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CALMAMENTE, CUIDADOSAMENTE,

COMPLETAMENTE
OS IRMÃOS REED – LIVRO 03

TAMMY FALKNER

NIGHT SHIFT PUBLISHING


Calmamente, cuidadosamente, completamente

Calmamente, cuidadosamente, completamente

1. Tammy Falkner
Copyright © 2015 por Tammy Falkner
Sinopse
2. Pete
3. Reagan
4. Pete
5. Reagan
6. Pete
7. Reagan
8. Pete
9. Reagan
10. Pete
11. Reagan
12. Reagan
13. Pete
14. Reagan
15. Pete
16. Reagan
17. Pete
18. Reagan
19. Pete
20. Reagan
21. Pete
22. Reagan
23. Pete
24. Reagan
25. Pete
26. Reagan
27. Pete
28. Reagan
29. Pete
30. Reagan
31. Pete
32. Reagan
33. Pete
34. Reagan
35. Pete
36. Reagan
37. Pete
38. Reagan
39. Pete
40. Epílogo: Matt
41. Caros leitores,
Não deixe de conferir os demais livros da Série Os irmãos Reed:
CALMAMENTE, CUIDADOSAMENTE, COMPLETAMENTE

.
(Os irmãos Reed – Livro 03)
TAMMY FALKNER

Tradução: Andréia Barboza


COPYRIGHT © 2015 POR TAMMY FALKNER - MEB

Copyright da tradução © 2015 por Andreia Barboza

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/02/1998. Nenhuma parte deste
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184 do Código Penal.
SINOPSE

*** Este é um livro New Adult que se destina ao público com mais de 18 anos, devido à linguagem
adulta, conteúdo sexual e situações adultas ***

Este é o livro três da série Irmãos Reed, mas pode ser lido separadamente dos demais.

Pete
Eu a conheci na pior noite da sua vida. Ela estava quebrada, arrasada e à espera de alguém para
salvá-la. Sou grato por ter tido a oportunidade de conhecê-la. Seu pai me ajudou com alguns
problemas legais em que me envolvi, e eu me ofereci para ajudar em seu acampamento para crianças
com necessidades especiais. Cavalos, piscinas e uma pulseira de rastreamento em meu tornozelo.
Soa como uma semana divertida, não é?
Ela estava lá e queria agradecer-me pela minha bondade naquela noite terrível. Mas eu a quero.
Eu a quero mais do que qualquer coisa. Acho que ela me quer também, mas ela precisa de calma e
cuidado, e não sei se posso oferecer isso.

Reagan
Pete me salvou. Mas agora é a minha vez de retribuir o favor. Ele é sensual, com aquelas
tatuagens e piercings, mas, por baixo de tudo, ele está implorando para que alguém o salve também.
Será que ele pode me amar completamente?
PETE

N inguém se mete com você na prisão quando você é todo tatuado.


Nem uma única alma solitária.
Pode ter algo a ver com o fato de eu ser fortão também. Eu não pedi isso, mas eu gostei.
Em casa, a história é completamente diferente. Lá, todo mundo fode comigo. Eu sou o mais novo
de cinco irmãos, todos homens. Todos eles são grandes como eu, se não maiores, e ainda têm mais
tatuagens do que eu. Você não ganha pontos por ser adorável. Na minha casa, você ganha pontos por
ser uma boa pessoa, contribuindo para a união familiar e apoiando a família em todos os sentidos.
Foi péssimo eu tê-los decepcionado em todos os requisitos. Eu fodi com tudo há dois anos.
Jamais deveria ter feito o que fiz. Mas errei e paguei minha dívida com a sociedade, passando um
bom tempo atrás das grades. Só espero que eles possam me perdoar em casa e não usar isso sempre
contra mim.
Uma mão bateu no meu ombro, interrompendo meu diálogo interno. Olho para cima e vejo meu
advogado, o Sr. Caster.
― É bom ver você novamente, filho ― ele fala, sentando na minha frente. Ele abre uma pasta de
arquivos.
― Por que você está aqui? ― deixo escapar. Estremeço imediatamente, percebendo como isso
foi rude. Mas sua testa apenas franze quando ele balança a cabeça. ― Quero dizer, é bom vê-lo,
senhor.
Ele ri.
― É bom ver você também, Pete ― diz ele, pegando um folheto da pasta e empurrando-o para
que eu possa ler. ― Tenho uma oportunidade para você.
Meu irmão mais velho, Paul, diz que oportunidades são problemas de outras pessoas.
― Que tipo de oportunidade? ― pergunto, hesitante. Abro o folheto. Há fotos de cavalos,
crianças, estruturas de escaladas e uma piscina. Olho para ele.
― Este é um catálogo da Fazenda Cast-A-Way ― ele fala.
― E? ― pergunto.
― A oportunidade ― diz ele. ― Conversei com o juiz e disse a ele que esse programa seria bom
para você. ― Espero não estar errado.
Odeio parecer um idiota, mas...
― Não estou entendendo, Sr. Caster.
― Preciso de bons homens para ajudar no Cast-A-Way por cinco dias, durante o verão. ― Ele
pega a sua pasta e fecha. ― Li seu arquivo e gostei do que vi. Acho que você tem potencial. Além de
ter o conjunto de habilidades que preciso para este acampamento particular.
Conjunto de habilidades? Tudo o que posso fazer é tatuar as pessoas. Eu trabalho no estúdio de
tatuagem dos meus irmãos quando não estou atrás das grades. Não sei como fazer muito mais.
― Você quer que eu tatue o pessoal?
Ele ri novamente.
― Preciso da sua habilidade com linguagem dos sinais ― ele admite. ― Temos um grupo de
crianças com necessidades especiais, a cada ano. E, desta vez, temos um menino muito especial, que
tem esclerose múltipla e um tubo de traqueostomia. Ele não pode falar, apenas se comunicar por
sinais. Sua mãe estará junto, mas ela não pode estar com ele vinte e quatro horas por dia, sete dias
por semana. Então, achei que você poderia vir e ajudar. ― Ele dá de ombros. ― Além disso, haverá
um grupo de meninos que são deficientes auditivos. Você pode trabalhar com alguns deles também.
Olho para os antebraços do Sr. Caster e acho que vejo uma tatuagem aparecendo na manga da sua
camisa. Ele segue meu olhar e encolhe os ombros.
― Acha que é o único que gosta de uma certa rebeldia, Sr. Reed? ― ele pergunta, mas sorri.
Balanço minha cabeça.
― Sua oportunidade parece interessante ― eu falo ―, mas estou em prisão domiciliar por um
ano. Só posso ir para o trabalho e atividades pré-aprovadas.
― Já conversei com seu agente da condicional ― ele fala. ― Ele é a favor. ― Ele cruza os
braços sobre a mesa e se inclina sobre os cotovelos. ― Mas é só se você quiser. Ninguém vai forçá-
lo.
Pego o folheto e começo a ler. Parece realmente muito interessante.
― Você estaria me fazendo um grande favor ― ele fala. ― Preciso de outro homem presente, que
possa ser um bom modelo para o pessoal que vamos receber, vindos do centro de detenção juvenil.
Eles estarão lá trabalhando, recebendo horas de serviço. Preciso de alguém para me ajudar com eles.
É por isso que preciso de você. ― Ele aperta os olhos. ― Você é grande e assustador o suficiente.
― Ele sorri.
― Você vai ter jovens infratores em seu acampamento? Trabalhando com as crianças?
Ele balança a cabeça rapidamente.
― Eles vão interagir só um pouco com as crianças. A ajuda deles será mais nas tarefas do dia a
dia, alimentando os cavalos, empilhando caixas, fazendo quebra-galhos, ajudando com as refeições...
Nunca tive medo de trabalho braçal. Meus irmãos sempre disseram que devemos trabalhar duro.
Eu suspiro.
― Há uma vantagem ― diz ele, sorrindo.
― Não me diga ― eu falo. Sento e cruzo os braços na minha frente.
― Se o tempo que você ajudar no acampamento for tranquilo, posso pedir clemência em relação
a sua prisão domiciliar, com base no mérito. ― Ele olha em meus olhos. ― Seria bom, não é?
Uau. Eu poderia receber clemência?
― São só cinco dias? ― pergunto.
Ele balança a cabeça.
― De segunda a sexta.
Solto um suspiro.
― Quando partimos?
Ele sorri e estende a mão para apertar a minha. Coloco a minha mão na sua e ele a aperta com
força.
― Vamos amanhã.
― Amanhã? ― Suspiro. Nem sequer fui para casa ainda. Nem consegui ver meus irmãos.
Ele balança a cabeça.
― Ao raiar do dia. ― Ele sorri novamente. ― Você ainda quer ir?
― Isso pode realmente encurtar minha detenção?
Ele balança a cabeça.
― Pode. Mas a decisão final é do juiz. E dependerá de como as coisas forem no acampamento.
― Ele fica sério e olha diretamente em meus olhos. ― Pete, eu realmente acho que você pode ajudar
com os meninos com deficiência auditiva, aqueles que não podem falar e os do programa. Acho que
você pode fazer coisas brilhantes. Eu acredito em você, Pete, e quero lhe dar uma oportunidade para
provar que você é melhor do que isso. ― Ele faz um gesto amplo, abrangendo a sala.
Melhor que um prisioneiro? Sou melhor do que o que me tornei? Não tenho tanta certeza.
― Temos um acordo? ― ele pergunta.
Aceno e estendo minha mão para ele novamente.
― Temos um acordo.
― Você precisa que alguém busque você, amanhã de manhã?
Balanço a cabeça.
― Posso vir sozinho.
― Te vejo às seis da manhã. ― Ele bate a mão em meu ombro e aponta para a porta. ― Acho
que sua família está esperando lá fora.
Meu coração bate com mais força. Faz tanto tempo. Não consigo sequer pensar no quanto quero
estar com eles novamente. E me sentir normal.
Aceno e mordo meu lábio inferior. Estico a coluna e saio pela porta. Os guardas me levam pelo
corredor até uma bancada, onde eles entregam meus pertences e pedem que eu os verifique. Coloco
minha carteira no bolso de trás da calça jeans, meu relógio de volta no meu pulso e os piercings no
bolso. Mais tarde eu tentaria colocar pelo menos alguns de volta.
― Pronto? ― o Sr. Caster pergunta. Não havia notado que ele estava bem ao meu lado até que
olhei em seus olhos. Muito suavemente, ele fala.: ― Pare de se preocupar tanto. Eles são a mesma
família que você deixou há dois anos.
Eles podem ser, mas eu estou diferente. Aceno com a cabeça. Não consigo falar por causa do nó
em minha garganta.
Empurro a porta, fazendo pressão sobre a barra, e, então, me encontro fora dos muros da prisão
pela primeira vez em dois anos. Respiro fundo e olho para o céu. Então, vejo meus irmãos me
esperando no final do caminho e o nó em minha garganta duplica de tamanho. Pisco com força,
tentando conter a emoção.
Paul, meu irmão mais velho, está de pé ao lado de Matt, que tem um enorme sorriso no rosto. Seu
cabelo cresceu novamente e está maior do que já tinha visto alguma vez. Ele disse, numa carta, que
havia decidido deixá-lo crescer, agora que ele sabia como era perder tudo para o câncer. Ele está se
recuperando. Eu perdi tudo isso porque estava atrás das grades. Mas essa era uma das razões por eu
estar lá. Achei que poderia ajudá-lo e acabei me colocando em apuros.
Logan está de pé, com o braço sobre o ombro de sua namorada, Emily. Ela olha para ele como se
ele tivesse lhe dado a lua e as estrelas. Ele aponta e sorri para mim, e ela olha e grita. Então, ela se
solta dos braços de Logan e corre em minha direção com força total. Ela me bate forte no peito, os
braços envolvendo meu pescoço. Levanto-a do chão e a faço girar enquanto ela me aperta e murmura
em meu ouvido.
― Estou tão feliz que você está voltando. Sentimos tanto a sua falta.
Olho ao redor. Falta alguém.
― Onde está Sam? ― pergunto. Seu rosto demonstra constrangimento e ela olha para todos os
lugares, menos para mim. Sam é meu irmão gêmeo, mas ele não está aqui. Meu instinto soa um alerta.
Eu realmente esperava que ele estivesse.
― Ele teve aula. Você sabe como os horários escolares são rigorosos. ― Ela não me olha, então,
sei que está mentindo. Coloco meu braço sobre seu ombro por um segundo e caminhamos em direção
aos meus irmãos, mas só dou alguns passos até que Paul afaste Emily e me envolva num grande
abraço de urso. Ele me aperta com tanta força que minha respiração chega a falhar.
― Deixe-me ir, seu grande touro ― resmungo, mas, quando consigo me soltar, ele agarra minha
cabeça entre as mãos e passa os dedos pelo corte de cabelo feito na prisão. Meu cabelo está tão
curto que não é muito mais do que um penacho em minha cabeça.
Logan me dá um soco no braço, e me viro para olhar para ele. Logan é deficiente auditivo e usa a
linguagem de sinais. Mas, depois de oito anos de silêncio, ele começou a falar bem antes de eu ir
para a prisão. Ele faz os sinais enquanto fala.
― Alguém te escalpelou enquanto você estava dormindo? ― ele pergunta, apontando para o seu
cabelo. É estranho ver Logan falar, após tanto tempo. Mas Emily traz o melhor dele, inclusive a sua
voz. ― Parece que você lutou três rounds com um cortador de ervas daninhas. E perdeu.
Antes que eu possa responder, ele me puxa para um abraço. Logan é especial. Ele é inteligente
demais e muito talentoso. Além disso, Emily o ama e todos sabem disso. Eles estão destinados a
ficar juntos para sempre e ninguém duvidava disso desde a primeira noite em que ele a levou para
casa, jogada por cima do seu ombro, com a calcinha da Betty Boop aparecendo.
Logan me solta e eu olho para Matt. Ele parece tão saudável que chega a brilhar.
― Falando em cortes de cabelo ― eu digo, puxando uma mecha do seu. ― Quando você acha
que pode fazer um?
Ele coloca as mãos sobre minha cabeça e me puxa para seu ombro. Deus, como senti sua falta.
― Vou começar a chamá-lo de cachinhos dourados ― eu aviso. Somos todos loiros, uns mais que
os outros.
― Experimente, babaca ― ele brinca enquanto bate no meu ombro. ― Faz muito tempo que não
temos uma boa discussão.
Emily envolve seu braço no meu e me aperta.
― Acho que você está mais forte do que quando entrou.
― Não há muito o que fazer além de trabalhar e ler. ― Dou de ombros.
― Ainda ganho dele ― Logan fala e flexiona os músculos. É tão bom ouvi-lo falar.
Logan sofreu um acidente de carro, logo depois que fui para a cadeia, e quase morreu. Eu queria
tanto ter estado com ele, mas não me deixaram sair.
― Ouvi dizer que você é um coroa mole agora ― falo rindo e ele tenta agarrar minha cabeça
para me dar um cascudo, mas eu pulo para longe dele.
― Nada em mim é mole ― ele fala com uma risada. ― Certo, Emily? ― ele pergunta e ela lhe
dá um soco no braço. Ele a pega pela cintura e a joga por cima do ombro. Ela grita e bate em suas
costas, mas ele não lhe dá confiança. Ele nunca dá, quando faz isso. Logan começa a seguir na
direção do metrô, para que possamos ir para casa. Meus irmãos e eu o seguimos.
Emily desiste e se remexe sobre o ombro de Logan. Ela levanta o rosto e eu me inclino e beijo
sua bochecha.
― Você está bem? ― ela pergunta, em voz baixa.
― É bom estar indo para casa ― eu admito. ― Estranho, mas bom.
Ela coloca as mãos sobre a boca e sussurra dramaticamente.
― Temos cerveja no apartamento. Pelo seu aniversário!
Eu sorrio. Passei meu vigésimo primeiro aniversário atrás das grades. Mas eu tinha a sensação
de que eles não iriam deixá-lo passar sem algum tipo de celebração.
― Apenas cerveja? ― sussurro de volta de brincadeira.
Ela pisca.
― Pode ter algumas outras coisas também. Como vinho.
Meus irmãos só bebem ocasionalmente.
― Tem bolo? ― pergunto.
Ela balança a cabeça.
― Sam fez. ― Sam é o confeiteiro da família. É uma pena que ele tenha que ter investido no
futebol para poder ir para a faculdade, porque ele teria sido um chef excelente. E seria muito mais
feliz.
― Então ele estava em casa, no fim de semana? ― Saber que ele passou o fim de semana em
casa, mas não está lá agora é como se estivessem enfiando uma faca em meu estômago. Essa merda
dói, mas não posso culpá-lo.
Ela balança a cabeça e faz aquela coisa de não me olhar. Ela seria terrível no pôquer porque não
sabe mentir.
― Quanto tempo mais você acha que ele vai me evitar? ― pergunto.
Matt olha para mim, mas não responde a minha pergunta.
REAGAN

S ento-me na caminhonete do meu pai e tamborilo meu polegar no volante, no ritmo da música.
Deixei meu pai há uma hora e ele me deu uma tarefa para fazer, porque ele odeia a ideia de que eu
esteja do lado de fora de uma prisão aguardando por ele. Terminei a tarefa e agora estou esperando.
Ele não pode me culpar por isso, não é?
Eu congelo quando vejo três homens tatuados caminharem por onde estou estacionada. Eles são
loiros e enormes e um deles está de mãos dadas com uma garota, uma bela moça de cabelo loiro
escuro. Ajeito-me no banco para vê-los melhor. Eles são carinhosos uns com os outros e é possível
perceber como eles estão felizes por estarem juntos. O que está de mãos dadas com a menina dá um
tapinha em seu traseiro e a puxa em sua direção. Ela se inclina para frente e o beija no rosto. Ele a
vira porque ela está fazendo sinais para ele. Sinto meu ritmo cardíaco acelerar. É a família dele.
Tenho quase certeza disso. Eles são irmãos de Peter Reed.
Peter Reed é alguém que eu quis encontrar durante dois anos e meio. Ele me salvou uma noite,
quando eu realmente precisava ser salva. Ele me encontrou encolhida, num quarto nos fundos de uma
casa de fraternidade, após o impensável ter acontecido.

ESTOU ENCOLHIDA PERTO DA PAREDE, ainda tremendo pelo o que aconteceu. Ele apagou a luz do
quarto ao sair, então me sentei no escuro, com meus dentes batendo com tanta força que meu
queixo dói. Minha calcinha ainda está arriada ao redor do meu tornozelo, pendurada como o
inútil pedaço de pano que ela é. Um lado está arrebentado, onde ele rasgou-a de mim, mas não
consigo soltar meus braços do meu redor para puxá-la para cima. Minha saia está enrolada em
minha cintura. Ele nem mesmo se incomodou de puxá-la para baixo quando acabou. Ele só
sussurrou em meu ouvido sobre como ninguém jamais acreditaria em mim se eu dissesse o que
tinha acontecido e que era melhor que eu guardasse para mim mesma, se eu soubesse o que era
bom para mim.
O alerta do meu celular soa ao meu lado, a luz da tela brilhando com um farol na escuridão.
Quero pegá-lo. Provavelmente deve ser algum dos meus amigos querendo saber onde estou. Mas
não consigo afastar meus braços de mim o suficiente para alcançá-lo. Se eu me soltar, vou
desmoronar. Não posso desmoronar, simplesmente não posso.
A porta se abre e uma faixa de luz entra no quarto. Um jovem ri de alguém enquanto fecha a
porta na cara de uma menina. Ele acende a luz e se inclina para trás, contra a porta, xingando e
brincando. Rastejo minhas mãos em direção à sombra no canto. Talvez ele não me veja. Mas ele
vê. E posso dizer que ele congela e fala uma série de xingamentos.
Meus dentes ainda estão batendo e mal consigo respirar direito. Ele se agacha na minha
frente.
― Ei, você está bem? ― ele pergunta e leva a mão em minha direção. Um som animalesco sai
da minha garganta. Até eu me assusto e ele afasta sua mão, como se eu fosse um cão raivoso e ele
estivesse com medo de que eu o mordesse. O cara que tinha acabado de sair, porém, não sentiu
medo de mim. Depois de alguns minutos me beijando, quando eu estava pronta para parar, ele me
empurrou, arrancou minha calcinha, me segurou com força e me estuprou.
Olho para os olhos azul-céu deste homem, e eles são muito diferentes dos marrons que me
feriram. Abro a boca para falar, mas apenas um grito sai. O alerta do celular soa de novo e eu
olho para ele.
― Você quer que eu o pegue para você? ― ele pergunta baixinho. Então, ele aproxima-se do
aparelho, pega e coloca-o ao meu alcance. Eu o pego, tirando da sua mão, e me enfio mais no
canto. Ele salta para trás, como se eu o tivesse assustado. Olho para a tela.

Rachel: Onde você está, cachorra? Vi você beijando aquele babaca. Você queria ficar com ele?

PRECISO RESPONDER, mas meus dedos estão tremendo muito.


― Você quer que eu responda? ― o homem pergunta. Ele pega o telefone suavemente da
minha mão com um leve puxão e eu o solto. Não tem nenhuma utilidade para mim. Estou tremendo
demais para usá-lo. ― O que você quer que eu diga? ― ele pergunta.
Engulo em seco. Eu gritei quando começou, antes que ele cobrisse minha boca com a mão, bem
antes de ele bater minha cabeça na bancada do banheiro, e agora minha garganta está doendo.
― Ajude-me. ― As palavras saem num sussurro e ele se inclina mais para perto porque não
consegue ouvir o que estou dizendo.
― O quê? ― ele pergunta baixinho.
― Ajude-me ― eu falo. Ele olha para mim. Não para o meu corpo exposto. Ele só olha para o
meu rosto, como se eu não estivesse sentada aqui, com minha saia levantada acima dos meus
quadris, como se minha camiseta não estivesse rasgada. Como se eu não tivesse sido estuprada.
Contaminada. Usada. Puxo minha saia e ele olha ao redor do quarto, abre um armário e coloca
uma tolha sobre mim. Eu começo a ajeitar minhas roupas por baixo. Ele olha para baixo e pega
meus sapatos, que eu devo ter chutado para longe enquanto estava me debatendo. Ele os coloca ao
lado dos meus pés. Então, ele vê minha calcinha pendurada em meu tornozelo e ele a pega,
levantando minha perna suavemente para que ele possa retirá-la.
― Eu preciso disso ― eu falo. Eu realmente precisava.
― Está rasgada ― ele fala.
― Eu preciso disso ― falo novamente. Uma lágrima rola pela minha bochecha, e seu rosto
suaviza. Ele encontra os pedaços de tecido que o homem que me machucou rasgou e dá um nó. Ele
segura, como se eu fosse frágil e precisasse de sua ajuda para me vestir. Ele estende a mão para
me apoiar. Minhas mãos estão tremendo tanto que não consigo puxá-la para cima. Ele me ajuda e
sussurra algo quando puxa a calcinha e vê sangue na parte interna da minha coxa. Ele levanta o
olhar, observando o meu rosto enquanto ele a puxa por sobre meus quadris, e então abaixa minha
saia para cobri-la. Abaixo a toalha, e ele fecha a minha camisa com dedos gentis. Ele se inclina e
pega meu telefone onde eu deixei cair.
― Posso chamar alguém para você? ― ele pergunta.
Eu concordo. Mas não consigo pensar em quem. Não posso ligar para os meus pais. Eu nem
deveria estar nessa festa. Era para eu estar em meu dormitório, estudando.
― Chame Rachel ― eu falo e me inclino contra o balcão, sentindo como se eu não pudesse
mais me segurar.
Ele percorre meus contatos até encontrar seu nome. Ele liga, e eu posso ouvir o barulho fraco
da chamada através do telefone.
― Alô, Rachel? ― ele pergunta.
― Quem é você e por que você está com o telefone dessa vadia? ― Ouço Rachel perguntar.
Ele olha para mim.
― Você quer falar com ela? ― ele me pergunta sobre o telefone.
Balanço minha cabeça.
Ele fecha os olhos e fala:
― Meu nome é Peter Reed, e estou aqui com a sua amiga... ― Ele para e olha para mim,
arqueando as sobrancelhas. ― Qual o seu nome?
― Reagan ― eu sussurro.
― Sinto muito ― diz ele. E ele realmente parece sentir. ― Eu não posso ouvi-la. ― Seu tom é
suave e muito mais simpático do que mereço.
― Reagan. ― Minha voz parece um grunhido e eu fico constrangida pela forma como falo
isso. Mas ele ouviu, e é isso que importa.
― Estou aqui com sua amiga, Reagan. Ela precisa de você.
― Onde? ― Ouço Rachel perguntar.
― Fale que estou na festa. No banheiro principal, eu acho. ― Olho em volta.
― Quer que eu vá encontrá-la? ― ele pergunta olhando para mim, ainda segurando o
telefone.
― Não me deixe ― eu sussurro. Meu queixo treme e eu odeio isso. Mas este homem me faz
sentir segura.
Ele estende a mão e muito gentilmente coloca a mão sobre o lado da minha cabeça. Eu o
empurro e ele percebe que me tocar é um erro.
― Eu não vou embora. Eu prometo ― ele fala e se volta para o telefone. ― Estamos no quarto
dos fundos, no banheiro. Ela está ferida. ― Ele olha para mim enquanto fala. Não para o meu
corpo abusado. Seus olhos encaram os meus. ― Ela é forte ― ele fala. ― Mas acho que ela
precisa de você. ― Ele olha para o telefone. ― Acho que ela desligou na minha cara.
Eu concordo.
― Obrigada ― eu digo.
― Vou ficar com você ― diz ele para assegurar-me. ― Não vou embora. Eu prometo.
Concordo com a cabeça e me inclino contra o balcão, cruzando os braços sob meus seios.
― Eu vou com você para ter certeza de que você vai para o hospital ― diz ele.
Balanço a minha cabeça.
― Isso não é necessário.
Ele olha nos meus olhos.
― Um kit de estupro é necessário.
Oh, vou ter que ir para o hospital. Eu preciso fazer os exames para doenças sexualmente
transmissíveis. E conseguir uma pílula do dia seguinte. E fazer todas as coisas que eu nunca
pensei que eu teria que pensar, muito menos fazer.
― Eu sei. Eu irei.
― Eu irei com você.
Balanço a minha cabeça. Ele já viu o suficiente da minha vergonha.
― Eu não posso ir embora e deixá-la assim.
Ouvimos uma batida rápida na porta, e ele grita:
― Quem está aí?
― É Rachel ― diz uma voz abafada. Minha alma grita por ela. Eu aceno, e ele abre a porta.
Ela corre, mas para no caminho. Seu rosto se contorce, mas ela disfarça rapidamente ao ver uma
lágrima rolar pelo meu rosto. ― O que aconteceu? ― ela pergunta e envolve seus braços ao meu
redor e me puxa com força. Choro em seu ombro enquanto ela me segura. Olho para ele através
dos seus cabelos e vejo que ele está piscando furiosamente. Ele funga e endireita sua postura
quando me vê olhando para ele.
― Ela precisa ir para o hospital ― diz ele em voz baixa.
― Vou levá-la. ― Ela olha em volta. ― Como podemos tirá-la daqui sem que as pessoas a
vejam? ― ela pergunta.
Ele puxa seu moletom de capuz por sobre a sua cabeça e caminha até mim. Ele o enrola como
se quisesse colocá-lo sobre a minha cabeça, mas antes, pede permissão para fazê-lo, com os olhos.
Eu aceno, e ele o coloca sobre mim, e o seu cheiro me envolve. É um cheiro cítrico e de ar livre. O
casaco ainda está quente do seu corpo. Puxo-o para baixo, até meus quadris. Rachel molha um
canto da toalha que ele me deu anteriormente e limpa debaixo dos meus olhos.
― Você tem arranhões em seu rosto ― diz ela. Então, ela vê meu pescoço. ― Ele tentou
sufocar você? ― Ela suspira, mas se recupera rapidamente. Eu cubro meu pescoço com a mão.
Essa não é a pior coisa que ele fez.
Um rosnado baixo parece sair de Peter, mas eu posso ouvi-lo. Ele está com raiva por mim.
― Obrigada ― eu sussurro para ele quando ela me leva até a porta, sua mão segurando
firmemente a minha.
― Posso ir com você? ― ele pergunta.
Rachel olha para mim, mas eu balanço a cabeça.
― Posso, pelo menos, ver você mais tarde? ― ele pergunta. ― Como eu posso encontrá-la de
novo?
― Precisamos ir ― diz Rachel.
Ele nos segue pelo corredor, através da cozinha barulhenta e pela ruidosa sala de estar. Ele
protege meu corpo com a largura do seu e abre a porta para nós, para que possamos andar na
frente dele. A mão de Rachel está na minha, mas eu sinto a necessidade de segurar a dele, porque
ele representa a força para mim.
― Obrigada, Peter Reed ― eu sussurro.
― Por nada ― ele sussurra de volta.
Peter abre a porta do carro para mim e eu sento cautelosamente. Estou tão dolorida que solto
um gemido. Ele enrijece.
― Tem certeza de que não posso ir?
Eu concordo. Coloco minha cabeça para trás e fecho os olhos, enquanto Rachel me conduz ao
hospital.

UM GRITO ME afasta das minhas memórias. Vejo quando um homem loiro sai da frente da cadeia, e a
garota que estava com os três homens lança-se para Peter Reed. Sei que é ele. Não o vejo desde
aquela noite, mas estou completamente certa de que meu salvador acabou de sair da prisão.
Ouço uma batida na janela do passageiro e dou um pulo. Olho para o meu pai, que faz uma careta
para mim através do vidro. Abro a porta e ele entra. Ele olha para a cena à nossa frente.
― Está feliz agora? ― ele pergunta.
Meu pai é advogado e assumiu o caso de Pete quando eu descobri onde ele estava. Fui procurá-lo
algumas semanas depois do ataque. Perguntei por todo o campus até que finalmente encontrei alguém
que conhecia um dos seus irmãos. Pete estava na cadeia por um erro tolo. Então, pedi ao meu pai
para ajudá-lo e, desde então, ele está fazendo o que pode para libertá-lo.
Meu pai é muito conhecido na cidade por seu trabalho com o programa de detenção juvenil e faz
muito trabalho para pessoas que não podem pagar por representação. Meu pai descobriu que Pete
conseguiu assessoria jurídica de algum conhecido e, então, pediu para ajudar no caso. Ele teve que ir
para a cadeia, mas recebeu uma sentença mais leve, devido à ajuda do meu pai. Pete não merecia
estar na cadeia. Ele merecia ganhar uma medalha de honra.
Olho para meu pai e sorrio.
― Sim, estou feliz agora. Você chegou a perguntar a ele sobre a sua ida para o acampamento? ―
pergunto muito timidamente, porque meu pai me lê como se eu fosse um livro.
Ele balança a cabeça.
― E? ― Meu estômago retorce e meu coração está acelerado.
― Ele vai.
Coloco a mão sobre meu peito e me forço a respirar fundo.
― O que você espera deste menino? ― papai pergunta.
― Só quero agradecer a ele, pai.
Ele revira os olhos e sorri.
― Achei que você estava querendo ter seus bebês.
Eu dou uma risada.
― Ainda não.
Vou ver Pete amanhã. Mal posso esperar.
― Ei, garota ― ele diz em voz baixa. ― Ele tem estado na prisão pelos últimos dois anos. Ele
pode ser um pouco mais duro do que o menino que você conheceu naquela noite, há muito tempo.
Papai fala como se isso tivesse acontecido há anos atrás. Mas acontece todas as noites na minha
cabeça.
― Ele me salvou, pai ― eu digo em voz baixa.
PETE

E u não queria estar aqui. Não que eu tenha sentido falta da prisão na noite passada. Nem por um
minuto. Nem pretendo estar do lado errado das barras novamente. Nunca mais. Mas, aqui estou, de
volta onde eu não gostaria de estar. Estou fora da prisão, mas ainda... estou usando jeans, tênis,
camiseta e uma tornozeleira de rastreamento. Os meninos que estão na fila ainda usam o uniforme da
prisão. Eles não estavam oficialmente no programa de recuperação ainda, mas este voluntariado é o
primeiro passo em direção a isso.
As portas se abrem na minha frente e eu entro no ônibus, sentando no banco da frente, perto da
janela. Coloco minha mochila com meus poucos pertences no assento ao meu lado, esperando que o
ônibus não fique tão lotado a ponto de alguém ter que sentar-se comigo.
Um homem jovem senta-se atrás de mim, na beirada do seu assento.
― Vai para o acampamento também? ― pergunta ele. Sua respiração cheira como se ele tivesse
comido o rabo de uma mula.
― Cara, sente-se ― eu resmungo.
Admito. Estou com um pouco de ressaca.
Ele se inclina para trás e eu encosto minha cabeça contra a janela e estico as pernas sobre o
assento. Mas, então, o nariz dele surge na fenda entre o assento e a janela, junto ao meu rosto.
― Você vai para o acampamento, certo?
Ele respira pesadamente, bem no meu ouvido. E foram duas mulas, não apenas uma que ele
comeu. Meu Deus, acho melhor alguém dar um Tic Tac para ele. Abro minha mochila, tiro um drops e
passo uma bala para ele. Ele a coloca na boca e sorri.
― Sim, vou para o acampamento ― falo em voz baixa.
― Eu também. Legal, não é? ― Ele sorri. Ele é ainda mais jovem do que eu. Acho que ele tem
dezoito anos, em comparação com meus vinte e um.
― Sim, legal ― murmuro.
― Onde você estava?
Será que eles sabem que eu estava na prisão? Por alguma razão, achei que eu estava vindo para
ser uma espécie de mentor e não um ex-presidiário.
― Deite-se e durma um pouco ― eu falo, fechando os olhos.
Eu realmente quero saber de onde é esse garoto, mas jamais perguntaria isso. Isso seria rude.
― Eu matei alguém ― ele fala. Abro os olhos e vejo que ele está sorrindo. Seus olhos parecem
um pouco maníacos e eles observam tudo ao redor.
― Claro que sim ― murmuro. Foda-se, agora estou intrigado.
― Não, realmente ― ele fala. O rapaz fica animado de repente, e esfrega as mãos. ― Ele está
mortinho da Silva. ― Ele levanta um dedo como se fosse uma arma e aponta, fazendo, em seguida,
um som de powww com a boca.
― Hum-hum ― eu murmuro, fechando os olhos novamente.
― Você já esteve lá? ― ele pergunta, parecendo uma espécie de filhote de cachorro. O tipo de
filhote que pode matar alguém. Talvez um Cocker Spaniel. Essa raça de cachorro é foda. Minha
vizinha, a Sra. Connelly, tinha um e eu costumava levá-lo para passear. Aquela coisa podia morder
rapidamente.
― Onde? ― pergunto.
― No acampamento ― ele responde, parecendo todo animado novamente. Ouço-o mover-se em
seu assento, como se ele não conseguisse ficar parado.
O local realmente se chama Cast-A-Way, de acordo com os folhetos que eu vi ontem. Tento forçar
meus olhos abertos.
― Não, nunca fui.
― Eu também não. Mas conheço uma pessoa que foi no ano passado. Ele disse que era bom.
Exceto pelas crianças doentes e retardadas.
Odeio essa palavra.
― Eles não são retardados ― eu falo. ― São surdos. E alguns tem esclerose múltipla, autismo e
muitas outras coisas que os tornam especiais. Mas não são retardados.
Odeio essa porra de rótulo. Meu irmão, Logan, o que é deficiente auditivo, tem sido chamado de
mais nomes do que posso contar.
― Ah, tudo bem. ― Ele balança a cabeça. ― Certo ― ele fala consigo mesmo.
― Não use essa palavra de novo ― advirto.
― Tudo bem ― ele fala e balança a cabeça, como um cachorrinho.
O motorista do ônibus entra no veículo, seguido do meu agente da condicional, carregando sua
prancheta. Ele senta-se no banco à minha frente e vira a papelada. Ele é alto e musculoso e está
armado. O homem usa uma camisa com gola V e calça cáqui. Ele olha para mim e arqueia as
sobrancelhas.
― Você é Reed? ― ele pergunta.
Abro os olhos.
― Sim, senhor ― respondo. Nós, na verdade, já nos encontramos antes na prisão, mas ele não
deve se lembrar.
― Como você entrou neste programa? ― ele pergunta.
Dou de ombros.
― Não faço ideia. ― Sei que tinha algo a ver com o Sr. Caster, mas não sei o que aconteceu. Ele
age como se isso fosse importante para ele ou algo assim.
As sobrancelhas do meu agente da condicional arqueiam novamente e ele pega sua prancheta.
― Você é o cara que tem um irmão surdo.
Eu olho para ele.
― Sim.
Ele balança a cabeça e coloca sua prancheta de lado.
― Vai ter algumas crianças com deficiência auditiva no acampamento. E um menino tem
esclerose múltipla, ele usa um tubo de traqueostomia, logo, não pode falar. Você vai trabalhar com
ele como um tradutor.
Eu concordo.
― Parece bom.
― Há quanto tempo você sabe usar a linguagem dos sinais?
Meu irmão perdeu a audição quando tinha treze anos; já fazia dez anos.
― Quase dez anos ― eu falo, mas não estou muito certo. Uso a linguagem dos sinais há tanto
tempo que nem sequer percebo que faço isso, na maioria das vezes.
Ele se vira, de forma que seus joelhos fiquem de frente para mim.
― Por que você foi preso? ― ele pergunta baixinho.
Aceno em direção à prancheta.
― Você já sabe ― eu respondo. Fecho os olhos novamente.
Ele agarra meu pé e o sacode. Empurro minha perna de volta. Isso é algo que um dos meus
irmãos faria.
― Prefiro que você me fale.
― Posse com intenção ― eu murmuro. Não quero que o Tic Tac atrás de mim ouça.
Ele estende a mão para mim.
― Meu nome é Phil.
Eu aperto sua mão na minha.
― Pete.
― Não vai ser um problema para você, certo, Pete?
― Não, senhor ― eu respondo. Não vou criar problemas. Quero ir para casa quando tudo estiver
acabado.
Ele balança a cabeça.
― Certo. Posso precisar que você me ajude com alguns dos garotos mais jovens. ― Ele sacode o
polegar em direção à parte de trás do ônibus.
Eu concordo. Eu sou a pessoa mais velha aqui, além de Phil.
Phil se levanta e senta-se em frente ao Tic Tac e faz a mesma coisa. Eu o vejo fazer isso com
todos. Há cerca de dez jovens no ônibus, acho que todos com idade inferior a dezoito anos. Há um
rapaz mais jovem que não parece ter mais do que dezesseis anos.
Dou um suspiro e fecho os olhos. Cruzo meus braços sobre o peito e tento dormir. Se eu estiver
certo, levaremos algumas horas até chegarmos ao Cast-A-Way Farms.
REAGAN

A piscina é maravilhosa. Pena que está repleta de idiotas. Eu grito e cubro minha cabeça quando
outro pula na água bem ao meu lado, me encharcando, apesar do fato de eu ter dito especificamente
que não queria me molhar. Tenho um lugar para ir quando sair daqui.
Chase levanta a cabeça para fora da água e repousa sobre os cotovelos ao lado da minha cabeça,
o nariz quase tocando o meu.
― Deixei você molhada? ― ele pergunta.
Chase olha para mim por tempo suficiente para me deixar desconfortável. Ou me fazer querer dar
um soco em seu nariz. Dou de ombros. Ele vem dando essas sugestões sensuais desde que saí para
jantar com ele há duas semanas. Se eu pudesse escolher qualquer um, não escolheria Chase Gerald.
Além disso, ele não sabe o que aconteceu comigo no primeiro semestre da faculdade. Ninguém sabe,
exceto minha família, Peter Reed, Rachel e o homem que me desligou do sexo para sempre.
Gostaria de mandar Chase ir se foder, dizer a ele que ele podia simplesmente parar de tentar
porque eu jamais seria uma garota fácil que iria para a cama com ele. Mas não posso dizer-lhe que
fui estuprada, senão ele irá me olha com pena. E essa é a última coisa que eu quero.
Finjo que não ouvi seu comentário sobre me molhar. O tipo de molhado que ele está falando não
é o mesmo que tem no meu vocabulário. Chase grunhe e se joga na água novamente. Não sei por que
o convidei. Ele trouxe seus amigos e não sei qual deles me dá mais arrepios. E pior, eles trouxeram
suas namoradas. Estas são as mesmas meninas que olham para o meu pequeno irmão como se ele
fosse algum tipo de carro alegórico de uma escola de samba.
Chase permanece ao meu lado e sacode a água do seu cabelo. Sua rótula está diretamente ao lado
da minha cabeça. Com um golpe de perna, eu poderia derrubá-lo.
Seus olhos se estreitam e eu ouço o estrondo de um ônibus estacionando na calçada. Levanto-me
e pego minha toalha, seco meu corpo muito rapidamente e, então, visto a roupa por cima do meu
maiô.
― Desculpe-me, Chase. Preciso ir.
― É o acampamento das crianças? ― ele pergunta.
Prendo meu cabelo num rabo de cavalo bagunçado.
― Sim.
Este é o meu momento favorito do verão. Meu pai vem mantendo o acampamento desde que meu
irmão tinha três anos, quando minha família percebeu que não era seguro mandá-lo para um
acampamento onde ele não poderia ser quem ele é – um menino normal, com autismo.
No primeiro ano, convidamos apenas crianças com autismo. Com o passar dos anos, ampliamos.
Agora, temos crianças com Down, distúrbios de processamento e, este ano, temos um grupo de
meninos deficientes auditivos. Estou animada. Esses meninos precisam de mim. E eles não me
ameaçam. Não tenho pesadelo com eles me machucando... eles não são como os outros.
― Esse é um micro-ônibus da prisão? ― Chase pergunta.
― Sim ― respondo.
Todo ano meu pai convida jovens do centro de detenção juvenil local para serem voluntários no
acampamento. Eles não são jovens violentos e são selecionados cuidadosamente, além de virem com
o diretor. Mas todos eles possuem um histórico criminal. Eles recebem horas pelo serviço
comunitário.
― Tem certeza de que é seguro? ― Chase pergunta.
― Sim ― respondo. Eu me preocupo mais com Chase do que com eles.
― Vocês podem cuidar de si mesmos? ― pergunto por sobre meu ombro, sem me preocupar com
suas respostas.
Calço meus chinelos e, ao chegar no portão, vejo meu pai vindo em minha direção.
― Está pronta para receber os novos campistas? ― ele pergunta, passando o braço em volta dos
meus ombros. Ele é uma das poucas pessoas que permito que me toque. Se alguém me agarrar como
ele faz, eu tenho que afastar a pessoa. Papai sorri e beija minha testa.
Minha mãe se aproxima, trazendo meu irmão. Link não gosta de segurar na mão de ninguém, e
raramente olha nos olhos das pessoas, mas, no geral, ele parece um menino normal. Só que ele não é
normal. Ele tem autismo. Ele fala quando quer e quando não quer... bem, não há muita chance de
conseguir qualquer coisa com ele. Nós tivemos muitas crianças com autismo no acampamento, e
todas elas têm diferentes desafios, que não são iguais. Estendo minha mão para Link. Ele sorri de
lado, do jeito que ele faz sempre e que faz meu coração acelerar, mesmo depois de todos esses anos.
― O ônibus da prisão está aqui ― minha mãe adverte.
― Vou falar com eles ― diz meu pai. ― Vai descarregando as crianças e ajudando-as a se
instalarem.
Eu gostaria de encontrar Pete, mas, em vez disso, tenho que ajudar as crianças. Alguns deles têm
cuidadores, outros não. Alguns vêm com os pais. Os que não têm, terão um conselheiro do
acampamento designado para cuidar deles. Eles vão dormir com os meninos e sair com eles,
certificando-se de que eles comam, bebam, tomem banho e remédios. Os conselheiros são todos do
hospital local. Alguns são estudantes de medicina. Os jovens infratores não serão responsáveis pelos
cuidados com as crianças. Eles até vão interagir com eles, mas muito pouco.
Minha mãe me dá uma prancheta, e nós fixamos etiquetas de nome com código de cores para
todas as camisas, assim vamos saber quem são os não-verbais em todos os momentos. Eu leio as
descrições, vejo quais são seus desafios, e faço notas mentais sobre cada uma de suas necessidades
especiais.
Os meninos são sempre divertidos. Tivemos meninas aqui no mês passado, e as meninas são mais
desafiadoras. Elas sempre têm drama. Os meninos são apenas garotos, e querem montar nos cavalos
e nadar na piscina, além de se divertirem. Eles querem ser meninos no sentido mais básico da
palavra. E este é o lugar onde eles podem fazê-lo.
Quando as crianças estão acomodadas, vou encontrar meu pai. Ele está sentado no topo de uma
mesa de piquenique com os cotovelos sobre os joelhos, as mãos pendendo para baixo entre as coxas.
Ele está fazendo o discurso que ouço todos os anos desde que eu tinha onze anos.
― Vocês estão recebendo uma grande responsabilidade e espero que vocês correspondam ― ele
fala e levanta um dedo. Estou atrás de uma árvore e sorrio, porque sei de cor esta parte do discurso.
― Eu tenho uma regra ― ele fala. ― Se algum de vocês quebrá-la, vou mandá-los imediatamente de
volta para o centro.
Todos os jovens olham para ele com rostos expectantes.
― Minha filha está em casa por causa das férias de verão da faculdade. Se alguém tocá-la, olhar
para ela, ou falar com ela, se tiver pensamentos inapropriados sobre ela, vou cortar seu pinto
enquanto estiver dormindo. ― Ele pega um machado que tem sobre a mesa de piquenique e, para
manter o efeito dramático, bate com ele na madeira. Ele espera por um minuto, e eu vejo os jovens
olharem de um para o outro. Eu cubro minha boca para segurar uma risada. É sempre a mesma rotina.
Ele ameaça, e, então, eles passam a semana me evitando.
Fico ali por mais um tempo, até que ele termina e eu me preparo para falar com meu pai. Ele está
com o agente da condicional, então eu espero. Viro-me e levanto o pé para dar um passo, mas a ponta
do meu chinelo prende em uma raiz da árvore e eu tropeço, minhas mãos se debatendo enquanto eu
vou em direção ao chão. Mas, antes que isso aconteça, braços fortes me pegam e eu caio sobre algo
sólido.
Olho para baixo e tiro meu cabelo do rosto. Estou quase deitada sobre Pete e ele está levantando
as mãos para não me tocar. Apresso-me para me afastar dele.
― Merda ― ele resmunga e se levanta. ― Aposto dez dólares que você é a filha.
Fecho meus olhos por um segundo e tento controlar minha respiração. Eu quis falar com este
homem por quase dois anos e meio. Mas ele olha para mim como se não me conhecesse.
― E lá se vai meu pinto.
Meu olhar levanta para encontrar o seu. Seus olhos brilham.
Ele acena em direção ao meu pai.
― Ele estava falando sério sobre o machado, não estava?
Ele parece tão preocupado que sinto a risada se formar, substituindo a dor por ele não me
reconhecer.
― Receio que sim ― eu digo, reprimindo um sorriso.
― Droga ― ele murmura e vai em direção ao seu alojamento, balançando a cabeça. Fico
observando-o ir embora. Ele não lembra de mim.
PETE

R eagan. Porra, como ela é linda. Na verdade, ela é a primeira garota que eu tive em minhas mãos
em quase dois anos. Ela ficou sobre mim por um segundo, me olhando, e eu soube quem ela era.
Nunca vou esquecê-la. Mas na última vez que nos encontramos... não foi uma boa noite para ela. E
ela, provavelmente, ficaria desconfortável se eu falasse algo. Não quero ser mandado de volta para a
cidade. Quero estar aqui. Quero trabalhar com essas crianças. Quero que tirem essa maldita
tornozeleira de monitoramento da minha perna, para que eu possa voltar a ter uma aparência de vida
normal. Só quero ser Pete.
Eu gostaria de saber quem diabos Pete é. Eu tinha uma boa ideia de como seria minha vida até
que meu irmão Matt ficou doente. Então, as coisas ficaram totalmente fodidas.
Fiz o que fiz e acabei na cadeia. Foi tudo culpa minha e eu assumi a responsabilidade, mas isso
não significa que não seja uma bosta.
Ela tem olhos verdes e sardas em seu nariz, exatamente como eu me lembrava. Não posso sequer
pensar nisso. Se eu estivesse em casa, gostaria de convidá-la para jantar. Eu diria a ela sobre como
eu a conheço. Gostaria de saber se ela está bem. Então, gostaria de ter um encontro com ela. Mas,
aqui, não sou nada. Não tenho dúvidas de que seu pai falou sério. Ajusto minha calça e sigo em
frente.
Mas então ela olha para mim por cima do ombro. As cores em seu rosto fazem meu coração
tamborilar em meu peito. Sou um ex-presidiário que ainda está em prisão domiciliar, e ela está
olhando para mim como se eu fosse um homem de verdade? Ela lambe os lábios e se vira para falar
com alguém. Quero que ela olhe para mim novamente.
Seu cabelo loiro está úmido e enrolado em um nó bagunçado no alto da cabeça. Ela não está
usando maquiagem. As mulheres que conheço pintam seus rostos até que eles estejam quase
irreconhecíveis quando saem do chuveiro. Ela é toda natural. E eu gosto. Não deveria. Mas gosto. Eu
podia olhar para ela durante todo o dia.
Durante poucos segundos, quando ela caiu sobre mim, ela pareceu estar com medo. Será que era
por causa do que aconteceu com ela? Será que ela ainda se lembra de mim?
Mas, em seguida, uma cadeira de rodas motorizada quase passa por cima de mim.
― Espere aí, Ligeirinho ― eu digo, dando um passo à frente dele. ― Aonde você vai com tanta
pressa?
O jovem é loiro e branco, e tem um pedaço de plástico furando seu pescoço. Ele faz sinais para
mim, mas seus movimentos são espasmódicos e sem equilíbrio. Eles não são fluidos como a
linguagem de sinais geralmente é.
“Marshmallows”, ele explica com os dedos. Ele empurra o dedo torto para onde alguém está
acendendo uma fogueira.
Gostaria de saber se este é o garoto com quem vou trabalhar. Uma mulher mais velha corre atrás
dele, sua respiração ofegante.
― Desculpe ― ela fala, parando ao seu lado. ― Não tenho resistência com ele nesta cadeira. ―
Ela estende a mão. ― Sou Andrea. E este é o meu filho, Karl. Karl está animado para ser um
campista este ano. ― Aperto a mão dela e paro na frente de Karl.
― Você pode me ouvir, certo, Karl? ― pergunto e faço sinais ao mesmo tempo. Ele balança a
cabeça e sorri, mas é desengonçado. Ele está tão animado que mal consegue ficar quieto em sua
cadeira.
“Eu posso ouvir”, ele faz os sinais. “Só não posso falar”.
Eu concordo. Entendi.
"Quantos anos você tem?", pergunto.
“Quinze”.
Ele olha em direção à fogueira. Acho que ele realmente quer chegar ao local onde as outras
crianças estão.
"Um encantador adolescente", sua mãe diz, revirando os olhos.
Ele tem quinze anos? Ele não deve pesar mais do que quarenta e cinco quilos. Saio do seu
caminho.
"Vá pegá-los, Ligeirinho," eu digo, balançando a cabeça em direção ao fogo. Ele sorri e rola a
cadeira para longe de mim, parando ao lado de onde Reagan está agora.
― Acho que ele já tem uma queda por Reagan ― admite ela.
― Reagan? ― pergunto. Minha Reagan?
Reagan desperta mais emoção em mim do que eu posso lidar. Balanço a cabeça e olho para a mãe
de Gonzo.
― Você pode me falar um pouco sobre seus desafios, para que eu saiba com o que vou lidar? ―
pergunto.
― Não é com o que você vai lidar, mas com quem ― ela corrige. ― Quem você vai lidar.
― Não foi isso que eu quis dizer ― falo.
Ela coloca a mão no meu braço.
― Onde você aprendeu a linguagem dos sinais?
― Meu irmão é deficiente auditivo ― eu digo. Ela balança a cabeça, observando minhas
tatuagens e piercings, que não pude deixar de colocar de volta, depois que saí da prisão. Eu tinha me
reperfurado na noite passada, e eles ainda estavam doloridos. Pelo menos eu não me sinto mais nu.
― Não tive a intenção de insultar o seu filho ― eu digo. Agora me sinto mal.
― As únicas limitações de Karl são que ele está em um corpo que não faz o que ele quer fazer, e
ele não pode falar. ― Ela olha para ele na direção da clareira, com os olhos cheios de amor por seu
filho. E exaustão. ― Ele ainda tem todos os desejos e impulsos de um menino de quinze anos de
idade. Há apenas algumas coisas que ele não pode fazer. ― Ela solta um suspiro. ― Ele fica
frustrado facilmente. Isso é a coisa mais difícil para ele. Sua mente é sólida, mas seu corpo não
coopera.
Eu concordo. Eu sei o que é se sentir fora de controle.
― Por que você não faz uma pausa de uma meia hora ou algo assim? ― eu falo. ― Eu fico com
Karl.
Seus olhos se arregalaram, e ela parece tão animada que eu gostaria de ter feito a oferta antes.
― Sério? ― ela pergunta.
Eu concordo.
― Divirta-se. Eu vou cuidar dele.
Seus olhos se enchem de lágrimas, e eu percebo o quanto essa mulher precisa desesperadamente
de uma pausa.
― Vejo você em trinta minutos ― eu digo.
Ela balança a cabeça e caminha em direção ao seu alojamento. Ela está cansada, é nítido.
Ando para a fogueira. Há apenas algumas crianças aqui fora.
― Ei, Gonzo ― eu chamo Karl. Ele se vira e olha para mim, seu sorriso grande, pateta e tão
adorável que eu já amo esse garoto. ― Você está dando trabalho a Reagan? ― Sento próximo a ele.
“Ela é muito bonita”, ele fala por sinais e olha para ela, piscando os olhos azuis, o rosto
inclinado na direção dela. Ela sorri para ele.
― O que ele disse? ― ela pergunta.
― Que você é muito bonita ― eu traduzo.
Ele levanta as mãos em sinal de protesto.
“Você não deveria dizer a ela!”
“Desculpe, cara”, eu falo, tentando não sorrir. “Se você for falar sobre ela, vou ter que contar a
ela o que você disse”. Agarro seu ombro e o balanço. “Essa é uma regra dos meus irmãos. Você
não pode usar a linguagem dos sinais para falar sobre os outros. É para se comunicar. Então, a
menos que você queira que ela saiba, é melhor que você guarde para si”.
“Traidor”, ele fala. Mas está sorrindo.
Reagan está corada, mas ela diz:
― Obrigada, Karl. Eu acho que você é bonito também.
Eu nunca vi um sorriso tão grande. Ela olha para ele.
― Você quer ir comigo buscar alguns gravetos para o fogo?
Ele balança a cabeça e já está em movimento antes que ela esteja pronta para ir.
― Você acha que devemos trazer o seu porta-voz? ― ela pergunta, balançando a cabeça em
minha direção.
Ele faz sinal para mim.
“Eu cuido disso. Você fica aqui”. Ele balança as sobrancelhas para mim.
“Sem chance, idiota”, eu falo. Ele ri. É o primeiro som que eu ouço-o fazer. “Ela é muito velha
para você”.
“Talvez ela goste de homens mais jovens”.
Olho ao redor, como se eu tivesse perdido alguma coisa.
“Não vejo nenhum homem aqui. Vejo uma bela moça e um menino que está na expectativa de
alguma ação”.
Ele sorri e acena com a cabeça.
Eu rio.
“Ela é muito velha para você. Então pode se despedir. Vamos encontrar alguém diferente. Algo
mais na sua velocidade”.
“Sou mais rápido do que você pensa”.
Aparentemente.
Ela se vira de volta para nós.
― Vocês estão falando sobre a minha bunda? ― ela pergunta. E nem sequer abre um sorriso.
Gonzo aponta para mim como se dissesse: "Ele estava."
Ela ri e cora novamente.
“Traidor”, eu falo por sinais quando ela vira.
Ele ri, pulando um pouco em sua cadeira.
Agora, tudo o que posso fazer é olhar para sua bunda. Ela é bonita. Como uma princesa na
floresta, pegando pedaços de madeira. Quando seus braços estão cheios, ela olha para Gonzo e
pergunta:
― Você poderia ser meu herói e levar isso de volta?
Ele balança a cabeça e permite que ela encha seu colo com gravetos. Ele se vira para levá-los
para o fogo e deixa-nos ali de pé, pegando mais.
"Volte depressa," falo para ele. Ele se vira para trás e fala com sinais:
“Mantenha as mãos longe da minha garota”.
Levanto as mãos e coloco os polegares para cima.
Ela se vira para mim e estende a mão.
― Sou Reagan.
Ela não se lembra de mim. Devo lembrá-la quem eu sou? Ela provavelmente se esforça
diariamente para esquecer aquela noite.
Tomo sua mão na minha e sinto o calor invadir meu corpo. E não é porque se passaram dois anos
desde que eu tive uma mulher em meus braços. Há algo sobre essa garota. Ela afasta as mãos e olha
em meus olhos. Quero perguntar se ela sentiu isso. Ela limpa as mãos em suas calças jeans, e eu
percebo que ela fez isso porque as minhas mãos estão suando. Eu sou um idiota.
― Pete ― eu digo.
― Por que você o chama de Gonzo? ― ela pergunta.
― Por que não? ― Eu continuo a pegar gravetos.
― Ele é um menino doce ― diz ela.
― Ele é um hormônio sobre rodas ― eu corrijo.
Ela ri.
― Pelo menos você o trata como um jovem normal. A maioria das pessoas vê apenas a cadeira.
― Ela balança a cabeça e olha para mim. Sinto como se ela estivesse olhando diretamente em minha
alma. ― O que te faz diferente? ― ela pergunta.
Você quer dizer além das tatuagens, piercings, e o fato de que eu vim da prisão? Eu dou de
ombros e olho em sua direção. Ele já está em seu caminho de volta.
― Eu só vejo um menino que quer ser tratado como um. Ei, Gonzo ― eu digo. ― Você pode
levar um pouco mais? ― Ele sorri e acena com a cabeça. Nós damos a ele os gravetos, e ele sai
novamente. Dirijo-me a ela.
― Então, o que te faz diferente, Reagan? ― pergunto. Eu quero tocá-la, mas não me atrevo.
Então, eu só olho para ela, em vez disso. Observo seus lábios e espero que ela explique o sentido da
vida para mim.
REAGAN

E le tem os olhos mais azuis que eu já vi. É um pouco perturbador porque seus piercings chamam
atenção para longe dos seus olhos, então é preciso focar a atenção. Ele tem tatuagens em todo o
braço, começando no pulso, passando pela parte coberta pela camiseta, chegando ao pescoço. Ele é
forte e alto e um pouco intimidante, mas ao mesmo tempo não é. Ele me viu no meu momento mais
vulnerável e fez exatamente o que eu precisava.
― Não acho que sou diferente ― eu respondo. ― Sou exatamente como cada uma daquelas
crianças. Nem melhor, nem pior. Mesmos medos, mesmos caminhos. ― Dou de ombros.
Ele balança a cabeça novamente e recomeça a pegar gravetos. Ele tem uma tatuagem na parte de
trás do pescoço. O nome Sam está escrito em letras góticas e robustas.
― Sam é sua namorada? ― deixo escapar. Imediatamente, quero engolir as palavras, mas agora
já era.
― Sam? ― ele pergunta.
Esfrego a parte de trás do meu pescoço e aponto para o dele.
― A tatuagem.
Ele sorri.
― Ah, isso.
Mas ele não responde. Sinto-me como uma idiota por ter perguntado. Mas não vou perguntar
novamente.
― Então, você está de férias da faculdade? ― ele pergunta. Não posso acreditar que ele não se
lembra de mim.
Eu concordo.
― Qual a instituição? ― ele pergunta e olha para mim, esperando por minha resposta.
― Universidade de Nova York ― respondo. ― Sou caloura este ano.
― Meu irmão também estuda lá. ― Ele sorri. ― Logan Reed, conhece? ― ele pergunta, mas é
uma faculdade muito grande. A chance de conhecer seu irmão é pequena. Mas eu sei sobre todos os
seus irmãos, porque fiz um monte de perguntas enquanto estava procurando por ele.
Balanço minha cabeça.
― Ele é surdo.
Balanço minha cabeça novamente. A única vez que eu o vi foi fora da prisão ontem, não na
faculdade.
― Todo tatuado como eu. ― Ele olha para os braços, e eu aproveito a oportunidade para olhar
suas tatuagens.
― Posso ver? ― pergunto. Eu não quero ser rude, mas eu realmente quero olhar para ele. Não
quero tocá-lo, mas eu quero olhar.
Ele sorri.
― Você pode olhar, mas não pode tocar ― ele brinca. É como se ele lesse a minha mente. Meu
coração começa a bater mais forte. Eu sou a última pessoa que ele tem que se preocupar em tocá-lo.
― Porque eu gosto do meu pinto exatamente onde ele está.
Meu rosto cora, mas não deixo a oportunidade de estudar os desenhos em sua pele passar. Olho
para a cruz que tem a palavra mamãe escrita dentro dela.
― O que essa significa?
― Minha mãe morreu há alguns anos.
Ele também tem a palavra pai com asas.
― Seu pai morreu também? ― pergunto.
― Ele foi embora logo após a nossa mãe morrer ― ele fala, ficando subitamente tenso, e eu
odeio o fato de ter perguntado.
― Sinto muito ― eu digo.
― Não quero sua simpatia, princesa ― diz ele.
― Princesa?
Ele balança a cabeça, seu olhar focado em meus olhos, então ele desvia para meus lábios. Ele
lambe o seu e brinca com o anel preso em seu lábio com a língua.
― Princesa ― diz ele lentamente.
― Você não poderia estar mais longe da verdade ― eu digo.
― Eu duvido. ― Ele olha para mim por um minuto muito longo. Meu estômago revira.
De repente, ouço o barulho de botas pisando sobre as madeiras. Olho para trás e vejo o meu pai
caminhando em direção a nós, uma carranca em seu rosto, e ele está com o machado na mão. Pete
cruza imediatamente as mãos na frente do seu colo e dá vários passos de distância de mim.
― Vá ajudar com o jantar ― meu pai fala para mim e olha para Pete.
― Sim, senhor ― eu digo. Pego os gravetos que Pete tem em seus braços e sorrio para ele. ―
Vejo você mais tarde ― eu sussurro.
― Não vá ― ele sussurra de volta. ― Quem vai proteger meu pinto?
― As princesas não fazem isso. ― Eu sorrio para ele e vou embora. É, mas eu nem sequer olho
para trás por cima do meu ombro.
PETE

M erda. Agora estou em apuros.


― Você só tinha uma regra ― o pai de Reagan reclama e levanta um dedo. ― Uma regra!
― Sim, senhor ― eu respondo. ― Eu lembro.
Eu não ficaria surpreso se ele lançasse fogo pela boca e arregalasse ainda mais os olhos.
― Se você se lembra, então por que estava sozinho na floresta com a minha filha, Sr. Reed? ―
ele pergunta. Ele está muito perto de dar na minha cara, mas meus irmãos teriam feito pior. Isso não é
nada em comparação com quando eles tentam me estrangular.
― Pete ― eu digo.
― O quê? ― Ele olha para mim.
― Meu nome é Pete ― eu respondo. ― Nós, provavelmente, deveríamos estar nos tratando pelo
primeiro nome, se você vai querer ser íntimo o suficiente para cortar meu pinto. ― Faço um
movimento na direção da sua machadinha.
Ele suspira, sorri e balança a cabeça.
― Nós estávamos apanhando lenha, senhor ― eu digo.
Ele aperta os olhos e me olha.
― Posso confiar em você? ― ele pergunta.
― Quero ir para casa quando terminar aqui, senhor ― eu digo. ― Quero essa porra de
tornozeleira fora da minha perna.
― Ótimas maneiras ― resmunga. ― Quem ensinou isso a você? O sistema?
― Não, senhor ― eu digo. ― Eu tenho quatro irmãos.
― Onde estão seus pais?
― Se foram.
― Eu sei a sua história, mas por que você foi parar na prisão? ― Ele é direto. Eu meio que gosto
disso.
― Por escolhas estúpidas que eu fiz. ― Eu chuto em uma pedra no caminho para não ter que
olhar para ele.
Ele balança a cabeça.
― Pelo menos você sabe que elas eram estúpidas.
Eu dou um suspiro.
― Senhor, eu cumpri minha pena. Não me mande de volta. Prometo que não vou incomodar a sua
filha, e não vou deixar ninguém a incomodar também.
Ele olha em meus olhos.
― Eu acredito em você. ― Ele começa a puxar uma folha pendurada perto da sua cabeça. ―
Minha filha ... ela é especial.
Eu não respondo, porque eu não acho que ele queira. Concordo com ele, no entanto. Ela é muito
especial para alguém como eu.
Ele faz um gesto para eu segui-lo e caminha na direção do fogo, onde Reagan está sentada em um
tronco, ao lado da cadeira de Gonzo. Ele está olhando para ela como se ela fosse a primeira garota
que ele pôs os olhos na vida, e ela está olhando para ele, como se ele fosse um verdadeiro menino de
quinze anos. Quero dizer, ele é um verdadeiro menino de quinze anos, mas eu duvido que ele seja
tratado assim frequentemente. Ela olha para o pai dela e sorri.
― Pai, este é Gonzo ― diz ela. Ela sorri, mas Karl não a corrige. Acho que ele gosta do apelido.
Seu pai estende a mão, e Gonzo a aperta. Não acho que a criança recebe este tipo de
cumprimento também. Ele parece quase honrado, e eu decido que vou fazer o que for preciso para
que ele se divirta no acampamento. Ele merece. Cinco dias para viver como um menino normal.
― Reagan ― o pai dela chama. Ela olha para ele com expectativa. ― Você conheceu Pete?
Ela balança a cabeça e mordisca seu lábio inferior.
― Brevemente.
― Não me deixe pegar você na floresta com ele novamente ― diz ele.
― Papai ― ela reclama.
― E não vá para a floresta com Gonzo também. Ele parece ainda mais perigoso do que Pete. ―
O pai dela faz uma carranca.
Gonzo sorri.
O pai dela aponta um dedo para ele.
― Você pode me ouvir, meu jovem? ― ele pergunta. ― Tire as mãos da minha filha. ― Ele se
inclina e beija sua testa. ― Eu sei que ela é bonita, mas ela está fora dos limites. ― Ele aponta para
mim e de volta para Gonzo, indo e voltando algumas vezes. ― Estou de olho em vocês dois.
― Sim, senhor ― eu digo, tentando parecer sério.
Seu pai vai embora. Sento-me na tora ao seu lado e olho para as chamas. O sol já tinha se
escondido completamente, e os roxos e dourados tinham desaparecido em um céu escuro cheio de
estrelas.
― Você quer um marshmallow? ― Reagan pergunta.
― Eu sou um garoto da cidade. Nós não fazemos marshmallows assados. ― Balanço minha
cabeça.
― Gonzo? ― ela pergunta. Ele balança a cabeça e esfrega o peito, dizendo ‘por favor’ em
linguagem de sinais.
― Ele disse por favor ― eu digo a ela. Ele sorri.
Ela coloca um marshmallow em uma vara para ele e o prende de forma que ele possa segurá-lo.
Sua cadeira o impede de ficar muito perto, e sua vara não é longa o suficiente. Ele visivelmente
suspira. Então, pego duas varas e prendo-as juntas, fazendo um longa. Entrego a ele.
― Você quer que eu faça isso para você? ― ela pergunta.
Ele balança a cabeça.
“Eu posso fazer”.
Coloco minha cabeça para trás e olho para as estrelas. Mas, em seguida, um outro grupo de
crianças chega, e alguns deles são surdos. Fico ocupado pela próxima hora, apenas tentando traduzir
para todos eles. O tempo voa, e é mais tarde do que eu pensava que era.
― Gonzo, você vai se transformar em um marshmallow se você comer mais um ― eu advirto. Ou
ele vai passar mal.
“Só mais um?”, ele pergunta, levantando um dedo.
"Se você passar mal, eu não vou limpá-lo," eu aviso com uma risada. Reagan coloca outro
marshmallow em sua vara. Ele se recusou a desistir, mesmo quando as outras crianças estavam
esperando para brindar os marshmallows. Eu não tenho o coração duro para tirar isso dele.
O resto das crianças foram para a cama. Gonzo é um dos poucos que ainda está aqui. Vejo sua
mãe se aproximar. Ela veio vê-lo após a meia hora que tinha ido descansar, mas ele estava se
divertindo tanto que eu mandei-a ir descansar um pouco mais. Seu cabelo está solto agora, e seu
rosto parece relaxado. Ela está com as mãos enfiadas nos bolsos. Está ficando frio.
― Pronto para ir para a cama, Karl? ― ela pergunta.
“G-O-N-Z-O”, ele sinaliza. Eu rio e balanço minha cabeça.
― Ah, é Gonzo agora, não é? ― Ela coloca as mãos nos quadris. ― Você tem um ótimo nome.
Não sei por que você quer ser chamado assim.
Eu soco seu ombro.
"Cara, esse era o nosso segredo", sinalizo para ele. “Você não deveria dizer a sua mãe”. Ergo
minhas mãos como se para dizer, que merda é essa. Eu sei muito bem que sua mãe sabe a linguagem
dos sinais.
Ele ri.
“Obrigado por esta noite”. Ele olha diretamente em meus olhos. Ele é animado o tempo todo,
mas agora, ele está me dizendo algo, sem usar palavras ou a linguagem dos sinais, e ele está muito
quieto e sério.
Eu olho para Reagan.
― Ele disse obrigado por esta noite.
Ela sorri e acena com a cabeça.
― Por nada.
Ele aponta para mim.
“Não faça nada com a minha garota quando eu sair.”
Eu mantenho minhas mãos para cima.
― Eu prometo não fazer nada com Reagan depois que você for. Só vou dar em cima dela quando
você voltar ― eu falo e ele faz uma careta.
“Traidor”, ele diz.
― Cara, eu avisei. ― Mas eu rio. Reagan abaixa a cabeça e não olha para ninguém.
― Boa noite, vocês dois ― diz a mãe de Gonzo, que vai embora a toda velocidade.
― Você é realmente bom com ele ― Reagan diz calmamente.
― Ele é fácil de se gostar.
Ela pega a vara que ele deixou e enfia um marshmallow nela. Ela aponta-o para mim.
― Aqui está, garoto da cidade. Seu primeiro marshmallow assado.
― Eu não acredito ― falo, pegando a vara da sua mão. ― Você tirou uma virgindade minha.
Ela congela.
Merda. Cometi um erro.
― Eu só estava brincando ― me apresso a falar. Olho para seu rosto e ela olha para todos os
lugares, menos para mim. ― Eu não deveria ter dito isso.
Eu não tinha levado o marshmallow ao fogo ainda. Ela estende a mão timidamente e segura a
minha. Ela vira seu pulso e move minha mão para mais perto das chamas.
― Assim ― ela sussurra. Ela está tremendo, mas não fala nada.
― Você está bem? ― pergunto baixinho.
Ela sorri para mim na escuridão.
― Estou bem.
Suspiro. Não sei como falar.
― Não ― eu digo. Ela olha para mim. ― Depois daquela noite. Você ficou bem depois do que
aconteceu naquela noite?
Ela endurece ao meu lado.
― Você se lembra de mim ― ela sussurra.
― Eu penso em você o tempo todo, querendo saber o que aconteceu naquela noite depois que
você foi embora.
Ela exala lentamente, como se estivesse fortalecendo a si mesma.
― Obrigada pelo que você fez.
― Sem problemas.
Eu não preciso dos seus agradecimentos, mas sinto que ela estava esperando para me dizer isso.
Observo o marshmallow assar, a massa cremosa ficando marrom. A chama roxa o envolve, e ela
sacode as mãos, elevando o marshmallow até os lábios para que ela possa soprar o fogo.
Ela faz um biquinho e sopra, e eu sinto meu estômago apertar. Quero tanto beijá-la que quase
posso sentir seu sabor.
― Eu sei que não conheço você, mas sinto como se conhecesse. Desde aquela noite, sinto como
se você fosse uma parte de mim. ― Minhas palavras são tão insensatas que eu tento segurar qualquer
outra estupidez que possa sair da minha boca.
― Eu me sinto da mesma maneira ― diz ela. ― Não sei se isso faz você se sentir mais normal.
Pelo menos não sou só eu que penso assim.
― Eu daria qualquer coisa para te beijar agora ― eu digo em voz baixa. Merda. Eu disse isso
em voz alta também?
Ela sorri, mas não olha para mim. Ela parece quase arrependida...?
― Eu daria qualquer coisa para você não me beijar ― ela diz baixinho. Ela inclina a vara para
que o marshmallow fique próximo de mim.
Ela poderia muito bem ter me dado um soco no estômago. Já se passaram dois anos e meio.
― Você não permitiu que ele roubasse tudo de você, não é? ― Espero que não. Senão, ele
ganharia. Ele a estuprou, e tomou ainda mais do que isso.
― Procurei por você, depois daquela noite ― diz ela.
― Pedi aos meus irmãos que ficassem de olho em você, quando fui para a prisão ― eu admito.
Olho em seus olhos quando eles encontram os meus. ― Mas não como um perseguidor.
Ela ri.
― Você vai comer isso? ― ela pergunta, apontando para o marshmallow.
― Está queimado. ― Ela não quer falar sobre aquela noite e por mim tudo bem.
― Algumas pessoas gostam deles assim. ― Eu vi uma boa quantidade de crianças comendo
marshmallows carbonizados para saber que ela está dizendo a verdade. ― Se você não vai comer, eu
vou. ― Ela levanta uma sobrancelha para mim.
― Vá em frente, princesa ― eu digo. Ela tira o doce da vara, retira metade da casquinha de fora
e passa o resto para mim.
― Experimente ― diz ela.
Eu faria qualquer coisa que ela me pedisse.
Como o marshmallow.
― Não entendo por que pessoas comem essas coisas. Não é grande coisa.
― Amanhã à noite, vamos fazer s’mores. ― Ela esfrega as mãos uma na outra, como se estivesse
animada.
― Que porra é um s'more? ― pergunto.
Ela ri, jogando a cabeça para trás. Seu cabelo cai pelas costas, e eu quero segurá-lo e envolvê-lo
em minha mão, para ver se é tão macio quanto parece.
― S'more é um marshmallow cozido, com um tabletinho de chocolate, e um biscoito maizena,
prensados como um sanduíche.
― Qualquer coisa é melhor com chocolate ― eu digo. Minha mãe costumava dizer isso. Não sei
por que eu senti a necessidade de fazer esse comentário em voz alta.
― Verdade.
Estamos quietos, as chamas crepitando é o único som, além dos grilos ocasionais. Antes, quando
eu ficava com uma menina, tudo que eu pensava era em tirar sua roupa. Já faz dois anos desde que
estive com uma mulher e, neste exato momento, não posso imaginar uma forma de desfrutar mais do
que estou fazendo agora.
― Desculpe-me se deixei você desconfortável pedindo um beijo ― finalmente falo.
Ela suspira.
― Pelo menos, você pediu.
― Que bom que você pensa assim, porque eu poderia continuar pedindo até você aceitar. ― Ela
ri e balança a cabeça.
― Você prometeu a Gonzo que só daria em cima de mim quando ele estivesse por perto.
― Vamos acordá-lo, então. ― Finjo que vou me levantar e ela segura minha mão para me
impedir. Sinto sua mão tremer novamente. Sento-me, mas, desta vez, estou um pouco mais perto dela.
Ela fica quieta por um momento.
― Isso é bom ― ela fala.
Aproximo-me dela e coloco uma mecha do seu cabelo atrás da sua orelha; ela recua.
― Eu te assusto? ― pergunto. Sei que eu tinha acabado de sair da prisão, mas é mais do que
isso, tenho certeza. Com o que aconteceu com ela, ela provavelmente tem um monte de merda na
cabeça.
Ela balança a cabeça.
― Não. Você não iria me machucar.
Ela pega um pedaço de pau e começa a desenhar no chão, envolvendo seu braço ao redor dos
seus joelhos até que ela esteja enrolada como uma bola.
Ela olha para cima, seus olhos verdes brilhantes à luz do fogo.
― Só não gosto de ser tocada. ― Ela encolhe os ombros.
― Podemos trabalhar para contornar isso, princesa? ― Minha voz é quase um sussurro.
Seus olhos se enchem de lágrimas, e ela pisca-os furiosamente. Quero tocá-la, mas sinto que
seria a coisa errada a fazer.
― Sou eu ― diz ela. ― Não é você. ― Ela silencia um pouco. ― Tenho certeza de que você é
um beijador incrível. E que estou perdendo uma das melhores experiências da vida. ― Ela coloca a
mão em seu peito. Ela está me provocando agora. Assim é melhor. É mais fácil de lidar. ― Você já
beijou muitas mulheres? ― ela pergunta.
Opa! Tenho certeza de que ela não quer a verdade.
― Algumas.
― Algumas centenas? Algumas milhares? ― Ela ri. É um som metálico, oco.
― Algumas ― repito.
― Será que isso vira um sentimento mais comum, depois de um tempo? Você para de sentir como
se o seu coração estivesse batendo fora do peito depois de fazer isso milhares de vezes?
Eu rio.
― Não se você estiver fazendo a coisa certa. ― Ajusto meu corpo, curvando meu colo um
pouco. Suas palavras sussurradas e olhares cheios de calor estão me afetando, e não quero que ela
perceba.
― Você sente como se o seu coração fosse bater fora do seu peito quando beija um homem?
Ela balança a cabeça.
― Não.
― Então, por que você está me perguntando isso? ― pergunto.
― Eu me sinto assim agora ― diz ela.
Reagan se levanta, e eu quero agarrá-la e puxá-la para mim.
― É melhor eu ir para a cama. ― Ela se estica, e eu posso ver a pequena faixa de pele entre a
parte inferior de sua camisa e calça jeans. Puxo sua camisa para baixo. Ela cobre a barriga com a
mão, como se quisesse bloquear meu toque.
Ela olha em meus olhos, sem dizer uma palavra.
― Posso beijar você? ― eu deixo escapar. Deus, parecia que eu nunca tinha visto uma garota
antes.
― Não. ― Ela ri.
― Posso continuar perguntando?
Ela balança a cabeça. É um aceno rápido, quase imperceptível, mas ela está mordendo o lábio
inferior e sorrindo.
― Boa noite ― diz ela.
― Boa noite ― eu falo. Ela caminha na escuridão até sumir.
REAGAN

M eus joelhos ainda estão bambos quando chego a casa. Entro pela porta da cozinha e encontro
meus pais sentados à mesa, com xícaras de café. Eles estão falando em voz baixa.
― Divertiu-se? ― minha mãe pergunta. Ela olha para mim por cima da borda da sua xícara de
café. Eu pareço muito com ela. Ela tem os cabelos loiro-escuros e sua pele parece ter sido beijada
pelo sol. Meu pai diz que ela parecia comigo quando eles se conheceram. Seus cabelos continuam
compridos como o meu e ela é alta e esbelta como eu, mesmo após todos esses anos.
Concordo com a cabeça em resposta à sua pergunta.
― Estávamos assando marshmallows.
Ela levanta uma sobrancelha para mim.
― É assim que eles chamam isso, agora? Quando eu era jovem, chamávamos de flertar.
Sinto meu rosto esquentar.
― Eu não estava flertando.
― Hum-hum ― ela murmura, mas está sorrindo.
― Acho bom mesmo ― meu pai rosna, brincando.
― Qual o nome dele? ― ela pergunta.
Sou propositadamente obtusa.
― Gonzo.
Meu pai bufa.
― Gonzo é o de quinze anos de idade, que estava com Pete, o mentor dos garotos do centro de
detenção.
― Pete, hein? ― mamãe fala. Ela sabe que Pete é quem me encontrou. ― Como ele é?
Eu dou de ombros.
Suas sobrancelhas se erguem.
― Você sentiu alguma vibração estranha vinda dele?
― Mãe ― eu advirto. ― Deixa isso quieto.
― Pete é um mentor? Ou um ex-presidiário? ― Mamãe olha com curiosidade para o papai.
Papai acena.
― Ele está fora da prisão em liberdade condicional.
Mamãe suspira rapidamente. Papai olha para ela.
― Ele não fez nada violento, não é? ― minha mãe pergunta e sinto meu coração quase parar. Não
me atrevo nem mesmo a respirar até que eu ouça a resposta.
― Eu não o teria admitido se ele fosse violento ― meu pai fala. Ele aponta para uma pilha de
pastas. ― Acabei de reler seu arquivo, para ver se há algo mais que eu possa fazer para ajudá-lo. ―
Ele sacode a cabeça em direção a ela. ― Quer que eu lhe dê uma visão geral?
Balanço minha cabeça.
― Eu não preciso saber. ― Prefiro ouvir isso de Pete. ― Ele parece bom. ― Olho para o meu
pai. ― Até porque, meu pai ameaçou cortar o pinto dele fora.
Minha mãe engasga com seu café.
― Ei, isso funciona ― ele fala e sorri.
― Como vão as coisas com Chase?
Balanço minha cabeça.
― Ele não é meu tipo.
Meu pai diz em uma voz melodiosa:
― Mas Pete é.
Pego um papel que ele descartou sobre a mesa e jogo sobre ele, mas abro um sorriso.
― Ele é bem legal. Prometo não engravidar. ― Levanto-me rapidamente. ― Boa noite.
Ouço-o falar, enquanto começo a subir as escadas.
― Seria difícil engravidar dele se eu cortasse seu pinto fora ― papai grita para mim.
Eu rio e balanço a cabeça.
Paro no topo da escada e ouço:
― Eles estavam muito perto lá fora, no fogo ― minha mãe fala. ― Estava vendo pela janela. ―
Ela faz uma pausa. ― Será que ela permitiu que ele a tocasse?
― Não, mas ela o tocou. ― Ele solta um suspiro. ― Ela nem sequer tentou dar um soco na
garganta dele.
Bem, eu posso ser um pouco agressiva. Tudo começou após o meu ataque, quando tive aulas de
autodefesa. Então, percebi que sou boa em artes marciais. E não posso fazer nada se alguém me faz
desejar chutá-lo.
― Isso é um começo ― mamãe comenta.
Balanço minha cabeça. Eu não vou começar qualquer coisa. Ele é apenas um cara que não me faz
querer correr em outra direção. Isso é tudo o que ele é. Ele não é nada mais do que isso.
É estranho, porque, se eu o julgasse baseada unicamente por sua aparência, eu estaria correndo o
mais rápido que posso.
― Ele é um bom garoto ― papai fala, com um suspiro pesado ―, apenas cometeu um erro
estúpido.
― Ele é gato com todas aquelas tatuagens ― mamãe fala. Ela ri e ouço meu pai rosnar. Ela grita
e eu vou embora. Eles não precisam de público para a intimidade deles.
Paro no quarto de Lincoln e bato em sua porta.
― Entre ― ele fala, mesmo que a porta esteja aberta. Ele está sentado no chão, empilhando seus
blocos para fazer uma torre. Mas as torres de Link não são como outras torres. São complicadas
obras de arte, baseadas em teorias e coisas que eu não entendo.
― Divertiu-se hoje no acampamento? ― pergunto. Hoje era só para boas-vindas. O
acampamento começa oficialmente amanhã. Caminho pelo seu quarto e sento cautelosamente na beira
de uma cadeira.
Link balança a cabeça. Ele olha na minha direção, mas não faz contato visual. Ele não olha as
pessoas nos olhos com frequência. Quando ele faz, normalmente é um erro. E, muitas vezes, termina
em um colapso.
― Você encontrou alguém legal?
Ele balança a cabeça novamente. Ele só fala quando quer.
― Eu te amo ― eu digo. Ele olha para cima, quase encontrando o meu olhar. Em vez disso, seus
olhos viram na direção do meu ouvido.
― Eu também te amo ― diz ele em voz baixa.
PETE

S into o fogo quente contra minhas pernas, me fazendo coçar, e minhas unhas aliviam um pouco o
desconforto. Estou sentado aqui desde que ela saiu, e já faz um tempo. Por alguns minutos, pensei que
ela poderia voltar. Droga, provavelmente isso é coisa da minha cabeça; ela não está a fim de mim.
Olho para a grande casa branca onde ela mora. É perfeita. Cerca branca. Acres de terra. É quase a
casa de Anne, de Green Gables. Eu não li o livro, que conta a história de uma menina órfã que foi
viver numa fazenda, mas assisti a série de TV, junto com a minha mãe. Ela era exibida antes da Vila
Sésamo. Eu não tinha outra alternativa a não ser sentar com ela e assistir. Meus irmãos me
sacaneavam por causa disso, mas eu não ligava.
A tora em que estou sentado balança, quando alguém senta ao meu lado. Meu coração acelera,
mas, então, percebo que é Phil. Ele passa a mão pelo seu longo cabelo e geme.
― Como vão as coisas, Pete? ― ele pergunta.
O fogo é quase brasa, agora. Ainda está quente, mas não em chamas.
― Tudo bem.
― Você fez um bom trabalho hoje à noite. ― Ele olha para mim com o canto do olho.
― Não fiz nada.
― O acampamento começa efetivamente amanhã. ― Ele olha para mim. ― Está pronto?
― Acho que sim. ― Dou de ombros e chuto uma pedra com meu dedo do pé.
― Vi você conversando com Bob.
Olho para ele.
― Quem é esse?
Ele aponta para a casa grande.
― Bob Caster. O proprietário da fazenda.
― Ah, sim. ― Não sabia que ele se chamava Bob. ― Ele me pegou conversando com Reagan.
― Eu sorrio. Só de pensar nela, eu sorrio. E nem coloquei um dedo nela.
Phil assovia.
― Tenha cuidado. Já o vi derrubar meninos muito maiores que você.
Franzo a testa. Não consigo imaginar a cena.
― Você me faz lembrar dele, quando ele era mais jovem. Ele era um rapaz forte, assustador e
cheio de atitudes.
― Você o conhece há muito tempo?
― Há vinte e cinco anos, ele era você. ― Ele balança a cabeça quando olho para ele.
― Eu?
― Recém-saído da prisão, cheio de ressentimentos e pronto para uma luta. Ele era o cara mais
marrento que já conheci. ― Ele ri. ― Eu era o seu oficial de condicional.
― Uau ― eu falo. ― O que ele fez para parar na prisão?
Ele dá de ombros.
― Um erro estúpido, como o seu.
― Eu não sou marrento ― eu falo. Eu me comporto bem. Meus irmãos vão chutar minha bunda se
eu fizer qualquer coisa errada. Principalmente Paul.
― Você é realmente talentoso com crianças, principalmente com as que têm necessidades
especiais. Já considerou trabalho social? Você poderia ajudar muita gente.
Eu nunca tinha pensado nisso. Sinto medo de planejar o futuro, e algo ou alguém entrar em meu
caminho antes que eu tenha a chance de fazer qualquer coisa.
― Não sei ― murmuro.
― Pense nisso. Você tem tempo. ― Ele faz uma pausa, por um tempo, mas não ficamos
desconfortáveis. ― Quais são seus planos depois do acampamento? ― ele pergunta.
Eu dou de ombros.
― Talvez faculdade. Não sei. ― Terminei o ensino médio na prisão, mas faculdade é caro e eu
não tenho dinheiro. ― Eu trabalho com meus irmãos num estúdio de tatuagem.
Olho para a casa grande. A luz está acesa apenas em uma janela do andar de cima. Me pergunto
se é o quarto de Reagan. Phil sorri quando vê a direção do meu olhar.
― O que está acontecendo com Reagan? ― ele pergunta.
― Nada ainda.
― Você gosta dela? ― Ele é como um cachorro com um osso.
Dou de ombros.
― Tenha cuidado com ela, certo? ― ele pergunta.
― Por quê? O que há de errado com ela? ― Será que todo mundo sabe o que aconteceu com ela?
― Ela é cautelosa com os homens.
― Então, ela está na porra do lugar perfeito para ficar longe deles. ― Um acampamento cheio de
homens e meninos. Que esperto.
― Ela está aqui pelas crianças.
― Também estou aqui pelas crianças ― eu o lembro.
Ele balança a cabeça.
― É só ter cuidado.
Eu pretendo.
Ele se levanta.
― É uma sensação estranha estar aqui ― eu digo em voz baixa. Por dois anos, eu estive trancado
em uma cela. ― Eu não sei bem o que fazer comigo mesmo. ― Olho ao redor. ― Particularmente
com todo este espaço aberto.
Por dois anos, eu não tive escolhas. Eu comi quando as pessoas me disseram para comer e tomei
banho quando as pessoas me disseram para tomar banho. Este lugar é o oposto do confinamento, e
estou me sentindo um pouco confuso sobre como agir.
Phil se senta novamente.
― Diga-me o que você está sentindo.
― Você vai fingir ser o Dr. Phil agora? ― falo, mas evito outra gracinha ao ver seu rosto.
― Como está o relacionamento com seus irmãos? ― ele pergunta. Droga. Prefiro falar sobre os
malditos sentimentos.
― Tudo bem ― eu resmungo.
― São quatro, certo?
Eu concordo.
― Três mais velhos: Paul, Matt e Logan. E um da minha idade, Sam. Meu gêmeo. Mas, agora, ele
está na faculdade. Ele ganhou uma bolsa de estudos para jogar futebol. E eu estou aqui.
― Por que você não soa amargo sobre isso? ― ele pergunta.
Sam estava comigo quando fui pego descarregando o caminhão. Nós dois estávamos lá. Nós
fizemos alguns bicos com um cara da nossa vizinhança. Sim, era ilegal, e sim, fui pego. Mas Sam
estava comigo. Eu disse a ele para fugir. Eu fui pego. Eu fui para a cadeia. E Sam não. Ele estava
jogando futebol e tendo a vida que eu gostaria de ter.
― Não sinto amargura por nada. ― Não é culpa de Sam que eu estava carregando comigo uma
mochila cheia de drogas. Fui preso por posse com intenção de vender. Vou ser um criminoso pelo
resto da minha vida.
Phil concorda. O silêncio de repente é opressivo. Não foi assim quando Reagan estava aqui fora.
― Matt é o que estava doente? ― ele pergunta.
Eu não gosto de falar sobre Matt. Ele quase morreu, e seu tratamento foi muito caro. Ele está
bem, pelo menos por agora. No futuro, ele pode precisar se tratar de novo. Era por isso que eu estava
trabalhando com Bone, o cara que era dono da carga que eu estava descarregando. Ele também era o
cara que me deu as drogas para vender. Ele é o culpado por eu estar aqui. Bem, eu sou o culpado,
mas por causa da influência dele.
― Sim, Matt estava doente.
― Como ele está agora?
Matt me escreveu toda semana. Ele contava histórias sobre meus irmãos e Emily e dizia que
estava tudo bem. Mas eu não tinha como saber se as coisas estavam realmente bem. Quando cheguei
em casa, ontem à noite, parecia que estava tudo bem. E Sam estava na faculdade.
― Melhor ― respondo.
― E os outros?
― Tudo bem. ― Respiro fundo, porque ele está me olhando como se estivesse esperando que eu
contasse a história da minha vida.
― Logan vai casar. ― Abro um sorriso. ― Eu amo a sua noiva. Ela é linda e muito legal. O
nome dela é Emily e ela toca guitarra. Ela é boa para ele.
― A vida deles continuou sem você ― ele fala, sem me olhar ou mudar sua expressão.
― Será que eles deveriam esperar que eu saísse da prisão para viverem suas vidas? ― pergunto,
sabendo que meu tom é cáustico, mas não consigo evitar.
― Eles deveriam?
Solto um grunhido.
― Eu os amo demais para pedir a eles algo assim. ― Engulo o nó em minha garganta.
― E Sam? ― ele pergunta, sua voz suave.
Só de falar no nome dele, meu estômago dói. Ele é minha outra metade. Estamos juntos desde que
nascemos. Nós compartilhamos um quarto até que fui preso. Perdê-lo foi como perder uma parte de
mim.
― Não vejo Sam desde a audiência da sentença ― eu falo em voz baixa.
― Ele estava lá.
Eu concordo. Ele estava lá para tudo. Mas me recusei a falar com ele. Recusei-me a responder
suas cartas, até que ele finalmente parou de escrevê-las. Recusei-me a vê-lo quando ele veio me
visitar, até que ele parou de vir.
― Por que você está com raiva dele? ― Ele faz um tsk, tsk, tsk com a boca. ― Você está amargo
por ter sido único a ser preso.
Balanço minha cabeça.
― Não, não estou.
― Então o que é?
Eu nunca disse isso em voz alta.
― Estou com inveja, certo? ― eu grunho. Ele levanta uma sobrancelha para mim, mas não se
mexe. Solto um suspiro e me forço a abrir os punhos. ― Porra, eu fui pego. Idiota, idiota, idiota ―
murmuro para mim mesmo.
― Ele sabia com o que estava lidando? ― ele pergunta.
Balanço a cabeça. Ninguém sabia. Só peguei a mochila naquela noite. Ainda não tenha vendido
nada. Eu tinha acabado de me convencer a devolver aquilo para Bone, quando fui preso.
― Por que você fez isso?
Respiro fundo.
― O tratamento de Matt era caro. Eu não conseguia pensar em outra maneira de ajudá-lo.
Ele balança a cabeça. É um movimento lento para cima e para baixo. Ele não olha para mim ou
diz qualquer coisa.
― Você não sabe o que é saber que seu irmão vai morrer e não há nada que você possa fazer para
ajudá-lo. ― Eu me forço a abrir os punhos novamente.
― Não, não sei ― ele admite. ― Você usou drogas também? Ou apenas pegou para vender?
― Paul me mataria se eu usasse drogas. Você não faz ideia de como ele é.
― Acho que gosto de Paul ― ele fala e finalmente olha para mim e sorri. ― Parece que você
tem um bom sistema de apoio para quando voltar para casa. ― Ele esfrega as mãos rapidamente. ―
Só mais cinco dias!
Eu sorrio.
― Cinco dias ― repito.
― Posso fazer uma sugestão? ― ele pergunta.
― E eu tenho como impedi-lo? ― eu murmuro.
Ele sorri.
― Não mesmo. ― Ele faz uma pausa por um minuto. ― Não tenha medo de fazer planos, Pete ―
diz ele. ― Faça muitos planos. Porque só quando você não tem planos você esquece de onde deve ir.
Anote-os, torne-os reais. Então, corra atrás deles. Siga adiante.
Eu concordo.
― Tudo bem. ― Olho para a tornozeleira de rastreamento presa em mim. ― Enquanto estamos
aqui, sou livre para andar por aí?
Ele balança a cabeça.
― Eu vou saber onde você está, se eu precisar te encontrar. Mas sim, você pode considerar-se
livre. ― Ele tosse em seu punho fechado. ― Tenha cuidado com Reagan ― ele adverte e levanta a
mão quando eu começo a protestar. ― Você tem vinte e um anos. E esteve na prisão por dois. E estou
supondo que você já não é mais virgem há muito tempo. ― Ele limpa a garganta. ― Não esqueça que
há mais do que o prazer do momento.
Agora eu quero foder com ele.
― Não me diga, Dr. Phil.
― O bom da vida não são os momentos de prazer que você pode experimentar, mas sim os bons
momentos que você pode compartilhar com alguém que realmente importa.
Merda. Isso foi muito profundo.
― Sim, senhor ― eu digo.
― O que aconteceu com o seu pai, Pete? ― ele pergunta.
― Ele foi embora depois que a nossa mãe morreu.
― Ele perdeu algo bonito pra caralho com você, garoto ― ele fala. ― Ele poderia ter ficado e
aproveitado bons momentos com você e seus irmãos e a vida teria sido mais rica para ele.
― Minha vida foi boa. ― Duvido que tenha sido diferente se ele tivesse ficado. Paul ainda teria
cuidado de nós. Ele sempre cuidou.
― Não deixe de se perguntar, antes de fazer algo, quem vai se beneficiar.
― Sim, senhor.
Ele aponta para a casa grande.
― Falando de momentos ― diz ele, sorrindo. ― Neste momento, alguém está esgueirando-se
para o celeiro. ― Ele aperta meu joelho enquanto se levanta. ― De nada ― diz ele com uma risada,
enquanto se afasta.
Olho para o celeiro e vejo uma forma feminina caminhando rapidamente em direção à grande
construção ao longe. Olho ao redor. O acampamento está em silêncio e todo mundo está na cama.
Vejo quando ela entra por uma porta aberta e a fecha atrás dela.
Me pergunto se ela poderia querer companhia.
REAGAN

T ento não olhar em direção à fogueira quando corro para o celeiro. Sei que Pete ainda está
sentado lá e não está sozinho. Há dois homens e não sei quem é o segundo. Bato minha perna
levemente para que minha Maggie me siga. Ela é velha e não enxerga tão bem quanto antes, mas me
sinto segura com ela. Ela não deixa ninguém me machucar e eu adoro isso nela. Eu não precisava me
preocupar que ninguém se aproximaria sem que eu soubesse.
Entro no celeiro e fecho a porta atrás de nós. Maggie corre ao meu redor, salto na direção dela,
que pula de volta, brincando. Mesmo tão velha como ela é, ainda pode correr em círculos ao meu
redor.
Vou até a porta da baia e me inclino sobre o cabo que está bloqueando a abertura. Minha égua
deve parir a qualquer momento. Seu nome é Tequila e ela é a minha favorita.
Ela não está deitada, nem suando ainda, o que me leva a crer que não será essa noite que o potro
nascerá. Aproximo-me dela e esfrego suavemente atrás de suas orelhas. Ela empurra o rosto em
minha mão e eu rio.
De repente, Maggie estremece ao meu lado e os pelos na parte de trás do seu pescoço ficam de
pé. Um rosnado baixo sai da sua garganta e eu paro de acariciar Tequila, me aproximando mais da
égua. Meu coração bate acelerado.
― Olá ― uma voz chama. Maggie se agita e seu rosnado fica mais alto. Deus, eu amo essa
cadela. A sombra se aproxima, e Maggie late em advertência. ― Oh, merda ― diz alguém, e a
sombra se move para trás.
― Quem está aí? ― pergunto.
― É Pete ― diz a voz.
Meus ombros caem e eu me forço a respirar fundo. Não solto Tequila nem me afasto dela.
― Você não deveria estar aqui ― eu falo.
― Bom, eu não me importo de sair, se você segurar sua besta ― ele fala. Maggie se agacha e
rosna para frente e os sons que saem da sua garganta assustam até a mim. ― Por favor ― ele fala.
Sua voz está trêmula.
― Maggs ― eu falo. Ela se vira e olha para mim. Eu bato levemente em minha perna, e ela corre
para mim. Eu acaricio seu pelo macio. ― Boa menina ― eu sussurro. Maggie aceita meu carinho.
Apesar de estar cautelosa, ela não quer matar ninguém.
― Lembre-me de não me aproximar de você no escuro de novo ― diz Pete. Ele limpa a testa
com a mão.
Eu rio.
― Duvido que você vá precisar de um lembrete. ― Balanço o polegar na direção do banheiro
que fica nos fundos do celeiro. ― Você precisa ir até lá, ver se está tudo bem nas suas calças? ― Um
sorriso surge em meus lábios. Tento segurá-lo, mas é quase impossível.
Pete olha para baixo, observando sua bermuda.
― Acho que estou bem agora. ― Ele dobra os joelhos, se agacha no chão e estende a mão para
que Maggie possa cheirá-lo. ― Agora, se ela fizer qualquer outra coisa, vou cantar uma música
diferente. ― Ele ri.
Maggie inclina-se lentamente na direção dele. Ela ainda está cautelosa, mas calma. Não tenho
certeza se gosto da ideia de a minha cadela ser amiga de um estranho.
― Mags ― eu a chamo e ela corre de volta para mim. ― Não tente me enrolar para que ela goste
de você.
Ele levanta a sobrancelha.
― Ela foi treinada para me proteger ― explico rapidamente. Ela volta para o meu apartamento
na cidade comigo, embora eu tenha certeza de que ela gosta mais daqui, da fazenda. Mas preciso
dela. Em mais de um sentido.
Ele balança a cabeça, inclinando-se contra a porta da baia. Ele coloca as mãos nos bolsos.
― Eu vi você e achei que você poderia querer companhia.
― Eu já tenho companhia ― eu digo. Eu provavelmente soo como uma megera, mas nós ficamos
um pouco perto demais e estou sentindo os efeitos disso agora.
― Qual é o seu nome? ― ele pergunta, apontando para a égua.
Abro um sorriso completamente espontâneo.
― O nome dela é Tequila ― eu digo, acariciando-a.
Pete se aproxima e Tequila abana a cauda em seu rosto. Ele a afasta, cuspindo, enquanto limpa a
boca. Eu rio.
― Você não está acostumado com cavalos, não é?
― Não posso dizer que já estive com um antes ― diz ele, pegando na sua língua com o polegar e
o dedo indicador. Ele cospe novamente e, finalmente, parece satisfeito, depois de limpar a boca com
o antebraço.
― Consegui outra primeira vez sua ― eu falo. Imediatamente, percebo meu erro e tento
consertar. ― Quero dizer...
Ele levanta a mão e sorri.
― Ei, se eu pudesse, deixaria que todas as minhas primeiras vezes fossem com você. ― Seus
olhos encontram os meus e uma faísca surge entre nós.
― Você está bem? ― ele pergunta, franzindo a testa.
Eu concordo.
― Sim.
Saio de trás de Tequila. Maggie ainda está entre nós e sei que ela jamais deixaria que nada me
machucasse. Pego a mangueira para molhar Tequila. Pete salta quando eu, acidentalmente, molho seus
sapatos.
― Desculpe ― eu falo. Eu realmente não queria fazer isso. Mordo meu lábio e evito o seu olhar.
― Um pouco de água não faz mal a ninguém ― ele fala, encolhendo os ombros. Acho que o ouvi
murmurar algo como “eu poderia aproveitar para me refrescar”, mas acho que pode ter sido só
ilusão. Ele sorri para mim. Ele é tão bonito. Seus olhos azuis brilhantes na luz baixa do celeiro
parecem quase safira. Eles são margeados por cílios escuros tão espessos que são quase femininos,
mas não há nada feminino nele. Ele é todo homem, desde a largura dos seus ombros até seu charmoso
sorriso. Ele é bem mais alto do que eu, mas, por alguma razão, não me sinto intimidada. Acho que é
porque ele não me tocou.
― Você deveria tirar uma foto, princesa ― ele fala, com um sorriso. ― Teria mais tempo para
me observar.
Sinto o calor aquecer meu rosto.
― Ei ― ele fala em voz baixa ―, eu só estava brincando. ― Ele dá um passo em minha direção,
as sobrancelhas arqueadas.
Respiro fundo. Sinto que há uma bola de pingue pongue na minha barriga. Geralmente, bom
humor funciona em situações assim, então, eu resolvo tentar.
― Não tenho culpa se você é bom de olhar. ― Sorrio.
Desta vez, seu rosto é que fica corado.
― Você me acha bonito ― ele fala, sorrindo. Ele, de repente, está todo metido.
― Bonito não é uma palavra que eu usaria para descrevê-lo ― respondo, rindo.
Ele se inclina casualmente contra a porta da baia novamente.
― Então, qual você usaria?
― Cheio de si ― eu falo, fingindo tossir.
Ele ri.
Respiro fundo.
― Por que você está aqui? ― pergunto.
Ele dá de ombros.
― Achei que você poderia querer um pouco de companhia. ― Seu olhar encontra o meu e é tão
intenso que preciso desviar.
― Achei que você estaria muito preocupado com seu pinto para se aproximar de mim novamente
― eu provoco. O riso parece ser a melhor maneira de lidar com este homem.
― Você me deixou preocupado com meu pinto. ― Ele ri e olha para baixo. ― Bem, você pode
se preocupar com ele também, mas eu assumo total responsabilidade pela sua segurança.
Eu rio. Ele é muito engraçado.
― Nós dois podemos nos preocupar com ele ― eu falo com um sorriso. Arrisco um olhar para
ele, e ele está me olhando atentamente. Muito de perto. Preciso dizer algo engraçado, mas nada me
vem à cabeça. Tento segurar minha língua, porque não quero dizer a coisa errada.
― Quer sair comigo? ― ele pergunta, parecendo surpreso com sua própria pergunta e me dá a
impressão de que ele gostaria de desfazer o convite. Mas ele não o faz. Apenas olha para mim com
expectativa.
― Sair? ― pergunto.
Ele sorri.
― Você e eu. Num encontro.
Ele não tem carro e acabou de sair da prisão. Um encontro pode ser meio difícil. Mas não posso
falar isso. Vou ferir seus sentimentos.
― Que tipo de encontro?
― O tipo no qual você e eu passamos algum tempo juntos ― ele diz com um encolher de ombros.
― Estamos fazendo isso agora ― eu falo.
― Bem, caramba. ― Ele sorri. ― Você está certa. ― Ele olha para os cavalos. ― Da próxima
vez, lembre-me de levá-la em algum lugar mais agradável.
Eu rio. Ele sorri para mim.
― Esse é um belo som ― ele fala em voz baixa.
Olho para Tequila e a acaricio.
― Você está soltando gases, garota? ― pergunto e sorrio para ele. ― Desculpe, ela pode ser
meio barulhenta.
Ele sorri e esfrega o queixo. Aposto que a sombra de barba arranha a ponta dos seus dedos e, se
eu fosse outra pessoa, iria querer tocá-lo para descobrir.
― E ela também é engraçada ― ele fala em voz baixa.
Eu sorrio e faço um movimento em direção à porta.
― Acho melhor sair daqui antes que meu pai venha atrás de você ― eu falo, mas não estou
preocupada com meu pai. Estou preocupada comigo. Porque eu gosto deste homem. Muito.
― Posso acompanhar você de volta para casa? ― ele pergunta, inclinando a cabeça para o lado.
Ele é tão bonitinho. E faz meu interior tremer. Não tenho certeza se isso é uma coisa boa.
Eu aceno, e ele vem para o meu lado e, em seguida, abre a porta do celeiro para mim. Ele segura
a porta aberta e eu e Maggie passamos. Seu ombro encosta no meu, e eu me afasto dele. Ele inclina a
cabeça para baixo, perto de mim.
― Estou cheirando mal? ― ele pergunta.
Eu me inclino para perto dele e cheiro.
― Não que eu esteja sentindo ― eu respondo em voz baixa. Ele tem um cheiro cítrico e de ar
livre, exatamente como eu me lembro daquela noite. E eu quero enterrar meu rosto em seu peito e
deixá-lo entrar. Mas eu não posso.
― Apenas verificando ― diz ele com uma risada. ― Toda vez que eu chego perto de você, você
se afasta ― diz ele casualmente. Mas não há nada de casual em seu comentário. Nada mesmo.
Eu aponto para o meu peito.
― Eu estive trabalhando o dia todo... e brincando com os cavalos. Fiquei preocupada que eu
estivesse cheirando mal.
Ele olha para o meu rosto, e eu não posso afastar meus olhos.
― Você cheira como limões e pingos de chuva. ― Ele fecha os olhos e inala. ― E todas as
coisas inocentes.
Eu congelo.
― Você está totalmente errado ― eu digo.
― Você se sente culpada? ― ele pergunta. ― De quê? ― Seus olhos azuis se estreitam.
― Por confiar na pessoa errada ― eu digo em voz baixa.
― Eu não quero que você confie em mim ― diz ele. ― Eu quero que você fique muito, muito
desconfiada de mim. E de todos os outros homens que encontrar.
Eu inspiro profundamente pelo nariz.
― Sem problemas ― eu finalmente digo. A maioria dos homens luta comigo para me fazer
confiar neles.
― Eu não confio em mim mesmo quase todos os dias ― diz ele. Acho que ele está brincando no
início, mas ele está muito sério.
― Por que não? ― eu sussurro.
― Não sou digno de confiança ― diz ele em voz baixa.
Eu puxo uma mecha de cabelo que está preso na minha boca e lambo os lábios. Ele me observa
de perto.
― Eu prometo não confiar em você ― eu sussurro.
― Bom ― ele sussurra de volta, muito dramaticamente.
Ao chegarmos na minha porta, e eu me viro para encará-lo.
― Obrigada por me acompanhar ― eu digo e coloco a mão sobre meu peito. ― Foi um longo
caminho ― eu digo, tentando soar como Scarlett O'Hara. ― Eu nunca teria conseguido sozinha.
Ele sorri.
― Meu trabalho aqui está feito.
― Boa noite ― eu digo.
Ele fecha um olho e olha para mim com o outro, por um momento.
― Posso beijar você? ― ele pergunta.
Balanço minha cabeça e sinto meu estômago em nós.
― Não ― eu sussurro. ― Receio que não.
Ele sussurra novamente:
― Posso continuar perguntando? ― Ele sorri.
― Eu ficaria decepcionada se você não perguntasse ― eu admito. Ele sorri. Desta vez, não é
brincalhão. Eu acho que é um sorriso típico de Pete. Metido e cheio de confiança.
Ele se vira para ir embora, falando por cima do ombro:
― Boa noite, princesa..
― Boa noite ― eu respondo. Olho para cima e vejo meu pai me olhando pela janela da cozinha.
― Pai ― eu sussurro quando ele abre a porta para mim.
― Esse era Pete? ― ele pergunta. Maggie deita em seus pés.
Eu concordo.
― Sim.
Ele mordisca uma unha.
― Eu deveria estar preocupado? ― ele pergunta.
Balanço minha cabeça.
― Acho que não.
― Ok. ― Ele respira, e esvazia como um balão relaxado. Ele se inclina para frente, puxando
minha cabeça para si, com o braço musculoso. ― Boa noite ― diz ele, beijando minha têmpora.
― Boa noite, pai ― eu digo. Ele se vira e sobe as escadas. Eu olho para fora, pela janela da
cozinha, para o primeiro homem que eu já quis beijar. Mas eu não posso. Eu simplesmente não posso.
E sei que isto vai acabar mal.
REAGAN

À s vezes, acordo com o peso das minhas memórias sobre mim, como um pesado cobertor de lã
molhada. Um que me puxa para baixo e torna impossível sair da cama. Mas hoje, abro os olhos e não
há sangue pegajoso na ponta dos meus dedos, e meus cílios não estão colados de acordar com o grito
preso em minha garganta.
Hoje, eu acordei... esperançosa. Nem sei se essa é a palavra certa para isso. É meio como a gente
se sente numa manhã de Natal. Aquele mesmo sentimento que se experimenta, mesmo depois de saber
que o Papai Noel não é real, mas você antecipa os sentimentos acolhedores e felizes que vêm com o
feriado. Você rasga os papéis ao abrir os presentes e vê que os presentes que deu para seus pais têm
um significado para eles. É assim que estou me sentindo hoje. E não estou tão certa se gosto disso.
As meninas estiveram aqui, para o acampamento no mês passado, e não senti essa euforia por
causa delas, então acho que não é o acampamento que me faz desejar correr até lá fora hoje. É Pete.
E tenho certeza de que não deveria gostar tanto dele como gosto.
Em um mundo perfeito, eu poderia sair com ele. Mas meu mundo não é perfeito. E não é há algum
tempo.
Visto minha roupa e prendo o cabelo num rabo de cavalo. Vamos trabalhar com os cavalos hoje,
antes que fique muito quente. Os meninos gostam de fazer passeios curtos em torno do paddock.
Algumas dessas crianças nunca montaram em um cavalo antes.
Caminhando lá fora, consigo sentir o aromo do bacon na frigideira. Meu pai tentou contratar uma
empresa que presta serviço de buffet, mas ele realmente gosta de cozinhar para as crianças e ele
parece ficar mais satisfeito ao jogar um pouco de bacon na frigideira, mexer os ovos e oferecer frutas
frescas, iogurte, leite e cereais para todos. Há algo para cada criança, mesmo com algumas das
bizarras restrições dietéticas dos meninos.
Os rapazes da prisão estão atuando como garçons, agora, e eles estão fazendo um bom trabalho.
Pete está trabalhando em duas mesas. Ele faz a linguagem de sinais para algumas crianças e brinca
com outras. Ele é muito bom com adolescentes. Gonzo fala algo para ele e vejo quando Pete levanta
a mão para não permitir que os outros vejam quando ele levanta o dedo médio para Gonzo. Ele ri e
eu me esforço para fechar minha boca.
Pete olha e me chama a atenção. Meu coração bate descompassado.
― Bom dia, princesa ― ele diz calmamente, sua voz preguiçosa e sem complicações. Mas isso é
uma mentira. Tudo nesse homem é complexo. Não há nada que não seja complicado nele.
― Bom dia ― eu respondo. Aperto o ombro de Gonzo ao passar por ele e ele sorri para mim. ―
Dormiu bem, Gonzo? ― pergunto.
Ele sorri e sinaliza algo para Pete.
― O que ele disse? ― pergunto a Pete.
― Você não iria querer saber ― Pete responde, com uma careta. Ele olha para Gonzo. ―
Cuidado com suas maneiras, Karl ― adverte. Sua voz é severa e Gonzo abaixa a cabeça. É a
primeira vez que ouço Pete chamá-lo pelo seu nome real. Pete se levanta e vai ajudar outro menino.
Ele ainda está olhando para Gonzo e estou morrendo de vontade de saber o que ele disse para ganhar
tal tratamento de Pete.
― O que eu perdi? ― pergunto olhando de um para o outro.
― Humor adolescente ― Pete resmunga, olhando para Gonzo. Pete entrega um saleiro para outro
menino. ― Do tipo que não é divertido.
Gonzo faz sinais para Pete.
― Eu sei que era para mim ― Pete fala baixinho, olhando nos olhos de Gonzo. ― Mas ela está
sentada bem aqui, e é rude falar na frente dela, a menos que eu possa lhe dizer o que você falou ―
ele resmunga algo e depois continua: ― E eu não gostaria de repetir o que você disse nem por um
milhão de dólares. ― Ele levanta as mãos como se estivesse dizendo “Que merda!”. ― Não fale
assim na frente das meninas, cara. ― Ele espeta um garfo em Gonzo. ― Quando estivermos sozinhos,
você pode falar toda a merda que quiser. E pode até ser engraçado.
Gonzo bate no ombro, para que eu olhe para ele. Ele faz sinais, dizendo alguma coisa.
― Ele pediu desculpas ― Pete resmunga. Gonzo faz outros sinais e, em seguida, pisca os olhos
para mim, piscando os cílios grossos. ― Ele quer saber se você pode perdoá-lo.
― Vou pensar sobre isso ― eu falo. Ainda não sei o que ele disse, então não sei pelo que eu
deveria ficar ofendida. Mas Pete pareceu tão sério sobre isso, que sinto que devo jogar junto.
― Gonzo, vá em frente e faça o que precisa para que possamos fazer a primeira atividade ―
Pete fala.
Gonzo sorri e sinaliza algo. Pete balança a cabeça. Mais humor adolescente?
Um dos cuidadores vai até as mesas que Pete estava cuidando para aprontar as crianças para as
atividades da manhã. Pete se senta e solta um suspiro.
― Aquele garoto me faz lembrar dos meus irmãos ― diz ele, mas um sorriso surge no canto dos
lábios.
― Você é quem dá esporro em seus irmãos? ― pergunto.
Ele ri.
― Sou o caçula. Então, geralmente eu sou aquele que fala algo inadequado e eles tentam me fazer
calar a boca.
― O que ele disse? ― pergunto. Estou morrendo de vontade de saber, mas algo me diz que ele
não dirá.
Seu olhar está caloroso, os olhos nublados ao encontrarem os meus.
― Se você quer saber, tem algo a ver com madeira de manhã. ― Ele levanta uma sobrancelha e
eu engasgo. Ele ri e levanta uma sobrancelha. ― Devo continuar?
Seguro sua mão para detê-lo.
― Eu poderia viver o resto da minha vida sem precisar saber dessa conversa. ― Porém, eu
penso nisso por um minuto. ― Isso é algo que os meninos falam? ― pergunto, curiosa.
Ele abaixa o queixo e olha para mim.
― Não siga por esse caminho, princesa ― ele avisa, com a voz rouca.
― Eu só estava curiosa ― sussurro, mas sinto necessidade de me explicar. ― Meu irmão é
autista e quase não fala, então, não sei como os meninos se comportam. ― Coloco a mão sobre o
peito, constrangida com o que estou prestes a admitir. ― Quando as meninas se juntam, falamos de
tudo. ― Olho em seus olhos, e, de repente, eles estão entreabertos. Meu coração acelera. ― Sobre
os homens, principalmente. ― Meu rosto esquenta.
Sua voz é quase um sussurro quando ele diz:
― Continue, princesa. ― Seus olhos brilham.
― Bem, aparentemente, Gonzo quer falar com você como eu falaria com as minhas amigas.
― E ele pode, quando estivermos sozinhos, como eu falei a ele. ― Ele não está mais sorrindo.
― Não vou machucar o menino, nem ferir seus sentimentos. Mas também não vou tratá-lo como se
ele fosse feito de vidro. Ele já teve o suficiente disso.
― Certo ― eu digo em voz baixa. Vou deixar passar. Pelo menos, por enquanto.
Pete sorri. Ele acena com a cabeça na direção de onde meu pai está fritando o último pedaço de
bacon.
― Café da manhã? ― ele pergunta.
― Você já comeu? ― pergunto-lhe.
Ele balança a cabeça.
― Fiquei muito ocupado até agora. ― Ele olha para mim. ― Quer se juntar a mim? ― Ele se
inclina e sussurra: ― Este seria o nosso segundo encontro.
Reviro meus olhos e caminho em direção ao meu pai, que me dá uma bela porção.
― Eu não posso comer tudo isso, pai ― eu reclamo.
Pete olha para o prato, lambendo os lábios, e meu pai empurra-o em sua direção. Eu pego um
bagel, cream cheese e leite com chocolate. Pete senta na minha frente. Ele olha para o meu leite com
chocolate.
― Você quer um? ― pergunto e dou um gole no meu leite, olhando-o por cima da embalagem.
Ele espera até que eu o coloque sobre a mesa e estende a mão para o meu leite. Ele agradece e dá
um gole. Seus lábios pressionam onde os meus estiveram e meu estômago se aperta. Olho para longe,
porque sinto medo do que vou ver se olhar em seus olhos azuis agora.
― Desculpe ― ele murmura. ― Não quis deixar você desconfortável ― ele fala.
Então, ele se levanta e pega outro leite, abre-o e me dá. Olho diretamente em seus olhos e estendo
o braço para pegar meu leite original, levando-o aos meus lábios.
― Jesus Cristo. ― Ele inspira pesadamente. Pete olha por cima do ombro, onde meu pai está
conversando com alguns dos homens do programa da prisão.
― Se o seu pai tiver alguma ideia do que está passando na minha cabeça, ele vai cortar meu
pinto fora, com certeza.
Limpo minha garganta, tentando afastar o nó dentro dela.
― O que está passando na sua cabeça? ― pergunto baixinho.
Ele olha para mim e balança a cabeça.
― Não importa. ― Ele olha para o prato e respira profundamente, e, em seguida, começa a
comer. Ele mastiga por um minuto e depois se inclina para a frente como se quisesse me contar um
segredo. Ele desiste e balança a cabeça.
― O quê? ― pergunto.
― Nada. ― Ele continua comendo.
― Eu odeio quando as pessoas fazem isso ― eu digo, mais para mim do que para ele.
Ele solta um suspiro.
― O que está acontecendo na minha cabeça é ainda mais fodido do que o que está acontecendo
na minha calça, se você quer saber meus pensamentos mais íntimos, princesa. ― Ele bate na testa
com os dentes de seu garfo de plástico. ― Fodido.
Eu engulo com tanta força que posso ouvir.
― Fodido como?
Ele fecha os olhos e respira fundo.
Eu me repito, no caso de ele não ter me ouvido.
― Fodido como? ― Coloco meu pão sobre a mesa.
Ele se inclina para perto de mim e acena com um dedo, me convidando a fazer o mesmo. Eu me
inclino para ele.
― Você me deixou ligar pra caralho e eu não poderia me levantar daqui, nem que a porra do
lugar estivesse pegando fogo, princesa. ― Ele aponta para o leite. ― E tudo o que você fez foi tocar
seus lábios na porra de uma caixa de leite. ― Ele esfrega a testa como se quisesse afastar os
pensamentos. Ele olha nos meus olhos. ― Sei que se você me tocasse com a sua boca eu explodiria
como um canhão, princesa. Eu seria o homem mais feliz do mundo, mas, ao mesmo tempo, me sentiria
constrangido, porque, aparentemente, não tenho nenhum controle quando se trata de você. ― Ele faz
uma careta e olha para baixo, na direção do seu colo, ajeitando a calça enquanto mexe os quadris. ―
Nossa situação é complicada por tantos motivos que não posso sequer pensar em fazer nada com
você. Mas só consigo pensar é em fazer algo com você. ― Ele geme e enfia um pedaço de bacon em
sua boca. Seus olhos não deixam os meus, no entanto. ― Planejei cuidadosamente como eu iria
ignorá-la hoje. Mas, então, lá estava você, sorrindo para mim. ― Ele olha para a minha boca. ― Eu
não podia ignorá-la, nem se eu quisesse.
Respiro fundo, tentando racionalizar os meus pensamentos. Mas não posso. Eu nunca, nunca
mesmo, me senti assim antes. As minhas amigas já conversaram sobre isso, mas eu nunca senti isso.
Mesmo quando vou a algum encontro, é como se uma parte de mim estivesse desligada. Mas, com
Pete, nada está adormecido. Tudo fica em alerta.
Ele continua a dizer:
― Eu não quero querer você.
Meu coração quase sai pela boca. Eu entendo. Não gosto disso. Mas entendo. Eu concordo.
Ninguém gosta de bens danificados.
Levanto-me da mesa e pego o meu prato.
― Espere ― ele chama.
Eu não posso esperar. Se eu esperar, ele pode ver as lágrimas que estão enchendo meus olhos.
― Princesa ― ele chama novamente. De repente, me sinto presa e não consigo mais andar. Olho
para baixo e vejo sua mão segurando a bainha da minha blusa. Ele se inclina sobre a mesa e
murmura: ― Não vá embora ― diz ele.
Mas tudo o que eu vejo é a mão segurando minha camisa. Meu coração acelera e minha
respiração congela em meu peito. Eu não posso fugir. Dou um passo trás e soco diretamente o rosto
dele, com toda a força da minha mão. Ele balança, seus olhos fechando enquanto ele se encolhe e sua
cabeça vai para trás. Primeiro, dou um jeito no pulso dele. Em seguida, eu vou para os olhos.
― Reagan! ― papai grita, deixando cair o que ele está segurando e corre em minha direção. Ele
vai até Pete, que ainda está atordoado do meu soco no rosto. Eles caem no chão. Papai vira-o. ―
Reagan ― meu pai grunhe. ― O que aconteceu?
Pete fica no chão. Ele nem sequer está em posição de luta. Ele só se encolhe, seus olhos bem
fechados, enquanto o sangue escorre de seu nariz.
― Fique aí ― meu pai adverte.
Pete balança a cabeça e não se move. Seus olhos finalmente abrem e eles encontram os meus.
Não sei interpretar o que esse olhar quer dizer. Então, viro e corro para casa. Ajo como a menina
apavorada que sou.
Irrompo pela porta de trás e vou direto para os braços da minha mãe. Ela resmunga quando bato
no seu peito, mas isso não a impede de me abraçar com força.
― O que houve? ― ela murmura, enquanto me abraça com força. Ela me segura, acariciando meu
cabelo até que consigo respirar. Então, ela se afasta, segura meu rosto em suas mãos e me obriga a
olhar para ela. ― Diga-me o que houve de errado ― ela pede.
― Acho que cometi um erro ― eu soluço.
― O que aconteceu? ― ela pergunta e me leva para a cozinha. Ela aponta para uma cadeira e eu
afundo nela.
― Nada ― eu finalmente murmuro, após recuperar o fôlego.
Não posso acreditar que fiz isso. Eu, simplesmente, agredi um pobre homem que nada mais fez do
que flertar comigo e depois me disse que não queria me querer. Não posso falar isso para a minha
mãe.
Ela coloca as mãos nos quadris.
― Não creio que seja nada ― ela insiste.
A porta dos fundos se abre, e a prova da minha vergonha vem atrás do meu pai e Link. Eu
estremeço e desvio o olhar de Pete.
― Você pode conseguir um pouco de gele para Pete colocar sobre o olho? ― meu pai pergunta a
minha mãe. Ela arqueia a sobrancelha para mim e me lança um olhar que faria um homem adulto fugir
para as colinas.
Ela começa a encher um saco com zíper com gelo.
― E por que Pete precisa de gelo para seu olho? ― ela pergunta levianamente.
Papai aponta para mim.
― Sua filha bateu-lhe na cara.
Minha mãe suspira.
― Reagan!
Minha mãe cruza a cozinha, indo até Pete. Ela o observa e pressiona o osso debaixo do seu olho
com o polegar. Ele geme baixinho. Um lado do rosto está sujo, provavelmente da hora que meu pai o
rolou no chão. Minha mãe lhe entrega um pano úmido e ele limpa delicadamente a sua face. Quando
ele está limpo, minha mãe pressiona o gelo no olho dele, com a ponta do polegar. Ele estremece e
sacode a cabeça para trás.
― Acho que Reagan já fez bastante dano ― meu pai adverte. ― Pare de torturar o garoto. ― Ele
olha para mim. Quero esconder meu rosto, de vergonha.
Então, percebo a maneira como Pete está segurando seu pulso esquerdo em sua mão. Meu olhar
vai de encontro ao seu, e não vejo nada além de curiosidade. Ele deveria estar furioso. Ele tem todo
o direito de estar.
― Seu braço está machucado? ― pergunto baixinho.
Os cantos dos lábios de Pete inclinam-se em um pequeno sorriso.
― Está tudo bem.
― Não está não ― meu pai resmunga. ― Pode estar quebrado.
― Ah, merda ― eu murmuro.
― Reagan ― minha mãe adverte.
― Ah, merda ― Link repete igual a um papagaio.
Enterro meu rosto em minhas mãos. Meus pais vão me matar quando eu estiver sozinha.
― Reagan, quero que você pegue a caminhonete e leve Pete até a cidade, para a emergência ―
meu pai fala.
Eu ergo minha cabeça. Ele não pode estar falando sério.
― Ah, merda ― Link entra na conversa. Minha mãe range os dentes.
Meu pai levanta e joga as chaves da caminhonete na minha direção e eu tenho que pegá-las.
― Pai ― eu reclamo.
― Se isso faz você se sentir melhor, eu particularmente não quero estar em um espaço fechado
com você mais do que você quer estar em um comigo ― diz Pete. Ele cautelosamente toca seus
olhos, seu rosto se contorcendo de dor.
Eu mereço isso. Eu realmente mereço. Dou um suspiro.
― Vamos lá.
Pete me segue até a caminhonete do meu pai e abre a porta do motorista para que eu possa entrar.
― Obrigada ― eu resmungo. Ele dá a volta na caminhonete e entra no lado do passageiro. ―
Tem certeza de que você está machucado?
― Meu coração está quebrado ― ele fala.
Levanto a minha cabeça.
― O quê?
Sua voz é baixa.
― Me mata saber que você acha que eu tentaria machucá-la. ― Ele vira de frente para mim. ―
Lembro do jeito que você parecia naquela noite. Eu nunca, nunca mesmo faria nada para prejudicá-la
assim.
Ligo a caminhonete. É mais fácil evitar a conversa se eu tiver algo para ocupar minhas mãos e
uma razão para não olhar para ele.
― Esquece ― Pete grunhe, afastando-se de mim. Ele vira para a janela e encosta a testa contra
ela. Ele envolve o pulso em sua mão e nem sequer olha para o meu lado.
PETE

N ão sei o que dizer a ela. Nem faço ideia de como resolver esta questão. Só sei que meu pulso
dói, mas também sei que ele não está quebrado. Seu pai foi insistente com essa coisa de ir à
Emergência, e eu permiti que ela me levasse. Ela está sentada em silêncio no banco do motorista,
enquanto descemos a estrada há quase dez minutos. De vez em quando, ela abre a boca como se fosse
dizer algo, mas então a fecha.
De repente, ela joga a caminhonete para a direita, encostando num recuo. Eu levanto as mãos para
me defender, mas me arrependo imediatamente quando a dor toma meu pulso.
― Merda ― eu murmuro.
Ela solta um suspiro e coloca as mãos no rosto. Depois de um momento, ela olha para cima, seus
olhos verdes brilhando.
― Sinto muito ― ela fala calmamente.
Estou sentindo dor como um filho da puta e me sinto irritado o suficiente para querer que ela
sofra por um minuto.
― Pelo quê? ― eu grito, puxo meu pulso para junto do meu corpo e o seguro com a outra mão.
― Por tudo isso. ― Ela respira fundo e lágrimas surgem em seus olhos. Ela pisca, tentando
afastá-las, mas elas voltam rapidamente. Toda a minha raiva derrete com a visão de suas lágrimas.
― Tudo bem ― eu resmungo. ― Não preocupe sua linda cabecinha com isso. ― Sim, eu fui
irônico e um pouco humilhante, mas ainda estou dolorido.
― Você não está bem ― ela exclama. ― Eu bati em você. ― Ela range os dentes. ― Na cara.
O silêncio cai pesado entre nós como um cobertor molhado.
― Ainda tenho alguns problemas daquela noite ― ela finalmente diz, colocando a cabeça para
trás contra o encosto de cabeça e olha para o teto.
― Onde você aprendeu artes marciais?
― Meu pai me ensinou. ― Ela olha para mim. Ela parece tão vulnerável, de repente. ― Depois
do que aconteceu na faculdade, eu fiz uma aula de autodefesa. Percebi que era realmente boa, então
eu continuei e me aperfeiçoei.
Eu pressiono suavemente minha cavidade ocular. Ela parece tão triste... mas ela soltou o
comentário e eu sinto que preciso aproveitar a oportunidade para saber mais sobre ela.
― Você se sente mais segura sabendo que pode derrubar um homem? ― eu pergunto.
Seu rosto empalidece, e ela desvia o olhar.
― Não neste exato momento.
― Mas normalmente? ― pergunto. Seu rosto ainda está pálido, e ela não me encara.
― Gosto de saber que posso fugir do perigo ― diz ela calmamente.
― Você acha que sou perigoso? ― Minta para mim, princesa. Porque meu estômago já está
torcendo só de pensar que ela pode estar com medo de mim.
― Naquele momento, sim ― ela murmura ― Podemos não falar sobre isso?
Precisamos conversar sobre isso. Mas posso dizer que ela realmente não quer.
― Certo ― respondo triste. ― Quando eu toco em você, eu desperto algo? ― deixo escapar.
Preciso saber o que ela sente.
Ela balança a cabeça e inala profundamente, agindo como se eu tivesse jogado uma tábua de
salvação.
― Você faz meu coração bater mais rápido, de um jeito realmente bom. ― Ela finalmente me
olha. ― Sei que você não pode me perdoar, mas eu realmente sinto muito.
Me aproximo para tocar em seu rosto, mas ela recua e eu deixo minha mão cair sobre meu colo.
― Eu não deveria ter segurado você. A culpa foi minha. ― Não sei o que dizer, nem como fazer
o que é certo para ela. Se fosse qualquer outro cara, eu estaria puto por que ela me bateu por não me
deixar tocá-la.
― A culpa não é sua ― ela protesta. ― É minha. ― Quase consigo ouvi-la dizer baixinho algo
que soa como a culpa é dele.
― Só não queria que você fosse embora antes que eu tivesse a chance de me explicar ― eu falo.
― Eu segurei sua camiseta.
― E eu senti como se eu não fosse conseguir sair de lá. E sei que não era a sua intenção.
Balanço minha cabeça.
― Não, essa era a minha intenção. Eu não quero que você fique longe. Seus instintos estavam
certos.
― Mas você não tinha a intenção de me machucar.
― Você não tinha como saber disso. ― Deus, como sou estúpido. Estou discutindo com ela sobre
todas as razões por que ela me bateu.
― Então, meu pai empurrou você no chão. ― Ela parece um pouco irritada com isso.
― Porra, princesa, se eu visse minha filha socando um idiota, eu imediatamente assumiria que a
culpa era dele. Seu pai fez a coisa certa. ― Eu acredito nisso. Isso é o que os pais costumam fazer.
Bem, o meu não, mas eu tenho Paul e meus irmãos. Eles iriam me proteger com suas vidas. O pai
dela não fez nada além do que eles fazem por mim. ― Seu pai sabe o que aconteceu?
Ela balança a cabeça, mordendo o lábio inferior entre os dentes.
― Você pode me perdoar? ― ela pergunta.
― Não há nada a perdoar ― eu digo. Ela olha para mim. ― Está perdoada ― eu falo. ― Eu
juro.
Ela respira fundo.
― Obrigada.
― Eu não devia ter feito você se sentir como se precisasse fugir de mim ― eu admito.
Poderíamos ter evitado todo o fiasco se eu tivesse mantido minha boca fechada e não falado sobre o
meu pau e o que ela me fazia sentir. Sinto meu corpo se agitar só de pensar nisso. Eu gemo baixinho.
― O que foi? ― ela pergunta. ― Está sentindo dor?
Sim. Estou sofrendo. Mas não do jeito que ela pensa.
― Um pouco ― eu admito. Meu pulso dói.
― Eu gosto do jeito que você gosta de mim ― diz ela. Sua voz é tão baixa que mal posso ouvi-
la.
― O quê? ― pergunto. Eu me inclino mais para perto dela, mas ela se afasta.
Ela sorri e balança a cabeça.
― Eu gosto do jeito que você gosta de mim ― diz ela novamente, desta vez um pouco mais alto.
Um sorriso aparece em meus lábios.
― Você me faz sentir coisas ― ela admite. Seu rosto, antes pálido, não está mais. Suas
bochechas estão rosadas. ― Você pode parar de sorrir agora ― ela fala, mas está sorrindo. Isso é
bom.
― Você me diz que gosta de mim e espera que eu pare de sorrir? ― Coloco minha mão sobre
meu peito. ― Você só pode estar brincando comigo. Eu poderia dar cambalhotas.
― Eu não gosto de homens ― diz ela calmamente.
― Oh. ― Não tinha notado um indício de que ela fosse lésbica. Não mesmo. Mas eu posso ter
errado. ― Você gosta de mulheres?
Ela esconde o rosto entre as mãos e levanta a cabeça, rindo.
― Não! ― ela grita. ― Eu não gosto de mulheres. ― Ela desvia o olhar de novo. ― Eu gosto de
homens. Mas você é o único homem que eu já gostei. ― Ela fecha os olhos e atira a cabeça para trás,
gemendo. ― Ser normal não deveria ser tão difícil! ― ela grita.
― Princesa, você é tudo, menos normal ― eu digo, o riso borbulhando dentro de mim.
Ela encolhe os ombros, parecendo um pouco envergonhada.
― Eu não sei como mudar.
Eu rio.
― Eu não mudaria nada em você.
Seus olhos encontram os meus. Há uma vulnerabilidade lá, e eu vejo uma outra coisa. Esperança?
― Sinto como se te conhecesse há muito tempo ― diz ela.
― Sim. ― Ela gosta de mim. Ela gosta muito de mim. De repente, estou cheio de confiança,
muito mais do que tenho estado há um longo tempo. ― Se você quiser que eu me mantenha longe de
você, enquanto estiver no acampamento, você só precisa falar. ― Faço uma pausa. Ela não diz nada.
― Mas, se você não me mandar ficar longe de você, vou continuar tentando conhecê-la. E então,
quando você voltar para a faculdade, vou levá-la para jantar.
Sua testa franze.
― Um encontro?
― Sim.
― Você é meio arrogante, não é? ― ela pergunta.
― Sim.
― Por que você estava na prisão? ― ela deixa escapar.
Desta vez sou eu que congelo.
― Achei que você sabia sobre tudo isso.
Ela balança a cabeça.
― Eu sabia que você estava lá, mas eu não sei por quê.
― Você se importa?
Ela encolhe os ombros.
― O que isso significa?
― Meu pai já foi preso ― ela admite. ― E muitas pessoas não sabem, então eu agradeceria se
você não espalhasse isso.
― Foi preso por quê?
― As pessoas fazem coisas estúpidas quando estão desesperadas ― diz ela.
Sim, elas fazem.
― Eu cometi um erro ― eu tento explicar. Mas é difícil falar porque fiz algo estúpido tentando
proteger um dos meus irmãos. Eu não sei nem como começar a explicar.
― Você não fez mal a ninguém, não é? ― ela pergunta e olha para mim com o canto do olho.
― Não ― eu admito. ― Só para mim. E para meus irmãos, quando fui preso. ― Eu dou um
suspiro. ― Eu decepcionei a todos, inclusive a mim mesmo.
Ela sorri e diz:
― Então, o que nós aprendemos hoje? ― Ela parece brilhar como um raio de sol e me faz
lembrar da minha professora de ciências da oitava série, aquela pela qual eu tinha uma paixão
enorme.
― Aprendi a nunca segurar você quando você estiver tentando se afastar de mim.
Ela balança a cabeça e fala muito calmamente:
― Aprendi que eu realmente gosto de partilhar o meu leite com chocolate com você.
Sinto um nó no estômago.
― Gosto de falar com você ― eu admito.
― Eu também ― ela sussurra.
Eu toco no meu olho novamente.
― Você tem um bom soco. Lembre-me de nunca me aproximar de você num beco escuro. ―
Penso nisso por um minuto. ― Ou num celeiro escuro.
― Ou numa área de piquenique ensolarada ― ela resmunga alegremente.
Eu rio.
― Espere até meus irmãos descobrirem que você me deu um soco.
― Eles vão achar engraçado?
― Quando meu irmão Logan conheceu sua noiva, Emily, ela lhe deu um soco na cara.
Ela cobre a boca com a ponta dos dedos.
― Oh ― ela respira.
― Ele disse que, se algum dia, um de nós encontrasse uma garota que nos desse um soco na cara
quando nós merecêssemos, deveríamos nos casar com ela. ― Eu rio. Eu ainda amo essa história. ―
Logan deu em cima de Emily segundos após conhecê-la, e ela quebrou seu nariz. ― Eu levanto o meu
braço ferido. ― Você só quebrou o meu braço. Não é exatamente a mesma coisa.
― Bem, você não estava dando em cima de mim ― ela diz com uma risada.
― Ah, eu estava ― eu admito. ― Só que sou mais sutil do que Logan.
― Graças a Deus ― ela sussurra. Levanto minhas sobrancelhas, o que faz com que ela se apresse
em dizer: ― Se você fosse menos sutil, você provavelmente iria assustar-me à morte. ― Ela sorri.
― Eu gosto do seu jeito.
― Você quer que eu pare de tentar dar em cima de você? ― pergunto e espero ansiosamente.
Ela solta um suspiro.
― Não.
― Não fique tão animada com isso ― eu falo.
― Eu não sei o que fazer com todos esses sentimentos ― ela admite.
― Eu também não.
― Então, o que vamos fazer agora? ― ela pergunta.
Eu ergo meu braço ferido.
― Acho que preciso de um médico.
Ela corre para colocar a caminhonete de volta na estrada.
― Eu quase me esqueci que você está ferido!
Eu não esqueci. E eu não vou esquecer de ter cuidado com ela a partir de agora. Mas ela gosta do
jeito que eu a faço sentir. Isso é um bom começo.
REAGAN

O médico diz que seu pulso não está quebrado, graças a Deus. Só destroncado. Não está nem mesmo
torcido. Ele recomenda que Pete tome um anti-inflamatório e descanse. Pete parece ficar satisfeito
com isso.
― Você tem certeza de que não quer que eu chame a polícia para que eles possam prender a
pessoa que agrediu você? ― a enfermeira pergunta. Ela está flertando com ele desde que passamos
pela porta.
― Tenho certeza. Não foi intencional. ― Seus olhos encontram os meus sobre a cabeça dela,
enquanto ela envolve seu pulso. Suas mãos demoram um pouco demais na sua, e vejo os olhos dela
se estreitarem sobre seu peito.
― Você é novo na cidade? ― ela pergunta. ― Não acho que já tenha te visto por aqui antes. ―
Ela olha-o nos olhos e sorri. ― Tenho certeza de que eu iria me lembrar de você.
Pete sorri para mim e revira os olhos.
― Sou da capital ― ele fala e brinca com seu piercing. Não consigo tirar meus olhos dos seus
lábios, observando-o enquanto ele brinca com o aro com a ponta da língua.
― Bem, se você quiser dar um passeio em nossa cidade pequena, é só me avisar.
― Acho que não vamos precisar ― eu deixo escapar.
Pete levanta a sobrancelha para mim, mas seus olhos estão brilhando tanto que posso dizer que
ele está se divertindo.
Corro para continuar. Diminuo o tom da minha voz para o que eu espero que seja um ronronar
sensual.
― Eu realmente não pretendo deixá-lo fora da cama por tempo suficiente para ver os pontos
turísticos. ― Dou uma risada.
Ela congela.
― Oh, eu não percebi... ― diz ela.
― Eu percebi ― eu atiro de volta. Olho para ela, e ela tem a decência de corar.
― Eu já volto ― ela murmura e sai correndo do quarto.
Um ruído borbulha de dentro de Pete. Acho que ele está segurando o riso. Mas, se for, acho que
vou matá-lo. Então, ele começa a rir, sacudindo os ombros até que ele cai para trás, deitando na mesa
de exames, a barriga balançando enquanto ele gargalha alto. Levanto-me, sigo para o seu lado, e olho
para ele.
― O que você está achando tão divertido? ― pergunto.
Ele enxuga as lágrimas dos seus olhos com os nós dos dedos.
― Por você ter que me salvar da enfermeira ― ele cacareja. ― Essa merda foi muito engraçada
― ele diz. Ele ainda está enxugando os olhos, o riso começando a diminuir. ― Por que você fez
isso? ― ele pergunta. ― Ela era inofensiva.
Olho para a porta, lembrando-me do seu belo sorriso, cabelos longos e escuros e a personalidade
toda cheia de toques. Eu nunca poderia competir com ela, pelo menos não com a última parte.
― Ela era tão inofensiva como uma piranha em um tanque cheio de peixinhos.
Ele ri de novo, soltando uma enorme gargalhada. Quando ele para, eu percebo o quão perto estou
dele. Ele levanta a mão e aproxima-a para colocá-la em meu quadril. Mas, faltando poucos
centímetros para chegar lá, ele diz:
― Eu vou tocar em você. ― Sua voz soa muito suavemente. Meu coração salta. ― Estou te
avisando para você não me bater.
― Onde? ― eu sussurro. Sua mão está realmente perto do meu quadril, mas eu quero ter certeza.
Meu pulso dispara.
― Não me bata em qualquer lugar ― ele sussurra de volta, de brincadeira.
Eu reviro meus olhos para ele, mas minhas entranhas estão em nós.
Sua mão pousa no meu quadril, quente e forte. Não é intrusiva. Mas eu fecho meus olhos, porque
a sensualidade de seu toque combinado com o calor nos olhos dele me faz querer correr para longe,
muito longe. Mas não corro, no entanto. Eu o deixo tocar meu quadril.
― Isso não é tão ruim, não é? ― ele pergunta baixinho.
Balanço minha cabeça.
― Acho que está tudo bem ― falo em voz baixa. Eu mal posso respirar, muito menos falar. Ele
senta-se e muito gentilmente me leva para ficar entre as pernas dele com uma leve pressão na minha
cintura.
― Você quer me bater? ― ele pergunta.
Eu balanço minha cabeça e, finalmente, deixo o meu olhar encontrar o seu.
― Não ― eu digo em voz baixa.
― Se você me batesse, ainda assim teria valido a pena ― ele fala em voz baixa. Seu nariz toca o
meu e seus lábios estão a poucos centímetros de distância. Eu coloco minha mão em seu estômago e
sinto os músculos se contraírem. Eu empurro minha mão para trás, mas ele coloca a sua sobre a
minha e pressiona suavemente contra seu corpo. ― Eu gosto quando você me toca ― ele diz. ―
Você pode fazer isso a hora que quiser.
Ele roça seu nariz delicadamente contra o meu, dando beijinhos de esquimó. Seus lábios pairam
sobre os meus, mas eles não se aproximam, e eu sinto que eu poderia afastar o medo de tanto que eu
quero que ele me beije.
― Beije-me ― eu digo.
Ele congela e aperta a mão no meu quadril.
― Não. ― Ele balança a cabeça.
Eu levanto a cabeça e olho em seus olhos.
― Está tudo bem ― eu digo. ― Eu quero tentar.
Ele me coloca de volta na posição de antes.
― Não ― diz ele novamente. Ele balança a cabeça com ainda mais veemência.
― Por que não? ― Eu não posso acreditar que estou implorando a este homem para me beijar.
Foi a isso que eu me reduzi?
Ele solta um suspiro.
― Eu não vou te beijar, porque não sei ainda se você realmente me quer ou se quer beijar alguém
que você acha que não é uma ameaça, para praticar beijos.
― E se for um pouco de ambos?
Ele balança a cabeça, e acho que ele pode estar um pouco chateado.
― Quando você sentir um desejo irresistível de me beijar. ― Ele para e dá um tapinha no peito.
― Quando você quiser beijar Pete ― ele fala. ― Eu vou te beijar. Se você quiser praticar, você
pode encontrar alguém para ajudá-la.
Não estou entendendo.
― É apenas um beijo.
Ele levanta meu queixo em um aperto suave e me obriga a olhar em seus olhos.
― Quando eu finalmente beijá-la, vai ser porque você quer me beijar, Pete, o homem, aquele que
olha para você com olhos de admiração, aquele que tem tanto medo desses sentimentos tão novos por
você, que, às vezes, ele não consegue respirar; a pessoa que está morrendo de vontade de te provar.
Eu tenho pensado sobre você quase todos os dias desde que te conheci, princesa, e não quero tirar
você da minha mente. ― Ele beija a ponta do meu nariz e rapidamente se afasta. ― Mas, quando eu
te beijar, vai ser porque você sente algo tão grande por mim quanto o que sinto por você.
Não consigo evitar e olho para o seu colo. Ele ri.
― Sim, isso também ― ele diz com uma risada.
― Então, o que vamos fazer agora? ― pergunto. Eu não posso acreditar. É a primeira vez que eu
quis beijar alguém desde o ataque e ele é muito cavalheiro para me agarrar.
― Vamos às compras ― diz ele. Ele balança a cabeça, como se estivesse pensando sobre isso.
― Temos pressa para voltar para o acampamento?
Eu dou de ombros. Nós provavelmente deveríamos.
― Papai vai ligar para o meu telefone se eu não voltar em uma ou duas horas.
Ele balança a cabeça e olha para o relógio.
― Está quase na hora do almoço. ― Ele sorri. ― Acho que está na hora do nosso terceiro
encontro.
Reviro os olhos e o sigo para fora da sala de exames. Meus joelhos ainda estão bambos do nosso
quase beijo. Se ele realmente tivesse me beijado, eu provavelmente me transformaria em uma poça
no chão.
PETE

E u quero beijá-la. Eu realmente quero muito beijá-la. Mas não vou. Não até que ela esteja pronta.
Não porque eu acho que ela vai chutar minha bunda, mas porque eu realmente me preocupo com ela.
Na verdade, me preocupo há muito tempo, mas os últimos dias ao seu lado só me fizeram desejar
conhecê-la ainda mais.
Lembro quando Logan levou Emily para casa, pela primeira vez. Rimos dele porque ela passou a
noite, e ele sempre tinha muitas mulheres em sua cama, mas ele nunca, nunca dormia muito. Ele nem
sequer fez sexo com ela, não até semanas mais tarde, e ela dormiu em sua cama todas as noites. Ele
se apaixonou perdidamente por ela. Imediatamente. Olhando para trás, eu me lembro de tentar
descobrir o que diabos ele estava pensando. Agora eu entendia. Há algumas meninas com quem você
transa. E há garotas que você deseja tanto, que chega a doer, mas você se controla porque elas são
especiais.
Saímos da caminhonete ao chegar na farmácia e eu seguro sua mão na minha enquanto
caminhamos em direção à porta. Ela tenta afastar a mão, mas eu não deixo. Seguro-a firmemente, mas
com cuidado. Ela se assusta e eu sinto medo, por um segundo, de que ela vá me dar um soco
novamente. Mas ela respira fundo, se acalma e seu aperto relaxa.
― O que vamos comprar? ― ela pergunta e olha para cima, seus olhos verdes brilhando. Mas
eles parecem cautelosos.
― Preservativos ― eu digo, inexpressivo. Sua boca abre. Eu me inclino para perto de seu rosto
e sussurro: ― Estou brincando. ― Eu ergo meu pulso, a mão que não está segurando a dela, e digo:
― Eu preciso de algum tipo de anti-inflamatório.
― Oh ― ela fala, parecendo relaxar. Então, ela sorri e balança a cabeça.
― Algo errado? ― pergunto. Eu já sei que ela não tem certeza de como me responder. Quero que
ela seja ela mesma. Não a que foi criada pelo trauma do seu ataque. Só quero ver a verdadeira
Reagan.
Ela balança a cabeça e mordisca o lábio inferior.
― Você tem que parar de fazer isso, princesa ― eu digo. ― Você está me matando aqui.
Ela fica tensa.
― O quê?
Me aproximo e toco seu lábio inferior com a ponta do meu polegar. Eu meio que espero que ela
vá me empurrar, mas ela não o faz. Ela sorri e abaixa a cabeça, o cabelo caindo em seu rosto. Muito
lentamente, eu o afasto e coloco uma mecha atrás de sua orelha. Ela sorri e desvia o olhar.
― Que tipo de analgésico você quer? ― ela pergunta, seguindo na direção do corredor, mas eu
não solto sua mão. Eu a sigo para qualquer lugar que ela queira ir, desde que possa continuar
segurando-a.
Eu flexiono a minha mão.
― Eu duvido que alguma coisa vá fazer diferença. ― Amanhã vou me sentir melhor, mas ela já
está olhando a prateleira, procurando o remédio certo. Dou a volta e colocou um braço em volta da
sua cintura. Ela olha para mim, suas bochechas corando. ― Eu adoro poder fazer isso com você ―
eu falo em voz baixa.
Ela balança a cabeça e morde o lábio inferior novamente.
― Eu também ― diz ela.
Afasto-me por um minuto e vou até o outro corredor, para recuperar o fôlego. Tic Tac tem sérias
necessidades de ter um pequeno estoque de pastilhas de hortelã. Preciso descobrir o nome desse
menino, não posso continuar chamando-o de Tic Tac em minha cabeça. Pego algumas balas para ele e
volto para onde deixei Reagan. Só que ela não está sozinha quando volto.
REAGAN

Q uero voltar para o momento tranquilo e calmo que tive com Pete, mas ele estava em outro
corredor quando Chase me viu debruçada sobre os analgésicos. Ele chama meu nome e segue em
minha direção.
― Reagan ― Chase fala, como se não tivesse me visto ontem mesmo. ― Estava mesmo
pensando em você.
Ele está sempre cheio de gracinhas. Não consigo saber se ele está sendo sincero ou não, e essa é
uma das coisas que não gosto nele.
― Oi, Chase ― eu murmuro. Olho para os lados e não vejo Pete. ― E aí?
― Eu estava prestes a ligar para você. Meu pai tem ingressos para a festa no clube de campo.
Quer ir comigo?
― Ela estará ocupada amanhã ― alguém fala dos fundos do corredor. Pete vem em nossa
direção, seu andar lento. Seu corpo parece relaxado, mas sei que não está. Não de verdade.
― Quem é ele? ― Chase pergunta.
Pete estende a mão para cumprimentá-lo. Chase olha para ele como se Pete estivesse sujo. Pete
afasta a mão e segura a minha. Eu solto-a e cruzo os braços sob meus seios.
― Chase, este é o Pete. ― Eu inclino a cabeça em direção a Chase. ― Pete, este é Chase.
― Prazer em conhecê-lo ― diz Pete.
― Chase e eu fazemos faculdade juntos ― eu falo rápido.
Pete sorri.
― Sortudo ― diz ele.
As sobrancelhas de Chase levantam. Ele olha para mim.
― Então, você estará ocupada amanhã à noite? ― ele pergunta e ignora Pete, o que me irrita.
Pete foi agradável, até agora.
Mas há aço na voz de Pete quando ele responde.
― Eu disse que ela estará ocupada.
Chase flexiona a mão, cerrando-a em punho. Pete ainda parece relaxado. Mas ele não está. Ele
não precisa de postura para parecer ameaçador da maneira que Chase precisa. Ele simplesmente é. E
é muito mais do que Chase.
― Eu gostaria de ouvir isso dela.
― Eu... ― começo a dizer.
Mas Pete coloca o braço em volta do meu corpo e fala:
― Estou tomando a liberdade de falar por ela.
Eu olho para ele.
― Não fale por mim ― eu digo e afasto o braço ao redor dos meus ombros. ― Você conseguiu
tudo que precisava? ― pergunto.
― Ainda não ― diz ele lentamente. Seus olhos focam no meu rosto. ― Por que não vou terminar
minhas compras? ― ele pergunta e levanta uma sobrancelha para mim. Eu concordo. Ele enfia uma
mecha de cabelo atrás da minha orelha antes de se afastar.
― Quem diabos é ele? ― Chase grunhe. Ele observa a arrogância orgulhosa de Pete caminhando
pelo corredor até que ele desaparece de vista. Chase olha para mim.
Eu dou de ombros.
― Ele é um amigo.
― Desde quando você tem amigos assim? ― ele pergunta, dando um passo em minha direção, e
eu dou um passo para trás, até que minhas costas estão contra as prateleiras atrás de mim. Eu não
gosto de ser encurralada, mas Chase não sabe disso. Me afasto para o lado em que não estou cercada.
― Assim como? ― pergunto. Eu sei que ele está se referindo às tatuagens. Pete caminha até o
final do corredor e acena para nós e, então, pisca para mim. Um sorriso surge em meus lábios. Dou
de ombros novamente. ― Ele é muito legal.
― Onde você o conheceu?
Eu posso dizer a verdade ou posso mentir. Mas, então, ouço Pete, que está em outro corredor,
começar a cantar a letra de Jailhouse Rock, de Elvis Presley. Eu sorrio. Não consigo evitar.
― Ele está ajudando no acampamento esta semana ― eu digo, em vez da verdade. Bem, é uma
espécie de verdade.
― De onde ele é? ― Chase pergunta.
― Nova York ― eu digo.
Pete muda a música de Elvis para AC/DC, Jailbreak. Solto uma risada alta. Não consigo segurar.
― Seu pai não se incomodou de você sair com ele?
Meu pai também é coberto de tatuagens, mas a maioria fica oculta por suas roupas.
― Ele gosta de Pete ― eu digo. ― Eu também. ― Chase coloca um braço na prateleira atrás de
mim e inclina-se para o meu corpo. Eu evito-o de novo, e ele olha zangado para mim. ― Não me
prenda ― advirto.
Ele levanta as duas mãos como se estivesse se rendendo aos policiais. Mas ele ainda parece
curioso.
― Então, amanhã ― diz ele.
― Eu não posso ― eu deixo escapar.
Acho que ouvi uma vaia rápida, seguida de um "Sim!", do outro lado do corredor, mas não tenho
certeza.
Chase toca meu cotovelo, e faz minha pele arrepiar. Puxo meu cotovelo para trás.
― Não me toque ― eu digo.
De repente, Pete caminha pelo corredor em direção a nós. Sua expressão é estrondosa, e eu passo
na frente dele para que ele tenha que passar por mim, antes de chegar a Chase e esmurrá-lo, como
estou supondo que ele quer fazer. Coloco a mão em seu peito.
― Você está pronto para ir? ― pergunto.
Ele olha para mim, seus olhos perguntando se estou bem. Sinto suas mãos na minha cintura,
deslizando para as minhas costas e puxando-me para ele. Ele está me testando. Não quero lutar com
ele. Eu admito. Chase faz minha pele arrepiar, e Pete faz minha pele formigar. Não é uma sensação
totalmente agradável, mas só porque não posso controlá-la. Ele está muito perto, uma mão no centro
das minhas costas, e outra cheia de balas. Ele dá um passo em direção a Chase, e Pete e eu estamos
tão próximos que tenho que recuar quando ele dá um passo à frente.
Repito a minha pergunta.
― Você está pronto para ir?
Ele finalmente olha para mim.
― Já tenho tudo que preciso ― diz ele. Seu tom é educado.
Limpo minha garganta e viro Pete em direção à frente da loja, para que possamos pagar os itens
que ele pegou.
― Nos vemos por aí, Chase ― eu falo. Ele acena para mim. Eu me sinto mal por Chase parecer
confuso. Ele está pegando o seu telefone, enquanto Pete e eu estamos andando, e já estou esperando
que meu pai receba uma chamada do seu pai. Mas não me importo. Se meu pai tivesse problemas
com Pete, ele certamente não teria me mandado sair com ele.
Pete vai até o balcão e coloca seus itens ao lado do caixa. Ele puxa a carteira do bolso de trás e
abre-a. Eu vejo duas embalagens laminadas ali dentro, junto com seu dinheiro. Meu rosto esquenta.
Ele paga e, em seguida, fecha a carteira, empurrando-a de volta no bolso de trás. Ele pega a sacola
da mão da funcionária e agradece a ela.
À medida que caminhamos para fora pela porta da frente, ele entrelaça os dedos nos meus. Eu
olho para ele, piscando por causa do brilho do sol.
― Você realmente precisa aprender a se comportar ― eu digo. Mas não consigo disfarçar uma
risada. Eu simplesmente não posso.
― Jailhouse Rock? Sério?
Ele dá de ombros, mas está sorrindo também.
― Pareceu apropriado.
Dou uma risada tão alta que cubro minha boca, constrangida.
― Foi muito inadequado ― eu digo.
Ele fica sério e olha para mim depois de entrar na caminhonete.
― Quem é esse cara? ― ele pergunta.
― Ele é um amigo ― eu digo com um encolher de ombros. ― Só isso.
― Por que você não disse a ele de onde eu sou? ― ele pergunta. Ele está esperando com a
respiração suspensa, eu acho.
― Eu disse.
Ele balança a cabeça.
― Você sabe o que eu quero dizer.
― Ele perguntou de onde você é. Eu disse Nova York. O que mais você queria que eu dissesse a
ele?
― A verdade seria um bom começo ― ele murmura.
― A cadeia é um lugar que você ficou por um tempo, Pete. Não é de onde você é.
Ele bufa.
― Isso seria algo como os rapazes dizerem que moram na Cast-A-Way Farms, após ficarem lá
por uma semana.
― Isso não é totalmente certo. ― Ele balança a cabeça para trás e para a frente como se
estivesse pesando minhas palavras. Em seguida, seus olhos se estreitam. ― Você não o permitiu
tocar você.
― Eu sei ― eu digo em voz baixa. ― Eu não deixo muitas pessoas me tocarem. ― É melhor eu
lhe contar a verdade. ― Saímos em um encontro. Uma ou duas vezes ― eu falo.
― Você teve um encontro com ele e não deixa que ele te toque? ― Ele levanta a sobrancelha
para mim.
Eu aceno, perturbada por sua pergunta.
― Bom ― diz ele. Ele sorri.
Eu ligo a caminhonete e coloco minha mão direita no console entre nós, dirigindo com a
esquerda. Seu braço ferido surge para encostar ao meu lado e seu dedo mindinho cruza sobre o meu,
envolvendo-o. É confortável. É bom. É inquietante de um jeito estranho e não sei o que fazer com ele.
― Pare de pensar sobre isso ― ele diz, sorrindo, enquanto olha para fora da janela. Ele não está
nem olhando para mim.
― Ok ― eu digo em voz baixa. Resolvo colocar minha mão de volta no lugar.
Meus nervos estão uma bagunça no momento em que voltamos para o acampamento. Pete olha
para mim e sorri.
― Querida, chegamos! ― ele canta, sorrindo. Mas, em seguida, rapidamente fica sério. Ele
abaixa a cabeça, arqueando o pescoço, para que possa olhar para o meu rosto. ― Você ainda está
pensando demais, não é? ― ele pergunta baixinho.
Eu concordo. Pisco furiosamente para afastar as lágrimas. Ele é tão gentil e tão doce, mas eu
pensei sobre isso por todo o caminho de casa.
― Eu tenho medo que eu não possa ser o que você precisa que eu seja ― eu digo em voz baixa.
― Eu simplesmente não posso. ― Eu nunca vou ser normal. Nunca.
― Você acabou de me conhecer ― diz ele. ― Como no mundo você pode saber o que eu
preciso?
Ele solta minha mão. Sinto-me de repente mais sozinha do que nunca. Eu olho em seus olhos.
― Eu realmente, realmente quero te beijar ― eu digo.
Ele sorri.
― Bom.
― Mas e se eu nunca puder fazer isso? ― Nunca puder beijá-lo vendo o rosto de Pete e não dele.
Pete envolve seus dedos nos meus.
― Isso parece bom? ― ele pergunta.
Não teria parecido bom ontem, mas de repente tudo parece certo hoje.
― Não.
Ele sacode a mão para trás, como se eu o tivesse escaldado.
― Espere. ― Eu preciso explicar. ― Não parece bom. É uma sensação fabulosa.
Sua postura relaxa.
― Você me assustou por um segundo.
Eu procuro sua mão e seguro-a com força.
― Para mim, isso pode ser o mais próximo que consigo ter no que se refere a relações sexuais,
ou aquele beijo que acho que quero de você.
― Tudo bem ― ele diz, sorrindo. Eu reviro meus olhos para ele. Seu rosto suaviza. ― Acontece
que eu gosto de ficar de mãos dadas com você, sua boba ― diz ele. ― Eu gosto muito. ― Ele
esfrega a mão pelo rosto. ― Provavelmente, mais do que eu deveria. ― Ele aperta minha mão. ―
Então, se isso é tudo o que você está preparada para fazer, eu fico feliz. E só isso. ― Ele se inclina
de novo, olhando para o meu rosto. ― Nos encontramos ontem. A maioria dos homens quer entrar
nas suas calças no prazo de vinte e quatro horas?
Eu dou um suspiro. Ele encontrou-me muito antes disso, mas, tecnicamente, ele está certo.
― Se for assim, você tem saído com o tipo errado de homem. ― Ele deixa a minha mão e vira-se
para abrir a porta da caminhonete.
― Pete ― eu chamo.
Ele olha por cima do ombro para mim, sorrindo.
― Reagan ― diz ele, seu tom de voz imitando o meu. Mas ele levanta a mão. ― Eu sei que você
já quer dormir comigo, Reagan ― diz ele sorrindo. ― Mas, pelo amor de Deus, eu só te conheci
ontem. Dê-me algum tempo para que eu possa conhecê-la, certo? ― Ele ajusta sua roupa como se eu
estivesse despindo-o com os meus olhos. ― Eu sou mais do que um pedaço de carne.
Ele ainda está sorrindo, e eu sei que ele está brincando, mas, de repente, me dou conta do quão
tola estou sendo. Estou deixando minha atração por este homem ditar minhas ações, e estou
levantando paredes. A semana mal começou e, se continuar assim, vou virar uma fortaleza. Mas uma
coisa é certa: se há alguém que consegue ultrapassar minhas paredes e me fazer querer que ele entre,
esse alguém é Pete. Porque eu já estou no meio do caminho.
PETE

O Sr. Caster nos encontra na caminhonete quando saímos e ele olha meu pulso imobilizado com uma
expressão solene. Mas ele observa a forma como Reagan olha para mim com uma expressão ainda
mais solene.
― Foi tudo bem? ― ele pergunta, seu olhar passando entre nós dois.
― Só uma entorse ― eu falo, segurando meu braço para que eu possa flexionar meus dedos.
Olho ao redor. Não vejo nenhuma criança.
― Onde estão todos? ― pergunto.
Ele balança o polegar em direção à piscina.
― Metade das crianças está na piscina. A outra metade, no estábulo.
― Link ainda está xingando? ― Reagan pergunta, tenho certeza de que está estremecendo por
dentro.
― Sua mãe te salvou quando ela soltou a bomba F na frente dele. ― Ele sorri. É nítido que ele
não está zangado.
Reagan ri.
― Que bom, fico feliz que posso contar com ela para salvar o dia.
― Você sempre pode contar com a sua mãe para xingar mais do que você. ― Ele olha para mim.
― Onde você deve ficar hoje? Com Gonzo?
Eu não faço nenhuma ideia de onde eu deveria estar.
― Onde você quiser que eu esteja.
Ele acena com a cabeça em direção às cabines dos conselheiros, que é onde eu vou ficar.
― Confirme com Phil. Acho que ele está com um grupo de jovens, e pode estar precisando de um
adulto para ajudá-lo. ― Eu aceno com a cabeça. Eu nunca me considerei um adulto, mas me sinto
orgulhoso ao pensar que ele o faz.
Eu olho para Reagan e viro a minha cabeça para o lado. Espero que eu pareça um cachorro
curioso. Provavelmente não.
― Te vejo mais tarde? ― pergunto.
A testa do seu pai franze e ele parece quase... divertido?
Ela acena para mim, corando um pouco enquanto olha para seu pai.
Sigo na direção das cabines dos conselheiros. Phil se levanta e pega uma cadeira para mim, me
colocando à sua frente.
― Como está o pulso? ― ele pergunta quando eu sento e inclino-me para a frente, balançando as
mãos entre os joelhos.
― Só uma entorse ― eu digo. Eu não gosto que toda a atenção esteja de repente em mim.
Ele sorri e pisca para mim.
― Como você levou um soco no rosto de uma menina ― ele olha para o grupo ―, estávamos
conversando sobre quantos dos jovens do programa vêm de lares onde a violência doméstica é algo
comum.
― Certo ― eu digo lentamente. Eu não sei como ele quer que eu contribua com isso.
― Gostaria de saber quantos? ― ele pergunta e sorri para mim, em encorajamento.
― Eu adoraria saber ― eu respondo, porque suponho que é o que ele quer ouvir.
Phil comanda o grupo.
― Por favor, levante a mão quem já sofreu violência doméstica em sua casa. ― Seis em cada dez
mãos sobem. ― Isso pode incluir violência contra sua mãe, seu pai, seus irmãos. Ou até mesmo seus
avós ou pais adotivos.
Outra mão sobe. Esses meninos não têm famílias como a minha. Longe disso. Eu estava
impregnado de amor e compaixão, e eles foram criados em meio a tumulto e raiva.
― Uau ― eu digo. ― Isso é mais do que eu esperava. ― Eu não sei o que Phil queria que eu
fizesse. Então, só faço perguntas.
― Os seus amigos sabiam sobre a situação de vocês? Ou vocês os mantiveram afastados disso?
Um dos meninos dá um suspiro.
― Eu não deixaria os meus amigos a cinquenta metros do meu apartamento.
― Você vai para a casa deles, em vez disso? ― pergunto.
Ele balança a cabeça.
― Alguns. Há outros que têm famílias como a minha, por isso, frequentamos muito o parque.
― Você tem amigos com famílias normais, certo? ― pergunto.
Tic Tac zomba.
― A briga é normal ― diz ele. ― Se eu estivesse em uma casa e não houvesse luta, eu
provavelmente fugiria com medo.
Os meninos riem dele, mas posso dizer pelo jeito que eles evitam o meu olhar que isso é
verdade. Os problemas é o “normal” deles.
― Quantos de vocês querem ser diferentes quando crescerem? ― Quatro deles levantam as
mãos. ― E quando tiverem seus próprios filhos? ― pergunto. ― Vocês gostariam de dar uma vida
melhor para os seus filhos? ― Desta vez, mais quatro mãos sobem.
Phil pergunta:
― Então, vocês acham que seus filhos merecem mais do que vocês têm? ― Ele se volta para o
grupo. ― O que vocês podem fazer para se certificarem de que isso aconteça?
― Não engravidar uma cadela, então não precisar casar com ela ― um deles solta.
― Essa é uma palavra que você usa para descrever as mulheres? ― pergunto. Olho para ele. Eu
não deveria, mas ele tem que saber isso não é certo.
Ele dá de ombros.
― É isso que elas são.
― Sua mãe é uma puta?
Ele dá de ombros novamente e evita meus olhos.
― Sua filha vai ser uma cadela?
Ele senta-se, neste momento. Ele está ficando na defensiva, posso dizer. Eu ergo minha mão para
detê-lo.
― Toda mulher é filha de alguém. Alguém em casa a ama. E você desvaloriza a ela e todas as
outras do sexo feminino referindo-se às mulheres como cadelas e putas. Toda menina é filha de
alguém. Você precisa lembrar disso ao tratar mal uma mulher.
O mesmo garoto sacode a cabeça.
― Algumas bo... ― Ele para e se corrige. ― Algumas mulheres não querem ser tratadas como a
filha de alguém ― diz ele. ― Se seus pais não são bons, elas nem sabem como é isso.
Aceno minha cabeça.
― Quando uma mulher cresce, ela aceita o amor que acha que merece. Você acha que isso é
justo? É isso que você quer para suas próprias filhas? ― Eu olho em volta.
Um dos rapazes se inclina para frente. Eu tenho sua atenção, eu acho. Ele me olha diretamente no
olho quando fala:
― Eu vou tratar a minha filha como uma princesa. Porque, se eu não fizer isso, ela vai agarrar-se
ao primeiro homem que encontrar, mesmo que ele não seja bom. Minha avó me disse isso. ― Ele
enfia a mão no bolso de trás e tira uma foto. ― Essa é a minha garota ― diz ele. Ele estufa o peito,
com orgulho.
Eu me inclino para mais perto, para que eu possa ver a foto dele. Então, eu estendo a mão e
aperto a sua.
― Sua filha agradece. Bem como o homem que se casar com ela, algum dia.
― Você tem namorada? ― um deles pergunta. Eu sou, de repente, o centro de sua atenção.
Balanço minha cabeça.
― Não. Acabei de sair da prisão há alguns dias.
― Ele não teve tempo de pegar ninguém ainda ― diz um menino, e outro bate a mão na dele,
como se estivessem comemorando.
― Eu já peguei o suficiente. ― Faço aspas ao falar em pegar. ― Pegar não é o que eu quero
para mim. Quero um relacionamento. Quero alguém para compartilhar minha vida. Alguém para
cuidar de mim e que vai me deixar cuidar dela. Mas, mesmo antes de tudo isso, eu quero melhorar a
mim mesmo, para que eu seja digno dela.
― Merda ― um deles grunhe. ― Você nem sabe quem ela é e já está tentando mudar a si mesmo
por ela. Porra. ― Ele acena com as mãos para baixo, como se quisesse afastar meus pensamentos.
Balanço minha cabeça.
― Eu quero ser melhor para mim. Mas não tenho nenhuma dúvida de que serei melhor para quem
quer que seja a mulher que vai casar comigo. ― Eu começo a enumerar em meus dedos. ― Quero ir
para a faculdade. Arranjar um bom trabalho. Quero uma casa. Pode ser uma casa humilde, mas que
seja minha. ― Bato levemente em meu peito. ― Quero crianças correndo pela casa, ir para o treino
de futebol e, quem sabe, ser o treinador da liga infantil. Quero segurar a mão de uma garotinha
enquanto ela dança na ponta dos pés em um tutu. Quero ver meus filhos indo para a faculdade e vê-
los serem melhores do que eu. ― Olho para Phil. ― Esses são os meus planos.
Ele sorri para mim e balança a cabeça.
― Quantos de vocês têm planos sólidos para quando saírem? ― pergunta ele.
Os meninos olham uns para os outros.
― Quantos de vocês planejam se formar? ― ele pergunta.
Só metade deles levanta a mão.
― Quantos de vocês planejam trabalhar?
Todos eles levantam suas mãos.
― Quantos de vocês planejam ter filhos e cuidar deles?
Só o menino com a imagem em seu bolso levanta a mão.
― Quantos de vocês usam preservativos quando estão com alguém? ― Phil pergunta.
Os meninos riem.
Phil ri.
― Então, tem muito mais gente planejando ter filhos do que eu pensava.
Phil pega uma pilha de cadernos e passa-os ao redor do círculo. Ele me dá um também, e uma
caneta.
― Para o grupo, amanhã, quero que vocês anotem um plano sólido para quando voltarem para
casa.
― Quer dizer, como faculdade e a merda toda? ― um menino pergunta.
Phil balança a cabeça.
― A faculdade, comprar um peixinho dourado, casar, conseguir um emprego... escreva sobre
algo que você possa realizar. E diga-me, em uma página ou menos, o que você pretende fazer para
chegar lá.
― Nós temos que compartilhar com o grupo? ― alguém pergunta.
Phil dá de ombros.
― Só se vocês quiserem.
Os meninos pegam seus cadernos e os guardam em suas cabines. Paul encerra o grupo, mandando
os jovens para suas tarefas. Ele me impede, porém, com uma mão no meu ombro.
― Você foi muito bem falando com eles.
Eu dou de ombros.
― Eu tenho vários irmãos. É o que fazemos.
― Alguns desses meninos nunca tiveram uma presença masculina para ouvi-los.
Eu concordo.
― Imagino.
Olho para o grupo enquanto eles se espalham, indo fazer suas tarefas.
― Mas eu posso tanto aprender quanto ensiná-los.
Ele aperta meu ombro.
― Sem dúvidas.
― Aonde quer que eu vá agora? ― pergunto.
― Dê uma olhada em Karl. Acho que ele está na piscina. ― Ele olha para mim.
Eu levanto a perna da minha calça jeans e olho para a tornozeleira de rastreamento.
― Essa coisa pode ser molhada?
Ele balança a cabeça.
― Esse modelo pode ser submerso, sim. Portanto, sinta-se livre para mergulhar em qualquer
momento. ― Ele sorri para mim. ― Ei, Pete ― diz ele. ― Hoje à noite, nós vamos deixar os rapazes
utilizarem a piscina. Eu gostaria que você estivesse lá, no caso de algum deles querer conversar.
Após o jantar, pode tentar ficar livre?
― Sim, senhor ― eu digo.
Sigo para a piscina. Mas, no último minuto, eu volto e coloco uma sunga. Não posso evitar de
olhar ao redor, procurando por Reagan, mas ela não está lá. Então, finalmente a encontro: ela está
vestindo um traje de banho e sentada em uma cadeira de salva-vidas com um apito entre os lábios.
Não consigo tirar os olhos dela. Ela está observando a piscina, como uma treinadora
profissional. Então, ela me vê e seu rosto cora.
Deus, como ela é bonita. Eu sou só um cara, então observo o maiô que ela está usando. É
vermelho e cobre tudo o que deve estar coberto. Mas meus nervos ficam loucos como se ela
estivesse nua. Além do meu pau. Eu mencionei que sou um cara, certo?
Ela está com as pernas cruzadas e usa um grande chapéu de palha com abas em sua cabeça,
óculos escuros com armação branca, e seu nariz está coberto com uma pasta branca. Ela está
adorável. Reagan apita e um dos meninos corre pela lateral da piscina mais devagar, olhando para
ela timidamente.
Algo bate com força em minhas pernas, machucando meu joelho direto. Olho para trás e vejo
Gonzo sorrindo para mim.
“Você parece como se tivesse estado no lado errado de uma briga de gangues”, ele fala para
mim, por sinais, e aponta para o meu olho.
Eu dou de ombros.
“Isso é o que acontece quando você agarra uma menina da maneira errada. Tome nota:
algumas delas podem chutar o seu traseiro”.
“Achei que os meninos estavam mentindo”, diz ele. Em seguida, ele ri. “Ela realmente bateu em
você?”. Ele olha para Reagan e sorri. “Isso é o que você mereceu por dar em cima da minha
garota. Não diga que não avisei”. Ele aponta o dedo para mim em sinal de advertência.
― Por que você não está nadando? ― pergunto, usando minha voz.
Ele aponta para o pedaço de plástico.
“É meio difícil de respirar quando isso está cheio de água”.
― Você não pode nadar com essa coisa? Sério?
Seu rosto fica triste. Eu deveria tê-lo deixado sozinho.
― Então, o que você está fazendo aqui? ― pergunto. ― Você poderia estar andando a cavalo ou
fazendo algo divertido.
Ele olha para Reagan.
“E deixar de ver suas pernas? Absolutamente não. Eu vou ficar aqui mesmo”.
Eu rio e balanço a cabeça. O menino é engraçado. Tenho que dar meu braço a torcer. Puxo uma
cadeira para perto dele e sento.
― Só para você saber ― eu digo. ― Apostei uma grana nisso. Então, pode parar de sonhar.
“Cara, ela te deu um soco na cara”. Ele ri.
Eu bato levemente em meu peito.
― Eu posso ser encantador quando quero.
“Quando vai começar?”. Ele sorri.
Dou um soco no seu ombro.
― Você tem irmãos? ― pergunto.
Ele balança a cabeça.
“Você deseja o cargo?”
Esse garoto é muito mais espirituoso do que eu teria imaginado.
― Eu já tenho quatro irmãos, muito obrigado. E, particularmente, não quero mais.
“Como é ter que muitas pessoas na mesma casa? Deve ser uma casa grande.”
Balanço minha cabeça.
― Não, na verdade é um pequeno apartamento. ― Eu dou de ombros. ― Mas cabe todos nós.
“Você sente falta deles?”
Eu concordo. Particularmente de Sam.
― Sim, sinto falta deles. Eu só passei uma noite com eles antes de ter sido convocado para ser
seu porta-voz.
“Pelo menos eu só falo coisas brilhantes”. Ele dá um tapinha no peito. “Eu poderia ser chato.
O que seria de você, então?”.
― Minha vida poderia ser pior. Estou sentado perto de uma enorme piscina, olhando para uma
menina bonita e com um menino que é muito inteligente.
“Cuidado ou vou ficar me achando”. Ele olha para Reagan. É desejo que vejo em seus olhos?
― Pare de paquerar a minha garota ― advirto.
Ele não afasta o olhar dela, mas agora parece menos lascivo e mais... necessitado.
“Você acha que...” Suas mãos param de se mover.
― O quê? Fale agora!
“Esquece”.
― O que você estava prestes a dizer? ― pergunto, virando-me para encará-lo completamente. ―
Pergunte. Eu não vou ser capaz de dormir esta noite a menos que eu saiba o que está acontecendo na
sua cabeça ― eu provoco.
“Eu estava pensando...” Ele olha para Reagan novamente. “Você acha que algum dia alguma
garota vai olhar para mim como ela olha para você?”
Eu olho para a cadeira de salva-vidas.
― Como é que ela olha para mim? ― pergunto.
“Como se ela quisesse pular em você”. Ele ri. Mas posso dizer que isso é sério para ele. Mais
sério do que ele quer que eu saiba.
Toco em sua perna com o meu pé para chamar sua atenção.
― Essa não é a pergunta que você deveria estar se fazendo, idiota.
“Estou em uma cadeira, Sr. Mentor. Você acha que é uma boa ideia me chamar de idiota? Você
pode afetar a minha autoestima”.
Reviro meus olhos.
― Se você tivesse quaisquer problemas de ego, eu já saberia.
“Esqueça o que perguntei”, ele diz. Ele desvia o olhar.
― Há uma tampa para cada panela, Karl. Algumas se encaixam melhor do que outras, mas há
uma feita especialmente para você. Você deve perguntar se ela será boa o suficiente para você. A
cada momento. Não pergunte a si mesmo se você é bom o suficiente para ela, porque, quando você
encontrar a garota certa, você não vai duvidar.
Ele sorri. Acho que ele gosta da resposta. De verdade.
“Então, você acha que ela existe?”
Eu concordo.
― Acho que ela está apenas esperando para encontrá-lo. Portanto, não estrague tudo por ser um
espertinho.
Ele aponta para si mesmo.
“Eu? Nunca!”
A mãe de Karl se aproxima pelo outro lado da piscina. Ela está com um balde cheio de água na
mão e está na ponta dos pés, então eu tento não sorrir. Mas não consigo evitar quando ela despeja a
água em suas costas. Ele se inclina para a frente, fazendo uma careta, mas também está rindo.
― Isso é o que você ganha por ter sido um merda esta manhã ― diz ela, com um sorriso. Ah, é
dela que ele puxou o jeito de ser. Gosto ainda mais dela agora. Ela tira uma pistola de água de trás
das suas costas. Ela a entrega para Gonzo. ― Reagan parece precisar se refrescar, você não acha? ―
Ela pisca para mim.
Gonzo é, de repente, um homem em uma missão. Ele esconde a arma embaixo da sua perna e vai
até onde Reagan está sentada. Ele para abaixo dela e bate palmas. Ela olha para ele, sorri e diz algo,
mas não posso ouvir o que ela está dizendo. Ele sorri, tira a pistola de água e começa a espirrar nela.
Ele não atinge seu rosto, mas sua mira é ótima. Ela coloca as mãos para frente, para se proteger, e é
realmente muito divertido. De repente, a pistola fica sem água e ela desce a escada da sua cadeira.
Ela tem uma toalha molhada em sua mão, que passa a bater levemente nele, até que ele empurra a
cadeira contra seu joelho.
― Ai! ― sussurro para mim mesmo, fazendo uma careta. Mas ele adora. Ele sorri e joga sua
arma para alguém na piscina encher. O tempo todo, ela está perseguindo-o ao redor da borda da
piscina com a toalha, até que o pai dela aparece e a manda de volta para a posição. O Sr. Caster
aponta seu dedo, e ela finge fazer beicinho. Então, ela estala a toalha na bunda dele. Ele se vira, a
pega, e joga-a na água. Ela afunda, volta à superfície e reclama. Seu grande chapéu de palha flutua ao
seu lado e seus óculos afundam.
Isso é engraçado demais. Não consigo parar de rir. Gargalho até meu estômago doer. Ela olha na
minha direção e estreita os olhos. Ela nada até onde ainda estou sentado, completamente seco.
― Você está parecendo se divertir, Pete ― diz ela, que enche a boca com água da piscina e
cospe-a no meu pé. Porra, isso é sexy. Mas, novamente, eu sou um cara. Nós tendemos a ficar um
pouco obcecados com a via oral. Ela poderia cuspir qualquer outra coisa e eu, ainda assim,
provavelmente acharia sexy.
― O que você vai fazer sobre isso? ― eu pergunto, inclinando-me para a frente com os
cotovelos sobre os joelhos. Ela parece assustada por um segundo. Então, eu percebo que ela está
tramando. Eu quase posso sentir o cheiro de queimado em sua cabeça, com suas engrenagens
funcionando a todo vapor. Gonzo se aproxima do meu lado. Todo mundo deve ter sido alertado sobre
o tubo de traqueostomia de Gonzo porque ninguém tenta deixá-lo molhado e ele é cuidadoso na borda
da piscina. A próxima coisa que vejo é que ele se aproxima, mas não é tão cuidadoso como quando
foi com Reagan. Uma explosão de água me bate no rosto.
Coloco minhas mãos para cima, para atrapalhá-lo, mas ele está se divertindo tanto que não quero
detê-lo. Em vez disso, eu o deixo espirrar a água até esvaziar a arma. Então, eu enxugo a água dos
meus lábios e abro os olhos. Ela está sorrindo, e Gonzo está quase tão feliz quanto ela.
― Você mereceu isso ― diz ela.
Eu me levanto e aponto para ela.
― Vou atrás de você, Reagan ― ameaço. Ela grita e se afasta. Ela parece um pouco em pânico,
mas então eu percebo que ela está se divertindo e ela está em pânico porque vou afundá-la e não
porque vou tocá-la.
Esta merda é como preliminares. Do tipo realmente boa. Vou até a parte rasa e a persigo até o
meio da piscina. Quero tanto tocá-la que quase não consigo me segurar.
― Venha aqui, garotinha ― implico. ― Deixe-me mostrar o que acontece quando você mexe com
um homem de verdade.
Ela ri e afunda. Quando menos espero, ela surge sorrindo. Vou em sua direção e a alcanço. Ela
quase foge pela direita, mas eu a agarro no último segundo. Lentamente, puxo-a contra mim. Estamos
tão próximos que posso sentir seu coração batendo contra o meu peito. Ela olha em meus olhos, e, em
seguida, seu olhar cai para os meus lábios.
― Pete ― ela murmura e balança os pés para se manter à tona.
― Reagan ― eu zombo.
― Não foi minha culpa ― diz ela, um pouco sem fôlego. ― Foi Gonzo. Ele planejou a coisa
toda.
― Mentirosa ― eu sussurro. Ela ri. Bato na água com uma mão e a seguro contra mim com a
outra. Isto é tão bom que eu não quero deixá-la ir.
― Reagan ― seu pai grita.
Ela olha para ele, como se estivesse sendo tirada de um transe. Eu a deixo ir, mas ela não se
move para longe de mim. Seu braço toca o meu.
― Eu quero te beijar ― eu digo impulsivamente, ao lado da sua orelha. Ela treme levemente.
― É melhor fazer isso em breve ― ela avisa. ― Ou vou ter que substituí-lo por alguém mais
disposto. ― Ela afasta-se de mim e vai para o lado da piscina, sai e volta para sua cadeira. Ela cruza
suas longas pernas e seus pés provocam pequenas ondas. Então, ela olha para mim e fala em voz alta:
― É melhor ser épico, Pete. Estou te avisando. ― Ela aponta para um lugar ao meu lado. ― E me
jogue meu chapéu.
Pego seu chapéu molhado e o coloco ao lado da piscina. Mergulho, pego seus óculos e os coloco
ao lado do chapéu. Estou contente por ter algo para fazer porque não estou pronto para sair da
piscina ainda.
Nosso beijo será aquele que acabará com todos os primeiros beijos para mim. Tenho certeza
disso. Só espero que ela se sinta da mesma maneira.
REAGAN

M eu pai está com raiva de mim, tenho certeza. Ele ficou me olhando a tarde inteira. Pete também,
mas de uma forma completamente diferente. Ele tirou sua camisa há duas horas mais ou menos e veio
em minha direção com um tubo de protetor solar que a mãe de Gonzo lhe deu. Papai o interceptou,
porém, e o fez virar para que ele mesmo aplicasse o protetor solar em seus ombros. Pete deixou. Foi
a coisa mais engraçada que já vi em muito tempo. Quando meu pai terminou, ele deu um tapa
realmente forte no ombro de Pete e empurrou-o de volta para o grupo de crianças com deficiência
auditiva que tinha acabado de chegar na piscina.
Pete organizou vôlei e basquete aquático, e observou os meninos jogarem. Minha boca ficou seca
quando ele cortou por fora da água para bater a bola, saltando bem alto para proteger a bola com seu
braço bom. Seu corpo é incrível e, finalmente, consigo começar a observar suas tatuagens. Quero
tocá-las e ver até onde elas vão por baixo da sunga que está ao redor dos seus quadris, e ele tem
aqueles gominhos e o caminho da felicidade que faria qualquer garota esperta transformar-se em
estúpida. Como agora. Não consigo desviar meus olhos. Quero seguir aquele caminho como se fosse
a estrada de tijolos amarelos. Meu pai é o leão covarde, porque acho que ele tem muito mais medo
dos meus sentimentos por Pete do que eu. E eu... sou a bruxa má.
Pete nada e vai para o lado da piscina em frente a mim.
― Venha nadar comigo ― diz ele, jogando água em minhas pernas.
― Estou de plantão ― eu falo e apito para um dos meninos.
Ele balança um polegar por cima do ombro em direção ao grupo e diz:
― Eles são surdos, sabe? ― Ele ri. ― Seu apito é bastante ineficaz.
― Então vamos esperar que eles possam nadar.
― Eles estão confinados à parte rasa. ― Ele sorri para mim.
Eu olho para os meninos. Eles estão olhando para Pete de onde eles ainda estão jogando a bola.
― Eles gostam de você ― eu digo. Claro que eles gostam. Todo mundo gosta de Pete. Até
mesmo meu pai gosta dele, embora eu não tenha certeza se ele gosta da crescente relação entre nós.
― Eles gostam mais de você ― diz ele. ― Eu disse a eles que estava vindo paquerar a salva-
vidas bonita.
Um sorriso surge em meus lábios. Ele acha que eu sou bonita.
― Você não disse.
― Oh, sim, eu disse. ― Ele sorri, e meu coração acelera. ― Prepare-se para ser paquerada,
salva-vidas. ― Ele ergue-se para fora da piscina, tomando cuidado com seu pulso ferido quando
sobe a escada, e segue em direção a mim, água escorrendo por seu corpo. Quando chega perto, ele
para e coloca os braços cruzados sobre meu colo, e olha para mim. ― Você não se importa que eu te
toque, não é? ― ele pergunta.
Meu coração está batendo tão rápido que mal consigo respirar, mas não é porque sinto medo
dele. Ele me faz sentir coisas que nunca senti antes.
― Aparentemente, minha deusa interior é uma vagabunda. Sim, eu li Cinquenta tons.
Ele encosta a testa em seus braços dobrados e ri, seus ombros tremendo. Eu bato no alto da sua
cabeça raspada.
Ele cobre sua cabeça com a mão e olha para cima, franzindo o cenho para mim.
― Por que fez isso?
― Você riu de mim.
Ele bufa.
― Você estava falando sobre Cinquenta tons. Claro que eu ri.
Estreito meus olhos para ele.
― Você sabe mesmo de qual livro estou falando?
― Anastasia e qual é o nome dele? ― ele pergunta com um aceno alegre. ― Eu leio.
Minha boca se abre.
― O último foi o melhor. ― Ele sorri. ― Sua rendição foi meio que doce.
― Ele não se rende.
― Do que você chama aquilo, então? ― Ele ri. ― Ele mudou totalmente por ela. E ele a amou
completamente.
Encosto na cadeira e observo o brilho vívido em seus olhos.
― Você pulou o texto e só leu as partes boas, não é?
Ele parece ofendido.
― Só porque eu sou bonito não significa que não sou inteligente. ― Ele ri e levanta minha mão,
entrelaçando os dedos nos meus.
Pete salta quando meu pai entra pelo portão da piscina. Papai olha para ele, mas ele não afasta
sua mão da minha.
― Reagan ― meu pai grita.
― Sim, papai.
― O pai de Chase acabou de ligar. ― Ele olha para minha mão entrelaçada com a de Pete e, se
raios de morte disparassem de seus olhos, Pete seria um monte de cinzas no chão.
― É o cara da farmácia? ― Pete sussurra.
Concordo com a cabeça, desviando meus olhos para Pete por um segundo.
― O que ele queria? ― Eu já posso adivinhar, e meu coração afunda.
― Ele disse que Chase chegou em casa falando que você estava na farmácia com um bandido. ―
Ele olha para Pete, que endurece, a mão apertando a minha.
― Você explicou quem Pete é? ― pergunto. Eu não quero deixar ninguém equivocado sobre Pete.
― Eu disse a ele que Pete é um carinha que minha filha está dando em cima, mas que eu não
estava preocupado com isso porque ela é uma garota inteligente e de respeito. ― Sua voz se eleva
nas últimas palavras e seu olhar é ainda mais feroz para Pete.
― Não estou dando em cima de ninguém ― eu protesto. Mas estou sim.
Papai me enfrenta.
― Então, do que você chamaria isso?
Eu não sei como chamar, porque não sei o que é. Dou de ombros. Pete endurece mais quando faço
isso do que desde que meu pai surgiu pelo portão.
― Chase queria saber se você não queria ir à festa do clube de campo amanhã.
― Eu já lhe disse que não ― respondo. Mas posso ver o olhar no rosto do meu pai. Isso não vai
funcionar.
― Eu disse a ele que você adoraria. ― Ele abre a porta e para, olhando para mim de cima de seu
ombro. ― Ele vai te pegar às seis.
Respiro fundo. Principalmente porque não há muito mais que eu possa fazer, já que meu pai foi
embora. A porta fecha atrás dele. Puxo minha mão de Pete.
― Aonde você está indo?
― Atrás do meu pai, para dizer a ele que eu não vou.
― Você quer ir? ― ele pergunta. Ele me observa de perto, seus olhos azuis piscando lentamente.
― Se eu quisesse ir, não teria dito não. ― Dou um suspiro.
Ele dá um passo para trás de mim e leva todo o calor que estava aquecendo-me.
― Acho que você deve ir ― diz ele em voz baixa.
― Por quê? ― pergunto baixinho. Algo está muito, muito errado. Ele não costuma distanciar-se
assim.
― Seu pai quer que você vá ― ele diz com um encolher de ombros. ― Você não quer irritá-lo.
Ele começa a caminhar em direção ao outro lado da piscina. Ele fala por sinais com os meninos,
e todos eles começam a arrumar as bolas e se alinham ao lado da porta.
― Eu te vejo mais tarde ― ele fala em voz baixa. Em seguida, leva os meninos da área da
piscina de volta para seus alojamentos.
O que fiz de errado? Não faço ideia.
Vejo meu pai entrar pela porta de trás da casa, e corro para segui-lo. Eu não sei por que ele fez
isso, mas o que ele disse fez Pete sentir raiva de mim, por isso ele precisa pedir desculpas.
― Papai! ― eu chamo. Ele não se vira para falar comigo. Apenas continua andando.
Ele está me ignorando agora? Que diabos?
Sigo-o até a cozinha e o vejo olhando para minha mãe, que parece um pouco confusa.
― Como você pôde fazer isso? ― pergunto. Meu coração está batendo como um louco, e mal
consigo recuperar o fôlego.
― O que você fez? ― minha mãe pergunta.
Papai dá de ombros e lava as mãos na pia. Ele me ignora completamente. Mamãe levanta a
sobrancelha para mim.
― Ele chamou Pete de bandido, e, então, disse que tenho que ir a um encontro com Chase só
porque seu pai ligou e estalou os dedos.
O sorriso curioso de minha mãe se transforma em uma carranca.
― O quê? ― ela pergunta. Ela agarra o ombro do meu pai e vira-o para encará-la. ― Você, de
todas as pessoas, chamado Pete de bandido?
― Na cara dele ― grito. ― Então, Pete foi embora. Nem sei o que ele está pensando.
― Eu sei o que ele está pensando ― murmura meu pai. Minha mãe faz uma carranca.
― Ele está pensando que você não gosta dele!
Papai faz um zumbido evasivo.
O rosto da mamãe amolece. Ela pode ler papai como um livro. Eu queria poder fazer isso.
― O quê? ― pergunto olhando de um para o outro.
― Seu pai tem medo que Pete esteja tentando entrar em suas calças ― diz minha mãe. Ela
levanta a sobrancelha para o papai. Ele apenas olha para ela, sem um olhar para mim.
Balanço minhas mãos.
― É sério isso? ― eu grito. ― Ele não está tentando entrar em minhas calças. Ele nem mesmo
me beijou!
― Oh ― minha mãe murmura.
Papai murmura algo, e mamãe esfrega seu ombro, seus olhos suaves quando olha para ele.
― O quê? ― eu pergunto novamente.
― Seu pai tem medo que seu coração seja partido ― ela diz baixinho e olha com simpatia para o
meu pai.
Eu respiro fundo e falo.
― A maioria das meninas começa a ter seu coração quebrado quando está com dezoito anos mais
ou menos. Às vezes, até aos dezesseis anos ou quando arrumam o seu primeiro namorado. ― Aponto
um dedo em direção ao meu peito. ― Eu nunca tive um namorado, pai ― eu falo. Meus olhos se
enchem de lágrimas, mas eu pisco, tentando afastá-las. ― Eu gosto de Pete, e ele é alguém que você
poderia gostar também. Então qual o problema? Nós nem sequer saímos num encontro!
― Eu o vi olhando para você na piscina. ― Meu pai solta um suspiro. ― Ele olha para você
como eu olho para a sua mãe. ― Ele ergue o queixo, de modo que seus olhos encontram os meus. ―
Eu a vi e sabia que ela estava completamente fora do meu alcance, mas eu a queria mais do que
qualquer coisa no mundo. ― Ele olha para mim. ― E é assim que Pete olha para você. Isso é o que
me assusta, Reagan. Não porque ele é um bandido ou pobre, ou porque ele esteve na prisão. Ele olha
para você como se ele nunca mais quisesse parar de te olhar. Eu provavelmente iria preferir que ele
estivesse apenas tentando entrar em suas calças, porque isso é algo que você pode superar. Mas um
homem te amar, isso é completamente diferente. Você não está pronta para isso. ― Ele encolhe os
ombros. ― Você não está.
Sinto como se ele tivesse enfiado uma faca no meu peito.
― Como você sabe que não estou pronta?
― Eu vi o que aquele idiota fez com você, Reagan ― diz ele. Ele bate com o punho no balcão da
cozinha, fazendo os pratos saltarem. E eu também. ― Vi você pelos cantos, envolvendo-se em uma
bolha protetora para que ninguém mais pudesse te machucar. Você aprendeu a proteger o seu corpo,
mas ninguém nunca te ensinou a proteger o seu coração. ― Ele bate seu punho contra seu peito. ―
Você está despreparada para o que Pete quer. Completamente despreparada.
― O que você quer que eu faça? ― pergunto. Eu mal posso me ouvir, mas meu pai me ouve.
― Pare com isso antes que seja tarde demais ― ele grunhe. ― Apenas pare.
― Tudo bem ― eu murmuro ― Você venceu. ― Viro e saio.
Eu só o conheço há dois dias. Então, por que sinto como se minha alma já o conhecesse
intimamente? Eu não entendo isso. Talvez meu pai esteja certo.
PETE

T ento não olhar para ela durante todo o jantar. Ela senta-se com seu irmão e sua mãe, e seu pai
não está aqui. Sua mãe faz sinal para que eu me junte a eles, mas eu balanço a minha cabeça e me
concentro em minha refeição.
― Por que não está com a Reagan? ― Tic Tac pergunta ao sentar ao meu lado.
Encolho os ombros. Nem sequer tenho palavras para descrever.
― Qual é seu nome, cara? ― pergunto.
Ele sorri.
― Edward.
― As pessoas te chamam de Eddie? ― pergunto.
Ele balança a cabeça.
― Só um homem me chamava de Eddie e eu atirei nele quando o peguei estuprando minha
irmãzinha. ― Ele evita meu olhar. ― Me chame de idiota ou do que você quiser, mas não me chame
de Eddie.
― Ele era o seu pai? ― pergunto.
Ele balança a cabeça.
― Era só um homem que a minha mãe se casou. ― Ele olha para o longe, como se estivesse
vendo algo em sua mente, em vez do que está ao nosso redor.
― Atirei nele ― ele fala e faz um powww com a boca, como ele fez no ônibus, na primeira vez
que conversamos.
Uau. Nem sei como responder a isso.
― Como está a sua irmã? ― pergunto.
Penso sobre Reagan e em como eu a encontrei. Nem quero pensar sobre a irmã dele.
― Ela só tinha onze anos ― ele sussurra. ― Onze malditos anos.
Eu não deveria ter julgado esse garoto quando o conheci.
― Sinto muito ― eu falo.
― O que me irrita é que ele roubou o que ela poderia ter sido, sabe?
Eu aceno, mas não, eu não sei.
― Ela vive com sua mãe agora? ― pergunto.
― Não ― ele responde. ― Ela está no sistema. Minha mãe foi presa também. Drogas, eu acho;
foi logo depois que aconteceu. ― Ele dá de ombros. ― Ela está em melhor situação, com uma boa
família. ― Seus olhos ficam brilhantes. ― Disseram que eu poderia visitá-la quando sair. Só uma
hora por visita e não posso ficar sozinho com ela, mas tudo bem. Só preciso ter certeza de que ela
está bem.
Eu concordo.
― Eu não tenho irmãs.
― Sua garota, Reagan ― ele fala. ― Ela parece conseguir cuidar de si mesma.
― Ela pode chutar minha bunda.
― Você acha que ela me ensinaria alguns desses movimentos de caratê? ― ele pergunta.
Eu sorrio.
― Você poderia perguntar a ela.
― Eu gostaria que alguém tivesse ensinado a minha irmã a fazer algo assim. ― Ele afasta o olhar
novamente.
Não tenho certeza se teria mudado sua situação, mas aceno de qualquer maneira.
Edward levanta-se para tirar seu prato e vira para mim.
― Quando eu sair, você acha que eu poderia encontrar você e seus irmãos? Phil estava me
dizendo que vocês moram perto de mim.
Eu concordo.
― Não vejo por que não. ― Não conheço bem o garoto, mas sei que ele esteve em uma situação
ruim e não foi por culpa sua. ― Podemos bater uma bola.
Ele sorri.
― Ok. ― Ele sai para vestir uma sunga. Os rapazes do programa ganharam a noite de folga. Eles
vão usar a piscina, brincar e ter a chance de serem meninos pelo resto da noite.
Eu me concentro no meu jantar. Agora que Edward não está aqui, é mais fácil de engolir. Eu não
tenho irmã, mas tenho uma sobrinha chamada Hayley, e não sou o único Reed que mataria qualquer
um que tentasse machucá-la. Ela tem cinco anos, e eu não a vejo há muito tempo. Droga, ela
provavelmente nem sequer se lembra de mim. Mas eu poderia sair daqui hoje e dar a minha vida pela
dela, sem arrependimentos.
A área do jantar começou a esvaziar e percebo que devo ter estado me lamentando sobre a
situação de Edward por um tempo longo demais. O Sr. Caster senta na minha frente e descansa os
cotovelos sobre a mesa. Ele solta um suspiro.
― Minha filha não está mais falando comigo.
Não respondo e enfio uma garfada de espaguete na boca para ter uma desculpa para não o fazer.
― Aparentemente, ela gosta muito de você.
Dou uma mordida no pão. Ainda não falo. A comida é difícil de engolir.
― A mãe dela também não está falando comigo ― ele fala e abre um sorriso meio de lado. ― Eu
meio que gosto de fazer sexo com a minha esposa, então achei melhor vir e desanuviar o ambiente.
Engasgo com o espaguete. Olho para ele enquanto tento normalizar minha respiração, tossindo em
meu punho fechado.
― As mulheres têm seu próprio jeito de conseguir o que querem, Pete ― diz ele. ― E minha
esposa quer que Reagan faça suas próprias escolhas. ― Ele inspira e expira profundamente. ― Acho
que ela fez sua escolha. ― Ele aponta o dedo para mim. ― Mas, se você machucá-la, que Deus me
ajude, mas vou te caçar e fazer coisas que você sequer pode imaginar.
― Sim, senhor ― eu resmungo e limpo minha garganta.
― Eu acabei de conhecê-la ― eu o lembro.
Ele balança a cabeça.
― Ela o tem na cabeça há dois anos e meio, filho. Você não acabou de conhecê-la. Você tornou-
se seu herói desde a noite em que cuidou dela. Ela sente uma conexão com você e você é o único
cara que ela permitiu se aproximar. Então, tudo bem, você tem a minha benção.
Eu sorrio.
― Obrigado, senhor.
Olho para onde Reagan está, mas ela não está olhando para mim. Ela está olhando para a mesa.
Termino de comer e me preparo para ir de encontro a ela, mas, na hora em que chego lá, ela está se
levantando para ir embora.
― Reagan ― eu a chamo.
Ela solta um suspiro e se vira para mim, chutando uma pedra com a ponta de seu chinelo.
― Posso te ver mais tarde? ― pergunto.
― Por quê? ― ela pergunta e não me olha nos olhos.
― Ah, que aflição ― murmuro.
Seu olhar encontra o meu.
― Devo implorar seu perdão? ― ela pergunta.
Enfiando os dedos no bolso de trás, ela pega seu telefone e olha para a tela. Vejo o nome de
Chase antes que ela o leve até sua orelha e diga alô. Ela levanta um dedo para indicar que eu espere.
Cerro os dentes e espero.
― Vejo você amanhã, Chase ― ela finalmente diz. Sua voz é baixa, mas eu a ouço.
Ela vai sair com ele? Sério? Eu sei que eu disse a ela, mas... Deus. Fodi tudo.
― O que você precisa? ― ela pergunta enquanto enfia seu telefone de volta no bolso traseiro.
Sinto como se ela tivesse me dado um soco no estômago. Eu não deveria me sentir assim, mas
não consigo evitar.
― Você vai sair com aquele idiota? ― pergunto.
Ela inala profundamente com os olhos fechados, como se estivesse fortalecendo-se antes de falar.
― Você me disse para sair com ele, Pete ― diz ela.
Eu concordo.
― Sim. ― Ela está certa. Eu sou um idiota. ― Você pretende seguir tudo o que eu disser?
Ela revira os olhos para mim. Eu nunca vi ninguém revirar os olhos e parecer tão irritantemente
adorável. Eu sorrio, não consigo evitar.
― O que é tão engraçado? ― ela pergunta, apoiando os punhos em seus quadris enquanto olha
pra mim.
― Isto é tão fodido ― murmuro, mais para mim do que para ela.
Mas ela me ouve, e parece magoada. Posso ver em seu rosto.
― Eu não quis dizer isso de você ― eu falo.
Ela inclina a cabeça para o lado, estreitando os olhos para mim.
― Então, o que você quis dizer, Pete?
― Eu quis dizer esta situação. ― Faço um gesto de mim para ela e vice-versa. ― Essa coisa
toda teve um timing terrível.
Ela segue até o lixo e joga o prato fora. Eu a sigo. Ela para e gira em minha direção muito
rapidamente, tropeçando e quase caindo sobre mim. Ela dá um passo para trás quando me aproximo
para estabilizá-la. Ela sorri e balança a cabeça.
― Isso realmente é fodido ― ela fala e solta um risinho.
― Então, Chase é o cara, não é? ― eu falo. Sou um idiota, eu sei.
― Ele é o cara que eu tenho que sair ― diz ela, soprando a franja da testa.
― Você pode cancelar? ― pergunto. A esperança floresce em mim.
Ela balança a cabeça.
― Tentei não cancelar, mas você me disse que não ― ela me lembra.
― Eu estava com raiva. Sinto muito. ― Se há uma coisa que posso fazer bem, é pedir desculpas.
― Seu pai fez um ótimo trabalho, dizendo-lhe que não sou bom o suficiente para você, e, por um
minuto, concordei com ele. ― Desta vez, sou eu que chuto uma pedrinha. Tenho medo do que vou ver
se olhar para ela.
― Eu quero tentar algo com você ― diz ela calmamente. Ela está tão, mas tão perto, que posso
sentir sua respiração contra a minha camisa. É quente e úmida. Meu coração começa a bater forte. ―
Posso tocar em você? ― ela pergunta e coloca a mão no meu estômago.
― Sim, por favor ― eu grunho. Limpo minha garganta, e ela ri.
A outra mão para ao lado da primeira e, em seguida, vai para o leste, enquanto a outra para o
oeste, até que suas mãos envolvem minhas costas. Ela prende as mãos atrás de mim e coloca o rosto
dela contra minha camisa, esfregando o rosto no meu peitoral esquerdo.
― Abrace-me também ― diz ela, calmamente.
Passo meus braços ao seu redor, com cuidado para ser suave, lento, com calma e cuidado. Ela
exala pesadamente e eu descanso meu queixo no alto da sua cabeça. Nesse segundo, sei que meu
coração é dela. Digo a mim mesmo que ela só está pegando um pequeno pedaço, mas essa é uma
porra de uma mentira. Ela terá pego a coisa toda até que eu volte para Nova York. Ela me desfaz com
seu afeto simples. E não sei como me comportar, então eu só a abraço. Eu a seguro e deixo-a
respirar, enquanto aproveito a sensação de tê-la em meus braços. Quero levantar seu rosto e
pressionar meus lábios nos dela, mas não tenho certeza de que seria mais gratificante do que esse
silêncio. Ele é cheio de possibilidades. Para mim, é cheio de saudades, e para ela, provavelmente, é
diferente. Abro os olhos e olho para cima. Sua mãe está ali, com a boca aberta. Ela a fecha e sorri,
levantando um polegar. Sorrio de volta, não consigo evitar.
Ponho a mão na parte de trás da sua cabeça e acaricio o comprimento do cabelo de Reagan.
― Você não faz ideia de há quanto tempo desejo tocar você ― eu digo em voz baixa.
― Você não tem ideia de há quanto tempo eu desejo ser tocada ― diz ela. Posso sentir as
palavras contra o meu peito.
Ela inala profundamente e se afasta. O ar frio sopra onde seu calor estava, e eu quero puxá-la de
volta para mim.
― Eu te vejo mais tarde, Pete ― diz ela.
― Você está bem? ― pergunto.
― Honestamente, estou um pouco sobrecarregada, e tenho algumas coisas para pensar. ― Ela
olha para mim, mas seus olhos estão obscurecidos por algo que não entendo. ― Eu preciso de algum
tempo para mim.
Eu concordo. Não sei por quê.
― Posso fazer alguma coisa por você? ― pergunto e enfio seu cabelo atrás da orelha.
Ela balança a cabeça.
― Acho que não. Vou fazer uma pausa.
Ela dá um tapinha no meu peito, e então vai embora. Ela vai para dentro da casa, e não sai mais.
Ela não volta para ficar de salva-vidas para o grupo de jovens infratores na piscina. Não volta para
assar marshmallows. Não vai ver seu cavalo, nem na manhã seguinte participa dos eventos com os
campistas. Ela não sai mais até a noite seguinte, quando um Mustang amarelo para na frente da casa.
Chase Gerald sai e vai buscar minha garota. Então, ela finalmente sai. Na porra do seu braço.
REAGAN

E u precisava de tempo para colocar minha cabeça no lugar. Ainda estou confusa, mas me sinto um
pouco melhor do que antes. Calço minhas sandálias e puxo o vestido para baixo. Eu não costumo usar
vestido, mas esta noite é chique. É um jantar no clube de campo. Não é black-tie, mas é realmente
arrumado. Estou usando um vestido que envolve meu corpo, principalmente nos quadris. É justo, mas
não muito. Viro-me e observo minha bunda no espelho. Pareço bem. Arrumo meu cabelo em um
coque bagunçado, de modo que ele está preso e algumas mechas caem no meu pescoço. Pinto meus
olhos com delineador e máscara de cílios e aplico um pouco de blush. Passei o verão no sol, então
tenho certeza de que não preciso de muito mais do que isso.
Uma batida soa na minha porta, e minha mãe enfia a cabeça para dentro. Ela está enxugando as
mãos em um pano de prato e assovia para mim.
― Você está bonita ― diz ela, balançando a cabeça em apreciação. Ela caminha até a minha
caixa de joias e abre-a. ― Quer usar o pingente da sua avó? ― ela pergunta. Eu ainda não tinha
pensado sobre a joia.
Eu me viro, e ela coloca o colar em volta do meu pescoço. Inclino-me e deixo-o oscilar. Coloco
umas pulseiras, empurrando-as por meu braço. Elas vão cair em um segundo, mas deixam a minha
aparência bonita.
Eu afasto minhas mãos para o lado.
― Eu pareço uma garota normal? ― pergunto.
Seu rosto suaviza.
― Querida, você é uma menina normal ― ela diz suavemente e estreita os olhos para mim. ―
Por que você está saindo com ele? ― ela pergunta.
― Porque eu não pude cancelar ― admito. ― E agora não quero dar o bolo em Chase.
Ela balança a cabeça.
― Não é dele que você gosta, não é? ― ela pergunta.
Eu dou de ombros.
― Eu não sei. Nunca lhe dei uma chance para que eu pudesse descobrir.
Ela não diz nada. Minha mãe é assim. Ela é calma quando a situação pede calma, e ela tem muito
a dizer quando a situação pede por isso, também.
― Seu pai não deveria ter obrigado você a ir neste encontro.
Balanço minha cabeça.
― E se ele estiver certo? E se Chase for o cara certo para mim? Não vou saber até me dar a
chance de descobrir. ― Eu dou um suspiro.
― O coração quer o que o coração quer, Reagan ― diz ela.
Eu rio, mas não há nenhum humor no som.
― O que isso significa exatamente?
― Acho que você já sabe o que significa. ― Ela se senta na beira da minha cama. ― Este Pete
― diz ela ―, você confia nele, certo?
― Tanto quanto eu posso confiar em alguém que conheci há três dias ― eu digo levianamente.
Mas Pete é mais do que isso, e eu sei.
― Seu coração o conhece há muito tempo ― diz ela.
― Meu coração não funciona como o coração de todo mundo ― resmungo. ― Não posso confiar
nele para me levar a lugar algum.
― Oh, Reagan. ― Ela respira suavemente. ― Odeio o que esse homem fez com você. Já se
passaram mais de dois anos e você ainda não confia em si mesma para seguir em frente com sua vida.
É como se você estivesse presa naquele momento, quando ele te machucou.
― Você não sabe o que sinto, mãe ― eu digo em voz baixa, em sinal de advertência. Ela não
pode falar sobre isso. Ela não passou por isso.
― Você sabia que uma em cada cinco meninas em idade universitária é violentada durante a sua
jornada universitária? ― ela pergunta. ― Uma em cada cinco, Reagan! ― ela grita.
― E? ― pergunto. ― A vida continua, é que o que você está dizendo? ― Minha vida não foi em
frente. Fiquei presa naquele momento. Até Pete. ― Pete me faz querer coisas que me assustam ― eu
admito.
― Isso é o que o amor faz, Reagan. É emocionante e assustador pra caramba e faz o seu coração
bater forte e seu interior doer. ― Ela para e olha para mim. ― Esses sentimentos são normais. O que
não é normal é o que aconteceu com você e como você fechou-se para proteger o seu coração.
― Bem, meu coração está oficialmente em perigo.
― Então, é ele ― ela me lembra.
Em nenhum momento, parei para considerar meus sentimentos por Pete. Considerei apenas meus
sentimentos. Minhas necessidades e desejos. Mas não considerei os dele. E se ele não me beijou
porque tem medo de que eu o magoe? E se ele não me quiser da mesma forma que eu o quero? E se
ele me quiser, mas tem medo de me tocar porque posso ficar louca? E se? E se? E se?
― O coração de Pete é bom e gentil ― falo. ― É só isso que eu sei.
Ela sorri.
― Já é um começo.
Meu pai grita para mim, do andar de baixo.
― Reagan! Chase está aqui!
Mamãe se levanta.
― Confie em seu coração, Reagan ― diz ela.
Ela me beija na testa e caminha na minha frente. Na parte de baixo da escada, vejo Chase olhando
para mim. Seus olhos verdes não são os que quero ver, mas preciso tentar, certo? Preciso dar uma
chance.
― Oi, Chase ― murmuro.
― Reagan ― diz ele. Ele é todo sorrisos e requebra os quadris. ― Você está pronta para uma
dança?
― Claro ― eu digo com um sorriso. ― Parece divertido.
Seguro em seu braço à medida que caminhamos para fora. Ele abre a porta do seu desagradável
carro amarelo e eu entro. Seu olhar vagueia pela minha coxa onde meu vestido termina e eu o puxo
para baixo. Ele sorri e fecha a porta. Em seguida, ele senta no banco do motorista e sai da garagem,
levantando as pedrinhas no caminho.
PETE

O lho para o meu relógio novamente e, então, para a calçada. Reagan ainda não está em casa e já se
passaram quatro horas. Isso é muito tempo para jantar e dançar, não é? Por que ela não está em casa
ainda?
Ouço o barulho do motor do Mustang, em alto e bom som, e meu corpo estremece. Levanto-me de
onde estava sentado conversando com alguns dos rapazes do programa e começo a andar. Está escuro
lá fora e as luzes estão acesas na frente da casa. Posso ver o carro, mas não muito claramente.
― Volto já ― falo em voz baixa. Os meninos sorriem e um balança a cabeça. ― O quê? ―
pergunto.
― Nada ― diz ele, sorrindo. ― Você é um filho da puta apaixonado, sabe disso?
Sim, eu sei e não me importo. Ando devagar em direção à frente da casa e paro junto aos
arbustos, escondido nas sombras. O carro para, mas não é o babaca que sai do banco do motorista. É
Reagan. Seu cabelo está uma bagunça, caindo por suas costas em ondas emaranhadas. Quando ela
saiu, ele estava preso num nó chique. Seu vestido está caído no ombro e ela arruma a alça antes de
entrar em casa. Ela para e arruma o cabelo também e carrega as sandálias pelas tiras.
Que porra é essa?
De repente, um segundo carro para na frente do primeiro e Reagan vira. Ela coloca as mãos sobre
os olhos e olha em direção à luz do farol. Ela vira e eu vejo Chase sair do lado do passageiro do
outro carro. Reagan nem sequer para para falar com ele. Ela entra em casa e bate a porta. O ruído
reverbera ao redor do pátio.
Chase manca até seu carro. Onde estou, a escuridão é grande e mal consigo pensar, muito menos
ver. Ele fez algo com ela, ou ela não estaria tão irritada. Avanço sobre ele e o assusto quando o
empurro para a lateral do carro e ameaço bater com meu punho em seu rosto.
― Que porra é essa que você fez com ela? ― pergunto, meu rosto a poucos centímetros do seu.
― Não fiz nada para ela ― ele protesta.
― Você fez alguma coisa ou ela não estaria tão irritada. ― Eu o seguro contra o carro. Se eu não
fizer isso, vou ter que bater nele, e eu realmente quero ouvir a história antes de bater nele. Eu quero
ouvi-lo dizer que está arrependido, antes de matá-lo.
― Eu não fiz nada ― ele jura, estendendo as mãos como se estivesse se rendendo. É quando noto
que ele tem uma mancha de sangue sob o nariz. Eu puxo-o em direção à luz. Seu nariz estava
definitivamente sangrando porque há sangue em sua camisa. Meu coração estremece ao pensar nisso.
― Você tem até eu contar até três ― eu digo. Mas antes que eu possa sequer começar a contagem
regressiva, ele deixa escapar a verdade. ― Estávamos dançando, e eu estava tocando-a...
― Tocando-a onde? ― eu rosno. Juro por Deus, vou matar esse merda.
― Apenas segurando-a enquanto nós dançávamos ― diz ele. Mas ele não olha nos meus olhos.
― E?
― E ― diz ele lentamente. ― Talvez eu tenha encostado em seu seio uma ou duas vezes. Então, a
próxima coisa que eu vi foi quando ela me deu um soco na cara. Aí, ela deu uma joelhada no meu
saco e, quando me inclinei para protegê-los, ela bateu meu queixo em seu joelho. ― Ele imita seus
movimentos, e posso imaginar exatamente o que ela fez com ele. O riso borbulha dentro de mim. Mas
ele não terminou ainda. ― Então, ela apertou o salto do sapato em minhas bolas enquanto eu estava
deitado no chão e apertou com força até que eu lhe dei as chaves do carro. Aí, ela roubou meu carro.
― Ele aponta para a estrada para o outro carro que o largou ali e foi embora. ― Tive que buscar o
meu amigo para me trazer aqui.
Ela roubou a porra do carro depois de ela bater nele. Eu começo a rir. Não consigo evitar. Rio na
cara dele. Não preciso fazer nada, ela já fez o suficiente. Ela castrou-o completamente.
― Tem certeza de que tudo o que você fez foi tocar seu seio? ― pergunto.
― Isso é tudo. Eu juro. ― O imbecil ainda está agarrando suas bolas e me olhando como se
estivesse pensando quando eu o deixaria ir. ― Essa merda dói, cara.
Eu rio ainda mais.
― Tenho certeza de que sim.
― Essa cadela é louca ― ele fala, olhando para a casa.
― Vou dizer a ela que você disse isso. ― Rio ainda mais. Não posso nem o repreender por
chamá-la de cadela, não depois de tudo o que ela fez com ele.
― Por favor, não ― ele implora. ― Meu pai vai me matar se seu pai ficar com raiva de mim.
― Tarde demais ― uma voz chama da porta da frente. Seu pai surge na direção da luz. ― Oi,
Pete ― diz ele, sorrindo para mim.
― Oi, Sr. Caster ― eu digo, acenando para ele alegremente.
― Oi, Chase ― diz ele.
Chase é inteligente o suficiente para pressionar os lábios e não dizer uma palavra.
― Você pode ir agora, Chase ― o Sr. Caster instrui, e Chase luta para entrar no carro. Ele
levanta o cascalho ao se afastar.
O Sr. Caster sorri para mim.
― Eu não podia sequer bater no pobre bastardo depois do que ela fez com ele ― admite ele com
uma risada.
― Nem eu ― eu falo. Não teria sido justo. ― Reagan está bem? ― pergunto. Eu realmente quero
vê-la.
― Ela está puta ― ele fala e balança o polegar em direção ao celeiro.
Olho ansiosamente em direção à área em que ele apontou.
― O que você está esperando, meu filho? ― pergunta ele. ― Vá!
Eu sorrio e alcanço sua mão. Ele aperta a minha e sorri.
― Obrigado, Sr. Caster ― eu digo, e corro para o celeiro.
Abro a porta e encontro-a de pé, no meio do corredor. Ela ainda está usando o belo vestido, mas
trocou as sandálias de tiras por botas e seu cabelo está solto sobre os ombros. Seu cão rosna ao me
ver, então, quando me aproximo, ela chama Maggie, que se deita a seus pés.
― O que você quer? ― Reagan grunhe para mim.
― Você quis beijá-lo? ― pergunto. Eu espero, incapaz de respirar até ouvir sua resposta.
Ela olha para mim por um momento e, em seguida, balança a cabeça, e isso é tudo o que eu
preciso ver.
REAGAN

E stou tão chateada que mal consigo enxergar direito, e Pete quer saber se eu beijei Chase Gerald?
É sério?
Ele corre em minha direção e me segura em seus braços, puxando-me contra ele. Ele olha para o
meu rosto.
― Eu vou te beijar ― ele adverte.
Empurro-o, mas é como empurrar uma parede de tijolos.
― Pare com isso, Pete ― eu falo. ― Você está sendo ridículo.
Ele me segura firmemente, porém, e coloca as mãos no meu traseiro, levantando-me contra ele.
Então, ele me empurra contra a parede da baia. Pete desliza um joelho entre minhas pernas para me
segurar, seu pé descansa ao lado de um saco de ração e ele toma meu rosto em suas mãos. Sua
respiração cheira a bala e a Pete e faz cócegas em meus lábios.
― Reagan. ― Ele respira suavemente. Não é mais do que um murmúrio, mas ele poderia muito
bem ter gritado. Meu coração bate tão alto que posso ouvi-lo e sei que ele pode sentir.
― Pete ― eu falo. Suas mãos tocam os cabelos em minhas têmporas e seus polegares inclinam
meu rosto para que seus lábios se aproximem dos meus. ― Por favor, me beije.
Seus lábios finalmente encostam nos meus, delicadamente, no início. Sua boca está fechada e ele
espera, com olhos abertos e encarando os meus, enquanto testa minha boca timidamente. Ela é macia
e suave, mas eu não quero suavidade. Lambo seus lábios, que se abrem para mim. Sua língua invade
a minha boca e se enrola na minha. Suas mãos seguram meu rosto, enquanto ele assume o beijo,
gemendo baixo enquanto me toca. Oh, meu Deus, ele está me tocando. Ele me lambe, sua língua
deslizando na minha, saindo e entrando da minha boca. Minha respiração fica acelerada, como a
dele. Encaixo meu corpo em sua perna, pressionando minha feminilidade coberta pelo vestido e pela
calcinha contra ele. Meu clitóris estremece como louco e não consigo sequer pensar em outra coisa
além de aliviar esta sensação que ele desperta em mim. Sua língua sai de dentro da minha boca, mas
não quero que ele vá.
Um gemido que nem parece um som humano sai da minha boca e eu puxo-o de volta para que eu
possa sugar seu lábio inferior. Passo a língua em seu piercing e ele grunhe baixinho. Balanço contra
sua coxa e ele afasta as mãos do meu rosto e coloca-as sobre meus quadris, para que ele possa me
puxar para frente. Ele pressiona o ponto certo e eu levanto meu rosto para suspirar, tentando
encentrar fôlego suficiente para manter meu coração batendo, enquanto minha cabeça apoia contra a
porta da baia. Ele está suportando todo o meu peso, já que minhas pernas não são capazes de me
apoiar. Seus lábios acariciam meu queixo, seguindo para o meu pescoço, e ele olha em meus olhos ao
segurar meus quadris com força. Suas mãos são quentes e firmes quando ele chega à minha cintura,
apertando-a suavemente, sem nem pedir permissão, mas ele a tem. Não há nenhuma dúvida sobre
isso.
Ele me encara enquanto levanta as mãos em direção ao meu sutiã, seu polegar acariciando meu
mamilo. Tomo sua mão na minha e pressiono-a com mais firmeza contra meu peito. Ele geme e
congela, então, para, inspirando e expirando. Seguro seu rosto com minhas mãos e o puxo de volta
para mim, mas ele afasta.
― Só um segundo ― ele implora. ― Só preciso de um segundo. ― Sua respiração está tão
acelerada quanto a minha.
Mas eu não quero dar-lhe um segundo. Puxo a taça do meu sutiã para baixo e meu seio fica de
fora, exposto para ele. Pete inclina a cabeça e coloca o meu mamilo em sua boca. Ele geme enquanto
o suga, seus lábios firmes contra a carne sensível. Não consigo pensar. Não consigo nem mesmo
parar os gemidos que saem da minha garganta.
― Pete ― eu sussurro. Ele agarra minha bunda e me puxa mais para frente, enquanto empurra a
minha barriga para que eu me apoie contra a porta da baia. Ele olha para a minha calcinha, e eu
posso ver a mancha molhada sobre o tecido rosa. Eu fecho meus olhos.
Ele segura meu queixo com sua mão esquerda e faz com que eu olhe para ele.
― Abra os olhos ― diz ele.
Balanço minha cabeça.
Ele se afasta de mim.
― Não! Não ― eu choro. Preciso dele e não sei o que fazer com essa necessidade. ― Estou com
medo ― eu digo em voz baixa. Não tenho medo de Pete. Tenho medo de mim mesma. Porque eu faria
qualquer coisa que ele me pedisse para fazer agora.
Seu polegar acaricia a frente da minha calcinha, e minha boca abre com a sensação. Ninguém
jamais me tocou assim antes. Nunca com mãos tão pecaminosamente macias e doces. Seu polegar
pressiona minha calcinha em minha abertura e ele acaricia meu clitóris. Ele me beija, e eu respiro
contra seus lábios.
― Posso colocar minha mão dentro de sua calcinha? ― ele pergunta e mordisca minha orelha.
Quando ele faz isso, eu grito. Concordo com a cabeça em seu pescoço, o mais colada nele que eu
consigo. Sinto sua mão deslizar dentro da minha calcinha, tocando minha pele, e eu pressiono meu
corpo contra o dele, dando-lhe mais acesso. ― Tão molhada ― ele fala.
Fecho meus olhos, enquanto seus dedos trilham minha umidade, e, em seguida, ele acha o botão
do prazer que está trêmulo desde o momento em que seus lábios tocaram os meus.
Ele pressiona a ponta do seu dedo médio contra mim, seu toque suave, mas insistente.
― Pete ― eu murmuro.
― Reagan ― ele sussurra e me beija de novo. Eu não posso pensar. Não posso falar. Só posso
sentir o prazer que ele me dá. ― Goza para mim, Reagan. ― Ele respira contra os meus lábios.
Então, quebro em milhões de pedaços. Mordisco o lábio inferior quando gozo, e ele rosna,
enfiando a língua na minha boca enquanto absorve o meu tremor, cada suspiro meu. Balanço contra
sua mão, pressionando contra ele enquanto ele me acaricia. Enfio minha cabeça em seu ombro, meus
braços em volta do seu pescoço, enquanto ele arranca a última gota de prazer do meu corpo até que
eu estou exausta contra ele, ainda trêmula, ainda fraca, ainda... apaixonada por ele. Suspiro em seu
pescoço, e ele geme. Quando meu corpo se firma, ele puxa a mão da minha calcinha, me levanta para
que minhas pernas envolvam seus quadris, e se levanta. Em seguida, ele se senta em um fardo de feno
comigo montada em seu colo.
Ele me segura firmemente contra ele enquanto volto a mim. Quando consigo levantar a cabeça,
sento e olho em seus olhos azuis.
― Que diabos foi isso? ― pergunto e rio. Não consigo segurar, mas jamais pensei que me
sentiria livre assim.
Ele me puxa para ele e me envolve em um abraço apertado.
― Isso, minha querida Reagan, foi um puta de um primeiro beijo.
― Épico ― murmuro. E então, eu rio. Só porque eu posso.
PETE

J esus Cristo, essa foi a coisa mais sexy que já vi, fiz ou até mesmo imaginei. Estive com várias
garotas, mas nunca fiz uma garota chegar ao auge como Reagan. Puxei-a contra mim, sua pele
contra a minha camisa. Ela é quente e macia e é tão gostoso senti-la sobre mim que corro risco de
gozar nas calças. Seguro-a contra mim, mas então ela senta, me encara e diz:
― Que diabos foi isso?
Isso foi um orgasmo. Um muito, muito bom, se seus gritos, o modo como ela chamou meu nome
várias e várias vezes e o modo como ela tremeu em meus braços servem de indicação.
― Isso, minha querida Reagan ― eu falo, tentando bancar o irreverente, mas estou emocionado
como jamais estive. ― Foi um puta de um primeiro beijo.
Seu corpo estremece e me preocupo que ela esteja chorando, mas ela não está. Ela está rindo.
Gargalhando, na verdade.
― Épico! ― ela grita. Então, ela ri novamente. Joga a cabeça para trás, seus cabelos caindo na
altura da sua bunda. Olho para baixo, para os seus seios que ainda estão descobertos, seus mamilos
atrevidos, eriçados e... nus. Deus, seus seios são lindos. Olho para o rosto dela, porque não posso
mais olhar para seus seios. Eu a quero. Quero muito. Mas ela não está pronta para o que eu quero.
Tenho certeza disso. Ela não está. Deslizo o dedo para a borda do sutiã e levanto-o para cobri-la. Ela
olha para baixo e ruboriza. Ela simplesmente gozou na minha mão e agora está tímida?
― Você está bem? ― pergunto, afastando o cabelo suado da testa.
Ela balança a cabeça, mordendo o lábio inferior. Não consigo me segurar, eu sou um cara. E
estou tão duro que poderia martelar pregos com meu pau.
― Estou muito bem ― ela diz baixinho. Uma lágrima se forma no canto dos seus olhos, mas ela
pisca para afastá-las. ― Pete ― ela me chama. ― Posso te perguntar algo?
― Qualquer coisa ― sussurro. Puxo-a para baixo contra meu peito e acaricio o comprimento do
seu cabelo.
― Você gostaria de sair comigo quando voltarmos para a cidade? ― ela pergunta.
O riso borbulha dentro de mim. Ela gozou sentada na minha perna, com a minha mão dentro da
sua calcinha e está preocupada se vou levá-la para sair.
― É claro ― eu falo. ― É tudo o que eu quero. ― Bem, eu também gostaria de gozar dentro
dela, mas posso esperar. Posso esperar para quando ela estiver pronta.
― Isso foi um orgasmo? ― ela sussurra. Imagino que ela esteja sorrindo contra meu peito,
porque posso ouvi-lo em sua voz. Ela vira a cabeça e esconde o rosto em minha camisa.
― Um bem forte ― eu digo, com uma risada. ― Realmente forte. ― Eu sou o cara. Sim, eu sou.
Ela ri, balançando os ombros e a bunda contra meu pau. Merda. Preciso que ela pare com isso.
― Achei que sim ― ela sussurra.
Bato levemente em seu bumbum.
― Precisamos vesti-la novamente ― eu falo, incentivando-a a levantar.
Ela se levanta, e eu a ajudo a arrumar suas roupas. Seu cavalo faz um barulho, ela olha para a
porta da baia e solta um suspiro.
― Vai demorar algumas horas ainda ― ela fala, fazendo um barulho com a boca, que pode ser
uma risada, e evita meu olhar. Será que ela está arrependida?
Esfrego uma mão em minha nuca e me forço a não pensar sobre a forma como ela fica em meus
braços. Já estou sentindo a perda dela e ela só está a poucos centímetros de distância.
― O quê? ― pergunto.
― Tequila vai parir esta noite.
Ela está falando uma língua que eu não conheço.
― Ela vai ter seu bebê ― ela esclarece.
― Oh. ― Não sei o que dizer sobre isso. ― Você precisa chamar um veterinário?
― Não, vou dormir aqui com ela. ― Ela aponta para uma pilha de cobertores no canto. ― Ela
faz a maior parte do trabalho. Só estou aqui para dar apoio moral e ajudar, caso algo dê errado.
Coço a cabeça, sem saber o que fazer.
― Devo ir?
Ela mordisca o lábio inferior.
― Quer ficar comigo? ― ela pergunta em voz baixa.
Deus, não há nada que eu queira mais. Quero dormir com ela e segurá-la contra mim. Sim, quero
fazer sexo com ela também, mas esse é o menor dos meus desejos.
Eu concordo.
Ela espalha cobertores em cima dos fardos de feno onde estávamos sentados, faz um gesto para
que eu deite e, em seguida, se encaixa em meus braços. Deixo escapar um suspiro de satisfação.
― Que horas são? ― ela pergunta.
Olho para o meu relógio e bocejo.
― Onze e meia.
― Tarde ― ela sussurra.
Ela deita a cabeça no meu peito e passa o braço em volta da minha cintura.
― Deixe-me segurar você ― eu digo, e pressiono meus lábios em sua testa.
Sua respiração acaricia os pelos que saem do decote da minha camisa, e eu fico instantaneamente
duro novamente. Puxo a perna dela em meu colo, e ela se aconchega ainda mais perto de mim.
― Ei, Pete ― ela sussurra.
― Sim? ― sussurro de volta.
― Eu quero te beijar de novo amanhã ― ela diz baixinho. Ela ri, e isso sacode meu peito. Esse é
o som mais bonito que já ouvi.
Quero beijá-la novamente amanhã também. Quero muito.
EM MEU SONHO, estou correndo em direção à voz de Reagan. Posso ouvi-la claramente, mas não
consigo vê-la. Sei que é um sonho e sonhos podem ser uma merda, então não me sinto em pânico.
Mas ela está. Ela está claramente chateada e eu a procuro por entre a névoa. Não consigo encontrá-
la. De repente, acordo do meu sonho e me vejo deitado ao lado de Reagan, no celeiro onde
adormecemos. Ela está dando gritos abafados. Olho para ela. Ela está sonhando. Seus olhos estão
fechados com força e ela se enrolou numa bola. Quando adormecemos, ela estava enrolada em mim.
Quando ela fugiu para longe?
― Reagan ― eu falo suavemente. Ela se encolhe e afasta minha mão. Ela ainda está sonhando e
não sei como ajudá-la. ― Reagan ― digo com mais força. Seus olhos piscam e ela acorda
lentamente. Ela passa a mão nos olhos enquanto eu olho para o rosto dela. Sua respiração está
acelerada, mas ela se acalma rapidamente.
― Sonho ruim? ― pergunto.
Ela balança a cabeça. Rolo para o lado e apoio a cabeça em minha mão, para que eu possa olhar
para ela. Reagan se aproxima de mim e eu passo meu braço ao redor da sua cintura.
― Desculpe ― ela murmura.
Seguro sua cintura, puxando-a para mim.
― Sem problema ― eu digo.
― Eu costumava tomar um remédio que me ajudava com os sonhos, mas eles deixavam minha
mente turva, então eu parei de tomá-lo. ― Ela olha para mim, seus olhos verdes piscando lentamente.
― Às vezes, eu não durmo bem.
Afasto o cabelo do seu rosto.
― Você sonha com o que aconteceu naquela noite? ― pergunto.
― Às vezes. ― Ela olha para o lado e evita o meu olhar. Ela não quer falar sobre isso,
aparentemente.
Quero fazer perguntas, mas não quero trazer tudo de volta.
― Você revive aquilo em seus sonhos? ― pergunto.
Ela balança a cabeça.
― Não o estupro, especificamente ― diz ela. Ela fala como se aquela fosse uma palavra tão
comum. Meu coração aperta. ― Eu sonho mais sobre os sentimentos. Arrependimento,
principalmente.
― Do que você se arrepende? ― pergunto.
Ela olha para mim, quase como se estivesse buscando uma conexão comigo, e eu gosto disso.
Porra, eu adoro isso.
― Eu me arrependo de ter ido àquela festa ― diz ela. ― Eu deveria ter ficado no meu
dormitório estudando.
― Você o conhece? ― pergunto. ― Ou ele era um estranho?
― Eu nunca o tinha encontrado. É por isso que me sinto tão estúpida sobre ele. Eu nunca deveria
ter estado a sós com ele no banheiro. Sozinha com um homem que eu não conhecia. ― Ela solta um
suspiro. ― Num minuto, ele estava me beijando, e, em seguida, eu estava pedindo que ele parasse,
porque não estava gostando. Mas ele não parou.
Ela treme, e quero trazê-la para dentro de mim e protegê-la. Uma lágrima desliza no canto do seu
olho e escorre por seu rosto.
Ela funga.
― Desculpe, eu não queria chorar em você. ― Ela ri, mas é um som aquoso.
― Você gozou montada no meu joelho, princesa ― eu digo em voz baixa. ― Acho que você pode
chorar sobre mim também.
Seu rosto ruboriza, mas ela sorri.
― Eu nunca fiz isso antes.
― Ninguém jamais fez você gozar? ― pergunto. Eu sei a resposta para isso, mas quero ouvi-la
dizer. Não sei por que, mas preciso. Deslizo minha perna por entre suas coxas e coloco um pouco do
meu peso sobre ela, mas ela não parece se importar. Eu realmente quero abrir seu vestido para que
eu possa colocar minha mão em sua barriga. Mas acho melhor parar, por enquanto.
Ela balança a cabeça.
Toco seu nariz.
― Você nunca fez isso para si mesma? ― pergunto.
Ela balança a cabeça.
― Não. ― Ela olha nos meus olhos. ― Obrigada ― diz ela.
― A qualquer hora, princesa ― eu digo, com uma risada. ― Estou à sua disposição.
― Você é muito bondoso ― ela provoca, empurrando meu ombro.
― Estou aqui para servi-la. ― Eu rio. Deus, ela me faz sentir tão leve e livre. ― Acho que eu
posso realmente estar gostando de você ― deixo escapar. Quero engolir as palavras de volta assim
que falo.
― Que bom ― diz ela, que sorri, rolando em meu peito e passando o braço em volta de mim. Ela
esconde o rosto em minha camisa. Acho que ela pode estar constrangida.
― Eu abro meu coração e tudo o que você me diz é que bom? ― Dou uma cotovelada nela.
― Hum-hum ― ela concorda. Sinto seus lábios na minha camisa, sua respiração aquecendo o
tecido. Ela ri. ― Você não pode chamar isso de abrir seu coração, Pete ― ela zomba de mim. ―
Acho que posso estar gostando muito de você. ― Ela ri e, Deus me ajude, é um som tão lindo.
Ela levanta a barra da minha camisa, e seus dedos deslizam por cima do meu estômago. Cubro
sua mão com a minha para impedir a exploração. Estou muito ligado. Minha ereção não me deu
trégua e está duramente pressionada contra o meu zíper.
― Por que eu não posso te tocar? ― ela sussurra.
― Porque eu estou muito ligado agora ― eu sussurro de volta.
Ela se senta para que possa olhar para o meu rosto.
― O que isso quer dizer?
Eu pressiono meus lábios em sua testa, me demorando lá.
― Isso significa que eu sou um cara. E o vento está soprando.
Suas sobrancelhas arqueiam.
― O quê?
Eu rio.
― Nada. ― Mas agora não consigo parar de rir. Ela dá um tapa em meu peito.
― Não é engraçado, a menos que mais de uma pessoa esteja rindo. ― Ela fica em silêncio por
um minuto, e então pergunta ― Com quantas mulheres você já dormiu?
Eu fecho meus olhos e estremeço.
― Parei de contar há um bom tempo, quando meus dedos acabaram.
― Mais de dez? ― Sua voz é baixa.
― Sim ― eu grunho. Não gosto das minhas próprias respostas, então não posso esperar que ela
goste também.
― Mais do que os dedos das mãos e dos pés? ― ela pergunta.
― Provavelmente. ― Eu inspiro. ― Inferno, eu não sei.
― Você sabe seus nomes? ― Ela se senta na minha frente e cruza as pernas, puxando seu vestido
para baixo para cobrir os joelhos.
Sento-me também, para que eu possa encará-la. Coloco minha mão em seu joelho e desenho
círculos sobre ele com o meu polegar.
― De algumas delas. ― Ergo um dedo quando ela começa a me perguntar outra coisa. ― Mas
não tenho ninguém há muito tempo. Desde antes de eu ter sido preso. ― Olho para ela. ― Isso conta
para alguma coisa?
Seu rosto suaviza, e ela inspira.
― Eu não estava julgando você, Pete. Só estou querendo conhecê-lo.
Concordo com a cabeça, incapaz de olhar nos olhos dela.
― Alguma vez você já se apaixonou? ― ela pergunta, mas está sorrindo para mim, e essa
questão parece mais benigna do que a última.
Não até agora. Mas eu não digo isso, porque, se eu o fizer, eu vou assustá-la com a profundidade
dos meus sentimentos.
― Talvez.
― O que significa isso? ― ela pergunta. ― Talvez? ― Ela estreita os olhos.
― Eu não sei ― eu digo. Sinto coisas por ela que nunca senti por ninguém. Isso é amor? Eu não
sei. É muito novo para saber. Preciso de algum tempo para avaliar meus sentimentos antes de
explicá-los. ― E você? ― pergunto. ― Já se apaixonou alguma vez?
Ela balança a cabeça.
― Não. ― Ela sorri.
― O quê? ― pergunto e esfrego meu nariz. ― Estou com o nariz sujo?
Ela ri.
― Não. ― Ela empurra minha mão para baixo. ― Nunca me apaixonei. ― Seus olhos verdes
olham ao redor e depois pousam em mim. ― Você saberia identificar se estivesse apaixonado? ―
ela pergunta.
Inclino minha cabeça como se eu estivesse pesando suas palavras.
― Acho que sim.
Ela sorri.
― Posso continuar a fazer perguntas ou estou deixando você nervoso? ― ela pergunta.
― Pergunte-me qualquer coisa. ― Honestamente, estive preso por muito tempo. Estar na cadeia
é solitário, e eu preciso de uma conexão. E quero essa conexão com ela. Só com ela. ― Mas vou
começar a fazer-lhe perguntas também.
― É justo ― diz ela, parecendo pensar muito sobre sua próxima pergunta. ― Nosso primeiro
beijo ― ela sussurra. ― Foi épico.
― Sim, foi ― eu concordo.
― É sempre assim? Com as outras meninas também foi assim?
― A maioria das garotas não chega ao orgasmo quando eu as beijo. ― Dou uma risada. ― É isso
o que você quer saber?
Ela balança a cabeça.
― Não. Quero dizer... ― Seu rosto ruboriza. ― Sei que não foi tão bom para você, mas foi
maravilhoso para mim.
Eu me inclino para mais perto e pressiono meus lábios nos dela.
― Eu sei. Eu quase gozei em minha calça apenas observando você. ― Eu a beijo novamente, e
ela geme em minha boca. É um som feliz. Mas então ela cobre o rosto quando eu olho nos olhos dela.
― Você fala sobre isso como se não fosse nada. ― Ela está envergonhada.
Levanto seu queixo.
― O que fiz no passado com outras garotas não foi nada. O que fizemos hoje à noite? Foi tudo.
― Faço um carinho em seu nariz, porque estou prestes a balançar meu próprio mundo e quero aliviar
o golpe se ela me rejeitar. ― Eu realmente gosto de você, Reagan ― falo em voz baixa. ― Não sei
como explicar. E não quero. Mas não tente dizer que o que tivemos essa noite foi algo comum,
porque não foi. Foi algo especial. E eu quero continuar fazendo isso. Quero saber tudo sobre você e
que você aprenda tudo sobre mim. Quero que você conheça minha família. Quero ter um encontro
com você. ― Olho em volta. ― Este lugar é legal, mas... sério?
Ela ri.
― Você quer que eu conheça sua família?
― Se você puder aguentar. Somos cinco. Todos homens.
― Eu não tenho medo dos homens em geral ― ela explica.
― Apenas dos que tocam em você. ― Passo meu dedo por sua bochecha, e ela segura minha mão
e a beija.
― Seus irmãos parecem com você ― ela diz.
― Como você sabe?
― Eu os vi quando você saiu da prisão ― diz ela, calmamente.
― Você estava lá?
Ela balança a cabeça.
― Meu pai me fez ficar sentada na caminhonete enquanto falava com você sobre o acampamento.
― Ela morde o lábio inferior. ― Desculpe, eu deveria ter falado sobre isso antes. ― Ela geme. ―
Eu meio que pedi que você fosse chamado para vir para cá. Para que eu pudesse vê-lo.
― Estou feliz por você ter pedido. ― Nunca me senti mais feliz do que agora.
― Seus irmãos, todos têm tatuagens também ― diz ela. Ela olha para a tatuagem que fiz em
homenagem à minha mãe. Ela segura minha mão e traça as tatuagens que vão do meu antebraço em
direção à minha manga.
― Quero olhar todas elas para que eu possa descobrir o significado de cada coisa para você. ―
Ela desenha um círculo em torno da bandeira americana.
― Essa é para um amigo que morreu no Afeganistão.
As pontas dos seus dedos me tocando parecem seda, deslizando sobre meu dragão.
― E esta? ― ela pergunta em voz baixa.
― Essa foi por uma noite de bravura ― eu digo com uma risada.
Sua mão desliza pela bainha da manga.
― Acho que não consigo ir mais longe.
Puxo a camiseta sobre minha cabeça. Ela sorri e vejo um brilho malicioso em seus olhos, mas
deixo passar. Encosto-me de volta na porta da baia e puxo-a para o meu colo.
― Se você começar a me explorar, eu começo a explorar você ― aviso e faço cócegas na sua
perna.
Em seguida, ela pressiona os lábios contra as palavras alinhadas em minha clavícula. Ela suga
delicadamente a minha pele. Solto um gemido baixinho e movo minha mão para sua coxa. Sua pele é
macia e sedosa, e sei que vou precisar dar um basta nisso em breve. Tenho um limite. Ela inclina a
cabeça para ler as palavras gravadas.
― Um por todos, todos por um ― ela lê em voz baixa. ― É para os seus irmãos?
Eu concordo.
― Eles são a razão da minha vida. Quando pensei que Matt estava morrendo, quis morrer com
ele.
― Seu irmão estava morrendo? ― ela pergunta. Suas mãos param de explorar meu corpo, e ela
me encara.
― Matt teve câncer. O tratamento foi muito caro, e Logan teve que voltar para casa e abandonar a
faculdade. Estávamos sem dinheiro, e todos nós ficamos com medo de que ele fosse morrer. ― Eu
olho para o rosto dela. ― Você quer ouvir sobre isso? ― pergunto.
Ela balança a cabeça e se encaixa em meus braços.
― Eu quero ouvir tudo.
― Sam e eu fizemos alguns bicos para um malandro do nosso bairro, para ganhar uma grana
extra. ― Não posso mentir para ela. ― Sabíamos que era ilegal, mas precisávamos de dinheiro para
Matt. Foi assim que fui preso. ― Não tenho orgulho disso, mas não posso desfazer meu passado. Isso
seria como tentar colocar pasta de dente de volta no tubo.
― O desespero pode fazer uma pessoa fazer coisas que normalmente não faria ― diz ela
suavemente. ― Como está Matt agora?
Eu sorrio.
― Ele está em remissão.
― Oh, que bom. ― Ela suspira. ― Conte-me sobre os outros.
― Paul é o mais velho. Ele tem uma filha chamada Hayley, e ela mora com a gente metade do
tempo. E Logan é quem eu disse a você que estuda na Universidade de NY.
Ela conta com os dedos.
― Há mais um, certo?
Eu concordo.
― Sim.
― Onde ele está?
― Na faculdade; ele ganhou uma bolsa para jogar futebol. ― Ele está vivendo o meu sonho. O
sonho de Sam é trabalhar assando bolos, mas Paul diz que todos nós precisamos fazer faculdade.
― Vocês são próximos? ― ela pergunta.
― Não tanto quanto costumávamos ser.
― Você pode resolver isso?
Eu posso?
― Eu vou tentar. ― E vou mesmo. Assim que eu voltar para casa.
Ela se aproxima ainda mais. Depois de alguns minutos, sua respiração estabiliza e ela fica mole
em meus braços. Olho para ela. Ela está dormindo em meus braços e eu não quero nunca mais soltá-
la. Então, puxo o cobertor sobre nós e seguro-a perto de mim, o mais próximo que consigo.
REAGAN

A cordo com um barulho metálico. Sento-me, sentindo o ombro de Pete melado, onde eu estava
deitada. Nós dois estavam suados, nossa pele colada uma na outra. Acho que babei nele também. Que
nojo. Limpo o canto da minha boca e sento. Pete se agita debaixo de mim e, em seguida, congela. Ele
levanta a cabeça e olha ao redor.
― Merda, eu fodi tudo ― ele resmunga.
― É melhor não ter ― meu pai fala. ― Ele bate a tampa da caçamba de ração enquanto retira
uma porção para os cavalos. Link o ajuda, mas papai faz muito mais barulho que ele.
Fecho meus olhos. Dormi no celeiro com Pete e meu pai sabe disso.
― Oh, merda ― eu falo.
― Oh, merda ― Link repete como um papagaio.
Pete fecha seus olhos e sorri.
― É melhor você parar enquanto é tempo ― ele sussurra com uma risada.
― Bom dia, Pete ― meu pai fala, fingindo jovialidade enquanto caminha por nós carregando
baldes. Eu começo a sentar, mas, quando puxo o cobertor de Pete, percebo que ele ainda não está de
camiseta. Ele tirou-a ontem à noite para que eu pudesse explorar suas tatuagens. Isso parece muito
ruim.
― Onde está sua camiseta? ― sussurro. Olho em volta, mas não a vejo.
― Oh, merda ― Link fala novamente. Ele enfia a cabeça ao meu lado e segura a camiseta azul de
Pete.
― Ah, a camiseta azul ― Pete fala.
― Ah, a camiseta azul ― Link repete.
Pete puxa a camiseta sobre a cabeça. Ele estende a mão para despentear os cabelos de Link, mas
ele dá um passo para o lado. ― Pelo menos ele não está mais falando merda.
― Merda ― diz Link.
Eu gemo e passo a mão pelo meu cabelo.
― Lincoln! ― meu pai chama. ― Traga-me esse balde.
― Traga-me esse balde ― diz Link. Ele corre para levar o balde até papai.
― Bom dia ― Pete diz calmamente. Ele se vira para apoiar os pés no chão e se levanta,
alongando o corpo. Ele mostra uma pequena faixa de seu abdômen, e eu quero inclinar-me para frente
e lambê-lo. Deus, de onde veio isso?
― Bom dia ― murmuro. Lambo meus lábios.
― Pare de me olhar assim ― Pete sussurra.
― Assim como? ― sussurro de volta. Mas um sorriso aparece nos cantos dos meus lábios. Não
consigo segurar.
― Como se você quisesse me lamber como um pirulito ― diz ele. Ele ajusta a frente de suas
calças, e eu não posso deixar de notar a protuberância lá. ― Pare de olhar para cá ― ele sibila.
Olho na direção onde meu pai tinha foi, mas ele já está do lado de fora do celeiro.
― Eu nem ao menos sei o que estou olhando! ― reclamo. Pete pega a minha mão e pressiona
meus dedos contra a protuberância da sua ereção. Ele arfa quando meus dedos exploram os cumes do
seu corpo.
― Reagan ― ele geme. Ele vira seu quadril e levanta um joelho para me bloquear. ― Pode parar
com isso? Eu gostaria de sair daqui ainda hoje.
― Lambê-lo como se fosse um pirulito? ― pergunto, incapaz de tirar essa ideia da cabeça. ―
Você pode fazer isso?
Ele sorri e passa a mão na parte de trás de sua cabeça.
― Bem, eu não posso. Mas você podia. ― Sua voz é grave e rouca, já que ele acabou de
acordar. ― Não importa ― diz ele. Ele me faz levantar e pressiona um beijo rápido nos meus lábios.
― Uh ― eu resmungo, empurrando-o. ― Bafo matinal.
― Eu não me importo ― diz ele, inclinando-se para beijar-me rapidamente. Dou-lhe a minha
bochecha. ― Me dá ― diz ele. Faço um bico e toco rapidamente seus lábios, tomando cuidado para
não respirar sobre ele. ― Assim é melhor ― ele murmura. ― Devo falar com seu pai? ― pergunta
ele.
Acho doce o fato de ele se preocupar com isso.
― Duvido que seja uma boa ideia.
Ouço um cavalo e lembro do motivo pelo qual dormimos no celeiro. Passo por cima de um fardo
de feno e olho para Tequila. Ela está de pé e, aparentemente, eu estava errada. Alarme falso.
Pete passa o braço em volta dos meus ombros e me puxa para perto dele. Papai volta para o
celeiro e bate uma porta. Eu pulo. Pete não me deixa ir.
― Pete, você não tem algum lugar para ir? ― meu pai pergunta. ― Tipo o seu próprio
alojamento, dormir na sua própria cama?
Pete acena com a cabeça.
― Sim, senhor ― diz ele. Ele se vira para mim. ― Vejo você mais tarde?
Eu concordo. Sinto um frio em minha barriga e ele toca seus lábios nos meus.
― Vejo você mais tarde, Sr. Caster ― ele fala.
― Não se eu o vir primeiro ― papai responde.
Meu pai zanza pelo celeiro por mais alguns minutos, enquanto alimento Tequila com uma cenoura.
― Teve uma boa noite? ― papai rosna, mas não olha para mim.
Eu sorrio. Minha barriga desce em direção aos meus dedos dos pés.
― Tive sim.
― Reagan ― papai murmura.
― Sim, papai? ― eu digo docemente. Ele está com raiva, mas não tenho o que fazer para
acalmá-lo. E, provavelmente, eu mereço por passar a noite toda no celeiro com Pete.
― Não me faça ter que matar aquele garoto ― papai adverte.
― Sim, senhor ― eu digo, abaixando minha cabeça para que ele não possa ver o meu sorriso. ―
Você precisa saber que não fiz nada de errado. Ele foi um perfeito cavalheiro. Ele só... ― Dou de
ombros. ― Ele apenas me segurou.
A respiração de meu pai acelera. Eu não deixo que ninguém me toque e meu pai sabe disso.
Assim, nesse caso, eu poderia muito bem ter dito: ele transou comigo a noite toda. O nível de
intimidade é quase o mesmo na cabeça do meu pai. Tenho certeza disso.
― Tudo bem ― ele murmura.
― Pai ― eu o chamo. Ele para e olha para mim. ― Está tudo bem o fato de que eu posso estar
me apaixonando por ele?
Meu pai arregala os olhos e solta um suspiro.
― Reagan ― diz ele em voz baixa. ― Você deve falar com sua mãe sobre isso.
― Tudo bem ― respondo.
― Se você quiser falar sobre a melhor maneira de dar uma joelhada nas bolas ― diz ele,
apontando para seu peito ―, então eu sou o cara. Mas, se você quiser falar sobre sentimentos,
emoções e anticoncepcionais, entre outras coisas, é melhor falar com sua mãe.
― Por que você pulou de sentimentos para anticoncepcionais? ― Eu tenho que perguntar.
― Porque é isso que acontece, Reagan. Você pula de sentimentos fortes para anticoncepcionais.
É a ordem natural das coisas para os homens. ― Ele tira o boné e passa a mão pelo cabelo. ― Eu
era um rapaz de vinte e um anos, tendo que me virar sozinho.
― Foi quando você conheceu minha mãe ― eu falo e começo a sorrir. Ele parece desconfortável,
mas preciso pressioná-lo. ― Então, você e mamãe passaram de sentimentos fortes para
anticoncepcionais? ― pergunto e estalo os dedos. ― Assim?
― Não ― diz ele, parando para olhar nos meus olhos. ― Como você acha que tivemos filhos?
― Ele sorri neste momento. Então, acena com a cabeça em direção à casa. ― Vá falar com sua mãe.
― Informação demais, papai ― eu falo. ― Informação demais! ― Sigo para casa.
― Reagan ― meu pai chama. Viro para encará-lo. ― Pete é um bom rapaz ― ele fala. ― Mas
ele ainda é um cara.
― Estamos indo devagar, pai ― falo. Sinto meu rosto esquentar.
― Hum-hum ― ele murmura e volta a trabalhar.
― Vá devagar ― diz Link.
― Amo você, Link ― eu falo.
― Também te amo.
Entro pela porta de trás e encontro minha mãe enchendo uma xícara de café.
― Pete ainda está vivo? ― ela me pergunta e senta-se à mesa.
― Por enquanto. ― Suspiro. ― Nós adormecemos. Nada aconteceu, eu juro. ― Bem, quase
nada. Mas não fizemos nada de efetivo.
― É por isso que você está brilhando? ― ela pergunta. ― Porque nada aconteceu? ― Ela dá um
tapinha na mesa. ― Venha sentar aqui ― diz ela.
― Mãe ― eu falo, parecendo uma criança, eu sei.
― Sente-se ― diz ela com mais força. Eu me deixo cair em uma cadeira.
― Ele foi gentil? ― ela pergunta.
Eu concordo.
― Ele foi atencioso?
Concordo com a cabeça e mordisco meus lábios.
― Ele teve cuidado? ― Ela arqueia a sobrancelha na última pergunta.
― Deus, mãe ― eu reclamo. ― Nós não fizemos nada. Ele só me beijou.
― Vou levar você ao ginecologista para que ele possa prescrever anticoncepcionais ― diz ela
me encarando.
Balanço a cabeça e minha mãe sorri, dando um tapinha em minha mão.
― Boa menina ― diz ela com um suspiro.
PETE

E stou com o grupo de meninos com deficiência auditiva, e eles estão se revezando montando os
cavalos. As crianças surdas tendem a fazer um grupo entre si e quase não interagem com alguns dos
outros meninos. Vou ter que ver o que posso fazer sobre isso. Aprendi com meu irmão que as
crianças surdas não se veem como deficientes. Elas têm uma cultura própria a seu respeito e podem
conviver em sociedade com pouca ou nenhuma intervenção. Mas tendem a se unir a outras pessoas
que fala a língua de sinais.
Nunca passei muito tempo com cavalos. Ou qualquer outro animal do mesmo tipo, para dizer a
verdade. Eles são grandes, robustos, pesados, e o que estou guiando fica me cutucando com o nariz
no meu ombro.
― Quer algo? ― pergunto, mas ela só faz um ruído ofegante e fuça a parte de trás da minha
cabeça. Ela joga meu boné de beisebol para longe e, quando eu me curvo para pegá-lo, ela bate em
minha bunda e eu caio com a mão no chão.
Limpo a poeira das minhas mãos e olho ao redor. Edward, que já não posso mais chamar de Tic
Tac desde que ouvi sua história, está conduzindo um dos outros cavalos. Ele bufa para mim.
― Acho que levou um chute no traseiro. De novo. ― Ele dá uma risadinha e eu faço uma careta.
Edward olha por cima do meu ombro, assovia baixo, e eu me viro para encontrar Reagan caminhando
em nossa direção. Ela deve ter ido tomar banho, porque seu cabelo ainda está úmido e ela fez duas
tranças que pendem sobre seus ombros. Ela usa uma camiseta, um jeans justo, e um par de botas
marrons envolvem sua panturrilha. Porra, ela é linda.
Ela dá um tapinha no cavalo que estou levando quando se aproxima.
― Juliette está lhe dando trabalho? ― ela pergunta, se inclina para perto da orelha dela e
sussurra. O pelo em meus braços se levanta, e não é nem mesmo em meu ouvido que ela está
sussurrando. Juliette balança a cabeça, e Reagan ri. Porra, que som bonito.
Ela passa por mim carregando um balde.
― Aonde você vai? ― pergunto a ela.
Ela se volta, sorrindo por cima do ombro.
― Tenho que buscar Romeo para Juliette ― diz ela. ― É por isso que ela está tão chateada. O
namorado dela está saindo com as vacas. ― Ela balança a cabeça em direção ao pasto. ― Quer me
ajudar? ― ela pergunta.
Link está com ela e ele a segue quase tão de perto quanto Maggie, seu cão. Duvido que ela deixe
seu cão de lado em algum momento. Merda, quero ser um filhote de cachorro e segui-la também.
Lanço a rédea do cavalo para um dos rapazes, que sorri e balança a cabeça. É o cara que me
sacaneou dizendo que eu estava apaixonado. Sim, acho que estou. E isso não me incomoda nem um
pouco.
Corro até Reagan, que ri quando eu a alcanço.
― Você está muito bonita hoje ― falo. Quero tanto beijá-la que quase consigo sentir seu gosto.
Ela cora.
― Obrigada ― ela responde, olhando para baixo em direção a seus pés.
― Senti sua falta ― eu digo.
Ela sorri.
― Você me viu há uma hora ― ela me lembra. Como se eu precisasse. Tudo o que posso pensar é
na forma como ela se encaixou em meus braços.
― Seu pai ficou irado? ― pergunto. Isso me preocupa. De verdade. Quero que seus pais gostem
de mim e sinto medo que esteja fazendo tudo errado. Jamais conheci os pais de uma menina antes.
Nunca tive necessidade. Mas com Reagan... tudo é diferente.
Ela encolhe os ombros.
― Um pouco. ― Ela ri. ― Nós tivemos uma conversa sobre qual a melhor maneira de dar uma
joelhada nas bolas, o fato de que os homens só querem uma coisa e, então, ele acabou me dando
informação demais sobre métodos anticoncepcionais.
Eu paro de andar. Uau. Essa é uma responsabilidade muito grande.
― Você fala com seu pai sobre essas coisas?
Ela encolhe os ombros.
― Algumas delas. Ele me mandou falar com minha mãe sobre o resto.
― Que resto?
Suas bochechas ficam ainda mais coradas.
― A conversa sobre métodos anticoncepcionais e todas essas coisas.
― Oh ― eu digo. Pareço um idiota. Mas ela me deu um susto. Ela caminha em direção a uma
cerca e se inclina. Eu a sigo, assim como Link. Ele está em seu próprio mundo, e acho que ele está
cantando uma canção. Mas é tão suave, que não posso dizer com certeza. ― Então, você é... hum...
está pensando sobre esse tipo de coisa, hein?
Ela morde o lábio inferior e acena.
― Sim.
― Eu... ah... não sei o que dizer sobre isso. ― Levanto meu boné e coço a nuca.
― Você não precisa dizer nada ― diz ela com um encolher de ombros. ― Eu só queria que você
soubesse que estou pensando sobre isso.
Oh, Jesus Cristo. Meu coração bate em meu peito como um louco. Essa merda é real.
Ela estreita os olhos para mim.
― Você pode me dizer se não tiver nenhum interesse romântico em mim, Pete. ― Ela solta um
suspiro. ― Eu vou ficar bem com isso.
Ela se vira e coloca dois dedos nos lábios. Um apito estridente soa no ar, fazendo Link cobrir
suas orelhas e sorrir. De repente, um cavalo galopa em nossa direção como um raio de luz preto e
branco. Reagan grita quando eu a empurro para atrás de mim, mas ela está rindo também. O cavalo
para a um passo de mim e bufa na minha cara.
― Filho da puta ― eu resmungo.
― Filho da puta ― Link repete.
Ah, merda, isso é ruim. Tenho que aprender a travar minha boca quando estiver próximo ao
garoto.
― Cavalo bonito ― falo e observo Link.
― Cavalo bonito ― ele repete.
― Assim é melhor ― eu digo em voz baixa. Aceno para Link, e ele segura o balde para que o
cavalo possa enfiar seu focinho nele.
― Este é Romeo ― Reagan diz enquanto desliza um cabresto sobre sua cabeça. Ela dá um
tapinha em sua lateral. ― Ele foge o tempo todo e vai se engraçar com as vacas. Então, Juliette fica
chateada e desconta em todo mundo. ― Ela acaricia o cavalo, mas tudo o que ele quer é manter a
cabeça no balde. Ela começa a caminhar de volta para o celeiro.
Sigo-a, com cuidado onde piso, à medida que caminhamos juntos. Ela parece tranquila. Talvez
esteja pensando sobre anticoncepcionais. Não sei. Estou preparado. Estou sempre preparado, mas
ela não está pronta para o que eu quero. Nem mesmo perto.
Quando chegamos ao celeiro, Reagan joga a corda para Link e diz:
― Pode levá-lo para Juliette, Link? ― Ele balança a cabeça e segura o cavalo, e Reagan faz um
sinal para que eu a siga. Andamos até os fundos do celeiro e não posso evitar de imaginar que seu
pai teria inúmeras formas de me castrar se ele nos encontrasse aqui de novo.
Ela estreita os olhos para mim e o canto de seu lábio se ergue.
― Você lembra da noite passada, quando você disse que gostava mesmo de mim? ― ela pergunta
em voz baixa.
Eu concordo.
Ela limpa a garganta e seu desconforto é tão bonitinho que quero beijá-la imediatamente.
― Bem, quero que você saiba que eu sei que eu realmente gosto de você, Pete. Não há nenhuma
dúvida sobre isso. Então, sim, eu estou com medo. Estou com medo desses sentimentos, e minha mãe
estava agindo como mãe e meu pai agindo como pai e seu primeiro pensamento foi que eu deveria me
precaver para não engravidar.
Porra, quero dormir com essa garota, mas quero muito mais do que apenas dormir com ela.
― Reagan ― eu digo. Estendo a mão para ela, e, pela primeira vez, ela não se mexe. Ela me
deixa cobrir seus quadris com as mãos e puxá-la contra mim. ― Eu sou o cara ― eu digo, tentando
não rir. ― Vou cuidar de tudo o que diz respeito a sexo seguro, quando for a hora certa.
Ela balança a cabeça.
― Eu sei que você vai. ― Ela coloca a testa contra meu peito, e posso sentir a respiração dela
contra a minha pele, quente e aconchegante. ― Você perguntou o que meus pais falaram sobre isso.
Essa era a preocupação deles. ― Ela encolhe os ombros, dá um passo na ponta dos pés e pressiona
os lábios contra minha bochecha, demorando o tempo suficiente para que eu possa sentir o cheiro do
seu creme dental mentolado. ― Não se preocupe, Pete. Prometo não contaminar você. ― Ela sorri.
Mas, com o que aconteceu com ela, isso não é divertido.
Eu gemo e coloco minha cabeça para trás, fechando os olhos. Eu não posso pensar enquanto ela
está olhando para mim.
― O que há de errado? ― ela pergunta, dando um passo para trás, e sinto sua perda
imediatamente. ― A ideia de fazer sexo comigo deixa você em pânico, não é? ― ela sussurra e eu
balanço a cabeça. ― Eu deveria saber.
― Não ― eu começo, mas não sei o que dizer. Ela se afasta, mas eu a toco com a ponta dos
dedos. Ela se vira, e eu agarro sua camisa. Ela gira, mas desta vez não deixo que ela se mexa. Ela
olha para minha mão e sorri. Mas é um sorriso triste. Não é o que eu quero ver no rosto da minha
garota. ― Eu te quero.
― Está tudo bem, Pete ― diz ela calmamente. ― Talvez eu tenha entendido tudo errado. ― Ela
acena entre nós dois. ― Achei que estávamos no mesmo barco.
― Estou muito mais do que você pensa ― deixo escapar.
Ela para de andar e me olha nos olhos.
― O quê? ― Seus olhos verdes piscam lentamente.
― Sim. Muito mais. Mergulhei de cabeça nisso. Não consigo parar de pensar em você. Quero
estar com você o tempo todo. Posso sentir você contra a minha pele, mesmo quando você não está
comigo.
Sua respiração acelera.
― Oh ― diz ela. Suas mãos se apoiam em meu peito.
― Mas acho que estou mais ligado que você. ― Eu me inclino baixo para olhar em seus olhos.
― Você vai quebrar meu coração, Reagan? ― pergunto. ― Você já está pensando em métodos
anticoncepcionais e sim, me assusta só de pensar em conseguir estar dentro de você. Porque eu quero
você, Reagan. Quero cada pedaço seu.
― Até mesmo os pedaços quebrados? ― ela pergunta.
Coloco as mãos sobre seu rosto e a puxo para mim.
― Vou ser a cola que vai consertar você ― murmuro. ― Estive preso por muito tempo, Reagan
― eu digo.
― Eu estive presa até mais do que você, Pete ― diz ela, com a voz carregada de emoção.
― Não me dê esperanças a não ser que você esteja certa do que quer ― eu imploro.
― Eu nunca tive mais certeza em minha vida ― diz ela. Ela envolve as mãos ao redor do meu
pescoço, puxa minha cabeça para a dela e me beija. Seus lábios são suaves, quentes e insistentes, e,
quando sua língua toca a minha, quase gozo em minhas calças. Afasto-me dela porque não posso
suportar muito mais. Ela olha nos meus olhos. ― Eu não estou pronta para o sexo ainda, Pete ― diz
ela. ― Mas estou mais perto do que antes. Sinto que você abriu a porta para o meu futuro. Agora eu
só preciso que você a atravesse comigo. Assim, vou conseguir perder o medo de que você vá me
machucar, Pete. E você perderá o medo de que eu vá machucá-lo. E então, um dia, talvez você vá me
amar.
Rio baixinho.
― Que bom que você teve a conversa sobre métodos anticoncepcionais com sua mãe ― eu falo.
― Meu irmão Paul empurrou preservativos na minha mão quando eu estava saindo para vir para cá.
Não sei quem ele pensou que eu iria comer enquanto estivesse num acampamento para meninos.
Seu rosto fica vermelho rosado.
― Quero dizer, não comer. Bem, se não fosse você, seria comer. ― Merda. Estou fodendo com
tudo. Com ela vai ser muito mais do que uma transa. ― Isso é o que me assusta, princesa. Eu nunca
fiz o que eu quero fazer com você.
― Você já fez isso muitas vezes ― diz ela com um aceno alegre.
Balanço minha cabeça.
― Não, não fiz. ― Olho nos olhos dela. ― Agora, pense sobre isso e certifique-se de que está
pronta.
Viro-me, volto para Juliette e puxo-a pela corda, que parece de chumbo. Minhas pernas estão
tremendo, e eu mal posso respirar. Se é assim que a gente se sente quando ama, estou feliz por ter
esperado até que eu tivesse idade suficiente para compreendê-lo.
REAGAN

M aggie não está se sentindo bem novamente e a ouço reclamar pelo quarto.
― Mags ― eu chamo, mas é tarde demais. Ela vomita no chão do quarto. Esfrego sua cabeça.
Ela ainda é ágil para sua idade, mas tem vomitado nas últimas semanas. Vou ter que levá-la ao
veterinário para descobrir o que está acontecendo. Limpo sua bagunça e me ajoelho com um pano
úmido para esfregar o tapete, quando ouço uma batida na porta.
― Entre ― falo distraidamente.
A porta se abre, e meu coração pula na minha garganta quando vejo Pete parado lá. Está tarde.
― Pete ― eu falo enquanto olho para cima, do local do vômito. ― Eu estava apenas... ― Devo
falar sobre vômito com um homem? Provavelmente não. ― Maggie passou mal ― finalmente falo.
― Precisa de ajuda? ― ele pergunta, caminha em minha direção e se abaixa.
― Acho que tenho tudo sob controle. Só estou limpando o chão. ― Olho para o meu pijama e
cruzo os braços na frente do peito. Eu nem sequer estava usando sutiã.
Pete sorri e olha para o lado como um cavalheiro. Estou usando um top e short minúsculos que
meu pai iria pirar se visse. Não posso sequer deixar meu quarto quando uso essa roupa. Vou até o
banheiro e lavo minhas mãos rapidamente. Volto e encontro Pete olhando ao redor do meu quarto. Ele
toca a caixa de música que fica sobre minha cômoda, abrindo a tampa. Uma bailarina se levanta e
gira enquanto a melodia toca. Ele sorri e olha para mim, por cima do ombro.
― É lindo ― ele fala. ― Assim como você. ― Seus olhos vagueiam pelo meu corpo, e ele
lambe os lábios.
― O que você está fazendo aqui? ― pergunto.
Ele se assusta por um segundo.
― Eu queria ver você. Sua mãe disse que eu poderia subir.
Isso me faz sorrir.
― Meu pai sabe que você está aqui?
Ele balança a cabeça.
― Ele não estava lá embaixo.
Tenho a sensação de que meu pai não iria gostar do fato de Pete estar no meu quarto.
Particularmente por causa da maneira que estou vestida.
― Se eu soubesse que era você, teria me vestido ― tento explicar. Meu olhar recai sobre a
cama, onde um moletom de capuz está dobrado. Eu costumo dormir com ele e o puxo sobre minha
cabeça até meus quadris.
Os olhos de Pete estreitam para mim.
― Esse moletom me parece familiar ― diz ele. Seus olhos se arregalam. ― É aquele que eu te
dei naquela noite? ― ele pergunta.
Eu concordo.
― Sim. ― Eu o mantive. E eu o amo. ― Você o quer de volta?
Ele sorri.
― Se isso significa que você vai tirá-lo agora, inferno, sim, eu o quero de volta.
Sinto meu rosto esquentar. Começo a puxá-lo sobre a minha cabeça e fecho os olhos, mas, de
repente, Pete para meu movimento com as mãos.
― Eu só estava brincando ― diz ele. ― Fique com ele.
Concordo com a cabeça e o puxo de volta para baixo, sobre meus quadris.
― Estou surpreso que você ainda o guarde, considerando o motivo pelo qual você ficou com ele.
― Ele franze a testa.
― Você é a única coisa boa que aconteceu comigo naquela noite, Pete ― eu digo.
Ele abre a boca para dizer algo, mas a fecha rapidamente.
― Eu durmo com ele. ― Levanto meu decote até o nariz. ― Ele costumava cheirar como você,
até que minha mãe me fez lavá-lo. ― Eu tenho um pequeno futon no meu quarto, e faço um
movimento em direção a ele. ― Você quer sentar? ― pergunto.
Ele balança a cabeça, mas volta a avaliar o meu quarto. Ele passa a ponta dos dedos sobre as
fitas dos prêmios de competições de cavalgada que revestem meu espelho. Sento-me e cruzo os pés
debaixo de mim. Pego um travesseiro e o coloco sobre meu colo, para apoiar os cotovelos nele. Pete
segue em direção ao banheiro e coloca a cabeça para dentro.
― Acho que seu quarto é maior do que todo o nosso apartamento ― diz ele.
Não sei o que dizer sobre isso, então eu não digo nada.
― Quando você voltar para a faculdade, vai ficar no alojamento? ― Ele se senta do outro lado
do futon e se vira para mim, seu joelho encostando no meu. Gosto da sensação, então me aproximo
um pouco mais.
― Tenho um apartamento em frente do campus ― eu digo. ― Papai não quis que eu ficasse no
alojamento e eu queria levar Maggie comigo, depois do que aconteceu. ― Maggie ouve seu nome e
vagueia em direção a mim, deslizando seu nariz debaixo da minha mão. Eu distraidamente esfrego
sua cabeça. ― Eu não gosto de ficar sozinha à noite.
Pete faz um barulho com a boca, e Maggie anda em direção a ele. Ela é cautelosa, mas não tem
medo. Ele permite que ela cheire sua mão e ele toca o alto da sua cabeça cautelosamente. Ela
empurra-se contra ele, que coça atrás das orelhas dela.
― Você está tentando conquistar meu cão? ― pergunto. Mas, secretamente, eu amo o fato de que
Maggie confia nele. Ela tem bons instintos, muito melhores do que os meus.
― Tentando? ― ele zomba. ― Já tive êxito ― ele diz com um sorriso. Maggie pula em suas
pernas traseiras para colocar-se em seu colo. Ele se inclina para trás e dá um tapinha na perna, e ela
pula para sentar-se sobre ele, entre nós. Ele acaricia sua cabeça. ― Você fica bem no meu moletom
― ele diz para mim.
Meu rosto está provavelmente escarlate.
― Obrigada ― eu sussurro.
― Gosto da ideia de que meu moletom fica sobre o seu corpo enquanto você dorme ― ele fala.
Sua voz está rouca de repente. Seu olhar está grudado em minhas pernas, mas ele não se aproxima de
mim ou tenta me fazer chegar mais perto. Ele apenas continua a acariciar meu cão, que virou de
cabeça para baixo, tentando oferecer-lhe a barriga.
Eu engulo em seco, meus batimentos cardíacos acelerados. Eu limpo minha garganta, e ele só
olha para mim.
― Então, o que você quer fazer? ― ele pergunta.
Honestamente, quero beijá-lo.
― Trata-se de um encontro? ― pergunto.
Ele balança a cabeça.
― Só vim visitá-la por alguns instantes, porque eu queria vê-la e ficar um pouco com você. ―
Maggie vira, e Pete ri. ― Você é uma garota simples ― diz ele para o meu cão.
― Ela é um animal perigoso ― eu digo, com uma risada.
― Enquanto ela protege você, ela pode ser tão bestial quanto quiser.
― Belo trabalho ela está fazendo agora ― eu resmungo.
― Os cães gostam de mim. Porque sou uma boa pessoa. ― Suas pálpebras abaixam e ele lambe
os lábios novamente.
Puxo o moletom sobre meus quadris.
― Pare de olhar para mim desse jeito ― eu sussurro, minha voz embargada.
― Eu pararia, se achasse que você realmente quer isso ― ele responde e sacode a cabeça. ―
Venha aqui ― diz ele em voz baixa.
Balanço minha cabeça, mas um sorriso surge em meus lábios.
― Não ― eu digo.
Ele sacode a cabeça.
― Venha aqui ― diz ele novamente. ― Por favor?
Sorrio para ele.
― O que eu ganho se eu for até aí? ― pergunto.
― Venha aqui e descubra ― diz ele.
Meu coração dispara. O que devo fazer? Devo ficar? Devo ir? Sinto que há uma corda invisível
entre nós, e ele dá um puxão nela, ao levantar a mão e balançar os dedos para mim, me chamando
para ir até ele.
Dou um leve empurrão em Maggie, para que ela saia do seu colo. Porque, de repente, tudo o que
eu quero é estar lá. Quero me aconchegar contra ele e me enrolar em seu calor. Maggie vai para o
chão e resmunga. E eu vou em sua direção, engatinhando para ele.
PETE

N um minuto, o cão está no meu colo, no seguinte, Reagan está engatinhando em direção a mim. Ela
é tão linda que tira meu fôlego. Uma palma de sua mão se apoia em meu joelho e a outra em minha
coxa. Ela morde o lábio inferior enquanto olha para mim. Tiro seu cabelo da testa e olho para ela.
Realmente a observo. Ela está tremendo. Sua mão treme contra meu joelho, então eu a cubro com a
minha. Seus olhos encontram os meus.
― Estou bem ― ela sussurra.
― Sei que está ― eu falo, e, devagar e com cuidado, puxo-a, de modo que ela fica em meu colo.
Tento não me mover muito rápido, porque sei que isso tudo é muito novo para ela. ― Acho que eu é
que estou com medo ― eu admito, com a voz trêmula. Eu limpo minha garganta.
Sua testa franze.
― Por quê? ― ela sussurra e apoia o antebraço em meu ombro, seus dedos acariciando
distraidamente minha nuca. Mal consigo pensar quando ela me toca.
― Não achei que você chegaria lá ― eu falo.
Seu rosto resplandece e tenho certeza de que ela me entendeu mal. Uma risada irrompe da minha
garganta.
― Estava falando de sair do seu lugar para o meu colo, palhacinha ― eu falo e encosto o nariz
no seu, inclinando-me e beijando-a rapidamente na bochecha. ― Embora ― eu começo, mas preciso
parar e limpar minha garganta novamente. Minha voz sai como um sussurro. ― Quando você gozou
com minha mão dentro da sua calcinha, me surpreendeu também.
Sua respiração não é tranquila agora. Ela está acelerada e suas bochechas estão rosadas. Passo a
mão da parte externa da coxa por toda sua perna, já que ela está usando esse short absurdamente
curto.
― O que você acha que eu senti? ― ela pergunta e ri, e é o som mais bonito que já ouvi. Posso
sentir suas palavras contra a minha bochecha; ela está tão perto de mim.
― Diga-me como você se sentiu ― eu peço. Quero saber de tudo.
Sua testa franze.
― Você quer dizer, quando estávamos fazendo isso? ― ela pergunta.
Eu aceno e deslizo minha mão para o alto da sua coxa, traçando a linha daquele short, o que
significa dizer que estou traçando o vinco da sua coxa. Suas pernas se abrem muito levemente e meu
coração vibra com a forma como ela responde a mim.
Ela hesita por não mais que um segundo. Então, começa a falar.
― Eu estava com raiva ― diz ela. ― Chase agiu como um idiota a noite toda e, então, ele me
tocou, e eu realmente pensei em me afastar dele, mas ele foi tão irritantemente presunçoso. Não foi só
uma reação instintiva quando bati nele. Eu estava chateada e o acertei porque eu podia. Só porque
ele merecia. Então, roubei o carro dele e voltei para casa, e ele apareceu. Mas, então, você estava lá.
Eu sabia que você estava no mato e sabia que você me viu voltar para casa com minha roupa toda
desarrumada e eu fiquei com medo de que você achasse que tinha acontecido o pior.
― O pior? ― pergunto. Suas pernas se abrem um pouco mais, e sua boca solta um suspiro
pesado enquanto traço sua coxa. Quero tirar seu short e puxar a calcinha por suas pernas. Então,
quero colocar minha boca na sua parte feminina molhada e lamber até que ela goze em meu rosto.
Mas seus pais estão lá embaixo.
― Você ficou com medo que eu tivesse beijado Chase? ― ela pergunta.
Eu não respondo, porque estou muito ocupado deslizando meus dedos debaixo do seu short, para
traçar a linha da sua calcinha.
― Hum-hum ― eu murmuro.
― Eu pensei nisso ― ela fala. ― Eu queria resolver isso de uma vez.
Olho para cima. Será que ela realmente disse isso?
― Resolver isso de uma vez?
Ela estremece.
― Você me provoca esses sentimentos, Pete. Não sei o que fazer com eles, nem de onde vêm. E
me assusta muito saber que posso ficar assim com você sem ter que me acalmar ou me esforçar para
afastar o medo. Então, eu pensei em testar com Chase. Mas, quando ele me tocou, não senti nada.
― Ele assusta você?
Ela balança a cabeça.
― Na verdade, não. Ele é um idiota. E eu sabia disso desde antes de sair com ele. Mas, então,
ele roçou no meu seio e minha pele arrepiou, mas não do jeito como fica quando você me toca.
Então, isso me fez pensar e me fez querer voltar aqui para você. Mas achei que deveria encerrar a
noite. Aí, ele tocou em meu seio novamente, nós discutimos e eu bati nele. Não foi uma reação
instintiva, eu quis bater nele. ― Ela estremece novamente. ― Eu meio que me sinto mal com isso.
Percebi que parei de traçar sua calcinha quando ela começou a falar sobre isso e olhei em seus
olhos.
― Então, você não surtou. Você o acertou de propósito? ― Ela não faz ideia de como isso me faz
feliz.
― Sim ― ela admite. Mas não está sorrindo. Ela está pensando nisso ainda. ― Aí, você foi até o
celeiro e me perguntou se eu o beijei e eu não podia mentir para você. ― Ela vira o rosto e olha em
meus olhos. ― Só quero beijar você, Pete. Você é o único cara com quem quero estar. Quero que só
você me abrace e me toque. ― Ela balança uma mão na frente do rosto. ― Deus, está ficando quente
aqui ― diz ela.
Então, seguro Reagan novamente e seus olhos se arregalam quando a deito no futon. Separo seus
joelhos muito lentamente e levo minhas mãos até o interior das suas coxas, abrindo-as, para que eu
possa deitar sobre ela.
Quando sinto seu calor, percebo que ela está tremendo novamente.
― Está tudo bem? ― pergunto.
― Sim ― ela sussurra e envolve seus braços em volta do meu pescoço e me puxa para baixo
contra seu peito, onde eu coloco minha cabeça. Viro meu rosto e a acaricio, percebendo que o bico
do seu seio está exatamente na direção da minha boca. Suas mãos acariciam meus cabelos curtos e
ela continua a falar.
― Então, ontem à noite ― ela fala e espera. Levanto minha cabeça para que eu possa olhá-la.
Seu lábio inferior está firmemente preso entre seus dentes e ela se apressa em continuar. ― Eu
realmente gostei do que fizemos na noite passada.
Eu rio.
― Tenho certeza de que sim. ― Deus, me sinto tão leve e tão pesado ao mesmo tempo. Balanço
meus quadris contra ela e levanto seu traseiro, empurrando sua parte macia, quente, e provavelmente
rosada e bonita para o meu pau. Merda. ― Eu gostei também.
Ela puxa meu cabelo até que eu olho para seu rosto novamente.
― Estamos indo muito rápido? ― ela sussurra.
Olho para baixo em direção a onde meu pau está separado do seu calor pelo meu jeans e por essa
pequena coisa que ela chama de short.
― Vou continuar com minhas calças. Eu juro.
Ela geme.
― Não estou falando sobre isso. ― Ela aponta de mim para ela. ― Eu e você. Estamos indo
muito rápido? ― ela pergunta.
Minha respiração fala.
― Eu não sei ― respondo. ― É muito rápido para você?
Ela balança a cabeça.
― Nós só nos conhecemos há alguns dias ― ela fala, como se precisasse me lembrar.
Então, por que eu sinto como se meu coração tivesse esperado por ela a vida inteira?
― Hum-hum ― eu murmuro enquanto meu corpo se inclina para que meus lábios possam tocar os
dela. Ela me beija de volta, sua boca suave e insistente contra a minha. Eu me afasto e ela sorri.
― O quê? ― eu pergunto, seu sorriso contagiante aparece, fazendo com que eu sinta o meu
próprio sorriso surgir no canto dos meus lábios.
― Esse beijo não foi tão épico quanto aquele ― ela fala.
Encosto meus lábios nos seus novamente, de forma lenta e suave, minha língua deslizando em sua
boca, meu coração se regozijando quando ela geme contra mim, seu toque aveludado e quente.
― Vamos ter que dar um jeito nisso ― eu respondo quando finalmente levanto a cabeça.
Ela balança a cabeça concordando. Sua boca está perto do meu ouvido quando ela fala.
― Quero que seja tão épico para você quanto foi para mim. ― Um arrepio percorre minha
espinha e eu balanço meus quadris, empurrando contra seu calor. Não consigo me segurar. Merda. ―
Deixa-me fazer isso por você? ― ela pede.
Ela parece tão insegura que percebo o quanto isso é difícil para ela. Ela não gosta de perguntar,
mas não estaria perguntando se não fosse importante para ela.
― Não com seus pais no andar de baixo ― murmuro.
― Não quis dizer agora ― ela fala, a respiração ofegante.
― Oh. ― Graças a Deus.
― Numa outra vez? ― ela pergunta. ― Quando meus pais não estiverem a poucos metros de
nós?
Eu concordo. Merda. No que acabei de me meter?
Ouço uma porta bater e me levanto de cima dela. Ela fecha as pernas e se senta, puxando o
moletom para baixo. Mas tudo que consigo pensar é no quanto sua pele é suave e no quanto quero
tocá-la. Mais passos soam pelas escadas. Eu chamo o cão, que pula no meu colo. Graças a Deus.
O som abafado de passos contra o tapete é o único aviso antes de seu pai entrar.
― O que vocês estão fazendo? ― ele pergunta. Seus olhos pousam em mim e, em seguida, no
cão. Sorrio para ele, mas preciso quebrar o contato visual depois de um tempo. Eu tinha acabado de
sair de cima da filha dele, pelo amor de Deus.
― Conversando ― Reagan responde. ― Precisa de algo?
― Sua mãe e eu vamos alugar um filme. Quer assistir?
― Pete também pode? ― ela pergunta e olha para mim, enquanto eu concentro minha atenção no
cão.
Ele balança a cabeça.
― Se ele quiser ― ele responde. Tenho que admitir que, se eu tivesse um pai, gostaria que ele
agisse como o Sr. Caster. Queria que ele me protegesse de tudo e se preocupasse comigo. Eu não
tenho isso, não de um pai. Tenho dos meus irmãos, mas não é igual.
― Quer assistir a um filme? ― Reagan pergunta baixinho, mas ela está sorrindo. Percebo que ela
não se levanta.
Eu concordo.
― Claro.
Ela olha para o pai.
― Daqui a dez minutos? ― ela pergunta.
Ele balança a cabeça, olha para mim por um segundo a mais, e depois sai.
― Seu pai é bastante impressionante, sabia? ― pergunto a ela.
Ela revira os olhos.
― Se eu tivesse um pai, gostaria que ele agisse assim. ― Eu evito o olhar desta vez. Porque não
quero que ela veja muito. Ela já vê o suficiente.
― Seu irmão, o que você não tem falado ― ela começa. ― Ele tem telefone em seu dormitório?
Eu concordo. Ele tem um telefone celular que Paul deu a ele quando ele foi embora. Paul também
tem um. Sei o número de Sam de cor, mesmo que eu nunca tenha ligado para ele. Digito o número um
milhão de vezes, e, então, desligo o telefone porque sou um covarde. Ela segura o telefone dela em
minha direção.
― Está na hora de ligar para ele, Pete ― ela fala. Em seguida, pega um par de jeans e o puxa por
suas pernas, enquanto eu a observo. É tão sexy observá-la se vestir, que fico ligado novamente. Ela
se inclina e me beija muito rapidamente.
― Vou fazer pipoca. Desça quando estiver pronto.
Ela sai e fecha a porta. Olho para o telefone. Quando parei de falar com Sam, senti como se
tivesse perdido um pedaço de mim. Talvez seja a hora de encontrá-lo. Digito o número e coloco o
aparelha na orelha, sentindo meu coração bater mais rápido agora do que quando estava sobre
Reagan.
Trim.
Trim.
Trim.
Trim.
Ouço sua voz:
“Aqui é Sam. Estou ocupado, então deixe uma mensagem que eu ligo de volta assim que
puder”.
Ouço o sinal sonoro e hesito. Então, limpo minha garganta. Esse é um momento de recomeços. E
não posso descobrir se ele quer um ou não, a menos que eu fale com ele.
― Sam, é Pete. ― Paro e penso, apoiando a testa em minha mão. ― Só queria conversar com
você e ter certeza de que você está fazendo tudo certo. Sinto sua falta, Sam. É isso. Sinto sua falta. ―
Dou um suspiro, sem saber o que dizer. ― Sam, você acha que pode voltar para casa neste fim de
semana? Quero ver você. Estou no telefone de uma amiga, então você não vai ter como me ligar de
volta, mas eu gostaria que você pudesse... eu realmente gostaria. Amo você, Sam. Só queria dizer
isso.
Pressiono o botão para desligar a chamada e olho para o telefone. Quase estraguei tudo, mas me
sinto mais leve agora. Estou feliz por ter ligado para ele. Sinto muito a falta dele. Como louco.
Enfio o celular de Reagan no bolso e desço. Encontro-a na cozinha, despejando a pipoca em uma
tigela. Ela joga uma em mim quando me aproximo e eu a pego com a boca. Ela ri e apoia o quadril no
balcão.
― Conseguiu fazer sua ligação? ― ela pergunta.
Seu telefone vibra em meu bolso.
― Acho que chegou uma mensagem de texto ― eu falo e devolvo o telefone pra ela. Quero ser
intrometido e olhar para a tela. Ela olha e sorri.
― Acho que é para você ― ela fala. ― Esse é o número que você ligou?
Eu te amo mais.
Eu sorrio.
― Sim. É de Sam.
― Sam? ― ela pergunta. Sua testa franze e ela aponta para a parte de trás do seu pescoço. ― O
Sam em seu pescoço? É para o seu irmão?
― Sim. Nosso pai fez as tatuagens porque ele não conseguia nos diferenciar.
Ela franze a testa.
― Então, por que na sua está escrito Sam?
Eu sorrio e encolho de ombros.
― Como ele não sabia quem era quem, quando ele colocou Sam sentado para fazer a tatuagem,
Sam disse que era Pete e eu disse que era Sam. Então, nós temos os nomes um do outro em nossos
pescoços.
― Ele não conseguia diferenciar vocês? ― Ela não está mais rindo e parece um pouco triste.
Balanço a cabeça.
― Somos gêmeos idênticos.
― Uau.
― Nossa mãe ficou louca ― falo com uma risada.
― Ela sabia quem era quem?
Dou de ombros.
― Qualquer um que nos conhece, sabe. ― Isso não fala bem a respeito do nosso pai, mas é o que
é.
Eu a puxo para mim, pelas presilhas da sua calça jeans, e ela encosta em mim e levanta os braços
para envolver meu pescoço. Eu a beijo rapidamente, mas seu pai grita.
― Pete, quando você terminar de fazer sexo com minha filha na cozinha, venham assistir ao
filme!
Reagan ri.
Ela balança a cabeça e me toma pela mão, a outra segurando a pipoca. Sento-me na borda do
sofá, e ela se acomoda ao meu lado, perto, mas não nos tocamos. Seu pai olha para nós, de onde está
sentado ao lado da esposa, no sofá oposto.
― É bom ver você, Pete ― diz ele.
― Você também, Sr. Caster ― eu digo. ― Obrigado por me convidar.
Abro um pouco a perna para que a perna de Reagan toque a minha e ela segura minha mão quando
o filme começa. Droga, isso é tão bom. Amanhã é sexta-feira, e amanhã à noite é quando vou ter que
ir para casa. Eu não quero ir. Quero ficar ao seu lado para sempre. Desse jeito.
REAGAN

H oje é o dia em que Pete vai para casa. Fiquei acordada a maior parte da noite de ontem,
pensando nisso. Não quero que ele vá embora. Meu estômago retorce em nós com o pensamento de
ele ir, e eu olho para a minha mãe.
― Aborrecida com algo? ― ela pergunta.
Balanço a cabeça.
― Não quer falar, né? ― ela pergunta. Sua voz é suave, mas ela não está curiosa. Está apenas
agindo como mãe.
― Pete vai embora hoje ― falo em voz baixa.
― Hum ― ela murmura.
― Então, eu estava pensando... ― eu começo lentamente.
Ela sorri e inclina a cabeça para mim, como um filhote de cachorro curioso.
― No que você estava pensando?
― Eu estava pensando em voltar para a cidade uma semana mais cedo ― respondo com a voz
hesitante e calma. Minhas aulas só começam na próxima semana.
Ela leva a xícara de café aos lábios e fala por sobre a borda, enquanto toma um gole.
― Isso tem algo a ver com Pete? ― ela pergunta.
Não posso mentir para minha mãe. Seria péssimo para ele se eu tentasse.
― Tudo a ver. ― Sorrio ao ver sua expressão. Ela está sorrindo também, e é quase contagiante.
― Quero voltar e passar um tempo com ele. ― Dou de ombros. ― Ver aonde as coisas vão.
― Ele é o cara, hein? ― ela pergunta.
Aceno com a cabeça.
― Sim, acho que sim. ― Minha voz é calma e me sinto mais leve do que tenho me sentido há
muito tempo.
― Quer que eu veja se o médico pode atendê-la hoje? ― ela pergunta. Médico? Por que preciso
de um médico? ― Você precisa resolver a questão dos métodos anticoncepcionais.
― Ah. ― Esqueci completamente disso. Sinto minhas bochechas corarem. ― Você acha que
consegue? ― pergunto e estremeço por dentro. Isso é tão estranho. Mas com quem eu poderia falar
sobre isso se não pudesse falar com a minha mãe?
Ela pega o telefone.
― Vou ver o que consigo.
― Vou subir e arrumar minhas coisas ― eu falo. A sensação que tenho é quase vertiginosa. Essa
é uma grande decisão. Só espero que, quando voltarmos para a cidade, as coisas continuem iguais
entre Pete e mim. E se a gente voltar e a vida real não for boa? E se a magia não existir? E se ele não
gostar tanto de mim quanto eu gosto dele?
Não consigo encontrar meus chinelos, então vou até o topo da escada para chamar minha mãe,
mas ela está falando com meu pai. Posso ouvir sua voz, suave e hesitante. Então, meu pai fala:
― Que porra é essa que você está pensando, incentivando isso?
Eu congelo. Eu nem deveria estar ouvindo isso, mas não posso evitar.
― Estou incentivando-a a crescer, querido ― ela fala. ― Só isso.
― Ela não vai voltar para a cidade. Ainda não. Absolutamente não. ― Ouço alguns pratos
batendo e estremeço com cada um deles.
― Ela vai. Está arrumando a mala. ― Minha mãe está tranquila, mas firme.
― Por que isso não te incomoda? Ela precisa mais da família dela do que de um cara qualquer.
Minha mãe aparece em minha linha de visão, e eu posso vê-la colocar uma mão calmante sobre o
peito do meu pai.
― Ela não precisa da gente nesta fase da vida dela, querido ― diz ela. ― Ela precisa dele.
― Por que ele? ― ele rosna.
― Pete é um bom rapaz ― ela responde. ― Você sabe disso.
Papai reclama de novo e minha mãe ri.
― Não posso gostar de alguém que quer entrar nas calças da minha filha ― ele resmunga.
― Você pode ver como ela despertou desde que ele chegou aqui, Bob? ― ela pergunta. Sua voz é
firme. ― Ela não está se escondendo nas sombras e está permitindo que as pessoas a toquem. Ela
está rindo. Está pensando em outras coisas que não seja se esconder em seu quarto. Ela está vivendo
novamente, Bob. Então, pare com isso. Ele é bom para ela. ― Ela aponta o dedo para ele em
advertência. ― E você não vai falar nada disso com ela.
Volto para o meu quarto e recomeço a fazer a mala. Sinto-me mal pelo meu pai, mas sinto que
estou esperançosa. E eu gosto. Não quero mudar isso. Quero ir com ele para Nova York e não posso
deixá-lo longe de mim. Não estou correndo atrás apenas de Pete. Essa é a promessa de um futuro, que
vai acontecer com ou sem ele, mas estou esperançosa pela primeira vez em muito tempo.
PETE

E stá na hora de começar a arrumar as coisas e colocar no ônibus, mesmo que os campistas ainda
não tenham terminado suas atividades ainda. Mas precisamos ir embora assim que escurecer, para
que possamos chegar à cidade por volta da meia-noite. Olho ao redor e sinto raiva por ter que ir.
Quando voltar para a cidade, voltarei para a prisão domiciliar e estarei com meus irmãos. Gostei da
liberdade que tive aqui, embora agora eu saiba o que desejo conquistar. Não sei como vai estar a
agenda de Reagan, mas espero que ela ainda queira me ver quando ela voltar para a cidade.
Gonzo aproxima-se e para na minha frente, me cortando na passarela em direção ao celeiro.
Estava esperando encontrar Reagan lá. Quero falar com ela antes de ir. Não quero deixá-la, mas não
vejo como isso pode ser evitado. Essa é a primeira vez que Gonzo não sorri para mim desde que o
conheci. Ele parece quase tão rabugento como me sinto.
― O que houve? ― pergunto.
“O céu”, diz ele apontando para o alto.
― Haha, muito engraçado ― eu digo, mas ele não ri. ― Tem algo te incomodando? ― pergunto.
“Você”, diz ele.
― Eu? O que fiz para incomodá-lo? ― Volto a empilhar cadeiras, que é o que eu preciso fazer
antes de ir embora. Ele me segue. Depois, tenho que ajudar a todos os rapazes do programa a
carregar suas malas para o ônibus.
“Você ia embora sem se despedir?”. Ele olha para mim.
― Ainda temos algumas horas antes de irmos ― eu o lembro, olhando para o relógio. ― Estava
esperando que eu não esquecesse de te dar um beijinho de despedida? ― Vou até ele, passo o braço
em sua cabeça e dou um cascudinho. Ele empurra o braço, afastando-me. Ele está mesmo irritado? ―
Você está falando sério, não está?
“Pensei que éramos amigos, mas você meio que despareceu nos últimos dias”, diz ele.
Olho para a casa. Passei um tempo com Reagan, mas não deixei Gonzo de fora. Além disso, sei
que ele tinha outros garotos para interagir.
― Você chegou a fazer amizade enquanto ficou aqui? ― pergunto, enfio a mão no bolso e tiro um
papel dobrado. ― Eu ia te dar isso mais tarde, mas acho que posso fazer isso agora ― eu falo e
entrego a ele. ― É meu telefone e endereço. Espero que você faça contato.
Ele sorri.
“Você me ama”, ele fala por sinais.
Porra, eu amo o merdinha. É difícil não gostar dele.
― Amor é uma palavra muito forte ― eu falo. ― Tolerar seria uma palavra melhor.
Ele sorri.
“Tolero você também”, ele responde, fazendo aspas na palavra tolerar. “Se é assim que você
fala com as pessoas que você ama”. Ele me olha nos olhos.
― Obrigado por tudo, esta semana ― agradeço.
“Gostei muito”.
― Também gostei, garoto ― eu falo. ― Quero que você entre em contato comigo se precisar de
mim. Para qualquer coisa, certo?
Seus olhos brilham e ele sinaliza a palavra sim. Sua mãe o chama e ele se volta para ir de
encontro a ela.
― Ei, Gonzo ― eu chamo.
Ele olha para mim.
― Você é um garoto e fiquei feliz em conhecê-lo ― eu falo.
“Sim, sim”, ele responde. “Assim você vai me fazer acreditar que você tem uma queda por
mim”. Ele olha para além do meu ombro. “Por falar em paixões”, ele sinaliza, aponta e pisca. “Te
vejo por aí”.
― Não se eu o vir primeiro ― grito de volta enquanto ele segue.
Eu rio e viro para onde ele tinha apontado. Mas não é Reagan. É seu pai e ele vem na minha
direção com a porra do machado. Cruzo minhas mãos na frente do meu colo e dou um passo para o
lado.
― Pete ― ele fala. Ele parece sem fôlego e tenho a impressão de que ele correu para me
encontrar.
― Sr. Caster ― eu falo e olho para o machado de guerra. Ele o levanta, avaliando-o com avidez,
como se estivesse apreciando meu desconforto. ― Está tudo bem? ― pergunto.
― Não tem porra nenhuma bem ― ele fala e esfrega a mão pelo rosto. Então, ele aponta um dedo
na minha cara. ― Brinquei com você a semana inteira, mas agora estou falando sério.
― Não sabia que estávamos brincando, senhor ― eu falo.
Ele levanta a mão para me impedir.
― Minha filha gosta muito de você, e essa é a única razão pela qual eu tenho tolerado você esta
semana.
― Hum ― eu começo, mas ele me impede novamente, com um suspiro abafado.
Ele levanta o machado e eu vou mais para o lado.
― Mas, eu juro por Deus, que, se você fizer alguma coisa para machucar minha filha, vou cortar
sua cabeça logo após cortar seu pinto.
― Não vou machucá-la, senhor ― eu falo.
Mas ele me corta novamente.
― Quando você voltar para a cidade e não houver um pai com um machado à espera para castrá-
lo, lembre-se que estou a um telefonema de distância. Entendeu?
― Claramente.
― Isso é tudo que eu queria dizer. ― Ele suspira. ― Foi bom conhecer você, Pete. Espero que
você tenha uma boa vida se eu não o vir nunca mais.
Ele vai embora, balançando o machado. Merda. Eu não estava esperando por isso.
Phil assovia quando ele sai de trás de uma árvore.
― Achei, por um minuto, que ele iria te matar ― ele fala sorrindo e balança a cabeça.
― Você sabe do que se trata isso? ― pergunto, balançando o polegar na direção do Sr. Caster.
― Hum ― ele murmura. ― Talvez.
― Pode compartilhar?
― Ele é um pai e você é um jovem que gosta da filha dele. Ele sabe disso e é difícil quando um
pai tem que compartilhar o afeto da filha. Ele foi seu protetor por toda a vida, e agora, ela vai buscar
alguém para preencher esse papel. Talvez até seja você. ― Ele aperta os olhos na minha direção. ―
Como você se sentiria se fosse você? ― ele pergunta, fingindo empilhar as cadeiras comigo, mas ele
é astuto e sei disso.
― Eu ficaria em êxtase ― eu digo.
― Você vai vê-la quando voltar para a cidade? ― ele pergunta. Eu levanto a perna da calça para
lembrá-lo da tornozeleira que estou usando. Ele sorri. ― Tenho a sensação de que isso não vai detê-
la.
― Espero que não. ― Eu respiro fundo. ― Eu gosto dela, Phil ― eu admito. ― Acho até que
estou apaixonado.
Ele para, mas não esboça expressão.
― Isso assusta você? ― ele pergunta.
Eu rio.
― Muito pelo contrário, na verdade ― eu admito. Eu me sinto esperançoso. E faz muito tempo
desde que me senti assim.
― Qual é o seu plano para quando você voltar, Pete? ― ele pergunta.
Eu puxo um pedaço de papel do bolso. Ele me disse para escrever meus planos. Torná-los reais.
E foi o que eu fiz. Eu começo a ler.
― Um: resolver as coisas com Sam. Dois: decidir o que quero para o meu futuro. Será que vou
querer fazer faculdade? Será que vou conseguir um emprego? Será que vou decidir o que eu quero
ser quando crescer?
Eu fecho o papel e o coloco de volta no bolso.
― Muito bom ― diz ele, acenando com a cabeça.
― Você acha que eu poderia fazer o que você faz? ― pergunto. ― Você ajuda vários garotos.
Ele balança a cabeça.
― Acho que você seria realmente bom no que faço.
― Talvez eu conseguisse evitar que alguns meninos acabassem na minha situação.
Ele balança a cabeça.
― Isso é um bom objetivo para se ter. Eu ficaria feliz em ajudá-lo a decidir se é isso que você
quer. Você poderia até mesmo vir trabalhar comigo por alguns dias e ver se lhe interessa. ― Ele olha
ao redor do acampamento. ― A maior parte do meu trabalho não é bem esse glamour, infelizmente. É
muito trabalho na prisão e centro de detenção juvenil.
Eu concordo. Eu ia gostar disso.
― Você sabe onde me encontrar quando chegar em casa.
Eu sei. E eu vou.
Volto a empilhar as cadeiras até que vejo Reagan caminhando em minha direção. Ela está
sorrindo, e seu cabelo está solto e balançando em seu rosto. Ela o afasta com as mãos e sorri para
mim.
― Oi, Pete ― diz ela. Ela remexe os seus pés e olha para baixo, nervosa. ― Meu pai veio? ―
ela pergunta. ― Com um machado?
Aperto meus lábios e tento não sorrir, mas ela é tão bonita que é difícil.
― Seu pai me assusta pra caralho ― eu admito.
Ela ri.
― Acho que é a intenção dele. ― Ela estreita os olhos para mim. ― Ele falou com você sobre
mim? ― ela pergunta.
Eu concordo.
― Ele se ofereceu alegremente para cortar fora certas partes da minha anatomia.
Ela parece desconfortável.
― Não, ele falou com você sobre os planos para Nova York?
Balanço minha cabeça.
― Quais são os planos? ― Paro de empilhar as cadeiras e viro o rosto para ela.
Ela remexe os dedos, mas não levanta o olhar para mim. Ela parece tão desconfortável que eu
imediatamente me sinto mal por ela. Eu me aproximo e levanto seu rosto.
― Quais são os planos? ― pergunto novamente.
Ela coloca as mãos no meu peito e olha nos meus olhos.
― Pete ― ela começa. Mas, então, ela para e balança a cabeça, em seguida, esconde o rosto em
minha camisa e geme. ― Eu me sinto tão estúpida ― diz ela em meu peito. Eu mal posso ouvi-la. Eu
puxo-a contra mim e a abraço, entrelaçando os dedos atrás das suas costas. Levanto a barra da sua
camisa e coloco minhas mãos contra sua pele. E ela me permite. Esta parte ainda me surpreende e me
faz derreter cada vez que eu a toco. Finalmente, ela olha para mim. ― Então, você vai voltar para a
cidade hoje.
Concordo com a cabeça e mantenho meus olhos fechados. Eu não quero nem pensar em deixá-la.
Mas acho que não tem outro jeito.
― Sim ― eu digo com um suspiro.
― Então ― diz ela, hesitante, inclinando o rosto para olhar para o meu. Seus olhos verdes
piscam para mim lentamente ―, eu estava pensando em voltar para a cidade hoje também.
Meu coração pula em meu peito. Seguro-a pelos ombros.
― Você está falando sério? ― pergunto. Eu mal posso respirar.
Seu rosto fica triste.
― Você não quer que eu vá ― ela diz baixinho.
Começo a rir e puxo-a contra mim, envolvendo meus braços firmemente em torno dela e começo
a girá-la tão rapidamente que ela tem que agarrar meus ombros.
― Claro que eu quero que você vá! Você está brincando? Eu estava preocupado pra caralho que
eu não a veria novamente ou que, se ficássemos algumas semanas longe um do outro, perderíamos o
que temos.
― O que nós temos, Pete? ― ela pergunta sorrindo.
― Você não sabe? ― pergunto.
Ela balança a cabeça.
― Eu não sou muito boa em ler as pessoas, Pete ― ela admite, corando.
Eu dou uma batidinha em seu nariz.
― Acho que estou me apaixonando por você, Reagan ― eu digo. Engulo em seco, porque há de
repente um caroço na minha garganta. Não sei de onde veio, e não importa o quanto tente engoli-lo,
não vai embora. Espero. Ela tem que dizer alguma coisa, certo?
― Que bom ― ela finalmente diz.
Que bom? É isso?
― Obrigada por me contar. ― Ela sorri e gira para andar em outra direção.
Eu agarro seu braço e puxo-a de volta para mim, e meu coração acelera porque ela não me soca,
nem me dá uma joelhada ou me empurra. Encosto-a contra uma árvore.
― É só isso? ― Meu coração está batendo como louco. Talvez ela não sinta o mesmo. Talvez eu
tenha falado cedo demais. Talvez eu seja um idiota.
― O que você quer? ― ela sussurra.
Coloco a palma da minha mão em seu rosto e olho para ela. Reagan é tão linda que mal posso
pensar quando estou tão perto dela.
― Quero que você me ame ― admito.
― Tudo bem ― ela fala. Suas bochechas ruborizam e achei que ela não poderia parecer mais
bonita do que há um minuto. Mas eu estava errado.
― Tudo bem? ― repito. Deus, agora eu soo como Link.
Ela solta um suspiro.
― Tudo bem. Certo. Não quero ficar longe de você. Não posso respirar quando eu penso que
você vai embora. Quero estar com você o tempo todo. Tudo certo. ― Ela pisca, e então diz: ― Você
está dentro de mim, Pete. E eu quero mantê-lo lá.
Porra. Essa é a melhor merda que já ouvi na minha vida. Não consigo nem formar um
pensamento.
De repente, ouço botas pisando em minha direção, e eu salto para longe de Reagan quando vejo
seu pai caminhando em nossa direção com aquele machado. Ele para e olha para mim.
― Pete, você pode me fazer um favor? ― ele pergunta. Ele não parece muito feliz, mas ele nunca
parece quando está perto de mim.
― O que você precisa, senhor? ― pergunto.
― Reagan está determinada a dirigir de volta para a cidade esta noite, e será tarde quando ela
chegar lá. ― Ele sacode o polegar na direção em que Phil está de pé. ― Então, perguntei a Phil se
você poderia ir com ela em vez de no ônibus, no caso de ela precisar ou algo assim.
Reagan sorri, e eu quero também, mas me forço a não fazer.
― Phil disse que está tudo bem? ― pergunto. Olho para onde Phil está de pé, e ele caminha.
― Você teria que estar em seu apartamento até a meia-noite ― diz Phil. ― Eu vou saber se você
não estiver. ― Ele faz um gesto em direção à minha tornozeleira de monitoramento.
― Vou levá-lo direto para casa ― Reagan resmunga. Ela está sorrindo, e eu quero sorrir com
ela.
― E os rapazes? ― pergunto.
― Você pode vê-los no dia seguinte, no grupo. Às onze, se você quiser ir lá. ― Ele arqueia a
sobrancelha para mim.
― Eu estarei lá ― eu digo. Quero ver esses meninos. Se eu puder ajudar ainda que seja apenas
um deles, vou me sentir melhor sobre o meu próprio passado.
― Obrigado, Pete ― diz o Sr. Caster. Ele bate em meu ombro e aperta um pouco demais, como
se estivesse me dando um aviso. Ele vai embora, deixando-me com Reagan.
― Vai ser muito tarde quando você me deixar ― eu digo.
Ela balança a cabeça.
― Eu sei.
― Não quero que você vá para casa, para um apartamento vazio, sozinha. Vou mandar um dos
meus irmãos com você quando você me deixar. ― Eu gostaria de poder ir com ela e levá-la até a
porta e fazer todas as coisas cavalheirescas que eu nunca quis fazer antes.
― Vou estar com Maggie ― ela me lembra.
― Ainda assim ― eu digo. Coloco uma mecha do seu cabelo atrás da orelha. ― Quer fazer uma
festa do pijama na minha casa? ― pergunto.
Seus olhos se arregalaram, e ela lambe os lábios. Ela está interessada. Eu posso dizer.
― Vou dormir no sofá ― eu digo. ― Vai me matar, mas vou fazer.
Ela balança a cabeça.
― Eu não vou ficar se você vai dormir no sofá.
Meu coração parece que vai sair pela boca.
― Eu não vou tirar você da sua própria cama ― diz ela, rindo nervosamente. Seus olhos
procuram os meus, e espero que ela não me observe muito profundamente porque não sei o que ela
vai encontrar. ― Eu vou ficar se você dormir lá comigo ― diz ela. Sua voz treme.
― Tudo bem ― eu digo em voz baixa. Mas meu estômago está fazendo cambalhotas. Ela dá um
passo na ponta dos pés e me beija rapidamente.
― Eu tenho que ir cuidar de algumas coisas ― ela sussurra. Ela me beija de novo, um pouco
mais lento neste momento. Nós vamos fazer uma festa do pijama. Ela, eu e seu cão.
― Maggie pode ficar também ― eu digo. Eu sou um idiota, mas eu não consigo nem pensar no
momento.
― Vou dizer a ela ― ela sussurra de brincadeira. ― Ela vai ficar tão animada.
Não tão animada quanto eu.
REAGAN

P ete parece ansioso no caminho para casa. Ele brinca com o rádio e com Maggie. Às vezes, sua
mão segura a minha e ele a aperta como se quisesse me tranquilizar.
― Tem certeza de que sua família não vai se incomodar se eu ficar com vocês esta noite? ―
pergunto.
Ele balança a cabeça.
― Tenho certeza. Sam está na faculdade e Emily e Logan estão morando no apartamento dela, não
sei porque se eles vivem mais no nosso do que no dela, segundo Matt. Sam e eu dividimos um quarto,
e, como ele não vai estar, você pode dormir na minha cama e eu durmo na dele.
Merda. Estava esperando que pudéssemos dormir juntos.
― Ou, talvez, nós poderíamos dormir no quarto de Logan, já que há uma cama de casal. Só não
quis presumir que você iria querer dormir comigo. ― Ele presta muita atenção às orelhas de Maggie
em vez de olhar para mim quando diz isso.
― Gosto da segunda opção ― eu falo em voz baixa. Jogo água no para-brisa, mesmo que ele não
precise ser lavado.
― Ah, é? ― ele pergunta em voz baixa e sorri. ― Eu estava esperando que você dissesse isso.
― Ele estremece um pouco. ― Preciso avisá-la de que nosso apartamento não é nada como a sua
casa. Não é em uma área boa da cidade e é bem pequeno.
― Nada disso importa para mim, Pete ― respondo. E estou dizendo a verdade. Só quero estar
com ele. Ele poderia viver em uma caixa de papelão que eu não me importaria. Balanço meu polegar
em direção a Maggie. ― Mas Maggie pode ser um pouco esnobe, no entanto. Então, talvez você
precise ter que mimá-la muito para mantê-la feliz.
― Maggie é fácil de satisfazer ― ele fala. Ela passou mal no carro e tivemos que parar por um
momento para limpá-lo. Pete foi ótimo com ela. ― Acho que ela me ama.
Ele é fácil de amar. Ele sorri para mim.
― Então, você dorme nua? ― ele pergunta. Seus olhos brilham.
Sinto meu rosto esquentar.
― Não! ― protesto. ― Claro que não.
Ele encosta a cabeça contra o assento, inclinando-a como um cachorrinho curioso.
― Então, você acha que eu poderia convencê-la a isso? ― Ele ri da cara engraçada que devo
estar fazendo.
― Talvez ― eu digo em voz baixa.
Ele respira fundo. Está surpreso.
― Não tenho certeza se posso manter minhas mãos longe de você a noite toda ― ele avisa, com a
voz calma, mas forte. Sua voz é mais profunda e mais rouca do que há um minuto.
― Quem disse que eu quero que você mantenha as mãos longe de mim?
Ele coloca a cabeça para trás e geme, colocando a mão em seu peito e respirando fundo.
― Minha virtude está em perigo, Srta. Caster? ― ele pergunta.
― Se eu tivesse que falar algo sobre o perigo de manter sua virtude, eu diria que sim ― eu
resmungo, mas ele é tão engraçado que não consigo deixar de sorrir.
― Chegamos ― ele fala e aponta para uma vaga do outro lado da rua. Eu estaciono e respiro
fundo. Não sei o que fazer, agora que estamos aqui.
― Tem certeza de que quer que eu fique? ― pergunto.
Ele balança a cabeça.
― É melhor você mandar uma mensagem para o seu pai e avisar que chegamos na cidade. ― Ele
coloca a coleira em Maggie e a ajuda a sair do carro. ― Enquanto você faz isso, vou dar uma volta
rápida com Maggie e, então, pego suas malas.
Concordo com a cabeça e digito a mensagem de texto para o meu pai. Pete faz sons de beijos
para Maggie até que ela o segue.
Eu: Chegamos!
Pai: Já está no seu apartamento? Está tudo certo?
Não quero mentir.
Eu: Não, estou no Pete. Vou conhecer sua família.
Pai: São onze e meia da noite, Reagan.
Eu: Está tudo bem, pai.
Pai: Tenho que dirigir até aí e matar esse garoto?
Eu: Hoje não.
Pai: Me avise quando for preciso.
Eu rio.
Eu: Ok.
Pai: Mande uma mensagem de texto amanhã, para me avisar que você está viva.
Eu: Amo você!
Pai: Também te amo.
Pete abre a minha porta e se inclina.
― Oi ― ele fala. ― Está pronta para subir?
Abro um sorriso, não consigo evitar. Me movo para sair, mas Pete me impede.
― Você sabe que não tenho qualquer expectativa sobre esta noite, certo? ― ele pergunta.
― Eu sei. ― E realmente sei. Ele nunca faria qualquer coisa que não fosse da minha vontade. ―
Ainda posso ficar?
Ele me puxa do carro e vai para o porta-malas para pegar minha bolsa. Mas é um grande saco. Eu
estava indo para casa, afinal de contas.
― Só essa ― eu falo, pegando minha bolsa menor. ― Posso passar a noite sem o resto das
coisas. Não tem porque arrastar tudo isso pelo elevador.
Ele ri.
― Você é muito mal-acostumada, não é? ― ele pergunta.
― O que eu fiz? ― Não entendo.
Ele coloca minha bolsa no ombro, junto com sua mochila e pega minha mão.
― Moramos no quarto andar. Sem elevador.
― Ah. Sou resistente. Aguento subir.
Ele aponta na direção do prédio.
― Tem certeza de que vai ficar bem com os meus irmãos? ― ele pergunta. Ele parece mais
desconfortável do que nunca.
― Pare de se preocupar ― eu falo. ― Não sou feita de vidro, Pete.
Este lugar não é nada como estou acostumada e eu pulo quando alguém passa por nós. Ele me
puxa para o seu lado.
― Estou com você ― ele fala, em voz baixa. Ele fala com tanta segurança e eu me sinto
completamente segura com ele. O muro ao lado do seu prédio é grafitado e eu paro para olhar.
― Vamos lá ― ele fala. ― Quero que você conheça a minha família.
Subimos quatro lances de escadas e andamos por um longo corredor. Pete gira a maçaneta e
indica que eu entre na sua frente. Eu entro, com Maggie logo atrás, e imediatamente ouço a TV. Há
homens empilhados como madeira por todos os lados. Alguém aperta o botão de pause na TV e todos
se voltam para nos encarar.
― Oi ― Pete fala. Ele coloca minha bolsa no chão, ao lado da dele, e caminhamos juntos para a
sala. Os rapazes se levantam e o maior deles caminha em nossa direção.
― Achei que você só chegaria mais tarde ― ele fala e me olha de cima a baixo, mas não de um
modo assustador. ― Quem é sua amiga? ― ele pergunta e estende a mão para que eu a aperte e eu o
cumprimento. ― Sou Paul ― ele fala. Ele é enorme e tem muito mais tatuagens do que Pete.
Há um outro cara atrás dele. Ele é magro e tem o cabelo comprido e loiro, que está preso com um
elástico em sua nuca.
― Matt ― ele fala, estendendo a mão para mim.
Então, vejo um cara e uma menina sentados no sofá. Ela é a loira que vi na prisão e me observa
com o olhar de um negociante de antiguidades, como se ela estivesse procurando todas as minhas
imperfeições.
― Emily ― ela fala com um aceno. ― Logan ― ela fala, dando um tapinha no peito de Logan.
Ele estende a mão e eu a aperto.
Mas há mais um, e minha respiração falha quando ele sai de trás de Logan. Ele parece muito com
Pete, deve ser Sam. Olho de um para o outro.
― Eu sou o mais bonito ― Sam fala. Ele estica o braço como se quisesse me abraçar, mas eu
recuo. Não consigo evitar. Já percorri um longo caminho, mas não fui tão longe. ― É bom conhecê-
la.
Estendo a mão, mas, em vez de apertá-la, ele leva-a aos lábios. Seu bigodinho curto toca a minha
mão. Remexo os dedos para sair do seu controle, e Pete olha para ele.
― Mantenha suas mãos longe da minha garota ― ele rosna. Mas, em seguida, ele abre os braços
e Sam o envolve. Eles se abraçam da forma como os homens fazem, com muitos tapinhas e palavras
murmuradas.
― Estou feliz por você estar aqui ― Pete fala.
― Você me chamou, eu vim. Como um bom irmão mais velho.
― Oito minutos ― Pete grunhe de brincadeira. Ele passa um braço em volta dos meus ombros.
― Ele nasceu oito minutos antes de mim e acha que é o fodão porque é mais velho.
Ele tosse em seu punho.
― Desculpe. Sou o fodão. ― Ele sorri. Ele parece tanto com Pete que é quase perturbador.
― Eu acho que vocês são dois merdas ― Paul fala, vai para a geladeira e pega uma cerveja.
― Você quer algo para beber? ― Pete me pergunta baixinho.
Balanço minha cabeça.
Ele coloca as mãos em cada lado do meu rosto.
― Você parece um pouco cansada. Quer ir para a cama?
Eu concordo.
― Nós provavelmente deveríamos.
Ele sorri. Acho que ele gosta da parte do nós.
― Posso tomar um banho antes? ― pergunto. Ficamos horas no carro, e me sinto meio encardida.
E eu gostaria de estar limpa quando me aconchegasse nua a Pete, pela primeira vez.
Ele balança a cabeça e me leva até o banheiro, onde ele acende a luz. Ele pega toalhas e as
coloca sobre o balcão para mim.
― Você precisa de ajuda para tirar a roupa? ― ele pergunta e balança as sobrancelhas para mim,
brincando.
― Sim ― eu falo e fecho a porta atrás de nós.
PETE

M erda. Ela disse que sim.


Ela empurra a porta, que se fecha atrás de mim, e eu congelo. Quero tocar nela, mas minha
família está do outro lado da porta.
― Você precisa de shampoo ou algo assim? ― pergunto novamente. Passo por trás dela e abro a
cortina do box. Ainda tem coisas perfumadas de menina, de quando Emily vivia conosco.
― Gosto da sua família ― ela fala e envolve os braços ao redor da minha cintura. Ela deita a
cabeça em meu peito e me cheira, fazendo meu coração derreter como toda vez que ela me toca.
― Estou feliz. ― Eu a abraço. Tinha estado preocupado que ela ficasse assustada. É muita
testosterona numa casa só. Por sorte, Emily estava aqui também.
Finalmente, ela se afasta de mim.
― Ok ― ela sussurra. ― Você pode ir. ― Ela acena em direção à porta.
Eu a beijo, demorando um pouco mais em seus lábios, mas ela não se afasta de mim. Eu gemo,
empurro-a levemente para trás e ajusto minha calça. Saio do banheiro e fecho a porta atrás de mim,
ouvindo o som da tranca. Inclino minha cabeça contra a porta e respiro por um momento. Mas, então,
viro e vejo Sam parado lá.
― Ela é quem eu acho que é? ― ele pergunta baixinho, com o ombro encostado na parede e os
pés cruzados.
― Quem você acha que ela é? ― eu pergunto, seguindo para o armário e retirando lençóis
limpos para colocar na cama de casal do antigo quarto de Logan.
― A garota daquela noite ― diz ele em voz baixa. Ele, obviamente, não quer que mais ninguém
ouça. Pedi aos meus irmãos para ficarem de olho nela. Claro que ele sabe quem ela é. Paul ou Matt
devem ter dito a ele.
Eu concordo. Ele me segue para o quarto e me ajuda a tirar a roupa de cama, e começamos a
colocar os lençóis limpos.
― Como você acabou ficando com ela? ― pergunta ele.
― Ela veio me procurar, quando saí ― eu digo. Não posso explicar mais do que isso. Ela é a
razão pela qual eu estava no acampamento. Não deixa de ser verdade.
― Você gosta dela? ― ele pergunta enquanto enfia a ponta do lençol no colchão.
Eu concordo.
― Muito ― eu admito.
― Uau. ― Ele suspira. Sua testa franze. ― Você está apaixonado por ela.
Aceno, sorrio e sinto meu rosto esquentar.
― Muito ― falo novamente.
Maggie entra no quarto e deita-se aos meus pés.
― Belo cão ― diz ele.
― Ela é uma assassina treinada ― eu falo.
Ele ri.
― Até parece.
― Tente chegar perto de Reagan e veja o que acontece ― eu aviso. Não estou brincando. Essa
cadela quase me fez mijar nas calças naquela noite.
― Acho melhor não ― ele fala. ― Então, você está bem? ― ele pergunta.
― Desculpe-me ― eu deixo escapar. Ele olha para cima, chocado.
― Por quê? ― Sua testa franze.
― Por ter te ignorado. Por não responder suas cartas. Por ter sido bruto com você quando lhe
disse para correr.
Ele abre a boca espantado, como se não soubesse o que dizer.
― Eu deveria ter ficado.
― Não quis que você ficasse. ― Dou um suspiro profundo. ― Eu estava com inveja ― admito.
Dói pra cacete, mas é a verdade. ― Você foi para a faculdade e começou a viver o meu sonho. E eu
não estava lá. ― Nós nunca, nunca mesmo, nos separamos antes disso.
Ele senta na beira da cama.
― Fomos muito estúpidos em trabalhar com Bones, mesmo sabendo que era errado.
Eu concordo.
― Dois idiotas.
― Nós deveríamos ter pensado melhor.
― Sim. ― Sento-me ao lado dele.
― Você quer me beijar e fazer as pazes agora? ― ele pergunta, sorrindo.
Aproximo-me mais e o abraço, puxando-o para a cama no processo e ele envolve seu braço em
volta de mim. Começamos a lutar e ele me vira na cama. Tento escapar do seu abraço e é minha vez
de estar no topo. Ele faz um barulho, porque sabe que vou afrouxar o aperto e, então, ele me vira
novamente. Estou prestes a empurrá-lo quando ouço Maggie. Sam congela em cima de mim e olha
para baixo.
Merda. Maggie está com os dentes à mostra para ele e está rosnando.
― Acho que você vai querer me soltar ― falo.
― Ela vai me morder? ― ele pergunta.
― Porra, não sei. ― Ele levanta as mãos e vai para o outro lado do quarto. Maggie pula em cima
da cama, ficando entre nós dois e rosna.
― Mags ― eu a chamo, como Reagan. Maggie vira e desliza a cabeça para debaixo da minha
mão. Solto uma risadinha. ― Essa merda é engraçada.
Sam parece não concordar, se sua carranca é uma indicação.
― Você me trocou por um cão de merda ― ele fala, mas um sorriso aparece em seu rosto.
Acaricio Maggie atrás das orelhas. Ela me ama.
― Está tudo bem, garota ― falo para ela. Ela cheira minhas mãos, os olhos indo e voltando entre
Sam e mim. ― Ela pode nos diferenciar. Que coisa!
Sam sai do quarto e eu o sigo, com Maggie logo atrás de mim. Sento-me no sofá, e ela cai aos
meus pés, colocando a cabeça em suas patas.
Eles ainda estão com o filme desligado, e posso dizer que eles estão esperando para me
enquadrar.
― Vocês dois já fizeram a maquiagem? ― Paul fala nos sacaneando, enquanto cruza um pé sobre
sua perna. Ele está tentando parecer casual, mas nós sabemos que não há nada de casual quando ele
fala sério sobre algo. E ele está falando sério sobre isso.
― Nós tentamos, mas Pete mandou seu cachorro me atacar ― Sam implica. Ele senta-se no braço
do sofá. Emily está no colo de Logan na cadeira do papai, e Matt e Paul estão no outro sofá.
― Quem é a garota? ― Paul pergunta, apontando o polegar na direção do banheiro.
Olho para lá e sinto meu coração apertar só de pensar nela.
― O nome dela é Reagan. Você não se importa que ela passe a noite, né?
Sam levanta a mão como se estivesse pedindo para fazer uma pergunta.
― Ela pode dormir no meu quarto.
Lanço uma almofada em sua cabeça, mas ele desvia e a segura.
― Aquela Reagan? ― Matt pergunta. Ele pega uma lata de nozes da mesa de centro e coloca um
punhado na boca.
― Sim ― respondo. ― Mas não toque nesse assunto com ela, tá? ― Eles sabem sobre o estupro.
― E não aja como se sentisse pena dela, quando ela estiver por perto, tudo bem? Ela é muito fechada
sobre isso.
― Não tenho pena dela ― Emily fala. ― Eu a admiro muito.
Ela rouba as nozes de Matt. Ele tenta pegar de volta, mas está brincando. Ele adora Emily. Todos
nós adoramos.
― Bom, eu a adoro, então, por favor, sejam legais com ela.
Meus irmãos congelam. Todos, menos Sam, que está ocupado tentando roubar as nozes de Emily.
Ela dá um tapa em sua cabeça e ele desiste, mal-humorado.
― Você a ama? ― Paul pergunta baixinho.
Não consigo tirar o sorriso do rosto.
― Sim.
― Ele está enfeitiçado ― Sam fala. ― Sabe, daquele jeito que o cara transa com uma garota
pela primeira vez e não consegue parar de pensar em fazer mais e mais.
Jogo outra almofada em sua direção.
― Nós não fizemos isso ― falo em voz baixa. Olho para a porta, não quero que ela me ouça.
― Não? ― Matt pergunta. Ele se aproxima e senta em cima de Emily, que ainda está no colo de
Logan, e rouba as nozes dela. Ela se contorce e, finalmente, desiste. Ele estende uma para ela, que
abre a boca como um pássaro para que ele possa colocar. Então, ele sai de cima dela.
― Não. ― Deus, eles são intrometidos. ― Ela tem um apartamento na cidade, mais perto de
onde Emily mora.
― Ah, então podemos levá-la para casa ― Emily fala, mas já está assediando Matt com a lata de
nozes novamente. Ele vira para o outro lado do sofá, protegendo-se com o cotovelo e come enquanto
se recusa a deixá-la pegar. ― Logan! ― ela chama, mas está rindo.
Logan apenas sorri.
― Quero que ela fique aqui ― eu digo, balançando a cabeça para Emily. Matt permite que ela
pegue, ela então se inclina contra ele, com a cabeça em seu ombro. Ele gosta de ficar abraçado com
ela. Ela é como uma irmã para todos nós, e espero que Reagan se encaixe como Emily, um dia. Mas
eu realmente não consigo imaginá-la lutando com eles do jeito que Emily faz.
― O que aconteceu com seu olho? ― Paul pergunta. Meu olho ainda está um pouco azulado, de
quando ela me bateu.
― Reagan me bateu ― eu admito. Logan sorri.
― Case com ela ― diz Logan. ― Case com ela imediatamente.
Eu concordo.
― Acho que sim ― eu digo em voz baixa e vejo seus rostos. Todos olham para mim, e, em
seguida, Logan começa a rir. Ele se levanta e bate a palma da sua mão na minha.
― Graças a Deus ― diz ele. ― Achei que Emily seria a única garota da família para sempre.
― Emily não é uma garota ― Matt fala, fazendo uma careta com o pensamento dele. Ela sorri.
Mas ela realmente não é. Não para qualquer um de nós.
― Então, vocês vão ser legais com ela, certo? ― pergunto.
― Dã ― Sam fala, rolando os olhos, enquanto vai na cozinha pegar uma cerveja. Ele traz uma
para mim, mas eu balanço a cabeça. Vou ter Reagan pela primeira vez em meus braços, esta noite, e
quero manter minha cabeça limpa.
Ouço a porta do banheiro abrir e levanto. Reagan caminha até o meu lado e sussurra:
― Qual é o nosso quarto? ― Seu cabelo está solto e úmido, pendendo sobre os ombros. Seu
rosto está sem maquiagem, e ela cheira tão bem que quero lambê-la. Ajeito minha calça e Matt dá
uma risadinha. Olho feio para ele, que acena em direção ao quarto. É um aviso sutil, mas eu entendo.
― Foi bom conhecer você, Reagan― diz ele.
― Igualmente ― ela responde, mas já estou conduzindo-a para o nosso quarto. Eu espero Maggie
entrar no quarto com a gente e, em seguida, fecho e tranco a porta. Ela olha em volta.
― Estou nervosa ― diz ela rapidamente. Ela segura sua bolsa, e percebo que está vestindo as
mesmas roupas de antes.
― Você precisa de algo para dormir? ― pergunto.
Ela balança a cabeça e sorri timidamente para mim, evitando o meu olhar.
― Você poderia virar-se por um segundo? ― ela pergunta.
Eu sorrio e fico feliz pra caramba que ela pediu. Ouço um farfalhar de roupas e lençóis atrás de
mim e, quando olho para trás, ela está deslizando entre os lençóis da cama que vamos compartilhar.
E ela está completamente nua.
― O que você está fazendo? ― pergunto.
― Indo para a cama ― diz ela, olhando para mim como se eu tivesse louco. Ela rola para o lado
dela da cama e descansa a cabeça na palma da sua mão, o cotovelo apontado para a cabeceira da
cama. Ela dá um tapinha no espaço ao lado dela. ― Você vem?
Sua voz está tremendo, então eu sei que ela não está tão tranquila quanto ela quer que eu pense.
Aponto para seu corpo debaixo das cobertas.
― Você está sua sob isso?
Ela levanta a ponta do cobertor e olha para baixo.
― Ainda estou de calcinha ― ela sussurra.
Jesus Cristo. Passo a mão pelo meu cabelo.
― Ok ― eu digo lentamente.
Tiro meus sapatos e sento-me à beira da cama para tirar as meias. Tido os jeans e puxo a
camiseta sobre a cabeça. Deslizo por entre os lençóis, ainda usando a boxer, tentando ficar longe
dela, para que ela não veja o quanto meu pau está duro. A última coisa que quero é assustá-la.
Sinto a ponta dos dedos no meu braço e solto um suspiro.
― Jesus ― eu digo.
Seus dedos ainda estão em mim.
― O que há de errado? ― ela pergunta.
― Nada ― murmuro.
Ela se senta.
― Você tem certeza? ― Ela agarra a colcha contra o peito.
― Sim ― falo. Seus dedos começam a traçar minhas tatuagens novamente.
― Você acha que você poderia fazer uma tatuagem em mim? ― ela pergunta.
Finalmente, um tema seguro.
― O que você quer? ― pergunto e rolo para encará-la.
Ela encolhe os ombros.
― Eu não sei.
Viro em direção à mesa de cabeceira e abro a gaveta. Esse costumava ser o quarto de Logan e ele
é um artista, por isso há uma gaveta cheia de canetas e marcadores. Pego algumas e coloco-as na
cama.
― Vire-se ― eu digo.
― Por quê? ― Sua testa franze.
― Apenas confie em mim ― eu digo, e faço um movimento para ela rolar, novamente. Ela faz,
olhando para mim por cima do ombro enquanto se vira. Ela está enrolada no cobertor quase até os
ombros. ― Posso abaixar isso um pouco? ― pergunto.
Ela balança a cabeça e passa o braço ao redor do travesseiro, então descansa seu rosto nele. Ela
sorri suavemente.
― Tudo bem ― diz ela calmamente, mas sua respiração parece mais acelerada agora. Seu braço
está arrepiado, assim como a parte de trás do seu pescoço.
Abro a caneta e toco-a em suas costas, desenhando rapidamente uma borboleta.
― Podemos fazer uma borboleta como esta.
Ela olha para trás, virando um pouco para olhar para o que eu desenhei, e eu vejo o lado de seu
peito nu. Bom Deus. Esfrego uma mão pelo meu rosto.
― Eu gosto dela, mas eu estava pensando numa mais delicada, com videiras. Talvez aqui do
lado. ― Ela abaixa a coberta, e posso ver o topo da sua bunda e o elástico da calcinha.
― Você quer espinhos? ― pergunto quando começo a desenhar.
Ela balança a cabeça, rindo enquanto eu me movo para o seu lado.
― Isso faz cócegas ― ela ri.
― O que você escolher, vamos pedir a Logan para desenhar, então com certeza vai ficar
espetacular. Aí, eu posso tatuar em você. ― Desenho por toda a sua lateral e, em seguida, coloco
uma flor no lado do seu peito. Sou um cara. Não tenho como não tocá-la. Sim. Eu quero. ― Vire só
um pouco.
― Por quê? ― ela pergunta, mas já está cobrindo os seios com as mãos enquanto vira. Apoio as
pontas dos dedos sobre seu seio esquerdo para que eu possa terminar meu desenho. Acho que pego
um flash de seu mamilo, e minha respiração falha.
― Lindo ― murmuro.
― Posso ver? ― ela pergunta em voz baixa.
― Não até que eu termine. ― Ela relaxa enquanto eu continuo desenhando pelo seu estômago.
Então, eu a viro de costas novamente. ― Podíamos fazer uma tramp stamp ― eu falo.
― O que é isso?
― Uma tatuagem sobre o seu bumbum. São muito populares. ― Começo a escrever algumas
palavras sobre seu bumbum, mas o elástico da sua roupa fica no meu caminho. ― Posso abaixar um
pouco? ― pergunto. Estou em território perigoso e sei disso.
― Sim ― ela respira fundo.
Dobro sua calcinha mais para baixo, para que eu possa ver o topo das suas nádegas. Sorrio
enquanto desenho. Porra, eu amo que ela confie tanto em mim.
― Você definitivamente precisa de uma tatuagem aqui ― eu digo. Balanço meus quadris contra o
colchão, tentando ajustar e aliviar um pouco a dor em minhas bolas. Não funciona.
Dou-lhe a minha camisa para cobrir seus peitos porque não aguento ficar olhando para eles
escaparem por entre seus dedos, quando ela rola. Eu gentilmente viro-a e coloco minha camisa sobre
seus seios, para que eu possa ver a sua barriga. É plana, e os quadris são curvos. Puxo a calcinha
para baixo um pouco para que eu possa desenhar no lado de seu quadril.
― Você pode tirá-la ― ela sussurra. Suas palavras são suaves, mas caem como uma bomba em
meus ouvidos. Estou de joelhos entre suas pernas dobradas, e olho para o rosto dela.
― Tem certeza? ― pergunto.
Não consigo evitar de lembrar da última vez que a ajudei com a calcinha, mas eu afasto essas
memórias e beijo o interior da sua coxa antes de puxar sua roupa íntima para baixo e atirá-la para o
lado. Tiro-a, mas continuo com os cobertores amontoados sobre a área em que não estou trabalhando.
Beijo seu umbigo e mergulho minha língua nele. Ela se contorce.
― Deveríamos perfurar aqui ― falo. ― Você tem uma barriga perfeita para isso.
― Onde mais você colocaria um piercing em mim? ― ela pergunta. Sua voz está trêmula e eu
adoro isso, porra. Ela está tão ligada que ergue seus quadris na direção do meu rosto, enquanto
desenho a parte que fica logo acima dos seus pelos encaracolados e curtos, que cobrem seu monte.
Puxo os cobertores e passo os dedos, mergulhando-os em sua fenda molhada.
― Aqui ― eu digo.
― Aí? ― Ela suspira, mas se contorce contra minha mão, então eu empurro meus dedos um
pouco mais. Abro muito suavemente suas pernas e coloco as canetas para o lado. ― Acabou de me
tatuar? ― ela pergunta, respirando como se tivesse corrido dez quilômetros em cinco minutos.
― Posso te beijar? ― pergunto. Eu não quero fazer nada que ela não queira.
― Você teria que vir até aqui para isso ― diz ela.
Passo meu polegar em seu clitóris, espalhando-a para que eu possa ver o que estou fazendo.
― Não ― eu digo. ― Eu quero dizer aqui embaixo.
Sua respiração falha.
― Você quer? ― ela pergunta e ajusta os travesseiros atrás dela para que fique mais elevada,
numa posição em que ela possa me assistir.
Eu rio.
― Oh, sim, eu quero ― eu digo. O clitóris está inchado, e eu o empurro com o polegar. Inclino-
me e a lambo. Quero deslizar o dedo para dentro dela, mas tenho medo que ela não esteja pronta para
isso. Tenho medo de tudo, no que se refere a ela, porque não quero estragar o que temos. ― Quero
lamber você até que você goze em meu rosto.
Ela geme quando baixo a cabeça e chupo seu clitóris. Seus joelhos levantam para que ela possa
balançar contra a minha boca. Olho para cima e vejo-a morder os lábios, enquanto seus olhos se
fecham.
― Pete ― ela geme. Aceno, mas continuo a chupar. Ela está tão molhada e aberta para mim, além
do fato de ela confiar em mim, faz com que essa seja a coisa mais perfeita que já fiz na vida. ― Pete
― ela geme novamente. Seus dedos deslizam por meus cabelos e ela me empurra para a esquerda. Eu
permito que ela controle um pouco, mas, então, assumo novamente o domínio sobre seu clitóris. Ela
grita quando eu o chupo novamente, sua respiração irregular e instável. ― Pete ― ela geme
novamente. ― Pete, Pete, Pete ― ela geme. Seus olhos se fecham e sua cabeça cai para trás, e então
ela chega ao clímax. Seguro sua mão e entrelaço meus dedos nos dela quando ela tenta empurrar
minha cabeça. Os movimentos da minha língua ficam mais gentis e ela relaxa, seu corpo pulsando
enquanto ela faz isso. Ela goza no meu rosto e eu amo o que a faço sentir. Ela treme e balança,
fazendo todos aqueles ruídos que me deixam louco. Ela empurra minha testa e sussurra: ― Eu não
aguento mais. Por favor, Pete. ― Mas ela ainda está estremecendo e eu continuo a estimulá-la. Então,
abro-a com meus polegares e a lambo de cima para baixo, mais e mais. Ela está tão molhada e tem
um gosto tão bom, além desses pequenos tremores que ainda tomam seu corpo. Limpo meu rosto na
parte interna da sua coxa e subo por seu corpo. ― Oh, meu Deus ― ela geme. Seu corpo macio está
relaxado debaixo de mim. Eu a beijo e espero que ela possa notar que estou feliz pra caramba pelo
que ela me deixou fazer. Ela levanta a cabeça. ― Você faz alguma coisa que não seja épica? ― Ela
ri. É um som feliz, e eu quero ser o responsável por ele mais e mais.
― Eu sou o cara ― eu digo e a beijo, mordiscando seu lábio inferior. Estou muito duro contra
sua barriga e tenho medo de assustá-la.
― E quanto a você, Pete? ― ela pergunta e desliza os dedos pela minha barriga, seus olhos bem
abertos enquanto ela alcança meu membro e envolve seus dedos ao meu redor e me segura com
firmeza.
Enterro meu rosto em seu pescoço. Eu só vou deixá-la me tocar por um segundo. Mas um segundo
é tudo o que preciso.
― Oh, merda ― eu gemo, sentindo seu toque e gozo em sua mão. Fecho os olhos enquanto ela faz
um som feliz e me seguro com mais firmeza ainda. Empurro em seu punho, que agora está molhado
com meu prazer. Ela passa o polegar na ponta a cada impulso do meu quadril. Ela está me tocando e
vejo que fiz uma sujeira enorme na sua barriga. Olho para cima e vejo seu rosto. Ela está rindo. Acho
que nunca vi seu olhar tão feliz. Ela me abraça com a mão limpa e me mantém apertado contra ela.
Sua outra mão ainda está presa entre nós e ela ainda está segurando meu pau. Puxo meus quadris para
trás, tentando sair do seu aperto, e gemo quando ela me aperta com mais força. Jogo a camisa que
está sobre seus seios para o lado e coloco minha testa contra a sua pele nua, tentando recuperar o
fôlego. ― Sinto muito ― eu falo. Eu não queria fazer isso.
Ela segura meu rosto e o levanta para que eu possa olhar para ela. Ela está sorrindo.
― Você está brincando? ― Ela ri. ― Isso foi incrível.
― Sim, foi mesmo ― eu falo e a beijo. Não consigo parar. ― Estamos uma bagunça ― advirto.
― Eu não me importo. ― Ela ri, e eu nunca, nunca ouvi um som mais feliz.
― Você está bem? ― pergunto. E se ela estiver delirando do stress pós-clímax?
Ela coloca a cabeça para trás contra o travesseiro, o peito tremendo de tanto rir.
― Acho que gozei no seu rosto ― ela responde e ri novamente.
Eu rio também. Não consigo evitar. Sua felicidade é contagiosa. Ela está loucamente feliz. Assim
como eu.
REAGAN

A cordo nos braços de Pete, nossos membros nus e entrelaçados. Pete tinha tirado sua cueca samba
canção para limpar a bagunça entre nós e, então, deitou nu na cama, assim como eu. Ele me puxou
contra seu peito e beijou minha testa, murmurando baixinho sobre como eu era incrível. Não acho que
foi tão surpreendente para ele quanto foi para mim. Ele teve que trabalhar para me fazer chegar lá, e
tudo o que precisei fazer foi tocá-lo muito rapidamente. Sorrio contra meu travesseiro ao pensar nele.
Perfeito. Era isso. Perfeito.
Ele se mexe quando eu começo a me mover e seus braços me puxam para ele. Mas agora sei o
que me acordou. Maggie está pedindo atenção ao lado da cama e preciso me levantar. Vou ter que
ligar para o veterinário. Isso não é normal para ela, de jeito nenhum. Acho que ele pode esperar até o
sol raiar. Olho para o relógio na mesa de cabeceira, ainda nem é de manhã.
― Já volto ― sussurro para Pete. Ele rola em seu travesseiro e nem tenho certeza de que está
acordado. Ele faz um som baixo, mas é mais um murmúrio. Puxo a camiseta de Pete sobre a cabeça e
visto minha calça jeans. Calço o chinelo de Pete. Ele não vai se importar. Não estou usando calcinha,
mas só preciso ir ao banheiro e encontrar algo para limpar a bagunça de Maggie. Faço um carinho em
sua cabeça e ela me olha como se estivesse arrependida. O corredor está escuro quando saio, e levo
um minuto para me orientar.
Volto, limpo o chão e vou fazer xixi rapidamente, mas, quando volto, Maggie está em pé na porta
da frente, arranhando-a. Ela precisa sair. É meio da noite e não estamos numa boa parte da cidade.
― Oh, Mags ― falo. ― Não pode esperar? ― Jogo a cabeça para trás e solto um gemido. Acho
que vou acordar Pete. Eu realmente não quero ir lá fora sozinha. Então, de toda forma, lembro que
vou estar com Maggie.
Papéis farfalham na mesa da cozinha e eu levo um susto. Um dos irmãos está sentado lá, e ele
fecha um livro que está na sua frente. É aquele com rabo de cavalo – Matt? Ele coloca a caneta sobre
a mesa e pergunta baixinho.
― Ela precisa sair? ― Ele se levanta e calça os sapatos. ― Vou levá-la. ― Ele caminha em
minha direção.
― Você não precisa se incomodar ― falo. Dou um passo para trás e Maggie rosna para ele. Ele
afasta as mãos. ― Mags ― eu a repreendo. Ela enterra a cabeça em minha mão e, então, corre de
volta para a porta, voltando a arranhá-la. ― Vou levá-la lá fora rapidinho ― falo e volto para o
quarto, pegando a coleira de Maggie e prendendo-a em seu pescoço.
Abro a porta e saio, mas, antes que eu consiga fechá-la atrás de mim, Matt se junta a mim.
― Você não tem a obrigação de ir ― falo.
Ele coloca as mãos nos bolsos e passa por mim, abrindo a porta em direção à escada. Ele não dá
uma palavra. Só caminha conosco para fora, em direção à rua, nos levando a uma área gramada e
com árvores. É pequeno, mas vai servir. Maggie imediatamente faz xixi e volta a andar em círculos
ao redor das minhas pernas.
― Pronto? ― ele pergunta, enquanto afasta os cabelos que escaparam do elástico. Ele não se
parece muito com Pete, não é tão largo quanto ele, mas posso dizer que ele é magro e forte. Ele não
me faz sentir ameaçada, e isso me surpreende. Os homens, em geral, costumam me apavorar.
― Sim ― eu falo e começamos a voltar para o apartamento.
A cidade não está dormindo. Eu duvido que ela durma, e alguns homens a pé passam por nós
usando bonés e camisas de futebol. Eu aperto o passo e fico ao lado de Matt. Ele coloca as mãos nos
meus ombros e diz:
― Cuidado. ― Ele aperta meus ombros suavemente, e, em seguida, recua. Ele segura a porta, e
eu passo por ela sem tocá-lo. Mas, lá no meu íntimo, fiquei pensando que ele não fez minha pele
arrepiar. ― Você está bem? ― ele pergunta quando nós começamos a subir as escadas.
Eu concordo, mas estou com um grande nó na garganta. Tenho oficialmente três homens em minha
vida que não me assustam: meu pai, Pete e esse cara que nem conheço. E o fato de que não o
conheço, mas não me sinto mal por ele me tocar, me espanta.
― Obrigada por me acompanhar ― eu falo.
― Eu não podia deixar a garota de Pete sair sozinha, no escuro. Ele nunca me perdoaria. ― Meu
estômago dá um nó com sua escolha de palavras. A garota de Pete.
― Eu acabaria acordando-o. Acho que ele não se importaria.
Ele bufa.
― Você nunca viu Pete na parte da manhã, né?
Acho que não. Não quando ele sai da cama.
― Não ― admito. Mas, até hoje, ele nunca havia gozado em minha mão, então acho que estou
começando a aprender as coisas sobre ele; como ele fica de manhã é só uma delas.
Estamos no meio das escadas quando percebo que Maggie não está nos acompanhando. Eu a tirei
da coleira ao passarmos pela porta, porque ela sempre me segue muito de perto. Olho para baixo e a
vejo no andar de baixo, deitada no chão, ofegante.
― Maggs? ― chamo. Ando em direção a ela, que se arrasta até meus pés. Mas ela está exausta e
se recusa a subir as escadas,
― Será que ela me deixaria levá-la?
Eu duvido. Eu mesma posso carregá-la, mas, antes que eu possa dizer isso, ele vai até ela,
permite que ela cheire sua mão e acaricia sua cabeça e suas costas. Então, ele a ergue nos braços e a
leva até as escadas. Ela não se queixa, nem tenta mordê-lo.
Ele espera que eu entre no apartamento, coloca-a para baixo e, então, se senta no chão, deixando-
a ficar em seu colo.
― Ela não costuma gostar de pessoas ― eu digo.
Ele sorri.
― Eles podem dizer quando somos inofensivos ― diz ele em voz baixa. ― Você quer que eu
encontre um veterinário, hoje à noite? ― ele pergunta.
― Acho que ela vai ficar bem até de manhã, não é? ― Eu nunca sei o que fazer em emergências.
Eu nunca tive de lidar com uma sozinha.
― Provavelmente ― diz ele, que se levanta e eu percebo como ele é grande. Ele não é tão alto
quanto Pete, mas tem tantas tatuagens quanto ele, mas Matt é... diferente. É difícil de explicar. ―
Quer beber alguma coisa? ― ele pergunta baixinho enquanto vai para a geladeira.
Eu aceno e ele me entrega uma garrafa de água. Vejo-o tirar um pote de sorvete da geladeira. É
Rocky Road, meu favorito.
― Quer um pouco? ― ele sussurra e pega duas taças, colocando sorvete em cada uma delas.
― Nós acordamos você? ― pergunto, sentando à mesa, quando ele me dá uma tigela e uma
colher.
― Não. ― Ele balança a cabeça. ― Às vezes, eu não durmo bem, então eu levanto e escrevo. ―
Ele dá de ombros. ― Isso ajuda a arejar minha mente.
― O que você escreve? ― pergunto.
― É uma espécie de diário ― ele fala. ― Eles me fizeram começar a fazer isso quando acharam
que eu iria morrer. ― Ele ri, mas não há humor na sua risada.
Tiro a colher da boca. Este sorvete é muito bom mesmo.
― Você está melhor agora, não é?
― Acho que sim ― ele fala. ― Tenho que voltar semana que vem para refazer os exames.
― Oh. ― Não sei o que dizer.
― Posso te perguntar uma coisa? ― ele pede.
― Acho que sim.
― O que você sente por Pete ― diz ele ― é afeição verdadeira? Ou gratidão?
Engasgo com meu sorvete. Ele não desce. Quando finalmente consigo engolir, respondo:
― Não consigo definir tão facilmente.
― Experimente ― ele fala. ― Ele é meu irmão. Estou preocupado.
Aponto a colher em direção ao meu peito.
― Comigo?
― Sim ― ele resmunga. ― Meu irmão mais novo está apaixonado ― ele fala e sorri
suavemente. ― Estou feliz por ele, mas, ainda assim, não quero vê-lo se machucar.
― Também não quero isso. ― O sorvete gela meu corpo. ― Nós ainda estamos vendo aonde
isso vai dar.
Ele sorri.
― Fico feliz em ouvir isso. ― Ele limpa a garganta. ― Já vi Pete com várias mulheres, mas ele
nunca olhou para nenhuma como olha para você.
Uau. Não sei como responder.
― Só tenha cuidado com ele, está bem? ― ele fala.
A porta do corredor faz barulho e eu ouço rápidos passos. Uma menina loira está no corredor e
olha de longe para mim. Ela usa uma camisola da Sininho.
― Oi ― eu falo e olho para Matt, mas ele apenas ri.
― Você não deveria estar aqui ― ele fala e faz um gesto para ela se aproximar. Então, ela se
instala em seu colo. ― Acho que ela consegue sentir o cheiro de sorvete a quilômetros de distância.
― Ele ri e afasta os cabelos do rosto dela com delicadeza.
― Ela é sua?
Ele ri.
― De Paul. Ela fica aqui a cada duas semanas. Quando você chegou, ela já estava na cama. ―
Ele volta-se para ela. ― Fale seu nome para ela.
― Meu nome é Hayley ― diz ela, lambendo os lábios e olhando para a tigela dele. Ele solta um
suspiro e entrega a colher, mas está sorrindo.
― Hayley, esta é Reagan. Ela é a namorada do Pete.
Meu coração incha com suas palavras.
― É muito bom conhecer você ― eu falo.
Ela não afasta os olhos do sorvete até que a colher caia na tigela vazia.
― Acho bom você voltar para a cama, antes que seu pai descubra que você fugiu ― ele fala e a
coloca no chão. Ela o beija no rosto e corre de volta para o corredor, seguindo para o quarto.
― Ela é adorável ― eu digo.
― Acho que adorável não é bem a palavra certa para descrever Hayley ― ele fala com uma
risada. ― Ela vai fazer cinco anos.
― Você tem filhos? ― pergunto.
Seus olhos azuis encontraram os meus, e eles estão cheios de tristeza.
― Crianças não estão no meu futuro. Eu adoraria ter filhos, mas, depois do tratamento, há uma
boa chance de não acontecer. ― Ele afasta o cabelo do rosto e os prende novamente com o elástico.
― Então, preciso mimar Hayley. Paul me mataria se descobrisse que ela estava tomando sorvete no
meio da noite.
Levo nossas tigelas até a pia e as lavo.
― Obrigada pelo sorvete e por me ajudar com Maggie ― eu falo.
― Tem uma mulher que conheci na quimioterapia. Ela está morrendo. ― Ele olha ao redor, como
se não soubesse para onde olhar. ― Seu filho me ligou hoje e perguntou se eu queria visitá-la.
― Você vai? ― pergunto
― Estou com muito medo de ver a morte na minha frente ― ele fala. ― Poderia ser eu. ― Ele
tamborila o polegar sobre a mesa. ― Sou um covarde e um amigo terrível. ― Ele balança a cabeça.
― Você quer companhia para ir lá? ― pergunto. ― Posso ir com você.
Ele olha em meus olhos.
― Bom, posso esperar na sala de espera.
Ele balança a cabeça.
― Talvez. ― Um sorriso surge em seu rosto. ― Obrigado pela oferta.
Ele passa por mim e segura meu braço, apertando-o suavemente. Eu não piro nem sinto como se
precisasse acertá-lo. Talvez seja só ele. Ele parece ser um cara legal. Um dos melhores,
provavelmente. E passou por muita coisa.
― Boa noite ― diz ele em voz baixa.
― Boa noite ― respondo.
Estalo a língua para Maggie, que me segue para o quarto, onde eu entro, fecho e tranco a porta.
Tiro as roupas e entro na cama ao lado de Pete. Ele me puxa para ele imediatamente, e eu rolo para a
frente, colocando o meu rosto contra o pouquinho de cabelos em seu peito.
― Você está com frio ― diz ele.
― Maggie precisava sair ― eu explico.
Ele levanta a cabeça.
― Você não saiu sozinha, não é? ― ele pergunta.
― Matt foi comigo. ― Eu bocejo.
― Ah, bom ― ele sussurra e agarra minha perna, puxando-a sobre seu quadril, o que faz com que
as minhas partes de menina estejam quase coladas às suas partes de menino. E, apesar de ambos
estarmos nus, não me sinto preocupada, nem mesmo quando percebo que ele está muito, mas muito
próximo. Ele beija a minha testa e murmura: ― Volte a dormir.
Fecho meus olhos e me aconchego nele. Ele está quieto quando falo:
― Eu amo você, Pete.
― Eu também te amo ― ele responde com a voz rouca de sono, mas clara. Eu sorrio e encontro o
ponto ideal onde minha cabeça se encaixa melhor.
PETE

S ento-me no sofá com Maggie aos meus pés. Ela não está bem. Ela não foi capaz de se levantar
esta manhã, e então eu apenas sentei e comecei a acariciá-la e falar com ela sobre Reagan.
― Ela não parece bem ― Paul fala, olhando para Maggie. Ele está preocupado, já que Hayley
está aqui e ele não quer que ela incomode Maggie. É difícil dizer a uma garotinha de cinco anos para
deixar o cão quieto.
― Eu sei, marquei uma consulta para as nove ― eu falo. ― Só preciso acordar Reagan.
― Ela sabe o quanto é grave? ― ele pergunta. Paul está fazendo o café da manhã para Hayley e
ele para a cada poucos minutos para dançar ao redor da cozinha com ela.
― Duvido ― respondo. ― Ela estava andando bem, ontem.
― É melhor você acordá-la ou pode ser tarde demais ― Paul adverte. Ele é o cronometrista da
família.
Sam começa a colocar seus sapatos.
― Eu vou com você ― diz ele.
― Você quer que eu vá também? ― Matt pergunta.
― Nenhum de vocês precisa ir ― eu falo. ― Por que você não fica aqui e faz um bolo ou algo
assim, Sam? ― pergunto. ― Ela pode precisar de algo para se animar quando voltar.
Ele dá de ombros.
― Ok.
Mas Matt se prepara para ir com a gente, e ele toma o meu lugar acariciando Maggie enquanto
vou chamar Reagan. Entro no quarto e fecho a porta atrás de mim. Ela chutou as cobertas para baixo,
o que fez com que um de seus peitos esteja exposto. Sua pele é pálida e ela tem linhas que desejo
traçar com a língua. Mas não agora.
Sento-me ao seu lado na cama e agito seu ombro suavemente.
― Reagan ― eu digo em voz baixa. Seus olhos abrem lentamente, e ela se estica, seus lábios se
abrindo em um sorriso. ― Bom dia ― eu falo. Estou duro, admito. Sou um cara e ela está nua, além
de ter gozado no meu rosto, na noite passada. Então, sim, preciso tentar me controlar, já que este não
é o momento.
― Bom dia ― ela responde, com a voz rouca de sono.
― Você precisa se levantar ― eu digo. ― Marquei uma consulta para Maggie, às nove, no
veterinário.
― Ela ainda está cansada? ― ela pergunta, sentando-se na cama, segurando as cobertas sobre os
seios.
É pior do que ela estar cansada. Tenho certeza disso.
― Sim.
― Tudo bem ― diz ela, disfarçando um bocejo. Ela olha para a roupa que está espalhada pelo
quarto.
― Você precisa de alguma roupa que esteja no carro? ― pergunto.
Ela balança a cabeça.
― Só preciso me vestir e escovar os dentes.
― Vou dar-lhe alguns minutos ― eu digo. Mas o que eu realmente quero fazer é ficar e assisti-la
se vestir. E, então, despi-la novamente.
Eu saio e Matt está com Maggie em seu colo. Ela não parece tão ruim, mas está cansada. Isso é
bem sério, tenho certeza. Ela vomitou várias vezes ontem, mais do que Reagan provavelmente
imagina. Poucos minutos depois, Reagan sai do quarto com o cabelo preso num rabo de cavalo e
entra no banheiro.
Ela sai, e eu me levanto com Maggie em meus braços.
― Vou levá-la para baixo ― eu digo.
― Ela pode andar, não pode?
Balanço minha cabeça, e vejo a expressão preocupada de Reagan. Vou em direção à porta e ela
me segue. Matt vai com a gente. Reagan senta no banco de trás do seu Camry e eu coloco Maggie em
seu colo. Lanço as chaves para Matt, para que ele dirija e eu possa ir sentado com Reagan. Ela
acaricia a cabeça de Maggie, conversando com ela suavemente, dizendo que ela vai conseguir
vitaminas e, então, voltaremos para casa. Mas duvido que é o que acontecerá.
Chegamos ao consultório do veterinário, e eles nos colocam em uma sala de exames. A
veterinária vem e a examina rapidamente. Ela leva Maggie para a parte de trás para fazer mais
exames. Quando ela volta, está sozinha.
― Sinto muito. Eu não tenho boas notícias ― ela diz baixinho.
Reagan cobre a boca com a mão, e um som escapa de seus lábios. Eu a puxo para o meu lado. Eu
tinha a sensação de que isso ia acontecer.
― Maggie tem quinze anos. Isso é muito velho para a raça dela.
― Ela estava bem ontem ― Reagan protesta.
― Ela não estava ― a veterinária diz, balançando a cabeça. ― Ela tem uma massa no abdome. É
realmente grande, tão grande que se rompeu, o que ocasionou um sangramento em sua barriga. Sinto
muito.
Reagan olha para mim, com os olhos brilhando de esperança.
― Então, você pode tirar essa massa, certo?
A veterinária balança a cabeça.
― Eu sinto muito, mas isso não é algo que podemos curar. Recomendo que você a deixe partir.
― Quando? ― Reagan pergunta. Ela acha que Maggie ainda tem tempo.
― Agora ― ela diz. ― Fazê-la esperar mais não é humano.
Um ruído estrangulado sai da boca de Reagan, e eu puxo-a para mim, mas ela me empurra para
longe e caminha para o canto da sala. Ela anda de um lado para outro. Em seguida, ela para.
― Não há nada que você possa fazer? ― ela pergunta, sua voz baixa.
― Sinto muito. Não há nada. ― A veterinária está sendo tão simpática quanto possível. ― Você
quer que eu a traga de volta, de modo que você possa dizer adeus?
Lágrimas rolam pelo rosto de Reagan, e eu vejo Matt limpando as suas próprias. Ele mal
conhecia o cão e Reagan e está chorando por elas. Esse é Matt.
― Sim, por favor ― sussurra Reagan.
Poucos minutos depois, eles trazem Maggie de volta, amarrada a uma espécie de maca, e ela está
lá deitada tranquilamente. Ela não parece infeliz, mas as aparências podem enganar.
― Posso ter um minuto com ela? ― Reagan pede.
Vamos todos para o corredor e esperamos. Após cerca de cinco minutos murmurando atrás da
porta fechada, Reagan sai e acena. Ela está pronta.
A veterinária e um assistente entram na sala.
― Nós vamos lhe dar um sedativo, e depois uma dose direta no coração.
Os olhos de Reagan estão inchados e vermelhos, e suas bochechas, molhadas. A veterinária dá o
sedativo e Maggie deita a cabeça. Seus olhos estão bem abertos e sua respiração é suave,
― Agora, vamos lhe dar a dose ― a veterinária adverte.
Reagan coloca a mão ao lado de Maggie, mas ela não se aproxima. Ela já se despediu, eu aposto.
Maggie se contrai quando a agulha entra em sua perna e Reagan começa a soluçar. Matt se aproxima
e segura a mão de Reagan, e eu me inclino para perto da cabeça de Maggie. Ela tenta resistir, então
inclino-me para frente e sussurro em seu ouvido. Os olhos de Maggie se arregalam e, em seguida, ela
relaxa. Sua respiração é lenta e depois para. Olho seu peito e meu estômago aperta quando percebo
que ela não está se movendo. Reagan parece destruída. Eu me levanto, seguro Reagan e puxo-a para
mim. Ela envolve meu corpo e me permite absorver seus soluços em minha camiseta. Continuo a
abraçá-la, sem saber o que fazer. Ouço Matt fazendo arranjos para a cremação e eles tiram a coleira
de Maggie e entregam a Reagan, antes de levá-la da sala.
Reagan soluça quando Maggie parte e ela chora em meus braços até que seus soluços fiquem
mais suaves. Eu apenas a abraço. Não há mais nada que eu possa fazer.
― Melhor agora? ― pergunto.
Ela balança a cabeça.
― Achei que nós só viríamos buscar umas vitaminas.
Afasto o cabelo de seu rosto.
― Sinto muito ― eu digo.
Reagan segura minha camisa e olha em meus olhos.
― O que você sussurrou para ela? ― ela pergunta.
Tusso em meu punho, sentindo como se tivesse um grande caroço em minha garganta.
― Não importa ― eu digo.
― Diga-me ― ela protesta.
Respiro fundo e limpo minha garganta.
― Agradeci-lhe por protegê-la por todos estes anos e disse a ela o quanto eu aprecio isso. Mas
que ela poderia ir em frente e partir tranquila porque vou cuidar de você, de agora em diante. Disse a
ela que iria assumir o lugar dela, agora.
Reagan cai contra mim e chora ainda mais. Matt me passa um lenço de papel para que eu possa
secar seus olhos, balança a cabeça sutilmente e bate a mão no meu ombro. Ele aperta minha nuca com
força, e eu sinto o seu carinho me envolver, porque é isso que meus irmãos fazem por mim. O tempo
todo. Reagan me solta e abraça Matt rapidamente. Ele a aperta, e acho que ele beijou seus cabelos.
Ela é parte da família agora. Sem dúvida.
REAGAN

P ete deu minhas chaves a Matt, que deve ter guardado em seu bolso quando saímos do consultório.
Não me queixo. Mal consigo colocar um pé na frente do outro, quanto mais dirigir. Pete senta atrás
do volante, ajusta o banco e os retrovisores, e olha para mim.
― Quer que eu ligue para seu pai?
Balanço a cabeça.
― Posso fazer isso. ― Preciso ligar para meus pais, mas sei que vou ficar aos prantos se fizer
isso agora. Pete olha para o relógio e resmunga algo. ― O que houve? ― pergunto.
― Tinha que estar no centro juvenil às onze, para o grupo ― ele fala, segurando minha mão e a
aperta. ― Vou ligar para eles e avisar que não posso ir.
― Não ― eu protesto. Não quero que ele mude seus planos. Maggie está morta. Ele não ir ajudar
os rapazes não a trará de volta. ― Você deve ir. ― Viro e olho para Matt. ― Quer ir ao hospital
visitar sua amiga?
Ele olha em meus olhos.
― Você já teve tristeza demais por hoje. ― Seus olhos não me encaram e posso dizer que ele
está chateado.
― Ela vai morrer, Matt ― eu digo em voz baixa. ― Você precisa vê-la.
Pete ajeita-se no banco para que ele possa olhar para Matt no espelho retrovisor. Ele está curioso
sobre o porquê de eu saber tanto sobre Matt. Eu deveria ter dito a ele que conversamos ontem à
noite, mas eu meio que sinto como se isso fosse algo entre Matt e mim.
― Quem está morrendo? ― Pete pergunta.
― Kendra ― diz ele em voz baixa.
― Oh, não ― Pete murmura. Ele balança a cabeça. ― Você precisa ir, Matt. Nós vamos com
você.
Matt solta um suspiro e aponta para mim.
― Ela pode ir. Você não.
A testa de Pete enruga.
― Por que eu não posso ir? ― ele pergunta.
― Porque você tem que ver os meninos no centro. ― Ele olha nos meus olhos. ― Nós podemos
ir hoje? ― ele pergunta.
Eu concordo.
― Eu adoraria. ― Vai ser melhor do que ficar sentada sentindo falta de Maggie.
Nós dirigimos pela cidade e deixamos Pete no centro de juventude. Ele sai, ajusta seu jeans, e me
puxa para ele. Estamos de pé, na frente do carro, e Matt senta no banco do motorista. Limpo a camisa
de Pete. Ele tem pelo de Maggie preso nela.
― Você vai ficar bem com Matt? ― ele pergunta. ― Eu posso ir com você. Não quero deixá-la
hoje.
― Preciso fazer algo. ― É verdade. Se ficar em casa, vou pensar em Maggie durante todo o dia.
E Matt precisa fazer isso. Eu posso sentir dentro de mim. Além disso, Matt não me assusta. O olhar
em seu rosto me faz querer abraçá-lo e segurá-lo. Ele está lutando, e sei como é isso. Pete bate no
capô do carro, e Matt coloca a cabeça para fora.
― Que porra é essa? ― Matt fala. Mas seu tom de voz é brincalhão. Eu adoro a forma como eles
interagem uns com os outros.
― Você vai levá-la para casa depois, certo?
Ele dá de ombros.
― Se for para lá que ela quiser ir.
Pete aproxima-se e enfia uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.
― Quero que você durma na minha cama.
Borboletas voam em meu estômago.
― Ok ― eu sussurro.
― Pode me fazer um favor? ― ele pergunta.
Eu faria qualquer coisa por ele.
― Do que você precisa?
― Cuide de Matt. Ele não é tão forte quanto parece.
Eu discordo, aposto que ele é muito mais forte do que parece.
― Vou ficar de olho nele.
Seus lábios tocam os meus, mas não é um beijinho. Ele assalta minha boca e, quando estou sem
fôlego, ele me afasta levemente com um gemido e as mãos sobre meus ombros.
― Não se esqueça de ligar para seus pais ― ele fala e segue para o centro de detenção juvenil.
Observo-o caminhar, admirando seu traseiro. Ele se vira para trás e coloca as mãos ao redor da
boca. ― Eu te amo ― ele fala.
Balanço minha cabeça e repito as palavras para ele. Então, entro no carro, onde Matt está
batendo os polegares enquanto canta uma música que toca no rádio. Ele age como se estivesse
enfiando o dedo na garganta e faz um ruído de engasgo.
― Vocês vão me fazer vomitar se continuarem com isso. ― Ele sorri.
Dou um soquinho em seu ombro.
― Isso não é engraçado.
― Não, não vai ser engraçado mesmo quando eu vomitar. Vomitei muito durante a quimioterapia.
Eu sou bom nisso. ― Ele ri, estende a mão e aperta meu joelho. ― Ligue para o seu pai enquanto
estamos no caminho. Nós temos cerca de uma hora para matar.
Pego o telefone e ligo para os meus pais, e eles me colocam no viva-voz. Não posso falar sobre
isso por muito tempo sem quebrar. Mamãe está visivelmente chateada, e papai quer vir para a cidade
para ter certeza de que eu estou bem.
― Estou bem ― eu lhes digo. ― Vou sair com o irmão de Pete, hoje. Então, não estou sozinha.
Meu pai grunhe.
― Pai ― advirto.
― Tudo bem ― ele responde. Posso dizer que ele está mordendo a língua.
― Já sinto falta dela ― falo.
― Eu sei ― diz ele em voz baixa. ― Ela está com você há muito tempo.
Posso ouvir minha mãe chorando baixinho no fundo.
― Quem vai protegê-la? ― ele pergunta. ― Talvez você devesse voltar para casa.
― Pai, estou bem.
Matt sorri para mim e pisca. Sinto que tenho todo o clã Reed para cuidar de mim, se eu precisar.
Desligo antes que meu pai proteste um pouco mais e encosto no assento. Matt aumenta o som e
seguimos até o centro de câncer sem falar.
Ao chegarmos, ele desliga o carro e respira fundo.
― É agora ou nunca ― diz ele.
Saio do carro e caminho com ele. A equipe cumprimenta-o pelo nome na recepção.
― Estou aqui para ver Kendra.
Ela aponta por sobre o ombro de Matt, e eu vejo três crianças sentadas na sala de espera. O
menino mais velho deve ter dezesseis anos. Ele tem uma menina pequena em seu colo. Ela não deve
ter mais do que três. Há uma menina da idade de Hayley na cadeira ao lado deles. Ele lê um livro
para as duas.
― Seth? ― Matt chama. O menino olha para cima, confuso. Então, ele coloca a menina que está
em seu colo no chão e se levanta. Matt estende a mão e eles falam em voz baixa. Vou para a máquina
de venda automática e compro um pacote de chicletes. Em seguida, volto e ofereço às meninas. Eu
sei como conquistar crianças pequenas.
― Não engula ― diz a menina mais velha.
A menor sorri.
― Oops ― diz ela, colocando a língua para fora para que eu possa ver a boca vazia.
― Oops ― repito, e pego o livro que eles estavam lendo.
― Posso ler o seu livro? ― pergunto.
Elas acenam e cada uma senta em uma cadeira ao meu lado.
― Reagan ― Matt me chama. ― Você pode ficar aqui por alguns minutos?
Concordo com a cabeça e sorrio.
― Posso ir? ― a pequena pergunta.
― Agora não ― diz Seth. Ele se senta e solta um suspiro.
Ele parece muito mais velho do que realmente é.
Vejo Matt entrar em um quarto. Ele para na porta, assustado, e vejo-o abaixar a cabeça. Ele
caminha até a cabeceira, e, enquanto anda, a porta se fecha lentamente atrás dele, deixando uma visão
dele andando ao lado da cama, onde ele cai e apoia a testa contra o joelho da mulher. A porta se
fecha e não consigo ver mais.
― Como vão as coisas? ― pergunto a Seth.
― Estão indo ― diz. Ele acena para as menores e vejo que elas estão nos observando de perto.
Entendi. Ele não quer falar sobre sua mãe agora.
De repente, vejo uma movimentação na porta, e uma mulher entra. Ela está usando uma saia lápis
de tecido fino e um casaco, e está segurando uma bolsa que deve custar mais do que essas crianças
comem durante um ano. Ela segue na direção da mesa da recepcionista com seus Louboutin de quase
dez centímetros que fazem barulho contra o chão. Ela para, levanta os óculos de sol incrustrados de
strass no alto da sua cabeça, empurrando os cabelos loiros para trás, e pergunta sobre o quarto de
Kendra. Ela corre até lá, entra e a porta se fecha atrás dela também.
― Quem é? ― pergunto.
― Provavelmente nossa tia ― diz Seth com um encolher de ombros.
― Você não sabe?
Ele balança a cabeça.
― Nunca a conheci.
Ela não se parece nada com eles. Essas crianças têm a pele escura. Ela é tão branca quanto seus
cabelos loiros claríssimos que caem sobre os ombros. A mulher que vi na cama tem a pele escura
também.
― Eu sei. ― Ele ri. ― Eu também não entendo isso...
Após cerca de meia hora, Matt sai com a mulher. Ele olha para mim.
― Reagan ― ele fala e passa a mão na parte de trás de sua cabeça. ― Preciso de um favor.
Levanto e caminho pelo corredor com ele.
― Kendra quer que as crianças vão para casa. Ou, pelo menos, as menores. Ela quer que Seth
fique, se ele quiser. Mas sua tia vai levá-las para casa. Você acha que poderia pegar uma carona com
ela e deixar seu carro comigo, para que eu possa voltar para casa depois?
― Você não vem com a gente?
― Eu vou ficar ― diz ele. ― Até o fim. Eu prometi ― ele sussurra. ― Eu preciso.
Ele ainda está com as chaves. Eu concordo.
― Devo ficar com as crianças?
A moça está de joelhos na frente das duas meninas e fala suavemente com elas. Elas levantam e
seguram a mão da tia.
― Pronto? ― ela pergunta.
― Posso ficar? ― Seth pergunta. Ele olha para Matt e para sua tia. Sua voz é profunda e, de
repente, ouço-o limpar a garganta. Ele quer ficar. Quer estar lá com sua mãe.
― É claro que você pode ficar ― diz a tia. Ela olha para Matt. ― Você o leva para casa?
Depois?
Matt concorda. Ele bate a mão no ombro de Seth e olha para ele, piscando com força.
Eu saio com a tia e as meninas.
― Meu nome é Skylar ― diz ela ―, mas todo mundo me chama de Sky.
― Reagan ― eu digo.
Ela abre as portas do carro e fala:
― Comprei um assento de carro no caminho para cá, mas não tenho certeza de como usá-lo.
Eu a ajudo a instalá-lo, e nós acomodamos as crianças no banco traseiro de seu pequeno carro
esportivo. Ela suspira pesadamente e liga o carro.
― Se você quiser ficar, eu posso levar as crianças comigo e tomar conta delas ― eu ofereço.
― Eu não quero ficar ― diz ela secamente.
― Kendra é a sua irmã? ― pergunto.
― Meia-irmã ― diz ela, fazendo um barulho com sua garganta. ― Só a conheci hoje.
Então, que diabos ela está fazendo com as crianças?
― Kendra não tem mais ninguém ― ela explica. ― Então, eles me chamaram. ― Ela bufa. ―
Fui ensinada a odiá-la por toda a minha vida ― diz ela tão baixinho que as crianças não podem ouvi-
la, mas eu posso. ― E agora eles querem me dar seus filhos. ― Ela balança um polegar na direção
da pequena. ― Eu nunca troquei uma fralda na minha vida.
― Eu posso ir com você.
Ela balança a cabeça.
― Acho que vou precisar aprender.
― Você vai para a casa delas? ― pergunto.
Ela olha para mim.
― Acho que elas vão ficar mais confortáveis lá, não é? Suas próprias camas. Seus brinquedos.
― Eu posso ajudar.
Ela balança a cabeça novamente.
― Eles disseram que não vai demorar, coisa de mais algumas horas. Então, Matt vai trazer Seth
para casa, e ele pode me ajudar.
Eu concordo.
― Eu posso dar um jeito até lá. ― Ela olha para as meninas no espelho retrovisor. ― Quem quer
sorvete? ― ela pergunta.
― Eu! ― as duas meninas gritam.
Depois do sorvete e de uma rápida parada na loja de fraldas e comidas para crianças, ela para
em um semáforo.
― Tem certeza de que não quer que eu vá com você? ― Eu realmente não me importaria.
Ela balança a cabeça e puxa seus óculos de sol caros para baixo para esconder os olhos.
― Obrigada, Reagan ― diz ela. ― Acho que consigo me virar.
Não acredito nela. De modo algum.
PETE

E stou preocupado com Reagan, então ligo para ela da Reed, o estúdio de tatuagem que trabalho
com meus irmãos. Como não tinha ninguém em casa, fui trabalhar com eles. Desligo o telefone e
respiro fundo. Alguém a deixa na frente do estúdio em cinco minutos. Não faço ideia do que
aconteceu com Matt, mas ele ficou com o carro de Reagan e ela voltou para casa com algum
desconhecido.
Finalmente, ela entra pela porta. Queria poder fazer uma pausa do esboço que estou fazendo num
cliente. Ela solta um suspiro frustrado.
― Tudo bem? ― pergunto. Não posso parar o que estou fazendo. Agora não.
― Tudo bem ― diz ela. ― Isso foi muito estranho.
Emily está empoleirada em cima de uma mesa balançando os pés e chupando um pirulito.
― O que foi estranho? ― ela pergunta.
― Essas crianças ― disse Reagan. ― Estou preocupada com elas.
Ela nos conta a história e tudo sobre a tia que nunca tinha visto as crianças antes.
― Talvez Matt descubra mais sobre isso e nos conte mais tarde? ― sugiro.
― Estou feliz que ele foi ― diz Reagan. ― Ele teria se odiado se não fosse.
Uma mulher entra pela porta da frente, e cada homem no estúdio para o que está fazendo para
olhá-la. Ela está usando um short curto e um top frente única.
― Em que posso ajudar? ― Friday, a nossa recepcionista, pergunta.
― Eu gostaria de fazer um piercing ― diz ela, mordendo o lábio inferior.
― Algum de vocês está livre para fazer um piercing? ― Friday pergunta. Ela é bem bonita, tipo
a Katy Perry. Ela tem tatuagens em seus ombros, nas costas e nas pernas. Sei das pernas, pois fui eu
que fiz. São desenhos de crânios, ossos cruzados, tartarugas e outras merdas muito estranhas. Ela se
veste como uma pin up dos anos sessenta.
― Que tipo de piercing? ― pergunto.
Cada olhar no lugar vira-se para a mulher, e ela fala.
― Um daqueles piercings! ― Friday grita dramaticamente.
― Pete pode fazer ― diz Paul.
A boca de Reagan se abre. Ela caminha até perto de mim.
― Você não vai fazer um piercing íntimo ― ela sussurra. Sempre fiz, mas não quero mais fazer.
Ela coloca as mãos em minha orelha e fala em meu ouvido. ― O único lugar íntimo que você vai
tocar é o meu.
Meu coração acelera. Gosto disso. Gosto muito.
― Desculpe ― eu digo. ― A minha garota não deixa. ― Levanto meu rosto, e ela se inclina para
me beijar.
Paul olha para Logan, mas Emily faz sinal para ele muito rapidamente e ele sorri e balança a
cabeça.
― Não posso fazer ― diz ele.
― Por que não? ― Paul respira pesadamente.
― Porque eu quero fazer sexo hoje à noite ― diz Logan. ― E amanhã à noite. E na noite
seguinte.
Sam não está aqui. Ele provavelmente está fazendo um bolo em algum lugar. E todos nós sabemos
onde Matt está. Paul joga o lápis sobre a mesa onde ele estava desenhando uma tatuagem.
― Vocês são inúteis ― ele reclama. ― E mandados pelas mulheres.
Sou feliz por ser mandado pela minha garota. Logan se aproxima, bate a mão na minha, e Emily
sorri para Reagan.
― Obrigado por fazer um esforço pela equipe ― eu digo a Paul.
Não vai ser difícil para ele. A menina é linda.
― As coisas que tenho que fazer para que vocês possam transar. ― Ele ajeita sua calça e vai
ajudá-la a escolher um piercing. Ele leva Friday com ele, porque aprendemos ao longo dos anos que
não podemos fazer um trabalho nas partes íntimas femininas sem uma garota presente. É tipo um
ginecologista homem que sempre tem que ter uma enfermeira na sala.
Ele sai, alguns minutos depois, e a menina está andando engraçado.
Ela vai embora. Paul senta-se e, em seguida, começa a rir. Ele joga um guardanapo na minha
cabeça.
― Seus idiotas ― diz ele.
Friday se levanta e diz:
― Vamos pegar um cachorro-quente.
― Eu tenho um cachorro-quente para você ― diz Paul.
― Promessas, promessas ― Friday brinca.
Ele a segura e esfrega o alto da sua cabeça com os nós dos dedos.
― Eu pegava você se você gostasse de pau.
Friday faz uma cara feia, como se estivesse sentindo um cheiro ruim.
Ela não é lésbica, mas Paul acha que é. Quando ela começou a trabalhar aqui, ele deu em cima
dela direto, mas ela começou a falar sobre uma de suas amigas, uma noite. Ele assumiu que ela é gay.
Mas, num dia, ela e eu estávamos trabalhando até tarde da noite, e ela admitiu para mim que não é.
Ela gosta de homens. Só é mais fácil trabalhar com vários caras se eles acharem que ela é lésbica.
Não contei a verdade a Paul. É muito engraçado observá-lo com ela. Ela é como um dos caras, e
gosto dela desse jeito. Jamais consegui pensar nela como uma garota.
Friday leva Emily e Reagan com ela até a esquina, para pegar um cachorro-quente. Quando elas
saem, não consigo segurar a risada enquanto Paul observa o balanço da bunda de Friday. Ele sorri
para mim e encolhe os ombros.
― Cara, você não vai conseguir entrar nas calças dela ― eu falo.
― Mas eu posso olhar ― ele responde, sorrindo.
Um menino corre até a porta carregando uma caixa. Isso acontece muito no nosso bairro. As
crianças precisam comer, e eles pegam qualquer oportunidade que puderem para fazer um
dinheirinho.
― Você quer comprar um? ― pergunta ele, me mostrando o que há na caixa.
― Quanto é? ― pergunto.
― Cinco dólares ― diz ele.
Dou-lhe dez e pego minha compra na caixa.
― Você não vai levar essa coisa para casa com você ― adverte Paul. ― E se estiver doente?
Ah, merda. E se ele estiver doente? Coloco-o em meu bolso, certificando-me de que ele possa
respirar.
― Vou levá-lo ao veterinário.
― É melhor você fazer isso antes de dar a ela. Seu cão morreu, idiota.
― Certo. Volto já. ― Viro para Paul. ― Você tem algum dinheiro? ― Sorrio para ele.
― Porra, era mais barato para mim quando você estava na prisão ― ele resmunga, mas enfia a
mão no bolso e tira sua carteira.
― Diga a Reagan que volto já ― eu falo. Saio do estúdio, mantendo uma mão suave ao redor da
protuberância em meu bolso. A que está ronronando, não a outra.
REAGAN

S into-me um pouco estranha saindo pela porta com Emily e Friday, mas as duas fazem parte da
família Reed, e quero fazer parte dela também.
― Acho que Paul estava olhando sua bunda de novo ― Emily fala para Friday, que contrai os
quadris na saia curta ao redor de seus quadris. É bem Marilyn Monroe, com os laços ao redor da sua
cintura e a curta saia em forma de A.
Friday balança a cabeça.
― Paul pensa em mim como um dos rapazes, não importa o que eu use para o trabalho.
Emily levanta os dedos e leva-os aos lábios, fazendo um V e fingindo lamber entre eles.
― Isso é porque ele acha que é isso o que você faz. ― Ela ri e Friday lhe dá um empurrão no
ombro.
Emily ri e olha para mim.
― Como você quer seu cachorro-quente?
― Completo. ― Eu me pergunto se deveria levar um para Pete, mas nem sei do que ele gosta. ―
Como Pete gosta? ― pergunto. ― Você sabe?
― Com cebola e mostarda ― Friday e Emily falam ao mesmo tempo.
Friday segura quarenta dólares.
― Paul me deu dinheiro para comprar cachorro-quente para todo mundo ― ela fala. ― Alguém
esbarra nela e ela derruba vinte. Curvo-me para pegar.
Ouço um assovio atrás de mim e fico imediatamente tensa. Mas é apenas Emily. Ela levanta a
bainha da minha camiseta com os dedos delicados. ― Alguém se divertiu com o marcador
permanente, na noite passada ― ela fala, mas está sorrindo. Sinto meu rosto esquentar e puxo a
camiseta para baixo. ― E alguém não quer falar sobre isso. ― Ela ri.
Emily e Friday se aproximam, seus ombros quase se tocando. As duas estreitam os olhos para
mim.
― Até que ponto você acha que esses marcadores subiram? ― ela pergunta a Friday, mas ela
sabe que posso ouvi-la.
― Prefiro saber o quanto eles desceram ― Friday fala.
As duas riem. Um sorriso surge em meus lábios, apesar de sentir meu rosto esquentar.
― Longe o suficiente ― eu respondo, em voz baixa.
Os olhos de Emily se estreitam novamente.
― Eles ainda não fizeram aquilo ― ela fala e se vira para fazer os pedidos.
― Ela está certa, não está? ― Friday pergunta. Concordo com a cabeça, e ela amaldiçoa,
puxando uma nota de cinco do seu bolso. Ela enfia no bolso de trás de Emily. ― E não vai acontecer
essa noite porque ele ainda vai se sentir mal por causa do seu cão. ― Ela coloca a mão em meu
ombro e o esfrega com carinho. ― Eu realmente sinto muito sobre isso ― Friday fala.
Eu não pensava em Mags há horas, e agora me sinto mal por ter esquecido dela. Lágrimas surgem
em meus olhos, mas eu tento afastá-las.
― Oh, merda ― Emily fala. ― O que você fez?
― Mencionei seu cachorro ― Friday responde.
― Eu lhe disse para não fazer isso ― Emily sibila. ― Pete disse para não tocar no assunto.
Ele disse?
― Tudo bem. Eu não me importo ― eu falo. Quero sentir falta dela. Quero lembrar dela e falar
sobre ela.
Alguém bate no meu ombro, e eu fico tensa novamente. Não gosto desta rua movimentada. De
modo algum. Me aproximo ainda mais de Friday.
Ela olha para mim enquanto o vendedor embrulha nossos cachorros-quentes.
― Eu quero gostar de você, Reagan ― Friday fala.
― Eu... quero... gostar de você também ― eu digo lentamente.
― Esses garotos são como minha família ― diz ela.
― Friday ― adverte Emily.
Mas ela levanta a mão.
― Esses garotos são como minha família. Quando eu não tinha ninguém, eles estavam lá. ― Há
uma história aqui, e eu realmente quero saber qual é. ― Você tem uma família ― diz ela. ― Então,
se você foder com a minha, vou cortá-la. ― Ela empunha o garfo de plástico na minha direção, mas,
então, começa a rir. ― Eu só estou brincando ― diz ela. ― Bem, mais ou menos.
― Eu entendo ― eu digo.
― Ela não está nem dormindo com ele ainda ― diz Emily. ― Deixe-a em paz.
Friday bufa.
― Eu não deixei você em paz.
― Você nos disse para usar spray desinfetante se fizéssemos sexo no estúdio. ― Emily balança a
cabeça e sorri. ― Por isso, compramos desinfetante extra.
― Eca ― Friday fala.
Eu rio. Acho que posso gostar dessas mulheres.
Pegamos nossos cachorros-quentes e voltamos para o estúdio de tatuagem. Mas Pete não está lá
quando voltamos.
― Para onde ele foi? ― pergunto.
― Enviei-lhe em uma missão ― diz Paul. Ele está fazendo uma tatuagem e parece um pouco
distraído.
― Ele vai voltar? ― pergunto. Não estou muito feliz por estar presa aqui, particularmente já que
Matt está com o meu carro.
― Eventualmente ― diz Paul.
Eu sento e como o meu cachorro-quente, mas, em seguida, a loja enche. Um grupo de fuzileiros
navais entra pela porta. É um grupo de cinco, e, de repente, me sinto encurralada. Vou para os fundos
do estúdio, mas isso não diminui minha sensação de mal-estar em nada. Paul olha para cima da
tatuagem que ele está fazendo e aperta os olhos.
― Você está bem, Reagan? ― ele pergunta.
Não. Não estou nada bem. Achei que tinha superado isso, mas não. Aparentemente, só consigo
lidar com isso quando Pete está comigo, e isso me deixa tão inquieta quanto ter que enfrentar esses
homens.
Concordo com a cabeça, mas eu realmente não estou bem.
Paul abaixa o aparelho de fazer a tatuagem e caminha até os fundos do estúdio comigo. Ele puxa a
cortina em torno da área privada. Dou um breve suspiro, finalmente capaz de encher meus pulmões
de ar, desde que esses homens entraram na sala.
― Melhor? ― ele pergunta.
Ele se senta em uma mesa, abre uma caixa de canetas e começa a desenhar distraidamente em um
pedaço de papel.
― Não fique aí ― diz ele. ― Sente-se. ― Ele dá um tapinha na mesa à sua frente. ― As pessoas
me deixam nervosas quando andam assim de um lado para o outro ― ele fala, mas nem sequer olha
para mim. Ele está apenas desenhando calmamente.
― Paul ― eu começo. ― Acho que eu deveria ir.
Ele balança a cabeça, mas não olha para cima.
― Deixe-me saber quando você estiver pronta, para que eu possa arrumar minhas coisas.
― O quê? ― Por que ele precisa arrumar alguma coisa?
Ele finalmente olha para cima, e seus olhos azuis encontram os meus.
― Eu mandei Pete em uma missão. E ele foi, sabendo que eu iria cuidar da sua namorada. Então,
se você for sair, eu tenho que sair. Apenas deixe-me saber quando você estiver pronta.
― Eu não preciso de uma babá ― eu resmungo. Mas meus olhos estão cheios de lágrimas. Pisco
furiosamente para controlá-las.
― Eu não disse que você precisava de uma babá ― ele responde, e posso dizer que ele está
irritado. Ele ainda é gentil e carinhoso, mas há algo turvo abaixo da superfície também. ― Esses
caras fazem você se sentir desconfortável, não é? ― ele pergunta e olha para o seu papel novamente.
Ele parece não estar me dando muita atenção, mas eu tenho a nítida sensação de que ele está.
Eu aceno e mordo a pele que envolve minha unha, puxando-a com tanta força que arrebento a
cutícula. Limpo o sangue no meu jeans.
― Merda ― diz Paul. Ele vai até uma gaveta e tira um Band-Aid. ― Se Pete voltar e ver que
você está sangrando, eu não vou viver até o final da semana. ― Ele rasga o pacote com os dentes e
puxa as abas. Então, ele a segura como se quisesse envolvê-lo ao redor dos meus dedos. Estendo a
mão, porque tenho a sensação de que ele não vai desistir. Mas a minha mão não para de tremer e
odeio isso. Ele envolve o curativo e então me dá um leve aperto.
Ele volta a sentar e começa a desenhar novamente. Sento-me em frente a ele, que me passa o
papel, onde está desenhada uma margarida simples atrás das grades. A margarida parece estar se
inclinando na direção de um raio de sol.
― Faça sombra aqui para mim ― ele fala.
― Não sei desenhar ― eu respondo, mas sento-me em frente a ele.
― Todo mundo sabe pintar ― ele diz, com uma risada. ― Basta escolher uma cor e se manter
entre as linhas. Ou ir para fora das linhas com um propósito. ― Ele dá de ombros. ― Eu não me
importo.
Pego um marcador e começo a preencher as linhas. Pinto do lado de fora das linhas, com uma
finalidade. Sorrio para Paul, que sorri de volta e pisca.
Quando termino, observo o desenho. A margarida está colorida e é bonita, mas suas pétalas estão
presas, inclinadas em direção ao eixo da luz solar.
― Esta sou eu, não é? ― pergunto baixinho.
― É? ― ele responde com outra pergunta, mas não olha para mim. Ele continua desenhando.
― Sim. ― Sou eu. Eu bato em seu braço, e ele olha para os meus dedos, sua sobrancelha se
arqueando como se ele estivesse se divertindo. ― Você pode fazer isso em mim? ― pergunto. Estou
quase sem fôlego de tão animada.
― Você quer algum tempo para pensar sobre isso? ― ele pergunta.
― Você costuma falar isso para seus clientes?
― Só quando acho que é preciso. ― Ele ainda parece divertido, mas sério ao mesmo tempo. Ele
solta um suspiro. ― Onde você quer?
― Onde você sugere? ― pergunto.
― Talvez em seu ombro? ― diz ele enquanto desliza luvas de látex sobre os dedos e as encaixa
em seus pulsos. ― Você não acha que Pete vai se importar se eu fizer isso, não é? ― ele pergunta. Eu
não tenho certeza se ele realmente vai se importar, mas estou feliz por ele ter perguntado.
― Bem, se você fosse fazer na minha coxa, acho que ele não iria gostar ― eu falo e rio com o
pensamento.
― Ah, essa era a minha próxima sugestão. ― Ele estala os dedos cobertos pela luva, mas elas
não fazem barulho.
Sinto vontade de rir. Paul começa a despejar tintas coloridas em pequenos potes.
― Você vai ter que tirar isso ― ele fala, indicando o braço da minha camiseta.
Uh oh. Não tinha pensado nisso. Ele puxa uma camiseta do armário e usa uma tesoura para cortar
a parte de trás. Eu a pego, agradecida por ele ter pensado nisso. Ele vira de costas enquanto tiro
minha camisa e coloco a rasgada. Ela fica aberta na parte de trás, mas não me importo. Estou de
sutiã. Ele disse que seria no meu ombro.
― Uau ― ele murmura ao ver minhas costas. ― Você se divertiram bastante na noite passada,
não é? ― Ele ri. Olho por cima do meu ombro e tenho um vislumbre de toda a tinta em minhas costas
que não consegui lavar. Não fiquei muito tempo em casa.
― Nós estávamos testando alguns projetos ― murmuro.
― Humm humm ― ele murmura. ― Claro que sim. ― Ele ri e um sorriso surge em meus lábios.
― O tramp stamp que ele fez foi muito criativo.
Eu não tinha visto.
― O que está escrito? ― Olho para trás, por cima do meu ombro.
Ele aponta para um espelho atrás de mim, vou para a frente dele e olho por cima do meu ombro.
Eu coro quando vejo escrito: A garota do Pete, em uma letra gótica, com flores e videiras descendo
pela cintura do meu jeans.
Paul abre a cortina e chama Logan por sinais. Ele vem para a parte de trás e sinaliza algo para
Paul. Paul mostra-lhe o design e Logan pega um lápis, começando a acrescentar algo a ele.
― Não se preocupe ― Paul diz para mim. ― Você vai amar.
― O que foi? ― pergunto.
― Confie em mim ― diz ele. Ele me vira, e eu sento na mesa de tatuagem. ― Pronta? ― ele
pergunta.
Eu concordo.
Ele transfere o esboço do projeto para a minha pele. O motor silencioso do aparelho de tatuagem
começa a soar, e eu sinto-o tocar o meu ombro. É como uma picada de formiga. Não dói. E quando
ele começa a se mover, a dor desaparece completamente. Sento lá, calmamente. Às vezes, Logan fala
comigo. Respondo a ele, tendo o cuidado de olhar para ele quando falo, mas ele não tem qualquer
problema em conversar comigo, ainda que eu não saiba a linguagem de sinais. Ele é realmente muito
inteligente. Um tempo depois, Emily enfia a cabeça por trás da cortina.
― Todos os fuzileiros já foram? ― Paul pergunta e me olha, sondando minha reação, eu acho.
― Sim, só um deles queria fazer tatuagem ― ela responde e vem olhar meu ombro. Ouço-a
suspirar.
― Shh ― Paul faz para ela.
― O quê? ― pergunto.
― Nada ― diz ela, mas sua voz está trêmula e ela enxuga uma lágrima de seu olho.
― Ele colocou algo bizarro em mim? ― pergunto. Agora eu estou realmente preocupada.
― Você que desenhou isso? ― ela pergunta a Logan e envolve os braços ao redor dele. Ele
balança a cabeça e beija sua testa. ― Você fez um trabalho muito bom ― diz ela.
― Ei, eu que pintei ― eu falo.
― Prontinho. ― Ele coloca o aparelho no lugar, me ajuda a sentar, pega um espelho e aponta
para ele. ― O que você acha?
Ele observa meu rosto de perto. Paul faz muito isso. Você não precisa falar para ele saber como
você está se sentindo.
Olho para o espelho e vejo a obra de arte que ele criou. Ele fez a margarida e a coloriu com as
cores que eu usei. Ela está inclinando-se para um raio de sol, atrás das grades. Essa parte é
exatamente o que eu esperava. Mas, na base da margarida, Maggie está parada com a cabeça
equilibrada sobre as pétalas menores, assim como ela costumava ficar em meu joelho. Ela está
perfeita, em toda sua glória em preto-e-branco, e o brilho nos olhos exatamente como ela tinha. Sinto
um soluço se formar em minha garganta.
― Amei ― murmuro. ― Está perfeita.
Paul se aproxima de mim lentamente, com cuidado para não me assustar e me puxa em direção ao
seu peito. Envolvo meus braços ao seu redor e ele fecha minha camisa e me aproxima dele,
acariciando a parte de trás da minha cabeça.
― Que bom que gostou ― ele fala e vejo Logan levantar um polegar para cima.
― Obrigada, Logan ― eu digo. Olho no espelho novamente. É realmente perfeita.
― Da próxima vez, vamos fazer uma sem grades ― diz Paul quando ele se afasta e olha nos meus
olhos.
Eu concordo.
― Da próxima vez ― eu digo. Pela primeira vez desde o ataque, sinto que minha gaiola está
lentamente sendo aberta.
Paul ainda está com os braços em volta de mim quando a cortina se abre e Pete enfia a cabeça.
Ele está sorrindo, até que ele me vê nos braços de Paul.
― Vocês deveriam colocar um sinal para que possa saber que há algo íntimo acontecendo aqui
atrás ― diz ele. Então, ele me olha de perto e faz uma carranca quando me vê limpar os olhos. ―
Que porra você fez com ela? ― pergunta ele.
Ele vem em minha direção e Paul se afasta. Pete segura meu queixo.
― Você está bem? ― ele pergunta preocupado, e eu odeio e amo que ele o esteja.
― Estou bem ― eu respondo. Logan, Emily e Paul deixam a área e fecham a cortina. Viro as
costas para que Pete possa ver a minha nova tatuagem. ― Veja o que eu tenho agora. ― Puxo meu
rabo de cavalo para o lado para que sua visão fique livre.
― Uau ― diz ele. ― Que fantástico. ― A ponta dos seus dedos tocam muito suavemente minha
pele, delineando a área onde Maggie foi imortalizada. ― Foi Logan que fez, não foi?
― Sim, mas eu fiz o sombreado e Paul fez a flor e as outras coisas.
― Conheço seu trabalho de longe ― Pete fala.
De repente, sinto um movimento em minha barriga. Olho para baixo. O colo de Pete está se
movendo?
― Sério, Pete ― eu digo. ― Este não é o lugar. ― Ele ri e cai sobre um sofá. A mão no bolso do
seu casaco de moletom está se mexendo, movendo-se para cima e para baixo.
― Por que você não vem e vê o que eu tenho para você? ― ele diz, balançando as sobrancelhas.
Uma risada escapa da minha garganta, apesar de eu dizer:
― Isso não é tão engraçado.
― Vamos, menina ― ele provoca. ― Venha ver o que tem no meu bolso.
Seu casaco está, definitivamente, balançando, e há algo lá dentro. Sento ao lado dele, que arqueia
seus quadris para mim quando eu me aproximo e pressiono suavemente sobre a massa.
― Continue ― diz ele. Sua voz fica rouca de repente.
Enfio a mão no bolso e sinto um nariz frio cheirar minha mão. Levanto o pano e olho para baixo.
― O que é isso? ― pergunto, mas já estou sorrindo.
― Esse é o seu presente ― diz ele. Ele ainda está sorrindo. ― Acabei de voltar do veterinário
com ela. Ela foi vacinada, teve suas orelhas limpas e fizeram todos os exames. Ela está saudável. ―
Ele a puxa para fora, e ela é tão pequena que cabe na palma da sua mão. ― Eu tenho uma caixa de
areia e um pouco de comida, entre outras coisas ― diz ele. Ele está me observando, quase como se
estivesse esperando que eu o empurre e comece a gritar.
Ela é minúscula e tem o pelo laranja.
― Qual é seu nome? ― pergunto.
Ele dá de ombros.
― Isso é com você.
― Ginger ― eu digo. ― Ela é uma Ginger. ― Levo-a até minha bochecha e ela me cheira. ―
Ela é realmente minha?
― Bem ― ele fala ―, se eu quisesse alguma gatinha, só precisaria estalar os dedos.
Eu me assusto. Mas, então, percebo que o que ele disse é tão estupidamente ridículo que eu
começo a rir. É uma gargalhada profunda e mal consigo recuperar o fôlego. Inclino-me para beijá-lo.
― Se você quer algo, só tem que pedir ― eu falo.
Ele geme e me puxa para me beijar. Afasto-me quando estou sem fôlego.
― Mais tarde? ― pergunto.
Sua testa franze. Ele balança a cabeça, mas evita meu olhar. O que será que está acontecendo?
PETE

É nítido que Reagan gosta da gatinha. Ela adorou e não parou de brincar com ela desde que chegou
em casa. Ela deixou-a comigo apenas tempo suficiente para tomar um banho e agora está deitada em
minha cama, com o cabelo úmido e a gatinha no colo. A coisa me custou dez dólares, mas eu teria
pago muito mais só para ver seu sorriso.
Saio do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e fecho a porta atrás de mim. Ela me olha
com os olhos entreabertos, e eles vagueiam pelo meu corpo. Meu pau fica duro imediatamente e eu
me afasto dela para vestir a boxer e secar meu cabelo curto com a toalha.
― Obrigada pelo gatinho ― diz ela calmamente. Então, ouço o ranger da cama enquanto ela se
levanta e vem em minha direção. As pontas dos seus dedos tocam minhas costas. ― Você acha que
um de seus irmãos pode tomar conta dela para que possamos passar algum tempo juntos? ― Sua voz
é suave e doce, assim como seus passos e o toque dos seus dedos. Sua voz é trêmula, assim como
suas mãos.
― Eu posso esperar ― eu deixo escapar. Eu sou um idiota, sei disso. Mas não quero que ela se
sinta obrigada a fazer qualquer coisa. E, honestamente, tenho medo de que isso mude as coisas entre
nós. E se eu não puder satisfazer suas necessidades? Ela precisa ser amada com calma e cuidado. E
se eu não puder fazer isso? E se eu ficar muito preso ao momento e esquecer suas necessidades. E se
eu fizer tudo errado? E se ela me odiar? E se ela abominar a ideia de fazer amor comigo novamente
depois disso?
Ela pega o gatinho e coloca em meus braços.
― Não quero esperar ― diz ela, puxando a camiseta sobre a cabeça. Ela não está usando sutiã.
Sinto minha respiração falhar. Tudo que posso ver são seus seios perfeitos e os mamilos cor-de-rosa,
eriçados em minha direção. Ginger reclama quando a aperto com muita força. Olho para baixo e me
forço a abrir as mãos.
Reagan coloca os polegares no cós do short de dormir e o puxa para baixo, junto com a calcinha.
Oh, meu Deus.
― Volto já ― resmungo. Viro e saio do quarto, parando para pressionar as costas contra a porta
e respirar profundamente até que meu pau perceba que não estou mais no quarto com ela.
Quando finalmente consigo respirar, ando para a sala de estar e vejo Paul e Matt sentados,
assistindo a um filme. Matt chegou em casa há uma hora, com os olhos vermelhos. Ele ficou quieto,
mas, quando fui falar com ele, Paul balançou a cabeça para mim em sinal de advertência. Então, não
falei nada. Caminho pela sala e aperto o botão de pause na TV. Os dois olham para cima, franzindo a
testa. Devo tê-los assustado porque eles estão me encarando.
― O que houve? ― Paul pergunta.
― Nada. ― Eu suspiro. Caio sobre o sofá e coloco Ginger no colo de Matt. Ele sorri e deixa o
gatinho tocar seu pescoço. Ele sorri e acaricia seu rosto. Apoio o rosto em minhas mãos.
― Ela não está pronta, está? ― pergunta Paul. Eu odeio quando ele faz isso. É como se ele
pudesse ler o que se passa dentro de nós. Ele sabe o que estamos pensando antes mesmo que a gente
fale qualquer coisa. Nós não conseguimos esconder nada dele.
― Ela está pronta. ― Eu suspiro. ― Mas... Mas... Mas... Mas... ― Calo a boca porque não
consigo encontrar as palavras certas. Gemo e caio contra o sofá. ― E se eu foder com tudo?
― Como você acha que faria isso? ― Matt pergunta. O gatinho se aninhou na gola de sua camisa
e está sentado lá, absorvendo seu calor. ― Não é como se você fosse um babaca virgem, idiota.
Nem sei como articular o que estou sentindo. De modo algum.
― Eu nunca amei nenhuma dessas outras garotas.
Matt toma um gole da sua cerveja e olha para mim.
― Mas você ama esta. ― Não é uma pergunta. É uma declaração. E isso é um fato.
― Sim.
― Você precisa de uma lição sobre os pássaros e as abelhas? ― pergunta Paul. ― Você coloca o
separador A na ranhura B. ― Ele faz um gesto bruto com os dedos. ― Ou a aba A na ranhura C. ―
Ele sorri. ― Ou a aba A na ranhura D. Mas algumas meninas não gostam disso, então não comece por
aí. Você pode até guardar isso para um aniversário ou ocasião especial. Seu. Não dela.
Pego uma almofada e jogo em sua cabeça. Ele ri e a pega.
Finalmente, ele fala suavemente.
― Pare de tentar racionalizar isso.
― Ela passou por tanta coisa ― eu falo e olho para a porta fechada.
― Você não teve nenhum problema em ser o que ela precisa, Pete. Ela não precisa de muito. Só
que você a ame. Deixe-a liderar isso. Deixe-a mostrar-lhe o que ela quer ― Paul fala em voz baixa.
Ela está nua no meu quarto. Eu já sei o que ela quer.
― Ok ― eu digo e olho para Matt, que está esfregando o nariz no gatinho. ― Você pode ficar
com o gato?
― Vou manter Ginger Von Bundafedida comigo. Não há problema ― diz ele rindo. Ele está tão
tranquilo, e sei que ele teve um dia difícil, mas não sei o que dizer a ele.
Aperto seu joelho e caminho em direção ao quarto. Paul chama meu nome e balança o polegar em
direção à gaveta da cozinha, onde ficam os preservativos. Eu sorrio e pego alguns.
― Não se pode dizer que o rapaz não está preparado ― Matt fala brincando, levanta o polegar e
abre um sorriso estúpido.
Abro a porta do quarto, mas Reagan apagou a luz. Há um tênue brilho da lâmpada ao lado da
cama, mas isso é tudo. Reagan está deitada de bruços, com os braços cruzados debaixo do
travesseiro. Sua tatuagem está brilhante e um pouco inchada. Ainda não consigo acreditar que ela fez
uma tatuagem. Seu pai vai me matar. E depois, a ela. Seu corpo está nu.
Vou para o meu lado da cama e coloco os preservativos sobre a mesa de cabeceira. Então, deito
entre os lençóis e fico de costas, olhando para o teto. Ela não se move, e acho que ela já poderia
estar dormindo. Mas, quando eu rolo na direção dela para puxá-la para meus braços, ela vem até
mim, sua pele macia, nua e maravilhosa. Os seios nus ficam contra o meu peito, e seus mamilos se
projetam contra a minha pele. Ela encaixa o rosto no meu ombro.
― Ei, Pete ― diz ela.
― Sim ― grunho. Nem consigo formar uma frase.
― Se você não me quer por causa do que aconteceu, você deve me dizer agora. ― Ela parece
tranquila, mas suas palavras são fortes. O problema é que eu não sei ao que ela está se referindo. Ela
está se referindo a Maggie? Ou ao estupro?
A única coisa que posso fazer é ser honesto.
― Eu não quero tirar vantagem de você ― eu digo. ― E eu meio que sinto que estou.
Ela ri contra o meu peito.
― Eu diria que é, na verdade, o contrário. Eu sinto que estou tirando vantagem de você. ― Ela
beija meu peito. ― Vamos apenas dormir.
Afasto seus cabelos da testa e dou um beijo.
― Ok. ― Suspiro. Graças a Deus. Porque eu sou um covarde. Um grande, gordo, velho covarde
e inútil.
Ela rola em suas costas e olha para o teto. Posso ver seu perfil no escuro. Seguro a mão dela com
força na minha. Estou suando, então não a puxo de volta contra mim.
Sua respiração se equilibra, então, posso relaxar um pouco. Acomodo minha cabeça mais
pesadamente no travesseiro. Mas, quinze minutos mais tarde, ainda estou olhando para a escuridão.
Seu corpo nu está a poucos centímetros do meu.
Lentamente, ela solta a mão da minha. Eu deixo porque meio que quero que ela pense que estou
dormindo.
Ouço um pequeno suspiro e olho em sua direção, sem mover a cabeça. Ela empurra as cobertas
para baixo, descobrindo os seios, e eu vejo a ponta dos dedos tocá-los. Ela traça um círculo ao redor
dos mamilos, e então os aperta suavemente. Ouço-a inspirar; se eu antes não era forte o suficiente
para tê-la ao meu lado, eu sou agora.
Sua mão desliza para baixo da sua barriga e imagino que ela está indo para sua fenda. Ela
provavelmente deve estar quente, molhada e necessitada. Seus joelhos levantam e ela começa a se
tocar. Sua respiração entrecorta novamente. Eu realmente deveria dizer a ela que não estou
dormindo, mas não posso. Não quero estragar isso.
― Oh, Pete ― ela geme.
Eu não aguento mais. Eu simplesmente não posso.
― Reagan ― eu digo. Minha voz soa como um tiro de canhão na escuridão.
Ela congela.
― Pete ― diz ela. ― Eu não tive a intenção de acordá-lo. ― A mão dela ainda está entre as
pernas. Ela para de movê-la e a apoia em sua barriga. ― Que vergonha ― ela sussurra e sua voz é
trêmula.
― Reagan, vem aqui ― eu digo.
Ela inclina-se em um cotovelo e pergunta:
― Onde?
― Se estiver tudo bem para você, quero que você venha aqui comigo.
Ela fica de joelhos e coloca uma mão em meu peito.
― Assim?
Tomo sua mão na minha e levo-a para os meus lábios.
― Reagan, estou com medo ― eu admito.
― Eu também ― diz ela.
― Quero tanto estar dentro de você que chega a doer. ― Fecho meus olhos com força.
Sinto a ponta dos dedos de Reagan no cós da minha cueca e sinto-a levantá-la sobre meu pau.
Levanto o quadril para que ela possa puxá-la para baixo. Agora estou nu como ela.
― Posso? ― ela pergunta. ― Posso tentar algumas coisas?
― Você pode tentar o que quiser ― eu digo e levanto os meus braços para que as palmas das
minhas mãos fiquem por trás de minha cabeça. Se eu tocá-la, vou ter que deitar sobre ela e deslizar
para dentro dela. E sei que isso precisa ser feito em seu ritmo.
Seus dedos envolvem meu pau, e ela geme.
― Eu não tenho certeza se isso pode caber dentro de mim.
― Ele vai se encaixar ― eu digo.
Reagan se estica e percebo que ela está tentando pegar um preservativo. Ainda não estou pronto
para isso, então o pego enquanto ela está em cima de mim, com as minhas mãos ao redor da sua
cintura. Levanto-a para que seus seios fiquem na altura do meu rosto. Beijo seu mamilo esquerdo até
que ele esteja enrugado em minha boca. Ela geme e eu passo para o outro seio. Dou-lhe a mesma
atenção e ela treme em meus braços.
― Pete ― Reagan geme.
Coloco minha mão entre as pernas dela para ver se ela está molhada. Porra, ela está encharcada,
quase pingando.
― Deus, Reagan ― eu falo e paro meu dedo sobre o clitóris.
Ouço o invólucro do preservativo rasgar e sinto-a pressioná-lo na cabeça do meu pau. Ela quer
colocá-lo em mim. Puta merda! Mas eu seguro a mão dela.
― Reagan.
― O quê?
― Eu sou apenas um cara.
― O que significa isso? ― ela sussurra.
― Significa que, se você colocar isso no meu pau, a próxima coisa que vai passar sobre ele é
você. ― Ela congela por um momento, e ouço sua respiração acelerar.
Mas ela começa a rolar o preservativo para baixo em meu eixo e, quando ela chega à base, puxo-
o um pouco mais apertado. Ela está sendo muito gentil comigo.
― Vamos lá ― eu digo em voz baixa. ― Venha e me monte. Mostre-me como você quer.
Ela joga uma perna em cima de mim e atravessa meus quadris, e sua intimidade molhada está
tocando a minha rígida e viril. Ela desce lentamente, cavalgando em mim, até que meu pau está em
sua fenda.
― Coloque a mão entre nós e me leve para dentro ― eu falo. Minha voz é tão baixa que eu mal
consigo entender. Mas ela me ouve e obedece, colocando a cabeça do meu pau em sua abertura.
Então, ela para. ― Está tudo bem? ― Mordo o lábio inferior para não gritar.
Ela não responde, mas começa a afundar em cima de mim. Seus braços e pernas estão tremendo,
e eu elevo os quadris para ajudar a guiá-la. Ela é gostosa, e desliza em mim como uma luva de
veludo apertada.
― Merda ― eu digo. Eu desejo não ter falado porque ela para de se mover.
― O que há de errado? ― ela pergunta.
― Nada ― eu respondo ― Você está perfeita. Continue.
Ela afunda um pouco mais e diz:
― Você está.
Deus, sim, estou.
― Sim ― respondo e cerro os dentes para não gozar.
― Você está dentro de mim, Pete ― diz ela.
Sinto algo molhado em meu peito.
― Você está chorando? ― pergunto.
― Talvez ― diz ela.
Ela está muito quieta.
― Estou te machucando? ― pergunto, passando as mãos em suas coxas nuas.
― Não ― ela diz. ― Eu estava tão preocupada em como seria. Eu só... ― Ela funga. ― Eu só
não quero que isso acabe, Pete ― diz ela. ― Quero ficar assim para sempre.
Dou uma risada e meu pau se move dentro dela.
― Oh ― ela fala e ajusta seu corpo. Estou só na metade do caminho, mas queria que ela fizesse
isso à sua maneira. Meu pau pulsa e abaixo seu corpo contra mim, meus quadris empurrando contra
ela ao mesmo tempo. Ela grita. ― Oh!
Puxo-a para mim e a beijo, para que ela fique quieta. Meus irmãos estão na sala de estar.
― Shh.
Arqueio meu quadril e enrosco minha língua na sua.
― Jesus ― eu murmuro quando ela levanta a cabeça. Suas pernas estão tremendo, e ela
equilibra-se em meu peito.
― Você pode? ― ela pergunta.
― Posso o quê? ― Posso ficar assim para sempre? Não. Porque eu vou gozar e deixá-la
insatisfeita.
― Você pode fazer isso? ― pergunta ela, com a voz hesitante.
Sento-me e envolvo meu braço em torno dela, e em seguida passo muito lentamente sobre suas
costas. Suas pernas levantam e envolvem meus quadris. Empurro dentro dela, ainda mais do que
antes, mas ainda não todo o caminho.
― Oh, isso é bom ― diz ela.
Eu rio e enterro minha cabeça em seu pescoço.
― Está tudo bem? ― sussurro. Empurro um pouco mais e, em seguida, puxo de volta para fora.
Então, afundo nela o máximo que posso. Ela é tão apertada que eu mal consigo respirar.
― Sim. ― Ela geme quando me inclino e entro mais fundo.
Estou quase gozando e ela não. Assim que consigo um espaço entre nós, minha mão procura por
seu calor, esfregando seu clitóris. Eu tomo o mamilo entre os dentes e mordisco-o com cuidado, e ela
começa a se contorcer debaixo de mim. Seus quadris arqueiam para atender minhas estocadas, e seus
gritos são pequenos ruídos em minha orelha. Sua respiração sopra na minha bochecha, tão úmida
quanto seu lugar privado onde estou enterrado e adorando.
De repente, ela agarra meus ombros e endurece debaixo de mim. Seu corpo treme, e ela começa a
gozar. Continuo acariciando-a e é muito difícil não empurrar entre suas pernas para atingir meu
próprio orgasmo. Mas eu me esforço para manter isso devagar. Ela treme em meus braços e não a
solto até que ela está lânguida em meus braços, e eu busco meu próprio prazer. Envolvo meus braços
ao redor dela e enterro o rosto em seu pescoço, empurrando uma, duas, três vezes. Então, derramo
meu gozo nela. Sinto meu corpo estremecer e ela envolve seus braços ao meu redor e me segura,
enquanto me perco nela.
Afasto o cabelo do seu rosto e seu corpo estremece no meu. Ela está chorando? Oh, merda. Mas,
então, ela bufa e percebo que ela está rindo. Quase que histericamente. Seu corpo estremece mais e
aperta meu pau. Puxo-o para fora dela, porque preciso, não porque eu quero. Meu pau está tão
sensível que mal posso suportar;
Ela ri e eu olho para ela. Seus olhos são escuros na penumbra do quarto, e estão brilhantes. Mas
não de lágrimas. Mas sim de felicidade.
― Como foi? ― pergunto.
Beijo sua boca rapidamente. Ela ri de novo.
― Esse foi um teste prático ― diz ela. ― Quando podemos fazer o exame final?
Respiro fundo.
― Quando você quiser, princesa. Eu vivo para servir.
Ela ri de novo, e eu nunca, nunca ouvi um som mais bonito. Nunca.
REAGAN

A cordei com meu traseiro aninhado no colo de Pete, sua dureza pressionada contra minha bunda.
Ele se move contra mim e eu me encaixo lentamente. Ele empurra o cabelo da minha nuca e seus
lábios tocam o lugar sensível onde meu pescoço encontra o ombro. Seus dedos seguram meu seio e
ele não se move. Ele não move um centímetro em direção ao meu mamilo. Simplesmente acaricia os
dedos preguiçosamente na área sensível dos meus seios.
― Pete ― eu sussurro.
― Oi? ― ele sussurra de volta e posso ouvir o sorriso em sua voz.
― Você está tentando dar em cima de mim? ― pergunto.
Ele ri.
― Se você precisa perguntar isso, estou fazendo algo de muito errado. ― Ele me vira e levanta
minha perna, apoiando-a em seu ombro, seu hálito quente contra minha fenda úmida.
― Vou precisar me esforçar mais. ― Ele sorri.
Eu suspiro quando ele me abre com os polegares e inclina a cabeça, sua língua tocando meu
clitóris mais e mais.
― Acho que você vai precisar treinar muito ― eu falo, mas mal consigo respirar. Entrelaço a
mão em seus cabelos, segurando-o com força e empurrando-o para onde preciso que ele me toque.
Ele agarra meu clitóris enquanto enfia o dedo dentro de mim. Ele é menos cuidadoso do que no
passado. Parece ter menos medo de tentar algo novo comigo, mas ainda é calmo e suave. Sei que ele
vai devagar por minha causa e me pergunto quanto tempo ainda ele sentirá necessidade de fazer as
coisas assim. Para sempre?
Não tenho medo dele ou do que ele faz comigo, nunca tive. Aperto os lençóis com força, enquanto
ele gira o dedo dentro de mim, alcançando um ponto que eu não sabia que existia. Eu grito e ele
gentilmente e ritmicamente suga meu clitóris ao mesmo tempo em que movimenta seus dedos, me
fazendo perder o controle. Eu atinjo o clímax com tanta força que mal consigo respirar. Empurro a
cabeça para trás quando chego ao ponto mais sensível e ele diminui a pressão sobre meu clitóris e o
lambe. Tremores secundários me atingem.
Pete limpa o rosto em minha coxa e se arrasta por meu corpo. Ele se inclina e pega uma
camisinha, colocando-a rapidamente. Quando acho que ele vai me tomar, ele não o faz. Ele vira meu
corpo lentamente e coloca um travesseiro embaixo dos meus quadris.
― Tudo bem? ― ele pergunta, colocando o peso em minhas costas e seus lábios tocando meu
ombro novamente, como fez ainda há pouco. ― Preciso de você ― ele fala.
Eu concordo.
― Está tudo bem.
Ele afunda em mim por trás. Seu impulso é lento até que ele está totalmente encaixado dentro de
mim.
― Você está dolorida?
― Um pouco ― eu admito. Estou um pouco dolorida, mas fico satisfeita por ele estar dentro de
mim, que é exatamente onde quero que ele esteja.
― Eu vou ter cuidado ― ele sussurra. Eu sei que ele vai. Não quero cautela. Quero Pete.
Ele faz amor comigo, com movimentos preguiçosos, entrando e saindo, com cuidado e cautela.
Gozei com sua boca entre minhas pernas, mas sinto a excitação me tomar novamente. É uma sensação
completamente diferente. É uma onda quente de calor que vai tomando meu corpo e me conduzindo
ao orgasmo. Eu gozo e ele geme, empurrando seu corpo mais e mais contra o meu, até que ele
estremece e goza comigo. Ele grunhe e faz um ruído baixo com a garganta. É um ruído de conclusão.
Em seguida, ele puxa seu pau para fora, levanta-se, retira o preservativo e se limpa. Então, ele me
entrega uma tolha e vira de costas. Eu me limpo e, a seguir, ele volta para a cama, me abraçando.
― Você está bem? ― ele pergunta, me puxando para deitar na curva onde seu braço se liga ao
ombro.
― Eu não vou quebrar, Pete ― eu digo em voz baixa. ― Você não tem que me tratar como se eu
fosse feita de vidro.
Ele se assusta e olha para mim.
― Não estou.
― Está sim ― eu respondo baixinho. Odeio ter que fazer isso, mas não posso ter um
relacionamento baseado em medos que ele acha que pode evitar.
Meu telefone faz barulho e eu o procuro no bolso da minha calça, que está no chão.
É uma mensagem do meu pai.
Pai: Onde você está?
Eu: Com Pete.
Pai: Por quê?
Merda. O que eu disse?
Eu: Podemos falar sobre isso depois?
Pai: Claro, podemos sim. Assim que você chegar ao seu apartamento onde nós estamos
esperando desde ontem à noite.
Merda, merda, merda, merda.
Eu: Estarei aí em poucos minutos.
Dou um suspiro e coloco minha cabeça sobre a cama. Meu pai vai me matar. Ou matar Pete.
― Meus pais estão no meu apartamento ― eu digo.
― Oh, não. ― Ele geme, rola para a beira da cama e começa a se vestir.
― Para onde você está indo? ― pergunto.
Ele olha para cima, com a sobrancelha arqueada.
― Eu vou com você.
― Isso não é necessário ― eu digo. Na verdade, prefiro que ele não vá. Papai deve estar puto e
ver Pete só vai piorar a situação.
― Eu não me importo ― diz ele, e continua a se vestir.
― Pete ― eu chamo. Ele finalmente olha para mim.
― O quê?
― Eu prefiro que você fique aqui.
― Por quê? ― Ele parece confuso.
― É domingo de manhã. Meus pais provavelmente vão ficar o dia todo. Eu preciso passar algum
tempo com eles. ― Eu só quero poupá-lo da ira do meu pai.
Ele balança a cabeça.
― Tudo bem ― diz ele lentamente. Ele chuta os sapatos.
Eu me visto e lhe dou um beijo.
― Te ligo mais tarde.
Ele balança a cabeça.
― Certo.
Eu preciso lidar com essa situação com meu pai para que eu nunca mais tenha que lidar com isso
de novo.
PETE

O telefone toca e dou um pulo para pegá-lo. São seis da tarde de domingo e Reagan saiu cedo e não
me ligou uma vez sequer.
― Alô? ― eu falo e Sam ri. Ele vai pegar o ônibus de volta para a faculdade hoje ainda, então
ele vai ficar aqui até umas onze horas. Ele diz algo sobre eu estar com as bolas amarradas e eu jogo
uma almofada nele.
― Pete? ― uma voz masculina soa do outro lado da linha.
― Sim.
― Pete, é o Phil. ― Devo estar muito tranquilo porque ele continua a falar. ― Seu agente da
condicional.
― Sim, senhor ― eu digo e sento-me para que eu possa prestar muita atenção.
― Pete, posso buscá-lo para que você vá a um lugar comigo? É importante.
― Claro ― eu nem sequer hesito. ― Posso perguntar para onde vamos?
― Vou te falar mais tarde, quando eu for buscá-lo ― ele fala, soando chateado, e eu quero saber
o que está acontecendo. ― Posso passar aí em dez minutos?
Desligo e vou me vestir. Fico me perguntando o que pode ser tão importante para que Phil venha
me ver num domingo. Mas acho que vou descobrir.
Phil para na frente do meu prédio em um Ford preto e faz um gesto para que eu entre.
― Tenho más notícias, Pete ― ele fala e não olha para mim.
― Que notícias?
― Edward, um dos rapazes do programa juvenil, recebeu a visita da irmã ontem, depois do
grupo. Ele estava indo tão bem, senti que ele estava pronto, especialmente depois de ter passado
tanto tempo com você no acampamento. Mas houve uma briga e o pai adotivo da irmã foi gravemente
ferido. Edward foi esfaqueado e acabou de sair da cirurgia. O pai adotivo morreu na luta.
― O quê? Como isso pode acontecer?
― Aparentemente, a irmã de Edward lhe disse que o pai adotivo não estava tratando-a bem.
Edward perdeu a cabeça, e ele retrucou. Ele atacou-o, e os dois brigaram. O pai tinha uma lâmina no
bolso. Edward passou toda a manhã na cirurgia.
― Ele está bem?
Phil balança a cabeça.
― Eu não tenho certeza. É por isso que vou vê-lo. Ele não quer ver ninguém, e você parecia ter
uma conexão real com ele no acampamento e até mesmo no grupo ontem. Então, achei que você
conseguiria conversar com ele.
― O que vai acontecer com ele? ― pergunto.
― Espero que este seja um caso de legítima defesa. Da última vez que ficou em apuros, ele era
um delinquente juvenil. Ele tem dezoito anos agora. Será julgado como adulto, se houver acusações
criminais. ― Ele balança a cabeça e respira fundo. ― Preciso que alguém consiga ouvir dele a
história. Assim, Caster pode ajudar a preparar a sua defesa, mas ele não quer falar com ninguém. Já
falei com Bob Caster, e ele está vindo para falar com ele também.
― Ele está na casa de Reagan ― eu respondo.
Ele me olha, colocando a caminhonete em marcha.
― Sim, eu sei.
Passo a mão na parte de trás da minha cabeça.
― Eu lhe disse para ter cuidado com ela ― Phil me lembra.
― Eu tenho sido ― eu falo. ― Muito cuidadoso.
― Ele está muito chateado ― ele me diz. Estou certo que sim.
― Eu a amo como um louco, Phil ― eu digo.
Seu polegar tamborila no volante, mas ele não fala mais nada. Ao chegarmos no hospital,
permitem que a gente entre no quarto, após Phil exibir sua identificação. Ele entra e eu vejo Tic Tac,
não Edward, na cama. Fios e tubos estão em seu corpo e ele parece muito frágil. Uma moça está
sentada ao seu lado, segurando sua mão, e acho que é sua irmã. Ela fica de pé quando entramos no
quarto.
― Eu nunca deveria ter dito a ele ― diz ela. ― Eu nunca deveria ter dito a ele, e então isso não
teria acontecido.
Phil entrega a ela um lenço de papel, e eu coloco minhas mãos nos bolsos. Não tenho certeza do
que fazer com elas.
― Olá ― eu digo quando ela olha para mim.
― Você deve ser Pete ― diz ela e sorri. ― Edward me contou tudo sobre você.
― O que aconteceu? ― pergunto, apontando para a cama.
Suas sobrancelhas arqueiam.
― Ele deu a sua vida por mim. Mais uma vez. Ele fez isso antes, quando foi para o centro de
detenção, e fez novamente hoje.
Phil coloca a mão em seu ombro.
― Eu gostaria de tomar um café ― ele fala. ― Pode ir comigo?
Acho que ela sabe que eu quero falar com Edward. Ela balança a cabeça e olha com tristeza para
a cama.
― Por favor, faça com que ele não desista de lutar ― ela sussurra. ― Não deixe que ele desista.
Ela sai do quarto com Phil, e eu sento na cadeira em que ela estava. Roo distraidamente a unha,
me perguntando se eu deveria acordá-lo.
― Eu sou tão lindo que você mal consegue recuperar o fôlego, não é? ― ele pergunta, sua voz
calma. Eu nem sabia que ele estava acordado. ― Respire fundo, cara ― ele fala.
― Como você está? ― Tento falar com jovialidade. ― Você parece uma merda.
― Obrigado. ― Ele geme enquanto se acomoda melhor. ― Eles dizem que eu vou viver. ― Seu
olhar vagueia ao redor do quarto, e me pergunto se ele está pensando no homem que ele matou.
― Fico feliz ― eu digo. Não sei como falar com esse garoto. Eu realmente não sei. ― Quer me
dizer o que aconteceu?
Ele balança a cabeça.
― Por que não?
― Ele está morto, certo? ― ele pergunta. Uma lágrima rola em sua bochecha, e ele a enxuga.
― Sim.
― Algumas pessoas precisam ser mortas ― ele fala. Ele não esboça um sorriso e sua voz é
pausada. Ele está sofrendo, tenho certeza.
― Ele precisava morrer? ― pergunto.
― Ele estava machucando minha irmã ― ele fala. ― Soube disso no momento em que entrei na
sala. ― Ele aperta a grade da cama até os nós dos seus dedos ficarem brancos. ― Ela nem sequer
precisava falar. Pude ver em seus olhos, assim como antes.
― Havia uma faca? ― pergunto. Tento gravar tudo o que ele está me contando, e me pergunto se
não deveria estar anotando.
Seu olhar se prende ao meu.
― Não era minha ― diz ele. ― Era dele. Ele me ameaçou com ela e não pude detê-lo. ― Ele
coloca a mão sobre o estômago. ― Ele enfiou-a em mim. Puxei-a para fora e ele pulou na minha
direção e se lançou sobre ela. ― Ele está chorando abertamente agora. ― Juro por Deus que eu não
queria matá-lo.
Estendo a mão para apertar a dele, nossos polegares se cruzando da forma como homens
costumam apertar as mãos.
― Foi um acidente.
― Você acha que eles vão acreditar? ― ele pergunta.
― Eu não sei ― digo em voz baixa. Não quero dar-lhe esperança, se não houver nenhuma.
― Eu tinha planos, sabe? ― diz ele, fungando. ― Eu os escrevi.
Jesus Cristo. Esse garoto tinha planos.
― Eu queria ser alguém de quem minha irmã pudesse se orgulhar. Eu queria ser para ela o que
ninguém foi para mim.
― Você ainda pode ter essas coisas, Edward ― eu digo.
Ele balança a cabeça.
― Será que eu vou para a prisão? ― ele pergunta.
― Eu não sei ― eu digo novamente.
― Eu não quero ir para a prisão ― diz ele.
― Precisamos fazer algumas tatuagens em você ― eu digo. ― Ninguém se mete com você na
prisão se você for todo tatuado. ― Aperto sua mão. ― Preciso que você me faça um favor ― eu
digo.
― O quê? ― ele pergunta, seus olhos cautelosos.
― Preciso que você se lembre que você é tão importante quanto a sua irmã.
― Eu não sou ― ele protesta.
Observo seu rosto, neste momento. Só consigo me lembrar de quando costumava chamá-lo de Tic
Tac em minha cabeça e percebo que fiz um desserviço a esse garoto. Ele é muito melhor que isso. Ele
é um bom rapaz, e eu poderia tentar ser como ele, mas o julguei por sua aparência, e me sinto mal por
isso.
― Você é tão importante quanto ela, só não teve ninguém que lutasse por você. ― Sinto meus
olhos se encherem de lágrimas, e pisco para afastá-las. ― Mas você tem alguém agora, idiota. Estou
aqui. Não vou a lugar algum.
― Sempre me disseram durante toda a minha vida que eu não valho nada.
― Eles mentiram ― eu resmungo. ― Mentiram para se sentirem melhor do que você. ― Encolho
os ombros. ― Cabe a você acreditar ou não. ― Solto a mão que estava segurando. ― Você é um
cara incrível.
― Minha irmã precisa ir para um lar até que eu possa tirá-la da assistência social ― diz ele.
― Vamos falar com Phil e ver se ele pode ajudar. ― Solto um suspiro profundo. ― Não desista,
está bem?
Ele não diz nada.
― Olha o que você passou, Edward ― eu digo. ― Quantas pessoas poderiam ter sobrevivido?
Você conseguiu. Portanto, não jogue tudo fora agora. Tenha esperança.
― Não posso pagar pela esperança. ― Ele bufa. ― Essa merda é cara demais.
― Então, eu posso te dar um pouco da minha. Porra, você pode ficar com toda a esperança que
tenho por você.
― Eu nunca tive ninguém ao meu lado antes ― diz ele.
Phil e Sr. Caster entram na sala. O Sr. Caster olha para mim, e Phil parece curioso.
― O cara caiu sobre a faca ― eu digo. ― Edward não fez isso de propósito.
O Sr. Caster puxa um bloco de notas e começa a escrever. Ele faz um gesto para Edward
continuar, e ele conta novamente toda a história, enquanto o Sr. Caster toma notas.
Phil bate a mão no meu ombro.
― Obrigado ― diz ele. ― Eu realmente acho que você poderia ser bem-sucedido nesta linha de
trabalho.
― Não sei se consigo lidar com toda a dor ― eu admito.
― Ele chorou como um bebê ― Edward fala. Ele ri e então agarra o lado do seu corpo que dói.
― Não chorei ― resmungo e aponto para o lado onde ele colocou a mão. ― É isso que você
recebe por ser um espertinho.
― Melhor um espertinho que um idiota ― diz ele rindo.
― Preciso te levar para casa ― diz Phil. ― São quase nove horas.
Merda. Eu quase esqueci. Concordo com a cabeça e aperto a mão de Edward.
― Vejo você amanhã ― eu digo. Ele sorri e acena com a cabeça. Ele me faz lembrar a tatuagem
de Reagan. A flor dirigindo-se para o sol.
― Sr. Caster ― eu digo, e estendo minha mão. Ele a aperta, embora com relutância. ― Foi bom
vê-lo novamente.
― Você vai me ver muitas outras vezes, Pete ― diz ele e sorri. Mas não há alegria nele. É um
aviso.
― Claro, senhor.
Phil acena para mim, e saímos para a caminhonete. Minhas emoções estão à flor da pele e sinto
vontade de bater em alguma coisa.
― O que aconteceu com Edward acontece com muitos garotos?
― Mais do que você poderia imaginar ― diz ele. ― Todas as variações da mesma cena. ― Ele
olha para mim. ― Eu não estava brincando quando disse que você seria bom neste tipo de trabalho.
― Eu sei. Estou pensando sobre isso. ― Não sei se quero estar na linha de frente como ele. Ou
se quero ser um advogado, como o Sr. Caster. Ainda estou decidindo.
― Obrigado por me acompanhar ― diz ele.
― A qualquer hora.
A caminhonete para e eu saio. Eu queria muito ir até a casa de Reagan, mas, com a tornozeleira
de monitoramento, não posso. Não poderia ir até ela de forma alguma. Estou emocional demais.
Jamais poderia ser o que ela precisa, neste estado.
Corro até as escadas. Eu realmente preciso de um bom treino para me livrar dessa energia. Sinto
que estou a dois passos de perder o controle de mim mesmo. Estou com fome. Estou com raiva de
mim por não ter dado valor à minha vida. Estou bravo pelo câncer ter deixado Matt doente. Estou
louco comigo mesmo. Com raiva de mim. Irado porque o sistema não protegeu Edward ou sua irmã.
Irritado com tudo.
Entro no apartamento e as luzes estão apagadas. Graças a Deus não tem ninguém em casa. Vejo
um fio de luz saindo por baixo da minha porta. Abro-a e vejo Reagan deitada sobre a minha cama,
lendo um livro. Ela senta e afasta o cabelo do rosto.
― Você chegou ― ela fala e sorri para mim. É tão belo e doce e é por isso que não posso vê-la
agora.
― Você não deveria estar aqui agora ― eu digo.
― O quê? ― Ela arqueia as sobrancelhas.
― Você deve voltar para o seu apartamento ― eu digo e mexo nas coisas da cômoda para não ter
que olhar para ela.
― Não ― ela diz. ― O que há de errado?
― Eu tive um longo dia. E, particularmente, não quero companhia. ― Sei que estou machucando-
a, mas, se ela ficar aqui, não vou ser o que ela precisa.
― Pete ― ela insiste. ― Diga-me o que aconteceu hoje.
― O que aconteceu com você? ― pergunto. ― Seu pai ficou chateado porque você passou a
noite aqui? ― Com o ex-presidiário. Não digo que a última parte, mas penso.
― Ficou ― diz ela com um aceno de cabeça. Ela está escolhendo as palavras com cuidado. ―
Mas ele é meu pai. É seu papel agir assim.
Sua mão segura meu ombro, mas eu recuo. Ela recua também, mas não vai embora. Fecho meus
olhos com força e apoio as mãos na cômoda. Quero rastejar como uma bola num canto e me balançar
até dormir. Não, não quero. Quero ficar nos braços de Reagan, me afundar dentro dela, torná-la uma
parte de mim e permitir que ela afaste a dor. Mas ela não pode. Não foi feita para isso.
― Você deve ir embora, Reagan ― falo novamente.
― Não ― ela responde e tenta me virar para encará-la, mas não vou ceder. Ela solta um suspiro
e se abaixa para deslizar por baixo do meu braço, ficando entre mim e a cômoda. Eu me afasto. Não
posso estar tão perto dela. Não posso. Não está tudo bem.
― Eu não posso ser o que você precisa agora ― eu digo em voz baixa. Minha voz treme.
― O que você acha que eu preciso? ― ela sussurra.
Engulo o nó em minha garganta e flexiono os dedos e os punhos.
― Você acha que eu preciso ser amada calma e cuidadosamente ― ela fala devagar.
Concordo com a cabeça, brincando com o piercing em minha boca.
― Você quer saber o que eu acho? ― ela pergunta.
― O quê? ― eu resmungo. Aparentemente, me transformei em um homem das cavernas que só
consegue falar monossílabos.
― Acho que preciso ser amada... completamente.
Encaro-a. Seus olhos são suaves e um sorriso surge em seus lábios.
Ela caminha até mim e segura meu rosto com as mãos.
― Eu te amo completamente ― eu digo. ― Mas...
Ela balança a cabeça.
― Não, não ama. Você se segura porque tem medo de me machucar. ― Então, ela envolve seus
braços ao redor do meu pescoço e seus lábios pairam a poucos centímetros dos meus. Ela sussurra:
― Me ame completamente, Pete.
Eu grunho e puxo sua camiseta para cima e sua calça para baixo, sua calcinha caindo com ela.
Ela não parece sentir medo, então, puxo-a para a cama. Ela dá um passo atrás cada vez que dou um
para frente, até que ela não tenha escolha a não ser sentar-se na cama. Ela vai para o centro da cama
e eu admiro-a, olhando seu perfeito corpo nu.
― Não posso ser calmo ou cuidadoso ― advirto. ― Mas vou parar se você me pedir. Basta
falar.
― Eu sei ― ela responde e balança um dedo para mim, mas não vou deixá-la assumir o
comando. Pego seu pé e puxo-a para mim. Imediatamente, fico preocupado se fui bruto demais, mas
ela apenas ri.
― Preciso estar dentro de você ― eu digo enquanto pego um preservativo e o coloco em meu
pau. ― Acho que não posso esperar.
Ela não diz uma palavra.
Cuspo na minha mão, com medo de que ela não esteja molhada o suficiente. Esfrego meu pau e
arrasto-o por sua entrada. Seguro seus quadris com força e entro nela. Balanço dentro dela com força
e ela grita. Mas não de dor.
― Não pare ― ela fala e puxa meus cabelos, me obrigando a olhar em seus olhos. ― Deixe-me
ser o que você precisa, assim você será o que eu preciso também. ― Sua respiração acelera
enquanto eu golpeio dentro dela. Não me canso de amá-la. Não consigo chegar a uma profundidade
suficiente. Levanto suas pernas, deixando a sua parte inferior inclinada. Suas mãos seguram minha
bunda, me puxando com mais força e mais profundamente a cada estocada. Estou completamente
dentro dela, tomando cada centímetro do seu corpo de seda enquanto ela me recebe. Ela aceita minha
raiva, minha impotência e meu amor por ela.
― Pete ― ela geme e repete meu nome mais e mais. Sinto a contração de sua boceta ao redor do
meu pau, me ordenhando quando ela goza. Mas não estou pronto para terminar. Puxo-a e entro nela
novamente. Seguro suas coxas com força e ela parece ainda mais apertada, se é que isso é possível.
Ela deita com o rosto contra os lençóis e a bunda para o ar. Ela me deixa comê-la por trás. Sou duro
e áspero e a amo tanto. Seguro seu cabelo com força, para que eu possa virar sua cabeça e beijá-la.
Sua língua toca a minha e seus lábios tremem. Alcanço seu centro e encontro seu clitóris,
acariciando-o da maneira como sei que ela gosta. Retardo meus movimentos e provoco seu orgasmo,
até que ela está tremendo em meus braços.
Viro e puxo-a para sentar sobre mim.
― Não sei quantas vezes mais consigo gozar, Pete ― ela fala e morde o lábio inferior.
― Me toque ― eu falo e ela segura meu pau, bombeando lentamente. Ele está molhado da sua
umidade. Paro a mão dela e ela segura a cabeça do meu pau. Seguro seus quadris e a puxo para
baixo, até que ela me toma por inteiro. Então, viro-a e deito sobre ela, fodendo com força.
Ela grita meu nome entre gemidos, e eu amo o fato de que ela me deixa fodê-la dessa forma. Sua
respiração toca minha orelha e ela geme:
― Eu te amo, Pete ― repetindo mais e mais e não consigo acreditar em como sou sortudo.
Ela goza novamente e eu finalmente gozo com ela. Deito sobre ela e sinto meu amor transbordar
do meu coração. Envolvo seu corpo com meu braço e sinto-a ainda tremendo. Enfio uma mecha de
cabelo, que está suado, atrás de sua orelha.
― Você está bem? ― ela pergunta, apoia o queixo em meu peito e olha para mim. Escapo de
dentro dela e não consigo segurar um gemido quando nos separamos.
― Estou bem ― eu digo. Olho-a e me sinto triste por ter feito isso com ela. ― E você? ―
pergunto. ― Por favor, diga que eu não te machuquei.
― Pete ― ela sussurra. ― Você tem que superar seu medo de me machucar.
Ela está abraçada comigo e nunca me senti tão bem. Desenho pequenos círculos em suas costas.
― Eu te amo completamente, princesa ― eu digo.
Ela me aceita como ninguém nunca aceitou. Ela me aceita como Pete. Ela me aceita como ex-
presidiário. Ela me aceita como o irmão de quatro homens que vai amá-la. E espero que, um dia, ela
me aceite como seu marido, porque acho que não conseguiria viver sem ela.
Ela ri, e sua alegria me toma.
― Acho que vou estar muito dolorida para você me amar assim completamente outra vez, esta
noite.
― Posso pensar em algumas maneiras de contornar isso.
Ouço um miado lamentoso do outro lado da porta e vejo uma pata arranhando para trás e para
frente o espaço onde a porta não toca o chão.
― Vá pegar meu gato ― diz ela, empurrando meu ombro. ― Você me esgotou. Não posso me
mexer.
Eu rio e deixo sua gatinha entrar.
EPÍLOGO: MATT

R eagan está dando uma aula de autodefesa no centro de recreação, e todos nós, irmãos Reed,
dissemos que estaríamos lá. O que nenhum de nós sabia era que ela queria nos usar como isca.
― Não deveríamos estar usando capacetes e roupas estofadas para isso? ― Paul pergunta
quando tenta bloquear um chute na virilha de Friday. Ele consegue, mas por pouco.
― Eu precisava de um boneco para treinar, então escolhi você ― Friday grita e balança seu
punho no ar, e Paul envolve um braço ao redor de sua cintura e oscila ao redor dela brincando. Ela
grita e balança as mãos, mas ele não a solta.
Reagan olha para Pete e pisca. Ela não tem mais medo que qualquer um de nós a toque. Ela
jamais sentiu medo de Pete, mas agora ela fica calma perto de todos nós e, às vezes, eu a abraço só
porque posso. Ela faz Pete feliz pra caralho.
― Venha me atacar ― ela fala. ― Devagar, por favor ― ela acrescenta, quando ele hesita.
Ele geme e vai. Ele ainda se lembra da última vez que ele fingiu que ia atacá-la. Então, quando
ele se aproxima, ela gira e derruba-o no chão. Ele geme e rola numa bola.
― Chega ― ele geme. ― Alguém precisa assumir meu lugar.
O pai de Reagan ri. Seus pais estão aqui para passar o fim de semana. Pete está meio chateado
porque precisou voltar para casa, enquanto eles estão em seu apartamento. Ele vive com ela quase o
tempo todo, agora que ele não está mais em prisão domiciliar. O pai de Reagan parece apreciar
demais o desconforto de Pete. Seu irmão mais novo, Link, também é muito bom em artes marciais.
Ele pratica isso como tudo o que ele faz: com paixão, premeditação e cautela. Ele não fala muito,
mas todos nós o respeitamos. Ele é quem é, assim como o resto de nós.
Sam intensifica e Reagan trabalha alguns movimentos com uma das garotas que estão treinando.
Sam recebe o golpe de Reagan e a menina se torna mais confiante. É bom ver isso. É bom ver Reagan
à vontade, e sei que ela está fazendo um bom trabalho com essas meninas.
Um dos amigos de Pete do programa de recuperação juvenil, Edward, veio com sua irmã. Ele não
foi acusado por sua participação na morte do homem, e está passando muito tempo com sua irmã,
mesmo que ela não possa viver com ele. Ele mantém um olho nela. Ela é tímida como um ratinho,
mas é uma menina doce, e sinto que vai conseguir passar por isso. Ela não está participando das
aulas ainda. Está sentada na ponta da arquibancada ao lado de um menino em uma cadeira de rodas.
Acho que o nome dele é Gonzo. Ele é outro dos enjeitados de Pete. Eles ficam em torno dele como se
precisassem dele. Talvez eles precisem. Sei que eu preciso. Pete tornou-se o homem que ele sempre
deveria ter sido, agora que ele tem Reagan. Eu nunca estive tão orgulhoso dele.
Gonzo ri, e sei que o menino não pode falar por causa da sua traqueostomia. Então, Gonzo está
usando um computador para que ele possa se comunicar com a irmã de Edward. Queria poder
lembrar seu nome. Ela fala com ele e ele sorri, muito rapidamente. Seu rosto enrubesce. Eles são da
mesma idade e há, definitivamente, uma faísca aí. Há uma tampa para cada panela, Pete diz sempre.
Eu dou de ombros mentalmente.
Reagan faz um gesto para eu me aproximar. Vejo Sam caído. Merda. Ela vai castrar todos nós.
― Eu tive câncer ― eu gemo enquanto ela sorri para mim. ― Eu quase morri ― lembro-a.
Ela ri e me usa para mostrar alguns movimentos. Ela parece me dar uma colher de chá, mas, em
poucos minutos, estou com minhas costas no chão também. Ela coloca as mãos nos quadris e sorri
para mim.
― Você realmente não achou que eu iria pegar leve com você, não é? ― ela pergunta.
Logan joga Emily por cima do ombro e começa a correr em torno do ginásio com ela gritando.
Paul faz o mesmo com Friday, e Sam para ao meu lado.
― Tem alguma coisa acontecendo com Paul e Friday? ― ele pergunta.
― Paul ainda acha que ela é lésbica ― eu respondo.
― Devemos dizer a ele que ela não é? ― Sam pergunta.
― Nãooo! ― Eu sorrio. É mais divertido dessa forma.
Olho para a porta e vejo Skylar, a mulher que está cuidando dos filhos de Kendra. Ela prometeu
trazer Seth e estou contente em vê-la. Meu coração acelera. Ela está usando roupas de ginástica e
posso ver sua barriga. Quero lambê-la. Ou fazer um piercing lá. Ou ficar sobre ela. Meu pau contrai
e vou até ela.
― Oi ― eu digo.
Ela sorri e parece estar com a respiração acelerada.
― Oi ― ela responde.
― Está tudo bem? ― pergunto.
Ela lança um olhar em direção a Seth.
― Não realmente ― ela responde com um suspiro pesado.
― Estava esperando poder pedir sua ajuda.
― Para as crianças? ― pergunto, apontando na direção deles. ― Qualquer coisa.
Olho ao redor do ginásio. Esta é a minha vida. E eu a adoro.
CAROS LEITORES,

E ste livro foi uma jornada, mas espero que você não esqueça que esta foi a jornada de Reagan, e
que cada vítima de agressão sexual terá uma jornada diferente.
Não importa a história, todos nós devemos estar cientes dos fatos:
• Uma em cada quatro meninas em idade universitária é agredida sexualmente durante a sua
carreira universitária;
• 20% das mulheres, quando perguntadas se já foram forçadas a praticar atos sexuais, dizem que
sim.
Se você foi agredida ou conhece alguém que foi, existem recursos que você pode usar para obter
ajuda.
No Brasil, em boa parte dos estados, você pode contar com a Delegacia de Atendimento à
Mulher (DEAM).
Lembre-se, mesmo que você nunca tenha sido violentada, pode oferecer ajuda a alguém que tenha
sido. O centro de atendimento a vítimas de estupro da sua região pode dar mais detalhes.
Espero que tenham gostado história de Reagan e Pete.
Por favor, lembre-se que o silêncio não muda nada.
Abraços,
Tammy
NÃO DEIXE DE CONFERIR OS DEMAIS LIVROS DA SÉRIE
OS IRMÃOS REED:

Tatuagem, toque e tentação – Livro 01


Ela está fortemente fechada. Mas ele pode ser a chave. Logan Reed é alto, tatuado e tentador. Kit
é uma mulher com um forte gancho de direita e um segredo. Kit quer uma tatuagem, mas Logan vê
mais do que ela pretende compartilhar no desenho de sua tatuagem. Ele a vê como ninguém jamais o
fez. Logan não é inválido, mas não fala há oito anos. Ele não precisou, até conhecer Kit. Logan não
sabe tudo sobre Kit. Kit não sabe nada sobre si mesma, até ter que sacrificar tudo que sempre quis
para salvar o que é mais importante para ele.

Sagaz, sexy e secreto – Livro 02


Emily
Voltei para Nova York pronta para começar minha nova vida com Logan. As coisas ainda estão
no ar entre nós, e já se passaram três meses desde a última vez que falei com ele. Mas tem uma coisa
da qual tenho certeza: não posso viver sem ele.
Logan
Preciso dela como preciso de ar. Mas agora ela está de volta, e seu pai e seu ex-namorado estão
conspirando para nos manter separados. Sei que podemos superar isso. Não podemos? Será que
podemos fazer nossa relação dar certo? Temos que conseguir porque não posso imaginar minha vida
sem ela.

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