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PAUL KENNEDY ASCENSAO E QUEDA DAS GRANDES POTENCIAS Transformagao Econémica e Conflito Militar de 1500 a 2000 2: Edigao Editora Campus Conant 88 Pu Karey 1 36, aor Campus Le, eatp mn ampregndn’seéeicon mexican farts ooveicou gnu cores cogs oa Sten Copysk ar ale rm Ob conpaio rps Eee Eh crs Test: CAMPERO "SBN 670015577 (coon: 18h 0 SoH Un yan Lid cea Catlogationm forte Snes Nica Care cs es, "terete quads das grandes pottnle:rarstormagsa aondnvta grt ‘wag 001200 Pol enna age de Wake Bs Ringe ‘iso’ Comes 6, Zeige ean tt oct Sav derorss77 1.Concrtci tmaciona 2. Rates cconbricas tac. 3. He tia conten LT 7 cou Sasoue somsisnes 94765432 Sumario Imtroaucao. ESTRATEGIA E ECONOMIA NO MUNDO PRE-INDUSTRIAL CAPITULO 1 ‘A.ascensdo do mundo ocldental ‘A China dos Ming O mundo mugulmano ois sstranhor: Japao « Resria Omilagre europea CAPITULO 2 A tentativa de dominio dos Habsburgos, 1519-1659 ... significado e a cronologia da lua... Pontos fortes e fracos do bloco Habsburgo ‘Comparagdes imternacionais ‘A guerra, o dinheito e o Estado nacional CAPITULO 3 As finanga, a gografia a vit6ria mas guerras 1660-1815 ‘A-“Revolugao Financeira - Geopolitca A vit6ria nas : ‘A vitéra nao guerras, 1763-1815 ns ESTRATEGIA E ECONOMIA NA ERA INDUSTRIAI A41 CAPITULO 4 A industrializagio e os instiveis equilbrios globais, 1815-1885 143 O celipse do mundo nio-curope. . wl47 Hegemonia britinica? 150 ‘As poténcias médias. 158 ‘A Guerra da Criméia e a erosio do poderio russo 168 (Os Estados Unidos «2 Guerra Civil 5 ‘As puerras da unificagdo alema Conelusdes . CAPITULO 5 ‘© advento de um mundo bipolar e a crise das “poténetas médias” primeira parte, 1885-1918... 0 instével equiltbrio das forgas mundi ‘A porigdo dae poténcias, 1885 1014 ‘As aliangas ¢ o plano inclinado que levou a guerra, ‘A guerra tora e 0 equlltbrio de forgas, 1914-1918 CAPITULO 6 (O advento de um mundo bipolar e a crise das “poténcias médias”: segunda parte, 1919-1942... ‘A ordem Intemacional do pds- guerra... Os contendores. AS superpoténcias dos bastidores. (0 derdobramento da crite, 1031-1012 1914. ESTRATEGIA E ECONOMIA NO PRESENTE E NO FUTURO, CAPITULO 7 Ertabilidade ¢ mudanga num mundo bipolar, 1043-1980 “A aplcago equa de uma frp eemagadora” ‘Anova paisagem estratégica ‘A guerra fria e o Terceiro Mundo ‘As fissuras do mundo bipolar. 0s instéveis equilforios econdmieos, 1950 a 1980 CAPITULO 8 Rumo ao século XI Histéria e especulagio O equilibrismo da China dilema japonés A CEE - porencial e problema ‘A Unido Soviética e suas “contradigoes”... Os Estados Unidos: O problema do nimero um em declinio relativa Epilogo. Notas Indice... Mapas 1. Centros do Poder Mundial no século XVI 5 2. DivisGes politicas da Europa no século XVI 3.0 legado de Carlos V 4. Colapso do poderio espanhol na Europa. >. A Europa em 1'/21 ... M2 6. Impérios coloniais europeus, cerca de 1750 11S 7. A Europa no auge do poderio de Napoledo, 1810 130 8. Principais possessées, bases navais ¢ cabos submarines do Império Briténico, cerca de 1900.. 221 1. As potencias europeias e seus planos de guerra em 19} 247 10. A Europa depois da primeira Guerra Mundial. . 268 11 A Europa no auge do poderio de Hitler, 1942 12, Disteibuigdo mundial das forgas americanes, 1987» Quadros e Graficos Quadros 1. Aumento dos efetivos militares,1470-1660 2. Despesa ¢ receita da Inglatera em tempo de guerra, 1688-1815 3. Populagio das poténcias, 1700-1800 4, Tamanho dos exércitos, 1690-1814 5. Tamanho das Armadas, 1689-1815 ..... 6. Parcelas relativas da produgdo manufatureira 7. Niveis per capita de industtializacao, 1750-1900— .. 8. Eietivos militares das poténcias, 1816-1880 2. PNB das grandes poténcias européias, 1830-1890. 11. Despesas mulitares das poteniias na Guerra da Crimera 12. Populacio total das poténcias, 1890-1938 13, Populacdo urbana das poténcias como percentagem da populaao 1012, 1890-1938 rn 14, Niveis de industrializagao per capita, 1880-1938 .. 15, Frodugao de terrojaco das potencias, 1890-1938. 16. Consumo de energia das poténcias das poténcias, 1890-1938. 17. Potencial industrial total das poténcias em perspectiva relativa, 1980 1028. 18, Paeelas relatives da produgio manufatureira mundial, 1880-1938 19, Efetivos militares e navais das poténcias, 1880-1914. 20, Tonelazem dos navios de euerra das poténcias, 1880-1914. 21. Renda nacional, populagio e renda per capita das poténcias, iangas de 1914 . 223, Produgao de munigoes no Reino Unido, 1914-1918 24 ComparacoinustrilAeenlGgica com os Estados Unido, excluindo a Rissa... 25. Despesas de guerra e total de fore 26, Indices mundiais de produgio manufatureira, 1913-1925 27. Despesas com deresa pelas grandes potencias, 1930-1938... 28. Indices anuais de producdo manufatureira, 1913-1938. 29. Produc de aviges das poténcias, 1932-1939 30. Parcelas da produgo mannfarnreira mundial, 1929-1938... 31. Renda nacional das poténcias em 1937 e gasto porcental coma defea0 32. Potencial belico relativo das oténcias em 1937 - $58, Produgto de tangues em 1944... " 34. Produgio de avides das portncias, I 35. Produgio de armamentos das poténcias, 1940-1943 26. PND total ¢ PND yes tapita das poeuclas cm 1950 . 37. Despesas com defesa das poténcias, 1948-1970. 38. Veiculos de langamento de armas nucleares, das poténcias, 1974 39. Produc das indictrine manufatureiras do mundo, 1830 1980. 40. Volume do coméreio mundial, 1850-1971 41, Aumentos porcentuais da produyiv mundial, 1948-1968... 42. Taxa anual média de crescimento da produeio per capita, 1948-1962. 45. Parcelas do produto bruto mundial, 1960-1980 444. Populacdo, PNB per capita e PNR em 1980 45. Crescimento do PNB real, 1979-1983 46. Quilos de cquivalcute Uy cat vau e ayy usadlus para proguzit USS1.000 do PIB em 1979-1980. 41, Estimativa das ogivas nucleares estratégicas 48. Efetivos navais da Oran ¢ do Pacto de Vars6via.- 49. Déficit federal, divida e juros dos B.U.A., 1980-1985... Graficos 1. Poderio relativo da Rissia e Alemanha— 2. Projegdes do PID da China, fadia e alguns estados da Europa Ocidental, 1980-2020— 43, Produgio de cereais na Ui wiética ena China, 1950-1984. Introducdo ste livrotrata do poder nacional internacional no perfodo “modeno” — iain & depois do Renascimento, Nele procuramos acampanhat « explicar ‘como as varias grandes poténcias ascenderam e cairam, umas relativamente As outras, durante 03 cinco séculos decorridos desde a formagao das “novas ‘monarquias da Buropa ocidental,¢ o inicio do sistema transoceanico e global de estados. Ele se ocupa muito, inevitavelmente, de guerras, em especial dos conflitos mais sérios, prolongados, travados pelas coalizdes de grandes poténcias e que tiveram grande impacto na ordem intemacional, sem ser porém, a rigor, um livro de hist6ria militar. Também procura acompanhar as transformagoes ocortidas no equilibrio econdmico mundial a partir dle 1500; eapesar disso nao €, pelo menos diretamente, uma obra de historia econdmi: «a. Ele concentra-se na interacdiode economia e estratégia, evidenciada na h- tade todo estado importante do sistema internacional para melhorar sua rique~ zac acu poderio, para tomars: (ou continuar) ao mesmo tempy siey « forte © “conflito militar” mencionado no subtitulo do livro é, portanto, ‘examinado sempre no contexto da “transtormacao econdmica’. A vitdria de qualquer grande poténcia nesse periodo, ouo colapso de outra, foi geralmente conseqiléncia de prolongada luta de suas forcas armadas; mas também da utilizas2o mais ou menos cficicate de acus recursos proclutivos em tempo de guerra e, com menos desiaque, da maneira pela qual sua economia vinha crescendo ou decaindo, em relacdoas outras nagdes importantes, nas décadas que precederam esse conflito. Poressa ra7ao, a alterac3o constante cla posica de uma grande poténcia em tempo de pa7 é, para este estudo, to importante quanto @ mancira pela qual luta na guerra. ‘Atese agora resumida recebera um tratamento muito mais desenvolvido no proprio texto, mas pode ser sintetizada rapidamente: A forca relativa das principais nagdes no cenirio mundial nunca permanece constante, principalmente em virtude da taxa de crescimento desigual ontre a2 diferentes 2ociedades, ¢ das inovagies tecnologicas & organizacionais que proporcionam a uma sociedade maior vantagem do que outra, Forexemplo, o aparecimento do navio a vela de grande alcance, arma- do de canhdes. ¢ 0 crescimento do comércio atlantico depois de 1500 nao fo- ram uniformemente vantajosos para todos os estados da Europa —estimularam @ alguna muito mais do que @ outros. Da meama forma, mais tarde 0 desenvolvimento da energiaa vapor e dos recursos carboniferos emetalirgicos ‘nos quais essa nova forma de forga se apoiava macigamente aumentou 0 oderio relativo de certas nagdes, diminuindo com isso o poderio relativo de outras. Quando sua eapacicade produtiva anmentava, oe paises tinham normalmente maior facilidade de arcar com os énus dos armamentos em. grande escala, cm tempo de paz, ¢ de mantet e abastecer grandes exércitos earmadas durante a guetra, Dizer isso parece um mercantilismo grosseito, mas a riqueza € geralmente necessaria a0 poderio militar, ¢ este por sua vez € geralmente necessirin A aquisicio e protectin da riquers. Se, porém, uma proporcio demasiado grande dos recursos de um pais € desviada da ctiacio de riqueza c atribuida a fins militares, tomna-se entau provavel que isso leve «20 enfaquecimento do poderio nacional, a longo prazo. Da mesma maneira, se um pais se excede estrategicamente — digamos, pela conquista de terrt6rios extensos ou em guerras onemsas — come 0 tisco de ver as vantagens potenciais da expansio externa superadas pelas grandes despesas cexigidas —dilema que.se tora agadly 9 u pais eu yueiau iver emrude num petiodo de declinio econdmico relativo. & historia da ascensio e queda dos paises lideres do sistema de grandes poténcias, desde o avanco da Europa ocidental no século XVI— isto é, de nachies cama Fepanha, Holanda, Franga, Império Britinico e atualmente os Estados Unidos — mostra uma correlacao muito significativa, a prazo mats longo, entee a sua capacidace Ue produit gerar receitas, de Um lado, e a forca militar, do outro. A historia da “ascensio e queda das grandes poténcias" apresentada nestes capitulos pode ser ranidamente resimica aqhi © primeins capitulo prepara o cendrio para o que se vai seguir, examinando o mundo li por 1500, € analisando os pontos fortes ¢ fracos de cacla um dos *centios de poder” dit poca a China dos Ming, o Impétio Otomano e seu rebento muculmano na Inaia, 0 Lmpério Mongol, MoscOvia, o Japao Tokugawa ¢ 0s varios estados da Europa centro-ocidental, No inicio do século XVI, nao era ce modo algum evidente que esta tiltima regido estava destinada a élevar-se acima das outras. Por mais grandiosos ¢ organizados que alguns desses impétios usientai parecessem, em comparacao com a Europa, todos eles sofriam, porém, as consequencias de terem uma autoridade’ centralizada que ‘insistia’ na uniformidade de creneas e priticas, no s6 na religito oficial da estado, come também em reas como as atividades comerciais e 0 aperfeicoamento de armao, A falta de qualquer autoridade suprema desse tipy, ste Luiupsty © a tivalidades marciais entre seus varios reinos € cidades-estados estimularam ‘uma constante busca de progresso militar, que interagiu proveitosamente com © progresso tecnol6gico € comercial tamhém registrida nesse ambiente competitivo ¢ empresarial. Com menos obsticulos 4 mudanga, as sociedades européias entraram numa epiral ascendente de crcscimento econémico ¢ melhoraram a eficiéncia militar que, com o tempo, as colocaria & frente de todas as outras regioes do globo. Embora essa dindmica da mudanga teenolégica e da competitividade militar impulsionasse a Europa para a frente a sua habitual maneira pluralista ¢ aos cmpurrdes, ainda perdurava a possibilidade de que um dos estados ‘compeudores pudesse adquirir recursos suficientes para superar os outros, € em seguida dominar 0 continente. Durante cerca de 150 anos, depois de 1500, um bloco dinastico-religioso sob os Habsburgos espanhéis e austriacos PB Pareceu ameacar exatamente isso, ¢ os esforgos dos outros estados europeus importantes para conter oa "tcutava de dominio Habsburgo" ocupam ec © capitulo 2. Como ocorre em todo o livro, os pontos fortes e frarns de cade tuma das principais poténcias so analisados relattuamente, © 4 luz daa ‘mudangas econOmicas ¢ tecnolégicas mais amplas que afetaram a suciedade ‘ocidental como um todo, a fim de que o leitor possa compreender melhor & {Prtiod das muitas gucras desoc jxsfod. O tema principal desse capital € due, apesar dos grandes recursos dos monarcas Habsburges, sles se sobrecanreyaram constantemente no decorrer de repetidos conflitos, @ 2 estrutura militar da cGpula tomon-se emasiado pecada paras base economic que se enfraquecia. Seas outras grandes poténcias curopéias também sofia imensamente com essa guerras prolougaclas, conseguiam — embora com dificuldade — manter 0 equilibrio entre seus recursos mater militar, mettior do que seus inimigos Habsburgos, AS lutas entre as grandes poténcias ocortidas de 1660 a 1815, ¢ Comentaclas no capitulo 3, allo pods sex sesuinidas com a mesma Faciickade gue uma disputa entre um grande bloco ¢ os seus muitos rivais, Foi nesse somplicado perfodo que, enquanto certas ex-grandes poténeias, come Espanha ¢ Holanda, estavam caindo para 0 segundo plano, surgiramn cinco estados principais (Franca, Gri-Bretanha, Rossia, Austria ‘e Prdssia) que Dassaram a laminar a diplomacis c o Lelicbno da Buropa do Seeulo XVII, ¢ {rivaram uma série de prolongadas guerras de coalizao, marcadas pot allangas que se modificavam rapidamente. Foi uma era na qual a Fratea, rimeiro sob Luis XIV e depois sob Napnlean, chegou maie perio de wnuoiG a Europa do que em qualquer outro: momento, antes ou depois, Seus ¢sforoos, porém, foram sempre contidos, pelo menos em tima instancia, por uma combinagdo das outras grandes poténcias. Como o custo dos extrrhen € gtmadas nacionals penmanentes se tinha tomado enorme em principios do século XVIII, um pais que pudesse criar vim sistema bancirie © civduicio avangado (como fez a Gri-Bretanha) desfrutava de muitas vanlagens sobre seus rivais financeiramente atracados, Mas © for da posigdo geogrifics também teve grande importancia na determinacao dos destinos das ptercise om suas nulla lutts que Vaniavam com freqliéncia —o que ajuda a explicar or que duas nagOes “marginais” — Rssia ¢ Gri-Bretanha — tinhsen ae omado muito mais importantes em 1815. Ambas conservavam a capacidade de intervir nas lntas da Europa centimvesic, eouundo, geogralicamens Protegidas contra elas, eambas se expandiram para o mundo exfra-curopeu, no decorrer do século XVIII, mesmo quando asseguravam a manutenglo de quilibro de foreas. Finalmente. nas tiltimas cléeaeias do século, a Revole industrial estava em pleno proceso na Inglaterra, o que Ihe daria maior capacidade tanto dle colonizar no além-mar, napolednica dle dominar a Europa. Durante todu um século, depois de 1815, em contraste, houve uma notiivel auséncia de prolongadas guerras de cnali GStategico, apoiado por todas as principais poténcias no Concerto da Europa, de modo que nenhuma nagio isolada era capaz, nei esefava, amiscarce ¢ Juma tentativa de dominio continental. As preocupagdes primordiais dos ‘govemnos, nas década posteriores a 1815, eram a instabilidade interna e (no ‘caso da Rissia ¢ dos Estados Unidos) a expansdo pelas suas massas territoriais ‘continentais. #8s€ cenanio internacional de relatwva estabilidade permitiu que ‘oImpério Britinico atingisse 0 zénite de seu poderio global, em termosnavais, coloniais e comerciais, © também. interagiu favoravelmente com o seu -monopélio pritico da produgao industrial a vapor. Na segunda metade do século XIX, porém, a industralizacao se estava estendendo a algumas outras, regioes, € Comegava a fazer Com que o fel da balanca do podeno internacional se afastasse das nagOes lideres mais antigas e comecasse a pender para os paises dotados dos recursos ¢ da organizacio para explorar os meios de Produgio.e a tecnologia mais novos, Jé algune doe conflitoc mais importantec dessa Epoca —a Guerra da Criméia, até certo ponto, ¢ mais especialmente a Guerra Civil Americana € a Guerra Franco-Prussiana — estavam impondo a derrota as sociedades que nao tinham modemizado seus sistemas militares, cs quais faltava a infra-estrutura industrial de ampla base para sustentar os enormes exércitos, ¢ as armas muito mais caras e complicadas que estavam agora transformando a natureza da guerra ‘com a aproximagao do século XX, portanto, o ritmo da transformagao tecnol6gica eastaxas desiguais de crescimento tomaram osistema internacional ‘muito mais instavel e complexo do que era 50 anos antes. Isso evidenciou-se ra intensa corrida pés-I880 pelas grandes potencias, em busca de mais territérios coloniais na Africa, Asia e Pacifico — em parte pelo lucro, em parte pelo medo de serem eclipsadas. Evidenciou-se tamhem no crescente nuimero de corridas armamentistas, tanto em terra como no mar, e na ctiagio de aliangas militares fixas, mesmo na paz, com os diferentes governos buscando aliados para uma possivel guerra futura, Atnir dar froqientes dieputas coloniais e crises intemacionais do periodo pré-1914, porém, os indices de poder econ6mico, década a década, mostram mudancas ainda mais fundamen- tais nos equilibrios mundiais— na verdade, 0 eclipse do que foi, por mais de tus séculos, essencialmente um sistema mundial eurocéntrico, Apesar de todo ne cone esforgas, grandes poténcias européias tradicionais, como Franga « Austria-Hungria, e a recém-unificada Tilia, comegavam a ficar para tris na cortida. Em contraste, o» euunnes estados continentais dos Estados Unidos Rssia transferiam-se para a primeira linha, apesar das ineficiencias do estado ‘zarista. Entreas nacoes da Europa ocidental, apenasa Alemanha, possivelmente, teve energia para forcar sua entrada na’seleta liga das futuras poténcias mundiais. O Japio, por outro lado, tencionava firmemente predominar no Teste iaticn, na du ale, nevavelnete, portant, (odasessis modfeacoes criaram problemas consideraveis, € em tiltima instancia insolaveis, para um Império Briténico que passou a ter muito mais dificuldades em defender os setts interesces glahais da qnie mein shoul antes Embora se possa considera comy o principal fay dos 50_ anos posterioresa 1900 oadvento de um mundo bipolarizado, com suas conseqiientes Crises para as poténcias “médias” (como diz o titulo dos capitulos 5 ¢ 6), essa metamorioge de tocleva sistema nla foi save Pela contritin, ae dosgastantes esangrentasbatalhias de massa da Primeira Guerra Mundial, dando importincia A organizacdo industrial ¢ a eficiéncia nacional, propoxcionaram 3 Aleusauhia { imperial certas vantagens em relagao a uma RGssia czarista que se modernizava rapidamente, mas ainda era atrasada, Poucos meses depois da vit6ria na frente este, porem,a Alemanha viu-se ante a deztota no oeste, enquanto seusaliados softiam um colapso semelhante nos teatros de guerra balcanico, italiana e do Oriente Préximo, Devido 2 contribuicio tardia da ajuda militar americana, € fem especial da ajuda cconémica, a alianca ocidental teve finalmente os recursos para impor-se 3 coalizao rival. Mas foi uma luta exaustiva para todos s beligerantes originais, A Austria-Hungria desapareceu, a Rissia entrou em revolucao, a Alemanha foi derrotada; nao obstante, Franca, Ita e até mesmo a Gri-Bretanha sofreram pesadamente em sua vit6ria. A tnica excecio foi 0 Japao, que melhorou sua posigie no Pacifico, €, uatutaluscute, uy Estadus Unidos, que cm 1918 eram indiscutivelmente a maior poténcia do mundo. © rpido abandono americano, pis-1919, de camnramissns externos, « © paralelo isolacionismo russo sob o regime bolchevique, originaram um sistema intemacional que estava mais fora de sintonia com as realidades econdmicas fundamentais do que talvez em qualquer outro momento dos ‘anco seculos estudados neste livro, Inglaterra ¢ Franca, embora enfraquecidas, ainda ocupavam o centro do palco ciplomitico, mas na década de 1930 sa Posicao estava sendo questionada pelos estados militarizados e revisionistas, a Itlia, Japdo € Alemanha — a titima visandp a uma tentativa muito mais deliberada de hegemonia curopéia do que até mesmo em 1914. Em segundo plano, porem, os Estados Unidos continuavam sendo, de longe, a nacao industrializada mais poderosa do mundo, e a Réssia de Stalin se estava transformando rapidamente numa superpoténcia industrial. Em conseqiiéncia, © dilema para ao poténcias revivionisaxs “médias” cia a nevessidade dc sc expandir logo, se nao quisessem ser obscurecidas pelos dois gigantes continentais, O dilema para as poténcias médias do stalus quo.estava em que, a0 lutar contra os desafios alemao e japonés, provavelmente também se enfraqueceriam. A Segunda Guerra Mundial, com todos os seus altos e baixos, confirmou cosencialmente coves temores de declinio. Apeaar de vias iniciais espetaculares, as nagdes do Eixo nao poderiam, no fim, ter €xito contra lum desequilibrio de recursos produtivos muito maior que o da guerra de 1914- 1918. O que conseguiram foi o eclipse da Franca ¢ 0 enfraqnecimento, inrecuperivel da Inglaterra — antes de serem elas proprias esmagadas por forga superior. Em 1943, 0 mundo bipolar previsto décadas antes havia chegado finalmente, € 0 equilibrio militar se tinha, mais uma vez, equiparado a distrbuicao gloal dos recursos economicos. Os dois Gkimos capitulos deste livo examinam os anos nos quais um mundo bipolar parccia, na verdade, exiatir — ccondmies, militar ¢ idcologi- camente — ¢ s¢ refletiu, em nivel politico, nas muitas crises da guerra ftia. A posigao dos Estados Unidos € da U.K.SS, como poténcias de classe especial também parecia reforcar-se coma chegada das armas nucleares e dos sistemas de transporté-las a longas distancias, o que sugeria sera paisagem estratégica, bem como a diplomatice, muito diferente agora de 1900, para nao falarmos de 1800, Nio obstante, o processo de ascensdo e queda das grandes poténcias — dac diferencas de taxas de ereseimenta e transformacdo tecnol6gica que levam, ‘amodificacoes no equilibrio econdmico global, que por sua vez gradualmente influem nos equilfiivs politico e militar — nao tinha ceseado. Militarmente, (9s Estados Unidos e a U.RSS. continuavam na primeira linha, enquanto a década de 1960 dava lugar a de 1970 € a de 1980. Na verdade, como ambos interpretavam os prohlemas intemacionais em termos bipolares, € com freqiiéncia maniqueistas, sua rivalidade os levara a uma crescente corrida armaments de que nenhuma outra poténeia era capaz. Nas mesmas poucas décadas, porém, 0s equilibrios produtivos globais se altcraram mais depressa Go que nunca. A parcela do Terceiro Mundo na producao total de manuti- turados e no PNR, que na década posterior a 1945 tinha caido a niveis sem precedentes, vem-se expandindo constantemente, desde entio, A Europa Fecuperou-se dos piejuizos da gucrra c, na forma da Comunidade Reonémica Européia, tornou-se @ maior unidade comercial do mundo. A Repdblica Popular da China esti avangando em ritmo impressionante. © erescinentw econfmicn ra Japvio no nés-guerra foi tao fenomenal que, segundo certos ‘cileulos, ultrapassou recentemente 2 Riissia no PNB total. Em contraste, as taxay de ciescimento americana ¢ rassa tornaram-se menores, ¢ suas parcelas dda produgao e da tiqueza globais diminuiram dramaticamente desde a década de 1960. Deixando de lado todas as nagoes menores, portanto, ¢ evidente que feviste nm mundo multipolar, mais uma vez. se medimos apenas os indices econmicos. Daca a preocupacio deste livro com a interacao de estratégia & economia, pareceu-nos adequado um capitulo final Cembara neressariamente ‘especulativo) para explorar a presente disparidade entre 0 equilibrio militar fe 0 equilibno produtivo das grandes porencias, e indicar oy probleums © ‘oportunidades que existem para os cinco grandes “centros de poder" politico ‘econdmico de hoje — China, Japio, CE.E., Unido Soviética e Estados Unidos sm sua futa de séculos para relacionar os meios nacionais eam os fins nacionais, A hist6ria da ascensio e queda das grandes poténcias ainda esti Jonge do seu ponto final Sendo tioamplo o escopo deste livro, €claro que ser lide por diferentes peocoae com diferentes abjetivas. Algune Initeres enconteacaa anni o qe éesperavam: um exame, amplo eainda assim detalhado, da politica das grandes poténcias nos Ultimos cinco séculus, Ua ruaniira pela qual a posigao relativa de cada um desses importantes estado foi afetada pela mudanga econémica fe tecnologica, e da constante interacio de estratégia e economia, tanto em Spoca de paz como nas provas da guerm. Por definigio, ele nao trata da poténcias pequenas, nem (em geral) das pequenas guerras bilaterais. Por Gefinigdo tamben, 0 Inro € weeruadanuente cuLXELUILY, eis eoperial nos capitulos do meio. Mas iss0 € natural, em se tratando de tal assunto. ‘A outs leitores, talvez especiaimente os cientstas politicos agora tio Interessaclos em estahelecer regras gers sabre “sistemas mundiais", ou sobre a repetigio dos padroes das guesma, este estudo pode oferecer menos do que estiavam, Part evicar unalenwenlidus, Ueveuius Ucinas vlaro, a cota altura, que o livro nao trata, por exemplo, da teoria de que as guerras maiores (ou “sistémicas") podem estar relacionadas com os ciclos de Kondratiett da 6 ascensio e depressiio econémicas, Além disso, ele certamente niv s¢ ocupa das teorias gerais sobre as eatisas da guerra, Ou se elas provavelmente s20 provocadas pela “ascensao" ou “queda’ das grandes poténcias. Também nao & um livro sobre teorias do império, sobre como o controle imperial se realiza (como faz 0 recente livro de Michael Doyle, Empires), ou Se 05 impérios contribuem para a forga nacional. Finalmente, nao oferece qualquer teuria ageral sobre que tipos de sociedad © de organizagdes sociais/governamentais sao mals eficientes na oDtengao de recursos em tempo de guerra, Por outro lado, ha neste livro, obviamente, uma grande abundancia de ‘material para os estudiosos que desejem fazer essas generalizagdes (e uma das raader do grande ntimero de notas € indicar fontes mais Uetallatay puta US leitores interessados, digamos, no financiamento das guerras. Mas o problema dos historladores — ao contratio dos cientistas politicos — ao se envolverem comasteorias gerais, équeas provas do pasado so quase sempre demasiarto variadas para permitir conclusdes cientificas “exatas”, Assim, embora seja verdade quealgumas guerras (a de 1939, por exemplo), possam ser relacionadas com 0s receios que os responsaveis pelas decisoes tinham das modificagbes tug equilibtio geral do poder, 1850 nao seria ce maior utilidade para explicar as lutasiniciadas em 1776 Guerra Revolucioniria Americana), 1792(Revahicio Francesa) ou 1854 (Guerra dla Criméia). Da mesma forma, embora se pudesse mostrar a Austria-Hungria em 1914 como um bom cxcmplo de geande poréncia *decadente” que contribuiu para a deflagragao de uma grande ‘guerrs, Isso ainda detxaria 20 teorico o problema de tatar dos papeis, igualmente criticos, desempenhados nto pelas grandes poténcias 'ascendentes”, Alemanha ¢ Rissia. Anda da mesma forma, qualquer teoria pera] sobre a lucratividade doe impérioo, ou sobre uma possivel influéiaia da razio “poder-distincia” sobre o controle imperial, provavelmente provocard —devido as conflitantes provas existentes — a resposta banal de que por ‘vezes sim, por vezes nit. Nao obstante, se colocarmos de lado teorias a priorte simplesmente ‘cvaminarmos o registro hit6rico da “aocenddo © queda das grandes potas” no decorrer dos tltimos 500 anos, toma-se clara a possibilidade de chegarmos a alguutas conclusdes de validade geral — embora reconhecendo, a0 mesmo tempo, a possibilidade de exceodes individuais, Ha, por exemplo, uma relacio. causal concreta entre a5 variagdes ocorridas com 0 tempo nos equilibrios gemais econdmicos produtivos e a posigio ocupada pclas poténcias individuais no sistema internacional. A transferéncia dos fluxos de comércio, Uo Mediterraneo pura AUantico € noroeste da Kuropa, a partir do século XVI, ou a redistribuiedo das parcelas da produgio mundial de manufaturados, no sentido de menor participacio da Europa ocidental nas décadas posteriores 2 180, conetiniem hons exemplos disso, Em ambos ov cao9, ax mudangas econémicas anunciaram a ascensio de novas grandes poténcias que um dia teriam um impacto devisivo na orem militarterritorial. & por isso que a transferéncia do equifibrio produtivo mundial para a “orla do Pacifico”, que ‘vem ocorrendo nas Uitimas décadas, nao pode ser de interesse apenas para a8 econamistas Igualmente, a hist6ria sugere a existéncia de uma ligaco muito clara, a longo prazo, cats a ascetnsau © queda economicas de uma grande potencia miliar (ou império mundial). Também isso nada tem de surpreendente, pois flui de dois fatos corrlatos. O primeiro € que as recursos econémicos sio ‘necessdrios para apoiar uma estrtura militar em grande escala, O segundo & ue, no que conceme ao sister internacional, tanto ariqueza como © poder Sho sempre relatos, e como tal devem ser vistos. Ha 300 anos, 0 autor Imercanulistaalenito Vues Hosnigk observou que se uma nagio € hoje poderos rica, ov nilo, nto depende da abundancia ou seguranga de seu poder e riquezas, mas principalmente de terem os seus vizinhos mais ou menos desse poder e riquezas. Nos capitulos que se seguem, essa observagio seri confirmada repetidas vvezes. A Holanda, em meados do século XVII, era mais ica em termos absolie tosdo que 100 anos antes, mas aquela altura Constitufa-se muito menos numa grande poténcia, porque vizinhos como a Franca ¢ Inglaterra tinham “mais desse poder e riquezas". A Franga de 1914 era, em termos absolutos, mais poderosa do que a de 1850 — mas isso pouco representou quando ela foi fecupsada por Uma Alemanhia muito mialy fone. A luglaterva tens hoi: anito maior riqueza, e suas forcas armadas dispdem de armamentos muito mais, poderosos do que a Inglaterra vitoriana, mas iss de pouco serve quanda sua parcela do produto mundial diminuit de cerea dle 25% para cerca de 3% Se © pais tem “mais desse poder e riquezas’, muito bem; se tem "menos", hé problemas, Isso niio significa, porem, que o poder econdmico € militar relative de ‘uma nacdo subiri e decairi paralelamente. A maioria dos exemplos historicos Incluidos aqui eugerem que hi tim clara “intervala de tempo” entre a trajetoria da forga econémica relativa de um estado ¢ a trajet6ria de sua influéncia iilitarterritorial. Mais uma vez, a rao disso alo € dificil de perecber. Uma poténcia em expansio econdmica — a Inglaterra da década de 1860, os Estados Unidos na de 1890, 0 Japao hoje — bem pode preterir ser mais rica do que investir pesadamente om armas. Mein sécula depois, as prioridades podem terse modificado, A expansio econGmica anterior trouxe consigo Obrigagoes no além-muar (dependéncia de mercados ¢ matérias-primas estrangeiros, aliangas militares, talvez bases € coldnias), Outras poténci tivais estio. agora expandindo-se em ritmo mais répido, e querem, porsua vez, estender sua influéncia a0 exterior © mundo tomou-se um lugar mais competitivo, ¢ as fatias do mercado estio sendo corroidas, Os observadores pessimistasfalam de decliniv; 09 estatlistas patsivtas clamam pela “‘renovagio”. Nessas circunstancias mais perturbadas, a grande poténcia pode ver-se gastando mais coma defesa do que ha duas geracoes, € ainda assim descobrir {gue o mundo ee transforma niim ambiente menns seguro — simplesmente porque outras poténcias cresceram mais depressae se estio tomando mais for- Tes, A Fspanha impertal gastava muito mais com scu cxército nas conturbadas décadas de 1630 ¢ 1640 do que na de 1580, quando a economia castelhana ‘era mais saudavel. Os gastos com defesa na Inglaterra eduardiana eram musto maiores em 1910 do que, digamas, na época da morte de Palmerston em 1865. quando a economia inglesa estava relativamente no seu auge; mas que ingleses se sentirain mais seguros naqucla data mais recente? O mesmo 8 Problema, como argumentaremos adiante, parece estar sendo enfrentado tanto pelos Fatarine Unidor como pola U.RS.5, Ine, As grandes poten om decliniorelatvo reagem instintivamente gastando mais com a “seguranca’ e com isso, afastanddy do “Investimento” recursos potenciais, ¢ agravando seu dilema a longo prazo. Outra conclusio geral que se pode deduzir dos 500 anos de historia apresentacns aqni # 4 existéncia de uma couckyay multo forte ene resultado final das grandes guerras de coaltzdo para 0 dominio europeu ou global, © o volume de recursos produtivos mobilizados pelos respectivos lados. Isso ocorreu nas lutas travadas contra os Habsburgos hispens-aus, tacos; com as grandes disputas do século XVII, como a Guerra da Succeed Espanhola, a Guerra clos Sete Anos e a Guerra Napoleduitea, € com as dae ‘guerras mundiais deste século. Uma guerra protongada e desgastante acaba or ec tmnaformas suis pov da capacicade relativa de cada coalizio. Se ana dos lados tem "mais" ou “menos” poder e riqueza, & 0 que se torna cada vez ‘mais significativo a medida que a luta se prolonga Podemos fazer tais generalizagses, porém, oom cair na auualllit srosseira do determinismo econdmico. Apesar do nosso interesse constante em estabelecer as “tendéncias saiores” das questoes mundiais nos tltimos cinco séculos, ndo estamos argumentando que a economia determina torlns Os fatos, ou constitui a Gnica razdo do sucesso ou fracasso das. nacdes, Simplesmente, hi provas demais indicando ovtsoe clementon gouge organiza¢ao militar, moral nacional, sistema de aliangas e muitos outros fatores que podem afetar © poder relativo dos membros dos sistemas de estado, No século XVIML, por exemplo, as Provincias Unidas constituiam as partes mais eas da turopa, € a Russia, a mais pobre — nao obstante, os holandeses decairam, ¢ 08 rus80s subiram. A loucura de um individuo (como Hitles) e ‘extrema competéncia no eampo de batalha (seja dos regimentos espanhéis no século XVI ou da infantatia alema neste século) tambem contribuem muito para explicar vitorias € derrows individuais. O que parece incontestivel orem, € que numa longa e arrastada guerra de grandes poténcias (e em geral de coalizio), a vitoria coube repetidas ve7es a0 lado com uma base produtiva inais florescente—ou, como costumavam dizer os capitaes espanhdis, a quem temo Gltimo eceudo, Grande parte dy quese segue confioma esse julgarnento inico, mas essencialmente conreto. E € precisamente porque a posicio de poder das nagbes importantes acompanhou de perto a sua posicio econdmica relativa nos titimos cinco séculos. aie parece valor a pena perguntar quaia 9 implicagdes das tendéncias econdmicas e tecnolégicas de hoje para o atual equilibrio de poder. Isso niio € negar que os homens fazem a sua propria historia, mas a fazem dentro de circunstancias historicas que podem limitar quais pudease reevar. 's autoridade proparcionada pela pélvora a0 xogunato de Tokugawa, ou ‘Akbar na india, nfo aconteceui no Ocidente, que continuou a caracterizar-se pelo pluralism) pullicy © sua ltal coneqiancia, 9 corida armaments 1 impacto da “revolucio da pélvora" no mar foi ainda mais amplo.® Como antes, surpreende-nos relativa semeltiauca entre © noroeste da Toropa, o manda ielAmirn eo Extremo Oriente nia construcio e poderio naval Gonante fins da dade Média, As grandes viagens cle Cheng Ho ¢ 0 rapido avan- Goda frota turce 1 mar Nogro e Mediterraneo oriental bem poderia ter suger Soa ium observador, em cerca de 1400 e 1450, que o futuro do progresso mari- oa atava com aquelas duas potencias, Tambésu sity havia muita diferenea, tuspeitamos, entre todas as rés egies no que se relaciona com a cartografia aaa rmomia co uso de instrumentos como a béssola, oastrolabio eo quadiran aan iferenigas estavam na organtza¢aoconsiante, Ou, como ODSEEVa 0 PFO~ fessor [ones, “dadasas distincias cobertas por outros navegantes, 0 polinésios Ror txemplo, as viagens [dos tbetos) 840 inet» impreosionantee do que » Pipacidade da Rnropa de racionalizé-las e desenvolver os recurs0s a0 seu Seance "A coleta sistematica de dados geogrificos pelos portugueses, a 1e- petida disposicio das casas mercantis de Génova em financiar viagens ailinticas que pudessem compenséclas da perda do comércio do mar Negro fe inais av uvite — v Ueseuvulvimeniy metuiey Ua pesta Uo Lavalier nit ‘Terra Nova, tudo isso mostra uma disposic0 constante de desbravar, que nao cera evidente em outras sociedades da época. Talvez 0 mais importante ato de “racionalizacio” tenha sido, porém, 0 aperfeigoamento constante dos armamentos de navios. A colocagio do ca- anhJo neo navios a vela foi una evuluyav beslaute alusal uma €puat Ci que guerra no mar assemelhava-se 2 da terra. Assim como os castelos medievais tinham arqueiros ao longo das muralhas e nas torres, a fim de repelir um exér- Cito siriante, assim também ox maciens navins de comércie gennweses, ven zianos e aragoneses usavam homens, armados de arcos e colocados nos "cas~ telos” de proa e popa, para se defenderem dos piratas mugulmanos no Me~ diterraneo. Isso podia causar severas baixas entre as tipulagdes das galeras, embora ndo necessariamente o bastante para salvar um navio mercante numa calmaria, se 0s atacantes estivessem realmente dispostos. Quando, porém, os marinheitos perceberam o progresso realizado nos canhées em terra — isto &, que 09 novos canhéca de bronze cram muito meneies, ais pAnleivous © ‘menos perigosos para seus artilleiros do que as enormes bombardas de ferro tundido— era de prever que tais amamentos seriam colocados a bordo. Afi nal de contas, catapultas ¢ balestras © outros tipos de instrumentos de arremes- ‘80 de misseis étinham sido montados em navios de guerra na China e no Oci- dente. Meamo quando o canhio tomou-se menos explosive © perigoso 203 seus artilheiros, ainda apresentava consideriveis problemas: tendo em vista 4 polvora melhor, o recuo ou “coice” podia ser tremendo, fazendo com que ‘0 canhao percorresse todo convés, se ndo estivesse amarrado; além disso, tais armas ainda eram pesadas bastante para cesequilibrar o barco, se um nt mero suficiente fsse colocacio mim clos borelas (especialmente nos castelos) Era nisso que 0 navio de consirucao robusta, de trés mastros ¢ para qualquer tempo, tinha uma vantagem incrente sobre as caguias galoras de remos das Aguas intemas do Mediterrineo, Baltico e mar Negro, sobre 0 dhow arabe © ‘mesmo sobre o junco chines. rodtia, em qualquer caso, cisparar uma descarga conjunta e permanecer estivel, embora também ocorressem desastres ocasio- ‘nalmente, é claro. Mas quando se compreendeu que a colocacio dessas armas a meio navin, e nfo ans castelns, penparrionava rima plataforma muito mais segura para 0 canhio, 0 poderio potencial dessas caravelas e galedes foi for- midvel. Em comparacio, navios menores sofriam da dupla desvantagcm de menor capacidade de levar canhOes e maior vulnerabilidade aos projéteis por les disparados. ‘Somos obrigaclos a enfatizar as palavras “poderio potencial” porque a evolucio do navio a vela de longo alcance, dotado de canhoes, foi enta, por vvezes dlesignal Mites tipos hibridas foram constniicns, algyins cle mactros miltiplos, canhdes eremos. Navios tipo galera ainda eram vistos no canal da Mancha no aéculo XVI. Além disso, houve argumentos consideriveis em favor da continuagio das galeras no Mediterraneo © no mar Negro: eram mais rpidas em muitas ocasi6es, mais manobraveis em 4guas fechadas e, com iss0, de uso mais facil em conjuncao com operacdes terrestres ao longo da costa —o que, para os turcos, compensava de muito as desvantagens de seu pouco alcance ¢ incapacidade de enfrentar mares bravios.* 33 Da mesma maneira, nao devemas pensar que mal os navios portugueses contomaram 0 cabo da Boa Esperanca teve inicio uma era de dominacio vckdental invvuteoiada, © que us hiortauores chamam de “epoca de Vasco da Gama’ ¢ "era de Colombo" — isto é, ostrés ou quatro séculos de hegemonia européia depois de 1500 — foi um processo muito gradual, Os exploradores portugueses podleriam ter chegacia 20 ltoral indiano na década de 1490, mas seus navios ainda eram pequenos (com freqiéncia, de apenas 300 toneladas) no catavam ben aia — cin Lomsaraya, sein duvide, Com 0s podero- sos navios da Companhia Holandesa das indias Orientais, que navegaram na- ‘quelas aguas um século depois. De fato, os portugueses nao puderam entrar no mar Vermelho por mnite tempa, » sho fizeram de maneira precéria, nem puderam conquistar uma boa base na China. E em fins do século XVI, pe dram alguns de seus postos no leste afvican, ute a contra-ofensiva arabe” Sera um erro também supor queas poténcias nao-curopéias simplesmente desabaram como um castelo de cartas aos primeiros sinais do expansionismo ocidental, Foi precisamente o que acontecen no México, Pera e outras sociedades menos desenvolvidas do Novo Mundo, quando os aventureiros copiinhdis desembarcatam. Zin uuuuo lugares, a hisiOrta for diferente. Como © governo chinés tnha voltado as costas, voluntariamente, a0 comércio maritimo, ele no se importava que este caisse nas maos dos barbaros. AIG ‘mesmo 0 semi-oficial posto de comércio que os poruigueses abriram em Ma- ‘cau em 1557, por mais lucrativo que deva ter sido para os comerciantes locais de seda cos aclministradoses eouiveutes, nay aurcve te pertutbade a tanule lidade de Pequim. Os japoneses, porsua ve7, foram muito mais duros. Quando 6 portugueses mandaram uma misso, em 1640, para protestar contra 2 expulsio dos estrangeiros, qniase toring as sens membens foram mortos; nls podia haver qualquer tentativa de revide por Lisboa. Finalmente, o poderio maritima otomano estava resistindo no Meditensaneo oriental, © © poderio terrestre otomano continuava ser uma consideravel ameaca a Europa central. ‘No seculo XVI, na vetdade, “para a maioria dos estadistas europeus, a perda da Hungria teve muito maior importineia da que a estahelorimenta. de feitorias no Oriente, ea ameaca.a Viena foi mais significativa do que os desafios ocidentais a Aden, Goa c Malaca, 56 03 governos 4 margem du Atlantica podiam, como seus historiadores mais tarde, ignorar tal fato."> Nao obstante, teitas todas essa ressaivas, nao ha divida de que o progresso do navio a vela de longo alcance, armado, prenunciava um avango fundamental na posicao da Europa no mundo. Com esses navios, as potncias navaio do Ocidente podiam controlar a9 sotas Conuciciais Lcanieas © ale tizar todas as sociedades vulneréveis ao poderio maritimo. Até mesmo 0s pri- -meiros choques entre os portugueses e seus inimigos muculmanos, no oceano Indico. deixaram claro isso. Retrospectivamente, podemos ver qe eles sem diivida exageraram, mas a leitura dos dirios e relat6rios de Vasco da Gama ¢ Albuquerque, descrevendo como scus navios de guerra abriram caminho tiros em meio as frotas de dbows drabes ¢ outras navies ligeiros que encontraram ao largo da costa de Malabar e dos estreitos de Ormuz e Malaca, nos di a impressio de que uma forca extraterrestre, sohre-himana, fink descido sobre seus infelizes adversirios. Seguindo a nova titica de que “io deviam abordar, mas combater com a artilharia’, os portugueses cram 34 praticamente invenciveis no mar? Em terra, as coisas eram diferentes, como as ferozes batalhas (e ocasionais derrotas) de Aden, Jidé, Goa e outras, ‘mostraram, No ubstante, eooe> inivanuics uLidentals cram (0 Drutats © dispostos que em meados do século XVI tinham construido uma cadeia de fortes do goto da Guiné até o mar da China do Sul, Embora no conseguissem nunca monopolizar o comércio de especiarias las fndias — grande parte do qual continuow a fluir através dos canais tadicionais até Veneza — os portugucses certamente obtivesai paites Wuusileravels Uy cunereio, € MIO Jucraram com a vantagem que tinham na corrida pelo império.” As probabilidades de lucros eram ainda maiores, € claro, no vasto impétio territorial que os conquistadares estahelererim rapidamente no hemistério ocidental. Desde os primeios povoaclos em Hispaniola e Cuba, as expedicdes espanholas avangaram para o continente, couguistanndo © Mexico na década de 1520, € 0 Peru, na de 1530. Dentro de poueas décadas, esse dominio estendia-se do rio Prata, no sul, até o rio Grande, no norte. Galedes espanhéis, percorrendo 0 litoral ocidental, faziam ligacio com as navios que vvinham das Filipinas, com sedas chinesas para trocar pela prata peruana, Em cov ‘Nove Mundo", os eapanhéisdeixaiain claw que prctcutlian fica, clade ‘uma administracio imperial, construindo igrejas e dedicando-se & pecuaiia e ‘a mineragao, Explorando os recursos naturais —e, mais ainda, a mao-de-obra nativa—desses tertitrios, 08 conquistadores mandaram dle volta paraa patria ‘um fluxo constante de acticar, cochonilha, peles e outras mercadorias, E, principalmente, mandaram prata da mina Ue Pulvsly que pur sms Ue UItl século foi a maior jazida desse metal, no mundo. Tudo isso levou a um, ‘crescimento relimpago do comércio transatlintico, cujo volume aumentou ‘ito vezes entre 1510 € 1550, e trés vezes, novamente, entre 1550 1610" % Tudo indicava, portanto, que esse imperialismo pretendia ser perma- nnente, Ao contririo das ripidas visitas de Chen Ilo, 08 atos dos exploraclores portugueses ¢ espanhois simbolizavam um empenho emmodifiear oequilibrio politico mundial. Com seu canhao levado pelos navios e seu soldado com ‘mosquete. eles fizeram exatamente o que pretendiam. Frm retrosperta, parece dificil, por vezes, compreender que um pais com a limitada populagio e recursos cle Portugal pudesse chegar to longe © conquistar tanto. Nas circunstancias especiais dla superioridade militar e naval curopéia descritas uma, 1880 nao era ampossivel, de modo algum. Uma ver realizado 0 feito, os evidentes Iucros do império € o desejo de mais simplesmente aceleraram 0 processo cle engrandecimento. Hi clementoo nesta hiot6ria da “expansilo da Duropa” que wiv fora levados em conta, ou foram apenas mencionados rapidamente até agora. O aspecto pessoal nao foi examinado, € nao obstante — como em todos os srandes empreendimentos — ele foi marcante: no impulso dado por homens como Henrique o Navegacor; na engenhosidade dos artesios dos navios, dos armeiros ¢ dos letracloe; no espirito empreendedor dos comerciantes; ¢,acima de tudo, na coragem dos que participaram das viagens para além-mar e sesistiram a tudo que os mares bravios, os climas hosts, as paisagens indspi- 1s € 08 adversirios ferozes podiam colocar em seu caminho. Gracas a ma complexa mistura de motivos—ganho pessoal, gloria nacional, zelo rligioso, talvez um sentimento de aventura — os homens ce dispunham a ariscar tudo, 35 como na verdade fizeram em muitos casos. Também nio nos detivemas nas ‘crueldades terriveis que esses conquistadores europeus praticaram contra as Suas muitas vitimas na Arica, Asia e America. Se tals aspectos quase 1 sau mencionados aqui, € porque muitas sociedades da epoca produziram individuos e grupos dispostos a ousar tudo e tudo fazer para transformar 0 mundo em sua osira. O que distinguia os capities, tripulagées ¢ exploraclores europeus era a posse de navios de poder de fogo com os quais realizar suas mbigoes, ¢ 0 fato de virem de um ambiente politico no qual a Lomapetiyau, © risco e 0 espirito de empreendimento predominavam. ‘As vantagens proporcionadas pela expansio da Europa foram _gencializadas ¢ duradourec © 0 que & mais importante — ajiddaram a acelerar uma dindmica jf existente. A énfase na aquisicio de ouro, prata, ‘metais preciosos ¢ especiarias, por mais importantes que estes fossem, nao deve obscurecet 0 valor de mercadorias menos atraentes que inundaram os portos da Europa, depois que seus marinheiros atravessaram a fronteira ‘Secanica. O acesso a pesca da Terra Nova proporeiono ima fonte aparei temente inesgotivel de alimentos, e 0 oceano Atkintico forecia também os Gleos de baleia ¢ toca, vitals para’ tluminacao, lubnifieasay © wiulius vues sos. Acticar, anil, tabaco, arroz, peles, maceira ¢ novas plantas, como batata €0 milho, viriam aumentar a riqueza total ¢ 0 bem-estar do continente. Mais tardo, é preciso antecipara cosmopolita economia mundial clo século XIX pat compreender que as descobertas portuguesas € espanholas tiveram, em decadas, uma grande e sempre crescente tinpuriaucia pata v awnseato da prosperidade e o poder das partes ocidentais do continente, Comércios a gra~ nel, como o da pesca, empregavam grande ntimero de pessoas, tanto para a pesca em ai como pam a cua dietribuigo, 0 que estimnlon ainda mais a eco nomia de mercado. E tudo isso deu 0 maior impulsoa indstria naval européia, atraindo para as proximidades de ponos come Loncles, Bristol, Antuézpia, ‘Amsterdam © muitos outros um grande nimero de artesios, fornecedores, ‘negociantes, seguradores, Como resultado, uma parte considerdvel da populagao da Europa ocidental endo apenas uma rechvidla elite —passona ter grande Interesse material pelos frutos do comércio de alémm-mar “Acrescentando a esta lista de mercadutias © comércio resultante da expansio terrestre da Rissia — as peles, couros, madeira, canhamo, sal € cereais que dali partiram para a Europa ocidental — entio os estudiosos tem azio em descrever essa época como o inicio de um ‘modemo sistema mundial” * © que comecou como vérias expansdes em separado transformou- Se flum todo interligado: © Ouro da Lust Us Guin€ © a prata do Pera foram usados pelos portugueses, espanhois ¢ italianos para comprar as especiarias sedas do Oriente, as peles e madeiras da RGssia ajudaram a compra de ‘anh3eo de ferro da Inglaterra; os cerenie da Rélticn pascaram por Amsterdam a caminho do Mediterrineo. Tudo isso gerou uta interago constante—uma expansao européia maior, com novas descobertas € portant novas oportu idades de comércio, proporcionando ganhos adicionais que estimulavam ‘oma expansio ainda maior. Isso ndo ocorreu numa progressio ascendente nececcariamonte euaver uma grande gherra na Fnropa, ona inquietacao civil podiam reduzir drasticamente as atividades de além-mar. Mas as poténcias Colonizadoras raramente, ou wunca, desistiam de suas aquisigdes, e dentro em 36 pouco uma nova onda de expansio ¢ exploracio recomegaria. Afinal de ontas, se as nacées imperiais consolidacas nao explorassem suas posicdes, crutias eatavam clispostas a fax-o. Foi essa, finalmente, a maior raza pela qual a dindmica continuou a operas, como operou: as miltiplas rivalidades dos estados europeus, ja agudas, se estavam estendendo as esferas transocednicas. Por mais que tentassem, Espanha e Portugal simplesmente no podiam conservar 0 seu monopélio, assegurado pelo papa, do mundo dealém mar, mais capecialmente quando se compreendeu que nao havia uma passagem nordeste ou noroeste da Europa para Catai, Ja na decada de 1560 navios holandeses, franceses e ingleses se aventuravam pelo Atlintico, ¢ um pouco depois. nos oceanos Indico e Pacifico — progresso apressado pelo declinio do comércio de tecicios inglés ¢ pela Revolta da Holanda. Com patronos reais ¢ aristoeriticos, com financiamento de grandes comerciantes de Amsterclam ¢ Londres, ¢ com todo © zelo religioso € nacionalista produzido pela Reforma e Contra-Ketorma, novas expediodes de comércio e pilhagem partiram do noroeste da Europa, masa fé verdadeira, Que argumentos contrarios poderiam resistir a tais possibilidades? aspecto mais positive dessa crescente rivalidade comercial ¢ colonial foi a espiral ascendente do conhecimento que surgiu paralelamente — na

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