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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na

sociedade de consumo:

ESTUDO SOBRE A VULNERABILIDADE DOS ANALFABETOS NA SOCIEDADE


DE CONSUMO:
o caso do crédito consignado a consumidores analfabetos
Revista de Direito do Consumidor | vol. 95/2014 | p. 99 - 145 | Set - Out / 2014
DTR\2014\10483

Claudia Lima Marques


Professora Titular da UFRGS. Pesquisadora líder do Grupo de Pesquisa do CNPq "Mercosul e
Direito do Consumidor". Bolsista Produtividade A1 do CNPq. Coordenadora Substituta do Programa
de Pós-graduação em Direito da UFRGS. Diretora do Brasilcon.

Área do Direito: Financeiro e Econômico; Consumidor; Arbitragem


Resumo: O consumidor analfabeto é especialmente vulnerável ao marketing e a práticas comerciais
agressivas. O presente artigo analisa se a vulnerabilidade do consumidor analfabeto é
suficientemente reconhecida hoje na lei e na jurisprudência e se necessitamos evoluir na
consideração deste consumidor mais vulnerável, especialmente os que contratam crédito
consignado. Analisa o PLS 283, 2012 de atualização do Código de Defesa do Consumidor no tema
do crédito e do assédio de consumo e o PLS 406, 2013 que permite a arbitragem de consumo, sem
considerar os consumidores analfabetos, o fenômeno do superendividamento e a aplicação
obrigatória do Código de Defesa do Consumidor na proteção destes vulneráveis.

Palavras-chave: Vulnerabilidade - Analfabetos - Crédito consignado - Assédio de consumo -


Arbitragem de consumo.
Abstract: The illiterate consumers are particularly vulnerable to marketing and aggressive
commercial practices. This paper examines nowadays whether the vulnerability of illiterate consumer
is sufficiently recognized in law and jurisprudence and verifies the need to evolve the protection of
these most vulnerable consumers, especially those who contract payroll loans or withholding credit. It
analyzes the Senate Bill 283, 2012 which update the Consumer Code on credit and consumer's
harassment and the Senate Bill 406, 2013 that allows consumer arbitration without considering the
illiterate consumers, the phenomenon of over-indebtedness and the mandatory application of the
Consumer Code rules in protecting of these vulnerable persons.

Keywords: Vulnerability - Illiterates - Withholding credit - Consumer harassment - Consumer


arbitration.
Sumário:

- Introdução - I. O reconhecimento da vulnerabilidade especial do consumidor analfabeto no


ordenamento jurídico atual - II Exame da jurisprudência sobre proteção do consumidor analfabeto e
do caso do crédito consignado para idosos analfabetos - Observações finais - Referências
bibliográficas

Recebido em 15.08.2014

Publicado mediante convite

Introdução

O futuro do Direito brasileiro, como escrevi, deve começar pela proteção dos mais fracos, dos mais
vulneráveis, com diálogo e respeito às diferenças.1 Noticia-se para breve a aprovação da Lei de
Arbitragem,2 que permitirá arbitragens de consumo, e do Novo Código de Processo Civil, que
regulamenta as atividades dos mediadores e conciliadores,3 enquanto o Projeto de Lei do Senado
283/2012 para atualizar o Código de Defesa do Consumidor no que se refere ao crédito ao
consumidor e prevenir o superendividamento ainda não foi aprovado. Espera-se que também o PLS
283/2012 seja aprovado logo pelo Parlamento, pois não se pode tratar igualmente os desiguais. O
ordenamento jurídico brasileiro, por mandamento constitucional (art. 5, XXXII da CF/1988), deve ter
sensibilidade frente aos consumidores e, ainda, identificar dentre eles os que têm a vulnerabilidade
agravada na sociedade de consumo e proteger estes “diferentes”, os hipervulneráveis.4

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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

Neste artigo quero analisar a vulnerabilidade agravada dos consumidores analfabetos, em especial,
os que contratam crédito consignado. O caso do crédito consignado a consumidores analfabetos é
tão relevante que já levou o INSS a exigir cuidados extras na contratação,5 o Judiciário a identificar
focos de abusos no país,6 e ao Ministério Público de Goiás a emitir recomendação,7 estando hoje
previsto no PLS 283/2012 e presente mesmo nos roteiros de contratação dos bancos comerciais.8

Alfabetizado é aquele que possui uma habilidade social; esta habilidade é a de usar o texto escrito
ou o “alfabeto” para se comunicar e receber comunicações com outros na sociedade, pode incluir a
comunicação pela escrita (saber escrever ou usar afirmativamente o alfabeto daquela cultura) ou
simplesmente a de “ler” textos dos outros (saber ler ou entender passivamente o que está escrito).9

Como ensina a ONU, o analfabetismo é um problema social e econômico grave, afetando a


produtividade, as habilidades sociais, o empreendedorismo, a capacidade de inovação, mas também
a saúde e a capacidade de crescimento econômico de um povo. Melhorar a educação (de crianças,
jovens e adultos) significa riqueza, combate à pobreza e maior possibilidade de desenvolvimento.10
O grande pedagogo Paulo Freire alerta: “A concepção, na melhor das hipóteses, ingênua do
analfabetismo o encara ora com ‘erva daninha’ – daí a expressão corrente: ‘erradicação do
analfabetismo’ – ora como uma ‘chaga’ deprimente a ser curada e cujos índices, estampandos nas
estatísticas de organismos internacionais, dizem mal dos níveis de ‘civilização’ de certas sociedades.
Mais ainda, o analfabetismo aparece também, nesta visão ingênua ou astuta, como a manifestação
da ‘incapacidade’ do povo, de sua ‘pouca inteligência’, de sua ‘proverbial preguiça.’”11 E afirma neste
texto de 1968 que, ao contrário, “o analfabetismo não é uma ‘chaga’, nem uma ‘erva daninha’ a ser
erradicada, nem tampouco uma enfermidade, mas uma das expressões concretas de uma realidade
social injusta,”12 infelizmente, a realidade brasileira até hoje.

No relatório da Unesco, uma frase impressiona ao esclarecer a ligação entre analfabetismo e


vulnerabilidade: “A educação precisa equipar os mais vulneráveis com as habilidades que eles
precisam para obter trabalho que lhes permita levar uma vida digna”.13 Mas não somente no
mercado de trabalho, o analfabetismo pode ser um problema, também no mercado de consumo,
tema ao qual gostaríamos dedicar este artigo: estudar a vulnerabilidade do analfabeto no mercado
de consumo, em especial na agressiva concessão de crédito consignado de nossos dias.

Comun-i-car é tornar “comum”. Daí que pessoas “alfabetizadas” conseguem mais facilmente
comunicar e entender o que é comunicado, habilidade esta muito importante no mundo
contemporâneo e mais ainda na sociedade de consumo de massas, de cultura letrada, sociedade
tecnológica e da informação que vivemos, também no Brasil. A informação não é só um dever (e um
direito) na sociedade contemporânea (no direito civil, do consumidor, empresarial e no direito
público), mas é também uma commodity, isto é, um “bem-valor”, um dos mais altos valores (ou
custos) da economia no século XXI. In-forma-r é dar forma, colocar em uma forma, texto, figura,
fórmula ou mensagem (oral ou escrita), que o outro entenda ou possa entender.14 Neste sentido, o
alfabeto é uma “forma” que todos os alfabetizados entendem, é, pois, a forma mais comum de
comunicação existente, mesmo em um mundo cada vez mais visual, complexo e virtual que vivemos.

Os analfabetos são 13,2 milhões no Brasil, a grande maioria (54%) com domicílio no nordeste do
país e, mais de um quarto, são idosos (26,5%).15 Segundo o PNAD 2012 do IBGE,16 em todas as
grandes regiões do Brasil, a taxa de analfabetismo tem sido maior nos grupos de idades mais
elevadas. Para pessoas entre 15 e 19 anos, a taxa de analfabetismo foi de 2,2%, enquanto para
aqueles com 60 anos ou mais, estava em 26,5%,17 a significar que ainda hoje um quarto dos idosos
do país (um a cada quatro) não tem a “habilidade de saber ler e usar o texto escrito” ou o “alfabeto”
para se comunicar e receber comunicações com outros em nossa sociedade massificada de
consumo.

Na segunda edição de nosso livro: O Novo Direito Privado e a proteção dos vulneráveis, escrito em
coautoria com o querido colega Bruno Miragem – e que para nossa honra e alegria mereceu o
Prêmio Jabuti em 2013 –, destacamos este tipo especialmente vulnerável de consumidores de
nossos dias, os analfabetos.18 A pesquisa jurisprudencial e bibliográfica realizada19 indicou uma
sensibilidade cada vez mais acurada para a proteção destes consumidores no Brasil e gostaria agora
de resumir suas principais conclusões.

Analisar um tipo de vulnerabilidade20 no cocontratante21 pode ser um bom caminho para uma
decisão mais justa no caso concreto,22 assim me animo a reproduzir aqui algumas de minhas
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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

observações neste livro e em outros escritos sobre o tema, adicionando um estudo de caso: o caso
do consumidor idoso analfabeto que concluiu um crédito consignado. A minha pergunta principal é se
a vulnerabilidade do consumidor analfabeto é suficientemente reconhecida hoje na lei (parte I) e na
jurisprudência (parte II) ou se necessitamos evoluir na consideração deste consumidor “diferente” e
mais vulnerável.

Inspira-me os estudos dos notários franceses sobre a vulnerabilidade “intelectual” no caso de


superendividamento e a necessidade de ajuda a este vulnerável através de acesso “ao Direito e à
Justiça”, pois estes estudos afirmam que, mesmo pessoas capazes, em determinadas situações da
sociedade de consumo de nossos dias, devem ser protegidas de forma especial ou pelo menos
“acompanhadas” pelo poder público para garantir sua verdadeira igualdade e liberdade!23 Assim,
meu caso de estudo é a concessão de crédito consignado,24 que segundo a ouvidoria do INSS foi
motivo de mais de 25% das reclamações dos cidadãos brasileiros no órgão,25 ou melhor, o caso de
estudo é como evitar o assédio de consumo e a concessão irresponsável e fraudulenta de créditos
consignados a pessoas analfabetas, em sua maioria também idosos. Vejamos.

I. O reconhecimento da vulnerabilidade especial do consumidor analfabeto no ordenamento


jurídico atual

Não é difícil concluir que as pessoas que não sabem ler, escrever (mesmo frases simples) ou
entender o “alfabeto” escrito, os analfabetos, merecem receber proteção através de normas de
direito privado. Vejamos a proteção dos analfabetos no ordenamento jurídico brasileiro atual (direito
posto). Porém, duas perguntas iniciais devem ser enfrentadas também para que possamos
compreender esta vulnerabilidade: primeiro, se podemos falar dos “analfabetos” como grupo ou parte
da sociedade a ser tratada diferentemente e segundo, como se dá a vulnerabilidade do analfabeto na
sociedade de consumo.

A) A Constituição Federal de 1988 e a legislação infraconstitucional de proteção dos


analfabetos

A Constituição Federal de 1988 menciona os analfabetos duas vezes, na primeira, para


considerá-los inelegíveis (Art. 14, § 4.º) e facultar-lhe o voto e o alistamento eleitoral (art. 14, § 1, II, a
) junto com os idosos e os menores de 18 anos e maiores de 16 anos, além de estabelecer no art.
214, que o plano nacional de educação, deve conduzir à “erradicação do analfabetismo”.26 A
Constituição Federal de 1988 também garante o ensino público fundamental, estendido a toda
população, independente da idade (art. 208, I) e é guiado pelo princípio da igualdade de acesso (art.
206, I). A diferença entre a prática (law in action) e a teoria (law on the books) neste caso está na
situação entre os idosos e no nordeste do país.

É interessante notar que a proporção de idosos na população brasileira vem crescendo mais
rapidamente no Brasil, a demonstrar uma melhoria na qualidade (e na expectativa) de vida dos
brasileiros, reconhece-se a vulnerabilidade dos idosos.27 Por idosos a lei considera as pessoas com
idade igual ou maior de 60 (sessenta) anos (art. 1.º do Estatuto do Idoso – Lei 10.741/2003).28 Assim
como ocorre em relação à criança e ao adolescente, sua proteção tem assento constitucional,
inspirado nos princípios da solidariedade e da proteção.29 Estabelece o caput do art. 230 da
CF/1988: “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e
garantindo-lhes o direito à vida”.

Segundo especialistas, se o século XX foi o século do crescimento populacional, o século XXI será o
século do envelhecimento populacional.30 Ana Amélia Camarano e Solange Kanso destacam que o
processo de envelhecimento da população brasileira é um dos mais rápidos do mundo e significa
forte desafio às políticas públicas, ciências da saúde e ao direito em geral.31 Se em 1940, a
população idosa representava 4,1% do total da população brasileira, na década de 1970 e 1980
cresceu esta faixa em 4,3% ao ano e, hoje, praticamente triplicou, representando 11% da população,
ou seja, quase 20 milhões de pessoas.32 Os dados do censo de 2010 do IBGE demonstravam que
um a cada quatro brasileiros de 60 anos ou mais (26,6%) não sabem ler e escrever33 e, como vimos,
o PNAD 2012 manteve praticamente a mesma proporção (26,5%).34 Assim, considerando um
contigente de 13,2 milhões de analfabetos no Brasil, em 2012, os idosos analfabetos no país, do total
de cerca de 20 milhões de idosos, chegam a aproximadamente 3,4 milhões.

A Constituição Federal de 1988 também ampliou os benefícios de mínimo existencial dos idosos, em
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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

especial dos trabalhadores rurais.35 Note-se ainda que, além do Estatuto do Idoso, temos a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB, Lei 9.394/1996) como uma lei protetiva do analfabeto, pois
pela primeira vez em seu art. 4.º, inclui o dever do Estado de garantir, em seu inc. VII, a educação de
adultos, como modalidade de ensino regular. A seção V da LDB é toda dedicada ao ensino de
adultos [e jovens], denotando comprometimento com o tema.36 Com redação dada pela EC 59/2009,
o art. 208 da CF/1988 é considerado um marco na educação “por toda a vida”, pois assegura a
educação de jovens e adultos (analfabetos e semialfabetizados)37 como um direito de “todos os que
a ele não tiveram acesso na idade própria”: “Art. 208. O dever do Estado com a educação será
efetivado mediante a garantia de: I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria;”.

Interessante observar nestas estatísticas oficiais sobre analfabetismo as diferenças, que são
significativas nas regiões do país no que se refere ao analfabetismo. Em estudo de 2004 a 2009, o
Ipea demonstrou que a incidência do analfabetismo se mostrava bastante diversa quando se tinha
por referência a localização do domicílio. Entre residentes de áreas rurais, a taxa aproximava-se de
23%, em 2009, enquanto a de moradores das cidades situava-se pouco acima de 7%. Já a diferença
entre Alagoas e Rio Grande do Sul chega a cinco vezes no número de analfabetos. Os dados do
Censo 2010 apontavam 13.9 milhões de pessoas que “não sabiam ler ou escrever”, sendo que mais
de 30% desse contingente eram de idosos. Note-se que “a maior proporção de analfabetos estava
nos municípios com até 50 mil habitantes na região Nordeste: cerca de 28% da população de 15
anos ou mais. Nessas cidades, a proporção de idosos que não sabiam ler e escrever girava em torno
de 60%”.38 Esta realidade não pode passar despercebida do direito posto. Vejamos.

1. A proteção dos analfabetos no Código Civil e na Lei de Registros Públicos

Interessante notar que a palavra vulnerabilidade não aparece no Código Civil de 2002, um código
para “iguais” cidadãos, em que a capacidade civil é desvinculada do grau de educação de cada um,
em uma igualdade formal.

Note-se que o analfabetismo no Brasil era quase a regra no século XIX quando o Código Civil de
1916 estava sendo preparado (por Clóvis Bevilaqua, em 1899), sendo assim há um histórico no
direito brasileiro de incluir normas de proteção destas pessoas. São capazes, mas pelo menos no
que perquire a forma de declarar sua vontade, devem ser protegidas de forma especial.39 Como
noticia Ferraro, a taxa de analfabetismo, segundo o censo de 1890, no Brasil era altíssima, a taxa
era de 82,63% para a população de 5 anos e mais.40 Clóvis Bevilaqua, autor do Código Civil de
1916, comentava, sobre o art. 1217 do CC/1916: “O pensamento do Código foi, reconhecendo a
extensão do analfabetismo entre nós, facilitar o contrato escrito, sem intervenção do oficial público”41
e instituir uma forma especial: escrito, assinado a rogo e assinado por testemunhas (inicialmente,
quatro).

Para se ter uma ideia da dívida social brasileira, na década de 1940, ainda 56,7% da população de
10 anos ou mais no Brasil ainda era analfabetizada.42 Os educadores destacam que o analfabetismo
é um estigma social. O professor da Faculdade de Educação da UFRGS e autor do livro A história
Inacabada do Analfabetismo no Brasil informa: “A confusão é tal, que, por exemplo, o Dicionário de
Antônimos e Sinônimos, de F. Fernandes (1957), lista como sinônimos de analfabeto os termos
ignorante, estúpido, boçal, bronco, sem qualquer referência à condição de não saber ler e escrever,
e dá como antônimos simplesmente os termos culto e polido, sem qualquer menção a (sic)
alfabetizado ou a (sic) capacidade de ler e escrever.” 43 Também é, no Brasil, um histórico estigma
político. Tanto a questão do analfabetismo era política,44 que a reforma eleitoral de 1882 (Lei
Saraiva), “a qual, de um lado, derrubou a barreira de renda, mas, de outro, estabeleceu a proibição
do voto do analfabeto, critérios estes que foram mantidos, alguns anos mais tarde, pela Constituição
republicana de 1891”45 ainda está na memória política brasileira.

Em 1988, a Constituição Federal menciona o analfabetismo novamente para liberar o analfabeto do


voto obrigatório, como vimos. Em 2000, o Brasil tinha 16.294.889 analfabetos com 15 anos e mais.46
O Censo 2000 verificou também que 62,4% dos idosos eram responsáveis pelos domicílios
brasileiros.47 Se o analfabetismo já é um problema econômico no Brasil do final do século XX, início
do século XXI, passa a ser um problema social, com várias políticas de tentativa de inclusão destas
pessoas na sociedade “produtiva” e de consumo brasileira. O Código de Defesa do Consumidor e o
Código Civil de 2002, a liberação do crédito consignado em folha em 2004, assim como o Estatuto
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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

do Idoso de 2003 são normas jurídicas desta época.

O Código Civil de 2002 seguiu esta tendência protetiva-formal, com previsões para facilitar a
declaração de vontade ou a validade dos contratos e atos de última vontade, assim, por exemplo, o
parágrafo segundo do art. 215 permite a assinatura a rogo de escrituras.48 Também o art. 595 traz
norma especial sobre prestação de serviço por parte de analfabetos. Observando esta norma do
Código Civil de 2002,49 vemos que a vulnerabilidade identificada é o não saber “ler, nem escrever” e
a norma prevê uma forma especial para sua proteção com a presença de duas testemunhas.

Da mesma forma, em matéria de casamento, quatro testemunhas são necessárias, duas a mais do
que nos casamentos entre alfabetizados (art. 1.534, § 2.º, do CC/2002).50 Para facilitar a declaração
de vontade há regras especiais para declarações frente ao Tabelião, em escritura pública (como o
antes citado art. 215 do CC/2002)51 e de última vontade, como o testamento público que é lido duas
vezes para os presentes (testador, testemunhas e Tabelião, conforme art. 1.864 e 1.865 do
CC/2002).52 E algumas menções indiretas, como o art. 1.894, sobre a possibilidade de testamento
de próprio punho, se o testador “souber escrever” 53 e as testemunhas de casamento.54 Além de
proibições, como a de determinadas formas de testamento (art. 1.832 do CC/2002).55

Segundo a Unesco,56 em 2011, havia 774 milhões de adultos analfabetos no mundo, uma redução
de apenas 1% (um por cento) desde o início do século XXI (2000), sendo que, até 2015, esse
número cairá apenas ligeiramente, para 743 milhões. E ainda há um problema de gênero, pois
segundo o relatório da Unesco,57 quase dois terços dos adultos analfabetos são mulheres. O Brasil
está entre os 10 países (8.º lugar) com maior número de analfabetos adultos,58 muitos, idosos.

Dados do censo de 2010 indicavam que, enquanto a taxa de analfabetismo no Brasil é de 8,7% da
população maior de 15 anos, nos Estados do Nordeste esta realidade é ainda mais dura, com 17,4%
da população analfabeta.59 Como vimos, 54% dos 13,2 milhões de analfabetos brasileiros
encontram-se na região Nordeste.60 Em estudo de 2010, por exemplo, a Paraíba tinha o terceiro
maior grau de analfabetos (21,9% da população), e se examinamos uma região do interior (a do
Vale),61 nota-se a dívida histórica brasileira na educação pública: entre os que têm 60 anos ou mais,
o índice de analfabetos chega a impressionantes 60,8% de pessoas que não sabem ler ou escrever
naquela região pobre do país!

A Lei de Registros Públicos, realmente, previa como forma de proteção dos analfabetos a
formalidade cartorial,62 também as duas testemunhas do art. 215, § 2.º do CC/2002. O Ministério
Público de Goiás dá notícia que a IN INSS/DC 121/2005, hoje revogada pela Res. INSS/Presidência
28/2008, previa que, na hipótese do titular do benefício ser analfabeto, o crédito consignado deveria
ser concedido somente “se observados os seguintes requisitos: a) a aposição de impressão digital do
titular do benefício deve ser feita na presença de funcionário do INSS, ou de qualquer outro órgão
por ele autorizado, ou de entidade sindical a que pertença, ou de entidade reconhecida de defesa do
idoso ou do consumidor; b) a assinatura a rogo deve ser aposta por mandatário devidamente
constituído por instrumento público, independentemente da presença de testemunhas.” 63 Cuidados
que hoje, infelizmente, com o crédito consignado com cartão de crédito, com crédito nos ATMs e “por
meio eletrônico” não mais existem, daí a grande conflitualidade do tema e o requerimento em muitas
ações que se não o consignado, pelo menos a procuração seja registrada em cartório.

Há notícias que, em 2007, a Defensoria Pública do Estado da Bahia requereu, em Ação Civil Pública,
que “as sociedades financeiras demandadas abstenham-se de realizar contratos de empréstimos
consignados com beneficiários do INSS idosos e analfabetos sem que tais contratos encontrem-se
devidamente registrados por instrumento público”,64 como forma de protegê-los. O tema merece
mais estudo.

Em resumo, no Código Civil, não se trata de incapacidade, mas de proteção através de formas
especiais ou de proibição de uso de formas consideradas “menos seguras” para pessoas que não
“sabem ler e escrever”. A preocupação com o analfabetismo absoluto entre adultos e idosos não
conduziu, porém, no Brasil, a uma resposta mais forte do direito privado geral. Vejamos a resposta
do Código de Defesa do Consumidor.

2. O Código de Defesa do Consumidor e a mudança no paradigma protetivo do analfabeto

Tomando o censo de 2000 como limiar destas mudanças legislativas, mister considerar uma
mudança no perfil do analfabeto no início do século XXI no Brasil, que nasce justamente da
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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

crescente urbanização brasileira e da imigração interna. Ferraro alerta que se, em 1980, o número
absoluto de analfabetos no Brasil entre as pessoas de 15 anos ou mais ainda era mais elevado na
população rural (10,0 milhões) do que na urbana (8,7 milhões), no Censo 2000, a urbanização
crescente mudou este perfil, com um total de 12% de analfabetos na população do país. Em 2000, o
analfabetismo continua maior em números relativos no meio rural (26% da população rural é
analfabeta) em comparação com o meio urbano (9%), mas em números absolutos já há uma
mudança. Os analfabetos nas cidades brasileiras já são 10,1 milhões e os analfabetos rurais, 6,4
milhões de pessoas, tendência esta que continuará até nossos dias.65 No Censo de 2005, o
analfabetismo vai se tornar um problema prioritariamente “urbano”, com duas vezes mais analfabetos
nas cidades do que no campo, em número de pessoas, o que continuará nos últimos censos.66

A “urbanização” do analfabetismo no Brasil não é a única mudança, a década de 2010 inicia com
grande contigente de idosos analfabetos: em 2010, o Censo apontava que de um total de 13.933.173
pessoas que não sabia ler ou escrever, 39,2% era de idoso.67 Os educadores ainda alertam para
uma terceira mudança no perfil, a de gênero, pois “a histórica superioridade masculina quanto à
alfabetização e escolarização está cedendo lugar a uma crescente superioridade feminina, tanto no
campo como na cidade”,68 a indicar uma importante mudança do perfil do analfabeto a proteger:
agora um homem, maior de 60 anos e urbano.

O direito do consumidor brasileiro não pode ser indiferente ao fato de um maior contigente de
analfabetos atualmente estar nas cidades, acessível a todo o marketing, à publicidade e às
sofisticadas práticas comerciais de consumo atuais!

Realmente, se o Código de Defesa do Consumidor não menciona expressamente os analfabetos em


seu texto atual, considera na política nacional a educação do consumidor (art. 4, IV – educação e
informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à
melhoria do mercado de consumo) e nos direitos básicos a educação (Art. 6, II) e tem como princípio
máximo o “reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo” (Art. 4, I do
CDC). Se o Código de Defesa do Consumidor define consumidores com base em objetiva
destinação final de produtos e serviços (Art. 2), se facilita seu acesso à Justiça, em especial dos
“consumidores carentes” (Art. 5, I – “manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o
consumidor carente”) e se combate à discriminação entre consumidores (Art. 6, II – “a educação e
divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha
e a igualdade nas contratações”), é em matéria de práticas abusivas que o Código demonstra mais
sensibilidade ao problema do analfabetismo, em especial entre idosos. Nas práticas comerciais, o
CDC já prevê no art. 39, IV como prática abusiva “prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do
consumidor” para vender ou “impingir” produto ou serviço, colocando como exemplo de
vulnerabilidades “sua idade”, “conhecimento” ou “condição social” ou “saúde”, o que pode bem ser
usado – e o é – proteger os analfabetos e idosos do caso que pretendemos aqui tratar de práticas
mais agressivas na concessão de crédito consignado.69

As normas atuais, frente à evolução europeia de instrumentos para proteger os consumidores mais
vulneráveis (idosos, crianças, analfabetos, doentes), como o assédio de consumo, não foram
consideradas suficientes e o processo de atualização do Código de Defesa do Consumidor, em
especial no que concerne ao crédito ao consumo e à prevenção do superendividamento, prevê um
reforço da lista do art. 39 do CDC. Interessante destacar que no processo de atualização do Código
de Defesa do Consumidor, a Anadep (Associação Nacional de Defensores Públicos)70 enviou
manifestação expressa que a atualização deveria incluir a expressão “analfabeto” na Lei 8.078/1990
(CDC) e assim foi feito pela Comissão de Juristas presidida pelo e. Min. Antônio Herman Benjamin,
que a incluiu na definição de assédio de consumo, hoje no PLS 283/2012, Projeto de Lei do Senado
Federal que, apesar de ser de 2012, ainda está em estudos no Parlamento. Na justificativa, a
Comissão explicava que o Anteprojeto cria “também a figura do assédio de consumo, protegendo de
forma especial os consumidores idosos e analfabetos, estabelecendo regras básicas para a
publicidade de crédito”.

A norma prevista é a seguinte:

“[Art. 54-F] Sem prejuízo do disposto no art. 39 deste Código e da legislação aplicável à matéria, é
vedado ao fornecedor de produtos e serviços que envolvam crédito, entre outras condutas: (…)

IV – assediar ou pressionar o consumidor, principalmente se idoso, analfabeto, doente ou em estado


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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

de vulnerabilidade agravada, para contratar o fornecimento de produto, serviço ou crédito, em


especial à distância, por meio eletrônico ou por telefone, ou se envolver prêmio;

E ainda, na parte especial, o Anteprojeto da Comissão de juristas prevê a inclusão no direitos dos
consumidores (Art. 6) de um inciso novo, assegurando o combate ao assédio e a discriminação dos
consumidores:

“XII – a liberdade de escolha, em especial frente a novas tecnologias e redes de dados, sendo
vedada qualquer forma de discriminação e assédio de consumo. (NR)”.

No relatório-geral da atualização do Código de Defesa do Consumidor, ponderamos que estas


normas faziam parte de um reforço na dimensão ético-inclusiva e solidarista do Código de Defesa do
Consumidor.71 Esta diretriz de inclusão social procura adaptar o Código de Defesa do Consumidor
aos desafios do Brasil de hoje, onde a democratização e a massificação do crédito ao consumidor,
em especial o crédito consignado, tem como alvo principal o grupo de idosos, muitos analfabetos ou
analfabetos funcionais.

O Pnad 2009, usado na época, demonstrava que entre os idosos com mais de 65 anos, o
analfabetismo era fenômeno nacional ainda mais forte, “chegando neste grupo a 30,8%”. A ligação
entre a proteção dos idosos e analfabetos foi defendida no Relatório-Geral: “A doutrina alerta que as
pessoas idosas no Brasil têm reduzida educação financeira,72 ainda mais nos contextos populares, e
a vulnerabilidade desse grupo pode ser um fator a levar ao superendividamento.73 Conforme informa
a manifestação do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento e da Faculdade de
Educação da UFRGS, há que se considerar os analfabetos funcionais, com extrema dificuldade para
compreender textos complexos ou longos contratos, que seriam em torno de 2/3 da população com
mais de 60 anos no Brasil. Esta observação foi comprovada na pesquisa ‘Idosos no Brasil’, de 2006,
do Ipea. Segundo estes dados de 2006, 23% dos idosos seriam totalmente analfabetos, e dos
restantes 77% dos que sabem ler, mais de 26% consideram ler uma atividade extremamente difícil,
significando quase a metade da população idosa tem dificuldades ou mesmo não tem condições de
ler um contrato bancário, considerando a alta concentração de analfabetos e analfabetos funcionais
neste grupo da população”.74

E ainda que muitos idosos são arrimo75 de família: “Sobre os idosos, mister alertar que o perfil do
idoso brasileiro mudou.76 Informa o Observatório do Crédito e Superendividamento da UFRGS, que
segundo o IBGE, 62.4% de idosos no Brasil são considerados responsáveis por uma família e que
20% do total de lares brasileiros tem uma pessoa idosa como o principal arrimo de família.77 (…) A
vulnerabilidade agravada dos consumidores idosos parece incontestável no Brasil (…)” 78 Como
vimos, o perfil dos analfabetos e dos idosos no Brasil está em franca mudança. Vejamos agora os
tipos de vulnerabilidade destes consumidores.

B) A vulnerabilidade dos analfabetos e dos analfabetos funcionais

Como ensina o STJ, a vulnerabilidade é a pedra de toque do direito do consumidor,79 assim cabe
analisar os tipos de vulnerabilidade na sociedade de consumo e a situação dos analfabetos em
especial. A vulnerabilidade é um estado a priori, é justamente o estado daquele que pode ter um
ponto fraco, uma ferida (vulnus),80 aquele que pode ser “ferido” (vulnerare) ou é vítima facilmente,81
como o consumidor reconhecido vulnerável ex vi lege pelo Art. 4, I do Código de Defesa do
Consumidor (CDC). Esta visão da vulnerabilidade ou das ‘diferenças’ dos grupos de consumidores
que queremos estabelecer aqui e o grau desta vulnerabilidade frente às práticas comerciais, por
vezes agressivas na concessão do crédito,82 que podem levar ao superendividamento83 dos
analfabetos, muitas vezes idosos. Vejamos.

1. Tipos de vulnerabilidade na sociedade de consumo

Como já escrevi,84 a vulnerabilidade do consumidor se distingue em vulnerabilidade técnica, jurídica,


fática e informacional.85 Na vulnerabilidade técnica,86 o comprador não possui conhecimentos
específicos sobre o objeto que está adquirindo e, portanto, é mais facilmente enganado quanto às
características do bem ou quanto à sua utilidade,87 o mesmo ocorrendo em matéria de serviços.88 A
vulnerabilidade técnica, no sistema do Código de Defesa do Consumidor, é presumida para o
consumidor não profissional, mas também pode atingir excepcionalmente o profissional, destinatário
final fático do bem, como vimos no exemplo da jurisprudência francesa. Segundo concluiu o STJ, os
Página 7
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

agricultores, organizados em cooperativas89 apresentam uma vulnerabilidade intrínseca em relação


a máquinas agrícolas de nova geração, a definir que “é de consumo a relação entre o vendedor de
máquina agrícola e compradora que a destina à sua atividade no campo”. Tal posição excepcional já
não é mais comum,90 pois, em caso de compra de adubos, a vulnerabilidade foi negada,91 mas foi
reconhecida quanto ao fornecimento de energia elétrica92 e frente a bancos.93 Pessoas jurídicas são
geralmente consumidoras intermediárias. As atividades profissionais, podem até ser “consumo
intermediário”, mas são reguladas pelo direito comum e não pelo Código de Defesa do Consumidor,
justamente por falta de vulnerabilidade, como ensina o STJ: “A aquisição de bens ou a utilização de
serviços, por pessoa natural ou jurídica, com o escopo de implementar ou incrementar a sua
atividade negocial, não se reputa como relação de consumo, e sim como uma atividade de consumo
intermediária”.94 Esta vulnerabilidade técnica, realmente, está ligada à expertise, logo, à
profissionalidade ou não do agente,95 sobre aquele produto ou serviço.96 Se a vulnerabilidade
técnica foi considerada na relação entre uma pessoa jurídica e os bancos, não há como negar que
será presumida na relação de crédito consignado entre um fornecedor de produtos e serviços e um
consumidor analfabeto, caso que estamos estudando.

Já a vulnerabilidade jurídica ou científica97 é falta de conhecimentos jurídicos específicos,


conhecimentos de contabilidade ou de economia.98 Esta vulnerabilidade, no sistema do Código de
Defesa do Consumidor, é presumida para o consumidor não profissional e para o consumidor pessoa
física. Quanto aos profissionais e às pessoas jurídicas vale a presunção em contrário, isto é, devem
possuir conhecimentos jurídicos mínimos e sobre a economia para poderem exercer a profissão, ou
devem consultar advogados e profissionais especializados antes de obrigar-se.99

A jurisprudência do STJ concorda com esta tese e ensina: “Tratando-se de contrato firmado entre a
instituição financeira e pessoa física, é de se concluir que o agravado agiu com vistas ao
atendimento de uma necessidade própria, isto é, atuou como destinatário final. Aplicável, pois, o
Código de Defesa do Consumidor” (REsp 296.516, j. 07.12.2000, rel. Min. Fátima Nancy Andrighi, DJ
05.02.2001).100

Considere-se, pois, a importância desta presunção de vulnerabilidade jurídica do agente consumidor


(não profissional) como fonte irradiadora de deveres de informação do fornecedor sobre o conteúdo
do contrato, em face da complexidade da relação contratual conexa e seus múltiplos vínculos cativos
(por exemplo, vários contratos bancários em um formulário, consignação em pagamento que
resultará na impossibilidade de decidir a quem pagar no futuro, por indisponibilidade dos valores do
provento que já é retirado anteriormente pelo credor-fornecedor), e de redação clara deste contrato,
especialmente os massificados e de adesão.

Como ensina o STJ, o fornecedor deve presumir que consumidor stricto sensu é um leigo, não se
prevalecendo de sua fraqueza101 ou situação102 e, portanto, cumprir seus deveres de boa-fé visando
alcançar a informação deste cocontratante leigo: “Com efeito, nos contratos de adesão, as cláusulas
limitativas ao direito do consumidor contratante deverão ser redigidas com clareza e destaque, para
que não fujam de sua percepção leiga” (STJ, REsp 311.509/SP, 4.ª T., j. 03.05.2001, rel. Min. Sálvio
de Figueiredo Teixeira). Note-se que, também no Código Civil de 2002, nos negócios entre dois
iguais e leigos, esta vulnerabilidade é considerada, em especial, quanto aos defeitos da vontade, da
lesão (art. 157 do CC/2002)103 e do estado de perigo (art. 156 do CC/2002).104 Note-se que a
vulnerabilidade técnica é aumentada se a atividade é ilícita, como no caso dos jogos de bingos ou
proibidos.105 A jurisprudência alerta que o uso de termos jurídicos de difícil interpretação nos
contratos, como furto, extorsão e roubo, pode agravar a vulnerabilidade técnica.106

Em caso de líder, o STJ considerou vulnerável técnica (e economicamente) uma costureira frente à
fabricante de máquinas de bordar, especialmente no que concerne à imposição de cláusulas de
eleição do foro, ensinando: “Processo civil e consumidor – Contrato de compra e venda de máquina
de bordar – Fabricante – Adquirente – Vulnerabilidade – Relação de consumo – Nulidade de cláusula
eletiva de foro. 1. A 2.ª Seção do STJ, ao julgar o REsp 541.867/BA, rel. Min. Pádua Ribeiro, rel. p/
acórdão Min. Barros Monteiro, DJ 16.05.2005, optou pela concepção subjetiva ou finalista de
consumidor. 2. Todavia, deve-se abrandar a teoria finalista, admitindo a aplicação das normas do
Código de Defesa do Consumidor a determinados consumidores profissionais, desde que seja
demonstrada a vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica. 3. Nos presentes autos, o que se
verifica é o conflito entre uma empresa fabricante de máquinas e fornecedora de softwares,
suprimentos, peças e acessórios para a atividade confeccionista e uma pessoa física que adquire
uma máquina de bordar em prol da sua sobrevivência e de sua família, ficando evidenciada a sua
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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

vulnerabilidade econômica. 4. Nesta hipótese, está justificada a aplicação das regras de proteção ao
consumidor, notadamente a nulidade da cláusula eletiva de foro. 5. Negado provimento ao recurso
especial” (REsp 1.010.834/GO, j. 03.08.2010, Min. Nancy Andrighi). Realmente, neste caso se unem
a vulnerabilidade técnica, de conhecimento da própria máquina e software adquiridos, e de
conhecimentos jurídicos em relação ao contrato de adesão assinado e o acesso ao foro, assim como
a vulnerabilidade “econômica” frente ao outro contratante. A vulnerabilidade técnica no caso dos
analfabetos concluindo créditos consignados é claramente existente.

Existe ainda outro tipo de vulnerabilidade, a vulnerabilidade fática ou socioeconômica, em que o


ponto de concentração é o outro parceiro contratual, o fornecedor que, por sua posição de
monopólio, fático ou jurídico, por seu grande poder econômico ou em razão da essencialidade do
serviço,107 impõe sua superioridade a todos que com ele contratam – por exemplo, quando um
médico adquire um automóvel, através do sistema de consórcios, para poder atender a suas
consultas, e submete-se às condições fixadas pela administradora de consórcios, ou pelo próprio
Estado.108 O STJ trabalha com esta noção de vulnerabilidade fática do mutuário do SFH diante do
agente financeiro e afirmava inicialmente a prevalência a princípios específicos do SFH,109 porém,
atualmente destaca mais a aplicação do Código de Defesa do Consumidor a estes financiamentos
habitacionais e o diálogo das fontes (e seus princípios).110 No caso dos analfabetos que contratam
crédito consignados frente a grande conglomerados bancários, geralmente representados por
agentes bancários e pastinhas, parece claro que podemos considerar esta vulnerabilidade fática
como existente.

Por fim, mencione-se a vulnerabilidade informacional. O que caracteriza o consumidor é justamente


seu déficit informacional,111 pelo que não seria necessário aqui frisar este minus como uma espécie
nova de vulnerabilidade, uma vez que já estaria englobada como espécie de vulnerabilidade técnica.
112
Hoje, porém, a informação não falta, ela é abundante, manipulada, controlada e, quando
fornecida, nos mais das vezes, desnecessária.113

O consumidor/usuário experimenta neste mundo livre, veloz e global (relembre-se aqui o consumo
pela internet,114 pela televisão, pelo celular, pelos novos tipos de computadores, cartões e chips),
sim, uma nova vulnerabilidade.115 Antonio Herman Benjamin menciona o aparecimento de uma
“hipervulnerabilidade” em nossos dias.116 E se, na sociedade atual, é na informação que está o
poder,117 a falta desta representa intrinsecamente um minus, uma vulnerabilidade tanto maior quanto
mais importante for esta informação detida pelo outro. Daí porque a vulnerabilidade informativa não
deixa de representar hoje o maior fator de desequilíbrio da relação vis-à-vis dos fornecedores, os
quais, mais do que experts, são os únicos verdadeiramente detentores da informação. Presumir a
vulnerabilidade informacional (art. 4.º, I, do CDC) significa impor ao fornecedor o dever de
compensar este novo fator de risco na sociedade.118 Realmente quando se sabe que hoje os
créditos consignados são concluídos à distância, por representantes interessados (agentes
bancários ou mesmo pelos fornecedores) e nos ATMs, realmente podemos concluir que há uma forte
vulnerabilidade informacional dos consumidores analfabetos.

2. Analfabetos funcionais e analfabetos frente ao crédito consignado

Mister destacar, por fim, que desde a década de 1970 do século XX, a Unesco criou uma segunda
categoria de analfabetos. Os chamados analfabetos funcionais são aqueles que – formalmente – tem
a habilidade de se comunicar por escrito usando o alfabeto e sabem ler textos simples e assinar seu
nome, mas não tem a capacidade de entender as ideias explícitas (muito menos às implícitas) de um
texto e emitir um juízo crítico sobre estas ideias. Em outras palavras, diferentemente do analfabeto
absoluto, o analfabeto funcional sabe “decodificar” e “ler ou pronunciar” as palavras escritas em um
texto, sem porém necessariamente compreender seu significado principal, seus impactos ou como
colocá-las em prática, sua “habilidade com o alfabeto” ou sua “capacidade” de leitura e escrita ou de
cálculo é muito reduzida, impedindo-o de agir de forma eficiente frente a textos complexos e em
muitas situações da vida que necessitem compreensão da complexidade. Utiliza-se o máximo de
quatro anos de escolarização como guia para um analfabetismo funcional.119 A proteção do
analfabeto funcional é praticamente inexistente no direito privado brasileiro, a não ser através do
direito do consumidor e do dever (positivo) de informar.

Note-se que o primeiro censo no Brasil data de 1872, em pleno Segundo Reinado, e já perguntava
“Sabe ler e escrever?”, declaração que a pessoa mesma fornece, sem comprovação e que cria o
conceito censitário de “alfabetizada” e de pessoa analfabeta, aqui utilizados.120 Porém, pelo estigma
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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

que acompanha o analfabetismo, criado o IBGE em 1938, já no Censo de 1940 modificou-se a


pergunta, que desde então é: “Sabe ler e escrever um bilhete simples?”.121 Portanto, as taxas de
analfabetismo levantadas nos censos e Pnads (Pesquisas Nacionais por amostras de Domicílios, do
IBGE) estão muito próximas da noção de analfabetismo funcional, neste sentido a importância de
serem completadas122 com os dados sobre a escolaridade de quatro anos concluídos.

Pesquisa realizada pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre o envelhecimento da UFRGS, sob
a responsabilidade do Prof. Dr. Johannes Doll da Faculdade de Educação, em parceira com o
PROCON-SP, em associações de idosos em Porto Alegre e São Paulo nos anos de 2006 e 2007,
demonstrou que dos 215 idosos entrevistados, 37,5% que possuiam créditos consignados, 12,3%
destes eram analfabetos e 47,5% tinham apenas entre um e quatro anos de escolaridade, logo,
analfabetos funcionais, a demonstrar que o tema analfabetismo e crédito consigando é um dos
temas emergentes para a atualização do Código de Defesa do Consumidor.

Em resumo, se pode concluir que há uma vulnerabilidade ou fraqueza pessoal123 envolvida no


analfabetismo, que mesmo sendo temporária (a pessoa – sobretudo se mais jovem – pode aprender
a ler e escrever e desenvolver suas capacidades – sempre, independentemente da idade!), leva à
presunção que ela não é apta a entender o que está escrito no contrato ou mesmo compreender – se
não lhe for explicado oralmente – as responsabilidades que assume assinando um texto contratual.
Da mesma forma o analfabeto funcional, que é de mais difícil identificação no trato social. De
qualquer maneira, esta vulnerabilidade, “ferida ou fraqueza” pessoal deve ser juridicamente
relevante,124 mas no Brasil de 2014 somente o analfabetismo absoluto tem alguma relevância, e
mesmo assim formal e menor. Vejamos, pois, a jurisprudência sobre o tema, em especial a do
crédito consignado.

II Exame da jurisprudência sobre proteção do consumidor analfabeto e do caso do crédito


consignado para idosos analfabetos

Neste momento, gostaria de analisar os resultados preliminares da pesquisa de jurisprudência de


proteção dos analfabetos no mercado de consumo, no STJ e alguns Tribunais Estaduais, TJRS,
TJSP, TJRJ, TJMT, especialmente no que se refere ao direito de acesso dos consumidores
analfabetos de receber alguma ajuda ou acompanhamento do Estado. Vejamos esta jurisprudência
encontrada em casos envolvendo a concessão de crédito consignado para analfabetos, geralmente
idosos.125

A) Casos escolhidos da jurisprudência na proteção dos consumidores analfabetos de


serviços bancários

O leading case do STJ em matéria de proteção de analfabetos não é de consumo, trata-se de caso
de lesão em cessão de direitos hereditários. Teria havido “engano” de dois irmãos analfabetos em
virtude do “dolo do cessionário”, tendo sido a vontade anulada por vício do consentimento: “Caso em
que irmãos analfabetos foram induzidos à celebração do negócio jurídico através de maquinações,
expedientes astuciosos, engendrados pelo inventariante-cessionário. Manobras insidiosas levaram a
engano os irmãos cedentes que não tinham, de qualquer forma, compreensão da desproporção
entre o preço e o valor da coisa” (REsp 107.961/RS, 4.ª T., j. 13.03.2001, rel. Min. Barros Monteiro,
DJ 04.02.2002, p. 364). Apesar de não ser em consumo, o caso bem denota a vulnerabilidade dos
analfabetos em entender a sofisticação do mundo dos negócios e sua suscetibilidade de serem mais
influenciados pelos experts e letrados a seu redor.

No STJ, não encontramos casos de analfabetos consumidores, mas a Corte demonstra sensibilidade
em viabilizar o mandato do analfabeto126 e visualiza o analfabetismo como um limite à atuação da
pessoa na sociedade,127 uma fonte de vulnerabilidade do sujeito128 e conclui: “(…), em se tratando
de relação de consumo, há que ser reconhecida a vulnerabilidade do consumidor; impondo o
princípio da boa-fé objetiva ao fornecedor o dever de respeito e lealdade, servindo como paradigma
de conduta, cabendo ao magistrado avaliar se a atuação do fornecedor trespassou a razoabilidade e
a equidade (…)” (REsp 1060882/SP, 4.ª T., j. 25.06.2013, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe
20.08.2013).

Note-se que o STJ assegura fortemente o acesso ao Judiciário dos vulneráveis: “Referentemente à
cláusula constitucional pétrea que dispõe que é dever do Estado proteger o sujeito vulnerável na
relação jurídica de consumo, o Código de Defesa do Consumidor – CDC estabeleceu, entre seus
direitos básicos, o ‘acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou
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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos’ e à ‘facilitação da defesa’


desses mesmos direitos (art. 6.º, VII e VIII)”. (REsp 347.752/SP, 6.ª T., j. 08.05.2007, rel. Min.
Herman Benjamin, DJe 04.11.2009). E já denominou os analfabetos de hipervulneráveis.

Um exame da jurisprudência das Cortes estaduais demonstra que, na sociedade brasileira de


consumo, o fato de o consumidor ser analfabeto aumenta a sua proteção em relação a outros
consumidores: “Se todos os consumidores, por conceito, são vulneráveis em algum aspecto
(econômico, social, técnico, jurídico…), não se pode deixar de reconhecer que alguns grupos
apresentam uma fragilidade ainda maior, como as crianças, os idosos, os portadores de
necessidades especiais e os analfabetos”. (TJRS, ApCiv 70051906105, 20.ª Câm. Civ., j.
27.11.2013, rel. Des. Carlos Cini Marchionatti, DJ 04.12.2013). Exigindo-se do outro contratante,
fornecedor que conheça esta vulnerabilidade especial do consumidor, e redobre seu dever de
cuidado com o patrimônio e o nome deste consumidor, tanto na forma quanto na solenidade da
contratação.129

Se o analfabetismo não é base para anulação do contrato bancário130 ou de disposição contratual,


apesar das exigências redobradas de forma, quanto a sua assinatura e o reconhecimento de sua
vulnerabilidade especial,131 encontram-se muitas decisões em que a magistratura reconhece que o
analfabeto é mais facilmente vítima de assédio de consumo,132 seja quando é levado a contratar
empréstimo consignado sem verdadeira compreensão do contrato que está se obrigando,
especialmente se idoso,133 seja para adquirir “objetos terapêuticos” que não necessita,134 seja para
participar de consórcio por sorteio, que não compreende bem.135

As Cortes judiciais demonstram sensibilidade ao anular dívidas contratadas por analfabetos,136 em


especial se realizadas por terceiros ex-mandatários,137 ou terceiros de posse de suas senhas e
cartões,138 assim como ao realizar fortes exigências de forma para procurações de analfabetos.139
Face ao analfabetismo do consumidor, cria-se a dúvida da legalidade dos contratos de consumo.140

Como ensina o TJSP, em sabendo que o consumidor é analfabeto deve ser redobrada a cautela do
fornecedor, há exigências de forma a serem cumpridas (instrumento público141 ou duas
testemunhas)142 e em não havendo o dever de cuidado, conforme a boa-fé exige, há danos morais,
143
devolução em dobro do descontado e é concedida a inversão do ônus da prova a favor do
analfabeto.144 Assim um dos votos ensina: “A autora é comprovadamente analfabeta (…) e alega
que não conhece a testemunha que se apresentou e assinou o contrato com o réu em seu nome. De
outro lado, não apresentou o réu qualquer procuração outorgada pela autora em nome dessa
testemunha e que a autorizasse a contratar em seu nome. Assim, o contrato objeto dos autos é nulo,
conforme prevê o art. 166, V do CC/2002, diante inobservância de requisito essencial de validade.
Ficou caracterizada, portanto, a ilicitude de conduta em face da falta de cuidados do réu ao promover
desconto indevido em benefício previdenciário recebido pela autora, à sua revelia, pois cabia ao réu
comprovar nos autos que teve todo o cuidado e que, não obstante esse cuidado, conseguiu ser
enganado de forma justificada. E, no caso específico, não basta a afirmação da empresa de que agiu
com a cautela de praxe, pois, afinal, trata-se de atividade que, nos atuais tempos, está
frequentemente sujeita a fraudes, e na realização da qual, se não tem condições de atuar com total
controle e segurança, deve assumir o ônus do mal resultado derivado da falha na prestação dos
serviços”.145

No exame da jurisprudência, é bastante comum as ações declaratórias de inexistência de dívida,


combinadas com pedido de exclusão dos cadastros restritivos de crédito e dano moral. Trata-se,
neste caso, de dano in re ipsa, que hoje só é concedido se não houver outras anotações nos bancos
de crédito.146 Em muitos casos há fraudes,147 aproveitamento do analfabetismo dos consumidores
para lhes impingir financiamentos de produtos (não entregues).148

Ainda é de destacar a importância dos documentos escritos fornecidos aos analfabetos e analfabetos
funcionais (que assinam, mas tem forte dificuldade com longos textos) como ofertas de consumo,
pois estes não sabem ler ou pouco entendem do que leem, e geralmente pedem para pessoas da
família mais letradas para verificarem o valor da oferta; assim, ao contratar, confia que a oferta será
mantida, e se outro valor é colocado no contrato, não tem como verificar a sua diferença: “Rescisão
de cláusula contratual. Consignação de valores. Relação de consumo. Responsabilidade solidária de
todos os que se inserem na cadeia de consumo. Preliminares de cerceamento de defesa e
ilegitimidade de partes afastada. Documento juntado pela autora e submetido à perícia, que conduz
ao entendimento de que o valor contratado pela aquisição do bem é diverso daquele que constou no
Página 11
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

contrato. Preliminares afastadas. Sentença mantida. Recursos não providos” (TJSP, AP


0017363-65.2011.8.26.0664, 34.ª Câm. de Direito Privado, j. 17.03.2014, rel. Des. Rosa Maria de
Andrade Nery).149

A prática comercial dos bancos de conceder limite de crédito consignado diretamente nos caixas
automáticos a consumidores analfabetos realmente não cumpre com os deveres de boa-fé (art. 39,
IV do CDC) no sentido de especial cuidado na contratação com analfabetos, assim ensina a
jurisprudência: “Apelação cível – Ação declaratória de inexistência de relação jurídica c/c indenização
por danos morais e materiais – Disponibilização de empréstimos consignados nos caixas de
autoatendimento – Várias contratações realizadas por consumidor idoso e analfabeto –
Discernimento reduzido comprovado nos autos – Vício no consentimento – conduta vedada pelo
Código de Defesa do Consumidor – Inteligência dos arts. 4.º, III, c/c 39, IV, do CDC – Extinção dos
contratos – Retorno ao status quo ante – Valores compensados – Dano moral puro – Quantum
indenizatório mantido – Recurso conhecido e desprovido. A instituição financeira que concede limite
de crédito consignado diretamente nos caixas de autoatendimento a consumidor idoso e analfabeto,
com condição social de menor envergadura, permitindo, com isso, um ciclo vicioso de
endividamento, incide inequivocamente na vedação legal que, no âmbito das relações de consumo
(art. 39, IV, do CDC), coíbe a utilização de práticas agressivas de venda, sobretudo quando
vinculado o pagamento a descontos diretos nos proventos de aposentadoria do adquirente. Estando
presente o vício na vontade do consumidor, a extinção do contrato é medida que se impõe,
retornando as partes ao status quo ante. O dano moral, na espécie, é inerente ao ato ilícito e,
portanto, prescinde de demonstração do prejuízo para o surgimento da obrigação de indenizar. A
indenização por dano moral deve ser fixada em montante que não onere em demasia o ofensor,
mas, por outro lado, atenda à finalidade para a qual foi concedida, compensando o sofrimento da
vítima e desencorajando a outra parte quanto aos outros procedimentos de igual natureza”. (TJMT,
Ap 80263/2013, 5.ª Câm. Cív., j. 11.12.2013, Des. Dirceu dos Santos, DJE 19.12.2013).

Por fim, mencione-se caso envolvendo idoso, analfabeto, que teria realizado um empréstimo
consignado no caixa eletrônico. O magistrado do interior da Paraíba ensinou que é dever do banco
orientar e esclarecer todos os seus clientes: “Sendo notória a dificuldade que pessoas idosas e
analfabetas têm em utilizar equipamentos bancários de informática, constitui direito fundamental
dessas pessoas o atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos privados
prestadores desse serviço público”.150 Realmente, se o cliente bancário é analfabeto e a ele é
consentido um cartão que permite contratar a distância, e ainda créditos consignados, parece que o
dever de cuidado e de boa-fé com este consumidor de vulnerabilidade agravada, que se sabe idoso
e analfabeto, também é especial.

B) Ações civis coletivas no tema do crédito consignado a analfabetos e o perigo da


arbitragem com consumidores analfabetos

Face ao reconhecimento da vulnerabilidade de todos os consumidores por força do art. 4, I do CDC,


Antônio Herman Benjamin denominou este consumidor de vulnerabilidade agravada, como o
analfabeto e o superendividado, de hipervulnerável. E afirmou inclusive a necessidade de se
assegurar seu acesso à Justiça, diretamente ou através do Ministério Público e a Defensoria Pública:
“Ao se proteger o hipervulnerável, a rigor quem verdadeiramente acaba beneficiada é a própria
sociedade, porquanto espera o respeito ao pacto coletivo de inclusão social imperativa, que lhe é
caro, não por sua faceta patrimonial, mas precisamente por abraçar a dimensão intangível e
humanista dos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade. Assegurar a inclusão
judicial (isto é, reconhecer a legitimação para agir) dessas pessoas hipervulneráveis, inclusive dos
sujeitos intermediários a quem incumbe representá-las, corresponde a não deixar nenhuma ao
relento da Justiça por falta de porta-voz de seus direitos ofendidos”(REsp 931.513/RS, 1.ª Seção, j.
25.11.2009, rel. p/ Acórdão Min. Herman Benjamin, DJe 27.09.2010).

O STJ, realmente, tem dado lições sobre a necessidade de proteger e preservar o mínimo existencial
dos consumidores de crédito consignado e outras modalidades de reserva e retenção de parte dos
salários, pensões e aposentadorias dos consumidores: “Agravo regimental. Recurso especial.
Decisão interlocutória. Retenção. Possibilidade de afastamento. Crédito consignado. Contrato de
mútuo. Desconto em folha de pagamento. Possibilidade. Limitação da margem de consignação a
30% da remuneração do devedor. Superendividamento. Preservação do mínimo existencial. 1. (…)
2. Validade da cláusula autorizadora do desconto em folha de pagamento das prestações do contrato
de empréstimo, não configurando ofensa ao art. 649 do CPC, 3. Os descontos, todavia, não podem
Página 12
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

ultrapassar 30% (trinta por cento) da remuneração percebida pelo devedor. 4. Preservação do
mínimo existencial, em consonância com o princípio da dignidade humana. 5. Precedentes
específicos da 3.ª e da 4.ª T. do STJ. 6. Agravo regimental desprovido” (STJ, AgRg no REsp
1206956/RS, 3.ª T., j. 18.10.2012, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 22.10.2012).

Muitas são as ações coletivas em prol dos analfabetos que concluíram contratos de crédito
consignado, mas gostaria de destacar a que tramita no TJMT, referente às fraudes que foram vítimas
idosos analfabetos e semianalfabetos de Alta Floresta: “Recurso de agravo de instrumento – Ação
civil pública – Empréstimos consignados para aposentados e beneficiários do INSS – Idosos
analfabetos – Antecipação de tutela – Preliminares de conversão de agravo de instrumento para
agravo retido – Inexistência de interesse de agir e ilegitimidade ativa do ministério público –
Ilegitimidade passiva do banco – Preliminares rejeitadas – Legitimidade ativa do Parquet por
expressa previsão constitucional e legal – Inteligência do art. 74, I, da Lei 10.741/2003 (Estatuto do
Idoso) – Mérito – Requisitos autorizadores da antecipação de tutela – Verossimilhança da alegação e
fundado receio de dano irreparável – Comprovação – Valor de multa – Minoração indevida – Recurso
desprovido. A legitimidade do Ministério Público, para propor ação civil pública, decorre da própria
Constituição, do art. 74, I, da Lei 10.741/2003, bem como do art. 82 do CDC, para defender direitos
individuais homogêneos dos idosos, como no caso dos autos. Presentes os requisitos necessários à
concessão da tutela antecipada, consistente na verossimilhança das alegações e no fundado receio
de dano irreparável ou de difícil reparação aos consumidores, em Ação Civil Pública, que trata de
empréstimos consignados a aposentados, idosos e analfabetos, beneficiários do INSS, o deferimento
da liminar é medida que se impõe. A multa deve cumprir a função inibitória e punitiva, devendo ser
fixada em valor adequado, de forma a compelir o Requerido ao cumprimento da ordem.” (TJMT, AI,
65247/2011, 3.ª Câm. Cív., j. 09.04.2013, Dr. Sebastiao Barbosa Farias, DJE 23.04.2013). A tutela
foi até agora mantida,151 demonstrando a importância da atuação em prol dos analfabetos.

Como ensinam os notários franceses152 e a doutrina brasileira,153 a relação entre a vulnerabilidade e


o superendividamento dos consumidores é muito grande, assim como a necessidade de proteger
estes vulneráveis no que se refere ao acesso à Justiça – diria eu – ao acesso ao Judiciário, face a
iminência da aprovação de modificação da Lei de Arbitragem com previsão de arbitragem nas
relações de consumo.

O PLS 406/2013, que modifica a lei de arbitragem, permitirá arbitragens de consumo em contratos
de adesão, inclusive no crédito consignado, com consumidores superendividados e analfabetos.154 O
Projeto de Lei do Senado modifica os arts. 1.º, 2.º, 4.º, 13, 19, 23, 30, 32, 33, 35 e 39 da Lei
9.307/1996, mas o caput do art 1.º da referida lei, mantém seu texto atual que afirma: “As pessoas
capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos
patrimoniais disponíveis” e assim nenhuma exceção faz para os analfabetos e semianalfabetos, ou
para aqueles que estão em estado de superendividamento e que se beneficiariam mais de um dos
projetos de conciliação em bloco155 previstos no PLS 283/2012 de atualização do CDC.

As exigências do PLS 406/2013 para as arbitragens de consumo, como explica o relatório aprovado
no Senado na CCJ, seriam “que, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá
eficácia se for redigida em negrito ou em documento apartado” e “quando se tratar de relação de
consumo, de o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem, ou concordar, expressamente,
com a sua instituição, quando tais contratos estabelecem relação de consumo.” O texto previsto é o
seguinte:

“Art. 4.º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato


comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal
contrato.

(…)

§ 2.º Nos contratos de adesão a cláusula compromissória só terá eficácia se for redigida em negrito
ou em documento apartado.

§ 3.º Na relação de consumo estabelecida por meio de contrato de adesão, a cláusula


compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem, ou
concordar, expressamente, com a sua instituição”.

Página 13
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

O destaque em negrito pouco ajuda aos analfabetos, assim como o fato de “concordarem” com uma
sofisticada arbitragem que os excluirá das conquistas das ações coletivas e da jurisprudência
judicial, além de poder ser arbitragem por equidade e lhe retirar as garantias do Código de Defesa do
Consumidor e do Processo Civil.156 Em contratos cativos de longa duração,157 como os bancários,
financeiros, de crédito e securitários, a incluir os planos de saúde e a previdência privada, para
continuar na relação, para renovar o plano de saúde (e a doença), para renovar o seguro de vida ou
o plano de previdência privada a que se vincula (a bastante tempo!) ou para evitar o vencimento da
conta especial e outras dívidas que tem com o mesmo grupo bancário, sim o consumidor concordará
– sempre – em submeter-se a uma arbitragem “gratuita”, dita rápida e eficaz pelo “seu” fornecedor,
reduzindo “a pó” a vitória do movimento consumerista na ADIN 2591 no STF. Como a premiada tese
francêsa de Sophie Gjidara ensina, se o crédito tem como base a confiança (credere) e o tempo, o
endividamento/superendividado do consumidor tem como consequência um estado de “dependência
jurídica” 158 frente aos credores (o futuro de seu “nome” e a manutenção de seu mínimo existencial e
de sua família dependem – dependentia, pendentia – do credor-fornecedor!). Justamente por isso o
consumidor superendividado aceitará o que lhe for sugerido, inclusive a arbitragem privada, para
superar a sua “patologia”, o superendividamento. A formalidade não é suficiente para uma decisão
racional do consumidor,159 neste estado de vulnerabilidade agravada.160 Isto sem falar na
imparcialidade do árbitro pago pelos fornecedores de produtos e serviços, que tantos problemas
trouxe nos EUA e no escândalo do NAF.161

A autora Canadense Geneviève Saumier ensina que a mudança da Loi sur la protection du
consommateur em 2006 no Quebéc (o art. 11.1 que considera proibidas cláusulas que estipulem a
arbitragem compulsória, que limitem o direito de estar em justiça, em especial de participar de uma
ação coletiva ou de ser parte de um grupo que se beneficia de uma decisão positiva em uma ação
coletiva) não foi suficiente, pois o próprio artigo permite aos consumidores, ocorrido o litígio, se
submeterem à arbitragem, e afirma que a arbitragem (segundo a legislação processual geral) não é
suficientemente protetiva para os consumidores, como o direito civil dos contratos nunca foi
suficiente para proteger os consumidores, assim conclui que a arbitragem de consumo ou deve ser
proibida ou deve merecer do legislador um processo civil próprio e mais adaptado à vulnerabilidade
do consumidor.

A lição do direito comparado é importante,162 assim como preservar a vitória na ADI 2591 no STF,
sendo assim ouso pedir novamente ao Senado Federal que repense esta sugestão e retire do PLS
406/2013 esta menção à arbitragem de consumo. Se mantiver, que pelo menos a arbitragem de
consumo seja regulada em lei própria, criando um processo arbitral especial para os consumidores,
com maiores garantias. E se nenhuma destas sugestões for possível, alternativamente, que pelo
menos se preveja a arbitragem de consumo em artigo próprio, excluindo claramente as matérias que
foram objeto da ADI 2591, assegurando a aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos
consumidores e o benefício das ações coletivas, protegendo de forma especial os hipervulneráveis.
Este artigo próprio deveria ser redigido, levando em conta a necessidade de aplicação das normas
do Código de Defesa do Consumidor para a proteção dos hipervulneráveis e o modelo do Québec,
que ainda assim é insuficiente, mas deixa clara a proibição da cláusula em contratos de consumo e a
opção do consumidor pelo acesso ao Judiciário:

“Art. 4.º A Na relação de consumo fica proibida a cláusula que imponha a arbitragem ao consumidor,
ou lhe retire o direito de recorrer ao Judiciário individualmente ou em ação coletiva, assim como de
se beneficiar de decisões em ações coletivas.

§ 1.º O consumidor pode, se há um litígio após a conclusão de um contrato, concordar


expressamente em instituir uma arbitragem, se gratuita para ele e se houverem sido dadas garantias
de imparcialidade da instituição arbitral escolhida, cujos árbitros devem aplicar as normas do Código
de Defesa do Consumidor, inclusive quanto à inversão do ônus da prova, assim como as demais leis
de ordem pública, que garantam direitos aos consumidores, sob pena de poder o consumidor em 15
dias após o laudo arbitral pedir sua anulação no Judiciário.

§ 2.º O consumidor analfabeto e em estado de superendividamento não poderá se submeter à


arbitragem privada.

§ 3.º O consumidor de 60 anos ou mais somente poderá se submeter à arbitragem privada


acompanhado de advogado.

Página 14
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

§ 4.º Fica proibida a arbitragem frente a consumidores em matéria de serviços bancários, financeiros,
de crédito e securitários, inclusive nos planos de saúde”.

Por fim, mencione-se que o PLS 281/2012 de atualização do Código de Defesa do Consumidor, ao
tratar do comércio eletrônico nacional e internacional, optou por reforçar a proibição das cláusulas
compromissórias, que considera proibidas, levando em consideração os problemas que estas
cláusulas tem causado nos Estados Unidos e Canadá. Não cabe agora retroceder na proteção dos
consumidores com a aprovação do PLS 406/2013 com o texto atual. Cabe sim evoluir, atualizando o
Código de Defesa do Consumidor também frente a estes novos desafios como a proteção dos
consumidores analfabetos, dos idosos e dos superendividados, aprovando o PLS 283/2012 sobre
crédito ao consumo e prevenção do superendividamento.

Observações finais

Realmente, o direito privado brasileiro atual “não pode prescindir do reconhecimento da fraqueza de
certos grupos da sociedade, que afinal se apresenta como ponto de encontro entre a função
individual que tradicionalmente lhe é reconhecida, e sua função social, afirmada no direito privado
solidário que emerge da Constituição”.163 O nosso estudo, mesmo que parcial da jurisprudência
brasileira, confirmou a hipótese da vulnerabilidade agravada do analfabeto no mercado de consumo,
em especial frente às práticas agressivas e sofisticadas de concessão de crédito consignado de
nossos dias, necessitando de uma atuação protetiva do legislativo, inclusive no que concerne seu
acesso à Justiça, não devendo a arbitragem privada de consumo ser aprovada para este grupo.

Conclua-se, pois, que os analfabetos são um subgrupo de consumidores com vulnerabilidade


agravada, suficiente para que os consideremos hipervulneráveis, na expressão de Antônio Herman
Benjamin, devendo ser garantido a eles pelo menos o acesso ao Judiciário e cuidados especiais na
concessão do crédito consignado. A aprovação do PLS 283/2012 de atualização do Código de
Defesa do Consumidor em muito contribuiria para isso, assim como a do PLS 281/2012.

Parafraseando um belo voto do STJ podemos dizer que a hipervulnerabilidade é o grau excepcional
da vulnerabilidade geral dos consumidores, relevância esta que, se está na Constituição ou nas
normas infraconstitucionais, é de exame imperativo, e, se ainda não está, pode ser levantada pelo
magistrado, ainda mais tendo em vista as circunstâncias do caso e a conduta de boa-fé dos
parceiros. No referido voto, em caso de fracionamento de hipotecas para benefício dos
consumidores, ensinou o STJ: “É já cediça a compreensão, tanto pela doutrina, como pela
jurisprudência, de que a única maneira de se otimizar a realização do princípio da igualdade é
mediante o reconhecimento de que, em algumas situações, os sujeitos de uma relação jurídica não
se encontram em posição similar. Nesses casos, em que as circunstâncias de fato provocam um
desequilíbrio, tratar esses sujeitos de maneira objetivamente igual não basta para a plena realização
do princípio da isonomia. É necessário reequilibrar os polos da relação, estabelecendo regras
excepcionais que tutelem a parte mais frágil (…).” 164 Como ensinam os sociólogos da educação,
realmente, as desigualdades sociais são também desigualdades culturais:165 a mais grave e mais
excludente de todas é o analfabetismo.

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1 Assim me manifestei no artigo MARQUES, Claudia Lima. A proteção dos consumidores em um


mundo globalizado: Studium Generale sobre o consumidor como homo novus. Revista de Direito do
Consumidor. vol. 85. n.85. p. 25-63. São Paulo: Ed. RT. jan-fev. 2013. p. 31.

2 Veja MARQUES, Claudia Lima e LIMA, Clarissa Costa de. Anotação ao PLS 406, de 2013 sobre
arbitragem. Revista de Direito do Consumidor. vol. 91. p. 407-416. São Paulo: Ed. RT. jan.2014.

3 Veja sobre as modificações na mediação e na conciliação o artigo de Luis Reichelt nesta Revista
de Direito do Consumidor e, em geral, CALMON, Petrônio. Fundamentos da mediação e da
conciliação. 2. ed. Brasília: Ed. Gazeta Jurídica, 2013.

4 A expressão hipervulnerabilidade é de Antônio Herman Benjamin. Neste artigo, inspiram-me as


belas e sábias palavras, em caso envolvendo deficiente auditivo, da lavra do citado eminente
Ministro do STJ: “A categoria ético-política, e também jurídica, dos sujeitos vulneráveis inclui um
subgrupo de sujeitos hipervulneráveis,… Ao se proteger o hipervulnerável, a rigor quem
verdadeiramente acaba beneficiada é a própria sociedade, porquanto espera o respeito ao pacto
coletivo de inclusão social imperativa, que lhe é caro, não por sua faceta patrimonial, mas
precisamente por abraçar a dimensão intangível e humanista dos princípios da dignidade da pessoa
humana e da solidariedade. Assegurar a inclusão judicial (isto é, reconhecer a legitimação para agir)
dessas pessoas hipervulneráveis, inclusive dos sujeitos intermediários a quem incumbe
representá-las, corresponde a não deixar nenhuma ao relento da Justiça por falta de porta-voz de
seus direitos ofendidos”. (REsp 931.513/RS, 1.ª Seção, j. 25.11.2009, rel. p/ Acórdão Min. Herman
Benjamin, DJe 27.09.2010).

5 Veja IN INSS/DC 121/05, hoje, revogada pela Res. INSS/Presidência 28/2008.

6 Veja caso de ação civil pública em Alta Floresta/MT, no qual se lê no voto o seguinte: “Por certo,
idosos, analfabetos e semianalfabetos são pessoas capazes, civilmente, de direitos e obrigações,
como sustenta o agravante. No entanto, analisando detidamente os autos, em cognição sumária,
denota-se a real necessidade de medida judicial urgente para proteção dos direitos de tais
consumidores. Os documentos expedidos pelo Conselho de Proteção e Defesa do Consumidor –
Procon, do Município de Alta Floresta (folhas 49/212-TJ, vol. I e II) e demais expedientes acostados
no processo, relatam situações graves e preocupantes, relativas a descontos de empréstimos
consignados, em benefícios de pessoas idosas, analfabetas e semianalfabetas, em princípio, sem o
devido consentimento dos beneficiários. Ademais, o Ofício 21/06, expedido pela Agência da
Previdência Social ao Procon, em Alta Floresta, confirma a existência de inúmeras reclamações de
beneficiários e pedidos de providências por parte da Autarquia, com relação a empréstimos
consignados, indevidamente, com suspeita de fraudes”. (TJMT, AI, 65247/2011, 3.ª Câm. Civ., j.
09.04.2013, Dr. Sebastiao Barbosa Farias, DJE 23.04.2013).

7 Fonte:
[http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/4/docs/recomendacao_emprestimo_consignado_inss.pdf]
Acesso em: 08.08.2014).

8 Veja como exemplo, o roteiro de contratação de consignado, facilmente encontrado na Internet


com as palavras “consignado” e “analfabeto”, da “Promotora Bradesco” para: “Aposentados e
Página 18
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

pensionistas que recebam pelo INSS. Empréstimos consignados para idosos aposentados,
pensionistas, analfabetos ou semianalfabetos, moradores das cidades mencionadas abaixo, agora
terão de registrar o contrato no Cartório de Registro Público daquela comarca, ficando o custo do
cartório sob responsabilidade do aposentado, pensionistas, analfabetos ou semianalfabetos. Obs.:
Se atentar para cada cidade que tenha uma informação adicional. Marabá – PA; Alta Floresta – MT.
Celebração de empréstimos consignados com analfabetos e semianalfabetos através de registro do
respectivo contrato no Cartório de Registro Público daquela comarca Guaxupé – MG; Idosos desde
que analfabetos, nesta comarca, sem que tais contratos sejam realizados por escritura pública ou por
intermédio de procurador constituído de instrumento público. Porto Real do Colégio/AL (além de São
Brás e Olha D’Agua Grande) – Beneficiários do INSS, idosos analfabetos, sem que tais contratos
encontrem-se devidamente registrado por instrumento público. E ainda que nos contratos esteja
descrito o preposto/intermediário responsável pela captação do contratante”. (grifos e grafia do
original). Fonte: [http://www.fuscaldemprestimos.com.br/login/imagens/d971cfcdd1.pdf]. Acesso em:
17.08.2014.

9 MARQUES, Claudia Lima e MIRAGEM, Bruno. O novo direito privado e a proteção dos vulneráveis
. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2014. p. 164-165. FERRARO, Alceu R. História inacabada do
analfabetismo no Brasil. São Paulo: Cortez, 2009. p. 21 ensina: “analfabetismo e alfabetização não
são simplesmente cara e coroa de uma mesma moeda, digo, de uma mesma questão. Em outras
palavras, nem o analfabetismo se reduz a simples ausência de alfabetização ou a mero
desconhecimento da técnica de ler, escrever e contar, nem alfabetização se limita à aprendizagem e
domínio da técnica de ler, escrever e contar”.

10 Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, 2013/4 – Relatório Conciso –


Aprender e Ensinar – Alcançar a qualidade para todos, Unesco, 2013. Disponível em:
[www.efareport.unesco.org].

11 FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 9. ed. São Paulo: Paz e Terra,
2001. p. 18 apud FERRARO, Alceu R. História inacabada do analfabetismo no Brasil. São Paulo:
Cortez, 2009. p. 81.

12 Idem, ibidem, citado na dedicatória.

13 Relatório de monitoramento global de educação para todos, Unesco, 2013. Overview. Disponível
em: [www.efareport.unesco.org].

14 Veja, por todos, OSSOLA, Federico; VALLESPINOS, Carlos Gustavo. La obligación de informar.
Córdoba: Advocatus, 2001.

15 Veja PORTAL BRASIL. PNAD 2012: cai o percentual de pessoas sem instrução. Disponível em:
[www.brasil.gov.br/educacao/2013/09/pnad-2012-cai-o-percentual-de-pessoas-sem-instrucao]. Em
2007, também o relatório intitulado Síntese dos Indicadores Sociais de 2007 no Brasil, elaborado
pelo IBGE, também mostra que o analfabetismo no país atinge 14,4 milhões de pessoas com 15
anos ou mais e está concentrado nas camadas mais pobres, nas áreas rurais, especialmente do
Nordeste, entre os mais idosos, de cor preta e parda. Veja sobre idosos:
[http://www.brasil.gov.br/educacao/2013/05/cerca-de-1-5-milhao-de-jovens-e-adultos-devem-ser-alfabetizados-em-201

16 Veja PORTAL BRASIL. PNAD 2012: cai o percentual de pessoas sem instrução… cit. e
[www.jusbrasil.com.br/topicos/2784546/idosos-analfabetos].

17 Fonte:
[http://www.brasil.gov.br/educacao/2013/05/cerca-de-1-5-milhao-de-jovens-e-adultos-devem-ser-alfabetizados-em-201
Veja também: [www.jusbrasil.com.br/topicos/2784546/idosos-analfabetos], com dados de 1,2% e 24,
4%.

18 MARQUES, Claudia Lima e MIRAGEM, Bruno. O novo direito privado e a proteção dos
vulneráveis. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2014. p. 164 e ss.

19 A pesquisa foi utilizada não só na segunda edição do referido livro, como também no livro,
MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 7. ed., São Paulo: Ed.
Página 19
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

RT, 2014, no prelo.

20 Veja, os bons exemplos, nos belos livros de SCHIMDT, Cristiano. Consumidores hipervulneráveis
– A proteção do idoso no mercado de consumo. São Paulo: Atlas, 2014 e BARLETTA, Fabiana
Rodrigues. O direito à saúde da pessoa idosa. São Paulo: Saraiva, 2010.

21 Assim alerta BOURRIER, Christoph. La faiblesse d’une partie au contrat. Louvain-la-Neuve:


Bruylant, 2003. p. 15 que a “fraqueza’ (faiblesse) pode perturbar a ordem jurídica, pois esta tem
normalmente como base a ideia de igualdade de forças e quando a exceção se revela, que um dos
contratantes é mais fraco, há uma exceção a ser considerada.

22 Nesse sentido, o prefácio de HIPPEL, Eike von. Der Schutz des Schwächeren. Tübingen: J. C. B.
Mohr, 1982. p. 1.

23 Assim o impressionante relatório de PICOT, Florent e GARONNAIRE, Jean-Eric. L’aide a la


personne-Un accompagnement face à la vulnérabilité intellectuelle (Titre III, Première Commission du
102e. Congrès des Notaires de France), in Notaires de France. Les personnes vulnérables, Paris:
ACNF, 2006. p. 174-175.

24 Veja, ligando o crédito consignado ao superendividamento de pessoas de classe média de baixa


renda, LIMA, Clarissa Costa de; BERTONCELLO, Karen. Superendividamento aplicado. Aspectos
doutrinários e experiência no Poder Judiciário. Rio de Janeiro: GZ, 2009. p. 161 e ss.

25 Ouvidoria-Geral da Previdência Privada, Relatório de Atividades – Exercício 2013. p. 29: de


80.154 reclamações na ouvidoria, 27.656 foram cadastradas como “reclamação – atendimento
bancário – empréstimo consignado’ (14,5%) e 13.113 como “reclamação por atendimento bancário –
segurado não autorizou e tem desconto” totalizando 25,3%. Disponível em:
[http://www.previdencia.gov.br/wp-content/uploads/2014/05/RELAT%C3%93RIO-DE-ATIVIDADES-2013-Final.pdf].

26 No original: “Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com
o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes,
objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento
do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes
públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: I – erradicação do analfabetismo; II –
universalização do atendimento escolar; III – melhoria da qualidade do ensino; IV – formação para o
trabalho; V – promoção humanística, científica e tecnológica do País. VI – estabelecimento de meta
de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto”.

27 No mesmo sentido, indicando a vulnerabilidade potencializada do consumidor idoso: MARQUES,


Claudia Lima. Solidariedade na doença e na morte: sobre a necessidade de ações afirmativas em
contratos de planos de saúde e de planos funerários frente ao consumidor idoso. Revista Trimestral
de Direito Civil 8/3-41.

28 Contudo, os critérios para definição de idoso podem variar. Admite-se, assim, além do critério
cronológico estabelecido na lei, também o critério psicobiológico (levando em consideração aptidões
físicas ou intelectuais), econômico-financeiro (alguns idosos, por esta condição, acentuam sua
vulnerabilidade), social (considerando o ambiente em que vive, com a família ou em casa de
repouso, asilo). MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários ao Estatuto do Idoso. São Paulo: Ed.
LTr, 2004. p. 18.

29 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocência Mártires; BRANCO, Paulo Gonet. Curso de direito
constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 1.307.

30 FREITAS, Elizabeth V. de et al. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: GEN-Koogan,


2011. p. 58.

31 CAMARANO, Ana Amélia; KANSO, Solange. Envelhecimento da população brasileira: uma


contribuição demográfica. In: FREITAS, Elizabeth V. de et al. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio
de Janeiro: GEN-Koogan, 2011. p. 58 e ss.

Página 20
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

32 Idem, p. 58-59. Veja, sobre o reflexo desta população idoso no consumo, a tese de doutorado de:
SCHMITT, Cristiano H. A hipervulnerabilidade do idoso no âmbito do direito fundamental de proteção
ao consumidor. UFRGS, 2012.

33 Fonte:
[http://www.jornalpp.com.br/cidades/item/13035-taxa-de-analfabetismo-entre-idosos-reduz-pouco].
Acesso 11.08.2014.

34 Fonte:
[http://www.brasil.gov.br/educacao/2013/05/cerca-de-1-5-milhao-de-jovens-e-adultos-devem-ser-alfabetizados-em-201

35 Veja neste sentido a decisão: “Recurso especial repetitivo. Art. 105, III, c, da CF. Direito
previdenciário. Benefício assistencial. Possibilidade de demonstração da condição de miserabilidade
do beneficiário por outros meios de prova, quando a renda per capita do núcleo familiar for superior a
1/4 do salário mínimo. Recurso especial provido. 1. A CF/88 prevê em seu art. 203, caput e inc. V a
garantia de um salário mínimo de benefício mensal, independente de contribuição à Seguridade
Social, à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. 2. Regulamentando
o comando constitucional, a Lei 8.742/93, alterada pela Lei 9.720/98, dispõe que será devida a
concessão de benefício assistencial aos idosos e às pessoas portadoras de deficiência que não
possuam meios de prover à própria manutenção, ou cuja família possua renda mensal per capita
inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo. 3. O egrégio STF, já declarou, por maioria de votos, a
constitucionalidade dessa limitação legal relativa ao requisito econômico, no julgamento da ADI
1.232/DF (rel. para o acórdão Min. Nelson Jobim, DJU 01.06.2001). 4. Entretanto, diante do
compromisso constitucional com a dignidade da pessoa humana, especialmente no que se refere à
garantia das condições básicas de subsistência física, esse dispositivo deve ser interpretado de
modo a amparar irrestritamente a o cidadão social e economicamente vulnerável. 5. A limitação do
valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se comprovar que a
pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se
absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior a 1/4 do salário
mínimo. 6. Além disso, em âmbito judicial vige o princípio do livre convencimento motivado do Juiz
(art. 131 do CPC) e não o sistema de tarifação legal de provas, motivo pelo qual essa delimitação do
valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de
miserabilidade do beneficiado. De fato, não se pode admitir a vinculação do Magistrado a
determinado elemento probatório, sob pena de cercear o seu direito de julgar. 7. Recurso Especial
provido.” (STJ, REsp 1112557/MG, rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira Seção, julgado
em 28/10/2009, DJe 20/11/2009).

36 Veja PERES, Marcos. “A educação de jovens e adultos e o analfabetismo entre idosos no


semiárido nordestino: velhice e exclusão educacional no campo” Revista de Educação e Ciências
Humanas, Belo Horizonte/MG, n. 10, ano V, out, 2009.

37 Assim manifesta-se o pedagogo, SOARES, Leôncio. Educação de jovens e adultos. Rio de


Janeiro: DP&A Ed., 2002,, p. 11

38 Fonte:
[http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2011/11/censo-2010-cai-taxa-de-analfabetismo-no-pais].

39 Veja-se a lição histórica de BEVILAQUA, Clóvis. Capacidade civil do analfabeto, atos que
dependem de forma escrita, feitos perante Notário – Prazo das ações pessoais de mais longa
duração. Doutrinas Essenciais de Direito Registral. vol. 6. p. 301. São Paulo: Ed. RT, dez. 2011.

40 FERRARO, Alceu R. Analfabetismo e níveis de letramento no Brasil: O que dizem os censos?


Educ. Soc. vol. 23. n. 81. p. 21-47, Campinas, dez. 2002. p. 27. Disponível em:
[http://www.cedes.unicamp.br]

41 BEVILAQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil – Edição histórica. Rio de Janeiro:
Ed. Rio, 1976. p. 331.

Página 21
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

42 Assim a crítica às políticas governamentais de 1822 a 1946 e o exame do documento do


INEP-Ministério da Educação e Saúde de 1949 com “normas gerais” de organização do ensino
primário nos Estados brasileiros, GONTIJO, Cláudia M. Mendes e CAMPOS, Dulcinéa. Bases
nacionais para o ensino da leitura e da linguagem na escola primária (1949). Revista Brasileira de
Educação. vol. 19. n. 57. abr-jun. 2014. p. 311 (307-328).

43 FERRARO, Alceu R. Analfabetismo e níveis de letramento no Brasil: O que dizem os censos?.


Educ. Soc. vol. 23. n. 81. p. 21-47. Campinas, dez. 2002. p. 22. Disponível em:
[http://www.cedes.unicamp.br].

44 Assim ensina: Idem, p. 27: “O analfabetismo, portanto, emergiu no Brasil como uma questão
política, não como uma questão econômica. Esta segunda dimensão do problema só seria levantada
mais tarde, a partir do segundo pós-guerra, com as teorias do desenvolvimento…”

45 Idem, ibidem.

46 Fonte:
[http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2011/11/censo-2010-cai-taxa-de-analfabetismo-no-pais].

47 Fonte: [http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/25072002pidoso.shtm].

48 No texto original: “Art. 215. A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado
de fé pública, fazendo prova plena. § 1.º Salvo quando exigidos por lei outros requisitos, a escritura
pública deve conter: I – data e local de sua realização; II – reconhecimento da identidade e
capacidade das partes e de quantos hajam comparecidos ao ato, por si, como representantes,
intervenientes ou testemunhas; III – nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e
residência das partes e demais comparecentes, com a indicação, quando necessário, do regime de
bens do casamento, nome do outro cônjuge e filiação; IV – manifestação clara da vontade das partes
e dos intervenientes; V – referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais inerentes à
legitimidade do ato; VI – declaração de ter sido lida na presença das partes e demais
comparecentes, ou de que todos a leram; VII – assinatura das partes e dos demais comparecentes,
bem como a do tabelião ou seu substituto legal, encerrando o ato. § 2.º Se algum comparecente não
puder ou não souber escrever, outra pessoa capaz assinará por ele, a seu rogo”.

49 No texto original: “Art. 595. No contrato de prestação de serviço, quando qualquer das partes não
souber ler, nem escrever, o instrumento poderá ser assinado a rogo e subscrito por duas
testemunhas”.

50 No texto original: “Art. 1.534. A solenidade realizar-se-á na sede do cartório, com toda
publicidade, a portas abertas, presentes pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos
contraentes, ou, querendo as partes e consentindo a autoridade celebrante, noutro edifício público ou
particular. (…). § 2.º Serão quatro as testemunhas na hipótese do parágrafo anterior e se algum dos
contraentes não souber ou não puder escrever”.

51 No texto original: “Art. 215… § 2.º Se algum comparecente não puder ou não souber escrever,
outra pessoa capaz assinará por ele, a seu rogo”.

52 No texto original: “Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento público: I – ser escrito por
Tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, de acordo com as declarações do
testador, podendo este servir-se de minuta, notas ou apontamentos; II – lavrado o instrumento, ser
lido em voz alta pelo Tabelião ao testador e a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador,
se o quiser, na presença destas e do oficial; III – ser o instrumento, em seguida à leitura, assinado
pelo testador, pelas testemunhas e pelo Tabelião. Parágrafo único. O testamento público pode ser
escrito manualmente (sic) ou mecanicamente, bem como ser feito pela inserção da declaração de
vontade em partes impressas de livro de notas, desde que rubricadas todas as páginas pelo
testador, se mais de uma. Art. 1.865. Se o testador não souber, ou não puder assinar, o Tabelião ou
seu substituto legal assim o declarará, assinando, neste caso, pelo testador, e, a seu rogo, uma das
testemunhas instrumentárias”.

53 No texto original: “Art. 1.894. Se o testador souber escrever, poderá fazer o testamento de seu
Página 22
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

punho, contanto que o date e assine por extenso, e o apresente aberto ou cerrado, na presença de
duas testemunhas ao auditor, ou ao oficial de patente, que lhe faça as vezes neste mister”.

54 No texto original: “Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato
irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas
testemunhas que saibam ler e escrever”.

55 No texto original: “Art. 1.872. Não pode dispor de seus bens em testamento cerrado quem não
saiba ou não possa ler”.

56 ROSE, Pauline (dir.). Relatório de monitoramento global de educação para todos, Unesco. 2013.
p. 5. Disponível em: [www.unesco.org] ou [www.efareport.unesco.org].

57 Idem, ibidem.

58 Idem, p. 10.

59 Veja PORTAL BRASIL. PNAD 2012: cai o percentual de pessoas sem instrução… cit.

60 Idem, ibidem.

61 TEIXEIRA, Isaías. Índice de analfabetismo no Vale é um dos piores do Brasil, em Igaracy chega a
32,1%. Disponível em:
[http://hugoigaracy.blogspot.com.br/2011/08/indice-de-analfabetismo-no-vale-e-um.html].

62 Veja casos reproduzidos em: [http://colegioregistralrs.org.br/doutrina.asp?cod=147].

63 Fonte:
[http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/4/docs/recomendacao_emprestimo_consignado_inss.pdf].
Acesso em: 08.08.2014.

64 Fonte:
[http://jus.com.br/peticoes/16788/juiz-determina-que-emprestimos-consignados-para-idosos-analfabetos-sejam-feitos-e
Acesso em: 08.08.2014.

65 Assim conclui em 2012, FERRARO, Alceu R. Alfabetização Rural no Brasil na Perspectiva das
Relações Campo-Cidade e de Gênero. Educ. Real. Porto Alegre. vol. 37. n. 3. p. 943-967. set.-dez.
2012. p. 945.

66 Idem, p. 953.

67 Fonte:
[http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2011/11/censo-2010-cai-taxa-de-analfabetismo-no-pais]

68 Resumo de FERRARO, Alceu R. Alfabetização Rural no Brasil na… cit., p. 943.

69 No original: “Art. 39 – É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas


abusivas (…) IV – prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade,
saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços.”

70 BENJAMIN, Antônio Herman e MARQUES, Claudia Lima. Relatório-Geral da Comissão de


Juristas-Atualização do Código de Defesa do Consumidor, Presidência do Senado Federal: Brasília,
2012. p. 220: “A inclusão da expressão ‘analfabeto’, no art. 30 e no rol disposto no inc. XVIII do art.
[39] do projeto referente ao Superendividamento. (Anadep)”. Veja também dados embasando o
documento, p. 52, nota 116.

71 Idem, p. 23-24.

72 DOLL, Johannes. Elderly consumer Weakness in ‘Withholding Credit’. In: NIEMI, Joana;
RAMSAY, Iain; WHITFORD, William C. (ed.). Consumer credit, debt and bankruptcy – Comparative
Página 23
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

and international perspective. Oxford: Hart Publishing, 2009. p. 289 e ss.

73 Segundo as conclusões da Tese de doutorado, BUAES, Caroline Stumpf. Sobre a construção de


conhecimentos: uma experiência de educação financeira com mulheres idosas em um contexto
popular. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação da UFRGS, Porto Alegre, 2011.
Os fatores da maior vulnerabilidade dos idosos nos contratos de crédito seriam: “a fragilidade frente
às perdas próprias do envelhecimento que são provocadas pelo declínio físico e cognitivo; a
condição de pouca escolaridade que inviabiliza a compreensão das normas e contratos dos
empréstimos; a tendência de consumir por impulso tendo em vista o uso de cartões de crédito, a
facilidade de contratação de crédito consignado, a publicidade agressiva, as estratégias de marketing
questionáveis e as pressões familiares”.

74 BENJAMIN, Antônio Herman e Marques, Claudia Lima. Relatório-Geral… cit., p. 53-54.

75 Conforme noticia o Jornal Zero Hora (Porto Alegre, RBS) de 17 de agosto de 2014. p. 35, em 10
anos dobrou a quantidade de idosos que são referência financeira de famílias, eram 8,9 milhões em
2000 e em 2010, 20,6 milhões.

76 Veja CAMARANO, Ana Amélia. Envelhecimento da população brasileira: uma contribuição


demográfica. In: FREITAS, Elizabete Viana et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2 ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 88 e ss.

77 IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008 – 2009. Despesas, rendimentos e condições de


vida. Disponível em:
[http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009/POFpublicacao.pdf].
Acesso: 16.03.2011.

78 BENJAMIN, Antônio Herman e MARQUES, Claudia Lima. Relatório-Geral… cit., p. 54.

79 Assim o STJ: “O ponto de partida do Código de Defesa do Consumidor é a afirmação do Princípio


da Vulnerabilidade do Consumidor, mecanismo que visa a garantir igualdade formal-material aos
sujeitos da relação jurídica de consumo, o que não quer dizer compactuar com exageros que, sem
utilidade real, obstem o progresso tecnológico, a circulação dos bens de consumo e a própria
lucratividade dos negócios”.(REsp 586316/MG, 2.ª T., j. 17.04.2007, rel. Min. Herman Benjamin, DJe
19.03.2009).

80 LACOUR, Clémence. Vieillesse et vulnerabilité. Marseilles: Presses Universitaires d’Aix Marseille,


2007. p. 28.

81 Veja, por todos: FIECHTER-BOULVARD, Frédérique. La notion de vulnerabilité et sa consécration


par le droit. In: COHET-CORDEY, Frédérique (org.). Vulnerabilité et droit: le développement de la
vulnerabilité et ses enjeux en droit. Grenoble: Presses Universitaires de Grenoble, 2000. p. 16 e ss.

82 Veja CAVALLAZZI, Rosângela L.; SILVA, Sayonara G. L.; LIMA, Clarissa Costa de. Tradições
inventadas na sociedade de consumo: crédito consignado e a flexibilização da proteção ao salário.
Revista de Direito do Consumidor. n. 76. p. 74 e ss.

83 Como afirma Geraldo Faria MARTINS DA COSTA. O superendividamento nos últimos anos
tornou-se um “espelho da exclusão social”, MARTINS DA COSTA, Geraldo de Faria.
Superendividamento: solidariedade e boa-fé. In: MARQUES, Claudia Lima; CAVALLAZZI, Rosângela
(coord.). Direitos do consumidor endividado: superendividamento e crédito. São Paulo: Ed. RT, 2006.
p. 236.

84 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 6. ed., São Paulo: Ed.
RT, 2011. p. 321 e ss.

85 Veja também MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. São Paulo: Ed. RT, 2014. p. 99
e ss.

86 Veja também obra específica de MORAES, Paulo Valério Dal Pai, Código de Defesa do
Página 24
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

Consumidor – O princípio da vulnerabilidade. Porto Alegre: Síntese, 1999. p. 115 e ss., que identifica
a vulnerabilidade técnica, jurídica, política ou legislativa, a biológica ou psicológica, a econômica ou
social e a ambiental; assim como várias situações ou “formas de tornar o consumidor vulnerável” (p.
226 e ss).

87 Assim ensina AMARAL JR., Alberto. A boa-fé e o controle das cláusulas contratuais abusivas nas
relações de consumo. RDC 6/27: “O consumidor é vulnerável porque não dispõe dos conhecimentos
técnicos necessários para a elaboração dos produtos ou para a prestação dos serviços no mercado.
Por essa razão, o consumidor não está em condições de avaliar, corretamente, o grau de perfeição
dos produtos e serviços”.

88 Assim ensina a jurisprudência do STJ: “Agravo regimental no recurso especial. Responsabilidade


civil. Contrato de abertura de crédito e novação de dívida. Relação de consumo. Teoria finalista
mitigada. (…) 2. A jurisprudência desta Corte tem mitigado a teoria finalista para autorizar a
incidência do Código de Defesa do Consumidor nas hipóteses em que a parte (pessoa física ou
jurídica), embora não seja tecnicamente a destinatária final do produto ou serviço, se apresenta em
situação de vulnerabilidade. Precedentes (…)”(AgRg no REsp 1413889/SC, 3.ª T., j. 27.03.2014, rel.
Min. Sidnei Beneti, DJe 02.05.2014).

89 Note-se que, também na França, Noblot conclui que uma proteção diferenciada é concedida aos
agricultores, estejam eles organizados como pessoas jurídicas ou não – veja NOBLOT, Cyril. La
qualité du contractant comme critère légal de protection – Essai de méthodologie législative. Paris:
LGDJ, 2002. p. 160 e ss.

90 Veja, porém, decisão que aceita a prova da vulnerabilidade in concreto para caso de compra de
sementes com vício: “O produtor agrícola que compra sementes para plantio pode ser considerado
consumidor diante do abrandamento na interpretação finalista em virtude de sua vulnerabilidade
técnica, jurídica ou econômica” (AgRg no REsp 1200156/RS, j. 28.09.2010, rel. Min. Sidnei Beneti,
DJe 14.10.2010).

91 Veja-se decisão sobre compra de adubo: “A aquisição de insumos agrícolas para investimento em
atividade produtiva, não como destinatário final, importa, de acordo com o entendimento sufragado
nesta Corte, na inaplicação do CDC à espécie (REsp 541.867-BA, rel. p/ acórdão Min. Barros
Monteiro, DJU 16.05.2005) (…)” (REsp 1016458/RS, j. 09.02.2010, rel. Min. Aldir Passarinho Jr., DJe
08.03.2010).

92 Assim a bela decisão: “Consumidor industrial para rural – Código de Defesa do Consumidor –
Aplicação – Relação de consumo – Configuração – Prescrição e decadência – Inocorrência –
Resolução 456/2000 da ANEEL – Cobrança a maior – Constatação – Ônus do fornecedor –
Hipossuficiência técnica do consumidor – Recurso desprovido. 1. Sendo os serviços prestados por
concessionárias remunerados por tarifa e, portanto, de utilização facultativa, configura-se a relação
de consumo entre a companhia de fornecimento de energia elétrica e o consumidor. 2. É ônus do
fornecedor, no caso, a concessionária de serviço público, a constatação da cobrança a maior nas
tarifas de energia elétrica por enquadramento do consumidor como ‘indústria rural’, haja vista a
hipossuficiência técnica deste” (TJPR, ApCiv 448.009-5, 12.ª Câm. Cív., j. 30.07.2008, rel. Des.
Costa Barros, RDC 68/276).

93 Assim a decisão do STJ: “Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos firmados
entre instituições financeiras e agricultor, pessoa física, ainda que para viabilizar o seu trabalho como
produtor rural” (AgRg nos EDcl no REsp 866.389/DF, 3.ª T., j. 19.06.2008, rel. Min. Sidnei Beneti,
DJe 01.07.2008).

94 STJ, REsp 541.867/BA, j. 10.11.2004, rel. p/ o acórdão Min. Barros Monteiro.

95 Bom exemplo é o caso envolvendo dona de estética e fornecedor de esteira de massagem, em


que não se considerou consumidora a primeira, por falta de vulnerabilidade: “Rescisão de contrato –
Cautelar de sustação de protesto – Publicidade enganosa. Não incidência do Código de Defesa do
Consumidor por não se tratar de consumidor final. Rescisão efetuada face à oferta e o lapso para a
descoberta do vício. Deram provimento a ambas as apelações” (TJRS, ApCiv. 7007733587 e
7007733728, 9.ª Câm. Civ., j. 31.03.2004, rel. Des. Luís Augusto Coelho Braga).
Página 25
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

96 Veja decisão no caso de franquia de loja de lanches rápidos: STJ, REsp 545.814/SP, 3.ª T., j.
06.11.2003, rel. Min. Fátima Nancy Andrighi.

97 A vulnerabilidade jurídica do consumidor foi identificada e protegida pela Corte Suprema alemã,
nos contratos de empréstimo bancário e financiamento, afirmando que o consumidor não teria
suficiente “experiência ou conhecimento econômico, nem a possibilidade de recorrer a um
especialista” – veja BGHZ 93.264 (1984), BGH-NJW-RR 1986, 205, e comentários em Schmelz, p.
1219 (NJW, maio 1991). O STJ a identifica em contratos de planos de saúde, como no leading case
antes mencionado, e retira também consequências processuais, pois o consumidor leigo não é um
litigante habitual e a cláusula de eleição do foro pode prejudicá-lo. Veja a decisão do STJ, REsp
119267/SP, 4.ª T., j. 04.11.1999, rel. Min. Aldir Passarinho Jr.

98 Amaral Jr./Boa-fé, p. 28-29, maximaliza esta vulnerabilidade, afirmando: “No plano jurídico,
todavia, a vulnerabilidade do consumidor manifesta-se na alteração dos mecanismos de formação
dos contratos, que deu origem ao aparecimento e consolidação dos contratos de massa”.

99 Veja neste sentido, decisão do STJ: “A verificação da procedência dos argumentos expendidos no
recurso obstado – que defende tratar-se de contrato de adesão – e a inversão das conclusões do
acórdão recorrido – que afastou a existência de hipossuficiência técnica da pessoa jurídica ora
recorrente – exigiria por parte desta Corte o reexame de matéria fática. 4. Se a pessoa jurídica não
ostenta a condição de consumidor final nem se apresenta em situação de vulnerabilidade, não
incidem as regras do Direito do Consumidor” (REsp 1297956/RJ, 3.ª T., j. 18.12.2012, rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 27.02.2013).

100 Também AGA 296516/SP, 3.ª T., j. 07.12.2000, rel. Min. Fátima Nancy Andrighi.

101 Assim ensina o STJ em caso de taxas extras em hospitais: “3. Com efeito, cuida-se de iníqua
cobrança, em prevalecimento sobre a fragilidade do consumidor, de custo que está ou deveria estar
coberto pelo preço cobrado da operadora de saúde – negócio jurídico mercantil do qual não faz parte
o consumidor usuário do plano de saúde –, caracterizando-se como conduta manifestamente
abusiva, em violação à boa-fé objetiva e ao dever de probidade do fornecedor, vedada pelos arts. 39,
IV, X e 51, III, IV, X, XIII, XV, do Código de Defesa do Consumidor e 422 do CC/2002.” (REsp
1324712/MG, 4.ª T., j. 24.09.2013, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 13.11.2013)

102 Veja interessante caso sobre limites de valor no contrato de penhor, em que o valor sentimental
do bem penhorado e a situação do consumidor, foram valorados: “Civil e consumidor. Recurso
especial. Contrato de penhor. Joias. Furto. Fortuito interno. Reconhecimento de abuso de cláusula
contratual que limita o valor da indenização em face de extravio dos bens empenhados. Violação ao
art. 51, I, do Código de Defesa do Consumidor. Ocorrência de danos materiais e morais. Recurso
especial provido. 1. No contrato de penhor é notória a hipossuficiência do consumidor, pois este,
necessitando de empréstimo, apenas adere a um contrato cujas cláusulas são inegociáveis,
submetendo-se à avaliação unilateral realizada pela instituição financeira. Nesse contexto, deve-se
reconhecer a violação ao art. 51, I, do CDC, pois mostra-se abusiva a cláusula contratual que limita,
em uma vez e meia o valor da avaliação, a indenização devida no caso de extravio, furto ou roubo
das joias que deveriam estar sob a segura guarda da recorrida. 2. O consumidor que opta pelo
penhor assim o faz pretendendo receber o bem de volta, e, para tanto, confia que o mutuante o
guardará pelo prazo ajustado. Se a joia empenhada fosse para o proprietário um bem qualquer, sem
valor sentimental, provavelmente o consumidor optaria pela venda da joia, pois, certamente, obteria
um valor maior. 3. Anulada a cláusula que limita o valor da indenização, o quantum a título de danos
materiais e morais deve ser estabelecido conforme as peculiaridades do caso, sempre com
observância dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 4. Recurso especial provido.”
(STJ, REsp 1155395/PR, 4.ª T., j. 01.10.2013, rel. Min. Raul Araújo, DJe 29.10.2013).

103 Assim ensina a jurisprudência em caso de pessoa humilde que compra veículo de outro
particular por preço três vezes maior que o de mercado: “Processual civil – Cerceamento de defesa –
Inocorrência. Mérito – Compra e venda – Preço escandaloso – Comprovação – Redução – Erro
substancial – Lesão. Não impugnada precisamente pelo réu a afirmação da inicial de que, conforme
informações de profissionais do ramo, o veículo objeto do contrato valeria no máximo R$ 1.800,00,
tem-se como verdadeira tal assertiva, consoante o art. 302, caput, do CPC. Hipótese em que o preço
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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

constante do contrato – R$ 4.800,00 – é manifestamente absurdo, escandalosamente alto, a


configurar erro substancial, nos termos do art. 87 do CC/1916 [art. 139, I, do CC/2002], e que
permitiria a anulação do negócio. Aplicação do instituto da lesão, previsto no art. 157, caput e § 2.º,
do CC/2002. Pagamentos que somam mais do que o valor admitido como sendo o de mercado do
veículo, a justificar a declaração de quitação do preço, nos termos do pedido inicial, com a
condenação do réu a autorizar a transferência junto ao órgão de trânsito e cancelamento do protesto
das promissórias relativas às parcelas reconhecidas como indevidas” (TJRS, ApCiv 70001965011, j.
16.10.2003, rel. Des. Pedro Luiz Pozza).

104 Veja comentários de: THEODORO JÚNIOR, Humberto. Comentários ao novo Código Civil
brasileiro – Dos defeitos do negócio jurídico, 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. vol. 3, t. I, p. 203 e
ss.

105 Veja interessante decisão neste sentido, reconhecendo a relação de consumo e a


vulnerabilidade aumentada do consumidor: “Na exploração comercial do jogo, há evidente relação de
consumo, na qual os cidadãos são atraídos às casas de bingo sem que o Poder Público possa lhes
garantir um mínimo de regularidade nos sorteios, nas premiações e na destinação legal dos valores
arrecadados” (TRF-4.ª R., AgIn 2007.04.00.009201-6/RS, 4.ª T., j. 01.08.2007, rel. p/ acórdão Des.
Federal Marga Inge Barth Tessler, DJU 16.10.2007 – RT 868/416).

106 Assim a decisão do STJ seguro: “Mostra-se inoperante a cláusula contratual que, a pretexto de
informar o consumidor sobre as limitações da cobertura securitária, somente o remete para a letra da
lei acerca da tipicidade do furto qualificado, cuja interpretação, ademais, é por vezes controvertida
até mesmo no âmbito dos Tribunais e da doutrina criminalista. 6. Recurso especial não conhecido”
(REsp 814060/RJ, 4.ª T., j. 06.04.2010, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 13.04.2010). Veja
interessante caso de exclusão da ‘extorsão’ em seguro por remissão ao Código Penal: “As cláusulas
contratuais, uma vez delimitadas, não escapam da interpretação daquele que ocupa a outra
extremidade da relação jurídica, a saber, o consumidor, especialmente em face de manifestações
volitivas materializadas em disposições dúbias, lacunosas, omissas ou que comportem vários
sentidos. 7. A mera remissão a conceitos e artigos do Código Penal contida em cláusula de contrato
de seguro não se compatibiliza com a exigência do art. 54, § 4º, do CDC, uma vez que materializa
informação insuficiente, que escapa à compreensão do homem médio, incapaz de distinguir entre o
crime de roubo e o delito de extorsão, dada sua aproximação topográfica, conceitual e da forma
probatória. Dever de cobertura caracterizado. 8. Recurso especial conhecido e desprovido” (REsp
1106827/SP, 4.ª T., j. 16.10.2012, rel. Min. Marco Buzzi, DJe 23.10.2012). Veja sobre furto
qualificado, REsp 1293006/SP, 3.ª T., j. 21.06.2012, rel. Min. Massami Uyeda, DJe 29.06.2012.

107 Na sociedade brasileira atual, essenciais são não somente os serviços públicos ou ex-públicos.
Veja decisão do TJSP, cuja leading case é o seguinte: “Contrato de adesão – Convênio
médico-hospitalar – Liberdade ampla de contratar – Igualdade entre as partes – Inocorrência –
Serviço necessário à saúde – Relativa liberdade – Recurso não provido. O princípio da autonomia da
vontade parte do pressuposto de que os contratantes se encontram em pé de igualdade, e que,
portanto, são livres de aceitar ou rejeitar os termos do contrato. Mas isso nem sempre é verdadeiro.
Pois a igualdade que reina no contrato é puramente teórica, e, via de regra, enquanto o contratante
mais fraco no mais das vezes não pode fugir à necessidade de contratar, o contratante mais forte
leva uma sensível vantagem no negócio, pois é ele que dita as condições do ajuste” (ApCiv
232.777-2, j. 19.05.1994, rel. Des. Gildo dos Santos).

108 Veja caso de taxista (REsp 611.872/RJ, 4.ª T., j. 02.10.2012, rel. Min. Antonio Carlos Ferreira,
DJe 23.10.2012) ou de freteiro (RESP 1080719/MG, j. 10.02.2009, rel. Min. Nancy Andrighi). E caso
contrários, em que a vulnerabilidade é negada à pessoa jurídica “intermediária” (REsp 1195642/RJ,
3.ª T., j. 13.11.2012, rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 21.11.2012). E AgRg no REsp 1319518/SP, 2.ª T.,
j. 18.12.2012, rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 05.02.2013.

109 REsp 157.841/SP, j. 12.03.1998, rel. Min. José Delgado, DJ 27.04.1998: “3. Nos contratos
regidos pelo Sistema Financeiro da Habitação há de se reconhecer a sua vinculação, de modo
especial, além dos gerais, aos seguintes princípios específicos: a) o da transparência, segundo o
qual a informação clara e correta e a lealdade sobre as cláusulas contratuais ajustadas deve imperar
na formação do negócio jurídico; b) o de que as regras impostas pelo SFH para a formação dos
contratos, além de serem obrigatórias, devem ser interpretadas com o objetivo expresso de
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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

atendimento às necessidades do mutuário, garantindo-lhe o seu direito de habitação, sem afetar a


sua segurança jurídica, saúde e dignidade; c) o de que há de ser considerada a vulnerabilidade do
mutuário, não só decorrente da sua fragilidade financeira, mas, também, pela ânsia e necessidade
de adquirir a casa própria e se submeter ao império da parte financiadora, econômica e
financeiramente muitas vezes mais forte”.

110 Assim ensina o STJ: “É assente na jurisprudência desta Corte, a existência de relação de
consumo, e consequente aplicação do Código de Defesa do Consumidor, entre o agente financeiro
do Sistema Financeiro da Habitação, que concede empréstimo para aquisição de casa própria, e o
mutuário. (…)” (AgRg no REsp 1402429/RS, 4.ª T., j. 10.12.2013, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe
17.12.2013)

111 Segundo Calais-Auloy, o desequilíbrio da relação de consumo é justamente este: a


desigualdade ou déficit informativo dos consumidores – veja CALAIS-AULOY, Jean; STEINMETZ,
Frank. Droit de consommation. 5. ed. Paris: Dalloz, 2000. p. 49 (n. 49).

112 Assim: MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Código de Defesa do Consumidor: o princípio da
vulnerabilidade. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 141. Em seu trabalho sobre o
princípio da vulnerabilidade, explica que a vulnerabilidade técnica do consumidor é oriunda da falta
de informações.

113 Com esta formalidade informativa exacerbada, muitas vezes o consumidor não se apercebe das
informações verdadeiramente úteis, como comenta: MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Op. cit., p. 141.

114 Veja: TIMM, Luciano Benetti. A prestação de serviços bancários via Internet (home banking) e a
proteção do consumidor. RDC 38/74 e ss.; SANTOLIM, Cesar Viterbo Matos. Formação e eficácia
probatória dos contratos por computador. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 24 e ss.; LORENZETTI,
Ricardo. Comercio electrónico. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 2001. p. 26 e ss.

115 JAYME, Erik. O direito internacional privado do novo milênio: a proteção da pessoa humana face
à globalização. Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFRGS. n. 1. p. 86, afirma:
“No que concerne às novas tecnologias, a comunicação, facilitada pelas redes globais, determina
uma maior vulnerabilidade daqueles que se comunicam. Cada um de nós, ao utilizar pacificamente
seu computador, já recebeu o choque de perceber que uma força desconhecida e exterior invadia o
seu próprio programa, e o fato de não conhecer seu adversário preocupa ainda mais”.

116 Assim conferência de Antonio Herman V. Benjamin, em 08.09.2005, em Gramado (RS), no


Congresso Internacional “15 anos de CDC: balanço, efetividade e perspectivas”, organizado pelo
Brasilcon e pelas Escolas Superiores da Magistratura e do Ministério Público do Rio Grande do Sul.

117 KLOEPFER, Michael. Informationsrecht. Munique: Beck, 2002. p. 128.

118 Segundo Bülow e Artz, o direito do consumidor é todo baseado na ideia de compensar as
relações contratuais, desequilibradas, por exemplo, por algum fator de vulnerabilidade. BÜLOW,
Peter; ARTZ, Markus. Verbraucherprivatrecht. Heidelberg: C. F. Müller, 2003. p. 2.

119 Veja passagens do estudo: Idosos no Brasil – Vivências, desafios e expectativas na terceira
idade, segundo o qual: “Entre os idosos, 89% não passaram da 8.ª série do ensino fundamental,
sendo que 18% não tiveram nenhuma educação formal. Apenas 4% chegaram a entrar em um curso
superior. Entre os não idosos, 44% não passaram do fundamental (2% não frequentaram escolas) e
15% chegaram ao ensino superior. Entre a população idosa o analfabetismo funcional totaliza 49%
(13% entre não idosos): 23% declaram não saber ler e escrever (2% dos não idosos), 4% afirmam só
saber ler e escrever o próprio nome (1% dos não idosos) e 22% consideram a leitura e a escrita
atividades penosas (8% dos não idosos), seja por deficiência de aprendizado (14%), por problemas
de saúde (7%) ou por ambos motivos (2%).” Fonte:
[http://blogvisao.wordpress.com/2007/05/07/a-metade-dos-idosos-brasileiros-de-analfabetos-funcionais/].

120 FERRARO, Alceu R. História inacabada do analfabetismo no Brasil. São Paulo: Cortez, 2009, p.
20.

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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

121 Idem, p. 20-21.

122 DOLL, Johannes, Op. cit. p. 289. O estudo ainda afirma que do total de 125 idosos
entrevistasdos em São Paulo, 24% era analfabeto e 56,8% tinha apenas um a quatro anos de
escolaridade, a situação em Porto Alegre entre o total de 90 idosos entrevistados, eram 11,1%
analfabetos e 35,6% com escolaridade entre um a quatro anos, logo, analfabetos funcionais.

123 Aceitamos aqui a divisão de BOURRIER, C. Op. cit., p. 7, entre faiblesse inerente à situação
pessoal de uma parte em um contrato e faiblesse inerente à posição contratual.

124 Veja lista de faiblesses relevantes ao direito, BOURRIER, C. Op. cit., p. 13 texto e nota 3.

125 Neste sentido, veja a bela pesquisa sobre o tema de SCHMITT, op. cit., p. 131 e ss.

126 Em caso de semianalfabeto, 72 anos, que requeria a aposentadoria por incapacidade, esta
condição foi considerada como parte de suas “limitações” de integração no mercado de trabalho,
REsp 122.366/MG, 6.ª T., j. 27.05.1997, rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, DJ 04.08.1997, p. 34921.

127 Assim o STJ: “Em face das limitações impostas pela avançada idade (72 anos), bem como por
ser o segurado semianalfabeto e rurícula, seria utopia defender sua inserção no concorrido mercado
de trabalho, para iniciar uma nova atividade profissional, pelo que faz jus à concessão de
aposentadoria por invalidez (REsp 965.597/PE, 5.ª T., j. 23.08.2007, rel. Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, DJ 17.09.2007, p. 355).”

128 “A incidência da agravante estabelecida no art. 61, II, h, do Código Penal está relacionada a uma
maior vulnerabilidade do sujeito passivo, ou seja, há uma punição diferenciada a quem fere interesse
ou bem jurídico de mulher grávida, menor de idade ou de pessoa idosa. Antes do Estatuto do Idoso,
a lei penal trazia a terminologia “velho” (critério biológico) e, após, passou a usar “idoso” (critério
cronológico), no entanto, o bem jurídico tutelado sempre foi o mesmo, modificando-se tão somente o
vocábulo para estabelecer elemento de caráter objetivo (60 anos)” (HC 145.928/SP, 5.ª T., j.
05.05.2011, rel. Min. Laurita Vaz, DJe 17.05.2011).

129 Assim ensina bela decisão do TJRS: “Apelação cível. Responsabilidade civil. Anulação de
contrato. Indenização por danos materiais e morais. Contrato de empréstimo bancário. Dever de
cuidado da instituição financeira. Pessoa idosa e analfabeta. Assinatura a rogo e duas testemunhas.
Necessidade. Preliminar de ilegitimidade passiva. É a instituição financeira parte legítima para
integrar o polo passivo em relação ao pedido objeto da demanda, na medida em que os contratos
foram firmados com o Banco BMC S.A. Desta forma, o apelante tem legitimidade para figurar em
ações que tenham por objeto eventuais defeitos advindos da contratação. Responsabilidade do
banco. Dever de cuidado. A conduta ilícita praticada pelo banco consiste em haver concedido o
empréstimo bancário, consignado em folha de pagamento de proventos da apelada, que teria
possivelmente sido ludibriada por terceiro, sem tomar os cuidados necessários por se tratar de uma
senhora com idade avançada e analfabeta – características essas que podem ser facilmente
identificadas pela instituição financeira ao analisar seu documento de identidade. Analfabetismo. Os
analfabetos, em regra, não se encontram impedidos de contratar, necessitando-se, porém, conforme
interpretação analógica do art. 595 do CC/2002, que a contratação seja solene, a fim de resguardar
seus interesses. Preliminar rejeitada, à unanimidade. Apelo desprovido, por maioria” (TJRS, ApCiv
70034243691, 9.ª Câm. Civ., j. 20.10.2010, rel. Des. Marilene Bonzanini, DJ 28.10.2010).

130 Veja caso em que bastou estar acompanhado de alguém alfabetizado: “Apelação cível.
Negócios jurídicos bancários. Ação ordinária. Contrato de empréstimo. Contratante analfabeto.
Nulidade. Inocorrência. O fato de o contratante ser analfabeto não invalida o contrato formalmente
perfeito, mormente quando não há comprovação de que houve vício de consentimento na formação
do pacto, ou de que tenha a instituição financeira se aproveitado da vulnerabilidade do consumidor.
Caso em que o contratante estava acompanhado de pessoa alfabetizada e de sua confiança, que
também assinou o instrumento. O analfabetismo, de per si, não induz à presunção de incapacidade
da pessoa, seja absoluta ou relativa. Precedentes jurisprudenciais. Deram provimento. Unânime”
(TJRS, ApCiv 70050908862, 18.ª Câm. Civ., j. 13.12.2012, rel. Pedro Celso Dal Prá, DJ 19.12.2012).

131 Veja, por exemplo, decisão do TJSP: “A circunstância do tomador do empréstimo ser analfabeto
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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

não invalida o contrato, se suficiente a compreensão da obrigação assumida, nos termos do art. 104
do CC” (TPSP, ApCiv 0000012-55.2010.8.26.0263, 22.ª Câm. de Direito Privado, j. 27.10.2011, rel.
Andrade Marques, DJe 28.102011).

132 E até mesmo crimes de estelionato relacionados ao consumo (TJRS, ApCrim 70029913654, 8.ª
Câm. Crim., j. 09.06.2010, rel. Des. Fabianne Breton Baisch, DJ 28.07.2010).

133 Veja-se como exemplo, a decisão do TJRS: “Apelação cível. Ação declaratória de nulidade de
negócio jurídico. Empréstimo consignado. Indenização. Danos materiais e morais. Presente
verossimilhança nas alegações do autor, pessoa idosa e analfabeta, no sentido de que fora impelido
pelo banco demandado a celebrar contratos de empréstimo consignado sem que tenha efetivamente
intuído contratar os mútuos concedidos pelo demandado. Retorno das partes ao status quo ante.
Devolução, pelo autor, das quantias creditadas na conta corrente. Dever do réu à restituição dos
valores indevidamente descontados no benefício previdenciário do autor. Indenização pelos danos
morais devida. Pedido de redução do quantum indenizatório. Acolhimento. Apelação provida, em
parte” (TJRS, ApCiv 70051039790, 11.ª Câm. Civ., j. 04.09.2013, rel. Des. Bayard Ney de Freitas
Barcellos, DJ 10.09.2013).

134 Veja, por todos, decisão do TJRS: “Apelação cível. Responsabilidade civil. Dano moral.
Propaganda enganosa. Colchão magnético. Propriedades medicinais. Ausência de comprovação.
Rescisão contratual. Dano moral in re ipsa. Caso em que a demandada não logrou comprovar as
propaladas propriedades medicinais do colchão magnético vendido à parte autora – pessoa idosa e
analfabeta – com a promessa de melhorar seu quadro de saúde. Propaganda enganosa que
demonstra violação da boa-fé objetiva, induzindo o consumidor em erro ao adquirir produto que não
se mostra adequado aos fins divulgados, autorizando a rescisão contratual reclamada com o retorno
das partes ao status quo ante. Induzir o consumidor a adquirir determinado produto mediante
publicidade enganosa é situação suficiente para caracterizar danos morais in re ipsa, ou seja, que
decorrem do próprio fato e independe de prova efetiva. Apelo desprovido. Unânime” (TJRS, ApCiv
70052289196, 9.ª Câm. Civ., j. 19.12.2012, rel. Tasso Caubi Soares Delabary, DJ 24.01.2013).

135 Assim decisão do JEC, TJRS: “Rescisão de contrato cumulada com pedido indenizatório.
Contratação de consórcio. Vício de vontade configurado. Pretensão da consumidora de adquirir
máquina de lavar, em prestações. Pessoa idosa e analfabeta. Falha no dever de informação.
Devolução do valor pago. Dano moral não configurado. Mero aborrecimento. Parte autora, ademais,
que não buscou solução administrativa para o impasse. Recurso parcialmente provido” (TJRS
71003175387, 2.ª T. Recursal Cível, Turmas Recursais, j. 06.07.2011, rel. Fernanda Carravetta
Vilande, DJ 11.07.2013).

136 Veja-se, por exemplo, decisão do TJSP: “Apelação. Desconstituição de dívida. Ato nulo. Dano
material. Dano moral. Não pode o analfabeto contratar, senão por meio de procurador constituído.
Tratando-se de pessoa simples, idosa e analfabeta, a eficácia da manifestação de vontade está
sempre sujeita à ciência quanto aos seus efeitos, sob pena de se tornar nulo o ato jurídico. Recurso
Não Provido” (TJSP, ApCiv 0010923-41.2010.8.26.0453, 20.ª Câm. de Direito Privado, j. 18.03.2013,
rel. Maria Lúcia Pizzotti, DJ 27.03.2013).

137 Veja-se, por todos, decisão do TJRS: “Negócios jurídicos bancários. Ação declaratória de
nulidade de contrato de empréstimo c/c devolução em dobro de valores indevidamente descontados
e indenização por danos morais. Mútuo contraído em nome da autora, pessoa idosa e analfabeta,
por quem não detinha poderes para fazê-lo (ex-procuradora constituída apenas para receber os
benefícios previdenciários e requerer a revisão dos mesmos). Desconto das parcelas sobre a pensão
da aposentada. Responsabilidade da instituição financeira pelos danos causados em face de sua
conduta desidiosa. Fato do produto do serviço (art. 14 do CDC). Inversão legal do ônus da prova.
Indemonstrada a culpa exclusiva da autora ou de terceiro. Responsabilidade objetiva. Dano moral
configurado in re ipsa. Montante fixado na origem em patamar que comporta majoração. Juros
moratórios incidentes da data do evento danoso, nos termos da Súmula 54 do STJ. Provida a
apelação adesiva. Negado provimento à apelação principal.” (TJRS, ApCiv 70033070152, 19.ª Câm.
Civ., j. 23.03.2010, rel. Des. Mylene Maria Michel, DJ 01.04.2010)

138 Veja, por todos, decisão do TJRS: “Ação de indenização. Dano material. Repetição simples.
Dano moral. Inexistência. O banco deve ser responsabilizado por conceder indevidamente crédito a
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Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

terceiro que estava na posse do cartão e das senhas do correntista, pessoa idosa e analfabeta.
Responsabilidade objetiva. Análise do caso concreto. Apelação parcialmente provida.” (TJRS, ApCiv
70048281414, 17.ª Câm. Civ., j. 10.05.2012, rel. Des. Elaine Harzheim Macedo, DJ 23.05.2012).

139 Veja-se, por exemplo, decisão do TJRJ: “Agravo de instrumento. Ação de obrigação de fazer
cumulada com indenizatória por danos morais e pedido de tutela antecipada. Autora que apresenta
procuração sem assinatura, tendo lançado mera impressão de digital em instrumento particular de
mandato. Decisão interlocutória na qual a Douta Juíza Singular determinou a regularização da
procuração na forma da lei. Inconformismo da Demandante. Entendimento desta Relatora quanto à
admissibilidade do agravo na sua forma instrumental em virtude da manutenção da decisão
agravada poder ser considerada como circunstância capaz de causar à parte lesão grave e de difícil
reparação. Art. 522 do CPC, modificado pela Lei 11.187/2005. No mérito, esta Relatora compartilha
com o entendimento adotado pela Douta Magistrada a quo, pois somente se torna válida a outorga
de poderes aos patronos de mandatário analfabeto, a procuração quando registrada em instrumento
público, conforme exegese dos arts. 215, § 2.º, do CC e 366 do CPC. Prejudicada a análise da
liminar, pois pendente a regularização processual com forma preestabelecida em lei. Agravo de
instrumento manifestamente improcedente e confrontante com a jurisprudência iterativa do TJRJ.
Recurso a que se nega seguimento, na forma do art. 557, caput, do CPC” (TJRJ, ApCiv
0023923-36.2012.8.19.0000, 20.ª Câm. Civ., j. 29.05.2013, rel. Conceição Mousnier).

140 Veja-se, por todos, decisão do TJRS: “Agravo de instrumento. Negócios jurídicos bancários.
Revisional de contrato. Redução de descontos em folha de pagamento. Vedação de inscrição no rol
de inadimplentes, sob pena de multa diária. Situação especialíssima. Pessoa idosa e analfabeta.
Dúvida quanto à legalidade da avença. Manutenção das medidas. Agravo desprovido” (TJRS, AgIn
70025063215, 1.ª Câm. Especial Cível, j. 29.10.2008, rel. Roberto Carvalho Fraga, DJ 07.01.2009).

141 Veja caso com mandato simples: “Declaratória – Descontos em proventos previdenciários –
Autor analfabeto – Ausência de instrumento público ou procuração pública – Negócio nulo –
Restituição dos valores descontados – Recurso desprovido” (TJSP, ApCiv
0006928-61.2013.8.26.0664, 6.ª Câm. de Direito Privado, j. 06.02.2014, v.u., rel. Des. Fortes
Barbosa).

142 Veja caso com apenas uma testemunha: “Nulidade – Contrato bancário – Empréstimo
consignado em folha de pagamento – Mútuo firmado por pessoa analfabeta, por meio de aposição
de digital, assinado por uma única testemunha, não identificada – Negócio jurídico inválido
Formalidades essenciais desatendidas. Responsabilidade Civil – Danos materiais e morais –
Configuração – Banco requerido que não demonstrou a legitimidade do contrato de empréstimo –
Atitude negligente que causou danos de ordem material e moral à autora, que se viu privada de
numerário descontado indevidamente de sua aposentadoria – Ação procedente Recurso provido”
(TJSP, ApCiv 0003522-33.2009.8.26.0030, 38.ª Câm. de Direito Privado, j. 06.11.2013, m.v., rel.
Des. Spencer Almeida Ferreira);

143 Assim o TJSP: “Ação declaratória de inexistência de relação jurídica e indenização por danos
materiais e morais. Descontos indevidos na aposentadoria recebida pelo autor, relativo a
empréstimos consignados não reconhecidos. A instituição financeira deve arcar com os danos
sofridos pela vítima (descontos do benefício). Recurso do autor pedindo danos morais. Justificável a
compensação pretendida, como forma de amenizar o sofrimento do aposentado com mais de 70
anos de idade, aposentado, analfabeto e com poucas condições financeiras. Danos morais fixados
em R$ 10.000,00. Sentença de procedência em parte Recurso provido.” (ApCiv
0000783-86.2007.8.26.0441, 5.ª Câm. de Direito Privado, j. 08.06.2011, v.u., rel. Des. James Siano).

144 Veja como exemplo no TJSP, na ApCiv 0029029-23.2011.8.26.0451, a decisão da 37.ª Câm. de
Direito Privado, j. 29.01.2013, rel. Des. Carlos Abrão.

145 Voto do TJSP no caso da Ap. 0005830-41.2010.8.26.0407 4 na 10.ª Câm. de Direito Privado, j.
29.04.2014, rel. Des. Elcio Trujillo, cuja ementa é: “Declaratória. Inexigibilidade de débito. Desconto
consignado em benefício previdenciário, Empréstimo pessoal não solicitado pela autora. Inexistência
de relação contratual – Fraude de terceiro. Autora analfabeta. Não observância, pelo credor, de
exigência de procuração pública para a contratação. Não decorrendo a cobrança de engano
justificável, a restituição do valor deve ser em dobro, conforme o art. 42, Parágrafo único do CDC.
Página 31
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

Ausência de cautela da instituição financeira na verificação dos documentos para a concessão do


crédito. Dano moral caracterizado. Indenização. Cabimento. Fixação em R$ 25.000,00 (vinte e cinco
mil reais). Procedência da ação – Sentença reformada – Recurso provido”.

146 Bom exemplo é a decisão do TJMT: “Recurso de Apelação – Ação declaratoria de inexistência
de dívida, exclusão de cadastro restritivo de crédito e indenização por dano moral – Contrato de
cartão de crédito – Analfabeta – Ausência dos documentos pessoais e assinatura a rogo – Faturas
indevidas – Relação Jurídica Inexistente – Dano Moral – Incabível – Outras Anotações Negativas –
Devedor Contumaz – Recurso Parcialmente Provido. Inexistindo nos autos prova da existência da
relação jurídica decorrente de suposto Contrato celebrado entre as partes que motivou incluir o nome
da autora no rol de inadimplentes, pois no pacto consta a digital da parte analfabeta e inexistindo
chancela a seu rogo e cópia de seus documentos pessoais, a responsabilização da ré é medida que
se impõe. Não há que se falar em nexo causal entre o evento danoso e o cadastramento em voga,
quando existe outras anotações negativas que, também, restringiram o crédito da recorrente no
comércio” (TJMT, Ap 33051/2013, 1.ª Câm. Civ., j. 20.08.2013, Dr. Marcos José Martins de Siqueira,
DJE 30.08.2013).

147 Assim decisão do TJMT: “Se, além de evidenciada a verossimilhança das alegações de que o
negócio que se busca rescindir fora entabulado mediante fraude – já que o vendedor e intermediador
do empréstimo consignado junto ao banco financiador fora inclusive denunciado pelo órgão
ministerial por estelionato em continuidade delitiva –, o instrumento contratual não traz a assinatura a
rogo da autora idosa e analfabeta, tal como exigido pelo art. 595 do CPC, há que ser deferido o pleito
antecipatório a fim de se suspender o desconto das parcelas pactuadas em número superior ao
informado à contratante no seu benefício previdenciário mensalmente percebido.” (TJMT, AI,
8258/2013, 2.ª Câm. Cív., j. 19.06.2013, Des. Marilsen Andrade Addario, DJE 08.07.2013).

148 Bom exemplo é a decisão do TJSP: “Declaratória de inexistência de débito c.c. Reparação por
danos morais financiamento de motocicleta abordagem abusiva analfabeto utilização de seus dados
por fraudador. Negativação. 1. Compete à financeira verificar a veracidade da documentação
apresentada quando da contração do empréstimo, comparando as fotografias dos documentos
apresentados com a pessoa que os apresentou, assim como as assinaturas. Não se exige, é fato,
que os funcionários sejam peritos e realizem minuciosas análises, mas impõe-se uma diligência
mínima para que casos como o relatado nestes autos sejam evitados e se tornam inocorrentes; 2. A
fraude no sistema de financiamento é um risco da atividade: se a financeira a coloca no mercado de
consumo e lucra com ela, deve arcar também com o ônus daí decorrente, e não repassá-los à vítima,
em ato de verdadeiro desrespeito, imputando ao mesmo a pecha de mau pagador sem que se
encontre em tal situação; 3. Notícia de que um vendedor da ré compareceu na residência do
consumidor e lhe ofereceu o financiamento de uma motocicleta, que afirma ter sido recusado.
Contudo, diante da insistência do vendedor, acabou assinando um contrato que acreditou ser para o
financiamento de um aparelho de som, surpreendendo-se posteriormente com a chegada, em sua
residência, de um carnê para pagamento de parcelas referentes à aquisição de uma moto, que
jamais lhe foi entregue; 4. Apelante abordado por vendedores na porta de sua própria casa, que
insistiram na realização de um contrato que não era do interesse do recorrente, que acabou
firmando-o por acreditar que se tratava de aquisição de bem diverso. Apesar de tal relato,
verificou-se durante o trâmite que, em verdade, seus documentos e dados pessoais teriam sido
utilizados por terceiro, que realizou um financiamento em seu nome, dando causa à inclusão no rol
de inadimplentes. Recebeu o consumidor cerca de três notificações extrajudiciais de cobrança,
sendo negativado. Sopesando-se todos esses fatos, a indenização deve ser arbitrada em quantia
equivalente a R$ 12.000,00 (doze mil reais), suficiente para reparar o dano causado e impingir o
dever de aprimorar a prestação dos serviços. Recurso Provido” (TJSP, AP
9208779-26.2008.8.26.0000, 20.ª Câm. de Direito Privado, j. 17.02.2014, rel. Des. Maria Lúcia
Pizzotti)

149 No voto da Des. Rosa Nery lê-se: “A autora, analfabeta funcional, conforme descrito na inicial
(…) e declaração de f., compareceu perante a empresa-ré, Konstru Comércio de Motos e Veículos,
com a pretensão de adquirir uma motocicleta, sendo atendida pela funcionária Mônica que lhe
forneceu conforme f., o orçamento com os seguintes dizeres: “Apache 48 X 196,00; Zig 48 X 193,00”.
O documento foi submetido à perícia e conforme laudo apresentado às f., o documento de f. foi
realmente preenchido pela funcionária Mônica; pode ser considerado como uma proposta firmada
pela vendedora; não possuía características de bloco que contenha segunda via; não foram
Página 32
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

encontrados vestígios de adulterações e não havia nada no documento dando a entender pelo
escrito que constava que havia outro valor a acrescentar no preço (…). Ora, se aos olhos de um
expert, como o Sr. Perito, o documento de f. pode ser considerado como uma proposta firmada pela
vendedora, aos olhos de uma pessoa com menos conhecimento não haveria dúvida alguma de que
se tratava do preço total do bem a ser adquirido”.

150 A ementa completa deste caso dos Juizados Especiais é: “Consumidor idoso e analfabeto –
Empréstimo eletrônico consignado não reconhecido – Dever do prestador de serviço bancário de
orientar e de informar – Fato do serviço – Possível participação criminosa de terceiro – Irrelevância –
Responsabilidade objetiva do banco. O banco réu com sua conduta de mal informar e de mal orientar
o consumidor sobre a utilização do cartão e das senhas para empréstimos/saques e seus riscos,
inclusive desconhecendo a sua peculiar situação de idoso e analfabeto, prestou serviço defeituoso e
incidiu em responsabilização objetiva, conforme preceituado no art. 14 do CDC. Direito fundamental
à proteção integral do idoso – Atendimento preferencial e individualizado nas relações de direito
privado – Inteligência do inc. I do Parágrafo único do art. 3.º do Estatuto do Idoso. (…) Dano moral –
Desconto indevido de empréstimo bancário em aposentadoria – Ocorrência. Devido a sua natureza
alimentícia, o desconto indevido na aposentadoria de humilde aposentado não é simples
aborrecimento, mas situação concreta de dano moral que gera evidente insegurança, privações e
desassossego. Situação presumida que independe de qualquer outra prova, caracterizando o dano
moral e a obrigação de indenizar, diante do nexo causal entre o ato comissivo e o dano sofrido”
(JEC/Sapé-PB, Proc. 03520090013844, j. 25.09.2009, Juiz Gustavo Procópio Bandeira de Melo).

151 Veja também ED, 63300/2010, 4.ª Câm. Cív., j. 04.08.2010, Dra. Vandymara g. R. P. Zanolo,
DJE 16.08.2010 e no mesmo tema, TJMT, AI, 10648/2010, 4.ª Câm. Cív., j. 04.08.2010, Dra.
Vandymara g. R. P. Zanolo, DJE 15.09.2010 e AI, 14580/2010, 4.ª Câm. Cív., j. 13.09.2011, Dr.
Antônio Horacio da Silva Neto, DJE 19.09.2011, AI, 30223/2010, 4.ª Câm. Cív., j. 13.09.2011, Dr.
Antônio Horacio da Silva Neto, DJE 19.09.2011.

152 PICOT/GARONNAIRE, op. cit., p. 191 e ss.

153 Veja, por todos, LIMA, Clarissa Costa de. O tratamento do superendividamento e o direito de
recomeçar dos consumidores. São Paulo: Ed. RT, 2014, p. 33 e ss.

154 Veja nossa crítica e o pedido de modificação, MARQUES, Claudia Lima e LIMA, Clarissa Costa
de Lima. Anotação ao PLS 406, de 2013 sobre arbitragem. Revista de Direito do Consumidor. vol.
91. p. 407-416. 2014.

155 Veja LIMA, Clarissa Costa de; BERTONCELLO, Karen. Conciliação aplicada ao
superendividamento: estudo de casos. Revista de Direito do Consumidor. vol. 71. p. 106. São Paulo:
Ed. RT, jul. 2009.

156 Sobre o perigo da arbitragem por equidade em matéria de consumidor, veja SAUMIER,
Geneviève. L’ arbitrage de consommation équitable: option ou illusion? In: LAFOND, Pierre-Claude;
MOORE, Benoît (org.). L’équité au service du consommateur. Québec: Yvon Blais, 2010. p. 111 e ss.

157 Veja MARQUES, Claudia. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 6 ed. São Paulo: Ed.
RT, 2011. p. 96 e ss.

158 Assim a tese que ganhou o Prêmio Georges Rippert, o Prêmio de Tese da Université
Panthéon-Assas (Paris II), o Prêmio da Mairie de Paris e da Association Nationale des Docteurs en
Droit, de GJIDARA, Sophie. L’endettement et le Droit Privé, Paris: LGDJ, 1999. p. 34 e ss.

159 Assim o estudo sobre a decisão (i)racional nas relações de crédito de consumo, de CHARDIN,
Nicole. Le contrat de consommation de crédit et l’autonomie de la volonté. Paris: LGDJ, 1988. p.
166-167.

160 Defende a existência de uma vulnerabilidade especial dos consumidores superendividados,


GJIDARA, Sophie. L’endettement et le Droit Privé. Paris: LGDJ, 1999. p. 36 e 291 e ss.

161 Veja o resumo do artigo de MAGGS, Peter. Abusividade da cláusula de arbitragem no direito
Página 33
Estudo sobre a vulnerabilidade dos analfabetos na
sociedade de consumo:

norte-americano, em especial nos contratos com consumidores, RDC 79. p. 193: “Nos últimos anos,
a arbitragem adquiriu uma reputação muito ruim nos Estados Unidos da América (EUA) devido ao
uso desta por grandes empresas fornecedoras, particularmente de cartões de crédito e de celulares,
como um meio de cobrar dívidas de consumidores e como instrumento de imunidade ou para impedir
a sua responsabilização frente aos clientes. Grupos de consumidores e respeitados acadêmicos têm
fortemente criticado esses usos da arbitragem. Em um esforço de imunizar os seus contratos contra
as regras protetivas ou pró-consumidores dos direitos dos Estados federados nos EUA, grandes
empresas têm inserido mais e mais termos limitadores nas suas cláusulas de arbitragem.
Percebendo isto como uma clara falta de lealdade para com seus consumidores, muitas decisões
das cortes têm julgado termos destas cláusulas abusivos e, portanto, nulas. Nos EUA, uma enorme
quantidade de arbitragens de cartões de crédito é regulada por uma única instituição arbitral, o
chamado ‘Fórum Nacional de Arbitragem’ (NAF-Forum) com fins lucrativos, cujos árbitros quase
sempre decidem os litígios em favor da companhia de cartões de crédito. Em 2009, a
procuradora-geral do estado de Minnesota forçou que esta instituição (NAF-Forum) parasse de fazer
arbitragens de consumo, alegando que a NAF-Forum tinha um dono comum com a maior empresa
de cobranças de dívidas dos EUA e daí tinha falseado sua imparcialidade nestes casos. O artigo
analisa estas cláusulas de arbitragem redigidas visando justamente limitar as responsabilidades dos
fornecedores frente a consumidores e como possivelmente estas cláusulas arbitrais em contratos
internacionais são vulneráveis à alegação de abusividade, segundo a Convenção de Nova York de
1958 para o reconhecimento de sentenças arbitrais”.

162 Veja sobre os escândalos do NAF nos Estados Unidos, MARQUES/LIMA. RDC 91. p. 407 e ss e
o artigo de Peter Mags na RDC.

163 MARQUES, Claudia Lima e MIRAGEM, Bruno. O novo direito privado… cit., p. 17.

164 Voto, p. 7, no REsp 691.738/SC, j. 12.05.2005, rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 26.09.2005.

165 CACOUAULT, Marlaine e OEUVRARD, Françoise. Sociologie de l’education. 3. ed. Paris: ed. La
Dècouverte, 2003. p. 42.

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