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parecem ter dificuldade em refletr sobre as mudangas extensas e profundas que ssa nova epistemologia ver requerer também em sua rca cho que, infelizmente, aquilo que disse Glasersfeld (199 ta de segunda ordem —e que i cite na Tntrodugo, cont ua vido, dez unos depois: “até hoje, somente poucos tomaram plena conscién- cia de toda a extensio corer dos tims cem anos” (p. 18) 146 | Papi Estos earner PENSANDO O PENSAMENTO SISTEMICO COMO O NOVO PARADIGMA DA CIENCIA OCIENTISTANOVO-PARADIGMATICO. Desde que afirmei pela primeira vez, em 1995, que vejo “o pensamenton sistémico como 0 novo paradiigma da cigncia” (Esteves de Vasconcellos 1995a), tenho ouvido muitas vezes a pergunta: “Como assim? Por que o pensamento sistgmico & 0 novo paradigma da eiéncia?" Interessante que logo no ano seguinte, Capra (1936) publicou A refa da vida. Uma nova compreenséo cientfica dos sistemas vos. Algumas pessoas ‘eto comentaram comigo: “Vocé viu? Capra também esté falando de um nove paradigma sistémico”. Mais adiante vou focalizar as diferengas que distingo en- tre as colocagdes dele © a proposta que estou desenvotvendo aqui ‘Tendo acompanhado comigo a descrigdo que fiz do paradigma da ciéneia novo-paradigmética emergente, voc® jé pode ter percebido que hé duas manciras de responder & pergunta que me fazem: porque pensar sistemicamente & pensar a ccomplexidade, a instabilidade e a intersubjetividade; ou porque os pressupostos ‘da complexidade, da instabilidade e da intersubjetividade 2onstituem em conjun- fouma visio de mundo sistémica, De fato,ndo sZo mais de que duas formulagies dda mesma resposta Para adotar uma organizagao mais logica deste texto, ditadu por uma I6- gica ortodoxa, da ciéncia tradicional, talvez devesse comeyar este Capitulo coma Pensamentosisémico| 147 apresentagio da nogio de sistema. Ent do paradigma de ciéncia, Penso q\ ‘a ideia de que “o con sistema visto de mundo que contempla as t femporinea, 6 novo-paradigi por deixar essa tarefa para ccontinuando aqui mais um pouco com por agora, basta-nos tomar de Wilden (1972) to de sistema se refere aos modos em que aconte as relagoes entre as relagoes \€e que “o que vemos como sistema & sim- (p. 13). A nogiio de Hoje, quando falo de pen -0, quando vive ~ de ter assumido para si esses novos pressupostos, oterapeuta de fami ‘Trata-se evidentemente de alguém que mudou seu paradigms, wo Internacional Noves Paradigmas, Culturae de exercitarmos sempre a maneira sistémica de pensare sugeriu oque ele chamou de “exercicios para manter sua mente sistémica”. Embora se tratando de exereicios usados por ele no contexto da formaeio de terapeutas sistemicos de familia, a ‘meu ver, podem: gui na proposta de Ceechin trés aspect 1 -ampliados e estendidos para qualquer outro contexto. Distin- ‘Todos os terapeutas/alunos em formagdo esto observando ~ de uma sala jo unilateral ~0 terapeuta de campo queesté ‘a sala de atendimento. Constituem, todos, a equipe terapeutica, Os alunos so instrufdos a focalizar, em sua observagio, nfo 6 as interagbes entre os membros da familia, mas também. as interagdes do terapeuta com os clientes, Num dado momento, 0 terapeuta de campo interrompe a conversa 2om a familia e vai a outra sala para conversar com a equipe de trés do espelho. Durante essa conversagio, parte da equipe estard conversando com o terapeuta de campo e 0s outros estardo observando essa interagdo entre membros da equipe de terapeutas. Além disso, como em geral todos temos a tendéncia de buscar causas para ‘6 que vemos acontecer, os terapeuras costumam ver um dos membros da fa Ent . Cecehin pede que cada n 0 respensivel ou 0 culpado pelo que acontece. oda equipe terapéutica procure 148 [Poi participar na conversagdo da equipe terapeu culpando um membro da famtlia Nessa conversacio, durante odo © tempo, nio se pode usar © verbo ao descrever o que se est observando. E preciso falar sobre o que se v8, mas 0 verbo ser € um verbo protbido,£ protbido dizer, por exempio, "essa familia 6. "amdeé.." ee inda, nessa conversago, ninguém pode responder fala do colega dizenda inguém pode comecar sua prdpria fala dizendo mplesmente dizer como se véasituaglo, em contradizer 0 que outros jdsseram, ‘oot pode estar se perguntando: 0 que isso tem a ver com “pensamento sistémieo” ou com “novo paradigma de ciéncia"? Vou entio me deter um pouco em cada um desses pont i 5 comentando cada um deles. imeiro exercicio ajudard o terapeuta em formagdo a ampliar o foco da observaca0. Até entdo, ele provavelmente teré aprendido a observar apenas 0 cliente e, nesse caso, observaria a familia, Mas agora, além de certamente estar jf interessado em ver como interagem os membros i Sendo levado a observar também a relagdo entre © {erapeuta de campo. E teré que ampliar ainda mais 0 foco, quando observar a eco conversagio entre 0 terapeuta de campo e a equipe atras do espelho, focalizando as suas préprias (da equipe de que ele também € parte) relagbes, Entdo, mantendo-se sempre 44 vimos que, de acordo com o paradigma tradicior _Procurar uma causa para o fendmeno que observamos nos faz pensar numa ccausalidade linear, localizanco em um ponto da sequéncia de interagies a causa do que esté acontecendo, Se cada membro da equipe, de acordo com a iodo recebida, busca a causa, ou a “culpa”, em um dos membros da ‘Sendo proibido usar o verbo ser, o observador ser levado a usar, em suas descrigOes, 0 verbo estar. Ao observar as interagdes, em vez de dizer, por exemplo, “essa familia € agressiva’”, ou “essa erianga é desobediente”, diré: ‘essa crianga est desobediente”, Pensamento sistmico| 149 fas de nosso objeto de estudo, mas caracteristicas ido nesse momento, algo que est acontecendo, lagies que of acontecendo. lade de mudangas scerem, das coisas poderem vir a acontecer de outro jeito. Quando, 30 io, se concebe que algo ac ieee porque € causado por uma tema —por exemplo, que F tristica iré sempre determincr que aquilo acontega e que pouco poders ser feito para mudar © que esté acontecendo. Além disso, essa pergunta pelo contexto muito provavelmente levard 0 ‘observador a se perceber como parte do que esté observando. Por exemplo, desobediente na relagdo coms contribuigdo para essa desobs ue ele se tone mais obediente?”. Esse se tornado, portanto, cessencial da mudanga que ele deseja para réque, s6 mudando 4 $i propio, poders observar alguma mudanga no fill, Noutro caso, 0 cobservador pode ser um terapeuta que, fazendo as perguntas pelo contexto, conclui que “o cliente esté resistente na relagio comigo”. Sua forma de agir, 1 partir daf, sera necessariamente diferente da forma como a partindo do pressuposto de que a algumas pessoas tm ~ algumas pessoas sfo “resist rmanifestar na situagio de terapia, 3. Finalmente, a recomendagio para no comegarmos fala usando 0 “io” vai também contra uma fendéncia forte que temos de valorizar mais nossa propria visio, ou opinido, do que a do outro e de argumentarmos no sentido de mostrar que a nossa € mais vélida, mais verdadeira. Na situagdo eriada por Cecchin, cada aluno colocaré a “realidade” que distinguiu e, respeitada a 150] Pops Estos validade de todas as distingoes, a equipe poders elaborar uma hipétese itegradora, que abra mais perspectivas para o prosseguimento da ‘conversagdo com a familia, esses t8s exercicios, na proposta de Cecchin, porque eles nos semetem as irs dimensGes do paradigma emergente da ci integrantes do ‘quadro de referéncia com que estamos trabalhando, como se vé no Quadto 22: ‘Quadro 22 - Como manter uma mente sistémica ampliar 0 foco de observagio ———— . ver nio mais um fendmeno, mai ‘Ses presentes no sistema, 0 obser- vador estard vendo um processo em curso, um sistema em constante mudanga evolugtio,auto-organizador, com o qual nao poderd pretender ter uma interagio quees diferentes, 0 observador se inclui verdadeiramente no sistema que di ‘© qual passa a se perceber em acoplamento e: caso da terapia, o sistema terapéutico, constitufdo pelo conjunto dos membros dda familia com 0s terapeutas). Entio, resumindo, podemos dizer que o ci ‘sume as ts dimensdes do novo paradigma da cién Quadro 23-0 cientista novo-paradi ‘dotanco 0 comin da *ebjotvisede etre pat ‘A énfase que tenho dado & existéncia de tés dimensdes no novo paradig- ‘ma da cineia pode parecer compartimentadora. Entretan 4, jantecipei que seria dif «dessa ciéncia novo-paradigmiitica emergente: tenho sempre distinguido e pontua- «do uma relagio de recursividade entre as trés dimensbes. recursivas nas redes de cis introduz necessaria- cia da destrigao da certeza ‘verdadeiro em relagio a qué? A quem? Pensara instabilidade, a ire Qu sea, requer um pensa- fast adisjungio, a simplificagéo. Além disso, como jé vimos, ¢ 0 pensador sistémico quem distingue a ins- lade e 2 complexidade ~ j que um observador pode ou nfo distingui-las, ‘num sistema , o que nos remete 2 referéucia necesséria ao observad Por outro lado, a construgio. 152 | Papin Eitora { Por tudo isso, penso serimpossvel um cientista adotar qualquer um desses pressupostosepistemol6gicos sem assumir também os outros. Para me refer essa relagdo recursiva entre as trés dimensGes do novo paradigma da ciénc rafaseado aquela afirmagao de Foerster (1974) —a que me refer no sobre a relagdes entre 0 obscrvador, “entre as trés dimensdes ~ a compl [Nao ¢ ficil representargraficamente, num plano, essa relagdo recursivaentre 0s tr8s pressupostos novo-paradigmiéticos. Por enquanto, tenho representado assim ‘Quadro 24 Uma relagao triadica fechada entre ‘as dimensdes do novo paradigma Cientista nove-paradigmatico corpses rms 2, wart E também por distinguir essas relagbes recursivas ¢ articuladoras entre as tnés dimensdes que, desde 1992, tenho preferido falar do “novo paradigma da cién- cia endo de novos paradigmas da ciéncia (Esteves de Vasconcellos 1992; 1995b). De fato, o que se tem encontrado na literatura slo referéncias a varios novos Paradigmas, aparecendo, entre outras, as expresses: “paradigma da complexida- de”, “paradigma da auto-or “paradigm da ordem a partir da flutuag0", “paradigima do const esas express0es aparecem associa Assim: o paradigma da complexidade de Morin; 0 pa- vas (ou da ordem a partir da flutuagdo) de Prigogine: 10 de Foerster, de Watzlawick, de ‘construgdo social da realidade de Berger e Luckmann salts quaitatwos, auto-organizacao, incontlabiidade =, incluso do observador, autoreferéncia, ea Jor CD Sigileaczo da experiencia na Intersubjetvisade” ? SSrversagio, coconetrugho, entllo, que considero 0 pensamento sistémico como o novo paradigm da ciéncia: concebo um pensamento sistémico novo-paradigm- tico como um modo de pensar que implica ter assumido os trés novos pressupos= tos que constituem esse “novo paradigma de ciéncia”. Entretanto, jé disse na Introducdo que, 2 meu ver, nem tudo que se tem, apresentado hoje como pensamento sistEmico pode ser considerado como “novo pparadigma da ciéncis”. Ou seja, nem tudo que se apresenta hoje como sistémico ‘énovo-paradigmatica, Vamos ver o que quero dizer com isso, 1 Picmodemo aqui tan apenas o sentido de algo que velo apés o paradigms modemo, da «iia tradicional, sem outas conotagées qu 0 lermo costuma tx 154 | Popins Exitos | ‘Voce pode pereebido que, ao comentar os trés exereicios de Cevchin mico, preocupei-meem fazer os coment vvador, chamada de visio de segunda ordem, porque cla exige que 0 observador reconheca sua patticipagio no processo ¢ se observe observando, Ou seja, que essa visio exige que haja uma ampliagdo do sistema observado, 0 qual, inelusio do observador, se transformard num sistema observante, que se apresentam hoje cor fador, com texas as suas implicagdes, ‘Vejamos com isso tem acontecido. Acontece que alg rio contemplam essa Jimplicagaes essas que nada tm de trivi Parece-me perfeitamente possivel um cientists rever seu sistema ou no mundo que ele observa, independentemente de ele distingui-la, esse caso, 0 cientista cor ‘0 de trabalhar com um si coisificado (res = coisa, em| mo, como tal, Penso que alguns ecologistas ¢ ambi profissionais que dizem trabalhar com uma visdo sistémica das organizagdes em- presariais esto se colocando nessa postura e se dizendo “sistémicos” ‘Também me parece possivel pensar os sistemas como auto-organizadores, estudar sua instabilidade, seus saltos qualitativos e continuar fazendo afirmagdes sobre eles, mantendo-se numa postura de objetividade sem parénteses. Penso que fisicos e bidlogos, que estio reconhecendo ¢ trabalhando com sistemas .embora abor- aveis, auto-organizadores, mantém-se numa postura obj lando processos “sistémicos”. Alligs, até mesmo entre os que se intiulam “sisttmico-construtivistas” & entre aqueles que citam recorrentemente os trabalhos de Maturana efou de Foerster, parece haver alguns que ndo assumiram para valer sua participagao na cconstituigao da “realidade”, Assim, continuam em algurs momentos atuando de tal modo que parecem se conceber como experts quo, tendo um acesso privile- ‘giado a determinados “aspectos da realidade”, detém recursos para conduzir & ‘metatos sistemas com qu trabalham. Pelo menos, isso €0 que parece, muitas vezes, Ponsament stimico| 155, de seu suposto controle sobre o sistema, mt pela forma como falam de seu trab decorrente de seu saber sobre Por que ser, tantos pensadores, se dizem ou querem se apesar de saber dos questionamentos contemporfineos aos pressupostos da objetividade e do realismo do universo, parece que a pessoa tem grande difi dade em mudar seu paradigms: mantém-se, portanto, com sua visio de mundo tradicio je se refere & forma como podemos conhecer 0 mundo. Afinal nfo ¢ fil admitir que o mundo nao esté lé para ser conhecido, que o especi no detém umconhecimento especial desse mundo, Também, nfo € ficil admitir que sua proposta de solugio, a proposta do especialista, para uma dificuldade de lum sistema nio ¢, por prinefpio, melhor do que as propostas dos pr6pri ‘bros do sistema. Ou admitir que sua voz, naguele caso, nio é mais importante do {que a dos demas especialistas, que afinal tendem a ser vistos como especi «em outros aspectos da realidade, no naquele em que o profissional se sente es- pecialista Em muitos outros casos, parece que a nio incluso go observador se dove a um desconhecimento desses desenvolvimentos cientificos recentes nas reas da bioles cles, ao apresentar suas prop {que 86 contemplam as dimensdes da compl ‘organizagio). Parece que essas pessoas deparar com os questionamentos cies 4 uma revisio radical de nossas crengas sobre o “como conhecemos © mundo”. ilores ndo se referem a "se enti a prapostas tabilidade (auto- iveram ainda oportunidade de lade, que nos convidam E ainda, em outros casos, apesar das referéncias a esses desenvolvimen- jeagdes ou ainda no ilo per= parece que os cientistas iio se detiveram em suas um refletira respeito, Parecem ver neles apenas novas teor Posso pontuar agora as diferencas que distingo entre as Capra (1996), 2m A un € concepgio de pensamento nda vi v 8mico que estou desenvolvendo aqui. 156 | Paps Eatoa Capra (idem refere-se a uma mudanga de paradigma ocorrendo na ciéneia, faln de um novo paradigma na ciéncia, assim como fala também de pensamento sistémico, concepgses sistémicas, pensamento de rede ¢ abordagem sistémica da igncia. No entanto, o que ele explicita como meta de seu trabalho € a elaboraca0 «de uma “sintese das teorias ¢ modelos atuais (ou) um esbogo de uma feoria emer- bre os sistemas vi ‘oferece uma visio unificada de mente, matéria (pp. 49, 20, 46, 73, 47,20, grifos meus). Apesar de seu foco ser uma teoria dos sistemas vivos, ele apresenta 0 que chama de “critétios”, “caracteristicas-chave” ou “grandes fios” do pensamento 0. Seguntlo ele, hd dois “grandes fios’: primero, o pensamento sistémico é ‘contextual” e, segundo, o pensamento sistémico é um pensamen- (Capra 1996, p. 50), 0 que corresponde 2s minhas duas primeiras dimensdes do novo paradigma. Quanto & terceira dimensio, ele nfo parece ter assumido que a objetividade ¢ impossivel e que ndo existe a realidade indepen- dente de um observador. Vamos ver por que digo isso. Capra ‘Varela, ea amo da talver.o sen aspecto mais radical e cont lem) apresenta a teoria da cogni¢do de Samtiago, de Maturana e © aproximads:( 4 reaidade, (Cap Essa ideia de “conhecimento aproximado da realidade” no corresponde evidentemente 2 nogio de construgio conjunta do conhecimento num espaco de intersubjetividade, por diferentes sujeitos/observadores. lo pensamento sistémico, Portan- wind, a por nfo incluir o tereeiro ¢ Funda- ‘pensamento sistémict Para mim, além de ser um pensamento “contextual” eum pensa- Pensamentosstico| 157 rento sistémico novo-paradigm também um no sentido de estar necessariamente relacionado 30 sujeitofobservador. Capra (1992) ass caja pereenctio esi Jo no universo — diferente de uma “ecologia antropocén que vé o homem fora ou acima da natureza (pp. 25-26). Com, 1a “ecologia profunda” Jana como fiindamen= a meu ver, & minha terceira dimensao do novo paradigma da cigncia, ‘Ao adotar uma visio de mundo sistémica novo-paradigmitica, o cientista, Homem comum — teri ultrapassado seu paradigma ou sua xdotando esse novo paradigma sistémico ou essa nova ~ 0 profissional preciso agora esclareeer. Alguns autores tém falado de uma “revoluedo paradigmiética” na ciéneia, uma grande evolugo mas premissas (Morin 1983; 1991), Entetanto,otemo re ém a ideia de que ¢ preciso destruir para substitu. Porexemplo, uma lo Ofim da ciémeia. Uma di que motivou controvérsias 1996). Seré que uma mudanga de “querra do paradigma” (Fotha de S, Paulo, paradigma significao fim da citncia? Enquanto isso, outros — cientistas e fldsofos da cigncia ~ se manifestam preocupados com as frequentes sugestOes de que o novo paradigma remete a ums, associago dessa nova cidncia com misticismo. ‘Um dos fisicos que participaram do debate sobre complexidade com Morin, ‘em Lisboa, jé pontuava que a fisica hoje conhece os limites dos conheeimentos ‘que desenvolve e ji “perdeu a angdstia da verdade absoluta e dos fundamentos 158 | Papirus Esitora 1990) considera que muitos cientistas tém procurado transcender ica, Considera que reditando encon- Jo, por meio de uma nova met escaparda complexidade por meio do mi ima unidade fundamental, onde tudo estéligado, tdo le prope que se mantenha um pensamento ci lar, mantendo as conexdes e fazendo co- porque -0 correspondem a domi Bem, se ndo se trata de ui vem trazer algo novo para subst mudanga de paradigma que destréi ou que igo, parece natural que, apart 1e a cigncia produziu de conhecimento, de teorias sobre 0 mundi logias? Je Jando de complementaridade, nem de uma simples justaposigao cent, que outro tipo de articulagio seria ‘Voc8 pade estar se perguntan possfvel, Em O método. A n da natureca, Morin (1977) introduz a ideia de jculagao que ¢ inerente ultrapassagem, ou seja, de uma ultrapassagem que jd implica uma articulago. Falando dos limites da Cibernética ~ quando se ‘enta uss-la para pensar 0s sistemas natura e mio apenus os sistemas artificias —, Ponsamento sstico| 159 ‘ele nos exorta a passé-la numa Si-Cibernética. O pretixo si (do grego sun = ‘com marca as ideias de reunitio no espago e no tempo, de obrigagao reciproca centre as partes. A grande novidade que percebi nesse conceito é a de que, quan- do se faz aultrapassagem, jéestdfeita a articulagto. A Si-Ciberaética, sondo mais passa-a e incorpora-a* ara nds, que estamos habit Im pensamento fas que se excluem, entender que ultrapassar jea renegar, Por isso, muitas vezes as pessoas costu- ‘mam me perguntar,espantadas: “Como é possivel que vocé, que se dedicou tos anos & pesquisa ao ensino de uma psicologia experime esteja agora desvart {que fez por tanto tempo? ‘um desenvolvimento da prépria Cibernética, também essa nova ciéneia corres- pponde aos desenvolvimentos contemporancos da propria ciéncia, Assi bo, nesse caso, u passage articuladora. Ao fazer essa ultrapassager terse tomado novo-paradigmatico, o cientista resgata ¢ integra a cignc! clonal, porém tende agora um olhar novo sobre cla. ‘Tenho representado assim esse res clonal pel i novo-paradigmitico: fe © essa integragiio da ci Quadro 26 ~ Articulacao nove paradigmaiciéncia tradicional GIENCIA TRADIGIONAL \\ CIENTISTA NOVO-PARADIGMATICO + complexidade + instablldade + intersubjetividade 2. Mais diate, no Capo 6, flare ma sas para 05 recente avangos da Ciberatia 160 | Paps tora 6gicos”, Watzlawick (1981) refere-se ultrapassagem proposta por Spencer Brown, Segundo a légica de Brown, Para compreender melhor essa ultrapassagem, p dlistingo que tenho proposto entre: ci paradigr ime referido ao pro paradigmitica. Que diferenga faz isso? ta novo-paradigmatico,e iio a uma cigncia novo- {quanto & ciéneia caberia atingir © conhecimento do objeto, nto objetivo da natureza. Assim, desde enti, ac! lugar para o sujeito, que deve se eclipsar para deixar falar o objeto. A cigneia se desenvolveu entéo sem tratar desses questionanentos sobre 0 sobre sua epistemologia, sobre seu paradigma. Essis dadas pela sobre © observadar” icia radicional nfo tem tido se preacupando ou pensando todo o tempo na epistemologia. Néo sendo da algada da ciéncia, a epistemologia fica mesmo subjacente ao trabalho que re ja aclaboragao de teorias sobre ‘a natureza, sobre © mundo, seja a derivagio de suas priticas, Costuma-se represent teoriae pra assim a relagdo tradicional entre epistemologia, Ponsomeno sitio | 161 Quadro 27 ~ Epistemologia, toria e pritica na ciéneia tradicional Pratica cientifica / Aplicagdo da ciéncia Gienca de seu paradigma, d> sua epistemologia, de seus valores ¢ erengas. E se produz a mudanga de paradigma, E ele, e ndo a ciéncia, que pode, ‘as mudangas estruturais, © seres vivos sao irreversiveis e parece impensivel que, depois de ter incorpo- rado-em sua estruturaa crenga na objetividade entre parénteses, uma pessoa volte ‘ acreditar na existéncia da realidade em si, independente do observador. Essa ido como antes, mas se revir efetivamente seu Jost0, penso que esse seré um caminho sem volta. vida difria normalmente nos movernos so a outro (...)e fazemos isso de acor- jo com 0 fluxo de rossas emogdes ¢ desejos em nossas relagbes interpessoais” (p.265). jportante termos presente que essa mudanga nfo depende de argumen- tos racionais, mas de aceitagdo, $6 quando o cientista aceita a pergunta sobre a observagio como um fendmeno natural é Mat visto de mundo, - quando o cientista se permite refltir 183) pontuam ue nos permitamos es epistemolégicas e ontolégicas desses dois caminhos, cle ‘um dos dois, Sua postura dependerd, pois, de sua pre- ) elas premi cas que constituem o domt- le vai operar (Maturana 1997). Sobre as iy 162 Paprustssore Feita a ul spassagem, ou seja, a mudanea de paradigma, o eientista sist8mico amplia o foco, resgata e cle tesgata nfo é mais a mesma sim o cientista.e nfo a ciéneia, passou por uma metamorfose e agora viverd seus acoplamentos estruturais a partir dessa sua nova estrutura lago com esse novo cientista, que agora tem um olhar novo sobre elas. Cost a sacola @ no dizer que o cientista novo-paradigmiticn carrega, jcas, os recursos ¢ os conhecimentos desenvolvidos pel tradicional e sente-se livre para usi-los quando quiser. Porém, usé-los~ de modo completamente diferente de como o fazia antes dessa ltrapassagem, Por exemplo, ‘um psieslogo sistémico novo-paradigmatico poders usar um teste psicol6gico, ‘mas suas crencas a respeito do papel do teste no trabalno que est desenvoven- pode jogar ingenuame: Penso que, antes que 0 profissional tenha efetivamente optado pelos novos pressupostos epistemolégicos, manter-se usardo teorias e técnicas da Ihe uma dificuldade a mais na realizagtio da io de Cétisy sobre a complex 984), apesar de clogiar a iniciativa dos organizadores de reunirem especialistas de disciplinas tao diferentes, manifesta sua preocupagio com as condigdes de intere”mbio entre es- informaticistas,c, de outro, os bidlogos, psicdlogos, soci6logos ¢ filésofos. 1380 Pensamento sistémico | 163 parece sugerirque, apesar de a complexidade ser um tema que atravessa as virias| disciplinas, ccntinua sendo abordada de modo compartimentador. Ali, é 0 que se percebe também pela forma como foram organizados os anais do encontro, rele tindo exatamente a divisio tradicional das diseiplinas cientificas: 1) formalizagzo da complexidede: 2 isica e complexidade: 3) complexidade em biologia: 4) com- idude, psiquismo e sociedade. Superar essa compartimentago nao tem sido probabi que se dedicar reflexao sobre ‘idea de maier ou menor aproximacdo a verdade sobre a realidade. M porexemplo, spesar de enfutizar que o observador est presente em todo ato cognitivo, parece, em alguns momentos, ainda tentar preservar alguma objetividade: examinando, que relacione a essa mudanca de paradigma que estamos vivendo. "Numa des siuaghes a discussio girava em toro de dever-se usar met ia qualitativa ou quanttatva, Sugera-se que se poderater feito uma anise qualita tiva e que a metodologia experimental haviaaprisionado a pesquisadora. Mas, por cuto lado, perguntava-se © que se fariaentio com tantos dados disponiveise jé ) 3 sagdo do que ele observa, ajuda a evitar que se tratem como objetos ‘jie a ralidade sie processos. Castuma ser difieil captarmos 0 conceito de processo, quando este desaparece ¢ fica perdido entre as coisas, Am disso, penso que evita 0 referir-se ao observado como se existisse 1é, independente dele, ocultando ofato de que o observado s6 existe em relagio aun, observador. Quando uso o verbo, a ago precisa ter um sujeito e isso necessatia- mente me implica; alguém estd pressupondo a complexidade: eu € que a estou istinguindo, Port fv ultrapassagem do paradigma unbém pode nos ajudar afazer 1 Falando conduziré cia tradicional ea fazerem Jes radicais das formas até entio correntes de utilizagZo do conhecimento ‘Acessa altura, no é mais nenhuma novidade para voc® eu dizer que muita ‘coisa muds com essa mudanga de paradigma. Mas quero destacar alguns aspec- tos que considero fundamen Quando falei de epistems «elo, para ver pouco, que a cigneia tradi pela flosofia, sendo a epi logia fica de fato subjacente ao trabalho dos cientistas, como umn conjunto de pressuposins raramente ex} itado. A resposta a pergunta ‘0 “como conhecemos” & entdo respondida com base em alguma “teoria sobre o observador”. Assim & que foi abordada a epistemologia, no Capi perspectiva da eiéncia tradicional, A partir dos trabalhos de Maturana, a que ele mesmo chama de “Biologia passou a dispor de uma “teoria cit ‘como contecemos, como seres biol6gicos humanos, como seres vivos que tém como caracteristica fundamental o fechamento estrutural. A meu ver, uma consequénsia dessa teoria cientifica, que ¢ uma consequéncia epistemoldgica, 6 ‘o questionamento da objetividade e a abertura, para os cientistas, do caminho 166 |PaprusEtora explicativo da objetividade entre parémteses ¢ da construgto intersubjetiva do conhecimento, la filnsoia, da psiral imo que occas eiBncias, por terem como objeto o sujeito, acabaram por se identificar mais com a filosofia =a quem cabe, desde Descartes, estudar 0 sujeito do conhecimento ~ do qu ‘aciéncia ~ incumbida de estudar 0 objeto, o mundo, A objetividade entre parénteses ¢ entio a dimensiio do novo paradigma que trazo sujeito do conhecimento para o Ambito da ciéncia, superando-se a rup- {ura que nos foi leguda por Descartes. A cineia agora pode tratar cientificamente ‘tanto do objeto quanto do sujeito do conhecimento, Ali rodugiio que escreveu para 0 livro As sementes da cibernéti- iz von Foerster, Pakman (1991b) considera que essa vvinha se manifestando 0 © peuropsgu 2, empenhado em imental que fara desseramo vm ramo da Entdo, esses cientistas ja estavam trabalhando sua epistemolog ra trazer 0 sujeito, com 3, seu modo de conhecer, para o Ambito da ciéncia, ‘A propésito, ¢ interessante lembrar que Maturana questionou a poss dade do conhecimento objetivo do mundo (epistemologia) e nos remeteu a0 reco hecimento de que constitufmos o mundo ao distingui-to (ontologia), nfo falan- do como um filésofo e sim como um bi6logo, ¢ abordando entto cientificamente ‘questdes até entio reservadas a filosofia e negligenciadas pela ciéncia, Parece que o direito de abordar cientificamente a questi do conheci ‘mento do mundo tem sido reivindicado também pel (que argumentam hoje que a fisica qua epistemotogia, saqueando a filosofi ps, havendo “clentistas ada mais fez do que sequestrar a thern 1998, p. 84) Ponsamanto sistiico| 167 A fisica contribuiu, sim, para trazer a questi do sujeito do conhecimento ‘para dentro da propria cigncia, mas manteve a crenga no realismo do universo © nd implicou o sujeito na constituicdo da realidade: apenas reiterou cientificamente a interdigdo de o sueito a ela se referir. Em 1972, Foerster jf premunciava que, assim ‘como no primeiro quarto do século a revisio das nogdes cientficas partiu dos fis- cos, no tltimo quarto do século os bidlogos é que iriam forcar a revisdo de nogles ‘ésicas, Penso que, de fato, a abordagem cientfica de como conhecemos 0 mundo aconteceu efetivamente com Maturana. Foi ele que, segundo Dell (1985), nos fez voltar 2s raizes biokigicas de nossa existéncia ~ porém de forma do reductionist, ¢ sim em termos de uma biologia ontol6gica, capaz de revolucionar inclusive nos- sas crengas sobre o realismo do mundo e de inclu d que ele conhece. Naquela ocasito, enfatizei que, émica(s), quando me refiro a i estou falando de epis- apesar de se poder(em) desenvolver teo pensamento sist#mico como novo paradigma da temologia sistémica e nfo de uma nova teoria sistémi Hoje, entretnto, preciso especificar mais algumas distingdes a esse respeito, Ki vimos que as dimensées da complexidade e da instabidade podem ser pensadas ‘como teorias, por pessoas que ainda ndo tenham ultrspassade seu pressuposto da objetividade. Mas, 20 adotar 0 “caminho da objetividade entre parénteses”, ou seja, ir essa tercira dimensdio do novo paradigm, 0 cientista passard a ter tam- tras dimensbes como pressupostos epistemol6gicos e no mais como [No Capiute refer-me a us grandes congress interacionais interiscip- \o-s as rs dimenses do meu quadro de referencia pars 0 novo otro congress, i resenga dena preacupagio episte- no evento de 1984, 0 pre de 1982,*A nto-Organizagio, da is i apresertdosfocalizassom a sutoerganizagio temas como dimensioepstemoligia: seus participates provavelmentenio se ineo- ‘modciam so til do evento frso “As Teoria dn Auto-Onganig". Agents no de 1997, "Autopoiese: Biologia, Cognigo, Linguagem e Sociedade”, Maturanae sa pet- guna cpistemogiea~ a pergunta pelo conhecimento, sobre com oser vivo conhece, feta de dentro da prpriacifcia —estiveram no centro das discusses. 168 | Paprustatora Quadro 28 — As trés dimensdes do novo paradigma da ciéncia ‘0m trés congresses interdisciplinares {864 — Franga | o!6quiointemacional de Géisy eee ias da Complexidade" cjonal de Césisy ieaibniede 1988 — Frenga ago, da Fisica & Poltica! ‘Simpésio inloracional de Belo Horizonte 1897 Brasil | sautopoiese: Blologla, Cognicso, intersubjetiviade Linguagam @ Sociedade" Ao admitir efetivamente que tanto a complexidade quanto a auto- lorganizago so asy que observa, ocientista passard necessaria ses do novo paradigma como dimensdes de sua propria epistemologia. Entio, ao falarmos de um pensamento sist8mico novo-paradigmitico, es- taremos falando de uma epistemologia que implica distingSes do observador nas tres dimensdes: de um cientista que pensa — ou distingue —a complexidade, sem pensa — ou se distingue ~ como parte de todo & qualquer sistema com que esteja {rabalhando, o qual se consttui (ou se constréi) para ele,a partir de suas préprias distingbes. Por isso, tendo a recusar 0 uso da expressao “sistémico-construtivista”, {da “construgo intersubjetiva da realidade” contido na minha noeao de pensamento: inda, tenbamos que adjetivar esse pensament vo novo-paradigmético, para distingui-lo daquelas outras propostas {que niio contemplam as trés dimensdes do novo paradigm. Pensamento sista 169 eae ee -ado. Uma anélise episte- ica da prtica clinica, a psic6loga Marilene Grandesso yl € elaborada revisio sobre o tema do const p. 58). Distingue diversas mos, mostrando divergncias ‘os dois grandes grupos que se onstztivismo (usado de forma genériea) eo Construcionismo Soci (p.58). {Tendo identiticado, construtivisio quanto no co cial, uma ten« iade colocar mais énfase em suas diferengas do que em poss ‘eis convergéncias,ccertamente movida por seu interesseem pensar a ntegragS0, cla sugere que Apesar de considerar que “mais do que teorias on abordagens, esas duas coments (construtvistae co tm sido definidas como pro- postas epistemol6gicas distintas”, Grandesso (2000, p. 56) também most Diz, por exemple, que “Gerg: construcionismo secial como wma met const ‘construcionismo sozial” (idem, p. 95, grifos meus). Concluo, pois, a partir da revi ‘io de Grandesso, que construtivismoyconstrucionismo tém-se desenvolvido, no AAmbito da psicologia, especialmente como teorias psicol6gicas. 170 | Peps tora Claro que qualquer teoria ps nista - sobre como as pessoas constroem seu conhecimento do mundo tem es treita relago com 0 (ou poderiamos dizer que se funda no) pressuposto molégico da intersubjet jgica ~ quer constrativista, quer constru- ame tasfeonstrucionistas nfo so 0 mesmo que chamei pot ea sobre 0 observador”, a “Biologia do Conhee: istemologia cientiti izacio da epistemologia”, que Pakman identificou em . penso que qualquer cientista pode eclocar a objetividade en- tre parénteses, ¢, portanto, mudar seu paradigma de cigneia, sem se deter nas teorias construtivistas/construcionistas que, como teorias psicol6gicas, nfo interes- sam necessariamente a todo e qualquer cientista novo-paradigmético, Todos os cientistas novo-paradigmsticos so de fato “construtivistas”, mas apenas num. légico, ou soja, no sentido de terem Ihar 0 cay vimos, Foerster sugere gue se use 0 sentido estritamente epistem: ultrapassado sua crenca na objetividade e de terem escolhido, nho da objetividade entre parénteses. Como termo ontogenetismo)em vez de construtivismo. Nesse sentido de “ {que tenho proposto contextualizé-lo no quadro da ‘Assim € que esse aspecto esteve presente em di lizando 0 construtivismo no quadro da mente para una mesa-redonda ‘em Sio Paulo e também apresentado no “XXVI Congresso Interamericano de Psicologia”; “O poder na terapia familiar sistémico-si-cibenética” (Esteves de Vasconcellos 1997b), apresentado no “Ill Congreso Euroxeo de Terapia Fam “Context 5 droda cincia novo-paradigmética” (Esteves de Vasconeellos 1997), apresentado no “Simpy mi sobre Autopoiese”. textos que elaborei: .ovo-paradigmstica” as de uns aos outros e na necessidade de responder as criticas recebidas, como bem identificou e explicitou essa autora, em sua minuciosa andlise do tema, penso que essa disputa s6 ocorre porque se desenvolve no nivel 4s teorias: nio ovoreria se se estivesse tratando de pressupostos epistemol6- sicos. Ja vimos que, segundo Maturana, a adogo do caminho da objetividade entre prénteses € uma questo de preferncia(emogio de acitago) e no de argu- ‘mentago racional. E mais, para quem adotou efetivamente esse pressuposto opis temoldgico, a constatagdo de dferengas entre os cientistas seria antes um convite _Aconversagio e no um conviteatentar demonstrat Sua prépria superioridade. Sera 5 que esto se colocando nessas di que os construtivistas/construcionis ts assumiram de fato (emogdo de ack epistemol6gico, com todas as suas iy a derivados, pat stade Piaget, em: 10 &aprendizagen. E, por outro lado, ida como epistemologia. Porexemplo, quando se a Teoria Por sertagao de mestrado tenho procurado explicitar as bases ‘implicagaes da epistemologia ci- inicas (Esteves de Vasconcellos 1992; 19940; epistemolégicas da ‘erapia fami Entretanto, preciso ficar claro que uma epistemologia, como tal, no pode ter aplicagdes, mas apenas implicagdes. Nao se trata aqui de uma escolha entre termos equivalentes. Implicagbes so consequéncias necessrias ¢ inevitiveis de se ter adotado uma determinada epistemologia. Por exemplo, certas erencas © certos valores dos pais sobre educacao de fillhos implicardo necessariamente que apliquem castigosrigorosos aos filhos. Assim também uma epistemologiasistémica is implicagOes para as préticas profissionais na educacio, tend fortes e inevit 172 | Papius tora ha abordagem da sade, das empresas, da ecologia, des politicas assistenciais, fe que ele teria que seguir, Ao contrétio, penso que nio é necessitio ‘mandar alguém fazer algo que € uma implicagio de s juntar Folhas de papel jd usadss para fazer rascunho, se uma experiénciaforte, se suas indo ~ agora Ihe pe umento do univeiso, come ter uma forma ma nova visio de 156) e que a complexidade exige “reverter as perspectivas epistemol6gicas do observador" (p. 60). Entretanto, ndo descreve — como ¢ faz Maturana — 0 cami- ‘ho para que isso acontega; ndo propde uma descrigdo cientifiea, ou uma forma de cexplicar essa mudanga de paradigma num si Avnecessidade de explicitara propria ‘da mudanga de paradigm ou da nova epistemologia, havendo aqui uma relagao de recursividade. Com a mudanga de paradigma, a epistemclogia deixa de ser subja- ciéncia e passa a estar duplamente presente na ciéneia: primeiro, porque & ia agora responde & pergunta epistemolégica sobre o sujeito do conhecimen- ‘anos; segundo, porque 0 1¢a, mas inclusive ao fazer © 0 como conhecemas como seres biolégicos 1a vive e age no mundo ~ no apenas a0 fazer ci cigncia ~ a partir de sua epistemologia: suas crencas e seus valores, ‘conhecer 0 mundo’ Como diz Pakm 18), “quando comegamos a buscar entender o mundo (..)é a n6s mesmos que en- contramos, é a nds mesmos que descobrimos e € conose> que contamos”. Annova epistemologia extrapola o contexto do tratalho cientifieo e implica nevessatiamente a pessoa que adotou efetivamente o caminho da objetividade Pensamentostinico| 173, jo possivel: a da inexisténcia da “realida los 2000; 20006), sua dniea conv (Bsteves de Vascon: teri fracassad, se no contribuir para essa articulago. 0. mista avanga, pois, de uma epistemologia fi tua sntincamorto) Ji disse que a novidade nfo é o questionamento da objetividade, e sim o ‘seu questionamento vindo de dentro da propria ciéncia, e nao mais da filosota. Agora, quero enfatiza especialmente que ndo estou querendo dizer que acién- cia seja superior filosofia, Estou apenas concordando com Maturana, quando ele diz-que, como sees humanos, dotados de linguagem e emiogo, nos movenos em espa ‘90s de conversigto e constituimos diferentes dominios linguisticos, com diferentes cxi- \erios de validago da verdade. Assim, 3 © direito so apenas dominios linguisticos diferentes, relagdo aos outros. E podemos escolher estar num ou 174 | Paps tora s, enquanto escolhem mover-se no dominio smologia - que agora pode si Poderiamos entao transformar o Quadro 27, sobre as relagdes entre epis- temologia, teoria e prética ~ que ainda vale para a ciéncia tradicional -, tor- nnando-o assim para o cientista novo-paradigmstico: Quadro 30 - Epistemologia, teoria e prética para o Clentista novo-paradigmatioo Parece claro, entdo, que s6 quando as trés dimensdes do novo paradig- i se tornam dimensdes epistemol6gicas, a partir da escolha do caminho Se estamos falando de implicagdes e se reconhecemos que ter uma episte- ‘mologia qualquer implica uma forma de estar no mundo, podemos destacar Pansamertosistiico| 175 entre as implicagdes dessa nova epistemologia sistemica de que es do, aconcepedo de érica. Essa também & uma nog que muda muito com nossa ‘mudanga de paradigma de ciéne No coléquio de Cérisy, sobre auto-organizagto, Morin (1984) coloca que ‘ étlca nao tem qualquer fundamento cientifico, na concepao classica. por- cla é geralmente min'strada po ‘em que se discutem as concepgées de bem ¢ * para os profissionais daquela especialidade. E, jura obede- ‘conjunto de regras para a ago, de normas para o rugdo nil participou. Sem se i , © profissional poderd at na solenidade de cer 1 um cédigo de laglo de grau, 0 formando, 0 novo profission ‘no mundo, de cuja co cele ou sem se reconhecer nk seguro, nfo tendo que tomar decisdes em momentos eriticas, uma vez que es sas estario previamente indicadas pelo c6digo. Mas assim cle préprio nao se implicard eticamente nas situagdes. Hoje se fala muito em ética, em diferentes contextos. Recentemente, uma ‘educadora se manifestava, por meio de umartigoem joral, intitalado temogio e ética”, preocupada com comportar por ela considerados niio ticos, exibidos pelos jovens no contexto escolar. E entdo se perguntava: como 6 jovens vo adquirir uma consciéncia de sie dos outros e reconhecer © outro ‘como igual em direitos? Como preparar os jovens para uma autonomia, entendida como capacidade individuos que agem com liberdade, porém nevessariament icdade, ética, autonomia num projeto educativo? Ela propria responde, sugerindo que uma das poss uso dos “contos de fadas” ¢ dos “ritos de passagem” como recursos educativos. Assim, st /amente reconhecendo ainsuficiéncia de qualquer étca normativa,, ‘ou de qualquer tentativa, pr parte de educadores, de tercom 0 jovem uma interagio instrtiva, lades seria © 176 | Paps Eora ‘ecossistemas, os prinefpios de organizagio de comunidades ecol6gicas, su Leis. Entretanto, ele fa Parece que no leva em consideragio aqui nem a auto-organizagao 0 do observador no sistema com que trabalha, apesar i vimos, te falado em seu livro sobre a “Teoria da Cognigio de Sar ‘Além do mais, é estranho que Capra esteja falando de visdo sistémica de mundo ede ecologia, como requisitos para “manter a competiividade’ [Na perspectiva do novo paradigma, a postura ética do cientista é uma implicagio necesséria e inevitével dos seus novos pressupostos epistemol6gicos, especialmente do pressuposto da coconstrugio da realidade, exatamente 0 pres- suposto que trouxe o sujeito do conhecimento para o &mbito da ciéncia, Nao ‘cabe pensar que a soluczo cstatut ra 0s problemas estaré na existéncia de c6digos & elaborados por experts, a serem aplicados ou pos- tos em vigor a partir de sua promulgucio por autoridades competentes e cujo ‘cumprimento seria obtido por meio de algum tipo de fiscalizagio, como seria uma igo. ressante que exatamente 08 di sui como especis tas cujas contribuigdes (Maturana 1990, p. 25). Essa emogtio de aceitago decorre exatamente da convicedo de que cada sujeito, em sua relacio com 0 ‘mundo, faz emergit uma realidad de que, ndo havendo um cr ‘cinica altemnativa € a convivéncia na conv do outro. A isso podemos acrescentar a consideragao de Foerster (1973) sobre ser Glico. Apesar dec perativo ético co “atua sempre de modo a !mentar o nGmero total de alternativas para o siste- estard sempre se interrogando: com essas fas para que esse sistema ~ familia, gru- mminhas agdes estou abrindo al Poneamentosstiico| 177

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