You are on page 1of 14
Preparacdo para o Ato Operatorio Ill — Equipe Cirtrgica Ruy Garcia Marques prepato adequado da equipe ciningica constitui um dos fatores primordiais para o sucesso do ato cirirgico. Como a maioria das infecgdes hospitalares se transmite pelo contato ‘humano, é imprescindivel que seja dispensado o devido valor a esta etapa da preparagdo para o ato ciniirgico. Cabe a cada membro da equipe a observancia de suas normas bisicas, ¢ qualquer falha deve ser imediatamente corrigida com o intuito de se evitar a contaminagao. Durante muito tempo, 0 cuidado no controle a infecco se focalizava apenas na prevengiio da contaminacao infecciosa do paciente, mas, atualmente, também existe a preocupacao crescente do impacto potencial do paciente sobre toda a equipe que trabalha nas dependéncias do ambiente cinirgico." O preparo da equipe cirirgica inclui a higiene pessoal, a -vestimenta cinirgica e a colocagdo dos campos ou coberturas cindrgicas. Historicamente, Ignaz Semmelweis e Joseph Lister, 1 inicio da segunda metade do século XIX, foram os primeiros 1 demonstrar a importncia da assepsia e do uso de cuidados especificos no ambiente cinirgico para diminuira incidéncia de infecgdes, O uso do gorro e do avental comprido comecou a set preconizado em 1883, por Gustav Neuber, e William Hasted, ainda que inconscientemente, introduziu 0 uso das luvas em 1889; Mickulicz, em 1897, defendeu a importéncia do uso de méscaras cinirgicas." Higiene pessoal e vestimenta cirirgica Todos os que trabalham no centro cirirgico precisam observar uma higiene pessoal rigorosa que inclua banhos didrios, uso de unhas curtas, auséncia de maquiagem etc. O banho didrio, ainda que de extrema importncia, deve ser evitado nos momentos que antecedem a entrada no aml cinirgico, pela possibitidade do aumento da descamacao da pele conseqiiente contaminagao. A presenga de unhas compridas ‘oupostigas deve ser completamente desestimulada por dificultar a limpeza e fornecer excelente meio para a colonizacao bacteriana, além de poderem provocar furos nas luvas. Contudo, no que se refere ao uso de esmalte na unha, ainda nao existe estudo adequado que o correlacione com aumento do indice de infecgao cirirgica.”® Qualquer membro da equipe que apresente infecgdo respiratéria, ferimentos, lesdes de pele ou infecgaio ocular nio deve participar de qualquer atividade no centro cinirgico, haja vista aumento significativo da populagao bacteriana do ambiente que pode propiciar a transmissio de microorganismos para o paciente. Todas as pessoas que entram no centro ciringico devem se utilizar do vestiério para a troca de roupas. Estas devem ser facilmente identificaveis, sendo esta a razio pela qual, de um modo geral, elas so confeccionadas a partir de tecidos com cores mais abertas, como azul ou verde, habitualmente com a cestampa do hospital, que também ajuda a minimizar o constante desaparecimento de conjuntos de roupas da unidade cinirgica. Devem ser preparadas a partir de material idealmente resistente a eletricidade estitica e a chamas, além de no soltarem pélos. Antes de se entrar no centro cinirgico, deve-se guardar qualquer adoro, tais como brincos, angis, pulseiras e relégio. Na necessidade de se levar alguma pasta ou qualquer outro objeto para dentro do centro cirirgico, deve-se utilizar um tipo de sacola protetora ‘O vestusrio bisico para a parte niio-critica consta de calga e camisa (pijama cirdrgico), gorroe sapatilhas (ou propés). Gorros, ‘miscaras e sapatilhas devem ser, preferencialmente, de uso tinico. AS calgas niJo devem tocar o chilo ao serem vestidas, no sentido de impedirem a contaminagao. As mangas da camisa devem ser suficientemente curtas para permitir a correta escovagaio das ios, antebragos e cotovelos, sem que se molhem durante esse 270. Preparagdo para o Ato Operaério III — Equipe Cinirgica procedimento, A camisa deve estar preferencialmente enfiada dentro da calga para evitar que se mothe durante a escovagio e para impedir eventual contaminagao de equipamentos € superficies estére Ainda nfio existem estudos bem controlados relacionando 0 uso do vestuério cirirgico com infecgdes ciningicas, e a sua utilizagao obrigatéria vem sendo bastante questionada.'* Entretanto, parece prudente 0 uso de barreiras para minimizar a exposi¢do do paciente 4 pele, membranas mucosas ¢ cabelo da equipe cirirgica, assim como para proteger essa equipe da exponigao a eventuais patdgenos advindos do paciente.? Os gorros reduzem a contaminagdo do campo operatério por microorganismos advindos do couro cabeludo e do cabelo dos membros da equipe cinirgica.** Antes da colocagio desses itens, pessoas com longos cabelos devem fixi-los, utilizando- se grampos ou rede, e cobri-los totalmente, isolando toda a érea pilosa, para diminuir sua atuagao como potenciais carreadores de bactérias. Nao raramente, entretanto, podem surgir infeegies cinirgicas devidas a microorganismos (Staphylococcus aureus Streptococci do grupo A) isolados do cabelo e couro cabeludo, mesmo quando gorros so usados rotineiramenteExistem dois, modelos especiais de gorros para uso em pessoas com cabelo e barba grandes, denominados toucas e capuz (“escafandro”), respectivamente, No que se refere ao uso de sapatithas (propés), nio ha consenso em sua atuagéo para reduzir a contaminagao advinda dos sapatos da equipe que transita nas dependéncias do centro cinirgico, bem como a protegdo dessa equipe a luidos corporais, dos pacientes. Diversos autores vém demonstrando no haver diferencas significativas entre o seu uso e a taxa de infec¢o cinirgica.‘# Summers et al, reportaram que as sapatilhas podem, mesmo, ser prejudiciais.’ Esses autores examinaram 18 componentes de equipes cinirgicas que usavam sapatilhas encontraram microorganismos nas maos de todos eles, comprovando que essa contaminago advinha do momento de sua retirada, Dessa forma, em muitos hospitais o uso de sapatilhas € facultado a decisdo pessoal, parecendo que somente devem ser obrigatoriamente utilizadas durante procedimentos com grande evidente contaminagiio (para protegao da equipe).’ Atualmente, tem havido uma tendéncia ao uso de sapatos proprios eexclusivos para uso no centro eirirgico (muitas vezes, tamancos), que, além de confortiveis, podem ser facilmente limpos. Conquanto ainda nao existam estudos apropriados para se determinar a real necessidade do uso de mascara em qualquer dependéncia do centro cirirgico,' ao entrar nas salas cirirgicas seul uso permanece obrigatério para toda a equipe e, idealmente, deve ser trocada antes do inicio de cada procedimento, Ela deve ser fabticada com tecido poroso, espesso, no intuito de filtrar 0 ar expirado, retendo boa parte de microorganismos eliminados das vias aéreas da equipe cirtrgica. A respiracao é a principal fonte de contaminagao no centro cirirgico, e, portanto, a ‘méscara deve ser bem ajustada & face para impedir que 0 ar expirado saia pelos lados. Até 40% da equipe cirirgica pode carrear Staphylococcus aureus em suas cavidades nasal e oral, eventualmente propiciando infecgao cinirgica.'* A pritica do uso de méscaras vem sendo questionada sob © argumento de que 0 seu uso durante operagdes nao influencia 0 mimero potencial de bactérias patogénicas presentes no ar ambiente do centro cinirgico.** Independentemente dessas ponderagdes, a protecio que confere 4 equipe cinirgica é de grande importancia €, portanto, deve ser tida comg item de uso obrigatério."® protetor de olhos constitui uma outra protecdo cujo uso deve ser estimulado para todos os membros da equipe cinirgica. Essa pratica se traduz em importante diminuigo dos acidentes de contato de membros da equipe com fluidos corporais potencialmente contaminados provenientes do paciente.®"™"" As regras para uso do pijama cirirgico apresentam grande diversidade. Muitos hospitais restringem seu uso, 38 0 admitindo dentro das dependéncias do centro cirirgico; alguns requerem sobre-roupas fechadas (tipo jalecos compridos) para quando ele éusado fora do ambiente cirirgico, ao passo que outros nfo tém, qualquer restrigo ao seu uso, Quando permitida a saida do centro cirirgico com a vestimenta, no retorno ao vestidrio a sobre-roupa é retirada e sio trocados gorro, mascara e sapatilha. Em nosso meio nao adotamos tal procedimento. Quando, por algum motivo, necessitamos ir a qualquer outra parte do hospital, retiramos 0 pijama cirirgico, colocamos nosso uniforme ou roupa convencional, e, ao retornar, usamos outra vestimenta, Também é varidvel a forma preconizada para lavagem desses itens, com alguns hospitais impondo que sejam encaminhados a sua prdpria lavanderia, e outros permitindo que sejam lavados pelos usuarios, em suas casas, ‘© .uso dessas 1oupas por mais de oito horas seguidas deve ser avaliado, haja vista que parece existir aumento na contaminagao diretamente associado ao tempo em que elas so usadas € expostas ao ambiente do centro cinirgico.' Em caso de penetragao da vestimenta por sangue ou qualquer outro material biolégico potencialmente infectado, ela deverd ser trocada imediatamente.*"" Também em caso de uso do sanitario, as maos devem ser cuidadosamente lavadas com sabao antimicrobiano e trocado todo o vestudrio antes de, novamente, adentrar ao centro cirirgico, Lavagem das mdos Independentemente da escovacio cirirgica, todas as pessoas que freqiientam o centro cinirgico devem se acostumar coma lavagem rotineira e repetida das mos. Esse simples ato propicia queda importante no indice de transmissdo de infecgdes. Mesmo se utilizando luvas de procedimento (ndo- estéreis), antes e depois de qualquer contato com 0 paciente, restos orgiinicos, ou qualquer tipo de sujidade, as mios devem set lavadas. Ainda que se utilize luva cirtrgica (estéril), algumas bactérias que permanecem na pele das maios apds a escovagiio podem encontrar um ambiente quente ¢ iimido (sob as luvas), propicio para seu crescimento.” Dai, ser importante a lavagem, rotineira das mos, antes e depois de qualquer procedimento. Aceficdcia dessa lavagem depende de varios fatores, tais com ‘Volume de sablo, tempo de friegdo, superficie das maos, niimero de microorganismos Sob as unhas, ¢ uso de anéis. A maior parte das bactérias se encontra na porgo subungueal e sob anéis, sendo essa a razaio para que se preconizem uso de unha curta ea retirada de qualquer adoro." A lavagem deve ser realizada com a utilizagdo de um sabsio antimictobiano, deixado em contato coma pele das mos por um periodo minimo de dez segundos. O enxigtie deve sertigoroso para remogdio dos residuos de sabio, ea secagem deve ser realizada com toalhas de papel. Mais recentemente, o uso de preparagies aleodlicas sob a forma de gel, independendo do uso de gua, tem também sido preconizado para “lavagem” das ios.” Em algumas situages, além da lavagem mecdnica das ‘aos, proconiza-se a utilizagaio de anti-sépticos (freqiientemente ‘loool, iod6 foros, clorexidina ou triclosan): cuidado com recém- natos, em unidades de terapia intensiva, na assisténcia a pacientes com imunossupressdo e para procedimentos invasivos como instalagio de cateteres vasculates ou urinérios, dentre outros. A preferéncia deve recair sobre a solugdo de clorexidina, em face do seu efeito mais rapido e da methor atividade microbicida na microbiota transitéria da pele" EscovagGo cirtrgica A. escovaciio das maos, antebragos e cotovelos de todos os ‘membros da equipe que Vio entrar em contato com materiais estéreis constitui etapa preparatéria e indispensével para todos 0s atos cinirgicos. Ela & realizada para a remogio de dettitos, climinagdo da microbiota transitéria e redugo da microbiota residente. Nos lavados dos centros cirirgicos, so comumente encontradas embalagens individuais de uso tinico contendo escova embebida em solugdo anti-séptica com iodopovidina ou Preparagao para 0 Ato Operat6rio Ill — Equipe Cirirgica clorexidina, junto a uma espétula para limpeza das unhas, Em alguns hospitais, essas solugdes estio alojadas em dispensadores de plistico fixos 8 parede, devendo, nesses casos, existir 2 possibilidade de sua liberagdo ser acionada pela pressio sobre ppedais de borracha colocados no assoalho. Ha especificidades para as tomeiras de um lavabo cinirgico ‘que, idealmente, devem ser acionadas por botdes colocados no piso ou autométicos por meio de célutas fotoelétricas, devendo ‘também conter dispositivos que regulam a temperatura da égua. Em alguns hospitais, seu acionamento ocorre a partir de um leve ‘toque do joelho, em uma superficie apropriadamente designada para tal (Fig. 25.1). A antiga pratica do uso de torneiras ‘manuseadas com 0 cotovelo, como ainda se encontra comumente, deve ser desestimulada, Além de provocar o desperdicio de égua, ‘emprego do cotovelo para feché-las traduz total inobservincia aregra bisica da escovacdo cintrgica, propiciando contaminagao. ‘Ao se realizar a escovagiio, 0 roteiro bisico a ser seguido € comecar a limpeza pelas unlias e espagos subungueais, que ever ser limpos com uma espatula. A escovacao (escova com cerdas macias) deve-se concentrar na area dos dedos, nos espacos interdigitais e maos; a fricgao dos antebragos, prosseguindo-se até um pouco acima dos eotovelos, pode ser feita com uma esponja delicada sem, jamais, retornar de um lugar ainda niio limpo para outro que jé foi limpo. Nao se deve usar muita forga no ato da escovacdo nem escovas com cerdas ‘muito duras, haja vista que ambas as priticas podem levar a escoriagdes na pele da equipe cirirgica, propiciando 0 assentamento bacteriano, O enxagiie deve ser realizado com g. 25.1 Lavabos para escovagao cirirgica: A ~ acionamento da liberagao de agua por pedais situados no piso; observa-se a “sporibilidade de tomeiras convencionas para serem usadas ‘em caso de qualquer falha no disposi; 8 acionamento da lberapdo de agua ou sabe por toque com ojoeiho em superticie mmetalioa aspaeiticn 272 Preparagéo para o Ato Operatério it — Equipe Cinirgica Fig. 25:2 Escovacdo cinirgica: 1 ~limpeza de unhas e espacos subungueals, com espatula; 2 - escovacdo de dedos @ unhas,utlizando:se escova ‘com cerdas macias; 3 e 4 — escovagao de maos, antebragos e cotovelos, sem retomar de um lugar ainda no limpo para outro ja impo; 5 — erxague ‘com agua corrente, mantendo-se fltidos os cotovelos, de modo que a agua escorra das mos para os cotovelos, @ nao em sentido contrario. Deve- so atentar para ofato de que a camisa est enfiada dentro da calga do pijama cirirgico, com o objetivo de diminur a possiblldade de contaminagao. gua em abundéncia, a partir da mo para os cotovelos, ea secagem, com compressas estéreis. Recomenda-se aplicar, ap6s a escovacdo, uma solugdo alcodlica do mesmo anti-séptico utilizado —o que nem sempre € feito (Fig. 25.2). Osagentes mais comumente utilizados para anti-sepsia sf Aleool, iodéforos e clorexidina, Nenhum agente anti-séptico & ideal para uso em qualquer situacao, e, além de sua eficacia, deve também ser considerada a ocorréncia de reagdes adversas 420 seu uso em uum determinado centro cirirgico.’ Atualmente, considera-se inaceitivel a antiga pritica de a equipe cirirgica ‘mergulhar as mos e antebragos em bacias contendo anti- sépticos e dleool, antes da entrada na sala cinirgica. Esse ato era tido como um verdadeiro ritual, mas, com 0 avanco tecnoldgico ea aquisigao de conhecimentos cientificos, esta pritica se mostrou totalmente contra-indicada, Em boa parte dos textos relativos & Cirurgia, preconiza-se ‘um determinado tempo para a escovagiio, em cada uma de suas tapas, Nao adotamos o uso absoluto do tempo como referéncia. Recomendamos, sim, atengio total a cada uma das etapas, o que, em média, leva em tomo de cinco minutos para uma escova¢o completa para os dois membros. Alguns estudos recentes vm sugerindo que uma escovagdo por um ou dois minutos é tio efetiva quanto por cinco ou dez minutos, na redugao da contagem de colénias bacterianas.'" Embora alguns autores afirmem que o procedimento completo da escovac%o somente necessitari ser seguido na primeira interveneao cinirgica do dia, também nfo adotamos tal afirmativa. Tendo em vista que isso poders implicar relaxamento de nossa parte, indicamos escovacées iguais, completas, para todos 0s procedimentos, em um mesmo dia de trabalho. Apenas na eventualidade de sairmos de uma sala em que realizamos uma operagio limpa e nos dirigirmos diretamente para outro procedimento em sala diversa, 0 procedimento de escovagdo poderia, teoricamente, ser minimizado, Se existiralgum intervalo de tempo entre a primeira ea segunda operacdo, e, durante esse intervalo, ficarmos, por exemplo, tna sala de repouso do centro ciningico, devemos nos comportar, obtigatoriamente, como se fosse a primeira intervenco operatdria daquele dia. O Quadro 25.1 mostra a sistematizagdo desse procedimento de escovagio cinirgica, Apés a escovagaio, ao entrarmos na sala cirtirgica, 0 instrumentador nos passa uma compressa ou toalha estéril, que, ‘Quadro 25.1 Sequéncia preconizada para a escovacao cirirgica 1. lavar as maos, antebragos, até a regido logo acima dos cotovelos, utlizando-se dgua e sabao antimicrobiano; 2. abriras embalagens indviduais contendo espatula, escova, espuma anl-sépticos para escovagao; 4, limpar as éreas subungueais com as espatulas; 4. coma espuma, distibuiro ant-séptico nas maos e nos antebragos; 5, escovar as faces lateral e medial de cada dedo, as comissuras Interdigtais, 0 doreo © a palma da mao; 6. passar ao antebrago, e dai ao cotovelo, mantendo-se as mos mais elovadas; 7. repetir 0 mesmo proceso para o outro membro; 8, enxaguar as maos, antebragos e cotovelos,utizando-se égua em somente uma direcao, a partir das maos para os cotovelos, sem ‘movimentos dos membros para a frente e para trés; 9. utilizar uma tintura alcodlica da mesma solugao anti-séptica, deixando-a escorrer, a partir das maos, para os antebracos @ cotovelos; 10. seguir para a sala cirdrgica, mantendo as maos acima do nivel dos catovelos. geralmente, acompanha o avental (caso o instrumentador ainda niio se encontre paramentado, o préprio cirurgiao pega a compressa estéril, tomando extremo cuidado para no conta~ minar avental). Sempre mantendo as mios mais elevadas do que 0s cotovelos, comegamos a enxugar a partir dos dedos, em dirego aos antebracos, nunca retornando ao local jé anterior mente enxuto. Devemos deixar ambos 0s cotovelos para o final do proceso de secagem, um para cada face da compressa, por serem locais potencialmente mais contaminados (Fig. 25.3). Colocasdo do avental e luvas cirbrgicos A maior justificativa para uso do avental e luvas cinirgicos & a ctiago de uma barreira entre o campo operatitio e os membros da equipe cirirgica. Tradicionalmente, esses itens vém sendo usados para proteger o paciente da contaminago que os membros dda equipe possam eventualmente levar ao campo operatério, mas, Preparagdio para o Ato Operatério Ill — Equipe Cinirgica 273 na atualidade, também o inverso tem sido motivo de grande preocupacdo. Essa tltima possibilidade, a eventual transmissao de patgenos do paciente paraa equipe cinirgica, & tio maior quanto ‘ais intensa a perda sangiinea durante o ato operatério e também aumenta em associagdo direta com a sua duragio.!%!t ‘Uma vez realizada a correta escovagiio cirirgica, enxagiie ¢ retirada do excesso de anti-séptico, todos os membros da equipe deverdo colocar os aventais € luvas cinirgicos. Quando contamos com a presenga de um instrumentador, ao entrarmos na sala cinirgica ele jé dever se encontrar devidamente paramentado nos auxiliard na colocacio da vestimenta, passando-nos o avental aberto ¢ na posigdo correta para que o vistamas. = Colocacéo de avental cirérgico reutilizavel (sozinho e com auxilio do instrumentador] Ao serem levados para esterilizagdo, os aventais so dobrados de forma que sua parte externa e suas mangas fiquem Fig. 25.3 Secagem das mas: 1 — apés a escovacdio, mantendo as méos elevadas, o cirurgiao se ditige até o local em que se encontra o avental cirirgico estéril; — uma compressa estéril é retiada de uma dobra do avental (onde 6 usualmente colocada), preferencialmente com as pontas. dos dedos, com extremo culdado para no ocorrer contaminacao; 3 @ 4 ~ uma das faces da compressa é ulizada para secagem das areas do ‘membro superior esquerdo submetidas a anti-sepsia; 5 e 6 ~ com a outra face da compressa, seca-se 0 outro membro; 7 ‘mics © antebragae, cada um dos cotovelos & goo com uma dae faces da compreces; ‘aps essa etapa, a compressa é desprezada em recipiente adequado. Uitimas droae a eoram eoeas; da mooma forma que com 08 cotovelos so as 274 Preparagdo para o Ato Operatévio IN — Equipe Cirirgica voltadas para dentro. Assim, pega-se firmemente 0 avental pela gola, afastando-o de qualquer local nao-estéril. Apés isso, devemos seguri-lo ao nivel dos ombros, com as maos elevadas, e deixé-lo desdobrar totalmente, com gestos suaves, sem sacudi-lo, Deve-se ter extremo cuidado para que nenhuma parte do avental toque qualquer superficie nao-estéril — as ‘inicas duas partes consideradas containinadas sio a gola e os ‘ombros, haja vista que houve contato com a mio desnuda, sem luva (que, apesar da escovacdo, nao esta asséptica). Uma vez que 0 capote esteja totalmente aberto, introduzimos as maos correspondentes, guiando cada membro superior através das mangas correspondentes. Como ainda estamos sem luvas, iio devemos fazer qualquer esforgo para passar as mios pelos punhos do avental pela possibilidade de. fricgao desenvolvida (ainda que minima) poder propiciar 0 assentamento bacteriano, Devemos solicitar a ajuda do circulante da sala que, por tris, puxard 0 avental até os ombros, descobrindo as maos do cirurgido, ¢ amarrard suas tiras dorsais. Em algumas instituigdes, os aventais apresentam duas tiras, & direita e & esquerda, em sua parte da frente, que deverdio ser passadas a0 circulante (que as pegari pelas extremidades) para serem amarradas no dorso — fechamento do avental cirirgico. Deve- se atentar para o fato de que somente com as mos enluvadas se poderé realizar esta etapa, para ndio haver contaminagio da frente do avental. Em outros locais, essas tiras jé fazem parte do dorso do avental, o que facilita 0 processo ¢ minimiza 0 risco de contaminagao. ‘No caso de o instrumentador estar nos auxiliando ja com luvas cinirgicas, ele puxaré os punhos delicadamente, liberando nossas mos. De um modo geral, os punhos dos aventais apresentam uma pequena alga ou cadaryo de tecido resistente que é posicionada ao redor da base do polegar, na comissura interdigital entre 0 1:°¢ 0.2. quirodactilos, ¢ evita que o punho se destoque em dirego 20 cotovelo durante 0 procedimento cirirgico, provocando a desnudaco de parte do antebrago (Figs. 25.4. 25.5). = Colocagéo das luvas cirtrgicas (sozinho e com auxilio do instrumentador) ‘Terminada a colocagio do avental, 0 proximo passo € a colocagao das luvas cirirgicas. De forma padronizada, as luvas so dispostas em sua embalagem protetora com o punho virado para fora, permitindo que sejam manipuladas utilizando a parte exposta de sua face interna, Com a mao direita, pegamos a luva esquerda (por sua dobra) € a introduzimos na mao esquerda. A seguir, a mao esquerda, jé parcialmente enluvada (antes de se posicionara luva Fig, 25.4 Colocagao do avental ou capote cirurgico, sem o auxiio do instrumentador: 1 ~ com uma das maos, pega-se a gola do avental,tnica rea extema que se tora contaminada; atentando-se para o cuidado de se estar em uma area livre de quaisquer objetos potencialmente Contaminantes, o avental éretirado da superficie & qual estava apoiado e ¢ elevado, permitindo que ele se desdobre; 2— 0 aventaljé se encontra {totalmente aberto, pronto para permit a paramentacdo do crurgido; 3 ¢ 4 — os membros superiores sao inroduzidos rias mangas correspondentes do avental; 5 © 60 crculante de sala amarra as tras que prendem o capote no dorso; atentar para o fato de que as mos do cirurgo ainda se éencontram cobertas pelo punho da vestimenta: 7 - depois de enluvad (vide Figs. 25.6 ¢ 25.7), 0 crurgiao desata 0 n6 frouxo das tras do avental; 8 as extremidades das tras (distanciadas do avéntal, para 6¢ evitara contaminagao) edo pegas pelo crculante de sala que as amarrano dors, ultimando @ paramentacao cinirgica, 275 Preparacdo para o Ato Operatério III — Equipe Cirirgica Fig. 25.5 Colocagao do aventa ou capote cinigico, com o auxio do instrumentador: 1 ~oinstrumentador (4 paramentado) abreo capote¢ introduz as suas mangas nas mos do crurgigo; 2 - enquanto ointrumentador inca o aluste do punto do capote, 0 Groulante de sala amarra as suas tras

You might also like