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eles eres Py DOK: 10.56908/cuadv16n1-067 EDUCACIO secre ia Dey lite) ‘Acaitagao para publicagao: 17/01/2024 Natureza e cultura: um estudo da experiéncia-perceptiva no Quilombo Lagoas/Comunidade Lagoa do Moisés - Piaui Nature and culture: a study of perceptual-experience in the Quilombo Lagoas/ Lagoa do Moisés Community — Piaui Maria da Vitéria Barbosa Lima Doutora em Histéria pela Universidade Federal de Pernambuco Instituigéo: Universidade Estadual do Piaui Enderego: R. Joao Cabral, Piraja, Teresina - Pl, CEP: 6402-150 E-mail: mariavitoria.lima@srn.uespi.br Luciano Silva Figueirédo Doutor em Ciéncias Instituig4o: Universidade Estadual do Piaui Endetego: R. Jodo Cabral, Piraja, Teresina - Pl, CEP: 64002-150 E-mail: lucianosilva@pcs.uespi.br Fagner de Sousa Araujo Mestrando em Sociedade e Cultura Instituigdo: Universidade Estadual do Piaui Enderego: Praga Firmina Sobreira, s/n, Matinha, Teresina - Pl, CEP: 64002-450 E-mall: fagnerdesousaaraujo@aluno.uespi.br Samara Kassya de Oliveira Almeida Especialista em Satide Mental e Atengao Psicossocial Instituigdo: Universidade Estadual do Piaui Enderego: Praga Firmina Sobreira, s/n, Matinha, Teresina - Pl, CEP: 64002-450 E-mail: samarakassyadeoliveiraalmeida@cte.uespi.br Brenda Maria Vieira Mendes Mestranda em Sociedade e Cultura Instituigdo: Universidade Estadual do Piaui Enderego: Praga Firmina Sobreira, s/n, Matinha, Teresina - Pl, CEP: 64002-450 E-mail: brendamvieiram@aluno.uespi.br Natanael Soares Pereira Mestrando em Sociedade e Cultura Instituigao: Universidade Estadual do Piaui Enderego: Praga Firmina Sobreira, s/n, Matinha, Teresina - PI, CEP: 64002-450 E-mail: natanaelsoarespereira@aluno.uespi.br (CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 flees ores EDUCACION Y DESARROLLO Karla Aratijo de Andrade Leite Mestranda em Sociedade e Cultura Instituigdo: Universidade Estadual do Piaui Enderego: Praca Firmina Sobreira, s/n, Matinha, Teresina - Pl, CEP: 64002-450 E-mail: karlaaraujodeandradeleite@aluno.uespi.br Rodolfo de Sousa Pereira Especialista em Ciéncias Humanas e Sociais Aplicadas e o Mundo do Trabalho Instituigdo: Universidade Estadual do Piaui Enderego: Praga Firmina Sobreira, s/n, Matinha, Teresina - Pl, CE E-mail: prof.rodolfo88@gmail.com RESUMO O presente artigo se propée refletir a relaco entre natureza e cultura no Quilombo Lagoas - Piaui, a partir de tés elementos, Agroecologia, Espiritualidade e Festividade, em uma experiéncia-perceptiva. Neste pressuposto foi observado e entrevistado moradores da comunidade Lagoa do Moisés acerca do modelo de perspectiva agroecoldgica para a agricultura, além de ser pautado a espiritualidade em suas miltiplas formas de expressao na localidade, assim como as festividades comuns que fazem parte do cotidiano das pessoas pertencentes ao territério, Utilizou-se as técnicas da historia oral, da observacdo participante, das entrevistas e de registros fotograficos. Para o embasamento tedrico usou-se as contribuigdes de Miguel Altieri (2004), Caporal e Costabeber (2004), dentre outros. Este estudo contribui com as pesquisas sobre povos e comunidades tradicionais, na compreensao de seus conhecimentos agricolas, bem como no combate aos preconceitos as diversidades da religiosidade/espiritualidade. Palavras-chave: _agroecologia, espiritualidade, festejos, sustentabilidade, comunidade quilombola. ABSTRACT This article proposes to explore the relationship between nature and culture in Quilombo Lagoas, Piaui, through three elements: Agroecology, Spirituality, and Festivity, in a perceptive-experience. In this study, residents of the Lagoa do Moisés community were observed and interviewed about the agroecological perspective for agriculture,as well as the various forms of spirituality expressed in the locality, and the common festivities that are part of the daily lives of the people in the territory. The techniques of oral history, participant observation, interviews, and photographic records were used. The theoretical basis for this study included the contributions of Miguel Altieri (2004) and Caporal and Costabeber (2004). This study contributes to research on traditional peoples and communities; by enhancing the understanding of their agricultural knowledge and by fighting against prejudices towards the diversities of religiosity/spirituality CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 127 ae flees ores EDUCACION Y DESARROLLO Keywords: agroecology, spirituality, festivities, sustainability quilombola community. 41 INTRODUGAO, A proposta deste artigo ¢ refletir a relagdo entre natureza e cultura no Quilombo Lagoas, Piaui, a partir de trés elementos: agroecologia, espiritualidade e festividades -, uma vez que quando se trata de povos e comunidades tradicionais elas estéo intimamente relacionadas. Percebemos o uso de estratégias ao mesmo tempo simples e complexas dentro da comunidade Lagoas, além de serem praticas, que partem da propria experiéncia dos quilombolas, como fruto da oralidade, da ancestralidade, da preservaco de conhecimentos e saberes, num processo de educagao ndo-formal transmitida de geracao em geracao. Tendo em conta o potencial produtivo dos moradores do Quilombo Lagoas, no que diz respeito a agricultura familiar, principalmente nos periodos das chuvas e suas manifestagdes culturais; surgiu o interesse de conhecer as formas de boas praticas e bem viver no territério, sendo que este exercicio pode auxiliar na mentalidade do novo paradigma de agricultura, como de agao- movimento social que envolve a experiéncia dos sujeitos de comunidades quilombolas. Através da observagao, das entrevistas e dos registros fotogréficos foi possivel percebermos variadas formas de expresso da agricultura; encontramos hortas individuais, quintais produtivos, rogas de variadas culturas, para a produgéo de alimentos num sistema de agricultura familiar numa perspectiva quilombola (que outros identificam como agroecolégica) sustentavel e integrada. A agroecologia no tempo atual tem sido uma preocupagao nao somente de camponeses, mas de pessoas de areas urbanas interessadas em uma melhor qualidade de vida, satide e produtividade. O que se constatou foi uma preocupagao dos moradores do Quilombo Lagoas com 0 meio ambiente, uma vez que sofrem ameaca, por conta de uma mineradora, que tenta a todo modo CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 ae flees ores EDUCACION Y DESARROLLO se instalar no tertitério para a extragdo de matéria prima. Fato que tem preocupado os moradores, tendo em conta as consequéncias a curto e longo prazo. A espiritualidade e religiosidade ¢ outra esfera que foi contemplada na vivéncia perceptiva endégena no ambiente (Comunidade Lagoa do Moisés), pois os seres humanos sendo seres bio-psiquico-social, abrem espaco para dimensées como o aspecto espiritual, quanto a uma capacidade introspectiva que se exterioriza e vice versa, de conectividade com a natureza, com seres (extraffisicos, pois 0 ser (humano) é parte integrante da mae natureza, e ndo algo exégeno a ela. E com a divindade, neste referente Deus, torna-se fundamental, pois neste pressuposto de mentalidade é possivel ter e manter um relacionamento com uma mente superior, espiritual, capaz de se manifestar € ser manifestado (Almeida, 2020). Outro aspecto que constatamos ¢ a importancia das festividades que podem ser notadas tanto no Ambito rural como urbano, principalmente as ligadas a colheita ou a agricultura, ndo se restringindo somente ao aspecto religioso, mas também a esfera sociocultural. As festas da Comunidade Lagoa do Moisés esto relacionadas ao aspecto de produgdes do cotidiano e divertimento, a religiosidade local e a agricultura. Neste intuito, acreditamos que agricultura quilombola, espiritualidade e festividades podem ser esferas que se refletem o tipo de sociedade e cultura de um lugar, e para isto, se faz necessario considerarmos como as experiéncias e percepgdes de sentido e significado da comunidade que sera abordada. A palavra experiéncia, de acordo com Bondia (2002), é de origem latim que significa experiri ou provar Jexperimentar nos remetendo a ideia de encontro/relagao ou mesmo de travessia e perigo. A terminologia ¢ polissémica, mas neste estudo é apresentada como um acontecimento externo capaz de fazer jungo do préprio individuo com o objeto que se passa na relacao. Conforme o autor Larrosa (2011), experiéncia ¢ uma espécie de material ou “ferramenta” que serve aos seres humanos para adentrarem e examinarem em uma continuidade a natureza, nao simplesmente contemplar o que existe na oUNo) as Noscto a tole ele An soc eke ott RA ee ae flees ores EDUCACION Y DESARROLLO natureza, mais sentir-se parte dela, completando e se aproximando-a. No mesmo sentido, Jonh Dewey (2010), afirma que experiéncia ¢ uma fase da natureza, sendo que nesse fenémeno ocorre interacdo entre sujeito e ambiente, abrindo espaco para modificagéio, Em complemento, 0 mesmo autor diz que “uma experiéncia é sempre o que é por causa de uma transagao acontecendo entre um individuo e o que, no momento constitui seu ambiente” (Dewey, 2010, p. 45), Isso mostra que experiéncia, de fato, é um fenémeno do mundo externo, como algo que se estabelece sob forma de transagao ou transigao entre um individuo e seu ambiente. A experiéncia como extensdo da vida é parte da natureza e isso supde a ideia de acontecimento ou movimento, ou de maneira direta, a um passar algo que no sou eu. Mas que se vivencia ou percebe-se por meio dos sentidos da visdo, adigao, olfato, paladar, tato, ou percepgao para além disso, o que nos passa, acontece € toca. Reforgando a colocagao, Jorge Larrosa revela: [..1 2 exporiéncia supoe, em primeiro lugar, um acontecimento ou dito de outro mado, 0 passar de algo que néo sou eu [..] "Que nao sou eu" significa que aquilo que eu digo, do que aquilo que eu sinto, do que eu ppenso, do que antecipo, do que eu passo, do que eu quero. Nao ha experiéncia, portanto, sem a aparieao de alguém, ou de algo, ou de um isso, de um acontecimento em defintivo [..] que nao esté no lugar que lhe dou que esté fora de lugar (Larrosa, 2011, p. 5-6). Compreendendo que fazemos parte de um mundo de coisas e pessoas as quais formam a natureza, e que a todo instante sofremos influéncias quer boas ou ndo, saber a significagdo da palavra experiéncia abre acesso para mais questionamentos acerca do tema abordado, Contudo, para termos esse acontecimento ou movimento denominado de experiéncia, exige-se a presenca de outro agente para intercalar a interagdo com o ambiente. Nao somos ménadas autossuficientes, que néo produzem qualquer feito uns sobre 0s outros, excato um retlexo, Sofremos a agto dos outros homens, modificando por bem ou por mal; @ somos agentes que afetamos os outros de diferentes maneiras. Cada um de nds é o outro para os outros. O homem é um paciente-agente, agente paciente interexperienciando e interagindo com seus semelhantes (Laing, 1978, P.23) CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 arid ae flees ores EDUCACION Y DESARROLLO Mas conforme Almeida (2020), as percepgdes podem ser originadas por influéncias de seres extrafisicos, mas também de formas animicas germinadas da mente inconsciente sob imagens reverberadas no encéfalo. E ainda de acordo com Alexander Moreira de Almeida (2020), possuimos a sensopercepgao que ¢ constituida da imaginagao, de ilusdes, distorgées, percepgo do real, alucinagées, mas além destes tipos elencadas de percepcdo, temos a percepcao sensorial, introspectiva de uma visao retrospectiva, acerca da ponderagao de certo contexto ou coisas acontecidas, e é este o tipo que acreditamos ser oportune a0 evocarmos a experiéncia perceptiva vivenciada in loco. Mas conforme Almeida (2020), existe a percepgao espiritual, pelo pensamento, escuta de vozes, visdes astrais e psicofonia. 2 NATUREZA E CULTURA NA COMUNIDADE LAGOA DO MOISES A sociedade na concepgao universal de Viveiros de Castro, possui um sentido geral e outro particular, podendo ser entendido num viés biolégico e instintivo e como representagdes morais ou institucional. Algo constitutive da natureza dos seres humanos. E em sentido mais centrado, a sociedade se refere a um grupo, uma coletividade humana voltado a jungao de pessoas em uma determinada sistematizagaio. Nesta conjuntura, pode-se se pensar em uma sociedade una e miltipla quanto a sua conceituagao. Sendo, portanto, uma terminologia polissémica assim como o conceito de cultura (Viveiros de Castro, 2002). Para Simmel, 0 conceito de sociedade mesmo sendo abstrato, pode ser entendida como um fluxo de ligago de: [...] uns aos outros pela influéncia mitua que exercem entre si e pela determinagao que exercem uns sobre os outros. Mas a sociedade & também algo funcional, algo que os individuos fazem e sofrem ao mesmo tempo, ¢ que, de acordo com esse caréter fundamental, nao deveria falar de sociedade, mas de sociagao. Sociedade é, assim, somente 0 nome para um circulo de individuos que estao, de uma maneira determinada, ligados uns aos outros por efeitos das relagdes mdtuas, e por isso podem ser caracterizados por uma unidade ~ da mesma maneira que se considera uma unidade um sistema de massas corporais que, em seu comportamento, se determinam plenamente por meio de suas influéncias reciprocas (Simmel, 2006, p. 18). CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 ae flees ores EDUCACION Y DESARROLLO No que se refere a cultura, na concepgao que escolhemos, esta ndo se distancia da natureza, estando entrelagadas, sendo algo proprio do ser humano, em contato entre seus semelhantes, plantas, animais e outras formas consciéncias (Viveiros de Castro, 2002). Mas parte da cultura se materializa em produtos, nos costumes, habitos, comportamentos, crengas, instrumentos, dentre outros aspectos de uma realidade social, isso numa visdo de sociedade como uma totalidade. No entanto, 0 conceito ¢ muito mais complexo e amplo, pois n&o envolve somente a materialidade, tem outras coisas de constituigao imateriais (Santos, 2006). Porém, isso abre uma lacuna para pensarmos que cultura nao se restringe somente a produtos da erudico ou inteligéncia humana E isso implica que existe variados tipos de cultura e natureza. Assim, pressupde que 0 espectro de sociedade e cultura para povos agrafos e tradicionais ser pensado de maneira diferente tendo em vista os modos de viver e produzir os meios culturais proprios das pessoas constituintes de determinado territorio. Mas podemos entender a natureza como parte da cultura, pois somos seres culturais e na percepgao de Eduardo Viveiros de Castro, na teoria amerindia do perspectivismo, a natureza esta atrelada a cultura, sendo partes entrelacadas de uma sociedade, abrindo espaco para uma multiplicidade de olhares. Ou seja, nesta percepcao teérica ao ver o outro a partir do olhar de si, todos se veem, ¢ neste sentido, todos os seres tém consciéncia e na ética do muitinaturalismo, as consciéncias s4o multiplas e podem perceber entre si, a0 passo que todas as relagdes sao sociais, todos os seres interagem entre si e outras espécies além do homem sao sociedades. Neste aspecto, a natureza é percebida de miltiplas formas, assim como os variados tipos de sociedades (Viveiros de Castro, 2002). De acordo com Macédo (2021, p.19), as comunidades quilombolas tem mantido “o forte sentimento de pertencimento, de territorialidade, de respeito & natureza, o espirito cooperative e a riqueza dos conhecimentos tradicionais” [..].08 quilombos se organizavam pela categoria hoje em voga de ‘sustentabilidade. Utilizando materiais biodegradaveis para a construgo de cabanas, e de pesca, da caca e de coleta de frutas em sua dieta, os afficanos @ affo-brasileiros comegaram a organizar CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 ae flees ores EDUCACION Y DESARROLLO comunidades de resisténcia ao sistema colonial escravista. O uso comum da terra e uma referéncia territorial coletiva S80 marcas fundamentais de sua cauterizacao quilombola, desde o passado até os dias atuais (Souza, 2012, p. 72), Conforme Macédo (2021, p. 22), a pluralidade brasileira se reflete nas diversas existéncias de sociedades, qual podemos citar os quilombos, que sao entendidos pela autora como “comunidades tradicionais, que se caracterizam pela forte relagdo estabelecida com seu territério, com sua cultura e com os conhecimentos de seus ancestrais”. Os quilombos como forma de sociedade, historicamente tem um legado de luta e resisténcia, sendo formados por pessoas, que “desde 0 processo de colonizagao, esses sujeitos ja teciam lutas e resisténcias contra as formas de opressdo introduzidas pela modernidade/colonialidade, as quais se constituem juntamente com 0 processo de escravidao primeiramente dos “indios’ e posteriormente das nag6es africanas J’ (Barbosa, 2020, p. 65). A comunidade em que se realizou o estudo de campo foi Lagoa do Moisés, que faz parte do territério quilombola Lagoas, que é formado por 119 comunidades. O Territério Quilombola esta localizado no sudeste piauiense, na regido da caatinga, e sua extensdo abrange 6 (seis) municipios: Sao Raimundo Nonato, Sao Lourengo do Piaui, Fartura do Piaui, Bonfim do Piaui, Dirceu Arcoverde, e Varzea Grande. Estima-se que o territério tenha uma abrangéncia de 60 hectares de terra, um quantitativo de 1500 familias (Santos, 2022). Segundo umas das liderangas comunitarias, chamada Carla Pereira Pindaiba, a comunidade tem o nome de Lagoa do Moisés pois, [...]a.comunidade gerou através de um andarilho, era um local deserto, 16? E ai segundo o pessoal disse que tinha um andarilho que tava passando, né? E tem, sempre tem a lagoa, né? Por isso que & 0 quilombo Lagoas, @ Lagoa do Moisés, a Lagoa das Ema é a Lagoa Grande, [... Tudo é lagoa. E préximo de uma lagoa aqui tem uma, [..] uma arvore @ da pra ficar, apoiar, né? Se se tranquilizar e descansar. E esse andarilho foie ficou, possou, té, debalxo dessa arvore e ficou e ficou ¢ l&, ele ficou até que debilitou ¢ velo a felecer. E se chamava ‘Mbois6s, ai, foi colocado o nome daqui de Lagoa do Moisés, que a lagoa foi onde tinha 0 pé de arvore € o andarilho veio a falecer, né? .... Aico primeiro morador daqui foi .. 0 Ziferino, & que é 0 nome dessa escola que era o meu bisav6 (Pindaiba, 2023), CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 1280 ae flees ores EDUCACION Y DESARROLLO E dona Cida (Maria Aparecida Marques), moradora e lideranga local, faz um relato muito semelhante ao que Carla Pindaiba menciona quanto a origem do nome da comunidade dizendo que: E por que andando Ié, anos, eras atrés, quando tinha pouca gente no mundo, nas comunidades, andava um andarilho no mundo, veio se apossou ai, bem na lagoa que tem pra aii, © ali morreu lé mesmo, ai disse que chamava Moisés, ai os pessoal ficaram chamando lagoinha do Moisés (Marques, 2023) Isso mostra que os moradores compartilham da memoria coletiva que envolve a comunidade, sendo uma maneira de expressar a identidade e a histéria local. Mas, embora seja importante evocar a histéria do local, segundo seu Claudio Teéfilo Marques, outra lideranga local, é preciso reconhecer a importancia do quilombo. & preciso conhecer o passado histérico que remota ao contexto do periodo colonial, onde seus descendentes foram submetidos a opressdo e ao trabalho escravo na Fazenda Sao Vitor. 3 AGROECOLOGIA E SUSTENTABILIDADE Partindo das dificuldades, anseios de produtividade e qualidade de vida do tempo real, @ agroecologia tem sido pensada como novo paradigma e uma nova ciéncia para alguns, como pesquisadores, cientistas contemporaneos. Miguel Altieri, sobre a agroecologia corrobora dizendo que: trata-se de uma nova abordagem que integra os principios ‘agronémicos, ecolégicos © socioeconémicos & compreenséo @ avaliagao do efeito das tecnologias sobre os sistemas agricolas © 2 sociedade como um todo. ela utiliza os agroecossistemas como unidade de estudo, ultrapassando a viséo unidimensional — genética, agronomia, edafologia — incluindo dimensdes ecolégicas, sociais & culturais (Altieri, 2004, p.23), De acordo com as palavras do autor, a agroecologia se apoia em diversos campos do conhecimento multidisciplinar, sendo repertério teérico transversal nas cléncias e interdisciplinar por interagir entre diversos campos do saber cientifico. No entanto, é pertinente as comunidades rurais e urbanas por incluir CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 ea) ae flees ores EDUCACION Y DESARROLLO dimensées ambientals, culturais, politicas, econémicas, éticas e sustentaveis (Caporal; Costabeber, 2004). No modelo de producao agroecolégica, é empregado o exercicio da agricultura levando em conta principios, como a preservagao e conservago dos recursos naturais, a manutengéo e manejo equilibrado da biodiversidade, a instalagdo de agroecossistemas como sistemas que amplia e conserva a diversidade cultural das espécies de plantas nativas e silvestres além de ser mecanismo sistematico de produgao de alimentos (Altieri, 2004). Nesta perspectiva, © conhecimento das pessoas do local sobre o ambiente, a vegetacao, os animais e solos pode ser bastante detalhado. O conhecimento camponés sobre os ecossistemas geralmente resulta em estratégias produtivas multidimensionais de uso da terra, que criam, dentro de certos limites ecoléaicos e técnicos, a auto-suficiéncia alimentar das comunidades em determinadas regides (Altieri, 2004, p. 26). Neste sentido, a agroecologia é interessante, pois nao despreza a diversidade cultural local de espécies, além ser uma estratégia que parte da comunidade local, valorizando o iécus de experiéncias, capaz de subsidiar os novos estilos de agricultura sustentavel, como influenciar as novas geracées. Os quilombolas da Lagoa do Moisés detém determinados saberes que foram ancorados em sua vivéncia cotidiana, repassados por seus ancestrais benéficos ao padrao agroecolégico como um conhecimento que pode e deve ser agregador de transformagdes das sociedades numa mentalidade transcendente de ligagao do sujeito parte da natureza. Ressaltamos que 0 modo de produgdo da comunidade advém em sua maioria do trabalho da lida na roga, onde se encontra a produgao de alimentos das familias quilombolas, esse plantio de alimentos serve para o consumo, e 0 seu pouco excedente € comercializado nas cidades vizinhas, como Sao Raimundo Nonato. Cultivo realizado com mao de obra familiar e que requer terra para desempenhar esse trabalho: ‘A busca por um pedago de terra para constituigao de rogas é vista na historiografia brasileira como uma marca pela luta de autonomia escrava frente aos seus senhores. As rocas potencializariam nao 86 @ CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 ayrd ae flees ores EDUCACION Y DESARROLLO subsisténcia da escravaria das fazendas, mas também a possibilidade, com a venda do excedente da produgo, do actimulo de recursos. (Sousa, 2015, p. 102) Terra para plantar, terra para viver, luta constante das comunidades quilombolas, sobretudo para 0 Quilombo Lagoas que ndo possui a titulagdo de sua terra, E percebemos que na comunidade Moisés a perspectiva da agroecologia se manifesta de diversas formas, se expressa por meio de um conjunto de praticas agroecolégicas, se refletindo na maneira de fazer e cuidar das rogas, nas hortas individuais, no cultivo de frutiferas, na produgéo de mel, algodao, criagéo de caprinos, ovinos, suinos etc. Mas, infelizmente, em momentos dificeis, como de estiagem, a produgdo fica limitada, e, as vezes, bem abaixo do que seria necessario para a sobrevivéncia de algumas familias no territério quilombola. E nesse momento que alguns homens tém que procurar empregos fora do territério, em outras cidades ou estados, para que possam ajudar no sustento familiar: f@ criagko de pequenos enimais para o consumo doméstico - especialmente caprinos © ovinos - também compée o cotidiano da comunidade. as terras cisponiveis ao grupo, entretanto, sao insuficientes para as atividades de subsisténcia. em funcao dessa falta, muitos homens jovens © adultos saem para realizar trabalhos temporarios fora indo em especial pare trabalhar em corte de cana (Faria, 2016, p. 11) Como podemos ver nas imagens, uma parte desses animals so criados no ‘terreiro” das casas, e isso demonstra o sentimento de coletividade confianga que se tem entre as pessoas que habitam a comunidade. Fonte: Registro pessoal, 2023 CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 ae flees ores EDUCACION Y DESARROLLO Quando indagada sobre a agricultura quilombola Carla Pindaiba respondeu e mostrou um conhecimento acerca da tematica e seu significado agroecolégico, ela disse que: ‘© que eu penso 6 que por que jé vem de um dizer produgao orgénica ‘sem agrotéxicos. é uma producao saudavel que vai Ihe trazer todos os beneficios, todos os principais beneficios pra satide né? por que onde & que vocé vai se alimentar.[.., par exemplo, na hore que ela estava provando 0 mamao ela percebeu, né? se fosse inorganico [..], mas, vocé percebeu que era daqui. @ 6 um produto que nao tem agrotéxico, fentac tem uma diferenga, uma maciez diferente, um sabor diferente, Ihe vai trazer mais sede (Pindaiba, 2023). Conforme a fala de Carla Pindaiba, na comunidade Lagoa do Moisés & cultivado varias culturas dos quintais até a roga, como milho, feijao, mandioca, abébora, maxixe, gergelim, algodao, o mel. Segundo Carla Pindaiba (2023), “a maior parte [do mel que] sai, que é exportado, sai de dentro do tertitério". Inclusive, a respeito do mel, os moradores costumam chamar como décimo terceiro salario, porque 0 periodo da apicultura é no final do ano, configurando como um dinheiro que eles ja tém por certo. O mel no territério quilombola é um produto de grande importéncia, contribuindo para colocar o Piaui entre os estados que mais produzem o alimento no Brasil. Assim, foi possivel perceber que existe uma mentalidade para a preservagao do meio ambiente até mesmo na feitura da roga, para nao agredir @ provocar queimadas, ou utilizago de agrotéxicos, e sim fazer da maneira menos agressiva a natureza, E as imagens fotograficas nos mostram isso: Figura 2- Quintal produtivo Fonte: Registro pessoal, 2023 CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 ae flees ores EDUCACION Y DESARROLLO Senhor Manoel Araiijo, o Nezim, agricultor familiar, exercita (assim como outros agricultores da comunidade) a agricultura agroecoligica identificada em algumas falas como agricultura quilombola. Ele produz um biofertilizante, ou adubo natural, para ndo fazer uso de produtos quimicos industrializados nas plantagées. O produto natural que o senhor Manoel Araijo fabrica serve tanto para o crescimento saudavel das plantas, assim como para o controle de pragas. [... obiofertilizante é produzido de materiais daqui da regio, nds utilize © esterco seco, nés utiliza mel ou leite, utiliza pé de casca de ovo, utilizamos folha de milho ou de angico, a cinza, a que reconstréi a lenha ¢ utiliza mos a casca de ovo. Todo tipo de produto orgénico e tem todos 095 tipos de vitaminas para levar a planta. Para o biofertlizante ficar pronto, sa0 45 dias mexendo, bota num tambor e todos os dias meche pare fermentar, depois deste ele pode ser utilizado nas plantas, ele & tampado por conta do cheiro, e para que nao pouse moscas (Aratjo, 2023) Na comunidade ha uma consciéncia agroecolégica, um saber acerca do cuidado com as plantas sem o uso de agrotéxico, bem como um manejo sustentavel de respeito a terra, pois o biofertilizante é produzido com produtos organics, ou coisas que os quilombolas dispéem. Outro elemento importante & a conservagao e produgao de suas proprias sementes para o plantio na comunidade. ‘@ importancia da gente ter nossa prépria semente, porque © que é da gente, o que é a gente tirou da nossa roga a gente sabe que ali é uma semente que a gente tem confianca de plantar e que ela vai nascer, porque nao adianta ir I& no mercado comprar uma semente ¢ ficar inseguranga que ela vai nascer. milho, raramente o miho quando a gente compra ela [a semente] do mercado, se ela nascer, tranquilo, mas pode observar que ela nao vai dar uma espiga de milho perfeita nao, vai nao! (Pindaiba, 2023). De acordo com Quinteiro e Baldini (2018), a conservagao de sementes & uma pratica que agricultores realizam desde muito tempo e é de extrema importancia contra a erosdo dos recursos genéticos e a perda da biodiversidade, para a manutengdo da soberania alimentar local, bem como para a preservagao do patriménio histérico-cultural de grupos locais, em suas dimensdes material e imaterial. Esse habito de cultivar sua propria semente, denotado na fala de Carla, CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 oy) -\EDUGACION Y DESARROLLO & também uma ago contra o uso de agrotéxicos e produtos transgénicos, preconizada pela Revolucao Verde de 1960. Conservar sua semente é ir contra © que os moradores da comunidade chamam de veneno, que destréi a qualidade de seus alimentos. Esse veneno nao é representado somente pelo agrotéxico, mas também pela ameaga da mineracdo que espreita a vida desses quilombolas, atualmente uma mineradora tenta conseguir sua licenga ambiental para explorar minério de ferro no territorio, desde 2014, A gente tem essa preocupagao na questao da agroecologia e a mmineragao né, porque assim [..]€ @ nossa produgao que sai de dentro do quilombo? Ela vai ser organica? Nao, vai néo, nao tem condigao. Ai agente vé assim, como é que mistura uma coisa com a outra? Eles, 6 a favor da agricultura familiar, mas é a favor de um implantamento de mineracdo ... e, al, @ gente vai trabalhar com produto org4nico? (Pindaiba, 2023). Os empreendimentos que envolvem mineragao sdo conhecidos por destruirem a fauna e a flora local, Carla Pindaiba e demais moradores do quilombo Lagoas, Piaui, enfatizam isso em suas falas, afinal, se o ambiente em que tiram seu sustento for ameagado pelo desmatamento e pela poluigao do ar @ Agua no ha como esses moradores sobreviverem tanto materialmente quanto espiritualmente. Assim, 0 produto organico exigido se torna inviavel de ser produzido, © que nos remete a fala de Manoel, 0 Nezim, sobre 0 desejo de ter hortas comunitarias no territério: Se tivesse mais hortas comunitaria aqui dentro do territério seria bom, até porque Ve interferir mais contra a mineragao. O nosso foco da associacao ¢ formalizar mais grupos dentro do territério, para que mineragao vai se retirando do territério (Aratiio, 2023). Assim, nota-se que a agroecologia surge como uma postura que ressalta 0 bem viver dos moradores e que 6 um importante aliado na luta contra a mineraco. Nas falas dos moradores fica nitido essa paixao pelo meio ambiente, pela natureza. Essa preocupacao com o destino da fauna e flora, vai além de um valor econémico, ¢ uma relagao espiritual intrinseca a sua existéncia enquanto comunidade tradicional. OU No) as Neste) soll ool) Rae Sos Soke ent RA Re -\EDUGACION Y DESARROLLO Na imagem a seguir, podemos perceber plantagées de hortaligas culdadas, seguramente organicas, mostrando-nos a manifestago de uma das maneiras da consciéncia agroecolégica das pessoas da comunidade Lagoa do Moisés, Pressupée-se que essa relagdo intrinseca com a natureza esteja intimamente ligada a espiritualidade, pois através das ervas que sao cultivadas so feitos banhos, remédios, garrafadas, chas, entre outros. Figura 3 Horta @ canteiros de Dona Silvaneide Fonte: Acervo pessoal, 2023 A agroecologia é um paradigma sustentavel de agricultura e de outras diversas praticas que reverberam a mentalidade de respeito a natureza, que tem ganhado espago no pensamento de académicos, pesquisadores, produtores. 4 ESPIRITUALIDADE E FESTIVIDADES De acordo com Gontijo (2019, p. 34), “a espiritualidade tipica dos membros de uma religido pode ser chamada de “religiosidade’, [...] 0 repertério de atos espirituais’. Na comunidade Quilombola Lagoas, identificamos que a religiosidade esteve presente, em todos os aspectos de averiguacdo. Embora, no territério tenha sido encontrado moradores que se declaram catélicos, umbandistas, candomblecistas, evidenciou-se que os protestantes se apresentam em menor proporgao. Contudo, independente da religido professada © espirito de ser quilombola transpareceu no ato de fazer, conviver, dialogar e executar agdes de convivio comunit religiao. rio, independentemente de qualquer CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 ayTe -\EDUGACION Y DESARROLLO Em entrevista. com a moradora Maria Aparecida Marques, carinhosamente, conhecida como Tia/Mae Cida, uma das moradoras mais antigas da Comunidade Lagoas, e, lideranga comunitaria, desde a década de 1960, professa que: [LJ aqui, tem de tudo, um pouquinho. tem catélico, como voos pode ver, nossa igrejinha al. a padroeira é santa isabel da hungria. fizemos uma votago, por aqui, logo quando construiu a igreja pra saber 0 que ©-pove queria. eu mesma torcia pra ser nossa senhora aparecida. mas, perguntamos um @ outro, 0 que achava. ¢, sabe aquele homem, sentado, ele um dos mais velhos por aqui. foi ele quem escolheu. 2, 1nés pra fazer gosto a ele, nois aceitou. foi uma farra, s6. [..] 0 padre ‘vem uma vez por més; sempre que pedir, ele vem. mas, desde que ou me entendo por gente que no quilombo sempre existiu, cutras: 0 candombié, a umbanda, aqui. [..] aqui sempre teve benzedor. [..] parteira jé no existe mais (Marques, 2023) Neste sentido, a oralidade é encontrada, principalmente, nos discursos pautados como respeito 4 ancestralidade — nesse caso, 0 legado que fora definido pelo mais velho, 0 senhor Raimundo Nonato foi quem escolhera a patrona representante do legado Catélico na Comunidade Lagoa do Moisés, sendo evidente que a base de interagao ¢ também 0 afeto com os moradores, sendo assim a comunidade quilombola se constréi, modela suas historias, e, ressignifica o legado de geragao em geragao. [...]Foi assim, minha sogra chamava Isabel. Ela morava aqui ha muitos anos, foi uma pessoa muito boa quando eu cheguei aqui. E, entao, assunta que eu disse assim: - Bem que poderia colocar Isabel, jA que era o nome da minha sogra, nao 6? O povo concordou. [...] camo @ imagem chegou, aqui eu j4 nao me lembro. Mais néo. Eu sei contar que desse dia pra ca, essa se tomou Padrosira, da nossa comunidade: Santa Isabel da Hungria. Eu nem conhecia a santa, nem tinha ideie como ela era. Vim conhecer, aqui. Num, sabe? (Raimundo Nonato, 2023), E, quando interrogados sobre como se conecta com o sagrado, ser “supremo”, ou com o “divino’, 0 Deus ao qual acredita, encontramos respostas, diversas, tais como: ‘eu sei que eu rezo do meu jeito’, fragmentando uma indi iduagéio ao ato de conectar-se com o sagrado e 0 fato de “acredito, pego e consigo. Mas, aqui tudo é mais dificil para nés, pois ndo temos renda”. A oragao, assim como bem descreve 0 lider religioso “mestre Didi” (2023), pode ser desde OU No) as Neste) soll eel) Ray Sos ok cnt Re D -\EDUGACION Y DESARROLLO © de alcangar com o intuito de alcangar gragas, e, promover milagres. A verdadeira ‘cura da alma’. Mas, ao analisar o discurso dos moradores encontramos algo, comum a convivéncia comunitaria: quem professa uma religio, no se limitalrestringe a conviver, apenas e, unicamente a sua comunidade religiosa. Mas, faz questéo de comparecer e conviver, harmoniosamente, com as demais. Percebemos que nao se veem como rivais, inimigos ou seres que esto competindo entre si no aspecto da religiosidade. Conforme o Sr. Claudio Marques, morador da Comunidade Calango, do Quilombo Lagoas, Piaui: [..J aqui nao tem isso, se tem preconcsito relgioso, eu mesmo nunca Vivi. Eu sei que tem preconcsito com os alunos daqui quando vao pra Escola, l4 no Sao Vitor, porque sao do quilombo, tinha que ter uma. escola quilombola pra eles saberem de onde vieram, conhecerem, sabe um mestre grié ... pra deixar nosso legado. |...) Eu rezo e rogo todos os dias [....] fago as minhas oragées, luto desde sempre pra isso aqui nao morrer, sabe! Um dia quem sabe, ainda vou ver uma Escola Quilombola na comunidade. Eu até tentei quando tina uma Escola aqui. Mas, nao me deixaram ensinar pra eles a nossa historia. Tinha uma diretora aqui que nunca me deixou entrar, @, nao foi porque eu no pedia (Marques, 2023) A consciéncia do legado ¢ a historia do Quilombo Lagoas esta presente na fala do senhor Claudio Marques; porém, nela encontramos presente caracteristicas que 0 grande outro, expressao usada por Lacan, exerce uma fung&o de determinagao, torna-se preocupante porque esse “grande outro” é capaz de promover o despertencimento e a ignordncia, dentro e fora da comunidade, tornando-a alheia a compreensdo do seu lugar, do existir, do fazer, e do propagar, em sua veracidade. Para Gontijo (2019, p. 33), este estilo de ser e estar no mundo “definimos “espiritualidade", como 0 repertério de atos controlados por ideias espirituais. Exemplos, desses atos sao orar, amar a Deus, afirmar “Nos nos reencamamos”, (crenga difundida pelo espiritismo, sobretudo nos escritos de Allan Kardec e outras tradigdes religiosas); “fazer promessas a santos, ir a reunides religiosas e interpretar a mensagem onirica de um Orixa” (Gontijo, 2019, p. 33). Portanto, percebemos que uma espécie de interagao da mente sutil, imaterial, com um OU No) as Noto soll ool) Ray SoS So Ko ott RA Roe) -\EDUGACION Y DESARROLLO mundo fisico e extrafisico. E por isso pressupor que espiritualidade esteja ancorada em capacidades intelectuals, comportamentai sentimentais (Gontijo, 2019). E, portanto, capacidade ligada as fungées psicolégicas e neurolégicas. Conforme William James: emocionais, Todas as nossas atitudes, morais, praticas ou emocionals, bem como as religiosas, dever-se aos “objetos’ da nossa consciéncia, 2s coisas que acreditamos existirem, seja real, seja ideaimente, junto de nés. Tais objetos podem estar presentes aos nossos sentidos, ou podem estar presentes apenas ao nosso pensamento (James, 1991, p. 26). Para esse autor, temos 0 aspecto da consciéncia, como uma nogao do eu, além de uma mente como certe das fungdes psiquicas superiores, pensamento, sentimentos, emogdes, imaginagao etc.; como diria Vygotsky, assim como um encéfalo ou cérebro, parte fisica, que reproduz no corpo os construtos da consciéneia e sobretudo da mente, sendo capaz de desenvolver dimensGes transcendentes ao ambito da materia e como paramento é chamado de espiritualidade. Assim como a entrevistada Carla Pindaiba (2023) afirma que: “[..] Hoje, 0 menino tem uma dor, uma jateira [vémito persistente sem causa aparente], corre vai procurar la, e, 0 mais conhecido aqui, € 0 Mestre “Didi", hoje, é ele. Ta levando o legado do pai dele. Vem gente, de tudo que é lado, pra ele.” A espiritualidade, por diversas vezes fora e é comumente encontrada associada ao processo de satide-doenga, na comunidade quilombola. Pois, por vezes 0 ato de conectar-se com o divino fica evidente, na busca pelo bem-estar No corpo fisico. Como o Senhor Raimundo Nonato que, por vez, durante a sua entrevista, perguntou aos pesquisadores se conheciam algum remédio para curar, © que chamou de: “mal em sua perna’. Pois segundo ele: “médico aqui sd uma vez por més, I no Sdo Vitor. Tem s6 10 fichas pra comunidade todinha” (Raimundo Nonato, 2023). Relatos como esse, configuram a negligéncia publica no processo de satide-doenga, evidente no quilombo Lagoas, Piaui. Principalmente, por parte dos representantes legais, da regio. Por considerar que 0 quantitativo de dez OU No) as Neste) soll eel) Ray SoS Soke ett RA Roe -\EDUGACION Y DESARROLLO fichas seja suficiente para atender a demanda local, e, por considerar que as decises do ato de fazer em satide - tais como, agenda de satide da familia - encontram-se desassociado aos interesses comunitarios, sendo essa a queixa mais recorrente, dentre os relatos dos moradores. Assim como, nao contemplativos aos principios basilares do servigo de satide publica, explicitados na Lei do Sistema Unico de Saude (SUS) de n° 8080, (BRASIL, 1990), como a integralidade - a qual devera considerar as pessoas como um todo, atendendo a todas as suas necessidades - incluindo, em sua agenda de satide as suas diversidades territoriais, religiosas, e, respeitando as datas e manifestacdes culturais. Conforme, sucinta o Ministério da Satide, desde 1990: L.] € importante a integragao de agdes, incluindo @ promocao da sade, a prevencao de doencas, 0 tratamento ¢ a reabilitagao. juntamente, 0 principio de integralidade pressupde a articulagao da sade com outras politicas publicas, para assegurar uma atuagao intersetorial entre as diferentes areas que tenham repercusséo na satide e qualidade de vida dos individuos. devera buscar a propagar 2 “equidade’, esse principio tem por objetivo diminuir as desigualdades, apesar de todas as pessoas possuirem direlto aos servigos, as pessoas no séo iguais e, por isso, tém necessidades distintas. em outras palavras, equidade significa tratar desigualmente os desiguais, investindo mais onde a caréncia é maior. universalizacao: a satide & um direito de cidadania de todas 2s pessoas ¢ cabe ao estado assegurar este diteito, sendo que 0 acesso as agbes @ servigos deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente de saxo, raca, ‘ocupagao ou outras caracteristicas sociais ou pessoais (Brasil, 2023, p.1) Conforme Alexander Lower (1990, p. 22), a espiritualidade se difere pois, “as filosofias e as religides orientais encaram espiritualidade — ou senso de unido do individuo - como alguma espécie de ordem superior a partir de pontos de vistas diferentes". No entanto, para este autor existe um senso de conexao com uma forca ou ordem superior, ou seja, existe um religar-se com a natureza, com Deus, algo maior a0 ser humano, no Ambito de uma mente superior que transcende a fungdes propriamente humanas (Lower, 1990). Percebemos comportamentos sincréticos e “rivalidade” por parte dos evangélicos aos umbandistas. Pois neste caso, muitos catdlicos frequentam o terreiro de umbanda, assim como quem é de religiosidade de matriz africana visita outras religides, mas os evangélicos nao frequentam as demais religides; CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 1291 -\EDUGACION Y DESARROLLO pressupondo uma espécie de “rivalidade", preconceito, discriminagdo, medo? Quanto as causas, os moradores no explicitaram em suas falas, mas isso implica pensarmos em contextos histéricos, onde os que professavam uma fé e espiritualidade contraria ao modelo estabelecido eram oprimidos, censurados, principalmente se professassem a religiosidade/espiritualidade de matriz africana sofreriam varios tipos de opressao, e acreditamos que reverbera resquicios de um passado histérico de exclusao, Na experiéncia perceptiva que tivemos na casa do Mestre Didi, pai de Santo, foi possivel acompanharmos uma noite de gira da religiosidadelespiritualidade umbanda, na ocasido houve oragdes, pontos cantados acompanhado de palmas e toques de atabaque. Com pontos caracteristicos da Jurema Sagrada — matriz indigena -, na presenga do tambor, e, em busca de benzimentos (satide), as pessoas se deslocavam até o mestre Didi, com 0 auxilio de filhos/filhas de santo, E nesta experiéncia percebemos manifestag6es espirituais de encantados, assim como a energia vibratéria dos Orixas Yemanja, Xang6, Oxéssi, caboclos, boiadeiros, Exu, Zé Pelintra, dentre outras manifestagdes da espiritualidade de matriz africana e afro-brasileira. Foi possivel perceber também manifestacdes da fé catdlica nos altares associada as praticas umbandistas. E, ainda, ao ambiente de festas na comunidade. Acreditamos que a agroecologia esteja interligada, de alguma maneira ou de varias formas, tanto a espiritualidade como também as festas, pois “fazemos parte de um mundo vivo, dinamico, e em constante evolugao. Tudo esta vivo" (Murphy, 2007, p.113). Segundo Bueno (2008, p.6), “a festa é uma verdadeira ‘recr(eli)agao’ ao contrario de muitas formas de lazer pobres em criatividade, convivialidade e comunhao comunitaria. As festas so ocasides para as pessoas se reunirem e delas sairem fortalecidas". Conforme observado, na comunidade Lagoa do Moisés, tem espagos para festas tanto religiosa como nao religiosas, e muitas festas se destacam por serem “manifestagdes da tradigao cultural pelo seu grande potencial criativo e de integragao" (Bueno, 2008, p. 6). Neste sentido, foi possivel perceber por meio das entrevistas, que existe a roda de Sao Gongalo, CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 1292 -\EDUGACION Y DESARROLLO festa de reisado, e ainda como maneira de expressao da cultura afro-brasileira, existe a capoeira, e encontros de terreiros de umbanda. As festas, da modemidade a contemporaneidade tem sido frequentemente abordada nos estudos de folcloristas e antropdlogos. No entanto, no decorrer dos contextos, historiadores passaram a reconhecer que as festas so muito mais do que simples manifestagdes folcléricas. Elas sao fendmenos sociais complexos que desempenham um papel central na construgao de identidades, nas dinamicas de poder e nas transformacées sociais (Prado, 2007). E importante destacar que as festas camponesas néo s4o apenas momentos de diversdo e entretenimento, mas também possuem uma dimensao social e econémica. Elas séo marcadas por uma série de rituais, cerimnias e praticas tradicionais que refletem a identidade e a cultura da comunidade camponesa. Além disso, as festas muitas vezes envolvem a participagao de toda a comunidade, o que fortalece os lacos sociais e promove a coesao. E o que mostra Martha Abreu e outros autores (2018). As festas populares sdo consideradas como locais de encontro, onde as pessoas se retinem para celebrar, interagir e expressar sua cultura coletiva. Elas se tomam espacos privilegiados para o estudo de uma determinada conjuntura histérica, pois refletem as praticas, valores e aspiragdes de uma comunidade em um determinado momento. Ao examinar as festas, os pesquisadores ponderam obter questées sobre as relagdes sociais, as estruturas de poder, as dinémicas de género, as relagdes étnicas e as transformagées culturais da comunidade, O estudo na perspectiva das festividades destaca a relagdo intrinseca entre as festas, 0 trabalho, a devogdo religiosa e a vida comunitaria no quilombo Lagoas, Piaui/Comunidade Lagoa do Moisés. As festas séo momentos de conexaio com a tradicao, de fortalecimento dos lagos sociais e de valorizagao da identidade camponesa quilombola. Ao compreender essa dindmica, podemos apreciar a importancia cultural e social dessas festas para a comunidade bem como reconhecer a complexidade e a riqueza de suas praticas e significados. OU No) as Nesto) aol eel) Ray SoS Soke cnt RR koe ae flees ores EDUCACION Y DESARROLLO 5 CONSIDERAGGES FINAIS Diante de tudo que foi exposto, a relagao entre natureza e cultura no Quilombo Lagoa/Comunidade Lagoa do Moisés ¢ preponderante e cotidiana na vida desses quilombolas. A relagao com a natureza que eles engendram esta intimamente ligada com sua ancestralidade, da sua forga espiritual, isso fica notério quando os quilombolas falam sobre a agroecologia como muito mais do que um meio de renda, mas também como um aspecto de sua vida que sempre esteve presente, mesmo quando néo recebia 0 nome de agroecologia, sendo transmitida de geragdo em geragdo. A chamada consciéncia agroecolégica & algo que eles possuem para garantir sua permanéncia no territério, que significa muito mais do que material, mas também para continuar exercendo suas praticas espirituais, suas festividades. A espiritualidade é 0 que os mantém de pé, exercendo o humane, se ligando ao sagrado e garantindo sua protegao, para que possam existir e resistir. CUADERNOS DE EDUCACION Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 1273-1297, 2024 ayers flees ores EDUCACION Y DESARROLLO REFERENCIAS ABREU, Martha et al. Cultura negra: festas, carnavais e patriménios negros. Niterdi: EDUFF, 2018. v. 1. ALMEIDA, Alexander Moreira de. Fenomenologia das experiéncias meditinicas, perfil e psicopatologia de médiuns espiritas. Tese (Doutorado em Ciéncias) ~ Universidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 2004. ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinamica produtiva da agriculture sustentavel. 4. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. ARAUJO, Manoel. Entrevista concedida em 17.06.2023. BALDINI, K.B.L.; QUINTEIRO, M.M.C. Agroecologia e as praticas tradicionais: reconhecendo os saberes ancestrais. In: SANTOS, M.G., QUINTERO, M. Saberes tradicionais e locais: reflexdes etnobiologicas. Rio de Janeiro: EDUERM, 2018. p. 28-49. 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