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Aula 08 e 09 - Negócio Jurídico Revisado
Aula 08 e 09 - Negócio Jurídico Revisado
e interpretação
Andrea Zanetti
Agenda
• A classificação do negócio jurídico
• Teoria do fato jurídico
• Noção
• Negócio jurídico no Código Civil de 2002
• Art. 112 e 113 do CC
• Alguns princípios aplicáveis a interpretação do negócio
jurídico ( autonomia privada, função social, boa-fé e equilíbrio)
Estrutura geral
• In concreto, negócio jurídico é todo fato jurídico consistente em declaração de vontade, a que o
ordenamento jurídico atribui efeitos designados como queridos, respeitados os pressupostos de
existência, validade e eficácia impostos pela norma jurídica que sobre ele incide.
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Exemplos em outros ordenamentos jurídicos
• Diretrizes da CF/88
• Prevalência dos valores coletivos sobre os individuais
• Prevalência de valores como equidade e boa-fé
• Função social do contrato
Teoria do Negócio Jurídico
TEORIA VOLUNTARISTA (OU DA VONTADE) - Willenstheorie
Savigny, Windscheid, Enneccerus
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Teoria do Negócio Jurídico
TEORIA OBJETIVA (OU DA DECLARAÇÃO DA VONTADE) - Erklärungstheorie
Relatos de Brinz e Thon
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A função hermenêutica da boa-fé
Qual o sentido da boa-fé previsto no art. 113, CC
• Pautado pela perspectiva sentido ético, comportamento esperado e interesse comum das
partes – pode servir como princípio de integração
- relacionado ao conteúdo contratual,
- extensão interpretativa
- sentido da declaração
STJ, REsp n. 715.894/PR, relatora Ministra Nancy Andrighi, Segunda Seção, julgado em 26/4/2006,
DJ de 19/3/2007, p. 284.
• Continua…
Continuação…
• Consideração da real intenção das partes, ao invés dos termos literais do contrato e da boa-fé
objetiva (conduta colaborativa e esperada das partes) artigos 112 e 113 do Código Civil
• Contrato e disposição contida no formulário anexo, apontam o início do contrato em agosto de
2019
• Todavia, consoante as trocas de mensagens entre as partes, durante as tratativas, o
representante da empresa autora solicitou a indicação no contrato que os seus efeitos
retroagiriam a agosto de 2017 e o representante da empresa ré anuiu com o solicitado. A data
de agosto de 2019 se referia apenas à incidência do desconto em nota fiscal.
TJSP; Apelação Cível 1096122-54.2020.8.26.0100; Relator (a): Carlos Dias Motta; Órgão
Julgador: 26ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 40ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 09/12/2021; Data de Registro: 09/12/2021
Continuação…
• Diante disso, reconheceu-se a intenção das partes e não se ateve à literalidade do instrumento
para reconhecer o termo de início do contrato em agosto de 2017 e, consequentemente, o
cumprimento do prazo de vigência de trinta meses.
• Não havendo razão para aplicação de multa contratual por rescisão antecipada do contrato.
Reconhecimento da inexistência de débito.
TJSP; Apelação Cível 1096122-54.2020.8.26.0100; Relator (a): Carlos Dias Motta; Órgão
Julgador: 26ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 40ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 09/12/2021; Data de Registro: 09/12/2021
Negócio jurídico: contrato
A boa-fé objetiva será modulada pelas características do negócio
Apresenta gradações
A interpretação poderá incluir outros dispositivos do CC e mesmo da legislação
especial (poderá ocasionar a revisão contratual, inclusive)
Contratos de Consumo
Contratos existenciais
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A função hermenêutica da boa-fé
• Art. 113,CC. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme
a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Microssistema em que o negócio está inserido Leis especiais (regulamentos específicos, princípios
(especificidades do elemento normativo) específicos do microssistema)
Regime jurídico aplicável (elemento normativo) Lei e princípios, cláusulas gerais e conceitos vagos
para preenchimento, normas de acesso
Leis especiais
STJ, REsp n. 1.692.763/MT, relator Ministro Moura Ribeiro, relatora para acórdão
Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 11/12/2018, DJe de 19/12/2018
Caso (relevância dos princípios – casuística): Contrato de arrendamento rural cuja
cláusula de preço foi fixado em produto (sacas de soja) ou se equivalente em dinheiro.
Estipulação que contraria o art. 18, parágrafo único do Dec. 59.566/66 (o arrendamento
rural deve ser fixado apenas em dinheiro), o que determinaria a nulidade da cláusula e a
impossibilidade de cobrança dos valores na execução proposta.
Todavia, no caso, o que se verificou foi a avença firmada há mais de 16 anos, não
havendo notícia de que o arrendatário tenha apresentado qualquer objeção a cláusula. A
manifestação do arrendatário só se deu nos embargos à execução, aproximadamente
quatro anos após o advento do termo final do contrato. A atitude do arrendatário evidencia
comportamento contraditório, na visão da terceira turma do STJ, contrariando a boa-fé
objetiva prevista no art. 422 do CC (nemo potest venire contra factum proprium).
TJMG - Apelação Cível 1.0000.20.070262-9/001, Relator(a): Des.(a) Mônica
Libânio , 11ª Câmara Cível, julgamento em 08/04/2021, publicação da súmula
em 09/04/2021
Caso: Relação de consumo. Ação revisional de contrato bancário referente a cartão de crédito e sua
vinculação automática a empréstimo consignado. Situação que não evidencia para o consumidor as taxas
aplicáveis em prática que contribui para a superendividamento do consumidor.
* Mitigação da pacta sunt servanda - princípios da boa-fé objetiva, da função social dos contratos e do
dirigismo contratual.
*Revisão que também decorre da boa-fé objetiva - Admite-se a revisão da taxa de juros remuneratórios
quando evidenciada a sua discrepância em relação à média de mercado. Nos termos do art. 6º, III, do
diploma consumerista, é direito básico do consumidor "(...) a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem (...)".
Contexto da Lei de Liberdade Econômica –
Lei 13.874 de 2019
• Função: estabelecer normas de proteção à livre iniciativa e ao livre exercício de atividade
econômica e disposições sobre a atuação do Estado como agente normativo e regulador.
• Introduziu os §§ 1º e 2º do art. 113 – indicação de critérios de interpretação dos negócios jurídicos
em geral já consolidados pela doutrina, jurisprudência (relações empresariais e civis – paritárias).
• Origem da norma – desdobramento da Medida Provisória 881
• Há crítica de linhas doutrinárias
• Estrutura e organiza a temática para a interpretação dos contratos paritários civis e empresariais,
precedidos de negociação
• Necessidade de reflexão e estudo
As alterações da Lei nº 13.874, de 2019
(Lei de Liberdade Econômica)
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua
celebração.
§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que:
I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio;
II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio;
III - corresponder à boa-fé;
IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e
V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das demais disposições do
negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua celebração.
§ 2º As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de integração dos
negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei.
Confirmado pelo comportamento das partes após a celebração (I)
Obs. Tal aspecto não se restringe aos contratos civis e empresariais e nem
limita, na linha interpretativa da boa-fé objetiva outros efeitos que a conduta das
partes pode criar a exemplo da supressio e surrectio, tu quoque, entre outros.
Corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de
negócio (II)
i. Usos conceito aberto. Sentido possível, entre outros, prática habitual das partes relacionadas
ao negócio
- Na dúvida, interpreta-se de forma menos onerosa para o devedor (in dubiis quod minimum est
sequimur);
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TJRJ, Vigésima quinta Câmara Cível, Apel. 0208730-81.2018.8.19.0001 - Des(a). Rel,.
WERSON FRANCO PEREIRA RÊGO, Julgamento: 30/03/2022. www.tjrj.jus.br
CASO: Ação de indenização por danos materiais pela supressão do tempo contratualmente previsto de
afretamento de dois navios-sonda, destinados ao uso de empresa especializada em exploração e extração
de petróleo no Rio de Janeiro. Contrato com sucessivas prorrogações e, no último aditivo, foi exigido que
a empresa, proprietária dos navios e sonda, realizasse altos investimentos (US$ 880.000.000,00)
destinados às adaptações especiais para a empresa exploradora de petróleo, com o compromisso da
continuidade do contrato por tempo determinado. A docagem para as adaptações superou a previsão de
150 dias (que não seriam computados para o prazo de afretamento), o que não obstou a continuidade da
relação contratual, pois a empresa ré utilizou os navios por aproximadamente dois anos, quando resiliu
unilateralmente o contrato com a supressão de parte do prazo de afretamento previsto no contrato. (TJRJ,
Vigésima quinta Câmara Cível, Apel. 0208730-81.2018.8.19.0001 - Des(a). REl,. WERSON FRANCO
PEREIRA RÊGO, Julgamento: 30/03/2022. www.stj.jus.br
Fundamentação (TJRJ, Vigésima quinta Câmara Cível, Apel. 0208730-81.2018.8.19.000)