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-nome de Plein UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Departamento de Histéria, Cademo de Documentos de Histéria do Brasil VII por: Prof. Edgar Leite. ‘Texto de Michel de Montaigne in Ensaios. "Dos canibais, "Franga sempre a melhor, gente chamamos —_selvagens, homem (...). ~~ nada perdido de sua simpli Sociedade subsistir com artificios Esses a G.) Durante muito tempo tive ao meu 42 Jado um homem que permanecera dez ou 43 doze anos nessa parte do Novo Mundo 44 descoberto neste século, no lugar que 46 fomou pé Villegaignon © a que dev o 46 Antirtica', Essa 47 descoberta de um imenso pais parece de 48 grande aleance e presta-se a sériny 49 reflexdes, (..) no vejo nada de birbaro 50 ou selvagem no que dizem daqueles 51 ovos; ¢, na verdade, cada qual considera 52 birbaro 0 que nko se pratica em sua terra. 53 E € natural, porque s6 podemos julgar da 54 verdade e da razio de ser das coisas pelo 65 exemplo ¢ pela idéia dos usos ¢ costumes 56 do pais em que viveros. Neste a religiio é 57 a administragio 58 excelente, ¢ tudo o mais perfeito, A essa 69 como 60 denominamos selvagens os fiutos que a 61 natureza produz sem intervengio do 62 +63 Esses povos mio me parecem, pois, 64 merecer 0 qualificative de sclvagens 65 somente por nio terem sido senio muito 66 pouco modificados pela ingeréncin do 67 espirito humano © nio haverem quasc 68 le primitiva 69 ‘Ninguém concebeu jamais uma 70 simplicidade natural clevada a tal grau, 71 ‘nem ninguém jamais acreditou pudesse a 72 tio poucos 73 ” Povos guerrciam os - que ‘se 75 ‘encontram além das montanhas, na tera 76 firme, Fazem-no inteiramente nus, tendo 77 como armas apenas seus arcos e suas 78 ‘espadas de madeiras, pontiagudas como as 79 nossas langas.(...) Quanto a0s prisioneiros, —€0 guardam-nos durante algum tratando-os bem © fomecendo-thes tudo do que precisam até‘o dia em que tempo, resolvem acabar com eles, (...)No momento propicio smarraa_um dos Dragos da vitima numa corda cuja outra extrethidade cle segura nas mios, o mesmo fazendo com 0 outro brago que fica entreguc a scu melhor amigo. Isso feito, ambos 0 mocm de bordoadas as vistas_da assisténcia, assando-o em seguida, coméndo-o © prescnteando os amigos ausentes com pedagos da vitima.(...) Nao me parece excessivo julgar barbaros tais atos de crueldade,.mas que o fato de condenar tais defeitos nfo nos leve 4 cegucira acerca dos nossos. Estimo que é ‘mais barbaro comer um homem vivo do que 0 comer depois de morto, ¢ é pior esquartejar um homem entre, suplicios © tormentos ¢ o queimar aos poucos, ou cniregialo a cies ¢ porcos, a pretexto de devogao e £é, como nao somente o lemos, ‘mas vimos ocorrer entre vizinhos nossos conterrinens; ¢ isso em vérdads & bem mais grave do que assar ¢ comer um hhomem previamente executado(..) ‘Trés dentre cles (...) estiveram cm Ruio quando ali se encontrava Carlos IX.(...) ‘observaram que hi entre nds gente bem alimentada, gozando as comodidades da ‘vida, enquanto metades de homens cemagrecidos, esfaimados, miseraveis mendigam as portas dos outros (em sua Tinguagem metafgrica a ais infelizes chamam = “metades"); = acham extraordinirio que essas metades de ‘homens suportem tanta injustiga sem se Fevoltarem ¢ incendiarem a casa dos a1 282 demais. (..) Tudo interessante, Go usa calgas!* 2. Trechos do "Sermibo pel (1640) do Padre Antonio Vieira, Tinas estas terra aos portuguesee« quem ‘0 principio a destes; ¢ bastava dizer a es, para perigar 0 crédito de “Hpeng 22M. que no podem dar nome de €s com arrependimento, Para quam, dis S.Paulo, que Vos, Senhos fiuando dais, no Vos arreperdcie ) Mas deixando isto & parte tials eGo 380s de tanta afronta? Tirais também 0 Brasil aos Portugueses, ‘que assim estas terras Vastissimas, como, as Memotissimas do Ori servido, que entrdsscmoa nesece Rovos Ue saiamos agor, imaginara de vossa bondade) om tanta aftonta © ignoming ‘sso & em verdade, mas, que diabo, essa gente 24 (MONTAIGNE, 85 canibais" in 86 Abril Cultural, 195 bom sucesso das armas de Porta al contra as de Holan a 2 43 44 ds 45 46 a 43 49 50 51 82 83 64 55 56 87 58 59 Oh, 6 6 62 63 es dk 65 65 a 68 69 70 dk n 72h % 4 78 76 7 78 73 60 Michel de. "Dos [1580] Si0 Paulo: »P-100-106) nsaios panes tabalhos, para que foi o trabathar, depois de tantas ¢ tio lastimosas ‘Mortes, OU nas praias desertas sem sepultura, ou ‘sepultados nas €ntranhas dos alarves, das feras, dos pees, que as temas que wan ganhamos, as hajamos de perder assin? quanto” melhor nos fora nunca ‘nem intentar tais ‘Empresas! G) Se determinaveis dar estas amesmas terras aes Pitslas de Tolands, porque thas nao fo cram agrestes ¢ inculla, Tantos servigos Vos tem Assim hao de lograr os © inimigos da £8 dos tabathos portuaueses © dos suores eatdicos? .. Eis avi Para quem trabathamos ha tanta: anes! Mas pois Vés, Senhor, o quervis ¢ rtensis assim, tazci o qu fore senda Entreyai_ aos) Holandeses o Brasil, tntrega Indias, entregai-lhe as '© no sio menos perigosas 101 102 103 104 entregai-thes quanto temos, ¢ possuimos (Como jé the entregastes’ tanta. parte); ponde em suas mos 0 Mundo; ¢ a nés, Portugueses ¢ Espanhdis, deixai-nos, repudiai-nos, desfazci-nos, acabai-nos, ‘Mas 86 digo ¢ lembro a Vossa Majestade, Senhor, que estes mesmos que agora desfavoreceis ¢ langais de Vés, pode ser que os queirais algum dia © que 0s no tenhais. (..) Holanda’ vos dari 0s _apostblicos ‘conquistadores, que levem pelo mundo os estandartes da Cruz; Holanda vos dari 03 apostélicos evangélicos, que semeiem nas terras dos barbaros a doutrina catélica, © 4 reguem com o préprio sangue: Holanda defenders a verdade de vossos sacramenlos, ¢ a auloridade da Igreja Romana: Holanda edificars templos, Holanda levantardaltares, Holanda consagraré sacerdotes ¢ ofereceri 0 itio de vosso Santissimo Corpo: Holanda enfim Vos serviri ¢ venerari tio religiosamente como em Amsterd, 105 108 107 108 109 110 wt 42 113 14 115 116 47 118 119 120 121 12 123 124 125 126 127 Midelburgo © Flissinga, em todas as outras coldnias daquele’ fio © alagado inferno, se esti fazendo todos os dias Go) acabar-se-i no Brasil a cristandade caldlica: acabar-se-4 0 culto divino: nnasceré ervas nas igrejas como nos campos: no haverd quem entre nelas. Passard um dia de Natal, © no haverd meméria de vosso Nascimento: passaré a Quaresma, a Semana Santa ¢ nio se celebrario os mistérios de vossa Paixéo. Chorario as pedras das ruas (..) Nao haveré missas, nem —allares, nem. sacerdotes, que’ as digam: morrerio os catélicos sem confissio, nem sacramentos: pregar-se-Zo heresias nestes ‘mesmos pilpitos, e em lugar de Sio Jerdnimo, ¢ Santo Agostinho, ouvir-se-30 © alegar-se-Bo neles os infames nomes de Calvino © Lutero.” (in VIEIRA, Pe. Anténio: Semmes, fasciculo 2. Braga, Livraria Cruz, 1958, pp.11-60). 3-Trechos do "Cultura e Antonil (1711), Bae “Livro I, capitulo 1- Do cabedal que hi de ter 0 senhor de um engenho real. © ser senhor de engenho ¢ titulo a que ‘muitos aspiram, porque traz.consigo o set servido, obedecido ¢ respeitado por muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal © governo, bem ‘se pode estimar no Brasil o ser senhor de ‘engenho, quanto proporcionalmente se cstimam 08 titulos entre os fidalgos do Reino, Porque engenhos hii na Bahia que 0 senhor quatro mil pies de agiicar ¢ outros poucos menos (,.) Dos senhores dependem os Javradores, que tem partidos arrendados em terras do mesmo engenho, como os ci ‘opuléncia do Brasil por suas drogas e minas” de André Jobo fidalgos; ¢ quanto os senhores so mais ossantes e bem aparelhados de todo 0 necessirio, afiveis © verdadciros, tanto mais sio procurados, (..) Servem ao senhior do engenho, em varios oficios, alm dos escravos de enxada ¢ ice que tém nas fazendas ¢ na moenda, fora os mulatos ¢ mulstas, negsos.¢ Regras da casa, ou ocupados em outra Parte, barqueiros, canociros, calafates, carapinas, carrcitos, oleiros, vaqueiros, Pastores © pescadores, Tem mais, cada senhor destes, necessariamente, umn mestre de agicar, um banquciro © um contrabanquciro, um pungador, um caixciro no engenho © outro na cidade, feitores nos partidos © rogas, um feitor- mor do engenho, © para o espiritual um sacerdote seu capelio, ¢ cada qual destes oficiais tem soldada. Toda a escravaria (que nos maiores engenhos passa o niimero de cento e cinglenta e duzentas pegas, conlando a dos partidos) quer mantimentos ¢ farda, medicamentos, enfermaria ¢ enfermeiro; © para isso si0 necessarias rogas de muitas mil covas de mandioca. capitulo 4- Do Feitor-Mor do engenho, ¢ dos outros feitores menores que assistem, na moenda, fazenda ¢ partidos da cana; sas obrigagbes ¢ soldadas, Os bragos de que se vale © senhor do engenho para o bom governo da gente e da fazenda sio 0s feitores, Porém, se cada um deles quiser ser cabeya, serio governo monstruoso € um verdadeiro retrato do cio Cérbero (...) Aos feitores de nenhuma mancita se deve consentir 0 dar coices, principatmente nas barrigas das mulheres que andam pejadas, nem dar com pau nos escravos, porque na célera nfo se medem os golpes, ¢ pode ferir mortalmente na cabega a um escravo de muito préstimo que vale muito dinheiro, ¢ perde-lo, (...) Prender os fugitivos © 08 que brigaram com feridas ou se embebedaram, para que o senhor os mande castigar como merecem & iigénciadigna de ouvor. Porém, amarrar ¢ castigar com cip6 até correr sangue © meter no tronico, ou em uma corrente por meses (estando o senhor na cidade) a escrava que nfo quis consentir no pecado ou ao escravo que dew ficlmente conta da infidelidade, violencia crucldade do feitor que para isso armou delitos fingidos, isto de nenhum modo se ha de softer, porque seria ter um lobo camiceiro ¢ nio um feilor moderado cristo. (..) Ao Feitor-Mor dio nos ‘engenhos reais sessenta mil réis, Capitulo 9 Como se hi de haver 0 senhor do engenho com seus escravos, Os escravos so as mios ¢ os pis do senhor do engenho, porque sem eles no Brasil no € possivel fazer, conscrvar € aumentar fazenda, nem ‘ter engenho corrente, E do modo com que se ha com cles, depende té-1os bons ou maus para 0 servigo. Por isso, & necessirio comprar cada ano algumas pegas © reparti-las pelos partidos, rogas, serrarias e barcas. E Porque comumente sio de nagdes di- ‘Versas, ¢ uns mais bogais que outros de forgas muito diferentes, se ha de fazer a repartigio com reparo ¢ escolha, ¢ no as cogas. Os que vem para o Brasil slo ardas, minas, congos, de Si0 Tomé, de Angola, de Cabo Verde ¢ alguns de Mogambique, os que vém nas naus da india, Os ardas € os minas so robuslos. s de Cabo Verde © de Si0 Tomé s80 mais fracos. Os de Angola, criados em Luanda, sto mais capazes ‘de aprender oficios mecanicos que os das outras partes ja nomeadas. Uns chegim a0 Brasil muito rudes ¢ muito fechados e assim continuam por toda a vida. Outros, em poucos anos saem ladinos ¢ espertos, assim para aprenderem a doutrina cristi, como para bbuscarem modo de passar a vida ¢ para se thes encomendar um barco, para levarem recados ¢ fazerem qualquer diligéncia das que costumam ordinasiamente ocorrer. As mulheres usam de foice © enxada, como os homens; porém, nos matos, somente- os escravos usam de machado. Gu) Os que nascem no Brasil, ow se riaram desde pequenos em casa dos brancos, afeigoando-se aos seus senhores, io boa conta de si; ¢ levando bom cativeiro, qualquer deles vale por quatro bogais. ‘Melhores ainda sao, para qualquer oficio, ‘os mulatos; porém, muitos deles, usando mal do favor dos senhores, sio soberbos |@ Viciosos, © prezam-se’ de valentes, aparelhados para qualquer desaforo, E... ordinarianiente Jevam no Brasil a melhor 128 129 130 131 132 133 134 125 136 137 138 139 140 41 142 143 4 145 146 ‘a7 148 149 150 181 182 183 184 185 156 187 188 159 160 161 162 163 164 165 sorte, porque, com aquela parte de sangue de brancos que tém nas veias ¢, talvez, dos seus mesmos senhores, 08 cenfeitigam de tal mancira, que alguns tudo thes softem, tudo thes perdoam; ¢ parece que sendo alrevem a repreende- Jos: antes, todos os mimos so seus. E nio é facil cousa decidir se nesta parte so mais remissos os senhores ou as senhoras, pois ndo falta entre cles e clas quem se deixe goverar de mulatos... para que se verifique o provérbio que diz: que o Brasil ¢ 0 infemo dos_negros, purgatério dos brancos ¢ paraiso dos Fnulatos... CpBem-se alguns senhores aos. ccasamentos dos escravos ¢ escravas, Dizem os senhores que. estes no so capazes de aprender a confessar-se, nem de pedir perdio a Deus, nem de rezar elas contas, nem de saber os dez ‘mandamentos.,, Nem os obrigam os dias santos a ouvir missa... No Brasil costumam dizer que para o escravo slo necessirios trés PPP, a saber, au, pio ¢ pano. E posto que comece ‘mal, principalmente pelo castigo que é 0 Pav, contudo, provera Deus que tio abundante fosse 0 comer ¢ 0 vestir como muitas vezes. € © castigo, dado por qualquer causa pouco provada, ou Jevantada; e com instrumentos de muito rigor, ainda quando os crimes sio certos, de que nfo usa nem com os. brutos animals, fazendo algum senhor mais caso de um cavalo que de meia dizia de escravos, pois o cavalo é servido, ¢ tom ‘quem the busque capim, tem pano para o 106 187 168 169 170 im 172 173 174 175 176 wm 178 179 180 11 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 198 195 198 197 198 199 suor, ¢ sela ¢ fireio dourado... O certo é que, se 0 senhor se houver com os escravos como pai, dando-lhes 0 ecessirio para 0 sustento ¢ 0 vestido, ¢ algum descanso no trabalho, se poderi também depois haver como senhor, ¢ no estranharo sendo convencidos das culpas que cometeram, de reccberem com misericérdia 0 justo © merecido castigo... E bem € que saibam que isto thes hi de valer, porque, de outra sorte, fugirio por ‘uma vez para algum mocambo no mato, € se forem apanhados, poders ser que se matem a si mesmos, antes que 0 senhor cheque a ayouté-los ou que algum scu Parente tome A sua conta a vinganga, ou com feitivo, ou com veneno. Negar-thes folalmente os seus folguedos, que si 0 linico alivio do seu cativeiro, € quere-los desconsolados ¢ melancélicos, de pouca vida saide, Portanto, ‘no. thes estranhem os senhores 0 criarem os seus reis, cantar ¢ bailar algumas horas hhonestamente em alguns dias do ano, ¢ 0 alegrarem-sc inocentemente tarde depois de terem feito pela manhi suas festas de Nossa Senhora do Rositio, de Sto Benedito ¢ do orago da capela do engenho, sem gastos dos escrvos... Ver que os ‘senhores tem cuidado de dar alguma coisa dos sobejos da mesa aos seus filhos pequenos & causa de que os escravos os sirvam de boa vontade ¢ de que se alvgrem de thes multiplicar servos eservas, Pelo contririo, algumas escravas Procuram de propésito aborto, s6 para que mio chegucm os filhos’ de suas entranhas a padecer o que clas padecem.” 201 202 203 + Trechos de "Viagem as missdes jesulticas ¢ Padre Amonio Sepp. “As aldvias, como disse, esto quase todas localizadas no alto dos barrancos dos ios muito piscosos Uniguai ou trabalhos apostilicos” (1698-1710) do Parané © contam com sctecentas, bitocentas © novecentas, © muitas até, com mais de mil familias ou moradias, 10 " 12 13 4 15 48 7 8 9 ra 24 28 28 31 32 33 35 7 33 40 a" 2 “a Sobre a familia se entende: Pai © mic, filha ¢ filhos, ¢ mais seus filhos. Assim, cada aldeia conta com seis a oito mil almas, conta fraca, porque os indioa so muito férteis, Cada aldeia tem junto a igeja um logradouro amplo ¢ muito bonito, de 400 pés de comprimento © a mesma largura, As casas formam ruas largas, como nas cidades européias, mas sto de construgio diferentes: slo muito baixas, nio tem assoalho de madeira, mas 08 indios moram no chi descoberto, (..) Estes indios so tio pucris, tio grandemente simplérios ¢ de julzo tio curt, que 0s primeiros Padres, que converteram estes povos, duvidaram realmente se eram capazes de receber 0s Santos Sacramentos indiscritivel a sua habilidade imitativa, (..) Ha quadros que parecem pintados pela mio de Rubens. Numa palavra, os indios imitam tudo, desde que tenham um molde ou modelo. Se porém thos tirares de diante dos olhos, de modo que no mais os vejam - entio sai tudo emado ¢ arrevesado, entio uma erianga curopéia terminara 0 trabatho muito antes que indio, Tem de fato juizo curto, nada saber imaginar-se ou fingir-se, Aldcamento que no fosse capaz de criar trés a quatro mil cavalos de montaria seria considerado pobre (...) AS rogas sto muito férteis, Embora muito mal amanhadas, pouco cuidadas ¢ adubadas, io literalmente frutos cem por cento, O cereal € 0 gro ordinirio & 98 © tunicamente 0 mitho, 0 chamado gro Eu, a rainha, Fago saber 03 que este alvard virem: que sendo-me presente 0 grande niimero de fbricas © manufaturas que, de alguns anos a esta parte, se tem difundido em diferentes capitanias do Brasil, com grave prejuizo da cultura ¢ da lavoura, ¢ da exploragio das terras 44 tureo, que aqui d& aos montes (...) Mas 48 n6s no conseguimos fazer com que os 48 Indios, em sua pura preguiga, semeiem 47 mais de uma ou duas rocinhas de 18 48. passos de gro turco, (..) Ainda domingo 49 pasado — tomou-se _absolulamente 50 necessirio passar uma sova em alguns 51 indios que no haviam amanhado a terra 52 ¢ nem haviam procurado encontrar um 53. arado (...) $6 poucos indios se encontrar’ 54 que sejam capazes de guardar as 65 sementes até a época da sementeira [sem 56 comeslas). Por isto, também neste 57 pauticular, precisa 0 Padre olhar pelas £8 coisas.(..) 69 Saiba 0 benévolo Ieitor que os 60 portugueses habitantes do Brasil 61 guerrearam outrora estes pobres indios 62.08 levaram cativos para o Brasil (...) 63 Como fossem esses indios escravos 64 oprimidos com incessantes trabalhos iia 65 fabricagio de agiicar (esta € a produgio 68. dos brasis), sucumbiu um apés 0 outro, 67 de sorte que, nestes dias em que escrevo, 68. mal se encontrara indio nosso no Brasil. 69 (..) Ainda hoje em dia, pois, devem os TO. nossos indios temer 0 inimigo. (...) 71 Mas no é de ouro nem de prata que 72 precisam nossos pobres indios: é ferro ¢ 73 ago com que derrubem os matos, cortem 74 a madeira, afiem as flechas, fabriquem 7 ferramentas de toda especie. isto 76 careciam até agora os pobres silvicolas © 77 isto os livraré para 0 futuro da miséria.” 7a (in SEPP, P. Antonio: Viagem, 79. missdes jesuiticas e trabalhos apost 80 Sto Paulo, EDUSP, 1972. 8 minerais Jaquele vaslo continents; porque 9 havendo nele uma grande e conhecida 10 falta de populagio, & evidente, que quanto 11 mais se muliplicar 0 nimero dos 42 fabricantes, mais diminuir’ 0 dos 13 fcultivadores (,..) © até nas mesmas terras 14 i cessando de todo, como ji tem 15 consideravelmente diminuido, a extragio 16 do ouro ¢ diamantes, tudo procedido da 17 falta de bragos. (..) © consistindo a 18 verdadcira ¢ sdlida riqueza nos frutos ° 19 produgées da terra, as quais somente se 20 conseguem por meio dos colonos © 21 cultivadores, ¢ nio de artistas fabricantes 2 em conseqiténcia de tudo o referido 23 hei por bem ordenar que todas as fabricas, 24 manufaturas ou teares da galdes, de 28 tecidos, ou de bordados de ouro ¢ prata; 26 de veludos, brilhantes, cetins, tafetis, ou 27 de qualquer outra qualidade de seda; de 28. belbutes, chitas, bombazinas, fustdes,. ou 23 de qualquer outra qualidade de fazenda de 30 algodio ou de linho, branca ou de cores, 31 de panos, bactas, droguctes, saetas ou de 32 qualquer qualidade (...) excetuando 10 33 somente aqueles dos ditos teares 34 manufaturas cm que se tecem ou ‘manufaturam — fazendas grossas de 7 38 39 40 41 a2 43 44 45 46 aa 48 49 50 51 82 53 54 55 algodio, que servem para uso ¢ vestudrio dos neeros, para enfardar ou empacotar fazendas ¢ para outros ministérios semelhantes; todas as mais sejam extintas ¢ abolidas em qualquer parte onde se acharem nos meus dominios do Brasil, debaixo da pena de perdimento em desdobro do valor de cada uma das ‘manufaturas, ou teares, ¢ das fazendas que nnelas ow neles houver, e que se acharem existentes dois meses depois da publicagio deste; repartindo-se a dita _condenagio metade a favor do denunciante, se ou houver, © a metade pelos oficiais que fizerem a diligéncia; © no havendo demunciante, tudo pertencerd 20s mesmos oficisis” (apud INACIO, Inés da Conceigio et alii: Documentos do Brasil Colonial. So Paulo, Atica, 1993, pp.158- 159) 6 Trechos do Acordao dos Juizes da Devassa; 1792, 1". Mostra-se que na Capitania de Minas 2 alguns vassalos da dita Senhora [D.Maria 3M, animados do espirito de pérfida 4 ambigio, formaram um infame plano 5 para se subtrairem da sujcigio © obe- 6 7 8 9 ia devida a mesma Senhora, Pretendendo desmembrar ¢ Separar do Estado aquela capitania, para formarem ‘uma repiblica independente, por meio de ‘uma formal rebeliio, da qual se erigitam 11 em chefes © cabesas, seduzindo a ung pata ajudarem ¢ concorrerem para aquela pérfida agio, © comunicando a outros 08 seus atrozes © abominiveis intentos, em que todos guardavam maliciosamente 0 mais inviolivel siléncio, para que a conjuragio pudesse produc o efeito que todos mostravam desejar,... porque este era o meio de levarem avante aquele horrendo atentado, urdido pela infideli- dade ¢ perfidia; pelo que nio sé os chefes © cabegas da conjuragio ¢ os ajudadores da rebelido se constituiram réus do crime de lesa-majestade da primeira cabega, mas! também os sabedores | € a maldade e prevaricagio destes réus que sem remorsos faltaram a mais recomtendivel obrigagao de vassalos e de catélicos, © sem horror contrairam a infimia de traidores, sempre incrente © anexa a Lio enorme ¢ detestivel delito, Mostra-se que entre os chefes e cabegas da conjuragio, o primeiro que suscitou as idgias de repiblica foi o réu Joaquim José da Silva’ Xavier, por alcunha 0 Titadentes, alferes que foi da cavalaria aga da capitania de Minas, o qual ha Muito tempo que tinha concebido 0 abominavel intento de conduzir os povos: daquela capitania a uma rebeliio (.. formando para este fim publicamente discursos sediciosos (...) ¢ suposto que ... ‘nko produzissem naquele tempo outro do feito abomin, mais que 0 escandala ¢ 50 4 nereciam ... julgow por ‘casio mais oportuna para continud-las com mais eficécia, no ano de mil selecentos © oitenta ¢ ito, em que... tratava-se de fazer langar a derrama, para completar 0 pagamento de cem arroubas de ouro que os povos de Minas se obri- garam 4 pagar anualmente, pelo. oferecimento voluntirio que fizeram ... porém persuadindo-se 0 réu, de que 0 langamento da derrama para completar 0 cémputo... no bastaria para conduzir os Povos a rebelifio, estando eles certos em que tinham oferecido voluntariamente aquele cémputo.,. passou a publicar... horrendas falsidades... publicando que o atual governador de Minas tinha ordem Para oprimir e arruinar os leais vassalos da mesma Senhora, fazendo com nenhum deles pudesse ter mais de dez mil cnuzados.. (.) resolveram que, langada a derrama, se gritaria numa noite pelas ruas da dita Vila Rica = Viva a Liberdade- a cujas vozes sem diivida acudiria 0 povo, que se achava constemado, ¢ 0 réu Francisco de Paula formaria a tropa, fingindo querer rebater 0 motim, mancjando-a com arte de dissimulagio, enquanto da Cachocira, ‘onde assisia 0 Governador Geral, nfo chegava a sua cabeca, que devia ser-lhe cortada ou, segundo voto de outros, bastaria que o mesmo general fosse preso © conduzido para fora da capitania, dizendo-se-the que fosse embora, ¢ que issesse em Portugal que ja nas Minas se no nevessitava de Governadores,(..) 60 langaria um brado em nome da repiblica.., © que seriam mortos todos aqucles que se the opusesse, que se perdoaria os devedores da fazenda real tudo quanto devessem...qie se a- preenderia todo o dinhiro pertencente & mesma Fazenda Real dos coftes Reais para pagamento da tropa... assentando mais... na forma da bandeira ¢ armas que deveria ter a nova rej que Be mudaria a capital para S40 Joio del Rei, ¢ 95 96 97 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 Tr) 412 113 116 115 116 7 118 19 120 121 12 123 124 125 126 127 128 129 130 431 122 133 134 135 138 197 138 139 40 que em Vila Rica se fundaria uma Universidade, que 0 ouro ¢ diamantes seriam livres, que se formariam leis para © governo da repiblic Partiu o réu [Tiradentes) para esta ide [Rio de Janeiro] em margo de mil setecentos ¢ oitenta ¢ nove, com 0 intento de piblica ¢ particulanmente, com as suas ccostumadas priticas, convidar gente para © seu partido, dizendo a Joaquim Siivério dos Reis, que reputava ser do niimero de conjurados, encontrando-o no caminho, perante virias pessoas: - Cé vou trabalhar ppara todos. (...) falando no caminho... na estalagem da Varginha... dizendo a respeito do levante, que nio era levantar, (que era restaurr a terra... (..) Mostrase que nesta cidade 0 réu falow. vom o mesmo atrevimento escdndalo ... perante virias pessoas, por ‘ocasiio de se queixar 0 soldado Manuel Comrcia Vasques, de no poder conseguir a baixa que pretendia, ao que respondeu 0 réu [Tiradentes] como louco furioso: que era muito bem feito que sofresse 0 raga,... porque 05 cariocas americanos ram fracos, vis, de espirites baixos, Porque podiam passar sem 0 jugo que sofriam, e viver independentes do Reino, © © oleravam, mas que se houvesse alguns como ele réu, talvez que fosse outra coisa... «) Mostra-se mais que tendo o réu Inicio José de Alvarenga conferido com © réu Cliudio Manoel da Costa sobre a forma da bandcira ¢ armas, que devia ter 4 nova repiiblica, expos depois 0 seu voto... dizendo que devia ser um génio quebrando as eadcias, ¢ a letra: = Libertas qua sera tamem-. acharam a letra: - muito bonita sendo este réu um dos que ram maior empenho € interes: dissolvendo as diividas que se propunham como fez a José Alvares Macicl: dizendo- Ihe este que havia pouca gente para a defess da repitlica, respondeu que se esse liberdade aos escravos... © 0 141 142 143 144 us 146 ur 148 149 150 151 Cénego Luiz Vieira... respondeuse que no era necessirio, que bastava meter-se em Minas : sal, ferro € pélvora para dois, anos-... fomentando 0 réu [Inicio Alvarenga] a sublevagio ¢ animando os conjurados... dizendo o réu por formais palavras: ~ até que nio seria mau que fosse repiiblica, ¢ eu na Campanha com duzentos escravos ¢ as lavras que li tenho ~¢ ficou sem completar a oragio, mas no que disse bem explicou o seu animo.(..) 182 153 154 155 186 187 188 159 160 161 Mostra-sc quanto ao réu Manuel da Costa Capanema, sapateiro, que ele se fez suspeitoso de ser do partido dos conjurados, porque ji depois de feitas algumas prisdes de alguns dos réus, proferiu as seguintes palavras: estes branquinhos do Reino, que nos querem tomar a nossa terra, cedo os havemos de botar fora." (in “Tiradentes, a sentenca. Rio de Janeiro, ALERIJ,1992). ‘TeTrechos do Auto da Devassa de 1794, "DEVASSA a que mandou proceder 0 llustrssimo Excelentissimo Vice Rei do Estado do Brasil para se descobrirem por cla as pessoas que com cscandalosa liberdade se atreviam a envolver em seus discursos matérias ofensivas da Religiio ¢ a falar nos negécios piblicos da Europa com louvor e aprovagio do sistema atuat da Franga ¢ para conhecer-te se entre as mesmas pessoas havia alguns que além dos ditos escandalosos discursos' se adiantassem a formar ou insinuar algum_ plano de'sedigo (...) Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil selecentos € noventa ¢ quatro aos onze dias do més de dezembro nesta cidade de Sao Scbastiio do Rio de Janeiro (...) aonde eu Jo3o Manocl Guerreiro de Amorim Pereira fui vindo, (...) pelo dito Desembargador Chanceler me foi dito que... em virtude de dois oficios que adiante de ajuntam (...) devia proceder a Devassa, para averiguar ¢ examinar quais cram os individuos que nesta cidade tralavam ¢ mantinham conversagics, ¢ Priticas, em que envolvendo discursos os mais escandalosos, ¢ “sacrileg nossa Augusta Religiio, se disigiam a persuadir, © a justificar a rebeliio da Nagio Francesa, ¢ a deprimir ¢ destruir a autoridade ¢ poder dos Reis emanada dos principios mais depurados da mesma 33 34 35 36 a 38 39 40 a 2 4“ 4a 48 48 ar 9 5 82 683 7 58 69 60 e 2 64 religido; © outrossim para indagar se os sobredilos individuos se limitavam continham s6 nos referidos sacrilegos ¢ revoltosos discursos, ou se passando adiante haviam formado alguma idéia ou plano de sedigio: E para o dito fim me ‘ordenou que como escrivio nomeado para cesorever na dita Devassa (...) a ele juntasse ‘08 mesmos oficios ¢ mais papéis que com cles se achavam incorporados, ¢ haviam de servir dé corpo de delito para por ele proceder a dita Devassa (..) Havendo chegado 3 minha noticia que uitas pessoas desta cidade, esquecidas de si, ¢ da honra do nome Portugués, que até © presente consistia principalmente no amore fidelidade 20s Nossos Clementissimos Soberanos, se arrojam, nfo s6 cm casas particulares, mas ainda ‘nos lugares piblicos dela com a ocasijo das atuais alteragées da Europa, a altercar questdes, sobre 0 Governo piblico dos Estados, em que algumas das referidas pessoas tem escandalosamente_proferido: que 0s Reis no sio necessirios: que os homens sio lives, © podem em todo o tempo reclamar a sua liberdade: que as Leis, porque hoje se governa a Nagio Francesa, so justas, ¢ que o mesmo, que raquela Nagio praticou, se devia praticar ‘neste continente: que os franceses deviam Vir conquistar esta cidade: que a Sagrada 65 er 70 n n B 4 B SSeseBssnae Escritura, assim como di poder aos Reis, para castigar 08 Vassalos, 0 di aos Vassalos, para castigar os Reis, cujas Proposigdes, © outras de semelhante natureza, em que até envolvem a Religifo, além de mostrarem a pouca fidelidade de quem as profere, como proprias de enganar © seduzir 0 povo risstico. ¢ ignorante, © de aparti-lo do amor © fidelidade que deve aos seus legitimos ¢ naturais soberanos, ainda_sendo 76 proferidas, sem o danado fim, que clas 77 parecem inculear, em todo 0 tempo ¢ 78 muito mais nos presentes, podem producir 79 conseqiléncias muito perigosas, e que 80 convém atalhar (...) 81 Com esla remeto a V.Sa. para que logo £2 proceda a mesma Devassa para se evitar 3 uma faisca, que ocultamente lavrando, 84 poderd rebentar em um — grande 85 incéndio.(..)" &- Trechos do Auto da Devassa de 1798, "Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos ¢ noventa ¢ ilo, aos vinte © oito dias do més de Agosto, nesta Cidade do Salvador Bahia de todos os Santos (...) onde eu Escrivo igualmente nomeado . vim, pelo dito ministro, me foi dito que em virtude das trés deniincias, juradas, que no dia de ‘ontem tomara viera, no conhecimento dos pérfidos ¢ temerérios projetos, em que se Precipitaram alguns individuos desta cidade, esquecidos intciramente da Religiio, ¢ dos oficios de respcito, obséquio, ¢ fidelidade, que todos devem Prestar ao seu sobcrano, lembrando-se de fazer um levante, com saque, ¢ assassinio das pessoas mais graduadas, até do ilustrissimo, ¢ excelentissimo govemador del ara efeito de estabelecer na mesma. um governo democritico, live 0 independente: ¢ porque os que entraram em semelhante conspiragic, ou como agentes, ou como” cimplices, tem cometida crime de Lesa majestade da primeira cabega, alla traigo rebelio(, E recebido assim 0 menciohado Juramento, declarou o mesmo denunciante [Joaquim José da Veiga] os termos da sua denuncia na forma seguinte: Que sendo na tarde do dia vinte ¢ quatro do corrente més de Agosto, as cinco horas, se encontrou ele denunciante defronte do Convento das 34 Flores, com Joo de Deus, pardo alfaiatc, 35 e este the disse, tinha negécio que 26 comunicar-the © que por isso 0 procuraria, 37 em sua casa (...) disse 0 dito Jodo de Deus 28 para ele denunciante © seguinte: que ele, 32 denunciant, tinha cara de Francés; ao que 40 respondew cle denunciante: que tal nio 44 supusesse; porém continuou o dito Joo de 42 Deus: que se calasse, que ele denunciante 42 cra esperto ¢ dgil para um negécio ¢ agio, 44 que com ele queria tratar, pois convinha, 45 que todos se fizessem franceses, para 48 viverem em igualdade e abundincia, a 47 cujo efeito tinha projetado de acordo com 48 duzentas © tantas pessoas, que tinha ji 49 chamado 20 seu partido,formar uma 80 rebelifo por meio da qual conseguitia os 51 sous desejos, que consistiam em saquear a 62 cidade, constranger 0 ilustrissimo 63 oxcelentissimo governador dela a seguir 54 esta_-mesma facgio, ¢, no caso de 65 resisténcia, matalo, destruir a0 mesmo 56 tempo todas as pessoas piiblicas, alacar os 57 mosleiros, franquear as portas aos. que 68 quisessem sair, saqued-los de todo o £9 preciso, arrombar as cadeias, por os 60 presos © 5 forgados em liberdade, 61 reduzindo tudo a uma inteira revolugio, {62 que todos ficatiam ricos, tiados da miscria 63. em que se achavam, extinta a diferenga de 64) cor branca, preta e parda: porque uns ¢ 65 outros scriam som diferenga chamados ¢ 66 admitidos a todos os ministérios © 10 67 m” 2 a “ 6 ceargos(..) que havia muita pélvora, bala, ¢ gente para o fim de reduzir 0 povo desta cidade a uma igualdade sem distingio de qualidade, como ja tinha dito; que este Porto seria franco a todas as nagdes estrangeiras para nele virem negociar, twazendo fazendas ¢ todas as mercadorias, Para em troco delas levarem agucares, labacos ¢ mais géneros da terra, sem 76 7 78 73 80 at 82 83 Precisio de Portugal, de que senio se carecia neste caso para a sua extragio; (..) que o mesmo (...) capitio general desta capitania, (..) em particular dizia: que fazcm estes malditos povos que ja nio se levantam?" (in Inconfidéncia da Bahia: devassas_e seqitestros; Rio de Janciro, BN, 1931) 9% Representagio @ Assembléia Constituinte sobre a escravatura, por José Bonifacio de Andrada e Silva( 1823): “Chegada a época feliz da regeneragio Politica da nago brasileira, ¢ devendo todo 0 cidadio honrado e instruido concorrer para to grande obra, também ‘eu me lisonjeio que poderei levar ante a Asscmbléia Geral e Constituinte © Legislativa algumas idéias, que o estudo ¢ a experiéncia tem em mim excitado ¢ descnvolvido, G..) me proponho mostrar a necessidade abolir 0 trifico da escravatura, de methorar a sorte dos atuais cativos, ¢ de romover a sua progressiva emancipagio, (.) E porque os brasileiros somente continuario_a set surdos aos gritos da tazio ¢ da religiio cristi, © , ditei mais, da honra ¢ brio nacionais? Pois somos a nica Nagio de sangue europeu que ainda comercia clara e publicamente com ‘scravos afticanos. Se 0 antigo despotismo foi insensivel a tudo, assim the convinha por ulilidade propria: queria que fossemos um povo mesclado ¢ —helerogéneo, sem nacionalidade, e sem irmandade, para melhor nos escravizar. Gragas aos oéus, € 4 nossa posigio geogrifica, j4 somos um povo livre ¢ independente, Mas como poderd haver uma constituigio liberal © ducadoura em um pals continuamente habitado por uma multidio de escravos brutais¢ inimigos? 33 34 35 36 7 38 39 40 a a2 2 “4 48 46 4a 8 49 50 5 62 53 54 65 56 163 ul (.) E tempo também que vamos acabando gradualmente até os ultimos vestigios da cscravidio entre nés, para que possamos formar em poucas geragdes uma Nagio homogénea, sem 0 que nunca seremos verdadciramente limes, respeitiveis ¢ felizes G.) Mas dido talvez que se favorecerdes a liberdade dos escravos seri atacar a ropriedade, Nao vos iludais, senhores, a ropricdade foi sancionada para bem de tods, © qual é 0 bem que tira 0 escravo de perder todos 08 seus direitos naturais © se tomar de pessoa a coisi, na frase dos jurisconsultos? Nio é pois 0 dircito de propriedade que querem defender, ¢ 0 direito da forga, pois que 0 homem, nio podendo ser coisa, no pode set objeto de propriedade, G.) uma vez que possa criar ¢ sustentar seus filhios, tratando-se esta desgragada aga africana com maior cristandade, até por interesse proprio; uma vez que sc cuide enfim na emancipagio gradual da escravatura, © se converterao brutus imorais em cidadios iteis ¢ ativos, (.) Entio os moradores deste Império, de crugis que sio em grande parte neste Ponto, se tomario ctistios ¢ justos .. livrando suas familias de ‘exemplos domésticos de corrupgio ¢ tirania, de inimigos seus © do Estado, que hoje no tem patria, ¢ que podem vir a ser nossos ims ¢ compatriotas (.) 86 conservando eles a esperanga de virem a ser um dia nossos iguais em direitos, ¢ comegando a gozar desde ja da liberdade ¢ nobreza da alma,... cles nos servirio com fidelidade ¢ amor, de inimigos s¢ tomaro nossos amigos clientes. ‘A natureza fez. tudo a nosso favor, nés porém pouco ou nada temos feito a favor da natureza, Nossas terras ¢stio ‘ermas, ¢ as poucas, que temos roteado, ‘sio mal cultivadas, porque 0 sio por brayos indotentes 'e forgados; nossas numerosas —minas, por falla de trabalhadores ativos © instruidos, esto desvonhecidas, ou mal aproveitadas; nossas —preciosas . malas. Vio desaparecendo, vitimas do fogo ¢ do machado destruidor da ignorincia & do egoismo; nossos montes ¢ encostas vo se 87 89 at 92 93 98 98 7 98 99 100 401 102 103 104 105 106 107 escalvando diariamente, e com o andar do tempo fallardo as chuvas fecundantes ‘que favoregam a vegelagio, e alimentem nossas fontes ¢ rios, sem 0 que 0 nosso belo Brasil en menos de dois séculos ficara reduzido aos piramos © desertos ridos da Libia. Vird entio esse dia (dia terrivel ¢ fatal), cm que a ultrajada natureza se ache vingada de tantos erros € crimes cometidos. G..) Ouvi pois, tomo a dizer, os gemidos da cara Patria, que implora socorro © patrocinio; pelejemos denodadamente a favor da razio © humanidade, ¢ a favor de nossos proprios interesses. Embora contra nds uive ¢ ronque o egoismo ¢ a vil cobiga; sua perversa indignagio, ¢ seus desentoados gritos sejam para nds novos estimulos de triunfo, seguindo a estrada limpa da verdadcira politica, que é filha da razo e da moral. 10- Critica da Constituigao outorgada. por Frei Canecal 1824). “Algumas pessoas de patriotismo fogoso, sabendo ou conjeturando, com bons fundamentos, que a cimara municipal da cidade do Recife se dispunha a jurar © fazer jurar 0 projeto de constituigio que 0 Imperador impunha, reuniram-se na casa da mesma cémara; ¢, esta ausente, a declararam deposta ¢ clegcram outra; tudo isto, se ilegalmente feito, o fizeram todavia sem o menor barutho ¢ em serena trangtilidade.(...) Frei Joaquim do Amor Divino Caneca leu © seu voto, ¢ este impresso correu pelas mios de ‘todos; cio aqui: "Senhor Presidente: tendo eu recebido.a honra de ser convidado por V.Exa, para, como membro do corpo literdtio desta ‘cidade, dar © mew volo sobre a matéria do decreto de SMA. ¢ C. ... digo pois, que nfo se deve adotar, nem jurar como 21 2 23 24 8 26 a 28 29 30 at 2 3 2 constituigio do Império 0 projeto oferecido para este fim.(...) ‘Uma constituigio nao é outra coisa, que a ata do pacto social, que fazem cntre si os. homens, quando se ajuntam ¢ associam para viverem em reuniilo, ou sociedade. Esta ata, portanto, deve conter a matéria sobre quc se pactuou, apresentando as relagdes em que ficam os que governam ¢ 08 govemados, pois que sem govemno niio pode existir sociedade. Estas relagies a que se dio os nomes de direitos © deveres, devem ser tais, que defendam ¢ sustentem a vida dos cidadios, a sua liberdade, a sua propriedade, © dirij todos os negocios socinis & conservagio, ‘bem estar ¢ vida cémoda dos sécios, segundo as circunstincias do seu cardter, seus costumes, usos ¢ qualidades do seu leriilério, ete...(...) © Poder Moderador de nova inveng3o maquiavélica € a chave mestra da opressio da nagio brasilira © 0 garrote ‘mais forte da liberdade dos povos. Por ele ‘© Imperador pode dissolver a cmara dos depulados, que é a representanle do povo, ficando sempre no goz0 dos scus ircitos 0 senado, que & a ropresentante dos apaniguades do Imperador. Essa monstruosa desigualdade das duas cimaras.,. d4 a0 Imperador... o poder de mudar a0 seu bel prazer os deputados... ficando o povo indefeso aos atentados do Imperador contra seus direitos, ¢ realmente escravo, debaixo porém das formas da Ici, que 0 cimulo da desgraga... Os consethos das provincias sio uns meros fantasmas para iludir os povos, Porque dovendo levar suas decisics Assembléia Geral ¢ a0 Executive onjuntamente, isto bem nenhum pode produzir & provincia; pois que o arranjo, alribuigdes ¢ manejo da assembléia geral faz tudo em iltimo resultado depender da vontade ¢ arbitrio do Imperador...(;.) Essas so as coisas maiores, que minha fraqueza pode descobrir no’ projeto em questio, © que eu julgo de sumo perigo para a Independéncia do Império, sua integridade, sustentagio da liberdade dos Povos ¢ conservagio sagrada de sua propricdade...(...) SIM, esté to persuadida que a sinica atribuigio que tem sobre os povos ¢ esta do poder da forga, a que chama outros "a lltima razio dos Estados", que nos ‘manda jurar o projeto com um bloqueio a vista, fazendo-nos todas as hostilidades; por cujo motivo no se deve adotar nem Jurar semelhante esbogo de constituigio, pois o juramento... é indispensavelmente necessirio ser dado em plena liberdade ¢ sem a menor coagio; © ninguém jamais cobrou livremente obrigado da fome & com bocas de fogo nos peitos.(..) ‘Vés senhores, no dia 17 de outubro de 1822, na igreja matriz do Sacramento, dissestes:* Nés juramos, perante Deus, seus sacerdotes ¢ altares, adesio & causa geral do Brasil ¢ seu sistema atual, debaixo dos auspicios do Sr. D.Pedro, principe regente constitucional e defensor perpétuo do Brasil, a quem obedecemos, © assim juramos reconhecer e obedecer i cortes brasiianas—consituinles © legislativas ¢* defender nossa patria, liberdades ¢ dircitos até veneer ou morrer’Como agora podereis jurar uma carta constitucional que nio foi dada pela soberania da Nagio, que vos degrada da sociedade de um povo livre © brioso para tum valongo de escravos ¢ curral de bestas de carga.) E por todas estas razSes que eu sou de voto que niio se adote ¢ muito menos jure © projeto de que se tata, por ser inleiramente mau, pois no garante a independéncia do Brasil, ameaga sua integridadc, oprime a liberdade dos povos, ataca a soberania da Nagio ¢ nos arasia 0 maior dos crimes contra. a divindade, qual o perjirio, ¢ nos é apresentado da maneira mais coativa ¢ tirdnica,” I-"Instrugdes para a comissio Vassouras- 1854, (..Ja Comissio Permanente deve empregar 0 iltimos esforgos a fim de que 0s fazendeiros adotem, entre outras, as seguintes medidas: 13 ‘Permanente nomeada pelos fazendeiros do municipio de 5 1- Terem constantemente cm suas 6 fazendas um nimero de pessoas livres 7 que csteja para o de cscravos na 8 seguinte ra70 pelo menos: uma pessoa livre por doze escravos; duas por vinte cinco; cinco por cinquenta, scte por cem dez por duzentos © dai para cima ‘mais duas pessoas livres por cada cem escravos que acrescerem, Esta medita, além de indispensivel, & conveniente por qualquer lado que soja considerada. Como especulagio mercantil, é incontestavelmente superior 4 compra de escravos: um escravo custa hoje 1:2005000 © em pouco tempo Custard mais: por esta quantia tem o fazendeiro mais ou menos doze colonos or espaco de um ano. Suponido que os colonos nfo sejam bons © uma parte fuja, ainda assim a especulagdo € superior A da compra de escravos: calculando na nossa hipétese que fujam cinco colonos ¢ restem Somente cinco, dando como perdidos os adiantamentos feitos iqueles, vem 0 servigo de cada um destes a importar em 2008000 no primeiro ano, quantia inferior & que atualmente se paga Gurante © mesmo tempo pelo jomal de um escravo, ‘ E note-se que tem-se comparado dez colonos a um escravo no caso de que ste Viva e preste servigos, enquanto que melade dagjeles desaparcce ede inutilia para o fazendeiro; mas se acontecer que 0 escravo morra ou fuja, © que € mais provavel, em vista da natureza dos nossos suprimentos, entio tera desaparecido todo temo. de comparagio, ficando vantagem devidamente a favor dos colonos, Observa-se porém que até aqui temos considerado a questio pelo lado Mercantil, em relagio a seguranga, Ponto essencial, que enorme diferengat © escravo é 0 inimigo inconiiliével, a adiglo de mais algumas libras ‘de Pélvora a0 paiol prestes a fazer explosii, entreianto que o colono & um brago amigo, um “companhciro de armas, com cuja Iealdade se pode contar 100 tot 102 4 ‘na ocasiéo da uta: os interesses sio Comuns, Quantos, no momento do Perigo, nfo dariam metade de sua fortuna para terem a0 seu lado alguns colonos que os defendessem da horda barbara e sequiosa de vinganga? E indispensivel que os fazendeiros se convengam de uma coisa, ¢ vem a set ue, queitam ou nio, a questio esta ja posta de uma maneira to clara ¢ precisa que no admite mais de uma solugio: 0 (wifico acabouse © io volta; as Provincias do Norte em pouco se esgolam; a mortandade dentro de alguns ‘nos leva-nos a escravatura em todo ou ‘grande parte. Portanto, de duas uma: ou avemos de reconhecer nossa incapacidade © entregamo-nos como submissos servos 20 dominio de uma Poténcia que saiba aproveitar as forgas da bela natureza que Deus nos deu; ou entéo havemos de nos mostrar dignos de transmitir aos filhos © netos 0 legado ores, procurando suprir, a deficiénei Esse suprimento 36 pode vir da colonizagio, ¢ sem cla inevitavelmente definha “© mone a lavoura, nosso principal ¢ pode-se dizer Unico género de Tiquezas, Se 9 fazendciro considera como um sacrificio © que agora se the pede, lembre-se de que este sacrificio é Necessirio para_a sua seguranga, ¢ sobretudo para a manutengio de sua lavoura em um futuro préximo; lembre- se de que o limitadissimo niimero de bragos livres que agora ¢ obrigado a ter Para sua defesa constitui um nucleo de colonizagao, que pode ir sendo aumentado a pouco e pouco, com Pequenas despesas, sem nenhum abalo, habilitando-os assim para uma transigio forgosa ¢ que, sendo répida ¢ violenta, & Sempre fatal ¢ calorosa, Costumam dizer que os portugueses ¢ brasilciros sé deitam fechaduras nas 103 104 105, 106 107 108 109 110 mt 112 113 114 5 146 7 118 119 120 sa 12 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 126 137 138 139 140 at 142 143 144 145 148 147 148 149 portas depois de roubados; porque nilo hhavemos de dar provas de ser imerecido ‘Ho injurioso estigma, cuidando de trancar as portas antes do roubo? Alguns fazendeiros mostram-se avessos 4 colonizagio, atento a pouco ou nenhum proveito tirado dos ligeiros ensaios que se tém feito. O mau resullado prova, no contra o principio, ‘mas contra nossa inexperiéncia ¢ falta de estudos na matéria; ¢ a conseqiiéncia légica deve ser no o abandono de uma idéia salvadora, mas a diligéncia por desembaragar de tropegos, talvez bem mais’ faceis de screm remediados, 0 linico caminho que se nos oferece a wwithar, © comego de todas as coisas ¢ sempre escabroso, mormente quando se trata de mudar hibitos antigos. Razoavelmente devia se contar com o malogro dos primeiros ensaios. Os —chamados colonos, que —importam os ‘especuladores, no passam pela maior parte de vadios ¢ de réus de policia, colhides dentre as fezes curopéias, ¢ com semelhante gente, qualquer ‘experiéneia deve ser infrutuosa; por outro tado aqucles que tém_ feito tentativas em ponto grande, mandando ‘vir colonos diretamente, nio tendo uma base que se firmassem, —deviam necessariamente errar nos seus célculos © passar por amargas decepgdcs: a alimentagio ¢ aclimatagio de um niimero considerivel de pessoas com Costumes to opostos aos nossos jé por si oferecem uma grande dificuldade, que tende agravar-se dia por dia na execuglo de contratos impensados, imprevidentes © em que nio foram devidamente consullados 03 interesses de ambas as partes, ‘Vé-se entretanto que o Senador Verguciro tem podido nao s6 manter a colonizagio que fundou em sua fazenda, como ttirar dela grandes 160 191 182 153 184 155 185 187 158 469 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 m1 172 173 174 175 176 7 178 179 180 181 182 183 104 105 186 187 188 189 190 191 192 193 1 194 195 196 Vantagens, unicamente por ser um homem inteligente ¢ tenaz que nio se quis dar por desanimado com as primeiras dificuldades que encontrou. fo trataremos aqui de propor um plano completo de colonizagio, é matéria dificil, ¢ para a qual ‘nio «estamos habilitados; mas parece-nos que o sistema de parceria pode ser mantido, uma vez que nos contratos se atenda convenientemente & reciprocidade dos interesses. Com bons colonos, a parceria, quaisquer que sejam as bases adotadas, oferece um lucro certo € livrando-o do Gnus da escravatura, cuja conservagio é 0 mais grave mais sério dos embaragos que cle encontra em s lavoura, “'Yoda diffculdade esti em cparar bons colonos, mas nesse ponto a expetiéncia deve ser a nossa mestra; faga-a pois o fazendeiro, faga porém em pequeno. Mande vir, por exemplo, dez trabalhadores; dando que cinco fujam fou sejam maus, trate de substituir esse nimero pela mesma maneira, que em pouco tera formado um nticleo de dez que poderi ir sendo aumentado Paulatinamente ¢ sem véxame, pois os novos individuos, que vierem chegando, cencontrardo ji habitos criados, aos quais se afazem —naturalmente. Com semethante gente poder’ entio 0 fazendeiro fazer os contratos que the aprouver com conhecimento de causa ¢ toda a probabilidade de serem consultados os interesses de ambas as partes, A respeito da escravatura, a experiéncia faz, ver quo todos os fazendeiros que compravam grandes partidas de escravos sairam-se mal; ao contririo dos ‘que seguiam sistema oposto; ¢ a raziio é que, formando um nico de boa escravatura, se tomam facilmente bons pela forga do contato e do exemplo, Por que io de acontecer 0 mesmo a respeito da colonizagio? AS

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