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= 3 8 3 FI EI Re eI 2 g & 5 3 5 eS) | = s a 3 Carlos Kater “Por que Musica na Escola?”: algumas reflexées Introdugio Essa simples pergunta do titulo recobra uma problemstica de grande importancia, uma vez que abordamos aqui uma necessidade de expressio humana, ntensa e profunda, que faz parte néo de uma época, moda ou classe social particular; ‘mas que acompanha toda a humanidade, desde os seus primérdios, em qualquer ponto do planeta, em todas as culturas, a0 longo de todas as fses de seu desenvolvimento.* Nao ha comemoracio ou evento significativo na vida individual ou social de qualquer povo do qual a musica nao tome parte de maneira relevant, instaurando um espaco de integracio e transcendéncia nao alcancado nem traduzido por nenhum gesto ou palavra, ‘Compreendendo esse seu papel na vida e no desenvolvimento dos seres humanos, indagamos entio,o que deve ser feito para que este meio de expressdo e comunicacdo,ao mesmo tempo bem valioso de nosso patrim@nio cultural, habite ‘© maior niimero possivel de espacos, garantindo acesso democraticoe dieito universal de todos os cidadios,criancas e ovens inclusos [Nao estamos mais, hoje, diante da divida “nnasicalxxo ou necessidade”", nem tampouco na época em que os edu cadores musicais constrangidos precisavam justiicaro sentido de “uildade” de seu fazer face aos objetivos escolares cconsagrados, ou encontrar “seu lugar” dentro da escola e da propria equipe docente? A pattir deste momento, em que a presenca da miisica na escola esta amparada pela Lei n°11.769/2008, tornam-se pertinentes outras questées.A qual misica nos referimos;que estilos, géneros, formas de manifestagéo temos em mente? ‘Como, de fato,ela ou elas serio oferecidas, abordadas, tratadas? Masica e Educacao Musical Narealidade, parece sensato considerar nao a presenga da “mnisica” na escola ~ com as fungoes diversas que cla pode adquitir na vida social - porém, mais precisamente, da “educag3o musical’. Uma educacio musical consciente de suas ccondigdes de tempo e espaco;contemporanea ¢ apta a conjugar as caractersticas do passado e do presente, bem como acolhedora e respeitosa tanto das expectativas quanto das particularidades culturais dos envolvidos.* Comisso, visase atender as necessidades de promocao de conhecimento amplo junto aos alunos, seu desenvolvimento ative participativo,nio os situando na condicio predominante de “publico”,nem restringindo a “misica na escola” aapresentagoes, a misica das aparéncias, das comemoracées visiveis e exteriores. Significa, entao, nio a “volta” da musica e seu ensino a escola em moldes semelhantes aos que jé tivemos em épocas anteriores;bem diferente disto,a construcéo de alternatvas contemporaneas-Alternativas que ofeream condicdes a cr: 1 les prs len or gar sri a Sora Captor em io Ramune Neral Patten vitor spe nari: gales em ens a sons {sien em ash corn de 5 ae sero ena em ac rere 2 Temas etnies roganas "Mises El om lrens inde eas do Bal deo pn ead de 158 2a pea Serta de edo a Era de Mas Genie que phon com sen, eta e pat nls te cade sl exo ead eid, or oti que nc ne eee dea mts ‘ics, rane arte roa ens apc ie semis de border bata cone ames please ea om ees cepa [tatnee deewalense putas sues em dlrs aridpos Mains po sxe, Pate Sto Cas Mog da Cans» Sus etd de Sh Pau) etapa, arog, Sars Baba oe Peon, ete clas, 3 Ais sem dv, mas ued unt Reo o, aps em mos pots «cls vnc ofc desocase do rsa cele doco 90 Process, de pr cs ans, cn es ameta€o soe odes os eves 5 lr na eco eso pending “Por que Miisica na Escola”: algumas reflexdes ancas ejovens de tomarem contato prazeroso e efetivo com sua propria musicalidade, desenvolvéla e vivenciéla, mediante experiéncias crativas, a misica em seu fazer humanamente integrador e transformador, 0 que significa desenvolverem seus potenciais, conheceremse melhor ¢ qualificarem sua existéncia no mundo. Cantar e tocar, ouvir e escutar, perceber discemir, compreender e se emocionar,transcender tempo e espaco...hé muito contetido e significado abaixo da super ficie dessas expresses, que afloram todas as vezes em que experimentamos uma relacdo diretae por inteiro com a misica Cultivo da sensibilidade, criatividade, escuta, percepcao, atencao, imaginativo,iberdade de experimentar, coragem do risco, respeito pelo novo e pelo diferente, pelo que é proprio a cada um e também ao “outro”, construgio do conhect ‘mento com autonomia, responsabilidade individual eintegrac4o no coletivo etc, néo sio apenas termos de discurso. Sao aspectos envolvidos na formacdo dos alunos -no minimo tio importantes quanto aqueles que a escola entende oferecer nas diversas outras areas do conhecimento -, que contrapdem o “aprendet”, de natureza fixa, memoristica e repetitiva, a0 “apreender’, préprio do captar,apropriaratribuir significado e tomar consciéncia, portanto, mais em sintonia com as caracteristicas de formacéo humana reivindicadas contemporaneamente. Se hoje ja temos a perspectiva favoravel de inclus4o de conteiidos musicals nos programas de formacio escolar nossa atencio pode se dirigir as caractersticas da educacéo musical que gostariamos de ver utlizadas. Uma educagéo musical capaz de oferecer estimulos ricos e signficativos aos alunos, despertando atitudes curiosas e aumentando, por conse quéncia, a disponibilidade para a aprendizagem. Uma educacio que instaure um espaco de acolhimento pelo “brincar” no sentido original do termo, isto 6 “criar vinculos”, uma das necessidades fundamentais da dimenséo humana indo, sem vida, muito além do relacionamento exclusivamente técnico-executivo entre aluno x professor x classe, ainda tao fre- quente na realidade de muitas salas de aula. Uma educa¢éo musical na qual o hidico represente 0 componente transgressor de expectativas do conhecido, mantendo nos alunos atencio viva a0 que se realiza a cada instante e, assim, os atraia, ‘menos para os saberes prontos ¢ constituidos, mais para a matéria sonora em si, para a vivéncia musical participativa para a criagdo de novas e auténticas possibilidades de expresso. ‘Uma educagéo musical, enfim, que estimule o prazer (vinculo), para instaurar a presenca (inteiridade), possibilitar a participacao efetiva (relagdo, implicacao) e assim, entio, estimular a producéo de conhecimentos gratificantes em nivel geral e, especialmente, pessoal (formaco ampla do aluno e nao simples transferéncia de informages por parte do pro- fessor). Pois quando, num processo educativo o professor se transforma em educador, invertee a preponderancia de ‘uma formacao para a musica por uma formacio pela miésica, mando possivel aos alunos inscreverem:se num espaco de construcao do sujeito, no quel estratégias dinamicas de aprendizado (as lidicas, por exemplo) permitem um “desapri- sionamento” individual que favorece a apreensio da questéo da identidade e da alteridade (Fundamento do desenvolv: mento humano), Espaco dentro do qual, os saberes pessoais dialogam com os saberes consagrados, onde os “saberes induzidos” fazem contraponto com os “saberes construidos” esta a natureza de Educacao Musical que merece ser trabalhada hoje nas escolas, nos diversos pontos e regides do Pafs, capaz também de integrar teoria e pratica, andlise e sintese,tradicao e inovacao, conferindo & misica seu sentido ‘maior, transcendente e inclusivo. Educagao Musical e Criagao Considerar a educacao musical como uma instancia de construcao e exercicio da autonomia pessoal do aluno e de sua participacao ativa em sociedade nao representa mais uma visio romantica, idealista, tépica, como durante muitos anos foi feita a critica. ‘Coa abner Orisa says tele m Fang nc HX ohio de “Orphen lado come reno de mucin em noo ro aco 20 Tear labor 9 ropa naar pp, passe esd a eb pba do Rade aca cede so Tesora e812 hud a cea ‘hes emo eee dcp devas cdem cin 0 mcs pets ano do CoemalreNacoa de Cart reac, spread tempo qus res Se ‘endo mate cree, bem coma a concrgiegu osd dura ea mal Soa rca, msl tea enanea po cnweqie por apa Ge ‘pond de mare as pre, ao esos stp por ents ede. g a Es = a= Ei 5 5 eS i ee = 3 8 3 FI EI Re eI 2 g & 5 3 5 eS) | = s a 3 Carlos Kater Com a Lein°11.769 (que torna obrigatéria a introducao de contetidos musicais nas salas de aula), estamos hoje sendo ‘convidados a participar néo de um “simples momento” de cumprimento de um dispositivo legal, mas, muito além...temos a perspectiva de um “novo movimento” da educacao musical (forma particular de aceleramento e intensificacio de re- alizagbes, entendimentos e conviecdes) capar de propiciar processos e resultados valiosos para uma Educagao Musical que se pretenda viva, brasileira, contemporanea. ‘Agora avancamos mais um potico...no lugar de uma “Msica na Escola”, as “Miisicas das Escolas’. Uma abordagem de ‘campo ampliado, integrando ao processo educativo procedimentos criativos a fim de trazer @ tona e dar voz 4 expressio pessoal dos alunos, engajando-os em seus proprios aprendizados e formacio. Ou seja fazer emergir no “espaco fisico” de cada insituigdo seu “espaco expressivo”e seu “espaco relacional”, no ambito dos quais serao promovidas novas moda lidades de didlogo ‘No conjunto, essas expressoes serio “harmonizadas” e “contraponteadas” na intera¢io com o educador §,represen- tando falas de culturas em acao, vozes de individuos que passam a ser escutadas, permitindosthes, asim, revalorizaremse na pessoa que sio (aumento da autoestima e sociabilidade). Misica “musical, criada e “criativa’ resultado de concepgdes € praticas musicais hidicas fandamentadas em processos ampliados que - em vez de o exercicio da repeticao e dos fazeres miméticos, preponderantemente reprodutivos - compreendem o arranjo,a adaptacao, pardfrase, variacéo, impro- vvisacéo, reconstrugao e a criagio musical propriamente dita, concebida pelos proprios alunos. Oportunizar novas percepgées de si e do “outro” através de um meio potente como a mitsica, significa intensificar qualitativamente a dimensio formadora e a dinamica social das escolas, sobretudo nos grandes centros como Sio Paulo, tio carentes de aces educativas criativas e humanizadoras. A titulo de conclusio Em outras palavras,ndo vale repetir as experiéncias de circunstincias passadas sem a observacio e a atencao cuidadosa das realidades presentes. Assim, nao se trata de recorrer a modelos conceituais ou didatico-pedagogicos de fortes endén. cis técnica etedrica diretiva e unidirecional, com insuficente espaco de flexibilidade eintegracio, nem a modelos viven cial aristicos preponderantemente praticas, com frigeis referencias tebricos ede apoio, com exclusividade. Nossa época nos convida ao exercicio,ndo mais do “ou’,substitutivo e exchudente, mas do “e”, colaborativo e integrador,estabelecido, porém, com critério e criatividade Dai esperarmos que a “miisica na escola” tio reivindicada nao se confunda com um fazer musical pedagogicamente descompromissado, de lazer e passatempo,nem que a educacio musical sea aprisionada pela educacio artistica e com fundida com da miisica® ou outras estorias de nomes e datas.” {As escolas sio espacos de formacio nos quais¢ estimulada a producao de conhecimentos; os alunos, além de repre sentantes sensiveis ¢inteligentes de estados musicais,s4o potenciais muito mais ricos do que imaginamos, que merece. ser conhecidos e desenvolvidos com consciéncia e respeito desde onde se encontram, a fim de tomarem contato com algo essencial em si proprios até na relagéo com a vida, cumprindo assim seu papel na sociedade.* ‘Desa oma eso memo ene oe idea kim oo seu sda ples ols adumecer "prada, despa quem omens opr een. ‘Suro elqiod poetr cr tabedos ou eheamiado nc de frag aden, pls eae nl unpre en ade tec, {Que ase agltunbtm pape de nea problema sie lata do cenhecnet 7 Mara qs i pane contig pars 0 rec de concen ee “xsaena'¢ ati fice 3 alr pina frmadr eens que ska ent scr lee pas Sea 1 Ones gu enor de pusigen a necende dane cuss dear cabo pao buds espusives ela consi des pes, sea the deci paso ate dep deus ou, ropa de cc msl Eo € precede do peas pongo its stem cokes de pp dee ‘apr “is hs clr ose tater npc dena Sees clos de tans ip cen coe nova deta pair ‘Soma em ces conte de sua operas qu ase que za» mista cano lode donee pea ede ene sol ices aes ‘hte ata pesele aj oe eal sha sso conn alr eu ees Plea ene (ateddele ea. dea test 6 Seu ase, msi ei sce eres aps “Por que Miisica na Escola”: algumas reflexdes Ao promover a diversificagao de experiéncias musicais,a criagdo de mtsicas originais e suas apresentagdes, daremos entio condicées para a construcéo de novos olhares e otvidos, tanto por parte da comunidade escolar e seu entorno, quanto dos préprios alunos: novas percepcdes inclusivas, que possibilitarao recriar, com valor positivo as leituras atual- ‘mente vigentes nas relagdes entre “eu & outro”, “aluno & professor”, “criagdo & educacao”, “exclusio & participacio” Eas miisicas que, nos préximos tempos, emergirdo das salas de aula e que escutaremos das escolas,representardo a expresséo criativa pela qual se manifesta a educacéo nas diferentes insttuicdes,a valorizacio das culturas,o reconheci- ‘mento dos individuos e sua participacao saudavel nos rumos da sociedade. 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