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EDIGOES ANTERIORES SOBRE SIDEWALKS DE VALERIA LUISELLI [RESENHA] ? DIEGO PEREZ | 28 DESET. DE2022 Os O)(S Share SOBRE SIDEWALKS DE VALERIA LUISELLI [MAGAZINE] Ainda nao é inscrito na [MAGAZINE]? E facil Basta deixar 0 seu email aqui. Meu primeiro contato com a obra da escritora mexicana Valeria Luiselli foi provavelmente no ano passado quando, revirando minha lista to-read ha muito empoeirada do goodreads, decidi checar o tio falado Rostos na mulriddo (2011) que langaria a autora como uma das queridinhas da critica latino-americana contemporanea. E devo admitir que a leitura de Rostos na multiddo, a principio, realmente me deixou fascinado: Luiselli domina muito bem a prosa fragmentéria e metaficcional que se alastrou pela narrativa latino-americana nesse principio de século XXI ¢ a investigacao literdria sobre a vida e obra de Gilberto Owen que conduz a protagonista em paralelo as suas andancas pelas ruas de Nova York era um prato cheio ao meu paladar. Contudo, quando o livro chega em seu terceiro ato e se perde em um “final aberto” que, na verdade, parece mais que a escritora nao sabia exatamente onde queria chegar, a experiéncia da leitura se abalou. Como disse uma vez Louren¢o Mutarelli, as vezes é melhor um livro que termina bem do que um que comega bem. Mas como Rostos na multiddo era o primeiro romance de Luiselli, o sabor levemente agridoce dessa leitura inicial nao me tirou de todo o interesse pela poética da escritora que realmente demonstrava um potencial enorme em sua escrita. Numa nova investida ao catdlogo da escritora, voltei meus olhos a Sidewalks (2014), debut de Luisel no mundo literdrio e, para minha surpresa, um dos melhores livros de ensaios que tive o prazer de ler até hoje. Como sugere desde o titulo (originalmente chamado Papeles falsos, mas muito bem transposto para a lingua inglesa como “calcadas”), Sidewalks impde nos 10 ensaios que formam o volume uma necessidade de movimento num mundo contemporaneo. Sem dividas, esse viria a ser um dos elementos centrais da poética de Luiselli - como tentei demonstrar no meu texto “Entre o ensaio e o romance: a obra de Valeria Luiselli em trés movimentos” publicado no livro Cosmos littera (2022) -, mas, aqui, 0 movimento, sob a reflexao da ensaista, ganha um protagonismo impar em que 0 “movimento pelo movimento” ¢ celebrado como a expresso maxima da vida: Mas talvez uma pessoa tenha apenas duas residéncias reais: a casa da infancia eo tuimulo. Todos os outros espacos que habitamos s%io um mero espectro za, daquela primeira habitagdo, uma sucesso indistinta de paredes que finalmente se resolvem na cripta ou na urna - a menor das infinitas divisées do espago em que um corpo humano pode caber. De Veneza & Cidade do México, de Nova York a Nova Delhi; do elogio ao ciclismo como a mais genuina forma de se praticar o flaneur na contemporaneidade passando sobre a solidao das calcadas; da preocupacio com a saudade (palavra intraduzivel como se costuma dizer na comunidade lus6fona) & conclusio de que, em alguma medida, “Um escritor é uma pessoa que distribui siléncios e espagos vazios”. Em cada uma dessas situagdes, Luiselli expde, como uma ciclista experiente a navegar pela linguagem labirintica do ensaio, suas reflexdes de forma bastante dgil e prazerosa. E nés, enquanto caronas de sua prosa envolvente, conseguimos apreciar facilmente o passeio ensaistico, com suas sucessivas paisagens geograficas e sentimentais. Tais movimentos, como ¢ certo, nao se produzem no vacuo, de modo que o espago, enquanto elemento central para as cartografias sentimentais e nacionais que traga Luiselli, também ganha, naturalmente, um lugar de destaque nas suas reflexdes. Assim, de uma forma mais ébvia, “Flying Home”, ensaio em que Luiselli conceitualiza que “os mapas nao impéem quaisquer limitagdes & imaginagdo de quem os estuda. Somente em uma superficie estatica e atemporal a mente pode vagar livremente” é provavelmente a mostra maxima dessa preocupacio espacial. Contudo, em todos os ensaios de Sidewalks, em maior ou menor medida, 0 espago vai aparecer como um tema bastante frutifero & reflexao. Espago e movimento, nesse sentido, se combinam, como aponta o escritor Cees Nooteboom em sua introdugio & edic&o norte-americana do livro, numa estrutura apenas possivel pelo ensai Ensaios nao tém plot, livros de viagem (Chatwin, Theroux) as vezes sim; e ha também o livro de viagens como uma colegao de ensaios e 0 ensaio que envolve viajar e olhar. Se meu sistema excéntrico de classificagao se aplica, Sidewalks pertence & tiltima dessas categorias (Nooteboom apud Luiselli, 2014a, p. 12). Esse cardter um tanto quanto esteta e despolitizado da ensaistica de Luiselli (“Um café, um jornal na mesa: folheio as noticias de ontem - pulo a politica - vou as paginas de cultura”) ganharia com o Tell Me How It Ends: A Essay In 40 Questions (2017), seu livro de ensaios da autora - em que se debruga sobre a crise migratéria de criangas latino-americanas nos Estados Unidos -, uma dimensio social completamente inescapavel e urgente. Mas essa seriedade de de Tell Me How It Ends de forma alguma relega Sidewalks a um lugar menor na bibliografia de Luiselli. Pelo contrério, é muito claro como os elementos centrais que o segundo livro também carregam jd estavam muito bem desenvolvidos em Sidewalks, tornando 0 livro nao apenas chave na leitura da obra de Luiselli como revela a preocupagao (ainda que se demonstre despreocupada) da autora com a ensaistica que navegava e seu tom inerentemente provocativo que tanto cativa o bom apreciador desse género. [DIEGO PEREZ] 82D Comments PD)" wie a comment. © 2024 Diego Cardoso Perez, [MAGAZINE] ISSN 2965-582X - Privacy - Terms - Collection notice Substack is the home for great writing

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