contrato Social as pessoas cm deficiência, que não eram incluídos em
.nenhuma doutrina clássica do Contrato Social; problema da nacionalidade; os animais
Ideia de proteção dos animais na sua relação com os humanos e na compaixão que os
.humanos despertem pelos animais. Por serem seres ativos não é uma situação de caridade
Para ela o sitio onde nascemos vai mudar as oportunidades de vida que cada pessoa vai ter.
O local de nascimento é importante para as questões de justiça levantados pelas desigualdades entre
.nações ricas e nações pobres
Rawls as penas não podiam interferir na esfera individual, sendo que a pena teria que invadir
a esfera do criminoso mas se isso fosse socialmente aceitável. Esta autor parte de uma situação de
equidade para todos, definindo um conceito de justiça sem saber. Martha diz que devemos partir da
nossa génese, procurando um submissão a uma vontade coletiva e há diferentes capacidades das
.pessoas e que têm de ser desenvolvidas
ART. 387º CP em conjugação com o 389º CP - proteção daqueles que têm relação com os
.seres humanos. É necessário saber que animais se trata

CRIMINOLOGIA E CONCEITO MATERIAL DE CRIME


CASO PRÁTICO 1
Ana, cidadã portuguesa, conhece no Facebook Faruk, cidadão Sírio das fileiras do Daesh,
por quem se apaixona. Meses volvidos, Ana já se convertera ao Islão e adotara o nome de Aisha. No
dia da viagem para a Síria onde se iria juntar a Faruke terminar o treino “militar” que iniciara
através das aulas por este ministradas via Skype, foi intercetada pela Polícia Judiciária no Aeroporto
Humberto Delgado, em cumprimento de um mandado de detenção baseado na existência de fortes
.indícios da prática do crime p. e p. no art. 4.º, n.º 11 da Lei do combate ao terrorismo
Durante o julgamento de Ana/Aisha descobre-se que a mesma fora sujeita a violência
doméstica e abusos sexuais por parte do seu pai, Bruno, alcoólico e consumidor de droga, e também
ele sujeito a tais práticas desde criança. Ana/Aisha também vira em Faruk uma forma de se libertar
.dos maus tratos/sevícias a que era sujeita

Como analisa o caso à luz das conceções da criminologia estudadas? Essa análise poderia
?ser importante para configurar as sanções criminais adequadas a ambos os agentes

Níveis do desenvolvimento moral 3


pré convencional (que é o das crianças) .1
Convencinal (adolescencia) .2
Ideias abstractas de justiça .4
Anna não atingiu o nível pré-convencional. Motivava-se pela obediência. AUTORES: que
.associam a prática do crime

AULA 4 - 15.10.2020
Suscitação do problema do conceito material de crime na jurisprudência constitucional
Deserção (Ac. TC n.º 211/95) .1
ACORDÃO 211/95
Crime de deserção punível nos termos no disposto no artigos 133º e 134º do Decreto-Lei nº
33.252 por se ter recusado a embarcar sem justificação no navinho da marinha mercante em que
estava matriculado como a categoria profissional de pescador. Este navio era propriedade de uma
empresa e estava atracado no Porto de Pescas de Averios devendo iniciar a viagem nesse mesmo
.dia
Estas normas devem ter-se por revogadas, ofendem os princípios constitucionais de direito
laboral, não podendo ser aplicadas de acordo com o art. 207º. Violação do princípio da
.proporcionalidade (art. 18º/2): da subsidariedade e da necessidade

Princípio da necessidade penal - expressão do juízo qualificado de intolerância social, na aperitiva >
.da sua criminalizarão
Neste caso o Tribunal faz essa análise prévia, proferindo que neste caso o que justifica a a
diferição é a censura pessoal feita pelo direito penal. Censurabilidade imanente, prévia das
.condutas
Falha o problema da dignidade - há bens menos gravosos que defenderiam aquela mesma
.situação
O TC para além de fazer a articulação da atividade penal com o princípio da necessidade
penal - o direito penal de bens jurídicos não pode atingir outros modos. Bem jurídico funciona se
tiver articulada com o Código penal, se for considerado vertice num Estado democrático, assente na
dignidade da pessoa humana. Bem jurídico é conceito útil mas dele não decorre que a norma seja
.considerada inconstitucional

;Lenocínio (acs. TC nº 144/2004 e 134/2020) .2


ACORDÃO 144/2004
Belmira condenada a 1 ano de prisão, suspensa por 18 meses mediante a condição de
entregar a uma instituição o valor de 1.500€ pela prática de um crime de lenocínio, punido pelo art.
.169º/1 CP
Esta recorreu ao Tribunal da Relação de Guimarães invocando que este art. é
inconstitucional por limitar e condicionar a consciência pessoal e a liberdade de escolher livremente
.a profissão ou o género de trabalho
ARGUMENTO CONTRA: Em resposta, o tribunal sustenta a não inconstitucionalidade do
referido art. porque o crime de lenocínio não pune a própria prática da prostituição, mas as
.condutas que a favorecem, com intenção lucrativa e profissional
O que está em causa não é a liberdade na escolha da profissão a menos que seja profissão
.viver à custa de outrem, explorando a sua prostituição
É eticamente e juridicamente censurável o aproveitamento intencional lucrativo de uma
determinada condição de outra pessoas e em especial da prostituição. Não se trata de um mero
exercício comercial, tratando-se antes de atividades que violam valores da comunidade pois
.fomenta, facilita e favorece a degradação pessoas de um indivíduo
Os direitos fundamentais não têm autonomia individual, ou seja, não é o homem que decidir
ou não o uso do seu direito individual, sem qualquer controle do seu valor ou desvalor pelo direito.
São antes opções constitucionais de valor, traduzidas em princípio objetivos onde a liberdade
.individual apenas se realiza pela conformação com tais sentimento, controlada pelo direito

NÃO SE PUNE A PROSTITUIÇÃO, APENAS O QUE FOMENTA, O FAVORECE, OU


.FACILITA, PROFISSIONALMENTE OU COM INTENÇÃO LUCRATIVA

ARGUMENTO A FAVOR: A arguida recorre ao Tribunal Constitucional, alegando que o direito


criminal não deveria ter por fim defender valores de ordem moral mas antes defender
interesses pessoais (autodeterminação sexual) dado que se trata de um crime contra as pessoas. Há
quem defenda que este crime não tem vítima pois não protege ninguém em concreto,
.defendendo antes interesses de cariz sentimentalista
As limitações impostas pela norma do nº1 do art. 170º CP pode conceituar e restringir o
.direito à liberdade de consciência, bem como o direito de livre escolha de profissão
CONTRA ALEGAÇÃO - O Ministério Público junto do TC contra-alegou propugnando a não
inconstitucionalidade da norma alegando que o crime de lenocínio visa a proteção de um bem
jurídico complexo, que abarca o interesse geral da sociedade relativo à postura sexual e ato ganho
.honesto
.DECISÃO - não julgar a norma inconstitucional

AULA 5 - 22.10.2020

Incesto (ac. TEDH Stübing v. Germany) .3


Aferir o princípio da dignidade - relacionado com o princípio da proporcionalidade e necessidade. >
;A dignidade é pressuposto para a existência da necessidade
Consenso prévio daquelas condutas - é o que o Tribunal procura - densificar quais seriam essas >
.condutas. Dignidade punitivo: perceber se há uma violação da ética e conduta
Bem jurídico essencial? Saúde genética e família (incesto ter efeitos irreversíveis), >
.autodeterminação sexual
Princípio da adequação - não é posto em causa mesmo que se se considerar que no caso de >
.relações sexuais entre irmãos mesmo sem concepção
Princípio da culpa (art. 27º CRP) - princípio que nos ajuda a conformar o conceito material de >
.crime

;Actos homossexuais com adolescentes (ac. TC n.º 247/2005) .4

ACORDÃO 247/2005
ART 175º CP 2005 ‘Quem, sendo maior, praticar actos homossexuais de relevo com >
menor entre 14 e 16 anos, ou levar a que eles sejam por este praticados com outrem, é punido
’.com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias
ART. 174º CP 2005 ‘Quem tiver cópula com menor entre 14 e 16 anos, abusando da sua >
’.inexperiência, é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias

Condenação de Michael pela prática de dois crimes de atos homossexuais com adolescentes,
.punidos pelo art. 175º CP - pena única de 2 anos e 6 meses de prisão
RECORRENTE - pede a apreciação da constitucionalidade da norma por entender violar o
.art. 13º/1 e 2 CRP, confrontado com o art. 174º
ALEGAÇÕES DO RECORRENTE: suscitou a questão da inconstitucionalidade do art. 175º CP,
.face aos arts. 13º/1 e 2 e 26º/1 CRP, conformado com o art. 174 CP
Os dois artigos apresentam uma disparidade de requisitos que vai além da exigência da
inexperiência do menor. No que respeita às relações homossexuais, para que o indivíduo maior seja
punido por se relacionar com um menor de 14 ou 15 anos é necessário que estejas cumpridos 3
requisitos e que estes sejam cumulativos: cópula, coito anal ou coito oral, prática pelo próprio
agente do crime e abuso da inexperiência do menor. Já se se relacionar com um menor entre os 14 e
16 anos basta que pratique um ato sexual de releve ou leve a que ele seja praticado pelo menor com
.outra pessoa
STJ e Tribunais da Relação de Lisboa e Porto entendem que beijo na boca, caricias, passar a
mão nas pernas com fins libidinosos são atos sexuais de relevo, um indivíduo que beije na boca um
menor de 14 ou 15 do mesmo sexo com o seu consentimento é punido automaticamente. Mas se se
.tratar de relações heterossexuais, é necessário os 3 requisitos
EXISTE NA LEI UM TRATAMENTO MAIS BENEVOLENTE COM AS RELAÇÕES
HETEROSSEXUAIS

ARGUMENTOS DO STJ: O legislador não estabelece diferenciações sem fundamento material:


.trata de forma desigual à luz de um padrão objetivo o que o deve ser
A prática de atos homossexuais de adultos com menores é culturalmente encarada hoje
objectivamente mais grave do que a prática de atos heterossexuais com menores, pelos efeitos que
.conduz, apesar de ainda condenável
As experiências homossexuais de adultos com menores são substancialmente mais
traumatizastes por representarem um uso anormal do sexo, contrárias à ordem natural das coisas
.comprometendo a formação da personalidade e equilíbrio mental, intelectual e social

CONTA-ARGUMENTAÇÃO DO RECORRENTE: O art. 175º não contempla um crime de


violação, este tem sede própria. os atos contemplados são CONSENTÂNEOS (conforme a razão a
ocasião, consentidos). A e B eram prostitutos, tendo sido eles a tomar iniciativa de ir ao encontro do
.recorrente, foram atos praticados voluntariamente, consensualmente
Só uma concepção da homossexualidade como ‘vício’ e imoral pode explicar o facto de a lei
proteger os jovens contra qualquer tipo de contacto homossexual de modo a que possam ser
.desencaminhados para uma orientação sexual que não é a sua
O Direito Penal deve estar desprovido de qualquer carácter moral. O Direito Penal deve
garantir a maior liberdade possível nos comportamentos sexuais e se esta consiste em poder
fazer tudo o que não prejudique o outro deverá exigir que os crimes sexuais tutelem o bem
jurídico da liberdade individual, limitando-se o Direito Penal à criminalização das condutas
.sexuais que mais gravosamente atentem contra a liberdade pessoal do ofendido
BEM JURÍDICO - AUTODETERMINAÇÃO SEXUAL. Não faz sentido que se tutele esse
direito (de crescer na relativa ignorância/inocência do que são contratos sexuais, até que se possa
livremente exercer a liberdade de escolha do parceiro e tipos de práticas sexuais que se quer ter com
ele, quando formada a personalidade) contra práticas heterossexuais e não se faça idêntica tutela
.contra práticas homossexuais
A sociedade que se pretenda neutral em termos de moralidade sexual apenas pode tratar
.de forma diversa aquilo que se apresente de forma diversa
O princípio da igualdade é violado pela norma do art. 175º CP e o direito à identidade
pessoal e ao desenvolvimento da personalidade (arts. 13º e 26º CRP). Ao condenar os atos
homossexuais com adolescentes, o legislador condiciona a autodeterminação sexual dando
indicação de que a heterossexualidade é a única via admitida. A norma do CP transmite repulsa e
.condenação da homossexualidade

CONTRA-ALEGAÇÃO DO MP: a norma do CP abarca uma realidade diferente, menos exigente


na punição de determinados comportamentos no âmbito da heterossexualidade. O legislador no
âmbito da autonomia que lhe é concedida, opta pela criminalizarão de determinados
.comportamentos entre pessoas do mesmo sexo, tal como faz no crime do art. 175º

Mudança de relator >

:FUNDAMENTAÇÃO
Constitucionalidade da norma do art. 175º é posta em causa no plano da violação do
princípio da igualdade por tratamento desigual em termos incriminatórios das relações
.homossexuais com adolescentes face às heterossexuais
A criminalizarão deste comportamento demonstra que o legislador terá partido do
pressuposto que a prática deste tipo de atos pode ser prejudicial para o livre desenvolvimento da sua
personalidade (orientação sexual). Trata-se de assegurar um desenvolvimento sem perturbações no
que respeita à esfera sexual, já que as experiências podem ser traumatizantes e fonte de problemas
.para o desenvolvimento psíquico, intelectual e social
BENS JURÍDICOS TUTELADOS: autodeterminação sexual, livre desenvolvimento de
.personalidade

PRINCÍPIO DA IGUALDADE: Ora, o princípio da igualdade não funciona apenas na vertente


formal e redutora da igualdade perante a lei, implica a aplicação igual de direito igual,
pressupondo averiguação 'diferença', de modo que recebam tratamento semelhante os que se
encontrem em situações semelhantes e diferenciado os que se achem em situações
.legitimadoras da diferenciação
O nº2 do art. 13º enumera fatores que não justificam tratamento discriminatório, atuando
como presunção - de diferenciação normativa envolvendo violação do princípio da igualdade.
Importa saber se a norma em causa é materialmente fundada ou se mostra inadequada e
.desproporcional logo arbitrária

Do confronto dos arts. 174º e 175º CP resulta que as duas incriminações têm em vista a
tutela do mesmo bem jurídico - AUTODETERMINAÇÃO SEXUAL. A diferença que importa
ressalvar é que é irrelevante que o agente da prática do crime não tenha abusado da
inexperiência do menor no crime. Há punição mesmo que não haja “abuso de inexperiência”. No
.caso do art. 174º, este depende da verificação de que ocorreu um tal abuso

DECISÃO: Julgar INCONSTITUCIONAL, por violação dos artigos 13.º, n.º 2, e 26.º, n.º 1, da
Constituição, a norma do artigo 175.º do Código Penal, na parte em que pune a prática de actos
homossexuais com adolescentes mesmo que se não verifique, por parte do agente, abuso da
.inexperiência da vítima
Se se estabelece uma diferença de tratamento jurídico com base na orientação sexual se sem >
fundamento racional e do abuso inexperiência decorre a legitimação da intervenção penal por só
nestes casos haver dano, será então de concluir que a intervenção não é necessária quando esteja em
causa a pratica de um ato homossexual de relevo sem haver abuso da inexperiência do menor. Não é
.necessário restringir o direito à livre expressão da sexualidade
.Viola a proibição do excesso >

Interrupção voluntária da gravidez (acs. TC n.º 617/2006 e 75/2010) .5


ACORDÃO 617/2006
PR requereu a fiscalização preventiva da constitucionalidade e da legalidade da proposta de
referendo aprovada que tinha o seguinte teor: ‘realização de um referendo sobre a interrupção
.’.voluntária da gravidez realizada por opção da mulher nas primeiras 10 semanas
AR resolve apresentar ao PR uma porposta de realização de referendo em que os cidadãos
leitores sejam chamados a pronunciar-se sobre a pergunta seguinte: ‘Concorda com a
despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas
.’?primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado
APROVADA
PS - o compromisso de suscitar um novo referendo sobre a despenalização da interrupção >
;voluntária da gravidez, nos termos anteriormente submetidos ao voto popular
Apresentados mais 3 projetos de lei relativos a esta matérias - TODOS PREVÊM A
DESPENALIZAÇÃO DA INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ ATÉ UM
.CERTO PRAZO, QUANDO PRATICADA POR SOLICITAÇÃO DA MULHER GRAVIDA
PCP: despenalização ‘quando realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez a pedido da >
;’mulher para preservação do direito à maternidade consciente e responsável
não é punível a interrupção da gravidez com o consentimento da mulher quando seja o único modo
de remover perigo de morte, for realizada nas primeiras 16 semanas de gravidez, houver seguros
.motivos para prever que o nascitura virá a sofrer, sempre que se trate de grávida toxicodependente
:Partido Os Verdes >
Bloco de Esquerda: Direito de optar >
.O Partido do Centro Democrático Social - alteração para LIBERALIZAÇÃO e ABORTO

QUESTÕES ESSENCIAIS - conformidade das pergunta aos requisitos constitucionais e legais,


.determinação do universo eleitoral, ver se o decima pode suscitar incompatibilidade com a CRP
Do lado favorável à despenalização, assiste-se a uma tendência para se basear a decisão em
valoração apoiada nos projetos de vida de cada pessoa, nas concretas necessidades sociais para uma
.maternidade consciente e em emoções
Do lado contra refere-se os efeitos que podem originar comportamentos criminosos da
.despenalização e os seus reflexos sociais sobre o valor da vida
A decisão sobre valores é fundamental no Estado de Direito e não está arredada da discussão
democrática, orientada por regras de liberdade, igualdade de oportunidades, participação política
efectiva e limites lógicos à autocontradição. A pena não pode retirar a sua legitimidade senão do
.bem que possa gerar na vítima, na sociedade e no próprio condenado
Recusa-se, desde logo, que a pena constitua apenas o mal que corresponde ao mal do
.crime

.Livre desenvolvimento da mulher – 26º CRP; // Direito à vida – 24º CRP


:O TC harmonizou este conflito
;No primeiro momento, até às 10 semanas de gravidez, prevalece o 26º CRP - 142º/1, e) CP .1
No segundo momento, o 24º CRP já intervém, mas dá oportunidade de abortar até às 16 semanas .2
;em certo casos (26º CRP)
Por último, a partir das 16 semanas, não há possibilidade de aborto, pois o direito à vida .3
.prevalece sobre o livre desenvolvimento da mulher

Aqui questionou-se se haveria realmente necessidade de tutela penal (ponto 32 do acórdão),


pois uma vez que o direito penal só deve intervir em último caso. Concluiu-se que neste caso há
meios menos gravosos para tutelar o interesse sobre a vida uterina, como por exemplo os apoios
.sociais, pelo que não haveria necessidade de tutela penal
Princípio da adequação >

AULA 6 - 29.10.2020

ACORDÃO 75/2010
Inconstitucionalidade da alínea e)? não era inconstitucional >
Princípio da necessidade da pena >
O Tribunal considera que a introdução desta disciplina o legislador goza de uma liberdade. A
interrupção em fases subsequentes fica dependente de certas condições, ou seja, mesmo na presença
de outros métodos

Negacionismo – genocídio arménio (ac. TEDH Perinçek vs. Suíça) e o art. 240.º do CP .6
português
ACORDÃO 247/2005
Condenação pelo crime de negacionismo - levantando a questão do art. 10º da liberdade de
.expressão e a sua violação
Um político e historiador turco veio a negar a existência do genocídio arménio de 1915, em
três conferências na Suiça. Segundo ele, a alusão de genocídio imputável à Turquia foi obra de uma
combinação de imperialismos políticos. Os arménios teriam sido deslocados de um território para
outro da Turquia com a FINALIDADE DE OS PROTEGER DE UM CONJUNTO DE
.AGRESSÕES VIGENTES NO CONFLITO MUNDIAL DE 1914-1918
Veio a ser condenado pela prática do crime de negação de genocídio - aplicação do art.
261º/4 CP Suíço. Esgotou todos os meios, sem resultado e veio pedir recurso ao TEDH por
.violação do seu direito de liberdade de expressão - art. 10º §2 CEHD
O Tribunal, ao longo do acórdão afasta a questão do art. 7º da CEDH pela existência do art.
261º CP. Debruçou-se sobre o fim da medida, concluindo que as intervenções de Perincek não
.eram para perturbar a paz e a tranquilidade públicas
A intervenção judicial justifica-se na medida em que é necessária a protecção do interesse da
.comunica arménia
NECESSIDADE - Considerando que a liberdade de expressão não abrange apenas o discurso
consensual mas também a emissão de ideias que perturbam, chocam e preocupam, O TEDH
distingui a intervenção dele do discurso de ódio, punível por incitar ao ódio do negacionismo nazi -
.que não foi uma intervenção neutra na medida em que incitou a alguma forma de ódio
O art. 261º CP Suíço é muito amplo, dai as dúvidas: pune qualquer forma de negacionismo e
de revisionismo, estando cobertos o negacionismo dos crimes nazis como os do genocídio arménio
.ou qualquer outro
DECISÃO: não foi obtida por via de uma equilíbrio entre a liberdade de expressão de Perincek
(art.º 10.º da CEDH) e o direito à dignidade do povo arménio (art.º 8.º, direito à vida privada).
Considerou que o orador não exprimiu ódio ou desprezo para com os arménios, não incitou a
.qualquer ódio contra eles, não os estigmatizou
:A solução dada pelo Tribunal não foi pacífica
Para o juiz Nussberger, não existe da parte da Suíça uma violação substancial •
do art.º 10.º por ser difícil não reprovar o negacionismo, mas apenas uma violação
processual, por as suas autoridades não terem sabido equilibrar o direito à livre expressão
com o direito à dignidade arménia. O TEDH socorreu-se de um critério de tempo e de
distância geográfica para justificar a sua posição, que não é legítimo pois por ter sido
.mais recente não considera a prática menos condenável
Para os juízes Spielmann, Casadevall, Berro, De Gaetano, Sicilianos, Silvis e •
Kuris, este argumento de espaço físico e temporal também não favorece o acórdão do
TEDH. O genocídio arménio foi mesmo um genocídio, pelo que o TEDH deveria tê-lo
claramente assumido. Por outro lado, o tom do requerente, nos seus discursos, não foi de
amizade para com os arménios. Para este, houve insulto ao povo arménio da parte de
Perincek. A suposta falta de consenso europeu na questão, que faz com que nem todos os
Estados condenem o negacionismo, não afasta a noção comum de que se está, nalguns
casos, perante genocídios, entre os quais o caso arménio. A justiça suíça terá equilibrado
muito bem os direitos ao condenar Perincek. Estes juízes dizem ainda que a queixa nem
sequer deveria ter passado o crivo da admissibilidade, pois Perincek ao utilizar o direito
à liberdade de expressão terá atentado contra a própria integridade da CEDH,
colocando a em perigo. E assim, por abusar do direito de invocação de um dos artigos da
.CEDH, a queixa de Perincek nem sequer deveria ter sido admitida

Art. 240º CP Português >


À semelhança do CP suíço, o CP português no seu art. 240º/2 condena o negacionismo de
crimes de genocídio contra a paz e humanidade. Assim, Perincek, caso tivesse sido julgado em
Portugal, seria punido com pena de prisão de 6 meses a 5 anos por aplicação do art. 240º/2b

Enriquecimento ilícito (ac. TC n.º 179/12) .7


ACORDÃO 179/2012
Fiscalização da constitucionalidade das normas do art. 1º/1 e 2, 2º e 10º do Decreto da AR
.por violação dos arts. 2º, 18º/2, 29º e 31º/2 da CRP

DECISÃO: não inconstitucionadade da norma

ARTIGOS CONSTITUCIONAIS QUE CONSAGRAM O CONCEITO MATERIAL DE


CRIME - 24º/2 E 25º/2 e ART. 29º CRP - princípios importantes para efeitos da pena.

Principais penas: pena de prisão e pena de multa.


Art. 69º CP - pena automática. TC diz que esta norma não viola a CRP nomeadamente o art.
30º/4 - não é apenas uma pena acessória. O agente apresenta perigo para a sociedade.
Penas principais
Penas acessórias
Penas substitutivas - só são aplicadas em alternativa à pena principal. Ainda assim têm um
certo conteúdo sendo que o tribunal para as aplicar tem de fazer um juízo (art. 46º CP, 43º,
250º CP). Se o agente cometer crime quando está em pena suspensa, pode ser aplicada a pena
principal.
Art. pena de prisão (41º CP) no caso da pena de multa (art. 47º) não for cumprida/paga (art.
49º/1).

AULA 7 - 05.11.2020

FINS DAS PENAS


Pena - tem uma conotação sagrada que lhe foi conferida pelo processo histórico
revelando-se sempre como imposição de um mal para a pessoa do criminoso e para a sua
.honra e não apenas para o seu património
Teorias retributivas - foram teorias absolutas por justificarem pena pela •
compensação no mal do crime, independentemente do fim. KANT assume este
pensamento, justificando a pena independentemente de qualquer fim. HEGEL
considera a pena como um modo de honrar o criminoso e não apenas como
instrumento ao serviço da sociedade. Através dela a dignidade do criminoso como
.pessoa pode ser prejudicada. Ela é uma consequência lógica do crime

No pensamento contemporâneo perde a pureza de uma teoria absoluta da pena, sendo


que a defesa da ideia retributiva faz-se na perspetiva de que a retribuição é o único modo de
demonstra a eficácia das penas e garantir as expectativas dos cidadãos relativamente à
.punição dos criminosos
;Indemonstrabilidade dos pressupostos •
Culpa ética surge como consequência necessária e o poder punitivo do •
.Estado não pode servir para sancionar automaticamente esta culpa

Prevenção geral - justifica a pena pela intimidação dos cidadãos na sua generalidade .2
relativamente à violação da lei penal. A pena seria um instrumento político-criminal que
afastava os cidadãos da prática de crimes através da ameaça penal estatuída pela lei, da
realidade da sua aplicação e da efetividade da sua execução. Para FEUERBACH a pena
serviria para impedir, quem tivesse tendências contrárias ao Direito, de se determinar por
.elas

Assume duas perspectivas: negativa - a pena é concebida como forma estatalmente


acolhida de intimidação das outras pessoas através do sofrimento que com ela se inflige ao
delinquente e cujo receio conduzirá a não cometerem crimes; positiva - a pena é vista como
forma de que o Estado se sirva para manter e reforçar a confiança da comunidade na força de
.vigência das normas de tutela de bens jurídicos
A pessoa não é um meio para atingir os fins (art. 1º CRP) •
.A pena deixaria de poder ser vista como consequência do crime •

Prevenção especial - o fim das penas é a intervenção sobre o cidadão delinquente, através .3
da coação psicológica, inibindo-o da prática de crimes ou eliminando nele a disposição para
.delinquir

Negativa - dirige-se à intimidação individual do delinquente, o que pretende


neutralizar o agente infrator; Positiva - finalidade de alcançar a reforma interior do
delinquente ou o tratamento das tendências individuais que conduzem a crimes (mesmo plano
.que se trata um doente)
Inaceitável como fim exclusivo das penas pois conduz a consequências •
.difíceis de aceitar no plano ético e jurídico-constitucional
A investigação empírica não permite apoiar em dados absolutamente •
seguros sobre a delinquência futura. Poderia ainda esta teoria menosprezar o princípio
.da necessidade da pena (Art 18º/2 CRP)

REGENTE
Nenhuma das teorias dá uma resposta satisfatória ao problema da legitimidade da
pena. O ponto de partida deve ser a realidade da pena e não aquilo que ela idealmente deveria
ser. Fernanda Palma afirma que não terá cabimento proclamar que a pena não deve ser
retributiva onde a primeira necessidade humana que a pena pública satisfaz é a da
substituição psicológica da vingança privada - esta substituição que a pena assegura enquanto
retribuição racionaliza-se através do princípio da culpa derivado da dignidade da pessoa
.humana (art. 1º CRP) e da necessidade da pena (art. 18º/2 CRP)
.A pena só será legítima se for necessária preventivamente
Na pena está sempre uma ideia de reparação, de retribuição, retribuição essa hoje tida
como moderna em que a pena é entendida como uma pena retributiva justificada
.preventivamente
A prevenção geral só será critério racional de definição de fins da pena se se baseia
num efeito objetivo constatável, mensurável - a intimidação - mesmo que ele seja alcançado
.pelos mecanismos psicanalíticos da crença na validade da norma violada
A REGENTE diz-nos que a culpa não é só um pressuposto mas também um
fundamento, pois é ela que nos diz como é que o agente deve ser responsabilizado no caso
.concreto

Questão das finalidades das penas é uma questão de interpretação do art. 40º CP >

ACORDÃO do STJ de 05/02/97: processo 96P717


A acusado pelo Ministério Público da prática de dois crimes de homicídio negligente
punidos nos termos do art. 59º, alínea a) do Código da Estrada, veio a ser condenado por um
crime de homicídio por negligência previsto e punido no artigo 138º n. 2 do CP de 1982, na pena
.de dois anos e quatro meses de prisão

DECISÃO STJ: O arguido pede recurso ao STJ que conclui: provou-se que é pessoa estimada
quer no meio profissional a que pertence e não tem antecedentes criminais, atendendo à sua
personalidade, às condições da sua vida, familiar e profissional, sendo evidente a suspensão da
.execução da pena
O Acórdão recorrido violou o art 48º/2 o artigo 50º/1 CP de 1995, devendo ser revogado e
substituído por decisão que suspenda a execução da pena aplicada por período de tempo entre um
.ano e cinco anos
O Ministério Público julgou o recurso imprudente, salientando que não se apuraram
quaisquer circunstâncias excepcionais que permitissem a pretendida suspensão de execução da
pena. Os assistentes concluíram da mesma maneira, sublinhando que o circunstancionalismo
invocado pelo recorrente não é mais que o exigido a um homem médio de qualquer sociedade
:civilizada e que se verificaram circunstâncias impeditivas da pretensão do recorrente
;Não reconhecer a culpa •
;Não arrependimento •
Subidos os autos a este Supremo, após a vista a que se refere o art. 416º CPP efectuou-se o
exame preliminar no qual se não verificou circunstância obstaculizante do conhecimento do
.recurso. E, porque haviam sido requeridas alegações por escrito, foi fixado prazo para o efeito
Nas alegações do recorrente, reproduziram-se as razões do recurso e concluiu-se da mesma
maneira: manutenção do julgado, sublinhando-se o circunstancionalismo dos factos e a falta de
.confissão e arrependimento
:MATÉRIA DE FACTO
;O arguido circulava ao volante da sua viatura ligeira •
Havia estado numa festa de aniversário em Sintra e tinha uma taxa de álcool •
no sangue de 2,00 gramas por litro, como veio a ser detectado por teste efectuado por uma
;Brigada da G.N.R
Quando circulava já no interior da localidade, numa recta com boa •
visibilidade, veio a embater com a parte frontal direita da sua viatura nos peões B e C, que
;acabavam de atravessar a via
Em consequência do embate o peão referido, B sofreu externamente feridas •
;contusas, as quais lhe vieram a determinar a morte
Em consequência do embate o peão C sofreu fracturas. No hospital devido às •
;graves lesões falece
O arguido não regulou a velocidade do seu veículo por forma a ter em conta a •
circunstância de se encontrar no interior de uma localidade, bem como de existir no local
uma passadeira para peões, devidamente sinalizada, tendo derivado da situação de
embriaguez em que se encontrava, com a referida taxa de alcoolemia de 2,0 gramas por
;litro

:ARGUMENTOS A FAVOR
É pessoa estimada quer no meio profissional quer pela população e não tem antecedentes >
.criminais
Como ele próprio reconhece nas suas alegações, o instituto da suspensão da execução da pena tem >
como pressupostos materiais a personalidade do agente, as condições da sua vida, a conduta
anterior e posterior ao facto punível e as circunstâncias deste, a permitirem a conclusão de que a
simples censura do facto e a ameaça da pena bastarão para o afastar da criminalidade e satisfazer as
.necessidades de reprovação e prevenção do crime (artigo 48º/2 CP de 1982)

:ARGUMENTOS CONTRA
O argumento não se mostra contrário ao juízo emitido pelo tribunal da condenação: dada a >
qualidade de agente da autoridade do recorrente, não é credível que desconhecesse o sentido de tal
jurisprudência e a frequência com que se verificam acidentes como aquele em que participou e
.respectivas consequências para as vítimas
As "finalidades da punição” são a protecção de bens jurídicos e a reintegração do agente na
.sociedade
O legislador não cedeu ao propósito ilegítimo de solucionar por via legislativa a questão
dogmática dos fins das penas, antes se propôs oferecer à interpretação do direito critérios seguros e
:normativamente estabilizados de medida e escolha da pena, o que quer dizer
por um lado, que permanecem intatas as finalidades de prevenção, especial e •
geral e
por outro, que a protecção de bens jurídicos e a reintegração do agente na •
sociedade são objectivos que não se anulam mutuamente, antes exigem um adequado
.equilíbrio, em ordem a que um não sofra demasiada supressão em favor do outro
Quanto ao primeiro, é evidente que os bens jurídicos protegidos na norma incriminadora são >
altamente valiosos, pois está em causa a vida humana, bem supremo da pessoa. E a finalidade de
reintegração na sociedade não pode estimar-se como um desiderato preponderante, nomeadamente
quando a violação dos primeiros reclama protecção jurídico-penal adequada, expressa na pena
cominada na lei, no caso de relativa severidade. E a determinação da medida concreta da pena é
.feita em função da culpa do agente e das exigências de prevenção
O arguido agiu com culpa acentuada, na forma de negligência grosseira: conduzia o seu veículo >
em estado de alcoolemia muito superior ao permitido, não estando em condições de regular a
velocidade nem agir com a serenidade indispensável ao domínio do veículo que conduzia,
atendendo que na via onde circulava era uma povoação, próximo de uma passagem para peões
.assinalada, onde se impõem particulares cautelas na condução
.Não se vê qualquer razão susceptível de atenuar ou mitigar o seu grau de culpa
.Era agente de autoridade, tinha o particular dever de não conduzir no estado de alcoolemia >

:ARGUMENTOS A FAVOR
Invoca nas suas alegações que o grau de alcoolemia terá resultado de um "descuido", motivado >
por ter participado numa festa de aniversário, mas nem por isso deixou de violar o especial dever de
evitar esse estado. E, contrariamente ao que alega, não se provou que estivesse perfeitamente lúcido
.e consciente para poder conduzir

:ARGUMENTOS CONTRA
Para além da censura em termos de culpa, convergem fortes razões de prevenção: a falta de >
civismo e de perícia dos autores, as deficientes condições do parque automóvel, o estado da rede
rodoviária, são razões a imporem uma forte acção de prevenção geral no doseamento das penas.
.Além de ter actuado com culpa grosseira, os factos comprovam que actuou com culpa exclusiva

Apenas se provou, de modo a atenuar a pena, que não tem antecedentes criminais e que
é pessoa estimada no meio profissional e pela população. A questão da falta de arrependimento é
pouco relevante, o mesmo se diga quanto à falta de confissão. Tudo isso, porém, tem interesse
.primordial na determinação da medida concreta da pena
Os Magistrados do Ministério Público defendem que não há razões suficientes para que
seja decretada tal suspensão. Os argumentos do recorrente radicam na personalidade, nas condições
da sua vida, na conduta anterior e posterior aos factos e nas suas circunstâncias. Bastarão estas
?considerações para aconselhar a pretendida suspensão

:A FAVOR DO RECORRENTE
A sua personalidade não mostra, a priori, uma acentuada inclinação para o crime, nomeadamente >
para a prática de crimes culposos no exercício da condução de veículos automóveis: trata-se de um
delinquente ocasional. Não parece que estejam perante um indivíduo que coloque particulares
.exigências de ressocialização
É pressuposto material de aplicação do instituto da suspensão que o tribunal, atendendo à
personalidade do agente e às circunstâncias do facto, conclua por um propósito favorável
relativamente ao comportamento do delinquente. Para a formação de um tal juízo - ao qual não
pode bastar nunca a consideração ou só da personalidade ou só das circunstâncias do facto - o
.tribunal deve atender às condições de vida do agente e à sua conduta anterior e posterior ao facto
Por outro lado, a finalidade político-criminal que a lei visa com o instituto da suspensão é o
."afastamento do delinquente da prática de novos crimes e não qualquer “correcção", "melhora
Mas, apesar da conclusão do tribunal por um prognóstico favorável, a suspensão da execução da
prisão não deverá ser decretada se a ela se opuserem "as necessidades de reprovação e prevenção
."do crime
Estão aqui em questão não quaisquer considerações de culpa, mas exclusivamente questões
de prevenção geral sob a forma de exigências mínimas e irrenunciáveis de "defesa do ordenamento
jurídico". O propósito de comportamento futuro do recorrente, à luz de considerações exclusivas de
prevenção especial de socialização, mostra-se favorável. Todavia, imperam fortes razões de
.prevenção geral que não podem deixar de ser atendidas

.DECISÃO: O recurso não pode proceder. Nega provimento ao recurso

ACORDÃO do TRL de 02/10/2014: processo 548/12.4PTPDL-A.L1-9


O arguido vem a interpor recurso por ter sido condenado pela prática de dois crimes de
:condução de veículo
Um sem habilitação legal - numa pena de um ano de prisão, substituída pela •
;prestação de 365 horas de trabalho a favor da comunidade
Outro em estado de embriaguez - numa pena única de 150 dias de prisão, •
suspensa na sua execução pelo período de um ano, sob a obrigação de o arguido frequentar
.um curso de prevenção e de segurança rodoviária

O Ministério Público promove a revogação da suspensão da execução da pena, por


preenchimento do art. 56.°/1, alínea b) do CP, atenta a comissão de crime da mesma natureza no
período da suspensão, revelando a falta de efeito preventivo deste instituto, concretamente
.aplicado
O arguido alega que não foi condenado em pena privativa da liberdade na segunda das
condenações porque se encontra socialmente inserido; vive com os pais idosos, dependentes e de
quem cuida, está a frequentar um programa de ocupação, pelo qual recebe ordenado e que usa para
satisfazer as necessidades familiares e o pagamento da pensão de alimentos ao filho, está inscrito
em Escola de Condução, cumpriu o Curso de Prevenção e Segurança Rodoviária e está a cumprir a
pena de prestação de trabalho a favor da comunidade
.Revogação da pena desproporcionada e contrária à reinserção social
O tribunal ordenou que se elaborasse um relatório para averiguar as alegação do arguido, o
qual conclui a postura de forte colaboração com os Serviços de Reinserção Social ao longo do
acompanhamento, cumprimento das obrigações impostas e positivo enquadramento social, familiar
.e profissional
Dispõe o art. 56°/1, alínea b) CP que a suspensão da execução da pena de prisão é
revogada sempre que, no seu decurso, o condenado cometer crime pelo qual venha a ser condenado,
e revelar que as finalidades que estavam na base da suspensão da execução da pena não puderam,
.por meio dela, ser alcançadas
Cometeu o arguido crime durante o período da suspensão da execução da pena? A resposta é
afirmativa. Quais as finalidades da suspensão a execução da pena? As mesmas saíram goradas com
?a prática daquele crime
As finalidades das penas são de prevenção geral e especial, em ambos os casos positivas e
.negativas
A prática do novo crime implica a violação da prevenção especial negativa e de prevenção >
;especial positiva
O cumprimento das outras condições da suspensão permite ao arguido a integração social, >
.fundamento fruto para uma conduta reta em sociedade
O juiz da condenação, ciente da possibilidade de a pena anterior vir a ser revogada, ainda
assim evitou que o arguido fosse cumprir uma pena de prisão por poder o mesmo reintegrar-se com
.uma pena não privativa da liberdade
Está hoje social, familiar e profissionalmente integrado, nenhum beneficio havendo para a
sua reinserção social o cumprimento da pena de prisão aplicada nestes autos, pois que a revogação
da suspensão não é um castigo, uma sanção, mas um meio de competir à reinserção social, que já
.está sendo alcançada em liberdade, com um escolho no percurso, é certo
Não estão irremediavelmente comprometidas as finalidades inerentes à suspensão da
execução da pena, entendo não a revogar e, constando que já decorreu o seu período, declaro extinta
.a pena aplicada ao arguido pelo cumprimento, nos termos dos arts. 57.° do CP e 475.° do CPP
:Ministério Público veio a interpor recurso
Art. 56º/1, alínea a) CP - no decurso do período de suspensão, o condenado cometeu crime pelo >
qual veio a ser condenado, e revelou que as finalidades que estavam na base da suspensão não
puderam, por meio dela, ser alcançadas - implica que tenha de ser revogada a suspensão da
.execução da pena
O facto de ter cometido um crime idêntico durante o período de suspensão não ia acarretar
qualquer consequência para o condenado, equivalendo à total impunidade e absoluta ineficácia e
até irrelevância da condenação, não se alcançando qualquer das finalidades preventivas e
.ressocializadoras das penas
Ao não revogar a suspensão da execução da pena, a decisão violou o disposto nas
disposições conjugadas dos arts. 40º/1, 50°/2 e 56°/1, alíneas a) e b), CP (estas alíneas devem ser
aplicáveis em alternativa, pelo que a não verificação dos pressupostos de uma delas não pode servir
de fundamento para a não revogação da suspensão da execução da pena com base na verificação
.dos pressupostos da outra)
Revogação a decisão recorrida e substituição por outra que determina a revogação da
.suspensão da execução da pena

:ALEGAÇÕES DO ARGUIDO
O recurso cinge-se tão só à parte do Despacho Judicial em que este considera que a
suspensão da execução da pena de prisão em que foi condenado o arguido nestes autos não deve ser
.revogada
Não é posta em causa a aplicação destas concretas normas pelo Despacho Judicial. E por
conseguinte, esta parte da Decisão contida no Despacho Judicial revela-se-nos transitada em
.julgado
Para além disso, os fundamentos que o M.P. invoca no seu recurso não podem “in casu” ser
considerados bastantes para, nos termos do art. 56°/1, alínea b) CP, se decretar a revogação da
suspensão da execução da pena de prisão aplicada. Para a aplicação desta norma, não basta que se
tenha cometido um facto ilícito, mas antes exige como requisito cumulativo: “ revelar que as
.”finalidades que estavam na base da suspensão não puderam, por meio dela, ser alcançadas
Pois é de Lei, Direito e Justiça, crermos na reinserção social do indivíduo concreto, sendo
esta a Principal e Fundamental finalidade de aplicação das penas, sendo que tal norma assim
como todo o nosso Diploma Penal tem como assente que qualquer pena de prisão, e ainda mais
quando efectiva, é sempre a “ultima ratio”, só aplicada em último caso.x
Após a revogação da suspensão da execução da pena de prisão ao arguido, foi ordenada
nestes autos a realização de Relatório Social pelos Serviços de Reinserção Social, que comprova
toda a situação pessoal, social, familiar e profissional e alegada pelo arguido no seu requerimento e
formula, com bastante actualidade, juízo de prognose favorável sobre a sua reinserção social,
frisando a sua positiva inserção sócio-familiar e profissional, assim como a sua postura de forte
colaboração com esses Serviços ao longo do acompanhamento por estes do cumprimento das
.obrigações impostas durante todo o período de suspensão da execução da pena
Todos estes factos foram e bem tidos em conta pelo Douto Despacho judicial recorrido, o
qual conclui, como facilmente é de concluir, que quanto às finalidades que estavam na base da
.suspensão no presente processo, não se pode afirmar que não tenham sido alcançadas

O Despacho Judicial não comete atropelo ou violação de qualquer norma jurídica que seja. Aliás,
muito bem fundamenta, sensata e sabiamente, com respeito pela Lei e pela realidade do caso
concreto e da vida, a sua Decisão de não revogação da suspensão da execução da pena de prisão: “E
assim mesmo foi ponderado quando da escolha da segunda pena: o juiz da condenação, ciente da
possibilidade de a pena anterior vir a ser revogada, ainda assim evitou que o arguido fosse cumprir
uma pena de prisão por poder o mesmo reintegrar-se com uma pena não privativa da liberdade. E a
verdade é que o tem feito, estando hoje social, familiar e profissionalmente integrado, nenhum
benefício havendo para a sua reinserção social o cumprimento da pena de prisão aplicada nestes
autos, pois que a revogação da suspensão não é um castigo, uma sanção, mas um meio de competir
à reinserção social, que já está sendo alcançada em liberdade, com um escolho no percurso é certo.
“(...)não estão irremediavelmente comprometidas as finalidades inerentes à suspensão da execução
”da pena
Sufragamos inteiramente este entendimento do Despacho Judicial, e acrescentamos que se -15
agora em meados de 2014 fosse revogada a suspensão da pena aplicada ao arguido, tal
corresponderia na prática a uma segunda condenação nestes autos, na vertente de puro castigo para
.este cidadão
Pelo exposto, o alegado fundamento que o M.P. invoca na sua Motivação de recurso, não deve -16
“in casu ser considerado o bastante para revogar a suspensão da execução da pena de prisão nos
termos do art° 56°/1 ,b) CP, sob pena de se assim se não entender, incorrer-se na violação dos arts.
56° e 50° CP, além de que uma eventual revogação da suspensão seria descabida neste momento
temporal e face a tudo o por nós supra exposto, e completamente contrária à almejada reintegração
.do arguido já em grande medida alcançada
Assim, atento o supra explanado, deve ser mantido o Douto Despacho Judicial que decidiu -17
nomeadamente pela não revogação da suspensão na sua execução da pena de prisão em que foi
condenado o arguido (art° 50° CP), devendo no mais improcedente o recurso ora interposto pelo
..M.P
Assim, deve ser negado provimento ao recurso interposto pelo Ministério Público, no mais
devendo manter-se o Douto Despacho Judicial que decidiu pela não revogação da suspensão da
execução da pena de prisão a que foi condenado nestes autos o arguido, e já declarou além disso
extinta a pena

:MOTIVAÇÃO
É jurisprudência constante e pacífica que o âmbito do recurso é delimitado pelas conclusões
formuladas na motivação (art.s 403º e 412º CPP), sem prejuízo das questões de conhecimento
.oficioso
O recorrente coloca em causa a justeza do decidido no despacho judicial que não ordenou a
revogação da suspensão da pena de prisão que havia sido aplicada ao arguido nestes autos e,
.suspensa na sua execução pelo período de um ano

:ARGUMENTOS CONTRA
O facto de o arguido ter praticado, no decurso do período da suspensão da execução da pena,
um crime de condução ilegal, tendo sido condenado na pena de 1 ano de prisão, substituída por 365
horas de trabalho comunitário. O arguido “desperdiçou” a oportunidade que lhe foi dada com a
suspensão da execução da pena, “demonstrando com o seu comportamento que não está reintegrado
na vida em sociedade, não tendo a suspensão da execução da pena nestes autos surtido qualquer
”efeito

Na versão original do Código Penal de 1982 consagrava-se a revogação da pena suspensa na


sua execução como consequência do cometimento pelo condenado, no decurso do período de
.suspensão, de crime doloso pelo qual viesse a ser punido com pena de prisão - art. 51º/1CP
Nas alterações introduzidas pelo DL nº 48/95, de 15 de Março, passou a dispor a al. b) do
.nº 1 do actual art. 56º
Nesta parte final “ revelar que as finalidades que estavam na base da suspensão não
puderam, por meio dela, ser alcançadas”, determinou-se o afastamento automático da revogação
da suspensão como mera decorrência do cometimento de um novo crime no período da suspensão,
deixando ainda de se exigir a natureza dolosa do novo crime cometido e a condenação em pena de
.prisão
DECISÃO: Os Juízes da 9ª secção criminal deste Tribunal da Relação acordam em julgar
.improcedente o recurso interposto e manter a sua decisão

AULA 8 - 12.11.2020

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: LEI FORMAL •

Figueiredo Dias - lógica associada aos fins das penas que seria fundamento interno do princípio >
.da legalidade
Fernanda Palma - apesar de ser importante o problema do princípio da culpa e poder este >
fundamento do princípio da legalidade, mas não pode ter apenas uma lógica de garantir a segurança
e liberdade dos destinatários das normas. Isso significaria que quanto às medidas de segurança este
princípio não se aplicaria. O pressuposto das medidas de segurança é a perigosidade, e não culpa,
.não se podendo aplicar aqui o princípio da legalidade se se fundar na culpa
Defende que o princípio da legalidade tem como fundamento muito além de garantir a
liberdade dos destinatários das normas, sendo o verdadeiro fundamento o Estado de direito, de
forma a respeitar a separação de poderes. Neste sentido, as normas penais têm de ser representativas
da vontade democrática e o Estado tem de se vincular ao direito que cria - IDEIA DE
.AUTOCONTROLO DO ESTADO
1º COROLÁRIO: exigência de lei escrita - reserva de lei em sentido formal. Essa reserva é relativa
porque nos termos do art. 165º/1, al. c) CRP cabe à AR legislar a matéria penal, mas o GOV pode
.legislar desde que tenha uma autorização da AR
AUTORIZAÇÃO - não é possível que a AR se limite a passar cheque em branco e o GOV
faça o que quer com ele. A delegação de poderes tem de ser inequívoca, tem de estar o conteúdo, o
fim e os limites da delegação de tal forma que possamos pela mera leitura apreender quais os
.pressupostos contidos

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE - ART. 1º CP


Este princípio não é apenas uma ideia orientadora, mas também uma norma positiva e um
.princípio geral - CASTANHEIRA NEVES
Este princípio, na sua origem, procurava controlar ou conter o poder punitivo detido pelo
poder político, passando a poder considerar-se como decisivo para a redução das fontes de Direito
Penal - nomeadamente costume e jurisprudência). Assim, passou a atribuir à lei o papel de fonte
por excelência do Direito Penal - art. 29º/1 CRP. Contudo, há casos em que o costume
internacional pode ser fonte de Direito Penal, casos em que a perversão do poder político gera uma
.legalidade permissiva da perpetração de factos lesivos de direitos humanos fundamentais
O recursos a estes costumes terá de ser feito com recurso aos limites da lei interna: em
primeiro lugar, valerão os limites gerais da penas estabelecidos no Código Penal (arts. 40º e 46º)
e as penas concretas serão determinadas necessariamente por analogia com crimes identicamente
.graves previstos na lei, exigindo-se sempre a proporcionalidade entre o crime e a pena

:PRINCÍPIO GERAL

Só a lei pode ser fonte de Direito Penal (reserva relativa da competência da AR - art. 165º/1,
.)alínea c), CRP

:OBJETIVOS

Retirar da esfera do poder político o poder de sentenciar criminalmente, daí o porquê das
penas terem de esta subordinadas à lei, não bastando uma lei anterior a prever a pena para se punir o
agente, sendo também necessário que a própria lei anterior articule uma certa pena com um certo
.comportamento que é punido (art. 29º/1 e 3 CRP)
A formulação correta do princípio da legalidade é o que se refere tanto ao crime como à pena,
.articuladamente
Prevenir a arbitrariedade do poder de sentenciar criminalmente. O que está em causa, mais
especificamente, é também uma necessidade de assegurar a separação de poderes e a vontade da
.maioria democrática

A interpretação das leis assume um papel importante, não podendo ser totalmente livre,
tendo os juízes de não ser apenas a boca que pronunciam a lei, mas também tendo eles uma
.fundamentação objetiva baseada na lei
O que se procura no princípio da legaliza é a subordinação da sentença criminal à lei lei
.esta emanada dos representantes da vontade do povo

:CONSEQUÊNCIAS

O princípio da legalidade restringe outras fontes de Direito Penal, ou seja, aquelas )Stripta(
que não sejam a lei em sentido formal, sendo que existe uma reserva relativa de lei no âmbito da
AR. Esta exclusão acontece relativamente a normas penais positivas (incriminadoras - normas que
vêm a restringir a liberdade), mas não quanto às negativas (desincriminadoras - não são normas que
venham a restringir a liberdade), uma vez que nestas já não vigora a subordinação ao princípio da
.legalidade
Ele visa impedir que os tribunais possam criar a lei e subverter a separação de )Stricta(
.poderes, proibindo a analogia
.Proibição da retroatividade das normas penais (arts. 29º/1 e 3 CRP e 1º/3 CP) )Praevia(

***
Uma eficaz prevenção do crime só pode pretender êxito se a intervenção estadual estiver limitada
perante a possibilidade de uma intervenção arbitrária. A intervenção penal submete-se a um
rigoroso princípio da legalidade, não podendo haver crimes nem penas que não resultem de
.uma lei prévia, escrita e certa
Não há crime sem lei anterior que como tal preveja uma certa conduta significativa que, por mais
reprovável socialmente que se afigure o comportamento, tem o legislador de o considerar como
.crime para que possa ser punido
Segundo o art. 29º/3 CRP, é necessário que se tratem de crimes à luz dos princípios gerais de
direito internacionalmente commumente reconhecidos e a púbico só pode ter lugar nos limites da lei
interna. O nº2 adota uma decepção de responsabilidade por crime contra o direito internacional,
.sujeito ao princípio da legalidade
Não há pena sem lei. O princípio da legalidade foi alargado às medidas de segurança (art. 2º/1 CP).
O princípio da legalidade não cobre toda a matéria penal, apenas a que se traduz em fundamentar
ou agravar a responsabilidade do agente. Toda a matéria relativa ao tipo de ilícito ou ao tipo de
.culpa é corrida pelo princípio da legalidade
Assim, é exigida uma lei formal: só uma lei da AR ou por ela competentemente autorizada pode
.definir o regime das penas e das medidas de segurança e seus pressupostos
A analogia é aplicação de uma regra jurídica aa um caso concreto não regulado pela lei, através de
argumento semelhante. Este tipo de interpretação é proibido face ao princípio da legalidade sempre
.que funcione contra o agente e vise servir a fundamentação ou a gravação da sua responsabilidade
***

RESERVA DA LEI
Existe uma reserva de lei relativa da AR quanto às normas incriminadoras (normas penais
positivas) - art. 165º/1, alínea c) CRP, mas em relação às normas penais negativas o Tribunal
Constitucional tem vindo a admitir que para estas também seja necessária uma reserva de lei da AR,
mesmo não prevista na mesma alínea, será por via da alínea b), uma vez que o princípio da
legalidade se integra no elenco dos direitos, liberdades e garantias. Tal imposição serve para
.assegurar a separação de poderes
Resta saber se as circunstâncias que agravam a responsabilidade ou as circunstâncias
.exigentes atenuantes se incluirão na previsão constitucional
CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES: definem o concreto facto criminoso, sendo
abrangidas pela previsão constitucional. Isto acontece nas circunstâncias modificativas, que alteram
a moldura legal no sentido de permitir que o crime deixe de ser simples e passe a ser qualificado,
mas também nas circunstâncias simples, que não alteram a medida legal apenas a medida concreta
de culpa.. A reserva de lei favorece assim a aplicação do art. 165º/1, alínea c) CRP a todas as
.circunstâncias agravantes
Contudo, as circunstâncias agravantes gerais (que funcionam para agravar a pena dentro da
moldura legal - art. 71º CP), estão previstas de forma não taxativa, o que é incompatível com a
reserva de lei, por postular a criação de novas circunstâncias. A previsão deste preceito apenas pode
significar a valoração de uma aspeto do ilícito ou da culpa de um determinado crime que revele
.maior intensidade
Assim, nem o Tribunal nem o Governo podem, sem autorização legislativa, podem erigir um
determinado critério de agravação. Se o fizerem sem autorização da AR, haverá violação da reserva
.de lei

CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES E EXIMENTES: uma lógica simplificado diria que


não estão submetidas à reserva de lei por não afetarem as expectativas de segurança e a liberdade
individual dos destinatários das normas penais. Estas circunstâncias considerariam permitidos
factos que de outra forma não o seriam, ou desculpáveis os seus agentes, o que não exigiria um
.controlo direto pelos representantes
No entanto, pode-se dizer que estas circunstâncias podem alterar a delimitação dos
direitos dos cidadãos entre si. Assim, a liberdade criada pelas permissão de certas condutas
.diminuirá a liberdade de todos os que se pretendem opor a estas

FERNANDA PALMA
No que respeita às eximentes, esta afirma que não estão sujeitas à reserva de lei pois não são
restritivas da liberdade e de direitos, pelo contrário. Admite, contudo, excepções pois sendo as
eximentes uma autorização excecional de exclusão de responsabilidade, permitindo condutas que
em geral são proibidas, o diminui a liberdade e a segurança dos cidadão, estando nestes casos
.sujeitas à reserva de lei
Quanto às atenuantes, ainda que não considere que as atenuantes estejam sujeitas a reserva
de lei, por não restringirem indiretamente os direitos das vítimas de crimes, pode haver colisão entre
um determinado fator como atenuante e a CRP, nomeadamente com o princípio da culpa. Assim, as
atenuantes não podem ter uma total liberdade para a sua definição, antes apenas quando sejam um
.desenvolvimento do princípio da culpa
O art. 72º/2 CP estabelece uma cláusula de atipicidade quanto às circunstâncias
atenuantes, mas temos de ter em conta que o julgador não pode criar circunstâncias atenuantes que
..ponham em causa princípios do sistema

:CASO
Caso (Des)Governos
:Pode o Governo
?Alterar o valor da coima prevista no art. 81.º, n.º 6, alínea a) do Código da Estrada1 -1
Art. 165º/1, alínea d) - mas a verdade é que há uma matéria que está subordinada ao
princípio da legalidade
Pode o GOV alterar o valor da coima, não pode apenas sem autorização fixar valores dentro
.dos limites. Só não pode se se encontrar fora da moldura legal

Reduzir o limite máximo da pena aplicável ao crime p. e p. no art. 137.º, n.º 2 do CP para 4 -2
?anos
No presente caso estamos perante uma norma penal positiva, ou seja, incriminadora. De
acordo com o art. 165º/1, alínea c) CRP, existe uma reserva relativa da AR no que respeita a estas
normas. Assim sendo, sem a autorização da AR, nem o Governo nem os Tribunais podem erigir este
.critério de agravação

Reduzir o prazo máximo de duração da pena acessória de proibição de conduzir prevista -3


?no art. 69.º do CP
No presente caso estamos perante uma alteração de norma penal positiva - circunstância
modificava - dado que é uma alteração da moldura legal estabelecida pelo art. 69º CP. Nestes casos,
segundo o art. 165º/1, alínea c) CRP, é necessária a autorização da AR para a alteração dado que
estamos perante uma matéria da reserva relativa da AR. Sem esta autorização, o Gov não pode
reduzir o prazo máximo. Terá de haver uma relação da circunstância com a capacidade de
motivação pela norma, ou se a agravante quiser apenas impedir o juiz de fazer considerações no
.caso concreto, aí já haverá violação da reserva de lei

?Revogar o n.º 7 do art. 101.º do CP -4


O governo não está a revogar a medida de segurança, está a revogar um requisito para

Criar, através de Decreto-Lei, uma nova causa de justificação que exclua a ilicitude do facto -5
?nos casos em que o homicídio negligente seja praticado no exercício da condução de veículos
No presente caso estamos perante uma norma penal negativa, ou seja, uma circunstância
atenuante ou exigente (excluidora de responsabilidade). Estas normas permitem determinados
.factos que de outra forma não eram permitidos ou desculpáveis ao agente
À partida, não seriam estas circunstâncias submetidas à reserva de lei, pois não exigem um
controlo direto. Contudo, o TC tem vindo a considerar que podem diminuir a liberdade e segurança
dos cidadãos e, por isso, como são restritiva de direitos, liberdades e garantias poderiam inserir-se
.na alínea b) do art. 165º/1 da CRP
Elas podem efetivamente alterar ou delimitar os direitos dos cidadãos pois a liberdade criada
.pela permissão de certas condutas diminui a liberdade de quem se quer opor a elas
Na opinião de Fernanda Palma, quanto às circunstâncias atenuantes elas não estão
diretamente sujeitas à reserva lei, contudo, havendo colisão com certos princípios latentes do
sistema (neste caso com o princípio da culpa) não podem ter uma total liberdade para a sua
definição. Assim sendo, terá de haver uma autorização da AR para que o Governo possa criar esta
nova causa de justificação que exclua a ilicitude do facto nos casos em que o homicídio negligente
.seja praticado no exercício da condução de veículos

RESERVA DE LEI •

ACORDÃO do TC de 173/85: Descriminalização


Acusada da prática de um crime de descaminho de direitos, sob forma tentada, previsto e
.punido pelos arts. 12º, 41º e 43º CA
Foi querido ao Tribunal que se declarasse incompetente e remetesse o processo às
autoridades administrativas, pois o art. 22º de um novo DL qualificava como mera contra-ordenação
.os factos de que a ré fora acusada
Requerimento indeferido - competência do Tribunal foi fixada com o trânsito em julgado do >
.despacho equivalente à pronuncia

:Recurso >
Requereu ainda que se declarasse extinto o procedimento contra a ré por já ter decorrido o
.prazo aplicável às contra-ordenações
DECISÃO: inconstitucionalidade da norma do art. 22º/1, alínea a) DL por cualificar como contra-
.ordenação factos anteriormente qualificados como crime
O princípio da legalidade para que seja bem formulado não basta que a lei anterior preveja a
.pena, é necessário articular a pena com um certo comportamento punitivo

AULA 9 - 16.11.2020

NORMAS PENAIS EM BRANCO •


A reserva de lei penal origina uma especial conformação da técnica legislativa e da
interpretação ao permitir que as normas penais se apliquem estritamente de acordo com a sua
definição legislativa - PRINCÍPIO DA DETERMINAÇÃO DAS NORMAS PENAIS
.INCRIMINADORAS
Segundo o princípio, todos os pressupostos da incriminação e da responsabilidade têm
.de estar descritos na lei, não sendo admitidas as leis penais em branco
PROIBIÇÃO DAS NORMAS PENAIS EM BRANCO: implica que as normas penais sejam
descrições de figuras ou tipos, isto é, determinações do conteúdo de certas imagens sociais
relativamente concretas de comportamentos humanos, que prefigurem com exatidão o âmbito
.do proibido e a respetiva consequência/sanção
Este princípio justifica que nenhum comportamento humano pode ser considerado
criminoso se não corresponder a um tipo legal de crime, descrito com precisão na lei. A
.tipicidade é exatamente essa exigência
A violação do princípio da TIPICIDADE e da determinação só se dá quando a
possibilidade de compreensão e controlo do desvalor expresso no tipo legal de crime deixa de
existir, ou seja, começará onde a linguagem normativa permitir a total manipulação do
conceito para fins incontroláveis e onde for impossível uma perceção da descrição legal pelos
seus destinatários coincidente com os resultados da interpretação. Não se dá quando o
.utilizador utilize conceitos menos precisos ou que o intérprete exceda o sentido das palavras
Uma decorrência da reserva de lei é a proibição de normas penais em branco, que são
normas remissivas que transferem a definição do conteúdo da sua previsão ou estatuição para
.uma fonte de Direito hierarquicamente inferir ao da lei da AR
Nestes casos, não só violação da reserva de lei como do princípio da culpa dado que não
orienta suficientemente os destinatários das normas quanto às condutas efetivamente
proibidas (o agente precisa de conhecer a previsão legal para aceder à consciência da ilicitude
.da sua conduta)

:INCONSTITUCIONALIDADE DAS NORMAS PENAIS EM BRANCO


MARIA FERNANDA PALMA - em matéria de penas, incriminações ou medidas de >
;segurança as normas penais em branco são inconstitucionais
.FIGUEIREDO DIAS - só são inconstitucionais em relação às penas >

ACORDÃO 427/95: Aditivos alimentares


Há uma norma incriminadora, constante de um DL, que prevê a proibição de inclusão de
aditivos num produto alimentar e que remete para uma Portaria que fixa substâncias que não são
.proibidas
O TC entende que não há violação da reserva de lei pois a proibição estava contida na
primeira norma (aprovada mediante autorização legislativa da AR) e a segunda apenas exclui certas
substâncias do âmbito de proibição. Há uma delimitação negativa e não extensiva, respeitando-se
.assim uma reserva de certeza e de previsibilidade na norma incriminadora
Na norma do DL constavam informações sobre o que era proibido, a Portaria apenas vem
acrescentar informação técnica sobre o que não seriam aditivos proibidos. A Portaria não é assim
considerado um regulamento integrativo não contendo disciplina praeter legem. Não é na Portaria
que está previsto o conteúdo da permissão nem da proibição. Estas resultam antes das normas do
DL sendo que a enumeração dos aditivos é apenas uma dado informativo. A previsão da portaria
.executa meramente a norma legal

:ARGUMENTOS para fundamentar a não inconstitucionalidade

O art. 115º/5º da CRP não proíbe os reenvio normativos em que a lei remete para a administração >
a edição de normas regulamentares complementares da disciplina, excluindo apenas os
.regulamentos interativos que regem praeter legem
Não se verifica integração tendo a Portaria mera natureza de regulamento de execução ou >
.completar do DL

:DELIMITAÇÃO DO OBJETO DO RECURSO


Duas questões de constitucionalidade >
Norma do art. 115º/5 CRP: a Portaria em causa é qualificada como •
regulamento integrativo, contendo disciplina praeter legem em contraposição com a
.qualificação do DL como mero regulamento complementar ou de execução
Não se trata de um regulamento integrativo dado que o art. 4º/1 do DL apenas remete para um >
regulamento que descreve aditivos alimentares admissíveis e o preceito será então apenas uma
.delimitação negativa (ou contra-tipo) dos arts do DL
Apesar da remissão, não é na Portaria que está previsto o conteúdo da permissão e muito menos >
.da proibição
A proibição resulta do DL e quais sejam esse aditivos é um mero dado informativo. A previsão da >
.Portaria executa meramente a norma legal
Violação do princípio da legalidade penal - inconstitucionalidade orgânica e •
material - orgânica porque violam a reserva de lei da AR. O art. 4º/1 do DL qualificar-se-á
como norma em branco que delega em fontes de direito não admitidas constitucionalmente a
.definição dos pressupostos de uma pena pública

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: apesar da natureza meramente executiva da portaria haverá


?violação deste princípio
Não dado que o conteúdo da proibição legal de “aditivos falsificados” não resulta da
Portaria mas das normas legais que fixam o conteúdo da proibição (DL). O princípio da legalidade
atinge a norma incriminadora e não contempla com o mesmo rigor as delimitações negativas ou
.exceções à incriminação
A norma remissiva não é uma norma em branco que delegue à portaria o poder de definir o
conteúdo da incriminação. Os critérios do ilícito penal encontram-se no DL (aprovado mediante
autorização legislativa da AR). A descrição feita pela portaria dos aditivos é apenas uma
concretização do critério legal. Tal enumeração da Portaria não documenta nenhum critério
.autónomo de ilicitude - carácter concretizar em sentido técnico

.DECISÃO: Não inconstitucionalidade

.O ilícito típico está descrito na norma legal não havendo violação do princípio da culpa >
.Carácter técnico - o conteúdo não depende totalmente da norma para a qual se remete >

ACORDÃO 115/2008: Infração de regras de construção


Questiona-se a constitucionalidade do art. 277º CP que remete para normas regulamentares
ou técnicas, ao configurar o comportamento típico de violação de regras de construção de que
.resulte perigo para a vida, integridade física ou propriedade de terceiros
O legislador pretendeu assegurar um efeito de regulamentação, consistente em relacionar o
perigo conduzido com a violação de leges artis de construção. A proibição contida na norma remissa
.refere-se ao não respeito por estes critérios
,OU SEJA
Os recorrentes formulam um juízo de inconstitucionalidade por referência às normas do art.
:277º CP por duas vias
Normas inconstitucionais por violação dos princípio da legalidade penal •
e da reserva de lei formal no ponto em que concretizam um pressuposto da punição
através da mera remissão para regras técnicas (as regras técnicas complementares da
norma penal reveste-se de natureza inovadora, interferindo materialmente na
delimitação da conduta punível; as regras técnicas complementares da norma penal em
branco interfere materialmente na delimitação do ilícito típico, matéria reservada ao
império da lei formal) - conduzirá a uma recusa de aplicação da norma enquanto possa
caracterizar, no ponto em que remete para regras técnicas, como norma penal em
.branco
Normas inconstitucionais com idêntico fundamento quando •
interpretadas no sentido que as regras técnicas como pressupostos de punibilidade,
poderem ser integradas por simples referência a métodos ou procedimentos ad hoc que
tenham sido para executar um determinado tipo de trabalho - poderá implicar que se
.declare inconstitucionalidade da norma concreta interpretação normativa

O legislador definiu como elemento constitutivo do crime a violação de regras legais,


.regulamentares ou técnicas que devam ser observadas
A remissão para regras técnicas, pela norma incriminadora, de parte da concretização da
previsão legal referente aos pressupostos da punibilidade coloca um problema de
:constitucionalidade por confronto com
O princípio da tipicidade penal - implica que a lei especifique suficientemente •
os factos que constituem o tipo legal de crime e efetua a necessária conexão entre o crime e
o tipo de pena que lhe corresponde. Constitui uma garantia de certeza e segurança na
.determinação de condutas humanas
Quando a lei remete para regras técnicas, não é posta em causa a cognoscibilidade subjectiva
desse específico elemento constitutivo do tipo legal. Trata-se de princípios básicos da arte de
construir ou medidas especificamente atinentes à segurança da execução da obra que os
.intervenientes não podem ignorar e não podem invocar a falta de consciência de ilicitude
Princípio da legalidade - determina a existência da reserva de lei que se deve •
considerar confinada ao núcleo essencial de conexão entre a conduta proibida e a pena que
lhe corresponde, de modo a poder dizer-se que é a lei que regula o tipo legal de crie e a
.moldura penal aplicável
Quando está em causa a integração de um pressupostos da punição, por remissão para regras
técnicas que são regras de carácter profissional, não poderão tais regras ser fixadas diretamente por
.lei
O tipo legal encontra-se fixado na lei penal de forma já suficientemente precisa. A remissão
reporta-se a regras técnicas de carácter profissional que necessariamente deverão ser do
.conhecimento dos destinatários das normas
Uma norma penal em branco só é suscetível de violar o princípio da legalidade e da
tipicidade quando a remissão feita para uma norma complementar põe em causa a certeza e
determinabilidade da conduta tida como ilícita, impedindo que os destinatários possam apreender os
.elementos essenciais do tipo de crime
No caso da norma do art. 277º CP, a remissão é feita relativamente a um dos elementos de
punibilidade. A norma em si não viola nenhum dos princípios já que define em termos
suficientemente claros o tipo legal do ilícito e, ao remeter para o plano extra-legal regras que são
.passíveis de serem violadas, não põe em causa a determinabilidade da conduta proibida
Quanto à interpretação normativa, o conceito de regras técnicas abrange normas geralmente
respeitadas ou reconhecidas no setor de construção bem como regras ou procedimentos que sejam
impostos por documentos contratuais, planos de execução ou planos de segurança. São regras de
.uso comum n exercício da atividade profissional

.DECISÃO: Não inconstitucionalidade

ACORDÃO 534/98: Valor da prova pericial


A fixação por via regulamentar da quantidade considerada correspondente ao consumo
.médio individual era relevante para a qualificação do tipo legal de crime
.O tribunal excluiu que tivesse sido posto em crise o princípio da legalidade
Interpretou-se a norma complementar como possuindo um valor meramente probatório e que
.não era absolutamente imperativa para o julgador
: LEI CERTA •
Comando sobretudo dirigido ao legislador. Ao formular as leis incriminadoras, deve
ser exaustivo na determinação dos comportamentos tidos como crimes e na determinação das
.penas – princípio da tipicidade (art. 29º/1 e 3 CRP)

:CASO
António é detido com uma quantidade de heroína superior à legalmente fixada para
consumo durante 10 dias. Pode António ser condenado nos termos do disposto no art. 2.º da
?Lei n.º 30/2000, de 29 de novembro, atento o disposto no artigo 28.º da mesma Lei
.Na resposta, analise os ACÓRDÃOS do TC n.ºs 295/2003 e 587/2014, de 05.11.2009

ACORDÃO 295/2003: Consumo e Tráfico de estupefacientes


Não era manifestamente excessivo e arbitrário aplicar-se a pena >
Há aqui uma presunção ilinibivel - o TC vem dizer que o legislador tentou despenalizar o >
consumo de substâncias de estupefacientes
FERNANDA PALMA - esta proibição de contra prova, deixava que o tipo deixasses de punir o >
comportamento. O TC estria a utilizar uma técnica de perigo abstrato. Mesmo alheio estaria aqui
.sempre presente um crime de tráfico
Interpretação violão princípio da legalidade - crime havia sido revogado •
pelos novos instrumentos legais (art. 28º que revoga o 40º)
Violação do princípio da necessidade da pena •
.Desproporcionado tendo em conta o consumo de droga •
Art. 21º e 25º - neste sentido a REGENTE refere que justifica a inconstitucionalidade porque
a sucessão das leis no tempo impõe uma interpretação não restritiva. Uma interpretação restritiva do
preceito descriminalizador estaria a aplicar-se telologicamnete a analogia, alargando o âmbito do
.proibido

INTERPRETAÇÃO DA LEI •
Imposição que resulta do princípio da legalidade e é dirigida ao legislador. É uma determinação >
.da tipicidade da lei penal
Deve ser feita pelo máximo preenchimento das figuras, os objetos devem ser determináveis, >
devem estar na lei. Lei esta deve ser certa e determinada - deve derivar uma área e uma fim de
.proteção especificamente descrito. Tipo de garantia
PROIBIÇÃO DA ANALOGIA (art. 1º/3 CP): este artigo proíbe expressamente a analogia
quanto a normas de que resulte o facto como crime, a definição de um estado de perigosidade
.e a determinação da pena ou medida de segurança correspondentes
Esta proibição é fundada na exclusividade de competência da AR ou do GOV com
autorização legislativa na formulação de normas incriminadoras e no carácter fragmentário
do Direito Penal, que impede que comportamento análogos aos expressamente previstos
.tenham o mesmo merecimento penal - segurança jurídica e controlo democrático

INTERPRETAÇÃO ANÁLOGA vs INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA


INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA - forma de interpretação onde há uma fundamentação no
pensamento do legislador. Haverá este tipo de interpretação quando o legislador tenha apenas
exprimido imperfeitamente a intenção de regular o caso. Nesses casos o texto legal não
acompanha plenamente o pensamento do legislador sendo este alcançável através de outros
elementos da interpretação. (EXEMPLO: veneno do art. 132º/2, al. i) CP pretende também
)abranger também substâncias que produzam efeitos tóxicos
INTERPRETAÇÃO ANÁLOGA - está em causa comparar um conjunto de situações
previstas no texto legal com situações que não estão previstas - casos omissos/lacunas. Existe
.um défice de regulamentação de situações similares
Para interpretação da lei é necessário desenvolver raciocínio análogos que nos
permitam perceber se aquele concreto comportamento pode integrar no comportamento que
.o legislador pretendeu proibir
A proibição da analogia ao prender-se com a segurança jurídica e controlo
democrático, pode fazer-nos concluir que a distinção entre interpretação extensiva e analogia
.não permite traçar fronteiras da interpretação, não oferece a segurança jurídica
FERNANDA PALMA - sustenta que em vez de se proibir a interpretação extensiva ou
analógica dever-se-ia tentar perceber, na interpretação do art. 1º/3 CP, as situações em que
tais interpretações não serão permitidas à luz dos princípios constitucionais do DP. Na opinião
de FERNANDA PALMA há situações de interpretação extensiva que não são proibidas, não
.são contra nem praeter legem e que não causam insegurança jurídica
)VER CASO DO NINHO DE CEGONHAS EM COMPARAÇÃO COM A CAÇA(
Relativamente à analogia, defende a inclusão possível do caso concreto no caso legal, de
.acordo com um sentido possível das palavras
CASO 1
)a
Teremos de interpretar a norma do art. 190º/2 do CP. Esta norma diz-nos que na pena
do nº1 incorre quem, com intenção de perturbar a vida privada, a paz e o sossego de outra
.pessoa, telefonar para a sua habitação ou telefone
A intenção do legislador será assegurar o sossego e paz da vida privada. Ao aplicar-mos
neste caso o crime previsto do art. 190º/2 CP não estamos a recorrer à analogia dado que não
estamos a comparar um conjunto de situações previstas no texto legal com uma que não está
prevista. Estamos antes a fazer uma interpretação extensiva, pois mesmo que as mensagens
não estejam expressamente previstas neste artigo, é uma maneira de perturbar a vida
.privada, sossego e paz de outra pessoa
Interpretação permitida - ainda cabe no texto legal - o art. refere telefonar para o seu >
.telemóvel, aqui cabe no sentido possível das palavras. Quis abranger todas as técnicas
FERNANDA PALMA - ver o sentido das palavras para fazer a interpretação, limitada pela
essência da proibição. Teremos de ver se houve inovação e só nestes casos é que a
.interpretação extensiva é proibida
Em certas situações o juiz terá de interpretar a lei de acordo com uma certa analogia.
.Não há proibição

)b
A norma do CP fala-nos de telefonemas recebidos para a habitação, contudo deve-se
estende aos quartos de hotéis porque não se mantém neste caso os limites juridicamente
.controláveis da concretização da norma. Aqui não se pode proibir a interpretação extensiva

AULA 10 - 19.11.2020

APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO •


ART. 3º CP: critério para definir a retroatividade no Direito Penal é o momento da
prática do ato. Há retroatividade quando a Lei novo procura regular um facto que ocorreu
.antes da entrada em vigor dessa Lei
Situações de omissão: o momento da prática do ato é o momento em que o agente devia
.ter agido
CRIMES PERMANENTES: o ato não ocorreu num momento instantâneo, mas houve uma >
perfuração no tempo. Nestes casos, se no meio da duração da ação houver uma alteração da
Lei Penal mais grave, aplicar-se-á a Lei Nova, dado que a prática do ato ainda não terminou,
o facto ainda não se consumou. A Lei Novo que vier agravar o crime permanente, abarca todo
.o ato, dado que este está em consumação
CRIMES QUE SE CONSOMEM INSTANTANEAMENTE mas OS EFEITOS >
PERDURAM NO TEMPO: se a agravação da Lei Penal se der quando o crime já se
consumou, mas os efeitos desse crime perduram, a lei mais grave não regulará esse crime.
.Mesmo que os efeitos pedirem, o crime já se consumou
CRIME CONTINUADA (art. 79º): é aplicável a pena mais grave à conduta que integra a >
.continuação

I: CASO 1
a) Momento da efetiva prática da ação criminosa: 8 Novembro 2019
Produção dos efeitos: Outubro 2020 >
Lei Nova: Novembro 2020 >
Lei Nova posterior à produção do resultado típico e posterior à prática da ação prevista >
Verificação do resultado no momento posterior da conduta, mas estamos perante um
crime instantâneo. Regra é a da proibição da retroatividade in pejus (arts. 29º/4 CRP, primeira
parte+ 29º/3 CRP+ art. 1º/1 CP+ 2º/1 CP)- Aplica-se a lei antiga

b) Momento da efetiva prática da ação criminosa: 8 Novembro 2019


Lei Nova: Dezembro 2019 >
Produção dos efeitos: Outubro 2020 >
Lei Nova posterior à prática efetiva mas anterior à produção de efeitos (resultado) - neste >
.caso há retroatividade
Proibição da retroatividade in pejus/malle parte novamente, pelo que se irá aplicar a lei
anterior, independentemente de o resultado morte ocorrer posteriormente à entrada em vigor
.da lei. Aplica-se a lei antiga. - Art. 3º - facto que revele. Critério unilateral da conduta

c) Lei Nova: 7 de Novembro 2019


Momento da efetiva prática da ação criminosa: 8 Novembro 2019 >
Produção dos efeitos: Outubro 2020 >
.Lei Nova anterior a tudo ao momento da prática do ato - aplicação da lei Nova >
.Aplica-se a nova lei dado que é esta lei que se encontra em vigor no momento

CASO 2
Momento da efetiva prática da ação criminosa:10 Outubro 2020 >
Lei Nova: 14 de Outubro 2020 >
Produção efeitos: 15 de Outubro >
Neste caso aplica-se a lei nova porque é mais gravosa. - proibição da retroativida in
.pejus

CASO 3
Momento da efetiva prática do ato: 10 de Novembro >
Nova Lei: 15 de Novembro (agrava) >
Crime permanente: até 16 de Novembro 2020 >
No presente caso estamos perante um crime permanente (houve perduração no tempo
da ação), no meio da sua duração veio uma lei que agrava a pena. Esta pena aplicar-se-á
retroactivamente dado que a prática do ato ainda não terminou no momento da sua entrada
em vigor. Como o ato ainda está em consumação, a Lei Nova abarca todo o ato. Assim,
.Rómulo pode ser punido com pena máxima de 12 anos de prisão
Facto que ocorre na vigência da lei nova, logo é esta que se aplica. Não há proibição de >
.retroatividade

II: CASO 1
.a) Princípio da aplicação da lei mais favorável - arts. 29º/4 CRP e art. 2º/2 e 4 CP
.Arquiva-se o processo >

b) Art. 2º/2, 2ª parte; Cessação oper legis da execução da pena, fundada no princípio da
.retroatividade in bona parte

.c) Art. 2º/4 CP, 2ª parte - neste caso ele pode sair 6 meses mais cedo

.d) Aplicar a lei nova mais favorável

CASO 2
a) À partida é a lei 1 que se deveria aplicar, mas aplica-se a lei de fevereiro 2020 (lei
intermédia)
.Lei posterior ao facto que é mais favorável ao agente >
Aplicação retroativa in melius a leis intermédias >
.Art. 2º/4, 1ª parte - Figueiredo dias razões teológicas e funcionais >

b) Leis temporárias VS Leis de emergência (leis mais graves, mais desfavoráveis


normalmente) - este é um regime especial
Estamos perante uma lei temporária. O art. 2º/3 CP prescreve que quando a lei valer
para um determinado período de tempo, continua a ser punível o facto praticado durante esse
.período, subtraindo aparentemente essas situações à retroatividade in melius
As leis de emergência cabem no art. 2º/3 para FERNANDA PALMA à exceção em
situações em que a situação de emergência se perpetuar no tempo. Nestes casos passa a
.aplicar-se o regime geral do princípio da retroativa mais favorável
Se não fosse exceção à retroatividade in melius tínhamos de aplicar a lei nova que é
mais favorável. Mas como é uma exceção, aplica-se a que estava em vigor na data do facto
.praticado

AULA 11 - 26.11.2020

CASO 3
No presente caso deparamo-nos com uma conduta por parte de Lázaro considerada como
crime, contudo, sucede que no momento em que a mesma é praticada encontrava-se em vigor uma
norma que veio a alterar o artigo 254º do Código Penal, agravando a moldura penal em 1/3 de todos
os crimes de profanação de cadáver cometidos no ano subsequente, no entanto, Lázaro vem a ser
julgado dois anos depois, quando já se encontra em vigor a redação atual do artigo como consta no
.Código Penal
Conduta de Lázaro é considera como crime, mas no momento em que a pratica encontra-se em >
vigor uma norma que veio alterar o art. 254º que agrava a moldura penal em 1/3 de todos os crimes
.de profanação de cadáver cometidos no ano subsequente
.Lázaro vem a ser julgado dois anos depois quando já se encontra em vigor a norma do CP >
Ora, a lei que vem agravar a moldura penal dos crimes de profanação de cadáveres
apresenta-se como uma lei temporária, uma vez que apresenta um prazo de vigência limitado a
um determinado período de tempo, neste caso circunscrevendo-se à prática dos crimes em
causa no ano subsequente à sua entrada em vigor, prazo temporal no qual Lázaro pratica o facto
criminoso. Para que a mesma seja considerada como temporária, a mesma deve ser fundamentada
por uma situação de extrema necessidade, que neste caso, pressupomos que se encontra cumprida,
uma vez que o enunciado nos dá a informação que houve um grande número de subtrações de
.cadáver anterior à entrada em vigor da lei
Sendo assim, diz-nos o art. 2º/3 CP que quando a lei valer para um determinado
período de tempo, continua a ser punível o facto praticado durante esse período, logo, será
aplicada a lei temporária, e não a lei posterior, mesmo que seja mais favorável, uma vez que o
legislador considerou que dado a uma situação de extrema necessidade, os factos praticados
durante o determinado prazo temporal justificavam uma moldura penal mais gravosa, isto é,
não há uma alteração do juízo do legislado sobre a necessidade da pena, simplesmente a situação de
emergência deixou de existir, pelo que não haveria uma violação do princípio da aplicação
.retroativa da Lei Penal mais favorável

.CASO 4
O que sucede no presente caso é que Zeferino pratica um facto, considerado anteriormente )4.1
como criminoso, contudo à data da sua conduta, as normas que a previam como tal tinham sido
revogadas. No entanto, posteriormente a lei revogatória é declarada inconstitucional pelo Tribunal
.Constitucional, sendo Zeferino julgado um mês após esta declaração de inconstitucionalidade
Deparamo-nos com um problema sobre uma norma penal inconstitucional mais favorável,
uma vez que, de acordo com a norma revogatória, a conduta Zeferino não seria considerada
enquanto crime. Analisando o art. 282º/1 da CRP a declaração de inconstitucionalidade produz
efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada inconstitucional, isto é, tem eficácia retroativa
e implica a repristinação das normas que ela haja revogado, isto é, implica, no fundo, que os artigos
372º a 374º do CP nunca tenham deixado de vigorar, disposições normativas estas que implicariam
.a classificação da conduta de Zeferino como criminosa
Embora nº3 desta norma constitucional refira que ficam ressalvados os casos julgados, salvo
decisão contrária do Tribunal Constitucional, quando a norma inconstitucional for de conteúdo
menos favorável ao arguido, não nos resolve expressamente a situação em que a norma
.constitucional é mais favorável
:Parecem surgir duas soluções
De acordo com o Prof. Rui Pereira, tendo em conta que a norma revogada é •
repristinada por força do art. 282º, nunca poderia a norma inconstitucional ser aplicada,
uma vez que o art. 204º da CRP o proíbe. Contudo, tratando-se a norma
inconstitucional de uma norma descriminalizadora, o Prof. defende que deve a norma
repristinada ser aplicada simultaneamente com os arts. 16º/1 e 17º do Código Penal, no que
diz respeito à inconsciência da ilicitude do facto, por erro não censurável, pelo que se
considera que o arguido agiu sem culpa, sendo este o caso, uma vez que na altura em que
;Zeferino agiu a sua conduta não era considerada como crime
Já para a Prof. Maria Fernanda Palma, a lei a aplicar deveria ser a •
inconstitucional por ser mais favorável ao arguido, respeitando o art. 2º/1 CP, no que diz
respeito à leis vigente no momento da prática do facto. Tutelando, assim, não só os
princípios da culpa e da segurança jurídica, uma vez que no momento da conduta de
.Zeferino, este não estava ciente da ilicitude da sua conduta

)4.2
Neste caso, Zeferino ao praticar o facto tinha consciência da ilicitude do mesmo, uma vez
que a conduta se deu antes da entrada em vigor da lei inconstitucional, isto é, a leu que revogou os
.arts. 372º a 374º do CP
:Sendo assim, parecem, manter-se duas soluções distintas à semelhança do caso anterior
De acordo com o Pro. Rui Pereira continuar-se-ia não aplicar a norma •
inconstitucional, sendo aplicada a norma repristinada, isto é, a norma que se
encontrava em vigor à data do facto. Contudo, neste caso não haveria necessidade de
tutelar nenhuma expectativa, uma vez que a mesma se formou ao abrigo da norma
incriminadora, uma vez que a norma mais favorável inconstitucional é posterior ao
;facto
Já para a Prof. Maria Fernanda Palma aplicar-se-ia, ainda assim, a •
norma inconstitucional, desta vez pelo art. 2º/2 do CP, de acordo com o princípio da
aplicação retroativa de lei penal posterior mais favorável. Fundamentando-se a aplicação do
preceito inconstitucional pelo princípio da igualdade, uma vez que imagine-se que um outro
arguido tivesse praticado o mesmo facto na mesma data que Zeferino, mas tivesse sido
julgado anteriormente à declaração de inconstitucionalidade, teria sido absolvido e o caso
.ressalvado, pelo art. 282º/3 CRP

CASO 5
Crime abstrato: neste caso aplica-se a lei >

CASO 6
Crime duradouro: consome-se quando a vitima é libertada (19 de Maio) aumento dos limites )6.1
.máximo da moldura penal no dia 14 de Maio
)6.2
a) Não era preenchido. A lei nova era prejudicial, proibição in pejus. Aplicação art. 2º/1
)b
)c
)d

)6.3
)6.4

APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO •


A aplicação da lei no espaço baseia-se em diversos princípios que não assumem todos
eles igual hierarquia. Existe antes um princípio-base e princípios acessórios ou
.complementares

PRINCÍPIO-BASE DA TERRITORIALIDADE: a lei penal portuguesa é aplicável aos factos


praticados em território português, seja qual for a nacionalidade do agente (independente da
nacionalidade do agente) e salvo convenção em contrário. Este princípio vem consagrado no
art. 4º, al. a) CP. Assim, o Estado aplica o seu direito penal a todos os factos penalmente
.relevantes que tenham ocorrido no seu território

:RAZÕES QUE JUSTIFICAM O PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE COMO REGRA


Facilitará em maior medida a harmonia internacional, o respeito pela •
;não ingerência em assuntos de Estados estrangeiros
É a comunidade onde o facto teve lugar que viu a sua paz jurídica a ser •
;perturbada
O lugar do facto é o lugar onde melhor se poderá investigá-lo e fazer •
melhor a sua prova, pis é neste lugar que existem mais fundadas expectativas de que se
.possa obter uma decisão judicial justa

SEDE DO DELITO - lugar da prática do ato


De acordo com o art. 7º/1, o facto considera-se praticado tanto no lugar em que, total
ou parcialmente, e sob qualquer arma de comparticipação, o agente actuou (ou devia ter
actuado em casos e omissão) como naquele em que o resultado típico ou o não resultado
compreendido no tipo de crime se tiver produzido - CRITÉRIO BILATERAL
ALTERNATIVO: (teoria da ubiquidade) basta que qualquer um desses factos (dois elementos
:essenciais do tipo objetivo - ação e resultado) se dê em Portugal
;Ou o critério da conduta: relevância da conduta •
.Ou critério do resultado típico: relevância ao resultado •
Este critério não se poderá aplicar apesar de se ter produzido um resultado em
território português quando, por força do critério da aplicação no tempo, o facto não seja
punível por não estar previsto em lei anterior à realização da ação em território estrangeiro.
As regras dos arts. 2º e 3º CP, por força do art. 29º/1 CRP, aplicam-se independentemente do
.princípio da ubiquidade
:No art. 7º existem duas conexões
O local onde se produziu o resultado não compreendido no tipo crime •
respeita aos chamados crimes tipicamente formais mas substancialmente material que
atingem a consumação típica sem que todavia se tenha verificado ainda a lesão, os
crimes de atentado embora pressuponham um resultado que transcende a factualidade
típica, se consumam no estádio da tentativa e os resultados agravantes nos crimes
.agravados pelo resultado
Em caso de tentativa: a doutrina tem entendido que neste art. 7º/2 cabe •
também a mera possibilidade de ocorrência do dano em território português dado que
a tentativa é crime de perigo concreto (põe em causa a segurança dos bens e a
confiança no Direito) e que os crimes de perigo concreto são crimes de resultado. Para
FIGUEIREDO DIAS, é estranho considerar-se como local da prática do facto o lugar
.onde o facto não chegou efetivamente a praticar-se

CRIMES CONTINUADOS (art. 30º/2): uma pluralidade real de factos (ocorridos em países >
diferentes) é considerada uma unidade normativa, juridicamente. Para efeitos do art.7º basta
.que um dos factos se encontre abrangido pelo princípio da territorialidade
COMPARTICIPAÇÃO: está também abrangida no art. 7º factos que se verifiquem em >
Portugal mas a comparticipação tiver lugar no estrangeiro e vice-versa. Relativamente às
:formas de comparticipação, previstas nos arts. 26º e 27º CP, temos, respetivamente
Autoria (art. 26º): abrange situações em que o autor executa o crime •
pelas próprias mãos (material), age em colaboração com outro agente (coautoria) e
.uma pessoa determina dolosamente outra pessoa à prática de um crime (instigação)
:Cumplicidade (art. 27º) •
DELITOS ITINERANTES ou DE TRÂNSITO: factos que pelo seu modo específico de >
execução se põe em contacto com diversas ordens jurídicas nacionais. Certa doutrina entende
também aqui que qualquer das ordens jurídicas contactadas se torna aplicável em nome do
.princípio da territorialidade

CRITÉRIO DO PAVILHÃO: é um alargamento ao princípio da territorialidade e que


pacífica com os factos cometidos em território português os que tenham lugar a bordo de
.navios ou aeronaves portuguesas
Todavia, parece dever-se entender que sempre que o navio ou aeronave estejam surtos
em porto ou aeroporto de país diferente do do pavilhão, isso não retira competência à lei do
.lugar em nome do princípio-base da territorialidade

PRINCÍPIO COMPLEMENTAR DA NACIONALIDADE: Há critérios complementar que


atribuem competência aos tribunais de Portugal (princípios subsidiários ou complementares)
que são aplicados quando o art. 4º não atribua competência aos tribunais portugueses (art. 5º
- as alíneas não são de verificação cumulativa. Basta que se preencha uma alínea para se
.aplicar este critério)
:ART. 5º/1, al. b) e e) - está presente o princípio da nacionalidade e tanto releva
Vertente ativa: máxima internacionalmente reconhecida da não •
extradição de cidadãos nacionais em factos cometidos por um nacional no estrangeiro.
Como não os extraditamos princípios de convivência internacional devem conduzir a
que o Estado nacional os puna, pois eles encontram-se de novo no país da
.nacionalidade
Vertente passiva (vítima): é necessário que tenha sido o facto praticado •
contra cidadão português
ALÍNEA B): serve para impedir a imputabilidade dos casos em que um português se dirige a
um estrangeiro para cometer o facto que ainda lícito segundo a lei local, é um crime segundo a
.lei nacional
TAIPA DE CARVALHO - aplica-se esta alínea quando o agente português se tenha deslocado
.ao território estrangeiro com a intenção de praticar o crime
FIGUEIREDO DIAS - também se aplica nos casos onde não há essa intenção ou que não
.conhecem a lei estrangeira

ALÍNEA E): é aplicável a lei penal portuguesa afaçamos cometidos fora do território
português por portugueses (princípio da personalidade ativa) ou por estrangeiros (princípio
:da personalidade passiva). Esta alínea requer o preenchimento cumulativo de 3 requisitos
;Os agentes serem encontrados em Portugal •
Os factos forem puníveis pela legislação do lugar em que tiverem •
;praticado o facto, salvo se nõ se exercer poder punitivo nesse lugar
Os factos constituirem crime que admita extradição e esta não possa ser •
.concebida ou seja decidida a não entrega do agente

:PRINCÍPIO COMPLEMENTAR DA DEFESA DOS INTERESSES NACIONAIS


:PRINCÍPIO COMPLEMETAR DA UNIVERSALIDADE

PRINCÍPIO COMPLEMENTAR DA ADMINISTRAÇÃO SUPLETIVA DA JUSTIÇA


PENAL: segundo a alínea f) a lei penal portuguesa será aplicável a factos cometidos por
:estrangeiros no estrangeiro desde que se cumpram 3 requisitos
;O agente seja encontrado em Portugal •
;A sua extradição haja sido requerida •
O facto praticado constitua um crime que admita extradição e esta não •
.possa ser concedida ou seja decidida a não entrega do agente

A alínea g) refere-se a crimes praticados por pessoas colectivas e tem por objetivo
.evitar que as empresas se sedem em Portugal para escapar à criminalização

CASO 1
A aplicação da lei no espaço baseia-se em vários princípios. Contudo existe uma )1
hierarquia entre eles, sendo o princípio-base o da territorialidade. Segundo este, a lei
portuguesa é aplicável a factos ocorridos em Portugal (art. 4º, al. a)). Este princípio é
independente da nacionalidade. Aquando da prática do crime, Paolo encontrava-se em
território espanhol, sendo Espanha o lugar da prática do crime (art. 7º), pois foi em Espanha
.que o agente actuou
Segundo este art. existe um critério bilateral alternativo (teoria da ubiquidade),
segundo o qual basta que a ação ou o resultado se verifique em território português para que
a lei penal portuguesa seja aplicada ao agente. No presente caso, tanto a ação com o resultado
se verificaram em Espanha e, por isso, Paolo, em princípio, não poderá ser punido pelo art.
220º/1, al. a)) do CP português, tende antes de ser punido pelo CP de Espanha com uma pena
.de prisão até 9 meses
No entanto, quando o art. 4º não atribui competência aos tribunais portugueses, são
aplicados os princípios complementares/subsidiários do art. 5º. Apesar do facto se considerar
praticado fora do território português (em Espanha), os tribunais portugueses serão ainda assim
.competentes. Teremos então que analisar as alíneas do art. 5º
No presente caso, estamos perante o princípio complementar da administração supletiva da
justiça penal dado que estamos perante um facto cometido por um estrangeiro (Paolo que é
italiano), que foi encontrado em Portugal (al. e diz-nos que foi detido em Portugal a 1 de Jan 2019)
e cuja extradição foi requerida (al. f) o estado espanhol requer a entrega de Paolo). Trata-se também
de um crime que admite extradição. Os requisitos do art.5º al. f) estão cumpridos, não há convenção
em contrário e por isso a lei penal portuguesa é ainda aplicável a este caso em que o facto foi
.cometido fora do território português
A aplicação do art. 6º pressupõe a aplicação do art. 5º. Não estamos perante nenhuma das
hipóteses do art. 6º pois o agente ainda não foi julgado no país da prática do facto (em Espanha)
.nem a lei mais favorável ao agente é a lei espanhola
Deste modo, Paolo será punido numa pena de prisão até 6 meses, de acordo com o art.
.220º/1, al. a) CP

AULA 12 - 02.12.2020

)INÍCIO IGUAL AO DE CIMA( )2


Passa-se para a verificação das alíneas do art. 5º, dado serem princípio
supletivos/complementares, aplicando-se ainda a lei penal mesmo que a prática do facto tenha
.ocorrido em território estrangeiro
No presente caso, é-nos dito que Bolatraf estava de férias em Espanha e que reside há 10
anos em Portugal, só lhe sendo atribuída nacionalidade portuguesa dia 31 de Dezembro de 2018,
.um dia depois da prática do facto
Podemos estar perante a alínea e) do art. 5º dado que o facto foi praticado por um
estrangeiro contra um português que acabar de adquirir nacionalidade. Para alem disso, os
pressupostos deste artigo estão cumpridos: o agente foi encontrado em Portugal, segundo a al. b)
.os factos também são punidos no lugar onde o facto foi pratica e o crime admite extradição
OU
Não adquiriu nacionalidade e por isso a lei aplicável será a lei espanhola quanto ao crime de ofensa
.à integridade física

Taipa de carvalho - mesmo não tendo sido feito o pedido de extradição ou o pedido de >
)entrega, pode-se aplicar a alínea f
Mandado - art. 2º 4 meses no caso de pena, 12 meses no caso de procedimento criminal
;Pena não inferir a 12 meses (pena até 5 anos) >
nº2 - casos em que dispensam dupla incriminação >
Neste caso estamos no caso do nº2, al. o), logo o crime tem de ser punido tanto em portugal >
.como em espanha
.Não execução obrigatória 12º, al. g) - no caso de o caso não estiver nos arts. 2º >
.)Não é recusa facultativa dado que estamos no âmbito do art. 12º, al. g >
Aplicação da lei penal portuguesa >

CASO 2
CRIME DE FURTO DE DIAMANTES
A aplicação da lei no espaço baseia-se em vários princípios. Contudo existe uma
hierarquia entre eles, sendo o princípio-base o da territorialidade, consagrado no art. 4º/1 CP.
Segundo este, a lei portuguesa é aplicável a factos ocorridos em Portugal (a)). Este princípio é
independente da nacionalidade. Aquando da prática do crime, I encontrava-se na Grécia,
.sendo este o lugar da prática do crime, para efeitos do art. 7º
Segundo este artigo existe um critério bilateral alternativo (teoria da ubiquidade),
segundo o qual basta que a ação ou o resultado se verifique em território português para que
a lei penal portuguesa seja aplicada ao agente. No presente caso, tanto a ação com o resultado
.se verificaram na Grécia
)Alínea e >
por portugueses •
legislação da grécia (supostamente sim) •
Noruega é que requer a extradição •
extradição de um nacional - é em regra proibida (neste caso no momento em •
que é tomada a decisão sobre a extradição ele não era português. Logo poder-se-ia extraditar
I - verificar art. 31º Lei 144/99 (dupla incriminação) 31º/3 (Noruega, competência do estado
norueguês ver o crime)

Alinea b) ou alínea e) - consoante haja ou não frades à lei


Se se aplica-se a al. e) - não era válido o pedido pt não pode extraditar, caso 33º/3 e 6º/al. e) lei >
144/99

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