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"Q trabalho doméstico é muito mais do que limpar a casa. E servir aos assalariados, fisica, emocional e se- xualmente, para que estejam prontos para trabalhar dia apés dia. E a educagio e 0 cuidado dos nossos filhos ~ os futuros trabalhadores - cuidando deles desde o dia do seu nascimento e durante os seus anos de escolaridade, assegurando que também eles ajam da forma esperada pelo capitalismo. Isto significa que por detris de cada fébrica, de cada escola, escritério ‘ou mina esta escondido o trabalho de milhdes de mu- Iheres que consumiram as suas vidas, o seu trabalho, produzindo a forca de trabalho que esta empregada nessas fabricas, escolas, escritérios ou minas". Suuvia Fenentct & Nicoui Cox UTA yh HERES CONTRA-ATACANDO. DESDE A COZINHA SALARIOS PARA O TRABALHO DOMESTICO: UMA PERSPECTIVA SOBRE 0 CAPITAL E A ESQUERDA | CONTRA-ATACANDO ban PARA 0 TRABALHO 3 PERSPECTIVA SOBRE O CAPITAL EA ESQUERDA | SIVIA EDERICL & NICOLE COX CJERRA SEM Q\MdS TERRA SEM AMOS EITORA TERRA SEM AMOS renee veo ree cbskcom/oxlins Trreinaprenconlenelsor Teele. 2b. bac aie i ge len ar Sade ge olan re cer ah Co “ied Ca lif Rc Rg a AP ee te Dace Roc ag aha IMB ios INTERMCIOWAS BE CATHLOGACIO mA IBLICGHO (CP) me. SUMARIO CONTRA-ATACANDO DESDE ACOZINHA. 05 'NOS OFERECEM “DESENVOLVIMENTO” ‘UM NOVO CAMPO DE BATALMA [TRABALHO INVISBILIZADO AINOSSA FALTA DE SALARIO COMO DISCIPLINA AGLORIFICAGKO Da FAMILIA DIFERENTES MERCADOS DE TRABALAIO EXIGENCIAS SALARIAIS (QUE PAGUE © carrTAL ‘OCAPITALE AESQUERDA ‘Asa VELHA HISTORIA "Mons cuINEs” 06: 08 10 4 16 8 20 2 27 28 3 sede esi eo Fes artigos foram originalment exritas em rept a ato, = Micadona rvs Liberation, inttalado "Women & Poy for Howse work”, de Carol Lopate Noss rexosta foi recwsada plo edioes da ‘sa, Edam pbliando ea repsta porque o artigo de Lapate parece ofrmar com mar caren creldadendo apenas ores asta fundamentas da esqurda, mas também sua rela pec ‘como movimento feminiia internacional nse momenta, Acre ‘entamor que, com a publicagao deste dois etigos,ndo estamos brindo un debate tril com a exquerda;etamox encerranda um. sekosesdeaeicieak CONTRA-ATACANDO DESDE A COLINHA Desde os tempos de Mary, ficou claro que os satis sio a ferramenta através da qualo capital overnae se desenvolve, ou seja, que a base da sociedade capitalist tem sido a implemen- tag dos salétios ea exploraciodirea das e dos erabalhadores. (que nunca ficou claro e mio se assumiu plas organizacbes do ‘movimento operitio é que foi precisamente através dos saliios aque se orquestrou a organizagio da exploagio dos trabulhado- tes nio asalariados. Eva explorasio revelow-se ainda mais ef cz porque a fala de remuneracio a oculta: no que diz respeito 4s mulheres, abalho realizado po elas aparece como um se ‘igo pessoal albeio ao capital [Nio coinedéncia que nos iltimos meses vriaspublicages de esquerda tenham propagado ataques contra acampana Sa- litios par o Trabalho Doméstco. Sempre que o movimento fe sministatomou uma posigo autSnoma, a esquerda se seni traf da, A esquerda sabe que esta postura tem implicagSes que vio slém da “questi das mulheres e representa uma ruptura com. TTB i tae "Wome and te Smee fhe Comey Da uch he Reo nen te urna Conmnty Stalag Wi oe 1978 pS suas polltcas passadas e presents, tanto em relasio is mulhe- es comoem relagio a resto da assetrabalhadora. Naverdade, ‘secariso ques esquenda tem tradicionalmente demonstrado em relagio as luasfeministas€ uma consequéncia da sua inter pretagi reducionsta do alcance e dot mecanismos necesttiot para ofitnclonamento do capitalism bem eomada dreczo que ‘lua de classes deve omar para romper este dominio, Em nome da“Tuta de classes" edo “intereste unit da cas: se ttabalhadora, a exquerda sempre selecionou certo setores da classe rabalhadora como sujitos revoluconérios e condenow ‘outros am papel meramentesolidiso nas ura que eses seo res eaizavam, Assim, a esquerda reproduziu em seus objetivos ‘organizacionais e estraégicos as mesmas dvisées de classe que caracterizam a dviso capitalista do trabalho. A este respeito,¢ apesar da vaiedade de posigbs tiicas, a esquerda permaneceu ‘estacegicamente unida. Quando se trata de decidir que assun- ts sdo revolucionirios, stalinisas, trotskistas, anareo-lberté- ios, antiga e nova esquerda, todos eles se unem sob as mesmas afirmagSes e argumentos para a.causacomum, NOS OFERECEM “DESENVOLVIMENTO” Desde 0 momento em que 2 esquerda aceitou os saléios como lina diviséria entre trabalho ¢ nio trabalho, produgio e parastismo, poder potencial impoténcia, a imensa quantida- de de tabalho que as mulheres realizam em casa para o capital escapou is suas anliseseestratégias. De Lénin a Juliet Mitchel, ceque nosso problema équeo capital fathou em sua tencativa de sleangar nossas cozinhas e quartos, com a dupla consequéncia de que presumivelmence permanecemos em um estado feudal, pré-capitalista,e que nada do que fizermos nos quarts ou cozi- ‘has ¢ relevane para a mudangz social, Obviamente, se nossas corimhas esti fora da estrutura capitalist, nossa lta para des- ‘rutlas nea tiunfas, provocando assim a queda do capita Mas, ‘euma questi que a esquerda nunca enfrenta, sempre cerca da cionalidade eincapacidade do capital de planejr.Ironicamen te, tranferia sua ignordncia da relagioespecifica das mulheres pars o capital, para tma teoria segundo a qual o subdesenvoli- ‘mento politico das mulheres s6 se’ ulrapassado através danos- saentrada na fibrica Assim, algica de uma anise entrada na ‘opressio dar mulheres como reslkado da suaexchusio das rela bes capitalstas resulta inevtavelmente numa estatégia dest nada atomnar-nos parte dessas relagSes endo para destrutas, [Neste sentido, hi ur vinculo dreto entre aestratéyia dese hadi pela exquerda para as mulheres ea projerada para o"Ter- ceiro Mundo", Assim como querem introdurir 2s malheres nas {Abricas, querem trazer as fibreas para o“Terceiro Mundo’. Em ambos oe casos, aeaquerdapressupSe que os subdesenvalvidos” ~aguees de nés que no recebem saliriose que trabalham em tum nivel cecnol6gico pouco desenvolvdo ~ esto atrasados em telagio& “clase trabalhadora rea” e que s6 podemas consequi- “To através da obtengio de um tipo mais avangado de explor2- ‘capitalist, um pedago maior do bolo do tabalho fabri i {mbas as stuagbes alta oferecida pela esquerda 205 nao ass latiados, aos “subdesenvolvides’, ndo a rebelio conta o capi- tal, mas a lua por el, por um capitalismo mais raionalizado, desenvlvidoe produto, Quanto a nés,ndo s6 nos oferecem 0 “dizeto ao trabalho" (este €oferecido a todos os rabalhadores), mas também nos oferecem oditeitoa trabalhar mas, odireitoa sermos mais exploradas. UMNOVOCAMPODEBATALHA base politica do movimento Salitis para o Trabalho Do- méstic é a rejegio desta ideologia capitalsta que equpara 2 falta de alizios eo aixo desenvalvimento tecnolégico a arraso politico e falta de capacidade¢,finalment, proclama a neces- Sidade imperioss do capital como uma condicio bisica para a nossa onganizacio. £ uma recusa em aceitaro pressuposto de (que ta vez que somos trabalhadoresnio asslariados ou que trabalhamos com menos desenvolvimento tecnlégico (amas as condigbes estio intimamente ligadas), 25 nossa necessda ‘des dever ser diferentes das do resto da classe trabalhadora. Repudiamos que, enquanto os operiios do setor automobi- listce de Detroit possam se rebelar contr orakalbona linha de rmontager, ns, das cozinhas das metrdpoles ou das cozinhas © campos do “Tereiro Mundo’, deveros procurar tabalhar em sama fibrica, quando entre of trabalhadores de todo o mundo 4 tejeigfo a este tipo de trabalho aumenta cada vez mais. Nos- ‘shostildade esta deologia esquerdista €2 mesma que temos contra a suposigio de que o desenvolvimento captalista € um ‘amino de iberasSo 0, mais espeifcamente,supSe nossa re- jeigda do capitalism em qualquer forma que assum. Inerentea festa eeigd ests uma redefinigo do que €o capitalismo equer formaa classe rabalhadora~ int uma reavaliagio das forgas¢ necessidades de classe. Porestarazi,acampanha Saris para oTrabalho Doméstico nfo apenas mais uma demanda entre muita, mas uma postura politics que abre um novo campo de haala, que comesa com at mulheres, vlida para toda alasserabalhadora. preciso es salar ato ji que oredacionismo que se faz da campankaSalitios para o Trabalho Domésico a uma mera demanda 6 um elemento ‘comum noe ataques ques esquetdalancasobre2eampanka como forma de desacreditéaeque permiceque seuscriicosevtemen- frentar os diferentes confits politicos que ela revel © artigo de Lopate, Women and Pay for Housework, € wm cexemplo claro desta tendénca. |& no tte, “Pay for House ‘work, problema é flseado,alegando que um slério ndo 60 ‘mesmo que receber um sari, o slirioé zexpressio da relagio de poder entre ocapizal ea dassetrabalhadora. Uma forma mais sutil de desacredrar a campanka € 0 argumento de que essa petepectva foi importada da Ilia e tem poucarelevanca para a ituagSo not EUA, onde as mulheres “rabalham”. Este € outro ‘exemplo clarode desinformacio. The Power of Women andthe Sub- version of the Community ~Gniea fonteeitada por Lopate ~ reco- ‘hece a dimensio internacional do contexto no qual se origina ‘eampanha Salirioe para o Trabalho Doméstico. Em todo 0 cas, ttagar a origem geogrfica da SpTD 6 desnecessirio nesta fase da integragfo internacional do capital O que importa 6a génese politica, esta 6a recusa em assumir a exploragio como taba tho, ea recusa em se rebelat apenas contra aqulo que implica ‘um slrio, Em nosso caso, supbeo fim da dvisio entre “‘mulhe- res trabalhadoras e “mulheres ndo cabalhadoras”(é que apenas donas de casa, divsio que implica que o trabalho nfo {ssilarindo no € trabalho, que o trabalho domésico no €tra- balho«, paradovalmente, quea causa dofato de que nos Estados ‘Unidos a maioria das mulheres rabalhae lua de faroé que mui- tae tdm um engundoemprego, Nao resonhecero trabalho que as ‘TSG Tee We ap art 1975. MASTR i Sec Sane apm ence NF ee Sp ASRS Sens aoa eee mulheres fazem em cass é set cego a0 trabalho es urs de ua ‘maloriaesmagadora da populagio mundial nfo remunerada. & Jgnorar que o capital nos EUA foi constru sobre o trabalho cexcravo eo trabalho astalariadoe qu, até hoje, crescegragas 20 trabalho negro de milhdes de mulheres e homens nos campos, cozinhas e prises dos EUA edo mundo, ‘TRABALHO INVISIBILIZADO Parsindo da nossa condigio enquanto mulheres, sabemos ‘que dia de trabalho que realizamos par ocapital no setaduz hecessariamente num cheque, que no comesa acaba nas por- ‘a das fbrica,¢ assim redescobrimos a narureza ea extensio 4o proprio trabalho doméstice. Porque assim que olhamos as, ‘melas que remendamose as refeigSes que preparamos,obser- ‘vamos que, embora nfo ge traduzam em saldro para nés, nio produzimos nada mais que o produto mais precoso que eames ne eae pitalismo. sto significa que por detris de cada fibrica, de cada tscols, escritério ou mina esti escondido o trabalho de miles de mulheres que consumiram a suas vidas, o seu trabalho, ro- Adusindo a forga de trabalho que etd empregada nesasfibricas, scolas, crcrisvios ou minas! fed ar ore aa mae ae eae tn a lat deme ore © “desenvolvidos” como nos isponiblidade de uma forga _Tares da produgio capitalista, & de trabalho esivee bem disiplinada é uma condigioessencial para a produgéo, em qualguer fase do desenvolvimento capita lista condigées em que nosso trabalho é realizado variam de pais para pals. Em alguns pases somos forgadas a produzir in tensivamente criangas, em outtos somos obrigadasando nose produit, especialmente se somos negras ou se vivemos de pro- fgramas focais ou se cendemos a reproduir “desordeiros. Em alguns patss, produzimos mo-de-obrando qualificada para. os ‘campos, em outros, trabahadores etéenicos qualificados. Mas fem todo o mundo o noseo trabalho nio remunerado ea fungio que desempenamos para capital a mesma. Arranjar um segundo emprego nunca nos libertou do prime 10,0 duplo emprego s6 fez com que as mulheres tivessem ain- dda menos tempo eenergia para lutar contra ambos, além disso, ‘uma mulher que ttabala em tempo integral em casa ou fora de casa, casada ou nio, em de dedicar horas de trabalho para reproduzir a sua propria frga de trabalho, eas mulheres estio ‘bem cientes da titania desta tatefa, pois um vest bonito ou sum bom corte de eabelo slo condicbesindispensives, quer no mercado do caramento quer no mercado de trabalho assalara- do, paraobtero empregoalmefado. PortodasesasrazSer, davidamos quetos Estados Unidos as ‘escolas,jardins de infanca, pré-esclas,e2telviso tenham as- szumid grande pacte da responsabiidade das mies na socibili- dadede seus iho” que “a diminuigio do tamanho dascasasea nye mantém ocupada, usando e consertando apaelhos... que eor- ‘camente foram projetados com a ideia de poupar seu tempo”. -Ascrechesejardins denna nunca nos deram tempolivee, mas liberaram parte do nosso tempo para mais trabalho adi ‘onal. Quando se trata de tecnologia, é nos EUA que podemos medir oabismo entre a tecnologia socalmente disponivel e 2 tecnologia que entra em nossas cozinhas. Eneste caso, também, a notsa condicio de trabalhadoras ndo assalariadas que de termina a quantidade e a qualidade da teenologia que obeemes. coc teacltapaptr 380, situaglo nos ini ‘quenem 3 tecnologia nem um segundo emprego liberam as malheres do trabalho doméstico,e que produit um trabalhador qualificado ‘nio€um fardo menos pesado que produzir um trabalhador nfo qalificado, pois no é ente esses dois destinos que as mulhe- esse recusam a cabalhar gratuitamente, sea qual for nivel ‘ecnolégico em que ese trabalho € realizado, mas em viver para produzit, independentemente do tipo especfco de filhos que

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