You are on page 1of 17
Psicopatia, Engano e o Problema Dificil dos Perfis Carlos F, Silva, Sandra C. Soares, Isabel Santos, Beatriz Oliveira, Pedro Bem-haja Ferreira, Palavras-chave: Neide Almeida e Paulo Rodrigues Elaborar um perfil é uma atividade de elevadissima responsabilidade, Comportamento Na medida em que faz parte da dificil atividade de investigagao criminal antissocial @ poder ser relevante em contexto judicial. A qualidade do perfil cons- truido é fulcral. A procura da marca de Caim, as falacias légicas, as heuristicas e as crengas dos profissionais acerca dos correlatos com- portamentais do engano so exemplos de problemas que se colocam atualmente a qualquer profiler e que podem conduzir a um mau servico prestado ao sistema judiciério. Este problema torna-se muito sério quando se trata de avaliar perso- Personalidade _nalidades psicopaticas. Neste capitulo faz-se uma reviséo de estudos nacionais e internacio- nais sobre trés aspetos: a caracterizagdo do perfil psicopatico e sua Engano etiologia e patogénese; o problema da detecao do engano na recolha de dados para elaborar um perfil e, ndo menos importante, as falacias légicas, as heuristicas e os mitos infundados. Concluimos com sugestdes praticas que permitirao aumentar a efica- cia do trabalho do perito. Psicopatia Perfil Introdugéo Elaborar um perfil 6 uma tarefa de elevadissima responsabilidade, na medida em que faz parte da dificil atividade de investigagao criminal e podera ser relevante em contexto judi- cial. A qualidade do perfil construido é fulcral, e 4 semelhanga do que acontece na mecani- ca quantica (fisica), 0 profiling deveria seguir um paradigma do tipo “the it from bit”, isto 6, acusar ou inocentar um suspeito (the it) deveria resultar de respostas sim ou nao a quesitos (bit). Um dos primeiros usos, documentados, do perfil criminal fol o relat6rio do antissemita Apion ; para o imperador romano Caligula, no ano 38 d. C. Apion acusou falsamente os judeus de assassinatos e raptos ritualistas na Pascoa judaica ("libelo de sangue”), O libelo de san- © gue foi um dos primeiros e persistentes modos de profiling que envolvia um conjunto de | 251 Scanned with CamScanner Profiling, Vitimologia e Ciéncias Forenses ~ Perspetivas Atuais caracteristicas predefinidas que permitiam inferir e acusar um setor particular da populagao (Wudeus) Howitt, 2009): = Um jovem masculino desapareceu; HA uma comunidade judaica por perto; | Desapareceu antes da Pascoa judaica; '® O corpo apresenta lesdes que parecem resultar de ritual e o corpo perdeu muito san- gue. Porém, um dos primeiros textos conhecidos com instrugdes explicitas para investigagao criminal fol o Malleus Maleficarum, escrito por dois monges dominicanos, Henry Kramer € James Sprenger, em 1486, para ser usado pela Inquisi¢go. Neste manual, “bruxas” e outros criminosos poderiam ser identificados por circunstancias, habilidades e caracteristicas es- pecificas. Por exemplo, para identificar e acusar uma bruxa, 0 investigador teria de verificar ‘se era uma mulher, se evidenciava alguma mancha, cicatriz ou marca de nascimento (marca do diabo), se vivia sozinha, se tinha um animal de estimago (deménio sob a forma de ani- mal, conhecido como “familiar”), se softia de perturbagdes mentais (alucinagées visuais ou aucitivas), se cultivava ervas medicinais e se no tinha criangas. Nesta perspetiva, em 1689, o reverendo Cotton Mather (reformador puritano), de Boston, escreveu o texto Memorable Providences, Relating to Witchrefts and Possessions em que relatou 0 caso de John Goodwin, cujas filhas terdo acusado a lavadeira Ann Glover (catélica itandesa) de roubar roupas em casa e, de seguida, ficaram muito doentes (doengas de es- panto ou assombro). Como os médicos (peritos) néo encontraram uma explicagao natural, ‘Ann Glover foi acusada de bruxaria e condenada a fogueira, o que é um exemplo claro de uma falécia légica conhecida como post hoc, ergo propter hoc (depois de..., logo por causa de...). A publicago deste texto deu origem a conhecida sequéncia de julgamentos de bru- xas de Salem (1692-1693) pelo reverendo Samuel Parris (Howitt, 2009). Porém, se é um facto que os profilers modernos baseiam a sua atividade em trés fontes supostamente crediveis, a criminologia (estudo do crime, criminosos e comportamento cri- minal), a psicologia e psiquiatria, e as ciéncias forenses (exame das evidéncias fisicas de ‘orime), a0 contrério do que faziam até aos finais do século xx, constatamos que “(...) forensic experts ofthat time were making particular errors in logic and reasoning that are repeated by profilers today” (Turvey, 2008, p. 16). ‘Assim sendo, @ uma vez que a construgao de um perfil implica raciocinar sobre dados re- colhidos no local do crime (testemunhos, avaliagdes psicol6gicas e exames psiquidtricos, perfil geogréfico, por exemplo), é preocupante a constatago de que os profilers modernos repetem os mesmos erros légicos que ao longo da histéria geraram imenso dano, se consi- derarmos também 0 problema do “engano” na recolha dos testemunhos e nas observagdes e avaliagdes de suspeitos e de vitimas. (0 perfil criminal deverd ser uma colegéo de inferéncias acerca de caracteristicas da pessoa responsavel por cometer um crime ou uma série de crimes. Contudo, inferéncia implica evidéncia e raciocinio I6gico, devendo distinguir-se da especulagdo, que consiste numa con- ‘uso baseada em teoria ou conjetura sem evidéncia empirica ou experimental. Por outro lado, um profiler deverd evitar o viés resultante das teorias preconcebidas. eS Scanned with CamScanner Assim, 6 importante: ™ Conhecer que a investigagao sugere sobre © problema da psicopatia, da sua etiologia, da sua patognomonia e do perfil de individuos que pontuam significativamente nesta dimenso; ™ Conhecer o que a investigagdo sugere relati- vamente a detego do engano e as propos- Psicopatia, Engano e o Problema Dificil dos Perfis E preocupante a constatagéo de que os profi- lers modemnos repetem os mesmos erros Iégicos que ao longo da histéria geraram imenso dano, ‘se considerarmos também 0 problema do “en- ‘gano” na recolha dos testemunhos e nas obser- vagdes @ avaliagdes de suspeitos e de vitimas. tas para aumento da eficdcia dos métodos de detegao do engano; ™ Conhecer os aspetos a ter em conta na construgdo de perfis e 0s erros Igicos e mitos que se deverdo evitar na construgdo de perfis (neste caso, em geral). O problema dificil do perfil “psicopata” Pelo facto de os “psicopatas” serem responséveis por uma taxa significativa de crimes vio- lentos, o perfil psicopata é um problema de investigagao interessante, em que a psicologi e a psiquiatria, na sua vertente de psicopatologia do desenvolvimento, podem ser utels, identificando a etiopatogenia do mesmo. Porém, ressalve-se que a investigagao e a clinica sugerem que nem todos os antissociais tém tragos psicopaticos. ‘Sumariamente, na psicopatia parece haver uma falha na socializagao por causa de peculia- ridades genéticas (temperamento) - psicopatia ou “psicopatia primaria” -, ou por causas parentais (negligéncia, abuso) e/ou influéncia de pares - sociopatia ou “psicopatia secun- daria”. Os psicopatas primarios revelam fraco condicionamento cldssico eletrodérmico & mais rapida extingdo do que a populagao normal e os sociopatas sao também conhecidos como psicopatas neuréticos (Cleckley, 1976). A investigagao no dominio da psicopatologia do desenvolvimento permitiu desenvolver uma concegao triarquica da psicopatia, ou seja, trés fenétipos distintos: desinibigtio comporta- mental, arrojo e malvadez (Patrick, Fowles & Krueger, 2009). A desinibi¢do ¢ definida pelos autores como uma propensao geral para evidenciar problemas com o controlo dos impu! © arrojo (atrevimento ou audcia) 6 definido como uma constelagao de dominancia social, resiliéncia social e aventura; e a malvadez (mesquinhez ou vileza) como uma procura agres- siva de recursos sem ter em conta os outros. Esta conce¢do triérquica permite identificar os fatores que originam as manifestagdes de externalizagéo desviante com desapego emocio- nal saliente, e conciliar os contributos da investigagéo neurobiolégica dos processos de desenvolvimento (Patrick, Fowles & Krueger, 2009). Efetivamente, as primeiras concegdes de psicopatia davam énfase ao comportamento vio- lento (a “faria sanguinaria” de Pinel) e antissocial, explosivo, impulsivo, imprudente, irrespon- sdvel, associado ao abuso de élcool e de drogas. Estas caracteristicas sugerem desinibicao @ externalizagao, componentes da psicopatia na concegao contemporanea. Um segundo conjunto de caracteristicas hé muito atribuldas inclul o charme, a presungdo, a dominancia interpessoal, a procura de atengao, a persuaséo e a superficialidade afetiva. Por exemplo, 5 os “vigaristas” de Kraepelin, em 1904, foram caracterizados como sendo especializados no } 1ogro, lisonjeiros, verbosos e charmosos, mas com falta de moralidade ou lealdade bésica } para COM os outros. Ja os “egoistas” de Schneider (1934) eram descritos como afaveis © 253 Scanned with CamScanner Profiling, Vitimologia e Ciénclas Forenses — Perspetivas Atuals ‘Na psicopatia parece haver uma falha na socia- lizagao por causa de peculiaridades genéticas aprazivels, mas egocéntricos, demandando atengdo, superficiais na relagao com os outros nas reacdes emocionais. Em ambos 0s grupos ha mentira patolégica e tendéncia para a fraude (Patrick, Fowles & Krueger, 2009). Em suma, a um quadro exclusivamente externa- lizante, juntam-se comportamentos nao violentos, de desapego e de engano. Todas estas ccaracteristicas foram incluidas por Cleckley (1976) na personalidade psicopatica. Uma terceira constelagao de sinals nas primeiras abordagens psicopatia inclufa a bru- talidade, a frieza emocional e a exploragao insensivel dos outros, aparentada com o tipo *desatetado ativo” de Schneider (1934) (sem escrdpulos, fro" @ “crue!") que, segundo este, seria 0 défice nuclear de sensibilidade emocional, mais do que a fraqueza no julgamento ‘moral, e emergindo na infancia, Num dos trés casos descrtos por Pinel, 0 individuo era eficaz e bem-sucedido na gestéo financeira (aparéncia de alustamento social), mas egoista ¢ viciosamente antagonista nas interagdes com os outros (Patrick, Fowles & Krueger, 2009). ‘Como corolario de toda a investigagao relativa a personalidade psicopatica, Cleckley desen- volveu 16 critérios, agrupados em trés categorias (Patrick, 2007): ® Indicadores positives de ajustamento (boa inteligéncia, adaptagao social, auséncia de delirio e de irracionalidade, auséncia de nervosismo e baixa incidéncia de suuicidio); 1 Indicadores de desvio comportamental (iresponsabilidade, promiscuidade sexual, atos antissociais impulsivos, falha em aprender com a experiéncia, auséncia de qual- quer plano de vida e imprudéncia aumentada quando intoxicado); 1 Indicadores de irresponsividade emocional e de relacionamento social prejudi- cdo (falta de remorso ou de vergonha/pudor, pobreza nas reagdes afetivas, egocen- trismo e inabilidade para amar, insinceridade, sedugao, auséncia de lealdade e insight deficiente). Assim, para Cleckley (1976) os psicopatas revelam alteracées ao nivel da socializacao, da ~aprendizagem de regras sociais, ao mesmo tempo que ha “psicopatas bem-sucedidos” que ‘conseguem carreiras profissionais sdlidas. Foram desenvolvidos diversos instrumentos para a avaliago da psicopatia, presumivelmen- te a partir do modelo de Cleckley (1976). Contudo, os instrumentos mais usados desviaram- se deste modelo. A PCL-R (Psychopathy Checklist - Revised), de- senvolvida por Hare (2003), partiu de uma Escala {temperamento) ~ psicopatia ou psicopatia pri- Global de Cleckley (variando de 1 - claramente nao ‘méiria -, ou por causas parentais (negligéncia, psicopatico, até 7 - claramente psicopatico). Fo- abuso) e/ou influéncia de pares - sociopatia ou _ ram selecionados 22 itens que discriminavam entre Psicopatia secundéria. ontuagdes altas versus pontuagées baixas na re- 254 ferida escala, Para a versao revista ficaram apenas 20 itens. Em termos de validade de conteido, as caractersticas “afetivo-interpessoal” e “desajustamento comportamental” esto bem representadas, porém, as “caracteristicas de ajustamento positivo” esto ausentes na PCL-R, nomeadamente auséncia de nervosismo/ neuroticismo, auséncia de irracionalidade e delirio, ou imunidade ao suicidio. A verbosidade 0 charme superficial sio avaliados de modo mais desviante (item 1), como excessivamen- te conversador (verboso), manhoso e com insinceridade. Os 20 itens agrupam-se em dois fatores: afetivo e interpessoal e antisocial desviante. Scanned with CamScanner Posteriormente, Cooke e Michie (2001) descobriram trés fatores, subdividindo 0 Fator 1 em dois: Fator 1a- Estilo Interpessoal Arrogante e Falso (charme, grandiosidade, sedugao, ™manipulagao) e Fator 1b ~ Experiéncia Afetiva Deficiote (auséncia de remorso, insensibi- lidade, afeto superficial. O Fator 2 seria 0 Estilo Comportamental Impulsivo @ Irresponsa- vel (propensao para 0 tédio, parasitismo, impulsividade, iresponsabilidade e auséncia de Objetivos de vida). Pontuagées elevadas no Fator 1 associam-se a pontuages elevadas em egoismo, exploragao dos outros, narcisismo e maquiavelismo e pontuagdes baixas em empatia e recurso a agressao instrumental ou premeditada. Associam-se, ainda, baixas respostas fisiolégicas a estimulos aversivos ou de medo. O Fator 2 associa-se positiva- mente a medidas de trago de agresséo, impulsividade procura geral de estimulos, assim ‘Como a sintomas da perturbago antissocial da personalidade da DSM-IV-TR' para adultos © para criangas, e formas de agressao encolerizada. Em suma, parece que os fatores da PCL-R avaliam (em termos de contetido) apenas a desinibigdo e malvadez primérias, fican- do © arrojo numa posigao secundaria. 0 ajustamento positive de Cleckley (1976) (auséncia de sintomas psicsticos, de ansiedade ou nervosismo, imunidade ao suicidio) é fracamente representado na PCL-R. ‘Outro instrumento, o PPI (Psychopathic Personality Inventory), desenvolvido com populagéo No criminosa mas testado em populagdo prisional (Neumann, Malterer & Newman, 2008), inclui todo © espectro de tragos de Cleckley (1976). Inclui oito subescalas unidimensionais que, segundo uma anélise fatorial exploratéria, se organizam em dois fatores: @ PPI-! (Domindncia Destemida) - eficdcia social, imperturbabilidade e auséncia de medo; '™ PPI-II (Antissocialidade Impulsiva) - inconformidade impulsiva (rebeldia), externaliza- go da culpa, egocentrismo maquiavélico, auséncia despreocupada de planeamento (alienagao) e agressao. A citava subescala “frieza” (baixa sentimentalidade e capacidade criativa, baixa resposta a0 stress alheio) obriga a uma solugéo de trés fatores. O fator “Domindncia Destemida” associa-se a ajustamento sociale psicolégico positivo, assim como a narcisismo, procura de ‘excitagao e baixa empatia, Relaciona-se sobretudo com 0 arrojo. O fator “Antissocialidade Impulsiva” associa-se a desajustamento social e psicolégico, nomeadamente agressividade ¢ impulsividade, comportamento antissocial infantil e, em adultos, problemas com alcool e drogas, elevada ansiedade e queixas sométicas, bem como ideagao suicida. Relaciona-se sobretudo com a desinibigdo (e em menos extensao com a malvadez). Ou seja, os estudos sugerem a existéncia dos jé referidos trés fendtipos, bem como as relagdes que tem com 0s fatores dos instrumentos mais usados na avaliago da psicopatia, nomeadamente a seg- mentagao do Fator 1 da PCL-R no estudo de Cooke e Michie (2001). Relativamente aos jovens, e na procura da histéria natural dos comportamentos antissociais, Nos Uiltimos 15 anos a investigagao tem-se centrado na busca de um subgrupo psicopatico da perturbacao do comportamento, empregando instrumentos que so extensdes de instru- mentos usados em adultos ~ e.g. PCL-YV (PCL - Young Version) (Forth, Kosson & Hare, 2003). Relativamente as criangas, 0 APSD (Antisocial Process Screening Device) (Frick & Hare, 2001), com 20 itens para avaliar tendéncias psicopéticas em criangas com idades entre seis § 6 12 eres coon erturbacao da conduta, preenchido por pais ou professores, correlaciona- § -se bem com a PCL-R, Possui dois fatores, o fator “Problemas Impulsivos/de Conduta” & é ° + DSMHIV-TR - Diagnostic and Statistical Marua of Mental Disorders. 255 Scanned with CamScanner Profiling, Vitimologia e Ciencias Forenses — Perspetivas Atuals * —— 0 fator “Exploragdo/insensiblidade Emocional”. O primetro associa. de impulsividade, desvio comportamental e narcisismo (tendénciag a a Comp, segundo associa-se a comportamentos de insensibilidade emocignss mat pessoal (expresso patolégica de um temperamento destemico) (Patrioy. Shop, 2008). Porém, nao é notéria a estrutua trérqulca nestes estudos gq co egg we (Cooke, Michie & Skeem, 2007). tes inate me Os estudos analisados nesta perspetiva desenvoivimental (Moff, Lyn “4 gerem que 0 comportamento antissoial com ino na infancia CA gem Sha, de comportamento antissocal persistent (muitos dos quais com crteys O° coy My idade edu ao conto do comportamentoantissocial com ince na aye Eo ‘As pessoas com CAI tém mais dices cognitive (baxa inteligéncia, nrc fices nas fungdes executivas), mais fatores de risco temperamentais hat mais dices de atongdo, mal problemas de regulago emocional,« amiga” e familias instaveis, com confltos, @ em que os pais usam estrataging $20 o eficazes (Frick & Viding, 2009). Patentais mee A teeta deni precoce envlve a pertubagto de oposigéo au ama tornar, por volta dos 10 anos, numa perturbagéo do comportamento e que se ay 8 Perturbapio de hiperatividade comérbida, Nesta trajetéra, a extensa lteran.: Say © temperamento dif das criangas com caréncia de vinoulos seguros e trova 2a {que resuitam em desinibigdo © malvadez, Literatura menos extensa relaciong <", fagumento suportado em caractersteas da pessoa Scanned with CamScanner Psicopatla, Engano eo Problema Dificll dos Perfis Quando © argumento assume um grau de preciso (de uma informagao) superior ao que possui, trata-se de falsa precisao e 6 também uma falacia comum. Relativamente dissonancia cognitiva, o profiler acredita que & capaz de identificar os erros de pensamento, apesar de a evidéncia ser em sentido contrério: “é sinal de incompe- tencia ndo reconhecer a incompeténcia’, quanto aos mitos comuns na investigago criminal, no Ambito da observagéio comporta- ‘ental, a evidéncia tem rebatido sistematicamente diversas crengas de policiais, magistra- 4os e de especialistas de saiide mental (psicblogos e psiquiatras) 2or exemplo, quando se interroga um suspeito, uma potencial vitima ou uma testemunha, toredita-se que 0 individuo esta a mentir se desviar o olhar (gaze aversion), se fizer gestos {e cogar (“nervosismo"), se tapar a boca quando fala, se tremer os lébios, se hesitar nas espostas @ se ficar palido ou corar. Ora a evidéncia contraria veementemente esta crenga Uri, Granhag & Porter, 2010) 2or outro lado, hd pessoas, nomeadamente personalidades psicopaticas, tais como border- ines e histriénicos, cujo comportamento natural desarma qualquer suspeiga0; ndo sentem lificuldade cognitiva quando mentem; nao experimentam emogdes como medo, culpa ou leleite quando mentem; sao bons atores sugerindo um comportamento decoroso; possuem tratividade (fisica e no verbal) que induz a inferénoia de que se tratard de alguém virtuoso honesto, sendo comum assumirem-se como bons psicélogos. Olham nos olhos, sorriem, cenam com a cabega, inclinam-se para a frente, espelham posturas do outro, nao cruzam 1s bragos, fazem gestos significativos, possuem taxas de fala moderadas e tém falta de ums” ¢ “ers”. Todos estes indicadores néo verbais séo compativeis com a honestidade, ‘elo que muitos peritos caem nesta armadiha quando entrevistam pessoas para elaborar els e relat6rios periciais. ' que 6 preocupante 6 0 facto de 0 treino profissional de policiais, por exemplo, nos EUA er feito com base em manuais muito populares suportados por académicos como, por xemplo, o Telling lies: Clues to deceit in the marketplace, politics and marriage (1985), de aul Ekman. Contudo, meta-anélises posteriores (nos tltimos 25 anos) tém posto em causa stas pistas ndo verbais. Prestar atengao as pistas visuais tende a julgar 0 interlocutor como ‘entiroso (Vrij, 2008). tras armadilhas so as heuristicas ou atalhos cognitivos (Vrij, Granhag & Porter, 2010), que Uitos investigadores e clinicos usam: © Heuristica da disponibilidade - porque encontramos mais verdades (?) do que menti- ras, assumimos que, até prova em contrério, os comportamentos serao provavelmente honestos; '@ Heuristica de ancoragem - tendo assumido de inicio uma inferéncia, nao ajustamos essa inferéncia a novos dados; © Heuristica de viés de verdade relacional - se se estabelece uma relacdo mais intima, hd uma forte tendéncia para julgar tudo o que o interlocutor diz como sendo verdade; '™ Heuristica da prova - se uma fonte nao se tem revelado falsa, é aceite como fonte indiscutivel; 265 Scanned with CamScanner Profiling, Vitimologia e Ciencias Forenses ~ Perspetivas Atuals @ Heuristica de representatividade - uma reagao particular (e.g. de nervosismo) & um exemplo de uma categoria maior; 1 Heuristicos de consisténcia — juizos que ocorram depois de varios juizos verdadeiros consecutivos serdo necessariamente verdadelros; 1 Heuristica da violagdo da expectativa - julgar como falsas as reagdes que parecem violar as normas da conversagao, © Heuristicas da aparéncia facial - pessoas mais atraentes sao mals honestas (faces simétricas, lembrando um bebé/imaturas); © Heuristica da primazia da pista visual - dar primazia ao olhar para detetar a mentira; © Heuristica da pista tinica - se desvia o olhar (ou se treme 0 labio) 6 mentiroso. Finalmente, outros erros comuns dos cacadores de mentiras consistem em ndo terem em conta as diferengas individuais e étnicas (Vrij et al., 2010). Por exemplo, os introvertidos ¢ ‘8 socialmente ansiosos sao frequentemente considerados mentirosos @ frequentemente condenados. Os “cagadores” de mentiras ndo se podem esquecer que, por exemplo, os ne- {gros americanos desviam mais 0 olhar do que os caucasianos americanos, que as pessoas oriundas da Turquia e de Marrocos a viverem na Holanda desviam mais 0 olhar do que os holandeses, e que olhar nos olhios no Ocidente é educado, mas no Japao é rude. Efetiva- mente, “nonverbal behavior is cuturally mediated” (Vrijet al., 2010; p. 100). Conclusdo ‘Apesar do que se sabe acerca das personalidades psicopdticas, trajetérias desenvolvimen- tais e os processos subjacentes, a investigagao criminal e a construgdo de um perfil, nomea- ‘damente de uma personalidade psicopética, 6 uma tarefa dificil em virtude das faldcias légi- case da dificuldade em detetar 0 engano. Efetivamente, como jé referimos, ha muitos mitos acerca da construgao de perfis. Alguns so subtis como, por exemplo, as novas metodolo- gias de procura da marca de Caim (neurociéncias, marcadores genéticos e enzimaticos, ete, Um dos principais mitos neste dominio é o de que as testemunhas ou suspeitos “mentiro- 'sos" tém respostas emocionais mais intensas do que os verdadeiros. A evidéncia cientifica e empirica mostra que nao se distinguem, isto 6, os que falam verdade também podem reagir intensamente s6 por se sentirem suspeitos (erro de Otelo). Outro mito sugere que 0 mentiroso desvia 0 olhar, muda de posigdo, faz pausas e usa autorreferéncias. Contudo, na meta-andlise de DePaulo e colaboradores (2003), em que os investigadores pesquisaram 158 pistas, 118 (75%) ndo esto associadas 20 engano, incluindo as referidas atras. Ha manuais policiais que explicitam e apoiam com fotografias e ilustragdes a pesquisa das referidas pistas, 8s quais juntam um menor nimero de detalhes no discurso e um menor nu- ‘mero de movimentos das maos a acompanhar o discurso como ilustradores. Contudo, entre ‘0s mentirosos e os que falam verdade a magnitude das diferengas (d =.25) é insignificante. “Cues to deception are generally unreliable and faint” (Vri, Granhag & Porter, 2010, p. 93). Porém, hé algumas pessoas que sao excelentes enganadoras, isto , “some people show such demeanor naturally even when they are lying" (Vr, Granhag & Porter, 2010, p. 95). Finalmente, a excessiva confianga dos detetores humanos de engano (policiais, psicdlogos, psiquiatras e magistrados) no é sinénimo de rigor ou preciso. E 0 cinema ¢ as séries Scanned with CamScanner emcron Psicopatla, Engano e o Problema Dificil dos Perfis televisivas (e.g,, a série “Lie to Me", ctiada por Samuel Baur) alimentam este mito. “No lie- detection tool used to date that is based on analyzing nonverbal and verbal behavior is ac- curate — far from it... Despite the falibilty of those tests, Paul Ekman, an American emeritus professor of psychology who has specialized in nonverbal cues to deceit, said in an interview with The New York Times (...) that this system of lie detection can be taught to anyone, with an accuracy of more than 90%. However, there is no published study that supports this claim” (Vrij, Granhag & Porter, 2010, p. 101). Em sintese, elaborar um perfil de uma personalidade psicopatica é um problema “dificil”, pelo que exige que se tenha em conta a evidéncia cientifica e empirica, associada ao rigor légico. Em termos praticos, 0 perito deveré ouvir atentamente, saber que prestar apenas atengdo aos sinais nao verbais prejudica a detegao da mentira, relacionar os sinais nao vverbais com 0s contetidos do discurso, saber que a observagao das microexpressées (abor- dagem de Ekman) nao tem suporte empirico (Porter & Brinke, 2010) e que a diminuigdo da taxa do pestanejar associa-se A carga cognitiva, mas um truth teller pode ter muita carga cognitiva num interrogatério, tal como um liar. Do ponto de vista tecnico relativamente & entrevista, devera antecipar tipos de quest6es que 0 interlocutor no espera (tais como solicitar descrig6es do espago, detalhes temporais, pedir para desenhar, etc.), pedir para recontar a histéria no sentido inverso (do fim para principio), pedir para recontar a partir de um ponto temporal escolhido pelo perito, pedir ao interrogado que mantenha 0 “contacto ocular” A excessiva confianga dos detetores humanos com 0 entrevistador (estratégia de distragao que 22 engano (poficiais, psiodlagos, psiquiatras e aumenta a carga cognitiva), e questionar sobre iso. eventos irrelevantes quando se trata de criangas. Referéncias ‘Almeida, N. (2011). Regras sociais ¢ psicopatia: Wason Selection Task. Dissertagao de mes- trado apresentada & Universidade de Aveiro. Behrman, B.W,, & Davey, S.L. (2001). Eyewitness identification in actual criminal cases: An archival analysis. Law and Human Behavior, 25 (5), 475-491. Bronson, R., & Naadimuthu, G. (2001). Investigaco operacional(2.* Ed.). Amadora: MeGraw- Hil Busey, TA., & Loftus, G.R. (2008). Cognitive science and the law. Trends in Cognitive Scien 9s, 11 @), 111-117. Carrién, FLE., Keenan, J.P, & Sebanz, N. (2010). A truth that's told with bad intent: An ERP study of deception. Cognition, 114, 105-110. Caso, L., Maricchiolo, F, Bonaiuto, M., Vii, A, & Mann, S. (2006). The impact of deception hand movements. Journal of Nonverbal Behavior, 30 (1), 1-19. , & Berntson, G, (2007). Handbook of psychophysiology. Cambridge: ‘Cambridge University Press. Christensen, L. (2004). Experimental methodology (9 Ed). Boston: Pearson. (Cleckley, H. (1976). The mask of sanity (S* Ed). St. Louis, MO: Mosby. Cooke, D., Michie, C., & Skeem, J. (2007). Understanding the structure of the psychopathy checklist revised - An exploration of methodological contusion. British Journal of Psychia- ty, 190 (49), 39-50. ‘Cooke, D.J., & Michie, C. (2001). Refining the construct of psychopathy: Towards a hierarchi- calmodel. Psychological Assessment, 19, 171-188. ‘Coxon, P, & Valentine, T. (1997). The effects of the age of eyewitnesses on the accurancy and ‘suggestibility of their testimony. Applied Cognitive Psychology, 11, 415-430. magistrados) ndo 6 sinénimo de rigor ou pre- wid Scanned with CamScanner

You might also like