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E- 3, Enfim,a teoria do ficcional 1, JEREMY BENTHAM: UMA INOPORTUNA EPISTEMOLOGIA O capitulo precedente tratou do estatuto precario da ficgao entrea Oasis, passando pelo esquecimento que durante séculos se abateu sobre Aristés joa cuja excepcionalidade era vista por uma pequena ponta, a subordinaio Posticaa retérica,eos séculosdecristianismo,com uma breve referénciaan® do xviii e comecos do xIx. ee Eevidente que a expressio “estatuto precério” nao implica q'® a obras criadas sob ela, deixassem de estar algumas obras-primas. PE ‘corleagdo que as envolvia,cuja falta, ademais, era tanto MENS dos Guento uma obra reconhecida como a Eneida atuara pela denes al ape os sentidt dos proc . . . « apemos:sihee Procedimentos quea especificariam como épica. Reitere™ vii? Snstotclica—esquecidae depois“cooptada” ya rellexiodes A", poor Jegou desi ‘erada tu deslza sobre as propriedades da arte verbal, considera” reetes€ eonvertendo-as em sinonimo de técnica ret0 | ; . ew gator naxima que sintetizava a diregao. O aid eens pobre de delectare era ay quanto a herang 4 Brega ia elagio Poetas Brega de que se nutria, e em relag »€subtetuda fee udo fecundo em obras elogiientes—C& As 1972): —cemtratad sobre aelogiiencia (cf, Kennedy, Ge! 260 so€sabido,a propria Poétieg con “once java da Fics (Plasma), 0 que nog fous? POU tiny 6s 8 pensar sobre sua rela, fa quandg'¥em a, a8 atransformam em maximas Pet poraie OMhecé ae do postico na retérica, Essq Subordinags , Sep Lesa vey cristianismo manterd a ficcao, terg cons, alncin i a Upto pate Aprecaiedade do estudo do Fecional rsa Py sido Renascimentoem que &retovicidgy Betas meen yas objegdes do cristianismo, se Mesclava a vonta ds condor converter 0 Estado em obra de arte (Burckhardt), mae 7 i s, escultores, mi era otiveis de pintores, mUsicos e, em menor 5c, de poetas « prosadores. Como nao tenho o Propésito de me deter no Renascimeny imento, bast US tratados — dentra 72) acrescentar que tao-s6 a imensa quantidade de se insistencia, desde Leon Batista Alberti (1404-: (1505(?)-71], em acentuar a relagao do “Discorsi dell’ del delaa arte poética e in particolare Sopra il Torquato Tasso, mostram que os poet ‘ensto entre a pratica da arte e o pensar tame no final do diltimo item do cap ‘emidade do ficcional era mantida aii ora nos concentra: Bentham, Poema eroico” (1537 logos e poetas do tempo reconece mento hostil quea citcundava. Alema's tulo anterior, insinuamos que as inda na abertura do século vi, Pp Ma exce¢do que apresentard uma parte do pens Jetemy Bentham (1748-1 832) serd o cometa que rasgari por @escuridag Que envolvia o ficcional. Mas, como seo proprio objeto de vu ' wo ‘Ventual indagacao estivesse ac -ostumado as trevas, elas volta fons me Eventual indagasao Porque o propssito bio de it co send apr onder path ii ze ~ manitico que o problema da ig eto suis sin FS ci etia-sea situacio que Kantorowicz nos tornot i s =! ots cram levados por sua propria pritica @ levanlar wt ‘truid, nn ethan . i pia, E verdade que Onsggg Pel Fetsrica € pela teologia. E verd fa i e as dime Pagmgi tS We eles tiravam, masa reduzit en anciadest ; : é i: seqiienei € eng He éasuamatriz, Noentanto,acons *supreendente: Apalavra dircitoéo nomedeentidade fi CaS UM daguel S disposicoes, todas gj, 0! ye Com isso, também ity 35 Sig is #0 0 que entende por Tingy Matican, canal pelo qual a matéria do mundo chega a mente hy ager, mana ny um espelho do mundo: “Bentham acteditava que s lingueea ficgdes para que permanecesse linguagem, i, © que seria ig lingage espa arealidade”(Ogden,C.K spc, gee A Porgueainguagem combina percepsioeativasiodas aed: : conseqiténcia,asentidades ficticias sio aquelas.as Guais €atribuidaexisin, , forca do discurso, ainda que al atribuicao nao decorra dg verdadee dares (in truth and reality ib 12). linguagem, por consewints ae entendida como uma simples mediadora para se tornar engendradora;ning ilusdes, mas, antes delas, de...ficgdes, infere que “faculdades, poderes da mente, todas sio entidades ficticias” (ib.), Bentham formula com mais precis MPOssiye Mais, Ey Aparandoa ousadia que cometia em definira entidade ficticia em opin 4 real, sem por isso lhe emprestar a conotacao negativa usual, Bentham Screscenta que a entidade ficticia depende da relagtio que mantém comali=: entidade real (ib., 12). Por isso ela pode ser de Primeiro ou de segundo grau.De Primeiro grau éa que deriva da telacdo imediata com uma entidade real. sit por exemplo, og - ; est) ou ao dizermos de um corpo que est4 em descanso (at res movimento, qualificamos Seu estado como ficticio de primeiro grav: pein F ' ite, is908 Diz-se de um corpo estar em movimento. Considerado literalme is esse corpo mis a dizer: eis um corpo mais amplo,chamado movimento; nese 0"? i i ic Ib. 13) © outro corpo, i.e.,0 corpo realmente existente, esté contido. ( ai it gse real’ ( Pois “de cada entidade ficticia deve-se falar como se fo eoott™® Concebe-seo corpo ficticio como seele fosse“um poste” (asta ah ( sul a poster" oo “mo) um animal que lhe estivesse atado”(ib.,ib). Em owt mee 4 ; pene algo esté em movimento ou estatico supde estados depe” jo é um ort mentalmente Concebidas. A entidade ficticia ja nao éum f jo nos com Poderiamos tratar ou nao; a0 contrario, sem ela ndo no 264, a « ifit were real. O que equivale inda a al se propriedesperccidas Dorinda vine “lee mentalmente realizada,estabelecidaa pattinde an ne yaa entidade ficticia de segundo gray sipdea “n Corpo; este Gitte oprimeiro.Desse modo, ao tefeti-searapidezoulentdnn ey jamin corpoem movimento (bs 14). A qualidade em soa i jesegundo grate ‘i? ‘ida : jh engaia pavidade do que affemava parece pro quiidades seriam ficticios de segundo grau? ods ‘ar uma diivida: Had ual : sade movimento, retlinearidade,curvilinearidade,lentidio, saldades que io qualidades de entidades eis hi qualidades que si es das mencionadas entidadesfcticias de primeiro gra Por exemp rapidez, ete (Ib, 14 Porém, Bentham nao leva a questao adiante. Nao seriam ficticios de pri- grauas sensa¢Oes advindas dos érgaos dos sentidos, como as sensacdes de 7 gstoe olfato? Como nao pretendo esmiugar sua teoria, descarto a diivida dante-se apenas que a diferenciagao dos modos de qualidade nao afetaria seu axabougo, se se despreza a conseqiiéncia de estendé-la além do humano. £ sida, por exemplo, a agudeza do olfato dos caes. Derivariam dai duas conseqiéncias: a partir da afirmagao de que a capacidade de linguagem — de ssabelecer relagdes — € bastante pequena entre os outros animais, seria ‘sitive queas dimensdes da realidade sao maioresentre elesdo queno homers {hd também entre eles um certo grau de ficticio, s6 que bastante reduzido. “tiporlevar a questdo a esse nivel especulativo que Bentham prefere dear a : a Ou assim o faz porque ela obrigaria a dedugio a tomar unt Contrariaria sua geometria mais elementat? 8 consideracies precedentes, embora nao tenham passilo das pritnsits Feinas da Thy i of Fictions, sao suficient ermos sua formulayio ital: yop cientes para entendermos sua foun; ita. Aingsogem, a aes im jo kn to Melt sua impossivel, mas indispensivel existent (1 lan tenet Sie Peuge ‘lone — itis, that fictitious entities owe their es" Yet indi "dispensable, existence]. (Ib. 15)] 4 * é entidadesficticiasdevent Portanto—apenasalinguagem—equeasentida their impos sas condigdes para a Esti, portanto, dada Admissa, a introdugao, implica © do ¢ aredy, a de subs = Na to ‘4o, lugar, 'eMPo, situa 4 Ho entidades icticias (ep 0 io é empreo mesmo, Assim, a quantidade é ficticig Por eit € se . . > ry “sem alguma substancia de que é a quantidade” (ib,, 19). va de fiegao necessdria, Su ristotclicas. Com excegao da categori as aristotelicas. chama catego eier0. antes —quantidade, qualidade, rela es — gu restant ; ee focgao (paixao ou sofrimento) afecg’ lugar: © ugar pode er consderada com absolut ou relativo, Suponjg 7 . iste " BATS est sera, absolto;o lugar relativo nao o seria de modo algum, Supora ae TOS duis a teria da por ele em relacsg uma tinica substancia, essa substincia estaria em algum lu; tancias — entao, em adicao a seu lugar absoluto, cada substanci; relativo, um lugar constituido pela posicao ocupa (ib,,20) Um lupay 20 04 Em relacao a categoria de lugar, a de tempo teria uma di: complicada, porque é “uma Ficgao ainda mais ficticia, substancial em que se apoiar sendo a Ficcao de lugar” (ib, ib, E,refinands | formulasao anterior, chega a distinguir “matéria” de “substancia”, tomandos primeira também como entidade ficticia: Sposiczo mai nao tendo nada ms Apalavra substinciaé 0 nome de uma classe de entidades reais, da tnica dase quaisquer entidades corpéreas tém em si. — A palavra matérianao ésenioo: ~~ de uma classe de entidades ficticias, originando-se da espécie de ents distinguide pela palavra substancia, (Ib,24) . . sa substi Ouainda, empre, salt feceptéculosa matéria, uma entidade ficticia, referida uma entidade real contida rcuitoscom que as deducoe: © briniro consiste em op ‘ealidade— da relacdo, estah & sintetizado pela imagem continente € um contetido - il, : ‘gando uma analogia que lhe sera muito ut nose como dos ry 5). Aqui o& . naquele receptéculo” (ib., 24-5). AW emt nerarem s de Bentham operam parecem e i a 2 da linguage!™ — y oF aquilo que independe da lingt8° : : sagem. Ose belecida por meio da linguage™: =. dell . e se poe 4 “ do receptéculo: aquilo que s¢ F ficticits : je He mental, portanto uma entidad 266 ew = ,acomocntidade real eda matériacom ficticia éderivad éderivada ane : ‘stined Jpviamente, a distingdo se indispoe contra o primeir gubs! oF yito. Mase vel que Bent! manter a substancia na posi¢io de entidade real seria ham tenha sido levadlo a0 deslize por pressio d —naor 30808 , : . deentidade ficticia —, 0 que, provavelmente, era demasiado para s dor inglés da época. | sano em desenvolver ob pos meu propio apenas . ti more! ns ane que Bena abi, ales possa eto melhor por a j a moguectentoss o que se impo wage™ seen? Pon entre Pa am. a substancia seria 0 que est absolutamente ai 0 que nte sem qualquer. ajuda da linguagem. Portanto, aquilo que mais elementar que fosse seu rudimento de linguagem, indida, a substancia seria um corpo (!) a que nao 3e sina. Qual era sua demanda sendo captar, pelo exame e absolutamente, sem a interferéncia de qualquer rénteses a objegao hé pouco formulada e me igo: PO Benth snail PSE je animal, pot eceria. Assim ente wea uma maréria. Pela lin} procura determinar 0 que éeal «io do pensamento carece dealgo mais 1 opera sem ficgdes necessarias. Ba ficgao, pi Aquisurgeo problema em queme detenho:como conciliae chamar uma entidade de real s9éi econhi et guagem 0s corpos se véem como matéria. Bentham satualiza pede ni diferencia o homem.. sidéiade Deus com sua teorizacao? Por principio, ou ficicia nao suporia nenhuma hierarquiza¢ao, em que 0 primeiro lugar coubesse & primeira, No era essa auséncia de hierarquia que 0 levava ase sunrapor a séculos de reflexdo e a problematizar a propria tradigdo emptets Porque entio nao 4,4 queentio no admitir que Deus é uma entidade ficticia e inverter a fe" hecivel por toda por sie msi, para entio precisar que que anatureza;o que valedizer yor conseguinte, que ta? ane subst ne Cat eee matéria—aquela seria a icticiaeestaa recor! ado 7 a tada de rgaos dos sentidos? Entretanto Bentham nao se atreve 20 we pate ceria exigi enti a exigido por sua propria teorizagio: pexdem,com propriedale, eus, sdo nomes de Autor 2 Cia Ser em dor —somente estas, e naoaa palavra casts \pregac Badas ao falar-se de Deus. Aqueles, assim como D atid Ades reais e na . me ‘omens, io nomes de entidades ficticias: Autor, um nome SPS Ou, jderado como SUSstV *spsiocc Be cons Aivel aos a de . an palavra, a qualquer ser cons! rt in ayaa de Jot, um termo exclusivamente apropriaco part 2 fMNS idera do em referéncia as suas obras. (Ib..44) EE —™ 0 oposto ao que fora usual, i.e, 1, Pelo caminh a teny impreanfiidadedcum micleo fccono diving, oy, pe hy, pedranocaminho par adeterminagdo do estatuto da flecionatg : Mrearenontaem Benham histricamenteespicsvelengig Ong de sua questo. Mais vale, portanto, nos determos nas linhas ae ren . contrais de sua reflexai Sigg 1 Rel apenas aguilo ave se imp Be POF S646, nde, linguagem, esté af tanto para o homem como para os outros animais, ‘A sna nao s6 torna a linguagem independente da percepcao estritamente fa. a : i que, por extensao, equivaleria a refutar qualquer tipo de determinism, : Oma casio de qualquer fendmeno — como ainda admite, 0 que ele.» a ” . be . » eso ny explicit, que a propria percepsa0 é “contaminada” pelas entidades (Camo cogitar de uma percepco em que nao entre a relagio com forma, pois também a forma é uma entidade ficticia?); 2. Nao sendo movido por um propésito especulativo, mas, a0 cons mantendo-se igado ao empirismo, a meta primaéria de Bentham eradising tic 8500; 6 ficticio do fabuloso. E aqui o autor toca, se bem que de passagem, no que mis nos importa: As Ficgdes do poeta, seja sob o carater de fabulista histérico, seja sob o defiul dramético, submetendo ou nao as palavras de seu discurso a forma métrcas? puras de insinceridade (are pure of insincerity), e, nem por seu objeto, net" efeito, nao visam senao a divertir (to. amuse), exceto em alguns casos e™ neni a excitar para a¢ao—para acto nesta ou naquela diregao particulaso" aquela finalidade. No sacerdote ow no advogado, qualquer quesejs2!™""" a Ficcdo € empregada, tem por seu objeto ou efeito, ou ambos engano, governar [..). (Ib, 18) O ficticio fabuloso distingue-se da ficcao necessiria. Aquele we Aites0es 0 fabuloso enganador e o pure on insincerity do poet" ‘endo divertit. Ao contrério de Iser, nao vejo claro se Bentham ait 20 Poste quando sua obra prvilegia certa diregao ou fim (cf. Ise W" | 0 (Tudo dependerd se o excitar para a agdo 0 mantiver dU Seerdote ou do advoga Em suma, o prim Z F jo declarae ido, o que é plausivel, mas nao declar , a fics a Jo pele neiro resgate epistemolégico dé 268 - —— _ gireta Pa ° eatabeleclmento do estatuto da fi no jnocente que 0 poeta propiciaria ainda mant wet! a poricio. Fosse 2 wan ge aprofundar 0 exam = aque? pequena significagao da anilise de Benthay 1 rullade sta oPGi0 Por uraandisepuramentelégco tings £ A rerroceder a Bentham a critica que K, Stierle faz as tentativas con- sli wrineas 2 definir 0 estatuto dos textos ficcionais Por critério semelhante a K.:2001, 426).' De qualquer modo, sua anélise Tepresentou um i significativo quanto @ maneira como 0 pensamento ocidental pro- a desde aAntigiidade. Sem diivida, a ficgao se afirma como uma moda- jgate do Uso da linguagem. Dat a coe caracterizado como um modo jjcusivo Masaanilse lingistica ou ogico-ingtistica nao basta sequer para sapreensdo do discurso, porquanto ‘a designacao ficcional sempre fala, ao reso tempo, da auséncia (Abwesentheit) daquilo que presentitica (gegen- sinig macht) como qualidade, representabilidade e finalidade. A fictitious airy move-se, portanto, entre o pensamento e a coisa, que, malgrado toda a CFd0 poética. O ém Bentham na le, haveria de se M para o que aqui polaridade, tém algo em comum: suprimir a certeza do conhecimento (der Gewifheit des Wissens entzogen zu sein)” (Iser, W.: 1991, 224). Essa supressio da ceteza tem conseqiiéncias diversas conforme o discurso que se focalize. Aqui, vimos seu efeito em relacdo a histéria, de acordo com a posicao ultimamente ‘Ssumida por R. Koselleck (cf. Segao 1, cap. 11, # 2). Poder-se-ia haver explorado “Aoonseqiiéncia quanto a outra forma discursiva, que, ao lado da arte, lida Snailusio: o discurso religioso. Em sua falta, baste assinalar que, na mo- (alidade ‘slamico-crista, ele “resolve” sua dificuldade do modo mais direto e na fecundo: pela afirmagdo do dogma. “Credo quia absurdum."Naficsio aa 0 tratar “da auséncia daquilo que presentifica’ fe a we alg 7 que se va além do “canal” que 0 cxprime. es sess i poe eté-lo a uma aporia que nao & a sua: a aporia da ve ; von CO se acerca da verdade nao por se manter proximo Ga relies Por i [Sst by, Ott al. Por certo, nada disso ana 'minhos para o que esta sob ela: 0 re: . bag, Bitagies 1m as chicanas nos tribunis ele. cont le Bentham, preocupado co! ia ° i ¢ e impedia ao Pavan 2 que devemos haver se rompido a interdigio que to aproxi Proximar-se da ficcionalidade. 269 E~= AntINGER: A FILOSOPTA DO COMO Sx 2. HANS Vi © item anterior teve como objeto os textos de Jeremy Benth ex por C-K. Ogden € publicados exatamente umn am doautor. Tendoantesse responsabilizado pela tra, sci (1y, ingen, editado em 1925, 0 mesmo Ogden a ham, escritos entre 1813 e 1815, continua. alemao sessenta anos depois cf. Ogden,c. go ha sua primeira versdo de Die Philosophie, - pela primeira ¥ depoisdamorte capital de Hans Vail fragmentos de Bent mhecidos pelo filésofo quando Vaihinger compun! comelaalcangando sua Habilitation, em 1877. Considerando-se que Bentham e Vaihinger pertenciam a tradicies in tuais distintas, pareceré apenas ocasional o realce comum do questionan Se wo do fieional. A medida, porém, que aprofundans eum a que Bentham se manteve fils ay Weey de 32, Asc, epistemol6 verificamos nosso erro. O empirismo, pressupunha o ceticismo de Hume; assim como 0 utilitarismo, em que Vaihings integrava seu autodesignado “positivismo critico’, supunha o conbecimensi Kant. O paralelismo por certo nao é perfeito: Hume esté bem mais distanei Bentham do que Kant estivera de Vaihinger, que considera sua énfase na como passo diante do qual Kant recuara. Contudo, a quantidade deauiosss que Vaihinger se apdia na corroboragao de sua tese — familiares apens especialistas na filosofia da ciéncia do século xix — parece incicar legitimacao das ciéncias era com freqiiénci: ecg obsessiva sobre o estatuto de suas afirmacoes. Lembre-se 0 papel au¥° pro Hume tvera sobre Kant, oceticismo do pensador escocés servind esl paraa resposta contida na Primeira Critica. ‘a acompanhada pela P eI ii eg Ale ana Este magro preambulo visa a acentuar que, entre a Inglaterrae* M i ; A vid? atiaent ae Hum vd Conte rel! Kant iene de fnaisdo sculoxvt,opensamento da modernidadese deb sistematica do que o Ocidente tomara majoritariamente como € a urgencia de operar uma “revolucao copernicana” (Kant). an epist8mica que os a priori transcendentais ¢ ee osautores referidos por Vail! a ; , que tampouco Ihe escapa, que pretende estremece! royale do mestre de Konigsberg. ape tne enredo, Wolfgang Iser oferece 4 nvolver. Refiro-me a passagem em 4" o verdad yn aque chave ach \ 270 ham, 2 yalorizagao das ficgdes eo reconhecimento d do sujeito ode Bom a post oncebl 10: or mente? ic? " é «, », cate ocomega do seeulo 4 ‘vontade” éa marca do sujeito, que valiacom que valia como geterminasae caracteristica, procede que a propria realidade fosse cad sedosui vise cada ver sa didn a parti do suit (et W: 1991217) mais pai resultavam conseqiténcias, entre as quais destaco “a revogacio do & epistemoligico” €@ afirmagao de “que a realidade agora deve ser ndida como processo de realizacao, cujos produtos seriam antes segiencias da ado do que discernimentos cognitivos (Einsichten der Er tres, Wz id., 218). 0 tealce do sujeito psicologicamente orientado destaque da vontade, em detrimento da concepgao de verdade 0 reconhecimento da maravilhosa maquina do mundo de que o homem apenas ocupava Wma infima parte. A vontade, por sua vez, acentuava que sua atuacdo combinava as real entities com o uso de entidades ficticias. No produto efetua-se uma certaarticulagao.“A articulagdo quese forma na pois se origina da elaboragio (Verarbeitung) do W.:ib., 219).A vontade é um ponto de pas- as as ficticias, seni)” ( conduzita a0 com asim composto, ‘obra’ nao é nenhum fantasma, queindepende da vontade” (Iser, sagem, que, ao se defrontar com as “entidades reais” e combiné-1 atinge um resultado dependente de “interesses € exigéncias’. O realce do ficcional, que nem em Bentham nem em int, secumpre por um desvio que, destacando, ao contrar Osueito empirico, dava condigdes para quea fiegio traba Seuostracismo, eae 0 proprio ser conecte sua reflex dseniolimeets essa, conseqdencia parece bastante i “igo geral” cana operat em Vaihinger, pensar s “ an Peturbado 5 e ‘0s tomava_ Por; weed (Iser, W.:ib. 46). ume e Kant ha es Sono dogmatico” que embalara ess identid li Modificar no momento historico em que * ‘YVaihinger tem a ver coma questo da jo da Primeira Crit hada na arte saisse de jo sobre Benthamcomague 88 plausivel. Mesto @ iberam da*supers lade, Seu postulade ja exiggncia dee Macao, Pag meta & rts” W. op,, 247). A partir desse instante feainhg ot Secu xix a Fcgao ji ni podeser encarala oni tema ‘ jo couneg eapge £1080 de que afilosofia procurara se desert SIS oni a eget da Precarj ariedade a que o pensamento pre a Oe —_— scamente, assim sucede desde © momento em We se ing “ an lag, precisam ever fa nismost cognitivos humanoseseverifica quea mentehuman io, Mt, canismoscog u " as nhs. oriso Vathingerafimava que a “Filosofia dg cn re-conhecet. mm (cur Geltung bringt) esse Kant radical” (1913, xxx), de queo ara Proptig trés Criticas se desviara. Daf nao se poderia dizer de Kant 9 We Vaihin “Nosso objeto éaatividadeficticia da funcao kgica Berg SPHOdutosy. Ato e sipropr atividade sioaas ficgdes” (Vaihinger, H.: op. cit., 18), oy 2.1.O mundo real em Vaihinger Dissemosa propésito de Bentham que a plena realidade. era, paracle,on s¢ punha inquestionavelmente diante do homems 0 que indepencia de, opera¢ao mental; os corpos. A estreiteza da marca de tealidade sem divids facilitava a identificacao das fictitious entities, Algo de semelhante sucedeen Vaihinger: a realidade se empobrece para que ressalte 0 como se |-.] 0 imaginério (0 abstrato, o ideal) justifica-se apesar de sua ireaidale Sa ¢sse imaginério, nem a ciéncia nem a vida sao possiveis, na forma mssat.4 \t2pédiada vida est{ mesmo em que os conceitos mais valiosos,vstoss0bPt* Aarealidade (realitergenommen),carecem devalor[..| Osideaisniosioti® Setiam caso fossem realizveis ou se tivessem sido realizados em alguns mundo; 20 contrério, sao. ficgdes. (Vaihinger, H.: 1913, 61,67) we Resulta daf sua nitida diferenca com a base da ética kantians: -anaconsit moss terminologia,o verdadeiro Principio da ticakantianseo ye i e apse ao (Sitlichkei) propriamente dita existe apenas quando s¢ 0", fundam fc apotéticos "nto fcticio; mas todos os seus fundamentos hipotet i , .e Ae tecompens, punigao et, destroem seu carter ti senosso dever fos “0 elC.etc.(Id,,68) talida come eri jl asses Se Imposto por Deus, como se devésse™ eh y *C10 Por substitu am deve! id i r ee i fundamen bstituir a transformagao da liberdade fant to oe Wereconheceficticio,a gtica deVaihinger éidén 272 — os faz jmediatamente a seguir, que a converse ¢ sof ‘ ; come” causal Ihe emprestard um carter ignébil — «ioc imo se transmuda em porque, aca eum juiza éticerem i Masa objegao quelhe fazemosnao é | Taalogives 4.0 carster da pur de peso. ética ka internalizar 0 ¢ ihingeraliberada acu cops ideal © 0 ideal nO se integra a reldade A facia, m, ade com que Aoriginalidade se restrin a.Alémdom, por haver vivido em um tempo muito menos im supostos religiosos. De qualquer maneira, 4 eticidade : ntiananio | vente ctiticada pelo jovem Hegel por nm "usta : ativeiro, ¢ jot PY gaa ser literalmente imposto? Va feet ones SAG 07 a ética oi antapenasindica queéum pensador uj ‘ic Kanto queele proprio ndose permitr aorecide ages e Pres uissériaa “ : ailidade das ficgdes, entao nos perguntariamos por que uma explicacio causal seria a eticidade de uma ago? Hé que se supor que-a explicacio causal em- prsariaalguma utilidade a0 ato cometido, Deveremos, portanto,concluirque sutilidade pragmatica af teria o carater de um utilitarismo banal? Ao fazé-lo, contudo, haveriamos de reclamar do autor que distinguisse entre o utilitarismo actitavel e o desprezivel —o que em nenhum instante ele realiza. Asemelhanga do que fizemosa propésito de Bentham, nosso propdsito nio ésubmeter A filosofia do como sea uma indagacao detalhada, Limitamo-nos a acentuar que sua declarada radicalidade se restringe a estreitar 0 miicleo da reidade e, em consequiéncia, a abrir o espaco para que se instalem as intimeras ®pécies de ficgdo, Em troca, fixemos melhor o que Vaihinger considera “rea lade”, aira ais, Vaihinger fora Pregnado de pres- €ssa nao seria a objecio 0 sistematizador do Als ob. Ela seria outra: como Vaihinger insiste na entao, como define o ficcional. O inicio da citagao serve precisamente Htorentio Paradistinguir este daquela; sua continuagao, para formularo que oa ‘mava dea realidade derradeira” (das letzte Wirkliche): “ic «. lo do mundo. fccioda“coisaem si seria [..]omaisgeniainstrumentod cktlodo mun Ass : . asque cilia '™ Como se introduzem, na matemtica ena mecinica,conceitosque fii ater soda “coisa emsi,tomad0 como fa, assim tambémo faz Kant como conceito da “coisa emtst toms qiecy, calidade : : cali esponde oy de nossa organiza m isso, todo o mundo dar “m 4 i i", sensag nce alével;abolem-se depoiso“eu” eacoisuemsi’ est cco © Teal vista, a sucessiid ¢ a C0eNt Sensacs [...] Para 0 nosso ponto de vista, obj S400 real derradeiro (das letzte Wirkliche), aque se acrescente eta “suite. (Ib, 119, grifo meu) Para maior clareza, ten! mosaindacm conta pass absoluto € uma versio metafisica do infinite Maten objetos e coisas em si ECM ag niticn, () mundo em coisas em = suits ee (ton) da qual todasas outras dependem” (ib, 14) 5 4 Em, mundo se reduz a sucesso (0 movimento) ¢ as Sensaga, Sages aay : d Key, psiguios” ib. 115). Ao contrétio deBentham, para Vaihinge © de on portanto, estados psiquicos. Mas estes se reduzem ag ctnonlie material subjtivo. Toda claborasto propriamente mentaljg gs Urfiktion. Afirmé-lo obviamente jé ndo significa, como se yen séculos, dar condigdes a que se confundisse aficgdo com o fly» Pe tan Ihanga de Bentham, ao estreitamento do que se identifica como rela responde a necessidade humana (e cientifica) das ficcoes. Como ley : ; instrumens, auxiliares a0 entendimento da realidade (e, acrescentemos, a seu dominio, ) as provoca: “um mundo de complexos fisicos © um ma, "© Mun, tind ficgdes sao ferramentas com que nos aproximamos dasucessaoe dacoerisins, POF exemplo,’yu5¢ impossivel expressar a sucessio que observamos sem a interferéncia dy pensamento discursivo; consider4-lo, porém, como expressao do real éun ponto de vista antiquado” (ib., 97). Outras ficgdes tém um mecanismo mis complicado. Assim sucede coma fic¢ao da liberdade e seu uso no direte. Pom lado, 0 conceito “nao s6 contradiz.a realidade observada, em que tudo sere, conforme leis imutaveis, como se contradiz a si mesma, pois uma sie absolutamente livre e aleatéria, que assim resulta de nada, é eticamente tose valor quanto uma agdo absolutamente necesséria’ (ib. 59). Por oxo contudo, sem a ficgao da liberdade todo o direito penal moderno aa fundamento, pois sem aquela admissao [i.e daliberdadel,apens PO" sefeaseria do ponto de vista ético,impensivel pois mesmos pens, de uma medida de adverténcia, com o fim de prevenir os outros conttas do crime” (ib, ib.) Os dois exemplos parecem levar a resultados divergen'e® 9? Ciscursivo” € uma fiogdo indispensavel, mesmo porgue tous Provas € compreensoes (sogennante Beweisen und seg ot ‘autologias” (ib, 51), Seria a liberdade uma ficcao do mest sandob. das sucessoes. Elas sao titeis e mesmo indispensdveis. Assim, said abe" : - ‘perdade set" em, qual a diferenca com a admissao da liberdade splot ayico Aagrantecontradicao,é indispensdvel contra o uso tautolO8! 274 La pele nao funcion riamel A questao ainda mais 5 , re ais se comp ot Se agem que fanciona como definigioda ea a elca con 59 ass C640 stricto sensir ntido estrito do termo, as ficgdes Propriamente di ose , No 1 (Vorstellungsgebilde) que nao s6 contradizey esentaga . « sedesviam, como se contradizem em si mesmas ( Ja poise si). (Ib. 24) 8s Si0 constructies de "Ma realidade dada,i.e. POF ex.,0.conceita de atomo, portanto, diferenga entre o uso do pensamento discursi quea condenagao € admissvel porque o individuo deagir bem ou mal menor que sua concordancia.E V0 €a pressupo- m pauta tinha a eral a a estaseencerrana Amaia sio fees ttls,Portanto, 0 critério de utildade enio ode contre i gigoservird para distinguir as ficgdes. Aficcdo é sempre uma ferramenta subjetiva ou um “andaime do pen- canento” (Denkgeriist)(ib., 99), havendo de se separar aquelas que hio de ser demmontadas, quando j4 ndo se mostrem necessérias, das que hio de ser mantidas porque, de sua contradicao, dependem instituigdes que quetemos manter. 0 caso da ficgdo da liberdade, e nao sé no direito penal, como “fundamento necessario da ética” (ib., 64). Pois, se sua perduragao depende de que mantenham sua utilidade, as ficcdes derivam do papel que assume a analogia: “O real (das Wirkliche) & pensado e deve ser pensado segundo a analogia com relagées humanas e subjetivas. Todo conhecimento, se nio apenas ode Comprova a sucesso e a coexisténcia factuais, s6 pode ser analdgico” (ib., 42). "uivalea dizer: a analogia nao é tio-s6 um dos meios do aparato logico bumano, masa propria base com que opera a fungao légica. O pensamento nio “poe danobreza a que costumamos associé-lo. Ele “um mecanismo, uma Auina, um instrumento a servigo da vida (ib. 7), cujo curso segue outro sninho do que o do acontecimento objetivo [Das subjektve Denn mac Emandere Wege als das objektive Geschehen (ib. 11)]. Por isso, tampouce ‘cay 1 « constituem as ‘i am do circuito do ficcional os conceitos, que apenas constituem a "Fes 50) “que o pensamento Sap, ara eins dues SmMnemotécnicos do puras ficgdes somatorias, Cpa 9uma . ip HC, 53) Mat6rias”; io, por isso,“construgdesartificais’ ie, expressbesent caracteristicas pri de fendmenos é agrupada, segundo suas caracter’stcs P _— cl estejamos en . os preocupadas que este} mos em uma aPresentagag y amaneiracomo temos conduzido esse com alo, len| comosey va i é ri danga que se opera entre finais do século xix ¢ oe aheng Por men Afilosofiadoc ilustrativo da mu . i eat do icons corre 00 de et nut com Yi, Psd feito, sua procura de responder fosse & inflagao metafisica, com 4 ia, rc entre sere pensar, diante da qual o proprio Kant teria cedido, fosse sos rc, precera averse edwido 3 mera distin’ ene do ao movimento dos corpos € a coexisténcia das sense sujeitas a uma classificagao infindavel [c. “Autry eng uy epistel — limita criagdes ficcionais, Frntitong der wissenschaflichen Fiktionen” (Enumeragioe divi dc a ar, “i nae 7 _ entifcas) (b.,25-123)]-A critica seria injusta se n0 se levasse em co SS a distingao entre ficg0 ¢ hipotese: ‘Ahipétese visa, sem excegao, a estatuir um real; mesmo que nao estejamos zind, certos e seguros sobre a existéncia factual do que supomos hipotetiamen, esperamos que um dia 0 suposto seja validado. (Ib., 144) Embora Vaihinger assim ndo a chame, a hipétese é a ficcao iti po exceléncia. A ela se recorre como uma trilha que leva a realidade. A fiego¢ smo tal, a realidade é incognosciv!e Jo uma ficgao (cientificalé ito. Assim 0 Goethe des Urtier),constuc® iocil partite pelo qual raciocinava como se todos os animais dele descendessem™ - ie io heutisti necesséria, incessante e varidvel porque, co} 1nosso conhecimento sempre parcial. Por isso, quand desfeita por outra, expoe-se como andaime a ser desfeit ensaios cientificosintroduzira a no¢ao de animal originario( Darwin, o constructo goethiano assume o carter de uma fice preparara ocaminho para ahipstese da evolucao (cf.cap-X8b 456), Amudanga de estatuto entre fcgao heuristicaehipoteseen"™ ideia de gradagao das ficgdes.Como meioauxiliar paraum conhes iment" plenamente alcangado, a ficgio poe-se entreo dogma ca hipotes fi adistingaoseja pensada por Vaihinger sob o prisma da constt¥s* Prunes wancende oslimites iniciais, O dogma ume fc? lidade para os gue Homo dirt W. sero dogma crs re tir aa tee 7 ips crdem porque ‘a idéia (Vorsetuns &* “ hinges éumafigao. 6).Ahipstese, ao contririo, come i que procura ser confirmada pelos dads tuagao coe 276 oes sm A filosfia do comose,por conse Afi a06 ser ‘Como scu autor esté fundament mpreurn sagem almente interessado na “ger sua aca sobrea fi od ificos . ; Aaficcao postica. Se "ie ; a ica. Se (sc pasta por siemPODTECiT€ para que por mig te : Jahip6tese, dela melhor nosacerquemos fast ae ‘ : im pecimento, a hipotese éum instrumento de dominio, E gone wee no critico” exaltava a fungao de utilid: ivi “siti 5 0 passages fine pelo que nao é: nem Petes mascainho qu pode serviraumou aout 1 teoria nao se propde dizer n, Polo da ene jvaniseoP entode af pos Por isso que lade do priprio pensamento, a ficgao, em Vaihinger, entao se de ‘ova de que sua teoria continha uma riqueza que o propri¢ como Pr “ i" ne > opeceber, sua teoria da gradagio entre odogina — feo quese i * nae i pneaidade—2e520 ropramentedtacomo mes dlcamine oi sbipstese — ponte para 0 conhecimento a ser desdobrado em técnica de sanipulagao da realidade — permitira a Wolfgang Iser um salto que serd deci- sjoparaasua propria teoria do ficcional, agora centrado na ficgio do postico: ‘Uma representagao (Vorstellung), que carece de correspondéncia com arealidade, Janegagio daquilo que caracteriza o dogma eahip6tese como representagdes Felahip6tes, traca-se uma linha divisria entre a representagio ea realidade, nesmo que sob a reserva de verificar a hipétese como uma correspondéncia corrta; na ficgo essa separacdo se instala na propria representacao, Tal fissura (Spaltung) no ato e no contetido significa que o ato de constituigdo da repre- seatao éfundamentalmente vazio, com o que se mostra um aspecto da represen tigdo que falta igualmente no dogma e na hipétese. Portanto, 0 ato vario de "presentacdo torna-se apreensivel como um suplemento (Hinzugedachte) « ioe F , er conte ‘io existe por si e que, em conseqiiéncia, pode-se articular a qualquer cone lancia com Fossive, pois esse suplemento nao é determinado por uma correspond ‘relidade, (ser, W.: 1991, 241-2) eflerdes de } do ponto de vista da ficgao postica, 0 exame das reflexo ¥ Poprias POULO Vaihinger apresenta um resuiltado paradoxal:se elas props PS amentais paraa grande ainda a este En sum: a otha ‘ Pia di ze . , "age gan &Pécie podtca, foram contuo fun clo nena wt Sigg “#0 Poética que o século Xx afinal produ. Cab Seg tAt Como Das Fikti ecomne Pod 10 Das Fiktive und das Imaginirec ico, rtea lacuna quale no vazio, come categort conti : dana argumentagao dos dois autor — cionalidade literdria. (Apenas p, : ara i fic au arutiva d eee , . conti « abservo que 0 PrOpTlo fato de que Bentham Sigg . endidos, obs rio fato de que Sn entendides 1 indispensavel trata da fiesa0 postica decor, thingy! considerasse™ ae on 0.) jncompreens pM INSTANTE COM WOLFGANG ISER 3. UM INSTA Oque hoje ‘entendemos por estudos literdrios, abrangendo ac koa 7 passando por certos autores, até generos, tem ier de obras pontuais, : = is -ercossnunca se aracterizou por seu caréter eminentement hs excegdes sempre foram raras. A Retérica, quer ada Antigtidade, — As rescente no Renascimento e no Barroco, tinha um propésito desc miximo cssfiat6ro. Entendida como a dscriminasio do madusdiang oradon entre os latinos a retércaprivilegiavaas formas de controvésin, quais se exercia a persuasio. Daf a catalogacao das figuras da linguagem ey, divisio em invencio, disposigdo, elocugao, meméria, pronunciacao ou (Quintiliano: Instit.orat. ut, 11, 1). Descritiva, taxin6mica, ressaltando a om cy mentacao do dizer, o exemplo que os renascentistas absorveriam mantinhauna cuidadosa distancia da especulagao filoséfica, mesmo que fosse da flosos pratica dos estdicos e epicuristas. A situagao ndo mudaria drasticamente com o desenvolvimento, ms tempos modernos, da filologia e, a partir do século xix, com sua progress substituicao pela lingifstica, Pela énfase no estudo da lingua e das litera nacionais — que especificava o trabalho do fildlogo e que, pelo destst*™ autenticagao dos documentos, tornava sua disciplina particularme™* Portante para o historiador do século xix —, a filologia mantinhase'“# Gialista distante do modo de indagagao do filésofo. jn O peso dessa tradigdo far-se-ia sentir na hermenéutica roman" partir de Schleiermacher, a Preocupacdo coma intencionalidade oo ra? Poi aliviar sua forca. Contra isso, aun Lie ost 'ehtimidadedotrabatho intelectual Giéncia da natureza, a ; ev (1852-1933) -A prépria filosofia, como vimos pelo exe™? “nee i g-1857) 8 Proxima da melhor 0 seria pelo de Auguste Comte (1798 we Positividade cientifica, como se, de caminho re al que entretanto, se indispunh ni pa secumpriadeacordo comosP® sins! 278 ai ouvesse 8 cOmveHiO em UM cr ge a filosofia . 7 Penas daria soot Mencia as descobertas pontuais dos centsay, ty que ain cons ‘nti i cay or. Sot co! ppermencutica & pratica filologica viesse a dar lugar, no sécul M0 século x4, 0 ; po oranda (a estilistica de Karl Voslere Leo Spite j0 ; yet spank ise, por estes, chegandoa América Latina. Vari e a ina rica a est vaa f ; yee agem com a hermenéutica daintencionalidade ay os ain i tava, em autores como Damaso Alonso, a Atencio as ditas peculia esc ia “enna 0s primeiros ivrosem alern io é ukles Di Seee und die Formen (1911) e Die TheaidesRomansi92, eG! 2 pcaaplosensaios de todaavidade Wale Benjaminepelaobrade fonmerel a . ‘Alembranga acima se impos para destacarse a singularidade da obra de Vilfanglser.Nao hd novidade em assinalé-la, Emadendoa traducio basilica dansenha que dedicara a Der Akt des Lesens. Theoriestheicher Wirkung, Hans Uh Gumbrecht acentuava a “complexidade e precsdo do pensamento do autor, incomuns para os tebricos da literatura” (Gumbrecht, H.U: 2002, 2, 1007, sgifomeu). Vale acentud-lo nao s6 para que se atente para estilo mental de Iser como porque aqui nao se consideraré sendo uma pequena parte do seu Das ltiveund das Imagindire. Perspektiven literarischer Anthropologie! O cunho singularmente reflexivo de toda a obra de Wolfgang Iser se manifesta desde o Primeiro texto seu que se tornou conhecido, “Die Appells- ‘ruktur der Texte” (“A estrutura apelativa do texto” (1970). Se o livro de 1991 ‘ntroduz uma Perspectiva antropolégico-filoscfica € por expandir a preo “pacio com o fictici ‘into a assinal any . nb. la Como ter Condicdes de melhor especificar sua particularidade. Ambus o wonPenesesbocadas . emete 3 a Porém, veremos que a reflexao do autor se anuplia ¢ remete 40 “Ho Plano, veiog Propagada a oP ; iu iantebrandada istica combinava a tradicdo retorica a diferenciagao d, 10 das toralaquese js.’ Por isso a estranheza que cercao: lax io além do quadro das obras literdrias. Ao assim fazer, Vi lar que a ficcionalidade poética responde a uma demand wis mA estrutura apelativa’, Acompanhando seu desert , ressaltados nos livros imediatosao ensto de 1970. te polog! 110 imponhs 8° WUE Permitiré que a posterior abordagem antropol i no um, he s precedentes pode ser "Sumidg gn 2Sltta descontinuidade com suas oris prec enaturit Ela é ™ uma afirmaga iterat 3 a ficgao nao é exc Jusividade dali 9J4 nas primei como ye o saruside win MO tion 2S primeiras paginas, Como “se descteve 0 st 71970, 231), A respest Seoautornaaberturado# | (Ise W.: 19/0251). 401 E-_ fiato — Loe] Diferencia-se de todos aqueles Pos d dada de ime n oucomunicam um objeto que possui uma existe, Nei representam do texto” objeto. Oras partilhamda mesma propre | Stings peta ins’ i €“adquirem a determinacio de seu objetvg amma hcenvlvida pelo texto” did). "Nao admira que eses textos °c fgdes, pois a fig & wma forma sem realidade” (id, i, a ei ficgao, portanto, se estende além da literatura, esta, no entanto, one) Ss porque nao contém “normas de conduta obrigatérias” (id,,ib,), di Em uma mesma pagina, surgem dois elementos de direcioname, : aafirmagdo que estende a ficgao a um certo tipo de texto junds dis, A primeira afirmacao, embora Panza, a polaridade permanece em autores Patece ee Contréio da fala voltada para a realcale, ™PO verbal do pretérito — ¢ Paul de Mat ~ sitio po texto i ~ a ancoraget do de 281 onalnarealidadepormeiodareferencialdadee uma gy, cio ; fic ening platénico. a 7 king Aposigiode lserse diferencia das posigoes de Benthameysin : . ins Ihes outra orientagao, e da inflagao recente do Panficcional, cay, t pensadores, seu ponto de partida consiste em qWestionar a ope 26d, realidade e ficcao. Ela se inicia com a pergunta: “Sag os tie co realmente tao ficticios e aqueles que nao se podem assim, Aesctever fc isentos de fiegdes?”[Iser, Ws: 1991, 18 (13)]. A interrogacig eae " maneira dominante de pensar-se 0 problema. Contra ela, oa Meena is . Utor 5, dicotomia “realidade/ficgao” pela triade “real —ficticio— imagingsee ] 0 texto ficcional se relaciona com a realidade sem se ©Sgotar em sy, desrigioentaoa repeticao ( Wiederholung) €um ato de fing, pelo qual aparece finalidades que nao pertencem realidade repetida. Se o fingienio édeduiyi, realidade repetida, entdo por ele se impOe um imagindrio, que se telacionacoay realidade que volta com o texto. Ganha assim o ato de fingir sua marca pip, consistente em provocar a repeti¢ao, no texto, da realidade vivida (lebensweise Realitit),por tal repetico conquistando o imaginério umaconfiguragao,peaqid a realidade repetida se transforma em signo e o imagindrio em efeito (Vor barkeit) do assim designado. [Iser, W.: 1991, 20 (14)] i ; . . 0 Esvara-se,em consegtiéncia, a tao debatida questo do reso ional literério i ‘ ica, panels fccional terrioincorpora ainda que de maneira veld ou esotrin 1” da realidade, Nao o define o grau em que o faz. Ao caracterizé-lo por ied i s—atit confundimos a ficcao com a fantasia e,a seguir, ou a desprezamos ve i i j realista —> sei? PO" realist — ou a valorizamos — atitude do anti-realista me jetividadedita cri ‘ He ull resatamosasubjtividade ditacriadora sejaocontritio, pore" tal fantasia se apropria do nicleo duro da realidade, O realismo cae Ponto de referéncia em torno do qual giram as opgoes ideologic™ e " Iulao humano sofreoefeto dolugarfisicoe social em que €co”™ “oe oso do lugar em expresso ideoégica significa abstrair-6 ax coisa mais sobre o objeto de que se esteja tratando. E isso porte ‘an iw que dele se ofereca seria aceita ou recusada em decorséncis © ves ; reli eogiaquea preside. Em suma, a qualificag’? 3 . oa “elistaenclousuraintérpreteeleitor ein amma posigao previam™ no yet te 282, et go odopio reiterador da posicio ideolégica, a trig jim inesperado trajeto: 8 medida que o ato de f dade, sem que sua finalidade seja esgotar-seem s para transgrediro principio da realidade: le exposta por poe’ oc ; gir repete uma ye real clade ts propre Ua apresentacao, dade repetida no fingir se converte em signo, entio forcosamente ocorre a reali i Se Iberschreiten) de sua determinacio; gma transpressio (Ober Oato defingir é portanto, i rangressao de limits (Grenziberschritung), ser, Wei, 2 (1) que significa de fevectiates a trangressdo senao que o ficticio tem uma dine nsio pragmitica propria, distinta da pragmatica dos outros discursos? No diea-dia, quando cumprimento alguém, o que transmito se resume a comu- sicara0 outro que ele nao me é estranho ou, de acordo com o tipo de cumpri- panto, qual nosso grau de familiaridade. Na fic¢do, o mesmo cumprimento se spmpria—repete —e transgride o ritual do cotidiano, dando-Ihe outra funcio; yorexemplo, fazer com que o cumprimentado se pergunte que significa 0 amprimento recebido de tal pessoa. A formulacdo do cumprimento é estrita- nentea mesma, A ela, contudo, se abre um horizonte de possibilidades, que dsaparece ante 0 automatismo que cerca a interagao didria. $6 0 desen- ‘uhimento da situacao ficcional poderd dizer o que significa que tal personagem ‘sha saudado tal outro; se ele €/ndo é uma ago parasitéria, i.e, idéntica ao que Drdcia se dar na realidade, Se o parasitério se estende por todo o texto eis urn “loque,ndo cumprindo sua potencialidade, se nega a simesmo. “a Sntanto,apotencialidade do ficticio: supoe uma segunda oe itodereee ordinaria, 0 imaginario é “difuso, informe, fluido e sn : : Kerosene (i..21 (14) Bsa lider no éagora menos oa vs See fingitoimagingrioga nha uma determina uence Ana defn Mods Adquire um atributo de realidad; poissds ce "eloadg fe Minima do real” [ib., 22 (15)]- Em sumaya dupla tansy ‘rel rapt defingirmptca a simultnes“ineaiasio rete ee meng ‘"erden) do imaginério” [ib., 23 (150)]. A primeira é i — “trim t& Utilizando-se o exemplo dado ha pouco: iresliza se rim, va a : 9 recorte de "aceng 4 2 20 desautomatizar-se stia fungio convencional. Ou¢ on cena ae coticia a irrealica. I "pease Mada, agora integrada em umrasitayao eto ; sua atuagie ° do imaginétio exige um pouco mais de ateuga Et 7 a J 2 “natural oimaginsri Go reinoda fantasia difuso,como fg, ' luo, ba ‘ PFA Clog, 4 i lk MOvimentg alivre associagao, sendo tao casual quanto o vento que 5 soprar, Ao ser transgredido, 0 imagindrio abre-se para , aodairrealizagio da realidade:a determinagao queempre ton ee S120 temati, Mri apartncideeldade Asitsequelser dt retiramerececonyiy ng , a particular: Aten Como iresizagio do real etornar-se eal do imaginsto,o ato deg ingle cig in limite og, do 2) possbilitam a compreensio de um mundo reformulado, 3) experimentacao de tal acontecimento. [Ib., 23 (15-6)] pressuposto central que declara em que medida as transgressies Zidas) oferecem (abgeben)acondisaopparaareformulagaodomundogs fj Magy, Periten Tomada ao pé da letra, a primeira conseqiiéncia parece conceder ficgiy um papel que s6 muito excepcionalmente ela cumpre: provocara reformulagip do mundo, Poder-se-ia contestar que nenhum pensamento, e nao sa fein tem por si condigao de efetuar uma reformulagao do mundo. Nao forames romances e ensaios de Rousseau que provocaram 1789, mas simplesmente set estimuloa um estado de revolta que fermentava havia anos e por diversastaties Mas a objecao parte de um equivoco: 0 autor no pensa em uma reformulio Pritica ¢ efetiva do mundo, Nao esquegamos que a ficgZo tem uma pragmit propria. Ela exige de seu receptor a capacidade de romper com osautomatisn ue presidem as interagdes cotidianas e, simultaneamente, fuxo 48" fantasia, Para que essa pragmética especifica se acerque da prag™t comanda nossa rela¢o com a realidade ser preciso que a reformula!? i deixe de parecer uma extravagancia, um rufdo que perturba as cons oo automatizadas. Ie. se faca verossimil.’ Costumo a respeito lembrat oS de Friedrich Schlegel: oniti® ca tan < ignitic Conforme 0 uso corrompido da linguagem, verossimil signi = ror i pode s f° ‘uase verdadeiro ou um pouco verdadero ou o que ainda P yw ‘i desig deiro. Mas, de acordo com sua formagio, a palavra nao pode desis! yon serve ue parece verdadeiro nao precisa, m por isso, eem grau ala eve postivamente parecé-o, (Schlegel, F:1798,11 175) 284 iJhanga 4 que aludimos nao éa que se confor int 7 masa que se estabelece a0s poucos c a0 “uso e 4 cor. ae nguose™ OM a progressiva do nos parecia estra : ea geo gu ATS he parecia estranho, esdrixulo, sem sentido, i ei gue fazospadtOesgeometicosdeMondropsren “ parao sgn € Se ICOTPOTEM 20 desenho de tecidos usados por pti! ve ne sequet reconhecerdo 0 nome do Pintor. Por exi; — tt e complicada, a reformulagio do mundo pela fico émute ir vat VE areformulagao introduzida pelas; Novas técnicas, Em troca,ela et valent mais profunda. Mas Iser nao esteve interessado em des spot tno veargumento.Eles6seimpde quandopensamososatosdefini re — “osjogos domundo. yp Aoperagiao dos atos de fingir (autordistingue trés modos de operacao: asele¢a0,acombinagaoeaauto- inact (Selbstanzeige).' A selegao €a operacao imediatamente relacionada & snnsgressio da realidade: A selegao € uma transgressio de limites na medida em que os elementos da redlidade que agora entram no texto ndo mais estio ligados & estruturacdo semintica ou sistemética dos sistemas de que foram retirados (1b, 24 (16)] der) do Asim caracterizada, ela afeta os “campos de referéncia” (Bezu : » . nndo sociocultural, deles retirando suas “fungdes reguladoras” ¢ desauto- * yf) 7 f, 7 indo-osos converte em “objeto da percepi0 (ib, 24-5 (17)}-Aafiema conn . . van eOtisco de confundir o efito da selegio como stranham Si ane (e wa destacado por Viktor Chklovskiy js em 1925: Sa verdade, a8 dus . 7 gel re wen 1985 nao se confundem, A selegdo, por certo, a0 descongelt 0° a m “ « sedi whi 9 98ampos de referencia, os torna perceptivels Po": Masassise Mag geo dscurso em que o imaginsio, des , "epee mmPenha um papel central — a desaut £ptivo é aa . 7 Dengue, PivO épresidida pelo agenciamento do imagine | operat. C onside nto” (ost de que 0 critico ru omatizagao que Pl rio, tanto ms fovoca 0 is forte dle de Sujej Seg tO & transgressio de seu modo usual de odo 7, 7 -ogovernodi ci Jidisches Denkmal,o monument com ue og _ {timas do Holocausto. A solug: iaas Fone erenciaas Vi Ntrad, mreverencia mn oO ‘adap, oe ster compensatdrio, consistin em fare Pa Fa, ut ci lo at i an abso}, ssumisse UM C : oo. oly ferrin formadoporsériesdeblocoscinza,dispostosassiney, figu z cin en inteneifics airenaasics nm ianho desigual. A assimetria se intensifica por Mexistirem tri, tam: a8 oa an i atravessat, 0 que facilitaria a constituigao posterior de passeiog turist) ~ eos cesta. Nena palava, nena Hgoraao, nem sequerg a ie ‘amen ican has exsetooproprionome do monumento. Delesesubtrai qualquer snag, Mey pois toda retérica da expiagao mutilaria ° Pavoroso que sucedeu, 9 bo condensanoslocos-tumba, Sua pr6pria multiplicasao indicia ques en nao pretada a alguém, mas aos millhdes de sacriticados.Cabe ao gy dosvistantes—fuium dels quando ainda ndo estavainaugurado— cone em objeto significativo o que guarda muito pouco da vivencia concen, ciondria. A extrema selegao efetivada impede que as lagrimas enternecam, entorpesama percepsao ficcional. Obviamente, o exemplo nao podia estar em um livro publicado em 1s Por isso mesmo se torna mais flagrante a forga de sua formulagio: “[.,| 0 elemento escolhido move-se (riickt) em uma posigao perspectivistca,qu Possibilita uma avaliacdo do que est presente no texto pelo que dele se ase (cine Einschatcung des im Text Gegenwitrtigen durch Abwesendes)” (ib.,25(1 O conceito de vazio, de que Iser jé dispunha em “Die Appelstruktur der Text mostra com nitidez sua fungao capi |. Para que o vazio tenhaa poténcia que he Teconhecemos, serd necessdrio que o receptor leve a cabo e atualize atts gressao do carter informe do imagindrio. Acontinuagio imediata do texto de Iser nos levaa outra formulas 40) “4 ‘ . “ , de selecio) “tem o carater de um acontecimento (Ereignischarakte Portanto, gras » [ib.,26 aos (se qe ao €referencidvel eque, daf, se manifesta pelaauséncia de (17)}. Oenunciado coordena trésafirmagoes. A primeira— ast" ¢ ; gue 1g © cardter de acontecimento — ea terceira — a sele es fica ii 9 nao set Parecem incontestaveis, Assumir 0 carter de um acontecimento 8) Selecdo quebra uma se causa etc.; seu efeitos fit” asc . «a de caus® qiténcia que fazia parte de uma cadeia de ¢ onto i me -€ algo inesperado, Sem que seja casual, nem seu apare™ ya 4 font esas aohaver ee 40 Previsiveis, Sua imprevisibilidade resulta de nao have sak ¥ fil com’ r a raga S88 Operasdo. $6 a posteriori POF outros artistas, Sociocultural, é Possivel comp, Pela comparagio de seu pert" re presente Ml! € com a motivagao presen'™ reender a sua ndo-casualidade 286 eS antepde-se a segunda: porque € um acontecimento, a fir . was . ‘el. Entendo por “nao referencidvel”o que nav sé nané A nané jo 0 ealdade que transgride como nao remetea ela.Ora,se aseleyao sed realidade de que parcialmente se apossou, cla equivaleriaa uma no * : standoNelsonG eft a mundo’,como dizIser, citando Nelson Goodman. A selegaoentao - 5 ui dactiaga i 5 wt nciacom’ posi ase evitar a diminuigdo de sua fecundidade, é fundamental entender ego. trabalha, a0 como oferece uma referéncia... seletiva. A reveréncia as vitimas ‘0 de mundos alternativos. De minha parte, parece-me que «ao de Goodman prejudicaariquerada interprtagio a sxode sl assim i mesmo tempo, contra a referencialidace au- eo itis bo Holocaust ni soem de a deck gematvo sendo a este suraidadeestaro homem.a tO amaior miséria humana é sua prOpria crueldade. ncretizagio do efeito da obra ta, mas certamente o horror 4o referencia o contexto nazi so. O Denkmal berlinense nao remete a algum mundo mesmo, que se transgride para que se exponha o real de do instante expostoao carater lupino da espécie aquepertences Gera selegdo um acontecimento implica a co ao( receptor(es). Sem que tal concretizagio seja causal unpouco é arbitrdria. A recepgao tem um pano de fundo: 0 eqectativas” que a envolve. Tal horizonte a orienta, embora nao a det Cinhecé-oajudaré a entender, se ndo 0 proprio acontecimento da obr pido exemplo. Imente determinad “horizonte de ermine, a, a0 ‘en0saativagao necessdria de seu efeito. Tomemos um r iti prtaguts Abel Barros Baptista assnala que a ecepgio bal Mahady a depois do livro de Helen Caldwell, The Brian Othello} ee Cepity on (1960), passou a destacar,em oposite 8 leitura tradicion. *Yioainversdo ‘ima do processo armado contra cl pelo narra a Ee “iepariyel ac considerar que“a possibilidadedainocencis e< ‘ is | ‘etry ere ossibilidade deculpa” (Baptista. A. Re 1998497), Boras sss "oss a) 0 teria sido bloqueado? O critico portugues Oe” Porque fazé-loseria admit indeidlibilidale doromunce™(-1 J dese assegurat du gomovitnento a posse ferece dias Ui re Machado, ‘Mach; yj MChadia a i 'na sempre sentiu [a necessidade| assuas obras Teco ‘ny tendo aoa Previgi loao autor suposto,naoabandona ie tid pada” Ud Ds, vel Na) oan e sobressltos de uma destinste inden ha snopes ivel porque 0 nacionalisin litera 8 ue Tao, eg “Opriareflexao sobrealiteraturt: | J fgnoramosten" do dominio da literatura’ (Baptista, 4-82 1! 9) me Emboraatesc da indeterminabilidade’ do romance, daintencionalidade, nado poss renuincia da tes Seraqui discuti no ambiente critico nacional € coerente com nossa absten, tedricas sobre a literatura ou na aberta hostilidade contra elas, dohorizonte de expectativas presente no Brasil nos fa entend, das obras de seu melhor romancista la, su, 0 d Oconp, ler melhor 10 Provogy ‘metros intencionaign e : ainda quando seu lega interpretagao refinada, esta se mantém presa a par apenas sociolégicos. A retomada da consideragao do texto de Iser permite, POF Sta yey tornemesmaisflexiveapostra assumir diane do ntencionsidas (oral E provivel quea intengdo nao se descubra nem na psique nem na consi scien, mas sim que possa ser abordada apenas pelas qualidades de manifeticin ga, revelam na seletividade do texto face a seus sistemas contextuais. Isr, W: 9 27 (18)) A intengao autoral nao é uma carta fora do baralho, mas a maneira como ela entra em cogitacao exige o ultrapasse de critérios nacionalistas ou tio-si socioldgicos, aceitar-se 0 desafio de indagar da literatura como modalidade discursiva. Poder-se-ia entao falar, sem excesso metafSrico, em um inconscient textual, i. €., textualmente configurado, sem o entender como um prolom- gamento do insconsciente autoral. Sem negar que traumas ou acidente marcantes da vida do autor interfiram na selecao que opera, 0 decisivo ago" que“o imaginério exprime a condigao de sua representabilidade” (id. ib) ; Sejamos agora ainda mais breves. Ao lado da selecao, opera a combi" 5s, : sandon® de elementos textuais, “que abrange desde 0 significado lexical, passnsh i pam eS mundo introduzido no texto, yniza até os esquemas pelos quais se o's" Petsonagense suas aces” ib a ib.).Dito de maneira mais imples:ats Garealidadendo se dé apenas pela escolha de valores, usos ecostinis he mando social em que é geradaa obra, mas também pela maniptl"? * Pelosesquemas que presidem a escolha de tipos de personage ® cumprem.Em suma,o texto a nao reduplicado, que, Bindrio,assumea apara nao se funda no que é, Igo que se origina de um mundo inal ia entretanto, pela trangressio do carter ra vt nia derealidade, Daidizerque*sua'faticidi mas no que pelo texto se origina” [ib 29“ 288 como Se procurou fazer acima, nao se entretanto, nao supomos que a formu feliz, ¢, 20 contritio, wos Fetificar a questan dy Com, oan c ucd Tidade, d | fe eferencaidade, devemos conchir que nese pon ya lag de ser possa ser a encontramos coerente com 1! oque pe posdiversem™ tel de seleca0 combinagéo a estardo incompletos sem cin ium terceit0- A ficgao eréria se distingue daquelas que fundam o i pento de instituigdes,sociedades eimagens de minds i,» sjjporanes ao contrario destas, supde que “desnuda a sua ficcionalid, At y)ebntendemos esse desnudamento como atendnca que af jis apresenta dese expor, nao como um simulacro da realidade, mas como ve eet3630 desta, muitas vezes desmistificante. Na Odisséia, 0 acdo ae ssatuaizava esa tendéncia ao deixar-se define como aauém que qcobria seu conhecimento pela gra¢a com que compunha seus versos, No emo sentido, atuava no Quijote a ditvida langada sobre seu proprio texto, mado como tradugao inexata de um original mourisco, ou o teatro dentro do sem Shakespeare. E nesse rumo preciosa aaproximagao que faz{ser como qeWinnicott chamara de “objeto transicional’. (Nao podendo aqui desen- ‘ohélo,remeto paraa nota 20.) A semelhanga deste,a ficgdoliteréria tanto nes «ueeseja sob controle “magico” quanto que se imponha como realidad. O ‘djeto transicional” é um espaco entre uma “terceira margem” que permite ‘acionar-se 0 externo com o interno. Mas o “objeto transicional” impie-se 2 5-6 lade” ‘okecrianga, a0 Passo que o adulto precisa estudar para reconhecer as pro Miedades do ficcional, oe mimesis 49 coy : que o instante eg Mtecedor da obra do tedrico alemio nao estranhats que eS" —navendale, a ee i iO: DG. ‘Sa uma pequena parte de O ficticio eo magi ‘ i 4 i — mio apreseltte "thumg on°® ¢ discutimos sendo seu primeiro capitulo —"™ P fag. teferéncs «cote, Mimesis Neng cia A mimesis, Embora em texto mais ee ae “o, a ode susobrasett Negi tttormodere seu repiio’ mimesis a0lons ee sido a tity essa {el ci; . A, e, “la do conceito grego, Como se sabe awa oritgr:. ancos. AKI "aria nos estudos literarios comtempor"™ | oma leria dar um passo adiante ao relacionar a 1999), paradoxalmente parece dar r, impediré ao leitor, ‘obra em que o autor pod a ficedo, Pourquoi la fiction? ( deIser. A terminologia técnicanao de compreender minha ressalva: mimesis a0 4 Tes Mesmoqueadesey. One, Ostatos miméticos passadosem revista possuem um denominador com, todarelagio de semelhanga ede um processo de imitagig para produzirumacépia (ou uma reinstanciagio) do que €imitado sean, ‘um semelhante seu, seja por dar uma representacao sta ou para labors simulacao modelizante. (Schaeffer, J.-M.: 1999, 81) UM: todo, veil tiram pro tras Sug ‘Aoquetudo indica, dentro da tradicio européia,a possibilidade dereporsey problema da mimesis é nula; tantas foram as autoridades que, durante séculos, acataram que mimesis é sinénimo de imitatio ou que, pela mesma razio, negaram validez ao conceito, que jé nao parece viével que os europeus refacam o camin, Schaeffer adota a primeira posicao, tendo por base a oposicao entre modelos nomolégicos e miméticos; os nomolégicos “devem satisfazer uma condigiode homologia generalizante, ou seja, o modelo deve ser aplicével tal qualaumniimero indefinido decasos concretos” (id.,213-4),a0 passo que os miméticos instaura(m) arelacio dehomologia—que correspondea sua finalidade cognitiva—atravésde umarelagaodesemelhanga” (id.,77).Schaeffer subordinaa relacao da mimesiscom a ficgao & experiéncia de “imersio” a que se submeteria o receptor: [..] Se toda ficgao existe (pelo menos) como contetido mental, a recipres! Le eee ; eosestals verdadeira:s6 sio ficcionais os contetidos mentais (¢ mais amplament®°s is) del oi mentais) delimitados pelo quadro pragmatico de uma auto-estimmults! nativa ou de dissimulacao (feintise) partilhada, e que sio vivides (°" mentados) sobre o modo da imersao ficcional. (Ib.,213) 1 expe ole clays ade umarelty Aimersio ficcional, estimulada pelahomologia derivads ve semelhanga, suporia, portanto, uma espécie de hipnose volt! Feceptor entraria ou sairia a seu bel-prazer! Diante de articulacao tao rudimentar, Iser esta correto ¢™ autonomamente. Em troca, nao é dessa autonomia que resulta sua’ em reconduzir a ficcao & realidade, caminho por ele mesme ape" ntaria m4 pens ei 290 rio? Se esta consiste em converter o difuse do ima jo do imag” ose na aparencia di ee mu . . 1 ccional sendo.a um mundo alternative? F jira © ont” ord diverso se Fepensarmosa mimesis em sua propria base e, Je realidade, ¢ se esta jd se irrealizara,a que realidade geal gromarmos jomindncids na an ax 0trajeto ave ; or Vida e mimesis (1995) e Mimesis: desafio ao pensamento (2000), 1a relagao ja aqui estabelecida: em vez de imitatio, a mimesis supoe, de aspectos da realidade, que como produto da tensio entre semelhanga e diferenga, com mimesis da arte, do segundo vetor, Em vez, contudo, de entamos cumprir desde Mimesis ¢ modernidade (1980), an med sho vocabulério de Iser, a selesa ” presentagdo de mundo, seja porque nao é sua repetigio, sea rece a seus campos de referéncia, Seu mecanismo constitutive é teao da ficgao. Sua diferenga estd em quea mimesis se cumpre uma certa sociedade, ao passo quea descrigao do pentant,semelhan snfacede um certo OULTOs i.e, mnecanismo da ficgao nao necessita chamar a atengdo para a sociedade, de que enatiza apenas determinadas parcelas, dando-lhe outra configuragao.'' A mimesis fixa a ancoragem do ato ficcional no interior de um quadro de usos € portanto, de referéncias vigentes em uma certa sociedade. Seu estudo, ganha em concre¢ao quando contrastamos os elementos que ralorese, porconseguinte, sdeciona com a fungao que eles tém na sociedade de que a obra ficcional os ‘omou, Desse modo, sua inter-relagdo com o conhecimento do ficcional € Vantajosa para ambas as partes: da parte da mimesis, sua articulagio com o fecional estorva a manutencao da prenogio do imitativo; da parte da ficgdo,sua 2 ou que ‘bordagem impede que se encerre no préprio objeto sobre o qual reflet ‘eu praticante seja forcado a entender a realidade como pura construgto,a que Ofccional ofereceria uma (inconseqiiente) alternativa. i ee ome Wolfgang Iser a ficgdo alcanga um estatuto que, ate egenciag eu Inger, The fora negado pelo pensamento ocidental Sosaas sche muito menores que meu acordo, prenden-se centralmente & a rearticulagdo com a realidade. E dai que importa sua conexto “mo feng 1m fas : ‘eno da mimesis, que Iser, coerentemente, N20 faz. 291 Copyright © 2006 by Luiz Costa Lima Capa Angelo Venosa Indice tematico e onoméstico Luciano Marchiori Preparacao Guilherme Salgado Rocha Revisao. Isabel Jorge Cury Carmen $.da Costa Dados Internacionas de Catalogagio na Publiacio (ci?) (Camara Brasileira do Livro st, Brasil) Lima, Luiz Costa Hist6ria. Figo. Literatura / Luiz Costa Lima, — Sto Paulo: ‘Companhia das Letras, 2006. Bibliografia. san 85-359-0857.9, 1. Literatura - Historia e ert 2 Literatura e histria 3, Historiografia 4 Teoria teria 1. Talo, 06-4147 Indice para catélogo sstemstico L.Historiografia 907.2 {2006} Todos 0s direitos desta edicto reservados & EDITORA SCHWARCZLTDA, Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32 (04532-002 — Sao Paulo — sp Telefone: (11) 3707-3500 Fax: (11) 3707-3501 ‘www.companhiadasletras.com.br

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