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ECC CAA Add, INTRODUGAO AO DIREITO SINDICAL E COLETIVO DO TRABALHO ASPECTOS HISTORICOS DO DIREITO SINDICAL — COLETIVO DO TRABALHO Entre os fatores de a tividad 4o demonstratives hist6ricos, como o mais relevante. S atividade seria 0 fator que mais profundos lagos cria bem mais envolventes do uw comum t 40, dias Vianna, por exemplo, shitinagao social, 0 exercicio de que, segundo sua perspectiva, a entre os individuos. Chega ele a asseverar que aqueles decorrentes da localidade ou mesmo do parentesco, ¢ justifica que “0 exercicio almente de uma profissao, cria caracteristicas das quais 0 individue tie fais liames serian de uma atividade, ¢ espe jamais se liberta ¢ que até transmite a seus descendentes. E isto aconteceu, nas €pocas mais as suas fases de formagao social, unidos em grupos ou castas. primitivas, nos povos ainda guerreiros, sacerdotes, pastores” As afirmativas ora expendidas reportam este estudo a diversos fatos da vida laboral: a coalizao dos trabathadores na Antiguidade; a fuga dos servos das areas dominadas pelos se- } dos trabalhadores egressos dos campos em corporaghes de offci essas situ- nhores da terra; a ur ainda, a reagao desses trabalhadores contra os mestres das corporagdes. Em todas goes hist6ricas, a unido, produzida pela necessidade de defesa contra as adversidades comuns, vevelou-se como elemento de destaque para a superagio dos infortinios. A solidariedade, tim todas essas situagées, foi (¢ sempre sera) o remédio social para o enfrentamento da opressdo. E absolutamente evidente que ~individuos colocados em condigdes de vida seme- Ihantes tendem sempre ao associativismo, ¢ com tanto mais forga atrativa quanto mais precérias sejam suas condigies de existéncia” i A revolta dos trabalhadores contra oy mestt onimero de anos da aprendizagem, congelavam 0s s: motiyou 0 abandono das cidades em busca de do proprio Estado foram s 1a conscientizagao da necessid. livte exercicio de suas atividades profissionais. tos politicos, es, que, na ambigio de enriquecer, estendiam alarios ¢ impediam a abertura de novas novas oportunidades de servigo. entidas pelos trabalhadores ade de huta ¢ de uniso olicinas, Reagoes impeditivas das corporagies € dissidentes, tendo sido elas produtoras d ecimento do direito ao ocorreram num tempo de revisdo de concei para alcangar 0 reconh igualdade ¢ de liberdade, Historicamente @ Esses acontecimentos, entretanto, econdmicos € sociais, baseados num desejo de se Yi sh) Sle 1 SOSSEKIND, Arnaldo; MARANHAO, Délio; VIANNA, Segactas, Instiruigdes de direito do trabalho. 12. ed. S80, Paulo: LTr, 1991, p, 959. 2 GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson. Curso de direito do trabalho, 16. € p.2. .d. Rio de Janeiro: Forense, 2002, corporagdes! VIVEU, tha segunda metade do s€culo xy yy, munca de trabalho, que VAEMEE sydaeita FevOlIa®. ta do process “revolticion He XVI Fol operada ania forges Jas entdo abolidas core uma ve No prime’ partir de mieados de s¢ anais, mutitos detes fugit trabahayan encase con I larga escala por maquina Lv induistia t€stiL, que se expandia 10” industrial ueorride M4 Gra-Bretanha 1 dos js trabalhadores para as Unidades fabris, Se gLIHEANN Competir COM OS similares ir dos propesitos domes: ymiomnen Dassay te Aquicles que produzides emt ar trabathar por isso tiverar de tieos para tel \ opgio pelo desenvolvimento de atividades nas fabrics, ante a impossibilidade de competigan cont estas, produit consequentemente, ¢ fendmeno da urbanizagao da so- Giedade. assim considerada a concentiagan de massas operarias €m torno dos estabeleci Mentos fabris em busca da renda € da nova forma de vida eoletivizada, situagoes proporcio haviay pela recenn-estabelecida dinamica da atividade econdmica. Esse lendmeno, consoante o autorizado dizer do Professor Rodrigues Pinto, “ativou naturalmente a comunicagao enue Os trabalhadores, que thes faltara até entao, para se capacitarem de quanto cram iguais € injustos os solrimentos impostoy pela espoliagdo desentreada de sua energia pessoal. A pos sibilidade de discuss ampla de problemas comuns lhes despertou a certeza da irremediavel debilidade individual para opor-se a tirania patronal ¢ eliminar Ihe as consequéncias. Mas, 20 mesmo tempo, revelou as possibilidades de contronto da forga do numero com o poder econdmico das empresas. [...]- O sindicalismo encampou a bandeira da luta individual dos primeitos operarios ingleses e teve suficiente vigor para arrancar 0 Poder de sua letargia diante do complexo de problemas da relacao de trabalho, sintetizados na expressao tornada classica da questao social” A conscientizacao coletiva, despertada pelo instinto de defesa contra os inimigos comuns, gerou um processo revoluciondrio em segundo plano. Era como se emergisse lentamente dos processos revolucionarios politicas, sociais e econdmicos da época outta revolugao, pro- movida desta vez pelo proletariado contra a burguesia € que se ligava, intimamente, a uma ideologia socialista. Importante, assim, ¢ a reflexao do Professor Pinho Pedreira, segundo o qual “a maquina concentrou em torno dela os operdtios. A convivéncia entre eles resultou em que se compenctrassem dos problemas ¢ interesses comuns, que se sentissem solidérios ns Com 0s outros, Nasceu, assim, a classe operaria, nascimento para o qual, conforme a aguda observagio de Gallart Folch, coniribuiu © aparecimento de um novo fator psicol6gico na vida publica, o espirito € a consciéncia de classe, © esse espirito, alentando umas vezes © ataque e outras a delesa, se encarna nas organizagoes profissionais, isto é, no sindicato”’. Tratava-se de algo bem mais lancinante do que ligas de resistencia de trabalhadores organizados contra os mestres das corporagdes. Surgia, conlorme bem ressaltou Mauro Re- gi movimento em que convergiam duas tendéncias: a solidarista, que levou valores de origem camponesa, ainda predominantes na classe operaria, para o mundo industrial, © a revolucionaria, que viu nele um instrumento de reapropriagdo dos meios de produ de que os trabalhadores foram privados'. A liberdade, um dos fundamentos basicos dos movimentos revoluciondries havides na segunda metade do século XVII, criou @ cidadao como categoria racional na ordenagao politica da sociedade, Essa translormagao de stats, entretanto, revelou-se mera abstragao, 3 Em 17 de marco de 1791, a Assembleia da Revolt es, suprimindo todas as matty e juvardes em 17 de june a Lei Chapelier dava o golpe de morte nas corpo rages, come atentatérias aos direitos do hom 0 Frantcesa aprovava um projeto do Visconde de Novi edo cidadao 4 PINTO, José Augusto Rodrigues. O trabalho como valor. Revista Er 1-64. p. 1489, 2000, 5 PINHO PEDREIRA, Luiz de. Principiologia de divvito do trabalho, Salvador: Gratica Conttaste, 1996, p. 27 6 REGINE, Marino, Sindicalisman, In: Diiondeio de politica, 11. eu. Brasilia: UnB, 1998; ¥. 2, p. 1153 —874—- EOS SEODEREEEEELEL na Medida em que eram evidentes as concentrages de massas opersiias sob o dominio do capital empregado nas #°NEeS exploragées com unidade de comando Abandonado pelo Estado, que apenas o considerava teoricamente livre, 0 trabalhador ndo passava de umn simples meio de produgao, conforme advertiu Segadas Vianna, com ar timo na obra As 1048 diretrizes da poittica social, de Francisco José de Oliveira Vianna: “O trabalhador, na st dignidade fundamental de pessoa humana, nao interessava ou ndo preocupava os cheles industriais daquele periodo. Bra a duragao do trabalho levada além do maximo da resistencia do individuo. Os salatios, que nao tinham, como hoje, a barreira dos minimos vitais, baixavam até onde a Concorréncia do mercado de bragos permitia que cles se aviltassem, Embolsando o trabalhador regularmente das prestagdes devidas pelo seu tra- balho, julgavam os patroes que. assim procedendo, estavam cumprindo integralmente os seus deveres para com esse colaborador principal da sua fortuna crescente. [...]- lam-se formando, assim, como resultado dessa exploragio sistematizada e organizada, duas classes de interesses antag6nicos: a proletaria e a capitalista, A primeira, mais numerosa, nao dis- punha de poder, mesmo porque, no regime em que © Estado apenas assegurava, no plano te6rico, a Igualdade e a Liberdade, a classe capitalista, pela forga do dinheiro, pela submissao, pela fome, impunha ao proletariado a orientagio que tinha de ser seguida. [...]. Criara-se 0 contraste flagrante ¢ violento entre o supermundo dos ricos ¢ 0 inframundo dos pobres No seu supermundo, em monopélio absoluto, os ricos avocavam para si todos os favo~ res € todas as benesses da civilizagao ¢ da cultura: a opuleneia e as comodidades dos palacios, 2 fartura transbordante das uchariay, as galas € os encantos da sociabilidade € do mundanis- mo, as honrarias € os ouropéis das magistraturas do Estado. Em suma: a satide, 0 repouso, 4 tranquilidade, a paz, o triunfo, a seguranga do tuturo para si € para 0s seus. No seu inframundo repululava a populagdo operaria: era toda uma ralé latigada, sordi- da, andrajosa, esgotada pelo trabalho ¢ pela subalimentacao; inteiramente afastada das magistraturas do Estado; vivendo em mansardas escuras, carecida dos recursos mais elemen. tares de higienc individual e coletiva: oprimida pela deficiéncia dos salarios; angustiada pela instabilidade do emprego: atormentada pela inseguranga do futuro, proprio ¢ da prol tropiada pelos acidentes sem reparagao; abatida pela miséria sem socorro; torturada na de- sesperanga da invalidez da velhice sem pao, sem abrigo, sem amparo. $6 a caridade priva da, o impulso generoso de algumas almas piedosas, sensiveis a essa miséria imensa, ousava alravessar as fronteiras deste inframundo, 0s circulos tenebrosos deste novo Inferno, para levar, aqui e ali, espagada e desordenadamente, 0 lenitivo das esmolas, quero dizer: 0 socor- 10 aleat6rio de uma assisténcia insuficiente””. Esse retrato, que fidelissimamente demonstra o cendrio de desigualdade entre operirios e donos de fabrica’, funcionou como gatitho capaz.de disparar o conflito industrial. No plano material existia, obviamente, o conflito, mas nao eram produzidas formulas para contempo tizd-lo’. Vigiam apenas as regras da forca patronal, que sobreviviam em decorréncia do es- 12. ed. Sa0 7 SUSSEKIND, Amaldo; MARANHAO, Délio; VIANNA, Segadas. nsttwigdes de direto do tra Paulo: Lr, 1991, p. 34-36. 8 Quanto ao cendrio de exploragdo humana da Revolugao Industrial, sio recomendados os seguintes filmes: a Daens, um Grito de Justiga (Franga/Bélgica/Holanda, 1992). Diregdo: Stijin Coning. Filme sobre os movimen- tos operarios do final do século XIX. Destaca a exploragao do trabalho industrial e © papel da Igreja com sua douttina social Rerum Novaruny; b) Germinal (Eranga, 1993). Diregio: Claude Berri, Refere-se ao processo de gestacio e maturagao de movimentos grevisias ¢ de uma atitude mais ofensiva por parte ds trabalhadores das minas de carvao do século XIX na Franga em relagdo & exploragio de seus patrOes: nesse period alguns paises passavam a integrar o seleto conjunto de nagées industrializadas ao lado da pioneira Inglaterra, entre 08 quais a Franca, paleo das agdes descritas no romance ¢ representadas no filme. 9. Diz-se “contemporizagao do contlito” porque, na sensata observacio de Gianfranco Pasquino, sua supres sio € hipétese relativamente rara, porque muito dificilmente se consegue alcancar a eliminagao das causas —875-

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