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A Reforma Psiquiátrica e o Sistema Político Brasileiro

Introdução

O Movimento de Reforma Psiquiátrica Brasileiro teve seus primórdios no Brasil nos


anos 1960-70, mas se estabeleceu em 1987, nas Conferências de Saúde Mental
organizadas pelos Movimento de Trabalhadores de Saúde Mental organizadas
naquele ano (Amarante, Nunes, 2018). Ela foi marcada pela criação de novos
dispositivos terapêuticos e a desconstrução dos manicômios (Daniela Machado,
2006; Alice Oliveira, Marta Conciani, 2009). Mais do que ampliação ao acesso da
política de saúde mental, a reforma psiquiátrica indica o esgotamento das
tecnologias convencionais e do modelo de gestão da saúde mental (Pedro Delgado,
1991).O problema desta dissertação é analisar as implicações da ruptura do sistema
político brasileiro, a partir dos anos 2010 até o ano de 2023, para as políticas de
saúde mental, especialmente para as minorias sociais.
Dessa forma, a pergunta geral constitui-se como: Como a ruptura do sistema
político brasilero brasileiro, a partir dos anos 2010 até o ano 2023, impacta nas
políticas de saúde mental, especialmente a voltada para as minorias sociais? Além
disso, serão feitas as seguintes perguntas específicas:

1. Quando a ruptura política começou no país, na visão dos militantes de saúde


mental? Como isso afetou as políticas de reforma psiquiátrica, na visão deles,
especialmente para as minorias?
2. Como as mudanças no governo Bolsonaro, com os anti ministros, mudaram a
forma de trabalho do movimento?
3. Como a pandemia mudou a forma de trabalho do movimento do ponto de
vista organizacional e tecnológica? E do ponto de vista dos parceiros?
4. Quais são as perspectivas para o movimento de reforma psiquiátrica e para
a política de saúde mental , especialmente para as minorias, agora no
governo Lula?

Hipótese

A ruptura política, iniciada ainda, no começo dos anos anos 2010, impactou
negativamente a política de reforma psiquiátrica, e as minorias foram as principais
prejuidicadas., Depois de 20 anos, em 2019, a reforma psiquiátrica começou a viver
um ataque de medidas de |contrarreforma psiquiátrica|, nas palavras de Delgado
(2019),pela primeira vez. É preciso observar se os esforços do novo governo Lula 3
serão suficientes e intencionais e conjugados com o movimento de saúde mental
para combater esta tendência contra a reforma psiquiátrica.

Metodologia
Foram feitas 17 entrevistas, entre junho e julho, com pessoas engajadas na
luta da reforma psiquiátrica. Doze dos entrevistados são membros ou ex-membros
do Movimento Pró-Saúde Mental-DF (nesse grupo há uma familiar, 3 usuários de
serviços de saúde mental, um estudante, e 7 profissionais de saúde), movimento
formado há cerca de trinta anos, um membro do movimento Flamas-São Paulo
(uma profissional de saúde), um ex-membro da gestão do Conselho Federal de
Psicologia, dois professores da Universidade de Brasília, e mais uma militante.

Resultados preliminares

Todos os entrevistados identificaram a ruptura no sistema político, a partir de


2016, com o impeachment da presidente Dilma e do governo Bolsonaro, como
determinante para as mudanças não só na política de saúde mental, mas nas
políticas como um todo. Segundo eles, as políticas que, em especial, este governo
atual, são ruins para todas as populações, mas especialmente para as minorias,
como negros, mulheres, deficientes, populações originárias, entre outras. Um dos
principais argumentos é a contrarreforma psiquiátrica que o país está vivendo
(Delgado, 2019). Segundo o autor (2019), o processo de reforma psiquiátrica
sempre teve marchas e contramarchas, mas é a primeira vez, que literalmente,
traçamos uma linha para trás, uma contrarreforma. De 2016 a 2019, foram editados
cerca de 15 documentos normativos, que constituem o que a norma técnica
11/2019-CGMAD/DAPES/SAS/MS denominou de “A Nova Política de Saúde
Mental”. Essa “Nova Política”, com várias medidas, reforça o modelo asilar,
manicomial, e prejudica o modelo comunitário, com os Centros de Atenção
Psicossocial I, II e III, que são modelos com equipes multiprofissionais pensadas
para tratamento comunitário.
Apesar da maioria dos entrevistados observarem as mudanças no modelo de
saúde mental a partir do impeachment em 2016 ou da ocupação Fora Valencius no
final do governo Dilma1), três deles identificam essas mudanças antes. (Entrevistas
3, 5 e 14), identificam essas tendências antes. Para a entrevistada 3, o modelo
socioeconômico em que o Brasil vive já é neoliberal desde o início da Constituinte,
nenhum governo desde então rompeu com ela, o direito da universalidade do SUS
nunca foi garantido. Contudo, ela diz que vê diferença entre governos, a partir de
Michel Temer e Bolsonaro o processo de venda da saúde como mercadoria foi
aprofundado. Já os entrevistados 5 e 13 veem essas tendências manicomiais
aparecendo já a partir dos Planos da Dilma Rousseff “Crack é Possível Vencer”,
quando se pensava na Copa e nas Olimpíadas, com estratégias de higienismo
social, como a prisões dos usuários de drogas, a internação e o aumento de
comunidades terapêuticas. Estas foram citadas nas entrevistas, de forma muito
crítica, como espaços de novos hospitais psiquiátricos, especialmente nas falas dos
usuários de serviço de saúde mental. Segundo Foshi e Guareshi (2015).
De acordo com o Glossário de álcool e drogas (Brasília, 2010),
às comunidades terapêuticas são caracterizadas por um
ambiente estruturado onde os indivíduos com transtornos por
uso de substâncias psicoativas residem para alcançar a
reabilitação e são, em geral, isolados geograficamente. Elas
possuem um modelo residencial: uma vez internado, o
"residente" deverá comprometer-se com o programa de
tratamento da instituição. Os tratamentos podem durar seis,
nove ou doze meses, a critério da própria comunidade
terapêutica. Os residentes são mantidos em atividades durante
o transcorrer do dia, que podem variar entre atividades
laborais, terapêuticas e religiosas. As famílias podem realizar
visitas à comunidade terapêutica, geralmente, uma vez por
mês, em data definida pelo local. Muitas delas exigem que a
pessoa que deseja visitar o familiar internado esteja
participando de algum grupo como o Amor Exigente 1, pedindo
comprovação da participação no grupo para que a visita seja
autorizada (Conselho Federal de Psicologia, 2011).

Outra instituição muito criticada foi a Associação Brasileira de Psiquiatria, e,


em algumas entrevistas, até os próprios profissionais psiquiatras em si, pelo apoio
da instituição ao governo Bolsonaro e às políticas manicomiais. O entrevistado 8
criticou a falta de interesse de psiquiatras e indústria farmacêutica na melhora dos
usuários de serviço de saúde mental, além de censurar a postura fria, distante e
“higienista” da maioria dos dos profissionais de psiquiatria que ele conhece. A
entrevistada 4, familiar de uma usuária de serviço de saúde mental, ressaltou a
importância de haver bons profissionais de saúde que atendam de forma isenta,
laica e equitária aos cidadãos.
A pergunta se o comportamento do movimento mudou com uma gestão
hostil, de anti-ministros na política, como Valencius ou Bernadon (defensor do
eletrochoque), trouxe respostas variadas. Alguns acreditam que o movimento
passou para uma atitude mais de confronto, com ações de protesto, no Ministério
Público (Entrevista 8). Outros de resistência, de, principalmente não deixar
retroceder, mas também de confronto. (Entrevista 16). A entrevistada 4 argumenta
que essas pessoas (anti-ministros) representam um projeto de sociedade, medidas
neoconservadoras, o que faz com que o movimento adense ainda mais as relações
socioculturais da sociedade. O que força o movimento a se pensar não só em
termos de reforma psiquiátrica ou reforma sanitária, mas em todos os outros
direitos, mas em termos de classe, e uma consequência positiva, segundo ela, é
pensar a formação política. Pensar as raízes da reforma psiquiátrica, como luta de
todos os direitos sociais juntos, foi um tema sempre presente, e houve a defesa de
que objetivo do movimento deveria ser o fim do capitalismo (Entrevista 13). Nesse
sentido, o grupo Pró-Saúde Mental-DF, criou um grupo de estudos quinzenais de
temas de saúde mental, junto com o Flamas, de SP, para formação política interna e
externa (Entrevistas 5 e 6).
As mudanças tecnológicas causadas pela pandemia trouxeram uma grande
mudança no movimento Pró-Saúde Mental, pois antes as reuniões eram realizadas
na casa de uma integrante do movimento, e era um lugar muito aconchegante, e
agora são realizadas online. De forma geral, os integrantes acharam positivo a
introdução desses novos equipamentos à rotina do grupo, pois forçou o letramento
individual de alguns e agora as informações do movimento são divulgadas mais
amplamente. Por um lado, a maioria defende que o movimento atraiu um número
bem maior, até dobrou seus parceiros na pandemia, com as novas tecnologias, em
especial no 18 de maio. Esse é o Dia da Luta Antimanicomial, e a divulgação das
mídias sociais atraiu muita gente, especialmente, um novo público de estudantes.
Por outro lado, os entrevistados, de forma geral, se ressentem da falta do calor
humano da mobilização corpo a corpo que a pandemia dificulta para derrubar
Bolsonaro, é necessário ir para às ruas. Vários profissionais de saúde também
falam da fragilidade ainda maior contundente da tecnologia para os usuários dos
serviços, porque alguns precisaram até vencer os celulares para pagar contas,
outros não podem ter um, porque estão tratando de álcool e drogas e logo perdem
esse tipo de equipamento para o vício.
Apesar de o movimento, de forma geral, parecer estar se adaptando bem às
mudanças tecnológicas que a pandemia trouxe e se reinventando, existe um ponto
a ser tocado que é o das desigualdades tecnológicas. Os usuários dos serviços de
saúde mental, a familiar do usuário do serviço de saúde mental e grande parte dos
profissionais são extremamente sensíveis às desigualdades de acesso à internet
existentes no Brasil, especialmente entre usuários dos serviços de saúde mental e
os profissionais, pois os primeiros possuem condições desiguais de qualidade e
expertise\aSe no acesso à internet (BULLOW, 2020). O grupo, de forma geral, foi
sensível à ideia de que em relação a essas questões tecnológicas são os usuários
dos serviços de saúde que sofrem mais, tanto porque ficam sem acesso normal aos
serviços de saúde no CAPS, ou mesmo participando do movimento como militante.
A entrevistada 4 argumentou não foi o número de parceiros para o movimento, mas
o número de pessoas adoecidas.
Houve uma polêmica, porque um ex-menbro do grupo afirmou que o grupo
era formado por maioria idosa, e que por isso não tinha se preparado para a
mudança tecnológica da pandemia. As respostas foram variadas, mas como afirma
VON BULLOW a pandemia acelerou o processo de digitalização, como nunca
antes. E alguns militantes afirmam que algumas mudanças vão continuar, mesmo
após o fim da pandemia, reuniões que eles podem fazer sem se encontrar. Mas
muitos argumentam que, apesar de útil para reunir pessoas, o celular não pode
mobiliá-las, é preciso ir para a rua para alcançar os objetivos O movimento se
mostrou sensível às desigualdades de acesso à internet que afetam principalmente
aos usuários, com exceção de duas entrevistas. Nas entrevistas em que o
movimento se mostrou sensível, foi relatado todo um trabalho de doação de
computadores para quem não tinha, cessão de internet para usuário, e outros
esforços para que usuários com conexões ruins pudessem ter acesso ao material.
Apenas duas entrevistas, com uma profissional de saúde e um professor
universitário, não visualizaram o problema da desigualdade social e do
analfabetismo social, como algo estrutural, mas como algo individual e culpam
quem não se adaptou ainda
Sobre as esperanças de um novo futuro, vê esperança apenas na
perspectiva de um novo governo em 2022, não só no âmbito federal, mas nas
demais instâncias do Legislativo e do Executivo. Na emenda 95 aparecem várias
como uma das consequências liberais deste governo. Além do voto, o futuro para os
entrevistados está na sua luta diária pelo CAPS, pelo movimento. E, não menos
importante, uma entrevistada citou algo fora de questões estruturais e questões
conjunturais. Basicamente, independente de quem ganhe a eleição, continuar com
os avanços incrementais da política de reforma psiquiátrica. Sobre a perspectiva
para o futuro da política de saúde mental e uma esperança – grande maioria em
//um novo governo, mas outros acrescentaram as próprias mudanças incrementais
na política de saúde mental. Como dar voz aos usuários, especialmente aos que
passaram pelo processo de internação, não naturalizar a tortura, entre outros

Possível estrutura da dissertação

Capítulo 1

Capítulo - sobre reforma psiquiátrica - história do movimento em Brasília


Capítulo 2 - Capítulo pequeno sobre |ruptura brasília|e movimentos sociais no Brasil
Capítulo 3 - Apresentar os dados da minha pesquisa
Capítulo 4 -Conclusão

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