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Material de LGG Fonoaudiologia
Material de LGG Fonoaudiologia
do Desenvolvimento Linguístico,
Cognitivo, Socioemocional e Motor
Conteudista
Prof.ª M.ª Nívea Maria Símaro Gomes
Revisão Textual
Esp. Renata Panovich Ferreira
OBJETIVO DA UNIDADE
• Promover a atualização dos conhecimentos teórico-práticos acerca dos
preditores cognitivo-linguísticos e percepto-motores no desenvolvimen-
to de fala e linguagem da criança.
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Introdução
Vamos iniciar nossa Unidade de Estudo trazendo a conceituação sobre os marcos do
desenvolvimento neuropsicomotor e a relação com o desenvolvimento de fala e lin-
guagem na visão da Fonoaudiologia. Vale ressaltar que essa temática é fundamen-
tal para a sua prática profissional, pois, possivelmente, durante sua carreira como
Fonoaudiólogo, as questões relacionadas à fala e à linguagem farão parte do seu
estudo e de sua rotina clínica. Nessa perspectiva, vamos discutir os marcos do de-
senvolvimento neuropsicomotor e a estreita relação com o desenvolvimento de fala
e linguagem, com vistas à compreensão dos conceitos envolvidos nessa temática.
Lembre-se de realizar anotações, mapas mentais, resumos, bem como ler e assis-
tir aos Materiais Complementares, pois eles ampliarão seu conhecimento e sua
curiosidade por essa área tão complexa e, ao mesmo tempo, tão interessante
que é a comunicação humana!
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Um adequado desenvolvimento motor repercute no futuro da criança em as-
pectos sociais e cognitivos. Os pais e cuidadores devem estimular os bebês e
as crianças na primeira infância por meio de atividades psicomotoras e brin-
quedos próprios para cada idade, inicialmente com chocalhos ou tapetes de
atividades, por exemplo, pois nessa fase o desenvolvimento das habilidades
acontece rapidamente.
Agora vamos falar dos marcos de desenvolvimento motor desde o primeiro mês
de vida até os 4 anos, quando os separamos entre desenvolvimentos motores
grosso e fino.
• De 0 a 18 meses:
• 1 mês:
• Motor grosso: move as mãos e os pés ao mesmo tempo;
• Motor fino: abre os dedos ligeiramente quando em repouso;
• 2 meses:
• Motor grosso: levanta a cabeça e o peito em posição prona;
• Motor fino: abre e fecha as mãos, e, por breves períodos, deixa
as mãos juntas;
• Entre 3 e 4 meses:
• Motor grosso: nessa fase a criança leva as mãos à boca, com fre-
quência, e começa a rolar;
• Motor fino: inicia movimento de abrir e fechar as mãos, conse-
gue prensar um objeto e levá-lo até a boca;
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• Entre 5 e 6 meses:
• Motor grosso: rola por completo, senta-se com apoio e breve-
mente sem apoio;
• Motor fino: consegue pegar objetos e passar de uma mão para outra,
bate os brinquedos na mesa ou no chão e sorri com o som emitido;
• Entre 7 e 9 meses:
• Motor grosso: senta sem apoio, engatinha e ameaça passos
com apoio;
• Motor fino: balança objetos (p. ex. chocalho), joga objetos in-
tencionalmente, pega alimentos para comer com três dedos;
• 1 ano:
• Motor grosso: começa a “andar” e a dar os primeiros passos, muitas
vezes com apoio ainda, e aos poucos consegue ficar em pé sozinho;
• Motor fino: pega objetos com dois dedos (pinça aberta), conse-
gue colocar e tirar objetos de um lugar;
• 15 meses:
• Motor grosso: anda sozinho, para e continua andando nova-
mente; pode agachar para pegar um objeto e levantar sem apoio;
• Motor fino: tira e coloca tampas de panelas e potes, com o in-
dicador aperta um interruptor, pode rasgar as páginas de um
livro. Monta uma torre de dois cubos;
• 18 meses:
• Motor grosso: se você chutar uma bola, ele pode fazer igual por
imitação;
• Motor fino: monta uma torre com três a quatro cubos, explora
toda a sua casa, querendo abrir portas e gavetas;
• De 2 a 4 anos:
• Entre 24 e 30 meses:
• Motor grosso: corre, sobe escadas com ajuda de um adulto, um
degrau por vez; abre portas;
• Motor fino: consegue usar colher para comer e segura bem o
seu copo.
• Entre 36 e 42 meses:
• Motor grosso: alterna os pés para subir escadas, consegue pe-
dalar um triciclo;
• Motor fino: come sozinho, calça sapatos sozinho.
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• 48 meses:
• Motor grosso: pula em um pé só, anda de bicicleta;
• Motor fino: segura e pinta com lápis, faz desenhos, escova den-
tes sozinho, (BARBOSA; FUKUSATO, 2020)
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Dessa forma é necessário que haja uma integração entre os diferentes domínios
motor, cognitivo, perceptual, socioemocional, socioambiental e linguístico para o
desenvolvimento integral da criança.
Habilidades Psicomotoras
Importante
O desenvolvimento das habilidades psicomotoras na criança
possibilita o domínio sobre o próprio corpo e a relação dele
com o ambiente e o espaço. A interação com os outros aspec-
tos do desenvolvimento neuroinfantil, tais como o cognitivo e o
emocional, são fundamentais para o desenvolvimento integral
da criança. Fiquemos atentos!
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tação, tem seu auge durante o primeiro ano de vida, continua na ado-
lescência e persiste durante a terceira década de vida.
– PAPALIA; MARTORELL, 2021, p. 112
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Postura
Uma boa postura, seja em pé ou sentada, permite a colocação correta das vér-
tebras da coluna vertebral, que é o eixo central e o sustentáculo de nosso corpo.
Adotada a partir da infância evitará uma série de problemas futuros. O valor de uma
postura correta não está ligado apenas à conservação da coluna vertebral em si ou
valorizada pelo senso estético. A coluna vertebral é contendedora da medula espi-
nhal, que é responsável pelas vias condutoras de estímulos e respostas aos diver-
sos centros nervosos, desempenhando um papel de grande destaque nas funções
mentais e motoras. Uma posição correta, sem curvaturas exageradas ou distorções,
pode colaborar para uma boa qualidade daquelas mensagens dos centros mentais
superiores e, consequentemente, ser um dos fatores de uma boa aprendizagem. O
professor pode levar seus alunos a adquirir bons hábitos posturais durante as di-
versas atividades na escola, em pé, parados ou andando e sentados, principalmente
nos exercícios pré-gráficos, onde eles serão preparados para escrita. A postura ideal
em pé, quando se está parado, deve ser com os pés ligeiramente afastados, com o
peso do corpo distribuído igualmente entre os dois lados do corpo. A postura ideal
para as atividades de mesa é a posição com a coluna vertebral apoiada no encosto
da cadeira, com os antebraços apoiados sobre a mesa ou carteira.
Marcha
Constitui uma das atividades habituais de deslocamento; portanto, seu aper-
feiçoamento permite exercitar a coordenação global. Aproximadamente aos 12
meses, o bebê adquire o andar tosco. Após os 16 meses, caso não domine essa
habilidade, é considerado atraso do andar. Aos 3 anos, adquire o andar cruzado.
Aos 5 anos, as diferenças entre os movimentos do andar da criança e do adulto
não devem mais ser notadas facilmente.
Correr
Correr procede, naturalmente, do caminhar. O correr em si caracteriza-se por
períodos de não sustentação, quando o corpo fica suspenso no ar. Em geral a
criança não está apta a impulsionar o próprio corpo para o ar até os 18 meses,
mas, se encorajada, tenta caminhar rapidamente. A força, o equilíbrio e a coorde-
nação necessários para executar os requisitos para correr desenvolvem-se aos 2
anos. Apesar do refinamento do padrão do correr ser contínuo até a puberdade,
aos 5 anos a criança, geralmente, corre de uma forma mais segura.
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Saltar
A criança começa a ensaiar o salto logo que adquire um caminhar mais seguro e
confiante. Entre os 18 e 24 meses, a criança salta frequentemente. Aos 3 anos, a
criança consegue saltar de uma altura de 60 cm, de uma distância de 30 a 90 cm e por
cima de um obstáculo de 30 cm de altura. A criança só consegue saltar com um pé só
ou com pés alternados com a maturação do sistema nervoso. As atividades relativas
a saltos estimulam o desenvolvimento da força e da resistência cardiovascular.
Chutar
Esse padrão começa a se desenvolver tão logo a criança comece a correr. Em geral, o
chutar vai de um fraco movimento pendular da perna sem impulso até um movimen-
to de uma perna arrebatadora que envolve também o movimento de todo corpo.
Arremessar e Pegar
A criança começa a lançar logo no seu primeiro ano de vida, através dos mo-
vimentos de segurar e largar os objetos. Pegar ou apanhar uma bola é talvez
a mais difícil das habilidades que a criança precisa adquirir. Inúmeras variáveis
interferem no apanhar uma bola: o tamanho da bola, o percurso da bola no ar,
a distância entre o atirador e o receptor, a velocidade da bola e o deslocamento
que a criança terá que fazer ou não para apanhar a bola. Arremessar e pegar são
atividades que caminham juntas.
Subir e Descer
O subir é muito importante, pois o corpo da criança se movimenta completamen-
te. Esse padrão se desenvolve bem cedo, iniciando-se quando a criança começa
a engatinhar. O movimento que a criança executa com as mãos e os joelhos é o
mesmo se for na escada ou no chão liso, logo a criança não encontra dificuldade
para engatinhar em escada. A criança aprende a subir escada antes de conseguir
descer. Inicialmente desce a escada sentada. A habilidade de subir e descer es-
cada está na oportunidade de praticar. A criança deve ser encorajada a subir e
descer qualquer tipo de saliência. De grande importância é a posição das mãos
no corrimão, o polegar deve ser colocado em volta da barra que está segurando.
Aos 2 anos, a criança sobe escada marcando passo.
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Rolar e Engatinhar
O rolar é de extrema importância, pois propicia a adequação do tônus muscular
e a maturação do sistema vestibular, tão importante para o equilíbrio da criança.
Engatinhar
A maturação do mesencéfalo está intimamente relacionada ao engatinhar. A ma-
nutenção da boa postura ereta depende do engatinhar, pois, ao realizar esse mo-
vimento, a criança estará preparando o tônus da musculatura dorsal. Engatinhar
é o primeiro exercício preparatório para o grafismo (ato de escrever), pois propi-
cia a dissociação das grandes articulações.
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Coordenação Motora Fina
A coordenação motora fina é uma das coordenações mais diferenciadas e espe-
cíficas do nosso corpo. Uma boa coordenação motora fina proporciona traçados
mais precisos, desenhos mais bem configurados e letras mais legíveis. Os primei-
ros movimentos de preensão se dão na posição de decúbito dorsal. Desde a mais
tenra idade é importante que a criança vivencie o relaxamento de braços e mãos,
movimentação de braço e mãos livres, flexibilidade do pulso e independência
digital, que irão dar condições à criança de realizar as atividades de coordenação
motora fina com ferramentas (lápis, tesoura, pincel etc.), preparando sua muscu-
latura manual para as atividades gráficas posteriores.
Marcos do Desenvolvimento
Neuropsicomotor e a Relação
com o Desenvolvimento de
Linguagem
A linguagem é, possivelmente, a maior habilidade e a maior conquista dos seres
humanos. Composta por uma complexa rede de estruturas neurológicas envol-
vidas nas funções cerebrais, permite a nossa capacidade de comunicação; desse
modo, descrever sua anatomia não é uma tarefa fácil.
Para dar início à descrição do que se sabe até agora sobre o caminho que a lin-
guagem percorre em nosso cérebro, faz-se necessário entender o conceito de
percepção, especificamente quando nos referimos à linguagem.
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Esquema Funcional de Lúria – Alexander
Romanovitch Luria (1902 – 1977)
Dessa forma, para a aquisição da linguagem oral, faz-se necessária integridade e ma-
turação neurobiológica e neurofuncional, por meio da integração neurossensorial,
do processamento auditivo inicial; da codificação fonológica; associação semântica;
codificação e programação articulatória, para a execução da fala contextualizada.
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Vídeo
Primeira Infância (Até 6 Anos) Exige Con-
vivência Olho no Olho
Reflita sobre a importância da estimulação
socioambiental para o desenvolvimento mo-
tor e de linguagem do bebê. Exige convivên-
cia, olho no olho.
Glossário
• Fonética: é a parte da linguística que estuda o próprio som
da fala, emitido, captado e percebido. Seu objeto de estudo
é o som do ponto de vista articulatório e acústico. Realidade
física dos sons da língua. Os sons da fala são aqueles emiti-
dos pelo aparelho vocal humano e ocorrem nas línguas do
mundo;
• Fonologia: é a parte da linguística que estuda o som como
significado do código. Seu objeto de estudo é a organização
dos sons da fala em cada sistema linguístico e seus padrões
de funcionamento. Os fonemas de uma língua são os sons
que são pertinentes para a veiculação de significado;
• Sintático-semântico: estudo das regras que regem a for-
mação de frases e do seu significado;
• Morfossintático: nível da estrutura e/ou da descrição
linguística que engloba a morfologia (estudo das formas) e
a sintaxe (regras de combinação que regem a formação de
frases);
• Pragmática: A pragmática analisa a linguagem considerando
a influência do contexto comunicacional, extrapolando assim
a visão da semântica e da sintaxe, CORTINA et al., 2018.
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Principais Características da Comunicação
das Crianças na Faixa Etária de 0 a 7 Anos
Trocando Ideias
Mas o que esperar do desenvolvimento de fala e da linguagem de
crianças sem queixas de alterações do neurodesenvolvimento?
• Entre 0 e 2 meses:
• Entre 2 e 10 meses:
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• Entre 10 e 12 meses:
• Entre 1 e 2 anos:
• Aparição dos fonemas plosivos: /p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/;
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• Entre 18 e 20 meses, apresenta um estilo “telegráfico” em seus enun-
ciados - /nenê mimi/, /mama bo/ (etapa da sintaxe primitiva);
• Entre 2 e 3 anos:
• Entre 3 e 4 anos:
• Entre 4 e 5 anos:
• Entre 5 e 6 anos:
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• Vocabulário acima de 4000 palavras;
• Entre 6 e 7 anos:
Trocando Ideias
Dessa forma, exploramos aqui sobre a relação dos marcos do de-
senvolvimento e das habilidades percepto-motoras e linguísticas
para o desenvolvimento integral da criança. A integração entre
os diferentes estímulos e experiências com o ambiente socioam-
biental e educacional constitui fator importante para o aumento
da comunicação, com vistas à identificação precoce de alterações
de desenvolvimento para posterior intervenção, se necessário.
Mas, afinal, como a família poderá estimular suas crianças no dia a dia?
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• Limites;
Importante
Alguns fatores são determinantes para o desenvolvimento da
comunicação infantil (combinados):
• A criança necessita ter uma razão ou motivo para se comu-
nicar = uma intenção;
• Há necessidade de se ter algo para comunicar = um conteúdo;
• Faz-se necessário um meio de comunicação = forma;
• Há necessidade de pessoas com quem se comunicar = um
interlocutor;
• Condições favoráveis para a interação = uma situação ou
contexto;
• A criança necessita ter capacidades cognitivas favoráveis =
para compreender e atuar sobre o mundo.
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Chegamos ao final da nossa Unidade de Estudo. Você, como futuro
Fonoaudiólogo, poderá fazer a diferença na identificação precoce de altera-
ções no desenvolvimento de fala e linguagem, pois, ao conhecer os parâme-
tros dos marcos de desenvolvimento infantil, você terá condições clínicas de
contribuir para o diagnóstico e a intervenção fonoaudiológica nos casos que
se fizerem necessários.
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MATERIAL COMPLEMENTAR
Vídeos
Leitura
CDC – Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Seu bebê de 2 meses. 2022. Dispo-
nível em: <https://www.cdc.gov/ncbddd/actearly/pdf/other-lang/Brazilian-Portuguese-
Checklists_LTSAE-P.pdf>. Acesso em: 25/05/2023
FÁVERO, M. L.; PIRANA, S. Tratado de Foniatria. Rio de Janeiro: Thieme Revinter, 2019.
Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788554652296/>.
Acesso em: 17/04/2023.
SHONKOFF, J. P., PHILIPPS, D. A. 2000. (Eds.). National Research Council & Institute
of Medicine. From neurons to neighborhoods: the science of early childhood de-
velopment. Washington: National Academy Press. Disponível em: < h t t p s : / / n a p .
n a t i o n a l a c a d e m i e s . o r g / r e a d / 9 8 2 4 / c h a p t e r / 5 # 4 2 >. Acesso em: 20/05/2023.