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POTÁSSIO 3

1. BALANÇO DO podem levar à parada ou à fibrilação


POTÁSSIO cardíaca.
A concentração de potássio no líqui- A dificuldade peculiar na regulação
do extracelular costuma ser regula- da concentração extracelular de po-
da em torno de 4,2 mEq/L, com ra- tássio se deve ao fato de que mais
ras elevações ou quedas por mais de de 98% do potássio total no corpo se
±0,3 mEq/L. Essa exatidão do contro- encontram nas células, e apenas 2%
le é necessária, já que muitas funções estão contidos no líquido extracelular
celulares se mostram bastante sen- (Figura 1). Colocando em números, o
síveis às alterações da concentração movimento de apenas 1,5 a 2% do K+
extracelular de potássio. Por exemplo, do líquido intracelular (LIC) para o lí-
aumento da concentração plasmática quido extracelular (LEC) pode resultar
de potássio de apenas 3 a 4 mEq/L em um aumento potencialmente fatal
pode causar arritmias cardíacas, en- da concentração desse cátion.
quanto concentrações mais elevadas

Ingestão de K+
100 mEq/dia

K+ no líquido K+ no líquido
extracelular intracelular

4,2 mEq/L 140 mEq/L


X 14 L X 28 L

59 mEq 3,920 mEq

Urina 92 mEq/dia
+ Fezes 8mEq/dia
100 mEq/dia
Figura 1. Distribuição do potássio nos líquidos corporais e sua excreção. Fonte: Adaptado de Hall (2017)
POTÁSSIO 4

O potássio contido em apenas uma entre os compartimentos intra e ex-


refeição é, muitas vezes, de até 50 tracelular representa a primeira linha
mEq, e a ingestão diária varia entre de defesa contra as alterações da
50 e 200 mEq/dia; assim, falha na concentração de potássio no líquido
rápida remoção do potássio ingerido extracelular.
do líquido extracelular poderia oca- Deste modo, para que a proporção
sionar hipercalemia (alta concen- de potássio entre compartimentos se
tração plasmática de potássio), com mantenha adequada, diversos meca-
risco de morte. Do mesmo modo, nismos regulam o movimento de K+
pequena perda de potássio do líqui- entre o LIC e o LEC (balanço interno),
do extracelular poderia levar à gra- e os rins ajustam a excreção de K+ na
ve hipocalemia (baixa concentração dependência da quantidade ingerida
plasmática de potássio), na ausência na dieta e perdida pelas fezes e pelo
de respostas compensatórias rápidas suor (balanço externo).
e apropriadas.
A manutenção do equilíbrio entre a
produção e a excreção de potássio Balanço interno do potássio
depende, em grande parte, da excre- Após a ingestão da refeição normal,
ção renal, pois a quantidade excreta- a concentração de potássio no LEC
da nas fezes e no suor é de apenas aumentaria até um nível letal se o po-
5% a 10% da ingestão. Desse modo, tássio ingerido não fosse rapidamen-
a manutenção do equilíbrio normal te deslocado para as células. Por sor-
do potássio depende do ajuste re- te, a maior parte do potássio ingerido
nal rápido e preciso de sua excre- se desloca rapidamente para as célu-
ção, em resposta às amplas varia- las até que os rins consigam eliminar
ções da ingestão. Isso também é este excesso. Quando o K+ é ingeri-
válido para muitos outros eletrólitos. do na dieta, o corpo ajusta a taxa de
O controle da distribuição do potás- excreção renal para evitar aumento
sio entre os compartimentos intra e considerável do nível sérico desse íon
extracelular também tem papel im- (balanço externo). No entanto, esse
portante na sua homeostasia. Como aumento na excreção renal de K+ não
mais de 98% do potássio total do cor- funciona de forma imediata. Para que
po está nas células, elas podem servir não haja um aumento importante do
como local para o extravasamento do K+ sérico após uma refeição, ocorre
potássio em excesso para o LEC, du- um desvio do K+ do LEC para o LIC
rante hipercalemia, ou como fonte de (balanço interno).
potássio, durante a hipocalemia. Des- O balanço interno de K+ é o responsá-
sa forma, a redistribuição de potássio vel pela manutenção da distribuição
POTÁSSIO 5

assimétrica do K+ corporal total entre Em contrapartida, durante o jejum, à


o LIC (98%) e o LEC (2%). A bomba medida que vai ocorrendo a caliure-
Na+/K+ ATPase, presente em quase se, as células vão liberando o K+ acu-
todas as células do corpo humano, é mulado no LIC. O resultado é uma
a responsável por transportar ativa- variação menor do que 10% do nível
mente o K+ do LEC para o interior das sérico de K+ ao longo do dia, indepen-
células contra esse enorme gradiente dentemente da dieta do indivíduo. O
de concentração. Tabela 1 apresenta os fatores regula-
dores do balanço interno de K+.

FATORES REGULADORES DO BALANÇO INTERNO DE POTÁSSIO

FATORES REGULADORES MECANISMO DE AÇÃO RESULTADO


Insulina Estimula diretamente a Na+/K+ ATPase Desvio de K+ para o LIC
Estimulam os receptores beta-2-adre-
Catecolaminas nérgicos, que, AMPc, ativam a bomba Desvio do K+ para o LIC
de Na+/K+ ATPase
Aldosterona Estimula diretamente a Na+/K+ ATPase Desvio do K+ para o LIC
Ativação dos receptores
Exercícios físicos Desvio do K+ para o LEC
alfa-adrenérgicos
O movimento de H+ através das
membranas acarreta um movimento Acidose: desvio de K+ para o LEC
Distúrbios ácido-base
de K+ na direção oposta para manter a Alcalose: desvio do K+ para o LIC
eletroneutralidade
O movimento de água para fora arras- Hipercalemia “de arraste”, do inglês
Hiperosmolaridae plasmática
ta consigo K+ (drag hyperkalemia)
Liberação do conteúdo intracelular
Lise celular Aumento do K+ no LEC
para o extracelular
Variação no gradiente de K+ entre o Hipercalemia: K+ é desviado para o LIC
Concentração de K+ no LEC
LIC e o LEC Hipocalemia: K+ é desviado para o LEC
Tabela 1. Fatores regulares do balanço interno de potássio. Fonte: Sá (2018)

Balanço externo do potássio 2). A maior parte é representada pela


excreção urinária (90%), enquanto as
Todo o K+ ingerido na dieta precisa
fezes e o suor eliminam em torno de
ser eliminado pela urina, pelas fezes e
10%.
pelo suor para que a carga total des-
se íon se mantenha constante (Figura
POTÁSSIO 6

Dieta

K+ sérico Células

Suor Fezes Urina

Figura 2. Balanço interno e externo do potássio. Fonte: Adaptado de Sá (2018)

Os rins apresentam grande capacida- A Figura 3 resume o controle tubular


de de adaptar a caliurese conforme a do potássio em condições normais.
ingestão de K+, aumentando a reab- Cerca de 65% do potássio filtrado é
sorção e reduzindo a secreção quan- reabsorvido no túbulo proximal. Os
do a ingestão for baixa, ocorrendo o outros 25% a 30% do potássio filtra-
oposto quando a ingesta de K+ for alta. do são reabsorvidos na alça de Henle,
A excreção renal de potássio é deter- especialmente na parte ascendente
minada pela soma de três processos espessa onde o potássio é cotrans-
renais: (1) a filtração glomerular do portado de modo ativo, junto com o
potássio; (2) a taxa de reabsorção do sódio e o cloreto. Tanto no túbulo pro-
potássio pelos túbulos renais; e (3) a ximal quanto na alça de Henle, uma
taxa de secreção tubular de potássio. fração relativamente constante da
carga filtrada de potássio é reabsor-
A taxa de filtração glomerular de po- vida. As alterações da reabsorção de
tássio é relativamente constante em potássio nesses segmentos renais
pessoas saudáveis, em virtude dos podem influenciar sua excreção, mas
mecanismos autorregulatórios da fil- grande parte da variação diária dessa
tração glomerular e da precisa regu- excreção não se deve às variações da
lação da concentração plasmática de reabsorção no túbulo proximal ou na
potássio. No entanto, a queda acentu- alça de Henle.
ada da filtração glomerular, em certas
doenças renais, pode causar grave
acúmulo de potássio e hipercalemia.
POTÁSSIO 7

Existe também alguma reabsorção


de potássio nos túbulos coletores
e nos ductos coletores; a quantida-
de reabsorvida nessas porções do
néfron varia em função da inges-
tão de potássio. Como nas outras
regiões do néfron a reabsorção de
potássio é relativamente constante
em condições normais, esta etapa
do balanço externo do potássio,
que ocorre na porção final do túbu-
lo distal e em todo o túbulo coletor,
é um ajuste fino entre secreção e
absorção e, consequentemente, da
excreção renal do potássio. A Tabe-
la 2 resume os fatores reguladores
Figura 3. Reabsorção e secreção do potássio no túbulo
do balanço externo de potássio.
renal. Fonte: Adaptado de Hall (2017)

FATORES REGULADORES MECANISMO DE AÇÃO RESULTADO

Sistema renina-angiotensi- A aldosterona se liga a receptores intracelulares


 a secreção urinária de K+
na-aldosterona nas céluas principais do túbulo coletor
 da oferta de Na+ no Ocorre maior troca de Na+ por K+ na membrana
 da sereção urinária de K+
lúmen tubular apical da célula principal
O K+ secretado rapidamente segue o fluxo,
 do fluxo tubular deixando o ambiente luminal com menor con-  a secreção urinária de K+
centração do íon
Ãnions não rebsorvíveis no
Tornam o ambiente tubular mais eletronegativo  a secreção urinária de K+
lúmen tubular
Alcalose:  a secreção uri-
Variações no pH sanguíneo levam a mudanças
nária de K+
Distúrbios ácido-base na permeabilidade da membrana celular ao K+,
Acidose:  a secreção uriná-
inclusive na célula tubular renal
ria de K+
Tabela 2. Fatores regulares do balanço externo de potássio. Fonte: Sá (2018)
POTÁSSIO 8

SAIBA MAIS!
Já no início de seu percurso, aproximadamente 60 a 70% da carga filtrada de K+ é reabsorvida
no túbulo proximal. Esse transporte ocorre de maneira passiva, pois a intensa reabsorção de
Na+ nesse segmento gera uma hiposmolaridade do lúmen tubular. Como a membrana celular
é permeável à água, ocorre um movimento intenso de água para o interior da célula por os-
mose. Esse movimento de arraste leva outras moléculas, entre elas, o K+.
Na porção espessa da alça de Henle também ocorre intensa reabsorção de K+ (25 a 30%)
através do cotransportador NA+–K+–2Cl−, que é sensível à furosemida (Figura 4). Da mesma
forma que no túbulo proximal, a reabsorção de solutos no segmento espesso da alça de Hen-
le ascendente está intimamente ligada à capacidade de reabsorção da bomba Na+/K+ ATPa-
se, que mantém baixa concentração intracelular de sódio. A baixa concentração intracelular
de sódio, por sua vez, produz gradiente favorável para a movimentação de sódio do líquido
tubular para a célula. Deste modo, o cotransportador Na+–K+–2Cl− da membrana luminal usa a
energia potencial, liberada pela difusão de sódio para a célula, para conduzir a reabsorção de
potássio para a célula contra o seu gradiente de concentração.

Líquido Células Lúmen tubular


intersticial tubulares (+8 mV)
renal

Difusão Na+, K+,


paracelular Mg++, Ca++

Na+
Na+
ATP

K+
H+

Na+

K+ 2Cl- -
K+

Diuréticos de alça
• Furosemida
• Ácido etacrínico
• Bumetanida

Figura 4. Mecanismos de transporte de sódio, cloreto e potássio na alça de Henle ascendente espessa.
Fonte: Adaptado de Hall (2017)

Os locais mais importantes para regular a excreção de potássio são as células principais dos
túbulos coletores corticais e distais finais. Nesses segmentos tubulares, o potássio pode, al-
gumas vezes, ser reabsorvido ou secretado, dependendo das necessidades do corpo.
Com grande ingestão de potássio, a excreção extra necessária de potássio é realizada, qua-
se que exclusivamente, pelo aumento de sua secreção pelas células principais dos túbulos


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distais e coletores (Figura 5). A Na+/K+ ATPase localizada na membrana basolateral destas
células bombeia um íon de Na+ para o capilar em troca de um íon de K+, que entra na célula.
Enquanto isso, um íon de Na+ é reabsorvido do lúmen tubular pelo canal epitelial de sódio
(ENAC, epithelial sodium channel) da membrana apical, gerando um gradiente eletronegati-
vo no lúmen tubular. O aumento da concentração de K+ no intracelular e a diferença de cargas
elétricas favorecem, assim, a secreção de K+ no lúmen tubular através de canais específicos.

Túbulo coletor

Sangue
Luz tubular
Na+
Na+ ENAC
K+

Cl-

Cl- K+

-
Cl-

Cl-
+
Cl-
Na+

Cl- Na+ ENAC


K+

K+

Figura 5. Secreção de K+ pela célula principal do túbulo coletor. Fonte: Adaptado de Sá (2018)

A aldosterona é um hormônio mineralocorticoide que participa ativamente desse processo,


pois estimula a atividade da Na+/K+ ATPase e aumenta a quantidade de ENAC na membrana
apical. O resultado final da ação deste hormônio, então, é o aumento da excreção de K+ e da
reabsorção de Na+.
Por outro lado, quando a ingestão de potássio é baixa, sua secreção pelos túbulos distais e
coletores diminui, provocando redução da excreção urinária de potássio. Existe também uma
pequena reabsorção efetiva de potássio por parte das células intercaladas nos segmentos
distais do néfron, porém o principal mecanismo de regulação da excreção de K+ é realmente
o aumento/diminuição da secreção de K+ por parte das células principais. Em situações de
hipocalemia, a excreção deste íon pode cair para menos de 1% do potássio do filtrado glo-
merular (menos de 10 mEq/dia). Com ingestões de potássio abaixo desse nível, pode ocorrer
grave hipocalemia.
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2. HIPOCALEMIA Diminuição da ingestão


A hipocalemia é definida pela concen- Em condições normais, a diminuição
tração sérica de potássio menor que da ingestão de K+ por curtos espa-
3,5 mEq/L, muito embora as manifes- ços de tempo não leva à hipocalemia,
tações clínicas só ocorram em níveis pois o rim é capaz de reduzir bastante
séricos mais reduzidos (< 2,5 mEq/L). a excreção de K+, como visto anterior-
Estratifica-se conforme as concentra- mente. Contudo, por menor que seja
ções: 1) leve: 3,1-3,5 mEq/L; 2) mo- a ingestão de K+, o rim precisa manter
derada: 2,5-3,0 mEq/L; 3) grave:< 2,5 uma taxa de excreção mínima.
mEq/L. Em situações extremas e duradou-
Por modificar a assimetria de con- ras, como na anorexia nervosa, pode
centrações entre o LIC e o LEC, a hi- ocorrer hipocalemia, por vezes grave.
pocalemia causa uma alteração no Nesse distúrbio alimentar, a hipocale-
potencial de repouso da membrana mia frequentemente é agravada por
celular, tornando-a mais hiperpola- outros mecanismos, como indução de
rizada. Quanto menor o nível sérico vômitos e uso abusivo de laxativos e/
de K+, maior o distúrbio da membrana ou diuréticos.
celular e, consequentemente, a gravi-
dade das manifestações clínicas.
Desvio do líquido extracelular para
o líquido intracelular
Mecanismos de desenvolvimento
• Insulina: Como vimos anterior-
da hipocalemia
mente, a insulina estimula a bom-
A hipocalemia pode se desenvolver a ba Na+/K+ ATPase, o que resulta
partir dos seguintes mecanismos: num maior deslocamento do K+
do LEC para o LIC. Esta situação é
• Diminuição da ingestão;
mais pronunciada em ocasiões de
• Desvio do LEC para o LIC; grande administração de insulina,
• Aumento das perdas gastrintes- como o tratamento de cetoacido-
tinais; se diabética e estado hiperosmo-
lar hiperglicêmico, assim como de
• Aumento das perdas renais; liberação importante de insulina
• Aumento das perdas pelo suor; endógena no caso da síndrome de
realimentação.
• Perdas para circuitos extracorpó-
reos (diálise, plasmaférese, etc.). • ẞ2-adrenérgicos: Os ẞ-agonis-
tas, de modo indireto, também es-
timulam a bomba Na+/K+ ATPase.
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Os broncodilatadores ẞ-agonistas • Paralisia periódica hipocalêmi-


utilizados principalmente em asma ca: Doença rara caracterizada por
e doença pulmonar obstrutiva crô- episódios súbitos de intensa fra-
nica (DPOC) são os exemplos mais queza muscular ou paralisias que
clássicos da hipocalemia induzida podem afetar até mesmo a mus-
por ẞ2-adrenérgicos. No entanto, culatura respiratória. É causada
qualquer situação com excesso de por um distúrbio genético que leva
atividade adrenérgica tem esse po- a anormalidades em canais iônicos
tencial, como o feocromocitoma, o das células musculares. Esses ata-
delirium tremens e a tireotoxicose. ques geralmente são precipitados
por exercício físico intenso, jejum
• Alcalose metabólica ou respira-
ou refeições ricas em carboidratos
tória: A alcalose metabólica e a
e se caracterizam por um desvio
hipocalemia estão frequentemen-
acentuado e rápido do K+ para o
te associadas, pois ambas têm
LIC. Um quadro clínico semelhante
causas comuns, como o uso de
ocorre em alguns casos de hiper-
diuréticos, vômitos e hiperaldoste-
tireoidismo, devido ao excesso de
ronismo. Além disso, viu-se que a
catecolaminas.
alcalose pode causar hipocalemia,
isto pois, a saída de H+ das células, • Aumento na produção de célu-
na tentativa de compensar a alca- las: A produção maciça de células
lose, leva ao desvio do potássio do hematopoiéticas está associada à
LEC para o LIC, para manutenção hipocalemia devido à utilização do
da eletroneutralidade. K+ para formação de novas células.
Isso pode ocorrer no início do tra-
tamento de anemia megaloblásti-
Da mesma maneira, uma hipocalemia ca com vitamina B12 ou no trata-
grave pode gerar alcalose metabólica, mento de neutropenias com fator
pois, quando o K+ sai das células para estimulante da colônia de granuló-
atenuar a hiperpolarização da mem- citos (G–CSF).
brana, o H+ é desviado do LEC para o
LIC para manter a eletroneutralidade. • Pseudo-hipocalemia: As amos-
tras de sangue de pacientes com
Com a entrada do H+ na célula, ocorre
células metabolicamente muito
uma acidose intracelular. Os túbulos
ativas, como leucemia mieloide
renais, então, passam a absorver o
aguda (LMA) com grandes leuco-
NaHCO3 e secretar H+ para o lúmen
citoses, leva à internalização de
tubular. O resultado é a ocorrência de
parte do K+ extracelular, poden-
um ciclo vicioso envolvendo alcalose
do diminuir o nível sérico daquela
e hipocalemia.
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amostra. Para evitar essa situação, A alcalose metabólica resultante


o médico pode solicitar ao labo- leva a um desvio do K+ do LEC para
ratório que centrifugue a amostra o LIC, além de aumentar a excre-
com rapidez após a coleta ou, se ção urinária desse íon por estímulo
não for possível, que armazene a à secreção pelas células tubulares
amostra em temperatura de 4ºC. renais. O segundo é o estado de
hiperaldosteronismo secundário à
• Outras causas: hipotermia, intoxi-
hipovolemia. Portanto, esse meca-
cação por cloroquina e intoxicação
nismo de hipocalemia também po-
por bário
deria ser classificado como perda
urinária de K+.
Perdas gastrintestinais
• Perdas pelo trato gastrintesti- Perdas urinárias
nal inferior (diarreia, uso de la-
• Diuréticos: Os diuréticos que
xativos e fístulas): A eliminação
agem no túbulo proximal, na alça
fecal de K+ em condições normais
de Henle e no túbulo distal (inibi-
fica em torno de 10mEq/dia. Essa
dores da anidrase carbônica, diuré-
perda aumenta consideravelmente
ticos de alça e diuréticos tiazídicos,
durante episódios de diarreia, po-
respectivamente) inibem a reab-
dendo gerar hipocalemia. A tenta-
sorção de K+, aumentam o fluxo tu-
tiva de adaptação renal em reduzir
bular renal e causam hiperaldoste-
a perda urinária de K+ é, em parte,
ronismo secundário ao estado de
antagonizada por um estado de
hipovolemia, que, conjuntamente,
hiperaldosteronismo secundário à
aumentam a excreção urinária de
hipovolemia.
K+, podendo levar à hipocalemia. O
• Perdas pelo trato gastrintestinal manitol intravenoso também pode
superior (vômitos e drenagem causar hipocalemia devido à diure-
nasogástrica): A concentração se osmótica.
de K+ no suco gástrico é baixa (5 a
• Excesso de mineralocorticoides:
10mEq/L). Se a causa da hipocale-
A aldosterona é um hormônio que
mia fosse apenas a perda de suco
tem um papel central na excreção
gástrico, o indivíduo precisaria vo-
urinária de K+. Logo, as situações de
mitar aproximadamente 20 litros
excesso desse mineralocorticoide
para reduzir, de forma significativa,
são potenciais causas de hipocale-
o K+ sérico. Então, por que ocorre
mia. O hiperaldosteronismo pode
hipocalemia? O primeiro motivo é
ser primário – como no adenoma,
a perda de ácidos no suco gástrico.
na hiperplasia ou no carcinoma de
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adrenal – ou secundário à secreção Cl−, sensível a diurético tiazídico e


de renina – como nas neoplasias localizada no túbulo distal. Portan-
produtoras de renina e na esteno- to, o fenótipo dessa síndrome lem-
se de artéria renal. Os hormônios bra o dos pacientes que fazem uso
glicocorticoides, quando em ex- crônico de diurético tiazídico. To-
cesso, também mimetizam a ação das as anormalidades bioquímicas
da aldosterona. Isso ocorre na sín- mostradas desta síndrome podem
drome de Cushing e durante o uso ser encontradas na síndrome de
farmacológico de glicocorticoides. Bartter, exceto o cálcio urinário que
Nessas síndromes de excesso de estará normal ou elevado.
mineralocorticoide, a hipocalemia A síndrome de Liddle é cau-
frequentemente é acompanhada sada por um aumento da fun-
de hipertensão arterial e alcalose ção do canal ENAC e se
metabólica. manifesta clinicamente com hi-
• Defeitos genéticos dos túbulos pocalemia e hipertensão arterial
renais: Três mutações raras podem (pseudo-hiperaldosteronismo).
levar a alterações de canais iônicos • Cetoacidose diabética e esta-
de células tubulares. A síndrome do hiperosmolar hiperglicêmico:
de Bartter é a consequência clí- Devido à diurese osmótica, os pa-
nica de um defeito no cotranspor- cientes desenvolvem grande déficit
tador Na+–K+–2Cl−, dificultando a de K+ corporal. Uma menor propor-
absorção de K+ pela alça de Henle. ção da perda urinária é decorren-
É o mesmo canal iônico bloqueado te de cetoácidos não absorvíveis,
pela furosemida; por isso, o fenó- hiperaldosteronismo secundário à
tipo dessa síndrome é semelhante hipovolemia e vômitos. Contudo, a
ao dos pacientes que fazem uso hipocalemia no momento da apre-
crônico desse diurético. As mani- sentação é vista apenas em uma
festações clínicas de hipovolemia, minoria de pacientes. A razão dis-
hipotensão, hipocalemia, alcalose so é o grande desvio de K+ do LIC
metabólica e hiperreninemia têm para o LEC decorrente da hiperos-
início na infância e pode haver re- molaridade sérica, deficiência de
tardo no crescimento. insulina e acidose metabólica.
A síndrome de Gitelman tem qua- Durante o tratamento com insulina
dro clínico semelhante à de Bart- e reposição de fluidos, no entanto,
ter, porém mais brando, manifes- o K+ voltará para o LIC, manifestan-
tando-se na adolescência ou em do o real déficit de K+ corporal total.
adultos jovens. Nessa síndrome, a Este paciente poderá desenvolver
bomba iônica disfuncional é a Na+/
POTÁSSIO 14

hipocalemia grave, tornando obri- Perdas por circuitos


gatória a monitorização cuidadosa extracorpóreos
deste eletrólito.
Na diálise, ao final do tratamento, o
• Medicações: A anfotericina B, os K+ sérico tende a se igualar ao K+ do
aminoglicosídeos e a cisplatina banho de diálise. Se o nível de K+ nes-
têm ação tóxica nos túbulos renais. se banho for baixo, poderá ocorrer hi-
As penicilinas causam hipocalemia pocalemia. Na plasmaférese, caso a
por aumento de ânions não rea- reposição do plasma seja feita com
bsorvíveis nos túbulos renais. Os albumina, pode ocorrer hipocalemia.
glicocorticoides e a fludrocortisona O Mapa Mental a seguir apresenta as
também são causas de hipocale- principais etiologias de hipocalemia.
mia pelos mecanismos já descritos
(excesso de mineralocorticoides).
• Alterações tubulares adquiridas:
Acidose tubular renal (ATR), fase
poliúrica da necrose tubular aguda
(NTA), poliúria após desobstrução
do trato urinário, hipomagnesemia
e leptospirose.

Aumento das perdas pelo suor


Normalmente é baixa a excreção de
K+ pelo suor. Contudo, as atividades
físicas intensas em ambientes quen-
tes podem levar à sudorese profusa
e causar hipocalemia. Em parte, tam-
bém há a influência do hiperaldoste-
ronismo secundário à hipovolemia.
POTÁSSIO 15

MAPA MENTAL – CAUSAS DE HIPOCALEMIA

DIURÉTICOS

EXCESSO DE
↑ INSULINA PARALISIA PERIÓDICA
HIPOCALÊMICA MINERALOCORTICOIDES

↑ PRODUÇÃO DE CÉLULAS DEFEITOS GENÉTICOS


↑ β2-ADRENÉRGICOS
DOS TÚBULOS RENAIS

ALCALOSE PSEUDO-HIPOCALEMIA
SD. DE GITELMAN

DESVIO DO LEC SD. DE LIDDLE


PARA O LIC
SD. DE BARTTER

DIMINUIÇÃO DA AUMENTO DAS CETOACIDOSE


INGESTÃO PERDAS URINÁRIAS DIABÉTICA/EHH
HIPOCALEMIA
AUMENTO DAS AUMENTO DAS MEDICAÇÕES
PERDAS PELO SUOR PERDAS NO TGI

DIARREIA
PERDAS PARA
CIRCUITOS
USO DE LAXATIVOS
EXTRACORPÓREOS

FÍSTULAS
DIÁLISE

VÔMITOS
PLASMAFÉRESE

SONDA NG
POTÁSSIO 16

3. QUADRO CLÍNICO Manifestações cardiovasculares


DA HIPOCALEMIA E A hipocalemia leva a irregularidades
AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA no ritmo cardíaco e aumento da pres-
A hipocalemia leve pode ser com- são arterial (PA), favorecendo a into-
pletamente assintomática. As mani- xicação digitálica. As primeiras altera-
festações são proporcionais ao grau ções no eletrocardiograma (ECG) são
de hipocalemia e à sua velocidade o achatamento da onda T e o surgi-
de instalação. Os sintomas começam mento da onda U. Em seguida, come-
a surgir quando o K+ sérico cai para ça a surgir prolongamento do inter-
valores abaixo de 2,5 - 3,0mEq/L e valo QT, depressão do segmento ST
melhoram rapidamente à medida que e aumento da amplitude e largura da
se corrige o nível sérico. Porém, em onda P (Figura 6).
pacientes com queda rápida ou fato- As pessoas mais predispostas à ins-
res predisponentes, por exemplo uso tabilidade elétrica do coração – como
de digitálicos, a sintomatologia pode os portadores de insuficiência cardí-
surgir com níveis maiores de potássio aca, doença coronariana e em uso de
sérico. digitálicos – apresentam maior risco
As manifestações clínicas associa- de desenvolver arritmias potencial-
das à hipocalemia são principalmente mente fatais. Podem ocorrer bloqueio
neuromusculares e cardíacas, rela- atrioventricular (BAV); taquicardias
cionadas à alteração na geração do ventriculares e supraventriculares;
potencial de ação, responsável pela torsades de pointes; fibrilação ventri-
transmissão neural e muscular. Além cular; extrassístoles atriais e ventricu-
disso, a hipocalemia gera atraso na lares; e bradicardia sinusal.
repolarização ventricular por inibir a
atividade dos canais de potássio.

Figura 6. Alterações no ECG na hipocalemia. Fonte: Sá (2018)


POTÁSSIO 17

A hipocalemia também causa eleva- Após a exclusão da pseudohipoca-


ção da PA através da estimulação da lemia, uma ferramenta muito útil é a
retenção de sódio (Na+) e sensibiliza- dosagem do K+ urinário de 24 horas
ção dos vasos sanguíneos a agentes para diferenciar as perdas renais das
vasoconstrictores. extrarrenais. A dosagem de K+ na
amostra isolada de urina pode ser uti-
lizada, porém é necessária sua corre-
Manifestações musculares ção para a creatinina urinária da mes-
As manifestações musculares ocor- ma amostra (K+ urinário/creatinina
rem quando o K+ sérico cai abaixo de urinária), para minimizar a influência
2,5mEq/L. A fraqueza muscular é o da concentração urinária e do ritmo
primeiro sintoma. O padrão é similar circadiano.
ao apresentando na hipercalemia – Na vigência de hipocalemia, um K+
ascendente, progressiva, que se ini- urinário/24h elevado (> 40mEq/dia)
cia nas pernas e progride para tron- confirma que a perda é renal. Se as
co e braços – e pode simular quadro perdas forem extrarrenais, os rins ab-
de paralisia flácida aguda sugerindo sorvem mais K+ e excretam o mínimo
Guillain-Barré. possível (< 20mEq/dia) na tentati-
Com a progressão da hipocalemia, o va de preservar esse íon e corrigir o
paciente pode desenvolver paralisia déficit.
da musculatura respiratória, levan- O perfil ácido-base do paciente tam-
do à insuficiência respiratória aguda. bém pode ajudar. A hipocalemia com
Também podem ocorrer câimbras e K+ urinário baixo e a acidose metabó-
até mesmo rabdomiólise. A muscula- lica podem sugerir abuso de laxantes.
tura lisa também é envolvida, poden- Por outro lado, a hipocalemia com al-
do ocorrer íleo paralítico e, em casos calose metabólica pode sugerir buli-
mais severos, confundir o médico mia ou abuso de diuréticos. Em am-
com abdome agudo obstrutivo. bas as situações, o K+ urinário seria
elevado.
Avaliação Diagnóstica da O Cl− urinário pode ser útil quando
Hipocalemia houver alcalose metabólica associa-
da. Na bulimia, o Cl− urinário seria
A causa da hipocalemia costuma ficar
baixo, enquanto, no abuso de diuréti-
clara após uma boa história clínica e
cos, o Cl- urinário seria elevado (caso
de um cuidadoso exame físico. No en-
dosado no período de ação do diuré-
tanto, em algumas situações, neces-
tico). O fluxograma a seguir resume a
sita-se de suporte laboratorial para
abordagem diagnóstica.
identificar o diagnóstico etiológico.
POTÁSSIO 18

RACIOCÍNIO DIAGNÓSTICO NA HIPOCALEMIA

K+ sérico (<3,5mEq/L) Leucocitose associada a doenças proliferativas

SIM NÃO

Investigar pseudohipocalemia Quadro clínico compatível cmo causas triviais (ex: diuréticos,
diarreias, vômitos, medicações)

SIM NÃO

Tratar a causa e repor o déficit de K+ Hipercalemia sem causa aparente

Dosar o K+ urinário em 24 horas e solicitar avaliação do


nefrologista

< 20mEq/24h (perdas extra-renais de K+) > 40mEq/24h (perdas renais de K+)

Investigar omissão de uso de laxativos e perda Hipertensão arterial


excessiva de suor

SIM NÃO

Investigar
Investigar síndrome de
hiperaldosteronimos
Bartter ou Gitelman,
primário ou secundário,
omissão de uso de
síndrome de Cushining,
diuréticos
síndrome de Liddle

Fonte: Adaptado de Sá (2018)


POTÁSSIO 19

4. TRATAMENTO DA Inicialmente, devem ser estratificadas


HIPOCALEMIA as hipocalemias quanto à gravidade:
1) leve: 3,1-3,5 mEq/L; 2) moderada:
O objetivo do tratamento da hipoca-
2,5-3,0 mEq/L; 3) grave:< 2,5 mEq/L.
lemia é tratar a causa de base e cor-
rigir a hipocalemia para um nível > • Hipocalemia leve: Na hipocale-
3,5mEq/L de uma forma segura para mia leve ou causada por desvio do
a paciente, evitando-se iatrogenias. K+ do LEC para o LIC (assintomá-
O tratamento de hipocalemia segue tica), sugere-se a reposição por
dois princípios básicos: a identificação via enteral, pela menor chance de
e correção, se possível, de uma fonte hipercalemia de rebote, por não
de perda de K+ ou de desvio para o necessitar de acesso venoso e não
LIC e a reposição do déficit de K+. ocasionar risco de sobrecarga vo-
lêmica com as diluições em salina.
Em um paciente com hipocalemia por
A dose inicial é de 10 a 20mEq de
perda renal de K+ pelo uso de diuréti-
K+ 3 a 4 vezes/dia (20 a 80mEq/
co tiazídico ou de alça, por exemplo,
dia). Utilizando o xarope de KCl
faz-se necessário avaliar se o diuréti-
a 6%, seriam aproximadamen-
co pode ser suspenso, se ao menos a
te 10mL de 8/8 horas até 25mL
dose pode ser reduzida ou se é pos-
de 6/6 horas. Para o Slow-K®, a
sível associar um diurético poupador
dose varia de 1 a 3 drágeas de
de K+.
8/8 horas. A drágea é preferível
Quanto à reposição do déficit de K+, pela via oral devido ao gosto pou-
há várias opções de tratamento, a co- co palatável do xarope. No entan-
meçar pela via, que pode ser enteral to, o xarope é preferível se a admi-
ou parenteral. Se a via escolhida for nistração for feita através de sonda
parenteral, deve-se escolher entre nasoenteral ou gastrostomia. Ge-
KCl ou fosfato de potássio (K2HPO4). ralmente são medicações bem to-
Há também que se preocupar com a leradas, porém são descritos efei-
forma de administração, se por veia tos adversos gastrintestinais raros,
periférica ou central. como hemorragia e perfuração.
É preciso atentar para o diluente (soro
• Hipocalemia moderada/grave: A
glicosado a 5% ou NaCl a 0,9%) a
reposição venosa está indicada
ser utilizado para a concentração da
na hipocalemia moderada/gra-
solução, para a necessidade de uso
ve ou quando a via enteral es-
de bomba de infusão contínua e,
tiver indisponível. Ela deve sem-
principalmente, para não ultrapassar
pre ser feita em bomba de infusão
a velocidade máxima de correção.
contínua para evitar uma infusão
POTÁSSIO 20

inadvertidamente rápida, seja por concentração máxima da solução de


cálculo inadequado do gotejamen- KCl é de 10mEq em 100mL de NaCl
to pela equipe de enfermagem, 0,9%;
mau funcionamento do equipo ou Veia Central: a velocidade máxima de
até mesmo pela manipulação do infusão é de 40mEq/h. A concentra-
equipo de gotejamento pelo pa- ção máxima da solução de KCl é de
ciente ou acompanhantes. 40mEq em 100mL de NaCl 0,9%.
No Brasil, as soluções de KCl que dis-
SE LIGA! A solução de reposição venosa pomos são de 13,4 e 25,6mEq (10%
de K+ deve ser preferencialmente diluída
em soluções salinas, uma vez que a di-
e 19,1% respectivamente). Portanto,
luição em soro glicosado eleva transito- é frequente a prescrição com o limite
riamente a insulina sérica; essa liberação de concentração máxima em 13,4
de insulina poderá agravar a hipocale- mEq de KCl diluído em 100mL de
mia, com reduções transitórias de 0,2 a
1,4mEq/L no nível sérico de K+ decorren- NaCl 0,9% (1 ampola de 10 ml com
te do seu movimento para o LIC. KCl 10%) para infusão em veia pe-
riférica e 40,2 mEq (3 ampolas de
10ml com KCl 10%) diluídos em
A reposição de K+ é basicamente em- 100mL de NaCl 0,9% para veia
pírica; ela não é feita baseada em esti- central, ambas soluções correndo
mativas ou em fórmulas, como a repo- em 100ml/h em bomba de infusão.
sição de Na+, mas sim nos princípios
discutidos a seguir, como concentra- Outra sugestão de prescrição de re-
ção da solução e velocidade da infu- posição intravenosa de KCl em veia
são. Como não se pode saber a quan- periférica é: KCl 19,1% 10mL, di-
tidade exata de K+ de que o paciente luído em 500mL de NaCl 0,9% in-
necessita, o tratamento é geralmente travenoso, em bomba de infusão
feito em pequenas alíquotas, sendo contínua, com velocidade de infu-
fundamental monitorar o nível sérico são de 150mL/hora ( ≅ 7,7mEq/h).
de K+ após cada reposição. Para reposição intravenosa de KCl
em veia central é: KCl 19,1% 20mL
Para repor K+ intravenoso, é preciso diluído em 250mL de NaCl 0,9%
respeitar alguns limites de segurança, intravenoso, em bomba de infusão
visando evitar dor no local de infusão, contínua, com velocidade de infu-
flebite e hipercalemia iatrogênica. Por são de 200mL/hora ( ≅ 40mEq/h).
isso, é preciso ficar atento à velocida-
de de infusão e à concentração da so-
lução a ser infundida:
Veia Periférica: a velocidade má-
xima de infusão é de 10mEq/h. A
POTÁSSIO 21

• Diuréticos poupadores de po-


SE LIGA! Respeitando-se os limites de tássio: Nas hipocalemias por per-
concentração e velocidade de infusão, das renais (síndrome de Bartter,
a prescrição de reposição intravenosa
síndrome de Gitelman, síndrome
de potássio pode ser feita de diversas
formas. de Liddle, hiperaldosteronismo pri-
mário ou uso crônico de diuréticos),
uma forma eficaz de tratamento é
Refletindo sobre as sugestões cita- o uso dos diuréticos poupadores
das, conclui-se que é necessário ga- de K+.
rantir um acesso venoso central para
Há duas classes de diuréticos pou-
fazer reposições mais rápidas, caso
padores de K+. A primeira bloqueia os
o paciente se apresente com compli-
canais ENAC no túbulo coletor; o seu
cações potencialmente fatais. Esse
representante principal é a amilorida.
paciente deve ser encaminhado para
No Brasil, a amilorida só é disponível
uma unidade que permita monitoriza-
comercialmente em associações. Se
ção cardíaca contínua, como uma uni-
o médico quiser usar amilorida isola-
dade de terapia intensiva (UTI) ou se-
damente, será necessário solicitar a
mi-intensiva, pelo risco de arritmias.
formulação da substância. A segunda
De forma alternativa, é uma conduta age bloqueando a ação da aldostero-
razoável no pronto socorro obter dois na no seu receptor de mineralocorti-
acessos venosos periféricos para ad- coide; o seu representante principal é
ministração de 10mEq/h de uma so- a espironolactona.
lução venosa de KCl em cada acesso.
Não se deve ultrapassar o limite de
40mEq/h pelo risco de se sobrepor à • Hipomagnesemia associada à
velocidade de equilíbrio entre os com- hipocalemia: Muitas causas de hi-
partimentos intracelulares e extrace- pocalemia também levam à hipo-
lulares, provocando uma hipercalemia magnesemia, como diarreia e uso
iatrogênica. de diuréticos. Além disso, a própria
O K+ sérico deve ser monitorado após hipomagnesemia pode causar (e/
cada reposição venosa. Quando hou- ou perpetuar) hipocalemia por re-
ver melhora da hipocalemia, ou seja, duzir a capacidade renal de rea-
quando o paciente sair da situação de bsorção de K+. Portanto, todo pa-
risco, a reposição venosa deverá ser ciente com hipocalemia deve ter
substituída pela enteral, por ser mais o nível sérico de Mg2+ avaliado e,
segura. quando necessário, reposto.
◊ [Mg2+] < 1 mg/dL  Repor
4-8 g em 12-24 horas.
POTÁSSIO 22

◊ [Mg2+] 1-1,5 mg/dL  Repor urinária de K+. No entanto, como a


2-4 g em 4-12 horas. perda é lenta e progressiva, os né-
◊ [Mg2+] 1,6-1,9 mg/dL  Re- frons remanescentes vão se adap-
por 1-2 g em 1-2 horas. tando, aumentando sua fração de
excreção de K+. Por isso, o pacien-
te com DRC pode começar a apre-
5. HIPERCALEMIA sentar hipercalemia apenas quan-
A hipercalemia é uma desordem co- do a taxa de filtração glomerular
mum e potencialmente ameaçadora estiver < 20 mL/min/1,73m2. Em
à vida, definida por níveis séricos de determinadas etiologias de DRC, a
potássio superiores a 5,5 mEq/L. Sua hipercalemia pode surgir em fases
estratificação é baseada tanto nos mais precoces, como, por exem-
valores quanto na presença de mani- plo, a nefropatia diabética asso-
festações clínicas. Assim: ciada à ATR tipo IV e em doenças
tubulointersticiais.
• Hipercalemia leve  [K+] 5,5 - 6,0
mEq/L. • Insuficiência Renal Aguda (IRA):
A perda abrupta da função renal
• Hipercalemia moderada  [K+] 6 - se associa com a hipercalemia,
6,5 mEq/L. principalmente se houver oligúria.
• Hipercalemia grave  [K+] ≥ 6,5 A dificuldade de excretar o K+ de-
mEq/L; ou [K+] ≥ 5,5 mEq/L asso- corre principalmente da redução
ciada a alterações eletrocardio- significativa da filtração glomerular
gráficas e/ou sintomas de hiperca- de K+ e da perda da capacidade de
lemia (fraqueza, paralisia flácida, secreção de K+ devido à necrose
palpitações ou parestesia). do epitélio tubular. O menor fluxo
de Na+ nos túbulos renais também
dificulta a caliurese. Se o pacien-
Mecanismos de desenvolvimento te apresentar acidose metabólica,
da hipercalemia o desvio de K+ do LIC para o LEC
Diminuição da excreção renal de contribuirá para hipercalemia.
potássio • Redução da secreção de aldos-
Os fatores para diminuição da ex- terona: A redução da secreção
creção renal de K+ são abordados a de aldosterona pode ser resulta-
seguir: do de uma doença das glândulas
adrenais (por exemplo, doença de
• Doença Renal Crônica (DRC): A Addison) ou decorrente de hipor-
perda crônica de massa renal di- reninemia (hipoaldosteronismo
minui a capacidade de excreção
POTÁSSIO 23

hiporreninêmico). A nefropatia dia- Desvio de potássio do líquido


bética é um exemplo clássico de intracelular para o líquido
hipoaldosteronismo hiporreninê- extracelular
mico; outras etiologias mais raras
A seguir, serão apresentados os ca-
são a síndrome de Gordon (pseu-
sos de desvio de K+ do LIC para o LEC:
do-hipoaldosteronismo tipo 2) e
o hipoaldosteronismo congênito. • Acidose metabólica: Quando o H+
Devem ser destacadas as subs- entra nas células para ser tampo-
tâncias com importante etiologia nado, o K+ sai para manter a ele-
na redução da secreção de aldos- troneutralidade, gerando hiperca-
terona. Os IECAs e BRAs II são lemia. Esse efeito é mais intenso
os principais exemplos. Algumas nas acidoses metabólicas hiper-
medicações atuam inibindo dire- clorêmicas do que nas acidoses
tamente a síntese de renina, como com ânion gap elevado. Isso se
os AINEs, inibidores da calcineuri- deve ao fato de que os ânions não
na (tacrolimus e ciclosporina), ini- mensurados (por exemplo, lactato)
bidores da renina (alisquireno) e entram com mais facilidade do que
betabloqueadores. A heparina e o o Cl- no LIC, o que diminui a saí-
cetoconazol podem inibir direta- da de K+ para o LEC. Por motivos
mente a síntese de aldosterona. ainda não esclarecidos, a acidose
respiratória tem uma influência pe-
• Resistência à ação da aldoste-
quena no nível sérico de K+.
rona: Nestas situações, o paciente
apresenta níveis normais ou ele- • Deficiência de insulina: A insulina é
vados de aldosterona. O principal um hormônio essencial para o balan-
exemplo é o uso dos diuréticos ço interno de K+, pois estimula a Na+/
poupadores de K+ (espironolacto- K+ ATPase, que desvia o K+ do LEC
na, eplerenona, amilorida e trian- para o LIC. Na ausência de insulina,
tereno). Uma causa incomum de a hiperosmolaridade sérica decor-
resistência é o pseudo-hipoaldos- rente da hiperglicemia também con-
teronismo tipo 1, que decorre de tribui para arrastar K+ do LIC para o
uma mutação genética que afeta a LEC, que é transportado, passiva-
ação do ENAC. mente, junto com a água. Se houver
cetoacidose diabética, a acidemia
• Ureterojejunostomia: o jejuno
também contribui para desviar K+
recebe a urina e, ao longo do seu
do LIC para o LEC. A combinação
percurso, absorve o K+ excretado
desses mecanismos (deficiência de
pelos rins.
insulina, hiperosmolaridade sérica e
acidose metabólica) faz os pacientes
POTÁSSIO 24

se apresentarem com hipercalemia. paralisia periódica hipocalêmica.


No entanto, o tratamento com insuli- Caracteriza-se por episódios sú-
na e NaCl 0,9% corrige rapidamente bitos e autolimitados de fraqueza
o K+, não sendo rara a evolução para ou paralisia muscular, precipitadas
hipocalemia. Isso se deve ao fato de por frio, jejum, repouso após exer-
que os pacientes podem apresentar cício físico, entre outros.
uma depleção do K+ corporal total
• Destruição celular maciça: Se uma
devido à diurese osmótica secundá-
quantidade grande de células so-
ria ao mau controle glicêmico.
frerem lise em um período curto de
• Hiperosmolaridade: Além da hi- tempo, a liberação do K+ contido nes-
perglicemia (descrita acima), a hi- sas células no LEC pode gerar uma
pernatremia e o uso de contraste hipercalemia potencialmente fatal. É
iodado, imunoglobulina ou manitol o caso de rabdomiólise, síndrome de
são outros exemplos de estados lise tumoral, hemólise maciça, grande
hiperosmolares que podem preci- queimado e hipotermia grave.
pitar “arrasto” de K+ do LIC para o
• Outras causas: Transfusão de
LEC junto com a água. O risco de
concentrado de hemácias (princi-
hipercalemia é maior quando há
palmente se estocadas por tempo
alteração da função renal.
prolongado), intoxicação por digital
• ẞ-bloqueadores: Assim como a e succinilcolina.
insulina, o estímulo ẞ2-adrenérgico
• Pseudo-hipercalemia: Nos casos
estimula a Na+/K+ ATPase, que atua
de pseudo-hipercalemia, o nível
desviando o K+ do LEC para o LIC.
de K+ no sangue do paciente está
O bloqueio desses receptores pode
normal, mas o resultado do exa-
ser suficiente para causar hiperca-
me laboratorial vem elevado. Tra-
lemia em pacientes com doença
ta-se de um resultado espúrio e
renal. Os ẞ-bloqueadores seletivos,
não há necessidade de introduzir
por manterem livres os recepto-
medidas para reduzir o K+ sérico.
res ẞ2-adrenérgicos, não exercem
Deve ser suspeitada em pacien-
grande influência no K+ sérico.
tes com hipercalemia sem cau-
• Paralisia periódica hipercalêmi- sa aparente, assintomática e sem
ca: Doença genética autossômi- alteração eletrocardiográfica. As
ca dominante, rara, caracterizada possíveis causas incluem hemó-
por uma disfunção de canais iô- lise traumática durante a punção;
nicos em células musculares, le- garroteamento prolongado, com
vando à hipercalemia transitória e abertura e fechamento repetido da
a um quadro clínico semelhante à mão; sucção excessiva na seringa;
POTÁSSIO 25

armazenamento inadequado da coletado através de acesso veno-


amostra de sangue; trombocitose so central que tenha sido utilizado
(> 1.000.000) ou leucocitose (> para reposição de KCl.
50.000) severas; coleta de san- O Mapa Mental a seguir apresenta as
gue em veia com infusão de K+ ou principais etiologias de hipercalemia.

MAPA MENTAL – ETIOLOGIAS DA HIPERCALEMIA

↓ DA SECREÇÃO DE
ALDOSTERONA

DRC

↓ EXCREÇÃO RENAL
IRA
DE POTÁSSIO

RESISTÊNCIA À AÇÃO
DA ALDOSTERONA

URETEROJEJUNOSTOMIA

HIPERCALEMIA
ACIDOSE METABÓLICA

↓ INSULINA

HIPEROSMOLARIDADE

DESVIO DO POTÁSSIO
β-BLOQUEADORES
DO LIC PARA O LEC

PARALISIA PERIÓDICA
HIPERCALÊMICA

DESTRUIÇÃO CELULAR
MACIÇA

PSEUDO-HIPERCALEMIA
POTÁSSIO 26

6. QUADRO CLÍNICO Manifestações cardíacas


DA HIPERCALEMIA E As hipercalemias graves estão asso-
AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA ciadas a alterações eletrocardiográfi-
A maioria dos pacientes com hiperca- cas. Inicialmente, há um aumento da
lemia é assintomática, com as manifes- amplitude da onda T, achatamento da
tações clínicas ocorrendo, geralmente, onda P, redução no intervalo QT e pro-
quando o K+ sérico está maior do que longamento do intervalo PR; em segui-
7,0mEq/L (salvo em elevações hipera- da, ocorre prolongamento do intervalo
gudas, quando hipercalemias menos QRS, evolução para uma sine wave
graves podem ser sintomáticas). A fra- e, eventualmente, PCR. Bloqueios de
queza muscular e as arritmias cardía- ramo e atrioventriculares, bradicardia
cas são os sintomas mais comuns. sinusal, taquicardia ventricular e fibri-
lação ventricular podem ocorrer, princi-
palmente em portadores de cardiopatia.

Onda T “em
Onda T tenda”,
apiculada intervalo PR
Normal prolongado

Fibrilação
Onda P
Onda P ausente ventricular
achatada;
elevação de ST;
alargamento do
complexo QRS

Figura 7. Alterações eletrocardiográficas na hipercalemia. Fonte: Portal Medicina de Emergência - USP

Manifestações musculares podendo envolver até mesmo a mus-


culatura respiratória, levando à in-
A hipercalemia pode causar fraqueza
suficiência respiratória aguda, num
muscular ascendente e progressiva,
POTÁSSIO 27

padrão de evolução similar ao da pa- Excluindo-se pseudo-hipercalemia, a


restesia provocada pela hipocalemia. elevação aguda dos níveis de potássio é
em geral relacionada a liberação do po-
Avaliação Diagnóstica da tássio do meio intracelular, sendo possí-
Hipocalemia vel na maioria das vezes, por meio dos
exames laboratoriais e história, identifi-
De forma prática, resume-se a inves- car a causa. Como exemplos podemos
tigação etiológica da hipercalemia da citar pacientes politraumatizados, sín-
seguinte forma: drome da lise tumoral, ou ainda cetoa-
1. Afastar pseudo-hipercalemia. cidose diabética, principalmente em pa-
cientes com função renal alterada.
2. Excluir efluxo celular de K+
Em pacientes que se apresentem com
3. Avaliar a função renal; caso nor-
hipercalemia persistente, as principais
mal, investigar diminuição de fluxo
etiologias estão relacionadas à dimi-
no néfron distal de água e sódio.
nuição da excreção urinária de potás-
4. Se normal, realizar investigação de sio, seja pela diminuição da secreção/
hipoaldosteronismo. atividade da aldosterona, IRA/DRC e
diminuição do volume arterial efetivo.
Em todo paciente com hipercalemia A diminuição do volume arterial efeti-
sem causa aparente e que não apre- vo pode ocorrer devido à depleção de
sente sintomas ou alterações eletrocar- volume (hipovelemia), à insuficiência
diográficas, a possibilidade de pseudo- cardíaca (diminuição do débito cardí-
-hipercalemia deve ser aventada. Se aco) ou à cirrose hepática (vasodilata-
houver suspeita de coleta inadequada, ção). Nessas situações, há diminuição
esta deve ser repetida, porém sem uso de fluxo de sódio e água no néfron dis-
de torniquete ou movimentos de abrir tal, prejudicando a excreção tubular de
e fechar a mão, além disso, a amostra potássio. A história clínica irá auxiliar
deve ser imediatamente processada. na investigação etiológica.
Na presença de trombocitose A avaliação da função renal permi-
(>1.000.000/mm3), a amostra deve te averiguar se o paciente apresenta
ser colhida em um tubo com heparina IRA/DRC e, consequentemente, dimi-
para evitar a formação de coágulos e, nuição da excreção urinária de potás-
consequentemente, a saída de K+ para sio. Caso o paciente apresente função
fora das plaquetas. No caso de leuco- renal preservada, sem depleção do
citose (>50.000), a dosagem do K+ na volume arterial efetivo, a investigação
amostra de plasma em sangue hepari- adicional deverá avaliar a presença de
nizado também deve ser realizada. hipoaldosteronismo e sua etiologia. O
fluxograma a seguir ilustra o raciocí-
nio diagnóstico de hipercalemia.
POTÁSSIO 28

RACIOCÍNIO DIAGNÓSTICO NA HIPERCALEMIA

K+ SÉRICO

Prosseguir com o
SIM
tratamento emergencial

Investigar pseudo-
ECG alterado SIM hipercalemia

Hipercalemia sem causa


NÃO aparente; Trombocitose;
Leucocitose
História clínica +
NÃO exame físico + exames
complementares básicos

Insuficiência renal aguda ou crônica


/ Cetoacidose diabética ou EHH DM / Síndrome de Gordon
/ Acidose metabólica / Drogas / Hipoaldosteronismo
hipercalemiantes / Destruição congênito
celular maciça / Politransfusão /
Ureterojejunostomia / Paralisia
periódica hipercalêmica
SIM NÃO
Hipoaldosteronismo
hiporreninêmico não
relacionado a drogas

Pesquisar deficiência de
Tratar a causa e corrigir o Hipercalemia sem causa
síntese ou resistência à Insuficiência adrenal
K+ sérico aparente
aldosterona

Pseudo-hipoaldosteronismo
tipo 1
Fonte: Adaptado de Sá (2018)
POTÁSSIO 29

7. TRATAMENTO DA Estabilização do cardiomiócito


HIPERCALEMIA O cálcio (Ca2+) antagoniza os efeitos
O tratamento da hipercalemia leva em do K+ na membrana celular e deve ser
consideração a presença ou ausên- a primeira medida nas hipercalemias
cia de sinais e sintomas associados, graves, com alterações ao ECG. Ad-
os níveis de potássio e a etiologia da ministra-se 10mL de gluconato de
hipercalemia. Os casos de pacientes cálcio a 10% por via intravenosa
que possuem sinais e sintomas asso- em 2 a 3 minutos.
ciados à hipercalemia (fraqueza mus- O início de ação do gluconato de cál-
cular, alterações eletrocardiográficas) cio é rápido (1 a 3 minutos), porém
são considerados urgência hipercalê- de duração curta (30 a 60 minutos),
mica e submetidos a terapias de ação devendo ser repetido se as alterações
imediata. Isoladamente, [K+] > 6,5 ao ECG persistirem ou reaparecerem.
mEq/L é uma urgência hipercalêmica. Essa medida não reduz o nível sé-
Uma atenção especial deve ser dada rico de K+, portanto, outros trata-
a pacientes que possam ter rápidas mentos com esse objetivo devem
elevações dos níveis de potássio (he- ser iniciados em seguida.
morragia digestiva, politrauma, rab-
domiólise e síndrome de lise tumoral). SE LIGA! Caso o paciente faça uso de
Os pacientes que apresentem hiper- digoxina, a hipercalcemia resultante de
calemia moderada ([K+] > 5,5 mEq/L) rápidas infusões pode piorar seu efeito
cardiotóxico. Para reduzir esse risco, de-
associada a disfunção renal modera-
ve-se diluir o gluconato de cálcio a 10%
da/grave e risco de elevações rápidas em 100mL de soro glicosado a 5% e in-
dos níveis de potássio – síndrome lise fundi-lo ao longo de 20 a 30 minutos.
tumoral, rabdomiólise, politraumati- Deve-se evitar o uso do gluconato de
cálcio se houver suspeita de intoxicação
zados, hemorragia digestiva e acido- digitálica, pois poderá agravá-la.
se metabólica com ânion gap normal
Deve-se também evitar a infusão de
– estão sob risco de elevação abrupta cálcio pelo mesmo acesso venoso que o
dos níveis séricos de potássio e de- NaHCO3, que, como será visto a seguir,
vem ser conduzidos também como é uma medida frequentemente utilizada
nas hipercalemias graves, devido ao ris-
urgência hipercalêmica. co de precipitação de carbonato de cál-
O manejo emergencial da hipercale- cio (CaCO3) quando as substâncias são
misturadas.
mia se baseia em três mecanismos:
1) estabilização da membrana celular
do cardiomiócito; 2) desvio de K+ do
LEC para o LIC; 3) remoção corporal
de K+.
POTÁSSIO 30

Desvio de potássio para o líquido de hiperglicemia severa (glicemia >


intracelular 400mg/dL), a insulina deverá ser ad-
ministrada isoladamente. Em qual-
Essa estratégia visa reduzir tempo-
quer caso, a glicemia deve ser mo-
rariamente o nível sérico de K+ para
nitorada regularmente pelo risco de
retirar o paciente da emergência hi-
hipoglicemia. Se necessário, a solu-
percalêmica e ganhar tempo para que
ção polarizante pode ser repetida a
as medidas que efetivamente remo-
cada 4 horas até que medidas que
vem o K+ corporal possam fazer efei-
efetivamente removam o K+ corporal
to. Cabe lembrar que as medidas que
sejam instituídas (por exemplo, início
removem o K+ corporal podem não
de diálise)
ser necessárias se o mecanismo da
hipercalemia for o próprio desvio de
K+ entre compartimentos, bastando ẞ-adrenérgicos: Um erro frequen-
apenas a correção da causa do des- te na prática clínica é a utilização de
vio, como, por exemplo, a cetoacidose subdoses de ẞ-adrenérgicos. Um
diabética. desvio de K+ para o LIC clinicamente
Insulina regular: Deve-se prepa- relevante requer uma dose da nebuli-
rar uma solução contendo 10 a 20 zação cerca de 4 vezes maior do que
unidades de insulina e 25 a 50g de a usada para tratar broncoespasmo.
glicose (solução polarizante). A solu- Para o fenoterol, é necessário ad-
ção deve ser infundida rapidamente ministrar 20 a 40 gotas (5 a 10mg)
(<60 minutos) por via intravenosa, em 4mL de NaCl 0,9% para nebu-
pois o efeito hipocalemiante depen- lização em 10 minutos. O início de
de de concentrações séricas eleva- ação é de 15 a 30 minutos, com du-
das de insulina. O início de ação é de ração de 2 a 4 horas; as nebulizações
15 a 30 minutos, com pico de ação podem ser repetidas a cada 2 a 4
em 30 a 60 minutos e duração de 4 horas até que o tratamento definitivo
a 6 horas. O K+ sérico pode reduzir de seja iniciado.
0,5 a 1,5mEq/L. Uma sugestão de
Essa estratégia é capaz de reduzir o
prescrição é insulina regular 10UI,
K+ sérico de 0,5 a 1,5mEq/L e pos-
intravenosa + glicose 50% 100mL,
sui efeito aditivo à insulina. Caso a
pra correr aberto.
via inalatória não esteja disponível,
O papel da glicose é evitar hipoglice- pode-se usar a terbutalina por via
mia, portanto, se o paciente estiver subcutânea na dose de 7mcg/kg.
hiperglicêmico (glicemia >250mg/ Deve ser indicada nas hipercalemias
dL), quantidades menores de glico- graves, em associação com a solução
se serão necessárias; na presença polarizante.
POTÁSSIO 31

É necessário atentar para os possí- do organismo por uma das seguin-


veis efeitos adversos da dose elevada tes vias: urinária (por meio do uso de
de ẞ2-agonistas. A estratégia deve diuréticos); trato gastrintestinal (por
ser evitada em portadores de doença meio das resinas de troca de cátions);
arterial coronariana, pelo risco de an- e diálise.
gina e arritmias.
• Diuréticos: Em situações agudas,
O bicarbonato de sódio (NaHCO3) é o diurético de escolha é a furo-
indicado na hipercalemia grave asso- semida, por via intravenosa, em
ciada à acidose metabólica grave (pH bolo. A dose deve ser a suficiente
<7,20) ou em uma parada cardior- para produzir uma diurese brusca.
respiratória (PCR), cujo mecanismo Quanto pior a função renal do pa-
tenha sido hipercalemia ou acidose ciente, maior será a dose necessá-
metabólica. Não deve ser administra- ria, variando de 20 a 200mg. Em
do como monoterapia devido à sua pacientes anúricos, seja por DRC
eficácia duvidosa. dialítica ou IRA grave, a furosemi-
A dose de 50mL de NaHCO3 a 8,4% da não é eficaz.
(50mEq) infundida em 5 minutos é
muito utilizada na prática, mas pode
Nos pacientes hipovolêmicos, é ne-
causar hipernatremia. Em um pacien-
cessário restaurar a volemia antes
te hipovolêmico, com acidose meta-
de iniciar o diurético para não piorar
bólica e hipercalemia, pode-se utilizar
a hipovolemia e porque a expansão
uma solução isotônica de NaHCO3
volêmica pode ser o suficiente para
(150mL de NaHCO3 a 8,4% em
corrigir a hipercalemia (por exemplo,
850mL de soro glicosado a 5% ou
IRA pré-renal). Nos pacientes euvo-
água destilada) para expansão vo-
lêmicos, também é necessário fazer
lêmica na vazão de 250 a 500mL/
NaCl 0,9% após ter sido feito o diuré-
hora.
tico, para manter a volemia adequada,
além de contribuir para o maior apor-
Remoção corporal de potássio te de Na+ nos segmentos finais do tú-
bulo renal, potencializando o efeito da
A maioria das hipercalemias está as- furosemida. Obviamente, não se deve
sociada a um excesso de K+ corpo- administrar NaCl 0,9% no paciente
ral. Todas as medidas terapêuticas hipervolêmico; nesses casos, a furo-
descritas até o momento são tem- semida é utilizada sozinha.
porárias, pois somente produzem
deslocamento de K+ do LEC para o Em situações eletivas, no consultório,
LIC. Dessa forma, é necessário asso- a furosemida oral pode ser utilizada
ciá-las a medidas que removam o K+ para aumentar a excreção urinária de
POTÁSSIO 32

K+ em pacientes com hipercalemia hipocalemiante, o gosto ruim, a indu-


leve por DRC, ATR ou uso dos blo- ção de diarreia e os relatos de caso
queadores do sistema renina-angio- mostrando associação com necrose
tensina-aldosterona (SRAA). de cólon, o que motivou um aviso de
Os diuréticos tiazídicos também po- alerta do U.S. Food and Drug Admi-
dem ser utilizados para tratamento nistration (FDA) contraindicando seu
das hipercalemias, porém têm início uso em populações de risco e orien-
de ação lento e duração prolongada, tando a suspensão caso o paciente
tendo melhor indicação nas hiperca- não apresente dejeções após as pri-
lemias leves e em pacientes ambu- meiras doses. As populações de risco
latoriais, nos quais se pode reduzir são: pacientes com função intestinal
o nível sérico de K+ de forma lenta anormal, incluindo em pós-operató-
e gradual. A dose varia de 12,5 a rio; pacientes em risco de desenvol-
100mg. Em situações de resistência ver constipação ou impactação fecal;
ao uso de diuréticos, a associação de portadores de doença intestinal in-
diurético de alça com tiazídico pode flamatória, colite isquêmica, ateros-
potencializar a caliurese. clerose de vasos mesentéricos, res-
secção intestinal prévia ou obstrução
intestinal.
• Resinas de troca de cátions: As Diante disso, a recomendação é res-
resinas de troca de cátions trocam tringir o uso dessas resinas de troca
Na+ ou Ca2+ por K+ no lúmen in- para os casos em que a via de ex-
testinal, aumentando a excreção creção urinária estiver comprometida
de K+ nas fezes. (IRA ou DRC avançada). Além disso,
A dose de poliestirenossulfonato a resina deve ser usada pelo menor
de cálcio (Sorcal®) é de 15 a 30g tempo possível, devendo ser suspen-
diluídos em 100mL de manitol a sa assim que o K+ sérico < 6,0mEq/L.
20% e oferecido por via oral a
cada 4 a 8 horas. Em pacientes
com via oral indisponível, o polies- • Diálise: A diálise é a forma mais
tirenossulfonato de cálcio pode ser eficaz para a remoção de K+ do or-
utilizado por via retal, diluído em ganismo, mas deve ser reservada
água. para pacientes com DRC estágio
5 ou IRA, em que não foi possí-
vel o controle do K+ com medidas
Recentemente, a relação risco/bene- clínicas.
fício dessas resinas tem sido questio-
nada, tendo em vista o modesto efeito
POTÁSSIO 33

Manejo da hipercalemia hipercalemiantes. O uso combinado


ambulatorial de IECA, ẞ-bloqueadores e espirono-
lactona é quase um modelo experi-
A hipercalemia crônica vem se tor-
mental de hipercalemia, pois interfere
nando um problema clínico altamente
tanto no balanço interno quanto no
frequente e relevante em pacientes
balanço externo de K+. Deste modo,
diabéticos, com DRC, IC e usuários
a recomendação é que o uso de es-
de bloqueadores do sistema renina-
pironolactona em associação com
-angiotensina-aldosterona (SRAA).
IECA e ẞ-bloqueadores em pacientes
À medida que o portador de DRC vai
com IC só deve ser feito se garantida
progredindo de estágio, o risco de
a observância das medidas preven-
desenvolver hipercalemia se acentua.
tivas contra hipercalemia descritas.
Muitas vezes, para reduzir a progres- Para reduzir o risco de desenvolver
são da doença, é necessário o uso de hipercalemia, os pacientes devem ser
inibidores da enzima conversora da orientados a consumir uma dieta po-
angiotensina (IECA) ou bloqueado- bre em K+, usar regularmente diuréti-
res dos receptores de angiotensina cos tiazídicos e/ou diuréticos de alça
II (BRA II), aumentando a chance de e evitar medicações com potencial hi-
desenvolver hipercalemia percalemiante (anti-inflamatórios não
Além da DRC, a insuficiência esteroides [AINEs], fitoterápicos).
cardíaca (IC) é outra con- A fludrocortisona pode ser usada na
dição clínica de grande dose de 0,1mg/dia para o tratamento
risco para ocorrên- de hipercalemia crônica em pacientes
cia de hipercalemia. com hipoaldosteronismo hiporreni-
Para o manejo da nêmico, como, por exemplo, causado
mesma, utiliza-se por nefropatia diabética.
um esquema de
medicamentos

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