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Na Optica que se 130 organizar 0 Congresso Tu ural Territrios & Identidades cujo output agora se publica o binémio Cultural Patriménio (recurso turstico 2 ser estudado) surge nfo 6 como factor de atracgSo de turistas, mas também como referéncia de Mdentidade e de identiticacSo dos teritérios e dos que neles habitam, De acto, patriménio, petas suas caractristicas arquitactnicas ea pelas qualidad pla dimensio hist simbélica de que se revista, surge camo um impartante activo no quadro dos recursos turisticos de uma regio ou de um pats qui transparece que 2 sua inserglo na actividade e no experiéncia turisticas tem vindo a evoluir no sentido de passar de uma situagio em que 05 visitantes apenas se limitavam 2 ver, mais ou menes rapidamente, um ‘monument inserido nos tnerérios habitual (turismo de massa), para uma maior exigéncia no sentido da compreensio dos lugares vsitades (turismo cultural) e de preservagio do patriménio artistico arquitectons reser eRe eee Coney TURISMO CULTURAL, TERRITORIOS & IDEN Maria da Graca Mouga Pocas Santos (Org.) TURISMO CULTURAL TERRITORIOS & IDENTIDADES Romney Capitulo 7 ‘TURISMO CULTURAL, PATRIMONIO E POLITICAS PUBLICAS EM TERRITORIOS RURAIS DE BAIXA DENSIDADE: EIXOS VERTEBRADORES DE REVITALIZACAO E DE CONSTRUGAO DE NOVAS IDENTIDADES? Paulo M. de Carvalho! Resume ‘Acollura eo ptrnnénio emergem nos ities anos como recursos turistins em diversas poiti= ‘ase intervengies publics. Estas, or sua ve, configuram importantes ancoras de atacgio de turistas vistantese novos residents, Ao mesmo tempo, servem de pretest par a requalifiagio de lugares ea melhora das condigbes de vida das populabes,designadamente em contetas de buna densidade. No caso dos espags ruraiseuropeus, em paticular no quadro da Unig Euro- De as teaectris de desenvolvimento eflectem as ovientagdes ambiental teritoralistas ths nova poitias pblics e o interesecrescene da sociedad ps-moderna em relagio os recursos ambientase patrimoniais. Nesta atmosfra de redescoberta ds teriGrios ede vlori- aco ( actvago) social do patrimnio éoportunoreflectir sobre aestruturac eos resultados de algumas politics e inicitives (com fnaidades epreocupagbes de turismo cultural em Por- toga, nmeadamente as vertentes relacionadas com a rvitalizagio do tecido econdmicne social das seas de intervengo ea construgio de novas identidads. A nossa proposta de rele pre- tend dscutr os quadras teense conceptuais mais velevantes eanalisar s resultados preliri- ‘ares derma inicativaconereta: a Acco Intgrada de Base Territorial do Pinal Interior (om- onente FEDER; Regio Centro de Portal, 2000-200) Palavras-chave Turismo cultural, Patiménio,Plitisspiblicas,Desenvelvimento rural ‘CULTURA E PATRIMONIO: RECURSOS PARA 0 TURISMO E ANCORAS PARA 0 DESEN- \VOLVIMENTO DOS TERRITORIOS F DAS POPULACOES, ‘Coma refere HENRIQUES (2003), as relagdes que se entretecem entre turismo e eul- tura tim uma maior expressividade no esparo urbano. A existéncia de Jugares de patrimé- u) Insiato de Estados Geogics, Faculdade de Letras da Uiverséade de Coimbra. @ “Toma Cultura, otis Wetases nio (ou de valores patvimoniais), de concentragao ede confluéncia de uma multiplicidade de dinamicas em interacgdo e 0 maior ntimero de equipamentos culturais encomtram-se entre os factores explicativos mais relevantes deste feriimeno, No caso de Europa Ociden- tal, a degradagdo das éreas de maior significado histéricoe cultural das cidades ~ que, a0 ‘mesmo tempo, desempenham fungdes muito importantes na construgéo da imagem ¢ na identidade territorial ~ esta na origem de uma nova atitude dos gestores do tervit6rio, a partir dos anos 70. A tentativa de travar e inverter essa espiral de declina (isco, econs: ‘mico, social, entre outros) abriu caminho a diversos processos de revitalizagio e de requa- lificagao que, nos Gltimas anos, ganham navas éreas do espago urbano, nomeadamente os subirbios em crise. As intervengbes reflectem uma perspectiva de integracio consubstan- ciada na amplitude de politica ¢ instrumentos que procuram conciliar acgées que vlo da conservagao e valorizagdo do tec fisico, em particular as estruturas elificadas, ao pro- cexso de revitalizagdo sociale econémica. 0 turismo cultural pode desernpenhar ura papel ‘muito relevante no émbito da divesifcacio ou reestruturacao da base econémica (ado ‘apenas das dreas mais antigas} se enquadrado nas tarefas de planeamento e gestio desses espagos, isto €, através da definigdo de politicas e acgbesintegradas direceionadas para os "ltiplos problemas das reas historias e indo a0 encontro das expectativas e iteresses dos diversos grupos que gravitam em torno da cidade, ‘A apropriagio do espago urbano pelo turismo aparece também associada a dindmicas orientadas para a requalifcagdo e reconversio de éreas urbanas degradadas (como, por ‘exemplo, frente rbeirinhas),envolvendo frequentes vezes grandes alteragbespaisagisticas « funciona, De igual modo, dversos elementos do patriménia (incluindo novas dimen- bes entretanto valorizadas) emergem no centro das preacupagbes de intervencio e adqui- em novos usos. Por outro lado, o estreitamento das relagbes entre o turismo €o patrid- nio foi impulsionado também pela «revitalizacdo/regeneracto da cidade histériea ou das ccentroshistéricos» a partir da utlizagdo do turismo como agente dinamizador do desen- volvimento (HENRIQUES, op. cit. 44), Aemerggncia de uma nova fase do turismo, que assume novas caracteristicas deacordo ‘como novo paradigma da economia globalizada, é acompanhada de mudancas acentuadas fem quatro dominios: na procura, nos inputs do processo produtivo, na gestio da actvi- dade e no contexto macroeconémico (FONSECA, 2005). As caracteristicas estruturantes 4a «nova era do turismo, a leibilidade, a segmentagio ¢ a integragao diagonal influencia- ‘am muitos gares urbanos a valorizaros seus recursos culturais com o intita de aurmen- tar oseu perfil compettiv. O patriménio destaca-se como recurso diferenciador dos terité- ros e pode ser utiliza para obter vantagem no quado da competigSo entre os lugares, por via de estratégias inovadoras que tendem a envolver agentes/operadores pablics e privados (ada ver mais em regime de parceriae segundo ura logica de rede), no deseno de novos ‘produtos de turismo cultural destinadosa captar segmentos espeificos da procuraturistica. Esta atmosfera de mudanca nfo pode ser dissociada da evolucio do concsita de patri- ménio e das novas tendéncias que marcam o comportamento dos turistas, No primeito {tion curl panda epotnis pleas am tari is de tba densinde caso, importa destacaro papel de dversos organismas internacionais como, por exemplo, 1 UNESCO (Organizagdo das Nagdes Unidas para a Educagéo, Ciéncia e Cultura ~ com origem em 1945), o Conselho da Europa (organizagio intergovernamental de ambito curopeu, fundada em 1949}, o ICOMOS (sila da organizacio nio-governamental,eriada «em 1965, para designar 0 Conselho Internacional des Monumentose dos Sitios) e a Unio uropeta (cuja fénese rermonta a 1957). As normas internacionais sobre o patriménio cul- tural podem ser balizadas em quatro grandes dominios: as convengdes (aprovadas pelos Estados signatrios, que se obrigam a aplicar no seu territsrio os principios neles expres- Ses); as tecomendagoes (prneipiosdestinados a orienta as politics de cada Estado, mas sem carécer vinculativo); as resolugdes do Conselho da Europa (no tém carter vincu- lativo, mas podem servis de modelo para a adopedo de recomendagies ede convenes}; € «5 restantes actos, como cartas, orientagées, princiios, conelusGes de eventos e declara- Bes que, por sua vez, definem os prncipiase os conceitos sobre determinada materia, de ‘modo a orientar a acco dos agentes, embora sem cardcter vinculativo (CORREIA, 2006). (0s temas e 0 conceit abordados pela normativa internacional, com mais de uma cen tena de documentos publicados desde meados do século XX, reflectem o alargamento da, nogio de patrimenio ea sua vinculagdocrescente ao teritrio e ans cidados. Com eftito, as diversas orientagbese prinepios de actuagio revelam o crescimentoe a plasticidade do Universo de bens susceptives de patrimonialzagio,destacando-se nos iiltimos anas as dimensdes imateriais ¢ os ambientes rurais e vernaculares; mostram uma maior ambicio ro que concern &eseala de intervencio,enftizandoo contexo territorial edaléctica dos bens a proteger ea valoriza, isto €,o quadro natural e construfdo que inluina pereengo estatica ou dindmica desses elementos ou conjunts, oua eles se vincula de maneiraime- diata no espaco, ou por lagos soca, econémicos ou culturais (UNESCO, 2006); sublinham anecessidade de democratizarafruiglo das hens culturase patrimonias; destacam a neces- sidade de devolver opatrimiénio aos cidadios e de estabelecer com eles uma nova relagio, também por via da sua particinacso (espontinea ou organizada) nas diversas tarefasrela- cionadas com a salvaguardae valorizagdo do patrimnio; eenfatizam o carter utilitario do patrimeénio fa auséneia de fungao ou a vineulagio a fungdes desajustadascompromete 0s resultados das acces de proteccko evalorizaéo dos bens patrimonias imaves) {As recentes elornadas Europeias do Patrimdnio» (22 a 24 de Setembro de 2006), uma iniciativa anual do Conselho da Buropa eda Unido Europea, sob titulo «Patriménio ‘Somos Nés», so um exemplo muito interessante da importancia actual do patriménio e do esforgo do poder pailico no sentido de promover o envolvimento dos cidadios com 0 patrimenio ea participacdo destesna descoberta do lesado historic e cultural nacional e ccuropeu. A iniciativa em Portugal, sob eoordenaso do Instituto Portugués do Patriménio Arquiteeténico IPPAR), envolveus cerca de 110 municipios, 400 locais, 200 insttuigdes piblicas eprivadas, e um programa variado (de mais de cineo centenas de acontecimentos) com um leque diversficado de actividades (visits guiadas a museus, a monumentos clas sifcados e a nicleos antigos; conferéncias palestras; exposiies teméticas; recitais de Es Terao Cutan Tr sense _midsica; pecas de teatro; reconsttuigao de acontecimentos histiricos; ateliersIiicos & pedagigicos; edigao de publicagdes, entre outros), organizadas em parceira com um sig- nificativo nimero de entidades. Numa palavra, este evento ofereceu uma nova forma de colhar o patriménio cultural - «uma realidade viva que s6 adquire significado na sua relagSo ‘com as pessoas € 2s comunidades» (IPPAR, 2006), segundo tuma proposta que enfatizou a familia no provesso de transmissBo da heranca cultural e no reforco dos lagos termporais € afectivos entre pessoas ¢ lugares [No que diz respeito as novas aitudes dos turistas, um estudo da Organizagio Mundial do Turismo (publicado em 2003) a propésito de tendéncias qualitativas que se desenham ‘no Ambito do turismo, citado por BARROS (2004: 88), «considera que os turistas fo hoje ‘mais actives do que no passado, Para além disso os interesses vio-se diversificando e seg- _mentando, a saber, mais interesse na tecreagao, nas desportos, na aventura, no conheci- ‘mento da histia, da cultura, na natureza ena vida selvagem das éreasvisitadas>. Ou sea, ‘© tursta € cada vez mais participativo exigente (no que dit respeto ao entendimento da linguagem de estruturagao dos lugares vsitados aos objectivos da preservagio dos bens patrimoniais,€ menos influenciado pelas perspectivas da oferta Lufstica massificads Portanto, no turismo cultural, a componente relacionada com a procura & cada vez mais importante por causa da etendéncia dos consumidores em serem cada vez mals especiali- 2ados,exigentes e com discernimento» (MeGETTIGAN, 2005: 141), Asedimentagao deste novo comportamento do turista que cometa a valorizar produtos ‘ou destino turisticos mais respeitadores do «ambiente», prefigura a mediagao de estraté- sas de sensbilizagio e (inJformagao sobre 0 patriménio. Um dos documentos pioneiros nesta matéria,a «Carta do Turismo Culturabs (aprovada pelo ICOMOS, em 1976), reconhece a wextrema necessidade de implementar medidas apropriadas de sensibilizacao, destinadas a faclitar a informagéo e a formacio das pessoas, que se deslocam por motivos tuisticos zo interior ou para o exteriar do seu pais de ovigern»,e assume o objective de madificar a atitude dos tutstas (e do pablico em geral) mediante uma estratégia educative direccio- ‘nada para a compreensio e o respeito pelo patriménia, Desde essa data, a influéncia que © ‘turismo exerce no dominio do patriménio (natura e cultural), também na perspectiva dos cleitos negatives relacionados com a utilizagao massiva dos bens patrimoniais eperante 0 acentuado crescimento da actividade turstica, constitui uma tematica recorrente no ‘quadro das preocupagies de diversos documentos orientadores ¢ normativos produzidos por especiaistas no sefo de organismos internacionais como, por exemplo, a «Carta Inter- nacional sobre o Patriménio Cultural» (ICOMOS, 1999) e, de forma indirecta, a «Carta de Cracévia (2000). ‘Aideia de que o turismo cultural assume a descoberta do patriménio segundo préticas ‘que concorrem para a manutensio e protecgao dos bens insere-se na problematica mais vasta da sustentabilidade da actividade turistica. Na sua ligago a0 patriménio,o turismo sustentavel (como actividade que visa satisazer as necessidades e expectativas dos turistas actuats e das éreas de destino, 20 mesmo tempo que potencia estas oportunidades para as Ture etal. patina poles pubes em tarts mms de ba desiade eragies futuras) baseia-se na gestio dos recursos culturais naturais de modo a satis- fazer, em simultineo,finalidades econdmicas, socials e estétices, ao mesmo tempo que ‘mantém a identidade cultural, assegura os processos ecoligicos, a biodiversidade eo fun- cionamento dos sistemas que suportam a vida ea actividade turistica. Dito de outro modo, 0 desenvolvimento sustentével do turismo deve ser pensado como um encontro entve as necessidades do turista eas dos lacais de acolhimento (INSKEBP, 1991). Contudo, o desa- fio da sustentabilidade € hoje mais exigente no sentido de envolver a participagao dos cida- dose a inclusio dos terit6rios no desenho, aplicago e acompanhamento das politcas © dos instrumentos relacionados com a intervengéo espacial ‘TURISMO CULTURAL E PATRIMONIO NAS NOVAS POLITICAS F INSTRUNENTOS PARA (08 TERRITORIOS RURAIS MARGINALIZADOS: 0 EXEMPLO DA AIBT DO PINHAL INTERIOR (2000-2006) ‘Coma jése refer o patriménio, como recurso turstico, pode desempenhar um papel estratégico para 0 desenvolvimento dos territérios e das populagbes, designadamente as tarefas de revitalizacio do tecido econémico e social, areconstrugio de meméras e identi- dades, a requalificagioe a renovagéo da imagem teritoral. Em sentido mais amplo, pode> ‘mos referir ainda a realizacio de iniciativa (formais e informs) de educacdo patrimonial, a tomada de consciéncia « a mobilizagéo da partcipacso da sociedade civil em relagéo 20 patriménio aos seus valores. Deste modo, € reconhecida a crescente ligaglo do patrimé- ‘io 20s naves usos do territério e aos novos valores da sociedade pas-moderna. As mais recentes e inovadoras politces pablicas de desenvolvimento eos instrumentos. relativs & intervencao espacial reflectem a centralidade do territdrio e das novas formas le gestao territorial. De igual modo, afirmacse a (re)descobetta dos territtios ea (ve}cen~ tralizagdo da importincia dos lugares por via da valrizagio social de recursos como 0 palriménio, Este, emergindo também no contexto das preocupagbes estéticase vivenciais das populagbes da pds-modernidade, prefigura novos caminhos de desenvolvimento e a construgi de novasidentidades. Por sua vez, o patriménio cultural, recurso que tem cada vez mas formas de abordagem e mais eategorias (CALADO, 2005), destaca-se como ele- ‘mento de grande atracgdoe de enorme importéncia na renovacio da imagem dos terititios «turismo cultural, «enquanto instrumento de desenvolvimento local, surge associado a vantagens, que vBo desde a reputacao de mercado em crescimento 20 papel positivo na cons- ‘rugia da imagem do destino e & promogio da natureza de lugar-especfico (consolidagio da cultura eidentidade do focal, ainda que integrado num mereado que procura a globa- lizagio}» (GONGALVES, 2005: 46). Assim, o desenho de novos produtos tursticos centra- ‘dos na cultura eno patriménio responde aos imperativos da diversiticagdo (necessidade de iferenciagSo da oferta) e da nevessidade de inovara imagem dos dstines que, por sua vez, sutilizam, eada vez mais, as imagens do patriménio como forma de afirmagio da sua iden- w asm Cara Terie e detdes tidade, ao mesmo tempo que se assist @ um aumento da procura deste tipo de produto», indo ao encontro das caracteriticase necessidades do eturista da pds modernidade: fas activa, diversifcadas,cheias de emogdes ede novas experiéncias» [GONCALVES, 0p. cit.) "No caso ds espagnsrurais europeus, saberos que uma parte significatva deste universo «sé frequentementeassoiadaasinais de declinioe crise acentuada,agravados no decurso ‘de décadas de marginalzago (por parte do poder pablico) ede fuga da populagio (com con- sequent abandono edegraago de paisagens que perderam o centro de ravidadefuncio- nal). Em rlago 3 Europa Comunittia,depis de uma fase (dete décadas) dominads por preocupagées produtivistas, difusionstas easistencialists, emergem orientagies terito- vialista e ambientalistas que apontam diferentes vis para 0 desenvolvimento rural (CAR- VALHO, 2006). Neste contexto€perinentequestonar se turismo cultural, na sua iga- io a diferentes dimensies ou eategorias de patriméni, pode funcionar como factor de revilalizago desesespagos ede ecanstrug das suas identidades. ‘A referda sctividade, emergent no quadro das noves procurs sociis eda alteragio da imagem das eas ruais (BUTLER ef a, 1998; HALL et al, 2003), configura uma das vas complementares que se pretendeincentvar (no supacitado context de marginalzacfo conémica e soca), através de diferentes potas, instrumentos einiciatvas. Contudo, ‘lo so alteratvas cess agviculturas em crise ou letrgicas, como tami no sd, ‘na sua maioria, incentivos ives ede longa esperanca de vida (CAVACO, 1998). No mesmo sentido aponta BALABANIAN (1808), quando defende que os terrtsiosrurais, particular ‘mente os mais frges, sho mais lugares de excursfo ede lnzer do que espagos turisteos, € ‘mesmo assim 0 retomo econdmico desseslazeres & muito fraco. Portanto, fica caro que «turismo é uma actividade muito selectiva € que apenas alguns terit6rios apresentam potencal para erem, progressivamente, incorporadosna categoria de espaos de turismo. Prefgura um dos caminhos para o desenvolvimento, que deve ser integrado numa esta ‘gia (eritoral social) sustentivel (CARVALHO, 2005). Todavia, &problemstico conci- liar a diferentes ovientagies, perspectivaseintereses em relagio 2o turismo (em espag0) rural (figura 1), uma vez que as teritvios rurais consttuer plataformas de intereses divergenteseconfitos entre diferentes actores(SHARPLEY, 2003) Segundo este autor a gestio dos teritrosruras€ hoje mais complexa, com urna mulilicidade de estruturas « mecanismas politicos, que reflectem o decini do papel do sector agricola ea emergen- ia de diverss interesese processos,incluindo o turismo. Ao mesmo tempo, o contexto politico de goveragio rural conheced algumas transformagzes, nomeadamente a partilha de poder e apaticipago de entiades governamentase ndo-govermamentas. A pluraidee das interengéese das insttugées envlvidastraduz a confrontaglo de duas perspectivasideoldgiasantagénica: de um ldo, a perspectva lic, alicrgada em dnteresses ambientalistase em praticas conservacionistas dos recursos e valores ambien- tai cultura do emundo rural; de outro ldo, a visio ractonalist,assente na tilzagio ¢ na maximizagio econémica dos recursos turistcosruris (CARVALHO, 2006-) Turon curt ptinio epoies pbs em tnx nami de Boa desiode “urn Rural Sst s 7 | ‘ Vis3oidilica | ‘Visio racionalista 1 | i consengio} [RUTORDADE'] [peReATORTAGTO) 1 1 hone ete se fo : | = an Set i | i \ [Gest do Turismo Rurat_ | / Figura 1 — Mado de esto do wrismo ral estntivel Apartcipagio (ea sustentabildade) do turismo, com base nos recursos cultura e patri= rmoniais, nas estratégias de desenvolvimento pressupde a definigdo de politicas e instru rmentos integrals. As tendéncias recentes revelam que os territrios rutas de baixa den sidadesuseitam preocupagoes prioritaias de intervencao e por isso encontramse no centro de poltcas,instrumentos e intervengSes impulsionados pelo Rstado, agora que deixaram de ser olhados sentidos apenas na dptica das suas capacidades produtivas. Com efeto, a reflexio recente sobre as politicas de desenvolvimento destaca a necessidade de ultrapas- sar as tradicionais perspectivas sectoriais, segundo as quals eada sector é analisado de ‘modo individual, ¢ adoptar uma visko estratégicae global de um determinado tertitcrio, «de maneira a definir pollticase intervengSes teritoriatzadas. Esta nova atitude, em que a , enaluralistas de parques» ou «intérpretes naturalistas» nos parques ‘nacionais americanos seguiu uma linha pouco sistemética, mas muito apaixonada, preo- ‘cupada em revelar a esséncia de certos lugares, em eriar emoges e em avivar o interesse dos visitantes pela Natureza!’, ‘A publicagio, em 1957, da obra de Freeman Tilden, Interpreting Our Heritage" cons- tituiu um marco da maior importancia, na medida em que sistematizou pela primeira ves as ideas mestras desta Svea de estudos em sels prinepios basilares, que constituem ainda hoje a esséncia de toda a teoria da interpretacdo. Por outro lado, a crescente procura dos parques naturais por parte dos visitantes a seguir & Segunda Guerra Mundial, dew um ‘mpulso significativo as actividades interpretativas ea afirmacao profissional dos intérpre~ tes loais. Entretanto, a interpretagdo expandia-se pelos palses anglo-saxGnicos (BUA, Reino Unido, Canadé, Australia) e pela América Latina. {A partir dos anos oitenta, a denominasio inferpretagdo do patrimdnio deixou de ser utlizada unicamente em referencia 20 patriménio ambiental para aludie também ao patri- rménio cultural, pois entendia-se, desde entao, que o esirito eas atitudes que a ambas esta- ‘van subjacentes eram as mess, 'Na Europa Continental, a introduso definitive da interpretacio deu-se duvante os anos noventa, ¢esteveassociada a crise dos modelos museolégicos tradicionas e& celebragio, em 1995, na cidade de Barcelona, do TV Congresso Mundial de Interpretacio do Patrimé- no. Afirmou-se, entretanto, como estratéga associada a iniciativas de desenvolvimento local e regional, especialmente relacionada com o turismo cultura, rural ¢ ecaldgico'. 3. Mas afinal 0 que é interpretagio do patriménio? Nao ¢ fcil apontar uma definigdo consensual da expressio, pois cada autor, cada instituiglo ou cada associagio profissional tem adoptado a sua prépria enunciagdo, embora todas elas acabem por se apraximar nos seus elementos definidores fundamental Freeman Tilden, opai da disciplina, defini a interpretasao como wuma actividade edu cativarecteativa que pretende revelarsignificadas ¢inter-elagbes através do uso de objec- {0s originais, por um contacto directo com 0 recurso ou por meios ilustratives, nfo se (03) Bary Mackinos,«lnterpeaton inthe National Park Service: & Historical Perspectives 1985 (huipzicwcenpsgouistryoline booksmackintosh2 (08) Obra recentementepublicada erm castelhano: Preeman Tien, Le Interpreten de Musto Patrimonio, Asecicin paral nterpetcin del Patrimonio, Pamplona, 200, (05) Esta designacio mais abrangente, que incl tanto a iterretagdo ambiental como a cultural, fos detiitvamente no Congress Internacional de Apresantagioe interpreta do Patri, rar liaado er Ban, no Canad, em 1985 (iterations Scenic Commitee on Cultural Tourism, Turisme at World Here Cultural Stes The Site Managers Hendbook, ICOMOS, Burwood Vitra, 1983, p13, ‘dsponie em vonsinterntinal.eomos.ors/pubiatins (16) Jorge Norales Mirando it, p. 3941 e Joseph Ball Hern e Jord Juan i Tsseras, (bs t, ieh,Baredona, 2001, pp. 175-176. Jimitando a dar urna mera informagao dos factos»"", Don Aldridge, 0 pioneiro da interpre- tagdo no Reino Unido, entende-a como «a arte de explicar o lugar do Homem no seu mei ‘com o fim de inerementar a consciéncia do visitante sobre a importincia dessa interacco, ce despertar-Ihe o desejo de contribuir para 4 conservagao do ambiente»!®. Bob Peart com- preende a interpretagao como «tum processo de comunicagao desenhado para revelar 20 iiblico significados e inter-relagdes do nosso patriménio natural ¢ cultural através da sua participacéo em experincias em primeira-mio com um objecto, artefacto, paisagem ou sition! ‘A Associagdo para a Interpretacio do Patriménio do Québec (1980), concebe-a como ‘cum processo que pretende comunicar a0 pablico o significado ¢ 0 valor do patriménio natural e cultural, implicando directamente o individuo com os fenémenos, para torné-lo ‘consciente do lugar que ocupa no espago e no tempo», Por fim, a definigio adoptada pela Associagao [Espanola] para a Interpretagio do Patriménio a de que se trata de uma arte” de revelar int situ o significado do legado natural e cultural ao piblico que visita cesses lugares no seu tempo livres? Estes conceitos®® acabam por conter alguns denominadores comuns e componentes. falerais que nio padem ser ignorados ao encararmos o tema da interpretacfo: 0 elemento reereativo, a experiéncia inspiradara e enriquecedora (portanto afectiva e cognitiva), 0 pro- cesso de comunicagéo, o contacto directo com o patriménio, a sensibilizaco para a sua proteccdo (uum aspecto comportamental) €, por fim, 0 publico no seu tempo de Geio”®, 4, Anterpretacio do patriménio paula-se por um conjunto de prineipios~fixadosini- cialmente por Freeman Tilden reinterpretados mais recentemente por Larsy Beck e Ted (17) Apu Jorge Morales Miranda, 0. et, p. 2 (18) fer, bide. 3, (9) Hem, biden. (20) France Hermindes Herne, Patrimanio Cultura: La Memoria Recuperada, Te, Cin, 2002, p10 {21 Jore Moraes Miran, 0. p38. (22). outasdefnigaes site da IP (Ascicin pra la oterpretacin del Patsionin,winter- pretacionelpatrimonio.com, (23) Lary Beck Ted Cable, «The Meaning of Interpretations Journal of Interpretation Research, 7 1, 200, pp 7-10, deat esta questa, detaanda trés dimensias do temo interpreta do pains nin: a interpreta como revelago, a interpretagio camo arte, 2 interpretacs como oferta (nomeads- ‘mente uma oferta de eaperangal, Deft, o programas atvkadesinterpretaasprocuam evel sig- leas, estabelaceno relates, porque eles no so Sbvios,embora sempre com a noi de que it~ ‘enles interprets edferetesvistntes entero mips eetios. Par esta mesma rao, o tas ores cosieram a interpretacio como uma fos de ate, uma vez ques ralam de proceso rit- ‘or de planfeagioeexecuto, Po iso mesmo, a nterpretaio é também entndida como uma oferta ~ {de conhecimento, de comunidadeeinleracgi , Iclushamente, de esperanga no ft. (24) ntergeting Our Heritage, Te University of Not Carli Pres, Chapel Hil 197, epud Jorge Morales Miva, 0. 9.4858. we ° Tarn Clea Torta eos Cable e que constituem es fundamentos da disciplina, bem como a matrz que tem stuido, ou devera guar, segundo eles, os intérpretes locais na planifcagio execusio de programas ¢ actividades interpetativas. Estes outros esudiosos da questio so undnimes em considerar que, para despertar ‘o interesse dos visitants, os intérpretes dever conseuir que a conteidos das suas men- sagens se relacionem com a experiéncia dos vsitantes. A semelhanga de uma obra de arte, 2 apresentagao interpretativa deversenvolverprofundamente oviitante, prvocando-Ihe ‘uma reacedoafectiva, para que ele amplie os seus horizantes™. A interpretagio no se pode limitar exclusivamente & transmissio de informaczo, devendo antes revelara estncia€ o significado do lugar que esta ser vistado, Por isso, 0s intepretes deverdo prestar muita atengéo & quantidadee & qualidade da informagao a apre- sentar. la terd de ser bem sintetizada e fundamentada numa boa investigagao, pois «uma 'oa interpretagio tem mais poder que um grande discursos". Neste sentido, a interpreta- ‘io deverdapresentar um tema global endo partes isoladas, estas deverso se sempre pers ‘ectivadas em funcSo do tonico principal. $6 assim o visitante teré uma percepeSo sini ficatva da mensagem apresentada. Por outro lado, os textos interpretaivos,orais ou ‘scritns, devem procurar transmitiraquilo que os letoresgostariam de conhecer, em refe- rencia ds suas expectativas. (25 Interpretation a he 2P* Contry ~ tao Gung Principles for Interpreting Mature and Gul tue, Sagamore Publishing, Camoagre, 1958, nud loge Morales Miranda, a,c, p. 585 126) Cl. David Ursa, tlertage interpretation four decades after Tens, Manual of Herlege ‘Management, Richard Hanson (ed), Butlrworth Heinemann, Oxford, 1996, 75 298-289, (27) Vein se Jorge Morales Miranda, of, c 9.58 (25) De facto, pata alm de conto snes ¢perpectivadas em toro de um tera central, a Ioterretagio deer relcionarse com as expergoias ds states. Er context interpreta, 2 ae- senlacio dos temas no pode prlesarteminologaespectc, sob pena de se torr demasiado fi € ‘com pouco sentido para ovstant. Ela ever primar pels aspectos humanes, normalment associades a0 quottino, para que receptor se erwolva afectivaeexstencalmente com os abjectosintepetades, or formaa qu ele apreendao significado eo valor dsss objects, a apresentag ve tone, lpi, uma exeridncasignifeatvee memoriel Yeas, a este propsite, Jorge Morals Miranda ab it. pp. 128-130, que express esta concepgo com 2 idea de qu a intepeetac devrd ser diriida a0 corgi, ‘nas do gue & raz. Diz ele qu os estudosdesenolidos ra Stes picoloiacognits, em torme de tperiénisinerratativs, tem demontradeeractamente que o cricer mas ou mee igo das mansagens interpetatvs para o receptor depende corvelithvamente do carter mais ou mens abs tracto dos seus cones, Pra que as mensagenssejam signifcativas deverio privlegir a descriga da realdade, mais do que os coneetes abstractos, que si artis. Sam H, Ham, La psiolgiaconitva Ya interpreta sintssyalieaciins, Botetin de Interpetacn, 1, 2008, np 18-21, a lsborr uma sintese da problemitica da pscologiacogitva em contest interpreta, confirma estes emt oteos Postuladestesvens, pelo que se aconsela ertemente a sua liu. (29) Veinse propdst da roblemstica das motives e expecta dos visants de tas eam valor timonia «este de Yani Por, Ae Reichel e Aa Bian, «Hertage ite management Moti tions and expectations, Annals a ours Rsoarh, 8, 1, 2006, pp 102-178. w Terie cata! patie ‘Toda a interpretacho se estabelece enquanto processo de eomunicagao, Dai que 0 intér= prete deva conhecer e dominar as téenicas fundamentais da comunicagao, aliando-as a ‘conhecimentos sidos que se transfigurardo em mensagens significativas, pelo que deve+ ‘fo ser atractivas, compreensiveis,relevantes ao ego, estruturadas segundo um guio I6gico e em torno de um tema interpretativo central. ‘Ni podemos esquecer que a questao da atractvidade das mensagens se fundamenta raquilo ue a interpretacio do patrimdnio tem de mais diferenciador relativamente a outras actividades do mesmo sénero. Ela desencadeia-se em contextos de dstracsio e lazer". E, neste sentido, a paixio 6, sem duvide, o ingrediente indispensdvel a uma interpretagio poderosa eefectiva. Paixio pelo patrimténio mas também por aqueles que procuram inspi- sarese nel, 0s vsitantes em geral eos turstas em particular. (Osautores veerem, igualmente, que os intérpretes devem proporcionar uma revisitagéo do passado, relacionanddo-o com o presente, para que o futuro adquira maior significado. [Neste sentido, ainterpretagSo desempenha um papel importante nos processos de constru~ ‘ho da identiade individual e colectiva, psicionando os sujeitos nas suas diferentes dimen s6es temporais e espacials, bem como nas suas dimensdes socioculturais, entre muitos ‘outros Angulo da vivgncia hurnana®®. -Ainterpretagio devers estimular, particularmente, as capacidades dos vistantes, incu tindo-thes o desejo de sentir a beleza da meio ambiente, para que elevern v seu espirito e se empenhem na conservacio do patriménio, Para isso, os intéspretes deverdo ser capazes de promover boas actividades interpretativas, através de programas e servigos bem conce- bidos e desenhados de forma intencionada. Este & um dos principais objectivos da inter- pretagio do patviménio, © da conservacéo dos bens culturais®, Pretende-se, em todas 2s acgées interpretativas,transmitir uma mensagem de proteccdo, para que os visitantes se (90) Sobre a questo da interpreta enquante proceso de comunicago,v-eo extenso aptulo Jorge Moraes Miran, 0. ct pp. 106-41. {81 Deft, eeome i asin no onto em referencia a esta caacterisien que deve enten- era implementagio de programs aetvidadsinterpretatas Tedoo trabalho de panic que Thes ‘eli subacente tnd Ge tev srapre em atengio este spect fuera E exaetamente neste ponto que reside 4 dting principal enteainterpetao, que se desevaive em meio recreatio, € 0 contexts de educa So fora, vealizdos em ambiente escolar (Ba Peat, wlnterpretaton in informal ering Journal OF ntergretation Research, HL, 1, 1986, pp. 38-40; Graham Carter, «Heritage interpretation and envren- ‘mental education» Manual of Heritage Monagement chard Harrison (ed), Butterworth Heinemann, $ Orford, 199, p. 59-968; Jorge Morale Miranda, 0, ce. 30€ 69 (G2) lsum elemento inerente 3 naturez do pépriopatriménio em geral A bibllografia dic ate assunto €bastnte exe, pelo qoe me limito agua citar apenas alguns: José Amado Mendes, “Patsimnio(s Memdra ientidde edesenvolimentos, A Historia Tal Qul Se Faz, Eaes Colibe! ‘aguldae de Letra a Universidade de Coimbra, Lsbos, 2003, pp. 142-151; Fernando Magalies, Museu, Patri Kdentidade,Prfedges, Port, 2005; Sasep Blt Herds, El Patrimonio Mislrco y “Arquoligce: Valor Uso, 2 e, Ail Barcelona, 22, pp, 16.168. {03} Vejnse Willa Alderson e Shirley Payne Low, Inerretation of Historic Stes, ed revista, Altamira Preeliviean Association for State and Local Hise Walnut Creek, 1996, pp 21. Ww Tin Curl Farito» dents ‘empenhem na conservagio do patrim6nio. Pretende-se, em suma, provocar nesses recep- tores uma modificagao ou consolidacao de atitudes potenciadoras de hoas condutas™. Uitimamente tem-se verificado a tendéncia para a utilizacio das alta teenologias como rmeios interpretativos & certo que elas podem revela a realidade de formas novas eapaixo- nantes, no entanto, a sua incorporagao nos programas intexpretativos deverd ser eita com. precausao, para que a valorizagao dos hens culturais nfo se subordine a finalidades exclu- sivamente cénicas ¢ oculte as seus sgnificados mais profundos e expressivos!. Um outro principio frequentemente abordado postula que a interpretagéo dirigida a

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