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A historia do movimento psicanalitico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos VOLUME XIV (1914-1916) Dr. Sigmund Freud FLUCTUAT NEC MERGITUR (NO BRASAO DA CIDADE DE PARIS) ' Nao @ de se estranhar 0 caréter subjetivo desta contibuigdo que me proponho trazer & historia do movimanta psicanaliiea, nem dave causar surpresa 0 papel que nela desempento, pois {a psicandlise € criag8o minha; durante dez anos ful @ Unica pessoa que se interessou por ela, € {odo 0 desagrado que 0 novo fanémeno despertou em meus contemporéneos desabefou sobre a ‘minha cabega em forma de ertieas. Embora de muito tempo para ca eu tena doixado do ser 0 ‘unico psicanalista existente, acho justo continuar afrmando que ainda hoje ninguém pode saber ‘metnor do que eu 0 que & a psicandlise, em que ela diere de outtas formas de investigagao da vida mental, 0 que deve precisements ser denominado de psicanilse ® o que seria melhor chamar do outro nome qualquer. Ao repudiar assim o que me paroce nada monos que uma usurpaedo, estou indiretamente levando ao conhecmnento dos leitores deste Jahrbuch os falos que provocaram mosiieagses em sua editariae formato, [Em 1909, no sallio de conferéncias de uma universidade norte-americane, tive a primeira ‘oportunidade de fatar em publico sobre a psicanlise. A ocastéo foi de grande importéncia para ‘minha obra, & movido por este pensamento dectaret entao que nao hava sido eu quem efiara a psicandlise: 0 ménito cabia a Joseph Breuer, cuja cba tinha sido realizada numa época om que out fera apenas um aluno preocupado em pessar nos exames (1880-2). Depois que fiz aquelas cconferéncias, entretanto, alguns amigos bem intencionados suscitaram em mim uma divida: no teria eu, naquela oportunidade, menifestado minha gratidéo de uma maneira exagerada? Na opinio deles, devia ter feito o que jd estava acostumado a fazer: encarado 0 “métods catértio” de Breuer como um estagio preliminer da psicanalise, © @ psicanalise em si como tendo tio inicio ‘quando deixsi de usar a técnica hipnotea e introduzi as associa¢oes livres. Soja como for, no tem ‘rande importancia que a histora da psicanalise seja considerada como tendo inicio com 0 método Catértico ou com @ modificagan que nele introduzi, mencone esse detalhe pouoo interessante ‘simplesmente porque certos adversérios de psicandlse tém o habit de lembrar vez por outa que, afinal do contas, a ato da psicandlise néo fol inven¢o minha @ sim de Brousr. Isto s6 acontsce, nnaturaimente, quando seus pontos de vista permitem que eles vejam na psicandiise algo ‘merecedor de ateneio, pois, quando he uma rejigo absoluta, nam se discule que a psicandlise & ‘obra somente minha. Que et saiba, a grande parlicipagdo que teve Breuer na ctiagSo da psicanalise jamais fez cair sobre ele 0 equivalent em orfticas injrias. Como na muito 4a roconhec que provocar opasiczo @ despertar rancor 6 0 destino inevitével da psicandlise, chaguel 2 concluséo de que devo ser @1 0 verdadero criadar do que Ihe é mais caracterstico, Aleara-me poder acrescentar que nenhuma dessas tentativas de minimizar meu papel na criago desta to ifemada psicandlise jamais parti de Brouer, nem contou sequer com sou apoto. ‘As descobertas de Breuer jé foram descritas tantas vezes que posse dispenser um exame detainado das mesmas aqu. © fundamental delas era 0 Tato de que os sintomas de pacientes histénicos bassiam-se em eenas do seu passade que thes causaram grande impresséo mas foram ‘esquecides (traumas); terspéutica,nisto apoiada, que consistia em fazé-los lembrar e reproduzir ‘es5as experiéncias num estado de hipnose (catarse), ¢ 0 fragmento de teoris disto inferdo, ‘segundo o qual esses sintomas representavam um emprego anormal de doses de exctaga0 que ro haviam sido descarregadas (converséo). Sempre que Breuer, em sua contnibuigdo tedriea aos Estudos Sobre a Histeria (1805), referiase a esse proceso de conversio, acrescentava mau home entre parénteses, como se coubesse a mim a priondade desta primera tentativa de _avaliagdo tedrica. Creo que, na realidad, esta distingo s6 se aplica ao termo, ¢ que @ concepgo os ocorrau simuitaneamenta © em eonjunto, E sabido também que depois de Breuer ter feito sua primeira descoberta do método ‘atético deixou-o de lado durante anos e $6 veio a retomé-lo por instigagéo minha, quando de volta dos meus estudos com Charcot. Breuer tinha uma grande clentela que exigia muito dele, ‘quanto a mim, apenas assumira a contragosto a profisséo médica, mas tinha naquela Spoce um {orto motivo para ajudar as pessoas que sofriam de afacgdes nervosas ou palo menos para desojar ‘compreender algo sobre 9 estado delas. Adolei a fisioterapia, e me senti completamente ‘desanimado com os resuitaios desapontadores do meu estudo da Elektotherapie de Erb [1882], ‘que epresentava tantas indioagdes & recomendagdes. Se na época nao cheguel por conta propria {4 condlusio que Moobius estabolecou depois - de que os @xitos do tratamonto elétrico em doentes nervosos so efeito de sugestio - fe, sem duvida alguma, apenas por causa da total auséneia desses prometides éxito. tratamento pela sugestio durante & hipnose profunda, que aprendi ‘através das impressionantes demonstragées de Lisbeault @ Bemheim, pafaciam ent oferecor um “substiluto satisfatério para o malogrado tratamento elétiice, Mas a prética de investigar pacientes ‘em estado hipnético, com a qual me familarizou Brouar - pratica quo combinava um mado de agit ‘aulomatico com 8 satistagdo da cunosidade cieniea - era, sem duvide, incomparavelmente mais atraente do que as probijdes mondtonas @ forgadas usadas no tratamento pela sugestéo, proibig6as que enavam um cbstaculo a qualquer pesquisa Ha pouco tempo nos foi dada uma sugestéo - que se propunha representar um dos mais recentes desenvelvimentos da psicandlise -, no sentide de que 0 confite de momento eo fator desencadeante da doenga devem ser trazidos para 0 primeira plano na andlise. Ora, isto era ‘exatamente 0 que Breuer @ eu faziamos quando comegamos a trabalhar com o método catértica. ‘Conduziamos a atangSo do pacienta dirstamento para a cana traumatica na qual 0 sintoma surgira ‘2 nos esforgavamnos por descobrir o confito mental ervolvido naquela cena, @ por liberar @ emogao ‘ela reprmida, Ao longo deste trabalho, descobrimos © proceso mental, caracteistion das neuroses, que chamel depos de ‘regressio". As associagbes do paclente retrocediam, a partir da ‘cona que tentavamos elucilar, até as experiéncias mais antigas, © compeliam 2 andise, que tencionava comigt 0 presente, a ocupar-se do passado. Esta regress8o nos foi conduzindo cada ‘vez mais para tras; a principio parecia nos Jevar regularmente até 8 puberdade, em seguida, fracassos @ pontos que continuavam inexplicévers levaram o trabalho analitico ainda mais para ‘ras, até 05 anos da inféncia que até entio permaneciam inacessiveis a qualquer esxécie de oxploragao, Essa diragdo regressiva tomou-se uma caracteristica importante da andlise. Era como Se a psicandlise néo pudesse explicar nenhum aspecto do presente sem se refer a algo do assado; mais ainda, que toda experiéncia patogénica implicava uma experiéncia previa que, fembora_néo patogénica em si, havia, no obstante, dotado esta ultima de sua cualidade potagénica, Entretanto, a tentagée de limitar a tengo ao fator desencadesnte conhecido, do momento, ea to forte que, mesmo em analises posteriotes, ced a ela. Na analise da paciente & quem del onome de “Dora” {19058}, realizada em 1899, tive connecimento da cena que o2asionou 2 irrupeéo da doenga daquele momento, Tentel inimeras vezes submeter essa expeiéncia & fnalica, ms nem mesmo exigéneias diretas conseguiam da paciente mais que a mesma descrigdo pobre e incompeta. So depois de ter sido fefo um longo desvio, que a levou de volta & mais tena infénca, surgiu um sontio que, 20 ser analisado, Ihe trouxe a mente detalhes daquela cena, até onto esquecidos, © assim uma compreensio © solugo do conflito do momento tormaram-se passiveis, Este Unico exemple mostra quanto desacerto havia na cugest#o acima roferida © que grau {de roaresséo cientitica representaria 0 abandon, por ela proposto, da recressao ns téeniea analitca ‘Minha primeira divergéncia com Breuer surgiu de ume questéo relativa ao mecanismo Psiguico mats apurado da histeria, Ele dava prefeténcia a uma teonia que, se poderia dizer, ainda era alé cato ponte fisioogics, tentava explicar a diviso mental nos pacientes histéricos pela fauséncia ce comunicaeao entre vanos estados meniais "estados de consciéncia’, como os chamévamas naquela epoca), e construlu endo a teoria dos “estados hipndides” cujos predutos se supuniiam penetrar na “consciéncia desperta como corpas estranios no assimilados. Eu via & questo de forma menos clentitiea, parecia discernir por toda parte tendancias @ motwvas anaiogos 205 da vida cotidiana, & encarava a propria divisdo psiquica como 0 efeito de um processo de Fepuiso que naquela 6paca denominei de “dafesa”, e depos de “repressBo™ Fiz uma tentativa efémera de permitir que 0s dois mecenismos existissem lado a lado separados um do outro, mas ‘como @ observagio me mostrava sempre uma Unica ® mesma cosa, dentro de povoo tempo minh teoria da “defesa’ passou a se opor a teoria “hipndide” de Breuer. Estou bem carto, contudo, de que esta oposigao entre os nossos pontos de vista nada teve ‘quo ver com 0 rompimento de nossas rolapes que se seguiu pouco dpois. Esto tove causas mais profundas, mas ocorreu de forms tal que de inicio no o compreendl so depots é que, através de claras indieagées, pude interpretéo. Como se sabe, Breuer disse de sua primeira famosa Paciente que o elemento de sexualidade estava surpreendentemente néo desenvolvido nela © que fem nada contribuira para 0 iquissime quadro clnico do caso. Sempre fiquel a imaginar por que os cribe0s néo ctam com mais frequéncia esta afirmagao de Breuer como argumento conta minha alegagao rferente @ ellologla sexual das neuroses, @ até noje no sel se devo considerar a ‘emissBo como prova de ttlo au de deseuido da parte deles. Quem quor que lia agora a histéria do ‘caso de Biever 4 luz dos conhecimentos adquindes nes limos vinte anos, pereebera, de Imediato, 0 simbolkso nels exstente - 2s Cobras, o enriecimento, @ paralisia do brago -€,levando ‘em conta a situago da jovem & cabeceira do pai enfermo, facimente chegara & verdadeits interpretago dos sintomas; a opiniéo do leitor sobre © papel desompanhado pela Sexualidade na ‘vida mental da pacinta sora, portanto, bem diferante daquela do seu médica. No ratamento dese ‘caso, Breuer usou, para com a pacionte, de um rapport sugestivo muito intense, que nos poder’ ‘servr como um pertete prolaupa de que chamamas hoje de “lansfarénela’. Tena agora fortes razdes para suspailar que, depois de er alviado todos os sintomas de sua cliente, Breuer deve tot descoberto por oultos ndicios © molivagdo sexual dessa transferéncia, mas que @ noturezs Universal deste fendmeno inesperado the esespou, resultando dai que, como se tvesse sido ‘surpreandido por um “falo. inconwenionte’, ele tenha interompida qualquer invastigagéo ‘subseqdente, Breuer nunca me falou isso assim, mas me disse o bastante om diferentes ocasibes para justiear esta minha reconsttugso do acontecido, Quando depois eomecel, cada vez com mais persisténcia, a chamar a atengao para a signiicagao da sexuelkdade na etilogia das neuroses, ele fo! o primero a marifestar e reago de desagrado e repudio que posteriormente ina tomar-se 0 familiar & mim, mas que naquela ocasiéo eu no tinha ainda aprendido a reconhiecar ‘como meu destine inexoravel (© surgimento da transferéncia sob forma francamente sexual - soja de afeighn ou de hostiidade -,no tratamento das neuroses, apasar de nio Ser dasejado ou induzido pelo médico nem pelo paciente, sempre me parecsu a prova mats irsfulavel de cue @ origem das forges impuisionadoras de newose esta na vida sexual, A este argumento nunca fol dado © grau de langle que ole merece, pois Se iso tivesse acontecido, as pesquisas neste campo nia daixariam henhuma outra conciuséo em aberto. No que me diz respeito, este argumanto continua 2 Sor decisive, mas decisive mesmo do que qualquer das descobertas mats espacticas do trabalho anainiea © consolo que five em face da reapdo negativa provocade, mesmo no meu ciclo de ‘amigos mais intios, pslo meu ponto do vista de uma ctologia sexual nas neuroses - pois ‘ormeut-se rapidamente um vacuo em torne de mim, foo pensamento de que estava assumindo 2 luta por uma idéia nova e origina. Mas, um belo ia, vieram-me & mente cartas lombrangas que Perturbaram esta idéia agradvel, mas qua, por outro lado, me proporcionaram uma pereepeo (insight) valosa dos processos da atividade catva humana @ da natureza dos conheernentos humanes. & idéia pela cual eu estava me tomendo responsavel de modo algum se oFiginou em mim, Fora-me comunicada por ités pessoas cujos pontos de vista tinham merecklo meu mais profunda respeto - © pia Breuer, Charcot e Chrobak, a ginecolagista da universidade, tale © mais eminente de todos os noses médieas de Viena. Esses ités homens me tinham transnitido| lum conacimento que, rigorosamente falando, oles préprios no possuiam, Dois deles, mats tarde, agaram (0 fel quardo thes lembre 0 fat; @ teresa (0 grande Charcot) provavelmente tera {feito © mesmo se me tivesse sido dado velo novamente, Mas essas 118s opinibes idénticas, que ‘cuvira sem compreender, tinham ficado adormecicas em minha mente durante anos, até que um dia despertaram sob a forma de uma descoberta aparentemente original [Um dia, quando eu era ainda um jovem médico residente, passeava com Breuer pola ‘cidade, quando se aproximou de nés um homem que evidentemente desejava felar-he com Urgéncia. Debxei-me fear para trds. Logo que Breuer fcou live, contou-me com seu jeito amistoso © instrutive que aquele homem era marido de uma paciente sua e que the touxera algumas oticias @ respato dala A esposa, acrescentou, comportava-se de maneira to peculiar em Sociedade que the fora lovads para tratamento como um caso de doenga nervosa. Conciuiu ole “Estas coisas so sempre “secrets dalcdvel” Perguntetshe assombrado 0 que queria dizer & respondeu explicando-me 0 termo alcéve (“eito conjugal’), pois no se deu conta de qua ‘extraordinario o assunto de sua declaragéio me pareci. ‘Alguns anos depois, numa recepgéo em casa de Charcot, aconteceu-me estar de pe perto do grande mestre no momento em que ele parecia estar contando Brouardel uma historia muito interessante sobre algo que me ocotrera durante o trabalho do dia, Mal ouvio inicio, mas pouco a ppouco minha atengée fo-se prendando ao que ele dizia: um jovern casal de um pais distante do Oriente -a mulher, um caso de doenga grave, o homem impotente ou excessivamente desajeitado, “Téchez donc’, owi Charcot repetindo, "8 vous assure, vous y arrivere2" Brouardel, que flava, mais balxo, deve lst extemado 0 seu espanto de que sintomas como os da esposa pudessem ter ‘sido produzidos por tais eirounsténcias, pois Charcot de subito itrompeu com grande animagao: “Mais, dans des cas pareiis, c'est toyours la chose génitale, toujours... toujours... toujours", © ‘onuzou os bragos sobre o estémago, abragando-se a si mesmo & pulando para cima ® para baixo na ponta dos pés varias vezes com a animagéio que Ihe era caracteristica. Sei que por um momento fiquel quase paralisado de assombro e disse para mim mesmno. “Mas se ele sabe disso, or que ndo diz ninca. Mas a impressio logo foi esquecida, a anatomia do oérebro e a indugio. ‘experimental de peralisias histencas absorviam todo o meu interesse. [Um ano depois, iniciara a minha carreira médica em Viena como professoradjunto de oongas nervasas, @ am ralagao a tudo 0 qua dizia respeita & etiolagia das neuroses ainda era to ignorante © mocente quanto se poderia esperar de um sluno promissor recém-saido de uma Universidade. Certo dia, recebi um recado simpatico de Chrobak, pedindo-me que visse uma cilente sua 8 quem ndo podia dedicar 0 tempo necessatio, por causa de sua recente nomeagao para 0 cargo de professor universitario. Cheguei 4 casa da cliente antas dele e verfiquel que ela sola de acessos de ansiedade sem sentido, © sO conseguia se acaimar com infotmagdes precisas ‘de onde se encontrava 0 seu medico a cada momento do dia. Quando Chrobak chegou, levousne ‘2 um canto 6 mo disse que a ansiedade da paconte era devida ao fato de que, embora estivesse casada ha dezoito anos, ainda era virgo intacta. O marido era absolutamente impotente, Nesses ‘cases, disse ole, a mécico nada podia fazer a no ser rasguardar esta infelcidade doméstica com ‘sua propria repulsedo, e resignar-se quando as pessoas dessem de ombros e dissessem dele “Nao vale nada se no pode curé-la depois de tantos anos”. A unica receita para essa doenga ‘erescentou, nos 6 bastante familar, mas no podemos prescrové-la. E a soguinte °R Penis normals dosim repetatur!™ Jamas ouvira tal receita, @ tive vontade de fazer ver ao mou protetor que eu raprovava 0 Nao revelel a paternidade lustre desta idéia escandalosa com o intuito de atribuir a outros «a tesponsabiidade dela. Dou-me conta muito bem de que uma coisa é externar uma idéia uma ou dduas vazes sob a forma de um apergu passagoiro, © outra bem diferente 6 levé-la a sério, toma-la 0 pé da letra € persistirnela, apesar das detalnes contradit6rios, até conquistar-he um lugar entre as verdades acitas, E a diferenga enire um flerte fortuto e um casamento legal com todas os seus deveres & difcudades. “Epousor les idées do.” no & uma figura de linguagem pouco comum, pelo menos em francés. Entre 0s outros novos fatores que foram acrescontados 20 processo catéitico como resultado de meu trabalho © que o transformou em psicandlise, posso mencionar em particular @ teoria da represséio e da resisténcia, 0 reconhecimento da sexuaidade infant ¢ a interpretagso cexploragao de sonhos como fonte de conttecimento do inconsciente. ‘A teoria da repressio sem divide alguma ocorreu-me independentemente de qualquer ‘outra fonte; no sei de nenhuma impresstio externa que me pudesse Ila sugerido, @ por muito tempo imaginei que fosse inteiramente original, at6 que Otto Rank (19112) nos mostrou um trecho {da obra de Schopenhauer World as Will and idea na qual oflésofo procura dar uma explicagéo da Joucura. © que ele diz scbre a lula contra @ aceitagao da parte dolorosa da realidade coincide to lexatamente com 0 meu conceito de repressio que, mais uma vez, devo a chance de fazer uma descaberta 20 fato de 180 sor uma pessoa muito lida. Entretanto, outros leram o trecho © ppassaram por ele sem fazer essa descoberta & talvez © mesmo tivesse acontecido @ mim se na Juventude tivesse tido mais gosto pels letura de obras floséficas. Em anos posteriores, neguel a ‘mim mesmo 0 enorme prazer da letura das obras de Nietzsche, com o propdsite deliberado de néo projudicar, com qualquer espécio de idéias antecipatérias, a olaboragao das impresses recebidas nha psicandlise. Tive, pottanto, de me preparar - & com satistagéo - para renunciar a qualquer pretenséo de prioridads nos muitos casos em que a investigago psicanalltica laboriasa pode ‘apenas confirmar as verdades que 0 fildsofo reconheceu por intuiglo, ‘A tworia da repressdo € a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicandilise. E a parte meis essencial dela ¢ todavia nada mats é sendo a formula tebrica de um {endmeno que pode ser observado quantas vezes se desejar se se empreende a andlise de um neurbtico sem recorrer a hipnose. Em tals casos encontra-se uma resisténoia que se ope 20, trabalho da analise e, a fm de frusté-o, alega falha de memoria. © uso da hipnose ocultava essa resisténcia, por conseguinte, a historia da psicandlise propriamente clita sO comega com a nova tecnica que dispensa a hipnose. A consideragao teérica, decotrente da coincidéncia dessa Fesisténeia com uma amrésia, conduz inovitavelmente 90 principio da. stividade mental inconsciente, pecular € fsicandiise, © que também a distingue muito nitidamente das ‘especulagdes Masoricas em toro do inconsclente. Assim talvez s@ possa dizer que a teoria da pscandlise ¢ uma tentativa de explicar dos fatos surpreendentas & inesperades que se observam ‘sempre que se tena rementar 05 sinlomas de um neurotico @ suas fontes no passado: a ‘ransferéncia e @ resisténcia, Qualquer iiha de investigago que reconhega esses dots fatos © os ‘tome come ponto de partida de seu trabalho tem o direilo de chamar-se psicandlise, mesmo que Cchegue resultados diferentes dos meus. Mas quem quer que aborde outros aspectos do problema, evitando essas duas hipéteses, dficimente podera escapar & acusago de apropriagdo indébia por tentativa de imkaeo, se insist em chamar-se a si proprio de psicanclista, Eu me ‘oporia com maior énfase a quem pracurasse colocar a teoria da repressfio € da resistencia entre ‘as promiscas da psicandlise om vez de coloeé-las entre as suas deccobertae. Essas promissas, de atureza psicoldgica © biolégica goral, na vordado existom © seria util consideré-as om outa ‘ocasio; mas a teoria da repressdo é um produto do trabalho psicanalitico, uma inferéncia teérica legitimamente extralda de inumeras observagtes. Outro produto desse espécie fol @ hipétese da sexualidade infanti. Isto, porém, fol feto rhuma data muito ulterior. Nos prmeiros dias da investigagao experimental pola andlise, no se Ppensou em tal coisa. De inicio, observou-se apenas que os efeitos das experiéncias presentes tinnam de sor remontados a algo no passado. Mas os investigadores goralmente encontram mais, do que procuram. Fomos puxados cada vez mals para 0 pasado; espardvamos poder parar na puberdad, periado ac qual se atrisuitradicionalmente o despertar dos impulses sexuais. Mas em ‘vo; as pistas conduziam airda mais para tras, @ inféncia @ aos sous primeiras anos. No caminho, tivemos de superar uma idBia errada que poderia ter sido quase fatal para a nova ciéncia, Infuenciados pelo ponte de vista de Charcot quanto 2 onigem traumética da histeria, estavamnos de pronto inclinados a aceitar como verdadeiras © etiologicamente importantes as declarages dos pacientes em que airibuiam seus sintomas a expenéncias sexuais passivas nos primeiros anos da inféncia ~em outras palavras, & Sedugo. Quando essa etiologia se desmoronou sob 0 peso de sua propria improbablidade © ceniradigao em oircunstancias defintivaments vatiicavels, ioamos, de Inicio, desnorteados. A analise nos linha levado ate esses traumas sexual infantis pelo camino certo €, no entanto, eles no eram verdadeiros. Deixamos de pisar em terra fimme. Nessa época, ‘estive @ ponto de desistir par completo do trabalho, exatamente como meu estimado antecessor, Joseph Breuer, quando fez sua descoberta indesejavel. Talvez tenha perseverado apenas porque | no tina outra escotha © 180 podia entéo comevar uma outra coisa. Por fim, veio a rellextio de ‘que, atinal d= contas, néo se tem 0 direito de desesperar por ndo ver confimadas as proprias ‘expectativas; deve-se fazer ima revisdo dessas expectativas. Se os pacientes histéricos remontam ‘seus sintomas e traumas que so fiticios, entao 0 fato novo que surge & precisamente que eles, ‘riam fais cenas na fantasia, © e3sa realidade psiquiea precisa ser fevada em conta ao lado da realidade pratica. Essa reflexo foi logo seguida pela descoberta de que essas_ faniasias destinaverr-se a enoobrir @ atividade auto-erdtica dos primsiros anos de inféncia, embelezé-a & elevéra 8 um plano mais alto. E agora, de detrés das fantasies, toda a gama da vida sexual da crianga vinta a uz ‘Com a atividade sexual dos primeiros anos de Infancia também foi reconhecida constituigdo herdada do incividuo. A disposigde © a experéncia estdo aqui ligadas numa unidede fiolégica indissolivel, pois a clsposipgo exagera impress6es - que de outra forma teriam sido. infeiramento comuns e no toriam nenhum afeite-, de modo a transformélas em traumas quo do rmargem a astimulos @ fixages: por outro lado, as exporiéncias despertam fatares na disposigao que, sem olas, poderiam ter ficado adomecidos por muito tempo e talvez nunca se deservolvessem. Abraham (1907) dou a ultima palavra sobre a questio da cticlogia traumatica ‘quando ressaltou que a constituigdo sexual peculiar as criangas 6 calettada procisamenta para provocar axperiéncias sexusis de ume natureza particular, ou sej, traumas. No comego, minas deciarapdes sobte @ sexualidade infanll basearam-se quase fexclusivamente nos achados, da andlise de adultos, que remontavam ao pasado. N&O tive nnenhuma oportunidade de fazer observagées diretas em criangas. Foi, porlanto, uma grande vitoria quando, anos depois, tomou-se possivel confirmar quase todas as minhas dedugdes através da ‘ebservagéo direta @ da analise de eriangas muito pequenas - vitoria qua foi perdenco a sua ‘magnituds & medida que pouco a pouco compreendiamos que a natureza da descoberta era tal ‘que na realidade deveriamos envergonher-nos de ter tide de fazé-a. Quanto mais se levassem adiante 3s observagses em criangas, mais evidentes os fetos se tomavem; porém o mais surpreendente de tudo era constatar que tivesse havido tanta preocupagioem menosprezé-os, Essa conviopdo da existéncia e da importancia da sexvalidade infantil, entretanto, s6 pode ser obtida, pelo métado da andlise, partindo-se dos sintomas e peculartlades dos neuréticos ‘acompanhando-os até suas fontes times, cuja descoberta entéo expica o que ha nelas de ‘explicdve @ permite que se modifique o que ha de modificavel Compreenda que se possa chonar a resultados diferentes se, como faz recentemente C. G. Jung, se forma primoiro uma concepeso teérica da natureza do insti sexual procura-se eto expliar @ vida das crangas a partir dessa base. Uma concepgéo dessa natureza sera forgosamante uma escolha arbitaria ou dependente de consideragdes irdevantes, @ comme 0 isco. de evidenciar-se inadequada ao campo a que se esta procurando aplicé-ia E verdad que também ‘9 método analitico leva a certas diiculdades e obscuridades finals no tocante A sexualidade © & ‘sua relag30 com a vida total do individuo. Mas esses problemas no podem ser eliminados pela lespeculasdo, devem aguardar solueao através de outras observagdes ov mediante observagies fem outros campes. Pouco preciso dizer sobre a interprotagao de sonhos. Suraiu como os prendncios da inovagio técnica que eu adotara quanda, apis um vago pressentimenta, resolv substitu a hipnose pela live associagio. Minha busca de conhecimentes no se éiigta, de inieia, para a ‘ompreerisio dos sonhos. Nao sei de nenhuma influéneia extema que tivesse atraido meu Interesse para esse assunto ou que me tivesse inspirado qualquer expectativa valiosa. Antes do Breuer © eu nos separarmos, apenas tinha tido tempo de comunicar-ine, © numa Unica frase, que eu, Aquela altura, estava sabendo como traduzi 05 sonhos. Visto ter sido assim a descobert, cconclul-se que © simbolismo na linguagem dos sonhos foi quase a ultima coisa a tomar-se lacessivel a mim, pois as associagtes da pessoa que sonha nos ajudam muito pouco a ‘compreender simbolos. Como tenho © habito de estudar sempre as préprias coisas antes de pprocurar informagées sobre elas em livros, pude chegar eu mesmo ao simbolismo das sonhos antes de ser a ela levada pola obra de Schemer sobre o assunto [1861]. Sé depois é que vim a ~apreciar 8m sua plena extenséo essa modalidade de expresséo dos sonhos. Isso ooorreu em part por influéncia das obras de Stekel, cujos primeiros trabalhos tém muito mérito, mas que depois se desencaminhou totalmente. A estreita ligago enlre a inlerpretarao psicanalitca das sonhos © a arte de interpreté-fos segundo a priicatida em to alta conta na antigtidade, sb tomourse clara ppara mim muito depots. Nas tarde, descobri a caracteristica essencial © @ parte mais importante da minha teoria dos sonhos, ou seja, que a distorgo dos sonhios é consequéncia de um conflito Jntemo, uma aspécie de dasanestidads intema - num autor que embora ignorando @ medicina, nao Janorava a flosofia, 0 famoso engenteito J. Popper. que publicou stia Phantasien einer Realsten [1899] sob o nome de Lynkes. A Intorprotago de sonhos fei para mim um alivio © um apoio naquoles arduos primeiros ‘anos da andlise, quando tive de dominar a técnica, os fendmenos clinicos ¢ a terapautica das neuroses, tudo a0 mesmo tempo. Naquele periado fiquei completamente isolado ®, no lemaranhado de problemas € acumulo de diiculdades, muitas vezes tive medo de me desorientar & do perder a confianga em mim mesma. A compravagao de minha hipétese de que uma neurase tinha de tomar-se inteigive através da andlise se arrastava, em muitos pacientes, por um periodo de tempo desesperador, mas 0s sonhos desses pacientes, que poderiam ser considerados andlogos aos seus sintomas quase sempre confirmavam a hipétese. Foi o meu éxito nessa dirago que me permit perseverar. Vem dessa época o habéo que ‘adquiri de aferir a medida da compreenséo de um psicblogo pela sua atitude em face da Interprotaga de sonhos; @ tanho observado com satisfagdo que a maior parte dos adversatios da psicandlise evitam esse carrpo por completo, ou entéo, revelam uma flagrant inabilidade quando tentam lidar com ele. Além do mais; logo me dei conta da necessidade de levar a feito uma ‘uto-analise, € 0 fiz com a ajuda de uma série de meus proprios sonfios que me conduziram de volta 2 todos 06 fatos da minha inféncia, sendo ainda hoje de opinigo que essa espécie de andiiso, talvez sofa 0 suficionte para uma pessoa que sonhe com frequéncia 6 no soja muito anormal Com este relato da historia do desenvolvimento da psicandlise oreio ter mostrado, melhor do que com uma descrigéa sistematica, 0 qua la 6. De inicio no percebi a natureza peculiar do {que descobrira. Sem hesitar,sacrifiquei minha crasoante popularidada camo médico, @ rastringi o ‘nimero de clientes nas minhas horas de consulta, para poder proveder a uma investigagio sistematica dos fatores sexunis em jogo na causagdo das neuroses de meus pacientes; e isso me interosse para esse assunto ou que me fvesse insprado qualquer expectaiva valiosa. Antes do Breuer ¢ eu nos separemos, apenas tnha tdo tempo de comunicar-he, @ numa dca fase, que 4, dquela altura, estava ssbendo como traduzir 03 sonhos. Visto ter sido essim a descoberto, concise que © simbolismo na inguagom dos sonhos fei quase @ ultima coisa a tomar-so acessivel a mim, pois as associages da pessoa que sonia nos ajudam muito pouco a ccompreender simbolos. Como tenho o habito de estudar sempre as proprias coisas antes de procurarinformagées sobre elas om furos, pude chogar eu mosmo aa simbolisma dos sonhos antes de ser a ele levado pola obra de Schemer sobre o assunto [1861]. $6 depois 6 que vim a apreciar em sua plena extenséo essa modalidade de expressto dos sonhos. Isso ocorreu em pate por inluéncia das obras de Stekel, culos prmeros trabalhos tém muito mérilo, mas que depos se osencaminhou totalmente. A estrita igacso eno a intorpretagdo psicanaltica dos sonhos @ a ate de interpret-ios segundo a prtica tda em téo alta conta na antigdidade, 6 tomou-se cara para mim muito depois. Mai tarde, descobn a caracterstca essencial e a parte mais importante da minha tocria dos sonhos, cu seja, que a distargSo dos sonhos 6 consequéncia do-um confito invemo, uma espécie de desonestitage intema - rum autor que embora ignorando @ medicna, no ‘gnorava a fosofia,@ famoso engentieo J. Popper, que publiou sua Phantasien einer Reatisten [1809] sob o nome de Lynkes ‘A intrpretago de sonhos ft para mim um alivio ® um apoio naqueles duos primeros fnos da andlise, quando tive de dominar a técnica, 0s fendmenos clinics © a terapéutica das rouroses, tudo 30 mesmo tempo. Naqusle periodo fquei completamente isclado ©, no ‘emaranhado de problemas ¢ actmulo de dificuldades, mutas vazes tive modo do me desovientar @ de perder a contianga em mim mesmo. A comprovagio de minha hipdtese de que uma neurose tinha de tomar-seinteligivel através da andise so arrastava, am muitas pacientes, por um periodo <4 tempo desesperador, mas 03 sonfios desses pacientes, que poderiam ser considerados andlogos aos seus sintomas,quase sempre confirmavam a hipéese. Fol o meu éxito nessa direpée que me permit perseverar. Vem dessa época @ habto que adquir de aforir a medida da comprosnséo de um psicdloga pola sua atiude om faco da interpretagéo de sontos, tenho observado com salistagdo que @ maior parte dos adverséios da Psicandlse evtam esse campo por completo, ou eatéo, revslam uma flagrante inabiidade quando tentam lidar com ele. Além do mais; logo me dei conta da necessidade de lovar a ofeto uma auo-anaise, @ 0 12 com @ auida de uma sene de meus propnes Sonos que me conduztam de ‘olla todos 0s fos da mia infincia, sendo ainda hoje de opnio que essa espécie de ondlise {alvaz sea osufcionte para uma pessoa que sone com frequéncia e no soja muito anormal ‘Com ests relato da *istra do desenvolvimento da psicandlse creo ter mostrado, melhor do que com uma descrgSo sistematica, o que ela €. De inicio néo percebi a natureza peculiar do quo descobrira. Sem hestar, sacifiquei minha crescenta popularidade coma médi, @ rastringi 0 numero de clentes nas mnhas horas de consulta, para poder proveder a uma investigagdo Sistemialica dos fatores sextnis em jogo na causagao das neuroses de meus pacientes ¢ isso m= {rouxe um grande namero de fatos novos que fnalmente confrmavam minha convicya0 quanto & Importanoia pratica do fetor sexual. Ingenuamente dinigme a uma reuniao da Sociedede de Psiquiatria e Newologia de Viena, presidida entiio por Krafft-Ebing (cf Freud, 18960), na esperanga d® que as perdas materiais que voluntariamente soir fossem compensedas pelo Interesse © reconhecimento dos meus colegas. Considerava minhas descobertas contribuigdes Hnotmais @ ciéncia e esperava que fossem recebidas com esse mesmo espito. Mas 0 siéncio provocado pelas minhas comunicagdes, © vazio que se formou em tomo de mim, as insinuagdes que me foram drigidas, pouco @ pouco me fzeram compreender que as afirmagées sabre papel {da sexualidade na etiologia das neuroses néo podem centar com 0 mesma tipo de tratements dado 20 comum das comunicages. Compreendi que daquele momento em diante eu passara s fazer parte do grupo daqueles que “perturbaram o sono do mundo", como diz Hebbel e que nao roderia contar com cbjetividade e tolerdncia. Entretanto, desde que minha conviceéo quanto & exatidso geral de minhas observagses © conclusées era cada vez maior, € que a confianga no meu proprio |ulgamento e minha coragem moral néo era exatamente © que se pode chamar de pequena, 0 resultado da situago néo poderia ser posto em divida. Dispus‘me a acreditar que tinha tide @ sorte de descobrir falos e ligagdes particulatmente importantes, e resolv acetar o destino que as vvazes acompanha essas dascobertas. Imacinai o futuro da sequinte forma: - 0 éxito terapéutico do nave métado provavemente garantiia a minha subsisténcia, mas a ciéncia me ignoraria por completo enquanto eu vivesse; décadas depois, alguém infaivelmonte chogaria aos mesmos resultados - para os quais néo ora ainda chegade a hora -, conseguiria que eles fossem reconhecidos © me honraria como um precursor eujp fracasso fora inevitavel. Enquanto isso, como Robinson Crusoé, eu me instalava ‘com maior canforto possivel em minha ia deserts. Quando lango um har retrospective aqueles ‘anos soltaries, lange das press6as e confusties de hoje, pareca-me uma gloriasa épeca de horaisma. Mau “splendid isolation’ na deicou de ter suas vantagens @ encantos. Nao tinha obrigagao de ler pubicagées nem de ouvir adversérios mal informados; no estava sufsito & Iinfluéncia de qualquer setor; no havia nada a me apressar. Aprendi a controlar as tendincias especuiativas © @ seguir o conssiho néo esquscido de meu mestie, Charcot olhar as mesmas coisas repetidas vezes até que elas comecen) a falar por si mesmas. Minhas publicagSes, fara as quais encontil editor, no sem um pouco de difculdade, sempre podiam néo somente alrasar-me ‘muito em relagée 203 meus conhecimentos mas também serem adiadas quando eu quisesse, desde que nio havia nentiuma ‘priondade” duvidosa a ser defendida. A Inteypretagdio de Santos, or sixemplo, fol cancluda, no essencial, no inicio de 1896 mas sé fol esenita em defintiva ne verso do 1809. A andlise de "Dora" terminou no fim de 1899 [1900]; a historia clinica fol escrita nas duas semanas seguintes, mas s6 foi publicada em 1905. Enquano isso, minhas obras nfo constavarm das resenhas criticas das revistas médicas, ou, quando excepcionalmente constavam, era para serem rechagades com expresses desdenhoses ou de superioridade —compossiva. Ccasionalmente, um colega fazia referéncia a mim em uma de suas publicagbes - sempre muito courta @ nunca lisoneira - em que eram usadas palavras como “excéntsco’, “extremist, ou “muto estranho". Uma vez, um assistente da clinica de Viena, em cuja Universidade eu dava ciclos de cconferéncias pedlu-me permisséo para frequentar o curso. Prastava muita atengao, mas no dizia nada, depots da ultima conferencia, oferecew-se pera acompanhar-me. Enquanto eaminhavamos, dlisse-me que, com 0 conhesimento de seu chefe, escrevera um livro combatendo os meus pontos de vista; lamentava muito, contudo, no haver antes se informado melhor acerca dos mesmos através de minhas conferéncias, pois nesse caso tera escrito 0 livvo de maneira bem diferente CChegara a perguntar na clinica se néo seria melhor ler antes A Interpretagdo de Sanhos, mas ‘aconselharam-no a néo fazilo - no valia o esforgo. Entéa ele préprio camparou a estrutura da minha teona, até onde a compreendia, com a da Igteja Cetdlica no tocante & eonsisténcia interna. No interesse da salvago da sua alma, acrodito quo essa observagéo implicava carta dase da simpatia, Mas ele concluu dizendo que era tarde demats para alterar qualquer coisa ne lo, visto {que se achava no prelo. Ndo julgou necesséri fazer posteriormente nenhuma confisséo publica <éa mudanga de seus pons de vista em relagdo & psicandise, prefeiu, na qualidade de critco regular do uma revista mécica, acompanhar 0 dasanvalvimanta desse assunto com comentarios sreverentes. ‘Minha suscetiblidade pessoal tomourse emotada, durante esses anos, para vantagem minha. $6 néo me tome’ uma pessoa amargurada por uma circunsténcia que nem sempre esta presente para ajudar 0s descobridores soltérios. Eles sto, em geral, atormentatos pela necessidade de explicar a falta de simpatio ou a avers de seus contemporéneos e sentem essa alitude como uma contradggo angustianto a sequranca de suas proprias conviegdes. Eu no precisava me sentir assim, pois a teoria psicanalitica me capacteva a compreender a titude de meus contemporéneos @ véla como uma conseqiéncia natural das premissas naliteas fundamentals. Se era verdede que 0 conjunto de fatos que eu descobri foram mantidos fora do ‘conhecimento dos proprios pacientes por resistencias intemas de natureza emocional,enlao essas resisténcias forgasamente apareceriam também em pessoas sadias logo que alguma fonte externa 2 levasse a um conftonto cam 0 que fra reprimido. Ndo era de surpreender que fossem capazes 4 usticar essa rjeigo de minhas idéias com razGesintslectuais, ombora a azo fosse, de fato, {e origem emocional. A mesma coisa aconteceu seguidamente com pacientes; 0s arguments que ‘presentavam eram os mesmos e néo muito brihantes. Nas palavras de Falstaff, os argumentos 80 ‘to abundantes quarvo as amoras siNvestres.” A nica diferenga era que com pacientes estavamos em condigdes de pressioné-os a fim de mduzios a perceber (insight) suas resistencias «© supordlas, 20 passo que dando com pessoas protensamente sadias nfo contavamos com essa vantagem. Como compelitessas pessoas sadias examinarem 0 assunto com espino fio & ‘centficamente objetivo constuia um problema insolivel que era melhor deixar que o tempo clucidasse. Na historia da céncia, podemos ver elaramente que, com freqliéncia, proposigbes que 4e inicio $6 provocam conradigéo, posteriormente vém a ser acetas, embora néo tenham sido ‘presentadas novas provas des mesmes. Entretanto, ninguém poderia esperar que, durante os anos em que eu soziho Tepresentava a psicandlise, pudesse ter desenwvolvido um respeito especial pela opiniio do mundo ‘ou qualquer tendéncia & acomodagdo intelectual

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