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HENRIQUE C. DE LIMA VAZ Escritos de Filosofia II ETICA E CULTURA FILOSOFTE Coleco dirgida pela Faculdade do Cento de Estudos Superiores da Companhis de Jesus Diretor Jodo A. A.A, Mac Dowell Coiretores: Henrique C. Lina iz. SI Danilo Mondon, Insitato Santo Inicio A, Dr Cristiano Guimaries, 2127 (Plana) 31720.300 Belo Horvont, MG ua 1822 0 347 ~ picanga (4216-000 Sto Paulo, SP ina Postal 42.335. (04298.970 Sto Pasta, SP Fone (ve1t) 6914-1022 Fax (O=e11) 6168-4275 Home page ¢ vendas: www.lyol.com be ‘email loylaGibm.net Tadeo direitos reservados. Newham parte desta obra pode vee pred roma por quater forma io guainguer mete fltrinio ou mecaie, incline Fotocipiae gravagio) ou arquvada em qualquer sistema ‘5 banc de dador sem permindo veri a Baiora ISHN: 85-15.00796.0, edie: setembro de 2000 ‘© EDIQDES LOYOLA, Sto Peale, Bs Aut igitur negemus quidquam ratione confici, cum contra nihil sine ration reete flert possit aut, cum philosophic ex rationtim collatione constet, ab ea, si et boni et beati esse volumus, omnia adjumenta et auzilia petamus bene bea teque vivendt MT. Cicero, Tuse. Disp. IV, 28 ADVERTENCIA PRELIMINAR Este segundo volume dos Escritos de Filosofia* retine alguns textos que foram ordenados em toro de um mes- ‘mo tema central, a saber, © problema das relagdes entre Erica e cultura ou, mais exatamente, o problema da origem do destino da wtiea na cultura ocidental ‘Tendo sido aparentemente a rinica civiizacio connect ‘da a colocar decididamente a episthéme, fruto da Razio @emonstrativa, no centro do seu universo simbdlico, a ci ‘ilizagio do Geidente se vé a bragos, hé 28 séculos, com © ingente labor tebrico (ver infra Anexo 6) de transpor fs costumes e as crengas nos codigos discursivos do ogos fepistémico. Os sistemas teoldgicos e éticos so, a0 longo da historia da nossa civilizaglo, 0 campo desse labor e nele ‘8 philosophia, invencdo tipicamente grega, destinada 8 pen- Sar conteido das crengas e a normatividade dos costu- ‘mes, encontra sua matriz conceptual primeira e © espago te6rico dos seus problemas fundamentais. Hrogel fol o ultimo grande filésofo que reconheceu na ‘matriz teol6gicostica o lugar de nascimento e a origem das coordenadas. do esparo filosdfico, Depois dele sucessivas geragbes de epigonos — de Marx a Heidegger — entrega: Tame a um minucioso e pertinaz aff de demolicso do edi ficio intelectual erguido pela civilizagso do Ocidente © co- roado pela Filosofia. Sé0 0s alicerces ontoteol6gicos dese dificio, sobre os quais se edificaram as estruturas da Ra- 42ho tedrica e da Razio pritica — a Motafisica © a Buca — ‘que mais fundamente sio atingidos por esse furor destruens 1, Beerlon de Filosofia: Problemes de fronteira (ol, Posoti, 2), So Paulo, BA" Loyola lie, Assim, nlio 6 dificil percober no solo das grandes tendén- tias do pensamento ‘contemporaneo uma notavel e inegs vel correspondéncia entre a critica dos fundamentos da Me: tasica e a critica dos fundamentos da Etica. 0 positivis ‘mo ldgico no é sen30 0 paradigma mais conhecido dessa, correspondéncia. "Eis al, sem divida, posta a descoberto ‘uma das raizes do profuindo paradoxo ¢ a extrema. ambi filidade da nossa cultura, na’ qual a multiplicagio das ra 200s de toda ordem — desde as cientificotéenicas ate 2s ‘ideoldgico-politicas — ¢ acompanhada por um generalizado fe invencivel ceticismo que atinge as raz6es ultimas do ser © da vida, Justamente essas razbes metafisicosticas ‘com fs quais a civilizagao da Razio comegou por estabelecer © centro do seu universo simbdlico ea tentar tragar a5 Giregées possiveis do seu caminho historic Os textos que aqui publicemos pretendem ser apenas ‘uma contribuiglo, muito limitada e modesta, para a dis ‘eussio desses grandes problemas, cingindose & questo dos fundamentos da Ftica. Os trés’primelzos capitulos. inspi Tamse na introdugio a um curso de #tica Geral. que fol, ministrado no Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia © Ciéncias Humanas da UFMG em 1984 e tem sido repetido na Faculdade de Filosofia do Centro de Estudos Superiores de Filosotia e Teologia da Companhia de Jesus, ‘em Belo Horizonte. Os capitulos IV e V retomam, refun. dem em parte e ampliam dois artigos publicados respect vamente em 1977 e 1974, Os Anexos reproduzem, com Ii. {geiras, moditicagdes, textos publicados na revista Sintese de 1974 a 1987. Alguins desses Anexos parccem afastar-se do ‘tema central do livro, mas uma leitura atenta mostraré que, ‘no fundo, esté presente a mesma pergunta decistva: uma ci ilizagio que celebra 2 Razio, mas abandona a Metafisiea a Btlea'e somelhante, para iembrar uma comparscto de Hegel, @ um templo sem altar; que outro destino Ihe resta, sendo’o de tornar.se tuma spelunoa latronum (Mt 21,13)? © plano inicial do volume previa um capitulo sobre Bt cae liberdade, Mas a sua elaboragao avangou muito além {dos limites previstos e pareceu aconsethdvel reservi-lo para ublicacdo & parte. Dedico estas paginas, com emogdo ¢ earinho, & minha terra natal, Ouro Preto, Na austers Ouro Preto dos anos 30, ainda toda impregnada do velho humenismo mineito, 8 apenas adolesvente abri pela primeira ver, na biblioteca, {do meu avo materno, uma obra de Plato e era justamente a Repiblica na antiga tradugio francesa ‘de Dacier- Gros. Entrego, pois, & minha terra algum fruto da semente de lum destino de vida que germinou um dia em seu selo ge Salve! magna parens frugum Saturnia tellus ‘Magna virum: tibt res antiquae taudis et artis Ingredior, sanctos ausus recludere fontes, Georg. 11, 173175 HC. DE LIMA vaz, 81. Prof, Malus refine pelo se ieee na pubucagdo dane ere's palo simpre penoso trbbaine de orpanaapio do indice Onomastica Capitulo Primeiro FENOMENOLOGIA DO ETHOS 1, PRELIMINARES SEMANTICOS Para Aristételes seria insensato ¢ mesmo ridiculo (ge loion) querer demonstrar a existéncia do ethos, assim c0- ‘mo é ridiculo querer demonstrar a existéncia da physis.: Physis e ethos $40 duas formas primelras de manifestacio 40 ser, ou da sua presenga, nio sendo o ethos senso trans crigfo da physis na pecullaridade da prazis ou da agio hu ‘mana e das estruturas histdrico-socials que dela resulta. No ethos estd presente a razio profunda da physis que se manifesta no finalismo do bent e, por outro lado, ele rom- ype @ stlcessio do mesmo que catacteriza a physis como Gominio da necessidade, com o advento do diferente no ‘espago da liberdade aberto pela praris.* Embora enquanto autodeterminagio da prazis 0 ethos se eleve sobre a physis, fle reinstaura, de alguma maneira, a necessidade da natu. feza ao fixarse na constancia do hébito (heris). Demons: trar a ordem da praris, articulada em hébitos ou virtudes, rio segundo a necessidade transiente da physis, mas se: 1 Nor Fe 1 1, 18 9 10. Sendo phase um gndrinon ou um notum per see, portato, um prep (argue) da, demenstracto, (luster brovar # iiiincia da phyol seria sh apoidesia 10m ant ‘gnorancia dos broctdimentos analitions, Ver Pi. I, Dike WD. Ross, Artois Physics, Teised txt woth ‘id’ commentary Oxford, Clatndcn’ Pres, 1885, pp. SY A’phyats 6 ata tou at sempre) eo ethos é tou pola (mul tas seus) Wer ariatalen, fet 11, 1810 «Nie VE, 8, 82a u undo © finalismo imanente do fogos ou da razso, ois 0 ‘propésito de uma ciéncia do ethos tal como Aristételes se ‘propse constitutla, coroando a tradicao soerdtico pletont e." A Blea aleanga, assim, seu estatura de saber autono- ‘mo,* e passa a ocupar um'luger preponderante na tradl- ‘Go| cultural e filosofice do Ocidente.” © termo ethos € uma transliteragio dos dots voodtulos agregos ethos (com eta inieial) © ethos (com épsiion inicia) E importante distinguir com exatidio os matizes peculia ris a cada Um desses termos, "Por outro lado, sa eles acrescentarmas 0 vocabulo hezis, de ralz diferente, teremos @efinido um nucleo semantico & partir do qual. serd pos. sivel tragar as grandes linhas dz Elica como clénc'a do ethos." ‘A primeira acepetio de ethos (com eta inicial) designa ‘a morada do homem (e do animal em geral). O ethos € 8 feasa do homem. O homem habita sobre a terre scolhendo 3. Ver Ht Me 1, captuos 14:1, 7, 004 811008 » a, Yer I. Da- ting, Aritoates Darstetung und interpretation scines Deniens, ld ‘erg, Car Winter, ies, pp. (4M: sobre praise aureza ver Igual- Tens MC Gantor, Met! und. Ze! in dor proktschen Philp des ‘Aritotetes (Symposion $61 Priourgo na Brisgova-Muriqe, Kel A ter 0M, pp. iTS Ver ira, cap, fi, nota Iie, ‘aim’ Piatto, com clei, Bio Sustante sia posieto fundatora ‘a hari do, penssmento co, a2iicn-¢ um cata da ontoogs fae iting o no alcanca 0 estate auttnomo que Ihe confeita APS. ‘ints. "Ver Ganter, op. city pp. 1h, inf cop 1, 5. satido cain, a plrtir de Primeira Academia Plostla so divide om Lica, Buca © Pina. Ver Rendcrate, fr iilnze © festomamho de MT Caro Tse Dip, V, 3125 ‘ir Ver P. Chantraine, Dictionnaire Uiymolopgue de 1a longue San? toss, pp. 216217 Sis ie)” Os mative de ethos sho sugeidos ‘or Patho enimmerendo ae quaidades dos Gustdiics da cidade, "teu ‘arate o soas hablon” (Lee X11, 0h Ver ainan G. Pinte, blkos ‘Gooohnhety, Site, Siuicket! apua Archiv fir Rechts und Sosa. Soh, Berka Teh pp. (aan 9p 28. ‘dos Teme’ que vieram a consttulr 0 yocebu las fundamental da lingua tos grees lance decsiea sobre 42 Migdeen coneeplual dans lermos.” Wer Af. Ustersteine, Problem: i fotote loofiee, Mito, Cisslpna-Goltardica, 1860, pp. 4@ 11, Se edn inguruan wer E, ona, Hcerohe di fiovofia morsie” Element! metodoioier « aloret. Pe. ‘don Livinna/ 19 pp. Val. Vervainga, J Moler, Zum Begriff des og und dee Hthitoken, spud, K" Ulmer (org) ie Veronticorna Ger Wisenschot, Bonn, Bouvier. Grundmann, 1915, pp. 825. 2 ‘$2 20 recesso seguro do ethos. Este sentido de um lugar ‘de estada permanente e habitual, de wm abrigo protetor, ©) constitui a raiz semdntica que da’ origem a significacto do ethos como costume, esquema praxeologico durével, estilo de vida e alo. A metifora da morada e do abrigo’ indica juustamente que, a partir do ethos, 0 espago do mundo tor- ina-se habitével para 0 homem. dominio da physis ou © reino da necessidade ¢ rompido pela abertura do espace ‘humano do elles no qual trio inscrever-se os costumes, 0 habitos, as normas ¢ Os interditos, os valores as agdos." Por conseguinte, 0 espaco do ethos enquanto espaco it ‘mano, nao é dado a0 homem, mas por ele construidd ov {ncessantemente reconstrutdo. ‘Nunca’ a case do ethos esta pronta ¢ ecabada para o homem, e esse seu essencial ina eabamento 6 o signo de uma presenga a um tempo préxima ¢ intinitamente distante, e que Plato designou como 2 pre- senga exigente do Bem, que estd além de todo ser (ousia) ‘04 para lem do que se mostra aeabado e completo.” 'E, pois, no espaco do ethos que 0 logos tornase com: preensio e' expressio do ser do. homem como exigéncia fadical de dever-ser ou do bem. Assim, na aurora da flesofia fess, Heniclito entendeu o ethos na sua sentenga célebre: thos’ anthropo daimén.” © ethos & na concepeao heracl- thea, regido pelo logos,” e & nessa obediéneia 20 fogos que se dio 0s primeiros passos em diregao & Btiea como saber aclonal do ethos, assim como iri entendéla a tradicgho 1 Tosotiea do Oeidente. " 11 Ao las, o ethos do animal o encerra no eapaco fechado do ‘seu cotsstema, dando orem © Etsloga samo estado do compar. ‘Emenco animal’ Wer aratStelen stn, Sia (8 Pe epeaeina te ons 8. SSrcnor 60 gen 10, Sobre incepta da setmnga do Herdclo, wet WK. C uti Ary of ork Petacpny cag, Cs Tawment do eapecee uri, fs, Mu, opp ssi fen Ahecida's tetra heidepgeiana esse texto ‘em Bric) doer den ac ‘manism, ‘Bema, Francke Verag 2 ea 161, pp. 106TH, onde © ‘inos ¢ inierpretsdo como morads_do honem engine e-tsenes {peta Sy clone nc ovr a,c Ti com eteo aging Interprets apontam no ko de Herb to uma crea figura’ mien derBesting Que pesw sobre a afk fu ‘mana ver Gathele op “at. p. 482 nt. Ver" no entanto, A. Gris, Len dt desing’ net"pensers nto, Udine, Bel Bio Ba fore, fae, vos 2°, 13 ‘A. segunda aoepgio de ethos (com épsiton inicial) diz respeito a0 comportamento que resulta de um constante Tepetirse dos mesmos atos. E, portanto, 0 que ocorre fre- Qlentemente of quase sempre (pollékis), mas nio sempre Gaed, nem em virtude de uma necessidade natural. Daqui ‘2 oposigdo entre éthei e phiysel, 0 habitual e o natural.” (© ‘ethos, nesse caso, denota uma constincia no agit que se contrapse ao impulso do desejo (drezis). Essa cons. tancia do ethos como disposiglo permanente 6 a manifes- tagio e como que 0 vinco profundo do ethos como cos. time, seu fortalecimento eo relevo dado as suas peculis- ridades." O modo de agir (trépos) do individuo, expres- ‘0 da. sua personalidade ética, deverd traduzir, finalmen- te, a articulagdo entre 0 ethos como caréter e 0 ethos como nibito. ‘Mas, se © ethos (com épsilon inicial) designa o proces- so genético do hébito ou da disposigio habitual para sgir dde lima ceria maneira, o termo dessa génese do ethos — ‘sua forma acabada e o’seu fruto — ¢ designado pelo termo hetis, que significa 0 habito como possessio estavel,* co- mo principio. préximo de uma agio posta sob o senhorio do agente e que exprimo a sua auldrkeia, o seu dominio fe si mesmo, 0 seu bem."* Entre 0 processo de formacio, 12, _P, Chantraine (op elt, oe. lt) registra forme verbal eid. ‘ha, fersto intranative.(enko 0 nabito de), ocorendo igual- ‘est efhideo thabitunrse, ecoetumarse...), donde w forme note Il ethos (com prion’ im lai, leo, slesce, contuetuad 19 atoll. ke, 1,1, 100 1435 (bre a ire él) ‘to Toxado de hatino, Sutimd Hheot, Ia. It sey @, 58,81 ¢, onde Stas sguilagdes do lnm mee Uncliati nafurtis« consuitudo) ‘Hovpoersias Se Guns prfiangrogas de efhon, "Ver a nota moamuseita 4s Heel bo 4 151 da Flosofio do Direto ied, Hottmetser, «ed, ‘lamiango, Meter, 086, . 41D Vor E, Rlondato, hihos’ sierche per, la determinastone det uote clasico deltStiea’ Pada, Astenore, 106, . 177, H. Heiner, TBitoe “apd Htatorsches Worterbuch det Philosophie (dir. 9. Ri eo, TE pp alaeig, E-Sehwars, Eth der Grechen, Sulsgrt) H. ovine Wg i, op, tb Huan, ios wid Bi in Pa UEeophaches Jehrbuchy a (ies): 80398. Te “Yer verbet echo em P- Chatraine (op, et, pp. 99230). Heol nn lnguagern medion tem 2 sigalicgto Go “estado” oy ‘cont Uisaact "tin fata, habits, habere Ver stots, wt. le. VE, Tite 2 6. Avetstoles, 2 Wi, 1,5, 107 68. Ver J. Rite, Zur Grand lepuna’ der prattachen Phuckophe bel Aristotle, apd M. Riedel (as” Renadltterang’ cer prokachen Phiosophie, Piburgo ta Br ‘vie, Rombech, 194, TE, pp. S00 (aq, Pp. 4540 “ do habito e o seu termo como disposigdo permanente para, agit de acordo com as exigéncias de realizagéo do bem ou. 2 melhor, " 0 ethos se desdobra como espago da realize. (lo do homem, ou ainda como lugar privilegiado de ins. erigio da sua prazis Enguanto ago ética, a praris humana € a atualizagio imanente (enérgeia) de um processo estruturado segundo uma elrcularidade causal de momentos, e essa constitul exa- tamente 0 primum notum, a evidéncia primeira e fundado- ra da reflexio ética,"* 0 ethos como costume, ou na sua realidade histérico social, 6 principio e norma dos atos que {io plasmar 0 ethos como hébito (ethos-heris). Ha, pois, ‘uma Circularidade entre os trés momentos: costume (ethos), fagio (prazis), hdbito (ethos hezis), na medida em que o cos. ttume ¢ fonte das agdes tidas como éticas e a repetigao dessas ‘ages acaba por plasmar os hdbltos. A prazis, por sua Ve2, €'mediadora entre os momentos constitutivos do ethos co: ‘mo costume e habito, num ir e vir que se descreve exata- ‘mente como eirculo dialético: a universalidade abstrata do ethos como costume inscreve-se na particularidade da pra- {Hs como vontade subjetiva, © é universalidade concreta ou ‘ingularidade do sujeito ético no ethos como hébito ou vir- tude." A’agio ética procede do ethos como do seu princi 1g Para esta distinct, ver G. Reale, Stora dels Posole on- Hoo, Mito, Vitae Penacto” 108, vl Wb. 8 oe 1 Ver B Ronda, Ethan”. i 19, is como‘ Hoge expte a cerura dalétcn do ethor: “Basa unica Ga vontaae raion oom a Vonade sngusr. que ¢0 semen: {o imesinn e proprio an atiiaece Ge prime, snail ea ie eerie simoies da irda. Sendo due la 0 Seu comin Det {ace so perunte alo '0 univers! em Baas © conto tem sun ‘toma verdad nts oon ah, vrais Poe {o'parm's consctnca. da ineligtcin com 8 detrminagto de. te er valida, eet a ei o conto re du impuress cone: ‘aque posstlo sesimento praca e'na incliario e nao. mala na {Crane ate ie ¢ propria, as fm conformado, amin uniwerslénde, ‘Dremdis sebjetve con scum, mod’ de seme cardten ¢ fomo'einos taite™: “Enaykiopadie der phiosophachen Wisaenscha. en (uo) §a85 (aritado no texto)« Wer Enz. 100) 59; Phtownphie des ecnts af tata "n Crctaridade do ethos pole set inulzada ‘0 sepunis eaquema: Prasis nado empiico, ? i N eect) sith = = = = t= = === Fane iat ey \ rast eto ale 15 pio objetivo e a ele retoma como a seu fim realizado na Forma Go existe virtuoso. "ao expor a circulardade dialética do ethos, Heget in ica diferenga entre 0 costutne (ethos) ¢ a lei (nomos) omo' dupia posigio do wniversal cico que ¢ 0. conteudo proprio a lperdage: ou na forma da vontade subjetiva {o Fonteudo da agao een €. enfin, siriude), ou na forma 2 vontade objetiva ‘como. poder legiferante tido. CO con feuido da ncfo etica € ent80, let). A passagem do costume Se assinala justamente a emergéncia definitive da forma fe anverslidade ©, portant, da necessidade imanente, que Serd"o"orma por evel do chon cape de sora & i humand, como eqao efetivamenie live. 0 hos co Iho fet 6, verdadeiramente, casa ou a morada da liberdade. Essa a experiencia dectsfoa que ests na origem. da criscdo Deldental Ua. socieaade politica como espago etico da. s0- Derania da lel» No infelo das Teis, Platho nos fala da edu cagio en ethesi_.” nomikots, 0 que se pode traduzi, evo. ano Montesquit, "no espiit de exoslontesJeis™ A cela So ordemnento ou conetticao.(poitela) do Estedo.se {unio leis que nascem do ethos da comunidade” fecha, ESSim, 0 eireulo semantico do ethos, 40, confer A prazis Sia mais alta qualifeagio, vem a ser, a'da virtue potica tn disposiio permanente para o exerieo da Uberdade Sob ft soberanin as it usta.” 2. ETHOS E TRADICAO coélebre distinglo de Aristoteles entre “virtudes mo- ais" (ethitat aretal) ¢ “vireudes. intelectuais” (dianoeti- 2. Arstlees, sf, ie, IT, 7, 1116 8 3b 29. Ver 3.1, Aran roren, ice, Madr, Revite'de Gccidente, 1088, pp. 2838 kat aretat = pode ser considerada o capitulo final da longa ‘Querela que opts os Sofistas e Socrates em torno da ensine Dilldade da vrtude. Aristoteles ais expliltamente” que as Virludes intelectuis se adquirem ¢ se desenvolvem por obra fo ensinsmento (ek didagkalas). Quanto bs Vries ™o- ‘ais, assim se denominam porgue procedem do ethos como costume, e é 0 exereicio canstante (ethike pragmateia) que thes da Origem eas fortalece. Na verdade, a dlstingho aris: totélica consagra = profunda transformagéo. que tem 1ugar ba estrutura hist6ricesoolal do ethos grego com a aparigho do logos reflexive e demonstrativo no dominio da prazis = ‘Trodiggo © ranlo: entre esses. dois pélon passard & oscllar © destino do ethos na histéria ‘day soclodades ocidentas, avampitude dessa oscllagho rd assinalar igualmente of momentos de crise transformagdo dos padroes étioos des: Sas soctedades. Com efeito, @ forma de existéncia histériea do ethos ¢ 8 tradigdo ética, cuja origem no se assinala por tm 280 fundador, como a nomothesta do legisisdor no caso da Tet fserta, mas ¢ reterida 4 uma fonte diving, como no caso dessa “el nioescrita™ (Ggraphos nomos) invocada por AN. tigons numa bem-connecida.passagem de Sofocles."" Ele vandose sobre a_physis, 0 ethos Tecra, de alguma mane! a, na sun ordem propria, © continuldade & constincia Aue Se observam nos fendmenos naturas, Na phyeis, esta ‘mos diante de uma necessidade dade, no ethos tem lugar Uma necessidade institulda, e € justamente a tradigho que Suporta e garante e permantncia dessa instituigio e se tor hha asin, @ estrutura fundamental do ethos na sun dimen ‘fo historica, tre a necessidade natural e a pura contin féncin do arbitrio, a necessidede insttuldn da tradigbo mos trae como 0 corpo histrlco no qual o eftos aleanga sia realidade objetiva como obra de cultura. A. propria sign\ fieagio eral do ‘termo "tradledo” (parddosie, tradi), Indicando entregs ou transmissio de uma riquesa simbdl ca que as geragdes se passam uma & Outre, denota a estnt Gig t MEH 4m 8 16K, Ver Summa theo a. tae her sntra, exp. 12 @ cap, 1V. Br. Antigens, vx, 0460, “Bobre a “lei sho-serta”, ver J. de only, op. cts'p Si. ‘Sabre o canelto Ge “radii” fata fle: (ho cots @ ethos er, Menmer Ruiturethi, Innsbruck Views Sigua ‘Yering, ist pp. 34807, 1 ‘tara historlea do ethos e sua relagio original ao fluxo do tempo, 0 fato incontestavel de que a religiio se apresente, fem todas as culluras conhecidas, como a portadora Teginda do ethos, é uma llustragzo eloqiente do necessér! Gesdobramento do ethos em tradicio ética. Com efeito, a ‘universalidade de fato do fendmeno religioso ™ é estritamen- te homologa & universalldade de fato do fendmeno ético.™ 4A sacralizagho das normas élicas fundamentais ou sua san- ‘Gao transcendente™ visam assogurar a eficdcla da sua trans- Tnissio que tem lugar, no no tempo contingente do. sim- ‘ples acontecer, mas no tempo axlologicamente estruturado fo deverser: ho tempo propriamente histérico da tradicso tica. ‘A luz do conceito de tradicio, é possivel descobrir na comunidade étiea, por ela vitaimente aglutinads, uma re- Tago entre lei e fato rigorosamente inversa hquela que vi gora no mundo natural: neste se procede do fato 8 lel, Inaquela a lel ou @ norma antecedem inteligivelmente 0 fato, fu seja, 0 fato 6 tal enquanto referido & continuldade ou 2 tradigéo normativa do ethos. Daqul a possibilidade para 4 gaio, dentro do fn fundamental que 6 & propia com: fica, de se qualiflear eticamente como mi ou em Spongio 8 Te 28. Ver a introducko de, Bellen om Histoire des Religions ‘enayclopeciede Te Pins), Pais, Gallimard, 197, 1. pp. 3s Ga, Ver G. Mensching, "Siuiichrelt(religlonsgeschichtich.", ap. ie ation su Gesehione und Gopemaart, Vi BD. 665. mits o gun provocn, dante doses ‘norias, a aitude do res iin abe ores de at, 3" Aes Reta oo eif0s (espeto e pudor!"o fugar a justo melo etre imide ¢s impudence (ot Mie, 1.7 1i0e 8 2139). a allude fur damental com a quel 0 indviayd Partcipa da tradicdo dia, | Se. ffundo G. Vistos, adds € "sonable ‘para com os, sentientos {oe outros, respelto para com c= ireltos"dos fracos, atongao pare fom 0 bert comtan "Protagoras, ap. J. Gissen (org), Die Sophia, ‘oye der Forschung, 162), Darstad, Wisonschaiche ‘Buchgese Scone, 1916, pp. 20-80 (equ p. 288). Sobre aldoe, ver ainda sx Poke, Lome Greco ttf. de Proto), Plorenea, La Nuova Tala, Tm, pp, sae, He Stank, Arsoteleeatudien, Sanigue, ©. H. Beck che Yetogsbuekanaiung: 154, pp. 64.80 ‘Wer, a reapoito, taro’ Ove, Le problime de ia, commu novi dhigue, ‘ap Quest “que homme?” <¢Hommage A A de Bete Berl acy Uva Sa Ua, i 2. RESG, iden, BI probleme de ds comunidad etca, ap. 3. C. Scan: fone (ad) Sibiduria popular, simbolo'y flosofia, Buenos” Aes, Bd Sranalupe, 1884, pp. don A tradictonatidade ou 0 poder-ser transmitido 6, pois, ‘um constitutivo essencial do ethos e decorre necessariamen’ te, do ponto de vista da andlise filosdflca, da relagio dis. letica que se estabelece entre 0 ethos como costume © 0 ethos como hébito singularizado na prazis ética, Nao ha Sentido em se falar de um ethos estritamente individual, pois a perenidade do ethos, efetivada e atestada na tradicio, tem em mira exatamente ‘resgatar a existéncia efémera € contingente do individuo empirico, tornando-o singular con- freto, ver a ser, individuo universal, através da, sua st Drassuncio na universalidade do ethos ou na continuldade da tradigio ética, Entendida nesea sua essencialidade com relagio a0 ethos, a tradigio é a relagio intersubjetiva ‘pri mira na esfera’ética: 6 a relogio que so estabelece entre A comunidade educadora e 0 indiviauo que € edueado jus. tamente para se elevar ao nivel das exigenolas do universal étieo ou do ethos da comunidade.* ‘A intima e profunda relagio entre ethos e cultura (no sendo 0 ethos senso a face da cultura que se volta para 0 hhorlzonte do dever'ser ou do bem) encontra_no. terreno dda tradigio ética 0 lugar privilegiado da sua manifestacio. ‘Com efeito, 0 sentido da obra de cultura (ou o Espirito ‘objetivo na linguagem hegeliana) no poderia elevarse 80- ‘brea necessidade ‘das leis da natureea ‘nem Ubertarse da contingénela do evento natural se nio transgredisse Dura sueessio do tempo quantitative para situarse nessa di ‘mensio do tempo hist6rico que é, justamente, o tempo de luma tradigdo, A tradicgio se mostra, assim, ordendora do tempo segundo um processo de relieragdo vivente de nor. ‘mas e valores que constitui a cadéncia propria da historia do ethos. Na medida em que se spresenta na forma da tradigéo’ em toda a forga do sentido original do termo, a cultura 6 igualmente “forma de vida" (Lebens/orm)"™ e 6, como tal, essencialmente ética. Assim, o tempo da tradi ‘940 no pode ser um tempo puramente linear. le parti ipa da cireularidade dialdtica do ethos e, deste modo, 6 ossivel compreender como, nele, 0 passado io seja ape- has um terminus @ quo, mas, como passado, seja suprassu ‘mido na universalidade normativa e paradiginética dos cos. 1, Ver intra, cap_1V eM, Olivet, Bt probleme de la comuni- dea sop. cp. 2152 "Ve? 9 tilaner Rultretnit, op. et, pp. S88; der, Bion ener y elitade, Madi, Rai, 16, 9p 1370, 19 tumes, e se torne um terminus ad quem para o presente fempirico, para 0 aqui e agora da prazis que a ele se refere como & instancia fundadora e fulgadora do seu contetdo ético,"* Na estrutura do tempo histérico do ethos, 0 pas ‘sado, portanto, se faz presente pela tradicio, © 0 presente Felorna a0 passado pelo reconhecimento da. sua exemplar! dade. Mas 6 evidente que, nesse caso, passado ¢ presente ‘no sio segmentos de uma sucesso linear no tempo quan. titativo. Sao componentes estruturats de um tempo qual tativo, que se articulam dialeticamente para construit =o tempo historico propriamente dito, o tempo do ethos ot, a tradicio ética."" Se levarmos em conta, por um lado, essa essencial re lagto entre ethos e tradigio e, por outro, a estrutura dia Itica elreular do tempo da tradicio ética, poderemos com. preender melhor profundidade da crise’ do ethos na. mo: ‘derna Sociedade ocidental, na qual a primazia do tempo quantitative transfere do passado para'o futuro a instan la normativa do tempo ou o seu “centro de gravidade” (K, Pomian): 0 que significa conferir ao tempo por vir os Dredicados xioldgicos que ssseguravam @ exemplaridade o passado" na formacdo do ethos tradicional. A relacko do concelto fundamental da eticidade”" com 0 tempo his: ‘6rico tomnase, assim, extremamente problematica © aqui reside, som duivida, urna das causes mais visiveis desse ni Hisme’ ético que assinala dramaticamente, nas sociedsdes ‘ruptura da tradiglo ética ou a de. ‘leingdo de "lempo qualtaiva” "tempo. quant ‘genie gera, nocte e, er a Shr Ge Kresat Fela, ordre du tongs Pane, Oa "Avcieulaidade diitica do ethos eda trnagto tes Tastingulos do que Nictesche charade conclto contumses” (Sltichtet der Siltem. segundo © nl ‘spesgto inraperivel entre irndigio” indie eo Vr ero 9 eke, Seca poo) '3t. Wer. Ke Pom’ op. opp. 291308.” sobretdo, Hans Jenin pa riaip Wertoting, Verach cher eh ar fcnnto ‘ook Zleuocton, Frankfurt, Sunrramn. 1988 pp. 1s St. ‘Wer Ottied Hotte, Grandbegr)Sitchbett, apud BUnik und Polite: Grendmoaete ng Probleme, der praxtschen Philosophie ‘Frankturt sobre’ Meno, Suarkarmp, i, pp 28110, 0 sarticulagio do processo diatético que agul chamamos tra- digdo e que realiza a suprassun¢So da oposiglo linear do ppresente e do passado na perenidade normativa do ethos. * A'primazia do futuro na Concepgho do tempo é homologa & primazia do fazer téenico na concepeso da ago, do qual, Dprocede o pressuposto utilitarista que, sob viriae denom|- hagbes e formas, subjaz a todo o desenvolvimento da etica ‘moderna, Que a constituiglo da tradigfo ética mio traduza ape- ‘has um esforgo persistente e, afinal, vio, para se deter a irreparivel perda das crengas e dos valores ao longo do esgastante fluir do tempo, mostra « prépria natureza do ethos. Ele néo se define, com efeito, em oposigio ao tem. po ou & duragho como 0 estatico oposto eo dintmico, ‘mas se estruture segundo um dinamismo préprio que d- rate em seu seio confltos, erises, evolugses e mesmo essas Drofundas revolugoes que’ se manifestam no fendmeno da Criagio ética (ver infra n. 4). Em outras palavras, a tra Glelonalidade do ethos nio deve ser pensada em’ oposi (cho 4 berdade e autonomia do agente’ éico, no obstan. {eo fato de que tal oposigao se tenna constituido ‘num dos tracos mals salientes do individualismo moderno. 3. ETHOS E INDIVIDU Se admitirmos que a sociedade ¢ um “conjunto de conjuntos”. como quer Fernand Braudel," devemos enun- 38, 0. Hote, toe. cit. pp. 288. dite, 0 nlismo, como ex perinchigtoriea ou eeontedimento histori. do mismo dtc.” Ee. etia negacto pars simples do ethos o.s0 8 possiel antto de per ‘Speedo tempo em que predomioa e dlmens8 horizontal ou a pura ‘aesielo dos evento, ‘so Passo. que 0 passada ¢ contantemente Sr Jno dereatorzado pela ‘implachweexpecativs Go futuro sams ampromvel refaglo de Nitascne no aeo_do mito do “eterno tar ‘hor em fae do nlism etco que acompana a reviravota de tole os ‘iloes desoneadeada pela proclamarhe “Deut esta morto™ Sobre 'Sgnincagto tice a0 nillumo, ver ot estos do, volume coletivo Tnlerretacone del nchitsma ofganieads por A. Molinaro, Rema, Herder Universidade ‘Lateran, 198 eA iting borgeonana’ entre “moral etatica” ¢ “moral d ‘mien’, tl desentvemente,pressupee, no enfant, ma vis dae Tint inacettvel pe concepeas do ethos “a Yer O. Hote op ety 302310 At “Sheemble ‘dew enserita’® wer Cietisation matele, éoo- ome ef eaptaiome i, Lee Jews ae Tachange, Pars, Clin, 10%, Wp. ciar como condicio necesséria e suficiente para que os sub: onjuntos socials pertengam a0 conjunto maior ou a s0- Cledade como um todo, a possibilidade de se definir essa ppertenga nfo apenas como um fafo ou descritivamente, mas também como. um talor ou axiologicamente, segundo a ‘avaliaglo que a socledade faz das priticas socials que se ‘exeroem nos sous subconjuntos, Vale dizer que a pertenea de uma determinada esfera de agentes e relagdes ao todo Ssoclal se define primeiramente ao nivel da sua legitimacio Gtiea, da Sua patticipeeio 20 ethos fundamental que cons: titulo primeiro dos bens simbdlicos da sociedade, Entre os diversos aspectos sob os quais pode ser con siderado 0 processo de socializagao do individuo e sua edu ago como “individuo social”, o mais fundamental é, sem vids, aquele pelo qual a socialidade aparece ao individuo como um fim, como o lugar da sua auto-realizagio, o cam po onde se experimenta e se comprova a sua independén- fia, a sua posse de si mesmo (autdrqueia). Na perspectiva ‘ease fim, a vida social se ordena segundo uma estrutura faxiolégica’e normativa fundamental que 6, exatamente, 0 Seu ethos, Por sua vez, a teleologia imanente ao ethos faz ‘com que a realldade no seje experimentada pelo individuo como uma vis a tergo, uma forca exterior ou um destino ‘ego. e oprimente, Em cada uma das esferas de relag6es que irfo inscre- verse na grande esfera da Sociedade, a praris humana apre- senta pecullaridades que se traduzirao em formas particula- es do ethos, © individuo trabalha e consome, aprende © crla, reivindica e consente, participa e recebe: a universall- ade do ethos se desdobra e particulariza em ethos econd- ‘mico, ethos cultural, ethos politico, ethos social propri ‘mento dito. Essas particularizagbes do ethos so. outras tantas mediagdes através das quais a prazis do individuo ‘se soclalisa ‘na forma de habitos (ethoseris). Elas dio frigem igualmente, no interior do mesmo ethos societdrio, {2 tensées © oposigées cujo ambito de possibilidade carsc- teriza exatamente a unidade social como unidade ética (ver infra, n. 4). Com efeito, uma cisio radical na estera ética, ‘ou uma sociomaguia primordial dos valores excluiria a pos- Sibilidade de se detinir ® sociedade como “conjunto de {¢ess. Braudel distingue quatro conjuntos ou subconjuntos da soe. sae’ economia, cultura, politica ® hieraruia Socal 2 conjuntos” ou como grandeza histériea determinada ¢ si- ftuada no espago e no’ tempo. Mesmo e sobretudo 0 nillis: ‘mo ético, ow & negagso do ethos como tal, $6 é pensdvel como ato eminentemente ¢tico ou eticamente qualificado fe exercendose, por conseguinte, no interior de um mundo ‘tico. detarminado. Como é notorio, do ponto de vista da estrutura social, © individuo no se apresenta como molécula livre, moven- dose desordenadamente num espago sem diregSes privile- ‘ladas e regido apenas pela lei da probabilidade do choque com outras moléoulas — os outros individuos. Uma cadeia ‘complexa de mediagoes orden os movimentos do indivi uo no todo social e, entre elas, desenrolam-se as media 60s que integram o individuo ao’ ethos: os habitos no pr6- prio individuo e, na sociedade, os costumes e normas das fesferas particulares mas quais se exerceré sua praris, ou seJa, trabalho, cultura, politics e convivéneis social © advento de uma sociedade na qual o econémico al- ceangou uma dimensio e um peso enormes tornou aguda, atual a questo da natureza e aleance do influxo exercido pela esfera da producio sobre as outras esferas © subcon- Juntos da sociedade. Segundo a concepedo que comeca a vvulgarizar-se a partir do séeulo XVII e & qual Mare dard luma formulagao aparentemente definitiva, as restantes es. {eras da sociedade se organizariam e exprimiriam seu ethos proprio exatamente em fungio da organizagio e do ethos Gominantes. na esfera econdmics, Assim, as formas do thos seriam relativizadas de acordo como sistema de 0. Uisfagdo das necessidades materials do individuo em deter. ‘minada época. Nao obstante importantes matizes que Te ‘cebe na tradicio martista e no pensamento econdmico que, de uma maneira ou de outra, sotre « influéncia dessa tra- ddigdo, a idéia de que a constricio da realidade social assen- ta predominantemente sobre base da. produgao material diflellmente poderia evitar a conseqiiéncia de que 0 econo: ‘mico é determinante em ultima instincia, nfo sendo as ‘utras esferas da sociedade sendo superestruturas ot epi enmenos da estrutura e do fendmeno fundamentais da pprodugao. Ora, submetido & instdncia determinante do sis- tema de producio, 0 universo das formas simbdlicas teria, ‘sua unidade definiaa apenas em termos Ideoldgicos, ou se- Ja, na medida em que todas as suas expressoes se organ ‘assem em ordem a justificagéo dos interesses dominantes 2 hha sociedade © cuja articula¢do fundamental se da no nivel e producio, Nesse caso, a pretensa universalidade do ethos rnd seria senio a transcriego ideoldgica —e, como tal, ‘cultante — dos interesses econémicos dominantes na $0 cledade ‘A extensio geogrifica, a racionalizagio © a organizagio concéntrica da ssfera econdmica, dando origem so que al {guns istoriadores denominam ‘a “economismundo” nas fearacteristicas com que so apresenta no capitalismo moder ho, conferem uma onipresenca obsessiva ao problema da rioridade determinante da esfera econdmica e da conse. ‘qUente ideologizagao das outras esteras da socledade. Ora. 4 racionalidade que organiza em sistema a producdo mate. Tal € necessariamente uma racionalidade ‘instrumental, pois @ acumulagio da riqueze néo € um fim em sh A th ‘queza se produz indefinidamente, circula e se consome: 6, ‘Por exceléncia, 0 reino do "mau infinito", “Assim, a ideo: Togia que se estende como um véu sobre os interesses que fem seu. beneficio a raclonalidade econdmica ex clu, por definigdo, qualquer objetividade dos fins do domi rio ético, vem'a ser, qualquer racionalidade intrinseca a0 proprio ethos. ‘Por conseguinte, a interpretacao redutiva ‘mente ideolégica do ethos, que decorre da concepcio do fecondmico como determinante em ultima instancia, contra diz 0 préprio conceito de ethos. Este, com efeito, #6 6 pen. sével a partir da posicio de uma finalidade imanente a pPrazis bumana e & qual deve submeterse, tendo em vista ‘8 mutorealizagto do individu, os bens exterlores, inclusive ‘a riqueza. A estrutura dialetiea do ethos que acima se des creveu exprime justamente essa ciroularidade paradoxalmen- te teleoldgica, na qual o individuo se realiza eticamente ‘como tendo aicancado 0 senhorio de si mesmo (aularoueta) ‘ou na qual a prazis individual é exercida como perfelgao 1, Wallerstein, Le systeme du monde du xVieme sicle a aay jour’, Coplaiome et dognomtemonde (esi), te ner anttme ef lg consolation de Péconomie européenne. {rane ‘Pang, Flacumarion, 19001906 ‘galling Ver Grandin dor ‘Phtcsophie dew féchte, le Bt Wlssenachofion (180), 538 shilosophscnen oO W. Beet, Gralinien der" PRicsOpMG Hes RECs, § (enérgeia do proprio individuo. x, pois, permitido con: cluir que 0 reducionismo economicista, ou 6 que se poderia, ‘enominar a "redugio ideolégiea” do ethos, implica neces- Sarlamente um mismo ético (ou uma negagio radical do ‘ethos! que esta presente no cerne mais Intimo dessa so- ‘ledade da produeto e do consumo que acabou se consti- tuindo em versio’ planetéria da “economiamundo”. De um lado, portanto, a especificidade da dimensio ética nos subconjuntos da sociedade é 0 que di consistén- cls a esse estrutura diferenciada do todo social caracteris. ‘ica da soelalidade humana. De outro, ela estd na origem dda tenaz resistencia oferecida pela sociedade 20 processo Ge redugéo das suas diferencas. qualitativas em termos de Inaividuo e€ masse, que tem origem na primazia oferecida, fa esfera da producio. © na esfera da cultura, conforme observa F. Braudel," que essa resistencia. se torna parti ccularmente visivel. Com efeito, a cultura é 0 dominio onde © ethos se explicita formalmente na linguagem das normas f valores e se constitui como tradicio no sentido acima exposto. , sem diivida, o ethos cultural e, de modo pri ‘ilegiado, © ethos religioso nas socledades até hoje conhe- fldas," que asseguram eficazmente a0 individuo empirico f passagem a esse horizonte de universalidade no qual 6 possivel formular 0 projeto da sua auto-ealizacdo como fer livre e inscrever sus cidadania no reino dos fins, © problema da relacio entre ethos e individuo desdo- borne, assim, através das mediag6es socials que se tecem 45. A energea a acho 6 alstints da genesis ou do vira-ser traniene: Ver Br Mies Vil, 11150 0 1, Tomas do Aquto, Summa heat ia. a. ib, tad Unni /m. Met ies. tCalnale, n 12 40 ‘ttran(e.bres), Ho Ge avelr, Zatar, 198, p. 1518 no campo das esferas particulares da sociedade, cada qual Darticularizando, por Sua ves, 0 horizonte universal do ethos. Mas € justamente o movimento dialético que retor ‘nado particular a0 universal, fazendo do individuo empi- rico um universal concreto, " que repde o problema na for- mma da relagio entre a Uberdade do individuo como livre ‘arbitrio e'@ universalidade normativa do ethos. Esse pro- ‘lems, no entanto, apresenta-se nas sociedades modernas envolvido em densas nuvens ideoldgicas que encobrem 0 sol daquela que deveria ser uma das evidéncias fundamen: tals na reflexao sobre o ethos: a evidéncia da funclo edu eadora do ethos e, por conseguinte, da diregio imanente 30 ‘seu movimento dialético ¢ segundo’ a qual o individuo deve passar da liberdade empirica ou da lberdade de arbitrio, A liberdade ética ou liberdade racional. A primelra designa, © individuo no ser da sua individualidade empirica. A se. gunda designa 0 individuo no deverser da sua singulari- Sade ética ‘A estrutura do ethos, que nos mostra uma articulagso latética ou um movimento elreular imanente entre 0 ethos como costume eo ethos como hébito, desembocando na prasis, revelanos igualmente que 0 momento terminal da ‘prazis' como lugar da liberdade se constitu exaiamente co- ‘mo termo da passagem continua da prazis na forma de livrearbitrio ou lertas indifferentiae — um ser ou nio-ser fem face da nevessidade objetiva do ethos — & prazis como Uberdade propriamente dita ou libertas independentiae — um. consentir livremente a universalidade normativa do ethos. No primeiro momento, a liberdade ¢ exterior 20 ethos, que festa diante dela como uma natiresa primelra — costumes. No segundo momento, a lberdade interior ao ethos, que constitul como seu corpo orgéinico ou sua segunda nature- za — hibitos.» 49._Um singular na terminologia dinéicn ow uma pessoa moral na torminaosin in ten SoA ean interirtaneto da Uberdade 0 ethos convém anlcar « proposigiemtiocda por tegel no fim da Lgl de Eastcl, de [ue'aUberdade €a vere a pecesade, Ver Bneyilopddie der pit plc Wasnahain 7h, a guae ern, 2 pr a Heigl erg ies ca as co Ene “oldenheuer Michel, Sunriamp. vol 8, vb. iibeade posiiva e cooeeta que supera em si mesma 2 Do ponto de vista da fixagko histérica dos costumes, esta passagem se faz através do processo educalivo que ‘mostra assim, na relagio do ethos com a sociedade, uma estrutura homéloga & da relagio do etfos com 0 individuo. ‘A passagem do livrearbitrio fh liberdade ética no individuo orresponde & passagem que conduz, através da pritica so- lal da edueado, os individuos do ser empirico da sua exis. tencla natural ao ser ético da sua existéncia cultural, de facordo com as diferenciagtes do ethos que acima foram fenumeradas, E oportuno lembrar aqui que a relagio essen- cial entre ethos e paideia esti. no centro da concepcio pla ‘tomica de uma cidade da justica.*" ‘A edueagio para o ethos ou a fungio educadora do ethos so deseritas por Nietzsche numa pégina célebre, como evocagio da histérla terrivel das crueldades que a socieda- de humana impos a seus membros para educar © homem, ‘como um animal ao qual seja possivel prometer — um ser de responsabilidade, um ser moral, em suma,"" A teoria nietzschiana da origem das nogdes ‘morais através do_lon- g0 curso histdrico de uma educagio, que nio ¢ senio a impiedosa e implacdvel tarefa de submissio da animalida- de no homem,™ inspira, por sua vez, a tese, hoje vulgari- ‘ada, da origem da moral a partir da proibigio e do inter- dito,’ acompanhados dos respectivos castigos © sangées [Neste caso, a obrigagio moral nio seria apenas a metafora do ligame ‘isico (obigare), mas a sua continuacio literal ‘no dominio da conseigncia, tal como # do Romem do ethos (der stoke Mensch) “gue oxford, Blackwall i8#t, I, pp. 20420." Riendato, thos" 7 force’per ls determinasione ‘al alore assed Gel Bio, op. 82, YD. ‘sia 2, Zur Genealogie der Moral Werke, EU, Sehlecha, 11, pp oes 2. Vor Jensits von Gut und Base, V (Werke, Bd. Sehechi, 1, op 649-6) Fr “Ver, por exemplo, . Foures, Chor dthiqus et condltionnement acl: ineroduction a ane. phlorophe ‘morale, Pasi, Le Centurion, im, pp. 1891. ‘A explicagéo nietaschiana da origem do ethos deixa, no entanto, sem resposta a questi decisiva sobre as 36es que Impelem a humanidade a trilhar esse imenso © @oloroso caminho ea empreender esse inenarravel esforco para escalar dolorosamente as escarpadas alturas da more: Iidade. A ldéia de uma prioridade diaiética do ethos sobre © individuo empirico ou do contewido intrinseco do valor sobre a satistagio do individuo oferece uma resposta in finltamente mais aceitével a interrogacdo fundamental em torno da presenca constitutiva do ethos na estrutura da socialidade humana." 4. ETHOS E CONFLITO ‘A universalidade e normatividade do ethos nio se apre- sentam om face do individuo segundo a razio de uma anterioridade cronolgica:.vindo depois de constituido 0 ‘ethos, 0 individuo seria precedido por ele e, portanto, por fle predeterminado. Nem segundo & raxio de uma exterio- dade social: vindo & existénela no selo de um ethos Ja Socialmente instituido (costumes) 0 individuo seria por ele fenwolvido ¢ extrinsecamente condicionado. Menos ainda aten- Gerla i natureza da relaglo entre ethos e Individuo pen- ‘séla sogundo a anterioridade logicamente linear da cause lidade eficiente: 0 individuo ético seria produzido pelo ets ‘como 0 efeito pela causa.” Mesmo considerada do pont de vista puramente fenomenotagico,”" & relagho entre 0 to esta questo, a lscusio cls: enttment fu aufoaw der Moran, spud (Gesammalte Werke. II, Berna, Franke be Re i 4 5 i A Penomenologia designs, aqu, aqusle primeiro esixio do pensametto ostico no. qual sbjeto € donee pogundo aces ‘ethos © 0 individuo, assim como se manifesta jé no con: teiido ‘semfntico do’ termos ethos, @, por exceléncis, uma relapio dialética, segundo a qual a universalidade abstrata, (no sentido da idgica diatética) do ethos como costume é hegada pelo evento da liberdade ‘na praris individual e en ‘contra af 0 caminho da sua concreta realizagho historiea no ethos como hibito (heris) ou como virtude, Por conseguinte, a Uberdade no ¢ exterior ao ethos ‘como 0 ethos nio ¢ exterior ao individuo. Ela introduz no ‘movimento dialético ‘constitutivo do ethos 0 momento do ppoder-ser, o espago de possibilidade que se abre entre articulatidade ‘da praris como sto do individuo no aqui @ agora da sua existéncia empirica, e 2 singularidade da ‘mesma praris que se efetiva concretamente como. realira eto da Uuniversalidade do ethos no agir virtuoso. Entre a prazis como ato do individuo empirico e a praris como agir 9 homem bom, 0 movimento eonslitutiva do. ethos per. corre esse dominio de possibilidade onde se traga o camb rho da liberdade como oscilaglo entre 0 néo-ser da recus 0 ser do consentimento a0 bem. Por outro ldo, no estando submetido a qualquer for- ‘ma de deterministao,:' 0 movimento imanente ao ethos, através do qual ele passa da universalidade do costume & Singularidade da acio eticamente boa, traz inserita na sua propria natureza, além da possibilidade da acio eticamente ‘mé, a virtualldade de uma situaglo que pode ser caracta Fizada como conflito ético, No entanto, 0 conilito ético se distingue essencialmente seja do nillismo ético, que € a ne gagio pura e simples do ethos (na medida em que tal ne 29 ago ¢ possivel), seja da agio eticamente mé ou da falta, ‘Que ¢ luna Tecusa da normatividade do ethos. Na verdade, falta tem lugar no interior do movimento quo conduz ormalmente & agao etfeamente boa: ela assinala uma ru. fura no processo de interlorizagio do ethos como costume ro ethos como habito ou como virtude."” © conflito ético se desenha, pois, como fendmeno cons. titutivo do ethos que abriga em si a indeterminacéo carac. taristica da lberdade.”" No riseo do contlito ético, mani festase a fluidez e a lobilidade da socialidade humana, es- senelalmente distints das rigidas formas associativas’ do reino animal. * © conflito dtico atesta igualmente a pe- Cullaridade da natureza historica do ethos, em permanente Interagio como novas situagies e novos desafios que se ‘configuram e se levantam a0 longo do caminho da. socie- ‘dade no tempo. Nesse sentido, o contlito ético mio é uma ‘eventualidade acidental mas uma componente estrutural da historicidade do ethos. ‘Ele se dé propriamente no campo dos valores © seu portador néo é 0 individuo empirico, ‘mas 0 individuo étieo que se faz intérprete de novas e mais, Drofundas exigéncias do ethos. Somente uma personalida.. ‘de etica excepcional é capar de viver 0 contlito ético nas 6,0 segunte eauems complementa © equ anterior a sme étigo Présie \oatvituo empiico) consent < s ‘ment Sy my Becasa Socetasey i Gontumes ihe ~~ — ~~ ~~ Shes nga eto rise odio tio) eatzacéo ‘Virsa, ‘Conte 63. Ver H. 1, sebrey, Binfhrang in die Eth, Darmstadt, Wis. senschatce iaucngeeliachatt 17 pp. 188168" Ene’ Well. Phos ‘phe morale, Paris, in, 1982, pp. 2821 ot Wet ites, cap. V, nt (S. Pele rece de-urne norma ou de um valor do ethos. 0 tn irda empirco Dlogisia Terponcavelmente 0 “movlmento. daca Suet learn hefeivach conerta Ga sniveraidade do ethos ta 0 suas implicagbes mais radicals e tornarse anunciadora de ‘novos paradigias éticos, como fol o caso na vida e no en sinamento de Buda, de Sécrates e de Jesus ‘Seria, portanto, fixarse em analogia superficial , no fundo, enganosa, pretender aproximar o conflito ético da, atitude sistematicamente contestatéria, da revolta contra 08 ‘valores e, com maior razio, desse imoralismo estético pre- conizado ‘por literatos como André Gide e outros, @ que io profundamente penetrou a cultura oeldental no Rosso séeulo." Essas formas de critica do ethos estariam mals ppréximas do nillismo etico sem, contudo, aleangarlne a Ta: icalidade. quanto 20 permissivismo andmico que se di. funde na sociedade contemporinea, representa uma deterio. ragho do ethos e nfo poderia ser’ confundido com 0 com Ato ético, que traz consigo a exigéncia de uma eriacko ética ‘superior.*" Fendmenos como a contestacdo sistemitica dos valores tradicionais, 0 amoralismo estético ou 0 permissi vismo oferecem elementos para uma diagnose da crise mo. ral das sociedades ocidentais, mas nio é/@ partir deles que ‘se poderio descobrir os caminhos de um ideal ético supe: Flor ou de uma resposta positiva a essa crise ‘Sendo um momento estratural do dinamismo histérieo do ethos, 0 conflito ético deve, pols, ser caracterizado fun- damentaimente como conflito de valores e nko como sim: ples revolta do individuo contra a lei." Com efelto, € den: 65. Nos tina do séeulo XIX, Maurice Blondel $6 levers a cabo, com profundiade © brio, uma’ expesteso © ertca do smoralismS ‘Staulo (nob ¢ name de “aitude eetlon ens face da hecesidade da sto) ¢, mit, co, non te Action nach ene eng dele vlc et dune science de Ua pratique “Wd, 2 ed, Part, PUP, 150, 2, pp. 1 a (1B Torgoso consllr que a contestasto gratuita, © amoralisena 0 eictisme parmanecem no nivel do inasdan empleo e dos fins $ubjetivs dau press Calida, satisfcko) eo asso Gua o.com {ito dico tem ingur no nivel do inno tien, "Ueland se es tegorins pstcolgiss, poder-sela duer quo somente ume ween I tense e uma profurée experiznla do ethce enstente tornam pee ‘feta dezcoborla dem ove eal co. Apicese aga ensinamen: ig ges. emer nie 6 testo, man ae. de (th 6, Vor N. Hartmann, Bhi, 1, 2, Berlim, De Gruyter, 198, ‘pp, Bie e Henn Bergeon, Ler deus schreer de'lr morale ef de Te ‘Pigon sat) Oeuores, baa Contenale), Pats, UP. 1980, pp. abit "No entanto, como Jose observou (nota 9 mipia) a ‘iogho bergaonlana Fepousa Sobre urn duatsmo mais profunds © pro: a to da unidade de um mesmo ethos que, de um lado, sedi mmentam-se os costumes, normas e praticas que acabam por ‘constituir, atraves de causas historico-culturais varias, 0 Conjunto daquela que fol denominada por Bergson “méral {de pressio”, expressio do conformismo social €, de Outro, irrompem novos ideals éticos, novas formas de convivénci estilos de comportamento, abrindo caminho & moral aber ta ou “moral de aspiraqio", ainda na terminologia bergso- ‘lana, ¢ cujo aparecimento ‘dé origem, exatamente, a0 con- Fito ten, ‘A pecullaridade dos tragos que compéem a figura his. térica do conflito dtico, sobretudo quando se delinela como ‘constelagdes de valores situadas em pélos opostos do uni ‘verso social, inspira as explicagées redutivamente sociolo- Bizantes ou economicistas. desse fendmeno, formulando.o fem termos de transposigio ideolégica dos interesses de classes dominantes. © dominadas. “Conquanto apresentan- {do elementos validos de observacao, tais explicagOes nio es: ‘capam ao uniateralismo e a0 simplismo, Blas pressupoem, notadamente, uma concepeo do homem pensado essencial: ‘mente como''ser de caréncia”, da qual decorre uma visio puramente instrumentalista e utiitarista do ethos, ineapaz, de Gar ranio da sun trent! orignaliade fecmenol © conflito ético ¢, pois, um conflito de valores. No caso exemplar da crise do mundo grego e, particularmente, {a democtacla ateniense no século V ac. que est nas forigens da civilizagio ocidental,' a descoberta socratica {da alma (psyche) é,na verdade, uma reviravolta (Umstur2) de valores que atinge 0s proprios fundamentos do ethos tradicional, provocando esse profundo espanto © esse des- Briamente metaisco entre “estitico™ e “dinkmico", que nl nos pa- Foe wcettvel, Ver alada Rent Le Senvo, Trae de Moree Générale, Pati, PUR, 1, pp. 294906, o._ Ver, por eromplo, A. Sinches Visquet, tea (tt. bras), Rio i Jasero, Cleizagto rasta, 118, pp. 18810 0 0. Fouree, Chote thie et! conaiionnement ool 0p, ak, ‘pp. 3653; ainda, 1 Pot ‘concerto nos contemporinoos de que nos dio testemunho 8s paginas de Xenofonte e de Platio.”* Mais radical ainda se apresenta 0 conflito ties, e mais nitidamente vem & Iz 4 especifica natureza axlogénica desse fendmeno nessa que ¢ talvez a mais profunda revolugio moral da histéria, leve- {da a cabo no anincio da ética evangélica do amor." 1 nes- ‘ses casos paradigmaticos que se mostra com definitiva cla- eza a insuficiéncia das explicagdes reducionistas € @ pa tente inadequacdo do esquema da luta ideoldgica para tra- duzir a especificidade do. conflito ético. Na verdade, o por tador de novos valores éticos eo instaurador de um espago mais profundo e mais dilatado de exigencias do dever ser no horizonte de um determinado ethos histérico (como Séerates no mundo grego e Jesus no judaismo palestinen: se) exerce Implieitamente ‘uma erilica da ractonalizagao {deotdgica a0 transgredir obstinadamente "* os limites da ‘sfera da utilidade e do interesse, e langar seu apelo a par- tir da gratuldade de um absoluto do bem e da justia, 1 talvea a idéia de transgressfo que nos poderd condu- ir mais diretamente 2 esséncia mals intima do confito, ico, e completar com um ultimo traco a fenomenologia 440 ethos. Origindrio da Einologia e da Psleanilise, 0 com ceito de transgressto acabou acolhido no pensamento ético ‘contemporinoo, mas num sentido predominantemente ne gativo."* A fransgressdo 6 pensada imediatamente em opo- Sigdo ao tabu, ao interdito e & lei, Nesse sentido excluden- te, a transgreseao se define como a ruptura dos limites im: Dostos a0 individuo por um ethos entendido segundo a re. Ingo da exterioridade e da slionagio: ela seria 0 reencon: tro do individuo com a sua identidade verdadeira © com & sua Iberdade, rompidas as cadelas do ethos. Mas, some Inante conceito de transgressdo niio val além do nivel do gus YEE Rese, Storia det penslero onto, op, et, 3, pp, 31D 3, Ver Max Scheer, Die chriliche Lidesidee und die gogen- ‘rly Wel, sal Vor ge Aenachen. Casa Werks, "Berna, Francke Verlag, pp, 259401. agul, pp. 311370 "Ar Segundo « invective Ingnndn do Gach w Séeraies no Gr. les" a'mnais samiravel expressho dremtica do confit Giza, Ver Gig, wh ea "a Ver Jacques Ellul, Zep combats de le Uberté UBthique de tx erté, «5, Genebra Pars, Labor FidarLe Centurion, 1994, pp 3 {individuo empirico que se recusa a obedecer ao movimento {de universalizagio do ethos. Ela no é, nesse caso, seniio ‘uma sublimagao da falta, Ore, a negatividade presente na lranegressdo nfo se exprime ‘adequadamente na negagdo propria da falta ou da revolta, que empenha tio-somente ‘0 primeiro e mals exiguo momento da liberdade, vem a ser, 0 livrearbitrio do individuo, Como manifestagio da essén’ fia da liberdade ou do seu “momento terminal”,” a trans. Ggressdo, como mostra exoelentemente Jacques ul," su [Oe primeiramente a consciéncia dos limites de uma'liber. ade situada, A partir desses limites reconhecidos e acel- 108, 0 conflito ético coloca 0 individu em face do apelo ‘que surge de exigéncias mais profundas e sparentemente pparadoxais do ethos: 0 apelo a sacrificar'* 0 calmo reco- ‘hecimento dos limites e a seguranga protetora das formas tradicionais desse mesmo ethos, ¢ a langarse no risco de jum novo e mals radieal eaminho da Wberdade. Tal a iaéia de tranagresséo que perpassa, como um motivo fundamen tal, a ética neotestamentéria ® © que encontra sua expres: 80 definitiva na palayra de Jesus: “Quem quiser, pois, salvar sua vida a porderé, mas quem perder sua vida por ‘minha causa e da Boa Nova, a salvard”." Conguanto imanente ao movimento do ethos, a trans: gressio nko 6, porém, como quer P. Tillich,"" 0 desenlace normal desse movimento, mas como que 0 transbordamen- to de uma plenitude de liberdade que os limites do ethos socialmente estabelecido no podem conter. Ela di, assim, testemunho desse ethos do qual prorrompe e, so mesmo 18. Vor infra cap, 1, tm, Op. alt, pp. Te, "M O'moniente nepatvo da “trantgresio” na sun verdadeire fide ea, o principio que Hoga eruscou na Gallen do saber 2 ‘Spinto: telne Grenzn wher ele! sich aueaopferm wlsen (Phd romenoigie der Getses, Vit; Werke, Subrkap, 8. 50) "a Wer Saaques Bi, 99. ct Dp. 1685. 20, Me 60; ver Mt 1139; Le 826, Jo 1228, A pendéncia entre ‘Pranalaga abu pela praga de. Asta ot taro a pobreea constitu, na historia do jum ds eps sas soles dora: rtaio” no sea Go Worn nota Se EN, op. ot, 9. 2, a. An tempo, anuncia 0 advento de um novo mundo de valores. 2B nessa face positive da transgressdo que a forga criadora do confiito ético se apresenta nitida e Irresistivel, desco- brindo no seu fundo a prépria natures do ethos. © ethos, final, nfo 6 senio 0 corpo histérico da lberdade, e 0 trago, 0 seu dinamismo infinito inserito na finitude das épocas fe das culturas, 3 Capitulo Segundo DO ETHOS A ETICA 1, ETHOS E CULTURA Atirmar que o ethos ¢ coextensive & cultura significa afirmar a natureza essencialmente axiogénica da ago hu ‘mana, seja como agit propriamente dito (praxis), seja co- mo fazer (polesis). O dualismo estrutural da aco mostra, uma distancia inelimindvel que nela se estabelece entre 0 contetido oa significagéo, entre o dado e a intengio, entre 6 determinismo imanente 20 objeto da acio © 0 finalismo i To ary pune se tH i Fe } | I : ferenga: a estrutura da ago se constitu em permanente tensio com o seu objeto, e 6 essa tensio que alimenta 0 que Maurice Blondel denominou 0 “rescimento organico” {da agdo," 0 percurso do caminho entre 0 que 0 agente é fe 0 que o agente tende a ser. No objeto como termo da glo, no opus ou ergon, a transcendéncia do sujelto 6 ates- tada’ exatamente pela forma simbdlica pela qual a forma ‘natural do objeto integrada no sistema da cultura ou no Sistema das significagoes com que a sociedade e 0 indivi ‘duo Tepresentam ¢ organizam o mundo como mundo hu ‘mano, Assim sendo, 0 universo das formas simbélicas no ¢ simétrico ao universo das formas naturals, e a dissime- {ria entre ambos se manifesta nesse excesso do simbolo pelo qual a realldade 6 submetida & sua norma mensuranr fe: ela deve ser para o homem tal qual o simbolo s signi fica, Enquanto produtora de simbolos ou enquanto portae dora da signiticagio do seu objeto, a ago manifesta desta Sorte uma propriedade constitutiva da sua natureza: ela é ‘medida (métron) das coisas e, enquanto tal, elevase sobre © determinismo das colsas e penetra o espago da liberdade.* Essa propriedade caracteriza de manelra original e tink ea a apio humana e Aristételes poe em evidéncia refe- Findo-se ao simbolo fundamental da'lnguagem, 20 definir ‘© homem como 260m légon échdn* e ao fundamentar sobre ‘essa definigao sua reflexao sobre a acéo politica. Ora, 0 coextensividade entre ethos e cultura so estabelece juste. mente a partir do cardter mensurante da agao com respel- to & realidade. Com efeito, se considerarmos a praris como a face subjetiva da cultura e o seu objeto enquanto pragma 2. Astin: essa d'une critique de ia ie et dune scence de ta pratique 8h), ed lt, pp. 14s. Essas péginas, hoje njusl ‘este eoqueiaas ‘consttuée ume anise inigulads, pelo vigor © ‘plitude o fenimneno a ago humana 3. Na modida om quo se estebeloce etre a raliade ¢ 0 sme bolo istingto entte 0 “emt” eo "parencs” 0 home comefa Dor ‘raneoender a relizade ou objcivade: occa & vate da Mberdade. © fin posibiiande radial do. ettos. Ver J.'B. Late Die Person dos Senuné das Gute, spud Sein und Ethos, op. ity pp. 145 Wat {er Senuty Pilondphie in der serGndertén Wel, Pfaiingen, Noses, 1 pp. TOE, Pact ooo ngage coma fome sion fund rental ver E, Custer, Photophie der aymballacken Former, Vol I, ‘Barmuiadl; Wiseenschaiicne Mucheoelsnat, Ieee eee i, im a 149, ver ira, cap. TV, a ate ss ages rele anna Sees aa ghee rms 5 mente oe aes mmenea eae eee eee ipo emma ato teen fx se feo ech, E< devas ene dee soo rane ae ce sora aaa ene, cree, Sete at pppoe igri liar a Bao piso nat « ¢grneni come mea Mo mans, emu oie onde se etrsanen cake ante an at, elle ate oe argon neyo cate pet ot Se seen me ete sort ren > cn chy oo ty sa oe tert oe ee tee ae een ees dene oni tos ae i ae ph ae Sa erate ests noel alae cag, Ne er see meres eee ee elegy nar Saeco Se ae sree, este cpio stu. orem come nia serncas inte ol eommea dota nr 2 seu te sree i 2 los, om ete oo Sead eee eet rar ante ca c coe eee tec dees sabe a cnn, 6 etd do sel mettre ado ot Gb rel cin, 0 ao su 2, a pemanene, ered sok Be tren ge rte 2 mone Paeag Sane 4, [Bhtendendo-se correlasio prasieprigma, como extensi. va a lado o-campo da solo, pols mesmo ne afvidsde do taser” {pei eo ae bjt, ent um inecloaldad sepcicaten "Tor ae elleates db W. Thelhaas, Bidung und Sittiohttt, pu Handbuch der ehrstonen Hine, Pribargo Basla-Vies, Her: fe. Moan 197, 11. po. 102.5, tobretado E, Bubner, Geschichte Tesophte, Pranktar, Substamp, 104, pp. 113160 5. For juscatbente na ekcuselg tom Protagoras que Séerates tet a vietudo come “ara de modi tmetretise techn, Prot ies (fo). Na sentonca de Prosigorss velorida por Patao (test iste Crdt 588 "She Sosto Spinco (ade. Mate Vil, 60, ver DA. 0, 8,1) & 38 fem torno da qual se desenvolveré fundamentalmente a re flexio ética ‘A questo se coloca nos soguintes termos: se a prazis 6 a medida das coisas, como id estabelecer'se uma medida, para a prdpria prazis, uma vez que, na sua contingéncia © particularidade, ela nao pode ser medida para si mesma? ‘A impossibilidade do subjetivismo ético patentela-se na di- ‘menséo ética da cultura antes de encontrar sua expressio ‘tedrioa na refutagio socratico platOniea do relativismo so: {istieo. Com efeito, em todos 0s grandes dominios das for- ‘mas simbélicas, cuja articulagao constitui o mundo da cultu- 2, na linguagem, no mito, na arte, no saber, no trabalho, ‘nu organizaglo social, o ethos iré encontrar express6es. da sua normatividade que se apresentam como transcenden- tes & acdo efémera do individuo. Enquanto mundo objetivo o realidades simbolicamente significadas e que tende, pela, ‘tadigdo, a perpetuarse no tempo, a cultura mostra, assim, toda uma face voltada para 0 dever-ser do individuo e 10 apenas para a continuagio do seu ser: nela o individuo encontra, além do sistema técnico que assegura a sun so- brevivéncia, ainda e sobretudo o sistema normativo que the imp6e sua auto-ealizacio. A cultura tem, portanto, uma li rina ene mat spor rt a acta ey, Seine hie wiles me eae a acai ek teetaee hye tara fae ie st ie ages Sari aga ns ora cae ee eau arama 8 dere Inga de ea ee ro ace Searles ese ue erat ea Sei is tea Pea ys Sn ie GAR sa oe Se Sarco aa es as mince a ants Ser nee ee Sark anew eee.s eee 5 comnoncente Smad da verdade daa celses(arsttles, Met, 1, Srrecrcamee cars miata ear hs SUS ore Mecca ee See ai Par arteeren abies Sertaee Git ment ene eet eaee an cae ee ddimensto axioldgica que é constitutiva da sua natureza & fem virtude da qual ela define para 0 homem no somente tum “espago de vida” (Lebensraum), mas outrossim, do a oxpressio do E. Rothacker, um “estilo de vida” (Le Densstil).’ Desse ponto de vista, as definigoes puramente eseritivas da cultira s40 notoriamente insuficientes para traduzir a originalidade da visio do mundo e da ideia do homem subjacentes & diversidade histérica das culturas, Desta sorte, seja no sentido resirito de “cultura do espiri ‘seja no sentido amplo da sua distingio com “natu insepardvel do ethos ou '@ cultura — toda cultura — 6 constitutivamente ética,"* ‘Ao expormos os preliminares seménticos a uma feno- menologia do ethos (cap, I, n. 1), vimos como o primeiro @ mais fundamental sistema de simbolos sobre 0 qual. as- senta a cultura, a saber, a linguagem, é igualmento o lugar primeiro de manitestagio da normatividade do ethos @ da Decullaridade de uma estrutura logico-dilétion que, no ter mo ettios e nos seus derivados, e na constelagio dos termos ‘que constituem 0 nucleo seméntico fundamental da Imgua- em ética," ple & mostra o cireulo dialetioo constitutive do ethos que une a universalidade do costume & singula- ridade da prazis.”" reconbecidemente na religiéo que 0 ethos encontra ‘sua expressio cultural mais antiga e mais universal. De {ato, 0 mito ¢ a crenga aparecem como “a linguager mals ‘antiga da conseiéneia moral”,"* e 0 caminho mais seguro encontrado pelas sociedades para fundamentar numa ins- tancia transcendente a normatividade imanente & agio hu ‘mana e assegurar assim, com a garantia de um poder Je. aislador e julgador revestido do prestigio do sagrado, 2 Objetividade e a forca obrigatdria das normas e interditos. A origem religiosa das nogdes morais permanece uma ques. 2, Ezbatr Psi teem am nom i” Sete ete a oa ALE ae arta ca See 4 9 peu ‘nt fa each ee ce a ee TES Se ee ingua green que 18. Mattmann, #thit, op. oi. 9p. 66, 0 to discutida,"* e bem assim, a fundamentagdo do valor i. co na sua relagio com o sagrado."* © sabido, por outro lado, que @ esfera do ethos, na sua linguagem © na. sus expressio conceptual, tende historicamente a se distinguir dda esfera do religioso e do sagrado, no obstante a “mo- tivagio religiosa” permanecer, talvez, a mais universal das rmotivagbes que alimentam o agir étiod. © B certo que a auto. romia do dominio da moralidade constitu, sobretudo de. pois da critica kantlana da Razio prética, um dos pontos Sallentes da reflexio tica modems. Ora,’ como em Kant, ia 6 afirmada a partir da aprioridade formal da moralida- de, ors, como em ¥, Schleiermacher © S. Kierkegaard, 6 econhecida como condigio para se preservar a originall- Gade do sagrado e do religioso.*" Como quer que seja, a expresso do ethos na forma o ensinamento ¢ do comportamento religiosos 6 um f2t0 universal de cultura, * e 6 impossvel separar, na historia fdas grandes civilizagdes, tradicio ética e tradigio religio- sa." Desse_ponto de vista, 0” processo_histérico-cultural ‘que se encaminha, na civilizagdo ocidental, para @ sua au tonomia reefproca ou, mais exatamente, para a laicizagéo do ets, assinala igualmente uma das mais graves crises, fentre as historieamente conhecidas, da tradigio étiea de luma grande eivilizagdo, O desfecho dessa crise permanece incerto, mas ela sponta com dramdtica evidéncla, para o 14. Yor . Harkness, The sources of western morclity, Nova oraub, Castes Sexier ‘Son, 1336 8, Ver Theodor Steinbllchal, Die philosophiche Grundtepung dag, Hinson Sittenohe, Disco, Seba, 180, PP. He agit) Y8U HH Sobrey, Bifrang in de BENE, op. et, pp 11. Ver B, Hiring, Le Saord et te Blen: ration et, morahté epee apr mate) Haran et 12 "Pa ‘Sthllermacher 0 “saprado" é objet do "sentmentot "0 "ico™ da woutads,"ierkegaard por sia ver, aatingue un "estado eo” do ‘tm “esdalo relgioo" da exstéacia, ih, Sobre ax relagbes ene 0,“sngredo" © 0 “lor” ver, en tretant, « sseusio ellsica de Rudolf Ost, Des Helle: Ser das Trratonate Seder Idee des Ottionen und sein Yerhalins um Ro Honaten 269, Mumigue, deren Verlag, 19, pp. 6268: Th Steindchet, opt Th pb, 226208, 1D. Vero ari sifioneele do @, Pohrer, E. L. Ditch, ¢ W. 6, xilinmel in Die ation in Geschichte and Gegenwart, VI. Dp. Gate Pout Valadier, Morel et Se sprtuelle aged Dictonnatte de Spiriualte (Par, Beaucheso), X, ‘pp. WosiTit tv. Ito) a {ato de que a relagio entre 0 ethos ¢ as expressdes simbé- Neas de uma cultura — entre as quals singularmente religiio — € constitutiva do proprio ethos. No campo dessa Felapko, tragase 0 caminho trithado até hoje pelas socie dades humanas para assegurar & agéo do individuo, ne sua necessdria estruturs normativa, uma instancia reguladora objetiva e universal que a eleve sobre a contingéncia em- pPiriea do seu acontecer. AS tentativas de se susciter um ethos artificialmente anti-religioso em alguns estados do s0+ eialismo autoritério revelam elogllentemente, luz dessa, concluséo, a profundidade dessas camadas culturals onde ethos © crenga religiosa entrelagem suas rafzes, AA relagio entre 0 ethos esse outra forma fundamen- tal de expresso da cultura que € 0 saber apresentase, por sua vez, particularmente importante pols sera assumindo a ems ber demonstrative que, sn tadioio cident ‘ethos iré constituirse como linguagem universal codi ‘eada ¢ soclalmente reconheelda como tal, ou seja, como tion ‘As primeiras formas de saber em que o ethos se ex prime sio, de um lado, 0 mito e, de outro a sabedoria da ida, estilizada em legendas, fabilas, pardbolas © na sabe- doris gnémica (maximas e provérbios). A essenclal rela- ‘elo entre o mito e 0 ethos manifesta-se seja na funcio didé ‘ea do mito enquanto ensinamento sobre e realidade, seja ha sua funglo educadora e ordenador, enquanto assinala, ‘20 homem seu lugar e & aco humana seus limites na ordem edsmica. mito no somente descreve, mas igualmente prescreve, e esse cariter prescritivo ou propriamente ético, Se mostra com particular nitider na passagem do “tema, ‘mitico” & narragao mitica como tal,” Jaa sabedoria da ‘vida aparece como o lugar privilegiado da formagio da Tinguagem do ethos. Se acompanharmos tormagio do voeabildrio ético na Grécia que ira constituir, juntamente ‘com os termos correspondentes do vocabuldtio latino, 0 ‘vocabuldrio bésieo da Etiea ocidental, veremos que 6 air: gait Yer HL HL. Strep, Bintang im le Bthik, o. cy vp 11, Ver G. Mataberger, Sein und Sitte tm Mythos, apud P. Bo gonad (org), Sem und Hehoe, Mains, Mathine Grae, 1868, vista de Oscats, 897, pp. 2088 2 vés das formas literariamente estilieadas da sabedoria da ‘da que tal vocabuldvio nos ¢ transmitido.® B através dos Iatizes desse vocabuldrio que iremos conhecer as conste- ages tipicas de valores que estruturam em formas diver- ‘sas 0 ethos arcaioo grogo: um ethos aristocratioo © Rucr reiro (Homero, Teognis de Mogare, Pindaro, ..) um ethos popular e laborioso (sebedoria gnémica, Hesfodo nos Tre- balhos e Dias,...).% Um dos tragos importantes no ethos a sabedoria'da vida ¢ 0 fato de que essa sabedoria se presente como expressio da prépria natureza ¢ taca apelo, portanio, a uma vontade que se mantém no terreno’ da. {quelas que se consideram exigéncias essenclals da vida, act ‘ma das flutuagdes do arbitrio individual." Assim, através da sabedoria da vida, manifestase essa\analogia' entre a regularidade da natureza ea consténcia regularidade do ‘ethos, na qual a Etica como eléncia do ethos ira encontrar seu ponto de partida e seu motivo fundamental. © 2, NASCIMENTO DA CISNCIA DO ETHOS © aparecimento de uma cigncia do ethos nas orgens da cultura ocidental ” constitul um dos aspectos mais no: taveis e de mals extraordindria significacho dessa profunda transformagio do mundo grego que teve lugar nos séculos VII e VI aC, e da qual procede o ciclo elviizatério no qual ainda hoje nos movemos. A eiénein do ethos surge con NEAR SRS, HIME der Ooh, op. bp 94 cnt teh Bor tama W. Seeger "Pola fh’ fet of Gres cuture, vol, 24g Io J, Lorte Mea, Du myine & Tonto, 0 hy bp LUE Gabre Hesiod ba oe ‘gents ta “comunidad” (Gerin. ‘chat, conracistnta Ga "vontade de arbre” (WiliroWe) dom ‘ante “socldade” (Geselechaf ‘fA annlogia qvo funda a "raturldads” dos procetts da “se- bdrie'da vida" tanto tals nia quanto mais universal € a for [malo de tse preoroe, como agonisce no aso da chamsda “ye. a de uo" (ver HH. 'Sehrey, Bin/thrang in aie Bihik, Op, el, "an, "Eis como essa reers 2 enunciada por um. autor meow’ BNE iegem iam naturciem qua nemint focere sll quid #0 fer roivertomlbusque facere oat inqvontum potest guaccumaue

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