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Realizagdo: é cer cu Ree €@FAJE ne nanos” PUC Minas rosama de Psareduao ‘Sn Cancie do Reise yang Cor Ponca Reo GFAJE pod PUC Minas Programa de PSs-ayaduneso fm lence da Relig ‘Anais do Il Congresso Brasileiro de Filosofia da Religiio 2007 Capa e Diagramacao: Tiago Lopes Parreiras Impressio: Multicromo - Emgraf Editora FICHA CATALOGRABICA [Hlaborada pela Biblioteca da Pontifica Universidade Catélica de Minas Gerais ‘Congresto Brasileiro de Flloofa da Rlisido (2: 2007, Bel Horizonte) (e749 Anas do Tl Congresso Brasileiro de Filosofia ds Religito :eadsro de resumes / Belo Hor zone: Emgrat, 2007 120p. ‘Promoso: Grape de Teebslho de Flori da Relgito da ANPOF; Grupo de Pesquisa em Filosofia da Retigio de Mestrado em Filosofia da Facultade Jesuta de Filosofia e Teologia~ FATE; Grupe de Pesquise Religitoe Cultura do Programa de Pos-Graluago em Ciéncas da Rligito 'PUC Minas ~ Mestrado em Cincias ds Religito~ |. Religito — Filosofia - Congress. [AssociagBo Nacionl de Pos-Gradu- sao em Filosofia I, Faculdade Jeauta de Filosofia e Teologia. TH Pontificia Universidade CCablca de Minas Goris, Progtams de P6s-Graduacto em Cigncias da Religito. TY. Tl. epu:2i Anais do II Congresso Brasileiro de Filosofia da Religiao GT Filosofia da Religiao | ANPOF Belo Horizonte 2007 Il Congresso Brasileiro de Filosofia da Reli Promogio: Grupo de Trabalho de Filosofia da Religigo da ANPOF Mestrado em Filosofia da Faculdade Jesuita de Filosofia e Teologia — FAJE Programa de Pés-graduacao em Ciéncias da Religio PUC Minas - Mes- trado em Ciéncias da Religiao~ Grupo de Pesquisa Religiao ¢ Cultura Apoio: FAPEMIG - Fundagio de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais CAPES - Coordenagio de Aperfeigoamento de Pessoal de Nivel Superior Comissio Organizadora: Dr. Joao Augusto A. Amazonas Mac Dowell - FAJE Dr. Flavio Augusto Senra Ribeiro ~ PUC Minas Dr, Luis Henrique Dreher - UFJF / GT Filosofia da Religido da ANPOF Comissio Cientifica Dr: Agnaldo Cuoco Portugal - UNB Dr, Alvaro Valls - UNISINOS Dr. José Carlos Aguiar de Souza - PUC Minas Dr. Paulo Roberto Margutti Pinto - FAJE Dr. Paulo Afonso de Aratijo - UFIF Secretaria: Sandra Maria de Céssia Silva Projeto Grafica: Tiago Lopes Parreiras Sumario 6 Apresentagio v Resumo das Comunicagdes dos Doutores 19 PLANTINGA E © NATURALISMO ONTOLOGICO ‘Agnaldo Portugal 20 FILOSOFIA DA RELIGIAO E MAL RADICAL EM KANT ‘Aguinaldo Pavao a MONTESQUIEU: TOLERANCIA E RELIGIAO ‘Anténio Carlos dos Santos, 2 RUBEM ALVES E A RELIGIAO: 0S VARIOS MOMENTOS DE SEU ITINE- RARIO REFLEXIVO Antonio Vidal Nunes 2B ONTOLOGIA E FENOMENOLOGIA DA VIDA RELIGIOSA NO PENSA- ‘MENTO DO JOVEM HEIDEGGER Carlos Roberto Drawin 23 POESIA RELIGIOSA E METAFISICA EM IBN GABIROL(AVICEBRON): UMA INTUICAO EM DUAS LINGUAGENS Cecilia Cintra Cavaleiro de Macedo m4 ‘MISTICA E HERMENEUTICA Cicero Cunha Bezerra 25 HOMO HOMINI DEUS: A ANTROPOLOGIZAGAO DO ABSOLUTO EM LUDWIG FEUERBACH Draiton Gonzaga de Souza 26 AVIA ACTEIA PARA DEUS E A CONSTITUICAO DB UMA ETICA TELEO- LOGICA A PARTIR DO PENSAMENTO DE EDMUNDO HUSSERL Edebrande Cavalieri ca CONTRIBUIGOES DA QUESTA DO TEMPO EM GADAMER PARA A ‘COMPREENSAO DA RELIGIOSA DO TEMPO ‘Eduardo Gross 28 RELIGIAO E POLITICA NO JOVEM HEGEL: MODERNIDADE A PARTIR ‘DAINTERPRETACAO DO CRISTIANISMO Evick Calheiros de Lima 2» DESCONSTRUGAO DA FE CRISTA NA OBRA DE JEAN-LUC NANCY: LA DECLOSION (DECONSTRUCTION DU CHRISTIANISME D). PARIS: GALL- LEE, 2006. Etienne A. Fliguet, 30 BEATITUDE E SALVACAO NA VERA RELIGIO DE ESPINOSA Fernando Dias Andrade 31 RELIGIAO E CIENCIA NO PENSAMENTO DE SIMONE WEIL. Femando Rey Puente 31 ATEISMO E NULISMO Flavio Senra 32 AVOCAGAO NIILISTA DA HERMENEUTICA. GIANNI VATTIMO E RELT- GIAO FREDERICO Frederico Pieper Pires ot FILOSOFIA E CAVERNAS: CAMINHOS MISTICOS NAS ORIGENS DO PENSAMENTO OCIDENTAL Gabriele Corelli 34 MISTICA E POLITICA NO PENSAMENTO DE MESTRE ECKHART Gerson Brea 35 (© CRISTIANISMO DEPOIS DE NIETZSCHE. Ibraim Vitor de Oliveira 36 FILOSOFIA E METAFISICA EM DUNS SCOTO Jairo Dias Carvalho 7 (O PROBLEMA DA ESSENCIA DO FENOMENO RELIGIOSO Jodo A. Mac Dowell 38 (O TEMA DE DEUS Na ETICA DA ALTERIDADE DE LEVINAS Joo Bosco Batista 39 ONTOLOGIA E TRANSCENDENCIA: O SER RELIGIOSO E OS SENTIDOS DOSER José Carlos Aguiar de Souza | Gelson Anténio Leite “0 © DESLOCAMENTO DA CONSIDERAGAO HABERMASIANA DA RELL Gio José Pedro Luchi 41 (OMARAVILHOSO NA ORIGEM DO MOVIMENTO DE JESUS Josemir Nogueira Teixeira 2 ARELIGIAO E © DEBATE PUBLICO. REVENDO 0 CONCEITO DE SEC LARIZACAO Jeli Paulo Tavares Zebatiero 2 KANT: 0 PODER DA RELIGIAO NOS LIMITES DA SIMPLES RAZAO Lindomar Rocha 3 so Bras Congres: “ A. AUTONOMIA DO ELEMENTO RELIGIOSO: UM TEMA IRRENUNCIA- VEL DA FILOSOFIA DA RELIGIAO Luis H. Dreher 45 AFILOSOFIA ENTRE A MISTICA E 0 CONCEITO - A FILOSOFIA DA RELI- GIAO SEGUNDO ABRAHAM IOSHUA HESCHEL. Luiz Felipe Pondé 46 APOLEMICA SOBRE A EUCARISTIA NO SECULO XI: UM DEBATE SOBRE O PAPEL DA RAZAO DIANTE DA FF. ‘Manoel Luis Cardoso Vasconcellos 7 (© ENTENDIMENTO E A VONTADENA CONTEMPLACAO MISTICA: UM. PARALELO ENTRE TOMAS DE AQUINOE JOAO DA CRUZ “Marcelo Martins Barreira 48 AHUMANIDADE DO HUMANO E © DISCURSO SOBRE DEUS “Marcio Anténio de Paiva 9 HUME E ALLIMITACAO DO ARGUMENTO DO DES{GNIO: UMA DISCUS- SAO AXIOLOGICA Mateos Rodrigues daSilva 50 © PENSADOR RELIGIOSO Maria Cristina Mariante Guarnieri 51 (© HOMEM MICRO E MACROCOSMO: A NOCAO DE INSAN AL KAMIL NAOBRADE RUMI “Mirio Guimaraes Werneck Filho 54 AFE DOS INDIVIDUOS F A “SADA DA RELIGIAO" NO PENSAMENTO DEMARCEL GAUCHET ‘Norman Madarasz 55 "ULTIMO DEUS” DE MARTIN HEIDEGGER Paulo Afonso de Araijo 56 A VISAO ETICO-RELIGIOSA DO TRACTATUS DE WITTGENSTEIN E ‘SUAS RELAGOES COM AS CONFERENCIAS E CONVERSACOES SOBRE ‘ACRENCA RELIGIOSA DE WITTGENSTEIN Paulo Roberto Margutti Pinto 56 AVIDA DE JESUS: ENTRE HEGEL E A TEOLOGIA DA LIBERTACAO. Pedro Geraldo Aparecido Novelli 7 AINOGAO DE “INTEIRAMENTE OUTRO” EM MAX HORKHEIMER Rafael Cordeiro Silva 58 ATEOLOGIA CRISTA DA SUPERAGAO COMO ARCABOUCO META-TEO- RICO PARA A SOCIOLOGIA DA RELIGIAO: MAX WEBER E A EVOLUCAO, DAETICA OCIDENTAL Renan Springer de Freitas 9 AMISTICA CRISTA COMO MODELO ETICO, RELIGIOSOE PEDAGOGICO NA FILOSOFLA BERGSONIANA Tarcisio Jorge Santos Pinto a CONSIDERACOES A RESPEITO DA CONCEPGAO DE RELIGIAO NOS ‘TEXTOS FREUDIANOS “O MAL-ESTAR NA CULTURA’ E“O FUTURO DE UMA ILUSAO" Wilson Camilo Chaves |. Rita Helena Gongalves Nani sofia da It Congresso Brasileiro a Resumos das Comunicagbes Mestres ¢ Estudantes de Pos-graduacio a AMOR, DEUS, COMPAIXAQ: NIETZSCHE E A QUESTAO PARADOXAL DA MORTE VOLUNTARIA ‘Adilson Felicio Feiler 6 O FUNDO DA ALMA EM MESTRE ECKHART OU UM PARA ALEM DA IMAGEM ‘Adriana Andrade de Souza 6 DEUS NAO SE REVELA NO MUNDO: 0 SILENCIO SOBRE DEUS NOS ES- ‘CRITOS DO PRIMEIRO WITTGENSTEIN Adriano José de Oliveira 6 ADIALETICA TEOLOGICA RABINICA ATRAVES DA LEITURA HESCHE- LIANA DO TALMUD E DO MIDRASH ‘Alexandre Leone 66 EXISTENCTA E MORTE EM BLAISE PASCAL. ‘Andrei Venturini Martins or UMA NOVA ABORDAGEM DOS MILAGRES EM HUME, “Anice Lima de Aradjo Cy FILOSOFIA E LEI REVELADA; SOBRE A LEGALIZACAO DO ENSINO DA FILOSOFIA NO FASL AL-MAQAL DE AVERROIS. Arthur Klik de Li ° NELSON RODRIGUES E SANTO AGOSTINHO; DA MISERIA A REDEN- CAO. Beatriz Leme Curado ” RELIGIAO E RELIGIOSIDADE: UM ENCONTRO ENTRE NIETZSCHE & DOSTOIEVSKI (Claudia Franco Souza 10 m NOTAS SOBRE A DISTINGAO ENTRE VANA RELIGIO E VERA RELIGIO. NO TRATADO TEOLOGICO - POLITICO DE ESPINOSA ‘Cleiton Zéia Miinchow n (OS LIMITES POSTOS PELA TEOLOGIA REVELADA AO ANTL-REALISMO NA CATEGORIA DE RELACAO SEGUNDO GUILHERME DE OCKHAM Cyrio Pastor 2 0 “DEMONIACO” COMO © “EXTRA-ORDINARIO’ EM HEIDEGGER Daniel S. Toledo a ARELIGIAO E 05 PARADOXOS DA UNIVERSALIZACAO DA MORAL NO ‘TEXTO DASLEBEN JESU DE G. W. . HEGEL, Danilo Vaz Curado Ribeiro de Menezes Costa, 75 OREDIMENSIONAMENTO ETICO DA QUESTAO DE DEUS EM LEVINAS Fabiano Victor de Oliveira Campos 76 MORALKANTIANA: TEODICEIA E NIILISMO Fabio dos Santos Creder Lopes 7 RELIGIAO B MORALIDADE NA “PROFISSAO DE FE DO VIGARIO SA- BOIANO” DE JEAN-JACQUES ROUSSEAU; Filipe Bravim Tito de Paula 78 RELIGIAO E FILOSOFIA EM HORKHEIMER E SCHOPENHAUER Flamarion Caldeira Ramos 2 [AS CITAGOES SOBRE DEUS NO LIVRO DE MICHAEL FOUCAULT “MI- ‘CROFISICA DO PODER” Helder de Souza Silva Pinto 0 ADIALETICA DO SAGRADO EM GOETHE. ‘Humberto Schubert Coelho 8 asi reso Br 424 80 OPROBLEMA DA LIBERDADE EM OS DEMONIOS DE DOSTOIEVSKI Jacqueline Sakamoto a A QUESTAO DO SAGRADO E DO PROFANO SEGUNDO MIRCEA ELIA- DE Joel Gracioso 82 FILOSOFIA DA RELIGIAO José Benedito de Almeida Jinior 83 MAL EA REVELAGAO EM SCHELLING E ROSENZWEIG José Lulz Bueno aw FILOSOFIA DA RELIGIAO: UMA CHAVE DE LEITURA EM MARTIN HEI- DEGCER 85 OSILENCIO DE DEUS E A LIBERDADE DO HOMEM Marcia Guimaraes Rivas 86 JUSTIFICAGAO NA CRENGA DA EXISTENCIA DE DEUS E PLURALISMO; RELIGIOSO: UMA AVALIACAO DA ABORDAGEM DA PRATICA DOXAS- TICA A EPISTEMOLOGIA DA CRENCA RELIGIOSA Mauricio Mote Saboya Pinheiro 97 UMA ABORDAGEM AO ROMANCE DAS SCHLOSS DE FRANZ KAFKA A PARTIR DA FILOSOFIA DA RELIGIAO ‘Mauro Rocha Baptista 88 ‘CONSIDERAGOES SOBRE © SAGRADO NO PENSAMENTO DE MARTIN HEIDEGGER Renata Frederico Silva Araujo 12 89 (O"LIVRE QUERER” EO MALNO PENSAMENTO TEOLOGICODE AGOS- ‘TINHO EM CONFISSOES: Suelma de Souza Moraes 89 CRISTIANISMO: RELIGIAO DOS ESCRAVOS - UMA ABORDAGEM DO PENSAMENTO DE SIMONE WEIL, ‘Thais Lemos de Oliveira Maia 90 HOBBES E A BIBLIA COMO OBJETO DA RAZAO Wagner de Mello Elias 92 (OFIM DA TEODICEIA INSCRITO NO CONCEITO JONASIANO DE DEUS ‘Wendell Evangelista Soares Lopes 93 Programagio 105 ‘Mapa do Campus PUC Minas Coracio Eucaristico a1 Anotagées ira de Filosofia da Religidio 1 Congreso Bra 413 Apresentagao Esse evento é fruto de uma articulagao de pesquisadores e programas de pés-graduacao em Filosofia que se deu a par- tir de 2003. Naquele ano, realizou-se na UnB 0 Coléquio sobre Probabilidade na Ciéncia e na Religido e XXXIII Semana de Fi- losofia da UnB. Além da presenga de Richard Swinburne, um dos mais importantes filésofos da religiao de lingua inglesa na alualidade, o evento possibilitou 0 contato entre 0 grupo de fi- losofia da religido da UnB, entao em formagio, com 0 Prof. Luiz Felipe Pondé, da PUC-SP. Tal contato se revelou extremamente promissor. J em 12004, os articuladores participaram juntos de um evento pro- movido pelo Niicleo de Estudos e Pesquisa em Filosofia da Re- ligido do Programa de Pés-graduagio em Ciéncias da ReligiZo da UEJE, em Juiz de Fora, o simpésio Schelling e sua Influéncia na Filosofia da Religio. Em outubro desse mesmo ano, durante © XI Encontro Nacional de Filosofia da ANPOF, os contatos se ampliaram ainda mais, possibilitando a criagéo de um Grupo de Trabalho em Filosofia da ReligiZo na Associagio Nacional de P6s-graduagio em Filosofia. ia partir desse GT da ANPOF que foi organizado o L Congreso Brasileiro de Filosofia da Religido. Com poucos re- cursos de divulgacao, foi feita uma chamada de trabalhos para apresentacdo ¢ a resposta foi surpreendente: mais de setenta traballos foram apresentados para avaliacio da comissao jul- gadora. Desses, foram aceitos sessenta, dos quais vinte e cinco sao de doutores, sem contar os quatro professores convidados a apresentar as conferéncias maiores. O Congresso conto ainda ‘com exposigdes de mestrandos e doutorandos em Filosofia de programas de pés em todo o pais. OI Congreso recebeu em torno a centro e vinte propos- tas de trabalhos. Apés selecao, quarenta e cinco doutorese trinta li Congresso Brasileiro de Filosofia da Religido 1s 16 © quatro mestres e/ou estudantes de pés-graduacio, advindos de Programas de Pés-graduagao em Filosofia de varias partes do pais, apresentarao comunicagdes no evento. Além destes, 0 evento contara com renomados conferencistas nacionais e in- ternacionais. Resumos das Comunicagées Doutores PLANTINGA E 0 NATURALISMO ONTOLOGICO Agnaldo Portugal | UnB | agnaldocp@unb.br O atefsmo irreligioso é um fendmeno cultural bastante raro na histéria humana, mas socialmente relevante hoje em dia. O que se tem com mais freqtiéncia é a negacao de uma reli- gio com base em outra ou de uma forma de conceber o sagrado em nome de uma alternativa. O ateismo irreligioso se pretende uma negacao divino e da religiao sem propor nada além do hu- mano e da natureza no lugar. Pretende-se neste trabalho discutir uma variedade muito importante do ateismo irreligioso filos6fico, mas pouco debati- da entre nés: 0 naturalismo ontoldgico. Segundo este, o mundo € basicamente constituido de estados de coisa e entes explicé. veis pelas ciéncias naturais em termos iltimos. As crengas reli giosas, por exemplo, podem ser reduzidas a fenémenos neuro- Iogicos, de base cerebral apenas. Alvin Plantinga formulou um argumento contra o natu- ralismo ontolégico segundo 0 qual este, se combinado a teoria evolutiva darwiniana, nao pode ser racionalmente aceito. Para Plantinga, uma vez que os mecanismos da evolugio natural se- lecionam comportamentos melhor adaptados e estes nao tm de ser necessariamente vinculados as crengas mais verdadeiras, mas as mais titeis do ponto de vista da sobrevivéncia e repro- dugio, isso nao garante que as faculdades cognitivas humanas sejam confidveis quanto a produzirem crengas verdadeiras acerca do mundo. Assim, o naturalismo nao tem justificativa para assumir a confiabilidade dessas faculdades em nos dar crengas verdadeiras, principalmente crengas de tipo mais “te- 6rico”, como uma teoria ontolégica geral. Sendo assim, ao nao ter razdo para tomar as faculdades cognitivas como confidveis, © naturalismo ontoldgico nao seria apenas incoerente, mas au- todestrutivo, pois implicaria nao possibilitar a aceitagio dele mesmo como uma teoria verdadeira. Esta comunicagéo pretende discutir alguns desdobramen- tos do argumento de Plantinga e analisar os principais elemen- 19 20 tos do debate que se seguiu a cle. FILOSOFIA DA RELIGIAO E MAL RADICAL EM KANT Aguinaldo Pavao | UEL-PR | aguinaldo.pavaobuolcom.br Para Bruch (La Philosophie Religieuse de Kant), a teoria do mal ndo é de modo algum indispensdvel as tarefas da Fun- damentagio e da Critica da azio Pratica, pois estas obras con- teriam apenas a introdugio critica da moral de Kant, cuja tarefa seria justificar abstratamente 0 estatuto do julgamento moral. ‘De acordo com Bruch, embora a teoria kantiana do mal tenha sido elaborada com conceitos da filosofia pratica, ela pertence na verdade 4 filosofia da religido. Para o comentarista, o mal seria uma nogio comandada por uma convicgao de ordem re- ligiosa. “A teoria do mal radical no ¢ uma dedugao a priori: ela se funda sobre uma conviccéo de esséncia religiosa, a uma distancia igual a do otimismo racionalista e do maniqueismo, isto é, uma conviccao de esséncia e de origem crista” (La Phi- losophie Religieuse de Kant, p. 42). Sendo assim, o mal seria necessariamente um ponto de partida que demandaria uma te- oria da conversao, que por sua vez reclamaria uma teoria da graca, chegando, desse modo, “ao coracao da religiéo revela- da, e aos confins do dominio da razao" (Id, p. 43). Contra essa interpretacdo defenderei que o fato de o mal estar ligado, em Kant, a questées da filosofia da religido no é suficiente para afastar a possibilidade de entender o mal radical, antes de tudo, como um conceito a priori, pertencente 4 filosofia moral. A meu ver, uma leitura religiosa é deficiente, pois nfo percebe que a doutrina do mal radical esté, no fundo, a responder problemas intemmos ao dominio critico da filosofia moral de Kant. Apresen- tarei argumentos a fim de qualificar a tese de que o mal radical é sobretudo, uma exigéncia da prépria reflexao de Kant sobre a liberdade e nao primariamente uma peca da reflexao religiosa sobre a graga e a conversao moral. MONTESQUIEU: TOLERANCIA E RELIGIAO ‘Antinio Carlos dos Santos | UFS | acsantos12@uol.com.br No preficio de sua obra méxima, Montesquieu afirma que, examinando os homens, viu que na infinita diversidade das coisas e do mundo, nao eram conduzidos por fantasias. A agdo humana, dessa perspectiva, depende de um conjunto de valores, de principios, de razbes, de fatores que se inter-relacio- nam. Depende tanto de fatores gerais — como os principios dos regimes politicos, a natureza da sociedade, a forma de governo etc. ~ quanto de fatores locais ~ como o clima, 0 territério, 0 tamanho da populagio, a sua histéria etc. -, de tal forma que “tudo esta extremamente ligado", como afirma Montesquieu no Livro XIX, capitulo 4, de sua obra maxima. Cada causa provoca efeitos miltiplos e destes decorrem outros tantos. E nesse sen- tido que a toleréncia esta inserida no argumento da diversida- de: ela é benéfica porque provoca equilibrio nas disputas entre as religiées, bem como se constitui numa forca, distinta da do poder civil, e que pode ajudar a politica. E certo que a religiao pode dar origem a tim pathos politico, como a Santa Inquisicao ea Revogacéo do Edito de Nantes, para citar os exemplos mais, conhecidos. Contudo, Montesquieu prefere pensar segundo a perspectiva de que ela pode trazer de positivo & politica, dei- xando de lado a andlise negativa. Apesar de a religiao estar liga- da diretamente aos fins divinos, ela é portadora de uma prética moral, social e politica considerdvel, que, se bem aproveitada para os fins civis e politicos, muito contribui para a preservagio da orcem politic ‘Assim, 0 objetivo desta comunicacgo é analisar a relagio entre a religido e a tolerancia em Montesquieu. gs 21 22 RUBEM ALVES E A RELIGIAO: OS VARIOS MOMENTOS DE SEU ITINERARIO REFLEXIVO Antonio Vidal Nunes | UFES | avidalnguol.com.br A religiio sempre ocupou um lugar privilegiado no pensamento de Rubem Alves, conhecido pensador brasileiro, formado no interior da tradigao protestante, Postulamos trés momentos importantes de sua reflexao religiosa. No primeiro ele se apresenta como tedlogo progressista, critico da filosofia grega e préximo das ciéncias sociais em seu labor teolégico. Neste momento a revelacdo ¢ essencial & sua elaboracio reli- giosa. E nela que ele busca, na década de 1960, um sentido para a histéria brasileira e para aco dos cristéos em uma sociedade que passava, segundo ele, por transformagoes revolucionarias que a levaria 4 superagéo de sua dominagao colonialista. No segundo momento, emerge uma reflexéo propriamente filo- séfica da religiao, que comega a ser tecida no exilio. Ela néo se desvincula das idéias que dao corpo ao seu humanismo. O homem é um ser de amor, de desejo. Criticando Marx, Freud e Comte em suas desqualificacées da religiéo, Alves, procura decifré-la em sua significagao. Para ele, a religiao se apresenta ‘como um grande sonho coletivo, revelador dos desejos e sonhos hhumanos a serem decifrados tal como Freud fez com os sonhos individuais. Agora nesse momento de sua reflexao a revelagio nao mais explica o homem, é ela que é explicada a partir dos sonhos e desejos que habitam 0 coracao humano na sua busca de construcao de uma ordo amoris. No ultimo momento vamos encontrar um pensador, que em decorréncia de certas experién- cias pessoais, transforma-se em poeta e mistico. Nao consegue mais escrever academicamente. Passa a lhe interessar somente as palavras que possam ser saborosas. As questées religiosas Permanecem, mas sio tratadas em linguagem poética. As res- postas sao praticamente as mesmas dadas pelo filésofo. ONTOLOGIA E FENOMENOLOGIA DA VIDA RELIGIOSA NO PENSAMENTO DO JOVEM HEIDEGGER Carlos Roberto Drawin | UFMG | carlosdrawineyahoo.com.br © movimento do pensamento heideggeriano tem sido sempre dividido em dois momentos: um primeiro periodo defi- nido pelo projeto da ontologia fundamental e pela analitica exis- tencial, que encontrou a sua expresso méxima em “Ser e tem- po” e um segundo perfodo, apds a “viragem” (Kehre) dos anos trinta, em que emerge o pensamento do ser, um modo de filoso- far distanciado do referencial transcendental e fenomenolégico. Nos tiltimos anos, a partir da publicagao da obras completas pela editora Vittorio Klostermann, o estudioso do pensamento heideggeriano passou a ter acesso a um conjunto inestimavel de textos inéditos. Os volumes contendo as primeiras prelecies de Freiburg (1919-1923) nos mostram que a problematica origi- naria do pensamento heideggeriano nao poderia ser integrada & perspectiva da fenomenologia transcendental hussserliana. Ao contrario, foi a intensa reflexao sobre a experiéncia religiosa crista - alimentada pela leitura de escritos misticos medievais = que impulsionou Heidegger na diregao da transformagao her- menéutica da fenomenologia que desaguou no pensamento do ser. Esta comunicagao propée apresentar alguns elementos des- ta trajetéria de um dos pensadores seminais de nosso tempo. POESIA RELIGIOSA E METAFISICA EM IBN GABIROL(AVICEBRON): UMA INTUICAO EM DUAS LIN- GUAGENS Cecilia Cintra Cavaleiro de Macedo | PUCSPYSi0 Camilo | cavalelrodmacedo wolcombr Schlomo Ibn Gabirol (Avicebron) é fildsofo e poeta judeu espanhol do século XI. Autor de uma filosofia escrita em arabe ¢ também de uma vasta obra poética em hebraico, com sua ex- Filosofia da Religia Ml Congresso Brasileiro de 23 24 pulso da comunidade judaica, estas facetas de sua obra foram separadas, ocultando a identidade do autor. Sua poesia foi in- corporada ao servico litiirgico judaico por sua beleza, qualida- de e fervor religioso. Sua metafisica, traduzida ao latim sob 0 nome Fons Vitae, foi debatida pelos escolasticos cristios que ig- noravam a origem religiosa do autor, sob a alcunha Avicebron. O teor filoséfico de seu poema fundamental, Keter Malkut, jé foram amplamente apontados, 0 que conferiu ao poema uma dependéncia para com sua obra metafisica. Partindo de uma interpretagdo bergsoniana, acreditamos que, diferentemente de uma dependéncia, a conexao entre sua filosofia e sua poe- sia seja ainda mais profunda. O que se apresenta aqui é uma Yinica intuigao mistica que conduz Ibn Gabirol a expressar seu pensamento em duas linguagens distintas (racional e religio- sa), no sentido de adequar sua mensagem a piblicos distintos (islamico e judaico), que se encontravam separados pela prepa- ragéo da qual dispunham para receber uma mensagem, 0 que se reflete na forma de apresentacao daquele contetido (filosé- fica e teoldgica). Esta correlagao pode ser realizada a partir da identificagdo daquela que seria, conforme Bergson, a imagem mediadora que, além de permitir a comparaco das expresses aparentemente incomunicéveis, permite uma aproximacio & intuigao do autor. Palavras-chave: Ibn Gabirol, Bergson, Mistica, Metafisica, Imagem Mediadora, Avicebron. MISTICA E HERMENEUTICA ‘Cicero Cunha Bezerra | UFS I cicerobezerra@hotmail.com Uma das afirmagées de maior coeréncia, em minha opi- ni, sobre a to antiga relagao entre Filosofia e Religiao, en- contramos na Introducao do livro Dopo la cristianita per un cristianesimo non religioso de Gianni Vattimo (Garzanti, 2002, p. 9). Ali, lemos que: se Deus morreu, e isso significa para a Filosofia, nao ser mais possivel um fundamento definitivo (ob jetivo) para o conhecimento, nao existe mais razao para postu- larmos nenhum tipo de ateismo filoséfico. Para Vattimo, com a “morte de Deus”, foram sepultadas as criticas historicistas de Hegel e Marx, o positivismo e as varias formas de cientificismo que, de um modo ou de outro, justificavam uma defesa para a no existéncia de Deus. Neste sentido, nio ha razo para a filo- sofia de hoje, negar a experiéncia religiosa, Esta afirmagio, que pode ser compreendida como uma profissao de fé é, no fundo, uma constatacio histérica, ou seja, com a morte da metafisica substancialista e das filosofias absolutistas, resta-nos somente a contingéncia e historicidade que caracterizam 0 homem como evento e, neste sentido, a religido, graca a uma interpretagio “desubstancializada” do texto, encontra um espaco na socieda- de atual. Este trabalho tem como objetivo demonstrar, a partir da anélise das obras de Dionisio Pseudo Areopagita e Mestre Eckhart ser possivel pensar, no seio da filosofia medieval, em uma experiéncia do divino que se alinha perfeitamente com a leitura hermenéutica contemporanea e abre espaco para 0 didlo- go entre a mistica medieval e a hermen@utica contemporanea. HOMO HOMINI DEUS: A ANTROPOLOGIZAGAO DO ABSOLUTO EM LUDWIG FEUERBACH Draiton Gonzaga de Souza | PUC-RS | draltonapucrsibr O presente trabalho pretende mostrar como Feuerbach antropologiza o Absoluto de Hegel. Esperar-se-ia que a dis- cussGo de Feuerbach, no que diz, respeito a critica da religiao, sobretudo o cristianismo, se desse com a critica feuerbachiana 4s “Prelegdes sobre a filosofia religiio”, de Hegel. No entanto, Feuerbach dirige-se, precipuamente, na sua critica da filosofia hegeliana — que ele considera, em tiltima instancia, como uma teologia secularizada — aos escritos “Fenomenologia do espiri- to” e “Cigncia da Logica”. Feuerbach, num primeito momento, leivo de Filosofia da Re Congresso Br 25 26 reduz a Filosofia de Hegel & Teologia e, posteriormente, mostra que a Teologia nada mais é do que Antropologia. A VIA A-TEIA PARA DEUS E A CONSTITUICAO DE UMA. ETICA TELEOLOGICA A PARTIR DO PENSAMENTO DE EDMUNDO HUSSERL Edebrande Cavalieri | UFES | ecavalierigmail.com A tese toma o pensamento de Edmund Husserl (1859- 1938), em particular a tiltima fase de vida denominada de Kti- sis, quando a reflexéo fenomenoldgica se volta para o complexo contexto histérico da primeira metade do século XX, marcada pelo advento de movimentos relativistas, cepticistas, e irra- cionais. Este momento explicita uma crise aguda da formagao cultural moderna ocidental e tem na dimensao ética 0 eixo de maior vulnerabilidade.Tomando como referéncia a obra A crise das ciéncias européias e a fenomenologia transcendental, este trabalho procura pensar a idéia de Deus a partir da via a-téia (nao teolbgica) como possibilidade de motivacao teleolégica ética, e nao ontoldgica e gnosiolégica. Em razao disso, foi pre- iso percorrer o caminho avaliativo que Husserl faz da referida formacao cultural, que procede de Descartes e Galileu, emble- mas de uma nova cosmovisao, e recolocar o sentido teleolégico sob as exigéncias éticas. A idéia de Deus é tomada na perspe: va filos6fica (via a-téia) como pélo unitario, enteléquia imanen- te ao universo, MOnada Suprema, que permite e motiva a cons- tituigao de uma ética teleolégica. Em razdo da complexidade do problema tivemos que percorrer os trés niveis fundamentais da fenomenologia ~ estatico, genético e generativo — desenvolvi- dos nao de modo linear, mas entrecruzados; este procedimento metodolégico foi utilizado e reconhecido por Huser] na me- dida em que se colocam problemas que pertencem a uma “es- cala superior” e implicam a “explicitaco laboriosa das esferas inferiores’. Os resultados da pesquisa apontam na diregao das, possibilidades da via a-téia, na abertura em telagao a idéia de Deus, e ampliacao do conceito de raza com 0 qual trabalha a fenomenologia. A idéia de Deus assim constituida no como causa do mundo, mas intencionalidade motivadora, livre dos cédigos disciplinares institucionais e doutrinas dogmatizantes, possibilita a constituicao de uma ética teleolégica de co-existén- cia. CONTRIBUICOES DA QUESTAO DO TEMPO EM GADA- MER PARA A COMPREENSAO DA RELIGIOSA DO TEM- PO Eduardo Gross | UFJF | eduardo.gros@uol.com.br Para Gadamer, a compreensio do tempo no ocidente depende da visio conceitual que se tormou dominante na sua tradigfo reflexiva, Assim, quando Agostinho afirma no livro 11 das Confissbes que sabe 0 que é 0 tempo, mas nao pode expli- cé-lo ao ser questionado sobre o tema, ele esta exemplificando uma situagdo que é generalizada: h4 um abismo entre o saber pté-reflexivo e a expresso conceitual do pensamento. Alguns temas importantes para a a reflexo sobre o tempo elaborada por Gadamer so: 1) O problema da novidade - como se relacio- nam 0 desenvolvimento e a superacio de situagées histéricas e vivenciais. 2) O tema da festa religiosa - a festa é experién- cia do tempo em que o presente nao ¢ meramente um tempo comum, mas isso nao implica a fundamentacao de um lugar alheio ao tempo, ja que a festa s6 se realiza temporalmente. 3) A experiéncia do envelhecimento - como a vida nao pode ser sim- plesmente medida através do tempo cronoldgico, sendo funda- mental para tal a percepgao dos sentidos vividos, 4) A questao da morte - a determinagao de fundo que consciéncia da morte Tepresenta para a compreensao humana, especialmente no que diz respeito & relac3o do ser humano com a temporalidade. A abordagem destes temas por Gadamer a partir da critica a com- preensao abstrata do tempo, levando em conta o ambito pré-re- losofia da rasileivo Congresso 27 28 flexivo enquanto saber, abre a possibilidade de uma valorizacio da percepgio religiosa do tempo para a reflexao filoséfica, RELIGIAO E POLITICA NO JOVEM HEGEL: MODERNIDA- DEA PARTIR DA INTERPRETACAO DO CRISTIANISMO Erick Calheiros de Lima | UNICAMP | ericklima74erhotmail.com Os textos nao publicados de Hegel, produzidos entre 1796 e 1806, constituem o nascedouro de muitas concep¢oes do sistema definitivo, como as de eticidade, de reconhecimento, e mesmo elementos da critica ao formalismo e da légica especu- lativa. Se os textos de 1802-1806 podem ser lidos, em determina- dos aspectos, como um processo de fermentagéo que resultaré na concepeao de sistema vinculada & Fenomenologia — e, mais tarde, & Enciclopédia —, os textos anteriores, conhecidos como “escritos teol6gicos de juventude”, revelam, através da consi- deraco das relagdes entre o “espirito do cristianismo” e os es- piritos judaico e grego, os primeiros contornas de temas como a “Authebung do ponto de vista moral na eticidade”, a consti- tuicdo intersubjetiva da comunidade e a compreensio das i suficiéncias sécio-integradoras da modernidade politica, temas vinculados & relativizacGo do cristianismo pelo ideal da Volks- religion. Langando mao de textos como Geist des Christentums € 0 Systemfragment de 1800, pretende-se aqui, primeiramente, mostrar como Hegel tenciona tornar frutifera a contraposicao proposta por Jesus entre o principio cristio do amor e 0 “lega- lismo” judaico para uma critica radical da moral deontolégica, expresso prética mais elevada do esclarecimento, Em segundo lugar, o objetivo é mostrar como Hegel antecipa, a partir da dis- cussdo do “crime” e do “destino”, uma compreensao da consti- tuigdo organica da comunidade; em terceiro lugar, como Hegel se serve da discuss sobre o “destino de Jesus” para tematizar as dificuldades de integracao social na modernidade politica, isto é, sob a égide do sucateamento, imposto pelo esclareci- mento e pela hipertrofia das estruturas diretivas da economia de mercado, do substancialismo da visdo religiosa do mundo. Finalmente, pretendemos considerar os elementos vinculados a compreensao da religido como tinica forma de acesso ao ab- soluto, a qual, apesar de ser abandonada em favor da filosofia, contém o preambulo da critica & filosofia da reflexao. DESCONSTRUCAO DA FE CRISTA NA OBRA DE JEAN- LUC NANCY: LA DECLOSION (DECONSTRUCTION DU CHRISTIANISME }). PARIS : GALILEE, 2005. Etienne A, Higuet | UMESF | ethiguetuol.com.br Jean-Luc Nancy é talvez o maior expoente atual da cor- rente pés-modernista francesa, apés 0 desaparecimento dos seus principais representantes. Formado na fenomenologia e discipulo de Jacques Derrida, 0 autor aplica aqui o método da desconstrugao ao cristianismo, no seu vinculo indissocidvel & histéria do Ocidente. Trata-se, em particular, da fé crista, a qual deve ser liberada — conforme o modelo kantiano — de seus con- tetidos concretos, e reduzida fenomenologicamente a seus ele- ‘mentos intencionais constitutivos. A fé torna-se, assim, “adesio asi de uma visada sem outro”, isto &, de uma visada sem cor relato de objeto ou sem outro preenchimento de sentido além da propria visada ou intencionalidade. Na linha da tradi¢ao lu- terana, a fé 6, antes de tudo, atitude de confianga e fidelidade, no a algo ou alguém, masa si mesma, a sua propria fidelidade enquanto adesao ao infinito do sentido. E 0 resultado de uma “elevacao da razo acima de si mesma”. Ao mesmo tempo, a Idgica da f6 pertence a logica da graca ou do dom. A fé da ra- 280 deve também desembocar numa praxis comprometida com as exigéncias do nosso mundo. Nancy concorda, nesse ponto, como 0 autor da Carta de Tiago, para o qual a fé nao subsis- te em si mesma, mas s6 pode ser mostrada a partir das obras, com as quais se identifica. No final, sero introduzidas algumas da Religito iro de Filosofia d Mt Congresso Brasi 29 30 breves indagacdes, em particular quanto & coeréncia no uso do método fenomenolégico e a legitimidade da desconstrucso da experiéncia da fé como vivéncia, a qual corre o risco de ser es. vaziada da sua substancia. BEATITUDE E SALVAGAO NA VERA RELIGIO DE ESPI- NOSA Fernando Dias Andrade | Unifesp | grustuol.com-br Espinosa, no Tratado teoldgico-politico, explica que a sal- vacao esté ao alcance daquele que pratica a verdadeira religia o. No interior de sua critica ao poder teol6gico-politico, Espinosa, em lugar de negar a validade da busca pela salvagao, demons. tra que esta é a propria felicidade e beatitude do homem que conhece a necessidade da lei divina, ou seja, a necessidade da natureza inteira. No TTF, Espinosa aponta reiteradamente para a prética da justica e da caridade como a forma de vida que a palavra de Deus diretamente nos solicita nas escrituras sagra- das, prética que ¢ plenamente correspondente ao conhecimento racional das leis da natureza humana e, neste sentido, é confir. mada pelos textos do Tratado da emenda do intelecto, da Etica € do Tratado politico: a salvacdo humana dé-se nesta vida, en- quanto felicidade formada pelo cultivo do conhecimento verda- deiro ~ cuja forma maior é 0 conhecimento verdadeiro da idéia intelectual de Deus - e, por tudo o que se retira desse conhe- cimento, pela compreensao de que a imaginacao da lei divina no 6 empecilho para a compreensio das leis naturais ¢ civis da vida coletiva pacifica. Cabe questionar, assim, qual a relacao entre 0 conceito espinosano de beatitude-salvacio-felicidade ¢ @ nogio de vida religiosa segundo a vera Religio (e segundo uma ou outra religiao em particular) e, conseqiientemente, qual serd o valor dessa mesma idéia de verdadeira religiosidade no Panorama da vida civil ou politica (visto que a eternidade desta depende da construgio da Pax et libertas ~ principio que se re- fere diretamente ao de Justitia et charitas), RELIGIAO E CIENCIA NO PENSAMENTO DE SIMO- NE WEIL Femando Rey Puente | UFMG | ferey99@yahoo.com.br O objetivo do trabalho sera o de apresentar a visio origi- nal e profunda que a filésofa francesa Simone Weil (1909-1943) tinha acerca da verdadeira relacio entre a ciéncia e a religiao. De fato, esse era um assunto de fundamental relevancia e atua- lidade para a autora, pois ela percebia precisamente no supos- to e propalado hiato entre esses dois dominios a causa tanto da incompreensio do cristianismo em relacéo ao mundo grego quanto também da incompreensio da civilizagio técnica ¢ de- sacralizada de seus dias sobre o significado e importéncia da religiio. A discussao por ela realizada situa-se em dois planos: em um dominio hermenéutico-histérico (a leitura que se fez ao Tongo dos séculos do mundo dos gregos, em especial da ciéncia grega), bem como em um dominio politico-prescritivo (a saber, do possivel, e para ela necessario, resgate da dimensGo religiosa em nossa vida hodierna). A reflexao de Simone Weil a respeito dessa relacio entre ciéncia e religiao constitui um pilar funda- mental na edificacdo de uma das maiores filosofias que surgi- tam no decorrer do século XX e que hoje, em pleno século XX, ‘mostra cada vez mais sua ousadia especulativa e sua originali- dade reflexiva, ATEISMO E NULISMO Flavio Senra | FAJE - PUC Minas | laviosenra@uol.com.br Cada época traz consigo determinadas questées e o nii- lismo é para nosso tempo um verdadeiro desafio. Identifica~ do por Nietzsche, no final do século XIX, como um héspede perturbador cabe ainda perguntar-se sobre o que é o niilismo © qual alcance atingiu o problema na contemporaneidade. O 3 Congresso Brasileiro de 31 | 32 termo “niilismo”, utilizado por Nietzsche, designa a esséncia da crise em que o mundo modemo esta metido. Esta realidade estdé marcada pela crise dos valores e, de certa forma, submerge a humanidade na angisstia do absurdo pela falta de sentido. A comuinicacao tem por objetivo apresentar os resultados parciais do projeto de pesquisa que identifica e analisa, nos textos pés- tumos de Nietzsche, o diagnéstico acerca do niilismo e procu- a estabelecer uma relacao entre esta temética e o problema do ateismo. Além da bibliografia priméria a ser analisada, a saber, as obras do periodo 1884-1888, no que se refere ao problema Proposto, a pesquisa investiga fragmentos da recep¢ao e rea $40 do/ao problema e procura destacar a interna relacéo entre a tematica do ateismo nietzscheano e o desafio do niilismo. A co- municagéo, enquanto faz o levantamento e a anéllise comparati- va entre os textos de Nietzsche relacionando niilismo e atefsmo, procurara identificar a interna relagéo da moral-metafisica-r gido, de cardter ascético, como né para a compreensio dos gra- ves problemas vividos como problemas éticos na contempora- neidade: fundamentalismo politico-religioso, fundamentalismo mercadolégico, banalizagio da vida. Sendo a tipologia religiosa uma constante na abordagem nietzscheana, a relagao niilismo © 0 ateismo serd o fio condutor da investigagao. Com este tra- balho se pretende ordenar os textos clissicos sobre o assunto € chegar a um levantamento do problema de tal forma que sirva de ponto de partida para novas investigacdes, interpretagdes e aplicagdes sobre o tema. A VOCACAO NIILISTA DA HERMENEUTICA. GIANNI VATTIMO E RELIGIAO FREDERICO Frederico Pieper Pires | UMESP | fredericopieperyahoo.com-br G. Vattimo é um dos importantes filésofos da atualida- de. A partir da filosofia de Nietzsche e Heidegger, propoe que a superagao da metafisica se dd por meio do niilismo, No entan- to, o que Vattimo entende por niilismo? Este controverso tema possui trés sentidos: 1)Tudo & interpretagao, isto é, nenhum discurso pode se legitimar com base na maior proximidade As coisas mesmas; 2) Isto também ¢ interpretacdo, ou seja, este po- sicionamento também ha de se reconhecer como uma interpre- tacio dentro de determinada abertura histérica; 3) Niilismo é a historia do enfraquecimento do ser, na qual as estruturas fortes da metafisica perdem sua peremptoriedade. A partir da andlise destes sentidos de niilismo, este tra- balho busca mostrar como, para Vattimo, o cristianismo promo- ve a superacéo da metafisica. Isto implica em dizer que 0 cris- tianismo é 0 elemento niilista operante na tradicéo metafisica. Com a concepgio de Deus de um Deus que assume a kénosis como possibilidade, a hermenéutica engendra e ¢ engendrada pelo enfraquecimento como destino da histéria ser. Sea princi- pio a hermenéutica surge com intengao desmitologizante, gradativamente ela se reconhece como um mito, levando- nos a morte de Deus, isto é nao hé nenhum fundamento wlti- mo, mas apenas disseminacfo de interpretagdes. A hermenéu- tica possui esta vocagio ao niilismo por se inserit na abertura marcada pelo ato kendtico. Em primeiro lugar, analisaremos o conceito de metafisi- ca no pensamento de Vattimo, revelando sua leitura bem par- ticular do pensamento de Nietzsche e Heidegger. Em segundo lugar, é necessario que nos detenhamos na articulagao entre su- peracio da metafisica e niilismo a fim de compreender como e qual cristianismo se articula com niilismo conduzindo a metaft- sica & sua superagao. It Congresso Brasileiro de Filosofia da Religito 3S 34 FILOSOFIA E CAVERNAS: CAMINHOS MiSTICOS NAS ORIGENS DO PENSAMENTO OCIDENTAL Gabriele Comelli | UnB | comellieanb.br No espaco geofiloséfico da Magna Grécia aparecem cons- tantes referencias a praticas de katébasis, de descida ao mundo dos mortos: dos trés fildsofos pré-socraticos mais significativos, Pitdgoras, Empédocles e Parménides, este tiltimo é 0 menos r lacionado a esta e outras praticas geralmente aproximadas as tradigdes drficas. Em evidente continuidade com a mitologia 6rfica, as tradigdes filoséficas pitagdricas e as praticas misticas, a literatura filosofica antiga demonstra compreender 0 exercicio mistico como um momento fundamental do itinerario intelec- tual de formagio do homem sébio. De maneira especial, a ka- tabasis, a descida ao mundo do mortos, desenha-se como lécus fundamental para o caminho da sabedoria. Com conseqiiéncias extraordinariamente interessantes para uma compreensao mais profunda de um dos loci narrativos mais significativos da filo- sofia antiga: a caverna da Repiiblica. MiSTICA E POLITICA NO PENSAMENTO DE MESTRE ECKHART Gerson Brea | UnB | brea@unb.br Pode-se soar, para alguns, um pouco estranho quando pretendemos contemplar o pensamento de Mestre Eckhart a partir de uma perspectiva politico-filoséfica. De fato: “mis- tica” é uma palavra que se introduziu em nosso vocabulério cotidiano, pretendendo designar normalmente determinadas vivéncias, caracterizadas por uma espécie de afastamento do mundo concreto em que vivemos e pela experiéncia com algo mais essencial, algo extraordinario, algo mais singular. Prova disso é a conexao que ndo raramente se estabelece entre mistica © praticas como ocultismo, magia, astrologia, esoterismo. Essa impreciséo nao é, entretanto, uma peculiaridade do senso comum. Se considerarmos as definigdes de fildsofos e te- logos, nao tardaré muito para constatarmos a diversidade de acepces. Logo perceberemos como eles também se posicionam de maneira muito diferenciada frente ao mistico ~ ora com aver- so, ora com simpatia. Basta aqui lembrar das posicdes tao dis- tintas, por exemplo, de Jaspers, Otto, Heidegger, Lukacs. ‘Também Ernst Bloch discutiu por diversas vezes em sua obra amistica medieval e, em especial, o pensamento de Eckhart. Isso fica claro jé em seus primeiros estudos sobre Thomas Miin- zet. No por acaso. Tanto como pensador de uma transforma- io da vida politica e eclesiastica, como lider revolucionério nas Guerras Camponesas, Miinzer sempre se sentiu inspirado pelos escritos de Tauler e de Mestre Eckhart. Como conciliar dois mo- ‘mentos aparentemente tao conflitantes? Afinal, ha realmente algum conflito entre uma orientagao mistica e um engajamento politico? Qual o significado politico da mistica, nesse caso, de Eckhart? O intuito de nosso trabalho é ~a partir de Mestre Eckhart e de alguns estudos sobre o tema, fundamentalmente daqueles de Emst Bloch ~aprofundar e levantar questdes que tratam das relages entre mistica e politica: do vinculo com 0 povo, da re- definigao de valores, do desenvolvimento de uma nova lingua- gem, da énfase dada a syntheresis. O CRISTIANISMO DEPOIS DE NIETZSCHE Ibraim Vitor de Oliveira | FUC-Minas | vitorivaalibero.t Pretende-se mostrar até que ponto a filosofia de Nietzs- che, no ambito da dissolugio telealégica, provoca o discurso religioso, principalmente o teol6gico-cristao, e averiguar, em se levando a sério 0 pensamento nietzschiano, quais as possibi- lidades restariam para a vigéncia do cristianismo, Trata-se de se evidenciar as contribuigdes de Nietzsche, nao obstante sua perspectiva martelar, na edificagio de um discurso teolégico igido resso Brasileiro de Filosofia da UI Con. 3S 36 menos violento. A inspiracao de base se inscreve nas palavras do tedlogo Guardini, segundo o qual, “depois de Nietzsche, nao podemos mais fechar o olhos diante do fato de que as proposi- Ges do pensamento, aparentemente de todo objetivas, so, a0 mesmo tempo, vivas tomadas de posicSo, decisies da vontade, orientagdes criticas, medida para o julgamento sobre o valor e sobre a hierarquia das coisas. Os conceitos so, ao mesmo tem- po, elementos estratégicos da guerra da vida”. Mas, é ainda pos- sivel resgatar alguma contribuigao de Nietzsche para a religifo, mesmo que o tom de sua filosofia pareca ser o de solapar por completo as instituigdes religiosas? Em outros termos, falar de contribuigao de Nietzsche neste contexto nao seria suavizar a sua filosofia e, conseqiientemente, estabelecer uma contradigao in terminis na presente proposta, jA que se tratam de posturas visivelmente inconcilidveis? Neste caso, ser4 necessdrio estabe- lecer um justo registro de trabalho, no qual se torne possivel colher alguma contribuigao. Semelhante registro ¢ 0 que se de- senvolve no horizonte do sentido do ser, fugindo de qualquer perspectiva essencialisica. Ao que parece, somente o empenho mistico-religioso suportaria tal ambito de consideragies. FILOSOFIA E METAFISICA EM DUNS SCOTO Jairo Dias Carvalho | UFU | jairodiascarvalhowbol.com.br A comunicagio pretende discutir 0 conceito de alquid em Duns Scoto. Ao propor um conceito neutro que pode ser atri- buido tanto a Deus quanto as criaturas Scoto formula a tese da umivocidade do ser , o que problematiza a relagao entre metafi- sica, filosofia e teologia. Duns Scoto pde problema & questio da analogia de atribuic&o. Em jogo est a interpretacdo da Metafi- sica de Aristételes. Ser o conceito de univocidade do ser que permitiré pensar a metafisica pensada como teologia, porque tem o ser por objeto, mas o ser no sentido absoluto: o ser en- quanto ser é Deus. Scoto reintegra a eminéncia do néo sensfvel e mostra que Deus é determindvel sem deixar de ser transcen- dente. A univocidade do ser a partir do transcendental aliquid (Alguma coisa) fundaré uma série de posigles que iré culminar na invenc&o da Ontologia. Scoto funda toda uma tradicéo a par- tir da destruicio do uso da analogia de atribuigao. Esse campo se desdobraré na filosofia do transcendental res de Suares e na filosofia do objeto transcendental em Kant. Nao seré no campo da Univocidade que podemos, hoje, retomar uma tarefa positi- va para a uma filosofia, longe da virada lingiifstica? Pretendemos, portanto, discutir a critica de Duns Scoto & analogia de atribuigao e a fundagao de um campo especulativo em torno da univocidade do ser que tera desdobramentos na histéria da filosofia. O PROBLEMA DA ESSENCIA DO FENOMENO RELIGIO- so Joio A. Mac Dowell | FAJE | macdowsjacesjesuit-br Falar da esséncia do fendmeno religioso pode parecer pro- vocante, Com efeito, esta linguagem se choca com a perspectiva das ciéncias da religido, que no perguntam propriamente "O que é Religigo?”, mas “Para que serve a Religiao?”, indagan- do qual sua funciona vida do individuo e da sociedade. Por outro lado, é rejeitada pelas correntes filoséficas de tendéncia empirista e positivista, que consideram sem sentido falar de esséncias. Entretanto, as definigies funcionais de Religido nao atingem o mais caracteristico do fendmeno teligioso e, tomadas exclusivamente, o deformam, além de pressuporem logicamen- te 0 reconhecimento pelo homem religioso de sua relagao com © sagrado/divino. Para determinar a esséncia do fenémeno religioso é mister partir de uma fenomenologia da religido, que apresente a estru- tura fundamental do fendmeno religioso. Mas para identificar ‘0 que constitui propriamente a Religido, como dimensio origi- oF 33 nal da existéncia humana, é necessdrio dar um passo & frente, recorrendo ao significado religioso do mito/rito. A Religiao sé apresenta no mito/rito essencialmente como compreensio da realidade humano-mundana na sua dependéncia para com o sa- grado/divino e como a atitude de servigo ao sagrado implicada nessa compreensio. O sagrado como fundamento da realidade se revela ao mesmo tempo como fonte de vida e ameaga mortal, que se manifesta e se oculta no mito/rito, pois tanto sua plena resenca como sua total auséncia significariam o fim do mundo. Oeespecifico da compreensio religiosa do mundo, por sua vez, & @ percepgao existencial da unidade paradoxal entre sua radical labilidade e seu permanente ressurgimento, interpretados a luz do sagrado, que, por sua proximidade, Ihe comunica sua forca criadora ¢, por sua distancia, retém sua forga destruidora. Por conseguinte, a religido se apresenta como um servigo que o ser humano, através da sua profissao de fé, expressa no mito/tito, Presta, em primeiro lugar, ao sagrado, enquanto reconhece sua soberania e cumpre suas prescrigées, e, secundariamente, 20 mundo, que deve a este servico sua existéncia e preservacao. O TEMA DE DEUS NA ETICA DA ALTERIDADE DE LEVI- NAS Joo Bosco Batista | UFSJ | jkdcmgconecta.com.br A hipétese que guia nosso trabalho é a de que Lévinas Procura ultrapassar as abordagens filosdfica e teo-légica de Deus, vislumbrando sua presenca por meio da ética originéria da alteridade. Assim como Heidegger, o autor francés-lituano Tecusa 0 discurso onto-teo-lgico que predominou na cultura ocidental, através do qual Deus representa 0 conceito de catisa sui e causa primeira de tudo que ha. Lévinas nao se preocupa propriamente com o conceito de Deus; Ele escapa a toda preten- sao conceitual. Deus nao constitui um tema que Lévinas trate como um problema a ser demonstrado, conceituado a partir de categorias filoséficas ou teolégicas. Deus em sua transcendén- dia é inassimilavel, irremissivel: sua transcendéncia é enigmati- cao que constitui o tema da Eleidade. Ele aborda o tema de Deus por meio de uma linguagem inusitada: a Etica da alteri- dade. Para ele, a ética deve preceder todo e qualquer discurso filos6fico ou teoldgico (religioso). Lévinas nao é um pensador religioso, mas ndo hé ditvida que pelo vies do judaismo, o sig- nificado religioso da existéncia ndo deixa de ser relevante em seu pensamento, Ele impée a si mesmo a tarefa de desconstruir a idéia de Deus apresentada pela ontoteologia, e propor uma nova inteligibilidade da relagao Deus-homem e um novo sen- tido para o homem da expresso “Deus vivo", além de instau- tar a religiao como instancia fundamentalmente ética. Deus se apresenta para 0 homem (teofania) por meio do Infinito que se manifesta como Desejo além da satisfacdo, além do ser; como puro des-inter-essamento. A expresso ética do tema de Deus se mostra através do rosto do outro: ir a Deus significa ir a diregao do préximo. O outro é o lugar “sagrado” da verdade de minha relagdo com Deus. Assume uma especial relevancia 0 tema da Gléria que nos remete ao tema do vestigio de Deus no outro, diante do qual apenas nos é permitido dizer: “eis-me aqui’. Palavras-chave: Deus. Lévinas. Etica. Alteridade. ONTOLOGIA E TRANSCENDENCIA: O SER RELIGIOSO E OS SENTIDOS DO SER José Carlos Aguiar de Souza | ISTA- PUC MINAS | Gelson Antonio Leite | ISTA (Aluno) | reitorceséterra.com.br Anossa comunicagio visa discutir a questo da transcen- déncia da alteridade sagrada explorando os diferentes sen- tidos do ser que se configuraram no transcorrer da tradi ocidental do pensar: univocidade, equivocidade, dialética e me- taxologia. O ponto focal da discussao proposta é a investigacao da ontologia implicita que permeia tanto a concepsao religiosa quanto as concepgées seculares contemporaneas. Para tal ele- gemos a metaxologia como a base teérica de fundamentacao. ligia iro de Filosofia da Re (t Congresso Br 24 40 O sentido metaxolégico ¢ a teoria que oferece um dos mais am- plos e profundos horizontes para a discussao da problemética da alteridade religiosa e da transcendéncia no contexto de uma filosofia da Religiao. © DESLOCAMENTO DA CONSIDERACAO HABERMA- SIANA DA RELIGIAO José Pedra Luchi | UFES | kichi-jpohotmail.com Essa comunicagio se propée a abordar 0 movimento da mpostacio da eligiao no pensamento de Habermas. Num mo- mento anterior a religiao ¢ vista como precursora de uma racio- nalidade comunicativa plena por delimitacdo ndo-comunicati- va de um conjunto de convicgées que sustentaria a integracio social. Mais recentemente, no quadro de uma filosofia juridica e politica a Habermas enfoca a religiao como reserva de recursos para resolugdes existenciais e fonte de solidariedade social, que merece respeito e atengo como tal, embora nao possa pretender ptloridade. Sero copnsiderados seja 0 didlogo entre Habermas e Ratzinger, que trata da questéo da fundamentagao secular do Estado Democratico de Direito seja a critica do primeiro ao Dis curso de Bento XVI em Regensburg. O MARAVILHOSO NA ORIGEM DO MOVIMENTO DE JE- sus Josemir Noguelra Telxeita lgetanoguelratmgconecta.com.br Esta comunicago faz parte de um projeto mais amplo, no qual pretendo observar se e como ocorreu a apropriacio do maravilhoso pelo discurso racional, na tradigao ocidental crista. Nela, porém, procuro observar a presenca do maravilhoso como elemento constitutivo da época do nascimento de Jesus. Foi 0 estudo do historiador francés Jaques Le Goff, sobre 0 perfodo medieval que me chamou atengao para o “maravilhoso”. Uma abordagem dos livros canénicos e apécrifos da tradicao crista permite perceber a presenga daquilo que Cassirer denominou de consciéncia mitica, ou seja, um lugar cultural onde convi- vem seres divinos e humanos. Esta convivéncia revela as mais diversas formas de interferéncia dos seres divinos na vida dos humanos. A divindade revela, aponta os caminhos que deve 0 homem seguir. Sua presenca nao é perturbadora, nem causado- ta de desequilibrio, ao contrério, constitui-se como familiar. As decisdes da vida do homem mais simples ou as de um corpo de sacerdotes passam pela interdependéncia entre divino e huma- no. A divindade revela-se através dos mais variados sinais. O que predomina nesta relacio é a ldgica do sentiment, do afeto entre o divino e o humano. O discurso racional aparece como um instrumento de registro da comunicagéo na relacao afetiva entre ambos. Para saber o que se deve fazer em dada situacao, no basta ser um ancido ou sumo sacerdote, mas é preciso que, pela manifestacio de seres sobrenaturais, seja indicada a deci- séo a ser tomada ou o caminho a ser seguido. Desta forma, é que 0 maravilhoso se faz presenga constante nas origens do mo- vimento de Jesus. Esta manifestacdo do maravilhoso que, pare- ce-me, foi aprisionada, posteriormente, pelo discurso racional desenvolvido na tradi¢o ocidental cofia da RE 44 42 A RELIGIAO E O DEBATE PUBLICO. REVENDO O CON- CEITO DE SECULARIZAGAO Jilio Paulo Tavares Zabatiero | EST - EPG! jzabatierowuol.com.br Em sociedades plurais democraticas, a formulagio de leis normas sociais se da no ambito da laicidade do Estado. Ques- tes contemporaneas tais como terrorismo de fundo religioso e pesquisa com oélulas-tronco tém recolocado no espaco ptiblico o lugar da religiao nas discussées sobre leis e normas de con- vivéncia inter-religiosa, inter-estatal e de limites e influéncias reciprocas entre fé e ciéncia, direito religioso e direito consti- tucional. Neste trabalho, a partir de dois textos de Jiirgen Ha- bermas, “Fé e Conhecimento” e “Os secularizados nao devem negar potencial de verdade a visdes de mundo religiosas”, re- tomo a discussao sobre o conceito de secularizagao e proponho a sua revisdo, deslocando-o do ambito da epistemologia para o ambito da politica e, especialmente, do debate democratico. © tema dos limites entre fé e ciéncia, exemplificado no debate po- litico-legislativo sobre a pesquisa com céhulas-tronco, oferecerd © enfoque para a reviséo do conceito de secularizacio. KANT: O PODER DA RELIGIAO NOS LIMITES DA SIM- PLES RAZAO. Lindomar Rocha | PUC Minas A religigo em Kant, corrige a propagacio deficiente do conhecimento fora do dominio especifico da legislagao do en- tendimento e da determinac&o da vontade, instituindo a con- formidade do particular com o universal. Isto significa que o papel desenvolvido pela religiio alcanga regulativamente um universal, sobre o qual é possivel subsumir o particular dado e conformar a quantidade dos acontecimentos a idéia de uma perfeicio derivada de sua prépria forma (Deus). Deste modo, a dialética racional se reencontra na solugéo ry teleolégica como uma causa reflexiva da capacidade de pensar segundo a finalidade, isto é, como se fosse (ob sich) realmente possivel instaurar uma disposicao no devir dos fatos, compre- endendo ser este um principio nao para a faculdade do juizo determinante, mas somente para aquela reflexiva Usando 0 juizo reflexivo para concluir a representacio fi- los6fica sobre os transcendentais, é suficiente observar, a fim que nao se confunda o papel da religiao, que o seu uso deve resumir-se somente aquela disposigio onde nao sera mais pos- sivel intuir a razdo do mecanismo, onde os acontecimentos se dispdem voluntariamente a incidéncia da liberdade. A teleologia critica sobrepée o principio reflexivo do juizo para julgar o devir como produzido em analogia com a causa- lidade [analogie mit der Kausalitat] de um entendimento. «0 ‘caso é completamente diferente se eu digo: a produgio de certas, coisas da natureza ou também da natureza no seu todo 86 é pos- sivel através de uma causa que se determina a si propria a agir segundo intengGes; ou se digo: segundo a constituicao especi- fica das minhas faculdades de conhecimento nao posso julgar de outro modo a possibilidade daquelas coisas e a respectiva produgio, sendo na medida em que penso para aquelas uma ‘causa que atua intencionalmente, a qual é produtiva segundo a analogia com a causalidade (Analogie mit der Kausalitit) de um entendimento». KU § 75 No sistema completo da razo, Kant encontra um uso le- gitimo para a religiao, que se firme como tiltimo ponto de sua fllosofia. fe Filosofia da Re Brasileiro A AUTONOMIA DO ELEMENTO RELIGIOSO: UM TEMA IRRENUNCIAVEL DA FILOSOFIA DA RELIGIAO Luis H. Dreher | UFJF | drehers8@powerline.com-br Baseado nas tentativas de expandir a nogao kantiana de | a priori transcendental no campo da filosofia da religido, mor- mente a partir da obra de Rudolf Otto, que liga aquela nocéio coma categoria do irracional (respectivamente do “numinoso”) para abordar sistematicamente a integralidade descritivel do fe- némeno religioso, o presente trabalho busca averigiiar em que medida a possibilidade de tal expans&o ainda pode contribuir para a base metodolégica de uma filosofia da religiao atual. Tal empresa torna-se relevante sobretudo diante dos questiona- mentos advindos das varias formas do assim-chamado “estudo Gientifico da religiao", especialmente & medida em que estas, buscando evidenciar o arraigamento social, cultural, histérico, econémico e lingiiistico da religiéo, acabam por nao fazer jus Aquilo que, em ultima andlise, garantiria a possibilidade de um estudo proprio da religido, a saber, sua especificidade. Mas foi justamente a esta Otto se referiu ao falar do caréter sui generis, da religiao. A tese proposta & que, embora esta especificidade possa ser questionada—e mesmo parcialmente relativizada—de varias maneiras ao se apontar para a “teligio” enquanto fend- meno multifacetado e mesmo difuso, ou seja, de contornos pou- co definidos, é impossivel falar de religido sem considerar sua necessidade e especificidade em termos de uma validade trans- cendental peculiar fundada no préprio espfrito humano. Neste sentido, o enfoque ottoniano nao se esgotaria devido & consta- tagio encontradia de um suposto “debacle” da fenomenologia da religiao, até porque as rafzes de sua abordagem remontam jé a0 enfoque transcendental e de posterior construc3o do a priori religioso advindos de Kant, Fries e Schleiermacher. 44 ‘A FILOSOFIA ENTRE A MiSTICA E O CONCEITO - A FI- LOSOFIA DA RELIGIAO SEGUNDO ABRAHAM IOSHUA HESCHEL. Luiz Felipe Pondé | PUC-SP | Ifpondeepucsp.br A tradigao abraamica conhece nas suas trés vertentes 0 continuo problema do conflito entre a experiéncia mistica e a ossibilidade de sua expressao. O proprio conceito de ‘mistica’ G objeto de controvérsia entre tedlogos, filésofos e historiadores. Mais complexo ainda seria a hipétese de uma filosofia a partir da mistica. Por outro lado, o conceito de ‘filosofia da religiao’ também experimenta instabilidade semantica e epistemolégi ca. Podemos entender esse trago como caréncia ou abundan- cia. Optamos pela segunda interpretacdo. A intencao especifica dessa comunicacao é discutir uma concepgio de filosofia da religiao entendida como produto da experiéncia intelectiva e afetiva da presenga de Deus e seus desdobramentos conceitu- ais e préticos, diretos ou indiretos. Para tal, dialogaremos com ‘Abraham Ioshua Heschel, autor judeu contemporaneo, em dois momentos distintos de sua obra: primeiramente, numa formu- lagio direta, analisaremos sua filosofia da religidio de raiz hassi- dica, ena seqiiéncia, numa formulacao indireta, investigaremos sua fenomenologia do pathos de Deus no profetismo hebraico = neste caso, sua fina andlise da consciéncia do profeta nos leva a atitude filoséfica que descreve um intelecto buscando re-orga~ nizar o mundo a partir da ‘invasao de Deus’. Sua concepgao de filosofia da religiéo ser4 exatamente, seja na formulagao direta como filésofo de tradicao hassidica, seja na formulacao indireta, como fenomendlogo da consciéncia do profeta, a de uma disci- plina marcada pelo desafio da consciéncia diante da presenga de Deus: ambas formulacdes se encontram numa filosofia da predestinagao mistica iro de Filosofia da F II Congresso Bra: 4S 46 A POLEMICA SOBRE A EUCARISTIA NO SECULO XI: UM DEBATE SOBRE O PAPEL DA RAZAO DIANTE DA FE. Manoel Luis Cardoso Vasconcellos | UFP-RS | mvasconestterra.com.br Um exemplo do que significou o debate sobre a dialética no século XI é a controvérsia eucaristica que colacou em lados opostos Lanfranco de Pavia e Berengirio de Tours. Berengério buscou aplicar ao sacramento eucaristico As concepgées dialéti- cas. De fato, entendia que a racionalidade estava intimamente ligada & iddia de evidéncia. Ora, na eucaristia, Berengario via que era evidente a presenga do pio e do vinho, mesmo depois das palavras da consagracio, proferidas pelo sacerdote. Diante da evidéncia impossivel de ser negada, entendia que a transfor- maco do pao e do vinho no corpo e sangue de Cristo ocorria verdadeiramente, mas, de acordo com Berengério, as palavras do sacerdote nao alteravam a substancia do pio e do vinho. Estes elementos passariam a significar o corpo e 0 sangue de Cristo. Contrario as concepees de Berengario é Lanfranc. Ele nao nega a importéncia da dialética, mas entende que ela deve ser usada com cautela, a fim de no conduzir a ettos, No caso especifico do debate eucaristico, entende que a consagracéo tem o poder de alterar a esséncia do pao e do vinho. Estes no apenas significam 0 corpo e o sangue de Cristo, como pensava Berengario, mas possuem a mesma esséncia do corpo de Cristo, presente no céu, Apesar de a aparéncia ser a mesma, antes ¢ depois da consagracio, houve, consoante Lanfranco, uma alte- racéo da esséncia. Este debate, em que pese ser basicamente teolégico, é um claro evidenciador do papel e da importancia da dialética no contexto da filosofia do século XI. A questo que estava posta era: se a dialética é uma disciplina importante, se ela é, como jé dissera Agostinho “a arte das artes e a disciplina das discipli- nas” (De Ordine 2, 13, 38), nao deveria, entio, ser usada para tratar das questdes que séo tidas como as mais importantes, ou seja, as questdes ligadas 3 f8? As respostas de Berengério e Lan- franco nao so suficientemente maduras. Bem mais consistente foi, no mesmo século, a posicZo de Anselmo de Aosta que, em seus escritos, reflete de modo interessante a questo. O ENTENDIMENTO E A VONTADE NA CONTEMPLAGAO, MISTICA: UM PARALELO ENTRE TOMAS DE AQUINO E JOAO DA CRUZ Marcelo Martins Barreira | UFES | marcelo.barreirasyahoo.com.br A comunicacao visa ressaltar um subjacente paralelismo entre a reflexo jodocruciana acerca da contemplagao mistica eo conhecimento afetivo de Tomas de Aquino, tema classico neste autor em que se preconiza uma fungao cognitiva do amor, fungo que, a nosso ver, também se encontra em Joao da Cruz, como pretendemos demonstrar a partir, sobretudo, da obra Su- bida do Monte Carmelo. A contemplacao mistica, para ambos os autores, é ciéncia do amor. Na Suma de Teologia (p. ex.: III, 97, 2, ad 2), Tomés de Aquino defende que, na contemplagao mistica, 0 amor traz um acréscimo de determinagées, de ordem existencial. Tal comunhao existencial pelo amor, pela mutua imanéncia das poténcias, ao invés de ficar opaca A fungao cog- noscitiva, fortifica-a, favorecendo ao entendimento apoderar-se desta novidade em seu ato, uma vez que acontece na totalidade da alma, isto é, em sua substncia. Isto se deve ao fato de que, dessa repercucdo na substancia da alma, a intensidade do ato amoroso tende a expandir-se para as poténcias, unificando a re- dundantia e a distractio ([-I1 4,1,3m), No tocante ao pensamento jodocruciano, apesar da usual dependéncia do amor perante 0 conhecimento (2S 32, 4}, é pela uniao das vontades divina e hu- mana (18 5, 3) que ocorre a unio de semelhanga da alma com Deus. Os toques substanciais experienciados na substancia da alma séo uma aco divina e apassivadora nas poténcias (25 24, 4) que afeta suas capacidades naturais. A acdo passiva e divina nas afeigdes e paixdes interpostas & vontade, poténcia que da origem a um ato livre, vincula-se & ago de Deus, direta e exclu- II Congreso Brasileiro de Filosofia da Religiao 47 48 siva, no entendimento passivo. A HUMANIDADE DO HUMANO E O DISCURSO SOBRE DEUS Marcio Ant6nio de Paiva | PUC-Minas | drdepaivaepueminas.br Nossa proposta se estriba no pensamento de E. Lévinas, cuja critica a ontologia é contundente, e pretende abordar a pro- blematica de uma ética da alteridade como um modo diferente de enxergar o mundo. A passagem do discurso sobre Deus (esti- pulado pelo calculo racional) & ética deve levar em considerac&o © mundo da vida, libertando o proprio agir ético de conceitos pré-estabelecidos, de aeternae veritates. As relagées humanas constituirao 0 horizonte ético ante-predicativo, ou seja, 0 ho- rizonte que antecede a qualquer tematizacao, a qualquer refle- xao. E o horizonte primeiro que, enquanto tal, nao se constitui por nenhum aparato racional. A razéo é apenas um modo de se expressar na vida e nao um dispositive “manufatureiro” de telagoes vitais, Lévinas restabelece a pesquisa sobre Deus, nao mais como aspecto de tematizacdo de um objeto, mas como o totalmente Outro. £ como ele mesmo diz, 0 contexto ético é o tépos a partir do qual Deus me vem & idéia (Lévinas,E. De Dieu qui vient a Vidée. 2 ed. Paris: Vrin, 1998b.). Processa-se uma verdadeira re- viravolta: nao sao as relacdes humanas que se definem a partir de Deus, mas vale o contrario: “8 Deus que posso definir através das relagdes humanas ..) quando devo dizer algo sobre Deus, é sempre a partir das relagdes humanas. Néo parto da existéncia de um ser supremo e onipotente. Tudo que eu puder dizer dele vird desta situagio de responsabilidade que ¢ religiosa no sentido de que o Eu nao pode evita-la. A idéia de Deus é uma idéia que no pode elimi- nar uma situacio humana” (Lévinas, “Transcendence et Hau- teur”, in Bulletin de la Societé Francaise de Philosophie, LIV, 1962, 108). Partiremos da andlise do discurso levinasino em De Dieu qui vient & I'idée, percorrendo outros textos do mesmo autor € confrontando-os entre si para demonstrar que ocorre uma mu- danca vetorial no seu pensamento: nao é mais o discurso sobre Deus que fundamentaria uma ética, mas o tecido do real ~em si mesmo ético ~ é que possibilita 0 discurso sobre Deus. HUMEEA LIMITACAO DO ARGUMENTO DO DESIGNIO: UMA DISCUSSAO AXIOLOGICA ‘Marcos Rodrigues da Silva | UEL | mrs.marcos@uel br Do ponto de vista axiolégico, uma interpretacéo (A) acer- ca dos Didlogos sobre a Religido Natural é a de que Hume te- ria 0 objetivo de refutar o argumento do designio (AD), o qual ofereceria legitimidade & inferéncia de um designer a partir da ordem que observamos na natureza. Porém existe uma outra interpretagio (B): Hume néo teria o objetivo de invalidar AD mas apenas limité-lo. Aceitando-se (B), fica a questao de saber como ele teria sido perseguido pelo porta-voz de Hume nos Di- logos, o personagem Filo. A princfpio haveria duas formas: i) apresentando problemas em AD; ii) apresentando uma alterna- tiva a AD (a ordem poderia ser explicada a partir da matéria). Com relacéo a (i) € dificil supor, dada a natureza dogmatica de AD, que alguma critica pudesse ser assimilada por seus igual- mente dogmiticos defensores. Com relago a (ii), a alternativa oferecida por Filo parece bastante precéria a ponto de, apés sua apresentacao na parte VIII, ser por ele esquecida. Assim, da- das (i) e (ii), nfo parece claro que (B) possa ser estabelecido. No entanto parece haver uma terceira forma (iii), encontrada na réplica de Filo & critica de Cleantes - defensor de AD nos Didlogos ~ & alternativa mencionada em (ii): Cleantes rejeita qualquer explicagio exceto AD e ridiculariza a alternativa de Filo; porém este, em sua réplica, nao se preocupa em defender iro de Mt Congreso Brasi 4q 5O sua alternativa, mas prope a Cleantes isonomia na adogao de parémetros criticos, o que possibilitaria uma avaliagao critica de todas explicacdes; e por meio da avaliacdo critica nao refuta- riamos AD, mas colocarfamos limites as suas pretensdes. Nesta comunicacao pretendo mostrar que os defensores de (B) devem persegui-lo a partir de (ii). O PENSADOR RELIGIOSO ‘Maria Cristina Mariante Guarnieri | PUC-SP | ctiaguarnieri@uol.com.br Nosso intuito ¢ refletir sobre uma filosofia da religiao que defenda o pensador religioso néo sé como objeto, mas como instrumento de conhecimento, especificamente a partir do reconhecimento da angiistia que 0 constitui como huma- no. Tomamos como referencia os pensadores religiosos Franz Rosenzweig, Séren A. Kierkegaard e 0 s4bio Qohelet (Antigo Testamento), cujas reflexdes indicam a presenca da angustia. Priorizando a subjetividade e a concretude da existéncia, esses autores se esforcam para compreender 0 humano que ¢ tinico em seu sofrimento. A angtistia como chave de pensamento sobre a condigao humana nasce da percepcio da prdpria aporia, descoberta a partir da indagacao primeira sobre o sentido da vida. Para esses pensadores religiosos, Deus, por nao ser passivel de investiga- ao, se conhece na relagao com o individuo, isto 6, a consciéncia da presenca de Deus estabelece um diferencial importante a0 ato de falar e pensar humano. Diferencial esse que faz com que © ser humano seja visto em sua condigao de criatura, cuja exis- téncia é percebida como graga do Criador. Para os nossos pensadores, a angiistia torna-se, entdo, a expresso da miserabilidade humana ¢, ao mesmo tempo, in- dica seu cardter sobrenatural, 0 que implica na constatagao do abismo existente ente Deus e ser humano. Procuraremos, por- tanto, levantar os principais pontos que se desdobram da refle- xo desses pensadores: a morte, como ponto de partida de toda yeflexdo; 0 tempo, outra forma de ter consciéncia da mortalida~ de, mas que indica os limites e o constante movimento da vida; 0 entendimento da Revelacao como algo teal. Esta discussao nos encaminharé para a conclusao de que a angiistia experi- mentada pelo pensador religioso, ciente de sua contingéncia e da presenga de Deus, é capaz de produzir um conhecimento exitico & condigao humana e propria religiao. © HOMEM MICRO E MACROCOSMO: A NOCAO DEIN- SAN AL KAMIL NA OBRA DE RUMI Mario Guimaraes Wemeck Filho | UFJF | mariowfocatyahoo.com.br O breve texto a ser apresentado pretende mostrar 0 con- ceito de Unidade. Jalal al-Din Raimi nasceu em Valksh, uma al- deia situada nas cercanias Balkh (atual Afeganistao), em 30 de Setembro de 1207 (6 Rabi’ al-Awwal 604) filho de Baha’ al-Din ‘Yalad um emérito doutor da lei — que no mundo Mugulmano significa aquele que € versado em teologia, filosofia e jurispru- déncia — mas também um mistico e pregador detentor do ti- tulo de Sulean al-’Ulama’ “Rei dos Sbios” . Nessa época, toda a tegiao fervilhava com diferentes culturas que se misturavam nas cidades do Império Khwarazm1. ‘As invasGes mong(is e uma contenda filoséfica de Baha’ al-Din com Fakh al-Din Razi2, fizeram com que a familia de Rimi migrasse de Balkh dirigindo-se para Meca. Apés uma grande peregrinagéo na qual passam por diversas cidades. ‘Atingem finalmente a Anatdlia, onde em 626/1228 Baha’ al-Din 6 acolhido pelo principe Seljiicida ‘Ala’ al-Din Kaykubad. La ensinou até 628/1231, ano de sua morte. A partir dai, quem 0 sucede é Jalal al-Din Rimi, que ficou conhecido como Mawilana (nosso mestre), e cujo interesse pela mistica, despertado pelo pai, foi sendo agucado com os ensinamentos de Borhan al-Din um antigo discipulo, Nessa época, Kénia era um nicho para iro de Filosofia ‘ongresso Brasil uc St $2 onde diferentes culturas confluiam buscando reffigio das hor- das de Gengis Khan. A cidade era assim um caldeamento de diferentes etnias e um simbolo de cosmopolitismo. Aos trinta e sete anos, Rimi jé possuia grande reputagio ‘como mestre e profundo conhecedor de filosofia, teologia, po- esia classica e jurisprudéncia. Entre os seus amigos e interlocu- tores, vale mencionar Sadr al-Din Qonavi, enteado e discipulo de Ibn ‘Arabi. E precisamente nese momento de sua vida que ocorre 0 acontecimento que mudaré o ramo de sua existéncia de maneira radical, fazendo-o mergulhar nos abissais segredos da transcendéncia. Trata-se de seu encontro com o dervixe errante Shams-i Din Tabriz. Este homem singular contava aproximada- mente sessenta anos e passara sua vida em peregrinacao, sendo conhecido sob a alcunha de “paranda” , isto é, “0 voador”, 0 seu nome Shams também significa sol: Sol de Tabri Com Shams, Rimi conhece a experiéncia do Amor ra- dicalmente suscitado por Deus as criaturas, Amor irresistivel, dilacerante arrebatador dos corages. Amor que em suas infi- nitas capacidades carreia o espirito das procelas da loucura, & calmaria sempitema da proximidade do encontro no abraco. Proclama Jalaluddin Riimi que o amor da alma a Deus €0 amor de Deus a alma, e que amando a alma, se ama Deus a si mesmo; porque a alma que é em esséncia parte de Deus e regressa ao lugar divino. Rémi encontrou, em Shams, alguém que além de ver- sado nas ciéncias conhecidas pelos homens, possuia também 0 chamado conhecimento inspirado, baseado na contemplagao dos mistérios do Amor Divino, Rimi, entao, passou a intensi- ficar seus exercicios contemplativos com 0 mestre de Tabriz. Tal comportamento de Mawlana nao tardou a fomentar a ira dos discipulos, que terminaram por tramarem contra a vida de Shams. Para Shams (o Sol de Tabriz) Rimi dedicou toda uma monumental obra poética conhecida como Diwan-i Shams-i Tabriz. Esta comunicagao pretende langar um olhar sobre uma tematica especifica na obra de um autor insigne. Variegados sio 08 aportes cognitivos que o texto de Raimi nos brinda e a loqua- cidade fugaz de uma traducao deixa ver a contundéncia de um texto-pensamento-inspirado...; e melhor seria dizer: bafejado pela graca do desvelo! ‘A comunicagio pretende desenvolver as idéias que carac- terizam 0 itinerdrio percorrido pelo mistico no desenvolvimen- to deseu conhecimento. De um Logos primordial passando por gradagbes de ser, até atingir o pleno reconhecimento de sia par- tir de seu préprio principio criador. Este tipo de conhecimento profundamente alicergado na matriz corénica debate-se freqiientemente com a razaio expressa pela filosofia Kalam. Rimi tido como 0 um dos maiores potas misticos de todos os tempos vai, entao, tecendo este itinerério do espirito, no qual o conhecimento racional é ultrapassado para que se atinja um nivel de conhecimento inspirado, em cujo transfundo se opera a prdpria mao do Criador. Desse processo resulta a aparicao do Homem Perfeito ((AbInsan al-Kamil), um microcosmo que contém em si o ma- crocosmo, O Homem Perfeito é portanto, o intermedidrio entre Deus e o mundo, “e pode ser considerado Guardado de uma dupla fun¢ao: como forma totalizante dos atributos divinos, ele atualiza a consciéncia divina; e é também um espelho que capta aimagem de Deus e a reflete, mostrando e comunicando a ima- gem recebida a outros espelhos que a ele se dirigem”4. Aqui também se pode observar tima clara influéncia platénica no que tange ao conceito de anamnésis, pois para Rémi conhecer ¢ te- cordar que Deus ¢ a tinica Realidade (Tawhid) e que a conscién- cia de ser um eu esta em unidade essencial com 0 Absoluto. A presente comunicagio tem por objetivo mostrar uma linha de pensamento que se situa no umbral da metafisica e da mistica de tradicéo iskimica. No contexto do escrito, 0 que se pretende é trabalhar os conceitos de macro e microcosmo mos- ‘tzando, por um lado o aporte filoséfico, e por outro 0 desvela- mento inspirado. Pois para Rimi “Deus nao criou sobre a terra ou sobre os céus sublimes nada mais misterioso que o espirito do homem’. & > § 52 S4 A FE DOS INDIV{DUOS E A ”SA{DA DA RELIGIAO” NO PENSAMENTO DE MARCEL GAUCHET Norman Madarasz | UGF | normandugébr | ‘Ao contrério do seu mestre Castoriadis, Marcel Gauchet aceita a determinacao de que a sociedade francesa atingiu a autonomia, situacao aplicdvel com algumas vatiagdes as de- mais democracias de tipo ocidental.”Nés saimos da época de uma autonomia a ser conquistada contra a heteronomia,” escre- ve Gauchet em La Religion dans la démocratie. A ruptura com © regime heteronémico teria ocorrido, segundo Gauchet, por causa de uma “saida da religido”, ou seja, do retraimento da re- ligido do dominio do estado monarquico. Entende-se nem tanto o fim da religiao, mas a sua permanéncia transformada, presen- te sem determinar o sistema politico e a ordem coletiva da qual ela faz parte. Assim, se existe autonomia, ela ocorre somente no ambito da sociedade civil, com 0 estado recuando num movi- mento contrério concomitante a uma disposigio a-representai va do demos. Se esta situagao carateriza o “estado laico”, tam- bém aponta para uma reconfiguracao do sentimento religioso do ente auténomo. Definido por Gauchet como “um ente que esta voltado para o invisivel ou é chamado pela alteridade,” o ente aut6nomo se manifesta numa demanda face ao “absoluto prético”. Diante de uma tal demanda, sera que a vitéria sobre a heteronomia é indireta, ou que a autonomia esconde outras dependéncias ? Jé que, apés a sua conquista, é 0 individualis- ‘mo que se vé imposto, se traduzindo numa aparente escolha livre, racional, da £8 e de sua pratica. O resultado no contexto da democracia é um deslocamento do individuo em relagao ao saber que anteriormente o condicionava. Para tentar responder a este problema, abordaremos a pratica da fé no individuo au- tGnomo em Gauchet, e através dela a anélise da psicologia do homem democrético. Terminaremos com considerages sobre o que a tese de Gauchet apresenta para a filosofia, especialmente no que tange ao programa da “descontrucdo do cristianismo” formulada por Jean-Luc Nancy. “ULTIMO DEUS” DE MARTIN HEIDEGGER Paulo Afonso de Araijo | UEJF | paulo.araujowuff.edu.br ‘A presente comunicacao pretende identificar discutir a figura do “iltimo Deus”, presente na obra Beitrge zur Philoso- phie (Vom Ereignis), de Martin Heidegger (1889-1976). Escritas entre 1936 e 1938 e publicadas apenas em 1989, estas Contribui- Bes para a Filosofia retomam a histéria do “primeito inicio” (a tradicéo metafisica) e prefiguram alguns tragos do que pode- ria ser um “outzo inicio” para o pensamento. Este duplo movi- mento (de Andenken e Vordenken) pode ser visto também, de um lado, como uma obra de destruigao dos fdolos metafisicos = uma espécie de dessacralizago em busca de uma nova sobrie- dade do pensamento~e, de outro, como elaboracdo, através da releitura de Hélderlin e Schelling, de uma nova fenomenologia do sagrado e do divino. Uma fenomenologia onde a pergun- ta classica “como Deus entra na filosofia?” se transforma na questo da referéncia reciproca que recolhe em uma pertenca comum o ser, Deus e os homens; referéncia que prepara tanto ‘para um novo inicio do pensamento quanto para a passagem do tiltimo Deus. Na verdade, aquilo que caracteriza o tiltimo Deus é precisamente a passagem (Vorbeigang); no uma passagem triunfal, mas silenciosa e extremamente inquietante; passagem cujos acenos poetas e pensadores podem captar. Oriltimo Deus, com efeito, nao dispée do ser ou da Ereignis, mas, ao contrario, a estes pertence da mesma maneira que o Da-sein. ‘Trata-se do traco de algo que nao é mais (0 Deus da tradi¢ao metafisica) e, ‘ao mesmo tempo, nao é ainda (o Deus aguardado como a possi- bilidade mais extrema) e cuja natureza se coloca exatamente no espaco aberto por esta dupla negacio, losofia da Relig asi ngvesso F SS. Sé A VISAO ETICO-RELIGIOSA DO TRACTATUS DE WITT- GENSTEIN E SUAS RELACOES COM AS CONFERENCIAS E CONVERSAGOES SOBRE A CRENCA RELIGIOSA DE WITTGENSTEIN Paulo Roberto Margutti Pinto | FAJE | paulomargutti@terra.com.be, A filosofia das Investigacdes tem sido geralmente inter- pretada como levando ao abandono da perspectiva ético-reli- giosa do Tractatus, principalmente porque admite a existéncia de jogos de linguagem religiosos, os quais deixariam de consti- tuir contra-sensos. Na tentativa de defender a hipdtese contré- ria, este trabalho pretende fazer uma releitura das Conferéncias e Conversagdes sobre a Crenca Religiosa, O objetivo é mostrar a compatibilidade desse texto com a visdo ético-religiosa tracta- tiana, a qual constituiria inclusive o nticleo do pensamento de ‘Wittgenstein e teria permanecido constante em toda a evolucio de seu pensamento. A VIDA DE JESUS: ENTRE HEGEL E A TEOLOGIA DA LI- BERTACAO. Pedro Geraldo Aparecido Novelli | UNESP | pnovellieibb.anesp.br A formagio teoldgica do jovern Hegel se expressa em va- ios escritos sendo um deles “A vida de Jesus” (1795). Por ser um texto da juventude isso pode explicar a influéncia do pensamen- to kantiano no inicio da atividade filoséfica de Hegel. Contudo, Oo teferido texto ja apresenta indicios de uma ruptura consciente em relacao a Kant. O principal ponto de separacio é a supera- so da moral desvinculada da dimensao empirica da realidade. Entende-se aqui que é possivel a aproximagao entre a perspecti- va hegeliana no texto em questo € a perspectiva da teologia da libertagao através de critérios, que aqui sdo entendidos, como comuns, A aproximagéo sugerida toma como representante da teologia da libertagao Gustavo Gutierrez em “Teologia da Li- Ee er EEE EEE EE Ee ee eee EEE EE EEE EEE EEE EEE bertagio” (1971), pois esta é a primeira expressio de um, entdo, jovem pensamento teolégico latino americano. Muito embora Hegel nao seja a referéncia filoséfica central parta a teologia da libertacao, Gutierrez ndo relega o pensador alemao ao esqueci- mento. No indice remissivo de sua obra, Gutierrez cita Hegel 10 (dez) vezes sempre com uma conotacao positiva que ressalta a atualidade do mesmo. O primeito critério de aproximacdo é que tanto para Hegel quanto para a Teologia da Libertacao 0 homem é senhor de sua histéria. O Jesus hegeliano nao se deixa determinar pela natureza nem pela tradicao. Em Gutierrez, 0 homem constréi seu destino. O segundo critério é a afirmacao da unicidade da histéria. O divino e o humano sao reunidos de modo que um nao se afirma sem o outro. O terceito critério 6 a conotacao politica dos evangelhos. Para Hegel, Jesus interage com os poderes constituidos (Roma e Sacerdotes) e nao desvin- ula sua pratica dessas esferas que critica pelo seu exagero. Para Gutierrez, Hegel concilia o que foi separado e revela o carater absoluto da existéncia humana. Aqui a divindade se realiza, A _NOCAO DE “INTEIRAMENTE OUTRO” EM MAX HORKHEIMER Rafael Cordeiro Silva | UFU | resilvag@ufu.br O objetivo inicial da comunicagao € explicitar a nogao de “inteiramente outro” no pensamento tardio de Max Horkhei- ‘mer, que se caracteriza nesta fase pela atencao aos motivos do pensamento religioso. Com a nogao de “inteiramente outro”, o fil6sofo designa nao apenas Deus ou Ser supremo, mas também 0 Absoluto. Horkheimer chega a ela depois de tentar por anos a fio propor uma teoria da sociedade com o objetivo de transfor ‘magao social. Com o passar do tempo, a utopia contida no pro- jeto filos6fico do autor distancia-se de qualquer possibilidade de realizag3o material. Assim, surge a nocao de “inteiramente outro”, que parece indicar uma nova forma de utopia, reunindo elementos do judaismo e do cristianismo (catélico e protestan- gid Filosofia da Ri a7

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