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A Gestalt-terapia de curta duragao e formos usar a nomenclatura pro- posta por Santos (1982, p. 13), a Gestalt-terapia é o que poderfamos chamar de uma abordagem centrada no contexto pessoal, pois é importante para a Gestalt-terapia a pessoa que tem um problema, muito mais que o problema que a pessoa tem. Isso é coerente com a visio de Ribeiro, com a qual comungo, acerca da Gestalt-terapia de curta dura- cdo: “Na nossa perspectiva, [...] a vida da pessoa, como realidade total emergente, passa a ser figura” (Ribeiro, 1999, p. 14). A fim de alcangar maior clareza, para chegar a um conceito 0 mais abrangente possivel acerca do que se pode caracteri- zar como Gestalt-terapia de curta dura- do, quero, antes, deter-me em delimitar um pouco mais claramente 0 conceito de psicoterapia. Digitalizado com CamScanner __ i} 44 © Enio Brito Pinto Apsicoterapia 7 Quando pensamos em algumas delimitacées do ca po da psicoterapia, vemos que se trata, Brosso Modo, encontro de duas pessoas, 0 ae eo cliente, Com propésito de compreender a vida vivida do cliente Visandy facilitar a recuperagéo da qualidade do Contato, da viv, cidade, do ritmo e da abertura do cliente para a Vida, 4 psicoterapia favorece alternativas para avaliar Pontos de vista, percepgdes € posturas que afetam os Sentimentos 0 comportamento do cliente. Antes de tudo, a Psicoterapia é um procedimento dialético e dialégico, é um Processo de didlogo entre interlocutores comprometidos profunda. mente com a busca da melhor configuragao para uma des. sas pessoas, 0 cliente. Especificamente na Gestalt-terapia, em fungo do procedimento dialético e dialégico, o tera- peuta tem de sair de seu anonimato e colocar a si mesmo, reciprocamente Aquilo que exige do cliente. Bellak e Small (1980, P 29) lembram que a psicotera- Pia € ndo s6 uma interagdo verbal, mas, talvez até principal- mente, também uma interagio simbélica entre terapeuta e cliente. Ha, Para essa inti ordenados e inte benéfica no cliey eracao, uma série de conceitos grados, que a dirigem para uma mudanga nte, E preciso clareza, em um Processo terapéutico, com © que se pode entender Por “mudanca benéfica”, uma veZ ue hé muitos e muitos Critérios pelos quais se pode definit 2 au benéfico a uma Pessoa. Esses critérios dependerao, &m grande parte, da visio de homem da abordagem 4¥ fundamenta € orienta o olhar do terapeuta. Em Gestalt- Digitalizado com CamScanner Psicoterapia de curta duracao na abordagem gestiltica * 45 -terapia, isso nao pode ser diferente: a partir da visio de ho- mem peculiar abordagem gestdltica, ¢ que j4 desenvolvi em outro trabalho (Pinto, 2007), pode-se depreender um conceito de side que seja aceitdvel como orientacao para a postura do Gestalt-terapeuta quando a servico de seu clien- te. Entendo, como Ciornai (1989, p. 3), o funcionamento saudavel como a possibilidade de a pessoa viver um fluxo ritmado e energizado de awareness e de formacio figural por meio do qual possa interagir criativamente consigo e com seu meio, utilizando-se ao maximo de seus recursos internos e dos recursos do ambiente para lidar criativa e apropriadamente com 0 mundo, discriminando os contatos mutuamente enriquecedores e satisfatdrios daqueles que so téxicos e prejudiciais. No dizer de Perls, Hefferline e Goodman (p. 107), a pessoa sadia é aquela que se apossa plenamente do “direito de sentir-se em casa no mundo”, com a responsabilidade que é a contraparte desse direito. A psicoterapia é um processo aventuresco tanto para 0 terapeuta quanto para o cliente. Para o terapeuta, a aven- tura maior € poder compartilhar da mais profunda intimi- dade com 0 outro, é poder viver uma relagao fundamental- mente baseada na confianga, uma relacdo na qual papel do terapeuta é bastante delimitado: colocar-se a servico do outro, sem expectativas, isto é, sem ter modelos prontos para lhe oferecer, mas em busca de favorecer ao cliente uma experiéncia de autenticidade o mais plena possivel. Para o cliente, 0 risco da psicoterapia € conhecer-se mais Profundamente e, por isso e para isso, experimentar no- Vos sentimentos, novos comportamentos, o incremento e 0 4Possamento da autonomia e da liberdade. Paradoxalmen- Digitalizado com CamScanner 46 + Enio Brito Pinto te, a aventura maior do cliente em terapia é muda tornar-se aquilo que é (Beisser, 1977, p. 110). Vol essa proposta de Beisser mais adiante. A psicoterapia no é um processo de apreng onde o cliente v4 aprender sobre T Paty Care| Tagem nao é um luga si wnat antes, processo de exploragéo do mundo e de autoexpiy, racdo pelo qual o cliente vai descobrir sobre Si, através de seus sentidos e de sua awareness. Descobrir quer S€ja sobre suas belezas, quer seja sobre suas tragédias, sobre sua luz ¢ sobre sua sombra. Ao terapeuta cabe apontar as Pontes ¢ os caminhos, os abismos e as florestas por onde pode acom. panbar seu cliente na aventura de conhecer-se. Mas nao cabe ao terapeuta escolher caminhos para 0 cliente, uma vez que o caminho é singular para cada um. A Postura do terapeuta humanista se define principalmente por ele nao ter um a priori para seu cliente, ndo ter um lugar aonde quer conduzi-lo, embora esse terapeuta possa ter uma de- limitagao, necessariamente ampla e suficientemente vaga, do que entende como funcionamento saudavel, conforme frisei anteriormente, a ela, essa postura tem quatro carac € 0 cliente quem escolhe seu destino Digitalizado com CamScanner ere Psicoterapia de curta duragio na abordagem gestiltica * 47 e seu caminho, cabendo ao terapeuta mostrar trilhas nao adas, respeitando 0 direito de o cliente escolher se as not: seguird, ou nao, com excegio dos momentos em que al- gum risco iminente obrigue 0 terapeuta a se impor; 2) por gua experiencia € por seus estudos, 0 terapeuta conhece suficientemente bem a regiéo, mesmo que néo conhega as trilhas pessoais de seu cliente, o que lhe possibilitaré facilitar para o cliente descobertas de fendmenos pouco yisiveis, apontar conhecimentos disponiveis mas pouco ou nada utilizados, encorajé-lo em escolhas dificeis, prevenir perigos, denunciar belezas, sugerir ritmo; 3) compartilhar as conquistas e dividir os pesos na caminhada; 4) sentir, manifestar e incentivar a fé e a consequente seguranca em que aquela jornada tem sentido. Como o ser humano é essencialmente abertura, € es- sencialmente aberto diante do que vem a seu encontro no seu mundo, também o processo psicoterapéutico deve ser um processo suficientemente aberto para acolher e incen- tivar a abertura de seu cliente. A fim de que a psicoterapia possa ser esse processo suficientemente aberto, é preciso lembrar que nao cabe para ela uma definicdo estreita sobre cura ou satide psiquica, pois isso significaria fechamento ao novo e ao criativo. Cabe, como jé disse, uma delimitacao, necessariamente ampla e suficientemente vaga, do que se entende como funcionamento saudavel, de modo que 0 te- Tapeuta nao se proponha a fazer um conserto em sett clien- te, e sim a compor com ele um concerto que va ajuda-lo a encontrar um melhor ritmo na vida. Entio, nfo se trata scar de- de buscar eliminar comportamentos errados ou bus terminados jeitos de ser como ideais, mas de possibilitar _ al Digitalizado com CamScanner 48. * Enio Brito Pinto ao cliente a composigao da melhor confi . iguracs, obter no desenvolvimento de seus pot S40 gy, ia vivi eNCiais 4 Pty cunstancia vivida. cad Essa psicoterapia-concerto nao 6 i. form, um encontro sem finalidade, sem Métodos « cas, fundamentado apenas e tdo-somente oe tre duas ou mais pessoas, terapeuta e clie O que se espera desse tipo de terapia se trata de psicoterapia de curta durag peuta nao tenha, de maneira apriorista, 4 ci. a bg ne cn, ACOntr; Te ou ¢f; " Mesmo quand 40, € que 9 ters, um lugar aonde 5 Ossa, utilizando.se riente seu olhar ¢ seu fazer, acompanhar o cliente para o lugar que lhe cabe confortavelmente e que lhe é possivel nesse momento Na psicologia humanista, e também na Gestalt-terapia, os métodos e as técnicas partem da premissa de que a pessoa, um organismo total, tem caracteristicas prdprias, dadas e desenvolvidas, nature e nurture, que tomam uma configuracao tinica e irrepetivel, como discutiremos quar- do tratarmos do diagnéstico em Gestalt-terapia de curt duragao. A psicologia humanista, entdo, objetiva o bem estar individual, compreendendo o ser humano comoutt Ser social que luta sempre em busca da conciliagio intes* entre sie sua sociedade, em um processo imine mituo crescimento no qual a busca pessoal é pela Clee Sao de sua autonomia. £ por isso que o trabalho a tico fundamental baseia-se na criagdo de um cli . ” uma relacao de tal sorte facilitadores, que possibile cliente ser 0 que €, levando em conta, mas nao obete do necessariamente, o que 0 outro deseja que ele se cliente deva ir, mas que o terapeuta p de uma abordagem psicoldgica que o Digitalizado com CamScanner FC... Psicoterapia de curta duragao na abordagem gestitica * 49 se experimentar diferente, mais auténtico e au- eguil . ay consegu terapia, ¢ muito maior a probabilidade de que F na ténomo , 7 ; aan o cliente se exper nente diferente, mais auténtico e au- tonomo em seu cotidiano, transformando-o. Comentarei mais sobre isso quando falar do que chamo de experiéncia emocional atualizadora. ‘Assim, doravante, quando me referir & psicoterapia, es- tarei tratando de um encontro e de um entendimento entre duas pessoas, delimitado por certas regras e circunstancias, que tém como propésito facilitar a uma dessas pessoas, o cliente, o re-encontro de sua abertura perante a vida, o novo, a autonomia, a liberdade, enfim, a realizagdo como ser humano, a sensacio de estar-se vivo, real e podendo comunicar-se com 0 mundo de forma igualmente real e baseada em uma nova compreensio de si e do mundo. Essa nova compreensio alcangada no processo terapéutico traz como consequéncia a possibi idade de abandonar a com- Preensdo anterior, a qual, por ser cristalizada, tornara-se impedidora do crescimento. A ideia central é que o pro- pésito maior da psicoterapia consiste em facilitar ao ser humano a descoberta de que viver é 0 melhor processo terapéutico que pode existir. A psicoterapia de curta duragao Além da capacidade de se apoiar em diferentes corren- tes tedricas, 0 que lhe configura diferentes propésitos e diferentes técnicas, a psicoterapia pode ainda ser caracteri- zada por alguns critérios. Um desses critérios é 0 tempo de duragdo do trabalho terapéutico, o que nos permite pensar £m psicoterapia de curta duracdo. Nesta modalidade de Digitalizado com CamScanner 50 * Enio Brito Pinto psicoterapia, pode-se pensar em uma diferenciags, trés tipos de intervengio breve ou brevissima (oan 1990): 0 atendimento de urgéncia, a intervencig 7 is, e a psicoterapia de curta duracgao Propriamente Cis alguns tedricos também chamam de aconselham coldgico, embora af a unanimidade esteja muito distante Oatendimento de urgéncia tem carater imediat e sene para proteger o cliente ou pessoas de seu Telacionaments di “th que ento pg, que correm riscos por causa de seu desequilibrio, buscando também facilitar a retomada do contato do cliente com Fi realidade. Na intervengao na crise, 0 que se pretende é favorecer em poucos contatos a retomada do equilibrio, se possivel um equilibrio melhor que o existente antes da eclosio da crise, ou mesmo a busca do fortalecimento da coragem para enfrentar alguma situagio dificil e inadiavel, como em algumas atuagées dos psicélogos em hospitais, notadamen- te em centros cirtirgicos. Aqui nao hd 0 estado de urgéncia, € sim pouquissimos encontros com 0 cliente em um tempo diminuto. Hé muitos e muitos autores que se dedicam ou se dedicaram a essa modalidade de trabalho. Na psicoterapia de curta duragdo propriamente ditt, busca-se melhorar 0 ajustamento do cliente. Mais que "8 Sutras modalidades de atendimento breve ou brevissi®, aqui o referencial teérico do terapeuta seré decisivo name neira de conduzir o trabalho, A psicoterapia de curta duragio tem por finalidade ofe- recer ao cliente a possibilidade de vivenciar uma situ2Gé? especial em um contexto relacional de aceitagdo € confi bilidade, no qual ele Possa chegar a uma formulacao pe Digitalizado com CamScanner er Psicoterapia de curta duragio na abordagem gestiltica * 5] soal do conflito e re-estruturar sua vivéncia frente a uma situagao emocional antes dolorosa. Knobel (1986, p. 45) diferencia terapia focal de terapia breve, afirmando que em uma psicoterapia breve podem-se trabalhar diversos focos ou conflitos, ao passo que em uma “terapia focal procura-se localizar uma determinada situa- cio conflitiva que seria a determinante do sintoma ou da | queixa do ‘paciente’”. Aqui considerarei 0 que Knobel chama de terapia fo- cal como uma maneira de fazer terapia de curta duracio, considerando, como Lemgruber (1995), que a técnica da psicoterapia de curta duragdo esté fundamentada na triade atitude, planejamento e foco - ou seja, 0 foco é um dos aspectos da terapia de curta duragdo, conforme comentarei a seguir. Também tratarei mais adiante da ati- tude e do planejamento, mas quero ja adiantar que, se em uma abordagem humanista, como a Gestalt-terapia, pode parecer estranho falar em planejamento de uma psi- coterapia — uma vez que a proposta do trabalho humanis- ta é de que a situacao terapéutica prepondere sempre -, na psicoterapia de curta duracao, faz-se necessdria certa planificagdo sobre 0 trabalho, a fim de que se lide produ- tivamente com as questées relativas a0 tempo disponivel etende atingir, a0s para a terapia, aos propdsitos que se pr caminhos que se pode seguir, As estratégias possiveis, den- tre outras questdes, a maioria das quais tratarei 20 longo dessa discussio. Fundamental, nesse caso, € lembrar que luracao é feito 0 planejamento em psicoterapia de curta di ‘ol da eficdcia pelo terapeuta junto com seu cliente, em pr do trabalho psicoterapéutico, e que esse planejamento Digitalizado com CamScanner 52. * Enio Brito Pinto nao é uma ordem a ser cumprida, mas uma a ser observada criativa e flexivelmente, Embora o nome “psicoterapia breve” tena se 0 mais comum para este tipo de trabalho, ele nna uma ideia clara do tipo de psicoterapia g ; pois dé a impressio de que a principal carac trabalho é uma delimitagdo temporal Previamente a minada, o que nao é verdadeiro. Ainda que a ter. trabalho possa de fato ser breve, 0 que real, racteriza € ter objetivos delimitados. Como ensina Fotn (1993, p. 12), 0 termo breve é equivocado, uma ver que, essencial desse tipo de trabalho é seu cardter multidimen. sional, nao o tempo transcorrido. Além disso, esse termo linha de 7 0 tray JUC se rele. alte, teristicg d duracig Mente 9 ¢3, pode sugerir pobreza ou escassez de recursos © perder de vista a riqueza de matizes préprios dessa forma de psico. terapia, que nao deve ser desprezada. Segundo Fiorini, 0 termo breve “encobre, ademais, o fato de que se pode trabalhar eficazmente com esta modalidade terapéutica em lapsos nao breves”. Lemgruber (1995, p. 18) também defende que a té- nica de psicoterapia breve — e também a psicoterapia de curta duracdo, acrescento eu — deve ser definida nao prio- itariamente pelo tempo, mas por caracteristicas que lhe sao intrinsecas, das quais destaca a limitagao de objetives * manuten¢ao do foco, a alta atividade do terapeuta ¢# énfase na intervencio imediata. Para Ribeiro (1999 nao é adequado, definira psicote , P. 17), onome “psicoterapia brev? , Pois “a grande questo, a partir da qual s° Tapia breve, no deveria estar centrada ™ tematica do tempo, mas na do método de acéo, da rela- Digitalizado com CamScanner Paicoterapia de curta duragéo na abordagem gestitica * 53 cdo que se estabelece dentro da pessoa e sua proposta de mudanga, no ato de mudar-se e no tempo necessério para consegui-lo”. Ribeiro continua, afirmando que o tempo nao é critério para se verificar dificuldade de mudanga, e sim as complexas relagées entre vontade e poder, percepcio e aprendizagem, ¢ outras raz6es. Ele conclui: “A questio mestra da psicoterapia de curta duragao nao é 0 tempo em si, mas 0 que fazer, e como, dentro deste tempo”. Entao, embora a psicoterapia de curta duragao tenha algumas propriedades peculiares, tem também algumas propriedades que comunga com as psicoterapias de ma- neira geral, especialmente aquela que postula a necessida- de de haver fundamento em uma teoria de personalidade, o que servird para nortear o psicoterapeuta na busca de ajudar o cliente a ampliar seu autoconhecimento, condi- cdo essencial para que emerja diferente e enriquecido da crise vivida. Essa teoria de base teré como consequéncia uma maneira peculiar de abordar o processo terapéutico de curta duragdo e os procedimentos técnicos inerentes a esse processo, de modo que uma psicoterapia breve de fundamentagio psicanalitica seré necessariamente diferen- te de uma psicoterapia de curta duracio de fundamentacao psicodramatista, por exemplo. A Gestalt-terapia de curta duracdo, fundamentada, como é dbvio, na abordagem ges- taltica, embora comungue em muitos aspectos com outras abordagens do trabalho de curta duragao em psicoterapia, tem suas singularidades, algumas das quais comentarel @ seguir, sem me furtar de comentar também as po pratica clinica que a Gestalt-terapia de curta duraga partilha com outras abordagens em psicologia. sturas € a jo com- Digitalizado com CamScanner _—S—~__~—lti— 54 © Enio Brito Pinto A Gestalt-terapia de curta duragao encom . outras abordagens da psicoterapia: aprorinng® distanciamentos ( Para Ribeiro (1999, p. 19-20), 0 nome Gest, de curta duragao engloba “as chamadas Psicoterapi, bn de confronto, de intervengao em crise e de apoio” ae tifica sua assertiva afirmando que a agao do terapeut ae r4 estreitamente vinculada a necessidade do cliente sta. experiéncia imediata vivida. Com isso, Ribeiro que que os nomes nao importam muito, sendo Mais im, te a atencdo as demandas e necessidades daquele + Ele jue Casu, T dizer Portan. cliente naquele momento. Dizendo de outra forma, segundo Ri. beiro, a caracterizagio do Processo terapéutico depende muito mais de como terapeuta e cliente configuram a de. manda do cliente do que do nome que o terapeuta dari a seu trabalho. E Ribeiro (1999, p. 136) quem oferece uma primeira € sucinta definicao para a Gestalt-terapia de curta duragio individual, dizendo que se trata de um processo no qual se envolvem terapeuta e cliente com a finalidade de encontrar solucdes imediatas de situagdes de qualquer ordem vive Ciadas como problematicas pelo cliente. Nesse process, 820 utilizados “todos og recursos disponiveis, de tal mode eae spacgo de tempo o cliente possa a Para conduzir sozinho sua prépria vida”. ent a duando o cliente se sente ee 7 ae ain vida, isso significa que ce coe ee duracgo, asia x pds 0 processo de terapia r es g Buns de seus potenciais, lidar de fo Digitalizado com CamScanner yr Psicoterapia de curta duracao na abordagem Sestiltica * 55 mais espontanea e presente com seu momento atual, am- pliar seu horizonte de a € confiar mais na exequibili- dade de seus projetos existenciais renovados no processo terapéutico- Assim, entenderei aqui a Gestalt-terapia de curta dura- cdo como um método de atendimento psicoterdpico fun- damentado na abordagem gestiltica, o qual visa atender 3s demandas do cliente a partir de limites e com propési- tos diferentes daquele comumente praticado na Gestalt- | -terapia. Esses limites, geralmente expressos em termos do tempo de duracio do processo terapéutico, nao se resu- mem a quest6es estritamente temporais, mas, antes, sao mais bem expressos por delimitagdes quanto 4 abrangén- cia, & estratégia e aos objetivos do processo terapéutico. Essas delimitagdes trazem também diferengas, na compa- raco com a Gestalt-terapia de longa duracio, na postura do psicoterapeuta gestaltico. Esse estreitamento de limites, quando comparado com © trabalho de duracdo indeterminada, é comum a todas as formas de psicoterapia de curta duragio, independente- mente do referencial te6rico no qual se apoie o terapeuta. Hé muitos sentidos para esses limites, dos quais os mais destacados so, a meu ver, 0 limite de duragéo da psico- terapia e o limite das ambigdes terapéuticas, este tiltimo estreitamente associado ao limite determinado pelo foco. Dizendo de outra maneira, podemos afirmar que © ob- jetivo da Gestalt-terapia de curta duragdo 6 0 mesmo do trabalho de longa duragao, s6 que mais modesto. Se em um trabalho longo o propésito € acompanhar 0 cliente em mudangas em sua personalidade, aqui 0 trabalho é acom- Digitalizado com CamScanner 56 * Enio Brito Pinto panhar o cliente em algumas mudangas em a dade; se em um trabalho longo o Propssito ¢ cliente a ampliagéo de sua capacidade de dis, aqui o propésito é facilitar a ampliagao de g de discriminagao no que diz respeito, ao Menos a os aum determinado e limitado campo; se em um trabalho longa duragao 0 propésito é a re-estruturacio d. de dade, aqui o propésito é rearrumar Areas da pe; se em um trabalho de longa duragio o Propésj cliente, aqui o propésito é curar alguns sintom: Personal Faciltay ' a timing Gao, ua SAD ICiday a Personal. *SOnalidace ito é Curar 9 as; Se em um, trabalho de longa duracao 0 propésito é Encorajar 0 cliente a lidar com seu destino, aqui o Propésito é encorajé-lo g lidar com alguns aspectos de seu destino; se em um traba. lho de longa duracgdo 0 propésito é ampliar sua Capacidade de autoaceitacao, aqui o Propésito é ajudé-lo a ampliar sua autoaceitagao no que se refere a algum aspecto especifico; se em um trabalho de longa duragdo 0 propésito é libertar a pessoa, aqui o propésito é libertd-la de algumas e espe- cificas correntes; se em um trabalho de longa duragao o Propésito é facilitar ao cliente lidar com a angiistia, aqui © Propésito é facilitar a lida com determinadas angistias; Se, enfim, em um trabalho de longa duracdo o propésito é restaurar a qualidade do Contato da pessoa consigo mesma “com seu mundo, aqui o propésito é restaurar o contato Pessoa com alguns aspectos de si e de seu mundo. Em sintese: a diferenca entre a Gestalt-terapia de cutt duragdo ©um trabalho gestdltico sem a preocupacao com ene menandamentalmente, um estreitamento fel brincipalmense mento de limites se aplica, como jé ‘s "a¢40 © a0 foco do trabalho terapeu" Digitalizado com CamScanner Psicoterapia de curta duracio na abordagem gestllica + 57 co, o que tem sérias e importantes consequéncias em, varios aspectos do processo psicoterapéutico, especialmente no que diz, respeito a relacdo terapautica, conforme comen- tarei adiante. Na maneira de trabalhar que Proy Ponho aqui, tenho tentado, com meus clientes , JA nas primeiras Sessdes, demarcar 0 tempo que teremos para trabalhar e, assim que possivel, 0 foco de figura e 0 foco de fundo que toma- remos como os mais importantes. Também mais adiante descreverei melhor como entendo e como lido com esses aspectos do foco. Os objetivos das psicoterapias de curta duracao Quando se fala nos objetivos de uma psicoterapia de cur- ta duracao, fala-se de um tema controverso: em que casos e para quem indicar uma terapia de curta duracdo. Embora al- guns autores coloquem limites, as vezes até bastante estrei- tos, quanto a populacao e aos quadros clinicos que se podem beneficiar, no existe uma indicacio especifica para a psico- terapia de curta duracio, pois ela pode ser titil para todas as pessoas e para todos os quadros clinicos, com limitagées inerentes a cada caso e diferentes das limitacées da psicote- rapia de longo prazo. Assim, tudo depende do objetivo da terapia, o que faz que a resposta a essa questo deva ser de Tesponsabilidade tanto do terapeuta quanto do cliente. No que diz respeito a selecdo de clientes, penso, como Knobel (1986, p. 80), que a psicoterapia de curta duragio Pode ser titi] para todas as pessoas, desde que se estabelegam objetivos limitados, desde que, em cada caso, estabeleca-se claramente, desde o infcio do trabalho, com 0 que € como Se quer e se pode lidar. Em alguns casos, por exemplo, € Digitalizado com CamScanner 58 + Enio Brito Pinto Y ente util e aceitével trabalhar em Psicote perfeitam . a co com um cliente psicético ou com y curta dura dito com o fit rate Se a Ci ica, submeta aos tratamento: fa Condligég tual 2 Y ara Cada situacao exis; poe. Para cada pessoa € P $0 existencia| Vivi. da hé uma possibilidade de ajuda, sempre limitada, POF mei de uma psicoterapia de curta duragio. No que se refere mais estritamente aos objetivos dy Ds coterapia de curta duragao, de maneira geral, pode-se atti buir a ela alguns objetivos especificos: retomada do equi librio pré-existente; superacao de crise recente; superacig de sintomas; facilitagdo de mudangas (as quais podem ser profundas, mas nao necessariamente); melhorar o didlo. go eu-mim (maior objetificacao, melhor auto-observacio), com a consequente ampliacgdo do campo de consciéncia do “Apia ™M dro as tutelas que su: imy cliente. Também para a Gestalt-terapia de curta duragio esses objetivos sdo pertinentes, embora se possam encon- trar nela maneiras diferentes de se lidar com tais objeti- vos, em comparacgdo com as psicoterapias de curta duragio mais tradicionais, como veremos mais adiante. Comentarei brevemente cada um desses objetivos, lembrando que eles, embora sejam os mais comuns, nao meskes todos os objetivos Possiveis para um trabalho psi- cae ees asl discutidos, Tamim € ite a explicit, esses objetivos nem sempre sao ¢ ° °s pelo cliente, cabendo ao terapeut® Compreend . . r “ra queixa trazida e, a partir disso, decidir, co™ O cliente, 9 » © melhor objetj ve ém di J€tivo pare nicia. Além disso, cum, Para 0 trabalho que se ii re é: esgota p, Pre também realcar que nenhum deles © or si mes i . ™0, pois em cada trabalho terapéutico Digitalizado com CamScanner er Paicoterapia de curta duracao na abordagem gestiltica * 59 hd um amélgama de dois ou mais desses objetivos, com a predomin: o terapeuta d funda o significa do de cada objetivo da psicoterapia de ancia de um deles. Cumpre também notar que leveré compreender de maneira mais clara e pro! curt Mais que tudo isso, no entanto, vale aqui o basico em rela- cdo aos objetivos de toda atividade psicoterapéutica: para glém de se ocupar dos sintomas, 0 bom trabalho terapéuti- co, longo ou curto, termina com 0 cliente capaz de formar a duragdo no campo existencial peculiar de seu cliente. configuracdes mais amplas e mais flexiveis, com melhor ca- pacidade para reconhecer e lidar com os sentimentos, mais tolerante com relacao aos outros e aos limites do mundo, mais seguro, autoconfiante e com melhor autossuporte que no comeco do trabalho. Aretomada do equilibrio pré-existente No que diz respeito 4 retomada do equilibrio pré-exis- tente, no raro é essa a demanda que traz os clientes até 0 consultério do psicélogo. Também nfo é raro que a queixa seja explicitada em um desejo de “voltar a ser 0 que era”, ou mesmo, como me disse certa vez uma cliente: “Nao quero mudar, nao. $6 quero sarar”. A pessoa sente que hé algo de errado na maneira como lida com a vida, sente que passa por uma situagdo de desconforto e que preci- sa fazer uma mudanca, por isso procura a psicoterapia. O cliente entende que jé viveu anteriormente um equilé- brio melhor e que pode voltar a té-lo. Nesses casos ha, de modo geral, um processo de desconforto que s¢ instalou de maneira relativamente lenta, quase imperceptivel. S40 exemplos disso algumas crises no casamento, uM certo Digitalizado com CamScanner eee 60 + Enio Brito Pinto e com a satide, 0 dese; descuido com 0 corpo 1 0 deseo d 7 erda de alguns ideais, 4 dan, as profissionais, 4 p : ' seg g ter mais a mesma energia para as tarefag ody s mal-estares relacionados - trabalho, sen tros exemplos. Em ie visio gestiltica, é importany, " presente a impossibilidade de que o cliente Volte 4 tir equilfbrio pré-existente; ° a de um trabalho bin terapéutico esté na possibilidade de que o cliente Con um novo equilfbrio, diferente daquele anterior, aug nao alguns 4 me. Thor que aquele anterior. A superagao de crise recente A busca da psicoterapia para uma superacao de crise recente € mais comum depois que a pessoa passa por |. guma situaga4o mais traumdtica ou mais carregada emocio. nalmente, quer seja no sentido de importantes derrotas, quer no sentido de importantes vitérias, 0 que gera certo desequilibrio e certa instabilidade até que o significado eo sentido do vivido sejam encontrados e um novo equilibrio, alcangado. Importante aqui é notar que, assim como no caso anterior, a retomada de um equilibrio pré-existente ndo se trata de conseguir a volta do equilfbrio anterior, mas 4m novo equilibrio, de forma geral melhor que o anterior, mais realista, base: liberdade. Esse ti S40 de crise, & m, uma Superacao d, tea exemplo d, ameacas a exist bilisticos, ciru ado em um novo nivel de awareness ¢ de Po de pedido, a psicoterapia para supe" ‘ais Comum nos casos em que é necessirit um sofrimento causado por crise rece © casos de perdas dolorosas ou de graves Encia, como Sequestros, acidentes autom” irgias mutiladoras, morte de pessoa significa Digitalizado com CamScanner Ee Psicoterapia de curta duragdo na abordagem gestiltica * 61 tiva, separagoes conjugais, assungao de novas responsabili- dades profissionais ou pessoais etc. ‘Asuperagao de sintomas Asuperagao de sintomas é possivelmente um dos prin- . motivos de busca por uma psicoterapia de curta cipai Juem-se aqui os casos de fobias, ansiedades, duragao. Inc disturbios alimentares, certos hdbitos ou vicios danosos ao organismo, problemas sexuais, enfim, uma série de situa- des em que o cliente percebe que hi algo de errado em sua vida e consegue localizar um foco para esse problema em alguma 4rea da vida ou, mais comumente, em alguma 4rea ou 6rgao corporal. Mais uma vez vale o lembrete: superado sintoma, a pessoa emergiré diferente, um novo todo, nao apenas 0 velho todo sem o sintoma que incomodava. Aqui é preciso ter claro que 0 objetivo do trabalho te- rapéutico nao serd somente a cura do sintoma. Por meio do trabalho com o sintoma, procura-se também ouvir 0 que 0 sintoma tem a dizer, ou seja, verificar que areas da vida ou dos potenciais da pessoa clamam por ser desenvolvidas, e ajudar o cliente a cuidar melhor desses aspectos de sie de sua vida. £ bastante comum que a resolugao do sintoma ¢ a maior conscientizacao das 4reas existenciais a ele corre- lacionadas gerem também mudangas em outras éreas da vida, caracterizando o fenémeno que Lemgruber denomi- nou “efeito carambola”, do qual tratarei mais adiante. A facilitagdo de mudangas Um objetivo da psicoterapia de curta duracao pode ser facilitacs, ‘facilitacdo de mudangas, inclusive de mudangas profun- Digitalizado com CamScanner 62. + Enio Brito Pinto q das. A pessoa sente que precisa fazer algumas ™Mudenga, em seu jeito de ser e de lidar consigo mesma e como ate do e procura a psicoterapia em busca de um caminho que facilite essas mudangas. No mais das vezes, nesses Casog 0 pedido do cliente vem por aoe de uma dor oy de um, queixa que evidenciam a necessidade de mudanga, €viden. ciam a necessidade de abertura para novos Tiscos @ Para novas posturas diante da existéncia. No meu modo de ver, facilitar essas mudangas para.o cliente € 0 objetivo mais profundo e mais importante de um trabalho terapéuticg de curta duracao, é 0 objetivo que permeia todos os Outros motivos de busca de psicoterapia, e € a 4rea que maior atencao deve despertar para o Gestalt-terapeuta. A maneira como a Gestalt-terapia entende a mudanca que deveré ocorrer no cliente esta fundamentada na teoria paradoxal da mudanga, de Beisser (1977, p. 110-2), se- gundo a qual “a mudanga ocorre quando uma pessoa se torna o que é, ndo quando tenta converter-se no que nao é". Quando uma pessoa procura a psicoterapia desejando mudangas, ela est4 em conflito com, ao menos, duas “fac- Ges intrapsiquicas que se guerreiam. Ela esté se deslocan- do constantemente entre o que ‘deveria ser’ e o que pens que ‘é’, nunca se identificando plenamente com uma nem com outra”. Para Beisser, “o Gestalt-terapeuta acredita em ©ncorajar o paciente a penetrar e tornar-se seja o que for que ele estiver experimentando neste momento”. Ainda segundo Beisser, “a meta da terapia passou a ser nao tanto o desenvolvimento de um bom e fixo cartel mas a capacitacio do individuo para mudar com o temp? ‘inda que retendo alguma establidade individual”. Ae*™ Digitalizado com CamScanner | Psicoterapia de curta duragio na abordagem gestiltica * 63 cada essa mudanga proposta por Beisser, a pessoa, em ver- dade, serd outra, 0 que quer dizer que quando se caminha em diregao a tornar-se 0 que se é, 0 que se alcanca é um novo jeito de viver e de compreender a vida, a ponto de podermos dizer que, em um processo terapéutico bem- -sucedido, mais do que mudar, 0 cliente se transforma em uma outra pessoa. Parte dessa abertura para tal transfor- macdo, uma parcela dessa capacidade de se renovar com 0 tempo, tem estreita relacdo com uma possibilidade de que o cliente alcance maior harmonia entre 0 que percebe que &e 0 que pensa que deveria ser. A melhora do didlogo eu-mim e a ampliagao do campo de consciéncia E basico para a psicologia fenomenolégica que o ho- mem, ao tecer sua histéria, fundamenta-se na conscién- cia de si e do seu mundo. Grande parte dessa consciéncia pode ser ampliada pela melhora no didlogo eu-mim, ou seja, pela conquista de uma maior auto-observacao, fruto de uma melhor e mais fluida capacidade para ser sujeito e objeto de si mesmo. A ampliagéo do campo de conscién- cia do cliente é um objetivo das psicoterapias de curta durac4o profundamente enlagado com a melhora no dia- logo eu-mim. Essa ampliagao do campo de consciéncia, na verdade uma ampliagdo da awareness, significa faci- litar ao cliente a obtengio de mais subsidios para que compreenda a si e ao mundo que habita de maneira mais profunda que aquela proporcionada apenas pelo senso comum. Significa facilitar ao cliente 0 acesso a corre- lagdes e percepcées que o coloquem em contato mais Digitalizado com CamScanner _ i... § 64 * Enio Brito Pinto profundo e mais respeitoso com a complexidade de 7 existéncia ou, dizendo de outro modo, significa colotar, cliente diante da possibilidade de compreensao de se como afirma Morin (2000, p. 17), , o humano é, ao mesmo tempo, individuo, parte da so. ciedade, parte da espécie. Carregamos em nés esta tripl, realidade. Desse modo, todo desenvolvimento verdadei- ramente humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participacées comunitérias e da consciéncia de pertencer 4 espécie. Digitalizado com CamScanner Estratégias terapéuticas basicas diciondrio eletrénico Houaiss define estratégia como a “arte de aplicar com eficdcia os re- cursos de que se dispde ou de explorar as condigées favordveis de que porventura se desfrute, visando ao alcance de de- terminados objetivos”. Com base nisso, a estratégia em um processo psicotera- péutico de curta duracdo fundamentado na abordagem gestiltica deve colocar én- fase em alguns pontos mais importantes para a aplicacao dos recursos disponiveis na situagdo terapéutica. Os pontos que me parecem mais importantes, @ a0s quais darei maior atengao agora, siio os seguintes: énfase do olhar e do experien- ciar do terapeuta na situacio; cuidado, ao olhar o cliente, quanto ao modelo de compreensao (se um modelo de psicopa- tologia de conflito e defesa ou um mode- Digitalizado com CamScanner 66 © Enio Brito Pinto i ista); orientagao hi il lo desenvolvimentista); oO Gi ; tumanista do ty 0 a visio de homem implicita n; ‘abalhg, clareza quanti men Posture 4, terapeuta; cuidado com 0 diagnéstico como indicador le tengio a como delimitar 0 foco (definir foe pe eee 7 apés o diagndstico, lembrando que 0 caminhi junto com 0 cliente, tempo é 0 tempo do cliente, um periodo que, no mais vezes, nao é claramente determinavel a Principio); a sig. terapia fora do consultdrio (tarefas para casa, Manutencig do vinculo terapéutico). A situagao terapéutica O primeiro e mais importante recurso de que dispée o psicoterapeuta em um atendimento de curta duragao é a situagdo terapéutica. O campo da psicoterapia é a situa- 40, de modo que falar do campo em psicoterapia é falar da situacdo terapéutica. Para Perls, Hefferline e Goodman (PHG, 1997, p. 36), a situacao terapéutica é mais do que somente uma ocor réncia estatistica de um médico mais um paciente. £ 0 encontro de médico e paciente. © médico no seré um bom terapeuta se for rigido e insensivel as necessidades especificas de uma situagao terapéutica que estd sem Pre mudando. [...] [O médico] Nao é um terapeuta s° © Fecusa a ser parte dos processos em andamento 1a s- al Psiquidtrica, Do mesmo modo, 0 comportamento somone ns vonal® Por muitas varidveis da ene Contexto no qual oj re ou dementes (esquecidos ; como se ee am) comportar-se-do no consultério m fora dele, Digitalizado com CamScanner Psicoterapia de curta duragio na abordagem gestéltica * 67 Continuando, PHG descrevem a situagdo terapéutica como diretamente derivada da interagdo do organismo com o ambiente, e nao os dois, organismo e ambiente, tomados em separado. Cada um deles, organismo e ambiente, toma- do em separado, nao diz respeito a psicologia, mas a ciéncias como a geografia e a fisiologia, dentre outras, de modo que “nem o entendimento pleno das fung6es organismicas, nem o melhor conhecimento do ambiente (sociedade etc.) abran- ge a situag’o total” (PHG, 1997, p. 37). Esse raciocinio de PHG me parece genial! De um alcance ainda pouco perce- bido em Gestalt-terapia, tal sua sutileza. O que os autores dizem é que nés, terapeutas, estamos de tal modo imersos na situagdo terapéutica, que praticamente nos € impossivel compreender o cliente fora desse limite. Posso imaginar 0 cliente fora da situacdo terapéutica, posso pensar teorica- mente sobre ele, posso fazer um diagnéstico que me auxilie a ajudé-lo mais rapidamente, mas a compreensio mesmo, o cerne do processo terapéutico, s6 se dé na situagao tera- péutica, no encontro aventuresco entre terapeuta e cliente, entre essas duas pessoas, aqui-e-agora, abertas ao novo. Para facilitar que o cliente recobre sua awareness to- tal, a abordagem gestdltica toma a situacio clinica como uma situagao experimental (PHG, 1997, p. 37). Isso quer dizer que é preciso que o terapeuta se engaje na situagao terapéutica, que ele se lembre de que, se é a experién- cia de cada situaco vital que possibilita o sentimento da propria existéncia e da existéncia do outro e do ambien- te, isso igualmente é valido para a situacao clinica. Nela, © terapeuta faz e é feito pela situagdo, tanto quanto seu cliente. De certa maneira, se 0 terapeuta se entrega a si- 4 Digitalizado com CamScanner tuagdo terapéutica, se el situagdo, sua awareness rado de consciéncia — situagdo terapéutica n, tipo ¢, Ung seu cotidiano, sua Sensibilidade ¢ difere, mi le é diferente, sua capacidade de empatia ona a ampliada, sua capacidade amorosa e sug od mais presentes, sua Criatividade Mais 4 disposigae 9 tro. Esse tipo de vivéncia é ainda mais importante ne psicoterapia de curta duragao do que em um oe = longo, uma vez que essa qualidade de atengio ao ao acontecendo tende a facilitar ainda mais 0 livre fluxo de awareness do cliente, 20 Testy A situagado terapéutica existe antes mesmo que uma Gestalt comece a se formar na sessio de terapia, e serd fun- do para as figuras que virdo. Apesar disso, Robine (2003, p. 32) lembra que “o neurético age como se a novidade da si- tuacao aqui-e-agora ndo existisse, como se essa situacdo fosse redutivel a alguns de seus constituintes fixados, de uma vez Por todas, sob formas e esquemas de pensamento, de senti- mento e de ago”. Dessa maneira, ao entendermos a neurose como, de certa maneira, uma negacao da situacio, podemos igualmente, conceber a psicoterapia como uma situagio “ vai proporcionar ao cliente a experiéncia de buscar a crs de novas respostas ajustadas criativamente ao carater a da situacao, Assim, ao considerarmos a situagio cunt das bases do processo terapéutico, temos também de - Tar a prépria situaco terapéutica ao longo de cada s pelo de preferéncia uma elaboracao feita pelo terapeuta cliente juntos. No dizer de Perls (1977, p. 113), Digitalizado com CamScanner eE Psicoterapia de curta duragdo na abordagem gestiltica * 69 se mudarmos a atitude do paciente em relagao ao com- portamento de interromper que ele apresenta no consul- t6rio, sua atitude mudada eventualmente se expandiré e abarcaré seu estilo, natureza, seu modo de vida. Seu comportamento aqui-e-agora é um corte microscépio de seu comportamento total. Se ele vir como é estruturado 9 seu comportamento na terapia, veré como o estrutura no cotidiano. Atendi, certa vez, em psicoterapia de curta duracio, um cliente de estilo obsessivo, que trazia, em uma deter- minada sessio depois de aproximadamente dois meses de terapia, a queixa de que tinha pouco espacgo na vida, de que se continha muito. Exploravamos sua vivéncia € os sig- nificados dela, quando o cliente me disse: “Pois é, Enio, é como se eu nao usasse todo 0 espaco que tenho, como se eu ficasse sempre em um canto, oprimido...” Ao que lhe respondi: “Estou vendo”. “Como assim? Esta vendo?” “Es- tou vendo. Perceba como vocé esta sentado na poltrona.” A poltrona de meu consultério é de assento amplo, no qual uma pessoa pode sentar-se confortavelmente; meu cliente estava sentado em um cantinho da poltrona, quase espre- mido no brago dela. Ele olhou para o imenso espago vazio ao seu lado, olhou de novo, olhou para mim, moveu-se em dirego ao centro da poltrona, experimentou-se nessa posi- Gao, respirou profundamente e abriu um dos mais infantis e lindos sorrisos que ja vi na vida! Esse mo(vi)mento enca- deou uma série de ocupagées de espagos por parte de meu cliente, de modo que algumas poucas sess6es depois desta davamos por encerrado nosso trabalho e ele péde retomar sozinho seu caminho. Digitalizado com CamScanner 70 * Enio Brito Pinto Essa postura diante da situagdo clinica, es, 7 €88a atey Arags Nei como se desenrola 0 encontro terapéutico a cada io g leva a uma percepgdo mais acurada do que estg Sessig ‘ x a ali. detrimento do que nao esté. Isso quer dizer que, ali, ¢ : ) ate que acontece, o terapeuta se liberta de uma post ., z ee. ; Ura poderia deixar implicita uma exigéncia de que algo q Que . s : eve; estar ali. Com isso, 0 acolhimento ao cliente, a possi i toe. . ’ lida. de da empatia, da compaixao e da inclusao se fazem my, ais No ag claramente presentes na situacdo clinica. Assumindo e559 postura na situag4o clinica, 0 terapeuta reconhece que g situagdo, se nao chega a exatamente provocar os atos dos protagonistas, nao é também somente um mero fundo para que as figuras emerjam na psicoterapia. A percepcio da situagao tem estreita correlagéo com as possibilidades de acdo presentes a cada momento. Em fungao das diferengas que ha entre um trabalho de curta duracgéo e um trabalho mais longo, a situagao tera- volvo aqui é ainda G40 do que is adian- péutica encarada da maneira que desen mais importante na psicoterapia de curta dura na de tempo indeterminado. Como veremos ma te, o terapeuta, em um trabalho de curta duracdo, pode e deve estar presente ao maximo, mais ativo que em uma s entregue a situagao (© qui ele precisa ser jimites € 05 PI” psicoterapia de longa duragao, mai rapéutica e mais aware ainda, porque a um catalisador mais estimulante, dados os |: positos do trabalho. A compreensao do cliente 3 Ao lado da percepedo da situacdo, cumpre a0 te/@P i” m olhat ° um cuidadoso e curioso olhar para o cliente, 4 Digitalizado com CamScanner | Psicoterapia de curta duragio na abordagem gestiltica * 71 mais amplo possivel, levando em conta tanto seus aspectos intrapsiqui on dia-a-dia, levando em conta seus discursos, suas fanta- sias, suas realidades. Nessa perspectiva ampla do olhar do sicoterapeuta, como ensina Robine (2003, p. 30), pode-se cos quanto os relacionais, seja na terapia, seja em fazer a localizagio do trabalho terapéutico em, fundamen- talmente, um de dois lugares: — Ouela (a psicoterapia) se apoia em um modelo de psi- cologia baseado em uma tinica pessoa como, por exemplo, o modelo da psicanilise cldssica, em que o terapeuta tem um certo tipo de presenga e fungao; — Ou ela se inscreve em uma psicologia que compreen- de duas pessoas, como 0 modelo proposto por Ferenczi e adotado por Balint, Winnicott e outros mais, no qual o terapeuta nao é mais estranho ao campo da experiéncia. Naquilo que se refere especificamente 4 Gestalt-tera- pia, ela oscila entre esses dois polos. Para Robine (2003, p- 30), Perls representaria uma postura mais préxima do primeiro modelo, ao passo que “a influéncia de Goodman se exerce através de sua abordagem do contato, considera- do como ajustamento criativo, como construgao do sentido da experiéncia em um campo organismo/meio”. Jacobs (1997, p. 147); a0 analisar a postura do tera- peuta por um outro prisma, complementar ao de Robine, destaca a existéncia de uma mudanga interessante € relati- vamente recente no campo da psicoterapia: a mudanga de um modelo que ela chama de “psicopatologia de conflito e defesa”, para um modelo desenvolvimentista. O olhar do terapeuta — antes atento a desordens que surgiriam de Digitalizado com CamScanner 72. * Enio Brito Pinto conflitos entre impulsos ou entre impulsos ere também atento as defesas e¢ evitacdées ee ses conflitos — volta-se hoje mais para a compre conflitos como derivados de certa desvinculacio ¢ necessidades de desenvolvimento do cliente ¢ ne * bilidades que 0 meio ambiente lhe oferece. No tied caso, “as pessoas sao vistas como desejosas de rete Fs impulsos infantis, desistindo deles com relutancia para se adaptarem as demandas da realidade”; no segundo caso, h4 “um processo de desenvolvimento que foi impedide de prosseguir, por exemplo, no estabelecimento das fron- ‘alidade i 45 Por es, NSO dog teiras de contato”. A Gestalt-terapia de curta durago, embora nio possa negar importancia ao modelo de conflito e defesa, tem sua estratégia clinica fundamentada principalmente no modelo desenvolvimentista, uma vez que esse € 0 campo por ex- celéncia de uma psicoterapia humanista. O préprio Perls (1997, p. 11), na apresentagao a edigao de 1969 do Ges- talt-terapia, afirma que a Gestalt-terapia agora estd se tornando maior de idade, embora eu tenha escrito 0 manuscrito original, se tant, h4 vinte anos. [...] Os experimentos de Gestalt incluidos lo na neste volume sao tao validos hoje como provaram s primeira vez que dirigimos aulas de expansdo de aware ness. A énfase global, entretanto, mudou da ideia de te cimento (dese™” rapia para um conceito gestaltico de cr volvimento). Agora considero a neurose nado uma doens mas um de varios sintomas de estagnagio do cresciment© (desenvolvimento). Digitalizado com CamScanner — Psicoterapia de curta duracao na abordagem gestéltica * 73 O apoio em um modelo desenvolvimentista ou em um de psicopatologia de conflito e defesa determina e é deter- minado pela visio de homem da teoria que fundamenta o trabalho do terapeuta. Todo o olhar e toda a presenga do terapeuta na situacao terapéutica dependem de como ele compreende o ser humano. Avisao de homem na psicoterapia Diferentemente das terapias “dindmicas”, que se pro- pdem reconstruir personalidades, 0 propésito das terapias humanistas é libert4-las, uma vez que as caracterfsticas de personalidade potencialmente realizéveis continuam pre- sentes, ocultadas por atitudes que as impedem ou limitam severamente sua expressio, isto é, elas nao precisam ser reconstrufdas, mas desveladas, conhecidas, apropriadas. E importante lembrar que o olhar humanista sobre a persona- lidade tem um fundamento, digamos assim, confiante. Na psicologia humanista, a visio de homem se sustenta em um conceito esperancoso das pessoas e de sua capacidade para viver plenamente a vida, ainda que isso implique fazer mu- dangas, as vezes dolorosas, em crengas e condutas mantidas durante muito tempo, ainda que isso implique também lidar com os aspectos tragicos da vida. Essa visio de homem deve ficar clara para 0 terapeuta gestdltico, como ja discuti em outro texto (Pinto, 2007), pois é ela que dard o suporte para que 0 terapeuta se integre e se entregue a situagao, e, com base nessa atitude, trace sua estratégia de trabalho. E tendo em vista essa visio de homem de base huma- nista que se pode afirmar que a finalidade prioritaria (em- bora nao tinica) da Gestalt-terapia de curta duragao é a de Digitalizado com CamScanner 74 © Enio Brito Pinto desvelar e liberar as potencialidades Pouco personalidade, integrando-as com as poe 4 mio, e ndo s6 debelar os sintomas, A Geers hy, curta duracgao pretende facilitar ag cliente - tera le de que ele re-encontre (e confie) em sua espo. lade em sua autonomia, em sua capacidade de Se aut cada situagdo existencial, integrando-se com 0 Rs Oattaliza, ambiente Um primeiro contato com o diagnéstico em Gestalt-terapia de curta duragdo Outro fundamento da estratégia terapéutica é 9 diag. néstico como indicador de caminho, to importante que merecer4é um destaque e uma discussio mais Ppormenori- zada adiante, uma vez que toda a estratégia terapéutica todo o trabalho psicoterapéutico - em psicoterapia de ma- neira geral e, especialmente, na Gestalt-terapia de curta duragéo — dependem e derivam do diagnéstico feito. Por ora, € para que se possa compreender como delimito parte significativa da estratégia terapéutica e 0 foco em meus atendimentos, coloco apenas 0 que entendo como as linhas mestras de uma compreensio diagnéstica em Gestalt-tera- pia de curta duracao. A primeira coisa que compete registrar nese momer- to € que o diagnéstico em Gestalt-terapia de curta dura¢de ndo pode ser apenas um diagnéstico do cliente: ele precis* envolver o diagnéstico da situagio terapéutica e da situacio de vida do cliente como um todo, além, é claro, das disposi Ges do terapeuta ante aquele trabalho clinico. Outro pont importante € que o diagnéstico nao se esgote no sintoma, mas abarque o estilo de ser do cliente, pois é esse estilo que Digitalizado com CamScanner ae Psicoterapia de curta duracio na abordagem gestitica + 75 configura o fundo de onde sobressairé a figura da queixa, do sintoma, OU, dizendo melhor, do sofrimento denunciado no momento. Além disso, 0 diagnéstico deve levar em conta tanto os aspectos intrapsfquicos quanto os relacionais, em- bora com énfase maior nos aspectos relacionais, pois este é 0 caminho por exceléncia da Gestalt-terapia. Mais importante que tudo é, desde j4, ter presente que o diagnéstico € um indicador de caminhos, um mapa indispensdvel em Gestalt- -terapia de curta duragao, na medida em que nao é possivel um trabalho terapéutico sem uma adequada compreensao diagnéstica que lhe dé suporte e norte. No trabalho que desenvolvo com meus clientes, faco uma compreensao diagnéstica baseada em quatro pontos fandamentais: a) 0 fundo, o estilo de personalidade que dé sustentagao a queixa, ao sintoma; b) a figura trazida pelo cliente, sua dor, sua queixa, seu sintoma identificado, o que inclui um cuidadoso olhar para 0 seu ponto de interrupgao mais importante no ciclo do contato; c) a situagao terapéu- tica, a cada sessdo, nos moldes ja discutidos anteriormente; d) o campo existencial do cliente. E com base nessa com- preensio diagnéstica que se poderé determinar © foco da psicoterapia de curta duragao, como discutirei a seguir. Digitalizado com CamScanner O foco © teatro, 0 foco é 0 ponto onde se concentra a luz para ilumi- nar toda a cena. Na psicotera- pia de curta duracio, 0 foco so os pon- tos nos quais se concentram os esforgos do terapeuta e do cliente visando ao trabalho terapéutico. Sao as areas que se vao iluminar preferencialmente, com a expectativa de que, uma vez suficiente- mente trabalhadas, todo o ser do cliente se modifique, de modo que seus ajusta- mentos criativos voltem a ter fluidez e, assim, ele caminhe mais livremente para se tornar ele mesmo. Os focos sao 0 eixo de um processo de Gestalt-terapia de curta duracgdo, assim como na maioria das outras abordagens em psicoterapias de curta duracio. Credita-se a Rank a criacdo do con- ceito de foco, embora, é bem verdade, Digitalizado com CamScanner

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